Almanaque Raimundo Floriano
Fundado em 24.09.2016
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, dois genros e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 20 de novembro de 2024

MULHER DE RAÇA (CORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA)

MULHER DE RAÇA

Dalinha Catunda

Neguinha sou para amigas
Minha nega pro amado
Sou morena citadina
Meu cabelo é ondulado
Sou dona das minhas ventas
Sou das mulheres atentas
Tenho nariz empinado.

Sou cabocla sertaneja
E trago no matulão
A astúcia da matuta
Que desbravou o sertão
E que não poupou canela
Quando abriu sua cancela
Buscando libertação.

Da fralda da Ibiapaba
Sou das alas das guerreiras
Agarrada ao jacumã
Enfrentei as corredeiras
Em cima duma piroga
Sou guerreira que se joga
Nas águas das Ipueiras

Sou a mistura das raças
Sou a miscigenação
Sou Catunda, sou do Prado
Tenho sangue de Aragão
Sou cunhã, sou companheira,
Sou concubina parceira
Eu só não sou é padrão.


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 13 de novembro de 2024

UMA RODA DE GLOSAS - 18.04.24 (CORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA)

UMA RODA DE GLOSAS

Dalinha Catunda

Mote desta colunista:

Mas se for pra cozinhar
Digo: num cozinho não!

Bom convite recebi,
Mas na hora da entrevista
Eu não baixei minha crista
E o cargo não assumi.
Pois pelo que pressenti.
Cheirava a exploração.
Lavar roupa e limpar chão,
Eu faço sem reclamar,
Mas se for pra cozinhar
Digo: num cozinho não!

Dalinha Catunda

Certa feita me chamaram,
Para fazer um churrasco,
Confesso, quase me lasco,
Porque não me avisaram,
Os convidados chegaram,
Nada estava pronto, não,
Falei para o cidadão,
Você vai me desculpar:
Mas se for pra cozinhar
Digo: num cozinho não!

Joabnascimento

Já fiz tudo nesta vida:
Plantei semente e caroço
Comi carne de pescoço
Fui lágrimas na partida
Fui remédio de ferida
Fiz gaiola e alçapão
Fiz cacimba e cacimbão
Tudo fiz sem reclamar,
Mas se for pra cozinhar
Digo: num cozinho não!

Arimatéa Sales

Recebi boa proposta
Na casa de dois barões
Era pra ganhar milhões
Mesa forrada e bem posta
Um povinho metido à bosta
Veio me propor serão
Pratos sujos de montão
Pra besta “eu “ter que lavar
Mas se for pra cozinhar
Digo: num cozinho não!

Dulce Esteves

 

Posso até ir no roçado
Me meter na tiririca,
Pra fazer sua canjica
Me viro pra todo lado
Deixo o milho preparado
Ponho a massa no fogão
Sem fazer qualquer questão
Pro curau lhe agradar
Mas se for pra cozinhar
Digo: num cozinho não!

Giovanni Arruda

Sempre sou objetivo
Num sou de cozinhar galo
Se eu entro no embalo
É porque tive motivo
Eu num sou um morto vivo
Cheio de indecisão
Eu já entro em ação
Vamos quero começar
Mas se for pra cozinhar
Digo: num cozinho não!

Rivamoura Teixeira

Aqui em casa eu faço tudo
Limpo o chão, lavo banheiro
Cato as folhas do terreiro
As roupas lavo e sacudo
Com o neto, até estudo
Para ensinar a lição
Jogo o lixo, compro pão
Faço o que mais precisar
Mas se for pra cozinhar
Digo: num cozinho não!

Creusa Meira

Cá garanto que euzinha
Não sei nem fritar um ovo
Parada, eu não me movo,
Essa praia não é minha,
Socar alho na cozinha
Jamais porei uma mão
Nem meu pai Eva e Adão
Invoco pra me ajudar:
Mas se for pra cozinhar
Digo: num cozinho não!

Bastinha Job

Eu já sei fazer café
Fritar um ovo também
Passar fome não convém
Não vivo de marcha ré
Eu deixo para mulher
Não tenho dom pra isto não
Sei comer lavar a mão
Os pratos eu sei lavar
Mas se for pra cozinhar
Digo: num cozinho não!

João Roberto Coelho

Lasquei lenha no cercado
Plantei feijão na vazante
Era tudo hilariante
Mesmo mexendo com gado
Me sentia pau mandado
Às vezes bebê chorão
Comia carne e pirão
E sem nunca espernear
Mas se for pra cozinhar
Digo: num cozinho não!

Vânia Freitas

Vou ao mato, corto lenha
Boto milho pras galinhas
Dou água pras cabritinhas
Me soco no meio da brenha
Mas se me chamarem venha,
Beber pinga com limão
Vou correndo, meu irmão
Minha caninha tomar
Mas se for pra cozinhar
Digo: num cozinho não!

Jerismar Batista

Bom mesmo é comer cru
Assim acho mais gostoso
Preparadinho oleoso
E depois boto o chuchu
Pra terminar meu menu
Passo maionese no agrião
Na cenoura e no açafrão
E como em qualquer lugar
Mas se for pra cozinhar
Digo: num cozinho não!

F. de Assis Sousa

Na cozinha japonesa
já investi minha grana
procurei moça bacana
nem tanto por sua beleza,
foi mais por sua destreza
e por ver sua aptidão
pegando o peixe na mão.
– O seu peixe eu vou tratar,
Mas se for pra cozinhar
Digo: num cozinho não!

Zé Salvador

Eu topo qualquer parada
Só não vou para a cozinha,
Porque a destreza minha
É da labuta pesada.
Manejo foice e enxada
Com serrote ou com formão,
Trabalho na construção
Tijolo, eu sei assentar,
Mas se for pra cozinhar
Digo: num cozinho não!

Alberto Quintans


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 06 de novembro de 2024

UMA GLOSA (CORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA)

UMA GLOSA

Dalinha Catunda

Tanta mulher dando sopa
E eu sem colher pra tomar.

Mote de Abel Fraga

Quando tinha pouca idade
Me achava um garanhão
Não me faltava tesão
Digo com sinceridade
Provei da felicidade
E mais queria provar
Mais vi o pinto arriar
Não vai mais de vento em popa
Tanta mulher dando sopa
E eu sem colher pra tomar.

Este mote está no livro A Prisão de São Benedito, de autoria do Editor Luiz Berto.


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 30 de outubro de 2024

NÃO ME AVEXE NÃO! (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

NÃO ME AVEXE NÃO!

Dalinha Catunda

De poeta e de louca
Eu tenho minha quantia
Tem horas que jogo pedra
Noutras faço poesia
Quando chega o aperreio
Que fico de saco cheio
Minha razão avaria.

Não sou mulher de motim
De bando também não sou
Penso com minha cabeça
Seguir magote não vou
Não sou mulher melindrada
O papel da vitimada
Minha garra dispensou.

Não compro briga dos outros
Pra ficar em evidência
Por favor não me acumule
Tenho pouca paciência
Pois quando o caso é comigo
Não meto nenhum amigo
Tomo logo providência

Nunca gostei de cobranças
Não cobro amor a ninguém
E para ser bem sincera
Nem amizade também
Sentimento é conquistado
Jamais será fabricado
Só se dá quando se tem.


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 23 de outubro de 2024

SUBI NA PIROGA E PEGUEI NO JACUMÃ (CORDEL DA COOLUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA)

Foto desta colunista

Num passeio inusitado
Fui visitar uma oca
Um índio quase pelado
Levou-me a sua maloca
Nessa bonita manhã
Pegando em seu jacumã
Saí com ele da toca.

O passeio foi bonito
Em meio a natureza
Subi na sua piroga
E achei uma beleza
E no banho no riacho
Ele perdeu o penacho
Que caiu na correnteza.

Ao voltarmos do passeio
Eu estava esbaforida
Ele me trouxe cauim
Eu aprovei a bebida
Não saí daquela loca
Sem entrar na mandioca
Gostei muito da comida.


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 16 de outubro de 2024

DIA DAS MÃES (CORDEL DA COLUNSITA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA)

DIA DAS MÃES

Dalinha Catunda

Quem no mundo lhe botou
Merece ser bem tratada.

Mote desta colunista

Quem tem sua mãe idosa
Cuide dela, por favor.
Dê carinho, dê amor,
Visite, troque uma prosa.
Seja gentil, prestimosa,
Mesmo não sendo obrigada,
Mãe é para ser cuidada.
Pois quem de você cuidou,
“Quem no mundo lhe botou,
Merece ser bem tratada!”

Dalinha Catunda

A mãe cuida do seu filho
Desde o ventre, com amor,
Nos seus braços, dá calor,
Seu olhar tem luz e brilho.
Embalando no estribilho,
Vai até de madrugada.
Nunca se mostra cansada,
A vida lhe dedicou.
“Quem no mundo lhe botou,
Merece ser bem tratada!”

Creusa Meira

Mamãe com noventa e três
Com sua maturidade
Preza sempre a verdade
Vive com a sensatez
A sua vida refez
Uma mulher abnegada
Reza na sua jornada
Papai é o seu amor
“Quem no mundo lhe botou,
Merece ser bem tratada!”

João Roberto Coelho

Se minha mãe estivesse
Ao meu lado, aqui comigo,
Esse caminho que sigo
Muita saudade lhe tece;
Minha mãe vive na prece
Além da curva da estrada
A reta é nova jornada:
Digo ao filho que ficou:
“Quem no mundo lhe botou,
Merece ser bem tratada!”

Bastinha Job

Minha mãe é a poesia
Que reina em meu coração
É a maior inspiração
Dona da minha alegria
Parece a Virgem Maria
Tão pura, tão dedicada
No seu ventre fui gerada
Pra hoje ser o que sou
“Quem no mundo lhe botou
Merece ser bem tratada!”

Lindicássia Nascimento

No seu ventre concebida
Um fruto de tanto amor
No seu colo protetor
Com devoção e guarida
Foi Mãe de Deus escolhida
Em todo CÉU entronada
É para ser ” endeusada”
Em qualquer lugar que for
“Com carinho e muito amor
Merece ser bem tratada.”

Dulce Esteves

É uma missão Divina,
Missão mandada por Deus,
Pra cuidar dos filhos seus,
Toda mãe tem essa sina,
Com muito amor ela ensina,
A criança ser educada,
Com afeto ela é amada,
Pela mãe que lhe gerou,
“Quem no mundo lhe botou,
Merece ser bem tratada.”

Joabnascimento

Minha grande genitora
Se foi deixando saudade
Uma santa de verdade
Mãe, amiga e professora
A melhor educadora
Por todos nós adorada
Vivenciou a jornada
Até que Deus a chamou
“Quem no mundo lhe botou
Merece ser bem tratada.”

Jerismar Batista

Minha mãe não tenho mais
Aqui na terra comigo
E uma coisa lhe digo
Que falta que ela faz
Eu hoje inda sou capaz
De vê-la toda animada
Jogando co’a meninada
De bola no corredor
“Quem no mundo lhe botou
Merece ser bem tratada.”

Giovanni Arruda

Minha mãe merece amor
Eu a guardo no coração
Ela me ensinou boa ação
Sempre ofereço uma flor
Levo comigo onde eu for
E sempre bem agarrada
Ela me ensinou a estrada
Porém no colo me levou
“Quem no mundo lhe botou
Merece ser bem tratada.”

Euza Nascimento

Nascer de fato é uma graça
que só quem vive agradece;
é algo que só merece
quem de fato a vida abraça
e o próprio destino traça:
transformando, pois, o nada
a obra viva e sagrada,
conforme Deus confiou…
“Quem no mundo lhe botou
merece ser bem tratada.”

David Ferreira

Mãe é tão especial
Que se doa por amor
Seja o filho ou não doutor
Ela cuida por igual
Este ser angelical
Deve ser tão bem cuidada
É por Deus abençoada
Quem tanto nos abençoou
“Quem no mundo lhe botou
Merece ser bem tratada.”

Vânia Freitas

Maternizar é papel
Que confere santidade,
Mas mexe na sanidade
Porque o mundo é cruel,
É como fazer rapel
Sem a corda apropriada,
É virar noite acordada
Porque seu bebê chorou.
“Quem no mundo lhe botou
Merece ser bem tratada.”

Nilza Dias

Mãe, palavra mais sublime
Entre as palavras pequenas,
São três letrinhas apenas,
Mas tudo de bom exprime;
O seu amor nos redime
Da ingratidão praticada,
Sem se magoar por nada
Perdoa ao filho que errou;
“Quem no mundo lhe botou
Merece ser bem tratada.”

Joames

A mãe carrega a ternura,
E é tão doce o seu olhar.
Ela conhece o cuidar.
E é fonte de cultura.
Acalanta com leitura.
Nos mostra o Conto de fada,
Nos fala de onça pintada.
Cantigas, sempre cantou.
“Quem no mundo lhe botou,
Merece ser bem tratada!”

Rosário Pinto

Eis de toda criação
Divinal a mais bendita
Sendo mãe é infinita.
Transbordante de afeição
De amor e dedicação
Para os filhos/a consagrada
Mil vezes admirada
A quem grato sempre sou
“Quem no mundo lhe botou
Merece ser bem tratada.”

F. de Assis Sousa

 


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 09 de outubro de 2024

AGORA SÓ DOU O PÉ (CORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA)

AGORA SÓ DOU O PÉ

Dalinha Catunda

Se todo cuidado é pouco
Eu me resguardo na fé
Meu marido quando pede
Eu nego até cafuné
Em cantada já não caio
Tô igual a papagaio
Agora só dou o pé.


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 25 de setembro de 2024

EXALTANDO A NATUREZA (CORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA)

EXALTANDO A NATUREZA

Dalinha Catunda

Fotos desta colunista

Eis-me aqui neste recanto
E sem arrependimento
Dos pássaros ouço o canto
Bendigo cada momento
A brisa traz acalanto
Viajo no pensamento.

Desfruto dessa bonança
No verde desse lugar
No peito cresce a esperança
Assim me ponho a sonhar
Nos passos da nova dança
Danço sem me alvoroçar.

Contemplando a natureza
Obra de Nosso Senhor
Onde a lua é realeza
Onde o sol tem esplendor
Celebro toda beleza
Nesses meus versos de amor.


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 18 de setembro de 2024

A VIDA É: (CORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA)

A VIDA É:

Dalinha Catunda

A vida é uma montanha,
Que escalamos pra chegar.
Quando alcançamos o topo,
É hora de regressar.
Quem aprendeu na subida,
No declínio da descida,
Saberá como atuar.

 

 


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 11 de setembro de 2024

SÃO JOÃO NA ROÇA (CORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA)

SÃO JOÃO NA ROÇA

Dalinha Catunda

São João na Roça - Documentário

 

Hoje acordei com saudades
Das festas do meu sertão
De matuta me trajava
E cheia de animação
Com meu vestido de chita
Chapéu e laço de fita
Feliz dançava o São João.

Enxerida e dançadeira
Nunca me faltava par
Pra dançar numa quadrilha
Nas festas do meu lugar
Tudo hoje é diferente
Até o São João da gente
Acharam por bem mudar.

No São João de Antigamente
Tudo era especial
O noivo e a noiva vinham
No lombo dum animal
Ou então numa carroça
Assim era lá na roça
No São João tradicional!

No casamento matuto
Era um Deus nos acuda
Noivo querendo fugir
Da noiva já barriguda
De espingarda na mão
Fazia o pai confusão
E ao juiz pedia ajuda.

O vigário embriagado
Cambaleava no altar
O pai que não sossegava
Gritava vou já matar
Ou casa ou eu não dou trégua
Nesse filho d’uma égua
Eu atiro é sem mirar.

O delegado chegava
E acabava a confusão
O noivo então se casava
Pra não mofar na prisão
Com barulho de foguete
Principiava o banquete
Assim era a tradição.

 

Quem comandava a quadrilha
Lá no meu interior
Era só gente da gente
E eu dava o maior valor
No momento de ensaiar
Do nosso bom linguajar
Valia-se o gritador.

Foi a caminho da roça
Transbordando de alegria
Que passei com meu amor
Num túnel de fantasia
Mas na primeira manobra
Quando eu ouvi, Olha a cobra!
Eu gritei: Ave Maria!

Olha a cobra, olha a chuva
Tudo era encenação
A cobra não assustava
Chuva não caía não
No giro que a roda dava
Eu fui dama coroada
Em cada apresentação.

No cumprimento das damas
Rapaz tirava o chapéu
A dama se derretia
Sentindo-se lá no céu
Quando a dança terminava
A folia começava
Era grande o escarcéu.

A mulherada corria
Para fazer simpatia
Um corre-corre danado
Para ver se descobria
Com quem ia se casar
Tentava enxergar o par
Na água duma bacia.

Já outros passavam fogo
Naquele dado momento
Era em nome dos três santos
Que faziam juramento
Você vai ser meu compadre
E você minha comadre
Era assim, eu não invento.

E nesse costume antigo
Arrumava-se afilhado
Era assim que sucedia
Depois do fogo passado
Quem jurava na fogueira
Levava pra vida inteira
O que fora confirmado.

Eu jamais vou esquecer
Do São João no Ceará
O bolo feito de milho
Um pote com aluá
Pamonha também canjica
Aqui a lembrança fica
Remetendo-me pra lá.

Nos braseiros das fogueiras
Se agitava a meninada
Se danando a assar milho
E a fazer batata assada
A fogueira faiscava
Milho cozido cheirava
Era uma festa animada.

As musicas que se ouvia
No bom São João Nordestino
Era só Luiz Gonzaga
Com seu canto genuíno
Repleno de animação
Incendiava o sertão
Sem cometer desatino.

Era uma festa bonita
Que tinha sua candura
Feita com nossos costumes
Com base em nossa cultura
Tudo agora está mudado
Até o sapato é dourado
Viramos caricatura.

Tanto luxo, tanto brilho,
Largaram chita e chitão
Não tem mais nada de roça
Pois é só ostentação
Parece a festa da uva
Até princesa com luva
Vejo na apresentação.

Parece escola de samba
Na hora de desfilar
E tem comissão de frente
Antes do grupo dançar
É um tal de se exibir
Dançam para competir
E não para festejar.

Até a música usada
Não é como antigamente
Falta sanfona e zabumba
E um triângulo estridente
Falta um forró animado
Com cara de nossa gente.

Cadê o chapéu de palha
E o bigode desenhado
A camisa de xadrez
Ou de tecido estampado
Cadê o nosso matuto
Que dançava absoluto
No sertão o seu reinado.

Cadê a moça bonita
Que guardo em minha lembrança
Com pintas pretas na face
De cada lado uma trança
Cadê a festa junina
Tão nossa tão nordestina
Dos bons tempos de bonança.

Eu ainda quero ouvir
Na voz de um cantador
O que eu ouvi num São João
Numa noite de esplendor
A mais linda melodia
Onde Gonzagão dizia:
Olha pro céu meu amor…

Não vamos interromper
Os passos de nossa história
Devemos vivenciar
Não só guardar na memória
Defender e resguardar
Sem deixar de praticar
Feitos dessa trajetória.

 

 


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 04 de setembro de 2024

SÃO JOÃO E SUAS TRADIÇÕES (CORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA)

Fogueira, fogos de artifícios e comidas de milho permeiam as festas de Santo Antônio, São João e São Pedro.

Quando chega o mês de junho
Tem festa e animação,
De Santo Antônio e São Pedro,
Também a de São João.
É festa no mês inteiro,
E ninguém perde o roteiro
Nos trilhos da tradição.

Estes festejos juninos
Vieram de Portugal.
Por aqui eles chegaram
No tempo colonial,
E seguindo a tradição
A festa de São João,
Das três é a principal.

No dia treze de junho
Fica animado o terreiro.
A mulherada se apega
Ao Santo casamenteiro.
O famoso Santo Antônio!
Para arrumar matrimônio,
E se casar mais ligeiro.

Já vinte nove de junho,
De São Pedro é o dia.
Patrono dos pescadores,
É de barco a romaria,
É protetor das viúvas,
É também quem manda chuvas!
Da chave do céu é guia.

Essa festa dos três santos
De juninas são chamadas,
Por que é no mês de junho,
Que elas são celebradas.
No Brasil a tradição,
Tomou conta da nação,
Tem festas bem afamadas.

Numa junção de cultura
Foram chegando parceiras.
Dos indígenas herdamos
O costume das fogueiras.
Os zabumbas e tambores,
Da África são valores,
Como a dança e brincadeiras.

 

Tem festa grande em Barbalha,
Chamada pau da Bandeira.
O chá da casca do pau
É simpatia certeira.
Se a moça com fé tomar,
Santo Antônio, vai casar!
E adeus vida de solteira.

A Maior festa do mundo
Em louvor a São João.
É a de Campina Grande!
Digo com satisfação.
Tem Caruaru também,
Mossoró, e vou além,
São Luiz no Maranhão.

No Estado do Piauí,
Se destaca Teresina.
E no Ceará inteiro
Não falta festa junina,
Na praia, serra e sertão,
Tem festa pra São João,
E o povo todo se anima.

Acompanham essas festas,
Em suas celebrações,
Comidas e danças típicas,
Bebidas, roupas, balões.
Temos também as fogueiras!
Variadas brincadeiras,
Nesse rol de tradições.

E na dança da quadrilha,
É matuto o casamento.
Tem o padre e tem juiz,
Prestigiando o momento.
Inda tem o delegado,
Para casar obrigado,
O noivo que é marrento.

Hoje pra dançar quadrilha,
Tem luxo e muita beleza,
Tem a seda e muito brilho,
Ostentação e riqueza,
Tem muita competição,
Nem parece o São João!
Com a sua singeleza.

Quadrilha tradicional:
Tem vestidinho de chita,
Rapaz com calça emendada,
Moça com laço de fita,
Cantiga de Gonzagão,
Fazendo a animação,
A tradição é bonita.

O gritador de quadrilha,
Sai gritando: – olha a cobra!
Os brincantes fingem medo,
Mas a cena se desdobra.
– Olha a chuva:- é mentira!
A noite inteirinha vira,
Com animação de Sobra.

Na indumentária não falta,
Para compor, um chapéu.
Os grupos vão animados
Dançando de déu em déu.
Ainda existe balão,
Mas só na decoração!
Não pode mais ter no céu.

Já não tem mais aluá
Como tinha no sertão.
Ainda tem com fartura,
O afamado quentão,
Bebida tradicional,
Nas barracas do Arraial,
Que mantem a tradição.

Nas guloseimas da festa:
Milho cozido e assado,
Tem canjica e tem pamonha,
Tem amendoim torrado,
Bolo de milho e cuscuz,
É comida que seduz,
Em todo e qualquer condado.

Pé de moleque e pinhão,
Cachorro-quente também,
A paçoca e arroz-doce,
Nas barracas sempre tem.
Tem bolo e tem tapioca,
E saquinho com pipoca,
Não falta para ninguém.

Muitas são as brincadeiras
Para o povo que é brincante:
Tem argola e pescaria,
E tem correio elegante,
Pau-de-sebo e simpatia,
Alimentando alegria,
Que faz a festa importante.

A Barraquinha do beijo
É muito bem frequentada!
Nela uma moça bonita,
E sempre bem-humorada,
Faz papel de beijoqueira,
É quem faz a brincadeira,
E bom dinheiro arrecada.

Nos enfeites das barracas
Para chamar atenção,
Bandeirinhas penduradas,
Vão mantendo a tradição.
Chamando atenção das gentes,
Colorindo os ambientes,
Na festiva ocasião.

Em todo Brasil nós temos
Quadrilha bem diferente.
Umas são contemporâneas,
Outras como antigamente.
Geração a geração,
Ocorre a transformação,
Mas sem quebrar a corrente.

Pelas mãos dos portugueses,
A semente foi plantada.
Aqui em nosso Brasil
Foi muito bem semeada.
Hoje na nossa cultura,
Temos São João com fartura,
Seguindo em grande jornada.

Nesse meu cordel falei,
Das festas de São João.
Sobre festejos juninos,
Repassei a tradição,
Retirando da memória,
Retalhos da minha história,
Vivida lá no sertão!


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 28 de agosto de 2024

XODÓ NORDESTINO (CORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA)

XODÓ NORDESTINO

Dalinha Catunda

Você gritou: Ô de casa!
Eu saí e dei bom dia
Me pediu um copo d’água
A desculpa eu conhecia
Saí quase no pinote
Fui pegar água no pote
Lhe servi com alegria.

Você me olhava com gosto
E eu olhava pra você
Ali nascia um chamego
E nós dois dele a mercê
Eu no começo corava
Quando você me chamava
Minha flor de muçambê.

Quando o fole da sanfona
Gemia nalgum lugar
Você trocava de roupa
Corria pra me pegar
E naquela brincadeira
No forró a noite inteira
Eu via o suor pingar.

Teu corpo grudado ao meu
Meu corpo no teu grudado
O povo todo olhando
O nosso rodopiado
Não tinha naquele chão
Pras bandas do meu sertão
Um casal mais animado.

Eu me arrumava todinha
Com meu vestido de chita
Aquela flor encarnada
Me deixava mais bonita
Você na sua paixão
Roubou pra recordação
Meu laço feito de fita.

Era um xodó animado
Era um chamego ladino
Tinha cheiro no cangote
Coisa só de nordestino
Ao som de xote e baião
Embalamos a paixão
Era um chamego bem-vindo.


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 21 de agosto de 2024

PRECISO DO SEU CHEIRO (CORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPEERIORA DALINHA CATUNDA)

PRECISO DO SEU CHEIRO

Dalinha Catunda

Quando por mim você passa
Eu viro mulher feliz
Tão cheiroso e provocante
Que logo acendo o nariz
E deixo seu cheiro entrar
Só para me deleitar
Pois sou mulher de raiz.

Se sempre acordo bem cedo
É pra provar seu sabor
O meu paladar exige
Antes que eu vá ao labor
Ter você sempre bem quente
Alertando minha mente
Provocando meu calor.

Para ter você comigo
Caminho léguas o pé
Vou até o fim do mundo
E não perco minha fé
De provar do meu neguinho
Nem que seja um golinho
Sou viciada em café!


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 14 de agosto de 2024

DUAS GLOSAS (CORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA)

DUAS GLOSAS

Dalinha Catunda

Mote de Xico Bizerra:

Cheirei o tabaco dela
Bastou pra “meaviciar”

Relutei, terminei indo
Conhecer o tal tabaco
Foi aí que me vi fraco
Garanto, num tô mentindo
Nunca vi nada mais lindo.
Cheirei, voltei a cheirar
Não conseguia parar
Sabor de cravo e canela
Cheirei o tabaco dela
Bastou pra “meaviciar”

Xico Bizerra

O tabaco era cheiroso
Cheiroso como ele só
Do nariz não teve dó
Esse caboco fogoso
Achando delicioso
O bicho vive a cheirar
Ouvi o cabra gritar
Debruçado na janela:
Cheirei o tabaco dela
Bastou pra “meaviciar”

Dalinha Catunda


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 07 de agosto de 2024

UMA RODA DE GLOSAS - 17.07.2024 (CORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA)

UMA RODA DE GLOSAS

Dalinha Catunda

Xilogravura de Valdério Costa

 

Mote desta colunista:

Pra rola só dou xerém
Se comer na minha mão.

* * *

Nem bem o dia amanhece
Já está em meu quintal
O seu canto matinal
É canto que me enternece
Mas comida só merece
Quem tem rumo e direção
Não cedo alimentação
Pra quem sempre vai e vem:
Pra rola só dou xerém
Se comer na minha mão.

Dalinha Catunda

Também não darei moleza
À rola ou a periquito,
Mesmo sendo bem bonito,
Pode ter toda a certeza;
Beleza nunca põe mesa
E nesses tempos então
Só abro uma exceção
Com aval de Araquem:
Pra rola só dou xerém
Se comer na minha mão.

Bastinha Job

Já tive no meu terreiro
uma rola sem futuro,
me procurava no escuro
e me acertava o traseiro,
com seu jeito interesseiro,
não queria meu pirão,
mas só arroz com feijão,
na hora do vai-e-vem.
Pra rola só dou xerém
Se comer na minha mão.

Anilda Figueiredo

Eu adoro passarinho…
Mas sou fã do periquito
Esse do mote esquisito
Não põe ovo no meu ninho
Pra ficar tudo certinho
Eu digo com precisão
Essa rima é o cão
Esse verso não convém
Pra rola só dou xerém
Se comer na minha mão.

Giovanni Arruda

Quando o pássaro é manso
Basta um dedo em riste
Botar painço e alpiste
Que vem fazer o descanso
Já criei patos e ganso
Sabiá corrupião
Acabava com a ração
Não me sobrava um vintém
Pra rola só dou xerém
Se comer na minha mão.

Araquém Vasconcellos

Canta lá no cajueiro
Que fica no meu canal
Um rebanho de pombal
Me consola o dia inteiro
Mais não chega no terreiro
Nem na janela do oitão
Eu tenho essa opinião
Pode ser pardal, quem quem
Pra rola só dou xerém
Se comer na minha mão.

Jairo Vasconcelos

Eu escuto o passarinho
Mas grito com dedo em riste
Posso dar xerem, alpiste
Se ele sair do ninho
Se eu escutar bem cedinho
Um canto em tom de canção
Mas se ele só diz não
E não canta pra ninguém
Pra rola só dou xerém
Se comer na minha mão.

Rivamoura Teixeira

Eu criava uma rolinha
Um dia fiquei zangada
Ela vivia escorada
Peguei a tal passarinha
Ficou mais mole a bichinha
Eu dei nela um arrochão
Sapequei ela no chão
E pelei o seu sedém
Pra rola só dou xerém
Se comer na minha mão.

Ritinha Oliveira


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 31 de julho de 2024

O TABACO DE MARIA (CORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA)

Xilogravura de Erivaldo Ferreira

 

1
Na estrada do Pai Mané
Na cidade de Ipueiras
Bem pertinho das Barreiras
De imburana tem um pé
Ele dá um bom rapé
Pra quem sabe preparar
Maria sabe torrar
E tem grande freguesia
O tabaco de Maria.
Todo mundo quer cheirar.

2
E naquela arrumação
Meu pai era viciado
No dedo era colocado
Do rapé uma porção
Com o tabaco na mão
Pra no nariz esfregar
E logo após aspirar
Ele fungava e dizia:
O tabaco de Maria.
Todo mundo quer cheirar.

3
Valdenira me indicou
Disse mulher acredite
Ele é bom pra sinusite
Aqui mamãe sempre usou
Depois que ela receitou
Comecei a melhorar
Nunca parei mais de usar
Acabou minha agonia:
O tabaco de Maria.
Todo mundo quer cheirar.

4
Garapa ficou sabendo
Dessa história do rapé
Foi direto ao Pai Mané
Também estava querendo
Com Maria se entendendo
Resolveu logo pagar
E não saiu sem provar
do cheiroso nesse dia
O tabaco de Maria.
Todo mundo quer cheirar.

 

5
Edgar acabrunhado
Com o nariz entupido
Sentindo-se já perdido
Com febre e com resfriado
Foi atrás desse torrado
Para tentar melhorar
Porém mesmo sem gostar
Do produto repetia:
O tabaco de Maria.
Todo mundo quer cheirar.

6
Dão de Jaime que gostou
Do tabaco da fulana
Cheirou mais duma semana
E também se viciou
Da mulher ele apanhou
E não cansou de apanhar
Pois disse não vou largar
E gritando se exibia:
O tabaco de Maria.
Todo mundo quer cheirar.

7
Lindicassia nascimento
Fugava como ela só
Cheirou um pouco do pó
Daí veio o seu alento
Falou sem constrangimento
Eu posso até me lascar
Porém nunca vou largar
O que já virou mania
O tabaco de Maria.
Todo mundo quer cheirar.

8
Do torrado de imburana
Quis provar meu companheiro
Foi adquirir ligeiro
Nem teve pena da grana
Com a cara de sacana
E só para chatear
Chegava os olhos virar
Envolvido na folia:
O tabaco de Maria.
Todo mundo quer cheirar.

9
O vigário da cidade
Pediu para o sacristão
Vá comprar uma porção
Uma boa quantidade
Um rapé de qualidade
Que estou querendo espirrar
Mas onde ele ia comprar
O vigário já sabia
O tabaco de Maria.
Todo mundo quer cheirar.

10
Neto Alves da Cultura
Ficou logo interessado
Para comprar o torrado
Mandou uma criatura
E disse: – mas que loucura!
E esse bicho é de lascar
Hoje vou me empanturrar
Pois eu não tenho alergia:
O tabaco de Maria.
Todo mundo quer cheirar.

11
É remédio natural
Eu também sou dessa linha
Disse Anilda pra Dalinha
Querendo provar do tal
Garanto que não faz mal
E tratou de encomendar
Ao começar a chuchar
Comentou com euforia:
O tabaco de Maria.
Todo mundo quer cheirar.

12
Eu só sei que a imburana
Transformada em rapé
Muita gente levou fé
E Maria não engana
Pra Violante e Diana
Ela ficou de enviar
Se Cassiano esperar
Com certeza ela envia:
O tabaco de Maria.
Todo mundo quer cheirar.

13
Tenho tabaco estocado
Pra Dideus e Acopiara.
A freguesia não para,
O de Chica está guardado.
Fátima Correia e Prado,
Só falta mesmo embalar
E quem fica a me cobrar,
É o Tião Simpatia:
O tabaco de Maria.
Todo mundo quer cheirar.

14
Tenho um frasco pra Bastinha
Pra Vânia Freitas também
O Sérgio sei que já tem
De Rosário é na latinha
Eu fiz o que me convinha
Porém tenho que avisar
Já vi velho se peidar
Em frente a tabacaria:
O tabaco de Maria.
Todo mundo quer cheirar.

15
Eu só sei que esse rapé
Extraído da imburana
Fez uma corrida insana
Isso me falava Zé
Veio de Brumado a pé
Somente para comprar
Um tabaco singular
Que não tem lá na Bahia:
O tabaco de Maria.
Todo mundo quer cheirar.

16
Meu cordel chega ao final
Porém o cheiro persiste
Penetrando nesse chiste
Que diverte e não faz mal
Com gosto dou meu aval
Pois consegui entranhar
Amigos para brincar
No mote que repetia:
O tabaco de Maria.
Todo mundo quer cheirar.


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 24 de julho de 2024

SOU MULHER E SOU BENDITA (CORDEL DA CLUNISTA MADRE AUPERIORA DALINHA CATUNDA)

SOU MULHER E SOU BENDITA

Dalinha Catunda

Eu bem sei que tudo passa
Na vida que a gente tem
Por isso é que vivo a vida
Decidida e sem porém,
Pois triste de quem nasceu
Viveu e nem percebeu
O prazer de ir além.

Montei no lombo da vida
E na sela eu me aprumei
As rédeas em minhas mãos
Com firmeza segurei
Aticei meu alazão
Tirei poeira do chão
A porteira escancarei.

Assim eu ganhei o mundo
Na estrada não me perdi
Provei dos sabores da vida
Chorei pouco e mais sorri
Dei aval ao coração
Pra cada contravenção
Das emoções que senti.

Em noite de lua cheia
O luar foi companheiro
Banhou-me com sua prata
Seduzi meu companheiro
Que vendo o brilho da lua
Rajando a pele nua
Operou como posseiro.

Criei asas e voei
Até devorei zangão
Provei geleia real
Escapei por ter ferrão
A vida não foi só mel
Se por vezes fui cruel
Faltou-me submissão.

Eu apeei em açude
Em ribeirão e riacho
Nos lugares mais bonitos
Arrefeci o meu facho
Pois a vida me sorria
E a dona hipocrisia
Deixei com cara de tacho.

Quem arriscou me laçar
Ficou com corda na mão
Eu derrubei muita estaca
E até cerca de mourão
Campeei como eu queria
Hoje faço é poesia
Dessa saga no sertão.

Dei corda ao meu instinto
Feito Maria Bonita
Meu fado eu canto em verso
Pois não caí em desdita
Entre o profano e o sagrado
Meu norte foi consagrado
Sou mulher e sou bendita.


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 17 de julho de 2024

NO RIO SOU PARAÍBA E EM SÃO PAULO BAIANA (CORDEL DA COLÇUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA)

Sou cearense da gema
Onde o sol nasce encarnado
A minha cabeça chata
Faz parte desse legado
Nunca me vi coitadinha
Faca, tirei da bainha
Pra riscar o meu traçado.

No Rio sou Paraíba,
Em São Paulo sou baiana
Minha nordestinidade
Não me deixa ser fulana
Na Feira dos Paraíbas
Revejo em minhas idas
Que nossa gente se irmana.

Não nasci pra ser piolho
Tenho meu discernimento
Jamais segui a manada
Pra isso tenho argumento
Prefiro ter meu poder
Sem empoderada ser
Só sigo meu pensamento.


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 10 de julho de 2024

A MOÇA TRISTE (CORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA)

A MOÇA TRISTE

Dalinha Catunda

Alta, branca tão bonita,
Mas quanta dor nela existe
No dourado dos cabelos
Sua nobreza persiste
Caminha com elegância
Deixando sua fragrância
No caminho a moça triste.

Nos lábios um ar de riso
No olhar tanta tristeza
Compondo sempre o semblante
Sem ofuscar a beleza
Da rapariga tristonha
Que não vive, apenas sonha,
No seu mundo de incerteza.

Pobre princesa sofrida
Que conseguiu ser rainha
Porém vive acorrentada
Mesmo se solta caminha
Em cada canto do rosto
É visível seu desgosto
Ao transportá-lo definha.

E na sua ingenuidade.
Príncipe era encantado!
Palácio sem atração,
Castelo desmoronado,
É a causa do desgosto
Tracejado no seu rosto
No fracassado reinado.


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 03 de julho de 2024

DAUDETH BANDEIRA E DALINHA CATUNDA (CORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA)

Daudeth Bandeira

Eu não conheço Dalinha
Mas desejo conhecê-la
Todo poeta precisa
Conhecer uma estrela
Não pra ser o dono dela
Mas para aplaudi-la e vê-la.

Dalinha Catunda

Eu já conheço Daudeth
E muito, de ouvir falar,
Fama de cada Bandeira
Faz o mastro tremular
Seu clã é constelação
Constantemente a brilhar.

Daudeth Bandeira

Dalinha pega mais fogo
Do que capim no verão,
É do tipo das caboclas
Que pingam brasa no chão,
São responsabilizadas
Por quase todas queimadas
Que existem no sertão.

Dalinha Catunda

Sou fogueira de paixão
Lambendo o chão da campina
Incendiando o agreste
Tal ventania ladina
Apesar de ser matreira
Não sou de queimar Bandeira
Meu fogo não desatina.

 


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 26 de junho de 2024

SÃO JOÃO NA ROÇA (CORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA)

 

SÃO JOÃO NA ROÇA

Dalinha Catunda

São João na Roça - Documentário

 

Hoje acordei com saudades
Das festas do meu sertão
De matuta me trajava
E cheia de animação
Com meu vestido de chita
Chapéu e laço de fita
Feliz dançava o São João.

Enxerida e dançadeira
Nunca me faltava par
Pra dançar numa quadrilha
Nas festas do meu lugar
Tudo hoje é diferente
Até o São João da gente
Acharam por bem mudar.

No São João de Antigamente
Tudo era especial
O noivo e a noiva vinham
No lombo dum animal
Ou então numa carroça
Assim era lá na roça
No São João tradicional!

No casamento matuto
Era um Deus nos acuda
Noivo querendo fugir
Da noiva já barriguda
De espingarda na mão
Fazia o pai confusão
E ao juiz pedia ajuda.

O vigário embriagado
Cambaleava no altar
O pai que não sossegava
Gritava vou já matar
Ou casa ou eu não dou trégua
Nesse filho d’uma égua
Eu atiro é sem mirar.

O delegado chegava
E acabava a confusão
O noivo então se casava
Pra não mofar na prisão
Com barulho de foguete
Principiava o banquete
Assim era a tradição.

 

Quem comandava a quadrilha
Lá no meu interior
Era só gente da gente
E eu dava o maior valor
No momento de ensaiar
Do nosso bom linguajar
Valia-se o gritador.

Foi a caminho da roça
Transbordando de alegria
Que passei com meu amor
Num túnel de fantasia
Mas na primeira manobra
Quando eu ouvi, Olha a cobra!
Eu gritei: Ave Maria!

Olha a cobra, olha a chuva
Tudo era encenação
A cobra não assustava
Chuva não caía não
No giro que a roda dava
Eu fui dama coroada
Em cada apresentação.

No cumprimento das damas
Rapaz tirava o chapéu
A dama se derretia
Sentindo-se lá no céu
Quando a dança terminava
A folia começava
Era grande o escarcéu.

A mulherada corria
Para fazer simpatia
Um corre-corre danado
Para ver se descobria
Com quem ia se casar
Tentava enxergar o par
Na água duma bacia.

Já outros passavam fogo
Naquele dado momento
Era em nome dos três santos
Que faziam juramento
Você vai ser meu compadre
E você minha comadre
Era assim, eu não invento.

E nesse costume antigo
Arrumava-se afilhado
Era assim que sucedia
Depois do fogo passado
Quem jurava na fogueira
Levava pra vida inteira
O que fora confirmado.

Eu jamais vou esquecer
Do São João no Ceará
O bolo feito de milho
Um pote com aluá
Pamonha também canjica
Aqui a lembrança fica
Remetendo-me pra lá.

Nos braseiros das fogueiras
Se agitava a meninada
Se danando a assar milho
E a fazer batata assada
A fogueira faiscava
Milho cozido cheirava
Era uma festa animada.

As musicas que se ouvia
No bom São João Nordestino
Era só Luiz Gonzaga
Com seu canto genuíno
Repleno de animação
Incendiava o sertão
Sem cometer desatino.

Era uma festa bonita
Que tinha sua candura
Feita com nossos costumes
Com base em nossa cultura
Tudo agora está mudado
Até o sapato é dourado
Viramos caricatura.

Tanto luxo, tanto brilho,
Largaram chita e chitão
Não tem mais nada de roça
Pois é só ostentação
Parece a festa da uva
Até princesa com luva
Vejo na apresentação.

Parece escola de samba
Na hora de desfilar
E tem comissão de frente
Antes do grupo dançar
É um tal de se exibir
Dançam para competir
E não para festejar.

Até a música usada
Não é como antigamente
Falta sanfona e zabumba
E um triângulo estridente
Falta um forró animado
Com cara de nossa gente.

Cadê o chapéu de palha
E o bigode desenhado
A camisa de xadrez
Ou de tecido estampado
Cadê o nosso matuto
Que dançava absoluto
No sertão o seu reinado.

Cadê a moça bonita
Que guardo em minha lembrança
Com pintas pretas na face
De cada lado uma trança
Cadê a festa junina
Tão nossa tão nordestina
Dos bons tempos de bonança.

Eu ainda quero ouvir
Na voz de um cantador
O que eu ouvi num São João
Numa noite de esplendor
A mais linda melodia
Onde Gonzagão dizia:
Olha pro céu meu amor…

Não vamos interromper
Os passos de nossa história
Devemos vivenciar
Não só guardar na memória
Defender e resguardar
Sem deixar de praticar
Feitos dessa trajetória.


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 19 de junho de 2024

CUIDE DO SEU IDOSO – 1º OUTUBRO, DIA INTERNACIONAL DO IDOSO (DORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA)

 

Quem tem o seu idoso
Consciência deve ter.
Cuidar dele com carinho,
É obrigação, é dever.
Ter zelo, ter paciência,
E também tomar ciência:
Todos vão envelhecer.

Não maltrate um ancião
Que já não sabe o que faz
Mas que foi seu alicerce
E já foi muito capaz
Já lhe deu casa e comida
Mas antes lhe deu a vida
E merece enfim ter paz.

Cada vez que a paciência,
Fugir do seu coração
Reze, reflita e pense,
Não faça judiação
Pois quem não morre envelhece
E quase sempre padece
Sofrendo de mão em mão.

Não se esqueça de lembrar
De quem de você lembrou.
Nos verdes anos da vida
De você sempre cuidou.
Mesmo hoje sem memória
Faz parte da sua história,
Que o tempo não apagou.


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 12 de junho de 2024

O VOO DA RETIRANTE! (CORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA)

 

O VOO DA RETIRANTE!

Dalinha Catunda

 

Eu sou mulher sertaneja!
Feminina e singular
O agreste me batizou
Mas fiz do mundo meu lar
Açoites patriarcais
Não me podaram jamais
Lutei pra me libertar.

Nunca fui igual a tantas
Aceitando imposição
Tinha o olhar aguçado
Tinha rumo e direção
Do meu jeito nordestino
Sem drama sem desatino
Segui cheia de razão.

Não fui mulher de ficar
Debruçada na janela
Eu queria muito mais
Vi que a vida dava trela
Na janela não fiquei
A porta eu escancarei
E joguei fora a tramela.

Uma estrada desenhei
Do jeitinho que eu queria
Nela pisei com firmeza
Distribuindo alegria
As veredas da tristeza
Enfrentei sem ter moleza
Recorrendo a rebeldia

Receio de ser feliz
Não provei no meu caminho
Fui ave de ribaçã
Trocando às vezes de ninho
longe do velho rincão
Eu desbravei novo chão
Sem sumir no torvelinho.

As pragas que me jogaram
Voltaram pra quem jogou
Eram tantas profecias
Nenhuma se confirmou
E hoje vou lhes dizer
Não parti pra me perder
Quem me viu depois notou.

 

Nunca fui desatinada
Era desobediente
A cruel hipocrisia
Era discurso presente
Mas fugi dessa verdade
Da podre sociedade
Jamais quis herdar corrente.

Eu nunca tive medo
De casar ou não casar
Sempre tive minha luz
Que acendi pra me guiar
Munida de inteligência
Não quis viver de aparência
Tive peito pra encarar.

A luxúria dos senhores
Fez filho no cabaré
O santo padre endeusado
Profanou a sua fé
Mas tudo era encoberto
O pecador era o certo
Na vida como ela é.

Eu vi a mulher do próximo
Nos braços do seu amante
Vi o próximo noutros braços
Situação semelhante
Mas tudo era abafado
O tal do patriarcado
Tinha o grito retumbante!

Vi esposas recebendo
No lar putas do marido
O homem podia tudo
Sempre era obedecido
E a mulher subjugada
Não podia falar nada
Seu orgulho era engolido.

Eu vi telhado de vidro
Querendo pedra atirar
Presenciei falsas virgens
Casando em frente ao altar
Noivo ganhando boiada
Pra assumir a desonrada
E o nome dela salvar.

O homem tinha direitos
Mas não os tinha a mulher
Se deixasse de ser casta
Viraria uma qualquer
De sua casa era expulsa
Sobrava-lhe só repulsa
E compaixão nem sequer.

Eu escrevi outra história
E fiz o sertão ferver
Fiz um filho sem casar
Começou meu padecer
E para meu desencanto
Não era do espírito santo
Foi difícil resolver.

A cidade jogou pedra
No meu lar não me cabia
Todos lavaram as mãos
Enquanto eu me despedia
Aceitei a minha cruz
Apeguei-me com Jesus
E com a Virgem Maria.

Não vou dizer que foi fácil
Porém não me entreguei.
O sangue de nordestina
Comigo eu carreguei
Trabalhei como ninguém
Pra consegui ir além
Eu nunca me desgracei.

Não tive pena de mim
Não chorei a pouca sorte
Resolvi virar o jogo
Meu orgulho me fez forte
Empinei bem o nariz
Vivo do jeito que quis
Eu mesma fui meu suporte.

Tangida ganhei o mundo
Sem esquecer minha aldeia
Lá voltei mais de mil vezes
Sem medo de cara feia
Não saí do meu lugar
Sem aprender a nadar
Para não morrer na areia.

E cada vez que eu voltava
Pra minha satisfação
Tinha nova mãe solteira
Em meu querido rincão
Eu vi que servi de exemplo
Só me falta agora um templo
Pra minha coroação.

Sou mãe de dois meninos
Que ao meu lado vi crescer
Dei casa, comida e estudo.
Criar bem foi meu dever
Os dois já estão formados
Todos dois bem colocados
Esse é meu maior prazer.

Sempre volto a Ipueiras
Onde vou veranear
Hoje me chamam Senhora
Chego quase a gargalhar
Mesmo tendo eira e beira
Continuo mãe solteira
Apesar de ter meu par.

Escorregando e caindo
Aprendi a levantar
Eu nunca deixei barato
Quando ousaram me afrontar
Sempre tomei atitude
Se muitas vezes fui rude
Foi pra ninguém me pisar.

Sou filha da intolerância
Conheci o preconceito
Guerreira que não se dobra
E pra flecha abri meu peito
De cada dardo escapei
Criei minha própria lei
Pois nutri esse direito

Agora sou poetisa
Não acho o mundo perverso
Eu dei a volta por cima
Essa história conto em verso
E digo com alegria
Eu sou mais uma Maria
Coragem nesse universo.


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 05 de junho de 2024

XODÓ NORDEESTIN (CORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA)

XODÓ NORDESTINO

Dalinha Catunda

 

 

Você gritou: Ô de casa!
Eu saí e dei bom dia
Me pediu um copo d’água
A desculpa eu conhecia
Saí quase no pinote
Fui pegar água no pote
Lhe servi com alegria.

Você me olhava com gosto
E eu olhava pra você
Ali nascia um chamego
E nós dois dele a mercê
Eu no começo corava
Quando você me chamava
Minha flor de muçambê.

Quando o fole da sanfona
Gemia nalgum lugar
Você trocava de roupa
Corria pra me pegar
E naquela brincadeira
No forró a noite inteira
Eu via o suor pingar.

Teu copo grudado no meu
Meu corpo no teu grudado
O povo todo olhando
O nosso rodopiado
Não tinha naquele chão
Pras bandas do meu sertão
Um casal mais animado.

Eu me arrumava todinha
Com meu vestido de chita
Aquela flor encarnada
Me deixava mais bonita
Você na sua paixão
Roubou pra recordação
Meu laço feito de fita.

Era um xodó animado
Era um chamego ladino
Tinha cheiro no cangote
Coisa só de nordestino
Ao som de xote e baião
Embalamos a paixão
Era um chamego bem-vindo.


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 29 de maio de 2024

UMA GLOSA PARA NOSSA SANTA (CORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA)

 

UMA GLOSA PARA NOSSA SANTA

Dalinha Catunda

O anjo bom da Bahia
Hoje é santa no altar

Mote da colunista

Foi fazendo caridade
Acolhendo cada irmão
Que seu nome correu chão
Irmã Dulce era bondade
Sua força de vontade
Era firme ao abraçar
Viveu para amenizar
Do pobre sua agonia
O anjo bom da Bahia
Hoje é santa no altar


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 22 de maio de 2024

A REVOADA DAS POMBAS (CORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA)

 

A REVOADA DAS POMBAS

Dalinha Catunda

Vi a pomba bater asas
Esvaziando o terreiro
Era só um passarinho
Buscando novo roteiro
Pomba-de-arribação
Bem comum lá no sertão
No ir e vir corriqueiro.

Quando pousou na vivenda
Já era tempo de estio
Entretanto fez seu ninho
Acabei com seu fastio
Cuidada com bom xerém
Ela sentia-se bem
Arrulhava a cada cio.

Vi a rola satisfeita
Sempre renovando o ninho
E dava graças a Deus
Por tê-la em meu caminho
Mas tudo acabou em nada
Pois a rola desalmada
Sumiu em um torvelinho.

E foi-se a pomba vadia
Foi-se a Burguesa também
Por rolas eu não lamento
Umas vão e outras vem
E foi-se a pomba terceira
Não será a derradeira
Que meu alçapão detém.

Outro dia eu avistei
A vadia em meu quintal.
A Burguesa toda prosa
Vi pousando em meu varal
Mas quem hoje me fascina
É uma pomba-divina
Conhecida por trocal.


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 08 de maio de 2024

O QUE FAZ A CARESTIA DA CARNE? (CORDEL DA COLUNISTA MADRED SUPERIORA DALINHA CATUNDA)

 

Fui com marido ao açougue
Lá cheguei a me zangar
Pois vendo o preço da carne
Começou a resmungar
Desse preço compro não
Como é bife do “oião”
E danou-se a reclamar.

Ele cheio de argumento
Falava e dizia assim:
A gente come feijão,
E farofa de “toicim,”
Deixe logo de ora pois
Também tem baião de dois
E isso tá bom pra mim.

Eu saí batendo pé
Sem querer me conformar
Zangada que nem o cão
Esse cabra vai pagar
Eu fiz como ele queria
Contudo a minha alegria
Ele conseguiu quebrar.

Quanto chegou a noitinha
Que a gente foi se deitar
Virei de costas pra ele
E ele a me cutucar
Querendo carne comer
Eu disse: Tu vais morrer
Mas carne não vou te dar.

Durante o dia eu sonhei
Com costela e costeleta
Ele querendo poupar
Já deu uma de ranheta
Quando apertou a vontade
Deixei ele na saudade
Dispensei sua baioneta.


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 01 de maio de 2024

BONECA DE PANO (CORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA)

 

Fotos da colunista

 

 

Dias felizes da infância
Inda guardo na memória
A dona simplicidade
Fez parte trajetória
A bonequinha de pano
Foi rainha nessa história.

Eram compradas nas feiras
Arrematas em leilão
Brinquedo mais precioso
Que tive no meu sertão
Os vestidos eu fazia
Sempre costurando a mão.

Guardei essa tradição
E hoje volto a brincar
De fazer as bonequinhas
Somente pra exercitar
Esse meu prazer antigo
Que me encanta recordar.

 


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 24 de abril de 2024

ABRAM ALAS PRO MEU QUIÇÁ (CORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA)

 

ABRAM ALAS PRO MEU QUIÇÁ

Dalinha Catunda

Hoje lembro com saudade
O tempo bom que passou
Quando o não era um talvez
E assim você me ganhou
Você puxava meu braço
Eu evitava o abraço
Porém você me laçou.

No cordão que se formava
Circulando no salão
Você com sua insistência
Segurou a minha mão
E me beijou bem na hora,
A do: “ vou beijar-te agora”
E ganhou meu coração.

Você foi o meu pirata
Eu a sua colombina
Lembro nós dois enroscados
Nos laços da serpentina
Quando meu não virou sim
Não desgrudou mais de mim
A paixão foi repentina.

E não acabou em cinzas
Esse amor de carnaval
Aos encantos da conquista
Botei fé e dei aval
Apostei na fantasia
Colhi amor e alegria
E fui feliz no final.


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 17 de abril de 2024

O CORNO FOFOQUEIRO (CORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA)

 

O CORNO FOFOQUEIRO

Dalinha Catunda

Quem vive de propagar
Que o seu fulano é corno
As vezes causa transtorno
Nem chega a desconfiar
Que chifres vive a levar
Sem que venha perceber
Faz chacota com prazer
Mas devia ficar mudo
Pois continua o chifrudo
Sendo o último a saber.


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 10 de abril de 2024

MULHER DE RAÇA (CORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA)

MULHER DE RAÇA

Dalinha Catunda

 

Neguinha sou para amigas
Minha nega pro amado
Sou morena citadina
Meu cabelo é ondulado
Sou dona das minhas ventas
Sou das mulheres atentas
Tenho nariz empinado.

Sou cabocla sertaneja
E trago no matulão
A astúcia da matuta
Que desbravou o sertão
E que não poupou canela
Quando abriu sua cancela
Buscando libertação.

Da fralda da Ibiapaba
Sou das alas das guerreiras
Agarrada ao jacumã
Enfrentei as corredeiras
Em cima duma piroga
Sou guerreira que se joga
Nas águas das Ipueiras

Sou a mistura das raças
Sou a miscigenação
Sou Catunda, sou do Prado
Tenho sangue de Aragão
Sou cunhã, sou companheira,
Sou concubina parceira
Eu só não sou é padrão.

 

Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 03 de abril de 2024

QUARENTENA NA ROÇA, VIVENDO COMO ÍNDIO (CORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA)

Aqui estou feito índio
Acoitada em uma oca
Só comendo caça e pesca
E entrando na mandioca
No café como beiju
No almoço tem tatu
Já na ceia é tapioca.

Na cidade eu fazia
Musculação e ioga
Aqui vivo a natureza
Despida de lei e toga
O que me dá mais prazer
É rio abaixo descer
Trepada numa piroga.

Quando meu nativo chega
Alisando o jacumã
Fogosa ligeiro abro
Meu sorriso de cunhã
Eu dou para ele comer
Um caldo que sei fazer
Na base de Carimã.

Numa rede de tucum
De noite vou me deitar
E no balanço da rede
Eu vejo Jaci brilhar
E meu amor diz pra mim
Vamos fazer curumim
Antes do mundo acabar?


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 27 de março de 2024

O TABACO DE MARIA (CORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA)

 

O TABACO DE MARIA

Dalinha Ctunda

Xilogravura de Erivaldo Ferreira

 

1
Na estrada do Pai Mané
Na cidade de Ipueiras
Bem pertinho das Barreiras
De imburana tem um pé
Ele dá um bom rapé
Pra quem sabe preparar
Maria sabe torrar
E tem grande freguesia
O tabaco de Maria.
Todo mundo quer cheirar.

2
E naquela arrumação
Meu pai era viciado
No dedo era colocado
Do rapé uma porção
Com o tabaco na mão
Pra no nariz esfregar
E logo após aspirar
Ele fungava e dizia:
O tabaco de Maria.
Todo mundo quer cheirar.

3
Valdenira me indicou
Disse mulher acredite
Ele é bom pra sinusite
Aqui mamãe sempre usou
Depois que ela receitou
Comecei a melhorar
Nunca parei mais de usar
Acabou minha agonia:
O tabaco de Maria.
Todo mundo quer cheirar.

4
Garapa ficou sabendo
Dessa história do rapé
Foi direto ao Pai Mané
Também estava querendo
Com Maria se entendendo
Resolveu logo pagar
E não saiu sem provar
do cheiroso nesse dia
O tabaco de Maria.
Todo mundo quer cheirar.

5
Edgar acabrunhado
Com o nariz entupido
Sentindo-se já perdido
Com febre e com resfriado
Foi atrás desse torrado
Para tentar melhorar
Porém mesmo sem gostar
Do produto repetia:
O tabaco de Maria.
Todo mundo quer cheirar.

6
Dão de Jaime que gostou
Do tabaco da fulana
Cheirou mais duma semana
E também se viciou
Da mulher ele apanhou
E não cansou de apanhar
Pois disse não vou largar
E gritando se exibia:
O tabaco de Maria.
Todo mundo quer cheirar.

 

7
Lindicassia nascimento
Fugava como ela só
Cheirou um pouco do pó
Daí veio o seu alento
Falou sem constrangimento
Eu posso até me lascar
Porém nunca vou largar
O que já virou mania
O tabaco de Maria.
Todo mundo quer cheirar.

8
Do torrado de imburana
Quis provar meu companheiro
Foi adquirir ligeiro
Nem teve pena da grana
Com a cara de sacana
E só para chatear
Chegava os olhos virar
Envolvido na folia:
O tabaco de Maria.
Todo mundo quer cheirar.

9
O vigário da cidade
Pediu para o sacristão
Vá comprar uma porção
Uma boa quantidade
Um rapé de qualidade
Que estou querendo espirrar
Mas onde ele ia comprar
O vigário já sabia
O tabaco de Maria.
Todo mundo quer cheirar.

10
Neto Alves da Cultura
Ficou logo interessado
Para comprar o torrado
Mandou uma criatura
E disse: – mas que loucura!
E esse bicho é de lascar
Hoje vou me empanturrar
Pois eu não tenho alergia:
O tabaco de Maria.
Todo mundo quer cheirar.

11
É remédio natural
Eu também sou dessa linha
Disse Anilda pra Dalinha
Querendo provar do tal
Garanto que não faz mal
E tratou de encomendar
Ao começar a chuchar
Comentou com euforia:
O tabaco de Maria.
Todo mundo quer cheirar.

12
Eu só sei que a imburana
Transformada em rapé
Muita gente levou fé
E Maria não engana
Pra Violante e Diana
Ela ficou de enviar
Se Cassiano esperar
Com certeza ela envia:
O tabaco de Maria.
Todo mundo quer cheirar.

13
Tenho tabaco estocado
Pra Dideus e Acopiara.
A freguesia não para,
O de Chica está guardado.
Fátima Correia e Prado,
Só falta mesmo embalar
E quem fica a me cobrar,
É o Tião Simpatia:
O tabaco de Maria.
Todo mundo quer cheirar.

14
Tenho um frasco pra Bastinha
Pra Vânia Freitas também
O Sérgio sei que já tem
De Rosário é na latinha
Eu fiz o que me convinha
Porém tenho que avisar
Já vi velho se peidar
Em frente a tabacaria:
O tabaco de Maria.
Todo mundo quer cheirar.

15
Eu só sei que esse rapé
Extraído da imburana
Fez uma corrida insana
Isso me falava Zé
Veio de Brumado a pé
Somente para comprar
Um tabaco singular
Que não tem lá na Bahia:
O tabaco de Maria.
Todo mundo quer cheirar.

16
Meu cordel chega ao final
Porém o cheiro persiste
Penetrando nesse chiste
Que diverte e não faz mal
Com gosto dou meu aval
Pois consegui entranhar
Amigos para brincar
No mote que repetia:
O tabaco de Maria.
Todo mundo quer cheirar.

 


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 20 de março de 2024

GLOSAS DE MORAES MOREIRA (POSTAGEM DA COLUNISTA DA.INHA CATUNDA)

 

GLOSAS DE MORAES MOREIRA

Dalinha Catunda

Moraes Moreira, Itauçu-BA, (1947-2020)

 

Mote desta colunista e glosas de Morais Moreira, publicadas originalmente no Blog Cordel de Saia.

Se tem mulher no cordel
Você tem que respeitar.

Vai fundo na caminhada
Que o homem parece raso
Vivendo quase um ocaso
Já se perdendo na estrada,
É hora da mulherada
Tomar o tempo e o lugar
Não adianta chorar
Achar que a vida é cruel,
Se tem mulher no cordel
Você tem que respeitar.

No tempo da plenitude
O homem cai no vazio
Fugindo do desafio
Covarde e sem atitude
Coitado ainda se ilude
Não sabe como se dar
O que é que vai lhe restar
Senão tirar o chapéu?
Se tem mulher no cordel
Você tem que respeitar.

De uma costela de Adão
Dizem que a mulher foi feita
E sendo assim tão perfeita
Imaginemos então
Se fosse do coração
Que Deus pudesse a criar
O mundo ia proclamar:
Oh criatura do céu!
Se tem mulher no cordel
Você tem que respeitar.

Naturalmente é sem músculo
No seu jeitinho de moça
Duvida da sua força
O macho já no crepúsculo
Sendo somente um opúsculo
Da obra que vai ficar
O que é que vai lhe sobrar
Senão caminhar ao léu?
Se tem mulher no cordel
Você tem que respeitar.

Não falto com a verdade
E peço que me acompanhe
Já que a mulher é a mãe
De toda a humanidade
Pra não ficar na saudade
O homem vai conquistar
Ao seu ladinho um lugar
Fazendo bem seu papel,
Se tem mulher no cordel
Você tem que respeitar.


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 13 de março de 2024

MARIA PREÁ VERSEJADA (CORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA))

 

MARIA PREÁ VERSEJADA

Dalinha Catunda

É mais ou menos assim
A história que ouvi falar
Maria Preá e o Padre
E um sacristão singular

Eu conheci um vigário
Comedor de periquito
Desrespeitava a batina
Ninguém achava bonito.

E pelo seu sacristão
Um dia ele foi flagrado
Quase perdeu a razão
Ficou desorientado.

O sacristão sem escrúpulos
Danou-se a chantagear
O vigário aventureiro
Que vivia a fornicar.

Porém nada como um dia
E a noite pra atrapalhar
O padre dando umas voltas
Viu o sacristão pecar.

O chantagista de quatro
Perto da cabana tosca
Numa vereda afastada
Gemia e queimava a rosca.

Foi quando ouviu um ruído
E o “Santo” padre a gritar:
Morreu Maria Preá!
E ele teve que calar

O povo diz que essa história
Se deu lá no Ceará
Eu garanto que conheço
Muitas “Maria Preá.”


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 13 de março de 2024

SÓ NA GEMEDEIRA (CORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA)

 

SÓ NA GEMEDEIRA
Dalinha Catunda

 

SÓ NA GEMEDEIRA

*

A Dalinha é bem gigante

Na bela arte do cordel,

Alguns escrevem amargo

Mas ela escreve com mel,

É verdadeira rainha

Ai ..ai ..ui..ui.

Uma grande menestrel...

FRANCISCO ALMEIDA

*

Seu Dr. Sou atrevida,

Na hora de versejar

O mel que ponho nos versos

Não é só para adoçar

É para atrair incauto

Ai.. ai.. ui.. ui

E sem pena ferroar.

DALINHA CATUNDA

*

Conheço-os, bem de perto,

uma rainha e um zangão...

Vem deles o doce mel

que alimenta esse povão.

São abelhas do repente

Ai... ai... ui... ui...

advindas do sertão.

DAVID FERREIRA ...

*

E chegou mais um poeta

Querendo adoçar o bico

Trazendo versos bem feitos

Que respondo e não replico

É mais um nessa colmeia

Ai... ai... ui... ui...

Para aumentar o fuxico.

DALINHA CATUNDA

*

Gemedeira é um estilo

Que mexe com muita gente,

Alguém geme de paixão

E outro por estar doente,

E quem disser que não geme,

Aí.. aí... ui...ui...


É quem geme mais ardente.

FRANCISCO ALMEIDA

*

Nesse estilo meu amigo

Não se geme diferente

E se for de pé quebrado

Quem conhece não consente

E na estrofe tem que ter

Ai... ai... ui...ui...

Ou não aceita o repente.

DALINHA CATUNDA

*

Um gemido é coisa séria,

gemer não é brincadeira!

Geme-se de muitos jeitos,

mas, há a melhor maneira...

Quem não geme de paixão,

ai..., ai..., ui..., ui...


não sabe o qu'é gemedeira.

DAVI FERREIRA

*

É suspiro, é enleio,

O gemido da paixão,

Que brota dentro do peito,

E escapa do coração,

Acaba num sussurrado

ai..., ai..., ui..., ui...


Mas não é lamentação.

DALINHA CATUNDA

*

De verdade, é saborosa

Quem entra na gemedeira

Funga que nem dançarino

Na dança da gafieira

Hoje debuto meu fungo

Ai...,ai....,ui....., ui...

Nessa minha vez primeira!

BASTINHA JOB

*

Quando a tal da gemedeira

Chega e bate no cangote

Arrepia o corpo inteiro

Dançando juntinho um xote

Um geme e outro responde

Ai...,ai....,ui....., ui...

E acaba virando mote.

DALINHA CATUNDA

*

Dependendo do fungado,

tudo pode acontecer, 


se fungar em cima, em baixo,

e ouvir a "nêga" gemer...

Aguarde que a coisa flui,

ai... ai... ui... ui...


um "pansudin" vai nascer!...

DAVID FERREIRA

*

A melhor coisa do mundo

É gemer sem sentir dor,

Sem dúvida, é reflexo

De um desenfreado amor,

E quem diz que não gemeu,

Aí...aí...ui... ui...

É o maior gemedor.

FRANCISCO ALMEIDA

*

Comecei com a gemedeira

Com uns versinhos por aqui

Veio Bastinha do Crato

E temperou com pequi

Chegou David e Almeida

Aí...aí...ui... ui...

Fez sucesso o Piauí.

DALINHA CATUNDA

*

 

Xilo de Carlos Henrique

 


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 06 de março de 2024

NOS BRAÇOS DE UM FURACÃO (CORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA)

 

NOS BRAÇOS DE UM FURACÃO

Dalinha Catunda

Em noite fria de outono
De luar encantador
A lua cheia brilhava
Mostrando seu esplendor
A noite estava tão bela
Entreabri a janela
Com meu ar contemplador

Ao apagar o abajur
Ensaiando pra dormir
Um rumor vindo de fora
Eu imaginei ouvir
Acheguei-me ao travesseiro
Porém despertei ligeiro
E vi meu sono sumir.

Foi quando ele sorrateiro
No meu quarto penetrou
E sem que eu me desse conta
Nesse ambiente se espalhou
Bem de leve me roçava
Num sopro que acarinhava
E o meu corpo despertou.

Chegou brando e carinhoso
Confesso me satisfez
Encantava-me a meiguice
Afagando a minha tez
E não achei que era abuso
A visita desse intruso
Oportunista talvez.

Inteiramente à vontade
Eu me deixei seduzir
Ele entrava, ele saía
E eu gostando do ir e vir
Cada vez que penetrava
O meu corpo arrepiava
meu anseio a consentir.

Foi visita relaxante
Até um dado momento
Ficou mais audacioso
Intenso no movimento
Meus cabelos, desmanchou
Os lençóis, desarrumou
Transformou-se totalmente.

Daí eu me levantei
Tentando uma solução
Tentei fechar a janela
Mas faltou força na mão
Depois desse vento forte
Quase que perco meu norte
Nos braços de um furacão.

 


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 28 de fevereiro de 2024

PRECISO DO SEU CHEIRO (CORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA)

PRECISO DO SEU CHEIRO

Dalinha Catunda

Quando por mim você passa
Eu viro mulher feliz
Tão cheiroso e provocante
Que logo acendo o nariz
E deixo seu cheiro entrar
Só para me deleitar
Pois sou mulher de raiz.

Se sempre acordo bem cedo
É pra provar seu sabor
O meu paladar exige
Antes que eu vá ao labor
Ter você sempre bem quente
Alertando minha mente
Provocando meu calor.

Para ter você comigo
Caminho léguas o pé
Vou até o fim do mundo
E não perco minha fé
De provar do meu neguinho
Nem que seja um golinho
Sou viciada em café!


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 21 de fevereiro de 2024

DUAS GLOSAS - 29.05.2020 (CORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA)

 

DUAS GLOSAS

Dalinha Catunda

Mote de Heliodoro Morais:

Uma porca perde a rosca
Mas não entra em parafuso

* * *

Eu já perdi o juízo
Porém doida não fiquei;
Maus momentos já passei
Mas do pranto fiz sorriso
Do inferno fiz paraíso.,
Da moda que eu fiz uso
É mel em que me lambuzo
E fez minha rima fosca:
“Uma porca perde a rosca
Mas não entra em parafuso”

Bastinha Job

* * *

Sempre fui muito teimosa
Assim minha mãe dizia.
Dessa minha teimosia
Nunca ficou orgulhosa.
Eu seguia toda prosa,
Deixando o povo confuso,
Destilava meu abuso,
Com minha linguagem tosca:
“Uma porca perde a rosca
Mas não entra em parafuso”

Dalinha Catunda


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 14 de fevereiro de 2024

SEM PÂNICO NA PANDEMIA (CORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA)

 

SEM PÂNICO NA PANDEMIA

Dalinha Catunda

 


E vim pra roça, porém,
Esse não é o meu sítio
É a fazenda do meu bem.
Por aqui a gente trepa,
Dia sim outro também,
Pra tirar fruta do pé
Sem pedir nada a ninguém.
Aqui tem pomba, tem rola,
Mas me faz falta o vem vem,
Tem cobra rondando a casa,
Perereca, há mais de cem.
O frio aqui está grande,
Chuveiro quente não tem,
Às vezes é complicado,
Para lavar o sedém,
Entretanto dou meu jeito
Garanto não fico sem.
Pra fugir da Pandemia
Faço tudo que convém
Faço prece e uso máscara
Rogo a Jesus de Belém
Faço figa e simpatia
Se preciso vou além.

 


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 07 de fevereiro de 2024

SÃO JOÃO VIRTUAL (CORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA)

 

SÃO JOÃO VIRTUAL

Dalinha Catunda

Hoje sofro sem São João,
Sem fogueira, sem balão,
E o canto do meu amor.
Retirando seu chapéu,
Dizendo: Olha pro céu,
Repare quanto esplendor!

Chegou a praga, a desdita,
Chegou a peste maldita,
E acabou nossa ilusão
Fiquei sem meu arraial
Pois agora é virtual
Nossa festa e tradição.

Embora fique bem triste
Meu coração não resiste
E me pede pra cantar.
E eu entro na brincadeira
Acendo minha fogueira
E meu facho pra brincar.

Para seguir nova meta
Convido cada poeta
A fazer sua oração
Vamos rimar alegria
Fazer versos com poesia
Para festejar São João.


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 31 de janeiro de 2024

VIVA SÃO JOÃO! (CORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA)

 

VIVA SÃO JOÃO!

Dalinha Catunda

Mote desta colunista:

Quem vive, saltou fogueira
E eu grito: Viva São João.

Meu povo, vou festejar,
Vou buscar minha alegria,
Entocar melancolia,
Medo não vai me acuar.
Se quiser pode chegar,
Para essa celebração,
Em nome da tradição
Entre nessa brincadeira:
Quem vive, saltou fogueira
E eu grito: Viva São João.


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 24 de janeiro de 2024

A ROLA DA CONCEIÇÃO (CORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA DALIMHA CATUNDA)

 

A ROLA DA CONCEIÇÃO

Dalinha Catunda

1
Conceição mulher católica
Filha de Dona Prazer
Era uma moça sem vício
Vivia o povo a dizer
Mas arrumou uma rola
Pra com ela se entreter.

2
Quando baixou no terreiro
A rola desmilinguida
Conceição logo gostou
Daquela pomba perdida
Resolveu dela cuidar
E já estava decidida.

3
Dona Prazer espantou
A pomba que apareceu
Porém Conceição com pena
A dita cuja acolheu
Foi na mão de Conceição
Que aquela rola cresceu

4
A moça meio inocente
Deu logo casa e comida
A rola desenvolveu
E foi ficando sabida
Conceição se emocionava
Ao ver a rola crescida.

5
A pomba ficou vistosa
Com carinho era tratada
Logo se via que a rola
Era bem alimentada
Quem vê hoje nem percebe
Que um dia fora enjeitada.

6
Conceição passava o dia
Paparicando a tal rola
Era uma pomba manhosa
Que fazia ela de tola
mas quando a rola sumia
Ela dava até “pirôla.”

 

7
A mãe já tinha era nojo
Vendo o chamego danado
Porque onde a filha ia
Levava a pomba do lado
E por onde ela passava
Se ouvia o cochichado:

8
A moça perdeu o juízo
Depois que adotou a pomba
E nem percebe que a rola
Muitas vezes dela zomba
Quando alguém vai avisar
Conceição fica de tromba.

9
Sei que deu o que falar
O grude de Conceição
O povo já comentava
E a mãe passava sermão
Mas ela apenas dizia
A rola é de estimação.

10
Diante dos comentários
Uma mãe acabrunhada
Testemunha do destroço
Mas sem poder fazer nada
Pensava com seus botões
Minha filha está lascada.

11
O pior de tudo isso
Eu agora vou contar
Lá na casa da vizinha
A rola foi se enfiar
Para ver seu periquito
Que era muito popular.

12
O certo é que Conceição
Faltava era ficar louca
Quando a rola escapulia
Gritava de ficar rouca
E esculhambava a vizinha
A briga não era pouca.

13
Tenha vergonha na cara:
Dizia Dona Pureza
Deixe de lado essa pomba
Que anda de safadeza
Aqui não vai mais entrar
Pois já chega de esperteza.

14
Mamãe quero minha rola
Sem ela vou padecer
Essa rola é minha vida
O meu maior bem querer
Sem minha pomba querida
Não tem graça o meu viver.

15
A rola de Conceição
Era uma rola fujona
Agora estava aninhada
Mas no colo de outra dona
Pois gostou do periquito
Da tal vizinha ladrona.

16
Aquela rola-cabocla
Deu desgosto a Conceição
Por causa da rola-grande
Sofria seu coração
Com raiva da rola-roxa
Chegou a ter depressão.

17
Eu só sei que a pomba-rola
Não largava o periquito
Dona Pureza lutava
Para abafar o conflito
E a vizinha debochada
Botava fogo no atrito.

18
Dona Pureza zangada
Deu uma de ignorante
E foi dizendo pra filha
Com raiva naquele instante
Pare de chorar por rola
Pois toda pomba é migrante.

19
E se hoje uma rola vai
Depois outra rola vem
Você gostou dessa pomba
Vai gostar d`outra também
Pare com tanta lamúria
Pois isso não fica bem.

20
Aquilo era uma pombinha
Era só uma avoante
Aquelas pombas de bando
Era rola retirante
Vai largar o periquito
E vai seguir adiante.

21
Eu já peguei muita rola
Com esse meu alçapão
Porém não prendi nenhuma
Meu oco não foi prisão
Rola a gente cria é solta
Voando na imensidão.

22
Esqueça a rola-cabocla
Pare com essa tristeza
No quintal eu ouço arrulhos
Pelo jeito é de burguesa
Escute o que está dizendo
Sua mãe dona Pureza.

23
Conceição foi se acalmando
Logo parou de chorar
Olhou para o cajueiro
Viu a burguesa arrulhar
E armou seu alçapão
Para a burguesa pegar.

24
Não chore pombas perdidas
Porque as pombas se vão
Isso já disse um poeta
Eu prestei bem atenção
Aproveite pra voar
Dê asas ao coração.


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 17 de janeiro de 2024

GLOSAS - 12.09.2020 (CORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDAo

 

GLOSAS

Dalinha Catunda

Mote desta colunista:

Pra comer Maria Izabel
Ele largou meu cuscuz.

Já cansei de repetir
Essa história que hoje conto
Não aumento nem um ponto
Isso posso garantir
Se você quiser ouvir
A Deus peço muita luz
E nos versos que compus
Repito o que diz Raquel:
Pra comer Maria Izabel
Ele largou meu cuscuz.

Esse caso aconteceu
Pras bandas do Ceará
Com Raquel que é de lá
E um sujeito conheceu
Do cuscuz dela comeu
E já gritou: Ai Jesus!
Da comida que seduz
Virou um freguês fiel:
Pra comer Maria Izabel
Ele largou meu cuscuz.

Aqui na minha pensão
Ele vinha todo dia
E demonstrando alegria
Fazia sua refeição
E fez a propagação
Do jeito que lhe propus
Botou foto no capuz
Do seu antigo corcel:
Pra comer Maria Izabel
Ele largou meu cuscuz.

O negócio foi crescendo
Eu ganhava, ele ganhava
A freguesia aumentava
E a propaganda comendo
Porém eu fui percebendo
E não apenas supus
Com ele já me indispus
Após provar do seu fel:
Pra comer Maria Izabel
Ele largou meu cuscuz.

Traída covardemente
Eu fui e ele nem negou
Disse que se apaixonou
Por um menu diferente
Arroz com carne presente
Que a cozinheira introduz
A minha raiva eu expus
Diante do seu papel:
Pra comer Maria Izabel
Ele largou meu cuscuz.

Quem comeu na minha mão
Sabe que sei cozinhar
Pois tenho bom paladar
E sou boa de fogão
Agora preste atenção
No peso da minha cruz
Foi pior do que supus
A minha saga cruel:
Pra comer Maria Izabel
Ele largou meu cuscuz.

 


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 10 de janeiro de 2024

NO SONHO AZUL (CORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA DELINHA CATUNDA)

 

NO SONHO AZUL

Dalinha Catunda 

Foto desta colunista

 

 

Porque era dia de trem
Ela se fez mais bonita
Fez um rabo de cavalo
Botou um laço de fita
Um vestidinho florido
Presente do seu querido
Uma alegria infinita.

Quando o trem longe apitou
Ela pegou a frasqueira
E cheirando a alfazema
Corria toda faceira
Porque dentro do vagão
Estava sua paixão
De tantas, era a primeira.

Entrou toda saltitante
E depressa foi notada
Porém nada foi surpresa
Estava sendo esperada
Na poltrona acomodados
O casal de namorados
Seguiram sua jornada.

E Dentro do sonho azul
Nasce o sonho cor de rosa
Entre os dois apaixonados
Na viagem venturosa
Quem não soube ter coragem
Perdeu o trem e a bagagem
E não foi vitoriosa.

 


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 03 de janeiro de 2024

CARREIRÃO DE MULHER (CORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA)

 

CARREIRÃO DE MULHER

Dalinha Catunda 

Sou poeta popular
Nos versos sou estradeira
Quando pego um carreirão
Meu verso não tem barreira
Sempre tive a língua solta
Pois gosto de brincadeira
Quando chego num alpendre
Puxo logo uma cadeira
E desenrolo meu verso
Sem esquentar a moleira
Ninguém derruba meu verso
Com pedra de baladeira.
Quem for fraco de poesia
Pode pegar na carreira
Meu angu aqui é quente
Não se come pela beira
Quando retoco o batom
Mostro meu lado brejeira.
Tem muita gente que aplaude
Meu verso de cantadeira
Porém tem gente que diz
Que apenas falo besteira
Não canto sem minha figa
Não passo sem benzedeira.
Aprendi meu carreirão
Ouvindo Pedro Bandeira
Escrevo meus absurdos
Por causa de Zé Limeira
Eu só não aprendo nada
É quando esbarro em toupeira.
Esse canto encarrilhado
É canto de catingueira
Que não erra na flechada
Porque sabe ser certeira
SE TEM CANTO DE SEGUNDA
O MEU CANTO É DE PRIMEIRA.


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 27 de dezembro de 2023

GLOSAS - 12.09.2020 (CORDEL DA COLUNISTA DALINHA CATUNDA)

 

GLOSAS

Dalinha Catunda

Mote desta colunista:

Pra comer Maria Izabel
Ele largou meu cuscuz.

Já cansei de repetir
Essa história que hoje conto
Não aumento nem um ponto
Isso posso garantir
Se você quiser ouvir
A Deus peço muita luz
E nos versos que compus
Repito o que diz Raquel:
Pra comer Maria Izabel
Ele largou meu cuscuz.

Esse caso aconteceu
Pras bandas do Ceará
Com Raquel que é de lá
E um sujeito conheceu
Do cuscuz dela comeu
E já gritou: Ai Jesus!
Da comida que seduz
Virou um freguês fiel:
Pra comer Maria Izabel
Ele largou meu cuscuz.

Aqui na minha pensão
Ele vinha todo dia
E demonstrando alegria
Fazia sua refeição
E fez a propagação
Do jeito que lhe propus
Botou foto no capuz
Do seu antigo corcel:
Pra comer Maria Izabel
Ele largou meu cuscuz.

O negócio foi crescendo
Eu ganhava, ele ganhava
A freguesia aumentava
E a propaganda comendo
Porém eu fui percebendo
E não apenas supus
Com ele já me indispus
Após provar do seu fel:
Pra comer Maria Izabel
Ele largou meu cuscuz.

Traída covardemente
Eu fui e ele nem negou
Disse que se apaixonou
Por um menu diferente
Arroz com carne presente
Que a cozinheira introduz
A minha raiva eu expus
Diante do seu papel:
Pra comer Maria Izabel
Ele largou meu cuscuz.

Quem comeu na minha mão
Sabe que sei cozinhar
Pois tenho bom paladar
E sou boa de fogão
Agora preste atenção
No peso da minha cruz
Foi pior do que supus
A minha saga cruel:
Pra comer Maria Izabel
Ele largou meu cuscuz.


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 20 de dezembro de 2023

A ÁRVORE QUE ME REPRESENTA (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

 

A ÁRVORE QUE ME REPRESENTA
Dalinha Catunda
 
 
*
Eu hoje vivo na roça
Recordando meu sertão,
Pois é lá daquelas brenhas,
Que retiro inspiração.
Minha Árvore de Natal,
Tentei fazer uma igual,
Com alguma inovação.
*
Peguei garrancho no mato,
Tirei as folhas, limpei,
E numa lata de vinte
Areia lá coloquei.
E depois chegou a vez
Do paninho de xadrez,
Pra envolver a lata usei.
*
Como eu sou cordelista,
Para a árvore enfeitar,
Dependurei meus cordéis,
Que tem tanto pra contar…
Das histórias do sertão,
Que trago no coração,
E gosto de relembrar!
*
Minhas bonecas de pano?
No Natal muitas ganhei!
Como artesã de bonecas,
Algumas eu pendurei,
Frutos da recordação,
Que marcam a tradição,
Coisas que vivenciei.
*
Quando saí do Nordeste
Mãe solteira e minha cruz
Me apeguei no meu caminho
A santa Mãe de Jesus.
Minha base a cada dia,
Era Jesus e Maria,
Meu caminho foi de luz.
*
Versos e arte de Dalinha Catunda
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 13 de dezembro de 2023

UM CARREIRÃO DE NOTÍCIAS (CORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA)

 

UM CARREIRÃO DE NOTÍCIAS

Dalinha Catunda

Amigos, estou na roça
Nem sei quando vou voltar
Estou desde fevereiro
E terminei por ficar
Essa vidinha no campo
É coisa pra me agradar.
Porém quando a chuva chega
Com vento forte a soprar
Eu fico sem internet
Aqui tudo sai do ar
Por isso minhas postagens
Eu fico sem comentar.
Fora isso eu acho bom
E estou a me renovar
Eu faço queijo de coalho
E de Minas por gostar
E faço doce de leite
Pra gente aqui merendar.
O feijão verde e maxixe,
Já tá dando pra apanhar,
Tem quiabo e berinjela,
Jerimum pra variar,
E tudo isso me agrada,
Pois gosto de cozinhar.
Tem um alpendre com redes
Quando quero descansar
Quando me bate a preguiça
Logo corro pra deitar
É de lá que vejo a lua
Com seu brilho a despontar.
A passarada faz festa
E passa o dia a cantar
Tem pitanga, tem groselha
Pra passarinho bicar
As mangueiras carregadas
Estão começando a dar.
Por aqui eu vou ficando
Porém volto a relatar
As novidades da roça
Desse meu mais novo lar
Um abraço para todos
Aqui eu quero deixar.

Cachoeiras de Macacu-RJ, 9/10/ 2020


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 06 de dezembro de 2023

EXALTANDO A NATUREZA (CORDEL DA COUNISTA MADRE SUPERIORA DALINDA CATUNDA)

 

EXALTANDO A NATUREZA

Dalinha Catunda

Fotos da colunista

 

Eis-me aqui neste recanto
E sem arrependimento
Dos pássaros ouço o canto
Bendigo cada momento
A brisa traz acalanto
Viajo no pensamento.

Desfruto dessa bonança
No verde desse lugar
No peito cresce a esperança
Assim me ponho a sonhar
Nos passos da nova dança
Danço sem me alvoroçar.

Contemplando a natureza
Obra de Nosso Senhor
Onde a lua é realeza
Onde o sol tem esplendor
Celebro toda beleza
Nesses meus versos de amor.

 


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 29 de novembro de 2023

NOS TRILHOS DA MOCIDADE (CORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA)

 

NOS TRILHOS DA MOCIDADE

Dalinha Catunda

Foto desta colunista

 

O velho trem da saudade
Resolveu me visitar
Na bagagem a lembrança
É tanta, chega a pesar
Abro a porta do vagão
E deixo a recordação
Pelos trilhos me guiar.

Êta saudade danada
Que bateu, mas foi de mim
Menina moça levada
Batom da cor de carmim
Faceira e desaforada
Pela vida apaixonada
Como eu gostava de mim.

Nas tertúlias da cidade
Era a primeira a chegar
Pra “tirar uma fornada”
Com quem soubesse dançar
Dançava bem um brecado
Um bolero apaixonado
E sem “macaco botar.”

Short curto, minissaia
Era assim que eu me vestia
Minha mãe era moderna
E para minha alegria
Gostava de costurar
E a gente podia usar
A roupa que bem queria.

Passear de bicicleta
Era outra diversão
Cidade do interior
Ipueiras, meu sertão
Banhos de açude e de rio
Quando recordo sorrio
Fui feliz em meu rincão.

Passei por cima de tudo
Pra viver em liberdade
Desdenhei até das leis
Da nossa sociedade
Liberta da hipocrisia
E sem precisar de guia
Vivi só minha verdade.


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 22 de novembro de 2023

DEVANEANDO (CORDEL COM A COLUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA) VÍDEO

 

DEVANEANDO

Dalinha Catunda

 


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 15 de novembro de 2023

GLOSANDO NA REDE (CORDEL DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA)

 

GLOSANDO NA REDE

Dalinha Catunda

Ciranda de glosas com mulheres, coordenada por esta colunista, idealizadora do Cordel de Saia

 

* * *

Mote de Medeiros Braga:

Não fora nosso Nordeste
Seria pobre o Brasil

* * *

Dalinha Catunda – Rio de Janeiro-RJ:

Berço da mulher rendeira,
E de Maria Bonita.
A Raquel trouxe na escrita
Maria Moura Guerreira,
A força da brasileira,
A que enfrentou cada ardil!
Mostrando bem seu perfil
De forte mulher do agreste:
Não fora nosso Nordeste
Seria pobre o Brasil

Bastinha Job – Crato-CE:

O Ceará de Alencar
De Peri, de Iracema,
De Ceci prosa em poema
Do verde-azul do mar;
Tem o Ferreira Goulart,
Gonzagão, Gilberto Gil,
Patativa é nota mil
Nossa Arte é inconteste:
Não fora nosso Nordeste
Seria pobre o Brasil

Vânia Freitas – Fortaleza-CE:

O nordeste brasileiro
Banhado de sol e mar
Tem nas noites de luar
O canto do violeiro
Que embala nosso terreiro
Com seu verso mais sutil
Que encanta com mais de mil
O sul norte leste e oeste
Não fora nosso Nordeste
Seria pobre o Brasil

Rosário Pinto – Rio de Janeiro-RJ:

A mulher faz seu papel
Escreve com linhas finas
Histórias de heroínas
Maneja bem o pincel
Em versos de menestrel.
São muitas na poesia,
E na prosa, em demasia,
Nos romances, mais de mil.
Do Norte até o Leste
Não fora nosso Nordeste
Seria pobre o Brasil

Dodora Pereira da Silva – Juazeiro-CE:

Mulher guerreira e forte
Enfrenta o sol causticante
Com um sorriso intrigante
E o amor é seu suporte
O poeta é que tem sorte
Essa musa é nota mil
Contrastando o céu de anil
Com esse seu solo agreste
Não fora nosso Nordeste
Seria pobre o Brasil

Lindicássia Nascimento – Barbalha-CE:

O Nordeste brasileiro
É de fato um braço forte
Esse país tem é sorte
Por não ser do estrangeiro
Sendo bravo e tão guerreiro
De arte e belezas mil
Nós traçamos o perfil
Do rico cabra da peste
Não fora nosso Nordeste
Seria pobre o Brasil


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 08 de novembro de 2023

COMADRE INTÉ OUTRO DIA (CORDE COM A MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, CLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO) VÍDEO

Parodiando Zé Praxedes

 


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 01 de novembro de 2023

BORDANDO VERSOS (CORDEL DA MADRE SUPERIOR ADALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

BORDANDO VERSOS

Dalinha Catunda

Mote e foto desta colunista

Dalinha Catunda:

Como quem faz um bordado
Vou fiando meu cordel
Procurando ser fiel
Tramo com todo cuidado
Cada ponto do traçado
Faço com dedicação
Trago a metrificação
Pra cada verso compor
Faço rimas com amor,
Faço cordel com paixão

Bastinha Job:

Procuro tecer meu verso
Primando na isometria
Busco a isorritmia
Poesia é meu universo
Na mensagem me alicerço
Daí vem pura emoção,
Catarse, satisfação
Compromisso no lavor:
Faço rimas com amor,
Faço cordel com paixão

Jesus de Ritinha:

Eu entro na brincadeira
Agricultando poesia
Plantando com alegria
A semente brotadeira
Levo também uma esteira
Que estendo com a mão
Para dessa plantação
Colher frutos de primor
Faço rimas com amor,
Faço cordel com paixão

David Ferreira:

Não entendo de bordado,
mas eu vi mamãe tecer.
Não consegui aprender,
porquê homem do cerrado
não podia ser prendado,
fazer bordado de mão,
pisar arroz no pilão,
era visto com temor…
Faço rimas com amor,
Faço cordel com paixão

Rosário Pinto:

Faço rima faço prosa.
Procuro ter alegria.
O meu cantar se irradia
Para alguns me chamo Rosa
Eu gosto de fazer glosa
Não conheço a solidão
Trago sempre uma canção
Canto com muito fervor
Faço rimas com amor,
Faço cordel com paixão

Vânia Freitas:

Dedico meu tempo à arte
Eu faço que nem Dalinha
Também não saio da linha
Vou fazendo minha parte
Assim como ela reparte
Com muita dedicação
Eu tiro do coração
Algum som do meu tambor
Faço rimas com amor,
Faço cordel com paixão

Gevanildo Almeida:

Tiro o verso da cachola
Faço ele flutuar
Sou poeta popular
Desses que não se enrola
Só não sei tocar viola
Mas na minha intuição
Metrifico a oração
Na verso que vou impor
Faço rimas com amor,
Faço cordel com paixão

Francisco Chagas:

Eu descrevo a natureza.
O sol, a lua e estrelas.
Eu tenho o prazer de vê-las.
Se eu tiver com tristeza.
Quando olho pra grandeza.
Do Deus Pai da Criação.
Sinto no meu coração.
Muita alegria e vigor
Faço rima com amor.
Faço cordel com paixão.

Rivamoura Teixeira:

Eu sou mei intrometido
Doido levado da breca
Quero brincar de peteca
E este tema é tão querido
Eu também tenho mantido
Esta forma de expressão
Traço com dedicação
Metrifico com fervor
Faço rimas com amor
Faço cordéis com paixão

Creusa Meira:

Na infância fiz bordado
Que a minha mãe ensinava
Tricô e renda, eu tentava
E meu pai tinha guardado
Os versos do seu passado
Eu lia com atenção
Fui aprendendo a lição
E hoje posso dar valor
Faço rima com amor.
Faço cordel com paixão.

José Walter Pires:

Viver “pintando e bordando”
Foi expressão popular;
Mas não sei como explicar,
Às meninas, comparando,
Ou só ficar criticando
Os rumos da evolução,
Com tamanha tentação,
Desafiando o pudor.
Faço rima com amor.
Faço cordel com paixão.


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 25 de outubro de 2023

NÃO ME AVEXE NÃO! (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

NÃO ME AVEXE NÃO!

Dalinha Catunda

De poeta e de louca
Eu tenho minha quantia
Tem horas que jogo pedra
Noutras faço poesia
Quando chega o aperreio
Que fico de saco cheio
Minha razão avaria.

Não sou mulher de motim
De bando também não sou
Penso com minha cabeça
Seguir magote não vou
Não sou mulher melindrada
O papel da vitimada
Minha garra dispensou.

Não compro briga dos outros
Pra ficar em evidência
Por favor não me acumule
Tenho pouca paciência
Pois quando o caso é comigo
Não meto nenhum amigo
Tomo logo providência

Nunca gostei de cobranças
Não cobro amor a ninguém
E para ser bem sincera
Nem amizade também
Sentimento é conquistado
Jamais será fabricado
Só se dá quando se tem.


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 18 de outubro de 2023

QUANDO EU ESTICAR AS CANELAS (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO) - VÍCEO

 

 

 

 

Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 11 de outubro de 2023

PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DE RAÍZES (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

 

 


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 04 de outubro de 2023

SUBI NA PIROGA E PEGUEI NO JACUMÃ (CODEL DA MADRE SUPERIOA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

Foto desta colunista

 

 

Num passeio inusitado
Fui visitar uma oca
Um índio quase pelado
Levou-me a sua maloca
Nessa bonita manhã
Pegando em seu jacumã
Saí com ele da toca.

O passeio foi bonito
Em meio a natureza
Subi na sua piroga
E achei uma beleza
E no banho no riacho
Ele perdeu o penacho
Que caiu na correnteza.

Ao voltarmos do passeio
Eu estava esbaforida
Ele me trouxe cauim
Eu aprovei a bebida
Não saí daquela loca
Sem entrar na mandioca
Gostei muito da comida.


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 27 de setembro de 2023

UMA RODA DE GLOSAS - 17.01.21 (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNSTA DO ALMANAQUE RAMUNDO FLORIANO)

 

UMA RODA DE GLOSAS

Dalinha Catunda

Não sei se tomo na bunda
Ou no braço vou tomar.

Mote desta colunista

Dalinha Catunda:

Eu posso dizer que há anos
A vacina salva vidas.
Eu que sou das precavidas
Pra não sofrer desenganos,
E evitar maiores danos,
Também vou me vacinar.
Tô vendo a hora chegar!
Mas a dúvida é profunda:
Não sei se tomo na bunda
Ou no braço vou tomar.

Bastinha Job:

Chinesa não tomo não
nem na bunda, nem no braço
coronavac… fracasso,
China não é salvação
buscarei outra opção
A Oxford aceitar
se a Moderna chegar,
a picada vai ser funda:
Não sei se tomo na bunda
Ou no braço vou tomar.

Creusa Meira:

Na fila eu amanheço
Pego a preferencial
Passo longe de hospital
UTI eu não mereço
Quero logo o endereço
Quando o dia D chegar
Se na hora H falhar
A primeira e a segunda
Não sei se tomo na bunda
Ou no braço vou tomar.

Chica Emídio:

Pode ser no mei da testa,
Na barriga, ou no bumbum
Não vou excluir nenhum
Eu quero é fazer a festa
Se assim for o que resta
Só não quero é me isolar
Chega de trancafiar
Igual Dalinha Catunda:
Não sei se tomo na bunda
Ou no braço vou tomar.

Vânia Freitas:

Gente estou assustada
Com tanta gente falando
Da bruta vacina entrando
Tô ficando aperreada
Bunda e braço na jogada
O braço dá pra pensar
Bunda não vou cutucar
A coisa é muito profunda
Não sei se tomo na bunda
Ou no braço vou tomar.

Lindicassia Nascimento:

Já que não tem outro jeito
Eu vou ter que aceitar
Dessa vez não vou chorar
Vou deixar entrar direito
Quero sentir o efeito
Levemente sem gritar
Sei que vou me emocionar
Não vou ficar moribunda
Não sei se tomo na bunda
Ou no braço vou tomar.

Sueli Diniz:

O vírus veio com tudo
A vacina é necessária
A vida tá temerária
Pra isso teve o estudo
Tem que ser muito peitudo
Tem que gostar de arriscar
Pra nela não apostar
D’onde a vida se oriunda
Não sei se tomo na bunda
Ou no braço vou tomar.

Djenane Emídio

Como logo se anuncia
Tenho cá os meus receios
Se já encontraram os meios
Da cura da pandemia…
Peço a Deus que é meu Guia
Pra que eu possa confiar
E venha assim declamar:
Vacina, em mim se difunda!
Não sei se tomo na bunda
Ou no braço vou tomar.


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 20 de setembro de 2023

UMA RODA DE GLOSAS - 23.01.21 (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNSTA DO ALMANAQUE RAMUNDO FLORIANO)

 

UMA RODA DE GLOSAS

Dalinha Catunda

Não sei se tomo na bunda
Ou no braço vou tomar.

Mote desta colunista

Dalinha Catunda:

Eu posso dizer que há anos
A vacina salva vidas.
Eu que sou das precavidas
Pra não sofrer desenganos,
E evitar maiores danos,
Também vou me vacinar.
Tô vendo a hora chegar!
Mas a dúvida é profunda:
Não sei se tomo na bunda
Ou no braço vou tomar.

Em minha última coluna, este meu mote foi glosado por mulheres. Hoje ele será glosado por homens.

* * *

Gevanildo Almeida

Dalinha e Bastinha estão
Com uma dúvida danada
Mais confesso essa picada
Não tá na minha intenção
Não sei se vou tomar não
Decidi, não vou tomar
Ela pode me agravar
Mas vou se seguir a Catunda
Não sei se tomo na bunda
Ou no braço vou tomar.

Rivamoura Teixeira

Vou usar a consciência
Fazer avaliação
Não digo não tomo não
Vou pensar fazer prudência
Vou saber da tal ciência
Pra melhor avaliar
Essa dúvida é de lascar
Vou optar pela segunda
Não sei se tomo na bunda
Ou no braço vou tomar.

Assis Mendes

Quando chegar a vacina,
Quero tomar sem demora,
Mandar o corona embora,
Pra ver se esse mal termina,
Seja daqui ou da china,
Eu quero é me vacinar,
E hora da agulha entrar,
Que a dor não seja profunda,
Não sei se tomo na bunda
Ou no braço vou tomar.

Francisco Jairo Vasconcelos

Vou tomar é qualquer uma
Tô esperando liberar
Vou ver no que, isto vai dar
Quero que o corona suma
Pare de morrer de ruma
Eu tomo em qualquer lugar
Pois importante é curar
Esta dúvida profunda,
Não sei se tomo na bunda
Ou no braço vou tomar.

Joab Nascimento

Já que não tem mais remédio
Tomei todo tipo de chá
De marmeleiro ao juá
Não acabei com meu tédio
Comecei a ter assédio
Para picada enfrentar
Deu trabalho pra relaxar
Foi concentração profunda
Não sei se tomo na bunda
Ou no braço vou tomar.

Giovanni Arruda

Qualquer um laboratório
Não fará a diferença
Eu só vou pedir licença
Pra não ser supositório
Pois já fui repositório
Hoje nem deixo triscar.
Na bochecha inda vá lá
Que a mão não se aprofunda
Não sei se tomo na bunda
Ou no braço vou tomar.

Pedro Sampaio

A tal vacina chinesa
Garantia questionada
Com tanta gente assustada
Deixa minha mente acesa
Com medo de virar presa
Também do bicho pegar
Logo começo a chorar
A lágrima já me inunda
Não sei se tomo na bunda
Ou no braço vou tomar.


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 13 de setembro de 2023

CORDEL, A TRADIÇÃO DO REISADO (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

Esse cordel participou em Janeiro de 2021 do Sesc Cordel Podcast Crato-Ceará

 

Desenho desta colunista

 

1
Hoje vou pegar retalhos
De histórias no pensamento
Pra costurar um cordel
Tecendo cada momento
Com fios da tradição
Na trama da narração
Expondo cada elemento.

2
É da tradição cristã
Essa festa que seduz
E tem como inspiração
O pequenino Jesus
E a visita dos Reis Magos
Que trouxeram seus afagos
Guiados por uma luz.

3
Seguindo uma bela estrela
Belchior e Baltasar
Fizeram longo percurso
Lado a lado com Gaspar
Pois saíram do oriente
Cada um com seu presente
Para o menino ofertar

4
O ouro, o incenso e a mirra
Trouxeram na ocasião
E ofertaram a Jesus
Em meio a adoração
Nasceu desse ritual
O presente de Natal
Que se tornou tradição.

5
Nascimento de Jesus
Passou a ser celebrado
O mundo inteiro faz festa
E nós fazemos dobrado
Nasce a festa popular
Divina espetacular
A qual chamamos Reisado.

6
E foram os portugueses
Em tempos coloniais
Que trouxeram seus costumes
Legado dos ancestrais
Culinária e devoções
Festas e celebrações
Herdamos os rituais.

7
No dia seis de janeiro
Tem festejo e alegria
O povo todo animado
Se prepara nesse dia
E na Folia de Reis
Brincantes de muitas greis
Celebram com cantoria.

8
A festa é bem variada
Em sua apresentação
Quando se tira reisado
É feita a visitação
Um grupo de porta em porta
Em cada morada aporta
Com cantos de louvação.

9
Louvam o dono da casa
E Jesus de Nazaré,
Sem esquecer de Maria
E também de São José
Para a festa pedem prendas
Logo após as oferendas
Prossegue o cortejo a pé.

10
O grupo sempre arrecada
Bebida e também dinheiro
Apresentam-se em praça,
Em alpendre e em terreiro
Vestidos com fantasia
Vão espalhando alegria
Num trajeto prazenteiro.

11
A Festa dos Santos Reis
Também chamamos Reisado
E de Folia de Reis
Dependendo do condado
Cada um tem seu enredo
Para atrelar ao folguedo
Costumes próprio do Estado

12
Cada grupo tem seu mestre
E também sua bandeira
Usam roupas coloridas
Dançam, fazem brincadeira
Instrumentos musicais
Até bandas cabaçais
Pra animar a pagodeira.

13
Tem viola e violão
Tudo enfeitado com fita
Tem reco-reco e sanfona
Também cantiga bonita
Tem o toque do pandeiro
Tem tambores no terreiro
Muitas cores muita chita.

14
No Cariri Cearense
O Reisado é tradição
A festa é bem grandiosa
É de chamar atenção
Pois ali brinca a criança
Repleto de esperança
Também brinca o ancião.

15
Tem dança, teatro e música
Todo tipo de reisado
Tem de couro e de careta
Grupo diversificado
Também nessa caminhada
Ainda tem a congada
Tudo bem organizado.

16
Em cada apresentação
Seja nas casas ou praça
A meninada feliz
Do palhaço instiga graça
E Mateus chega animado
Pulando pra todo lado
Em cena não se embaraça.

17
Sempre ao lado de Mateus
Nessa festa nordestina
Aparece chafurdando
A gaiata Catirina
Com as suas presepadas
O povo dá gargalhadas
Enquanto ela desatina.

18
O feioso Jaraguá
De todos chama atenção
Já chega batendo o bico
Dançando com seu jeitão
Ele mexe o corpo inteiro
E faz o maior salseiro
E agrada a população.

19
Tem, mestre, rei e rainha
Nos folguedos pra Jesus
E tem coroa dourada
Que na cabeça reluz
Cada vez que o mestre apita
O grupo entra na fita
E assim o mestre conduz.

20
A burrinha é atração
Sapeca e bem aplaudida
Sua dança é envolvente,
Sua veste é colorida
Bem faceira e dançadeira
Faz parte da Brincadeira
E dança toda exibida.

21
Entre o gracejo e a dança
Tem combate tem porfia
Lembrando os gladiadores
Na luta que contagia
Geração a geração
Se pratica a tradição
De adereço e fantasia.

22
É bem diversificada
Essa festa popular
É a vontade do povo
Que faz o Reisado andar
Só com criatividade
Paixão e capacidade
Se consegue festejar.

23
É profana e é sagrada
é de maria e José
É festa que se destina
Ao bom Rei de Nazaré
É festa pro nordestino
Que ao Tirar o Divino
Iça o estandarte da fé.

24
Para falar de Reisado
Fui seguindo a minha Luz
Como fez os três Reis Magos
Ao visitarem Jesus
Foi a musa estrela guia
Ela de noite ou de dia
É sempre quem me conduz.


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 06 de setembro de 2023

MEU JEITO AGRESTE (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

MEU JEITO AGRESTE

Dalinha Catunda

 


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 30 de agosto de 2023

UMA RODA DE GLOSAS -10.02.2021 (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO AMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

Mote desta colunista:

É duro dar luz a cego
Que não pretende enxergar.

* * *

Dalinha Catunda:

Não sou dona da verdade
O bom senso assim me diz
Na vida sou aprendiz
Mas sempre bate a vontade
De repassar qualidade
A quem deseja ingressar
Com regras no versejar
E o pouco que sei não nego
É duro dar luz a cego
Que não pretende enxergar.

Rivamoura Teixeira:

Eu já dei até a dica
De como faz o traçado
O x do metrificado
Ele diz _exemplifica
Mas parece q ele fica
Olhando a banda passar
Ou prefere só ficar
Nesse pequenino ego
É duro dar luz a cego
Que não pretende enxergar.

Dulce Esteves:

Meus parcos conhecimentos
Gosto de compartilhar
Convidei, vamos estudar
Mas, me causou foi tormentos
Esses tristes elementos
Só souberam foi negar
Disse: eu sei metrificar
Esse peso não carrego
É duro dar luz a cego
Que não pretende enxergar.

Creusa Meira:

Às vezes a gente fala
Até com certo cuidado
Que o verso tem pé quebrado
Mas a pessoa se cala
Segue o caminho e embala
Mostrando não se importar
Vai querer me martelar
Mas afirmo, não sou prego
É duro dar luz a cego
Que não pretende enxergar.

Giovanni Arruda:

Precisa ter paciência
Pois no começo é assim
Fica pensando no fim
E quebra toda a cadência
Perde do verso a essência
Quem prioriza contar,
Eu aconselho tentar
Mas uma coisa não nego
É duro dar luz a cego
Que não pretende enxergar.

Bastinha Job:

É malhar em ferro frio
pedra que água não fura
clarear a noite escura
secar o leito do rio,
receita sem ter avio,
um ganho sem conquistar,
Poeta sem se inspirar
Tudo isso veto e renego:
É duro dar luz a cego
Que não pretende enxergar.


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 23 de agosto de 2023

CHUVA DE POESIA (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

CHUVA DE POESIA

Dalinha Catunda

Bastinha Job:

Pra mim a chuva é tela
De uma linda pintura
No meu Cratinho ela cai
Cai agora com ternura
Meu coração tá contente
A chuva ,o melhor presente
Traz promessa de fartura!

Lindicássia Nascimento:

É festa na agricultura
Alegria pra o sertão
Sertanejos se animam
Com o relâmpago e o trovão
A chuva é a esperança
Para o tempo de bonança
Pra quem fez a plantação.

Dalinha Catunda:

Chuva caindo no chão
Atiça minha saudade
Nós dois no banho de chuva
Numa casualidade
Enquanto a chuva caía
O casal feliz sorria
Ungindo a felicidade.


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 16 de agosto de 2023

RODA DE GLOSAS - 13.02.2021 (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIUNDO FLORIANO)

 

RODA DE GLOSAS

Dalinha Catunda

Mote desta colunista:

Eu tenho raiva de gente
Que vive se lastimando

* * *

Dalinha Catunda:

Procurando o que fazer
Eu acordo todo dia
Dispenso a melancolia
E procuro me envolver
Com tudo que dá prazer
E da vida vou cuidando
Pois tendo Deus no comando
Sei que vou seguir em frente:
Eu tenho raiva de gente
Que vive se lastimando

Gevanildo Almeida:

Não me lastimo de nada
Que a vida me apronta
Seja o que for eu dou conta
Com minha boca fechada
Não sou chegado a zoada
Vou logo lhe avisando
Não venha me perturbando
Com cara de deprimente
Eu tenho raiva de gente
Que vive se lastimando

Bastinha Job:

Escreva um belo poema,
limpe bem a sua casa
Voe alto, crie asa,
Rejeite qualquer sistema
Que lhe prende na algema
Sua vida cerceando,
Não fique se lamentando
Isso odeio imensamente:
Eu tenho raiva de gente
Que vive se lastimando

Francisco de Assis Sousa:

Cada momento da vida
Vale a pena se viver
Eu quero todo prazer
Antes da minha partida
Abomino despedida
Cada dia celebrando
E assim eu vou levando
A vida gostosa e quente
Eu tenho raiva de gente
Que vive se lastimando

Rivamoura Teixeira:

Temos que perseverar
O passado tem essência
Que dá a experiência
Que orienta o viver
O melhor do conviver
É que você vai juntando
Dividindo e somando
E te faz experiente
Eu tenho raiva de gente
Que vive se lastimando

Dulce Esteves:

Agradeço todo dia
Pelo fato de viver
Minhas refeições comer
Pela luz que me alumia
Por ter paz, ter harmonia
Deus está me abençoando
Meu dinheirinho ganhando
Pois, sou grata plenamente
Eu tenho raiva de gente
Que vive se lastimando

David Ferreira:

Taí, gostei desse mote,
por esse apelo que traz
a quem pensa ser audaz.
Pela destreza, o rebote,
inclusos pois no pacote
dos que têm total comando
naquilo que estão buscando
prosperar constantemente…
Eu tenho raiva de gente
Que vive se lastimando

Joab Nascimento:

Viver de lamentação
Reclamando todo dia
Com triste melancolia
Causando importunação
Causando indignação
Para quem fica escutando
Insatisfação causando
Com perturbação na mente
Eu tenho raiva de gente
Que vive se lastimando


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 09 de agosto de 2023

KAROLINA COM K, COISA DE GONZAGÃO (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

A mulher com K maiúsculo
É coisa de Gonzagão
Foi do nosso rei caboclo
Que nasceu essa invenção
Era cabocla ladina
Chamada de Karolina
Astuta que nem o cão.

E foi imortalizada
Na voz do Rei do Baião
Como a mulher dançadeira
Que mais chamava atenção
Cheia de presepada
Com sua saia rodada
Girava que nem pião.

Todo mundo admirava
A tal bela sertaneja
Dançava com quem queria
Inda tomava cerveja
Nos braços do sanfoneiro
Dançava até em terreiro
Não ficava no, hora veja!

Karolina era cheirosa
Bem atrevida e faceira
Também era invocada
Metida a cangaceira
Mas colou com Gonzagão
Dançando xote e baião
Do chão tirava poeira.

Tem que dançar xenhenhém
Igualzinha a Karolina
Tem que lavar bem a boca
Gargarejar creolina
Acho bom que se oriente
Pra falar da nossa gente
De origem nordestina.

Pois quem quer ser respeitada
Pelos outros tem respeito
Não segue a velha cartilha
Onde mora o preconceito
Eu não quero causar dano
Mas o K Gonzagueano
Ele é nosso não tem jeito.


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 02 de agosto de 2023

O CORNO INOCENTE (CRÔNICA DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

O CORNO INOCENTE

Delinha Catunda

Era tempo de novenas, festa da padroeira, quermesse e animação.

Após as novenas as famílias se reuniam na pracinha da igreja.

Enquanto as mulheres compravam gulodices para entreter as crianças, os homens se reuniam nas barracas de bebidas.

E foi entre uma bebida e um papo e outro, que se deu o bate-boca entre dois primos.

Ambos já tinham sido contemplados com um par de chifres por suas digníssimas esposas.

José, sabia que era corno, mas já tinha se acomodado a situação, porém Gonzaga, era o mais novo corno da cidade, estava na boca do povo e pelo jeito seria o último a saber.

Quando a discussão esquentou, Gonzaga, pôs a mão no ombro do primo e falou:

– Zé, tu é corno, macho véi!

Zé naquela calma de corno convencido imitando o gesto do colega retrucou:

– E meu primo nem é!

Isso foi o suficiente para a turma inteira cair na gargalhada.

Esta colunista escrevendo Microconto, pegando carona na ideia da escritora Leila Jalul


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 26 de julho de 2023

UMA RODA DE GLOSAS - 08.03.2021 (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNSTA DO ALMANAQUE RAMUNDO FLORIANO)

 

UMA RODA DE GLOSAS

Dalinha Catunda

Mote desta colunista:

A besta-fera chegou
Pra tirar nossa alegria.

Dalinha Catunda

Sem ter comiseração
Nos assusta a Besta-fera
Que mata em qualquer esfera
Sem pena e sem compaixão
Padece a população
Nas mãos dessa pandemia
Os dias são de agonia
Nosso sossego findou:
A besta-fera chegou
Pra tirar nossa alegria.

Araquém Vasconcelos

Chegou este triste mal
Com apelido de corona
Da situação é a dona
Esta desgraça viral
Espalha um terror mortal
Velho e novo contagia
Morre gente todo dia
O mundo inteiro parou
A besta-fera chegou
Pra tirar nossa alegria.

Gevanildo Almeida

Feito uma tempestade
Torando pela a raiz
Deixando o povo infeliz
Ceifando a felicidade
Sem nenhuma punidade
Pra essa besta vadia
Maldita hora que um dia
Ela se proliferou
A besta-fera chegou
Pra tirar nossa alegria.

Jairo Vasconcelos

Só Deus pra resolver
Essa mula do capeta
O diabo fez a faceta
Com Jesus vamos vencer
O mal fez acontecer
Essa grande pandemia
Como o profeta dizia
Mais ninguém acreditou
A besta-fera chegou
Pra tirar nossa alegria.

Marcos Silva

Primeiro foi o covarde
Depois veio o tal covid
Eu lhe digo não duvide
Que vai piorar mais tarde
Isso aqui não é alarde
E nem mera putaria
Um vírus com tirania
Muita gente ele levou
A besta-fera chegou
Pra tirar nossa alegria.

Bastinha Job

Não foi assim de repente,
Faz tempo a besta nos sonda
Vai fazendo a fatal ronda
Matando a nossa gente;
Age, assim, tão friamente
Em uma eterna agonia
A esperança tá fria
O labirinto estreitou:
A besta-fera chegou
Pra tirar nossa alegria.

Chica Emídio

Um vírus sem piedade
Invadiu o mundo inteiro,
Foi cruel e traiçoeiro,
Causando mortalidade.
Pungente agressividade
Veio nessa pandemia,
A maior epidemia
Nosso país assolou,
A besta-fera chegou
Pra tirar nossa alegria.

Rivamoura Teixeira

Veio disfarçada a ira
Pegou carona o corona
Bestafora safadona
Bestafura bestafira
Com covid a calma pira
Bestafara da agonia
Virou alta pandemia
A paz do mundo pirou
A besta-fera chegou
Pra tirar nossa alegria.

Dulce Esteves

Maldito vírus Chinês
Ao mundo mal-assombrado
São mortes por todo lado
Vou falar para vocês
Nós estamos à mercês
Sepultados todo dia
Em vala, na cova fria
Um parente nem velou
A besta-fera chegou
Pra tirar nossa alegria.

Vânia Freitas

A besta fera é o satã
Que também tentou Jesus
Quer o mal pra quem na luz
Reza a noite e de manhã
Tentou Eva com a maçã
A gente com a pandemia
Com fé em Jesus e Maria
Da besta já se livrou
A besta-fera chegou
Pra tirar nossa alegria.

Davia Ferreira

Estamos todos atados,
sem podermos fazer nada,
com a covid alastrada,
tomando todos os lados.
Estamos todos cercados,
sem solução e sem guia,
sorvendo no dia a dia,
o pouco que nos restou…
A besta-fera chegou
Pra tirar nossa alegria.

Giovanni Arruda

Não se sabe de onde veio
Nem o cão que o pariu,
Mas a praga explodiu
Degradando nosso meio
Tá difícil dar um freio
Dissolver a tirania
Do desastre que um dia
No comando se instalou
A besta-fera chegou
Pra tirar nossa alegria.

Ritinha Oliveira

Um grande monstro surgiu
Do vil abismo profundo
Cuspindo fogo no mundo
Muitas vidas consumiu
As cinzas de quem partiu
Escurece o nosso dia
Um futuro de magia
O luto já embaçou
A besta-fera chegou
Pra tirar nossa alegria.

Francisco de Assis Sousa

Veio dominando mundo
Com a sanha de matar
Sedenta a contaminar
Infectando em segundo
Seu disfarce é fecundo
Leva mesmo a cova fria
Com a sua tirania
Muitas vidas já ceifou
A besta-fera chegou
Pra tirar nossa alegria.

Rosário Pinto

E chegou o reptiliano,
Com ares bem sorrateiros.
Enganou os brasileiros.
Chama o povo de beltrano,
Já entramos pelo cano.
E com esta pandemia,
A vida aqui não se cria,
O que vemos é complô
A besta-fera chegou
Pra tirar nossa alegria.

Creusa Meira

Há mais de um ano a tristeza
Povoa a vida da gente
Perder amigo ou parente
Distante ou na redondeza
Dá-nos a plena certeza
Que perto está nosso dia
Sem amparo e garantia
De vacina que faltou
A besta-fera chegou
Pra tirar nossa alegria.

Josy Correia

Cada lado do planeta
Resiste, lamenta e chora
Com a doença que apavora
Regrando a curta ampulheta
No desgoverno, um capeta,
Rindo da nossa agonia
Ignora a cova fria
Onde o Brasil se enterrou
A besta-fera chegou
Pra tirar nossa alegria.


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 19 de julho de 2023

EU E A PANDEMIA NAS ASAS DO CORDEL (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

1
Na mais serena rotina
Mansa a vida transcorria
Futuro bem programado
E um presente de alegria
Pois começava a colher
O que fiz por florescer
Tudo que plantei um dia.

2
No entanto quis o destino
Modificar meu traçado
Vi cada sonho ruir
E o presente destroçado
O caos chegou de repente
Deixando o povo impotente
E o mundo inteiro abalado.

3
Do covid 19
Dessa grande Pandemia
Hoje nós somos reféns
Vivemos essa agonia
Enfrentando isolamento
Adestrando o pensamento
Pra fugir da distimia.

4
Prosseguir era preciso
Nunca fui de esmorecer
Tentei sentar a cabeça
Pensando no que fazer
A Deus pedi direção
E fui fazendo oração
Buscando me proteger.

5
O começo foi difícil,
Eu tenho que concordar.
E muitos dos meus costumes
Tive que modificar.
Sem varinha de condão
Para a modificação
Fui obrigada a lutar.

6
Vesti-me de paciência
Pra viver sem liberdade
E mudei-me para o campo
Deixei de lado a cidade
Fui treinando meu olhar
Pra novo mundo abraçar
E acatar a realidade.

7
Os compromissos rompidos
Sem condições de assumir
O meu sorriso desfeito
Eu tenho que admitir
A única solução
Seria a transformação
Resolvi nisso insistir.

8
Bem distante dos perigos
A roça me adaptei
E com internet em casa
Logo me conectei
Fui ligando minha antena
E mesmo de quarentena
Meu trabalho continuei.

 

9
De cordel e artesanato
Comecei a produção
Escrevendo todo dia
Eu espanto a depressão
Por gostar de pesquisar
Vivo a me capacitar
Não me falta ocupação.

10
Sei que nesse novo Tempo
O caos de fato é real
Com isso nossa presença
Em evento cultural
Acontece diferente
A gente se faz presente
Mas de modo virtual.

11
A nossa literatura,
Popular e de cordel
Tal qual o camaleão
Se adapta a qualquer papel
Faz sua transformação
E nessa variação
Renasce em novo vergel.

12
Cordelista com bagagem
Sempre encontrará espaço
Porque sabe entrar em cena
Nela imprimir novo traço
Com garra e disposição
Atua na inovação
Se vira sem embaraço.

13
O cordel é resistência
E nunca perde a constância
Se apropria do remoto
Faz eventos a distância
Em encontros virtuais
Projetos especiais
Comprovam sua importância.

14
Seja em e-book ou live
Damos bem nosso recado
Assim nós vamos ganhando
Novo costume e mercado
Escrevendo nova história
Sem perder a oratória
No mundo atualizado.

15
Os convites aparecem
Pra quem quer seguir em frente
Somos voz em podcast
Atores atualmente
Que nos vídeos operando
Vamos a vida alegrando
E colorindo o presente.

16
Posso dizer que o cordel
Farto, em redes sociais
Ganhou asas pra voar
Segue novos rituais
Pois na rede achou seu Norte
E cada dia mais forte
De pujança dá sinais.

17
Nas páginas do facebook
Para o verso praticar
Vates de vários Estados
Juntam-se para glosar
Buscam nessa interação
Momentos de distração
Ninguém quer se acomodar

18
O Brasil de Norte a Sul
Vem fazendo difusão
Da cultura popular
Do cordel que é tradição
Essa nossa atividade
Vestindo simplicidade
Envolve toda nação.

19
Na corrente do cordel
E nos braços da poesia
Voamos com as palavras
Disseminando alegria
O cordel literatura
Engrossa a voz da cultura
Na oração de cada dia.

20
Não está em nossas mãos
O poder para findar
Com a grande pandemia
Mas podemos minorar
Escrevendo nova história
E mudando a trajetória
Nesse nosso caminhar.

21
Cada um tem sua receita
Pra tentar melhor viver
E procurei distração
Algo para me entreter
Para não cair doente
Cuide bem da sua mente
Faça o que lhe dá prazer.

22
Eu me apeguei com cordel
A minha maior paixão
Cada dia um novo verso
Tenho em minha produção
Vou seguindo minha estrada
Embora modificada
Aceito a transformação.

23
Nesses tempos de retiro
Digo sem medo de errar
As tais redes sociais
Vieram pra nos salvar
Nasce desses movimentos
Quase todos os eventos
Com os quais podemos contar

24
Nas asas desse cordel
Eu escrevi nova história
E bem cheia de esperança
Pra viver dias de glória
A Deus rogo proteção
E peço com devoção
Luz em nossa trajetória.


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 12 de julho de 2023

UMA RODA DE GLOSAS (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

UMA RODA DE GLOSAS

Dalinha Catunda

Mote desta colunista:

Pegue aqui na minha mão
Vamos juntos cirandar.

Quando sinto que a tristeza
Se avizinha do meu peito
Na danada dou meu jeito
Pra isso tenho destreza
Busco no canto a leveza
Para os males espantar
Quem quiser pode chegar
Que esse canto é de união
Pegue aqui na minha mão
Vamos juntos cirandar.

Dalinha Catunda

Eu voltei a ser criança
Brincando pela varanda
Numa roda de ciranda
Gostei daquela festança
Entrei de cara na dança
Comecei rodopiar
Formamos um belo par
Dando volta no salão
Pegue aqui na minha mão
Vamos juntos cirandar.

Araquém Vasconcelos

Peguei na mão de Ritinha
Que pegou na de Alcinete
Lindicassia, bem coquete,
Segurou a de Dalinha
Enxerida entrou Bastinha
Seguiram a requebrar
Sempre a rodar,a rodar
No ritmo da emoção:
Pegue aqui na minha mão
Vamos juntos cirandar.

Bastinha Job

Na ciranda desta vida
Volta e meia sempre dou
Se as amigas vêm, eu vou
Se não vêm, fico sentida
Se Maria Aparecida
Ou de Lourdes me chamar
Largo tudo e vou dançar
Pra tristeza eu digo não
Pegue aqui na minha mão
Vamos juntos cirandar.

Creusa Meira

O zabumba toma a guia
Dá balanço o chocalho
Já se ouve um farfalho
Vai subindo uma agonia
O salão se contagia
Todos querem rebolar
E o desejo de dançar
Tem a força de um vulcão
Pegue aqui na minha mão
Vamos juntos cirandar.

Giovanni Arruda

Vou brincar nesta ciranda
Abra a roda por favor
Vou girando como for
Meus passos só Deus comanda
Pus nos cabelos lavanda
Quando o vento arrepiar
Cirandeiros vêm cheirar
Com grande satisfação
Pegue aqui na minha mão
Vamos juntos cirandar.

Dulce Esteves

Deixe a rotina de lado
Saia de dentro de casa
Se divirta, extravasa,
Vá prum forró arrochado
Requebre bem apertado
Dance a noite sem parar
Com molejo a peneirar
Dando voltas no salão
Pegue aqui na minha mão
Vamos juntos cirandar.

Joabnascimento

Nas noites alvissareiras
Nas festas de São João,
Eu fazia agitação
Dançava nas brincadeiras
Salão cheio de bandeiras
O sanfoneiro a tocar
Fazendo casais rodar
Em geral a animação
Pegue aqui na minha mão
Vamos juntos cirandar.

Jairo Vasconcelos

Agradecer cada dia
A alegria de viver
E fazer por merecer
Saúde, paz e harmonia
Bom mesmo é a euforia
Rime se quiser rimar
Cante se quiser cantar
Diga não a solidão
Pegue aqui na minha mão
Vamos juntos cirandar.

Francisco De Assis Sousa

Pesquisei nossa Ciranda.
É na Cantiga de Roda,
Que ela nunca cai de moda.
É cantiga que sempre anda
Nos festejos de varanda.
Em rodas para dançar,
Em festejo popular.
Na roda, uns vêm outros vão.
Pegue aqui na minha mão
Vamos juntos cirandar.

Rosário Pinto

Pra quem gosta de ciranda
E dançar na luz da lua
Vem ser meu e serei tua
No toque de qualquer banda
Pois é a gente quem manda
A poeira levantar
Vamos ver o sol raiar
No batuque do coração
Pegue aqui na minha mão
Vamos juntos cirandar.

Vânia Freitas

Em tempos de pandemia,
Só mesmo fazendo festa.
A jogada agora é esta:
Em casa, ter alegria,
Cantar e fazer poesia,
Um Studio improvisar,
Uma live organizar,
Numa bela animação,
Pegue aqui na minha mão
Vamos juntos cirandar.

Chica Emídio

A ciranda move a vida
a vida gera cultura,
é alegria segura
é brincadeira aguerrida.
A cadência é divertida
quem tá fora quer entrar,
com garra pisotear
com desmedida paixão.
Pegue aqui na minha mão
Vamos juntos cirandar.

Fátima Correia


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 05 de julho de 2023

Ô VISTA BOA (CRÔNICA DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

Ô VISTA BOA

Dalinha Catunda

Minha mãe, em foto feita por esta colunista

 

 

Mamãe, hoje, com 98 anos, por incrível que pareça, ainda lê sem a ajuda dos óculos.

O motivo de ter essa vista tão boa, nada mais foi do que uma cirurgia de catarata bem sucedida e feita pelo SUS, quando ela estava na casa dos 80 anos.

Saiu do hospital, foi para casa e seguiu religiosamente o manual de recuperação.

Em pouco tem o sorriso tomou conta do seu rosto novamente.

Cada pessoa que perguntava sobre a cirurgia ela contava com detalhes. E perguntavam muito, se ela estava enxergando bem, se não via nada embasado e no final ela já estava se cansando dos interrogatórios.

Certo dia chegou um de seus compadres, e entre uma conversa e um café, perguntou:

– Comadre, numa idade dessa, a senhora está enxergando bem mesmo?

Imediatamente, ela que é metida a gaiata, respondeu: – Compadre, pra falar a verdade, eu estou enxergando até “priquito” de muriçoca.

Não resta dúvidas que a operação foi bem sucedida.


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 28 de junho de 2023

A DAMA-DA-NOITE (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIKMUNDO FLORIANO)

 

A DAMA-DA-NOITE

Dalinha Catunda

Foto desta colunista

 

Tão plena em sua brancura
Tendo o vento como açoite
Ontem a dama-da-noite
Abrolhou com formosura
Encantamento em fartura
Exibiu na ocasião
Vem provocando paixão
E realmente me apraz
Tão bonita, mas fugaz
Essa Dama em explosão.


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 21 de junho de 2023

ROGANDO EM GEMEDEIRA (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAMUNDO FLORIANO)

 

ROGANDO EM GEMEDEIRA

Dalinha Catunda

Deus me livre desse mal
Inda tenho tanta vida
Trago meu sorriso largo
Alguém me chama querida
Eu não quero ir agora
Ai, ai, ui, ui,
Ô meu pai me dê guarida.

Quero viver utopias
Tenho tanto amor pra dar
No calor da minha rede
Inda quero me embalar
Mesmo no outono da vida
Ai, ai, ui, ui,
Vejo meu sonho brotar.

Quero meus dias brejeiros
As noites de cantoria
Com viola e lua cheia
Deus do céu me alumia
Salve todos do naufrágio
Ai, ai, ui, ui,
Nos poupe dessa agonia.

Faço prece pra Maria
Faço prece pra Jesus
Peço a Deus onipotente
Aquele que nos conduz
Que tire dos nossos ombros
Ai, ai, ui, ui,
Essa tão pesada cruz.


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 14 de junho de 2023

RODA DE GLOSAS - 25.03.21 (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

RODA DE GLOSAS

Dalinha Catunda

Xilogravura de Cícero Lourenço

 

Roda de glosa coordenada por Dalinha Catunda.

Mote de Zé Limeira:

Ano passado eu morri,
Mas esse ano eu não morro.

* * *

Dalinha Catunda:

Chegou essa pandemia
parecendo um vendaval.
Confesso que fiquei mal
de medo eu quase morria,
e morrendo de agonia,
hoje a Jesus eu recorro,
morro pedindo socorro,
pois penico eu já pedi:
Ano passado eu morri,
Mas esse ano eu não morro.

Joab Nascimento:

Eu já fui contaminado
Por essa tal pandemia
Juro qu’eu quase morria
Com o vírus desgraçado
Fiquei muito desgastado
Nem sequer subi o morro
Já no mato sem cachorro
Mas logo sobrevivi
Ano passado eu morri,
Mas esse ano eu não morro.

Bastinha Job:

Vou dar uma de artista
No mote de ZÉ Limeira
Nascido lá em Teixeira
E era surrealista
Foi notável repentista
Famoso igual ao Zorro
Na décima então discorro
Em Orlando Tejo li:
Ano passado eu morri,
Mas esse ano eu não morro.

Araquem Vasconcelos:

Aprendi vencer a morte
Pois já morri uma vez
Comigo não tem talvez
Eu sou caboclo do Norte
Vencer heróis é meu forte
E se vier pega esporro
Eu nunca pedi socorro
E nem de medo eu corri
Ano passado eu morri,
Mas esse ano eu não morro.

Gevanildo Almeida:

Quando comecei saber
Desse vírus condenado
Fiquei desorientado
Disse agora vou morrer
Deus veio me socorrer
No meu leito pôs um forro
Com ele eu disse, não corro
Seguir firme decidi
Ano passado eu morri,
Mas esse ano eu não morro.

Jairo Vasconcelos:

Quando chegou no Brasil
Essa grande pandemia
Me causando uma agonia
Morreram duzentos mil
Mantando mais que fuzil
Chorando pedir socorro
De medo quase eu escorro
Me segurei não escorri
Ano passado eu morri,
Mas esse ano eu não morro.

Rivamoura Teixeira:

Foi sim eu morri de medo
Me tornei um mascarado
O mundo todo tomado
De um virus do degredo
Eu me levantava cedo
Ia parecendo um zorro
Se for me abraçar eu corro
Faça boca de siri
Ano passado eu morri,
Mas esse ano eu não morro.

Francisco de Assis Sousa:

Eu já vivo é morrendo
De medo todos os dias
Entre susto e agonias
Assim eu sigo vivendo
Com tudo é me benzendo
Até de espiro eu corro
Uso máscara, alcool, gorro
Não quero arribar daqui
Ano passado eu morri,
Mas esse ano eu não morro.

Creusa Meira:

Ao sentir que o dia nasce
Abro os olhos com surpresa
Vejo se não tem fraqueza
Nas pernas, calor na face
Respiro fundo, com classe
E toda a casa, percorro
A mais um dia, concorro
Pra viver, estou aqui
Ano passado eu morri,
Mas esse ano eu não morro.

Ritinha Oliveira:

O vírus me derrubou
Igual coice de jumento
Fui ao céu dum passamento
São Pedro me avistou
Ao me ver se agoniou
Gritou pedindo socorro
Eu num mato sem cachorro
Me expulsaram eu corri
Ano passado eu morri,
Mas esse ano eu não morro.

Giovanni Arruda:

O eterno Belchior
Cantor de belas canções
Teve nas composições
Zé Limeira coautor
Essa dupla infernizou
Aquela turma do gorro
Sofreu censura e esporro
Mas resistiu que eu vi
Ano passado eu morri,
Mas esse ano eu não morro.

Vânia Freitas:

A nuvem ficou escura
Vírus das trevas saiu
E o pior que ninguém viu
E nem vê a sua feiura
Só atrás da lente dura
E quem vê pede socorro
Faz da cara um porta-forro
É coisa que nunca vi
Ano passado eu morri,
Mas esse ano eu não morro.

Tião Simpatia:

Faz um ano que me escondo
Desse corona maldito,
Já não conto, nem recito,
Engordei que tô redondo!
O sol nascendo e se pondo
Todo dia por trás do morro;
Eu vi a morte de gorro,
Mas acordei e me benzi…
Ano passado eu morri,
Mas esse ano eu não morro.


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 07 de junho de 2023

EU SOU (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO) VÍDEO

 


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 31 de maio de 2023

O TROTE (MINICONTO DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

Um microconto

Certa noite, eu já deitada, perdida em meus pensamentos a embalar-me numa rede…

Eis que de repente, não mais do que de repente, toca insistentemente o telefone em sua base fixa, preguiçosamente levanto-me para atender.

Sonolenta pego o aparelho e me surpreendo:

– Alô, quem fala?

– Aqui, é a amante do seu marido!

Nessa hora tive vontade de rir e quase gargalhei, mas compenetrada respondi:

– Olha, querida, se fosse a esposa do meu amante eu até te daria um papo, mas…

Desliguei o telefone, voltei para meu ócio noturno, com o pensamento em novas e emocionantes tardes…


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 24 de maio de 2023

QUANDO MEU PAPAI ME FEZ (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO) VÍDEO

QUANDO MEU PAPAI ME FEZ

Dalinha Catunda

 

 


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 17 de maio de 2023

DALINHA DAS IPUEIRAS E LINDICÁSSIA DE BARBALHA (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

Dalinha Catunda

Quem diabo que é essa doida
Que vem lá do Cariri
Comendo cuscuz com ovo
E um balaio de pequi
Com fumaça no cachimbo
Pra assanhar meu inxuí

Lindicássia Nascimento

Quem diabo é esse Zumbi
Que parece assombração
Com molambo na cabeça
E uma boneca na mão
Achando que é gostosona
A crueira do sertão.

Dalinha Catunda

A minha apresentação
Faço agora com audácia
Sou abelha do sertão
Meu ferrão tem eficácia
Para Dalinha Catunda
Se apresente sem falácia.

Lindicássia Nascimento

O meu nome é Lindicássia
Sobre nome Nascimento
Sou mulher de atitude
Cheia de atrevimento
Quando me dano a brigar
Brigo até no pensamento.

Dalinha Catunda

Não venha afoitamento
Pois eu posso ser cruel
Minha língua é venenosa
Já derrubei menestrel
Mas se quer mexer com cobra
Lhe apresento a cascavel.

Lindicássia Nascimento

Amargo igualmente a fel
Sem medo vou pra disputa
Seu veneno não me atinge
Bicha besta e biruta
Eu também sou cobra ruim
Na Selva sou mais astuta.

Dalinha Catunda

Eu vejo que nessa luta
Só tem cobra peçonhenta
Vou pegar teu desaforo
E esfregar na tua venta
A bicha besta e biruta
É você coisa nojenta.

Lindicássia Nascimento

Já vejo que não aguenta
Essa nega cangaceira
Se eu puxar o meu facão
Boto seu fato na feira
Pergunto quem quer comprar
O resto da mulambeira.

Dalinha Catunda

Se eu puxar minha peixeira
Eu entorto o teu facão
Corto um palmo da tua língua
Mudo a tua profissão
Nunca mais voltas a ser
Lambe saco de patrão.

Lindicássia Nascimento

Comigo tem isso não
Mulher fraca igual a tu
Faz zoada mais não morde
Só incha igual cururu
E quando me vê se esconde
No buraco do tatu.

Dalinha Catunda

Nem que tu faças vodu
Xexelenta macumbeira
Eu não fujo dessa briga
Meta seu pé na carreira
Peça logo seu penico
Que o medo dá caganeira.

Lindicássia Nascimento

Deixe de falar besteira
Franga “véia” de macumba
Eu quebro teu espinhaço
Antes de mandar pra tumba
Te faço lamber o chão
Bem antes que tu sucumba.

Dalinha Catunda

Tu tá querendo quizumba
Do choco vou te tirar
As penas desse teu rabo
Uma a uma vou puxar
Depois que eu quebrar teu bico
Quero ver cacarejar.

Lindicássia Nascimento

Basta tu se imaginar
Na mesma cena isolada
Mas as penas que eu puxar
Nessa peleja arretada
Vou queimar com gasolina
No meio da encruzilhada.

Dalinha Catunda

Eu não vou sair queimada
Deixe já de picuinha
E nem vou lhe depenar
Já desmontei minha rinha
Isso tudo é presepada
Tanto tua como minha

Lindicássia Nascimento

teu pensamento se alinha
e me causa emoção
somos luzes da lapinha
do céu a constelação
na terra somos semente
lançada em riba do chão.

Dalinha Catunda e Lindicássia Nascimento

Cumprimos nossa missão
Com rimas e brincadeiras
Lindicássia de Barbalha
Dalinha das Ipueiras
Pois além de cordelistas
Também somos cantadeiras.


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 10 de maio de 2023

APELO A SANTO ANTÔNIO (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO) VÍDEO

 

APELO A SANTO ANTÔNIO

Dalinha Catunda

 


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 03 de maio de 2023

UMA RODA DE GLOSA EM HOMENAGEM ÀS MÃES (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

Mote desta colunista

Um filho é coisa sagrada
Mãe morre pra proteger

Dalinha Catunda:

A mãe vira onça ferina
Pra defender sua cria,
E clama a virgem Maria,
Pela proteção divina.
Uma mãe que desatina,
Não briga pra defender,
Filho não merece ter!
É uma mãe desalmada:
Um filho é coisa sagrada
Mãe morre pra proteger

Araquém Vasconcelos:

Mãe ê uma instituição
Onde se projeta a vida
Quem tem sua mãe querida
Dê a ela atenção
Abra o seu coração
Procure reconhecer
Todo o seu bem querer
Não a despreze por nada
Um filho é coisa sagrada
Mãe morre pra proteger

Bastinha Job:

Minha mãe se foi tão cedo,
Fiquei sem o seu carinho,
Sem ela, o meu caminho
Perdeu-se em seu enredo
De tudo eu tinha medo,
Consegui sobreviver
Sem abraço a me acolher
Que orfandade malvada:
Um filho é coisa sagrada
Mãe morre pra proteger

Jairo Vasconcelos:

Mãe é uma flor do jardim
Que nunca perde o perfume
Do filho sente ciúme
Mesmo ele sendo ruim
Mamãe é o amor sem fim
Não deixa o filho sofrer
No frio quer aquecer
Quando precisa ela agrada
Um filho é coisa sagrada
Mãe morre pra proteger

Dulce Esteves:

Mãe é uma escudeira
Garantindo proteção
Seu peito traz armação
Pois, assim se faz guerreira
Tem armas e faz trincheira
Seu varão vem defender
Vai à luta por prazer
Não se sente ameaçada
Um filho é coisa sagrada
Mãe morre pra proteger

Rivamoura Teixeira:

Amor de mãe não se mede
Por ser fora do limite
Por isto não se admite
Duvidar pois não procede
Pra defender intercede
Pense num amor de ser
Seu carinho é pra valer
Sua vida é consagrada
Um filho é coisa sagrada
Mãe morre pra proteger

F. de Assis Sousa:

O amor é incondicional
A ternura é sem limite
Ela jamais admite
Que ninguém o faça mal
Da forma mais natural
Seu instinto é defender
Não queira pagar pra ver
Qualquer uma indignada
Um filho é coisa sagrada
Mãe morre pra proteger

Vânia Freitas:

O maior amor do mundo
É aquele que recebemos
De nossas mães e sabemos
Que este amor é tão fecundo
Se tornando mais profundo
Por nada em troca querer
Mãe é um ser que faz valer
O amor a sua cria amada
Um filho é coisa sagrada
Mãe morre pra proteger

Fabiana Viera:

Tem mãe que os sonhos enterra
Gestante adolescente
Abandonada e doente
Pela justiça da Terra
Vive no meio da guerra
Procura sobreviver
Pra ver o filhinho vencer
É feroz onça pintada
Um filho é coisa sagrada
Mãe morre pra proteger

Creusa Meira:

Há tanta dor pra sentir
Pranto para derramar
Mãe que vai pra não voltar
Mãe que vê filho partir
Filho sem mãe, sem porvir
Sem o colo pra aquecer
Filho na creche morrer
Chacina na madrugada
Um filho é coisa sagrada
Mãe morre pra proteger

Paola Tôrres:

Para viver bem a vida
Carecemos de um teto
Pão, carinho, colo, afeto
Sopro na nossa ferida
Música na despedida
Amor que nos faz vencer
Caminhos pra percorrer
Mil abraços na chegada
Um filho é coisa sagrada
Mãe morre pra proteger

Chacina, ódio e desgraça
Eu vi na televisão
Uma grande comoção
Tristeza que despedaça
Tiros na rua e na praça
Sangue humano a escorrer
Ver tanta gente morrer
Estendido na calçada
Um filho é coisa sagrada
Mãe morre pra proteger

Rosário Pinto:

Nossa mãe vive na lida.
Não tem dia, não tem hora
E desde o romper da aurora
Ela segue na corrida:
Fazer o bolo e a comida.
E para o filho atender,
Trabalha para prover.
À noite chega cansada
Um filho é coisa sagrada
Mãe morre pra proteger

Silvinha França:

Mesmo distante é presente
Nunca foge da batalha
Derruba qualquer muralha
Quando a dor do filho sente
Pois é dela a semente
Que Deus a fez conceber
Não se deixa emudecer
Até quando não é chamada
Um filho é coisa sagrada
Mãe morre pra proteger

Joabnascimento:

Do seu ventre uma semente
Ressurgiu com muito amor
Superando todo dor
A mãe o abraça contente
Num cenário comovente
O seu olhar vem dizer
Você é meu bem querer
Para toda minha jornada
Um filho é coisa sagrada
Mãe morre pra proteger

Pedro Sampaio:

Quando uma Mãe se consome
Pro Filho satisfazer
Ela deixa de comer
Mas do Filho mata fome
Tudo faz pelo seu nome
Também pra lhe socorrer
Não importa o padecer
Nem que seja massacrada
Um filho é coisa sagrada
Mãe morre pra proteger

Dalinha Catunda:

Uma mãe que é ciente
Que seu filho é maltratado
Morreu por não ser cuidado
Não posso chamar de gente
Não passa de uma serpente
É cobra! posso dizer,
Em vida vai padecer
Jamais será perdoada
Um filho é coisa sagrada
Mãe morre pra proteger


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 26 de abril de 2023

GLOSAS - 06.05.21 (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

GLOSAS

Dalinha Catunda

Mote desta colunista:

Esse meu jardim florido,
É cacimba de saudade!

1
Quando rego minhas flores,
Desperto a recordação,
Que mora em meu coração.
Entre suspiro e rumores,
Evoco antigos amores,
E choro a fugacidade,
Do que foi felicidade,
Porém hoje é fenecido…
Esse meu jardim florido,
É cacimba de saudade!

2
Recordo nós dois juntinhos
Debaixo do pé de ipê
Era só eu mais você
Numa sombra sem espinhos
Seguindo os mesmos caminhos
Vivendo a mesma verdade
E mesmo na tenra idade
O tempo não foi perdido:
Esse meu jardim florido,
É cacimba de saudade!

3
Quando chega a primavera
Eu puxo pela memoria
Cada flor é uma história
Pra quem viveu de quimera
Então digo: quem me dera
Com toda sinceridade
Viver com intensidade
Tudo de bom já vivido:
Esse meu jardim florido,
É cacimba de saudade!

4
Debaixo duma latada
Era o cravo era a rosa
Era um verso era uma prosa
Numa conversa animada
Era a mais bela jornada
Em meio a simplicidade
Era amor era amizade
Era a flecha do cupido:
Esse meu jardim florido,
É cacimba de saudade!

5
Recordar é reviver
Diz o dito popular
Por isso vivo a lembrar
Sem pensar em esquecer
O que senti florescer
Em tempos de liberdade
Na mente é prioridade
Não é sonho adormecido:
Esse meu jardim florido,
É cacimba de saudade!

6
Das flores do meu jardim
Só de lembrar sinto o cheiro
São flores do meu canteiro
É cheiro que não tem fim
Só por isso eu canto assim
Com gosto e vivacidade
Seguindo a minha vontade
Nesse mote repetido:
Esse meu jardim florido,
É cacimba de saudade!


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 19 de abril de 2023

EM CACHOEIRAS DE MACACU (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

EM CACHOEIRAS DE MACACU

Dalinha Catunda

Fotos da colunista

 

 

Atrás do morro do pico
Aponta o sol radiante
A neblina derretendo
Presencio a todo instante
A beleza do horizonte
O raio do sol no monte
Ilumina o meu semblante.

Do beiral do meu alpendre
A cambaxirra cantou
No pé de jacatirão
O bem-te-vi se assanhou
O gavião sorrateiro
Abre as asas no coqueiro
Vendo que o dia raiou.

Redes de aranhas tecidas
Presas no arame farpado
Trazendo beleza as cercas
Esse trabalho rendado
Só vendo quanta beleza
Cenário da natureza
Que é por Deus elaborado.

 

O canto da Seriema
Ecoa ao amanhecer
Despertador natural
Canta mesmo pra valer
É ave que faz zoada
Parece até gargalhada
Pois canta sem se conter.

Canários se reproduzem
Eu vejo o bando passar
Os melros sempre em grupo
Encantam com seu cantar
E no maior zum, zum, zum
Um magote de Anum
Balburdia faz ao voar.

Quando chega o fim do dia
Volta pro ninho a trocal,
E a garça voa em bando
Num belo show, sem igual
O sol desmaia cansado
Anunciando alquebrado
De cada dia o final.

Nova fauna, nova flora
Eu vejo aqui no Sudeste
O verde é permanente
Diferente do Nordeste
Ganho mais conhecimento
Mas tenho meu pensamento
Na minha vidinha agreste.


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 12 de abril de 2023

UMA RODA DE GLOSAS - 24.05.21 (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

UMA RODA DE GLOSAS

Dalinha Catunda

Mote desta colunista:

Pegue aqui na minha mão
Vamos juntos cirandar.

Quando sinto que a tristeza
Se avizinha do meu peito
Na danada dou meu jeito
Pra isso tenho destreza
Busco no canto a leveza
Para os males espantar
Quem quiser pode chegar
Que esse canto é de união
Pegue aqui na minha mão
Vamos juntos cirandar.

Dalinha Catunda

Eu voltei a ser criança
Brincando pela varanda
Numa roda de ciranda
Gostei daquela festança
Entrei de cara na dança
Comecei rodopiar
Formamos um belo par
Dando volta no salão
Pegue aqui na minha mão
Vamos juntos cirandar.

Araquém Vasconcelos

Peguei na mão de Ritinha
Que pegou na de Alcinete
Lindicassia, bem coquete,
Segurou a de Dalinha
Enxerida entrou Bastinha
Seguiram a requebrar
Sempre a rodar,a rodar
No ritmo da emoção:
Pegue aqui na minha mão
Vamos juntos cirandar.

Bastinha Job

Na ciranda desta vida
Volta e meia sempre dou
Se as amigas vêm, eu vou
Se não vêm, fico sentida
Se Maria Aparecida
Ou de Lourdes me chamar
Largo tudo e vou dançar
Pra tristeza eu digo não
Pegue aqui na minha mão
Vamos juntos cirandar.

Creusa Meira

O zabumba toma a guia
Dá balanço o chocalho
Já se ouve um farfalho
Vai subindo uma agonia
O salão se contagia
Todos querem rebolar
E o desejo de dançar
Tem a força de um vulcão
Pegue aqui na minha mão
Vamos juntos cirandar.

Giovanni Arruda

Vou brincar nesta ciranda
Abra a roda por favor
Vou girando como for
Meus passos só Deus comanda
Pus nos cabelos lavanda
Quando o vento arrepiar
Cirandeiros vêm cheirar
Com grande satisfação
Pegue aqui na minha mão
Vamos juntos cirandar.

Dulce Esteves

Deixe a rotina de lado
Saia de dentro de casa
Se divirta, extravasa,
Vá prum forró arrochado
Requebre bem apertado
Dance a noite sem parar
Com molejo a peneirar
Dando voltas no salão
Pegue aqui na minha mão
Vamos juntos cirandar.

Joabnascimento

Nas noites alvissareiras
Nas festas de São João,
Eu fazia agitação
Dançava nas brincadeiras
Salão cheio de bandeiras
O sanfoneiro a tocar
Fazendo casais rodar
Em geral a animação
Pegue aqui na minha mão
Vamos juntos cirandar.

Jairo Vasconcelos

Agradecer cada dia
A alegria de viver
E fazer por merecer
Saúde, paz e harmonia
Bom mesmo é a euforia
Rime se quiser rimar
Cante se quiser cantar
Diga não a solidão
Pegue aqui na minha mão
Vamos juntos cirandar.

Francisco De Assis Sousa

Pesquisei nossa Ciranda.
É na Cantiga de Roda,
Que ela nunca cai de moda.
É cantiga que sempre anda
Nos festejos de varanda.
Em rodas para dançar,
Em festejo popular.
Na roda, uns vêm outros vão.
Pegue aqui na minha mão
Vamos juntos cirandar.

Rosário Pinto

Pra quem gosta de ciranda
E dançar na luz da lua
Vem ser meu e serei tua
No toque de qualquer banda
Pois é a gente quem manda
A poeira levantar
Vamos ver o sol raiar
No batuque do coração
Pegue aqui na minha mão
Vamos juntos cirandar.

Vânia Freitas

Em tempos de pandemia,
Só mesmo fazendo festa.
A jogada agora é esta:
Em casa, ter alegria,
Cantar e fazer poesia,
Um Studio improvisar,
Uma live organizar,
Numa bela animação,
Pegue aqui na minha mão
Vamos juntos cirandar.

Chica Emídio

A ciranda move a vida
a vida gera cultura,
é alegria segura
é brincadeira aguerrida.
A cadência é divertida
quem tá fora quer entrar,
com garra pisotear
com desmedida paixão.
Pegue aqui na minha mão
Vamos juntos cirandar.

Fátima Correia


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 05 de abril de 2023

ERA DOMINGO NO PARQUE (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

ERA DOMINGO NO PARQUE

Dalinha Catunda

 

Era domingo no Parque
Recordo com precisão
Você me deu um abraço
E apertou a minha mão
Tinha dança e poesia
Animando aquele dia
De cultura e tradição.

Foi uma tarde animada
Era festa no lugar
Promessa de emoção
Entrevi em seu olhar
Olhando-me animado
Quebrava o chapéu de lado
Sempre a me cumprimentar.

Nesse dia entrei na roda
Me enfeitei pra cirandar
Você acenava eufórico
Inquieto em seu lugar
Eu de maneira brejeira
Dançava toda faceira
Somente pra me mostrar.

Pra você joguei um beijo
E uma flor arremeti
No ar você segurou
E eu radiante sorri
Era o cravo, era a rosa
Entre um verso e uma prosa
Girando no Cariri.

 

 


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 29 de março de 2023

CONVERSA DE CALÇADA VIRTUAL 05.06.21 (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

Vamos pegar as cadeiras e entrar na roda?

A estrofe precisa começar sempre com o primeiro verso

* * *

Meti o pé na carreira
Quando meu pai avistei
Fui ao forró escondida
Pra ninguém nada falei
Quando vi lá do salão
Meu pai com cipó na mão
Confesso desembestei.

Dalinha Catunda- Rio de Janeiro-RJ

Meti o pé na carreira
quando avistei Adalgisa
Uma irmã muito braba
E eu com a cara lisa
Fiquei fazendo motejo
Sem vergonha sem ter pejo
Corri com medo da pisa…

Bastinha Job – Crato–CE

Meti o pé na carreira
A hora estava marcada
Faltando 5 minutos
Pense que forte pisada
Já ouvi do vigilante
Você é o último, adiante
A agência está fechada.

Rivamoura Teixeira

Meti o pé na carreira
Com medo do boi zebu
Vinha voltando da feira
Do baixo Acaraú
Não tinha pra onde saltar
Eu tive que escapar
No pé de mandacaru.

Araquém Vasconcelos

Meti o pé na carreira
E quase peço socorro
A sorte qu’eu tive sorte
Consegui subir no morro
Por cima de pedra e tudo
De pressa fiz de escudo
O tal dono do Cachorro.

Francisco De Assis Sousa – Barbalha-CE

Meti o pé na carreira
ao ver quem tinha chegado,
eu brincando um São João,
dançando com o namorado,
mamãe chegou sutilmente,
tacou a peia na gente,
foi cada um pra seu lado.

Anilda Figueiredo- Crato-CE

Meti o pé na carreira
Cum medo de vosmicê
Eu já tô véio, cansado
Num posso mais lhe “atendê”
No tempo que eu pudia
Vosmicê num me quiria.
O que mudô em você?

Marcelo José

Meti o pé na carreira
Eu quase que não me venço.
Pensei que tirei um lenço,
Num dia de carnaval,
Do”quengo”duma criatura ;
Era um rolo de atadura,
Ví nêga passando mal.

Wellington Santiago

Meti o pé na carreira
Entre Barbalha e Jardim
Com medo de um lobisomem
Essa criatura ruim
Assombrava todo mundo
O tal Vicente Finim

Fabiana Vieira- Crato-CE

Meti o pé na carreira
Debaixo da cajarana,
Quando papai me chamou:
– Vou brincar com jetirana!
Ele não batia em nós,
Cinco minutos após,
Lá estava eu na chicana.

Chica Emídio – Crato-CE

Meti o pé na carreira
No assanhar do maribondo
Famoso pelo chapéu
Com formato hediondo
Venceu a corrida a vespa
Minha cabeleira crespa
Fervilhou de nó redondo

Giovanni Arruda- Fortaleza-CE

Meti o pé na carreira
Quando o dono apareceu
Na roça de melancia
Por pouco não pegou eu
Nenhuma pude levar
Com medo de apanhar
Uma pirôla me deu…

Jairo Vasconcelos

Meti o pé na carreira
Quando vi a tal confusão,
Naquele ano de oitenta e oito.
Foi na greve dos cem dias.
E gás para todo lado.
Perdi até o meu calçado,
Fugindo do camburão!

Rosário Pinto- Rio de Janeiro-RJ

Meti o pé na carreira
No meio da escuridão
Quando vi foi uma sombra
Me fazendo assombração
Se eu lhe contar o segredo
Que eu estava era com medo
Da sombra da minha mão.

Vânia Freitas – Fortaleza-CE

Meti o pé na carreira
Quando a polícia chegou
Assaltaram uma igreja
O tenente me olhou
Quando disse o sacristão
Toda oferta vinho e pão
Foi Ritinha que roubou

Ritinha Oliveira

Meti o pé na carreira
Quase morri assustado
Ao jogar pedra na Kombi
Quase o vidro foi quebrado
A minha irmã enredou
O meu pai quando chegou
Eu já tinha me mandado

Joabnascimento-Camocim-CE


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 22 de março de 2023

PIRIRI NO CARIRI (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

PIRIRI NO CARIRI

Dalinha Catunda

 

Eu vou contar uma história
Que se deu no cariri
Fui comer um mungunzá
Deus do céu, como sofri
A linguiça apimentada
Me deixou agoniada
E acabou em piriri.

Quando eu adentrei no carro
Senti meu anel piscar
A tripa engolindo a outra
Minha barriga a roncar
Eu sofrendo no sufoco
Pra segurar o brioco
Até em casa chegar.

O vuco vuco no rabo
Aumentava de pressão
Eu me benzia e rezava
Pedindo a Deus proteção
Rezei a Salve Rainha
Me retorcendo todinha
E o diabo do cu na mão.

Deu vontade de peidar
Porém eu não me arisquei
Com as pregas ajustadas
Dessa vez eu segurei
Se vem peido acompanhado
Eu deixo o carro cagado
De medo me arrepiei.

Dor na barriga aumentava
Eu suava frio e quente
Meu amigo dirigia
Com sua mulher na frente
E me vendo aperreada
Dirigia em disparada
Porém freou de repente.

Pensei: Dessa vez me cago!
Mas o cu obedeceu
A linguiça armazenada
Graças a Deus não desceu
Até criei alma nova
O fiofó passou na prova
Um milagre aconteceu.

Eu só sei que a viagem
Parecia não ter fim
A linguiça revoltada
Mexia dentro de mim
Tentando achar a saída
Eu me sentindo perdida,
Me apeguei com meu “Padim.”

 

Depois de muito sufoco
Chegamos à residência
O meu cu pedia pressa
Mas desci com paciência
Com medo de ali obrar
Ao tentar me levantar
Pois era essa a tendência.

Desci bem devagarinho
Com a passada miúda
Andando de perna junta
E foi um Deus nos acuda
Tentando me segurar
E sem querer me assustar
Eu seguia atenta e muda.

Quando cheguei ao banheiro
O vaso me socorreu
O que estava me matando
Feito biqueira escorreu
Mesmo quase desmaiada
Suspirei aliviada
Minha sorte intercedeu.

E não sei se obra de Deus
Ou “Padim Ciço Romão”
Não caguei tampa do vaso
E nem respinguei o chão
Me sentindo abençoada
Depois daquela cagada
Chorei fazendo oração.

Bem depois que dei vasão
A minha desinteria
Mudei a cor do semblante
Até sorri de alegria
E pensei toda animada:
Já me sentindo curada,
Hoje vou pra cantoria!

E pensando que a barriga
Peça não ia pregar
Tomei banho e me vesti
Não poderia faltar
Ao Festival de Viola
Pro piriri não dei bola
Me arrumei pra viajar.

Passou para me pegar
Um carrão especial
Bonito, cabine dupla,
De conforto sem igual
Então seguimos em frente
Pro festival de repente
Um programa cultural.

Foi o promotor do evento
Meu amigo e aliado
Que gentil fez o convite
E eu havia concordado
Mas foi falta de noção
Pegar uma condução
Estando naquele estado.

Eram três homens no carro
De mulher apenas eu
Os dois amigos na frente
E sentado ao lado meu
Um velho desconhecido
Hoje bem arrependido
Dessa viagem que deu.

Rumo a Caririaçu
Parti cheia de vontade
Pra conhecer os artistas
Que estariam na cidade
Muitos eu já conhecia
Só que abraçá-los seria
Reviver felicidade.

Duas coisas não sabia
E dessa vez me lasquei
É que lá fazia frio
E casaco eu não levei
Que a estrada tinha curvas
Fiquei com as vistas turvas
Por pouco não vomitei.

Começou o meu inferno
Eu aqui pensei: bem feito!
Como fui sair de casa
Se a barriga deu defeito
Na boca gosto de fel
O vuco vuco do anel
Foi me deixando sem jeito.

Comecei gemer pra dentro
Para o povo não ouvir
A cada curva e freada
medo da merda sair
Cada vez que escorregava
Minha rosca eu segurava
Com receio do porvir.

Hora eu segurava o vômito
Hora o cu eu segurava
Hora eu rezava pra Deus
Horo o satanás xingava
Pois o medo da cagada
Me deixava agoniada
Tudo isso me apavorava.

Após muito sofrimento
Eu cheguei ao meu destino
Enjoada da viagem
Desde a boca ao intestino
Saí do carro ligeiro
Fui em busca do banheiro
Ó meu Deus! Que desatino.

Quando cheguei ao banheiro
Já cheguei com cu na mão
O vaso estava lotado
Quase que caguei no chão
Com a bolsa no pescoço
Ali fiz o meu destroço
Fiz mira sem precisão.

Joguei a bunda pra trás
Joguei o corpo pra frente
Dei aquela chicotada
Foi feito vaca e não gente
E se eu não fizesse assim
O vaso cagava em mim
Disso eu estava ciente.

O pior veio depois
Não gosto nem de pensar
Despois desse descarrego
Não vi papel pra limpar
Descarga não funcionava
Ali eu me apavorava
Sem solução encontrar.

Sem água e também papel
Em minha bolsa encontrei
A nota de cem reais
Que para gastar levei
E uma linda toalhinha
Nela bordada Dalinha
Que de presente ganhei.

A dúvida me consumia
E eu não via solução
Sem querer usar a nota
A toalha também não
Deixar meu nome jogado
Inda por cima cagado
E minha reputação?

Só vi uma solução
Mesmo assim era ariscado
Passei o cu na parede
Num canto só rebocado
Tirei a minha calcinha
Passei na bunda todinha
Sem calça eu tinha ficado.

Quando cheguei ao salão
Foi tentando me esconder
O show tinha começado
E pra ninguém perceber
Bem no final eu sentei
Já sentada respirei
Lá ninguém ia me ver.

Não demorou muito tempo
Do microfone escutei
Que meu nome era citado
Eu então me levantei
Palavras em meu louvor
Disse o apresentador
Com gratidão acenei.

– Aqui presente, nós temos,
A poeta cordelista
Grande Dalinha Catunda
Que é uma mulher benquista
No salão ou no terreiro
Veio do Rio de Janeiro
Aplausos para essa artista?

Acenei, sorri, sentei,
E continuei sentada
E vendo a programação.
Logo fui requisitada
Para entregar um troféu
Supliquei a Deus do céu
Me proteja da cagada.

Pois o palco era bem alto
Eu estava sem calcinha
Se o anel não cooperasse
Eu me cagava todinha
Eu subi cada batente
Pedindo ao onipotente
Clemência para Dalinha.

Fiz uma pequena fala
Para não me demorar
O medo de estar fedendo
Em mim era de lascar
E mesmo passando mal
Eu cumpri o ritual
E a volta nem vou contar!

Esse episódio fatídico
Terminou na rezadeira.
Disse que foi mau olhado
Essa minha caganeira.
Me curou e me benzeu,
Meu cu restabeleceu.
Foi fato não brincadeira!


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 15 de março de 2023

UMA RODA DE GLOSAS - 20.06.21 (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

UMA RODA DE GLOSAS

Dalinha Catunda

Mote desta colunista:

Já se foi a juventude
Mas prossigo a namorar

* * *

Se suspiro apaixonada
É porque adoro a vida
Não vivo desiludida
Sempre adorno a caminhada
Não sou mulher mal-amada
E nesse meu versejar
Monto palco pra atuar
Com coragem e atitude
Já se foi a juventude
Mas prossigo a namorar

Dalinha Catunda

Tenho forte coração
poesia no carinho
Vou seguindo meu caminho
Repleto de emoção
Afinando o violão
Lindo sem desafinar
Conjugando o verbo amar
Com o s da saúde
Já se foi a juventude
Mas prossigo a namorar

Rivamoura Teixeira

Na minha vida serei
Um eterno apaixonado
Vou deixando o meu legado
Pelo mundo onde passei
Sei que amar é maior lei
Amarei, jardins, pomar,
O povo, montanha e mar
Porque tal mal não me ilude
Já se foi a juventude
Mas prossigo a namorar

Jairo Vasconcelos

É efêmera a mocidade
Mas o amor nunca passa
Viver feliz é uma graça
Pra amar não tem idade
Amo com intensidade
Nunca paro de sonhar
Flutuo leve no ar
Sem temer a altitude
Já se foi a juventude
Mas prossigo a namorar

Araquém Vasconcelos

Desde a minha adolescência
O meu coração suspira
O sentimento me inspira
E alimenta em mim, a essência
A paixão é consequência
Desse intenso ”mal” de amar
Hoje vivo a suspirar
Pelo amor em plenitude
Já se foi a juventude
Mas prossigo a namorar

Creusa Meira

Aquele amor que foi chama
Que nem bombeiro apagava,
Que ardia, que rolava
Que quebrava toda cama,
Se entrelaçava na trama,
Hoje é só folha a boiar,
Vivo só de recordar
Que triste decrepitude:
Já se foi a juventude
Mas prossigo a namorar

Bastinha Job

Já passaram tantos anos
Desde que nos conhecemos
Cada dia acrescemos
Graças por esses planos
Fizeram – se soberanos
Tu serás sempre meu par
E nada fará mudar
Espero que nada mude
Já se foi a juventude
Mas prossigo a namorar

Dulce Esteves

Quando moço era um estouro
Eu vivia apaixonado
Hoje, todo remendado
Ergo o beiço qual um touro
Quando o cheiro do namoro
É trazido pelo ar
Mas na hora de arrochar
Não dá cola nem dá grude
Já se foi a juventude
Mas prossigo a namorar

Giovanni Arruda

Gosto de viver a vida
Com carinho e alegria,
Fazer amor com poesia,
No Sol, no mar, na avenida;
Com prazer cuido da lida,
Sem esquecer de beijar
Meu amor, ao me abraçar,
Seu carinho é o que me ilude.
Já se foi a juventude
Mas prossigo a namorar

Chica Emídio

Todo amor quero viver
Do presente e de outrora
Segundo, minuto e hora
E jamais quero esquecer
Faço o que for pra fazer
No tempo que me restar
Tudo quero aproveitar
Gozo de boa saúde
Já se foi a juventude
Mas prossigo a namorar

F. de Assis

Uma página da vida
Duas três e sei lá quantas
De histórias já são tantas
Talvez alguma perdida
Eu não sei se a mais doída
Mas são muitas pra lembrar
São tantas com o verbo amar
Que coloquei no ataúde
Já se foi a juventude
Mas prossigo a namorar

Vânia Freitas

Lembro da melhor idade
dos meus vinte e mais anos,
com meus direitos humanos
recheados de vontade…
Vivi minha mocidade
sem ter do que reclamar,
fui do vinho ao caviar
e não me faltou saúde…
Já se foi a juventude
Mas prossigo a namorar

David Ferreira


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 08 de março de 2023

UMA RODA DE GLOSAS - 08.07.21 (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

UMA RODA DE GLOSAS

Dalinha Catunda

Mote desta colunista:

Quem dera ter liberdade
Só para escruvitiar

Eu nesse confinamento
Tô feito boi no cercado
Que cisca e fica enfezado
Até o cão eu atento
Dou coice que nem jumento
Sem rédeas quero ficar
Mas devo me resguardar
Saúde é prioridade:
Quem dera ter liberdade
Só para escruvitiar

Dalinha Catunda

De cabeça atubibada
Muita coisa me azucrina
Não vou no bar da esquina
Pegar a loura suada
A vida tá bitolada
Esse vírus de lascar
Veio aqui pandemiar
E trazer ansiedade
Quem dera ter liberdade
Só para escruvitiar

Rivamoura Teixeira

O vírus me diz que não
Meus amigos dizem sim
Estou esperando o fim.
Da pandemia do cão
Pra sair deste alçapão
Ser livre pra passear
Sem máscara pra sufocar
Matar esta ansiedade
Quem dera ter liberdade
Só para escruvitiar

Araquém Vasconcelos

Há tempos vivo trancada
Igual uma criminosa
A vida maravilhosa
Há dois anos tá parada
A China amaldiçoada
Quer ser potência a reinar
Fez o vírus circular
Já perdi a sanidade:
Quem dera ter liberdade
Só para escruvitiar

Bastinha Job

Nessa tal de pandemia
Fiquei muito estressada
Vivo só encafurnada
Tô brigando todo dia
Cachorro, gato que mia
Meu papagaio a gritar
Eu mandando se lascar
Não falei nem a metade
Quem dera ter liberdade
Só para escruvitiar

Dulce Esteves

 

Veio Uma Tal De Vacina
Pra Dá Fim Ná Pamdemia
Morre Gente Todo Dia
Os Medicos Nem Examina
O Virus Que Veio Dá China
Tá Dificio De Matar
Os Que Os Medicos Entubar
Vái Para A Eternidade
Quem dera ter liberdade
Só para escruvitiar

Alberto Francisco

Acabando a pandemia
Compro um par de Havaiana
Vou andar toda semana
Pelas sete freguesia(s)
E só vou voltar no dia
Que a tira se soltar
GPS não vai me achar
No sítio nem na cidade
Quem dera ter liberdade
Só para escruvitiar

F. de Assis Sousa

O pior desta prisão
É o trabalho que dá
Limpa aqui, limpa acolá
Lava roupa, faz pirão
Não tenho descanso, não
O bom mesmo é passear
Bater um papo no bar
Isso é que é felicidade
Quem dera ter liberdade
Só para escruvitiar

Creusa Meira

Há dois anos que não saio.
Sempre nesta Agonia.
Xô! Vai embora Pandemia.
Passou Abril, passou Maio,
Na janele de soslaio,
Levo a vida a contemplar.
Quero pintar e bordar…
No Rio e em toda cidade,
Quem dera ter liberdade
Só para escruvitiar

Rosário Pinto

Tô preso sem ser julgado
Não sei, o tamanho da pena
Por qual crime me condena
Nem adianta advogado
O jeito é ficar calado
Deixando o tempo passar
Todos tem que se trancar
Pra não ir, pra eternidade
Quem dera ter liberdade
Só para escruvitiar

Jairo Vasconcelos

Eu nunca pensei um dia
Ver o povo engaiolado
Escola sem alunado
E trabalho em moradia
Já tá me dando agonia
Não posso nem passear
Tô doido pra fofocar
Passo até necessidade
Quem dera ter liberdade
Só para escruvitiar

Giovanni Arruda

Ninguém sabe o que fazer
Com o vírus que demora
Durmo sem pensar na aurora
E o tempo passa a correr
Parece que vou morrer
De tristeza e falta de ar
Tô doida pra viajar
Para matar a vontade
Quem dera ter liberdade
Só para escruvitiar

Vânia Freitas

Eu estou enclausurado
Nessa triste quarentena
Eu já sinto até gangrena
No meu tornozelo inchado
Por viver aprisionado
Sem poder me ausentar
Nem tomar uma no bar
E mentir barbaridade
Quem dera ter liberdade
Só para escruvitiar

Joab Nascimento

Essa tal de pandemia
Me deixou desassossego,
Proibiu meu aconchego
E se fez anomalia,
Causando melancolia
A quem com ela encontrar.
Resta a todos esperar
A total imunidade,
Quem dera ter liberdade
Só para escruvitiar

Chica Emídio

Em tempos de pandemia
tal qual essa que vivemos,
inda que nós expressemos
nossa paz, nossa alegria,
em favor de um novo dia,
será mero verberar
muito menos granjear
nossa própria idoneidade…
Quem dera ter liberdade
Só para escruvitiar

David Ferreira


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 01 de março de 2023

CARREIRÃO DA DESDITA (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

CARREIRÃO DA DESDITA

Dalinha Catunda

Publicado em 

 

Que peste medonha!
Meu Deus, que agonia…
Que rouba do povo,
a sua alegria.
É a Besta-fera,
Que mata e arrepia.
É o trem da morte
Que não alivia.
Me acuda Jesus!
Socorro Maria!
Livrai nosso povo,
Desfaça a magia,
Dê fim na desgraça,
Que nos contagia.
Eu já fiz promessa,
Rezo todo dia,
Velar nossos mortos
A gente queria
Um enterro decente
Antes se fazia
Tudo virou cinzas
Nesta pandemia.


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 22 de fevereiro de 2023

QUANDO EU BRINCAVA DE RODA (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)E

 

QUANDO EU BRINCAVA DE RODA

Dalinha Catunda

 

Quando eu brincava de roda
Lá no meu interior
Era menina feliz
A vida tinha calor
Eu soltava minha voz
Pra cantar: “Ó Linda flor.”

Dalinha Catunda/ Rio de Janeiro–RJ

Quando eu brincava de roda
Bem novinho, ainda moço
A mão na mão da menina
Outra mão lá no pescoço
Mas a brincadeira boa
Era a de cair no poço.

Marcos Silva/São Paulo-SP

Quando eu brincava de roda
Em noite de lua cheia
Na brincadeira de anel
Ou pisando o pé na areia
Dava a mão pra meninada
Todos gritavam: sereia!

Creusa Meira/ Bahia

Quando eu brincava de roda
No terreiro lá de casa
A lua era testemunha
Da felicidade rasa
No ritmo da ciranda
Cirandando, criava asa.

Chica Pessoa/Pentecoste-CE

Quando eu brincava de roda
No pátio da minha escola
Toda hora do recreio
Hoje a saudade me assola
Me lembro dela fardada
E um par de brinco de argola

Jairo Vasconcelos

Quando eu brincava de roda
Atirava o pau no gato
Que brincadeira perversa
Falta de mimo de trato
Mas ganhei delicadeza
Quando vim morar no Crato

Bastinha Job/Crato-CE

Quando eu brincava de roda
Já Doido Pra Namorar
Adorava O Cai No Poço
Para As Meninas Beijar
Moro Em Cruz De São Francisco
Estado Do Ceará.

 

Alberto Francisco/Cruz de S. Francisco-CE

Quando eu brincava de roda
Com um vestido de bolinha,
Era grande a alegria
No terreiro da cozinha;
Meus irmãos faziam festa,
Mas essa lembrança é minha!

Chica Emídio/Crato-CE

Quando eu brincava de roda
Pus ponteira no pião
Arremessava bem ancho
Ele rodava no chão
Depois eu curtia a dança
Na palma da minha mão

Rivamoura Teixeira

Quando eu brincava de roda
Nossa noite, era um festeiro
Os vagalumes piscando
Indo em busca do pereiro
Lua e as estrelas se via
Alumiando o terreiro.

Maria Nelcimá Morais-Paraíba

Quando eu brincava de roda
Era uma grande alegria
Cantava a bela cantiga
Saudando a sintonia
E cantando lentamente
De mãos dadas bem contente
Bem feliz, me divertia…

Ivonete Morais/Fortaleza-CE

Quando eu brincava de roda
Me soltava por inteira
Eu não cantava, gritava
Era meio baderneira
Gostava de confusão
Pra ver subir a poeira.

Vânia Freitas/Fortaleza-CE

Quando eu brincava de roda
Na latada do terreiro
Você brincava comigo
Eu já era presepeiro
Tava de má intenção
Você querendo minha mão
Eu querendo seu traseiro

Xico Bizerra, Crato, Recife

Quando eu brincava de roda
Sempre ao anoitecer
Era muito divertido
Sem ter nada pra fazer
Inocente na maldade
Do que iria acontecer!

Joabnascimento/Camocim-CE

Quando eu brincava de roda
Bila bojo e pega pega
De ciranda cirandinha
De soldado cabra cega
Pra criançada de hoje
Isto tudo é coisa brega

Araquém Vasconcelos/Santana do Acaraú-CE

Quando eu brincava de roda
Eu puxava a cantoria
Minhas amigas dançando
Reinava muita alegria
No terreiro lá de casa
Em ritmo de melodia.

Dulce Esteves- Recife-PE

Quando eu brincava de roda
Lá nas bandas do sertão
Com a turma de amigos
Numa noite de São João
Também soltava chuvinha
E os traques de salão.

Rosário Lustosa Juazeiro do Norte-CE

Quando eu brincava de roda
Me enchia de emoção
Pois o meu amor platônico
Ao pegar na minha mão
Eu não sei se eu me elevava
Ou se o céu descia ao chão

Giovanni Arruda/ Fortaleza-CE

Quando eu brincava de roda
A vida era uma alegria.
E lá no quintal de casa,
Tudo em volta era magia.
Meu pai tocando viola,
Em noites de cantoria.

Rosário Pinto

Quando eu brincava de roda
Eu era a estrela-guia
Cantava alegremente
Com perfeita sinfonia
Cirandeira envolvente
Ladeada de harmonia.

Lindicássia Nascimento/Barbalha-CE

Quando eu brincava de roda
Era um pouquinho arteira
Corria, puxava a roda
Gostava da bagaceira
Só achava divertida
Se a roda fosse ligeira.

Francy Freire/Crato-CE

Quando eu brincava de roda
Segurava na tua mão
Meu coração disparava
Eu tremia de emoção
Hoje já nem reconheço
Minha primeira paixão

Fabiana Gomes Vieira/ Crato-CE

Quando eu brincava de roda
Nos meus tempos de criança
Batava laço de fita
Na ponta de cada trança
Era menina feliz
E repleta de esperança.

Anilda Figueiredo/ Crato-CE

Quando eu brincava de roda
Só participava se nela
Tivesse também brincando
Minha prima Gabriela
A coisa que mais gostava
Era quando a roda embalava
Eu pegado na mão dela.

Francisco de Assis Sousa/Barbalha-CE


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 15 de fevereiro de 2023

CIRANDEIRAS EM MOVIMENTO (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

CIRANDEIRAS EM MOVIMENTO

Dalinha Catunda

Nesses meus versos rimados
Quero lhes apresentar
Um grupo de Cordelistas
Que soube se reinventar
Pois mesmo com pandemia
Não perdeu sua alegria
E resolveu cirandar.

Mulheres empoderadas
Não perdem sua razão
Aprendem a voejar
Quando lhes roubam o chão
Quem tem asas pra voar
E sempre soube sonhar
Faz remota atuação.

Todas elas se arrumaram
Vestiram saias de chita
Umas com flor nos cabelos
Outras com laço de fita
Se animaram pra cantar
Pra dançar e declamar
E ficaram bem na fita.


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 08 de fevereiro de 2023

UMA RODA DE GLOSAS - 24.08.21 (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

UMA RODA DE GLOSAS

Dalinha Catunda

Xilogravura de Valdério Costa

Mote desta colunista:

Pra rola só dou xerém
Se comer na minha mão.

* * *

Nem bem o dia amanhece
Já está em meu quintal
O seu canto matinal
É canto que me enternece
Mas comida só merece
Quem tem rumo e direção
Não cedo alimentação
Pra quem sempre vai e vem:
Pra rola só dou xerém
Se comer na minha mão.

Dalinha Catunda

Também não darei moleza
À rola ou a periquito,
Mesmo sendo bem bonito,
Pode ter toda a certeza;
Beleza nunca põe mesa
E nesses tempos então
Só abro uma exceção
Com aval de Araquem:
Pra rola só dou xerém
Se comer na minha mão.

Bastinha Job

Já tive no meu terreiro
uma rola sem futuro,
me procurava no escuro
e me acertava o traseiro,
com seu jeito interesseiro,
não queria meu pirão,
mas só arroz com feijão,
na hora do vai-e-vem.
Pra rola só dou xerém
Se comer na minha mão.

Anilda Figueiredo

Eu adoro passarinho…
Mas sou fã do periquito
Esse do mote esquisito
Não põe ovo no meu ninho
Pra ficar tudo certinho
Eu digo com precisão
Essa rima é o cão
Esse verso não convém
Pra rola só dou xerém
Se comer na minha mão.

Giovanni Arruda

Quando o pássaro é manso
Basta um dedo em riste
Botar painço e alpiste
Que vem fazer o descanso
Já criei patos e ganso
Sabiá corrupião
Acabava com a ração
Não me sobrava um vintém
Pra rola só dou xerém
Se comer na minha mão.

Araquém Vasconcellos

Canta lá no cajueiro
Que fica no meu canal
Um rebanho de pombal
Me consola o dia inteiro
Mais não chega no terreiro
Nem na janela do oitão
Eu tenho essa opinião
Pode ser pardal, quem quem
Pra rola só dou xerém
Se comer na minha mão.

Jairo Vasconcelos

Eu escuto o passarinho
Mas grito com dedo em riste
Posso dar xerem, alpiste
Se ele sair do ninho
Se eu escutar bem cedinho
Um canto em tom de canção
Mas se ele só diz não
E não canta pra ninguém
Pra rola só dou xerém
Se comer na minha mão.

Rivamoura Teixeira

Eu criava uma rolinha
Um dia fiquei zangada
Ela vivia escorada
Peguei a tal passarinha
Ficou mais mole a bichinha
Eu dei nela um arrochão
Sapequei ela no chão
E pelei o seu sedém
Pra rola só dou xerém
Se comer na minha mão.

Ritinha Oliveira


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 01 de fevereiro de 2023

SORTILÉGIO LUNAR (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

SORTILÉGIO LUNAR

Dalinha Catunda

Foto desta colunista

Pela fresta da janela,
Vejo o quanto a lua é bela!
Diante desse esplendor,
Ainda olhando pro céu,
Deixo cair o meu véu,
E perco então o pudor…

Deslizo pelo cetim,
E aproveito-me de mim,
Nesse instante de fervor.
Pois a lua auspiciosa,
Em noite libidinosa,
Tece um clima sedutor.


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 25 de janeiro de 2023

SOU DA LINHA DO CORDEL (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

SOU DA LINHA DO CORDEL

Dalinha Catunda

 

Sou Cordel de Saia
Cordel de vestido
Cordel feminino
Cordel atrevido
Cordel de Calcinha
Cordel de Dalinha
Cordel divertido.

Sou manha e gracejo
Sou verso ladino
Sou canto nascido
No chão nordestino
Sou nesse universo
Cabocla do verso
Santo e libertino.

Sou alma do verso
Sou rima no ar
Sou dedos que contam
Pra metrificar
Sou inspiração
Dou voz a oração
No palco a cantar.


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 18 de janeiro de 2023

UMA RODA DE GLOSAS - 18.09.21 (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

UMA RODA DE GLOSAS

Dalinha Catunda

Mote desta colunista:

Não venha com leriado,
Hoje estou destabacada!

O marido de Maria
Era caboclo exigente…
Deixava a mesma doente,
De tanto que lhe afligia.
Quando ela se aborrecia,
Gritava desaforada:
Tu aqui não mandas nada!
Acho bom ficar calado!
Não venha com leriado,
Hoje estou destabacada!

Dalinha Catunda

De ser Amélia eu cansei
Disse Adélia para o Joca
Hoje tu num me provoca
Hoje nem rezar rezei
Chá calmante não tomei
Desci da rede avexada
Andei dando uma topada
Não aceito seu fungado
Não venha com leriado,
Hoje estou destabacada!

Rivamoura Teixeira

Todo dia tô assim
Já perdi até a alma
Com ela perdi a calma
Tô quase vendo meu fim
coitadinha, ai de mim
Me tornei esclerosada
Me chamam até de coitada
Esse é meu triste fado:
Não venha com leriado,
Hoje estou destabacada!

Bastinha Job

Deixa de conversa mole
Hoje tô com a mulesta
Dois chifres na tua testa
Pois , comigo ninguém bole
E tomava mais um gole
Dando grossa cusparada
Pense na desaforada
O seu véi desmascarado
Não venha com leriado,
Hoje estou destabacada!

Dulce Esteves

Tereza tinha uma bar
Perto da rua da feira
Não topava brincadeira
Era de pouco falar
Um bobo quis lhe cantar
Tereza deu uma pernada
Bem em cima da danada
Vá pra casa seu tarado
Não venha com leriado,
Hoje estou destabacada!

Jairo Vasconcelos

Dormiu com raiva de sobra
Enfezada com o marido
Mulherengo, pervertido
Torto feito uma abobra
Ela quem criou a cobra
Cedo amanheceu picada
Braba, doida, aporrinhada…
E chegou dando o recado
Não venha com leriado,
Hoje estou destabacada!

F. de Assis Sousa

Não sou de muita falar
Comigo pouca palavra
Rende mais na minha lavra
Quando quero descascar
Boto logo pra lascar
Quando tô de pá virada
E ferida descascada
Não vou com muito babado
Não venha com leriado,
Hoje estou destabacada!

Vânia Freitas

Zefinha cravo e canela
Possuía uma cantina
Com doces e cajuína
Pinga branca e amarela
O povo gostava dela
Mas era um pouco zangada
Se ouvisse uma cantada
Gritava pro aletrado
Não venha com leriado,
Hoje estou destabacada!

Araquém Vasconcelos

Que bonito é ver alguém,
sobretudo, uma mulher,
dizer tudo o que ela quer
sem temer, pois, a ninguém.
A minha, medo, não tem,
diz que não me deve nada
e, um dia, meio amuada,
me fez ouvir seu recado:
Não venha com leriado,
Hoje estou destabacada!

David Ferreira

Minha mulher é amiga
Não gosta de baixaria
É bem calma, voz macia
Não faz mal uma formiga
Mas vira galo de briga
Parte logo pra mãozada
Se eu varar a madrugada
E chegar embriagado
Não venha com leriado,
Hoje estou destabacada!

Giovanni Arruda


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 04 de janeiro de 2023

CONVERSA DE CALÇADA VIRTUAL (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

A saudade é uma dor
Mas não é dor de doer
É vontade de lembrar
Com vontade de esquecer.

Quadrinha Popular

A saudade é uma dor
Martelando o coração
Cada batida desperta
Um mói de recordação

Dalinha Catunda

A saudade é uma dor
Sete letras, sete ais
Um caçua de lembranças
E a gente sempre quer mais

Rivamoura Teixeira

A saudade é uma dor
grande demais, hiperbólica
Espinho que fere a flor
Deixando a alma bucólica

Bastinha Job

A saudade é uma dor
Que fez nascer poesia
No canto do coração
Cresce de noite e de dia.

Vânia Freitas

A saudade é uma dor
Sem remédio pra curar
Só o elixir do amor
Ê quem pode aliviar

Araquém Vasconcelos

A saudade é uma dor
Que vem do fundo da alma
A falta de um grande amor
Que só outro amor acalma.

Chica Emídio

A saudade é uma dor
Pulsando insistentemente
Ao fazer sua morada
Dentro do peito da gente.

Creusa Meira

A saudade é uma dor
Que disfarça sutilmente
A tristeza da distância
Pelo amor dentro da gente

Giovanni Arruda

A saudade é uma dor
Espinho de uma flor viva
Indiferente ao clamor
E mata quem a cultiva.

F. de Assis Sousa

A saudade é uma dor
que sangra dentro da gente,
quem nunca perdeu um amor,
jamais esteve doente.

Anilda Figueiredo

A saudade é uma dor
Um parafuso enferrujado
Quanto mais aperta mais dói
Um coração machucado.

Maria Conceição Vargas

A saudade é uma dor
Que machuca, que maltrata,
Principalmente se for
Saudade daquela ingrata.

Marcelo José Gomes Costa

A saudade é uma dor
Que fustiga diferente
E quando junto à paixão
Dói no coração da gente!!

Helonis Brandão

A saudade é uma dor
Que leva a gente a loucura.
Não tem doutor que dê jeito.
Nem tem remédio pra cura.

Assis Mendes

A saudade é uma dor
Que não tem comparação
Quem é dela um portador
Sofre sem explicação !

Dulce Esteves

A saudade é uma dor
Sendo uma dor incruenta
Eu tento lhe disfarçar
Cada vez mais ela aumenta

Jairo Vasconcelos

A saudade é uma dor
Que o tempo alimenta
Que dói lá dentro do peito
E arde mais do que pimenta.

Claude Bloc

A saudade é uma dor
Que volta a todo momento
Qual um filme de amor
Que não sai do pensamento.

José Olívio


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 28 de dezembro de 2022

ELE QUERIA MEU PIX (CORDEL DA MADRE SUPERIORAS DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

ELE QUERIA MEU PIX

Dalinha Catunda

 

Eu nasci no Ceará
Sou cabocla experiente
Eu sou metida a gaiata
Porém sou mulher decente
E pra falar a verdade
Não gosto de intimidade
Com macho que é indecente.

Mensagens eu recebi
Nesse tal de celular
E parece que o sujeito
Queria me conquistar
Ô sujeitinho safado
Cabra metido a tarado
Não sou mulher de aturar.

Começou a pedir Nudes
Perguntei: Que diabéisso?
Nem deixei ele explicar
Pois eu tenho compromisso
Já estava quase explodindo
E o ente me perseguindo
Nem gosto de falar nisso.

A bate-boca esquentou
Eu xinguei o cidadão
Se eu tivesse cara a cara
Tinha lhe sentado a mão
E até vergonha me deu
Pois o corno resolveu
Entrar na esculhambação.

Acredite minha gente
No que agora vou falar
O cínico me pediu
E queria me forçar
Você é uma senhora
Mas quero seu PIX agora
Nem diga que não vai dar.

É claro que não vou dar
Sujeitinho descarado
O meu PIX já tem dono
Deixe de ser abusado
Se você mexer comigo
Vai mesmo é correr perigo
Garanto que tá lascado.

 


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 14 de dezembro de 2022

PROFESSORINHA DO INTERIOR (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

PROFESSORINHA DO INTERIOR

Dalinha Catunda

Esta é minha homenagem a minha tia Isa Catunda professora que lecionou durante muitos anos na cidade de Ipueiras, CE. Ela teve em vida, o carinho e o reconhecimento de muitos que passaram por sua sala de aula. Hoje ela já não vive fisicamente entre nós, mas continua a ser um espírito de luz a nos iluminar.

Renegou a palmatória.
Sabia contar história.
Tinha a meiguice da flor.
Tinha o dom de encantar,
Gostava de lecionar
A Mestra do interior.

Não teve filhos na vida,
Mas era a tia querida,
Que a criançada adotou.
Irradiava magia,
Era Filha de Maria,
Catecismo me ensinou.

Era fina e elegante,
Joia rara, um diamante,
Com todo seu esplendor.
Um ser de luz e beleza
Pro céu levou sua pureza,
E aqui deixou muito amor.

Esse anjo de quem falo,
Rasgo meu peito e não calo,
Habita o meu coração.
É tia Isa querida,
Que já deixou essa vida,
Vive em outra dimensão.

Isa Catunda de Pinho,
Teve um bonito caminho,
Enquanto pode ensinou.
Essa doce criatura
Que viveu para a cultura
Seu legado me deixou.


Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 07 de dezembro de 2022

Ô VÉIA PRA ENXERGAR! (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

Ô VÉIA PRA ENXERGAR!

Dalinha Catunda

 

Minha mãe é poetisa,
E sempre gostou de ler,
Mas ficou com a vista curta,
Começou seu padecer.
Com receio de cegar,
Resolveu se consultar,
Para a vista não perder.

O doutor disse ligeiro
Sem rodeio sem bravata:
– Aqui pelo que estou vendo
O seu caso é catarata!
Uma simples cirurgia,
Vai fazer sua alegria,
Vamos já marcar a data.

Mamãe ficou animada,
Cheia de satisfação,
Falava pra todo mundo,
Dessa sua operação.
Outra coisa não falava,
Todo dia ela rezava,
Pra dar certo a intervenção.

Não demorou muito tempo
Ela foi paro o hospital,
E por causa da idade
Mamãe precisou de aval,
Mas depois de operada,
A vista foi renovada,
E ficou especial!

Hoje quando alguém pergunta,
Se vê mesmo, ou se é fofoca,
Ela diz que enxerga até
“Priquito” de muriçoca,
E nem pense em contestar!
Pois língua pra argumentar,
Ela tem bem grande e choca.


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