Almanaque Raimundo Floriano
Fundado em 24.09.2016
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, dois genros e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Correio Braziliense quarta, 24 de abril de 2019

STJ CONFIRMA PRISÃO DE LULA, MAS DIMINUI A PENA

 


JUSTIÇA 
 
 
Lula pode estar livre este ano
 
Decisão de ministros do STJ diminuiu a pena do ex-presidente no caso do tríplex do Guarujá, mas a condenação em segunda instância no processo que envolve o sítio de Atibaia faria o petista seguir na prisão, onde está desde abril do ano passado

 

» MARIA EDUARDA CARDIM
» BRUNO SANTA RITA
Especial para o Correio

Publicação: 24/04/2019 04:00

Em sessão que durou quase quatro horas, a 5ª Turma do tribunal decidiu pela redução no tempo de prisão do petista (Gustavo Lima /STJ)  

Em sessão que durou quase quatro horas, a 5ª Turma do tribunal decidiu pela redução no tempo de prisão do petista

 



Por unanimidade, a 5ª Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) manteve a condenação, pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas reduziu a pena para 8 anos, 10 meses e 20 dias de reclusão, no caso do tríplex de Guarujá — o que pode fazer com que ele possa voltar às ruas em setembro. Votaram a favor do recurso apresentado pela defesa do petista os ministros Felix Fischer, relator do caso, Jorge Mussi e Reynaldo Soares da Fonseca, presidente da corte, e Marcelo Navarro Ribeiro Dantas. Lula está preso na carceragem da Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba, desde abril do ano passado.

Com a redução do tempo, o benefício de progressão de pena pode ser alcançado mais rapidamente pelo petista, que pode sair da cadeia em setembro deste ano. O código penal prevê que, ao se cumprir um sexto da pena — em casos de crimes comuns —, pode-se progredir para um regime semiaberto. Como Lula cumpriu um ano de prisão, faltaria cerca de quatro meses para que o ex-presidente alcançasse essa condição, após a redução concedida pelo colegiado do STJ.

Contudo, ainda existe a possibilidade de o regime semiaberto ser alterado. Caso o político seja condenado em segunda instância por algum outro crime — por exemplo, no processo do sítio de Atibaia, em que foi considerado culpado em primeira instância — seria necessário uma unificação de pena, o que estabeleceria um novo patamar a ser considerado para a concessão do benefício. Além disso, conforme previsto no Código Penal, a progressão de pena também está condicionada ao pagamento da multa para reparo dos danos dos crimes, reduzida pela 5ª Turma de R$ 16 milhões para R$ 2.424.991,00.

De acordo com Márcio Arantes, doutor em processo penal pela USP e professor da Escola de Direito do Brasil (EDB), o resultado no STJ é comum. “Existem outros benefícios, como livramento condicional, mas o mais próximo é o regime semiaberto”, explicou. O Correio antecipou, há duas semanas, que os ministros do STJ reduziria a pena de Lula, a ponto de ele ser beneficiado, em um futuro próximo, ao semiaberto. Com a ausência de garantias do Estado para que o ex-presidente trabalhasse ao longo do dia, o cumprimento da pena acabaria se dando, por tabela, no regime domiciliar. A apuração do jornal estabeleceu que a turma do STJ excluiria o crime de lavagem de dinheiro. Os ministros, entretanto, decidiram reduzir as penas nos dois crimes dos quais Lula é acusado. A exclusão do crime de lavagem deve ocorrer na última etapa do processo no Supremo Tribunal Federal.

Apesar de reduzir a pena, a maior parte dos pedidos da defesa não foram atendidos. No julgamento, que durou cerca de três horas e 40 minutos, os ministros do STJ rejeitaram as teses de ausência de provas, a competência da Justiça Eleitoral para julgar o caso e a parcialidade do ex-juiz federal, agora ministro da Justiça, Sérgio Moro, na condução do caso.

Defesa

A defesa de Lula afirmou que vai recorrer da decisão e que o foco continua sendo a absolvição. “Respeitamos o posicionamento exposto hoje (ontem) pelos ministros do STJ, mas expressamos a inconformidade da defesa em relação ao resultado do julgamento, já que entendemos que a absolvição é o único resultado possível. Por isso, vamos recorrer”, afirmou Cristiano Zanin Martins, advogado e membro da equipe de defesa do ex-presidente.

Após a decisão do STJ, Lula se manifestou por meio do advogado Emídio de Souza, em live exibida no perfil do Facebook. No vídeo, Emídio afirmou que “a luta continua” e, embora o dia de ontem tenha sido de vitória para o petista, é cedo para comemorar. “Apesar de reduzirem a pena, podem apressar outros processos”, indicou. Ele afirmou também que “não deveria haver pena” e reforçou que Lula seria injustiçado e preso político. O mundo político também repercutiu o julgamento do recurso. Opositores e apoiadores se manifestaram em redes sociais. As hashtags #LulaLivreJá e #LulaNaCadeia atingiram os patamares de mais utilizadas pelos internautas.

Correio Braziliense terça, 23 de abril de 2019

EXEMPLO DE CUMPLICIDADE

 

Exemplo de cumplicidade
 
 
Depois de descobrir doença que compromete o funcionamento dos rins e enfrentar um câncer de mama, professora recebe do marido a doação do órgão que deu a ela a volta da qualidade de vida

 

» DARCIANNE DIOGO*
» RENATA NAGASHIMA*

Publicação: 23/04/2019 04:00

 (Arquivo Pessoal)  
 
“São muitas as curvas deste rio sinuoso chamado vida. Todos nós temos que navegar nele. No meu caso, com muitas paradas, algumas curvas difíceis. A maior, eu acredito que já passei e, agora, estamos nos aquietando e chegando ao porto. É isso que me deixa feliz.” É assim que a professora Iara Xavier, 48 anos, define a difícil trajetória pela qual passou na luta para vencer um câncer e uma doença renal crônica com a ajuda do marido.
 
Doença silenciosa, a nefropatia por IgA chegou sem dar nenhum sinal. Apesar de já ter uma filha, a pequena Ana Rute Xavier, à época com 8 anos, Iara e o marido, Elias Cleliton Gonçalves, 43, tinham o sonho de ter mais uma criança. Mesmo após dois abortos espontâneos, em 2013 o casal se planejou e decidiu que tentaria pela última vez. No quarto mês de gestação, ela perdeu o bebê. “Os exames estavam normais e tudo estava contribuindo, mas minha pressão começou a subir”, conta Iara.
 
Outros sinais de algo estava errado apareceram nos exames e ela, natural de Barreiras (BA), decidiu ficar no Distrito Federal, onde havia planejado passar o Natal, para descobrir o que estava acontecendo. “Esse era o começo dos meus cinco anos de muita luta”, relembra. Por conta da doença, iniciou um tratamento rigoroso. “Não podia comer nada fora de casa. No começo, eu pesava 72kg. Nessa época, passei para 58kg. Além da medicação que tomava diariamente: cheguei a tomar 20 comprimidos por dia.”
 
Com a dieta, os rins voltaram a funcionar o equivalente a 20%, logo esse percentual caiu de novo, para menos que 10%. Iara passou a precisar de diálise até que fosse possível um transplante do órgão. Os quatro irmãos de Iara se disponibilizaram a vir a Brasília e fazer exame de compatibilidade. Dois deles eram mais de 50% compatíveis e a mais velha, Deuslaine Xavier, 53, seria a doadora.
 
 (Arquivo Pessoal)  
 Tudo agendado quando os últimos exames de rotina diagnosticaram câncer na mama direita, em junho de 2016, o que levou ao adiamento do transplante por dois anos, tempo necessário para verificar se não restavam mais células cancerígenas. “A notícia do câncer não me abalou tanto quanto a do tempo que eu teria de aguardar. Meu mundo caiu naquele dia”, conta.
 
Depois de ter as duas mamas retiradas e aguardar o período indicado, veio outra má notícia. A irmã doadora havia adoecido. Era agosto de 2018. Foi quando, em uma conversa com o médico, ela tomou a iniciativa de se inscrever na lista de doações em São Paulo. “Eu tinha uma esperança de alguém me ligar, mandar uma mensagem ou algo do tipo. Mas, nesse mesmo dia, o doutor perguntou se o meu marido era compatível.”
 
Para a surpresa do casal, Elias era 50% compatível e o estado de saúde do comerciante estava bom. A preparação começou em outubro e, no último mês do ano, o próximo passo era agendar a cirurgia. Mesmo com tudo pronto, o casal tinha mais um empecilho: um exame constatou que, em vez de uma artéria ligada a cada rim, Elias tinha três de um lado e duas no outro, o que poderia acarretar em mais cortes, aumento do tempo de internação e de recuperação.
 
Uma semana antes do procedimento, o cirurgião explicou ainda que o rim transplantado poderia não funcionar 100%. Confrontado pelo médico, o marido não pensou duas vezes e disse: “Doutor, meu coração já é dela, o que é um corte a mais?”
 
União
 
Companheirismo: é assim que o casal define o casamento de 19 anos. Depois de tantos obstáculos, agora podem desfrutar da vitória. Mas nada foi por acaso. As barreiras serviram para unir ainda mais o casal. “Quando nos casamos tínhamos certeza do que estávamos fazendo. Ao fazer o voto de ficar com ela na saúde, na doença e até na morte, não fiz em vão”, relata Elias, natural de Anápolis (GO).
 
Cristãos, eles afirmam que a fé ajudou a superar as dificuldades. “Em momento algum passou pela minha cabeça que ele iria me abandonar, pois temos muita cumplicidade”, explica a professora, sob o olhar atencioso do marido. “Ele é um guerreiro de me aguentar, pois imagina uma baiana, de temperamento forte e passando por uma situação difícil?”, conta, emocionada.
 
O tão sonhado transplante foi realizado em 16 de março deste ano, e tudo correu dentro do normal. “Nós estamos nos recuperando bem. Ele está ótimo, já vai voltar a trabalhar. Eu estou passando por ajustes de medicações. Em breve, farei a cirurgia para a retirada do cateter da diálise e o rim está respondendo bem”, afirma Iara.
 
Para ela, essa é uma lição de que o amor e o altruísmo fazem muita diferença na vida de quem precisa. Hoje, a professora come de tudo, inclusive chocolate. Ela, que fez aniversário na última quarta-feira, considera a vitória um presente.
 
A baiana, agora, pretende carregar na lembrança apenas o que tirou de bom das lutas e voltar para sua cidade natal, na Bahia. “Acho que, quando eu nasci, Deus perguntou se eu queria uma vida com emoção ou sem emoção, e eu respondi: ‘Com emoção’”, brinca.


Diagnóstico
Nefropatia por IgA (NIgA) é uma doença renal causada por depósitos de anticorpos (Imunoglobulina A), que causam inflamação e lesão dos glomérulos renais progressiva ao longo dos anos. Nas fases iniciais, apresenta poucos sintomas e eles podem demorar anos para aparecer. A doença não tem cura, mas o tratamento previne a insuficiência renal.

Correio Braziliense segunda, 22 de abril de 2019

CHUVA, ALAGAMENTO E DESTRUIÇÃO

 


Chuva, alagamento e destruição na UnB
 
 
Acompanhada de rajadas de vento, chuva forte causou estragos e apagões em vários pontos do DF, principalmente no Plano Piloto. O Minhocão, na Universidade de Brasília, ficou debaixo de água. Em 21 dias de abril, choveu 119,55% acima do esperado para todo o mês

 

Ailim Cabral
Gabriela Sales
Especial para o Correio

Publicação: 22/04/2019 04:00

 (Wallace Martins/Esp. CB/D.A Press
)  
Pistas e estações do metrô alagadas, carros danificados, tesourinhas submersas, árvores caídas, quadras inteiras sem energia elétrica. A chuva forte, acompanhada de uma ventania, causou transtornos em vários pontos do Distrito Federal no fim da tarde de ontem. Um dos pontos mais atingidos pelo volume de água foi o Instituto Central de Ciências (ICC) da Universidade de Brasília (UnB) (leia abaixo).
 
O dia do aniversário de Brasília, que começou com uma manhã ensolarada, teve o tempo alterado por volta das 15h30, quando nuvens cobriram a capital. O temporal teve início às 16h e só deu uma trégua após as 17h. Moradores receberam, por meio de mensagens de texto nos celulares, um alerta de vendaval da Defesa Civil, que alertou para riscos de raios e ventos fortes, às 17h30, quase duas horas após o início da chuva.
 
Só na tarde de ontem, choveu 26 milímetros no Distrito Federal. Com a quantidade, abril acumulou 292mm nos 21 primeiros dias, 119,55% acima do esperado para todo o mês, que tem média histórica de 133,4mm. As informações são do meteorologista Manoel Rangel, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Os ventos chegaram a 33,4km/h, categoria classificada como “vento de rajada”.
 
O meteorologista acrescentou que 2019 é considerado “um bom ano em chuvas”. Em março, o volume de precipitações também superou o esperado (211,8mm), chegando a 265,8mm. Estão previstas pancadas de chuva até quarta-feira. Ontem, o Inmet registrou 95% de umidade relativa do ar e temperaturas entre 17,8ºC e 29ºC. Hoje, a temperatura mínima será de 17ºC, e a máxima, de 30ºC. A umidade relativa do ar varia entre 95% e 40%.

 (Wallace Martins/Esp. CB/D.A Press
)  


Vias bloqueadas
 
A Asa Norte foi uma das regiões mais afetadas. Uma árvore caída bloqueou o trânsito na tesourinha entre a 208 e a 408 Norte. Outras três caíram na 411/412  Norte. Duas delas, entre os blocos N e O da 411 Norte, e uma às margens da L2 Norte, em frente ao bloco Q. Houve queda de árvore também na via W5, entre as quadras 704/705. Uma delas caiu na pista e outra em cima do muro de uma casa, mas ninguém se feriu. No Bloco A da SQN 110, um janelão de vidro despencou do 6º andar, mas também não houve vítimas.
 
Ainda na Asa Norte, as quadras 102/103 ficaram com os estacionamentos dos blocos A, B, E, F e H alagados. O volume de água obrigou motoristas a retirarem os veículos dos estacionamentos. O trânsito entre as quadras foi interditado. Houve correria. “A água subiu cerca de 1 metro, a situação foi de pânico total. Uma correria danada para salvar os carros. Toda vez que chove, a enxurrada desce toda para as quadras e fica esse transtorno”, contou a funcionária pública Helena Alves, moradora da 103 Norte.
 
A dona de casa Carla da Luz Gonçalves não teve a mesma sorte. Ela não conseguiu salvar o veículo. No momento da chuva, ela e a família estavam fora de casa. “Moro na 102 Norte. Não consegui entrar na quadra por causa do trânsito interrompido e o meu carro ficou com o assoalho todo molhado. Meu marido está viajando e nem sei o que fazer”, desabafou.
 
Agentes da Companhia de Energia de Brasília (CEB) também foram acionados para atendimento em quase metade da Asa Norte.  A CEB informou que houve queda de árvores na rede, o que comprometeu o fornecimento de energia elétrica. Ainda de acordo com a companhia, 5.352 imóveis sofreram com o apagão. A expectativa era a de que o serviço fosse restabelecido até o fim da noite.

Enxurrada deixou tesourinha alagada entre a 102 e a 202 Sul: além de inundar o viaduto, a água tomou conta de todo o entorno da passagem de veículos. Mesmo problema aconteceu na passagem da 209 Norte (Hamilton Ferrari/Esp. CB/D.A Press
)  
Enxurrada deixou tesourinha alagada entre a 102 e a 202 Sul: além de inundar o viaduto, a água tomou conta de todo o entorno da passagem de veículos. Mesmo problema aconteceu na passagem da 209 Norte


Estação fechada
 
Na Área Central, a enxurrada invadiu a entrada da estação do metrô na Rodoviária do Plano Piloto e tomou o Shopping ID, no início da Asa Norte. A água desceu pelas escadas rolantes do centro comercial formando uma espécie de corredeira. No Setor Bancário Norte, um motorista saiu do carro com água pela metade e sentou no porta-malas para esperar ajuda. A estação metroviária foi reaberta e voltou a funcionar às 19h.
 
A chuva também atingiu outras regiões de Brasília, como Asa Sul, Lago Sul, Sudoeste, Setor de Indústrias Gráficas (SIG), Águas Claras e Santa Maria. Todas tiveram picos de energia. Na QI 7 do Lago Sul, a enxurrada invadiu algumas casas. Com pistas alagadas, os motoristas que passavam pela tesourinha da 102/302 Sul não conseguiram seguir caminho. Para conseguir desviar, alguns subiram nos canteiros ou dirigiram pela contramão. Entre a 102 e a 202 Sul, além de inundar o viaduto, a água tomou conta de todo o entorno da tesourinha.
 
Shows suspensos
Com a Esplanada dos Ministérios no epicentro do temporal, apresentações musicais da festa oficial dos 59 anos de Brasília, marcadas para começar às 16h, tiveram de ser suspensas por duas horas, atrasando a programação.
 
Livros, móveis e equipamentos eletrônicos ficaram destruídos no Minhocão da Universidade de Brasília (UnB), onde o subsolo ficou submerso (Ronayre Nunes/Esp. CB/D.A Press
)  

Livros, móveis e equipamentos eletrônicos ficaram destruídos no Minhocão da Universidade de Brasília (UnB), onde o subsolo ficou submerso

 

Prejuízos no ICC
 
O Instituto Central de Ciências (ICC) da Universidade de Brasília (UnB) teve corredores e salas tomadas pelas águas de uma chuva forte. Na tarde de ontem, a enxurrada transformou o térreo do prédio, conhecido como Minhocão, em um rio. O subsolo ficou submerso. As mesmas cenas vistas em 2011.
 
Ontem, computadores, documentos, cadeiras, sofás, laboratórios e até uma parede da sala dos professores caíram. “O subsolo parecia uma piscina. A água misturada com lama invadiu os laboratórios”, comentou a coordenadora do Diretório Central dos Estudantes (DCE), Clarice Menin.
 
Ela e outros estudantes, assim como professores, foram ao ICC na tentativa de ajudar a salvar alguns dos materiais usados nas aulas de graduação e pós-graduação. A reitora, Márcia Abrahão Moura, e o prefeito do câmpus, Valdeci da Silva Reis, também estiveram no Minhocão.
 
Márcia não quis dar entrevista, mas Valdeci comentou os danos. “Temos um problema de drenagem que força a água para cá, o que não significa que não estamos tomando as precauções. A gente tem limpado os bueiros e as saídas da água, temos feito o possível”, disse.
 
O prefeito reforçou que o plano era deixar os espaços em boas condições de uso para que os estudantes pudessem retornar para a instituição hoje: “Fechamos o registro geral para evitar vazamentos e mobilizamos toda a equipe de limpeza para dar uma geral.” A UnB deve fazer um balanço dos estragos neste segunda-feira.
 
Colaboraram Ronayre Nunes e Sarah Peres (especiais para o Correio)

Três árvores caíram na 411 Norte, entre os blocos N e O, às margens da L2 ( Isa Stacciarini/CB/D.A Press
)  

Três árvores caíram na 411 Norte, entre os blocos N e O, às margens da L2

 



Voos alterados
Durante o temporal, pousos e decolagens foram suspensos no Aeroporto Internacional de Brasília, que operou por instrumentos. Cinco voos sofreram alterações de horário e ficaram atrasados, porém, por volta das 17h, a visibilidade das pistas melhorou e nenhuma operação chegou a ser cancelada.
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense domingo, 21 de abril de 2019

BRASÍLIA, 59 ANOS - BRASÍLIA, SUBSTANTIVO FEMININO

 

BRASÍLIA, SUBSTANTIVO FEMININO

 

Publicação: 21/04/2019 04:00

 (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  


Patrimônio Cultural da Humanidade, berço de gente vinda de fora e de gente nascida aqui. A cidade erguida no meio do Planalto Central celebra 59 anos. Os sonhos que inspiraram os primeiros habitantes de Brasília são a força que move as novas gerações. Os tempos são outros; os desafios, ainda maiores. Neste aniversário, o Correio revela o talento e a garra de mulheres que construíram e constroem, dia após dia, a Brasília que queremos para o futuro: uma cidade à frente do seu tempo e, ainda assim, acolhedora, cativante e humana!
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense sábado, 20 de abril de 2019

MORRO DA CAPELINHA: CENAS DE FÉ E DEVOÇÃO

 


Cenas de fé e devoção
 
Seja rezando sozinho, seja subindo de joelhos para agradecer uma graça, seja se espremendo na multidão para acompanhar o espetáculo, milhares de católicos se reúnem todo ano no Morro da Capelinha em função da Paixão de Cristo

 

Publicação: 20/04/2019 04:00

 (Wallace Martins/Esp. CB/D.A Press)  

Considerada patrimônio cultural imaterial do Distrito Federal e a maior encenação religiosa do Brasil, a via-sacra do Morro da Capelinha manteve ontem a tradição de mexer com a emoção das dezenas de milhares de fiéis que se acotovelavam, sob sol e chuva, para não perder nenhum momento da encenação da Paixão de Cristo, encenada ao longo de um trajeto de 1,5 quilômetro de extensão.

Em sua 46ª edição, o espetáculo foi realizado graças à dedicação de cerca de 1,6 mil voluntários, entre eles 900 atores que se prepararam por meses para a Semana Santa. Pessoas comuns, que trabalharam movidos apenas pela fé e devoção.

Mas, a cada sexta-feira da Paixão, o Morro da Capelinha não é tomado apenas por espectadores ansiosos para lembrar os últimos momentos de Jesus Cristo e celebrar a sua ressurreição. O ponto mais alto de Planaltina, a mais antiga cidade do DF, é tomado por católicos de todos os cantos da capital e de cidades do Entorno nas primeiras horas do dia. Uma gente que acorda cedo para pedir, agradecer ou simplesmente rezar em paz.



 (Wallace Martins/Esp. CB/D.A Press)  
 (Ed Alves/CB/D.A Press)  
 (Ed Alves/CB/D.A Press)  
 (Ed Alves/CB/D.A Press)  
 (Ed Alves/CB/D.A Press)  
 (Ed Alves/CB/D.A Press)  
 (Ed Alves/CB/D.A Press)  
 

Correio Braziliense sexta, 19 de abril de 2019

MORAES REVOGA CENSURA

 


PODER
 
Moraes revoga censura
 
Depois de consultar e sofrer pressão de outros integrantes do Supremo, ministro responsável pelo inquérito sobre fake news contra tribunal decide liberar publicação de reportagem sobre Dias Toffoli. Investigação, porém, permanece

 

» Renato Souza

Publicação: 19/04/2019 04:00

Moraes se viu obrigado a recuar por causa do tamanho da repercussão da censura (Lula Marques/AGPT - 18/5/17)  

Moraes se viu obrigado a recuar por causa do tamanho da repercussão da censura

 




Com o agravamento da crise engatilhada a partir da abertura de um inquérito para investigar ataques e fake news contra o Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro Alexandre de Moraes, relator do caso, decidiu recuar. No começo da noite de ontem, ele derrubou a censura aplicada ao site O Antagonista e à revista Crusoé. Na decisão, ele reconhece a existência de um documento anexado a uma das ações da Lava-Jato em que Marcelo Odebrecht afirma que o presidente da Corte, Dias Toffoli, recebeu o codinome “o amigo do amigo de meu pai” por parte dos executivos da construtora Odebrecht. Apesar de extinguir a censura, Moraes manteve em andamento as diligências que, no começo da semana, resultaram no cumprimento de mandados de busca e apreensão contra críticos ao tribunal, entre eles, o general da reserva do Exército Paulo Chagas.

A decisão do ministro Alexandre de Moraes ocorreu após pressão realizada por outros integrantes do STF, como Celso de Mello, que declarou que o impedimento à circulação de informações é “ilegítima” e “incompatível com o regime das liberdades fundamentais consagrado pela Constituição da República”. “O Estado não tem poder algum para interditar a livre circulação de ideias ou o livre exercício da liberdade constitucional de manifestação do pensamento ou de restringir e de inviabilizar o direito fundamental do jornalista de informar, de pesquisar, de investigar, de criticar e de relatar fatos e eventos de interesse público, ainda que do relato jornalístico possa resultar a exposição de altas figuras da República”, argumentou Celso, em carta pública.

O ministro prosseguiu, rechaçando qualquer possibilidade de contenção da livre circulação de ideias. “A prática da censura, inclusive da censura judicial, além de intolerável, constitui verdadeira perversão da ética do direito e traduz, na concreção do seu alcance, inquestionável subversão da própria ideia democrática que anima e ilumina as instituições da República”, completou o magistrado.

A retirada do ar de uma reportagem que cita um dos integrantes da mais alta Corte do país também foi alvo de críticas do ministro Marco Aurélio Mello. Ao Correio, uma hora antes de a censura ser derrubada, ele afirmou que Moraes deveria “reconsiderar” a decisão e resolver o assunto antes que o caso chegasse ao plenário. O ministro destacou que seu pensamento sobre o tema é o de que foi estabelecida “uma mordaça” aos veículos de comunicação e que o assunto deve ser encerrado pelo próprio relator do caso. “Não há espaço para isso, considerando o texto da Constituição de 1988. Podemos ter consequências e desdobramentos ao que foi publicado, mas no campo patrimonial”, disse. Questionado se o assunto deve ser levado ao plenário da Corte para deliberação, Marco Aurélio afirmou que o próprio relator poderia encerrar o assunto. “O próprio ministro pode reconsiderar a decisão dele”, completou.

De acordo com informações de fontes ouvidas pelo Correio, Moraes conversou com colegas da Corte antes de decidir autorizar a publicação da reportagem. Diante da grande repercussão do assunto, inclusive no Poder Legislativo e no Executivo, ele foi aconselhado a recuar, e impedir que o tema se prolongue, causando um desgaste à imagem do Supremo, em um caminho que se tornava mais perigoso a cada hora.

Em entrevista ao Valor, Toffoli defendeu o bloqueio do conteúdo jornalístico, por ser publicado pouco antes do julgamento sobre a legalidade da prisão em segunda instância e citou tentativas de atrapalhar o Poder Judiciário. “É ofensa à instituição à medida que isso tudo foi algo orquestrado para sair às vésperas do julgamento em segunda instância. De tal sorte que isso tem um nome: obstrução de administração da Justiça”, declarou.

A revogação

Na decisão anterior, que determina que o grupo responsável pela revista Crusoé retirasse do ar a reportagem intitulada “o amigo do amigo de meu pai”, Moraes descreveu que o ato partiu de uma solicitação de Toffoli, que alegou se tratar de fake news. Para fundamentar as declarações de inexistência da informação, Toffoli usou como argumento uma nota publicada pela Procuradoria-Geral da República (PGR), na segunda-feira (15), em que a entidade informava não ter conhecimento das declarações de Marcelo Odebrecht.

No entanto, o juiz Luiz Antônio Bonat, titular da 13ª Vara Federal de Curitiba, reconheceu a existência do documento, o que fundamentou a decisão do ministro Alexandre de Moraes. “Comprovou-se que o documento sigiloso citado na matéria realmente existe, apesar de não corresponder à verdade o fato de que teria sido enviado anteriormente à PGR para investigação”, destaca um trecho do documento.

Moraes continua, descrevendo que os documentos foram enviados ao Ministério Público Federal (MPF) e ao próprio Supremo pela Polícia Federal. “A existência desses fatos supervenientes — envio do documento à PGR e integralidade dos autos ao STF — torna, porém, desnecessária a manutenção da medida determinada cautelarmente, pois inexistente qualquer apontamento no documento sigiloso obtido mediante suposta colaboração premiada, cuja eventual manipulação de conteúdo pudesse gerar irreversível dano à dignidade e à honra do envolvido e da própria Corte, pela clareza de seus termos. Diante do exposto, revogo a decisão anterior que determinou ao site O Antagonista e à revista Crusoé a retirada da matéria intitulada ‘O amigo do amigo de meu pai’ dos respectivos ambientes virtuais”, conclui.

Entrevista de Lula

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Dias Toffoli, permitiu que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva conceda entrevistas à imprensa na sala onde está preso, na Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba. Em setembro do ano passado, o ministro Luiz Fux suspendeu uma liminar, deferida por Ricardo Lewandowski, que autorizava jornalistas e veículos de comunicação a conversarem com o ex-presidente. Na decisão, Fux afirmou que, se alguma entrevista já tivesse sido realizada, estaria censurada. Toffoli afirmou que o mérito do caso, que estava sob responsabilidade do ministro Lewandowski, tramitou em julgado, já que o Partido Novo, que havia solicitado a proibição das entrevistas, não ingressou com recurso no tempo previsto. Diante disso, ele revogou a liminar.
 
 
Jornal Impresso

 


Correio Braziliense quinta, 18 de abril de 2019

CÉLIA PORTO: CANTANDO BRASÍLIA

 


MÚSICA
 
 
Cantando Brasília
 
 
A intérprete Célia Porto faz show em comemoração ao aniversário da capital federal em shopping no centro da cidade

 

Diego Marques*

Publicação: 18/04/2019 04:00

Cantora apresenta o projeto Estrela da terra: paixão cotidiana por Brasília (Marcelo Dischinger/Divulgação)  

Cantora apresenta o projeto Estrela da terra: paixão cotidiana por Brasília

 

 
Cantar Brasília. Viver Brasília. Dar voz aos artistas naturais ou radicados na cidade. Célia Porto tem tudo isso presente nas características mais íntimas da carreira. Não à toa, ela é a convidada do Pátio Brasil Shopping — pelo segundo ano consecutivo — para se apresentar na celebração do aniversário da capital federal. O evento, chamado Parabéns a Brasília, é hoje, às 19h.
 
Se em 2018 a artista prestou homenagem a Renato Russo, ex-líder da Legião Urbana, agora, na comemoração de 59 anos da cidade, ela traz o projeto Estrela da terra para o palco da praça central do Pátio Brasil. “Eu acho muito legal, porque o pessoal do shopping tem uma preocupação de levar uma atração que seja de Brasília. Esse projeto [Estrela da terra], eu já fiz no Clube do Choro e no Espaço Cultural Renato Russo. É um projeto de música e poesia. A gente caprichou muito nas letras e nos arranjos”, comenta Célia Porto.
 
O espetáculo tem a presença da poetisa Noélia Ribeiro, a Nonô, inspiração da canção Travessia do eixão da Legião Urbana. “A ideia é a musicalização dos poemas da Nonô, mas não só isso. A gente vai gravar e lançar. Estamos fazendo algo bem legal e devagar, com calma. Temos alguns parceiros, como Zeca Baleiro, mas precisamos respeitar o tempo deles. Eles precisam de um tempo de reflexão em cima das letras e das melodias. Estou muito animada com esse trabalho com a Nonô”, revela.
 
“O repertório terá outras músicas. Claro que vou cantar Renato Russo e músicas dos meus quatro discos. A gente tem de retomar valores nesse sentido”, antecipa. Assim, também são esperadas músicas relacionadas a Brasília, como canções do conjunto Liga tripa. “Para mim, eles são alguns dos compositores de maior expressão. Insisto em Brasília, gosto de cantar a cidade. Estou sempre atenta aos novos artistas daqui, como Cauê Maia, João Pedreira, Maria Camelo”, complementa.
 
O entusiasmo com Brasília vem desde os primeiros anos da carreira. Vencedora do Prêmio Sharp — hoje chamado de Prêmio da Música Brasileira — nos anos 1990, esteve no Rio de Janeiro e em São Paulo, mas decidiu retornar. “Muitas vezes, as gravadoras querem impor um estilo, eu não concordava. Depois que engravidei e tive meu filho, decidi sossegar de vez em Brasília”, recorda.
 
Dedicada à música
 
“Diferentemente de muitos músicos, não tive nenhuma influência em casa. Meus pais não são músicos. A paixão nasceu quando eu estava na escola, aos 10 anos. Gosto de falar que foi na Escola Parque. Gosto de falar que foi na escola pública”, relembra a cantora, que aos 18 ingressou na Escola de Música de Brasília. “Não cheguei a me formar, faltou muito pouco. Mas decidi que era hora de viver da música”, conta.
 
Essa relação com a música a levou a atuar fora dos palcos e projetos comerciais. Célia Porto é professora de musicalização para crianças em projeto, que começou na Universidade de Brasília (UnB) e, hoje, está ativo na 503 Sul. “Esse trabalho é a minha paixão há 13 anos. É um projeto que também me satisfaz muito como artista. Eu acho que quem faz música quem trabalha com música, não consegue se dedicar a outra coisa. Você acaba se tornando ‘funcionário público da música’, uma analogia à cultura aqui da cidade”, brinca.
 
“Acredito que a gente tem que olhar mais para a música. Voltar  a colocá-la em primeiro plano. Hoje, é tudo muito multimídia. Tem muito efeito especial, muito vídeo, muito visual. Eu ainda tenho o projeto de ir com amigos para fazer audições nas casas dos artistas.”, planeja. Como diz Cidade nua, uma das músicas interpretadas por Célia: “Sonhos livres, sonhos livres. Por trás de cada olhar, Brasília”.
 
Estagiário sob a supervisão de Severino Francisco
 
 
Parabéns a Brasília 
Célia Porto. Pátio Brasil Shopping (SCE, Q. 7, Bl. A). Hoje, às 19h. Entrada franca. Classificação livre.
 
Jornal Impresso
 

Correio Braziliense quarta, 17 de abril de 2019

SEMANA SANTA: VIA SACRA DE PLANALTINA

 

VIA-SACRA
 
 
Planaltina espera 160 mil fiéis
 
 
Apesar da redução de verba pública, a maior encenação da Paixão de Cristo do Centro-Oeste está pronta para receber uma multidão, na sexta-feira. No mesmo dia, espetáculo similar será apresentado em outros 23 pontos do Distrito Federal

 

» Bruna Lima
» Fernanda Bastos*
» Renata Nagashima*

Publicação: 17/04/2019 04:00

Voluntário dá os últimos retoques em um dos cenários da via-sacra de Planaltina, no Morro da Capelinha (Vinicius Cardoso Vieira/CB/D.A Press)  

Voluntário dá os últimos retoques em um dos cenários da via-sacra de Planaltina, no Morro da Capelinha

 


Ao menos 24 vias-sacras vão arrastar milhares de fiéis às ruas do Distrito Federal nesta sexta-feira. As procissões que narram a história da condenação, crucificação e ressurreição de Jesus Cristo são um marco religioso católico. Mesmo enfrentando problemas com falta de verbas públicas, praticamente todas as cidades vão realizar as encenações da Paixão de Cristo.
 
É em Planaltina que a celebração cristã mais atrai fiéis dos quatro cantos da capital e até do Brasil. A Via-Sacra do Morro da Capelinha é patrimônio cultural imaterial do DF desde 2008. Para a 46ª edição, o público estimado é de 160 mil pessoas. São mais de 1,4 mil voluntários, entre eles, 900 atores que se preparam por meses para a Semana Santa.
 
Fé, amor e dedicação são algumas das motivações do motorista Ariosvaldo Rocha, 46 anos, conhecido como Wall Rocha. “A via-sacra é tudo pra mim, religiosamente, é tudo. Tem a parte teatral, que me causa uma ansiedade para encenar, mas o mais importante é a fé. Se eu for para o Morro da Capelinha e conseguir evangelizar uma pessoa na multidão, meu papel está cumprido”, destaca.
 
Coordenador da equipe de complemento da via-sacra de Planaltina, Wall afirma que só com a união do grupo vai ser possível terminar tudo antes do evento. “Somos 10 pessoas na equipe de construção dos elementos teatrais e aqui a gente produz os cenários, tochas, armaduras, capacetes, de tudo um pouco. No entanto, sem essa minha equipe, não sai nada, aqui é como uma família, todos se apoiam e conseguimos vencer as dificuldades”, destaca.
 
Calos na mão e dedos cortados para o funcionário público Márcio Rubens, 43, simbolizam a vontade e a alegria de fazer parte dessa comemoração desde 1997. Integrante da equipe do Wall, Márcio ingressou na organização após a morte do pai e o evento foi como uma válvula de escape. “Tudo de bom que aconteceu na minha vida, veio da via-sacra. Nela, conheci a mãe do meu filho e, hoje, ele trabalha no evento. Fiz grandes amizades para vida toda”, conta.
 
Tradição
A costureira Maria de Lourdes Maciel, 69 anos, participa do evento desde 1973. Ela conta que, no primeiro ano, a estrada do Morro da Capelinha era de terra, a organização era formada por 150 pessoas e a história era narrada por um ator por meio de um megafone em cima de um jipe.
 
Hoje, coordenadora da equipe de costura da via-sacra, a costureira atuou como Maria, mãe de Jesus, por oito anos. Com o grupo formado por seis ajudantes, dona Maria afirma que organiza o seu tempo para poder se dedicar integralmente a fazer as 300 roupas e vestes do evento. “Desde o meio de março, venho para a casa de costura todo dia, de oito horas da manhã até de noite. E, de noite, não tem hora para acabar, não. Meu filho tem vezes que dorme aqui para terminar tudo”, explica.
 
Um dos motivos que faz Maria ter essa dedicação extrema são as emoções estampadas nos olhos dos espectadores. “Quando chego lá e vejo tantas pessoas emocionadas, as pessoas tocadas com o momento e a beleza das roupas e da história, é lindo! É muita fé, muita gratidão por tudo!”.
 
Há 10 anos no grupo do evento, Junior Ribeiro, 25 anos, coordena a equipe de encenação pelo segundo ano consecutivo e ressalta que se sente realizado tanto espiritualmente quanto profissionalmente. “Fui evangelizado pela via-sacra. Entrei apenas com o intuito cultural, porque achava interessante e queria fazer parte do maior espetáculo a céu aberto do Brasil. Mas vi que tudo no grupo era movido pela fé. Passei a ver que a possibilidade de evangelização de outras pessoas, também.”
 
Infelizmente, Júnior acrescenta que neste ano, a organização teve muitos desafios, pois contava com R$ 1,6 milhão do GDF para cobrir os gastos com a estrutura, iluminação, figurinos, banheiros químicos e brigadistas. No entanto, foi liberado R$ 1,4 milhão. “Só conseguimos liberação de duas emendas, uma de um deputado no valor de R$ 400 mil, e uma outra, de R$1 milhão de outro deputado. Com isso, tivemos que adaptar o projeto para reduzir os custos”, comenta.
 
Dificuldades
Em Samambaia, os responsáveis pela organização da Paixão do Cristo Negro — segundo maior espetáculo teatral a céu aberto, que ocorre há mais de duas décadas em Samambaia — foram obrigados a reduzir um dia de evento. Sem a liberação das verbas parlamentares prometidas, a encenação será feita na sexta-feira e não no domingo de Páscoa, como antes.
 
Apesar do prejuízo financeiro, cancelar o evento não era uma opção, pois além de narrar a trajetória bíblica de Jesus até o calvário, a Paixão do Cristo Negro foi uma forma de trazer a questão racial e outros temas sociais. “Além de pregar a espiritualidade, a peça é um símbolo de luta e um meio para se debater questões sociais. Manter a encenação é também um ato de resistência em prol da valorização da cultura”, afirma a historiadora e pedagoga Jesa Lima, 34, responsável pela organização.
 
Em 2019, a questão da violência doméstica, o crescimento de casos de feminicídio e o empoderamento da mulher serão o pano de fundo da via-sacra de Samambaia. O tema será trazido nas falas e narrações, nas danças, na trilha sonora e até em forma de poema. “É a forma que temos para fazer a denúncia de várias injustiças e casos de violência e trazer esclarecimento para a comunidade”, explica Jesa.
 
São esperados 15 mil espectadores para o teatro, que faz parte do calendário anual de eventos de Samambaia e acontece na Quadra 102, onde as arquibancadas, palco e uma cidade cenográfica são montadas para dar vida à história de Jesus. Aproximadamente 300 voluntários fazem parte da equipe teatral, incluindo os atores, contrarregras, cenógrafos, figurinistas, maquiadores e técnicos.
 
 
Programe-se
 
Confira o local e o horário das principais encenações da via-sacra no DF, sexta-feira:
 
Arniqueira
» A partir das 15h, na Rua da Matriz da Paróquia Maria Auxiliadora (Setor Habitacional Arniqueira, AE I, lote 2)
 
Asa Norte
» A partir das 9h, na Paróquia Militar São Miguel Arcanjo e Santo Expedito (EQN 303/304)
 
Asa Sul
» A partir das 20h, na Paróquia e Santurário Santo Antônio (SGAS 911, módulo B)
» A partir das 10h, na Paróquia e Santuário Santíssimo Sacramento
 
Ceilândia
» A partir das 15h, na Paróquia Nossa Senhora da Paz
» A partir das 15h, na Paróquia São Francisco de Assis
» A partir das 15h, na Paróquia São José Operário
» A partir das 15h, na Paróquia Senhor Bom Jesus (Setor O)
 
Cruzeiro
» A partir das 9h, na Paróquia Nossa Senhora das Dores
 
Brazlândia
» A partir das 7h, Capela Santa Terezinha
 
Guará
» A partir das 9h, na Paróquia Maria Imaculada (QE 15/17, Guará II)
 
Paranoá
» A partir das 17h, na Matriz Santa Maria dos Pobres
 
Planaltina
» A partir das 16h, no Morro da Capelinha
 
Recanto das Emas
» A partir das 15h, na Paróquia São Gabriel Arcanjo
» A partir das 15h, na Paróquia São José Operário
 
Riacho Fundo
» A partir das 10h, na Matriz São Domingos Sávio
 
Sobradinho
» Às 9h e às 15h, no Santuário Tabor da Esperança
 
Taguatinga
» A partir das 15h30, na Paróquia Imaculada Coração de Maria (QNC 12 A/E 1)
» A partir das 19h, no Colégio Marista, próximo à Paróquia Nossa Senhora de Fátima
» A partir das 15h, na Paróquia Nossa Senhora de Lourdes
» A partir das 18h, na Paróquia São João Batista
 
Samambaia
» A partir das 18h, na Quadra 102, Centro Urbano, próximo à estação do Metrô
 
São Sebastião
» A partir das 18h30, no Morro da Cesb (Núcleo Rural Morro da Cruz)
 
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Correio Braziliense terça, 16 de abril de 2019

NOTRE-DAME: LUTO PELA CATEDRAL

 


NOTRE-DAME EM CHAMAS
 
 
Luto pela catedral
 
Incêndio destrói parcialmente a igreja medieval que representa um tesouro artístico e cultural e é uma das atrações turísticas mais visitadas do mundo. O presidente da França convoca "os maiores talentos" para a restauração

 

Publicação: 16/04/2019 04:00

O fogo consome o telhado da igreja gótica quase milenar que se confunde com a história da cidade: moradores e turistas lamentam  

O fogo consome o telhado da igreja gótica quase milenar que se confunde com a história da cidade: moradores e turistas lamentam "Paris desfigurada"

 


Foi em meio à comoção mundial provocada por um incêndio devastador, que destruiu parcialmente a catedral medieval que é um dos símbolos de Paris, além de um tesouro para a história da arte, que o presidente da França, Emmanuel Macron, prometeu: “Vamos reconstruir a Notre-Dame”. Ainda enquanto os bombeiros lutavam contra as chamas, empenhados em salvar o inestimável patrimônio cultural presente no edifício, Macron admitiu que estavam pela frente “horas muito difíceis”, mas celebrou as notícias do fim da noite: a estrutura principal, parte dela datada do século 13, estava salva, assim a fachada imponente e duas das torres, embora a principal delas tenha ruído. “O pior foi evitado, mesmo se a batalha ainda não foi completamente vencida”, disse o presidente, visivelmente abalado, depois de cumprimentar os bombeiros e anunciar que “os maiores talentos” da França serão convocados para a restauração.

O fogo irrompeu por volta das 18h50 locais (15h50 em Brasília), e se espalhou rapidamente pela estrutura superior da igreja de quase mil anos de idade. O comandante da brigada de incêndio de Paris, Jean-Claude Gallet, temia pele campanário norte. “Se ele desmoronar, você pode imaginar o tamanho dos danos”, afirmou. Dos pontos mais elevados e das margens do Rio Sena, moradores e turistas assistiram às chamas devorando o teto e lançando uma espessa camada de fumaça amarelada da Île de la Cité, berço da capital francesa, por toda a região central. “Paris está desfigurada. A cidade nunca voltará a ser como antes”, lamentava Philippe, francês de 30 anos.

“É uma loucura! Não posso acreditar, vou chorar”, disse à agência de notícias France-Presse Nathalie, 50. “É inacreditável! Parte de nossa história está desaparecendo”,  desconsolava-se Benoît, 42. Uma parte da Île de la Cité foi interditada pela polícia, que pediu ao público que evitasse a região e deixasse a passagem livre para as viaturas dos bombeiros e das equipes de resgate. A prefeita de Paris, Anne Hidalgo, reforçou pelo Twitter o apelo das autoridades e lamentou o “terrível incêndio”. A Unesco, agência cultural da ONU, que tem sede na capital francesa, se uniu a líderes internacionais nas manifestações de pesar e solidariedade (leia abaixo).

Turistas
A Catedral de Notre Dame, que recebe cerca de 13 milhões de visitantes por ano, é o monumento histórico mais frequentado da Europa. Pouco antes das 23h (18h em Brasília), centenas de pessoas se reuniram para rezar na ponte Pont aux Changes, em frente ao monumento ainda fumegante. “Estou muito triste”, confessou Stéphane Seigneurie, consultor de 52 anos. “Desde que moro em Paris, esse é um ponto de referência. Venho com frequência. É um lugar extraordinário, que se mistura com a história da França.”

Sam Ogden, 50, tinha chegado de Londres na segunda-feira com a mãe, o marido e os filhos adolescentes. A família britânica viajou a Paris especificamente para ver Notre-Dame, como parte de uma sequência de visitas a locais históricos. “Isso é realmente triste, a coisa mais triste que presenciei na minha vida”, contou Sam. Sua mãe, Mary Huxtable, 73, chorava pela oportunidade perdida: “A catedral estava na lista dos monumentos que eu queria ver”.

O sentimento era quase o mesmo com outra família londrina, que tinha planejado visitar Notre-Dame ontem, mas decidiu de última hora mudar a programação e ir à Torre Eiffel. “É devastador”, resumiu Nathalie Cadwallader, 42, que tinha chegado a Paris dois dias antes, com o marido e os dois filhos, para passar uma semana. “É horrível que isso esteja acontecendo.”    

Às margens do Sena, a multidão aglomerada assistia às cinzas caindo e fotografava as cenas com telefones celulares. Um pai mostrava a igreja medieval em chamas para a filha de cerca de 10 anos de idade. “Tem mil anos”, explicava.



“Notre-Dame de Paris, presa das chamas, dor de toda uma nação”

Emmanuel Macron, presiente da França
 
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Correio Braziliense segunda, 15 de abril de 2019

MÚSICA, ARTE, MODA E SERVIÇOS: VOZ COLETIVA

 

Voz coletiva
 
A segunda reportagem da série mostra como a união de profissionais transforma a música, a arte, a moda e os serviços em trabalho e renda. Fortalecidos, os grupos dão visibilidade às manifestações culturais de quem está à margem da economia formal

 

Simone Kafruni

Publicação: 15/04/2019 04:00

 

Criadora do projeto Gueto é Luxo, Tânia Sarah é especializada em cabelos afros, mas objetivo é empoderar as mulheres negras de Ceilândia (Bárbara Cabral/Esp. CB/D.A Press





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Criadora do projeto Gueto é Luxo, Tânia Sarah é especializada em cabelos afros, mas objetivo é empoderar as mulheres negras de Ceilândia

 



O samba nasceu de batuques africanos, na Bahia do século 19, mas foi na periferia do Rio de Janeiro que criou raízes, ganhou novos sotaques e desceu dos morros para se tornar a maior referência musical do Brasil. Assim como o ritmo, outras expressões artísticas também romperam essa fronteira simbólica. Para seguir a mesma trilha, a voz da periferia do Distrito Federal busca espaço e visibilidade com a formação de coletivos. Unidos, os profissionais transformam a música, a arte, a moda e os serviços daqueles que estão à margem da economia formal em trabalho e renda para, fortalecidos, conquistarem relevância no cenário cultural.

Sem uma cadeia estruturada em torno do artista, as parcerias são fundamentais para a manifestação ocorrer, explica o gestor e pesquisador em Cultura e Desenvolvimento Gustavo Vidigal, ex-assessor de Economia Criativa da Secretaria da Cultura do Distrito Federal. “São várias competências necessárias. A expressão artística é um dos elementos. O coletivo é uma resposta que artistas, gestores e produtores encontraram para dar vazão ao seu trabalho”, diz.

O especialista destaca que cultura já representa mais de 40 mil postos formais no DF. O número, contudo, ainda é insuficiente para abarcar a grandiosidade da produção local. “Por ser uma cidade muito baseada em serviços públicos, em Brasília, a desigualdade é muito grande, de renda, de gênero e, inclusive, territorial. A reunião dos atores é uma tentativa de vencer as barreiras”, argumenta.

Com poucos equipamentos públicos, os coletivos ocupam o espaço urbano. A Praça do Cidadão, em Ceilândia, é um exemplo disso. É lá que a cabeleireira Tânia Sarah Moreira Soares, 23 anos, que criou o projeto Gueto é Luxo, desenvolve seu trabalho. Especializada em cabelos crespos e cacheados da moda e cultura afros, Tânia decidiu trabalhar na periferia para atender às mulheres da comunidade. “Estão elitizando tudo. Já trabalhei em um salão em que o corte custava R$ 150. Eu cobro R$ 60 para tornar acessível. E, muitas vezes, corto de graça aqui na praça e em projetos no Sol Nascente”, diz.

 

OTM Culture ajuda na inserção de jovens no mercado de trabalho e divulga a música local (Gabriel Pinheiro/Divulgação)  

OTM Culture ajuda na inserção de jovens no mercado de trabalho e divulga a música local

 

 


Adeus ao liso
Ela conta que a mãe tinha um salão de pintura e alisamento. “Sempre alisei meu cabelo, nem sabia como era de verdade. Decidi deixar natural e comecei a estudar para saber como tratá-lo. E decidi levar a cultura e o empoderamento à mulher negra da periferia”, ressalta. Com o trabalho de cabeleireira, desfiles e ensaios fotográficos, consegue uma renda mensal de R$ 2 mil. “Recentemente, eu e 15 meninas, de Ceilândia e Samambaia, desfilamos na Embaixada do Gabão”, revela.

Para os jovens da periferia, é mais difícil desenvolver sua arte, porque têm de trabalhar para ajudar em casa e muitas vezes não podem estudar, conta Rayane Soares, 26, coordenadora do Jovem de Expressão, projeto que organiza oficinas socioculturais e de empreendedorismo na comunidade de Ceilândia há 10 anos. “A região é tida como perigosa, mas é muito rica em cultura. A arte é transformadora. Nosso objetivo é que quem nos procurar consiga gerar renda para sobreviver”, diz.

Berço e referência
Brasília sempre foi berço de importantes coletivos culturais, garante Jaqueline Fernandes, gestora cultural e especialista em políticas públicas em gênero e raça. “Cada vez mais presentes e diversos, são referências e modelos de organização. Articulam novas tecnologias, sistemas, modelos éticos, de gestão e de inovação, gerando novos ciclos de criação, produção, distribuição e consumo”, explica.

No entanto, alerta Jaqueline, existe um tipo de invisibilidade e dificuldades específicas que recaem sobre a periferia. “Os coletivos contribuem para a fonte de renda de artistas e agentes culturais que, cada vez menos, dependem de terceiros ou de grandes produtores para empreender. Assim, artistas que nunca tiveram sua música na rádio acabaram por lotar shows e virar fenômeno nas redes sociais”, observa.

Para amplificar a música da periferia em tempos de redes sociais, Ivo Moraes, 29, e Danilo Vieira, 25, ambos moradores de Sobradinho, criaram o coletivo Haze Studio. Tecnólogo em gestão de eventos, Ivo destaca que a paralisação do país com a crise econômica motivou a dupla a buscar alternativas em 2015. “Montamos o coletivo para dar visibilidade à música da periferia”, conta ele, que ganhou experiência como vendedor de discos na Livraria Cultura, de 2011 a 2014.

Com empreendedorismo na veia, Danilo constatou que havia um mercado consumidor de videoclipes gigantesco. Identificados com a cultura hip hop, os dois gravam batalhas de rima e focam a produção audiovisual no rap da periferia, tudo divulgado em canais como o YouTube. “A monetização no ambiente digital ainda é um processo complicado, mas o mercado é crescente e já temos recursos entrando com alguns artistas”, conta Danilo.

Porta de entrada
Os jovens da periferia têm mais dificuldade de entrar no mercado de trabalho e os coletivos funcionam como uma porta de entrada. Segundo a Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios (PDAD 2018), no grupo de regiões administrativas da periferia do DF, está o maior contingente de pessoas entre 18 e 29 anos sem emprego: quase 35%. Para driblar a crise, 15 alunos formandos e recém-formados em publicidade e jornalismo, moradores de Ceilândia e Planaltina, criaram o projeto OTM Culture, um coletivo de divulgação em mídias digitais.

A integrante Jéssica Martins explica que ainda é difícil viver da profissão. “Me formei no ponto alto da recessão, em 2015, e o coletivo foi o jeito que encontrei de trabalhar, mesmo sem receber”, justifica. O OTM Culture começa a se custear. “Por enquanto, está tudo na base da permuta, mas, com nosso trabalho, a cultura da periferia caminha para o centro”, acrescenta.

“Por ser uma cidade muito baseada em serviços públicos, em Brasília, a desigualdade é muito grande, de renda, de gênero, e, inclusive, territorial. A reunião dos atores é uma tentativa de vencer as barreiras” 
Gustavo Vidigal, pesquisador

“Os coletivos contribuem para a fonte de renda de artistas e agentes culturais que, cada vez menos, dependem de terceiros ou de grandes produtores para empreender”
Jaqueline Fernandes, gestora cultural


Correio Braziliense domingo, 14 de abril de 2019

PÉRICLES: A RESISTÊNCIA DO PAGODE

 


MÚSICA
 
 
Péricles: a resistência do pagode
 
Péricles , ex-integrante do grupo Exaltasamba, se aproxima dos 30 anos de carreira com projetos de gravação de discos, DVD e releituras de clássicos do samba

 

Vinícius Veloso*

Publicação: 14/04/2019 04:00

Uma das referências vocais no cenário musical brasileiro e pioneiro quando o assunto é pagode, Péricles chega a 2019 com muito vigor e a esperança de colher bons frutos dos trabalhos que estão projetados para o decorrer do ano. Proveniente do grupo Exaltasamba, com o qual protagonizou anos dourados de pagode, ele é cantor, compositor e músico.
 
Atualmente, segue em carreira solo e mantém o status de expoente musical pela qualidade do trabalho. Ao Correio, Péricles falou sobre os novos projetos para este ano, a família, a carreira e também deixou um recado para os fãs da cidade, que aguardampela apresentação ao lado de Thiaguinho e Chrigor no Funn Festival.
 
 (Fabio Nunes/Divulgação - 22/2/19)  
 
Qual é o tamanho da mudança que o álbum Pagodão do Pericão apresenta em relação aos outros?
Esse é mais um dos projetos que nós acreditamos muito. Nossa intenção foi fazer uma junção de algumas releituras e apresentar uma música inédita, que a galera estava muito a fim de ouvir. A gente procurou não mexer muito na estrutura das regravações, mas apresentar coisas que eu gostaria de ter gravado antes e os fãs gostariam de ouvir na minha voz. A gente acertou bastante na escolha do repertório e é algo para descontrair, se emocionar, assim como todos os outros trabalhos que a gente fez.
 
A união com Thiaguinho e Chrigor em uma canção lembra os anos 1990/2000 do Exaltasamba. Como foi este momento e o quão importante esses artistas são para você?
Essa canção tem uma estrutura parecida com outras canções que a gente já fez, ouviu e curtiu. Mas, primeiro, a intenção foi fazer uma canção que falasse sobre amizade. Aí, eu trouxe dois dos grandes amigos que eu tenho, que a música me deu, que foram o Thiaguinho e o Chrigor e a gente cantou essa canção. Depois, lá no palco mesmo, a gente se deu conta que estavam três vocalistas que passaram pelo Exaltasamba, mas realmente sem intenção nenhuma. A intenção maior era mostrar e comemorar a amizade, não só a amizade que nós temos, mas uma amizade que representa todos por meio dessa canção.
 
No álbum, qual a composição que você mais se identificou? E como foi escolhido o repertório?
Eu não tenho uma que eu me identifico mais, mas o repertório como um todo foi escolhido de uma forma que a gente pudesse agradar as pessoas que gostam do nosso trabalho e fazem um carinho imenso no nosso coração toda vez que a gente lança um trabalho. O Pagode do Pericão é um pagode para todo mundo, assim como é o Canal do Pericão, as minhas redes sociais… É um lugar para todo mundo participar.
 
O pagode vive um novo momento, com grandes artistas como Ferrugem e Dilsinho surgindo. Você, como um dos mais experientes da classe, acompanha isso de que maneira?
Eu, como defensor do samba e do pagode, vejo um momento mágico que a gente está vivendo. Vejo artistas como Ferrugem, como Dilsinho, Vou pro Sereno, Clareou, Tá na Mente, Intimistas, Reis da noite… Tem muita gente boa aparecendo, mostrando seu trabalho, mostrando que realmente a evolução continua. É muito bom ter esses artistas no cenário. Eu vejo com bons olhos e creio que esse é o caminho. Quanto mais gente boa tiver dividindo esse grande espaço que é o pagode, melhor para a música brasileira.
 
Você é conhecido pelo apelido de “Rei da voz”. De onde vem tamanho potencial vocal? Como você se adaptou e se preparou para chegar a esse nível?
Quem me deu esse apelido de “Rei da voz” foi o Mumuzinho e eu vejo como um presente. Gosto muito de cantar, mas desde cedo, percebi um potencial diferenciado para o canto, e a genética ajuda muito. Procuro muito, além da genética, que sempre me ajudou, me cuidar. Fui pra fonoaudióloga, fiz aulas de canto e procuro tomar todos os cuidados para manter o bom uso da voz. Mas gosto de cantar e acho que esse é o maior segredo, gostar do que faz. Independentemente de qual seja a profissão, faça aquilo que te deixa muito mais feliz. É isso que faço.
 
Como você acompanha a carreira do seu filho Lucas Morato? Ele vem se mostrando um excelente compositor e um cantor refinado. Como é a relação de vocês?
A minha relação com o Lucas Morato, além de ser a relação pai e filho, é a relação fã e ídolo, pois eu o admiro muito. É a relação parceiros de composição, são todas juntas que a gente procura viver do mesmo jeito, no mesmo momento. Ele realmente vem se mostrando um grande compositor, é um ótimo cantor e está aí trilhando a carreira da melhor maneira. Eu, como pai, fico feliz em ver que ele também é feliz desempenhando esse trabalho musical, e isso me deixa muito mais feliz. Saber que eu e a mãe dele criamos um cidadão de bem e hoje ele é uma realidade. Hoje, eu sou o pai do Lucas, o que é o mais legal.
 
2019 é um longo ano. O que pode adiantar do novo DVD que está por vir? O que está sendo planejado?
O ano de 2019 tem sido muito bom. É um ano em que a gente pôde mostrar para as pessoas esses novos projetos. Primeiro, o Pagode do Pericão e em segundo esse DVD que nós vamos registrar em audiovisual no nosso show de lançamento do CD Em sua direção. A base é esse CD, mas vamos mostrar para muita gente coisas que a gente fez nesse show. É uma síntese da minha carreira até então. Espero que a galera venha a gostar. Esse ano de 2019 tem sido ótimo para nós.
 
Ainda tem muita lenha pra queimar? Está pensando em parar ou diminuir o ritmo? Dedicar-se mais à família?
Olha, eu tenho hoje mais ou menos 30 anos de carreira, mas eu não penso nisso. Eu sou muito feliz e seria um pecado parar de cantar. Gosto muito do que faço e meus fãs gostam muito do meu trabalho. Não acho justo parar agora. Creio que a gente está no caminho certo e é por aí que desejo trilhar e seguir. Então, não penso em parar tão cedo, nem quero pensar nisso.
 
Se você pudesse definir Péricles em uma palavra, qual seria? E por qual motivo?
Vencedor. Eu, como vários da minha geração, sou um resistente. Eu e o Belo falamos que nós somos resistentes, que nós somos sobreviventes, e isso me deixa realmente muito feliz. Saber que o caminho que a gente trilhou hoje dá frutos e faz com que outras pessoas se inspirem no que a gente fez deixa a gente muito feliz.
 
Você foi anunciado como atração do evento Funn Festival,  em Brasília, ao lado de Thiaguinho e Chrigor, e a galera já está animada antes das vendas. Que recado você pode deixar para o público da cidade sobre o show? 
O recado que eu posso deixar para Brasília é: preparem-se! A gente vai fazer uma festa do jeito que Brasília merece. De antemão, agradeço o carinho de todos e espero ver todo mundo nesse evento que vai ser de arrebentar.
 
*Estagiário sob a supervisão de Severino Francisco 
 
Jornal Impresso
 
 

Correio Braziliense sábado, 13 de abril de 2019

RIO DE JANEIRO: TRAGÉDIAS EM SÉRIE

 

RIO DE JANEIRO
 
Tragédias em série
 
Ainda em recuperação dos estragos causados por temporais nesta semana, que deixaram 10 mortos, cidade é abalada por outra catástrofe: o desabamento de dois prédios construídos irregularmente. São ao menos cinco óbitos

 

INGRID SOARES
ESPECIAL PARA O CORREIO

Publicação: 13/04/2019 04:00

 

Equipes fazem buscas nas ruínas dos dois prédios da comunidade da Muzema em busca de sobreviventes: cães farejadores ajudam nos trabalhos
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Equipes fazem buscas nas ruínas dos dois prédios da comunidade da Muzema em busca de sobreviventes: cães farejadores ajudam nos trabalhos

 

 


Após a morte de 10 pessoas em chuvas torrenciais no Rio de Janeiro, mais uma tragédia se abateu sobre a cidade na mesma semana. Desta vez, o desabamento de dois prédios na comunidade da Muzema, no bairro Itanhangá, na Zona Oeste. Até o fechamento desta edição, cinco pessoas tinham morrido, nove ficaram feridas e aos menos 13 estavam desaparecidas. Entre os mortos está Claudio Rodrigues, 41 anos, que foi resgatado, levado para um hospital particular, mas não resistiu. Ele sofreu traumatismo craniano e teve quatro paradas cardíacas. Os nomes dos outros não foram divulgados.

O Corpo de Bombeiros teve dificuldades de acessar o local da tragédia devido ao temporal de dias antes, que deixou ruas destruídas ou intransitáveis. A corporação trabalha com cães farejadores, helicópteros, drone, ambulâncias e viaturas de recolhimento de corpos. Vizinhos foram os primeiros a prestar socorro e utilizaram até uma porta como maca para fazer a retirada de vítimas.

Segundo a prefeitura, os edifícios foram construídos irregularmente, e as obras estavam embargadas desde novembro de 2018. A pasta afirmou que os prédios foram erguidos por milícias e que, ao atuar na região, precisa do apoio da polícia.

Os apartamentos comercializados por milicianos são vendidos a preços abaixo do mercado. Unidades de dois quartos, com garagem, por exemplo, estavam sendo comercializadas por valores de R$ 40 mil a R$ 100 mil. Moradores contaram que sabiam da irregularidade dos imóveis, mas que era a única forma de moradia disponível.

 

Bombeiros carregam um dos feridos resgatados dos escombros (Carl de Souza/AFP)  

Bombeiros carregam um dos feridos resgatados dos escombros

 

 

 

O governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, afirmou, ontem, que não se pode culpar apenas a gestão atual pela tragédia. “Esse prédio que desabou é um retrato da falta de fiscalização por parte do município. O estado não tem poder de fiscalizar edificações. São edificações que têm de ser coibidas pelo município. Agora, se a área era de milícia, como está sendo dito, no nosso governo estamos combatendo todas as áreas de milícias”, frisou. Já o vice-presidente Hamilton Mourão isentou o governo federal de qualquer responsabilidade e afirmou que as milícias devem ser enfrentadas.

Sem planejamento    
De acordo com o presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Rio de Janeiro, Jeferson Salazar, a prefeitura desmontou os quadros técnicos e praticamente extinguiu a capacidade de planejamento. “Infelizmente, essas tragédias vêm ocorrendo com frequência espantosa e não são uma exclusividade do Rio, mas se reproduzem em todo o território nacional”, ressaltou. “São reflexo de um conjunto de problemas que inclui a ausência de responsável técnico habilitado em atividades de projeto e obra de construções.”

 

Moradora é consolada: prédios teriam sido erguidos por milícias (Carl de Souza/AFP)  

Moradora é consolada: prédios teriam sido erguidos por milícias

 

 

 

Salazar destacou que, ao deixar de garantir direitos fundamentais, como acesso à terra infraestruturada, à moradia e à mobilidade urbana, o Estado se exime de sua responsabilidade constitucional de garantir aos cidadãos o direito à cidade. “Sem a presença do Estado e de políticas públicas consistentes, o cidadão ou é deixado à sua própria ‘sorte’, dando margem à autoconstrução sem assistência técnica, ou fica à mercê da exploração por agentes que agem à margem da lei”, disse. “O resultado é a insalubridade, a ocupação de áreas de risco, o habitat precário e, como na tragédia de hoje (ontem), o desabamento de moradias.”

A Secretaria Municipal de Infraestrutura e Habitação determinou a demolição de mais três prédios no entorno dos que desabaram e realizou, até as 18h de ontem, 13 interdições. A Secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos (SMASDH), por sua vez, atendeu 23 famílias desabrigadas e desalojadas e prestou assistências individuais a mais 100 pessoas do local.

“Sem a presença do Estado e sem políticas públicas consistentes, o cidadão ou é deixado à sua própria ‘sorte’, dando margem à autoconstrução sem assistência técnica, ou fica à mercê da exploração por agentes que agem à margem da lei”
Jeferson Salazar, presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Rio de Janeiro

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Correio Braziliense sexta, 12 de abril de 2019

DECRETO EXTINGUE 13 MIL CARGOS

 


Cargos vagos na mira do Planalto
 
 
 
Na cerimônia dos 100 dias do presidente Jair Bolsonaro no poder, uma das 18 medidas anunciadas por ele atinge diretamente os servidores. Ideia é aumentar a eficiência na Esplanada, segundo os discursos. Ações incluem Banco Central, Bolsa Família, educação e drogasNotícia
 

 

» RODOLFO COSTA

Publicação: 12/04/2019 04:00


O presidente Jair Bolsonaro assinou, ontem, um decreto que atinge em cheio a Esplanada dos Ministérios. O dispositivo extingue cargos efetivos vagos e que vierem a vagar dos quadros de pessoal da administração pública federal. O pretexto argumentado pelo governo é de que a medida visa modernizar o Estado, adequando a estrutura de cargos às “exigências” da sociedade por serviços eficientes e uso racional dos recursos públicos, embora não estabeleça regras sobre como a decisão pode melhorar a qualidade da prestação de serviços e da máquina pública.

A medida contempla um pacote de 18 instrumentos normativos assinados por Bolsonaro em cerimônia alusiva aos 100 dias de governo realizada no Palácio do Planalto. O decreto não está contemplado nas 35 ações estabelecidas em janeiro pelo governo, mas vai em linha com o Decreto nº 9739/2019, que definiu critérios mais rigorosos para solicitação de concursos, sob argumento de buscar mais eficiência administrativa.

O termo eficiência, por sinal, é expresso em três ocasiões no conjunto de propostas, que se dividem entre 13 decretos, quatro projetos de lei complementar e um termo de compromisso. A busca pela efetividade na administração pública é partilhada pelo decreto do “revogaço”, que cancela 250 outros decretos considerados por Bolsonaro como “desnecessários”. “Temos uma parafernália de instruções normativas, resoluções, portarias e acordos interministeriais que, hoje, se avolumam em 14 mil decretos numerados e, pasmem, mais de 13 mil não numerados”, declarou o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni. O governo também pretende eliminar conselhos federais — hoje são cerca de 700, mas o número pode cair para 50.

Na Esplanada, serão extintos 13 mil cargos abertos e que vierem a ficar vagos na administração federal. De acordo com o secretário de Gestão e Desempenho de Pessoal do Ministério da Economia, Wagner Lenhart, são funções que se tornaram obsoletas, como jardineiro, mestre de lancha, atendente bilíngue, operador de máquinas agrícolas, artífice de artes gráficas e auxiliar de enfermagem. Do total, 12.315 já estão desocupados e serão suprimidos imediatamente.

As funções eram, em grande parte, ocupadas por servidores de nível intermediário ou auxiliar — ainda há 916 em alguns desses cargos na administração e serão extintos quando os funcionários se aposentarem. O órgão mais afetado será o Ministério da Saúde, com 11.420. Serão extintos cargos vagos de agente de saúde pública, auxiliar de enfermagem e guarda de endemias. “Agente de saúde pública e guarda de endemias desempenham atividades que passaram a ser exercidas pelos estados”, explica Lenhart. Ele ressalta ainda que outras rodadas de “limpeza” de cargos virão. A meta do governo é ter uma estrutura de cargos mais enxuta. No briefing da entrevista que ocorrerá hoje para falar das extinções, o recado é claro: “Hoje, existem mais de 700 mil cargos efetivos. Destes, cerca de 250 mil estão vagos, e, portanto, poderiam vir a ser providos.”

Eficácia

A argumentação da eficácia é citada pelo governo também na proposta da autonomia do Banco Central (leia mais na página 7), que espera com o projeto de lei assinado ontem o aumento da produtividade, da eficiência na economia e, em última instância, do crescimento sustentável. O outro decreto que trata sobre efetividade é o que possibilita a doação de bens móveis para o governo, sob o pretexto de, com uma atuação socialmente responsável, estimular o fomento e o engajamento colaborativo entre sociedade e o governo.

Decretos, leis assinadas e metas apresentadas pelo governo são distribuídos em cinco grupos: institucional, econômico, social, infraestrutura e meio ambiente. No social, o governo confirmou o pagamento da 13ª parcela do Bolsa Família e entregou o projeto que regulamenta a educação domiciliar, o chamado homeschooling (leia mais sobre os assuntos na página 3). Em setembro de 2018, ainda durante o governo do ex-presidente Michel Temer, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que os pais não podem tirar filhos da escola para ensiná-los em casa. Nesse último caso, a medida virá como projeto de lei, para que tenha vigência imediata.

Mesmo sob formato de projeto de lei, Lorenzoni prevê dificuldades na aprovação por resistências de parlamentares “de esquerda”. Alfinetadas à oposição e os governos anteriores, sobretudo do PT, deram a tônica quando o chefe da Casa Civil explicou o termo de compromisso assinado para implementar o sistema de compliance dentro dos ministérios da Saúde e da Agricultura, geridos pelos deputados de carreira Luiz Henrique Mandetta e Tereza Cristina, ambos do DEM. A ideia é que o governo dê o exemplo no combate à corrupção. “Para, exatamente, mudar a cultura que, durante décadas, foi completamente afastado daquilo que é um bom, serviço público, que é servir à cidadania”, declarou.

O discurso de campanha também norteou parte do discurso de Bolsonaro. Ele disse que o governo pretende trabalhar com foco na valorização das famílias, nos valores cristãos, na educação de qualidade e sem viés ideológico. No Meio Ambiente, entretanto, o governo carregou parte da ideologia defendida pela gestão, que se diz contra o “ativismo ambiental”, ao alterar a conversão de multa simples em serviço de preservação, melhoria e recuperação da qualidade do meio ambiente.
 
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Correio Braziliense quinta, 11 de abril de 2019

AGORA, É PENSAR EM MAIS 100 DIAS

 


GOVERNO
 
 
Agora, é pensar em mais 100 dias
 
 
Governo vai dizer, hoje, que concluiu cerca de 95% das ações programadas para o período,  como a instituição do 13º salário do Bolsa Família. Entretanto, há um plano de diálogos e mais ações, principalmente na geração de empregos, nos próximos três meses

 

» RODOLFO COSTA
» CLÁUDIA DIANNI

Publicação: 11/04/2019 04:00

Bolsonaro e a equipe estão satisfeitos com a repercussão do governo no mundo: integrante da lista das 100 pessoas mais influentes do planeta (Alan Santos/PR)  

Bolsonaro e a equipe estão satisfeitos com a repercussão do governo no mundo: integrante da lista das 100 pessoas mais influentes do planeta

 



O presidente Jair Bolsonaro celebra hoje os 100 dias de governo tentando bancar mais feitos do que efetivamente entregou e com mais polêmicas do que diálogos nas articulações com o Congresso e tradicionais parceiros comerciais no exterior. Mas, aos poucos, o chefe do Executivo federal trabalha para mudar a imagem, por meio de agenda positiva com a sociedade e promovendo uma nova modelagem na interlocução com o Parlamento e as comunidades árabe e asiática. O Planalto reformulou, desde a última semana, um plano para, ao menos, nos próximos 100 dias, entregar diretrizes de uma gestão que dialogue melhor com a política interna e externa e a grande massa que o elegeu.

Uma das grandes sinalizações será feita hoje, com a instituição do 13º salário do programa Bolsa Família, que deve beneficiar cerca de 14 milhões de famílias, em cerimônia no Palácio do Planalto. O custo será de R$ 2,5 bilhões e substituirá o reajuste previsto para este ano. Apesar disso, o governo trabalha para bancar que, em 2020, será mantido o 13º e a correção anual. Um recado importante para um governo que conseguiu convencer as mais diversas camadas socioeconômicas nas eleições.

A ação faz parte de um pacote de 35 metas estipuladas pelo governo para os 100 dias, das quais o governo deve entregar menos da metade, se analisadas eficácia, eficiência e efetividade das medidas apresentadas ainda em janeiro. Na educação, por exemplo, nenhum programa nacional de definição de soluções didáticas e pedagógicas para a alfabetização foi lançado, como era previsto. O governo, no entanto, vai garantir hoje ter concluído cerca de 95% do estabelecido.

O Planalto está orgulhoso das conquistas e da repercussão no mundo. A revista Time escolheu Bolsonaro para integrar a lista das 100 pessoas mais influentes do planeta e a agência de relações públicas global Cohn & Wolfe aponta que o presidente da República superou até mesmo o norte-americano Donald Trump como o chefe de Estado com mais interações no Facebook. Ainda assim, sabe que terá muito trabalho pela frente.

As pesquisas que apontam a queda da popularidade do governo são desdenhadas publicamente por Bolsonaro, mas há uma preocupação interna em melhorar a imagem. O entorno político dele sugeriu, e os líderes partidários cobraram uma proximidade maior com a população. A mensagem foi absorvida. Na sexta-feira, ele viaja acompanhado do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), a Macapá para inaugurar o novo Aeroporto Internacional da cidade.

O gesto é importante sob diferentes aspectos. A inauguração de uma obra de infraestrutura costuma contar pontos com a sociedade e o Parlamento a um presidente da República. Ainda na região Norte, Bolsonaro deve cumprir agenda na Zona Franca de Manaus, polo industrial da cidade. A ida do chefe do Planalto à Campina Grande (PB) para inaugurar o Centro de Dessalinização e casas do programa Minha Casa Minha Vida do Complexo Habitacional Aluízio Campos também está no radar, embora ainda sem data prevista.

A aposta em conclusão de obras e geração de empregos é uma das metas do governo nos próximos 100 dias — e uma das apostas dos empresários da construção civil. De acordo com cálculos da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), 4,7 mil obras paralisadas do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que equivalem a um potencial de R$ 135 bilhões de investimentos e uma geração de 500 mil postos de trabalho diretos e indiretos. Pressionado para melhorar a popularidade e a imagem junto ao Congresso, o governo estuda ampliar as iniciativas para destravar os investimentos e entregar mais obras.

Exterior

A imagem do governo no exterior também é uma preocupação de Bolsonaro. Viagens para a China, Japão e Coreia do Sul estão no radar para o segundo semestre. O embaixador brasileiro na Arábia Saudita, Marcelo Della Nina, faz visitas a autoridades árabes desde segunda-feira. Ontem, o chefe do Planalto, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, e o chanceler Ernesto Araújo jantaram com 40 embaixadores de países islâmicos, na Confederação Nacional de Agricultura e Pecuária (CNA). 

No fim do jantar, que durou cerca de uma hora, o embaixador da autoridade Palestina, Ibrahim Alzeben, deu um recado ao governo ao ser perguntado sobre a suposta transferência da embaixada do Brasil de Tel Aviv para Jerusalém. “Fiquem longe desse conflito e vocês vão ganhar o mundo inteiro”, afirmou, lembrando que islâmicos são um terço da humanidade, espalhados por 57 países.

A ação tenta consertar o potencial estrago político e comercial com os países islâmicos causado pela aproximação do presidente brasileiro com o Estado de Israel e a abertura de um escritório em Jerusalém. O jantar de ontem, que durou uma hora, foi aberto por um breve discurso do presidente, seguido por Tereza Cristina, sobre o relacionamento do Brasil com a comunidade de países árabes e islâmicos. O Brasil exportou US$ 16,4 bilhões em produtos do agronegócio para essas nações em 2018, de acordo com a CNA. Segundo o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal, Francisco Turra, os gestos do presidente vão ajudar a reforçar o comércio.

Cuidado com a saúde

Mesmo com a agenda corrida, Bolsonaro ainda segue as orientações médicas e cuida da saúde. Na manhã de ontem, 
foi submetido a uma endoscopia no Hospital da Força Aérea (HFAB). O exame estava previamente agendado. Ele foi sedado e permaneceu inconsciente por 30 minutos, tempo suficiente para a conclusão do procedimento médico. Em seguida, foi ao Planalto e tomou café da manhã, quando se recuperou do efeito da anestesia e iniciou a agenda política.


Os pardais continuam

A Justiça Federal de Brasília determinou que o Departamento Nacional de Infraestrutura de Trânsito (DNIT) suspenda o desligamento de radares de velocidade nas rodovias federais. A medida foi anunciada pelo presidente da República, Jair Bolsonaro. De acordo com o chefe do Executivo, cerca de 8 mil equipamentos devem ser desativados. a juíza Diana Wanderlei, substituta da 5ª Vara Federal de Brasília, atendeu a uma ação popular do cidadão Fabiano Contarato e determinou que os contratos que estão prestes a vencer sejam renovados por mais 60 dias. A magistrada marcou audiência para o dia 30, a fim de que o Denit e a União apresentem relatório técnico sobre os motivos da não renovação dos contratos e determinou “que nenhum medidor de velocidade seja retirado ou desligado das rodovias federais, em todo o Brasil, até manifestação liminar” da Justiça.
 
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Correio Braziliense quarta, 10 de abril de 2019

BRASÍLIA: LAGUINHO DA 308 SUL

 

Unidos pelo laguinho
 
 
Moradores da 308 Sul organizam vaquinha virtual para repor filtros furtados do espelho d%u2019água da quadra modelo

 

» Juliana Andrade
Especial para o Correio

Publicação: 10/04/2019 04:00

Carlos Alberto, aposentado ajuda a cuidar do espaço: %u201CTodo dia,  faço aspiração dessa sujeira  
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Carlos Alberto, aposentado ajuda a cuidar do espaço: Todo dia, faço aspiração dessa sujeira depositada

 

 
Quadra modelo do projeto urbanístico de Lucio Costa, a 308 Sul está unida em torno do laguinho desenhado pelo paisagista Burle Marx, em meio aos blocos residenciais com azulejos de Athos Bulcão. Eles organizam uma vaquinha para salvar o espelho d’água e, principalmente, as carpas que moram nele.

O dinheiro visa comprar filtros de água ultravioletas. Responsáveis por eliminar as algas e bactérias, os aparelhos foram furtados em janeiro. Desde então, a água está cada vez mais escura, poluída. Os moradores temem pela vida dos peixes e o mau odor. Por isso, criaram uma campanha de arrecadação na internet. O prazo para doação termina hoje.

A meta da vaquinha é R$ 9,3 mil. Cada filtro custa cerca de R$ 2,9 mil. Caso as doações excedam o valor, a Prefeitura Comunitária da 308 Sul afirma que os recursos serão usados para a compra de peixes. Até ontem, o grupo havia arrecadado pouco mais de R$ 5,6 mil. O lago tem cerca de 400 m², com 180 m³ de água. Ele é mantido pela Administração Regional de Brasília, responsável pelos custos com a água e a energia, e a comunidade, responsável pela limpeza, cuidados com os peixes, entre outros.
 
Morador da quadra desde 1961, o aposentado Carlos Alberto Macedo, 85 anos,  se dedica a cuidar do espaço. “Faço o meu exercício diário aqui. Todo dia, faço aspiração dessa sujeira depositada no fundo”, conta. Ele lembra que, antes dos filtros serem roubados, a água ficava transparente.

Os principais frequentadores do espaço são as crianças, que se encantam com os peixes. Eduardo, 6, filho da cirurgiã-dentista Renata Macedo, 44, tem o favorito. “É o peixão”, diz ele, apontando para um dos peixes que se destaca pelo tamanho. “Desde que ele nasceu, os passeios da manhã são feitos aqui. As crianças amam”, destaca a mãe. “A minha infância foi aqui, quando ainda nem tinha água”, completa.

Moradora da quadra, Renata vai ao espaço com o filho Eduardo todos os dias: menino tem até o peixe preferido (Barbara Cabral/Esp. CB/D.A Press)  

Moradora da quadra, Renata vai ao espaço com o filho Eduardo todos os dias: menino tem até o peixe preferido

 



Atração turística
 
O lago é uma das principais atrações da quadra que, além dos moradores, recebe turistas e excursões escolares. Moradora de São Paulo, a psicóloga Liliana Campanholo, 59, visitou a quadra com a família. “Vim conhecer a história. Viemos ver a Igrejinha e passamos aqui, pois tem um paisagismo maravilhoso. Achei lindo”, ressaltou.

O casal Carolina Mourelle, 33, servidora pública, e Leonardo Guimarães, 33, administrador de empresa, também visitou quadra modelo. Leonardo veio de Águas Claras para mostrar a região para a namorada, que veio para Brasília recentemente. “A minha juventude foi aqui, na Asa Sul. Eu saía da escola e vinha para cá com os meus amigos”, relatou.


Dispositivos antifurto
 
» Após o furto dos equipamentos, a Associação de Moradores instalou alarmes e outros dispositivos 
anti-furto na caixa de filtros. Por meio de nota, a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP/DF) informou que toda a área da Asa Sul recebe policiamento 24 horas por dia, por meio de viaturas e de pontos de base de policiamento. A pasta ainda acrescentou que, desde janeiro, 110 suspeitos ou autores de crimes cometidos na região foram detidos.


Participe
» Para participar da vaquinha, basta acessar o site abacashi.com e buscar por Laguinho da 308 Sul – Reposição filtros roubados. Mais informações em www.prefeitura308sul.org.br
 
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Correio Braziliense terça, 09 de abril de 2019

MÁRCIO COTRIM: ADEUS AO HOMEM QUE AMOU BRASÍLIA

 


OBITUÁRIO
 
Adeus ao homem que amou Brasília
 
 
Ex-diretor executivo da Fundação Assis Chateaubriand, Márcio Cotrim morreu, ontem, aos 80 anos e deixa um legado de luta pela cultura da capital. Escritor, era um artesão da palavra, lapidada em cada crônica que escrevia

 

» BRUNA LIMA

Publicação: 09/04/2019 04:00

 

 (Zuleika de Souza/CB/D.A Press - 17/2/05 )  

 

 

Movido pelas palavras, o Usina de Ideias estava a todo o vapor. A mente sã, por nenhum momento deixou a criatividade escapar. A idade, no entanto, bateu a porta e, na tarde de ontem, Brasília perdeu um de seus maiores cronistas e escritores. Aos 80 anos recém-completados, Márcio Cotrim morreu, na tarde de ontem, na residência onde viveu por mais de três décadas, no Lago Sul. Estava ao lado da mulher, Eliana Cotrim. Deixa duas filhas, Flávia e Mônica; e cinco netos: Gustavo, Rodrigo, Thiago, Guilherme e Alexandre. O velório será hoje, das 11h às 16h, na Capela 6 do Campo da Esperança, na Asa Sul. O enterro está marcado para as 16h.

 

A procura incessante pelo saber e o planejamento de inúmeros projetos visando valorizar as raízes e a cultura brasileira fazem jus ao apelido recebido de amigos e admiradores de Cotrim. “Uma locomotiva de ideias, presença inspiradora. Não importava se o tempo estava bom ou ruim, o olhar dele era sempre para frente”, traduz Luiz Marcelo Pinheiro Chaves, genro do pioneiro e escritor.

 

Nascido no Rio de Janeiro, em 14 de março de 1939, Cotrim se formou em direito, mas foi usando o poder da comunicação que se destacou profissionalmente. Chegou a Brasília em 1972, onde atuou como assessor de propaganda e promoções do Banco do Brasil e, posteriormente, assumiu a Secretaria de Cultura e Esporte do DF, sendo o responsável pela criação do Conselho de Cultura e do Fundo de Apoio à Cultura (FAC).

 

Em 1992, entrou para o grupo dos Diários Associados, construindo um legado de informação e cultura. Por quatro anos, respondeu pela direção de marketing do Correio Braziliense e, depois, assumiu o cargo de diretor executivo da Fundação Assis Chateaubriand. Nos corredores do prédio, era visto com frequência. Ficou conhecido também pelas famosas colunas que escrevia semanalmente para o jornal.

 

Amante da língua portuguesa, achou na riqueza do vocabulário brasileiro a inspiração para escrever O pulo do gato, livro em que explica a origem de mais de 200 palavras e expressões populares. O tema rendeu pelo menos mais cinco volumes, que entraram para o rol de publicações do escritor. Foram mais de 15 livros, além dos incontáveis artigos para o jornal.

 

Dentre os temas preferidos que abordava nas crônicas estava a favorita Brasília. Em uma de suas últimas publicações, Cotrim valoriza a maneira com que nasceu a capital, “que se construía freneticamente numa saga poucas vezes igualada na história da humanidade”. E pela cidade, o pioneiro também fez história. “Márcio era um cronista que nos instruía e divertia. Que descanse em paz”, manifestou o geógrafo e professor emérito da Universidade de Brasília (UnB) Aldo Paviani.

 

Consolidou inúmeros projetos culturais, não só para a Fundação Assis Chateaubriand, como também para toda a cidade. Foi dele a iniciativa de criar prefeituras nas quadras do Plano Piloto, sendo ele o primeiro a assumir a função, na SQS 303.  “Cada quadra é uma cidadezinha de 3 mil habitantes”, costumava definir Cotrim. Atualmente, a capital conta com mais de 100 prefeituras de quadras.

 

Trajetória

 

Em reconhecimento às ações que implementou na cidade, Cotrim chegou ser homenageado, em vida, ao dar nome a um dos prédios da construtora Paulo Octávio. O comunicador e o empresário eram amigos. “Márcio teve uma brilhante trajetória, enaltecendo a epopeia de Brasília, seus pioneiros e o legado de JK, com muita sabedoria, inteligência e bom humor. A cidade perde um de seus mais valorosos heróis. A saudade do amigo será imensa”, homenageou Paulo Octávio.

 

Pelas contribuições também recebeu o título de cidadão honorário de Brasília. Como figura de grande relevância para a língua portuguesa, conquistou o Prêmio Carlos de Laet, da Academia Brasileira de Letras. Ele ocupava, ainda, a cadeira de número 30 da Academia Brasiliense de Letras, cujo patrono é Monteiro Lobato, uma das grandes inspirações e referências que Cotrim tinha como escritor. “Ele se orgulhava muito disso e a ocupou com louvor. Era um cronista primoroso, de texto irretocável. Um amigo cordial, elegante e generoso, com uma gargalhada maravilhosa. Apaixonado pelas palavras, pela cultura, pela família e, não posso deixar de mencionar, pelo Fluminense”, relembra o amigo e presidente da Academia Brasiliense de Letras, Fábio Coutinho.

 

Devido a problemas de saúde, Cotrim passou boa parte dos últimos momentos em casa e aproveitando os almoços em família. “Ele era uma pessoa atenciosa, caseira e sempre muito ligado a área de cultura, em geral”, conta o genro Luiz Marcelo. A fragilidade do corpo não impediu, no entanto, que a energia para a escrita se apagasse. “Só o corpo envelheceu, porque a mente estava a mil”, conta Celeste Antunes, funcionária administrativa que trabalhava diretamente com o comunicador.

 

Parece que o grande curioso e desvendador de significados sabia, mesmo antes de partir, do legado forte e eterno que deixaria para somar. Como ele mesmo dizia: “Esse é um filão que nunca se esgotará, porque as palavras nunca terminarão.”

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Correio Braziliense segunda, 08 de abril de 2019

DISTRITO FEDERAL: RIQUEZA DA PERIFERIA

 

Riqueza da periferia
 
Empreendedorismo é a arma dos moradores das regiões administrativas do Distrito Federal para enfrentar os obstáculos que a vida em um país em crise impõe. Consultoria aponta que informalidade e benefícios sociais representam 40% dos ganhos nos domicílios do país

 

SIMONE KAFRUNI

Publicação: 08/04/2019 04:00

O músico Bob Nickson ganha a vida no grito: consegue diárias de R$ 150 para chamar clientes em frente a uma loja na Ceilândia (Minervino Junior/CB/D.A Press)  

O músico Bob Nickson ganha a vida no grito: consegue diárias de R$ 150 para chamar clientes em frente a uma loja na Ceilândia

 



Jogada para longe dos centros urbanos, a população da periferia criou uma economia dinâmica e criativa, um saber coletivo de como sobreviver às condições de exploração da força de trabalho no Brasil. Obrigada a lidar com a ineficiência do Estado, essa parcela de brasileiros, que configura a enorme maioria, fortaleceu redes de solidariedade ao promover soluções locais para as dificuldades da vida. Na vanguarda das relações sociais e econômicas, o arranjo peculiar desse mercado acabou por descortinar a riqueza da periferia.

A cada crise, as taxas de desemprego disparam e atingem em cheio a população periférica, que parte para o empreendedorismo como alternativa de sobrevivência. É nesse contexto que negócios informais, formação de coletivos, foco na vocação regional e uma busca incessante pela independência do centro urbano marcam a economia do entorno de Brasília. A partir de hoje, o Correio publica uma série em quatro capítulos que pretende mostrar um pouco da riqueza da periferia do Distrito Federal, onde apenas 230 mil dos mais de 3 milhões de habitantes moram no Plano Piloto.

A história começa na urbanização do país, explica a professora aposentada de Arquitetura e Urbanismo da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da Universidade de São Paulo, Erminia Maricato. “O Brasil entra no século 20 com 10% da população urbana e termina com 80% das pessoas nas cidades”, diz. A migração é pela busca de emprego. “A mão de obra se oferece muito barata e ganha apenas para comer e gastar com transporte. Sem recursos, se instala como pode nas periferias.”

Quando o desemprego aumenta, entra a criatividade. No Brasil de hoje, são mais de 13,1 milhões de desempregados. Não à toa, a informalidade e os benefícios sociais representam 40% dos ganhos dos domicílios brasileiros para bancar despesas com alimentação, saúde, habitação e transporte, segundo a consultoria britânica Kantar WorldPanel.

Para o professor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV Eaesp) Edgard Barki, o empreendedorismo se fortaleceu nas populações periféricas. “Há um fator circunstancial por conta da crise e do aumento do desemprego. Empreender é uma questão de necessidade para gerar renda”, ressalta.

Com a maior população do DF, com 490 mil habitantes, Ceilândia abriga a segunda maior favela do país, o Sol Nascente, onde moram 95 mil pessoas. Apesar da fama de perigosa, a comunidade luta para vencer o estigma na base da economia informal e solidária. Elisângela Amaral, 40 anos, presidente da Associação dos Microempresários do Sol Nascente e do Pôr do Sol, conta que a batalha é pela formalização dos pequenos negócios. “Nem a associação é formal ainda, mas estamos regularizando para dar mais ao pessoal”, diz.


Sem trabalho e com o filho desempregado, Edilene apostou num food truck no Sol Nascente (Minervino Junior/CB/D.A Press)  

Sem trabalho e com o filho desempregado, Edilene apostou num food truck no Sol Nascente

 




Solidariedade
Sem trabalho e ao ver a dificuldade do filho Clailton Alves de Souza, 30, em se recolocar no mercado, Edilene Alves, 51, apostou em um food truck. Os dois vendem cachorro-quente, sucos, pastéis e caldo de cana. Decidiram manter o negócio no Sol Nascente, para atender a população local com preços acessíveis: por R$ 5 é possível comprar um combo. Os dois conseguem tirar R$ 3 mil de renda por mês.

Para a professora Erminia, a cidade tem uma função social, porque é uma construção coletiva. “A solidariedade é fundamental, já que não se tem um Estado solidário”, explica. Foi para ajudar a família que Sandra Carmem Alves da Silva, 42, descobriu sua vocação. Com a morte da irmã, precisou cuidar dos três sobrinhos. Hoje, é responsável por mais de 20 crianças numa creche no Sol Nascente. “Cobro entre R$ 100 e R$ 150 mensais para dar banho, comida e cuidar”, assinala.

Outra característica comum na periferia é a união de forças. Sem emprego, o marceneiro Cristiano Pereira de Matos, 38, abriu uma empresa e hoje garante trabalho para ex-colegas que ficaram desempregados. Todos moram no Sol Nascente, mas os móveis planejados que produzem ganharam clientela por todo o DF. Os projetos variam de R$ 4 mil a R$ 6 mil. “Quando o volume de trabalho aumenta, contrato mais colegas que precisam de trabalho”, conta. Além da diária de R$ 100 para marceneiro e R$ 50 para ajudante, Cristiano paga o almoço dos colaboradores.

Na periferia, a venda porta a porta é mais eficiente, o boca a boca é mais relevante, sublinha Barki, da FGV Eaesp. O músico Bob Nickson, 54, que o diga: ganha a vida no grito. Enquanto batalha para gravar seus discos e fazer shows, faz bicos como locutor e consegue diárias de até R$ 150 para chamar clientes em frente a um comércio no centro de Ceilândia.
 
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Correio Braziliense domingo, 07 de abril de 2019

MÚSICA: PIRRALHOS MOTIVADOS

 

Pirralhos motivados
 
A música é um importante instrumento na socialização e integração e deve ser introduzida desde a primeira infância. Conheça a história de crianças e adolescentes que tiveram a vida mudada pelas batidas ritmadas

 

Por Renata Rusky
Por Ronayre Nunes
Especial para o Correio

Publicação: 07/04/2019 04:00

Fernando (de bandana), Davi, de baquetas, e Caio são integrantes da banda Os Minhocas e melhores amigos
 (Arthur Menescal/Esp. CB/D.A Press)  

Fernando (de bandana), Davi, de baquetas, e Caio são integrantes da banda Os Minhocas e melhores amigos

 

Quem vê Caio Terra, 10 anos, tocando guitarra e cantando para o público não imagina que até dois anos atrás ele era um garoto extremamente tímido. A professora de música dele, Sara Abreu, relembra: “Ele chegava à escola de música, eu dava oi e ele mal olhava para o meu rosto, de vergonha”.
 
A música transformou a vida e a personalidade dele, fez com que conhecesse gente de todas as idades e até lhe deu os dois melhores amigos, os companheiros de banda, Davi Matheus, 10, e Fernando Sales, 9. “Nós somos irmãos”, diz Davi.
 
Os três se conheceram na escola onde aprendem música. Juntos, iniciaram um projeto que se transformou em uma banda de verdade: Os Minhocas. A relação é mesmo próxima como de irmãos. Nem sempre eles concordam sobre o que tocar ou com outras questões; por isso, as brigas estão sempre presentes. Mas logo passam.
 
Fernando, o baixista, e Davi, o baterista, lembram que, no início, nem gostavam de Caio. “Ele se achava o dono da banda”, reclama Fernando. Caio admite: “Eu achava mesmo. Só porque era vocalista. Mas depois entendi que a banda é de todos”.
 
Entre os profissionais da música, a opinião é quase unânime: os benefícios da musicalização infantil são fundamentais para um crescimento saudável. Ricardo José Dourado Freire é professor do Departamento de Música da Universidade de Brasília (UnB) e explica que a música na infância é chave para o desenvolvimento do adulto: “A questão da música é que ela é central para o desenvolvimento humano. Pesquisas mostram que a atividade musical ativa várias partes do cérebro. Desde aspectos cognitivos até motores, passando até mesmo pela linguagem. A música se torna um catalisador de todo esse desenvolvimento”.
 
De fato, a mãe de Caio, a empresária Rebeca Terra, 41, até se impressiona com o desenvolvimento do filho: “Ele saiu do oito para o 80. Do extremo, de muita insegurança, para se sentir dono da banda. Ainda bem que chegou num equilíbrio”. Para ela, essa é a parte mais importante do envolvimento do filho com a música: o amadurecimento pessoal dos meninos.
 
Enquanto Caio e Fernando são fãs do estilo trashmetal, Davi gosta mais de pop rock. Precisam, portanto, sempre chegar a um consenso sobre o que tocar. Criaram, então, as “leis minhocais”. A primeira delas define que, se dois quiserem tocar uma música, o outro tem de aceitar. Davi nem sempre fica em desvantagem. Fernando o apoia, por exemplo, no gosto por uma das músicas mais polêmicas entre eles: Anna Júlia, de Los Hermanos. Outra lei define que, em shows, quem está tocando uma música que não gosta não pode ficar emburrado. Nos ensaios, está liberado expor a chateação.
 
Apoio incondicional
 
O professor Ricardo José Dourado Freire reforça um fator muito importante da musicalização infantil: a relação com outras crianças. “A música é inerentemente coletiva. Tudo o que a gente vai fazer com música nessa idade é socializador, seja no coral, seja na escola, seja na bandinha do bairro. Mesmo se a criança estiver em um piano, ou em um instrumento sozinha, tem ajuda na complementação das atividades. Essa ideia de complementação e de que a criança não está sozinha é muito importante.”
 
As mães de Caio, Davi e Fernando apoiam a banda de todas as formas que podem. A servidora pública Betiza Matheus, 39, mãe de Fernando, se orgulha tanto de como o trio toca quanto de como consegue resolver os problemas entre eles. E acabou transformando o quarto de brinquedo da filha mais nova, de 4 anos, em uma sala de instrumentos. Questionado se deixa a irmã tocar a bateria dele, Davi diz que bem de vez em quando. Caio, porém, sacaneia e diz que ela toca quando o irmão não está. Um vive na casa do outro, e o outro nem precisa estar no local. As famílias se estenderam.
 
Sara, a professora dos meninos, sabe que, se falar com uma das mães, já significa ter falado com todas. Quando levam os meninos a shows de trashmetal, contam que caem na gargalhada. Betiza gosta de pop rock; Rebeca, de axé. “A gente fica se perguntando se não tem nada romântico”, brinca Betiza. “Eu fico rindo dos nomes das músicas e das bandas e respondendo a pergunta: “Cadê o moleque?”. Porque, quando me veem, já querem saber do Caio”, conta Rebeca.
 
Já com três músicas prontas e duas para colocar letra, ir a um show dos Minhocas é, além de divertido, inspirador. Impossível não se encantar com os três “pirralhos motivados” — como eles mesmos se chamam na primeira música, homônima da banda que toca AC/DC, Metallica, Los Hermanos, Capital Inicial.
 
Quanto mais cedo, melhor
 
Para profissionais da área, a música é fundamental para um crescimento saudável e deve estar presente na vida da criança até mesmo antes do nascimento: “A mãe já pode começar com estímulos vocais desde a gestação, pois ajuda no desenvolvimento da fala, do aparelho fonador. Isso passando também pelas canções de ninar, que vão dar continuidade a esse treinamento”, ensina o professor Ricardo José Dourado Freire, do Departamento de Música da UnB.
 
Em relação às fases de aprendizado prático, Freire detalha que existem várias abordagens. Para as crianças mais jovens, há o método Suzuki — uma filosofia que, de acordo com a Associação Musical Suzuki, defende a participação dos pais no processo de ensinamentos desde a mais tenra idade — por volta dos 4 anos. “Mas é uma adaptação que precisa de um profissional muito especializado. A faixa etária que a gente mais indica para essa introdução musical é junto ao começo da escola, geralmente aos 6 anos, porque a criança está numa fase de aprendizado em diversas vertentes. A partir dos 10 anos, já temos um aprendizado mais similar ao dos adultos, com foco na profissionalização.”
 
Para Felipe Guimarães, professor de bandolim infantil do Clube do Choro de Brasília, outro fator que pode ajudar na musicalização dos pequenos é a influência de casa. “Os pais são fundamentais nessa vontade das crianças, são uma influência direta. Se existir esse estímulo de levar o filho a espetáculos, colocá-lo para escutar os instrumentos em diferente ritmos, fica muito mais fácil.” Ele explica, porém, que a musicalização é uma coisa e a aula de instrumento é outra. “A musicalização é a ideia do estímulo, com vários instrumentos, na construção, apreciação musical, ambientes sonoros. Então, é algo que vai além do estúdio”, diferencia.
 
Assista ao vídeo de Os Minhocas em ação no tablet e no site do Correio.
 
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Correio Braziliense sábado, 06 de abril de 2019

GERVÁSIO BAPTISTA, 96 ANOS - MORRE O DECANO DA FOTOGRAFIA BRASILEIRA

 


OBITUÁRIO
 
Gervásio Baptista, 96 anos
 
 
Autor de algumas das imagens mais importantes do fotojornalismo, o baiano que morou em Brasília por quase seis décadas é considerado decano da profissão pela Associação Brasileira de Imprensa. Ele clicou a rotina de presidentes, guerras e outras crises

 

» Renato Alves

Publicação: 06/04/2019 04:00

O fotojornalista na Praça dos Três Poderes, em frente ao STF: ele, que registrou a construção de Brasília, teve o tribunal como último local de trabalho  (Bruno Peres/CB/D.A Press)  

O fotojornalista na Praça dos Três Poderes, em frente ao STF: ele, que registrou a construção de Brasília, teve o tribunal como último local de trabalho

 



O Brasil perdeu ontem um dos seus maiores fotojornalistas. Autor de algumas das mais famosas imagens de presidentes brasileiros, o baiano Gervásio Baptista morreu aos 96 anos, de causa naturais, em uma casa de repouso de Vicente Pires, onde morava desde 2015. Deixou registros históricos, família e uma legião de discípulos, admiradores e amigos.

Natural de Salvador, Gervásio clicou de Getúlio Vargas a Luiz Inácio Lula da Silva, sete copas do Mundo e 16 concursos Miss Universo, nos tempos áureos do evento. Cobriu a Revolução dos Cravos, em Portugal, em abril de 1974; a queda do presidente argentino Juan Domingo Perón (1955); e a Guerra do Vietnã (1955-1975).

Entre as icônicas fotos de Gervásio está a de Juscelino Kubitschek acenando com a cartola na inauguração de Brasília, capa da extinta Manchete, com os anexos do Congresso Nacional ao fundo. Outra imagem histórica é de Tancredo Neves ao lado da mulher, dona Risoleta, e da equipe médica, no Hospital de Base. A última imagem pública de Tancredo vivo.

Gervásio no Vietnã, durante cobertura da guerra no país asiático  

Gervásio no Vietnã, durante cobertura da guerra no país asiático

 


Precocidade

Os políticos não têm consenso sobre o início da carreira de Gervásio. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso costumava dizer que foi nos tempos de dom Pedro I. Quando FHC fez tal comentário na presença do ex-ministro Pratini de Moraes, Gervásio elogiou a “memória prodigiosa” do então presidente da República. O ex-senador Antônio Carlos Magalhães afirmava que o profissional fotografou a Santa Ceia. “E o senhor era o meu repórter”, rebatia Gervásio, sempre que estava presente. Além de baianos, ambos eram contemporâneos, como o fotógrafo lembrava a ACM.

Quando criança, Gervásio brincava com caixas de fósforo como se fossem câmeras fotográficas. Abria e rabiscava o que via dentro. Ao completar 9 anos, o pai sugeriu a ele, no tempo das férias, trabalhar no laboratório de um amigo, em Salvador, onde moravam. No Foto Jonas, o menino, então filho único, aprendeu, em um mês, todo o processo químico da revelação e da cópia em papel.

As portas do fotojornalismo se abriram quando apareceu no estúdio o político Rui Santos. Ele pediu uma foto 3x4. Como todos os “retratistas” estavam ausentes, Gervásio se ofereceu para atendê-lo. Muito pequeno para fazer o registro do cliente, ele subiu em uma cadeira para alcançar o visor da câmera. “Tirei a foto e corri para o laboratório. Ele (Santos) olhou para mim e disse que eu era um danado. Perguntou-me se queria trabalhar no jornal Estado da Bahia”, contou Gervásio, em entrevista ao Correio.

No dia seguinte, aos 12 anos, Gervásio estreou como fotógrafo-assistente no periódico soteropolitano. Dono da publicação e dos Diários Associados, Assis Chateaubriand logo enxergou o talento no menino. A convite do patrão, em 1950, ele se mudou para o Rio de Janeiro, a fim de trabalhar em O Cruzeiro. 

As fotos mexeram com a maior concorrente da revista dos Associados, a Manchete, a ponto de Adolpho Bloch, proprietário da publicação carioca, contratá-lo para o primeiro número, em 1952.

Tancredo entre dona Risoleta e a equipe médica: última imagem do presidente vivo  

Tancredo entre dona Risoleta e a equipe médica: última imagem do presidente vivo

 


Vida e morte


Pela Manchete, ele registrou, semana a semana, a construção de Brasília. E, dessa cobertura, o mais emblemático registro é o de JK com a cartola. Assim como ela, as fotos feitas por Gervásio no funeral de Getúlio Vargas, em São Borja (RS), em 26 de agosto de 1954, também circularam mundo afora. No Brasil, até provocou um número especial da Manchete.

Discreto em relação aos segredos da vida profissional, principalmente no que diz respeito à intimidade dos presidentes que acompanhou em cerimônias e viagens pelo Brasil e pelo mundo, Gervásio não poupava Jânio Quadros. “A Manchete queria uma foto especial de Jânio. Ficamos quatro horas no estúdio. A minha intenção, com as técnicas de iluminação, era disfarçar os olhos vesgos dele. O (Adolpho) Bloch apareceu e perguntou como estava a sessão. ‘Um saco. Esse fotógrafo é um ditador. Só de me dá ordens’, reclamou Jânio. Soltei uma piada: ‘Presidente, quem mandou vossa excelência ter os olhos tortos?’ Jânio retrucou na mesma hora: ‘Viu? Ainda por cima é atrevido’. Enfim, saiu a foto. Consegui nivelar os olhos dele”, recordou, com uma risada sutil, em entrevista ao Correio.

Gervásio também fez importantes registros de líderes mundiais, como o cubano Fidel Castro, em 1960. “O meu primeiro encontro com Fidel foi em 1960, no primeiro aniversário da Revolução Cubana. Nós nos reencontramos anos depois na sede da ONU, em Nova York. Eu estava lá como fotógrafo oficial da Presidência da República, para fazer as fotos de José Sarney. Para minha surpresa, depois de 25 anos, Fidel ainda se lembrava de mim. Ao me ver, ele afirmou: ‘Yo lo conozco’”, contou o fotógrafo.

Pedido ao presidente JK para acenar com a cartola: dois cliques e uma imagem icônica  

Pedido ao presidente JK para acenar com a cartola: dois cliques e uma imagem icônica

 


Ditadura e prisões

A profissão e as viagens para países comunistas lhe renderam problemas com os militares brasileiros. Durante a ditadura, Gervásio acumulou passagens pela prisão. Mas, por não ter engajamento político, sempre foi libertado rapidamente e sem maiores consequências. Com o fim do regime, ele recebeu o convite para se tornar fotógrafo oficial da Presidência da República. Mas aquele que seria o seu chefe, Tancredo Neves, não tomou posse.

A internação repentina do primeiro presidente civil (eleito pelo Congresso Nacional) após décadas levou centenas de jornalistas a fazer plantão na porta do Hospital de Base, em março de 1985. Em uma tentativa de acabar com boatos da morte de Tancredo, o chamaram para fazer uma foto exclusiva dele ao lado da equipe médica.

Gervásio trabalhou para José Sarney e depois, por anos, fez jornada dupla, trabalhando de manhã na Radiobrás e à tarde no Supremo Tribunal Federal (STF). Nesse período, só chegava em casa depois das 22h. Ele dividia o apartamento da 105 Norte com a mulher, os dois filhos e os dois netos. A rotina da família começou a mudar em 2014, com a morte da carioca Ivonete, com quem Gervásio viveu casado por quatro décadas.

Dinheiro e fama

Considerado uma referência na profissão, Gervásio nunca se gabou da fama. Aliás, sempre fez questão de negá-la. “Todos a quem fotografei eram mais importantes do que eu. Nunca fui famoso, nunca fui rico e nunca fotografei por dinheiro. Quem faz isso não é um bom fotógrafo. No jornalismo, só ganhei bons amigos”, ressaltou, ao Correio. Para ele, fotografar está relacionada às emoções. Um bom fotógrafo, ensina, tem que conhecer as técnicas dessa arte, o equipamento e, acima de tudo, ter sensibilidade. “Clico tudo o que me aguça o sentimento.”

O desapego com dinheiro levou Gervásio a uma aposentadoria mirrada, com nenhum luxo. Ele nunca recebeu um centavo pelos direitos autorais da sua obra. Sequer ficou com cópias das principais fotos. Mas não se chateava. Dizia ter aproveitado tudo que a carreira profissional lhe proporcionou, sem falar em saudades. “Saudosismo não leva ninguém ao céu. A bondade, sim”, pregava.

Perguntado sobre se ressentia por não ter feito alguma imagem, ele só lembrava de uma: “Queria ter fotografado o Mao vivo”. Ele se referia a Mao Tsé-Tung, líder da Revolução Chinesa, arquiteto e fundador da República Popular da China, presidente do país desde a sua criação, em 1949, até a sua morte, em 1976. Em tempo: Gervásio não clicou Mao vivo, mas cobriu as homenagens póstumas e o enterro dele, na China.

Das mais fortes emoções da vida, Gervásio citava o encontro com o ídolo na fotografia: o francês Henri Cartier-Bresson. “A gente se conheceu quando eu fui a Paris fazer um curso de 15 dias em um laboratório. Ele é o papa do fotojornalismo.” Esse foi um dos poucos cursos de Gervásio, que apenas concluiu o ensino fundamental, mas é considerado decano da profissão pela Associação Brasileira de Imprensa (ABI).

Nascido em Salvador, em 1º de junho de 1922, Gervásio fazia planos de sair do abrigo e voltar a fotografar. Católico apostólico baiano, como se apresentava, rezava bastante. Também procurava saber dos resultados dos jogos do seu Botafogo. Uma das suas últimas aparições pública foi em janeiro, na inauguração de uma exposição fotográfica que retratou a trajetória profissional dele. “O grande legado deste brilhante profissional permanecerá vivo. Ele é dono do acervo mais rico da história do país e, uma figura que o Brasil não pode esquecer”, destacou Ivaldo Cavalcante, curador da exposição, realizada na Galeria Olho de Águia, em Taguatinga.

Deixando três filho, Gervásio deverá ter o corpo cremado. No entanto, até a noite de ontem, a família não havia decidido hora nem local do velório.


"Todos a quem fotografei eram mais importantes do que eu. 
Nunca fui famoso, nunca fui rico e nunca fotografei por dinheiro. 
Quem faz isso não é um bom fotógrafo. No jornalismo, só ganhei bons amigos.”
Gervásio Baptista, fotojornalista
 
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Correio Braziliense sexta, 05 de abril de 2019

BRASÍLIA - A CAPITAL DAS CRIANÇAS

 


Prazer, pequeno, sou Brasília
 
 
História e arquitetura da capital federal são temas de peças infantis em abril, mês do aniversário da cidade

 

Diego Marques

Publicação: 05/04/2019 04:00

 
Crianças desvendam mistérios de Brasília em Investigadores do bloco A
 (Murilo Resende/Divulgação)  

Crianças desvendam mistérios de Brasília em Investigadores do bloco A

 

 
Gabriel Guirá interage com o público infantil no espetáculo Brasília brinquedo 
de ler (Espaço Cultural Renato Russo/Divulgação)  

Gabriel Guirá interage com o público infantil no espetáculo Brasília brinquedo de ler

 

 
 
No próximo 21 de abril, Brasília vai completar 59 anos. Fundada para ser a capital federal, a cidade encanta por aspectos diversos como os endereços baseados em números e os traços do arquiteto perfeitamente encaixados à geografia plana. No embalo do mês de aniversário brasiliense, duas peças infantis estão em cartaz, neste final de semana, para apresentar curiosidades de Brasília a seus moradores mais jovens. E o melhor: dá para conferir as duas.
 
O Espaço Cultural Renato Russo recebe a obra Brasília brinquedo de ler em sessões amanhã e domingo, às 16h. A ideia, aqui, é interativa e divide o espetáculo em dois momentos, o primeiro de apresentação e o segundo de integração com brinquedos criados por Gabriel Guirá. Personagens inspirados em Lucio Costa e Julieta Guimarães dividem sonhos com o público e, em geometrias visíveis e invisíveis, estimulam a criatividade para construir a cidade poética de Brasília.
 
Já em Investigadores do bloco A, três crianças descobrem um quarto secreto que conecta os apartamentos onde moram. Para desvendar os mistérios, eles precisam descobrir pistas em um passeio pela memória da cidade. O enredo é baseado nos livros Turma dos tigres e Os karas, além do seriado Detetives do prédio azul. A sessões ocorrem amanhã e domingo, às 17h, no Teatro Goldoni.
 
*Estagiário sob supervisão de Igor Silveira
 
SERVIÇO
Brasília brinquedo de ler
Espaço Cultural Renato Russo (508 Sul). Amanhã e domingo, às 16h. Ingressos: R$ 60 (inteira) e R$ 30 (meia-entrada). Não recomendado para menores de 3 anos.
 
Investigadores do bloco A
Teatro Goldoni (208/209 Sul). Amanhã e domingo, às 17h. Ingressos: R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia-entrada), quem doar um livro infantil também paga meia. Classificação livre.
 

Correio Braziliense quinta, 04 de abril de 2019

FORMANDO PARACAMPEÕES

 


Formando paracampeões
 
 
Há 29 anos, a Cetefe oferece atendimento gratuito a deficientes em diversas modalidades esportivas. Agora, eles estão em busca de atletas para as paralimpíadas escolares, em novembro

 

» MARIANA MACHADO
ESPECIAL PARA O CORREIO

Publicação: 04/04/2019 04:00

 (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  


Atletas da natação se preparam para a competição, e associação pede ajuda para reparo da piscina
 (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

Atletas da natação se preparam para a competição, e associação pede ajuda para reparo da piscina

 



A superfície da piscina fica inquieta quando os atletas cortam a água em movimentos rápidos. Crawl, borboleta, costas e peito. Todos os estilos são possíveis. A concentração é o que faz dos paratletas da Associação de Centro de Treinamento de Educação Física Especial (Cetefe) verdadeiros campeões. Que o diga Matheus Bezerra, 17, que ostenta, orgulhoso, as 45 medalhas obtidas nos últimos três anos nadando pela organização sem fins lucrativos.

O rapaz, diagnosticado aos 4 anos com deficiência intelectual, se prepara para participar pela última vez das paralimpíadas escolares, que ocorrem em novembro, em São Paulo. Como está terminando o ensino médio, não poderá competir no ano que vem. Em 2018, ele ficou em quarto lugar. Agora, o objetivo é subir no pódio. “Estou treinando para conseguir ir mais longe. Quero alcançar a marca das 50 medalhas neste ano”, promete o jovem fã do campeão olímpico César Cielo.

Antes de iniciar os treinamentos, Matheus tinha dificuldade de aprendizado. Era muito tímido e dificilmente conversava. A família, que mora em Ceilândia, decidiu levá-lo à Vila Olímpica da cidade, onde ele se encantou pelo esporte. “Quando soubemos do problema, veio a preocupação, mas, depois de um tempo, entendemos que não é nada. Há tanta gente em situação até mais complexa e que são campeões”, narra o avô, o aposentado Sotero Bezerra, 68. Ele e a avó acompanham Matheus em quase todos os treinos, quatro vezes por semana. “É o sonho da família ver ele em uma paralimpíada”, emociona-se.

Por enquanto, a competição escolar é o alvo, mas a associação procura mais atletas para formar as equipes. A professora de natação Fernanda Santos explica que a intenção é treinar jovens entre 12 e 19 anos para fazer parte da delegação do Distrito Federal. “Tem muita criança espalhada nas escolas que poderiam estar com a gente, mas, às vezes, não sabem do projeto ou estão deprimidos, achando que não conseguem fazer nada. A gente foca no que eles conseguem fazer”, explica.
 
Sonhos
 
E eles são capazes de muita coisa. A falta da perna esquerda não impediu Gabriel Koga, 18, de levar o ouro para casa várias vezes desde que começou a frequentar o Cetefe, há quatro anos. “Nasci com má-formação, sem a fíbula (osso da perna). Por decisão minha, passei pela cirurgia de amputação e, durante a recuperação para voltar a andar, uma menina que praticava tiro com arco me indicou o Cetefe”, relembra.

Assim nasceu o amor pela natação e o carinho por uma nova família. “Aqui a gente é rival, mas é amigo”, garante. Nos últimos anos, ele fez parte da delegação escolar do DF, mas agora passou para outro nível. O sonho é participar de um mundial. Até lá, administra a rotina trabalhando na própria associação, treinando e, pela noite, estudando ciência da computação na Universidade de Brasília (UnB).
 
Trabalho intenso
 
A Cetefe foi fundada em fevereiro de 1990, por Ulisses de Araújo, hoje diretor do espaço. À época, ele era jogador de vôlei e treinava algumas equipes. “Pessoas com deficiências variadas me procuravam querendo participar e, por volta dos anos 1980, eu comecei a incluir pessoas da comunidade onde eu morava, no Setor Militar Urbano”, relembra.
Observando a dificuldade que famílias tinham de encontrar profissionais de educação física interessados em trabalhar com deficientes, ele criou a Cetefe. O terreno foi cedido pela Escola Nacional de Administração Pública (Enap), no Setor Policial Sul. Nos 29 anos de existência, ele perdeu as contas de quantas pessoas foram atendidas. Atualmente, são cerca de 1,2 mil.

Ulisses explica que todos são bem-vindos. “Temos deficientes físicos, visuais, auditivos, intelectuais, autistas. A gente não oferece só esporte. Temos estimulação motora e atendemos do bebê ao idoso.” Mais de 500 colaboradores fazem parte do trabalho, que também atende aos familiares.

A expectativa é levar delegações de todas as modalidades para os jogos paralímpicos escolares. Os estudantes interessados podem ir à associação para fazer uma avaliação e começar o treinamento.
 
Piscina aquecida
 
Há cerca de um ano, a piscina está sem aquecimento. O equipamento que esquenta a água estragou e é muito caro. Três peças são necessárias para o conserto, mas cada uma custa em torno de R$ 50 mil. Por isso, a associação começou uma vaquinha on-line, mas, até agora, só conseguiram arrecadar R$ 10 mil. Fernanda explica que a piscina fica extremamente fria. “Os meninos quase congelam e, com isso, a gente perde muito aluno na época do frio. Isso atrapalha os trabalhos sociais e de treinamento.”

Além disso, portadores de certas patologias não podem entrar na água gelada. “Alguém com lesão medular, por exemplo, pode ter hipotermia. Fazemos trabalhos com a terceira idade e não podemos submeter os idosos a essa temperatura”, justifica a professora. Um dos atletas mais antigos, Gilberto de Almeida, 45, explica que, sem o aquecimento, cãibras são mais comuns.

Gilberto sofre de esquizofrenia e afirma que o esporte é um verdadeiro remédio. “Hoje, eu só tomo um remédio, mas, há uns dois anos, usava medicamentos controlados fortíssimos. Com o esporte, eu posso dizer que tenho energia para fazer coisas que adolescentes de 17 não conseguem”, comemora.
 
Confiança
 
Competir não é problema para os atletas. No último fim de semana, eles mergulharam de cabeça em Uberlândia e voltaram vitoriosos. Goiânia, Fortaleza e São Paulo também foram destinos em outras ocasiões. No ano passado, a delegação foi a Buenos Aires participar do aberto paralímpico. Durante as viagens, as professoras ficam responsáveis, o que não é problema para os pais.

A dona de casa Leomara Morais, 47, só tem elogios às técnicas. “Elas são mãezonas e fazem a diferença. Elas cuidam, zelam, mandam dormir na hora certa e se alimentar direito. São um exemplo de dedicação”, diz. O filho dela, Joel Morais, 21, foi tardiamente diagnosticado com autismo. “Quando ele tinha 3 anos, nós notamos os primeiros sintomas, mas só tivemos a confirmação quando ele fez 16”, diz.

Sem o esporte, ela acredita que o filho provavelmente passaria os dias isolado em casa, em frente a uma televisão ou celular. “Ele é muito comprometido, a natação é prazerosa para ele. Ele fala que quer ser professor de educação física e, claro, tem um exemplo muito bom.”


Chamada de atletas
 
O adolescente que quiser participar das paralimpíadas escolares deve procurar a Cetefe pessoalmente para uma avaliação. A associação fica nos fundos da Enap, no Setor Policial Sul. Veja a relação de todas as modalidades oferecidas: natação, basquete em cadeira de rodas, rúgbi em cadeira de rodas, tênis em cadeira de rodas, tênis de mesa, tiro com arco, atletismo, bocha, vela adaptada, parabadminton, halterofilismo, goalball, futebol para paralisia cerebral.


Como ajudar

Quem tiver interesse em fazer uma doação para o aquecimento da piscina pode entrar em contato pelo e-mail natcav@gmail.com ou fazer um depósito:

Banco do Brasil
Agência: 3478-9
Conta Poupança: 52957-5
Variação 51
CNPJ: 26.444.653/0001-53
 
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Correio Braziliense quarta, 03 de abril de 2019

CANDANGOS NO FESTIVAL DE ERIC CLAPTON

 


Candangos no festival de Eric Clapton
 
 
Os brasilienses Daniel Santiago e Pedro Martins participarão de evento ao lado de Robert Cray, Bud Guy e Jeff Beck

 

Irlam Rocha Lima

Publicação: 03/04/2019 04:00

Daniel e Pedro foram convidados por Eric Clapton para tocar no festival de jazz e blues no Texas (EUA)
 (Dani Gurgel/Divulgação)
 
 

Daniel e Pedro foram convidados por Eric Clapton para tocar no festival de jazz e blues no Texas (EUA)

 

 
 
 
O talento dos músicos brasilienses continua sendo reconhecido no exterior. Uma prova disso é o convite recebido pelos violonistas e guitarristas Daniel Santiago e Pedro Martins para participar do Eric Clapton’s Crossroads Guitar Festival, que será realizado em 20 e 21 de setembro, em Dallas, nos Estados Unidos.
 
No evento, os instrumentistas e compositores candangos estarão ao lado de 32 atrações internacionais, nomes consagrados do rock, do jazz e do blues internacional como Jeff Beck, Peter Frampton, Robert Cray, Sheryl Crow, Kurt Rosenwinkel, Gustavo Santaollala e Buddy Guy, Los Lobos e, claro, Eric Clapton, uma lenda viva da música pop.
 
Simbiose, álbum de Daniel e Pedro, lançado em 2018, foi o que levou os dois a serem convidados para tomar parte do festival. “Em janeiro, Kurt Rosenwinkel ligou para o Pedrinho e disse que Eric Clapton tomou conhecimento do nosso disco, ouvindo-o em plataformas digitais. No final de fevereiro, fomos formalmente convidados, via e-mail do próprio Clapton. Na quinta-feira passada, recebemos a programação, enviada pela produção”, relata.
 
Amigos há 12 anos, Daniel e Pedro passaram a desenvolver uma relação artística logo que se conheceram pessoalmente. “Eu já estava morando no Rio de Janeiro quando em 2007, o Pedrinho me procurou. Disse ser admirador do meu trabalho, que conhecera em Brasília, ao assistir uma apresentação minha com o Hamilton de Holanda”, lembra Daniel. “À época, ele tinha 14 anos e ao ouvi-lo percebi que estava diante de um talento precoce e raro. Passamos então a manter contatos frequentes. Quatro anos depois produzi e participei, tocando violão, do primeiro disco dele, intitulado Sonhando alto, lançado em 2011”, acrescenta.
 
Teatro Mágico
 
Em seguida, Daniel, já como integrante e diretor musical da banda paulistana Teatro Mágico, levou Pedro para se juntar ao grupo, no qual ficou por apenas um ano. “O Pedrinho havia decidido  se dedicar a projetos individuais. Em julho de 2015, ele venceu o Socar Guitar Competition da 49ª edição do Festival de Jazz de Montreux, na Suíça. Entre os jurados estavam John Mc Laughlin e Kurt Rosewinkel. Depois, Kurt o chamou para uma gravação em Londres e aí o Eric Clapton apareceu no estúdio”, conta.
 
Músico da geração posterior à de Hamilton de Holanda, Daniel, hoje com 40 anos, tem como contemporâneos o baixista André Vasconcellos, o violonista Rogério Caetano e o gaitista Gabriel Grossi. “Ao deixar Brasília e ir para o Rio de Janeiro, me integrei ao grupo Brasilianos, liderado pelo Hamilton. Com ele, gravei vários discos, diversas turnês e incontáveis shows. Compusemos também a Sinfonia Monumental comemorativa dos 50 anos de Brasília”, relata.
 
Daniel aguarda o retorno de Pedro Martins, que está na Europa fazendo shows de lançamento do Vox, o segundo CD solo. “Quando ele voltar, vamos trocar ideia sobre a participação no Eric Clapton’s Crossroads Guitar Festival, que é algo de grande importância, principalmente em razão do reconhecimento do nosso trabalho; mas também pela oportunidade de estarmos lado a lado com alguns músicos que temos como referência”, destaca.
 
Recentemente, o violonista gravou com Hamilton de Holanda o álbum Harmonize, que será lançado em breve. “No segundo semestre do ano passado, lancei Union, meu terceiro disco solo, com a participação do Pedrinho, inclusive na produção. Antes de viajar para a Europa, ele esteve comigo no show com base nesse trabalho, que fiz no Sesc Pompéia”, comenta. “Em 25 de maio, voltamos a nos encontrar no palco, num show em homenagem a Milton Nascimento, no Sesc da 24 de maio, também aqui em São Paulo, onde moro há quase uma década”, adianta.
 
 
 
“Em janeiro, Kurt Rosenwinkel ligou para o Pedrinho e disse que Eric Clapton tomou conhecimento do nosso disco, ouvindo-o em plataformas digitais”
Daniel Santiago, músico
 
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Correio Braziliense terça, 02 de abril de 2019

ZECA, O CÃO FAREJADOR: HORA DE PENDURAR A COLEIRA

 

Hora de pendurar a coleira
 
 
Após missão cumprida no rompimento da barragem em Brumadinho (MG), o labrador preto Zeca, do Corpo de Bombeiros do DF, se aposenta

 

» PATRÍCIA NADIR
ESPECIAL PARA O CORREIO

Publicação: 02/04/2019 04:00

Zeca com os sargentos Paulo Couto e Isaque Ferreira Ribeiro, que o acompanharam durante a carreira na corporação (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

Zeca com os sargentos Paulo Couto e Isaque Ferreira Ribeiro, que o acompanharam durante a carreira na corporação

 


 (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  


Militares do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal se despedirão de um ajudante nas missões de busca e salvamento. O companheiro de trabalho é o labrador preto Zeca, que vai se aposentar após nove anos de honrarias e trabalho árduo na corporação. Em geral, isso ocorre quando o cão farejador completa oito anos, mas ele fugiu à regra e acabou trabalhando mais porque tinha muita dedicação e vitalidade. Participou de diversas missões de destaque, a última delas no rompimento da barragem em Brumadinho (MG). Agora, deixa o distintivo para aproveitar um descanso merecido.

O labrador chegou à equipe ainda filhote, com cerca de três meses de vida. Desde então, conquistou o coração de todos, tanto que ganhou até uma despedida com direito a medalha no sábado. Ele foi homenageado durante um evento no Kennel Clube de Brasília. “O Zeca é o xodó da corporação, porque está com a gente há muito tempo. Vamos sentir muitas saudades, mas chegou a hora de ele descansar, depois de tanto trabalho duro”, diz o sargento Paulo Couto.

Zeca voltou da missão em Minas Gerais há um mês. Lá, o animal atuou nas buscas das pessoas desaparecidas por 15 dias. Durante o trabalho, sofreu diversas lesões dermatológicas, uma vez que teve contato direto com os metais e resíduos da barragem. Agora, está se recuperando e para a aposentadoria.

Além desse desafio, o currículo do cão conta com outros resgates relevantes, como as buscas por quatro adolescentes levados por uma tromba d’água num córrego entre Samambaia e Ceilândia, o desmoronamento de um prédio na Colônia Agrícola Vicente Pires e o naufrágio de uma lancha no Lago Paranoá. Fora do Distrito Federal, auxiliou o trabalho dos socorristas após o deslizamento de terra em Teresópolis (RJ), em 2011, e participou de diversas operações em Minas Gerais e em Goiás.
 
Treinamento
 
Para aguentar o trabalho, os cães seguem uma rotina regrada. Pelo menos duas ou três vezes na semana, fazem atividades de natação, corrida e treinamentos de buscas em matas. “E, para que nós (bombeiros) façamos parte do agrupamento de cães farejadores, também passamos por um curso de especialização, com psicologia canina, treinamento em água e várias outros ensinamentos relacionados à vida canina”, explica o sargento Paulo.

Para atuar nas funções de combate, os cachorros das forças da Segurança Pública precisam ser firmes. Além da raça, leva-se em conta se o cão é curioso e se tem uma postura proativa e atenta. Depois da escolha, eles passam pela fase de socialização, adaptação, obediência e treinamento.

“Desde os primeiros momentos, o Zeca se destacou. Ele era o mais inteligente dos filhotes à época. Treiná-lo foi uma atividade fantástica”, relata o sargento Isaque Ferreira Ribeiro, que está na reserva há um ano. Geralmente, o bombeiro instrutor se torna a referência do animal. Por isso, quando chega a hora de ‘pendurar a coleira’, eles acabam sendo adotados pelos profissionais que os adestraram.

Sendo assim, o novo lar do Zeca será na casa de Isaque, em Sobradinho. A previsão é de que a mudança ocorra dentro de 30 dias, quando o processo burocrático da adoção for finalizado. “Vamos aproveitar a vida agora. Esse guerreiro merece”, comenta o militar.


Dócil demais
 
Em 2017, um pastor alemão chamado Gavel foi expulso de um programa de treinamento da polícia australiana por ser dócil demais. A “carreira” do cachorro, no entanto, teve uma reviravolta: após o ocorrido, ele passou a morar na residência do governador de Queensland. Antes de ser dispensado, Gavel participava de um treinamento para cachorros promovido pelo Serviço Policial de Queensland, na Austrália. O programa tinha duração de 16 meses, mas logo no início os treinadores perceberam que o animal era amigável demais e não apresentava os requisitos necessários para ser um cachorro da polícia.
 
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Correio Braziliense domingo, 31 de março de 2019

TANGO, UMA DANÇA BRASILIENSE

 


Tango, uma dança brasiliense
 
 
Cresce o número de adeptos da coreografia portenha na capital. Movimento é perceptível pelos espetáculos, academias e projetos inspirados no estilo

 

» Adriana Izel

Publicação: 31/03/2019 04:00

Alunos do professor Mario Miskiewiez (C):  

Alunos do professor Mario Miskiewiez (C): "está ao alcance de todo mundo"

 


Há mais de 20 anos, o tango, dança originária da Argentina e do Uruguai, desembarcou em Brasília nas escolas de dança da cidade. Nomes como dos dançarinos e professores Marcelo Amorim, Anna Elisa e Oscar Ricarte são os precursores desse movimento na capital, que, de tempos em tempos, vive momentos de auge no Distrito Federal. E este é um dos momentos.
 
Nos últimos quatro anos, a cidade voltou a ser inflada pelo tango. Aulas, milongas (nome usado para denominar as festas de tango) e projetos influenciados pela dança ganharam destaque. Hoje, as milongas, em geral, têm público de até 60 pessoas. Sem contar os espetáculos que lotaram espaços como a Sala Plínio 
Marcos, no Complexo Funarte.
 
“O tango em Brasília tem altos e baixos, tem tempos em que o número de praticantes cresce, e outros, em que diminui. De uns quatro anos pra cá, o movimento do tango em Brasília vem melhorando. Hoje temos mais profissionais da dança na cidade. Isso movimenta o cenário de forma positiva, com a realização de eventos como bailes, aulas e shows de gente da cidade e de fora”, explica Oscar Ricarte, que trabalha com isso há 18 anos e atualmente se dedica a aulas particulares desse estilo todo peculiar de dançar.

O professor Ricarte, com Michelline Medeiros, destaca que o cenário do DF está aquecido com festas e academias de qualidade  

O professor Ricarte, com Michelline Medeiros, destaca que o cenário do DF está aquecido com festas e academias de qualidade

 

Quando se fala no estudo do tango, a capital tem diferentes escolas. A variedade é grande. Para Ricarte, o desafio agora é a grande diferença entre o número de mulheres e homens praticantes. “As mulheres ainda são maioria, o que deixa o ambiente desfalcado, pois na dança a dois faz-se necessária a presença do homem para fazer par com a mulher. Por isso, hoje em dia, venho desenvolvendo formas de driblar essa dificuldade. Acredito que o tango, assim como qualquer dança de salão, pode ser dançado entre duas pessoas, independentemente do sexo”, destaca.
 
Além das aulas, a cidade conta com pelo menos um baile por semana dedicado ao tango. Uma vez por mês, ocorrem duas milongas na Asa Sul, uma promovida pelo casal de professores Anna Elisa e Sávio Menezes, e outra pelo casal de dançarinos Paula Emerick e Juliano Andrade. Na Asa Norte, o salão de festas de um bloco e a cobertura de outro também são invadidos pelo tango, uma vez por mês, por iniciativa de adeptos da dança.
 
Ritmo candango
Desde julho de 2017, a capital federal tem um Corpo de Baile de Tango totalmente candango. Criado pelo argentino Mario Miskiewiez, sem apoio governamental e privado, o grupo surgiu como uma forma de mostrar outras faces do tango para o público brasiliense. “Quando cheguei, tinham pessoas trabalhando com o tango há muito tempo. Havia as milongas. Mas achei que fazer um corpo de baile era um jeito de mostrar o tango de uma forma diferente. Para que todo mundo tenha acesso, possa assistir e vivenciar essa cultura”, conta.
 
Com o objetivo de montar o grupo, Mario Miskiewiez convocou dançarinos de diferentes estilos de Brasília. “Fizemos isso para mostrar que o tango está ao alcance de todo mundo. Não é uma dança só para privilegiados”, explica. Assim foi formado o Corpo de Baile de Tango de Brasília, que tem mais de 20 dançarinos no elenco. Desde então, o grupo apresenta anualmente um espetáculo nos palcos de Brasília. Neste ano, apresentaram o show Tango urbano, na Funarte, e devem voltar aos palcos em julho. “Cada show é feito só uma vez em Brasília. Estamos armando o próximo com uma temática diferente”, explica.
 
Aprendizado diferente
A professora de línguas Michelline Medeiros encontrou no tango uma forma de conexão com a Argentina. Após morar um período naquele país, onde aprendeu a dança, ela retornou ao Brasil e passou por uma fase difícil por ter tido que deixar o país latino. Ela viu no tango uma forma de se reaproximar do local deixado.
 
“O tango foi a minha arteterapia, foi a maneira que encontrei de me manter conectada com aquele país sem estar fisicamente lá, foi a maneira que encontrei de manter a argentinidade acesa. Desde então, comecei a participar ativamente da comunidade tangueira de diversas maneiras: fazendo aulas, frequentando milongas, participando, por um período, do Corpo de Baile de Tango de Brasília, sendo uma das organizadoras de uma das milongas de Brasília, a Vangardia Tangueira”, diz.
 
Mas só isso não bastou. Neste ano, o tango invadiu a vida profissional de Michelline com o curso Entre tangos. A professora resolveu unir o estudo do espanhol com o tango, mostrando que a cena tem influenciado outras iniciativas. “No semestre passado, tive uma aluna que era tangueira, e assim, comecei a usar tangos e materiais correlatos como base para as nossas aulas. Daí surgiu a ideia do curso, que veio a calhar com meus planos pessoais. Há algum tempo, como consequência da minha missão de vida, tenho procurado unir o ensino de idiomas às manifestações culturais e às artes e, assim, oferecer cursos diferenciados e voltados para o entendimento da língua como manifestação e ponte culturais. E esse curso, desde a concepção, faz isso”, completa.
 
O curso foi pensado para os amantes do tango, não somente para aqueles que o dançam, mas também destinado àqueles que admiram a música, os costumes e todo o universo tangueiro. As aulas se utilizam de letras, documentários e gravações de aulas de tango. É a partir da dança que são extraídos o vocabulário e as estruturas gramaticais das aulas.
 
 
Para aprender
 
» Corpo de Baile de Tango de Brasília
Para aulas e informações sobre o corpo de baile, ligue para o telefone 99153-9288 ou acesse o Facebook: www.facebook.com/corpodebailedetangobsb.
 
 
» Entre tangos
Curso de espanhol com base no tango. Turmas no Thook (211 Norte, Bl. A) com aulas segundas e quartas, das 18h às 20h. Terças e quintas, das 20h às 21h30. Segundas e sextas, das 12h30 às 14h. Informações pelo telefone 99653-5320 ou pelo Facebook: www.facebook.com/Entre-tangos-443976539678691.
 
 
» Para dançar nas milongas Caminito
Fred Restaurante (405 Sul, Bl. B, Loja 10). Em 5 de abril, às 19h30. Preços: R$ 30 (milonga), R$ 50 (aula) e R$ 70 (aula + milonga).
 
 
» Tango na Laje
314 Sul, Bl. F (cobertura). Em 20 de abril, às 20h. Entrada gratuita. Lanche colaborativo.
 
 
» Al Compás del Corazón
Naturetto (403 Sul, Bl. C, Loja 22). Em 26 de abril, às 21h. Entrada a R$ 30.
 
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Correio Braziliense sábado, 30 de março de 2019

CIRQUE DU SOLEIL: POR TRÁS DO OVO

 


ARTES CÊNICAS
 
 
Por trás de OvoO
 
Espetáculo do Cirque du Soleil, que estreia em 5 de abril na cidade, tem uma estrutura nos bastidores de impressionar

 

Diego Marques*
Enviado especial

Publicação: 30/03/2019 04:00

O espetáculo fica em cartaz até 13 de abril no Ginásio Nilson Nelson (Douglas Magno/AFP)  

O espetáculo fica em cartaz até 13 de abril no Ginásio Nilson Nelson

 



Mar Gonzalez é chefe da equipe de costura de Ovo (Lucas Hallel/Divulgação)  

Mar Gonzalez é chefe da equipe de costura de Ovo

 

 
 
Belo Horizonte — O Cirque du Soleil chega a Brasília em 5 de abril. O espetáculo Ovo está em turnê no Brasil pela primeira vez. Cores, acrobacias, malabarismo, contorcionismo… Os atos performáticos são encantadores, mas o trabalho de bastidores também é incrível. O Correio esteve em Belo Horizonte — primeira cidade brasileira a receber a apresentação, que retrata uma colônia de insetos.
 
Antes do show, um passeio pelo backstage. Dá para imaginar a dimensão da produção e a logística por trás das exibições. Ainda assim, observar os detalhes é surpreendente. O Cirque chega ao Brasil, de navio, com 250 contêineres. Dentro do país — e daqui para os países vizinhos da América do Sul — os equipamentos seguem viagem em 23 caminhões. Inclusive, a estrutura de montagem começa dois meses antes das datas de apresentação — ou seja — a preparação do Ginásio Nilson Nelson começou em fevereiro.
 
Fora do palco, os 50 artistas têm estrutura completa para diversas atividades. Há uma academia completa baseada em pesos livres. Entre os materiais, até um saco de pancadas está disponível. Eles têm rotina e físico de atletas, logo, uma dieta balanceada é programada por nutricionistas e preparada por um chef próprio. Um restaurante é montado e são servidas opções saudáveis e variadas, já que o grupo é composto por pessoas de 25 países.
 
As fantasias, outro show à parte, demandam cuidado especial. Então, o Cirque traz a própria lavanderia e estrutura de costura para ajustes e reparos. Mar Gonzalez, líder desse setor, revela como essa operação é complexa. “Viajamos com os figurinos, cada artista tem três, se somarmos chapéus e sapatos, são mais de mil peças. Trazemos as máquinas de lavar, máquinas de costura, secadoras… É muita coisa”. As roupas são lavadas todos os dias, e os sapatos pintados semanalmente.
 
A equipe responsável pelo figurino é formada por quatro integrantes fixas e dois locais em cada cidade para auxílio e com tarefas bem definidas. A cautela é justificada. “A estilista fez um trabalho muito detalhado, ela observou cada inseto em microscópio para captar os detalhes antes de começar a desenhar. Foi um trabalho muito interessante. Eu adoro o figurino, porque eles são muito coloridos, têm muita alegria”, revela Gonzalez.
 
A equipe de Mar Gonzalez é composta por mulheres de nacionalidades distintas. Espanha, Austrália, França e Coreia do Sul. Nicolas Chabot, assessor de imprensa de Ovo, comentou sobre o ambiente internacional. “Eu costumo de chamar de Organização das Nações Unidas da Costura e Organização das Nações Unidas das Acrobacias. São muitos países envolvidos”, brinca ele, que é canadense.


Sala de costura do Cirque du Soleil (Lucas Hallel/Divulgação)  

Sala de costura do Cirque du Soleil

 




Percussão posicionada atrás do palco (Lucas Hallel/Divulgação)  

Percussão posicionada atrás do palco

 




Tupiniquins
 
Claro que os brasileiros também estão presentes. Entre eles, uma das três protagonistas, Neiva Nascimento, e a autora, diretora e coreógrafa de Ovo, Deborah Colker, — as primeiras nascidas no Brasil a desempenharem esses papéis no Cirque. Além dela, Martin Alvez (artista de fita em suspensão) e Emerson Neves (treinador chefe).
 
A música também é típica do Brasil. Carimbó, forró, maracatu, funk e outros estão entre os gêneros. Para isso, claro, músicos brasileiros. Eles tocam ao vivo, atrás do palco, enquanto assistem às apresentações por telas posicionadas ao lado dos instrumentos. Ocorre dessa forma para que, caso algo não caminhe bem nos atos, eles possam manter a faixa até que tudo se normalize e a sequência siga. O versátil maestro toca, dá direções pelo comunicador e rege os musicistas. Tudo isso, atento aos monitores.
 
O palco também guarda curiosidades. Toda a estrutura de palco, pela primeira vez neste formato de arena no Brasil, demora 15 horas para ser montada. Entre um ato e outro, os jogos de luzes e a atmosfera rítmica entretêm a plateia enquanto a equipe prepara o cenário. Por exemplo, se em um momento você tem uma corda bamba, tudo escurece e algo distrai a plateia enquanto a produção ergue uma rede de segurança e prepara aparatos suspensos para os trapezistas. Tudo muito rápido, resultado de ensaios exaustivos e dedicação de toda a equipe.
 
Ovo tem duas horas de duração divididas igualmente por um intervalo de 20 minutos. O tempo, que passa como um piscar de olhos, deixa marca profunda na memória. O resultado é mágico.
 
* O estagiário, sob supervisão de Igor Silveira, viajou a convite do Cirque du Soleil
 
 
 
Ovo — Cirque du Soleil
Ginásio Nilson Nelson (SRPN). De 5 a 13 de abril. Os preços das entradas inteiras variam de R$ 260 a R$ 900. Confira os horários e valores detalhados no site do Correio.
 
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Correio Braziliense sexta, 29 de março de 2019

A RECEITA DO HUMOR CONTRA BULLYING

 

A receita do humor contra o bullying
 
 
O ator brasiliense Willy Costa leva o palhaço Balofo às escolas de Ceilândia e Samambaia para mostrar como enfrentar o preconceito e as difamações, usando brincadeiras

 

» Mariana Machado
Especial para o Correio

Publicação: 29/03/2019 04:00

 (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  
 
Meia hora antes de os holofotes se acenderem, os últimos retoques no batom vermelho dão cor ao sorriso do artista. Em instantes, ele fará dezenas de adolescentes rirem enquanto mostra como encarar da melhor forma um problema diário na vida dos jovens: o bullying . É o ator 
Willy Costa, de 33 anos, quem dá vida ao palhaço Balofo, uma figura estabanada que ensina respeito durante a apresentação em escolas de Ceilândia e Samambaia.
 
Usando roupas apertadas e sapatos enormes, o palhaço mostra, com bom humor, como superar as situações de agressão e preconceito. Com a ajuda dos alunos, ele apaga, de um quadro no palco, ofensas, como “gordo” e “porco rosa” e substitui pela palavra “respeito”. Ao longo dos cerca de 40 minutos de apresentação, interage com a plateia, rola no chão e dança.
 
Por trás da palhaçada, estão as experiências do ator com bullying. O próprio nome artístico nasceu de provocações de colegas. Nascido José Francisco Nunes, foi por muito tempo alvo de piadas. “Eu sempre fui um cara gordinho, pobre, morador da periferia e era muito xingado na escola, mas nunca vi isso como um problema. Eu tinha uns 9 ou 10 anos quando começaram a me chamar de Willy, por causa do filme Free Willy”, recorda.
 
O menino, que até então não conhecia a orca mais famosa do cinema, resolveu assistir e se encantou com a personagem. “Achei bacana, era como se dissessem que eu era um artista de Hollywood. Comecei a brincar com isso e me encontrei no riso. Foi assim que adaptei meu nome e acrescentei o sobrenome da minha mãe como homenagem”, explica.
 
Nem sempre, no entanto, o bullying contra ele foi apenas verbal. Quando tinha 9 anos, Willy foi apedrejado dentro da escola por colegas que o xingavam. “Eu encontrei no palhaço a possibilidade de passar uma mensagem bacana, de não ficar no lugar do coitado, mas do empoderado. O projeto pega essa figura que me permite mostrar as minhas fragilidades e defeitos fazendo um convite não para que as pessoas riam de mim, mas comigo”, afirma.

Willy Costa  se transforma no palhaço Balofo: a leveza para falar de um tema pesado, que é o bullying (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

Willy Costa se transforma no palhaço Balofo: a leveza para falar de um tema pesado, que é o bullying

 



Paula:  

Paula: "O palhaço se expõe, mostra potências e impotências e convida a rir e transcender"

 



Nas escolas
 
Balofo nasceu em 2003, no Galpão do Riso, um espaço cultural de Samambaia que recebe coletivos de artistas. Hoje, estão todos engajados no projeto Balofo nas Escolas. A atriz e mestre em artes cênicas Paula Sallas, 31, também faz parte do espetáculo. Antes da performance de Willy, ela sobe ao palco e inicia um bate-papo com os estudantes sobre o preconceito. “É uma coisa que antes não tinha esse termo em inglês, mas que sempre aconteceu. O palhaço vem no contrafluxo. Ele mesmo se expõe, mostra potências e impotências e convida a rir e transcender”, descreve.
 
Segundo ela, muitos jovens procuram o grupo depois das apresentações para contar situações que enfrentaram. “Tivemos muitos alunos emocionados, chorando enquanto a gente fala sobre aceitação da diversidade. Muitos falam com a gente na surdina. Sabemos que é difícil ser adolescente, é um momento em que qualquer coisa que você disser em público pode lhe transformar em alvo de chacota”, relata. “Ao menos três pessoas sempre estão envolvidas nessas agressões: o causador, a vítima, e a pessoa que perpetua aquilo. Quem passa adiante está compactuando com o bullying”.
 
Para o vice-diretor do Centro de Ensino Média 4 (CEM 4) de Ceilândia, Washington Luiz dos Santos, os artistas foram mais do que bem-vindos. “Acho que o projeto contribui de maneira palpável aos alunos”, declara. “A escola vem trabalhando a questão, e a gente tem uma preocupação muito grande em relação a isso. Quando identificamos algum caso, chamamos as partes envolvidas e, se necessário, os pais também”. Ele conta que, por vezes, as provocações terminam em brigas, e que por isso, é preciso atenção tanto da escola quanto da família. “O bullying começa de maneira suave e vai ganhando aspectos pejorativos”, conclui.

 (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  


Amadurecimento
 
Só quem foi alvo sabe o impacto do bullying. Para a jovem Mikaelly dos Santos, de 16 anos, ele veio como racismo. “Ouvi muitas pessoas falarem que, por eu ser negra, sou inferior, ou colocando apelidos que machucam muito. A gente não demonstra quando acontece, mas chega em casa e chora, pede para sair da escola”, narra a menina.  Aluna do 2º ano no CEM 4 de Ceilândia, ela sorri hoje ao dizer que encontrou apoio nos amigos.
 
“Com eles, eu sou mais feliz do que sozinha. Juntos, a gente age quando vê alguém sendo xingado ou quando escuta as pessoas destratando alguém”, diz. O colega dela Vinicius de Sousa, 16, ensina: não adianta rebater o deboche dos outros. “Me chamavam de narigudo, tucano, mas eu prefiro ficar na minha. Para que responder quem só quer fazer o mal?”, pondera.
 
A paciência, no entanto, não é sempre possível, como relata o amigo deles, Kleberson Gomes, 16. Quando tinha 12 anos, ele cansou de ouvir colegas zombando das roupas e dos tênis rasgados que usava e entrou em uma briga, o que lhe rendeu uma transferência de escola. “No começo, a gente era amigo, mas eles acharam que por isso poderiam me expor e eu não ligaria. Ninguém tem o direito de invadir a intimidade do outro”.

Hoje, sabendo das consequências, ele vê que amadureceu com o tempo. “Quanto mais você se importa, mais eles atacam. Bullying nada mais é do que uma forma de o agressor fugir de um problema descontando em outra pessoa”, afirma.


Agressões
O termo em inglês faz referência a atitudes agressivas, verbais ou físicas praticadas repetidamente por agressores, causando dor, angústia e intimidando vítimas que não têm a possibilidade de se defender.
 
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Correio Braziliense quinta, 28 de março de 2019

CEILÂNDIA: AS MINAS DA MODA

 

As minas da moda
 
 
Mulheres moradoras de Ceilândia impulsionam o mercado local com produtos próprios e muita inspiração no que a cidade tem a oferecer

 

» FERNANDA BASTOS*
* Estagiária sob supervisão de Mariana Niederauer

Publicação: 28/03/2019 04:00

A artesã Nathália Marinho Cerqueira se inspira na vegetação local para produzir suas peças
 (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

A artesã Nathália Marinho Cerqueira se inspira na vegetação local para produzir suas peças

 


Moradoras de Ceilândia, jovens mulheres estão se unindo para produzir produtos de beleza e moda a preços acessíveis e de alta qualidade. Ao procurar por mercadorias que desejavam e encontrar itens com valores muito altos, elas perceberam a oportunidade de transformar o consumo de roupas e de outros acessórios de beleza na região administrativa.
 
De acordo com a artesã Nathália Marinho Cerqueira, 20 anos, a cidade onde mora teve influência decisiva na construção do seu ateliê, Mãe Natureba. “Eu acredito que, se não disponibilizo minha arte para o lugar onde eu moro eu não posso vender para outros”, destaca. A proposta do negócio é ser acessível, oferecendo tanto aulas e oficinas como produtos artísticos mais baratos. A jovem vende colares, pulseiras, mandalas, pinturas e bordados. “A extensa vegetação, as plantações de amora, manga e abacate, das quais eu moro perto, influenciaram alguns dos meus desenhos”, conta.

Gabriella Silva Mendes, dona da Afrogaia, faz cosméticos, como sabonetes e cremes, naturais (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

Gabriella Silva Mendes, dona da Afrogaia, faz cosméticos, como sabonetes e cremes, naturais

 

Já a tatuadora e curadora de brechó Larissa Cristina Rodrigues da Silva, 22, teve como principal influência o desperdício de roupas para fundar o brechó Altlet. Para ela e as amigas Gabrielle e Evelyn — sócia-fundadora e curadora de produção e criadora, respectivamente — a troca de roupas pode contar com a estilização das peças, que ficam com cara de novas. “Não podemos deixar as roupas se destruírem se dá para reutilizar e transformar”, destaca.
 
As peças, vendidas por valores entre R$ 5 e R$ 60, são cuidadas desde a obtenção pelas três empreendedoras. Um dos diferenciais da marca é a reutilização de todos os elementos. “Estamos no meio do cerrado, que está sendo destruído e, se não cuidarmos pelo menos da roupa que usamos, vamos cuidar do quê? Tudo que usamos, o papel da placa, as etiquetas de preço, a arara das roupas, foi encontrado na rua e reutilizamos”, aponta a empresária.

No brechó de Larissa Cristina da Silva, as peças passam por customização: menos desperdício (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

No brechó de Larissa Cristina da Silva, as peças passam por customização: menos desperdício

 

Nascida em Planaltina, Larissa se mudou para Ceilândia aos 17 anos e afirma que a cidade influenciou sua vivência como mulher na área da cultura. E, para retribuir esse conhecimento, a curadora do brechó acredita que é preciso fazer o dinheiro obtido nas vendas voltar para a cidade. “A maioria das pessoas de quem compramos as roupas são idosas que vivem em Ceilândia. Dessa forma, ajudamos pessoas daqui e retornamos o dinheiro para o mercado na esquina, para a produção de eventos, para a troca de outras roupas”, destaca. As peças mais vendidas pelo brechó são tops de diversas cores e tamanhos, para todos os tipos de corpo.
 
Força
Seguindo o mesmo pensamento, a moradora da M Norte Gabriella Silva Mendes, 21, participa de um coletivo de mulheres negras e empreendedoras que trabalham com o que a terra provém. Em razão da falta de produtos que supram suas necessidades, ela começou a produzir os próprios cosméticos por meio da cosmetologia natural. Com a fabricação de cremes e sabonetes que variam de R$ 4 a R$ 35, a estudante de ciências sociais criou a marca Afrogaia, que já expôs em feiras e eventos na região. “Essa força vem daqui, dos coletivos da Cei”, destaca.
 
Para Kamilla Stephany Dias Gomes, 21, nascida e criada em Ceilândia, a força para realização do sonho de criar uma marca de roupas veio da família, de amigos e de seguidores nas redes sociais, onde a jovem se tornou conhecida por falar de diversos temas relacionados a beleza e sobre a cultura na periferia.
 
Com o público já consolidado e as rendas obtidas no trabalho como vendedora, conseguiu lançar a própria marca, a Kza Company. “Eu sempre quis ter uma marca de roupas, acessórios e afins que tivesse a minha identidade e a identidade da rua, principalmente de Ceilândia, onde nasci e me criei. Queria retratar a quebrada com uma pegada estilosa, do jeito que eu gosto”, conta Kamilla.
 
O objetivo da Kza é dar visibilidade à moda das ruas. Nesse contexto, Ceilândia é pura inspiração, que vem das pessoas, das festas e do convívio diário. O diferencial da marca consiste na modelagem, com cortes estilosos e estampas diferentes. Toda a equipe é da região administrativa e as peças, pensadas para o público do “rolê street” da cidade. “Não é apenas uma marca. Eu quero, por meio dela, que as pessoas olhem para as roupas que eu lançar, se inspirem e tenham fé e determinação para fazer aquilo que elas sonham em tirar do papel”, ressalta.
 
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Correio Braziliense quarta, 27 de março de 2019

CEILÂNDIA: A CIDADE QUE SE REINVENTA

 


MEU LUGAR CEILÂNDIA  - A cidade que se reinventa

 

Publicação: 27/03/2019 04:00

 (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  


Há 48 anos, a maior região administrativa do Distrito Federal passa por mudanças. Moradores que, décadas atrás, apostaram naquela terra e a fizeram crescer, hoje contam também com a força de jovens que transformam realidades diariamente. Parabéns, Cei!
 
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Correio Braziliense terça, 26 de março de 2019

TEMER É LIBERTADO E TEM BENS BLOQUEADOS

 


JUSTIÇA
 
Temer é libertado e tem bens bloqueados
 
Desembargador manda soltar o ex-presidente, o ex-ministro Moreira Franco e o coronel Lima. Banco Central retém R$ 8,2 mi do emedebista

 

BEATRIZ ROSCOE*
MARINA TORRES*
RENATO SOUZA

Publicação: 26/03/2019 04:00

Temer deixou ontem à noite a sala que ocupava na Superintendência da Polícia Federal, no Rio de Janeiro (Mauro Pimentel/AFP
)  

Temer deixou ontem à noite a sala que ocupava na Superintendência da Polícia Federal, no Rio de Janeiro

 




Por volta das 19h de ontem, o ex-presidente Michel Temer deixou a Superintendência da Polícia Federal, no Rio de Janeiro, depois de quatro dias encarcerado. O pedido de soltura foi deferido pelo desembargador Antonio Ivan Athié, do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2), por meio de liminar.

Na sexta-feira passada, o TRF-2 havia informado que o pedido de habeas corpus de Michel Temer seria julgado, a pedido de Athié, na sessão da Primeira Turma da Corte, amanhã. Mas a decisão foi adiantada. O desembargador deferiu a soltura do ex-presidente e de seus aliados, contrariando decisão do juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal, que usou como base para decretar as detenções informações colhidas na Operação Descontaminação.

Também ontem, a pedido da Justiça, o Banco Central bloqueou R$ 8,2 milhões de Temer. O juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Criminal Federal do Rio de Janeiro, havia determinado o bloqueio de R$ 62 milhões. No entanto, a solicitação não foi cumprida na íntegra por falta de saldo. O bloqueio dos recursos é parte das ações de investigação das operações Radioatividade e Descontaminação, da Polícia Federal.

Na decisão que revoga as prisões preventivas, Athié disse ser a favor da Lava-Jato e ressaltou que não tomou a decisão, ainda na semana passada, por impossibilidade de analisar todos os pedidos de soltura. “Ressalto que não sou contra a chamada ‘Lava-Jato’, ao contrário, também quero ver nosso país livre da corrupção que o assola. Todavia, sem observância das garantias constitucionais, asseguradas a todos, inclusive aos que a renegam aos outros, com violação de regras, não há legitimidade no combate a essa praga”, argumentou.

Além de Michel Temer, foram soltos Moreira Franco (ex-ministro e ex-governador do Rio de Janeiro); João Baptista Lima Filho, o coronel Lima; Maria Rita Fratezi, esposa de Lima; Carlos Alberto Costa, sócio do coronel na Argeplan; Carlos Alberto Costa Filho, diretor da Argeplan; Vanderlei de Natale, dono da Construbase; e Carlos Gallo, administrador da empresa CG Impex.

Propina
O emedebista está sendo investigado pelo Ministério Público Federal por suspeita de liderar uma organização criminosa que fraudou contratos da obra da Usina de Angra 3 e por desvios de dinheiro da Eletronuclear, num esquema que teria ultrapassado R$ 1,8 bilhão em propina. O inquérito foi baseado em delação de José Antunes Sobrinho, ligado à Engefix.

Eduardo Carnelós, advogado de Temer, afirmou que a decisão proferida por Athié “merece o reconhecimento de todos que respeitam o ordenamento jurídico e as garantias individuais inscritas na Constituição da República”.

Para Carnelós, o decreto de prisão foi abusivo, e ações como essa são isoladas no Poder Judiciário por alguns membros. “A resposta maiúscula dada pelo desembargador Athié é um bálsamo para a cidadania”, completou.

De acordo com Huilder Magno de Souza, advogado especialista em direito administrativo e crime de licitações, a prisão parece arbitrária, e o desembargador agiu corretamente. “Não se configurava os requisitos da prisão preventiva, visto que são fatos antigos. O Ministério Público ressaltou que os crimes ocorreram há mais de 40 anos. O desembargador agiu corretamente, ele restabeleceu a ordem e a justiça”, avaliou.

Temer passou os últimos dias em um quarto com cama de solteiro, ar-condicionado e frigobar na Superintendência da Polícia Federal do Rio de Janeiro. Ele não teve autorização para receber visitas e optou por não participar do banho de sol.

Outros dois detidos na mesma operação foram soltos no fim de semana, por decisão da desembargadora Simone Schreiber: Carlos Jorge Zimmermann e Rodrigo Castro Alves Neves. Os dois haviam sido presos em caráter temporário, diferentemente da decisão preventiva que levou Temer e outros oito suspeitos à cadeia.

*Estagiárias sob supervisão de Cida Barbosa



MPF vai recorrer
O Ministério Público Federal (MPF) informou que vai recorrer da decisão que soltou o ex-presidente Michel Temer (MDB), o ex-ministro Moreira Franco e João Baptista Lima Filho, o coronel Lima. Segundo a procuradora Mônica de Ré, que integra a força-tarefa da Lava-Jato da Procuradoria Regional da 2ª Região, o grupo vai pedir a manutenção da prisão preventiva dos acusados ou a prisão domiciliar, com a colocação de tornozeleira eletrônica.


No “recesso do lar”
Na decisão que mandou soltar Temer e seus aliados, o desembargador Ivan Athié afirmou que “no recesso do lar” examinou “com o cuidado devido” os habeas corpus dos presos. Ele havia determinado, na semana passada, a inclusão do pedido liminar de liberdade dos detidos na pauta de amanhã, para análise da Turma. “Ao examinar o caso, verifiquei que não se justifica aguardar mais dois dias para decisão (...). Assim, os habeas corpus que foram incluídos na pauta da próxima sessão ficam dela retirados”, alegou.
 
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Correio Braziliense segunda, 25 de março de 2019

PONTÃO DO LAGO SUL: UM DIA DE BOA COMIDA

 


LAZER
 
Um domingo de boa comida
 
 
Famílias e grupos de amigos aproveitaram o fim de semana no Pontão do Lago Sul, onde chefs e artistas brasilienses reunidos em um festival atraíram mais de 5 mil apreciadores da boa comida e da música de alta qualidade

 

» Renata Rios

Publicação: 25/03/2019 04:00

João e Paulo aprovaram o hambúrguer servido pelo chef Gil Guimarães (Minervino Junior/CB/D.A Press)  

João e Paulo aprovaram o hambúrguer servido pelo chef Gil Guimarães

 

 
Mais de 5 mil pessoas passaram pelo Pontão do Lago Sul no fim de semana em função do Festival Fartura — Comidas do Brasil, que ofereceu mais de 60 atrações gastronômicas e 15 atrações artísticas. O público curtiu principalmente os pratos feitos por renomados chefs de Brasília, como Agenor Maia, do Olivae Restaurante; Thiago Paraíso, do Ouriço; Gil Guimarães; de Parrilla Burger; André Castro, do Cozinha Authoral; Diego Badra, do Oliver; e Rita Medeiros, da Sorbê Sorvetes Artesanais.
 
Ontem, no Cozinha ao vivo, acompanhou o passo a passo de uma receita de Luiz Trigo, do Le Birosque, que ensinou o arroz de puta rica. Na sequência, a chef Idalina Vieira Mattos, do Gaeta (Guarapari, ES), ensinou um clássico do seu estado, a torta capixaba. Para fechar o dia, Renata La Porta fez o seu timbale de linguado com mousse de cogumelos frescos ao molho de prosecco e limão-siciliano.
 
No Espaço interativo, para o público colocar a mão na massa, Liliana Andriola, Luiz Jacob e Simon Lau colocam a mão na massa com a plateia. André Castro, que deu aula na véspera no espaço, elogiou o evento. “Se eu conseguir tocar as pessoas que estão ali para criarem o gosto por cozinhar, já saio feliz. Temos que parar de consumir food service e voltar a cozinhar em casa”, ressaltou o chef.
 
O Espaço conhecimento abrigou palestras e debates sobre assuntos relevantes para a gastronomia. André Castro, Ana Paula Jacques (Cerrado no Prato) e Eudes Assis (Taioba Gastronomia, São Sebastião, SP) participam de um bate-papo sobre o manifesto Cerrado no Prato, com mediação da curadora do Festival Fartura, Luiza Fecarotta.
 
A dupla de amigos, Joabe Campos, bancário de 34 anos, e Paulo Ricardo, biomédico, 26, se sentaram nos pufes dispostos no gramado para aproveitar a música enquanto comiam o hambúrguer servido pelo chef Gil Guimarães. “O hambúrguer está bom e o evento, muito bem-organizado. Estou gostando”, comentou Paulo Ricardo. “Está tudo muito bom aqui, a música, a comida. Fiquei sabendo pelo jornal e vim aproveitar”, emendou Joabe.
 
Em um palco, houve muita música, com Transquarto, Muntchako e o DJ Rodrigo Barata (Criolina).
 
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Correio Braziliense domingo, 24 de março de 2019

RESPIRANDO ARTE: FAXINEIRO DO SENADO TEM O DOM DE DESENHAR

 

Respirando arte
 
 
Desenhista talentoso e autoditada, jovem ganha a vida como faxineiro no Senado e, com a habilidade artística, ajuda quem precisa

 

» Mariana Machado
Especial para o Correio
» Bruna Lima

Publicação: 24/03/2019 04:00

Os desenhos de Wallace da Silva Sousa são realistas , parecem verdadeiros retratos: talento de família (Minervino Junior/CB/D.A Press)  

Os desenhos de Wallace da Silva Sousa são realistas , parecem verdadeiros retratos: talento de família

 



Quem vê as mãos do brasiliense Wallace da Silva Sousa dando vida a desenhos tão realistas, que mais se parecem fotografias, não imagina que elas se revezam diariamente entre o lápis e o esfregão. Nascido em Ceilândia e criado no Riacho Fundo 2, o desenhista de 27 anos respira arte, mas paga as contas trabalhando como funcionário da limpeza no Senado Federal.
 
Ele conta que começou a desenhar ainda na escola, inspirado em mangás japoneses e grafite. Mesmo sem incentivo, recursos e orientação de profissionais da área, passou a se dedicar ao realismo, aprimorando as técnicas sozinho, lendo livros e assistindo a videoaulas.
 
Na contramão de como descobriu e aperfeiçoou as habilidades, transmitiu os conhecimentos em sala de aula, atuando em escolas públicas no Riacho Fundo 2 e no Guará. Também ensinou desenho a crianças com síndrome de Down, hiperatividade e deficit de atenção, além de dar aulas particulares (muitas vezes, de graça). Um dos estudantes que teve acesso aos ensinamentos, Décio Ferreira, 39 anos, garante: “Ele me ajudou muito, principalmente a ter mais foco no desenho, dedicação e, acima de tudo, paciência. É um excelente desenhista”.

 (Minervino Junior/CB/D.A Press)  
 
O talento, como Wallace mesmo descreve, está no sangue. Todos os três irmãos desenham. O pai também tem habilidade na área. “Acho que o dom é de família”, ri. No sofá de casa, a criatividade precisa ser usada para além dos quadros. Sem condições financeiras de comprar uma mesa de trabalho, o artista se vira como pode para achar uma posição confortável e viável para fazer as obras.
 
O portfólio inclui desde retratos de famosos — como Julia Roberts e Will Smith — a reproduções de fotografias de anônimos, incluindo um menino negro chorando e um idoso sem-teto. Mas se engana quem acha que ele quer seguir carreira na arte. “Está, e sempre estará, permeando minha vida como uma forma de me expressar e pela qual encontro libertação”, afirma.
 
O que ele quer mesmo é ser psicólogo. Para tanto, matriculou-se em uma faculdade na Asa Sul. Apesar de ter conseguido uma bolsa de 50% de desconto com a nota do Enem, não tinha condições de manter as mensalidades em dia. Procurava aos quatro cantos um emprego ou estágio e ganhava um dinheirinho dando aulas particulares de arte e vendendo os trabalhos. Mas não foi o suficiente.
 
Por ser bastante querido pelos colegas e conhecido por fazer intervenções propositivas durante o curso e ajudar tirando as dúvidas nas disciplinas, a turma se juntou para pagar uma das prestações que estava atrasada. “Wallace nunca faltava uma aula. Quando começou este semestre e ele não apareceu, todos estranharam. Quando soubemos que ele não tinha renovado a matrícula, parecia que tínhamos perdido alguém. Foi um inconsciente coletivo que mobilizou todos”, detalha o amigo de curso Evandro Ribeiro, 37.
 
Mesmo com o esforço, que também contou com a participação de amigos da igreja, Wallace estava sem perspectiva de juntar dinheiro para os próximos meses e se viu obrigado a trancar o curso. Até que, finalmente, há seis meses, conseguiu uma oportunidade de trabalho em uma empresa terceirizada no Senado. Agora, quita as dívidas com a faculdade e, no próximo semestre, pretende voltar aos estudos. “Torcemos muito para que Wallace volte logo. A nossa sociedade precisa de atores com ele. Além de ser notório o potencial para a carreira, é um agente ativo, que eleva o nível dos debates e nunca mede esforços para ajudar a todos”, diz Evandro.

 (Minervino Junior/CB/D.A Press)  
 
Durante os intervalos
 
O material de criação não fica parado em casa. Para concluir os retratos, que chegam a levar uma semana para ficar prontos, Wallace aproveita os momentos livres na limpeza para se debruçar sobre o papel. Foi assim que, aos poucos, servidores foram descobrindo o talento dele e fazendo pedidos. Até agora, ele recebeu três encomendas. “Para desenhar no realismo, é preciso muita paciência. Às vezes, a gente fica afoito para ver o resultado imediato e ele não sai como esperado, e a gente acaba se frustrando. Mas, quando a gente tem calma, consegue evoluir e se adaptar”, declara.
 
A rotina do artista não é fácil. Para estar no trabalho às 7h, ele acorda às 4h e vai para a parada, onde pega um ônibus para a Rodoviária do Plano. No percurso, caderno de desenho nas mãos sempre. Depois, outro ônibus rumo ao Congresso. São cerca de duas horas de viagem, o que se repete no fim da tarde. “O ônibus está sempre lotado; então, o jeito é ir em pé mesmo. Às vezes, eu faço cara de triste para ver se alguém tem dó de mim e leva as minhas coisas no colo, mas nem sempre dá certo”, descreve Wallace com bom humor.
 
O humor, aliás, é facilmente notado por quem conversa com ele. Outra característica que não passa despercebida é a humildade. Nos planos futuros do rapaz, não está fama ou reconhecimento. O sonho dele é ajudar a comunidade. “Tenho o objetivo de montar uma escola que valorize as diversas manifestações artísticas de maneira a explorar a capacidade de cada um, dando mais oportunidade para jovens e crianças. Um projeto social”, imagina.
 
Com o trabalho e a formação em psicologia, ele espera alcançar comunidades carentes do DF por meio da arte que, para ele, não é tratada como prioridade pelos governantes, o que prejudica a formação do indivíduo. “Quando o indivíduo não tem chance de experimentar uma pintura, uma música, uma dança, um filme, ele não abre novos horizontes, não se alimenta, não se completa, não se entende. É fundamental que nossos líderes e governantes vejam isso para honrar os próprios princípios constitucionais. Afinal, a arte é democrática e não reconhecer isso só demonstra que ela está fazendo falta na vida dessas pessoas.”
 
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Correio Braziliense sábado, 23 de março de 2019

MAIS 1.820 APROVADOS NA UnB

 

Mais 1.820 aprovados na UnB
 
 
Pais e estudantes compareceram ao Câmpus Darcy Ribeiro para celebrar a aprovação na 3ª etapa do Programa de Avaliação Seriada (PAS). Estavam disponíveis, ao todo, 2.110 vagas para ingresso no segundo semestre de 2019

 

Publicação: 23/03/2019 04:00

 

A lista com os nomes dos aprovados foi fixada no Teatro de Arena (Thiago Cotrim/Esp. CB/D.A Press)  

A lista com os nomes dos aprovados foi fixada no Teatro de Arena

 

 

A Universidade de Brasília (UnB) divulgou a lista de primeira chamada para os aprovados no segundo semestre de 2019 pelo Programa de Avaliação Seriada (PAS). A instituição ofereceu 4.222 vagas, que foram distribuídas nos dois semestres do ano. Para o primeiro período, 2.112 candidatos foram contemplados, enquanto os outros 2.110 têm a chance de ingressar nos cursos escolhidos a partir de agosto. Desses, 1.820 celebraram a aprovação ontem.

 

Mesmo após uma forte chuva que encharcou as escadas do Teatro de Arena, no Câmpus Darcy Ribeiro, da Asa Norte, pais e estudantes foram até o local para verificar o resultado. Foi o caso de Alexandre Oliveira, 18 anos, aprovado no curso de química tecnológica. Ele ficou surpreso após perceber que o nome estava na lista dos convocados. “Eu vim para celebrar a aprovação no curso de design do meu amigo e, quando vi, meu nome estava na lista final”, constata. Morador do Lago Norte, ele conta que, para atingir a aprovação, conciliava o lazer com os estudos. “Eu escolhi focar nas matérias que tinha mais dificuldade, dessa forma eu conseguia me manter feliz e, ao mesmo tempo, em dia com as minhas obrigações”, garante.

 

Os aprovados do segundo semestre devem fazer o registro pela plataforma on-line entre 1° e 9 de julho. A etapa presencial, igualmente necessária para garantir a vaga, será entre 8 e 9 de julho. As aulas começam em 12 de agosto.

 

Calendário 

1º a 9 de julho 

Registro acadêmico (etapa on-line)

8 e 9 de julho 

Registroacadêmico (etapa presencial)

18 a 24 de julho 

Acesso ao número de matrícula

25 a 29 de julho 

Matrícula em disciplina

12 de agosto 

Início das aulas

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Correio Braziliense sexta, 22 de março de 2019

TORRE PALACE: HOTEL VOLTA A ABRIGAR INVASORES

 


Hotel volta a abrigar invasores
 
Usuários de drogas e pessoas em situação de rua erguem barracos em torno do esqueleto do Torre Palace, que já foi tomado por usuários de crack e integrantes de movimento de luta por moradia. Polícia Militar garante fazer rondas na região

 

» Patricia Nadir
Especial para o Correio

Publicação: 22/03/2019 04:00

Taxistas que trabalham próximo ao Torre Palace Hotel temem a nova ocupação ilegal do esqueleto  (Ed Alves/CB/D.A Press)  

Taxistas que trabalham próximo ao Torre Palace Hotel temem a nova ocupação ilegal do esqueleto

 

 
O abandonado Torre Palace Hotel volta a atormentar o Setor Hoteleiro Norte. Dois anos e meio após a cinematográfica operação policial para retirada de invasores, o edifício voltou a ser ocupado irregularmente. Um dos sinais está no varal de roupas estendido em sua fachada. Usuários de drogas e pessoas em situação de rua se abrigam sob a marquise. Lonas esticadas ao redor servem como moradia, com fogões e banheiros improvisados.

Inativo desde 2013, por causa de uma batalha judicial envolvendo os herdeiros, o Torre Palace logo se tornou abrigo de usuários de drogas, principalmente o crack. Eles arrancaram quase todas as portas e janelas, além de peças dos banheiros do edifício. Muitos andares perderam até parte das paredes. Em 2015, integrantes do Movimento Resistência Popular Brasil (MRP) tomaram o esqueleto transformando antigos quartos em moradia.

A presença das famílias não espantou os dependentes químicos nem criminosos. Investigação policial mostrou que o prédio também se transformou em depósito de produtos roubados e todo tipo de droga. Se do lado de dentro havia harmonia, ao redor da edificação as brigas, furtos e roubos envolvendo ocupantes do Torre Palace se tornaram comuns, tendo como vítimas trabalhadores e hóspedes dos hotéis vizinhos. O Estado interveio em junho de 2016, com uma operação de remoção que custou R$ 309 mil e seria ressarcida pelos donos do prédio. O GDF não informou se o pagamento foi feito.

Lonas, móveis velhos e varal com roupas indicam a presença de moradores no entorno do prédio abandonado (Ed Alves/CB/D.A Press)  

Lonas, móveis velhos e varal com roupas indicam a presença de moradores no entorno do prédio abandonado

 



Medo
 
Após a remoção dos invasores, funcionários do GDF taparam os acessos do Torre Palace com tijolos e argamassa. O Correio não avistou ninguém dentro do edifício, mas o seu entorno está movimentado. Com ele, voltou o medo de quem trabalha e frequenta a região.  “Lembro que, em menos de um ano, a ocupação se transformou em um enorme problema para toda a região, afetando os negócios de outros hotéis, afastando clientes, assustados com o aumento da criminalidade. Não quero nem imaginar se isso voltar a acontecer”, comentou o taxista José Almeida, 65 anos, que trabalha nas proximidades há mais de 40 anos.

Recepcionista de um hotel vizinho, Fábio Mendes, 32, endossa a opinião de José e conta que os turistas estão assustados com o cenário. “A deterioração do prédio aumenta a ocorrência de crimes e serve como chamariz para desordeiros. Isso prejudica empresários, coloca em risco os visitantes das proximidades e pedestres”, opina o morador do Guará.

Em Brasília a trabalho, o geógrafo Enéias Porto, 29, está hospedado há uma semana em um hotel na frente do Torre Palace. Ele não se arrisca a ir além da marquise da sua hospedaria por medo da violência. “Só a degradação do prédio já me deixa com um pé atrás. Antes de descer do meu quarto, peço um carro por meio de aplicativo”, diz o homem, morador de Barreiras (BA).

“Todo dia amanhece carro com vidro quebrado por aqui. É comum o relato de furtos e roubos”, comenta a vendedora de açaí Rosângela Santos, 45. “Há umas três semanas um casal ficou me cercando. Fiquei com medo e acabei mudando meu carrinho de esquina”, completa a trabalhadora.

Prejuízos
 
Presidente do Sindicato dos Empregados no Comércio Hoteleiro, Restaurantes, Bares e Similares (Sindhobar), Jael Antônio da Silva diz que a invasão reflete drasticamente no turismo. “É o governo que tem que entrar com uma ação de retenção e repressão de uma espaço de convivência, não só deste hotel que está sendo invadido, mas de outros hotéis da região. A situação é preocupante”, cobra.

A Secretaria de Segurança Pública informou, por meio de nota, que, apesar de haver circulação de moradores de rua nas imediações do Torre Palace, o local não está ocupado. “A Polícia Militar realiza policiamento constante na região, com reforço de patrulhamento na Quadra 4, onde fica o hotel abandonado”, frisa o texto. De acordo com a pasta, quanto aos moradores de rua, eles só podem ser retirados do local em caso de cometimento de crimes. Portanto, se trata mais de uma questão social do que policial.


Memória

Prédio condenado pela Defesa Civil


O Torre Palace foi fundado pelo empresário libanês Jibran ElHadj e inaugurado em 1973. Funcionou por 40 anos em um dos pontos mais valorizados da cidade. 

Com a morte do patriarca, em 2000, o imóvel passou à gestão dos sete herdeiros, que teriam entrado em desacordo sobre a gestão do empreendimento. 

O prédio vale entre R$ 40 milhões e R$ 45 milhões, de acordo com corretores de imóveis. 

No início de 2014, a empresa Brookfield Incorporações iniciou negociações com os herdeiros de Jibran para comprar o espaço e erguer um novo prédio, mas a venda foi interrompida.

Em meio a uma série de invasões, o hotel foi condenado pela Defesa Civil, que apontou falhas graves na estrutura. 
 
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Correio Braziliense quinta, 21 de março de 2019

TRANSFORMAÇÃO POR MEIO DO TEATRO

 

Transformação por meio do teatro
 
 
Projeto que usa método do Teatro do Oprimido promove aulas abertas ao público, em São Sebastião, e a adolescentes em unidades de internação

 

FERNANDA BASTOS*

Publicação: 21/03/2019 04:00

 

 (Wallace Martins/Esp. CB/D.A Press)  

 

Libertar-se e ser quem você é são os propósitos centrais do projeto Troca de Experiências Artísticas e Reinserção (Tear). Pelo segundo ano, a iniciativa realiza revoluções pessoais por meio do teatro dentro de unidades de internação. Em 2019, a novidade é que as aulas chegaram ao Câmpus São Sebastião do Instituto Federal de Brasília (IFB). Durante três meses, os participantes terão acesso a aulas com diferentes atividades baseadas no Teatro do Oprimido (leia Para saber mais).

O objetivo central do grupo à frente do projeto, a Estupenda Trupe, é a democratização da cultura baseada na premissa de que todo ser humano é capaz de produzir, discutir e apreciar a arte. O trabalho realizado nas oficinas do Tear é de empoderamento, de uso da arte para autoconhecimento e para transformação, garante Luciana Amaral, 32, arte-educadora e participante da Estupenda Trupe.

Foi no Centro de Teatro do Oprimido (CTO), no Rio de Janeiro, que ela e o também arte-educador Carlos Valença, 32, buscaram apoio e conhecimento sobre como realizar as oficinas para multiplicar a metodologia, em 2012. Eles enxergaram no método uma estratégia de educação não formal para tratar temas socioeducativos em unidades de internação e fora delas também, para promover a reinserção do jovem infrator.

As aulas vão durar três meses. Este ano, a novidade é que ocorrem também no Instituto Federal de Brasília (IFB) e abarcam mais participantes (Wallace Martins/Esp. CB/D.A Press)  

As aulas vão durar três meses. Este ano, a novidade é que ocorrem também no Instituto Federal de Brasília (IFB) e abarcam mais participantes

 


“O Teatro do Oprimido é um diálogo interno e externo, estamos em um momento em que é preciso restaurar o diálogo. Somos agentes dessa transformação e esperamos ser canal disso para as pessoas. Tem uma frase do (Augusto) Boal na qual ele diz que ‘um novo mundo é possível, só precisamos inventá-lo’. Estamos aqui sendo agentes da invenção de um novo mundo”, resume Luciana.

Além dos cinco integrantes da Estupenda Trupe, o projeto conta com a participação de Helen Sarapek, coordenadora do CTO há 20 anos. O planejamento de aulas específico para cada dia contém vários exercícios e jogos pensados pelo criador do método, Augusto Boal. Na primeira oficina, em 15 de março, realizada no câmpus do IFB em São Sebastião, houve diferentes montagens teatrais, nas quais aspectos como colaboração e confiança no outro eram explorados.
 (Wallace Martins/Esp. CB/D.A Press)  

“Fizemos um jogo cênico de confiança em que uma pessoa fecha os olhos e a outra emite sons e é preciso seguir a pessoa pelo som que ela faz com os olhos vendados. Achei que ia esbarrar em todos, mas, no fim, deu tudo certo”, relata a estudante de artes cênicas da Universidade de Brasília (UnB) Luísa de Oliveira Braga, 18. Moradora de Águas Claras, ela faz questão de participar das oficinas. Colega de curso de Luísa, Lorena Lima Barbosa de Alencar, 20, moradora do Jardim Botânico, pretende colocar em prática o que estudou sobre Augusto Boal na universidade. “Quero quebrar essas amarras, essas coisas que oprimem a gente. Aqui, a gente pode se abrir”, afirma.

Sensibilização    
O pedagogo do IFB de São Sebastião Reinaldo Gregoldo, coordenador pedagógico de projetos como esse no instituto, ressalta que a oficina é importante para a região por trazer debates e atividades que conscientizem sobre os problemas da cidade. “A expectativa do Instituto Federal, que é um parceiro do Estupenda Trupe nessa empreitada, é que os participantes consigam sensibilizar-se com reflexões aprofundadas sobre a conjuntura brasileira, a região de São Sebastião, nossos problemas, nossas mazelas e encontrar soluções no coletivo para superá-las”, destaca.

Moradora da região administrativa e estudante do IFB, Alessandra Teixeira dos Santos, 42, relata que um dos aspectos que encantam nas obras de Boal é que ele provoca questionamentos trabalhando as personalidades dos personagens e do leitor a partir não apenas do lado positivo, mas do negativo também. “Eu nunca fiz teatro, não sei qual é a linguagem. Esse programa aqui perto da minha casa é inovador, é uma oportunidade única de fazer aquilo que eu só via na televisão. E eu não deixo oportunidades assim passarem, de jeito nenhum”, garante.

Ela saiu de um relacionamento abusivo depois de perceber a condição de opressão sob a qual vivia e acredita que o projeto estimula o pensamento crítico e debate questões sociais importantes nesse sentido. “Para sair dessa opressão, é preciso estar em locais diferentes com pessoas diferentes. Você aprende a se posicionar.”

Descobertas
Na Unidade de Internação de São Sebastião (UISS), 11 adolescentes em conflito com a lei, na faixa etária de 13 a 18 anos, refletiram inicialmente sobre as relações verticais de poder com o projeto Tear. O principal assunto abordado na primeira oficina foi o preconceito. “Muitos dos alunos falaram que, ao chegar em uma parada de ônibus, as outras pessoas já saem de perto por conta do conceito preconcebido ao observar a forma como eles falam, se vestem e se portam. Então, perguntamos para eles quais preconceitos eles próprios têm”, explica o ator, diretor, produtor artístico e membro da Estupenda Trupe, Tiago Neri.

 


Para o coordenador pedagógico da unidade, Sebastião Soares de Oliveira, 55, educador há 33 anos, o projeto ajuda os internos no processo de ressocialização. “Enquanto vivenciam o projeto, eles podem pensar a importância da ressocialização, refletindo em todos os contextos, tanto humano quanto pedagógico, e principalmente no da reintegração à sociedade. O projeto vem com o propósito de valorização pessoal.”


De acordo com Carlos Valença, que aplicou as oficinas ao lado de Tiago na UISS e também na Unidade de Internação de Planaltina, no ano passado, os resultados são, muitas vezes, sutis. Mas essas pequenas mudanças constituem as principais conquistas e o maior aprendizado para os participantes. “Até o fato de eles tocarem no colega era difícil. Então tocar no colega, abraçar o colega, isso é uma grande evolução”, ressalta.

 

Financiamento
O projeto contou com o apoio da Secretaria de Cultura do DF, por meio do Fundo de Apoio à Cultura (FAC), no ano passado, para o trabalho em Planaltina, e este ano, em São Sebastião. Agora, com o apoio do IFB, das unidades de internação e das administrações regionais, a Estupenda Trupe pretende expandir a ação, em 2020, a unidades de internação femininas. Concretizar o plano, no entanto, depende ainda da confirmação do financiamento público.

Ainda não há previsão de lançamento de outro edital do FAC este ano. De acordo com a Secult, o fundo é regido pela Lei Orgânica da Cultura (LOC), que prevê o lançamento de dois editais por ano: um até 30 de abril e outro até 31 de agosto. A pasta garantiu que esses prazos serão cumpridos. Ambos contemplarão atividades e projetos para serem realizados no próximo ano.

O resultado dos últimos projetos de 2018 aprovados pelo FAC, no valor de cerca de R$ 45 milhões, serão publicizados nas próximas semanas e, por isso, serão pagos com os recursos previstos para o ano de 2019.

 

Para saber mais

Mobilização política
Criada por Augusto Boal, a técnica do Teatro do Oprimido estimula os participantes a tomarem consciência e a se mobilizarem politicamente. Para o estudioso, não existem espectadores, mas, sim, spect-atores, ou seja, todos podem ser artistas. O dramaturgo, que se formou em engenharia química pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em 1954, questiona em seus livros e peças sobre quem somos nós, qual espaço ocupamos e o que podemos fazer pela sociedade. Boal foi um dos fundadores dos principais espetáculos de cunho político no Brasil, como Teatro de Arena, Teatro Oficina e o Opinião. Depois de atuar durante anos escrevendo e dirigindo peças de teatro político contra a ditadura militar, acabou preso e torturado em 1971. Exilou-se em Buenos Aires, onde começou a produzir e escrever os fundamentos do Teatro do Oprimido. O livro que uniu toda a base do método foi publicado no Brasil em 1975. Depois de anos realizando cursos, palestras e oficinas na América Latina e Europa, voltou ao Brasil em 1986 e criou o Centro de Teatro do Oprimido (CTO) no Rio de Janeiro.

 

Anote
Projeto Tear — Oficinas de Teatro do Oprimido
Local: Instituto Federal de Brasília (IFB), Câmpus de São Sebastião.
Data: todas as sextas-feiras de março, abril e maio.
Horário: das 9h às 12h. Gratuito.

 

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Correio Braziliense quarta, 20 de março de 2019

VISITA DE BOLSONARO AOS EUA: NO FIM DAS CONTAS, UM SALDO POSITIVO

 


No fim das contas, um saldo positivo
 
 
Para o presidente brasileiro, a sensação da comitiva nos Estados Unidos é de dever cumprido, principalmente pelo apoio para a entrada da OCDE. Entretanto, quem ganhou mais foi Donald Trump. Segundo Bolsonaro, alguém tinha que estender a mão primeiro

 

» DENISE ROTHENBURG
Enviada Especial

Publicação: 20/03/2019 04:00

Bolsonaro e Trump trocam camisas das seleções: bom humor, coincidências e o acerto para o Brasil apoiar decisões dos EUA na questão da Venezuela (Brendan Smialowski/AFP)  

Bolsonaro e Trump trocam camisas das seleções: bom humor, coincidências e o acerto para o Brasil apoiar decisões dos EUA na questão da Venezuela

 




Washington, DC — Pelo semblante da delegação brasileira ao chegar para a declaração conjunta dos presidentes Jair Bolsonaro e Donald Trump no Rose Garden, o jardim da Casa Branca, era possível concluir que o Brasil saiu dos Estados Unidos com a sensação de “missão cumprida” e quase tudo o que havia solicitado, inclusive o apoio para ingresso na Organização de Cooperação para o Desenvolvimento Econômico (OCDE) — o clube dos países ricos, que representa um selo de qualidade para negociações comerciais. Mas, como nem tudo na vida é exatamente do que jeito que se deseja, o presidente brasileiro, conforme escrito no comunicado da Casa Branca, concordou em iniciar os procedimentos para deixar de ter tratamento preferencial e diferenciado na Organização Mundial do Comércio.

Essa perspectiva, entretanto, não diminuiu a sensação de vitória da comitiva brasileira. É que diante do conjunto de oportunidades que se apresentam à frente, o resultado não poderia ter sido melhor em se tratando de uma primeira visita. A maior vitória do Brasil nessa viagem foi a inclusão do país como aliado extra do Tratado do Atlântico Norte (Otan), algo que, segundo o presidente Bolsonaro, ajudará o Brasil em questões de defesa, segurança e energia.

Bolsonaro estava tão feliz e tão bem-humorado com a visita que topou falar com a imprensa no meio da tarde, extra-agenda. Ali, na calçada da Blair House, onde está hospedado, falou sobre os principais temas abordados no encontro com Trump. Eles ficaram juntos por duas horas, incluindo almoço, encontro privado e a pose para fotos no Salão Oval. O gelo começou a ser quebrado ainda na sala presidencial, quando trocaram camisas das seleções de futebol dos dois países. Concluíram que têm mais em comum do que imaginavam. Ambos são pais de cinco filhos, tiveram mais de um casamento e posam com os mesmos ideais. Deram gargalhadas. Bolsonaro brincou no almoço, dizendo que Trump, de 72 anos, parecia mais jovem. E acrescentou: “Temos a idade da mulher que amamos”, disse Bolsonaro (Michelle tem 35 e Melania Trump, 48), para risada geral. Na declaração conjunta, no Rose Garden da Casa Branca, Trump classificou a eleição do presidente brasileiro como o “ocaso do socialismo nas Américas”.

Com tanta afinidade, a conversa fluiu. E, neste primeiro encontro, Trump ganhou mais do que ofereceu. Por exemplo, o apoio do Brasil para resolver a crise da Venezuela (leia detalhes nesta página). Levou ainda o uso da Base de Alcântara, no Maranhão, algo que a oposição brasileira considerou “entreguismo” — e o presidente Jair Bolsonaro viu como um grande lucro, até porque os americanos vão pagar pelo uso. “Atualmente, a base está ociosa e a entrada deles ajuda a capacitá-la. A questão quilombola foi resolvida nesta semana. Tinham ampliado a área sem ninguém saber. Vamos oferecer mercado de trabalho para os quilombolas. Todo mundo tem a lucrar”, disse Bolsonaro, na entrevista na calçada da Blair House.

A questão dos vistos (leia mais na página 3), que os americanos agora estão isentos, deixou a desejar para os turistas brasileiros. Tampouco, os empresários ganharam o Global Entry, que evita filas na migração daqueles que vivem na ponte aérea entre os dois países. O presidente, entretanto, garante que as coisas vão caminhar: “A gente não vê nenhum americano indo para o Brasil ganhar estabilidade via CLT. O contrário existe, mesmo não havendo nenhuma garantia da CLT. Agora, alguém tem que estender o braço em primeiro lugar, e quem estendeu fomos nós. Creio que podemos ganhar muito na questão do turismo, que está muito voltada com a questão da segurança também” disse o presidente, pedindo desculpas por ter dito, à Fox News, que a maioria dos imigrantes era mal-intencionada.

Eleições

Não foi apenas Bolsonaro a demonstrar boa vontade e bom humor. Donald Trump também. Especialmente, quando a imprensa americana quis saber o que Bolsonaro achava da eleição de 2020 nos EUA, se mudaria algo na relação entre os dois países em caso de vitória de um democrata. Bolsonaro, escolado na diplomacia, disse que se tratava de um assunto interno, mas que acreditava na vitória de Trump. Sorrindo, o americano agradeceu e disse que pensava o mesmo. Trump demonstrou ainda toda a deferência com o deputado Eduardo Bolsonaro, a quem convidou para participar da conversa reservada entre os dois presidentes (leia reportagem nesta página), em que foram discutidas as questões mais sensíveis em relação à Venezuela.

Ao mencionar a Venezuela, ambos deixam fluir toda a questão ideológica que os une. Bolsonaro citou o fim da ideologia de gênero, do politicamente correto e das fakes news. Trump foi enfático ao dizer que quer as pessoas livres, mencionou ainda Cuba, antes da Venezuela, e foi direto: “A última coisa que queremos na América é o socialismo”, disse, antes de referir ao Brasil na Otan e aos acordos para segurança e combate ao crime organizado, outros temas em que os dois países promoverão parcerias.

Pontos positivos

» Apoio para a entrada na Organização de Cooperação para o Desenvolvimento Econômico (OCDE)

» Inclusão do Brasil como aliado extra do Tratado do Atlântico Norte (Otan)

» Início de conversas para tratados comerciais, principalmente na área da agricultura

» Visão positiva e de parceria para questões diplomáticas
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense terça, 19 de março de 2019

ARTESANATO BRASILIENSE

 

Emoção na ponta dos dedos
 
 
 
Artesãos do Distrito Federal oferecem produtos de qualidade que trazem referências do cerrado. Hoje, evento na Torre de TV comemora o dia deles

 

» BRUNA LIMA

Publicação: 19/03/2019 04:00

  

"Tudo é dosado no amor. Quando vem para as nossas mãos, temos sempre que fazer o nosso melhor, com carinho" Maria Dalva Barbosa de Oliveira, artesã

 



Com as mãos, são capazes de aliar trabalho e arte. Materializam as emoções, as impressões individuais e a cultura de um povo em produtos. Encontram no tecido, na madeira, no couro, na argila, na folha seca uma forma de sustento. Criam peças únicas — de utensílios a obras de arte — cujas vendas movimentam a economia local. Dia 19 de março é a data escolhida para homenagear os donos dessas habilidades: os artesãos.

Atualmente, são mais de 10 mil profissionais cadastrados no DF. Muitos deles encontraram no centro da capital um espaço para expor e vender os trabalhos, trazendo um misto de cores, sabores e identidades que harmonizam na Feira de Artesanato da Torre de TV — conhecida por Feirinha da Torre.

Em um dos 480 boxes do local, a artesã Maria Dalva Barbosa de Oliveira, 66 anos, mostra e vende aquilo que sempre foi a fonte de renda para a família: as flores do cerrado. Passar em frente à banca e não dar aquela paradinha é quase impossível.

“Essas foram as flores mais bonitas que eu já vi. Ninguém faz como a senhora”, afirma uma jovem, que desceu da bicicleta apenas para elogiar o trabalho e depois seguiu em frente. É que Dalva coloca um ingrediente extra. “Tudo é dosado no amor. Quando vem para as nossas mãos, temos sempre que fazer o nosso melhor, com carinho; tratar com respeito a natureza, de onde eu tiro cada capim, galho, folha e pétala para fazer as flores”, explica.

A artesã faz questão de colher a dedo todos os materiais de que precisa. É nos campos, também, que ela renova as energias, medita e se prepara para mais um dia. “Foram muitas batalhas, mas eu nunca perdi e vou continuar vencendo”, garante. Aos 16, deixou a família em Paracatu (MG) para tentar uma vida melhor. Veio para Brasília e, no cerrado, encontrou mais do que um ofício.

Conheceu João, nascido no território candango antes mesmo do início da construção da capital. Com ele, casou-se e teve cinco filhos. “Deus me deu, por meio da natureza, tudo o que eu tenho e sou.” Como forma de retribuição, Dalva consegue dar uma sobrevida a vegetações típicas que estavam maduras ou mortas, transformando-as em arranjos e, assim, leva a identidade brasiliense em forma de decoração para milhares de casas país afora, há mais de 40 anos.

Assim como Dalva, o artesão João Silva de Andrade, mais conhecido como João Grilo, 72, foi um dos primeiros a se instalar embaixo da Torre de TV para vender as produções. Encontrou na profissão uma forma de se reerguer, após ter o nome associado a guerrilheiros e perder o emprego. “Assim como eu, a feira esteve na berlinda várias vezes. Passou da regularização ao tombamento. Com a cidade, se organizou e evoluiu. Resistiu.”

Com as mãos, João produziu, ao longo dos anos, desde móveis e acessórios com couro a instrumentos musicais. Além de confeccionar e vender berimbaus, pandeiros, atabaque, reco-recos e tambores, toca cada um e ensina quem quiser aprender. “É fazer de tudo um pouco.”


João Grilo produz itens variados (Bruna Lima/CB/D.A Press)  

João Grilo produz itens variados

 


 (Bruna Lima/CB/D.A Press)  

Wilson Araújo vende sandálias (Bruna Lima/CB/D.A Press)  

Wilson Araújo vende sandálias

 




De geração em geração 
 
A banca de Wilson Araújo, 56, guarda muito mais do que milhares de sandálias trançadas e sapatos de couro com sola de pneus. A história de três gerações é guiada pelo ofício. A família dele veio para Brasília ainda na construção. O pai trabalhava como pedreiro, mas percebeu o dom para a produção manufaturada depois de fazer uma pasta de couro. Além de Wilson, sete dos nove irmãos viraram artesãos.

Hoje, as duas filhas ajudam nos negócios e a mulher confecciona bolsas de couro. Os produtos são alguns dos mais tradicionais da feira, em que muitos modelos calçam milhares de brasilienses e visitantes desde a década de 1970. “Quando o material é de qualidade, o preço é bom e tudo feito com prazer, não sai de moda nunca”, garante Wilson.

A tradição e o cuidado na arte do fazer com as mãos são o que garante o apreço por parte de visitantes de todos os cantos. De mudança para Brasília, a curitibana Leila Chaban, 49, escolheu a Feira da Torre como o primeiro passeio na capital. “É incrível como em um mesmo lugar podemos apreciar a cultura do cerrado, que reúne características de todos os cantos do Brasil. É um encontro de diversidade, de regiões em forma de artesanato”, observa.

Para o casal brasiliense Adriano Luiz da Silva, 38, e Maressa Anderis, 24, frequentadores do local, o espaço consegue traduzir a identidade candanga. “Traz esse sentimento de pertencimento. Por isso, precisamos cada vez mais reconhecer o trabalho, valorizar o profissional que faz com as mãos uma comida caseira ou peça autêntica, tão carregadas de valores”, enfatiza Maressa.



Programação
 
9h – Boas vindas
 
9h30 – Solenidade de abertura
 
10h – Homenagens aos Mestres Artesãos
 
10h30 – Palestra sobre empreendedorismo e capacitação, com o Sebrae/DF
 
11h – Apresentação da linha de crédito Prospera Mulher — Secretaria do Trabalho
 
Das 11h30 às 16h – Apresentações culturais e atividades



Celebração
 
Em comemoração ao Dia do Artesão, a Torre de TV será palco para uma festa com palestras sobre empreendedorismo e capacitação, orientações jurídicas e sociais, atendimentos de beleza e de saúde, além de atividades culturais e de lazer. Também será realizada uma homenagem aos mestres artesãos. O evento, promovido pelo Governo do Distrito Federal e pela Secretaria de Turismo, começa às 9h, e a entrada é de graça.

Correio Braziliense segunda, 18 de março de 2019

BRASÍLIA - MOBILIDADE URBANA - TRANSPORTE COMPARTILHADO

 


MOBILIDADE URBANA
 
Transporte compartilhado
 
Apesar de restritas ao Plano Piloto e a Águas Claras, as bicicletas de uso coletivo são cada vez mais adotadas pelos brasilienses. Com uma taxa de R$ 10 por ano em alguns casos, os usuários podem circular pela cidade. Governo e empresas têm planos de expansão

 

» JÉSSICA EUFRÁSIO

Publicação: 18/03/2019 04:00

 

O engenheiro Davi Bertucci, 40 anos, mora na Asa Norte e usa as bikes para ir ao trabalho, no Setor Comercial Norte: %u201CÉ uma necessidade e um lazer%u201D (Arthur Menescal/Esp. CB/D.A Press)  

O engenheiro Davi Bertucci, 40 anos, mora na Asa Norte e usa as bikes para ir ao trabalho, no Setor Comercial Norte: %u201CÉ uma necessidade e um lazer%u201D

 

 

 

A servidora pública Rosana Baioco, 52 anos, torce pela criação de mais estações do serviço (A servidora pública Rosana Baioco, 52 anos, torce pela criação de mais estações do serviço)  

A servidora pública Rosana Baioco, 52 anos, torce pela criação de mais estações do serviço

 

 

 

 

Mesmo com mais de 460 km de ciclovias, o Distrito Federal tem caminhado a passos lentos na oferta de meios de transporte alternativos. No segmento de bicicletas compartilhadas, duas empresas atuam na capital do país. Uma delas oferece, ainda, patinetes elétricos. No entanto, as áreas abrangidas ainda se restringem a duas das 31 regiões administrativas: Plano Piloto e Águas Claras. 

 A primeira empresa surgiu em 2014. Trata-se do serviço +Bike, do grupo Serttel, operado por meio de parceria com o Governo do Distrito Federal (GDF). A iniciativa existe até hoje e permite aos usuários retirarem bicicletas de estações espalhadas pelo centro da cidade. Com a compra de um passe diário, mensal ou anual, é possível pedalar com as “verdinhas” pelas ruas do Plano Piloto pagando um valor que chega a até R$ 10 por ano. A tarifa aumenta apenas no caso de o usuário ultrapassar o limite de 1 hora de uso. Com isso, paga-se R$ 5 a mais para cada 60 minutos extras. A estimativa da Serttel é de que os 200 mil usuários inscritos realizaram mais de 1,2 milhão de viagens. 

 No fim de janeiro, surgiu mais uma alternativa para os usuários: a Yellow. A empresa brasileira trabalha com soluções de mobilidade urbana e individual e levou novidades aos usuários: patinetes elétricos e operação fora do centro de Brasília. Além disso, diferentemente do Bike, os itens da companhia não ficam dispostos em estações fixas, mas espalhados pelas ruas. O modelo é conhecido como dockless (“sem cais”, em tradução livre). O serviço começou com 350 bikes e 50 patinetes. Para reconhecê-las, basta dar uma olhada por equipamentos de cor amarela, como o próprio nome sugere.

Usuário do serviço do GDF desde o início e, agora, cadastrado junto à Yellow, o engenheiro Davi Bertucci, 40 anos, aproveita as opções como forma de ir de casa para o trabalho e vice-versa. Morador da Asa Norte e funcionário de uma empresa no Setor Comercial Norte (SCN), ele aproveita o meio de transporte não poluente para evitar o trânsito sempre que possível. “É uma necessidade que tenho e acaba sendo um lazer. Normalmente, tiro apenas o paletó e a gravata, principalmente de dia. A única dificuldade que tenho é que a primeira estação do Bike fica a quase duas quadras de distância. Isso não é ruim, mas acaba sendo um pouco difícil”, comentou.

 Em relação aos pontos de disponibilidade da Yellow, ele tem a mesma sensação, pois, geralmente, precisa andar um pedaço até alcançar as bikes. “O que vejo de problema na Yellow é a mancha da área de atendimento deles. Mas isso é algo muito individual. Minha dificuldade é apenas nesse primeiro momento. Tive poucos problemas com falta de equipamentos nas estações, apenas nas mais longes do centro”, disse Davi. 

Ele ressaltou alguns outros problemas geralmente enfrentados pelos ciclistas: as magrelas depredadas. “Vez ou outra, há uma bike com pneu murcho, corrente solta ou sem retrovisores. Mas nunca peguei uma com problema.” Mesmo assim, Davi ressaltou a comodidade do serviço. “Meu trabalho não tem bicicletário. Eu teria de botar em um poste e torcer para não acontecer nada. O sistema foi disponibilizado para viabilizar a questão da mobilidade e termos menos carros nas ruas. É muito válido”, elogiou o engenheiro. 

 Tarifas

 Um dos principais alvos de reclamações também são as ciclovias. No Plano Piloto, os ciclistas contam com 111,29 km disponíveis. Em Águas Claras, são 7,23 km. Apesar de muitas serem novas, no Plano Piloto, principalmente, não há interconexão dos trajetos entre quadras e problemas nas ligações entre as asas Norte e Sul. A relação com os carros também é complicada. Quando não há ciclovias, quem pedala precisa dividir espaço nas vias com veículos que, muitas vezes, não respeitam o espaço de 1,5 metro de distância. Também pode haver dificuldades nos cruzamentos pintados em vermelho no asfalto para a travessia de ciclistas.

Servidora pública, Rosana Baioco, 52 anos, usufrui das bicicletas compartilhadas. Ela reconhece o benefício do sistema, mas sente falta de atendimento a mais áreas. “Na frente do local onde trabalho, há uma estação do Bike. Elas têm uma usabilidade legal, principalmente para mulheres, por terem o quadro baixo. Se a pessoa está de saia ou vestido, fica mais fácil para subir ou descer.  Já usei muito na Asa Norte, mas, na minha região, por exemplo, não tem nenhuma das duas opções”, lamentou a moradora da Octogonal.

 Rosana também observou alguns problemas com equipamentos. Mesmo assim, ela não considera que isso seja comum. “As bicicletas têm problemas normais. Pneus murchos e, às vezes, sem retrovisor ou selim. As da Yellow são novas, mas vi casos de bikes tortas ou que tiveram os punhos ou selins furtados. Sem isso, ela não serve para nada”, pontuou. Em relação às do Bike, ela considera que o peso pode atrapalhar para algumas pessoas. Quanto às da Yellow, Rosana sente falta das marchas. “Isso pode dificultar para quem estiver em uma subida, por exemplo. E, pelo preço, as verdinhas (do Bike) são melhores. A depender do caso, as amarelas podem sair pelo valor de uma passagem de ônibus”, comparou.  


Correio Braziliense domingo, 17 de março de 2019

GESTÃO NIPO-BRASILEIRA- FAMÍLIA NAKANISHI

 


PERFIS DE SUCESSO - FAMíLIA NAKANISHI
 
Gestão nipo-brasileira
 
Casal de origem japonesa empreende em Brasília faz 45 anos: teve uma frutaria, uma mercearia, uma lotérica e, por fim, uma loja de utilidades domésticas, que virou referência na cidade. Agora, a empresa está na segunda geração de administração familiar

 

Ana Paula Lisboa

Publicação: 17/03/2019 04:00

 

Ciro e Cida, à frente, com as filhas, Tatiana (de preto) e Karina (de verde), e o genro, Carlos, com funcionários (Aline Rocha/Esp. CB/D.A Press)  

Ciro e Cida, à frente, com as filhas, Tatiana (de preto) e Karina (de verde), e o genro, Carlos, com funcionários

 

 

A Cristal Presentes, aberta há cerca de 30 anos, está na segunda geração da gestão familiar. O negócio começou pelas mãos de Ciro Nakanishi, 74 anos, e Aparecida Nakanishi, 73, como uma loja de R$ 1,98 — estratégia para ficar à frente de comércios que vendiam mercadorias por R$ 1,99. Desde 2016, a responsável pela administração é Tatiana Nakanishi, 38, a filha mais nova do casal, que, seguindo os passos dos pais, trabalha ali com o marido, o administrador Carlos Alberto dos Santos. “Foi natural continuar no negócio. Nossa família tem muito disso. A gente até brinca que a história se repete. Literalmente, continuamos a mesma jornada. A gente tem o desafio de tocar a Cristal por mais 30 anos”, afirma Tatiana, que é graduada em pedagogia. Com o tempo, o local se consolidou como um estabelecimento de utilidades do lar. Atualmente, os produtos mais vendidos de cozinha e de organização.

“Com a alta do dólar e dos custos, migramos para produtos de qualidade melhor”, informa. Mas foi por uma questão de respeito a direitos trabalhistas e humanos também. “O que a gente estimula quando insiste num produto muito barato? A gente não faz ideia das condições em que pessoas estão trabalhando do outro lado do mundo, na China. Hoje, temos mais marcas nacionais do que importadas para ter segurança da cadeia produtiva”, observa. Os resultados são prova de que os ensinamentos que recebeu de herança dos pais e o comando de Tatiana são combinação certeira. Com 23 funcionários e mais de 23 mil variedades de mercadorias, a Cristal Presentes recebe entre 8 mil e 10 mil clientes por mês. O faturamento bruto fica em torno de R$ 400 mil. “Isso é de família. A gente vai continuar com a loja até a hora que der. A Tatiana está seguindo nossos passos da maneira que deveria”, elogia Dona Cida.

“Ela modifica algumas coisas, mas tem que inovar mesmo.” A matriarca da família atribui o sucesso do negócio à variedade e à persistência. Ciro cita outros elementos dessa receita exitosa. “Foi muito trabalho e honestidade. A gente não pensava muito no dinheiro, pensava mais na comunidade e em dar conforto para o cliente”, garante. “Passamos por dificuldades, mas, graças a Deus, estamos com missão cumprida”, comemora Ciro que, volta e meia, vai à Cristal Presentes dar pitaco. “De vez em quando, a gente dá umas puxadas de orelha, mas a Tatiana nos escuta”, brinca. A outra filha do casal, Karina Nakanishi, é missionária e, quando está na cidade, aproveita para visitar a loja. Afinal, elas cresceram entre as prateleiras e o balcão.

Recomeço
Um dos maiores desafios ao longo da jornada foi quando a Cristal Presentes pegou fogo por causa de um curto-circuito, em 2016. “O incêndio destruiu tudo, não sobrou nada. Eu já estava com mais de 70 anos e, quando vi a loja toda acabada, pensei: ‘eu só não quero que a Cristal  acabe em fogo’. E só de isso não ter acontecido, sou muito satisfeito”, conta Ciro. A reconstrução durou cerca de cinco meses. Um ano depois do acidente, Tatiana passou a tocar a loja. “Depois da reforma, ficou até melhor, deu uma modernizada. Tem cliente que até acha que ficou chique demais”, comenta. “Meus pais nunca pensaram em desistir por causa do incêndio. A maior inspiração que eles me passam é a dedicação. Eles nunca mediram esforços para o trabalho”, diz Tatiana.

Ciro e Cida começaram a trabalhar entre as quadras 203 e 204 Norte antes mesmo da existência da Cristal Presentes. Paranaenses e com ascendência japonesa, eles se casaram em Brasília em 1974 e passaram a tocar uma frutaria, que depois se tornou uma mercearia. Também chegaram a ter uma casa lotérica. O empreendedorismo começou quase que por acaso. “Eu trabalhava numa loja de frutas e verduras na 209 Sul e, um dia, o dono me disse: ‘eu vou te vender a loja’. Eu respondi que nem tinha como pagar. Mas ele me confiou mesmo assim”, conta Ciro, que se mudou para Brasília em 1973.

O comércio ficava num ponto alugado, e a mudança para a 204 Norte ocorreu quando o proprietário pediu o local de volta. No novo endereço, foi aberta a Mercearia Londrinense, já que os donos são de Londrina (PR). No fim dos anos 1980, o casal estava determinado a mudar de ramo. “Naquela época, as lojas de R$ 1,99 estavam virando uma febre e eu resolvi abrir uma de R$ 1,98. Por causa de um centavo de diferença, viramos referência”, lembra Ciro. Na época, o pessoal fazia até fila para entrar. Tatiana recorda que o pai fazia questão de dar os dois centavos de troco. “Ele até ia ao banco para pedir e trocar moedas. O cliente pagava verdadeiramente R$ 1,98”, diz. Em 2001, os empresários mudaram para o outro lado da rua, para a 203 Norte, onde a Cristal Presentes funciona.

“Nós ficávamos no subsolo, e era um sacrifício para o cliente descer lá. Minha esposa, com o pensamento de facilitar para o público, falou para mudarmos. Não interessava se conseguiríamos pagar aluguel em cima ou não, mas precisávamos fazer uma loja mais confortável”, conta Ciro. Essa preocupação com a freguesia em primeiro lugar é marca registrada da gestão Nakanishi, tanto da primeira quanto da segunda geração. “Se um analista financeiro vissem os preços dos produtos, diria que estavam tendo prejuízo. Mas meus pais não ligavam, o mais importante era ajudar quem vinha à loja”, elogia Tatiana.

“Na época da frutaria, meu pai comprava as frutas no Ceasa e, depois, minha mãe selecionava uma por uma antes de pôr na prateleira, tirava todos as estragadas e amassadas. Essa mesma preocupação persiste até hoje”, diz. “As pessoas sabem disso e, mesmo quando sabem que não temos um produto, vêm aqui pedir nossa ajuda”, comenta. “Esse é um diferencial que os clientes percebem. Nosso maior interesse é que eles saiam satisfeitos.” E a preocupação de Tatiana vai além dos aspectos comerciais. Entre as metas dela para o negócio está dar continuidade a projetos sociais, por exemplo, abrindo a loja para promover cursos e conversas sobre temas como saúde mental e prevenção ao suicídio.

 

Saiba mais

Cristal Presentes
203 Norte, Bloco A, Loja 80
3326-8070 / www.facebook.com/lojacristaldf


Correio Braziliense sábado, 16 de março de 2019

NOVA ZELÂNDIA: DO ÓDIO CEGO À BARBÁRIE

 


NOVA ZELÂNDIA
 
Do ódio cego à barbárie
 
Atirador invade duas mesquitas em Christchurch, mata 49 muçulmanos, fere 48 e horroriza o planeta. Antes do massacre, divulgou manifesto racista no qual justifica o ato e cita o Brasil. Primeira-ministra lamenta %u201Cdia mais sombrio%u201D e promete mudar lei sobre armas

 

RODRIGO CRAVEIRO

Publicação: 16/03/2019 04:00

 

Da entrada da Mesquita Masjid Al-Noor, Brenton Harrison Tarrant, 28 anos, começou a disparar o fuzil semiautomático de forma intermitente: assassino perseguiu vítimas, que rastejaram em busca de ajuda, e atirou várias vezes
 ( Reprodução/Internet





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Da entrada da Mesquita Masjid Al-Noor, Brenton Harrison Tarrant, 28 anos, começou a disparar o fuzil semiautomático de forma intermitente: assassino perseguiu vítimas, que rastejaram em busca de ajuda, e atirou várias vezes

 

 

 

 

 (Reprodução/Internet)  

 

 

 

 (Reprodução/Internet)  

 

 

“Eu sou o deus do fogo do inferno, e eu busco você! Fogo, eu o levarei para queimar.” A música Fire, da banda britânica The crazy world of Arthur Brown, ecoava de dentro do carro de Brenton Harrison Tarrant, 28 anos, quando ele tornou a disparar contra a cabeça de uma muçulmana, caída ao lado do meio-fio. Minutos antes, às 13h45 de ontem (21h45 de quinta-feira em Brasília), Brenton tinha desembarcado do veículo, em frente à Mesquita Masjid Al-Noor, em Christchurch, com um fuzil e uma pistola na mão. Ao som de uma canção de exaltação de Radovan Karadzic — ex-líder sérvio-bósnio responsável pelo genocídio em Srebrenica (1995) —, ele conduziu um massacre no interior do templo islâmico e dirigiu 5km até a Mesquita Linwood Masjid. Matou 49 pessoas, 41 delas na primeira mesquita, e feriu 48. O atentado, transmitido ao vivo pelo Facebook (leia na página 13), impactou a  Nova Zelândia, nação pluralista e acolhedora de religiões. Um vídeo gravado pelo celular mostra policiais retirando o atirador de dentro do carro e o algemando. 

O horror causado por Brenton, que levava uma câmera acoplada ao capacete, repercutiu na comunidade internacional e instigou um debate sobre tolerância religiosa e flexibilização de armas. A Mesquita Masjid Al-Noor reunia ao menos 300 pessoas, incluindo mulheres, no momento do ataque. “O que houve lá foi inaceitável. Imaginar esse tipo de coisa acontecendo com muçulmanos, com inocentes”, lamentou ao Correio o gerente de vendas Mohan Ibn Ibrahim, 27 anos, sobrevivente do massacre (leia o Depoimento).

A barbárie foi precedida pela publicação, na internet, de um manifesto racista de 74 páginas em que Brenton se identifica como um homem branco normal inspirado pelo supremacista norueguês Anders Behring Brevik. Em 22 de julho de 2011, Brevik cometeu uma série de atentados que mataram 77 pessoas e feriram 51 em Oslo e na Ilha de Utoya, na Noruega. No documento, Brenton conta que pretendia “fazer uma barbárie para evitar outra maior” e justifica o ato como uma tentativa de “ensinar os invasores que nossa pátria nunca será sua”.

 

O australiano Brenton Tarrat é formalmente acusado pela Justiça neozelandesa: impassível diante do juiz
 (Mark Mitchell /AFP)  

O australiano Brenton Tarrat é formalmente acusado pela Justiça neozelandesa: impassível diante do juiz

 

 

 

Brasil
Intitulado The Great Replacement (“A Grande Substituição”) — em referência a uma teoria elaborada pelo escritor francês Renaud Camus, segundo a qual “os povos da Europa estão sendo substituídos” por populações de imigrantes não europeus —, o manifesto cita o Brasil. “O Brasil, com toda a sua diversidade racial, está completamente fraturado como nação, onde as pessoas não se dão umas com as outras e se separam e se segregam sempre que possível”, escreveu.

“O que houve em Christchurch foi um ato extraordinário de violência sem precedentes”, comentou a primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, ao citar “o dia mais sombrio” da história do país. A premiê neozelandesa avisou que as leis de acesso a armas mudarão depois da tragédia. “Enquanto estamos trabalhando para entender a cadeia de eventos que levaram à posse dessas armas, eu posso lhes dizer uma coisa certa agora. Nossa legislação sobre armas mudará”, disse Jacinda. A Nova Zelândia possui um histórico de poucos incidentes com armas de fogo. Em 2017, o país registrou 35 assassinatos. De acordo com a chefe de governo, Brenton tinha licença para adquirir armamentos.

A primeira-ministra enviou um recado aos extremistas: “Vocês podem ter nos escolhido, mas nós rejeitamos vocês”. O presidente dos EUA, Donald Trump, telefonou para Jacinda e ofereceu condolências ante os “monstruosos ataques terroristas”. “Esses locais sagrados de adoração se transformaram em cenas de matança maligna”, declarou. No entanto, Trump negou que o supremacismo branco seja uma ameaça importante. “Na realidade, não. Acredito que se trata de um pequeno grupo de pessoas.”

Algemado e com uniforme de presidiário, o militante de extrema direita não demonstrou emoção ao ouvir a acusação de homicídio e fez um gesto usado por supremacistas para indicar poder. Brenton ficará preso até a audiência de 5 de abril. Outras acusações devem ser apresentadas, e a promotoria pedirá pena perpétua. Mais duas pessoas estão sob custódia. 

Influência
Em entrevista ao Correio, Paul Spoonley — professor da Massey University, em Palmerston North (Nova Zelândia) — disse crer que Brenton foi profundamente influenciado por eventos internacionais. “Ele é parte de um movimento internacionalista da direita alternativa e do supremacismo branco. Também sustenta fortemente os argumentos da ‘teoria da substituição’, a ideia de que os brancos estão perdendo o poder no mundo e sendo substituídos por muçulmanos. É uma posição comum da extrema direita”, admitiu o autor de  Politics of Nostalgia: Racism and the Extreme Right  (“Políticas da Nostalgia: racismo e extrema direita”).

Douglas Pratt, especialista em terrorismo religioso pela Universidade de Auckland e autor de Religion and extremism: Rejecting diversity (“Religião e extremismo: rejeitando a diversidade”), afirmou à reportagem que a imagem de uma sociedade pacífica, tolerante e pluralista ignora expressões religiosas e políticas de antipatia, e de franca hostilidade, em relação aos muçulmanos. “O contexto da tolerância benigna da Nova Zelândia está sendo testado.” O Brasil divulgou nota em que “condena veementemente os ataques terroristas direcionados à comunidade muçulmana de Christchurch”. “O Brasil reitera firme repúdio a todo e qualquer ato de terrorismo, independentemente da motivação”, afirmou o comunicado do Itamaraty.  

Eu acho...

 

 (Arquivo pessoal)  

 

 

“Os atentados contra as duas mesquitas foram um eco do massacre perpetrado pelo norueguês de Anders Breivik (em 22 de julho de 2011). Tal extremismo violento acredita que a ação tomada servirá como gatilho para um movimento ainda maior, capaz de remover ou eliminar os imigrantes, e especialmente, os muçulmanos. Como estratégia, isso inevitavelmente fracassa, pois geralmente produz reação oposta, ao provocar apoio às comunidades de muçulmanos e migrantes.”
Douglas Pratt, especialista em terrorismo religioso pela Universidade de Auckland (Nova Zelândia)

Depoimento
“É dificil ver alguém morrer”



 (Arquivo pessoal)  

 

 

“Tudo ocorreu entre 13h42 e 13h45 de ontem (sexta-feira). As orações teriam início às 14h. Eu estava dentro da Mesquita Masjid Al-Noor, no lado direito. Ele começou a atirar desde o portão principal. Foi algo tão alto (o barulho), que imaginei tratar-se de um curto-circuito. No entanto, o som era intermitente. Alguns poucos de nós conseguimos sair da mesquita usando a porta do lado direito. Nós corremos em direção ao quintal, onde normalmente as pessoas estacionam seus carros. Tive de correr entre 700m e 800m, antes de pular o muro. O barulho dos tiros não parou durante 10 a 15 minutos.

O som era muito alto. Quando a polícia chegou, corri até o outro lado da rua. Eu vi uma pessoa baleada no peito. A polícia veio e fez os primeiros socorros. Eu não consegui discernir claramente se o atirador dizia alguma coisa. Também não me aventurei a olhar para trás. Eu não posso explicar como o som dos tiros era alto. Depois, vi no vídeo que ele escutava músicas. Durante minha fuga, não vi corpos, pois não vi a parte de trás da mesquita, onde estavam mais pessoas. Ele estava matando a partir da porta principal. Havia muitas crianças e mulheres dentro da mesquita. Famílias inteiras frequentavam ali. Eu conhecia muitas das pessoas que morreram. É  realmente muito triste ver alguém morrer diante de seus olhos.”


Mohan Ibn Ibrahim, 27 anos,
gerente de vendas, sobrevivente do massacre na Mesquita Masjid Al-Noor, em Christchurch

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Correio Braziliense sexta, 15 de março de 2019

BRASÍLIA À ESPERA DE TURISTAS EUROPEUS

 


À espera de 20 mil turistas
 
 
O governador do DF, Ibaneis Rocha, firmou acordo com a aérea TAP para tornar Brasília uma cidade stopover. Passageiros que vierem da Europa pela companhia poderão permanecer até cinco dias na capital federal durante conexões dos voos

 

» ANA VIRIATO

Publicação: 15/03/2019 04:00

Chefe do Buriti assinou o protocolo de intenções em Lisboa, ontem (Ana Viriato/CB/D.A Press)  

Chefe do Buriti assinou o protocolo de intenções em Lisboa, ontem

 

 
LISBOA — Da pomposa arquitetura à diversidade religiosa: o GDF pretende atrair viajantes europeus ao território candango por meio da oferta de pelo menos cinco rotas que representam diferentes facetas da capital. O planejamento faz parte do protocolo de intenções firmado, ontem, entre o governador Ibaneis Rocha (MDB) e a TAP Air Portugal para tornar Brasília uma cidade stopover. Com o acerto, passageiros que viajarem da Europa ao Brasil pela companhia aérea, com conexão na capital, poderão permanecer na cidade por até cinco dias, sem cobranças extras na passagem. 

Com o mote “Brasília Stopover: o Brasil começa aqui”, o Executivo local pretende investir 180 mil euros — equivalente a cerca de R$ 774 mil — em comunicação, para promover a cidade no território europeu. A investida visa colar a imagem da capital a diferentes formas de turismo: ecológico, de aventura, religioso, arquitetônico e cultural. “Teremos, por exemplo, a rota de Azulejos; a Oscar de Arquitetura; a Dom Bosco — Fé e Misticismo; a JK do Patrimônio Cultural; e a da Cidade Criativa de Design. No caso dessa última, a Unesco está nos ajudando a fazer o mapeamento de pelo menos 50 locais que têm a característica”, explicou a secretária de Turismo, Vanessa Mendonça.

A titular da pasta acrescentou que o governo iniciou o corpo a corpo com o trade e associações para fechar pacotes de descontos e experiências. “Hotéis e restaurantes que oferecerem descontos realmente significativos farão parte do programa e serão divulgados na TAP. Assinaremos um termo de intenções para que a situação fique formalizada”, frisou. 
Por meio do projeto, o governo espera atrair, no primeiro ano de stopover, 20 mil novos turistas. Para isso, porém, terá de implementar melhorias na mobilidade urbana e na conectividade. “Vamos melhorar o transporte público com uma nova compra de micro-ônibus. Além disso, por meio da Secretaria de Ciência e Tecnologia, iniciaremos um projeto-piloto que disponibilizará 40 carros elétricos trazidos de Itaipu para essa proposta”, adiantou o governador Ibaneis Rocha. 
A recuperação de monumentos icônicos que não abrem as portas há anos é outra prioridade — mesmo porque a visita a alguns deles consta no portfólio apresentado pelo GDF à TAP, ontem, em Lisboa. “No que diz respeito ao Teatro Nacional, é uma obra que está fechada há cinco anos. Estou proporcionando algumas parcerias. Uma está bastante adiantada: com o Bradesco Cultural. Estamos fazendo um estudo junto ao Iphan para saber o que podemos instalar para tornar o ponto mais atrativo”, complementou o emedebista. 

Para o governador, o formato stopover impulsionará o desenvolvimento econômico de Brasília e do Entorno. “Para nós, isso é muito importante. São pessoas com boa condição econômica, que movimentarão o mercado”, assinalou o chefe do Palácio do Buriti. Ele pretende articular, ainda, a inclusão de pontos turísticos das demais capitais do Centro-Oeste no roteiro de quem optar pela minitour no DF.

Conforme o convênio, a TAP realizará a ponte aérea entre a Europa e a cidade brasileira, seja o destino final, seja a capital stopover — o passageiro definirá o trajeto por meio de um aplicativo a ser desenvolvido pela companhia aérea ou pelo site. Os demais deslocamentos, entre pontos do solo brasileiro, serão realizados por empresas parceiras: Azul, Avianca ou Gol. Além de Brasília, contarão com a proposta Salvador, Recife, Rio de Janeiro e Fortaleza. 

Na manhã de ontem, após reunião com representantes da TAP, Ibaneis Rocha disse esperar que o projeto funcione em um mês, uma vez que “as plataformas estão em desenvolvimento”. À tarde, entretanto, diretores da companhia aérea informaram que o sistema deve ficar pronto no segundo semestre do ano. “Temos que criar a plataforma, desenvolver o sistema e o mobile. Além disso, o governo precisa fechar parcerias com a rede hoteleira e gastronômica”, explicou o diretor de marketing da TAP no Brasil, Francisco Guarisa. 

Durante a visita, a comitiva do DF visitou feira de turismo em Portugal (Ana Viriato/CB/D.A Press)  

Durante a visita, a comitiva do DF visitou feira de turismo em Portugal

 



Aeroporto
 
O Aeroporto Internacional de Brasília Juscelino Kubitscheck também integra as negociações. O diretor de assuntos corporativos da Inframerica, Rogério Teixeira Coimbra, explica que a instituição detém, há algum tempo, parceria com a Secretaria de Turismo, por meio da cessão de espaço para o funcionamento do Centro de Atendimento ao Turista (CAT). As tratativas, entretanto, tendem a crescer. “Também temos conversado sobre divulgar o destino Brasília em outros aeroportos do grupo: há 52 unidades espalhadas por sete países”, observou. 

Coimbra destacou que o fluxo de passageiros estrangeiros no aeroporto cresceu em 6% no último ano, quando 18 milhões de pessoas passaram pela unidade aeroportuária. Com o convênio, a expectativa é de que o número seja incrementado de forma gradual. “Não basta apenas o stopover. Junto, estão medidas de promoção do destino, de pacotes e das atrações turísticas. Isso começa devagar e ganha corpo. Mesmo porque o turismo tem a promoção de boca a boca”, sublinhou.
 
* A jornalista viajou a convite da TAP


Turismo na capital

279
meios de hospedagem disponíveis no DF

17.998
unidades habitacionais

39.424
leitos
 
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Correio Braziliense quinta, 14 de março de 2019

ARACAJU: JOIA NORDESTINA

 


Joia nordestina
 
Com tantas opções de lazer, a capital sergipana tem ares de cidade grande. Quem visita Aracaju fica com o desejo de voltar para curtir mais um pouco das paisagens e da culinária local, cujo prato principal é o caranguejo

 

» Cláudia Eloi*

Publicação: 13/03/2019 04:00

Diante dos tradicionais arcos, cartão-postal na Orla da Atalaia, letreiro faz declaração de amor à capital sergipana (Victor Ribeiro/ASN - 17/3/16 )  

Diante dos tradicionais arcos, cartão-postal na Orla da Atalaia, letreiro faz declaração de amor à capital sergipana

 



Menor estado do Brasil, com área de 21.910 quilômetros quadrados, Sergipe revela aos visitantes surpresas maravilhosas. A capital, Aracaju, não deixa a desejar em relação aos encantos naturais. A cidade também cumpre os requisitos da boa gastronomia, excelentes hospedagens, opções de lazer e potencial histórico, como o Museu da Gente Sergipana, que é interativo.

Um roteiro imperdível na capital sergipana é caminhar pela simpática Orla de Atalaia. Lá, a parada obrigatória é a Passarela do Caranguejo, onde uma réplica gigante do animal foi construída como ponto turístico da cidade. Após tirar fotos com o crustáceo gigante, vale a pena dar uma esticada até os bares que ficam na orla e saborear a iguaria. Tem caranguejo de todo jeito. Ensopado, grelhado, gratinado, mas o mais tradicional é o que vem com um martelinho e uma tábua para você quebrar. Não há estresse que resista a esse tipo de terapia.

A escultura no formato de crustáceo é o local perfeito para fazer uma selfie (Marcio Dantas/ASCOM-SE - 20/8/14 )  

A escultura no formato de crustáceo é o local perfeito para fazer uma selfie

 


Como o próprio nome diz, o caranguejo é o carro-chefe de Aracaju. Mas os restaurantes oferecem outras boas opções para saborear crustáceos e frutos do mar, a exemplo do peixe ao molho de camarão, no Restaurante Pitu com Pirão, da Eliane. O local ganhou destaque no Guia Quadro Rodas, com o título médio luxo entre os cinco melhores de Aracaju. Quem come lá não se arrepende.

É impossível visitar Aracaju sem conhecer o artesanato local e comprar lembranças da cidade. Em Atalaia, há duas opções. Uma delas é a Passarela do Artesão, que fica atrás da pista de skate. Trata-se de uma simpática feirinha com barraquinhas que vendem os mais variados artesanatos. Os vendedores são atenciosos. A mais frequentada, no entanto, é a Feira do Turista. Por estar mais visível e próxima ao Hotel da Orla, os turistas localizam facilmente o centro de compras.

No cair do dia, o cenário da cidade se transforma em um belo espetáculo  (Jorge Henrique/ASN - 7/9/16 )  

No cair do dia, o cenário da cidade se transforma em um belo espetáculo

 


Fotografias

Além de contar com atraente calçadão, a capital sergipana oferece ao visitante a oportunidade de passear pelos três lagos espalhados pela orla. É ideal para fazer uma tranquila caminhada, ficar à sombra dos coqueiros, se esquecer do tempo sentado em bancos de madeira ou simplesmente contemplar um maravilhoso pôr do sol. Há ainda espaços voltados para diversão da garotada com equipamentos infantis e lanchonetes com comidas típicas da região.

Outro ponto turístico que merece um pit stop são os arcos da cidade. Eles foram construídos em concreto revestido com pastilhas, e têm mais de 10 metros de altura. Atualmente, são quatro, cada um representando uma fase de construção da orla de Atalaia. O cenário é perfeito para fotografias, pois, logo à frente, há uma instalação com o nome da cidade em tons coloridos. E não deixe de conhecer o Oceanário do Projeto Tamar, ver diversas espécies marinhas e ficar pertinho dos tubarões e das tartarugas.

* A repórter viajou a convite da Abrajet/Sergipe e do NB Hotéis
 
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Correio Braziliense quarta, 13 de março de 2019

JOÃO DONATO: SHOW COM A FERA

 


ENTREVISTA / JOÃO DONATO »Show com a fera
 
 
João Donato celebra 70 anos de carreira com show hoje e amanhã no Espaço Cultural do Choro

 

Irlam Rocha Lima

Publicação: 13/03/2019 04:00

Pianista, acordeonista, compositor, cantor e arranjador. São múltiplas as facetas de João Donato, um dos nomes icônicos da música popular brasileira.O genial artista acriano chega aos 85 anos em plena atividade, produzindo, fazendo shows, gravando discos e, também, recebendo prêmios e manifestações de admiração no Brasil e no exterior.
 
Donato celebra 70 anos de carreira em Brasília — onde morou por quatro anos, entre 2000 e 2004 — com um show hoje e amanhã, às 21h, no qual faz uma espécie de retrospectiva de sua extensa obra. Ele tem a companhia de músicos com quem tem tocado há bastante tempo: Robertinho Silva (bateria); Luiz Alves (contrabaixo); e Ricardo Pontes (sax e flauta).
 
No repertório, João inclui clássicos da importância de Amazonas, A paz, Bananeira, Emoriô, Minha saudade, Nasci para bailar, Simples carinho. A eles se juntam composições criadas mais recentemente pelo compositor com parceiros como Martinho da Vila (Daquele amor nem me fale), Ronaldo Bastos (Gol da Coreia) e Donatinho (Lei do amor).
 
 
 
João Donato
Show do pianista, compositor e cantor hoje e amanhã, às 21h, no Espaço Cultural do Choro (Eixo Monumental, ao lado do Centro de Convenções Ulysses Guimarães). Ingressos: R$ 40 e R$ 20 (meia para estudantes). Não recomendado para menores de 14 anos. Informações: 3224-0599.
 


 (Fernando Grilli/Divulgação)  
 
Em 2019, você completa 85 anos de vida e 70 de carreira. Está preparando algo para celebrar essas datas?
Estou preparando uma suíte sinfônica baseada nos trabalhos de Debussy e Ravel, compositores eruditos por quem tenho profunda admiração e que me serviram de referência. Ouvi-os a vida inteira. É uma suíte sinfônica popular com piano, bateria, contrabaixo, percussão. Tem um lançamento de um CD duplo que eu fiz para o Japão com standards de jazz, e músicas de minha autoria. Um CD foi lançado no Japão e sai em breve aqui no Brasil.
 
 
Quais os momentos de sua trajetória artística você avalia como os mais importantes?
A primeira gravação que  fiz com Altamiro Carrilho quando eu tinha 16 anos, tocando acordeon. A música era Brejeiro, de Ernesto Nazareth. A primeira gravação de uma composição de minha autoria chamada Minha saudade, com Luiz Bonfá, em 1954. Eu tinha 20 anos e foi o começo de uma série de outras, que me levaram a ser considerado um compositor de música popular. Tem também uma gravação que fiz com os músicos de Cuba, lá em Havana, para consolidar uma tendência latina, que eu já vinha construindo na minha trajetória; e uma gravação com Claus Ogerman em Nova Iorque em 1965 chamada The new sound of Brazil. Foi importante porque até hoje tem uma qualidade sonora e uma beleza sem cronologia. Teve também o LP A Bad Donato, que eu gravei em 1970, em Los Angeles numa época em que se tocava muita música psicodélica. Esse disco deixou uma marca muito forte no panorama musical americano da época.
 
 
O que mais destaca?
Outro momento importante foi quando voltei para o Brasil e gravei um disco chamado Quem é Quem, no qual, por sugestão do Agostinho dos Santos,  gravei com letra em vez de só tocar o piano. Eu segui o conselho do Agostinho e não parei mais de compor músicas com letras. A partir daí, abriu um novo panorama com parceiros como Gilberto Gil, Caetano Veloso, Martinho da Vila, Cazuza, e, claro, meu irmão Lysias Ênio, entre tantos outros. E os cantores começaram a cantar minhas músicas. Muitas fazem sucesso como A paz, Simples Carinho, Emoriô, Naquela estação, Lugar comum, Até quem sabe. Foi importante também quando fiz a direção musical do premiado disco Cantar, da Gal Costa, nos anos 1970. Foi um disco interessante, em que eu fiz os arranjos para Flor de Maracujá, Até quem sabe e A rã. Tem uma sonoridade bem moderna e atual mesmo tendo sido gravado naquela década. Há, ainda, o songbook que revelou uma obra minha que estava escondida, disse Almir Chediak, ao fazer o Songbook. São 47 intérpretes, entre eles Lenine, Daniela Mercury, Gal Gosta, Caetano Veloso, Adriana Calcanhoto, Ed Motta. Atualmente, vejo como um marco a suíte sinfônica e uma gravação que fiz com meu filho Donatinho, chamado sintetizamor, que ganhou o prêmio da música brasileira
 
 
Das tantas canções de sua autoria, consagradas pelo público, há aquelas que lhe trazem mais satisfação por tê-las compostas?
Posso citar A paz, Amazonas, Minha Saudade, Até quem Sabe, Simples Carinho, Quem diz que sabe, Jodel (Café com pão), Lugar Comum... são tantas.
 
 
Conquistas como o do Prêmio da Música Brasileira, que recebeu em 2018, com Donatinho,no Theatro Municipal, pelo álbum Sintetizamor ainda lhe trazem satisfação?
Claro que sim. Um prêmio é sempre uma emoção muito grande, ainda mais com o meu pimpolho. Destaco, também, o Latin Grammy, que ganhei em 2010 pelo conjunto da obra. Eu fui para receber o prêmio do conjunto da obra e acabei levando pelo disco Sambolero como melhor disco de Jazz Latino.
 
 
Como tem sido a experiência de atuar como diretor artístico da Sala Baden Powell, aí no Rio de Janeiro?
Tive a oportunidade de colaborar para qualidade da música brasileira, dos artistas que se apresentaram lá durante a minha residência artística. Coloco em evidência a música brasileira de melhor qualidade.
 
 
Você morou em Brasília por quatro anos e tem feito muitas apresentações na capital. Como é retornar co Clube do Choro, onde foi homenageado na temporada de 2014, quando comemorou 80 anos?
É sempre um prazer estar no Clube do Choro e reencontrar o Reco do Bandolim e outros tantos amigos brasilienses. O público de Brasília é sempre muito carinhoso. E tem o tacacá da Torre de TV, da Dona Jacirema.
 
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Correio Braziliense terça, 12 de março de 2019

TRAGÉDIA EM SÃO PAULO

 


Tragédia em São Paulo
 
 
Temporal provocou a morte de 12 pessoas no estado por afogamento ou desabamento. Houve mais de uma centena de quedas de árvores, e casas e vias ficaram alagadas. Expectativa é de que chuvas durem mais 48h

 

Publicação: 12/03/2019 04:00

 

Destruição provocada por temporais na Grande São Paulo e na capital: com o alagamento das casas, muitas famílias perderam tudo o que tinham (Miguel Schincariol/AFP
)  

Destruição provocada por temporais na Grande São Paulo e na capital: com o alagamento das casas, muitas famílias perderam tudo o que tinham

 

 

 
Uma tempestade na madrugada de ontem deixou ao menos 12 mortos na Grande São Paulo e na capital. Houve alagamentos em diversas regiões e vias foram bloqueadas. Até as 16h, o Corpo de Bombeiros tinha contabilizado 740 ocorrências. Houve 123 quedas de árvores e 44 desabamentos ou desmoronamentos.

As mortes aconteceram em cidades da Grande São Paulo e na capital. De acordo com a Defesa Civil, somente na região metropolitana de Ribeirão Pires, foram registrados quatro óbitos devido ao desabamento de uma casa. Em São Caetano do Sul, três pessoas morreram afogadas na Avenida dos Estados e no bairro Taboão. Pelo mesmo motivo, em Santo André houve dois mortos. Em São Bernardo do Campo, um motociclista morreu afogado.

Um deslizamento em Embu das Artes teve três pessoas da mesma família socorridas — uma delas, um bebê de 1 ano e 2 meses, que não resistiu. A Defesa Civil interditou a casa e outros imóveis na mesma rua. Parte da vizinhança vive de forma precária, perto de barrancos ou de declives e ribanceiras. No Ipiranga, aconteceu um óbito por afogamento.

A Defesa Civil utilizou botes para socorrer vítimas ilhadas. Em meio ao caos, houve muitos exemplos de solidariedade — moradores usaram jetski para fazer resgates; outros, deram abrigo a atingidos.

O temporal deixou diversas vias alagadas. A Marginal Tietê, uma das mais importantes, apresentou, durante a manhã de ontem, congestionamento de 160km. Motoristas tiveram de deixar seus veículos. O pico ocorreu por volta das 9h30, com 201km de engarramento.

De acordo com o prefeito em exercício de São Paulo, Eduardo Tuma (PSDB), a tragédia era inevitável . “Absolutamente imprevisível, extraordinário. Não havia qualquer ação preventiva que pudesse corrigir o que aconteceu hoje (ontem)”, disse. O governador do estado, João Doria (PSDB), alertou, durante a tarde, para moradores evitarem sair de casa. “As chuvas, infelizmente, vão prosseguir pelas próximas 48 horas”, justificou.

A Prefeitura de São Paulo criou o Comitê de Crise, que levantará o número de pessoas afetadas e fará o cadastramento das famílias para atendimento. “Estamos aguardando a água baixar, garantir a segurança das pessoas. Depois disso garantindo, a gente entra, faz a limpeza e vai olhar as condições da casa, que tipo de atendimento será feito”, explicou o secretário de Subprefeituras, Alexandre Monez.

Causas
Uma conjunção de fatores meteorológicos contribuiu para a ocorrência das fortes chuvas que atingiram São Paulo. De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a interação entre uma frente fria entrando pelo Vale do Ribeira e um sistema de baixa pressão muito perto do litoral colaboraram com os elevados volumes de precipitação.

Em Santo André, por exemplo, choveu 182mm nas últimas 24 horas — o equivalente a 80% da média para todo o mês de março. Em São Bernardo do Campo e Ribeirão Pires, o registro das últimas 24 horas correspondeu a 78% e a 74% das médias mensais, respectivamente, de acordo com informe do governo do estado. Só no bairro de Rudge Ramos, em São Bernardo, segundo monitoramento do Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE), choveu 163,8mm.

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Correio Braziliense segunda, 11 de março de 2019

IMPOSTO DE RENDA - TIRE SUAS DÚVIDAS

 


IR - Tire suas dúvidas
 
 
Mande os seus questionamentos para o e-mail impostocb@gmail.com As respostas serão dadas por técnicos do Conselho Federal de Contabilidade (CFC)

 

Publicação: 11/03/2019 04:00

Na hora de preencher o formulário do Imposto de Renda, sempre surgem várias dúvidas, que atrasam a entrega da documentação. A pedido do Correio, consultores responderam às perguntas mais frequentes dos leitores.



A minha esposa tem barraca na praia. Se ela ganha R$ 39 mil por ano e deixa na conta os R$ 39 mil, ela precisa fazer a declaração?
Fabio Natali

Com os rendimentos informados de R$ 39 mil anuais,  ela está obrigada a declarar, conforme determina a legislação da Receita Federal, como reproduzimos: “Está obrigada a apresentar a Declaração de Ajuste Anual do Imposto sobre a Renda referente ao exercício de 2019 a pessoa física residente no Brasil que, no ano-calendário de 2018, recebeu rendimentos tributáveis sujeitos ao ajuste anual na declaração, cuja soma foi superior a R$ 28.559,70, tais como: rendimentos do trabalho assalariado, não assalariado, proventos de aposentadoria, pensões, aluguéis, atividade rural.


Embora não tenha me enquadrado nos quesitos de obrigatoriedade em 2018, entreguei a DIRPF em virtude da tentativa de emitir um visto para uma viagem de intercâmbio, documento que foi exigido pela agência de forma que tornaria minha comprovação de renda mais fidedigna. Em 2018, não obtive o recebimento de rendimentos nos quais me enquadraria para entregar a declaração este ano. Minha pergunta é: havendo entregado a declaração no ano passado de forma espontânea, devo entregar novamente este ano?
Robert Lima

Se você não se enquadrar em nenhuma das sete hipóteses de obrigatoriedade previstas na legislação, fica dispensado de apresentar sua Declaração de Ajuste Anual em 2019, mesmo que tenha apresentado no ano anterior. Lembramos que a hipótese de dispensa não é somente o valor dos rendimentos tributáveis e, ainda que os desobrigados queiram, eles podem apresentar declaração, assim como você fez em 2018.


Caso o contribuinte não saiba se deve ou não entregar a declaração, ou saiba e não a entrega, como a Receita Federal age? Ela informa o contribuinte de alguma forma?
Robert Lima

Cabe ao contribuinte a verificação se está ou não obrigado à entregar a Declaração de Ajuste Anual — DAA. Com o avanço tecnológico e o sistema de cruzamento de informações adotado pela Receita Federal, o ato de omitir rendimentos e sonegar impostos tem se tornado cada vez mais arriscado e passível de punições — como pagamento de multas, que podem variar de 75% até 300% do valor que o Fisco deixou de recolher. Nossa recomendação é de que você declare os rendimentos auferidos e que acompanhe o processamento de sua declaração no sítio da Receita Federal, pois, nesses casos, a instituição lhe oferece meios (avisos) para a correção.
 
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Correio Braziliense domingo, 10 de março de 2019

O CORPO QUE DANÇA E FALA

 

O corpo que dança e fala
 
 
A deficiência auditiva de Maycon Calasancio não impediu que ele se tornasse o primeiro professor surdo de balé de Brasília. Com um grupo formado em 2019, os bailarinos pretendem ampliar horizontes de pessoas como eles

 

» ALAN RIOS
Especial para o Correio

Publicação: 10/03/2019 04:00

Maycon, Aline (E) e Janaína criaram o grupo Senserit 3: ensaios três vezes por semana, com coreografias que permitem o diálogo entre corpo e libras (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

Maycon, Aline (E) e Janaína criaram o grupo Senserit 3: ensaios três vezes por semana, com coreografias que permitem o diálogo entre corpo e libras

 

Surdo de nascença, Maycon Calasancio é apaixonado por música e dança. O jovem de 28 anos sempre desafiou as limitações, tanto que se tornou o único professor de balé deficiente auditivo de Brasília. Mas como a canção de Raul Seixas diz que “sonho que se sonha junto é realidade”, neste ano ele ganhou duas companhias que deram corpo a um projeto que une a arte com a língua brasileira de sinais.

Maycon, Aline Moura, 21, e Janaína Almeida, 22, criaram o grupo Senserit 3, que tem como proposta unir dança contemporânea com libras. “Nós misturamos poesia em língua de sinais. Ou seja, queremos que a dança se torne acessível tanto para os sujeitos ouvintes quanto para os surdos”, conta Aline. A pedagoga e bailarina é fluente em libras, assim como Janaína. As duas conheceram Maycon em uma oficina ministrada por ele, no ano passado. Desde lá, passaram a admirar a história do jovem.

O professor Maycon conheceu essa arte na infância e viu nela uma forma de perder a timidez. “Quando eu tinha uns 7 anos, lembro-me que minha família gostava de dançar forró. Mas eu era uma criança muito tímida. Então comecei a ficar perto da caixa de som nas festas e sentir o ritmo que saía delas. Assim, comecei a perceber que, com a dança, o sujeito surdo consegue absorver e sentir as coisas com mais facilidade.”

Janaína também começou a ter gosto pelos palcos cedo, mas o que mudou tudo para ela foi descobrir que poderia fazer a diferença juntando os seus conhecimentos em libras. A estudante de pedagogia fez um curso sobre a língua na igreja em que frequenta e começou a usar o que aprendeu diariamente: “Sempre estou com pessoas surdas, como meu namorado e amigos que fiz”, explica. Certos dias, Aline também usa mais libras do que o português falado. A segunda língua é tão influente na sua vida que o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) que fez teve como tema reflexões pedagógicas da dança e dos sujeitos surdos.
 (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  
Conquista
Para colocar o projeto em prática, o trio conseguiu um espaço gratuito destinado aos ensaios em Taguatinga. Então começaram a trabalhar duro, com encontros três vezes por semana, elaborando coreografias que permitem o diálogo entre corpo e libras. “Como nosso objetivo é valorizar a cultura surda, não falamos em português nem durante os exercícios. Nossas conversas acontecem em língua de sinais, para que a identidade deles seja respeitada”, relata Aline.
Desde o alongamento, cada ensaio é uma experiência diferente de sentimentos, movimentos e expressões. Maycon explica: “Combinamos os sinais que dialogam com os sentidos da coreografia. Trabalhamos muito as temáticas em volta da surdez, como a acessibilidade e a luta social. Expressamos na dança o que nós passamos, o que significa nossa vida”, desabafa. Assim, o trio, que se juntou como grupo de balé neste ano, está conquistando seu espaço.

Os dançarinos foram chamados para realizar uma performance, prevista para hoje, às 16h, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), dentro da exposição 50 anos de realismo, que também conta com pinturas, esculturas, vídeos, instalações interativas de mais de 30 artistas contemporâneos. Os detalhes da primeira apresentação ainda são surpresa, mas eles adiantam que essa não é uma arte exclusiva para pessoas sem deficiências auditivas.

“A gente pensa que surdo e música não têm nada a ver. Mas o ritmo também está dentro da gente. Podemos, por exemplo, sentir o ritmo do nosso coração e começarmos uma coreografia”, ensina Janaína. A estudante conta, ainda, que viu muitas crianças surdas serem excluídas de  atividades que envolvem o som dentro de espaços como as escolas, mas que há possibilidades de inclusão. “A dança é realmente uma área muito complicada para eles, mas existem músicas adaptadas, com batidas mais fortes, para que os surdos sintam a vibração no corpo.”

Além das apresentações em exposições e eventos, o grupo pretende  levar o projeto de dança às escolas. Para eles, trabalhar a inclusão de pessoas com deficiência na infância é essencial, e a música pode ser uma ótima aliada até mesmo para o autoconhecimento dos menores. “A bailarina Maria Fux diz que o mundo do silêncio existe e ele é experienciado pelos indivíduos surdos na sua forma mais profunda, porque eles podem sentir o ritmo da própria respiração, da própria circulação sanguínea... de uma forma que ouvintes não conseguem. Assim, eles conseguem transformar seu próprio movimento em dança”, diz Aline.
 
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Correio Braziliense sábado, 09 de março de 2019

CARNAVAL BRASILIENSE: A CELEBRAÇÃO DA DIVERSIDADE

 

A celebração da diversidade

 

» CÉZAR FEITOZA
Especial para o Correio

Publicação: 09/03/2019 04:00

Os vencedores: o troféu #CBfolia foi criado há quatro anos para valorizar a identidade carnavalesca da cidade (Minervino Junior/CB/D.A Press)  

Os vencedores: o troféu #CBfolia foi criado há quatro anos para valorizar a identidade carnavalesca da cidade

 

 
Responsáveis por agitar um milhão de foliões na última semana, os blocos de rua da capital federal foram homenageados, ontem, durante a quarta edição do prêmio #CBfolia, promovido pelo Correio. Neste ano, Montadas, Eduardo e Mônica e o Bloco do Seu Júlio receberam o prêmio na categoria voto popular, enquanto o grupo Divinas Tetas foi agraciado pela comissão julgadora.
 
Fundador e vocalista do bloco Divinas Tetas, Aloízio Michael, 31 anos, recebeu o prêmio das mãos da diretora de redação do Correio, Ana Dubeux. O bloco reuniu cerca de 60 mil pessoas no carnaval. “Significa muito o Correio apoiar a festa, e ganhar o prêmio da comissão julgadora é um sinal de que estamos no caminho certo, fomentando um carnaval de paz, diversidade e resistência. A festa é política, estamos lutando pela cultura. Estar na rua é um ato político que continuaremos a fazer”, destaca Aloízio.
 
Primeiro lugar na categoria voto popular, o bloco Montadas foi criado pelo Distrito Drag, um coletivo de artistas drag queens. No segundo ano em que apresentam o bloco no Setor Bancário Norte, cerca de 40 mil foliões foram aproveitar a festa —  número maior que os 15 mil que compareceram no ano passado. A drag Ruth Venceremos, 34, acredita que o sucesso se deve aos eventos que o coletivo realiza no decorrer do ano. “Acho que o bloco pegou, estarmos em primeiro lugar na votação do público reflete bem isso”, acredita.
 
O Eduardo e Mônica teve de mudar o formato do carnaval neste ano, mas o público de 18 mil foliões aprovou a festa na Orla do Lago Paranoá, em local fechado, e garantiu a segunda colocação no prêmio. “Mudamos o formato, porque precisamos recorrer mais à iniciativa privada neste ano. Foi sensacional, o espaço agregou bastante. Não tivemos problema com banheiro ou violência. A única questão chata foi ter de ficar gente do lado de fora”, ressalta Meolly Roni, 35, fundador do Eduardo e Mônica.
 
De Planaltina, o Bloco do Seu Júlio angariou boa quantidade de votos e garantiu a terceira posição na categoria júri popular. O fundador do grupo, Seu Júlio, 58, acredita que os 10 anos de existência do bloco ensinaram os organizadores a “sambarem” para fazer o bloco ir à rua. “Planaltina está em festa por ter recebido esse troféu. Todo mundo fala que a minha cidade é superviolenta. Em uma década de festa, nunca tivemos uma ocorrência policial. A festa e o prêmio são do povo”, afirma.

Montadas: o bloco da diversidade (Minervino Junior/CB/D.A Press)  
Montadas: o bloco da diversidade


Eduardo e Mônica (Minervino Junior/CB/D.A Press)  
Eduardo e Mônica


Seu Júlio (Minervino Junior/CB/D.A Press)  
Seu Júlio


Divinas Tetas (Minervino Junior/CB/D.A Press)  
Divinas Tetas


Prêmio
 
O troféu #CBfolia se firmou na cidade, ao mesmo tempo que o carnaval de Brasília se consolidou. Promovida há quatro anos, a premiação viu o nascimento de blocos alternativos, que dão diversidade à festa, e o desenvolvimento dos tradicionais, responsáveis por reunir até 100 mil pessoas por dia na capital federal. A cidade sai fantasiada às ruas por cinco dias e celebra a folia ao som do tradicional axé, passando por diversos estilos musicais até esbarrar no rock, que movimentou os corpos neste carnaval.
 
Em um movimento democrático, o Correio abriu o site para os foliões elegerem, entre os dias 2 e 7 de março, o melhor bloco de carnaval do Distrito Federal. Uma comissão julgadora formada por jornalistas também entrou na folia para escolher o melhor grupo de 2019, em uma categoria nova.
 
“O troféu foi criado há quatro anos para reconhecer o esforço de colocar os blocos na rua. Esse prêmio nasce para brindar o esforço de todos vocês que, apesar de tanta dificuldade, fazem o carnaval de rua de Brasília acontecer”, destacou José Carlos Vieira, editor de Cidades e de Diversão & Arte, aos representantes dos blocos durante a premiação.
 
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Correio Braziliense sexta, 08 de março de 2019

RESPEITO ÀS MULHERES PASSA PELA EDUCAÇÃO

 

Respeito às mulheres passa pela educação
 
 
No Dia Internacional da Mulher, especialistas alertam para ações capazes de inspirar igualdade de gênero e ampliar a rede de proteção ao sexo feminino. Parte do trabalho deve começar pelas escolas, com o fortalecimento da identidade das meninas

 

» ISA STACCIARINI
» JÉSSICA EUFRÁSIO

Publicação: 08/03/2019 04:00

Juciene Martins Godoy teve a irmã, Jusselia (no detalhe), assassinada pelo ex-marido em abril de 2018:  

Juciene Martins Godoy teve a irmã, Jusselia (no detalhe), assassinada pelo ex-marido em abril de 2018: "As mulheres precisam ficar em alerta"

 

 
 
 
 (Minervino Junior/CB/D.A Press)  
 Celebrado há cerca de 100 anos, o Dia Internacional da Mulher é mais uma oportunidade, entre outras 364, para chamar atenção ao que ainda precisa mudar na sociedade quanto a temas como desigualdade de gênero, equidade de direitos, machismo e violência contra as mulheres. Especialistas reforçam que a saída começa pela educação, ensinando, desde cedo, crianças e adolescentes a respeitá-las. A conscientização, no entanto, não envolve apenas os mais novos e as instituições de ensino, mas também o próprio ambiente familiar e social e o governo.
 
Professora da Secretaria de Educação há 28 anos e autora do projeto Mulheres Inspiradoras, a educadora Gina Vieira considera que a contribuição das instituições de ensino ocorre por meio do fortalecimento da identidade das alunas, da discussão de gênero e do combate a práticas sexistas. “Além de pensar a própria cultura de assédio contra meninas e de uma maior inserção delas nas áreas de tecnologia e exatas, a escola precisa abrir espaço para inserir questões de gênero no currículo”, defende.
 
Para Gina, desconstruir a cultura do machismo da sociedade envolve, em primeiro lugar, admitir que todos, em alguma medida, têm alguma referência preconceituosa em ações ou falas. Outro ponto inclui lançar um olhar crítico para tudo o que acontece ao redor e tomar coragem de contestar o que está enraizado. “Em que medida os pais poupam os meninos e impõem tarefas domésticas para as meninas? Em que grau a escola é sexista quando oferece o uso da quadra de esportes aos alunos e não permite a mesma proporção para as alunas? Por que se exige mais maturidade das meninas em vez dos meninos?”, questiona.
 
Além disso, segundo a professora Gina, toda vez em que essas ações são combatidas, os meninos também são favorecidos. “Eles precisam da oportunidade de crescer sem as limitações impostas pelo machismo. Ao passo que meninos são representados como fortes, poderosos e inteligentes, meninas, com 7 anos, se identificam como inferiores, frágeis e incapazes em relação a eles”, lamenta.
 
Apesar dos percalços, a professora do Departamento de Antropologia da Universidade de Brasília (UnB) Lia Zanotta Machado enxerga avanços. “Nas últimas décadas, mulheres de todas as classes sociais têm apresentado mais noções de direitos e autonomia, por exemplo. A mudança ocorreu em grande parte da sociedade brasileira, mas ainda não conseguimos, na mesma proporção, o respeito dos homens para com elas”, analisa a especialista.
 
A antropóloga explica que, na maior parte dos casos, homens acreditam que precisam resolver quaisquer conflitos enfrentados em casa, na rua ou no trabalho com ações de controle, poder ou posse. Diante disso, Lia acrescenta que é ilusão defender que assuntos relacionados a gênero e sexualidade sejam discutidos apenas em ambiente familiar. “A maior parte dos casos de assédio e importunação sexuais, principalmente contra crianças, é em ambiente doméstico, entre conhecidos. Precisamos de uma educação pública em que permitam que você se veja como igual para não se perceber sempre como alguém inferior e controlável”, ressalta.
 
Sancionada há 12 anos, a Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006) garante proteção às mulheres e prevê rigor nas punições para crimes domésticos. A violência, nesses casos, envolve qualquer ação ou omissão baseada no gênero e que cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial às vítimas. O nome da norma foi escolhido em homenagem à farmacêutica Maria da Penha Maia Fernandes, vítima de duas tentativas de assassinato pelo marido, o professor colombiano Marco Antonio Heredia Viveros, em 1983.
 
Punição
 
Em Planaltina, a família de Juciene Martins de Godoy, 55 anos, chora a morte da irmã, Jusselia Martins de Godoy, 50, há quase um ano. Em abril de 2018, a advogada e contadora foi assassinada pelo ex-marido Evandro Alves de Faria, 56, com quem viveu por 20 anos e estava separada havia oito meses. Jusselia pediu medida protetiva após a separação e, seis meses antes de morrer, contratou segurança particular com medo do ex-companheiro.
 
Depois do crime, a família assumiu o escritório deixado pela vítima. “A gente luta todos os dias contra uma dor imensa. É um esforço muito grande para não cairmos em depressão”, conta Juciene. Ela lembra que a postura reservada do cunhado nunca levantou suspeitas. “As pessoas acham que, para acontecer esse tipo de coisa, a mulher tem de sofrer algum tipo de violência, mas nunca houve agressão. Ele era muito calado, na dele, e as mulheres precisam ficar em alerta para isso”, aconselha a auxiliar de contabilidade.
 
O casal deixou um filho de 22 anos. Do primeiro relacionamento, Jusselia também teve uma filha. A jovem morreu em 2014, aos 27 anos, vítima de um infarto. No dia em que Jusselia teve a morte cerebral decretada, em 9 de abril de 2018, a jovem faria 31 anos. “A minha irmã foi muito batalhadora em tudo o que fez e, infelizmente, não teve a chance de viver mais. O que a gente mais vê, hoje, é assassinato de mulheres de todas as classes e níveis sociais”, lamenta.

Numeráveis

Crimes contra as mulheres 2018* 2019* Variação
Estupro - 117 - 75 - -35,8%
Feminicídio - 5 - 4 - -20%
Tentativa de feminicídio - 13 - 16 - 23%
Violência doméstica - 2.461 - 2.455 - -0,24%
 
* Dados referentes a janeiro e fevereiro
 
Fonte: Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal


Programe-se

Confira alguns eventos marcados para hoje em razão do Dia Internacional da Mulher:

 (Carlos Vieira/CB/D.A Press)  
 
Lançamento do Calendário das Ações Governamentais Março Mais Mulher pelo GDF
» Horário: às 10h
» Local: Salão Nobre do Palácio do Buriti
» Evento gratuito
» Censura livre
 
Cortejo do Dia Internacional de Luta das Mulheres do DF e Entorno
» Horário: às 16h
» Local: concentração no gramado inferior da Rodoviária do Plano Piloto, às 16h, e marcha rumo ao Congresso Nacional, às 18h30
» Evento: gratuito
» Censura: livre

Bloco das Perseguidas
» Horário: às 21h
» Local: Praça dos Prazeres (201 Norte)
» Evento: gratuito
» Censura: livre

Ressaca Feminista de Carnaval
» Local: Espaço Cultural Canteiro Central (SCS Quadra 3, Bloco A)
» Horário: às 23h
» Valor: R$ 10
» Censura: 18 anos
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Correio Braziliense quinta, 07 de março de 2019

A HORTA DE PORTAS ABERTAS

 

A horta de portas abertas
 
 
Do médico ao vizinho, pessoas dedicadas transformam espaços abandonados em hortas comunitárias e cultivam alimentos e plantas medicinais

 

» MARIANA MACHADO
ESPECIAL PARA O CORREIO
» ALINE BRITO*

Publicação: 07/03/2019 04:00

O agente de saúde Antônio Moreira do Nascimento e o médico Marcos Trajano cuidam da horta na Unidade Básica de Saúde do Lago Norte (Ed Alves/CB/D.A Press - 19/2/19)  

O agente de saúde Antônio Moreira do Nascimento e o médico Marcos Trajano cuidam da horta na Unidade Básica de Saúde do Lago Norte

 

 
Arruda, mastruz, boldo e erva-cidreira são algumas das centenas de plantas que, além de enfeitarem jardins, têm propriedades medicinais. O uso delas não é novidade, mas nem todo mundo as encontra com facilidade. Para ajudar, alguns moradores do Distrito Federal criam formas de cultivar mudas que são distribuídas a quem quiser. É o caso do médico Marcos Trajano, que aproveitou um terreno não utilizado da Unidade Básica de Saúde (UBS) no Lago Norte para criar uma grande horta.

A ideia de transformar o local em um canteiro de plantas alimentícias não convencionais e plantas medicinais surgiu a partir do conhecimento de Marcos na área. Especialista em medicina antroposófica — campo que usa plantas, minerais e animais para a saúde do ser humano — o médico elaborou um projeto para além dos meios convencionais de tratamento de doenças.

As práticas integrativas de saúde que une meditação, fitoterapia — estudo das plantas medicinais e suas aplicações na cura das doenças —, constelação familiar e medicina antroposófica para alcançar o bem-estar. “Para além da cura de doenças, o projeto visa criar um espaço de cooperação e transformar a UBS em um local de convivência, diminuindo o isolamento social”, explica Marcos.

No plantio, estão reunidas mais de 100 espécies de plantas catalogadas e outras incontáveis que ainda não foram listadas. “O ambiente também serve como um jardim sensorial, para aproximar as pessoas da natureza e proporcionar momentos de paz”, disse o médico. “Ensinamos aqui como conviver com as plantas, pois um ser humano que não consegue se relacionar com a natureza não consegue também ter um bom relacionamento com outros humanos”, afirma.

Cerca de 400 pessoas passaram pelo projeto e auxiliaram no cultivo das plantas. O agente de saúde Antônio Moreira do Nascimento, 66 anos, é um dos participantes que ajudou na construção do espaço. Cearense, ele cresceu em meio às plantas e hoje aplica os conhecimentos adquiridos desde a infância e aprende sobre novas plantas e formas de utilização. “Durante minha infância, o meu lápis era um cabo de enxada. Fui criado na roça, plantando, colhendo e vivendo disso. Hoje, eu posso aprender coisas novas sobre as plantas e levar isso para a minha casa e a saúde da minha família”, conta Antônio.

O ambiente e a interação entre os participantes funciona como uma escola para a educação em saúde. Os conhecimentos adquiridos durante a plantação são propagados, tornando mais acessíveis as informações sobre esse tipo de medicina alternativa. “Eu trouxe para o projeto experiências que tive com meus avôs e bisavôs. Com o que aprendo aqui, consigo melhorar minha qualidade de vida, me manter mais saudável e levar bem-estar para meus amigos e familiares”, acrescenta o agente de saúde.

Dona Nilda transformou um ponto de descarte de entulho em plantação de orgânicos (Mariana Machado/Esp. CB/D.A Press - 19/2/19)  

Dona Nilda transformou um ponto de descarte de entulho em plantação de orgânicos

 



Mais do que parece
 
Na plantação localizada na Unidade Básica de Saúde, estão espécies frutíferas, flores anestésicas e árvores alimentícias. A mandioqueira, por exemplo, tem diversas funções que auxiliam na alimentação dos seres humanos. Além da mandioca (aipim ou macaxeira, como é conhecida em outras regiões do país), raiz da planta que é amplamente consumida, as folhas da árvore podem ser utilizadas como fonte de nutrientes. “As folhas podem ser torradas e depois moídas para fazer uma farinha que é muito eficaz contra a desnutrição”, explica Marcos.

O jambu, popularmente conhecido como agrião-do-Pará, é outra planta cultivada na área verde da UBS. Uma erva com pequenas flores amarelas, vezes usada como ornamental, esconde poderes medicinais. As folhas e inflorescência são empregadas para tratamento de males da boca e garganta, além de tuberculose e litíase pulmonar — pedras no pulmão. As folhas e flores quando mastigadas dão uma sensação de formigamento nos lábios e na língua devido a ação anestésica local. É usada para dor de dente e como estimulante de apetite. O chá da planta é empregado também contra anemia, escorbuto, dispepsia e como estimulante das atividades do estômago.

Outras mais conhecidas, como o boldo, pode ser colhido e levado para a casa por quem visita o local. O arbusto é aliado do fígado, estimulando o fluxo de bile. As folhas consumidas em forma de chá têm efeito diurético, laxante, antibiótico e anti-inflamatório e auxilia na digestão. O boldo ainda apresenta uma substância denominada ascaridol, que é um vermífugo natural.

Mas o médico Marcos Trajano alerta: é preciso saber usar e nunca deixar de procurar também os profissionais de saúde. “As plantas medicinais tanto podem curar como matar. Nosso projeto não é para distribuição e, sim, para aprendizagem”, enfatiza. Ele explica ainda que, apesar de chamar o projeto de farmácia viva, não basta chegar colhendo o que quiser. “Você não pega um galhinho, faz um chá e sai tomando desavisadamente. A ideia é aprender a usar essas plantas da forma correta para evitar intoxicação.”
A horta no beco
 
Na QNM 36 de Ceilândia, a copeira aposentada Onilda Maria de Araújo, 71, decidiu dar nova cara para o beco ao lado de casa. Em 2012, Dona Nilda, como é conhecida, viu-se vizinha de um ponto de descarte de entulho. “As pessoas jogavam de tudo: sofá velho, cama, lixo. Era muito difícil, porque eu não gosto de sujeira e aquilo ali atraía insetos e ratos.” Foi quando veio a ideia de transformar o lugar em uma horta comunitária.

Com arames e alguns tocos de madeira, criou uma pequena cerca com porta e a plantação começou. Sete anos depois, ela exibe orgulhosa os grandes pés de couve, romã, acerola e batata. São tantas variedades que, de cabeça, Dona Nilda não recorda de todas, mas uma coisa ela garante: é tudo orgânico. Ela explica ainda que a portinha de acesso não é proibição para ninguém. É só chamar que ela distribui mudas e frutas a quem quiser. “Isso aqui não é para mim, é para todo mundo que precisar”, afirma.

Em meio ao grande jardim, há também as plantas com propriedades medicinais. Arruda, algodão e palma são apenas alguns exemplos. A vizinhança já conhece e indica até para quem é de fora. “Tem uma mulher que mora em Samambaia e já veio aqui umas três vezes buscar mastruz. A sogra dela quebrou a bacia e ela me pediu para fazer um chá”, recorda. O mastruz é usado para, entre outras coisas, combater prisão de ventre e problemas digestivos. “Teve também uma moça do Lago Sul que estava procurando por hortas e indicaram que ela viesse aqui. Estava atrás de ora-pro-nóbis para o marido, que está com câncer, e eu dei algumas mudas. É assim, só vir aqui e pedir”, relata.

A ora-pro-nóbis é, aliás, uma das queridinhas de Dona Nilda. A planta com folhas em formato de lâmina é rica em cálcio, fósforo e ferro. O cultivo começou inclusive por sugestão de um médico. “Quando meu neto mais novo nasceu, tinha uma grande dificuldade de se alimentar. Só tomava um tipo de leite muito caro e a única carne que conseguia comer era de rã”, recorda a avó. “O pediatra então disse que estava tratando uma menininha com as mesmas características que tinha começado a consumir as folhas para enriquecer alimentação.”

Nilda foi atrás e conseguiu uma muda que cresceu com facilidade na horta. “Não sei se foi realmente essa a solução, mas acredito que tenha ajudado um pouco. Meu netinho hoje está com seis meses, esperto e bem melhor. A garotinha também”, comemora. Natural do interior de Minas Gerais, ela tem enraizado no coração o amor pelo cultivo à terra. “Vim morar em Brasília aos 6 anos, mas ainda tenho viva a memória da minha mãe fazendo pratos com a ora-pro-nóbis que ela plantava”.
 
* Estagiária sob supervisão 
de Mariana Niederauer
 (Ed Alves/CB/D.A Press - 19/2/19)  


Programação

Quem quiser participar das oficinas pode se preparar. No dia 21, a palestra é com uma pediatra, especialista em nutrição. Já no dia 28, um professor de física e fenomenologia da Universidade de Brasília (UnB) ensina a técnica de observação fenomenológica de plantas. Sempre às quintas-feiras, 
a partir das 13h30.
 
Jornal Impresso
 

Correio Braziliense quarta, 06 de março de 2019

CARNAVAL BRASILIENSE: E A FESTA CHEGA A FIM

 

E a festa chega ao fim
 
 
Blocos tradicionais e novatos encerraram a folia na terça-feira de carnaval. Com crítica política e mais exemplos de alegria e respeito, as ruas de Brasília ganharam mais cor e sons variados

 

» AUGUSTO FERNANDES
» PATRÍCIA NADIR
ESPECIAIS PARA O CORREIO
» ANA VIRIATO
» JÉSSICA EUFRÁSIO

Publicação: 06/03/2019 04:00

 (Minervino Junior/CB/D.A Press)  


Pacotão

Mais uma vez, o bloco levou a crítica à política no país às ruas da capital  (Barbara Cabral/Esp. CB/D.A Press)  

Pacotão Mais uma vez, o bloco levou a crítica à política no país às ruas da capital

 



Baratinha

No Parque da Cidade, o tradicional bloco infantil divertiu as crianças  (Barbara Cabral/Esp. CB/D.A Press)  

Baratinha No Parque da Cidade, o tradicional bloco infantil divertiu as crianças

 



Ska Niemeyer

A mistura de ritmos deu o tom da apresentação na Praça dos Prazeres  (Arthur Menescal/Esp. CB/D.A Press)  

Ska Niemeyer A mistura de ritmos deu o tom da apresentação na Praça dos Prazeres

 


O carnaval deste ano teve os traços de pluralidade característicos da capital do país. Com manifestações a favor da diversidade e bailinhos para crianças, não faltou evento para quem quisesse curtir o feriado. O fim não poderia ser diferente. E a bola da vez no último dia de festa foram as críticas políticas tradicionais do Pacotão. Também houve espaço para os pequenos, que aproveitaram mais um dia do Baratinha, e para o bloco Ska Niemeyer.

Com mais de 40 anos embalando as ruas de Brasília, o Pacotão arrastou foliões, na tarde de ontem, entre as ruas da W3. Com concentração às 12h, na 302 Norte, o cordão, de pegada irreverente, seguiu até a 504 Sul espalhando o som de marchinhas pelo Plano Piloto. Em defesa da campanha Lula Livre, a canção escolhida para representar o bloco recebeu o mesmo nome do movimento e contou com uma letra recheada de frases irônicas sobre o cenário político atual do país.

“A vaquinha do Queiroz só dá leite em caixa dois?”, dizia uma dos versos da música-tema do bloco, composta por Dudu Mariano. “É uma crítica ao cenário político atual e uma defesa à liberdade de um líder importante”, afirmou o criador da marchinha.

Noedima Dias, 50 anos, levou para o bloco a filha Maria Eduarda Dias, 7. Ela comenta que se esforça em transmitir o amor que tem pelo evento para a família. “Esse bloco é muito representativo e importante para Brasília. Entoei ‘Lula Livre’ porque sei dos perigos que o governo que está no poder representa para sociedade, sobretudo para a educação”, opinou, trajada com um vestido e uma meia-calça vermelhos. Maria Eduarda, por sua vez, usava uma blusa preta com várias laranjas pintadas. “Achamos a roupa dela representativa, dados os indícios de laranjas no governo”, sugeriu a professora.

Brincadeiras
O segundo dia do Baratinha, no Estacionamento 12 do Parque da Cidade não deixou a criançada de fora das festas de Momo. As atrações incluíram desde brinquedos até pintura de rosto e apresentações musicais. Mesmo com a forte chuva, o público não desanimou e coloriu os arredores do Parque Ana Lídia e alegraram o último dia de folia.

Para o diretor do Baratinha, Paulo Henrique de Oliveira, o respeito ao próximo foi a principal mensagem que o bloco quis passar neste ano. “No Baratinha, conseguimos ressaltar a essência do carnaval, que é de muita alegria. Queremos que os pequenos foliões aprendam desde cedo que este feriado nada mais é do que uma festa. E, como qualquer festa, as crianças devem brincar sem desrespeitar nenhum coleguinha”, disse.

Durante cinco horas, a meninada contou com atividades de sobra e fez a festa com sprays de espuma, balões de gás hélio e pulas-pulas. Para não deixar os participantes desanimarem durante a chuva, os organizadores do bloco fizeram um concurso de dança. A iniciativa funcionou: meninos e meninas disputaram um espaço em frente ao palco para soltar o requebrado.

Visitante cativa do carnaval há dois anos, Cleane Cunha, 26, levou as filhas e sobrinhas para pular na cama elástica e curtir os shows. A chuva, segundo ela, não foi um problema: “Essa, na verdade, é a maior diversão delas: correr entre as poças, jogando espuma uma na outra”, comentou. O evento estava marcado na agenda da família desde o desfile do último domingo. “Elas gostaram muito e, naquele mesmo dia, perguntaram quando iríamos de novo”, lembrou-se.

Homenagens
Com um jogo de palavras que usa o nome do arquiteto responsável por vários dos edifícios de Brasília e faz referência a um gênero musical jamaicano, o Ska Niemeyer saiu às ruas em festa na Praça dos Prazeres, na 201 Norte. Marchinhas carnavalescas e frevos misturados ao ritmo que surgiu no país caribenho no fim da década de 1950 não deixaram ninguém parado. A lama formada pela tempestade de ontem não impediu que os foliões da cidade parassem de pular ao som da mesclagem musical carnavalesca.

Os músicos da banda homônima ao bloco apresentaram canções tocadas com instrumentos de sopro e bastante percussão. Acompanhada de três amigos, Poliana Lima Pedrosa, 29, chegou ao bloco despretensiosamente. “A gente não tinha itinerário certo. Só nos arrumamos e saímos atrás de uma bagunça legal. Estávamos passando pela quadra quando ouvimos o som do bloco. Achamos legal, então, paramos para aproveitar”, disse a publicitária, fantasiada de bailarina. “Carnaval de Brasília é tudo de bom, e dá para todo mundo curtir com respeito”, finalizou.
 
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Correio Braziliense terça, 05 de março de 2019

CARNAVAL BRASILIENSE: EMBALADOS PELOS BLOCOS DO RESPEITO

 


Embalados pelos blocos do respeito
 
 
Com destaque para a MPB e ritmos variados, Divinas Tetas e Aparelhinho agitaram o público no Setor Bancário Norte e no Setor Comercial Sul, em festas que enalteceram a diversidade e a proteção à mulher

 

» PATRÍCIA NADIR
» DANIEL JÚNIOR
ESPECIAIS PARA O CORREIO
» ANA VIRIATO
» IRLAM ROCHA LIMA

Publicação: 05/03/2019 04:00

Criado em 2015 para celebrar o Tropicalismo, o Divinas Tetas traz uma mescla de elementos da cultura popular brasileira com os do pop internacional, e atrai milhares de foliões todos os anos (Fotos: Minervino Junior/CB/D.A Press)  

Criado em 2015 para celebrar o Tropicalismo, o Divinas Tetas traz uma mescla de elementos da cultura popular brasileira com os do pop internacional, e atrai milhares de foliões todos os anos

 



A diversidade é o mote do grupo que tem música de Caetano como hino  

A diversidade é o mote do grupo que tem música de Caetano como hino

 



Nem a chuva que caiu em alguns momentos durante a tarde afastou o público que prestigiava o Aparelhinho  

Nem a chuva que caiu em alguns momentos durante a tarde afastou o público que prestigiava o Aparelhinho

 


“Eu organizo o movimento, eu oriento o carnaval, eu inauguro o monumento no Planalto Central do país”. Adotada como hino do Divinas Tetas, Tropicália, de Caetano Veloso, embalou a folia de cerca de 15 mil pessoas, ontem, no Setor Bancário Norte. No bloco que completou quatro anos nas ruas da capital federal houve de tudo — fantasias irreverentes, manifestações de cunho político e, até mesmo, pedido de casamento. O repertório, conforme manda a tradição, exaltou a Música Popular Brasileira (MPB), e os foliões fizeram coro por cerca de sete horas às canções de Gal Costa, Mutantes, Novos Baianos e outros clássicos.

Criado em 2015 para celebrar o Tropicalismo, que ocorreu no fim da década de 1960 com a mescla de elementos da cultura popular brasileira aos do pop internacional, o bloco experimenta o crescimento vertiginoso dos entusiastas. Há quatro anos, reuniu 8 mil pessoas no Setor Bancário Sul (SBS) e, hoje, atrai o dobro de foliões, com o mote de defesa da diversidade.

Mestre de bateria do Divinas Tetas, Thiago Cruz alega que a festividade se trata “de um ato político, de resistência”. “E a melhor forma de fazê-lo é unir pessoas de diferentes ideias e pensamentos. Prezamos pelo respeito e pela harmonia. Nosso carnaval é para todos. Aqui, violência e preconceito não são tolerados”, cravou.

Os ares de manifestação política ganharam destaque ao longo do evento. Após a banda tocar a música Odeio, de Caetano Veloso, parte do público entoou, por diversas vezes, a expressão “Ele não!”, usada pelos eleitores contrários à eleição de Jair Bolsonaro (PSL) na corrida presidencial.

Folia
Com muita animação e sem economizar na fantasia, os foliões lotaram o Setor Bancário Norte desde o começo da tarde, mesmo debaixo de chuva. A festa chegou a ser palco de um pedido de casamento. Jhoalerson Dias, 21, deixou a timidez de lado e subiu ao palanque para pedir a mão da amada, a estudante de comunicação Helena Ribeiro, 20. “Nós namoramos há um ano e três meses. O constrangimento até bateu, mas é amor demais aqui. Estou muito feliz com o ‘sim’”, comentou Jhoalerson. “Eu sou do Gama e ele de Juazeiro do Norte, no Ceará. Nos conhecemos na UnB (Universidade de Brasília) e, desde então, é só companheirismo”, completou Helena.

O bloco também conquistou o coração de quem curtiu o carnaval no quadradinho pela primeira vez. Em Brasília, para celebrar o casamento de amigos, os cariocas Bruno Dantas, 35, e Raquel Albuquerque, 33, aprovaram a folia. “Nós adoramos o carnaval e temos que admitir: nos surpreendemos com a festa que encontramos aqui. Antes, achávamos que a capital não tinha carnaval, mas vamos voltar com outra impressão para casa”, confidenciou a educadora Raquel.

O público cativo também se empolgou. Entusiasta do bloco desde a primeira edição, a dentista Thais Alves, 26, elogiou o repertório do Divinas Tetas. “É muito importante ressaltar a cultura popular brasileira. Além disso, o evento promove o encontro de pessoas diversas”, destacou. É o mesmo que pensa o publicitário Hugo Everaldo Rodrigues, 26, que descobriu o bloco por acaso no último ano. “Estava com minha irmã em outro evento quando ouvi uma música legal tocando ali perto e fui seguindo o som. Curto muito a festa, a organização, a diversidade, então, tornei tradição participar”, comentou.

Alegria
No Setor Comercial Sul, o bloco Aparelhinho brindou os foliões com a diversidade de músicas carnavalescas e muitas cores. Por volta das 16h, 600 pessoas curtiam a festa de Momo no local. Fantasiado de Harmonia do Samba, o morador da Asa Norte Caetano Maia, 32, era só alegria. “O melhor carnaval que vi, desde que moro nessa região. Muitas músicas boas”, pontuou.

Com trajes que faziam referência ao seu apelido — Black —, o músico Matheus Lacerda, 26, ficou satisfeito com o repertório. “Faz referência a outros estados do país, como Pernambuco, com o frevo; e Bahia, com o axé, por exemplo. Cada ano que passa, o carnaval da capital federal tem o poder de agradar a todos, seja de qual local forem”, contou Lacerda.

Nem os chuviscos e as poças d’água fizeram com que os foliões ficassem parados ao som de músicas de axé das cantoras baianas Daniela Mercury e Margareth Menezes, entre outras vozes conhecidas nacionalmente. “Carnaval cada vez melhor de curtir, se divertir e brincar. Temos à disposição ritmos de todo o país, além disso, temáticas, como proteção à mulher, que valorizam a festividade”, relatou o projetista Flávio Lobão, 30, morador da Asa Sul, que estava na companhia de mais dois foliões.



Escolha o melhor do carnaval

O Correio Braziliense premiará os melhores blocos do carnaval de Brasília. A escolha conta com o voto popular. Os leitores terão de 2 a 7 de março para votar nos grupos favoritos no site do jornal (www.correiobraziliense.com.br), onde está disponível o regulamento dos blocos elegíveis. Os três mais votados ganham os troféus, além do título de melhores blocos do carnaval de Brasília de 2019.

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Correio Braziliense segunda, 04 de março de 2019

CARNAVAL BRASILIENSE: COMEÇA COM ALEGRIA E TERMINA EM CONFUSÃO

 

Festa começa com alegria e termina em confusão
 
Milhares de foliões se reuniram no Eixo Monumental para curtir o som e a agitação dos tradicionais blocos Baratona e Raparigueiros. À noite, no entanto, vários episódios de violência foram registrados. Aos menos um policial militar e outras nove pessoas ficaram feridas

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Publicação: 04/03/2019 04:00

Cerca de 90 mil participaram da festa nos dois blocos, de acordo com estimativa da Polícia Militar; foliões se concentraram próximo ao Mané (Fotos: Minervino Junior/CB/D.A Press)  

Cerca de 90 mil participaram da festa nos dois blocos, de acordo com estimativa da Polícia Militar; foliões se concentraram próximo ao Mané

 



A festa começou animada, ao som de ritmos variados. Com fantasias também diversas, o público aproveitou quase oito horas de folia  

A festa começou animada, ao som de ritmos variados. Com fantasias também diversas, o público aproveitou quase oito horas de folia

 



 


 


Jovem levou uma facada no tórax e foi transportado ao Hospital de Base. Polícia Militar apreendeu dezenas de facas na área central de Brasília  
Jovem levou uma facada no tórax e foi transportado ao Hospital de Base. Polícia Militar apreendeu dezenas de facas na área central de Brasília

No repertório, axé, funk, sertanejo, forró e música eletrônica. No figurino, fantasias, plaquinhas e muito brilho. Entre as festividades mais populares do carnaval brasiliense, o Raparigueiros e o Baratona uniram-se, ontem, no Eixo Monumental e receberam cerca de 90 mil foliões, conforme estimativa da Polícia Militar.
Apesar do mote “Eu sou do bloco do respeito”, adotado pela organização do Raparigueiros para os festejos, as horas que deveriam ser apenas de festa e alegria acabaram marcadas também pela violência: policiais apreenderam dezenas de facas, além de um machado. Um homem foi socorrido após levar uma facada e ao menos um policial milita ficou ferido.

A Polícia Militar não identificou o autor da facada, que ocorreu por volta das 19h30. Atendida pelo Corpo de Bombeiros no local, a vítima estava consciente e foi encaminhada ao Hospital de Base. Até as 22h de ontem não havia informações sobre o estado de saúde do paciente. Ao menos outras oito pessoas foram atendidas pela corporação, vítimas de facadas ou outros objetos perfurocortantes. O militar se feriu sem gravidade e precisou ser deslocado à mesma unidade de saúde.

Por volta das 21h, logo depois que os trios elétricos do Raparigueiros saíram em direção ao Buriti, parte dos foliões se desentendeu e houve troca de socos e pontapés. Policiais contiveram a confusão com spray de pimenta e golpes de cassetetes. Quem não tinha nada a ver com as brigas acabou sofrendo. Muitos foliões passaram mal ao inalar o gás. A dupla Willian e Marlon interrompeu o show para repudiar os atos. “Você que está brigando não merece estar aqui. O carnaval é um lugar de paz e de harmonia, e não de pancadaria. Isso é inadmissível”, protestaram.

Segundo a Secretaria de Segurança, 830 policiais atuaram no Eixo Monumental no horário do desfile dos dois blocos. Entre os itens apreendidos, além das facas e do machado, havia facões e tesouras. Os detidos compareceram à Cidade da Polícia, instalada ao lado da Torre de TV, para a assinatura do Termo Circunstanciado e receberam liberação.

Um dos organizadores do bloco Raparigueiros, Pedro Nery lamentou os episódios de violência durante a folia. “Como é um bloco amplo e que recebe pessoas de todos os cantos do DF, fica difícil saber quem vem para curtir e quem, infelizmente, vem mal-intencionado”, lamentou.

Ele explicou que, a cada ano, o grupo adota um mote “para pedir que os foliões não manchem a beleza da festa”. “Gostaríamos que todos que viessem à nossa festa pudessem aproveitar sem nenhum problema. Não vamos restringir a participação de nenhuma pessoa no bloco, pois não temos como saber quem vem até aqui querendo confusão, mas, nos próximos anos, continuaremos pedindo respeito. O carnaval deve ser alegre”, complementou.

A organização do Baratona registrou brigas entre participantes do bloco, mas afirmou que não houve feridos no espaço que ocupou. Garantiu ainda que os foliões passaram por revista na chegada ao evento.

Animação
A despeito dos episódios de violência, os blocos fizeram a festa de milhares de foliões. E como para a aposentada Helena Matos, 85 anos, carnaval só é carnaval se houver folia em família, ela levou os filhos e netos para curtir as festividades de Momo. “Sou carioca, e o carnaval está no meu sangue. Enquanto eu tiver fôlego, irei a cada um dos blocos que saírem nesta cidade”, afirmou.

Em meio a tantos foliões, Helena era uma das mais enfeitadas: não economizou no glitter e escolheu a máscara mais colorida para pular a festa. “Para mim, o carnaval só vale a pena se eu estiver bem-arrumada. Gosto de aproveitar ao máximo e, para isso, tenho que estar muito bonita. Gosto de chamar a atenção”, justificou. Uma das filhas dela, a dona de casa Solange Matos, 58, se fantasiou de princesa para curtir a festa. “Minha mãe é a rainha e eu, a princesa”, brincou.

Quem foi ao evento pôde curtir músicas de todos os estilos. O som, comandado pela banda Papel Machê e pela dupla sertaneja Willian e Marlon, fez os foliões tirarem os pés do chão, especialmente quando o trio do bloco deixou o estacionamento do Mané Garrincha e seguiu pelo Eixo Monumental em direção ao Palácio do Buriti.

A variedade musical motivou a atendente de caixa Tamara Lorena, 20, a marcar presença no local. “É o terceiro ano seguido que eu venho para o Raparigueiros. É um bloco de que gosto bastante. Para quem curte carnaval, é uma ótima pedida”, disse.

Ela e as amigas, a garçonete Ludmila Soares, 24, e a repositora Thays Santos, 26, apostaram na fantasia de Mulher Maravilha, super-heroína do universo DC. “Até compramos um cooler da Mulher Maravilha para trazer as nossas bebidas. Três mulheres bonitas como nós não poderiam vir vestidas de outra maneira. Quem sabe a gente não encontra algum Super-Homem”, brincou Ludmila. Foi o terceiro bloco que as amigas curtiram neste carnaval. “Até o momento, não tivemos nenhum problema. Em todos os lugares que passamos, fomos respeitadas”, opinou Thays.

Os dois trios elétricos do bloco Raparigueiros começaram a deixar o estacionamento do estádio por volta das 20h20. Para seguir os carros, os foliões se espremeram e disputaram um espaço para segurar os cordões de segurança que cercavam os veículos. “Não podemos perder nenhum momento dessa festa. Só vou embora amanhã de madrugada!”, garantiu a analista de sistemas Bárbara Brasil, 30, que caminhou ao lado do caminhão. Vestida de noiva, ela foi à festa com um único objetivo: achar o noivo. “Quem sabe, eu não dou sorte? Estou solteira. A gente não pode perder a esperança.”

Baratona e Raparigueiros saem às ruas novamente amanhã, entre as 17h e a 0h, novamente no Eixo Monumental, e devem reunir cerca de 150 mil foliões, segundo estimativa da Secretaria de Segurança.


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Correio Braziliense domingo, 03 de março de 2019

CARNAVAL BRASILIENSE: O BABYDOLL VOLTOU!

 


O Babydoll voltou!
 
 
Depois de um ano longe da folia, o bloco voltou a desfilar e agitou o público no início do fim de semana de carnaval. Organização estima que entre 50 mil e 60 mil pessoas compareceram ao Eixo Monumental para curtir a festa

 

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Publicação: 03/03/2019 04:00

O bloco se reuniu em frente ao Estádio Nacional Mané Garrincha, ao som da canção de Robertinho do Recife e Caetano Veloso; música continuou mesmo depois de a chuva começar (Minervino Junior/CB/D.A Press)  

O bloco se reuniu em frente ao Estádio Nacional Mané Garrincha, ao som da canção de Robertinho do Recife e Caetano Veloso; música continuou mesmo

depois de a chuva começar

 (Minervino Junior/CB/D.A Press)  
 
 (Minervino Junior/CB/D.A Press)  
 
 (Minervino Junior/CB/D.A Press)  
Foliões começaram a chegar no início da tarde, às 13h, e muitos ficaram até o trio elétrico anunciar o fim do bloco e se despedir (Minervino Junior/CB/D.A Press)  

Foliões começaram a chegar no início da tarde, às 13h, e muitos ficaram até o trio elétrico anunciar o fim do bloco e se despedir

 

 
 
“Babydoll de Nylon combina com você”: o refrão mais famoso da folia brasiliense voltou, ontem, a embalar o carnaval da capital. Depois de um ano longe das festividades do Rei Momo, a estimativa dos organizadores é de que o bloco tenha reunido entre 50 e 60 mil pessoas no estacionamento do Estádio Nacional Mané Garrincha, segundo a Polícia Militar — a expectativa de público era de 50 mil foliões. Ao som da canção de Robertinho do Recife e Caetano Veloso, lançada em 1983, todos pularam e dançaram por horas a fio. Nem mesmo a chuva torrencial que teve início às 17h comprometeu a animação.
 
Na folia, o figurino predominante era o babydoll, como manda a tradição do bloco, que saiu às ruas pela primeira vez em 2011. A fonoaudióloga Evelin Moura, 42 anos, não fugiu à regra. Vestida em peças cor-de-rosa, chegou cedo ao local para festejar, mesmo sozinha. “Estou comemorando duas semanas de divórcio”, disse. “Tem coisa melhor do que carnaval?”, brincou.
 
Outros ousaram nas vestimentas. Fantasiada de Chiquinha e com uma plaquinha pendurada ao pescoço que dizia “Minha fantasia é realizar as suas”, a estudante de física Maria Eduarda Lemos, 23 anos, saiu de Samambaia Sul e curtiu a festa do início ao fim. “Meus padrinhos se conheceram no carnaval há 10 anos e são felizes até hoje. Quem sabe meu par perfeito não está no meio desse tanto de gente?”, questionou.
 
O evento atraiu foliões de todas as idades e localidades. Mesmo morando em Catalão (GO), a universitária Kássia Cristiane Gomes, 24, marcou presença no carnaval brasiliense. Para não perder a festividade, viajou com 30 amigos. “Vamos a todos os blocos até quarta-feira. Esse período valoriza a cidade e está atraindo gente de fora também”, disse.
 
No embalo da campanha contra a importunação sexual, ela estava munida de um dos milhares de apitos distribuídos pela Polícia Militar nos blocos para a denúncia de assédios. “Faz toda a diferença para a conscientização por essa causa. Neste ano, a galera está mais preocupada”, afirmou a estudante do curso de engenharia agronômica.
 
Família
 
Na festa, havia também diversas famílias. Grávida de cinco meses, a coordenadora de call center Viviane Gonçalves, 33, e o marido, Samuel Matias, 31, participaram do bloco pela primeira vez para acompanhar as duas filhas adolescentes. Enquanto elas se divertiam, o casal acompanhava a festa em ritmo mais tranquilo. “Curtimos mais ficar em casa. Gostamos de algo mais tranquilo. Mas viemos para monitorar as meninas”, contou Viviane.
 
O circuito de carnaval da família em anos anteriores costumava acontecer no Eixão, no bloco dos Raparigueiros. Com a gravidez, no entanto, Viviane optou por aproveitar o dia com mais calma. “Pelo que nos disseram sobre anos anteriores, o Mané Garrincha foi melhor e com mais espaço. Para gestantes, é bom evitar ficar no meio da muvuca”, comentou. As filhas também receberam recomendações: “Marcamos um ponto de encontro e ficamos com o celular delas. Também falamos para não receberem bebidas, dizerem que estão acompanhadas dos pais e evitarem ficar no meio da confusão”, destacou Viviane.
 
Mãe de cinco filhos, Cleidimar Carvalho costumava frequentar blocos mais calmos. Neste ano, atendeu aos pedidos dos agora adolescentes e encorpou o público do Babydoll. “A gente ia muito para o Baratinha quando eles eram novinhos, mas já não é mais uma festa atrativa para eles. Então, viemos para o Babydoll e até colocamos as fantasias que eles escolheram”, explicou.
 
A chuva que encobriu o evento começou no fim da tarde. Para fugir do temporal, muitos se esconderam embaixo de árvores e tendas. Foliões recorreram ainda a barraquinhas, à 5ª Delegacia de Polícia e até mesmo ao Brasília Shopping. O local recebeu tantos foliões que a vidraça de uma loja acabou quebrada, após um esbarrão, por volta das 18h. O centro comercial chegou a ser fechado por alguns momentos e diversos lojistas preferiram encerrar as atividades mais cedo. Segundo divulgou a assessoria de imprensa do shopping, o fato tratou-se de um episódio isolado devido à multidão e a situação foi controlada horas depois.
 
Apesar da chuva torrencial, muitos permaneceram aos pulos. De tempos em tempos, os organizadores do evento faziam questão de lembrar ao microfone o lema do bloco. “Não aceitamos machismo, homofobia, racismo. Aqui, a gente acredita no amor”. Ao fim do evento, a promessa do retorno: “Até ano que vem!”.
 
Leia mais das páginas 18 a 20, 24 e no Diversão&Arte 
 
 
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Correio Braziliense sábado, 02 de março de 2019

CARNAVAL BRASILIENSE: FAÇA A FESTA

 


Faça a festa
 
 
!Fim de semana de carnaval começa com a volta do Babydoll de Nylon e blocos para crianças. Comemorações vão até depois da meia-noite

 

» AUGUSTO FERNANDES
ESPECIAL PARA O CORREIO

Publicação: 02/03/2019 04:00

 
 
Uma das épocas mais esperadas pelos brasileiros finalmente chegou! A partir deste fim de semana, Brasília cairá na folia do carnaval e será palco de dezenas de blocos que devem atrair pelo menos 1,6 milhão de pessoas até domingo da semana que vem. Dentre as atrações que prometem agitar as ruas da cidade, existem alternativas para todos os gêneros, gostos e idades. Hoje, quem quiser sair de casa para festejar poderá escolher entre 21 blocos, que animarão as tardes e noites do Plano Piloto e de outras cidades do DF.
 
O grande destaque deste sábado será a volta do Babydoll de Nylon, que não desfilou em 2018. De endereço novo, no estacionamento do Estádio Nacional Mané Garrincha, o bloco deve ser o mais frequentado do dia. Por enquanto, a previsão de é de que 70 mil foliões curtam o evento — na última edição, em 2017, ainda na Praça do Cruzeiro, 160 mil pessoas estiveram no Babydoll. A festa começa às 13h e termina às 20h. Neste ano, o bloco estreará a própria banda, a Sound’Nylon, que deve misturar diferentes ritmos musicais durante a festividade, como axé, brega, pagode, sertanejo e rock.
 
Ainda no centro de Brasília, outra opção de entretenimento é o Concentra Mas Não Sai, que foi idealizado por moradores da 404 e 405 Norte em 2001. Previsto para durar das 16h às 22h, o bloco contará com diversas atrações musicais, como o músico Marcelo Sena, as bandas Ki Bloco é Esse e Pimenteira, além da escola de samba Acadêmicos da Asa Norte.
 
Perto dali e no mesmo horário, o Rejunta meu Bulcão vai agitar o Setor Bancário Norte, com sons da DJ Karla Testa e das bandas Ventoinha de Canudo, As Batuqueiras, Filhas de Oyá e Capivara Brass Band. Um dos pontos altos do bloco será o concurso de fantasia, que premiará os looks mais interessantes e criativos inspirados na obra de Athos Bulcão. Feito em 2013, o Rejunta meu Bulcão tem por princípio “rejuntar” a diversidade cultural em sua programação, misturando ritmos, assim como é a cultura de Brasília. Simultaneamente às duas festas, o estacionamento 4 do Parque da Cidade receberá o bloco Rebu, conhecido por pregar a defesa à diversidade de gênero.


Fique por dentro dos blocos infantis

Carnapati
Idealizado em 2009 pelo Teatro Mapati, o Carnapati usa um formato lúdico para ir às ruas de Brasília. A ideia é oferecer um carnaval com brincadeiras para as crianças. O bloco acontece hoje, das 8h às 13h, no estacionamento 4 do 
Parque da Cidade.
 
Meu Balão Voou
Meu Balão Voou é um bloco infantil que ocorrerá no gramado da Torre de TV. Hoje e segunda-feira haverá diversas atrações para a criançada das 12h às 19h.
 
Carnaval Social no Lago Norte
Hoje, o Carnaval Social levará oficinas, cultura e serviços a comunidades do Distrito Federal. Serão oferecidos a jovens do Varjão, Estrutural e Sol Nascente cursos de capacitação em audiovisual, discotecagem, fotografia e elaboração de projetos culturais que serão desenvolvidos em parceria com a Central Única das Favelas (Cufa). O Carnaval Social será realizado em estruturas móveis equipadas com salas de aula, estúdio e palco para apresentação de artistas locais, das 9h às 17h, 
na Prainha do Lago.
 
Carnabagagem
Das 16h às 19h de hoje, na quadra 40 do Setor Central do Gama. Uma festa embalada ao som de marchinhas carnavalescas, animada pelos brincantes da popular Cia. de Bonecos do Gama.
 
Mamãe me Carrega
Fundado em 2017, o bloquinho Mamãe me Carrega conta com muita música e contação de histórias, no parque da 105 Sul. 
A folia está marcada para o domingo. Começará às 9h e se encerrará às 13h. A entrada é de graça.

Menino de Ceilândia
Nas ruas de Ceilândia desde 1995, o bloco Menino de Ceilândia tem como principal objetivo suprir a falta de entretenimento e atividades culturais da cidade. O nome do bloco surgiu devido ao fato de que na época muitos adolescentes se tornaram pais e as crianças nasciam sem acesso à cultura, lazer e entretenimento. A festa ocorre domingo e terça-feira, das 15h às 22h, na CNM 01, Ceilândia Centro, e é gratuita e acessível à comunidade.
 
Ovelha Kids
O bloquinho Ovelha Kids, neste ano, oferece diversas atrações musicais no domingo e na terça-feira, no Taguaparque. A entrada gratuita e a classificação indicativa, livre.
 
Pintinho de Brasília
Apesar de novo, a folia do Galinho Infantil, o Pintinho de Brasília, é um sucesso entre a criançada. Ano passado, em sua primeira edição, arrastou 2 mil pequenos. Neste ano, o bloquinho vai às ruas na segunda-feira, das 9h às 12h, no Setor Bancário Sul.
 
Bailinho de Carnaval 
Com uma programação recheada, o Bailinho de Carnaval recebe a criançada no estacionamento lateral do Terraço Shopping na terça-feira, das 12h às 18h, com diversas atividades infantis, como cama elástica, área baby, piscina de bolinhas, pintura de rosto, DJ e com a banda de percussão ‘Maria Vai Casoutras’.


Confira os blocos deste sábado

» Desfile de Escola de Samba - 15h às 22h
Rua 31 Sul - Paralela à Avenida Boulevard Sul - Transversal a Rua das Araucárias
 
» Bloco Toca do Samba - 15h à 22h
Av. Castanheira - Estacionamento em Frente ao Vitrinni Shopping
 
» Carnaval Social no Lago Norte - 9h às 17h 
Prainha do Lago
 
» Carnareggae - 16h20 à 1h 
Em frente ao Museu Nacional de Brasília (SCS lt. 2)

» Bloco A Vida é um Doce - 13h às 20h 
Área Pública em Frente a Administração - Quadra 101
 
» Bloco Samambaia - 15h às 22h 
Eixão da Alegria - Centro Olímpico
 
» Carnaval Social do Sol Nascente - 17h às 22h
Trecho I, próximo à UPA em frente à Feira do Produtor
 
» Bloco Babydoll de Nylon - 13h às 20h 
Estacionamento do Estádio Nacional Mané Garrincha
 
» Carnaval Pra Popular – Bloco do Periquito - 15h às 22h
Estacionamento do Bezerrão/Cine Itapoã
 
» Rebu – O Bloco - 15h às 22h 
Estacionamento 04 do Parque da Cidade
 
» Carnaval do Beco da Cal – Confronto Sound System - 17h à 0h
Setor Comercial Sul, beco da Quadra 4
 
» Bloco Do Quadrado / Bloco do Nanan - 15h às 23h 
SAN Quadra 4, atrás da 201 Norte
 
» Arrota mas não Gorfa - 12h às 19h 
Praça da Igrejinha - Vila Planalto
 
» Patubatê a Mamata Difícil – Carnaval Palco Central - 16h às 0h 
Setor Comercial Sul - Praça Central; Praça do Metrô; Praça dos Artistas
 
» Concentra Mas Não Sai - 16h às 22h 
CLN 404/405 Norte
 
» Vem Kem Ker - 15h às 22h
Av. Comercial, Estrutural
 
» Carnabagagem - 16h às 19h 
Gama - SCE Quadra 40 Comércio Local
 
» Carnaval do Asé Dudu - 17h às 23h 
Taguaparque
 
» Rejunta Meu Bulcão - 15h às 22h 
Setor Bancário Norte
 
» Bloco Infantil Meu Balão Voou - 12h às 19h 
Gramado da Torre de TV
 
» Maria Fumaça - 18h 
Setor Comercial Sul, quadra 5, bloco C
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Correio Braziliense quinta, 28 de fevereiro de 2019

ALEGRIA, ALEGRIA!

 

Alegria, alegria!
 
 
 

Por Marina Julião*
Por Ana Flávia Castro*

Publicação: 24/02/2019 04:00

A produção da vez traz um toque mais sofisticado sem perder a irreverência carnavalesca. Com o mesmo look, é possível transitar entre os bloquinhos de rua e as festas noturnas.  

A produção da vez traz um toque mais sofisticado sem perder a irreverência carnavalesca. Com o mesmo look, é possível transitar entre os bloquinhos de rua e as festas noturnas.

 

Carnaval é tempo de ousar nas produções e fazer todo tipo de mistura de cores, estampas e texturas. O conforto também é fundamental. Para as animadas que encaram um dia inteiro de bloquinhos de rua, é preciso escolher peças frescas e apropriadas para a maratona. Os bailes mais glamourosos também merecem um toque descontraído.
 
Fantasias temáticas superelaboradas, uniformes para grupos de amigos ou todos os itens coloridos do seu guarda-roupa reunidos, no carnaval há espaço para tudo. A única regra é a diversão.
 
Com serpentinas, confetes e glitter a postos, confira as sugestões da Revista para abrilhantar a produção carnavalesca. Do glamour chique até os mais discretos, existem opções para todos nesta festa. 
 
*Estagiárias sob supervisão de Sibele Negromonte
 
 
Agregar a graciosidade do flamingo é uma ótima opção para desfilar pelos bloquinhos. Os óculos dão um ar divertido ao look, sem esquecer da proteção, e as penas funcionam em várias produções: desde um broche, para as mais discretas, quanto ombreiras, para as antenadas. 
 
Vanessa usa body metálico (R$120) e saia (R$ 89) da Minha Colombina; ombreiras da Avanzzo, (R$ 248,80 cada); óculos de flamingo Renner (R$ 49,90) e brinco da Tombô (R$ 25).
 
 
Animal print é um dos destaques do verão. Aproveite a onda e invista em produções divertidas com a estampa. As franjas também estão de volta. Exiba a veia fashionista que existe em você!
 
Kamila usa biquíni da Renner (R$ 69,90, o top, e R$ 69,90, a calcinha); cropped Raissa, disponível na Q.U.A.D.R.A (R$ 725); brinco Meu Trintão (R$ 30); coroa Avanzzo (R$ 268,80) e sandália Fabiana Milazzo, disponível na Q.U.A.D.R.A (R$ 688).
 
 
O frescor do carnaval combina com produções coloridas e florais. Os bodies e maiôs com um quê de tropicalismo estão em alta para quem quer entrar no clima da folia e seguir a tendência do verão. 
 
Kamila usa maiô Adriana Degreas, disponível na Q.U.A.D.R.A (R$ 1.990); quimono Renner (R$ 99,90) e tiara Deusa Girassol, da Borogodó (R$ 150). O brinco é acervo pessoal.
 
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Correio Braziliense quarta, 27 de fevereiro de 2019

OSCAR 2019 - IGUALDADE PREMIADA

 


A igualdade premiada na festa das estatuetas
 
 
Junto com a vitória do melhor filme, Green book, rentáveis filmes de Hollywood, como Pantera Negra e Bohemian Rhapsody, sustentam a projeção dos marginalizados, ainda destacados em Roma, que deu Oscar a mexicano

 

Ricardo Daehn

Publicação: 25/02/2019 04:00

O elenco e a direção de Green book sobe ao palco para receber o prêmio principal da noite (Kevin Winter/AFP)  

O elenco e a direção de Green book sobe ao palco para receber o prêmio principal da noite

 

 
 
 
Ao som de Queen, houve quebra de protocolo na largada da 91ª festa do Oscar, quando o cantor Adam Lambert, ao lado do guitarrista Brian May, entoou a proposta da noite: ser diferenciada, ao som de We will rock you e We are the champions, e com um tom emotivo cristalizado na projeção da imagem de Freddie Mercury no telão. Não foi o caso do muito barulho por nada: Bohemian rhapsody, que homenageia o Queen, levou prêmios de melhor edição de som e de mixagem de som. Na vitória da melhor montagem, também pelo filme, o premiado John Ottman disse que Freddie havia conseguido reunir os profissionais do filme “como fazia com o público”.
 
Num caso muito raro, o Oscar de melhor filme caiu nas mãos de uma fita cujo diretor (Peter Farrelly) não era candidato: Green book — O guia. Feita “com amor, com carinho e com respeito”, nas palavras do produtor, Jim Burke, a produção trata do relacionamento cada vez mais integrado entre dois homens a princípio muito diversos: um artista negro (vítima de racismo) e um motorista branco de comportamento bronco. “Somos todos iguais, e sem o Viggo Mortensen (protagonista) não teríamos esse filme”, salientou Peter Farrelly, um dos produtores.
 
No palco, a cinebiografia de ótima bilheteria (cerca de US$ 860 milhões, mundo afora) Bohemian Rhapsody também rendeu Oscar para o melhor ator: Rami Malek. Com voz composta de fusões entre a sua voz e a sonoridade de terceiros, o ator levou o prêmio pela caracterização do cantor Freddie Mercury. Na cerimônia, celebrou o “monumental momento” da vitória, lembrando os problemas de identidade, de assumir a “voz” dele, e emendou com o fato de Mercury ter vivido a vida sem pedir desculpas, sendo imigrante e gay. A identificação, no palco, gerou a emoção do discurso de Malek, ao se afirmar filho de imigrantes egípcios.


Spike lee, vencedor de roteiro adaptado com Infiltrado na Klan (Kevin Winter/AFP)  

Spike lee, vencedor de roteiro adaptado com Infiltrado na Klan

 



Filme em espanhol e feito com imagens em preto e branco, Roma trouxe o segundo Oscar de melhor diretor para o mexicano Alfonso Cuarón. “Nunca me canso de subir no palco”, brincou. O longa trata do destino de uma empregada doméstica e teve por inspiração a infância do realizador. “Como artistas, nosso dever é olhar para os ignorados (...) Muchas gracias, México!”, festejou.
 
Um momento inesperado foi a vitória da melhor atriz, a britânica Olivia Colman, por A favorita. Estressada, como se disse, ela desbancou a colega Glenn Close. “Isso é hilário: ganhei o Oscar. Glenn Close, você é um ídolo há tanto tempo”, comentou. Numa linha coerente com as indicações que apontaram para a diversidade, os coadjuvantes negros venceram estatuetas: Mahershala Ali (depois de ganhar por Moonlight, há dois anos), venceu pela representação do pianista Doc Shirley, em Green book. Questões raciais também atravessam a melhor animação em longa-metragem, Homem Aranha no aranhaverso.
 
Pantera Negra, pelo figurino, levou ao reinado não apenas os habitantes de Wakanda, mas a experiente figurinista negra Ruth E. Carter, pela primeira vez premiada. Pelo mesmoo filme, Hannah Beachler fez um discurso potente e emocionado contando o porquê de “ser mais forte”, depois da experiência de vencer o Oscar de melhor direção de arte. Mulheres mostraram a força, vencendo ainda (em duplas criativas) à frente do melhor curta de animação (Bao) e melhor curta documental (Absorvendo um tabu).
 
Mais de 20 anos depois da última concorrência em Oscar competitivo, o corroteirista (e diretor) de Infiltrado na Klan, Spike Lee, venceu o Oscar de roteiro adaptado. No palco, ao exaltar os ancestrais, Lee fez questão de sublinhar que “no curto mês de fevereiro, os norte-americanos comemoram o mês da consciência negra”. E completou: “Estamos num momento poderoso, próximo de novas eleições (nos EUA): temos de optar entre o amor e o ódio. Vamos fazer a coisa certa”.
 
 
 
Premiados
 
Filme
• Green Book - O guia
 
Ator
• Rami Malek (Bohemian Rhapsody)
 
Atriz
• Olivia Colman (A favorita)
 
Diretor
• Alfonso Cuarón (Roma)
 
Atriz coadjuvante
• Regina King (Se a rua Beale falasse)
 
Trilha sonora original
• Pantera Negra
 
Ator coadjuvante
• Mahershala Ali (Green Book - O guia)
 
Roteiro adaptado
• Infiltrado na Klan
 
Roteiro original
• Green Book - O guia
 
Edição
• Bohemian Rhapsody
 
Fotografia
• Roma
 
Filme de língua estrangeira
• Roma
 
Melhor animação
• Homem-Aranha no Aranhaverso
 
Figurino
• Pantera Negra
 
Curta-metragem
• Skin
 
Edição de som
• Bohemian Rhapsody
 
Mixagem de som
• Bohemian Rhapsody
 
Curta de animação
• Bao
 
Direção de arte
• Pantera Negra
 
Canção original
• Shallow (Nasce uma estrela)
 
Efeitos visuais
• O primeiro homem
 
Maquiagem e penteado
• Vice
 
Documentário
• Free Solo
 
Documentário curta-metragem
• Period. End Of Sentence
 

Correio Braziliense terça, 26 de fevereiro de 2019

CARNAVAL: IRREVERÊNCIA E INCLUSÃO

 

Aquecimento democrático
 
 
Tem festa para todos os gostos e estilos na preparação para a folia oficial. Neste domingo, o df ganhou um bloquinho voltado a doenças incomuns. Brasilienses também aproveitaram o dia em outros embalos

 

Renata Rusky
Marina Adorno
Especial para o Correio

Publicação: 25/02/2019 04:00

 (Barbara Cabral/Esp. CB/D.A Press
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 (Barbara Cabral/Esp. CB/D.A Press
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O aquecimento para a festa do rei Momo continua a todo vapor na capital federal — e há espaço para todos os tipos de foliões. Folia por pura diversão entral de Brasília, segundo a Polícia Militar, e a tendência é que a multidão só cresça.
 
 (Barbara Cabral/Esp. CB/D.A Press
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 (Barbara Cabral/Esp. CB/D.A Press
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 (Barbara Cabral/Esp. CB/D.A Press
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Bloco dos Raros 
 
A folia de pacientes de doenças raras e suas famílias movimentou o Eixão Norte. Pela manhã, o grupo se reuniu para curtir o pré-carnaval e conscientizar o público com relação a essas enfermidades pouco usuais. O Bloco dos Raros estreou com participação da banda infantil de ro com viés social marcou o domingo em Brasília. No último fim de semana antes do carnaval oficial, crianças e adultos ocuparam as ruas das cidades em bloquinhos com história ou estreantes. Nesta época do ano, os brasilienses aproveitam para se apropriar, se expressar, dançar e brincar nos espaços públicos. No sábado, pelo menos 5 mil pessoas foram festejar na área ceck Os Minhocas e da escola de samba da Aruc (Associação Recreativa Cultural Unidos do Cruzeiro). Lauda Santos, uma das organizadoras do evento e diretora executiva da Associação Maria Vitória (Amavi), de doenças raras e crônicas, quer trabalhar para que o movimento passe a integrar o calendário do carnaval brasiliense.
 
Usando cores neon dos pés à cabeça, Lauda leva a sério tanto a folia quanto os desafios dos pacientes. “É um meio de mostrarmos que são pessoas normais, que vivem vidas normais e não transmitem doenças”, afirma. Ela estima que pelo menos 10 patologias raras foram representadas ali, das mais de 8 mil existentes. O evento também marcou a fundação da Federação Brasileira de Doenças Raras. Quem ouve falar em pessoas com problemas de saúde incomuns pode pensar que se trata de uma pequena parcela da população. No entanto, o grupo é representativo: o Ministério da Saúde estima que existam 13 milhões de pacientes nessas condições no Brasil. Isso porque, embora cada doença tenha poucos casos, somados, eles formam uma grande comunidade.
 
O militar Rômulo Marques, 59 anos, pai de um adulto hemofílico (pessoas com baixíssima coagulação sanguínea), explica que, para cada enfermidade rara, há dificuldades específicas, seja no diagnóstico, seja no tratamento, mas há também desafios em comum. “Com a Federação Brasileira de Doenças Raras, teremos mais força para fazer valer nossos interesses compartilhados”, comemora. A advogada Roseane Pimentel, 63, tem quatro filhos; três deles, com doenças raras. A filha dela é adulta e a pessoa mais velha com a síndrome de Ondine, condição que impede a pessoa de respirar enquanto dorme.
 
O problema é responsável por mais de 90% das mortes súbitas no berço. Roseane reconhece a sorte e o privilégio que a família teve de manter a filha sempre com respiração mecânica. Também estiveram no Bloco dos Raros representantes da Associação Brasileira de Síndrome de Rett (Abre-te), desordem do desenvolvimento neurológico que atinge uma em cada 10 mil a 20 mil meninas. Lidiane Bezerra, representante da associação, explica que muitos casos são confundidos com autismo.
 
O presidente da Aruc, Moacyr Oliveira, também tem uma experiência relacionada ao bloco. Ele tem uma filha de 22 anos que nasceu com duas fraturas na perna e foi diagnosticada com osteogênese imperfeita (também denominada ossos de vidro), caracterizada por esqueleto frágil. A jovem precisou fazer um tratamento no Canadá, que hoje está disponível no Brasil. Moacyr é um dos fundadores da Associação Brasileira de Osteogênese Imperfeita (Aboi). Atualmente, a filha está formada e trabalha, apesar de não andar. “É uma honra participar desse bloco”, anima-se.
 
 (Barbara Cabral/Esp. CB/D.A Press
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 (Barbara Cabral/Esp. CB/D.A Press
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 (Barbara Cabral/Esp. CB/D.A Press
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Para todos
 
O céu nublado e a promessa de chuva não impediram a animação da festa no domingo. No Setor Bancário Norte, uma multidão curtiu o tradicional bloco Cafuçu do Cerrado, ao som de Felipe Cordeiro e banda, da orquestra do bloco e de Djs. Evelynne Gubert, 30 anos, se juntou à muvuca com cinco amigos. Para o grupo, a presença é obrigatória: eles se conhecem desde o 1º ano do ensino médio e mantêm a tradição de comparecer todo ano ao bloco fantasiados com roupas de academia, homenageando a década de 1980. 
 
“A gente teve essa ideia e fez o maior sucesso. Então, decidimos continuar. É sempre divertido”, conta Evelynne. Hoje, novos amigos e namorados se juntaram à formação original.  Eles também costumam ir juntos para outros blocos e, às vezes, combinam fantasias. Porém, os trajes dos anos 1980 sempre ficam guardados para o próximo ano. Ana Luíza Gabatteli, 28, é uma carnavalesca dedicada e criativa que está sempre em busca de novas ideias. “Não gosto de repetir”, garante.
 
No Cafuçu do Cerrado, ela se vestiu para homenagear o personagem Russel, do desenho Up — Altas Aventuras. A jovem confeccionou todos os detalhes do traje. “Eu procuro ideias fáceis de fazer na internet. Não gosto de comprar fantasias prontas”, explica. No sábado, no bloco Essa Boquinha Eu Já Beijei + Tuthankasmona, ela estava vestida do jogo Twister. Cada traje é pensado com três semanas de antecedência.
 
A família Borges adora o carnaval de rua brasiliense e não perde a chance de curtir o clima de descontração. Vitor, 38, Tânia, 34, Lívia, 36, e Miguel, 7, aproveitaram o Cafuçu do Cerrado juntos. “Ainda é tranquilo vir para os blocos com crianças, basta ter algo para entretê-las e entrar no clima”, garante Lívia.
 
Jornal Impresso
 

Correio Braziliense domingo, 24 de fevereiro de 2019

MADURO ROMPE COM A COLÔMBIA

 


VENEZUELA 
 
Maduro rompe com a Colômbia
 
Em dia marcado por violentos confrontos na fronteira, com mais de 200 feridos, o presidente chavista corta as relações diplomáticas com Bogotá e expulsa os diplomatas. Comboios de ajuda humanitária ficam retidos

 

Publicação: 24/02/2019 04:00

Maduro discursa para milhares de simpatizantes, em Caracas: ataques ao governo colombiano e ao  

Maduro discursa para milhares de simpatizantes, em Caracas: ataques ao governo colombiano e ao "fantoche" Juan Guaidó

 

 
A ajuda humanitária não passou, mas a face mais violenta do impasse político na Venezuela chegou às fronteiras com o Brasil e a Colômbia, onde manifestantes contrários ao presidente Nicolás Maduro enfrentaram as forças de segurança — à distância de metros dos marcos de divisa —, ergueram barricadas e incendiaram veículos e postos aduaneiros. Embora tenham sido registradas três mortes na região fronteiriça brasileira (leia abaixo), a violência foi mais intensa nas pontes que ligam o território venezuelano à cidade colombiana de Cúcuta, com saldo de ao menos 285 feridos. E teve resultado político dramático: discursando para milhares de simpatizantes, em Caracas, Maduro anunciou o rompimento das relações diplomáticas com a Colômbia e expulsou todos os diplomatas do país vizinho.
 
“Decidi romper todas as relações políticas e diplomáticas com o governo fascista da Colômbia, e todos os seus embaixadores e cônsules devem partir da Venezuela em 24 horas. Fora daqui, oligarquia!”, proclamou o presidente chavista. A Colômbia é o segundo país com o qual o governo de Caracas rompe relações desde que o líder oposicionista Juan Guaidó foi proclamado presidente interino pela Assembleia Nacional, em 23 de janeiro. No mesmo dia, Maduro anunciou o rompimento com os Estados Unidos, em resposta ao reconhecimento imediato de Guaidó pelo presidente Donald Trump. Colômbia e Brasil estão também entre os primeiros dos 50 países que hoje reconhecem o presidente interino.
 
Empenhado em se contrapor à mobilização dos adversários em torno da ajuda humanitária, no dia marcado por Guaidó para a entrada dos donativos, o presidente chavista promoveu na capital uma grande manifestação de apoio — e elegeu o mandatário colombiano como alvo principal. “Você é o diabo, Iván Duque. Você é o diabo, e você secará por se meter com a Venezuela”, ameaçou. “Vade retro satanás, fora daqui, diabo!” Maduro dirigiu ofensas também ao líder oposicionista, que se deslocou a Cúcuta para acompanhar a operação humanitária. “Estamos esperando pelo senhor fantoche, palhaço, fantoche do imperialismo americano e mendigo”, disparou.

Venezuelanos lançam pedras contra as forças de segurança na ponte internacional entre Cúcuta (Colômbia) e Ureña (Raul  Arboleda/AFP)  

Venezuelanos lançam pedras contra as forças de segurança na ponte internacional entre Cúcuta (Colômbia) e Ureña

 



Em reação inicial, o governo de Bogotá reiterou que não reconhece como presidente da Venezuela o chavista, a quem chamou de “usurpador”, e por isso ignora o anúncio. “Maduro não pode romper relações diplomáticas que a Colômbia não tem com ele”, tuitou a vice-presidente Marta Lucía Ramírez. O chanceler Carlos Holmes Trujillo lembrou que Guaidó “convidou os funcionários diplomáticos e consulares colombianos para que permaneçam em território venezuelano”, e advertiu o governo de Caracas a garantir a sua segurança. “A Colômbia culpa o usurpador Maduro por qualquer agressão ou desconhecimento dos direitos que as autoridades colombianas têm na Venezuela”, afirmou.
 
Batalha campal
 
A fronteira entre os dois países, fechada pelo governo de Caracas, transformou-se ao longo do dia em campo de batalha, em especial nas pontes que ligam localidades venezuelanas à cidade colombiana de Cúcuta. Dois caminhões chegaram a passar com remédios e alimentos não perecíveis em direção à cidade de Ureña, onde foram incendiados por grupos paramilitares chavistas — segundo denunciaram políticos oposicionistas. “As pessoas estão salvando a carga do primeiro caminhão e cuidando da ajuda humanitária que Maduro, o ditador, mandou queimar”, denunciou a deputada Gaby Arellano, que disse haver 15 feridos leves por balas de borracha e afetados por gás lacrimogêneo.
 
“Nossos voluntários corajosos estão formando uma corrente para salvaguardar a comida e os medicamentos. A avalanche humanitária é incontrolável”, assegurou Guaidó. Ele foi acompanhado em Cúcuta por Iván Duque e pelos presidentes do Chile, Sebastián Piñera, e do Paraguai, Mario Abdo, além do secretário-geral da Organização de Estados Americanos (OEA), Luis Almagro. Guaidó saudou a deserção de 23 integrantes da Guarda Nacional venezuelana que cruzaram para o lado colombiano. O presidente interino reiterou a oferta de anistia aos militares que abandonarem Maduro.
 
Até o início da noite, manifestantes erguiam barricadas com placas de sinalização do lado colombiano da ponte entre Cúcuta e Ureña. Com apoio também de civis colombianos, grupos atacaram e incendiaram um posto de imigração e atiraram pedras contra as forças de segurança venezuelanas, que responderam com gás lacrimogêneo e balas de borracha.
 
 
 
“Você é o diabo, Iván Duque. Você é o diabo, e você secará por se meter com a Venezuela”
Nicolás Maduro, presidente da Venezuela, dirigindo-se ao mandatário colombiano
 
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Correio Braziliense sábado, 23 de fevereiro de 2019

CARNAVAL DE BRASÍLIA: PREPARADOS PARA A FOLIA

 


Preparados para a folia
 
 
De opções baratas para confeccionar a própria fantasia a trajes prontos para cair no samba, o comércio do Distrito Federal oferece opções diversas e em diferentes regiões administrativas

 

NATÁLIA FERREIRA*

Publicação: 23/02/2019 04:00

A consultora de moda Carla Xavier afirma que há diversas opções acessíveis na cidade
 (Fotos: Carlos Vieira/CB/D.A Press
)  

A consultora de moda Carla Xavier afirma que há diversas opções acessíveis na cidade

 

Com a proximidade do carnaval, a procura por fantasias e adereços aumenta. Para a alegria dos que vão se divertir no próximo feriado, o comércio do DF dispõe de opções baratas e práticas para a confecção ou compra de trajes característicos e cheios de personalidade. O segredo é saber procurar e pesquisar.
 
Segundo a consultora de moda acessível Carla Sabrina Xavier, 24 anos, o comércio nas diversas regiões administrativas é vasto para o segmento carnavalesco. “Depende de cada público. Tem pessoas que gostam de comprar tudo pronto, mas há quem se divirta ao fazer os próprios acessórios. Pensando nos consumidores que preferem confeccionar, o Taguacenter é uma boa opção”, destaca.
 
O centro comercial, em Taguatinga Norte, é acessível à comunidade e aos bolsos também. Nesta época do ano, as lojas ficam repletas de máscaras, plumas, confetes, fantasias e muito mais. O local é procurado por brasilienses que desejam unir qualidade e preço baixo. Para as crianças que vão pular carnaval, também há como economizar. A irmã de Carla, Cássia Xavier, 7, escolheu uma tiara de laço para incrementar a fantasia. O valor de tiaras feitas de EVA, como a que ela escolheu, pode variar de R$ 12 a R$ 25.
 
As amigas Gisele Gonçalves, 23, e Mariana Eugênia, 24, também foram a Taguatinga atrás de bom custo-benefício. “Eu comprei um diadema de enfermeira por R$ 4,90 e um conjunto de diabinha por R$ 9,90. A dica é não deixar para comprar na última hora”, indica Gisele.

Cassia Xavier, 7 anos, vai escolher uma tiara em EVA para curtir a Festa de Momo este ano  

Cassia Xavier, 7 anos, vai escolher uma tiara em EVA para curtir a Festa de Momo este ano

 



Criatividade
 
O microempresário Matheus Mourão, 23, preferiu confeccionar a própria fantasia para economizar e entrar na brincadeira. “Quero me fantasiar de Michael Jackson, mas a situação financeira não está legal, e os trajes que vi são caros. Pesquisei algumas referências em sites e tentarei colocar em prática”, conta.   Segundo Matheus, o cantor é uma referência para ele. “Além de personalizar as roupas, vou me maquiar para a fantasia ficar completa. O Michael me inspira bastante. Para mim, a personificação fará com que eu me sinta por um momento como ele”, resume.
 
A fantasia de cupido, com direito a adereços característicos, foi a escolha da gastrônoma Isabel Duthevicz, 20, moradora de Valparaíso de Goiás, que confeccionou a própria roupa. “Eu comprei um arco de brinquedo e pintei de branco e dourado. Para a ponta da flecha, cortei EVA em formato de coração, passei glitter e colei. Ainda fiz uma bolsa para guardar o instrumento, utilizei um rolo de papel toalha envolto a fitas de cetim. Carimbei corações com tinta vermelha ao longo do corpo, para isso, cortei um pedaço de madeira em formato de coração”, explica.
 
Apreciadora de girassóis, Larissa Alves, 17, escolheu a planta para ser tema da fantasia deste ano. A estudante adquiriu 20 girassóis por R$ 7 e o metro de tule por R$ 10. “Eu comprei tudo em Taguatinga. Além da minha fantasia, ainda sobrou para usar na roupa do meu namorado. Minha avó é costureira e fez rapidinho uma saia com o tule, eu apenas precisei colar a planta no meu biquíni e no restante da fantasia. Os materiais foram baratos, e eu gostei do resultado”, explica.
 
 
Tendências
 
No Plano Piloto, a maior procura deste ano é por fantasias de sereia e dos super-heróis Batman e Super-Homem. A vendedora de uma loja no Sudoeste Gleiciane Silva conta que os adereços coloridos e característicos das folias não ficam de fora. “Estamos vendendo muitos body neon, máscaras, flores, gel com glitter para cabelo e asas coloridas. A maioria do público é despojado e diverso.”
 
A maquiagem é outro item que compõe o look do carnaval. Um dos locais com produtos mais baratos é Ceilândia. As lojas espalhadas pelo centro da cidade e no Shopping Popular oferecem boas opções. Quem procura por diversidade de marcas, opções de purpurinas, lantejoulas e glitter, pode encontrar também em lojas de cosmético no shopping do Gama.
 
“Eu indico às minhas clientes o glitter biodegradável. Algumas pessoas colam purpurina de papelaria no rosto e corpo, e esquecem que esses brilhos são feitos de vidro e podem machucar. Além de não ferir, os biodegradáveis diminuem a poluição do meio ambiente”, explica a maquiadora e empresária Núbia Macedo, 37.
 
* Estagiária sob supervisão de Mariana Niederauer
 
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Correio Braziliense sexta, 22 de fevereiro de 2019

DIA DE REVERENCIAR OS HERÓIS: TOMADA DE MONTE CASTELO, NA ITÁLIA

 


Dia de reverenciar heróis
 
Solenidade realizada no Batalhão da Polícia do Exército lembrou aquele que é considerado um dos maiores feitos das Forças Armadas brasileiras, a tomada de Monte Castelo, na Itália, durante a Segunda Guerra Mundial

 

» AUGUSTO FERNANDES
ESPECIAL PARA O CORREIO

Publicação: 22/02/2019 04:00

Veterano da Força Expedicionária Brasileira (FEB), o coronel Nestor da Silva (à direita) recebeu honras militares, na solenidade de ontem (Ana Rayssa/Esp. CB/D.A Press)  

Veterano da Força Expedicionária Brasileira (FEB), o coronel Nestor da Silva (à direita) recebeu honras militares, na solenidade de ontem

 

 
“Guarnecendo os destinos da Pátria/Sem fraqueza, com força e vigor”. Sob os versos da canção do Comando Militar do Planalto, a Força Expedicionária Brasileira (FEB) foi homenageada ontem pelos 74 anos daquele que é considerado um dos maiores feitos das Forças Armadas do Brasil na Segunda Guerra Mundial: a tomada de Monte Castelo, na Itália. Realizada no Batalhão da Polícia do Exército, no Setor Militar Urbano, a solenidade lembrou os atos heroicos dos cerca de 25 mil militares que participaram ativamente das batalhas contra o Exército Alemão.

Um dos homenageados era o coronel Nestor da Silva, 101 anos, único veterano da FEB presente na solenidade. “Não há um dia em que eu não pense ou sonhe com a guerra. Sinto-me honrado de ter participado daquele momento e de ser uma das memórias vivas de uma conquista única para o Brasil. Guardarei as recordações para sempre”, comentou.

À época, o então segundo-sargento e o restante da tropa brasileira precisaram de quatro tentativas para derrubar as forças nazifascistas (leia Memória). Nestor da Silva sofreu com o rigoroso inverno europeu, marcado por nevascas e frio intenso, teve de se esconder em buracos cavados entre rochas para sobreviver às investidas alemãs e viu muitos companheiros morreram. Mesmo assim, após três meses de confronto, ele e os companheiros brasileiros saíram vitoriosos em 21 de fevereiro de 1945.

“A tomada de Monte Castelo não aconteceu em apenas um dia. Foi difícil, pois o Exército Alemão tinha um comando melhor. Mesmo assim, atacamos de frente e conseguimos a primeira conquista brasileira no teatro de operações na Itália”, recordou-se. “Foi um grande exemplo que a FEB deu ao Brasil e, principalmente, à mocidade brasileira. Feliz é a pátria que nos momentos difíceis possui filhos prontos para defendê-la e honrá-la. Seja na paz, seja na guerra”, completou Nestor da Silva.

Desfile
 
Na comemoração de ontem, feita no Pátio Marechal Zenóbio da Costa — comandante da Infantaria da FEB em operações da Segunda Guerra Mundial —, grupamentos das Forças Armadas compareceram em peso. Militares de tropas, como a do Regimento dos Dragões da Independência e a do Batalhão da Guarda Presidencial desfilaram a pé, em viaturas e a cavalo em continência ao coronel Nestor da Silva e entoaram cantos para saudar os soldados que participaram da guerra.

Durante a cerimônia, também foi respeitado o toque de silêncio em memória dos militares mortos nos conflitos em terras europeias e também dos que retornaram ao país, continuaram servindo ao Brasil, mas já se foram. “Em Monte Castelo, como em outras vitórias da FEB, nossos heróis honraram os exemplos dos bravos de Guararapes, das lutas pela independência e das guerras travadas no cone sul do continente. A campanha da Itália somou inúmeros exemplos de bravura, dedicação, amor à pátria e sentimentos fraternos aos valores cultivados pelos homens e mulheres do Exército de Caxias”, frisou o comandante militar do Planalto, general de Divisão Sérgio da Costa.

Como parte da celebração, o coronel Nestor da Silva desfilou às tropas em um carro e foi reverenciado com uma salva de palmas. Para ele, é sempre uma grande emoção ser saudado pelos seus esforços durante a batalha contra os alemães. “É como se fosse uma injeção de ânimo para eu continuar vivendo. Mesmo velho, ainda tenho a oportunidade de relembrar esta vitória e ver que o povo brasileiro ainda valoriza a FEB”, comemorou.

Apesar das memórias de dias difíceis, que refletem no seu semblante sério e rígido, o coronel conserva um grande sentimento de gratidão de quem já viveu mais de um século. “Vinte e cinco homens saíram de Brasília para representar a nação naquela guerra, e apenas dois seguem vivos. Um deles continua andando e falando como se o tempo não tivesse passado. E esse alguém sou eu”, brincou.
 
Jornal Impresso
 

Correio Braziliense quinta, 21 de fevereiro de 2019

A SÍNDICA MAIS LONGEVA DO BRASIL: ANTÔNIA LEAL DOS REIS

 

Ela decidiu apenas ser feliz
 
 
Sábado próximo, Antônia Leal dos Reis completa 88 anos de vida. É hoje, em atividade, a síndica mais longeva do Brasil e do DF e tornou-se unanimidade no Sudoeste

 

» MARCELO ABREU
ESPECIAL PARA O CORREIO

Publicação: 21/02/2019 04:00

Antônia plantou dois ciprestes italianos há mais de 15 anos, quando tinham menos de 50cm. Hoje, passam dos 20m e são conhecidos como as Torres Gêmeas do Sudoeste (Carlos Vieira/CB/D.A Press)  

Antônia plantou dois ciprestes italianos há mais de 15 anos, quando tinham menos de 50cm. Hoje, passam dos 20m e são conhecidos como as Torres Gêmeas do Sudoeste

 

 
No dia em que preparava o enxoval para o casamento, a mãe, a dona de casa espanhola Dolores Fontela Leal disse para a noiva, a segunda filha, então com 20 anos: “Você tem que colocar os aventais para cozinhar para seu marido. Mulher precisa cozinhar para o marido”. Ela olhou para a mãe e disse: “Tudo, menos avental”. No enxoval da noiva, os aventais não couberam. O pai, o serrador português Manoel Leal, longe da mulher, disse à filha que ia se casar: “Você tem que fazer o que gosta”. Foi o que Antônia Leal dos Reis precisava ouvir. Ela, desde aquele dia, só fez o que realmente quis fazer.

E por fazer só aquilo que gosta e quer, sábado próximo, 23, ela completará 88 anos. Parabéns! É mais que parabéns! É um tanto de vida que não cabe nem nela mesma. Hoje, com qualidade de vida, muita gente chega e passa brincando dos 80 anos. Mas essa mulher tem algo especial, ela é a síndica mais longeva do DF e do país. Detalhe: ainda trabalhando. A informação é da Associação Brasileira dos Síndicos e Síndicos Profissionais (Abrassp). Há 27 anos, ininterruptos, é ela quem dá as ordens e as cartas num prédio da Quadra 103 do Sudoeste. Um bloco com 117 unidades, que reúne comércio e residência.

Na terça-feira passada, na entrada do prédio, ela foi agraciada com o prêmio Master Síndico, o mais importante da entidade, que congrega mais de 25 mil síndicos de todo o país. O diploma lhe foi entregue pelo diretor da Abrassp, Paulo Roberto Melo. “Apenas 20 pessoas já receberam esse prêmio”, diz ele.

E ela virou, mesmo sendo síndica, pasmem, uma unanimidade na quadra. É adorada por todos. Não há exagero no uso da palavra. Dos porteiros, passando pelos moradores aos empresários da região de classe média alta. O porteiro e encarregado do prédio, Carlos Silva, 42 anos, o mais antigo no bloco, não lhe poupa elogios: “Ela é rigorosa. Checa tudo, vê tudo, cobra cada detalhe. Mas o que mais me impressiona na dona Antônia é a honestidade e a simplicidade. Ela virou meio mãe de todo mundo aqui”.
 
Além do tempo
 
Mas antes de ela chegar a Brasília e virar síndica, há um monte de história lá atrás. Voltemos, então, ao interior de São Paulo. Em Garça, região de Marília, houve o casamento de Antônia e Milton Maganha. Com ele, viveu por 34 anos. Vieram os três filhos. Era uma mulher cercada por quatro homens. Um dia, o marido quis se mudar de São Paulo. Comprou uma fazenda em Maringá. Ia plantar e vender. A família inteira se mudou para o Paraná. E foi ali que Antônia fez tudo: menos usar avental para cozinhar. “Até sei fazer uma coisa ou outra, mas sou péssima na cozinha. O que gosto é da parte de confeitaria”, diz.

Aprendeu a dirigir sozinha. Nos anos 1950/1960, guiava um Jipe 1954 pelas fazendas das redondezas. Levava e buscava os filhos na escola. Não só os filhos, mas as crianças das outras fazendas. Ia com a cara e a coragem, às vezes, inventando estradas que nem existiam. E, para não depender apenas do dinheiro do marido, aprendeu também a costurar. Passou a dar aula de costura para as mulheres da região. “Era uma boa modista. Por isso gosto de moda até hoje”, conta.

Ali em Maringá, a vida seguia seu rumo. Um dia, Milton viu que os negócios não estavam indo bem. E, mais uma vez, decidiu recomeçar. Voltou para São Paulo. Os filhos, já maiores, começaram a seguir também os próprios rumos. Mudaram-se para Brasília. Anos depois, em 1977, Miguel e Antônia chegaram a Brasília. Antônia contava 46 anos. Milton, 50. Vida nova na terra de JK. Em todos os sentidos. Ela, intuitiva, queria mais. “Os meus três filhos estavam criados. Eu já havia cumprido minha missão de mãe. Meu casamento estava diferente. Eu queria viver.”
 
A grande paixão
 
Antônia foi viver. E viver é, definitivamente, o que lhe dá mais prazer. “Eu amo a vida. Amo acordar e me sentir viva”, me disse ela, várias vezes, durante os nossos encontros. Poucos anos depois, divorciada, mas amiga de Miguel, o pai dos filhos, encontrou um novo amor. Antônia já havia passado dos 50. “Ele era militar da Aeronáutica, quatro anos mais novo do que eu”, conta. Foi paixão arrebatadora.

Adiodato José dos Reis foi servir na Embaixada do Brasil no Uruguai. Montevidéu seria o novo lar. Lá, Antônia teve papel de destaque. Deu vida e levou alegria ao lugar. “Eu organizei todas as festas nos dois anos em que vivemos lá. Coloquei o Brasil em destaque. Até festa junina eu fiz”, diz, mostrando as muitas fotografias de papel e os olhares apaixonados entre ela e Adiodato.

Antônia lembra as viagens para Buenos Aires. Os tangos que dançou com seu o amor da maturidade. E o espanhol que fala bem, aprendido ainda com a mãe espanhola. Os dois anos no Uruguai acabaram. Adiodato foi para a reforma e voltou para o Brasil. Resolveu morar em Natal. Queria estar perto do mar. Ali, viveram os últimos anos de amor. Ele morreu, repentinamente, de um edema pulmonar. “Foram seis anos de muita felicidade, talvez os mais intensos da minha vida”, relembra, com olhos perdidos de saudade na sala do seu apartamento.

Viúva, antes dos 60 anos, ela deixou Natal e voltou para Brasília. Aqui estavam os três filhos, os netos e o ex-marido, que morreu há pouco tempo. Sempre independente, decidiu também que teria o canto dela, sozinha. O prédio onde mora e no qual virou síndica estava acabando de construir. Ela não hesitou. Comprou ali seu apartamento. Foi a primeira moradora. E, há 27 anos, é a pessoa mais atuante do lugar onde vive e do Sudoeste, onde chegou quando o bairro era ainda um monte de barro vermelho e poucos acreditavam que se tornaria uma das regiões mais atraentes e disputadas do DF.
 
Uma luta por todos
 
E a luta dela não é apenas para o seu quadradinho ou pela quadra onde mora. Juntou-se à campanha pelo Batalhão da Polícia Militar do bairro. Conseguiu. Está atenta a tudo. Não deixou que os flanelinhas dominassem, sem critério, o espaço. E, por isso, sem imaginar, tornou-se unanimidade no espaço onde vive.

“O que mais me impressiona nela é a vitalidade e a alegria. Ela me dá conselhos. Eu aprendo todo dia com dona Antônia”, diz a decoradora Mônica Blanco, 40, que morou no prédio e, mesmo fora, sempre passa lá para uma boa conversa. E entrega, às gargalhadas: “Ela é que me leva para o bar, para a gandaia”. 

Elvi de Sousa, 33, é gerente do Café Tróia, que reúne café, restaurante e bar, lugar que Antônia sempre frequenta com as amigas, para ouvir música e tomar a sua caipiroska de kiwi, descoberta recente e predileta. A gerente virou fã: “Ela tem um jeito de lidar com as pessoas especial. Trata todo mundo bem, pode ser quem for. No dia em que não vem, a gente estranha”.

Wiliam Matos, garçom da Padaria Pães e Vinhos, outro lugar que ela frequenta diariamente, admira-se com a vivacidade da mulher de 88 anos: “Ela tem uma cabeça incrível. É um exemplo”.  A fiel diarista, Rosa Pinheiro da Silva, de 40 anos e há 11 aprendendo com as lições de vida de Antônia, emociona-se: “Ela, de patroa, virou amiga. Quando estou com problema é com ela que desabafo”.

A empresária Vilma Peixoto, 59, dona da Barbearia Peixoto, que está na quadra há 22 anos e virou subsíndica há quatro, hoje tornou-se amiga de Antônia. “Sou aprendiz dela. O que mais me chama a atenção é que ela percebeu que o mundo evoluiu e ela teve flexibilidade para evoluir com o mundo”. E rasga elogios: “Gosto da modernidade dela, da forma como se veste, das roupas coloridas, do astral. Ela não fala de dores, de tristeza”. Antônia é moderna sem rede social. Ela prefere a vida real: “Tenho um celular, mas quase não atendo. O telefone fixo de casa resolve. Eu gosto de ver as pessoas nos olhos, lidar com elas”.
 
Amor de família
 
Se Antônia é unanimidade no lugar onde vive, não seria diferente entre a família — os três filhos, seis netos e quatro bisnetos. O filho caçula, Carlos Eduardo Maganha, 60, corretor da Bolsa Nacional de Mercadoria e morador do Park Way, fala com voz embargada ao descrever a mãe: “A minha maior admiração é ela ser justa. Sempre teve uma noção de justiça muito forte. E admiro a independência e a coragem como enfrentou a vida, nunca se dobrou por nada. O tempo não foi inimigo”. A cada domingo, ela vai para casa de um filho. É o almoço sagrado. “Mas ela sempre volta para a casa dela, não aceita dormir na casa de nenhum de nós. Ela é muito independente”, entrega Carlos Eduardo.

A nora Adelaide Maganha, 59, corretora de grãos e mercadoria, reflete: “Ela luta pelo bem-estar de todo mundo. É uma mãe pra mim”.  A neta, a médica Ana Carolina Zuliane Maganha, 38, é pura admiração: “Ela não se tornou a vozinha do crochê. Venceu dificuldades, os desafios e virou uma mulher forte, que acredita na vida. Eu aprendo com ela”.

A neta conta uma passagem recente e fantástica: “Uma noite, passava das 9h, estava eu com meus dois filhos e marido no carro e fui à casa dela para levar um remédio. Aí, ao chegar à portaria, o porteiro logo me disse que ela estava no café da quadra com as amigas, toda animada e ouvindo música. Ela me olhou e disse: ‘Carol, minha querida, senta aqui, toma uma taça de vinho’. Ela é assim. Minha avó é pura vida”.

Foram três dias conversando com várias pessoas para traçar um perfil de Antônia Leal dos Reis. Foram três dias indo à casa de Antônia para ver a vida dela, sentir, ver fotos em papel e escutar os discos de Nelson Gonçalves na sua vitrola. Foram três dias para entrar no mundo de Antônia. É muita pretensão querer definir uma mulher de 88 anos em três dias.

Antônia é o que de mais perto a gente conhece ou tem ideia de ser humano. Cada vez em extinção. Um ser humano que empolga, apaixona e nos convida para viver a mesma história. Por alguns momentos, era como se o repórter estivesse de carona, no Jipe 1954, rasgando as estradas que ela dirigia no Paraná. Antônia é extraordinária. É o que se pode dizer sobre ela. E isso é definitivamente tudo.

A síndica ao lado do primeiro marido, Miguel Maganha, de dois dos três filhos e da mãe, Dolores Fontela; com o segundo marido, Adiodato dos Reis; e em festa junina na Embaixada do Brasil no Uruguai;  

A síndica ao lado do primeiro marido, Miguel Maganha, de dois dos três filhos e da mãe, Dolores Fontela; com o segundo marido, Adiodato dos Reis; e em festa junina na Embaixada do Brasil no Uruguai;

 



 


 



Sabedorias de Antônia
 
“Saudade eu tenho de muita coisa, mas há sempre alguma coisa para se viver na frente”
“Eu vivo cada minuto, cada segundo da minha vida”
“Eu tenho celular, mas quase não uso. Gosto de ver as pessoas nos olhos, lidar com as pessoas”
“Não tenho direito de pedir nada. Tenho uma família que adoro e amo viver”
“Nunca tive preconceito em relação a nada nem com ninguém. O preconceito mata”
“Eu já acordo pronta, toda arrumada. Eu me arrumo pra mim”
“Nunca fiz plástica. Acho que ser feliz ajuda a não envelhecer”
 
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Correio Braziliense quarta, 20 de fevereiro de 2019

RITA AUCÉLIO VALIM: VIDA PARA CELEBRAR - 106 ANOS!

 


Vida para celebrar
 
 
Aos 106 anos, moradora de Brasília comemora conquistas que alcançou ao lado da família

 

» FERNANDA BASTOS*

Publicação: 20/02/2019 04:00

A matriarca Rita Aucélio Valim faz aniversário hoje (Minervino Junior/CB/D.A Press)  

A matriarca Rita Aucélio Valim faz aniversário hoje

 

 
Dona Rita aguardava a chegada da reportagem com o passatempo preferido: assistir a jogos de vôlei. Campeonato brasileiro ou mundial, qualquer partida do esporte a faz ficar com os olhos atentos, acompanhando cada movimento. O volume da tevê precisa estar bem alto para que ela analise, com o juiz, as jogadas.
 
Em 106 anos de vida, celebrados hoje, Rita Aucélio Valim nunca praticou o esporte, mas a senhora radiante guarda essa paixão ao lado de tantas outras histórias que a fizeram feliz e muito amada por todos que a conheceram em mais de um século de vida. Acorda todos os dias por volta das 10h, toma banho, passa perfume, coloca o relógio que vai usar no dia — sempre um modelo diferente do dia anterior — e vai para a frente da tevê assistir às partidas de vôlei. Rodeada de familiares, também conversa pelo telefone com os sobrinhos que moram longe.
 
Mineira de Uberaba, dona Rita é a sexta de nove filhos de Antônio Aucélio e Maria Alves do Nascimento. Menina arteira durante a infância e a adolescência, ela conta, entre muito risos, que vestia um vestido preto da sua mãe, pintava o rosto com pó de café e ia assombrar os irmãos durante a noite. Outra peça que pregou foi na cunhada Pérola. “Peguei o quadro da minha avó falecida e coloquei debaixo do travesseiro dela. Ela foi se deitar e deu de cara com a assombração, saiu correndo no carreirão”, recorda-se.

Fotos antigas lembram o dia do casamento com Joaquim de Assis Valim e momentos de alegria com os filhos (Minervino Junior/CB/D.A Press)  

Fotos antigas lembram o dia do casamento com Joaquim de Assis Valim e momentos de alegria com os filhos

 



 (Minervino Junior/CB/D.A Press)  
 
A menina travessa estudou em Uberaba, completou o antigo ginásio e ao conhecer, aos 21 anos, Joaquim de Assis Valim, durante um jogo de futebol, se apaixonou. À época, ele era noivo, mas rompeu o compromisso para ficar com dona Rita. “Tive que tomar ele da moça, que ficou com raiva de mim”, conta.
 
O casamento demorou sete anos para acontecer, pois seu Joaquim sofreu reumatismo severo e acabou desenvolvendo deficiência na perna direita. Depois de casados, tiveram cinco filhos e viveram juntos por 20 anos em Uberaba, onde cuidavam de um armazém.  Aos 47 anos, porém, dona Rita perdeu o seu primeiro e único amor. Ao ficar viúva, cuidou do estabelecimento e dos herdeiros sozinha.
 
Entre as memórias dessa época, ela não se esquece das histórias dos filhos. José Aucélio, o único homem e o segundo mais velho, era o mais levado. Fugiu duas vezes de casa e veio morar em Brasília. O garoto trouxe o revólver do pai e confessou para a mãe,  durante a entrevista, que alugava o quarto que dormia de noite e lavava pratos em restaurantes para ganhar um dinheiro extra. Dona Rita, atenta à conversa, sobressalta-se. “Isso ele nunca me contou!”
 
O coração aperta ao lembrar das duas filhas que morreram, a última, há dois meses. Todo amor que deu a elas, a matriarca distribui. Adotou como filhas de coração a nora, Selma, e sua cuidadora, Cristiane. “Eu tive cinco filhos, 20 netos, 28 bisnetos e quatro tataranetos”, diz, sem perder o sorriso e o orgulho do que considera ser sua maior conquista.

Mudança
 
Em 1967, ela se mudou com a família para Brasília. Ao ser questionada se tinha ajudado a construir a capital, afirma de prontidão: “Cheguei e ela já estava toda pronta”. Hoje, mora em um condomínio com quatro casas, todas de parentes, em Arniqueiras, próximo a Águas Claras.
 
Vilma Valim Gomes Pereira, 74 anos, filha do meio de dona Rita, afirma que o alto-astral da mãe é uma das características marcantes. “Hoje, ela agrega todos, desde nós, que somos filhos, os netos e os bisnetos, a maioria crianças, que chegam aqui e dão o maior abraço nela, de carinho, de amor. O bom astral dela é contagiante, as pessoas que cuidam dela, quem a conhece, todo mundo a adora.”
 
O filho mais travesso, José Aucélio Valim, 76, concorda que a energia da mãe é única. “Eu agradeço por ela estar viva até hoje, porque mãe é para sempre e, igual a ela, não tem. Ela tem um astral muito bom, quando ela está triste, eu faço molecagem. Ela fala que vai me bater e me dá alguns tapinhas bem leves. Ela está com 106 anos, e eu vou até os 110”, garante.
 
A segunda filha mais nova, Dilma Aucélio Valim Liberal Ferreira, 73, destaca que a mãe sempre foi muito vaidosa e adora sair e se divertir até hoje. “Mamãe sempre gostou de festa, de sair, de passear, até hoje ela é assim. Se precisar ficar até três horas da manhã, ela fica”, afirma. “Ela está vivendo tanto porque ela ama a vida. É incrível ter uma mãe assim.”
 
* Estagiária sob supervisão de Mariana Niederauer
 
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Correio Braziliense terça, 19 de fevereiro de 2019

EDUCAÇÃO TRANSFORMADORA

 


Educação transformadora
 
 
Coletivo na Estrutural promove atividades com crianças e adolescentes em período oposto ao das aulas para trazer reflexões que levem a mudanças sociais

 

» ALAN RIOS
ESPECIAL PARA O CORREIO

Publicação: 19/02/2019 04:00

 (Arthur Menescal/Esp. CB/D.A Press)  


Para 324 crianças e adolescentes da Estrutural, a educação não fica só dentro da escola nem serve apenas para tirar boas notas. O Observatório da Criança e do Adolescente (OCA), projeto da organização Coletivo da Cidade, oferece atividades pedagógicas no período contrário ao das aulas, buscando reflexões sobre a realidade em que eles vivem.
 
Quem entra no espaço vê o colorido das paredes grafitadas dialogar com o verde das árvores e dos quadros das salas de aula. A quadra esportiva permite uma boa recreação e a biblioteca, o contato com a literatura. Para modernizar o aprendizado, a mais nova instalação é um laboratório de informática dentro de um contêiner, com computadores doados pela União Europeia.
 
“Aprendi tanta coisa depois que entrei no projeto que não sei quem eu seria se não tivesse aqui”, resume Raquel Santos, 16 anos. Ela conheceu o observatório há quatro anos, quando sua família descobriu a organização. De 2015 para cá, perdeu a conta de quantos temas debateu e quantos amigos fez nessa junção de lazer e educação. “Eu acho que se não fosse o coletivo, eu não teria a identidade que tenho hoje, não seria a mesma. As atividades aqui são muito educativas, a gente vai aprendendo e ensinando com os temas que tratamos.”
 
O coordenador do projeto, Walisson Lopes, 23, explica que as ações do OCA são centradas em temáticas específicas. “Mensalmente, fazemos uma assembleia para escolher um tema que será discutido aqui. Em um mês, são as crianças e os adolescentes que escolhem. Em outro, são os educadores”, detalha. Tudo isso é tratado a partir de uma metodologia chamada de roda de aprendizagem, que tem como pilares os conceitos do saber, criar, cuidar, conviver e brincar.
 
Foi na roda que Raquel pôde debater aspectos das vivências dos jovens de uma forma transformadora. “Dos temas que levantamos, os que eu mais gostei de discutir foram a homofobia e o racismo. Foi um pouco desgastante, porque nem todos os adolescentes pensam da mesma forma, mas a gente trabalhou isso. Há pessoas que não têm facilidade para entender certas coisas, porque foram criados de um jeito, mas, com essas conversas, a gente vê outras realidades, isso é muito bom”, relata.

 

"Aqui é um espaço de aprendizagem, e nós acreditamos que é possível construir educação junto com crianças e adolescentes" Walisson Lopes, coordenador

 



 

"Eu acho que se não fosse o coletivo, eu não teria a identidade que tenho hoje, não seria a mesma" Raquel Santos, participante do projeto

 

 
O papel do educador
 
Em fevereiro, as atividades giram em torno da frase ‘A escola ideal’. O assunto amplo gera tarefas que variam entre as idades. Enquanto crianças desenham o que para elas significa uma instituição dos sonhos, adolescentes vão mais a fundo e debatem lados positivos e negativos da educação militar, por exemplo.
 
A educadora Leonice do Nascimento, 25, relata que encontra ali diferentes formas de expressão dos menores. “Os mais novos trazem muitas reflexões a partir dos desenhos. Agora, eles estão pintando como seria a escola dos sonhos e, depois, vamos ensinar a eles na roda do saber o que é a escola, qual o papel dela, de onde surgiram os pensamentos que a compõem e tudo o mais. De diversas maneiras, eles sempre trazem assuntos do convívio familiar e social deles. É bem intenso e comove muito, porque o nosso futuro são eles”, observa.
 
O resultado desses trabalhos sempre surpreende os professores do observatório. Em uma folha branca, uma criança de 10 anos usou tinta vermelha para pintar uma escola com grades altas, semelhante a uma prisão, e representar como vê o seu colégio. Ao lado, escolheu diferentes cores vibrantes para mostrar como queria que ela fosse: com árvores, área de lazer, salas espaçosas e fortemente iluminada pelos raios de sol.
 
É justamente assim que outra criança do observatório enxerga o OCA. Wadellen Souza, 11, já criou uma rotina. “Eu saio da escola, almoço, fico uns 20 minutos em casa e venho para o coletivo. Aqui, eu sou acolhido, converso com os professores e vou para as atividades, recreação, meditação e lanche”, conta. O aluno se sente bem no espaço, onde vê suas curiosidades serem ouvidas, compreendidas e trabalhadas. “Gosto muito daqui, sempre gostei. Eu me sinto feliz e brincalhão. E, com o que a gente faz aqui, a gente vê que pode promover mudanças”, descreve o menino.

Participantes têm atividades em sala e no pátio da organização Coletivo da Cidade (Arthur Menescal/Esp. CB/D.A Press)  

Participantes têm atividades em sala e no pátio da organização Coletivo da Cidade

 



A voz deles
 
A prática anda junto com a teoria. Uma prova é o jornal produzido e distribuído por crianças e adolescentes do coletivo. “Dentro deste processo, nós criamos vários produtos, como o Voz da Quebrada, que é feito em aulas de educomunicação. Os adolescentes criam as pautas, escolhem as imagens e falam sobre coisas que eles acham interessantes”, detalha o coordenador Walisson Lopes. Em uma das edições do boletim, o assunto principal foi o brincar.
 
Além de colaborar com textos e desenhos, as crianças fizeram até um mapa mostrando pontos de lazer da Estrutural, com tópicos ilustrando o que cada lugar tem de bom e ruim. Um dos comentários negativos sobre um campo de futebol da cidade foi que lá “tem muita gente usando drogas”. Assim que os educadores ouviram a reclamação, começaram a debater formas de mudar os cenários da criminalidade.
 
“Essa é a nossa perspectiva: observar a Estrutural e levantar indicadores sobre os desafios que a cidade tem. Aqui é um espaço de aprendizagem, e nós acreditamos que é possível construir educação junto com crianças e adolescentes”, conclui Walisson.
 
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Correio Braziliense segunda, 18 de fevereiro de 2019

COMBATE À LEUCEMIA

 


Laranja, a cor da esperança
 
 
O mês de fevereiro é marcado pelo combate à leucemia. Histórias de superação inspiram quem está na batalha para alcançar a cura

 

Aline Brito*

Publicação: 18/02/2019 04:00

Ana Letícia, 4 anos, venceu a leucemia: fantasias de princesas e de bailarina a ajudaram na luta contra a doença
 (Fotos: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press - 15/2/19
)  

Ana Letícia, 4 anos, venceu a leucemia: fantasias de princesas e de bailarina a ajudaram na luta contra a doença

 

O sofrimento da descoberta, a dor do tratamento e o renascimento da cura. Esses são momentos que marcam a vida dos portadores de leucemia. A doença não escolhe idade nem avisa quando vai aparecer, mas, com diagnóstico precoce e acompanhamento, há grandes chances de se tornar somente uma visita incômoda e, ao fim da jornada, uma lição de aprendizagem.
 
Andrea Pandolfi Barcelos, 39 anos, é uma dessas sobreviventes. Aos 11 anos, precisou encontrar forças para lutar pela vida. No início da adolescência, teve de abrir mão da escola e da convivência com os amigos para se adaptar à rotina de tratamento contra o câncer. Os sintomas começaram com febre, palidez e cansaço, queixas que podem ser facilmente confundidas com uma virose. Ao procurar atendimento para saber a causa do mal-estar, soube que era leucemia. “Foi bem rápido para descobrir. Quando fiquei sabendo, foi um choque para mim e para a minha família”, conta Andrea.
 
Depois de dois anos de quimioterapia, ela curou-se. Retomou os estudos, concluiu o ensino fundamental e o ensino médio. Após se ver livre da doença, Andrea passou a se dedicar a projetos de ajuda a outros pacientes. “Toda a minha família envolveu-se com a leucemia. Minha mãe, meu pai, minha irmã, todos começaram a participar de trabalhos voluntários. A oncologia virou parte da minha vida”, diz.
 
A batalha serviu de inspiração para a jovem, que ingressou na faculdade de medicina e se especializou em oncologia pediátrica. Hoje, 28 anos depois, Andrea trata de crianças que vivem o mesmo que ela sofreu no passado. “Como fiz especialização no Hospital de Base, tive a oportunidade de ser aluna de alguns médicos que me trataram quando estive doente”, revela a oncologista.
 
A trajetória tornou-se sinônimo de inspiração para os pacientes diagnosticados com leucemia. “Todos no hospital sabem da minha história. Algumas crianças que trato dizem que também querem ser médicos. As mães me veem como uma esperança”, relata Andrea. “O que me motiva é ouvir uma criança dizer que quer ser igual a mim quando crescer”, comenta.
 
Pequena guerreira
 
Aos 3 anos, Ana Letícia Santos, iniciou a batalha contra a leucemia. Para a mãe, Tuany da Silva Santos, 28, o diagnóstico veio com o medo, a preocupação e a força para lutar pela vida da filha. Mesmo sem saber ao certo o que estava ocorrendo, a menina nunca reclamou e se manteve alegre durante todo o tratamento. “Ela ficou um mês internada, fez quimioterapia, perdeu os cabelos, mas nunca se abateu. Ela sempre dizia que só precisava tomar o remedinho, que ia ficar boa e logo iria para casa. Realmente, foi isso o que aconteceu”, relata Tuany.
 
Em janeiro de 2018, a criança apresentou, pela primeira vez, sinais da doença. Febre, manchas vermelhas no corpo e vômito, foram alguns dos sintomas. Depois de realizar um hemograma — exame que avalia as células sanguíneas —, Ana Letícia foi encaminhada para o Hospital da Criança e iniciou o acompanhamento para combater o câncer. A criança precisou parar de frequentar a escola, e Tuany deixou o trabalho para cuidar da filha.
 
Nos dias em que esteve no Hospital da Criança para receber as doses de quimioterapia, Ana Letícia fazia questão de ir fantasiada. “Ela tem várias fantasias, sempre ia vestida com alguma. Era a forma de ela expor sua felicidade e beleza”, diz a mãe. Entre Branca de Neve, Chapeuzinho Vermelho, Mamãe Noel, princesa, a fantasia predileta da pequena é de bailarina. “Eu amo as fantasias. A de bailarina é a mais bonita”, conta Ana Letícia.
 
Para Tuany, um dos momentos mais delicados da luta contra o câncer foi ver a filha perder o cabelo. “Eu não conseguia aceitar, porque, para mim, era o estágio mais marcante do câncer. Ficar careca era a ilustração da doença”, explica. Nessas horas, Ana Letícia demonstrava força e consolava a mãe. “Quando ela me via chorando, dizia que não era para eu ficar triste, que logo ela estaria curada. Inclusive, ela tomou a iniciativa e pediu para raspar o cabelo”, afirma Tuany.
 
Com o diagnóstico precoce, a doença foi descoberta no início, facilitando o tratamento. “Depois de alguns meses, em outubro de 2018, ela não tinha mais sinais de célula de leucemia no sangue”, ressalta a mãe. No caso de Ana Letícia, não precisou realizar o transplante de medula óssea. “A quimioterapia foi suficiente para a cura. Ela respondeu bem à quimioterapia e conseguiu vencer”, comemora a mãe.
 
Aos 4 anos, Ana Letícia está em casa e voltou a frequentar a escola. Um pouco mais de um ano depois da descoberta do câncer, quase não se nota traços da doença. A alegria da criança está mais viva do que nunca. “O cabelo dela cresceu, ela não sente dor, não sente nada. Tem uma rotina normal. Claro que existem alguns cuidados especiais, mas nada que interfira na vida dela”, afirma Tuany.
 
*Estagiária sob supervisão de Guilherme Goulart
 
Mutações
É um tipo de câncer que afeta os glóbulos brancos do sangue, conhecidos como leucócitos. A doença começa quando algumas dessas células sofrem mutações e se multiplicam de forma descontrolada na medula óssea, substituindo as células sanguíneas normais. A medula óssea, também conhecida como tutano, é o local no interior do osso onde são formadas as células sanguíneas (glóbulos brancos, glóbulos vermelhos e plaquetas).
 
Como doar
 
Confira os passos para fazer uma doação de medula:
 
1 - Procure o hemocentro mais próximo e agende uma consulta de esclarecimento sobre doação de medula óssea
 
2 - Assine um termo de consentimento e preencha uma ficha com informações pessoais. Será retirada uma pequena quantidade de sangue (10ml) do candidato a doador. É necessário apresentar o documento de identidade
 
3 - O sangue será analisado por exame de histocompatibilidade (HLA), um teste de laboratório para identificar as características genéticas que serão cruzadas com os dados de pacientes que necessitam de transplantes
 
4 - Os dados pessoais e o tipo de HLA serão incluídos no Redome
 
5 - Quando houver um paciente com possível compatibilidade, o doador será consultado para decidir quanto à doação. A orientação é manter os dados atualizados
 
6 - Para seguir com o processo de doação, serão necessários outros exames para confirmar a compatibilidade, além de uma avaliação clínica de saúde
 
7 - Somente após todas essas etapas concluídas, o doador poderá ser considerado apto a realizar a doação
 
Requisitos
  • Ter entre 18 e 55 anos
  • Estar em bom estado geral de saúde
  • Não ter doença infecciosa ou incapacitante
  • Não apresentar doença neoplásica (câncer), hematológica (do sangue) ou do sistema imunológico
  • Algumas complicações de saúde não são impeditivas para doação, sendo analisadas caso a caso
 
Andréa Barcelos venceu a leucemia na infância e, agora, trata de crianças com a mesma doença: esperança  

Andréa Barcelos venceu a leucemia na infância e, agora, trata de crianças com a mesma doença: esperança

 

 
Transplante de medula óssea
 
O transplante de medula é um dos tipos de tratamento proposto para leucemias e consiste na substituição de uma medula óssea doente ou deficitária por células normais, com o objetivo de reconstituição de um tecido saudável. É um dos procedimentos mais utilizados na busca pela cura. Segundo a Secretaria de Saúde, de janeiro a novembro de 2018,  foram realizados 118 transplantes de medula óssea no DF.
 
Fernando Alves, 20 anos, é um dos brasilienses que precisou de doação de medula. No início do tratamento, o jovem não precisava de doador por ele responder bem à quimioterapia. Em julho de 2017, quando teve uma recaída da doença no sistema nervoso central, o transplante se fez necessário. “Começamos imediatamente uma campanha pelas redes sociais e amigos e familiares se juntaram a nós na divulgação. Em pouco tempo, foi encontrado um doador internacional compatível 100% e foi programado o transplante com ele”, detalha Elizabete Alves, mãe de Fernando.
 
Mesmo depois dessa localização, as buscas continuaram. “Cerca de um mês depois, o banco localizou um doador nacional também compatível 100%, e a programação do transplante seguiu normal com a troca de doador”, diz Elizabete. Depois de marcado o transplante, para setembro de 2017, o jovem ainda apresentou células da doença e precisou adiar o procedimento. “Sofremos muito, imagina pra ele tudo isso, muito desgaste emocional. Procuramos outros centros transplantadores, mas não conseguimos também porque teria de ser particular, e o nosso plano de saúde ainda estava em período de carência. Em pouco tempo, a doença do Fernando evoluiu muito”, relembra a mãe.
 
Entre idas e vindas, a data do transplante foi agenda, pela quarta vez, para 18 de dezembro de 2018. “Depois de tanto sofrimento, finalmente conseguimos realizar o transplante. Fernando ficou internado durante 35 dias e, agora, está bem”, comemora Elizabete. “Deveremos retornar para casa ainda neste mês.”
 
A gerente do ciclo do doador do Hemocentro, Thays Borba, alerta para a importância de doar medula óssea. “É uma das formas mais eficazes de conseguir cura para algumas doenças que têm origem na medula”, explica. Segundo Thays, quantos mais doadores cadastrados, mais fácil fica encontrar compatibilidade “para salvar uma vida”. O Hemocentro de Brasília é o único lugar da capital com cadastro. Bancos de sangue particulares não fazem esse serviço.
 
Conscientização
 
No segundo mês do ano, a cor laranja ganha destaque como alerta à população. A campanha de fevereiro traz a mensagem de conscientização e combate à leucemia. Segundo dados do Instituto Nacional de Câncer, para 2019, são esperados 80 novos casos de leucemia em homens e 70 em mulheres. No Brasil, a estimativa é de 5.940 para homens e 4.980 mulheres. Apesar da grande incidência, a taxa de cura da doença é alta: 80% de sobrevida. Isis Magalhães, hematologista pediatra, afirma que a leucemia linfóide aguda é o tipo de câncer mais comum em crianças. A médica chama atenção para a importância do diagnóstico precoce. “Quanto antes descobrir, mais fácil o tratamento. A doença tem uma manifestação rápida e, geralmente, responde bem à quimioterapia. A média para alcançar a cura é de dois anos”, esclarece Isis.
 
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Correio Braziliense domingo, 17 de fevereiro de 2019

PRÉ-CARNAVAL AGITA A CIDADE

 

Pré-carnaval agita a cidade
 
 
Os blocos infantil e adulto do Suvaco da Asa garantiram a animação do sábado na capital federal, apesar da chuva. Pela manhã, o Suvaquinho tomou conta do gramado central, entre a Funarte e a Torre de TV. À tarde, foi a vez dos mais velhos curtirem a folia

 

RENATA RIOS
ALAN RIOS
Especial para o Correio

Publicação: 17/02/2019 04:00

Brinquedos infláveis, camas elásticas e as apresentações do grupo de percussão Patubatê e do Calango Careta empolgaram os foliões do Suvaquinho
 (Fotos: Ana Rayssa/Esp. CB/D.A Press
)  

Brinquedos infláveis, camas elásticas e as apresentações do grupo de percussão Patubatê e do Calango Careta empolgaram os foliões do Suvaquinho

 

Em fevereiro, tem carnaval, já dizia Jorge Ben Jor. A frase imortalizada na canção País tropical também vale para a capital brasileira, mesmo com muitos dos principais blocos saindo só em março. As ruas do Distrito Federal começaram a ser tomadas por foliões que encorpam o pré-carnaval ao lado de blocos como o Suvaco da Asa. Ontem, a diversão não excluiu idades. Prova disso foi o Suvaquinho, versão infantil do Suvaco.
 
O bloquinho foi um sucesso. A folia começou às 10h e seguiu até as 14h, ocupando o espaço do gramado da Funarte, no Eixo Monumental, com muita animação. Segundo o diretor do Suvaco da Asa, Pablo Feitosa, o público divertiu-se com diversas atrações, como brinquedos infláveis, camas elásticas e apresentações dos grupos Patubatê e Calango Careta. “Temos há sete anos o bloquinho infantil. Ele veio depois do bloco voltado para os adultos”, conta Pablo. Ainda segundo ele, a expectativa era reunir entre mil e 2 mil pessoas pela manhã, “entre pais, filhos e família”.
 
Logo no início do evento, além de brinquedos na grama e a área disponível para a folia, a garotada pôde participar da oficina de percussão, voltada para os pequenos entre 2 e 10 anos. Às 11h20, a chuva obrigou alguns pais e filhos a se abrigarem sob a tenda. Não foi o caso da pequena Maria Eduarda Kairala, 3 anos. Ela não escondia a alegria enquanto brincava debaixo d’água. “Ela foi quem escolheu a fantasia e está muito feliz”, comemora a mãe, Natália Kairala.
 
Empolgação
 
Quando a chuva parou, os pequenos acompanharam o grupo de percussão Patubatê. Depois disso, o Calango Careta se apresentou com roupas coloridas, muita dança e artistas circulando em pernas de pau. Entre os foliões, Cecília Alcântara Pessoa, 4, foi com a mãe para o local. “Eu gosto de carnaval, especialmente da fantasia. Esse é o primeiro ano que venho e quero ficar até o fim”, empolga-se a menina.
 
Entre os pequenos também estava Giovanna Tenório, 3, pela terceira vez no Suvaquinho. “Fica sempre muito animada”, ressalta o pai da menina, Robson Tenório. Empolgada, a menina, que corria e brincava ao som da percussão, logo reconheceu: “A minha parte favorita foi a espuma”.
 
Outro estreante no bloquinho foi o pequeno Otto Lenzi, 2. “Essa é a primeira vez que ele vem para esse bloquinho e está adorando”, diz a mãe, Luiza Lenzi. A família Tobaldini — Lorena, 9; Cláudio, 50; e Evellyn, 41 — levou a cadela Penélope para a folia. “Sempre que conseguimos, trazemos ela junto, para passear”, conta Lorena.

Maria Eduarda Kairala, 3 anos, brincou sem se incomodar com a chuva  
Maria Eduarda Kairala, 3 anos, brincou sem se incomodar com a chuva


Blocos de hoje
 
Cabeça do Pimpolho 
Centro de Ensino Canarinho Amarelo (208/408 Norte)
Hoje, às 13h.
Entrada franca
Classificação livre
 
Bloco do amor, o musical 
Via S2 Oeste
Hoje, às 14h.
Entrada franca
Classificação livre
 
Eixão 44 
No Eixão Norte, altura da 214
Hoje, às 16h
Entrada franca
Classificação livre
 
Forró de Rebeca
Mercado Sul Vive (QSB 12/13; Taguatinga Sul).
Hoje, às 18h.
Entrada franca.
Classificação livre.
 
Grito de Carnaval Bloco Menino de Ceilândia 
QNM 1/3 (Ceilândia).
Hoje, às 11h.
Entrada franca.
Classificação livre.
 
Maria vai Casoutras 
Praça dos Prazeres (201 Norte, Bloco B)
Hoje, às 16h. Entrada franca
Classificação livre
 
System Safadown
Setor Comercial Sul (Quadra 2, Bloco A)
Hoje, às 15h
Entrada franca
Classificação livre
 
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Correio Braziliense sábado, 16 de fevereiro de 2019

ANO PARA DESTRAVAR A ECONOMIA DO DF

Ano para destravar a economia do DF

 

Sinais de confiança do setor produtivo, principalmente do comércio e da indústria, ajudam a fortalecer a retomada do crescimento, mas o desemprego preocupa governo e entidades do Produto Interno Bruto (PIB) local

 

AUGUSTO FERNANDES
ESPECIAL PARA O CORREIO

Publicação: 16/02/2019 04:00

Investimentos previstos para este ano poderão aquecer o setor da construção civil e reduzir o desemprego no Distrito Federal (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press - 14/7/14
)  

Investimentos previstos para este ano poderão aquecer o setor da construção civil e reduzir o desemprego no Distrito Federal

 

Mesmo com o ano no início, entidades do Distrito Federal ligadas ao comércio, ao setor varejista e à indústria da construção civil apostam que 2019 será mais positivo para a economia local do que foi o último ano. Motivos, como o aumento do índice de confiança da classe empresarial e o crescimento da intenção de consumo das famílias brasilienses fazem com que as associações estimem uma evolução entre 2% e 6% em relação a 2018.
 
“Ainda estamos longe de reverter os prejuízos causados pela crise econômica nos últimos anos, mas as projeções para 2019 são otimistas. Há uma perspectiva de redução das taxas de juros, portanto, é possível que haja uma queda na inadimplência este ano. Isso vai impactar numa maior disposição das famílias para o consumo. Além disso, a mudança de governo sempre gera expectativa nos empresários. Caso as ações governamentais sejam eficientes, o empresário terá confiança para investir novamente”, explica o presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do DF (Fecomércio), Francisco Maia.
 
A projeção é considerada tímida, mas representa um alívio, segundo o presidente do Sindicato do Comércio Varejista do DF (Sindivarejista) e vice-presidente da Fecomércio, Edson de Castro. “Qualquer crescimento depois de um período tão difícil é animador. De 2015 a 2017, registramos mais fechamentos do que aberturas de lojas comerciais. Nesse período, perdemos quase 5 mil estabelecimentos. Em 2018, tivemos um saldo positivo. Fechamos o ano com 57 novas lojas. Queremos manter a projeção”, destaca.
 
Um dos comércios inaugurados no último ano foi o da administradora Paula Dellinghausen, 27 anos. Em outubro passado, ela abriu uma pequena loja de moda e acessórios infantis. “Sempre foi o meu sonho. Mesmo com toda a crise financeira pela qual o país estava passando, senti que era a hora certa para fazer isso. Comecei muito bem. Consegui um retorno de R$ 15 mil a R$ 18 mil em cada um dos primeiros três meses”, diz.
 
Apesar de ainda não ter recuperado o dinheiro que investiu para abrir o estabelecimento, Paula está confiante para 2019. Apenas nas duas primeiras semanas de fevereiro, ela conseguiu vender R$ 2 mil a mais do que comercializou nos 31 dias de janeiro. “Fevereiro superou as expectativas. Se eu tiver o mesmo lucro nos próximos meses, farei novos investimentos, como criar um site para vender também pela internet”, prevê.

Paula Dellinghausen:  

Paula Dellinghausen: "Fevereiro superou as expectativas. Se eu tiver o mesmo lucro nos próximos meses, farei novos investimentos"

 



Estatísticas
 
Na opinião da pequena empreendedora, o bom volume de vendas tem a ver com a mudança do cenário político nacional. “Sinto que os brasilienses estão mais empolgados com as expectativas anunciadas pelo novo governo. É claro que os consumidores ainda buscam produtos mais baratos, mas acredito que neste ano eles estão mais animados para gastar.”
 
Em todos os meses de 2018, o Índice de Confiança do Empresário do Comércio do DF, medido pela Fecomércio, superou a marca dos 100 pontos. Valores acima de 100 indicam otimismo, de acordo a entidade. “Houve um aumento significativo na comparação anual, o que significa que a confiança do empresário do comércio está reagindo positivamente”, aponta Edson de Castro, do Sindivarejista.
 
Vendedora de uma loja de perfumes há um ano e meio, Alanna Medeiros, 30, confirma o ânimo para 2019. “Apesar de os primeiros meses do ano serem um período em que as pessoas estão pagando dívidas e resolvendo outras pendências, há uma boa movimentação no nosso comércio. O volume de vendas cresceu 10% em relação à mesma época de 2018. Isso nos faz crer que o restante do ano também será bom”, comemora.
 
Dessa forma, ela acredita que será possível investir em novos produtos para atender às necessidades da clientela. “Os consumidores querem qualidade. Quanto mais variado for o nosso estoque, melhor para a loja. Mesmo se vendermos com desconto, certamente lucraremos”, detalha.
 
Também de acordo com a Fecomércio, o Índice de Consumo das Famílias do DF chegou a 102,5 pontos em janeiro deste ano. Foi a primeira vez desde março de 2015 que o levantamento ultrapassou a zona de indiferença, de 100 pontos. “Apuramos que boa parte dos brasilienses se sente mais seguro no emprego, em comparação com o mesmo período de 2018. Isso reforça que a economia está se recuperando e as empresas não estão querendo mais demitir”, avalia Francisco Maia, da Fecomércio.

Alanna Medeiros:  

Alanna Medeiros: "O volume de vendas cresceu 10% em relação à mesma época de 2018. Isso nos faz crer que o restante do ano também será bom"

 



Indústria animada
 
O ano também deve apresentar recuperação econômica, de acordo com o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon), João Carlos Pimenta. “Os últimos quatro anos foram difíceis. Atolamos em uma situação complicada. O efetivo médio de trabalhadores na construção civil, por exemplo, baixou de 90 mil para menos de 20 mil. Mas com os novos investimentos prometidos pelos governos federal e do DF, tenho certeza de que vamos destravar a legislação e reaquecer a economia”, disse.
 
Gerente de uma empresa de móveis planejados, Cleiton Bezerra, 47, começou este ano melhor que em 2018. Apenas em janeiro, os ganhos do seu estabelecimento subiram 30% em relação ao mesmo período do ano passado. “Estou otimista para o restante do ano. Quero manter essa margem de diferença. A intenção é fechar o ano no verde, o que não acontece desde 2015”, relata.
 
Nos últimos quatro anos, Cleiton precisou fazer alguns sacrifícios para não fechar as portas. Vendeu bens próprios, demitiu funcionários e acumulou funções na empresa. Em 2018, viu a sua demanda de pedidos por mês cair de 25 para 10. Por conta disso, ele estima que deixou de ganhar pelo menos 
 
R$ 150 mil no ano passado. “Mesmo assim, fiz o possível para manter a empresa aberta. Como 2019 começou melhor, contratei mais quatro pessoas para o quadro de funcionários. A demanda voltou a crescer, felizmente. Espero recuperar tudo o que perdi ainda este ano. Isso me dará tranquilidade para seguir trabalhando”, afirma.
 
Apesar das projeções otimistas, o cenário de desemprego ainda preocupa. Há quatro meses sem emprego, Emily Barbales, 26, está preocupada com 2019. “Voltar ao mercado de trabalho tem sido um desafio. Estou procurando vagas, mas a concorrência é muito grande. Enquanto isso, não posso me dar ao luxo de ficar gastando à toa”, lamenta a secretária.
 
Eventualmente, Emily trabalha como diarista para sustentar as duas filhas, de 4 e 6 anos. “No início do ano passado, quando eu ainda trabalhava, era mais fácil. Agora, tenho que controlar tudo. Antes de pensar em comprar qualquer coisa, tenho que priorizar minha família”, diz.
 
5,8%
Expectativa de aumento no volume de vendas do varejo no DF para 2019, de acordo com a Fecomércio
 
2%
Estimativa de crescimento das indústrias do DF este ano, segundo a Fibra
 
Desburocratização
O desemprego atinge cerca de 10% da população ativa do Distrito Federal. São 310 mil pessoas, de acordo com a Companhia de Planejamento (Codeplan). Para diminuir a quantidade de desocupados, o secretário do Trabalho do DF, João Pedro Ferraz, aposta na rapidez de concessão dos alvarás e licenças para microempresas e empresas de pequeno porte e assim ajudar a eliminar burocracias no setor produtivo. “Além disso, vamos investir no setor de serviços e da construção civil, que são os que mais empregam. Essas são medidas a curto prazo. No futuro, pretendemos criar um polo de livre comércio”, afirma.
 
 (Carlos Vieira/CB/D.A Press - 20/5/153)  
Quatro perguntas para 
 
Jamal Jorge Bittar, presidente da Federação das Indústrias do DF (Fibra)
 
Quais sinais de que este ano será mais positivo para a economia?
Temos indicadores que apontam nesse sentido. A confiança do empresariado de Brasília medida pela Fibra registrou alta em janeiro. Chegou a 64,7 pontos, sendo o melhor resultado para o mês desde o início da série histórica, em 2010. Além disso, embora longe da expectativa, o Produto Interno Bruto (PIB) do DF cresceu no ano passado. A situação econômica ainda é frágil, mas quando ela começa a mostrar movimentos positivos, por menor que eles sejam, nós ficamos muito confiantes. Haverá crescimento, mas nada assustador. É um processo lento, que precisa de continuidade.
 
Quais segmentos devem se destacar neste ano?
No comércio, acredito que as perfumarias, lojas de sapato, vestuário e brinquedo, pois são produtos que as pessoas consomem diariamente ou compram para presentear alguém. Para as indústrias, vejo uma perspectiva mais harmonizada. Deve acontecer uma retomada no contexto geral. O que pode alterar isso é a construção civil. Se os investimentos de governo forem confirmados, ela será a primeira a ser atingida positivamente. A construção civil é sempre marcante, pois pode destoar e dar uma grande contribuição aos indicadores econômicos. Quando a construção civil circula com muita abrangência, ela ativa todos os outros setores da economia.
 
Por mais que exista essa previsão otimista, por que alguns consumidores não sentem confiança de que o ano será melhor?
Porque o cidadão precisa ter convicção de que está em um meio estável. O nosso otimismo não adiantará para nada se não houver boas políticas de governo para efetivar o ânimo das pessoas. São os indicadores de inflação e de desemprego, principalmente, que refletem na segurança e conforto da população para consumir mais. A base do crescimento para a economia é o consumo. Se ele não ocorre, tudo mais vira retórica. Portanto, é preciso deixar a população segura.
 
O nível do desemprego em Brasília cairá neste ano?
Com certeza, a expectativa é boa. O ânimo do empresário para investir acarreta na geração de empregos. O ideal seria uma queda profunda do número de desocupados, mas qualquer diminuição será importante. Nessa corrida, é fundamental a participação das lideranças do setor produtivo e dos poderes Executivo e Legislativo. Nenhum ente consegue produzir resultados sozinho. O espírito colaborativo deve prevalecer.
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense sexta, 15 de fevereiro de 2019

TREMENDÃO: UM MUSICAL CHEIO DE COR

 


Um musical cheio de cor
 
 
Minha fama de mau traz Chay Suede como Erasmo Carlos, tema de cinebiografia assinada por Lui Farias

 

Vinicius Nader

Publicação: 15/02/2019 04:00

 
O auge da Jovem Guarda é mostrado em Minha fama de mau (Reprodução/Internet)  

O auge da Jovem Guarda é mostrado em Minha fama de mau

 

 
Chay Suede, Gabriel Leone e Malu Rodrigues fazem parte da jovem guarda do cinema brasileiro. Os jovens, mas não inexperientes, são as estrelas de Minha fama de mau, cinebiografia de Erasmo Carlos assinada por Lui Farias. Chay vive Erasmo, enquanto Gabriel é Roberto Carlos e Malu, Wanderléa.
 
O que vemos em Minha fama de mau não é a estrela da música brasileira, mas um rapaz que aprende os primeiros acordes de violão ao lado de Tim Maia (Vinicius Alexandre). O longa acompanha o começo sem muito o que comemorar da carreira de Erasmo até que vem o definitivo encontro com Roberto Carlos, por intermédio de Carlos Imperial, e, pouco mais tarde, com Wanderléa.
 
Juntos, os três lideraram o movimento da Jovem Guarda, com canções que até hoje são entoadas no país. Por falar em canções, Chay, Gabriel e Malu soltam a voz de verdade em cena, o que não é bem uma novidade para nenhum dos três. Gabriel cantou em outros trabalhos (na abertura da novela Os dias eram assim, inclusive), Chay fez parte da novelinha musical Rebelde, em que cantava e dançava, e Malu participou dos musicais Beatles num céu de diamantes, Se meu apartamento falasse e A noviça rebelde, além de ter sido uma das finalistas do reality show Popstar deste ano.
 
Voltando à trama, Minha fama de mau mostra um pessoal unido e feliz fazendo a Jovem Guarda, mesmo que algumas rusgas apareçam de vez em quando. Imagens de arquivo provam o sucesso do trio — se é que alguém duvida das multidões que eles arrastavam.
 
A ideia do diretor Lui Farias em Minha fama de mau não era a de seguir uma fórmula linear. Dessa forma, ele adota uma estética que, em alguns momentos, chega a lembrar HQs, especialmente na primeira metade do filme, mais centrada nas festas e no sucesso da Jovem Guarda. O drama do fim do movimento e as dificuldades de se manter na carreira dominam a segunda parte do longa.
 
Em família
Não foi à toa que Lui Farias se interessou pela história de Erasmo Carlos. O cineasta é filho de  Roberto Farias, diretor da trilogia de filmes protagonizada por Roberto Carlos, Roberto Carlos e o diamante cor de rosa (1968), Roberto Carlos em ritmo de aventura (1968) e Roberto Carlos a 300 quilômetros por hora (1971).

Correio Braziliense quinta, 14 de fevereiro de 2019

BIBI FERREIRA: O ADEUS À DIVA DOS PALCOS

 

O adeus à diva dos palcos
 
 
Atriz, cantora, bailarina e diretora, Bibi Ferreira, um dos nomes mais importantes da arte nacional, morre aos 96 anos no Rio de Janeiro

 

Nahima Maciel

Publicação: 14/02/2019 04:00

 (GugaMelgar/Divulgação)  
 
 
Bibi Ferreira acabava de lançar o DVD Histórias & Canções, uma compilação de trechos de um show no qual fazia um apanhado de memórias associadas a interpretações que fizeram dela um dos maiores nomes da música e do teatro brasileiro. Em entrevista por e-mail, ela avisou: “Posso ter idade, mas não sou antiga”. Antiga, Bibi nunca será. De olho no moderno, ela ajudou a atualizar o teatro brasileiro nos anos 1940, inovou na direção, fez musical e ópera, cantou Piaf e Frank Sinatra e ainda dirigiu artistas até hoje na crista da vanguarda, como Maria Bethânia.
 
Em setembro do ano passado, ela avisou que se afastaria dos palcos em função da saúde. Entendeu que estava frágil ao sucumbir a várias infecções oportunistas, mas nunca usou a palavra “parar”. Na verdade, seria difícil parar o trem de Bibi Ferreira. Há poucos artistas tão completos quanto ela nos dias de hoje. Bibi era multi: cantava, dançava, narrava, atuava e dirigia.
 
Uma das primeiras grandes damas do teatro no Brasil, Abigail Izquierdo Ferreira morreu na tarde de ontem, aos 96 anos, em seu apartamento no Flamengo, bairro da Zona Sul do Rio de Janeiro. Segundo o empresário Nilson Raman, uma ambulância chegou a ser chamada, mas não houve tempo. Bibi teria sofrido uma parada cardíaca depois de se queixar de falta de ar.
 
Filha do ator Procópio Ferreira e da bailarina argentina Aída Izquierdo, Bibi Ferreira não tinha um mês de vida quando estreou nos palcos. Substituía uma boneca que devia servir de bebê na peça Manhã de sol, de Oduvaldo Vianna. Não houve jeito, desde esse pequeno início, de manter a menina fora dos palcos. A estreia profissional ocorreria 18 anos depois, em 1941, em La Locandiera, de Goldoni.
 
Destaque
 
No corpo de baile do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, ela fez boa parte desse início de carreira, mas foi nos anos 1940, quando voltou de um período de estudos no Royal Academy of Dramatic Art, em Londres, que despontou dirigindo espetáculos e atuando. Três anos depois da estreia com Goldoni, ainda muito nova, Bibi fundou sua própria companhia de teatro, da qual faziam parte Cacilda Becker e Maria Della Costa. Era o mínimo. O teatro brasileiro se modernizava, os atores precisavam decorar suas falas, o diretor deixava de ser um mero ensaiador e Bibi fazia parte dessa turma jovem que chegava aos palcos cariocas.
 
Cantora risonha, de voz e presença imponente, ela transitava por todos os gêneros. Cresceu entre o teatro de revista praticado pela mãe e o amor pela ópera, herança do pai. No palco, fez os dois e virou referência do teatro musical. Com a mãe, que integrava a Companhia Velasco, a menina percorreu a América Latina e atuou eventualmente nas peças encenadas nas turnês. Teve como primeira língua o espanhol.
 
O português viria depois, graças a Procópio Ferreira. “(o gosto pela ópera) veio do papai. Todo dinheiro que sobrava, lá chegava ele com aqueles bolachões. E era ópera o dia todo. Saía um disco entrava outro. E papai vibrava”, contou Bibi, em entrevista ao Correio, em dezembro de 2017. “Os números que fiz, as versões, são grandes brincadeiras. Um jogo delicioso com as letras brasileiras. Mas esses números todos que crio em todos os meus espetáculos é herança da época que fiz as revistas musicais. A malemolência, o jogo de palavras, o duplo sentido. Tudo vem dessa época”, lembrou.
 
Referências
 
As heranças culturais dos pais, que se separaram quando a cantora era ainda muito jovem, tiveram enorme influência em sua formação. Além do português e do espanhol, Bibi falava francês e inglês, línguas nas quais cantava perfeitamente. Não foi à toa que um de seus últimos sucessos tenha sido o espetáculo com canções de Edith Piaf. Dos clássicos da música brasileira e internacional à ópera, não havia limites para o alcance musical da artista.
 
Suas atuações em musicais como My fair lady (1964) e O homem de la Mancha (1972), no qual cantava ao lado de Paulo Autran, entraram para os anais do teatro brasileiro como interpretações difíceis de superar. Com o quarto e último marido, Paulo Pontes, realizou parceria profícua. Bibi o dirigiu no musical Brasileiro: profissão esperança (1970) e, cinco anos mais tarde, viveu a Joana de Gota d’água, uma parceria de Paulo Pontes e Chico Buarque.
 
Vivido em uma interpretação memorável, o drama da favelada Joana, abandonada por Jasão, foi uma oportunidade para Bibi mostrar do que era capaz quando se tratava de um papel trágico. As gravações em fita cassete da voz da atriz na pele de Joana encantaram a atriz Laila Garin, que revive o papel de Bibi em Gota d’água (A seco), na releitura de Rafael Gomes apresentada em Brasília no último fim de semana. Laila ouviu a fita nos anos 1990, quando ainda era adolescente. “Fiquei fascinada, não sabia que havia atriz que cantava. Ela fazia com aquela intensidade, beleza, era uma grande feiticeira, uma bruxa. A Bibi foi meu primeiro contato com isso que me tornei. E virou um caminho”, conta Laila, que ganhou o Prêmio Bibi Ferreira duas vezes, uma com Elis e outra com Gota d’água (A seco).
 
O talento para o canto e para a atuação deram à artista um domínio tal da cena que foi inevitável a presença por trás das cortinas. Nos anos 1970, Bibi dirigiu Maria Bethânia e Clara Nunes, Marília Pêra, Walmor Chagas e Marco Nanini. “Não vivo do passado, mas também não fico pensando no futuro. Penso no hoje, no aqui, no agora”, explicou, em entrevista ao Correio, ao lembrar de sua atuação como diretora. Esse pensamento a manteve nos palcos até 2017. Foram 77 anos de carreira, se ficarem de fora as brincadeiras iniciais, ainda na infância, ao lado dos pais. Ou uma vida toda, se o ponto de partida for Bibi sob direção de Oduvaldo Vianna, com 24 dias de existência.
 
 
 
Para sempre
 
Leia trechos da última entrevista concedida por Bibi Ferreira, ao Correio, em dezembro de 2017:
 
O mundo dos musicais no Brasil mudou muito?
Claro que mudou, cresceu, está crescendo, amadurecendo. Temos grandes talentos. Grandes vozes. Muita coisa boa sendo feita. Existem atores que se dedicam só a musicais. Veja só que maravilha!!! Além do início do uso dos microfones, que ajudou muito. Meus primeiros musicais era tudo no gogó.
 
Você continua sendo uma cantora extremamente versátil e cantar ópera é um prova disso. É difícil manter essa versatilidade?
A música me encanta. Uma grande canção me emociona. E acho que a versatilidade vem quando você está pensando num novo espetáculo e pensa o que gostaria de apresentar para o público. A vontade de sempre surpreendê-los. Aquelas canções que me permitem boas notas. Nada como um grande agudo para o público gostar....
 
Como mantém a voz?
Não existe mistério. Agradeço a Deus todos os dias. Não faço nada em especial. Agora, a minha vida inteira nunca fumei, não bebo, não tomo gelado e sempre tive uma consciência muito grande do ato de cantar. Da maravilha que é cantar.
 
Você já disse que não é uma estrela e sim um cometa, porque este está sempre em movimento. Pode contar que movimento é esse que lhe fascina?
Acho que quando você me pergunta sobre a versatilidade, está respondendo que movimento é esse. A vontade de fazer coisas novas, cantar coisas novas, lembrar grandes canções. Atuar, cantar, dirigir, criar roteiros. Hoje minha vida é muito mais calma. Já não tenho vontade de dirigir mais.
 
E que conselho daria aos jovens artistas de hoje, você que é uma artista completa, dança, canta, atua, dirigir?
Que sigam seus sonhos. Vocação é vocação. Se você tem, como fugir dela? Mas é sempre bom falar que é uma carreira muito difícil. Muito.
 
 
Jornal Impresso
 
 

Correio Braziliense quarta, 13 de fevereiro de 2019

RISCOS À BEIRA DA BARRAGEM DO PARANOÁ

 

Riscos à beira da barragem
 
Depois da tragédia de Brumadinho, moradores de áreas abaixo da represa do Lago Paranoá estão preocupados com a possibilidade de acidentes. GDF monitora o crescimento urbano da área

 

» JÉSSICA EUFRÁSIO
» AUGUSTO FERNANDES
Especial para o Correio

Publicação: 13/02/2019 04:00

 (Breno Fortes/CB/D.A Press)  


Valdenice Ferreira com o marido, Benedito Ribeiro: 'Uma vez, o nível da água chegou à mureta do bar' (Barbara Cabral/Esp. CB/D.A Press)  

Valdenice Ferreira com o marido, Benedito Ribeiro: 'Uma vez, o nível da água chegou à mureta do bar'

 



 
A recente tragédia que assolou a população de Brumadinho (MG) acionou o alerta de representantes do poder público por todo o país. No Distrito Federal não foi diferente. A possibilidade de o mesmo acontecer na Barragem do Paranoá, por exemplo, fez com que o GDF adotasse medidas para evitar o desgaste da estrutura do local. Apesar disso, o cenário e a especulação preocupam moradores das proximidades abaixo da represa, principalmente os habitantes do Núcleo Rural Boqueirão, que seriam os primeiros atingidos em caso de um problema que provocasse o rompimento da estrutura — ou uma vazão emergencial da água do lago.

Responsável pelas políticas de gestão do território do DF, a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano e Habitação (Seduh) ainda não tem dados sobre a quantidade de famílias que vivem na área. A pasta informou que, ao longo do curso do rio, não há ocupação urbana. No entanto, o núcleo rural abriga centenas de casas em pontos de difícil acesso. Em nota, a Seduh informou que efetua uma pesquisa sobre a população da área. “O único levantamento que é feito pela Seduh, neste momento, é sobre a população que vive próxima à Barragem do Paranoá, mas ainda dependemos de algumas informações que a CEB enviará.”

Ainda que, para especialistas e para o governo, a possibilidade de isso acontecer seja quase inexistente, os moradores da área temem problemas maiores. Eles relataram ocasiões em que as comportas da barragem foram abertas sem que a sirene da Companhia Energética de Brasília (CEB) — responsável pelo local — tocasse para alertar a população. O fluxo de água fez com que o nível do Rio São Bartolomeu subisse e atingisse casas da região.

“Antes, não nos preocupávamos, apesar do que aconteceu também em Mariana (MG). Agora estamos sim”, comenta Valdenice Ferreira, 50 anos. Ela e o marido, Benedito Ribeiro, 62, são donos de um bar nas proximidades do rio. Os dois, além de um primo do comerciante, moram em uma casa no mesmo terreno do estabelecimento.

A simplicidade do local não afasta o público, que chega em grupos de amigos e parentes, para aproveitar o dia à beira do rio. Moradores da região e de outras partes do DF, eles percorrem os cerca de 3km de estrada — pavimentada e de terra — que sai da DF-001 no Paranoá e leva à comunidade ribeirinha. Valdenice e Benedito cuidam do bar desde 1987, mas moram na região desde 2015. Ela diz que moradores nunca foram preparados para eventuais caminhos de fuga. “O pessoal da CEB disse que estava tudo ok. A Polícia Ambiental e os bombeiros sempre vêm, mas nunca ninguém fez treinamentos conosco.Uma vez, o nível da água chegou à mureta do bar”.
 
Boas condições
 
A CEB afirmou que as comportas da barragem são abertas em situação de rotina, pois de acordo com a companhia, existe necessidade de dar vazão à água do Lago Paranoá. “As sirenes funcionam normalmente e, sempre que abrem, ela toca. Os sistemas de monitoramento da barragem estão em perfeito funcionamento. As condições são de segurança e laudos são elaborados periodicamente”, ressaltou, em nota, a concessionária.

A companhia informou ainda que colocará em prática, ao lado da Defesa Civil, um trabalho de comunicação e esclarecimento à população que mora abaixo da Barragem do Paranoá. O objetivo da medida é explicar que esse público está em uma área de risco, o significado disso e os tipos de providências que devem ser tomadas em caso de emergência.
Moradora do Núcleo Rural Boqueirão há três meses, Nadja Diane da Silva, 29, preocupa-se com a infraestrutura da área e teme uma tragédia. Dona de casa, ela mora com o marido, o operador de máquinas Jeferson Pereira, 30, e os três filhos. Mesmo com a aflição, a família não tem condições de deixar o imóvel, que fica próximo a uma escarpa e a poucos metros do rio. “O que nos preocupa é essa tragédia (de Brumadinho). Passa muita coisa em nossa cabeça, mas não temos como sair daqui. Seguro a gente nunca fica. Mas fazer o quê?”, questiona Nadja.

Com o mesmo receio, o pedreiro José Vânio de Sousa, 47, cita um caso em que percebeu a dimensão do problema. “Houve uma vez em que o rio subiu, tudo ficou inundado e ninguém pôde sair daqui de baixo”.

Professor de Engenharia de Barragens e de Fundações do Centro Universitário de Brasília (UniCeub), Rideci Farias afirma que qualquer estrutura do porte da barragem do lago precisa de manutenções e inspeções constantes, a fim de terem a vida útil garantida. “Claro que isso depende do tipo de barragem, pois há particularidades.” O especialista ressalta a importância de construção de uma barreira que suporte a força da água contra o obstáculo e acrescenta que, independentemente do tipo de material usado, sempre haverá alguma chance de acidentes acontecerem. “Se o empreendimento existe, o risco existe. Assim sendo, ele tem de ser observado, medido e monitorado, mas nunca desprezado”, reforça.

O secretário de Infraestrutura e Obras, Izídio Santos, disse que não há motivo para alarde a respeito da situação da Barragem do Paranoá. Inspeções regulares feitas pela CEB nos últimos três anos atestaram que a categoria de risco da represa é média. “Hoje, tudo o que se exige dentro do plano de manutenção de barragens no DF é atendido. Mesmo assim, queremos aprimorar as estratégias para monitorar essas estruturas”, afirmou.

Izídio destacou que são necessárias manutenções preventivas de rotina, especialmente na pista de rolamento. Dessa forma, até o fim desta semana, o governo fará obras de recapeamento asfáltico sobre toda a extensão da pista que passa por cima da barragem, além de sinalização e limpeza de saídas de água e drenos. Assim que os reparos estiverem concluídos, a velocidade máxima da via será reduzida de 50km/h para 40km/h.

Segundo o secretário, por mais que a barragem não corra riscos iminentes, é indispensável que seja feito algum projeto para preservar a vida das comunidades ribeirinhas mais próximas ao reservatório. “Não deveria ter pessoas vivendo ali embaixo. Estamos fazendo um estudo minucioso, a fim de identificar quais são as possíveis soluções para as famílias. Vamos avaliar o que é regular e o que é irregular. O ideal é controlar a ocupação daquela área, com o cadastramento das populações dali”, explicou.

Nadja Diane e Jeferson Pereira: preocupação depois de Brumadinho (Barbara Cabral/Esp. CB/D.A Press)  

Nadja Diane e Jeferson Pereira: preocupação depois de Brumadinho

 



Três perguntas para Izídio Santos, secretário de Infraestrutura e Obras

Atualmente, há algum risco estrutural na Barragem do Paranoá?
Não. Hoje, não há nada que indique um risco iminente à estrutura da represa. A cada sete anos, a CEB faz um laudo minucioso para averiguar a situação da barragem. O último, de 2017, constatou que o nível de segurança do reservatório é normal.  
 
Existe um plano do governo para remanejar as famílias que moram no Núcleo Rural Boqueirão, abaixo da represa?
Estamos analisando a situação dessa área. O governador Ibaneis determinou que a Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação faça um estudo do que há naquela região. A Defesa Civil também participará deste processo. A ideia é fazer um plano de contingenciamento, pois, apesar de os riscos na estrutura da barragem serem baixos, o dano potencial em caso de rompimento é alto. Como há muitas chácaras e pessoas morando ali, a possibilidade de perdas de vidas, caso a represa entre em colapso é real.
 
Caso o GDF decida construir uma ponte para desviar o trânsito da Barragem do Paranoá, em quanto tempo ela ficará pronta?
Isso depende do sistema construtivo, mas seria algo em torno de três anos. Estamos discutindo como seria erguida essa ponte. Temos a opção de fazê-la dentro do espelho d’água ou após a barragem, onde há um desnível de terra muito grande. Tudo está sendo avaliado. É um processo demorado. Além da parte técnica e de elaboração do projeto, há a questão do tempo para se concluir a licitação. De qualquer forma, está nas nossas intenções eliminar o trânsito sobre a barragem.
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense segunda, 11 de fevereiro de 2019

PIRI E CHAPADA LOTADAS NO CARNAVAL

 

Piri e Chapada lotadas na folia
 
 
 
Restam poucas vagas de hospedagem nos principais destinos turísticos goianos próximos do Distrito Federal para o feriado. A maior oferta está em Caldas Novas, onde hotéis têm diárias para um hóspede variando de R$ 50 a R$ 800

 

» Patrícia Nadir
Especial para o Correio

Publicação: 11/02/2019 04:00

Parque da Chapada dos Veadeiros: as pousadas da região estão com 100% das ocupações confirmadas no primeiro carnaval com a reserva ambiental recuperada do seu maior incêndio (Breno Fortes/CB/D.A Press - 23/11/17)  

Parque da Chapada dos Veadeiros: as pousadas da região estão com 100% das ocupações confirmadas no primeiro carnaval com a reserva ambiental recuperada do seu maior incêndio

 


Os brasilienses que desejam curtir o carnaval fora da capital têm como opções mais próximas e econômicas as cidades goianas. Mas, faltando menos de um mês para a folia, é preciso decidir e organizar logo a viagem. Dos destinos preferidos dos moradores do Distrito Federal, Alto Paraíso e São Jorge, na região da Chapada dos Veadeiros, a 230km de Brasília, têm poucas vagas em suas 89 pousadas, que oferecem cerca de 4 mil leitos. A cidade e sua vila turística devem receber 30 mil visitantes nos quatro dias de feriado, de 2 a 5 de março.
 
Com pacotes de hospedagem para o período de carnaval variando de R$ 400 a R$ 13 mil, as históricas Pirenópolis e a Cidade de Goiás, (mais conhecida como Goiás Velho), distante 150km e 350km de Brasília, respectivamente, também estão com quase todos os quartos reservados. A outra opção é Caldas Novas, onde 49 (70%) dos 70 hotéis e flats de hospedagens estão com 100% de ocupação. As diárias para um hóspede na cidade famosa pelas águas quentes vão de R$ 50 a R$ 800.

Igreja Matriz de Pirenópolis: pacote de hospedagem para casal, durante quatro dias de feriado, chega a R$ 13 mil na cidade histórica (Minervino Junior/CB/D.A Press - 11/1/18)  

Igreja Matriz de Pirenópolis: pacote de hospedagem para casal, durante quatro dias de feriado, chega a R$ 13 mil na cidade histórica

 

Em Alto Paraíso, a pousada com os preços mais altos está com todos os quartos reservados. O pacote de seis dias para um casal na hospedaria custa R$ 5,3 mil. Há cerca de 50 casas de temporadas na cidade, com diárias individuais variando de R$ 60 a 200. A cidade conta também com 10 albergues que custam  entre R$ 70 e R$ 120 a noite por pessoa. Há ainda cerca de 30 áreas de camping, que comportam de 50 a 80 barracas cada. Nesse tipo de hospedagem, geralmente, se cobra por pessoa, e não por barraca. O preço médio da diária é R$ 30.
 
Já em Goiás Velho, a diária em um dos quatro albergues da cidade para um quarto compartilhado com quatro pessoas é de R$ 60, incluindo café da manhã e wi-fi. Os donos alertam que, apesar de a demanda estar muito cheia, ainda há vagas. Nas pousadas, por exemplo, um pacote no feriado com quatro dias para duas pessoas em um quarto com ar-condicionado fica entre R$ 1,1 mil e R$ 1,4 mil.
 
Um pacote de quatro dias de hospedagem para casal, durante o carnaval, em Pirenópolis, custa, em média, R$ 1,3 mil. Entre as 260 pousadas da cidade, existe uma com bangalô a R$ 23 mil por cinco noites. E não há mais vaga.

Em Goiás Velho, a diária em um dos quatro albergues para um quarto compartilhado custa R$ 60 (Monique Renne/CB/D.A Press - 13/1/11)  

Em Goiás Velho, a diária em um dos quatro albergues para um quarto compartilhado custa R$ 60

 

Marchinhas
Apesar de estar lotada no feriado, Alto Paraíso não tem uma programação oficial de carnaval. As atrações ficam por conta das cachoeiras, no Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros e dos bares e restaurantes. Alguns oferecem música ao vivo. “Embora não tenha uma definição de desfile com blocos de rua, festas e shows prometem aquecer os foliões”, assegura o secretário de Cultura do município, Luiz Antônio Silva Pinto.
 
Em Pirenópolis, onde há um rico casario tricentenário e dezenas de cachoeiras na área rural, a programação inclui o tradicional carnaval das marchinhas, com participação da Banda Phoenix. Os shows serão sempre à tarde, na Rua Prefeito Sizenando Jaime, conhecida como Rua dos Bancos. “Haverá também desfile dos blocos no Centro Histórico e reforço no policiamento para evitar conflitos”, ressalta o secretário de Cultura da cidade, Carlos Alberto Pojo do Rego.
 
Turistas que visitam Caldas Novas em fevereiro já curtem a folia. Às terças-feiras e aos sábados, na Praça Mestre Orlando, no centro da cidade, há atrações como desfile de carros antigos, brinquedos infláveis, barracas com comidas típicas e as clássicas marchinhas carnavalescas. Para os dias do feriado, no entanto, ainda não há programação definida, de acordo com o secretário de Turismo, Ivan Garcia Pires. Indefinido também está o carnaval de Goiás Velho.
 
Sem reserva
O bancário André Franco Arruda, 26 anos, conta os dias para fazer as malas e embarcar com quatro amigos rumo a Alto Paraíso. Eles querem visitar o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros. Este será o primeiro carnaval com a reserva totalmente recuperada do seu maior incêndio, que destruiu mais de 66 mil hectares de cerrado em outubro de 2017.
 
O grupo pretende ainda praticar esportes radicais. “Vamos colocar no roteiro coisas ousadas. Sim, vai ter passeios mais calmos, para observar as belezas guardadas pelos paredões rochosos, mas não podem faltar os desafios, como rapel e tirolesa perto  das quedas d’água”, comenta André. No entanto, os amigos não garantiram a estadia. “Estamos correndo contra o tempo para achar algum lugar, porque as pousadas e os hotéis estão todos cheios”, observa André.
 
 
 
Memória
 
Incêndio sem punição
 
O Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros sofreu com um incêndio entre 17 e 31 de outubro de 2017, o maior da sua história. As chamas consumiram 97 mil hectares da reserva ambiental. O local mais atingido fica no município de Cavalcante, onde 80% de cerrado foram atingidos.
 
Mais de 500 pessoas participaram da força-tarefa para extinguir o incêndio, incluindo brigadistas do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), bombeiros de Goiás e do Distrito Federal, além de voluntários. A Força Aérea Brasileira (FAB) contribuiu com aviões.
 
Uma perícia apontou que alguns dos focos foram encontrados em locais fora do perímetro de contenção do fogo – definido pelos profissionais das brigadas. Segundo as apurações, esse é um dos indícios que atestam a hipótese de o crime ter sido intencional. Em abril do ano passado, porém, o Ministério Público Federal (MPF) em Luziânia (GO) pediu o arquivamento do processo, alegando esgotamento de opções de investigações.
 
 
 
Informe-se
 
Centros de Atendimento ao Turista
 
Alto Paraíso: (62) 3446-1159
Pirenópolis: (62) 3331 2633
Cidade de Goiás (Goiás Velho): (62) 33717713
Caldas Novas: (62) 3454 6807
 
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Correio Braziliense domingo, 10 de fevereiro de 2019

PEQUI: O OURO DO CERRADO

 


O ouro do Cerrado
 
 
A temporada de pequi vai até março. Aproveite para descobrir seus outros poderes além de encantar o paladar. O fruto está sendo usado na cosmética, na farmacêutica e até em pesquisas de prevenção do câncer

 

Por Renata Rusky
Por Juliana Andrade
Especial para o Correio

Publicação: 10/02/2019 04:00

O pequi carrega em si a contradição da delicadeza das flores e da brutalidade dos espinhos. Uma mordida em falso e haverá consequências. É um fruto de extremos: há quem ame e quem odeie. E se há quem goste de comê-lo puro e de adicioná-lo a receitas, outros o usam de forma completamente diferente e inovadora. Na Universidade de Brasília (UnB), um estudo já identificou propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias no óleo extraído do pequi. Na Universidade de São Paulo (USP), provaram seus efeitos na prevenção de câncer.
 
O fruto também ganhou espaço no segmento dos cosméticos. Além do poder hidratante inerente a todo óleo, o do pequi apresenta a vantagem de modelar os fios dos cabelos. Por isso, foi adicionado a diversas formulações de xampus, especialmente nos específicos para o público dono de cacheados, já que o efeito modelador é mais natural.
 
Na culinária, o pequi está presente não só em receitas tradicionais e caseiras, mas até em drinques. Inclusive, ele já representou o Centro-Oeste em episódio do MasterChef Brasil, pelas mãos da chef brasiliense Mara Alcamin. Na ocasião, ela preparou um frango caipira, arroz  e creme de milho acompanhado, claro, de pequi. “É uma combinação do que se come no interior”, explicou.
 
Segundo a nutricionista Andréa Marim, o pequi é quase um remédio, com muitos efeitos positivos para saúde. “Ele tem um teor elevado de ácidos graxos monoinsaturados, os mesmos encontrados em nozes, em azeitonas e em compostos orgânicos que ajudam a diminuir os níveis de colesterol no sangue e a proteger o coração”, explica.
 
Portanto, ele pode não agradar ao paladar, mas ainda há bons motivos para acrescentá-lo à dieta. A professora e consultora de alimentos do Senai Helena Malvar recomenda o ingrediente especialmente para quem, assim como ela, é vegetariano. “É um alimento muito rico em proteína vegetal; então, supre bem a falta da proteína animal”, esclarece.
 
A própria Helena admite que, carioca e sem a tradição de comer o fruto, não gosta muito do sabor, mas reconhece o casamento perfeito do pequi com o frango e dá uma dica: “Em conserva, ele tem um gosto muito mais suave e nenhum cheiro, o que permite que, até quem não gosta, possa saboreá-lo. E o legal de comida é isso: testar e descobrir que algo, que você acha que não aprecia, é gostoso, se preparado de outra forma”.
 
 (Carlos Vieira/CB/D.A Press)  
Um amor que vem de família
 
Na casa da médica Andrea Kavamoto, 53, os pratos ganham um gostinho especial o ano inteiro. Enquanto muitos só saboreiam o pequi na época da colheita — que vai de outubro a março, segundo o Sebrae —, a médica goiana sempre o inclui em receitas de frango, de risoto e até em pastéis.
 
O amor pelo pequi vem de família. Andrea chegou a Brasília quando tinha 10 anos, mas trouxe a paixão pelo sabor típico de lá. Ela conta que aprendeu a apreciá-lo com a avó, a mãe e a tia. “A gente sempre comeu, mas confesso que, quando era criança, não gostava do caroço”, lembra. Para resolver esse problema, encontrou alternativas e adaptou as receitas da avó. “Ela usava o fruto com caroço e tudo. Eu fui tentando fazer sem. É bom para os iniciantes se assustarem menos com o pequi; afinal, o importante é o gosto”, comenta, referindo-se aos espinhos que podem machucar os desavisados e mais inexperientes.
 
Os pratos preparados por ela fazem sucesso. A médica só não conseguiu agradar a filha, mas o marido e os vizinhos fazem questão de participar da “farra do pequi”, como ela mesmo define. É uma forma deliciosa de apresentar aos amigos não goianos o prazer de saborear o fruto mais famoso da sua terra natal. 
 
No cardápio dessa festa gastronômica, os pastéis recheados com carne e pequi são servidos como entrada. Como recheio, o fruto não fica com um sabor muito forte, mas deixa um gostinho singular e especial. Entre os pratos, Andrea destaca o risoto caipira. Na receita, ela usa frango, carne de boi e de porco e, claro, pequis bem temperados.
 
O fruto antes era colhido em casa, mas, com o passar do tempo, o pequizeiro secou. Porém, se há falta dele no quintal, tem de sobra na geladeira. Para garantir o ingrediente, Andrea tem uma carta na manga. “Na época do pequi, eu os cozinho, depois raspo a massa, que vai se soltando facilmente do caroço, e congelo. Assim, eu tenho a polpa pronta o ano inteiro”, revela.
 
Andrea reconhece que muitos têm uma relação de amor e ódio com o pequi, mas acredita que ele merece uma chance de conquistar o paladar dos desacostumados. “Às vezes, o pequi muito concentrado e refogado pode ser desagradável para muita gente. Experimente misturar os sabores. Fica mais interessante”, aconselha.
 
Andrea Kavamoto ensina a preparar pastel de carne com pequi
 
Ingredientes:
  • Carne moída (300g)
  • Pasta de pequi
  • Cebola
  • Alho
  • Sal
 
Modo de preparo:
  • Refogue a carne com a cebola picada, alho e sal. Em seguida, acrescente a pasta de pequi e adicione pequenas porções de água até a carne ficar totalmente cozida. Depois, é só rechear as massas de minipastéis.
 
 (Fotos: Vinicius Cardoso Vieira/Esp. CB/D.A Press)  
Helena Malvar sugere uma receita de arroz cremoso com frango, pequi e crisps de pequi. É uma opção ideal para aproveitar as sobras do arroz e do frango do almoço e transformá-las em um prato diferente e saboroso.
 
 
Ingredientes:
  • 2 xícaras de sobras de frango assado ou cozido
  • 2 xícaras de sobras de arroz
  • 1 xícara de requeijão cremoso
  • 1 vidro de pequi em conserva
  • 2 cebolas picadas
  • 4 dentes de alho pilados ou picados
  • 1 pacote de ervilha fresca congelada
 
Modo de preparo
  • Corte o pequi em pedaços. Refogue a cebola até ficar transparente. Acrescente o alho e deixe refogar mais um pouco.
  • Adicione o pequi, refogue bem e acrescente um pouco de água quente  para cozinhar. Depois, coloque a ervilha.
  • Quando a água secar, acrescente o frango e o refogue. Em seguida, adicione o requeijão, de maneira que vire um creme. Por último, acrescente o arroz e misture bem.
  • Finalize com salsinha, cebolinha, pimenta-do-reino. Já no prato, coloque os crisps de pequi para enfeitar.
 
Para os crisps de pequi
  • Prepare uma calda grossa com água e açúcar. Acrescente o pequi em tirinhas e deixe cozinhar até começar a açucarar. Mexa bem rápido até que os pedaços de pequi se soltem.

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Correio Braziliense sábado, 09 de fevereiro de 2019

FLAMENGO: CHAMAS ROUBAM FELICIDADES

 

Chamas Roubam Felicidades
 
 
A morte de 10 meninos em um incêndio no CT do Flamengo comoveu o Brasil e o mundo. Com o luto, vieram os questionamentos sobre o motivo do fogo e se ele poderia ser evitado
 

 

Publicação: 09/02/2019 04:00

 



Crianças e adolescentes. Eles dormiram com o sonho de serem jogadores de futebol e acordaram para um pesadelo. Nas palavras do presidente do Flamengo, Rodolfo Landim, “certamente a maior tragédia pela qual esse clube já passou nos últimos 123 anos”. Uma tragédia que atingiu aqueles 10 meninos, as famílias deles e fãs do futebol no mundo inteiro — torcedores rubro-negros ou não. Como no fatídico acidente de avião com o time da Chapecoense, todos se uniram em torno de um time, ao mesmo tempo em que surgiram perguntas que exigem respostas: como aconteceu o incêndio no alojamento dos jovens atletas no Ninho do Urubu, o centro de treinamento do clube, em Vargem Grande, na zona oeste do Rio? Por quê? Poderia ser evitado? E quem são os responsáveis pela morte dessas crianças?

Segundo relatos dos adolescentes que ocupavam o alojamento, o fogo começou por volta das 5h de ontem. O tenente-coronel Douglas Renault, porta-voz do Corpo de Bombeiros, afirmou que os militares chegaram ao local às 5h17. No horário, o alojamento estava inteiramente tomado pelo fogo e não foi possível salvar ninguém. Os atletas contam que nem todos notaram o fogo ao mesmo tempo. Quando começaram a sair e a gritar pelos companheiros, as chamas se alastraram de forma rápida. Em vídeo, o atacante Samuel Barbosa, de 16 anos, chora. “Não deu para conseguir chamar quase ninguém”, diz. A fumaça se espalhou, fazendo com que muitos desmaiassem. Depois, explosões tornaram a situação mais confusa e perigosa.

No fim do dia, o médico do elenco profissional do Flamengo João Marcelo Amorim confirmou que os 10 mortos no incêndio eram jogadores das categorias de base: Arthur Vinícius de Freitas, 14 anos; Bernardo Pisetta, 14; Christian Esmério, 15; Jorge Eduardo Santos, 15; Pablo Henrique da Silva, 14; Vitor Isaias, 14; Samuel Thomas Rosa, 15; Athila Paixão, 15; Gedson Santos, 14; e Rykelmo de Souza Viana, 17. Kauan Emanuel, de 14 anos, Francisco Dyogo, 15, Jhonata Ventura, também de 15 anos, seguem internados — o último, em estado grave.

Durante o dia, amigos e parentes de jogadores e funcionários do Ninho do Urubu e torcedores fizeram uma vigília e prestaram homenagens. A bandeira do Flamengo, em local de destaque na frente da entrada do centro de treinamento, foi hasteada a meio mastro já no meio da manhã. Marli Porto, mãe de um atleta do clube que não estava entre as vítimas, foi até lá em busca de informações. Ela lembrou que todos os garotos compartilham um sonho em comum, de se tornarem atletas do Flamengo. “É um sonho muito forte de todos eles; ficam longe da família, lutam com muita garra para estar aqui e conquistar esse sonho”, contou.

Inquérito
A diretoria do Flamengo passou o dia reunida na sede oficial do clube, na Gávea (zona sul), onde foi organizado um gabinete de crise para tomar decisões quanto ao episódio. Enquanto isso, 13 atletas das categorias de base do Flamengo e três funcionários do clube foram ouvidos pela Polícia Civil do Rio ontem, no inquérito que apura a responsabilidade pelo incêndio que atingiu o CT do rubro-negro. Todos os atletas estavam no alojamento quando o incêndio ocorreu. A 42ª DP (Recreio dos Bandeirantes) requisitou ao Flamengo as imagens de câmeras de segurança e solicitou ao Corpo de Bombeiros e à Prefeitura do Rio a documentação referente ao funcionamento do CT. A Polícia Civil não se manifestou oficialmente sobre as prováveis causas do incêndio, mas a principal suspeita é de que tenha havido um curto-circuito em algum aparelho de ar-condicionado.

O Ministério Público do Trabalho criou uma força-tarefa para apurar responsabilidades pelo incêndio. Em nota, o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro afirmou que o local do incêndio está na mira desde 2015. No documento, diz que “as precárias condições oferecidas pelo Clube de Regatas do Flamengo a seus atletas são inferiores até mesmo àquelas ofertadas aos adolescentes que cumprem medida socioeducativa de semiliberdade em unidades do Departamento Geral de Ações Educativas (Degase), o que revela o absurdo da situação”. Apesar disso, nenhuma medida foi tomada.

Em outro questionamento, a Prefeitura do Rio afirmou que o clube não tinha permissão do governo municipal para manter o alojamento naquele espaço. “No projeto protocolado, a área está descrita como um estacionamento”, afirma, em nota, o órgão. A nova licença tem validade até 8 de março e, segundo o município, “não há registros de novo pedido de licenciamento da área para uso como dormitórios”. O Flamengo afirmou que o alojamento seria desativado e os atletas seriam deslocados para outros quartos nas próximas semanas. Por fim, o Corpo de Bombeiros afirmou que o local não possuía o Certificado de Aprovação (CA). “Importante esclarecer que a não existência do CA não significa, por si só, que o local não possuía os dispositivos, e sim que não era aprovado pelo CBMERJ”, ressaltou a corporação.
 
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Correio Braziliense sexta, 08 de fevereiro de 2019

CAOS NO RIO: RIO DE MORTES E ESTRAGOS

 


Rio de mortes e estragos
 
emporais na cidade provocaram seis óbitos e causaram alagamentos, deslizamentos de terra e desabamentos, entre os quais de parte da ciclovia Tim Maia. Mais de uma centena de árvores caíram, além de postes de energia

 

Ingrid Soares
Especial para o Correio

Publicação: 08/02/2019 04:00

 

A queda de uma barreira na Avenida Niemeyer, na Zona Sul, atingiu um ônibus e provocou a morte de duas pessoas (Mauro Pimentel/AFP
)  

A queda de uma barreira na Avenida Niemeyer, na Zona Sul, atingiu um ônibus e provocou a morte de duas pessoas

 

 


As fortes chuvas que assolaram o Rio de Janeiro na noite de quarta-feira para ontem deixaram ao menos seis mortos. Entre eles, uma mulher e um homem que estavam num ônibus atingido pela queda de uma barreira na Avenida Niemeyer, na Zona Sul. Houve óbitos também na Rocinha, em Pedra de Guaratiba e no Vidigal — onde seis pessoas ficaram feridas na parte alta da comunidade.

Além das mortes e dos estragos, foram registrados apagões e a queda de parte da ciclovia Tim Maia, que liga os bairros do Leblon e de São Conrado. O trecho que desabou fica na Avenida Niemeyer, bem perto de onde outra parte caiu em 2016, causando duas mortes.

De acordo com o prefeito Marcelo Crivella, os estudos feitos pela prefeitura levavam em conta esforços de “cima para baixo” e “de baixo para cima” e não contavam com o deslocamento lateral de terra, que empurrou uma tubulação da Cedae (Companhia Estadual de Águas e Esgotos) e acabou derrubando o pedaço da ciclovia.

“Em duas horas, choveu o que deveria chover o mês inteiro. Os ventos, de 116 km/h, são os mais baixos de um tufão. Na época da chuva, cai muita terra. Há, talvez, subdimensionamento das redes pluviais”, afirmou Crivella, que decretou luto oficial de três dias pelas mortes.

O Centro de Operações da Prefeitura do Rio informou, ontem, que a Avenida Niemeyer permanecerá totalmente interditada nos dois sentidos até a conclusão dos trabalhos das equipes da prefeitura e do Corpo de Bombeiros.

A pasta informou que o Rio entrou em estágio de crise às 22h15 de quarta-feira, diante das fortes chuvas, com intensas rajadas de vento. O fenômeno causou alagamentos em ruas e estabelecimentos comerciais, interditou vias e deixou bairros às escuras.

A Defesa Civil municipal registrou 206 ocorrências para vistoria em razão das chuvas. Entre as principais, estão desabamentos de estruturas, ameaças de desabamento, rachaduras, infiltrações em imóveis e deslizamentos de encostas. O Rio teve 35 pontos de alagamentos, 186 quedas de árvores, quatro deslizamentos e oito quedas de postes.

O engenheiro civil Rafael Martins, especializado em engenharia diagnóstica, apontou erros em políticas sociais pela construção de casas em encostas e áreas de risco, na concepção da ciclovia e em materiais usados na obra. “Tudo aponta para erro de concepção do projeto e/ou erros na construção, como a utilização de materiais ruins. Sobre os desmoronamentos, é ainda mais provável apontar entre os fatores a falta de política pública de médio e longo prazos”, disse. “São obras nem sempre rápidas, que têm custo político pela desapropriação, pelo remanejamento de áreas que entram em conflito com especulação imobiliária e outros fatores. Daí a solução, da forma como deve ser feita, vai sendo postergada. Essa protelação faz com que isso se repita.”

O governador do Rio, Wilson Witzel (PSC), afirmou que há cerca de 80 mil famílias em situação de risco. “O que pude constatar de Guaratiba até o início da Niemeyer é que toda a encosta tem uma ocupação desordenada. Isso é fruto de abandono da organização urbanística da cidade”, avaliou. “O resultado, infelizmente, são essas tragédias a que estamos assistindo.”

116 km/h

Velocidade dos ventos durante as chuvas no Rio

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Correio Braziliense quinta, 07 de fevereiro de 2019

ABRACI: LUGAR DE ACOLHIMENTO

 


Lugar de acolhimento
 
 
Associação para pessoas com autismo no DF trabalha com voluntários para garantir assistência a famílias de baixa renda. Qualquer um pode ajudar, por meio de programa de apadrinhamento

 

» Alan Rios
Especial para o Correio

Publicação: 07/02/2019 04:00

Sede da associação, no Cruzeiro Velho: necessidade de ajuda para manter atendimento terapêutico (Marilia Lima/Esp. CB/D.A Press)  

Sede da associação, no Cruzeiro Velho: necessidade de ajuda para manter atendimento terapêutico

 

 
Neusa da Silva esperou quatro anos para ouvir seu filho dizer pela primeira vez a palavra “mamãe”. Antes disso, ela e o marido não sabiam o que era o autismo ou o motivo de Ângelo Antônio não desenvolver a fala. Eles só haviam visto algo sobre o transtorno em um filme antigo. Quando a pediatra confirmou o diagnóstico, em 2015, o casal se sentiu abandonado em um universo completamente desconhecido. “A médica foi me perguntando se ele (Ângelo) tinha alguns comportamentos típicos e a gente foi falando que sim. Tudo que ela falava que era característica de autistas, meu filho fazia. Então ela disse que ele tinha o transtorno e me recomendou procurar a Abraci”, conta Neusa, hoje com 40 anos.

A Associação Brasileira de Autismo, Comportamento e Intervenção (Abraci) nasceu em 2010, a partir da experiência de Lucinete Andrade, 45. Mãe de uma criança autista, a conselheira tutelar viu a dificuldade que as famílias tinham em encontrar tratamentos acessíveis no Distrito Federal para o desenvolvimento de quem tem o espectro. Além de psicólogo e psiquiatra, na maioria dos casos era necessário um acompanhamento com fonoaudiólogo, neurologista, psicopedagogo e diversas outras especialidades que trabalhavam em conjunto.

“Eu queria garantir os direitos de famílias carentes a ter esses serviços. Então, criei essa instituição filantrópica, sem fins lucrativos, para dar atendimento de qualidade a quem foi diagnosticado com Transtorno do Espectro Autista”, explica Lucinete. A Abraci fornece sessões com psicólogos de segunda a sexta-feira, em um imóvel no Cruzeiro Velho. Cada família tem um atendimento semanal, com orientações que auxiliam na continuação do processo em casa. A ideia inicial era fornecer recursos multidisciplinares, com atendimentos duas vezes por semana, mas a falta de dinheiro impede o plano.

Mesmo assim, o que é oferecido no pequeno espaço do projeto muda vidas. Hoje, 48 famílias participam da associação. Uma delas é a de Neusa, que conseguiu ouvir Ângelo dizer as primeiras palavras, deixar de lado a agressividade e interagir com os colegas da escola. “Até os 4 anos, ele não falava nada, tinha um comportamento muito diferente das outras crianças. Mas, depois do acompanhamento na Abraci, ele se transformou. Hoje, brinco dizendo que ele é um papagaio”, observa a mãe.

Mas a terapia não foi só para a criança, hoje com 9 anos. Seu pai sempre faz questão de conversar com a psicóloga do projeto, depois das sessões do filho. “É um trabalho conjunto, que começa aqui e tem que continuar em casa. Aprendi muito e comecei a ensinar muita coisa para ele. Eu até já trouxe professores dele para aprenderem um pouco sobre o autismo”, conta o autônomo Juscenilton Reis, 40.

Adriana Jesus leva a filha toda semana para os atendimentos na instituição: moradora do Riacho Fundo, ela tem um filho com o mesmo transtorno (Marilia Lima/Esp. CB/D.A Press)  

Adriana Jesus leva a filha toda semana para os atendimentos na instituição: moradora do Riacho Fundo, ela tem um filho com o mesmo transtorno

 



Contribuições
 
Para manter os psicólogos, a associação pede R$ 180 mensais para cada família. Mas Lucinete não desistiu da proposta inicial de ajudar quem não tinha condições financeiras e criou o programa de apadrinhamento. “Nós não temos convênios públicos ou privados, apesar de todas as crianças atendidas serem da rede pública de ensino. Isso torna extremamente difícil manter as atividades atuais. Então, nós buscamos pessoas que chamamos de padrinhos, que pagam a mensalidade para as nossas crianças”, explica Lucinete.

Esse sistema é o que possibilita à dona de casa Adriana de Jesus, 31, manter os dois filhos na Abraci. Elias de Jesus, 9 anos, e Camila de Jesus, 7, nasceram com autismo. A família do Riacho Fundo II passa por lutas diárias para conseguir os atendimentos básicos, mas uma pessoa que eles não conhecem paga a taxa mensal que garante a permanência na associação. “O padrinho deles é como se fosse um anjo para nós. Com dois filhos com o transtorno, a dificuldade dobra. Já fiquei muito para baixo olhando ele chorando, de um lado, e ela chorando, de outro, sem saber o que fazer. Mas, aqui, os dois evoluíram muito”, ressalta Adriana.

Quem também abre mão da renda para ajudar as crianças são os psicólogos da Abraci. Geiciane Alves, 31, só recebe ajuda de custo de transporte e alimentação para ir até o Cruzeiro diariamente. “É muito desafiador trabalhar com o autismo, principalmente aqui, com pessoas sem condições de dar tratamentos multidisciplinares. Mas eu acredito na capacidade de transformação do meu trabalho e isso me faz seguir em frente”, afirma a psicóloga voluntária.

Angelo Antonio Matos é uma das crianças atendidas pelos piscólogos da Abraci: pais destacam que ele se tornou mais calmo e interage com os colegas da escola (Marilia Lima/Esp. CB/D.A Press)  

Angelo Antonio Matos é uma das crianças atendidas pelos piscólogos da Abraci: pais destacam que ele se tornou mais calmo e interage com os colegas da escola

 




Como ajudar
 
A Abraci procura voluntários para apadrinhamento, apoio financeiro, atendimento terapêutico e serviços de comunicação.
Endereço: SRES Área Especial L, Lote 9, Cruzeiro Velho
Telefones: (61) 98193-8317, (61) 99695-0079, (61) 98279-4968
E-mail: a.abraci.df@gmail.com
 
 
Outras organizações
 
» O Movimento Orgulho Autista do Brasil (Moab) desenvolve uma série de ações, projetos e programas gratuitos. A programação está no site www.moab.org.br.
» Uma Sinfonia Diferente promove atividades de musicoterapia para autistas. É possível saber sobre as datas de inscrição 
pelo e-mail umasinfoniadiferente@gmail.com
» O Projeto de Apoio e Melhoria do Desenvolvimento e Aprendizagem (Pamda) oferece atendimento nas áreas de psicologia, psicopedagogia, educação motora e psicomotricidade, terapia ocupacional e fonoaudiologia. Os serviços são 
para famílias com renda de até três salários mínimos, 
que podem encontrar mais informações no site institutoninar.com.br/contato-pamda/
 
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Correio Braziliense quarta, 06 de fevereiro de 2019

MENINAS PODEROSAS - POR UM MUNDO (BEM) MELHOR

 

Por um mundo (bem) melhor
 
 
Quatro brasilienses fazem parte de um grupo de 40 brasileiros que vão à Assembleia da Juventude, em Nova York, debater questões ligadas às mudanças globais, como o avanço da fome e da desigualdade

 

» Mariana Machado
Especial para o Correio

Publicação: 06/02/2019 04:00

Dominick, Tainá, Rebecca e Nathalia querem buscar conhecimento para ajudar a mudar a realidade do país com ações humanistas (Ana Rayssa/Esp. CB/D.A Press)  

Dominick, Tainá, Rebecca e Nathalia querem buscar conhecimento para ajudar a mudar a realidade do país com ações humanistas

 

 
Vontade de mudar o mundo, debater ideias e lutar por igualdade. Esses são apenas alguns dos objetivos que movem um grupo de jovens do Distrito Federal que representarão o Brasil na Youth Assembly (Assembleia da Juventude), uma conferência em parceria com a Organização das Nações Unidas (ONU) em Nova York. Sob o tema “Empoderar a juventude para o desenvolvimento global”, pessoas do mundo todo vão dialogar a respeito dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), parte da agenda global de desenvolvimento do milênio.
 
Mais de 40 brasileiros se preparam para o evento, entre os dias 15 e 17. Nesse grupo  estão Nathália Antunes, 25 anos, Rebecca Ferreira, 24, Dominick Messias, 24, e Tainá Pinheiro, 21. A maioria delas vai pela primeira vez ao evento, mas Rebecca é veterana. Em agosto do ano passado, fez estreia, e gostou tanto que não perdeu tempo em se inscrever novamente. Foi por ela que as amigas ficaram sabendo e se motivaram a participar também.
 
Formada em relações internacionais, Rebecca conta que a experiência adquirida na edição anterior foi motivação para trabalhar como voluntária dando aulas de português para refugiados. “Ganhei uma visão mais ampla do mundo e pude trazer esse conhecimento para cá. Veio a vontade de fazer algo que pudesse impactar o DF de alguma forma”, explica. “Há uma crença muita errônea sobre o que são direitos humanos. As pessoas tendem a pensar que só servem para defender bandido e não é assim. Humanidade é para todos”, afirma.
 
Aprendizado
 
Ela agora quer avançar nos estudos e se prepara para fazer mestrado em cooperação internacional e desenvolvimento. Até agora, conseguiu aprovação de três universidades: uma na Holanda, uma na Nova Zelândia e uma na Itália. Depois de se especializar, quer voltar ao Brasil e aplicar o que aprendeu. “Não adianta querer um mundo diferente sem fazer nada”. Na edição anterior, participaram mais de 900 jovens de 16 a 28 anos, de mais de 100 países. Para este ano, o número deve se repetir e o evento acontece na Universidade de Nova York (NYU).
 
Formada no mesmo curso, e hoje também estudando direito, Dominick afirma que os brasileiros são dos mais orgulhosos em fazer parte da assembleia. Há cerca de um ano, ela faz trabalho voluntário junto ao grupo Faça uma criança feliz, que trabalha com público carente do Distrito Federal e do Entorno. “Tenho muita vontade de criar um programa voluntário ou até mesmo uma ONG para que crianças e jovens possam se envolver com direitos humanos e igualdade de gênero. Se você quer mudar o mundo, é preciso ser a mudança”, ensina.
 
Novas ideias
 
Cada uma das garotas escolheu um dos 17 ODS que pretende debater mais a fundo. No caso de Tainá, saúde e bem-estar é a principal bandeira. Estudante de biomedicina, ela espera falar sobre o modelo do Sistema Único de Saúde (SUS) e trazer novas ideias. “Apesar de aqui estar longe de ser perfeito, temos um sistema público, o que não existe na maioria dos países. Isso a gente leva como novidade, mas espero trazer iniciativas para atender, principalmente, pessoas em situação de rua”.
 
Há cerca de um ano, ela e Nathália fazem trabalho voluntário com moradores de rua, sobretudo próximo a hospitais. “Nós conversamos com eles, rezamos e distribuímos comida. É um atendimento humano, mas quero buscar ideias de como fazer também um atendimento de saúde”, planeja. Dentro do pequeno grupo, ela é a única com uma graduação diferente, mas sabe que vai encontrar pessoas de várias áreas na assembleia. “Irão médicos, engenheiros, administradores. Tem muita gente e vai ser ótimo, porque todo mundo contribuirá de uma forma especial”.
 
Empregos
 
Nathália também espera focar o trabalho dela para a população de rua, mas escolheu a erradicação da pobreza como tema principal. “Quero muito poder, com o meu trabalho, oferecer a essas pessoas uma vida com mais dignidade, pensando inclusive na geração de empregos sustentáveis e em como isso pode beneficiar nosso país e a economia”.
 
Dominick em breve será advogada e espera abordar o tema “Paz, justiça e instituições eficazes”. Segundo ela, o objetivo é dar voz a quem é esquecido. “É preciso falar sobre desigualdade e direitos humanos, lembrando que ninguém pode ser esquecido. Aqui, por exemplo, vemos que quem mora no Entorno nem sempre tem voz e não consegue o acesso à Justiça. Nosso país é acolhedor. Se a gente recebe bem quem vem de fora, também precisamos abraçar quem é daqui”, pondera.
 
A igualdade de gênero será abordada por Rebecca nas rodas de discussão. “Estatisticamente, mais mulheres chegam ao ensino superior, mas no mercado, são os homens que ainda dominam as posições de alta hierarquia. Fora isso, sofremos abuso de todo tipo e vemos cada vez maiores as taxas de feminicídio. A ideia é mudar isso para que todo mundo chegue junto e tenha as mesmas oportunidades”, destaca.


Saiba mais   

Desafios

Esta é a 23ª edição da Youth Assembly, organizada pela Friendship Ambassadors Foundation (Fundação de Embaixadores da Amizade), em parceria com a ONU. Durante os três dias de conferência, jovens do mundo inteiro discutem desafios globais e fazem propostas a problemas variados. Entre os objetivos do programa está o empoderamento da juventude através da educação, liderança, desenvolvimento e programas de intercâmbio cultural.


Conscientização
Os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável
 
1 - Erradicação da pobreza
2 - Fome zero e agricultura sustentável
3 - Saúde e bem-estar
4 - Educação de qualidade
5 - Igualdade de gênero
6 - Água potável e saneamento
7 - Energia limpa e acessível
8 - Trabalho decente e crescimento econômico
9 - Indústria, inovação e infraestrutura
10 - Redução das desigualdades
11 - Cidades e comunidades sustentáveis
12 - Consumo e produção responsáveis
13 - Ação contra a mudança global do clima
14 - Vida na água
15 - Vida terrestre
16 - Paz, justiça e instituições eficazes
17 - Parcerias e meios de implementação
 
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Correio Braziliense terça, 05 de fevereiro de 2019

REALISMO - EXPOSIÇÃO - DAS ORIGENS À ARTE VIRTUAL

 


Realismo 
 
 
Exposição que chega hoje ao CCBB reúne 90 obras de 30 artistas, das origens do movimento até à era virtual

 

Tarcila Rezende
Especial para o Correio

Publicação: 05/02/2019 04:00

As obras da exposição abrangem 50 anos do movimento realista: desconforto ao indagar o que é a realidade (Barbara Cabral/Esp. CB/D.A Press
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As obras da exposição abrangem 50 anos do movimento realista: desconforto ao indagar o que é a realidade

 

 
 
 
 
Depois de receber mais de 170 mil pessoas em São Paulo, a mostra 50 anos de realismo – Do fotorrealismo à realidade virtual finalmente chega a Brasília. Inaugurada hoje no Centro Cultural Banco do Brasil de Brasília (CCBB), a exposição traz cerca de 90 obras que retratam a evolução do movimento nas últimas cinco décadas, com pinturas, esculturas, vídeos e instalações interativas de 30 artistas internacionais e brasileiros. Com uma programação completamente gratuita, a exposição fica na capital até 28 de abril.
 
A mostra resgata a pioneira geração de pintores da foto e do hiper-realismo, passando pela contemporaneidade dos retratos e esculturas, até chegar à realidade virtual. A exposição aproxima o público das obras, trazendo um desconforto ao confrontar o ser e o aparentar e o real. Além disso, a mostra expõe esculturas hiper-realistas, um dos maiores destaques da exposição, ao retratar a delicadeza e a proximidade com o corpo humano.
 
A historiadora e curadora responsável pela exposição,Tereza de Arruda, destaca que a mostra aborda a relação de identidade entre imagem e realidade, juntamente com a verdade  e a realidade. “Por essa aproximação, surge um certo estranhamento e desconforto no momento em que nos perguntamos o que é a realidade e qual sua importância na representação artística”, completa.  
 
Destinada ao público em geral até aos mais especializados, a exposição tem vários níveis de leitura e nichos de interesse, em uma linguagem completamente moderna. “É uma oportunidade incrível para quem quer conhecer mais sobre o segmento, porque até  então não houve um recorte da representação do realismo como estamos trazendo, partindo do realismo até a realidade virtual”, convida Tereza de Arruda.

Artista plástico Andreas Nicholas-Fischer:  ele participará de debate sobre o realismo (Barbara Cabral/Esp. CB/D.A Press
)  

Artista plástico Andreas Nicholas-Fischer: ele participará de debate sobre o realismo

 



Colaboração de Londres
 
A mostra contou com a consultoria da especialista em arte hiper-realista Maggie Bollaert. Ela colaborou com a exposição com mais de 70 obras do acervo que tem  em Londres, onde possui uma galeria com pinturas realistas. Maggie elegeu obras especificamente para o público brasileiro. “Eu pensei que as pessoas do Brasil estão muito conectadas com a água pelo clima tropical. Tento buscar um ângulo em que a população do local onde há uma mostra possa se sentir mais identificada. Se eu trouxer tudo, e o visitante não tem nenhum tipo vivência ou conexão, não faz sentido”, completa Maggie.
 
Para a especialista, o título da mostra é perfeito, pois a exposição traz realmente um recorte da evolução do realismo durante esses 50 anos. “Desde como o fotorrealismo representava a cultura americana dos anos 1960 até a chegada da obra digital. Eu acho que essa pequena exposição é uma oportunidade rara. Você não vai encontrar uma exposição tão balanceada quanto essa”, afirma.
 
Maggie enfatiza, ainda, que em exposições como essa não há espaço cometer erros. Ela explica que foi necessário fazer uma seleção especial de obras para essa mostra, já que o espaço que o CCBB oferece não é tão grande.  “Se fosse em local maior, caberia colocar uma seleção mais ampla de obras que representam o realismo, mas nem todas são boas, ou menos significativas. Mas essa não dá. Tem que ser o suprassumo, e é isso que o público vai encontrar”, comenta a especialista.  

Maggie Bollaert: especialista em hiper-realismo, integra o debate (Barbara Cabral/Esp. CB/D.A Press
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Maggie Bollaert: especialista em hiper-realismo, integra o debate

 



Evolução em etapas
 
A mostra será dividida em categorias de acordo com a temporalidade das obras. A primeira sala traz os pintores precursores do fotorrealismo e do hiper-realismo. O público vai encontrar obras de artistas como o inglês John Salt, que retrata as paisagens suburbanas ou parcialmente rurais da Inglaterra. Outro nome é o do norte-americano Ralph Goings, cujas obras a óleo e aquarelas frequentemente representam o estilo de vida da classe operária americana dos anos 1960.
 
Na segunda etapa da exposição, estão os artistas que se dedicam às linhas contemporâneas do hiper-realismo, com retratos do zimbabuano Craig Wylie, conhecido pela surpreendente profundidade psicológica de suas pinturas, e do inglês Simon Hennessey, que apresenta em suas obras detalhes do rosto humano.   
 
Nesta etapa também será possível conferir trabalhos de natureza morta e paisagens urbanas, como as pinturas de grandes dimensões dos artistas ingleses Ben Johnson e Raphaella Spence. Há também a participação do pernambucano Hildebrando de Castro, que se dedica a representações geométricas inspiradas em fachadas de prédios modernistas. Na categoria natureza-morta é possível conhecer o trabalho do espanhol Javier Banegas e as obras do baiano Fábio Magalhães, que mescla retrato, natureza-morta e paisagem, nas quais a representação do corpo humano transmite desconforto, percorrendo o limite entre fotografia e pintura.
 
Um espaço da exposição também será destinado a obras tridimensionais de escultores de diferentes gerações do hiper-realismo: o paulista Giovani Caramello, único escultor hiper-realista brasileiro; o norte-americano John DeAndrea, pioneiro na criação de figuras humanas hiper-realistas; e o dinamarquês Peter Land, que usa o humor para explorar padrões humanos de comportamento.  
 
Na última etapa, chega-se às novas tecnologias. A sala Multiuso do CCBB está inteiramente dedicada a obras de realidade virtual, expostas em monitores, projeções espaciais ou com o auxílio de óculos de realidade virtual. Entre os artistas estão o japonês Akihiko Taniguchi, a alemã Bianca Kennedy, a francesa Fiona Valentine Thomann, e a brasileira Regina Silveira, que traz um vídeo de animação digital, na qual utiliza mídias distintas em  uma mesma obra, sendo pioneira na mescla de vídeo, fotografia, colagem, xerox e postais. Para todas as obras que necessitam de tecnologia, o CCBB estará disponibilizando os equipamentos, com monitores disponíveis para ajudar a manipular o dispositivo.

Tereza de Arruda, curadora da exposição (Barbara Cabral/Esp. CB/D.A Press
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Tereza de Arruda, curadora da exposição

 



Conversas sobre realismo
 
Além da abertura da exposição, hoje a mostra contará ainda com um debate sobre realismo na contemporaneidade, às 19h30. O bate-papo, também com entrada gratuita, terá mediação da curadora da exposição, Tereza de Arruda, e contará com a participação de Maggie Bollaert, especialista em arte hiper-realista e consultora do evento, e dos artistas Hildebrando de Castro e Andreas Nicholas-Fischer. “É um leque bem abrangente de participantes, e todos envolvidos nesse contexto da realidade. São pessoas que nunca expuseram juntos falando o que é a realidade, do uso da tecnologia, qual o papel dessa tecnologia para a criação dos trabalhos”, revela Tereza.
 
 
 
50 anos de realismo — Do fotorrealismo à realidade virtual
Centro Cultural Banco do Brasil Brasília (CCBB). De hoje a 28 de abril de 2019. De terça a domingo, das 9h às 21h. Entrada gratuita. Classificação indicativa livre
 

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Correio Braziliense segunda, 04 de fevereiro de 2019

O LEÃO ESTÁ CHEGANDO

 


Hora de se preparar para evitar as garras do Leão
 
 
Mesmo sem a divulgação das regras para a declaração de Imposto de Renda, o contribuinte pode começar a juntar os documentos necessários à prestação de contas ao Fisco. Recibos médicos e de despesas com educação são dedutíveis

 

» GABRIELA TUNES *

Publicação: 04/02/2019 04:00

 
Para evitar correria e dor de cabeça na hora de prestar contas à Receita Federal sobre ganhos e despesas de 2018, é bom se antecipar e aproveitar o tempo livre para reunir documentos e se organizar. Apesar de o Fisco ainda não ter divulgado as regras para a declaração de Imposto de Renda (IR) neste ano, dá para se antecipar e evitar problemas futuros.
 
Túlio, que preferiu não informar o sobrenome, tem 21 anos, é servidor público e vai enfrentar o Leão pela primeira vez. Para isso, conta com a ajuda e a experiência do pai e do irmão. “Eu só sei que preciso declarar minhas doações e meu rendimento próprio. Por enquanto, ainda estou bem perdido, não sei como a declaração do IR funciona direito”, disse.
 
De acordo com Jônatas Bueno, educador e terapeuta financeiro, a preocupação maior no momento deve ser reunir documentos. “É bom juntar tudo agora. E, para quem já declarou, é interessante verificar a documentação do ano passado, ver o que foi feito, para facilitar a declaração deste ano.” Algumas informações não mudam. É preciso ter os números da identidade, do título de eleitor, do CPF, além de endereço, e-mail, telefone e identificação de banco, com agência e conta, para devolução, quando houver.
 
Apesar de alguns documentos necessários para o preenchimento da declaração ainda não terem sido entregues, como os comprovantes de rendimentos fornecidos por empresas ou os de recebimento de benefícios do Instituto Nacional de Seguro Social, é possível separar recibos de saúde — de médicos, dentistas, psicólogos, fisioterapeutas, internações, exames —, de vendas de imóveis, de ganhos extras, como com aluguéis, e de pagamentos de escolas.
 
Se, no ano passado, a pessoa fez reforma em imóvel próprio, o educador financeiro aconselha reunir os recibos para abater no total do imposto a ser pago. “É bom guardar todos os recibos de serviços de manutenção feitos no imóvel para atualizar o valor do bem e, assim, aumentar o total pago. Isso vai ajudar a reduzir o imposto a ser pago em uma futura venda”, explicou.
 
Algumas doações também podem aumentar o valor a ser restituído pela Receita. Por isso, é importante separar os comprovantes. É importante ainda pegar no banco o comprovante com o saldo de conta-corrente e de aplicações financeiras.
 
A servidora pública Maria Regina Ferreira, ao contrário de anos anteriores, já começou a separar tudo que precisa para declarar o IR. “Antes, deixava tudo espalhado e para a última hora. Este ano, resolvi me organizar.” Segundo ela, isso tornará tudo bem mais fácil depois. “Já que é um dever, que seja feito logo, e, se tiver restituição, ela vem mais cedo também”, disse.
 
Escolha
 
Outro ponto importante para a declaração é saber a hora certa de entregar a documentação ao Fisco. Segundo Bueno, a pessoa precisa levar em conta a rapidez com que necessita do dinheiro da restituição. Se precisar muito, o ideal é fazer logo nos primeiros dias. Para quem tem reserva financeira, ele indica deixar mais para o fim do prazo, pois o valor a receber é atualizado com base na taxa Selic (taxa básica de juros). “O dinheiro recebido acaba sendo valorizado”, explicou.
 
Com os documentos organizados ou encaminhados, o próximo passo é se preocupar com outra questão: qual tipo de declaração será mais benéfica. O modelo simplificado, segundo o contador Geraldo Rodrigues, é indicado para quem tem um emprego só e poucas despesas restituíveis, pois garante um abatimento de 20%. Para quem tem várias despesas, é aconselhável fazer o modelo completo.
 
A escolha sobre qual a melhor forma de declarar é uma das maiores dificuldades de Marissa Machado Borges. Ela presta serviços a duas empresas e, para evitar erros, contrata um contador para auxiliá-la. “A minha maior dificuldade é não saber se faço a declaração completa ou a simplificada. Depois que entrei na segunda instituição (outra fonte de renda), fiquei com receio e não tentei mais fazer sozinha.”
 
Mas, apesar do auxílio de um profissional, Marissa já teve problemas com os documentos. Há oito anos, o contador esqueceu de declarar um livro autoral dela, o que teve como consequência um prejuízo no ano seguinte. “O contador da época esqueceu de declarar um material pelo qual havia recebido. Só fui ficar sabendo na declaração do outro ano, quando apareceu que eu tinha uma pendência. Entrei em contato com a Receita e tive que pagar o débito com juros.”
 
Abatimentos
 
Uma alternativa para reduzir a voracidade do Leão é ficar de olho nos abatimentos possíveis, como os gastos com educação, saúde, doações, pagamentos de pensão. O investimento em previdência privada também permite reduzir o pagamento de imposto. Foi o que fez o professor Fausto Camelo, que tem vínculo empregatício em mais de uma instituição de ensino. “Como o ajuste anual sempre me desfavorece, decidi aplicar em um plano de previdência privada, que me permite abater até 12% da minha receita bruta anual no IR”, conta.
 
Além dessa estratégia, Fausto cadastrou as duas filhas como dependentes, pois, assim, ele teve o desconto previsto em lei. Além disso, as despesas médicas e educacionais delas podem ser abatidas. Da mesma forma, o professor lança as contribuições pagas à Previdência Social para a empregada doméstica. Medidas tomadas, documentos separados, Camelo espera reduzir a mordida do Leão, ou até mesmo não pagar mais do que já foi descontado nos seus contracheques.
 
* Estagiária sob supervisão de Rozane Oliveira
 
 
Simulação
Decidir qual modelo de declaração é mais vantajoso não é difícil. 
O próprio programa da Receita Federal para o IR faz os cálculos e mostra a opção mais vantajosa, comparando quanto será recebido de restituição ou pago de imposto em ambos os modelos. No fim, o próprio programa escolhe qual é o melhor modelo para o contribuinte.
 
 (Carlos Vieira/CB - 23/01/2019)  
“Antes, deixava tudo espalhado e para a última hora. Este ano resolvi me organizar”
Maria Regina Ferreira, servidora pública
 
“É bom juntar tudo agora. E, para quem já declarou, é interessante verificar a documentação 
do ano passado, ver o que foi feito, para facilitar a declaração 
deste ano” 
Jônatas Buena, educador financeiro
 
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Correio Braziliense domingo, 03 de fevereiro de 2019

DHI RIBEIRO, RAINHA DO SAMBA

 


Rainha do samba 
 
 
Dhi Ribeiro prepara dois clipes e monta agenda para o carnaval, entre os destaques está a Festa Azul e Branco

 

Adriana Izel

Publicação: 03/02/2019 04:00

 Programação carnavalesca da cantora começa em 8 de fevereiro com a terceira edição da Festa Azul e Branco, na Aruc (Paulo Anderson/Divulgação)  

Programação carnavalesca da cantora começa em 8 de fevereiro com a terceira edição da Festa Azul e Branco, na Aruc

 

 
 
Apesar de ter nascido em Nilópolis, no Rio de Janeiro, e de ter passado um pedaço da vida em Salvador, foi em Brasília que a cantora Dhi Ribeiro fez carreira e se mantém até hoje tocando nos bares e nos eventos da capital federal. “A cidade me abraçou, tenho grandes amigos, fiz uma família de amigos, fiz a minha família aqui. Eu me apaixonei pela cidade mesmo, por tudo que aprendi e ainda aprendo aqui todos os dias”, diz a sambista.
 
Esse amor por Brasília faz com que a artista há anos escolha permanecer na capital durante o carnaval, período em que a agenda dela se agita com shows em eventos carnavalescos, além da produção dos próprios blocos e festas dedicadas à folia. Em 8 de fevereiro, por exemplo, a cantora promove a terceira edição da Festa Azul e Branco, que celebra o carnaval de antigamente. “É uma festa diferente do que o pessoal faz aqui, é um baile de carnaval com desfile de fantasias, com mistura de ritmos bem bacana, com samba, música baiana e marchinha. A ideia é misturar mesmo”, explica Dhi Ribeiro.
 
Como já virou costume, o baile ocorre, a partir das 21h, na sede da Aruc, no Cruzeiro Velho. Além de Dhi Ribeiro, acompanhada da banda que está ao lado dela há anos, a festa contará com participações de Batuke de Rua e Patakundum e a realização de um concurso de fantasias carnavalescas. “Esse é o terceiro ano do evento e é um baile que eu quero que marque, que seja uma coisa que vá acontecer todos os anos”, espera a cantora, que, no Guará, já tem tradição com o bloco Pipoca Azul.
 
Neste ano, o bloco criado e promovido pela artista sairá às ruas no domingo e na segunda-feira no Guará II, local onde Dhi mora. “É um projeto em que a gente coloca o carnaval para a comunidade do Guará II, de graça para o público. A minha ideia foi sempre de levar a folia para o bairro e para a região administrativa”, diz fazendo referência à descentralização do carnaval do Distrito Federal que, em sua maioria, se concentra no centro de Brasília.
 
Projetos da carreira
 
Como o carnaval é um período agitado, ela revela que retoma os projetos da carreira depois da folia. A ideia é lançar dois clipes de canções que integram o DVD Leme da libertação, que foi gravado em 2017 e acabou não sendo lançado oficialmente no ano passado como estava previsto. “São músicas do DVD. A gente teve um atraso grande com o lançamento dele e resolvemos fazer um trabalho diferente. Vou fazer um ‘ao vivão’ para a galera para mostrar o trabalho e esses dois clipes”, adianta.
 
Dhi Ribeiro ainda revela que vai lançar no segundo semestre outro projeto, que mistura audiovisual e música. “É muito bacana. Estamos nessa correria fazendo das tripas coração para conseguir”, define Dhi, que é uma artista que sempre batalha para alcançar suas metas e sonhos na música. “A gente trabalha o tempo todo em busca de realizar nossos projetos. Quando a gente acaba um, já está pensando no outro. É muito difícil mesmo, mas é tão bom quando a gente consegue realizar algo pela primeira vez”, afirma.
 
A atual celebração de Dhi foi ter conseguido, pela primeira vez, aprovar um projeto pelo Fundo de Apoio à Cultura. “Graças a isso estamos lançando um material novo. Tem uma série de coisas que a gente tem que correr atrás diuturnamente. Quando não estou resolvendo um projeto, estou em outro, ou ainda tocando nas casas noturnas, porque é isso que ajuda a fomentar o trabalho do artista. Tem que manter a banda tocando. Não sei como a gente consegue, é 99% de transpiração”, completa. Ela não para!
 
Cenário musical
 
Há bastante tempo no mundo da música, a sambista conta que faz questão de valorizar os músicos que a acompanham nessa labuta, uma banda grande de oito integrantes. “Minha banda está comigo há séculos. São músicos incríveis por quem tenho um respeito enorme. Eu sempre me preocupo em manter eles trabalhando, tendo seus cachês porque quase todos nós vivemos só da música”, explica. Para ela, o grupo é uma família: “Vamos da pousadinha ao hotel três estrelas, estamos sempre juntos e faço questão de levar todo mundo para todo lugar. Do barzinho em Brasília aos shows em São Paulo”.
 
Sobre o cenário do samba da capital, Dhi Ribeiro se diz muito feliz. Ela percebe um crescimento nos últimos anos. “O samba chegou a Brasília junto com a construção. Assim que vieram os funcionários do Rio de Janeiro, o samba veio junto. Graças a esses precursores, que trouxeram o samba pra cá, que nós tivemos o apoio para dar segmento a esse trabalho e levando essa mensagem do samba”, afirma. “Tem muita gente fazendo coisa boa, músicos excelentes, temos grandes violonistas, cavaquinistas, a rapaziada que está compondo é maravilhosa. Tenho muito orgulho do que é feito aqui”, acrescenta.
 
Por essa efervescência e qualidade, a cantora acredita que o samba de Brasília tem suas particularidades e até a própria cara. “Acredito que o samba tem um frescor. Tem uma sonoridade e uma força harmônica diferente. A força de contar as histórias tem algo mais profundo, mais militante. Se assemelha com o samba feito antigamente, só que com roupagem nova. Tem uma profundidade nas composições, sinto isso”, aponta. Ela cita um dos sambas gravados por ela, Negra ouro, de Fabinho Samba e Dudu Hermógenes, como exemplo. “Gravei essa música que vem trazendo a história todinha do meu bisavó até chegar em mim hoje. É uma canção de autores que não tem nem 30 anos de idade. Nosso samba têm mensagens subliminares”, defende.
 
Sendo mulher negra e sambista, Dhi sabe que teve que enfrentar muitas barreiras e vê com alegria o fato de ter participado da abertura de portas para a chegada de outras mulheres no mercado brasiliense. “O samba sempre foi um território difícil para a mulher. A gente é sempre convidada para fazer o “lalaia”, o backing vocal. Então, ou você se impõe, ou fica sendo coadjuvante. Fiz backing vocal durante anos, mas depois pensei que havia chegado a minha hora, que eu tinha condições de fazer o meu próprio trabalho. É difícil entrar no mercado, ter divulgação, conseguir colocar o trabalho na rua, mas eu sou tão positiva, corro tanto para que as coisas aconteçam, que chega uma hora que as dificuldades vão diminuindo. Mas acabar, não acabam”, conta.
 
“É muito difícil colocar uma mulher negra com mais de 50 anos, que canta samba, para entrar no mercado. Entrei no mercado, na verdade, com 44. Tem muita gente que desiste, cansa e passa a levar como hobby. Mas a minha mola é mestra, cada ‘não’ que eu recebo é uma força que tenho para criar uma nova situação”, destaca.
 
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Correio Braziliense sábado, 02 de fevereiro de 2019

CRIMINOSO MORREU DO PRÓPRIO GOLPE

 

Homem queria enganar políciaInvestigadores dizem não ter dúvida de que servidor público aposentado tentou simular um incêndio para ocultar o assassinato da mulher, morta a facadas em apartamento que ele ateou fogo, na Asa Norte. Vítima foi enterrada ontem

 

» Sarah Peres
Especial para o Correio

Publicação: 02/02/2019 04:00

Amigos e parentes levaram flores para homenagear Veiguima, enterrada ontem, no cemitério de Planaltina (Carlos Vieira/CB/D.A Press)  

Amigos e parentes levaram flores para homenagear Veiguima, enterrada ontem, no cemitério de Planaltina

 

 
O servidor público aposentado José Bandeira da Silva, 80 anos, não pretendia se matar após esfaquear e queimar a mulher, Veiguima Martins, 56, na quarta-feira. A intenção dele era enganar os investigadores provocando um incêndio no apartamento do casal, onde aconteceu o crime, no Bloco A da 310 Norte. Essa é a conclusão preliminar do caso.
 
A agente de educação aposentada foi enterrada ontem, no Cemitério de Planaltina. Na quinta-feira, familiares do assassino retiraram o corpo do Instituto de Medicina Legal (IML) e encaminharam para um crematório de Valparaíso (GO). Diferentemente de Veiguima, carbonizada após levar cinco facadas, José foi socorrido com vida por bombeiros. Ele morreu intoxicado pela fumaça do incêndio, que queimou todo o quarto do casal.
 
O laudo da perícia deve ficar pronto em até 30 dias. No entanto, o delegado Laercio Rossetto, chefe da 2ª Delegacia de Polícia (Asa Norte) e responsável pelo caso, diz não ter dúvida de que José matou Veiguima e depois ateou fogo no quarto deles. Rosseto acredita que José perdeu o controle da situação após inalar a fumaça. Bombeiros encontraram o homem caído na sala do apartamento, com parada cardiorrespiratória e o levaram para o pilotis, onde tentaram reanimá-lo por 50 minutos, sem sucesso.
 
Peritos encontraram a lâmina de uma faca do tipo peixeira, no quarto do casal. Ainda, agentes coletaram fósforos e tiras de panos usados por José para auxiliar na combustão. Médicos-legistas oficializaram a identificação cadavérica de Veiguima por meio de moldes de arcada dentária. 
 
Violência
 
De acordo com a investigação, o aposentado teria decidido cometer a barbárie após Veiguima pedir o divórcio. Na noite do crime, a mulher telefonou para uma filha avisando a decisão.
 
O casal estava junto desde 2008 e tinha um relacionamento marcado por violência física e psicológica por parte de José. Em março de 2018, Veiguima registrou uma ocorrência contra o marido, por lesão corporal e ameaça. Em depoimento, ela contou que o servidor a havia ameaçado de morte e de se matar em seguida.
 
José sofria de bipolaridade, tomava remédios controlados e tinha proibição médica para dirigir. No último semestre de 2018, descobriu um câncer na próstata. À época, estava separado de Veiguima, que havia saído de casa.
 
O aposentado usou a doença para chantagear psicologicamente a vítima. A mulher aceitou reatar o relacionamento para ajudá-lo, mas até que ele passasse por procedimento cirúrgico, confirmou familiares de Veiguima. José tinha duas filhas, mas não mantinha contato com elas. Ele estava no terceiro relacionamento.
 
Despedida
 
Cerca de 100 pessoas compareceram ao enterro de Veiguima, na tarde de ontem, no Cemitério de Planaltina. O silêncio marcou grande parte da cerimônia, que durou 40 minutos. Como a vítima teve o corpo carbonizado, o caixão permaneceu fechado e não houve velório. Amigos e parentes dela carregavam flores, na maioria, rosas vermelhas e brancas, para a última homenagem à agente de educação aposentada da Secretaria de Educação, que deixou três filhos, cinco netos e sete irmãs.
 
Veiguima foi sepultada no mesmo jazigo da mãe, Maria Luiza Martins, que morreu aos 68 anos. Ambas nasceram em Planaltina. “Desde o crime, estou consternada. Os homens têm um sentimento de posse da mulher. A mulher é um ser livre e assim era a Veiguima. Uma pessoa que apreciava desfrutar a vida e a liberdade. Até quando teremos de ver casos como este?”, questionou uma amiga da família.
 
Para Larissa Martins, sobrinha da vítima, fica a dor, mas também, uma lição. “Tento entender qual foi o propósito para a minha tia, tendo de partir assim. Talvez, vamos entender com o tempo. Mas tudo isso nos faz abrir os olhos, pois isso pode acontecer a qualquer momento, e na nossa família. Temos que aceitar o que aconteceu. Ela está reunida com os nossos familiares que já partiram. Agora, minha tia é exemplo para outras mulheres”, comentou, emocionada.
 
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Correio Braziliense sexta, 01 de fevereiro de 2019

BRUMADINHO: MORTOS CHEGAM A 110

 

Mortos chegam a 110, desaparecidos são 238
 
 
Previsão de tempestades na região de Brumadinho prejudica operação de resgate dos corpos de vítimas do rompimento da barragem da Vale. Enquanto bombeiros trabalham sem descanso, os dramas dos que perderam familiares na tragédia se sucedem

 

» Benny Cohen
» Francelle Marzano

Publicação: 01/02/2019 04:00

Cenário de devastação: além de cães farejadores, máquinas têm sido empregadas na procura das vítimas    (Mauro Pimentel/AFP)  

Cenário de devastação: além de cães farejadores, máquinas têm sido empregadas na procura das vítimas

 



O número de mortos em consequência do rompimento de uma barragem da Vale, em Brumadinho, na última sexta-feira, chegou a 110, segundo o Corpo de Bombeiros e a Defesa Civil de Minas Gerais. Entre os corpos resgatados, 71 foram identificados. Até agora, a tragédia deixou ainda 238 desaparecidos e 108 desabrigados e desalojados.

A barragem que se rompeu tinha cerca de 13 milhões de m³ de rejeitos, que foram despejados sobre a região do Córrego do Feijão, atingindo a área administrativa da empresa, a comunidade da Vila Ferteco e a pousada Nova Estância. A onda de rejeitos chegou até o Rio Paraopeba, a cerca de 8km da barragem, e começou a se mover em direção ao Rio São Francisco.

Desde o rompimento da barragem, os bombeiros fazem buscas por vítimas em meio à lama que se espalhou pela região. Cães farejadores ajudam na localização de corpos e, em alguns locais, máquinas vêm sendo utilizadas. Ontem, as buscas chegaram a ser suspensas para garantir a segurança dos militares envolvidos nas operações. O motivo foi a previsão de tempestades na região de Brumadinho.

Em meio ao trabalho incessante dos bombeiros, os dramas humanos se sucedem. Paulo Aniceto vai ao Centro de Operações todos os dias, em busca de informações sobre o filho, Éverton Guilherme Ferreira Gomes, de 21 anos, um dos desaparecidos na tragédia. Ele acredita que o filho possa ter escapado. “Conversei com ele pouco tempo antes (do rompimento da barragem) pelo WhatsApp, e acho que ele possa estar vivo, que tenha corrido para a mata. Não era pra ele estar aqui”, lamenta.

A convicção de Paulo na sobrevivência do filho é tanta que, nos dois dias seguintes, ele enviou novas mensagens pelo celular. No sábado, ele escreveu: “Amo você, meu filho. Senhor Jesus, cuida do meu filho...”. No domingo, enviou outra postagem: “Oi, meu filho, estou com muita saudade!!! Oi, meu amor, papai está com muita saudade de você, beijos, te amo...” Paulo não se consola com as promessas de ajuda da Vale para as famílias das vítimas. “A Vale está falando em dar dinheiro, R$ 100 mil, mas eu não quero dinheiro. Quero meu menino!”, diz ele.

Empregado havia 30 dias na Progen, empresa terceirizada da Vale, Éverton tinha planos de se casar. No dia da tragédia, o jovem, cujo posto de trabalho como gestor de qualidade era na sede da Progen em Nova Lima, foi a Brumadinho conhecer o chefe, que estava na Mina Córrego do Feijão. O pai conta que o chefe de Éverton, cujo nome não sabe, também está desaparecido. “Acho que eles estavam juntos, dentro do carro da empresa. Ainda tenho esperança de encontrá-los”, afirmou.

Cadastramento


Na tarde de ontem, o cadastramento das famílias dos atingidos pelo rompimento da barragem para receber a doação de R$ 100 mil da Vale começou a ser feito. No fim do dia, 44 pessoas tinham feito o cadastro. Claudinete Euflávia do Carmo Miranda esteve no local na tentativa de se registrar. Ela é casada com o operador de máquinas Wagner Walmir Miranda, que está desaparecido. “Meu atendimento é só na semana que vem, mas aproveitei que já estou aqui pra tentar fazer. Não posso andar muito por conta de uma cirurgia que fiz na perna e já queria aproveitar a vinda até aqui”. 

Ela conta que tem dois filhos com Wagner, um de 12 anos e outro de 7, que choram todos os dias pela falta do pai. “Não sei nem o que pensar desse dinheiro que a Vale vai dar pra gente, mas acho que pelo menos é uma forma de tentar continuar com a educação e a vida que o meu marido conseguia dar pra gente. Eu não trabalho, a renda que tínhamos era apenas o salário dele”, contou.

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Correio Braziliense quinta, 31 de janeiro de 2019

TEMOR SE ESPALHA EM MINAS

 


Temor se espalha em Minas
 
 
Caso Brumadinho provoca medo de ocorrerem tragédias semelhantes no restante do estado. ONU cobra investigação imediata, completa e imparcial do rompimento e lembra o episódio de Mariana

 

Publicação: 31/01/2019 04:00

 

Chegada de restos mortais ao centro operacional no bairro Córrego do Feijão (Juarez Rodrigues/Estado de Minas

)  
Chegada de restos mortais ao centro operacional no bairro Córrego do Feijão

 


Ao mesmo tempo em que a contagem de corpos de vítimas do colapso da barragem da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho, se aproxima de romper a casa dos dois dígitos, os reflexos da catástrofe extrapolam fronteiras e, em Minas, espalham pelo mapa medo de tragédias semelhantes. Ontem, relatores especiais de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) cobraram investigação imediata, completa e imparcial do rompimento da represa e lembraram o antecedente da tragédia em Mariana, ocorrida em 2015. Ao mesmo tempo, outras gigantes da mineração que, há décadas, exploram ricas reservas de ferro na Região Central mineira anunciam a disposição de seguir a decisão da Vale — dona da mina onde ocorreu o desastre mais recente — e desativar barragens de rejeitos com o mesmo nível de risco das duas que estouraram nos últimos três anos (leia reportagem na página 5).

Em Brumadinho, onde o que já foi medo se transformou em catástrofe, dor, luto e prejuízo, a Justiça agiu para suspender as atividades de mais um empreendimento: da Mineração Ibirité Ltda. (MIB), no mesmo Córrego do Feijão. A empresa atuava próximo à barragem da Vale que se rompeu provocando até agora 99 mortes confirmadas, e deixando 259 desaparecidos. O pedido de suspensão foi feito pelo Ministério Público de Minas Gerais. O MP sustenta que, pela proximidade, a atividade da MIB na região também está em risco.

Ontem, representantes de comitês de bacias hidrográficas fizeram visita técnica à área da represa que se rompeu e cobraram medidas de proteção aos recursos hídricos em todo o país. “Primeiro, prestamos solidariedade às vítimas, que tanto sofrem. Mas temos de alertar que não foi só aqui em Brumadinho que esse tipo de coisa ocorreu. Houve o rompimento de barragem em Barcarena, no Pará (em fevereiro de 2018), e também o vazamento do mineroduto que liga Minas ao Espírito Santo (em Santo Antônio do Grama, em março). Precisamos dar um basta nisso”, disse o presidente do Comitê da Bacia do Rio São Francisco, Anivaldo Miranda, que defende “tirar da gaveta a Lei Nacional de Recursos Hídricos”.

O presidente do Fórum Estadual de Comitês de Bacias Hidrográficas, Marcos Vinícius Polignano, foi contundente na defesa de medidas imediatas. “Temos de denunciar o descaso da empresa com o meio ambiente. A Vale acabar com barragens a montante (como as de Mariana, rompida em 2015, e a de Córrego do Feijão) é ótima notícia, mas é uma decisão que está três anos atrasada, no mínimo”, afirmou ele, que exige a recuperação do Rio Paraopeba, além do auxílio às vítimas da catástrofe. Já Winston Caetano, presidente do Comitê do Rio Paraopeba, alerta para o risco à saúde das pessoas com o consumo de água nas áreas atingidas. “Não é recomendável o uso nem para irrigação”, advertiu.

Fake news
Envolvidos nos resgates têm de lidar com atitudes irresponsáveis, que dificultam ainda mais o processo de busca por vítimas. Ontem, novo alerta foi feito pelo Corpo de Bombeiros em relação às notícias falsas. Segundo o tenente Pedro Aihara, porta-voz da corporação, os trabalhos estão sendo interrompidos para verificar informações mentirosas. 

“Todas as vezes que recebemos informações sobre sobrevivente, com uma referência de ter sido encontrado, o que é situação muito difícil de ser verídica, a gente é obrigado a parar para averiguar a informação. Então, paralisamos os serviços.”

O comandante de salvamento especializado do Corpo de Bombeiros, capitão Leonard Farah, admitiu que a chance de encontrar sobreviventes é “praticamente zero”. “Os protocolos internacionais, principalmente os utilizados pela ONU e pelos israelenses, consideram que até sete dias depois da tragédia a gente poderia encontrar sobreviventes. Então, a chance é mínima”, disse.

Contabilidade da catástrofe
Confira os números do resgate em Brumadinho até a noite de ontem

99 
óbitos


57 
identificados

259 
desaparecidos

393 
localizados

 

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Correio Braziliense quarta, 30 de janeiro de 2019

BOLSONARO DESPACHA NO HOSPITAL

 


Bolsonaro despacha no hospital
 
 
Após cirurgia bem-sucedida para retirar bolsa de colostomia, presidente volta ao cargo, mas só retorna a Brasília no próximo dia 7

 

ALESSANDRA AZEVEDO
GABRIELA VINHAL

Publicação: 30/01/2019 04:00

 

Gabinete provisório permite que chefe de Estado receba ministros e conceda audiências no Albert Eistein, enquanto continua a recuperação (Presidencia da Republica
)  

Gabinete provisório permite que chefe de Estado receba ministros e conceda audiências no Albert Eistein, enquanto continua a recuperação

 

 


O presidente Jair Bolsonaro reassume, na manhã de hoje, a Presidência da República, após mostrar “evolução bastante razoável” na cirurgia feita na última segunda-feira, anunciou o porta-voz do governo, Otávio do Rêgo Barros. Entretanto, ele continuará em recuperação no hospital Albert Einstein, em São Paulo, onde foi submetido a um procedimento para retirar a bolsa de colostomia, colocada em setembro, devido à facada sofrida durante um ato de campanha em Juiz de Fora (MG).

A previsão é de que Bolsonaro volte a Brasília em 7 de fevereiro. Até lá, ele deve exercer as atividades em um gabinete provisório, montado no próprio hospital, com equipamentos e estrutura técnica suficientes para que possa orientar os ministros e dar audiências, como computadores e mesa de reuniões. O espaço, que fica perto do quarto onde ele se recupera, foi organizado pelo Gabinete de Segurança Institucional (GSI).

O presidente deve voltar a despachar ainda hoje pela manhã, por volta das 7h, segundo o porta-voz. Desde domingo, quando foi para São Paulo, o vice, Hamilton Mourão, ocupa o cargo no Palácio do Planalto. Até ontem, Bolsonaro manteve repouso absoluto, sem complicações ou sangramentos decorrentes da cirurgia.

As visitas continuavam restritas, por ordem médica. O único ministro que se encontrou com o presidente no hospital foi o chefe do GSI, general Augusto Heleno, que voltou ontem a Brasília e deve retornar a São Paulo na semana que vem. Além dele, o presidente teve contato direto apenas com o porta-voz e com os familiares que o acompanharam: a esposa, Michelle Bolsonaro, e os filhos Eduardo, Carlos e Renan.

Ainda hoje, ministros de outras pastas devem chegar à capital paulista para despachar com o presidente. O ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, deve ser um deles, mas os nomes ainda não foram confirmados. Alguns aliados acreditam que seria melhor Bolsonaro adiar a retomada dos trabalhos, para evitar se expor a infecções ou cansaço excessivo.    

Bom desempenho    
O presidente passou boa parte do dia, ontem, sentado em uma poltrona e fazendo fisioterapia respiratória e motora, que consiste em “uma espécie de bicicleta com as pernas, ainda deitado na cama”, detalhou Rêgo Barros, que esteve com ele. Ele teve “bom desempenho” na fisioterapia, de acordo com boletim divulgado no fim da tarde pelo hospital.

Bolsonaro está em “evolução muito positiva nessa cirurgia”, declarou o porta-voz. Durante a tarde, o presidente já estava “sentado, conversando com muito cuidado”, disse o porta-voz. Rêgo Barros também garantiu que o chefe de governo “está atendendo na plenitude às orientações médicas.”

Em mensagem no Twitter, publicada na manhã de ontem, Bolsonaro afirmou que está bem. “Agradeço a Deus por estar vivo, aos profissionais que cuidaram de mim até aqui e a todos vocês pelas orações”, escreveu. A equipe médica não informou nenhuma limitação física do presidente como decorrência da cirurgia.

Entenda
Na última segunda-feira, Bolsonaro teve a bolsa de colostomia retirada e o trânsito intestinal reconstruído, quase cinco meses após ter sido vítima de uma facada. A operação durou sete horas, de 8h30 às 15h30, o dobro do previsto, devido às aderências intestinais encontradas — quando tecidos de cicatrização grudam em outras partes do órgão, o que pode levar à obstrução intestinal. Após a cirurgia, ele foi encaminhado à UTI, sem dores e sem complicações.

Logo após a facada, em 6 de setembro, o então candidato passou por uma operação de emergência. Os médicos abriram o abdômen e retiraram uma parte do intestino grosso, que foi ligado à bolsa de colostomia. Também foram realizadas três suturas no intestino delgado.

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Correio Braziliense terça, 29 de janeiro de 2019

DESASTRE COLOCA A VALE NO OLHO DO FURACÃO

 


Desastre coloca a Vale no olho do furacão
 
 
Com quase R$ 12 bilhões bloqueados pela Justiça para garantir indenização às vítimas do rompimento da barragem do Feijão, em Brumadinho, empresa está sob investigação da Polícia Federal e do MP e pode sofrer intervenção

 

RENATO SOUZA
FERNANDO JORDÃO

Publicação: 29/01/2019 04:00

A tragédia em Brumadinho, região metropolitana de Belo Horizonte, coloca a mineradora Vale no centro de um furacão jurídico, que deve resultar em milhares de ações na Justiça no país e no exterior. O entendimento nos tribunais e no Ministério Público Federal é o de que não se pode repetir o fracasso observado no desastre de Mariana, pelo qual ninguém foi punido devido a uma enxurrada de ações protelatórias. Segundo os bombeiros, 65 corpos já foram encontrados no vale de lama deixado pela barragem de uma mina que arrebentou na última sexta-feira e mais de 270 pessoas estão desaparecidas.

Ontem, a Vale sentiu o peso do que está por vir. Teve mais R$ 800 milhões bloqueados de suas contas, totalizando R$ 11,8 bilhões. Tomou uma sova dos investidores, que fizeram o valor de mercado da empresa despencar mais de R$ 70 bilhões. Terá de responder a processo na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), responsável pela regulação e fiscalização do mercado de capitais. E corre o risco de ter a sua diretoria destituída pelo governo, como avisou o presidente interino da República, general Hamilton Mourão.

Mais: a Polícia Federal está fazendo uma varredura nos laudos que indicavam a segurança da barragem da mina Córrego do Feijão, em Brumadinho. As diligências são conduzidas pelo delegado Luiz Augusto Pessoa Nogueira. A PF vai avaliar se existe algum tipo de irregularidade nas licenças. O governo alega que existe risco de contaminação do Rio São Francisco, o que motiva a atuação dos investigadores federais. Dentro da PF, corre a informação de que pode ter havido fraude no processo de avaliação da barragem, já que nada justificaria o desabamento se todos os requisitos estivessem sendo seguidos corretamente.

Terceirizados
O cerco contra a empresa foi explicitado pela procuradora-geral da República, Raquel Dodge. Ela afirmou que o Ministério Público está avaliando medidas para impedir a demora na punição dos responsáveis e no ressarcimento dos danos causados à sociedade. “É muito importante que a Justiça dê uma resposta eficiente, dizendo que esse caso, esse tipo de responsabilidade, deve ser tratado como prioridade. É também preciso responsabilizar severamente, do ponto de vista indenizatório, a empresa que deu causa a este desastre, e também promover a persecução penal”, afirmou.

Dodge lembrou que os “executivos podem ser punidos também”. Ela se referiu aos responsáveis pela atuação direta na região de Brumadinho. Além do MPF, o Ministério Público do Trabalho (MPT) quer garantir que cada família de trabalhador vítima do rompimento da barragem receba ao menos R$ 2 milhões. O valor, segundo a procuradora-chefe do MPT em Minas Gerais, Adriana Augusta Souza, é o mesmo acordado com as famílias dos trabalhadores mortos no desastre de Mariana, há três anos. Foi com base nesse número, aliás, que o MPT conseguiu liminar para bloquear mais R$ 800 milhões da Vale. De acordo com a empresa, ao menos 400 pessoas trabalhavam na Mina do Feijão, quando a barragem se rompeu.

O valor, no entanto, é preliminar, e leva em consideração gastos imediatos. “A gente quer que a empresa arque com as despesas de funeral, traslado do corpo e demais gastos relacionados a um contexto como esse, inclusive dos trabalhadores terceirizados. É um direito que as famílias têm”, explicou Adriana. Ela sabe, porém, que não será tarefa fácil, uma vez que a Vale conseguiu brecar todaS as ações decorrentes do desastre em Mariana. Desde que uma barragem de rejeitos se rompeu e destruiu o distrito de Bento Rodrigues, 50 mil processos foram movidos contra a Samarco e suas controladoras, a Vale e a BHP Billiton. Nenhuma das ações que correm no Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) resultou em reparo financeiro às vítimas.

Segundo o TJMG, as milhares de ações contra a Samarco e as suas controladoras estão paradas devido a vários pedidos de Incidentes de Resolução de Demandas Repetitivas (IRDRs) por parte da mineradora. Essa artimanha é facilitada porque as ações estão espalhadas por diversas varas especializadas. Até que uma decisão seja tomada sobre o caso, autorizando ou não a unificação dos processos, todas ações ficam paradas no Poder Judiciário, alimentando a impunidade.

Além da Justiça estadual, as empresas envolvidas enfrentam processos na Justiça Federal e em cortes internacionais. Algumas famílias conseguiram furar o cerco montado pela Vale e recebem recursos para aluguéis e auxílios emergenciais. No caso da tragédia de Brumadinho, se tudo se mantiver como está, a resolução do processo pode demorar ainda mais, por conta da quantidade de pessoas vitimadas. Por isso, a pressão da sociedade sobre o Judiciário terá de ser grande. “Queremos o pagamento continuado dos salários dos empregados, tanto dos que morreram, quanto dos que estão vivos, pois com a paralisação dos serviços, ficarão sem emprego. As famílias não podem perder o sustento”, afirmou a procuradora do MPT.
 
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Correio Braziliense segunda, 28 de janeiro de 2019

BRUMADINHO: MORADORES VIVEM HORAS DE MEDO

 


Moradores vivem horas de medo
 
 
Os 24 mil habitantes de Brumadinho passam momentos de tensão com alarme na madrugada de domingo por conta de risco de novo rompimento de barragem, que não se confirmou. Episódio evidencia despreparo da Vale para situações de emergência

 

» Renan Damasceno

Publicação: 28/01/2019 04:00

Bombeiros buscam pelos desaparecidos na área rural nas proximidades da mina da Vale (Douglas Magno/AFP)  

Bombeiros buscam pelos desaparecidos na área rural nas proximidades da mina da Vale

 

 
Brumadinho – Cada hora na vida dos moradores de Brumadinho parece durar uma semana desde a sexta-feira. Ontem, o pesadelo começou pouco depois das 5h, quando o alarme de emergência do complexo de barragens do Córrego do Feijão disparou com a mensagem: “Atenção, esta é uma situação real de emergência de rompimento de barragem. Abandonem imediatamente suas residências”, dizia o comunicado, seguido de uma forte sirene, ouvida nas comunidades e em partes da cidade. As horas que se seguiram foram de desinformação, drama e desespero. Ao ouvir a sirene, Agnaldo Santana dos Santos saiu para as ruas para acordar os vizinhos. “Como acordo cedo, saí para a rua e fui acordando todo mundo”, disse, enquanto olhava para o local onde cerca de 30 casas que foram engolidas pela lama na sexta. “Nós estamos preocupados com nossos amigos que morreram, muita gente desapareceu.”
 
A sensação de desamparo de Agnaldo e milhares de outros moradores ontem evidenciou a precariedade da estrutura necessária para socorrer a população em caso de remoções de emergência. Parque da Cachoeira é uma das áreas mais atingidas pelo rompimento da barragem de rejeitos do Córrego do Feijão e, por isso, uma das que mais preocupam em caso de evacuação. No início da manhã, os bombeiros alertaram para que 24 mil pessoas deixassem suas casas, em bairros como Pires, Centro, Novo Progresso. Depois, à tarde, reduziram para 3 mil o número de moradores que deveriam ser evacuados por causa do risco iminente de rompimento da barragem de água B6 da Vale.
 
Após o susto de acordar com o alarme de emergência, Adélia de Oliveira não teve nem tempo de tomar os remédios para a pressão. “Quando cheguei no caminho, desmontei. Aí passou um homem e falou que me levaria”, disse Adélia, aferindo a pressão em frente à Unidade Básica de Saúde, que serve de ponto de apoio para a população do vilarejo que, segundo o líder comunitário Adilson Charles, tem cerca de 150 casas. Para dar conta do número de pessoas estimado pelos bombeiros, foram estabelecidos três pontos de segurança: a igreja matriz de São Sebastião, o Quartel da Polícia Militar, no Bairro Progresso e o Morro do Querosene. Em caso de vazamento, a previsão era que de 3 a 4 milhões de metros cúbicos de água chegariam à cidade.

Com estradas destruídas, acesso é só por helicóptero (Douglas Magno/AFP)  

Com estradas destruídas, acesso é só por helicóptero

 

 
Nas ruas
 
Pouco antes das 6h, todos os moradores estavam fora de casa. O dia amanhecia e ninguém sabia o que fazer. “A sirene tocou de manhã e todo mundo saiu, em seguida, o pessoal voltou para casa e ninguém deu informação se podia descer ou não. A situação é crítica”, relata Adilson Charles. “Mais de 20 casas aterradas. Tem uma vítima ali dentro, morador do bairro. Se eu não tivesse ido atrás do pessoal para isolar a área, estaria aqui tudo igual.”
 
Os primeiros bombeiros civis chegaram ao vilarejo por volta das 8h30. Passava das 9h quando foi colocado um cordão de isolamento e, então, os moradores começaram a deixar as casas – apenas da parte mais baixa. Cláudio Santos se emocionou ao trancar a porta da casa de três cômodos, sem reboco nas paredes. “É a única casa que tenho, agora que a plantação começou a dar mandioca, as plantas estão bonitas”, lamentava Cláudio Santos. Outros moradores de Parque da Cachoeira não tiveram tempo para se despedir da casa, quando a lama passou e levou parte do bairro. “Minha casa tinha tudo: dois banheiros, televisão em cada quarto, máquina de lavar, panela elétrica. Foi tudo embora e não avisaram nada”, conta Laureane Oliveira de Souza. Se o passado, a lama levou, o futuro parece ainda pior. O marido de Laureane, Dari Laurindo, trabalhava em dragas de areia do Rio Paraopeba, atingido pela lama. “Perdemos carro, casa, foi tudo embora”, diz, desolado.
 
No meio da tarde, após a maior parte do volume de água ser retirado da represa, a Defesa Civil liberou o retorno das famílias para suas casas e a retomada das buscas pelos cerca de 300 desaparecidos. Ao todo, 58 corpos já foram encontrados e 16, identificados. Para Eronice Alves Ferreira, de 39 anos, e os filhos, a busca pelo marido, o operador de máquinas Rodrigo Henrique de Oliveira, de 30 anos, se tornou um sofrimento ainda maior desde sábado. Um dia após a tragédia, o nome de Rodrigo foi incluído equivocadamente pela Vale em uma lista de pessoas localizadas com vida e levadas ao hospital. Desde então, ela carrega no bolso uma foto em que ela aparece sentada ao lado do marido, para ajudar na localização. “Quero que ele apareça, que eles me deem uma solução. Ou vivo, ou morto. Foi alguém que preencheu aquela lista. Então, para onde mandaram ele? Eu quero ele”, desabafa.
 
O presidente da Vale, Fabio Schvartsman, que esteve ontem em Brumadinho, afirmou que é preciso “ir além e acima” na implementação de ações de segurança para a operação de barragens de minas. “Vamos criar um colchão de segurança bastante superior ao que a gente tem hoje para garantir que nunca mais aconteça um negócio desse”, afirmou o executivo.
 
O prefeito de Brumadinho, Avimar de Melo (PV), que se encontrou com Schvartsman, culpou a Vale pela tragédia socioambiental no município, que depende cerca de 65% do que arrecada com mineração. Segundo ele, a Defesa Civil do município fiscalizava a operação da mina de acordo com as especificações pontuadas na licença concedida pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvenvolvimento Sustentável (Semad). A prefeitura multou a mineradora em R$ 100 milhões por causa do rompimento. “A gente acredita que outra barreira não vai estourar. Não podemos ter tanta falta de sorte”, afirmou.

Correio Braziliense domingo, 27 de janeiro de 2019

FUMAR ENVELHECE

 


Envelhecidos na fumaça
 
 
A idade biológica de fumantes é muito maior que a cronológica, mostra estudo americano com 149 mil voluntários. Essa aceleração do degaste do corpo em função do vício tem impactos ainda mais evidentes em mulheres

 

Vilhena Soares

Publicação: 27/01/2019 04:00

 
 
Câncer, infarto, tuberculose. Esses são alguns exemplos dos diversos problemas de saúde causados pelo tabagismo. Mesmo com todo o conhecimento sobre as complicações desse vício, ele segue sendo alvo de investigações científicas e se revelando cada vez mais ameaçador. Um recente trabalho mostra, por exemplo, que o cigarro também pode acelerar o envelhecimento. A descoberta foi feita por americanos após uma série de análises sanguíneas de voluntários e do uso de técnicas de inteligência artificial. Especialistas acreditam que o resultado da pesquisa poderá incentivar as pessoas a se livrarem da dependência.
 
“O tabagismo é um problema real, destrói a saúde das pessoas, causa mortes prematuras e é, muitas vezes, o motivo de várias  doenças sérias”, ressalta ao Correio Polina Mamoshina, pesquisadora sênior da empresa de biotecnologia Insilico Medicine, nos Estados Unidos, e uma das autoras do estudo, publicado recentemente na revista especializada Scientific Reports. No trabalho, a equipe se propôs a determinar as diferenças biológicas de idade entre fumantes e não fumantes, além de avaliar o impacto do tabagismo na bioquímica do sangue de voluntários.
 
Como primeiro passo, os cientistas realizaram uma série de análises em amostras sanguíneas de 149 mil adultos, homens e mulheres, com, em média, 55 anos de idade. Dos participantes, 33% (49 mil) relataram ser fumantes. A equipe focou em parâmetros bioquímicos que permitem quantificar a aceleração do envelhecimento biológico devido ao uso do tabaco, como hemoglobina glicada (a forma presente no sangue), ureia, glicose em jejum e ferritina (proteína relacionada ao ferro). “Essas métricas auxiliam no diagnóstico e no prognóstico de enfermidades associadas ao envelhecimento, como o câncer e doenças genéticas que resultam em envelhecimento precoce. A análise de biomarcadores pode permitir uma avaliação quantitativa do efeito de fatores ambientais, como o hábito de fumar, na taxa de envelhecimento biológico”, explica Polina Mamoshina.
 
Com base nas medições, descobriu-se que a idade biológica dos fumantes é muito maior do que a idade cronológica, em comparação aos que não são dependentes de cigarro. “Isso sinaliza que eles podem ter aceleração da idade e uma expectativa de vida mais baixa”, diz a pesquisadora. Ela também ressalta a identificação de diferenças substanciais em relação ao gênero. “As fumantes têm previsão para ser duas vezes mais velhas que a idade cronológica, em comparação às que não têm o vício. No sexo masculino, essa relação é de uma vez e meia”, diz Polina Mamoshina. Em uma segunda etapa, a equipe fez análises genéticas dos voluntários e chegou aos mesmos resultados.
 
A repetição das constatações chama a atenção da psiquiatra Helena Moura, doutoranda em psiquiatria pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e idealizadora do programa Viva Sem Cigarro. “No lugar de uma análise genética, os dados são de amostras sanguíneas, com as medições de glicose, entre outros parâmetros. É um método mais simples, que gerou os mesmos dados que a análise genética. Isso é possível porque sabemos que várias doenças estão relacionadas ao envelhecimento acelerado, como pressão alta e diabetes, que ocorrem com a chegada da idade avançada”, explica.
 
Segundo a médica, o trabalho avaliou um tema que tem sido bastante explorado na área científica: o envelhecimento acelerado. “É interessante, nessa pesquisa, o fato de os pesquisadores terem usado como base as descobertas feitas por uma mulher que foi ganhadora do Prêmio Nobel em um trabalho sobre os telômeros”, diz, fazendo referência à australiana Elizabeth Blackburn (Leia Para saber mais).
 
João Armando, psiquiatra e preceptor da residência médica na área de dependência química do Hospital das Forças Armadas (HFA), também enfatiza a importância de a pesquisa americana mostrar que o cigarro é um “mal global”. “Ele gera alterações genéticas, transformando a pessoa em uma idade mais avançada do que ela de fato tem”, frisa. Segundo o médico, os efeitos  causados são semelhantes ao de outra substância perigosa: o álcool.“Seria interessante comparar tipos distintos de drogas para entender melhor os efeitos delas”, sugere.
 
Polina Mamoshina adianta que o trabalho terá continuidade, mas focando apenas na dependência ao tabagismo. “Agora, estamos trabalhando na avaliação do efeito das terapias de longevidade e de outras escolhas de estilo de vida, como dietas distintas, para ver se isso faria alguma diferença nas pessoas que têm esse vício”, diz.
 
 
A régua da vida
 
Em 2009, a bióloga australiana Elizabeth Blackburn foi uma das vencedoras do Prêmio Nobel de Medicina graças à descoberta dos telômeros — pedaços do cromossomo — e a relação deles com o envelhecimento. De acordo com a cientista, quanto menor o tamanho desse elemento gênico, maior é o envelhecimento de um indivíduo, o que faz com que os telômeros sirvam como um parâmetro dos efeitos da idade no corpo.
 
Durante a entrega do prêmio, a especialista os comparou aos acabamentos de cadarços. “Imagine o cadarço como sendo o cromossomo, que carrega a nossa informação genética. O telômero é essa pontinha que serve de proteção. Quando se desgasta, o material genético fica desprotegido, e as células não podem se renovar apropriadamente”, ilustrou. A cientista também revelou que mudanças de estilo de vida podem evitar esse deterioramento, como a realização de exercícios e uma dieta mais saudável.

Correio Braziliense sábado, 26 de janeiro de 2019

CORUJAS ENVENENADAS NO SETOR SUDOESTE

 


Corujas envenenadas no Setor Sudoeste

 

» Pedro Canguçu*

Publicação: 26/01/2019 04:00

 (Barbara Cabral/Esp. CB/D.A Press)  
Moradora espalhou cartazes para conscientizar vizinhos: predadoras de escorpiões, elas ajudam no combate de pragas (Barbara Cabral/Esp. CB/D.A Press)  

Moradora espalhou cartazes para conscientizar vizinhos: predadoras de escorpiões, elas ajudam no combate de pragas

 



Corujas têm sido mortas por envenenamento no Sudoeste. Sete casos foram registrados desde o início do mês, tanto na área de preservação do Parque Ecológico Sucupira como na Avenida das Jaqueiras. A 3ª Delegacia de Polícia (Cruzeiro Velho) e a Polícia Ambiental registraram as queixas de moradores.

A técnica de segurança e líder comunitária da QRSW, Ivana Lacerda, 52 anos, espalhou cartazes pelas quadras do bairro nobre, em uma tentativa de conscientizar os moradores. “Há 10 dias, mataram quatro corujas e colocaram pedra em cima das tocas. Agora, só restou um adulto e um filhote”, conta Ivana.

Ainda de acordo com Ivana, os moradores da região convivem com as corujas há muito tempo. Além de proteger os animais, a preocupação da líder é com a segurança e a saúde dos moradores. “As corujas são predadoras de escorpiões e elas ajudam no combate de pragas”, ressalta a líder comunitária. Ela reclama que câmeras de segurança espalhadas pelo bairro não funcionam.
Bastante apegado às aves, o higienizador automotivo Tom Jonnhs, 43, presenciou duas cenas tristes. “No dia 12, encontrei uma com a perna quebrada e, um tempo depois, duas agonizando. Elas sempre conviviam comigo, ficavam nas cadeiras, eu colocava água para elas. Aí, de repente, acontece uma fatalidade dessas”, lamenta. Ele afirma que as corujas eram dóceis, mas, quando se sentiam ameaçadas, voavam próximo às pessoas para proteger os filhotes.
 
Câmeras
 
Responsável por operacionalizar as imagens, o 7º Batalhão de Polícia Militar confirmou que os equipamentos estão desligados. O comandante do Batalhão da Polícia Militar Ambiental, major Souza Júnior, diz acompanhar o caso para identificar os envolvidos.

Em nota, a Secretaria de Segurança Pública informou estar “em fase de assinatura” um contrato de instalação de novas 550 câmeras de videomonitoramento. Os equipamentos serão instalados até o fim do ano, em todas as regiões administrativas. O contrato prevê ainda a manutenção de equipamentos já instalados em várias regiões do Distrito Federal.

Atualmente, 444 câmeras estão em funcionamento em pontos estratégicos do DF. As imagens são transmitidas ao Centro Integrado de Operações de Brasília (Ciob), que monitora a cidade e identifica suspeitos de crimes. As câmeras também auxiliam nas investigações policiais e em situações de acidente de trânsito. Os locais escolhidos para a instalação dos equipamentos seguem, principalmente, as manchas criminais, que mostram os dias, horários e locais de maior incidência dos crimes.
 
* Estagiário sob supervisão de 
   Renato Alves


Memória

Ações para proteger aves

Não é a primeira vez que a população do Distrito Federal se une em defesa de corujas. Em setembro de 2017, no auge da seca de Brasília, moradores construíram casinhas em um gramado da 710 Norte para as corujas-buraqueiras se refrescarem. As estruturas em madeira foram erguidas em cima do buraco onde um casal de aves escolheu para viver há cinco anos.

Outras casinhas para os animais também surgiram em quadras da Asa Norte, no Park Way e no Cruzeiro.  Em 2009, um sargento da Marinha recolheu pedaços de madeira, cinco telhas e inaugurou a Toca da Coruja, na região do Cruzeiro. O idealizador passou a ser chamado de Zé da Toca.

Correio Braziliense sexta, 25 de janeiro de 2019

COPINHA: VASCO E SÃO PAULO FAZEM DUELO DECISIVO

 


COPA SP  - São Paulo e Vasco fazem duelo decisivo

 

Publicação: 25/01/2019 04:00

O meia Lucas Santos, 19 anos, é o destaque do time carioca (Rafael Ribeiro/Vasco.com
)  

O meia Lucas Santos, 19 anos, é o destaque do time carioca

 





A final da Copa São Paulo de Futebol Júnior, hoje, entre São Paulo e Vasco, às 15h30, tem jeito de decisão profissional. Ontem, a Federação Paulista de Futebol promoveu uma entrevista coletiva com os técnicos e os destaques de cada time. Os protagonistas são conhecidos: o são-paulino Antony integra o time principal desde o ano passado e o vascaíno Lucas Santos vem sendo observado de perto pelo técnico Alberto Valentim. O Pacaembu estará lotado, com 37 mil ingressos colocados à venda.

O atacante Antony foi promovido para o time de cima do São Paulo ainda pelo técnico Diego Aguirre, demitido no ano passado. Ele quase viajou com a equipe para a Florida Cup, no início do mês, mas virou reforço para a Copa São Paulo.

No último jogo, na semifinal diante do Guarani, ele foi o destaque do time, que não sentiu falta do artilheiro Gabriel Novaes, que estava suspenso. “É um sonho que a gente tem desde criança. Desde menino sempre quis e agora estou realizando”, disse Antony.

No Vasco, Lucas Santos está na quarta edição do torneio e foi citado pelo técnico Alberto Valentim. “Em nenhum momento avaliarei um jogador pela estatura. O Lucas Santos é um jogador de qualidade, esteve treinando com a gente no profissional no ano passado. Ele é uma joia do Vasco”, afirmou o treinador, referindo-se à estatura de Lucas (1,64m).

São Paulo e Vasco se enfrentarão em uma decisão de Copa São Paulo pela segunda vez na história. A primeira foi em 1992, quando o time carioca venceu nos pênaltis, após o empate por 1 x 1. O tricolor busca o quarto título e quer superar o drama do ano passado, quando foi vice-campeão diante do Flamengo.

Correio Braziliense quinta, 24 de janeiro de 2019

COPINHA - QUE REI SOU EU? - CONHEÇA TIAGO REIS O MENINO VASCAÍNO DO CRUZEIRO NOVO

 


Que rei sou eu?
 
 
Conheça Tiago Reis, o menino do Cruzeiro Novo que briga pela artilharia do principal torneio de base do país. Com sete gols, o camisa 9 é a esperança cruz-maltina na final contra o São Paulo

 

Marcos Paulo Lima

Publicação: 24/01/2019 04:00

 
 (Ale Vianna/Divulgação
)  



Tiago Reis e a família no Cruzeiro Novo, onde começou jogando futsal (Arquivo Pessoal
)  
Tiago Reis e a família no Cruzeiro Novo, onde começou jogando futsal


Há 21 anos, um jogador nascido no Distrito Federal foi um dos protagonistas do título do Internacional na Copa São Paulo de Futebol Júnior. O zagueiro Lúcio, campeão da Copa do Mundo de 2002, era o capitão colorado na campanha do time comandado por Guto Ferreira. O menino de Planaltina levantou a taça, no Morumbi, após o triunfo nos pênaltis sobre a Ponte Preta. Amanhã, outro jogador brasiliense pode entrar para a história do torneio na decisão contra o São Paulo, às 15h30, no Pacaembu.

Vice-artilheiro da Copinha com sete gols, dois atrás de Gabriel Novaes, do São Paulo, o camisa 9 do Vasco, Tiago Reis, nasceu na capital do país e tem a oportunidade de levar o time cruz-maltino ao título contra o São Paulo. Curiosamente, ele veste a camisa do clube carioca há apenas cinco meses.

A promessa cruz-maltina começou no Cruzeiro Novo, onde morava. Jogou futsal até os 7 anos na escolinha do Ajax e decidiu trocar as quadras pelo campo em 2013. Ousado, arrumou as malas em 2015, deixou Brasília e colocou o pé na estrada para fazer teste no Goiás. Concorreu com 600 meninos em três dias.

“Ele foi aprovado aqui com a gente. Garoto muito bom, cabeça boa. Na época, o Leandro Campos foi quem selecionou o ‘Tiagão’, que era o apelido dele aqui. Ficou com a gente. Biotipo bom, grande, um excelente finalizador”, lembra, em entrevista por telefone ao Correio, Hely Maia, coordenador das divisões de base do Goiás.

Aprovado na seleção, Tiago evoluiu nas divisões de base do Goiás em 2016. Arrematou a artilharia do Campeonato Goiano Sub-17 com 19 gols e levou o time esmeraldino ao título da categoria. No mesmo ano, foi vice-goleador da Taça Mané Garrincha com 13 bolas na rede. Consequentemente, ganhou vaga na lista dos inscritos para a Copa São Paulo de Futebol Júnior 2017 sob o comando do técnico Sílvio Criciúma. Inscrito com a camisa 9, iniciou a competição titular contra o Pérolas Negras, mas perdeu a posição ao longo do torneio.

“Ele foi titular no primeiro jogo e depois saiu do time. Não recuperou a posição. É da geração 1999 do Goiás, considerada a mais promissora do clube. Em 2017, o clube representou o Brasil na Universíade, em Taiwan, e ele foi conosco. Quando voltamos, assumi o profissional do Goiás e ele seguiu para o Cruzeiro”, conta o treinador.

Xerife da defesa de Luiz Felipe Scolari no título do Criciúma na Copa do Brasil 1991, Sílvio Criciúma comanda o Grêmio Anápolis no Goianão. Ex-zagueiro, ele sabe quando um centroavante é talentoso. “Se tivessem perguntado a minha opinião, ele estaria no Goiás até hoje. É muito bom jogador. Fiquei até surpreso quando vi o Tiago jogando pelo Vasco na Copa Ypiranga, lá no Rio Grande do Sul, e agora, na Copinha. Tem potencial. Sabe fazer gol, se posiciona muito bem”, avalia.

Essas referências levaram Tiago Reis de Goiânia para Belo Horizonte. Passou a trabalhar na base do Cruzeiro. No ano passado, o centroavante disputou a Copinha pela segunda vez. Vestia a camisa 9 celeste sob a batuta de Emerson Ávila, mas passou em branco na competição. Viveu maus momentos no clube mineiro.

Dispensado pelo Cruzeiro no segundo semestre do ano passado, recomeçou no Vasco. Com passagem pela Raposa, o técnico do Vasco, Marcos Gomes Valadares, conhecia Tiago Reis da base celeste. O estafe da promessa reclamou da falta de oportunidade e do estilo de jogo nas divisões inferiores da equipe mineira.

Incorporado ao elenco do Vasco, o centroavante colecionou bons resultados. No fim do ano passado, foi vice-artilheiro do Torneio Otávio Pinto Guimarães (OPG) com oito gols — um a menos do que Vitor Gabriel, do Flamengo. Agora, está na briga com Gabriel Novaes para ser o goleador da Copa São Paulo de Futebol Júnior.


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Gols tem Tiago Reis na Copinha, um atrás de Gabriel Novaes, do São Paulo


“É muito bom jogador. Tem potencial. Sabe fazer gol, se posiciona muito bem”

Sílvio Criciúma, técnico de Tiago Reis no Goiás na Copinha 2017



Memória

Brasília, celeiro de artilheiros da Série A

» Edmar*
Goleador do Brasileirão em 1985

» Amoroso
Matador do Brasileirão em 1994

» Dimba
Homem-gol do Brasileirão em 2003

» Washington
Artilheiro do Brasileirão em 2004 e 2008

*Nasceu em Araxá (MG), mas começou no futebol do DF.

Correio Braziliense quarta, 23 de janeiro de 2019

PARQUE DE ÁGUAS CLARAS: O VERDE NO CENTRO DA CIDADE

 


O verde no centro da cidade
 
 
Parque de Águas Claras reúne uma série de espaços destinados desde a simples contemplação até a prática de esportes

 

Natália Ferreira*
Renata Nagashima*

Publicação: 23/01/2019 04:00

 (Arthur Menescal/Esp. CB/D.A Press)  

"Aqui antes só tinha mato, mas a gente organizava eventos com a população. Trilha com ciclistas, luaus e caminhadas” 
José Júlio de Oliveira, morador



Ricardo Mafra e Alice Custódio: além de aproveitar as opções do parque, guardam boas lembranças do local (Arthur Menescal/Esp. CB/D.A Press)  

Ricardo Mafra e Alice Custódio: além de aproveitar as opções do parque, guardam boas lembranças do local

 




Em meio à selva de concreto da cidade mais verticalizada do Distrito Federal, há uma área nobre destinada à qualidade de vida: o Parque Ecológico Águas Claras. Natureza e urbanização se unem e proporcionam momentos de lazer e de tranquilidade para a comunidade local. Inaugurado nos anos 2000,  é um refúgio da agitação do dia a dia.

O ambiente agradável é um convite para reuniões entre amigos. Os estudantes Ricardo Mafra, 18, e Alice Custódio, 20, frequentam o local público desde pequenos e guardam lembranças de como era o espaço. “Há uns anos não tinha muita infraestrutura para receber o público, víamos mais mato do que qualquer outra coisa. Mas eu me divertia quando jogava vôlei com meus amigos”, relembra Ricardo.

Próximo ao lago é possível encontrar patos, capivaras, gansos, tucanos e bem-te-vis que vivem por entre os ipês, ingás e muitas outras árvores frutíferas encontradas nos 120 hectares de reserva. Os animais são lembrados com carinho por Alice. “A lembrança mais legal que tenho é de quando eu e outros amigos alimentávamos alguns patos que passeavam por aqui”, conta.

Existem outras opções de parques no Distrito Federal, mas este ganha a preferência dos dois estudantes. Segundo eles, as pistas de corrida são ótimas, “há quiosques e bebedouros por toda a área, que facilita para quem deseja ficar o dia inteiro. Além de ser bonito, aconchegante e arborizado, é seguro, não escutamos relatos de assaltos”, elogia Ricardo.


Giocleides Cândido: espaço para praticar esporte e também de contemplação (Arthur Menescal/Esp. CB/D.A Press)  
Giocleides Cândido: espaço para praticar esporte e também de contemplação



Recordação
A administradora Francineide Soares Ribeiro, 43, apesar de morar no Recanto das Emas, é frequentadora assídua do Parque de Águas Claras. “Conheci quando morei aqui perto, não era nem parque ainda. Mas me apaixonei e volto sempre, seja sozinha ou com a família, porque aqui tem atividades para todo mundo, seja para caminhada, contemplação, brincadeira ou praticar algum esporte.”

Para Francineide, as visitas ao parque também proporcionam momentos de recordação, como na época em que passeava com mãe, que hoje está debilitada. “Eu sempre lembro de quando caminhávamos, ficávamos conversando em baixo das árvores, tomando cafezinho em baixo de uma cabana, é a cara dela”, recorda.

Criado com o objetivo de proteger o acervo genético da flora e da fauna nativas da região, áreas de nascente e recargas de aquíferos, em 15 de abril de 2000, pela Lei Complementar nº 287, a reserva possui uma boa estrutura, com trilhas para caminhadas, quadras de voleibol e futevôlei de areia, Escola da Natureza e uma unidade da Polícia Florestal. Além disso, oferece floresta preservada com riachos e dois laguinhos.

“Tenho muito orgulho do que isso aqui se formou. É um dos melhores parques de Brasília”. É assim que um dos responsáveis pela criação do local descreve o espaço. Morador de Águas Claras há 20 anos, José Júlio de Oliveira, 59 anos, conta que ajudou a reunir alguns moradores para defende a criação do parque. “Aqui antes só tinha mato, mas a gente organizava eventos com a população. Trilha com ciclistas, luaus e caminhadas. Essas mobilizações que foram transformando esse espaço em um parque estruturado, porque a população abraçou a ideia e desenvolveu afeto pelo parque”, destaca.

A preocupação em melhorar a qualidade de vida da família e da comunidade foi o que incentivou José Júlio, hoje aposentado, a lutar pelo parque. “Vivemos cercados por prédios, tudo cinza. Esse é um escape que a gente tem para relaxar. Vou sempre lutar para que tenha investimento, para que seja preservado e possamos usufruir desse refúgio. Não é em todo lugar que temos isso”, afirma.

Ele conta que sente um carinho especial pelo parque. “A história desse espaço se confunde com minha história e com a de Águas Claras. Crescemos juntos e vi meus filhos crescerem aqui. Tivemos vários momentos em família que ficarão guardados na memória. É muito importante para gente.”

Dentro do parque flui o córrego Águas Claras, que deu origem ao nome da cidade, e forma uma lagoa no centro da reserva. Em meio à vegetação nativa do cerrado preservada e áreas de reflorestamento, longas trilhas contornam o parque, oferecendo um ambiente agradável para a prática de corridas e caminhadas, e até mesmo contemplação da natureza. Mas vale ressaltar que ainda há usuários que passeiam com seus pets, mas não retiram o cocô dos cachorros. A questão do estacionamento em cima das calçadas externas ao parque é outro problema.

A prática de exercícios é a principal motivação da visita de Giocleides Cândido, 41, morador de Vicente Pires, que conheceu por acaso o parque. “Vi a grande quantidade de árvores e fiquei curioso para saber o que poderia ter aqui. Eu adorei o que encontrei, lugar bem projetado e bonito. Vou trazer minha namorada para conhecer no fim de semana”, afirma.



 (Breno Fortes/CB/D.A Press - 23/2/18)  



Ampliação 
Em junho passado, os moradores de Águas Claras conseguiram sensibilizar o GDF com uma petição com mais de mil assinaturas e conquistaram a ampliação do Parque de Águas Claras. Parte da Residência Oficial do governador foi destinada à ampliação do espaço. No total, ele foi expandido em mais de 30 hectares, totalizando 120 hectares, ou seja, o equivalente a mais de 100 campos de futebol.

Segundo o administrador do Parque Ecológico Águas Claras, André Leopoldino, para este ano há diversos projetos que visam a melhorar a infraestrutura, segurança e acessibilidade no local, como a implantação de uma guarita na entrada recém-criada, próximo à EPTG, que facilitaria o acesso de moradores de outras cidades. “Além disso, temos projetos para dois plantios de 60 mil mudas e outro de 30 mil mudas, a criação do Bosque dos Heróis, em parceria com a polícia militar, para homenagear policiais que faleceram servindo”, conta.

Leopoldino afirma, ainda, que a prioridade é continuar melhorando a qualidade da infraestrutura que recebe cerca de 3 mil pessoas durante a semana e 6 mil nos finais de semana. “Estamos sempre correndo trabalhando para manter o parque limpo, podado e seguro para oferecer melhor qualidade de lazer a população, além de preservar o meio ambiente e a diversidade que temos aqui”, conclui.

* Estagiárias sob supervisão de José Carlos Vieira




Conheça

» Área (hectares): 120
» Endereço: Avenida Castanheiras — Centro.Situado atrás da Residência Oficial de Águas Claras, entre as quadras 301, 104, 105 e 106 da cidade.
» Localização: Área adjacente às Quadras 103, 105, 106, 107 e 301, de Águas Claras, à margem da Avenida Parque Águas Claras, próximo à Estação de Metrô Águas Claras.
» Horário de funcionamento: Diariamente, das 06h às 22h.
» Administração do Parque Ecológico: (61)9 9219-8733/ email:  parqueaguasclaras.ibram@gmail.com
» Escola Ambiental: 3381-1784


Atividades

» O parque de Águas Claras é administrado pelo Instituto do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos do DF (Ibram) e se tornou sede do Centro de Referência em Educação Ambiental Águas Claras, que realiza atividades de vivência junto ao meio ambiente direcionadas a alunos de escolas do DF. Em parceria com a Secretaria de Educação, o projeto Ginástica nas Quadras oferece aos frequentadores atividades físicas durante a semana.
 
 

Correio Braziliense segunda, 21 de janeiro de 2019

CARRO DE BOI INVADEM PIRENÓPOLIS

 


Carros de boi invadem Piri

 

» Renato Alves 
» Ed Alves (fotos)

Publicação: 21/01/2019 04:00

 

 


Carros de boi desfilam pelo centro histórico: rodas produzem um som estridente, considerado música para muita gente  

Carros de boi desfilam pelo centro histórico: rodas produzem um som estridente, considerado música para muita gente

 



Alguns fiéis viajaram com a família inteira para manifestar a fé e conservar a tradição na cidade goiana distante 140km de Brasília  

Alguns fiéis viajaram com a família inteira para manifestar a fé e conservar a tradição na cidade goiana distante 140km de Brasília

 



Moradores e visitantes acordaram em Pirenópolis (GO), no sábado e ontem, ao som estridente produzido pelas rodas de carros de boi que, enquanto para alguns soa como música, para outros, remete a um lamento ou gemido. Mas quase ninguém se incomodou. Afinal, a maioria estava na cidade justamente para ver e ouvir o desfile dos veículos, um dos mais antigos meios de transporte do Brasil. Tradição no município goiano, distante 140km de Brasília, e em outras localidades do interior do país, a procissão se repete na mesma época do ano, em meio às celebrações de São Sebastião, que incluem missas, novena e barraquinhas com quitudes.

No caso de Pirenópolis, a festa começou há nove dias e terminou ontem, quando os 22 carros de boi e os seus condutores se despediram após as bênçãos. Entre eles, Joaquim Ponteonteire, 60 anos, que viajou por três dias entre sua fazenda, a 30km de Pirenópolis, até a sede do município. “É com muita alegria e devoção que faço isso, há 11 anos, ininterruptamente”, ressaltou. O carro de boi dele tem mais de 100 anos. “Herdei a fazenda há 35 anos, com o carro de boi. Nunca deixei de usá-lo”, contou o homem, antes de pegar a estrada novamente, para mais três dias de viagem sobre o veículo rudimentar, mas ainda eficaz.

Animais e carroças foram enfeitados  para participar do cortejo pelas principais ruas da cidade  

Animais e carroças foram enfeitados para participar do cortejo pelas principais ruas da cidade

 



Os produtores saíram de povoados da região: alguns viajaram por até três para chegar à sede do município  

Os produtores saíram de povoados da região: alguns viajaram por até três para chegar à sede do município

 



Joaquim Ponteonteire:  

Joaquim Ponteonteire: "Herdei a fazenda há 35 anos, com o carro de boi. Nunca deixei de usá-lo"

 

 
Jornal Impresso

Correio Braziliense domingo, 20 de janeiro de 2019

QUAL SERÁ A MÚSICA MAIS QUENTE DO VERÃO?

 


A música mais quente do verão
 
 
Artistas e especialistas falam sobre o caminho percorrido para chegar ao hit da estação. Jenifer, Coisa boa e Rei leão estão na disputa

 

Mariah Aquino*
Vinícius Veloso*

Publicação: 20/01/2019 04:00

 
 
 
 
Começa um novo ano e o hit do verão se torna um assunto recorrente na boca do povo. Os dois primeiros meses do ano ficam marcados pela música, que toca repetidas vezes, até a chegada do carnaval. Em 2019, a tendência é que a tradição se mantenha.
 
A música que estourou primeiro e está fazendo sucesso nas rádios e plataformas de streaming é Jenifer, de Gabriel Diniz. O cantor lançou o “forrónejo” com um refrão chiclete e uma levada animada, o que levou o single ao topo das paradas musicais. “É um divisor de águas na minha carreira, uma conquista. A música é ousada, irreverente e bem humorada e essas características combinam comigo”, avalia Gabriel, em entrevista ao Correio.
 
A empolgante composição traz, ainda, um clipe estrelado pela atriz Mariana Xavier, responsável por simbolizar a quebra dos padrões estéticos historicamente impostos na sociedade.
 
“Jenifer veio para quebrar paradigmas e desconstruir os estereótipos impostos de forma padronizada, trazendo autoestima para diversas mulheres que não se identificavam com esses padrões pré-estabelecidos de beleza”, pontua Gabriel Diniz.
 
Segundo o jornalista Osmar Martins, especialista quando o assunto é carnaval, a música se tornou uma febre e uma forte concorrente a hit do verão por conta da divulgação por trás do sucesso. “Acredito que o sucesso vem da letra fácil, da execução maciça nas emissoras de rádio e plataformas digitais e do tema que aborda”, explica.
 
A receita do sucesso
 
Márcio Victor, cantor do grupo Psirico, tem experiência em hit do verão. Ele já emplacou sucessos como Lepo lepo e Elas gostam (Popa da bunda) nos carnavais de 2014 e 2018, respectivamente. O vocalista garante que a fórmula é simples: escutar a voz do povo.
 
“Para fazer uma música, a gente busca inspiração no povo, fala o que o povo quer falar. A gente pesquisa, anda pela rua, passa pelos lugares movimentados e encontra assuntos de que o povo gosta. Um hit precisa de dança, coreografia, uma letra que pega”, ensina.
 
Uma vez que a relação música e povo surge, estamos diante de um sucesso. É com essa união que o grupo Psirico pretende chegar a mais um sucesso em 2019. A música Rei leão é a aposta dos músicos para o carnaval. O clipe oficial conta com a participação de vários youtubers da Bahia representando animais e faz referências sonoras à animação homônima da Disney.
 
“A música Rei Leão foi lançada recentemente e já tem uma adesão grande das pessoas. Ela surge com uma letra mais leve, com uma alegria que contagia todo mundo, da criança ao mais velho. Se não for o hit do verão, eu estou louco. Já tem ambulante comprando máscara de leão para vender”, disse o empolgado Márcio Victor.
 
O jornalista Osmar, no entanto, faz questão de pontuar que o axé não é mais o único protagonista do carnaval: “Com a chegada de outros ritmos que passaram a fazer parte do repertório de artistas e bandas, hits do sertanejo, funk, arrocha e sofrência entraram com força na festa.”
 
Ritmo envolvente
 
É nesse embalo que a drag queen Gloria Groove, dona dos hits Bumbum de ouro e Arrasta, lançou, nos primeiros dias de janeiro, a faixa Coisa boa. “Foi um experimento com o 150 BPM”, ela explica, referindo-se ao compasso acelarado da canção. “Eu sentia a capacidade de a música ser maior, mais forte, uma música resistente. Para mim, existe um lugar em que o nosso fogo e a nossa luta se encontram e Coisa boa está nesse lugar”.
 
Engajada na luta pela representatividade LGBT+, Gloria reconhece que a faixa é bem mais que uma batida envolvente. “Tem que ser hit do verão, sim, tem que ser curtição, mas além disso precisa ocupar espaços e representar a luta”, conta Gloria. “Coisa boa é muito maior que um projeto para o verão. Sou uma drag queen dando certo no Brasil, não posso ser tão alheio ao que está acontecendo”.
 
Sobre o clipe já lançado e com direção de Felipe Sassi, a artista conta: “Foi gravado numa prisão desativada há 15 anos, muito legal gravar lá”. Mesmo no videoclipe, Gloria faz questão de ressaltar o significado real da canção. “Segue muito a linha de não se deixar abalar pela opressão, levantar a cabeça, porque uma hora a liberdade vai cantar”, ela brinca.
 
*Estagiários sob a supervisão de Vinicius Nader
 
 
 
Músicas que conhecemos de outros carnavais:
 
2018 – Que tiro foi esse? —  Jojô Todynho 
 
2017 – Meu pau te ama — MC Gui
 
2016 – Metralhadora — Vingadora 
 
2015 – Muriçoca soca — O Rei da Cacimbinha
 
2014 – Lepo lepo — Psirico 
 
2013 - Passinho do volante (Ah Lelek Lek Lek) — DJ Maluco e Alladim
 
2012 - Gangnam style – Psy 
 
2011 – Ai se eu te pego — Michel Teló 
 
2010 – Rebolation — Parangolé
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense sábado, 19 de janeiro de 2019

TRISTEZA NO MUNDO SERTANEJO - MORRE MARCIANO

 

 
Ataque cardíaco fulminante mata Marciano, conhecido como "o inimitável"

 

Diego Luiz Marques *

Publicação: 19/01/2019 04:00

Marciano compôs hits como Fio de cabelo e Ainda ontem chorei de saudade (Cadu Fernandes/Divulgação)  

Marciano compôs hits como Fio de cabelo e Ainda ontem chorei de saudade

 

 
 
Ícone do sertanejo popular e conhecido como “O inimitável”, o cantor Marciano faz parte da história da música no Brasil. Ao lado de João Mineiro, embalou sucessos na década de 1980. Hits como Ainda ontem chorei de saudade e Seu amor ainda é tudo permanecem presentes na memória e continuam a tocar nas rádios e boates do país.
 
Marciano morreu ontem, aos 67 anos, ao sofrer um infarto fulminante na madrugada em casa, na cidade de São Caetano do Sul (SP). Em anúncio, a família contou que o cantor acordou reclamando de dores no peito e não resistiu.
 
O jornalista especialista em música sertaneja André Piunti ressalta a importância do cantor. “O Marciano fez parte de uma das duplas mais importantes do sertanejo nos anos 1980. Eles rivalizaram, no bom sentido, com Chitãozinho & Xororó, por exemplo. À época, alguns jornais faziam matérias sobre qual dupla era maior. Não à toa, conseguiram fazer algo que poucos artistas conseguem: criar músicas que atravessam gerações”, explica.
 
João Mineiro & Marciano começaram a parceria em 1970 e chegaram ao auge em 1986. No entanto, em 1993 se separaram. “Eles erraram a mão, brigaram e acabaram se separando no início dos anos 1990. Foi logo quando houve aquele sucesso de várias duplas com o projeto Amigos”, revela André.
 
Após a separação, tanto Marciano quanto João Mineiro perderam espaço na mídia. “Eu conversava com o Marciano e ele dizia ‘poxa, ninguém me chama pra mais nada’, um fenômeno curioso. E assim ficou até o falecimento de João Mineiro, em 2012, quando houve um resgate do Marciano por parte dos veículos de comunicação”, relata.
 
“Ele foi esquecido pela geração sertaneja do início dos anos 2000. Nem todo mundo sabe, mas ele também foi compositor de músicas que estouraram na voz de outros cantores, como Fio de cabelo. O pessoal de agora que voltou a valorizar o que ele representa. Em 2014 fez parcerias com Marcos & Belutti e, também, com Victor & Léo”, conta André.
 
Em 2016 Marciano formou nova dupla ao lado de Milionário, que perdeu o parceiro José Rico no ano anterior. Segundo André Piunti, “a união deles foi um presente, tanto para a música sertaneja quanto para eles mesmos. A música não podia deixar esses caras encostados”.
 
Atualmente Milionário & Marciano apresentavam o projeto Lendas, com shows sertanejos por vários estados do Brasil. “O projeto foi idealizado pelo Sorocaba (Fernando & Sorocaba), que é um cara da nova geração”, completa André. “A dupla João Mineiro & Marciano teve muita influência na nossa história. Marciano é uma das lendas que ajudaram a construir a história da música sertaneja e também a nossa”, afirma Sorocaba, em entrevista ao Correio.
 
Homenagens
 
João Mineiro & Marciano influenciaram diversos artistas do gênero sertanejo. Milionário, último parceiro de Marciano, se despediu pelas redes sociais: “Venho aqui, te agradecer por ter me acompanhado nessa longa estrada da vida, e ter escrito comigo uma nova história! Obrigado pelos momentos vividos e pela amizade!”.
 
Chitãozinho & Xororó destacaram, pelo Instagram, a amizade com Marciano. “Um grande amigo e uma influência sem tamanho em nossa música e em nossas vidas. Um cara sensacional que deixou sua marca no sertanejo e foi referência pra tantos que o sucederam.”
 
Humberto & Ronaldo destacaram a importância do artista. “Infelizmente nessa sexta-feira nós perdemos uma das primeiras vozes mais bonitas do Brasil. Escutávamos desde criança as músicas. Ele trouxe o sertanejo romântico e embalou muitos sucessos que viraram hinos, como Paredes azuis e Ainda ontem chorei de saudade”, afirmaram, em nota.
 
* Estagiário sob a supervisão de Vinicius Nader
 
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense sexta, 18 de janeiro de 2019

MORTE DE GINASTA: COMO NASCEM OS ANJOS

 

Como nascem os anjos
 
Aos 17 anos e com passagem pelas categorias de base da Seleção Brasileira, Jackelyne Silva morre em São Paulo por causa desconhecida. Entidades esportivas e colegas de equipe lamentam o ocorrido

 

Publicação: 18/01/2019 04:00

Jackelyne Silva teria sofrido duas convulsões no domingo. Internada, passou mal novamente e teve uma parada cardíaca (Ricardo Bufolin/CBG
)  

Jackelyne Silva teria sofrido duas convulsões no domingo. Internada, passou mal novamente e teve uma parada cardíaca

 





A Confederação Brasileira de Ginástica (CBG) anunciou, ontem, a morte da ginasta Jackelyne Silva, 17 anos, ocorrida na tarde de quarta-feira, em São Paulo. Ela estava internada, mas as causas do falecimento ainda não foram divulgadas. O Pinheiros, clube onde a atleta atuava, lamentou o ocorrido por meio de nota nas redes sociais.

“Com imensa tristeza, o Esporte Clube Pinheiros recebeu a notícia do falecimento da ginasta Jackelyne Soares Gomes da Silva. Jack, como era conhecida, fazia parte da equipe pinheirense desde 2010. Seu jeito brincalhão e sua alegria contagiavam todos que conviviam com a atleta, dentro e fora dos treinamentos. Em quase nove anos de convivência, ela fez parte de bons momentos da nossa equipe e o clube acompanhou seu crescimento, como atleta e como pessoa. Solidário à dor de familiares e amigos, o Pinheiros está acompanhando e prestando todo o suporte possível nesse momento de despedida”, diz a publicação, seguida de um vídeo da ginasta em ação.

Jackelyne Silva estava em recesso e, portanto, sem treinar desde o ano passado. A ginasta defendeu a Seleção Brasileira nas categorias de base e chegou à categoria adulta em 2017, mas não havia conseguido um espaço maior na equipe principal. Alguns colegas, como Flavia Saraiva e Arthur Nory, se solidarizaram nas redes sociais, enquanto a CBG publicou um vídeo com momentos da atleta.

“Recebemos com tristeza a notícia do falecimento da atleta Jackelyne Silva. Nos solidarizamos com os familiares, amigos e técnicos. Ficam, agora, as boas recordações da ginasta fazendo o que mais amava”, publicou a CBG em rede social.

De acordo com o técnico da ginasta, Danilo Bornea, Jackelyne sofreu uma convulsão seguida de parada cardíaca na quarta-feira. “A Jack teve algum problema. No domingo, duas vezes, parece que teve convulsão. Ela foi para o hospital, medicada. Eu não sei bem ao certo o que aconteceu. Depois, teve mais uma convulsão, uma parada cardíaca e morreu”, disse.

Por meio de redes sociais, colegas do mundo esportivo lamentaram a morte da atleta. A ginasta Flávia Saraiva desejou que a jovem “descanse em paz”. A Federação Paulista de Ginástica também publicou nota de pesar. “A Federação Paulista de Ginástica quer expressar aos familiares e amigos e a toda comunidade da ginástica os seus sentimentos pela morte da ginasta Jackelyne Silva, aos 17 anos. Ela era ginasta do Pinheiros e participava de competições da FPG. O céu ganhou uma estrela brilhante”, publicou a entidade. O velório e o sepultamento ocorrerão hoje, no Cemitério Vila Formosa, em São Paulo. O Clube Pinheiros custeará as despesas.



“Recebemos com tristeza a notícia do falecimento da atleta Jackelyne Silva. Nos solidarizamos com os familiares, amigos e técnicos. Ficam, agora, as boas recordações da ginasta fazendo o que mais amava”

Confederação Brasileira de Ginástica, em nota


A ginasta Rebecca Mariah homenageou a amiga em rede social (Reprodução/Instagram
)  

A ginasta Rebecca Mariah homenageou a amiga em rede social

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Correio Braziliense quinta, 17 de janeiro de 2019

48,2 MIL VAGAS EM CONCURSO

 


Orçamento mantém concursos
 
 
Lei sancionada por Bolsonaro, com dois vetos, prevê preenchimento de 43.373 vagas e criação de 4.851 cargos. Executivo tem o maior número de oportunidades, 42,8 mil, sendo 22,5 mil para educação
 

» SIMONE KAFRUNI
» MARIANA FERNANDES

Publicação: 17/01/2019 04:00

O presidente Jair Bolsonaro sancionou o Orçamento de 2019, que estima em R$ 3,382 trilhões a receita da União, com dois vetos parciais, nenhum relacionado com as vagas previstas em concursos públicos. Na peça orçamentária publicada ontem no Diário Oficial da União, estão previstas 48.224 vagas, sendo 43.373 para provimento e 4.851 para criação de cargos. O Executivo tem o maior número de oportunidades (42,8 mil), sendo 22,5 mil para a educação. No Legislativo, são 384 cargos e no Judiciário, 2.973. Além disso, foram autorizadas no Orçamento mais de 2 mil vagas nas polícias Civil e Militar e no Corpo de Bombeiros do Distrito Federal.

O governador do DF, Ibaneis Rocha, afirmou durante o lançamento do  programa SOS DF Segurança que trabalha para lançar, ainda este mês, concurso para recompor as forças do DF. Segundo ele, há um deficit de 7 mil policiais na Polícia Militar, e o mesmo problema de falta de contingente atinge a Polícia Civil.

Na peça sancionada, as despesas somam R$ 3,262 trilhões, dos quais R$ 351 bilhões são gastos com pessoal, incluídos R$ 109 bilhões com inativos. Do R$ 1,3 trilhão de outras despesas correntes (veja quadro), R$ 625 bilhões são com a Previdência e o restante para manutenção do Estado. “O governo gasta quase R$ 379 bilhões com juros e encargos da dívida e mais R$ 1 trilhão com amortização. O gasto financeiro com a dívida pública, que nunca foi auditada, é mais que o dobro da Previdência e vai consumir 44% de todo o Orçamento”, alertou Maria Lucia Fattorelli, coordenadora nacional da Auditoria Cidadã da Dívida.

Maria Lucia ressaltou que o governo apresenta um deficit fiscal de R$ 139 bilhões, mas não computa algumas receitas. “Há um item que é remuneração da conta única pelo Tesouro, de R$ 91 bilhões, o resultado do Banco Central, de R$ 26,5 bilhões, e R$ 22,5 bilhões de recebimento de juros e amortizações de estados e municípios. Se somar tudo isso, dá R$ 140 bilhões e cobre o deficit”, contabilizou.

Regra de Ouro

Para Gabriel Leal de Barros, diretor do Instituto Fiscal Independente (IFI) do Senado, o mais relevante do Orçamento é a insuficiência de recursos para cumprir a regra de ouro, que impede usar operações de crédito para pagar despesas correntes. “A previsão é de R$ 248 bilhões. Apesar do repasse do Banco Central, vai ficar um rombo”, destacou. Segundo Barros, também devem entrar em caixa recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). 

Em 2019, para cumprir a regra de ouro, o Congresso deverá aprovar crédito adicional à Lei Orçamentária. A Constituição permite o excesso, desde que autorizado pelo Legislativo por meio de crédito adicional atípico, cuja aprovação é por maioria absoluta, explicou Barros. Essa possibilidade foi condicionada à justificativa do governo para a escolha das programações. 

Bolsonaro vetou a reestruturação das carreiras do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e a criação de fundo especial no Conselho Nacional de Justiça (CNJ). O fundo foi vetado, segundo o governo, porque fere o novo regime fiscal do teto de gastos. “O Poder Executivo é impedido de viabilizar a execução de despesa de competência de outro Poder, em razão de suas despesas estarem limitadas”, informou o texto. “O corte terá impacto direto em projetos que visavam à modernização da prestação jurisdicional e consequente melhoria do serviço à população. Entretanto, o veto é uma prerrogativa da Presidência da República”, afirmou o CNJ, em nota.

Na justificativa da decisão sobre o Incra, o presidente afirmou que a mudança na estrutura de carreiras e o aumento salarial infringem a Constituição. “A inclusão do item durante a tramitação do projeto desconsidera a discricionariedade da administração para priorizar e harmonizar suas necessidades conforme os critérios de conveniência e oportunidade”, destacou.

Segundo o Incra, em dezembro de 2017, foi encaminhado à Casa Civil estudo propondo a reestruturação das carreiras da autarquia, que, em novembro de 2018, tinha 4.396 servidores ativos. “Uma das reivindicações dizia respeito à instituição de gratificação de qualificação, existente em outros órgãos da Administração Pública federal. Outra, foi a necessidade de atualização do quadro de pessoal”, afirmou, em nota.

O diretor nacional da Associação Nacional dos Servidores Públicos Federais Agrários (Cnasi/An), Reginaldo Marcos Aguiar, explicou que o impacto orçamentário da alteração, vetada pelo presidente, foi calculado em R$ 216 milhões para 2019. 


MPF proporá ação contra a Marinha
O Ministério Público Federal (MPF) vai propor ação civil, com pedido de liminar, contra a regra do concurso da Marinha do Brasil que exige de candidatas mulheres a apresentação de laudo médico sobre “estado das mamas e genitais” ou a realização de verificação clínica durante a inspeção de saúde. O MPM considerou discriminação de gênero, já que há exigência de laudo que aponte a existência de alguma das enfermidades incapacitantes listadas no edital. Em nota, a Marinha informou que adotou as medidas necessárias para atender ao MPF e que não havia sido notificada sobre a ação. “Após a intimação oficial e a análise do referido processo judicial, serão adotadas as providências pertinentes para o caso.”
 
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Correio Braziliense quarta, 16 de janeiro de 2019

ASSASSINATO NA RODOVIÁRIA DO PLANO PILOTO

 

Câmeras ajudam a identificar assassinos
 
Estudante da UnB morre esfaqueado na Plataforma Inferior da Rodoviária do Plano Piloto, quando esperava um ônibus para casa. Apontados como autores do crime, dois moradores de rua aparecem em imagens do circuito de vigilância do terminal

 

» Cezar Feitoza
» Danilo Queiroz
» Sarah Peres
» Bruna Lima
Especiais para o Correio

Publicação: 16/01/2019 04:00

Câmeras de segurança filmaram os suspeitos discutindo com as vítimas, fugindo após matarem Milton e bombeiros socorrendo o jovem, mas não flagraram a facada
 (TV Brasilia/Reprodução)  

Câmeras de segurança filmaram os suspeitos discutindo com as vítimas, fugindo após matarem Milton e bombeiros socorrendo o jovem, mas não flagraram a facada

 


Um jovem de 19 anos, estudante de ciência política da Universidade de Brasília (UnB), morreu esfaqueado na Plataforma Inferior da Rodoviária do Plano Piloto, a 2,5km do Palácio do Planalto e a 3,5km do Palácio do Buriti. O crime aconteceu por volta das 3h30 de ontem, quando a vítima esperava o ônibus para voltar para casa, no Gama. Ele estava na companhia de dois amigos, com quem havia participado de uma festa no Setor Bancário Sul (SBS). O autor da facada seria um morador de rua. Ele teve a ajuda de um amigo, segundo testemunhas.
 
A agressão ocorreu na Plataforma B do terminal rodoviário, ponto mais movimentado da capital, por onde circulam cerca de 700 mil pessoas diariamente, que conta com uma companhia da Polícia Militar e 14 câmeras de vigilância, que, segundo a Secretaria de Segurança Pública (SSP/DF), estão em funcionamento. Os equipamentos gravaram suspeitos abordando os três jovens pouco antes do crime e a fuga deles. O momento da facada não teria sido registrado porque o local ficaria em um ponto cego, fora do alcance das câmeras. Até o fechamento desta edição, quase 20 horas após a morte do rapaz, ninguém havia sido preso.

A vítima


Milton Junio Rodrigues de Souza
» Estudante de ciência política da UnB
» Morava no Gama com um irmão, enquanto o restante da família reside na Bahia
» Era militante da causa LGBT+
» Morreu aos 19 anos, com uma facada no peito, na Rodoviária do Plano Piloto (Facebook/Reprodução)  

A vítima 

Milton Junio Rodrigues de Souza » Estudante de ciência política da UnB » Morava no Gama com um irmão, enquanto o restante da família reside na Bahia » Era militante da causa LGBT+ » Morreu aos 19 anos, com uma facada no peito, na Rodoviária do Plano Piloto

 

Além de um adulto, outro homem que vive em situação de rua, identificado como Galego, é suspeito de participar do crime. Eles abordaram a vítima e os dois amigos, Ary Martins,  21 anos, e Ícaro Carlos de Sousa, 19, no ponto de embarque do coletivo que os levaria para casa. Segundo os sobreviventes, um dos desconhecidos apareceu repentinamente e pegou o isqueiro que estava com Ícaro. Ao verem que ele estava com um alicate na mão, os rapazes se afastaram. No entanto, Galego teria seguido o trio e o outro morador de rua apareceu com uma faca.
 
Ary foi atrás de ajuda na unidade da PM da Rodoviária, enquanto Milton e Ícaro seguiram em direção ao banheiro, sob uma das escadas rolantes. Mas, antes de entrarem no cômodo, um dos suspeitos deu uma facada em Milton. “O cara nos seguiu e foi para cima do (Milton) Junio, que ainda tentou se defender colocando a mochila na frente (leia Depoimento)”, contou Ícaro. Com o rapaz no chão, os agressores levaram a carteira e o celular. PMs acionaram bombeiros para atender a vítima. Os socorristas chegaram em 20 minutos. Tentaram reanimar o jovem por 40 minutos, sem sucesso.
 
Família
Milton Junio morava no Gama com um irmão, enquanto o restante da família reside na Bahia. Até as 22h de ontem, o corpo do jovem estava no Instituto de Medicina Legal (IML). Nenhum familiar havia comparecido ao prédio para iniciar os trâmites de liberação. A previsão era de que a mãe da vítima chegasse na madrugada.
 
Investigadores da 5ª Delegacia de Polícia (Área Central) tratam o caso como latrocínio (roubo com morte). Eles tiveram acesso às imagens do circuito de segurança. O momento do crime não foi capturado pelas câmeras de segurança, mas os suspeitos aparecem discutindo com as vítimas e fugindo após matarem Milton.
 
Responsável pela apuração do caso, o delegado Glayson Gomes disse que qualquer manifestação sobre o andamento da investigação seria repassada por meio da Divisão de Comunicação (Divicom) da Polícia Civil. Até o fechamento desta reportagem, a unidade informou que não havia nenhuma novidade e que os suspeitos ainda não haviam sido presos.
 
Comoção
O Centro Acadêmico de ciência política da Universidade de Brasília (UnB) se manifestou sobre a morte do aluno por meio de nota oficial. “O momento é de relembrar as boas histórias que Junio deixou conosco e os momentos que nos fazem lembrar a pessoa extraordinária que era, alto astral, sorriso no rosto e querido por quem o conhecia. Em nome de todos os alunos de ciência política, lamentamos profundamente essa perda e desejamos mais sinceros sentimentos aos amigos, familiares e a todos que de alguma forma sentirão sua falta”, diz o comunicado.
 
Militante da causa LGBT, Milton costumava frequentar eventos relacionados à temática. Emocionado, o amigo Walysson Ribeiro, 19 anos, relembrou com carinho de Milton e disse que o conheceu em um bloco de carnaval. “Ele sempre estava fazendo alguma piadinha, amava dançar e ir pra festas. Se importava com todo mundo. Ele era uma pessoa que queria crescer profissionalmente para ajudar a família, queria ser uma pessoa que marcasse a vida de todo mundo. E marcou”.
 
Abalados com a morte do universitário, amigos e desconhecidos começaram a se manifestar por meio das redes sociais, poucas horas após o crime. “Você sempre estará em nossos corações e será lembrado por ser a pessoa mais carismática, sorridente e alegre. Descansa em paz, príncipe. Não iremos esquecer tão cedo da sua grandeza”, escreveu uma amiga na página de Milton no Facebook. “É muito injusto tirar a vida de um rapaz de 19 anos, que mal conheceu a vida e que lhe foi arrancada a oportunidade de viver”, lamentou outra colega.
 
A cantora pop Pabllo Vittar também prestou homenagem ao universitário. Por meio dos stories do Instagram, a artista publicou uma foto de Milton Junio com uma mensagem de pesar. “Um dos vittarlovers mais fofos foi morar no céu”, escreveu. Vittalovers é a forma como são chamados os fãs de Pabllo Vittar.
 


Mais de 400 mortes
 
De janeiro a novembro de 2018, houve 403 homicídios e 23 latrocínios em todo o Distrito Federal. Uma média de 36 assassinatos mensais e dois casos de roubo com morte a cada mês. No mesmo período de 2017, forças de segurança pública contabilizaram 448 mortes violentas e 34 latrocínios. A Secretaria de Segurança Pública não divulgou números da violência apenas na área central de Brasília ou em todo o Plano Piloto.



Depoimento

Ícaro Carmo, amigo da vítima
 
“A gente estava voltando de uma festa. Estávamos sentados na escada da Rodoviária, quando chegou um mendigo e tomou o isqueiro da gente. Só que ficamos de boa, não íamos discutir. Aí, ele começou a mexer com a gente, nos afastamos e ele continuou. Então, chegou um amigo dele perguntando se estávamos incomodando, e o cara disse que sim. Saímos de perto. Eu fui com o (Milton) Junio ao banheiro e outro amigo ficou perto das mulheres que trabalham lá, porque disse que se sentia mais seguro. Depois, o cara nos seguiu com uma faca e golpeou o Junio. Eles fugiram, o Milton foi andando pra trás, até que caiu no chão, nos meus braços.”
 
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Correio Braziliense terça, 15 de janeiro de 2019

CÃES: MAIS DO QUE UM LAR

 


Mais do que um lar
 
 
Resgatar animais nas ruas do Distrito Federal e abrigá-los são a missão de um grupo de brasilienses solidários. No lugar do pagamento todo início de mês, eles recebem um amor incondicional dos bichinhos antes abandonados

 

Alan Rios
Caroline Cintra
Especiais para o Correio

Publicação: 15/01/2019 04:00

Ayslan e Ana Carolina fazem parte de uma grande rede de apoio de pessoas que lutam pela causa dos animais (Fotos: Arthur Menescal/Esp. CB/D.A Press
)  

Ayslan e Ana Carolina fazem parte de uma grande rede de apoio de pessoas que lutam pela causa dos animais

 

Comida, lar e acolhimento. O resgate de animais nas ruas virou parte da vida de muitos brasilienses. “Parece que eles entendem que você salvou a vida deles”, conta uma das defensoras dos bichos, a advogada Ana Paula Vasconcelos, de 40 anos.
 
Trazer para casa alguém desconhecido não é uma tarefa muito simples, principalmente quando quem estava sem lar precisa de um tratamento especial. Muitos dos animais abandonados são encontrados com ferimentos ou doenças, mas isso não afasta quem tem paixão por cuidar deles. “Hoje, tenho oito cachorros comigo, a maioria vítimas de maus-tratos. Mas é incrível, porque os cães resgatados são eternamente gratos. Apesar de trazerem sequelas, eles são muito adaptáveis, só precisam de amor e paixão”, diz Ana Paula.
 
Um dos animais que marcou  vida da advogada foi o Edu, um cão sem raça definida que foi espancado por um caseiro com um cabo de enxada. Ana se revoltou com a história, buscou punições ao agressor e começou um longo trabalho de recuperação da saúde e da confiança do cachorro. “Foi tudo muito difícil, o levei ao veterinário e ele acabou tendo que fazer uma cirurgia, porque estava muito debilitado. Para ele voltar a confiar no ser humano, foi uma luta, demorou muito. Mas hoje, com muito amor que recebeu, ele é outro animal, muito carinhoso”.
 
 
 
 
 
Pessoas que tiram os animais das ruas geralmente começam resgatando um bichinho de uma situação difícil, e não param mais. Foi assim com o casal de servidores públicos Ana Carolina Quemel, 28 anos, e Ayslan Menez, 36. O primeiro cachorro que eles encontraram sem lar foi a Lola, em 2017. “Era uma época de muito frio. Aí, o meu marido a encontrou debaixo do nosso prédio, tremendo. Nós morávamos em um apartamento de um quarto em Águas Claras, ele disse que só ia dar comida e água para ela, e, depois, a gente encontrava uma casa”, lembra a esposa.
 
Mas não foi exatamente isso o que aconteceu. O carinho de Lola encantou o casal e não deu mais para levá-la para outro lugar após os primeiros cuidados: passou a fazer parte da família. “Ser protetor não é um emprego que você tem, é um trabalho voluntariado, que fazemos por amor e recebemos em troca a gratidão deles. Não é fácil. Nós temos nossos afazeres do dia a dia, mas, mesmo assim, ainda cuidamos com muito carinho”, conta Ana Carolina.
 
Apesar de toda a beleza das atitudes de resgate, Ayslan lembra que é preciso ter muitos cuidados. Ele lembra que existe uma grande rede de apoio de pessoas que lutam pela causa dos animais, ajudando até financeiramente quem não tem condições de pagar vacinas, tratamentos no veterinário ou boas rações. Porém, isso atrai pessoas que nem sempre têm as melhores intenções: “É importante ver a transparência de quem pede auxílio, porque tem gente que age de má-fé pedindo recursos e acaba ficando com aquele dinheiro das doações”, alerta. Outro cuidado que ele recomenda é sempre ter cautela antes de doar os animais resgatados, para que eles não sejam levados para lares ruins ou sem condições de dar atenção.
 
Cães encontrados na rua ganham um lar provisório enquanto os voluntários buscam um novo dono  

Cães encontrados na rua ganham um lar provisório enquanto os voluntários buscam um novo dono

 

 
Ajuda
 
Um dia após perder o primeiro cachorro que teve, há 10 anos, a dona de casa Milene Almeida, 42, resgatou a primeira cadela. Parada em um semáforo em Águas Claras, ela viu o animal quase caindo em um bueiro.  “Não pensei duas vezes. Desci do carro a peguei. Levei para a casa de uma amiga que morava perto de onde eu trabalhava, em Taguatinga Norte. No trabalho, comecei a procurar um lar para a cadelinha. Como não usava o Facebook na época, procurei na internet e encontrei uma moça da Asa Sul que quis adotar”, contou Milene.
 
A partir de então, ela não parou mais. Sempre que vê um cachorro na rua, ajuda do jeito que pode. A dona de casa contou que cerca de 90% dos animais que resgatou estavam doentes e o gasto é sempre grande. Como foi o caso da penúltima cadela acolhida, que sofria de peritonite, uma inflamação abdominal. “Ela ficou oito dias internada, depois voltou para casa e ficou 15 dias tomando medicamento, mas assim que o remédio acabou, a doença voltou e ela precisou ser internada mais uma vez. Dois dias depois, ela morreu”, lembra, com tristeza.
 
De acordo com Milene, só neste caso gastou R$ 2.300 na primeira internação. A segunda custou R$ 500, valor que ainda não conseguiu pagar todo. Como está desempregada, ela conta com o apoio de conhecidos e desconhecidos por meio do seu perfil no Facebook. Além disso, faz rifas. Toda quantia arrecadada é destinada ao tratamento dos animais. Uma outra cadela está internada em uma clínica veterinária na Asa Sul e, assim que tiver alta, vai precisar de um lar provisório.
 
“Desde que eu resgato o cachorro da rua me torno a responsável por ele. Assim que a Princesa sair do veterinário, eu cubro as despesas dela. Ou seja, tem medicamento, tem ração. O custo é alto. E toda e qualquer ajuda é muito bem-vinda”, ressaltou.
 
"É importante ver a transparência de quem pede auxílio, porque tem gente que age de má fé pedindo recursos e acaba ficando com aquele dinheiro das doações”
Ayslan Menez, voluntário
 
Contribuição
Para ajudar de alguma forma o tratamento dos cães resgatados, doar ração ou participar das rifas é só entrar em contato pelo telefone 98647-1433.
 
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Correio Braziliense segunda, 14 de janeiro de 2019

ENSINO E ACOLHIMENTO

 


Ensino e acolhimento
 
 
Cidade que ficou por muitos anos marcada pela presença do lixão, a Estrutural é palco de um projeto voluntário que dá aulas de inglês gratuitas a crianças e a adolescentes, e ensina mais do que apenas o idioma estrangeiro

 

» ALAN RIOS
ESPECIAL PARA O CORREIO

Publicação: 14/01/2019 04:00

Alisson com a mãe, Marcilene, e o irmão, Micael. Ele encontrou perspectivas a partir do projeto (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

Alisson com a mãe, Marcilene, e o irmão, Micael. Ele encontrou perspectivas a partir do projeto

 



Quem pensa na Estrutural pode logo associar a imagem da cidade a todos os problemas enfrentados pelos moradores, entre eles, a falta de infraestrutura de um lugar que, por muitos anos, abrigou o maior lixão da América Latina. Mas quem vê além enxerga ali uma oportunidade de promover mudanças. Foi pensando nisso que a economista Luciana Van Tol, 33 anos, resolveu criar um projeto que aproximasse crianças e adolescentes da escola durante o sábado, para que eles pudessem ter aulas gratuitas de uma nova língua. Um dos alunos, Alisson Pereira, 16, começou o curso sem perspectivas, mas, hoje, depois de dois anos, tem uma expectativa concreta: “Quero ser professor e dar aulas de inglês e de libras”.

O projeto Inglês na Estrutural tem inspiração em ações semelhantes em São Paulo, o estado natal de Luciana. A Organização Não Governamental (ONG) Cidadão Pró-mundo oferece o ensino da nova língua para jovens e adultos de comunidades carentes, com uma organização que chamou a atenção da paulista moradora de Brasília. “Eles têm um sistema bem-sucedido, trabalhando com uma equipe de professores voluntários que se revezam, então achei muito interessante”, conta.

A partir da ideia inicial, a economista encontrou o local perfeito para colocar o projeto em prática. “Eu conheci uma ONG chamada Coletivo da Cidade, na Estrutural, e vi como seria importante levar esse planejamento para lá. Porque a cidade tem muitos adolescentes, um dos piores índices de qualidade de vida do DF e é carente de serviços públicos. Além disso, muitas famílias acabavam tirando a renda dos trabalhos do lixão e precisaram se reestruturar depois do fechamento.”

O projeto começou em 2014, quando voluntários passaram a se organizar em diferentes áreas, desde professores até os que não sabiam nada da outra língua. Ao todo, quatro modalidades de serviços foram criadas e nomeadas: VolunTeacher, VolunTeam, Quiet Time e Voluntário Especialista. Enquanto a primeira é formada por professores, as outras se dividem entre ajudantes que auxiliam desde os processos administrativos, como organização de matrículas e financeiro, até os que cuidam da comunicação ou das atividades de meditação e respiração com os estudantes, nos intervalos.

Mudança de vida

Alisson mostra com orgulho o livro de inglês, conversa na nova língua e até ajuda o irmão, Micael Pereira, 12, que também entrou no projeto. Mas, há dois anos, antes de se matricular nas aulas, as coisas eram um pouco diferentes. A mãe dele conta que o jovem tinha muita dificuldade na escola em algumas matérias, e não conseguia encontrar muita motivação para estudar mais, mas isso mudou depois da participação no curso.


Luciana Van Tol, idealizadora do projeto: ajuda para quem mais precisa (Arthur Menescal/Esp. CB/D.A Press)  

Luciana Van Tol, idealizadora do projeto: ajuda para quem mais precisa

 


“Eu conheci o Inglês na Estrutural em 2016 e fiz logo a inscrição dele. Depois de pouco tempo, vi as mudanças. As notas dele melhoraram no colégio, ele se dedicou mais e nós passamos a ter como uma rotina ele ir de manhã cedo para lá, todos os sábados”, diz a comerciante Marcilene Pereira, 35.

As aulas ocorrem semanalmente, das 9h às 12h, com intervalos para descanso e lanche. E esse acolhimento dos voluntários, que se preocupam com tudo aquilo que vai além da sala de aula, é essencial para Alisson. “Eu acho muito legal, porque várias pessoas carentes são ajudadas. Eu já aprendi muita coisa e sei que isso vai me ajudar muito, porque quero ser professor e dar aula de inglês e de libras”, planeja.

Permissão para sonhar

O conteúdo passado nas salas de aula do Centro de Ensino 1 da Estrutural vai além de conhecimentos para passar em provas. É nisso que acredita Gabriela Reis, 32, voluntária do projeto há três anos. “Eu era moradora da cidade, sabia inglês e gostaria de fazer algo com as crianças que não tinham acesso a esse estudo, então me voluntariei. É uma experiência incrível, porque sempre têm histórias dos alunos que marcam a gente”, conta.

“Uma garota, por exemplo, uma vez me perguntou qual era meu sonho, e eu respondi aquele clichê, disse que queria ser rica. Aí, eu perguntei qual era o dela e ela me respondeu: ‘Ser voluntária aqui, que nem você’. Aquilo me emocionou muito”, completa.

Outra participante do projeto já começa a pensar na importância do curso para quem deseja crescer. Lucélia Tainá, 16, conheceu as atividades pelo irmão, que também era voluntário, e hoje conta que já aprendeu muito e se sente capaz de ir além. “É uma ajuda ótima para quem não tem condições para pagar um curso. E, para mim, aprender inglês pode me ajudar a conhecer o mundo, criar oportunidades nas minhas metas de carreira e abrir novas portas”, deseja.


160
Número de alunos de 7 a 17 anos atendidos


Anote 

Inglês na Estrutural

  • O projeto recebe, até 19 de janeiro, inscrições para interessados em trabalho voluntário.
  • Não é necessário saber inglês, já que existem áreas de atuação administrativa
  • Inscrições: www.facebook.com/inglesnaestrutural
  • Informações: inglesnaestrutural@gmail.com

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Correio Braziliense domingo, 13 de janeiro de 2019

SÉRGIO MAGALHÃES, OPERÁRIO DO SAMBA CANDANGO

 

Operário do samba candango
 
 
Radicado no DF, o compositor carioca Sérgio Magalhães registra em primeiro CD canções autorais gravadas por nomes como Teresa Lopes, 7 na Roda e Cris Pereira. Ele define o disco como "uma retribuição a Brasília"

 

Adriana Izel

Publicação: 13/01/2019 04:00

A inspiração de Magalhães vem, normalmente, no canteiro de obras: %u201CQuando estou trabalhando, percebo que a música está rolando%u201D (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

A inspiração de Magalhães vem, normalmente, no canteiro de obras: %u201CQuando estou trabalhando, percebo que a música está rolando%u201D

 

 
Há quase 20 anos, o carioca Sérgio Magalhães arrumou as malas e veio para a capital federal. Mestre de obras, tinha acumulado muito trabalho no Rio de Janeiro e estava precisando de férias. Foi em busca de descanso que Magalhães chegou para uma temporada à casa dos “Guaras”, os primos que moravam em Sobradinho, ao lado do filho que, na época tinha 5 anos, e apenas um item da construção civil, uma espátula. Daquele dia em diante, nunca mais deixou o Distrito Federal.
 
E o que o manteve aqui? “A tranquilidade, a organização”, explica. Mas, sem dúvidas, foi a música também. Apesar de no Rio de Janeiro ter começado a escrever algumas composições, ter um grupo de “esquina” influenciado pelo Fundo de Quintal e até ter participado de um concurso de samba, foi no quadradinho que entendeu que tinha jeito para a música. “Já acontecia alguma coisa no Rio. Ao vir para Brasília, as coisas foram ficando mais claras. Uma amiga e vizinha pediu para eu fazer uma serenata, lembrei de uma música que tinha feito e ela começou a me incentivar. Mas não levei aquilo muito a sério. Era um período muito complicado”, lembra.
 
Com o incentivo, participou do concurso Canta Cidade Livre, no Núcleo Bandeirante, e teve um samba entre os 10 primeiros colocados. Lá, conheceu um violonista que o orientou a se inscrever na Escola de Música de Brasília. Inscreveu-se e conquistou uma das seis vagas para o curso de canto e percepção musical. Na escola, conheceu o violonista Jaime Ernest Dias, que mudou a vida dele para sempre. “Ele me colocou na rua, me apresentou todo mundo da cidade e também gente de fora, como Dona Ivone Lara e Nelson Sargento, me mostrou e ensinou várias coisas até me convencer a compor”, revela Sérgio Magalhães.
 
Essas composições incentivadas por Dias, pelos amigos e pela família integram o primeiro disco do artista lançado no fim do ano passado com ajuda do Fundo de Apoio à Cultura (FAC) e o axé dos orixás, como ele define. É o álbum Ouro do meu peito, que é formado por 13 faixas, sendo 12 escritas pelo carioca e apenas uma de Magalhães em parceria, a música Guardião, feita com Clodo Ferreira. “Todas essas músicas eu já tinha. Tem composições que foram gravadas por Teresa Lopes, Ana Reis, Cris Pereira e 7 na Roda. Eu não queria gravar, pois não me considero um cantor. Mas o pessoal começou a falar que eu tinha que deixar um registro”, explica o sambista.
 
Primeiro álbum
 
Com produção e direção musical de Fernando César e arranjos de Vinícius Magalhães (o filho de Sérgio que seguiu os passos dele e virou instrumentista), Lucas de Campos, Jaime Ernest Dias e Rafael dos Anjos, o disco traz Sérgio cantando as principais composições, entre elas, algumas bastante autobiográficas, como a faixa-título que surgiu de um pesadelo, que ele acredita ter sido uma metáfora a algo que ele fazia: “A negação ao título de sambista”. Na canção, ele responde: “Não, não me impeça de cantar samba/ Eu não posso resistir/ Em espargir o outro do meu peito/ A inspiração me dá o direito/ Pode até me torturar se quiser/ Nem açoite de feitor, nem mandinga de mulher/ Vai me impedir de cantar samba”.
 
Outra música que traz as experiências de Magalhães é Todo tempo é pouco, a segunda do álbum, em que o compositor fala sobre a rotina de um trabalhador em uma construção. “Pega e serra o ferro para formar/ Que todo tempo é pouco/ O serviço é de louco/ Vamos piãozada trabalhar”. “Geralmente, a inspiração vem quando eu estou trabalhando no canteiro de obras. Eu não sou de sentar e escrever. Meu processo é natural e espontâneo. Quando estou trabalhando percebo que a música está rolando. Então, eu gravo. Já até escrevi música em saco de cimento”, revela ao explicar por que dedicou uma música ao ofício na construção civil.
 
Apesar de ter tido uma resistência inicial ao gravar um disco, hoje, Sérgio Magalhães enxerga o trabalho de duas formas. “É um disco de pai para filho”, diz, primeiramente, citando Marcus Vinícius Magalhães, que toca 7 cordas e atualmente se dedica à música no Rio de Janeiro. E depois emenda: “Embora seja singela, essa é uma retribuição a tudo que Brasília me deu”.
 
Com o disco físico distribuído de mão em mão, disponível nas plataformas digitais e por pressão dos amigos, Sérgio deve fazer um show de lançamento, que ainda não tem data prevista, mas ele almeja subir ao palco do Clube do Choro ou do Feitiço Mineiro, casas que sempre abriram as portas para ele. O compositor também quer outro show. Esse na rua, onde, segundo ele, é o lugar do samba: “O samba se elitizou muito. Ele tem que voltar para a rua, que é o lugar dele”.
 
 
 (Reprodução)  
 
Ouro do meu peito
De Sérgio Magalhães. Independente, 13 faixas. Disponível nas plataformas digitais.
 
 
 
 
Confira trechos de sambas 
 
 
“Não, a não a condeno/ O amor não julga ninguém/ E além do mais/ Quem de nós/ Sabe definir a direção/ Do que é real/ Ou ilusão”
Cicatriz
 
 
“Madrugada, me resta ainda um pouco de esperança/ Eu te peço humildemente que não seja indiferente a minha dor/ Não, não deixa o dia amanhecer/ Ainda há tempo para sonhar/ Ela pode aparecer/ E convencer a dor/ E o meu sofrer por fim”
Madrugada
 
 
“E como resistir aos beijos teus/ Se a doçura tanto quer/ Teu cheiro de mulher me faz viver/ A natureza sempre em flor/ Por que fizeste assim?/ Me condenando a te prender em mim/ Me deste adeus/ Mas não me deste amor”
GUARDIÃO
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense sábado, 12 de janeiro de 2019

BRASÍLIA: ATRASO NAS OBRAS

 


Moradores sofrem com atraso de obras
 
 
Governo diz que o menor número de operários em Vicente Pires se deve ao período chuvoso. A situação é pior em Taguatinga, onde ampliação de viaduto não tem prazo para ser retomada

 

» Danilo Queiroz
Especial para o Correio

Publicação: 12/01/2019 04:00

Sem máquinas e trabalhadores, canteiro de construção para alargamento de viaduto na EPTG está fechado por tapumes e cadeado (Vinicius Cardoso Vieira/Esp. CB/D.A Press)  

Sem máquinas e trabalhadores, canteiro de construção para alargamento de viaduto na EPTG está fechado por tapumes e cadeado

 



Iniciadas em setembro de 2015, as intervenções para a construção de uma rede de captação de águas pluviais em Vicente Pires deveriam ter sido finalizadas em dezembro de 2018. Desde o fim do ano, porém, os operários e as máquinas sumiram em grande parte da região administrativa. A Secretaria de Infraestrutura e Serviços Públicos (Sinesp) garante a entrega da obra até o fim de 2019. Enquanto isso, os moradores sofrem com problemas ocasionados por buracos, poeira e lama.
 
O problema se repete em Taguatinga, vizinha a Vicente Pires. Parte das obras previstas no Corredor Eixo-Oeste, o alargamento do viaduto da entrada de Taguatinga por meio da Estrada Parque Taguatinga (EPTG) está prestes a completar dois anos sem previsão de conclusão. Iniciada em fevereiro de 2017, a obra deveria ter sido entregue em agosto do ano passado, ao custo de R$ 4,7 milhões. Desde então, o fim dos trabalhos foi alterado duas vezes, devido a erros no projeto da fundação e do viaduto, de acordo com o governo.
 
Tormento
 
Ao custo de R$ 463 milhões, a construção de uma rede de captação de águas pluviais faz parte do processo de regularização de Vicente Pires, que, criada para ser uma colônia agrícola, se transformou em maio urbano por meio de uma ocupação ilegal e desordenada, com 75 mil habitantes. Nas ruas próximas ao Taguaparque, os buracos são o principal empecilho. Além de dificultar o fluxo de pedestres e carros, as obras inacabadas geram um grande volume de poeira. Nos dias de chuva, a situação fica ainda mais complicada.
 
Em parte dos trechos, sumiram a calçada e o asfalto. Dono de um centro automotivo na região, o empresário Frederico Oton, 55 anos, diz ter perdido clientes que frequentavam o lava-jato do estabelecimento por causa da obra inacabada. “Aqui tinha um ótimo asfalto. Eles tiraram tudo e não refizeram. Quando chove, complica tudo. As pessoas não lavam os carros para sair daqui e se depararem com a lama. Os comerciantes estão sofrendo com esse descaso. É um prejuízo acumulado”, reclama.
 
Moradora da Rua 3 da região administrativa há 16 anos, a instrumentadora cirúrgica Viviane Fernandes, 43, conta que colocou a casa à venda devido aos inconvenientes que a falta de conclusão da obra trouxe ao local. “É um desrespeito com a comunidade de Vicente Pires. Pagamos IPTU como todos os outros. Troquei de carro recentemente e vou ter que trocar de novo quando a obra acabar, pois não dá para aguentar ele batendo todo. Tem muito tempo que está assim e ninguém arruma”, lamenta.
 
Presidente da Associação de Moradores do Setor Habitacional Vicente Pires, Dirsomar Chaves também cobra providências sobre o abandono das intervenções nas avenidas da cidade. Segundo ele, quando chove forte, as entradas dos condomínios ficam inacessíveis. “Grande parte das pessoas tem dificuldade de ir para sua residência. A obra está totalmente parada e não sabemos quando vão retomá-la. Nas poucas vezes que estão aqui, os operários só jogam terra para tentar diminuir os buracos”, queixa-se.
 
Em setembro, o Governo do Distrito Federal entregou parte da obra realizada na Gleba 1. Porém, segundo Chaves, as intervenções não foram planejadas conforme as necessidades dos moradores. Em alguns locais, inclusive, surgiram problemas. “Na Rua 10A, fizeram calçadas que não aguentam caminhões e lá tem empresas que trabalham com esse tipo de transporte. Várias já estão destruídas”, destaca.

Intervenções nas ruas de Vicente Pires seguem em ritmo lento devido ao mau tempo, segundo o GDF (Vinicius Cardoso Vieira/Esp. CB/D.A Press)  

Intervenções nas ruas de Vicente Pires seguem em ritmo lento devido ao mau tempo, segundo o GDF

 

 
Cronograma
 
Responsável pela execução das obras em Vicente Pires, a Sinesp informou, por meio da assessoria de imprensa, que os serviços estão em andamento de acordo com o cronograma estabelecido e que o prazo contratual para conclusão do trabalho é o fim de 2019. Ao todo, serão feitos 185,6km de drenagem pluvial e 253,4km de pavimentação asfáltica, além da colocação de asfalto e meio-fio ao longo das vias.
 
Ainda segundo a pasta, os serviços de drenagem estão sendo concluídos. Para iniciar a pavimentação, a Sinesp diz ser preciso de 10 a 15 dias de estiagem, pois o solo encharcado impede a ação. “Além do serviço rotineiro, as empresas contratadas estão à disposição para intervir emergencialmente, se necessário. Essas intervenções têm o intuito de garantir a circulação de pessoas e reduzir transtornos causados por obras e chuvas”, informou o órgão.
 
Segundo Daniel de Castro, novo administrador de Vicente Pires, o governador Ibaneis Rocha (MDB) cobrou a aceleração e a antecipação da entrega das obras. “Fizemos reunião com todos os órgãos e com várias associações de moradores. As obras foram suspensas por causa das chuvas. Pedi uma interferência emergencial nas ruas que estão intransitáveis. As ações, no momento, são paliativas, mas, em março, o serviço será pesado. Hoje, infelizmente, a cidade está destruída, mas daqui a um ano estará tudo pronto”, prometeu Daniel.
 
Sem prazo
 
O viaduto de entrada de Taguatinga pela EPTG recebe uma média de 135 mil veículos por dia. A obra visa criar duas faixas, sendo uma delas exclusiva para ônibus. Atualmente, o canteiro de obras está cercado por tapumes, trancados com correntes e cadeados, sem movimento de operários.
 
O servidor público Flávio Dalla Rosa, 38 anos, que passa pelo local todos os dias para cumprir compromissos de trabalho, conta que o trânsito piorou. “O trânsito chegando da EPTG ao centro de Taguatinga fica horrível. Também tem reflexos no Pistão Sul e Norte, já que a via fica reduzida próximo ao viaduto. Não tem mais horário para ficar tranquilo por lá. Sempre tem engarrafamento”, observa.
 
A Sinesp informou que foram concluídos 28% dos serviços. De acordo com a pasta, a paralisação da obra aconteceu por recomendação da Controladoria-Geral do Distrito Federal (CGDF), que pediu a readequação do projeto executivo. A pasta aguarda uma manifestação dos órgãos de controle para a liberação de um aditivo financeiro. Os trabalhos só serão retomados depois do processo estar finalizado, o que não tem prazo.


A obra está totalmente parada e não sabemos quando vão retomá-la. 
Nas poucas vezes que estão aqui, os operários só jogam 
terra para tentar amenizar os buracos” 
 
Dirsomar Chaves, 
presidente da Associação de Moradores do Setor Habitacional Vicente Pires
 
 
Jornal Impresso
 

Correio Braziliense sexta, 11 de janeiro de 2019

MADURO: REJEIÇÃO EM CADEIA

 


Rejeição em cadeia
 
 
Maduro desafia a comunidade internacional, é empossado para novo mandato até 2025 e chama Bolsonaro de fascista. Paraguai rompe relações diplomáticas, OEA declara ilegitimidade do governo e Brasil confirma compromisso de restaurar a democracia

 

RODRIGO CRAVEIRO

Publicação: 11/01/2019 04:00

 

Acompanhado da primeira-dama, Cilia Flores, e do presidente do TSJ, Maikel Moreno (D), Maduro chega à solenidade de juramento, em Caracas (Yuri Cortez/AFP)  

Acompanhado da primeira-dama, Cilia Flores, e do presidente do TSJ, Maikel Moreno (D), Maduro chega à solenidade de juramento, em Caracas

 

 

Contra quase tudo e todos, e na presença de apenas cinco chefes de Estado, Nicolás Maduro prestou juramento ante o Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) para o segundo mandato, previsto para se encerrar em 2025. Em seu discurso de posse, o presidente venezuelano adotou um tom beligerante e, ao mesmo tempo, cordial. Atacou a oposição e pediu a realização de uma cúpula de líderes da América Latina e do Caribe para “discutir com uma agenda aberta todas as questões a serem discutidas, face a face”. O presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, e os Estados Unidos foram alvos. “A direita venezuelana infectou, com o seu facismo, a direita latino-americana. Vejamos o caso do Brasil, com o surgimento de um fascista como Jair Bolsonaro”, declarou. Minutos depois de Maduro ser empossado por Maikel Moreno, presidente do TSJ, a comunidade internacional protagonizou uma reação em cadeia.

Em nota divulgada na noite de ontem, o Ministério das Relações Exteriores brasileiro qualificou de “ilegítimo” o novo mandato. “O Brasil reafirma seu pleno apoio à Assembleia Nacional (AN), órgão constitucional democraticamente eleito, ao qual neste momento incumbe a autoridade executiva na Venezuela. (...) O Brasil confirma seu compromisso de continuar trabalhando para a restauração da democracia e do Estado de direito na Venezuela”, afirma o texto. 

A medida mais drástica foi anunciada pelo Paraguai. “O governo da República do Paraguai, no exercício de suas atribuições constitucionais e da soberania nacional, adota, hoje, a decisão de romper relações diplomáticas com a República Bolivariana da Venezuela”, afirmou o presidente Mario Abdo Benítez, cercado por assessores. “Nesse sentido, ordenei o fechamento de nossa embaixada e a imediata retirada do corpo diplomático paraguaio acredito naquele país. Faço um chamado aos países amigos da democracia e da liberdade para que se expressem com ações concretas.”

Por 19 votos a favor (inclusive do Brasil), seis contra, oito abstenções e uma ausência, a Organização dos Estados Americanos (OEA) aprovou resolução em que declara a ilegitimidade do segundo mandato de Maduro. O texto faz um apelo à “realização de novas eleições presidenciais com todas as garantias necessárias para um processo livre, justo, transparente e legítimo”. O Peru convocou para consultas a encarregada de negócios na Venezuela, Rosa Álvarez. O conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, John Bolton, anunciou que a Casa Branca intensificará “sua pressão sobre o regime corrupto” venezuelano e prometeu apoio à Assembleia. A União Europeia explicou que “tomará as medidas adequadas”, caso a situação na Venezuela se agrave.

Vice-presidente
Edgar Zambrano — primeiro vice-presidente da Assembleia Nacional da Venezuela — elogiou a postura dos países latino-americanos e da UE, “ao proclamarem o tom sonoro dos venezuelanos”. “É notório o fracasso de um modelo político refletido em desastrosas políticas públicas que destuíram a qualidade de vida dos venezuelanos. Por aqui, viola-se, sistematicamente, os direitos fundamentais e as garantias constitucionais. Uma sociedade com presos políticos civis e militares mostra abuso de poder. É um governo  que altera a geopolítica regional. Por isso, as reações dos governos em defesa da democracia”, disse ao Correio. 

De acordo com Zambrano, a posse simbólica do presidente da AN, Juan Guaidó, seria impossível sem o aval das Forças Armadas. Em ato na Academia Militar, ante 4.900 oficiais, o ministro da Defesa, general Vladimir Padrino, perguntou: “Juram reafirmar a lealdade e subordinação absoluta?” “Juramos”, responderam.

Williams D’Ávila, deputado da AN pelo partido Acción Democrática, admitiu à reportagem que os venezuelanos estão “diante de uma tirania”. “O último reduto da democracia, a Assembleia, é uma pedra no sapato de Maduro. Creio que ele acentuará a tirania. Pode fechar a Assembleia.” 

Antonio Ledezma, ex-prefeito de Caracas e preso político que se exilou em Madri, espera cascata de “desprendimento” de países democráticos no cerco a Maduro. “Os países  acompanharão a OEA e ratificarão o desprezo pelo governo”, afirmou ao Correio.



Eu acho...

“A Assembleia Nacional articulará o clamor social, lhe dará forma e o conduzirá, nos termos da Constituição. Nós evitaremos, a todo custo, um enfrentamento do povo contra o povo, uma guerra civil que encheria de luto a nação ante a violência do Estado.”

Edgar Zambrano, primeiro vice-presidente da Assembleia Nacional da Venezuela



Manifestação em Brasília

No exato momento em que Nicolás Maduro era empossado para o segundo mandato, um grupo de venezuelanos realizava um protesto diante do Palácio do Itamaraty. “Brasil, obrigado pelo apoio ao povo venezuelano”, “Maduro ilegítimo” e “S.O.S Venezuela. Não nos deixem sozinhos” eram as frases nos cartazes ostentados pelos manifestantes. Alberto Palombo, coordenador do movimento Soy Venezuela, no Brasil, contou ao Correio que a declaração do Grupo de Lima, na semana passada, marcou o mapa do caminho para lidar com a crise. “A intenção não foi somente agradecer ao governo brasileiro por sua posição, mas também pedir ao Brasil e a outras nações para que não deixem sozinhas as instituições legitimamente constituídas na Venezuela — a Assembleia Nacional e o Tribunal Supremo de Justiça no exílio”, afirmou. “A Assembleia é o último poder escolhido pelo voto popular nas eleições de 2015.” Segundo Palombo, os manifestantes entregaram ao presidente Jair Bolsonaro e ao chanceler Ernesto Araújo um documento no qual pedem pressão efetiva sobre o regime de Nicolás Maduro e a proteção a um processo de transição democrática no país.

 

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