Almanaque Raimundo Floriano
Fundado em 24.09.2016
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)
Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, dois genros e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 20 de novembro de 2024
MULHER DE RAÇA (CORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA)
Neguinha sou para amigas Minha nega pro amado Sou morena citadina Meu cabelo é ondulado Sou dona das minhas ventas Sou das mulheres atentas Tenho nariz empinado.
Sou cabocla sertaneja E trago no matulão A astúcia da matuta Que desbravou o sertão E que não poupou canela Quando abriu sua cancela Buscando libertação.
Da fralda da Ibiapaba Sou das alas das guerreiras Agarrada ao jacumã Enfrentei as corredeiras Em cima duma piroga Sou guerreira que se joga Nas águas das Ipueiras
Sou a mistura das raças Sou a miscigenação Sou Catunda, sou do Prado Tenho sangue de Aragão Sou cunhã, sou companheira, Sou concubina parceira Eu só não sou é padrão.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 13 de novembro de 2024
UMA RODA DE GLOSAS - 18.04.24 (CORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA)
Bom convite recebi, Mas na hora da entrevista Eu não baixei minha crista E o cargo não assumi. Pois pelo que pressenti. Cheirava a exploração. Lavar roupa e limpar chão, Eu faço sem reclamar, Mas se for pra cozinhar Digo: num cozinho não!
Dalinha Catunda
Certa feita me chamaram, Para fazer um churrasco, Confesso, quase me lasco, Porque não me avisaram, Os convidados chegaram, Nada estava pronto, não, Falei para o cidadão, Você vai me desculpar: Mas se for pra cozinhar Digo: num cozinho não!
Joabnascimento
Já fiz tudo nesta vida: Plantei semente e caroço Comi carne de pescoço Fui lágrimas na partida Fui remédio de ferida Fiz gaiola e alçapão Fiz cacimba e cacimbão Tudo fiz sem reclamar, Mas se for pra cozinhar Digo: num cozinho não!
Arimatéa Sales
Recebi boa proposta Na casa de dois barões Era pra ganhar milhões Mesa forrada e bem posta Um povinho metido à bosta Veio me propor serão Pratos sujos de montão Pra besta “eu “ter que lavar Mas se for pra cozinhar Digo: num cozinho não!
Dulce Esteves
Posso até ir no roçado Me meter na tiririca, Pra fazer sua canjica Me viro pra todo lado Deixo o milho preparado Ponho a massa no fogão Sem fazer qualquer questão Pro curau lhe agradar Mas se for pra cozinhar Digo: num cozinho não!
Giovanni Arruda
Sempre sou objetivo Num sou de cozinhar galo Se eu entro no embalo É porque tive motivo Eu num sou um morto vivo Cheio de indecisão Eu já entro em ação Vamos quero começar Mas se for pra cozinhar Digo: num cozinho não!
Rivamoura Teixeira
Aqui em casa eu faço tudo Limpo o chão, lavo banheiro Cato as folhas do terreiro As roupas lavo e sacudo Com o neto, até estudo Para ensinar a lição Jogo o lixo, compro pão Faço o que mais precisar Mas se for pra cozinhar Digo: num cozinho não!
Creusa Meira
Cá garanto que euzinha Não sei nem fritar um ovo Parada, eu não me movo, Essa praia não é minha, Socar alho na cozinha Jamais porei uma mão Nem meu pai Eva e Adão Invoco pra me ajudar: Mas se for pra cozinhar Digo: num cozinho não!
Bastinha Job
Eu já sei fazer café Fritar um ovo também Passar fome não convém Não vivo de marcha ré Eu deixo para mulher Não tenho dom pra isto não Sei comer lavar a mão Os pratos eu sei lavar Mas se for pra cozinhar Digo: num cozinho não!
João Roberto Coelho
Lasquei lenha no cercado Plantei feijão na vazante Era tudo hilariante Mesmo mexendo com gado Me sentia pau mandado Às vezes bebê chorão Comia carne e pirão E sem nunca espernear Mas se for pra cozinhar Digo: num cozinho não!
Vânia Freitas
Vou ao mato, corto lenha Boto milho pras galinhas Dou água pras cabritinhas Me soco no meio da brenha Mas se me chamarem venha, Beber pinga com limão Vou correndo, meu irmão Minha caninha tomar Mas se for pra cozinhar Digo: num cozinho não!
Jerismar Batista
Bom mesmo é comer cru Assim acho mais gostoso Preparadinho oleoso E depois boto o chuchu Pra terminar meu menu Passo maionese no agrião Na cenoura e no açafrão E como em qualquer lugar Mas se for pra cozinhar Digo: num cozinho não!
F. de Assis Sousa
Na cozinha japonesa já investi minha grana procurei moça bacana nem tanto por sua beleza, foi mais por sua destreza e por ver sua aptidão pegando o peixe na mão. – O seu peixe eu vou tratar, Mas se for pra cozinhar Digo: num cozinho não!
Zé Salvador
Eu topo qualquer parada Só não vou para a cozinha, Porque a destreza minha É da labuta pesada. Manejo foice e enxada Com serrote ou com formão, Trabalho na construção Tijolo, eu sei assentar, Mas se for pra cozinhar Digo: num cozinho não!
Alberto Quintans
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 06 de novembro de 2024
UMA GLOSA (CORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA)
Tanta mulher dando sopa E eu sem colher pra tomar.
Mote de Abel Fraga
Quando tinha pouca idade Me achava um garanhão Não me faltava tesão Digo com sinceridade Provei da felicidade E mais queria provar Mais vi o pinto arriar Não vai mais de vento em popa Tanta mulher dando sopa E eu sem colher pra tomar.
Este mote está no livro A Prisão de São Benedito, de autoria do Editor Luiz Berto.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 30 de outubro de 2024
NÃO ME AVEXE NÃO! (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
De poeta e de louca Eu tenho minha quantia Tem horas que jogo pedra Noutras faço poesia Quando chega o aperreio Que fico de saco cheio Minha razão avaria.
Não sou mulher de motim De bando também não sou Penso com minha cabeça Seguir magote não vou Não sou mulher melindrada O papel da vitimada Minha garra dispensou.
Não compro briga dos outros Pra ficar em evidência Por favor não me acumule Tenho pouca paciência Pois quando o caso é comigo Não meto nenhum amigo Tomo logo providência
Nunca gostei de cobranças Não cobro amor a ninguém E para ser bem sincera Nem amizade também Sentimento é conquistado Jamais será fabricado Só se dá quando se tem.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 23 de outubro de 2024
SUBI NA PIROGA E PEGUEI NO JACUMÃ (CORDEL DA COOLUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA)
Num passeio inusitado Fui visitar uma oca Um índio quase pelado Levou-me a sua maloca Nessa bonita manhã Pegando em seu jacumã Saí com ele da toca.
O passeio foi bonito Em meio a natureza Subi na sua piroga E achei uma beleza E no banho no riacho Ele perdeu o penacho Que caiu na correnteza.
Ao voltarmos do passeio Eu estava esbaforida Ele me trouxe cauim Eu aprovei a bebida Não saí daquela loca Sem entrar na mandioca Gostei muito da comida.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 16 de outubro de 2024
DIA DAS MÃES (CORDEL DA COLUNSITA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA)
Quem tem sua mãe idosa Cuide dela, por favor. Dê carinho, dê amor, Visite, troque uma prosa. Seja gentil, prestimosa, Mesmo não sendo obrigada, Mãe é para ser cuidada. Pois quem de você cuidou, “Quem no mundo lhe botou, Merece ser bem tratada!”
Dalinha Catunda
A mãe cuida do seu filho Desde o ventre, com amor, Nos seus braços, dá calor, Seu olhar tem luz e brilho. Embalando no estribilho, Vai até de madrugada. Nunca se mostra cansada, A vida lhe dedicou. “Quem no mundo lhe botou, Merece ser bem tratada!”
Creusa Meira
Mamãe com noventa e três Com sua maturidade Preza sempre a verdade Vive com a sensatez A sua vida refez Uma mulher abnegada Reza na sua jornada Papai é o seu amor “Quem no mundo lhe botou, Merece ser bem tratada!”
João Roberto Coelho
Se minha mãe estivesse Ao meu lado, aqui comigo, Esse caminho que sigo Muita saudade lhe tece; Minha mãe vive na prece Além da curva da estrada A reta é nova jornada: Digo ao filho que ficou: “Quem no mundo lhe botou, Merece ser bem tratada!”
Bastinha Job
Minha mãe é a poesia Que reina em meu coração É a maior inspiração Dona da minha alegria Parece a Virgem Maria Tão pura, tão dedicada No seu ventre fui gerada Pra hoje ser o que sou “Quem no mundo lhe botou Merece ser bem tratada!”
Lindicássia Nascimento
No seu ventre concebida Um fruto de tanto amor No seu colo protetor Com devoção e guarida Foi Mãe de Deus escolhida Em todo CÉU entronada É para ser ” endeusada” Em qualquer lugar que for “Com carinho e muito amor Merece ser bem tratada.”
Dulce Esteves
É uma missão Divina, Missão mandada por Deus, Pra cuidar dos filhos seus, Toda mãe tem essa sina, Com muito amor ela ensina, A criança ser educada, Com afeto ela é amada, Pela mãe que lhe gerou, “Quem no mundo lhe botou, Merece ser bem tratada.”
Joabnascimento
Minha grande genitora Se foi deixando saudade Uma santa de verdade Mãe, amiga e professora A melhor educadora Por todos nós adorada Vivenciou a jornada Até que Deus a chamou “Quem no mundo lhe botou Merece ser bem tratada.”
Jerismar Batista
Minha mãe não tenho mais Aqui na terra comigo E uma coisa lhe digo Que falta que ela faz Eu hoje inda sou capaz De vê-la toda animada Jogando co’a meninada De bola no corredor “Quem no mundo lhe botou Merece ser bem tratada.”
Giovanni Arruda
Minha mãe merece amor Eu a guardo no coração Ela me ensinou boa ação Sempre ofereço uma flor Levo comigo onde eu for E sempre bem agarrada Ela me ensinou a estrada Porém no colo me levou “Quem no mundo lhe botou Merece ser bem tratada.”
Euza Nascimento
Nascer de fato é uma graça que só quem vive agradece; é algo que só merece quem de fato a vida abraça e o próprio destino traça: transformando, pois, o nada a obra viva e sagrada, conforme Deus confiou… “Quem no mundo lhe botou merece ser bem tratada.”
David Ferreira
Mãe é tão especial Que se doa por amor Seja o filho ou não doutor Ela cuida por igual Este ser angelical Deve ser tão bem cuidada É por Deus abençoada Quem tanto nos abençoou “Quem no mundo lhe botou Merece ser bem tratada.”
Vânia Freitas
Maternizar é papel Que confere santidade, Mas mexe na sanidade Porque o mundo é cruel, É como fazer rapel Sem a corda apropriada, É virar noite acordada Porque seu bebê chorou. “Quem no mundo lhe botou Merece ser bem tratada.”
Nilza Dias
Mãe, palavra mais sublime Entre as palavras pequenas, São três letrinhas apenas, Mas tudo de bom exprime; O seu amor nos redime Da ingratidão praticada, Sem se magoar por nada Perdoa ao filho que errou; “Quem no mundo lhe botou Merece ser bem tratada.”
Joames
A mãe carrega a ternura, E é tão doce o seu olhar. Ela conhece o cuidar. E é fonte de cultura. Acalanta com leitura. Nos mostra o Conto de fada, Nos fala de onça pintada. Cantigas, sempre cantou. “Quem no mundo lhe botou, Merece ser bem tratada!”
Rosário Pinto
Eis de toda criação Divinal a mais bendita Sendo mãe é infinita. Transbordante de afeição De amor e dedicação Para os filhos/a consagrada Mil vezes admirada A quem grato sempre sou “Quem no mundo lhe botou Merece ser bem tratada.”
F. de Assis Sousa
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 09 de outubro de 2024
AGORA SÓ DOU O PÉ (CORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA)
A vida é uma montanha, Que escalamos pra chegar. Quando alcançamos o topo, É hora de regressar. Quem aprendeu na subida, No declínio da descida, Saberá como atuar.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 11 de setembro de 2024
SÃO JOÃO NA ROÇA (CORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA)
Hoje acordei com saudades Das festas do meu sertão De matuta me trajava E cheia de animação Com meu vestido de chita Chapéu e laço de fita Feliz dançava o São João.
Enxerida e dançadeira Nunca me faltava par Pra dançar numa quadrilha Nas festas do meu lugar Tudo hoje é diferente Até o São João da gente Acharam por bem mudar.
No São João de Antigamente Tudo era especial O noivo e a noiva vinham No lombo dum animal Ou então numa carroça Assim era lá na roça No São João tradicional!
No casamento matuto Era um Deus nos acuda Noivo querendo fugir Da noiva já barriguda De espingarda na mão Fazia o pai confusão E ao juiz pedia ajuda.
O vigário embriagado Cambaleava no altar O pai que não sossegava Gritava vou já matar Ou casa ou eu não dou trégua Nesse filho d’uma égua Eu atiro é sem mirar.
O delegado chegava E acabava a confusão O noivo então se casava Pra não mofar na prisão Com barulho de foguete Principiava o banquete Assim era a tradição.
Quem comandava a quadrilha Lá no meu interior Era só gente da gente E eu dava o maior valor No momento de ensaiar Do nosso bom linguajar Valia-se o gritador.
Foi a caminho da roça Transbordando de alegria Que passei com meu amor Num túnel de fantasia Mas na primeira manobra Quando eu ouvi, Olha a cobra! Eu gritei: Ave Maria!
Olha a cobra, olha a chuva Tudo era encenação A cobra não assustava Chuva não caía não No giro que a roda dava Eu fui dama coroada Em cada apresentação.
No cumprimento das damas Rapaz tirava o chapéu A dama se derretia Sentindo-se lá no céu Quando a dança terminava A folia começava Era grande o escarcéu.
A mulherada corria Para fazer simpatia Um corre-corre danado Para ver se descobria Com quem ia se casar Tentava enxergar o par Na água duma bacia.
Já outros passavam fogo Naquele dado momento Era em nome dos três santos Que faziam juramento Você vai ser meu compadre E você minha comadre Era assim, eu não invento.
E nesse costume antigo Arrumava-se afilhado Era assim que sucedia Depois do fogo passado Quem jurava na fogueira Levava pra vida inteira O que fora confirmado.
Eu jamais vou esquecer Do São João no Ceará O bolo feito de milho Um pote com aluá Pamonha também canjica Aqui a lembrança fica Remetendo-me pra lá.
Nos braseiros das fogueiras Se agitava a meninada Se danando a assar milho E a fazer batata assada A fogueira faiscava Milho cozido cheirava Era uma festa animada.
As musicas que se ouvia No bom São João Nordestino Era só Luiz Gonzaga Com seu canto genuíno Repleno de animação Incendiava o sertão Sem cometer desatino.
Era uma festa bonita Que tinha sua candura Feita com nossos costumes Com base em nossa cultura Tudo agora está mudado Até o sapato é dourado Viramos caricatura.
Tanto luxo, tanto brilho, Largaram chita e chitão Não tem mais nada de roça Pois é só ostentação Parece a festa da uva Até princesa com luva Vejo na apresentação.
Parece escola de samba Na hora de desfilar E tem comissão de frente Antes do grupo dançar É um tal de se exibir Dançam para competir E não para festejar.
Até a música usada Não é como antigamente Falta sanfona e zabumba E um triângulo estridente Falta um forró animado Com cara de nossa gente.
Cadê o chapéu de palha E o bigode desenhado A camisa de xadrez Ou de tecido estampado Cadê o nosso matuto Que dançava absoluto No sertão o seu reinado.
Cadê a moça bonita Que guardo em minha lembrança Com pintas pretas na face De cada lado uma trança Cadê a festa junina Tão nossa tão nordestina Dos bons tempos de bonança.
Eu ainda quero ouvir Na voz de um cantador O que eu ouvi num São João Numa noite de esplendor A mais linda melodia Onde Gonzagão dizia: Olha pro céu meu amor…
Não vamos interromper Os passos de nossa história Devemos vivenciar Não só guardar na memória Defender e resguardar Sem deixar de praticar Feitos dessa trajetória.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 04 de setembro de 2024
SÃO JOÃO E SUAS TRADIÇÕES (CORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA)
Quando chega o mês de junho Tem festa e animação, De Santo Antônio e São Pedro, Também a de São João. É festa no mês inteiro, E ninguém perde o roteiro Nos trilhos da tradição.
Estes festejos juninos Vieram de Portugal. Por aqui eles chegaram No tempo colonial, E seguindo a tradição A festa de São João, Das três é a principal.
No dia treze de junho Fica animado o terreiro. A mulherada se apega Ao Santo casamenteiro. O famoso Santo Antônio! Para arrumar matrimônio, E se casar mais ligeiro.
Já vinte nove de junho, De São Pedro é o dia. Patrono dos pescadores, É de barco a romaria, É protetor das viúvas, É também quem manda chuvas! Da chave do céu é guia.
Essa festa dos três santos De juninas são chamadas, Por que é no mês de junho, Que elas são celebradas. No Brasil a tradição, Tomou conta da nação, Tem festas bem afamadas.
Numa junção de cultura Foram chegando parceiras. Dos indígenas herdamos O costume das fogueiras. Os zabumbas e tambores, Da África são valores, Como a dança e brincadeiras.
Tem festa grande em Barbalha, Chamada pau da Bandeira. O chá da casca do pau É simpatia certeira. Se a moça com fé tomar, Santo Antônio, vai casar! E adeus vida de solteira.
A Maior festa do mundo Em louvor a São João. É a de Campina Grande! Digo com satisfação. Tem Caruaru também, Mossoró, e vou além, São Luiz no Maranhão.
No Estado do Piauí, Se destaca Teresina. E no Ceará inteiro Não falta festa junina, Na praia, serra e sertão, Tem festa pra São João, E o povo todo se anima.
Acompanham essas festas, Em suas celebrações, Comidas e danças típicas, Bebidas, roupas, balões. Temos também as fogueiras! Variadas brincadeiras, Nesse rol de tradições.
E na dança da quadrilha, É matuto o casamento. Tem o padre e tem juiz, Prestigiando o momento. Inda tem o delegado, Para casar obrigado, O noivo que é marrento.
Hoje pra dançar quadrilha, Tem luxo e muita beleza, Tem a seda e muito brilho, Ostentação e riqueza, Tem muita competição, Nem parece o São João! Com a sua singeleza.
Quadrilha tradicional: Tem vestidinho de chita, Rapaz com calça emendada, Moça com laço de fita, Cantiga de Gonzagão, Fazendo a animação, A tradição é bonita.
O gritador de quadrilha, Sai gritando: – olha a cobra! Os brincantes fingem medo, Mas a cena se desdobra. – Olha a chuva:- é mentira! A noite inteirinha vira, Com animação de Sobra.
Na indumentária não falta, Para compor, um chapéu. Os grupos vão animados Dançando de déu em déu. Ainda existe balão, Mas só na decoração! Não pode mais ter no céu.
Já não tem mais aluá Como tinha no sertão. Ainda tem com fartura, O afamado quentão, Bebida tradicional, Nas barracas do Arraial, Que mantem a tradição.
Nas guloseimas da festa: Milho cozido e assado, Tem canjica e tem pamonha, Tem amendoim torrado, Bolo de milho e cuscuz, É comida que seduz, Em todo e qualquer condado.
Pé de moleque e pinhão, Cachorro-quente também, A paçoca e arroz-doce, Nas barracas sempre tem. Tem bolo e tem tapioca, E saquinho com pipoca, Não falta para ninguém.
Muitas são as brincadeiras Para o povo que é brincante: Tem argola e pescaria, E tem correio elegante, Pau-de-sebo e simpatia, Alimentando alegria, Que faz a festa importante.
A Barraquinha do beijo É muito bem frequentada! Nela uma moça bonita, E sempre bem-humorada, Faz papel de beijoqueira, É quem faz a brincadeira, E bom dinheiro arrecada.
Nos enfeites das barracas Para chamar atenção, Bandeirinhas penduradas, Vão mantendo a tradição. Chamando atenção das gentes, Colorindo os ambientes, Na festiva ocasião.
Em todo Brasil nós temos Quadrilha bem diferente. Umas são contemporâneas, Outras como antigamente. Geração a geração, Ocorre a transformação, Mas sem quebrar a corrente.
Pelas mãos dos portugueses, A semente foi plantada. Aqui em nosso Brasil Foi muito bem semeada. Hoje na nossa cultura, Temos São João com fartura, Seguindo em grande jornada.
Nesse meu cordel falei, Das festas de São João. Sobre festejos juninos, Repassei a tradição, Retirando da memória, Retalhos da minha história, Vivida lá no sertão!
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 28 de agosto de 2024
XODÓ NORDESTINO (CORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA)
Você gritou: Ô de casa! Eu saí e dei bom dia Me pediu um copo d’água A desculpa eu conhecia Saí quase no pinote Fui pegar água no pote Lhe servi com alegria.
Você me olhava com gosto E eu olhava pra você Ali nascia um chamego E nós dois dele a mercê Eu no começo corava Quando você me chamava Minha flor de muçambê.
Quando o fole da sanfona Gemia nalgum lugar Você trocava de roupa Corria pra me pegar E naquela brincadeira No forró a noite inteira Eu via o suor pingar.
Teu corpo grudado ao meu Meu corpo no teu grudado O povo todo olhando O nosso rodopiado Não tinha naquele chão Pras bandas do meu sertão Um casal mais animado.
Eu me arrumava todinha Com meu vestido de chita Aquela flor encarnada Me deixava mais bonita Você na sua paixão Roubou pra recordação Meu laço feito de fita.
Era um xodó animado Era um chamego ladino Tinha cheiro no cangote Coisa só de nordestino Ao som de xote e baião Embalamos a paixão Era um chamego bem-vindo.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 21 de agosto de 2024
PRECISO DO SEU CHEIRO (CORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPEERIORA DALINHA CATUNDA)
Quando por mim você passa Eu viro mulher feliz Tão cheiroso e provocante Que logo acendo o nariz E deixo seu cheiro entrar Só para me deleitar Pois sou mulher de raiz.
Se sempre acordo bem cedo É pra provar seu sabor O meu paladar exige Antes que eu vá ao labor Ter você sempre bem quente Alertando minha mente Provocando meu calor.
Para ter você comigo Caminho léguas o pé Vou até o fim do mundo E não perco minha fé De provar do meu neguinho Nem que seja um golinho Sou viciada em café!
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 14 de agosto de 2024
DUAS GLOSAS (CORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA)
Relutei, terminei indo Conhecer o tal tabaco Foi aí que me vi fraco Garanto, num tô mentindo Nunca vi nada mais lindo. Cheirei, voltei a cheirar Não conseguia parar Sabor de cravo e canela Cheirei o tabaco dela Bastou pra “meaviciar”
Xico Bizerra
O tabaco era cheiroso Cheiroso como ele só Do nariz não teve dó Esse caboco fogoso Achando delicioso O bicho vive a cheirar Ouvi o cabra gritar Debruçado na janela: Cheirei o tabaco dela Bastou pra “meaviciar”
Dalinha Catunda
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 07 de agosto de 2024
UMA RODA DE GLOSAS - 17.07.2024 (CORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA)
Nem bem o dia amanhece Já está em meu quintal O seu canto matinal É canto que me enternece Mas comida só merece Quem tem rumo e direção Não cedo alimentação Pra quem sempre vai e vem: Pra rola só dou xerém Se comer na minha mão.
Dalinha Catunda
Também não darei moleza À rola ou a periquito, Mesmo sendo bem bonito, Pode ter toda a certeza; Beleza nunca põe mesa E nesses tempos então Só abro uma exceção Com aval de Araquem: Pra rola só dou xerém Se comer na minha mão.
Bastinha Job
Já tive no meu terreiro uma rola sem futuro, me procurava no escuro e me acertava o traseiro, com seu jeito interesseiro, não queria meu pirão, mas só arroz com feijão, na hora do vai-e-vem. Pra rola só dou xerém Se comer na minha mão.
Anilda Figueiredo
Eu adoro passarinho… Mas sou fã do periquito Esse do mote esquisito Não põe ovo no meu ninho Pra ficar tudo certinho Eu digo com precisão Essa rima é o cão Esse verso não convém Pra rola só dou xerém Se comer na minha mão.
Giovanni Arruda
Quando o pássaro é manso Basta um dedo em riste Botar painço e alpiste Que vem fazer o descanso Já criei patos e ganso Sabiá corrupião Acabava com a ração Não me sobrava um vintém Pra rola só dou xerém Se comer na minha mão.
Araquém Vasconcellos
Canta lá no cajueiro Que fica no meu canal Um rebanho de pombal Me consola o dia inteiro Mais não chega no terreiro Nem na janela do oitão Eu tenho essa opinião Pode ser pardal, quem quem Pra rola só dou xerém Se comer na minha mão.
Jairo Vasconcelos
Eu escuto o passarinho Mas grito com dedo em riste Posso dar xerem, alpiste Se ele sair do ninho Se eu escutar bem cedinho Um canto em tom de canção Mas se ele só diz não E não canta pra ninguém Pra rola só dou xerém Se comer na minha mão.
Rivamoura Teixeira
Eu criava uma rolinha Um dia fiquei zangada Ela vivia escorada Peguei a tal passarinha Ficou mais mole a bichinha Eu dei nela um arrochão Sapequei ela no chão E pelei o seu sedém Pra rola só dou xerém Se comer na minha mão.
Ritinha Oliveira
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 31 de julho de 2024
O TABACO DE MARIA (CORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA)
1 Na estrada do Pai Mané Na cidade de Ipueiras Bem pertinho das Barreiras De imburana tem um pé Ele dá um bom rapé Pra quem sabe preparar Maria sabe torrar E tem grande freguesia O tabaco de Maria. Todo mundo quer cheirar.
2 E naquela arrumação Meu pai era viciado No dedo era colocado Do rapé uma porção Com o tabaco na mão Pra no nariz esfregar E logo após aspirar Ele fungava e dizia: O tabaco de Maria. Todo mundo quer cheirar.
3 Valdenira me indicou Disse mulher acredite Ele é bom pra sinusite Aqui mamãe sempre usou Depois que ela receitou Comecei a melhorar Nunca parei mais de usar Acabou minha agonia: O tabaco de Maria. Todo mundo quer cheirar.
4 Garapa ficou sabendo Dessa história do rapé Foi direto ao Pai Mané Também estava querendo Com Maria se entendendo Resolveu logo pagar E não saiu sem provar do cheiroso nesse dia O tabaco de Maria. Todo mundo quer cheirar.
5 Edgar acabrunhado Com o nariz entupido Sentindo-se já perdido Com febre e com resfriado Foi atrás desse torrado Para tentar melhorar Porém mesmo sem gostar Do produto repetia: O tabaco de Maria. Todo mundo quer cheirar.
6 Dão de Jaime que gostou Do tabaco da fulana Cheirou mais duma semana E também se viciou Da mulher ele apanhou E não cansou de apanhar Pois disse não vou largar E gritando se exibia: O tabaco de Maria. Todo mundo quer cheirar.
7 Lindicassia nascimento Fugava como ela só Cheirou um pouco do pó Daí veio o seu alento Falou sem constrangimento Eu posso até me lascar Porém nunca vou largar O que já virou mania O tabaco de Maria. Todo mundo quer cheirar.
8 Do torrado de imburana Quis provar meu companheiro Foi adquirir ligeiro Nem teve pena da grana Com a cara de sacana E só para chatear Chegava os olhos virar Envolvido na folia: O tabaco de Maria. Todo mundo quer cheirar.
9 O vigário da cidade Pediu para o sacristão Vá comprar uma porção Uma boa quantidade Um rapé de qualidade Que estou querendo espirrar Mas onde ele ia comprar O vigário já sabia O tabaco de Maria. Todo mundo quer cheirar.
10 Neto Alves da Cultura Ficou logo interessado Para comprar o torrado Mandou uma criatura E disse: – mas que loucura! E esse bicho é de lascar Hoje vou me empanturrar Pois eu não tenho alergia: O tabaco de Maria. Todo mundo quer cheirar.
11 É remédio natural Eu também sou dessa linha Disse Anilda pra Dalinha Querendo provar do tal Garanto que não faz mal E tratou de encomendar Ao começar a chuchar Comentou com euforia: O tabaco de Maria. Todo mundo quer cheirar.
12 Eu só sei que a imburana Transformada em rapé Muita gente levou fé E Maria não engana Pra Violante e Diana Ela ficou de enviar Se Cassiano esperar Com certeza ela envia: O tabaco de Maria. Todo mundo quer cheirar.
13 Tenho tabaco estocado Pra Dideus e Acopiara. A freguesia não para, O de Chica está guardado. Fátima Correia e Prado, Só falta mesmo embalar E quem fica a me cobrar, É o Tião Simpatia: O tabaco de Maria. Todo mundo quer cheirar.
14 Tenho um frasco pra Bastinha Pra Vânia Freitas também O Sérgio sei que já tem De Rosário é na latinha Eu fiz o que me convinha Porém tenho que avisar Já vi velho se peidar Em frente a tabacaria: O tabaco de Maria. Todo mundo quer cheirar.
15 Eu só sei que esse rapé Extraído da imburana Fez uma corrida insana Isso me falava Zé Veio de Brumado a pé Somente para comprar Um tabaco singular Que não tem lá na Bahia: O tabaco de Maria. Todo mundo quer cheirar.
16 Meu cordel chega ao final Porém o cheiro persiste Penetrando nesse chiste Que diverte e não faz mal Com gosto dou meu aval Pois consegui entranhar Amigos para brincar No mote que repetia: O tabaco de Maria. Todo mundo quer cheirar.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 24 de julho de 2024
SOU MULHER E SOU BENDITA (CORDEL DA CLUNISTA MADRE AUPERIORA DALINHA CATUNDA)
Eu bem sei que tudo passa Na vida que a gente tem Por isso é que vivo a vida Decidida e sem porém, Pois triste de quem nasceu Viveu e nem percebeu O prazer de ir além.
Montei no lombo da vida E na sela eu me aprumei As rédeas em minhas mãos Com firmeza segurei Aticei meu alazão Tirei poeira do chão A porteira escancarei.
Assim eu ganhei o mundo Na estrada não me perdi Provei dos sabores da vida Chorei pouco e mais sorri Dei aval ao coração Pra cada contravenção Das emoções que senti.
Em noite de lua cheia O luar foi companheiro Banhou-me com sua prata Seduzi meu companheiro Que vendo o brilho da lua Rajando a pele nua Operou como posseiro.
Criei asas e voei Até devorei zangão Provei geleia real Escapei por ter ferrão A vida não foi só mel Se por vezes fui cruel Faltou-me submissão.
Eu apeei em açude Em ribeirão e riacho Nos lugares mais bonitos Arrefeci o meu facho Pois a vida me sorria E a dona hipocrisia Deixei com cara de tacho.
Quem arriscou me laçar Ficou com corda na mão Eu derrubei muita estaca E até cerca de mourão Campeei como eu queria Hoje faço é poesia Dessa saga no sertão.
Dei corda ao meu instinto Feito Maria Bonita Meu fado eu canto em verso Pois não caí em desdita Entre o profano e o sagrado Meu norte foi consagrado Sou mulher e sou bendita.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 17 de julho de 2024
NO RIO SOU PARAÍBA E EM SÃO PAULO BAIANA (CORDEL DA COLÇUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA)
Sou cearense da gema Onde o sol nasce encarnado A minha cabeça chata Faz parte desse legado Nunca me vi coitadinha Faca, tirei da bainha Pra riscar o meu traçado.
No Rio sou Paraíba, Em São Paulo sou baiana Minha nordestinidade Não me deixa ser fulana Na Feira dos Paraíbas Revejo em minhas idas Que nossa gente se irmana.
Não nasci pra ser piolho Tenho meu discernimento Jamais segui a manada Pra isso tenho argumento Prefiro ter meu poder Sem empoderada ser Só sigo meu pensamento.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 10 de julho de 2024
A MOÇA TRISTE (CORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA)
Alta, branca tão bonita, Mas quanta dor nela existe No dourado dos cabelos Sua nobreza persiste Caminha com elegância Deixando sua fragrância No caminho a moça triste.
Nos lábios um ar de riso No olhar tanta tristeza Compondo sempre o semblante Sem ofuscar a beleza Da rapariga tristonha Que não vive, apenas sonha, No seu mundo de incerteza.
Pobre princesa sofrida Que conseguiu ser rainha Porém vive acorrentada Mesmo se solta caminha Em cada canto do rosto É visível seu desgosto Ao transportá-lo definha.
E na sua ingenuidade. Príncipe era encantado! Palácio sem atração, Castelo desmoronado, É a causa do desgosto Tracejado no seu rosto No fracassado reinado.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 03 de julho de 2024
DAUDETH BANDEIRA E DALINHA CATUNDA (CORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA)
Eu não conheço Dalinha Mas desejo conhecê-la Todo poeta precisa Conhecer uma estrela Não pra ser o dono dela Mas para aplaudi-la e vê-la.
Dalinha Catunda
Eu já conheço Daudeth E muito, de ouvir falar, Fama de cada Bandeira Faz o mastro tremular Seu clã é constelação Constantemente a brilhar.
Daudeth Bandeira
Dalinha pega mais fogo Do que capim no verão, É do tipo das caboclas Que pingam brasa no chão, São responsabilizadas Por quase todas queimadas Que existem no sertão.
Dalinha Catunda
Sou fogueira de paixão Lambendo o chão da campina Incendiando o agreste Tal ventania ladina Apesar de ser matreira Não sou de queimar Bandeira Meu fogo não desatina.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 26 de junho de 2024
SÃO JOÃO NA ROÇA (CORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA)
Hoje acordei com saudades Das festas do meu sertão De matuta me trajava E cheia de animação Com meu vestido de chita Chapéu e laço de fita Feliz dançava o São João.
Enxerida e dançadeira Nunca me faltava par Pra dançar numa quadrilha Nas festas do meu lugar Tudo hoje é diferente Até o São João da gente Acharam por bem mudar.
No São João de Antigamente Tudo era especial O noivo e a noiva vinham No lombo dum animal Ou então numa carroça Assim era lá na roça No São João tradicional!
No casamento matuto Era um Deus nos acuda Noivo querendo fugir Da noiva já barriguda De espingarda na mão Fazia o pai confusão E ao juiz pedia ajuda.
O vigário embriagado Cambaleava no altar O pai que não sossegava Gritava vou já matar Ou casa ou eu não dou trégua Nesse filho d’uma égua Eu atiro é sem mirar.
O delegado chegava E acabava a confusão O noivo então se casava Pra não mofar na prisão Com barulho de foguete Principiava o banquete Assim era a tradição.
Quem comandava a quadrilha Lá no meu interior Era só gente da gente E eu dava o maior valor No momento de ensaiar Do nosso bom linguajar Valia-se o gritador.
Foi a caminho da roça Transbordando de alegria Que passei com meu amor Num túnel de fantasia Mas na primeira manobra Quando eu ouvi, Olha a cobra! Eu gritei: Ave Maria!
Olha a cobra, olha a chuva Tudo era encenação A cobra não assustava Chuva não caía não No giro que a roda dava Eu fui dama coroada Em cada apresentação.
No cumprimento das damas Rapaz tirava o chapéu A dama se derretia Sentindo-se lá no céu Quando a dança terminava A folia começava Era grande o escarcéu.
A mulherada corria Para fazer simpatia Um corre-corre danado Para ver se descobria Com quem ia se casar Tentava enxergar o par Na água duma bacia.
Já outros passavam fogo Naquele dado momento Era em nome dos três santos Que faziam juramento Você vai ser meu compadre E você minha comadre Era assim, eu não invento.
E nesse costume antigo Arrumava-se afilhado Era assim que sucedia Depois do fogo passado Quem jurava na fogueira Levava pra vida inteira O que fora confirmado.
Eu jamais vou esquecer Do São João no Ceará O bolo feito de milho Um pote com aluá Pamonha também canjica Aqui a lembrança fica Remetendo-me pra lá.
Nos braseiros das fogueiras Se agitava a meninada Se danando a assar milho E a fazer batata assada A fogueira faiscava Milho cozido cheirava Era uma festa animada.
As musicas que se ouvia No bom São João Nordestino Era só Luiz Gonzaga Com seu canto genuíno Repleno de animação Incendiava o sertão Sem cometer desatino.
Era uma festa bonita Que tinha sua candura Feita com nossos costumes Com base em nossa cultura Tudo agora está mudado Até o sapato é dourado Viramos caricatura.
Tanto luxo, tanto brilho, Largaram chita e chitão Não tem mais nada de roça Pois é só ostentação Parece a festa da uva Até princesa com luva Vejo na apresentação.
Parece escola de samba Na hora de desfilar E tem comissão de frente Antes do grupo dançar É um tal de se exibir Dançam para competir E não para festejar.
Até a música usada Não é como antigamente Falta sanfona e zabumba E um triângulo estridente Falta um forró animado Com cara de nossa gente.
Cadê o chapéu de palha E o bigode desenhado A camisa de xadrez Ou de tecido estampado Cadê o nosso matuto Que dançava absoluto No sertão o seu reinado.
Cadê a moça bonita Que guardo em minha lembrança Com pintas pretas na face De cada lado uma trança Cadê a festa junina Tão nossa tão nordestina Dos bons tempos de bonança.
Eu ainda quero ouvir Na voz de um cantador O que eu ouvi num São João Numa noite de esplendor A mais linda melodia Onde Gonzagão dizia: Olha pro céu meu amor…
Não vamos interromper Os passos de nossa história Devemos vivenciar Não só guardar na memória Defender e resguardar Sem deixar de praticar Feitos dessa trajetória.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 19 de junho de 2024
CUIDE DO SEU IDOSO – 1º OUTUBRO, DIA INTERNACIONAL DO IDOSO (DORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA)
Quem tem o seu idoso Consciência deve ter. Cuidar dele com carinho, É obrigação, é dever. Ter zelo, ter paciência, E também tomar ciência: Todos vão envelhecer.
Não maltrate um ancião Que já não sabe o que faz Mas que foi seu alicerce E já foi muito capaz Já lhe deu casa e comida Mas antes lhe deu a vida E merece enfim ter paz.
Cada vez que a paciência, Fugir do seu coração Reze, reflita e pense, Não faça judiação Pois quem não morre envelhece E quase sempre padece Sofrendo de mão em mão.
Não se esqueça de lembrar De quem de você lembrou. Nos verdes anos da vida De você sempre cuidou. Mesmo hoje sem memória Faz parte da sua história, Que o tempo não apagou.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 12 de junho de 2024
O VOO DA RETIRANTE! (CORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA)
Eu sou mulher sertaneja! Feminina e singular O agreste me batizou Mas fiz do mundo meu lar Açoites patriarcais Não me podaram jamais Lutei pra me libertar.
Nunca fui igual a tantas Aceitando imposição Tinha o olhar aguçado Tinha rumo e direção Do meu jeito nordestino Sem drama sem desatino Segui cheia de razão.
Não fui mulher de ficar Debruçada na janela Eu queria muito mais Vi que a vida dava trela Na janela não fiquei A porta eu escancarei E joguei fora a tramela.
Uma estrada desenhei Do jeitinho que eu queria Nela pisei com firmeza Distribuindo alegria As veredas da tristeza Enfrentei sem ter moleza Recorrendo a rebeldia
Receio de ser feliz Não provei no meu caminho Fui ave de ribaçã Trocando às vezes de ninho longe do velho rincão Eu desbravei novo chão Sem sumir no torvelinho.
As pragas que me jogaram Voltaram pra quem jogou Eram tantas profecias Nenhuma se confirmou E hoje vou lhes dizer Não parti pra me perder Quem me viu depois notou.
Nunca fui desatinada Era desobediente A cruel hipocrisia Era discurso presente Mas fugi dessa verdade Da podre sociedade Jamais quis herdar corrente.
Eu nunca tive medo De casar ou não casar Sempre tive minha luz Que acendi pra me guiar Munida de inteligência Não quis viver de aparência Tive peito pra encarar.
A luxúria dos senhores Fez filho no cabaré O santo padre endeusado Profanou a sua fé Mas tudo era encoberto O pecador era o certo Na vida como ela é.
Eu vi a mulher do próximo Nos braços do seu amante Vi o próximo noutros braços Situação semelhante Mas tudo era abafado O tal do patriarcado Tinha o grito retumbante!
Vi esposas recebendo No lar putas do marido O homem podia tudo Sempre era obedecido E a mulher subjugada Não podia falar nada Seu orgulho era engolido.
Eu vi telhado de vidro Querendo pedra atirar Presenciei falsas virgens Casando em frente ao altar Noivo ganhando boiada Pra assumir a desonrada E o nome dela salvar.
O homem tinha direitos Mas não os tinha a mulher Se deixasse de ser casta Viraria uma qualquer De sua casa era expulsa Sobrava-lhe só repulsa E compaixão nem sequer.
Eu escrevi outra história E fiz o sertão ferver Fiz um filho sem casar Começou meu padecer E para meu desencanto Não era do espírito santo Foi difícil resolver.
A cidade jogou pedra No meu lar não me cabia Todos lavaram as mãos Enquanto eu me despedia Aceitei a minha cruz Apeguei-me com Jesus E com a Virgem Maria.
Não vou dizer que foi fácil Porém não me entreguei. O sangue de nordestina Comigo eu carreguei Trabalhei como ninguém Pra consegui ir além Eu nunca me desgracei.
Não tive pena de mim Não chorei a pouca sorte Resolvi virar o jogo Meu orgulho me fez forte Empinei bem o nariz Vivo do jeito que quis Eu mesma fui meu suporte.
Tangida ganhei o mundo Sem esquecer minha aldeia Lá voltei mais de mil vezes Sem medo de cara feia Não saí do meu lugar Sem aprender a nadar Para não morrer na areia.
E cada vez que eu voltava Pra minha satisfação Tinha nova mãe solteira Em meu querido rincão Eu vi que servi de exemplo Só me falta agora um templo Pra minha coroação.
Sou mãe de dois meninos Que ao meu lado vi crescer Dei casa, comida e estudo. Criar bem foi meu dever Os dois já estão formados Todos dois bem colocados Esse é meu maior prazer.
Sempre volto a Ipueiras Onde vou veranear Hoje me chamam Senhora Chego quase a gargalhar Mesmo tendo eira e beira Continuo mãe solteira Apesar de ter meu par.
Escorregando e caindo Aprendi a levantar Eu nunca deixei barato Quando ousaram me afrontar Sempre tomei atitude Se muitas vezes fui rude Foi pra ninguém me pisar.
Sou filha da intolerância Conheci o preconceito Guerreira que não se dobra E pra flecha abri meu peito De cada dardo escapei Criei minha própria lei Pois nutri esse direito
Agora sou poetisa Não acho o mundo perverso Eu dei a volta por cima Essa história conto em verso E digo com alegria Eu sou mais uma Maria Coragem nesse universo.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 05 de junho de 2024
XODÓ NORDEESTIN (CORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA)
Você gritou: Ô de casa! Eu saí e dei bom dia Me pediu um copo d’água A desculpa eu conhecia Saí quase no pinote Fui pegar água no pote Lhe servi com alegria.
Você me olhava com gosto E eu olhava pra você Ali nascia um chamego E nós dois dele a mercê Eu no começo corava Quando você me chamava Minha flor de muçambê.
Quando o fole da sanfona Gemia nalgum lugar Você trocava de roupa Corria pra me pegar E naquela brincadeira No forró a noite inteira Eu via o suor pingar.
Teu copo grudado no meu Meu corpo no teu grudado O povo todo olhando O nosso rodopiado Não tinha naquele chão Pras bandas do meu sertão Um casal mais animado.
Eu me arrumava todinha Com meu vestido de chita Aquela flor encarnada Me deixava mais bonita Você na sua paixão Roubou pra recordação Meu laço feito de fita.
Era um xodó animado Era um chamego ladino Tinha cheiro no cangote Coisa só de nordestino Ao som de xote e baião Embalamos a paixão Era um chamego bem-vindo.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 29 de maio de 2024
UMA GLOSA PARA NOSSA SANTA (CORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA)
Foi fazendo caridade Acolhendo cada irmão Que seu nome correu chão Irmã Dulce era bondade Sua força de vontade Era firme ao abraçar Viveu para amenizar Do pobre sua agonia O anjo bom da Bahia Hoje é santa no altar
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 22 de maio de 2024
A REVOADA DAS POMBAS (CORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA)
Vi a pomba bater asas Esvaziando o terreiro Era só um passarinho Buscando novo roteiro Pomba-de-arribação Bem comum lá no sertão No ir e vir corriqueiro.
Quando pousou na vivenda Já era tempo de estio Entretanto fez seu ninho Acabei com seu fastio Cuidada com bom xerém Ela sentia-se bem Arrulhava a cada cio.
Vi a rola satisfeita Sempre renovando o ninho E dava graças a Deus Por tê-la em meu caminho Mas tudo acabou em nada Pois a rola desalmada Sumiu em um torvelinho.
E foi-se a pomba vadia Foi-se a Burguesa também Por rolas eu não lamento Umas vão e outras vem E foi-se a pomba terceira Não será a derradeira Que meu alçapão detém.
Outro dia eu avistei A vadia em meu quintal. A Burguesa toda prosa Vi pousando em meu varal Mas quem hoje me fascina É uma pomba-divina Conhecida por trocal.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 08 de maio de 2024
O QUE FAZ A CARESTIA DA CARNE? (CORDEL DA COLUNISTA MADRED SUPERIORA DALINHA CATUNDA)
Fui com marido ao açougue Lá cheguei a me zangar Pois vendo o preço da carne Começou a resmungar Desse preço compro não Como é bife do “oião” E danou-se a reclamar.
Ele cheio de argumento Falava e dizia assim: A gente come feijão, E farofa de “toicim,” Deixe logo de ora pois Também tem baião de dois E isso tá bom pra mim.
Eu saí batendo pé Sem querer me conformar Zangada que nem o cão Esse cabra vai pagar Eu fiz como ele queria Contudo a minha alegria Ele conseguiu quebrar.
Quanto chegou a noitinha Que a gente foi se deitar Virei de costas pra ele E ele a me cutucar Querendo carne comer Eu disse: Tu vais morrer Mas carne não vou te dar.
Durante o dia eu sonhei Com costela e costeleta Ele querendo poupar Já deu uma de ranheta Quando apertou a vontade Deixei ele na saudade Dispensei sua baioneta.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 01 de maio de 2024
BONECA DE PANO (CORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA)
Hoje lembro com saudade O tempo bom que passou Quando o não era um talvez E assim você me ganhou Você puxava meu braço Eu evitava o abraço Porém você me laçou.
No cordão que se formava Circulando no salão Você com sua insistência Segurou a minha mão E me beijou bem na hora, A do: “ vou beijar-te agora” E ganhou meu coração.
Você foi o meu pirata Eu a sua colombina Lembro nós dois enroscados Nos laços da serpentina Quando meu não virou sim Não desgrudou mais de mim A paixão foi repentina.
E não acabou em cinzas Esse amor de carnaval Aos encantos da conquista Botei fé e dei aval Apostei na fantasia Colhi amor e alegria E fui feliz no final.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 17 de abril de 2024
O CORNO FOFOQUEIRO (CORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA)
Quem vive de propagar Que o seu fulano é corno As vezes causa transtorno Nem chega a desconfiar Que chifres vive a levar Sem que venha perceber Faz chacota com prazer Mas devia ficar mudo Pois continua o chifrudo Sendo o último a saber.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 10 de abril de 2024
MULHER DE RAÇA (CORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA)
MULHER DE RAÇA
Dalinha Catunda
Neguinha sou para amigas Minha nega pro amado Sou morena citadina Meu cabelo é ondulado Sou dona das minhas ventas Sou das mulheres atentas Tenho nariz empinado.
Sou cabocla sertaneja E trago no matulão A astúcia da matuta Que desbravou o sertão E que não poupou canela Quando abriu sua cancela Buscando libertação.
Da fralda da Ibiapaba Sou das alas das guerreiras Agarrada ao jacumã Enfrentei as corredeiras Em cima duma piroga Sou guerreira que se joga Nas águas das Ipueiras
Sou a mistura das raças Sou a miscigenação Sou Catunda, sou do Prado Tenho sangue de Aragão Sou cunhã, sou companheira, Sou concubina parceira Eu só não sou é padrão.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 03 de abril de 2024
QUARENTENA NA ROÇA, VIVENDO COMO ÍNDIO (CORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA)
1 Na estrada do Pai Mané Na cidade de Ipueiras Bem pertinho das Barreiras De imburana tem um pé Ele dá um bom rapé Pra quem sabe preparar Maria sabe torrar E tem grande freguesia O tabaco de Maria. Todo mundo quer cheirar.
2 E naquela arrumação Meu pai era viciado No dedo era colocado Do rapé uma porção Com o tabaco na mão Pra no nariz esfregar E logo após aspirar Ele fungava e dizia: O tabaco de Maria. Todo mundo quer cheirar.
3 Valdenira me indicou Disse mulher acredite Ele é bom pra sinusite Aqui mamãe sempre usou Depois que ela receitou Comecei a melhorar Nunca parei mais de usar Acabou minha agonia: O tabaco de Maria. Todo mundo quer cheirar.
4 Garapa ficou sabendo Dessa história do rapé Foi direto ao Pai Mané Também estava querendo Com Maria se entendendo Resolveu logo pagar E não saiu sem provar do cheiroso nesse dia O tabaco de Maria. Todo mundo quer cheirar.
5 Edgar acabrunhado Com o nariz entupido Sentindo-se já perdido Com febre e com resfriado Foi atrás desse torrado Para tentar melhorar Porém mesmo sem gostar Do produto repetia: O tabaco de Maria. Todo mundo quer cheirar.
6 Dão de Jaime que gostou Do tabaco da fulana Cheirou mais duma semana E também se viciou Da mulher ele apanhou E não cansou de apanhar Pois disse não vou largar E gritando se exibia: O tabaco de Maria. Todo mundo quer cheirar.
7 Lindicassia nascimento Fugava como ela só Cheirou um pouco do pó Daí veio o seu alento Falou sem constrangimento Eu posso até me lascar Porém nunca vou largar O que já virou mania O tabaco de Maria. Todo mundo quer cheirar.
8 Do torrado de imburana Quis provar meu companheiro Foi adquirir ligeiro Nem teve pena da grana Com a cara de sacana E só para chatear Chegava os olhos virar Envolvido na folia: O tabaco de Maria. Todo mundo quer cheirar.
9 O vigário da cidade Pediu para o sacristão Vá comprar uma porção Uma boa quantidade Um rapé de qualidade Que estou querendo espirrar Mas onde ele ia comprar O vigário já sabia O tabaco de Maria. Todo mundo quer cheirar.
10 Neto Alves da Cultura Ficou logo interessado Para comprar o torrado Mandou uma criatura E disse: – mas que loucura! E esse bicho é de lascar Hoje vou me empanturrar Pois eu não tenho alergia: O tabaco de Maria. Todo mundo quer cheirar.
11 É remédio natural Eu também sou dessa linha Disse Anilda pra Dalinha Querendo provar do tal Garanto que não faz mal E tratou de encomendar Ao começar a chuchar Comentou com euforia: O tabaco de Maria. Todo mundo quer cheirar.
12 Eu só sei que a imburana Transformada em rapé Muita gente levou fé E Maria não engana Pra Violante e Diana Ela ficou de enviar Se Cassiano esperar Com certeza ela envia: O tabaco de Maria. Todo mundo quer cheirar.
13 Tenho tabaco estocado Pra Dideus e Acopiara. A freguesia não para, O de Chica está guardado. Fátima Correia e Prado, Só falta mesmo embalar E quem fica a me cobrar, É o Tião Simpatia: O tabaco de Maria. Todo mundo quer cheirar.
14 Tenho um frasco pra Bastinha Pra Vânia Freitas também O Sérgio sei que já tem De Rosário é na latinha Eu fiz o que me convinha Porém tenho que avisar Já vi velho se peidar Em frente a tabacaria: O tabaco de Maria. Todo mundo quer cheirar.
15 Eu só sei que esse rapé Extraído da imburana Fez uma corrida insana Isso me falava Zé Veio de Brumado a pé Somente para comprar Um tabaco singular Que não tem lá na Bahia: O tabaco de Maria. Todo mundo quer cheirar.
16 Meu cordel chega ao final Porém o cheiro persiste Penetrando nesse chiste Que diverte e não faz mal Com gosto dou meu aval Pois consegui entranhar Amigos para brincar No mote que repetia: O tabaco de Maria. Todo mundo quer cheirar.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 20 de março de 2024
GLOSAS DE MORAES MOREIRA (POSTAGEM DA COLUNISTA DA.INHA CATUNDA)
Mote desta colunista e glosas de Morais Moreira, publicadas originalmente no Blog Cordel de Saia.
Se tem mulher no cordel Você tem que respeitar.
Vai fundo na caminhada Que o homem parece raso Vivendo quase um ocaso Já se perdendo na estrada, É hora da mulherada Tomar o tempo e o lugar Não adianta chorar Achar que a vida é cruel, Se tem mulher no cordel Você tem que respeitar.
No tempo da plenitude O homem cai no vazio Fugindo do desafio Covarde e sem atitude Coitado ainda se ilude Não sabe como se dar O que é que vai lhe restar Senão tirar o chapéu? Se tem mulher no cordel Você tem que respeitar.
De uma costela de Adão Dizem que a mulher foi feita E sendo assim tão perfeita Imaginemos então Se fosse do coração Que Deus pudesse a criar O mundo ia proclamar: Oh criatura do céu! Se tem mulher no cordel Você tem que respeitar.
Naturalmente é sem músculo No seu jeitinho de moça Duvida da sua força O macho já no crepúsculo Sendo somente um opúsculo Da obra que vai ficar O que é que vai lhe sobrar Senão caminhar ao léu? Se tem mulher no cordel Você tem que respeitar.
Não falto com a verdade E peço que me acompanhe Já que a mulher é a mãe De toda a humanidade Pra não ficar na saudade O homem vai conquistar Ao seu ladinho um lugar Fazendo bem seu papel, Se tem mulher no cordel Você tem que respeitar.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 13 de março de 2024
MARIA PREÁ VERSEJADA (CORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA))
Em noite fria de outono De luar encantador A lua cheia brilhava Mostrando seu esplendor A noite estava tão bela Entreabri a janela Com meu ar contemplador
Ao apagar o abajur Ensaiando pra dormir Um rumor vindo de fora Eu imaginei ouvir Acheguei-me ao travesseiro Porém despertei ligeiro E vi meu sono sumir.
Foi quando ele sorrateiro No meu quarto penetrou E sem que eu me desse conta Nesse ambiente se espalhou Bem de leve me roçava Num sopro que acarinhava E o meu corpo despertou.
Chegou brando e carinhoso Confesso me satisfez Encantava-me a meiguice Afagando a minha tez E não achei que era abuso A visita desse intruso Oportunista talvez.
Inteiramente à vontade Eu me deixei seduzir Ele entrava, ele saía E eu gostando do ir e vir Cada vez que penetrava O meu corpo arrepiava meu anseio a consentir.
Foi visita relaxante Até um dado momento Ficou mais audacioso Intenso no movimento Meus cabelos, desmanchou Os lençóis, desarrumou Transformou-se totalmente.
Daí eu me levantei Tentando uma solução Tentei fechar a janela Mas faltou força na mão Depois desse vento forte Quase que perco meu norte Nos braços de um furacão.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 28 de fevereiro de 2024
PRECISO DO SEU CHEIRO (CORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA)
Quando por mim você passa Eu viro mulher feliz Tão cheiroso e provocante Que logo acendo o nariz E deixo seu cheiro entrar Só para me deleitar Pois sou mulher de raiz.
Se sempre acordo bem cedo É pra provar seu sabor O meu paladar exige Antes que eu vá ao labor Ter você sempre bem quente Alertando minha mente Provocando meu calor.
Para ter você comigo Caminho léguas o pé Vou até o fim do mundo E não perco minha fé De provar do meu neguinho Nem que seja um golinho Sou viciada em café!
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 21 de fevereiro de 2024
DUAS GLOSAS - 29.05.2020 (CORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA)
Eu já perdi o juízo Porém doida não fiquei; Maus momentos já passei Mas do pranto fiz sorriso Do inferno fiz paraíso., Da moda que eu fiz uso É mel em que me lambuzo E fez minha rima fosca: “Uma porca perde a rosca Mas não entra em parafuso”
Bastinha Job
* * *
Sempre fui muito teimosa Assim minha mãe dizia. Dessa minha teimosia Nunca ficou orgulhosa. Eu seguia toda prosa, Deixando o povo confuso, Destilava meu abuso, Com minha linguagem tosca: “Uma porca perde a rosca Mas não entra em parafuso”
Dalinha Catunda
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 14 de fevereiro de 2024
SEM PÂNICO NA PANDEMIA (CORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA)
E vim pra roça, porém, Esse não é o meu sítio É a fazenda do meu bem. Por aqui a gente trepa, Dia sim outro também, Pra tirar fruta do pé Sem pedir nada a ninguém. Aqui tem pomba, tem rola, Mas me faz falta o vem vem, Tem cobra rondando a casa, Perereca, há mais de cem. O frio aqui está grande, Chuveiro quente não tem, Às vezes é complicado, Para lavar o sedém, Entretanto dou meu jeito Garanto não fico sem. Pra fugir da Pandemia Faço tudo que convém Faço prece e uso máscara Rogo a Jesus de Belém Faço figa e simpatia Se preciso vou além.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 07 de fevereiro de 2024
SÃO JOÃO VIRTUAL (CORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA)
Quem vive, saltou fogueira E eu grito: Viva São João.
Meu povo, vou festejar, Vou buscar minha alegria, Entocar melancolia, Medo não vai me acuar. Se quiser pode chegar, Para essa celebração, Em nome da tradição Entre nessa brincadeira: Quem vive, saltou fogueira E eu grito: Viva São João.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 24 de janeiro de 2024
A ROLA DA CONCEIÇÃO (CORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA DALIMHA CATUNDA)
Já cansei de repetir Essa história que hoje conto Não aumento nem um ponto Isso posso garantir Se você quiser ouvir A Deus peço muita luz E nos versos que compus Repito o que diz Raquel: Pra comer Maria Izabel Ele largou meu cuscuz.
Esse caso aconteceu Pras bandas do Ceará Com Raquel que é de lá E um sujeito conheceu Do cuscuz dela comeu E já gritou: Ai Jesus! Da comida que seduz Virou um freguês fiel: Pra comer Maria Izabel Ele largou meu cuscuz.
Aqui na minha pensão Ele vinha todo dia E demonstrando alegria Fazia sua refeição E fez a propagação Do jeito que lhe propus Botou foto no capuz Do seu antigo corcel: Pra comer Maria Izabel Ele largou meu cuscuz.
O negócio foi crescendo Eu ganhava, ele ganhava A freguesia aumentava E a propaganda comendo Porém eu fui percebendo E não apenas supus Com ele já me indispus Após provar do seu fel: Pra comer Maria Izabel Ele largou meu cuscuz.
Traída covardemente Eu fui e ele nem negou Disse que se apaixonou Por um menu diferente Arroz com carne presente Que a cozinheira introduz A minha raiva eu expus Diante do seu papel: Pra comer Maria Izabel Ele largou meu cuscuz.
Quem comeu na minha mão Sabe que sei cozinhar Pois tenho bom paladar E sou boa de fogão Agora preste atenção No peso da minha cruz Foi pior do que supus A minha saga cruel: Pra comer Maria Izabel Ele largou meu cuscuz.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 10 de janeiro de 2024
NO SONHO AZUL (CORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA DELINHA CATUNDA)
Porque era dia de trem Ela se fez mais bonita Fez um rabo de cavalo Botou um laço de fita Um vestidinho florido Presente do seu querido Uma alegria infinita.
Quando o trem longe apitou Ela pegou a frasqueira E cheirando a alfazema Corria toda faceira Porque dentro do vagão Estava sua paixão De tantas, era a primeira.
Entrou toda saltitante E depressa foi notada Porém nada foi surpresa Estava sendo esperada Na poltrona acomodados O casal de namorados Seguiram sua jornada.
E Dentro do sonho azul Nasce o sonho cor de rosa Entre os dois apaixonados Na viagem venturosa Quem não soube ter coragem Perdeu o trem e a bagagem E não foi vitoriosa.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 03 de janeiro de 2024
CARREIRÃO DE MULHER (CORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA)
Sou poeta popular Nos versos sou estradeira Quando pego um carreirão Meu verso não tem barreira Sempre tive a língua solta Pois gosto de brincadeira Quando chego num alpendre Puxo logo uma cadeira E desenrolo meu verso Sem esquentar a moleira Ninguém derruba meu verso Com pedra de baladeira. Quem for fraco de poesia Pode pegar na carreira Meu angu aqui é quente Não se come pela beira Quando retoco o batom Mostro meu lado brejeira. Tem muita gente que aplaude Meu verso de cantadeira Porém tem gente que diz Que apenas falo besteira Não canto sem minha figa Não passo sem benzedeira. Aprendi meu carreirão Ouvindo Pedro Bandeira Escrevo meus absurdos Por causa de Zé Limeira Eu só não aprendo nada É quando esbarro em toupeira. Esse canto encarrilhado É canto de catingueira Que não erra na flechada Porque sabe ser certeira SE TEM CANTO DE SEGUNDA O MEU CANTO É DE PRIMEIRA.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 27 de dezembro de 2023
GLOSAS - 12.09.2020 (CORDEL DA COLUNISTA DALINHA CATUNDA)
Já cansei de repetir Essa história que hoje conto Não aumento nem um ponto Isso posso garantir Se você quiser ouvir A Deus peço muita luz E nos versos que compus Repito o que diz Raquel: Pra comer Maria Izabel Ele largou meu cuscuz.
Esse caso aconteceu Pras bandas do Ceará Com Raquel que é de lá E um sujeito conheceu Do cuscuz dela comeu E já gritou: Ai Jesus! Da comida que seduz Virou um freguês fiel: Pra comer Maria Izabel Ele largou meu cuscuz.
Aqui na minha pensão Ele vinha todo dia E demonstrando alegria Fazia sua refeição E fez a propagação Do jeito que lhe propus Botou foto no capuz Do seu antigo corcel: Pra comer Maria Izabel Ele largou meu cuscuz.
O negócio foi crescendo Eu ganhava, ele ganhava A freguesia aumentava E a propaganda comendo Porém eu fui percebendo E não apenas supus Com ele já me indispus Após provar do seu fel: Pra comer Maria Izabel Ele largou meu cuscuz.
Traída covardemente Eu fui e ele nem negou Disse que se apaixonou Por um menu diferente Arroz com carne presente Que a cozinheira introduz A minha raiva eu expus Diante do seu papel: Pra comer Maria Izabel Ele largou meu cuscuz.
Quem comeu na minha mão Sabe que sei cozinhar Pois tenho bom paladar E sou boa de fogão Agora preste atenção No peso da minha cruz Foi pior do que supus A minha saga cruel: Pra comer Maria Izabel Ele largou meu cuscuz.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 20 de dezembro de 2023
A ÁRVORE QUE ME REPRESENTA (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
A ÁRVORE QUE ME REPRESENTA
Dalinha Catunda
*
Eu hoje vivo na roça
Recordando meu sertão,
Pois é lá daquelas brenhas,
Que retiro inspiração.
Minha Árvore de Natal,
Tentei fazer uma igual,
Com alguma inovação.
*
Peguei garrancho no mato,
Tirei as folhas, limpei,
E numa lata de vinte
Areia lá coloquei.
E depois chegou a vez
Do paninho de xadrez,
Pra envolver a lata usei.
*
Como eu sou cordelista,
Para a árvore enfeitar,
Dependurei meus cordéis,
Que tem tanto pra contar…
Das histórias do sertão,
Que trago no coração,
E gosto de relembrar!
*
Minhas bonecas de pano?
No Natal muitas ganhei!
Como artesã de bonecas,
Algumas eu pendurei,
Frutos da recordação,
Que marcam a tradição,
Coisas que vivenciei.
*
Quando saí do Nordeste
Mãe solteira e minha cruz
Me apeguei no meu caminho
A santa Mãe de Jesus.
Minha base a cada dia,
Era Jesus e Maria,
Meu caminho foi de luz.
*
Versos e arte de Dalinha Catunda
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 13 de dezembro de 2023
UM CARREIRÃO DE NOTÍCIAS (CORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA)
Amigos, estou na roça Nem sei quando vou voltar Estou desde fevereiro E terminei por ficar Essa vidinha no campo É coisa pra me agradar. Porém quando a chuva chega Com vento forte a soprar Eu fico sem internet Aqui tudo sai do ar Por isso minhas postagens Eu fico sem comentar. Fora isso eu acho bom E estou a me renovar Eu faço queijo de coalho E de Minas por gostar E faço doce de leite Pra gente aqui merendar. O feijão verde e maxixe, Já tá dando pra apanhar, Tem quiabo e berinjela, Jerimum pra variar, E tudo isso me agrada, Pois gosto de cozinhar. Tem um alpendre com redes Quando quero descansar Quando me bate a preguiça Logo corro pra deitar É de lá que vejo a lua Com seu brilho a despontar. A passarada faz festa E passa o dia a cantar Tem pitanga, tem groselha Pra passarinho bicar As mangueiras carregadas Estão começando a dar. Por aqui eu vou ficando Porém volto a relatar As novidades da roça Desse meu mais novo lar Um abraço para todos Aqui eu quero deixar.
Cachoeiras de Macacu-RJ, 9/10/ 2020
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 06 de dezembro de 2023
EXALTANDO A NATUREZA (CORDEL DA COUNISTA MADRE SUPERIORA DALINDA CATUNDA)
O velho trem da saudade Resolveu me visitar Na bagagem a lembrança É tanta, chega a pesar Abro a porta do vagão E deixo a recordação Pelos trilhos me guiar.
Êta saudade danada Que bateu, mas foi de mim Menina moça levada Batom da cor de carmim Faceira e desaforada Pela vida apaixonada Como eu gostava de mim.
Nas tertúlias da cidade Era a primeira a chegar Pra “tirar uma fornada” Com quem soubesse dançar Dançava bem um brecado Um bolero apaixonado E sem “macaco botar.”
Short curto, minissaia Era assim que eu me vestia Minha mãe era moderna E para minha alegria Gostava de costurar E a gente podia usar A roupa que bem queria.
Passear de bicicleta Era outra diversão Cidade do interior Ipueiras, meu sertão Banhos de açude e de rio Quando recordo sorrio Fui feliz em meu rincão.
Passei por cima de tudo Pra viver em liberdade Desdenhei até das leis Da nossa sociedade Liberta da hipocrisia E sem precisar de guia Vivi só minha verdade.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 22 de novembro de 2023
DEVANEANDO (CORDEL COM A COLUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA) VÍDEO
Ciranda de glosas com mulheres, coordenada por esta colunista, idealizadora do Cordel de Saia
* * *
Mote de Medeiros Braga:
Não fora nosso Nordeste Seria pobre o Brasil
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Dalinha Catunda – Rio de Janeiro-RJ:
Berço da mulher rendeira, E de Maria Bonita. A Raquel trouxe na escrita Maria Moura Guerreira, A força da brasileira, A que enfrentou cada ardil! Mostrando bem seu perfil De forte mulher do agreste: Não fora nosso Nordeste Seria pobre o Brasil
Bastinha Job – Crato-CE:
O Ceará de Alencar De Peri, de Iracema, De Ceci prosa em poema Do verde-azul do mar; Tem o Ferreira Goulart, Gonzagão, Gilberto Gil, Patativa é nota mil Nossa Arte é inconteste: Não fora nosso Nordeste Seria pobre o Brasil
Vânia Freitas – Fortaleza-CE:
O nordeste brasileiro Banhado de sol e mar Tem nas noites de luar O canto do violeiro Que embala nosso terreiro Com seu verso mais sutil Que encanta com mais de mil O sul norte leste e oeste Não fora nosso Nordeste Seria pobre o Brasil
Rosário Pinto – Rio de Janeiro-RJ:
A mulher faz seu papel Escreve com linhas finas Histórias de heroínas Maneja bem o pincel Em versos de menestrel. São muitas na poesia, E na prosa, em demasia, Nos romances, mais de mil. Do Norte até o Leste Não fora nosso Nordeste Seria pobre o Brasil
Dodora Pereira da Silva – Juazeiro-CE:
Mulher guerreira e forte Enfrenta o sol causticante Com um sorriso intrigante E o amor é seu suporte O poeta é que tem sorte Essa musa é nota mil Contrastando o céu de anil Com esse seu solo agreste Não fora nosso Nordeste Seria pobre o Brasil
Lindicássia Nascimento – Barbalha-CE:
O Nordeste brasileiro É de fato um braço forte Esse país tem é sorte Por não ser do estrangeiro Sendo bravo e tão guerreiro De arte e belezas mil Nós traçamos o perfil Do rico cabra da peste Não fora nosso Nordeste Seria pobre o Brasil
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 08 de novembro de 2023
COMADRE INTÉ OUTRO DIA (CORDE COM A MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, CLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO) VÍDEO
Como quem faz um bordado Vou fiando meu cordel Procurando ser fiel Tramo com todo cuidado Cada ponto do traçado Faço com dedicação Trago a metrificação Pra cada verso compor Faço rimas com amor, Faço cordel com paixão
Bastinha Job:
Procuro tecer meu verso Primando na isometria Busco a isorritmia Poesia é meu universo Na mensagem me alicerço Daí vem pura emoção, Catarse, satisfação Compromisso no lavor: Faço rimas com amor, Faço cordel com paixão
Jesus de Ritinha:
Eu entro na brincadeira Agricultando poesia Plantando com alegria A semente brotadeira Levo também uma esteira Que estendo com a mão Para dessa plantação Colher frutos de primor Faço rimas com amor, Faço cordel com paixão
David Ferreira:
Não entendo de bordado, mas eu vi mamãe tecer. Não consegui aprender, porquê homem do cerrado não podia ser prendado, fazer bordado de mão, pisar arroz no pilão, era visto com temor… Faço rimas com amor, Faço cordel com paixão
Rosário Pinto:
Faço rima faço prosa. Procuro ter alegria. O meu cantar se irradia Para alguns me chamo Rosa Eu gosto de fazer glosa Não conheço a solidão Trago sempre uma canção Canto com muito fervor Faço rimas com amor, Faço cordel com paixão
Vânia Freitas:
Dedico meu tempo à arte Eu faço que nem Dalinha Também não saio da linha Vou fazendo minha parte Assim como ela reparte Com muita dedicação Eu tiro do coração Algum som do meu tambor Faço rimas com amor, Faço cordel com paixão
Gevanildo Almeida:
Tiro o verso da cachola Faço ele flutuar Sou poeta popular Desses que não se enrola Só não sei tocar viola Mas na minha intuição Metrifico a oração Na verso que vou impor Faço rimas com amor, Faço cordel com paixão
Francisco Chagas:
Eu descrevo a natureza. O sol, a lua e estrelas. Eu tenho o prazer de vê-las. Se eu tiver com tristeza. Quando olho pra grandeza. Do Deus Pai da Criação. Sinto no meu coração. Muita alegria e vigor Faço rima com amor. Faço cordel com paixão.
Rivamoura Teixeira:
Eu sou mei intrometido Doido levado da breca Quero brincar de peteca E este tema é tão querido Eu também tenho mantido Esta forma de expressão Traço com dedicação Metrifico com fervor Faço rimas com amor Faço cordéis com paixão
Creusa Meira:
Na infância fiz bordado Que a minha mãe ensinava Tricô e renda, eu tentava E meu pai tinha guardado Os versos do seu passado Eu lia com atenção Fui aprendendo a lição E hoje posso dar valor Faço rima com amor. Faço cordel com paixão.
José Walter Pires:
Viver “pintando e bordando” Foi expressão popular; Mas não sei como explicar, Às meninas, comparando, Ou só ficar criticando Os rumos da evolução, Com tamanha tentação, Desafiando o pudor. Faço rima com amor. Faço cordel com paixão.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 25 de outubro de 2023
NÃO ME AVEXE NÃO! (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
De poeta e de louca Eu tenho minha quantia Tem horas que jogo pedra Noutras faço poesia Quando chega o aperreio Que fico de saco cheio Minha razão avaria.
Não sou mulher de motim De bando também não sou Penso com minha cabeça Seguir magote não vou Não sou mulher melindrada O papel da vitimada Minha garra dispensou.
Não compro briga dos outros Pra ficar em evidência Por favor não me acumule Tenho pouca paciência Pois quando o caso é comigo Não meto nenhum amigo Tomo logo providência
Nunca gostei de cobranças Não cobro amor a ninguém E para ser bem sincera Nem amizade também Sentimento é conquistado Jamais será fabricado Só se dá quando se tem.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 18 de outubro de 2023
QUANDO EU ESTICAR AS CANELAS (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO) - VÍCEO
Num passeio inusitado Fui visitar uma oca Um índio quase pelado Levou-me a sua maloca Nessa bonita manhã Pegando em seu jacumã Saí com ele da toca.
O passeio foi bonito Em meio a natureza Subi na sua piroga E achei uma beleza E no banho no riacho Ele perdeu o penacho Que caiu na correnteza.
Ao voltarmos do passeio Eu estava esbaforida Ele me trouxe cauim Eu aprovei a bebida Não saí daquela loca Sem entrar na mandioca Gostei muito da comida.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 27 de setembro de 2023
UMA RODA DE GLOSAS - 17.01.21 (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNSTA DO ALMANAQUE RAMUNDO FLORIANO)
Eu posso dizer que há anos A vacina salva vidas. Eu que sou das precavidas Pra não sofrer desenganos, E evitar maiores danos, Também vou me vacinar. Tô vendo a hora chegar! Mas a dúvida é profunda: Não sei se tomo na bunda Ou no braço vou tomar.
Bastinha Job:
Chinesa não tomo não nem na bunda, nem no braço coronavac… fracasso, China não é salvação buscarei outra opção A Oxford aceitar se a Moderna chegar, a picada vai ser funda: Não sei se tomo na bunda Ou no braço vou tomar.
Creusa Meira:
Na fila eu amanheço Pego a preferencial Passo longe de hospital UTI eu não mereço Quero logo o endereço Quando o dia D chegar Se na hora H falhar A primeira e a segunda Não sei se tomo na bunda Ou no braço vou tomar.
Chica Emídio:
Pode ser no mei da testa, Na barriga, ou no bumbum Não vou excluir nenhum Eu quero é fazer a festa Se assim for o que resta Só não quero é me isolar Chega de trancafiar Igual Dalinha Catunda: Não sei se tomo na bunda Ou no braço vou tomar.
Vânia Freitas:
Gente estou assustada Com tanta gente falando Da bruta vacina entrando Tô ficando aperreada Bunda e braço na jogada O braço dá pra pensar Bunda não vou cutucar A coisa é muito profunda Não sei se tomo na bunda Ou no braço vou tomar.
Lindicassia Nascimento:
Já que não tem outro jeito Eu vou ter que aceitar Dessa vez não vou chorar Vou deixar entrar direito Quero sentir o efeito Levemente sem gritar Sei que vou me emocionar Não vou ficar moribunda Não sei se tomo na bunda Ou no braço vou tomar.
Sueli Diniz:
O vírus veio com tudo A vacina é necessária A vida tá temerária Pra isso teve o estudo Tem que ser muito peitudo Tem que gostar de arriscar Pra nela não apostar D’onde a vida se oriunda Não sei se tomo na bunda Ou no braço vou tomar.
Djenane Emídio
Como logo se anuncia Tenho cá os meus receios Se já encontraram os meios Da cura da pandemia… Peço a Deus que é meu Guia Pra que eu possa confiar E venha assim declamar: Vacina, em mim se difunda! Não sei se tomo na bunda Ou no braço vou tomar.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 20 de setembro de 2023
UMA RODA DE GLOSAS - 23.01.21 (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNSTA DO ALMANAQUE RAMUNDO FLORIANO)
Eu posso dizer que há anos A vacina salva vidas. Eu que sou das precavidas Pra não sofrer desenganos, E evitar maiores danos, Também vou me vacinar. Tô vendo a hora chegar! Mas a dúvida é profunda: Não sei se tomo na bunda Ou no braço vou tomar.
Em minha última coluna, este meu mote foi glosado por mulheres. Hoje ele será glosado por homens.
* * *
Gevanildo Almeida
Dalinha e Bastinha estão Com uma dúvida danada Mais confesso essa picada Não tá na minha intenção Não sei se vou tomar não Decidi, não vou tomar Ela pode me agravar Mas vou se seguir a Catunda Não sei se tomo na bunda Ou no braço vou tomar.
Rivamoura Teixeira
Vou usar a consciência Fazer avaliação Não digo não tomo não Vou pensar fazer prudência Vou saber da tal ciência Pra melhor avaliar Essa dúvida é de lascar Vou optar pela segunda Não sei se tomo na bunda Ou no braço vou tomar.
Assis Mendes
Quando chegar a vacina, Quero tomar sem demora, Mandar o corona embora, Pra ver se esse mal termina, Seja daqui ou da china, Eu quero é me vacinar, E hora da agulha entrar, Que a dor não seja profunda, Não sei se tomo na bunda Ou no braço vou tomar.
Francisco Jairo Vasconcelos
Vou tomar é qualquer uma Tô esperando liberar Vou ver no que, isto vai dar Quero que o corona suma Pare de morrer de ruma Eu tomo em qualquer lugar Pois importante é curar Esta dúvida profunda, Não sei se tomo na bunda Ou no braço vou tomar.
Joab Nascimento
Já que não tem mais remédio Tomei todo tipo de chá De marmeleiro ao juá Não acabei com meu tédio Comecei a ter assédio Para picada enfrentar Deu trabalho pra relaxar Foi concentração profunda Não sei se tomo na bunda Ou no braço vou tomar.
Giovanni Arruda
Qualquer um laboratório Não fará a diferença Eu só vou pedir licença Pra não ser supositório Pois já fui repositório Hoje nem deixo triscar. Na bochecha inda vá lá Que a mão não se aprofunda Não sei se tomo na bunda Ou no braço vou tomar.
Pedro Sampaio
A tal vacina chinesa Garantia questionada Com tanta gente assustada Deixa minha mente acesa Com medo de virar presa Também do bicho pegar Logo começo a chorar A lágrima já me inunda Não sei se tomo na bunda Ou no braço vou tomar.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 13 de setembro de 2023
CORDEL, A TRADIÇÃO DO REISADO (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
Esse cordel participou em Janeiro de 2021 do Sesc Cordel Podcast Crato-Ceará
Desenho desta colunista
1 Hoje vou pegar retalhos De histórias no pensamento Pra costurar um cordel Tecendo cada momento Com fios da tradição Na trama da narração Expondo cada elemento.
2 É da tradição cristã Essa festa que seduz E tem como inspiração O pequenino Jesus E a visita dos Reis Magos Que trouxeram seus afagos Guiados por uma luz.
3 Seguindo uma bela estrela Belchior e Baltasar Fizeram longo percurso Lado a lado com Gaspar Pois saíram do oriente Cada um com seu presente Para o menino ofertar
4 O ouro, o incenso e a mirra Trouxeram na ocasião E ofertaram a Jesus Em meio a adoração Nasceu desse ritual O presente de Natal Que se tornou tradição.
5 Nascimento de Jesus Passou a ser celebrado O mundo inteiro faz festa E nós fazemos dobrado Nasce a festa popular Divina espetacular A qual chamamos Reisado.
6 E foram os portugueses Em tempos coloniais Que trouxeram seus costumes Legado dos ancestrais Culinária e devoções Festas e celebrações Herdamos os rituais.
7 No dia seis de janeiro Tem festejo e alegria O povo todo animado Se prepara nesse dia E na Folia de Reis Brincantes de muitas greis Celebram com cantoria.
8 A festa é bem variada Em sua apresentação Quando se tira reisado É feita a visitação Um grupo de porta em porta Em cada morada aporta Com cantos de louvação.
9 Louvam o dono da casa E Jesus de Nazaré, Sem esquecer de Maria E também de São José Para a festa pedem prendas Logo após as oferendas Prossegue o cortejo a pé.
10 O grupo sempre arrecada Bebida e também dinheiro Apresentam-se em praça, Em alpendre e em terreiro Vestidos com fantasia Vão espalhando alegria Num trajeto prazenteiro.
11 A Festa dos Santos Reis Também chamamos Reisado E de Folia de Reis Dependendo do condado Cada um tem seu enredo Para atrelar ao folguedo Costumes próprio do Estado
12 Cada grupo tem seu mestre E também sua bandeira Usam roupas coloridas Dançam, fazem brincadeira Instrumentos musicais Até bandas cabaçais Pra animar a pagodeira.
13 Tem viola e violão Tudo enfeitado com fita Tem reco-reco e sanfona Também cantiga bonita Tem o toque do pandeiro Tem tambores no terreiro Muitas cores muita chita.
14 No Cariri Cearense O Reisado é tradição A festa é bem grandiosa É de chamar atenção Pois ali brinca a criança Repleto de esperança Também brinca o ancião.
15 Tem dança, teatro e música Todo tipo de reisado Tem de couro e de careta Grupo diversificado Também nessa caminhada Ainda tem a congada Tudo bem organizado.
16 Em cada apresentação Seja nas casas ou praça A meninada feliz Do palhaço instiga graça E Mateus chega animado Pulando pra todo lado Em cena não se embaraça.
17 Sempre ao lado de Mateus Nessa festa nordestina Aparece chafurdando A gaiata Catirina Com as suas presepadas O povo dá gargalhadas Enquanto ela desatina.
18 O feioso Jaraguá De todos chama atenção Já chega batendo o bico Dançando com seu jeitão Ele mexe o corpo inteiro E faz o maior salseiro E agrada a população.
19 Tem, mestre, rei e rainha Nos folguedos pra Jesus E tem coroa dourada Que na cabeça reluz Cada vez que o mestre apita O grupo entra na fita E assim o mestre conduz.
20 A burrinha é atração Sapeca e bem aplaudida Sua dança é envolvente, Sua veste é colorida Bem faceira e dançadeira Faz parte da Brincadeira E dança toda exibida.
21 Entre o gracejo e a dança Tem combate tem porfia Lembrando os gladiadores Na luta que contagia Geração a geração Se pratica a tradição De adereço e fantasia.
22 É bem diversificada Essa festa popular É a vontade do povo Que faz o Reisado andar Só com criatividade Paixão e capacidade Se consegue festejar.
23 É profana e é sagrada é de maria e José É festa que se destina Ao bom Rei de Nazaré É festa pro nordestino Que ao Tirar o Divino Iça o estandarte da fé.
24 Para falar de Reisado Fui seguindo a minha Luz Como fez os três Reis Magos Ao visitarem Jesus Foi a musa estrela guia Ela de noite ou de dia É sempre quem me conduz.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 06 de setembro de 2023
MEU JEITO AGRESTE (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
Não sou dona da verdade O bom senso assim me diz Na vida sou aprendiz Mas sempre bate a vontade De repassar qualidade A quem deseja ingressar Com regras no versejar E o pouco que sei não nego É duro dar luz a cego Que não pretende enxergar.
Rivamoura Teixeira:
Eu já dei até a dica De como faz o traçado O x do metrificado Ele diz _exemplifica Mas parece q ele fica Olhando a banda passar Ou prefere só ficar Nesse pequenino ego É duro dar luz a cego Que não pretende enxergar.
Dulce Esteves:
Meus parcos conhecimentos Gosto de compartilhar Convidei, vamos estudar Mas, me causou foi tormentos Esses tristes elementos Só souberam foi negar Disse: eu sei metrificar Esse peso não carrego É duro dar luz a cego Que não pretende enxergar.
Creusa Meira:
Às vezes a gente fala Até com certo cuidado Que o verso tem pé quebrado Mas a pessoa se cala Segue o caminho e embala Mostrando não se importar Vai querer me martelar Mas afirmo, não sou prego É duro dar luz a cego Que não pretende enxergar.
Giovanni Arruda:
Precisa ter paciência Pois no começo é assim Fica pensando no fim E quebra toda a cadência Perde do verso a essência Quem prioriza contar, Eu aconselho tentar Mas uma coisa não nego É duro dar luz a cego Que não pretende enxergar.
Bastinha Job:
É malhar em ferro frio pedra que água não fura clarear a noite escura secar o leito do rio, receita sem ter avio, um ganho sem conquistar, Poeta sem se inspirar Tudo isso veto e renego: É duro dar luz a cego Que não pretende enxergar.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 23 de agosto de 2023
CHUVA DE POESIA (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
CHUVA DE POESIA
Dalinha Catunda
Bastinha Job:
Pra mim a chuva é tela De uma linda pintura No meu Cratinho ela cai Cai agora com ternura Meu coração tá contente A chuva ,o melhor presente Traz promessa de fartura!
Lindicássia Nascimento:
É festa na agricultura Alegria pra o sertão Sertanejos se animam Com o relâmpago e o trovão A chuva é a esperança Para o tempo de bonança Pra quem fez a plantação.
Dalinha Catunda:
Chuva caindo no chão Atiça minha saudade Nós dois no banho de chuva Numa casualidade Enquanto a chuva caía O casal feliz sorria Ungindo a felicidade.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 16 de agosto de 2023
RODA DE GLOSAS - 13.02.2021 (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIUNDO FLORIANO)
Procurando o que fazer Eu acordo todo dia Dispenso a melancolia E procuro me envolver Com tudo que dá prazer E da vida vou cuidando Pois tendo Deus no comando Sei que vou seguir em frente: Eu tenho raiva de gente Que vive se lastimando
Gevanildo Almeida:
Não me lastimo de nada Que a vida me apronta Seja o que for eu dou conta Com minha boca fechada Não sou chegado a zoada Vou logo lhe avisando Não venha me perturbando Com cara de deprimente Eu tenho raiva de gente Que vive se lastimando
Bastinha Job:
Escreva um belo poema, limpe bem a sua casa Voe alto, crie asa, Rejeite qualquer sistema Que lhe prende na algema Sua vida cerceando, Não fique se lamentando Isso odeio imensamente: Eu tenho raiva de gente Que vive se lastimando
Francisco de Assis Sousa:
Cada momento da vida Vale a pena se viver Eu quero todo prazer Antes da minha partida Abomino despedida Cada dia celebrando E assim eu vou levando A vida gostosa e quente Eu tenho raiva de gente Que vive se lastimando
Rivamoura Teixeira:
Temos que perseverar O passado tem essência Que dá a experiência Que orienta o viver O melhor do conviver É que você vai juntando Dividindo e somando E te faz experiente Eu tenho raiva de gente Que vive se lastimando
Dulce Esteves:
Agradeço todo dia Pelo fato de viver Minhas refeições comer Pela luz que me alumia Por ter paz, ter harmonia Deus está me abençoando Meu dinheirinho ganhando Pois, sou grata plenamente Eu tenho raiva de gente Que vive se lastimando
David Ferreira:
Taí, gostei desse mote, por esse apelo que traz a quem pensa ser audaz. Pela destreza, o rebote, inclusos pois no pacote dos que têm total comando naquilo que estão buscando prosperar constantemente… Eu tenho raiva de gente Que vive se lastimando
Joab Nascimento:
Viver de lamentação Reclamando todo dia Com triste melancolia Causando importunação Causando indignação Para quem fica escutando Insatisfação causando Com perturbação na mente Eu tenho raiva de gente Que vive se lastimando
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 09 de agosto de 2023
KAROLINA COM K, COISA DE GONZAGÃO (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
A mulher com K maiúsculo É coisa de Gonzagão Foi do nosso rei caboclo Que nasceu essa invenção Era cabocla ladina Chamada de Karolina Astuta que nem o cão.
E foi imortalizada Na voz do Rei do Baião Como a mulher dançadeira Que mais chamava atenção Cheia de presepada Com sua saia rodada Girava que nem pião.
Todo mundo admirava A tal bela sertaneja Dançava com quem queria Inda tomava cerveja Nos braços do sanfoneiro Dançava até em terreiro Não ficava no, hora veja!
Karolina era cheirosa Bem atrevida e faceira Também era invocada Metida a cangaceira Mas colou com Gonzagão Dançando xote e baião Do chão tirava poeira.
Tem que dançar xenhenhém Igualzinha a Karolina Tem que lavar bem a boca Gargarejar creolina Acho bom que se oriente Pra falar da nossa gente De origem nordestina.
Pois quem quer ser respeitada Pelos outros tem respeito Não segue a velha cartilha Onde mora o preconceito Eu não quero causar dano Mas o K Gonzagueano Ele é nosso não tem jeito.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 02 de agosto de 2023
O CORNO INOCENTE (CRÔNICA DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
Era tempo de novenas, festa da padroeira, quermesse e animação.
Após as novenas as famílias se reuniam na pracinha da igreja.
Enquanto as mulheres compravam gulodices para entreter as crianças, os homens se reuniam nas barracas de bebidas.
E foi entre uma bebida e um papo e outro, que se deu o bate-boca entre dois primos.
Ambos já tinham sido contemplados com um par de chifres por suas digníssimas esposas.
José, sabia que era corno, mas já tinha se acomodado a situação, porém Gonzaga, era o mais novo corno da cidade, estava na boca do povo e pelo jeito seria o último a saber.
Quando a discussão esquentou, Gonzaga, pôs a mão no ombro do primo e falou:
– Zé, tu é corno, macho véi!
Zé naquela calma de corno convencido imitando o gesto do colega retrucou:
– E meu primo nem é!
Isso foi o suficiente para a turma inteira cair na gargalhada.
Esta colunista escrevendo Microconto, pegando carona na ideia da escritora Leila Jalul
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 26 de julho de 2023
UMA RODA DE GLOSAS - 08.03.2021 (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNSTA DO ALMANAQUE RAMUNDO FLORIANO)
Sem ter comiseração Nos assusta a Besta-fera Que mata em qualquer esfera Sem pena e sem compaixão Padece a população Nas mãos dessa pandemia Os dias são de agonia Nosso sossego findou: A besta-fera chegou Pra tirar nossa alegria.
Araquém Vasconcelos
Chegou este triste mal Com apelido de corona Da situação é a dona Esta desgraça viral Espalha um terror mortal Velho e novo contagia Morre gente todo dia O mundo inteiro parou A besta-fera chegou Pra tirar nossa alegria.
Gevanildo Almeida
Feito uma tempestade Torando pela a raiz Deixando o povo infeliz Ceifando a felicidade Sem nenhuma punidade Pra essa besta vadia Maldita hora que um dia Ela se proliferou A besta-fera chegou Pra tirar nossa alegria.
Jairo Vasconcelos
Só Deus pra resolver Essa mula do capeta O diabo fez a faceta Com Jesus vamos vencer O mal fez acontecer Essa grande pandemia Como o profeta dizia Mais ninguém acreditou A besta-fera chegou Pra tirar nossa alegria.
Marcos Silva
Primeiro foi o covarde Depois veio o tal covid Eu lhe digo não duvide Que vai piorar mais tarde Isso aqui não é alarde E nem mera putaria Um vírus com tirania Muita gente ele levou A besta-fera chegou Pra tirar nossa alegria.
Bastinha Job
Não foi assim de repente, Faz tempo a besta nos sonda Vai fazendo a fatal ronda Matando a nossa gente; Age, assim, tão friamente Em uma eterna agonia A esperança tá fria O labirinto estreitou: A besta-fera chegou Pra tirar nossa alegria.
Chica Emídio
Um vírus sem piedade Invadiu o mundo inteiro, Foi cruel e traiçoeiro, Causando mortalidade. Pungente agressividade Veio nessa pandemia, A maior epidemia Nosso país assolou, A besta-fera chegou Pra tirar nossa alegria.
Rivamoura Teixeira
Veio disfarçada a ira Pegou carona o corona Bestafora safadona Bestafura bestafira Com covid a calma pira Bestafara da agonia Virou alta pandemia A paz do mundo pirou A besta-fera chegou Pra tirar nossa alegria.
Dulce Esteves
Maldito vírus Chinês Ao mundo mal-assombrado São mortes por todo lado Vou falar para vocês Nós estamos à mercês Sepultados todo dia Em vala, na cova fria Um parente nem velou A besta-fera chegou Pra tirar nossa alegria.
Vânia Freitas
A besta fera é o satã Que também tentou Jesus Quer o mal pra quem na luz Reza a noite e de manhã Tentou Eva com a maçã A gente com a pandemia Com fé em Jesus e Maria Da besta já se livrou A besta-fera chegou Pra tirar nossa alegria.
Davia Ferreira
Estamos todos atados, sem podermos fazer nada, com a covid alastrada, tomando todos os lados. Estamos todos cercados, sem solução e sem guia, sorvendo no dia a dia, o pouco que nos restou… A besta-fera chegou Pra tirar nossa alegria.
Giovanni Arruda
Não se sabe de onde veio Nem o cão que o pariu, Mas a praga explodiu Degradando nosso meio Tá difícil dar um freio Dissolver a tirania Do desastre que um dia No comando se instalou A besta-fera chegou Pra tirar nossa alegria.
Ritinha Oliveira
Um grande monstro surgiu Do vil abismo profundo Cuspindo fogo no mundo Muitas vidas consumiu As cinzas de quem partiu Escurece o nosso dia Um futuro de magia O luto já embaçou A besta-fera chegou Pra tirar nossa alegria.
Francisco de Assis Sousa
Veio dominando mundo Com a sanha de matar Sedenta a contaminar Infectando em segundo Seu disfarce é fecundo Leva mesmo a cova fria Com a sua tirania Muitas vidas já ceifou A besta-fera chegou Pra tirar nossa alegria.
Rosário Pinto
E chegou o reptiliano, Com ares bem sorrateiros. Enganou os brasileiros. Chama o povo de beltrano, Já entramos pelo cano. E com esta pandemia, A vida aqui não se cria, O que vemos é complô A besta-fera chegou Pra tirar nossa alegria.
Creusa Meira
Há mais de um ano a tristeza Povoa a vida da gente Perder amigo ou parente Distante ou na redondeza Dá-nos a plena certeza Que perto está nosso dia Sem amparo e garantia De vacina que faltou A besta-fera chegou Pra tirar nossa alegria.
Josy Correia
Cada lado do planeta Resiste, lamenta e chora Com a doença que apavora Regrando a curta ampulheta No desgoverno, um capeta, Rindo da nossa agonia Ignora a cova fria Onde o Brasil se enterrou A besta-fera chegou Pra tirar nossa alegria.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 19 de julho de 2023
EU E A PANDEMIA NAS ASAS DO CORDEL (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
1 Na mais serena rotina Mansa a vida transcorria Futuro bem programado E um presente de alegria Pois começava a colher O que fiz por florescer Tudo que plantei um dia.
2 No entanto quis o destino Modificar meu traçado Vi cada sonho ruir E o presente destroçado O caos chegou de repente Deixando o povo impotente E o mundo inteiro abalado.
3 Do covid 19 Dessa grande Pandemia Hoje nós somos reféns Vivemos essa agonia Enfrentando isolamento Adestrando o pensamento Pra fugir da distimia.
4 Prosseguir era preciso Nunca fui de esmorecer Tentei sentar a cabeça Pensando no que fazer A Deus pedi direção E fui fazendo oração Buscando me proteger.
5 O começo foi difícil, Eu tenho que concordar. E muitos dos meus costumes Tive que modificar. Sem varinha de condão Para a modificação Fui obrigada a lutar.
6 Vesti-me de paciência Pra viver sem liberdade E mudei-me para o campo Deixei de lado a cidade Fui treinando meu olhar Pra novo mundo abraçar E acatar a realidade.
7 Os compromissos rompidos Sem condições de assumir O meu sorriso desfeito Eu tenho que admitir A única solução Seria a transformação Resolvi nisso insistir.
8 Bem distante dos perigos A roça me adaptei E com internet em casa Logo me conectei Fui ligando minha antena E mesmo de quarentena Meu trabalho continuei.
9 De cordel e artesanato Comecei a produção Escrevendo todo dia Eu espanto a depressão Por gostar de pesquisar Vivo a me capacitar Não me falta ocupação.
10 Sei que nesse novo Tempo O caos de fato é real Com isso nossa presença Em evento cultural Acontece diferente A gente se faz presente Mas de modo virtual.
11 A nossa literatura, Popular e de cordel Tal qual o camaleão Se adapta a qualquer papel Faz sua transformação E nessa variação Renasce em novo vergel.
12 Cordelista com bagagem Sempre encontrará espaço Porque sabe entrar em cena Nela imprimir novo traço Com garra e disposição Atua na inovação Se vira sem embaraço.
13 O cordel é resistência E nunca perde a constância Se apropria do remoto Faz eventos a distância Em encontros virtuais Projetos especiais Comprovam sua importância.
14 Seja em e-book ou live Damos bem nosso recado Assim nós vamos ganhando Novo costume e mercado Escrevendo nova história Sem perder a oratória No mundo atualizado.
15 Os convites aparecem Pra quem quer seguir em frente Somos voz em podcast Atores atualmente Que nos vídeos operando Vamos a vida alegrando E colorindo o presente.
16 Posso dizer que o cordel Farto, em redes sociais Ganhou asas pra voar Segue novos rituais Pois na rede achou seu Norte E cada dia mais forte De pujança dá sinais.
17 Nas páginas do facebook Para o verso praticar Vates de vários Estados Juntam-se para glosar Buscam nessa interação Momentos de distração Ninguém quer se acomodar
18 O Brasil de Norte a Sul Vem fazendo difusão Da cultura popular Do cordel que é tradição Essa nossa atividade Vestindo simplicidade Envolve toda nação.
19 Na corrente do cordel E nos braços da poesia Voamos com as palavras Disseminando alegria O cordel literatura Engrossa a voz da cultura Na oração de cada dia.
20 Não está em nossas mãos O poder para findar Com a grande pandemia Mas podemos minorar Escrevendo nova história E mudando a trajetória Nesse nosso caminhar.
21 Cada um tem sua receita Pra tentar melhor viver E procurei distração Algo para me entreter Para não cair doente Cuide bem da sua mente Faça o que lhe dá prazer.
22 Eu me apeguei com cordel A minha maior paixão Cada dia um novo verso Tenho em minha produção Vou seguindo minha estrada Embora modificada Aceito a transformação.
23 Nesses tempos de retiro Digo sem medo de errar As tais redes sociais Vieram pra nos salvar Nasce desses movimentos Quase todos os eventos Com os quais podemos contar
24 Nas asas desse cordel Eu escrevi nova história E bem cheia de esperança Pra viver dias de glória A Deus rogo proteção E peço com devoção Luz em nossa trajetória.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 12 de julho de 2023
UMA RODA DE GLOSAS (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
Quando sinto que a tristeza Se avizinha do meu peito Na danada dou meu jeito Pra isso tenho destreza Busco no canto a leveza Para os males espantar Quem quiser pode chegar Que esse canto é de união Pegue aqui na minha mão Vamos juntos cirandar.
Dalinha Catunda
Eu voltei a ser criança Brincando pela varanda Numa roda de ciranda Gostei daquela festança Entrei de cara na dança Comecei rodopiar Formamos um belo par Dando volta no salão Pegue aqui na minha mão Vamos juntos cirandar.
Araquém Vasconcelos
Peguei na mão de Ritinha Que pegou na de Alcinete Lindicassia, bem coquete, Segurou a de Dalinha Enxerida entrou Bastinha Seguiram a requebrar Sempre a rodar,a rodar No ritmo da emoção: Pegue aqui na minha mão Vamos juntos cirandar.
Bastinha Job
Na ciranda desta vida Volta e meia sempre dou Se as amigas vêm, eu vou Se não vêm, fico sentida Se Maria Aparecida Ou de Lourdes me chamar Largo tudo e vou dançar Pra tristeza eu digo não Pegue aqui na minha mão Vamos juntos cirandar.
Creusa Meira
O zabumba toma a guia Dá balanço o chocalho Já se ouve um farfalho Vai subindo uma agonia O salão se contagia Todos querem rebolar E o desejo de dançar Tem a força de um vulcão Pegue aqui na minha mão Vamos juntos cirandar.
Giovanni Arruda
Vou brincar nesta ciranda Abra a roda por favor Vou girando como for Meus passos só Deus comanda Pus nos cabelos lavanda Quando o vento arrepiar Cirandeiros vêm cheirar Com grande satisfação Pegue aqui na minha mão Vamos juntos cirandar.
Dulce Esteves
Deixe a rotina de lado Saia de dentro de casa Se divirta, extravasa, Vá prum forró arrochado Requebre bem apertado Dance a noite sem parar Com molejo a peneirar Dando voltas no salão Pegue aqui na minha mão Vamos juntos cirandar.
Joabnascimento
Nas noites alvissareiras Nas festas de São João, Eu fazia agitação Dançava nas brincadeiras Salão cheio de bandeiras O sanfoneiro a tocar Fazendo casais rodar Em geral a animação Pegue aqui na minha mão Vamos juntos cirandar.
Jairo Vasconcelos
Agradecer cada dia A alegria de viver E fazer por merecer Saúde, paz e harmonia Bom mesmo é a euforia Rime se quiser rimar Cante se quiser cantar Diga não a solidão Pegue aqui na minha mão Vamos juntos cirandar.
Francisco De Assis Sousa
Pesquisei nossa Ciranda. É na Cantiga de Roda, Que ela nunca cai de moda. É cantiga que sempre anda Nos festejos de varanda. Em rodas para dançar, Em festejo popular. Na roda, uns vêm outros vão. Pegue aqui na minha mão Vamos juntos cirandar.
Rosário Pinto
Pra quem gosta de ciranda E dançar na luz da lua Vem ser meu e serei tua No toque de qualquer banda Pois é a gente quem manda A poeira levantar Vamos ver o sol raiar No batuque do coração Pegue aqui na minha mão Vamos juntos cirandar.
Vânia Freitas
Em tempos de pandemia, Só mesmo fazendo festa. A jogada agora é esta: Em casa, ter alegria, Cantar e fazer poesia, Um Studio improvisar, Uma live organizar, Numa bela animação, Pegue aqui na minha mão Vamos juntos cirandar.
Chica Emídio
A ciranda move a vida a vida gera cultura, é alegria segura é brincadeira aguerrida. A cadência é divertida quem tá fora quer entrar, com garra pisotear com desmedida paixão. Pegue aqui na minha mão Vamos juntos cirandar.
Fátima Correia
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 05 de julho de 2023
Ô VISTA BOA (CRÔNICA DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
Mamãe, hoje, com 98 anos, por incrível que pareça, ainda lê sem a ajuda dos óculos.
O motivo de ter essa vista tão boa, nada mais foi do que uma cirurgia de catarata bem sucedida e feita pelo SUS, quando ela estava na casa dos 80 anos.
Saiu do hospital, foi para casa e seguiu religiosamente o manual de recuperação.
Em pouco tem o sorriso tomou conta do seu rosto novamente.
Cada pessoa que perguntava sobre a cirurgia ela contava com detalhes. E perguntavam muito, se ela estava enxergando bem, se não via nada embasado e no final ela já estava se cansando dos interrogatórios.
Certo dia chegou um de seus compadres, e entre uma conversa e um café, perguntou:
– Comadre, numa idade dessa, a senhora está enxergando bem mesmo?
Imediatamente, ela que é metida a gaiata, respondeu: – Compadre, pra falar a verdade, eu estou enxergando até “priquito” de muriçoca.
Não resta dúvidas que a operação foi bem sucedida.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 28 de junho de 2023
A DAMA-DA-NOITE (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIKMUNDO FLORIANO)
Tão plena em sua brancura Tendo o vento como açoite Ontem a dama-da-noite Abrolhou com formosura Encantamento em fartura Exibiu na ocasião Vem provocando paixão E realmente me apraz Tão bonita, mas fugaz Essa Dama em explosão.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 21 de junho de 2023
ROGANDO EM GEMEDEIRA (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAMUNDO FLORIANO)
Deus me livre desse mal Inda tenho tanta vida Trago meu sorriso largo Alguém me chama querida Eu não quero ir agora Ai, ai, ui, ui, Ô meu pai me dê guarida.
Quero viver utopias Tenho tanto amor pra dar No calor da minha rede Inda quero me embalar Mesmo no outono da vida Ai, ai, ui, ui, Vejo meu sonho brotar.
Quero meus dias brejeiros As noites de cantoria Com viola e lua cheia Deus do céu me alumia Salve todos do naufrágio Ai, ai, ui, ui, Nos poupe dessa agonia.
Faço prece pra Maria Faço prece pra Jesus Peço a Deus onipotente Aquele que nos conduz Que tire dos nossos ombros Ai, ai, ui, ui, Essa tão pesada cruz.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 14 de junho de 2023
RODA DE GLOSAS - 25.03.21 (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
Chegou essa pandemia parecendo um vendaval. Confesso que fiquei mal de medo eu quase morria, e morrendo de agonia, hoje a Jesus eu recorro, morro pedindo socorro, pois penico eu já pedi: Ano passado eu morri, Mas esse ano eu não morro.
Joab Nascimento:
Eu já fui contaminado Por essa tal pandemia Juro qu’eu quase morria Com o vírus desgraçado Fiquei muito desgastado Nem sequer subi o morro Já no mato sem cachorro Mas logo sobrevivi Ano passado eu morri, Mas esse ano eu não morro.
Bastinha Job:
Vou dar uma de artista No mote de ZÉ Limeira Nascido lá em Teixeira E era surrealista Foi notável repentista Famoso igual ao Zorro Na décima então discorro Em Orlando Tejo li: Ano passado eu morri, Mas esse ano eu não morro.
Araquem Vasconcelos:
Aprendi vencer a morte Pois já morri uma vez Comigo não tem talvez Eu sou caboclo do Norte Vencer heróis é meu forte E se vier pega esporro Eu nunca pedi socorro E nem de medo eu corri Ano passado eu morri, Mas esse ano eu não morro.
Gevanildo Almeida:
Quando comecei saber Desse vírus condenado Fiquei desorientado Disse agora vou morrer Deus veio me socorrer No meu leito pôs um forro Com ele eu disse, não corro Seguir firme decidi Ano passado eu morri, Mas esse ano eu não morro.
Jairo Vasconcelos:
Quando chegou no Brasil Essa grande pandemia Me causando uma agonia Morreram duzentos mil Mantando mais que fuzil Chorando pedir socorro De medo quase eu escorro Me segurei não escorri Ano passado eu morri, Mas esse ano eu não morro.
Rivamoura Teixeira:
Foi sim eu morri de medo Me tornei um mascarado O mundo todo tomado De um virus do degredo Eu me levantava cedo Ia parecendo um zorro Se for me abraçar eu corro Faça boca de siri Ano passado eu morri, Mas esse ano eu não morro.
Francisco de Assis Sousa:
Eu já vivo é morrendo De medo todos os dias Entre susto e agonias Assim eu sigo vivendo Com tudo é me benzendo Até de espiro eu corro Uso máscara, alcool, gorro Não quero arribar daqui Ano passado eu morri, Mas esse ano eu não morro.
Creusa Meira:
Ao sentir que o dia nasce Abro os olhos com surpresa Vejo se não tem fraqueza Nas pernas, calor na face Respiro fundo, com classe E toda a casa, percorro A mais um dia, concorro Pra viver, estou aqui Ano passado eu morri, Mas esse ano eu não morro.
Ritinha Oliveira:
O vírus me derrubou Igual coice de jumento Fui ao céu dum passamento São Pedro me avistou Ao me ver se agoniou Gritou pedindo socorro Eu num mato sem cachorro Me expulsaram eu corri Ano passado eu morri, Mas esse ano eu não morro.
Giovanni Arruda:
O eterno Belchior Cantor de belas canções Teve nas composições Zé Limeira coautor Essa dupla infernizou Aquela turma do gorro Sofreu censura e esporro Mas resistiu que eu vi Ano passado eu morri, Mas esse ano eu não morro.
Vânia Freitas:
A nuvem ficou escura Vírus das trevas saiu E o pior que ninguém viu E nem vê a sua feiura Só atrás da lente dura E quem vê pede socorro Faz da cara um porta-forro É coisa que nunca vi Ano passado eu morri, Mas esse ano eu não morro.
Tião Simpatia:
Faz um ano que me escondo Desse corona maldito, Já não conto, nem recito, Engordei que tô redondo! O sol nascendo e se pondo Todo dia por trás do morro; Eu vi a morte de gorro, Mas acordei e me benzi… Ano passado eu morri, Mas esse ano eu não morro.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 07 de junho de 2023
EU SOU (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO) VÍDEO
A mãe vira onça ferina Pra defender sua cria, E clama a virgem Maria, Pela proteção divina. Uma mãe que desatina, Não briga pra defender, Filho não merece ter! É uma mãe desalmada: Um filho é coisa sagrada Mãe morre pra proteger
Araquém Vasconcelos:
Mãe ê uma instituição Onde se projeta a vida Quem tem sua mãe querida Dê a ela atenção Abra o seu coração Procure reconhecer Todo o seu bem querer Não a despreze por nada Um filho é coisa sagrada Mãe morre pra proteger
Bastinha Job:
Minha mãe se foi tão cedo, Fiquei sem o seu carinho, Sem ela, o meu caminho Perdeu-se em seu enredo De tudo eu tinha medo, Consegui sobreviver Sem abraço a me acolher Que orfandade malvada: Um filho é coisa sagrada Mãe morre pra proteger
Jairo Vasconcelos:
Mãe é uma flor do jardim Que nunca perde o perfume Do filho sente ciúme Mesmo ele sendo ruim Mamãe é o amor sem fim Não deixa o filho sofrer No frio quer aquecer Quando precisa ela agrada Um filho é coisa sagrada Mãe morre pra proteger
Dulce Esteves:
Mãe é uma escudeira Garantindo proteção Seu peito traz armação Pois, assim se faz guerreira Tem armas e faz trincheira Seu varão vem defender Vai à luta por prazer Não se sente ameaçada Um filho é coisa sagrada Mãe morre pra proteger
Rivamoura Teixeira:
Amor de mãe não se mede Por ser fora do limite Por isto não se admite Duvidar pois não procede Pra defender intercede Pense num amor de ser Seu carinho é pra valer Sua vida é consagrada Um filho é coisa sagrada Mãe morre pra proteger
F. de Assis Sousa:
O amor é incondicional A ternura é sem limite Ela jamais admite Que ninguém o faça mal Da forma mais natural Seu instinto é defender Não queira pagar pra ver Qualquer uma indignada Um filho é coisa sagrada Mãe morre pra proteger
Vânia Freitas:
O maior amor do mundo É aquele que recebemos De nossas mães e sabemos Que este amor é tão fecundo Se tornando mais profundo Por nada em troca querer Mãe é um ser que faz valer O amor a sua cria amada Um filho é coisa sagrada Mãe morre pra proteger
Fabiana Viera:
Tem mãe que os sonhos enterra Gestante adolescente Abandonada e doente Pela justiça da Terra Vive no meio da guerra Procura sobreviver Pra ver o filhinho vencer É feroz onça pintada Um filho é coisa sagrada Mãe morre pra proteger
Creusa Meira:
Há tanta dor pra sentir Pranto para derramar Mãe que vai pra não voltar Mãe que vê filho partir Filho sem mãe, sem porvir Sem o colo pra aquecer Filho na creche morrer Chacina na madrugada Um filho é coisa sagrada Mãe morre pra proteger
Paola Tôrres:
Para viver bem a vida Carecemos de um teto Pão, carinho, colo, afeto Sopro na nossa ferida Música na despedida Amor que nos faz vencer Caminhos pra percorrer Mil abraços na chegada Um filho é coisa sagrada Mãe morre pra proteger
Chacina, ódio e desgraça Eu vi na televisão Uma grande comoção Tristeza que despedaça Tiros na rua e na praça Sangue humano a escorrer Ver tanta gente morrer Estendido na calçada Um filho é coisa sagrada Mãe morre pra proteger
Rosário Pinto:
Nossa mãe vive na lida. Não tem dia, não tem hora E desde o romper da aurora Ela segue na corrida: Fazer o bolo e a comida. E para o filho atender, Trabalha para prover. À noite chega cansada Um filho é coisa sagrada Mãe morre pra proteger
Silvinha França:
Mesmo distante é presente Nunca foge da batalha Derruba qualquer muralha Quando a dor do filho sente Pois é dela a semente Que Deus a fez conceber Não se deixa emudecer Até quando não é chamada Um filho é coisa sagrada Mãe morre pra proteger
Joabnascimento:
Do seu ventre uma semente Ressurgiu com muito amor Superando todo dor A mãe o abraça contente Num cenário comovente O seu olhar vem dizer Você é meu bem querer Para toda minha jornada Um filho é coisa sagrada Mãe morre pra proteger
Pedro Sampaio:
Quando uma Mãe se consome Pro Filho satisfazer Ela deixa de comer Mas do Filho mata fome Tudo faz pelo seu nome Também pra lhe socorrer Não importa o padecer Nem que seja massacrada Um filho é coisa sagrada Mãe morre pra proteger
Dalinha Catunda:
Uma mãe que é ciente Que seu filho é maltratado Morreu por não ser cuidado Não posso chamar de gente Não passa de uma serpente É cobra! posso dizer, Em vida vai padecer Jamais será perdoada Um filho é coisa sagrada Mãe morre pra proteger
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 26 de abril de 2023
GLOSAS - 06.05.21 (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
1 Quando rego minhas flores, Desperto a recordação, Que mora em meu coração. Entre suspiro e rumores, Evoco antigos amores, E choro a fugacidade, Do que foi felicidade, Porém hoje é fenecido… Esse meu jardim florido, É cacimba de saudade!
2 Recordo nós dois juntinhos Debaixo do pé de ipê Era só eu mais você Numa sombra sem espinhos Seguindo os mesmos caminhos Vivendo a mesma verdade E mesmo na tenra idade O tempo não foi perdido: Esse meu jardim florido, É cacimba de saudade!
3 Quando chega a primavera Eu puxo pela memoria Cada flor é uma história Pra quem viveu de quimera Então digo: quem me dera Com toda sinceridade Viver com intensidade Tudo de bom já vivido: Esse meu jardim florido, É cacimba de saudade!
4 Debaixo duma latada Era o cravo era a rosa Era um verso era uma prosa Numa conversa animada Era a mais bela jornada Em meio a simplicidade Era amor era amizade Era a flecha do cupido: Esse meu jardim florido, É cacimba de saudade!
5 Recordar é reviver Diz o dito popular Por isso vivo a lembrar Sem pensar em esquecer O que senti florescer Em tempos de liberdade Na mente é prioridade Não é sonho adormecido: Esse meu jardim florido, É cacimba de saudade!
6 Das flores do meu jardim Só de lembrar sinto o cheiro São flores do meu canteiro É cheiro que não tem fim Só por isso eu canto assim Com gosto e vivacidade Seguindo a minha vontade Nesse mote repetido: Esse meu jardim florido, É cacimba de saudade!
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 19 de abril de 2023
EM CACHOEIRAS DE MACACU (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
Atrás do morro do pico Aponta o sol radiante A neblina derretendo Presencio a todo instante A beleza do horizonte O raio do sol no monte Ilumina o meu semblante.
Do beiral do meu alpendre A cambaxirra cantou No pé de jacatirão O bem-te-vi se assanhou O gavião sorrateiro Abre as asas no coqueiro Vendo que o dia raiou.
Redes de aranhas tecidas Presas no arame farpado Trazendo beleza as cercas Esse trabalho rendado Só vendo quanta beleza Cenário da natureza Que é por Deus elaborado.
O canto da Seriema Ecoa ao amanhecer Despertador natural Canta mesmo pra valer É ave que faz zoada Parece até gargalhada Pois canta sem se conter.
Canários se reproduzem Eu vejo o bando passar Os melros sempre em grupo Encantam com seu cantar E no maior zum, zum, zum Um magote de Anum Balburdia faz ao voar.
Quando chega o fim do dia Volta pro ninho a trocal, E a garça voa em bando Num belo show, sem igual O sol desmaia cansado Anunciando alquebrado De cada dia o final.
Nova fauna, nova flora Eu vejo aqui no Sudeste O verde é permanente Diferente do Nordeste Ganho mais conhecimento Mas tenho meu pensamento Na minha vidinha agreste.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 12 de abril de 2023
UMA RODA DE GLOSAS - 24.05.21 (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
Quando sinto que a tristeza Se avizinha do meu peito Na danada dou meu jeito Pra isso tenho destreza Busco no canto a leveza Para os males espantar Quem quiser pode chegar Que esse canto é de união Pegue aqui na minha mão Vamos juntos cirandar.
Dalinha Catunda
Eu voltei a ser criança Brincando pela varanda Numa roda de ciranda Gostei daquela festança Entrei de cara na dança Comecei rodopiar Formamos um belo par Dando volta no salão Pegue aqui na minha mão Vamos juntos cirandar.
Araquém Vasconcelos
Peguei na mão de Ritinha Que pegou na de Alcinete Lindicassia, bem coquete, Segurou a de Dalinha Enxerida entrou Bastinha Seguiram a requebrar Sempre a rodar,a rodar No ritmo da emoção: Pegue aqui na minha mão Vamos juntos cirandar.
Bastinha Job
Na ciranda desta vida Volta e meia sempre dou Se as amigas vêm, eu vou Se não vêm, fico sentida Se Maria Aparecida Ou de Lourdes me chamar Largo tudo e vou dançar Pra tristeza eu digo não Pegue aqui na minha mão Vamos juntos cirandar.
Creusa Meira
O zabumba toma a guia Dá balanço o chocalho Já se ouve um farfalho Vai subindo uma agonia O salão se contagia Todos querem rebolar E o desejo de dançar Tem a força de um vulcão Pegue aqui na minha mão Vamos juntos cirandar.
Giovanni Arruda
Vou brincar nesta ciranda Abra a roda por favor Vou girando como for Meus passos só Deus comanda Pus nos cabelos lavanda Quando o vento arrepiar Cirandeiros vêm cheirar Com grande satisfação Pegue aqui na minha mão Vamos juntos cirandar.
Dulce Esteves
Deixe a rotina de lado Saia de dentro de casa Se divirta, extravasa, Vá prum forró arrochado Requebre bem apertado Dance a noite sem parar Com molejo a peneirar Dando voltas no salão Pegue aqui na minha mão Vamos juntos cirandar.
Joabnascimento
Nas noites alvissareiras Nas festas de São João, Eu fazia agitação Dançava nas brincadeiras Salão cheio de bandeiras O sanfoneiro a tocar Fazendo casais rodar Em geral a animação Pegue aqui na minha mão Vamos juntos cirandar.
Jairo Vasconcelos
Agradecer cada dia A alegria de viver E fazer por merecer Saúde, paz e harmonia Bom mesmo é a euforia Rime se quiser rimar Cante se quiser cantar Diga não a solidão Pegue aqui na minha mão Vamos juntos cirandar.
Francisco De Assis Sousa
Pesquisei nossa Ciranda. É na Cantiga de Roda, Que ela nunca cai de moda. É cantiga que sempre anda Nos festejos de varanda. Em rodas para dançar, Em festejo popular. Na roda, uns vêm outros vão. Pegue aqui na minha mão Vamos juntos cirandar.
Rosário Pinto
Pra quem gosta de ciranda E dançar na luz da lua Vem ser meu e serei tua No toque de qualquer banda Pois é a gente quem manda A poeira levantar Vamos ver o sol raiar No batuque do coração Pegue aqui na minha mão Vamos juntos cirandar.
Vânia Freitas
Em tempos de pandemia, Só mesmo fazendo festa. A jogada agora é esta: Em casa, ter alegria, Cantar e fazer poesia, Um Studio improvisar, Uma live organizar, Numa bela animação, Pegue aqui na minha mão Vamos juntos cirandar.
Chica Emídio
A ciranda move a vida a vida gera cultura, é alegria segura é brincadeira aguerrida. A cadência é divertida quem tá fora quer entrar, com garra pisotear com desmedida paixão. Pegue aqui na minha mão Vamos juntos cirandar.
Fátima Correia
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 05 de abril de 2023
ERA DOMINGO NO PARQUE (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
Era domingo no Parque Recordo com precisão Você me deu um abraço E apertou a minha mão Tinha dança e poesia Animando aquele dia De cultura e tradição.
Foi uma tarde animada Era festa no lugar Promessa de emoção Entrevi em seu olhar Olhando-me animado Quebrava o chapéu de lado Sempre a me cumprimentar.
Nesse dia entrei na roda Me enfeitei pra cirandar Você acenava eufórico Inquieto em seu lugar Eu de maneira brejeira Dançava toda faceira Somente pra me mostrar.
Pra você joguei um beijo E uma flor arremeti No ar você segurou E eu radiante sorri Era o cravo, era a rosa Entre um verso e uma prosa Girando no Cariri.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 29 de março de 2023
CONVERSA DE CALÇADA VIRTUAL 05.06.21 (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
A estrofe precisa começar sempre com o primeiro verso
* * *
Meti o pé na carreira Quando meu pai avistei Fui ao forró escondida Pra ninguém nada falei Quando vi lá do salão Meu pai com cipó na mão Confesso desembestei.
Dalinha Catunda- Rio de Janeiro-RJ
Meti o pé na carreira quando avistei Adalgisa Uma irmã muito braba E eu com a cara lisa Fiquei fazendo motejo Sem vergonha sem ter pejo Corri com medo da pisa…
Bastinha Job – Crato–CE
Meti o pé na carreira A hora estava marcada Faltando 5 minutos Pense que forte pisada Já ouvi do vigilante Você é o último, adiante A agência está fechada.
Rivamoura Teixeira
Meti o pé na carreira Com medo do boi zebu Vinha voltando da feira Do baixo Acaraú Não tinha pra onde saltar Eu tive que escapar No pé de mandacaru.
Araquém Vasconcelos
Meti o pé na carreira E quase peço socorro A sorte qu’eu tive sorte Consegui subir no morro Por cima de pedra e tudo De pressa fiz de escudo O tal dono do Cachorro.
Francisco De Assis Sousa – Barbalha-CE
Meti o pé na carreira ao ver quem tinha chegado, eu brincando um São João, dançando com o namorado, mamãe chegou sutilmente, tacou a peia na gente, foi cada um pra seu lado.
Anilda Figueiredo- Crato-CE
Meti o pé na carreira Cum medo de vosmicê Eu já tô véio, cansado Num posso mais lhe “atendê” No tempo que eu pudia Vosmicê num me quiria. O que mudô em você?
Marcelo José
Meti o pé na carreira Eu quase que não me venço. Pensei que tirei um lenço, Num dia de carnaval, Do”quengo”duma criatura ; Era um rolo de atadura, Ví nêga passando mal.
Wellington Santiago
Meti o pé na carreira Entre Barbalha e Jardim Com medo de um lobisomem Essa criatura ruim Assombrava todo mundo O tal Vicente Finim
Fabiana Vieira- Crato-CE
Meti o pé na carreira Debaixo da cajarana, Quando papai me chamou: – Vou brincar com jetirana! Ele não batia em nós, Cinco minutos após, Lá estava eu na chicana.
Chica Emídio – Crato-CE
Meti o pé na carreira No assanhar do maribondo Famoso pelo chapéu Com formato hediondo Venceu a corrida a vespa Minha cabeleira crespa Fervilhou de nó redondo
Giovanni Arruda- Fortaleza-CE
Meti o pé na carreira Quando o dono apareceu Na roça de melancia Por pouco não pegou eu Nenhuma pude levar Com medo de apanhar Uma pirôla me deu…
Jairo Vasconcelos
Meti o pé na carreira Quando vi a tal confusão, Naquele ano de oitenta e oito. Foi na greve dos cem dias. E gás para todo lado. Perdi até o meu calçado, Fugindo do camburão!
Rosário Pinto- Rio de Janeiro-RJ
Meti o pé na carreira No meio da escuridão Quando vi foi uma sombra Me fazendo assombração Se eu lhe contar o segredo Que eu estava era com medo Da sombra da minha mão.
Vânia Freitas – Fortaleza-CE
Meti o pé na carreira Quando a polícia chegou Assaltaram uma igreja O tenente me olhou Quando disse o sacristão Toda oferta vinho e pão Foi Ritinha que roubou
Ritinha Oliveira
Meti o pé na carreira Quase morri assustado Ao jogar pedra na Kombi Quase o vidro foi quebrado A minha irmã enredou O meu pai quando chegou Eu já tinha me mandado
Joabnascimento-Camocim-CE
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 22 de março de 2023
PIRIRI NO CARIRI (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
Eu vou contar uma história Que se deu no cariri Fui comer um mungunzá Deus do céu, como sofri A linguiça apimentada Me deixou agoniada E acabou em piriri.
Quando eu adentrei no carro Senti meu anel piscar A tripa engolindo a outra Minha barriga a roncar Eu sofrendo no sufoco Pra segurar o brioco Até em casa chegar.
O vuco vuco no rabo Aumentava de pressão Eu me benzia e rezava Pedindo a Deus proteção Rezei a Salve Rainha Me retorcendo todinha E o diabo do cu na mão.
Deu vontade de peidar Porém eu não me arisquei Com as pregas ajustadas Dessa vez eu segurei Se vem peido acompanhado Eu deixo o carro cagado De medo me arrepiei.
Dor na barriga aumentava Eu suava frio e quente Meu amigo dirigia Com sua mulher na frente E me vendo aperreada Dirigia em disparada Porém freou de repente.
Pensei: Dessa vez me cago! Mas o cu obedeceu A linguiça armazenada Graças a Deus não desceu Até criei alma nova O fiofó passou na prova Um milagre aconteceu.
Eu só sei que a viagem Parecia não ter fim A linguiça revoltada Mexia dentro de mim Tentando achar a saída Eu me sentindo perdida, Me apeguei com meu “Padim.”
Depois de muito sufoco Chegamos à residência O meu cu pedia pressa Mas desci com paciência Com medo de ali obrar Ao tentar me levantar Pois era essa a tendência.
Desci bem devagarinho Com a passada miúda Andando de perna junta E foi um Deus nos acuda Tentando me segurar E sem querer me assustar Eu seguia atenta e muda.
Quando cheguei ao banheiro O vaso me socorreu O que estava me matando Feito biqueira escorreu Mesmo quase desmaiada Suspirei aliviada Minha sorte intercedeu.
E não sei se obra de Deus Ou “Padim Ciço Romão” Não caguei tampa do vaso E nem respinguei o chão Me sentindo abençoada Depois daquela cagada Chorei fazendo oração.
Bem depois que dei vasão A minha desinteria Mudei a cor do semblante Até sorri de alegria E pensei toda animada: Já me sentindo curada, Hoje vou pra cantoria!
E pensando que a barriga Peça não ia pregar Tomei banho e me vesti Não poderia faltar Ao Festival de Viola Pro piriri não dei bola Me arrumei pra viajar.
Passou para me pegar Um carrão especial Bonito, cabine dupla, De conforto sem igual Então seguimos em frente Pro festival de repente Um programa cultural.
Foi o promotor do evento Meu amigo e aliado Que gentil fez o convite E eu havia concordado Mas foi falta de noção Pegar uma condução Estando naquele estado.
Eram três homens no carro De mulher apenas eu Os dois amigos na frente E sentado ao lado meu Um velho desconhecido Hoje bem arrependido Dessa viagem que deu.
Rumo a Caririaçu Parti cheia de vontade Pra conhecer os artistas Que estariam na cidade Muitos eu já conhecia Só que abraçá-los seria Reviver felicidade.
Duas coisas não sabia E dessa vez me lasquei É que lá fazia frio E casaco eu não levei Que a estrada tinha curvas Fiquei com as vistas turvas Por pouco não vomitei.
Começou o meu inferno Eu aqui pensei: bem feito! Como fui sair de casa Se a barriga deu defeito Na boca gosto de fel O vuco vuco do anel Foi me deixando sem jeito.
Comecei gemer pra dentro Para o povo não ouvir A cada curva e freada medo da merda sair Cada vez que escorregava Minha rosca eu segurava Com receio do porvir.
Hora eu segurava o vômito Hora o cu eu segurava Hora eu rezava pra Deus Horo o satanás xingava Pois o medo da cagada Me deixava agoniada Tudo isso me apavorava.
Após muito sofrimento Eu cheguei ao meu destino Enjoada da viagem Desde a boca ao intestino Saí do carro ligeiro Fui em busca do banheiro Ó meu Deus! Que desatino.
Quando cheguei ao banheiro Já cheguei com cu na mão O vaso estava lotado Quase que caguei no chão Com a bolsa no pescoço Ali fiz o meu destroço Fiz mira sem precisão.
Joguei a bunda pra trás Joguei o corpo pra frente Dei aquela chicotada Foi feito vaca e não gente E se eu não fizesse assim O vaso cagava em mim Disso eu estava ciente.
O pior veio depois Não gosto nem de pensar Despois desse descarrego Não vi papel pra limpar Descarga não funcionava Ali eu me apavorava Sem solução encontrar.
Sem água e também papel Em minha bolsa encontrei A nota de cem reais Que para gastar levei E uma linda toalhinha Nela bordada Dalinha Que de presente ganhei.
A dúvida me consumia E eu não via solução Sem querer usar a nota A toalha também não Deixar meu nome jogado Inda por cima cagado E minha reputação?
Só vi uma solução Mesmo assim era ariscado Passei o cu na parede Num canto só rebocado Tirei a minha calcinha Passei na bunda todinha Sem calça eu tinha ficado.
Quando cheguei ao salão Foi tentando me esconder O show tinha começado E pra ninguém perceber Bem no final eu sentei Já sentada respirei Lá ninguém ia me ver.
Não demorou muito tempo Do microfone escutei Que meu nome era citado Eu então me levantei Palavras em meu louvor Disse o apresentador Com gratidão acenei.
– Aqui presente, nós temos, A poeta cordelista Grande Dalinha Catunda Que é uma mulher benquista No salão ou no terreiro Veio do Rio de Janeiro Aplausos para essa artista?
Acenei, sorri, sentei, E continuei sentada E vendo a programação. Logo fui requisitada Para entregar um troféu Supliquei a Deus do céu Me proteja da cagada.
Pois o palco era bem alto Eu estava sem calcinha Se o anel não cooperasse Eu me cagava todinha Eu subi cada batente Pedindo ao onipotente Clemência para Dalinha.
Fiz uma pequena fala Para não me demorar O medo de estar fedendo Em mim era de lascar E mesmo passando mal Eu cumpri o ritual E a volta nem vou contar!
Esse episódio fatídico Terminou na rezadeira. Disse que foi mau olhado Essa minha caganeira. Me curou e me benzeu, Meu cu restabeleceu. Foi fato não brincadeira!
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 15 de março de 2023
UMA RODA DE GLOSAS - 20.06.21 (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
Se suspiro apaixonada É porque adoro a vida Não vivo desiludida Sempre adorno a caminhada Não sou mulher mal-amada E nesse meu versejar Monto palco pra atuar Com coragem e atitude Já se foi a juventude Mas prossigo a namorar
Dalinha Catunda
Tenho forte coração poesia no carinho Vou seguindo meu caminho Repleto de emoção Afinando o violão Lindo sem desafinar Conjugando o verbo amar Com o s da saúde Já se foi a juventude Mas prossigo a namorar
Rivamoura Teixeira
Na minha vida serei Um eterno apaixonado Vou deixando o meu legado Pelo mundo onde passei Sei que amar é maior lei Amarei, jardins, pomar, O povo, montanha e mar Porque tal mal não me ilude Já se foi a juventude Mas prossigo a namorar
Jairo Vasconcelos
É efêmera a mocidade Mas o amor nunca passa Viver feliz é uma graça Pra amar não tem idade Amo com intensidade Nunca paro de sonhar Flutuo leve no ar Sem temer a altitude Já se foi a juventude Mas prossigo a namorar
Araquém Vasconcelos
Desde a minha adolescência O meu coração suspira O sentimento me inspira E alimenta em mim, a essência A paixão é consequência Desse intenso ”mal” de amar Hoje vivo a suspirar Pelo amor em plenitude Já se foi a juventude Mas prossigo a namorar
Creusa Meira
Aquele amor que foi chama Que nem bombeiro apagava, Que ardia, que rolava Que quebrava toda cama, Se entrelaçava na trama, Hoje é só folha a boiar, Vivo só de recordar Que triste decrepitude: Já se foi a juventude Mas prossigo a namorar
Bastinha Job
Já passaram tantos anos Desde que nos conhecemos Cada dia acrescemos Graças por esses planos Fizeram – se soberanos Tu serás sempre meu par E nada fará mudar Espero que nada mude Já se foi a juventude Mas prossigo a namorar
Dulce Esteves
Quando moço era um estouro Eu vivia apaixonado Hoje, todo remendado Ergo o beiço qual um touro Quando o cheiro do namoro É trazido pelo ar Mas na hora de arrochar Não dá cola nem dá grude Já se foi a juventude Mas prossigo a namorar
Giovanni Arruda
Gosto de viver a vida Com carinho e alegria, Fazer amor com poesia, No Sol, no mar, na avenida; Com prazer cuido da lida, Sem esquecer de beijar Meu amor, ao me abraçar, Seu carinho é o que me ilude. Já se foi a juventude Mas prossigo a namorar
Chica Emídio
Todo amor quero viver Do presente e de outrora Segundo, minuto e hora E jamais quero esquecer Faço o que for pra fazer No tempo que me restar Tudo quero aproveitar Gozo de boa saúde Já se foi a juventude Mas prossigo a namorar
F. de Assis
Uma página da vida Duas três e sei lá quantas De histórias já são tantas Talvez alguma perdida Eu não sei se a mais doída Mas são muitas pra lembrar São tantas com o verbo amar Que coloquei no ataúde Já se foi a juventude Mas prossigo a namorar
Vânia Freitas
Lembro da melhor idade dos meus vinte e mais anos, com meus direitos humanos recheados de vontade… Vivi minha mocidade sem ter do que reclamar, fui do vinho ao caviar e não me faltou saúde… Já se foi a juventude Mas prossigo a namorar
David Ferreira
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 08 de março de 2023
UMA RODA DE GLOSAS - 08.07.21 (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
Eu nesse confinamento Tô feito boi no cercado Que cisca e fica enfezado Até o cão eu atento Dou coice que nem jumento Sem rédeas quero ficar Mas devo me resguardar Saúde é prioridade: Quem dera ter liberdade Só para escruvitiar
Dalinha Catunda
De cabeça atubibada Muita coisa me azucrina Não vou no bar da esquina Pegar a loura suada A vida tá bitolada Esse vírus de lascar Veio aqui pandemiar E trazer ansiedade Quem dera ter liberdade Só para escruvitiar
Rivamoura Teixeira
O vírus me diz que não Meus amigos dizem sim Estou esperando o fim. Da pandemia do cão Pra sair deste alçapão Ser livre pra passear Sem máscara pra sufocar Matar esta ansiedade Quem dera ter liberdade Só para escruvitiar
Araquém Vasconcelos
Há tempos vivo trancada Igual uma criminosa A vida maravilhosa Há dois anos tá parada A China amaldiçoada Quer ser potência a reinar Fez o vírus circular Já perdi a sanidade: Quem dera ter liberdade Só para escruvitiar
Bastinha Job
Nessa tal de pandemia Fiquei muito estressada Vivo só encafurnada Tô brigando todo dia Cachorro, gato que mia Meu papagaio a gritar Eu mandando se lascar Não falei nem a metade Quem dera ter liberdade Só para escruvitiar
Dulce Esteves
Veio Uma Tal De Vacina Pra Dá Fim Ná Pamdemia Morre Gente Todo Dia Os Medicos Nem Examina O Virus Que Veio Dá China Tá Dificio De Matar Os Que Os Medicos Entubar Vái Para A Eternidade Quem dera ter liberdade Só para escruvitiar
Alberto Francisco
Acabando a pandemia Compro um par de Havaiana Vou andar toda semana Pelas sete freguesia(s) E só vou voltar no dia Que a tira se soltar GPS não vai me achar No sítio nem na cidade Quem dera ter liberdade Só para escruvitiar
F. de Assis Sousa
O pior desta prisão É o trabalho que dá Limpa aqui, limpa acolá Lava roupa, faz pirão Não tenho descanso, não O bom mesmo é passear Bater um papo no bar Isso é que é felicidade Quem dera ter liberdade Só para escruvitiar
Creusa Meira
Há dois anos que não saio. Sempre nesta Agonia. Xô! Vai embora Pandemia. Passou Abril, passou Maio, Na janele de soslaio, Levo a vida a contemplar. Quero pintar e bordar… No Rio e em toda cidade, Quem dera ter liberdade Só para escruvitiar
Rosário Pinto
Tô preso sem ser julgado Não sei, o tamanho da pena Por qual crime me condena Nem adianta advogado O jeito é ficar calado Deixando o tempo passar Todos tem que se trancar Pra não ir, pra eternidade Quem dera ter liberdade Só para escruvitiar
Jairo Vasconcelos
Eu nunca pensei um dia Ver o povo engaiolado Escola sem alunado E trabalho em moradia Já tá me dando agonia Não posso nem passear Tô doido pra fofocar Passo até necessidade Quem dera ter liberdade Só para escruvitiar
Giovanni Arruda
Ninguém sabe o que fazer Com o vírus que demora Durmo sem pensar na aurora E o tempo passa a correr Parece que vou morrer De tristeza e falta de ar Tô doida pra viajar Para matar a vontade Quem dera ter liberdade Só para escruvitiar
Vânia Freitas
Eu estou enclausurado Nessa triste quarentena Eu já sinto até gangrena No meu tornozelo inchado Por viver aprisionado Sem poder me ausentar Nem tomar uma no bar E mentir barbaridade Quem dera ter liberdade Só para escruvitiar
Joab Nascimento
Essa tal de pandemia Me deixou desassossego, Proibiu meu aconchego E se fez anomalia, Causando melancolia A quem com ela encontrar. Resta a todos esperar A total imunidade, Quem dera ter liberdade Só para escruvitiar
Chica Emídio
Em tempos de pandemia tal qual essa que vivemos, inda que nós expressemos nossa paz, nossa alegria, em favor de um novo dia, será mero verberar muito menos granjear nossa própria idoneidade… Quem dera ter liberdade Só para escruvitiar
David Ferreira
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 01 de março de 2023
CARREIRÃO DA DESDITA (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
Que peste medonha! Meu Deus, que agonia… Que rouba do povo, a sua alegria. É a Besta-fera, Que mata e arrepia. É o trem da morte Que não alivia. Me acuda Jesus! Socorro Maria! Livrai nosso povo, Desfaça a magia, Dê fim na desgraça, Que nos contagia. Eu já fiz promessa, Rezo todo dia, Velar nossos mortos A gente queria Um enterro decente Antes se fazia Tudo virou cinzas Nesta pandemia.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 22 de fevereiro de 2023
QUANDO EU BRINCAVA DE RODA (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)E
Conversa de Calçada Virtual coordenada por esta colunista
Quando eu brincava de roda Lá no meu interior Era menina feliz A vida tinha calor Eu soltava minha voz Pra cantar: “Ó Linda flor.”
Dalinha Catunda/ Rio de Janeiro–RJ
Quando eu brincava de roda Bem novinho, ainda moço A mão na mão da menina Outra mão lá no pescoço Mas a brincadeira boa Era a de cair no poço.
Marcos Silva/São Paulo-SP
Quando eu brincava de roda Em noite de lua cheia Na brincadeira de anel Ou pisando o pé na areia Dava a mão pra meninada Todos gritavam: sereia!
Creusa Meira/ Bahia
Quando eu brincava de roda No terreiro lá de casa A lua era testemunha Da felicidade rasa No ritmo da ciranda Cirandando, criava asa.
Chica Pessoa/Pentecoste-CE
Quando eu brincava de roda No pátio da minha escola Toda hora do recreio Hoje a saudade me assola Me lembro dela fardada E um par de brinco de argola
Jairo Vasconcelos
Quando eu brincava de roda Atirava o pau no gato Que brincadeira perversa Falta de mimo de trato Mas ganhei delicadeza Quando vim morar no Crato
Bastinha Job/Crato-CE
Quando eu brincava de roda Já Doido Pra Namorar Adorava O Cai No Poço Para As Meninas Beijar Moro Em Cruz De São Francisco Estado Do Ceará.
Alberto Francisco/Cruz de S. Francisco-CE
Quando eu brincava de roda Com um vestido de bolinha, Era grande a alegria No terreiro da cozinha; Meus irmãos faziam festa, Mas essa lembrança é minha!
Chica Emídio/Crato-CE
Quando eu brincava de roda Pus ponteira no pião Arremessava bem ancho Ele rodava no chão Depois eu curtia a dança Na palma da minha mão
Rivamoura Teixeira
Quando eu brincava de roda Nossa noite, era um festeiro Os vagalumes piscando Indo em busca do pereiro Lua e as estrelas se via Alumiando o terreiro.
Maria Nelcimá Morais-Paraíba
Quando eu brincava de roda Era uma grande alegria Cantava a bela cantiga Saudando a sintonia E cantando lentamente De mãos dadas bem contente Bem feliz, me divertia…
Ivonete Morais/Fortaleza-CE
Quando eu brincava de roda Me soltava por inteira Eu não cantava, gritava Era meio baderneira Gostava de confusão Pra ver subir a poeira.
Vânia Freitas/Fortaleza-CE
Quando eu brincava de roda Na latada do terreiro Você brincava comigo Eu já era presepeiro Tava de má intenção Você querendo minha mão Eu querendo seu traseiro
Xico Bizerra, Crato, Recife
Quando eu brincava de roda Sempre ao anoitecer Era muito divertido Sem ter nada pra fazer Inocente na maldade Do que iria acontecer!
Joabnascimento/Camocim-CE
Quando eu brincava de roda Bila bojo e pega pega De ciranda cirandinha De soldado cabra cega Pra criançada de hoje Isto tudo é coisa brega
Araquém Vasconcelos/Santana do Acaraú-CE
Quando eu brincava de roda Eu puxava a cantoria Minhas amigas dançando Reinava muita alegria No terreiro lá de casa Em ritmo de melodia.
Dulce Esteves- Recife-PE
Quando eu brincava de roda Lá nas bandas do sertão Com a turma de amigos Numa noite de São João Também soltava chuvinha E os traques de salão.
Rosário Lustosa Juazeiro do Norte-CE
Quando eu brincava de roda Me enchia de emoção Pois o meu amor platônico Ao pegar na minha mão Eu não sei se eu me elevava Ou se o céu descia ao chão
Giovanni Arruda/ Fortaleza-CE
Quando eu brincava de roda A vida era uma alegria. E lá no quintal de casa, Tudo em volta era magia. Meu pai tocando viola, Em noites de cantoria.
Rosário Pinto
Quando eu brincava de roda Eu era a estrela-guia Cantava alegremente Com perfeita sinfonia Cirandeira envolvente Ladeada de harmonia.
Lindicássia Nascimento/Barbalha-CE
Quando eu brincava de roda Era um pouquinho arteira Corria, puxava a roda Gostava da bagaceira Só achava divertida Se a roda fosse ligeira.
Francy Freire/Crato-CE
Quando eu brincava de roda Segurava na tua mão Meu coração disparava Eu tremia de emoção Hoje já nem reconheço Minha primeira paixão
Fabiana Gomes Vieira/ Crato-CE
Quando eu brincava de roda Nos meus tempos de criança Batava laço de fita Na ponta de cada trança Era menina feliz E repleta de esperança.
Anilda Figueiredo/ Crato-CE
Quando eu brincava de roda Só participava se nela Tivesse também brincando Minha prima Gabriela A coisa que mais gostava Era quando a roda embalava Eu pegado na mão dela.
Francisco de Assis Sousa/Barbalha-CE
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 15 de fevereiro de 2023
CIRANDEIRAS EM MOVIMENTO (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
Nesses meus versos rimados Quero lhes apresentar Um grupo de Cordelistas Que soube se reinventar Pois mesmo com pandemia Não perdeu sua alegria E resolveu cirandar.
Mulheres empoderadas Não perdem sua razão Aprendem a voejar Quando lhes roubam o chão Quem tem asas pra voar E sempre soube sonhar Faz remota atuação.
Todas elas se arrumaram Vestiram saias de chita Umas com flor nos cabelos Outras com laço de fita Se animaram pra cantar Pra dançar e declamar E ficaram bem na fita.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 08 de fevereiro de 2023
UMA RODA DE GLOSAS - 24.08.21 (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
Nem bem o dia amanhece Já está em meu quintal O seu canto matinal É canto que me enternece Mas comida só merece Quem tem rumo e direção Não cedo alimentação Pra quem sempre vai e vem: Pra rola só dou xerém Se comer na minha mão.
Dalinha Catunda
Também não darei moleza À rola ou a periquito, Mesmo sendo bem bonito, Pode ter toda a certeza; Beleza nunca põe mesa E nesses tempos então Só abro uma exceção Com aval de Araquem: Pra rola só dou xerém Se comer na minha mão.
Bastinha Job
Já tive no meu terreiro uma rola sem futuro, me procurava no escuro e me acertava o traseiro, com seu jeito interesseiro, não queria meu pirão, mas só arroz com feijão, na hora do vai-e-vem. Pra rola só dou xerém Se comer na minha mão.
Anilda Figueiredo
Eu adoro passarinho… Mas sou fã do periquito Esse do mote esquisito Não põe ovo no meu ninho Pra ficar tudo certinho Eu digo com precisão Essa rima é o cão Esse verso não convém Pra rola só dou xerém Se comer na minha mão.
Giovanni Arruda
Quando o pássaro é manso Basta um dedo em riste Botar painço e alpiste Que vem fazer o descanso Já criei patos e ganso Sabiá corrupião Acabava com a ração Não me sobrava um vintém Pra rola só dou xerém Se comer na minha mão.
Araquém Vasconcellos
Canta lá no cajueiro Que fica no meu canal Um rebanho de pombal Me consola o dia inteiro Mais não chega no terreiro Nem na janela do oitão Eu tenho essa opinião Pode ser pardal, quem quem Pra rola só dou xerém Se comer na minha mão.
Jairo Vasconcelos
Eu escuto o passarinho Mas grito com dedo em riste Posso dar xerem, alpiste Se ele sair do ninho Se eu escutar bem cedinho Um canto em tom de canção Mas se ele só diz não E não canta pra ninguém Pra rola só dou xerém Se comer na minha mão.
Rivamoura Teixeira
Eu criava uma rolinha Um dia fiquei zangada Ela vivia escorada Peguei a tal passarinha Ficou mais mole a bichinha Eu dei nela um arrochão Sapequei ela no chão E pelei o seu sedém Pra rola só dou xerém Se comer na minha mão.
Ritinha Oliveira
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 01 de fevereiro de 2023
SORTILÉGIO LUNAR (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
O marido de Maria Era caboclo exigente… Deixava a mesma doente, De tanto que lhe afligia. Quando ela se aborrecia, Gritava desaforada: Tu aqui não mandas nada! Acho bom ficar calado! Não venha com leriado, Hoje estou destabacada!
Dalinha Catunda
De ser Amélia eu cansei Disse Adélia para o Joca Hoje tu num me provoca Hoje nem rezar rezei Chá calmante não tomei Desci da rede avexada Andei dando uma topada Não aceito seu fungado Não venha com leriado, Hoje estou destabacada!
Rivamoura Teixeira
Todo dia tô assim Já perdi até a alma Com ela perdi a calma Tô quase vendo meu fim coitadinha, ai de mim Me tornei esclerosada Me chamam até de coitada Esse é meu triste fado: Não venha com leriado, Hoje estou destabacada!
Bastinha Job
Deixa de conversa mole Hoje tô com a mulesta Dois chifres na tua testa Pois , comigo ninguém bole E tomava mais um gole Dando grossa cusparada Pense na desaforada O seu véi desmascarado Não venha com leriado, Hoje estou destabacada!
Dulce Esteves
Tereza tinha uma bar Perto da rua da feira Não topava brincadeira Era de pouco falar Um bobo quis lhe cantar Tereza deu uma pernada Bem em cima da danada Vá pra casa seu tarado Não venha com leriado, Hoje estou destabacada!
Jairo Vasconcelos
Dormiu com raiva de sobra Enfezada com o marido Mulherengo, pervertido Torto feito uma abobra Ela quem criou a cobra Cedo amanheceu picada Braba, doida, aporrinhada… E chegou dando o recado Não venha com leriado, Hoje estou destabacada!
F. de Assis Sousa
Não sou de muita falar Comigo pouca palavra Rende mais na minha lavra Quando quero descascar Boto logo pra lascar Quando tô de pá virada E ferida descascada Não vou com muito babado Não venha com leriado, Hoje estou destabacada!
Vânia Freitas
Zefinha cravo e canela Possuía uma cantina Com doces e cajuína Pinga branca e amarela O povo gostava dela Mas era um pouco zangada Se ouvisse uma cantada Gritava pro aletrado Não venha com leriado, Hoje estou destabacada!
Araquém Vasconcelos
Que bonito é ver alguém, sobretudo, uma mulher, dizer tudo o que ela quer sem temer, pois, a ninguém. A minha, medo, não tem, diz que não me deve nada e, um dia, meio amuada, me fez ouvir seu recado: Não venha com leriado, Hoje estou destabacada!
David Ferreira
Minha mulher é amiga Não gosta de baixaria É bem calma, voz macia Não faz mal uma formiga Mas vira galo de briga Parte logo pra mãozada Se eu varar a madrugada E chegar embriagado Não venha com leriado, Hoje estou destabacada!
Giovanni Arruda
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 04 de janeiro de 2023
CONVERSA DE CALÇADA VIRTUAL (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
Eu nasci no Ceará Sou cabocla experiente Eu sou metida a gaiata Porém sou mulher decente E pra falar a verdade Não gosto de intimidade Com macho que é indecente.
Mensagens eu recebi Nesse tal de celular E parece que o sujeito Queria me conquistar Ô sujeitinho safado Cabra metido a tarado Não sou mulher de aturar.
Começou a pedir Nudes Perguntei: Que diabéisso? Nem deixei ele explicar Pois eu tenho compromisso Já estava quase explodindo E o ente me perseguindo Nem gosto de falar nisso.
A bate-boca esquentou Eu xinguei o cidadão Se eu tivesse cara a cara Tinha lhe sentado a mão E até vergonha me deu Pois o corno resolveu Entrar na esculhambação.
Acredite minha gente No que agora vou falar O cínico me pediu E queria me forçar Você é uma senhora Mas quero seu PIX agora Nem diga que não vai dar.
É claro que não vou dar Sujeitinho descarado O meu PIX já tem dono Deixe de ser abusado Se você mexer comigo Vai mesmo é correr perigo Garanto que tá lascado.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 14 de dezembro de 2022
PROFESSORINHA DO INTERIOR (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
Esta é minha homenagem a minha tia Isa Catunda professora que lecionou durante muitos anos na cidade de Ipueiras, CE. Ela teve em vida, o carinho e o reconhecimento de muitos que passaram por sua sala de aula. Hoje ela já não vive fisicamente entre nós, mas continua a ser um espírito de luz a nos iluminar.
Renegou a palmatória. Sabia contar história. Tinha a meiguice da flor. Tinha o dom de encantar, Gostava de lecionar A Mestra do interior.
Não teve filhos na vida, Mas era a tia querida, Que a criançada adotou. Irradiava magia, Era Filha de Maria, Catecismo me ensinou.
Era fina e elegante, Joia rara, um diamante, Com todo seu esplendor. Um ser de luz e beleza Pro céu levou sua pureza, E aqui deixou muito amor.
Esse anjo de quem falo, Rasgo meu peito e não calo, Habita o meu coração. É tia Isa querida, Que já deixou essa vida, Vive em outra dimensão.
Isa Catunda de Pinho, Teve um bonito caminho, Enquanto pode ensinou. Essa doce criatura Que viveu para a cultura Seu legado me deixou.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 07 de dezembro de 2022
Ô VÉIA PRA ENXERGAR! (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
Minha mãe é poetisa, E sempre gostou de ler, Mas ficou com a vista curta, Começou seu padecer. Com receio de cegar, Resolveu se consultar, Para a vista não perder.
O doutor disse ligeiro Sem rodeio sem bravata: – Aqui pelo que estou vendo O seu caso é catarata! Uma simples cirurgia, Vai fazer sua alegria, Vamos já marcar a data.
Mamãe ficou animada, Cheia de satisfação, Falava pra todo mundo, Dessa sua operação. Outra coisa não falava, Todo dia ela rezava, Pra dar certo a intervenção.
Não demorou muito tempo Ela foi paro o hospital, E por causa da idade Mamãe precisou de aval, Mas depois de operada, A vista foi renovada, E ficou especial!
Hoje quando alguém pergunta, Se vê mesmo, ou se é fofoca, Ela diz que enxerga até “Priquito” de muriçoca, E nem pense em contestar! Pois língua pra argumentar, Ela tem bem grande e choca.