Raimundo Floriano
Sou fundador do Pacotão, o Bloco Carnavalesco mais irreverente do Brasil. Embora seus criadores fossem jornalistas, frequentadores do Clube da Imprensa, onde o Bloco nasceu, participei, como trombonista, desde sua primeira saída pelas ruas de Brasília, na Banda do Pacotão, sob o comando do Maestro Celso Martins.
Em 2004, presidi o Júri que escolheu a marchinha daquele ano, conforme contado em meu livro De Balsas Para o Mundo, no episódio, Fideles e o Pacotão.
Este ano, atendendo à convocação acima, compareci ao CONIC, acompanhado da Mara, minha caçula, que me assessorou na parte iconográfica.
Havia, no local, um arremedo de organização, coisa muito incomum naquela turma: palco coberto, serviço de som, músicos da melhor qualidade, mesas e cadeiras para os Jurados, estas dispostas sob o cogumelo de cimento que agasalharia a todos na Praça Ary Para-Raios.
Ao aproximar-me do esquema, fui saudado pelo chargista Joanfi, medalhão do Bloco, que, ao microfone, se danou a cobrir-me de predicados e me aclamou como Presidente do Júri, deixando-me deveras biquiaberto com a honraria, eis que há 12 anos me desgarrara do bando.
Joanfi, divulgando o certame e recebendo-me à chegada
Tudo pronto para começar, e aí caiu uma chuva torrencial, daquelas que cada pingo mata um sapo. Sorte deu o Barbudo, que não se encontrava por lá. Acotovelamo-nos todos debaixo do cogumelo, mas isso de nada adiantou, pois logo a área ficou completamente alagada, fazendo-nos correr para as marquises dos bares que ficavam à esquerda.
Depois de demorada espera, a chuva deu-nos uma trégua, e voltamos ao cogumelo, reorganizando-se o esquema. Com a estiagem, aproveitei para algumas tomadas fotográficas:
A Banda do Pacotão
Estandarte das Croquetes – Paulão de Varadero, Raimundo e Ricardo Lira
Depois que voltamos para o cogumelo e dispusemos as mesas para o inicio da competição, uma senhora, cuja graça não me interessei em saber, sentou-se à mesa do meio e falou – Eu, como Presidenta do Júri, dou início à sessão! – destituindo-me do cargo, com um tremendo passa-moleque, um despótico chega-pra-lá. Adiante, dois flagrantes dos concorrentes diante do Júri:
Doutor Jadir, médico obstetra – José Soter, poeta e escritor
No primeiro julgamento, sobraram três marchinhas, que foram reapresentadas, para a escolha da melhor, resultando num empate entre AedesCunha, de Kátia Moraes, defendida pelo Grupo As Croquetes, e Suruba no Alto Escalão, defendida pelo autor, Paulão de Varadero. Ei-las:
AedesCunha - Kátia Marques
O AedesCunha é pior do que o zika
Onde bate pica
Pica de lá, pica de cá
Até a Dilma o Aedes quer picar
O Cucunha tá botando pra quebrar
E no governo todo mundo quer picar - Bis
O Cucunha é o bicho do zika
Derruba quem pica
Pica de lá, pica de cá
Até na Suíça esse bicho foi picar
O Cucunha é o bicho do zika
Onde bate pica
Pica de lá, pica de cá
O Cucunha é mesmo de lascar
As Croquetes, após o julgamento
Suruba no Alto Escalão - Paulão de Varadero
Mixéu Mixê é aprendiz de Judas
Parece até que é michê do Conha
O infiel quer impichar a titular
Mixéu e Conha são dois sem-vergonhas (BIS)
O infiel faz troca-troca e barganha
Tá uma suruba no país medonha
Mas Charles Preto comanda o Pacotão
Essa suruba cheira a golpe de piranha
Nessa suruba tem michê e tem ladrão
Nessa Suruba Charles Preto não vai não
Paulão de Varadero, de cueca, defendendo sua composição
Diante do impasse, a Presidenta do Júri declarou Suruba no Baixo Escalão como vencedora, justificando o Voto de Minerva por sua letra referir-se a Charles Preto, totem do Pacotão. Os Filhos da Candinha andam dizendo que houve marmelada nesse desempate, por ser o Paulão um dos “diretores” do Bloco. Se não me manifestei naquele momento, calo-me, agora, para sempre!
O que me causou espanto foi o descaso da mídia. Sendo um Bloco de jornalistas, era de se esperar ampla cobertura da imprensa, o que não se verificou. O Correio Braziliense, maior jornal da Capital Federal, no dia seguinte, dedicou várias páginas aos grupos de axé-music que dominaram o sábado, mas nenhuma palavra sequer ao Concurso de Marchinhas do Pacotão. Na segunda-feira, idem.
É uma alienação total!
Ouçamos as vencedoras:
AedesCunha, com As Croquetes:
Suruba no Alto Escalão, na voz do Paulão:
CONCURSO DE MARCHINHAS DO PACOTÃO 2019 – RESULTADO
Raimundo Floriano
Faço parte do Pacotão, como músico, desde o primeiro desfile, em 1978, tocando trombone de vara na Banda do Maestro Celso Martins e de outros, como o saudoso Fideles. Naquele ano, o Bloco desfilou tendo como tema o samba Saudades da Beleza, de Carlos Lysias, Carlão e Guarabira. No ano seguinte, 1979, o Pacotão bombou com a marchinha Aiatolá, de Moa e Samuca, que passou a ser um símbolo do Pacotão, cantada até hoje por todos os foliões brasilienses.
A foto a seguir é de 1984, com Elba, minha primogênita, participando da folia:
No ano de 2004, no concurso para a escolha da marchinha, presidi o Júri. Em 2016, fui um de seus integrantes. Em 2017, a convite do Joka Pavarotti, Mestre de Cerimônia do Pacotão, participei do certame, novamente na condição de seu Presidente. O que se repetiu EM 2018 e neste ano de 2019
Compareci usando camisa performática e chapéu resplandecente, acompanhado da Mara, minha caçula, que funcionou como repórter fotográfica deste Almanaque.
Neste ano de 2019, o júri era composto por 11 membros, sendo eu, para honrar a espécie, o único do sexo masculino.
Detalhe do júri
A Banda do Pacotão
Pacoteiros na plateia
Compositores defendendo suas marchinhas:
No total, foram 33 marchinhas, quase todas dentro do espírito irreverente característico do Pacotão. Fugindo à tradição, apareceu um concorrente, com claque adredemente ensaiada, fazendo louvação a um político poderoso, em composição cujo refrão repetia o slogan de campanha do bajulado. Cada jurado recebeu uma ficha, devendo nela apor o título de sua escolha.
Terminada a contagem, foram anunciadas as três marchinhas vencedoras. Como, neste ano de 2019, não consegui os vídeos correspondentes, aí vão seus títulos, letras e respectivos créditos:
TERCEIRO LUGAR
JOÃO DE DEUS
(Soares, Morena Flor e Pedro Mecânico)
Quem acreditava no João de Deus
Teve a maior decepção
Até no Charles Preto
Ele quis passar a mão
Depois ele mandava
Fechar os olhos e dar uma viradinha
Você já foi rezada
E também já está curada
SEGUNDO LUGAR
SOLDADINHO TRAPALHÃO
(Murilo Sem Grilo)
Já deu ruim antes de começar
Ôôô, soldadinho, o que é que há?
Ô, Charles Preto, será que é trote?
Ele atrapalha até com o filhote.
Se atrapalha com a notícia
E atrapalha todos nós
Se atrapalha com a malícia
E se atrapalha como Queiroz
É tanta trapalhada
Que parece brincadeira
Caraca, soldadinho
Até Jesus na Goiabeira??!!!
PRIMEIRO LUGAR
LULA LIVRE E O POVO SERÁ FELIZ
(Eduardo Mariano e Renê Bonfim)
O povo clame e exige Lula livre
Porque já sabe sem o líder não se vive
Foi na facada na porrada fake news
Que essa quadrilha tomou conta do Brasil
Ô, Sérgio Moro, diga onde o Lula errou
Pois no tríplex ele nunca lá morou
Até aqui foi inventado um Ibanês
Pro seu salário ele tomar todo mês
Já quer tirar até passe estudantil
E a preço de banana estão vendendo o Brasil
É com você!!!
Olê, Olê, Olê, Olá, Lula, Lula...
Presidente Despirocado, marchinha de Maria Sabina, Assis Aderaldo e Sóter, vencedora do Concurso de Marchinhas do Pacotão/2018:
CONCURSO DE MARCHINHAS DO PACOTÃO 2018 – RESULTADO
Raimundo Floriano
Faço parte do Pacotão, como músico, desde o primeiro desfile, em 1978, tocando trombone de vara na Banda do Maestro Celso Martins e de outros, como o saudoso Fideles. Naquele ano, o Bloco desfilou tendo como tema o samba Saudades da Beleza, de Carlos Lysias, Carlão e Guarabira. No ano seguinte, 1979, o Pacotão bombou com a marchinha Aiatolá, de Moa e Samuca, que passou a ser um símbolo do Pacotão, cantada até hoje por todos os foliões brasilienses.
A foto a seguir é de 1984, com Elba, minha primogênita, participando da folia:
No ano de 2004, no concurso para a escolha da marchinha, presidi o Júri. Em 2016, fui um de seus integrantes. Em 2017, a convite do Joka Pavarotti, Mestre de Cerimônia do Pacotão, participei do certame, novamente na condição de seu Presidente. O que se repetiu neste ano de 2018. Eis a irrecusável intimação:
Compareci usando camisa performática e chapéu resplandecente, acompanhado da Mara, minha caçula, que funcionou como repórter fotográfica deste Almanaque.
Logo na chegada, esta faixa saudava os pacoteiros:
Neste ano de 2018, comemoramos os Quarenta Anos de Fundação do Pacotão, sempre desfilando na contramão.
A seguir, outras imagens da festa:
Maestro Celso Martins, pioneiro do Pacotão
Detalhe de pacoteiros na animação da plateia
Júri em plena atividade
Detalhes da Banda do Pacotão
Compositores defendendo suas marchinhas
Compositores defendendo suas marchinhas
Compositores defendendo suas marchinhas
Compositores defendendo suas marchinhas
Se, em 2016, Paulão de Varadeiro bagunçou o coreto, apresentando-se de cueca, neste ano houve conjunto mais ousado, tendo um de seus componentes atuando quase do jeito como veio ao mundo, conforme aí está:
No total, foram 22 marchinhas, todas elas dentro do espírito irreverente característico do Pacotão. Cada jurado recebeu uma ficha, devendo nela apor o título das 3 primeiras colocadas de sua escolha, para serem computadas ao final, junto aos votos dos demais:
Terminada a contagem, foram anunciadas as três marchinhas vencedoras, cujos créditos, letras e vídeos se veem a seguir:
TERCEIRO LUGAR
TEM QUE MANTER ISSO AÍ. VIU?
(Maestro Jorge Antunes)
Bota o dinheiro na mala
Depois traz toda a grana que pedi
Tem que manter isso aí. Viu?
Tem que manter isso aí.
Dá grana pro deputado
Também pro tal juiz que é imbecil.
Tem que manter isso aí. Viu?
Tem que manter isso aí.
Mantenha o cara calado
Diz que eu tô ficando puto.
Fala que ele tá todo encrencado
Mas depois ele ganha indulto.
Vídeo:
SEGUNDO LUGAR
SUA HORA VAI CHEGAR
(Antônio Jorge Sales e Antônio Carlos Sales)
Charles Preto, Charles Preto
Me defenda, por favor
O vampirão do Temer
Não quer mais aposentar o meu avô
Das escuras sepulturas de São Paulo
O Conde Temer veio nos atormentar
Colar de alho e uma estaca
São minhas armas para poder me salvar
Acabou com os direitos do trabalho
E fez conchavos para poder governar
Com a reforma da Previdência
Só imortal consegue e aposentar
O Pacotão na contramão
Com irreverência
Fora, Temer
Sua hora vai chegar
Vídeo com a apresentação no palco:
Vídeo com os Irmãos Sales:
PRIMEIRO LUGAR
PRESIDENTE DESPIROCADO
(Maria Sabina, Assis Aderaldo e Sóter)
Alô, Charles Preto, o que que há?!!
Esse ano tá difícil pra encarar
Esse golpista é muito chato
Perde o pinto mas não larga o mandato
Vou festejar, vou festejar
O presidente agora vai despirocar
Ô da panela, ô da panela
Vai lá comprar um pinto novo pra Marcela
Esse é o Bloco do Pacotão
40 anos indo com a multidão
Ô, Charles Preto, tamo na pista
Na contramão
Pra derrubar esse golpista
Vídeo da apresentação:
Vídeo comemorando a vitória:
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JUIZECO - TERCEIRO LUGAR
PRISÃO TÁ CHEIA - SEGUNDO LUGAR
BANHO TCHECO - RIMEIRO LUGAR
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CONCURSO DE MARCHINHAS DO PACOTÃO 2017
Raimundo Floriano
Faço parte do Pacotão, como músico, desde o primeiro desfile, em 1978, tocando trombone de vara na Banda do Maestro Celso Martins e de outros, como o saudoso Fideles. Naquele ano, o Bloco desfilou tendo como tema o samba Saudades da Beleza, de Carlos Lysias, Carlão e Guarabira. No ano seguinte, 1979, o Pacotão bombou com a marchinha Aiatolá, de Moa e Samuca, que passou a ser um símbolo do Pacotão, cantada até hoje por todos os foliões brasilienses.
A foto a seguir é de 1984, com Elba, minha primogênita, participando da folia:
No ano de 2004, no concurso para a escolha da marchinha, presidi o júri. Em 2016, fui um de seus integrantes. Este ano, a convite do Joka Pavarotti, Mestre de Cerimônia do Pacotão, participei do certame, novamente na condição de seu Presidente.
Compareci usando camisa performática e chapéu resplandecente, acompanhado da Mara, minha caçula, que funcionou como repórter fotográfica deste Almanaque.
Logo na chegada, esta faixa saudava os pacoteiros:
A seguir, outras imagens da festa:
Detalhe de pacoteiros na animação da plateia
Júri em plena atividade
Compositores defendendo suas marchinhas
Compositores defendendo suas marchinhas
Compositores defendendo suas marchinhas
No total foram 20 marchinhas, todas elas dentro do espírito irreverente característico do Pacotão. Cada jurado recebeu esta papeleta, devendo apor, no verso, as 3 primeiras colocadas de sua escolha, para serem computadas ao final, junto aos votos dos demais:
Terminada a contagem, o Presidente do Júri subiu ao palco e proclamou o resultado:
Proclamação do resultado
TERCEIRO LUGAR
JUIZECO
(Dr. Jadir)
O Senado virou boteco
Ele chamou o Juca e o Juiz de juizeco (bis)
Juizeco, juizeco, no Pacotão vai virar
Nome de boteco (bis)
O Rei Di Nan é bipolar
É chefe o Senado mas não pode governar (bis)
É bipolar, é bipolar, ele faz lei
E depois quer mudar (bis)
Sua canoa perdeu o remo
Não obedece nem Ministro do Supremo (bis)
Sem remo, assim não dá!
Desse jeito o País vai afundar! (bis)
SEGUNDO LUGAR
PRISÃO TÁ CHEIA
(Jorge Antunes)
Renan é coronel
Tá sem força no bordel
Porque agora virou réu
Geddel, Geddel, Geddel
Já se foi pro beleléu
Quis morar no arranha-céu
Michel, Michel, Michel
Também vai pro beleléu
Agradando o quartel
Toda essa gente
De camisa amarela
Fez Michel ser Presidente
Se arrepende da panela
Prisão tá cheia
Pois é grande a clientela
Pra Geddel, Renan, Michel
Vamos ter que arruMar cela
PRIMEIRO LUGAR
BANHO TCHECO
(Antonio Jorge Sales, Antonio Carlos Sales, Thayanne Sales e Hadassa Dolbeth Sales)
Passou-se tanto tempo
Nossa barragem
Tinha água até demais
Por falta e investimento
O Rollemberg corta a água
E agora faz!
Theco, tcheco, tcheco
É banho de bacia
Tcheco, tcheco, tcheco
Falta água noite e dia
Tcheco, tcheco, tcheco
O Pacotão que vai falar
A falta de gestão
Faz o DF afundar
Nas imagens a seguir, confraternização geral, após a proclamação:
E a comemoração dos vencedores:
O Dr. Jadir é carnavalesco da gema, o tipo do cara que engrandece o Carnaval. Fantasia-se, dança e, com seu histrionismo, valorizou por demais a disputa. Jorge Antunes é uma lenda, pacoteiro veterano, reverenciado por todos nós. Mas a coreografia das meninas do Banho Tcheco arrasou! Por isso, sua vitória foi unanimidade, reconhecida, não só pelos jurados, como também por todos os concorrentes e foliões ali presentes.
Num esforço de reportagem, aí vão os youtubes das 3 vencedoras:
JUIZECO - TERCEIRO LUGAR
PRISÃO TÁ CHEIA - SEGUNDO LUGAR
BANHO TCHECO - PRIMEIRO LUGAR
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