Almanaque Raimundo Floriano
Fundado em 24.09.2016
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)
Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, dois genros e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 30 de novembro de 2022
O REPENTE É PATRIMÔNIO CULTURAL (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DOALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
Agora o nosso repente Foi mesmo reconhecido O registro é merecido E a classe ficou contente Porque o IPHAN sabiamente Deu mais um passo certeiro E falou pro mundo inteiro Que o repente tem aval: Patrimônio cultural É o repente brasileiro.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 23 de novembro de 2022
ALGUMAS GLOSAS (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMNDO FLORIANO)
ALGUMAS GLOSAS
Dalinha Catunda
Mote de Heliodoro Morais:
Minha mulher tem de tudo Que outra mulher não tem!
Eu não me canso de ouvir Do meu marido adorado O que ele já tem falado E está sempre a repetir Que eu gosto de me enxerir Que sou teimosa também Dou coice como ninguém E bravo diz, carrancudo: Minha mulher tem de tudo Que outra mulher não tem!
Dalinha Catunda
Meu marido diz assim: Eita baixinha atrevida Dedicas a tua vida Pensando tão mal de mim Vou mesmo te dar um fim E te despachar no trem Pra comer te dou xerém De que te serve o estudo? Minha mulher tem de tudo Que outra mulher não tem!
Bastinha Job
Vez por outra ele me xinga Grita chora e não me deixa Diz que meu gosto de ameixa Minha dança e minha ginga Se mistura à sua pinga Que bebe e não se contém Gasta o último vintém Caminha a passo miúdo Minha mulher tem de tudo Que outra mulher não tem!
Vânia Freitas
As mulheres em geral são dotadas de beldades, diferentes das maldades que o homem convencional via de regra – em geral – chama de mal ou de bem, mas, elas, quaisquer ou quem, tem seu próprio conteúdo… Minha mulher tem de tudo Que outra mulher não tem!
David Ferreira
Eita mulher arretada Essa que casou comigo É dona do próprio umbigo Resolve qualquer parada Quando chega a madrugada Na dança do xenhenhém Me carrega pro além No tapete de veludo Minha mulher tem de tudo Que outra mulher não tem!
Giovanni Arruda
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 16 de novembro de 2022
AINDA FAÇO MENINO (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
Cangaceirinho: artesanato feito por esta colunista
Eu para fazer menino No tempo da mocidade Virava só os olhinhos Cheia de felicidade O tempo foi se passando E foi chegando a idade Lá se foi a primavera Meu Deus quanta crueldade Hoje pra fazer menino É uma dificuldade Preciso de agulha e linha Tecido em variedade Uma máquina de costura Só para essa atividade O tempo passa e faz dano Essa é a mais pura verdade E para meu desengano Com toda sinceridade Menino me arisco e faço E vendo por unidade. Mas é menino de pano Minha especialidade.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 09 de novembro de 2022
A VENDEDORA DE TABACO (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
Foi para sobreviver Que a Ana mulher sem ócio Abriu seu próprio negócio Sem falatório temer E se alguém quiser meter A Língua no que faz Ana A vendedora se dana E dá pro cliente um naco: Pode cheirar meu tabaco Ele é feito de imburana!
Com seu negócio montado Outra coisa ela não quer Pois negócio de mulher Sempre dá bom resultado Já que o seu tem prosperado Contratou logo sua mana E a dupla toda semana Faz zoada no barraco: Pode cheirar meu tabaco Ele é feito de imburana!
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 02 de novembro de 2022
EU JÁ FIZ SESSENTA E NOVE (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
Sempre gostei de viver Confesso que sou feliz, E alguma coisa me diz Que tenho razão pra ser, E vou até lhe dizer, Mas não espero que aprove: Eu já fiz sessenta e nove Gostei, mas fiquei atenta… Ano que vem é setenta! É o tempo quem nos move…
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco terça, 25 de outubro de 2022
A ÁRVORE QUE ME REPRESENTA (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
Eu hoje vivo na roça Recordando meu sertão, Pois é lá daquelas brenhas, Que retiro inspiração. Minha Árvore de Natal, Tentei fazer uma igual, Com alguma inovação.
Peguei garrancho no mato, Tirei as folhas, limpei, E numa lata de vinte Areia lá coloquei. E depois chegou a vez Do paninho de xadrez, Pra envolver a lata usei.
E como eu sou cordelista, Para a árvore enfeitar, Dependurei meus cordéis, Que tem tanto pra contar… Das histórias do sertão, Que trago no coração, E gosto de relembrar!
Minhas bonecas de pano? No Natal muitas ganhei! Como artesã de bonecas, Algumas eu pendurei, Frutos da recordação, Que marcam a tradição, Coisas que vivenciei.
Quando saí do Nordeste Mãe solteira, e minha cruz, Me apeguei no meu caminho, A santa Mãe de Jesus. Minha base a cada dia, Era Jesus e Maria. Meu caminho foi de luz.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 19 de outubro de 2022
EU MAIS XICO NO FUXICO (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
uma dúvida é meu tormento e findo por não saber qual é o maior sofrer que machuca o pensamento qual o maior sofrimento que o caba pode aguentar quando aflora o chorar e se acaba o sorrir se é ficar querendo ir ou ir querendo ficar.
Xico Bizerra
Amigo vou lhe dizer Preste bastante atenção Das dores do coração Não cabe se maldizer Só tempo pra resolver Não vale a pena chorar Eu posso até me lascar Porém morro sem pedir Pr’ele ficar e não ir Ou não ir, querer ficar.
Dalinha Catunda
quem souber me diga agora não me deixe sem resposta quando o caba um dia gosta gosta tanto que até chora e seu amor vai embora ele fica a lamentar sem saber pra quem rezar sem noção a quem pedir pr’ela ficar e não ir ou não ir, querer ficar
Xico Bizerra
Quando um amor vai embora Um outro amor logo vem Nos braços de outro alguém Nosso instinto colabora A vida logo melhora Paixão é para passar Quem vai, perde seu lugar Não adianta insistir: Pr’ele ficar e não ir Ou não ir, querer ficar
Dalinha Catunda
O problema é que ela indo A gente fica sozinho E sem amor, sem carinho O ‘hômi’ termina caindo Sem vergonha, vou pedindo Pra ela ficar e não ir E eu chorando, sem rir Sei que vou me lascar Se ela não quiser ficar Nem adianta outra vir
Xico Bizerra
Eu só quero quem me quer Disso sabe quem me atura Não é qualquer criatura Que conhece meu mister Sou parceira sou mulher Mas não sou de me iludir Se meu parceiro partir Pranto não vou derramar Se ele não quiser ficar Vou achar quem queira vir
Dalinha Catunda
Pior é que na minha idade Quase tudo anda mole Quase nada ainda bole Uma infelicidade Aqui na minha cidade Ninguém comigo quer nada Sem mulher ou namorada Nem posso me divertir Se essa mulher partir Minha sorte está lançada.
Xico Bizerra
Amigo, pra pé doente Um chinelo velho tem Quando a dona idade vem Tudo fica diferente Um cabra polivalente Sempre brilha até o fim E dá mingau ao soim Porque sabe arquitetar E vê a cobra fumar Enquanto a sorte diz sim.
Dalinha Catunda
Quem me dera acreditar Em tudo que você diz Quisera ser aprendiz E saber arquitetar Todo o bem e o mal que há Nessa vida não brilhei E até atrapalhei O brilho que outros tem E como ninguém mais vem Desisti e me mandei
Xico Bizerra
O bom da vida é viver A vida como ela é Horas grudados na fé Já outras a se entreter Versos tentando fazer Pra não perder a mania Pois nos braços da poesia É Sempre tempo de luz E a palavra que reluz Ilumina nosso dia.
Dalinha Catunda
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 12 de outubro de 2022
A ROLA DE XICO BIZERRA (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
Antigamente eu gemia Ele gemia também Ele me chamava amor E eu chamava de meu bem Hoje quando estou gemendo Ele vai logo dizendo: Que diabo é que você tem?
Dalinha Catunda
O verdadeiro gemido Que muita gente conhece Começa ao anoitecer Termina quando amanhece Mas o gemido de dor Espanta qualquer amor Quando a gente envelhece.
Creusa Meira
Meu gemido é diferente E é capaz de assustar Porém nunca perguntei Na hora de namorar A gemedeira é no grito E a dele no mesmo rito Que até chega a desmaiar.
Lindicássia Nascimento
Na nossa lua de mel Em cima do meu colchão Eu gemia ela gemia Parecia assombração Hoje se der um gemido Ela vem com um comprimido E um copo d’água na mão
Alberto Francisco
Aqui também é assim Uma grande gemedeira Ela geme e eu gemo É a maior quebradeira Agora, gemido de amor Gemido sem sentir dor Num tem de jeito e maneira
Xico Bizerra
No começo a gemedeira Assombrava até a gente Nosso gemido era imenso Que a cama ficava quente Hoje em dia, no gemido. Ela já diz: – Meu marido Já está com dor de dente!
Marcos Silva
Como tenho sete dores Correndo por todo o corpo Já não dá mais pra gemer Até ando meio torto Sem ninguém pra me acudir A mulher só a dormir Contudo, não estou morto.
José Walter Pires
Indo puxo gemedeira De peleja e cantoria Também gemo em minhas dores Mas lamento hoje em dia Minha cobra não dá bote Sem puder pegar caçote Eu só gemo de agonia
Giovanni Arruda
Meu carro de boi gemia Nas suas longas andanças De noite do quarto ouvia Eu e outras crianças Gemidos vindo da porta Que o vento hoje corta Gemidos dessas lembranças.
Vânia Freitas
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 21 de setembro de 2022
VIDA NA ROÇA (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO) VÍDEO
Foi Maurício Assuero Que inventou um Cabaré Ele é muito frequentado Nesse espaço eu boto fé É o Cabaré do Berto Que as sextas, é aberto E eu fui lá ver como é.
Sei que o Cabaré do Berto, É cabaré de respeito Mas mulher p’ra frequentar Tem que ter é muito peito Ou cai na língua afiada De quem fica recalcada Se roendo com despeito.
Tem papo e tem poesia, Tem muita descontração, Histórias inusitadas De farra e de traição Na hora da oratória Não falta corno na história Muito riso e animação.
O cabaré democrático Todos podem frequentar Não tem limite de idade Quem quiser pode chegar Tem um clima diferente E que agrada a muita gente Quem quiser pode chegar.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 07 de setembro de 2022
RODA DE GLOSAS (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
Quem não tem capacidade Para seguir o seu roteiro, Pega o dos outros ligeiro, Dele faz sua verdade. Com toda sinceridade! Abro a boca pra dizer, E se você quer saber, Segredo não vou guardar: Tem o diabo pra tirar Mas tem Deus pra devolver.
Dalinha Catunda
Quem tem coragem na vida Enfrenta qualquer perigo Põe pra correr inimigo Vai com garra para lida Pela FÉ tá guarnecida E nada lhe faz temer Afirmo, pois, com prazer ninguém vai me derrubar Tem o diabo pra tirar Mas, tem Deus pra devolver.
Dulce Esteves
Nessa vida tem de tudo Gente ruim e gente boa Tem sol quente e tem garoa Tem buraco e viaduto Cabra frouxo e cabra bruto Tem o cego e o que vê Tem a noite, o amanhecer Mas no fim pode anotar Tem o diabo pra tirar Mas tem Deus pra devolver
Giovanni Arruda
Fé e força de vontade Pra enfrentar o problema Um pouco de estratagema E sempre usar a verdade, Pois quem tem idoneidade Não tem o que se temer, Mande bem e pra valer Deixe o demo se lascar: Tem o diabo pra tirar Mas tem Deus pra devolver.
Bastinha Job
Quando sou surrupiado Por alguém sem consciência Não perco minha decência Nem me sinto revoltado Da pena até do coitado A má ação faz sofrer Pequeno para entender Que quem erra vai pagar Tem o diabo pra tirar Mas tem Deus pra devolver.
Jairo Vasconcelos
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 31 de agosto de 2022
MULHER SABERES E OFÍCIO (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
A mulher no seu trajeto Marcou bem sua conduta Abraçando profissões Nunca fugiu da labuta Porém muito consciente Ela sempre é presente Na base de cada luta.
Onde o progresso era lerdo Laborava sua mão Exercendo cada ofício Usando a intuição Mesmo sem ter faculdade Serviu a sociedade Sendo informal em ação.
Todo seu conhecimento É dote matriarcal Aprendeu fazer canteiro Com erva medicinal E lá nos tempos de então Servia a população Com plantas do seu quintal
Onde não havia médico Raizeira sempre tinha Mostrando conhecimento E os saberes que detinha Pra quem não tinha dinheiro O remédio era caseiro E não faltava mezinha.
Folhas para chás e emplastro Era comum ter na feira Como hortelã e mastruz Arruda, malva e cidreira Também raízes sortidas Que eram sempre vendidas Através da raizeira.
Nos lugares mais remotos Nas mais distantes ribeiras Pessoas eram curadas Pelas mãos das benzedeiras Que faziam a benzedura Seguindo a velha cultura Das mulheres curandeiras
Na fala da rezadeira Ramo molhado na mão As palavras milagrosas Em formato de oração Chegavam para curar Quem viesse procurar Pro seu mal a solução.
Mulheres predestinadas Recebem a incumbência A de aparar as crianças Pra isso tinham ciência São essas aparadeiras As importantes parteiras Mulheres de experiência.
Eram mulheres humildes Morando sempre distante Por serem solicitadas A qualquer hora e instante Sendo de noite ou de dia A pé ou de montaria Elas seguiam adiante.
O artesanato faz parte Da ocupação feminina Tricô, crochê e bordados, Do filé a renda fina Do barro a palha e cipó A mulher trança e dá nó No decorrer da rotina.
A destreza da mulher No trabalho artesanal É legado do passado Vindo do berço ancestral É motivo de alegria É sessão de terapia O bendito o ritual.
Esse saber cultural Tem arte tem tradição É relíquia que artesã Concretiza em sua mão O fruto dessa magia Traz o pão de cada dia É base é sustentação.
O ofício de fazer renda É mais que uma ocupação. No movimento dos bilros A mágica em cada mão Vejo a rendeira tecendo E a trama desenvolvendo No compasso da emoção.
A arte de ser rendeira Um trabalho secular Que passa de mãe pra filha E sempre a salvaguardar Os fios da tradição Dessa nobre profissão Que a mulher soube abraçar.
A Lavadeira de roupa Dos tempos de antigamente Lavava a roupa no rio Sem reclamar do batente Cantava com as amigas No rito velhas cantigas Alegrando o ambiente
Levava sabão em barra Para a roupa ensaboar Aproveitava o sol quente E botava pra quarar Na pedra a roupa batia Muitas vezes repetia Para depois enxaguar.
Na arte de passar roupa A mulher se destacava Pois era com ferro a brasa Que a roupa sempre passava Engomar terno de linho Para ficar bem durinho Só quem muito praticava.
Nos mais distantes rincões A mulher se superava Com a lata na cabeça Muita água carregava Com um menino escanchado Um outro sendo arrastado A lata ela equilibrava.
Com balaio na cabeça. De porta em porta ou na feira É sempre essa a rotina Da cabocla verdureira. Que monta barraca e anda E sua vida comanda Na labuta costumeira.
Tem sempre a mão da mulher Nos lastros da agricultura Sobrevive com coragem Encarando essa cultura Na pesada profissão Fazendo calo na mão Na enxada e se aventura.
A mulher que planta e colhe É raiz é fruto é flor É semente que se espalha Segue a lida com amor Da terra tira o alimento E faz esse movimento Com fé em Nosso Senhor.
Louvo a mulher cordelista Que tem seu lugar de fala Que promove outras mulheres Com seus versos não se cala Retira do pensamento Todo seu conhecimento E ao mundo inteiro propala.
Louvo avó, a mãe e a filha Louvo o elo de união Que traz no matriarcado A força da tradição Louvo a mulher aguerrida Que na bandeira da vida Pôs o mastro em sua mão.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 24 de agosto de 2022
CONVERSA DE CALÇADA VIRTUAL (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)A
A estrofe precisa começar sempre com o primeiro verso
* * *
Meti o pé na carreira Quando meu pai avistei Fui ao forró escondida Pra ninguém nada falei Quando vi lá do salão Meu pai com cipó na mão Confesso desembestei.
Dalinha Catunda- Rio de Janeiro-RJ
Meti o pé na carreira quando avistei Adalgisa Uma irmã muito braba E eu com a cara lisa Fiquei fazendo motejo Sem vergonha sem ter pejo Corri com medo da pisa…
Bastinha Job – Crato–CE
Meti o pé na carreira A hora estava marcada Faltando 5 minutos Pense que forte pisada Já ouvi do vigilante Você é o último, adiante A agência está fechada.
Rivamoura Teixeira
Meti o pé na carreira Com medo do boi zebu Vinha voltando da feira Do baixo Acaraú Não tinha pra onde saltar Eu tive que escapar No pé de mandacaru.
Araquém Vasconcelos
Meti o pé na carreira E quase peço socorro A sorte qu’eu tive sorte Consegui subir no morro Por cima de pedra e tudo De pressa fiz de escudo O tal dono do Cachorro.
Francisco De Assis Sousa – Barbalha-CE
Meti o pé na carreira ao ver quem tinha chegado, eu brincando um São João, dançando com o namorado, mamãe chegou sutilmente, tacou a peia na gente, foi cada um pra seu lado.
Anilda Figueiredo- Crato-CE
Meti o pé na carreira Cum medo de vosmicê Eu já tô véio, cansado Num posso mais lhe “atendê” No tempo que eu pudia Vosmicê num me quiria. O que mudô em você?
Marcelo José
Meti o pé na carreira Eu quase que não me venço. Pensei que tirei um lenço, Num dia de carnaval, Do”quengo”duma criatura ; Era um rolo de atadura, Ví nêga passando mal.
Wellington Santiago
Meti o pé na carreira Entre Barbalha e Jardim Com medo de um lobisomem Essa criatura ruim Assombrava todo mundo O tal Vicente Finim
Fabiana Vieira- Crato-CE
Meti o pé na carreira Debaixo da cajarana, Quando papai me chamou: – Vou brincar com jetirana! Ele não batia em nós, Cinco minutos após, Lá estava eu na chicana.
Chica Emídio – Crato-CE
Meti o pé na carreira No assanhar do maribondo Famoso pelo chapéu Com formato hediondo Venceu a corrida a vespa Minha cabeleira crespa Fervilhou de nó redondo
Giovanni Arruda- Fortaleza-CE
Meti o pé na carreira Quando o dono apareceu Na roça de melancia Por pouco não pegou eu Nenhuma pude levar Com medo de apanhar Uma pirôla me deu…
Jairo Vasconcelos
Meti o pé na carreira Quando vi a tal confusão, Naquele ano de oitenta e oito. Foi na greve dos cem dias. E gás para todo lado. Perdi até o meu calçado, Fugindo do camburão!
Rosário Pinto- Rio de Janeiro-RJ
Meti o pé na carreira No meio da escuridão Quando vi foi uma sombra Me fazendo assombração Se eu lhe contar o segredo Que eu estava era com medo Da sombra da minha mão.
Vânia Freitas – Fortaleza-CE
Meti o pé na carreira Quando a polícia chegou Assaltaram uma igreja O tenente me olhou Quando disse o sacristão Toda oferta vinho e pão Foi Ritinha que roubou
Ritinha Oliveira
Meti o pé na carreira Quase morri assustado Ao jogar pedra na Kombi Quase o vidro foi quebrado A minha irmã enredou O meu pai quando chegou Eu já tinha me mandado
Joabnascimento-Camocim-CE
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 17 de agosto de 2022
O MEU CORDEL CIRANDEIRO (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
Para falar de Ciranda O meu coração balança Eu faço a roda girar Quando a musa entra na dança Avivando a inspiração Assim flui minha oração Diante dessa aliança.
Peguei na mão da ciranda Buscando sempre agregar Juntei ciranda e cordel Para melhor propagar Com canto e literatura Nossa popular cultura Com dança para animar.
No meu cordel cirandeiro Trago o canto de alegria Trago meu Cordel de Saia Trago o cordel de Maria Pra mostrar meu universo De rima de canto e verso De peleja e cantoria.
Pra melhor salvaguardar O cordel literatura Eu criei As Cirandeiras E gostei dessa mistura Quem sabe canta o refrão E faz a declamação Nos moldes dessa estrutura.
Cirandeiras do Cordel É projeto que caminha Já tem um núcleo no Crato Com cordelistas de linha Outros núcleos surgirão Conforme a ocasião Assim cogita Dalinha.
Vou abrir a minha roda Quem quiser pode chegar Mais de mil versos bonitos Fiz pra quem quiser cantar Enfie a mão na sacola E pode pegar a cola Quem quiser participar.
A roda duma ciranda Sempre traz felicidade Pois cantando se repassa Costumes da oralidade As mais bonitas lembranças Vem no bailado das danças Florindo a realidade.
Venha dançar a Ciranda Que veio de Portugal A rica herança dos mouros De cadência sem igual Vem menina entra na roda Que a dança não cai de moda Da tradição tem aval.
Hoje vou dançar ciranda Na calçada ou no terreiro Vou levar o meu ganzá Um zabumba e um pandeiro Vou ficar toda bonita Vou botar laço de fita Pra ganhar um cirandeiro.
Venha cá dançar ciranda Na palhoça ou no salão Aqui não tem preconceito Pois ciranda é inclusão Dança velho, dança novo, Na ciranda que é do povo Em qualquer ocasião.
Na ciranda a vestimenta É bem alegre e bonita Tem a blusa de babado A saia é feita de chita No movimento da dança A gente vira criança E a saia rodada agita.
Dancei ciranda na praia Com vestido de algodão Esperando meu amor Que saiu para o arrastão Fiquei na beira do mar Olhando a onda quebrar Com meus olhos de paixão.
Eu danço no meu sertão Que fica no Ceará Lia dança em Pernambuco Praia de Itamaracá A ciranda é popular Se dança em qualquer lugar Também no boi do Pará.
Lia de Itamaracá Da ciranda é a rainha A grande representante Jamais dançará sozinha O seu bonito legado Será sempre copiado Seguiremos sua linha.
Trago uma flor no cabelo Um buquê em minha mão Quero um cheiro no cangote Na ciranda da paixão Quero seu chapéu quebrado Saudando meu requebrado Ao cantar nossa canção.
A ciranda é minha e sua Ela é de cada amiga É dança que vem de longe Embalada na cantiga É no baú da memória Que se resguarda a história E resgata a mais antiga.
A ciranda tem seu passo Quem quiser pode chegar Se você der meia volta Volta e meia quero dar Mas faça com emoção Pegue aqui na minha mão Que na sua irei pegar.
Quem ainda não conhece Por favor se achegue aqui Para ver as cirandeiras Das plagas do Cariri São as mulheres que cantam E na ciranda encantam Na colheita do pequi.
Essa Ciranda é do Crato De Barbalha e Juazeiro É do Padim Pade Ciço É do Cariri Inteiro Grave com o seu cinzel É ciranda do cordel Movimento pioneiro.
A Ciranda itinerante É de fato uma beleza Dancei no Rio de Janeiro E lhe digo com certeza Muito emoção eu senti Ao dançar em Paraty E também em Fortaleza.
Mas foi na minha Ipueiras Com muita satisfação Que o nosso grupo estreou No Saberes do Sertão No, Encontro de Ipueiras Tivemos As Cirandeiras Em sua apresentação.
Cada ciranda cantada Vai cumprindo seu papel Disseminando cultura Ao difundir o cordel E nesse tipo de ação Vai passando a tradição Procurando ser fiel.
Ciranda é muita pesquisa, Trabalho e dedicação. É saber se reunir Quando pede ocasião Uma boa cirandeira Não solta a mão da parceira E zela pela união.
Nesse Cordel Cirandeiro Eu quero homenagear Cada mulher cirandeira Que fez a roda girar Que pegou na minha mão E me fez ter gratidão E querer continuar.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco sábado, 13 de agosto de 2022
A SANTO ANTÔNIO (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
Eu hoje vivo na roça Recordando meu sertão, Pois é lá daquelas brenhas, Que retiro inspiração. Minha Árvore de Natal, Tentei fazer uma igual, Com alguma inovação.
Peguei garrancho no mato, Tirei as folhas, limpei, E numa lata de vinte Areia lá coloquei. E depois chegou a vez Do paninho de xadrez, Pra envolver a lata usei.
E como eu sou cordelista, Para a árvore enfeitar, Dependurei meus cordéis, Que tem tanto pra contar… Das histórias do sertão, Que trago no coração, E gosto de relembrar!
Minhas bonecas de pano? No Natal muitas ganhei! Como artesã de bonecas, Algumas eu pendurei, Frutos da recordação, Que marcam a tradição, Coisas que vivenciei.
Quando saí do Nordeste Mãe solteira, e minha cruz, Me apeguei no meu caminho, A santa Mãe de Jesus. Minha base a cada dia, Era Jesus e Maria. Meu caminho foi de luz.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco terça, 07 de dezembro de 2021
A VENDEDORA DE TABACO (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
A VENDEDORA DE TABACO
Foi para sobreviver
Que a Ana mulher sem ócio
Abriu seu próprio negócio
Sem falatório temer
E se alguém quiser meter
A Língua no que faz Ana
A vendedora se dana
E dá pro cliente um naco:
Pode cheirar meu tabaco
Ele é feito de imburana!
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Com seu negócio montado
Outra coisa ela não quer
Pois negócio de mulher
Sempre dá bom resultado
Já que o seu tem prosperado
Contratou logo sua mana
E a dupla toda semana
Faz zoada no barraco:
Pode cheirar meu tabaco
Ele é feito de imburana!
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Dalinha Catunda
Xilo de Cicero Lourenço.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco sábado, 04 de dezembro de 2021
AINDA FAÇO MENINO (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO
AINDA FAÇO MENINO
Eu para fazer menino
No tempo da mocidade
Virava só os olhinhos
Cheia de felicidade
O tempo foi se passando
E foi chegando a idade
Lá se foi a primavera
Meu Deus quanta crueldade
Hoje pra fazer menino
É uma dificuldade
Preciso de agulha e linha
Tecido em variedade
Uma máquina de costura
Só para essa atividade
O tempo passa e faz dano
Essa é a mais pura verdade
E para meu desengano
Com toda sinceridade
Menino me arisco e faço
E vendo por unidade.
Mas é menino de pano
Minha especialidade.
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Versos de Dalinha Catunda
Artesanato de Dalinha Catunda
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco sexta, 19 de novembro de 2021
A MINHA MULHER TEM TUDO- QUE OUTRA MULHER NÃO TEM (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
MINHA MULHER TEM DE TUDO
QUE OUTRA MULHER NÃO TEM
Mote de Heliodoro Morais
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Eu não me canso de ouvir
Do meu marido adorado
O que ele já tem falado
E está sempre a repetir
Que eu gosto de me enxerir
Que sou teimosa também
Dou coice como ninguém
E bravo diz, carrancudo:
“minha mulher tem de tudo
que outra mulher não tem”
Glosa: Dalinha Catunda
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Meu marido diz assim:
Eita baixinha atrevida
Dedicas a tua vida
Pensando tão mal de mim
Vou mesmo te dar um fim
E te despachar no trem
Pra comer te dou xerém
De que te serve o estudo?
“Minha mulher tem de tudo
Que outra mulher não tem!”
Glosa: Bastinha Job
*
Vez por outra ele me xinga
Grita chora e não me deixa
Diz que meu gosto de ameixa
Minha dança e minha ginga
Se mistura à sua pinga
Que bebe e não se contém
Gasta o último vintém
Caminha a passo miúdo
“Minha mulher tem de tudo
Que outra mulher não tem!”
Glosa de Vânia Freitas
*
As mulheres em geral
são dotadas de beldades,
diferentes das maldades
que o homem convencional
via de regra - em geral -
chama de mal ou de bem,
mas, elas, quaisquer ou quem,
tem seu próprio conteúdo...
“minha mulher tem de tudo
que outra mulher não tem”.
Glosa: David Ferreira.
*
Eita mulher arretada
Essa que casou comigo
É dona do próprio umbigo
Resolve qualquer parada
Quando chega a madrugada
Na dança do xenhenhém
Me carrega pro além
No tapete de veludo
“minha mulher tem de tudo
que outra mulher não tem”
Glosa: Giovanni Arruda.
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Xilo de Erivaldo Ferreira
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco sábado, 13 de novembro de 2021
PATRIMÔNIO CULTURAL É O REPENTE BRASILEIRO (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
PATRIMÔNIO CULTURAL
É O REPENTE BRASILEIRO
Agora o nosso repente
Foi mesmo reconhecido
O registro é merecido
E a classe ficou contente
Porque o IPHAN sabiamente
Deu mais um passo certeiro
E falou pro mundo inteiro
Que o repente tem aval:
PATRIMÔNIO CULTURAL
É O REPENTE BRASILEIRO.
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Mote e Glosa de Dalinha Catunda
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco segunda, 01 de novembro de 2021
Ô VÉIA PRA ENXERGAR! (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
Minha mãe é poetisa, E sempre gostou de ler, Mas ficou com a vista curta, Começou seu padecer. Com receio de cegar, Resolveu se consultar, Para a vista não perder.
O doutor disse ligeiro Sem rodeio sem bravata: – Aqui pelo que estou vendo O seu caso é catarata! Uma simples cirurgia, Vai fazer sua alegria, Vamos já marcar a data.
Mamãe ficou animada, Cheia de satisfação, Falava pra todo mundo, Dessa sua operação. Outra coisa não falava, Todo dia ela rezava, Pra dar certo a intervenção.
Não demorou muito tempo Ela foi paro o hospital, E por causa da idade Mamãe precisou de aval, Mas depois de operada, A vista foi renovada, E ficou especial!
Hoje quando alguém pergunta, Se vê mesmo, ou se é fofoca, Ela diz que enxerga até “Priquito” de muriçoca, E nem pense em contestar! Pois língua pra argumentar, Ela tem bem grande e choca.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco sexta, 08 de outubro de 2021
A CAVEIRA E A CAMBAXIRRA (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
A CAVEIRA E A CAMBAXIRRA
Dalinha Catunda
*
Garanto faz muito tempo
Que o boi malhado morreu,
Era um animal bonito!
Mas a desdita o venceu.
E foi só falta de sorte,
Recordo bem essa morte,
Uma serpente o mordeu.
*
Lá no alpendre do meu rancho,
Na coluna de madeira,
Só para recordação,
Penduramos a caveira.
Hoje é lar de passarinho,
Cambaxirra fez seu ninho,
Ave engenhosa e Matreira.
*
Andei vendo um movimento,
Na caveira pendurada,
Cheguei perto para ver,
E fiquei admirada!
A ave saiu voando,
Eu fiquei de longe olhando,
A cambaxirra assustada.
*
Logo, logo descobri
Que havia ali um casal.
Os dois muito parecidos,
Levando material,
Para o ninho reforçar,
E os ovinhos abrigar,
De maneira especial.
*
Não tem chuva, não tem vento,
Para o ninho derrubar.
A escolha foi divina,
Eu posso até apostar!
Tem ciência e tem beleza,
As tramas da natureza,
Engenho a nos encantar.
*
Fotos e versos de Dalinha Catunda
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 22 de setembro de 2021
A SAUDADE É UMA DOR (CONVERSA DE CALÇADA VIRTUAL Nº IX, CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
Conversa de Calçada Virtual Nº IX
A SAUDADE É UMA DOR
Dalinha Catunda
A SAUDADE É UMA DOR
Mas não é dor de doer
É vontade de lembrar
Com vontade de esquecer.
Quadrinha Popular
1
A SAUDADE É UMA DOR
Martelando o coração
Cada batida desperta
Um mói de recordação
Dalinha Catunda
2
A saudade é uma dor
Sete letras, sete ais
Um caçua de lembranças
E a gente sempre quer mais
Rivamoura Teixeira
3
A SAUDADE É UMA DOR
grande demais, hiperbólica
Espinho que fere a flor
Deixando a alma bucólica
Bastinha Job
4
A SAUDADE É UMA DOR
Que fez nascer poesia
No canto do coração
Cresce de noite e de dia.
Vânia Freitas
5
A SAUDADE É UMA DOR
Sem remédio pra curar
Só o elixir do amor
Ê quem pode aliviar
Araquém Vasconcelos
6
A SAUDADE É UMA DOR
Que vem do fundo da alma
A falta de um grande amor
Que só outro amor acalma.
Chica Emídio.
7
A SAUDADE É UMA DOR
Pulsando insistentemente
Ao fazer sua morada
Dentro do peito da gente.
Creusa Meira
8
A SAUDADE É UMA DOR
Que disfarça sutilmente
A tristeza da distância
Pelo amor dentro da gente
Giovanni Arruda
9
A SAUDADE É UMA DOR
Espinho de uma flor viva
Indiferente ao clamor
E mata quem a cultiva.
F.de Assis Sousa.
10
A SAUDADE É UMA DOR
que sangra dentro da gente,
quem nunca perdeu um amor,
jamais esteve doente.
Anilda Figueiredo
11
A SAUDADE É UMA DOR
Um parafuso enferrujado
Quanto mais aperta mais dói
Um coração machucado.
Maria Conceição Vargas
12
A SAUDADE É UMA DOR
Que machuca, que maltrata,
Principalmente se for
Saudade daquela ingrata.
Marcelo José Gomes Costa
13
A SAUDADE É UMA DOR
Que fustiga diferente
E quando junto à paixão
Dói no coração da gente!!
Helonis Brandão
14
A SAUDADE É UMA DOR.
Que leva a gente a loucura.
Não tem doutor que dê jeito.
Nem tem remédio pra cura.
Assis Mendes
15
A SAUDADE É UMA DOR
Que não tem comparação
Quem é dela um portador
Sofre sem explicação !
Dulce Esteves
16
A SAUDADE É UMA DOR
Sendo uma dor incruenta
Eu tento lhe disfarçar
Cada vez mais ela aumenta
Jairo Vasconcelos.
17
A SAUDADE É UMA DOR
Que o tempo alimenta
Que dói lá dentro do peito
E arde mais do que pimenta.
Claude Bloc
18
A SAUDADE É UMA DOR
Que volta a todo momento
Qual um filme de amor
Que não sai do pensamento.
José Olívio
*
Fechando a conversa.
Obrigada poetas e poetisas, amei a participação de todos vocês.
Na postagem estão todas as estrofes que seguiram o exemplo da primeira.
Meu abraço.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco sábado, 18 de setembro de 2021
NÃO ME VENHA COM LERIADO, HOJE ESTOU DESTABACADA (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
NÃO VENHA COM LERIADO,
HOJE ESTOU DESTABACADA!
Mote: Dalinha Catunda
(Xilo do meu acervo, obra de Erivaldo Ferreira
Olá, poetas e poetisas, fechando mais uma Ciranda de Versos, Glosando na Rede com Dalinha. Mote de minha autoria, trazendo nosso dialeto nordestino.
Obrigada a todos, gostei muito dessa rodada de versos. Meu abraço.)
1
O Marido de Maria
Era caboclo exigente...
Deixava a mesma doente,
De tanto que lhe afligia.
Quando ela se aborrecia,
Gritava desaforada:
Tu aqui não mandas nada!
Acho bom ficar calado!
NÃO VENHA COM LERIADO,
HOJE ESTOU DESTABACADA!
Mote e glosa de Dalinha Catunda
2
De ser amélia eu cansei
Disse Adélia para o joca
Hoje tu num me provoca
Hoje nem rezar rezei
Chá calmante não tomei
Desci da rede avexada
Andei dando uma topada
Não aceito seu fungado
NÃO VENHA COM LERIADO
HOJE ESTOU DESTABACADA.
Mote: Dalinha Catunda
Glosa: Rivamoura Teixeira
3
Todo dia tô assim
Já perdi até a alma
Com ela perdi a calma
Tô quase vendo meu fim
coitadinha, ai de mim
Me tornei esclerosada
Me chamam até de coitada
Esse é meu triste fado:
NÃO VENHA COM LERIADO
HOJE ESTOU DESTABACADA!
Mote: Dalinha Catunda,
Glosa: Bastinha Job
4
Não estou pra brincadeira
Nem pra conversa sem graça
Não venha fazer pirraça
Nem venha falar besteira
Eu te ponho na carreira
Te deixo ficar borrada
Com a sua calça arriada
O fundo todo melado
NÃO VENHA COM LERIADO,
HOJE ESTOU DESTABACADA!
Mote: Dalinha Catunda
Glosa: Joabnascimento/Camocim-CE
5
Deixa de conversa mole
Hoje tô com a mulesta
Dois chifres na tua testa
Pois , comigo ninguém bole
E tomava mais 1 gole
Dando grossa cusparada
Pense na desaforada
O seu véi desmascarado
NÃO VENHA COM LERIADO
HOJE ESTOU DESTABACADA.
Mote: Dalinha Catunda
Glosa: Dulce Esteves
6
Tereza tinha uma bar
Perto da rua da feira
Não topava brincadeira
Era de pouco falar
Um bobo quis lhe cantar
Tereza deu uma pernada
Bem em cima da danada
Vá, pra casa seu tarado
NÃO VENHA COM LERIADO
HOJE ESTOU DESTABACADA
Mote: Dalinha Catunda
Glosa: Jairo Vasconcelos.
7
Dormiu com raiva de sobra
Enfezada com o marido
Mulherengo, pervertido
Torto feito uma abobra
Ela quem criou a cobra
Cedo amanheceu picada
Braba, doida, aporrinhada...
E chegou dando o recado
NÃO VENHA COM LERIADO
HOJE ESTOU DESTABACADA.
Mote: Dalinha Catunda
Glosa: F.de Assis Sousa.
8
Não sou de muita falar
Comigo pouca palavra
Rende mais na minha lavra
Quando quero descascar
Boto logo pra lascar
Quando tô de pá virada
E ferida descascada
Não vou com muito babado
NÃO VENHA COM LERIADO
HOJE ESTOU DESTABACADA.
Mote: Dalinha Catunda
Glosa: Vânia Freitas - Fortaleza, 16/9/2021.
9
Zefinha cravo e canela
Possuía uma cantina
Com doces e cajuína
Pinga branca e amarela
O povo gostava dela
Mas era um pouco zangada
Se ouvisse uma cantada
Gritava pro aletrado
NÃO VENHA COM LERIADO
HOJE ESTOU DESTABACADA
Mote: Dalinha Catunda
Glosa: Araquém Vasconcelos
10
Que bonito é ver alguém,
sobretudo, uma mulher,
dizer tudo o que ela quer
sem temer, pois, a ninguém.
A minha, medo, não tem,
diz que não me deve nada
e, um dia, meio amuada,
me fez ouvir seu recado:
“NÃO VENHA COM LERIADO,
HOJE ESTOU DESTABACADA.”
Mote: Dalinha Catunda
Glosa: David Ferreira – Teresina- Piauí
11
Ela na cama rezando
seu “terço de cada dia”
mas, eu de longe só via,
cada “pai nosso” passando,
eu desolado esperando,
mas, sem poder dizer nada,
ali, de boca fechada,
pra não cometer pecado…
NÃO VENHA COM LERIADO,
HOJE ESTOU DESTABACADA.
Mote: Dalinha Catunda
Gosa: David Ferreira – Teresina- Piauí
12
Minha mulher é amiga
Não gosta de baixaria
É bem calma, voz macia
Não faz mal uma formiga
Mas vira galo de briga
Parte logo pra mãozada
Se eu varar a madrugada
E chegar embriagado
NAO VENHA COM LERIADO
HOJE ESTOU DESTABACADA
Mote: Dalinha Catunda
Glosa: Giovanni Arruda.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco terça, 24 de agosto de 2021
PRA ROLA SÓ DOU XERÉM, SE COMER NA MINHA MÃO (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
GLOSANDO NA REDE COM DALINHA
*
PRA ROLA SÓ DOU XERÉM
SE COMER NA MINHA MÃO.
Mote de Dalinha Catunda
1
Nem bem o dia amanhece
Já está em meu quintal
O seu canto matinal
É canto que me enternece
Mas comida só merece
Quem tem rumo e direção
Não cedo alimentação
Pra quem sempre vai e vem:
PRA ROLA SÓ DOU XERÉM
SE COMER NA MINHA MÃO.
Glosa de Dalinha Catunda
2
Também não darei moleza
À rola ou a periquito,
Mesmo sendo bem bonito,
Pode ter toda a certeza;
Beleza nunca põe mesa
E nesses tempos então
Só abro uma exceção
Com aval de Araquem:
PRA ROLA SÓ DOU XEREM
SE COMER NA MINHA MÃO.
Glosa de Bastinha Job
3
Já tive no meu terreiro
uma rola sem futuro,
me procurava no escuro
e me acertava o traseiro,
com seu jeito interesseiro,
não queria meu pirão,
mas só arroz com feijão,
na hora do vai-e-vem.
PRA ROLA SO DOU XERÉM
SE COMER NA MINHA MÃO.
Glosa: Anilda Figueiredo
4
Eu adoro passarinho...
Mas sou fã do periquito
Esse do mote esquisito
Não põe ovo no meu ninho
Pra ficar tudo certinho
Eu digo com precisão
Essa rima é o cão
Esse verso não convém
PRA ROLA SÓ DOU XERÉM
SE COMER NA MINHA MÃO
Glosa: Giovanni Arruda
5
Quando o passaro é manso
Basta um dedo em riste
Botar painço e alpiste
Que vem fazer o descanso
Já criei patos e ganso
Sabiá corrupião
Acabava com a ração
Não me sobrava um vintém
PRA ROLA SÓ DOU XERÉM
SE COMER NA MINHA MÃO
Glosa Araquém Vasconcellos
6
Canta lá no cajueiro
Que fica no meu canal
Um rebanho de pombal
Me consola o dia inteiro
Mais não chega no terreiro
Nem na janela do oitão
Eu tenho essa opinião
Pode ser pardal, quem quem
PRA ROLA SÓ DOU XERÉM
SE COMER NA MINHA MÃO...
Glosa Jairo Vasconcelos.
7
Eu escuto o passarinho
Mas grito com dedo em riste
Posso dar xerem, alpiste
Se ele sair do ninho
Se eu escutar bem cedinho
Um canto em tom de canção
Mas se ele só diz não
E não canta pra ninguém
PRA ROLA SÓ DOU XEREM
SE COMER NA MINHA MÃO.
Glosa:rivamoura teixeira
8
Eu criava uma rolinha
Um dia fiquei zangada
Ela vivia escorada
Peguei a tal passarinha
Ficou mais mole a bichinha
Eu dei nela um arrochão
Sapequei ela no chão
E pelei o seu sedém
PRA ROLA SÓ DOU XERÉM
SE COMER NA MINHA MÃO
Glosa: Ritinha Oliveira
*
Amigos agradeço a participação de vocês, alguns já tem cadeira cativa aqui.
Muito obrigada pela interação nessa roda de glosas
XILO DE VALDÉRIO COSTA
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco segunda, 09 de agosto de 2021
MELHOR IDADE É O CACETE (FOLHETO DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
MELHOR IDADE É O CACETE
Dalinha Catunda
1
Seu Rufino adoeceu
Achei por bem visitar
Não era caso de morte
Mas era de preocupar
Seu lamento era constante
Queixava-se a todo instante
Sem parar de resmungar.
2
A sua maior doença
Era seu inconformismo
Foi homem namorador
E agora com reumatismo
Sem poder ir vadiar
Passa o dia a reclamar
Praticando o derrotismo.
3
Eu tentei mudar a prosa
Pra trazer animação
Entretanto seu Rufino
Era só reclamação
Desembestou a falar
Eu tive então que escutar
A sua lamentação.
4
Confesso que tive dó
Estava de fazer pena
Mas com a língua afiada
Repetia a cantilena
E cheio de rabugice
Metia o pau na velhice
Que não chegava serena.
5
Foi o jeito eu me calar
E preparar os ouvidos
Para ouvir o pobre idoso
Com seus ais e seus gemidos
Pois paciência eu tinha
Para ouvir a ladainha
E clamores repetidos.
6
E vocês vão ver agora
O rosário de amargura
Que desfia seu Rufino
Essa pobre criatura
Em cada depoimento
Que lhe sopra o pensamento
Nessa atual conjuntura
7
A velhice quando chega
Não pede autorização
Massacra o pobre do homem
Maltratando o cidadão
Pra disfarçar a verdade
Chamam de melhor idade
Mas isso é só gozação.
8
Chamar de melhor idade
A chegada da velhice
É querer fazer de besta
Ou usar de gaiatice
Já eu chamo humilhação
Fazer um pobre ancião
Ouvir essa cretinice.
9
O sujeito inconformado
Quer comer sem ferramenta
Mas só mela a dentadura
Entretanto teima e tenta
Cheira, funga e faz zoada
Depois da quinta brochada
Só sai com cheiro na venta.
10
Quando aparece a desgraça
O velho fica na mão,
Desce pinto, arria o saco
Só sobe mesmo a pressão
E capim novo é besteira
Só dá mesmo é caganeira
Complica a situação.
11
Uma coisa vou dizer
Mesmo sem querer falar
Quando o velho pinto abaixa
Nem vodu pra levantar,
O coitado de tão fraco
Repousa em cima do saco
Só se mexe pra mijar.
12
Meu pai só me apresentava
Cheinho de animação
Este aqui é meu rebento
E afirmava é meu varão
Hoje virei foi piada
A vara que tenho armada
É tão somente um bastão
13
Um dia deste a mulher
Passou pertinho de mim
Vi que o pinto deu sinal
Eu pensei até que enfim
Chamei a mulher pra junto
Ela disse: Esse defunto
Não dá mingau ao Soim.
14
A barriga vai crescendo
A paciência se manda
O passo vai encurtando
Devagar a gente anda
A mulher passa a ter voz
E acaba virando algoz
Pois é ela quem comanda.
15
O cabra quando envelhece
Paga os pecados que tem
Quando peida descuidado
A merda aproveita e vem
Não controla o intestino
E vive esse desatino
Pois da velhice é refém.
16
Quando se sente contente
Na hora que vai sorrir
Vem um peido atrás do outro
Na sequência a escapulir
E pra chatear também
Da garganta logo vem
A vontade de tossir.
17
Quando a dentadura afrouxa
É preciso ter cuidado
O pinto então nem se fala
É bica sem cadeado
Sem carrapeta a torneira
Fica só na pingadeira
E o velho acaba mijado.
18
Meu perfumoso tabaco
Eu não posso mais cheirar
O cheirinho de imburana
Faz o velho espirrar
E nisso o peido enxerido
Chega com seu estampido
Só pro velho envergonhar.
19
Sempre faço um alarido
É quando eu resolvo ler
Os óculos nunca acho
E se você quer saber
Juízo de véi não presta
Quando passo a mão na testa
Vejo o bicho aparecer.
20
A comida Deus me livre
Até parece castigo
Tem quer ser com pouco sal
Sendo carne não mastigo
É leite papa e mingau
Pra variar um curau
Vou acabar num jazigo.
21
Quando vejo uma morena
Passando no requebrado
Eu passo a mão no bigode
Com saudade do passado
E penso: Já fui bom nisso
Mas hoje sou submisso
Pois estou debilitado.
22
Tem dias que amanheço
Que nem o cão me aguenta
Teimando por qualquer coisa
Mas a mulher logo inventa
Um jeito de me acalmar
Já chegou até jogar
Um copo de água benta.
23
O juízo fica pouco
Com toda sinceridade
E o povo besta dizendo
Que isso é melhor idade
Estou sempre resmungando
Pois acho que estão mangando
Da nossa senilidade.
24
Fiquei com dor de cabeça
Com tanta reclamação
Contudo não vou tirar
De Seu Rufino a razão
Mas também posso afirmar
Velho só não vai ficar
Quem antes for pro caixão.
*
Cordel de Dalinha Catunda
Xilo do meu acervo obra de Maércio Siqueira
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quinta, 08 de julho de 2021
QUEM DERA TER LIBERDADE, SÓ PARA ESCRUVITIAR (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
Tão plena em sua brancura Tendo o vento como açoite Ontem a dama-da-noite Abrolhou com formosura Encantamento em fartura Exibiu na ocasião Vem provocando paixão E realmente me apraz Tão bonita, mas fugaz Essa Dama em explosão.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco terça, 09 de março de 2021
UMA RODA DE GLOSAS - 09.03.21 (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
Sem ter comiseração Nos assusta a Besta-fera Que mata em qualquer esfera Sem pena e sem compaixão Padece a população Nas mãos dessa pandemia Os dias são de agonia Nosso sossego findou: A besta-fera chegou Pra tirar nossa alegria.
Araquém Vasconcelos
Chegou este triste mal Com apelido de corona Da situação é a dona Esta desgraça viral Espalha um terror mortal Velho e novo contagia Morre gente todo dia O mundo inteiro parou A besta-fera chegou Pra tirar nossa alegria.
Gevanildo Almeida
Feito uma tempestade Torando pela a raiz Deixando o povo infeliz Ceifando a felicidade Sem nenhuma punidade Pra essa besta vadia Maldita hora que um dia Ela se proliferou A besta-fera chegou Pra tirar nossa alegria.
Jairo Vasconcelos
Só Deus pra resolver Essa mula do capeta O diabo fez a faceta Com Jesus vamos vencer O mal fez acontecer Essa grande pandemia Como o profeta dizia Mais ninguém acreditou A besta-fera chegou Pra tirar nossa alegria.
Marcos Silva
Primeiro foi o covarde Depois veio o tal covid Eu lhe digo não duvide Que vai piorar mais tarde Isso aqui não é alarde E nem mera putaria Um vírus com tirania Muita gente ele levou A besta-fera chegou Pra tirar nossa alegria.
Bastinha Job
Não foi assim de repente, Faz tempo a besta nos sonda Vai fazendo a fatal ronda Matando a nossa gente; Age, assim, tão friamente Em uma eterna agonia A esperança tá fria O labirinto estreitou: A besta-fera chegou Pra tirar nossa alegria.
Chica Emídio
Um vírus sem piedade Invadiu o mundo inteiro, Foi cruel e traiçoeiro, Causando mortalidade. Pungente agressividade Veio nessa pandemia, A maior epidemia Nosso país assolou, A besta-fera chegou Pra tirar nossa alegria.
Rivamoura Teixeira
Veio disfarçada a ira Pegou carona o corona Bestafora safadona Bestafura bestafira Com covid a calma pira Bestafara da agonia Virou alta pandemia A paz do mundo pirou A besta-fera chegou Pra tirar nossa alegria.
Dulce Esteves
Maldito vírus Chinês Ao mundo mal-assombrado São mortes por todo lado Vou falar para vocês Nós estamos à mercês Sepultados todo dia Em vala, na cova fria Um parente nem velou A besta-fera chegou Pra tirar nossa alegria.
Vânia Freitas
A besta fera é o satã Que também tentou Jesus Quer o mal pra quem na luz Reza a noite e de manhã Tentou Eva com a maçã A gente com a pandemia Com fé em Jesus e Maria Da besta já se livrou A besta-fera chegou Pra tirar nossa alegria.
Davia Ferreira
Estamos todos atados, sem podermos fazer nada, com a covid alastrada, tomando todos os lados. Estamos todos cercados, sem solução e sem guia, sorvendo no dia a dia, o pouco que nos restou… A besta-fera chegou Pra tirar nossa alegria.
Giovanni Arruda
Não se sabe de onde veio Nem o cão que o pariu, Mas a praga explodiu Degradando nosso meio Tá difícil dar um freio Dissolver a tirania Do desastre que um dia No comando se instalou A besta-fera chegou Pra tirar nossa alegria.
Ritinha Oliveira
Um grande monstro surgiu Do vil abismo profundo Cuspindo fogo no mundo Muitas vidas consumiu As cinzas de quem partiu Escurece o nosso dia Um futuro de magia O luto já embaçou A besta-fera chegou Pra tirar nossa alegria.
Francisco de Assis Sousa
Veio dominando mundo Com a sanha de matar Sedenta a contaminar Infectando em segundo Seu disfarce é fecundo Leva mesmo a cova fria Com a sua tirania Muitas vidas já ceifou A besta-fera chegou Pra tirar nossa alegria.
Rosário Pinto
E chegou o reptiliano, Com ares bem sorrateiros. Enganou os brasileiros. Chama o povo de beltrano, Já entramos pelo cano. E com esta pandemia, A vida aqui não se cria, O que vemos é complô A besta-fera chegou Pra tirar nossa alegria.
Creusa Meira
Há mais de um ano a tristeza Povoa a vida da gente Perder amigo ou parente Distante ou na redondeza Dá-nos a plena certeza Que perto está nosso dia Sem amparo e garantia De vacina que faltou A besta-fera chegou Pra tirar nossa alegria.
Josy Correia
Cada lado do planeta Resiste, lamenta e chora Com a doença que apavora Regrando a curta ampulheta No desgoverno, um capeta, Rindo da nossa agonia Ignora a cova fria Onde o Brasil se enterrou A besta-fera chegou Pra tirar nossa alegria.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco sábado, 06 de março de 2021
EU E A PANDEMIA NAS ASAS DO CORDEL (OCRDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNTA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FORIANO)
1 Na mais serena rotina Mansa a vida transcorria Futuro bem programado E um presente de alegria Pois começava a colher O que fiz por florescer Tudo que plantei um dia.
2 No entanto quis o destino Modificar meu traçado Vi cada sonho ruir E o presente destroçado O caos chegou de repente Deixando o povo impotente E o mundo inteiro abalado.
3 Do covid 19 Dessa grande Pandemia Hoje nós somos reféns Vivemos essa agonia Enfrentando isolamento Adestrando o pensamento Pra fugir da distimia.
4 Prosseguir era preciso Nunca fui de esmorecer Tentei sentar a cabeça Pensando no que fazer A Deus pedi direção E fui fazendo oração Buscando me proteger.
5 O começo foi difícil, Eu tenho que concordar. E muitos dos meus costumes Tive que modificar. Sem varinha de condão Para a modificação Fui obrigada a lutar.
6 Vesti-me de paciência Pra viver sem liberdade E mudei-me para o campo Deixei de lado a cidade Fui treinando meu olhar Pra novo mundo abraçar E acatar a realidade.
7 Os compromissos rompidos Sem condições de assumir O meu sorriso desfeito Eu tenho que admitir A única solução Seria a transformação Resolvi nisso insistir.
8 Bem distante dos perigos A roça me adaptei E com internet em casa Logo me conectei Fui ligando minha antena E mesmo de quarentena Meu trabalho continuei.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco sexta, 26 de fevereiro de 2021
UMA RODA DE GLOSAS - 26.02.21 (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
Minha gente vou dizer: Eu não estou suportando! Ouço o celular tocando, E quando vou atender, Eu chego a me arrepender, De atender a ligação. Com o celular na mão, É só mulher fuxiqueira: Deixa de ser fofoqueira Vai cuidar do teu fogão.
Bastinha Job:
Fala mal de seu vizinho Dedura a minha pessoa Só me chama de coroa É flor cheinha de espinho, Vai metendo o seu focinho Não aceita opinião Afugenta o próprio cão Não tem limite ou fronteira: Deixa de ser fofoqueira Vai cuidar do teu fogão.
Dulce Esteves:
Só vive bisbilhotando Pra saber da vida alheia Chama a vizinha ” baleia “ Fala alto, reclamando Todo mundo fica olhando Na boca só palavrão Trambiqueira de montão Além de ser cachaceira: Deixa de ser fofoqueira Vai cuidar do teu fogão.
Rivamoura Teixeira:
Já começa o bate papo Gritando que Zé Bedeu Quis fuder e se fudeu E o dinheiro virou trapo Me zanguei dei um sopapo O celular cai no chão Pra aumentar a confusão Chamei ela de encrenqueira Deixa de ser fofoqueira Vai cuidar do teu fogão.
Gevanildo Almeida:
Fico eu observando Com minha boca fechada Só olhando a palhaçada De quem vive curiando A vida alheia mirando Numa melhor posição Fala de pai e irmão Sentada numa porteira Deixa de ser fofoqueira Vai cuidar do teu fogão.
Araquém Vasconcelos:
É preciso paciência Pra suportar seu capricho Vive com cara de bicho Só fala com violência Não usa a consciência Só pensa em ostentação Em tudo quer ter razão Tem jeito de alcoviteira Deixa de ser fofoqueira Vai cuidar do teu fogão.
Joab Nascimento:
Quem não tem o que fazer Nenhuma roupa pra lavar Vai vivendo a fuxicar Com fofocas a oferecer De tudo ela quer saber Pra fazer divulgação Notícia em primeira mão Da fofoca ser a primeira Deixa de ser fofoqueira Vai cuidar do teu fogão.
Lindicassia Nascimento:
Uma vizinha gritando Do outro lado da rua Eu que tava quase nua Corri pra lá perguntando: -Já morreu ou tá matando? Ela disse: – foi João Que levou chifre de Adão. Eu disse, mas que besteira, Deixa de ser fofoqueira Vai cuidar do teu fogão.
Giovanni Arruda:
Quem leva a vida a pensar Na vida que o outro leva Cria sua própria treva Nos afazeres do lar Na hora de cozinhar Não escorre o macarrão Queima o arroz e o feijão E o fundo da cuscuzeira Deixa de ser fofoqueira Vai cuidar do teu fogão.
Rosário Pinto:
Foi uma vizinha que tive Na cidade Bacabal. O meu bairro era o Ramal. Parecia um Detetive. Fiquei quieta, me abstive. Você sabia? Era o refrão. Isto lhe dava tesão. Todos gritavam: tranqueira! Deixa de ser fofoqueira Vai cuidar do teu fogão.
Francisco Jairo Vasconcelos:
Passa o dia na janela Parece uma filmadora Se finge de protetora Tem a língua de tramela Deixa até queimar panela E quando vai ao salão Sabe de toda traição E põe lenha na fogueira Deixa de ser fofoqueira Vai cuidar do teu fogão.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quinta, 25 de fevereiro de 2021
O CORNO INOCENTE (MICROCONTO DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
Era tempo de novenas, festa da padroeira, quermesse e animação.
Após as novenas as famílias se reuniam na pracinha da igreja.
Enquanto as mulheres compravam gulodices para entreter as crianças, os homens se reuniam nas barracas de bebidas.
E foi entre uma bebida e um papo e outro, que se deu o bate-boca entre dois primos.
Ambos já tinham sido contemplados com um par de chifres por suas digníssimas esposas.
José, sabia que era corno, mas já tinha se acomodado a situação, porém Gonzaga, era o mais novo corno da cidade, estava na boca do povo e pelo jeito seria o último a saber.
Quando a discussão esquentou, Gonzaga, pôs a mão no ombro do primo e falou:
– Zé, tu é corno, macho véi!
Zé naquela calma de corno convencido imitando o gesto do colega retrucou:
– E meu primo nem é!
Isso foi o suficiente para a turma inteira cair na gargalhada.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco segunda, 15 de fevereiro de 2021
KAROLINA COM K, COISA DE GONZAGÃO (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
A mulher com K maiúsculo É coisa de Gonzagão Foi do nosso rei caboclo Que nasceu essa invenção Era cabocla ladina Chamada de Karolina Astuta que nem o cão.
E foi imortalizada Na voz do Rei do Baião Como a mulher dançadeira Que mais chamava atenção Cheia de presepada Com sua saia rodada Girava que nem pião.
Todo mundo admirava A tal bela sertaneja Dançava com quem queria Inda tomava cerveja Nos braços do sanfoneiro Dançava até em terreiro Não ficava no, hora veja!
Karolina era cheirosa Bem atrevida e faceira Também era invocada Metida a cangaceira Mas colou com Gonzagão Dançando xote e baião Do chão tirava poeira.
Tem que dançar xenhenhém Igualzinha a Karolina Tem que lavar bem a boca Gargarejar creolina Acho bom que se oriente Pra falar da nossa gente De origem nordestina.
Pois quem quer ser respeitada Pelos outros tem respeito Não segue a velha cartilha Onde mora o preconceito Eu não quero causar dano Mas o K Gonzagueano Ele é nosso não tem jeito.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco domingo, 14 de fevereiro de 2021
RODA DE GLOSAS (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
Procurando o que fazer Eu acordo todo dia Dispenso a melancolia E procuro me envolver Com tudo que dá prazer E da vida vou cuidando Pois tendo Deus no comando Sei que vou seguir em frente: Eu tenho raiva de gente Que vive se lastimando
Gevanildo Almeida:
Não me lastimo de nada Que a vida me apronta Seja o que for eu dou conta Com minha boca fechada Não sou chegado a zoada Vou logo lhe avisando Não venha me perturbando Com cara de deprimente Eu tenho raiva de gente Que vive se lastimando
Bastinha Job:
Escreva um belo poema, limpe bem a sua casa Voe alto, crie asa, Rejeite qualquer sistema Que lhe prende na algema Sua vida cerceando, Não fique se lamentando Isso odeio imensamente: Eu tenho raiva de gente Que vive se lastimando
Francisco de Assis Sousa:
Cada momento da vida Vale a pena se viver Eu quero todo prazer Antes da minha partida Abomino despedida Cada dia celebrando E assim eu vou levando A vida gostosa e quente Eu tenho raiva de gente Que vive se lastimando
Rivamoura Teixeira:
Temos que perseverar O passado tem essência Que dá a experiência Que orienta o viver O melhor do conviver É que você vai juntando Dividindo e somando E te faz experiente Eu tenho raiva de gente Que vive se lastimando
Dulce Esteves:
Agradeço todo dia Pelo fato de viver Minhas refeições comer Pela luz que me alumia Por ter paz, ter harmonia Deus está me abençoando Meu dinheirinho ganhando Pois, sou grata plenamente Eu tenho raiva de gente Que vive se lastimando
David Ferreira:
Taí, gostei desse mote, por esse apelo que traz a quem pensa ser audaz. Pela destreza, o rebote, inclusos pois no pacote dos que têm total comando naquilo que estão buscando prosperar constantemente… Eu tenho raiva de gente Que vive se lastimando
Joab Nascimento:
Viver de lamentação Reclamando todo dia Com triste melancolia Causando importunação Causando indignação Para quem fica escutando Insatisfação causando Com perturbação na mente Eu tenho raiva de gente Que vive se lastimando
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco sexta, 12 de fevereiro de 2021
CHUVA DE POESIA (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
Pra mim a chuva é tela De uma linda pintura No meu Cratinho ela cai Cai agora com ternura Meu coração tá contente A chuva ,o melhor presente Traz promessa de fartura!
Lindicássia Nascimento:
É festa na agricultura Alegria pra o sertão Sertanejos se animam Com o relâmpago e o trovão A chuva é a esperança Para o tempo de bonança Pra quem fez a plantação.
Dalinha Catunda:
Chuva caindo no chão Atiça minha saudade Nós dois no banho de chuva Numa casualidade Enquanto a chuva caía O casal feliz sorria Ungindo a felicidade.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quinta, 11 de fevereiro de 2021
UMA ROD DE GLOSAS - 11.02.21 (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
Não sou dona da verdade O bom senso assim me diz Na vida sou aprendiz Mas sempre bate a vontade De repassar qualidade A quem deseja ingressar Com regras no versejar E o pouco que sei não nego É duro dar luz a cego Que não pretende enxergar.
Rivamoura Teixeira:
Eu já dei até a dica De como faz o traçado O x do metrificado Ele diz _exemplifica Mas parece q ele fica Olhando a banda passar Ou prefere só ficar Nesse pequenino ego É duro dar luz a cego Que não pretende enxergar.
Dulce Esteves:
Meus parcos conhecimentos Gosto de compartilhar Convidei, vamos estudar Mas, me causou foi tormentos Esses tristes elementos Só souberam foi negar Disse: eu sei metrificar Esse peso não carrego É duro dar luz a cego Que não pretende enxergar.
Creusa Meira:
Às vezes a gente fala Até com certo cuidado Que o verso tem pé quebrado Mas a pessoa se cala Segue o caminho e embala Mostrando não se importar Vai querer me martelar Mas afirmo, não sou prego É duro dar luz a cego Que não pretende enxergar.
Giovanni Arruda:
Precisa ter paciência Pois no começo é assim Fica pensando no fim E quebra toda a cadência Perde do verso a essência Quem prioriza contar, Eu aconselho tentar Mas uma coisa não nego É duro dar luz a cego Que não pretende enxergar.
Bastinha Job:
É malhar em ferro frio pedra que água não fura clarear a noite escura secar o leito do rio, receita sem ter avio, um ganho sem conquistar, Poeta sem se inspirar Tudo isso veto e renego: É duro dar luz a cego Que não pretende enxergar.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 27 de janeiro de 2021
O HOMEM QUE PERDEU A ROLA (FOLHETO DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
O HOMEM QUE PERDEU A ROLA
Dalinha Catunda
1
Ao Tuca pedi licença,
Pra sua história contar.
É fato não brincadeira
O que tenho pra narrar.
Esta tragédia, amigos,
Foi um drama de amargar.
2
Este caso sucedeu
Em meu querido lugar
E fez a minha Ipueiras
De tristeza até chorar.
A cidade combalida
Nunca viu tanto pesar.
3
Todos conhecem o Tuca,
Nem precisa apresentar.
É dono dum restaurante.
Bom e muito popular.
Comerciante querido,
A todos quer agradar.
4
Tuca era muito feliz,
Com os filhos e a mulher.
Também tinha sua rola,
Que não era uma qualquer,
Não largava sua pomba
Um instantinho sequer.
5
Não sei se foi mau olhado,
Se foi praga ou coisa assim.
Só sei que sua alegria.
De repente teve fim.
O homem perdeu a rola,
Meu Deus que coisa ruim!
6
Ipueiras chorou tanto,
Foi bem grande a comoção.
Pois não era uma rolinha,
Na verdade era um rolão.
E muita gente importante,
Já tinha passado a mão.
7
Pobre mulher, soluçava...
Abraçada a seu marido.
Ele só se lamentava
Por a rola ter perdido.
Tudo se tornou tristeza,
Depois deste acontecido.
8
Ao chegar o fim da tarde
Na hora da ave Maria,
Tuca pegava sua rola
Com jeitinho recolhia,
E agradecia aos céus.
A rola que possuía.
9
A sua querida esposa,
Entrou numa depressão
Seu robe, sua alegria
Era a rola em sua mão.
Ela chora de saudades
Pela rola do patrão.
10
Tuca perdeu a alegria
Perdeu a satisfação.
Vivia coçando a rola
Por debaixo do balcão
Sem rola e sem alegria
É bem grande a aflição.
11
Os amigos afagavam
Aquela rola singela
E Tuca sempre exibia
Pondo a rola na janela.
Era uma boa atração
E todos gostavam dela.
12
Que muita gente chorou
É a mais pura verdade,
Homem que fica sem rola
É digno de piedade.
Tem uma vida vazia
E perde a felicidade.
13
A história dessa rola,
Ainda não acabou.
Não estou de sacanagem,
E lhes peço, por favor.
A rola é um passarinho,
Não o que você pensou!
14
O martírio dessa rola,
Foi de cortar coração.
Um dia Tuca encontrou
A ave ferida no chão.
E tratou do passarinho,
Que virou de estimação.
15
A rola vivia solta,
Bem livre naquele lar
No ombro de Tuca ela,
Gostava de passear.
Era bem interessante
Era lindo contemplar.
16
Até hoje não se sabe,
Que de fato aconteceu.
Se ela foi atrás de Tuca,
No caminho se perdeu.
Ou se foi mesmo roubada
Por um infeliz ateu.
17
Eu só sei que a pobre rola
Se foi e deixou saudade.
A família e os amigos
Gostavam e de verdade,
Da graciosa rolinha
Que era uma novidade.
18
Tuca perdeu sua rola,
Porém ganhou um cordel.
Quem pensou em sacanagem.
Não fez bonito papel.
Eu peço desculpa ao Tuca
Se o relato foi cruel.
Fim
Cordel de Dalinha Catunda
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco domingo, 24 de janeiro de 2021
UMA RODA DE GLOSAS (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
Eu posso dizer que há anos A vacina salva vidas. Eu que sou das precavidas Pra não sofrer desenganos, E evitar maiores danos, Também vou me vacinar. Tô vendo a hora chegar! Mas a dúvida é profunda: Não sei se tomo na bunda Ou no braço vou tomar.
Em minha última coluna, este meu mote foi glosado por mulheres. Hoje ele será glosado por homens.
* * *
Gevanildo Almeida
Dalinha e Bastinha estão Com uma dúvida danada Mais confesso essa picada Não tá na minha intenção Não sei se vou tomar não Decidi, não vou tomar Ela pode me agravar Mas vou se seguir a Catunda Não sei se tomo na bunda Ou no braço vou tomar.
Rivamoura Teixeira
Vou usar a consciência Fazer avaliação Não digo não tomo não Vou pensar fazer prudência Vou saber da tal ciência Pra melhor avaliar Essa dúvida é de lascar Vou optar pela segunda Não sei se tomo na bunda Ou no braço vou tomar.
Assis Mendes
Quando chegar a vacina, Quero tomar sem demora, Mandar o corona embora, Pra ver se esse mal termina, Seja daqui ou da china, Eu quero é me vacinar, E hora da agulha entrar, Que a dor não seja profunda, Não sei se tomo na bunda Ou no braço vou tomar.
Francisco Jairo Vasconcelos
Vou tomar é qualquer uma Tô esperando liberar Vou ver no que, isto vai dar Quero que o corona suma Pare de morrer de ruma Eu tomo em qualquer lugar Pois importante é curar Esta dúvida profunda, Não sei se tomo na bunda Ou no braço vou tomar.
Joab Nascimento
Já que não tem mais remédio Tomei todo tipo de chá De marmeleiro ao juá Não acabei com meu tédio Comecei a ter assédio Para picada enfrentar Deu trabalho pra relaxar Foi concentração profunda Não sei se tomo na bunda Ou no braço vou tomar.
Giovanni Arruda
Qualquer um laboratório Não fará a diferença Eu só vou pedir licença Pra não ser supositório Pois já fui repositório Hoje nem deixo triscar. Na bochecha inda vá lá Que a mão não se aprofunda Não sei se tomo na bunda Ou no braço vou tomar.
Pedro Sampaio
A tal vacina chinesa Garantia questionada Com tanta gente assustada Deixa minha mente acesa Com medo de virar presa Também do bicho pegar Logo começo a chorar A lágrima já me inunda Não sei se tomo na bunda Ou no braço vou tomar.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco segunda, 18 de janeiro de 2021
UMA RODA DE GLOSAS (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
Eu posso dizer que há anos A vacina salva vidas. Eu que sou das precavidas Pra não sofrer desenganos, E evitar maiores danos, Também vou me vacinar. Tô vendo a hora chegar! Mas a dúvida é profunda: Não sei se tomo na bunda Ou no braço vou tomar.
Bastinha Job:
Chinesa não tomo não nem na bunda, nem no braço coronavac… fracasso, China não é salvação buscarei outra opção A Oxford aceitar se a Moderna chegar, a picada vai ser funda: Não sei se tomo na bunda Ou no braço vou tomar.
Creusa Meira:
Na fila eu amanheço Pego a preferencial Passo longe de hospital UTI eu não mereço Quero logo o endereço Quando o dia D chegar Se na hora H falhar A primeira e a segunda Não sei se tomo na bunda Ou no braço vou tomar.
Chica Emídio:
Pode ser no mei da testa, Na barriga, ou no bumbum Não vou excluir nenhum Eu quero é fazer a festa Se assim for o que resta Só não quero é me isolar Chega de trancafiar Igual Dalinha Catunda: Não sei se tomo na bunda Ou no braço vou tomar.
Vânia Freitas:
Gente estou assustada Com tanta gente falando Da bruta vacina entrando Tô ficando aperreada Bunda e braço na jogada O braço dá pra pensar Bunda não vou cutucar A coisa é muito profunda Não sei se tomo na bunda Ou no braço vou tomar.
Lindicassia Nascimento:
Já que não tem outro jeito Eu vou ter que aceitar Dessa vez não vou chorar Vou deixar entrar direito Quero sentir o efeito Levemente sem gritar Sei que vou me emocionar Não vou ficar moribunda Não sei se tomo na bunda Ou no braço vou tomar.
Sueli Diniz:
O vírus veio com tudo A vacina é necessária A vida tá temerária Pra isso teve o estudo Tem que ser muito peitudo Tem que gostar de arriscar Pra nela não apostar D’onde a vida se oriunda Não sei se tomo na bunda Ou no braço vou tomar.
Djenane Emídio
Como logo se anuncia Tenho cá os meus receios Se já encontraram os meios Da cura da pandemia… Peço a Deus que é meu Guia Pra que eu possa confiar E venha assim declamar: Vacina, em mim se difunda! Não sei se tomo na bunda Ou no braço vou tomar.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 30 de dezembro de 2020
SUBI NA PIROGA E PEGUEI NO JACUMÃ (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
Num passeio inusitado Fui visitar uma oca Um índio quase pelado Levou-me a sua maloca Nessa bonita manhã Pegando em seu jacumã Saí com ele da toca.
O passeio foi bonito Em meio a natureza Subi na sua piroga E achei uma beleza E no banho no riacho Ele perdeu o penacho Que caiu na correnteza.
Ao voltarmos do passeio Eu estava esbaforida Ele me trouxe cauim Eu aprovei a bebida Não saí daquela loca Sem entrar na mandioca Gostei muito da comida.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco terça, 29 de dezembro de 2020
PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DE RAÍZES (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO) VÍDEO
É nesse meu versejado, Que vou enganando a dor. Pedindo em cada oração, Ajuda a nosso Senhor! Rezo pra santo no altar, Na procissão a passar, Eu rogo ao Santo do andor.
Dalinha Catunda
Antes das águas de março JÁ foi meu verso inundado De dores estarrecido Sem o Erato inspirado Não vislumbro a esperança Meu estro só cansa e cansa Num horizonte manchado!
Bastinha Job
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco segunda, 21 de dezembro de 2020
QUANDO EU ESTICAR AS CANELAS, CORDEL EM VÍDEO, COM A MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
Da Peste vejo sinais, E eu faço o sinal da cruz! Vestida em negro capuz, Ceifando em seus rituais, Com as vassouras letais. Que os ancinhos ela traga, Para amenizar a praga E a esperança devolver. Chega de tanto morrer: Nesse barco que naufraga.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco sexta, 11 de dezembro de 2020
BORDANDO VERSOS (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
Como quem faz um bordado Vou fiando meu cordel Procurando ser fiel Tramo com todo cuidado Cada ponto do traçado Faço com dedicação Trago a metrificação Pra cada verso compor Faço rimas com amor, Faço cordel com paixão
Bastinha Job:
Procuro tecer meu verso Primando na isometria Busco a isorritmia Poesia é meu universo Na mensagem me alicerço Daí vem pura emoção, Catarse, satisfação Compromisso no lavor: Faço rimas com amor, Faço cordel com paixão
Jesus de Ritinha:
Eu entro na brincadeira Agricultando poesia Plantando com alegria A semente brotadeira Levo também uma esteira Que estendo com a mão Para dessa plantação Colher frutos de primor Faço rimas com amor, Faço cordel com paixão
David Ferreira:
Não entendo de bordado, mas eu vi mamãe tecer. Não consegui aprender, porquê homem do cerrado não podia ser prendado, fazer bordado de mão, pisar arroz no pilão, era visto com temor… Faço rimas com amor, Faço cordel com paixão
Rosário Pinto:
Faço rima faço prosa. Procuro ter alegria. O meu cantar se irradia Para alguns me chamo Rosa Eu gosto de fazer glosa Não conheço a solidão Trago sempre uma canção Canto com muito fervor Faço rimas com amor, Faço cordel com paixão
Vânia Freitas:
Dedico meu tempo à arte Eu faço que nem Dalinha Também não saio da linha Vou fazendo minha parte Assim como ela reparte Com muita dedicação Eu tiro do coração Algum som do meu tambor Faço rimas com amor, Faço cordel com paixão
Gevanildo Almeida:
Tiro o verso da cachola Faço ele flutuar Sou poeta popular Desses que não se enrola Só não sei tocar viola Mas na minha intuição Metrifico a oração Na verso que vou impor Faço rimas com amor, Faço cordel com paixão
Francisco Chagas:
Eu descrevo a natureza. O sol, a lua e estrelas. Eu tenho o prazer de vê-las. Se eu tiver com tristeza. Quando olho pra grandeza. Do Deus Pai da Criação. Sinto no meu coração. Muita alegria e vigor Faço rima com amor. Faço cordel com paixão.
Rivamoura Teixeira:
Eu sou mei intrometido Doido levado da breca Quero brincar de peteca E este tema é tão querido Eu também tenho mantido Esta forma de expressão Traço com dedicação Metrifico com fervor Faço rimas com amor Faço cordéis com paixão
Creusa Meira:
Na infância fiz bordado Que a minha mãe ensinava Tricô e renda, eu tentava E meu pai tinha guardado Os versos do seu passado Eu lia com atenção Fui aprendendo a lição E hoje posso dar valor Faço rima com amor. Faço cordel com paixão.
José Walter Pires:
Viver “pintando e bordando” Foi expressão popular; Mas não sei como explicar, Às meninas, comparando, Ou só ficar criticando Os rumos da evolução, Com tamanha tentação, Desafiando o pudor. Faço rima com amor. Faço cordel com paixão.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco terça, 08 de dezembro de 2020
COMADRE, INTÉ OUTRO DIA (VÍDEO COM A MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, CORDELISTA E COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
Ciranda de glosas com mulheres, coordenada por esta colunista, idealizadora do Cordel de Saia
* * *
Mote de Medeiros Braga:
Não fora nosso Nordeste Seria pobre o Brasil
* * *
Dalinha Catunda – Rio de Janeiro-RJ:
Berço da mulher rendeira, E de Maria Bonita. A Raquel trouxe na escrita Maria Moura Guerreira, A força da brasileira, A que enfrentou cada ardil! Mostrando bem seu perfil De forte mulher do agreste: Não fora nosso Nordeste Seria pobre o Brasil
Bastinha Job – Crato-CE:
O Ceará de Alencar De Peri, de Iracema, De Ceci prosa em poema Do verde-azul do mar; Tem o Ferreira Goulart, Gonzagão, Gilberto Gil, Patativa é nota mil Nossa Arte é inconteste: Não fora nosso Nordeste Seria pobre o Brasil
Vânia Freitas – Fortaleza-CE:
O nordeste brasileiro Banhado de sol e mar Tem nas noites de luar O canto do violeiro Que embala nosso terreiro Com seu verso mais sutil Que encanta com mais de mil O sul norte leste e oeste Não fora nosso Nordeste Seria pobre o Brasil
Rosário Pinto – Rio de Janeiro-RJ:
A mulher faz seu papel Escreve com linhas finas Histórias de heroínas Maneja bem o pincel Em versos de menestrel. São muitas na poesia, E na prosa, em demasia, Nos romances, mais de mil. Do Norte até o Leste Não fora nosso Nordeste Seria pobre o Brasil
Dodora Pereira da Silva – Juazeiro-CE:
Mulher guerreira e forte Enfrenta o sol causticante Com um sorriso intrigante E o amor é seu suporte O poeta é que tem sorte Essa musa é nota mil Contrastando o céu de anil Com esse seu solo agreste Não fora nosso Nordeste Seria pobre o Brasil
Lindicássia Nascimento – Barbalha-CE:
O Nordeste brasileiro É de fato um braço forte Esse país tem é sorte Por não ser do estrangeiro Sendo bravo e tão guerreiro De arte e belezas mil Nós traçamos o perfil Do rico cabra da peste Não fora nosso Nordeste Seria pobre o Brasil
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco sexta, 04 de dezembro de 2020
TROVAS NATALINAS (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
TROVAS NATALINAS
Dalinha Catunda
TROVAS NATALINAS
*
Natal é tempo de luz,
Luzindo com alegria.
Em louvor ao bom Jesus
Filho da virgem Maria.
*
Filho da Virgem Maria
Tão amado por José.
Brilhou a estrela guia,
Para o rei de Nazaré.
*
Para o rei de Nazaré
O galo cantou também,
Aqueles que tinham fé
Logo disseram amém.
*
Logo disseram amém,
Ao rei dono da verdade,
Que nasceu lá em Belém
Pra nossa felicidade.
*
Versos de Dalinha Catunda
Arte de
Klévisson Viana
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco segunda, 30 de novembro de 2020
DEVANEANDO, VÍDEO COM A CORDELISTA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO
O velho trem da saudade Resolveu me visitar Na bagagem a lembrança É tanta, chega a pesar Abro a porta do vagão E deixo a recordação Pelos trilhos me guiar.
Êta saudade danada Que bateu, mas foi de mim Menina moça levada Batom da cor de carmim Faceira e desaforada Pela vida apaixonada Como eu gostava de mim.
Nas tertúlias da cidade Era a primeira a chegar Pra “tirar uma fornada” Com quem soubesse dançar Dançava bem um brecado Um bolero apaixonado E sem “macaco botar.”
Short curto, minissaia Era assim que eu me vestia Minha mãe era moderna E para minha alegria Gostava de costurar E a gente podia usar A roupa que bem queria.
Passear de bicicleta Era outra diversão Cidade do interior Ipueiras, meu sertão Banhos de açude e de rio Quando recordo sorrio Fui feliz em meu rincão.
Passei por cima de tudo Pra viver em liberdade Desdenhei até das leis Da nossa sociedade Liberta da hipocrisia E sem precisar de guia Vivi só minha verdade.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco segunda, 19 de outubro de 2020
EXALTANDO A NATUREZA (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
Amigos, estou na roça Nem sei quando vou voltar Estou desde fevereiro E terminei por ficar Essa vidinha no campo É coisa pra me agradar. Porém quando a chuva chega Com vento forte a soprar Eu fico sem internet Aqui tudo sai do ar Por isso minhas postagens Eu fico sem comentar. Fora isso eu acho bom E estou a me renovar Eu faço queijo de coalho E de Minas por gostar E faço doce de leite Pra gente aqui merendar. O feijão verde e maxixe, Já tá dando pra apanhar, Tem quiabo e berinjela, Jerimum pra variar, E tudo isso me agrada, Pois gosto de cozinhar. Tem um alpendre com redes Quando quero descansar Quando me bate a preguiça Logo corro pra deitar É de lá que vejo a lua Com seu brilho a despontar. A passarada faz festa E passa o dia a cantar Tem pitanga, tem groselha Pra passarinho bicar As mangueiras carregadas Estão começando a dar. Por aqui eu vou ficando Porém volto a relatar As novidades da roça Desse meu mais novo lar Um abraço para todos Aqui eu quero deixar.
Cachoeiras de Macacu-RJ, 9/10/ 2020
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco sexta, 09 de outubro de 2020
RODILHA E POTE (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
NUNCA PEGUEI NA RODILHA
MAS TOMEI ÁGUA DE POTE
Dalinha Catunda
Espie, um magote de nordestino glosando mais eu!
*
Nunca peguei na rodilha,
Mas tomei água de pote
*
Sou natural do Nordeste,
Nascida no Ceará.
Aprontei muito por lá
Na minha vidinha agreste
Aticei cabra da peste
Pra comigo dançar xote
Dançava, dava pinote,
Sem me assustar com braguilha.
Nunca peguei na rodilha
Mas tomei água de pote.
Dalinha Catunda
*
Guardo vivos na lembrança
Momentos especiais
De folguedos nos quintais
Do meu tempo de criança
Havia também cobrança
Que eu cumpria sem fricote
Enrolava um saiote
Para apoiar a vasilha
Eu já usei a rodilha
E tomei água de pote.
Creusa Meira
*
Nasci na Vila do Amaro
terrinha que me cativa
Recebi de Patativa
o conselho e o amparo
o bafejo do seu faro
inspirou também meu mote
na décima atei meu bote
e fiz essa redondilha:
NUNCA PEGUEI NA RODILHA
MAS TOMEI ÁGUA DE POTE!
Bastinha Job
*
Eu nasci na capital,
mas a coisa era apertada,
não tinha água encanada,
só um poço no quintal.
Dali bebia animal,
galinha, pato e capote,
gente grande e meninote,
o pai, a mãe e a filha.
Nunca peguei na rodilha,
Mas tomei água de pote.
Marcos Mairton
*
Eu nasci em Maceió
Estado das Alagoas
ao qual teço minhas loas
sempre que eu vou por lá
pra tomar banho de mar
eu vou remando meu bote
e me lembrando que um mote
quebrou a minha setilha
nunca peguei na rodilha
mas tomei água de pote
Fred Monteiro
*
Que você dava pinote,
Isso eu não creio, não,
Mulher do seu gabarito,
Aguenta qualquer rojão,
Mulher da melhor estirpe,
Das que há no meu sertão.
Zé da Paraiba
*
Eu não nasci no nordeste.
Tenho o sangue misturado.
Paraíba, por um lado,
e Minas Gerais, sudeste.
Urbanóide e não agreste,
de bolero a fox-trote
dancei desde meninote
e até mesmo quadrilha.
Nunca peguei na rodilha
Mas tomei água de pote.
Hardy Guedes
*
Por visto a minha vidinha
foi mais simplória que a sua:
brinquei de roda na rua,
de peteca e amarelinha;
- Mas que insolência a minha -
vou modificar seu mote,
preste atenção e anote:
fui além da sua trilha,
porque peguei na rodilha
e tomei água de pote!
Nezite Alencar
*
Também nasci no Nordeste
Bem ao sul do Ceará
Ainda vivo por cá
Levo uma vida campestre
Faço rima feito a peste
É só me mandar o mote
Que o verso sai em pacote
Enfeitado com presilha
Nunca peguei na rodilha
Mas tomei água de pote.
(Anilda figueirêdo)
*
Lembro o banco de aroeira
Lá da casa de vovó
O jirau, o caritó
A antiga cantareira
A jarrona revedeira
Caneco boca em serrote
E pra completar meu mote
Vejo a surrada mantilha
Nunca peguei na rodilha
Mas bebi água de pote.
Josenir Lacerda
*
Eu também sou do Nordeste
E jamais saí daqui
Escolhi o Cariri
Que me acolhe e me reveste
Luar do sertão celeste
Da fogueira e do pinote
Quixotesco de um xote
Ancorado na forquilha
Nunca peguei na rodilha
Mas bebi água de pote.
Ulisses Germano
*
Sou caboclo nordestino
Do brejo Paraibano,
Do martelo alagoano,
Violado com refino,
Exaltando Virgulino
O mensageiro da morte,
Este sertanejo forte,
Tão pouco leu a cartilha.
Nunca peguei na rodilha
Mas tomei água de pote.
Ivamberto Albuquerque
*
Foto e mote de Dalinha Catunda,
Postagem com poetas convidados
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 30 de setembro de 2020
EI! PSIU... (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
EI! PSIU...
Dalinha Catunda
Ei! Você pode dar psiu,
Vou achar que assédio, não!
Só vou pensar que você,
Quer chamar minha atenção.
Se eu gostar, eu vou sorrir,
Se não gostar vou seguir
Sem achar que é transgressão.
Ei! Você pode, sim, me olhar,
Olhar não tira pedaço,
E não vai me incomodar.
Me olhe sem embaraço,
E quem sabe se eu quiser
Pode pintar um affair
Não sou de estardalhaço.
Ei! não deixe de ser chistoso,
Não adira ao desencanto,
Não desista da conquista,
Faça aposta no acalanto.
Pra quem fomenta emoção,
E quer sim, em vez de não,
Sabe bem guiar seu canto.
*
Versos e foto de Dalinha Catunda.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quinta, 24 de setembro de 2020
ENCRENCA COM MULHER (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
ENCRENCA COM MULHER
Dalinha Catunda
ENCRENCA COM MULHER
*
DALINHA CATUNDA
Bardo que não tem cautela
Tira da boca a tramela
Mas de repente amarela
Na quebrada da rotina
Pois a mulher na porfia
Com astúcia desafia
E o homem nem desconfia
Da esperteza feminina.
*
BASTINHA JOB
Cutucar com vara curta
A onça se espanta e surta
A valentia se furta;
O arrogante sequer
Dessa teia não escapa
Perdeu a mina e o mapa
Da Musa levou um tapa
Respeita, macho, a Mulher!
*
DALINHA CATUNDA
Cabra que arranha viola
Com estrume na cachola
Na merda sempre se atola
Por não saber acatar
O canto de espinho e flor
Que chega trazendo ardor
E não pede, por favor,
Para com macho cantar.
*
JOSÉ WALTER
Êta, Dalinha, danada
Que jamais perde parada
Ao se mostrar preparada
Pra qualquer situação
Dando nó em pingo d’água
Sabe cantar sem ter mágoa
Nem a tristeza deságua
NOS OITO PÉS DE QUADRÃO.
*
DALINHA CATUNDA
Meu amigo sou nojenta
Tenho cabelo na venta
E pouca gente aguenta
Quando entro em ação
Eu canto até ficar rouca
Se o bardo dormir de touca
Morre e não me deixa louca
NOS OITO PÉS DE QUADRÃO.
*
JERSON BRITO
Eita que mulher valente
Quero ver cabra que enfrente
Essa dama do repente
Braba feito uma leoa
De versos fonte infinita
Dalinha tá bem na fita
Porque sempre sua escrita
Como melodia soa.
*
DALINHA CATUNDA
Eu não conheço fadiga,
Não fujo da boa briga,
Não sou mulher com intriga,
Mas não sou de calmaria!
Na hora de pelejar
Gosto do nó apertar
Pra ver verso estrebuchar
Nos braços da poesia.
*
CREUSA MEIRA
Homem, respeite Dalinha
Tome sua caipirinha
Vá brigar na sua rinha
Onde só tem confusão
Não irrite a minha amiga
Que ela nem gosta de briga
Fuja de qualquer intriga
Nos oito pés de quadrão.
*
DALINHA CATUNDA
Porém se quiser chegar
Vá chegando de vagar
Não vai dar pra se espalhar
Na minha jurisdição
Não queira me ver irada
Pois baixo mesmo a porrada
E saio dando risada
Nos oito pés de quadrão.
*
MARIA ELI
Seguimos nessa jornada
Lembrando a macharada
Que respeite a mulherada
Não brinque com sua loa
Que um motim iniciou
Buliu com uma danou
E com todas se lascou
Pois ninguém verseja a toa.
*
DALINHA CATUNDA
Eu vou contar um segredo
Cabra pra me fazer medo
Nem precisa vir azedo
Pois eu sou é de amargar
Eu mato o vate na unha
Provoco boto alcunha
E usando de mumunha
Faço o sujeito chorar.
*
VÂNIA FREITAS
Da caneta faço espora
O verso faço na hora
Para chegar sem demora
Esbanjando o meu versar
Sonora como uma fonte
Eu me junto com este monte
De mulher que traz na fronte
A arte de bem cantar.
*
DALINHA CATUNDA
Risco verso é na peixeira
No traçado sou ligeira
Acabo sendo a primeira
Na hora de um debate
Por gostar duma disputa
Vou preparada pra luta
Trago a mulher pra labuta
Pra seguir nosso combate.
*
DAVID FERREIRA
Quem se acha todo macho,
não tem medo de esculacho,
é melhor baixar o facho...
Quem avisa, bem lhe quer.
O melhor que a gente faz
é ser fino... Perspicaz...
Pois, quem quer viver em paz,
não encrenca com mulher.
**
DALINHA CATUNDA
David já chegou com manha
É homem que não se acanha
De mulher jamais apanha
Pois conhece seu lugar
Chegou com diplomacia
Num verso de voz macia
Como quem acaricia
Gata pra não lhe arranhar.
*
DAVID FERREIRA
Toda mulher de verdade,
pelo voto à liberdade,
nutre a sensibilidade
qu'há de ter um grande amor...
Já o homem, infelizmente,
sendo ou não inteligente,
nele incute, ingenuamente,
qu' é um ser superior...
*
DALINHA CATUNDA
A mulher em seu roteiro
Quer apenas um parceiro,
Um amante, companheiro.
Não um dono, um senhor.
Não quer viver em prisão
Detesta a submissão
Quer fazer sua oração
Sem ser a santa no andor.
*
DAVID FERREIRA
Tenho uma que é valente,
me cativa docemente,
mas tem hora que, somente
Deus do céu, pra lh'a acalmar.
Basta eu demorar fora,
não voltar conforme a hora...
Quebra um pau, pega uma tora
e, ai de mim, se eu gaguejar...
*
DALINHA CATUNDA
Deixo a porta sem tramela
E nem fico na janela
Só pensando em esparrela
Se tarde ele vai voltar...
Enquanto eu for importante!
Serei esposa e amante,
Vou esperar radiante,
Sem pensar em controlar.
*
JOSÉ WALTER
Essas gralhas encrenqueiras
Não resistem brincadeiras
Logo viram barraqueiras.
E se ofendem sem razão.
Se não faz mal perguntar
Para poder me calar
O que deixaram passar?
NOS OITO PÉS DE QUADRÃO
*
DALINHA CATUNDA
Em cada pé que versei
Eu rimei, metrifiquei,
Cantei mas não relinchei
Pra não perder a razão.
Porém sei que fiz besteira
Deixei aberta a porteira
E entrou a crina coiceira
NOS OITO PÉS DE QUADRÃO
*
CREUSA MEIRA
Zewalter, tome cuidado
O terreno é complicado
É mehor ficar calado
Pra não perder a razão
Dalinha não dá vacilo
Tem amigas no estilo
Aqui ninguém dá cochilo
Nos oito pés de quadrão
*
Xilo de Cícero Lourenço, para do meu cordel: Mulher na Panela do Repente.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco sexta, 18 de setembro de 2020
LOUVANDO MADRINHA MENA (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
LOUVANDO MADRINHA MENA
Dalinha Catunda
1
Conheci Madrinha Mena
Vendendo cordel na praça
Recebeu-me com sorriso
E conversava com graça
Fizemos logo amizade
E daquelas de verdade
Que o tempo não embaraça.
2
Foi ela quem me levou
Ao seio da Academia
Lá comecei declamando
Quando o momento pedia
Com grande satisfação
Eu via lá no salão
A madrinha que aplaudia.
3
Muitas vezes voltei lá
Porque vi sinceridade
O tempo foi reforçando
A nossa boa amizade
Que cultivo com carinho
Mena foi um bom caminho
Que trilhei nessa cidade
4
Hoje na ABLC
Posso bem assegurar
Foi o encontro com Mena
Que garantiu meu lugar
Esse encontro nordestino
Forjado pelo destino
Pra minha sorte traçar.
5
Por isso nesse cordel
Com muita satisfação
A Madrinha dos Poetas
Faço minha louvação
A musa peço passagem
Pra dizer nessa mensagem
O que dita a emoção.
6
Cearense do Ipu
Maria do Livramento
Era mais uma migrante
Fugindo do sofrimento
Foi no Rio de Janeiro
Que conheceu seu parceiro
E deu certo o casamento.
7
Mena sofreu no passado
Mas seu presente reluz
Ninguém passa a vida inteira
Apenas levando cruz
Sua vida não foi só fel
Apareceu o cordel
Pra dar brilho a sua luz.
8
Com seu Gonçalo Ferreira
Livramento se casou
Tendo um marido poeta
Ao cordel se dedicou
Essa guerreira Maria
Na feira cordel vendia
Três filhos assim criou.
9
Sendo Gonçalo poeta
Dona Mena violeira
Do céu caiu pra Gonçalo
Uma bendita parceira
Muito feliz vive Mena
A vida pra ela acena
Na morada da ladeira.
10
Quando ela afina a viola
Eu peço minha cantiga
É do tempo do cangaço
Gosto de música antiga
E sai “Maria Bonita”
Ela canta até faz fita
Para agradar a amiga.
11
Do cordel primeira dama
Viaja o Brasil inteiro
A cearense brejeira
Não se perde no roteiro
Gonçalo faz a palestra
O cordel vende a mestra
Apurando seu dinheiro.
12
Do cordel apologista
Dele faz sua leitura
Vende, difunde folheto
Promove a literatura
Quando o rapa era cruel
Brigou pra vender cordel
Pois defende essa cultura.
13
Sua paixão pelas cordas
Vem dos tempos de menina
Dedilhar uma viola
Mas que paixão era sina
Amante da cantoria
No Ceará assistia
Essa moda nordestina
14
Madrinha Mena faz parte
Das damas da Academia
Sua presença marcante
É fato que contagia
Em sua simplicidade
Carrega a voz da verdade
Na casa da poesia.
15
Mena não manda recado
Quando está incomodada
Tem fibra de sertaneja
E não engole calada
Sabendo que tem razão
Nos outros passa carão
Mas sem ser desaforada.
16
Mena merece respeito
Muita atenção e carinho
Pois em toda essa jornada
Gonçalo não está sozinho
Ela está sempre do lado
Se desmanchando em cuidado
Até abrindo caminho.
17
O cordel com os patronos
Madrinha idealizou
Sei que muitos cordelistas
Seu sonho realizou
Fazendo com poesia
A dita biografia
Que Mena arquitetou.
18
Mais de uma cordelteca
Leva o nome da Madrinha
Que tem no peito o cordel
Junto com ele caminha
Mena Merece um troféu
Pra ela tiro o chapéu
Nessa minha louvaminha.
19
É ela Madrinha Mena
Que mantém a tradição
No mês de setembro tem
Festa, viola e baião,
Poetas, muita alegria
Nos anos da Academia
Não falta celebração.
20
Eu louvo Madrinha Mena
Por sua disposição
Pelo amor ao cordel
Pela viola na mão
Pelo seu canto aberto
Que quero ouvir de perto
Pra relembrar meu sertão.
21
Eu louvo Madrinha Mena
Que vive em Santa Tereza
Que sobe e desce ladeira
E toda sua riqueza
Consiste em participar
Da cultura popular
Que se traduz em beleza.
22
Eu louvo Madrinha Mena
Por sua língua afiada
Pela sua rebeldia
Por não se calar por nada
Por querer o seu espaço
Um sorriso, um abraço,
Ser também valorizada.
23
Eu louvo Madrinha Mena
A Madrinha dos poetas,
A mãe, esposa e mulher,
Que cumpre bem suas metas
Devota da academia
Guerreira e anjo guia
De atitudes corretas.
24
Eu louvo Madrinha Mena
E louvo de coração
Agradeço a amizade
Confirmo minha afeição
Por isso cara madrinha
Pede-lhe a benção Dalinha
No fim desta louvação.
FIM
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 16 de setembro de 2020
AMANCEBADA (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
AMANCEBADA
Dalinha
Eu casei na Igreja verde,
A Deus não peço perdão,
Cartório também igreja
Dispensei na ocasião
Eu fiz o meu edital
E não precisei de aval
Ao recusar certidão.
*
Nunca quis ser bem certinha
Nem seguir a procissão
Eu já nasci pecadora
Diz minha religião
Sou batizada e crismada
Nunca fui excomungada,
Mas não gosto de sermão.
*
E quando alguém me pergunta
Se sou solteira ou casada,
Eu respondo bem ligeiro:
Sou mesmo é amancebada!
E vejo quem me arguiu
Fazendo que não ouviu
Saindo desapontada.
*
E não venham me pedir,
Meu álbum de casamento
As bodas disso ou daquilo
Bobagens eu não aguento.
Acho que a felicidade
Se faz com cumplicidade,
E jamais com juramento.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco domingo, 13 de setembro de 2020
PRA COMER MARIA IZABEL ELE LARGOU MEU CUSCUZ (MOTE E GLOSA DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
PRA COMER MARIA IZABEL
ELE LARGOU MEU CUSCUZ.
*
Já cansei de repetir
Essa história que hoje conto
Não aumento nem um ponto
Isso posso garantir
Se você quiser ouvir
A Deus peço muita luz
E nos versos que compus
Repito o que diz Raquel:
PRA COMER MARIA IZABEL
ELE LARGOU MEU CUSCUZ.
*
Esse caso aconteceu
Pras bandas do Ceará
Com Raquel que é de lá
E um sujeito conheceu
Do cuscuz dela comeu
E já gritou: Ai Jesus!
Da comida que seduz
Virou um freguês fiel:
PRA COMER MARIA IZABEL
ELE LARGOU MEU CUSCUZ.
*
Aqui na minha pensão
Ele vinha todo dia
E demonstrando alegria
Fazia sua refeição
E fez a propagação
Do jeito que lhe propus
Botou foto no capuz
Do seu antigo corcel:
PRA COMER MARIA IZABEL
ELE LARGOU MEU CUSCUZ.
*
O negócio foi crescendo
Eu ganhava, ele ganhava
A freguesia aumentava
E a propaganda comendo
Porém eu fui percebendo
Algo estranho e me indispus
As garras então repus
Após provar do seu fel:
PRA COMER MARIA IZABEL
ELE LARGOU MEU CUSCUZ.
*
Traída covardemente
Eu fui e ele nem negou
Disse que se apaixonou
Por um menu diferente
Arroz com carne presente
Que a cozinheira introduz
A minha raiva eu expus
Diante do seu papel:
PRA COMER MARIA IZABEL
ELE LARGOU MEU CUSCUZ.
*
Quem comeu na minha mão
Sabe que sei cozinhar
Pois tenho bom paladar
E sou boa de fogão
Agora preste atenção
No peso da minha cruz
Foi pior do que supus
A minha saga cruel:
PRA COMER MARIA IZABEL
ELE LARGOU MEU CUSCUZ.
*
Versos e Fotos de Dalinha Catunda
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quinta, 10 de setembro de 2020
SERTANEJANDO (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
SERTANEJANDO
Dalinha Catunda
Quando escancaro a porteira
Para entrar em meu rincão
A dona felicidade
Faz festa em meu coração
Uma brisa benfazeja
Invade essa sertaneja
Que não esquece o sertão.
*
Cada tarde é deslumbrante
Ver o ocaso acontecer
Por detrás da serra grande
Assisto o sol se esconder
Deixando um resto de luz
Crepúsculo que seduz
No dourado entardecer.
*
Tibungando em minhas águas
Eu vejo o sol desmaiar
Entre um mergulho e outro
Consigo me refrescar
E na boquinha da noite
O Aracati é açoite
Que chega com o luar.
*
Versos e fotos de Dalinha Catunda
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 02 de setembro de 2020
MULHERES GLOSANDO NA REDE (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
MULHERES GLOSANDO NA REDE COM DALINHA
*
QUASE DEI UMA AGONIA
QUANDO ELE ME ABUFELOU
Mote de Dalinha Catunda
1
Cantando um louvor bonito
Com o meu terço na mão
Eu seguia a procissão
Cumprindo com fé o rito
Um movimento esquisito
Detrás de mim começou
Um sujeito me arrochou
E eu gritei: Ave Maria!
QUASE DEI UMA AGONIA
QUANDO ELE ME ABUFELOU
Glosa de Dalinha Catunda
2
Senti uma coisa estranha
Quando tava no forró,.
Minha tripa deu um nó
Uma cosquinha na entranha
Não pense que era manha
No meu quengo algo tocou
No meu corpo se espalhou
E todo ele tremia:
QUASE DEI UMA AGONIA
QUANDO ELE ME ABUFELOU!
Glosa de Bastinha Job
3
Eu estava numa praça
Pra lá de descontraída
Uma mão muito atrevida
Me alisou fazendo graça
Mas caiu logo em desgraça
Meu pai no cabra encostou
Sua faca ele passou
Bem por baixo da "viría"
QUASE DEI UMA AGONIA
QUANDO ELE ME ABUFELOU
Glosa: Ritinha Oliveira
4
Por pouco quase morri
Me faltou ar me faltou chão
Pulava o meu coração
Não sei mesmo o que senti
Eu quase desfaleci
Quando alguém me beijou
Eu corri e ele me pegou
Gritei chamando Maria
QUASE DEI UMA AGONIA
QUANDO ELE ME ABUFELOU.
Glosa de Vânia Freitas
5
Chegou não sei de onde veio
Sem se fazer de notado
Foi se sentando ao meu lado
O cara era muito feio
Foi o maior aperreio
Disse: com você eu vou
Mas sua mulher chegou
Houve a maior correria
QUASE DEI UMA AGONIA
QUANDO ELE ME ABOFELOU
Glosa de Chica Emídio.
*
Ciranda de Glosas coordenada por Dalinha Catunda
Postei as estrofes que seguiram o mote e a modalidade apresentada.
Xilo feita por Erivaldo Ferreira, do meu acervo.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco domingo, 23 de agosto de 2020
CARREIRÃO DA ENXERIDA (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
CARREIRÃO DA ENXERIDA
Dalinha Catunda
Nasci lá nas Ipueiras Bem pertinho do Ipu Na bica tomei cerveja Com nome de caracu E para tirar o gosto Eu fatiava caju A castanha bem assada Eu pedia do menu Do voguinha eu gostava E tomava com beiju No gangão eu tibungava E molhava o Mucumbu Toda fresca e apresentada Fazia o maior rebu Eu era nova e jeitosa E jamais fui jaburu Tinha gente que falava: Mas olhe, Só no Curú! Eu continuava a farra Pois nunca fui de lundu Mantenho minha alegria Nunca fico Jururu Quem me conhece já sabe Que sou de quebrar tabu Meu pirão é com pimenta Sem caroço é meu angu Sou forte e como pequi Misturado com andu Não enfio a minha mão No buraco do tatu Mas sou mulher de topete Sou cobra surucucu Não dou sombra nem encosto Sou feito mandacaru Quem mandar eu me lascar Já vou dizendo: VAI TU! * Versos e foto de Dalinha Catunda
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco sexta, 21 de agosto de 2020
AGORA SÓ DOU O PÉ (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
Se todo cuidado é pouco Eu me resguardo na fé Meu marido quando pede Eu nego até cafuné Em cantada já não caio Tô igual a papagaio Agora só dou o pé.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco sábado, 15 de agosto de 2020
O CHAPÉU DE COURO DE CHICA (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
O CHAPÉU DE COURO DE CHICA
Dalinha Catunda
* Eu sempre que vou ao Crato, Cidade do Ceará Como um bolo saboroso Que leva trigo e fubá E sendo feito por Chica Delicioso ele fica Bolinho melhor não há. * Entrei no chapéu de couro Do bucho não tive dó, Num encontro de poetas: “Café na casa de Vó” Numa mesa farta e rica Comi do bolo de Chica Gostoso como ele só! * A Chica alegra festanças Trazendo em sua bandeja Sob a toalha bordada O que a confraria almeja Um verdadeiro tesouro Chamado chapéu de couro Que quem conhece deseja. * Chica comi do seu bolo, Mas não fiquei satisfeita, Mas foi porque esqueci De lhe pedir a receita Porém solicito agora Mande sem muita demora O que pede esta sujeita. * Verso e foto de Dalinha Catunda
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco sábado, 08 de agosto de 2020
CARREIRÃO DE MULHER (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
Sou poeta popular Nos versos sou estradeira Quando pego um carreirão Meu verso não tem barreira Sempre tive a língua solta Pois gosto de brincadeira Quando chego num alpendre Puxo logo uma cadeira E desenrolo meu verso Sem esquentar a moleira Ninguém derruba meu verso Com pedra de baladeira. Quem for fraco de poesia Pode pegar na carreira Meu angu aqui é quente Não se come pela beira Quando retoco o batom Mostro meu lado brejeira. Tem muita gente que aplaude Meu verso de cantadeira Porém tem gente que diz Que apenas falo besteira Não canto sem minha figa Não passo sem benzedeira. Aprendi meu carreirão Ouvindo Pedro Bandeira Escrevo meus absurdos Por causa de Zé Limeira Eu só não aprendo nada É quando esbarro em toupeira. Esse canto encarrilhado É canto de catingueira Que não erra na flechada Porque sabe ser certeira SE TEM CANTO DE SEGUNDA O MEU CANTO É DE PRIMEIRA.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 05 de agosto de 2020
EU NASCI... E VOCÊ? (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
EU NASCI... E VOCÊ? Dalinha Catunda
Eu nasci no mês de agosto As duas horas da tarde Sem fazer nenhum alarde Com belo riso no rosto O dia cheio de gosto E o céu estava azulado Era dia do Soldado A noite a lua serena Se mostrava toda plena Porque eu havia chegado. Vânia Freitas Fortaleza, 2/8/3020 * No mês de outubro eu nascia, E foi São Judas Tadeu, O Santo que apareceu, Na folhinha nesse dia. Chamaram-me de Maria, Puseram Lourdes também, - Nomes de santas convém! Dizia mamãe querida, Pra dar sorte a sua vida, E até hoje eu digo amém. Dalinha Catunda Rio de Janeiro - RJ
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco sábado, 01 de agosto de 2020
UMA GLOSA - 01.08.20 (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
Para dar o meu recado Não rezo só Ladainha Pois o canto de Dalinha Não é canto comportado É profano é sagrado Dentro da minha oração Para dar satisfação Eu não tenho mais idade A rédea da liberdade Virou pipa em minha mão.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quinta, 30 de julho de 2020
BOTEI FOGO NO SERTÃO, MAS NÃO VIREI RAPARIGA (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
BOTEI FOGO NO SERTÃO
MAS NÃO VIREI RAPARIGA
Dalinha Catunda
BOTEI FOGO NO SERTÃO MAS NÃO VIREI RAPARIGA. * Engravidei sem casar E a culpa também foi minha Não nasci pra coitadinha Não fiquei a lamentar Sentia-me uma star Ao carregar a barriga A fofoca e a intriga Fez meu nome correr chão BOTEI FOGO NO SERTÃO MAS NÃO VIREI RAPARIGA. * Mote de Dalinha Catunda Xilo do meu acervo obra de Cícero Lourenço.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 29 de julho de 2020
UMA GLOSA - 29.07.20 (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
Eu tenho meu pensamento Não nasci pra ser piolho Como agir eu sempre escolho Pois tenho discernimento O discurso que apresento Faz jus ao meu caminhar E não venham me atiçar Pra torcida organizada Não sou mulher melindrada Sei me posicionar.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco sábado, 25 de julho de 2020
DO TREM SÓ A SAUDADE (CORDEL DA MADE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
DO TREM SÓ A SAUDADE
Dalinha Catunda
* Era tempo de alegria Nos trilhos do meu sertão O trem que ia e voltava Carregava em seu vagão Fantasia aventureira A ilusão passageira Marcando cada estação. * Alegria na chegada O choro da despedida Entre abraços e promessas Velhos dramas da partida No lenço a dor da saudade Fruto da felicidade Que o coração deu guarida. * O tempo se vai ligeiro Mas o trem fica parado A lembrança no presente Faz o seu sacolejado E nesse seu movimento Transporta meu pensamento Aos bons tempos do passado. * Fotos e Versos de Dalinha Catunda
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 22 de julho de 2020
TRÊS CEARENSES GLOSANDO NA REDE (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CACUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
Dalinha Catunda
Bastinha Job
Vânia Freitas
TRÊS CEARENSES GLOSANDO NA REDE
* SE EU ESCREVESSE ROTEIRO MEU FILME SERIA ASSIM.
Mote de Astier Basílio
* DALINHA CATUNDA A morena despachada Que vivia no sertão Não respeitou nem o cão E seguiu a sua estrada Ladina e desaforada Fazia o que estava a fim Com a boca de carmim Dizia pro mundo inteiro: SE EU ESCREVESSE ROTEIRO MEU FILME SERIA ASSIM. * BASTINHA JOB Basílio é o Astier Autor dum mote tão bom Dalinha glosou no tom E cumpriu o metier Eu também vou me meter Puxo a ponta do alfinim Faço uma ponte por fim Até Rio de Janeiro: SE EU ESCREVESSE ROTEIRO MEU FILME SERIA ASSIM. * VÂNIA FREITAS Eu sempre fui desastrada Porque sempre fui medrosa Eu nunca fui poderosa Mas era muito engraçada Cada corrida adoidada O povo ria de mim Trágica e cômica enfim Sem ter nenhum companheiro SE EU ESCREVESSE ROTEIRO MEU FILME SERIA ASSIM. * Coordenação de Dalinha Catunda Fotos do acervo de Cada poetisa Mote de Astier Basílio
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quinta, 16 de julho de 2020
NO SONHO AZUL (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
NO SONHO AZUL
Dalinha Catunda
Porque era dia de trem Ela se fez mais bonita Fez um rabo de cavalo Botou um laço de fita Um vestidinho florido Presente do seu querido Uma alegria infinita.
Quando o trem longe apitou Ela pegou a frasqueira E cheirando a alfazema Corria toda faceira Porque dentro do vagão Estava sua paixão De tantas, era a primeira.
Entrou toda saltitante E depressa foi notada Porém nada foi surpresa Estava sendo esperada Na poltrona acomodados O casal de namorados Seguiram sua jornada.
E Dentro do sonho azul Nasce o sonho cor de rosa Entre os dois apaixonados Na viagem venturosa Quem não soube ter coragem Perdeu o trem e a bagagem E não foi vitoriosa.
Foto desta colunista
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco sábado, 11 de julho de 2020
SEM MEDO DE MONTAR (CORDEL DA MADRE SUPERIORA DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
SEM MEDO DE MONTAR
Dalinha Catunda
* Andei montando um cavalo, Pras bandas do meu sertão. Sua fama percorria Toda aquela região. Em cavalo não confio, Porém sendo desafio, Encaro a situação. * Ele me olhou de soslaio Porém não me intimidou. Passei a perna por cima, A sela me acomodou Eu gostei da montaria, Ele bravo se exibia, Só que não me derrubou. * Pra ver sua reação, Eu enfiei o chicote. Ele então me chacoalhou, E disparou no pinote Numa aventura assassina, Segurei na sua crina Me enroscando em seu cangote. * Horas me faltava céu. Horas me faltava chão. Hora nenhuma faltou, Foi mesmo disposição. Porém ele parecia, Que aos poucos esmorecia, Penando e na minha mão. * Se o bruto ficou domado, Isto não posso dizer. Só sei que segue meu rastro Isto posso perceber, Escuto seu relinchar Porém só volto a montar Atendendo o meu querer. * Versos e foto de Dalinha Catunda
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quinta, 09 de julho de 2020
A JUREMA É PRA CARVÃO (CORDEL DE DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
A JUREMA É PRA CARVÃO
Dalinha Catunda
* Estaca não me ofereça Que não tenho precisão Quando comprei meu roçado Eu cerquei foi com mourão E pra você não pular Na cerca mandei plantar Muita urtiga e cansanção. * Aqui na minha fazenda Tem angico e imburana Não me falta sabiá Só não quero pé de cana Não venha com: ora poxa! Pois sua jurema roxa Aqui não é soberana. * Para falar a verdade E acabar a discussão A sua jurema roxa Só serve para carvão Eu não tenho fogareiro E só uso marmeleiro Como lenha em meu fogão. * Versos e fotos de Dalinha Catunda
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco domingo, 05 de julho de 2020
MEU JEITO AGRESTA (CORDEL DE DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
MEU JEITO AGRESTE
Dalinha Catunda
. Não nasci de sete meses, Não sou mulher assustada. Nunca fui guia de cego Mas sou bem desaforada. O meu nome é Dalinha, Outro melhor não tinha Para ser eu retratada. . Não sou de dizer amém Cabeça não sei baixar. Tenho nariz empinado Não sou de me rebaixar. Tenho cabelos na venta Meu pirão é com pimenta Que arde para danar. . Nasci no meu Ceará O meu chão é Ipueiras. Adoro o meu Nordeste. Sou da ala das guerreiras. Preservo meu ar agreste, Já peguei cabra da peste, Nele coloquei coleiras. . E quem quiser me seguir Que acompanhe meu passo. Nem devagar nem ligeiro, Pois eu tenho meu compasso. Aprendi lá no sertão, A pisar em qualquer chão Nem fico nem ultrapasso. . Eu sou abelha Dalinha, Sou doce e de amargar. E se hoje oferto mel Também posso ferroar. O meu mel e meu ferrão, Conforme a situação Sou obrigada a usar. . Gosto de ser instintiva Não queira me adestrar. Este meu jeito agreste Eu trouxe do meu lugar. Tenho lá minha doçura Porém só mostro ternura Se de fato me encantar. . Foto e versos de Dalinha Catunda
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco sábado, 04 de julho de 2020
A ROLA DA CONCEIÇÃO (CORDEL DE DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
A ROLA DA CONCEIÇÃO
Dalinha Catunda
1
Conceição mulher católica
Filha de Dona Prazer
Era uma moça sem vício
Vivia o povo a dizer
Mas arrumou uma rola
Pra com ela se entreter.
2
Quando baixou no terreiro
A rola desmilinguida
Conceição logo gostou
Daquela pomba perdida
Resolveu dela cuidar
E já estava decidida.
3
Dona Prazer espantou
A pomba que apareceu
Porém Conceição com pena
A dita cuja acolheu
Foi na mão de Conceição
Que aquela rola cresceu
4
A moça meio inocente
Deu logo casa e comida
A rola desenvolveu
E foi ficando sabida
Conceição se emocionava
Ao ver a rola crescida.
5
A pomba ficou vistosa
Com carinho era tratada
Logo se via que a rola
Era bem alimentada
Quem vê hoje nem percebe
Que um dia fora enjeitada.
6
Conceição passava o dia
Paparicando a tal rola
Era uma pomba manhosa
Que fazia ela de tola
mas quando a rola sumia
Ela dava até "pirôla."
7
A mãe já tinha era nojo
Vendo o chamego danado
Porque onde a filha ia
Levava a pomba do lado
E por onde ela passava
Se ouvia o cochichado:
8
A moça perdeu o juízo
Depois que adotou a pomba
E nem percebe que a rola
Muitas vezes dela zomba
Quando alguém vai avisar
Conceição fica de tromba.
9
Sei que deu o que falar
O grude de Conceição
O povo já comentava
E a mãe passava sermão
Mas ela apenas dizia
A rola é de estimação.
10
Diante dos comentários
Uma mãe acabrunhada
Testemunha do destroço
Mas sem poder fazer nada
Pensava com seus botões
Minha filha está lascada.
11
O pior de tudo isso
Eu agora vou contar
Lá na casa da vizinha
A rola foi se enfiar
Para ver seu periquito
Que era muito popular.
12
O certo é que Conceição
Faltava era ficar louca
Quando a rola escapulia
Gritava de ficar rouca
E esculhambava a vizinha
A briga não era pouca.
13
Tenha vergonha na cara:
Dizia Dona Pureza
Deixe de lado essa pomba
Que anda de safadeza
Aqui não vai mais entrar
Pois já chega de esperteza.
14
Mamãe quero minha rola
Sem ela vou padecer
Essa rola é minha vida
O meu maior bem querer
Sem minha pomba querida
Não tem graça o meu viver.
15
A rola de Conceição
Era uma rola fujona
Agora estava aninhada
Mas no colo de outra dona
Pois gostou do periquito
Da tal vizinha ladrona.
16
Aquela rola-cabocla
Deu desgosto a Conceição
Por causa da rola-grande
Sofria seu coração
Com raiva da rola-roxa
Chegou a ter depressão.
17
Eu só sei que a pomba-rola
Não largava o periquito
Dona Pureza lutava
Para abafar o conflito
E a vizinha debochada
Botava fogo no atrito.
18
Dona Pureza zangada
Deu uma de ignorante
E foi dizendo pra filha
Com raiva naquele instante
Pare de chorar por rola
Pois toda pomba é migrante.
19
E se hoje uma rola vai
Depois outra rola vem
Você gostou dessa pomba
Vai gostar d`outra também
Pare com tanta lamúria
Pois isso não fica bem.
20
Aquilo era uma pombinha
Era só uma avoante
Aquelas pombas de bando
Era rola retirante
Vai largar o periquito
E vai seguir adiante.
21
Eu já peguei muita rola
Com esse meu alçapão
Porém não prendi nenhuma
Meu oco não foi prisão
Rola a gente cria é solta
Voando na imensidão.
22
Esqueça a rola-cabocla
Pare com essa tristeza
No quintal eu ouço arrulhos
Pelo jeito é de burguesa
Escute o que está dizendo
Sua mãe dona Pureza.
23
Conceição foi se acalmando
Logo parou de chorar
Olhou para o cajueiro
Viu a burguesa arrulhar
E armou seu alçapão
Para a burguesa pegar.
24
Não chore pombas perdidas
Porque as pombas se vão
Isso já disse um poeta
Eu prestei bem atenção
Aproveite pra voar
Dê asas ao coração.
*
Cordel de Dalinha Catunda
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 24 de junho de 2020
QUEM VIVE, SALTOU FOGUEIRA - E EU GRITO: VIVA SÃO JOÃO!
QUEM VIVE, SALTOU FOGUEIRA E EU GRITO: VIVA SÃO JOÃO!
Dalinha Catunda
Meu povo, vou festejar, Vou buscar minha alegria, Entocar melancolia, Medo não vai me acuar. Se quiser pode chegar, Para essa celebração, Em nome da tradição Entre nessa brincadeira: QUEM VIVE, SALTOU FOGUEIRA E EU GRITO: VIVA SÃO JOÃO. * Mote e glosa de Dalinha Catunda
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco segunda, 15 de junho de 2020
SÃO JOÃO VIRTUAL (CORDEL DE DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
SÃO JOÃO VIRTUAL
Dalinha Catunda
Hoje sofro sem São João, Sem fogueira, sem balão, E o canto do meu amor. Retirando seu chapéu, Dizendo: Olha pro céu, Repare quanto esplendor!
Chegou a praga, a desdita, Chegou a peste maldita, E acabou nossa ilusão Fiquei sem meu arraial Pois agora é virtual Nossa festa e tradição.
Embora fique bem triste Meu coração não resiste E me pede pra cantar. E eu entro na brincadeira Acendo minha fogueira E meu facho pra brincar.
Para seguir nova meta Convido cada poeta A fazer sua oração Vamos rimar alegria Fazer versos com poesia Para festejar São João.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quinta, 11 de junho de 2020
ESBOCE SEU NAMORADO (CORDEL DE DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
ESBOCE SEU NAMORADO
Dalinha Catunda
Se você tem seu marido Faça dele um namorado Não permita que a rotina Torne o laço fracassado Seja de cama e de mesa Demonstre sua destreza Que terá bom resultado. * Brigar por pequenas coisas, Só faz você rabugenta. Mulher cheirando a gordura Homem nenhum aguenta. Se arrume fique cheirosa Ele vai notar a rosa Que pra ele se apresenta. * Tem mulher que só reclama Mas não faz a sua parte. A vida a dois eu garanto, Só flui levada com arte. Eu não tenho pretensão De disseminar sermão Isto foi só um aparte.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco sexta, 05 de junho de 2020
SEM PÂNICO NA PANDEMIA (CORDEL DE DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
Caro amigo, larguei tudo E vim pra roça, porém, Esse não é o meu sítio É a fazenda do meu bem. Por aqui a gente trepa, Dia sim outro também, Pra tirar fruta do pé Sem pedir nada a ninguém. Aqui tem pomba, tem rola, Mas me faz falta o vem vem, Tem cobra rondando a casa, Perereca, há mais de cem. O frio aqui está grande, Chuveiro quente não tem, Às vezes é complicado, Para lavar o sedém, Entretanto dou meu jeito Garanto não fico sem. Pra fugir da Pandemia Faço tudo que convém Faço prece e uso máscara Rogo a Jesus de Belém Faço figa e simpatia Se preciso vou além.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco sábado, 30 de maio de 2020
Eu já perdi o juízo Porém doida não fiquei; Maus momentos já passei Mas do pranto fiz sorriso Do inferno fiz paraíso., Da moda que eu fiz uso É mel em que me lambuzo E fez minha rima fosca: “Uma porca perde a rosca Mas não entra em parafuso”
Bastinha Job
* * *
Sempre fui muito teimosa Assim minha mãe dizia. Dessa minha teimosia Nunca ficou orgulhosa. Eu seguia toda prosa, Deixando o povo confuso, Destilava meu abuso, Com minha linguagem tosca: “Uma porca perde a rosca Mas não entra em parafuso”
Dalinha Catunda
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 27 de maio de 2020
MOTE E GLOSA (CORDEL DE DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
DE MORTA ESTOU ME FAZENDO PRA VIDA NÃO ME MATAR. * O Mundo inteiro parou Com esse vírus mortal Sem prazo pro seu final Só angústia nos restou Mas levando a vida vou Sem alarde propagar A todos tento animar Mas meu peito está doendo: DE MORTA ESTOU ME FAZENDO PRA VIDA NÃO ME MATAR.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco domingo, 17 de maio de 2020
REDE NO ALPENDRE (CORDEL DE DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
REDE NO ALPENDRE
Dalinha Catunda
Uma rede num alpendre E um ventinho sedutor Vento que vem do açude Para abanar meu calor São delícias que desfruto Quando estou no interior. * Vejo um bando de marrecas Voando ao entardecer Num mágico ritual Giram antes de descer Para pernoitar nas águas, Como costumam fazer. * No balançado da rede No sertão é lindo ver O fim do dia chegando Com o sol a esmorecer, Cedendo lugar à lua Que não tarda a aparecer. * Um bando de pirilampos Bordando a escuridão Enriquecem o cenário, Das noites do meu rincão Da minha rede eu vejo Quão mágico é meu sertão!
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco segunda, 11 de maio de 2020
SOU DA LINHA DO CORDEL (CORDEL DE DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
SOU DA LINHA DO CORDEL
Dalinha Catunda
Sou Cordel de Saia Cordel de vestido Cordel feminino Cordel atrevido Cordel de Calcinha Cordel de Dalinha Cordel divertido. * Sou manha e gracejo Sou verso ladino Sou canto nascido No chão nordestino Sou nesse universo Cabocla do verso Santo e libertino. * Sou alma do verso Sou rima no ar Sou dedos que contam Pra metrificar Sou inspiração Dou voz a oração No palco a cantar.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco sábado, 09 de maio de 2020
SONETILHO DE AMOR (POEMA DE DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
SONETILHO DE AMOR
Dalinha Catunda
Às vezes sou lua Que nua vagueia A todos enleia Porém sou só sua. * Ás vezes sou sol Trazendo calor Derreto de amor Em nosso lençol. * Às vezes sou brisa Que ofega em seu rosto, Ladina lhe alisa. * E sempre sou nós Depois do sol posto Juntinhos e a sós…
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco segunda, 04 de maio de 2020
PRECISO DO SEU CHEIRO (CORDEL DE DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
PRECISO DO SEU CHEIRO
Dalinha Catunda
Quando por mim você passa Eu viro mulher feliz Tão cheiroso e provocante Que logo acendo o nariz E deixo seu cheiro entrar Só para me deleitar Pois sou mulher de raiz. * Se sempre acordo bem cedo É pra provar seu sabor O meu paladar exige Antes que eu vá ao labor Ter você sempre bem quente Alertando minha mente Provocando meu calor. * Para ter você comigo Caminho léguas o pé Vou até o fim do mundo E não perco minha fé De provar do meu neguinho Nem que seja um golinho Sou viciada em café! * Foto e versos de Dalinha Catunda.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco sexta, 01 de maio de 2020
BONEQUINHAS DE PANO (CORDEL DE DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
BONEQUINHAS DE PANO
Dalinha Catunda
Para ocupar os meus dias E alegrar minha rotina Não me falta o que fazer. Tenho a arte nordestina, E a estrela do meu plano, É a boneca de pano, Que batizei de Delfina.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 29 de abril de 2020
NOS BRAÇOS DO FURACÃO (CORDEL DE DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
NOS BRAÇOS DO FURACÃO
Dalinha Catunda
* Em noite fria de outono De luar encantador A lua cheia brilhava Mostrando seu esplendor A noite estava tão bela Entreabri a janela Com meu ar contemplador * Ao apagar o abajur Ensaiando pra dormir Um rumor vindo de fora Eu imaginei ouvir Acheguei-me ao travesseiro Porém despertei ligeiro E vi meu sono sumir. * Foi quando ele sorrateiro No meu quarto penetrou E sem que eu me desse conta Nesse ambiente se espalhou Bem de leve me roçava Num sopro que acarinhava E o meu corpo despertou. * Chegou brando e carinhoso Confesso me satisfez Encantava-me a meiguice Afagando a minha tez E não achei que era abuso A visita desse intruso Oportunista talvez. * Inteiramente à vontade Eu me deixei seduzir Ele entrava, ele saía E eu gostando do ir e vir Cada vez que penetrava O meu corpo arrepiava meu anseio a consentir. * Foi visita relaxante Até um dado momento Ficou mais audacioso Intenso no movimento Meus cabelos, desmanchou Os lençóis, desarrumou Transformou-se totalmente. * Daí eu me levantei Tentando uma solução Tentei fechar a janela Mas faltou força na mão Depois desse vento forte Quase que perco meu norte Nos braços de um furacão.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco quarta, 29 de abril de 2020
SERTANEJA, SIM SENHOR! (CORDEL DE DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
SERTANEJA, SIM SENHOR!
Dalinha Catunda
Sabia que era arisco
O fogoso alazão.
Resolvi correr o risco,
Sem medo de ir ao chão.
Peguei chicote e espora
Montei o bicho na hora
Sem medo ou indecisão.
*
Ele quis titubear,
Mas cutuquei do meu jeito.
Peguei bem firme nas rédeas,
Pois me achei no direito.
Atendendo meu comando
Obedecendo meu mando,
Ele foi quase perfeito...
*
Inda quis se rebelar,
Mas de nada adiantou.
De seus movimentos bruscos
Minha mão se encarregou.
Fui feliz na maratona,
Mostrei quem era sua dona.
E ele se conformou.
*
Do que compro e pago caro,
Bom retorno sempre quero.
A manha,a birra e o coice,
De fato eu não tolero.
Do cavalo eu não caio
Só tenho medo de raio,
No resto eu acelero.
*
Bicho que eu não domino,
Confesso não dou guarida,
O meu sangue nordestino
É que me faz aguerrida.
Eu só não sou cangaceira,
Por ser metida a faceira,
Porém sou bem atrevida.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco terça, 28 de abril de 2020
DIA DA SOGRA - 28 DE ABRIL - BALAIO DE SOGRA, CORDEL DE DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
BALAIO DE SOGRAS
Dalinha Catunda
BALAIO DE SOGRAS * Aqui neste meu balaio Amigo, muita atenção. Tem sogra pra todo gosto, Tem muita reclamação! Não é minha a grosseria Eu faço apenas poesia, Sou voz da população. * Mas também tem elogios E boa declaração, De quem adora a sogra Por ela tem afeição. Porque tem sogra querida Sendo também exibida Nesta minha explanação. * Eu ainda não sou sogra Porém um dia vou ser. Vou tratar a minha nora, Do jeito que merecer. Se for pessoa educada, Serei sogra camarada E confesso, com prazer! * Agora quero falar, Da sogra de muita gente. Dos que detestam a sogra E de quem está contente. Há sogra que ninguém quer, Mas tem a boa mulher Que não é sogra é presente. * Ao olhar pra minha sogra Bate em mim uma aflição, Vejo que minha mulher, Tem dela a mesma feição. A coroa era ajeitada Mas agora pregueada Está parecendo o cão. * Se ter sogra fosse bom, Uma teria Jesus. Mas antes de se casar Morreu pregado na cruz. E deixou para os terrenos As sogras e seus Venenos Coisa que não me seduz. * Pra sogra do meu marido, Faço versos, faço loa. Neste mundo nunca vi, Uma sogra assim tão boa. É um poço de ternura, Essa gentil criatura Maravilhosa pessoa. * Minha sogra diz que é boa, Mas na verdade é cruel. Sua palavra mais doce, Amarga mais do que fel. Estou vivendo um tormento, Conflito no casamento, Por causa da cascavel. * Vou pagando meus pecados Desde quando me casei. Uma sogra como a minha, Ter eu nunca imaginei. É sebosa, fuxiqueira, E metida a presepeira, Da velha já me cansei. * Minha sogra é divina! A coroa é um mulherão. Não vou dizer que é um Boeing, Contudo é um avião. É uma coroa sarada E já foi recauchutada, Porém dá um bom pirão. * De sogra quero distância. Ela não vem no pacote. Se ela mora no Sul, Eu volto para meu Norte. Pois sogra não é parente Dizem que é só aderente, É praga ou falta de sorte. * Minha sogra é ignorante, Minha mulher diz te arreda. A sogra mandei pro diabo, A mulher mandei a merda. Nas duas baixei a lenha, Tem lei Maria da Penha, Porém a justiça é lerda. * A minha sogra é bondosa, Comparo a virgem Maria. Mãe duma santa Mulher, Que só me trouxe alegria. Quando resolvi casar, E subir naquele altar, Acertei na loteria. * Coitado do meu sogro Sofre com a mulher que tem, Eu, aqui na minha casa, Sofro com a minha também. Tanto a mulher como a sogra São da família de cobra, Das que mais veneno tem. * Minha sogra quando ri Parece que faz careta. Totalmente desdentada Tem a cara do capeta. Pernas, só vendo a finura Parece uma saracura, Inda por cima é zambeta. * De cobra bem venenosa, Também de bruxa malvada, A coitadinha da sogra, Muitas vezes é chamada. Mas às vezes é tão boa Tão gentil como pessoa Que pela nora é amada * Sogra boa eu lhe digo, É igual a macaxeira, Só presta bem enterrada Não estou dizendo besteira A que lá em casa tenho, E que até hoje mantenho Já puxou até peixeira.
Dalinha Catunda - Eu Acho É Pouco segunda, 27 de abril de 2020
ENTRE COBRAS E POMBAS (CORDEL DE DALINHA CATUNDA, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
ENTRE COBRAS E POMBAS
Dalinha Catunda
A vida tem altos e baixos Tem curvas e tem manobras Existe a pomba da paz Mas também existem cobras Desde o tempo de Adão Perdura a situação Deus sentiu em suas obras. * Sempre existe um Deus de paz Outro para combater A vida é feita de lutas Sempre ouvi alguém dizer A batalha é permanente Por isso não me apoquente Não penso em esmorecer. * Eu vou fazendo poesia Porque tenho munição E na boca do fuzil Ponho a flor da salvação Faço rima, faço verso, Navego neste universo Que é composto de oração.