Foto desta colunista
Tão plena em sua brancura
Tendo o vento como açoite
Ontem a dama-da-noite
Abrolhou com formosura
Encantamento em fartura
Exibiu na ocasião
Vem provocando paixão
E realmente me apraz
Tão bonita, mas fugaz
Essa Dama em explosão.
MELHOR IDADE É O CACETE
Dalinha Catunda
JÁ SE FOI A JUVENTUDE
MAS PROSSIGO A NAMORAR
Dalinha Catunda
Mote de Dalinha Catunda
*
Se suspiro apaixonada
É porque adoro a vida
Não vivo desiludida
Sempre adorno a caminhada
Não sou mulher mal-amada
E nesse meu versejar
Monto palco pra atuar
Com coragem e atitude
JÁ SE FOI A JUVENTUDE
MAS PROSSIGO A NAMORAR
Mote e glosa Dalinha Catunda
*
Tenho forte coração
poesia no carinho
Vou seguindo meu caminho
Repleto de emoção
Afinando o violão
Lindo sem desafinar
Conjugando o verbo amar
Com o s da saúde
JÁ SE FOI A JUVENTUDE
MAS PROSSIGO A NAMORAR
Glosa Rivamoura Teixeira
*
Na minha vida serei
Um eterno apaixonado
Vou deixando o meu legado
Pelo mundo onde passei
Sei que amar é maior lei
Amarei, jardins, pomar,
O povo, montanha e mar
Porque tal mal não me ilude
JÁ SE FOI A JUVENTUDE
MAS PROSSIGO A NAMORAR
Glosa, Jairo Vasconcelos.
*
É efêmera a mocidade
Mas o amor nunca passa
Viver feliz é uma graça
Pra amar não tem idade
Amo com intensidade
Nunca paro de sonhar
Flutuo leve no ar
Sem temer a altitude
JÁ SE FOI A JUVENTUDE
MAS PROSSIGO A NAMORAR
Glosa Araquém Vasconcelos
*
Desde a minha adolescência
O meu coração suspira
O sentimento me inspira
E alimenta em mim, a essência
A paixão é consequência
Desse intenso "mal" de amar
Hoje vivo a suspirar
Pelo amor em plenitude
JÁ SE FOI A JUVENTUDE
MAS PROSSIGO A NAMORAR
Glosa - Creusa Meira/
*
Aquele amor que foi chama
Que nem bombeiro apagava,
Que ardia, que rolava
Que quebrava toda cama,
Se entrelaçava na trama,
Hoje é só folha a boiar,
Vivo só de recordar
Que triste decrepitude:
JÁ SE FOI A JUVENTUDE
MAS PROSSIGO A NAMORAR!
GLOSA De Bastinha Job
*
Já passaram tantos anos
Desde que nos conhecemos
Cada dia acrescemos
Graças por esses planos
Fizeram - se soberanos
Tu serás sempre meu par
E nada fará mudar
Espero que nada mude
JÁ SE FOI A JUVENTUDE
MAS, PROSSIGO A NAMORAR.
Glosa: Dulce Esteves.
*
Quando moço era um estouro
Eu vivia apaixonado
Hoje, todo remendado
Ergo o beiço qual um touro
Quando o cheiro do namoro
É trazido pelo ar
Mas na hora de arrochar
Não dá cola nem dá grude
JÁ SE FOI A JUVENTUDE
MAS PROSSIGO A NAMORAR
Glosa Giovanni Arruda
*
Gosto de viver a vida
Com carinho e alegria,
Fazer amor com poesia,
No Sol, no mar, na avenida;
Com prazer cuido da lida,
Sem esquecer de beijar
Meu amor, ao me abraçar,
Seu carinho é o que me ilude.
JÁ SE FOI A JUVENTUDE
MAS PROSSIGO A NAMORAR.
GLOSA: Chica Emídio.
*
Todo amor quero viver
Do presente e de outrora
Segundo, minuto e hora
E jamais quero esquecer
Faço o que for pra fazer
No tempo que me restar
Tudo quero aproveitar
Gozo de boa saúde
JÁ SE FOI A JUVENTUDE
MAS PROSSIGO A NAMORAR.
Glosa: F. de Assis
*
Uma página da vida
Duas três e sei lá quantas
De histórias já são tantas
Talvez alguma perdida
Eu não sei se a mais doída
Mas são muitas pra lembrar
São tantas com o verbo amar
Que coloquei no ataúde
JÁ SE FOI A JUVENTUDE
MAS PROSSIGO A NAMORAR.
Vânia Freitas
*
Lembro da melhor idade
dos meus vinte e mais anos,
com meus direitos humanos
recheados de vontade...
Vivi minha mocidade
sem ter do que reclamar,
fui do vinho ao caviar
e não me faltou saúde...
JÁ SE FOI A JUVENTUDE,
MAS PROSSIGO A NAMORAR.
David Ferreira
Roda de glosas coordenada por Dalinha Catunda.
ERA DOMINGO NO PARQUE
*
Era domingo no Parque
Recordo com precisão
Você me deu um abraço
E apertou a minha mão
Tinha dança e poesia
Animando aquele dia
De cultura e tradição.
*
Foi uma tarde animada
Era festa no lugar
Promessa de emoção
Entrevi em seu olhar
Olhando-me animado
Quebrava o chapéu de lado
Sempre a me cumprimentar.
*
Nesse dia entrei na roda
Me enfeitei pra cirandar
Você acenava eufórico
Inquieto em seu lugar
Eu de maneira brejeira
Dançava toda faceira
Somente pra me mostrar.
*
Pra você joguei um beijo
E uma flor arremeti
No ar você segurou
E eu radiante sorri
Era o cravo, era a rosa
Entre um verso e uma prosa
Girando no Cariri;
*
Versos de Dalinha Catunda
PEGUE AQUI NA MINHA MÃO
VAMOS JUNTOS CIRANDAR.
*
Quando sinto que a tristeza
Se avizinha do meu peito
Na danada dou meu jeito
Pra isso tenho destreza
Busco no canto a leveza
Para os males espantar
Quem quiser pode chegar
Que esse canto é de união
PEGUE AQUI NA MINHA MÃO
VAMOS JUNTOS CIRANDAR.
*
Eu voltei a ser criança
Brincando pela varanda
Numa roda de ciranda
Gostei daquela festança
Entrei de cara na dança
Comecei rodopiar
Formamos um belo par
Dando volta no salão
PEGUE AQUI NA MINHA MÃO
VAMOS JUNTOS CIRANDAR
Mote Dalinha Catunda
Glosa Araquém Vasconcelos
*
Peguei na mão de Ritinha
Que pegou na de Alcinete
Lindicassia, bem coquete,
Segurou a de Dalinha
Enxerida entrou Bastinha
Seguiram a requebrar
Sempre a rodar,a rodar
No ritmo da emoção:
PEGUE AQUI NA MINHA MÃO
VAMOS JUNTOS CIRANDAR!
MOTE DE Dalinha Catunda
GLOSA De Bastinha Job.
*
Na ciranda desta vida
Volta e meia sempre dou
Se as amigas vêm, eu vou
Se não vêm, fico sentida
Se Maria Aparecida
Ou de Lourdes me chamar
Largo tudo e vou dançar
Pra tristeza eu digo não
PEGUE AQUI NA MINHA MÃO
VAMOS JUNTOS CIRANDAR.
Mote - Dalinha Catunda/
Glosa - Creusa Meira/
*
O zabumba toma a guia
Dá balanço o chocalho
Já se ouve um farfalho
Vai subindo uma agonia
O salão se contagia
Todos querem rebolar
E o desejo de dançar
Tem a força de um vulcão
PEGUE AQUI NA MINHA MÃO
VAMOS TODOS CIRANDAR
Mote: Dalinha Catunda
Glosa: Giovanni Arruda
*
Vou brincar nesta ciranda
Abra a roda por favor
Vou girando como for
Meus passos só Deus comanda
Pus nos cabelos lavanda
Quando o vento arrepiar
Cirandeiros vêm cheirar
Com grande satisfação
PEGUE AQUI NA MINHA MÃO
VAMOS JUNTOS CIRANDAR !
Mote: Dalinha Catunda
Glosa: Dulce Esteves
*
Deixe a rotina de lado
Saia de dentro de casa
Se divirta, extravasa,
Vá prum forró arrochado
Requebre bem apertado
Dance a noite sem parar
Com molejo a peneirar
Dando voltas no salão
PEGUE AQUI NA MINHA MÃO
VAMOS JUNTOS CIRANDAR.
Mote de Dalinha Catunda.
Glosa de Joabnascimento
*
Nas noites alvissareiras
Nas festas de São João,
Eu fazia agitação
Dançava nas brincadeiras
Salão cheio de bandeiras
O sanfoneiro a tocar
Fazendo casais rodar
Em geral a animação
PEGA AQUI NA MINHA MÃO
VAMOS JUNTOS CIRANDAR.
Mote, Dalinha Catunda .
Glosa Jairo Vasconcelos.
*
Agradecer cada dia
A alegria de viver
E fazer por merecer
Saúde, paz e harmonia
Bom mesmo é a euforia
Rime se quiser rimar
Cante se quiser cantar
Diga não a solidão
PEGUE AQUI NA MINHA MÃO
E VAMOS JUNTOS CIRANDAR.
Francisco De Assis Sousa
Mote Dalinha Catunda
*
Pesquisei nossa Ciranda.
É na Cantiga de Roda,
Que ela nunca cai de moda.
É cantiga que sempre anda
Nos festejos de varanda.
Em rodas para dançar,
Em festejo popular.
Na roda, uns vêm outros vão.
PEGUE AQUI NA MINHA MÃO
VAMOS JUNTOS CIRANDAR.
(Mote: Dalinha Catunda
Glosa: Rosário Pinto)
*
Pra quem gosta de ciranda
E dançar na luz da lua
Vem ser meu e serei tua
No toque de qualquer banda
Pois é a gente quem manda
A poeira levantar
Vamos ver o sol raiar
No batuque do coração
PEGUE AQUI NA MINHA MÃO,
VAMOS JUNTOS CIRANDAR.
MOTE: Dalinha Catunda
GLOSA: Vânia Freitas
*
Em tempos de pandemia,
Só mesmo fazendo festa.
A jogada agora é esta:
Em casa, ter alegria,
Cantar e fazer poesia,
Um Studio improvisar,
Uma live organizar,
Numa bela animação,
PEGUE AQUI NA MINHA MÃO,
VAMOS JUNTOS CIRANDAR.
Mote: Dalinha Catunda
Glosa: Chica Emídio.
*
A ciranda move a vida
a vida gera cultura,
é alegria segura
é brincadeira aguerrida.
A cadência é divertida
quem tá fora quer entrar,
com garra pisotear
com desmedida paixão.
PEGUE AQUI NA MINHA MÃO
VAMOS JUNTOS CIRANDAR.
Mote : Dalinha Catunda
Glosa: Fátima Correia
****
EM CACHOEIRAS DE MACACU
Dalinha Catunda
Atrás do morro do pico
Aponta o sol radiante
A neblina derretendo
Presencio a todo instante
A beleza do horizonte
O raio do sol no monte
Ilumina o meu semblante.
*
Do beiral do meu alpendre
A cambaxirra cantou
No pé de jacatirão
O bem-te-vi se assanhou
O gavião sorrateiro
Abre as asas no coqueiro
Vendo que o dia raiou.
*
Redes de aranhas tecidas
Presas no arame farpado
Trazendo beleza as cercas
Esse trabalho rendado
Só vendo quanta beleza
Cenário da natureza
Que é por Deus elaborado.
*
O canto da Seriema
Ecoa ao amanhecer
Despertador natural
Canta mesmo pra valer
É ave que faz zoada
Parece até gargalhada
Pois canta sem se conter.
*
Canários se reproduzem
Eu vejo o bando passar
Os melros sempre em grupo
Encantam com seu cantar
E no maior zum, zum, zum
Um magote de Anum
Balburdia faz ao voar.
*
Quando chega o fim do dia
Volta pro ninho a trocal,
E a garça voa em bando
Num belo show, sem igual
O sol desmaia cansado
Anunciando alquebrado
De cada dia o final.
*
Nova fauna, nova flora
Eu vejo aqui no Sudeste
O verde é permanente
Diferente do Nordeste
Ganho mais conhecimento
Mas tenho meu pensamento
Na minha vidinha agreste.
*
Versos de Dalinha Catunda
CIRANDANDO
*
Viro menina, brincando,
De roda, posso afirmar,
E no vaivém da ciranda
Boto a saia pra girar.
Com fita e flor no cabelo
Desato a voz a cantar.
*
Pegando de mão em mão,
Marcando o passo faceira,
Com roupa bem colorida,
Danço em volta da fogueira.
Danço na roça e cidade,
Nasci pra ser cirandeira.
*
Se quiser dançar comigo,
O canto que contagia,
Eu estendo minha mão.
A ciranda traz magia,
Em cada mão atrelada,
Um carrossel de alegria.
*
Versos de Dalinha Catunda.
Foto desta colunista
Tão plena em sua brancura
Tendo o vento como açoite
Ontem a dama-da-noite
Abrolhou com formosura
Encantamento em fartura
Exibiu na ocasião
Vem provocando paixão
E realmente me apraz
Tão bonita, mas fugaz
Essa Dama em explosão.
Mote desta colunista:
A besta-fera chegou
Pra tirar nossa alegria.
Dalinha Catunda
Sem ter comiseração
Nos assusta a Besta-fera
Que mata em qualquer esfera
Sem pena e sem compaixão
Padece a população
Nas mãos dessa pandemia
Os dias são de agonia
Nosso sossego findou:
A besta-fera chegou
Pra tirar nossa alegria.
Araquém Vasconcelos
Chegou este triste mal
Com apelido de corona
Da situação é a dona
Esta desgraça viral
Espalha um terror mortal
Velho e novo contagia
Morre gente todo dia
O mundo inteiro parou
A besta-fera chegou
Pra tirar nossa alegria.
Gevanildo Almeida
Feito uma tempestade
Torando pela a raiz
Deixando o povo infeliz
Ceifando a felicidade
Sem nenhuma punidade
Pra essa besta vadia
Maldita hora que um dia
Ela se proliferou
A besta-fera chegou
Pra tirar nossa alegria.
Jairo Vasconcelos
Só Deus pra resolver
Essa mula do capeta
O diabo fez a faceta
Com Jesus vamos vencer
O mal fez acontecer
Essa grande pandemia
Como o profeta dizia
Mais ninguém acreditou
A besta-fera chegou
Pra tirar nossa alegria.
Marcos Silva
Primeiro foi o covarde
Depois veio o tal covid
Eu lhe digo não duvide
Que vai piorar mais tarde
Isso aqui não é alarde
E nem mera putaria
Um vírus com tirania
Muita gente ele levou
A besta-fera chegou
Pra tirar nossa alegria.
Bastinha Job
Não foi assim de repente,
Faz tempo a besta nos sonda
Vai fazendo a fatal ronda
Matando a nossa gente;
Age, assim, tão friamente
Em uma eterna agonia
A esperança tá fria
O labirinto estreitou:
A besta-fera chegou
Pra tirar nossa alegria.
Chica Emídio
Um vírus sem piedade
Invadiu o mundo inteiro,
Foi cruel e traiçoeiro,
Causando mortalidade.
Pungente agressividade
Veio nessa pandemia,
A maior epidemia
Nosso país assolou,
A besta-fera chegou
Pra tirar nossa alegria.
Rivamoura Teixeira
Veio disfarçada a ira
Pegou carona o corona
Bestafora safadona
Bestafura bestafira
Com covid a calma pira
Bestafara da agonia
Virou alta pandemia
A paz do mundo pirou
A besta-fera chegou
Pra tirar nossa alegria.
Dulce Esteves
Maldito vírus Chinês
Ao mundo mal-assombrado
São mortes por todo lado
Vou falar para vocês
Nós estamos à mercês
Sepultados todo dia
Em vala, na cova fria
Um parente nem velou
A besta-fera chegou
Pra tirar nossa alegria.
Vânia Freitas
A besta fera é o satã
Que também tentou Jesus
Quer o mal pra quem na luz
Reza a noite e de manhã
Tentou Eva com a maçã
A gente com a pandemia
Com fé em Jesus e Maria
Da besta já se livrou
A besta-fera chegou
Pra tirar nossa alegria.
Davia Ferreira
Estamos todos atados,
sem podermos fazer nada,
com a covid alastrada,
tomando todos os lados.
Estamos todos cercados,
sem solução e sem guia,
sorvendo no dia a dia,
o pouco que nos restou…
A besta-fera chegou
Pra tirar nossa alegria.
Giovanni Arruda
Não se sabe de onde veio
Nem o cão que o pariu,
Mas a praga explodiu
Degradando nosso meio
Tá difícil dar um freio
Dissolver a tirania
Do desastre que um dia
No comando se instalou
A besta-fera chegou
Pra tirar nossa alegria.
Ritinha Oliveira
Um grande monstro surgiu
Do vil abismo profundo
Cuspindo fogo no mundo
Muitas vidas consumiu
As cinzas de quem partiu
Escurece o nosso dia
Um futuro de magia
O luto já embaçou
A besta-fera chegou
Pra tirar nossa alegria.
Francisco de Assis Sousa
Veio dominando mundo
Com a sanha de matar
Sedenta a contaminar
Infectando em segundo
Seu disfarce é fecundo
Leva mesmo a cova fria
Com a sua tirania
Muitas vidas já ceifou
A besta-fera chegou
Pra tirar nossa alegria.
Rosário Pinto
E chegou o reptiliano,
Com ares bem sorrateiros.
Enganou os brasileiros.
Chama o povo de beltrano,
Já entramos pelo cano.
E com esta pandemia,
A vida aqui não se cria,
O que vemos é complô
A besta-fera chegou
Pra tirar nossa alegria.
Creusa Meira
Há mais de um ano a tristeza
Povoa a vida da gente
Perder amigo ou parente
Distante ou na redondeza
Dá-nos a plena certeza
Que perto está nosso dia
Sem amparo e garantia
De vacina que faltou
A besta-fera chegou
Pra tirar nossa alegria.
Josy Correia
Cada lado do planeta
Resiste, lamenta e chora
Com a doença que apavora
Regrando a curta ampulheta
No desgoverno, um capeta,
Rindo da nossa agonia
Ignora a cova fria
Onde o Brasil se enterrou
A besta-fera chegou
Pra tirar nossa alegria.
2
No entanto quis o destino
Modificar meu traçado
Vi cada sonho ruir
E o presente destroçado
O caos chegou de repente
Deixando o povo impotente
E o mundo inteiro abalado.
3
Do covid 19
Dessa grande Pandemia
Hoje nós somos reféns
Vivemos essa agonia
Enfrentando isolamento
Adestrando o pensamento
Pra fugir da distimia.
4
Prosseguir era preciso
Nunca fui de esmorecer
Tentei sentar a cabeça
Pensando no que fazer
A Deus pedi direção
E fui fazendo oração
Buscando me proteger.
5
O começo foi difícil,
Eu tenho que concordar.
E muitos dos meus costumes
Tive que modificar.
Sem varinha de condão
Para a modificação
Fui obrigada a lutar.
6
Vesti-me de paciência
Pra viver sem liberdade
E mudei-me para o campo
Deixei de lado a cidade
Fui treinando meu olhar
Pra novo mundo abraçar
E acatar a realidade.
7
Os compromissos rompidos
Sem condições de assumir
O meu sorriso desfeito
Eu tenho que admitir
A única solução
Seria a transformação
Resolvi nisso insistir.
8
Bem distante dos perigos
A roça me adaptei
E com internet em casa
Logo me conectei
Fui ligando minha antena
E mesmo de quarentena
Meu trabalho continuei.
Dalinha Catunda
Deixa de ser fofoqueira
Vai cuidar do teu fogão.
Dalinha Catunda:
Minha gente vou dizer:
Eu não estou suportando!
Ouço o celular tocando,
E quando vou atender,
Eu chego a me arrepender,
De atender a ligação.
Com o celular na mão,
É só mulher fuxiqueira:
Deixa de ser fofoqueira
Vai cuidar do teu fogão.
Bastinha Job:
Fala mal de seu vizinho
Dedura a minha pessoa
Só me chama de coroa
É flor cheinha de espinho,
Vai metendo o seu focinho
Não aceita opinião
Afugenta o próprio cão
Não tem limite ou fronteira:
Deixa de ser fofoqueira
Vai cuidar do teu fogão.
Dulce Esteves:
Só vive bisbilhotando
Pra saber da vida alheia
Chama a vizinha ” baleia “
Fala alto, reclamando
Todo mundo fica olhando
Na boca só palavrão
Trambiqueira de montão
Além de ser cachaceira:
Deixa de ser fofoqueira
Vai cuidar do teu fogão.
Rivamoura Teixeira:
Já começa o bate papo
Gritando que Zé Bedeu
Quis fuder e se fudeu
E o dinheiro virou trapo
Me zanguei dei um sopapo
O celular cai no chão
Pra aumentar a confusão
Chamei ela de encrenqueira
Deixa de ser fofoqueira
Vai cuidar do teu fogão.
Gevanildo Almeida:
Fico eu observando
Com minha boca fechada
Só olhando a palhaçada
De quem vive curiando
A vida alheia mirando
Numa melhor posição
Fala de pai e irmão
Sentada numa porteira
Deixa de ser fofoqueira
Vai cuidar do teu fogão.
Araquém Vasconcelos:
É preciso paciência
Pra suportar seu capricho
Vive com cara de bicho
Só fala com violência
Não usa a consciência
Só pensa em ostentação
Em tudo quer ter razão
Tem jeito de alcoviteira
Deixa de ser fofoqueira
Vai cuidar do teu fogão.
Joab Nascimento:
Quem não tem o que fazer
Nenhuma roupa pra lavar
Vai vivendo a fuxicar
Com fofocas a oferecer
De tudo ela quer saber
Pra fazer divulgação
Notícia em primeira mão
Da fofoca ser a primeira
Deixa de ser fofoqueira
Vai cuidar do teu fogão.
Lindicassia Nascimento:
Uma vizinha gritando
Do outro lado da rua
Eu que tava quase nua
Corri pra lá perguntando:
-Já morreu ou tá matando?
Ela disse: – foi João
Que levou chifre de Adão.
Eu disse, mas que besteira,
Deixa de ser fofoqueira
Vai cuidar do teu fogão.
Giovanni Arruda:
Quem leva a vida a pensar
Na vida que o outro leva
Cria sua própria treva
Nos afazeres do lar
Na hora de cozinhar
Não escorre o macarrão
Queima o arroz e o feijão
E o fundo da cuscuzeira
Deixa de ser fofoqueira
Vai cuidar do teu fogão.
Rosário Pinto:
Foi uma vizinha que tive
Na cidade Bacabal.
O meu bairro era o Ramal.
Parecia um Detetive.
Fiquei quieta, me abstive.
Você sabia? Era o refrão.
Isto lhe dava tesão.
Todos gritavam: tranqueira!
Deixa de ser fofoqueira
Vai cuidar do teu fogão.
Francisco Jairo Vasconcelos:
Passa o dia na janela
Parece uma filmadora
Se finge de protetora
Tem a língua de tramela
Deixa até queimar panela
E quando vai ao salão
Sabe de toda traição
E põe lenha na fogueira
Deixa de ser fofoqueira
Vai cuidar do teu fogão.
Dalinha Catunda
Após as novenas as famílias se reuniam na pracinha da igreja.
Enquanto as mulheres compravam gulodices para entreter as crianças, os homens se reuniam nas barracas de bebidas.
E foi entre uma bebida e um papo e outro, que se deu o bate-boca entre dois primos.
Ambos já tinham sido contemplados com um par de chifres por suas digníssimas esposas.
José, sabia que era corno, mas já tinha se acomodado a situação, porém Gonzaga, era o mais novo corno da cidade, estava na boca do povo e pelo jeito seria o último a saber.
Quando a discussão esquentou, Gonzaga, pôs a mão no ombro do primo e falou:
– Zé, tu é corno, macho véi!
Zé naquela calma de corno convencido imitando o gesto do colega retrucou:
– E meu primo nem é!
Isso foi o suficiente para a turma inteira cair na gargalhada.
A mulher com K maiúsculo
É coisa de Gonzagão
Foi do nosso rei caboclo
Que nasceu essa invenção
Era cabocla ladina
Chamada de Karolina
Astuta que nem o cão.
E foi imortalizada
Na voz do Rei do Baião
Como a mulher dançadeira
Que mais chamava atenção
Cheia de presepada
Com sua saia rodada
Girava que nem pião.
Todo mundo admirava
A tal bela sertaneja
Dançava com quem queria
Inda tomava cerveja
Nos braços do sanfoneiro
Dançava até em terreiro
Não ficava no, hora veja!
Karolina era cheirosa
Bem atrevida e faceira
Também era invocada
Metida a cangaceira
Mas colou com Gonzagão
Dançando xote e baião
Do chão tirava poeira.
Tem que dançar xenhenhém
Igualzinha a Karolina
Tem que lavar bem a boca
Gargarejar creolina
Acho bom que se oriente
Pra falar da nossa gente
De origem nordestina.
Pois quem quer ser respeitada
Pelos outros tem respeito
Não segue a velha cartilha
Onde mora o preconceito
Eu não quero causar dano
Mas o K Gonzagueano
Ele é nosso não tem jeito.
Dalinha Catunda
Eu tenho raiva de gente
Que vive se lastimando
* * *
Dalinha Catunda:
Procurando o que fazer
Eu acordo todo dia
Dispenso a melancolia
E procuro me envolver
Com tudo que dá prazer
E da vida vou cuidando
Pois tendo Deus no comando
Sei que vou seguir em frente:
Eu tenho raiva de gente
Que vive se lastimando
Gevanildo Almeida:
Não me lastimo de nada
Que a vida me apronta
Seja o que for eu dou conta
Com minha boca fechada
Não sou chegado a zoada
Vou logo lhe avisando
Não venha me perturbando
Com cara de deprimente
Eu tenho raiva de gente
Que vive se lastimando
Bastinha Job:
Escreva um belo poema,
limpe bem a sua casa
Voe alto, crie asa,
Rejeite qualquer sistema
Que lhe prende na algema
Sua vida cerceando,
Não fique se lamentando
Isso odeio imensamente:
Eu tenho raiva de gente
Que vive se lastimando
Francisco de Assis Sousa:
Cada momento da vida
Vale a pena se viver
Eu quero todo prazer
Antes da minha partida
Abomino despedida
Cada dia celebrando
E assim eu vou levando
A vida gostosa e quente
Eu tenho raiva de gente
Que vive se lastimando
Rivamoura Teixeira:
Temos que perseverar
O passado tem essência
Que dá a experiência
Que orienta o viver
O melhor do conviver
É que você vai juntando
Dividindo e somando
E te faz experiente
Eu tenho raiva de gente
Que vive se lastimando
Dulce Esteves:
Agradeço todo dia
Pelo fato de viver
Minhas refeições comer
Pela luz que me alumia
Por ter paz, ter harmonia
Deus está me abençoando
Meu dinheirinho ganhando
Pois, sou grata plenamente
Eu tenho raiva de gente
Que vive se lastimando
David Ferreira:
Taí, gostei desse mote,
por esse apelo que traz
a quem pensa ser audaz.
Pela destreza, o rebote,
inclusos pois no pacote
dos que têm total comando
naquilo que estão buscando
prosperar constantemente…
Eu tenho raiva de gente
Que vive se lastimando
Joab Nascimento:
Viver de lamentação
Reclamando todo dia
Com triste melancolia
Causando importunação
Causando indignação
Para quem fica escutando
Insatisfação causando
Com perturbação na mente
Eu tenho raiva de gente
Que vive se lastimando
Bastinha Job:
Pra mim a chuva é tela
De uma linda pintura
No meu Cratinho ela cai
Cai agora com ternura
Meu coração tá contente
A chuva ,o melhor presente
Traz promessa de fartura!
Lindicássia Nascimento:
É festa na agricultura
Alegria pra o sertão
Sertanejos se animam
Com o relâmpago e o trovão
A chuva é a esperança
Para o tempo de bonança
Pra quem fez a plantação.
Dalinha Catunda:
Chuva caindo no chão
Atiça minha saudade
Nós dois no banho de chuva
Numa casualidade
Enquanto a chuva caía
O casal feliz sorria
Ungindo a felicidade.
Mote desta colunista:
É duro dar luz a cego
Que não pretende enxergar.
* * *
Dalinha Catunda:
Não sou dona da verdade
O bom senso assim me diz
Na vida sou aprendiz
Mas sempre bate a vontade
De repassar qualidade
A quem deseja ingressar
Com regras no versejar
E o pouco que sei não nego
É duro dar luz a cego
Que não pretende enxergar.
Rivamoura Teixeira:
Eu já dei até a dica
De como faz o traçado
O x do metrificado
Ele diz _exemplifica
Mas parece q ele fica
Olhando a banda passar
Ou prefere só ficar
Nesse pequenino ego
É duro dar luz a cego
Que não pretende enxergar.
Dulce Esteves:
Meus parcos conhecimentos
Gosto de compartilhar
Convidei, vamos estudar
Mas, me causou foi tormentos
Esses tristes elementos
Só souberam foi negar
Disse: eu sei metrificar
Esse peso não carrego
É duro dar luz a cego
Que não pretende enxergar.
Creusa Meira:
Às vezes a gente fala
Até com certo cuidado
Que o verso tem pé quebrado
Mas a pessoa se cala
Segue o caminho e embala
Mostrando não se importar
Vai querer me martelar
Mas afirmo, não sou prego
É duro dar luz a cego
Que não pretende enxergar.
Giovanni Arruda:
Precisa ter paciência
Pois no começo é assim
Fica pensando no fim
E quebra toda a cadência
Perde do verso a essência
Quem prioriza contar,
Eu aconselho tentar
Mas uma coisa não nego
É duro dar luz a cego
Que não pretende enxergar.
Bastinha Job:
É malhar em ferro frio
pedra que água não fura
clarear a noite escura
secar o leito do rio,
receita sem ter avio,
um ganho sem conquistar,
Poeta sem se inspirar
Tudo isso veto e renego:
É duro dar luz a cego
Que não pretende enxergar.
O HOMEM QUE PERDEU A ROLA
Dalinha Catunda
1
Ao Tuca pedi licença,
Pra sua história contar.
É fato não brincadeira
O que tenho pra narrar.
Esta tragédia, amigos,
Foi um drama de amargar.
2
Este caso sucedeu
Em meu querido lugar
E fez a minha Ipueiras
De tristeza até chorar.
A cidade combalida
Nunca viu tanto pesar.
3
Todos conhecem o Tuca,
Nem precisa apresentar.
É dono dum restaurante.
Bom e muito popular.
Comerciante querido,
A todos quer agradar.
4
Tuca era muito feliz,
Com os filhos e a mulher.
Também tinha sua rola,
Que não era uma qualquer,
Não largava sua pomba
Um instantinho sequer.
5
Não sei se foi mau olhado,
Se foi praga ou coisa assim.
Só sei que sua alegria.
De repente teve fim.
O homem perdeu a rola,
Meu Deus que coisa ruim!
6
Ipueiras chorou tanto,
Foi bem grande a comoção.
Pois não era uma rolinha,
Na verdade era um rolão.
E muita gente importante,
Já tinha passado a mão.
7
Pobre mulher, soluçava...
Abraçada a seu marido.
Ele só se lamentava
Por a rola ter perdido.
Tudo se tornou tristeza,
Depois deste acontecido.
8
Ao chegar o fim da tarde
Na hora da ave Maria,
Tuca pegava sua rola
Com jeitinho recolhia,
E agradecia aos céus.
A rola que possuía.
9
A sua querida esposa,
Entrou numa depressão
Seu robe, sua alegria
Era a rola em sua mão.
Ela chora de saudades
Pela rola do patrão.
10
Tuca perdeu a alegria
Perdeu a satisfação.
Vivia coçando a rola
Por debaixo do balcão
Sem rola e sem alegria
É bem grande a aflição.
11
Os amigos afagavam
Aquela rola singela
E Tuca sempre exibia
Pondo a rola na janela.
Era uma boa atração
E todos gostavam dela.
12
Que muita gente chorou
É a mais pura verdade,
Homem que fica sem rola
É digno de piedade.
Tem uma vida vazia
E perde a felicidade.
13
A história dessa rola,
Ainda não acabou.
Não estou de sacanagem,
E lhes peço, por favor.
A rola é um passarinho,
Não o que você pensou!
14
O martírio dessa rola,
Foi de cortar coração.
Um dia Tuca encontrou
A ave ferida no chão.
E tratou do passarinho,
Que virou de estimação.
15
A rola vivia solta,
Bem livre naquele lar
No ombro de Tuca ela,
Gostava de passear.
Era bem interessante
Era lindo contemplar.
16
Até hoje não se sabe,
Que de fato aconteceu.
Se ela foi atrás de Tuca,
No caminho se perdeu.
Ou se foi mesmo roubada
Por um infeliz ateu.
17
Eu só sei que a pobre rola
Se foi e deixou saudade.
A família e os amigos
Gostavam e de verdade,
Da graciosa rolinha
Que era uma novidade.
18
Tuca perdeu sua rola,
Porém ganhou um cordel.
Quem pensou em sacanagem.
Não fez bonito papel.
Eu peço desculpa ao Tuca
Se o relato foi cruel.
Fim
Cordel de Dalinha Catunda
Não sei se tomo na bunda
Ou no braço vou tomar.
Mote desta colunista
Dalinha Catunda:
Eu posso dizer que há anos
A vacina salva vidas.
Eu que sou das precavidas
Pra não sofrer desenganos,
E evitar maiores danos,
Também vou me vacinar.
Tô vendo a hora chegar!
Mas a dúvida é profunda:
Não sei se tomo na bunda
Ou no braço vou tomar.
Em minha última coluna, este meu mote foi glosado por mulheres. Hoje ele será glosado por homens.
* * *
Gevanildo Almeida
Dalinha e Bastinha estão
Com uma dúvida danada
Mais confesso essa picada
Não tá na minha intenção
Não sei se vou tomar não
Decidi, não vou tomar
Ela pode me agravar
Mas vou se seguir a Catunda
Não sei se tomo na bunda
Ou no braço vou tomar.
Rivamoura Teixeira
Vou usar a consciência
Fazer avaliação
Não digo não tomo não
Vou pensar fazer prudência
Vou saber da tal ciência
Pra melhor avaliar
Essa dúvida é de lascar
Vou optar pela segunda
Não sei se tomo na bunda
Ou no braço vou tomar.
Assis Mendes
Quando chegar a vacina,
Quero tomar sem demora,
Mandar o corona embora,
Pra ver se esse mal termina,
Seja daqui ou da china,
Eu quero é me vacinar,
E hora da agulha entrar,
Que a dor não seja profunda,
Não sei se tomo na bunda
Ou no braço vou tomar.
Francisco Jairo Vasconcelos
Vou tomar é qualquer uma
Tô esperando liberar
Vou ver no que, isto vai dar
Quero que o corona suma
Pare de morrer de ruma
Eu tomo em qualquer lugar
Pois importante é curar
Esta dúvida profunda,
Não sei se tomo na bunda
Ou no braço vou tomar.
Joab Nascimento
Já que não tem mais remédio
Tomei todo tipo de chá
De marmeleiro ao juá
Não acabei com meu tédio
Comecei a ter assédio
Para picada enfrentar
Deu trabalho pra relaxar
Foi concentração profunda
Não sei se tomo na bunda
Ou no braço vou tomar.
Giovanni Arruda
Qualquer um laboratório
Não fará a diferença
Eu só vou pedir licença
Pra não ser supositório
Pois já fui repositório
Hoje nem deixo triscar.
Na bochecha inda vá lá
Que a mão não se aprofunda
Não sei se tomo na bunda
Ou no braço vou tomar.
Pedro Sampaio
A tal vacina chinesa
Garantia questionada
Com tanta gente assustada
Deixa minha mente acesa
Com medo de virar presa
Também do bicho pegar
Logo começo a chorar
A lágrima já me inunda
Não sei se tomo na bunda
Ou no braço vou tomar.
Dalinha Catunda
Mote desta colunista
Dalinha Catunda:
Eu posso dizer que há anos
A vacina salva vidas.
Eu que sou das precavidas
Pra não sofrer desenganos,
E evitar maiores danos,
Também vou me vacinar.
Tô vendo a hora chegar!
Mas a dúvida é profunda:
Não sei se tomo na bunda
Ou no braço vou tomar.
Bastinha Job:
Chinesa não tomo não
nem na bunda, nem no braço
coronavac… fracasso,
China não é salvação
buscarei outra opção
A Oxford aceitar
se a Moderna chegar,
a picada vai ser funda:
Não sei se tomo na bunda
Ou no braço vou tomar.
Creusa Meira:
Na fila eu amanheço
Pego a preferencial
Passo longe de hospital
UTI eu não mereço
Quero logo o endereço
Quando o dia D chegar
Se na hora H falhar
A primeira e a segunda
Não sei se tomo na bunda
Ou no braço vou tomar.
Chica Emídio:
Pode ser no mei da testa,
Na barriga, ou no bumbum
Não vou excluir nenhum
Eu quero é fazer a festa
Se assim for o que resta
Só não quero é me isolar
Chega de trancafiar
Igual Dalinha Catunda:
Não sei se tomo na bunda
Ou no braço vou tomar.
Vânia Freitas:
Gente estou assustada
Com tanta gente falando
Da bruta vacina entrando
Tô ficando aperreada
Bunda e braço na jogada
O braço dá pra pensar
Bunda não vou cutucar
A coisa é muito profunda
Não sei se tomo na bunda
Ou no braço vou tomar.
Lindicassia Nascimento:
Já que não tem outro jeito
Eu vou ter que aceitar
Dessa vez não vou chorar
Vou deixar entrar direito
Quero sentir o efeito
Levemente sem gritar
Sei que vou me emocionar
Não vou ficar moribunda
Não sei se tomo na bunda
Ou no braço vou tomar.
Sueli Diniz:
O vírus veio com tudo
A vacina é necessária
A vida tá temerária
Pra isso teve o estudo
Tem que ser muito peitudo
Tem que gostar de arriscar
Pra nela não apostar
D’onde a vida se oriunda
Não sei se tomo na bunda
Ou no braço vou tomar.
Djenane Emídio
Como logo se anuncia
Tenho cá os meus receios
Se já encontraram os meios
Da cura da pandemia…
Peço a Deus que é meu Guia
Pra que eu possa confiar
E venha assim declamar:
Vacina, em mim se difunda!
Não sei se tomo na bunda
Ou no braço vou tomar.
Dalinha Catunda
Foto desta colunista
Num passeio inusitado
Fui visitar uma oca
Um índio quase pelado
Levou-me a sua maloca
Nessa bonita manhã
Pegando em seu jacumã
Saí com ele da toca.
O passeio foi bonito
Em meio a natureza
Subi na sua piroga
E achei uma beleza
E no banho no riacho
Ele perdeu o penacho
Que caiu na correnteza.
Ao voltarmos do passeio
Eu estava esbaforida
Ele me trouxe cauim
Eu aprovei a bebida
Não saí daquela loca
Sem entrar na mandioca
Gostei muito da comida.
Versos e foto da Duplinha
É nesse meu versejado,
Que vou enganando a dor.
Pedindo em cada oração,
Ajuda a nosso Senhor!
Rezo pra santo no altar,
Na procissão a passar,
Eu rogo ao Santo do andor.
Dalinha Catunda
Antes das águas de março
JÁ foi meu verso inundado
De dores estarrecido
Sem o Erato inspirado
Não vislumbro a esperança
Meu estro só cansa e cansa
Num horizonte manchado!
Bastinha Job
Da Peste vejo sinais,
E eu faço o sinal da cruz!
Vestida em negro capuz,
Ceifando em seus rituais,
Com as vassouras letais.
Que os ancinhos ela traga,
Para amenizar a praga
E a esperança devolver.
Chega de tanto morrer:
Nesse barco que naufraga.
Mote e foto desta colunista
Dalinha Catunda:
Como quem faz um bordado
Vou fiando meu cordel
Procurando ser fiel
Tramo com todo cuidado
Cada ponto do traçado
Faço com dedicação
Trago a metrificação
Pra cada verso compor
Faço rimas com amor,
Faço cordel com paixão
Bastinha Job:
Procuro tecer meu verso
Primando na isometria
Busco a isorritmia
Poesia é meu universo
Na mensagem me alicerço
Daí vem pura emoção,
Catarse, satisfação
Compromisso no lavor:
Faço rimas com amor,
Faço cordel com paixão
Jesus de Ritinha:
Eu entro na brincadeira
Agricultando poesia
Plantando com alegria
A semente brotadeira
Levo também uma esteira
Que estendo com a mão
Para dessa plantação
Colher frutos de primor
Faço rimas com amor,
Faço cordel com paixão
David Ferreira:
Não entendo de bordado,
mas eu vi mamãe tecer.
Não consegui aprender,
porquê homem do cerrado
não podia ser prendado,
fazer bordado de mão,
pisar arroz no pilão,
era visto com temor…
Faço rimas com amor,
Faço cordel com paixão
Rosário Pinto:
Faço rima faço prosa.
Procuro ter alegria.
O meu cantar se irradia
Para alguns me chamo Rosa
Eu gosto de fazer glosa
Não conheço a solidão
Trago sempre uma canção
Canto com muito fervor
Faço rimas com amor,
Faço cordel com paixão
Vânia Freitas:
Dedico meu tempo à arte
Eu faço que nem Dalinha
Também não saio da linha
Vou fazendo minha parte
Assim como ela reparte
Com muita dedicação
Eu tiro do coração
Algum som do meu tambor
Faço rimas com amor,
Faço cordel com paixão
Gevanildo Almeida:
Tiro o verso da cachola
Faço ele flutuar
Sou poeta popular
Desses que não se enrola
Só não sei tocar viola
Mas na minha intuição
Metrifico a oração
Na verso que vou impor
Faço rimas com amor,
Faço cordel com paixão
Francisco Chagas:
Eu descrevo a natureza.
O sol, a lua e estrelas.
Eu tenho o prazer de vê-las.
Se eu tiver com tristeza.
Quando olho pra grandeza.
Do Deus Pai da Criação.
Sinto no meu coração.
Muita alegria e vigor
Faço rima com amor.
Faço cordel com paixão.
Rivamoura Teixeira:
Eu sou mei intrometido
Doido levado da breca
Quero brincar de peteca
E este tema é tão querido
Eu também tenho mantido
Esta forma de expressão
Traço com dedicação
Metrifico com fervor
Faço rimas com amor
Faço cordéis com paixão
Creusa Meira:
Na infância fiz bordado
Que a minha mãe ensinava
Tricô e renda, eu tentava
E meu pai tinha guardado
Os versos do seu passado
Eu lia com atenção
Fui aprendendo a lição
E hoje posso dar valor
Faço rima com amor.
Faço cordel com paixão.
José Walter Pires:
Viver “pintando e bordando”
Foi expressão popular;
Mas não sei como explicar,
Às meninas, comparando,
Ou só ficar criticando
Os rumos da evolução,
Com tamanha tentação,
Desafiando o pudor.
Faço rima com amor.
Faço cordel com paixão.
Parodiando Zé Praxedes
Dalinha Catunda
Ciranda de glosas com mulheres, coordenada por esta colunista, idealizadora do Cordel de Saia
* * *
Mote de Medeiros Braga:
Não fora nosso Nordeste
Seria pobre o Brasil
* * *
Dalinha Catunda – Rio de Janeiro-RJ:
Berço da mulher rendeira,
E de Maria Bonita.
A Raquel trouxe na escrita
Maria Moura Guerreira,
A força da brasileira,
A que enfrentou cada ardil!
Mostrando bem seu perfil
De forte mulher do agreste:
Não fora nosso Nordeste
Seria pobre o Brasil
Bastinha Job – Crato-CE:
O Ceará de Alencar
De Peri, de Iracema,
De Ceci prosa em poema
Do verde-azul do mar;
Tem o Ferreira Goulart,
Gonzagão, Gilberto Gil,
Patativa é nota mil
Nossa Arte é inconteste:
Não fora nosso Nordeste
Seria pobre o Brasil
Vânia Freitas – Fortaleza-CE:
O nordeste brasileiro
Banhado de sol e mar
Tem nas noites de luar
O canto do violeiro
Que embala nosso terreiro
Com seu verso mais sutil
Que encanta com mais de mil
O sul norte leste e oeste
Não fora nosso Nordeste
Seria pobre o Brasil
Rosário Pinto – Rio de Janeiro-RJ:
A mulher faz seu papel
Escreve com linhas finas
Histórias de heroínas
Maneja bem o pincel
Em versos de menestrel.
São muitas na poesia,
E na prosa, em demasia,
Nos romances, mais de mil.
Do Norte até o Leste
Não fora nosso Nordeste
Seria pobre o Brasil
Dodora Pereira da Silva – Juazeiro-CE:
Mulher guerreira e forte
Enfrenta o sol causticante
Com um sorriso intrigante
E o amor é seu suporte
O poeta é que tem sorte
Essa musa é nota mil
Contrastando o céu de anil
Com esse seu solo agreste
Não fora nosso Nordeste
Seria pobre o Brasil
Lindicássia Nascimento – Barbalha-CE:
O Nordeste brasileiro
É de fato um braço forte
Esse país tem é sorte
Por não ser do estrangeiro
Sendo bravo e tão guerreiro
De arte e belezas mil
Nós traçamos o perfil
Do rico cabra da peste
Não fora nosso Nordeste
Seria pobre o Brasil
TROVAS NATALINAS
Dalinha Catunda
Dalinha Catunda
Ao pegar meu celular
Mensagem sua encontrei
Sem querer acreditar
O seu lamento escutei
Sem duas vezes pensar
Seu áudio eu deletei.
Não me fale de saudade,
Pois não terei compaixão
Você não teve piedade
Ao ferir meu coração
Com toda sinceridade
Em mim não restou paixão.
Dalinha Catunda
Foto desta colunista
O velho trem da saudade
Resolveu me visitar
Na bagagem a lembrança
É tanta, chega a pesar
Abro a porta do vagão
E deixo a recordação
Pelos trilhos me guiar.
Êta saudade danada
Que bateu, mas foi de mim
Menina moça levada
Batom da cor de carmim
Faceira e desaforada
Pela vida apaixonada
Como eu gostava de mim.
Nas tertúlias da cidade
Era a primeira a chegar
Pra “tirar uma fornada”
Com quem soubesse dançar
Dançava bem um brecado
Um bolero apaixonado
E sem “macaco botar.”
Short curto, minissaia
Era assim que eu me vestia
Minha mãe era moderna
E para minha alegria
Gostava de costurar
E a gente podia usar
A roupa que bem queria.
Passear de bicicleta
Era outra diversão
Cidade do interior
Ipueiras, meu sertão
Banhos de açude e de rio
Quando recordo sorrio
Fui feliz em meu rincão.
Passei por cima de tudo
Pra viver em liberdade
Desdenhei até das leis
Da nossa sociedade
Liberta da hipocrisia
E sem precisar de guia
Vivi só minha verdade.
Dalinha Catunda
Fotos da colunista
Eis-me aqui neste recanto
E sem arrependimento
Dos pássaros ouço o canto
Bendigo cada momento
A brisa traz acalanto
Viajo no pensamento.
Desfruto dessa bonança
No verde desse lugar
No peito cresce a esperança
Assim me ponho a sonhar
Nos passos da nova dança
Danço sem me alvoroçar.
Contemplando a natureza
Obra de Nosso Senhor
Onde a lua é realeza
Onde o sol tem esplendor
Celebro toda beleza
Nesses meus versos de amor.
Dalinha Catunda
Cachoeiras de Macacu-RJ, 9/10/ 2020
NUNCA PEGUEI NA RODILHA
MAS TOMEI ÁGUA DE POTE
Dalinha Catunda
EI! PSIU...
Dalinha Catunda
ENCRENCA COM MULHER
Dalinha Catunda
LOUVANDO MADRINHA MENA
Dalinha Catunda
AMANCEBADA
Dalinha
SERTANEJANDO
Dalinha Catunda
CARREIRÃO DA ENXERIDA
Dalinha Catunda
Dalinha Catunda
O CHAPÉU DE COURO DE CHICA
Dalinha Catunda
*
Eu sempre que vou ao Crato,
Cidade do Ceará
Como um bolo saboroso
Que leva trigo e fubá
E sendo feito por Chica
Delicioso ele fica
Bolinho melhor não há.
*
Entrei no chapéu de couro
Do bucho não tive dó,
Num encontro de poetas:
“Café na casa de Vó”
Numa mesa farta e rica
Comi do bolo de Chica
Gostoso como ele só!
*
A Chica alegra festanças
Trazendo em sua bandeja
Sob a toalha bordada
O que a confraria almeja
Um verdadeiro tesouro
Chamado chapéu de couro
Que quem conhece deseja.
*
Chica comi do seu bolo,
Mas não fiquei satisfeita,
Mas foi porque esqueci
De lhe pedir a receita
Porém solicito agora
Mande sem muita demora
O que pede esta sujeita.
*
Verso e foto de Dalinha Catunda
Dalinha Catunda
EU NASCI... E VOCÊ?
Dalinha Catunda
Eu nasci no mês de agosto
As duas horas da tarde
Sem fazer nenhum alarde
Com belo riso no rosto
O dia cheio de gosto
E o céu estava azulado
Era dia do Soldado
A noite a lua serena
Se mostrava toda plena
Porque eu havia chegado.
Vânia Freitas
Fortaleza, 2/8/3020
*
No mês de outubro eu nascia,
E foi São Judas Tadeu,
O Santo que apareceu,
Na folhinha nesse dia.
Chamaram-me de Maria,
Puseram Lourdes também,
- Nomes de santas convém!
Dizia mamãe querida,
Pra dar sorte a sua vida,
E até hoje eu digo amém.
Dalinha Catunda
Rio de Janeiro - RJ
Dalinha Catunda
A rédea da liberdade
Virou pipa em minha mão.
Para dar o meu recado
Não rezo só Ladainha
Pois o canto de Dalinha
Não é canto comportado
É profano é sagrado
Dentro da minha oração
Para dar satisfação
Eu não tenho mais idade
A rédea da liberdade
Virou pipa em minha mão.
BOTEI FOGO NO SERTÃO
MAS NÃO VIREI RAPARIGA
Dalinha Catunda
BOTEI FOGO NO SERTÃO
MAS NÃO VIREI RAPARIGA.
*
Engravidei sem casar
E a culpa também foi minha
Não nasci pra coitadinha
Não fiquei a lamentar
Sentia-me uma star
Ao carregar a barriga
A fofoca e a intriga
Fez meu nome correr chão
BOTEI FOGO NO SERTÃO
MAS NÃO VIREI RAPARIGA.
*
Mote de Dalinha Catunda
Xilo do meu acervo obra de Cícero Lourenço.
Dalinha Catunda
Mote da colunista:
Não sou mulher melindrada
Sei me posicionar.
Eu tenho meu pensamento
Não nasci pra ser piolho
Como agir eu sempre escolho
Pois tenho discernimento
O discurso que apresento
Faz jus ao meu caminhar
E não venham me atiçar
Pra torcida organizada
Não sou mulher melindrada
Sei me posicionar.
Dalinha Catunda
Bastinha Job
Vânia Freitas
TRÊS CEARENSES GLOSANDO NA REDE
*
SE EU ESCREVESSE ROTEIRO
MEU FILME SERIA ASSIM.
Mote de Astier Basílio
*
DALINHA CATUNDA
A morena despachada
Que vivia no sertão
Não respeitou nem o cão
E seguiu a sua estrada
Ladina e desaforada
Fazia o que estava a fim
Com a boca de carmim
Dizia pro mundo inteiro:
SE EU ESCREVESSE ROTEIRO
MEU FILME SERIA ASSIM.
*
BASTINHA JOB
Basílio é o Astier
Autor dum mote tão bom
Dalinha glosou no tom
E cumpriu o metier
Eu também vou me meter
Puxo a ponta do alfinim
Faço uma ponte por fim
Até Rio de Janeiro:
SE EU ESCREVESSE ROTEIRO
MEU FILME SERIA ASSIM.
*
VÂNIA FREITAS
Eu sempre fui desastrada
Porque sempre fui medrosa
Eu nunca fui poderosa
Mas era muito engraçada
Cada corrida adoidada
O povo ria de mim
Trágica e cômica enfim
Sem ter nenhum companheiro
SE EU ESCREVESSE ROTEIRO
MEU FILME SERIA ASSIM.
*
Coordenação de Dalinha Catunda
Fotos do acervo de Cada poetisa
Mote de Astier Basílio
Porque era dia de trem
Ela se fez mais bonita
Fez um rabo de cavalo
Botou um laço de fita
Um vestidinho florido
Presente do seu querido
Uma alegria infinita.
Quando o trem longe apitou
Ela pegou a frasqueira
E cheirando a alfazema
Corria toda faceira
Porque dentro do vagão
Estava sua paixão
De tantas, era a primeira.
Entrou toda saltitante
E depressa foi notada
Porém nada foi surpresa
Estava sendo esperada
Na poltrona acomodados
O casal de namorados
Seguiram sua jornada.
E Dentro do sonho azul
Nasce o sonho cor de rosa
Entre os dois apaixonados
Na viagem venturosa
Quem não soube ter coragem
Perdeu o trem e a bagagem
E não foi vitoriosa.
Foto desta colunista
SEM MEDO DE MONTAR
Dalinha Catunda
*
Andei montando um cavalo,
Pras bandas do meu sertão.
Sua fama percorria
Toda aquela região.
Em cavalo não confio,
Porém sendo desafio,
Encaro a situação.
*
Ele me olhou de soslaio
Porém não me intimidou.
Passei a perna por cima,
A sela me acomodou
Eu gostei da montaria,
Ele bravo se exibia,
Só que não me derrubou.
*
Pra ver sua reação,
Eu enfiei o chicote.
Ele então me chacoalhou,
E disparou no pinote
Numa aventura assassina,
Segurei na sua crina
Me enroscando em seu cangote.
*
Horas me faltava céu.
Horas me faltava chão.
Hora nenhuma faltou,
Foi mesmo disposição.
Porém ele parecia,
Que aos poucos esmorecia,
Penando e na minha mão.
*
Se o bruto ficou domado,
Isto não posso dizer.
Só sei que segue meu rastro
Isto posso perceber,
Escuto seu relinchar
Porém só volto a montar
Atendendo o meu querer.
*
Versos e foto de Dalinha Catunda
A JUREMA É PRA CARVÃO
Dalinha Catunda
*
Estaca não me ofereça
Que não tenho precisão
Quando comprei meu roçado
Eu cerquei foi com mourão
E pra você não pular
Na cerca mandei plantar
Muita urtiga e cansanção.
*
Aqui na minha fazenda
Tem angico e imburana
Não me falta sabiá
Só não quero pé de cana
Não venha com: ora poxa!
Pois sua jurema roxa
Aqui não é soberana.
*
Para falar a verdade
E acabar a discussão
A sua jurema roxa
Só serve para carvão
Eu não tenho fogareiro
E só uso marmeleiro
Como lenha em meu fogão.
*
Versos e fotos de Dalinha Catunda
MEU JEITO AGRESTE
Dalinha Catunda
.
Não nasci de sete meses,
Não sou mulher assustada.
Nunca fui guia de cego
Mas sou bem desaforada.
O meu nome é Dalinha,
Outro melhor não tinha
Para ser eu retratada.
.
Não sou de dizer amém
Cabeça não sei baixar.
Tenho nariz empinado
Não sou de me rebaixar.
Tenho cabelos na venta
Meu pirão é com pimenta
Que arde para danar.
.
Nasci no meu Ceará
O meu chão é Ipueiras.
Adoro o meu Nordeste.
Sou da ala das guerreiras.
Preservo meu ar agreste,
Já peguei cabra da peste,
Nele coloquei coleiras.
.
E quem quiser me seguir
Que acompanhe meu passo.
Nem devagar nem ligeiro,
Pois eu tenho meu compasso.
Aprendi lá no sertão,
A pisar em qualquer chão
Nem fico nem ultrapasso.
.
Eu sou abelha Dalinha,
Sou doce e de amargar.
E se hoje oferto mel
Também posso ferroar.
O meu mel e meu ferrão,
Conforme a situação
Sou obrigada a usar.
.
Gosto de ser instintiva
Não queira me adestrar.
Este meu jeito agreste
Eu trouxe do meu lugar.
Tenho lá minha doçura
Porém só mostro ternura
Se de fato me encantar.
.
Foto e versos de Dalinha Catunda
A ROLA DA CONCEIÇÃO
Dalinha Catunda
1
Conceição mulher católica
Filha de Dona Prazer
Era uma moça sem vício
Vivia o povo a dizer
Mas arrumou uma rola
Pra com ela se entreter.
2
Quando baixou no terreiro
A rola desmilinguida
Conceição logo gostou
Daquela pomba perdida
Resolveu dela cuidar
E já estava decidida.
3
Dona Prazer espantou
A pomba que apareceu
Porém Conceição com pena
A dita cuja acolheu
Foi na mão de Conceição
Que aquela rola cresceu
4
A moça meio inocente
Deu logo casa e comida
A rola desenvolveu
E foi ficando sabida
Conceição se emocionava
Ao ver a rola crescida.
5
A pomba ficou vistosa
Com carinho era tratada
Logo se via que a rola
Era bem alimentada
Quem vê hoje nem percebe
Que um dia fora enjeitada.
6
Conceição passava o dia
Paparicando a tal rola
Era uma pomba manhosa
Que fazia ela de tola
mas quando a rola sumia
Ela dava até "pirôla."
7
A mãe já tinha era nojo
Vendo o chamego danado
Porque onde a filha ia
Levava a pomba do lado
E por onde ela passava
Se ouvia o cochichado:
8
A moça perdeu o juízo
Depois que adotou a pomba
E nem percebe que a rola
Muitas vezes dela zomba
Quando alguém vai avisar
Conceição fica de tromba.
9
Sei que deu o que falar
O grude de Conceição
O povo já comentava
E a mãe passava sermão
Mas ela apenas dizia
A rola é de estimação.
10
Diante dos comentários
Uma mãe acabrunhada
Testemunha do destroço
Mas sem poder fazer nada
Pensava com seus botões
Minha filha está lascada.
11
O pior de tudo isso
Eu agora vou contar
Lá na casa da vizinha
A rola foi se enfiar
Para ver seu periquito
Que era muito popular.
12
O certo é que Conceição
Faltava era ficar louca
Quando a rola escapulia
Gritava de ficar rouca
E esculhambava a vizinha
A briga não era pouca.
13
Tenha vergonha na cara:
Dizia Dona Pureza
Deixe de lado essa pomba
Que anda de safadeza
Aqui não vai mais entrar
Pois já chega de esperteza.
14
Mamãe quero minha rola
Sem ela vou padecer
Essa rola é minha vida
O meu maior bem querer
Sem minha pomba querida
Não tem graça o meu viver.
15
A rola de Conceição
Era uma rola fujona
Agora estava aninhada
Mas no colo de outra dona
Pois gostou do periquito
Da tal vizinha ladrona.
16
Aquela rola-cabocla
Deu desgosto a Conceição
Por causa da rola-grande
Sofria seu coração
Com raiva da rola-roxa
Chegou a ter depressão.
17
Eu só sei que a pomba-rola
Não largava o periquito
Dona Pureza lutava
Para abafar o conflito
E a vizinha debochada
Botava fogo no atrito.
18
Dona Pureza zangada
Deu uma de ignorante
E foi dizendo pra filha
Com raiva naquele instante
Pare de chorar por rola
Pois toda pomba é migrante.
19
E se hoje uma rola vai
Depois outra rola vem
Você gostou dessa pomba
Vai gostar d`outra também
Pare com tanta lamúria
Pois isso não fica bem.
20
Aquilo era uma pombinha
Era só uma avoante
Aquelas pombas de bando
Era rola retirante
Vai largar o periquito
E vai seguir adiante.
21
Eu já peguei muita rola
Com esse meu alçapão
Porém não prendi nenhuma
Meu oco não foi prisão
Rola a gente cria é solta
Voando na imensidão.
22
Esqueça a rola-cabocla
Pare com essa tristeza
No quintal eu ouço arrulhos
Pelo jeito é de burguesa
Escute o que está dizendo
Sua mãe dona Pureza.
23
Conceição foi se acalmando
Logo parou de chorar
Olhou para o cajueiro
Viu a burguesa arrulhar
E armou seu alçapão
Para a burguesa pegar.
24
Não chore pombas perdidas
Porque as pombas se vão
Isso já disse um poeta
Eu prestei bem atenção
Aproveite pra voar
Dê asas ao coração.
*
Cordel de Dalinha Catunda
QUEM VIVE, SALTOU FOGUEIRA
E EU GRITO: VIVA SÃO JOÃO!
Dalinha Catunda
Meu povo, vou festejar,
Vou buscar minha alegria,
Entocar melancolia,
Medo não vai me acuar.
Se quiser pode chegar,
Para essa celebração,
Em nome da tradição
Entre nessa brincadeira:
QUEM VIVE, SALTOU FOGUEIRA
E EU GRITO: VIVA SÃO JOÃO.
*
Mote e glosa de Dalinha Catunda
SÃO JOÃO VIRTUAL
Dalinha Catunda
Hoje sofro sem São João,
Sem fogueira, sem balão,
E o canto do meu amor.
Retirando seu chapéu,
Dizendo: Olha pro céu,
Repare quanto esplendor!
Chegou a praga, a desdita,
Chegou a peste maldita,
E acabou nossa ilusão
Fiquei sem meu arraial
Pois agora é virtual
Nossa festa e tradição.
Embora fique bem triste
Meu coração não resiste
E me pede pra cantar.
E eu entro na brincadeira
Acendo minha fogueira
E meu facho pra brincar.
Para seguir nova meta
Convido cada poeta
A fazer sua oração
Vamos rimar alegria
Fazer versos com poesia
Para festejar São João.
ESBOCE SEU NAMORADO
Dalinha Catunda
Se você tem seu marido
Faça dele um namorado
Não permita que a rotina
Torne o laço fracassado
Seja de cama e de mesa
Demonstre sua destreza
Que terá bom resultado.
*
Brigar por pequenas coisas,
Só faz você rabugenta.
Mulher cheirando a gordura
Homem nenhum aguenta.
Se arrume fique cheirosa
Ele vai notar a rosa
Que pra ele se apresenta.
*
Tem mulher que só reclama
Mas não faz a sua parte.
A vida a dois eu garanto,
Só flui levada com arte.
Eu não tenho pretensão
De disseminar sermão
Isto foi só um aparte.
Uma porca perde a rosca
Mas não entra em parafuso
* * *
Eu já perdi o juízo
Porém doida não fiquei;
Maus momentos já passei
Mas do pranto fiz sorriso
Do inferno fiz paraíso.,
Da moda que eu fiz uso
É mel em que me lambuzo
E fez minha rima fosca:
“Uma porca perde a rosca
Mas não entra em parafuso”
Bastinha Job
* * *
Sempre fui muito teimosa
Assim minha mãe dizia.
Dessa minha teimosia
Nunca ficou orgulhosa.
Eu seguia toda prosa,
Deixando o povo confuso,
Destilava meu abuso,
Com minha linguagem tosca:
“Uma porca perde a rosca
Mas não entra em parafuso”
Dalinha Catunda
DE MORTA ESTOU ME FAZENDO
PRA VIDA NÃO ME MATAR.
*
O Mundo inteiro parou
Com esse vírus mortal
Sem prazo pro seu final
Só angústia nos restou
Mas levando a vida vou
Sem alarde propagar
A todos tento animar
Mas meu peito está doendo:
DE MORTA ESTOU ME FAZENDO
PRA VIDA NÃO ME MATAR.
REDE NO ALPENDRE
Dalinha Catunda
Uma rede num alpendre
E um ventinho sedutor
Vento que vem do açude
Para abanar meu calor
São delícias que desfruto
Quando estou no interior.
*
Vejo um bando de marrecas
Voando ao entardecer
Num mágico ritual
Giram antes de descer
Para pernoitar nas águas,
Como costumam fazer.
*
No balançado da rede
No sertão é lindo ver
O fim do dia chegando
Com o sol a esmorecer,
Cedendo lugar à lua
Que não tarda a aparecer.
*
Um bando de pirilampos
Bordando a escuridão
Enriquecem o cenário,
Das noites do meu rincão
Da minha rede eu vejo
Quão mágico é meu sertão!
SOU DA LINHA DO CORDEL
Dalinha Catunda
Sou Cordel de Saia
Cordel de vestido
Cordel feminino
Cordel atrevido
Cordel de Calcinha
Cordel de Dalinha
Cordel divertido.
*
Sou manha e gracejo
Sou verso ladino
Sou canto nascido
No chão nordestino
Sou nesse universo
Cabocla do verso
Santo e libertino.
*
Sou alma do verso
Sou rima no ar
Sou dedos que contam
Pra metrificar
Sou inspiração
Dou voz a oração
No palco a cantar.
SONETILHO DE AMOR
Dalinha Catunda
Às vezes sou lua
Que nua vagueia
A todos enleia
Porém sou só sua.
*
Ás vezes sou sol
Trazendo calor
Derreto de amor
Em nosso lençol.
*
Às vezes sou brisa
Que ofega em seu rosto,
Ladina lhe alisa.
*
E sempre sou nós
Depois do sol posto
Juntinhos e a sós…
PRECISO DO SEU CHEIRO
Dalinha Catunda
Quando por mim você passa
Eu viro mulher feliz
Tão cheiroso e provocante
Que logo acendo o nariz
E deixo seu cheiro entrar
Só para me deleitar
Pois sou mulher de raiz.
*
Se sempre acordo bem cedo
É pra provar seu sabor
O meu paladar exige
Antes que eu vá ao labor
Ter você sempre bem quente
Alertando minha mente
Provocando meu calor.
*
Para ter você comigo
Caminho léguas o pé
Vou até o fim do mundo
E não perco minha fé
De provar do meu neguinho
Nem que seja um golinho
Sou viciada em café!
*
Foto e versos de Dalinha Catunda.
BONEQUINHAS DE PANO
Dalinha Catunda
Para ocupar os meus dias
E alegrar minha rotina
Não me falta o que fazer.
Tenho a arte nordestina,
E a estrela do meu plano,
É a boneca de pano,
Que batizei de Delfina.
NOS BRAÇOS DO FURACÃO
Dalinha Catunda
*
Em noite fria de outono
De luar encantador
A lua cheia brilhava
Mostrando seu esplendor
A noite estava tão bela
Entreabri a janela
Com meu ar contemplador
*
Ao apagar o abajur
Ensaiando pra dormir
Um rumor vindo de fora
Eu imaginei ouvir
Acheguei-me ao travesseiro
Porém despertei ligeiro
E vi meu sono sumir.
*
Foi quando ele sorrateiro
No meu quarto penetrou
E sem que eu me desse conta
Nesse ambiente se espalhou
Bem de leve me roçava
Num sopro que acarinhava
E o meu corpo despertou.
*
Chegou brando e carinhoso
Confesso me satisfez
Encantava-me a meiguice
Afagando a minha tez
E não achei que era abuso
A visita desse intruso
Oportunista talvez.
*
Inteiramente à vontade
Eu me deixei seduzir
Ele entrava, ele saía
E eu gostando do ir e vir
Cada vez que penetrava
O meu corpo arrepiava
meu anseio a consentir.
*
Foi visita relaxante
Até um dado momento
Ficou mais audacioso
Intenso no movimento
Meus cabelos, desmanchou
Os lençóis, desarrumou
Transformou-se totalmente.
*
Daí eu me levantei
Tentando uma solução
Tentei fechar a janela
Mas faltou força na mão
Depois desse vento forte
Quase que perco meu norte
Nos braços de um furacão.
SERTANEJA, SIM SENHOR!
Dalinha Catunda
Sabia que era arisco
O fogoso alazão.
Resolvi correr o risco,
Sem medo de ir ao chão.
Peguei chicote e espora
Montei o bicho na hora
Sem medo ou indecisão.
*
Ele quis titubear,
Mas cutuquei do meu jeito.
Peguei bem firme nas rédeas,
Pois me achei no direito.
Atendendo meu comando
Obedecendo meu mando,
Ele foi quase perfeito...
*
Inda quis se rebelar,
Mas de nada adiantou.
De seus movimentos bruscos
Minha mão se encarregou.
Fui feliz na maratona,
Mostrei quem era sua dona.
E ele se conformou.
*
Do que compro e pago caro,
Bom retorno sempre quero.
A manha,a birra e o coice,
De fato eu não tolero.
Do cavalo eu não caio
Só tenho medo de raio,
No resto eu acelero.
*
Bicho que eu não domino,
Confesso não dou guarida,
O meu sangue nordestino
É que me faz aguerrida.
Eu só não sou cangaceira,
Por ser metida a faceira,
Porém sou bem atrevida.
BALAIO DE SOGRAS
Dalinha Catunda
BALAIO DE SOGRAS
*
Aqui neste meu balaio
Amigo, muita atenção.
Tem sogra pra todo gosto,
Tem muita reclamação!
Não é minha a grosseria
Eu faço apenas poesia,
Sou voz da população.
*
Mas também tem elogios
E boa declaração,
De quem adora a sogra
Por ela tem afeição.
Porque tem sogra querida
Sendo também exibida
Nesta minha explanação.
*
Eu ainda não sou sogra
Porém um dia vou ser.
Vou tratar a minha nora,
Do jeito que merecer.
Se for pessoa educada,
Serei sogra camarada
E confesso, com prazer!
*
Agora quero falar,
Da sogra de muita gente.
Dos que detestam a sogra
E de quem está contente.
Há sogra que ninguém quer,
Mas tem a boa mulher
Que não é sogra é presente.
*
Ao olhar pra minha sogra
Bate em mim uma aflição,
Vejo que minha mulher,
Tem dela a mesma feição.
A coroa era ajeitada
Mas agora pregueada
Está parecendo o cão.
*
Se ter sogra fosse bom,
Uma teria Jesus.
Mas antes de se casar
Morreu pregado na cruz.
E deixou para os terrenos
As sogras e seus Venenos
Coisa que não me seduz.
*
Pra sogra do meu marido,
Faço versos, faço loa.
Neste mundo nunca vi,
Uma sogra assim tão boa.
É um poço de ternura,
Essa gentil criatura
Maravilhosa pessoa.
*
Minha sogra diz que é boa,
Mas na verdade é cruel.
Sua palavra mais doce,
Amarga mais do que fel.
Estou vivendo um tormento,
Conflito no casamento,
Por causa da cascavel.
*
Vou pagando meus pecados
Desde quando me casei.
Uma sogra como a minha,
Ter eu nunca imaginei.
É sebosa, fuxiqueira,
E metida a presepeira,
Da velha já me cansei.
*
Minha sogra é divina!
A coroa é um mulherão.
Não vou dizer que é um Boeing,
Contudo é um avião.
É uma coroa sarada
E já foi recauchutada,
Porém dá um bom pirão.
*
De sogra quero distância.
Ela não vem no pacote.
Se ela mora no Sul,
Eu volto para meu Norte.
Pois sogra não é parente
Dizem que é só aderente,
É praga ou falta de sorte.
*
Minha sogra é ignorante,
Minha mulher diz te arreda.
A sogra mandei pro diabo,
A mulher mandei a merda.
Nas duas baixei a lenha,
Tem lei Maria da Penha,
Porém a justiça é lerda.
*
A minha sogra é bondosa,
Comparo a virgem Maria.
Mãe duma santa Mulher,
Que só me trouxe alegria.
Quando resolvi casar,
E subir naquele altar,
Acertei na loteria.
*
Coitado do meu sogro
Sofre com a mulher que tem,
Eu, aqui na minha casa,
Sofro com a minha também.
Tanto a mulher como a sogra
São da família de cobra,
Das que mais veneno tem.
*
Minha sogra quando ri
Parece que faz careta.
Totalmente desdentada
Tem a cara do capeta.
Pernas, só vendo a finura
Parece uma saracura,
Inda por cima é zambeta.
*
De cobra bem venenosa,
Também de bruxa malvada,
A coitadinha da sogra,
Muitas vezes é chamada.
Mas às vezes é tão boa
Tão gentil como pessoa
Que pela nora é amada
*
Sogra boa eu lhe digo,
É igual a macaxeira,
Só presta bem enterrada
Não estou dizendo besteira
A que lá em casa tenho,
E que até hoje mantenho
Já puxou até peixeira.
ENTRE COBRAS E POMBAS
Dalinha Catunda
A vida tem altos e baixos
Tem curvas e tem manobras
Existe a pomba da paz
Mas também existem cobras
Desde o tempo de Adão
Perdura a situação
Deus sentiu em suas obras.
*
Sempre existe um Deus de paz
Outro para combater
A vida é feita de lutas
Sempre ouvi alguém dizer
A batalha é permanente
Por isso não me apoquente
Não penso em esmorecer.
*
Eu vou fazendo poesia
Porque tenho munição
E na boca do fuzil
Ponho a flor da salvação
Faço rima, faço verso,
Navego neste universo
Que é composto de oração.
Eu conheci um vigário
Comedor de periquito
Desrespeitava a batina
Ninguém achava bonito.
E pelo seu sacristão
Um dia ele foi flagrado
Quase perdeu a razão
Ficou desorientado.
O sacristão sem escrúpulos
Danou-se a chantagear
O vigário aventureiro
Que vivia a fornicar.
Porém nada como um dia
E a noite pra atrapalhar
O padre dando umas voltas
Viu o sacristão pecar.
O chantagista de quatro
Perto da cabana tosca
Numa vereda afastada
Gemia e queimava a rosca.
Foi quando ouviu um ruído
E o “Santo” padre a gritar:
Morreu Maria Preá!
E ele teve que calar
O povo diz que essa história
Se deu lá no Ceará
Eu garanto que conheço
Muitas “Maria Preá.”
AUGUSTA PLANTAÇÃO
Dalinha Catunda
Foi do tronco d’um Carvalho,
Que o poeta do “EU” brotou
No Engenho do Pau d’Arco,
A sua vida abrolhou
E o velho tamarindeiro
Esta história registrou.
*
Naquele tamarindeiro,
Estudava sua lição,
As tarefas escolares,
E chegando a exaustão,
Ele ali também chorava
A dor da desilusão.
*
Distante da sua terra
Longe do tamarindeiro,
Foi para outra dimensão
Deixando seu companheiro
Que nem chegou a ouvir
O seu canto derradeiro.
*
No pé de minhas estrofes
Plantei admiração.
“Debaixo do Tamarindo”
Colhi minha produção.
E na voz de cada poeta
Verei multiplicação.
*
Versos de Dalinha Catunda
Estrofes com as quais participei de um cordel em homenagem a Augusto dos Anjos.
NO PUNHO DA MINHA REDE
DEIXEI UM NÓ DE LEMBRANÇA.
*
Mote: Marcos Passos
Numa rede eu me deitava
No meu rancho de noitinha
Na certeza que ele vinha
E se vinha chamegava
Bem cheirosa então ficava
Pra viver minha bonança
Sei que o laço da esperança
Alimenta a nossa sede:
"NO PUNHO DA MINHA REDE
DEIXEI UM NÓ DE LEMBRANÇA”
Glosa de Dalinha Catunda
Mote Marcos Passos
*
- Eu cansei de dar um nó
Na rede que eu brincava
Ali mesmo eu me emborcava
Chamando atenção de vó
- Deixa de teu pro có có
Tu despenca nessa dança
Brinca com outra criança
Olha a cara na parede
"NO PUNHO DA MINHA REDE
DEIXEI UM NÓ DE LEMBRANÇA.
Glosa Ésio Rafael
Mote Marcos Passos
*
No alpendre lá de casa
Eu achei o meu brinquedo
Pra ninguém era segredo
Que nela criava asa
Como o tempo não atrasa
Eu deixei de ser criança
Parti para minha andança
Ficando numa parede
"NO PUNHO DA MINHA REDE
DEIXEI UM NÓ DE LEMBRANÇA"
Glosa Nelson Nunes Farias
Mote: Marcos Passos
Mote de Xico Bizerra:
Cheirei o tabaco dela
Bastou pra “meaviciar”
Relutei, terminei indo
Conhecer o tal tabaco
Foi aí que me vi fraco
Garanto, num tô mentindo
Nunca vi nada mais lindo.
Cheirei, voltei a cheirar
Não conseguia parar
Sabor de cravo e canela
Cheirei o tabaco dela
Bastou pra “meaviciar”
Xico Bizerra
O tabaco era cheiroso
Cheiroso como ele só
Do nariz não teve dó
Esse caboco fogoso
Achando delicioso
O bicho vive a cheirar
Ouvi o cabra gritar
Debruçado na janela:
Cheirei o tabaco dela
Bastou pra “meaviciar”
Dalinha Catunda
Morais Moreira, Itauçu-BA, (1947-2020)
Mote desta colunista e glosas de Morais Moreira, publicadas originalmente no Blog Cordel de Saia.
Se tem mulher no cordel
Você tem que respeitar.
Vai fundo na caminhada
Que o homem parece raso
Vivendo quase um ocaso
Já se perdendo na estrada,
É hora da mulherada
Tomar o tempo e o lugar
Não adianta chorar
Achar que a vida é cruel,
Se tem mulher no cordel
Você tem que respeitar.
No tempo da plenitude
O homem cai no vazio
Fugindo do desafio
Covarde e sem atitude
Coitado ainda se ilude
Não sabe como se dar
O que é que vai lhe restar
Senão tirar o chapéu?
Se tem mulher no cordel
Você tem que respeitar.
De uma costela de Adão
Dizem que a mulher foi feita
E sendo assim tão perfeita
Imaginemos então
Se fosse do coração
Que Deus pudesse a criar
O mundo ia proclamar:
Oh criatura do céu!
Se tem mulher no cordel
Você tem que respeitar.
Naturalmente é sem músculo
No seu jeitinho de moça
Duvida da sua força
O macho já no crepúsculo
Sendo somente um opúsculo
Da obra que vai ficar
O que é que vai lhe sobrar
Senão caminhar ao léu?
Se tem mulher no cordel
Você tem que respeitar.
Não falto com a verdade
E peço que me acompanhe
Já que a mulher é a mãe
De toda a humanidade
Pra não ficar na saudade
O homem vai conquistar
Ao seu ladinho um lugar
Fazendo bem seu papel,
Se tem mulher no cordel
Você tem que respeitar.
Xilogravura de Erivaldo Ferreira
O TABACO DE MARIA
Dalinha Catunda
1
Na estrada do Pai Mané
Na cidade de Ipueiras
Bem pertinho das Barreiras
De imburana tem um pé
Ele dá um bom rapé
Pra quem sabe preparar
Maria sabe torrar
E tem grande freguesia
O tabaco de Maria.
Todo mundo quer cheirar.
2
E naquela arrumação
Meu pai era viciado
No dedo era colocado
Do rapé uma porção
Com o tabaco na mão
Pra no nariz esfregar
E logo após aspirar
Ele fungava e dizia:
O tabaco de Maria.
Todo mundo quer cheirar.
3
Valdenira me indicou
Disse mulher acredite
Ele é bom pra sinusite
Aqui mamãe sempre usou
Depois que ela receitou
Comecei a melhorar
Nunca parei mais de usar
Acabou minha agonia:
O tabaco de Maria.
Todo mundo quer cheirar.
4
Garapa ficou sabendo
Dessa história do rapé
Foi direto ao Pai Mané
Também estava querendo
Com Maria se entendendo
Resolveu logo pagar
E não saiu sem provar
do cheiroso nesse dia
O tabaco de Maria.
Todo mundo quer cheirar.
5
Edgar acabrunhado
Com o nariz entupido
Sentindo-se já perdido
Com febre e com resfriado
Foi atrás desse torrado
Para tentar melhorar
Porém mesmo sem gostar
Do produto repetia:
O tabaco de Maria.
Todo mundo quer cheirar.
6
Dão de Jaime que gostou
Do tabaco da fulana
Cheirou mais duma semana
E também se viciou
Da mulher ele apanhou
E não cansou de apanhar
Pois disse não vou largar
E gritando se exibia:
O tabaco de Maria.
Todo mundo quer cheirar.
PURO-SANGUE
Dalinha Catunda
Ele era um puro-sangue.
Ímpar em sua beleza.
Porte altivo e elegante,
Trazia um ar de nobreza.
*
Paixão a primeira vista.
Não tive como escapar.
Garboso me farejava,
Fui seduzida a montar.
*
Montei com a maestria,
De quem domina o oficio.
Montar aquele alazão,
Não foi nenhum sacrifício.
*
Tinha narinas acessas.
Cadência no trote tinha
Agarrei-me ao seu pescoço,
No galope que ele vinha.
*
Galopamos loucamente,
Quase perdemos o chão,
Campear no paraíso,
Era sorver emoção.
*
Estrelas intermitentes,
E sinos a badalar.
O prazer feito cascata,
Coroava o cavalgar.
AMIZADE ACIMA DE TUDO
Dalinha Catunda
A minha amizade é
De fato incondicional
Tenho minhas preferências
O que acho natural
Cada um tem o seu jeito
Mas ninguém tem o direito
De querer que eu pense igual.
*
Quando adiciono alguém
Eu não quero nem saber
Se macumbeiro ou católico
Ou se crente pode ser
Não desabono a postura
De nenhuma criatura
Que escolhe em quem quer crer.
*
Repito que não importa
Seu time e religião
Orientação sexual
Pois isso não conta, não,
Seu partido sua cor
Aceito seja quem for
Respeito é a condição.
*
Sabemos que na política
No passado e no presente
A corja de desonesto
Nasceu e deixou semente
E não venham defender
Estupido é querer dizer
Que aqui existe inocente.
*
O pior de tudo isso
Digo com sinceridade
É o ranço da política
A desfazer amizade
Enquanto cada ladrão
Conforme a situação
Juntam-se em cumplicidade.
Dalinha Catunda e Lindicássia Nascimento
O CALANGO ALBINO
Lindicássia Nascimento e Dalinha Catunda
LN
Dalinha você me diga
O que é que tu faria
Com um calango amarelo
Triste feito agonia
Numa rede social
Que tá se achando o tal
Me assedia noite e dia!
L N
O cabra não se enxerga
É um cururu de macumba
Parece uma tripa seca
Tem uma cara imunda
Os olhos abuticado
Parece que é tarado
Me diz Dalinha Catunda!
LN
Eu tou que não me aguento
Não posso ficar calada
Esse safado aperreia
Me deixa aguniada
Não sei quem é esse traste
Peço que de mim se afaste
Coisa feia e safada.
*
DC
Entrou no meu facebook
Também esse camarada
Querendo se apresentar
Com a cara mais lavada
O bicho é uma marmota
Vamos é fazer chacota
Pra ele virar piada.
DC
Parece um calango albino
Essa pobre criatura
E que até se diz poeta
Porém não tem compostura
Se ele cumprir o trato
De mandar o seu retrato
Vou exibir em moldura.
DC
O cabra vestido é feio
Tu imaginas pelado
Por isso eu vou dizer
Estou mandando recado
Se foto pelada chegar
Eu vou é compartilhar
Pois o aviso já foi dado.
*
LN
Parece que ele gosta
De cutucar poetisa
Se mete de ser poeta
Mas de nós leva é Piza
Esse Calango Albino
Cara seca, não tem tino
Comigo não realiza.
LN
Quis mandar pra mim também
O retrato dele nú
Calango sem competência
Mexeu mal esse angú
Mande a foto desgramado
Que eu te faço um agrado
Carniça de urubú.
LN
O meu Facebook é arte
É cultura popular
Não é pra cabra safado
Feito tu se amostrar
Agora tu se fodeu
Porque Dalinha e eu
Vamos juntas te lascar.
*
DC
Esse cabra é abestado
Não sabe onde se meteu
Cutucou com vara curta
Onças e nem percebeu
Agora está se cagando
Quem sabe até rezando
Pra não ler o nome seu.
DC
Mexer com Lindicássia
Mulher que não se atrapalha
Que já capou mais de três
Lá pras bandas de Barbalha
Com a peixeira na mão
Capa e faz circuncisão
É doutora que não falha.
DC
Enquanto foi só comigo
Eu tratei de me calar
Agora a coisa esquentou
E nós vamos é jogar
Merda no ventilador
Se você não tem pudor
Nós vamos é lhe arroxar.
*
LN
O bicho acha que é "homi"
Botando as coisas pra fora
Achando que eu queria
Me perguntou sem demora
Essa chibata é "xinfrim"
Pedaço de coisa ruim
Lhe respondi bem na hora
LN.
Ainda bem que Dalinha
Astuta como ninguém
Me alertou do perigo
Que eu já sabia também
Mas esse tarado aí
Agora vai desistir
É o melhor que lhe convém.
LN
Se for pra o Rio de Janeiro
Mexer com nossa Dalinha
Já sabe o que vai levar
Ela lhe bota na linha
Se vier pra o Ceará
Uma surra vou lhe dar
Eu juro aqui nessa rinha.
*
DC
Pela a cara do sem sal
Logo imaginei o pinto
Dormindo em cima do saco
Bem acanhado e sucinto
Apenas uma merreca
Encolhido na cueca
É o que penso não minto.
DC
Em conversa com Lindinha
Um dia ela me falou
Deste cabra enxerido
E logo me perguntou
Até um pouco sem jeito
Se eu conhecia o sujeito
Que a ela desrespeitou.
DC
Eu disse que conhecia
E avisei pra ter cuidado
Um poeta que se preza
Não pode sertão safado
E fazer o que bem quer
Desrespeitando a mulher
E sem ser denunciado.
*
LN
Pois o cabra se lascou
A denuncia é virtual
Nem pode se defender
Pois sabe que é fatal
Se a cara aparecer
Todo mundo vai saber
Nessa rede social
LN
Preste muita atenção
Com quem você for mexer
Eu tenho educação
Mas confesso a você
Sou muito mal educada
Quando sou desapontada
Nem queira me conhecer.
LN
Não sou mulher pra Calango
Dentuço, desenformado
Um fanisco de projeto
De homem sujo safado
A sua categoria
Deve está em euforia
Por ter nos desrespeitado.
QUARENTENA NA ROÇA,
VIVENDO COMO ÍNDIO
Dalinha Catunda
*
Aqui estou feito índio
Acoitada em uma oca
Só comendo caça e pesca
E entrando na mandioca
No café como beiju
No almoço tem tatu
Já na ceia é tapioca.
*
Na cidade eu fazia
Musculação e ioga
Aqui vivo a natureza
Despida de lei e toga
O que me dá mais prazer
É rio abaixo descer
Trepada numa piroga.
*
Quando meu nativo chega
Alisando o jacumã
Fogosa ligeiro abro
Meu sorriso de cunhã
Eu dou para ele comer
Um caldo que sei fazer
Na base de Carimã.
*
Numa rede de tucum
De noite vou me deitar
E no balanço da rede
Eu vejo Jaci brilhar
E meu amor diz pra mim
Vamos fazer curumim
Antes do mundo acabar?
*
O PEÃO GABOLA
Dalinha Catunda
*
Corda grossa não me prende
Porque dela eu faço embira
Já tentaram me laçar
Pras bandas da Macambira
Deixei meu rastro no chão
E marcas no coração
Dum dançador de catira.
*
Um projeto de peão
Jurou que ia me ganhar
Fez aposta com amigos
E dizia a gargalhar
Ela será minha prenda
Depois de presa a merenda
Meu laço não vai falhar.
*
Chegou o dia da festa
O peão ficou na mão
Não ganhou a sua prenda
Nem jogou o boi no chão
Além de perder a aposta
Ainda pisou na bosta
E serviu de mangação.
*
Era peão de segunda
Todo metido a gabola
Queria ser Almir Sater
Sem saber tocar viola
Na cantada e na laçada
Ele não era de nada
Pisava sempre na bola.
A VOLTA DA ROLA SOLTA
Dalinha Catunda e Lindicássia Nascimento
*
DALINHA CATUNDA
Rola que vai e que volta
É ave de ribaçã
Desse tipo de rolinha
Não vou dizer que sou fã
Gosto da rola que fica
Que meu xerém ela bica
Pois rola assim tem elã.
*
LINDICÁSSIA NASCIMENTO
É a lei da natureza
É um vai e vem danado
O certo é que ela gosta
De um canto bem cuidado
O carinho recebido
Por certo não esquecido
Volta para mais agrado!
*
DALINHA CATUNDA
Tem pomba que é bandoleira
Tem pomba que é retirante
E dessas conheço um bando
As que chamam de avoante
Delas tive em cativeiro
E muitas em meu terreiro
E um periquito falante.
*
LINDICÁSSIA NASCIMENTO
Rola, pomba, periquito
Qual desses você domou?
É um negócio esquisito
Vejo que algum voou
Cadê teu afinamento?
Não precisa fingimento
Diga que a rola voltou.
*
DALINHA CATUNDA
Das rolas que eu já prendi
Sempre tratei muito bem
E aquelas que eu já soltei
Para me ver inda vem
E vou aqui lhe avisar
A que se foi sem voltar
Não provou do meu xerém.
*
LINDICÁSSIA NASCIMENTO
Eu aposto que esse ai
Mesmo sem xerém provar
Deve ter se arrependido
Da bicada que quis dar
Não deve ter esquecido
Que pássaro desfalecido
Jamais poderá voltar.
*
DALINHA CATUNDA
Tem passarinho bonito
Voando em todo lugar
Tem deles que nessa vida
Só aprendeu a cantar
Se for roedor de pequi
Das bandas do Cariri
Puxo o pescoço pra assar.
Vamos glosar?
EU NÃO VOU ME CONTENTAR
EM PASSAR ÁLCOOL NA MÃO
*
Estou tomando cuidado
Com esse vírus fatal
Que pode até ser mortal
Por isso vai meu recado
Não basta ficar trancado,
Dispense a visitação
Não esqueça água e sabão
Quando for as mãos lavar
EU NÃO VOU ME CONTENTAR
EM PASSAR ÁLCOOL NA MÃO
*
Mote e glosa de Dalinha Catunda
Lindicassia Nascimento escreveu:
No caos da epidemia
Que assola o mundo inteiro
Sigo a risca um roteiro
Confinada noite e dia
Porém a minha poesia
Qual me dá inspiração
Tem sido minha oração
Para o vírus se afastar
EU NÃO VOU ME CONTENTAR
EM PASSAR ÁLCOOL NA MÃO.
José Walter Pires escreveu:
Estou ficando cansado
Desse vírus infernal
Do qual não vejo sinal
De ser logo eliminado
E me deixar descansado.
Essa higienização
Não sei se é solução
Mas até vou aumentar
POIS NÃO VOU ME CONTENTAR
SÓ PASSAR ÁLCOOL NA MÃO!
BABADOS NO CORDEL
Dalinha Catunda
1
O cordel vestindo calça,
No Nordeste apareceu.
A mulher apaixonou-se
Tal paixão não escondeu.
E pegou logo o cinzel
Esculpindo seu cordel,
Belos versos escreveu.
2
Foi assim que floresceu,
Cordel de saia também.
A mulher faz seu cordel
Com a manha que já tem.
Incansável na labuta,
E naturalmente astuta,
Do homem não fica aquém.
3
E por querer competir,
E pensando em ser parceira
A mulher pega a estrada,
Sem ter medo da poeira.
Faz de igual para igual
A peleja virtual
Na arte é aventureira.
4
O cordel já não é mais
O tal clube do Bolinha
Encarando as cuecas
Vejo um monte de calcinha
Tudo no mesmo varal
Sem balanço desleal
Enfrentando a mesma linha.
5
Enquanto faz o café
E cozinha seu feijão
A mulher vai matutando
E criando a oração
E assim faz seu cordel
Passando para o papel
Pedaços de criação.
6
Às vezes deita na rede
E olhando a Luz do luar.
Cria versos tão bonitos,
Que chega a se admirar
Diante da inspiração,
Se entrega de coração,
Ao labor de versejar.
7
E de fuxico em fuxico,
A trama ganha teor.
No alinhavo dos versos,
Põe arremate de amor
Fazer versos virou vício
E sem muito sacrifício,
Tem como ofício compor.
8
Entre um afazer e outro
Explode sua criação,
Tem sempre um novo babado
Em sua combinação
Entre a seda e a chita
Sem nunca ficar aflita
Eleva sua construção.
9
A internet foi chegando
Causando revolução,
Abrindo para a mulher,
Um novo campo de ação
Morada da liberdade
E com versatilidade.
Mostra sua evolução.
10
Aprendeu bem a glosar
E para isso usa a mão,
E com os dedos faz arte
Chamada digitação.
Neste mundo virtual
Navegar é natural
Nas marolas da emoção.
11
Tira rima da cabeça
Para fazer o seu mote
Faz com a simplicidade
De quem tira água do pote
Nordestina e internauta
Caprichosa e não incauta
Versos tem é um magote.
12
É bem certo que a mulher
Em ato de concepção
Fica prenhe de palavras
Só vê uma solução,
A de parir poesia
Buscando com alegria,
Ter nova penetração.
13
Eu sei que entre um batom,
Uma escova e um trato
Em folhetos de cordel
A mulher põe seu retrato
E sabe fazer bonito
Pois tem graça o seu escrito
E nunca deixa barato.
14
Sempre se diz aprendiz,
Mas fingindo ser modesta,
E tem delas que encaram
Qualquer marmanjo de testa,
Vão impondo assim respeito
E conquistando o direito
De fazer a sua festa.
15
Às vezes faz uma fita,
Para chamar atenção.
Sempre tem carta na manga
Mas descarta a mangação.
Por gostar de parceria
Demonstra sua alegria
E brilha na atuação.
16
O cordel sem a mulher
É Adão sem sua Eva,
É o planeta sem o sol
Onde tudo é breu e treva.
É comida sem ter sal
Amigo não leve a mal,
É serra onde nunca neva.
17
A mulher rasgou o véu,
E acabou com ditadura
E não foi só no cordel
Mas em toda conjuntura
Totalmente liberada
Enfrenta qualquer parada
Pois tem jogo de cintura.
18
E quando é alfinetada,
Nunca dá muita atenção.
Sendo olhada de soslaio
Empina o nariz então.
Mágoa não vive guardando
Sua anágua vai rodando,
Sempre em movimentação.
19
A mulher pede passagem
Pois soube tecer caminhos
A conquista da igualdade
Teve flores e espinhos.
Na base do não me calo!
Hoje ela canta de galo,
Não fica chocando ninhos.
20
A mulher para o cordel
É ótima aquisição.
Seria triste e cruel
Manter apenas varão
Vejo o cordel lá no alto,
E a mulher com o seu salto
Fazendo revolução!
21
Este cordel é mais um
Entre muitos que virão
Nele botei meu tempero
Não sei se eu errei na mão
Meu codinome é Dalinha
Vou seguindo minha linha
Sem temer opinião.
SÓ OS OVOS
Dalinha Catunda
Eu fiquei muito animada
Cheia de empolgação
Quando avistei uma rola
Daquelas lá do sertão
Qual não foi minha alegria
Por pouco eu colocaria
A rola em minha mão.
*
Porém a rola era arisca
Não ficou perto de mim
Procurou logo seu rumo
Mas com rola é mesmo assim
Chega parecendo mansa
Depois que enche a pança
Seu sumiço não tem fim.
*
Mesmo assim eu amansei
A tal rola com prazer
Ela construiu um ninho
Mas se você quer saber
Agora tem planos novos
Aqui só deixou os ovos
Pra dela eu não me esquecer.
Quem quiser cante a desgraça
Porque meu canto é de amor.
Eu vou ler o seu recado
Depois reler com carinho
Vou pensar em nosso ninho
Profano também sagrado
Onde reside o pecado
Onde perco meu pudor
Pois a vida eu dou valor
E não vou perder a graça
Quem quiser cante a desgraça
Porque meu canto é de amor.
SÓ UM BOLERO
Dalinha Catunda
O acaso a dança o instinto
Colocou-nos lado a lado
O frio e o vinho tinto
Meu corpo no teu colado
Li no teu olhar faminto
A resenha do meu fado.
*
A paixão desenfreada
Chegou feito furacão
Cegamente apaixonada
Dei asas à emoção
Levitei inebriada
Nos ardis do coração.
*
Mas meu coração cigano
De tanto amor se cansou
O seu também leviano
Um novo rumo tomou
Sem choro, mágoas ou dano,
O bolero ao fim chegou.
NA INVERNADA
Dalinha Catunda
Quando finda a estiagem
Quando chove no sertão
Tudo fica diferente
Brota logo a plantação
A chuva cai todo dia
Biqueira faz melodia
Quando o pingo cai no chão.
*
Relâmpago risca o céu
Vejo o corisco brilhar
O barulho do trovão
Não chega a me apavorar
Por detrás do nevoeiro
A serra some ligeiro
Parecendo se encantar
*
A brisa que sopra mansa
Logo vira vento forte
Nos braços da ventania
Cai a chuva muda a sorte
Cheiro de terra molhada
Anuncia a invernada
Novo rumo, novo norte.
*
A caatinga se refaz
Faz mágica a natureza
Quando a grota enche o açude
Na força da correnteza
E se o rio bota enchente
Meu olhar segue a corrente
Perde-se na boniteza.
MULHER DE RAÇA
*
Neguinha sou para amigas
Minha nega pro amado
Sou morena citadina
Meu cabelo é ondulado
Sou dona das minhas ventas
Sou das mulheres atentas
Tenho nariz empinado.
*
Sou cabocla sertaneja
E trago no matulão
A astúcia da matuta
Que desbravou o sertão
E que não poupou canela
Quando abriu sua cancela
Buscando libertação.
*
Da fralda da Ibiapaba
Sou das alas das guerreiras
Agarrada ao jacumã
Enfrentei as corredeiras
Em cima duma piroga
Sou guerreira que se joga
Nas águas das Ipueiras
*
Sou a mistura das raças
Sou a miscigenação
Sou Catunda, sou do Prado
Tenho sangue de Aragão
Sou cunhã, sou companheira,
Sou concubina parceira
Eu só não sou é padrão.
*
Versos de Dalinha Catunda
Quem vive de propagar
Que o seu fulano é corno
As vezes causa transtorno
Nem chega a desconfiar
Que chifres vive a levar
Sem que venha perceber
Faz chacota com prazer
Mas devia ficar mudo
Pois continua o chifrudo
Sendo o último a saber.
QUEM NÃO TEM O QUE CONTAR
QUE SENTIDO TEM A VIDA?
*
Eu só conto minha história
Porque tenho o que dizer
E se você quer saber
Tenho tudo na memória
Agitada trajetória
Foi a minha e bem vivida
Sempre fui muito atrevida
Não deixei nada escapar
QUEM NÃO TEM O QUE CONTAR
QUE SENTIDO TEM A VIDA?
.
Glosa de Dalinha Catunda
Mote de Gevanildo Almeida
ABRAM ALAS PRO MEU QUIÇÁ
Dalinha Catunda
*
Hoje lembro com saudade
O tempo bom que passou
Quando o não era um talvez
E assim você me ganhou
Você puxava meu braço
Eu evitava o abraço
Porém você me laçou.
*
No cordão que se formava
Circulando no salão
Você com sua insistência
Segurou a minha mão
E me beijou bem na hora,
A do: " vou beijar-te agora"
E ganhou meu coração.
*
Você foi o meu pirata
Eu a sua colombina
Lembro nós dois enroscados
Nos laços da serpentina
Quando meu não virou sim
Não desgrudou mais de mim
A paixão foi repentina.
*
E não acabou em cinzas
Esse amor de carnaval
Aos encantos da conquista
Botei fé e dei aval
Apostei na fantasia
Colhi amor e alegria
E fui feliz no final.
Ei! Você pode, sim, me olhar,
Olhar não tira pedaço,
E não vai me incomodar.
Me olhe sem embaraço,
E quem sabe se eu quiser
Pode pintar um affair
Não sou de estardalhaço.
Ei! não deixe de ser chistoso,
Não adira ao desencanto,
Não desista da conquista,
E aposte no acalanto.
Pra quem fomenta emoção,
E quer sim, em vez de não,
Sabe bem guiar seu canto.
Fotos da colunista
Dias felizes da infância
Inda guardo na memória
A dona simplicidade
Fez parte da trajetória
A bonequinha de pano
Foi rainha nessa história.
Eram compradas nas feiras
Arrematas em leilão
Brinquedo mais precioso
Que tive no meu sertão
Os vestidos eu fazia
Sempre costurando a mão.
Guardei essa tradição
E hoje volto a brincar
De fazer as bonequinhas
Somente pra exercitar
Esse meu prazer antigo
Que me encanta recordar.