Almanaque Raimundo Floriano
Fundado em 24.09.2016
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)
Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, dois genros e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários quarta, 18 de setembro de 2024
HERDEIRO OU SUCESSOR? EIS A QUESTÃO! (CRÔNICA DO COLUNISTA CÍCERO TAVARES)
HERDEIRO OU SUCESSOR? EIS A QUESTÃO!
Cícero Tavares
Numa determinada Vara de Sucessão da Capital hibernava um inventário de um falecido microempresário que passou a vida juntando dinheiro, bens móveis e imóveis para os cinco filhos que teve com a sua esposa Rachel. A cada um, o cadáver ambulante, em vida, fez questão de lhes oferecer os melhores cursos e a melhor formação profissional.
Durante sua existência, tudo que conseguia trabalhando fazia questão de dizer que era para o futuro dos filhos. Dizia querer deixar para eles o que os seus pais não puderam lhe dar em vida. Para isso, sacrificavam-se diariamente ele e a esposa Rachel.
Não lhes havia lazer: passeios, festas, diversão, almoço fora. Jantar com a esposa extra, nem pensar! Tudo economizava para os filhos. Até as compras básicas em feiras livres de final de semana necessárias à mantença do casal durante a semana eram feitas no fim de feira, para comprar tudo mais barato para economizar.
Os filhos cresceram e se formaram e se acomodaram em bons empregos; e se casaram e foram deixando os velhos para trás.
Um dia, quando menos esperavam, seu Cláudio Colelo e dona Rachel, deram conta que se encontravam sozinhos dentro do casarão que construíram, porque os filhos já tinham pegado a estrada da independência, casando-se e construindo família própria.
Mesmo assim o velho, seu Cláudio Colelo, continuava trabalhando com sua esposa Rachel dia e noite, aumentando o patrimônio para deixar para os filhos. Essa era a sua grande obsessão! Até da saúde abdicou! Relaxamento total!
Uma noite sombria, chuva que não acabava mais, relampiando pra cacete, o velho sentiu-se mau no meio da noite. Dona Rachel tentou levá-lo ao hospital no Gordine velho pertencente à família. Tentou ligar o motor e este não respondeu para socorrer o velho moribundo a um hospital do SUS porque ele não pagava plano de saúde particular para juntar dinheiro para os filhos. Dizia ser uma obrigação do governo tratar toda a população na doença: para isso pagava uma carga de imposto exorbitante!
Dona Rachel tentou chamar um vizinho para socorrer o marido já de madrugada. O vizinho atendeu-a o pedido. Tentou mais uma vez ligar o carro do casal que não pegou, e não conseguindo levou o senhor Cláudio Colelo no Candango dele mesmo ao hospital do Estado, já desacordado!
Chegando à emergência do hospital, os médicos que atenderam o senhor Cláudio Colelo, disseram que infelizmente não podiam fazer mais nada, pois o homem havia morrido minutos antes por falta de socorro rápido. Demorou muito para chegar à emergência – disse! Ele bateu as bodas contrariado!
Desesperada, dona Rachel ligou para todos os filhos que estavam já casados morando em estados e países diferentes e já com famílias constituídas.
Um por um a quem ela ligou comunicando o fatídico acontecimento recebeu um sonoro não para vir ao enterro do velho, ou porque não podiam ou porque moravam distante e não tinham como viajar às pressas. Foi a primeira vez que dona Rachel sentiu o gosto amargo da mudança no comportamento dos filhos para com os velhos pais!
Dona Raquel teve de se virar sozinha, contando tão somente com a misericórdia da família que o senhor Cláudio Colelo em vida desprezava.
Depois do enterro do velho e com a ausência dos filhos, teve de abrir o inventario do de cujus para partilhar os bens deixados pelo falecido: entre ela e os filhos ingratos que sequer vieram para o enterro do pai, sequer ligaram mais para a mãe agora viúva e só!
Quando tentou telefonar para os filhos que ia abrir o inventário do falecido para fazer a partilha dos bens e que precisava da autorização deles e de suas esposas ou esposos, recebeu um uníssimo não e que se virasse sozinha. Recado curto e grosso passado, angústia geral!
Começou aí seu segundo desgosto depreendido no comportamento dos filhos!
Reuniu todos os documentos dos bens moveis e imóveis que o falecido deixou como herança, contratou um defensor da família que o falecido desprezava, e deu entrada no inventário.
Distribuído o processo para uma das varas de sucessão o juiz despachou para emendar a petição inicial dentro do prazo legal, requerendo a juntada da documentação de todos os herdeiros e respectivas esposas ou esposos e com as procurações, sob pena de indeferimento sem resolução de mérito por faltar os documentos dos herdeiros para dar prosseguimento ao processo.
Começava a via crucis de dona Raquel em busca dos filhos, genros e noras!
Nos primeiros contatos que teve com os filhos distantes sobre a grande necessidade do recolhimento dos documentos pessoais e das procurações para dar prosseguimento ao inventário teve a maior decepção de sua vida: nenhum filho estava interessado no inventário e que a “velha” se virasse sozinha.
E o pior: quanto mais o tempo ia passando mais os bens iam-se deteriorando e a senhora Rachel, já cansada e morrendo aos pouco de desgosto, ia assistindo a tudo que o marido e ela construíram com sangue, suor, lágrima e privações, serem corroídos pelo tempo!
O desespero e o desgosto chegaram ao ponto tal que ela ficou tão atarantada que chegou a procurar a vara de sucessão onde fora distribuído o inventário e tirou cópia do processo vinte e duas vezes!
Na vigésima terceira vez que esteve na vara de sucessão para tirar outra cópia do processo porque as outras xerox havia perdido de tão perturbada, o atendente, que já a conhecia ficou tão assustado que mandou chamar a chefe de secretaria para atendê-la porque nunca tinha visto nada igual naquela e em outras serventias judiciais!
Quando a chefe de secretaria chegou junto para conversar com dona Rachel, lhe perguntou:
– Dona Rachel, pelo amo de Deus o que está acontecendo? A senhora já esteve aqui vinte e duas vezes para tirar cópia desse processo… Onde a senhora está deixando?
Foi nesse momento que dona Rachel desabafou, com todo o corpo tremendo:
– Minha filha, você não leve a mau não! E desabando em planto, continuou:
– Desde que meu marido morreu que vivo dentro do inferno! Meus filhos não falam mais comigo! Por causa dessa maldita herança que meu marido deixou eles estão comento um ao outro, dizendo que não lhes interessa porra de herança do pai porque estavam muito bem e eu que me virasse para resolver!
E continuou com o desabafo:
– Se eu soubesse que essa maldita herança fosse me dar tanto aperreio, dor de cabeça e meus filhos fossem ficar inimigos um dos outros eu teria estoporado tudinho junto com meu velho antes! Hoje me vejo só, meus filhos me abandonaram! E a herança que o pai deixou construída com tanto sacrifício o tempo está destruindo tudo, inclusive a mim! E desabou em planto novamente!
Foi quando a chefe de secretaria, atenciosa e paciente, deu-lhe alguns conselhos que a acalmaram e dona Rachel se foi pela última vez do Cartório sem tirar outra cópia do processo.
De desgosto e solidão, morreu três meses depois da ida à Vara do Inventário de enfarte fulminante sozinha, no silêncio da noite, apenas acompanhada da família que o marido em vida detestava, e tudo ficou para trás como se dada tivesse existido!
Da herança que os dois em vida construíram com tanto sacrifício não levaram nada dentro do esquife!
Dessa vivência na prática do oficio, a chefe de secretaria aprendeu uma grande lição para a vida: Entre a herança e a sucessão, deixe a sucessão para seus filhos. Se houver herança, deixe tudo partilhado em vida, pois nunca se sabe quando se bate as botas! Ou pensando melhor: Estoure tudo em beneficio próprio auferindo do bom e do melhor e ajudando a quem precisa sem esperar recompensa do além!
Ironicamente, tudo o que o senhor Cláudio Colelo não desejava aconteceu após sua morte e da esposa: um membro da família que ele tanto detestava em vida foi quem deu dignidade ao patrimônio, sendo nomeado pelo juiz como curador para administrar o espólio dos de cujus enquanto não houvesse uma decisão judicial definitiva.
A vida é irônica!
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 10 de setembro de 2024
FRANCISCO FÉLIX DE SOUZA, O MAIOR TRAFICANTE DE ESCRAVOS DO SÉCULO XVII (CRÔNICA DO COLUNISTA CÍCERO TAVARES)
No genial romance Quincas Borba (1891), Machado de Assis conta a história de Prudêncio, o escravo vítima de maus-tratos, alijamento, e que, tão logo se vê liberto, compra seu próprio escravo para, ato contínuo, surrá-lo e alijá-lo. Em tempos politicamente corretos, de idealização das vítimas, esse parece mais um exemplo do eterno niilismo do Bruxo do Cosme Velho.
Infelizmente a história mostra que a arte copia a vida, como nos revela o diplomata, historiador e maior africanólogo do Brasil, Alberto da Costa e Silva, 90 anos, que escreveu a excelente biografia do ex escravo baiano, Francisco Félix de Souza, Mercador de Escravos, publicada pela editora Nova Fronteira, em 2004, com 208 páginas. Biografia essa onde o diplomata e historiador traça um painel cruel, estarrecedor de como o maior traficante de escravo do mundo, filho de pai branco com mãe índio mestiça, de visão, astúcia, competência e eficiência, se tornou o maior mercador de escravos do mundo, que transportava da Grande Fortaleza de Judá, o mais terrível entreposto de escravos da história escravista, construído pelos portugueses no século XVI para armazenar carne humana viva!
Francisco Félix de Souza, apelidado de Chachá, nasceu em Salvador, provavelmente no dia quatro de outubro de 1754 e morreu em Benin, África Ocidental, no dia oito de maio de 1849, aos 94 anos. Filho de um português traficante de escravos e de mãe índia mestiça, foi alforriado aos dezessete anos, decidindo viajar para a África quando tinha por volta de vinte e três anos. Não se sabe se por desterro o motivo da viagem, acredita-se que tenha sido a negócios em nome da família, retornando depois de três anos ao Brasil.
Em 1800 decide se estabelecer definitivamente em Ouidah (Ajudá), no Golfo de Benin, ao que parece como comerciante privado. Posteriormente, com a falência de seus negócios em solo africano, passa a prestar serviços à guarnição do forte de São João Batista de Ajudá, pertencente aos portugueses, no reino do Daomé, atualmente território da República do Benin. Com a falta de nomeação de administradores para o forte, Francisco Felix de Souza passa a governador interino do entreposto, posição que abandona logo depois para se dedicar ao comércio de escravos cativos de guerra, exportados para o Brasil e Cuba, atividade já tornada ilegal até mesmo em Portugal e norte do Equador.
A vida de Francisco Félix de Souza foi transformada em filme, COBRA VERDE (1987), filmado no Brasil e na África, com o ator Klaus Kinski interpretando o controvertido traficante de escravos. Foi produzido e dirigido pelo competente diretor Werner Herzog, roteiro extraído do romance O VICE-REI DE UDÁ, do aventureiro inglês BRUCE CHATWIN. Mas foi graças a Alberto da Costa e Silva que, pela primeira vez, o tema foi tratado com apuro historiográfico. Sem deixar de lado o fascínio rocambolesco da sua vida pessoal, o aventureiro de Salvador que, na África, conseguiu poder, nobreza e uma fortuna calculada em US$ 120 milhões, que fez dele um dos três homens mais ricos do mundo. Mas, ao morrer, já decadente e sem prestígio, com 94 anos, deixou mais 53 mulheres, mais de 80 filhos e mais de doze mil escravos à deriva.
A vida de Francisco Félix de Souza, o Chachá de Ajudá, título honorífico lhe concedido na cidade de Uidá, é fascinante pelo seu espírito aventureiro, pela sua astúcia, tirania e crueldade, tornando-se o maior traficante de carne humana viva do mundo no século XVII.
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários quarta, 04 de setembro de 2024
MARIA BAGO MOLE ALTRUÍSTA (CRÔNICA DO COLUNISTA CÍCERO TAVARES)
“Retirantes” – 1944, quadro do pintor Cândido Portinari
Certo dia – era mês de agosto – chegara ao cabaré de Maria Bago Mole Dona Severina de Jesus com seus seis filhos. O primeiro ainda era de menor. O caçula, com dois anos, ainda procurava leite nos peitos murchos da mãe. O marido tinha desaparecido numa caçada misteriosa na mata à procura de comida. A cena da mãe com os filhos caminhando rumo ao cabaré à procura de abrigo parecia uma metáfora do quadro “Retirantes” de 1944, do genial pintor modernista Cândido Portinari, obra-prima emblemática da arte brasileira de cunho social, com influência expressionista.
Dona Severina de Jesus era uma mulher mediana, raçuda, de personalidade forte, olhos pretos tristes, cabelos longos, coxas torneadas. Bonita e bem afeiçoada para o nível e situação de vida vivida. Era-lhe perceptível no semblante que estava passando necessidades, principalmente os filhos: todos estavam passando fome há muito, só comento raízes, quando encontravam nos sítios das estradas por onde passavam e uma irmã de caridade dava!
Do caminho da roça ao cabaré se deparou com muitas famílias bastardas querendo “adotar” seus filhos, principalmente os três mais novos. Mas ela dizia não. Como mãe, para onde fosse os filhos iam juntos, seguindo sua sombra, na alegria, na dor, na tristeza, no sofrimento. Onde comesse e dormisse um, comiam e dormiam todos sob sua proteção.
Sabendo da existência do famoso cabaré de Maria Bago Mole na Vila dos Vinténs, para lá Dona Severina de Jesus e os filhos foram à procura da famosa cafetina para pedirem guarida, uma vez que diziam ser ela altruísta, apesar de ser o lugar um entreposto de carne mijada de jovens adolescentes que “se perdiam” com os namorados e eram expulsas dos sítios pelos pais, que não admitiam filhas “defloradas” e “mal faladas” morando no lar.
Um dia de sol a pino, Dona Severina de Jesus saiu de casa logo cedo rumo ao cabaré. A cada filho, antes de sair, deu um pote de água e dois pedaços de raiz cozida no fogão de lenha da casa, que ainda lhe restava no armário de barro. Juntou as tralhas necessárias que lhes podiam ser de serventia, enrolou os panos velhos, fez uma trouxa, pôs na cabeça, fechou a tramela da porta da frente da casa e partiu com os filhos lacrimejando sem dar adeus àquela que a acolheu do sol e da chuva e os filhos durante anos.
Antes de chegar ao cabaré de Maria Bago Mole, Dona Severina de Jesus sentiu um friozinho no pé do umbigo, pois jamais esperava encontrar um ambiente tão movimentado, diferente do seu universo particular: caminhões, cortadores de cana, atravessadores, a maioria vindo das fazendas de cana de açúcar e da trilha da ferrovia, que uma empresa americana estava instalando para o escorrimento da cana até o porto da Capital.
Como necessidade faz sapo voar, Dona Severina de Jesus desacanhou-se e se dirigiu até o balcão onde estava a cafetina organizando o cabaré e dando ordens às “meninas” para a noite que estava caindo e prometia-se muito frege!
– Madame – dirigiu-se acanhada Dona Severina de Jesus a Maria Bago Mole – é a senhora a dona dessa casa “cristã?”
A cafetina, com o altruísmo que lhe era peculiar, afirmou que sim. E perguntou à retirante o que fazia ali com aqueles meninos e se estava precisando de alguma ajuda. Mas antes de esperar a resposta, mandou Dona Severina de Jesus entrar, preparou uma mesa com sete assentos, ofereceu-lhe comida e aos filhos, e cochichou no ouvido da retirante, sorrindo:
– Coma primeiro com seus filhos! Depois a gente conversa sobre o seu destino e dos meninos aqui na casa! – Disse com os olhos brilhosos que encantaram Seu Bitônio Coelho desde o primeiro dia que a viu!
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 20 de agosto de 2024
SÍLVIO SANTOS (2024) – O ÍCONE DA COMUNICAÇÃO BRASILEIRA (CRÔNICA DO COLUNISTA CÍCERO TAVARES)
Imagens de Sílvio Santos em três épocas diferentes
Encantou-se, no dia 17 de agosto de 2024, aos 93 anos, o maior comunicador do Brasil de todos os tempos: Sílvio Santos. O homem do sorriso, o homem do baú, o homem dos calouros, o homem do roletrando, o empreendedor, o influencer, o homem cantor – façanha essa que pouca gente conhece do homem que revolucionou a comunicação no Brasil, qual Charlie Chaplin nos Estados Unidos com a comédia.
Segundo afirma um dos melhores jornalistas e historiador da MPB, José Teles, no seu Site Teles Toques:
“Silvio Santos cantor é uma das suas facetas menos lembradas. Na época em que as marchinhas faziam a trilha do carnaval brasileiro, radialistas, apresentadores de TV aproveitavam para engordar o faturamento. A música para o carnaval era lançada pelo menos três meses antes da folia.
Dependendo de como fosse recebida pelo público rendia de direitos autorais o suficiente para o compositor não se preocupar com as finanças até o carnaval seguinte. Os comunicadores levavam vantagem sobre os cantores e cantoras porque muitas vezes tocavam eles mesmos o que gravaram em seus próprios programas.
Sílvio Santos estreou em 1965, com Índio Quer Dançar (Manoel Ferreira/Gentil Junior) num álbum de marchinhas, Carnaval Copa 66 (Copacabana). Daí em diante, todos os anos, ele gravou marchinhas. No ano seguinte dos mesmos autores lançou a Marcha do Barrigudinho. Foi assim até 1977, quando as marchinhas, com uma ou outra exceção não faziam mais sucessos nos clubes, nem no rádio. As gravadoras passaram a investir menos no gênero. Mas ele continuou a insistir nas marchinhas nos anos 80 e parou no início dos anos 90.
Mas nem tudo o que gravou foi para o carnaval. Em 1971, com selo Estúdio Silvio Santos Discos lançou um compacto com Samba do Corinthians (Manoel Ferreira/Gentil Junior), e Eu Queria Esquecer (Silvio Santos/Francisco Moraes), está ele declamando com um fundo musical. Silvio lançou dois LPs de música de meio de ano. O primeiro deles há 50 anos, Sílvio Santos e suas Colegas de Trabalho. O segundo em 1975 Show de Alegria, este com canções para datas comemorativas, São João, natal, carnaval, dia das mães, dos namorados e aniversários. O último é de 1994, um CD, com um repertório carnavalesco.” Na comunicação, Sílvio Santos deixou um legado que só um gênio é capaz de fazê-lo.
As Melhores Músicas de Silvio Santos | Homenagem do Canal do Músico Ao Ícone da Televisão Brasileira
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 13 de agosto de 2024
GOIANO BRAGA HORTA, UM GRANDE INTELECTUAL MODESTO (CRÔNIDA DO COLUNISTA CÍCERO TAVARES)
Irmão do talentoso poeta Anderson Braga Horta, autor de vários livros de poesia e ganhador de vários prêmios literários, Goiano Braga Horta, cantor, compositor e arranjador, por vários anos abrilhantou com seus textos icônicos no Jornal da Besta Fubana, lança, nas Redes Sociais (Facebook e Instagram), um monte de clássicos da Jovem Guarda e do Movimento Brega dos anos 60, apenas acompanhado de seu violão.
Entre esses clássicos está A Carta, interpretada no passado por Ricardo Braga (autor, intérprete), Roberto Carlos e Erasmo Carlos.
Imperdível! Impagável ouvi-los hoje!
Goiano continua o mesmo gentleman, sempre amável e respeitoso com seus leitores e admiradores.
De uma postagem que fiz no seu perfil nas Redes Sociais comentando sua importante passagem no Jornal da Besta Fubana, com ele no vídeo interpretando NON HO L’ETÀ versão em Lá Maior (Mario Panzeri e Nicolas Salerno)), recebi este comentário:
“Isso é legal, ali (no Jornal da Besta Fubana), cada um expunha suas ideias políticas sem interesse pessoal, pensando no que entendem ser melhor para o País e para o ser humano!”
Viva Goiano Braga Horta!
Viva o Jornal da Besta Fubana!
NON HO L’ETÀ versão em Lá Maior (Mario Panzeri e Nicolas Salerno) Canta Goiano Braga
Erasmo Carlos – A Carta (DVD Meus Lados B)
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários quarta, 07 de agosto de 2024
BAGO MOLE ROMPE O CABAÇO NA VÉSPERA DE SÃO JOÃO (CRÔNICA DO COLUNISTA CÍCERO TAVARES)
Era uma noite festiva como nunca se vira naquelas paragens do Nordeste, início do Século XX. A cafetina mais charmosa e famosa daquele rincão inóspito, que fundou O Cabaré de Maria Bago Mole, referência regional, escolheu romper o cabaço para o coronel Bitônio Coelho, o fazendeiro mais respeitado da Zona da Mata Sul de Carpina (PE), num dia de sábado, lua cheia, sem nuvens, sem chuvas, com a plebe comemorando os festejos juninos à beira das fogueiras, soltando traques, busca-pés, peidos de veia, morteiros, foguetes, balões e outros fogos de artifícios.
Era mês de São João, tempo em que tudo transpirava festa, rela bucho iluminado por candeeiro e lamparina, alegria no vilarejo, com muita fartura de pamonha, canjica, milho assado na cozinha da mesa do povo da Vila dos Vinténs. Nesse dia o cabaré estava em festa, com tudo sobre o controle da cafetina que não deixava nada dar errado. As meninas enfeitadas sem excesso de maquiagem, sem a aparência das garotas do Natanael, do cabaré de Django.
À noitinha chega ao cabaré o coronel Bitônio Coelho, montado no seu cavalo alazão branco, todo serelepe, os pelos brilhando no reflexo da claridade vinda das lamparinas instaladas por Maria Bago Mole nas janelas térreas do cabaré. Como sempre costumava fazer, para não ter aborrecimentos depois, a cafetina reunia as dezoito meninas no quarto do aposento dela, e as alertava, depois de verificar, uma a uma, a maquiagem. E aconselhava:
– Trate bem dos seus homens. Não os deixem faltar nada. Deixe-os usufruir de todos os prazeres da carne e da bebida. Ofereçam muita comida e bebida. Não se esqueçam que quando chegam aqui os homens estão atrás de diversão e prazeres e procuram encontrar em vocês. Não se neguem a dar. Não se esqueçam que o sucesso “da casa” depende de vocês que são o produto almejado por eles. Vigiem tudo. Qualquer malquerença que houver revolva na conversa, no diálogo e, se mesmo assim, houver excesso no parceiro, leve-o para o quarto, tranque a porta, tire a roupa pela metade, mostre seus atributos sensuais e, depois, seja lá o que deus quiser, porque homens gostam de atenção. Eu vou estar ocupada com o meu amor nos nossos aposentos. Hoje vou dar o que nunca dei a ele, nem a ninguém, com as duas janelas abertas e a lua iluminando nossos desejos ardentes.
Depois desse bate papo com as meninas, Maria Bago Mole ainda sondou todo o cabaré, checou detalhes por detalhes das comidas e bebidas da despensa, verificou se estava faltando alguma coisa, desejou sucesso e diversão a todos os presentes e se mandou para os aposentos, onde já esperava por ela, todo tímido e desajeitado, o homem mais cobiçado e respeitado da Zona da Mata Sul da Região de Carpina (PE).
Apaixonadíssimo pela cafetina e sem poder esconder o nervosismo, Seu Bitônio Coelho deixou escapar alguns segredos de alcovas. Como se comportar sem roupa, nu, ante a mulher amada? Se beijasse a cafetina, e por onde começar as preliminares? Tantas eram as dúvidas e o nervosismo que o coronel a pediu para apagar a lamparina para mergulhar por baixo do lençol e a cafetina não o olhasse nu.
Nesse momento, com toda sua experiência lidando com homens no cabaré sem se envolver com nenhum dele, Bago Mole chamou o feito à ordem, pegou nas mãos do coronel, arrancou-lhe o pijama e começou a lhe fazer as preliminares para intumescer os desejos da carne.
Com menos de meia hora de excitação, Seu Bitônio Coelho, já estava relaxado e pronto para viver com a cafetina os desejos de um homem. Antes de ele a possuir, ela o beijou por todas as partes, fez barba, cabelo e bigode. Feito isso, perguntou-lhe o que estava sentindo.
Ao que ele respondeu:
– Nada do que eu pensava do sexo, – e a beijou na boca com um beijo tão ardente que ela sentiu sufocada, mas nada disse. Foi assim até amanhecer do dia, com o sol avisando que as estrelas já haviam se recolhido.
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 23 de julho de 2024
MARIA BAGO MOLE E O POETA ROMANO JUVENAL (CRÔNICA DO COLUNISTA CÍCERO TAVARRES)
Com suas obrigatórias idas e vindas ao Mercado Livre do Centro da Cidade de Carpina (PE), na Rua Ipiranga, todos os dias, manhã cedo, para comprar os mantimentos necessários para abastecer a despensa do seu pequeno comércio, que crescia a olhos vistos, com a chegada de mais trabalhadores da palha da cana nos engenhos das imediações, a cafetina mais sana in corpore sano da Vila dos Vinténs, a cada dia vibrava com o estrondoso crescimento do embrião do cabaré. Preocupava-lhe não poder atender, a seu jeito, a grande quantidade de homens com estômagos vazios por falta de mão de obra qualificada nas imediações: cozinheiras, arrumadeiras e atendentes para despacharem com os fregueses as refeições. Tudo teria de ser improvisado na hora para não desagradar os trabalhadores famintos.
Mulher inteligente e arrojada em suas atitudes empreendedoríssimas, Maria Bago Mole, sempre que passava em frente ao empório do Seu Adamastor Salvatore, imigrante italiano, para comprar mantimentos, observava um letreiro em forma de poema que ele pregava de frente do seu comércio. Era uma tabuleta de madeira, esculpida a mão por um artesão da redondeza, gênio da raça desconhecido. Na tabuleta havia grafado um poema do poeta romano Juvenal. No contexto, a frase era a parte da resposta do autor à questão sobre o que as pessoas deveriam desejar na vida.
No cabeçalho da tabuleta estava escrito em letras garrafais: MENS SANA IN CORPORE SANO (“Uma mente sã no corpo são”), que Maria Bago Mole não entendia o significado, mas ficava fascinada pelo som das palavras, ao ponto de decorar o poema e balbuciá-lo ao Sol toda manhã quando saia do cabaré para comprar os mantimentos:
Deve-se pedir em oração que a mente seja sã num corpo são. Peça uma alma corajosa que careça do temor da morte, que ponha longevidade em último lugar entre as bênçãos da natureza, que suporte qualquer tipo de labores, desconheça a ira, nada cobice e creia mais nos labores selvagens de Hércules do que nas satisfações, nos banquetes e camas de plumas de um rei oriental. Revelarei aquilo que podes dar a ti próprio; Certamente, o único caminho de uma vida tranquila passa pela virtude.
Tudo isso prova por que a adolescente que foi expulsa de casa pelo pai, com apenas 17 anos por ter sido difamada por um aventureiro salafrário, ter conquistado o amor do fazendeiro Bitônio Coelho, o homem mais rico e poderoso da Região da Zona da Mata Sul de Carpina, PE, era uma mulher de mente sana in corpore sano e à frente do seu tempo.
Tudo isso corrobora que a mulher que teve a visão de transformar um vilarejo inóspito, caótico, sem vida, numa comunidade próspera, construindo um cabaré que se tornou referência em toda circunvizinhança, numa época em que não existia lamparina, tinha de ser uma empreendedora que enxergava longe.
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários quarta, 19 de junho de 2024
JORDAN PETERSON (1962) – O INDIVÍDUO CONTRA O POLITICAMENTE CORRETO (CRÔNICA DO COLUNISTA CÍCERO TAVARES)
Maior psicólogo canadense da atualidade, quiçá do mundo, Jordan Bernt Peterson, simplesmente Jordan Peterson, psicólogo clínico, escritor, ex-professor canadense de psicologia da Universidade de Toronto, vem sacudindo o meio acadêmico nas suas principais áreas de atuação: a psicologia analítica, social e evolucionista, com particular interesse na crença ideológica, personalidade e na psicologia da religião, enterrando o politicamente correto, com fatos, no túmulo da esquerdopatia.
Psicólogo de visão libertária, Jordan Peterson, com certeza é um do mais conceituado estudioso e polêmico psicólogo da contemporaneidade, sendo autor do best-seller 12 Regras Para a Vida dentre outros tão importantes quanto. Seus principais embates têm sido contra o politicamente correto, que tem sido uma praga para a sociedade moderna.
Numa era tão polarizada, Peterson é um homem que decidiu ser fiel à verdade e a seus princípios, ao invés de se dobrar à seita progressiva da esquerdopatia. Ele defende o homem e a sua liberdade contra a ideologia cega, doentia e irracional, nunca cedendo às pressões do coletivo que sempre almeja a cabeça à sua causa política e ideológica.
Peterson é admirado mundo afora por todos que se cansaram do politicamente correto e das regras criadas pelos militantes esquerdopatas agressivos, nem das visões utópicas da sociedade perfeita. Por outro lado, ele é odiado pelos progressistas e demais defensores do politicamente correto e das diversas agendas que a esquerda defende.
Sendo professor de psicologia, é um intelectual que teve a coragem de bater de frente contra o autoritarismo moderno, que se traveste de movimento benfeitor. Peterson identifica fatores psicológicos que fizeram a sociedade do passado a aceitarem o nazismo e marxismo soviético, que ainda existe nos dias atuais.
Um dos principais temas de estudo do psicólogo é sobre o autoritarismo e tudo que envolve esse fenômeno. E ele mesmo afirma que um dos seus objetivos é o de vacinar as pessoas contra o que ele chama de “possessão ideológica”. Foi por causa da possessão ideológica que o Século XX foi o período histórico com mais terror de governos autoritários e totalitários, com movimentos políticos de massa e com genocídios, quando as pessoas abandonaram toda a concepção de moralidade e verdade para se apegarem à ideologia e suas propagandas de forma irracional. Mas não estamos tão longe e livre desse fenômeno da possessão ideológica como alguns podem pensar.
Peterson ficou impressionado como o politicamente correto cresceu rapidamente nos últimos anos. E ele relata que outros professores que conhece ficam com medo de dar aula sobre certos temas de estudo como gênero, pois ficam com temor de retaliações ou cancelamentos.
Mais informações relevantes sobre as polêmicas envolvendo o renomado psicólogo Jordan Peterson assistam aos dois vídeos abaixo. Vale a pena.
JORDAN PETERSON: o indivíduo contra o politicamente correto
George Orwell: Os Socialistas e os Pobres
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 04 de junho de 2024
JURAILDES DA CRUZ (1954) – UM CANTOR E COMPOSITOR REFINADO (CRÔNICA DO CLUNISTA CÍCERO TAVARES)
Nascido em Aurora do Norte, Goiás, hoje Estado do Tocantins, um verdadeiro paraíso para o menino que cresceu ouvindo folias de reis, cantigas de rodas, catiras (dança folclórica caipira típica do Brasil), Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, o canto e compositor Juraildes da Cruz, na adolescência, mudou-se com os pais para Goiânia, onde aprendeu a tocar violão com um vizinho. Estudou violão clássico ouvindo a “Jovem Guarda”, MPB e rock dos anos 70. Seu trabalho é híbrido, uma junção desse movimento cultural brasileiro surgido em meados da década de 60 com a música da região.
“Iniciou sua carreira artística em 1976, quando participou do GREMI – Grandes Revelações da Mocidade Inhumense, um festival de arte que aconteceu na cidade de Inhumas, Goiás, onde foi classificado em primeiro lugar.
Participou de mais de cem festivais musicais, com destaque para o Festival Tupi, de 1979, onde se apresentou com Genésio Tocantins, ao lado de artistas dos cantores Caetano Veloso, Elba Ramalho, Zé Ramalho, Osvaldo Montenegro, Fagner, Alceu Valença, Jackson do Pandeiro e outros. Em 1992, foi classificado no MPB SHELL.
Gravou seu primeiro disco, Cheiro de Terra, em 1990, contando com a participação de grandes nomes como Chiquinho do Acordeon, Sebastião Tapajós, Paulo Moura, Jaques Morelenbaum, Fernando Carvalho, Nilson Chaves, Mingo e Xangai. Suas composições já foram gravadas por Pena Branca e Xavantinho, Xangai, Rolando Boldrin e Margareth Menezes, entre outros.
Em 1994, Pena Branca e Xavantinho gravaram a composição de Juraildes “Memória de Carreiro”, que abre o CD Uma Dupla Brasileira. Participou, ainda, do CD gravado ao vivo Canto Cerrado, no qual interpretou “Nóis é Jeca Mais é Jóia”. Cantou também com Xangai o forró “Fuzuê na Taboca” no CD Eugênio Avelino – Lua Cheia, Lua Nova.
Em 1998, ganhou o Prêmio SHARP, atualmente chamado “Prêmio da Música Brasileira, com a música “Nóis é Jeca, Mais é Jóia”, na categoria de melhor música regional.
Participou do Projeto Pixinguinha, fazendo apresentações em oito capitais brasileiras, com gravação de DVD.
Em 2000, foi classificado no concurso do Projeto Rumos Musicais, do Banco Itaú para fazer o mapeamento cultural do país, com gravação de DVD, representando o Centro-Oeste.
Em 2005, foi indicado para o Prêmio TIM (categoria regional), com o CD Nóis é Jeca, Mais é Jóia.
Participou do Acordes Brasileiros – primeiro encontro Nacional de músicas regionais do Brasil em Porto Alegre, Rio Grande do Sul.
A Pontifícia Universidade Católica de São Paulo publicou um artigo na revista Língua Portuguesa, fazendo um reconhecimento do seu trabalho na revista n° 39, no mês de janeiro de 2009.
Participou da trilha sonora da novela da Rede Globo, A Favorita, com a música “Memória de Carreiro”, na versão instrumental.
Participando pela terceira vez do Projeto Pixinguinha, em 2008, recebeu o prêmio para a gravação do CD Roda Gigante bem como realização de shows de lançamento em Goiás.
Prepara-se para o lançamento do DVD Meninos, com tema infantis e adultos, que contou com a participação de um coral infantil.
A partir de junho de 2010, abriu uma turnê, em Recife, juntamente com Xangai, que circulou pelo Nordeste, onde foi mostrado o trabalho do CD que gravaram juntos, pela Kuarup, indicado ao Prêmio Tim em 2005.
Em 2010, foi indicado ao 21º Prêmio da Música Brasileira, sendo contemplado como o melhor cantor na categoria “voto popular”, juntamente com Daniela Mercury.”
Em 2022, Juraildes da Cruz gravou um DVD com arranjo, violão e bandolins de Luiz Chafim, o primeiro de sua carreira musical, onde ele se apresenta cantando e tocando violão. Há um desfile de dez músicas de sua autoria de rara sensibilidade, onde ele mistura o erudito e o popular numa ode rara de genialidade.
Meninos – Juraildes da Cruz
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários quarta, 29 de maio de 2024
BENÍCIO BEM – E O CAMINHONEIRO DO DENTE FURADO (CRÔNICA DO COLUNISTA CÍCERO TAVARES)
O GOOGLE está dando destaque à crônica toda que escrevi sobre Benício Bem, ‘O Caminhoneiro do Dente Furado’, publicado no JBF do dia 05.03.2024.
O penúltimo parágrafo é o destaque de hoje, e o inspirador da crônica surpreendente me ligou agradecendo e ao JBF pela postagem.
Parabéns à Gazeta Escrota.
* * *
Republicação:
Benício Bem Coco do Troca Troca
Benício Bem, artista superlativo, múltiplo, pulsante, pungente, completo. Privilegiado com talento raro para a música de harmonia e melodia inteligente.
Simples, espontâneo, verdadeiro, corajoso, assumindo sua preferência sexual num ambiente familiar predominantemente adulto, paternal, democrático, ao estilo respeitoso dos seguidores e fãs.
Cigano de alma libertária, Benício Bem nasceu em Poção, distrito de Piripiri, Teresina (PI), onde fica localizado o Olho d’ Água mais fascinante do que o Delta do Parnaíba, ou Delta das Américas. Correspondente à foz do Parnaíba, onde se encontram as 73 ilhas fluviais mais belas do mundo.
Benício é a reencarnação espiritual-musical de Carmen Miranda com seus balangandãs e de Pinduca, o Rei do Carimbó raiz paraense, com seu “kirimbu” cigano, estirizado, violado, repentista.
Há muito tempo na estrada, fazendo estripulia musical, o piripiriense de Poção já tem no currículo musical mais de 150 crônicas musicais ao estilo “pinduquense”. “Banca de Camelô”, “Ciranda de Cigana”, “Como o Piauí É Bom”, “Coco da Maria Toca Toca”, dentre outras pérolas.
“O Caminhoneiro do Dente Furado,” título do carimbó que dá nome à crônica, é o título de uma canção que ele compôs recentemente para um caminhoneiro por quem estava apaixonado até os quatro pinéus, como se diz no nordeste, e não conseguia ser correspondido. Mas o esqueceu após compor a canção. Freud explica essa metamorfose ambulante.
Breve ele aporta por aí como o humorista João Cláudio Moreno, o gênio do humor de Piripiri (PI), maior do Brasil depois de Chico Anísio.
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários domingo, 19 de maio de 2024
MEGATURNÊ DE IVETE SANGALO É CANCELADA POR MOTIVO DE FORÇA MAIOR (CRÔNICA DO COLUNISTA CÍCERO TAVARES)
Saiu na coluna Teles Toques do renomado jornalista musical e biógrafo da MPB, José Teles, que a cantora baiana Ivete Sangalo cancelou a megaturnê que faria em 19 estados do Brasil, em comemoração aos seus 30 anos de carreira, foi cancelado por motivo de força maior: o povo está deixando de ser otário com a lacração esquerdopata.
“A turnê A Festa, na qual Ivete Sangalo circularia por 19 cidades, de Norte a Sul do país (no Recife, em 24 de agosto) foi cancelada. Primeiro parágrafo do texto sobre o cancelamento, distribuído pela assessoria de imprensa Perfexx: “Honrando a transparência e a responsabilidade que marcam sua carreira, Ivete Sangalo e seu escritório optaram por cancelar a turnê A Festa. A decisão, embora dolorosa, revelou-se necessária a partir da constatação de que a produtora responsável pela realização dos shows não conseguiria garantir as condições necessárias para que as apresentações da artista acontecessem da forma como foram concebidas, com a excelência e segurança prometidas e acordadas”.
Até o final do texto não se esclarece especificamente em que pontos poderia falhar a produtora da turnê. Pode nem ter sido o motivo, mas quando foi anunciada a turnê, que celebraria os 30 anos de carreira da cantora, me pareceu meio megalomaníaca. Todos os shows seriam realizados em estádios ou arenas. Não é mole lotar espaços assim.
Tudo bem, Ivete nunca deixou de estar na mídia nesses anos todos, mas ela arrebanhava multidões até a primeira década deste século, quando foram diminuindo os sucessos cantados Brasil afora. Macetando, que foi hit no carnaval de 2024, veio dez anos depois do seu último sucesso, Amor que Não Sai, que chegou ao 70º lugar nas paradas brasileiras. Curiosamente, apesar da imensa popularidade de Ivete entre 2000 e 2013, ela só emplacou um 1º lugar em 2000, com Se Eu Não te Amasse Tanto Assim, de Herbert Vianna
Depois que os carnavais fora de época, movidos a axé, foram saindo de moda, e as gravadoras deixando de vender discos, poucas estrelas da música pra pular baiana continuaram na vitrine. Ivete foi uma delas, cadeira cativa no Rock in Rio. No entanto, shows em arenas e estádios exigem uma mega e caríssima estrutura. Quem na música brasileira atualmente tem cacife para empreender uma turnê assim?”
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários quinta, 25 de abril de 2024
BENÍCIO BEM E SUA EXCELÊNCIA, O BREGA (CRÔNICA DO COLUNISTA CÍCERO TAVARES)
“É o oitavo álbum do cantor e compositor Benício Bem na construção de sua carreira fonográfica, fenômeno musical que ainda carece de uma análise acurada dos especialistas do universo do brega cult, romântico, dor de cotovelo. O primeiro de sua leva que enaltece o amor do princípio ao fim.
Muita gente anda desacreditada do amor.
Do amor pela vida, pelas pessoas …
As canções desse álbum, que foram todas assinadas pelo próprio artista, falam do amor em suas várias manifestações, às vezes como adolescente que não envelheceu e precisa viver emoções intensas ou às vezes trazem algum conselho ou mensagem importante que encorajam a vida.
Ser brega é ser livre, é fazer o que manda o desejo.
Então, não perca tempo com julgamentos ou medo de se apaixonar. Se permita viver o hoje enquanto chega o amanhã sem se importar se é brega ou chique.”
O release que vem acoplado ao CD, reflete bem a atmosfera romântica das oito canções bregas, que serão disponibilizadas nas plataformas digitais no mês de maio de 2024, com um show do cantor que promete abalar as estruturas do palco a ser montado para o povo se divertir.
A lei 8.313/1991, a famigerada Lei Rouanet, mais uma vez cedeu aos conchavos da Máfia do Dendê que dar às ordens de Salvador e ignorou um artista do povo que há mais de 30 anos faz Cultura no Piauí. O show do cantor Benício Bem não teve a acolhida da lei por não se enquadrar nas normas particulares do Procure Saber da Bahia de Caetano, Gil e Cia.
Contato para show: 86 99973 4599
Benício Bem – Dez poemas diferentes
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários sábado, 20 de abril de 2024
THIELLE GOIS, EMOJI FURACÃO (CRÔNICA DO COLUNISTA CÍCERO TAVARES)
No grupo do zap, Cabaré do Berto, do dia 10 de abril de 2024, o sempre hilário e bem humorado comentarista Marcos Fontes, preciso e cirúrgico, comentou o seguinte a respeito da nova vencedora do concurso Miss Brasil Teen 2024, Thielle Gois, abaixo num vídeo que viralizou com ela emocionada comentando a importância da vitória de Miss Brasil 2024. Diz Fontes: “Eu tinha perdido a esperança na juventude brasileira, mas essa moça mostra que ainda há cérebros no país. Exemplo para todos os jovens, com habilidade para se comunicar, riqueza de vocabulário, concatenação de ideias e um bom alicerce de conceitos. A cereja do bolo veio no final, quando ela BATE CONTINÊNCIA!”
De beleza estonteante e inteligência surpreendente, Thielle Gois, 18 anos, linda, natural de Umbaúba, litoral sul sergipano, menor estado da federação, jovem negra, periférica, com descendência indígena, filha de mãe solteira, estudante de escola pública, se expressou em quatro idiomas em discurso antológico de agradecimento pela vitória do maior concurso Teen do país versão 2024 que ela foi vencedora, realizado no estado de Curitiba, Paraná, mês de março, contando com a participação de 28 jovens de outros estados da federação, todas de padrões estéticos e convencionais ultrapassados.
A vitória de Thielle Gois não apenas a coloca em destaque nacional, mas também orgulha o estado de Sergipe ao conquistar o título máximo no concurso de beleza teen. Sua vitória foi resultado não apenas de sua beleza estonteante, mas também de sua simpatia, naturalidade e talento, muito talento, que encantaram os jurados e o público presente.
Ao receber a coroa de Miss Brasil Teen 2024, Thielle Gois demonstrou sua gratidão e emoção, representando não apenas sua cidade natal, mas todo o estado de Sergipe com orgulho e elegância. Seu desempenho exemplar e sua dedicação ao longo da competição são um verdadeiro exemplo de determinação e superação para jovens de todo o país.
Que a vitória de Thielle Gois no Miss Brasil Teen 2024 inspire outras jovens a seguirem seus sonhos e acreditarem em seu potencial, mostrando que, com determinação e trabalho duro, é possível alcançar grandes conquistas.
A maior surpresa desse evento de magnitude nacional e internacional, foi a ausência da Globo Lixo e outros meios de comunicações bosteis do país de ideologia comuna. Em prisca era, William Bonner e Renata Vasconcelos se mijam de emoção ao falarem ao vivo diretamente da cidade de Umbaúba para o Cansástico, exaltando o feito e o talento da jovem negra e periférica, vinda do menor Estado da Federação para conquistar o mundo com talento, beleza e desenvoltura. Talvez por ser Thielle Gois nacionalista consciente, a Globo Lixo mijou para trás e não deu destaque ao feito de importância NACIONSAL!
Sergipana Thielle Góis vence Miss Brasil Teen 2024
Sergipana de Umbaúba vence concurso e discurso em 3 línguas viraliza no Brasil – CA
Thielle Gois, Sergipana vencedora do concurso
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários quarta, 17 de abril de 2024
MARTINS, O REVERBO DA NOVA CENA MUSICAL PERNAMBUCANA (CRÔNICA DO SOLUNISTA CÍCERO TAVARES)
No dia 21 de novembro de 2021, Martins e Almério, dois cantores e compositores talentosos da nova cena musical pernambucana – o Reverbo – incendiaram o Teatro do Parque, Recife (PE) em apresentação apoteótica.
Martins, dono de uma voz límpida e afinadíssima, cantou todas faixas do seu segundo CD, Martins e Almério, de canções próprias e em parceria com Almério e outros, revigorou a nova movimentação pernambucana pós Manguebeat, moldando suas inspirações musicais na Zona da Mata Norte do agreste e da capital, na fonte dos repentistas e cantadores de viola.
Em entrevista dias antes da realização do show ao jornalista Augusto Diniz, Martins confessa que pegava ônibus no Recife (PE) – onde nasceu e mora – viajava duas, três horas até onde viviam os mestres Luiz Paixão e Salustiano, reconhecidos tocadores de rabeca, símbolos da cultura popular nordestina e responsáveis por influenciar gerações de artistas pernambucanos.
Segundo ele, “passava o dia inteiro lá com os mestres para aprender tocar rabeca e saía com uma riqueza cultural para além da rabeca. Voltava e a inspiração vinha”, relata. “Oitenta por cento das coisas que componho são da minha relação com a cultura popular,” assegura.
Martins está para o Reverbo da nova movimentação musical pernambucana, bem como Chico Science esteve para o Movimento Manguebeat, movimento musical que se destacava pela combinação original de diversos gêneros musicais, unindo ritmos regionais, como o maracatu, o frevo, o forró, o rock, o hip, hop, o funk e músicas eletrônicas, com identidade própria.
Martins – Deixe (Ao Vivo No Teatro do Parque)
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários quarta, 27 de março de 2024
BENÍCIO BEM, FORÇA QUE VEM DA ARTE (CRÔNICA DO COLUNISTA CÍCERO TAVARES)
Dedicado ao talentoso humorista João Cláudio Moreno
A arte abre novos caminhos e novas oportunidades, transformando o indivíduo de dentro para fora e mostra que, independente de quem seja, estamos repletos de dons e talentos que só estão esperando aquela oportunidade para se mostrarem para o mundo.
Benício Bem é um desses artistas repletos de dons e tons musicais, que a natureza contemplou com dádivas, e que, de quando em vez, transforma tudo que é belo em arte, a expressão da subjetividade humana. Pode ser na música, na pintura, na literatura, no teatro, na dança, no desenho, nos adereços, porque a arte é democrática, requer só talento para ser clarividente. Todo mundo pode participar, não importa a idade, o gênero, a crença, a etnia. É o lugar onde artistas profissionais e amadores interagem na mesma freqüência.
De cara, uma das músicas do cantor e compositor piripiriense, Benício Bem, dentre as centena que já compôs, é, sem dúvida alguma pulsante, titulada por ele de “Geladeira” e que ele interpreta com toda a força da paixão que dilacera o coração apaixonado, mas não o prende, nem o fez jogar-se na sarjeta da solidão. Ao contrário, transforma-o no ser talentoso de Poção, resistente ao abandono amoroso. “Sinto saudade, mas eu não te quero mais porque o prazer não é melhor do que a paz,” – canta Benício sem sofrência.
Em entrevista ao apresentador Sandro Abrantes, do programa “Bom Gosto”, da TV Assembleia do Piauí, anos atrás, e o DOIS7MEIA, Benício Bem conta sua trajetória musical: Início, influência, inspiração. Bem mostra que a arte tem o poder de transformar vidas. Ela traz sensibilidade, resiliência e acalento à vida de muita gente que dela precisa, que sofre e que vê nela a verdadeira forma de alívio para as dores do cotidiano.
“Geladeira” já nasceu um clássico da sofrência. Adelino Moreira assinava em baixo. É a mistura da dor de cotovelo, do amor não correspondido, do prazer e da resistência, que ele não se deixou se abater pelo abandono. Ao contrário, deu a volta por cima, sacudiu a poeira e transformou a solidão numa festa de confete e serpentina para o coração abandonado.
Benício Bem prova, através de suas composições inteligentes, inventivas, sobretudo “Geladeira”, que a arte permite que as emoções e os sentimentos venham à tona, sendo este o seu papel na formação da sociedade: dar o sustento que ela necessita, ao garantir que a vida tenha significado.
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários quarta, 06 de março de 2024
BENÍCIO BEM – E O CAMINHONEIRO DO DENTE FURADO (CRÔNICA DO COLUNISTA CÍCERO TAVARES)
Benício Bem, artista superlativo, múltiplo, pulsante, pungente, completo. Privilegiado com talento raro para a música de harmonia e melodia inteligente.
Simples, espontâneo, verdadeiro, corajoso, assumindo sua preferência sexual num ambiente familiar predominantemente adulto, paternal, democrático, ao estilo respeitoso dos seguidores e fãs.
Cigano de alma libertária, Benício Bem nasceu em Poção, distrito de Piripiri, Teresina (PI), onde fica localizado o Olho d’ Água mais fascinante do que o Delta do Parnaíba, ou Delta das Américas. Correspondente à foz do Parnaíba, onde se encontram as 73 ilhas fluviais mais belas do mundo.
Benício é a reencarnação espiritual-musical de Carmen Miranda com seus balangandãs e de Pinduca, o Rei do Carimbó raiz paraense, com seu “kirimbu” cigano, estirizado, violado, repentista.
Há muito tempo na estrada, fazendo estripulia musical, o piripiriense de Poção já tem no currículo musical mais de 150 crônicas musicais ao estilo “pinduquense”. “Banca de Camelô”, “Ciranda de Cigana”, “Como o Piauí É Bom”, “Coco da Maria Toca Toca”, dentre outras pérolas.
“O Caminhoneiro do Dente Furado,” título do carimbó que dá nome à crônica, é o título de uma canção que ele compôs recentemente para um caminhoneiro por quem estava apaixonado até os quatro pinéus, como se diz no nordeste, e não conseguia ser correspondido. Mas o esqueceu após compor a canção. Freud explica essa metamorfose ambulante.
Breve ele aporta por aí como o humorista João Cláudio Moreno, o gênio do humor de Piripiri (PI), maior do Brasil depois de Chico Anísio.
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 13 de fevereiro de 2024
O HUMORISTA JOÃO CLÁUDIO MORENO – E O SUCESSO RELATIVO (CRÔNICA DO COLUNISTA CÍCERO TAVARES)
Numa entrevista antológica concedida ao apresentador Emílio Surita e sua trupe do Programa Pânico da Jovem Pan realizado em 2011, o piauiense João Cláudio Moreno, o maior humorista do Brasil depois de Chico Anísio, além de comentar os bastidores do programa Zorra Total da Rede Globo, na época em que a emissora de Roberto Marinho podia ser levada a sério, era digna de uma emissora de televisão, fala sobre sua relação com o genial Chico Anísio, durante seis anos em que trabalharam juntos.
Nessa entrevista o humorista João Cláudio Moreno fala da criatividade e do improviso genial de Chico Anísio, da dificuldade de lidar com o gênio generoso, do quanto ele esculhambava com a alta direção da emissora, principalmente a Diretora de Programação, Marluce Dias, que dizia que a única coisa que prestava nela era que dava pra comer até na frente do marido, que era cego.
Fala da mãe dele, Dona Raimundinha Rego, que era humorista genial, apesar de possuir só o quarto ano primário e ter mais de 98 anos, e está sempre acabando com a alta estima dele, segundo ele para desestimular seu ego.
Nessa mesma entrevista à Pam, o humorista João Cláudio Moreno narra um encontro de Alceu Valença e Hermeto Pascoal, que é um negocio de doido ouvir os dois falando, onde ninguém entende porra nenhuma do que os dois falam.
Simplesmente imperdível a narrativa!
Vale apenas assistir a entrevista toda! É antológica!
No final dessa entrevista o humorista João Cláudio Moreno fala sobre o sucesso relativo, o sucesso absoluto e o sucesso e o fracasso. Fala sobre a dificuldade de administrá-lo, o que nem sempre é fácil, e comenta do sucesso de uma cantora do Piauí, negra, periférica, sem dente, que foi chamada para participar de um encontro de mulheres negras feministas na Inglaterra, por isso seu nome Maria da Inglaterra.
Quando ela chegou no encontro das Mulheres Negras Femininas da Inglaterra, quando adentrou no palco, foi logo cantando para a surpresa das outras mulheres negras e feministas:
– Sou uma muié dominada de paixão. Eu me casei pra alegrar meu coração. Quando ele chega vem com a cara cheia, eu chego rente, vou chiar na peia. Bata meu bem, pode bater, quanto mais bata mais eu sinto prazer. Bata meu bem, pode bater, quanto mais bata mais eu sinto prazer
A mulher que estava coordenando o encontro, que era de São Paulo, correu e mandou tirar Maria da Inglaterra do Palco imediatamente. Mais ela não perdeu tempo e emendou a segunda parte: Não interessa o que vão falar, as costas é minha eu posso aguuuentar.
Nesse momento houve uma vaia das colegas – só das colegas – porque o povo dentro do teatro aplaudiu de pé e Maria da Inglaterra estava feliz por ter externado tudo aquilo que sentia. Para ela era um sucesso relativo, porque satisfazia os seus desejos, mesmo naquele momento.
Quando a turma terminou a vaia, ela levantou e disse:
– A inveja ainda mata um diabo desses!
Não interessa se foi bom ou não para as outras pessoas, o mais importante foi que foi bom para ela, que realizou seu sucesso, mesmo relativo. Ficou de bem consigo mesma, feliz!
O vídeo com a entrevista toda é longo, mas vale apena assisti-lo! É uma aula de humor inteligente do início ao fim!
Clique na imagem abaixo para acessar a entrevista no YouTube:
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários segunda, 13 de novembro de 2023
LEONARDO DANTAS SILVA – HISTORIADOR DO CARNAVAL DE PERNAMBUCO (CRÔNICA DO COLUNISTA CÍCERO TAVARES)
Encantou-se no sábado, dia 11.11.2023, o historiador e jornalista pernambucano Leonardo Dantas Silva, aos 77 anos. O pesquisador foi o primeiro presidente da Fundação de Cultura do Recife e, em 2022, foi eleito Patrimônio Vivo de Pernambuco.
Leonardo Dantas encantou-se no Hospital Unimed, localizado no bairro da Ilha do Leite, na área central do Recife, onde estava internado desde o dia 19 de outubro, e onde recebia tratamento de uma fibrose pulmonar.
Nascido no dia 10 de dezembro de 1945, Leonardo Dantas era um dos mais profundos conhecedores do carnaval pernambucano. Em 1969, ele se formou em Direito pela Universidade Católica de Pernambuco.
O jornalista e historiador recifense Leonardo Dantas era conhecido como um dos maiores especialistas da história do carnaval pernambucano e do período do Brasil Holandês. Leonardo Dantas deixa um enorme legado de amor e reverência a Pernambuco e à sua Cultura. Uma luz que jamais deixará de brilhar.
Durante anos o Jornal da Besta Fubana acolheu uma coluna do jornalista e historiador, que sempre nos abrilhantava com um artigo semanal historiando sobre a história do carnaval pernambucano e o período holandês.
Sua obra é extensa sobre o carnaval e o período holandês no Brasil, indo desde “Bandeira de Pernambuco” (1972), com prefácio de Marcos Vinícios Villaça até “Arruando Pelo Recife” (2021), sem contar os milhares de artigos científicos publicados nos jornais e revistas especializadas de Pernambuco e do País.
Vai deixar saudades.
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 31 de outubro de 2023
O CABUETA (CRÔNICA DE CÍCERO TAVARES, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
Há mais de quinze anos sem se ver, amigo de turma ginasial reconhece colega trabalhando na Uber, faz a maior festa, e o convida para fazer uma corrida: levá-lo até a residência do pai que ficava distante do bairro onde se encontrava trabalhando. Para encurtar caminho e chegar mais depressa em casa, uma vez que conhecia os atalhos, o colega pede para o amigo de ginásio seguir por outro caminho, que não era reconhecido pelo GPS, que chegava a casa com mais de meia hora adiantado.
Sujeito de princípios éticos e ilibados, o colega da Uber não estava disposto a ceder à proposta indecorosa do amigo de classe. Logo disse não, mas o amigo insistiu no sim, demonstrando mais uma vez as vantagens da corrida e o lucro que a Uber e o colega iam ter se seguisse sua orientação.
– Mas a Uber tem o direito de me suspender por estar quebrando uma cláusula de contrato se eu seguir sua orientação, amigo. O sistema acusa que eu estou burlando o trajeto para tirar vantagens. Sinto muito amigo mais eu vou seguir a direção correta, estabelecida pelo GPS, pois tenho família para sustentar e uma suspensão sai caro para mim, argumentou.
– Amigo, – insistiu o colega de turma mais uma vez, – vá por mim. A Uber não fiscaliza isso não e você não está burlando nada, apenas encurtando caminho, que é mais vantajoso para você e para a empresa.
Percebendo que o amigo não ia desistir mesmo, cedeu à tentação mesmo, e seguiu o rumo do caminho traçado pelo colega, mas a contra gosto.
Como a Uber não tinha como checar aquele caminho, pois não constava no sistema do GPS, o colega sacana, no outro dia ligou para a empresa, contou o ocorrido, dedurou o amigo e apelou para a empresa demiti-lo por estar sacaneando com ela.
No outro dia a empresa liga para o “uberista” dizendo que ele estava dispensado, pois ludibriou a empresa utilizando de artifícios ardis não previstos em contrato, ou senão teria de pagar uma multa por descumprimento de cláusulas de contrato.
Foi o que o amigo de ginásio fez, pagou a multa, com dinheiro emprestado pelo pai que lhe deu um puxão de orelha e aprendeu uma grande lição: nunca ceder a tentação fácil, pois ela é inimiga da honestidade.
No dia seguinte ao pagamento da multa e a liberação do carro, o “uberista” volta a circular com o carro. Cinicamente o colega da traição telefona perguntando se o “uberista” estava disponível para levá-lo ao trabalho.
– Eu? Estou sim. E você? Tem alguma corrida para mim?
Do outro lado da linha silêncio total.
Bezerra da Silva – Ele Cabueta com o Dedão do Pé
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários segunda, 30 de outubro de 2023
AS VANTAGENS DO ALZHEIMER (CRÔNICA DE CÍCERO TAVARES, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
Aos 82 anos de idade, Francisco se casou com Maria, de 27 anos que, em consideração ao marido tão idoso, decide que devem dormir em quartos separados. Assim fica acordado entre os envolventes das núpcias.
Terminada a festa do casamento, cada um vai para o seu quarto. Maria se prepara para deitar, quando ouve batida forte na porta do seu quarto.
As batidas insistem… Ao abrir a porta, ela se depara com Francisco, com 82 anos, pronto para entrar em ação.
Tudo corre bem após uma relação quente e vigorosa… Francisco despede-se e vai para o seu quarto.
Passados alguns minutos, Maria ouve novas batidas na porta do quarto… Era Francisco, novamente pronto para outra ação.
Maria se surpreende, mas deixa-o entrar. Terminada a relação, Francisco beija Maria carinhosamente e despede-se, indo para o seu quarto.
Maria se prepara para dormir novamente, quanto escuta fortes batidas na porta do seu quarto. Espantada, Maria abre a porta e se depara com… Francisco!!! Mais do que pronto para a ação, com aspecto vigoroso e renovado.
E Maria diz, espantada e surpresa:
– Estou impressionada com o senhor que, em sua idade possa repetir a relação com essa freqüência… Já estive com homens com um terço de sua idade e eles se contentavam apenas com uma vez. Você, Francisco, é um grande garanhão!
Desconcertado, Francisco pergunta:
– E eu já estive aqui antes?
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários sábado, 21 de outubro de 2023
O AVARENTO (CRÔNICA DE CÍCERO TAVARES, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
Após um dia de trabalho intenso e cansativo com muitas corridas com a UBER, o ex traxista João da Silva resolve parar e recolher o carango para descansar e no dia seguinte pegar no batente cedo.
Chega a casa por volta das duas e meia da madrugada. Dá um beijo na mulher que o aguardava acordada. Toma um banho, janta, descansa um pouco em frente à televisão assistindo a um show de Bob Dylan – (Bob Dylan – Across The Borderline) (Live at Farm Aid 1986), de quem é fã incondicional. Cansado, pega no sono no sofá e depois desperta, se levanta e recolhe definitivamente à cama.
Mal se deita, o celular toca. Era um morador da mesma rua o chamando às pressas para socorrer a filha para uma UPA, que estava passando mal, com muita febre e vômito. O “ubeiro” não titumbeou um segundo, disse que sim e, cansado do jeito que estava, vestiu a mesma roupa com que trabalhou o dia inteiro e disse não ter problema. Mandou que o vizinho entrasse no carro às pressas com a filha e a esposa e “cantou” os pinéus.
Quando retornou da UPA com o vizinho e a filha já recuperada do mal-estar e medicada, o dia já havia amanhecido. Cobrou do vizinho apenas o valor da corrida, que ficou no “pindura” para ser pago no final do mês.
Dias depois, o “ubeiro”, precisando de umas vinte máscaras para trabalhar numa empreitada que havia firmado com um hospital para carregar paciente, sabendo que a esposa do vizinho, a quem havia prestado socorro à filha, era enfermeira de hospital e poderia conseguir as antefaces, procurou-o e contou-lhe da necessidade das máscaras. Prontamente o vizinho arranjou, mas quando o “ubeiro” lhe foi agradecer pelo “presente” ofertado, o vizinho “mala” advertiu:
– Não! Não! Não! Não! Não, amigo!
– Você não entendeu! Essas máscaras que eu estou lhe passando, custa um real cada uma! Portanto, como na caixa tem vinte, são vinte paus a caixa! Aqui está a caixa com as vinte máscaras, mas a entrega só será concretizada mediante o pagamento dos vinte “mangos!” Morou??!!!
Até hoje o “ubeiro” João da Silva não compreendeu a atitude tacanha do vizinho, avareza sem tamanho, a quem lhe havia prestado um grande favor meses antes, levando à filha a uma UPA sem cobrar nada em troca.
Bob Dylan – Across The Borderline (Live at Farm Aid 1986)
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários sábado, 14 de outubro de 2023
JACK THE RIPPER, UM CASO NUNCA SOLUCIONADO, TORNA-SE FAMOSO MUNDIALMENTE (CRÔNICA DE CÍCERO TAVARES, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
Texto escrito em parceria com Luis Antonio Tavares Portella
Jack, o Estripador (Jack theRipper em inglês) é o pseudônimo mais conhecido para designar um famoso serial killer (assassino em série) que nunca foi identificado, famoso por atuar na periferia de Whitechapel, distrito de Londres, e arredores em 1888. Na verdade, a alcunha de “Jack, o Estripador” teve sua origem em uma carta denominada Dear Boss (Prezado Chefe) que foi escrita por alguém que alegava ser o assassino e encaminhada para a polícia, carta essa que foi amplamente divulgada pela imprensa da época.
Acredita-se hoje que a carta era falsa e foi elaborada e escrita por jornalistas na época em uma tentativa de aumentar o interesse do público sobre o caso dando um nome ao misterioso criminoso para vender mais jornais. O famoso homicida também recebeu outros nomes, como WhitechapelMurderer (Assassino de Whitechapel) e LeatherApron (Avental de Couro), segundo algumas testemunhas, o suspeito sempre era descrito usando um sobretudo de couro para esconder sua identidade.
“Um possível suspeito”, caricatura do The Illustrated London News, publicada em 13 de outubro de 1888, retratando o Comitê de Vigilância de Whitechapel buscando Jack, o Estripador.
Seu modus operandi consistia em perseguir, atacar e estripar prostitutas que viviam e trabalhavam nos bairros pobres de East End. Após serem abordadas, as vítimas tinham suas gargantas cortadas com uma arma afiada e logo após tinham o seu abdômen perfurado e eviscerado, muitas vezes com remoção de alguns órgãos. Para peritos da época, os cortes e remoção de alguns órgãos levantou a hipótese de o assassino ter algum conhecimento sobre cirurgias e anatomia.
Mulheres e crianças em Whitechapel, em frente a alojamentos comuns, em meados do período dos assassinatos e nos arredores onde Jack, o Estripador cometeu seus crimes. Eram vizinhanças conhecidas por sua pobreza e alto índice de crimes, o que dificultou mais ainda a investigação do caso.
Rumores sobre a identidade do assassino se intensificaram entre setembro e outubro de 1888, quando a Scotland Yard (Polícia Britânica) e a imprensa receberam outras cartas supostamente escritas pelo assassino. Uma delas, a famosa carta”From Hell” (Do Inferno), foi recebida por George Lusk do Comitê de Vigilância de Whitechapel, e incluía em seu interior a metade de um rim humano preservado, possivelmente retirado de uma das vítimas. Hoje, acredita-se que essa carta de fato tenha sido escrita pelo próprio assassino. A opinião pública sempre foi a favor da existência de um único assassino, descartando a possibilidade de serem vários, usando como base a natureza brutal de suas matanças e o sensacionalismo da imprensa da época, que criou uma aura quase sobrenatural ao redor de sua existência e dos homicídios. Jack, o Estripador, segundo os boatos, sempre agia sozinho, de forma fria e calculada.
Vários jornais locais cobriram exaustivamente o caso e foram essenciais para consolidar a fama internacional do Estripador, bem como o mistério da sua identidade, tornando-se praticamente uma lenda urbana. Suas vítimas canônicas, ou “As Cinco Vítimas”, como ficaram conhecidas: Mary Ann Nichols, Annie Chapman, Elizabeth Stride, Catherine Eddowes e Mary Jane Kelly, foram mortas entre 31 de agosto e 9 de novembro de 1888 e são geralmente consideradas as mais plausíveis de estarem conectadas, devido aos detalhes que conectam os crimes e o modus operandi do assassino detalhado pela polícia. Após as cinco, Jack aparentemente desapareceu. Entre 1888 e1891, outros assassinatos brutais ocorreram em Whitechapel, mas as investigações oficiais da polícia descartaram a relação destes com as “cinco canônicas”. Jack nunca foi capturado e os assassinatos das cinco mulheres nunca foram resolvidos. Estes, tornaram-se lendas junto com o assassino, sendo genuinamente fonte de pesquisas históricas, folclore e até pseudo-história. Hoje em dia, existem mais de cem suspeitos de serem Jack, o Estripador, mas a falta de tecnologia na época para análises mais detalhadas e as evidências limitadas tornam quase impossível concluir o caso. Jack, as cinco vítimas e a incapacidade da polícia de resolver o enigma inspiram muitos trabalhos ficcionais até hoje. Fica a pergunta: “Quem era ele ou ela”?
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários quinta, 05 de outubro de 2023
PEDRA LETICIA – MAMONAS ASSASSINAS CAGADA E CUSPIDA (CRÔNICA DE CÍCERO TAVARES, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
Alguns momentos de Pedra Letícia e o ídolo Reginaldo Rossi
A sensação musical do momento nas Redes Sociais é a banda de rock cômico de Goiânia (GO), Pedra Letícia, formada pelo vocalista, compositor, letrista, violonista e arranjador Fabiano Cambota, Xiquinho Mendes (guitarra), Kuky Sanches (baixo), Pedro Torres (bateria).
O nome da banda deriva de uma brincadeira de Renato Aragão (Didi), ao cantar a música tema (“Bijuterias”) de João Bosco, da novela “O Astro”, (1977), porém substituindo o verso “Minha pedra ametista” por “Minha pedra Letícia”. A banda também brinca com o fato de serem goianos e não fazerem músicas sertanejas, mas não gostam de classificar seu estilo musical.
Na estrada desde os anos dois mil, a banda só decolou mesmo quando um fã pegou um videoclipe amador da música “Como é que ocê pôde abandoná eu?”, com um áudio de qualidade baixa retirado de um dos shows da banda com slides de imagens do Google foi publicado no You Tube por um fã e acabou viralizando na internet com um número de acessos ultrapassando mais de cinco milhões de visitantes.
Isso acabou por lotar a agenda da banda com muitas apresentações por todos os interiores e capitais do Brasil, despertando a curiosidade dos maiores programa de televisão, entre ele o Domingão do Faustão.
Não demorou muito para que a banda recebesse propostas de várias gravadoras, decidindo assinarem com a EMI em 2008, que foi a única que não quis montar um projeto, comparando o Pedra Letícia com os Mamonas Assassinas. Em setembro de 2008 foi lançado o álbum de estreia homônimo “Pedra Letícia” pela gravadora EMI e produzido pelo ex-guitarrista do Herva Doce e produtor musical Marcelo Sussekind[12], com participação especial de Reginaldo Rossi na faixa “Em Plena Lua de Mel”. As músicas “Como que ocê pode abandonar eu” e “Teorema de Carlão” se tornaram populares, com esta última se tornando um hit nas rádios cariocas. Esse ano foi marcado também pela entrada do baterista Zé Junqueira e do guitarrista Everton Queiroz, que foi temporariamente contratado e depois foi substituído por Fábio Pessoa.
Em 20 de junho de 2020 foi feita uma live da banda nos Estúdios 624 cantando Hits como “Ela Traiu o Rock’n Roll”, música de Fabiano Cambota com o humorista Danilo Gentili, “Teorema de Carlão/Pega uma Baranga”, “Como que ocê pôde Abandoná Eu”, “Eu Não Toco Raul”, “Funcionário do Mês”, “Caretão” e muitas outras estão no repertório da apresentação.
No dia 11 de agosto de 2021, a banda lança o álbum ao vivo duplo “Live de 15 Anos”, que acabou alcançando a posição 94 na parada do Apple Music Brasil.
A banda segue fazendo muito sucesso por todo o Brasil, mas segundo o vocalista, Fabiano Cambota, a coisa só estourou mesmo quando ele sacou que o humor é um estado de espírito que deveria ser utilizado nas letras das músicas e nos shows como uma válvula de escape para fazer o público rir. Mamonas Assassinas, fenômeno nacional nos anos noventa, que o diga.
Em Plena Lua de Mel – Pedra Letícia DVD “Ao Vivo e sem Retoques”
O auge e Queda de Fabiano Cambota – Pedra Letícia
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários domingo, 24 de setembro de 2023
SAM PECKINPAH – O POETA DA VIOLÊNCIA (CRÔNICA DE CÍCERO TAVARES, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
Peckinpah nos bastidores das filmagens de Pat Garrett & Billy the Kid
Sam Peckinpah sempre foi um diretor polêmico desde seus primeiros filmes The Deadly Companions, traduzido no Brasil por Parceiros da Morte (1961); Ride The High Country, traduzido no Brasil para Pistoleiros do Entardecer (1962); Major Dundee, traduzido no Brasil para Juramento de Vingança (1965), dentre outras obras-primas da sua filmografia.
Pat Garrett & Billy the Kid (1973), como outros filmes de Peckinpah, foi assolado por problemas. A produção do filme ficou conhecida pelas batalhas nos bastidores entre Peckinpah e os chefões do estúdio Metro-Goldwyn-Mayer. Devido às muitas confusões, logo após o término das filmagens, o diretor perdeu o controle sobre o longa e o corte e a edição foram assumidos inteiramente pelo estúdio. O filme foi substancialmente reeditado, resultando em uma versão truncada lançada nos cinemas e amplamente rejeitada pelo elenco, pela equipe técnica e pelo próprio diretor. Esta versão também foi bastante criticada pelo público. A “versão prévia” de Peckinpah (também conhecida como versão do diretor), só foi lançada em home vídeo 15 anos depois, em 1988. Esta, levou a uma reavaliação do filme, com muitos críticos aclamando-o como um clássico maltratado e um dos melhores filmes da época.
A começar por James Coburn que aceitou trabalhar no filme, porque queria interpretar o legendário xerife Garrett. Era para ser dirigido por Monte Hellman, que alcançara êxito com Two-Lane Blacktop. Quando Peckinpah foi chamado para a direção, sua intenção era transformar a história num fecho da revisão do Velho Oeste que ele havia começado em Ride the High Country e continuado em The Wild Bunch.
Peckinpah reescreveu o roteiro de Wurlitzer, alterando a relação de Billy e Garrett, o que abalou o escritor. Peckinpah queria Bo Hopkins para o papel de Billy, mas acabou acertando com o cantor de música country Kris Kristofferson (sem barba). Kris trouxe para o elenco sua então esposa Rita Coolidge e o cantor Bob Dylan.
Peckinpah procurou homenagear atores lendários do gênero western, contratando para o filme Chill Wills, Katy Jurado, Jack Elam, Slim Pickens e Paul Fix. Jason Robards, que trabalhou com o diretor em seu conturbado filme de 1970, The Ballad of Cable Hogue, também fez uma pequena ponta.
O filme foi rodado em Durango, México, por pressão dos produtores. As dificuldades da realização e montagem acabaram por prejudicar o resultado final, e Peckinpah não obteve o retorno do público e da crítica que merecia. Nos últimos anos foram lançadas versões mais próximas do que o diretor desejava, fazendo com que o filme fosse valorizado.
Peckinpah consagrou-se como um dos mais vigorosos e hábeis cineastas estadunidenses pela utilização estética da violência e da brutalidade na maioria das suas obras. Ele desenvolveu um cinema cheio de realismo, onde a característica principal não era a violência que os filmes continham e sim a forma como ele a manipulava em função de seus personagens.
Encantou-se jovem (59), mas deixou um legado para a posteridade.
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários domingo, 03 de setembro de 2023
FRANCISCO DE ASSIS – O MANÍACO DO PARQUE (CRÔNICA DE CÍCERO TAVARES, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
O filme de título “Maníaco do Parque”, que está sendo rodado em São Paulo e será lançado em 2024, contará a história do serial killer Francisco de Assis Pereira (1967), o motoboy psicopata vivido na tela pelo ator (Silvero Pereira), foi condenado por um júri popular a mais de 268 anos de prisão por atacar mais de vinte e uma mulheres, tendo assassinado dez delas e escondido seus corpos no Parque do Estado, em São Paulo.
A história do assassino em série e os detalhes da sua psicopatia são revelados por Elena (Giovanna Grigio), uma repórter iniciante que enxerga na investigação dos crimes cometidos pelo maníaco a grande chance de alavancar sua carreira. Enquanto Francisco de Assis segue vivendo livre e atacando mulheres, sua fama na mídia sensacionalista cresce vertiginosamente, gerando terror na capital paulista.
Tendo suas primeiras cenas gravadas no parque de São Paulo, o filme o “Maníaco do Parque,” está sob a direção do competente diretor Maurício Eça, produzido por Marcelo Agra e roteiro de L.G. Bryão, Thaís Nunes, com estréia prevista para 2024, conta a história do motoboy, o serial killer Francisco de Assis, matador de mais de dez mulheres no parque da zona sudeste de São Paulo nos anos noventa e abusado de mais de vinte e uma delas. Isso é o que está comprovado nos inquéritos policiais.
A história do Maníaco do Parque é assustadora, aterrorizante, exigindo uma abordagem séria do diretor que a conduz à telona. Filmar a história do Maníaco do Parque com seriedade, fugindo dos clichês dos filmes brasileiros, é saber decifrar com seriedade o poder de persuasão do maníaco para atrair suas vítimas para dentro do Parque com promessas vãs. “Me aproximava das meninas como um leão se aproxima da presa. Eu era um canibal. Jogava tudo o que eu podia para conquistá-la e levá-la para o parque, onde eu acabava matando e quase comendo a carne. Eu tinha uma necessidade louca de mulher, de comê-la, de fazê-la sentir dor. Eu pensava em mulher 24 horas por dia.”
O famoso motoboy recebia várias cartas de admiradoras na prisão. Alguns trechos desses documentos]:
“Eu não sei o que fazer para te distrair. Mas eu tenho uma ideia: primeiro quero dizer que te desejo todas as noites. É muito bom. Te acho gostoso, meu fogoso. Você está juntinho comigo, dentro do meu coração. Depois que chego em casa, queria você de corpo e alma, te amando. Te quero de qualquer jeito. Eu te amo do fundo do meu coração. Não perca a esperança, acredite em Deus, porque algum dia a gente vai se encontrar. Sei de seu comportamento doentio, por isso quero que fique calmo… ”
“Por enquanto, nossos beijos são assim. Mas quero te beijar de verdade. Acho que tens saudades. Eu te amo, te amo, te amo etc., te desejo, te quero de corpo e alma. E me perdoe por tudo que estou sofrendo. Sabe Francis, eu não me conformo, e choro. E eu preciso ser forte (…)”
“Quero te dizer que estou morrendo de saudade, querendo você… Aih meu Deus como te desejo todas as noites. Eu durmo sozinha e querendo você aqui. Mas sei que é impossível. O certo é eu ir te ver. E como posso sentir. Que é meu?”
“Francisco, não deixe a tristeza tomar conta de você e acabar com o brilho do seu olhar. Acredite em Deus, você não está e nunca ficará sozinho. Jesus te ama, sua mãe e seu pai também e, principalmente, eu…”
“Depois que tudo aconteceu, tentei dar um fim a minha vida, mais uma coisa super interessante teve que acontecer, eu pensei muito e tive esperanças, acredite o mundo dá voltas, quando a gente menos espera algo de bom sempre acontece.”
O jornalista e roteirista Gilmar Rodrigues publicou, em 2009, o livro “Loucas de Amor: mulheres que amam serial killers e criminosos sexuais” (editora Ideias a Granel), onde tenta entender por que o Maníaco é desejado por tantas mulheres. Segundo o autor, ele ficou impressionado com as cerca de mil cartas de amor que o criminoso recebeu um mês após ser preso, ainda em 1998.
Espera-se que o diretor Maurício Eça seja honesto na transposição para a telona desse tema tão integrado e salve o cinema brasileiro das porcarias que são lançadas há de séculos.
Maníaco do Parque conta o que sente ao ver fotos de suas vítimas
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários quinta, 10 de agosto de 2023
*ARRUMA UM PAU QUE TEM SOMBRA* (CRÔNICA DE CÍCERO TAVARES, COLUNSTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
Eram cinco horas da manhã de uma segunda-feira chuvosa.
Nesse dia o setor de emergência do Posto de Saúde Freira Terezinha Batista estava abarrotado de indigentes esperando atendimento, principalmente de jovens grávidas, geração Bolsa Família, programa esmola criado e ampliado no governo LULA, que tinha como lenitivo o suposto combate à pobreza, à desigualdade social e à assistência à população miserável, segundo exposição de motivos da lei 10.836, de 9 de janeiro de 2004, mas que, criminosamente, foi desviado do seu objetivo principal para dar lugar a um assistencialismo ladravaz jamais visto na história do Brasil.
Às seis horas da manhã chega ao setor de emergência uma paciente já em trabalho de parto. Os enfermeiros de plantão correm para atendê-la, mas quando se aproximam o bebê já está aos berros nas mãos da avó materna que veio acompanhada da neta na ambulância.
Mal a genitora e a avó descem do socorro, aparecem mais quatro crianças, filhos da neta, que tinham entre dois e três anos. Afora três de idade entre quatro, cinco e seis anos que haviam ficado no barraco assistidos pela irmã adolescente da genitora que, além de prenha do terceiro filho, também possuía mais dois de pais diferentes.
Arrancando os cabelos diante de tal situação e não controlando o desespero por ver tanto neto ao seu redor, a avó da genitora, uma senhora de quarenta anos, mas aparentando ter mais de sessenta, não contém a lágrima e, se dirigindo à neta, desabafa:
– Carminha, minha fia! Onde tu vai parar com tanto fio? Tu e tua irmã já tem pra mais de doze! Não é possível, fia! Tu tá pensando que o governo vai te sustentar e teus fios com essa esmola do bolsa família pra o resto da tua vida, é? Acorda pra Jesus, menina!
E continuou:
– Acaba com essa ilusão e vai arrumar um pau que tem sombra para tu descansar debaixo! Quem vive de promessa são palavras, menina! Tu precisa de um homem que cuide de tu e desses meninos, porque depois que Deus me levar, quem vai cuidar de tu e teus fios?
Desabafou a avó, soluçando, atenta a uma nova ambulância que chegava ao pátio do Posto de Saúde com mais uma filha do bolsa família com a barriga carregando trigêmeos, preste a dar à luz!
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários sexta, 14 de julho de 2023
TUDO NOS TRINQUES (CRÔNICA DE CÍCERO TAVARES, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
Recebi pelos Correios, gratuito, postado pelo Mestre Berto a pedido do autor, o excelente livro Os Fuxicos do Senhor Engenheiro – Histórias para filhos e netos, do extraordinário colunista do JBF Magnovaldo Bezerra, ao qual agradeço de coração pelos belíssimos relatos históricos.
São histórias que Monteiro Lobato assinaria embaixo sem pestanejar pela leveza dos textos concisos e despretensiosos, mas genialmente bem escritos, o que fazem jus à inteligência do escriba de sorriso Big Smalle.
No dia 07 de dezembro de 2018, tive o enorme prazer de ter recebido, também gratuito, o excelente livro Cenas do Caminho, publicado pela Editora Bagaço, remetido pela magnífica cronista do JBF Violante Pimentel, carinhosamente apelidada de Vivi pelo napoleônico das letras Sancho Pança.
No prefácio do livro há uma frase genial pensada pelo Editor do JBF, Luiz Berto, que resume a beleza do livro:
“Violante é um exemplo perfeito de escritora que se torna Universal quando se ocupa de sua Aldeia.”
Magnovaldo Santos, bem como Violante Pimentel, já estão eternizados a partir das páginas dessa Gazeta Escrota, editada pelo genial BERTO de QUITERINHA.
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários domingo, 09 de julho de 2023
ALAN – O INCORRIGÍVEL PAVIO CURTO (CONTO DE CÍCERO TAVARES, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
Prédio das Lojas Mesbla da Avenida Conde da Boa Vista
Ano de 1988, auge das Lojas de Departamentos Mesbla S/A.
Naquela época a Loja incorporava no seu prédio sede, situado na Avenida Conde da Boa Vista, Recife-PE, a parte de venda a varejo, o setor de crediário e cobrança, este nos fundos da loja sede, no primeiro andar.
Nessa época houve uma fusão na cobrança e crediário, com a implantação do sistema computadorizado. Os clientes faziam as compras e os pagamentos dos carnês eram confeccionados no Rio de Janeiro, na sede matriz. Por causa dessa unificação computadorizada havia muitos erros nas baixas dos pagamentos dos carnês e a maioria dos clientes recebiam carta de cobrança, mesmo já tendo pagado seus carnês, sem contar que eram “negativado no SPC por ausência de pagamento dos carnês constatado…
Nessa época o balcão de cobrança da loja fervilhava de gente indignada, reclamando da não chegada dos carnês e extratos e de suas negativações indevidas no SPC. Devido ao grande contingente de clientes reclamando todos os dias na loja, esta teve de recrutar vários atendentes e treiná-los para atender no balcão, que a cada dia se entupia de cliente reclamando da incompetência da loja em não dar baixa nos pagamentos no sistema e, com isso, impedir a inclusão de seus nomes no Serviço de Proteção ao Crédito.
Dentre esses contratados a loja recrutou um baxim da ureia de abano e pavio curto, curtíssimo, chamado Alan que, após os treinamentos fora escalado imediatamente para o setor de cobrança, linha de frente, atender o público que chegava à cobrança com o nervo a flor da pele, virados no “pentei de barrão.” Na estreia, Alan já sentiu na pele que não tinha vocação nem paciência para atender o público. O primeiro cliente que atendeu já foi trocando farpas ao ponto de quase irem às tapas na divisória do balcão. Era “um tal de mal educado praqui,” “desaforado pralá” e ninguém se entendia.
No outro dia, a história se repetia com mais intensidade: xingamentos, “fi de maria rolete praqui,” “fi de maria pacaré pracá,” com o blafáfá comendo na casa de noca, e nada dos ânimos cessarem.
Três semanas nessa pisada, Alan já estava com o bofe cheio e os nervos a flor da pele. Um dia, assim que a loja se abriu apareceu do nada uma senhora virada no prego enroscado e se dirigiu para Alan, que já tinha discutido com o cobrador de ônibus por causa de falta de troco, na viagem ao trabalho.
– Ei, mocinho. É com você mesmo que quero falar. Não fuja da raia não. Venha cá seu desaforado – instigou a cliente para Alan.
Alan, fingindo que não era com ele, se aproximou de mansinho da cliente e foi logo perguntando:
– Qué que a senhora quer?
– Eu quero que você me responda o que diabo eu devo a Mesbla para ela andar me cobrando uma prestação já paga há mil anos e ainda por cima colocado meu nome no SPC, e jogou o carnê em cima de Alan.
– Oi! – disse Alan para a cliente… É que houve algumas cobranças não computadas e a cobrança mandou cartas de cobranças…
– O senhor – prosseguiu a mulher virada no prego quente, tá com um erola, rola aí defendendo a Mesbla que não vale merda! Todos vocês são uns incompetentes, e em dedo em riste para Alan, disse:
– Eu quero falar com seu chefe porque estou sentido com senhor é um bosta que, além de não entender nada de cobrança, é um ignorante no trato com as senhoras donzelas feito eu.
– Virado no pentei de barrão, Alan respondeu a cliente:
– A senhor não sabia que a Mesbla era assim, porque foi comprar? Eu não mandei a senhora comprar, mandei?, a senhora comprou porque quis…
Como a cliente permaneceu exaltada e instigando Alan, este abriu a porta que separava o balcão para dentro do setor e disse: olhe o chefe ali. Vá lá reclame a ele porque quem já está de saco cheio sou eu! E deixou o balcão com menos de um mês de trabalho, dizendo – “o diabo é que volta para trabalhar nessa porra!” “Atender o público é FODA!” – concluiu.
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 27 de junho de 2023
AS ESTRIPULIAS DE JOÃO PIRE (CRÔNICA DE CÍCERO TAVARES, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
João Pire era um pretinho arrojado, taludo, entroncado. Um metro e cinqüenta, cara de bolacha, braços roliços, narigão, pescoço curto. Nunca levava desaforo para casa. Se alguém o provocasse na rua e ele não fosse com a cara do desafeto, ali mesmo o pau comia no centro. Muitas vezes ele apanhava que só a molesta do cachorro, mas não cedia e partia para cima do adversário com os dentes trincados e mordendo a língua até sangrar, igual cachorro raivoso.
Por causa desse temperamento irritadiço, João Pire nunca parava nos colégios onde estudava. Sofria de uma patologia que até hoje a psiquiatria não estudou: encrenqueiro nato! Toda hora de recreio no colégio onde estudava era palco de rinha com os colegas de turma. Só vivia sendo reprimido pela coordenação, que lhe aplicava um castigo e o deixava de molho durante três dias, mandando comunicar o ocorrido aos pais, que nunca recebiam a reclamação porque ele rasgava “a queixa” antes de chegar ao destinatário final.
De saco cheio de tantas arruaças, brigas, e sem vocação para as letras, principalmente para as ciências exatas, quando completou dezesseis anos conseguiu uns bicos de encanador e foi trabalhar cavando valeta para encanações, limpando fossa e fazendo instalações hidráulicas nas residências dos bastardos da cidade.
Tornou-se tão conhecido em pouco tempo no oficio que era requisitado por todo mundo para fazer as instalações hidráulicas das residências. Como não possuía tino administrativo fazia tudo sozinho. A agenda era cheia e ele não parava em casa. Muitas vezes se perdia no labirinto das anotações e muitos serviços eram “queimados.” Os esquecidos ficavam putos com ele, mas como sabiam da sua fama de encrenqueiro, acertava uma nova data para fazer o serviço.
Cheio da grana e já manjaleco, vestido a caráter de calça boca sino, danou-se a frequentar o baixo meretrício, na zona sul de Floresta dos Leões. Gostava principalmente de uma ala chamada West Saloon, enfeitada de retratos de cawboys do spaghetti western, onde a cafetina Zefa Pesão “guardava” as filés mignons defloradas, que os pais as expulsavam de casa por “denegrir a honra da família, mal faladas pelos noivos antes de casar.” A honra, naquelas bandas, era a lei do cabaço selado.
Apaixonado até os pneus por uma rechonchudinha dos peitos fartos, coxas grossas, sem cintura, sem pescoço, redonda como um botijão, que com ele havia dormido uma semana. Não tendo sido correspondido na cantada feita por ele a ela para irem morar juntos, João Pire, rejeitado e com o orgulho ferido, tomou uma cachaça de ficar bodejando feito bode, chegou no West Saloon virado na besta fera, altas horas da noite e com um tronco de juá e uma foice na mão, quebrou toda a prateleira, as garrafas de cachaça, os pratos, os tamboretes, as mesas, pôs todos os marmanjos para correrem e sumiu madrugada a dentro para nunca mais voltar.
No outro dia, escondido no canavial, quando soube que estava sendo procurado pelo comissário da delegacia de polícia da cidade por arruaças e ter quebrado o cabaré de Zefa Pesão, pegou o ônibus da Itapemirim e se mandou para a Capital.
Aqui chegando, se instalou logo no quartinho do inferninho do Centro, administrado pelo sociólogo das putas, Liêdo Maranhão, que lhe arranjou logo uns bicos de encanador por perceber sua habilidade na instalação hidráulica da pensão.
Não demorou muito para João Pire ficar conhecido na redondeza que não dava conta da demanda, e passou a fazer só serviços em prédios grandes, condomínios residências senhoris. Vez por outra, por ser pavio curto, arranjava uma encrenca com os administradores, o pau comia no centro, e ele abandonava o serviço sem dar satisfação, deixando todo mundo de mãos atadas às fezes.
Indicado por Liêdo Maranhão, João Pire foi fazer um conserto no edifício famoso no Centro. Lá chegando percebeu que era um caso encrencado, entupimento delicado no cano mestre dos dejetos. Avisou ao administrador que precisava que avisasse a todos os moradores para não irem aos banheiros enquanto ele estivesse consertando o cano mestre.
Crente de que depois do aviso poderia fazer o serviço tranquilo, João Pire chegou ao prédio logo cedo todo equipado: uma escada de três metros, corda para amarrar a cintura e cola. Lá chegando, descobriu onde era o entupimento, pegou a serra, serrou o cano na parte que estava entupida, e no momento que estava fazendo a limpeza correta, um adolescente filho de um dos condôminos, entrou no prédio sem ser percebido, subiu até o apartamento e com a barriga daquele jeito, entrou no sanitário, despejou um verdadeiro sarapatel de excremento e, sem saber do alerta do encanador, deu descarga e o sarapatel de excremento lambuzou a cara de João Pire.
Puto da vida com o incidente, desceu da escada todo melado de fezes e fedendo, bufando de ódio, partiu para cima do administrador, meteu-lhe os braços na fuça, quebrando-lhe a chapa e por pouco não lhe estourou os olhos. Antes de sair do prédio, quebrou as divisórias da guarita, o vidro das portas, deu de garra de suas ferramentas, pôs a escada no lombo e ganhou a rua para nunca mais voltar.
Dois anos após desse episódio bizarro para o administrador que apanhou mais do que Lou Savarese no rigue contra Mike Tyson, voltei a encontrar Liêdo Maranhão no Mercado de São José e com aquela cara de gozador nato ele me confidenciou sirrindo-se de se mijar:
– Se lembra daquele encanador pretinho da tua terra, todo metido a acochado, se dizendo mais macho do que um preá de agave, que morava naquele quarto da Rua da Concórdia? Tomou uma cachaça tão da porra, que foi dormir com o travesti Bunda de Butijão pensando que era a quenga dele. No outro dia quando acordou que viu aquele desmantelo nu na frente dele, ficou tão desmoralizado que pegou os mijados e sumiu do mapa com a cara mais deslavada do mundo com vergonha da gozação dos amigos da pensão.
Até hoje nunca se sabe o paradeiro de João Pire: Se está na Cochinchina ou se está na Serra das Russas feito bicho do mato. Ou se está na caverna da Mata Atlântica, morando com Antônio Pirocão, seu pariceiro de pensão.
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários quinta, 08 de junho de 2023
ORIGEM DO CABARÉ DE MARIA BAGO MOLE (CONTO DE CÍCERO TAVARES, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
“Ninguém pode mudar seu Destino. Cada um nasce com o seu. A Natureza me pôs no mundo para ser cafetina. É isso que vou ser sempre. Por isso procuro dar o melhor de mim.” – Maria Bago Mole
Nos anos vinte aportou no vilarejo Casas de Taipa, depois Vila Dois Vinténs, Centro da Cidade de Florestas dos Leões, uma mulherinha de olhos negros, cabelos pretos, compridos e salientes, peitos pequenos e duros, parecendo duas maçãs; ancas enormes. À boca miúda, espalhou-se no povoado ser a estranha filha da Tribo dos Índios Chuparam a Mãe.
Ninguém no local sabia de onde teria vindo aquela mulherzinha inteligente, pragmática, enigmática, altruísta. Tampouco se procurou saber seu passado.
Ninguém na vila deu importância a esse senão. O certo é que aos poucos ela começou a conquistar a admiração e a confiança do povoado da localidade, e lá se instalou como sua residência oficial.
Muito perspicaz, visionária, prestativa, fala sensual, dois anos depois de se instalar oficialmente no vilarejo, aquela mulherinha, carismática e doada, começou a desenvolver a plântula daquele que no futuro receberia o seu nome como homenagem: O Cabaré de Maria Bago Mole.
Na casa de taipa com quatro cômodos onde ela se instalou, doada por um dos vizinhos que ela socorreu em momentos difíceis e depois ficou dando assistência material e emocional, aos poucos começou a vender refeições aos caminhoneiros e cortadores de cana que por ali passavam rumo aos engenhos de cana-de-açúcar. O negócio começou crescer, prosperar, e Maria Bago Mole antevendo que poderia oferecer outras “comidas” àqueles homens sedentos por sexos que sempre a procuravam e a cantavam para dar uma trepadinha, prometendo torná-la a Deusa de todas as deusas. Mas ela tergiversava, dizendo ter pretendente.
Pressentindo o sucesso com o negócio crescendo e a pressão dos fregueses por diversões sexuais, ela resolveu viajar pelo interior de sua cidade natal e de lá trazer algumas “meninas defloradas”, que os pais expulsavam de casa por terem perdido o “cabaço” com os namorados antes do casório. Nem sempre isso acontecia, mas…
Poucos anos depois a casa de taipa de quatro cômodos recebeu uma reforma caprichada para a época e se transformou numa pousada de dois pavimentos. Em baixo ficava o bar com o aposento da mulherinha e, em cima, foram construídos os quartos onde os homens levavam as “meninas” para se lambuzarem de cachimbadas movidas a óleo de peroba. Estava nascendo o Cabaré de Maria Bago Mole.
No dia da inauguração apareceram homens de toda região sedentos por sexo, principalmente senhores de engenhos, que tinham vontade de conhecer e comer a tão falada e idolatrada administradora do cabaré, que dizia às suas meninas não querer compromisso com nenhum homem para não destoar do seu comércio, deixando essa função para as suas cortesãs. Mas essa afirmativa da cafetina era um blefe, mistério, pois havia um zunzunzum na Vila de ela ter sido estuprada pelo pai biológico e expulsa de casa para não o dedurar, já que era de família casca grossa da Zona da Mata, por isso havia lhe desenvolvido inconscientemente “a síndrome da repulsa ao sexo”.
No dia inauguração apareceu por lá o senhor de engenho mais conhecido e poderoso da redondeza, Seu Bitônio Coelho, um galegão de um metro e noventa, olhos claros, que tinha uma tara da gota serena por Maria Bago Mole, só em ouvir falar no nome dela e por causa dos seus dotes administrativos inteligentes e de xibiu “preservado”, e por ser uma quarentona enxuta, conservada, com tudo nos trinques.
Depois da festa de inauguração, que transcorreu no maior buruçu: brigas, freges, arranca-rabos por disputas internas entre caminhoneiros, cortadores de cana e outros fregueses: quem ia dormir e comer quem das meninas do cabaré, a cafetina pôs para funcionar seu instinto de gerenciadora para aquelas ocasiões: Pegou uma chibata de couro de boi que havia comprado na feira livre para aqueles fins e nas “relhadas” saiu expulsando todos os penetras e lisos do recinto, organizando a desordem e ordenando que as meninas se recolhessem aos quartos com seus clientes escolhidos, que já “haviam pago adiantado pelos serviços com as meninas”.
– Deem o melhor de vocês aos seus homens. Satisfaçam-lhes todos os desejos e fantasias sexuais. Não deixem nada pela metade. Lembrem que lá fora ninguém sabe o que está acontecendo aqui dentro. Portanto, deem o melhor de vocês! Vocês estão recebendo para isso. Não se esqueçam de que o sucesso de vocês depende de vocês. – Dizia a cafetina com voz mansa e sensual às suas meninas.
Feito isso e percebendo que tudo estava aparentemente normal, foi para o seu aposento com o homem que lhe tirou o cabaço pela segunda vez. A farra foi tão picante, excitante, regrada a todos os prazeres do sexo, que Maria Bago Mole e Seu Bitônio Coelho perderam a hora e quando acordaram já passavam das dez horas da manhã do dia seguinte, o que para ambos era uma desmoralização, acostumados a estarem de pé antes das cinco da matina.
Percebendo o horário e totalmente contrariado, o poderoso senhor de engenho quis se apressar para sair. Nesse momento foi contido pela cafetina que o pegou pelas mãos e o conduziu até o banheiro para tomar um banho de cuia, tomar café e depois se ir-se.
– Não tenha pressa, amor! A gente só anda para frente. A gente cumpre o Destino que tem de cumprir. Você está procedendo do mesmo jeito que os outros homens! Acalme-se! Depois de uma noite daquela você não deve se preocupar com o que aconteceu ou deixou de acontecer lá fora! Ou você já se esqueceu do que aconteceu entre nós dois? Por falar em nós dois, quando você vier por aqui novamente visitar a “casa” eu desejo ter uma conversa séria com você! Nada de mais! Coisas de mulher! – Disse ela lhe dando um beijo na boca com gosto de café. E ele apressado, passou a mão na égua, pôs a sela, subiu e se mandou contrariado com a hora: meio dia! Puta merda! E ela, sorrindo com a contrariedade dele, ficou-o olhando a trotear em cima do cavalo e com a certeza de que aquele homem rude a havia conquistado o coração…
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários domingo, 28 de maio de 2023
TINA TURNER E ELZA SOARES, A MAIOR DIFERENÇA ENTRE AS DUAS (CRÔNICA DE CÍCERO TAFAVES, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
Segundo o mais bem informado jornalista da MPB, José Teles, no seu site TELESTOQUES, a cantora americana Tina Turner faturava 3,7 milhões de dólares por ano de direitos autorais, Elza Soares, que tinha tanto talento quando a cantora americana, precisou trabalhar até o final da vida para não morrer de fome. As leis dos direitos autorais do Brasil são uma porcaria e o legislativo não legisla para regulamentá-la. Uma lástima.
Tina Turner (1939-2023)
“Entre os muitos roteiros criados para aumentar a audiência em cima da morte de Tina Turner, um deles foi compará-la a Elza Soares. Com exceção de ambas serem grandes cantoras e negras não há similaridades entre elas, e muito mais diferenças. A maior delas tem a ver com direitos autorais.
Elza Soares (1930-2022)
Enquanto Elza Soares até o final da vida viu-se obrigada a fazer shows para ganhar o sustento, já que não se debate a sério no Brasil o tema da remuneração do artista por seus discos, músicas que tocam no rádio, TV, bares, restaurantes etc, e nas plataformas de música para stream. Estas pagam uma ninharia.
Enquanto isso, Tina Turner, que abandonou os palcos e estúdios em 2009, segundo a Billboard, faturava 3,7 milhões de dólares por ano com os direitos de sua obra (R$18,5 milhões de reais). Claro, a americana foi uma estrela internacional da música, tocou, e toca, no mundo inteiro. Enquanto Elza Soares atuou basicamente no Brasil, com passagens pela Itália, durante o conturbado relacionamento com Garrincha.
Mesmo assim, pela quantidade de canções que gravou, pela extensão de sua discografia, a brasileira, se tivesse regras justas de pagamentos de direitos no país, deveria ter vivido os últimos anos financeiramente tranquila, sem necessidade de viajar debilitada para poder pagar as contas.”
Dói na alma da gente tomar conhecimento dessa situação. O Brasil não é um país sério porque os políticos não deixam.
Elza Soares – Mulher do Fim do Mundo (Clipe Oficial)
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários quinta, 25 de maio de 2023
CUTRUVIA NO CABARÉ (CONTO DE CÍCERO TAVARES, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
Após a fama do cabaré se espalhar por toda Região da Zona da Mata Sul e Norte de Carpina (PE), quase toda semana chegava uma “cutruvia” no cabaré, média de dezesseis a vinte anos, vinda das redondezas. E Maria Bago Mole acolhia a todas, nem que fosse por uma semana ou duas até encontrar um pretendente que se engraçasse dela e juntos fossem morar. Não era de sua índole abandonar quem estava necessitada, mas não dava para acolher todas.
Certo dia chegou ao Cabaré Carminha de Zefa, uma morenona pedaço de mau caminho, pernas grossas, nariz afilado, cabelos pretos e longos, filha de índio com negra ex escrava. A famosa cafetina logo viu “futuro” na donzela e a escondeu antes que um Zé Qualquer passasse os olhos naquele monumento e ousasse comê-la, sem a cafetina mostrá-la a um coronel endinheirado que não dava mais no couro, nem que fizesse uso dos chás de ervas milagrosas da época, oferecidos pelos propagandistas de porta em porta.
(Há que se registrar aqui uma curiosidade: todas as meninas do cabaré antipatizaram com a chegada da “intrusa” por ser muito bonita e nova e logo a apelidaram de “cutruvia”, mesmo sem saber o significado da palavra. Teve de haver a intervenção da cafetina para que a harmonia reinasse na casa e ninguém se visse como rival: o sucesso não tolera querelas internas. A união é que faz a força, produz riqueza e todas ganham – dizia ela às meninas.)
O pai de Carminha de Zefa, Seu Zequinha, era um homem tosco, rude, e, por não aceitar que a filha fosse “deflorada” por um Zé Qualquer a expulsou de casa contra a vontade da mãe, Dona Zefinha, que, além de confiar na filha em não ter cedido às tentações do pretendente, jurava no altar que a filha era cabaço ainda.
À noite chegou ao cabaré o coronel Amâncio, um dos coronéis mais ricos e influentes da Zona da Mata Sul de Carpina (PE), depois de Seu Bitônio Coelho, bem-querer de Maria Bago Mole. Entrou pela porta dos fundos por sugestão da cafetina e ficou escondido no quarto especial que as meninas do cabaré haviam preparado a mando da “patroa” para os dois.
Antes que o coronel Bitônio Coelho chegasse ao cabaré como havia prometido, Maria Bago Mole preparou a morena para ficar a noite inteira com o coronel Amâncio, mas antes lhe passou algumas instruções de como lidar com um homem já oitentão: tire-lhe as roupas devagar, peça por peça, deite-o na cama, passe-lhe óleo de peroba nos trololós dele, amolegue-lhe bem os cachos, cheire-os, beije-os, rodopie-os e, caso não obtenha êxito, tire sua roupa toda na frente dele, dance, se esfregue nele para ele se sentir no paraíso e, depois, se nada acontecer, diga-lhe que quer morar com ele na fazenda para transformar as noitadas dele numa festa de harmonia e prazer eterno. Golpe de misericórdia!
O coronel Amâncio ficou tão lisonjeado com o pedido de casamento da morena que, mal o dia raiou, foi logo se trocando, mandou a cafetina preparar a carruagem que ele havia deixado com os cavalos, pagou-lhe todas as despesas do cabaré e ainda compensou a cafetina por ter-lhe arranjado aquele “presente” dos deuses. Grana gorda!
Depois que o coronal Amâncio deixou o cabaré, Seu Bitônio Coelho se despediu da amada, Maria Mago Mole e se mandou também no seu alazão branco. Ela reuniu as “meninas” no salão, verificou se não havia mais freguês nos quartos, e discursou, olhando nos olhos de cada uma:
– Vocês têm de aprender a engolir cobras e sapos. Vocês têm de ver o que é melhor para vocês. Onde existir possibilidade de lucrar não pode haver rivalidade, mas troca de experiência, aprendizado, porque é dessa forma que ganhamos todas. E deu a cada menina uns réis que o coronel Amâncio a havia entregue pelo presente ofertado.
Naquele dia a festa no cabaré foi entre as meninas e a cafetina.
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários segunda, 22 de maio de 2023
DAS COISAS QUE ME EMOCIONAM (CRÔNICA DE CÍCERO TAVARES, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
Uma homenagem a todos nós, patriotas, democráticos, nesses tempos estranhos para a NAÇÃO.
Long And Wasted Years – Canção de Bob Dylan
Bob Dylan – aos 80 anos – enigmático e misterioso, mas genial
É o mesmo para você como é para mim It’s the same for you as it is for me Eu não vejo minha família há vinte anos I ain’t seen my family in twenty years
Isso não é fácil de entender, eles podem estar mortos agora That ain’t easy to understand, they may be dead by now
Eu os perdi de vista depois que eles perderam suas terras I lost track of ‘em after they lost their land Agite-se, baby, Gire e Grite Shake it up baby, twist and shout
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Meu Bom José – Georges Moustaki / Nara Leão (adaptação) Canta a eterna Rita Lee
“A morte é a única verdade.”
Casar com Débora ou com Sara Meu Bom José, você podia E nada disso acontecia Mas você foi amar Maria Você podia simplesmente Ser carpinteiro e trabalhar Sem nunca ter que se exilar Nem se esconder com Maria
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários sábado, 20 de maio de 2023
THOMAS MALTHUS NUNCA ESTEVE ERRADO (CRÔNICA DE CÍCERO TAVARES, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
A teoria de Thomas Malthus diz que a população cresce em progressão geométrica, enquanto a produção de alimentos cresce em progressão aritmética, havendo um descompasso entre elas. A teoria malthusiana versa sobre o crescimento populacional acelerado e a produção de alimentos desproporcional.
Malthus foi o economista inglês que elaborou a teoria econômica que afirmava que a população iria crescer tanto que seria impossível produzir alimentos suficientes para alimentar o grande número de pessoas no planeta. Dentre suas obras, a principal foi o “Princípio da População,” onde ele expõe suas magnânimas ideias que provam que ele nunca errou.
Para Malthus, o mundo poderia sim ter doenças, guerras, epidemias… Ele também propôs uma política de controle de natalidade para que houvesse um equilíbrio entre produção de alimentos e população, mas ignorou a América do Sul, onde pobres e favelados se multiplicam feito ratos com estímulos de ditadores esquerdopatas.
A partir da segunda metade do século XX, principalmente na década de 60, houve uma explosão demográfica, esse crescimento populacional deu início novamente aos estudos das ideias de Malthus, mas com uma adaptação concernente às do aprofundamento da teoria do economista, com condições históricas, ficou denominada de teoria neomalthusiana, essa teoria atenta-se para o crescimento populacional decorrente dos países subdesenvolvidos, tal crescimento provocaria a escassez dos recursos naturais, além do agravamento da pobreza e do desemprego.
Você pode desprezar a realidade, mas não vai fugir das conseqüências de desprezar a realidade.
No Nordeste, que segue a seita dos nove dedos, nascem crianças a troco de caixa sem se importar com o alerta de Thomas Malthus. É uma Região fértil de seres imbecis e idiotas, que vão dominar o planeta por ser maioria, como diria o dramaturgo Nelson Rodrigues.
Quem vai salvar o mundo da fome é o MST com sua produção alimentar orgânica.
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários quinta, 18 de maio de 2023
PETRUCIO AMORIM E O FORRÓ PÉ DE SERRA RAIZ (CRÔNICA DE CÍCERO TAVARES, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
Sempre atento ao que há de melhor na batida do forró pé de serra, sem cair nos guichês musicais “sertanejistas,” o cantor e compositor caruaruense Petrúcio Amorim lança um novo CD que resgata o forró tradicional. Elogiado pelo atento crítico musical paraibano-recifense José Teles, que não deixa passar despercebido no seu site TELESTOQUES, o que há de melhor lançado no cenário musical junino. Sem ter lançamento de forró pé de serra raiz de qualidade de outros forrozeiros na área, presente está o grande crítico dando o devido valor ao compositor de ‘Tareco e Mariola’ por seu novo trabalho, “Nada Levarei.”
“Tem disco de forró na área. O EP Nada Levarei (Polydisc) lançado por Petrúcio Amorim, no final de abril, nas plataformas de stream. São quatro composições novas e uma regravação de Parte da Minha Vida, um xote romântico de bastante sucesso. Flávio José participa da faixa final, Minhas Rosas. Uma boa notícia, mas uma exceção entre os primeiros nomes do forró. A predominância de sertanejos, axé, piseiros, bandas de fuleiragem e afins, nos principais arraiais do Nordeste, desestimula disco novo. Se ao menos tocasse no rádio como em outras épocas, mas programas dedicados ao forró contam-se nos dedos.
O contraste entre a música deste EP com a dos gêneros e subgêneros que dominam o mercado e os festejos juninos é abismal. Embora quatro das cinco faixas sejam de xote romântico, sem o cotidiano, ou lúdico, muito presente na música de Luiz Gonzaga, todas destoam do que cantam os artistas que atraem multidões aos palcos destinados às atrações nacionais, nas grandes festas juninas do Nordeste. E isto fica patente nos cuidados com os arranjos, timbres, e sonoridades distintas em cada faixa de Nada Levarei. Aliás, a faixa título é séria candidata e se tornar mais um clássico do gênero.
Ouvindo-o, dá até pra entender porque o forró autêntico, gonzagueano, a cada ano fica mais relegado aos palcos menores e periféricos. De gosto embotado por muitos, e muitos anos, de música descartável, fast food sonoro, o público tem dificuldade de assimilar um xote bem servido, seu corpo está condicionado a se deixar levar pela batida, sem se importar com melodia ou letra.
O EP de Petrúcio Amorim leva a uma reflexão sobre o futuro do forró chamado pé-de-serra, para diferencia-lo das bandas surgidas no Ceará, tocando lambadas estilizadas, assumindo o modelo da Kaoma, grupo multinacional criado na França, por dois empresários. Enquanto as bandas se recriaram, adotando os estilos híbridos dos sertanejos, e em renovação constante, o pé-de-serra alimenta-se das criações, ou interpretações de, entre outros, Petrúcio Amorim, Maciel Melo, Xico Bizerra, Flávio Leandro, Beto Hortiz, Cezzinha, Waldonys, Santanna, Flávio José, Alcymar Monteiro, Irah Caldeira, Nádia Maia.
Uma geração que, em sua maioria, está na casa dos 60 anos, e não desfruta da mídia dos concorrentes, não se aproximou do público jovem, o que tem mais pique de encarar a zoeira dos palcos badalados, para o qual forró é Xande Avião, Wesley Safadão e afins. Vão assistir a Alceu Valença, porque o filho mais dileto de São Bento do Uma é dono de um extenso rosário de sucessos, conhecido por gente de todas as idades, e praticamente o único artista pernambucano que toca no som dos bares do Recife, em que predominam música sertaneja.
A maior parte do público da geração forrozeira, do pé-de-serra, que entrou em cena dos anos 90 está na sua mesma faixa etária. Como renovar o público. se poucos se apresentam no palco principal dos festejos? Uma equação difícil de ser resolvida.”
Petrúcio Amorim – Nada Levarei (Clipe Oficial)
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POSTAGEM DO EDITOR
Petrúcio Amorim cantando Eu Sou o Forró, de sua antoria
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários sexta, 12 de maio de 2023
MARIA BAGO MOLE PEITA O COMISSÁRIO JUVÊNCIO OIÃO (CONDO DE CÍCERO TAVARES, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANOo
Carruagem semelhante à que Maria Bago Mole viajava
Chegada de uma viagem cansativa feita à região de Palmares na carruagem puxada por dois cavalos mangas-largas comprados por Seu Amado, o coronel Bitônio Coelho e dados de presente no dia do seu aniversário para executar “serviços” extras, a cafetina mais famosa do Cabaré da Zona da Mata Sul de Carpina (PE), do início do Século XX, trouxe consigo sete “meninas leite ainda” expulsas de casa pelos pais, após chantagem de namorados canalhas, difamando-as nos sítios das redondezas não serem elas mais cabaço.
A cafetina apeia os cavalos no pátio do bordel, desativa a carruagem, ordena as “meninas” que adentrem no cabaré e fiquem esperando por ela no seu aposento, toma conhecimento, por meio de duas veteranas que o comissário de polícia de araque da esquina do beco do urubu, Juvêncio Oião, teria chegado ao cabaré logo cedo com uns homens de sua laia, dispostos a fazer uma farra e obrigou as “meninas” da cafetina a prepararem o ambiente num cantinho reservado do bordel para realizar a “festa” porque, do contrário, “as coisas iriam ficar feia para o lado de Bago Mole,” de quem ele não escondia o ódio por ela “tê-lo preterido pelo coronel Bitônio Coelho.”
Disse Juvêncio Oião às “meninas veteranas” no pátio do cabaré, antes de se retirar com seus “policiais” a cavalo:
– Diga a sua “patroa”, assim que ela chegar de viagem, que prepare um lugar decente para nós dentro do cabaré, a altura da minha alteza, porque senão a cobra vai fumar e saguins vão beber água na caneca da onça.
Maria Bago Mole ouviu atenta o relato das meninas sobre a ameaça do comissário Juvêncio Oião. Não disse nada. Mandou as meninas se recolherem e continuar a fazer o que faziam sempre: trabalhar. Não comunicou nada a Seu Amado, Bitônio Coelho, já que ele teria lá seus problemas nas fazendas para administrar. Se as coisas ficassem pretas aí sim ela teria de acioná-lo e os capangas para darem um freio de arrumação nos ímpetos do comissário.
Quando o sol se pôs, Maria Bago Mole, com as meninas, já teriam posto a casa em ordem para receber os fregueses, inclusive Juvêncio Oião e sua “comitiva.” “No meu cabaré cabe todo mundo. Ele existe para isso.” Dizia ela às meninas quando fazia as “preleções” internas sobre algumas mudanças necessárias no salão do cabaré. Após organizar tudo, ela se recolheu ao aposento, pegou seu CO2 Remington 1875 – presente do amado – pôs no bolso extra do vestido e ficou aguardando o valentão, passeando pelos cantos da “casa” dum lado pra outro, fumando seu charuto “dannemann.”
Às dez horas em ponto, com o cabaré já fervilhando de homens ávidos por diversão e carne mijada, o comissário Juvêncio Oião e sua comitiva aportaram no cabaré e quando percebeu que sua ordem não fora cumprida pela cafetina, sacou do revólver que trazia na cintura e deu dois tiros para cima, assustando os fregueses no saloon, braveando no pátio do cabaré que ia haver “fogueira queimando naquela noite” caso sua ordem não fosse cumprida.
Sentindo o perigo rondando o cabaré porque conhecia o ódio do comissário a Bitônio Coelho, preocupada com a imagem da “casa” e a proteção dos fregueses, Maria Bago Mole mandou avisar às pressas a seu amado do perigo à vista, se escondeu num local estratégico do aposento com seu CO2 Remington 1875 em punho e muita bala num caixote, até seu amado chegar, e disse não à provocação do comissário Juvêncio Oião, que ficou uma fera pelo desaforo da cafetina, mas receoso duma carnificina com a chegada do coronel Bitônio Coelho galopando seu alazão branco, protegido por dez capangas cada um mais mal encarados do que o outro e armados de Winchester-1885.
Animal agressivo vai para eutanásia – refletiu Oião, recuou, e bateu em retirada do local com seus “puliciais.”
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários quinta, 27 de abril de 2023
NÚBIA LAFAYETTE X CONDE SÓ BREGA (CRÔNICA DE CÍCERO TAVARES, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
Não se faz mais brega como antigamente. A criatividade na melodias e na letra deu lugar ao sentimentalismo piegas, ao namorico instantâneo, ao ficar, que o diga o crítico musical José Teles que, no seu site pessoal trás um artigo interessante sobre a diferença de interpretação entre a potiguar Idenilde de Araújo da Costa, Núbia Lafayette, (1937-2007) e o bregadão recifense Ivanildo Marques da Silva, o Conde Só Brega, sucesso absoluto nos cabarés recifenses e metropolitanos, nos bailes interioranos e suburbanos.
“Ouço muito música brega, tosca, mal produzida, mal interpretada, a todo volume. Não em casa. De tosco pra mim já basta o mundo. O brega que ouço é tocado, o tempo todo, numa favela próxima ao meu prédio. Tocam uns bregueços curiosos. Uma cantora, que não sei quem é, canta um piseiro, sofrência, sertanejo, um troço desses, cuja primeira parte é igualzinha à melodia, complexa, de Fotografia, de Tom Jobim. E o povão gostando. Vá entender.
Aí entra o Conde, com “Se eu quiser fumar, eu fumo/se eu quiser beber, eu bebo” não sei como se chama a música, acho que Não tô Nem Aí. Os versos me levam à Núbia Lafayette, a potiguar Idenilde de Araújo Alves da Costa (1937/2007). Se cantasse MPB, Núbia Lafayette seria incluída entre as grandes vozes do país, mas seguia a linha que, no início dos anos 60, era rotulada de cafona. Seu principal fornecedor era o genial português Adelino Moreira, autor de inúmeros sucessos de Nelson Gonçalves e Ângela Maria. Tocou muito no rádio, vendeu muito LP, até a eclosão do rolo compressor chamado jovem guarda.
Voltou às paradas quando o “cafona” foi substituído por “brega”, termo que vem de xumbregar, que no Nordeste era falado “xambregar”, que deu em xamegar. Xambrega, foi abreviado pra brega, que virou sinônimo de cabaré, zona. A música que tocava no brega acabou denominada de “brega”. Origem provavelmente pernambucana (talvez alagoana ou paraibana, onde a expressão era comum).
Núbia Lafayette recuperou o sucesso, em 1972, contratada pela CBS, em que Raul Seixas era produtor, e Rossini Pinto um faz tudo, de executivo, produtor, a fornecedor de canções. De Raulzito gravou Jamais Estive Tão Segura de Mim Mesma, de Rossini Pinto, o bolero Casa e Comida, grande hit, e que deu nome ao álbum. Desse LP é Lama (Aylce Chaves/Paulo Marques), outra que foi às paradas, e virou clássico do gênero, e que abre com os versos: “Se quiser fumar, eu fumo/se quiser beber, eu bebo/não interessa a ninguém”.
A diferença entre o samba canção ‘Lama’ e a o brega do Conde é não apenas na bela melodia da primeira, como na roupagem de ambas. A do Conde é tosca, tanto, que parece até proposital, para causar. ‘Lama,’ tem a voz personalíssima de Núbia, e um arranjo requintado, de conjunto regional com orquestra, acho que do maestro Astor, que trabalhou durante anos na CBS.”
Não devo nada a ninguém – DVD Livre Pra Voar
Núbia Lafayette – Minha Sorte (Pseudo Video)
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários sexta, 07 de abril de 2023
VANDALISMO É BARBÁRIE (CRÓNICA DE CÍCERO TAVARES, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
Estátua de Liêdo Maranhão, ícone da sexologia popular, jogada no chão
Erguida no Circuito da Poesia, Praça Dom Vital, em janeiro de 2017, localizado em frente ao Mercado São José, Recife Antigo, lugar preferido do escritor Liêdo Maranhão para colher suas observações populares, estátua simbolizando o grande pesquisador foi alvo de destruição por bárbaros.
Na época, o Monumento que homenageou o grande pesquisador, vilipendiado por vândalos, foi recolhido pela Empresa de Serviços e Limpeza Urbana (Emlurb) e passou por reparos. De acordo com o órgão o serviço de reparação foi feito e o grande sociólogo do povo, do sexo e da miséria, ou o homem é sacana, reina absoluto no mesmo local da Praça Dom Vital, observando a evolução do comportamento do povo, movido pelo sexo e a sacanagem.
Hoje no Recife existem mais de 16 estátuas espalhadas pelo centro da cidade, que compõem o Circuito da Poesia. Entre os homenageados, está o compositor Capiba, ícone do frevo, os cantores Chico Science, que fez a revolução manguebit, com o caranguejo no rock, Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, cuja estátua já foi alvo de vandalismo, o escritor Ariano Suassuna, também alvo de vandalismo, e os poetas Manoel Bandeira e João Cabral de Melo Neto, ambos instalados à margem do Capibaribe, na Rua da Aurora, junto do Galo da Madrugada, que reina, majestoso, na cabeça da Ponte da Conde da Boa Vista.
Liêdo Maranhão (1925-2014), grande nome de cultura popular recifense, em frente ao Mercado de São José
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários quarta, 05 de abril de 2023
TRÊS IRMÃOS EM CONFLITO (CRÔNICA DE CÍCERO TAVARES, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
Armazém de Secos e Molhados, estilo da época do Seu Cirilo
Seu Cirilo era um comerciante mulherengo. Em cada bairro onde tinha um armazém de secos e molhados, possuía um rabo de saia para “furar o couro” a cada dia da semana.
De todas as mulheres com quem teve “um caso”, só Dona Dóris teve três filhos dele, um macho e duas fêmeas. Até hoje não se sabe por que as outras não embucharam dele…
Seu Cirilo não era agiota, mas desenvolveu um método infalível de se apossar das casas dos devedores do seu armazém: quando percebia que o devedor estava com a caderneta de débito a perigo, intimava-o a trazer “a escritura da casa” como garantia do débito e, quando este chegava a determinado patamar, pagava a diferença do valor do imóvel previamente combinado e expulsava o devedor. Por causa desse modo de pressão infalível, Seu Cirilo conseguiu angariar um patrimônio que dava inveja a qualquer comerciante da redondeza.
Antes de falecer, Seu Cirilo havia deixado dois imóveis “apalavrados” para cada filho. Três para a esposa, fora os três armazéns de secos e molhados que, um ano depois de sua morte, fecharam as portas porque os filhos não se entendiam na condução dos negócios.
Após a falência dos três armazéns por falta de gerenciamento, cada filho, de posse de suas casas e apartamentos dados verbalmente pelo pai em vida, tomou seu rumo na estrada, e passaram a se desentender cada vez que um falava para o outro que queria vender um imóvel “doado” pelo pai para tocar a vida. Nenhum assinava em favor do outro qualquer termo de renúncia, mesmo sabendo que isso era condição necessária para dirimir qualquer dúvida e dar segurança jurídica para quem estava comprando.
Interessante é que os filhos de Seu Cirilo viviam socados na igreja todos os sábados e domingos justamente orando às pessoas que estivessem passando por esse tipo de situação. ”Oh! Pai! Antecedei junto a teus filhos para que não haja desavença entre eles!” “Que eles vivam em harmonia! Amém!” – suplicavam ajoelhados!
Enquanto oravam para Deus para mostrar um caminho, Maria procurava João para que assinasse um termo de anuência e esse se negava terminantemente! João procurava Josefa para que assinasse um termo de concordância para ele vender a casa e esta dizia não! Josefa procurava João e Maria para que assinassem um termo de anuência e estes diziam também não! E assim foram levando a vida nessa discussão interminável, com um colocando a culpa no outro por não fechar o negócio. Enquanto isso os três armazéns pertencentes, em vida, a Seu Cirilo, o tempo ruiu. Até que um dia também Dona Dóris encantou-se e tiveram de procurar a Justiça para dividirem os bens. Contrataram um advogado “especialista” e este, autorizado pelos três irmãos, entrou na Justiça para partilhar os bens.
O tempo passou e a Justiça sem dar um ponto final ao processo. A espera foi tanta que morreram João e Maria. Josefa caminhava para o paletó de madeira por causa do sério diabetes. “Vai chegar o dia em que, quando a Justiça disser ‘de quem é de quem na partilha’ até os netos terão viajado para a cidade de pés juntos!” – Sentenciou um vizinho gaiato que trabalhava no Tribunal.
Bem feito para os três conflitantes que não chegaram a um consenso arbitral antes de procurar a Justiça, que no Brasil só não é lenta para quem é ladrão, assassino, criminoso, latrocida, estuprador, pedófilo e corrupto, porque tem proteção constitucional.
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 28 de março de 2023
TEXAS LANÇA MAIS UMA BLUESEIRA QUE PROMETE (CRÔNICA DE CÍCERO TAVARES, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
Segundo a coluna TELESTOQUES, Ally Venable, da nova geração texana do blues, recebe o aval da lenda blueseira, George ‘Buddy’ Guy, famoso guitarrista e cantor norte-americano de rock que inspirou Jimi Hendrix e outras lendas do ano 60, no álbum ‘Real Gone’ de Ally, que está um primor evolutivo.
“Mulheres pontuam a história do blues desde os primórdios. Memphis Minnie, Sister Rosetta Tharpe, Bessie Smith, mas na galeria dos nomes tidos como mais importantes imperam os marmanjos. Bonnie Raitt, mulher e blueseira do primeiro time, é pouco citada quando se fala em blues nos últimos anos. Sister Rosetta Tharpe passou a ser cultuada, inclusive como suposta criadora do rock and roll. O que não é verdade. Memphis Minnie também tocava guitarra e, ao contrário de Rosetta, cantava sobre a vida mundana, nada a ver com religião. É dela ‘When The Levee Breaks, mais conhecida com o Led Zeppelin, de quem Memphis Minie se tornou parceira póstuma.”
“Se o rock tivesse sido inventado, e não surgido de uma evolução do blues, com country & western, a honra deveria ir para Big Mama Thornton, como cantora, e Jerry Leiber e Mike Stoler, os inventores. Os dois são autores de ‘Hound Dog’, gravada em 1952, e lançada em 1953, por Big Mama Thornton, um mega sucesso, com 500 mil cópias vendidas. Três anos mais tarde, a música foi gravada por Elvis Presley, com milhões de discos vendidos mundo afora. Com Big Mama Thornton era blues; com Elvis, rock and roll.”
“O prolegômeno todo para se chegar ao disco REAL GONE, da guitarrista texana Ally Venable, uma das muitas mulheres da atualidade blueseiras, junto com Ana Popovic, Joanna Connor, Susan Tedeschi ou Sue Foley. Esta última já é canadense veterana. Ally Venable tem 24 anos. Chamou atenção pela perícia na guitarra quando estava com 14 anos. Quando estreou em disco com um elogiado EP. Não é pouco, em se tratando do Texas, terra de alguns dos grandes nomes dos blues, inclusive brancos, Janis Joplin e Stevie Ray Vaughan. Foi Vaughan que levou Ally a se interessar pelo blues.”
“’Real Gone’ tem viés para o rock and roll. A faixa ‘Goin’ Home’ é um baladão bluesy com solos distorcidos. No single do disco, ela divide a faixa Texas Louisiana com o lendário guitarrista Buddy Guy, firme e forte aos 86 anos. E Ally Venable, mesmo se não tocasse muito, ainda é tem um vozeirão. Joe Bonamassa é outro convidado do disco, na faixa ‘Broken & Blue’, um soul. A bem da verdade, ‘Real Gone’ não é estritamente um álbum de blues. Loose Me é um funk mais compassado, com a jovem dando um banho de guitarra, em solos sem firulas. Só toca o que a música pede. ‘Real Gone’ é uma ótima pedida para quem ainda aprecia guitarras, o blues e seus derivados.”
Ally Venable with Buddy Guy – Texas Louisiana
“Buddy Guy” e Ally Venable Jan 12 2023 Legends Chicago nunupics
Buddy Guy, Ally Venable & Greg Guy “5 Long Years (Have You Ever Been Mistreated)” Live 2/24/23
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários quarta, 15 de março de 2023
A VIÚVA TARADA (CONTO ERÓTICO DE CÍCERO TAVARES, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
À semelhança da viúva alegre, que tentou comer Seu Luiz na manha
Seu Luiz era um setentão bem casado, pai de quatro filhos e avô de seis netos. Frequentador assíduo da Igreja Universal do Queijo do Reino, (mas não pagava dízimo nem com a bixiga lixa!) “Deus não precisa de dinheiro!” – justificava sua opinião.
No bairro onde morava era conhecido pela paciência, sinceridade, serenidade, solidariedade e respeito aos vizinhos confinantes e confrontantes, que ele sempre os cumprimentava cortesmente.
Marceneiro de mão cheia, Seu Luiz não parava em casa. Era constantemente solicitado para ir à casa de um freguês instalar um móvel na parede da cozinha, fazer um armário, armar uma cama, consertar uma mesa, uma espreguiçadeira, coisas da profissão.
Certo dia recebeu um telefonema em casa de uma desconhecida chamando-o para ir à casa dela instalar uma prateleira na parede da cozinha. Ele anotou o telefone, o endereço e prometeu que no outro dia chegava lá no horário combinado.
Ao chegar à casa da viúva, Seu Luiz foi recebido com agrado, galanteio, afago, cortesia, com a coroa toda empiriquitada, indicando o local onde queria instalar o armário, como desejava que fosse instalado e o deixou bem a vontade dizendo que não tinha pressa. De logo, acertou o preço da instalação e o material que ia comprar.
Com o material à mão comprado, Seu Luiz volta no outro dia à casa da viúva alegre. Bate palmas. Ela vem atendê-lo. Ele pede licença, entra, conversa com ela mais uma vez detalhes de como deseja a posição da colocação do armário e depois começa a trabalhar.
Assanhada, a viúva alegre se aproxima do marceneiro e pergunta se ele não deseja fazer um lanche, tomar um cafezinho, beber uma água, tomar um suco. Enquanto vai lhe oferecendo essas cortesias a viúva alegre vai observando Seu Luiz da cabeça aos pés: mulato, gordinho, braços e pernas grossos, sério, educado, tudo que a viúva alegre deseja num homem. Nesse ínterim, vai lhe subindo um calor com um desejo louco de ter aquele coroa nos seus braços. Imagina-o pelado na frente dela e se excita toda!
Naquele instante a viúva assanhada cria uma fantasia erótica tão da moléstia do cachorro pensando em Seu Luiz que não se apercebe que havia passados mais de seis horas trabalhando na instalação do armário e que ele já havia terminado o serviço!
Quando deu por si Seu Luiz a chama na cozinha, pergunta se está tudo bom, se ela gostou e, a viúva, já pensando como ter uma conversa com o coroa, diz que adorou a instalação e pede a ele que retorne no outro dia para receber o valor do serviço acertado. Despede-se dele no portão, olha-o mais uma vez dos pés a cabeça e devora-o no pensamento com um sorriso vermelho de batom.
No outro dia, na hora marcada, lá está Seu Luiz no terraço da viúva alegre. Bate palmas. Ela vem atendê-lo. Abre a porta, Manda-o entrar. Tranca a porta e tira a chave sem ele perceber. Pede para ele sentar no sofá e aguardar um momento enquanto ela vai tomar um banho. Nesse momento Seu Luiz fica apavorado com a atitude da viúva. Mas, mesmo contrariado com o pedido dela, fica esperando que ela saísse do banho o mais rápido possível e viesse lhe pagar o valor do serviço acertado para ele ir-se embora.
Depois de mais uma hora de espera, Seu Luiz já nervoso de tanto esperar e estranhando o silêncio da viúva, fica em pé e a chama para lhe atender, dizendo-lhe que tem outro serviço para acertar.
Nesse momento, a viúva lhe aparece de camisola transparente, sem calcinha, sem sutiã, e na frente dele, abre a camisola e o provoca:
– E aí meu gatão, meu gostosão, meu pão-de-ló, está pronto para fazermos uns tilicuticos regados aos prazeres da carne mijada? Tomei um banho, me perfumei toda, raspei a danadinha só pensando na gente! Vem, corre, que estou louca de desejos! Sou uma tarada insaciável! Desde ontem que não paro de pensar em nós dois em baixo do edredom! Tudo está pronto. Só está faltando você! Vem!!
Nesse momento, vendo aquele desmantelo à sua frente e pensando na esposa que deixou em casa e que nunca a tinha traído, seu Luiz aboticou os olhos fundo de garrafa, ficou mais preto do que já era e, ameaçando a viúva, inquiriu:
– Olhe, madame, eu não vim aqui para isso não, viu! Eu vim para receber meu dinheiro! Se a senhora insistir mais uma vez eu quebro aquela porta, faço o maior escândalo aqui e vou me embora. Tá ouvindo?!
Foi nesse momento que a viúva assanhada, com medo da ameaça do velho e a atenção da vizinhança, foi lá dentro, pegou o dinheiro, vestiu uma blusa, e chegou até a porta para pagar a Seu Luiz. Mas antes de pagar, olhou o coroa mais uma vez da cabeça aos pés e lhe provocou:
– Olhe, tudo isso aqui é seu (e abriu a camisola transparente mais uma vez). Basta você me telefonar, marcar o momento para a gente fazer aquele ziriguidum (e começou a requebrar toda e revirar os olhos) que garanto que você não vai se arrepender! Estou à sua inteira disposição! A hora que quiser, pode vir seu garanhão! E começou a por a língua nos lábios em forma de gestos obscenos provocando o coroa, que já estava apavorado com tais atitudes estranhas da velha assanhada!
Enquanto a viúva fechava a porta Seu Luiz saiu para rua, desabalado, apavorado, desnorteado, pensando naquele desmantelo jamais lhe ocorrido na vida.
Chegando em casa, Seu Luiz chamou o filho mais novo, solteiro, ao canto da casa e lhe contou o vexame por que havia passado, e o filho sirrindo-se de se mijar, olhou para o velho, e o provocou:
– Mas meu pai, e o senhor não comeu essa coroa, não, foi?!! Puta merda! Meu Deus do Céu! Ó Senhor, apresentaste a coroa à pessoa errada, Senhor! Por que não desviasse para mim, Senhor?!
E Seu Luiz, sobressaltado com a reação galhofa do filho, imaginou: Meu Deus, como as coisas estão mudadas!… E nesse instante, ficou mudo porque percebeu que vinha vindo sua esposa Dona Santinha, da igreja, com cara de quem comeu e não gostou!
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários segunda, 20 de fevereiro de 2023
JOÃO DO MORRO (POR ONDE ANDA?) - (CRÔNICA DE CÍCERO TAVARES, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
João do Morro em lançamento do CD 10 anos de sucesso
Há mais de catorze anos surgia no Morro da Conceição, bairro da Região Metropolitana do Recife, João Pereira da Silva Junior, fenômeno artístico João do Morro, cronista musical da periferia, que com suas músicas irreverentes e escrachadas, misturando pagode e “swingueira”, deu nova cara e moral ao Morro da Conceição, com seu estilo musical balaiado.
Hits recifenses como “Papa-Frango”, “Frentinha”, “Raparigueiro”, na época, invadiram as rádios locais e tornaram sucesso de vendas nas carrocinhas de CDs piratas circulando por todo Recife e nos vídeos veiculados no You Tube, conta no MySpace e no Twitter.
JOÃO DO MORRO era o Rei das Paradas dos bailes da periferia e da classe média alta. A cada canto por onde se olhava via-se uma carrocinha de vendas de CDs piratas tocando “Papa-Frango!”
Segundo João do Morro, em entrevista à Folha de S. Paulo (na época que ainda se poderia chamar de jornal), sua inspiração vinha de várias vertentes musicais: “Peguei um pouco de cada coisa. Um pouco da personalidade do Zeca Pagodinho, que fez sucesso, mas não perdeu a cabeça. De outras coisas, peguei a postura de palco. O deboche veio dos Mamonas Assassinas e Tom Cavalcante. Mas, desde 1992, quando descobri Bob Marley, gosto de reggae, já fiz uma versão ‘enrolation’ de ‘No Woman No Cry’, porque não falo inglês.”
Depois de ganhar muito dinheiro nos shows e eventos locais, João do Morro some das paradas de sucessos misteriosamente, restando-lhe apenas um documentário realizado em 2010, sob a direção de Mykaela Plotkim e Rafael Montenegro, ganhador de vários prêmios. Do Morro?
“O cantor João do Morro, fenômeno da cena cultural do Recife e personagem central de “Do Morro?”, é um dos raros casos na música pernambucana, que dialoga e transita com fluidez entre as boates das áreas nobres e os bailes da periferia. O filme mostra a trajetória do artista, discutindo as polêmicas em que se envolveu, os mecanismos contemporâneos de divulgação da cultura e o rompimento das fronteiras geográficas e sociais pelos músicos da periferia”, comenta o documentário abaixo.
Onde está o artista talentoso e irreverente que projetou o Morro da Conceição?
Clip da Música Papa-Frango – Tema – João do Morro
Documentário sobre João do Morro
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários sexta, 13 de janeiro de 2023
RITA DE CÁSSIA – UMA COMPOSITORA DE TALENTO RARO (CRÔNICA DE CÍCERO TAVARES, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
Encantou-se no dia 03.01.2023 Rita de Cássia, compositora de talento raro
No dia 19.02.2018, publiquei aqui no JBF essa crônica singela sobre essa cantora e compositora cearense, que, com o seu talento musical, revolucionou o forró estilizado dos anos 90. Hoje eu republico em sua homenagem.
Rita de Cássia de Oliveira Reis, filha do agricultor e sanfoneiro autodidata Francisco Flor dos Reis, sábio lavrador analfabeto que colhia da vivência da vida a pedagogia do saber, e da professora Maria Oliveira dos Reis, que colhia da vida o saber da pedagogia.
Conhecida no mundo artístico como Rita de Cássia, cantora e compositora de mais de quinhentas músicas de forró, nasceu em Alto Santo, município do Estado do Ceará, localizado na microrregião do baixo Jaguaribe.
No decorrer de sua carreira, que começou com menos de doze anos como compositora, lá em Alto Santo, Rita de Cássia já gravou mais de 12 CDs em parceria com seu irmão Redondo e a Banda Som do Norte, mais de 05 CDs Voz e Violão, 02 DVDs Acústicos, 01 CD em comemoração aos 20 anos de carreira, 01 CD Rita de Cássia Ao Vivo (2010) e 01 CD intitulado de “Cuide de ser feliz” (2015), com 13 faixas inéditas.
Mas seu reconhecimento como compositora criativa, de sensibilidade rara foi descoberto e só veio a público pelas mãos do visionário produtor musical cearense Emanoel Gurgel, que viu nela um extraordinário potencial promissor e a projetou no cenário nacional e internacional com suas composições de forró romântico gravadas pelas bandas Cavalo de Pau, Mel com Terra, Catuaba com Amendoim, Brasas do Forró, Aviões do Forró e principalmente a Mastruz com Leite nos anos noventa, e até hoje domina o cenário musical nacional em toda época do ano, antes só vivenciando no mês junino porque o povo tinha vergonha de cantar depois por ser brega.
Além dessas bandas de forró que gravaram suas músicas, a cantora e compositora Rita de Cássia, já teve várias canções de sua autoria gravadas por Eliana, Katia de Trói, Frank Aguiar, Wesley dos Teclados, Amelinha, Marinês, As Mineirinhas e tantos outros cantores e cantoras de reconhecimentos artísticos nacionais.
Quando começou a compor, escrevia suas composições em cadernos e guardava só para ela, porque não se interessava em mostrar a ninguém. Quando concluiu o 2° grau seu irmão Redondo a convidou para ser vocalista da Banda Som do Norte, criada por ele.
Mesmo sem aprovação dos pais, ingressou em seu sonho de cantar e ser uma grande compositora na companhia do irmão. Com o tempo ela fez os pais mudarem de ideia.
Em 1992 a cantora Eliane grava Brilho da Lua, tornando sucesso absoluto, sendo a música mais executada em Fortaleza. Logo em seguida, Sonho Real foi gravada pela banda Mastruz com Leite que já começava a despontar com muito sucesso no Ceará e outros estados do Nordeste.
Em 1993 a banda Mastruz com Leite grava Meu Vaqueiro, Meu Peão de Rita de Cássia e foi uma explosão de sucesso em todo Brasil. Meu Vaqueiro, meu Peão, tornou-se um hino do forró. Começa aí o estrelato de Rita de Cássia como compositora. Ganhou o diploma “Destaque de Melhor Compositora do Ceará em 1993”. O forró começava a tomar conta de todo Nordeste com uma linguagem romântica, com poesia suave.
A forma direta de falar de amor começou a dar certo e Rita de Cássia, usando todo o seu talento e carisma, continuava compondo canções lindíssimas e recebia muitos elogios a cada dia de locutores, bandas e principalmente de jovens que passaram a gostar do forró com esta grande evolução.
Em 1994, Rita de Cássia ganha o prêmio destaque da Região Vale do Jaguaribe, como melhor compositora. Além disso, já estava em 8° lugar entre os melhores compositores do País e, em 1995 recebeu os parabéns do ECAD ( Escritório Central de Arrecadação e Distribuição), por ter sido primeiro lugar em execução no Brasil, juntamente com a SOMZOOM STÚDIO, criada pelo visionário produtor Emanoel Gurgel, depois de levar muitas lapadas das grandes gravadoras e dos “disc jockys”, que rejeitavam seu produto musical assim que ele dava as costas, mesmo pagando altíssimo “jabá” para tocar.
Foi também nesse ano que a cantora e compositora Rita de Cássia foi gravar o primeiro CD intitulado Rita de Cássia, Redondo e Banda Som do Norte, tendo como sucesso a música No Voo da Asa Branca, em que retratava a saudade dos nordestinos que deixavam sua terra natal e partiam para a solidão das grandes cidades.
Em 1998, a banda Mastruz com Leite volta a fazer sucesso com a música Tatuagem, de autoria de Rita de Cássia, que foi umas das mais tocadas nas rádios de todo o Brasil, e depois com A Saga de um Vaqueiro, música genialmente extensa que conta uma história de amor impossível com mais de nove minutos de execução.
Em 2000 seus méritos também foram reconhecidos no evento “XX – O Século das Mulheres”, promovido pelo jornal Folha do Comércio, onde ela foi homenageada e recebeu o título de “Compositora do Século XX”.
Em 2002 teve novamente a explosão de suas composições na música Jeito de Amar (Porres por Você), gravado nas vozes de Solange e Xande (Aviões do Forró) no 2º CD da banda e, mais tarde, pela banda Mastruz com Leite.
Segundo o produtor musical Emanoel Gurgel, criador da produtora SomZoom Stúdio, responsável pela projeção desse riquíssimo sucesso musical, o estúdio nasceu da necessidade de se valorizar um mercado rico musicalmente mas que era desvalorizado pelas grandes gravadoras e grandes emissoras de rádios da época que torciam o nariz chamando-o de produto estrume e sem futuro.
Rita de Cássia e Emanoel Gurgel venceram com seu talento, determinação e muito trabalho e hoje fazem parte da história da música de forró romântico que à época era considerada produto descartável, brega.
Existe um senhor que não mente nunca, dependendo do que você faz de bom ou de ruim na vida: O Tempo! E o tempo deu razão a Emanoel Gurgel e Rita de Cássia!
O forró pé de serra havia feito sua história! Estava no limbo! O forró romântico veio ocupar esse espaço quase vazio com a força de uma metralhadora 100 sem avacalhar o ritmo, graças ao visionário Emanoel Gurgel, o grande responsável por essa revolução musical.
Emanoel Gurgel e Rita de Cassia – Vou pedir licença pra contar a nossa história
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários domingo, 08 de janeiro de 2023
TERCEIRO DIA DE UMA NAÇÃO À DERIVA (CRÔNICA DE CÍCERO TAVARES, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
Esse é o terceiro dia triste dessa grande nação chamada Brasil, que só funciona de cabeça para baixo e sem roteiro pré-determinado. Mas nada como um dia atrás do outro e um pinguelo janjiano no meio.
Comemoremos essa incerteza com dois vídeos que resumem a cinebiografia de um homem pequeno, gordinho, óculos bifocais, macho, destemido, que, com ousadia, determinação, culhões roxos, atitudes e lances geniais, mudou a maneira de se fazer filmes de faroeste numa Itália devastada da Guerra, mesmo sem grana e com as críticas dos chamados expertises mourões: Sergio Leone.
Diferentemente daqui, onde todos os agentes públicos envolvidos com a máquina do poder tinham as ferramentas de transformação nas mãos, mas preferiram jogá-las no ventilador cheio de bosta.
a) Quem é Sérgio Leone?
b) Era Uma Vez No Oeste (dez óbices que só os grandes homens sabem driblar)
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários sexta, 16 de dezembro de 2022
VOVÓ DINDA (CONTO DE CÍCERO TAVARES, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
Retrato semelhante ao de Vovó Dinda do Bundão, com seus peitos fartos e pontudos
Vovó Dinda do Bundão, ex-escrava e ex-amante de um coronel afamado da Zona da Mata Sul Carpinense, com quem “ficou” por alguns anos, depois de ter sido alforriada das amarras do escravismo da região canavieira, que se negava a enxergar nela a grande mulher guerreira, que se casou na Igreja com vovô Amaro De Melo, que lhe dava conta do fogo abrasado que ela sentia a qualquer hora do dia ou da noite.
Vovó era uma negra bonita, pernas grossas, torneadas, corpo escultural, bunda enorme, peitos fartos. Apesar de não existirem pasta nem escova de dente na época, como mulher inteligente e avançada que era, não se entregava ao desleixo dentário. Por isso era muito cobiçada pelos senhores de engenhos da época, que viam nela não só o corpo sensual e pujante. Enxergavam nela a mulher forte, guerreira, corajosa, decidida, trabalhadeira e disposta a brigar em batalhas rurais para defender sua dignidade. Esses seus atributos e caráter não eram ignorados pelos homens de poderes da Zona da Mata da época.
– Gosto de homem, sim! Quanto mais homens, melhor! Não pedi para nascer com esse fogo na bacurinha! – dizia ela quando questionada pelos netos ávidos por ouvir os segredos de alcova dela. Gostaria de ter nascido em Palmeira dos Índios e ter conhecido Maria Pé na Tábua, a mulher que topou deitar-se com o negão africano da parreira que amarrava no joelho, como conta o meu amigo Liêdinho, o sociólogo das putas do Mercado São José. Eita mulher corajosa danada, dizia ela, dando uma risada que estalava na sala de casa, mostrando os dentes brancos sem cáries para os meninos.
– Já fiz amor no canavial com os capatazes que me protegiam das sanhas furiosas dos patrões, de noite, de tarde, de dia, fugindo dos cachorros das senzalas, das picadas das formigas, das cobras, dos insetos, das urtigas, mas nunca me arrependo. Só me arrependo daquilo que não fiz – dizia ela com os olhos brilhando de saudade dos “tempos idos e vividos.”
– Até hoje eu me pergunto como fui me apaixonar e ser leal ao avô de vocês. Eu não acreditava em feitiço não, mas até hoje eu só tenho uma explicação para dar por ter largado tudo para me juntar a Amaro: foi algum feitiço feito por uma dessas ciganas que andavam em rebanho sem paradeiro certo, que me pediu um anel de ouro que tenho e eu não dei. Só pode ser – repetia ela nas conversas descontraídas com os adolescentes.
– Meus netinhos lindos – murmurava ela, com mamãe a recriminando lá no fundo da cozinha do casarão onde ficava preparando a janta –, o vovô de vocês era homem macho na cama! Não me deixava suspirar! Eu gostava da sacanagem dele; ele também da minha; a gente era pareia certa um para o outro. Foi por isso que eu larguei tudo para viver com Amaro. Eita homem cabra de peia na cama! – dizia ela bem baixinho, sem mamãe ouvir.
Nunca haverá uma mulher mais feliz do que vovô Dinda do Bundão: Negra alforriada, cobiçada pelos homens ricos da região, mas que nunca se aproveitou dos atributos sexuais para tirar proveito com os senhores de engenhos; para estar no bem bom das fazendas. Ao contrário, casou-se na igreja com vovô Amaro De Melo. Com ele foi feliz até se encantar, porque tudo que ela o queria ele lhe dava em dobro: o prazer de ser feliz e ser amada sem restrições, mesmo na simplicidade do interior em fim do século XIX e começo do XX.
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários quarta, 30 de novembro de 2022
O ALZHEIMER TEM LÁ SUAS VANTAGENS (CONTO ERÓTICO DE CÍCERO TAVARES, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUND FLORIANO)
Aos 82 anos de idade, Frederico se casou com Ana, de 27 anos que, em consideração ao marido tão idoso, decide que devem dormir em quartos separados.
Terminada a festa do casamento, cada um vai para o seu quarto. Ana se prepara para deitar de camisola transparente, quando ouve batidas fortes na porta do seu quarto.
As batidas insistem… Ao abrir a porta, ela se depara com Frederico, com 82 anos, armado, pronto para ação.
Tudo corre bem após uma relação quente e vigorosa… Frederico despede-se e vai para o seu quarto novamente.
Passados alguns minutos, Ana ouve novas batidas na porta do quarto… Era Frederico, mais uma vez, armado, e pronto para ação.
Ana se surpreende, mas deixa-o entrar. Terminada a relação, Frederico beija-a carinhosamente e despede-se, indo para o seu quarto.
Ana se prepara para dormir novamente, quanto escuta fortes batidas na porta do seu quarto. Espantada, Ana abre a porta e se depara com… Frederico!!! Mais do que pronto para nova ação, com aspecto vigoroso e renovado.
E Ana diz:
– Estou impressionada com você que, em sua idade possa repetir a relação com essa frequência… Já estive com homens com um terço de sua idade e eles se contentavam apenas com uma vez. Você, não, Frederico, é um grande amante e marido! Estou surpresa!!!
Desconcertado, Frederico pergunta:
– Eu já estive aqui antes???
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários sexta, 25 de novembro de 2022
PABLO MILANÉS – O CUBANO APAIXONADO PELO CAPITALISMO (CRÔNICA DE CÍCERO TAVARES, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
Pablo Milanês (1943-2022) com a pequena Lynn e a esposa nos anos 1970
Encantou-se no dia 22 de novembro de 2022 na cidade de Madrid, Capital da Espanha, Pablo Paulo Milanés Arias – Pablo Milanés, aos 79 anos, o compositor de Yolanda, uma das músicas românticas mais executadas nas rádios e programas de TV dos anos setenta, oitenta, noventa e lá vai o trem, que o canto e compositor cubano fez para sua então esposa Yolanda Benet, que acabara de da à luz à Lynn, a primeira filha do casal e que ele não pôde assistir ao parto, pois estava viajando a compromissos.
Chico Buarque versificou Yolanda para o português, mantendo a mesma essência da canção e a interpretou magistralmente com a cantora Simone, fazendo a canção conquistar o Brasil inteiro.
O crítico musical, ex JC, José Teles, prestou uma grande homenagem a Pablo Milanés em crônica recentemente publicada, que segue reproduzida abaixo:
“Uma das canções mais tocadas do repertório de Chico Buarque é a versão que ele fez para Yolanda, do cubano Pablo Milanés, cuja morte foi anunciada nesta terça-feira, 22 de novembro. Ele estava com 79 anos, e morava há alguns anos em Madri. Mudou-se para a capital espanhola pelas melhores condições que oferecia para o tratamento da doença hemato-oncologica contra a qual lutava há alguns anos (submeteu-se também a um transplante de rim).”
“Um dos principais nomes da Nueva Trova, movimento renovador da canção de Cuba, fez amizade com Chico Buarque, nos anos 70, quando este foi à ilha para participar de uma comissão julgadora do prêmio literário La Casa de Las Americas, o que rendeu parceria, e a divulgação do trabalho de Milanés no Brasil.”
“Iolanda (sem o “y” na versão em português) foi um dos maiores sucessos de Simone, e continua sendo obrigatória em seus shows. Foi gravada por ela, com participação de Chico Buarque, no álbum Desejos, de 1984. Pablo Milanés teve uma popularidade no Brasil que raros artistas cantando em espanhol obtiveram desde os áureos tempos do bolerão. Da música cubana, Antes dele, somente Bienvenido Granda, “El bigode que canta” nos anos 50 e início dos 60.”
“Milanés foi gravado por muita gente da MPB, Fagner, MPB-4, Milton Nascimento, Ney Matogrosso, Jessé, Miúcha, Diana Pequeno, a lista é longa, e inclui sertanejos, e bregas. O próprio Milanés gravou um disco ao vivo no Brasil, com participações de Elba Ramalho, Chico Buarque e Caetano Veloso.
Apologista ferrenho da revolução cubana, e de regimes de esquerda da América Latina, Pablo Milanés não fazia o tipo “uns mandam, outros obedecem”, pelo contrário. Ele condenava os desvios do regime. Denunciou os métodos stalinistas implantados no governo de Fidel Castro, em seu rígido alinhamento com a então União Soviética. Foi confinado, num campo de concentração, na província de Camagüey, com artistas, intelectuais, homossexuais, religiosos, pessoas não sintonizadas com as normas do governo.
Em 2015, ao jornalista Maurício Vicenti, do El País, Pablo Milanés falou, sem dissimulação, sobre os quase três anos em que esteve preso:
“Nunca me perguntaram tão diretamente sobre as UMAP (ironicamente, Unidades Militares de Ajuda à Produção). A imprensa cubana não se atreve e a estrangeira desconhece a nefasta transcendência que aquela medida repressora de caráter puramente stalinista teve. Estivemos ali, entre 1965 e finais de 1967, eu e mais de 40 mil outras pessoas, em campos de concentração isolados na província de Camagüey, realizando trabalhos forçados desde as cinco da madrugada até o anoitecer, sem nenhuma justificativa nem explicações, e muito menos o perdão que estou esperando que o Governo cubano peça.
Eu tinha 23 anos, fugi do meu acampamento — e me seguiram mais 280 companheiros que estavam presos no mesmo território que eu — e fui a Havana para denunciar a injustiça que estavam cometendo. O resultado foi que me enviaram por dois meses à prisão de La Cabaña, e depois fui transferido para um acampamento de castigo pior que as UMAP, onde permaneci até que essas unidades fossem dissolvidas devido à pressão da opinião internacional”. Porém, Pablo considerava estes percalços acidentes de percurso, afirmando que não ser revolucionário seria trair sua própria consciência.
Lynn e Yolanda Benet
Há pelo menos 50 gravações de Yolanda no Brasil, realizadas por nomes dos mais diversos nichos, da Citada Simone a Lairton dos Teclados, Chrystian & Ralf, Glória Maria, Sonia Santos, Elymar Santos, Selma Reis, Guto Franco (filho de Moacir Franco), Elba Ramalho entre muitos outros intérpretes.
Yolanda foi composta em 1970. Pablo Milanés era casado com uma produtora de cinema e TV, Yolanda Benet. Ele estava em turnê quando nasceu sua primeira filha, Lynn. A saudade da mulher, e a vontade de ver a filha, o inspiraram a compor a canção, tão popular no Brasil que muita gente acredita que é de Chico Buarque. Iolanda é cantada em coro nos shows de voz e violão pelos barzinhos país afora, ao lado de eternos sucessos feito Amélia (Ataulfo Alves/Mario Lago), ou Mulher Brasileira (Benito di Paula).”
Yolanda com Chico Buarque e Pablo Milanez
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários quarta, 16 de novembro de 2022
PERIGO PARA A NAÇÃO: UM PSICOPATA DESCONDENADO À SOLTA
Esse é o presidente TSE/STF que vamos ter de engolir durante 4 anos, caso Maria Caetana não o empacote num paletó de madeira antes.
A entrevista de Lula ao Jornal da Globo Lixo, antes das eleições, lembrou uma passagem memorável do filme inglês The King’s Speech (2010), (“O Discurso do Rei”), ganhador do Oscar de melhor filme de 2011.
O filme conta a história de George VI, o pai da Rainha Elisabeth II, que era gago e não sabia discursar justamente em um momento em que o povo inglês e o mundo precisavam de alguém que levantasse o moral diante da possibilidade da guerra.
Na cena, após assistirem um trecho curto de um poderoso e inflamado discurso de Hitler em uma projeção caseira, a jovem Elisabeth perguntava ao pai sob o que aquele homem estava falando. George disse que também não saber, “mas, parece que ele está falando muito bem.”
O filme mostra que psicopata domina a oratória de forma mais tranqüila, pois não tem outro compromisso, a não ser alcançar os seus objetivos pessoais..
Lula sempre falou bem e encantou imbecis. Não porque tem algo de bom a dizer ou oferecer ao mundo. Falar a verdade é difícil. Encarar os fatos é complicado.
Lula se sai bem falando e discursando porque seu discurso não tem compromisso nenhum com a verdade, com a honestidade, com valores morais, com coerência, com nada.
Há diversos vídeos circulando nas Redes Sociais onde Lula diz que fala o que quer, inventa o que quer, enrola como quer e todo mundo acha lindo. Trata-se do velho apreço de parte do povo brasileiro pelo canalha bom de lábia. Aquela gente que prefere ser enganada com simpatia do que fazer o certo que a antipatia acena.
Somos um povo superficial. Lula nunca responde perguntas. Tira nomes e números do bolso, inverte questões, sorri no momento certo, dá as pausas corretas, finge intimidade. É provavelmente o ator mais talentoso da nossa história política. Um ator, um oportunista, um engana trouxa, numa terra pródiga de trouxas.
Não carrega dentro de si bondade alguma ou mesmo uma alma que valha apenas ser analisada. Trata-se de um dos maiores – senão o maior – canalha da nossa história. Uma das personalidades mais odiosas que já adentrou o Palácio do Planalto.
Esse homem ter nascido no Brasil – sobretudo no Nordeste, em Caetés – é a comprovação de que somos uma Nação sem sorte.
De longe, um dos momentos mais asquerosos da sua entrevista à Globo Lixo, antes das eleições, foi, ao nosso ver, algo extremamente emblemático da carreira política de Lula e da cultura do nosso país.
Poucas vezes, enxergamos o Brasil tão completo e de forma tão límpida. Minutos antes desse momento, Lula comparou a falácia do “Orçamento Secreto” com o crime do mensalão. Bonner, que desistiu de ser jornalista há anos, fez cara de paisagem. Ali ouvimos que a coisa não acabaria bem. Mais na frente, Lula ligou seu sorriso de malandro esperto àquele do sujeito que resolve tudo do jeito dele e criticou, em Rede Nacional, quem tenta agir corretamente. Lula disse que Bolsonaro é “um bobo da corte.” “Não manda em nada” – finalizou.
Pouca gente observou, mas boa parte dos que estávamos assistindo ao debate na Globo Lixo, presenciamos tudo que há de errado nesse país. Bolsonaro não manda em nada. Simplesmente porque um presidente não faz o que quer. Ele deve jogar dentro das regras das leis. O que Lula disse é que ele sabe jogar melhor por não respeitar nada e ainda se gaba disso diante de todo mundo.
Não se trata de uma opinião apenas. É facílimo comprovar tudo que estamos dizendo. Pergunte a qualquer bandido o que é que ele acha de você ou de uma pessoa honesta. Ele vai dizer, exatamente, o que Lula disse na Globo Lixo, a William Bonner, sobre Bolsonaro – “o homem honesto é otário, é um bobo, não manda em nada.” A mensagem de fundo desse tipo de pessoa é: “você é um babaca.” “Esperto sou eu que faço tudo errado e ainda me dou bem.” “Eu não estou aqui.”
Esse é o Lula cagado e cuspido. E isso é o Brasil.
É nesse tipo de descaramento que milhões de pessoas preferiram votar. Que Lula ainda tenha tantos admiradores explica muito porque vivemos em um país que não tem vocação para dar certo. Minha maior sorte na vida foi aprender desde cedo que o Demônio é sempre sedutor. Quem ceder seu voto a ele, seja pela desculpa que for, pelo motivo que for, merece o Inferno que esse homem já trouxe ao país e que ele agora promete trazer de volta. Quem tiver condições que saia. A reeleição de Lula foi o maior e mais merecido castigo da nossa história.
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários sábado, 05 de novembro de 2022
MARIA BAGO MOLE ROMPE O CABAÇO NA VÉSPERA DE SÃO JOÃO (CONTO DE CÍCERO TAVARES, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
Em uma noite festiva como nunca se via naqueles tempos no Nordeste, início do Século XX, a cafetina mais famosa e charmosa daquela região, que fundou O Cabaré de Maria Bago Mole, referência regional, escolheu perder o cabaço para o coronel Bitônio Coelho, o fazendeiro mais respeitado da Zona da Mata Sul de Carpina (PE), num dia de sábado, lua cheia, sem nuvens, sem chuvas, e o povo comemorando os festejos juninos à beira das fogueiras, soltando traques, busca-pés, peidos de veia, bombas caseiras e muita comida feita a base de milho, à mesa.
Era mês de São João, tempo em que tudo respirava festa, rela bucho iluminado por candeeiro e lamparina, alegria no vilarejo, com muita fartura de pamonha, canjica, milho assado na cozinha da mesa do povo da Vila dos Vinténs. Nesse dia o cabaré estava em festa, com tudo sobre o controle da cafetina que não deixava nada dar errado. As meninas enfeitadas sem excesso de maquiagem, sem a aparência das garotas do Natanael, do cabaré do filme Django.
À noitinha chega ao cabaré o coronel Bitônio Coelho, montado em seu cavalo alazão branco todo serelepe, os pelos brilhando no reflexo das lamparinas instaladas por Maria Bago Mole nas janelas no térreo do cabaré. Como sempre costumava fazer, para não ter aborrecimentos depois, a cafetina reuniu as dezoito meninas no quarto do aposento dela, e as alertou, depois de consultar-lhes, uma a uma, a maquiagem.
– Trate bem dos seus homens. Não os deixem faltar nada. Deixe-os usufruir de todos os prazeres da carne e da bebida. Ofereçam muita comida e bebida. Não se esqueçam que quando chegam aqui os homens estão atrás de diversão e prazeres e procuram encontrar em vocês. Não se neguem a dar. Não se esqueçam que o sucesso “da casa” depende de vocês que são o produto almejado por eles. Vigiem tudo. Qualquer malquerença que houver revolva na conversa, no diálogo e, se mesmo assim, houver excesso no parceiro, leve-o para o quarto, tranque a porta, tire a roupa pela metade, mostre seus atributos sensuais e, depois, seja lá o que deus quiser, porque homens gostam de atenção. Eu vou estar ocupada com o meu amor nos nossos aposentos. Hoje eu vou dar o que nunca dei a ele, com as duas janelas abertas e a lua iluminando nossos desejos.
Depois desse bate papo com as meninas, Maria Bago Mole ainda sondou todo o cabaré, checou detalhes por detalhes das comidas e bebidas da despensa, verificou se estava faltando alguma coisa, desejou sucesso e diversão a todos os presentes e se mandou para os aposentos, onde já esperava por ela, todo tímido e desajeitado, o homem mais cobiçado e respeitado da Zona da Mata Sul da Região de Carpina (PE).
Apaixonadíssimo pela cafetina e sem poder esconder o nervosismo, Seu Bitônio Coelho deixou escapar alguns segredos de alcovas. Como se comportar sem roupa, nu, ante a mulher amada? Se beijasse a cafetina, e por onde começar as preliminares? Tantas eram as dúvidas e o nervosismo que o coronel a pediu para apagar a lamparina para mergulhar por baixo do lençol e a cafetina não o olhasse nu.
Nesse momento, com toda sua experiência lidando com homens no cabaré sem se envolver com nenhum dele, Maria Bago Mole, chamou o feito à ordem, pegou nas mãos do coronel, arrancou-lhe o pijama e começou a lhe fazer as preliminares para intumescer os desejos.
Com menos de meia hora de excitação, Seu Bitônio Coelho, já estava relaxado e pronto para viver com a cafetina os desejos de um homem. Antes de ele a possuir, ela o beijou por todas as partes, fez barba, cabelo e bigode. Feito isso, perguntou-lhe o que estava sentindo.
Ao que ele respondeu:
– Nada do que eu pensava do sexo, – e beijou sua amada na boca com um beijo tão ardente que ela sentiu sufocada, mas nada disse. Foi assim até amanhecer o dia com o sol avisando que as estrelas já tinham se ido.
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários quarta, 19 de outubro de 2022
MARIA BAGO MOLE E O POETA ROMANO JUVENAL (CRÔNICA DE CÍCERO TAVARES, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
Si Si -Bar do sonho de Maria Bago Mole, que concretizou
Com suas obrigatórias idas e vindas ao Mercado Livre do Centro da Cidade de Carpina (PE), na Rua Ipiranga, todos os dias, manhã cedo, para comprar os mantimentos necessários para abastecer a despensa do seu pequeno comércio, que crescia a olhos vistos, com a chegada de mais trabalhadores da palha da cana nos engenhos das imediações, a cafetina mais sana in corpore sano da Vila dos Vinténs, a cada dia vibrava com o estrondoso crescimento do embrião do cabaré. Procurava-lhe não poder atender, a seu jeito, a grande quantidade de homens com estômagos vazios por falta de mão de obra qualificada nas imediações: cozinheiras, arrumadeiras e atendentes para despacharem com os fregueses as refeições. Tudo teria de ser improvisado na hora para não desagradar os trabalhadores famintos.
Mulher inteligente e arrojada em suas atitudes empreendedoríssimas, Maria Bago Mole, sempre que passava em frente ao empório do Seu Adamastor Salvatore, imigrante italiano, para comprar mantimentos, observava um letreiro em forma de poema que ele pregava de frente do seu comércio. Era uma tabuleta de madeira, esculpida a mão por um artesão da redondeza, gênio da raça desconhecido. Na tabuleta havia grafado um poema do poeta romano Juvenal. No contexto, a frase era a parte da resposta do autor à questão sobre o que as pessoas deveriam desejar na vida.
No cabeçalho da tabuleta estava escrito em letras garrafais: MENS SANA IN CORPORE SANO (“uma mente sã no corpo são”), que Bago Mole não entendia o significado, mas ficava fascinada pelo som das palavras, ao ponto de decorar o poema e balbuciá-lo ao Sol toda manhã quando saia do cabaré para comprar os mantimentos:
Deve-se pedir em oração que a mente seja sã num corpo são. Peça uma alma corajosa que careça do temor da morte, que ponha longevidade em último lugar entre as bênçãos da natureza, que suporte qualquer tipo de labores, desconheça a ira, nada cobice e creia mais nos labores selvagens de Hércules do que nas satisfações, nos banquetes e camas de plumas de um rei oriental. Revelarei aquilo que podes dar a ti próprio; Certamente, o único caminho de uma vida tranqüila passa pela virtude.
Tudo isso prova por que a adolescente que foi expulsa de casa pelo pai, com apenas 17 anos por ter sido difamada por um aventureiro salafrário, ter conquistado o amor do fazendeiro Bitônio Coelho, o homem mais rico e poderoso da Região da Zona da Mata Sul de Carpina, PE, era uma mulher de mente sana in corpore sano e à frente do seu tempo.
Tudo isso corrobora que a mulher que teve a visão de transformar um vilarejo inóspito, caótico, sem vida, numa comunidade próspera, construindo um cabaré que se tornou referência em toda circunvizinhança, numa época em que não existia lamparina, tinha de ser uma empreendedora que enxergava longe.
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários quarta, 12 de outubro de 2022
A VIDA DIFÍCIL DE MARIA BAGO MOLE NO INÍCIO DA PROFISSÃO (CRÔNICA DE CÍCERO TAVARES, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
A vida não foi fácil para a cafetina Maria Bago Mole no início da profissão. Teve de ralar muito para chegar onde chegou, mas desistir para ela era uma palavra que não existia no seu vocabulário! Muita noite de sono ela teve de passar acordada, cochilando ao relento, dentro de um quarto de um barraco improvisado, feito de madeira de jacarandá e revestido de argila, coberto por palha de coco, para se levantar no outro dia de madrugada e preparar, junto com uma vizinha da Vila do Vintém que se propôs a preparar com ela, o café dos cortadores de cana de açúcar, que por ali chegavam logo cedo sem comer, para a labuta na palha da cana dos engenhos, em carroça de burro.
Bago Mole não tinha tempo para pensar na vida, cuidar dela própria, ser feliz, porque o trabalho lhe exigia a presença constantemente. Ficava tão focada na luta diária da cozinha da bodega que a sua diversão eram as panelas para lavar, a água para colher no riacho que passava por trás do barraco para lavar os pratos e as roupas, o fogão de lenha para fazer a comida dos cortadores de cana, as suas idas e vindas diárias ao Mercado no Centro da Cidade para comprar mantimentos para preparar a comida dos homens. Afinal de conta a barriga não espera quando está vazia e a fome dar dor de cabeça quando não tem comida no estômago.
Fora nessa época de grande movimento na feira do Mercado da Cidade, e observando com grande perspicácia e tino comercial, que Maria Bago Mole teve a ideia de montar um comércio igual ao do mercado no seu pequeno espaço, onde havia muito embargues e desembarques de homens para cortarem cana nos engenhos. Naquele dia em diante a cafetina percebera que seu destino estava traçado e que ela estava disposta a transformar o vilarejo dos vinténs num Secos e Molhados de progresso e prosperidade.
Nascia, ali, o embrião do Cabaré de Bago Mole, para a felicidade do pessoal da Vila que vivia da plantação de raiz de mandioca, batata-doce, macaxeira, inhame e outras raízes de subsistência, e para felicidade dos homens que já podiam reivindicar a instalação dum cabaré para se divertirem nos finais de semana, terminado o expediente do corte da cana.
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários quarta, 14 de setembro de 2022
SERGIO LEONE (1929-1989) – A LENDA DO SPAGHETTI WESTERN (CRÔNICA DE CÍCERO TAVARES, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
Robert De Niro e Sergio Leone durante as filmagens de Era Uma Vez Na América
Os primeiros filmes dirigidos pelo homem que inventou o Spaghetti Westrn, subgênero de faroeste cunhado pelos críticos burros da época, foram Hanno Rubato un Tram (1954), história do roubo de um bonde, também conhecido como We Stole a Tram, filme de comédia italiano; Os Últimos Dias de Pompeia (1956), história do legionário romano Glaucus, voltando para casa, vindo de guerras distantes. Ao chegar descobre que seu pai fora assassinado por uma gangue de bandidos encapuzados, e jura vingança; e O Colosso de Rodes (1961), é um dos poucos filmes a retratar o período entre a morte de Alexandre e domínio do Império Romano da região.
Depois dessa iniciativa não fracassada, o diretor Sergio Leone, se dedica integralmente ao subgêro spaghetti western e, até Era Uma Vez Na América (1984), seu último clássico antes de se encantar, realiza verdadeiras obras-primas da Sétima Arte que só um gênio poderia fazê-lo. Seus poucos filmes, especialmente os da Trilogia dos Dólares e seus dois “Era Uma Vez”, são obras-primas que os aficionados do gênero spaghetti não podem deixar de ver ou rever.
Sem dúvida alguma, Sergio Leone, é o grande nome do western mundial, ultrapassando as fronteiras do sub-gênero spaghetti western. Seus personagens são as formas usadas em um sem número de obras do mesmo gênero ou de vários outros completamente diferentes. Seus seguidores famosos são muitos, sendo o principal deles Quentin Tarantino…
Sua descoberta de atores hoje icônicos é inigualável e sua capacidade de fazer muito com quase nada, é imbatível. E, lógico, como não poderia deixar de citar que sua parceria com o genial Ennio Morriconne é uma das mais prolíficas da Sétima Arte, com grandes composições usadas, reusadas e abusadas.
Leone, o gênio do Spaghetti Western, que teve a capacidade de realizar obras magnas feito Por Um Punhado de Dólares (1964), Por Uns Dólares a Mais (1965), Três Homens Em Conflitos, ou O Bom, O Mal e o Feio (1966), Era Uma Vez No Oeste (1968) e Era Uma Vez Na América (1984), filme este que narra com maestria a vida de David “Noodles” Aaronson e Maximilian “Max” Bercovicz, dois amigos que lideram um grupo de jovens judeus do gueto no crime organizado da cidade de Nova Iorque. O filme explora temas de amizade de infância: amor, luxúria, ganância, traição, perda, relacionamentos quebrados, juntamente com o surgimento de gangsters na sociedade americana.
O filme é reconhecido por toda crítica especializada no tema como uma obra-prima e um dos maiores filmes de gangster já produzidos de todos os tempos.
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários segunda, 29 de agosto de 2022
CLARA NUNES – 80 ANOS MENOS LEMBRADOS DE VOZ E OBRA
No último dia 12 de agosto, como bem lembrado pelo percuciente pesquisador e crítico musical, José Teles, Clara Nunes completaria 80 anos. Por cá, valoriza-se mais compositor do que intérprete, sobretudo alguém que morreu há 39 anos.
Clara Nunes foi uma das grandes vozes da música popular brasileira nos anos 70, mas seguia a tradição das cantoras do rádio. Cantava, simplesmente. Não pertenceu a movimentos, grupos, nem gravava para um determinado público.
Rotulada de sambista, ia além do gênero, foi extremamente versátil. Teve entre seus principais sucessos o arrasta-pé Feira de Mangaio (Sivuca/Glorinha Gadelha), embora o forró fosse uma eventualidade no seu repertório.
Iniciou a carreira em Belo Horizonte, e logo comandaria programas na TV Itacolomy, A Voz Musical de Minas, Viagem Musical Vasp, Clara Nunes Apresenta. Este último encerrou sua carreira em BH, em 1965, quando se mudaria para o Rio. No carnaval, como toda cantora de rádio, ia de músicas da de época. Gravou sambas carnavalescos, mas confessou, em entrevista à revista Intervalo, em 1967, que não era a dela:
“Prefiro morrer de fome a aceitar parceria em samba ruim que não é meu. Sei que os cantores veteranos que só aparecem no carnaval fazem isso: exigem parceria para cantar a música, pois sabem que são os direitos autores que fazem entrar dinheiro, mas comigo isso não pega”.
Clara Nunes, até então era uma cantora de estilo indefinido. Seu único sucesso nessa fase foi com a balada Eu Você e a Rosa, versão de Geraldo Figueiredo, um hit italiano de Orietta Berti de 1967.
Ela gravou dois sambas para o carnaval de 1968, Chorar, Chorei (Jair Amorim/Zequinha), e A Noite (Almeidinha/Roberto Muniz), mas não considerava sua praia: “É o tipo de trabalho que cansa demais e não rende nada. Mas já que gravei vou trabalhar as músicas até não poder mais. E que ninguém bobeie, senão venço de novo”. O “venço de novo” referia-se a ter gravado, em 1966, o samba Porta Aberta, de Jair Amorim e Benedito Reis, que ganhou em1966, o concurso de música carnavalesca do então estado da Guanabara (o Rio foi capital estado). Mas o grande sucesso dela no carnaval foi com Carnaval na Onda, do radialista e compositor José Messias.
Em 1968, Clara Nunes gravaria mais um samba, este deu um norte à sua carreira. O compositor e cantor da velha guarda, o também mineiro Ataulfo Alves, que andava meio esquecido, em parceria com Carlos Imperial, compôs Você Passa Eu Acho Graça. Na época um dos mais badalados nomes da música brasileira, Carlos Imperial sabia caitituar uma música. “Caitituar” significava trabalhar uma música no rádio e TV, quase sempre com um por fora a alguém da emissora. Caitituava-se também sem dinheiro, só na base do convencimento.
Certamente, o conhecimento de causa de Imperial contribuiu para o estouro de Você Passa/Eu Acho Graça, um dos maiores hits de 1968, e que direcionou Clara Nunes para a MPB. A diferença entre seu primeiro LP e o segundo é abissal. Um é formado por boleros e baladas insossas, a maioria de autores pouco conhecidos, que não a levaram a canto algum. O segundo a colocou nas paradas com mais uma parceria Ataulfo/Imperial, Você Não É Como as Flores, que abre o álbum, cujo título é Você Passa Eu Acho Graça. No repertório Chico Buarque, Tom Jobim, Martinho da Vila, Dolores Duran, Darcy da Mangueira, ou Noel Rosa.
Ele definiria o estilo definitivamente em 1971, com o álbum Clara Nunes, e demarcou seu espaço na MPB. Dali em diante só cresceria, com a produção de Adelzon Alves, com quem foi casada. Aliás, Adelzon está por merecer uma biografia pela sua contribuição à música brasileira, em geral, e samba em particular.
Clara Nunes tinha uma queda pelo Recife e Olinda. Nesse disco de 1971, há uma bela versão do frevo canção Novamente, de Luiz Bandeira. Ela canta também o pernambucano Zé Dantas autor de Sabiá (cuja parceria é de Luiz Gonzaga). Clara se tornou filha de Oxum, nas águas do Rio Capibaribe, numa cerimônia realizada por Pai Edu (Edwin Barbosa da Silva, falecido em 2011), cuja casa, o Palácio de Iemanjá, em Olinda, costumava frequentar. Pai Edu nos anos 70, era o babalaôrixá mais badalado do país. O Palácio de Iemanjá um dos pontos mais visitados de Olinda.”
Novamente – Clara Nunes
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários sábado, 30 de julho de 2022
Mercado Público de Carpina, construído na gestão de Neo Maguary
Por conta do estrondoso sucesso do cabaré que trouxe progresso, prosperidade e desenvolvimento à sociedade comercial e canavieira do município carpinense, Maria Bago Mole despertou a atenção nos senhores de engenho bastardos da região e a admiração do prefeito Manoel Augusto do Rêgo, conhecido pelo povo como Neo Maguary, um dos homens mais influentes e populares da região da Mata Norte, depois do Coronel Bitônio Coelho.
No início dos anos setenta do século XX, eleito prefeito do município com uma expressiva votação que o surpreendeu e ao governador de Pernambuco, Eraldo Gueiros, que, em retribuição ao carinho do povo, fez-se presente à cidade por três dias para participar das inaugurações das benfeitorias realizadas pelo prefeito, Neo Maguary, que cumpriu a promessa que houvera feito ao pai quando criança: transformar Carpina numa cidade próspera, com a abertura de grandes avenidas que deram origem a bairros famosos, praças, ruas, construção do Mercado Público, construção de colégios estaduais e municipais, hospitais, clínicas, saneamentos básicos por toda cidade…
Ciente, antes de ser eleito prefeito do município, do estrondoso sucesso do cabaré de Maria Bago Mole e da sua extraordinária capacidade empreendedora, discrição e empatia com o povo, e tendo plena consciência que a sua presença às inaugurações junto com as “meninas” da “casa”, iriam dar mais visibilidades aos acontecimentos e agradar ao governador, o prefeito Neo Maguary mandou contratar, com recursos próprios, a cafetina e suas meninas para animar as inaugurações, com a presença do Coronel Bitônio Coelho, mesmo não sendo simpatizante do proprietário dos mais famosos engenhos canavieiros das redondezas.
Foram três dias de festas e inaugurações, com comes e bebes pagos pelos comerciantes locais, acontecimentos jamais vistos por aquelas paragens. Entrega de títulos de posse de terra, presentes, cestas básicas, roupas, brindes à criançada, que retribuía com sorriso largo no rosto. Distribuição de materiais de construção para edificação de casas populares, sementes para os siteiros plantar, distribuição de dentaduras, assistências médicas. Pastoris com as meninas do cabaré remexendo as cadeiras, divertindo os adolescentes e levando os marmanjos ao delírio.
Terminadas as inaugurações e os comes e bebes, o governador Eraldo Gueiros, o prefeito Neo Maguary, o coronel Bitônio Coelho e a famosa cafetina, já se articulando para nova eleição para prefeito, deram-se as mãos e se abraçaram com a certeza de que o futuro político de Carpina estava nas mãos de Maria Bago Mole, a nova musa do cabaré político.
Se ela transformou a Vila dos Vinténs, um lugar inóspito, onde Judas perdeu as botas, num oásis desenvolvimentista, por que não é páreo forte para política? – observou Eraldo Gueiros, sobre o olhar boquiaberto de todos os presentes!
Ex-prefeito de Carpina Néo Maguary em entrevista ao Programa Francisco Jr e ao Voz de Pernambuco em 31 de janeiro de 2019
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários quarta, 27 de julho de 2022
Texto escrito por Luis Antonio Tavares Portella, filho deste colunista e estudante de Biologia na Universidade Católica de Pernambuco.
* * *
O termo estatueta de Vênus é usado para descrever as mais de 200 pequenas estatuetas de figuras femininas sensuais que foram encontradas em escavações do Paleolítico Superior em toda a Europa e algumas partes da Ásia. É importante salientar que, quando os paleoantropólogos se referem às estatuetas como “Vênus”, eles geralmente o fazem com aspas, porque as estatuetas de Vênus antecedem os mitos sobre a deusa romana Vênus em milhares de anos. O nome é derivado, em parte, de teorias que associam essas figuras à fertilidade e à sexualidade, duas características associadas à deusa romana.
I) Vênus de Willendorf
CARACTERÍSTICAS
As chamadas “estatuetas de Vênus” datam entre cerca de 40.000 a.C. e 10.000 a.C. Elas são geralmente muito pequenas, com tamanhos que variam de 2,5 cm a 10,2 cm, embora alguns exemplos tão grandes quanto 24 cm tenham sido encontrados. O material mais comum usado para esculpir essas estatuetas é a presa de mamute, mas dentes, chifres, osso e pedra também foram usados. Em um número muito pequeno de escavações foram encontradas estatuetas de barro, que estão entre os primeiros exemplos conhecidos de arte cerâmica. As figuras são geralmente nus femininos sensuais. Algumas de suas características, como seios, quadris, estômagos e regiões pubianas, são muito exageradas, enquanto outras características estão ausentes ou minimizadas. É bastante comum as figuras serem sem rosto, com braços e pernas mal definidos e uma silhueta afunilada na parte superior e inferior. As esculturas muitas vezes não têm mãos e pés definidos. Dado que os criadores dessas esculturas foram separados por 30.000 anos e centenas de quilômetros, é impressionante que tantas delas compartilhem os mesmos traços.
DESCOBERTAS IMPORTANTES
Embora a maioria das estatuetas de Vênus estejam de acordo com essas características sensuais, os achados individuais mostram que há alguma diversidade em termos de materiais e construção. Elas também são bastante diversificadas em termos de sua localização. Foram encontradas em escavações que vão desde toda a Europa até a Sibéria. A maioria foi encontrada em locais de assentamentos pré-históricos, tanto dentro de cavernas quanto em locais ao ar livre. Embora extremamente raras, algumas figuras foram encontradas em locais de sepultamento.
II) Vênus de Hohle Fels
A Vênus mais antiga conhecida, a Vênus de Hohle Fels, foi encontrada em uma caverna de mesmo nome em Schelklingen, na Alemanha, e estima-se que tenha entre 35.000 e 40.000 anos. É esculpida em marfim de mamute lanoso. No lugar de uma cabeça, a Vênus de Hohle Fels tem um laço, o que sugere que pode ter sido usada como um pingente. Muitas Vênus têm perfurações que sugerem que podem ter sido usadas como joias.
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários sábado, 16 de julho de 2022
VEM AÍ A RESSURREIÇÃO DA MENUDOMANIA, AGORA EM METAVERSE
Sem Rickey Martin, Menudos celebrou, em 2019, 40 anos na estrada
Essa notícia é direcionada a todos os adolescentes desmiolados ou acéfalos, sem um pingo de neurônio na cachola que queiram ficar rico da noite para o dia, apenas remoendo os lábios feito boi e dando coice feito jegue.
Portando, jovem, se você tem entre 14 e 16 anos, tem jeito para a dança e para o canto, saiba que daqui a menos de duas semanas, estarão abertas as inscrições para habilitação ao cargo de menudo. Sim, os Menudos vão voltar. Agora sob nova administração, com direito a toda tecnologia atual, incluindo Metaverse. Para os esquecidos, ou muito novinhos, os Menudos surgiram em 1977, formados por adolescentes de Porto Rico, tornando-se o grupo pop latino mais bem sucedido até hoje.
O público juvenil brasileiro identificou-se imediatamente com os porto-riquenhos, que estouraram por aqui no início dos anos 80. Em 1984, os maiores vendedores de discos do país foram o sambista Agepê, A Turma do Balão Mágico e os Menudos. O grupo se apresentou no Recife em 1º de março de 1985, no estádio do Arruda. Não se via um show tão badalado na cidade desde a apresentação, em 1950, do cantor mexicano José Mojica, que fez muito sucesso também no cinema. Patrocinado pela Fábrica Peixe (de Pesqueira), José Mojica realizou, naquele ano, uma turnê nacional, que aportou no Recife em abril, e levou 40 mil pessoas, segundo jornais da época, ao estádio do Sport, na Ilha do Retiro. No auge da carreira, Mojica trocou os palcos pelo claustro, tornando-se frade.
Os Menudos, em 1985, movimentoum mais a cidade do que Paul McCartney, que fez duas apresentações no Arruda em 2012. Seis anos depois, um menudo voltou a se apresentar no Recife, e levou vaias. Robby Rosa, um dos mais populares integrantes dos Menudos veio à capital pernambucana com a banda Maggie’s Dream, que abriu o show da Faith No More, no Geraldão. A plateia marcou Robby em cima. A Maggie’s Dream não era ruim, porém, para boa parte da plateia não cabia um ex-menudo num concerto do pesado Faith No More.
Na coletiva do FNM no Monte Hotel, em Boa Viagem, era visto Robby Rosa sentado sozinho numa área afastado do salão onde rolava a entrevista. José Teles estava lá e foi até ale. Conversaram um pouco. Teles tinha recebido um LP da Maggie’s Dream, pediu para Robby assinar o álbum. Ele assinou. E até hoje, José Teles tem um disco assinado por um menudo. Uma relíquia.
Os novos Menudos voltam com a carga toda em setembro. Não se reprimam.
Menudo Claridad (sonido digital)
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários quarta, 13 de julho de 2022
LONDRES ESTÁ NA MÍDIA POR CAUSA DO DESMIOLADO BORIS JOHNSON
Capa da revista Time da época que saiu a matéria despretensiosa, mas foi um sucesso estrondoso
Segundo o jornalista de música José Teles, ex crítico musical do Jornal do Commercio, Londres está na mídia, hoje, por causa do desmiolado Boris Johnson, mas nos anos sessenta, foi por causa de um artigo despretensioso publicado na Revista Time.
É preciso voltar no tempo e recordar a “Swinging London” dos anos 60.
No verão Londres recebe tantos turistas que, em certos logradouros, fazem-se filas para atravessar a rua. Tantos anos depois de ganhar o epíteto “Swinging London”, grosso modo, “Londres é da hora”, ou “Londres, a “Cidade da vez”, ainda é uma cidade onde todo mundo vai, ou quer ir. Até 15 de abril de 1966, embora a Inglaterra fosse a terra dos Beatles, dos Rolling Stones, de Mary Quant, de Twiggy, gente que ditava as regras do pop para o mundo, sua capital era um destino turístico considerado pouco interessante.
A imagem que se tinha de Londres, e da Inglaterra, era de estereótipos: Jeck, O Estripador; Sherlock Holmes; a formalidade de sua gente; a moeda de divisão complexa, duodecimal (Pound, shilling, pence, farthing), de muita chuva, e bares que fechavam quando a clientela começava a se animar. Tinha-se tal impressão de Londres, de Liverpool, então quase nada se sabia, a não ser que os Beatles surgiram por lá.
John, George, Paul e Ringo ganharam honrarias da Rainha Elizabeth pela contribuição dada à divulgação do império britânico mundo afora. Mas quem fixou como um dos destinos turísticos mais procurados do planeta foi a revista americana TIME. Na edição do citado 15 de abril de 1966, a revista estampou na capa um desenho de Geoffrey Dickinson (por coincidência nascido em Liverpool), com um cartão postal da cidade, o Big Bem, ao fundo, e a nova paisagem da capital inglesa: jovens cabeludos, discoteques, óculos com bandeira inglesa estampadas nas lentes, um roll-royce dirigido por alguém assemelhado a um beatle. Em meio a tudo isso, o então primeiro-ministro trabalhista Harold Wilson.
No alto da capa, numa faixa branca transversal, lê-se: LONDO:THE SWINGING CITY. Esta pequena chamada atingiu o alvo em cheio. Veio daí o “swinging London”, que se tornou quase um título honorífico da cidade. O título da matéria na revista não é nem um pouco atrativo:”Grã-Bretanha: você pode atravessá-la caminhando sobre a grama”. A grama a que se refere é a dos imensos parques, e praças de Londres.
“A nova vitalidade da cidade impressiona tanto os que a visitam, quanto seus habitantes. O planeta que já foi a Inglaterra, deu lugar a uma nova arte de viver – excêntrico, boêmia, simples e alegre.” A Time reproduz trecho de uma entrevista à revista Candide, de Paris, concedida por Robert Fraser, dono de uma galeria de arte pioneira em Londres: “Neste momento, Londres tem uma coisa que Nova Iorque já teve: todo mundo quer estar nela.” Não há lugar igual. Paris está engessada. “Há algo indefinido em Londres que faz as pessoas quererem ir pra lá.” Pra quem não se lembra, ou não sabe, foi nessa galeria de Robert Fraser que John Lennon conheceu Yoko Ono. Os dois formariam o casal mais badalado da Swinging London.
Nessa época a Revista Time jactava-se de manter uma tiragem de 14 milhões de exemplares semanais. Estimava-se que quando este artigo foi publicado apenas 9% dos americanos sabiam o que acontecia em Londres. Poucos já haviam ido à Inglaterra. A partir daí a capital inglesa tornou-se o local onde se deveria estar, sobretudo para gente jovem.
Há 56 anos a capital inglesa continua “suingada” e objeto de desejo.
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários sábado, 18 de junho de 2022
GETÚLIO VARGAS VISITA O CABARÉ DE MARIA BAGO MOLE E PROVOCA CIÚME EM VIRGÍNIA LANE
Virgínia Lane na sua alcova esperando o presidente Getúlio Vargas para dormir
Anos trinta e quarenta. Épocas de grande efervescência na política nacional: golpe de estado de Getúlio Vargas, outorgação da “constituição polaca” de inspiração fascista, deposições de governadores, muita desconfiança entre os agentes públicos, “arranca rabo” e “debate boca” no meio político. Por essa época o ditador Vargas tomou conhecimento da existência do cabaré de Maria Bago Mole que se interessou em visitá-lo para conhecer a famosa cafetina dos quadris avantajados e dotes sexuais invejáveis, que estava revolucionando os hábitos no interior da Zona da Mata Norte de Carpina (PE), e as “meninas” do cabaré que, amiúde, eram a atração da casa, com seus rebolados sexuais picantes nos traseiros que deixavam qualquer homem intumescido, sem tomar catuaba.
Nessa época a vedete Virgínia Lane, sucesso como cantora no programa Garota Bibelô, na Rádio Mayring Veiga, depois estreante no programa Cassino da Urca, tornou-se a estrela mais famosa da Praça Tiradentes. Durante a temporada da peça Seu Gegê, grande sucesso musical na época, ela recebeu o título de “A Vedete do Brasil”, posto pelo presidente Vargas, que iniciou com ela um tórrido romance que duraria por mais de dez anos. Sobre esse relacionamento ela nunca falava aos jornalistas fofoqueiros. Revelando apenas em algumas entrevistas, que teve um caso amoroso com o ditador, e que nas horas dos “vucuvucus” teve de fazer sexo com ele na horizontal, porque na “vertical sua barriguinha atrapalhava.”
Quando soube que o presidente iria fazer uma visita ao cabaré da cafetina famosa, Virgínia Lane enciumou-se de forma tal que contratou alguns guardas barra pesadas das noites cariocas, com recursos pagos pela União. Ordenou-os viajarem para investigar as relações do presidente com essa cafetina tão “atraente” no Nordeste sem lei e sem alma, e os instruiu para se aliar aos homens mais poderosos da região para tirar “essa piranha e suas meninas do caminho do seu homem,” que se dizia estar em missão oficial para conhecê-la.
Nessa época, o comissário Juvenço Oião, que havia assumido um cargo na polícia que lhe deva plenos poderes de agir em nome de um decreto do ditador e os coronéis começaram a ter vez e voz, se juntaram para acabarem com a “farrumbamba” do coronel Bitônio Coelho que, segundo aqueles que não lhe iam com a cara, pretendiam armar uma cilada para matá-lo e brecar o poder político de Maria Bago Mole que, com a política econômica do cabaré em vento e popa, estava provocando inveja nos fazendeiros que odiavam Seu Bitônio Coelho e sua ascensão política.
Nada de excepcional aconteceu naquela noite que o chefe da nação visitou o cabaré. Saracoteou com as meninas do cassino a noite inteira, atraiu a atenção dos trabalhadores do campo, vez ver aos coronéis que desavenças só leva ao caos e a desordem. Os coronéis, falsamente, deram-se as mãos em nome do progresso e da nação. Os cabras mandados sondar o ambiente por Virgínia Lane para ver se havia traição caíram na gandaia e tudo no final acabou em festa de corrida de boi, com Juvenço do Oião desmoralizado com seus capangas, o coronel Bitônio Coelho protegido por sua amada entrou no aposento sem ser notado e o presidente Vargas foi a atração da festa, que amanheceu o dia com o povo o ovacionando nos arredores do cabaré.
Naquela noite o presidente Vargas mostrou porque era o pai dos pobres, menos para Seu Bitonio Coelho e outros coronéis antenados, que o consideravam um ditador habilidoso e sanguinário, disposto a tudo para se manter no poder.
Rodrigo Constantino: Getúlio Vargas foi um câncer na política brasileira
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários quinta, 16 de junho de 2022
Os idiotas vão dominar o mundo pela quantidade, e não pela qualidade, porque são muito, dizia o gênio de Nelson Rodrigues. Assim são os sertanejos que hoje mandam no mercado de forró.
Segundo o crítico musical José Teles, o forró autêntico está perdendo seus espaços na cultura forrozeira. O interior está destruindo tudo na base do toma lá dá cá da grana dos cofres municipais. Sua áurea de forró pé de serra virou lixo, transformando o forró em trilha sonora de última categoria.
As programações juninas das principais cidades do interior ratificam que o forró como trilha do São João é algo que caminha pra se tornar passado. Basta ver a programação do maior deles em Pernambuco, o de Caruaru. Nada contra a grade junina da cidade em particular. Ali apenas se segue o modelo estabelecido em todo o Nordeste, onde empresários poderosos impuseram seus artistas às autoridades competentes, responsáveis pelas contratações.
Não foi um pedido da população. No Festival de Inverno de Garanhuns oferece-se uma grande variedade de música, e o público prestigia.
No mês de junho na região inteira predominam artistas badalados na TV, e nos sites e blogs de fofoca, impulsionados pelos milhões de plays nas plataformas de música digital. Atraem enormes plateias, mais pela fama do que pela música, escalados para o palco mor da festa. Enquanto isto, poucos dos nomes mais importantes do forró contemporâneo têm o privilégio de cantar neste polo de estrelas sertanejas, piseiros, fuleiragem e afins.
Para citar alguns, Maciel Melo, Flávio José, Alcymar Monteiro, Silvério Pessoa, Santanna, Irah Caldeira, Cezzinha, Nádia Maia, Petrúcio Amorim, Assisão, Nando Cordel, tudo gente que faz forró de verdade, estão na programação do Alto do Moura, ou seja, o gênero virou música alternativa. A massa vai mesmo é ver as estrelas, de cachês polêmicos, no Polo Luiz Gonzaga, o mais concorrido nos festejos juninos da cidade.
Este tratamento diferenciado faz com que, os forrozeiros responsáveis pela linha evolutiva da música de Luiz Gonzaga (tomando emprestada uma expressão de Caetano Veloso, em relação à bossa nova), sejam vistos como “inferiores” em relação às duplas, grupos, intérpretes, campeões dos Spotfy da vida, que aparecem no Fantástico, no Huck, em Serginho Groisman, Fátima Bernardes e quejandos.
Daí o contraste entre Petrúcio Amorim, que tem uma obra sólida, referencial, com mais de três décadas de estrada, cantando no Alto do Moura (que acaba sendo o polo, culturalmente, mais importante do São João caruaruense), e Zé Vaqueiro, 23 anos de idade, pernambucano de Ouricuri, estrela do Polo Luiz Gonzaga. Ele estourou em 2017, com sucessos que ostentam mais de cem milhões de plays nas plataformas de músicas para stream. Seu estilo é classificado como forró piseiro, segundo a Wikipédia. Piseiro é um ritmo de muito sucesso, mas não tem a ver com forró. Mas está derrubando o munguzá dos que realmente fazem forró.
Petrúcio Amorim – Tareco e Mariola
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários quinta, 09 de junho de 2022
MARIA BAGO MOLE E SEU BITÔNIO COELHO – O CIÚME E DOIS SEGREDOS
Casa sede à semelhança a da fazenda do coronel Bitônio Coelho
Depois de ter tido uma noite inesquecível com Maria Bago Mole, a famosa cafetina que deu nome ao cabaré, o coronel Bitônio Coelho, o fazendeiro poderoso e mais durão da Zona da Mata Norte de Carpina (PE), retorna à fazenda, não mais contrariado por ter acordado fora do horário habitual, como da primeira vez que dormiu com a amásia.
Chegando à fazenda-sede por volta das onze horas da manhã, encontra todos os empregados apreensivos no pátio do casarão, pensando ter lhe acontecido alguma coisa grave, mas quando pressente o patrão não cabreiro nem contrariado apear o cavalo e mandar um dos capangas recolher a sela, calam-se e esperam a ordem do homem, que calado estava, calado ficou não informando nada sobre o acontecido, limitando-se apenas a ordenar aos subordinados as tarefas do dia, educadamente.
Depois de dar as ordens aos empregados, Seu Bitônio Coelho entra no casarão, abre as janelas e se dirige até as governantas na cozinha, dar-lhes bom dia, atitude impensável antes de conhecer a cafetina, retorna à sala, e começa a pensar em Maria Bago Mole, da noite inesquecível que tivera com ela, dos prazeres que ela lhe proporcionara e, além de sentir que estava apaixonado, começava a ter-lhe ciúmes, imaginando-a naquele cabaré cheio de homens doidos para lhe conquistar as delícias sentimentais e corporais!
Foi nesse momento que aquele homem durão, acostumado a lidar com vacas, cavalos brabos e capangas rudes, sentiu estar dominado por um sentimento jamais vivido em toda sua vida. Maria Bago Mole o havia domado o coração!
Da segunda para o sábado Seu Bitônio Coelho ficou absolutamente inquieto, sonhou com Maria Bago Mole todas as noites sempre nos braços de outros homens e acordava durante a noite todo suado, com o ciúme lhe dominando e sufocando o peito ao ponto de ele ficar irreconhecível!
– Meu Deus, o que está acontecendo comigo? – questionava a si!
Ansioso e só pensando em Maria Bago Mole, no sábado logo cedo, mandou o capanga Simeão Pau Preto pôr a sela no cavalo branco, vestiu sua calça e camisa de linho branco e, antes do anoitecer, se mandou para o Cabaré para se encontrar com a dona do seu coração!
Em lá chegando, veio-lhe uma tempestade de ciúmes por causa dos homens que cercava sua Amada que, quando o avistou, saiu correndo em sua direção:
– Oi amor! Estava com muitas saudades! Você não imagina a eternidade que foram esses dias sem você! E aplicou-lhe um beijo bem demorado! Pegou-lhe pelas mãos, tirou-lhe a sela do cavalo e o chamou para ficar com ela nos aposentos do cabaré, local onde tivera sua primeira noite de núpcias sob a luz de lamparina.
Se ele estava doido de paixão, mais apaixonado ficou, com o carinho, atenção e a dedicação dispensada por Maria Bago Mole, que lhe sabia dar o que ele nunca teve na vida: amor, prazer e liberdade!
Naquele sábado ficou com Maria Bago Mole novamente, e mais uma vez quando se levantaram já passava das dez horas do dia! Curiosamente o homem durão que ficou contrariado da primeira vez, se levantou relaxado, de bem consigo mesmo e deu um beijo na amada demoradamente. Foi até o sanitário do cabaré, tomou um banho de cuia, enxugou-se e voltou ao aposento onde Maria Bago Mole o esperava nua de bunda para cima!
Depois de dar uma rapinha prazerosa, ambos se levantaram, trocaram de roupa e ela o levou carinhosamente até onde estava o cavalo apeado, guardando o segredo de que lhe parecia estar grávida, e ele também deixando para outra oportunidade o segredo que iria pedir-lhe: que abandonasse o cabaré para ficar com ele definitivamente em uma das fazendas da escolha dela, tudo sem forçar a barra.
O desejo de um curtir o outro infinitamente falou mais alto e os segredos ficaram para segundo plano.
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários quarta, 18 de maio de 2022
JOÃO BAXIN E AS URNAS ELETRÔNICAS EM RIBEIRÃO (2004)
Imagem das primeiras urnas eletrônicas fabricadas no Brasil
Em 2004 João Baxin se arvorou a ser candidato a vereador depois de mais de vinte anos afastado do município ribeirense. Sequer se lembrava mais dos nomes dos amigos de infância e adolescência. Uma lástima!
Seu Zezé, o pai dele, de cara, foi contra a ideia:
– Você tá lôco, rapaz! Depois de mais de vinte anos afastado de Ribeirão, sem conhecer mais ninguém no município da sua época, sem preparar uma base eleitoral sólida! Liso! Você vai levar fumo até desses pinguços da Praça 69!
Mas João Baxin, empolgado, não desistiu do sonho tresloucado, nem ouviu os conselhos do Velho Zezé. Criou endereços fictícios para transferir domicílios eleitorais dos irmãos e colegas da Capital, se endividou com empréstimos tirados em vários bancos, fez uma campanha política entusiasmada e no dia das eleições nem o nome dele apareceu na tela do microonda do TRE.
Decepcionado com o pleito, que chamou de “trambicagem das urnas,” entrou no bar o “Petisco de Zefa,” tomou duas garrafas de aguardente “Cachaça da Sogra” e, aos “intrupicões,” dirigiu-se até ao Clube Vassourinha do centro do município, local onde estava o “coletor eletrônico de voto.”
Quando percebeu que não havia recebido nenhum voto de fato, sequer tinha sido registrado seu nome no sistema, como candidato a vereador, e dos eleitores transferidos, correu para a mesa de apuração e bradou, bêbado:
– Essas porras dessas urnas eletrônicas são falsas! São artimanhas desses comunistas safados, felas da puta, para ludibriarem o sistema e arrombar os candidatos fudidos que não compartilham com essas “escandilices” do comunismo que quer escravizar a gente.
Passados mais de dezoito anos do pleito, hoje João Baxin é comunista ferrenho, defensor fervoroso das urnas de Barroso e Cia e seguidor fiel do chefão da seita petista!
Mudaram as urnas eletrônicas ou mudou João Baxin?
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários sexta, 06 de maio de 2022
“MARIA CAETANA” VISITA O CABARÉ DE MARIA BAGO MOLE…
Garotas do cabaré de Glorinha do Crato (CE), à semelhança das de Maria Bago Mole
Dedicado à Schirley, Violante Pimentel (Vivi), Sancho, D.Matt., Adônis Oliveira, e a todos os admiradores da empreendedora cafetina, que se orgulhava da profissão.
Dois anos após idealizar o embrião do cabaré na Vila dos Vinténs, Maria Bago Mole recebera a visita inesperada de Valentina, uma morenaça filha de escrava africana com imigrante italiano. Cabocla de um metro e oitenta de altura que aparentava ter seus trinta anos, seios duros e bunda majestosa, mas no rosto a face da fome, do sofrimento, do abandono e do horror.
Assim que bateu os olhos naquela mulherona sofrida em sua frente, pedindo ajuda na porta de entrada do cabaré, Maria Bago Mole não pensou duas vezes: mandou-a entrar, tomar um banho na sua suíte, sentar-se depois à mesa do bar e ordenou às meninas prepararem um prato caprichado para a visitante.
Após Valentina ter tomado o banho, comido e descansado, Maria Bago Mole a convidou até o seu aposento para uma conversa ao pé do ouvido, de mulher pra mulher:
– De onde tu vens, menina, com esse olhar amargurado? Tu tão bonita, charmosa e com todos os atributos corporais que os machos mais desejam numa mulher?
– Eu… eu…fugi do engenho “Pau Grosso” do comissário Juvenço Oião, Dona Maria. – Disse Valentina em tom de desabafo à cafetina, e começou a chorar de emoção por ter sido acolhida pela proprietária do cabaré. – Lá eu era muito explorada no trabalho, vivia como uma escrava, sem contar que tinha de fazer sexo a pulso com aquele homem bruto, horroroso e fedorento quase toda noite. Até arrancaram-me a ferro a mando dele, com a ajuda de duas parteiras da redondeza, dois filhos que foram gerados nessa barriga – e apontou para a barriga chorando, levantando a blusa que apareciam os peitos, o que levou Maria Bago Mole a acreditar que Valentina não nasceu para ser puta de cabaré, mas dona de casa.
– Depois de muito sofrimento – continuou Valentina – e pressentindo que poderia ser morta por disputas entre capangas selvagens a qualquer momento, tomei conhecimento da “casa” da senhora e fugi de lá à noite só com a roupa do couro pelos canaviais, enfrentando espinho, urtiga, fumigas, cobras, lagartos, mas o maior medo para mim – e senti isso na pele – era que os homens do comissário Oião descobrissem a minha fuga e viessem no meu encalço para me estuprar e depois matar.
Depois desse bate papo confidencial com Maria Bago Mole, Valentina ficou mais tranquila porque a cafetina prometeu acolhê-la e qualquer que fosse o “macho” que aparecesse ali para importuná-la levava bala. Seu Bitônio Coelho, que sempre se encontrava presente nas horas delicadas da amada, já estava sabendo do ocorrido e teria providenciado dois capangas de confiança para vigiar no entorno do cabaré e matar qualquer suspeito que se aproximasse.
Quando chegou à “casa,” fugida da fazenda do comissário Juvenço Oião, Valentina estava à beira da morte com uma doença venérea que havia contraído dos homens com quem era obrigada a transar a força. Foi quando Maria Bago Mole pediu ajuda a seu amado, Bitônio Coelho, que conhecia um médico de família bem conceituado na região. Levou Valentina até a casa dele, no engenho “Olho d’Água” em sua carruagem, armada com o COLT 45, na companhia de dois capangas armados até os dentes por ordem do coronel.
Ao chegar à fazenda do Dr. Justino Quentão, Maria Bago Mole desceu da carruagem segurando a paciente cambaleando de febre e a levou até o consultório “Deus é Amor”, sempre acompanhada dos dois capangas, por ordem expressa do coronel Bitônio Coelho. “Para inimigos não se fecham os olhos” – dizia. O médico examinou Valentina, aplicou-lhe uma injeção, deu-lhe uma pomada para passar na “rachada” duas vezes por dia, durante quinze dias, e pediu-lhe que tomasse uns comprimidos antibióticos bactericidas, recomendando-lhe repouso absoluto por dez dias sob pena de a doença se agravar mais e ela vir a óbito. “Bactérias são perigosas!” – dizia Dr. Quentão.
Duas semanas depois da consulta com o Dr. Justino Quentão, Valentina já se encontrava recuperada e disposta a fazer de tudo para pagar o favor que Maria Bago Mole fez por ela, tê-la acolhido no cabaré e a levado um médico que a curou da doença, livrando-a da presença funesta de “maria caetana.”
Sincera consiga mesma e leal aos seus princípios, Maria Bago Mole encontrou um meio de ganhar muito dinheiro com a presença de Valentina no cabaré, sem expô-la à exploração sexual. Pediu que as outras meninas a produzisse toda, colocando-a com roupa transparente num determinado local do saloon do cabaré, refletida na luz do espelho. Instalou um cassino no meio da festa, como no Velho Oeste Americano, e determinou que o forasteiro que desse o melhor lance da noite dormiria com a morenaça, inclusive com a promessa de se casar ali mesmo no cabaré e levá-la para casa.
Para cada noite Maria Bago Mole bolava um obstáculo nas bolas do cassino, para ninguém arrematasse Valentina e com esse estratagema o cabaré movimentava-se, entrava muito dinheiro no caixa e as meninas faturavam gordas comissões sem se submeterem aos caprichos sexuais dos fregueses indigestos, o que deixava a cafetina feliz da vida e mais criativa.
A fama da mulher em disputa quase nua, refletida no espelho, se espalhava por toda redondeza, o que atraia ainda mais a atenção dos homens, que imaginavam Valentina, a lenda do cabaré: uma deusa linda, gostosa e nua, com todo mundo a desejando, mas ninguém conseguindo o xeque mate no cassino, o que aumentava cada vez mais o sucesso do cabaré. Mas ninguém atinava que, quem estava por trás de todo aquele sucesso era a mulher dos sonhos do Seu Bitônio Coelho, que sabia como ninguém manipular os homens a gastarem todo dinheiro ganho na quinzena da palha da cana.
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários sexta, 08 de abril de 2022
CAROLINA MARIA DE JESUS – UMA NEGRA ESCRITORA NA FAVELA
Carolina Maria de Jesus no dia do lançamento de Quarto de Despejo
Tom Farias, pseudônimo de Uélinton Farias Alves, Rio de Janeiro (1960), biógrafo negro de mão-cheia, relança a história de vida da poetisa, contista, memorialista, compositora, atriz, mulher, independente, Carolina Maria de Jesus, favelada, catadora de lixo por mais de doze anos na favela Canindé (SP), que se tornou uma das maiores escritora negra do Brasil.
Nascida no município de Sacramento (MG), em 14 de março de 1914 e encantada no dia 13 de fevereiro de 1977, em São Paulo, onde viveu boa parte de sua vida na favela Canindé, Zona Norte de Sampa, sustentando, sozinha, três filhos de pais diferentes, apenas catando papéis.
Foi nesse período, 1960, que teve seu diário, “Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada,” publicado pela Editora Francisco Alves, com o auxílio do jornalista alagoano Audálio Ferreira Dantas, que visitou a favela para fazer umas reportagens para a revista O Cruzeiro, tornando-a mundialmente conhecida. Nesse livro ela retrata o realismo cruel e degradante da favela de Canindé, onde parecia que o mundo da miséria tinha sua sucursal ali.
Depois do estrondoso sucesso do lançamento do quarto de despejo, Carolina Maria de Jesus, mais uma vez incentivada pelo jornalista Audálio Dantas, publica “Casa de Alvenaria 1”, onde registra os primeiros meses que morou em Osasco (SP) e “Casa de Alvenaria 2”: registra os meses que ela viveu em Santana (SP), onde ela descreve sobre as contradições cruéis de seu tempo, que não é diferente hoje. A fome, a miséria e o abandono ceifando vidas, e restos de comida jogados no lixo pelos donos dos armazéns todos os dias, não sendo distribuído com os pobres catadores de lixo; “Pedaços de Fome” e “Provérbios” (1963), são relatos dessas histórias desumanas do cotidiano da favela que estavam guardados em mais de quinze cadernos que Carolina mantinha num baú especial do seu barraco de madeira.
Carolina Maria de Jesus, é uma grande escritora negra brasileira sobrevivente da miséria, da fome, disse Tom Farias, seu biógrafo. Foi chamada de Machado de Assis de saia, Jorge amado do povo, e Shakespeare de cor. Tem muito peso nisso. Então os romances, os contos, os provérbios, as poesias de Carolina precisam estar no panteão da literatura com letra maiúscula, junto a todos os escritores de peso que o Brasil pariu, pela sua importância literária.
No dia 28 de julho de 2019, o colunista do JBF, José Domingos Brito, memorialista pródigo, prestou uma homenagem singular a Carolina Maria de Jesus na sua coluna domingueira: AS BRASILEIRAS aqui no JBF, detalhando sua descoberta pelo jornalista da revista O Cruzeiro, Audálio Dantas e a sua ascensão após a publicação do seu best seller aqui e no exterior: “Quarto de Despejo: O Diário de uma Favelada.”
Dentre seus livros lançados constam ainda: “Casa de Alvenaria Um” (diário 1961), “Casa de Alvenaria Dois” (diário 1961), “Provérbios” (memórias 1963), “Pedaços da Fome” (memória – 1963), “Diário de Bitita” (memória – 1986), “Antologia pessoal” (poemas – 1996), “Meu estranho diário” (1996), dentre outros tão mais importantes quanto quarto de despejo.
Carolina Maria de Jesus, escritora negra favelada de talento raro, encantou-se no dia 13 de fevereiro de 1977, aos 62, de insuficiência respiratória, em seu quarto, no bairro de Parelheiros, onde ela viveu os últimos 20 anos de sua vida, na Zona Sul de São Paulo, na chácara que ela havia comprado com o dinheiro recebido dos direitos autorais da venda do livro “Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada”, sucesso de venda aqui e no exterior.
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários quinta, 31 de março de 2022
BITONIO COELHO RETORNA AOS BRAÇOS DE MARIA BAGO MOLE
Uma das casas da Fazenda de Bitônio Coelho, Século XX
Depois de mais de dois meses ausente de sua “soulmate”, com a solidão batendo-lhe à porta do coração imerso em saudades, o coronel Bitônio Coelho retorna aos braços de sua amada, cheio de salamaleques, com uma banda de boi abatido na fazenda Olho d’Água para servir no cabaré, dois quartos de bode e duas caixas de Macallan Reach de 1926 que ele armazenava no porão da senzala do engenho, dentro de dois barris de madeira antigo, coberto por uma cangalha de cavalo da raça nordestina, que o coronel tinha o maior apreço por não ser albino, não passar de um metro e cinquenta de altura, ter uma cabeça pequena e larga na frente com pescoço proporcional, sem contar com sua disposição para o trabalho e adaptação ao clima sertanejo.
Alertado por sua amada para ser mais cauteloso quando saísse da fazenda, pois havia atraído muitos inimigos por esses anos, que não se conformavam com o seu carisma, sua ascensão de poder e a conquista da mulher mais cobiçada das imediações canavieiras da Zona da Mata Norte carpinense, o coronel Bitônio Coelho não fez juízo de mercante, ouviu os conselhos de sua amada e passou a andar com três capangas fortemente armados. O amor prevalece de alguma forma mesmo com todos os obstáculos da vida. O coronel absolveu esses sábios conselhos da mulher tarimbada com as rugas da vida, apesar de nova.
Quando um ser humano começa a ganhar muito dinheiro ele começa a criar um sentimento de prepotência, arrogância e tirania, achando que pode ser o dono de tudo e mandar em todos. Com Maria Bago Mole foi diferente. À medida que ela ia crescendo, tornando poderosa, com o dinheiro entrando a troco de caixa e ela expandindo o negócio, principalmente o de venda de sexo, a felicidade dos homens endinheirados, mas ela começava a apreciar a paz, a humildade, a bondade, a distribuição de renda para as meninas irem procurando seus espaços para se tornarem independentes.
Maria Bago Mole, tomando como exemplo sua experiência de vida sofrida logo no início na Vila dos Vinténs, criou uma espécie de poupança para estimular as meninas que “trabalhavam” à noite. Para aquelas que se dedicassem mais, se esforçassem por ganhar mais dinheiro, vendendo sexo, e seus homens consumindo produtos do cabaré mais a comissão era gorda e havia uma escala de ascensão. Tudo isso Maria Bago Mole fazia sem forçar a barra, sem impor pressão nas meninas. Em “reunião”, dizia apenas que não seguissem seu exemplo. Que começassem a ser independentes ou se encontrassem um homem que a amasse e quisesse construir uma família, não titubeassem. A mocidade é curta – dizia ela às meninas, aproveitem.
Doida para se deitar com seu amado e matar a saudade de mais de dois meses sem terem tempo um para o outro, a cafetina, mais uma vez chamou as “cabeças” do cabaré, lhes deu instruções e poder para resolver os “pegas pra capar que acontecessem”, só a chamando quando o caso fosse de extrema gravidade, e foi se deitar com seu amado e se esquecer do que se passava fora do cabaré, mas antes de deitar-se, como era uma mulher que nunca acreditava em milagres e sim no trabalho e no poder da eterna vigilância quando não se sabia de onde viria o inimigo, recomendava as meninas que, se o cerco apertasse com qualquer engraçadinho que quisesse desmoralizar o ambiente, tacasse-lhe fogo com o COLT 45 que estava guardado numa dispensa do porão do cabaré, construído por ela com essa finalidade.
A noite terminou em paz, mas cedo houve rumores nas redondezas da “casa” que o desafeto do coronel Bitônio Coelho, Juvenço do Oião, esteve sondando o ambiente antes do sol aparecer…
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários quinta, 24 de março de 2022
CONFLITOS ENTRE PAI E FILHO POR IMÓVEL E A PROPOSTA DO BÊBADO
“Pais inteligentes formam sucessores e não herdeiros”
Nelson fora um menino bem educado pela mãe até a maioridade, quando teve de deixar a escola que a mãe era dona e professora para servir no Exército em Picos, Estado do Piauí. Lá, com o “empurrão” de um conhecido do quartel, ocupou um cargo comissionado sem vínculo, até que se graduar e vir a tornar-se um capitão. Como ganhava bem e não havia com que gastar a grana que recebia todo mês, pois era um muquirana incorrigível, ao ponto de nunca levar a jovem com quem namorava para piqueniques, e quando ia não comprava um sanduíche de mortadela para o lanche, fez um acordo com o pai para todo mês, quando recebesse os proventos, enviá-los para o coroa e este se encarregava de comprar imóveis para ele, Nelson. De preferência, num bairro popular do Recife.
Assim foi feito de acordo com as partes, verbalmente. Todo mês Nelson enviava o dinheiro do ordenado, o pai guardava num cofre da época do faroeste americano, que o filho comprara de um gringo instrutor estadunidense que servia no quartel de Picos, e quando a grana atingia uma quantia razoável, o pai saia à procura de imóveis populares bem localizados nas imediações, de preferência aqueles imóveis razoáveis e bem localizados que o proprietário tivesse sufocado, devendo a agiotas, sendo obrigado a pagar e sem condições financeiras para honrar os “juros,” ou o saldo total, antes que o agiota tomasse a casa ou carro “empenhados,” na tora.
Quando atingiu doze imóveis – todos alugados – e Nelson percebendo que não iria ficar no quartel, pediu ao pai, de boca, para construir uma laje no prédio residencial, moradia dos pais, que ficava dentro da escola para, assim que ele saísse do quartel, já casado, viesse morar no primeiro andar que mandou construir. O pai concordou, verbalmente, pediu para ele enviar o dinheiro do mês para a construção da laje. Depois de pronto o primeiro andar, Nelson foi dispensando do quartel, casou-se com uma donzela de Picos e avisou ao pai que viria para o Recife, já casado, e que iria morar com a esposa na laje. E que os pais teriam de desocupar por ser dele o primeiro andar.
Foi nesse momento que o pai deu para trás, “pegou ar” devido à arrogância do filho, dizendo que não iria desocupar a casa dele para filho morar e pagar aluguel, só depois que ele morresse. Que o filho fosse morar numa das casas dele com a esposa ou que ficasse em Picos. A partir daí começa uma disputa entre o ego e a ganância, a birra e a intolerância, com o filho dizendo que viria para morar na casa construída com o dinheiro dele, e o pai dizendo que só deixava a casa dele depois de morto. Enquanto a discussão entre os dois comia no centro, a mãe, professora, diretora e dona da escola, sofria calada, sem poder fazer nada com o desentendimento entre o filho e o pai.
Nelson, egoísta, ganancioso, e dizendo que o pai não havia honrado com a palavra, deixa tudo em Picos e vem morar numa casa nova comprada por ele e infernizar os pais, dizendo que o primeiro andar construído dentro da escola foi com o dinheiro dele e que queria por que queria ocupar o imóvel porque era seu de direito…
Durante esse período de disputa com o pai, que não abria mão de jeito nenhum do seu direito de proprietário do imóvel, Nelson, um obcecado e adorador de Hitler, do qual a biografia Mein Kampf (“Minha Luta”), já havia lido mais de vinte vezes, engordou cinqüenta quilos de preocupação, desenvolveu uma diabetes pesada e teve dois Acidente Vascular Cerebral (AVC) com menos de trinta e cinco anos, mas continuou mais obcecado pelo primeiro andar, pelo qual a mãe desde o início da discussão lhe pagava o aluguel todos os meses, reformou a casa onde ele está morando sem a família saber, mas a intenção de Nelson é o primeiro andar que o pai prometeu e não cumpriu o prometido.
Tomando conhecimento do buruçu, Seu Zé de Nezinha, um papudim autodidata e bem informado, leitor voraz de livro de ficção de Morris West e outros, apaixonado por filmes de faroeste antigo, sobretudo “Era uma Vez no Oeste,” e ter ficado fascinado com o duelo final no filme entre os dois vilões, aconselhou pai e filho a transformarem o Campo do Santa Cruz num Coliseu, cada um de garra com seu Remington 1875, acionava um relógio à moda do filme “The Quick and the Dead” (1995), “Rápida e Mortal,” em tradução brasileira, quando o ponteiro chegasse às 12:00h, com o quengo dos dois queimando no sol de 40ºC, o campo entupido de gente vibrando pela miséria alheia e apostando em quem era mais rápido no gatilho.
– Só assim acaba essa frescura de fresco. Quem for mais rápido no gatilho come a oia do outro e ninguém fala mais nisso – disse eufórico Zé de Nezinha, levantando a taça 51, e perguntando aos presentes na roda de pinga: Tô certo ou tô errado?
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários quinta, 17 de março de 2022
O dia vinha amanhecendo com um sol prazeroso de se contemplar, iluminando o rosto cansado e triste dos lares humildes do local quando Maria Bago Mole resolveu deixar a Coreia com suas seis meninas recolhidas no cabaré de Palmares e cidades adjacentes. Antes de partir alimentou os cavalos, verificou se seu COLT 45 estava funcionado bem, pois iria enfrentar uma estrada longa, cheia de armadilhas e ciladas, onde aventureiros inescrupulosos agiam com a conivência dos comissários de polícia, que lembravam os caçadores de recompensas do velho oeste americano.
A cafetina estava feliz com o resultado econômico da viagem, pois apesar de negociar com a profissão mais antiga do mundo, que provocava ciúme e revolta nas madames, que pegavam em armas para eliminar suas desafetas, as mulheres da vida difícil, pois não aceitavam seus homens deitando com prostitutas desqualificas, a viagem havia lhe aberto o horizonte para a expansão de novos cabarés como previa o Seu Amado, o coronel Bitônio Coelho, quando da última noite que dormiram no aposento do cabaré.
Maria Bago Mole, apesar de viver num ambiente pesado para a época, onde a prostituição era a troca consciente de favores sexuais por dinheiro, ela fazia questão de transformar o lugar em pura diversão sexual, sem violência, com cada homem no seu espaço. Mas sempre havia momentos que era impossível conter os excessos provocados pelos frequentadores mais afoitos que estavam ali para se divertirem e fugirem do “papai e mamãe”, e depois de umas e outras no guengo, queriam por que queriam ser o centro das atenções por terem dinheiro e influência política. Era nesse momento que a cafetina usava de sua experiência e habilidade para brecar os arroubos viris.
Depois de mais de dezesseis horas de viagem por entre canavial, mata virgem e buracos na estrada, Maria Bago Mole se aproxima do cabaré e, intuitivamente, percebe um movimento estranho que não costumava ver quando ela estava na administração. Com cuidado, e usando a tática dos volantes e cangaceiros, desce da carruagem, que a essa hora já tinha sido avistada pelas “meninas” que ficaram tomando conta da “casa” na viagem dela e temendo pela sua vida, e caminha em direção ao cabaré. É nesse momento que aparecem dois “estranhos” que estavam à procura dela desde cedo a mando do comissário Juvenço Oião, que não aceitava o sucesso de Maria Bago Mole, nem a sua relação com o coronel Bitônio Coelho.
Colt 45 à mão e já de noite, a cafetina vem caminhando rente ao mural de madeira que cercava a área do cabaré, desde a descida da carruagem até à frente do bordel em silêncio tumular, quando houve a voz embargada de dois homens que caminhavam em sua direção. Como estava escuro, a mais ou menos três metros de distância a cafetina vendo os vultos em sua direção, não perdeu tempo, puxou o gatilho do colt 45 e o estampido clareou o escuro:
– Tá! tá! tá! tá! tá! tá! tá! tá! … Os dois malfazejos caíram pronto à cidade de pés juntos!
Com os peitos intumescidos, chapéu em cima do cabelo arriado, Colt 45 ainda na mão fumaçando, Maria Bago Mole vocifera:
– Tome aí, seus dois cabras safados, o que vocês queriam! No meu terreiro, o valentão que tentar cantar de galo, leva chumbo!
Terminado o “serviço,” se dirigiu ao cliente de cada mesa e acalmou a cada um, dizendo que estava tudo bem e que poderiam se divertir com as meninas a vontade. O que aconteceu foi um incidente irrelevante. Faz parte do negócio. Sentou-se à mesa, pegou uma caneta e um caderno, escreveu um bilhete à mão ao Seu Amado, Bitônio Coelho, narrando o ocorrido e pedindo sua presença com urgência. Pegou uma garrafa de Johnnie Walker, tomou um gole com coco do pote, e pensou consigo: a vida é bela!
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários domingo, 06 de março de 2022
MARIA BAGO MOLE VISITA A COREIA DE PALMARES
MARIA BAGO MOLE VISITA A COREIA DE PALMARES
Cícero Tavares
Carruagem semelhante à que Maria Bago Mole usava
Para Schirley e Sancho Panza
Depois de ter visitado o cabaré de várias cidades da Zona da Mata Sul de Pernambuco em sua carruagem westerniana, presente do coronel Bitônio Coelho, à procura de carne nova para "abastecer" seu bordel, Maria Bago Mole visita a Coreia de Palmares, várias vezes mencionada n' O Romance da Besta Fubana, do escritor Luiz Berto, local onde lhe sopraram ao ouvido existir a maior concentração de adolescentes fugidas de casa por não suportarem a tirania dos pais, que se tornaram insuportáveis do dia para a noite porque as más línguas das redondezas lhe sopraram no ouvido que a filha havia sido descabaçada debaixo de um pé-de-algaroba, ora por Tonho das Cabras, ora por Zeca Jumentim e outros aproveitadores da inocência juvenil.
Quando os habitantes das imediações da Coreia souberam, por meio de curiosos que estava chegando uma cafetina ao lupanar coreiano, guiando uma carruagem parecida com a do velho oeste americano, calçando botas vermelhas, vestindo calças compridas e usando chapéu vitoriano, aumentou ainda mais a curiosidade das donas de casa mexeriqueiras e oprimidas pelos maridos e, aproveitaram suas ausências para irem até o meretrício só para ver a chegada da cafetina que tanto atraia os homens, freqüentadores assíduos desses ambientes de comes e bebes.
Quem não gostou nada da presença da cafetina Maria Bago Mole na Coreia foi o comissário de polícia Juvenço Oião, espécie de Tenório Cavalcanti local, o "Homem da Capa Preta," que enfrentava seus desafetos com a submetralhadora "Lourdinha", inimigo figadal do coronel Bitônio Coelho, que desconfiava que Maria Bago Mole estivera nas imediações a mando dele, sondando o ambiente para expandir seus negócios e transformar a Coreia no longa manus político do seu cabaré de Carpina e manipular todo comércio de carne mijada em toda região da Zona da Mata Sul.
Apesar de na vida nada lhe impressionar, pois já havia passado por todo tipo de agruras, fome e abandono, Maria Bago Mole ficou abalada com os milhares de retirantes que encontrou estrada afora apenas com a roupa do couro e uma trouxa na cabeça procurando uma sombra para descansar e uma raiz para comer, porque onde vivia a seca tinha devastado tudo e nenhuma esperança lhes restava mais viver naquele lugar desacolhedor, onde até os calangos e as lagartixas os escorpiões haviam devorado.
Quando encontrara uma família na beira da estrada esburacada só o couro e o osso, parava a carruagem e entregava um saco de mantimentos que carregava no porão para os retirantes irem enganando a fome até chegar à cidade grande em busca da prosperidade que não existia.
Nessa primeira viagem à região da Zona da Mata Sul, Maria Bago Mole não colheu o que estava dentro da sua expectativa, mas tinha plena consciência de que o resultado positivo viria pela frente em abundância graça aos seus esforços e acreditar que o que estava plantando iria servir de trampolim para o grande sucesso amanhã: a expansão dos seus negócios lucrativos, como bem observara o comissário Juvenço Oião, morrendo de inveja da mulher empreendedora e indomável.
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários quinta, 24 de fevereiro de 2022
“Prova” que embasa a decisão do executivo municipal olindense para banir o Poeta
Segundo o mais bem informado jornalista musical do Brasil da atualidade, o paraibano-pernambucano José Teles, autor de vários livros sobre a MPB, crônicas cotidianas e biografias de personalidades musicais locais e nacionais, entre eles LÁ VÊM OS VIOLADOS – Os 50 anos da Trajetória Artística do Quinteto Violado, CLAUDIONOR GERMANO – A Voz do Frevo, DO FREVO AO MANGUEBEAT, DA LAMA AO CAOS – Que Som é esse que vem de Pernambuco?, e, para breve, o lançamento de CHORO E FREVO – Duas Viagens Épicas, Castro Alves poderá deixar de ser nome de rua em Olinda, pela política do cancelamento.
Segundo o crítico musical e biógrafo Teles, “não é sensato julgar pessoas e acontecimentos históricos sem a devida contextualização. Em Olinda fala-se em trocar nomes de ruas, praças, prédios públicos e afins, batizados em homenagem a personagens com máculas na biografia, sobretudo, quem foi escravocrata. Doravante, será escrutinado o passado de pessoas candidatas a este tipo de homenagem.”
“POR ESTA LINHA DE RACIOCÍNIO, A PREFEITURA VAI PRECISAR TOMAR UM VOLUMOSO EMPRÉSTIMO PARA TROCAR AS PLACAS, PORQUE SERÃO MUITAS. UMA DAS RUAS QUE GANHARÃO PLACA NOVA É A CASTRO ALVES, EM ÁGUAS COMPRIDAS.
O BAIANO ANTONIO DE CASTRO ALVES (1847/1871), MOROU NO RECIFE ENTRE 1863 E 1865. VEIO PARA CÁ ESTUDAR DIREITO. LITERATO, CULTO, POLÊMICO, PELA CATILINÁRIA A FAVOR DO ABOLUCIONISMO. FICOU CONHECIDO COMO “O POETA DOS ESCRAVOS.”
“Naquela época, quase todo moço fidalgo tinha um criado para cuidar das suas necessidades e afazeres pessoais. Esses criados, geralmente eram escravos. Castro Alves era um moço fidalgo, logo, tinha um criado. O criado de Castro Alves era escravo.”
“É o que se deduz do recorte de jornal que ilustra a postagem. Ele foi pinçado da sessão, no Diário de Pernambuco, em que se publicava a lista de passageiros que desembarcaram no Recife. Este se refere a dia 21 de maio de 1865. Da lista consta o nome de Antônio de Castro Alves, e um escravo. Provavelmente vinha de Salvador para retomar o curso na Faculdade. Talvez fosse um homônimo que viajasse com um escravo, mas é pouco provável.”
“O nome de Castro Alves estava constantemente nas páginas dos jornais do Recife. Esteve, por exemplo, por mais de um mês, num anúncio pago pelo locatário de uma casa que alugou nos Coelhos. O anúncio avisava que enquanto o acadêmico Antônio de Castro Alves não saldasse seu débito do imóvel que alugou na Rua dos Coelhos, seu nome continuaria saindo no jornal. Saiu durante vários dias. A novela acabou quando o fiador mandou publicar um anuncio no Diário de Pernambuco, confrontando o locatário. Deu rolo entre os dois. O fiador pagou, e Castro Alves saiu bem na fita.”
“Contextualize-se também o mau pagador. Castro Alves chegou ao Recife com 16 anos incompletos, deve ter alugado a casa, com 17. Quando é citado acompanhado de um escravo estava com 18 anos. Ele é um personagem do seu tempo e circunstâncias. Caso viesse estudar no Recife em 2022, talvez ficasse devendo o aluguel. Mas não teria criados, muito menos escravo. São outros costumes, outros modos, outra sociedade.”
Os tiranos já estão se programando com unhas e dentes para ver se tiram o poder das mãos dos que sempre lutaram pela liberdade de escolha e o liberalismo econômico.
POESIA E PROSA COM MARIA BETHÂNIA
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários quinta, 10 de fevereiro de 2022
Caruaru, capital do forró. Cidade que Paulinho escolheu para viver e trabalhar
Paulinho nasceu de um relacionamento extra matrimonial de sua mãe, Carminha, com um cardiologista famoso do estado.
Baixinha, de corpo escultural, inteligente, discreta, elegante, atenciosa. Carminha logo despertou interesse no cardiologista que, sempre que o consultório ficava vazio, mandava parar tudo e ia conversar com aquela enfermeira enigmática, de olhos de Capitu, coxas grossas, com uma sensualidade à Marilyn Monroe, que o cardiologista jamais tinha vista em outras mulheres que conheceu e que já havia passado no consultório!
Conversa vai conversa vem, com seis meses de trabalho, Carminha e o cardiologista se tornaram amantes, paixão avassaladora que mesmo em dias de não expedientes no consultório os dois se encontravam para memoráveis horas de prazer e curtição.
Dois meses depois da primeira relação amorosa, Carminha percebeu que estava grávida do médico, mas não lhe contou a novidade logo, esperando a confirmação do teste de gravidez.
Assim que confirmou a gestação procurou o cardiologista e contou-lhe a novidade. Como médico famoso na praça e temendo a repercussão do caso no “meio” onde era conhecido e admirado ele reagiu insidioso, soltando os cachorros na cara de Carminha e exigindo que ela abortasse aquele feto indesejado, sob pena de demissão por justa causa e fim do relacionamento.
De personalidade forte e determinada, já amando definitivamente aquela coisa linda crescendo no seu ventre, Carminha não atendeu ao apelo do médico, preferindo ser demitida. E foi o que aconteceu!
Rebaixada em outro emprego que havia sido admitida, Carminha foi até o fim com a gravidez que transcorreu, felizmente, de boa, vindo a ter Paulinho saudável, lindo, tornando-se o xodó da família.
Guerreira, Carminha trabalhava em duas clínicas para sustentar o filho, que teve o registro de nascimento feito sem o assentamento do nome do pai que se recusou a registrar, e ajudar a família que tomava conta de Paulinho na sua ausência.
A criança cresceu e sempre soube pela boca da mãe quem lhe era o pai e que não o quis reconhecer para evitar escândalos na família, já que era um médico rico e influente no convívio com a sociedade.
Com a ajuda da mãe e muito determinado, estudando em colégio do estado e fazendo cursos particulares pagos por fora pela mãe, Paulinho conseguiu passar no vestibular de medicina da federal na primeira tacada em ótima colocação. Feliz consigo mesmo por ter tido o apoio irrestrito da mãe, da família materna e de ter sido classificado entre os dez primeiros colocados, resolveu procurar o pai biológico sem a mãe saber, mostrar-se a ele e dizer-lhe que havia passado no curso de medicina.
Foi o que fez assim que se matriculou na universidade federal!
Para não suscitar dúvidas, marcou uma consulta no consultório para ver o pai de perto, olhar-lhe nos olhos e dizer-lhe que era seu filho e havia passado no vestibular de medicina da federal.
Dia e hora marcados chega Paulinho ao consultório do pai, cardiologista famoso, conversa com a recepcionista que faz algumas anotações no prontuário e depois o manda sentar-se no sofá confortável da sala e ficar aguardando a chamada.
Meia hora após ter chegado, com a saída do paciente que o pai estava atendendo a secretária chama Paulinho e manda-o entrar.
Educadamente ele se levanta da poltrona e dirige-se à sala luxuosa onde o pai estava atendendo. Senta-se na frente dele e este lhe pergunta com sorriso largo:
– O que o traz aqui, meu jovem bonitão?
Paulinho, sem pestanejar, olhos firmes, com a mesma tranquilidade e firmeza do pai, responde:
– Não vim aqui para consulta, não, doutor! Vim aqui para conhecer meu pai de quem tanto mamãe fala, mas nunca me apresentou a ele porque ele não queria conhecer. Sou Paulinho, o filho que o senhor mandou minha mãe abortar! Lembra? Passei em medicina e vou me especializar na área cardiológica! Faço questão de seguir os seus passos com minhas próprias qualidades e defeitos!
– Não vim aqui pedi nenhum favor ao senhor – continuou – apenas dizer que sou seu filho e vou estudar medicina na mesma universidade que o senhor passou, estudou e se formou e ensina.
Percebendo que o pai ficou trespassado com a presença do filho renegado por ele no passado e percebendo que sua presença lhe teria provocado uma surpresa inesperada, aproveitou que o pai estava com o rosto pálido, tapando-o com as mãos trêmulas e mudo, levantou-se do sofá, abriu a porta, saiu e pediu à secretária que mandasse entrar outro paciente que o “doutor estava livre”!
Hoje Paulinho trabalha no mesmo hospital e no consultório onde o pai clinica. É um exímio anestesista. Tornaram-se dois parceiros profissionais e confidenciais inseparáveis, mas com uma condição: Paulinho não concordou em pôr o nome do pai no seu registro de nascimento, mesmo o pai insistindo! – Tá bom assim, meu Velho! O que vale é o que sentimos um pelo outro: respeito e admiração. O que passou, passou, o tempo cicatrizou – concluiu.
O mundo dá muitas voltas! E cada volta é uma surpresa, para o bem ou para o mal, dependendo do que se plantou!
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários quinta, 03 de fevereiro de 2022
No princípio do século XX, o empresário Herman Theodor Lundgren (1835-1907), sueco naturalizado brasileiro, comprou da firma Rodrigues Lima & Cia uma fábrica de tecidos situada em Paulista, (PE), até então um distrito de Olinda. A Companhia de Tecidos Paulista, a qual originou a rede de estabelecimentos de venda a retalho, a maior, a mais eficiente e a mais promissora que se tinha conhecimento no Brasil à época, as famosas Casas Pernambucanas, denominadas também de Lojas Paulista, mas após a derrota de São Paulo na Revolução de 1932, passou a prevalecer, por decisão dos herdeiros dos Lundgren, a denominação Casas Pernambucanas para todos os estabelecimentos que a compunham por todo o país.
Em 1915 a rede de lojas das Casas Pernambucanas já tinha se estabelecimento em Porto Alegre, Florianópolis e Teresina, etc. Expandindo-se rapidamente por vender abaixo dos preços artigos têxteis populares, recorrendo com frequência à publicidade para se tornar mais conhecida. Tornaram-se famosas no interior de vários estados do Brasil as pichações que se faziam em pedras, barrancos e porteiras em beiras de estrada, muros, viadutos, com seus anúncios.
Conta-se que de certa feita, num domingo, uma das Casas Pernambucanas pintou seu anúncio na porteira principal de um sítio em Itu (SP), local de muito movimento. O Brás hoje. No dia seguinte, quando a loja foi aberta, diante dela estava o dono do sítio, com tinta, pincel e escada na mão, perguntando onde poderia pintar o nome da sua propriedade.
Na década de 1970 as Casas Pernambucanas atingiram seu auge, com mais de 800 lojas e mais de 40.000 funcionários. Hoje tem mais de 295 lojas, em sete estados brasileiros.
Pois bem, nessa época começa a trabalhar como caixa da empresa, primeiro na Companhia de Tecidos Paulista e depois transformada em Lojas Pernambucanas, o jovem Nelson Portella que, se fosse hoje, seria proibido pelo reacionário Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) por ser pubescente!
Logo começa a ganhar a confiança e simpatia do chefe por sua eficiência, dedicação, pontualidade e honestidade.
Durante doze anos que ficou como caixa nunca uma auditoria feita pela empresa a qual ele era vinculado, encontrou irregularidades na prestação de contas. Tudo batia rigorosamente, de moeda a moeda.
Determinado momento, o chefe de outro setor das Casas Pernambucanas, estava a procura de um funcionário eficiente, pontual e, principalmente, honesto para operar num determinado setor sensível da empresa que requeria essa qualidade. E indicaram o jovem caixa Nelson Portella para gerenciar o setor.
O chefe, ao qual ele era subordinado, relutou em cedê-lo, só o fazendo se lhe fosse apresentado de dentro da empresa um funcionário de confiança tal e qual.
Certo dia Nelson estava arrumando o caixa pela manhã quando chegou à sua frente um sujeito alto, magro, de bigode de falsete à lá Clark Gable, com uma carta-recomendação do chefe da sucursal, que dizia o seguinte:
Sr. Nelson Portella:
Esse é o “caixa” que vai substituí-lo a partir de hoje. Faça-me a gentileza de repassar-lhe todas as serventias do serviço.
Respeitosamente. T.P.J.
Nelson Portella, que fora promovido e iria galgar outro posto na companhia, começou a passar os serviços do caixa ao seu substituto, tintim por tintim, por ordem do chefe.
Determinado momento, explicando ao seu substituto como funcionava o ativo e passivo da empresa e como o caixa deveria proceder nas anotações das entradas e saída de dinheiro e como deveria anotar no caderno de ativo e passivo, o caixa transmitido olhou para o caixa transmitente e, com olhar brilhando de espanto como se tivesse encontrado uma mina de ouro, disse: mais desse jeito eu posso ROUBAR!
O jovem Nelson Portella não deu ouvido à curiosidade do substituto e continuou lhe explicando os mecanismos funcionais do caixa.
Terminada a tarefa da transmissão, se despediu do substituto, lhe desejando boa sorte e se foi apresentar ao novo chefe do outro setor para onde havia sido promovido.
Duas semanas depois de assumir o caixa da empresa o substituto de Nelson Portella fora demitido por justa causa e preso por furto. Uma auditoria feita pela empresa constatou que no primeiro dia que ele começou a trabalhar já pôs em ação o plano guabiru. Ele já possuía no DNA a áurea de ladrão, pôs em prática no momento que a ocasião lhe foi favorável. A ocasião faz o furto; o ladrão já nasce feito, dizia o Bruxo do Cosme Velho, Machado de Assis.
Nelson Portella se encantou antes do filho de Caetés ser eleito presidente de Banânia, mas antes de se encantar ele havia profetizado com os amigos:
– Esse rapaz tem indícios de mau caráter e DNA de guabiru. Tudo que ele está fazendo hoje não é nada mais nada menos do que a preparação de um grande golpe contra essa grande Nação. Ele vai fazer com o Brasil pior do que o que o Collor de Mello fez na Casa da Dinda. Esperem!
Os amigos de roda de dominó rebatiam os argumentos de Nelson com unhas e dentes, civilizadamente, e o velho retrucava, dizendo:
– No futuro, veremos quem tem razão! Eu posso não mais estar aqui, mas vocês assistirão.
Encantou-se antes, mas sua profecia se cumpriu: nunca houve na história do Brasil um presidente mais ladrão do que o filho de Caetés!
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários quarta, 19 de janeiro de 2022
NÚBIA LAFAYETTE – “A MATRIZ DA SOFRÊNCIA BRASILEIRA”
Músicas inteligentes de dor de cotovelo interpretadas por Núbia Lafayette
De cara, infere-se que o crítico musical, humorista, compositor, radialista, teatrólogo e cronista Sergio Porto, que fazia grande sucesso no jornal carioca Tribuna da Imprensa nos anos 60 com o pseudônimo de Stanislaw Ponte Preta, intelectual assumidamente elitista, torceu o nariz à grande intérprete que existia por trás da novata cantora popular, Núbia Lafayette, e suas canções de dor de cotovelo, que conquistava os corações apaixonados das mulheres suburbanas, oprimidas pelos maridos farristas e mulherengos.
IDENILDE ARAÚJO ALVES DA COSTA, nascida no município de Assu-RN, mas desde os três anos mudou-se para ir viver no Rio de Janeiro com a família, trocou o nome para o mais sonoro Núbia Lafayette, por sugestão do compositor Adelino Moreira, quando começou a gravar pela RCA, onde sua carreira deslanchou.
Ela gravou o primeiro 78 rotações em 1959, pela Polydor, como Nilde Araújo. Em 1960, atraiu a atenção de Adelino Moreira, um gênio em compor músicas de dor de cotovelo exacerbada. Ele compôs para ela um samba-canção, “Devolvi,” e a levou para conhecer Paulo Roberto Rocco, chefão da RCA, que a contratou posteriormente. “Devolvi,” composta por Adelino Moreira para Núbia Lafayette, fez tanto sucesso à época que ela a cantou em todos os shows de que participou até se encantar em 2007, aos 70 anos.
Segundo o crítico de música José Teles, “Sérgio Porto, pseudônimo Stanislaw Ponte Preta, não estava errado em seu reducionismo. Núbia Lafayette cantava tragédias, não as grandes tragédias humanas, shakespeareanas, mas as pequenas tragédias pessoais. Os exegetas do estilo sertanejo adjetivado de “sofrência”, de que Marília Mendonça foi o nome mais popular, provavelmente desconhecem as músicas de Núbia Lafayette, origem do DNA de todas as estrelas da sofrência. ‘Devolvi a aliança/e a medalha de ouro/e tudo que ele me presenteou/devolvi suas cartas amorosas/e as juras mentirosas/com que ele me enganou’/ versos de “Devolvi,” com o detalhe da “aliança.” As moças de então eram sérias, namoravam, noivavam e casavam. A aliança de compromisso elas recebiam quando se tornavam noiva.”
“Pode-se determinar como marco zero da carreira de Núbia Lafayette o ano de 1961, quando estreou em LP, com Solidão (Adelino Moreira). Não por acaso, a chamavam de Nelson Gonçalves de Saias. Ambos eram os prediletos de Adelino que escrevia os sambas canção masculinos para Nelson, cujas letras tinham por tema conquistas, pedidos de perdão, novos amores, arroubos machistas. Para ela, eram melancólicas despedidas, traições, compaixão pelo amante mal sucedido ao trocar de amores.”
Mulheres do país inteiro, dos subúrbios das grandes cidades, do interior, se identificavam com Núbia. Ela cantava o cotidiano de boa parte de um enorme contingente feminino de extrema passividade em relação ao companheiro. Por estripulias que aprontasse, ela quase sempre “do lar,” esperava que o amado voltasse para que continuassem a vida juntos. Um ótimo exemplo ao último tema citado é “Prece à Lua” (Adelino Moreira), que merece a letra na íntegra:
Oh! Lua Oh! Soberana de prata Oh! Deusa da serenata Ornamento do sem fim Guia o meu amor seresteiro Coração aventureiro Até que volte pra mim.
Oh! Lua Conta-lhe toda a verdade Fala da minha saudade Deusa do céu não esquece Diz-lhe que eu estou apaixonada De olhar preso na estrada/Para ver se ele aparece Diz-lhe que o meu amor continua Que eu moro na mesma rua/E que quando ele voltar Ouvirá dos lábios meus Apesar da minha dor Voltaste, graças a Deus Nunca mais partirás meu amor.
“O sucesso popular acompanhou Núbia Lafayette até 1966, quando o rolo compressor chamado iê-iê-iê passou por cima dos intérpretes da música rotulada de cafona (e de outras, entre estas o forró). Ela ficou de 1965 a 1970 sem lançar LP anual, mudou inclusive de gravadora, saiu da RCA para a Phillips. Se deixara de frequentar as paradas, e aparecer menos na TV, Núbia emplacou sucessos suficientes para circular pelo Brasil fazendo show, sobretudo pelo Nordeste, que continuou fiel ao estilo. Emplacou até 1965, dez sucessos assinados por Adelino Moreira. Vinha com bastante frequência ao Recife, onde tocava muito. No carnaval de 1964, uma das músicas mais tocadas nos clubes foi o samba Madrugada e Amor (José Messias), que deu nome ao LP de Núbia naquele ano.”
“O carisma, o timbre de voz único, o repertório recheado de Adelino Moreira, o português que traduzia como poucos a alma romântica brasileira, fizeram Núbia Lafayette ganhar o status de cult. Alcione a citava como uma de suas maiores influências, revelou que começou a cantar em São Luis (MA) a imitando. Alceu Valença, em entrevista a O Pasquim, nos anos 70, confessou influências de Núbia Lafayette (que os entrevistadores desconheciam). Provavelmente os jovens sertanejos que fazem a sofrência não escutaram Núbia. Se tivessem escutado certamente suas canções seriam mais melodiosas, e as letras menos repetitivas, e das quais escorreriam mais lágrimas do que birita.”
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NOTA DO EDITOR
Núbia Lafayette é uma das musas deste Cardinalato. Por isso, aqui vai sua interpetetação de Devolvi:
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários sexta, 14 de janeiro de 2022
À semelhança da viúva alegre, que tentou “seduzir” Seu Luiz
Seu Luiz era um setentão bem casado, pai de quatro filhos e avô de seis netos. Frequentador assíduo da Igreja Universal do Queijo do Reino, (mas não pagava dízimo nem com a bixiga lixa!) “Deus não precisa de dinheiro!” – justificava sua opinião.
No bairro onde morava era conhecido pela paciência, sinceridade, serenidade, solidariedade e respeito aos vizinhos confinantes e confrontantes, que ele sempre os cumprimentava cortesmente.
Marceneiro de mão cheia, Seu Luiz não parava em casa. Era constantemente solicitado para ir à casa de um freguês instalar um móvel na parede da cozinha, fazer um armário, armar uma cama, consertar uma mesa, uma espreguiçadeira, coisas da profissão.
Certo dia recebeu um telefonema em casa de uma desconhecida chamando-o para ir à casa dela instalar uma prateleira na parede da cozinha. Ele anotou o telefone, o endereço e prometeu que no outro dia chegava lá no horário combinado.
Ao chegar à casa da viúva, Seu Luiz foi recebido com agrado, galanteio, afago, cortesia, com a coroa toda empiriquitada, indicando o local onde queria instalar o armário, como desejava que fosse instalado e o deixou bem a vontade dizendo que não tinha pressa. De logo, acertou o preço da instalação e o material que ia comprar.
Com o material à mão comprado, Seu Luiz volta no outro dia à casa da viúva alegre. Bate palmas. Ela vem atendê-lo. Ele pede licença, entra, conversa com ela mais uma vez detalhes de como deseja a posição da colocação do armário e depois começa a trabalhar.
Assanhada, a viúva alegre se aproxima do marceneiro e pergunta se ele não deseja fazer um lanche, tomar um cafezinho, beber uma água, tomar um suco. Enquanto vai lhe oferecendo essas cortesias a viúva alegre vai observando Seu Luiz da cabeça aos pés: mulato, gordinho, braços e pernas grossos, sério, educado, tudo que a viúva alegre deseja num homem. Nesse ínterim, vai lhe subindo um calor com um desejo louco de ter aquele coroa nos seus braços. Imagina-o pelado na frente dela e se excita toda!
Naquele instante a viúva assanhada cria uma fantasia erótica tão da moléstia do cachorro pensando em Seu Luiz que não se apercebe que havia passados mais de seis horas trabalhando na instalação do armário e que ele já havia terminado o serviço!
Quando deu por si Seu Luiz a chama na cozinha, pergunta se está tudo bom, se ela gostou e, a viúva, já pensando como ter uma conversa com o coroa, diz que adorou a instalação e pede a ele que retorne no outro dia para receber o valor do serviço acertado. Despede-se dele no portão, olha-o mais uma vez dos pés à cabeça e devora-o no pensamento com um sorriso vermelho de batom.
No outro dia, na hora marcada, lá está Seu Luiz no terraço da viúva alegre. Bate palmas. Ela vem atendê-lo. Abre a porta, Manda-o entrar. Tranca a porta e tira a chave sem ele perceber. Pede para ele sentar no sofá e aguardar um momento enquanto ela vai tomar um banho. Nesse momento Seu Luiz fica apavorado com a atitude da viúva. Mas, mesmo contrariado com o pedido dela, fica esperando que ela saísse do banho o mais rápido possível e viesse lhe pagar o valor do serviço acertado para ele ir-se embora.
Depois de mais uma hora de espera, Seu Luiz já nervoso de tanto esperar e estranhando o silêncio da viúva, fica em pé e a chama para lhe atender, dizendo-lhe que tem outro serviço para acertar.
Nesse momento, a viúva lhe aparece de camisola transparente, sem calcinha, sem sutiã, e na frente dele, abre a camisola e o provoca:
– E aí meu gatão, meu gostosão, meu pão-de-ló, está pronto para fazermos uns tilicuticos regados aos prazeres da carne mijada? Tomei um banho, me perfumei toda, raspei a danadinha só pensando na gente! Vem, corre, que estou louca de desejos! Sou uma tarada insaciável! Desde ontem que não paro de pensar em nós dois em baixo do edredom! Tudo está pronto. Só está faltando você! Vem!!
Nesse momento, vendo aquele desmantelo à sua frente e pensando na esposa que deixou em casa e que nunca a tinha traído, seu Luiz aboticou os olhos fundo de garrafa, ficou mais preto do que já era e, ameaçando a viúva, inquiriu:
– Olhe, madame, eu não vim aqui para isso não, viu! Eu vim para receber meu dinheiro! Se a senhora insistir mais uma vez eu quebro aquela porta, faço o maior escândalo aqui e vou me embora. Tá ouvindo?!
Foi nesse momento que a viúva assanhada, com medo da ameaça do velho e a atenção da vizinhança, foi lá dentro, pegou o dinheiro, vestiu uma blusa, e chegou até a porta para pagar a Seu Luiz. Mas antes de pagar, olhou o coroa mais uma vez da cabeça aos pés e lhe provocou:
– Olhe, tudo isso aqui é seu (e abriu a camisola transparente mais uma vez). Basta você me telefonar, marcar o momento para a gente fazer aquele ziriguidum (e começou a requebrar toda e revirar os olhos) que garanto que você não vai se arrepender! Estou à sua inteira disposição! A hora que quiser, pode vir seu garanhão!
E começou a pôr a língua nos lábios em forma de gestos obscenos provocando o coroa, que já estava apavorado com tais atitudes estranhas da velha assanhada!
Enquanto a viúva fechava a porta Seu Luiz saiu para rua, desabalado, apavorado, desnorteado, pensando naquele desmantelo jamais lhe ocorrido na vida.
Chegando em casa, Seu Luiz chamou o filho mais novo, solteiro, ao canto da casa e lhe contou o vexame por que havia passado, e o filho sirrindo-se de se mijar, olhou para o velho, e o provocou:
– Mas meu pai, e o senhor não comeu essa coroa, não, foi?!! Puta merda! Meu Deus do Céu! Ó Senhor, apresentaste a coroa à pessoa errada, Senhor! Por que não deste a mim, Senhor?!
E Seu Luiz, sobressaltado com a reação galhofa do filho, imaginou: Meu Deus, como as coisas estão mudadas!… E nesse instante, ficou mudo porque percebeu que vinha vindo sua esposa Dona Santinha, da igreja, com cara de quem comeu e não gostou!
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários quinta, 06 de janeiro de 2022
Poster: o caráter alegórico e revolucionário de Matar ou Morrer
Realizado num período de neurose e perseguição política nos Estados Unidos (o macarthismo) e escrito por Carl Foreman, um dos nomes da lista negra do senador Joseph McCarthy, “Matar ou Morrer”, tem no diretor Fred Zinnemann seu primeiro desafio, tornando o primeiro ponto notável dos bastidores desta obra-prima, que foi concebido como uma resposta simbólica ao “caça às bruxas” e à cisão que então se estabelecia em Hollywood.
Na pacata cidade de Hadleyville, no Novo México, quando o Xerife Will Kane, interpretado magistralmente pelo ator Gary Cooper, está prestes a se casar com a protestante, a jovem e belíssima Grace Kelly, recebe a notícia de que Frank Miller, interpretado pelo ator Ian MacDonald) – o psicopata que Kane havia prendido anos atrás – foi solto da prisão e estava preste a chegar no trem do meio-dia à cidade para a desforra.
Enquanto os três mais odiosos cúmplices de Miller esperam na estação, o Xerife tenta conseguir ajuda. Os habitantes da cidade se recusam a arriscar suas vidas por medo de vingança. Vários relógios revelam que o meio-dia está se aproximando. “Matar ou Morrer” se passa em tempo real, com a hora fatal se aproximando enquanto a música-tema, a balada “Do Not Forsake Me, Oh My Darling”, insiste em frisar os acontecimentos. Will Kane é deixado praticamente sozinho contra quatro vilões.
O assassino solto deve chegar a bordo do trem do meio-dia. Frente aos sentimentos conflitantes da população, ao desamparo por parte de seus antigos colaboradores e, especialmente, às súplicas de sua esposa, o Xerife enfrenta um dilema praticamente sem solução.
Esse é o pano de fundo que Fred Zinnemann utiliza para desenhar um painel do fim anunciado da época das conquistas. Os personagens são protagonistas inconscientes de seu próprio papel. Will Kane representa o desbravador, o precursor, o próprio espírito da colonização. Não por acaso ele está velho e prestes a se aposentar. Seu adversário, Frank Miller, não é um dos tradicionais vilões do velho oeste, cujo único fim era a morte, em combate ou na forca. Ele foi preso, julgado, sentenciado a passar a vida na cadeia, mas foi libertado.
Não se sabe por que ele foi solto, nem o filme se presta a dar um motivo concreto. Só se sabe que, em algum lugar longe dali, uma espécie diferente de justiça se fez, e essa justiça colocou em liberdade um homem cuja primeira atitude é juntar-se aos seus capangas e buscar vingança. É nos personagens secundários, habitantes da cidade, entretanto, que se encontra a parte mais interessante da metáfora elaborada aqui.
Observando com atenção, percebe-se que neles a coragem foi substituída por precaução e o espírito aventureiro deu lugar ao desejo de estabilidade. Por mais que se envergonhem disso, os homens do povoado não reúnem em si a força para ajudar o xerife, entregando-o ao que todos consideram sua morte certa – ou seu suicídio, como descrevem alguns, o que seria uma forma de eximir-se da culpa por manter os braços cruzados. Um dos moradores chega a dizer: “Nós pagamos um bom salário ao Xerife e seu ajudante. Eles que resolvam”. A função do novo cidadão urbano seria, portanto, a de pagar seus impostos e esperar que os problemas desapareçam. Nada mais de iniciativa, nada de participação direta. Eles que resolvam.
A ganância também aparece aqui modificada pela nova ordem. Não são mais terras ou gado que interessam, os desejos da população da cidade são mais, digamos, atuais. O hoteleiro diz não gostar do Xerife, pois antes da chegada da lei e da ordem havia mais movimento em seu hotel. Eis uma crítica ao capitalismo selvagem, ao qual não importa que todos se matem, contanto que isso traga lucros. Já o assistente do Xerife recusa-se a ajudá-lo por não ter sido indicado para substituí-lo, um novo Xerife chegaria à cidade no dia seguinte.
Nesse caso a cobiça é pelo cargo, e aqui, melhor do que em qualquer outro ponto, percebe-se que os tempos não são mais de força e coragem, mas de política e barganha. Eis que, como resultado de tudo isso, Will Kane é abandonado. Para que não se diga que os aspectos artísticos da obra não foram citados, vale lembrar que tanto a trilha sonora quanto a música tema cabem perfeitamente no filme, colaborando bastante para criar a atmosfera de conflito interno do protagonista.
Gary Cooper oferece uma atuação na medida certa, sem exageros, mas que passa ao espectador a angústia de encontrar-se na situação em que se encontra. Há ainda algo de revigorante no papel da mulher em “Matar ou Morrer.” Também aqui se poderia dizer que o filme é precursor, mas seria difícil fazê-lo sem explicitar demasiadamente a conclusão da história. O mais importante é que a cena final representa o ocaso de uma era.
É verdade que a colonização não termina com o desfecho do personagem de Gary Cooper. Seu fim, porém, havia sido anunciado. O tempo de coragem, da marcha ao desconhecido, da vida e da morte pela força e pelas armas estava agonizando. A aventura do velho oeste chegava ao fim.
Não é a toa que “Matar ou Morrer” é considerado o segundo melhor western de todos os tempos pelo American Film Institute. Um filme inteligente, angustiante e que merece ser assistido por várias vezes. É simplesmente fantástico pelo seu caráter alegórico e revolucionário.
Esse foi um filme muito polêmico quando lançado nos States, principalmente por motivos políticos. O roteirista foi acusado pelos artistas e esquerdistas de ter incluído no roteiro passagens antidemocráticas, antiamericanas. Inclusive esse filme foi muito criticado por ninguém nada menos que o famoso cowboy John Wayne, que afirmava que o filme era antiamericano e não era um filme western e sim uma agressão à democracia estadunidense.
Causou tanta polêmica que foi até citado pelo presidente Ronald Reagan durante um dos seus pronunciamentos transmitidos pela TV. Mas apesar de toda controvérsia o filme foi um grande sucesso de crítica e de público, chegando a conquistar quatro oscars.
O filme é considerado um clássico do cinema, pois inova na abordagem do conflito em um plano mais psicológico e pela carga de suspense nele contido.
A fotografia é primorosa, de uma qualidade surpreendente, em glorioso preto e branco, ganhadora do prêmio Oscar de melhor fotografia do ano.
O elenco é surpreendente. O papel principal foi antes oferecido aos atores Marlon Brando e Montgomery Clift que recusaram participar do filme por vários motivos, sendo o principal dele o recebimento de uma quantia muito irrisória para atuarem em papéis muito importantes, pois a quantia posta à disposição pela produção foram meros setecentos mil dólares, uma quantia irrisória para um filme com grande elenco, mesmo para os tempos antigos, (1952).
Há de se notar que durante todo o filme, aparecem diversos relógios, todos marcando os minutos antecedentes ao meio dia. O filme é todo feito no horário real e essas cenas com os relógios têm grande impacto visual e bastante suspense, pois cada minuto antes do meio dia é de muita angústia para o personagem principal, o Xerife Cooper, pois todos os habitantes da cidade negam-se covardemente a ajudá-lo a combater com os bandidos vingadores, que vão chegar no trem das doze horas em ponto, com a intenção de matá-lo. Cada relógio em si se torna um dos personagens como testemunhas coadjuvantes do filme em questão.
Após o duelo final, o Xerife é elogiado pelos moradores da cidade que pedem para ele permanecer na cidade como defensor da lei. Nessa hora, o xerife faz uma cara de nojo e joga ao chão a estrela de xerife, num gesto de desprezo pela covardia dos habitantes que se recusaram a ajudá-lo a enfrentar os bandidos.
Esta cena, na época do lançamento do filme, foi muito criticada pelo ator John Wayne, que achou uma ofensa aos defensores da lei, que um xerife jogasse ao chão uma estrela que representava uma autoridade e ele achava também que com a cena ele estava jogando ao chão a estrela americana da democracia. Tudo picuinha política, isso porque o roteirista (Carl Foreman) tinha sido em prisca época membro do partido comunista americano. O macarthismo estava presente em toda esquina estadunidense. Era a época da caça às bruxas.
Nesse caso, ninguém contestou o gesto do Xerife, o que comprova que a política deturpa tudo e John Wayne sempre foi um “cowboy” político.
O resultado final do filme é primoroso, um grande diretor Fred Zinemann, um grande ator Gary Cooper, que já tinha sido previamente ganhador de um Oscar, a atriz novata Grace Kelly e um elenco de apoio com celebridades, todas muito atuantes e muito experientes na atuação de filmes de faroeste, tais como: Thomas Mitchell, lloyd Bridges, Katy Jurado e Lee Van Cleef, é sem dúvida um dos melhores filme western de todos os tempos.
Um grande clássico, tão grande como “Shane” (1963), do competente diretor George Stevens, ou “Rastros de Ódio” de (1956), do lendário John Ford, que são as melhores referências no padrão de qualidade do western americano.
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários quinta, 30 de dezembro de 2021
MAMONAS ASSASSINAS E A TRAGÉDIA QUE CHOCOU O BRASIL
Para João Berto, fã dos cinco palhaços modernos de Guarulhos.
Mamonas Assassinas, vinte e cinco anos sem eles
No dia 2 de março de 1996 o Brasil assistia, estupefato, à tragédia mais chocante de sua história: a morte dos cinco palhaços modernos de Guarulhos no auge da fama num acidente aéreo na Serra da Cantareira.
Mamonas Assassinas, antes chamada de Utopia, foi uma banda brasileira de rock cômico formada em Guarulhos em 1989. Seu som consistia numa mistura de pop rock com influências de gêneros populares, tais como sertanejo, brega, heavy metal, pagode, forró, forrock, música mexicana, reggae, vira, bolero…
O único álbum de estúdio gravado pela banda, lançado em junho de 1995, vendeu mais de 3 milhões de cópias no Brasil, sendo certificado com disco de diamante comprovado pela Associação Projeto Brasileiro de Dança (APBD). Foi o disco de estreia que mais vendeu no Brasil e também o que mais vendeu cópias em um único dia: 25 mil cópias nas primeiras 12 horas após a execução das músicas Vira-Vira e Robocop Gay na 89 FM, Rádio Rock de Osasco, com sede em São Paulo.
Com um sucesso meteórico, a carreira da banda Mamonas Assassinas durou pouco mais de sete meses, de 23 junho de 1995 a 2 de março de 1996, quando o grupo foi vítima dum acidente aéreo fatal sobre a Serra da Cantareira quando vinha de um show no Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha, o que ocasionou a morte de todos os seus integrantes, causando grande comoção nacional. Passados mais de 25 anos da fatídica tragédia a banda ainda continua influenciando e inspirando gerações. O exemplo de João Berto, filho do editor Luiz Berto, é o exemplo cabal dessa influência positiva.
Em março de 1989, Sérgio Reis de Oliveira, que mais tarde adotaria o nome artístico de Sérgio Reoli, trabalhando na empresa de máquinas de escrever Olivetti, conhece Maurício Hinoto, irmão de Alberto Hinoto, que mais tarde adotaria o nome artístico de Bento Hinoto. Ao saber que Sérgio Reoli é baterista, Maurício decide apresentar o irmão, que toca guitarra. A partir daí, Sérgio Reoli conhece Alberto Hinoto e decidem criar uma banda. Na época, Samuel Reis de Oliveira, que mais tarde adotaria o nome artístico de Samuel Reoli, irmão de Sérgio Reoli, não se interessava por música, preferindo desenhar aviões. Contudo, ao ver Sérgio e Bento ensaiarem em sua casa, Samuel Reoli se interessou pela música e passou a tocar baixo elétrico. Estava formado, assim, o embrião da banda, com baixo, guitarra e bateria. Os três formaram o grupo Utopia, cantando “covers” de grupos como Ultraje a Rigor, Legião Urbana, Titãs, Paralamas do Sucesso, Barão Vermelho e Rush, entre outras.
O Utopia passou a apresentar-se na periferia da grande São Paulo. Durante um show realizado em Julho de 1990 no Parque Cecap, um conjunto habitacional de Guarulhos, o público solicitou que o trio executasse a canção Sweet Child of Mine, do Guns N’ Roses. Como desconheciam a letra, pediram a um dos espectadores que subisse ao palco para ajudá-los. Alecsander Alves, que mais tarde adotaria o nome artístico de Dinho, apresentou-se para cantar. Mesmo não sabendo a letra, mas com sua performance e embromação provocaram grandes risadas na plateia. E foi assim que, com sua desenvoltura escrachada, habilidade performática de palco, com deboche apimentado, garantiu o posto de vocalista da banda.
Em 1992, a banda conhece o produtor Rick Bonadio, apelidado de Creuzebek por Dinho e seu estúdio produz o vinil da Utopia, seu primeiro e único disco independente, composto por 6 músicas. Das 1.000 cópias produzidas, apenas 100 foram vendidas. O resto dos discos foram jogados no Index Librorum Prohibitorum do Doi Codi.
Nessa época o tecladista e poeta Júlio César, que passou a incorporar o nome artístico de Júlio Rasec, se juntou à banda por sugestão de Dinho seu amigo e estava formada, assim, a banda Mamonas Assassinas.
Aos poucos, os integrantes começaram a perceber que as palhaçadas e músicas de paródias que faziam nos ensaios para se divertirem eram mais bem recebidas pelo público do que covers e músicas sérias. Gradualmente, foram apresentando nos shows algumas paródias musicais, com receio da aceitação do público. O público, porém, aceitava muito bem as músicas escrachadas. A Utopia percebeu que a chave para o sucesso da banda estava no seu rumo e tocou em frente.
Segundo o jornalista, historiador e tradutor Eduardo Bueno, o Peninha, na biografia autorizada “MAMONAS ASSASSINAS – BLÁ, BLÁ, BLÁ”, lançada em 1996 pela Editora L£PM Editores, a gravação do primeiro e único disco com a formação Mamonas Assassinas foi toda feita no estúdio do produtor Rick Bonadio, o Creuzebek, que monitorava passo a passo os trejeitos dos integrantes da banda a mão de ferro, não permitindo qualquer seriedade nas atitudes de suas diatribes, só zoeiras, escrachos, deboches, molecagens, com as músicas compostas seguindo o mesmo tom debochado, escrachado, zombaria, gozação, cômico, brincalhão, carnavalização.
Muita gente se pergunta como a banda Mamonas Assassinas conseguiu atingir tanto sucesso entre todas as faixas etárias e sociais da nossa população, unindo criança, adolescente, marmanjos, pais e avós no mesmo balaio com músicas “politicamente incorretas” que não deveriam tocar em rádios, por conta dos palavrões, e mesmo sendo formada pelos mesmos integrantes do “fracassado” grupo Utopia, e como se tornaram ídolos do público infantil.
Segundo a crítica especializada, a fórmula de sucesso do grupo estava calcada em letras de humor escrachado e músicas ecléticas, de apelo pop, que parodiavam estilos diferentes, como rock, heavy metal, brega e até o vira português, entre outros. Para Rafael Ramos, outro produtor musical que descobriu os Mamonas Assassinas, “tinha muita coisa estourando na época, mas ninguém fazia algo tão engraçado. O que veio depois era cópia. Eles eram muito carismáticos, autênticos e, além disso, chegaram antes de muita gente”.
Outra questão levantada é qual o legado deixado por eles, já que as letras de suas músicas eram apelativas – como a de Robocop Gay, que sofreu duras críticas de grupos LGBTs – e mesmo sofrendo duras críticas da mídia especializada, e mesmo sendo tachados de ridículos e palhaços da música pela crítica especializada.
Para muitos, a alegria e o humor irreverentes, marcas do comportamento de seus jovens integrantes, liderados pela comédia natural do vocalista, aliado a letras irreverentes, figurinos exóticos e performance estilo pastelão, foi o legado deixado pelo grupo.
Os Mamonas Assassinas foram os maiores heróis de carne e osso que o Brasil já teve. Heróis em cima do palco, onde tocavam sem reclamar até três vezes por noite. Heróis fora do palco, nas nossas casas, onde nos alegravam com suas músicas escrachadas e suas piadas debochadas e escrotas, conseguindo, com isso, unir crianças, adolescentes, pais, mães e avós no escracho politicamente incorreto.
Segundo Rick Bonadio, “eles fizeram sucesso sendo eles mesmos, palhaços, escrachados, debochados, inteligentes, adolescentes, originais.”
Mamonas Assassinas- Robocop Gay
O que realmente aconteceu no acidente com os MAMONAS ASSASSINAS?
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários quarta, 15 de dezembro de 2021
Texto escrito por Luis Antonio Tavares Portella, filho do colunista e estudante de Biologia da Universidade Católica de Pernambuco
O transtorno de ansiedade se caracteriza por um sentimento excessivo de alerta que nos impossibilita de realizar as mais básicas tarefas cotidianas. Fonte: Google Imagens.
Cada vez mais, a humanidade parece estar se tornando mais ansiosa com o passar do tempo. O que poderia estar causando isso? Teria algo a ver com o nosso modo de vida moderno? Qual seria a causa deste grande mal que está nos tornando mais ansiosos?
A ansiedade, e mais especificamente, o TAG (Transtorno de Ansiedade Generalizada) tem se tornado tópico comum de debate nos tempos atuais. De acordo com a OMS (Organização Mundial de Saúde), nos últimos anos houve um aumento significativo em todo o mundo, na frequência de transtornos relacionados à ansiedade. O Brasil encontra-se entre os líderes nas estatísticas dos níveis de ansiedade, sendo um dos países com a maior taxa de portadores de distúrbios relacionados à ansiedade no mundo, panorama que tem piorado e muito com a atual pandemia de Covid-19.
Mas o que é a ansiedade? Nada mais é do que uma reação natural do corpo, desencadeada em momentos de tensão ou estresse. Essa reação caracteriza-se por diversos sintomas cognitivos e físicos, entre eles o medo, estado de alerta e fuga, respiração acelerada, arrepios, taquicardia e suor. No passado, no tempo dos ancestrais do homem, essa reação era bastante lógica e eficaz, pois o perigo sobre a vida era iminente e o corpo se preparava para fugir fisicamente de uma ameaça próxima, como um grande predador felino. Nos dias modernos, este panorama mudou, e agora as ameaças assumiram outras formas, que vão desde eventos sociais e apresentações até compromissos de trabalho ou faculdade. Ou seja, o nosso ambiente mudou, mas a reação do nosso corpo a este ambiente continua a mesma, e esta reação muitas vezes não nos ajuda a combater o problema que se apresenta de uma forma adequada. Cabe a nós aprender sobre esta reação e obter conhecimento para reconhecer e trabalhar da melhor forma com ela.
Portanto, sentir ansiedade nestes eventos comuns da vida moderna, como eventos, compromissos ou outras situações é normal. É uma reação natural do corpo. O problema é quando esse sentimento é insistente ao longo de meses, em situações diversas e paralisa o indivíduo, impedindo-o de realizar as mais simples tarefas cotidianas, neste momento ele se torna patológico, e faz-se necessário a busca por ajuda médica especializada.
Cada pessoa possui uma forma individual de enxergar e reagir ao mundo, da mesma forma existem coisas que causam maior preocupação em algumas pessoas do que em outras. Por causa disso, as causas da ansiedade podem variar de um indivíduo para o outro. A genética é um importante fator que não pode deixar de ser considerado, o transtorno estando muitas vezes presente em diversos indivíduos de uma mesma família e em diferentes gerações. Também são importantes os fatores ambientais e a capacidade emocional de resposta do indivíduo a este ambiente e seus desafios, sendo este conhecimento crucial para se obter uma melhor forma de controle de ansiedade para este indivíduo. Compromissos diários, como trabalho e faculdade, e até relações sociais muitas vezes estão no ponto de origem para situações de ansiedade extrema.
Os sintomas mais comuns da ansiedade excessiva são bastante característicos e não muito difíceis de serem notados, justamente por trazerem uma manifestação física. Existem pessoas que buscam um cardiologista, por exemplo, por receio que haja algo errado com o seu coração, sem saber que a origem do problema não está ali. Geralmente, a ansiedade pode se apresentar como: Sintomas físicos: taquicardia (coração acelerado), suor em excesso, respiração irregular e dor de cabeça; Sintomas comportamentais: irritabilidade, impulsividade e agressividade; Sintomas cognitivos: dificuldade em se concentrar, excesso de preocupação, dificuldade de tomada de decisões e dificuldade para dormir (insônia); Sintomas emocionais: se sentir incapacitado, paralisado, triste, nervoso e com sensação de tragédia iminente. Um indivíduo que sofre de ansiedade crônica pode apresentar alguns desses sintomas diariamente, de forma simultânea. Muitas vezes, uma crise de ansiedade alimenta outra, já que os sintomas físicos podem se tornar bem aparentes, o que causa medo e preocupação, desencadeando um processo que mantém o estado de mal estar por muito mais tempo.
Estaria o nosso modo de vida atual, super conectado e acelerado, contribuindo para o aumento e piora deste problema? Com certeza está afetando as pessoas que já possuem uma predisposição, porque através desta vida moderna cheia de redes sociais, estamos cada vez mais tendo menos experiências concretas de relacionamentos, pessoais ou profissionais, e estão sendo substituídas por expectativas e percepções fixas sobre o mundo, percepções muitas vezes distorcidas. Há um maior número de informações e de situações em que a ansiedade pode acontecer ainda de forma natural. Para que ela vire um transtorno, vai depender do indivíduo, de sua carga genética e de suas experiências de vida. A vida moderna está repleta de situações potencialmente ansiogênicas, o que se torna um problema para aqueles que são mais vulneráveis.
Embora a ansiedade seja reconhecidamente o mal do século, o tema ainda dá margem para muito debate. Muitas vezes, falta compreensão e coragem da sociedade para enfrentar o problema, ao mesmo tempo em que existe preconceito e banalização sobre o mesmo, provocando distorções e naturalizando o problema. Entender as principais variáveis e compreender o problema é essencial para um melhor tratamento, sempre buscando ajuda especializada e utilizando o método mais adequado para cada situação. Precisamos cuidar de nossa saúde mental para termos tempos mais tranquilos pela frente.
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários sexta, 10 de dezembro de 2021
José Bezerra da Silva, nome artístico Bezerra da Silva, nasceu no Recife. Era filho de Hercília Pereira da Silva e Alexandrino Bezerra da Silva, que abandonou a mãe quando esta estava grávida do filho, e se mandou para o Rio de Janeiro para se aventurar na Marinha Mercante e raparigar, o que era muito comum na época.
Aos quinze anos, percebendo que o Recife não teria futuro para ele, Bezerra da Silva, também se foi para o Rio de Janeiro tentando encontrar o pai, viajando no navio cargueiro transportador de açúcar. Lá o encontrou, mas com poucos meses de convivências começaram a ter atritos e o jovem Bezerra da Silva escafedeu do lar paterno em busca do seu fado.
Começou a trabalhar no ramo da construção civil, já que não sabia fazer outra coisa. Nessa época começou a desenvolver a verve musical a partir do coco de Jackson do Pandeiro, e logo ingressou no bloco carnavalesco Unido do Canta Galo, tocando tamborim. Em 1950, conheceu José Alves, ou Doca, conhecido como um dos autores da música “General da Banda”, ao lado de Tancredo Silva e Sátiro de Melo, todos moradores do Morro do Cantagalo, que logo convidaram Bezerra da Silva para participar do “Programa da Rádio Clube do Brasil” como ritmista.
Boêmio e malandro, Bezerra da Silva foi detido por várias vezes, que acabou sendo demitido do programa. Durante muitos anos viveu como morador de rua em Copacabana. Nessa época chegou a tentar o suicídio, mas foi salvo e acolhido por um Terreiro de Umbanda. Lá, descobriu sua mediunidade e soube, através de uma mãe de santo, que o seu destino era a música.
Com o nome artístico de José Bezerra, teve suas primeiras composições “Acorrentado” e “Leva teu Gereré”, em parceria com Jackson do Pandeiro, lançadas no primeiro álbum da carreira do paraibano, em 1959. Na primeira metade da década de 1960, ingressou na orquestra da gravadora Copacabana Discos, que acompanhava vários artistas de renome, e também teve novas composições, assinadas com outros músicos, gravadas por Jackson do Pandeiro, como “Meu Veneno” (com Jackson do Pandeiro e Mergulhão), “Urubu Molhado” (com Rosil Cavalcanti), “Babá” (com Mamão e Ricardo Valente, “Criando Cobra” (com Big Bem e Orlandes Rodrigues) e “Preguiçoso” (com Jackson do Pandeiro). Acrescendo ainda que em 1965, a cantora Marlene gravou “Nunca Mais” (uma parceria de Bezerra da Silva e Norival Reis).
Em 1967, compôs seu primeiro samba, chamado de “Verdadeiro Amor”, que foi gravado por Jackson do Pandeiro. No final daquela década, mudou o nome artístico para Bezerra da Silva e, em 1969, gravou um compacto simples pela Copacabana Discos, com as músicas “Mana, Cadê meu Boi?” e “Viola Testemunha”; no seu primeiro LP, “Bezerra da Silva – O rei do Coco, Volume I”, seria apenas lançado em 1975, pela gravadora Tapecar, e teve como destaque a canção “O Rei do Coco”. No seguinte, pela mesma gravadora, lanço “Bezerra da Silva – O Rei do Coco II”, cuja música de maior destaque foi “Cara de Boi”.
Anos depois, Bezerra da Silva conheceu a mulher que mudava completamente sua vida pessoal e artística, Regina do Bezerra, pseudônimo de Regina de Oliveira, compositora e produtora musical, nascida em 1953 no Rio de Janeiro, mas só se casando com ele em 2004, um ano antes da morte de Bezerra.
Bezerra da Silva, após a união com Regina de Oliveira, teve sua carreira artística deslanchada, pois ela foi a grande responsável por composições que marcaram a vida artista do sambista dos morros e das favelas.
A conferir:
Compôs a música “Meu Pai é General de Umbanda” junto com Jorge Garcia e 1000tinho, a música foi gravada por Bezerra da Silva e ele a lançou em 1987 no seu Álbum “Justiça Social.”
Compôs a música “O Bom Pastor” junto com Pedro Butina, a música foi gravada pelo Bezerra da Silva e ele lançou a música em 1989 no seu Álbum “Se Não Fosse o Samba.”
Compôs a música “O Filho de Jurema” junto com o próprio Bezerra da Silva, a música foi gravada pelo Bezerra da Silva e ele lançou a música em 1990 no seu Álbum “Eu Não Sou Santo.”
Compôs a música “Instinto Traíra” junto com Pedro Butina, a música foi gravada pelo Bezerra da Silva e ele lançou a música em 1992 no seu Álbum “Presidente Caô, Caô.”
Compôs a canção “O Segundo Nazareno” e a canção foi gravada pelo Bezerra da Silva e ele lançou a música em 1993 no seu Álbum “Cocada Boa.”
Compôs a música “O Juramento Jurou” junto com Mário Gogó e Gil de Carvalho, dentre várias composições que ela fez esta música se destaca.
Compôs a música “Tem Coca Aí Na Geladeira” e a música foi gravada pelo Bezerra da Silva e ele lançou a música no ano 2000 no seu Álbum “Malandro é Malandro e Mané é Mané.”
Em 2004 fez a produção do primeiro Álbum gospel do cantor Bezerra da Silva que se chama “Caminho da Luz.”
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários quarta, 01 de dezembro de 2021
MARIA BAGO MOLE PROCURA CARNE MIJADA NA ZONA DA MATA SUL DE PE
Modelo de carruagem adquirida na Bahia por MBM para transportar “meninas”
Percebendo que o cabaré estava começando a ficar escasso de carne mijada novamente, porque várias “meninas” teriam se apaixonado e preferido ir morar com seus parceiros de cama no cabaré, sonhavam ser dona de casa e primariam por construir família, Maria Bago Mole, numa investida arrojada para tapar o buraco, parte numa carruagem puxada por quatro cavalos, que ela mandou comprar na Bahia, terra do romancista Jorge Amado, já demonstrando poder e influência na comunidade onde fora idealizado e construído o cabaré, Vila dos Vinténs.
Para tal empreitada, a mais famosa cafetina de “Floresta dos Leões”, Zona da Mata Norte de (PE), paramentou-se dos apetrechos necessários para uma viagem de dois dias e partiu para a Zona da Mata Sul, seguindo a rota composta pelos municípios de Água Preta, Catende, Cortês, Gameleira, Palmares, Primavera, Ribeirão e Rio Famoso e outras cidades.
Atendendo aos conselhos de Seu Amado, Bitônio Coelho, conhecedor profundo da maldade e inveja humana, cercou-se de dois capangas escolhidos a dedo pelo fazendeiro, pôs na cintura seu Colt Walker, presente de aniversário do seu amado, que mandou buscar no Sul Maravilha para ela se defender dos malfazejos e sebosos que cruzassem seu caminho e numa manhã cinzenta, com a garoa embelezando as plantas das estradas não pavimentadas, seguiu em busca do produto que dava vida e progresso a seu “estabelecimento.”
Em cada cidade por onde passava, Maria Bago Mole parava sua carruagem, que provocava curiosidade na população por se tratar de algo inusitado naquelas paragens, se dirigia ao lupanar da cidade para se informar dos “filés-mignons” recém-chegados, e procurava conversar pessoalmente com cada uma das meninas sobre seus desejos, ambições, vontade de vencer na vida, mudança de rumo e, claro, analisava o corpo de cada uma das pretendentes como uma lupa. Afinal de conta, tudo envolvia custos e benefícios e no cabaré as coisas não eram diferentes.
Depois de já ter visitado os puteiros das cidades de Água Preta, Catende, Cortês, Gameleira e ter fisgado dois “produtos” de primeira, “duas mulatas inzoneiras”, entrou em Palmares com sua carruagem imponente, terra dos romancistas, poetas, repentistas e violeiros dos melhores e foi descansar, dar comida aos cavalos, tomar um banho morno na banheira que carregava na traseira da carruagem, comer um prato sustoso em qualquer buteco, já que a noite tinha caído, para no outro dia ir visitar a famosa “Coreia”, onde Maria Banga e Zé da Ferida haviam se conhecido, casado e conheciam todo movimento do cabaré na palma da mãe, e estavam à disposição de Maria Bago Mole para “dedurar” onde estavam as melhores meninas de que ela precisava para abastecer o seu cabaré…
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários quinta, 11 de novembro de 2021
BASTINHO CALIXTO SE ENCANTOU: MORRE ESQUECIDO, AOS 70 ANOS
Baixinho Calixto & Luizinho Calixto – Família de forrozeiros paraibanos
No dia 6 de setembro de 2021, o jornalista e pesquisador musical, José Teles, um dos mais talentosos conhecedores de música da atualidade, paraibano de nascença e pernambucano de paixão, tendo chegado ao Recife na época que o mar era de água doce, escreveu uma crônica com o título acima mencionado, comunicando o encantamento de um dos maiores forrozeiros do início do século XX, pertencentes à safra dos Dominguinhos, ignorado até pelo Papa-Figo, hebdomadário que dá mais furo em políticos corruptos do que o jumento POLODORO!
Pela importância da crônica que comenta a desimportância que mídia dá aos artistas que fizeram a história do no forró, resolvi publicá-la na minha coluna.
O texto de José Teles está transcrito a seguir.
* * *
Soube nesse sábado, 4 de setembro, da morte de Bastinho Calixto, sanfoneiro, compositor, cantor e produtor, em Campina, sua cidade natal. Demorei a postar a má notícia, embora a fonte tenha sido Anselmo Alves, um especialista em sanfoneiros, e amigos de todos. Pesquisei no Google e não encontrei uma só matéria sobre o falecimento, o que só constatei hoje, três dias depois. Este é um tipo de notícia em que não cabe furo. Tem que se ter certeza antes da publicação.
Depois de um acidente de carro, Bastinho Calixto ficou impossibilitado de fazer shows. No final da vida vivia de uma aposentadoria rala, e do que pingava em direitos autorais de, acreditem, cerca de 700 músicas, gravadas por quase todo mundo do forró. Uma de suas composições mais bem sucedidas foi um grande sucesso com Elba Ramalho, Toque o Fole (“Toque sanfoneiro/um forró bem animado/com cadência de xaxado/da poeira levantar”), e é obrigatória no repertório de shows da cantora.
Sebastião Tavares Calixto, nascido em 5 de julho de 1951, era de uma família de mestres dos oito baixos, seu irmãos estão na história do forró, sobretudo o mais velho, Zé Calixto, da segunda geração do forró, falecido em 2020, considerado um dos mais importantes nomes da sanfona no país, assim como Luizinho Calixto, que continua na ativa. Foi muito jovem para o Rio, tocou zabumba nos grupos de Jakcson do Pandeiro e de Luiz Gonzaga. Em 1971, o jovem paraibano teve a ousadia de encarar o carrancudo Flávio Cavalcanti, ao participar do programa A Grande Chance, de imensa audiência nos anos 60 e em parte dos 70 (foi o The Voice de então, mas sem a artificialidade e a forçação de barra).
O programa revelou entre outros, Armandinho Macedo, Emilio Santiago ou Alcione. Representando a Paraíba, Bastinho Calixto terminou levando um prêmio em dinheiro, e a gravação do LP de estreia. Mal começou a gravar, já passou a produzir com Ozeas Lopes, um dos mais atuantes produtores de forró daquela época (que também gravava brega como Carlos André). Bastinho foi produtor de cerca de 400 discos, e trabalhou em praticamente todas as gravadoras, grandes e pequenas, do país. Sua morte só teve destaque na imprensa da Paraíba. Forró para a maioria dos jornalistas, inclusive nordestino, é o que Wesley Safadão, Xand Avião, e outros famosos da fuleiragem music, que se misturou com sertanejos de tal forma, que é difícil distinguir um do outro.
Só Pra Perturbar – Bastinho Calixto
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários sábado, 06 de novembro de 2021
Crônica publicada no Jornal da Besta Fubana em cinco de junho de 2018. Uma homenagem à cantora Marília Mendonça, tragicamente morta ontem num acidente aéreo.
A maior revelação da música sertaneja surgida nos últimos tempos, Marília Dias Mendonça, nome artístico Marília Mendonça, cantora, compositora, violonista, nasceu em Cristianópolis, município de Goiás que fica a uma distância de 90 quilômetros da capital, no dia 22 de julho de 1995.
Com apenas três anos de carreira, já ganhou o Troféu Imprensa de 2017 e 2018. Possui mais de quatro bilhões de visualizações no You Tube!!! Quatro músicas entre as mais tocadas em todo o Brasil, sendo a primeira mulher brasileira a entrar no “Moments History Month do Spotify!!” Ela é o maior sucesso do momento da música sertaneja!!!!!
Com um talento musical acima do normal e uma voz potente, Marília Mendonça, teve sua primeira composição “Minha Herança” gravada pela dupla sertaneja João Neto & Frederico dois anos depois de escrita, em 2009. Mesmo sendo menor de idade, Marília Mendonça investiu na carreira de compositora, escrevendo mais canções do gênero. Nesse período, foi autora de canções de sucesso como “É com ela que eu estou”, gravada por Cristiano Araújo, e “Cuida bem dela” e “Até você voltar”, gravadas pelos irmãos Henrique & Juliano. Ela canta a realidade dos desencontros amorosos!
Estreou como cantora em 2015, aos 20 anos, com a participação em duas músicas da dupla Henrique & Juliano, seus irmãos: “A Flor e o Beija-Flor” e “Impasse”. Logo em seguida, no mês de julho, ela gravou o disco Marília Mendonça: Ao Vivo. Feito em um cenário com decoração simples e com garrafas de bebidas alcoólicas. O álbum foi lançado oficialmente em março de 2016. Disponibilizado tanto nos formatos CD e DVD pela gravadora Som Livre, recebeu aclamação positiva do público, alcançando o topo das paradas brasileiras. Entre as canções de destaque do disco, estão o single “Infiel” e a canção “Eu sei de Cor”, a qual liderou a Brasil Hot 100 Airplay em 2016 por cinco semanas. ‘Infiel’ tornou-se a quinta música mais executada nas rádios do Brasil naquele ano, além de já ter sido a segunda canção brasileira com mais visualizações no You Tube.
Após alcançar sucesso na divulgação do material no You Tube, passou a ser chamada pelos fãs e tietes de “Rainha da Sofrência”. Marília fez o seu primeiro grande show ao vivo em agosto do mesmo ano, na cidade paraense de Itaituba. Ao mesmo tempo em que iniciava a carreira em cima dos palcos, continuou compondo músicas para outros artistas, como Lucas Lucco, Joelma, Jorge & Mateus, Wesley Safadão, Maiara & Maraísa, Matheus & Kauan, Fred & Gustavo, Zé Neto & Cristiano, César Menotti & Fabiano e os já citados anteriormente Henrique & Juliano e João Neto & Frederico.
Devido à grande repercussão de seu nome na mídia, Marília Mendonça foi indicada ao prêmio “Melhores do Ano”, do programa “Domingão do Faustão”, exibido pela Rede Globo. Naquela ocasião, Anitta foi a vencedora do troféu e convidou Marília para receber o prêmio com ela, homenageando todas as mulheres e encerrando com um dueto da canção “Infiel”. Marília encerrou o ano de 2016 com uma participação no tradicional “Show da Virada”, da Rede Globo, exibido no dia 31 de dezembro, apresentação que considera uma das mais importantes de sua carreira. Em 8 de outubro de 2016, Marília gravou o segundo DVD da sua carreira, “Realidade”, no Sambódromo de Manaus para um público de mais de quarenta e cinco mil pessoas! Quatro das canções gravadas foram disponibilizadas em 13 de janeiro de 2017 em um EP homônimo, com três canções inéditas, além da conhecida “Eu Sei de Cor”. O lançamento oficial do CD e do DVD, previsto para fevereiro de 2017 pela Som Livre, aconteceu em 31 de março.
Em julho de 2017, Marília conquistou o posto de artista brasileira mais ouvida no You Tube. Ela ficou em 13º no ranking mundial, superando artistas como Adele, Ariana Grande, Shakira e Taylor Swift. Em setembro de 2017, outra marca: a cantora ultrapassou três bilhões de visualizações em seu canal oficial, sendo a primeira cantora brasileira a conquistar o número em menos de dois anos!!!
Marília Mendonça apresenta em suas canções uma filosofia musical de valorização da figura da mulher. Apesar de negar uma postura militante diante do feminismo, já usou o termo em algumas ocasiões, como na entrevista ao jornalista Pedro Bial, quando questionada sobre culpa diante de traições, tema recorrente em suas músicas. “Se fala tanto em feminismo e a mulher ainda culpa a mulher por coisas que ela não tem culpa. Se o cara é casado comigo, é meu namorado ou está do meu lado e me trai, quem me traiu foi ele. Eu não tinha nenhum tipo de relacionamento com a amante” – questionou. Seguindo a linha da defesa dos direitos das mulheres, lançou no dia 8 de março de 2018 as canções “A Culpa é Dele”, com Maiara & Maraísa – criticando a disputa entre mulheres e a idolatria ao homem – e “Perdeu a Razão”, seu novo trabalho com a cantora Joelma, que fala de violência doméstica e da Lei Maria da Penha.
Em uma entrevista concedida ao jornal O Globo deste ano, a cantora e compositora sertaneja Marília Mendonça destacou que era necessário conquistar o público feminino como adepto de suas canções, visto que as mulheres comparecem em grande número aos shows de música sertaneja por distração e prazer absoluto de liberdade, porém, não existiam cantoras do gênero em aclamação naquele período.
Marília Mendonça – “A Rainha da Sofrência” – pelo talento para compor e cantar em tom de voz grave e potente, pelo domínio de palco, pela naturalidade, pela maturidade, pela AUTENTICIDADE, é, sem dúvida nenhuma, a maior revelação da música sertaneja dos últimos tempos com apenas 23 anos, porque fala do amor, da traição entre homens e mulheres em todas suas nuances em linguagem popular sem ser popularesca, do sofrer, que são universais, com muita catilogência e responsabilidade!
No final do vídeo a seguir, um comovente depoimento da cantora Joelma:
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários quinta, 04 de novembro de 2021
Maria Bago Mole – Imagem da Época da formação do cabaré, início do Século XX
Feliz com o resultado econômico do sucesso do último comes e bebes no cabaré onde dois idiotas se arvoraram a valentões em disputas por mulheres e morreram em duelo, a cafetina mais famosa da Zona da Mata Sul do Estado de Pernambuco, resolveu patrocinar uma nova festa visando alavancar recursos financeiros para ampliar o lupanar e passar uma bucha no passado, pois o progresso estava chegando em vento e popa por causa da inauguração da moderníssima estação da Gretueste, com a participação de grandes artistas da Nação Nordestina, escritores e jornalistas de jornais famosos de diversos Estados da Região, colunistas do Jornal da Besta Fubana, comentaristas, músicos, cantores e repentistas da redondeza que se tornaram lendas.
Para apimentar o furdunço, visando o retorno de um colunista que ausente por ter sofrido um coice de mula nos trololós, depois de ter tomado uma cachaça pesada e ter assediado a jumenta “Mimosa” e esta não ter gostado do assedio, Maria Bago Mole preparou uma festa de arromba visando sua chegada. Mas se recusou a dizer o nome do homenageado para não provocar ciúme no seu amado, o coronel Betônio Coelho.
– Essa curiosidade eu deixo para vocês apostarem na porrinha! – dizia ela aos freqüentadores do bordel quando a abordavam para segredar o colunista misterioso que estava por retornar.
A cafetina patrocinou uma grande festa, talvez a mais arrojada realizada no Cabaré, para ficar na história, com muita cachaça caseira fabricada na Região, uma farta mesa cheia de pratos regionais para serem degustados durante a festa com todos os personagens que se fizerem presentes. Das meninas da vida dura que receberam dignidade da cafetina nos tempos das vacas magras e ficaram independentes financeiramente, aos convidados surpresas, os representantes da ferrovia e os fazendeiros mais afamados da região.
Para homenagear o ilustre convidado, que ela fez questão de manter em segredo, Maria Bago Mole convida diversas personalidades influentes do estado, gente expressiva da cultura, colunista do Jornal da Besta Fubana, sobremaneira aqueles que estão sempre presentes nas crônicas e comentários semanais e que têm certa intimidade com a sua história e os usuais freqüentadores do famoso cabaré desde sua origem.
As personalidades são todas conhecidas do famoso convidado especial e dos colegas de profissão. Para abrilhantar a festa Maria Bago Mole convidou o famoso colunista Sancho Panza, muito conhecido e admirado na confraria por suas belas e longas crônicas semanais, onde despeja, sem economia, sabedoria, intelectualidade e muita simpatia; o biógrafo Brito, um grande intelectual que semanalmente enriquece as páginas democráticas do Jornal da Besta Fubana com seus ensaios bibliográficos sobre gente famosa, mas ignoradas da história oficial; o grande cronista de filmes de faroestes e crônicas diversas, Cícero Tavares, muito louvado pelos outros cronistas e comentaristas, e que dispensa adjetivos, o comentarista de filmes de faroeste, d.Matt., conhecido por seus longos e um tanto críticos comentários sobre todos os assuntos que aborda; Adônis Oliveira, o defensor intransigente da guilhotina contra políticos corruptos e ladrões; o famoso editor Luiz Berto, autor de inúmeros livros internacionalmente famosos, entre ele o consagrado e sempre aclamado pela crítica especializada, O Romance da Besta Fubana, que já lhe poderia ter rendido o prêmio máximo da Academia – o Nobel de Literatura – por ter universalizado sua aldeia; A Prisão de São Benedito e Outras Histórias, um punhado de crônicas antológicas narrando as peripécias de um pretim muito conhecido e que foi pego na Coreia da cidade de Palmares, contrariando às determinações eclesiásticas; e a dama das crônicas domingueiras, a talentosa cronista Violante Pimentel, tocando no seu piano mágico para proporcionar mais alegria aos convidados, dentre todos os que fazem parte da Gazeta Escrota.
A festa no cabaré foi até o sol iluminar o amanhã com uma curiosidade: não ter havido nenhum incidente desagradável e a cafetina prometer só revelar o nome do colunista misterioso na próxima festa quando estiverem presentes todos os colunistas, comentaristas e demais colaboradores avulsos que fazem do Jornal da Besta Fubana essa obra-prima cercada de gente talentosa por todos os lados que, quando da interrupção dos serviços por falha na internet alguns fanáticos já tentaram se suicidar cortando o pulso com cerol.
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários quinta, 28 de outubro de 2021
Texto escrito por Luis Antonio Tavares Portella, estudante de Biologia da Universidade Católica de Pernambuco.
Grande presença de resíduos plásticos nos ecossistemas marinhos é um problema sério que precisa de uma solução. Fonte: Google Imagens.
Ao longo da atual crise do novo coronavírus, o plástico tornou-se um problema ainda maior, visto que a quantidade de resíduos com plástico em sua composição gerados por residência aumentou em cerca de 10% desde março de 2020. No mundo, cerca de 465 milhões de toneladas de plástico foram fabricadas em 2019. E a produção continua aumentando. É irônico que um material que já foi símbolo de progresso tornou-se um pesadelo para os humanos e a natureza. Os consumidores e, principalmente, a indústria, têm um papel fundamental na mitigação e solução deste problema.
O plástico comum é oriundo das resinas derivadas do petróleo e pertence ao grupo dos polímeros, que são moléculas grandes, com características especiais e variadas.A palavra plástico tem origem grega e significa aquilo que pode ser moldado. Além disso, uma de suas características marcante é a capacidade de manter a sua forma após a moldagem. Convivemos com tanto plástico ao nosso redor, que nem notamos mais a sua presença. O nylon epoliéster presentes em nossas roupas, em nossos carros, embalando diversos produtos e nas sacolas do supermercado. Está impregnado em nosso cotidiano, na nossa vida, e não é mais uma novidade.
O problema é que esse material está aqui hoje e ainda estará aqui amanhã. No próximo ano. E nos quatro séculos seguintes. O plástico que tanto usamos demora entre cerca de duzentos a quatrocentos anos para entrar em decomposição. Embora também cause grandes impactos em terra firme, é nos ecossistemas marinhos que se encontram os maiores problemas.
A poluição causada pelo plástico compromete a sobrevivência de mais de 800 espécies marinhas, 15 das quais já se encontram ameaçadas. A cada ano, cerca de 8 milhões de toneladas de plástico acabam no oceano, o que equivale a um caminhão de lixo cheio desse produto jogado no mar a cada minuto. Estima-se que já contêm plástico entre 60 a 90% da areia que se acumula nas linhas costeiras, a superfície e o fundo do mar. Este plástico, quando exposto no ambiente marinho, sofre diversas ações do meio, como radiação solar, variação térmica, diferentes níveis de oxigênio, e presença de fatores abrasivos, como areia, que o fragmentam, dando-lhe a aparência de alimento para muitos animais, que ao ingeri-lo sofrem de obstrução nos órgãos internos, causando-lhes a morte e interferindo no ciclo reprodutivo de muitas espécies.
Os animais confundem os materiais plásticos com comida e acabam morrendo. Fonte: Google Imagens.
Como podemos mudar esta situação? Tudo se resume a mudanças nos nossos padrões de vida e consumo. Estas mudanças já estão começando no exterior, com acordos e novas leis. A União Europeia já votou uma proibição de plásticos de uso único. O Canadá implantou uma lei semelhante: proibiu o uso de canudos e talheres de plástico, e começou a responsabilizar os fabricantes de plástico pelos resíduos produzidos.Outros140paísesjá implementaram impostos ou proibições parciais sobre o uso e o consumo de plástico.
Aqui no Brasil a primeira cidade a banir completamente o canudo plástico foi o Rio de Janeiro. Outras cidades também adotaram essa medida, como Fortaleza, Salvador, Santos e todo o estado do Rio Grande do Norte. Em São Paulo, foi proibido o fornecimento de canudos plásticos nos estabelecimentos comerciais da cidade.
A responsabilidade sobre as toneladas de lixo jogadas todos os anos nos oceanos do mundo é compartilhada. Trata-se de um problema complexo que está impregnado em nosso cotidiano, em nosso modo de viver, em nossos hábitos, e cuja única solução vem de mudanças e ações de todos os setores da sociedade, desde as empresas e o poder público, até os indivíduos e a sociedade civil.
Para que as futuras gerações não precisem ver belíssimos animais mortos ou em sofrimento nas praias, mares e outros ecossistemas, vítimas de nossos erros e estupidez é preciso urgente que o homem de bonsenso faça alguma coisa agora para salvar o meio ambiente porque amanhã pode ser tarde demais.
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários quarta, 13 de outubro de 2021
BARRY LYNDON (1975) – UM ÉPICO POUCO LEMBRADO DO MESTRE KUBRICK
BARRY LYNDON (1975) – UM ÉPICO POUCO LEMBRADO DO MESTRE KUBRICK
Cícero Tavares
Barry Lyndon: cena de batalha externa filmada na Irlanda.
BARRY LYNDON é uma das obras-primas do gênio da diversificação, Stanley Kubrick, pouco lembrada, mas memorável, com todo o apuro técnico kubrickiano elevado ao infinito. Uma história dramática e pungente contada com a estética e os planos mais aprimorados que o cinema já conheceu.
Aqui temos talvez o mais belo filme de batalha de todos os tempos, com uma fotografia e uma direção de arte única, levando o telespectador à sensação de estar dentro de tudo aquilo que ocorre num roteiro maravilhoso, de uma história contada em mais de três horas que não cansa, ainda temos um elenco espetacular, com ótimas performances.
Barry Lyndon é a história de um ambicioso irlandês sem futuro, ou a esperança de que ele pretenda alcançar uma alta posição social, tornando-se parte da nobreza inglesa do século XVIII. Para Lyndon (Ryan O 'Neal), as respostas sobre como alcançar o poder e suas ambições são simples: de qualquer maneira possível. Sua ascensão à riqueza em uma suntuosa revisão realizada por Stanley Kubrick baseado no romance de William Makepeace (1811-1863), As Memórias de Barry Lyndon.
Para a criação desta inteligente sátira, ganhadora de quatro prêmios da Academia em 1975, Kubrick encontrou inspiração nas obras dos pintores da época, colocando em exposição o excelente ambiente cinematográfico que em todos os aspectos alicerçam o filme. Os aspectos técnicos, objetivos, pioneiros de utilização das câmeras foram desenvolvidos e utilizados para fotografar ao ar livre e nos interiores, obtendo um efeito de luz natural. Barry Lyndon permanece como um filme de vanguarda que recupera um período da história como nunca visto na tela grande. Uma obra-prima de um realizador cujos filmes são todos magníficos.
Mas o grande triunfo de Barry Lyndon vai além de sua inebriante história de ascensão e queda. Filmado quase que inteiramente em locação na Irlanda – tanto exteriores quanto interiores – a película é uma viagem fantástica, que realmente faz o espectador mergulhar na ambientação do século XVIII como nenhum outro filme havia feito ou viria a fazer.
Genialmente Stanley Kubrick determinou, para desespero de seu diretor de fotografia John Alcott (que trabalhara com ele em Laranja Mecânica e 2001- Uma Odisseia no Espaço), que, sempre que humanamente possível, a iluminação fosse 100% natural. Assim, na grande maioria das tomadas, a iluminação ou é gerada pelo sol ou por velas. Nas tomadas exteriores, durante o dia, o resultado é belíssimo, de uma naturalidade que é difícil de ver em épicos. As cores saltam aos olhos e as tomadas em plano geral são de uma perfeição técnica e simetria sem par.
Reparem na composição das sequências, com a obsessão de Stanley Kubrick por paralelismos. Normalmente, o lado esquerdo da tela emula o direito e vice-versa, mas aqui o diretor consegue ir mais além ainda, quebrando o paralelismo absoluto com pequenos desvios, pequenos desequilíbrios da encenação.
Mas são as cenas de interiores que realmente tiram Barry Lyndon do lugar comum. Sem luz artificial, Alcott teve que se reinventar com a claridade entrando pela janela, frestas aqui e ali e muita contra luz. E, se tirar uma foto de um ambiente iluminado com velas é um trabalho hercúleo, imagine fazer o mesmo com uma câmera de filmar, para se alcançar um resultado aceitável. E o uso de velas permeia todo o filme e isso funciona não só para envolver o espectador na vida do século XVIII como, também, para criar imagens amareladas irretocáveis, além de sombras fantasmagóricas, talvez um prenúncio do destino dos personagens. Cada sequência parece ser tirada de pinturas clássicas, como as de William Hogarth, tamanha é a precisão do trabalho de Kubrick e Alcott.
O uso do som diegético também é fundamental para esse envolvimento e Kubrick faz questão de nos deixar ouvir passos pisando na grama, cascos de cavalo tocando o solo e o arrulhar de pombos na lenta, mas envolvente cena de ação final dentro de um enorme celeiro. E, em cima disso tudo, Kubrick ainda se esmera na escolha de uma trilha sonora clássica – Bach, Vivaldi, Mozart, Schubert e especialmente Sarabande, de Handel – que acompanha a progressão e regressão da complicada vida do protagonista.
É difícil escolher o melhor filme desse fantástico diretor, mas Barry Lyndontalvez seja o verdadeiro ponto alto de sua carreira. A afirmação é polêmica, especialmente diante de sua curta, mas quase irretocável filmografia. No entanto, se o cinéfilo der uma chance a esse filme, que exige paciência e calma, tenho certeza que, se ele já não está dentre os maiores em sua lista, subirá algumas colocações.
Assistindo a Barry Lyndon, com a sua exuberante e panorâmica fotografia, quase toda realizada em locações externas, principalmente as cenas de batalha, fica difícil de acreditar que o cinema não tenha perdido sua narrativa pungency e seu encanto penetrante, com essas porcarias que são lançadas nos serviços streaming todos os dias, com seus heróis decadentes e babacas.
a) Barry Lyndon - Official Trailer [1975] HD
b) BARRY LYNDON (1975) - Crítica
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários quinta, 07 de outubro de 2021
Gravura do cabaré de Maria Bago Mole em noite de gala
No início dos idos dos anos trinta, enquanto Lampião e seus comparsas incendiavam a caatinga, tocando o terror nos vilarejos por onde passavam, matando gente inofensiva, saqueando armazém e bodegas, estuprando mulheres indefesas, Maria Bago Mole, inspirada pelos deuses, se preparava para promover mais uma festa de arromba no cabaré para homenagear todos os trabalhadores que participaram da construção da ferrovia “Great West”, cujo local se transformaria numa autêntica Fladstone.
Seria uma noite inesquecível na visão de Maria Bago Mole, até porque ela aguardava a chegada de dois ilustres convidados: o famoso jornalista carioca d.Matt., que já havia entrevistado a diva do jazz, Sarah Vaughan, uma das vozes mais maravilhosas do início do Século XX e se encontrava na Zona da Mata Sul para entrevistar a cafetina que transformou um vilarejo inóspito num cabaré afamado no mundo todo pelas suas “meninas” e suas ancas, e o mais afamado entregador de coco em lombo de jumento, Sir Sancho Panza, um letrado de mão cheia, conhecedor afamado de todos os cabarés de cegos, aleijados, mocos, mudos e surdos de beira de estrada, mais ativos no sexo e na birita local do que jumenta no cio.
Já estava ficando tarde, as meninas já tinham acendido os lampiões a querosene, espalhando algumas tochas nos janelões do cabaré, com o pátio todo enfeitados de bandeirolas coloridas. Criação das meninas. Em cada canto do salão via-se um rosto de mulher maquiada ao melhor estilo da casa, esperando seu cavalheiro. O local estava mais animado do que as quermesses patrocinadas pelas igrejas católicas em épocas de festejos juninos.
Maria Bago Mole, como sempre inspirada, vestia seu novo vestido vermelho de seda, modelo surgido com a chegada da ferrovia. Quando veio descendo as escadas do seu aposento, todos os homens que estavam bebericando no salão do cabaré perderam a concentração, ficaram hirtos, extasiados com tamanha desenvoltura e formosura! Ali estava uma divindade feminina!
Numa postura de dar inveja a qualquer Carlota Joaquina, patroa do Rei Dom João VI, a cafetina descera a escada firme, imponente, atenta ao comportamento das meninas que pareciam não estarem alegres como deviam e ela procurava as incentivar. Os convidados estavam chegando aos montes e o bar regurgitava de cavalheiros vestidos com suas fatiotas domingueiras e fazendo poses de elegância, com seus sapatos engraxados, seus bigodes finamente aparados à lá Salvador Dali, e degustando do conhaque e da aguardente da casa, que tinham fama de serem os melhores da área circundante.
Estavam todos na expectativa dos acontecimentos, quando avistaram um grupo ao longe, parecia uma procissão, mas na verdade era um tropeiro que vinha arrastando atrás de si uma tropa de jegues carregados de cocos verdes para abastecer o cabaré, que tinham sido encomendados por Maria Bago Mole para servir aos convidados da noite, pois alguns deles gostavam de ser servidos com conhaque ou birita da casa, servidos com água de coco verde.
O tropeiro era um tal de Sancho Panza, um sujeito alto, esguio como o roqueiro Chuck Berry, vestindo uma espécie de farda surrada e puxando a tropa com os cocos por uma corda e, gesticulando e rindo ironicamente pelo canto da boca, dizia ao colega que caminhava ao seu lado, um tal de d.Matt., carioca da gema como Sancho, para ficar esperto, porque aquela turma do cabaré não dava moleza, tinha a fama de bairrista, e brigava por qualquer motivo, e quase sempre alguém era despachado à cidade de pés juntos, depois da quinta dose.
Mal desceu do seu aposento onde estava com o amado Bitônio Coelho, Maria Bago Mole, ela própria, fez questão de servir os tropeiros com uma dose de conhaque local, mais forte do que gasolina premium, o qual estava sendo consumido pelos homens corajosos da ferrovia e os capangas da cana, dentro do cabaré.
Não demorou muito, quando o Sancho Panza, que estava segurando o seu copo de vidro vermelho e levantou o braço para dar um brinde, empinando o copo, quando ouviram-se vários tiros no pátio externo. Um dos tiros entrou pela porta adentro e quebrou o copo do Sancho que gritou “arre égua!” Estremeceu de raiva, menos pelo susto, e mais pelo desperdício da boa bebida. Foi até a porta de entrada e deparou-se com dois homens caídos ao chão e já com o passa porte de viagem eterna. Ele disse simplesmente que foi uma sorte que os dois “shitheads”, que estavam discutindo sobre jogo de cartas tinham sido despachados sem maiores prejuízos para os demais.
Tudo foi resolvido numa rapidez dum busca pé e os dois corpos imediatamente despachados numa carroça de burro pelo coronel Bitônio Coelho sem os exames cadavéricos. Mal os corpos saírem do local a diversão continuou como se nada tivesse acontecido. A festa era mais importante do que a disputa entre dois idiotas por causa de jogo de baralho.
d.Matt. e Sancho Panza ficaram bebericando em seus respectivos lugares. O primeiro esperando Maria Bago Mole abrir a boca para lhe conceder a entrevista histórica e o segundo, esperando-a pagar seus caraminguás pelos cocos trazidos nos caçoas dos jumentos. Curioso é que eles não tinham pressa, pois o cabaré lhes favorecia um ar de calmaria feminina tão interiorano que não perceberam que a dama já havia se despedido do seu amado para com eles conversar sobre tudo de sua vida, da formação do cabaré até a famosa entrevista e o pagamento dos cocos.
Quando iam saindo, depois de uma longa conversa com a dama do cabaré, um gaiato, ao sair do quarto onde havia passado a noite com uma das meninas, perguntou à protetora de sexo frágil:
– Foi verdade que aconteceu um tiroteio aqui ontem onde morreram dois idiotas por causa de um priquito, foi? – perguntou o cliente meio cambaleante da farra da noite, regada a sexo e birita com água de coco.
Maria Bago Mole, com a experiência e o talento de uma empreendedora/gerenciadora de carne mijada, se antecipou a qualquer “disse me disse” e respondeu ao curioso em tom firme:
– Meu filho, o que aconteceu aqui ontem foi o estampido de dois foguetões por mais um cabaço quebrado no cabaré. Quem quebrou o “selo” da xereca da menina já se comprometeu a se casar com ela e me pagou a recompensa como nos filmes de faroeste. Meu cabaré transa tudo que é feminino. Macho aqui só serve para pagar as contas do consumo e despachar seus desafetos, se for macho!
Nesse momento, d.Matt. e Sancho Panza se olharam extasiados com a resposta certeira da cafetina e ficaram pensando como se comportaria aquela famosa dama com a presença de suas deusas do blue cantando no cabaré. E voltaram a bebericar.
O carioca d.Matt argumentava que estava faltando alguma coisa para completar melhor “a noite” e sugeriu que fosse colocado na vitrola o disco da bluseira e ativista dos direitos civis, Nina Simone, cantando o seu maior sucesso “NE ME QUITE PAS.”
Luiz Carlos, também carioca, concordou, mas exigiu que em seguida fosse ouvida a sua musa Sarah Vaughan, apelidada de “divina” pela crítica mundial, cantando e encantando a todos com a letra sugestiva para a ocasião, da famosa Jazz Music “Send in the clowns.”
E assim, terminou mais uma noitada cabaretiana nos salões engalanados do Cabaré de Maria Bago Mole, já uma verdadeira celebridade nas noites festivas do Nordeste e do mundo!
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários sábado, 02 de outubro de 2021
Texto escrito por Luis Antonio Tavares Portella, filho deste colunista e estudante de Biologia da Unicap-PE
Médico inglês Edward Jenner, realizando a inoculação de suas descobertas
Existem registros com cerca de mil anos a.C. de inoculações usando um método ancestral praticado no Oriente, que consistia em furar a pele de uma pessoa saudável com uma agulha contaminada por secreções oriundas das feridas de um paciente com varíola. Este procedimento era utilizado pelos indianos nas cerimônias de adoração a Shitala Mata, divindade hindu associada com a cura da varíola e de outras doenças contagiosas. Foi descrito em detalhes pelo médico inglês Robert Coult em 1731, que ficou intrigado pela cerimônia.
J.Z. Hollwell, cirurgião irlandês estudioso dos costumes indianos, escreveu em 1767 ao Colégio Médico de Londres um “Relato sobre inoculação da varíola nas Índias Orientais”. No relato, descreveu um método de inoculação refinado em relação ao procedimento descrito anteriormente. As roupas contaminadas pelos pacientes com varíola eram guardadas e depois pequenos pedaços destes tecidos eram aplicados sobre feridas feitas propositalmente na pele de pessoas saudáveis. Procedimento este que demonstrou de forma empírica a atenuação da virulência do agente etiológico (causador) da doença devido ao uso tardio dos fragmentos daqueles tecidos, embora este método apresentava o risco de transmitir a doença para o paciente saudável.
Foi apenas em 1789 que Edward Jenner, médico britânico, deu o primeiro grande passo para a criação da vacina como a conhecemos hoje. Ele observou que algumas vacas possuíam feridas em suas tetas semelhantes às provocadas pela varíola no corpo humano. Acontece que os animais tinham uma versão mais leve da doença, conhecida como varíola bovina (cowpox). Em maio de 1796, Jenner decidiu testar a sabedoria popular que dizia que as pessoas que lidavam com gado não contraíam a varíola humana.
Observou que as mulheres responsáveis pela ordenha eram expostas ao vírus bovino e, portanto, tinham uma versão mais suave da doença. Com base nisso, ele conduziu sua primeira experiência com James Phipps, um garoto de oito anos: o inoculou com pus extraído das bolhas das mãos de Sarah Nelmes, uma leiteira que havia adquirido a varíola bovina através do contato com as vacas. O menino teve um pouco de febre e algumas lesões, mas não desenvolveu a forma grave da infeção completa, tendo uma recuperação mais rápida. A partir disto, Jenner pegou o líquido da ferida de outro paciente com varíola humana e novamente expôs o garoto ao material. Algumas semanas depois, James Phipps não havia desenvolvido a doença. Estava descoberto assim o fenômeno da imunização, que recebeu o nome de vacina (do latim vacca).
Em 1797, Edward Jenner publicou os seus resultados da experiência no tratado médico “Investigação sobre a causa e os efeitos da Varíola Vacum” que foi apresentado à Academia de Ciências do Reino Unido, a Royal Society de Londres.
Uma garota indiana de três anos, Rahima Banu, foi a última pessoa a se contaminar de forma natural pela varíola, adoecendo em 16 de outubro de 1975, posteriormente tendo sobrevivido à doença. A doença foi considerada erradicada no mundo pela OMS em dezembro de 1979, depois de ter matado mais de 300 milhões de pessoas só no século 20.
Algumas amostras ainda são mantidas em laboratórios, como no Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), em Atlanta, Estados Unidos e no Centro Estadual de Pesquisa em Virologia e Biotecnologia VECTOR, em Koltsovo, na Rússia.
Foi o cientista francês Louis Pasteur (1822-1895) que imortalizou a descoberta de Edward Jenner, ao generalizar o termo vacinação, denominando assim todo tipo de injeção imunizadora para prevenir doenças.
Ao pesquisar a cólera das aves, descobriu que ao se administrar a forma debilitada ou atenuada do organismo que produz a infecção, era possível desenvolver nas aves defesas poderosas contra este mesmo organismo. Também afirmou que quando um bovino já adquiriu um carbúnculo na vida e se recuperou, não há micróbio no mundo capaz de atacá-lo novamente, está imunizado. Concluiu que demonstrou algo que Jenner nunca pôde fazer com a varíola de forma definitiva, provar que o micróbio que mata, é o mesmo que cura.
Para que não houvesse dúvidas sobre sua descoberta, vacinou com amostras atenuadas de carbúnculo algumas ovelhas, cabras e bovinos. Em seguida, após um intervalo de tempo, tornou a injetar nos animais as mais mortíferas cepas de carbúnculo, sem que nenhum desenvolvesse formas graves da doença. Com esta demonstração pública de sua teoria, convenceu os mais céticos e transformou seu pequeno laboratório em uma fábrica de vacinas.
Pasteur também pesquisou sobre uma vacina contra a raiva. Sabendo que existe um tempo entre a mordida do cachorro e a chegada do vírus ao cérebro humano, ele teorizou que se um medicamento fosse injetado precocemente numa pessoa mordida por um cão raivoso, ela poderia ser salva. Em 06 de julho de 1885, uma mulher procurou Pasteur, suplicando que salvasse seu filho de nove anos, Joseph Meister, mordido há dois dias por um cão raivoso. O procedimento foi realizado na criança, que recebeu uma série de inoculações da suspensão da medula de coelhos com vírus atenuados. O garoto foi o primeiro ser humano da história a ser vacinado e salvo da raiva, que até então era mortal em 100% dos casos.
Durante o século XX, surgiram várias vacinas com vírus atenuados ou inativados, como a Influenza (1940); Poliomielite (1955); Sarampo (1963); Caxumba (1967); Rubéola (1969) e Rotavírus (2008). Em meados de 1980, novos avanços foram alcançados na tecnologia das vacinas. Os bioquímicos americanos Richard Mulligan e Paul Berg, da Universidade de Stanford, EUA, desenvolveram a técnica do DNA recombinante, que proporcionou o surgimento de vacinas para Hepatite B (1986), Papilovírus humano (2006) e algumas cepas de Influenza (2013).
As mais recentes tecnologias de vacina não contêm mais proteínas virais, usam o próprio mRNA (RNA mensageiro), DNA e vetores de vírus que transmitem diretamente instruções às células para que produzam e saibam reconhecer as proteínas virais. Algumas vacinas da COVID-19 utilizam esta tecnologia.
E é assim, através do tempo e das adversidades, que o homem busca cada vez mais adquirir conhecimento e desenvolver novas tecnoUM logias para combater os males que assolam a humanidade. Poucas intervenções médicas do último século podem igualar o efeito que a imunização exerceu sobre a longevidade, redução de custos e qualidade de vida da humanidade.
Baseado no texto original de Lauro Arruda Câmara Filho, médico cardiologista.
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários sábado, 25 de setembro de 2021
OS IMPERDOÁVEIS (1992) – "O ÚLTIMO GRANDE FAROESTE?"
OS IMPERDOÁVEIS (1992) – "O ÚLTIMO GRANDE FAROESTE?"
Cícero Tavares
Republicado a pedido
Cartaz de Unforgiven – Os Imperdoáveis – (1992)
OS IMPERDOÁVEIS (1992)) foi, talvez, o último filme de faroeste digno desse gênero clássico genuinamente americano, onde eram apresentados, na tela grande, os mocinhos e os bandidos do velho oeste sem glamour.
Nesse faroeste Clint Eastwood vive um ex-pistoleiro, viúvo e pobre. Cria dois filhos pequenos num rancho até se ver forçado a voltar à ativa por convite de um principiante querendo se firmar na "profissão" e ganhar dinheiro.
O filme reverencia o gênero ao mesmo tempo em que desmistifica o Velho Oeste, retratado como lugar sujo e brutal. Realizado em fabulosas locações em Alberta, Canadá. No final, o filme é dedicado aos mentores de Clint Eastwood como os diretores Sérgio Leone e Don Siegel, que com certeza ficariam muito orgulhosos de seu discípulo e assinariam embaixo seus feitos.
Três homens em busca de uma recompensa. Não se engane. Este não é um filme previsível. Pelo contrário, nos surpreende a cada instante. Clint Eastwood mais uma vez consegue nos envolver. Os mil dólares oferecidos, na verdade, representam a busca de três homens pelo real sentido da vida.
OS IMPERDOÁVEIS é uma desconstrução do gênero western. Os matadores de sangue frio do Velho Oeste selvagem, sempre mostrados nas telas do cinema como atiradores perfeitos, que nunca erram o tiro, como na Trilogia dos Dólares de Sergio Leone. Nesse western, vemos algo diferente. Um homem alterado pelo tempo e pela sua consciência, que não consegue montar no próprio cavalo, nem atirar direito. Seu amigo, Ned Logan, (Morgan Freeman), por exemplo, não tem mais o sangue frio do matador cruel, Frank (Henry Fonda), de ERA UMA VEZ NO OESTE, obra-prima de Leone, nem mais dar um tiro letal, mesmo contra o suposto homem que teria retalhado, ou ajudado a retalhar o rosto de uma prostituta. O terceiro sofre com sua primeira morte como qualquer mortal sofre, além de ter uma visão deficiente, fazendo desses um trio de mercenários um tanto quanto humano e bem dos problemáticos.
No núcleo do filme, ver-se um xerife que humilha um homem que era conhecido como uma lenda, suas histórias estavam sendo passadas para o papel por seu escritor particular, segundo suas versões. Desmascarado, ver-se que a famosa frase "The Man Who Shot Liberty Valance" (O Homem que atirou em Liberty Vavence) se aplica aqui. "Quando a lenda se torna fato, publique-se a lenda." Mas a lenda é desmistificada e o ídolo do escritor se mostra uma fraude.
Outro elemento interessante e importante do filme é como as histórias podem ser exageradas ao se passarem de boca em boca. Uma prostituta teve o rosto cortado, e, em seguida espalha-se que todo corpo dela foi cortado, menos a vagina. Impressionante como os boatos acumulam falácias em suas versões mais recentes, conforme vão passando de boca em boca no tempo. Esse pode ser um dos elementos de criação de lendas de personalidades que realizaram feitos exorbitantes no oeste, ou em outras épocas. Às vezes, nem mesmo a própria pessoa que faz tais feitos, deve saber o que fez, por estar bêbada no momento ou por fazer muito tempo e ela acaba se tornando a lenda.
Disse o personagem Lette Bill, num dos diálogos do filme, depois de perguntado por seu alvo:
"Você é William Munny, assassino que matou mulheres e crianças!"
Resposta: "Isso mesmo, já matei mulheres e crianças e quase tudo o que se rasteja, e estou aqui para matar você."
Voltando ao filme, o final trás uma ressurreição do velho Willian Munny ao saber que seu amigo foi morto pelo xerife. Gratificação, é o que se sente ao ver Munny dar de garra da garrafa de whisky, tento-a negado o filme todo. Sua raiva e seu desejo de sangue e vingança agora são maiores do que qualquer controle. O whisky traz de volta sua mira, sua habilidade de montaria, tudo, o whisky traz de volta sua alma de matador. Ele traz de volta o oeste sanguinário que vivia adormecido em Munny, sem o oeste, sem sua alma verdadeira, ele seria incapaz de fazer tais feitos. Ele estava tão fundo em seu novo "eu", o Willian Munny moldado por sua esposa, Anna Levine, no papel de Delilah Fitzgerald, que ele era um assassino ineficiente. Agora, o whisky foi apenas a chave para aflorar tudo aquilo que estava adormecido nele.
Clint Eastwood retornou ao gênero depois de tanto tempo sem atuar. Ele queria marcar com sua volta com algo palpável. E marcou com a maior obra-prima do western revisionista por ser exatamente um filme de não cowboys de mira perfeita e sangue frio, mas tornando as lendas do oeste, entre elas a maior delas, Clint Eastwood, mais humanos, menos super heroico, e mais realista. Deve-se aceitar, pois afinal de contas, nossos heróis envelhecem, mas as lendas não morrem.
a) Trailer Oficial de Os Imperdoáveis
b) Um Olhar Sobre Os Imperdoáveis
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários quinta, 16 de setembro de 2021
Texto escrito por Luis Antonio Tavares Portella, filho deste colunista e estudante de Biologia da Unicap-PE.
Imagem irônica feita à época da exacerbação da censura em Hollywood
Hoje em dia, parece impensável a ideia de censura e limites à liberdade de expressão de um artista, porém é interessante lembrar que cerca de 90 anos atrás um dos maiores guardiões (atualmente) da liberdade de expressão foi palco de um código de censura moral imposto sobre a arte, e estamos falando dos Estados Unidos, mais especificamente, de sua indústria cinematográfica.
Voltando no tempo, em 1922, após uma série de filmes polêmicos e escândalos envolvendo estrelas de Hollywood, os estúdios de cinema decidiram por criar uma associação, conhecida formalmente como Associação de Produtores e Distribuidores de Filmes da América (Motion Picture Producersand Distributorsof America – MPPDA). Para comandá-la, foi contratado o líder presbiteriano Will H. Hays como presidente, numa tentativa de restabelecer a boa imagem de Hollywood perante a sociedade americana da época. Hays, então ex-diretor-geral do Serviço Postal dos Estados Unidos, e um membro proeminente do Partido Republicano, recebeu um extravagante salário para defender a indústria dos sucessivos ataques externos.
Nesta mesma época, líderes religiosos, civis e políticos condenavam a indústria cinematográfica como uma fonte de imoralidade. A pressão política sobre os estúdios estava cada vez maior, com cerca de mil projetos de lei censurando o cinema sendo discutido em 37 dos estados americanos.
Isto foi possível devido a uma decisão da Suprema Corte em um caso em 1915, onde foi decidido que a Primeira Emenda da Constituição não se aplicava ao cinema. Com base nesta decisão, em 1921 o Estado de Nova York criou um comitê de censura, sendo seguido pelo Estado da Virgínia e outros. De repente, cerca de oito estados possuíam um comitê de censura, o que significava que um único filme deveria se submeter às diferentes regras de cada estado. Os cineastas, com medo de que logo cada estado e cidade adotasse seu próprio código, fazendo com que fosse preciso produzir diferentes versões do mesmo filme para cada região, aumentando em muito o gasto com a produção, começaram a pensar em um sistema de autocensura, um imposto pela própria Associação, para que acelerasse a liberação dos filmes nas diferentes regiões. Se eles mesmos censurassem seus filmes, os outros comitês não teriam do que reclamar.
Foi quando Hays sugeriu aos chefes de estúdio a criação de um comitê para debater como seria feita essa censura aos filmes. Os chefes dos principais estúdios responderam ao chamado e criaram uma lista chamada de “os “não pode” e “tenha cuidado” dos filmes”, baseada nas reclamações dos comitês de cada estado. A lista era longa e trazia onze assuntos que deveriam ser evitados e vinte e seis que deveriam ser tratados com cuidado pelos diretores. Logo essa lista foi aprovada pela Administração Federal do Comércio (Federal Trade Commission – FTC) e Hays se pôs a criar o Comitê de Relações com os Estúdios (Studio Relations Committee – SRC), para fiscalizar a implementação. Entretanto, ainda não havia uma forma eficaz de controlar o conteúdo dos filmes, e a sociedade passava pela Grande Depressão de 1929, aumentando a controvérsia e as polêmicas sobre os seus conteúdos.
Foi então formulado o Código Hays, conhecido oficialmente como Motion Picture Production Code ou Código de Produção de Cinema, um conjunto de normas morais aplicadas aos filmes lançados nos Estados Unidos pelos grandes estúdios cinematográficos. Sob a liderança de Hays, a MPPDA (Motion Picture Producersand Distributorsof America), mais tarde conhecida como MPAA, adotou este código de autocensura em 1930, sendo aplicado de maneira mais rígida a partir de 1934. A partir de agora, o código diria qual conteúdo era aceitável ou não-aceitável para os filmes produzidos nos Estados Unidos.
Entre 1934 e 1954, sob o regime de Joseph Breen, administrador indicado por Hays para supervisionar a implementação do código enquanto diretor da PCA (Production Code Administration), a indústria seguiu o código à risca. Durante sua regência, os filmes que se adequavam ao código recebiam um selo de aprovação da Associação, enquanto os reprovados eram proibidos de serem distribuídos pela entidade, o que reduzia bastante seu alcance junto ao público e suas chances de êxito comercial. Além disso, os estúdios infratores recebiam uma multa de cerca de 25 mil dólares na época.
A partir de 1956, devido ao impacto da televisão, à influência de filmes estrangeiros, à presença de diretores controversos que não aceitavam as restrições e à intervenção da Suprema Corte, o código começou a sofrer mudanças. Com a contracultura dos anos 1960, os cineastas se tornaram mais ousados e começaram a violar o código de maneira deliberada. Em 1964, o diretor Sidney Lumet incluiu cenas de mulheres nuas em seu filme “O Homem do Prego” (The Pawnbroker – 1965). Foi um dos primeiros filmes a trazer cenas de nudez e embora a MPAA tivesse garantido que se tratava de uma exceção, pouco tempo depois outros diretores começaram a ousar e o Código Hays passou a ser cada vez mais ignorado. Perdendo sua força com o tempo, foi derrubado e substituído em 1968 pelo Sistema de Classificação Indicativa por Idade da MPAA, que está em vigor até hoje.
A MPAA ainda concede um selo aos filmes que são distribuídos pelos estúdios que fazem parte da Associação. Este selo contém a classificação indicativa da obra em questão, sendo: G (conteúdo livre para todas as idades); PG (algum conteúdo inadequado para crianças); PG-13 (algum conteúdo inadequado para menores de 13 anos); R (menores de 17 anos precisam de acompanhamento) e NC-17 (conteúdo adulto – proibido para pessoas com 17 anos de idade ou menos).
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários quinta, 09 de setembro de 2021
“Piedade”, filme ficcional do cineasta caruaruense Cláudio de Assis, lançado oficialmente no 52º festival de cinema de Brasília em 2019, é mais uma pornochanchada brasileira de quinta categoria patrocinado pela famigerada Lei Rouanet, esse lixo radioativo criado em 1991 pelo governo do doidivana Collor de Melo para dar dinheiro a artistas ricos, incompetentes e maus intencionados (não é o caso do Cláudio de Assis) de enriquecerem às custas dos impostos dos brasileiros que trabalham sério e
lutam pelo progresso do País.
As primeiras imagens que aparecem na tela desse longa metragem deixa qualquer telespectador inteligente aturdido, atabalhoado, por ficar em dúvida se está assistindo a um filme cuja temática é a resistência de uma comunidade pacata preste a ser despejada pela ação nefasta do empresário inescrupuloso ou a um campeonato aquático de adolescente cagando palavrões pela boca.
Ao entrar no cinema pensando que vai assistir a um drama sério, abordando um tema lhano, universal, um libelo à natureza, ao meio ambiente, por causa da ganância explorativa do homem, o telespectador se depara com um amontoado de cenas de palavrões e sexos explícitos masculinos sem conexão com a história. As cenas de sexo homoafetivo entre Aurélio e Sandro por mais de dez minutos é uma violência ao bom senso do telespectador.
A sinopse aborda “o cotidiano da pequena cidade fictícia de Piedade abalada com o interesse e chegada de uma grande petroleira no local. Aurélio, interpretado por Matheus Nachtergaele, é representante da petroleira Petrogreen e tem o objetivo de convencer os moradores da cidade a venderem seus terrenos. Logo ele percebe que o foco de resistência à sua proposta é o círculo familiar de Dona Carminha, personagem interpretada magnificamente por Fernanda Montenegro e seu filho mais velho, Omar, interpretado pelo sempre inspirado ator barreirense Irandhir Santos, proprietário do bar Paraíso do Mar. As abordagens de Aurélio fazem com que ele descubra segredos da família e uma inesperada conexão com Sandro, interpretado pelo ator Cauã Reymond, dono de um cinema pornô do outro lado da cidade.”
Depois de dirigir “Amarelo Manga” (2002), seu longa de estréia, que retrata a vida de alguns moradores do centro histórico do Recife, guiados pelas suas paixões e frustrações do dia a dia; “Baixio das Bestas”, (2006), um pornô com cenas de sexos explícitos piegas, refletindo as condições das prostitutas dos cabarés de quinta categoria; “Febre do Rato” (2011), um enredo fora de controle, doidera geral; “Big Jato” (2016), baseado no livro homônimo de memórias de Xico Sá, que retrata a vida do motorista do imponente Big Jato, um caminhão-pipa utilizado para limpar as fossas da cidade sem saneamento básico. Porém, Francisco está mais interessado nas ideias do tio, um artista libertário e anarquista. À medida que descobre o primeiro amor, ele percebe a vocação para se tornar poeta.
O cineasta Cláudio de Assis não inova em nada na sua filmografia. Continua estático, com um tom ranzinza e raivoso, atirando bosta no ventilador da matinê de domingo. Não sai do nonsense, do underground, do lugar comum, da vulgaridade, da lixeira.
Se tivesse argúcia, sensibilidade e espírito inovativo para fazer obras sérias e inovadoras e não possuísse o ego maior do que sua calça jeans, Cláudio de Assis dava um tempo a seus projetos pessoais, assistiria a todos os filmes do mestre Sergio Leone, que rompeu a muralha holywoodiana nos anos sessenta com talento, impôs seus western sphaghetti produzidos na Itália e disse aos yankees: “Oeste se faz com mais violência sim, efeitos sonoros de sons ambientais sim e utilização de imagens e símbolos religiosos sim.” O resto é conversa fiada para boi dormir e discursos raivosos de John Wayne, que considerava, à época, que o faroeste fora do eixo de Holywood era piada pronta de cineasta italiano idiota, no caso do diretor Sergio Leone, que o tempo provou o contrário; e pôs uma rolha na boca de Wayne.
Sergio Leone encantou-se jovem ainda, mas deixou uma obra genial para a posteridade, tão importante quanto às produzidas pelos americanos por que encarava cinema com seriedade, sem copiá-los nem utilizar cenas de sexos explícitos para fazer obras-primas como a Magna Trilogia dos Dólares, Era Uma Vez no Oeste, Quando Explode a Vingança e Era uma Vez na América, melhor filme já produzido sobre a ascendência da máfia judaica no bairro de Nova York.
O filme “Piedade” tem uma excelente temática, mas desperdiçada seu desenvolvimento por um diretor que tem obsessão pelo underground paranoico e pornográfico-esquerdopata.
Piedade – Trailer Oficial
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários quinta, 02 de setembro de 2021
Esse capô é o sonho dos machos que gostamos de mulher
Essa jovem com esse capô de “wolkswagen” foi flagrada saindo do mictório do sítio “São Francisco”, que fica ao lado do galinheiro de galinha caipira, após uma festa regada à buchada de porco, mão de vaca, feijoada, sarapatel e cinquenta e um, a cachaça do presidiário-macumbeiro.
É uma verdadeira obra-prima da Natureza, de dá inveja a qualquer quadro saído da imaginação do quase maior pintor do mundo: Pablo Picasso. Abelardo da Hora iria suspirar emocionado, vivo fosse com tamanha ousadia in natura.
A dona dessa obra-prima preferiu mostrar o rosto para o ambiente ficar mais psicodélico e espera para que os mais afoitos não cometam crime de importunação libidinosa previsto no Código Penal Brasileiro, caso a encontrem na estrada do sítio, em Lagoa do Carro, terra do chinês Zé Chin, que trabalha mais do que burro de carga.
Não é o capô da Mona Lisa de Da Vinci, tão pouco o da Morena da Montanha Russa de pelos pubianos, do ceramista desconhecido, Saúba dos Bonecos, que flagrou Maria Bago Mole obrando de côcora por trás de uma touceira de urtiga, perto do cabaré de mesmo nome no século XIX, mas desperta o sentimento machista: ambição e desejos capazes de destruírem qualquer cabaré, aos que gostam da fruta, é claro.
Na hora da foto, o frege quase que ia à loucura com tanto bêbado vibrando com a vitrola de ficha executando “Unforgettable”, do negão Nathaniel Adams Coles, o Nat King Cole, um dos maiores pianistas de jazz norte-americano de todos os tempos.
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários quarta, 25 de agosto de 2021
DF Boca Aberta debochando de sua inseparável tornozeleira eletrônica
O deputado federal Boca Aberta do PROS/PR protocolou o projeto de lei n.º 582 na Câmara dos Deputados propondo a amputação de mãos de políticos condenados por crime de corrupção contra o patrimônio público, “desde a condenação até o trânsito em julgado.”
Como o artigo 5.º da Constituição Federal-1988 não veda esse tipo de castigo para esse de crime, nada mais justo do que a argumentação do deputado para a propositura desse projeto de lei, ressuscitando a máxima codificada por Hamurábi, baseado na lei de Talião: Olho por Olho Dente por Dente.
Código de Hamurábi que inspirou Boca Aberta a elaborar o PL da amputação
Conforme dispõe o PL do deputado “a amputação das mãos direita e esquerda de político que comete crime de abuso de poder econômico, improbidade administrativa que importe lesão ao patrimônio público e enriquecimento ilícito, desde a condenação até o trânsito em julgado.”
Delibera o PL que: “Presidente da República, Governador de Estado, membros do Congresso Nacional, das Assembleias Legislativas, das Câmaras Legislativas, das Câmaras Legislativas Municipais que tenham contra sua pessoa ou os que forem condenados, em decisão transitada em julgado ou proferida por órgão judicial colegiado, terão suas mãos amputadas se cometerem os seguintes crimes:
a) abuso do poder econômico ou político;
b) contra a economia popular, a fé pública, a administração pública e o patrimônio público, lavagem ou ocultação de bens, direitos e valores;
c) organização criminosa, quadrilha ou bando que tiverem suas contas relativas ao exercício de cargo ou funções públicas rejeitadas por irregularidade insanável que configure ato doloso de improbidade administrativa, e por decisão irrecorrível do órgão competente;
d) os detentores de cargo na administração pública direta, indireta ou fundacional, que beneficiarem a si ou a terceiros, pelo abuso do poder econômico ou político, que forem condenados em decisão transitada em julgado ou proferida por órgão judicial colegiado;
e) os que forem condenados à suspensão dos direitos políticos, em decisão transitada em julgado ou proferida por órgão judicial colegiado, por ato doloso de improbidade administrativa que importe lesão ao patrimônio público e enriquecimento ilícito, desde que a condenação ou o trânsito em julgado por órgão colegiado.”
Segundo define ainda o projeto de lei do deputado: “a amputação das mãos do político corrupto será realizada no Sistema Único de Saúde – SUS, clínica do local do domicílio do parlamentar condenado.”
Justificando sua intenção para a propositura do PL, Boca Aberta, habituado a transformar praças, ruas e avenidas em telecatch para se promover, argumenta que “os políticos se aproveitam da boa fé dos eleitores, prometem tudo, não cumprem nada e nada lhes acontece. Políticos desviam verbas de vários setores como educação saúde e muita gente morrem por causa disso. Eles matam milhares de pessoas e ninguém faz nada. Quando se desvia dinheiro da merenda escolar, por exemplo, muitas crianças passam mal de fome por isso e ninguém faz nada! A população está cansada de sofrer nas mãos de políticos inescrupulosos e frios, pessoas más, desumanas.”
Se for aprovado pelo Congresso Nacional sem alteração, como não aconteceu com o pacote anticrime do ministro Sergio Moro, com menos de um ano teremos uma câmara e um senado manetas, a não ser que entrem em ação os juízes de garantia criados pelo deputado federal do PSOL/RJ, Marcelo Fresco, para anularem as condenações…
QUEM SE HABILITARÁ A SER O CARRASCO?
Isso é o retrato cagado e cuspido dos nossos representantes no parlamento
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários quarta, 18 de agosto de 2021
Na Inglaterra do século XVI, Henrique VIII (Robert Shaw) planejava se separar de sua primeira esposa para se casar com a fogosa (e bota fogosa nisso!!) Rainha Ana Bolena (Vanessa Redgrave), mas não recebe a aprovação de Thomas Morus (Paul Scofield), numa atuação soberba, impagável, um fervoroso católico que se tornou “Lord Chanceler”, um altíssimo posto que ele preferiu renunciar do que trair suas convicções. Entretanto, a importância de Sir. Thomas Morus era tão grande à época que mesmo após sua renúncia o rei continuara lhe perseguindo. Até que surgem “provas” que o incriminam como alta traição, um “crime” punido com a morte, sendo decapitado na Torre de Londres no dia 6 de julho de 1535, “antes das nove horas.”
(A MAN FOR ALL SEASONS (1966), ou O Homem Que Não Vendeu Sua Alma, é o primeiro de dois filmes em que o diretor Fred Zinnemann e a atriz Vanessa Redgrave trabalharam juntos. O posterior foi Julia de (1977). O ator Paul Scofield recebeu o Oscar de melhor ator pela atuação primorosa, mas não compareceu à cerimônia de entrega por ser avesso a comemorações. Com isso, sua estatueta de melhor ator foi recebida por Wendy Hiller, sua companheira de elenco. O orçamento do filme foi de US$ 3,9 milhões. Teve a sua refilmagem em (1988) com o mesmo título pelo ator e diretor Charlton Heston, que já havia trabalhado como ator principal em grandes clássicos do gênero, como Os Dez Mandamentos (1956), Bem-Hur (1959), O Planeta dos Macacos (1968), dentre outros. O homem que não vendeu sua alma ganhou nova versão e não decepcionou.
Como era de se esperar, um filme com esse objetivo e, ainda por cima, baseado diretamente em uma peça de teatro que seu próprio autor, Robert Bolt, transformou em roteiro cinematográfico, simplesmente não poderia primar pela ação no sentido mais esperado da palavra. Ela inexiste aqui e tudo, absolutamente tudo, recai no colo do incomparável trabalho dramático de Paul Scofield, no papel principal.
O ator, que começou sua vida artística no teatro, onde permaneceu focado praticamente a vida inteira, apesar de ter também aparecido em alguns filmes, viveu Thomas Morus na peça de Bolt tanto no West End de Londres, área da Região centro de Londres, Inglaterra, onde contém muitas atrações turísticas, quanto na Broadway, em Nova York. E foi a escolha do diretor Fred Zinnemann para viver o papel também nas telonas. No entanto, a produtora considerou que Paul Scofield não tinha nome para atrair audiência para o filme, com Richard Burton e Laurence Olivier sendo considerados para o papel. No entanto, o cineasta insistiu em sua escolha, brigou, ajudado por Bolt, especialmente depois que ele havia levado para casa o Tony de melhor ator justamente por seu trabalho na Broadway como Morus, em 1962.
Essa escolha foi extremamente acertada pelo diretor Fred Zinnemann. Paul Scofield interpretou Thomas Morus com um vigor impressionante, demonstrando com olhares, gestos e pequenos trejeitos corporais uma latitude dramática que vai da alegria em ver sua esposa no final de um dia estafante, passando pela surpresa e leve – mas elegante – desgosto em ver sua filha com um pretendente luterano e pelo encontro com seu amigo e rei nos jardins de sua moradia, até a veemente negativa em endossar o posicionamento do rei sobre o divórcio e novo casamento sem a benção do Papa.
O diretor Fred Zinnemann, por seu turno, não perde a oportunidade de manter sua câmera sempre parada e mirada no rosto de Paul Scofield em toda sua intensidade e profunda inteligência, construindo um personagem espetacular logo nos primeiros minutos da projeção, quando demonstra muito claramente sua integridade primeiro como advogado e, depois, como chanceler real.
O trabalho do ator Paul Scofield em O Homem Que Não Vendeu Sua Alma é um dos mais impressionantes trabalhos dramáticos da Sétima Arte, transformando um filme que é quase que completamente um teatro filmado e que, portanto, pode facilmente descambar para a monotonia, em uma obra realmente inesquecível, daqueles em que cada cena com a presença de Paul Scofield é um momento de se aplaudir. Sua presença é tão magnética e profunda, aliás, que todo o restante do elenco desaparece, até mesmo a espalhafatosa ponta de Robert Shaw como Henrique VIII e a assustadora aparição do imponente Orson Welles como o Cardeal Wolsey. Mesmo os atores que tem mais presença de tela, como John Hurt como Richard Rich e Leo McKern como Thomas Cromwell, por melhor que sejam os atores – e são mesmo excelentes – mínguam diante de Paul Scofield e a retitude moral e ética de Morus.
A equipe técnica que cuidou de O Homem que Não Vendeu sua Alma também não decepcionou. Figurinos corretamente suntuosos vestem o elenco que passeia por cenários em locação e alguns poucos construídos especialmente para o filme que se funde em um conjunto harmônico preciso que muito corretamente não tem nenhuma intenção de chamar atenção para si mesmo, deixando todo o espaço para que Paul Scofield e o restante do elenco brilharem como devem brilhar. A fotografia de Ted Moore, conhecido por seu trabalho na franquia 007, faz as cores ressaltarem da mesma maneira que ele as suga na medida em que o drama de Morus torna-se cada vez mais sem saída, algo que a equipe de maquiagem e cabelo esmera-se também em apontar.
Retratando um dos mais significativos momentos da história britânica sob o ponto de vista de um grande homem, o filme O Homem Que Não Vendeu Sua Alma é ao mesmo tempo uma aula de dramaturgia e cinema e de estadismo em sua forma mais pura. Todo político ou pretendente a político deveria no mínimo ser obrigado a absorver as lições que o Morus de Scofield passa aqui (já que pedir que estudem Thomas Morus talvez seja demais). O mundo político com certeza seria melhor mesmo se apenas um décimo da moralidade e honestidade do personagem fossem internalizadas.
O Homem Que Não Vendeu Sua Alma é uma grande lição de moral e ética que o diretor diretor Fred Zinnemann nos deixou como legado.
A MAN FOR ALL SEASONS (1966) Trailer Oficial
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários quinta, 05 de agosto de 2021
TRÊS IRMÃOS EM CONFLITO (OU A IGNORÂNCIA É QUE ATRAVANCA O PROGRESSO)
Tipo de armazém de Secos e Molhados da época, a semelhança do de Seu Cirilo
Seu Cirilo era um comerciante mulherengo. Não podia ver um rabo de saia deixando o mocotó saliente que endoidava. Perdia a cabeça de baixo e de cima. Em cada bairro onde tinha um armazém de Secos e Molhados, possuía um rabo-de-saia para “furar o couro” a cada dia da semana.
De todas as mulheres com quem teve “um caso extraconjugal público e duradouro”, só Dona Dóris teve três filhos dele, um macho e duas fêmeas. Até hoje não se sabe por que as outras “cadelas”, como ele pejorativamente as chamava, não embucharam…
Seu Cirilo não era agiota, mas desenvolveu um método infalível de se apossar das casas dos devedores do seu armazém: quando percebia que o devedor estava com a caderneta de débito a perigo, intimava-o a trazer “a escritura da casa” como garantia do débito e, quando este chegava a determinado patamar, pagava a diferença do valor do imóvel previamente combinado e expulsava o devedor. Por causa desse modo de pressão infalível, Seu Cirilo conseguiu angariar um patrimônio milionário que dava inveja a qualquer comerciante que começaram “por cima”, na redondeza.
Antes de se encantar, Seu Cirilo havia deixado dois imóveis “apalavrados” para cada filho. Três para a manteúda, fora os três armazéns de secos e molhados que, um ano depois de sua morte, fecharam as portas porque os filhos não se entendiam na condução gerencial dos mesmos. Não tinham “tino” para o negócio. Só queriam saber de cachaça e mulher.
Após a falência dos três armazéns por falta de gerenciamento, cada filho, de posse de suas casas e apartamentos dados verbalmente pelo pai em vida, tomou seu rumo na estrada, e passaram a se desentender cada vez que um falava para o outro que queria vender um imóvel “doado” pelo pai para tocar a vida. Nenhum assinava em favor do outro qualquer termo de anuência, renúncia, mesmo sabendo que isso era condição necessária para dirimir qualquer dúvida e dar segurança jurídica para quem estava comprando.
Interessante é que os filhos de Seu Cirilo viviam “socados” na igreja todos os sábados e domingos justamente orando às pessoas que estivessem passando por esse tipo de situação. ”Oh! Pai! Antecedei junto a teus filhos para que não haja desavença entre eles!” “Que eles vivam em harmonia! Amém!” – suplicavam ajoelhados!
Enquanto oravam para Deus para mostrar um caminho, Maria procurava João para que assinasse um termo de anuência e esse se negava terminantemente! João procurava Josefa para que assinasse um termo de concordância para ele vender a casa e esta dizia não! Josefa procurava João e Maria para que assinassem um termo de anuência e estes diziam também não! E assim foram levando a vida nessa discussão interminável, com um colocando a culpa no outro por não fechar o negócio. Enquanto isso os três armazéns pertencentes, em vida, a Seu Cirilo, o tempo ruiu. Até que um dia também Dona Dóris encantou-se e tiveram de procurar a Justiça para dividirem os bens deixados em vida pelos de cujus. Contrataram um advogado “especialista no assunto” e este, autorizado pelos três irmãos, ingressou na Justiça com a abertura do inventário.
O tempo passou e a Justiça sem dar um ponto final ao processo. A espera foi tanta que morreram João e Maria. Josefa caminhava para o paletó de madeira por causa do sério diabetes. “Vai chegar o dia em que, quando a Justiça disser ‘de quem é de quem na partilha’ até os netos terão viajado para a cidade de pés juntos!” – Sentenciou um vizinho gaiato que trabalhava no Tribunal de Justiça.
Bem feito para os três conflitantes que não chegaram a um consenso arbitral antes de procurar a Justiça, que no Brasil só não é lenta para quem é ladrão, assassino, criminoso, latrocida, estuprador, pedófilo e corrupto, porque tem a proteção dos “Urubus da Corte.”
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários quinta, 29 de julho de 2021
Enquanto filmava as cenas externas de sua obra-prima, ERA UMA VEZ NO OESTE, no Monument Vallery, Arizona, nos Estados Unidos, locação costumeira de John Ford; em Utah, na Andaluzia e no deserto de Almeria, na Espanha, o genial diretor italiano Sergio Leone não tomou conhecimento de que um diretor maluco, ousado, genial, para aquele momento histórico do Oeste, também estava revolucionando o tema com uma pegada revolucionária. Seu nome: Sam Peckinpah, conhecido como o “Poeta da Violência”, com “Meu Ódio Será Sua Herança”, um western divisor de água entre o tradicional e o moderno.
A abertura do faroeste “Meu Ódio Será Sua Herança” (The Wild Bunch, EUA, 1969) possui uma intrigante simetria com a longa e antológica seqüência final do longa-metragem. O filme começa com um grupo de policiais uniformizados, montados a cavalo, entrando numa pequena cidade norte-americana. O bando cruza com crianças que brincam no meio da rua, perto dos trilhos de um trem. Algumas tomadas esparsas mostram que a brincadeira infantil é um bocado cruel: os meninos jogaram escorpiões no meio de um formigueiro, e os bichos venenosos estão sendo devorados pelas formigas.
“Meu Ódio Será Sua Herança” encerra enfocando os remanescentes do mesmo grupo de homens que aparece no princípio. Eles não são policiais, e sim uma quadrilha de assaltantes de banco; aquele era apenas um disfarce, como o espectador logo vai descobrir na movimentada e sangrenta sequência que abre o filme com gosto de pólvora. Não há heróis aqui, nem vilões. Todo o longo espectro de personagens é moralmente questionável.
Na ocasião do fim do longa os bandoleiros estão no México, e se dirigem para resgatar um dos membros do grupo, preso por um rebelde paramilitar chamado General Mapache (Emilio Fernandez). O violentíssimo tiroteio que se segue não apenas encerra o filme de maneira brilhante, mas fecha um círculo e explica a cena dos escorpiões da abertura; os escorpiões são uma metáfora para os bandidos.
Os escorpiões são intrigantes porque jamais estiveram no roteiro do longa-metragem. Na verdade, eles foram uma sugestão de Emilio Fernandez, que contou ao cineasta Sam Peckinpah como se divertia no deserto mexicano, quando era menino. Peckinpah percebeu a fascinante simetria e filmou o ataque das formigas aos escorpiões abusando de planos-detalhes. Ao fazê-lo, acabou concebendo uma das aberturas mais estranhas, criativas e interessantes do cinema contemporâneo.
Enquanto filmava nos sets poeirentos do México, é possível que o diretor não soubesse que estava colocando uma pá de cal no já combalido gênero western. Adepto dos chamados westerns crepusculares, que lamentavam a proximidade do fim do gênero por causa do crescente desinteresse das novas gerações de espectadores, “Meu Ódio Será Sua Herança” transportava para a história este lamento. Foi uma despedida honrosa e adequada, já que o filme não é ambientado nos anos de ouro do Velho Oeste, mas em 1913.
Às vésperas da Revolução Mexicana, o antigo código de honra dos homens violentos e beberrões já não valia mais nada. O mundo agora era urbano. Botas viravam sapatos engraxados, revólveres transformavam-se em metralhadoras. A violência migrava dos descampados empoeirados para as cidades grandes. O Velho Oeste dava os últimos suspiros. Esse é o grande tema da obra de Sam Peckinpah, e também o pano de fundo do mais controverso e impactante dos filmes que dirigiu.
O crítico Roger Ebert lembra que, em 1969, “Meu Ódio Será Sua Herança” foi recebido da mesma forma que “Clube da Luta” o foi em 1999: sob acusações pesadas de ser hiperviolento e gratuito, até mesmo fascista. Para alguns, Peckinpah glorificava a violência. Reza a lenda que o astro William Holden teve uma violenta briga com o cineasta, após ver o filme pronto e odiar o resultado final. A verdade é o filme é tremendamente violento mesmo: somente no verdadeiro balé de sangue que é o duelo final, Peckinpah gastou doze dias e mais de 10 mil cartuchos de bala de festim.
Sim, é verdade que o filme apresentou uma nova maneira de representar a violência no cinema, utilizando pela primeira vez a câmera lenta para mostrar mortes. Caprichando no sangue e no estilo, Peckinpah enfatizava o sangue e fazia as mortes ganharem um significado simbólico e poético que ultrapassa a morte em si. No cinema dele, morrer dói para caramba. Mas muita gente não entendeu.
A péssima recepção do filme pelas plateias foi ajudada pela estrutura narrativa incomum. Um filme tradicional enfatiza o enredo ou os personagens; “Meu Ódio Será Sua Herança” não faz nenhum dos dois. Pike (William Holden) lidera o bando de assaltantes que se encaminha para uma última missão, que é roubar um trem carregado de armas para um rebelde mexicano. Eles são perseguidos por um grupo, liderado por Deke Thornton (Robert Ryan), cujo objetivo é capturar ou matar Pike.
Os dois já foram parceiros, anos antes, mas algo separou seus caminhos. Nenhum deles é retratado com profundidade; Peckinpah só oferece fragmentos do passado. Pike e Deke são homens duros, que mostram nos rostos cansados e nos ombros caídos o peso dos anos. Ambos são melancólicos. Sabem que estão ultrapassados pelo tempo. Sabem que o fim está próximo.
O grupo de Pike bebe o tempo todo e frequentemente cai na gargalhada com piadas bobas, como se estivesse à beira da histeria. O personagem de William Holden, ruminando as palavras e com o olhar perdido no horizonte, resume perfeitamente o clima do filme: eles pertencem ao passado. Não há futuro possível para gente assim.
“Meu Ódio Será Sua Herança” documenta a melancolia do fim de uma era, a troca de guarda entre duas gerações muito diferentes. E, à medida que encerrou o tempo dos faroestes e inaugurou a fase da hiperviolência, representou a mesma coisa para Hollywood. Pouquíssimos filmes têm essa honra de serem marcos divisórios. Por isso, “Meu Ódio Será Sua Herança” é um clássico inesquecível.
“Meu Ódio Será Sua Herança” – Clássico Revisitado
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários quarta, 21 de julho de 2021
Tinha tudo para ser um dia normal na Delegacia do município de Tuparetama (PE), grande polo de confecção de roupa de chita.
O delegado chegara ao Distrito Policial logo cedo com uma disposição e um bom humor de fazer inveja a Frank Drebin, personagem cinematográfico interpretado pelo ator Leslie Nielsen, no cômico filme policial “Corra que a Polícia Vem Aí”.
Deu bom dia ao seu auxiliar, aos dois policiais de plantão, aos auxiliares de serviços gerais terceirizados. Sentou-se à sua cadeira tradicional e continuou a leitura do livro que narra a história do município, editado por Tárcio Oliveira que descreve que, segundo a tradição oral, o povoado de Sertão do Pajeú, foi crescendo a partir da primeira residência construída na localidade, que também funcionava como ponto de comércio a retalhos e de parada para os viajantes a caminho de Afogados da Ingazeira e de São José do Egito. A data da construção da primeira casa é de 1910.
Dez minutos depois de ter iniciado a leitura do livro o delegado teve de interromper, pois recebeu a visita do escrivão aflito informando haver uma ruma de gente o aguardando na antessala para resolver uma cambulhada familiar.
Mal o escrivão terminara de contar o ocorrido ao Delegado, eis que de repente abre-se a porta e doze irmãos invadem o recinto para resolver o pandemônio instalado na família, cada um mais afoito do que o outro.
De imediato o delegado percebeu que estava diante de um caso escabroso: uma briga de feder a bote cheiroso entre irmãos por causa de herança. Ninguém queria ceder um palmo do seu latifundiário, como diria Neguinho de Maria Tabacão, vate do Pajeú, inspirado em João Cabral de Melo Neto, o poeta do rigor estético.
O Delegado, nesse momento, mandou que todos se sentassem no banco reservado aos queixosos e começou a perguntar um por um a razão de mais de dez irmãos estarem na delegacia para uma conversa com o delegado.
Quando o Chefe de Polícia terminou de perguntar o porquê daquela multidão estar na delegacia um se queixando do outro por causa de partilha de bens, ao invés de estarem trabalhando e cuidando de seus afazeres, os irmãos se acusavam mutuamente um ao outro de ladrão, cafajeste, dilapidador de patrimônio, cachaceiros, agiotas, gigolôs de viúvas, pegas veados, sapatonas enrustidas, coroas incrustadas. Ninguém se entendia.
Nesse momento o delegado, já acostumado com aquele tipo de situação e percebendo que a coisa ia chegar ao extremo se não interviesse nos ânimos exaltados e começasse a ouvir um irmão de cada vez, depois que eles saíssem dali poderia haver uma tragédia antes de chegarem a suas casas.
Começou o interrogatório pelos mais velhos. Cada um contando uma versão diferente para o caso. O buruçu era tão grande que o delegado começou a ficar impaciente com aquelas acusações mútuas entre irmãos sem pé nem cabeça.
Nesse momento, depois de ouvir uns seis irmãos e perceber que a briga entre eles era a herança e por isso mesmo ninguém se entendia, o delegado resolveu ouvir uma branquelazinha que ficou muda durante todo o bafafá. Se dirigindo à jovem e alertando aos outros irmãos que, se dessem um pio durante o interrogatório da irmã iria enjaular todo mundo na cela ao lado, e perguntou:
– Minha jovem, eu gostaria que você desse sua versão para o que está acontecendo com a sua família, o que está provocando essa desavença entre vocês que vieram parar aqui na delegacia.
Bufando de ódio e possessa, parecendo a personagem Regan MacNeil, magnificamente interpretada pela atriz mirim Linda Blair no extraordinário filme americano de terror THE EXORCIST (1973) (O Exorcista), do diretor William Friedkin, a jovem levanta-se da cadeira e começa a xingar os irmãos, dizendo aos gritos que não tem um que preste. Que são todos ladrões, veados, cachaceiros, preguiçosos, aproveitadores e que estão acabando com tudo que os pais deixaram. E que as irmãs eram putas, sapatonas, comedoras dos maridos das vizinhas. Por isso, queria uma intervenção do delegado para o caso antes que houvesse uma tragédia.
– Doutor – continuou ela se dirigindo ao delegado: toda essa mundiça que está aqui, a começar – e apontando o dedo na direção de um irmão branquelo mais velho e barbudo – por aquele cabra safado que está ali sentado, todos são pilantras, ladrões, safados, trambiqueiros, agiotas. São tão nojentos e imundos que, se o senhor cochilar, eles são capazes de até comerem o senhor e o senhor não sentir que foi comido!
Foi nesse momento que o delegado, percebendo que a coisa não ia acabar bem e escondendo os lábios para não rir da afirmação da jovem, deu um murro na mesa que todos os objetos que estavam em cima dela caíram, e olhando olho no olho de cada um por um, vociferou:
– É o seguinte: todos que estão aqui, antes de saírem, vão ter de assinar um Termo de Compromisso de Ajustamento de Conduta, se comprometendo com o que vai ficar escrito. Se amanhã algum de vocês chegar aqui na Delegacia dizendo que um rompeu com o que ficou acordado aqui, vou mandar prender naquele cubículo – e apontando para a cela – e cada um vai ter de limpar os banheiros da penitenciária da cidade um dia por semana para aprender a ser gente! Estão ouvindo, não é? Depois não digam que eu não avisei!
Nesse momento o delegado chamou o escrivão e mandou preparar o Termo de Compromisso de Ajustamento de Conduta e, enquanto o escrivão datilografava, percebeu que havia um silêncio tumular entre os irmãos que chegaram à Delegacia parecendo uns bestas- feras querendo engolir um ao outro.
O exemplo do delegado de ser duro com os brigões surtiu efeito. Isso mostra que quem tem cu tem medo. Não adianta ficar só na ameaça, na conserva mole para boi dormir, no blábláblá. Autoridade tem de ser autoridade, tem de dar o exemplo, baixar o cacete quando preciso for. A Justiça ficou foi para impor ordem e não ficar brincando de jogo de esconde-esconde feito marica, uma cachorra viçando, com o cachimbo arreganhado para qualquer vira lata enfiar a vara!
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários quarta, 14 de julho de 2021
SPAGHETTI WESTERN – SUBGÊNERO DO FAROESTE AMERICANO?
Ou: “Uma nova maneira criativa de se fazer faroeste?”
Cenas características do spaghetti western
Surgido na Itália, o denominado spaghetti western, ou faroeste espaguete, faroeste macarrônico, ou bangue-bangue à italiana, foi um subgênero de filme de faroeste nascido na Itália no início dos anos 60 até o seu término nos anos 70, considerando-se o auge das grandes produções, que possuíam como características principais, diferenciadas dos faroestes americanos: um nível de violência mais explícito, os efeitos sonoros mais acentuados, os sons das armas mais ressoantes, os sons das cavalgadas dos cavalos mais esganiçados, assim como a utilização de imagens e símbolos religiosos – principalmente o católico – que eram mais explícitos.
Outros elementos de destaque são os tiroteios e a morte de vários personagens, por autoria do herói que faz justiça pelas próprias mãos ou quando é contratado por barões das ferrovias, da jogatina, contrabandistas de armas e de ouro, para matar desafetos. Incluindo-se aqui, também, os caçadores de recompensa. A presença constante do duelo, frequentemente no clímax do filme, é também outra marca registrada dos spaghetti western.
A música e os efeitos sonoros são outro ponto que se sobressaem no faroeste spaghetti. No subgênero, os diálogos são escassos e a trilha sonora é utilizada como elemento de construção da narrativa. E nesse cenário de valorização da música como fundamental para o clima de cada cena se destaca o maestro Ennio Morricone, o mais famoso compositor de músicas para o subgênero de todos os tempos. As composições dele foram pano de fundo para todas as produções de Sergio Leone. É dessa parceria entre o diretor e o compositor que nasceu a chamada Trilogia dos Dólares (Trilogia del Dollaro), composta pelos longas “Por um Punhado de Dólares” (Per un pugno di dollari, 1964), “Por uns Dólares a Mais” (Per qualche dollaro in più, 1965) e “Três Homens em Conflito” (Il buono, il brutto, il cattivo, 1966). A trilogia é uma das mais marcantes do spaghetti western e da obra-prima “Era Uma Vez No Oeste” (Once Upon a Time in the West). Os filmes, todos dirigidos por Sergio Leone e com as trilhas marcantes de Morricone, são responsáveis por retratar um velho oeste totalmente novo, repleto de detalhes e uma visão real da violência presente no faroeste.
Com um orçamento pífio nas mãos, mas com faro de gênio, o diretor Sergio Leone reinventou o western na Itália com um filme de baixo orçamento: “Por um Punhado de Dólares” (1964). Embora não fosse o primeiro western italiano, a abordagem de Sergio Leone foi única. O filme logo se tornou um tremendo sucesso na Itália e fez do ator Clint Eastwood uma estrela. Por isso é que o diretor Sergio Leone está para o western spaghetti italiano assim como John Ford está para os filmes oeste americano.
Depois de alcançar o auge com “Era Uma Vez No Oeste” (1968), um dos melhores filmes de faroeste de todos os tempos, senão o melhor, o western spaghetti, assim como todo gênero cinematográfico da história do cinema, foi perdendo a majestade, e com a morte do genial diretor Sergio Leone e o não surgimento de outro gênio, houve uma pá de cal nas grandes produções.
Mais recentemente, uma nova geração de cineastas foi responsável por redescobrir o subgênero e fazer referências a ele em suas produções. Um representante importante nesse movimento é Quentin Tarantino. Músicas de Ennio Morricone compostas para a Trilogia de Dólares estão presentes no filme Kill Bill: Volume 2 (2004). Outra homenagem clara é o longa, Django Livre (Django Unchained, 2012), produzido em referência à obra máxima do diretor Sergio Corbucci, o longa Django.
Mesmo com as produções de um diretor renomado como Quentin Tarantino trazendo a marca spaghetti western de volta às telonas e grandes diretores – como Martin Scorsese e Steve Spielberg – confirmando sua admiração por Sergio Leone, o faroeste italiano caiu no esquecimento. Apesar de Sergio Leone ser reconhecido pelos espertises do gênero como o maior cineasta spaghetti de todos os tempos, suas obras que antes eram aguardadas como a macarronada de domingo, ficaram esquecidas como um velho livro de receitas que ninguém quase não mais consulta para fazer deliciosos bolos de bacalhau para serem degustados com 51, somente os admiradores de bom gosto da velha guarda e os jovens inteligentes aficionados pelo gênero, apreciam.
Como Surgiu o Faroeste Spaghetti?
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 06 de julho de 2021
OS IMPERDOÁVEIS (ARTIGO DE CÍCERO TAVARES, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
OS IMPERDOÁVEIS (1992) – "O ÚLTIMO GRANDE FAROESTE?"
Cícero Tavares
Imagem de Unforgiven – Os Imperdoáveis – (1992)
OS IMPERDOÁVEIS (1992)) foi, talvez, o último filme de faroeste digno desse gênero clássico genuinamente americano, onde eram apresentados na tela os mocinhos e os bandidos do velho oeste sem glamour.
Nesse faroeste Clint Eastwood vive um ex-pistoleiro. Viúvo e pobre. Cria dois filhos pequenos num rancho até se ver forçado a voltar à ativa por convite de um principiante querendo se firmar na "profissão". O filme reverencia o gênero ao mesmo tempo em que desmistifica o Velho Oeste, retratado como lugar sujo e brutal. Realizado em fabulosas locações em Alberta, Canadá. No final, o filme é dedicado aos mentores de Clint Eastwood como os diretores Sérgio Leone e Don Siegel, que com certeza ficariam muito orgulhosos de seu discípulo e assinariam embaixo seus feitos.
Três homens em busca de uma recompensa. Não se engane. Este não é um filme previsível. Pelo contrário, nos surpreende a cada instante. Clint Eastwood mais uma vez consegue nos envolver. Os mil dólares oferecidos, na verdade, representam a busca de três homens pelo real sentido da vida.
OS IMPERDOÁVEIS é uma desconstrução do gênero western. Os matadores de sangue frio do Velho Oeste selvagem, sempre mostrados nas telas do cinema como atiradores perfeitos, que nunca erram o tiro, como na Trilogia dos Dólares de Sergio Leone. Nesse western, vemos algo diferente. Um homem alterado pelo tempo e pela sua consciência, que não consegue montar no próprio cavalo, nem atirar direito. Seu amigo, Ned Logan, (Morgan Freeman), por exemplo, não tem mais o sangue frio de antigamente, nem mais dar um tiro letal, mesmo contra o suposto homem que teria retalhado, ou ajudado a retalhar o rosto de uma prostituta. O terceiro sofre com sua primeira morte como qualquer mortal sofre, além de ter uma visão deficiente, fazendo desses um trio de mercenários um tanto quanto humano e bem dos problemáticos.
No núcleo do filme, ver-se um xerife que humilha um homem que era conhecido como uma lenda, suas histórias estavam sendo passadas para o papel por seu escritor particular, segundo suas versões. Desmascarado, ver-se que a famosa frase "The Man Who Shot Liberty Valance" (O homem que atirou na saia da liberdade) se aplica aqui. "Quando a lenda se torna fato, publique-se a lenda." Mas a lenda é desmistificada e o ídolo do escritor se mostra uma fraude.
Outro elemento interessante e importante do filme é como as histórias podem ser exageradas ao se passarem de boca em boca. Uma prostituta teve o rosto cortado, e, em seguida espalha-se que todo corpo dela foi cortado, menos a vagina. Impressionante como os boatos acumulam falácias em suas versões mais recentes, conforme vão passando de boca em boca no tempo. Esse pode ser um dos elementos de criação de lendas de personalidades que realizaram feitos exorbitantes no oeste, ou em outras épocas. Às vezes, nem mesmo a própria pessoa que faz tais feitos, deve saber o que fez, por estar bêbada no momento ou por fazer muito tempo e ela acaba se tornando a lenda.
Disse o personagem Lette Bill, num dos diálogos do filme, depois de perguntado por seu alvo:
"Você é William Munny, assassino que matou mulheres e crianças!"
Resposta: "Isso mesmo, já matei mulheres e crianças e quase tudo o que se rasteja, e estou aqui para matar você."
Voltando ao filme, o final trás uma ressurreição do velho Willian Munny ao saber que seu amigo foi morto pelo xerife. Gratificação, é o que se sente ao ver Munny dar de garra da garrafa de whisky, tento-a negado o filme todo. Sua raiva e seu desejo de sangue e vingança agora são maiores do que qualquer controle. O whisky traz de volta sua mira, sua habilidade de montaria, tudo, o whisky traz de volta sua alma de matador. Ele traz de volta o oeste sanguinário que vivia adormecido em Munny, sem o oeste, sem sua alma verdadeira, ele seria incapaz de fazer tais feitos. Ele estava tão fundo em seu novo "eu", o Willian Munny moldado por sua esposa, Anna Levine, no papel de Delilah Fitzgerald, que ele era um assassino ineficiente. Agora, o whisky foi apenas a chave para aflorar tudo aquilo que estava adormecido nele.
Clint Eastwood retornou ao gênero depois de tanto tempo sem atuar. Ele queria marcar com sua volta com algo palpável. E marcou com a maior obra-prima do western revisionista por ser exatamente um filme de não cowboys de mira perfeita e sangue frio, mas tornando as lendas do oeste, entre elas a maior delas, Clint Eastwood, mais humanos, menos super heróico, e mais realista. Deve-se aceitar, pois afinal de contas, nossos heróis envelhecem, mas as lendas não morrem.
A) TRAILER OFICIAL DE OS IMPERDOÁVEIS
B) "OS IMPERDOÁVEIS" FOI O ÚLTIMO GRANDE FAROESTE?
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários sexta, 02 de julho de 2021
Texto escrito por meu filho, Luis Antonio Tavares Portela, estudante de Biologia da Unicap-(PE)
Gripe Espanhola – A Revolta da Vacina – charge de: Nicolau Sevcenko
Parecia um caso típico de gripe na época, mas eles não podiam imaginar que era apenas o começo de um pesadelo. Em 4 de março de 1918, um soldado da base militar de Fort Riley, nos Estados Unidos, adoeceu, com sintomas típicos de uma gripe forte. Esse campo militar no Kansas treinava os jovens americanos para a Primeira Guerra Mundial. Naquela mesma semana, mais de 200 soldados também ficaram doentes. Com 14 dias, mil dos jovens soldados foram parar em hospitais, alastrando o mal para outros acampamentos militares. No seu auge, mais de 1500 militares reportarem estarem doentes em um único dia. De repente, este mal se espalhou rapidamente pelos Estados Unidos e pegou carona com os soldados americanos enviados para a Europa. De lá, se espalhou e ganhou o mundo.
Comumente chamada de gripe espanhola, erroneamente, visto que provavelmente teve início nos EUA, matou entre 50 e 100 milhões de pessoas em dois anos, entre 1918 e 1919. Esse número assustador representa mais mortes do que o total de óbitos provocados pelas duas grandes guerras juntas. Muito mais do que as vítimas da AIDS em 40 anos. Foi e ainda é a maior pandemia de que se tem notícia na história da humanidade. O Brasil também foi afetado. Foram cerca de 35 mil brasileiros mortos, entre eles o presidente da época, Rodrigues Alves (1848-1919).
Se é errôneo chamá-la de gripe espanhola, e provavelmente tendo início nos Estados Unidos, por que ficou sendo chamada assim? Graças ao cenário geopolítico causado pela grande guerra na época. A Espanha era um dos poucos países neutros durante a Primeira Guerra Mundial, com uma imprensa livre para noticiar o grande número de casos. Isto deu uma falsa impressão de que a situação na Espanha estava gravíssima, enquanto nos outros países estava tudo normal. Nos EUA, o então presidente Woodrow Wilson ordenou a censura de qualquer notícia que pudesse abalar a população e os soldados, com medo de que isto gerasse impacto na guerra. A situação foi a mesma em outras nações em guerra. O esforço para manter a epidemia em segredo contribuiu para o seu agravamento.
O vírus por trás da pandemia é um velho conhecido da humanidade: a variante H1N1 do Influenza, ele mesmo, o vírus da gripe. O H1N1 se refere a proteínas na superfície viral, as neuraminidases e as hemaglutininas.
Estas proteínas permitem ao vírus se conectar às células humanas, e são responsáveis pelo reconhecimento do nosso sistema imune. Porém, a Influenza possui uma enorme facilidade em recombinar essas proteínas com as dos seus colegas virais, criando as famosas variantes. Portanto, se dois vírus da gripe diferentes infectam a mesma célula, lá dentro eles podem dar origem a um terceiro novo, com novas características. Dando um exemplo bem didático, da mistura de um H5N1 com um H3N2, por exemplo, pode nascer um H5N2. Essa peculiaridade, aliada às mutações regulares que um vírus sofre, explica por que nossas defesas enfrentam dificuldade para reconhecer um agente infeccioso novo, visto que estão muitas vezes treinadas para reconhecer a versão original.
Como a natureza favorece este fenômeno? Hoje se sabe que as linhagens mais virulentas da gripe vieram das aves. Normalmente, esses vírus presentes nas aves não infectam o homem. Mas podem infectam porcos. E o vírus da gripe humana também. É aí que entra o mecanismo evolutivo.
Estes vírus presentes nas aves e os presentes nos humanos podem se encontrar e se recombinar dentro das células do porco, gerando uma prole viral mais potente e perigosa capaz de ser transmitida para e entre os homens. Também pode acontecer de forma mais direta. O vírus presente na ave pode conseguir infectar diretamente um humano e, uma vez dentro dele, sofrer mutações e recombinações que o tornam contagioso e agressivo para nossa espécie. Por isso existem os termos gripe suína e gripe aviária.
Na gripe espanhola, há indícios de que o vírus, originalmente presente em aves migratórias, teria infectado uma criação de porcos no Kansas, e a partir dos porcos foi parar nos soldados de Fort Riley, dando início a tudo.
Os relatos da época eram assustadores. Os sintomas não se pareciam em nada com os da gripe comum. As pessoas sangravam pelo nariz, pelos ouvidos, pelos olhos e ficavam azuis com a falta de oxigênio. Ficavam acamadas pela manhã e à tarde estavam mortas. Geralmente, os vírus da gripe infectam principalmente as células do nariz e da garganta. O H1N1 de um século atrás infectava preferencialmente as células dos pulmões.
Hoje se sabe que a Influenza costuma ser mais grave quando acomete crianças e idosos, que possuem sistema imune mais frágil. Porém, em 1918, a situação era totalmente diferente. A grande maioria das vítimas foram os adultos jovens, tanto civis quanto soldados. Uma das hipóteses levantadas é de que, justamente por serem jovens e terem uma imunidade mais ativa, a resposta do organismo à doença era tão forte que causava um choque no organismo. Causava uma tempestade inflamatória que prejudicava os pulmões e levava à piora do quadro.
É importante lembrar que em 1918 não existiam antibióticos para tratar as infecções oportunistas e o mundo se encontrava no caos da guerra. Trincheiras e aglomerações da guerra contribuíram para a escalada da tragédia. Os soldados carregavam o vírus do campo de batalha para seus países de origem, combinando com a escassez de suprimentos e uma população debilitada, tudo estava a favor do H1N1.
Existem algumas hipóteses para o fim abrupto da pandemia em 1919, entre elas a possibilidade de grande parte dos sobreviventes terem criado anticorpos, dificultando a disseminação do vírus. Também se especula que uma possível mutação tenha tornado o patógeno mais ameno e incapaz de causar danos graves nos pulmões, tornando-se uma enfermidade com sintomas mais leves.
Hoje em dia, um século depois, temos muito mais condições de localizar, diagnosticar e conter uma epidemia. Temos vacinas renovadas anualmente para nos defender das novas cepas de Influenza. Mesmo assim, a natureza nos testa novamente com a COVID-19. Que novas lições aprenderemos desta vez? Nós, humanos, temos uma tendência a esquecer os flagelos da história.
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A Gripe Espanhola de 1918 | Nerdologia
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários quinta, 10 de junho de 2021
ASSIS VALENTE - UM GÊNIO ATORMENTADO
ASSIS VALENTE – UM GÊNIO ATORMENTADO
Cícero Tavares
Assis Valente e Carmen Miranda
O genial compositor José de Assis Valente nasceu no dia 19 de março de 1911 no distrito de Bom Jardim, Santo Amaro, Bahia, município do Recôncavo baiano e encantou-se em 1958, tomando formicida com guaraná sentado no banco de Rua do Rio de Janeiro, vindo a falecer horas depois.
Ficou conhecido no meio artístico como Assis Valente, compositor genial, dono de uma versatilidade extraordinária para compor clássicos alcançáveis a toda classe social, desenhar e fazer escultura.
Tornou-se conhecido por compor diversos sucessos para Aracy Cortez, o Bando da Lua, Orlando Silva, Altamiro Carrilho, Aracy de Almeida, Carlos Galhardo e Carmen Miranda. Para esta compôs inúmeros sucessos, além de nutrir-lhe uma paixão arrebatadora.
Na época, teve a canção "Brasil Pandeiro", samba exaltação recusada pela Pequena Notável, o que lhe deixou triste, que depois se tornou um imenso sucesso com os "Anjos do Inferno," conjunto vocal instrumental brasileiro de samba e marchinhas de carnaval formado em 1934, e principalmente com os Novos Baianos, conjunto musical brasileiro, nascido na Bahia na época da Tropicália, atingindo seu auge entre os anos de 1969 a 1979, por mesclar guitarra elétrica, baixo e bateria com cavaquinho, chocalho, pandeiro e agogô.
Formado por Moraes Moreira, Baby Consuelo, Pepeu Gomes, Paulinho Boca de Cantor, Dadi e Luiz Galvão. Carmem Miranda veio a se arrepender depois por não ter gravado Brasil Pandeiro, que alcançou enorme sucesso na voz dos Novos Baianos, gravada no segundo Long Play do conjunto "Acabou Chorare", de 1972.
Assis Valente era filho de José de Assis Valente e Maria Esteves Valente. Segundo relato da época, fora roubado dos pais ainda pequeno, sendo depois entregue a uma família de Santo Amaro que lhe deu educação, ao mesmo tempo em que o forçava trabalhar, algo extenuante, semi-escravidão para ele que não morria de amores pela profissão.
Quando tinha seis anos, houve nova mudança na vida, passando a ser criado por um casal de Alagoinhas, Georgina e Manoel Cana Brasil, dentista naquela cidade. Assis Valente realizava trabalhos domésticos a contragosto, mas com a mudança do casal para a capital baiana, logo conseguiu trabalho no Hospital Santa Izabel e, por suas habilidades, acabou sendo contratado pelo médico irmão de seu pai adotivo, que dirigia a Maternidade da Bahia. Ali demonstrou talento para as artes e foi matriculado pelos criadores no Liceu de Artes e Ofícios da Bahia, a fim de aprimorar-se no desenho e em escultura, dividindo seu tempo entre o trabalho e o estudo.
Por esta época, foi convidado por um padre para trabalhar num hospital católico na interiorana cidade de Senhor do Bonfim, mas ao declamar versos anticlericais do poeta Guerra Junqueiro, político e panfletário da escola nova, numa festa popular, foi demitido. Juntou-se, então, ao Circo Brasileiro, onde declamava versos de grandes poetas de improviso, que encantava a todos que estivessem presentes, admirados com seu talento precoce!
Em 1927 mudou-se para o Rio de Janeiro, onde se empregou como protético e conseguiu publicar alguns desenhos em magazines como Shimmy e Fon-Fon, revistas brasileiras fundadas no Rio de Janeiro no ano de 1907.
Em função de uma dívida cobrada por Elvira Pagã, atriz, cantora, compositora e vedete brasileira da época, Assis Valente tentou o suicídio pela primeira vez, cortando os pulsos. Elvira cantara alguns de seus sucessos junto com a irmã.
Casou-se, em 23 de dezembro de 1939, com Nadyli da Silva Santos. Em 1941, no dia 13 de maio, tentaria o suicídio mais uma vez, saltando do Corcovado – tentativa frustrada por haver a queda sido amortecida pelas árvores. Em 1942 nasce sua única filha, Nara Nadyli, depois se separa da esposa devido à vida pregressa que levava!
Em 06 de março de 1958, com 46 anos apenas, desesperado com as dívidas com agiotas, Assis Valente foi ao escritório de direitos autorais, na esperança de conseguir dinheiro. Ali só conseguiu um calmante. Telefonou aos empregados, instruindo-os no caso de sua morte, e depois para dois amigos, comunicando sua decisão.
Sentado num banco de rua ingeriu formicida com guaraná, deixando no bolso um bilhete à polícia, onde pedia ao também compositor e amigo Ary Barroso que lhe pagasse dois alugueis em atraso. No bilhete, o último verso:
"Vou parar de escrever, pois estou chorando de saudade de todos, e de tudo."
Seu trabalho foi um do mais profícuo na música. Conta-se que chegava a compor quase uma canção por dia, muitas delas vendidas a baixos preços para "comprositores" que então figuravam como autores. Seu primeiro sucesso de 1932 foi Tem Francesa no Morro, cantado por Aracy Cortez. Foi autor, também, de peças para o Teatro de Revista, como "Rei Momo na Guerra", de 1943, em parceria com Freire Júnior.
Após sua morte, foi sendo esquecido, para ser finalmente redescoberto nos anos 1960, na voz de grandes intérpretes da MPB, como Chico Buarque, Caetano Veloso, Maria Bethânia, Novos Baianos, Elis Regina, Adriana Calcanhoto, dentre outros.
Em 2014 teve uma biografia digna lançada, a altura da sua genialidade, "Quem samba tem alegria: A vida e o tempo de Assis Valente", escrita pelo pesquisador baiano Gonçalo Junior, recheado de revelações sobre o grande compositor de "Boas Festas", sem dúvida a mais perfeita tradução da farsa do velhinho do trenó.
Suas canções foram regravadas depois de sua morte alcançando enorme sucesso. Algumas composições suas trazem um conteúdo poético sutil que buscam emocionar; outras trazem um teor mais reflexivo. Assis Valente tinha na alma a verve da mistura brasileira. Exemplo: A composição "Boas Festas", a letra tem uma ironia refinadíssima, típica de sua alma genialmente errática.
Já faz tempo que eu pedi
Mas o meu Papai Noel não vem.
Com certeza já morreu
Ou então felicidade
É brinquedo que não tem.
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 01 de junho de 2021
MARIA BAGO MOLE E SEU INSEPARÁVEL REMINGTON 1875 CO2
MARIA BAGO MOLE E SEU INSEPARÁVEL REMINGTON 1875 CO2
Maria Fumaça levando os barões da Gretoeste para mostrar o progresso da ferrovia
Crônica dedicada ao especialista em filme de faroeste d.matt. e ao genial cronista dos cocos, Sancho Panza, ambos fãs da cafetina Maria Bago Mole.
Faltando dois dias para a festa de inauguração dos dois anexos do cabaré com banheira em formato idêntico às do saloom do velho oeste, para delírio dos freqüentadores que eram fascinados pelos westerns de hollywood, Maria Bago Mole mandou sondar o local onde estava sendo construída a estação da Gretoeste, a trezentos metros do lupanar. Era a modernidade batendo à porta do cabaré de carona nos trilhos da rota da estrada de ferro. Era a pujança do progresso, força transformadora, fomentando riqueza, trabalho, renda e diversão aos homens trabalhadores e solitários, mais secos por sexo do que o mês de janeiro no sertão árido de Acary, por falta de chuva.
A "casa" da famosa cafetina já dava os primeiros sinais de que a prosperidade havia chegado àquele território antes esquecido. Aqui e acolá já se viam muitas barracas no entorno das ruas sem asfalto. Barracas de venda de aguardente cabeça com tira gosto duvidoso feito de aves e roedores dos arredores: rolinhas, anuns e preás assados para os peões. As feiras livres também dando sua cara. O povo percebendo a chegada dos consumidores nas ondas do cabaré e enxergando a oportunidade de ter seu comércio para sobreviver. A realidade sorrindo e o progresso obedecendo à lei do livre comércio.
As duas "olheiras de confiança" de Maria Bago Mole, que estiveram na estação para observar os trabalhos dos homens ficaram deslumbradas com o que viram! Informaram à cafetina que o lugar estava parecendo com as ferrovias do velho oeste americano: "Coisa de outro mundo, madame! - diziam" "Um formigueiro de homens trabalhando na instalação dos trilhos, na confecção dos barrotes de madeira". "No corte das árvores, desbravando as florestas a foiçada, abrindo o caminha para a chegada da ferrovia, uma verdadeira casa de marimbondos!" Homens chegando de todas as partes do Nordeste!" "Uma loucura!" "O cabaré não vai dar conta da quantidade de homens!" – previram.
Maria Bago Mole, precavida de outros confrontos desagradáveis entre homens dentro da "casa" por disputa pelos prazeres oferecidos pelas meninas mais deleitosas, ficou preocupada e tomou a decisão de ficar de espreita na recepção do cabaré lhes dando ordens para se comportarem bem e preocupada com a quantidade de machos afoitos que, por ventura, poderiam vir da ferrovia à noite, assim que terminasse o "expediente."
No dia da inauguração, por ser devota do Padre Cícero Romão Batista, a quem agradecia todos os dias o sucesso do cabaré, Maria Bago Mole não esqueceu seu Remington 1875, guardado no fundo do baú junto a todos os seus pertences, averiguou se tudo estava funcionando bem e, pensando no que estava por vir, imaginou consigo mesma: se houver qualquer tentativa de desmoralização na minha casa não vacilo em apertar o gatilho conforme lhe aconselhou seu amado, Bitonio Coelho. Para defender o cabaré e a sua honra ela estava disposta a tudo, para isso havia combinado um dia antes com seu "homem" que não viesse no dia da inauguração, pois poderia a barra ser pesada com a quantidade de homens prevista e ela resolvia as "paradas" só!
Por volta das 8:hs horas da noite o movimento já era assustador. Os homens que iam chegando ocupavam as barracas instaladas nas ruas sem asfalto, bebericavam, e já saiam de lá bêbados, dispostos a desmoralizar o cabaré por ser administrado por uma mulher pela qual tinham desejos e ela não cedia. Ledo engano. Quando percebeu que as coisas estavam tomando rumo de bangue-bangue, onde tinha lugar a lei do mais forte, Maria Bago Mole pegou o Remington 1875 que estava na gaveta da escrivaninha, sapecou fogo em dois afoitos que cantavam de galo e advertiu aos outros que estavam presente:
- "Fiquem onde estão e não se mecham. Outros que se atreverem a querer tentar fazer o mesmo terão o mesmo destino! Meu cabaré exige respeito às pessoas que vêm aqui para se divertir e eu não vou deixar desmoralizá-los!"
Houve um hiato de silêncio no recinto até que no pátio do cabaré, com homens cheios de manguaça, também trocaram tiros com seus desafetos por disputa por mulheres, deixando um rastro de sangue e morte de quatro metidos a valentões. Naquela noite parecia que a Lei do Oeste havia chegado ao Cabaré de Maria Bago Mole.
Precavida, a cafetina mandou o coveiro da cidade levar os seis cadáveres para enterrar no cemitério local. Não passou nenhuma informação do trágico acontecido ao comissário que se encontrava no quarto novo do cabaré já bêbado com uma menina. No cabaré a festa rolava a todo vapor devido aos cuidados que a cafetina teve de não espalhar o boato. Quando o dia amanheceu, os freqüentadores não sabiam de nada, pois a cafetina havia agido mais rápido do que uma bala dum wincheste.
-"A vida é assim, disse Maria Bago Mole às meninas, a melhor defesa é o ataque e não se pode espalhar coisa ruim para não piorar o que já está cinzento. O boato se espalha à medida em que você não o prende na origem."
"O cabaré vai continuar do jeito que está e dando espaço às meninas a às pessoas que queiram se divertirem e trabalharem, seja aqui dentro ou lá fora com esses novos trabalhadores livres e suas barracas, que precisam ganharem a vida também. Mas para aqueles que querem desmoralizar, vão receber chumbo." – desabafou.
Foi nesse momento que lá no canto da mesa um bêbado solitário, já cheio da manguaça, gritou:
- E isso aí, madame! Só a senhora tem peito para botar ordem nessa porra, porque os homens são uns frouxos, covardes! Eu sou um deles!
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários quarta, 26 de maio de 2021
Henry Fonda, Claudia Cardinale, Sergio Leone, Charles Bronson e Jason Robars no set de filmagem da obra-prima Era Uma Vez no Oeste
Nascido em Roma, Itália, em 03 de janeiro de 1929 e encantado em Roma, Itália, em 30 de abril de 1989, Sergio Leone teve uma carreira curta, mas extremamente profícua, legando-nos uma filmografia invejável que, dentre outras qualidades, revelou grandes artistas, como o desconhecido ator americano Clint Eastwood e o maestro italiano Ennio Morricone, que devem sua vitoriosa carreira a Leone que, basicamente consolidou, sozinho, uma subcategoria cinematográfica batizada carinhosamente de spaghetti western.
Filho de Vincenzo Leone, um dos pioneiros do cinema e de Edvige Valcarenghi, atriz do cinema mudo, Sergio Leone nasceu no seio da Sétima Arte e ainda teve a oportunidade de estudar na escola, durante um tempo, com ninguém menos do que Ennio Morricone com quem faria uma inesquecível parceria. Assim, já com 18 anos, o futuro diretor de “Era Uma Vez no Oeste” começou a trabalhar com cinema, largando a faculdade de Direito e se tornando assistente do lendário Vittorio de Sica quando este filmava o clássico “Ladrões de Bicicletas”, em 1948. Melhor professor ele não poderia ter!
Sua carreira na Cinecittà, famoso estúdio italiano, lar de nomes como o do mestre Federico Fellini e então centro das atenções das produções audiovisuais épicas americanas, o levou a trabalhar em produções do gênero “espada e sandálias”, como “Quo Vadis” e “Ben-Hur,” tendo inclusive a oportunidade de escrever alguns roteiros menores. Em 1959, durante o final das filmagens de “Os Últimos Dias de Pompeia”, Mario Bonnard, o diretor, ficou doente e Sergio Leone teve a oportunidade, com trinta anos, de sentar na cadeira de diretor, apesar de nunca ter recebido créditos na tela pelo trabalho.
Em 1964 o genial diretor Sergio Leone transpôs o clássico de Akira Kurosawa, Yojimbo, para o oeste selvagem e lançou, com “Por Um Punhado de Dólares,” primeiro filme da consagrada Trilogia dos Dólares, os fundamentos do subgênero spaghetti western. Leone, na direção, Clint Eastwood, um ator americano na época de segunda e cuja popularidade devia-se apenas a um enlatado de TV, a série da CBS Rawhide, e a trilha de Ennio Morricone. Com Leone, o western spaghetti virou ópera, porque ele adorava os planos próximos, na cara dos atores. Para criar tensão, estendia a duração da cena e utilizava a música como personagem suspense.
Seu personagem marcante é o “Homem sem Nome”, nem de longe um herói. No geral, um caçador de recompensas. Foi assim que Clint Eastwood atravessou “Por Um Punhado de Dólares”, “Por Uns Dólares a Mais” e “Três Homens em Conflito”, virando astro consagrado. Em 1968, com a obra-prima “Era Uma Vez no Oeste”, Leone fez a súmula do seu spaghetti western.
Na década seguinte, em 1971, Sergio Leone dirigiu o filme mais político e violento de sua carreira e o menos compreendido pela crítica e público, situado na fase mais brutal da Revolução Mexicana: “Quando Explode a Vingança”, que ele queria apenas produzir, mas acabou dirigindo por se desentender com o então diretor Sam Peckinpah. Em seguida, ele partiu apenas para a carreira de produtor, ocasionalmente voltando à direção parcial, especificamente em duas direções não tendo seu nome creditado: “Meu Nome é Ninguém” e “Trinitty e Seus Companheiros.”
Somente treze anos depois de dirigir seu último filme completo, Sergio Leone encerraria sua carreira cinematográfica em 1984, com uma das melhores obras de gângster já produzida na história do cinema – “Era Uma Vez na América” – e isso depois de recusar a direção de nada menos do que “O Poderoso Chefão.” Acontece que “Era Uma Vez na América,” que originalmente tinha quatro horas de duração, foi selvagemente cortado pelo estúdio e, além disso, foi mal recebido pelo público. Isso deixou Leone desgostoso, o que acabou afastando-o de Hollywood.
Um ataque cardíaco, em 1989, levou esse genial diretor provavelmente para uma planície desértica, cercada de homens barbados de olhos azuis penetrantes, tipo o matador de ERA UMA VEZ NO OESTE, mulheres lindas, poeira e música de fundo com vozes e gaitas. Um lugar que certamente ele ajudou a criar e onde sempre se sentiu muito bem!
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O cineasta que ousou reinventar o faroeste americano na Itália e o pau da crítica arrogante
Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 25 de maio de 2021
Este texto foi escrito em parceria com meu filho, Luis Antonio Tavares Portella, que está cursando Biologia na Unicap.
Filme Epidemia (1995), com Dustin Hoffman, Morgan Freeman… baseado em fatos do Ebola
Ebola, também conhecida como doença por vírus Ebola ou Febre Hemorrágica do Ebola, é uma zoonose (doença que é transmitida de animais para humanos e que pode ser causadas por bactérias, parasitas, fungos e vírus) de quadro grave que possui como sintomas principais: febre, cefaleia (dor de cabeça) muito forte, fraqueza muscular em todo o corpo, dor nas articulações e na garganta e calafrios recorrentes. É conhecida por matar mais da metade dos pacientes infectados. Seu contágio é físico; não se espalha pelo ar.
O vírus do Ebola (Ebolavírus), é um assassino silencioso que já matou mais de quinze mil vidas desde sua descoberta em 1976. Foi identificado inicialmente em 1976 na República Democrática do Congo (então conhecida como Zaire). Pertence à família dos filovírus (Filoviridae) dentro da ordem dos Mononegavirales. Ganhou esse nome a partir do Rio Ebola, no norte do país, que fica próximo ao local da primeira epidemia, que se deu em 1976.
Cinco subtipos já foram identificados: Zaire ebolavirus (ZEBOV), Sudan ebolavirus (SUDV), Reston ebolavirus (RESTV), Taï Forest (Floresta de Tai) ebolavirus (TAFV) e Bundibugyo ebolavirus (BDBV). Circula na natureza entre morcegos frugívoros, considerados o repositório natural do vírus. Apesar de possuírem o vírus, os morcegos não desenvolvem a doença. A partir dos morcegos o vírus pode “pular” para outros mamíferos, como antílopes, porcos-espinhos, e alguns símios, e a partir destes, para o homem.
É transmitido entre humanos através do contato próximo e direto. Uma pessoa saudável é infectada por entrar em contato com os fluídos corporais (sangue, vômito, fezes, espermas) de um paciente doente. Diferente da Influenza (gripe) e da COVID-19 (Coronavírus SARS CoV 2), não é transmitida pelo ar, o que a torna uma doença muito menos contagiosa e de melhor prevenção do que outras doenças virais. Apesar destas características favoráveis para nós, possui números assustadores de mortalidade: em média em torno de 50% e em alguns casos 90% dos infectados vão a óbito. A febre alta, dores no corpo inteiro e hemorragia são seus sintomas mais graves. Muitos sobreviventes possuem sequelas, como artrite, perda de visão e audição ou até mesmo cegueira.
Algumas vacinas existem. A primeira, do grupo norte-americano Merck Sharp and Dohme (Merck & Co.), mostrou alta eficácia protetora contra o vírus, segundo estudos realizados na Guiné em 2015. A OMS a pré-qualificou para uso em novembro de 2019. Já foram administradas mais de 300 mil doses em uma campanha de vacinação na República Democrática do Congo, país com vários casos registrados.
Uma segunda vacina experimental foi desenvolvida pelo laboratório norte-americano Johnson & Johnson, sendo introduzida de forma preventiva em outubro de 2019 em áreas próximas aos epicentros onde o vírus ainda não está presente. Cerca de 20 mil pessoas foram imunizadas.
A pior epidemia registrada na história é recente, teve início no sul da Guiné em dezembro de 2013 e se espalhou para os países vizinhos da África Ocidental. Foram registrados quase 29 mil casos da doença, destes, mais de 11 mil mortes. A OMS declarou a epidemia controlada em 2016.
De 2016 a 2021, várias “situações epidêmicas” foram registradas, o que adicionou para o histórico da doença mais de 2 mil mortes. Recentemente, em 7 de fevereiro, outro surto da doença foi detectado no leste da República Democrática do Congo, onde a OMS enviou uma equipe de epidemiologistas após a morte de uma mulher. Uma semana depois, no dia 14, a Guiné confirmou o aparecimento de mais sete casos, três deles fatais, no sudeste do país. Fica claro que a batalha está longe do fim e o risco de outra epidemia continua presente. Isso demonstra para os epidemiologistas que precisamos de monitoramento constante e nunca devemos baixar a guarda enquanto o assassino se esconder entre nós.
Em 1995, o veterano diretor Wolfgang Petersen, que já dirigiu “Tróia” (2004), “Poseidon” (2006), “A História Sem Fim” (1984), “Na Linha de Fogo” (1993), dentre outros filmes desastres, utiliza seu know-how em thrillers para conceber uma narrativa de horror e transpor para a telona, de forma contagiante e equilibrada, o livro de não ficção do escritor Richard Preston, “The Hot Zone” (A História do Ebola), baseado na história do vírus, que no Brasil recebeu o título de “Epidemia”, suspense com atuações magníficas de Dustin Hoffman, Morgan Freeman, Cuba Gooding Jr., Rene Russo e outros.
“A sinopse do filme mostra a história de um vírus letal que extermina a população e os animais de uma pequena tribo do Zaire, em 1967. O governo então decide criar a operação “Limpeza Total”, onde um avião lança uma bomba no acampamento no qual as pessoas estavam contaminadas… Porém, alguns macacos conseguiram fugir. Um macaco, portador do vírus, é contrabandeado para a pequena cidade fictícia de Cedar Creek, na Califórnia, e contamina o jovem Jimbo (Patrick Dempsey). Em pouco tempo, a doença começa a mostrar sinais de que está se espalhando a uma velocidade assustadora. Ao lado de sua ex-esposa, Dr.ª Robby Keough (Rene Russo), o Coronel e Dr.º Sam Daniels (Dustin Hoffman) e sua equipe de médicos do exército norte americano lutam contra o tempo para descobrir o antídoto para a cura do vírus mortal. Durante o filme, várias pessoas de sua equipe de pesquisas são infectadas, o que provoca pânico e a necessidade de acabar com o vírus o mais rápido possível, de uma vez por todas.” (Wikipédia).
Por mais que agora ressoe entre outros títulos, devido a um dos momentos mais angustiantes desde a peste espanhola em 1918, esse filme merece ser visto e revisto dadas a intensidade e humanidade com que seus personagens são apresentados e a envolvência com que a direção é realizada, cujo mérito é transportar o público para dentro de um profundo estado de calamidade.