Raimundo Floriano
Quando eu falo que Cuba entristeceu a partir dos Anos 1960, estou coberto de razão. Além dos argumentos que expenderei mais adiante, algo pode se constatar observando os semblantes dos médicos cubanos recém-chegados ao Brasil: fisionomias soturnas, denotativas de um povo que perdeu o bom humor, servil, domesticado.
A lavagem cerebral, que se impõe desde a infância dos cubanos, se observa em todos os setores culturais, sendo emblemáticos seus efeitos sobre esta jovem artista, atualmente de maior visibilidade na Ilha:
Patricia Blanco, a Patry White
Enquanto aqui no Brasil cogita-se a mudança do nome da Ponte Costa e Silva e da Fundação Getúlio Vargas, por homenagearem presidentes que governaram ditatorialmente, essa bonita show-woman – espécie de Gretchen de lá – cujo primeiro single de sucesso é Chupi Chupi, se autodenomina A Ditadora! Vocês já ouviram falar nela?
Em meu tempo de rapaz, até o final da década de 1950, nomes de artistas cubanos como Perez Prado e Sua Orquestra, Bienvenido Granda, Xavier Cugat e Sua Orquestra, Célia Cruz e Orquestra La Sonora Matancera eram tão comuns em nossas festas dançantes quanto os de Severino Araújo e Sua Orquestra Tabajara, Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Nélson Gonçalves, Ciro Monteiro, Emilinha Borba, e outros.
Não é que a musicalidade cubana tenha se acabado por completo. Ainda existe, mas com a boca completamente arrolhada para o resto do mundo. Observem esta nota publicada na revista Veja, de 08.05.13, na Seção Música - Cinema - Arte:
No corpo da matéria, a revista brinda-nos com a relação de nomes que dominam o atual cenário musical cubano: a já vista acima, Patricia Blanco, vulgo Patry White, cantora, reggaeton, ritmo importado de Porto Rico; Carlos Alfonso, vulgo X Alfonso, baixista e cantor de ritmos afro-cubanos, rock, música clássica e hip-hop; Yoandys González, vulgo Baby Lores, cantor de reggaeton e músicas em louvor a Fidel; Yssy García, baterista; Etian Arnau Lizaire, vulgo Brebaje Man, cantor de rap e hip-hop. Vocês já ouviram falar neles? Pois É!
E vejam que alienação! Com todas as adversidades políticas que nós, os brasileiros, enfrentamos desde o início dos Anos 1960, ainda vemos e curtimos adoidado talentos emergentes patrícios fazendo sucesso com baião, coco, samba, xote, frevo nos três gêneros, marchinha, samba-canção, toada, valsa, arrasta-pé, modinha caipira, rojão, etc.
Dentro de meu propósito de mostrar um pouco do que foi a pujança da música caribenha do passado, em particular a cubana, e, pra não dizer que não falei de flores, apresento-lhes agora esta jovem cantora, de prestígio internacional, que, embora vivendo no Exterior, guarda no sangue a tradição dos ritmos de sua Pátria: Gloria Estefan.
Gloria Maria Milagrosa Fajardo, a Gloria Estefan, cantora cubana radicada nos Estados Unidos, nasceu em Havana, no dia 1º de setembro de 1957. Já vendeu mais de 100 milhões de discos no mundo todo e é um os cem artistas mais vendedores de todos os tempos.
De família humilde, Gloria, desde tenra idade amava de coração a música cubana e sempre ficava tocando, em seu violão, canções que sua avó lhe ensinava.
Com menos de dois anos de idade, sua família teve que se mudar para Miami, por discordar da ditadura comunista imposta em Cuba por Fidel Castro. Seu pai acaba se tornando militar nas Forças Armadas americanas, indo lutar na Guerra do Vietnã e vindo a falecer logo após o término do conflito, fazendo com que Gloria continuasse a enfrentar a dureza da vida, juntamente com a mãe e Rebeca, sua irmã.
Gloria participava como colaboradora de grupos estadunidenses que cantavam versões das músicas dos Beatles e dos Rolling Stones, mas foi na Universidade de Psicologia que conheceu o cubano Emilio Estefan, seu atual esposo, que na época já líder de um grupo musical chamado Miami Latin Boys.
Vendo Gloria cantar na igreja, Emilio não hesitou em convidá-la para entrar no grupo. De início, ela resistiu, mas acabou aceitando o convite, passando o conjunto a denominar-se Miami Sound Machine. Emilio e Gloria, com o transcorrer do tempo, começam a namorar e, em 1978, se casam. Um ano antes, em 1977, o grupo já fazia shows. Logo após, é lançado seu primeiro LP, denominado Renacer.
Outros álbuns se sucederam, como Miami Sound Machine, em1978, Imported, 1979, MSM Piano Album, 1980, Otra Vez, 1981, Rio, 1982 e A Toda Máquina, 1983. De 1977 a 1984, o grupo já mesclava Pop, Rock e sons latinos com canções, tanto em inglês, como em castelhano, e fazia excursões pelas América Central e do Sul. Foi nesta época que o Brasil recebeu a primeira visita de Gloria Estefan, mas como turista, e não em turnê com seu grupo.
Em 1980, nasce-lhe o primeiro filho, Nayib Estefan. Um ano depois, a CBS lhe oferece um contrato para shows e lançamentos de álbuns em toda América Latina. Em 1984, é lançado Eyes of Innocence, o primeiro álbum da banda Miami Sound Machine em Inglês, tendo Gloria como vocalista, que alcançou repercussão, não apenas nos Estados Unidos, mas também na Inglaterra e na Austrália, onde o single Doctor Beat entrou nas paradas na categoria Hot Dance. A partir daí, iniciava-se a trajetória internacional daquela que viria a ser a Rainha do Pop Latino.
Depois do relativo êxito, é lançado, em 1985, Primitive Love, que traz Conga, o primeiro single de sucesso mundial do Miami Sound Machine. O álbum também gerou outros megassucessos, como Words Get In The Way e Bad Boy. Primitive Love vendeu mais de seis milhões de cópias, só nos Estados Unidos. O single Conga garantiu seu registro no Guiness Book of Records, como o único compacto na história a figurar, ao mesmo tempo, nas paradas Pop, Latina, Soul e Dance, da revista Billboard.
A partir de então, sua carreira teve ascensão estrondosa. Em 1993, foram lançados três álbuns: seu primeiro álbum solo em espanhol Mi Tierra, rico em sons latinos, que vendeu mais de 8,5 milhões de cópias em todo o mundo e lhe valeu o primeiro Grammy Award de sua carreira; sua primeira coletânea em Inglês, Greatest Hits, de repercussão mundial; e Christmas Through Your Eyes, álbum natalino de pouco destaque, que colocou o single tema do álbum como carro-chefe.
Possuo em meu acervo estes dois CDs de sua vastíssima discografia, sobre o segundo dos quais adiante passarei a falar:
Dois anos depois do grande sucesso de Mi Tierra, é lançado Abriendo Puertas, álbum natalino em espanhol, que lhe deu segundo Grammy Award e foi um dos mais tocados em 1995. Destaque para Abriendo Puertas, Más Allá e Tres Deseos, todas classificada em 1º lugar na categoria Hot Latin Tracks da Latin Billboard. E os Grammys não pararam por aí.
Um dos pontos altos de sua vitoriosa carreira foi em 1996, no encerramento das Olimpíadas de Atlanta, quanto cantou para mais de um bilhão de pessoas, além de ter a oportunidade de mostrar seu talento a Cuba, já que ali a viu quem tinha antena parabólica pois, desde há muito, Fidel proibira que suas músicas tocassem na Ilha. No mesmo ano, encerrou sua brilhante carreira nos palcos, eis que, cada vez mais, fazia menos espetáculos, em função da família, com quem queria estar mais presente, até porque acabara de nascer sua filha Emilly Estefan. A partir de então, passou a atuar apenas nos estúdios de gravação, com lançamentos que se sucedem e também com participação no cinema.
Atualmente, tem-se demonstrado uma das principais líderes internacionais do forte movimento de oposição ao regime comunista em Cuba. No dia 23 de março de 2010, decidiu, juntamente com o marido, convocar a população de Miami para grande marcha de protesto na famosa Calle Ocho. Dois dias depois, 200 mil pessoas compareceram, vestidas de branco, para prestar solidariedade ao movimento das "damas de blanco" e à família do prisioneiro político Orlando Zapata, que morrera, a 23 de fevereiro, fazendo greve de fome em Havana. A pressão parece ter funcionado: o Presidente Barack Obama viu-se obrigado a pedir um encontro pessoal com Gloria e Emilio, a fim de tratar do tema.
Depois disso, num arroubo de magnanimidade, o regime de Fidel Castro declarou permitido tocar em Cuba as músicas gravadas pela cantora.
Seus discos são facilmente encontráveis à disposição nos sites virtuais.
Gloria Estefan, confirmando a tradição e o sangue cubano nas veias, era uma perfeita rumbeira nos palcos, os quais eletrizava com sua esfuziante presença:
Para mostrar-lhes pequena amostra de seu trabalho, escolhi o merengue Tres Deseos, do CD Abriendo Puertas, composição e arranjo de Kike Santander, que fala de como é bom termos no coração o amor por nossos semelhantes. Vamos ouvi-lo:
* Desculpem-me a insistência em mostrar-lhes no que transformaram aquele povo outrora tão risonho e feliz. A revista Veja de 06.11.13, em ampla reportagem especial intitulada Cuba, afirma: “o dinheiro dos brasileiros ajuda a sustentar o regime dos irmãos Castro, em que só existem dois tipos de pessoas: os dirigentes e os indigentes”.
Raimundo Floriano
Quando eu falo que Cuba entristeceu a partir dos Anos 1960, estou coberto de razão. Além dos argumentos que expenderei mais adiante, algo pode se constatar observando os semblantes dos médicos cubanos recém-chegados ao Brasil: fisionomias soturnas, denotativas de um povo que perdeu o bom humor, servil, domesticado.
A lavagem cerebral, que se impõe desde a infância dos cubanos, se observa em todos os setores culturais, sendo emblemáticos seus efeitos sobre esta jovem artista, atualmente de maior visibilidade na Ilha:
Patricia Blanco, a Patry White
Enquanto aqui no Brasil cogita-se a mudança do nome da Ponte Costa e Silva e da Fundação Getúlio Vargas, por homenagearem presidentes que governaram ditatorialmente, essa bonita show-woman – espécie de Gretchen de lá – cujo primeiro single de sucesso é Chupi Chupi, se autodenomina A Ditadora! Vocês já ouviram falar nela?
Em meu tempo de rapaz, até o final da década de 1950, nomes de artistas cubanos como Perez Prado e Sua Orquestra, Bienvenido Granda, Xavier Cugat e Sua Orquestra, Célia Cruz e Orquestra La Sonora Matancera eram tão comuns em nossas festas dançantes quanto os de Severino Araújo e Sua Orquestra Tabajara, Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Nélson Gonçalves, Ciro Monteiro, Emilinha Borba, e outros.
Não é que a musicalidade cubana tenha se acabado por completo. Ainda existe, mas com a boca completamente arrolhada para o resto do mundo. Observem esta nota publicada na revista Veja, de 08.05.13, na Seção Música - Cinema - Arte:
No corpo da matéria, a revista brinda-nos com a relação de nomes que dominam o atual cenário musical cubano: a já vista acima, Patricia Blanco, vulgo Patry White, cantora, reggaeton, ritmo importado de Porto Rico; Carlos Alfonso, vulgo X Alfonso, baixista e cantor de ritmos afro-cubanos, rock, música clássica e hip-hop; Yoandys González, vulgo Baby Lores, cantor de reggaeton e músicas em louvor a Fidel; Yssy García, baterista; Etian Arnau Lizaire, vulgo Brebaje Man, cantor de rap e hip-hop. Vocês já ouviram falar neles? Pois É!
E vejam que alienação! Com todas as adversidades políticas que nós, os brasileiros, enfrentamos desde o início dos Anos 1960, ainda vemos e curtimos adoidado talentos emergentes patrícios fazendo sucesso com baião, coco, samba, xote, frevo nos três gêneros, marchinha, samba-canção, toada, valsa, arrasta-pé, modinha caipira, rojão, etc.
Dentro de meu propósito de mostrar um pouco do que foi a pujança da música caribenha do passado, em particular a cubana, dou continuidade à pesquisa focalizando, hoje, essa grande orquestra de renome internacional, La Sonora Matancera, a criadora da Salsa.
A Orquestra La Sonora Matancera, foi fundada no dia 12 de janeiro de 1924, na casa de Valentim Cane, tocador de três – instrumento de cordas afro-caribenho –, localizada no aprazível Bairro Ojo de Agua, na cidade de Matanzas, deleito musical cubano, capital da província do mesmo nome, região Centro-Oeste de Cuba, com o nome de Atuneiros Liberal. Participaram do ato Paul Vasquez Govin, o Buiu, baixo; Manuel Sanchez, o Jimaga, timbale; Ismael Governadores, pistom; Domingo Medina, guitarra; Julio Govin, guitarra; José Manuel Varela, guitarra; e Juan Bautista Llopis, guitarra.
No ano 1926, foram admitidos Carlos Manuel Diaz, o Caíto e Roglio Martinez Dias, El Galego que, no futuro, daria destaque internacional à orquestra. Reformulada, com a saída de alguns membros e a admissão de outros, o conjunto passou a denominar-se Sexteto Soprano. Em 12 de janeiro, três anos após sua fundação, com o nome de Sonora Matancera Estudiantina, mudou-se para Havana, no intuito de conquistar espaço no competitivo mercado musical cubano dominado por estas feras: Septeto Habanero, Septeto Bologna, National Septeto, Trio Matamoros, Septeto Matancero e Pinareño Septeto. Em novembro do mesmo ano, realizou, na RC Victor, suas duas primeiras gravações.
O início dos Anos 1930 é marcado pela expansão do rádio e momento propício para a consolidação da orquestra, que recebe sua denominação definitiva, La Sonora Matancera, apresentando-se em todas as estações de rádio do país.
De 1932 a 1948, a orquestra incorporou vários músicos, adquirindo personalidade própria com ritmos dançantes e sendo imitada por outros grupos desde então, nesses 89 anos de existência ininterrupta.
La Sonora Matancera foi responsável pelo lançamento de muitos cantores aos píncaros da glória, os quais, após nela atuarem como crooners, alçaram voo em carreira individual, sendo os mais visíveis deles no Brasil Binvenido Granda, de meados dos anos 1940 até 1954, e Célia Cruz, que o substituiu.
A união de todos instrumentos de corda, sopro e percussão com as vozes convergindo para o ritmo inconfundível e irresistível de La Sonora Matancera, deveu-se ao trabalho tenaz de arranjador Severino Ramos, o Refresquito. O apoio e colaboração ativa de Radio Progreso foram definitivos para a internacionalização da orquestra. A estação de rádio de ondas curtas, como um canhão, trovejou por toda a Bacia do Caribe.
O período entre 1950 e 1959, época de esplendor e fantasia, é considerado como a Idade de Ouro do showbiz cubano, com a força dada pela nova invenção tecnológica: a televisão.
Mas aí, desabou a tragédia sobre o cenário artístico-musical da então conhecida como a Pérola das Antilhas. Em 1959, La Sonora Matancera fazia uma temporada pelo México, quando o regime comunista de Fidel Castro se apossou do poder em Cuba, o que fez a Orquestra decidir, em definitivo, não mais retornar para a Ilha, estabelecendo-se nos Estados Unidos da América.
As ditaduras de Cuba e, posteriormente, da Venezuela, arrolharam a boca musical daqueles países, fazendo que com que o merengue praticamente desaparecesse do cenário mundial. Com isso surgiu um novo ritmo, que foi a música hoje chamada salsa, uma mescla de ritmos afro-americanos, tais como o son, o mambo, chá-chá-chá, e a rumba cubanos. Fontes dizem que a salsa nasceu nos bairros de Nova Iorque por volta dos 1971. Mas a verdade é que o ritmo surgiu depois que a Orquestra La Sonora Matancera saiu de Cuba, durante a revolução cubana, e se instalou no México, criando essa nova denominação – salsa. A palavra significa molho, e a mistura desses ingredientes resultou num sabor muito picante, fazendo com que os norte-americanos aprendessem a dançar da cintura para baixo.
A passagem do tempo é inexorável. Muitas estrelas do passado, com seu falecimento, vêm sendo substituídas por novos personagens, igualmente valorosos, o que contribui para o sucesso também sempre renovado de La Sonora Matancera que, nesses 89 anos de atuação, já se apresentou em palcos de todo o Planeta Terra.
Seus discos são facilmente encontráveis à disposição em sebos virtuais.
Como pequena amostra de seu trabalho, escolhi, do CD acima, a salsa de Sabrosito Asi, de José Reina. Vamos ouvi-la:
* Desculpem-me a insistência em mostrar-lhes no que transformaram aquele povo outrora tão risonho e feliz. A revista Veja de 06.11.13, em ampla reportagem especial intitulada Cuba, afirma: “o dinheiro dos brasileiros ajuda a sustentar o regime dos irmãos Castro, em que só existem dois tipos de pessoas: os dirigentes e os indigentes”.
Raimundo Floriano
(Publicaddo em 13.10.16)
Celia Cruz
Quando eu falo que Cuba entristeceu a partir dos Anos 1960, estou coberto de razão. Além dos argumentos que expenderei mais adiante, algo pode se constatar observando os semblantes dos médicos cubanos recém-chegados ao Brasil: fisionomias soturnas, denotativas de um povo que perdeu o bom humor, servil, domesticado.
A lavagem cerebral, que se impõe desde a infância dos cubanos, se observa em todos os setores culturais, sendo emblemáticos seus efeitos sobre esta jovem artista, atualmente de maior visibilidade na Ilha:
Patricia Blanco, a Patry White
Enquanto aqui no Brasil cogita-se a mudança do nome da Ponte Costa e Silva e da Fundação Getúlio Vargas, por homenagearem presidentes que governaram ditatorialmente, essa bonita show-woman – espécie de Gretchen de lá – cujo primeiro single de sucesso é Chupi Chupi, se autodenomina A Ditadora! Vocês já ouviram falar nela?
Em meu tempo de rapaz, até o final da década de 1950, nomes de artistas cubanos como Perez Prado e Sua Orquestra, Bienvenido Granda, Xavier Cugat e Sua Orquestra, Célia Cruz e Orquestra La Sonora Matancera eram tão comuns em nossas festas dançantes quanto os de Severino Araújo e Sua Orquestra Tabajara, Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Nélson Gonçalves, Ciro Monteiro, Emilinha Borba, e outros.
Não é que a musicalidade cubana tenha se acabado por completo. Ainda existe, mas com a boca completamente arrolhada para o resto do mundo. Observem esta nota publicada na revista Veja, de 08.05.13, na Seção Música - Cinema - Arte:
No corpo da matéria, a revista brinda-nos com a relação de nomes que dominam o atual cenário musical cubano: a já vista acima, Patricia Blanco, vulgo Patry White, cantora, reggaeton, ritmo importado de Porto Rico; Carlos Alfonso, vulgo X Alfonso, baixista e cantor de ritmos afro-cubanos, rock, música clássica e hip-hop; Yoandys González, vulgo Baby Lores, cantor de reggaeton e músicas em louvor a Fidel; Yssy García, baterista; Etian Arnau Lizaire, vulgo Brebaje Man, cantor de rap e hip-hop. Vocês já ouviram falar neles? Pois É!
E vejam que alienação! Com todas as adversidades políticas que nós, os brasileiros, enfrentamos desde o início dos Anos 1960, ainda vemos e curtimos adoidado talentos emergentes patrícios fazendo sucesso com baião, coco, samba, xote, frevo nos três gêneros, marchinha, samba-canção, toada, valsa, arrasta-pé, modinha caipira, rojão, etc.
Dentro de meu propósito de mostrar um pouco do que foi a pujança da música caribenha do passado, em particular a cubana, continuo hoje focalizando essa grande artista de renome internacional que foi Celia Cruz, a Rainha da Salsa.
Celia Cruz – Úrsula Hilaria Celia Caridad Cruz Alfonso – cantora cubana, nasceu em Havana, no dia 21 de outubro de 1925, e faleceu na cidade americana de Fort Lee, Nova Jersey, a 16 de julho de 2003, perto de completar 78 anos de idade.
Passou a juventude em Santos Suárez, bairro pobre de Havana, onde se viu influenciada pela diversidade musical e a riqueza dos ritmos cubanos. Ainda adolescente, ganhou o concurso “La hora del té” – A Hora do Chá –, o que deu impulso a sua carreira. Enquanto sua mãe a encorajava a participar de outros certames pelo País, seu pai, mais tradicional, tinha outros planos e a incentivou a tornar-se professora, ocupação comum para as mulheres cubanas de seu tempo.
Celia matriculou-se no Colégio Nacional de Professores, mas logo abandonou o curso, diante do sucesso que fazia nas apresentações em estações de rádio. Conciliando o crescimento de suas aspirações artísticas com os desejos do pai para que continuasse estudando, matriculou-se no Conservatório Musical Nacional em Havana. No entanto, em vez de encontrar razões para prosseguir na trilha acadêmica, um de seus professores convenceu-a de que ela deveria insistir em sua carreira de cantora em tempo integral, o que foi feito.
No ano de 1948, realizou sua primeira gravação. Em meados Anos 1950, Célia foi alavancada para o estrelato, quando começou a atuar como crooner da famosa Orquestra La Sonora Matancera.
Inicialmente, houve o temor de que Celia não faria o mesmo sucesso do crooner anterior, Bienvenido Granda, e a dúvida se uma voz feminina venderia discos como de costume. Mas Celia impeliu a Orquestra – e a Música Latina, em geral – para novas alturas, excursionando com La Sonora Matancera pelas Américas do Norte e Central, até quase o final da década.
Em 1959, La Sonora Matancera fazia uma temporada pelo México, quando o regime comunista de Fidel Castro se apossou do poder em Cuba, o que fez a Orquestra decidir, em definitivo, não mais retornar para a Ilha, estabelecendo-se nos Estados Unidos da América.
No ano de 1961, Celia Cruz tornou-se cidadã americana, e isso provocou a fúria de Fidel Castro que, em represália, proibiu sua entrada no país, assim como que ali fosse tocada qualquer de suas músicas.
Por algum tempo, a artista permaneceu relativamente desconhecida nos Estados Unidos, além de inicialmente refugada pela comunidade cubana ali residente, mas quando se juntou à Orquestra Tito Puente, em meado dos Anos 1960, ganhou visibilidade e o aplauso internacional. Puente era largamente conhecido em toda a América Latina e, com a nova formação do grupo, Celia transformou-se em seu foco central, angariando uma grande base de aficionados admiradores. No palco, Celia encantava a plateia, com seus trajes extravagantes e interação com o público – aspectos que engrandeceram e caracterizaram toda sua vida artística de 40 anos como crooner.
Alguns discos que nos deixou:
Com sua maviosa voz aparentemente inalterada, Célia continuou gravando até além da Década de 1980, num total de 75 discos, inclusive 23 Discos de Ouro, recebendo vários Grammys e Latin Gramys, apareceu em diversos filmes, ganhou uma estrela na Hollywood’s Walk of Fame e foi condecorada pela National Endowment of the Arts com A American National Medal of the Arts.
Participou da novela mexicana, El Alma no Tiene Color, no ano de 1997, exibida no Brasil em 2001, pelo SBT, com o título A Alma não Tem Cor.
Foi casada durante 41 anos com o também cantor cubano Pedro Knight. Em 16 de julho de 2003, ela morreu de um tumor maligno no cérebro, em sua casa em Fort Lee, Nova Jersey, como dito acima. Seu corpo foi embalsamado e levado para Miami e Nova York, de tal maneira que todos lhe pudessem render homenagens.
Seu sepultamento reuniu mais de 150 mil pessoas, em Miami e em New York. O mundo inteiro lhe rendeu homenagens e a comunidade artística mundial reconheceu-a como um de seus mais altos expoentes. O enterro em Nova York constituiu-se num dos maiores que essa cidade recorda, superando, inclusive, o de Judy Garland, em 1969.
Celia Cruz vibrando com o Grammy/2003
A música hoje chamada salsa é uma mescla de ritmos afro-americanos, tais como o son, o mambo, chá-chá-chá, e a rumba cubanos. Fontes dizem que a salsa nasceu nos bairros de Nova Iorque por volta dos 1971. Mas a verdade é que a Salsa surgiu depois que a Orquestra La Sonora Matancera saiu de Cuba, durante a revolução cubana, e se instalou no México, criando essa nova denominação – salsa.
E Celia Cruz, por ser a maior divulgadora da salsa, predominante em todo seu vastíssimo repertório, foi cognominada A Rainha da Salsa, recebendo, até, um Grammy por isso.
Recentemente, num arroubo de magnanimidade, o regime de Fidel Castro declarou permitido tocar em Cuba as músicas gravadas por Celia Cruz. Mas só agora?
Possuo em meu acerco dois CDs de salsa dessa grande artista:
Como pequena amostra de seu trabalho, escolhi a salsa de Victor Daniel, La Vida Es Um Carnaval, do CD Éxitos Eternos. Vamos ouvi-la:
* Desculpem-me a insistência em mostrar-lhes no que transformaram aquele povo outrora tão risonho e feliz. A revista Veja de 06.11.13, em ampla reportagem especial intitulada Cuba, afirma: “o dinheiro dos brasileiros ajuda a sustentar o regime dos irmãos Castro, em que só existem dois tipos de pessoas: os dirigentes e os indigentes”.
Raimundo Floriano
Quando eu falo que Cuba entristeceu a partir dos Anos 1960, estou coberto de razão. Além dos argumentos que expenderei mais adiante, algo pode se constatar observando os semblantes dos médicos cubanos recém-chegados ao Brasil: fisionomias soturnas, denotativas de um povo que perdeu o bom humor, servil, domesticado.
A lavagem cerebral, que se impõe desde a infância dos cubanos, se observa em todos os setores culturais, sendo emblemáticos seus efeitos sobre esta jovem artista, atualmente de maior visibilidade na Ilha:
Patricia Blanco, a Patry White
Enquanto aqui no Brasil cogita-se a mudança do nome da Ponte Costa e Silva e da Fundação Getúlio Vargas, por homenagearem presidentes que governaram ditatorialmente, essa bonita show-woman – espécie de Gretchen de lá – cujo primeiro single de sucesso é Chupi Chupi, se autodenomina A Ditadora! Vocês já ouviram falar nela?
Em meu tempo de rapaz, até o final da década de 1950, nomes de artistas cubanos como Perez Prado e Sua Orquestra, Bienvenido Granda, Xavier Cugat e Sua Orquestra, Célia Cruz e Orquestra La Sonora Matancera eram tão comuns em nossas festas dançantes quanto os de Severino Araújo e Sua Orquestra Tabajara, Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Nélson Gonçalves, Ciro Monteiro, Emilinha Borba, e outros.
Não é que a musicalidade cubana tenha se acabado por completo. Ainda existe, mas com a boca completamente arrolhada para o resto do mundo. Observem esta nota publicada na revista Veja, de 08.05.13, na Seção Música - Cinema - Arte:
No corpo da matéria, a revista brinda-nos com a relação de nomes que dominam o atual cenário musical cubano: a já vista acima, Patricia Blanco, vulgo Patry White, cantora, reggaeton, ritmo importado de Porto Rico; Carlos Alfonso, vulgo X Alfonso, baixista e cantor de ritmos afro-cubanos, rock, música clássica e hip-hop; Yoandys González, vulgo Baby Lores, cantor de reggaeton e músicas em louvor a Fidel; Yssy García, baterista; Etian Arnau Lizaire, vulgo Brebaje Man, cantor de rap e hip-hop. Vocês já ouviram falar neles? Pois É!
E vejam que alienação! Com todas as adversidades políticas que nós, os brasileiros, enfrentamos desde o início dos Anos 1960, ainda vemos e curtimos adoidado talentos emergentes patrícios fazendo sucesso com baião, coco, samba, xote, frevo nos três gêneros, marchinha, samba-canção, toada, valsa, arrasta-pé, modinha caipira, rojão, etc.
Continuando com meu projeto de mostrar um pouco do que foi a pujança da música caribenha do passado, em particular a cubana, apresento-lhes hoje outro nome desse elenco cheio de estrelas internacionais: Xavier Cugat e Sua Orquestra.
Xavier Cugat – Francisco de Asis Javier Cugat Mingall De Bru Y Deulofeo –, maestro e compositor catalão-cubano, nasceu na cidade catalã de Girona, Espanha, no dia 1º de janeiro de 1900, a cerca de 100 km de Barcelona, onde veio a falecer, no dia 27 de outubro de 1990, com quase 91 anos de idade.
Quando estava com 3 anos de idade, desembarcou com sua família em Havana, Capital cubana, onde se iniciou no estudo da chamada música clássica. Menino-podígio do violino, nos primeiros anos em Cuba foi impregnado pelos sons das maracas e dos bongôs, que pontuavam o frenesi de rumbas e congas, o que, mais tarde, alimentou seu sonho de concertista, tocando a música dos negros em casas noturnas.
Compondo uma prole de quatro irmãos e uma irmã, apenas ele se dedicou à Música e, já aos 12 anos de idade, empunhava o violino nas orquestras da Ópera e da Sinfônica de Havana. Aprofundou seus estudos do instrumento em Berlin, Paris e Nova Iorque, quando chegou a acompanhar o tenor Caruso, que muito o estimulou.
Aos 18 anos, descobriu que não seria um grande concertista, permanecendo nos estados Unidos por mais 5 anos, trabalhando como caricaturista, nas páginas do Los Angeles Times.
Em meados dos Anos 1920, retornou a Cuba, onde passou a desenhar sua própria imagem como bandleader de ritmos latino-americanos. Rumbas, cúmbias, boleros, guarachas, valsas mexicanas, congas, enfim, tudo que fosse das Caraíbas ao Sul do Rio Grande ficava sob sua batuta, recriado em arranjos e sons de sua maviosa orquestra. Foi ele o grande divulgador da Música Latina nos Estados Unidos e na Europa.
O cinema foi o grande veículo para consolidar sua fama como nome internacional. Em 1936, já atuara em Amores de Uma Vida, da Paramount, com Mae West, mas foi nos anos 1940 que o colorido das telas o levou ao apogeu em sua carreira, com musicais como Escola de Sereias, Romance no México, Numa Ilha com Você, O Príncipe Encantado, com Carmen Miranda, e outros. Também no cinema, acompanhou grandes nomes do showbiz americano, dentre eles Bing Crosby, Frank Sinatra, Perry Como, Dean Martin. Foram 133 filmes no total, como ator ou dirigindo sua orquestra.
Xavier Cugat sempre se empenhou em transmitir ao público a ideia de boa-vida, de mulherengo, o que, para inveja de muitos, era a mais pura verdade. Casou-se com 4 de suas belas e sempre jovens cantoras. Abbe Lane, exuberante, foi a mais famosa delas. Outra paixão de sua vida, e marca registrada, era uma minúscula chihuahua, cachorrinha que agasalhava na palma de mão e carregava no bolso.
Em 1970, depois de várias voltas pelo Mundo, resolveu retornar para sua Espanha – Mi España, como diz o título de uma de suas famosas composições –, a fim de encerrar sua carreira de Maestro e dedicar-se à pintura. Não resistiria, porém, mais do que 5 anos e, em 1975, formou nova orquestra, com 16 figuras, para atuar num hotel de Cabo Salou, na Costa da Catalunha. E, na bela Barcelona, com quase 91 anos, finalmente partiu com sua batuta para reger outra orquestra no Plano Superior.
Grande parte destes dados biográficos é creditada à Editora Revivendo, da qual sou fiel cliente há mais de quatro décadas.
Sua discografia é extensa, e muito títulos são facilmente encontráveis em sites virtuais de busca.
O título de Rei da Rumba lhe foi atribuído pelo ritmo que o caracterizou em suas gravações, hoje imediatamente lembrado quando se fala em seu nome.
E foi uma rumba, extraída do LP acima, que escolhi para dar-lhes pequena amostra de seu trabalho. Ouçamos, pois, com Xavier Cugat e Sua Orquestra, a rumba The Lady in Red, composição de Xavier, gravada em 1940:
* Desculpem-me a insistência em mostrar-lhes no que transformaram aquele povo outrora tão risonho e feliz. A revista Veja de 06.11.13, em ampla reportagem especial intitulada Cuba, afirma: “o dinheiro dos brasileiros ajuda a sustentar o regime dos irmãos Castro, em que só existem dois tipos de pessoas: os dirigentes e os indigentes”.
Raimundo Floriano
Bienvenido Granda
Quando eu falo que Cuba entristeceu a partir dos Anos 1960, estou coberto de razão. Além dos argumentos que expenderei mais adiante, algo pode se constatar observando os semblantes dos médicos cubanos recém-chegados ao Brasil: fisionomias soturnas, denotativas de um povo que perdeu o bom humor, servil, domesticado*.
A lavagem cerebral, que se impõe desde a infância dos cubanos, se observa em todos os setores culturais, sendo emblemáticos seus efeitos sobre esta jovem artista, atualmente de maior visibilidade na Ilha:
Patricia Blanco, a Patry White
Enquanto aqui no Brasil cogita-se a mudança do nome da Ponte Costa e Silva e da Fundação Getúlio Vargas, por homenagearem presidentes que governaram ditatorialmente, essa bonita show-woman – espécie de Gretchen de lá –, cujo primeiro single de sucesso é Chupi Chupi, se autodenomina A Ditadora! Vocês já ouviram falar nela?
Em meu tempo de rapaz, até o final da década de 1950, nomes de artistas cubanos como Perez Prado e Sua Orquestra, Bienvenido Granda, Xavier Cugat e Sua Orquestra, Célia Cruz e Orquestra La Sonora Matancera eram tão comuns em nossas festas dançantes quanto os de Severino Araújo e Sua Orquestra Tabajara, Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Nélson Gonçalves, Ciro Monteiro, Emilinha Borba, e outros.
Não é que a musicalidade cubana tenha se acabado por completo. Ainda existe, mas com a boca completamente arrolhada para o resto do mundo. Observem esta nota publicada na revista Veja, de 08.05.13, na Seção Música - Cinema - Arte:
No corpo da matéria, a revista brinda-nos com a relação de nomes que dominam o atual cenário musical cubano: a já vista acima, Patricia Blanco, vulgo Patry White, cantora, reggaeton, ritmo importado de Porto Rico; Carlos Alfonso, vulgo X Alfonso, baixista e cantor de ritmos afro-cubanos, rock, música clássica e hip-hop; Yoandys González, vulgo Baby Lores, cantor de reggaeton e músicas em louvor a Fidel; Yssy García, baterista; Etian Arnau Lizaire, vulgo Brebaje Man, cantor de rap e hip-hop. Vocês já ouviram falar neles? Pois É!
E vejam que alienação! Com todas as adversidades políticas que nós, os brasileiros, enfrentamos desde o início dos Anos 1960, ainda vemos e curtimos adoidado talentos emergentes patrícios fazendo sucesso com baião, coco, samba, xote, frevo nos três gêneros, marchinha, samba-canção, toada, valsa, arrasta-pé, modinha caipira, rojão, etc.
Dentro de meu propósito de mostrar um pouco do que foi a pujança da música caribenha do passado, em particular a cubana, dou continuidade hoje, apresentando outro grande nome dessa constelação, cujos boleros embalaram os primeiros passos dançantes de minha adolescência: Bienvenido Granda.
Bienvenido Rosendo Granda Aguilera, cantor e compositor cubano de grande popularidade em toda a América Latina, ao longo das Décadas de 1950 e 1960, nasceu em Havana, no dia 30 de agosto de 1915, e faleceu na Cidade do México, no dia 9 de julho de 1983, aos 68 anos de idade.
Órfão de pai aos seis anos de idade, desde criança mostrou afinidade com os ritmos cubanos e os tangos argentinos, que cantava nos ônibus, no intuito de ganhar minguados trocados que lhe garantissem a subsistência.
Aos poucos, foi consolidando sua carreira artística atuando nas emissoras de rádio nos Anos 1940 e 1950. Sua consagração definitiva aconteceu ao juntar-se à Orquestra La Sonora Matancera, em 1940, na qual permaneceu até 1954, quando iniciou sua carreira solo.
Apresentou-se em diversos países da América Latina e, no início da Década de 1960, inconformado ao o regime ditatorial que se apoderou de Cuba, mudou-se para o México, onde fixou residência definitiva. Nessa época, já era conhecido como “O Bigode Que Canta”.
Sua discografia é extensa, e muitos títulos se encontram à disposição em sites virtuais de busca.
Bienvenido Granda imortalizou composições próprias e de outros autores, notadamente boleros, que ficaram para sempre gravadas em nossa memória: La Ultima Noche, Hipocrita, Tu Precio, Pecadora, Señora, Angustia, En la Orilla del Mar, Nuestra Realidad, Gracias, Soñar, Perfume de Gardenia, Oración Caribe, Soñando Contigo, Calla, Las Muchacas del Cha-Cha-Cha, P de Parada e Ba Bae.
Como pequena amostra desse trabalho, escolhi a primeira música com a qual tomei conhecimento da existência de Bienvenido Granda, o bolero No Toques Ese Disco, de sua autoria, acompanhado pela Orquestra La Sonora Matancera:
* Desculpem-me a insistência em mostrar-lhes no que transformaram aquele povo outrora tão risonho e feliz. A revista Veja de 06.11.13, em ampla reportagem especial intitulada Cuba, afirma: “o dinheiro dos brasileiros ajuda a sustentar o regime dos irmãos Castro, em que só existem dois tipos de pessoas: os dirigentes e os indigentes”.
Raimundo Floriano
Perez Prado, o Rei do Mambo
Quando eu falo que Cuba entristeceu a partir dos Anos 1960, estou coberto de razão. Além dos argumentos que expenderei mais adiante, algo pode se constatar observando os semblantes dos médicos cubanos recém-chegados ao Brasil: fisionomias soturnas, denotativas de um povo que perdeu o bom humor, servil, domesticado.
A lavagem cerebral, que se impõe desde a infância dos cubanos, se observa em todos os setores culturais, sendo emblemáticos seus efeitos sobre esta jovem artista, atualmente de maior visibilidade na Ilha:
Patricia Blanco, a Patry White
Enquanto aqui no Brasil cogita-se a mudança do nome da Ponte Costa e Silva e da Fundação Getúlio Vargas, por homenagearem presidentes que governaram ditatorialmente, essa bonita show-woman – espécie de Gretchen de lá – cujo primeiro single de sucesso é Chupi Chupi, se autodenomina A Ditadora! Vocês já ouviram falar nela?
Em meu tempo de rapaz, até o final da década de 1950, nomes de artistas cubanos como Perez Prado e Sua Orquestra, Bienvenido Granda, Xavier Cugat e Sua Orquestra, Célia Cruz e Orquestra La Sonora Matancera eram tão comuns em nossas festas dançantes quanto os de Severino Araújo e Sua Orquestra Tabajara, Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Nélson Gonçalves, Ciro Monteiro, Emilinha Borba, e outros.
Não é que a musicalidade cubana tenha se acabado por completo. Ainda existe, mas com a boca completamente arrolhada para o resto do mundo. Observem esta nota publicada na revista Veja, de 08.05.13, na Seção Música - Cinema - Arte:
No corpo da matéria, a revista brinda-nos com a relação de nomes que dominam o atual cenário musical cubano: a já vista acima, Patricia Blanco, vulgo Patry White, cantora, reggaeton, ritmo importado de Porto Rico; Carlos Alfonso, vulgo X Alfonso, baixista e cantor de ritmos afro-cubanos, rock, música clássica e hip-hop; Yoandys González, vulgo Baby Lores, cantor de reggaeton e músicas em louvor a Fidel; Yssy García, baterista; Etian Arnau Lizaire, vulgo Brebaje Man, cantor de rap e hip-hop. Vocês já ouviram falar neles? Pois É!
E vejam que alienação! Com todas as adversidades políticas que nós, os brasileiros, enfrentamos desde o início dos Anos 1960, ainda vemos e curtimos adoidado talentos emergentes patrícios fazendo sucesso com baião, coco, samba, xote, frevo nos três gêneros, marchinha, samba-canção, toada, valsa, arrasta-pé, modinha caipira, rojão, etc.
Dentro de meu propósito de mostrar um pouco do que foi a pujança da música caribenha do passado, em particular a cubana, começo hoje apresentando o primeiro nome que conheci desse elenco e que muito influenciou meu gosto pelos ritmos e melodias tão vibrantes que produziam: Perez Prado e Sua Orquestra.
Damaso Perez Prado, tecladista, maestro, arranjador e compositor, nasceu em Cuba, na cidade de Matanzas, no dia 11 de dezembro de 1916, e faleceu na Cidade do México, a 14 de setembro de 1989, aos 72 anos de idade, vítima de um acidente vascular cerebral. Era filho de Pablo Perez, jornalista, e de Sara Prado, professora.
Estudou música clássica e piano em sua infância e, mais tarde, tocou órgão e piano em clubes locais. Por um tempo, foi o pianista e arranjador para a Orquestra La Sonora Matancera, então o mais conhecido grupo musical de Cuba. Também trabalhou como pianista na Orquestra Casino de La Playa, em Havana, durante a maior parte da década de 1940, quando tinha o apelido de “El Cara de Foca”.
O final dos Anos 1930 e o início dos Anos 1940 foram de dias excitantes para a música pop cubana: os metais adicionaram-se às bandas de “son” – ritmo nativo cubano – de forma vibrante, com influência do swing norte-americano, ganhando enorme popularidade nos clubes e salões de baile de Havana. Nesse período, Perez Prado já era um maestro experiente na forma em que se transformaria em sua marca registrada: o mambo, ritmo dançante quente e rápido, derivado da música africana, espécie de misturas do son com a rumba.
Em 1948, Perez mudou-se para México formando sua própria orquestra, especializadas em mambo, ritmo do qual foi o maior compositor e divulgador, sendo por isso mesmo, intitulado o Rei do Mambo. Jamais voltou a morar em Cuba.
Em 1950, o arranjador norte-americano Sonny Burke ouviu uma de suas composições, Que Rico Mambo, levando-a para seu país, onde rebatizou-a com o título de Mambo Jambo, cujo single estourou nas paradas de sucesso mundiais, rendendo a Perez uma turnê pelos Estados Unidos, quando começou a gravar para a RCA Victor.
Em 1954, Perez Prado extasiou o mundo com a gravação da rumba de Loughy e Jacques Larue, Cherry Pink And Apple Blossom White, lançada no Brasil como Cerejeira Rosa. Em 1958, com a rumba Patricia, de sua autoria, conquistou o primeiro lugar nas paradas de sucesso dos Estados Unidos, da Alemanha, da Grã-Bretanha, do Brasil, do Mundo, enfim. Além disso, suas composições fizeram parte da trilha sonora de vários filmes e séries de sucesso internacional.
Sua discografia compreende mais de 30 títulos, alguns ainda encontráveis à venda em mercados virtuais. Desde a instalação da Ditadura de Fidel, Perez Prado nunca mais pisou em Cuba.
Seu filho, Perez Prado Jr., continua a dirigir a Orquestra de Pérez Prado na Cidade do México até hoje.
Mambo Jambo foi a música que marcou a carreira de Perez Prado para sempre, lembrada até hoje pelos que conheceram os Anos Dourados da Música Cubana, ao som da qual o pessoal de minha faixa etária viveu felizes momentos nas festas dançantes de nossa juventude. Mas há uma outra criação desse grande músico que ficou para sempre indelével em minhas lembranças.
Trata-se do Mambo Espanha, que passei a curtir em 1955, quando o Circo Garcia cumpriu temporada em Teresina, capital piauiense, com grande orquestra de sopros e metais. Quando tocava desse mambo, um pistonista se levantava e executava um solo que fazia os camarotes e as arquibancadas tremerem de emoção.
Ouçamos, portanto, as duas joias musicais de Perez Prado e Sua Orquestra que me inebriaram para sempre:
Mambo Jambo:
Mambo Espanha, com o famoso solo de pistom:
Raimundo Floriano
Compay Segundo y Sus Muchachos
Para quem não leu este Almanaque no dia 3 de outubro, informo que o Buena Vista Social Club foi um clube de dança e atividades musicais de Havana, local onde os astros cubanos se encontravam e tocavam na década de 1940, entre eles Manuel "Puntillita" Licea, Compay Segundo, Rubén González, Ibrahim Ferrer, Pío Leyva, Anga Díaz, Omara Portuondo e Eliades Ochoa. No decorrer do tempo, novos membros entraram para o grupo.
No final da Década de 1950, o Clube fechou, e nunca mais se viu em Cuba um lugar como aquele, deixando, assim, seus músicos órfãos. Foi a tristeza musical que se apossou da ilha, na fechadura imposta pelo regime ditatorial ali instalado. Na Década de 1990, foi lançado um filme e gravado um CD com o mesmo nome, dando ao Buena Vista notoriedade mundial. Dentre os veteranos que atuaram em ambos, Ibrahim Ferrer, Omara Portuondo e Eliades Ochoa eram mais conhecidos no Brasil.
Eliades teve pequena amostra de seu trabalho aqui apresentado no dia 3, assim como Ibrahim Ferrer, e Omara Portuondo, no dia 13. Hoje, apresentarei um nome igualmente famoso, mas quase desconhecido no Brasil: Compay Segundo.
Compay Segundo
Compay Segundo, pseudônimo de Maximo Francisco Repilado Muñoz, nasceu a 18 de novembro de 1907, em Siboney, Cuba, e faleceu no dia 3 de julho de 2003, em Havana. Foi um compositor, violonista, clarinetista, cantor e tresero – sendo o tres a fusão de três instrumentos de corda caribenhos: a guitarra, o tiple e a bandola.
Desde os cinco anos, acendia os puros – charutos – para a avó materna e, a partiu de então, adquiriu o hábito de fumar, que jamais abandonou, sendo o charuto sua marcante característica. Aos nove anos de idade, com o falecimento da avó, mudou-se com sua família para a cidade de Santiago de Cuba.
Em Santiago, Repilado, como era conhecido, começou a trabalhar no ofício de que se ocupava grande parte da população cubana: enrolador de charutos. Ao mesmo tempo, tomava aulas com a jovem Noemi Toro, que o introduziu nos segredos da pauta musical. Por sua influência, optou pela clarineta, com a qual fez sua primeira apresentação em Havana, integrando a Banda Municipal de Música, em 1929, na inauguração do Capitólio Nacional.
Em 1935, com o guaracheiro Ñico Saquito e Sua Banda Cuban Star, viajou novamente para a Capital cubana, desta feita, para lá residir definitivamente.
Autodidata do tres e do violão, mesclou os dois para criar um novo instrumento de corda, a que deu o nome de armónico. Muitas de suas composições musicais caracterizam-se por seu conteúdo imaginativo e grande senso de humor. Na Década de 1930, com Quarteto Hatuey, viajou ao México, onde participou em dois filmes, México Lindo e Tierra Brava.
Também foi no México que integrou, como clarinetista, o Grupo Matamoros e teve a oportunidade de trabalhar com o músico Benny Moré. Lá, também, fundou, em 1942, a Dupla Los Compadres, cantando com o cubano Lorenzo Hierrezuelo. Lorenzo era a primeira voz e tinha o apelido de Compay Primo – primeiro compadre –, enquanto Repilado era a segunda voz, o Compay Segundo, pseudônimo que o acompanhou até o fim de seus dias e pelo qual é reconhecido mundialmente.
Com o tempo, houve um processo da subestimação da segunda voz na música, que passou a ser depreciada, mormente após as Décadas de 1940 e 1950. Sobre esse fenômeno, Compay Segundo declarou: – Os jovens não querem acompanhar nenhum cantor. Todos querem ser estrelas, do dia para a noite. Veja quantos anos eu tive de esperar, quantos caminhos tive de andar, em quantos eventos tive de participar. E cá estou começando, nunca acabando.
Sua carreira teve inúmeras mudanças. Integrou o Sexteto Los Seis Ases, o Cuarteto Cubanacán, e foi clarinetista da Banda Municipal de Santiago de Cuba. Em 1956 criou o Grupo Compay Segundo y Sus Muchachos, com quem trabalhou até sua morte.
Detalhe de Compay Segundo y Sus Muchachos
Compay Segundo foi um artista único, na maneira como produzia o som que se ajustava ao modelo da Zona Oriental de Cuba, o que o fez reconhecido como um grande representante da cubanía – cubanidade. Os estilos em que transitava eram o son, a guaracha e o bolero, além de canções com acentuados matizes caribenhos. Sua voz, grave e redonda, acompanhou célebres cantores de fama internacional.
Com o Grupo Compay Segundo y Sus Muchahos, foi capaz de fazer bailar multidões de todos os continentes. Realizou turnês pela América Latina e Europa, particularmente Espanha, onde gravou seus últimos discos. Sobretudo, partir de 1992, criou-se, na Espanha, um ambiente favorável para a trova e o son tradicional, sendo convidados antigos e respeitados músicos desse estilo. Com isso, em 1995, Compay Segundo teve uma antologia organizada por Santiago Auserón, que foi o início de sua consagração internacional e a retomada de sua carreira artística.
Compay Segundo participou ativamente do ambicioso projeto Buena Vista Social Club, um disco produzido por Ry Cooder, em 1996, em que se reuniram os grandes nomes da música cubana, do passado, e daquela década, com Barbarito Torres, promovendo o ressurgimento de fabuloso de músicos cubanos que, em alguns casos, estavam no ostracismo por mais de 10 anos. O é tema central do documentário homônimo, dirigido pelo alemão Wim Wenders.
No flagrante abaixo, é mostrado cena do documentário, onde aparecem veteranos como Eliades Ochoa, Ibrahim Ferrer, Compay Segundo, Omara Portuondo e o “novato” Barbarito Torres – Bárbaro Alberto Torres Delgado –, cantor e alaudista, nascido na cidade de Matanzas, em 1956, e especializado em ritmos afro-cubanos:
Eliades - Ibrahim - Compay - Omara - Barbarito Torres
Aos 94 anos, Compay Segundo estreou nos palcos como ator, em uma peça intitulada Se Secó el Arroyto – algo como secou-se o riozinho –, baseada em uma de suas canções, que narra os amores frustrados de um casal de jovens nos anos anteriores à Revolução Cubana.
Dentre as canções mais conhecidas interpretadas por Compay Segundo, encontram-se: Sarandonga, Saludos, Compay, ¿Y Tú, Qué Has Hecho?, Amor de Loca Juventud, Juramento e Veinte Años. A mais famosa de todas é Chan Chan, composição sua, que abre o CD, interpretada por Eliades Ochoa, com acompanhamento do Buena Vista Social Club.
Compay Segundo faleceu em 2003, em Havana, cercado por sua família e com o respeito e a consideração de seus patrícios. Deixou cinco filhos. Nonagenário e muito bem-humorado, disse certa feita que ainda não havia se esquecido de como era o amor e que queria um sexto filho. Foi sepultado em Santiago de Cuba.
Sua discografia é extensa e facilmente encontrável em sites virtuais e busca.
Como pequena amostra de seu trabalho, escolhi o blues de sua autoria Amor de Loca Juventud, com participação do Buena Vista Social Club. Vamos ouvi-lo:
Raimundo Floriano
Omara Portuondo, com o Buena Vista Social Club
Para quem não leu este Almanaque no dia 3 de outubro, informo que o Buena Vista Social Club foi um clube de dança e atividades musicais de Havana, local onde os astros cubanos se encontravam e tocavam na década de 1940, entre eles Manuel "Puntillita" Licea, Compay Segundo, Rubén González, Ibrahim Ferrer, Pío Leyva, Anga Díaz, Omara Portuondo e Eliades Ochoa. No decorrer do tempo, novos membros entraram para o grupo.
No final da Década de 1950, o Clube fechou, e nunca mais se viu em Cuba um lugar como aquele, deixando, assim, seus músicos órfãos. Foi a tristeza musical que se apossou da ilha, na fechadura imposta pelo regime ditatorial ali instalado. Na Década de 1990, foi lançado um filme e gravado um CD com o mesmo nome, dando ao Buena Vista notoriedade mundial. Dentre os veteranos que atuaram em ambos, Ibrahim Ferrer, Omara Portuondo e Eliades Ochoa eram mais conhecidos no Brasil.
Eliades teve pequena amostra de seu trabalho aqui apresentado no dia 3, juntamente com o Buena Vista, assim como Ibrahim Ferrer, no dia 13 deste mês. Hoje, apresentarei resumido perfil da cantora Omara Portuondo.
Omara Portuondo
Omara Portuondo, cantora e dançarina cubana, nasceu em Havana, no dia 29 de outubro de 1930. Sua mãe, descendente de rica família espanhola, causou grande escândalo ao fugir para casar-se com um negro, jogador profissional de beisebol.
Esta dama da música cubana, de voz macia como veludo, iniciou sua caminhada artística aos 15 anos, quando era conhecida como a noiva do feelin’ ou filin, estilo romântico que marcava o cenário de Cuba. Seu talento é inato, desenvolveu-se naturalmente, sem que ela precisasse dedicar-se à teoria no interior dos estabelecimentos de ensino musical. Sua verdadeira escola foi seu lar; seus mestres, os próprios pais, que cultivavam o hábito de cantar depois do almoço. Primogênita de três irmãos, já na infância ela improvisava duplas com o pai, fonte de muitas das músicas que ela posteriormente gravaria em seus discos.
Em sua casa, ela também encontrou a educação da alma, com o aprendizado da paz, da compreensão e do amor, sentimentos gerados no âmbito familiar, uma vez que, publicamente, a mãe espanhola e o pai negro tinham que simular ser dois estranhos, pois a família materna e a sociedade conservadora não aceitavam esse relacionamento. Omara foi criada nesse ambiente.
Ela deu seus primeiros passos no universo musical dançando no grupo Cabaret Tropicana, influenciada por sua irmã Haydee. Quando não estavam trabalhando, integravam um grupo jazzístico. Antes de optar pela carreira solo, ela participou do Cuarteto d’Aida, ao lado da irmã, de duas vocalistas e da pianista Aida Diestro, executando inclusive sucessos da bossa nova. No Cabaret, Omara teve contato com o cantor de jazz Nat King Cole e com a francesa Edith Piaf, a qual ela acompanharia em algumas turnês.
Omara também dançou no Mulatas de Fuego, no Teatro Radiocentro e em outros grupos de dança. As duas irmãs também costumavam cantar para a família e amigos, e se apresentavam em clubes de Havana. Ela e Haydee, em 1947, juntaram-se ao Balanço Loquibambia, grupo formado pelo pianista cego Frank Emilio Flynn.
Sua carreira discografia teve início com o Amigas, lançado em 1950, juntamente com as cantoras Moraima Secadas e Elena Burke. Magia Negra foi seu primeiro álbum individual, lançado em 1959, com destemidas doses de música produzida na Ilha e jazz procedente dos Estados Unidos. Na época em que o governo norte-americano rompeu relações com Cuba, por conta da questão dos mísseis, as irmãs se encontravam em Miami. Enquanto Omara optou por retornar, Haydee preferiu refugiar-se na América do Norte. A seguir, os primeiros álbuns de Omara:
Na Década de 1970, Omara cantou ao lado da Orquestra Aragon, com a qual excursionou por vários recantos do mundo. Nos anos que se seguiram, lançou diversos álbuns e prosseguiu com sua carreira na Ilha e fora dela, sempre atuando em parceria com renomados músicos internacionais, realizando uma fusão das populares canções cubanas herdadas dos pais com o jazz, a bossa nova, o bolero, a guajira e outras tantas cadências latinas.
Sua consagração internacional só veio acontecer ao aproximar-se dos 70 anos de idade, quando se tornou a única mulher a integrar o álbum e o documentário Buena Vista Social Club. Aqui, outros dos discos que lançou:
No ano de 2008, Omara, ao lado de Maria Bethânia, realizou turnê histórica pelo Brasil, o que lhes rendeu a gravação de um CD, um DVD e o lançamento de um livro ricamente ilustrado com registros desse grande encontro. Adiante, a capa do CD com Bethânia:
Omara parece ter sido cooptada. Tão logo a ditadura de Fidel Castro se instalou em Cuba, ela aderiu integralmente. Encontrando-se em Miami, retornou de imediato para a Ilha, enquanto sua irmã Haydee se refugiou nos Estados Unidos, como foi dito acima.
Isso faz-nos supor que, em assim agindo, ela conquistou o direito de poder circular livremente em excursões pelo Exterior, nos trevosos e árduos tempos ditatoriais que dominaram o cenário literomusical cubano desde então.
Hoje, Omara tem um apartamento em Cuba, com vista para o mar, localizado no Malecon, tradicional recanto cubano, onde desfruta de seus momentos de repouso. Sua discografia contabiliza 15 discos, ente LPs e CDs, além de 3 DVDS. De todos, escolhi, para apresentar-lhes pequena amostra de seu trabalho, uma faixa extraída deste álbum, gravado em 2004:
Trata-se do bolero Habanera Ven, do compositor cubano Graciano Gómez. Vamos ouvi-lo:
Raimundo Floriano
Ibrahim Ferrrer à frente do Buena Vista Social Club
Para quem não leu este Almanaque no dia 3 de outubro, informo que o Buena Vista Social Club foi um clube de dança e atividades musicais de Havana, local onde os astros cubanos se encontravam e tocavam na década de 1940, entre eles Manuel "Puntillita" Licea, Compay Segundo, Rubén González, Ibrahim Ferrer, Pío Leyva, Anga Díaz, Omara Portuondo e Eliades Ochoa. No decorrer do tempo, novos membros entraram para o grupo.
No final da Década de 1950, o Clube fechou, e nunca mais se viu em Cuba um lugar como aquele, deixando, assim, seus músicos órfãos. Era a tristeza musical que se apossou da ilha, na fechadura imposta pelo regime ditatorial ali instalado. Na Década de 1990, foi lançado um filme e gravado um CD com o mesmo nome, dando ao Buena Vista notoriedade mundial. Dentre os veteranos que atuaram em ambos, Ibrahim Ferrer, Omara Portuondo e Eliades Ochoa eram os mais conhecidos no Brasil.
Eliades Ochoa, violonista e cantor, teve pequena amostra de seu trabalho aqui exibida no dia 3. Hoje, apresentarei para vocês resumido perfil do cantor Ibrahim Ferrer.
Ibrahim Ferrer
Ele nasceu num salão de baile de Santiago de Cuba, no dia 20 de fevereiro de 1927, e faleceu em Havana, no hospital CIMEQ, no dia 6 de agosto de 2005, os 78 anos de idade.
Filho de uma dançarina de clube noturno, Ibrahim ficou órfão aos 12 anos, quando se viu obrigado a cantar nas ruas para sobreviver. Aos 13, formou par musical com um primo e, apresentando-se em festas particulares, conseguiu sustento para deixar as ruas. Ao longo dos anos, fez parte de diversos grupos musicais e, em 1953, juntou-se ao Conjunto de Pacho Alonso.
Em 1959, mudou-se de Santiago com o Conjunto para Havana, quando a formação musical foi rebatizada como Los Bocucos, dedicando-se principalmente a ritmos cubanos, como os registrados neste álbum:
Tempos depois, Ibrahim trabalhou como vocalista do lendário Benny Moré e Sua Banda Gigante, nome este deveras apropriado, pois sua formação compreendia 21 instrumentos, aí compreendidos bocais, palhetas, cordas e percussão.
Ibrahim sempre manteve o desejo de gravar boleros, o que só veio a acontecer em sua adesão ao Buena Vista Social Club, lançando este álbum só de bolerões, último disco que gravou, à venda em sebos brasileiros:
O filme Buena Vista Social Club, produzido por Ry Cooder, embora nos presenteie com a maravilhosa interpretação de seus astros, mostra-nos, nas poucas imagens de Havana, a pobreza habitacional e o atraso, sob todos os aspectos, em que vive o povo cubano.
Este outro álbum, importado, também se encontra disponível em sebos;
Sua discografia contabiliza 14 títulos. A voz de Ibrahim Ferrer vinha sendo há muito tempo apreciada pelos músicos e entusiastas da ilha, mas só logrou o reconhecimento mundial a partir de sua apresentação no projeto coletivo Buena Vista Social Club. O disco abaixo, no qual é solista vocal em todas as músicas, dá-nos uma perfeita ideia da força que ele representou na Música Latino-americana.
E é dele que escolhi a faixa 1, Bruca Maniguá, afro-cubano – que eles denominam son, ritmo nativo de Cuba – de Arsenio Rodrigues, gravação do ano de 1999.
Vamos ouvi-la:
Raimundo Floriano
O seleto grupo de músicos cubanos
Em minha matéria anterior, denominada A Música do Caribe (3.10.16), prometi voltar ao tema, focalizando os grandes artistas e orquestras que fizeram a pujança musical de toda aquela região compreendida no mar-oceano entre as duas Grandes Américas, musicalidade essa infelizmente sucumbida em passado muito recente. Começo a cumprir minha palavra, trazendo até vocês um pouco do mais conhecido movimento musical cubano.
O Buena Vista Social Club era um clube de dança e atividades musicais de Havana, onde os músicos se encontravam e tocavam na década de 1940, entre eles Manuel "Puntillita" Licea, Compay Segundo, Rubén González, Ibrahim Ferrer, Pío Leyva, Anga Díaz, Omara Portuondo e Eliades Ochoa. No decorrer do tempo, novos membros entraram para o grupo.
No final da Década de 1950, o Clube fechou, e nunca mais se viu em Havana um lugar como aquele, deixando, assim, seus músicos órfãos. A maioria mudou de carreira para poder sustentar-se, e muitos passaram anos sem tocar instrumento algum, definitivamente abandonados e sem esperança de um dia voltarem a viver de suas potencialidades artísticas. Foi a tristeza musical que se apossou da ilha, na fechadura imposta pelo regime ditatorial ali instalado.
Em 1996, mais de 40 anos depois do fechamento do Clube, o músico e produtor americano Ry Cooder foi até Havana, na tentativa de reencontrar essas lendas da música cubana. Seu interesse surgiu depois de Cooder ter ouvido algumas gravações desses artistas.
Ry Cooder conseguiu reunir muitos deles: Ibrahim Ferrer, Compay Segundo, Omara Portuondo, Eliades Ochoa, Faustino Oramas e Rubén Gonzáles. Junto com esses e outros musicos, Ry Cooder produziu um disco fantástico, que foi aclamado mundialmente: Buena Vista Social Club, cujas capa e contracapa vocês viram logo acima.
Desse encontro, além da gravação do disco, surgiu o documentário homônimo, que mostra todas as etapas, desde as primeiras entrevistas, com os músicos em Havana, até o que seria o ápice para eles: a apresentação no Carnegie Hall em Nova York. Não esquecendo ainda que, antes da atuação em Nova York, eles estrelaram fantástica performance em Amsterdã, capital holandesa.
O filme foi aclamado pela crítica, sendo indicado ao Oscar na categoria Melhor Documentário e ganhando o prêmio de Melhor Documentário no European Film Awards. O disco, por seu turno, ganhou, em 1998, o Grammy Award for Best Tropical Latin Performance.
Além da fantástica música, o mais interessante desse projeto é a satisfação dos artistas cubanos e o reconhecimento de seus trabalhos. É possível perceber no documentário a alegria desses músicos, que mostraram seus talentos e que foram aplaudidos em todo o mundo. Até porque muitos deles passavam por necessidades e lutavam para sustentar suas famílias. Fama e glória mais do que merecidas.
Participaram da gravação do disco e do documentário: Ibrahim Ferrer, Juan de Marcos González, Rubén González, Compay Segundo, Ry Cooder, Joachim Cooder, Manuel “Puntillita” Licea, Orlando “Cachaito” López, Manuel “Guajiro” Mirabal, Eliades Ochoa, Omara Portuondo, Barbarito Torres, Amadito “Tito” Valdés e Leyva.
Em 2006, foi lançado Rhythms del Mundo, um álbum com as estrelas do Buena Vista e da música cubana Ibrahim Ferrer – sua última gravação antes de morrer em 2005 – e Omara Portuondo, com participação de astros como U2, Coldplay, Sting, Jack Johnson, Maroon 5, Arctic Monkeys, Franz Ferdinand e Kaiser Chiefs, dentre outros:
De todos os nomes acima citados, três foram mais visíveis no Brasil: Eliades Ochoa, Ibrahim Ibrahim Ferrer e Omara Portundo, cujos trabalhos passarão a constar de minha grade de matérias, e serão comentados quando a oportunidade se fizer propícia, começando hoje com o primeiro, o menos famoso do trio.
Eliades Ochoa, violonista e cantor, nasceu em Santiago de Cuba a 22 de junho de 1946, oriundo de uma família toda ela composta de músicos e vocalista, e começou a tocar violão aos 6 anos de idade.
Ainda jovem, era figurinha carimbada tocando e cantando pelos bordéis e bares de Santiago onde, por volta de 1970, já se apresentava regularmente na Casa de la Trova, consagrado clube musical da cidade.
Em 1978, foi convidado para se juntar ao Cuarteto Patria, grupo fundado em 1939, como seu líder, papel que ele só concordou em assumir se fosse autorizado a incluir novos elementos ao repertório, mantendo-se fiel a suas raízes musicais, e continuasse usando o que é considerada sua marca registrada: o chapéu de caubói:
Eliades Ochoa
Seu envolvimento com o Buena Vista Social Club e a participação no filme do mesmo nome concederam-lhe a fama e o reconhecimento mundiais.
Em 1998, gravou o álbum Cub Africa, com Manu Dijango; em 1999, o álbum Sublime Ilusión; e, em 2004, a canção Hemingway com o conjunto holandês Blof, constituindo parte do álbum Umoja. Sua discografia contabiliza mais de 15 trabalhos.
A música que escolhi como amostra de sua arte é uma guajira, espécie de lamento cubano, estilo tão popular em Cuba quanto na África Ocidental. Também conhecida como “blues cubano”, a guajira deriva-se da tradição espanhola muito forte naquela ilha.
Eliades Ochoa é um intérprete profundamente imerso na tradição, e o uso do chapéu de caubói tem a finalidade de identificá-lo como guajiro – camponês –, vaqueiro, caipira, como o classificaríamos por aqui.
Para vocês, então, a guajira El Carretero, de Guillermo Portables, que consta do famoso CD, na interpretação de Eliades Ochoa, coadjuvado pelo Buena Vista Social Club.
Raimundo Floriano
A música caribenha entrou em minha vida muito antes de eu pensar que um dia seria colecionador de discos, ainda em minha adolescência, isso na metade dos Anos 1950. Nos rádio-bailes e nas festinhas incrementadas a radiola, os ritmos brasileiros, como o samba, a marcha, o baião, o frevo, o arrasta-pé e o xote, emparelhavam-se com outros vindos lá do Mar das Caraíbas.
Era o bolero, com o cubano Bienvenido Granda e a Orquestra La Sonora Matancera; a rumba, com o catalão-cubano Xavier Cugat e Sua Orquestra; o merengue, com o dominicano Luis Kalaff e Sua Orquestra e com Bilo e Seu Conjunto Venezuelano; o mambo, com o cubano Perez Prado e Sua Orquestra, sem falar na música ao vivo, nos salões sociais e também nos cabarés.
Todos esses vibrantes ritmos se originaram na fusão das culturas musicais europeia, africana e indígena, enraizadas do lado de cá do globo terrestre desde que Cristóvão Colombo descobriu as primeiras ilhas em sua histórica expedição.
Cuba foi o país que mais assimilou essa empolgante cultura e, no passado, era referência musical para todo o Mundo. Embora o merengue tenha sido inventado na República Dominicana, foi em Cuba que conheceu o auge de sua popularidade e divulgação. Havana foi o sonho dourado de todos os que amavam a música caribenha e queiram conhecer os artistas, as orquestras e os shows que extasiavam a população mundial.
O merengue foi, de forma geral, a matriz de todos os ritmos surgidos nesse mar-oceano que separa a América do Norte da América do Sul. Esparramou-se com seus derivados, como o calipso, em Trinidad e Tobago, a cúmbia, na Colômbia, o cha-chá-chá, no México
O Brasil, em boa hora, absorveu toda essa musicalidade. No Norte, o carimbó, que teve seu período áureo nos anos 1970; no Nordeste, a lambada, sucesso absoluto nos anos 1980; e, na Costa Maranhense, o reggae, invenção jamaicana que se aboletou em São Luís, fazendo-a hoje conhecida como a Jamaica Brasileira ou Capital Brasileira do Reggae.
No início da Década de 1960, apresentou-se em Brasília um espetáculo de Trinidad e Tobago com um som para mim desconhecido: orquestra cujos instrumentos eram tambores de gasolina com os fundos rebatidos, dos quais se tirava toda a escala musical. Era a famosa steel band. E não foram só as quentes melodias que me impressionaram. A coreografia executada pelos creoles, rapazes e moças, foi algo inesquecível, a que nunca mais, nem no cinema, voltei a assistir.
Extasiado por sua exuberância, procurei adquirir discos desse gênero musical, o que não foi rápido nem fácil. Só uns 10 anos depois, calhou de eu servir de intérprete para o Embaixador de Trinidade e Tobago no Brasil, que me presenteou com o LP How You Sweet So!, da Solo Harmonites Steel Orchestra. Logo depois, minha prima Socorrinha Evelim, diplomata, retornado do México e passando pela Venezuela, me trouxe de lá o LP El Rítmo del Caribe, com a venezuelana The Invaders Steel Band. Depois disso, adquiri mais outros álbuns, como o da The Real Thing Steel Band, das Bermudas.
São, em sua totalidade, ritmos alegres, dançantes, quentes. Falando em quentura, acho que a temperatura de cada região tem a ver com a feição de sua música, efusiva ou contida, à proporção em que o clima vai esfriando. Tiremos como exemplo, países como o Chile, o Uruguai e a Argentina, dos quais pouca notícia se tem sobre suas criações musicais. O tango, marca registrada dos argentinos, é grave, soturno, dramático, circunspecto, trágico.
Outro fenômeno que observei nesta minha cachaça discófila foi o desaparecimento do cenário artístico internacional dos cantores e orquestras cubanos e venezuelanos, depois do arrocho ditatorial que se implantou naqueles países, tapando a boca de seus grandes ídolos. Ainda há pouco, o regime cubano deu permissão para que as músicas gravadas por Célia Cruz, intérprete de salsas e merengues, falecida em 2003, aos 77 anos de idade, voltassem a ser tocadas naquele país. O ritmo salsa foi uma invenção da Orquestra La Sonora Matancera, que assim rebatizou o merengue ao deixar Cuba e exilar-se em Nova Iorque, fugindo da ditadura que ali acabara de se instalar.
Onde estão os substitutos de Bievenindo Granda, de Perez Prazo, de Xavier Cugat, em Cuba, de Bilo e Sua Orquestra e The Invaders da Venezuela? Escondidos por lá?
É minha intenção, traçar, pouco a pouco, os perfis de nomes que fizeram a pujança da música caribenha. Como Ibrahim Ferrer, Omara Portuondo e o Buena Vista Social Club, e outros mais, destacando os maiores sucessos de cada um, peças que ficaram para sempre incrustadas em nossos corações.
Por ora, aqui vai pequena amostra de diferentes ritmos identificadores da cultura musical do Mar das Caraíbas:
STEEL BAND - Merengue, Tribute to Spree Simon, de A. Roberts, com a Solo Harmonites Steel Orchestra, de Trinidad e Tobago:
MERENGUE - Cuando No Te Conocia, de D. & D., Com Bilo e Seu Conjunto Venezuelano, destacando o vocal com Cheo Garcia:
CHÁ-CHÁ-CHÁ - Las Classes de Cha Cha Cha, de Marquez e Marmolejo, com Pedro Garcia and His Del Prado Orchestra, do México:
CÚMBIA - Mentirosa, de Humberto Capello, com Nelson Henriquez, da Colômbia:
CALIPSO - Matilda, de Harry Thomas, com Harry Belafonte, o amerijamaicano, conhecido como o Rei do Calipso:
RUMBA -Rumba Azul, de Armando Orifiche, com CaetanoVeloso:
BOLERO - Perfume de Gardenia, de Rafael Hernandez, com Binevenido Granda:
MAMBO - Mambo Número 8, de Perez Prado, com Perez Prado e Sua Orquestra: