Raimundo Floriano
(Publicaddo em 13.10.16)
Celia Cruz
Quando eu falo que Cuba entristeceu a partir dos Anos 1960, estou coberto de razão. Além dos argumentos que expenderei mais adiante, algo pode se constatar observando os semblantes dos médicos cubanos recém-chegados ao Brasil: fisionomias soturnas, denotativas de um povo que perdeu o bom humor, servil, domesticado.
A lavagem cerebral, que se impõe desde a infância dos cubanos, se observa em todos os setores culturais, sendo emblemáticos seus efeitos sobre esta jovem artista, atualmente de maior visibilidade na Ilha:
Patricia Blanco, a Patry White
Enquanto aqui no Brasil cogita-se a mudança do nome da Ponte Costa e Silva e da Fundação Getúlio Vargas, por homenagearem presidentes que governaram ditatorialmente, essa bonita show-woman – espécie de Gretchen de lá – cujo primeiro single de sucesso é Chupi Chupi, se autodenomina A Ditadora! Vocês já ouviram falar nela?
Em meu tempo de rapaz, até o final da década de 1950, nomes de artistas cubanos como Perez Prado e Sua Orquestra, Bienvenido Granda, Xavier Cugat e Sua Orquestra, Célia Cruz e Orquestra La Sonora Matancera eram tão comuns em nossas festas dançantes quanto os de Severino Araújo e Sua Orquestra Tabajara, Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Nélson Gonçalves, Ciro Monteiro, Emilinha Borba, e outros.
Não é que a musicalidade cubana tenha se acabado por completo. Ainda existe, mas com a boca completamente arrolhada para o resto do mundo. Observem esta nota publicada na revista Veja, de 08.05.13, na Seção Música - Cinema - Arte:
No corpo da matéria, a revista brinda-nos com a relação de nomes que dominam o atual cenário musical cubano: a já vista acima, Patricia Blanco, vulgo Patry White, cantora, reggaeton, ritmo importado de Porto Rico; Carlos Alfonso, vulgo X Alfonso, baixista e cantor de ritmos afro-cubanos, rock, música clássica e hip-hop; Yoandys González, vulgo Baby Lores, cantor de reggaeton e músicas em louvor a Fidel; Yssy García, baterista; Etian Arnau Lizaire, vulgo Brebaje Man, cantor de rap e hip-hop. Vocês já ouviram falar neles? Pois É!
E vejam que alienação! Com todas as adversidades políticas que nós, os brasileiros, enfrentamos desde o início dos Anos 1960, ainda vemos e curtimos adoidado talentos emergentes patrícios fazendo sucesso com baião, coco, samba, xote, frevo nos três gêneros, marchinha, samba-canção, toada, valsa, arrasta-pé, modinha caipira, rojão, etc.
Dentro de meu propósito de mostrar um pouco do que foi a pujança da música caribenha do passado, em particular a cubana, continuo hoje focalizando essa grande artista de renome internacional que foi Celia Cruz, a Rainha da Salsa.
Celia Cruz – Úrsula Hilaria Celia Caridad Cruz Alfonso – cantora cubana, nasceu em Havana, no dia 21 de outubro de 1925, e faleceu na cidade americana de Fort Lee, Nova Jersey, a 16 de julho de 2003, perto de completar 78 anos de idade.
Passou a juventude em Santos Suárez, bairro pobre de Havana, onde se viu influenciada pela diversidade musical e a riqueza dos ritmos cubanos. Ainda adolescente, ganhou o concurso “La hora del té” – A Hora do Chá –, o que deu impulso a sua carreira. Enquanto sua mãe a encorajava a participar de outros certames pelo País, seu pai, mais tradicional, tinha outros planos e a incentivou a tornar-se professora, ocupação comum para as mulheres cubanas de seu tempo.
Celia matriculou-se no Colégio Nacional de Professores, mas logo abandonou o curso, diante do sucesso que fazia nas apresentações em estações de rádio. Conciliando o crescimento de suas aspirações artísticas com os desejos do pai para que continuasse estudando, matriculou-se no Conservatório Musical Nacional em Havana. No entanto, em vez de encontrar razões para prosseguir na trilha acadêmica, um de seus professores convenceu-a de que ela deveria insistir em sua carreira de cantora em tempo integral, o que foi feito.
No ano de 1948, realizou sua primeira gravação. Em meados Anos 1950, Célia foi alavancada para o estrelato, quando começou a atuar como crooner da famosa Orquestra La Sonora Matancera.
Inicialmente, houve o temor de que Celia não faria o mesmo sucesso do crooner anterior, Bienvenido Granda, e a dúvida se uma voz feminina venderia discos como de costume. Mas Celia impeliu a Orquestra – e a Música Latina, em geral – para novas alturas, excursionando com La Sonora Matancera pelas Américas do Norte e Central, até quase o final da década.
Em 1959, La Sonora Matancera fazia uma temporada pelo México, quando o regime comunista de Fidel Castro se apossou do poder em Cuba, o que fez a Orquestra decidir, em definitivo, não mais retornar para a Ilha, estabelecendo-se nos Estados Unidos da América.
No ano de 1961, Celia Cruz tornou-se cidadã americana, e isso provocou a fúria de Fidel Castro que, em represália, proibiu sua entrada no país, assim como que ali fosse tocada qualquer de suas músicas.
Por algum tempo, a artista permaneceu relativamente desconhecida nos Estados Unidos, além de inicialmente refugada pela comunidade cubana ali residente, mas quando se juntou à Orquestra Tito Puente, em meado dos Anos 1960, ganhou visibilidade e o aplauso internacional. Puente era largamente conhecido em toda a América Latina e, com a nova formação do grupo, Celia transformou-se em seu foco central, angariando uma grande base de aficionados admiradores. No palco, Celia encantava a plateia, com seus trajes extravagantes e interação com o público – aspectos que engrandeceram e caracterizaram toda sua vida artística de 40 anos como crooner.
Alguns discos que nos deixou:
Com sua maviosa voz aparentemente inalterada, Célia continuou gravando até além da Década de 1980, num total de 75 discos, inclusive 23 Discos de Ouro, recebendo vários Grammys e Latin Gramys, apareceu em diversos filmes, ganhou uma estrela na Hollywood’s Walk of Fame e foi condecorada pela National Endowment of the Arts com A American National Medal of the Arts.
Participou da novela mexicana, El Alma no Tiene Color, no ano de 1997, exibida no Brasil em 2001, pelo SBT, com o título A Alma não Tem Cor.
Foi casada durante 41 anos com o também cantor cubano Pedro Knight. Em 16 de julho de 2003, ela morreu de um tumor maligno no cérebro, em sua casa em Fort Lee, Nova Jersey, como dito acima. Seu corpo foi embalsamado e levado para Miami e Nova York, de tal maneira que todos lhe pudessem render homenagens.
Seu sepultamento reuniu mais de 150 mil pessoas, em Miami e em New York. O mundo inteiro lhe rendeu homenagens e a comunidade artística mundial reconheceu-a como um de seus mais altos expoentes. O enterro em Nova York constituiu-se num dos maiores que essa cidade recorda, superando, inclusive, o de Judy Garland, em 1969.
Celia Cruz vibrando com o Grammy/2003
A música hoje chamada salsa é uma mescla de ritmos afro-americanos, tais como o son, o mambo, chá-chá-chá, e a rumba cubanos. Fontes dizem que a salsa nasceu nos bairros de Nova Iorque por volta dos 1971. Mas a verdade é que a Salsa surgiu depois que a Orquestra La Sonora Matancera saiu de Cuba, durante a revolução cubana, e se instalou no México, criando essa nova denominação – salsa.
E Celia Cruz, por ser a maior divulgadora da salsa, predominante em todo seu vastíssimo repertório, foi cognominada A Rainha da Salsa, recebendo, até, um Grammy por isso.
Recentemente, num arroubo de magnanimidade, o regime de Fidel Castro declarou permitido tocar em Cuba as músicas gravadas por Celia Cruz. Mas só agora?
Possuo em meu acerco dois CDs de salsa dessa grande artista:
Como pequena amostra de seu trabalho, escolhi a salsa de Victor Daniel, La Vida Es Um Carnaval, do CD Éxitos Eternos. Vamos ouvi-la:
* Desculpem-me a insistência em mostrar-lhes no que transformaram aquele povo outrora tão risonho e feliz. A revista Veja de 06.11.13, em ampla reportagem especial intitulada Cuba, afirma: “o dinheiro dos brasileiros ajuda a sustentar o regime dos irmãos Castro, em que só existem dois tipos de pessoas: os dirigentes e os indigentes”.