Almanaque Raimundo Floriano
Fundado em 24.09.2016
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, dois genros e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Domingo – Dia de Matinê no Cinema Local domingo, 20 de outubro de 2024

MATAR OU MORRER (1952) – UM CLÁSSICO DO WESTERN AMERICANO

HOJE: FAROESTE

MATAR OU MORRER (1952) – UM CLÁSSICO DO WESTERN AMERICANO

Gentileza do Colunista Cícero Tavares

 

Realizado num período de perseguição política nos Estados Unidos (o macarthismo) e roteirizado por John W. Cunningham e Carl Foreman, um dos nomes da lista negra do senador Joseph McCarthy, High Noon (1952), ou Matar ou Morrer, tem no diretor Fred Zinnemann seu primeiro desafio, tornando o primeiro ponto notável dos bastidores desta obra-prima, que foi concebido como uma resposta simbólica ao “caça às bruxas” e à cisão que então se estabelecia em Hollywood.

 

 

Na pacata cidade de Hadleyville, no Novo México, quando o Xerife Will Kane, interpretado magistralmente pelo ator Gary Cooper, está prestes a se casar com a protestante, a jovem e belíssima Grace Kelly, recebe a notícia de que Frank Miller, interpretado pelo ator Ian MacDonald) – o psicopata que Kane havia prendido anos atrás – foi solto da prisão e estava preste a chegar no trem do meio-dia à cidade para a desforra.

Enquanto os três mais odiosos cúmplices de Miller esperam na estação, o Xerife tenta conseguir ajuda. Os habitantes da cidade se recusam a arriscar suas vidas por medo de vingança. Vários relógios revelam que o meio-dia está se aproximando. “Matar ou Morrer” se passa em tempo real, com a hora fatal se aproximando enquanto a música-tema, a balada “Do Not Forsake Me, Oh My Darling”, insiste em frisar os acontecimentos. Will Kane é deixado praticamente sozinho contra quatro vilões.

O assassino solto deve chegar a bordo do trem do meio-dia. Frente aos sentimentos conflitantes da população, ao desamparo por parte de seus antigos colaboradores e, especialmente, às súplicas de sua esposa, o Xerife enfrenta um dilema praticamente sem solução.

Esse é o pano de fundo que Fred Zinnemann utiliza para desenhar um painel do fim anunciado da época das conquistas. Os personagens são protagonistas inconscientes de seu próprio papel. Will Kane representa o desbravador, o precursor, o próprio espírito da colonização. Não por acaso ele está velho e prestes a se aposentar. Seu adversário, Frank Miller, não é um dos tradicionais vilões do velho oeste, cujo único fim era a morte, em combate ou na forca. Ele foi preso, julgado, sentenciado a passar a vida na cadeia, mas foi libertado.

Não se sabe por que ele foi solto, nem o filme se presta a dar um motivo concreto. Só se sabe que, em algum lugar longe dali uma espécie diferente de justiça se fez, e essa justiça colocou em liberdade um homem cuja primeira atitude é juntar-se aos seus capangas e buscar vingança. É nos personagens secundários, habitantes da cidade, entretanto, que se encontra a parte mais interessante da metáfora elaborada aqui.

Observando com atenção, percebe-se que neles a coragem foi substituída por precaução e o espírito aventureiro deu lugar ao desejo de estabilidade. Por mais que se envergonhem disso, os homens do povoado não reúnem em si a força para ajudar o xerife, entregando-o ao que todos consideram sua morte certa – ou seu suicídio, como descrevem alguns, o que seria uma forma de eximir-se da culpa por manter os braços cruzados. Um dos moradores da cidade chega a dizer: “Nós pagamos um bom salário ao Xerife e seu ajudante. Eles que resolvam”. A função do novo cidadão urbano seria, portanto, a de pagar seus impostos e esperar que os problemas desapareçam. Nada mais de iniciativa, nada de participação direta. Eles que resolvam o abacaxi.

A ganância também aparece aqui modificada pela nova ordem. Não são mais terras ou gado que interessam, os desejos da população da cidade são mais, digamos, atuais. O hoteleiro diz não gostar do Xerife, pois antes da chegada da lei e da ordem havia mais movimento em seu hotel. Eis uma crítica ao capitalismo selvagem, ao qual não importa que todos se matem, contanto que isso traga lucros. Já o assistente do Xerife recusa-se a ajudá-lo por não ter sido indicado para substituí-lo. Um novo Xerife chegaria à cidade no dia seguinte.

Nesse caso a cobiça é pelo cargo, e aqui, melhor do que em qualquer outro ponto, percebe-se que os tempos não são mais de força e coragem, mas de política e barganha. Eis que, como resultado de tudo isso, Will Kane é abandonado. Para que não se diga que os aspectos artísticos da obra não foram citados, vale lembrar que tanto a trilha sonora quanto a música tema cabem perfeitamente no filme, colaborando bastante para criar uma atmosfera de conflito interno no protagonista.

Gary Cooper oferece uma atuação na medida certa, sem exageros, mas que passa ao espectador a angústia de encontrar-se na situação em que se encontra. Há ainda algo de revigorante no papel da mulher em “Matar ou Morrer.” Também aqui se poderia dizer que o filme é precursor, mas seria difícil fazê-lo sem explicitar demasiadamente a conclusão da história. O mais importante é que a cena final representa o ocaso de uma era.

É verdade que a colonização não termina com o desfecho do personagem de Gary Cooper. Seu fim, porém, havia sido anunciado. O tempo de coragem, da marcha ao desconhecido, da vida e da morte pela força e pelas armas estava agonizando. A aventura do velho oeste chegava ao fim.

Não é à toa que “Matar ou Morrer” é considerado o segundo melhor western de todos os tempos pelo American Film Institute. Um filme inteligente, angustiante e que merece ser assistido por várias vezes. É simplesmente fantástico pelo seu caráter alegórico e revolucionário.

Esse foi um filme muito polêmico quando lançado nos States, principalmente por motivos políticos. O roteirista foi acusado pelos artistas e esquerdistas de ter incluído no roteiro passagens antidemocráticas, antiamericanas. Inclusive esse filme foi muito criticado por ninguém nada menos que o famoso cowboy John Wayne, que afirmava que o filme era antiamericano e não era um filme western e sim uma agressão à democracia estadunidense.

Causou tanta polêmica que foi até citado pelo presidente Ronald Reagan durante um dos seus pronunciamentos transmitidos pela TV. Mas apesar de toda controvérsia o filme foi um grande sucesso de crítica e de público, chegando a conquistar quatro oscars.

O filme é considerado um clássico do cinema, pois inova na abordagem do conflito em um plano mais psicológico e pela carga de suspense nele contido.

A fotografia é primorosa, de uma qualidade surpreendente, em glorioso preto e branco, ganhadora do prêmio oscar de melhor fotografia do ano.

O elenco é surpreendente. O papel principal foi antes oferecido aos atores Marlon Brando e Montgomery Clift que recusaram participar do filme por vários motivos, sendo o principal dele o recebimento de uma quantia muito irrisória para atuarem em papéis muito importantes, pois a quantia posta à disposição pela produção foram meros de setecentos mil dólares, uma quantia irrisória para um filme com grande elenco, mesmo para os tempos antigos, (1952).

Há de se notar que durante todo o filme, aparecem diversos relógios, todos marcando os minutos antecedentes ao meio dia. O filme é todo feito no horário real e essas cenas com os relógios têm grande impacto visual e bastante suspense, pois cada minuto antes do meio dia é de muita angústia para o personagem principal, o Xerife Cooper, pois todos os habitantes da cidade negam-se covardemente a ajudá-lo a combater com os bandidos vingadores, que vão chegar no trem das doze horas em ponto, com a intenção de matá-lo. Cada relógio em si se torna um dos personagens como testemunhas coadjuvantes do filme em questão.

Após o duelo final, o Xerife é elogiado pelos moradores da cidade que pedem para ele permanecer na cidade como defensor da lei. Nessa hora, o xerife faz uma cara de nojo e joga ao chão a estrela de xerife, num gesto de desprezo pela covardia dos habitantes que se recusaram a ajudá-lo a enfrentar os bandidos.

Esta cena, na época do lançamento do filme, foi muito criticada pelo ator John Wayne, que achou uma ofensa aos defensores da lei, que um xerife jogasse ao chão uma estrela que representava uma autoridade e ele achava também que com a cena ele estava jogando ao chão a estrela americana da democracia. Tudo picuinha política, isso porque o roteirista (Carl Foreman) tinha sido em prisca época membro do partido comunista americano. O macarthismo estava presente em toda esquina estadunidense. Era a época da caça às bruxas.

Nesse caso, ninguém contestou o gesto do Xerife, o que comprova que a política deturpa tudo e John Wayne sempre foi um “cowboy” político.

O resultado final do filme é primoroso, um grande diretor Fred Zinnemann, um grande ator Gary Cooper, que já tinha sido previamente ganhador de um Oscar, a atriz novata Grace Kelly e um elenco de apoio com celebridades, todas muito atuantes e muito experientes na atuação de filmes de faroeste, tais como: Thomas Mitchell, lloyd Bridges, Katy Jurado e Lee Van Cleef, é sem dúvida um dos melhores filmes western de todos os tempos.

Um grande clássico, tão grande como “Shane” (1963), do competente diretor George Stevens, ou “Rastros de Ódio” de (1956), do lendário John Ford, que são as melhores referências no padrão de qualidade do western americano.

Trailer Legendado

 


Domingo – Dia de Matinê no Cinema Local domingo, 13 de outubro de 2024

O HOMEM QUE NÃO VENDEU SUA ALMA (1966) – UMA OBRA-PRIMA DE ZINNEMANN

FILME HISTÓRICO, DE ÉPOCA, BASEADO EM FATOS REAIS

O HOMEM QUE NÃO VENDEU SUA ALMA (1966) – UMA OBRA-PRIMA DE ZINNEMANN

Gentileza do Colunista Cícero Tavares

 

Versão saída em Blu-ray

Na Inglaterra do século XVI, Henrique VIII (Robert Shaw) planejava se separar de sua primeira esposa para se casar com a fogosa (e bota fogosa nisso!!) Rainha Ana Bolena (Vanessa Redgrave), mas não recebe a aprovação de Thomas Morus (Paul Scofield), numa atuação soberba, impagável, um fervoroso católico que se tornou “Lord Chanceler”, um altíssimo posto que ele preferiu renunciar do que trair suas convicções. Entretanto, a importância de Sir. Thomas Morus era tão grande à época que mesmo após sua renúncia o rei continuou o perseguindo. Até que surgem “provas” que o incriminam como alta traição, um “crime” punido com a morte, sendo decapitado na Torre de Londres no dia 6 de julho de 1535, “antes das nove horas.”

(A MAN FOR ALL SEASONS (1966), ou O Homem Que Não Vendeu Sua Alma, é o primeiro de dois filmes em que o diretor Fred Zinnemann e a atriz Vanessa Redgrave trabalharam juntos. O posterior foi Julia de (1977). O ator Paul Scofield recebeu o Oscar de melhor ator pela atuação primorosa, mas não compareceu à cerimônia de entrega por ser avesso a comemorações. Com isso, sua estatueta de melhor ator foi recebida por Wendy Hiller, sua companheira de elenco. O orçamento do filme foi de US$ 3,9 milhões. Teve a sua refilmagem em (1988) com o mesmo título pelo ator e diretor Charlton Heston, que já havia trabalhado como ator principal em grandes clássicos do gênero, como Os Dez Mandamentos (1956), Bem-Hur (1959), O Planeta dos Macacos (1968), dentre outros. O homem que não vendeu sua alma ganhou nova versão e não decepcionou.

Como era de se esperar, um filme com esse objetivo e, ainda por cima, baseado diretamente em uma peça de teatro que seu próprio autor, Robert Bolt, transformou em roteiro cinematográfico, simplesmente não poderia primar pela ação no sentido mais esperado da palavra. Ela inexiste aqui e tudo, absolutamente tudo, recai no colo do incomparável trabalho dramático de Paul Scofield, no papel principal.

O ator, que começou sua vida artística no teatro, onde permaneceu focado praticamente a vida inteira, apesar de ter também aparecido em alguns filmes, viveu Thomas Morus na peça de Bolt tanto no West End de Londres, área da Região centro de Londres, Inglaterra, onde contém muitas atrações turísticas, quanto na Broadway, em Nova York. E foi a escolha do diretor Fred Zinnemann para viver o papel também nas telonas. No entanto, a produtora considerou que Paul Scofield não tinha nome para atrair audiência para o filme, com Richard Burton e Laurence Olivier sendo considerados para o papel. No entanto, o cineasta insistiu em sua escolha, brigou, ajudado por Bolt, especialmente depois que ele havia levado para casa o Tony de melhor ator justamente por seu trabalho na Broadway como Morus, em 1962.

Essa escolha foi extremamente acertada pelo diretor Fred Zinnemann. Paul Scofield interpretou Thomas Morus com um vigor impressionante, demonstrando com olhares, gestos e pequenos trejeitos corporais uma latitude dramática que vai da alegria em ver sua esposa no final de um dia estafante, passando pela surpresa e leve – mas elegante – desgosto em ver sua filha com um pretendente luterano e pelo encontro com seu amigo e rei nos jardins de sua moradia, até a veemente negativa em endossar o posicionamento do rei sobre o divórcio e novo casamento sem a benção do Papa.

O diretor Fred Zinnemann, por seu turno, não perde a oportunidade de manter sua câmera sempre parada e mirada no rosto de Paul Scofield em toda sua intensidade e profunda inteligência, construindo um personagem espetacular logo nos primeiros minutos da projeção, quando demonstra muito claramente sua integridade primeiro como advogado e, depois, como chanceler real.

O trabalho do ator Paul Scofield em O Homem Que Não Vendeu Sua Alma é um dos mais impressionantes trabalhos dramáticos da Sétima Arte, transformando um filme que é quase que completamente um teatro filmado e que, portanto, pode facilmente descambar para a monotonia, em uma obra realmente inesquecível, daqueles em que cada cena com a presença de Paul Scofield é um momento de se aplaudir. Sua presença é tão magnética e profunda, aliás, que todo o restante do elenco desaparece, até mesmo a espalhafatosa ponta de Robert Shaw como Henrique VIII e a assustadora aparição do imponente Orson Welles como o Cardeal Wolsey. Mesmo os atores que tem mais presença de tela, como John Hurt como Richard Rich e Leo McKern como Thomas Cromwell, por melhor que sejam os atores – e são mesmo excelentes – mínguam diante de Paul Scofield e a retitude moral e ética de Morus.

A equipe técnica que cuidou de O Homem que Não Vendeu sua Alma também não decepcionou. Figurinos corretamente suntuosos vestem o elenco que passeia por cenários em locação e alguns poucos construídos especialmente para o filme que se funde em um conjunto harmônico preciso que muito corretamente não tem nenhuma intenção de chamar atenção para si mesmo, deixando todo o espaço para que Paul Scofield e o restante do elenco brilharem como devem brilhar. A fotografia de Ted Moore, conhecido por seu trabalho na franquia 007, faz as cores ressaltarem da mesma maneira que ele as suga na medida em que o drama de Morus se torna cada vez mais sem saída, algo que a equipe de maquiagem e cabelo se esmera também em apontar.

Retratando um dos mais significativos momentos da história britânica sob o ponto de vista de um grande homem, o filme O Homem Que Não Vendeu Sua Alma é ao mesmo tempo uma aula de dramaturgia e cinema e de estadismo em sua forma mais pura. Todo político ou pretendente a político deveria no mínimo ser obrigado a absorver as lições que o Morus de Scofield passa aqui (já que pedir que estudem Thomas Morus talvez seja demais). O mundo político com certeza seria melhor mesmo se apenas um décimo da moralidade e honestidade do personagem fossem internalizadas.

“O Homem Que Não Vendeu Sua Alma” é uma grande lição de moral e ética que o diretor Fred Zinnemann nos deixou como legado.

Trailer O HOMEM QUE NAO VENDEU SUA ALMA, de Fred Zinnemann, COLUMBIA, 1966.

 

 

 

 


Domingo – Dia de Matinê no Cinema Local domingo, 14 de julho de 2024

ERA UMA VEZ NO OESTE (1968) – UMA OBRA-PRIMA (POSTAGEM DO COLUNISTA CÍCERO TAVARES)

HOJE: FARWEST

ERA UMA VEZ NO OESTE (1968) – UMA OBRA-PRIMA

Gentileza do Colunista Cícero Tavares

 

 

No dia 11 de julho de 1968, estreou nos cinemas alemães “Era uma Vez no Oeste”, de Sergio Leone. O filme se tornou um clássico não só pelo seu enredo espetacular, mas também graças ao elenco e à trilha sonora.

 

 

Três homens numa estação ferroviária, à espera de alguém. De quem, o espectador no cinema não sabe. Os minutos correm. O suor dos homens contagia os espectadores, o suspense torna-se quase insuportável. Gotas d’água e moscas transformam-se em instrumentos de tortura. As imagens em close up dominam a tela.

Então, o primeiro diálogo, icônico:

– Onde está Frank?

– Frank não tinha tempo.

– Vocês têm um cavalo para mim?

– Ha, ha, olhando em volta, eu só vejo três. Será que temos um a menos?

– Vocês têm dois a mais.

O próprio início de Era uma Vez no Oeste tornou-se legendário, um mito do cinema moderno, narra o crítico de cinema Jochen Kürten. E completa: a ele somava-se uma trilha sonora incomparável: poucas músicas na história do cinema foram tão marcantes como a composta pelo italiano Ennio Morricone. Sob diversos aspectos, Era uma Vez no Oeste consagrou-se como um clássico do cinema e um modelo de filme: música, encenação, direção, fotografia – em tudo isso, o filme criou um novo padrão em 1968.

Com o seu filme Por um Punhado de Dólares, o diretor Sergio Leone inventara o gênero denominado de spaghetti western, o qual ele próprio consolidaria com duas continuações. Com Once Upon a Time in the West (título original de Era uma Vez no Oeste), Leone voltou a criar uma obra-prima de caráter próprio, mesclando a mitologia do faroeste americano com a ópera europeia.

Era uma Vez no Oeste é a narração de uma viagem a um país distante, que se chama Estados Unidos da América. Mas refere-se a uma “Atlântida”, a um paraíso perdido. Leone trouxe da sua viagem as imagens da terra prometida, imagens de um anseio, de um sonho. Ele interligou essas imagens com os recursos de uma forma mediterrânea de expressão artística, a ópera. No seu dicionário do filme de faroeste, o crítico Joe Hembus atribuiu a Era uma Vez no Oeste a mesma afinidade com Giuseppe Verdi presente em John Ford.

A história narrada pelo filme é bastante conhecida. O caladão Charles Bronson, cujo personagem não tem nome no filme, busca vingança. Quando criança, ele fora testemunha de um ritual macabro de assassinato, sendo obrigado a tocar uma canção na gaita-de-boca enquanto o seu pai era enforcado.

Paralelamente, Leone conta também a história da conquista do Oeste pela ferrovia, a história da linda prostituta Jill (Claudia Cardinale), do bandido Frank (Henry Fonda) e do velhaco de boa índole Cheyenne (Jason Robards), em imagens belíssimas e diálogos lacônicos, que são tão simples como verossímeis:

– Ninguém sabe o que o futuro trará. Por que eu estou aqui? Eu quero a fazenda ou a mulher? Não. Você é o motivo. E vai me dizer agora quem você é!

– Algumas pessoas morrem de curiosidade.

Isso se confirma no final. Henry Fonda, que em toda a sua longa e bem-sucedida carreira anterior sempre encarnara o mocinho, sucumbe sobre o chão poeirento. Morto por Charles Bronson, que quase sempre fazia o papel do malvado. Também essa inversão de papéis foi um choque para os espectadores da época.

Em Era uma Vez no Oeste convergia muita coisa e eram muitas as interpretações possíveis naquele ano de 1968. Capitalismo e revolução, cultura clássica e cultura pop americana, mitologia grega e ópera, amor e tragédia: ou seja, cinema na forma e perfeição mais pura e original, além de uma música que, ainda hoje, dá um arrepio na espinha.

 


Domingo – Dia de Matinê no Cinema Local domingo, 24 de março de 2024

OS BONS COMPANHEIROS (1990) – MAIS UMA OBRA-PRIMA DE MARTIN SCORSESE

 

HOJE: POLICIAL - AÇÃO

OS BONS COMPANHEIROS (1990) – MAIS UMA OBRA-PRIMA DE MARTIN SCORSESE

GENTILEZA DO COLUNISTA CÍCERO TAVARES

 

Cartaz de GoodFellas (1990)

 

Baseado no livro Wiseguy: Life In a Mafia Family, do repórter policial novaiorquino Nicholas Pileggi, lançado em 1985, ‘Os Bons Companheiros’ narra a ascensão e a queda de três gângsteres ao longo de três décadas. Robert De Niro, Ray Liotta e Joe Pesci.

A História contada em primeira pessoa pelo ítalo-irlandês Henry Hill (Ray Liotta), o filme traça uma biografia da Máfia. Ainda jovem Henry se envolve com Tommy De Vito (Joe Pesci) e James Conway (Robert De Niro) e se casa com Karen (Lorraine Bracco), jovem judia que vê toda a sua vida social se misturando com o crime. O filme tem roteiro de Nicholas Pileggi, em co-autoria com (Martin Scorsese).

Os filmes sobre a máfia se tornaram um lugar-comum dentro do cinema estadunidense. Depois de Francis Ford Coppola e sua tão bem-sucedida trilogia O Poderoso Chefão, surgiu um grupo bastante seleto de grandes filmes sobre o tema, a exemplo de Scarface, de Brian de Palma, Era Uma Vez na América, de Sergio Leone e Ajuste Final, dos irmãos Coen (esse um filme de gângster bem menos tradicional). Mas talvez o grande título do gênero, após Coppola, seja mesmo ‘Os Bons Companheiros’, lançado em 1990 sob a batuta do não menos talentoso Martin Scorsese. Há quem diga até que Scorsese superou Coppola com seu estudo tão original sobre o mundo da máfia.

Em primeiro lugar, é preciso compreender o que Os Bons Companheiros trouxe de novo ao tema. Ao contrário de filmes anteriores, incluindo a própria trilogia de Coppola, a obra-prima scorsesiana desloca o olhar sobre esses personagens tão fora da lei para o âmbito mais doméstico e pessoal possível. O cineasta conhecia o ambiente daqueles homens, já que passou toda a juventude em um bairro nova-iorquino repleto deles. Por isso, não há apenas momentos de violência explícita e de gatunices no longa-metragem. Scorsese tira seus mafiosos das ruas e dos bordéis e os coloca também em suas casas e em suas festas de família. Eles passam a se parecer mais com homens normais do que era de se esperar e isso chega mesmo a criar afeto por eles. Mas é bom pontuar que não há nenhum esforço de romantização por parte do diretor, que filma seus brutais assassinatos com uma perícia inigualável. A grande novidade é que ‘Os Bons Companheiros’ não dá respostas unidirecionais sobre seus gângsteres.

Martin Scorsese faz o que ninguém havia feito – ele traz o alto crime para o mundo dos homens comuns. Além de maravilhosamente bem filmado, seu longa-metragem tem em sua trilha sonora uma de suas fortalezas. Ela dá o tom exato do clima de subversão e de risco constante, em um universo onde o banditismo é quem dá as cartas. Tonny Bennet, Aretha Franklin, Rolling Stones, The Who, Cream e outros artistas canônicos da música norte-americana constroem uma das trilhas sonoras mais memoráveis da história do cinema. O clássico riff de Sunshine of Your Love, da banda de Eric Clapton, se tornou parte indissociável de ‘Os Bons Companheiros,’ assim como a antológica queima de arquivo pontuada com certa dose de ironia por Layla, da banda Derek & The Dominos. Todas as canções parecem feitas sob medida para o filme e se entrosam muito bem com o submundo criminoso de Jimmy Conway (Robert De Niro), Tommy DeVito (Joe Pesci) e Henry Hill (Ray Liotta). Um amálgama entre imagem e som raro de se ver.

Em sua conclusão, ‘Os Bons Companheiros’ quebra a quarta parede para envolver diretamente o espectador em suas indagações finais. O filme conquista o público exatamente por mexer em algo escondido profundamente nele – o desejo de transgressão. Jimmy Conway e sua camarilha trazem à tona a sede de insubordinação do homem comum, submetido a tantas leis, regras e obrigações sociais ao longo de toda a vida e sem receber, muitas vezes, a devida contrapartida. Não se trata, de forma alguma, de uma justificativa rasteira ao crime, que é praticado da forma mais ignóbil durante todo o longa-metragem. Mas uma coisa é certa: quando Tommy DeVito atira enfurecido contra a câmera, Martin Scorsese sabe muito bem o que deseja despertar em seu público.

 

Les Affranchis – Bande Annonce Officielle (VF) – Robert De Niro / Ray Liotta / Martin Scorsese: 

 

Os Bons Companheiros – O Melhor Filme do Martin Scorsese: 

 

14 Curiosidades + Segredos OS BONS COMPANHEIROS (GoodFellas) 1990 | Canal Replay: 


Domingo – Dia de Matinê no Cinema Local domingo, 17 de março de 2024

PACTO DE JUSTIÇA (2003) – UM ÓTIMO FILME DE KEVIN COSTNER

 

HOJE: WESTERN, AÇÃO

PACTO DE JUSTIÇA (2003) – UM ÓTIMO FILME DE KEVIN COSTNER

GENTILEZA DO COLUNISTA CÍCERO TAVARES

 

Terceiro filme produzido e dirigido por Kevin Costner. Os demais foram o clássico “Dança com Lobos” (1990) e “O Mensageiro” (1997) que, durante as filmagens o ator Robert Duvall sofreu um acidente, caindo do cavalo em que montava e quebrando várias costelas devido à queda. O orçamento de “Pacto de Justiça” (ou Open Range),foi de US$ 26 milhões. Bilheteria 69 milhões.

No filme Denton Baxter (Michael Gambon) é um poderoso vaqueiro do Oeste americano que ameaça todos aqueles que podem tirar seu poder na cidade em que vive. Cansados desta situação, Charley Waite (Kevin Costner), Boss Spearman (Robert Duvall), Button (Diego Luna) e Mose Harrison (Abraham Benrubi) decidem enfrentá-lo. Porém em meio à batalha Charley acaba conhecendo Sue Barlow (Annette Bening), uma mulher que conquista seu coração. É a volta do diretor e ator a um de seus temas favoritos, o Velho Oeste, com uma abordagem peculiar sobre um assunto raríssima vezes abordado por produções anteriores.

Aliás, a capacidade de Kavin Costner de cavar assuntos diferentes dentro do gênero western para mergulhar neles merece ser aplaudida. Em Dança com Lobos, ele teve a coragem de envolver o espectador nos detalhes dos hábitos da vida dos americanos nativos ao inserir seu protagonista, John J. Dunbar, em um meio desconhecido, que ele vai desvelando diante de nossos olhos sem preconceito e sem rótulos.

Em Pacto de Justiça, o foco é o conflito entre dois tipos de cowboys: os chamados pejorativamente de “free grazers” (ou pastores livres) e os rancheiros. E antes que alguém venha aqui apontar que o conflito entre colonos e rancheiros é alvo de diversas obras do gênero, saliento logo: não há colonos que almejam viver da agricultura em Pacto de Justiça. O conflito é mesmo entre um grupo de homens, representado pelos personagens de Robert Duvall e Kevin Costner, que cuidam de seu gado no pastoreiro livre (o Open Range do título original), ou seja, em “terra de ninguém” e os rancheiros que têm terras próprias para o mesmo fim. Esse aspecto bem particular, até onde se sabe, jamais foi abordado em obras anteriores.

Mas Pacto de Justiça, não se enganem, também é uma típica história de vingança, daquelas em que os relutantes heróis são pacifistas, mas sabem que a violência é necessária em determinados momentos nesse Oeste Selvagem. Com isso, a fita ganha contornos mais familiares ao público em geral, permitindo que a segunda metade seja voltada exclusivamente para esse aspecto, com a transformação de Boss Spearman (Duvall) e principalmente Charley Waite (Costner) de vaqueiros em pistoleiros. Mas, até isso acontecer, a construção dos personagens é crível, graças a um roteiro cadenciado de Craig Storper, em seu único roteiro para o cinema até agora, baseado em romance do famoso escritor americano de faroestes Lauran Paine, de quem Costner sempre foi fã declarado.

De toda maneira, Kevin Costner mostra sua costumeira segurança na direção, transitando entre tomadas em plano aberto no primeiro terço da fita que, ao longo da narrativa, vão se fechando, como se entrássemos no inconsciente de Waite. O fotografia ficou ao encargo do então estreante (na direção de fotografia) James M. Muro, que depois viria a fazer Crash: No Limite. E o trabalho da dupla Costner/Muro ganha outros contornos quando o tiroteiro efetivamente começa. Nesse momento, vemos outra coisa muito rara em Westerns: a ausência completa de floreios. Ninguém é o “gatilho mais rápido do Oeste”, não há duelos no estilo clássico, não há beleza plástica alguma, pelo menos não em seu sentido tradicional. Trata-se de uma luta crua, feia mesmo, em que os tiros são mais aleatórios do que qualquer outra coisa e as mortes não são enfeitadas ou exageradas.

O resultado final é que “Pacto de Justiça” é um grande exemplar do gênero western que, infelizmente, apesar de ter sido elogiado pela crítica da época e um razoável sucesso de bilheteria, é normalmente uma obra esquecida nas prateleiras empoeiradas dos cinéfilos. Mas vale a pena (re) descobrir esse trabalho de Kevin Costner na direção voltando ao gênero que o consagrou.

PACTO DE JUSTIÇA TRAILER

 


Domingo – Dia de Matinê no Cinema Local domingo, 03 de março de 2024

CHAMAS DA VINGANÇA (2004) – UM FILME EXCELENTE DE AÇÃO

 

HOJE: AÇÃO - SUSPENSE

CHAMAS DA VINGANÇA (2004) – UM FILME EXCELENTE DE AÇÃO

GENTILEZA DO COLUNISTA CÍCERO TAVARES

 

Imagem de Chamas da Vingança quando lançado em DVD

Dirigido por Tony Scott, irmão do aclamado diretor Ridley Scott, infelizmente se suicidado jogando-se de uma ponte em Los Angeles em (19.08.2012), Chamas da Vingança, conta a história de Creasy (Denzel Washington), um ex-agente da CIA que, torturado pelas lembranças de seus atos passados, tornou-se alcoólatra e decidiu sair dos Estados Unidos. Em visita a um antigo colega no México, ele recebe uma proposta para se tornar guarda-costas da pequena Pita (Hannah Dakota Fanning), filha de um poderoso empresário mexicano e de uma americana – um trabalho nada fácil em um país no qual, de acordo com o próprio filme, ocorre um seqüestro a cada 60 minutos.

Um grande aspecto do filme é a sua coesão, de tal modo que todas as motivações fílmicas são explicadas, e uma coisa leva a outra com a naturalidade que deve ser. Aqui, o cineasta trabalha bem com essas cenas de reconhecimento, levando os personagens a identificarem símbolos ou signos capazes de mudar o rumo dramático. A cena do sequestro é um claro exemplo disso. John Creasy (Denzel Washington), ao treinar Lupi (Dakota Fanning) para uma competição, a acostuma com um barulho agudo, que significa que ela teria de partir em retirada ao ouvi-lo. Sabendo disso, num momento em que ela está prestes a ser sequestrada, Creasy atira para o alto e ela, já sabendo do sinal, o reconhece e foge. São elementos desta natureza que incrementam o enredo e abrilhantam o filme.

O personagem de Denzel Washington é obscuro emocionalmente, frio na exata medida para transpassar infelicidade, mas humano o bastante para demonstrar afeto diante da única personagem capaz de fazê-lo sorrir no filme. Ele apenas esboça um sorriso duas vezes e nas duas é acompanhado da menina, que de algum modo o traz à vida. É, enfim, quando tudo parece voltar a fazer sentido para ele que acontece a ruptura brutal e ela sai de cena. Esta é uma grande atuação de Denzel Washington, que traduz em verdade tudo aquilo que lhe era exigido para o papel. Por meio do protagonista, temáticas violentas como solidão e desamparo são introduzidas de maneira bem assídua e as frases pronunciadas por ele, assim como suas expressões faciais, atingem em cheio, quem assiste.

Inicialmente relutante em aceitar a tarefa, Creasy acaba se apegando à garotinha – e, quando uma tragédia se abate sobre a família, o sujeito resolve se vingar de todos os responsáveis, diretos e indiretos, pelo que ocorreu (em seu caminho, ele encontra dois personagens vividos por atores brasileiros, Gero Camilo, um gênio que a Globo Lixo só utiliza para porteiro das cidades cenográficas e Charles Paraventi, ambos atores de Cidade de Deus)…

a) Chamas da Vingança – Man on Fire 2004 Trailer.

 

 

b) Sinopse: Chamas da vingança (Man on Fire) 2004 [Trailer, Filmes, Resenha, Sumário, Relato]

 

 

c) Gero Camilo conta como foi trabalhar com Denzel Washington | QUE NEM TU

 

 

 

 


Domingo – Dia de Matinê no Cinema Local domingo, 25 de fevereiro de 2024

ONDE OS FRACOS NÃO TÊM VEZ (2007) – UMA OBRA-PRIMA DOS IRMÃOS COEN

 

HOJE: SUSPENSE - VIOLÊNCIA

ONDE OS FRACOS NÃO TÊM VEZ (2007) – UMA OBRA-PRIMA DOS IRMÃOS COEN

GENTILEZA DO COLUNISTA CÍCERO GAVARES

 

Cartaz do filme quando lançado em DVD

Quando Clint Eastwood encarnou seu “pistoleiro sem nome” na célebre Trilogia dos Dólares, de Sergio Leone, o gênero western ganhou um novo padrão. Não mais o cowboy bom-moço de outros clássicos do gênero, como os interpretados por John Wayne. Agora o protagonista demonstrava claramente sua moral duvidosa e seus óbvios traços de cinismo. Não é segredo para ninguém que ali o protagonista de western ganhou contornos bem mais humanos e quase que fronteiriços entre o herói e o anti-herói. Também seria óbvio dizer que os irmãos Coen conheciam muito bem essa evolução quando filmaram Onde Os Fracos Não Tem Vez. Mas a obra-prima de 2007 é muito mais que um simples padrão modernizado do gênero. Os diretores adicionaram elementos que modificaram sua estrutura e seu espírito. Se o longa-metragem o subverte ao dar o protagonismo a um anti-herói inequívoco, ele acaba também por modificar os próprios moldes dos vilões tradicionais, já que Anton Chiguhr é em tudo atípico.

Qualquer análise sobre Onde Os Fracos Não Tem Vez gravitará necessariamente em torno de seu anti-herói – um dos maiores vilões da história do cinema. Javier Bardem interpreta Chiguhr de modo assombrosamente inspirado e o compõe de uma série de maneirismos que revelam sua frieza, sua soberba e sua completa loucura. Seu corte de cabelo excêntrico parece ser usado por ele como uma ironia ou um deboche. Impressiona seu ritualismo a cada cena. Ele caminha calmamente até suas vítimas e dialoga com elas sem jamais se exaltar, agitar-se. O personagem decide com lances de uma moeda se seu interlocutor morrerá ou viverá.

Anton Chiguhr nega o livre arbítrio. Seus atos são reflexos de uma força que não demora a se revelar – o psicopata dos irmãos Coen encarna a própria força da morte. Irreprimível e atemporal. Nenhum dos personagens do longa-metragem apresenta registros de historicidade. Nada sabemos sobre eles. Nem suas motivações nem seus objetivos. Presente, passado e futuro tornam-se um só.

Texas, década de 80. Um traficante de drogas é encontrado no deserto por um caçador pouco esperto, Llewelyn Moss (Josh Brolin), que pega uma valise cheia de dinheiro mesmo sabendo que em breve alguém irá procurá-lo devido a isso. Logo Anton Chigurh (Javier Bardem), um assassino psicótico sem senso de humor e piedade, é enviado em seu encalço. Porém para alcançar Moss ele precisará passar pelo xerife local, Ed Tom Bell (Tommy Lee Jones). Excelente filme que demorei muito para assisti. Um filme bem tenso e para deixar mais tenso ainda o telespectador o filme não tem trilha sonora e com uma brilhante atuação de Javier Bardem, com uma fotografia soberba. Oscar merecido.

“Onde os Fracos não têm Vez” é, sem dúvida o auge dos irmãos Coen, que aqui fazem um trabalho de mestre em um filme que faz uma reflexão sobre os tempos de violência.

O filme acompanha um ex militar Llewelyn Moss que encontra em um cenário de crime uma maleta contendo 2 milhões de dólares. Ele decide levar para casa mesmo sabendo que vai dar errado. Um psicopata sem senso de humor e que mata com frieza é contratado para achar o dinheiro e inicia sua caçada deixando rastos de morte por onde passa, paralelamente o Xerife Bell está na caçada não só pelo assassino quanto por Llewelyn.

O filme é uma adaptação do livro escrito em 2005 por Cormac McCarthy chamado de No Country For Old Men. É escrito e dirigido pelos irmãos Coen, que aqui apresenta seu melhor trabalho. É um filme profundo e cheio de camadas, definitivamente não é para todos já que os diretores adotam um ritmo lento e os diálogos são feitos para serem interpretados. Aliás, eles estão muito inspirados aqui, cada personagem são brilhantemente bem escritos.

O filme tem como protagonismo o personagem Bell, veterano da polícia, o filme abre com um “voice over” com ele relembrando o pai e avô dele na época que eles trabalhavam na polícia, desse diálogo podemos tirar a sacada do filme, de que os tempos mudaram (ou não já que temos outro diálogo lá para o fim), agora o mundo é cheio de violência, o ser humano não possui mais bondade, são todos cheio de maldade e frieza, não se importando com o bem estar da sociedade, lá para o fim existe uma conversa entre Bell e seu tio onde podemos refletir se os tempos realmente mudaram ou se sempre nos humanos fomos violentos. São diálogos simples com grandes significados e as atuações são perfeitas. Tommy Lee Jones está extraordinário. É uma atuação simples, mas que passa muita sinceridade. Josh Brolin é outro com grande atuação, é um homem comum que não se distanciou da guerra e que vê no dinheiro uma forma de mudar seu destino. É outro com muitas camadas. Temos boas participações de Woody Harrelson e Kelly Macdonald. Mas a alma do filme é Javier Bardem, aqui ele incorpora um dos maiores psicopatas da história do cinema e uma das melhores atuações masculinas da história. É um personagem muito frio, intenso e que tem uma “conduta de moral” distorcida para praticar suas atrocidades.

Os Irmãos Coen criaram um visual e fizeram uma escolha de ator para o papel na medida. O ator possui uma caracterização marcante com um cabelo e exótico e uma arma de crime absolutamente fora dos padrões. A atuação do Bardem é assustadora na pele do psicopata Chiguhr. O olhar dele é assustador e passa muito de suas emoções, sua maneira de cometer os crimes é banal e fria, um fascinante estudo de personagem. Para auxiliar no suspense da obra, os Coen preferiram não adicionar trilha sonora, e com isso temos um filme tenso e bem trabalhado nesse western moderno.

O roteiro para variar é brilhante, sabendo dar profundidade nos personagens e na história em si em cima dos diálogos e das metáforas presentes no filme. A fotografia é excele, o design de produção é muito bom e o trabalho com o som é outro destaque da parte técnica, além dos enquadramentos de câmera.

O longa concorreu em 8 categorias, saindo vencedor em melhor filme, direção, roteiro adaptado e ator coadjuvante para Javier Bardem. “No Country For Por Men” é um filme brilhante, cheio de profundidade dos personagens e com uma grande mensagem de um mundo onde é dominado pelos fortes e os fracos realmente não tem vez, um mundo caótico onde a injustiça infelizmente reina.

 

No Country For Old Men (2007) Official Trailer – Tommy Lee Jones, Javier Bardem Movie HD 

TODOS os DETALHES que você PERDEU em ONDE OS FRACOS NÃO TEM VEZ  

 

 

 


Domingo – Dia de Matinê no Cinema Local domingo, 11 de fevereiro de 2024

KRAMER VS. KRAMER (1979), UM ÓTIMO DRAMA NO TRIBUNAL

 

HOJE: BATALHA JUDICANTE

KRAMER VS. KRAMER (1979), UM ÓTIMO DRAMA NO TRIBUNAL

GENTILEZA DO COLUNISTA CÍCERO TAVARES 

 

 

É impossível não se emocionar com o embate jurídico travado no tribunal por Ted e Joanna, interpretados magnificamente por Dustin Hoffman e Meryl Streep, numa batalha judicante comovente pela custódia do filho.

O filme narra a história de Ted Kramer (Dustin Hoffman), um profissional para quem o trabalho vem antes da família. Joanna (Meryl Streep), sua mulher, não suportar mais essa situação e sai de casa, deixando Billy (Justin Henry), o filho do casal. Quando Ted consegue finalmente ajustar seu trabalho às novas responsabilidades, Joanna reaparece exigindo a custódia da criança. Ted não aceita os argumentos de Joanna e os dois esbarram no fórum lutando pela guarda do filho Billy.

Um espetacular drama sobre os traumas do divórcio e as dificuldades entre trabalho e família. O jovem marido e pai Ted Kramer (Dustin Hoffman) ama sua família e seu trabalho, onde passa a maior parte do tempo. Tarde da noite, quando retorna para casa depois do trabalho, a esposa Joanna (Meryl Steep) inicia uma discussão e acaba abandonando o marido e o filho de seis anos. Ted tem que aprender a ser pai enquanto enfrenta os problemas de sua estafante carreira. Justo quando ele se adapta a seu novo papel e passa a desfrutar sua condição de pai, Joanna retorna, querendo o filho de volta.

Inteligente, bem realizado pelo diretor Robert Benton e com roteiro baseado no romance homônimo de Avery Corman. No Oscar de 1980, venceu em cinco categorias: melhor filme, melhor diretor, melhor ator (Dustin Hoffman), melhor atriz coadjuvante (Meryl Streep) e melhor roteiro adaptado. Recebeu ainda outras quatro indicações, nas categorias de melhor fotografia, melhor ator coadjuvante (Justin Henry), melhor atriz coadjuvante (Jane Alexander) e melhor edição. Um filme emocionante e comovente.

Kramer vs. Kramer mergulha de cabeça no tema que, mesmo não sendo mais tabu nos EUA em 1979, quando a produção foi lançada, chamou atenção pela forma que a abordagem é feita, com a adaptação do romance de Avery Corman pelo roteirista e diretor Robert Benton tentando manter os dois pés fincados no chão e lidando com as consequências de maneira realista e dolorosa, arriscando inclusive uma escolha arriscada em usar como estopim para a trama o “abandono do lar” por Joanna Kramer, esposa e mãe de um menino de tenra idade e não o contrário. É, de muitas maneiras, a semente para a visão mais recente, mas não muito diferente, de Noah Baumbach em seu História de um Casamento.

O diretor Benton já começa a projeção com a Joanna de Meryl Streep (que lhe rendeu sua segunda indicação ao Oscar e primeira vitória), em uma devastadora sequência, largando a vida de casada – marido e filho – sem maiores explicações, mas com feição entristecida e uma voz embargada que deixa algo no ar, algo que só voltaria bem mais para a frente na obra que, então, passa a focar quase que exclusivamente em Ted Kramer (Dustin Hoffman) tentando ajustar-se ao novo status quo de sua vida em que ele precisa conciliar o trabalho com afazeres domésticos que giram ao redor de seu filho Billy (Justin Henry), o que obviamente leva ao caos imediato. A maneira como as lentes apontam para Ted, aos poucos levando-o do desespero à forte conexão com Billy, sacrificando sua carreira no processo, não tem como objetivo falar de Ted apenas, mas sim também, indiretamente, de Joanna, mesmo que sua presença física na fita seja diminuta.

Esse é, na verdade, o grande trunfo da delicada direção de Benton e de mais uma excelente atuação de Hoffman. Entendemos muito facilmente que todo o desconhecimento e falta de jeito sobre a vida doméstica que Ted revela é um atestado para a importância de Joanna – ou da mulher – nessa equação. Ao mesmo tempo, a discussão dos papeis em um casamento ganha relevo, pois da mulher se espera todo o tipo de sacrifício. Afinal, ter filho e trabalhar não combina, não é mesmo? Mas o mesmo não vale para o homem, que é o provedor oficial, claro. Tudo é, no entanto, muito sutil em Kramer vs. Kramer, sem a necessidade de entulhar a narrativa com diálogos expositivos por todo o tempo ou com a demonização da mulher que “abandonou” o lar, até porque o trabalho de Benton é tão bem costurado que a compreensão da escolha de Joanna vem muito rapidamente, assim como quando, em seu retorno, ela luta pela custódia do filho. Chega a ser prodigioso como um filme sobre um homem e uma mulher em processo de separação e divórcio e que é focado quase que integralmente no homem, fala tão bem e tão equilibradamente dos dois lados.

É bem verdade que Benton não resiste completamente à tentação do didatismo e entrega à Streep seu momento choroso padrão que ela entrega muito convincentemente. A questão é que, quando isso acontece, a situação toda já está consolidada e as pistas sobre as motivações de Joanna já foram mais do que exploradas. Essa sua conversa com Ted e, depois, uma repetição na tribuna, destoam da abordagem indireta e inteligente que o roteiro vinha oferecendo, ainda que, pelo menos no processo de divórcio, o lado verborrágico fosse efetivamente inevitável.

Por outro lado, a curta duração do filme faz com que o diretor recorra a algumas elipses temporais que aceleram talvez demais a nova realidade de Ted, correndo com sua involução no trabalho e sua evolução com Billy, além de seu contato mais constante com Margaret (Jane Alexander), vizinha dele e amiga de Joanna. Como esses elementos dão estofo à narrativa, a obra teria se beneficiado com uma evolução mais vagarosa nesse lado, em um dos poucos casos em que mais duração teria beneficiado o conjunto. Mesmo assim, vale nota a direção de arte minimalista de Paul Sylbert e a fotografia sóbria de Néstor Almendros, que amplificam o naturalismo e realismo da obra, muitas vezes compensando a pressa de Benton.

Kramer vs. Kramer elegantemente mete o dedo na ferida de uma situação ainda não completamente equacionada e pacificada, mesmo tanto tempo depois. Grandes atuações e texto certeiro em um filme que cumpre com maestria sua função de levantar importantes e ainda muito atuais discussões sobre a vida e os pequenos e grandes fracassos que a compõe.

 

Kramer vs. Kramer (1979) Trailer #1 | Movieclips Classic Trailers

 

 

Dustin Hoffman winning Best Actor for “Kramer vs. Kramer”

 

 

 

 


Domingo – Dia de Matinê no Cinema Local domingo, 28 de janeiro de 2024

DANÇA COM LOBOS (1990) – UMA OBRA-PRIMA DE AVENTURA OESTEANA

HOJE: AVENTURA OESTEANA

DANÇA COM LOBOS (1990) – UMA OBRA-PRIMA DE AVENTURA OESTEANA

Dances with Wolves foi uma surpresa quando foi lançado em 1990 nos cinemas americanos. Ninguém esperava não só o sucesso de crítica, mas, principalmente, o sucesso de público que o primeiro filme dirigido por Kevin Costner alcançou, especialmente em se tratando de um épico de três horas em sua versão original, que ganhou quase uma hora a mais em sua versão estendida, lançada um ano depois.

O filme, que marca a estreia de Costner na direção, foi produzido por ele e Jim Wilson. A trilha sonora é de John Barry, a direção de fotografia de Dean Semler, o desenho de produção de Jeffrey Beecroft, a direção de arte de William Ladd Skinner, o figurino de Elsa Zamparelli e a montagem de William Hoy, Chip Masamitsu, Steve Potter e Neil Travis.

O filme conta a história de John Dunbar (Costner), um oficial de cavalaria que se destaca como herói na Guerra Civil Americana e, por isto, recebe o privilégio de escolher onde quer servir. Ele escolhe um posto longínquo e solitário, na fronteira. Ali estabelece amizade com um grupo de índios Sioux – Lakota, sacrificando a sua carreira e os laços com o exército estadunidense em favor da sua ligação com este povo, que o adota.

“Dança com Lobos” novamente abre as portas para o gênero em Hollywood e mostra que ainda temos muitas coisas para falar a respeito de um tema tão consagrado e cultuado nas décadas passadas. O longa ficou marcado como o responsável pela renovação dos westerns americanos e marcou o início do faroeste moderno nos cinemas. Aqui temos uma aventura épica, um drama envolvente, um romance singelo e um humor leve e passivo. Kevin Costner traz simplesmente o melhor e mais notável trabalho de toda a sua carreira, com uma direção magistral, com muita segurança em cada cena, com uma narrativa muito bem amarrada onde era mesclado momentos de tranquilidade e tensão.

O roteiro de “Dança com Lobos” é incrivelmente perfeito e feito com uma coesão incrível. Pois temos o início da história do tenente John Dunbar, que se inicia durante a Guerra Civil americana (por volta da década de 1860) em uma luta travada pelo fim da escravidão. Somos confrontados com um personagem que sofre com traumas pelos horrores da guerra, que é totalmente perturbado, que já tentou suicídio, mas que ao partir para um local para viver sozinho, ele vai se reencontrando, se desenvolvendo, se achando, sua vida vai tomando um outro rumo e uma outra forma. Temos aqui um verdadeiro estudo do ser humano e suas culturas – como o desenvolvimento e a construção do respeito, do reconhecimento, dos ensinamentos, da admiração, da confiança. Também temos o choque e o confronto de cultura entre o homem branco americano e os índios Sioux, que aparentemente poderia difundir a sua cultura entre os índios, mas somos confrontados com uma assimilação dos costumes dos nativos, acontecendo uma verdadeira aculturação às avessas.

O filme foi indicado a 12 Oscars no Oscar de 1991 e ganhou sete, incluindo Melhor Filme, Melhor Diretor para Costner, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Edição, Melhor Fotografia, Melhor Trilha Sonora Original e Melhor Mixagem de Som. O filme também ganhou o Globo de Ouro de Melhor Filme – Drama. O longa de Costner ainda integra a seleta lista dos únicos três westerns a ganhar o Oscar de Melhor Filme na história, sendo acompanhado por “Cimarron” (1931) e “Os Imperdoáveis” (1992).

“Dança com Lobos” é um marco na indústria hollywoodiana, é muito importante para um fator social, por praticamente ter assumido a culpa de ter dizimado uma cultura inteira (a cultura indígena). Após 32 anos de lançamento, o longa não ficou datado, não ficou ultrapassado, envelheceu muito bem, o tempo fez muito bem para à obra. Além, é claro, o filme é creditado como uma das principais influências para a revitalização do gênero de cinema ocidental em Hollywood.

Dança com Lobos – Trailer Oficial (LEGENDADO)

 

 

Dança com Lobos: O filme que Revolucionou o Faroeste (Análise)

 


Domingo – Dia de Matinê no Cinema Local domingo, 21 de janeiro de 2024

WARLOCK (1959) – MINHA VONTADE É LEI

 

HOJE: FAROESTE

WARLOCK (1959) – MINHA VONTADE É LEI

Gentileza do Colunista Cícero Tavares

 

A vila de Warlock, onde se passa a história, tem um recorrente problema com um perigoso bando sediado no Rancho San Pablo, que constantemente saqueia a cidade e segue matando ou expulsando os Xerifes dali. Uma reunião do Conselho local decide então contratar um experiente e famoso pistoleiro (personagem vivido de maneira brilhante por Henry Fonda) para agir como Xerife, embora isso não seja lá uma atitude oficial/legal, mas uma medida desesperada dos cidadãos. Esse contratado salvador impõe uma série de regras aos cidadãos, entre elas, a presença de seu inseparável amigo (personagem também vivido de maneira brilhante por Anthony Quinn) e ambos irão iniciar sua trajetória de “colocar a cidade nos eixos”.

O diretor Edward Dmytryk faz um bom uso de sua larga experiência dramática para conduzir o soberbo elenco do filme, grupo que merece todos os elogios possíveis. Se a mesma direção perde a mão na condução das subtramas amorosas (a verdadeira pedra no sapato do filme) e não consegue juntar bem as muitas subtramas na parte final da fita (abrindo aí também um problema de ritmo pela montagem), é na direção de atores e na condução de cenas mais densas, com diálogos inteligentes e cheios de significado que o cineasta consegue as suas maiores conquistas. Aliado ao excelente trabalho do fotógrafo Joseph MacDonald com o CinemaScope, o diretor ainda consegue destaque na construção de belas cenas utilizando a paisagem, com destaque para a tentativa de roubo de uma diligência e um certo encontro romântico nos arredores da cidade.

Minha Vontade é Lei sai bastante do convencional, explorando questões psicológicas ou criando subtramas familiares e amorosas que ganham grande espaço no desenvolvimento da história, diminuindo consideravelmente os enfrentamentos, perseguições e fugas. A ação é majoritariamente centrada na cidade de Warlock e, à parte, os dilemas humanos desenvolvidos em distintos núcleos, levanta questões sobre o exercício do direito (enforcamento, linchamento e licença para matar ou estabelecer o controle frente aos cidadãos são temas discutidos) e questões sociopolíticas que jogam com os dilemas morais de cada grupo social àquela época.

Assim, vem à tona o caráter das mulheres e dos homens que elas amam; o desejo de um amigo para com o outro; a ânsia de ser herói, estar junto, morrer defendendo uma causa; ou a mudança de personagens dúbios ou foras-da-lei para o lado dos mocinhos. Estes são assuntos discutidos amplamente no filme. o que de certo modo o torna, como disseram alguns críticos à época de seu lançamento, “cerebral demais“.

A plácida direção de Dmytryk, assim como a trilha sonora muito bem marcada por peças épicas e outras mais sentimentais conseguem um bom resultado diante disso. Até a fotografia tem uma marca definitiva nesta seara, ao final da obra, quando ilumina com forte cor azul um saloon incendiado, contrastando aquela sequência à paleta de todo o restante da fita.

Existe uma aparência anticlimática vinda com a resolução da obra, mas este certamente é um final esperado para um filme que o tempo inteiro discute a aplicação da lei versus os desejos e gostos dos personagens. Quando lançado, o longa não chamou muita atenção, mas teve o seu reconhecimento a posteriori. Um faroeste diferente, intenso, inteligente. Uma obra que certamente conseguiu fugir dos clichês de seu gênero, por mérito dos seus dois personagens principal, principalmente o pistoleiro Clay Blaisedell, vivido por Henry Fonda.

 

Western Official Traile

 

 

Resenha

 


Domingo – Dia de Matinê no Cinema Local domingo, 14 de janeiro de 2024

DJANGO (1966) – OBRA-PRIMA DO GÊNERO SPAGHETTI WESTERN

 

HOJE: SPAGHETTI WESTERN 

DJANGO (1966) – OBRA-PRIMA DO GÊNERO SPAGHETTI WESTERN

Gentileza do Colunista Cícero Tavares

 

 

Django e seu caixão fantasmagórico

 

A cena de abertura do epopeico faroeste do gênero spaghetti western, Django, é antológica: um lamaceiro escorregadio como cenário natural. A câmara focando um homem solitário, arrastando um caixão fantasmagórico pelo lamaçal caótico, acompanhado da antológica trilha sonora Django, composta pelo maestro argentino-italiano Luis Enríquez Bacalov, apropriada para o clima sinistro da história do filme.

O filme Django conta a história de um andarilho misterioso, arrastando sua poderosa metralhadora, disposto a vingar a morte de sua esposa, assassinada por uma gangue rival que agia na região fronteiriça do México. Para conseguir seu feito ele fez “acordo” com o chefe da gangue comandada pelo general Hugo Rodriguez, bandido histriônico, calculista, ambicioso, contra seu oponente, louco, o Major Jackson, da gangue rival e seus mais de quarenta facínoras, sanguinários, que aterrorizavam a fronteira do México.

É um dos melhores exemplos de filmes do gênero spaghetti western, com uma trilha sonora apropriada ao clima da história, duelos de armas e um anti-herói de poucas palavras, que arrasta um caixão mortífero. O visual magnífico do filme é devido ao trabalho do diretor de arte Carlo Simi, que já havia criado personagens e cenários para filmes anteriores do diretor Sergio Corbucci, como o “Minnesota Clay.”

Antes e depois da primeira cena antológica do confronto entre Django com a metralhadora e o mais de quarenta bandidos da gangue dos Camisas Vermelhas comandada pelo Major Jackson em frente ao Saloon do Nathaniel, ficou a impressão de que estávamos diante de mais um western lugar-comum, mas ante a competência do diretor Sergio Corbucci o que vemos é um filme com cenário de batalha expertise, épica, que até hoje fascina crítico e cinéfilo que o elogiam como uma obra-prima do spaghetti western.

Django é o primeiro, o único faroeste do western sphaghetti a conquistar público e críticas favoráveis. Projetou o ótimo ator Franco Nero ao panteão dos deuses do faroeste numa época em que o romantismo reinava no faroeste americano. Todos logo identificamos o primeiro e o melhor da franquia. Sim, o nome Django tornou-se uma franquia, pois existem muitas dezenas de filmes relacionados ao personagem famoso, talvez chegue perto de meia centena de filmes, todos com adjetivos diversos, títulos chamativos, mas nenhum chegou perto do original que permanece eterno, com a matriz intocada, sem nada que possa abalar a sua merecida fama.

No ponto de vista cinematográfico, o único filme que chegou quase a merecer comparação com a qualidade do original, foi o filme “Django Livre” do diretor Quentin Tarantino. A comparação que se faz é apenas pela qualidade do filme, seus valores cinematográficos, seu ótimo elenco, que contou acertadamente com a participação do “Django” original, Franco Nero, numa pequena atuação, mas uma grande e merecida homenagem prestada pelo cineasta Tarantino ao grande ator, criador do personagem cujo nome, até hoje impressiona os aficionados do gênero. O filme cria um clima místico e quase sobrenatural, quando o personagem aparece do nada arrastando um caixão, com uma aparição fantasmagórica deixando todos os telespectadores surpresos. O diretor Sergio Corbucci soube segurar com muita competência e profissionalismo essa atmosfera sombria.

Nada de parecido tinha sido visto antes nos filmes do gênero western, e a expectativa vai num crescendo para todos os personagens do vilarejo e muito importante, também para nós os expectadores do filme, pois o que vai ou poderá acontecer é uma incógnita.

Mas o diretor Sergio Corbucci mostrou que é um mestre, pois os fatos vão se sucedendo até que afinal o inesperado é revelado e com a sucessão dos acontecimentos, os vilões são enfrentados e como em todo bom filme de faroeste, o mocinho vence no final para satisfação de todos.

Ressalte-se ter sido lançado uma grande quantidade de filmes que levam o nome Django, com dezenas de atores que tentaram imitar o personagem-título do primeiro, mas nenhum deles possui a competência do filme e ator original. Não que não sejam bons atores, porque o personagem do primeiro é muito místico, sombrio, e o ator deu ao personagem principal uma áurea, um desempenho extraordinário que nenhum outro filme de faroeste conseguiu alcançá-lo.

 

Official Trailer – DJANGO (1966, Franco Nero, Sergio Corbucci, Loredana Nusciak)

 

 

Crítica RetrôDJANGO – 1966 | Crítica Retrô

 


Domingo – Dia de Matinê no Cinema Local domingo, 03 de dezembro de 2023

MAR ADENTRO (2004) – REFLEXÃO SOBRE A MORTE ASSISTIDA (CRÔNICA D COLUNISTA CÍCERO TAVARES)

 

HOJE: DRAMA

MAR ADENTRO (2004) – REFLEXÃO SOBRE A MORTE ASSISTIDA

GENTILEZA DO COLUNISTA CÍCERO TAVARES

 

Cartaz de Mar Adentro, quando lançado em DVD

 

“Mas cá entre nós, eu acho que depois de morrermos não há nada. Tal como antes de nascermos. Nada.” Ramón Sampedro – personagem do ator Javier Bardem, no filme.

MAR ADENTRO (2004), narra a história do marinheiro, escritor e ativista espanhol, Ramón Sampedro, interpretado magistralmente no cinema pelo ator hispânico Javier Bardem, tendo Ramón ficado tetraplégico após um mergulho numa área rasa do amar e ter batido com a cabeça numa pedra. O filme mostra a luta incessante de Sampedro perante os Tribunais locais pelo direito de cometer suicídio assistido, contando com a ajuda dos amigos e da família, além de um advogado, que abraçou a causa gratuitamente.

Por causa da sua incapacidade física de não poder suicidar-se e morrer conforme seus desígnios, Ramón lutou na justiça durante vinte e cinco anos pelo direito de morrer com dignidade sem incriminar os amigos ou a família que viesse a auxiliá-lo no ato de tirar a própria vida, tomando cianeto de potássio.

Ramón Sampedro tornou público seu desejo de morrer no início de 1990, mas só oito anos depois foi que conseguiu um suicídio assistido, através da ajuda de uma amiga, que antes gravou um vídeo de sua morte que foi divulgado nas redes de tevês do país e do mundo e voltou a despertar na sociedade a importância do debate sobre a despenalização da morte assistida.

A associação espanhola “Direito a Morrer Dignamente” considera que, graças à sua luta e às suas reivindicações, Ramón Sampedro contribuiu para que, em 1995, fosse aprovada uma reforma no Código Penal que reduziu as condenações em caso de eutanásia ou de assistência ao suicídio.

Entre os temas mais difíceis que o cinema ou qualquer outra arte pode tentar retratar, a morte, mais especificamente a eutanásia ou a morte assistida, deve figurar entre os principais. A complexidade da questão, aliada à falta de representatividade entre grandes diretores e roteiristas faz com que sejam raras as películas que se dedicam a debater o assunto. Em 2016, a comédia romântica britânica Como Eu Era Antes de Você recebeu uma série de críticas e protestos por ter, na ótica de muitos, glamurizado a eutanásia e reduzido o debate sério a uma comédia leve e adolescente, que se resolvem em meio a piadas, sarcasmos e uma alta dose de humor. A diretora inglesa Thea Sharrock não teve competência para dirigir um tema sensível com catilogência.

Mar Adentro, anterior à comédia britânica, parece entender exatamente as críticas e se antecipar a todas elas. A história retrata a vida de Ramón Sampedro, o espanhol de meia idade que se tornou tetraplégico, deseja, conscientemente, a morte. Ramón, depois de mergulhar e bater a cabeça numa pedra no fundo do mar, vive numa cama na humilde residência em que mora com o pai, seu irmão José, a cunhada Manuela e o sobrinho Javier. A eutanásia na Espanha era proibida e Ramón precisa contar com a ajuda da advogada Júlia, que simpatiza com sua história, para tentar convencer a Corte espanhola a alterar a lei e atender ao seu pedido.

Todo o drama é escrito de maneira muito sóbria e humana. Não existe qualquer tentativa de se romantizar a questão ou criar heróis e vilões dentro da trama. Um ponto bem claro para evidenciar a preocupação do roteiro é o pouco tempo dedicado ao debate legal sobre a morte assistida em si. As cenas de tribunal são mínimas e os termos jurídicos, inexistentes.

O centro da trama é realmente o sentimento de Ramón e sua relação com a vida e as pessoas à sua volta. Nesse sentido, conforme as relações evoluem, entendemos melhor os dramas de Júlia e Rosa e porque elas se conectam tanto com o protagonista. Júlia sofre de uma doença degenerativa que coloca ela numa cadeira de rodas e a aterroriza quanto ao seu futuro. Ela se apega à Ramón e eles criam uma conexão forte e sensível. Já Rosa, tão machucada em relacionamentos amorosos, projeta em nele um homem ideal e que a dá forças para viver. Quando ela entende que para ele a maior demonstração de amor é ajudá-lo a morrer, ela se entrega e deixa de lutar contra a vontade dele, trazendo à história um final sensível e melancólico, mas nada romântico ou glamourizado.

Toda essa sensibilidade é positivamente ressaltada pelas ótimas atuações e pelo design de produção da obra. A preocupação de Amenábar em balancear a quantidade de tomadas internas e externas dá um alívio ao espectador e evita uma sensação claustrofóbica de acompanhar toda a história dentro do quarto onde Ramón vive. A composição de personagem por parte do ator Javier Bardem também merece destaque, desde as expressões faciais, a postura enrijecida, a respiração e a fala acelerada trazem verdade ao personagem, que através da maquiagem indicada ao Oscar daquele ano o transforma completamente.

Mar Adentro consegue emocionar e ao mesmo tempo trazer reflexões pertinentes sobre a morte assistida em caso extremo da vida, duas características que infelizmente nem sempre andam juntas. O filme é mais um ótimo trabalho do direto Alejandro Amenábar e do cinema espanhol que, merecido, levou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de volta à Espanha, que havia vencido pela última vez com Tudo Sobre Minha Mãe (1999), do espalhafatoso, mas talentoso cineasta, Pedro Almodóvar.

 

Trailer do Filme Mar Adentro

 

 

Cine Bioéticas – Mar Adentro

 


Domingo – Dia de Matinê no Cinema Local domingo, 29 de outubro de 2023

QUANDO EXPLODE A VINGANÇA (1971) – UMA OBRA-PRIMA DE LEONE

 

HOJE: FILME DE BANG BANG

QUANDO EXPLODE A VINGANÇA (1971) – UMA OBRA-PRIMA DE LEONE

Gentileza do Colunista Cicero Tavares

 

Imagem extraída do DVD

 

Ambientado durante a revolução mexicana de 1913, “Quando Explode a Vingança” (título original em italiano (Giù La Testa), terceiro filme do magno diretor Sergio Leone da trilogia de Era Uma Vez… é uma história sobre poder e política, escrito pelo diretor, os famosos roteiristas Luciano Vincenzoni e Sergio Donati, que colaboraram com o diretor em “Três Homens em Conflito” (1966) e “Era Uma Vez na América (1984).”

Rod Steiger, vencedor do Oscar de melhor ator no filme “No Calor da Noite” (1967) do diretor Norman Jewison, onde fez o papel do xerife Bill Gillespie, atuando ao lado do ator negro Sidney Poitier, interpreta Juan Miranda, um camponês rude com um coração de Robin Hood, Jemes Coburn (Sete Homens e Um Destino) (1960), co-estrela no papel de John Mallory, um revolucionário irlandês atirador de dinamite que fugiu para o México para praticar suas habilidades e Romolo Valli (Um Homem, Uma Mulher, Uma Noite). Juntos, eles preparam uma ousada operação de fuga para libertar prisioneiros políticos, defender seus compatriotas contra a milícia bem equipada de um sádico oficial e arriscam suas vidas em um trem carregado com explosivos. O filme tem uma magnífica fotografia realizada nos desertos da Espanha.

A rapidez com que o longa progride deve muito à montagem de Nino Baragli, que opta por diversos cortes bruscos seguidos de elipses. Tais saltos temporais, a princípio, confundem o espectador, passando uma sensação de termos perdido algo na narrativa. Entretanto, conforme os minutos se passam, vamos encaixando lentamente as peças e, com elas, vem o entendimento do filme como um todo.

Aqui não se pode deixar de traçar a semelhança com a leitura de um livro e sua estrutura capitular, que se traduz na tela da mesma forma. Essa espécie de quebra da imersão nos força a pensar, a analisar a projeção diante de nós, assumindo, talvez, uma visão mais crítica em relação à sua trama e, em segundo momento, à revolução em si. Os questionamentos, presentes nos closes das bocas cheias de comida, voltam ao primeiro plano e, por mais que os protagonistas estejam de um lado do conflito, passamos a nos perguntar qual a diferença entre ambos os lados. A importância de Juan e John é, aqui, ressaltada, ao passo que ambos foram tragados a contragosto para a revolução, não pertencendo, efetivamente, a nenhuma facção.

Mesmo com essa visão política presente na projeção, o que fica, porém, incrustado em nossa mente, é a amizade entre o mexicano e o irlandês, reiterando a forte visão humanista de toda a violência apresentada na obra. Quando Explode a Vingança, no fim, fica como uma grande aventura desses dois homens, caráter constantemente lembrado pela inesquecível trilha de Ennio Morricone, que rompe o som ambiente nos momentos-chave, seja para empolgar o espectador, seja para fazê-lo rir através da palpável química entre Rod Steiger e James Coburn. É um filme que merece ser assistido inúmeras vezes e que, em nenhuma delas, irá cansar, fisgando nossa atenção do início ao fim.

É preciso mencionar aqui as curiosidades que houve durante a pré-produção dessa obra-prima:

Inicialmente, Peter Bogdanovich seria o diretor de Quando Explode a Vingança, mas ele desistiu do projeto, sendo substituído por Sam Peckinpah, que acabou sendo retirado do projeto por questões financeiras com a United Artists; Peckinpah era um diretor de temperamento explosivo.

Clint Eastwood e Jason Robards estiveram cotados para interpretar o personagem Sean Mallory, mas nada concretizado; Quando recebeu a proposta do papel de Sean Mallory, James Coburn relutou antes de aceitar. Para ajudar na decisão, procurou o ator Henry Fonda, que tinha filmado “Era Uma Vez no Oeste” com o cineasta, e ouviu que Sergio Leone era o maior diretor com o qual já havia trabalhado.

 

Trailler oficial de Quando Explode a Vingança

 

 

Crítica a Quando Explode a Vingança

 


Domingo – Dia de Matinê no Cinema Local domingo, 17 de setembro de 2023

PAT GARRETT AND BILLY THE KID (1973)

 

HOJE: FAROESTE

PAT GARRETT AND BILLY THE KID (1973)

Gentileza do Colunista Cícero Tavares

 

 

Pat Garrett e Billy The Kid é um faroeste clássico, sem maquiagem, do Poeta da Violência, Sam Peckinpah, meio desconhecido dos aficionados do western raiz, mas que deixou sua marca pela canção de duas estrofes e o refrão, escrita na época pelo maior músico e compositor do Século XX, Byb Dylan, para fazer parte da trilha sonora: Knocking on Heavens Door.

A começar pelo elenco, Jemes Coburn (Patt Garrett), Kris Kristofferson (Willian Bonney), Bob Dylan (Elias), Jason Robards (Gov. Lew Wall), Rudy Wurtitzer) e Katy Jurado (Mrs. Baker), o Poeta da Violência imprime seu ritmo alucinógeno nas cenas de combate sem deixar margem para que outros cineastas o substituam. Kris Kristofferson foi quem deu a ideia a Dylan para escrever a canção para o filme, que se tornou um clássico do cantor e compositor.

Knockin’ on Heaven’s Door, o inesperado sucesso de Bob Dylan, completa 50 anos, e tornou-se sucesso no mundo todo.

Segundo o crítico musical José Teles, no seu site oficial TELESTOQUES, o livro Bob Dylan – The Lyrics 1961 -2012 reúne as letras que Dylan compôs durante 51 anos, um calhamaço com 740 páginas. Uma produção prodigiosa, com dezenas de obras-primas, que o levaram a ganhar um Nobel de Literatura em 2016. No entanto, uma das canções mais simples, despretensiosas (duas estrofes e o refrão), escrita para ilustrar uma cena do filme Pat Garrett e Billy The Kid, tornou-se a mais conhecida do compositor mundo afora. A genialidade é o tutano da simplicidade.

Cantada por estrelas como Eric Clapton, Guns ‘n’ Roses, The Byrds, Harry Styles, Elvis Costello, Zé Ramalho. Há até uma versão de John Lennon, num CD da série The Lost Lennon Tapes. É obrigatória no repertório de bandas que fazem covers de rock setentista. Em 2004, num desses listões da Rolling Stone, que frequentemente compila canções mais isso ou aquilo, no das 500 Melhores Músicas de Todos os Tempos, a de Dylan figura na posição 190.

A estas alturas fica óbvio que a canção é Knockin’ on Heaven’s Doors, que completou 50 anos 2023. Foi escrita num dos anos menos prolíficos do compulsivo Bob Dylan. Em 1973, ele só lançou um disco de estúdio, com a trilha do filme de Sam Peckinpah, Pat Garrett and Billy The Kid, com James Coburn, e Kris Kristofferson. Este último foi quem convenceu Dylan a compor as músicas do filme, inclusive “Knockin’ on Heaven’s Doors”. Dylan acabou fazendo um papel coadjuvante, um sujeito chamado apenas de “Alias”, ou “Vulgo”, que mal fala nas cenas em que aparece (a foto é um still de Dylan como Alias)

Feito numa época em que o western estava em baixa, Pat Garrett and Billy the Kid não foi sucesso de bilheteria, nem de crítica. Tampouco se esperava que a música tivesse vida própria fora das telas. Lançada dois meses depois da estreia do filme, Knockin on Heaven’s Door iniciou sua carreira de sucesso. Seria a música mais regravada de Bob Dylan nos anos 70. Foi gravada na Cidade do México, com participação de Roger McGuinn (The Byrds), no violão, e Jim Keltner na bateria, Terry Paul, no baixo, e Carl Fortina, no Harmonium, e ainda um coral feminino.

 

Pat Garrett & Billy the Kid Official Trailer #1 – James Coburn Movie (1973) HD

 

 

Pat Garrett and Billy the Kid Knocking on heavens door

 

 

Bob Dylan – Knockin’ on Heaven’s Door (Live)

 


Domingo – Dia de Matinê no Cinema Local domingo, 30 de julho de 2023

OPPENHEIMER (2023), O FILME DO ANO

 

HOJE: BIOGRAFIA - SUSPENSE

OPPENHEIMER (2023), O FILME DO ANO

Gentileza do Colunista Cícero Tavares

 

 

Oppenheimer é um filme biográfico de suspense escrito e dirigido por Christopher Nolan. É baseado na biografia de 2005 American Prometheus, dos autores Kai Bird e Martin J. Sherwin. O filme narra a vida de J. Robert Oppenheimer, um físico teórico que foi fundamental no desenvolvimento das primeiras armas nucleares como parte do Projeto Manhattan, inaugurando assim a Era Atômica.

A trama do filme adaptará a história real de J. Robert Oppenheimer, o físico teórico norte-americano que ficou conhecido como o “pai da bomba atômica”. Ele se tornou o diretor do Laboratório de Los Alamos, chefiando a pesquisa e o desenvolvimento da arma que ajudou a encerrar a Segunda Guerra Mundial, sob o que foi secretamente chamado pelo governo de Projeto Manhattan.

Após a Guerra, ele foi nomeado como presidente do Comitê Consultivo da Comissão de Energia Atômica, onde manifestou forte oposição ao desenvolvimento da bomba de hidrogênio, sucessora da sua criação, o colocando em conflito com o também físico Edward Teller, a mente por trás da nova arma. Oppenheimer então se juntou a outros grandes cientistas que possuíam as mesmas preocupações para pressionar o governo a interromper o projeto da nova arma, já que tamanho poder de destruição era perigoso demais para a humanidade.

 

Durante a Guerra Fria, em 1953, foi acusado de ser comunista. Ele não foi oficialmente culpado por traição, mas perdeu acesso aos segredos militares. Após se afastar das pesquisas em armas bélicas, foi Diretor do Instituto de Estudos Avançados de Princeton, onde trabalhou até se afastar para tratamento de um câncer na garganta, vindo a falecer por conta da doença em 1967.

Continuando a tradição de Nolan de preferir efeitos visuais práticos ao invés de gráficos gerados por computador (CGI), as filmagens envolveram o uso de explosivos reais para recriar o teste nuclearTrinity. Um cenário especial foi criado com gasolina, propano, pó de alumínio e magnésio para serem usados. Ao usar miniaturas para o efeito prático, o supervisor de efeitos especiais do filme, Scott R. Fisher, referiu-se a elas como “grande-aturas”, já que a equipe tentou tornar os modelos os maiores possíveis. Para parecer que tinham tamanho natural, a equipe usou a técnica de perspectiva forçada. Além disso, uma cidade no estilo dos anos 1940 também foi construída do zero para o filme. Imagens das interações entre átomos, moléculas e ondas de energia, bem como a representação de estrelas, buracos negros e supernovas, também foram obtidas por meio de métodos práticos. Nolan afirma que o filme não contém efeitos gerados por computador, dando um charme especial à sua produção.

Oppenheimer torna-se assim mais um fruto da mente ousada e criativa de Christopher Nolan, mostrando porque é considerado um dos principais cineastas do século 21.

 

a) OPPENHEIMER – Novo Trailer (Universal Studios) – HD

 

 

b) “Oppenheimer”: a ópera atômica de Chris Nolan – comentários de Isabela Boscov

 


Domingo – Dia de Matinê no Cinema Local domingo, 16 de julho de 2023

ERA UMA VEZ NO OESTE (1968) – UM MONUMENTO À SÉTIMA ARTE

 

HOJE: WESTERN

ERA UMA VEZ NO OESTE (1968) – UM MONUMENTO À SÉTIMA ARTE

Gentileza de Cícero Tavares, Colunista do Almanaque Raimundo Floriano

 

 

‘Once Upon a Time In The West’ (1968), do magno diretor Sergio Leone, é uma obra de arte superlativa que, de qualquer ângulo que seja analisada, sua superlatividade será inalcançada.’

“Obra máxima de um dos maiores diretores que já existiram no cinema oeste mundial, Era Uma Vez No Oeste, se estabeleceu como um festival de imagens belíssimas que narram uma história maravilhosa e emblemática, servindo de metáfora para o começo da modernização e o fim do mundo mítico do Velho Oeste. É um canto de despedida de personagens clássicos e de um estilo de vida característico de uma época distinta da sociedade americana. Nas palavras de um personagem em certo momento do filme, ‘é algo que tem a ver com a morte.’

Um irlandês visionário compra uma propriedade inóspita afastada da cidade em um local que viria a ser no futuro a rota da estrada de ferro. Em virtude do lugar estratégico que se instalou, ele e toda sua família são assassinados por um matador de aluguel a mando de um magnata ferroviário. O que ninguém sabia é que o homem assassinado havia se casado há pouco tempo com uma prostituta de New Orleans que herdou tudo. Acabava de chegar à cidade e passa a ser defendida por um misterioso homem solitário e um fora da lei com sua gangue que também, queria vingança contra o matador.

Com sua costumeira habilidade e perfeccionismo para construir cenas antológicas, Leone inicia o filme mostrando uma velha estação, protegida por um senhor de idade e uma índia. A trilha sonora sempre competente de Ennio Morricone cede lugar aqui ao som de um moinho de vento que, auxiliado pela lentidão da construção da cena, ajuda a criar um clima crescente e insuportável de tensão. As gotas de água caindo no chapéu de um pistoleiro, a mosca voando no rosto de outro e o som insuportável do telégrafo só aumentam o clima de expectativa. Quando ouvimos o barulho do trem chegando à estação já imaginamos o que está para acontecer.

A excelente introdução do filme serve também para introduzir o personagem mais enigmático da narrativa: Harmônica (Charles Bronson). Sua primeira aparição já deixa bem claro para o espectador que se trata de alguém extremamente perigoso. Na cena seguinte, vemos a família que servirá de base para toda a trama e mais uma vez os momentos silenciosos falam mais que as palavras. Somente os olhares daquelas pessoas já nos indicam que algo anormal se aproxima. O que de fato acontece minutos depois.

Temos então outra excelente introdução de personagem: O pistoleiro assassino. Observe como a câmera prolonga ao máximo o momento em que o rosto de Frank (Henry Fonda) é revelado, criando uma enorme expectativa na plateia (movimento também utilizado em outra cena do filme, quando Jill abre uma porta). Além de ter muito estilo, esta introdução tem também um contexto histórico. Em uma época sem internet, as pessoas não sabiam quem faria qual papel nos filmes, e Fonda era um ator marcado por fazer papel de mocinho.

Ao apresentá-lo em cena como o cruel assassino, Leone provocou um enorme choque na plateia. A cena termina com uma elipse maravilhosa que corta do som de um tiro para o som dos freios de um trem. Estes são apenas dois exemplos de mais uma espetacular direção de Sergio Leone. Ele alterna closes muito próximos dos rostos dos atores, que são capazes de revelar cada cicatriz, com planos gerais distantes que exploram muito bem as maravilhosas paisagens da região. Além da condução perfeita da narrativa, Leone abusa também da criação de planos e movimentos de câmera cheios de estilo. Em duas oportunidades Jill McBain (Claudia Cardinale) chega a ambientes desconhecidos por ela, e o visual da cena já nos faz sentir isso. Observe como o foco se concentra no rosto da atriz e todo o ambiente atrás dela fica fora de foco. O diretor cria um contraste interessante com o ambiente em que ela está chegando, sempre filmado através de um plano geral e com foco em toda a cena, demonstrando o quanto ela está deslocada e intimidada, ao contrário das outras pessoas que já estavam ali. Leone cria ainda muitos momentos de tensão, como na cena em que a algema presa ao braço de Cheyenne (Jason Robards) é cortada.

O diretor italiano demonstra também seu talento na direção de atores, extraindo performances de alto nível. O grande destaque fica para Charles Bronson como o frio e determinado Harmônica, sempre com a expressão séria e focado em seu objetivo. Suas introduções em cena com o som da gaita anunciando sua presença são maravilhosas. Henry Fonda também está muito bem como o expressivo vilão Frank. Seu olhar penetrante caiu como uma luva no personagem, que conta ainda com um jeito lento de andar, característico de quem é extremamente autoconfiante. O ponto alto da grande atuação de Jason Robards são os momentos de humor. Cheyenne é um vilão divertido e ambíguo, e Robards transmite essa idéia em muitas cenas com extrema habilidade. Sua conversa com Jill McBrain sobre a importância que tem para um trabalhador ver uma mulher linda como ela é hilária.

Ele também tem um bom desempenho dramático, como na cena em que diz para Jill McBain que ela o faz lembrar sua mãe. Sua expressão sincera é marcante e estabelece uma conexão com ela, além de conseguir respeito da parte dela. Claudia Cardinale está belíssima como Jill. Sua memorável e última cena, quando ela se mistura aos trabalhadores para lhes dar água, é também extremamente simbólica. Seu olhar penetrante fascina os outros personagens, que vão descobrindo aos poucos o poder que aquela mulher tem naquele ambiente hostil. Ela é o centro da narrativa, tudo gira ao seu redor. Interessante notar como os três homens chave da trama têm alguma relação mais intima com ela de diferentes formas.

O Harmônica é mais violento, Frank mais romântico (com a concessão dela), e Cheyenne é mais bem humorado (e abusado também). Também merece destaque a cena em que Morton (Gabriele Ferzetti) vê o quadro do mar e sente que jamais conseguirá ver o que tanto desejava, pois sabe que seu fim está próximo. Ferzetti transmite toda a angústia do personagem através do olhar triste e da respiração pausada.

O roteiro é coeso e aborda temas interessantes como a vingança e o poder do dinheiro, além de mostrar a corrupção que envolvia todo o processo de construção das ferrovias. Os deliciosos diálogos, sempre presentes nos filmes de Leone, não poderiam faltar aqui. Podemos destacar a sensacional conversa entre o Hamônica e Cheyenne dentro do bar (“Eu vi três casacos como estes na estação. Dentro dos casacos havia três homens. Dentro dos três homens, três balas.”), dois excelentes diálogos entre Jill e Cheyenne (quando ele sente que ela pensa em atacá-lo e quando ela explica porque decidiu morar no campo) e uma outra tirada sensacional que faz referência à Judas, recheada de bom humor. Temos também a seqüência em que o atendente de um bar diz que jamais gostou da idéia de morar em uma cidade grande pois prefere a vida tranqüila do campo, o que se revela uma engraçada ironia, já que aquele lugar é perigoso o bastante para não se ter uma vida tranqüila.

O filme conta também com um excelente trabalho de montagem, que permite à narrativa fluir de forma agradável e nunca arrastada. Observe as excelentes transições de planos, como na ocasião em que Cheyenne pergunta à Jill McBain se o café dela é bom. A resposta “nada mal” vem em outra cena, com Morton fazendo uma outra pergunta a Frank. Tonino Delli Colli colabora significativamente para a criação daquele universo através de sua excelente direção de fotografia. As cores que predominam, como preto, bege e marrom, tornam ainda mais árido o ambiente.

Ele também conseguiu tornar imperceptível a diferença de cor na poeira das locações, que ficavam em lugares totalmente diferentes (EUA e Espanha). Quando Jill McBain deita em sua cama muito triste pela perda do marido, a fotografia a envolve em cores pretas, numa demonstração visual da escuridão que ela está mergulhada. O belo trabalho de direção de arte cria uma cidade em construção impressionante, vista pela primeira vez em um admirável travelling de Leone, além de cuidar de todos os detalhes dos cenários, como os envelhecidos talheres e toda a mobília da casa de Jill. Os figurinos sensacionais criam todo o ambiente característico do velho oeste, com botas, casacos e cinturões, além dos belos vestidos das mulheres.

A maquiagem também é excelente, marcando aqueles rostos queimados pelo sol com perfeição. Ennio Morricone dá mais um show, compondo uma trilha sonora sensacional. Cada personagem tem sua própria e bem característica trilha. Jill tem um tema delicado e arrebatador, com uma melodia lenta e uma voz aguda. Frank tem um tema tenso, com notas pesadas e longas. O tema de Cheyenne é alegre, com notas rápidas e divertidas. Já o Hamônica tem um tema sombrio, misterioso, com notas contínuas e pesadas misturadas ao som de uma gaita estridente.

Como não poderia deixar de ser em um filme de Sergio Leone, o esperado duelo final é conduzido lentamente e com enorme brilhantismo. A câmera alterna planos gerais com closes no rosto dos atores, ao som de uma trilha primorosa que mistura os temas dos dois personagens. A movimentação é orquestrada, e eles vão se posicionando para o duelo lentamente.

Os olhares fixos demonstram a tensão daquele momento e o auge acontece através de um close extraordinário que praticamente entra nos olhos do Harmônica, seguido de um flash-back que explica porque ele evitou a morte de Frank antes. O prazer da vingança era o seu maior desejo. Observe que após o duelo, quando Frank é baleado, ele está numa posição de comando no plano, com a câmera filmando-o de baixo pra cima. Quando ele cai, imediatamente o Harmônica assume esta posição, tomando assim o controle da situação. Frank, agora derrotado, passa a ser filmado de cima para baixo, e seu último plano, com a gaita na boca, remete visualmente ao motivo de sua perseguição e morte. Toda esta composição visual característica de Leone demonstra sua enorme habilidade como diretor. Os elementos característicos dos filmes dirigidos por Sergio Leone são utilizados de forma mais perfeita do que nunca nesta produção. O clima tenso e a sensação sempre presente de que aquelas pessoas dificilmente sobreviverão mantém o espectador sempre atento à narrativa.

Extremamente bem fotografado e colecionando cenas inesquecíveis, Era Uma Vez No Oeste é uma fábula lenta e triste sobre o fim de uma era e o início de outra na sociedade americana. À chegada da ferrovia trouxe o progresso para aquelas pessoas, mas trouxe também o fim de um período memorável, recheado de personagens inesquecíveis. Todos estes elementos fazem do filme uma obra-prima marcante e eterna.”

ERA UMA VEZ NO OESTE – TRAILER

 

 

ERA UMA VEZ NO OESTE 10 coisas que você NÃO SABIA! RESUMO e Curiosidades

 

 

 

 


Domingo – Dia de Matinê no Cinema Local domingo, 02 de julho de 2023

THE HURRICONE – (1999) – “O FURACÃO” CONDENADO PELO RACISMO

HOJE: CINEBIOGRARFIA

THE HURRICONE – (1999) – “O FURACÃO” CONDENADO PELO RACISMO

Gentileza do Colunsta Cícero Tavars

 

 

Bob Dylan visita “The Hurricone” na cadeia em 1975

 

A cinebiografia HURRICONE – O FURACÃO (1999), dirigida pelo aclamado diretor Horman Jewison, conta a história de Rubin “Hurricone” Carter (Denzel Washington), numa atuação magistral, do famoso pugilista estadunidense, cuja prisão por assassinato foi cercada de suspeita por perseguição racial. Em 1966, Rubin Carter foi detido junto com um amigo e acusado do assassinato de três pessoas em Nova Jersey. Após rápido julgamento, ele foi condenado à prisão perpétua por um júri composto exclusivamente por brancos por triplo assassinato. Tanto Rubin Carter como seu amigo, John Artis negaram envolvimento nos assassinatos, passaram sem problemas por um detector de mentiras e as testemunhas não os reconheceram como os executores dos disparas no bar, mas mesmo assim foram condenados. O filme mostra as pessoas que ajudaram a conseguir um novo julgamento que o inocentou. Rubin Carter ficou encarcerado por quase 20 anos e a sua esperança restringia-se aos fãs que acreditavam em sua inocência.

“Esta é a história de Hurricane, o homem que as autoridades vieram a culpar por algo que ele nunca fez. Posto na prisão, aquele que poderia ter sido campeão do mundo,” assim escreveu Bob Dylan na letra da música Hurricone, protestando pela injustiça da condenação preconceituosa do boxeador.

Em junho de 1966, Rubin “Hurricane” Carter (Denzel Washington) era um forte candidato ao título mundial de boxe. Entretanto, os sonhos de Carter vão por água abaixo quando três pessoas são assassinadas num bar em Nova Jersey. Indo para casa em seu carro e passando perto do local do crime, Carter é erroneamente preso como um dos assassinos e condenado à prisão perpétua. Anos mais tarde, Carter publica um memorial, chamado “The 16th round”, em que conta todo o caso. O livro inspira um adolescente do Brooklyn e três ativistas canadenses a juntarem forças com Carter para lutar por sua inocência.

O filme “The Hurricane – O Furacão”, é baseado na história real de Rubin Carter, um famoso pugilista que após ganhar 18 lutas seguidas passou a ser conhecido como “Furacão” por seus golpes demolidores. No entanto, a carreira vitoriosa de Carter foi interrompida por uma acusação infundada de três homicídios.

A trajetória do garoto negro que aprendeu a sobreviver cedo, como o próprio se define, começa a ficar turbulenta aos 11 anos, quando tem seus direitos de cidadão violados e é condenado a cumprir sentença até completar 21 anos por atacar um pedófilo branco da alta corte americana. O detetive encarregado da investigação foi Della Pesca (Dan Hedaya), um branco racista, o mesmo que se encarregaria de reunir provas falsas para incriminar Rubin Carter novamente em 1965.

A história de Rubin Carter comoveu artistas e fãs e ganhou propagação mundial, mas nem mesmo as inúmeras manifestações e os protestos foram suficientes para tirá-lo da prisão. Carter foi preso e condenado a prisão perpétua, junto com seu amigo John Artis, porque duas testemunhas do local do crime confirmaram os dois como autores do triplo assassinato. As testemunhas foram subornadas pelo detetive particular racista Della Pesca, que encontrou uma maneira simples e rápida de resolver o caso.

Após passar, quase 20 anos preso, e ser julgado e condenado duas vezes por um júri branco, Rubin Carter estava desacreditado de sua liberdade. No entanto, o livro escrito por ele, nos primeiros anos de cadeia, intitulado The 16th Round – De número 1 ao número 45472, caiu nas mãos de Lesra, um garoto negro que se identificou com a história do pugilista e motivou a família canadense a lutar pela liberdade de Carter. Essa amizade foi responsável por em 1985 garantir a liberdade de Hurricane. Tendo a sentença de condenação anulada por um juiz do tribunal federal que, na sentença, encontrou prova de racismo e alteração da realidade dos fatos por um detetive particular branco, racista, que o havia condenado na adolescência.

É interessante pensar em Hurricane como um campeão de boxe, afinal a sua grande vitória vem ao escrever sua biografia que encanta o jovem Vince e seus amigos canadenses, e é com a ajuda dele que Rubin (Hurricane) consegue sair da prisão após quase 20 anos preso injustamente.

O filme, além de contar com uma atuação magistral de Denzel Washington (lembrando seus momentos de glória em Duelo De Titãs e O Voo, onde esteve brilhante) também é muito bem escrito, conseguindo prender o telespectador durante as mais de duas horas e meia de exibição e consegue fazer o espectador escolher um lado, se o da polícia, ou (e obviamente) o do boxeador.

Para aqueles que pensam que Hurricane – O Furacão, é apenas mais uma biografia de um homem que conseguiu dar a volta por cima; enganam-se. O filme é sim uma verdadeira superação, é uma aula onde a pauta principal é a vida; Porque viver? Porque o racismo? Porque eu? Essas são apenas algumas das inúmeras perguntas respondidas e que estão muito bem delineadas nas entrelinhas do roteiro.

As considerações fáticas do Juiz Federal Judge Sarokin (Rod Steiger) para anular os dois processos de primeiro grau do Tribunal Estadual de Nova Jersey são um primor de contextualização jurídica. E a frase que Rubin Carter pronuncia ao jovem Lesra Martin de dentro do parlatório, o adolescente negro que abraçou a causa por puro amor à Justiça, pagam o filme: “O ódio me pôs na prisão. E o amor vai me tirar.” – concluiu Carter.

 

The Hurricane – Trailer

 

 

Bob Dylan – Hurricane (Official Audio)

 


Domingo – Dia de Matinê no Cinema Local domingo, 25 de junho de 2023

RÁPIDA E MORTAL (1995), UM SPAGHETTI WESTERN CULT

 

HOJE: WESTERN SPAGHETTI

RÁPIDA E MORTAL (1995), UM SPAGHETTI WESTERN CULT

Gentileza do Colunista Cíceto Tavares

 

Cartaz quando lançado em DVD

 

“RÁPIDA E MORTAL,” é dirigido pelo diretor americano Sam Raimi, famoso por dirigir a série de filmes do Homem-Aranha. Conta a história de uma mulher misteriosa, Ellen, que cavalga até a cidade fictícia de Redemption em busca do homem que a obrigou a atirar no seu pai quando criança. Ela vem para matar o poderoso xerife da cidade, o homem que tornou o lugarejo desolado por suas ações cruéis qual o deserto que agora ela atravessa para chegar lá. Mas os demônios que a levaram para este mortal conflito são os mesmos que a colocaram numa situação limite; e o estranho é que pode ser a única a cair morta ao final do acerto de contas. Estrelado por Sharon Stone no papel da atriz principal, ela é a mulher sedutora de homens em “Instinto Selvagem” e Gene Hackman, cinco vezes indicado ao Oscar, vencedor por duas vezes, numa atuação magistral como o xerife vingativo.

“Rápida e Mortal” é um faroeste que diverte. Não é uma obra-prima, mas diverte. Mas o pior é que o filme diverte mesmo. Prepare-se para tiroteios rápidos, vilões cruéis e caricatos, e mortes mais que dramáticas. O filme em si é exagerado, mas esta é a fórmula certa, o exagero para divertir. O diretor Sam Raimi conduziu a brincadeira certinha. Mas miss Stone estava bem à vontade, até porque o filme teve poder de barganha da loura. Ela mandava em Hollywood naquela época. Coadjuvantes de luxo do porte de Leonardo Di Caprio e Russel Crowe, mas mesmo assim o filme não decolou e caiu no esquecimento. O que fica de reflexão é porque Hollywood é tão injusta com seus mitos? Di Caprio e Crowe nesta época eram quase desconhecidos e Sharon era a rainha da cocada preta; hoje Crowe e Di Caprio figuram como os maiores astros de Hollywood enquanto a estrela de Sharon se apagou e a cocada preta um anjo torto comeu.

A coragem de Sam Raimi se afirma na confiança do protagonismo a uma mulher. Em território historicamente dominado por homens, no qual a mulher ou era submissa ou prostituta, surge cavalgando no horizonte a bela Ellen (Sharon Stone). Vestida de cowboy, arma no coldre, chapéu e aquele olhar ferino tipo “Estranho Sem Nome”, ela chega até a cidade de Redemption em busca da boa e velha vingança, tema abundante num período em que 09 entre 10 pessoas carregavam armas nas ruas e, não raro, davam vazão à raiva metendo bala na cabeça de alguém. No caso de Ellen, a desforra tem razões mais sombrias e remonta ao assassinato do pai, então Xerife, pelo bando de John Herod (Gene Hackman) que, claro, ela encontrará na cidadela com nome de premonição.

John Herod promove na ocasião um torneio de tiro, onde viver é sinal de vitória. Ele traz forçosamente o velho parceiro Cort (Russell Crowe) para a peleja, tirando-o da vida dedicada às pregações religiosas para lembrá-lo de seu passado assassino. Cort, rápido e letal, será uma espécie de suporte psicológico a Ellen. Além da vingança, outro tema trabalhado em Rápida e Mortal é a relação pai/filho, uma vez que Herod terá como oponente seu próprio filho Fee “The Kid”, (Leonardo Di Caprio), jovem ávido para provar ao pai seu valor, nem que para isso precise matá-lo em duelo.

Sam Raimi cozinha esse assado numa panela repleta de referências, sendo a principal delas o italiano Sérgio Leone, ícone do chamado spaghetti western, e o maior diretor de faroeste do Século XX. Entre filiar-se à tradição estadunidense e seguir a maior dramaticidade do bangue-bangue europeu, o diretor envereda visualmente pela segunda, muito mais próxima de seu itinerário estilístico repleto de ângulos insólitos e tipos marcados.

Mas Raimi não se propõe ao pastiche, dotando Rápida e Mortal de identidade própria e carimba com sua assinatura contumaz. Quiçá o problema (se isso for problema) maior do filme reside no eclipse da protagonista por dois personagens tão ou mais fortes que ela própria: Herod e Cort. Algo a ver com as interpretações contundentes de Gene Hackman e Russell Crowe, frente à burocrática Sharon Stone? Pode ser. Independente dessas questões, Rápida e Mortal é um filme que tem seus brios, empolgantes e cheios de energia. Se não trouxe nada de novo para o gênero, o resgatou dignamente do limbo.

Por isso, o filme possui várias qualidades, e uma delas é seu elenco impressivo. Dentre os atores presentes no filme, tem-se a presença de Sharon Stone, Gene Hackman, Leonardo DiCaprio e Russell Crowe, então o filme apresenta um conjunto de atores talentosos. Apesar de que na época o impacto de alguns desses nomes não ser o mesmo de hoje, já que o filme foi feito com o DiCaprio antes de fazer Titanic e Crowe antes de ganhar seu Oscar. Isso não tira o peso de suas performances. Mas é Hackman, que dá um show, com uma atuação que eleva o personagem que ele interpreta. Tem presença de tela e que sabe entregar ótimos diálogos.

Um dos pontos altos do filme são as cenas dos duelos, que são bem trabalhadas, e todas elas são distintas umas das outras, principalmente por causa do ritmo e da edição, que sempre varia e impede que as cenas pareçam repetitivas. O filme também é ótimo tecnicamente falando, já que possui ótimos cenários, com um design de produção coerente, assim como os figurinos, que combinam com a personalidade de seus personagens. A trilha de Alan Silvestri casa com o filme de forma perfeita, e a música tema do filme é bastante melódica e memorável.

“Rápido e Mortal”, é um faroeste trush divertido, apesar de ser um filme com mais estilo do que substância. Relevam-se todos os problemas com o roteiro e alguns personagens. São uma hora e trinta minutos que passam rápido e cumpre seu papel de entretenimento, para os que gostam do gênero spaghett western.

 

Trailer de Cinema de “Rápida e Mortal”

 

 

RÁPIDA E MORTAL (The Quick and the Dead, 1995) – Crítica

 


Domingo – Dia de Matinê no Cinema Local domingo, 18 de junho de 2023

PIEDADE – (2019), UM FILME COM TEMA SÉRIO JOGADO NO LIXO

 

HOJE: PORNOCHANCHADA BRASILEIRA

PIEDADE – (2019), UM FILME COM TEMA SÉRIO JOGADO NO LIXO

Gentileza do Colunista Cícero Tavares

 

 

Cartaz do filme Piedade (2019)

 

“Piedade”, filme ficcional do cineasta caruaruense Cláudio de Assis, lançado oficialmente no 52º festival de cinema de Brasília em 2019, é mais uma pornochanchada brasileira de péssima categoria patrocinado pela famigerada Lei Rouanet, esse lixo radioativo criado em 1991 pelo governo do doidivana Collor de Melo para afrouxar dinheiro para artistas ricos, incompetentes, improdutivos e inescrupulosos (não é o caso do cineasta Cláudio de Assis) de enriquecerem às custas dos impostos dos brasileiros que trabalham sério e lutam pelo progresso do País.

As primeiras imagens que aparecem na tela desse lixo metragem deixa qualquer telespectador inteligente aturdido, atabalhoado, por ficar em dúvida se está assistindo a um filme cuja temática é a resistência de uma comunidade ribeirinha pacata preste a ser despejada pela ação nefasta de um empresário ganancioso, inescrupuloso ou a um campeonato aquático de adolescente cagando palavrões pela boca.

Ao entrar no cinema pensando que vai assistir a um drama sério, abordando um tema lhano, universal, um libelo à natureza, ao meio ambiente, por causa da ganância do homem, o telespectador se depara com um amontoado de cenas de palavrões e sexos explícitos masculinos sem conexão com a história. As cenas de sexo explícito entre Aurélio e Sandro por mais de dez minutos é uma violência ao bom senso de qualquer telespectador.

A sinopse aborda “o cotidiano da pequena cidade fictícia de Piedade abalada com o interesse e chegada de uma grande petroleira no local. Aurélio, interpretado por Matheus Nachtergaele, é representante da petroleira Petrogreen e tem o objetivo de convencer os moradores da cidade a venderem seus terrenos. Logo ele percebe que o foco de resistência à sua proposta é o círculo familiar de Dona Carminha, personagem interpretada magnificamente por Fernanda Montenegro e seu filho mais velho, Omar, interpretado pelo sempre inspirado ator barreirense Irandhir Santos, proprietário do bar Paraíso do Mar. As abordagens de Aurélio fazem com que ele descubra segredos da família e uma inesperada conexão com Sandro, interpretado pelo ator Cauã Reymond, dono de um cinema pornô do outro lado da cidade.”

Depois de dirigir “Amarelo Manga” (2002), seu longa de estreia, que retrata a vida de alguns moradores do centro histórico do Recife, guiados pelas suas paixões e frustrações do dia a dia; “Baixio das Bestas”, (2006), um pornô com cenas de sexos explícitos piegas, refletindo as condições das prostitutas dos cabarés de quinta categoria; “Febre do Rato” (2011), um enredo fora de controle, doidera geral; “Big Jato” (2016), baseado no livro homônimo de memórias de Xico Sá, que retrata a vida do motorista do imponente Big Jato, um caminhão-pipa utilizado para limpar as fossas da cidade sem saneamento básico. Porém, Francisco está mais interessado nas ideias do tio, um artista libertário e anarquista. À medida que descobre o primeiro amor, ele percebe a vocação para se tornar poeta.

O cineasta Cláudio de Assis não inova em nada na sua filmografia. Continua estático, com um tom ranzinza e raivoso, atirando bosta no ventilador da matinê de domingo. Não sai do nonsense, do underground, do lugar comum, da vulgaridade, da lixeira.

Se tivesse argúcia, sensibilidade e espírito inovativo para fazer obras sérias e inovadoras e não possuísse o ego maior do que sua calça jeans, Cláudio de Assis dava um tempo a seus projetos pessoais, assistiria a todos os filmes do mestre Sergio Leone, que rompeu a muralha holywoodiana nos anos sessenta com talento, impôs seus western sphaghetti produzidos na Itália e disse aos yankees: “Oeste se faz com mais violência, sim; efeitos sonoros de sons ambientais, sim; e utilização de imagens e símbolos religiosos, sim.” O resto é conversa fiada para boi dormir e discursos raivosos de John Wayne, que considerava, à época, que o faroeste fora do eixo de Holywoodd era piada pronta de cineasta italiano idiota, no caso do diretor Sergio Leone, que o tempo provou o contrário; e pôs uma rolha na boca de Wayne.

Sergio Leone encantou-se jovem ainda, mas deixou uma obra genial para a posteridade, tão importante quanto às produzidas pelos americanos por que encarava cinema com seriedade, sem copiá-los nem utilizar cenas de sexos explícitos para fazer obras-primas como a magna Trilogia dos Dólares, Era Uma Vez no Oeste, Quando Explode a Vingança e Era uma Vez na América, melhor filme já produzido sobre a ascendência da máfia judaica no bairro de Nova York.

O filme “Piedade” tem um excelente tema, mas desperdiçado seu desenvolvimento por um diretor obssessivo pelo underground paranoico, pornográfico-esquerdo pata, onde a exploração do homossexualismo rola como se fora a caixa de pandora da história.

 

“Piedade” – Trailer Oficial

 

 

Elenco de “Piedade” comenta o filme no Festival de Brasília | Cinejornal

 


Domingo – Dia de Matinê no Cinema Local domingo, 04 de junho de 2023

ERA UMA VEZ NO OESTE (1968) – NÃO HAVERÁ OUTRO IGUAL

 

HOJE: WESTERN

ERA UMA VEZ NO OESTE (1968) – NÃO HAVERÁ OUTRO IGUAL

Gentileza do Colunista Cícero Tavares

 

“O ritmo do filme pretendeu criar a sensação dos últimos suspiros que uma pessoa exala antes de morrer. Era uma Vez no Oeste é, do começo ao fim, uma dança da morte. Todos os personagens do filme, exceto Claudia Cardinale, têm consciência de que não chegarão vivos ao final.”- Sergio Leone.

Três homens chegam a cavalo numa estação ferroviária, à espera de alguém. De quem, o espectador no cinema não sabe. Os minutos correm. O suor dos homens contagia os espectadores, o suspense torna-se quase insuportável. Gotas d’água e moscas transformam-se em instrumentos de tortura. As imagens em close dominam a tela.

Nesse momento, o primeiro diálogo:

– Frank não veio?

– Frank não teve tempo de vir. Mandou-nos.

– Vocês trouxeram um cavalo para mim?

– Ha, ha, olhando em volta, eu só vejo três. Parece que temos um a menos?

– Vocês trouxeram dois a mais.

O próprio início de Era uma Vez no Oeste tornou-se legendário, um mito do cinema moderno. E a ele somava-se uma trilha sonora incomparável: poucas músicas na história do cinema foram tão marcantes como a composta pelo gênio italiano de Ennio Morricone. Sob diversos aspectos, Era uma Vez no Oeste consagrou-se como um clássico do cinema e um modelo de filme: música, encenação, direção, atuação, fotografia – em tudo isso, o filme criou um novo padrão em 1968.

Com o seu filme Por um Punhado de Dólares (1966), o diretor Sergio Leone inventaria o gênero denominado de spaghetti western, o qual ele próprio consolidaria com duas continuações. Com Once Upon a Time in the West (título original de Era uma Vez no Oeste), Leone voltou a criar uma obra-prima de caráter próprio, mesclando a mitologia do faroeste americano com a ópera europeia.

A história narrada pelo filme é bastante conhecida. O caladão que tocava gaita ( Charles Bronson), cujo personagem tem nome no filme de “harmônica”, busca vingança. Quando criança, ele fora testemunha de um ritual macabro de assassinato, sendo obrigado a tocar uma canção na gaita-de-boca enquanto o seu pai era enforcado a mando do matador de aluguel Frank.

Paralelamente, Leone conta também a história da conquista do Oeste pela ferrovia, a história da linda prostituta Jill McBell (Claudia Cardinale), do assassino de aluguel Frank (Henry Fonda) e do velhaco de boa índole Cheyenne (Jason Robards), em imagens belíssimas e diálogos lacônicos, que são tão simples como verossímeis:

– Ninguém sabe o que o futuro trará. Por que eu estou aqui? Eu quero a fazenda ou a mulher? Não. Você é o motivo. E vai me dizer agora quem você é! Diálogo entre Frank e Harmônica perto à ferrovia que estava nascendo.

– Algumas pessoas morrem de curiosidade.

Isso se confirma no final. Henry Fonda, que em toda a sua longa e bem-sucedida carreira anterior sempre encarnara o mocinho, sucumbe sobre o chão poeirento com a gaita na boca. Morto pelo homem sem nome, (Charles Bronson), que quase sempre fazia o papel do malvado. Também essa inversão de papéis foi um choque para os espectadores da época.

Em Era uma Vez no Oeste convergia muita coisa e eram muitas as interpretações possíveis naquele ano de 1968. Capitalismo e revolução, cultura clássica e cultura pop americana, mitologia grega e ópera, amor e tragédia: ou seja, cinema na forma e perfeição mais pura e original, além de uma música que, ainda hoje, dá um arrepio na espinha.

Era uma vez no oeste – Trailer

 


Domingo – Dia de Matinê no Cinema Local domingo, 07 de maio de 2023

GOLPE DE MESTRE (1973) – UM CLÁSSICO DESPRETENSIOSO (POSTAGEM DE CÍCERO TAVARES, CO.UNISA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

HOJE: COMÉDIA INTRINCADA

GOLPE DE MESTRE (1973) – UM CLÁSSICO DESPRETENSIOS

Gentileza do Colunista Cícero Tavares

 

Dois vigaristas dão um golpe em um capanga e embolsam uma grana alta. Mas isto não fica assim, pois o chefe da quadrilha decide se vingar. Porém, quando um deles foge e entra em contato com um ex-parceiro, ambos decidem aplicar no criminoso um tremendo conto do vigário.

Um dos grandes clássicos dos anos setenta e um dos melhores roteiros já escrito. Filme indicado a dez óscares, sendo agraciado com sete: melhor filme, melhor direção, melhor ator, (Robert Redford), melhor roteiro original, melhor montagem, melhor figurino, melhor direção de arte e melhor trilha sonora.

Há que se destacar a trilha que é simplesmente perfeita e o roteiro que é impecável, seus atos são de uma qualidade absurda. Temos um elenco só de monstros sagrados do cinema como Robert Redford, Paul Newman e Robert Shaw, ou seja, três lendas. Golpe de Mestre é um filme de um ano cheio de grandes filmes que fica difícil mensurar qual foi o melhor.

É um filme atemporal e surpreendente que, apesar de ter uma trama intrincada é contada de forma leve e bem humorada. Enfim, é uma história de vigaristas feita unicamente para entreter sem qualquer pretensão de passar lição de moral no fim. Isso é um artigo raro no cinema.

Um pouco depois da primeira parceria do Paul Newman e do Robert Redford em (Butch Cassidy)-(1969) o diretor George Roy Hill escalou-os novamente na comédia inteligente Golpe de Mestre. Em quase todos os quesitos esse filme é melhor que o anterior da dupla, sem contar que há nele um nível de inteligência sem igual, fazendo-nos rir do que nós mesmos pensamos.

A direção do George Roy Hill é magistral, criando um clima perfeito de suspense policial com uma boa pitada de comédia pastelão. As atuações estão todas perfeitas, desde a dupla principal até a escalação coadjuvante. Mas o destaque de todo o filme é o roteiro, um dos mais inteligentes que já vi em filmes de comédia. A história central pode ser de difícil compreensão ao decorrer do filme, mas a cada parte entendemos o melhor.

Pode parecer que toda a comédia se esvaiu, mas há uma virada final que deixa qualquer um de boca aberta e dando risada dos seus próprios pensamentos. O restante da obra é igualmente bom, tratando da trilha-sonora, cenários, fotografia, edição, etc.

GOLPE DE MESTRE pode não ser um clássico do gênero, mas ele pode dar vários momentos de diversão, devido principalmente ao roteiro extremamente rocambolesco e inteligente.

 

The Sting Official Trailer #1 – Paul Newman, Robert Redford Movie (1973) HD

 

 

The Sting (3/10) Movie CLIP – A Game of Jacks (1973) HD – Cenas memoráveis

 

 

 GOLPE DE MESTRE (1973) – SESSÃO #257 – MEU TIO OSCAR

 


Domingo – Dia de Matinê no Cinema Local domingo, 26 de março de 2023

UM SONHO DE LIBERDADE (1994) – UMA OBRA-PRIMA ETERNA

 

HOJE: POLICIAL

UM SONHO DE LIBERDADE (1994) – UMA OBRA-PRIMA ETERNA

Gentileza do Colunista Cícero Tavares

 

A esperança é a renovação da mente, do corpo e do espírito

UM SONHO DE LIBERDADE, talvez o melhor filme policial já produzido e dirigido da história do cinema, joga um olhar sensível sobre a redenção, quase absoluto sobre o maior bem da vida: A Liberdade. Uns dos melhore exemplos dessa metáfora humana nos são fornecidos na decisão do xerife Will Kane (Gary Cooper) do western Hign Noon (1952), (Matar ou Morrer), quando preferiu defender sua honra e enfrentar quatro pistoleiros cruéis só, com a recusa da população da cidade de Novo México, onde era xerife, se negado a lhe cooperar; Winston Churchill, ex-primeiro-ministro do Reino Unido e maior estadista do Século XX, caminhando sobre bombas e tiroteios sem proteção na Segunda Guerra Mundial para negociar a salvação da humanidade das alucinações malignas de um lunático chamado Hitler.

Nesse primeiro texto, serão reproduzidos alguns comentários de fãs e admiradores dessa obra-prima cinematográfica, por meios das palavras dos próprios cinéfilos e admiradores, em depoimentos mais do que sinceros abaixo do YouTube. Dentre os milhares de escritos selecionei os a seguir:

“Eu tenho que me lembrar que alguns pássaros não são para ficar presos em uma gaiola. Sua liberdade é voar.” Frase de ‘Red’ Reeding (Morgan Freeman), um condenado à prisão perpétua que conhece bem as regras de Shawshank, prisão estadual do Maine, cenário de locação de The Shawshank Redemption.

“Acho que tudo se resume a uma escolha bem simples: ocupar-se de viver ou ocupar-se de morrer.” Essa frase tem um sentido profundo, que faz refletir sobre o significado da vida e pensar o que estamos fazendo da nossa. Um dos melhores filmes a que assisti até hoje.” Comentário de Silvano Bianchi há um ano.

“Assisti a esse filme no cinema quando ele foi lançado em BH, e depois disto já o assisti umas 10 vezes desde 1994. Apesar de se passar num presídio, não tem tanta violência quanto a outros filmes do mesmo gênero, e tanto a história em si, quanto o desfecho, são excelentes. Mesmo depois de assisti-lo tantas vezes, sempre me emociono no final.”

“Andy Dufresne! Nadou 500 metros num rio de fezes e saiu limpo do outro lado.” Essa frase é a que melhor define o sentido do filme, lembrando que a história é narrada pelo personagem do Morgam Freeman (Red), e é ele mesmo quem a pronuncia. Comentário feito há 2 anos por Thiago Canazano.

“Acho esse filme perfeito. Não a toa que é o mais bem avaliado pelo IMDB. Interessante a perspectiva de que o filme é na verdade sobre a revitalização do RED e não os dramas vividos pelo Andy.” Comentário feito por Emerson Maia há 2 anos.

“Existem pessoas que nunca serão livres, pois não sabem o que isso significa. A liberdade não é um bem que possuimos, um presente que nos é dado ou um direito a ser conquistado, a liberdade existe em nossa consciência. ” Pacal, o grande Rei dos Maias. Comentário feito por Luis Carlos Zebra há 2 anos.

“Na minha opinião, esse é o melhor filme já feito na história, que mostra um cenário ruim (a prisão) mas que é um filme lindo ao mesmo tempo, toda vez que eu lembro de quando eu assisti eu tenho um sentimento bom, sinto como se eu fosse mais livre ao ver essa história, nunca me senti tão bem com um filme como me senti com esse. Excelente análise.” Comentário feito por Hunter a 6 meses atrás.

“Um Sonho de Liberdade é uma amostra de como viver é arriscado. “A prisão não são as grades, e a liberdade não é a rua; existem homens presos na rua e livres na prisão. É uma questão de consciência.” Mahatma Gandhi.” Comentário feito por Edson de Souza há 1 ano.

“Te falar, assisti esse filme ontem 01/01/22, que filme foda! Um dos melhores filmes que já vi. Andy é um personagem incrível. Mesmo sofrendo e sofrendo na cadeia, não deixou de ser ele mesmo, um cara tranquilo, inteligente e foda. Esse filme me mostrou como a paciência é uma virtude que todo ser humano deveria ter.” Comentário feito por LordSmileGamer MRM há 2 semanas.

“O que falar sobre esse filme. É simplesmente fantástico, uma obra-prima e um dos melhores, se não o melhor filme de drama de todos. Não é por menos que está há tanto tempo no primeiro lugar do imdb na lista dos melhores filmes. Parabéns pela análise.!!!” Comentário feito pelo Felipe MRM há 2 anos.

A parte do filme onde “Red” lê a carta deixada por Andy é de arrepiar os cabelos do boga. Andy fala sobre esperança e os dois tiveram um pequeno desentendimento sobre esperança dentro da cadeia, e termina dizendo “e nada que é bom pode morrer.” Simplesmente um filme fantástico. Comentário de Seu Madruda feito há 1 mês publicado.

“Lá fora eu era um banqueiro, honesto e incorruptível. Aqui dentro – da cadeia – eu virei um vigarista.” Que mente brilhante. O melhor do filme.” Comentário de Anny Aline publicado há 2 meses.

“Esse filme é um exemplo perfeito sobre como obter um OBJETIVO DEFINIDO através de um plano bem definido. Com pequenos êxitos o levaram a algo maior.”Toda a adversidade traz consigo a semente de um benefício equivalente.” Comentário de Dalton F. Ferreira publicado há 4 meses.

“Ainda bem que o ator Tom Hanks estava fazendo “Forrest Gump,” outro filme sensacional. Se não, não teríamos visto essa atuação brilhante do Tim Robbins.” Comentário de Danilo Oliveira publicado há 2 anos.

Poucos filmes capturam o triunfo do espírito humano tão memoravelmente como Um Sonho de Liberdade. Morgan Freeman e Tim Robbins, estrelas maiores neste poderoso filme, indicado a sete Oscar (incluindo o de melhor filme), baseado numa história de Stephen King.”

 

Trailer oficial de Um Sonho de Liberade

 

 

“Um Sonho de Liberdade”: A Arte Como Redenção

 

 

Um Sonho de Liberdade | A salvação vem de dentro (neste caso, da prisão)

 

 

 

 


Domingo – Dia de Matinê no Cinema Local domingo, 19 de março de 2023

INSTINTO SELVAGEM (1992) – UMA OBRA-PRIMA DE PAUL VERHOEVEN

 

HOJE: SUSPENSE

INSTINTO SELVAGEM (1992) – UMA OBRA-PRIMA DE PAUL VERHOEVEN

Gentileza do Colunista Cícero Tavares

 

 

No filme Instinto Selvagem, do diretor Paul Verhoeven, o policial de São Francisco, Nick Curran (Michael Douglas) fica fortemente atraído por Catherine Tramell (Sharon Stone), a principal suspeita de um assassinato. Apesar de ter consciência dos riscos que corre, o policial Curran se expõe cada vez mais, mesmo quando novas mortes ocorrem. A cena de abertura é bastante emblemática e pontual. Ela estabelece a linha narrativa que nos guiará até o fim, por meio de uma trama que unificada bem o sexo e a morte como partes distintas que formam uma unidade temática. O picador de gelo é a arma do crime. Nick é designado para a investigação e logo se percebe atraído pela suposta responsável pelo crime, Catherine Trammel

Após os créditos iniciais de Instinto Selvagem, vemos um casal fazendo sexo. Ele está com os braços amarrados e a sua companheira – uma loira de corpo escultural – está por cima, se preparando para o orgasmo. Durante o movimento, ela pega um picador de gelo e o mata a punhaladas. A cena descrita acima serve para mostrar o espectador como será o filme. O diretor Paul Verhoeven, não está a fim de criar uma história de mistério, mas sim um jogo de manipulação em que a principal arma é a luxúria.

O mistério é bem simples: após o assassinado citado acima, o detetive Nick Curran (Michael Douglas) fica responsável pelo caso. A vítima era um músico de rock aposentado que estava tendo relações sexuais com Catherine Tramell (Sharon Stone), uma escritora de suspenses. Catherine se torna a principal suspeita após descobrirem que em um dos seus livros ocorre um assassinato que é descrito da mesma maneira, com um homem sendo morto por uma mulher com um picador de gelo. Mesmo sem provas concretas, Nick começa a se envolver com a suspeita e entra em um jogo muito perigoso.

O primeiro ponto que deve ser comentado sobre o roteiro – assinado por Joe Eszterhas – é que o mistério em si é bobo. Ele é óbvio, e o filme tenta enganar em certos momentos e quando o faz vai deixando vários furos na trama. Isso quando não tenta forçar relações entre os personagens para chegar a resolução do mistério. Mas como disse no primeiro parágrafo, o que vale no longa é o jogo de caça e caçador entre Nick e Catherine. Na verdade, não se sabe quais são os papéis.

Não se sabe se ele ou ela está no controle da situação. Quanto mais se desenvolve, mais fica a impressão que ela manipula não apenas o detetive, mas todos com quem interage por conta de sua beleza. Não é apenas a personagem que é bem escrita, mas é por conta da ótima atuação de Sharon Stone que cria uma pessoa que é quente em certos momentos e fria em outros. Isso faz que o espectador tema as ações de Catherine, por ela ser imprevisível. Até quando se mostra amorosa com Nick, percebe-se que tem algo por trás.

Aliás, o quente e o frio são os grandes contrastes do longa. Se perceber as maiorias das cores que aparecem durante o longa são branco, azul e laranja. Percebe-se que na maioria dos cenários há essas três cores no mesmo lugar. Uma cor quente (laranja), fria (azul) e uma que pode ir para qualquer lado (branco). É mais uma brincadeira de Verhoeven para provocar o público. Todas as cenas do longa são muito provocantes, soando como se o diretor quisesse que o expectador fosse parte do jogo. As cenas de sexo e nudez são explicitas, mas não são gratuitas. Se notarem, nenhum sexo do filme é movido por amor. Mas por luxúria, quase como se o instinto básico (daí o nome original do longa) do ser humano. Todos os elementos em cena só provocam o espectador, o ápice é a famosa cruzada de pernas de Sharon Stone. Que é a cena que mostra o poder de sedução da personagem, pois após a cruzada ele corta para as reações dos homens na sala que estão enlouquecidos com a beleza daquela mulher.

Outro fator que aumenta o suspense do filme é a excelente trilha sonora de Jerry Goldsmith que cria uma atmosfera em que todos os elementos são perigosos. A melhor parte é que se trata de uma trilha contida que não chama a atenção para si mesma e só acelera nas cenas de perseguição, aumentando a tensão. O jeito que ela está sincronizada com o que está em tela também ajuda a construir o suspense. É mais um trabalho primoroso de um grande músico como Jerry Goldsmith.

Não há qualquer arbitrariedade em Instinto Selvagem. O filme é todo calculado para aditivar o suspense de uma sexualidade feminina latente, tão forte que se configura em ameaça real ao dominante universo masculino. Paul Verhoeven é um grande cineasta, daqueles que produzem arte sem descuidar do público – assim como Alfred Hitchcock – e que, por isso mesmo, às vezes é tão incompreendido e atacado…

 

Official Trailer: Basic Instinct (1992)

 

 

INSTINTO SELVAGEM – 10 COISAS que você não sabia – Curiosidades e resumo do filme

 


Domingo – Dia de Matinê no Cinema Local domingo, 12 de março de 2023

MÃOS TALENTOSAS (2009) – UM FILME INTELIGENTE E HUMANO

 

HOJE: CINEBIOGRAFIA

MÃOS TALENTOSAS (2009) – UM FILME INTELIGENTE E HUMANO

Gentileza do Colunista Cícero Tavares

 

O ator Cuba Gooding Jr. intérprete do Dr. Ben Carson na telona

 

“Mãos Talentosas”, dirigido pelo diretor americano Thomas Carter, narra a cinebiografia de Benjamin Solomon Carson (Cuba Gooding Junior), criança pobre de Detroit, que sempre levou uma vida desmotivada, já que tirava notas baixas e não tinha perspectivas de um grande futuro. O que ele e os que estavam ao redor não esperavam era que ele, Bem Carson, se tornaria um neurocirurgião de fama mundial, e aos 33 anos, se tornaria o Diretor do Centro de Neurologia Pediátrica do Hospital Universitário Johns Hopkins. E em 1987, alcançou renome mundial por seu desempenho na bem-sucedida separação de dois gêmeos siameses. Sua história, profundamente humana, descreve o papel vital que a mãe desempenhou na metamorfose do filho.

Filho de mãe solteira, negra e analfabeta, Bem Carson, é um menino que passa por muitas dificuldades nas aulas. Ele não consegue acompanhar a sala de aula no mesmo ritmo e não tem apoio da maioria de seus professores, figuras impacientes que o consideram um caso perdido, exemplo cabal de alguém incapaz.

Sua mãe, mesmo diante de tantas limitações, surge em cena como sua maior incentivadora. Ela o encaminha para a leitura, forçando-o a entender a biblioteca como um espaço de aprendizagem a ale da burocracia da nota. Ao propor ao filho a leitura de dois livros por semana como projeto de vida, numa função empreendedora e educativa, a sua matriarca lhe permite a pavimentação de um caminho que o leva ao Hospital Anthony Hopkins, numa jornada inicialmente complexa e com fortes indícios de desistência, perspectiva turva que logo se transforma e permite ao personagem se tornar um dos mais renomados neurocirurgiões de sua época.

Benjamin (seu nome completo), é fruto de um lar marcado por abandono. No trabalho de sua mãe, a casa de uma viúva, teve a oportunidade de aprimorar a leitura. Em sua caminhada de muito estudo, investigação científica e aplicação de metodologia da pesquisa diante de cada caso médico que lhe vinha como desafio, Bem Carson consegue alcançar metas muito além daquilo que inicialmente havia planejado para sua vida.

Seu auge foi em 1987, quando alcançou renome numa cirurgia delicada que marcou para sempre a vida de todas as pessoas envolvidas, a separação de gêmeos siameses, unificados pela parte superior da cabeça, um processo considerado inimaginável para muitos profissionais de seu segmento. Foram árduos cinco meses de preparação, num procedimento que durou em média 22 horas e contou com apoio de 70 profissionais de saúde. Aos 33 anos, tornou-se chefe da neurocirurgia pediátrica, tendo ficado conhecido por introduzir o coração dos pacientes à hipotermia, estratégia que manteve o coração dos bebês parados, evitando perda de sangue e, consequentemente, dando chance ao processo de reconstrução do sistema circulatório do cérebro de cada um dos gêmeos separados nesta jornada revolucionária.

Interessante observar que mesmo pressionado pelo desestímulo que vinha de vários lados de seu cotidiano, o anseio pela pesquisa e pelo conhecimento era algo integrado no protagonista, uma figura que precisou de orientações para conseguir driblar as suas incertezas. Quando criança, Ben se envolveu com uma pesquisa sobre rochas que o levou a ler, analisar, desenvolver senso crítico e pesquisar para aprimorar as suas habilidades interpretativas. Ademais, em Mãos Talentosas: A História de Ben Carson, podemos observar como a questão da leitura, tema polêmico e geralmente desanimador, é um forte elemento empreendedor em nossas vidas. No filme, compreendemos que ler não é devorar e memorizar bibliografias, mas assimilar o seu conteúdo e aplicar na transformação da informação em conhecimento. Via de inclusão social, a leitura permite a ampliação do nosso repertório cultural, dando maior embasamento para o que produzimos dentro de nossas respectivas áreas de atuação cidadã.

Sem curva dramática exponencial demais, tampouco pontos de virada emocionantes, o roteiro de John Pielmeier para Mãos Talentosas: A História de Ben Carson segue um fluxo linear, com alguns flashbacks explicativos, se mantendo no mesmo nível do começo ao fim. Apropriado por pessoas no campo da administração, psicologia, pedagogia e até mesmo no meio dos doutrinadores evangélicos, o trajeto biográfico de Benjamin Carson é uma narrativa de numerosas possibilidades reflexivas, tendo no entretenimento um produto acima da média, com bons momentos dramáticos, desempenho esforçado do elenco e concepção estética dentro de seus limites, não sendo uma obra-prima do cinema, mas contendo em si méritos que atendem ao que a sua estrutura propõe. Dentro os principais pontos de vista, como já mencionado, é uma história para pensarmos superação, mas também a importância da leitura como meio canalizador de novas aprendizagens sempre, bem como desenvolvimento do raciocínio.

Aqui, concluímos que ler não apenas decodificar símbolos, mas generalizar, sintetizar, propor hipóteses para o que é debatido, num diálogo com aquilo que está escrito e exposto para nossa interpretação. Em seus 86 minutos, Mãos Talentosas: A História de Ben Carson funciona como uma narrativa de entretenimento médio, estruturada por um tecido dramático coeso e simples, sem grandes momentos para a história da dramaturgia, mas com uma trama que evita o tom novelesco geralmente prejudicial da linguagem de muitos telefilmes. O direcionamento narrativo é direto, objetivo, prende o espectador e permite reflexões sobre as nossas vidas, independente do ponto em que nos encontramos localizados, tanto para quem começou o seu projeto de vida por agora quanto para aqueles que já estão avançados, firmes, isto é, estabelecidos nesta vida em que nada é uma certeza absoluta e tudo pode mudar num segundo. Lembra-se da pandemia que nos pegou em 2020? Pois é, prova cabal de que nada pode ser mais tão estagnado como pensávamos.

Um filme inteligente e humano. História de um homem que fez história como médico, pobre e negro.

Fica a reflexão.

Trailer Oficial de Mãos Talentosas

 

 

História de Ben Carson

 

 

CPB notícias – Entrevista exclusiva com Dr. Ben Carson – Parte 01/04 – exibida na TV Novo Tempo

 

 

 

 


Domingo – Dia de Matinê no Cinema Local domingo, 05 de março de 2023

"QUASE DEUSES" (2004), UMA OBRA-PRIMA MOTIVACIONAL

 

HOJE: FILME DE AÇÃO E PRECONCEITO

"QUASE DEUSES" (2004), UMA OBRA-PRIMA MOTIVACIONAL  

Gentileza do Colunista Cícero Tavares

 

 

                                           Cartaz do filme "Quase Deuses", quando lançado em Blu-Hay 

 

Ao longo de sua mais de uma hora e cinquenta minutos de duração, "Something The Lorde Made" (2004), traduzido no Brasil para "Quase Deuses", narra o cotidiano de Vivien Thomas (Yassin Bey) e Alfred Blalock (Alan Rickman). O primeiro, um homem negro, pobre, desacreditado diante da possibilidade de saída do determinismo que o sufoca para trilhar caminhos mais dignos. O segundo, um médico renomado da universidade de Vanderbilt, em Nashville. Ambos situados na década de 1940. Um era de conflitos bélicos mundiais e muitas mudanças de paradigmas sociais.  

A relação de ambos começa depois que Vivien consegue uma vaga de faxineiro na universidade. Curioso, ele sempre executa os seus serviços observando como as coisas funcionam ao redor, numa postura de pesquisador.  

Vivien não quer apenas limpar e receber o seu salário no final do período, mas conhecer como se desdobram os processos por onde passa. Ele tem faro de investigador, pesquisador, posicionamento inicial que o fará ir tão longe, mais que o esperado, tornando-se um renomado cientista e médico, ganhador do Honoris Causa, em 1976, a despeito da discriminação.  

O filme "Quase Deuses" acompanha passo a passo a vida do jovem negro Vivien Thomas (1910-1985), afro-americano, afetado pela Grande Depressão dos EUA, com a trilha sonora emotiva de Christopher Young, importante para o impacto dramático de cada passagem transformadora na vida destes personagens que aprendem muito entre si. 

O longa metragem segue duas vertentes interessantes: uma explícita e outra implícita. Expressa a trajetória de Vivien Thomas, sua superação, tecnicidade e humildade. Onde o conhecimento empírico adquirido de Thomas, mesmo que informalmente, somado com a exatidão científica do Dr. Alfred Blalock, chefe do laboratório e pesquisador incomum, torna-se uno, transmitindo a ideia de que o ser humano é dotado da habilidade de aprender e criar. 

Toda a experimentação da dupla, às vezes incompreendida, fazia-se necessária para o avanço nas pesquisas médicas. Totalmente laicos, embasados nos resultados das análises com cobaias, geralmente cachorros, foram audazes o suficiente para romper a intangível ciência formada pelos doutores de sua época, quebrando paradigmas em pró de seu objeto de estudo, a saúde do homem. Ainda expõe a tristeza de Vivien dada ao não reconhecimento de seu trabalho e a discriminação racial freqüente.  

A outra vertente é a demonstração tácita dos fatos históricos onde se ambienta a película. Começando na Grande Depressão, recessão econômica dos EUA no início da década de 30, resultando em altas taxas de desemprego, e queda exorbitante da produção industrial e de renda, resultando no confisco do dinheiro em bancos, motivo pelo qual Vivien perdeu suas economias, que juntou, a longo prazo, para concretizar o sonho da casa própria.  

Percorre sobre a metodologia usada pela medicina na época, onde não se dispunha de recursos tecnológicos como ferramenta, na busca constante da técnica mais apurada para diagnóstico e cura. Mas o foco implícito deste filme é a narrativa da Segregação Racial, onde naquela época nos EUA, os negros eram discriminados, separados como raça inferior, vivendo numa liberdade escravizada, tratados como escória, marginalizados em tudo, onde não podiam freqüentar ambientes destinados à elite branca, até mesmo dentro das instituições públicas.    

O aclive que vai de pequenos gestos quase imperceptíveis, até a manifestação da luta do irmão de Vivien, por igualdade de salário entre professores negros e brancos, dá ao filme um caráter analítico, onde os grandes vilões são a ignorância e a discriminação racial. O filme a grosso modo é informativo, mas sua entrelinha subjetiva uma lição de humanidade, perseverança, superação, luta contra o preconceito racial e quebra das idéias formadas, seja cientifica ou religiosa. 

No epílogo, fica clara a mensagem subentendida do filme, quando o sonho de Vivien Thomas se torna realidade, recebendo o título de Doutor Honoris Causa. Também se realiza o "eu tenho um sonho" de Martin Luther King (1929-1968), ativista contra o preconceito e a segregação racial, que, em trechos de seu discurso antológico, enfatiza: 

"O que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons." 

"Amor é a única força capaz de transformar um inimigo em um amigo."

a) Quase Deuses - Trailer Oficial

     

 


Domingo – Dia de Matinê no Cinema Local domingo, 26 de fevereiro de 2023

FREEHELD (2015) – OU AMOR POR DIREITO, UM FILME SENSÍVEL

 

HOJE: DRAMA

FREEHELD (2015) – OU AMOR POR DIREITO, UM FILME SENSÍVEL

Gentileza do Colunista Cícero Tavares

 

Outdoor de ‘Amor Por Direito’, com as duas protagonistas principais da história

Freeheld, ou Amor Por Direito, narra a história verídica da policial federal de New Jersey, Laurel Hester (magnificamente interpretada por Julianne Moore) e a mecânica Stacie Andree (admiravelmente interpretada por Ellen Page), estão no relacionamento sério. O mundo delas desmorona quando Laurel, policial ativa e eficiente é diagnosticada com um câncer terminal. Como sinal de amor, Laurel Hester quer que Stacie Andree receba os benefícios da pensão da Polícia dela, após a sua morte. Só que as autoridades do Condado de Ocean de New Jersey se recusam a reconhecer a relação homoafetiva entre as duas mulheres, mesmo ambas tendo sido amparada pelo Estatuto de Parceria Doméstica, aprovado pelos legisladores da entidade controladora dos benefícios para parceiros do mesmo sexo.

Temos aqui uma cinebiografia que começa falando da policial de New Jersey Laurel Hester (Julianne More), da sua dedicação e amor à carreira, passando pela fase romântica, em que conhece sua amada, Stacie Andree (Ellen Page), numa partida de vôlei, até chegar a um drama de proporções absurdas que coloca em debate tanto a fragilidade de uma pessoa com doença terminal quanto a problemática da igualdade para casais homossexuais.

Para muitos críticos, a abordagem do filme talvez não seja lá grande coisa, afinal muitos países já declararam a legalidade do casamento homossexual. Acontece que estamos em 2023 e, como já se deve saber, há um número infindável de casos de homofobia, que geralmente envolvem violência, preconceito, ódio e outras coisas absurdas que mostram como estamos estagnados no tempo como macacos nus no zoológico.

Então, como mudar esse cenário? Oras, fazendo um filme com excelentes atrizes como Julianne Moore e Ellen Page para mostrar como esse tipo de visão retrógrada só prejudica pessoas inocentes que apenas querem viver suas vidas sem fazer mal a ninguém. O filme trata o tema com sensibilidade

Essa questão de direitos parece simples, afinal não se trata de pedir algo absurdo ou privilégios. O filme, inclusive, vem justamente para bater na tecla da igualdade. Casais como Stacie e Laurel existem em todos os lugares do mundo. São apenas pessoas querendo amor, sucesso, alegria e respeito. O mais curioso é perceber que, assim como no filme, as pessoas na vida real só recebem valores invertidos. Qual a necessidade disso?

Poderia ser sua colega, sua prima, sua amiga, sua irmã ou apenas uma pessoa conhecida. Na verdade, mesmo que fosse um desconhecido, há de se convir que não importa quem seja o envolvido na situação, a falta de empatia e respeito para com o próximo se mostra algo totalmente desnecessário. No cinema, a plateia se emociona e chora, mas o longa esclarece que isso é algo comum na vida real.

Eis aqui o trunfo do filme, retratar que não existe sentido nessa homofobia, ainda mais na questão da politicagem, que nega direitos a cidadãos que pagam seus impostos, vivem sem incomodar ninguém e só querem um pouco de compaixão, atenção (para não dizer apenas o que é justo).

Curioso é perceber também os motivos dados por terceiros para se opor a tal causa. Os colegas de Laurel não fazem questão alguma de dar apoio, mas não apresentam argumentos para tratar uma pessoa tão querida com descaso e uma falta de compaixão sem cabimento. É triste e não é só ficção.

Falando da produção como um todo, é mais do que justo enaltecer primeiramente a perfeita sintonia de Julianne Moore e Ellen Page. As duas formam um casal convincente, algo perceptível tanto no início do romance quanto no amor exibido no desenrolar da trama. Page parece um pouco mais participava, mas Moore é mais expressiva e dedicada, até por conta do caso delicado de Laurel.

A maquiagem (ou a falta dela) também incrementa na construção da trama. Julianne Moore se mostra incrivelmente bela e realista sem precisar de quilos de pó e cores no rosto. Isso contribui tanto para a construção do personagem quanto para enaltecer os problemas da doença e do drama vivido por Laurel.

É legal que mesmo coadjuvantes apresentam pontos de vistas que agregam algo ao debate aqui e, certamente, a presença dos atores Michael Shannon e Steve Carell são de suma importância para o desenvolvimento desses personagens que também são comuns na luta da causa. Um deles (Shannon) é o amigo que apoia, que se mostra relutante, mas ainda importante. Outro (Carell) partilha da luta, ainda que se mostre focado em outras questões. Os dois atores se mostram dedicados e muito convincentes e até acrescentam toques de comédia à película.

Para dar dramaticidade, a produção se apoia muito na fotografia, que apresenta um tom mais verídico e ainda exala delicadeza. Cenas marcantes são apresentadas para ressaltar o romance de Laurel e Stacie, com direito a paisagens belíssimas pensadas para evidenciar a parte apaixonante do relacionamento das duas. Belas sequências na praia, na casa e em outros cenários colaboram muito para enriquecer a parte visual da película.

Algo muito interessante no desenvolvimento de “Amor por Direito” é perceber que a obra evita o uso de trilhas comerciais. A musicalidade comandada pelo mestre Hans Zimmer e por Johnny Marr é duma sensibilidade ímpar e dá toques sutis aos momentos mais dramáticos.

Um detalhe que talvez incomode aos mais atentos é a falta de continuidade ao caso policial investigado por Laurel no começo da trama. Contudo, o roteiro deixa essa parte de lado, uma vez que só faria sentido insistir em tal assunto se a protagonista continuasse envolvida na situação. Depois, o filme até dá alguma pincelada no caso, só pra não deixar ponta solta, o que é muito bom do ponto de vista de construção.

O tema de ‘Amor Por Direito’, mesmo nos dias atuais, merece reflexão por ser sensível e não abordado de forma clara e honesta pelo cinema e Redes Sociais.

Amor Por Direito – Trailer Oficial

 


Domingo – Dia de Matinê no Cinema Local domingo, 19 de fevereiro de 2023

A ÚLTIMA TENTAÇÃO DE CRISTO (1988) – OBRA-PRIMA DE MARTIN SCORSESE

 

HOJE: FICÇÃO RELIGIOSA

A ÚLTIMA TENTAÇÃO DE CRISTO (1988) – OBRA-PRIMA DE MARTIN SCORSESE

Gentileza do Colunista Cícero Tavares

 

Cartaz de A Última Tentação de Cristo, filme polêmico de Martin Scorsese

 

Talvez o filme mais polêmico da filmografia do cineasta Scorsese, A Última Tentação de Cristo, uma adaptação cinematográfica do controverso romance The Last Templation Of Christ, do escritor grego Nikos Kazantzakis. É um filme de ficção que não se baseia nos quatro Evangelhos e na vida de Jesus Cristo, que é amplamente conhecida pelos cristãos. Estrelado por Willem Dafoe, ator principal do ótimo (Platoon – 1986) de Oliver Stone e outras atuações em filmes memoráveis, junto com Harvey Keitel, Barbara Hershey, David Bowie e Harry Dean Stanton, formam um quinteto memorável nessa obra-prima

O filme retrata a vida de Jesus Cristo e sua luta com várias formas de tentação, como medo, dúvida, depressão, relutância e luxúria. Em outras palavras, explora Jesus como um ser humano sujeito ao pecado, para ver mais de sua natureza física e as lutas que ele teve com ela em vez de sua natureza espiritual. Também podemos vê-lo aplicar os ensinamentos que ele deu aos israelitas durante seu tempo aqui na terra e a sua vitória vitoriosa das lutas do pecado. Além disso, os temas do pecado, culpa e redenção foram explorados nesta história fictícia com total liberdade às crenças e dogmas religiosos. No mais, o filme deve ser creditado por sua busca honesta e sincera da verdade, especialmente porque investiga como o próprio Jesus Cristo teria lidado com o pecado, a culpa e a tentação.

A sequência final do filme foi considerada blasfema e controversa por muitos cristãos em todo mundo, pois mostra Jesus, enquanto crucificado na cruz, sendo tentado por Satanás, casar-se com Maria Madalena e viver uma vida de homem comum. Mas depois, ele pede perdão a Deus e Ele o aceita mais uma vez como o único filho de Deus ao saber do erro que ele cometeu. Embora essas cenas tenham feito os cristãos protestarem e lutarem para que o filme fosse banido em alguns países cristãos, o longa de Scorsese oferece ao espectador uma forma de investigação especialmente no que diz respeito a como Cristo, que é percebido ser um ser humano perfeito, teria reagido às mesmas situações que passamos na vida.

Se o espectador abrir a mente ao ver A Última Tentação de Cristo e deixar de lado suas crenças religiosas puramente cristãs, apreciaria um filme grande, comovente e honesto sobre Jesus Cristo durante sua vida aqui na terra se Ele estivesse sujeito às mesmas condições de um homem comum, particularmente, tentação pecado e culpa. No final, A Última Tentação de Cristo, consegue transmitir emoções positivas pelo sacrifício de Cristo. Um filme sensível, alegórico e acima de tudo um dedicado estudo de personagem. Um dos melhores e mais corajosos filmes do diretor Scorsese.

Indicado ao Oscar (1989) de melhor diretor para Martin Scorsese, A Última Tentação de Cristo é um filme que se estende superlativamente, mas que é um exercício importante de um dos grandes diretores que o cinema já viu. É uma obra contemplativa, reflexiva e que não foi feita para agradar. O que ela deseja é nos desafiar a enxergar outra perspectiva de modo de vida. Como você a encarará? Será uma experiência altamente pessoal.

 

Trailer de A Última Tentação de Cristo

 

 

Críticas Favoráveis à Última Tentação de Cristo

 


Domingo – Dia de Matinê no Cinema Local domingo, 12 de fevereiro de 2023

IL BUONO, IL BRUTTO, IL CATTIVO (1966)

HOJE: WESTERN SPAGHETTI

IL BUONO, IL BRUTTO, IL CATTIVO (1966)

Gentileza do Colunista Cícero Tavares

 

Cena icônica do cemitério, onde a ambição está debaixo da terra

Terceiro filme da Magna Trilogia dos Dólares: o Bom, o Mau e o Feio, ou Três Homens em Conflito, é uma inquestionável obra de arte do cinema Western Spaghetti. É um filme que mostrou ao mundo o quão talentoso era Sergio Leone. Apesar de suas quase três horas de duração, o filme é inteligentemente ágil e impressionantemente hábil.

O longa-metragem completa a Trilogia dos Dólares agora com três protagonistas. O Bom, o Homem sem Nome; o Mau, Olhos de Anjo e o Feio, Tuco. Cada um apresentado no primeiro ato: O Bom, ainda trabalha como caçador de recompensas, o Feio é um bandido cruel e o Mau, um homem em busca de um tesouro perdido de 200.000 mil dólares no cemitério…

Ambientado na Guerra Guerra de Secessão dos Estados Unidos, o filme gira em torno de três homens em busca de um tesouro perdido. O bom, o mal e o feio é uma alusão ao próprio cinema americano, que sempre utilizava personagens maniqueístas. Esta não é a intenção da obra aqui, cada personagem tem nuances de bem e mal. O clima sujo e realista da época é trespassado por olhares penetrantes que parecem encarar o próprio espectador, a habilidade dos atores, apesar de surpreendente, não parece sobrenatural como em outros filmes. O destaque fica por conta dos duelos ao longo do filme, culminando com um grande duelo final que você deve ver para compreender.

Clint Eastwood continua no seu personagem o Homem sem Nome, (com o codinome de Lourinho), personagem que ele incorpora com habilidade e mestria. O Lee Van Cleef soube criar um personagem carismático, numa interpretação magnífica. Um ótimo ator que qualquer diretor gostaria de tê-lo interpretando qualquer personagem coadjuvante ou principal.

Mas, o mais extraordinário é a atuação do ator Eli Wallach. Seu desempenho é magistral. Ele aparece em quase todas as cenas, com grande atuação interpretativa. Na verdade, ele é o ator principal, pois tem o triplo das ‘falas” dos demais personagens e sua versatilidade supera o limite da interpretação.

Durante todo o filme o telespectador fica torcendo pela sua aparição, pois ele ” rouba” todas as cenas em que aparece, inclusive a sua atuação tem mais intensidade que a de todos os demais atores.

As cenas principais se intensificam do meio para o fim do filme, quando os personagens se envolvem com a guerra civil americana, com cenas de guerra violentas, campo de prisioneiros, sadismo de oficiais… Tudo apresentado e encaixado com genialidade pelo diretor Sergio Leone.

Mais uma vez o diretor faz uso constante da técnica de “closes” dos personagens, pois com esses “closes” é possível mostrar a reação dos personagens diante do perigo ou do inesperado.

Para saber usar esses “closes” com eficiência, o diretor precisa ser um mestre e também os atores, pois se o ator não souber reagir adequadamente a um “close” de alguns segundos e não souber demonstrar o que está sentindo, fica com cara de idiota. Mas nas mãos do diretor Sergio Leone tudo fica magnificamente superlativo.

O filme é repleto de muita ação inesquecível e certamente agradou e agrada a todos aficionados do tema em qualquer época, que apreciam uma boa história de faroeste. Não se deseja aqui contar a história do filme, apenas informar que o fato principal é que os três personagens principais acabam se envolvendo no resgate de um grande tesouro de ouro, roubado do exército e escondido numa cova em um cemitério…

O duelo final entre os três personagens no cemitério é uma cena antológica, memorável, que dura aproximadamente uns 10 minutos, sem qualquer diálogo. É filmado numa pretensa arena circular no meio do cemitério, apenas pontuando a magnífica trilha sonora do genial maestro Ennio Morricone.

Sobre esse filme, um crítico experiente declarou em um artigo: “Sem sombra de dúvida, o western mais ambicioso e influente já produzido. É uma aventura audaciosa que mudou para sempre o futuro do gênero.”

E saber que essa extraordinária, monumental, memorável obra de grande perfeição fílmica foi feita muito antes de Leone criar mais outra obra-prima do gênero: “Era uma Vez no Oeste,” não há que se discutir até onde vai a capacidade criativa de um gênio.

Porém há muito mais substância e camadas em o Bom, o Mau e o Feio ou Três Homens em Conflito do que se possa pensar à primeira vista. Não se trata de um filme difícil em termos de conteúdo, mas talvez na interpretação de suas riquezas simbólicas, que podem ser escancaradas ou estarem nas estrelinhas.

Além disso, o espectador precisa ver o filme sem pressa de que ele alimente respostas ou verdadeiro sentido antes do final, pois aí é que está a sacada do diretor Sergio Leone. Ele nos guia por um caminho de busca e luta entre dois lados, cada um atormentado por um demônio e com um objetivo egoísta para cumprir. Ao chegar ao definitivo clímax, ele reverte o jogo e nos escancara o dilema da solidão, do sentido para a vida do homem em busca de dinheiro ou justiça. Nesse ponto final, há uma seta que nos faz retornar para o início da obra, onde a frase de abertura, enfim, alcança o seu real sentido: “Onde a vida já não tinha mais valor, a morte às vezes tinha o seu preço. Eis que surgiram os caçadores de recompensas“.

Sergio Leone foi o único cineasta da História do faroeste que teve uma terceira chance de causar mais uma impressão.

Três Homens em Conflito ( Itália / 1966 ) – Trailer Oficial

 

 

14 Curiosidades Inéditas Sobre o Filme O Bom O Mau e o Feio

 

 

 

 


Domingo – Dia de Matinê no Cinema Local domingo, 05 de fevereiro de 2023

POR UNS DÓLARES A MAIS (2)

 

HOJE: WESTERN SPAGHETTI

POR UM PUNHADO DE DÓLARES (2)

Gentileza do Colunista Cícero Tavares

 

Cena icônica de “Por uns Dólares a Mais (1965),” do diretor italiano Sergio Leone

 

Em seu segundo filme da Trilogia do Homem sem Nome, o diretor Sergio Leone pensou um filme simples, mas engenhoso, com uma temática diferente do primeiro. Enquanto “Por um Punhado de Dólares” ele narra a história de um pistoleiro solitário, “Por uns Dólares a Mais”, vê-se um cenário diferente: desta vez, o homem sem nome, personagem de Clint Eastwood, trabalha como caçador de recompensas, e acaba tendo a concorrência de um desconhecido recém chegado à cidade, o coronel Douglas Mortimer, interpretado magnificamente por Lee Van Cleef. Os dois buscam informações um do outro enquanto um perigoso vilão aparece na história, o pistoleiro conhecido como El índio, interpretado por Gian Maria Volonte, o mesmo que dá vida ao vilão de “Por um Punhado de Dólares”, só que agora vivendo outro personagem cruel.

O vilão desta trama, tal como no filme anterior, tem grande destaque, e novamente Gian Maria Volonte tem uma atuação impecável, na pele do sádico pistoleiro El Indio, que lidera uma quadrilha de assaltantes de banco que não perdoa ninguém que atravessa seu caminho. Clint Eastwood repete seu personagem, o Homem sem Nome, e novamente tem uma atuação brilhante. Tal como o recém chegado Lee Van Cleef, que interpreta um personagem dúbio, e que não nos dá muitas pistas sobre seu caráter, algo que Lee Van Cleef trabalha muito bem em seu personagem, e como era de se esperar, ele tem uma brilhante atuação, guiado pelo talentoso diretor da obra-prima “Era uma Vez no Oeste.”

Nesse filme temos sequências de ação espetaculares, além de uma história globalmente simples, mas coesa, com um roteiro sem furos. A trilha sonora, novamente assinada pelo maestro Ennio Morricone, é simplesmente brilhante, e dá exatamente o clima que a trama requer. Um trabalho magistral.

Sergio Leone conduz seu elenco com mão de mestre, tirando o melhor de cada ator. As cenas dos confrontos, com closes constantes, também são esplêndidas. O cenário reconstrói com louvor o Velho Oeste. Em resumo, “Por uns Dólares a Mais” é mais uma obra-prima da Magna Trilogia dos Dólares do diretor Sergio Leone que merece ser assistida a exaustão porque há sempre uma coisa nova a se descobrir.

A contratação do competente ator Lee Van Cleef por Sergio Leone, que já tinha demonstrado seu talento como ator coadjuvante em inúmeros filmes, inclusive teve uma importante participação no clássico western “Matar ou Morrer” com Gary Cooper, e fez pequenas pontas em vários filmes no início de sua carreira, assim como outros grandes atores hoje reconhecidos por suas atuações memoráveis em vários filmes da época, como Lee Marvin, Jack Elann, e porque não incluir o extraordinário negão, Woody Strode, um dos atores favoritos do diretor “racista” JOHN FORD, prova a competência do diretor e comprova porque a Magna Trilogia dos Dólares é insuperável na história do western spaghetti.

Portanto, não é redundância afirmar: a contratação do ator Lee Van Cleef para fazer um personagem dúbio foi um golpe de mestre do diretor Sergio Leone e o resultado final do produto foi memorável, segundo o crítico de cinema e roteirista norte-americano Roger Ebert. A música pontua do início ao fim, naquela harmonia característica e qualidade insuperável do genial maestro Ennio Morricone. Ao final, temos a certeza de ter desfrutado de mais de duas horas de pura arte cinematográfica westerniana.

a) Trailer Oficial de “POR UNS DÓLARES A MAIS”

 


Domingo – Dia de Matinê no Cinema Local domingo, 29 de janeiro de 2023

POR UM PUNHADO DE DÓLARES (1)

 

HOJE: WESTERN SPAGHETTI

POR UM PUNHADO DE DÓLARES (1)

Gentileza do Colunista Cícero Tavares

 

 

Clint Eastwood em cena icônica de “Por um Punhado de Dólares”

Primeiro filme da Magna Trilogia dos Dólares ou Trilogia do Homem Sem Nome, estrelada por Clint Eastwood (o pistoleiro solitário), no papel principal, filmado na Itália, na Espanha e na Alemanha Ocidental. Dirigido pelo genial diretor italiano Sergio Leone.

Nesse primeiro filme da série, todos os atores, técnicos e diretores estão com os nomes americanizados. O diretor Sergio Leone consta como sendo Bob Robertson. A trilha sonora ficou a cargo do genial maestro Ennio Morricone, que usa a sensibilidade musical para marcar presença. Nos créditos do filme seu nome aparece como Leo Nichols. Cacoetes da época.

“Por um Punhado de Dólares” provoca uma forte impressão no telespectador. Dirigido com precisão, porém sem o rigoroso estalão empregado em O Bom, O Mau e O Feio (1966) ou em Por Uns Dólares a Mais (1965), Por Um Punhado de Dólares é uma espécie de crônica impiedosa que nos deixa em estado de atenção durante toda sua projeção e termina por nos fazer sorrir com amargura para a tela. A história é simples, transportada quase que de maneira integral do filme “Yojimbo – O Guarda-Costas”, de Akira Kurosawa. No caso específico desse início da Trilogia dos Dólares, temos um pistoleiro solitário e sem nome (Clint Eastwood), que chega a uma pequena vila na fronteira dos Estados Unidos com o México, um lugar dominado por duas famílias de bandidos e contrabandistas, os Baxters e os Rojos.

Apesar de não constar na apresentação, o filme cujo roteiro dispensa comentário, foi escrito por várias mãos, como sendo Sergio Leone, Andrés Catena, Jamie Comas Gil, Fernando Di Leo, Duccio Tessari, Tonino Valerii, com versão inglesa de Mark Lowell e Clint Eastwood.

Isso não desmerece em nada o filme, pois o roteiro original e a cópia italiana são perfeitos, com muita ação e belamente interpretados. A versão italiana é colorida. Quanto à versão japonesa é em preto e branco. A versão japonesa é considerada um clássico. Mas o filme “Por um Punhado de Dólares” tem uma interpretação muito convincente do ator Clint Eastwood, que foi dirigido magistralmente pelo diretor Sergio Leone, que desde este seu primeiro filme como spagheti western, demonstra a que veio e nos dá uma aula de como dirigir um filme com segurança e genialidade, isso com pouco recurso.

A História tem muito suspense, a direção é soberba e os atores são todos de primeiríssima qualidade, muitos são celebridades do cinema italiano, que confiaram no talento do diretor Sergio Leone, aceitaram o papel secundário e realizaram um belíssimo trabalho interpretativo.

Necessário faz-se chamar a atenção dos leitores para uma característica muito usada pelo diretor Sergio Leone em todos os seus filmes, sendo que neste ele usa e abusa inteligentemente dos closes. São praticamente centenas de closes em todas as cenas. O diretor procura mostrar aos espectadores a reação dos personagens com closes longos e repetidos a exaustão e os personagens reagem belamente com essa técnica com belíssimos e expressivos closes em quase todas as cenas.

As cenas finais são antológicas, principalmente o duelo final, no qual o personagem (sem nome) interpretado pelo ator Clint Eastwood, usa um escudo de ferro embaixo do seu ponche. Cena esta já histórica e sabiamente aproveitada pelo diretor Robert Zemeckis no filme “De Volta Para o Futuro nº. 3” com um resultado de muita criatividade.

A Trilha sonora é tão importante neste filme, como se fora um personagem vivo e testemunha presente dos fatos. A música pontua, chama atenção para pequenas cenas, pequenos gestos e segue os atores nas cenas em que há alguma expectativa, de modo insistente como a advertir os personagens do que está por vir. A música é um personagem do filme, coisas do maestro Ennio Morricone que já declarou que antes de fazer a música ele precisa conhecer toda história do filme e mais importante: acompanhar as principais cenas da filmagem, como ele fez no clássico “Era Uma Vez no Oeste” o que resultou naquela magnífica obra-prima do Western Spaghetti.

“Por um Punhado de Dólares”, apesar do pouco recurso para realizá-lo, nasceu clássico do oeste.

 

Por Um Punhado De Dólares (1964) Trailer#1 Com Clint Eastwood e Gian Maria Volonté

 

 

Como Surgiu o Faroeste Spaghetti?

 

 

 

 


Domingo – Dia de Matinê no Cinema Local domingo, 22 de janeiro de 2023

“VÁ E VEJA” (1985) – OBRA-PRIMA SOBRE OS HORRORES DA GUERRA

 

HOJE: CRUEZA DA GUERRA SEM RTOQUES

“VÁ E VEJA” (1985) – OBRA-PRIMA SOBRE OS HORRORES DA GUERRA

Gentileza do Colunista Cícero Tavares

 

 

Vá e Veja – esse filme foi censurado por ser muito realista

Nem Glória Feita de Sangue (1957), do genial diretor Stanley Kubrick, nem Nascido Para Matar (1987), do mesmo diretor, nem O Resgate do Soldado Ryan (1999), do genial Steven Spielberg, nem A Lista de Schindler (1993), do mesmo diretor, nem o recentemente lançado, Nada de Novo no Front (2022), do diretor Alemão Edward Berger e tantos outros filmes sobre a primeira e a segunda guerra mundiais, superam Vá e Veja, filme de guerra Alemão realizado pelo diretor russo Elem Klimov em 1985, e só recentemente redescoberto pelos estudiosos do tema, por sua importância superlativa, superando todos os outros filmes produzidos sobre o mesmo tema, que tratam da crueza da guerra sem retoques.

Vá e Veja é um dos filmes de guerra mais devastadores já feitos. É perturbador, monstruoso e assombroso. As mazelas da guerra são pulsantes e recaem duramente sobre o âmago do espectador. Nele, o horror da guerra é posto da forma mais crua e realista possível, beirando o absurdo.

Bielorrússia, 1943. O jovem camponês Florya (Akeksei Kravchenko) é cooptado por um despreparado grupo de guerrilheiros antinazistas. Em confronto com os alemães, o garoto é deixado para trás e decide retornar ao seu vilarejo. Chegando lá depara com o desolador cenário de um massacre. Perturbado, ele passa a vagar sem rumo, presenciando cenas cada vez mais fortes, que a crueldade humana é capaz.

O filme narra a história de Florya, adolescente bielorrusso que, ao desenterrar um rifle se junta a um grupo de resistência soviética, deixando seu vilarejo e sua família. Ao ser deixado para trás por ordem de um superior, o jovem retorna ao vilarejo e encontra um cenário deplorável, devastador.

Os olhares diretamente voltados para a câmara de Flyora Gaishun vão cada vez mais se deformando e nos assombrando. A evolução da irracionalidade é simplesmente magistral, palpável e corrosiva. O olhar desse jovem transmite bestialidade e o horror que foi a segunda guerra mundial, e outras guerras, e outros regimes autoritários que oprimem.

A sanidade do jovem camponês vai se degradando ao passo que esse se depara com cenas perturbadoras, correndo sua racionalidade e o arremessa diretamente no absurdo. A hora final desse filme é devastadora e descreve perfeitamente todo o mal e a crueldade atrelados ao holocausto, exalando repulsa aos atos desumanos.

Esse filme precisa reverberar ontem, hoje e sempre, ainda mais em tempos em que podemos perceber o avanço de todas as tendências esquerdistas. Portanto, é preciso mostrar o que é a barbárie. O que significa uma guerra e a violência total aos nossos semelhantes simplesmente por pensar diferente ou discordar de nós. O fascismo e o esquerdismo monstruoso são uma doença terrível e precisamos estar atentos! E fortes! Quem não acredita, VÁ E VEJA!

 

Trailer Legendado:

 

 

Crítica do filme:

 


Domingo – Dia de Matinê no Cinema Local domingo, 15 de janeiro de 2023

A ROCHA (1996) – MELHOR FILME DO DIRETOR DOS TRANSFORMERS

 

HOJE: AÇÃO E ADRENALINA

A ROCHA (1996) – MELHOR FILME DO DIRETOR DOS TRANSFORMERS

Gentileza do Colunista Cícero Tavares

 

 

Cartaz de A Rocha, mostrando a prisão de Alcatraz

THE ROCK (1996), ou A Rocha, no Brasil, é até hoje disparado o melhor filme do contestado diretor americano Michael Bay. Um cineasta que é perseguido pela crítica, mas que provou saber trabalhar muito bem naquela que é sua proposta: os filmes de muita ação. Quem assiste a esse filme dificilmente identificará Michael Bay como o diretor dos filmes Transformers.

“Um general (Ed Harris), herói na Guerra do Vietnã, e seus comandados se apoderam de poderosas armas químicas e se instalam na prisão de Alcatraz com 81 reféns e cobram US$ 100 milhões de resgate, caso contrário, ameaçam disparar as armas sobre São Francisco. Um grupo de elite é mandado à ilha para combatê-los, entre eles um jovem especialista em armas bioquímicas (Nicolas Cage) e o único homem (Sean Connery) que conseguira escapar do presídio.”

Com um roteiro muito bem elaborado, e assinado por ninguém mais ninguém menos que Quentin Tarantino, o filme consegue ter muita ação e adrenalina sem ser um filme desconexo. Um filme instigante e que prende o espectador na cadeira da primeira a última cena.

O elenco é uma verdadeira constelação, e conta com alguns dos grandes nomes do cinema na época. E todos estão muito bem no filme, diga-se de passagem.

Os protagonistas do longa são Sean Connery, o eterno James Bond e o na época requisitado Nicolas Cage, que havia acabado de vencer o Oscar por Despedida em Las Vegas (1996). Connery interpreta John Mason, um ex-agente do serviço secreto britânico, que está preso pelo governo americano por conta de ter descoberto as grandes mentiras da história americana.

Após anos de prisão a CIA precisará dele, pois o antigo Presídio de Alcatraz, conhecido como A Rocha, foi tomado por militares, liderados pelo General Francis Hummell (Ed Harris), que ameaça disparar uma arma biológica sobre São Francisco caso suas exigências não sejam atendidas, e ele é o único homem que escapou da penitenciária, então seria o único que poderia entrar lá sem ser notado, já que uma operação fora descartada por conta de 81 turistas que foram feitos reféns.

Sean nos brinda com uma grande atuação, que obviamente nos faz lembrar seu personagem mais famoso, o Espião James Bond, só que agora mais velho, mas com a mesma competência de sempre, e uma imprevisibilidade de assustar impressionante.

Nicolas Cage interpreta o Dr. Stanley Goodspeed, um químico que entrará junto com a equipe Militar em Alcatraz, com o objetivo de desarmar as armas biológicas antes que as mesmas sejam disparadas. E diga-se de passagem Cage tem uma das melhores atuações de sua carreira nesse filme, e nos faz sentir saudades dessa época, onde ele emplacava seguidamente Despedida em Las Vegas, A Rocha, Con Air e A Outra Face. Já que hoje o máximo que ele emplaca, é uma bomba atrás da outra.

Ed Harris interpreta o personagem que em tese seria o vilão, mas esse está bem longe de ser um personagem simples, pois sua complexidade está em ele ser um bom homem e um patriota, que se sente no dever de mostrar as injustiças que o governo americano cometeu com seus bravos soldados, mortos em campo de batalha, e esquecidos por seu país, que deixaram suas famílias totalmente desamparadas. Harris, como de costume, tem uma brilhante atuação, e consegue passar ao espectador todos os conflitos, éticos e morais que seu personagem passa, de forma que ao assistirmos o filme, podemos até nos compadecer do general, o que geralmente não acontece com os personagens rotulados como vilões.

David Morse e Michael Bieh são outros destaques do longa, apesar de terem papéis menores, porém de extrema importância, principalmente no caso de Morse, na amarração da trama.

Os efeitos visuais de A Rocha são um verdadeiro espetáculo, tal como a locação escolhida, que realmente nos leva para dentro de uma Alcatraz tomada por militares minuciosamente treinados, e preparados para a guerra.
Em resumo, A Rocha é um grande filme, que eu sem dúvida nenhuma recomendaria a todos os que queiram assistir a um bom filme, sem se importar com o que dizem os críticos de plantão.

a) Trailer de Cinema de “A Rocha”

 

 

b) A Rocha – Confira o roteiro

 

 

 

 


Domingo – Dia de Matinê no Cinema Local domingo, 01 de janeiro de 2023

ERA UMA VEZ NO OESTE (1968) – O MAIOR CLÁSSICO DE FAROESTE DE TODOS OS TEMPOS

 

HOJE: FAROESTE CLÁSSICO

ERA UMA VEZ NO OESTE (1968) – O MAIOR CLÁSSICO DE FAROESTE DE TODOS OS TEMPOS

Gentileza do Colunista Cícero Tavares

 

Cena icônica do massacre de Flagstone, onde o pistoleiro Frank dizima a família McBain de forma cruel

 

“O ritmo do filme pretendeu criar a sensação dos últimos suspiros que uma pessoa exala antes de morrer. “Era Uma Vez No Oeste” é, do começo ao fim, uma dança da morte. Todos os personagens do filme, exceto Claudia (Cardinale), têm consciência de que não chegarão vivos ao final.” Sergio Leone.

ERA UMA VEZ NO OESTE foi mais uma obra-prima do proeminente diretor Sergio Leone. Só não superou a si mesmo devido ao (quase) insuperável O Bom, O Mau e o Feio (Três Homens em Conflito – (1966), último filme da Magna Trilogia dos Dólares. Mas sem dúvida esse é um clássico do faroeste memorável, superlativo, e porque não? Do cinema como um todo. Superou todos os filmes que à época eram endeusados por muitos “críticos” como melhores do gênero western, como Rio Bravo (1959) – Onde Começa o Inferno e Matar ou Morrer (1952)… Era Uma Vez No Oeste é uma ópera incomparável!

Era Uma Vez No Oeste mostra a realidade nua e crua do oeste, com homens cruéis lutando para sobreviver a ermo, utilizando-se de métodos torpes. Para quem gosta de cinema essa obra-prima é insuperável. Fica a dica, para quem não assistiu O Bom, O Mau e o Feio, também assisti-lo, pois se trata de uma magna obra magna, de importância cinematográfica superlativa, épica.

Era Uma Vez no Oeste é muito mais do que um dos maiores faroestes já feitos. Essa obra-prima de Sergio Leone transcende qualquer categorização por gêneros ou subgêneros e alcança facilmente o panteão dos melhores filmes que já sagraram as telonas. É, talvez, o ponto alto da carreira do diretor, que demonstra uma impressionante maturidade de temas, fotografia, cenografia, montagem, trilha sonora e um controle absoluto de seu elenco, para alcançar um resultado de se aplaudir de pé.

E olha que Sergio Leone nem mesmo precisou se distanciar muito da estrutura que lhe deu todo o renome que tinha quando ele, tentando fugir das ofertas da United Artists e outros estúdios para dirigir mais westerns, não conseguiu recusar o orçamento generoso da Paramount, que vinha encabeçado pela oferta dele trabalhar com Henry Fonda, seu ator preferido e que era sua escolha original para o papel que consagrou Clint Eastwood na Trilogia dos Dólares. Novamente preso ao gênero do qual queria fugir, Leone não se fez de rogado e arregimentou a ajuda de Dario Argento e Bernardo Bertolucci (ambos, à época, críticos de cinema e roteiristas ainda em começo de carreira, com Bertolucci já tendo dirigido, mas nada relevante) para criar a linha narrativa de Era uma Vez no Oeste.

Essa trinca colaborativa foi extremamente importante para o sucesso que o filme alcançaria e, também, para a atemporalidade dessa fantástica obra (sim, essa fita é merecedora de hipérboles!), pois Leone, Argento e Bertolucci extraíram a essência dos faroestes americanos de grande sucesso à época e trabalharam na inserção desses elementos representativos ao longo de toda a narrativa, mas sem se esquecer dos elementos característicos do faroeste característico do próprio Leone, como o misterioso personagem sem nome, no caso “Harmônica”, vivido por Charles Bronson num papel memorável e o passo desacelerado, que ganhou contornos próprios em “Era uma Vez no Oeste” que, logo em sua longa abertura, nos apresenta as aventuras de uma mosca sobrevoando no rosto do pistoleiro matador, sujo e suado.

Com a narrativa pronta e uma versão do roteiro já escrita, Leone chamou Sergio Donati, que trabalhara com ele, sem receber créditos, em Por um Punhado de Dólares e outros, para fazer a sintonia que durara um ano. Donati, então, focou em destilar Era uma Vez no Oeste para sua essência, com o objetivo de tornar o filme o mais hollywoodiano possível, mas ao mesmo sem perder a alma do Western Spaghetti. São de Donati os diálogos marcantes da projeção, além de ter sido ele o responsável por impedir que o filme, depois, fosse muito mutilado para lançamentos em mercados diferentes, ainda que as versões feitas tivessem oscilado entre 145 e 175 minutos, mas nenhuma delas realmente se sobrepondo de maneira relevante sobre a outra.

Uma grande vitória, sem dúvida. Trabalhando duas narrativas a princípio separadas sobre o conflito gerado com a chegada dos trens e outra uma típica história de vingança, que se misturam com as mais clássicas histórias de bandidos e histórias envolvendo ameaças às terras de alguém.

Sergio Leone constrói, sempre com seu passo preciso, detalhista e lento de um western spaghetti, uma rede de tramas envolvendo Harmonica, o herói silencioso que caça o pistoleiro Frank (Henry Fonda) que, por sua vez, assassina a família McBain para abrir espaço para a chegada da ferrovia e coloca a culpa em Cheyenne (Jason Robards), que se une à Harmonica para salvar Jill McBain (a estonteante Claudia Cardinale), ex prostituta e herdeira da fazenda dos McBain da sanha assassina do matador cruel Frank. Reparem na circularidade do roteiro, que não deixa pontas soltas e encaixa uma narrativa aparentemente solta à outra, demonstrando o excelente trabalho na confecção da história e o cuidado na redação do roteiro.

E Leone não tem pressa em fazer revelações. Não sabemos bem quem é o misterioso homem que toca gaita, que é perseguido por três assassinos no começo, não entendemos exatamente as intenções de Frank ainda que sintamos um certo temor ao ver aquela figura de olhos azuis penetrantes e demoramos a perceber o exato papel de Cheyenne e de Jill na trama. Tudo é mostrado e pouco é dito, mas o desenrolar e a convergência das linhas narrativas são cadenciados à perfeição de forma que diálogos se tornam supérfluos. Os olhares, com os famosos planos detalhes de Leone, contrastados com tomadas em plano geral, dizem tudo.

Somos tragados para a história naturalmente e a longa duração do filme parece passar em alguns instantes, tamanha é nossa fixação na tela. E, permeando o embate, há, mais uma vez, a trilha sonora de Ennio Morricone, um de seus mais impressionantes trabalhos. Desde a gaita narrativa coroando o leitmotif de Harmonica, passando pela música mais forte que caracteriza Frank, até o belo vocal de Edda Dell’Orso, que empresta nobreza e força à Jill McBain.

Talvez não tão memorável quanto à trilha de Três Homens em Conflito, a composição de Ennio Morricone para Era uma Vez no Oeste parece, por outro lado, ainda mais integrada à narrativa que no filme com Clint Eastwood e isso talvez se deva ao fato que Leone, em um movimento raro, pediu para Morricone compor a trilha antes das filmagens começarem, de maneira que o diretor pudesse tocá-la durante a fotografia principal, em atitude, hoje em dia, mimetizada por Quentin Tarantino, com suas músicas pop que escolhe pessoalmente e toca nas filmagens.

Com isso, talvez, a música de Era uma Vez no Oeste tenha influenciado as atuações e não o contrário como é o usual, resultando em uma mescla que pouco se vê por aí. Ainda falando em som, o trabalho do espectro sonoro em Era uma Vez no Oeste é perfeito, desde a edição de som até sua mixagem, com o uso de sons inspirados pelos westerns usados como referência aliado a um orçamento mais alto, que permitiu um trabalho melhor na finalização, especialmente se comparado com a Trilogia dos Dólares. A união da trilha sonora com os sons do filme e, em vários momentos, com a substituição da trilha pelos sons, aumenta a sensação de imersão que a fita proporciona, envolvendo-nos ainda mais profundamente na história da trinca principal de personagens. “Era uma Vez no Oeste” é um grande triunfo cinematográfico, merecendo figurar em todas as listas dos melhores filmes já feitos. Sergio Leone merece todos os nossos agradecimentos profundos e uma eterna salva de palmas por realizar o maior western da história do faroeste.

 

Era uma Vez no Oeste – Trailer

 

 

Era uma Vez no Oeste – 10 coisas que você não sabia! Resumo e curiosidades

 

 

 

 


Domingo – Dia de Matinê no Cinema Local domingo, 25 de dezembro de 2022

MEU ÓDIO SERÁ SUA HERANÇA (1969) – UMA OBRA-PRIMA DE SAM PECKINPAH: O POETA DA VIOLÊNCIA

 

HOJE: WESTERN - VIOLÊNCIA

MEU ÓDIO SERÁ SUA HERANÇA (1969) – UMA OBRA-PRIMA DE SAM PECKINPAH: O POETA DA VIOLÊNCIA

Gentileza do Colunista Cícero Tavares

 

 

Cartaz em Blu-Ray de “Meu Ódio Será Sua Vingança.”

 

“The Wild Bunch,” EUA, (1969), ou “Meu Ódio Será Sua Herança,” possui uma abertura intrigante onde a uniformidade com a longa e antológica sequência final do longa-metragem. O filme começa com um grupo de policiais uniformizados, montados a cavalo, entrando numa pequena cidade norte-americana decadente. O bando cruza com crianças que brincam no meio da rua, perto dos trilhos de um trem. Algumas tomadas esparsas mostram que a brincadeira infantil é um bocado cruel: os meninos jogaram escorpiões no meio de um formigueiro, e os bichos venenosos estão sendo devorados pelas formigas. Junto, há uma tenda onde um pastor exaltado prega a salvação da alma, ignorando a crueldade infantil contra os animais indefesos.

“Meu Ódio Será Sua Herança” encerra enfocando os remanescentes do mesmo grupo de homens que aparece no princípio. Eles não são policiais, e sim uma quadrilha de assaltantes de banco; aquele era apenas um disfarce, como o espectador logo vai descobrir na movimentada e sangrenta sequência que abre o filme com gosto de pólvora. Não há heróis aqui, nem vilões. Todo o longo espectro de personagens é moralmente questionável.

Na ocasião do fim do longa os foras da lei estão no México, e se dirigem para resgatar um dos membros do grupo, preso por um rebelde paramilitar chamado General Mapache (Emilio Fernandez). O violentíssimo tiroteio que se segue não apenas encerra o filme de maneira brilhante, mas fecha um círculo e explica a cena dos escorpiões da abertura; os escorpiões são uma metáfora para os bandidos.

Os escorpiões são intrigantes porque jamais estiveram no roteiro do longa-metragem. Na verdade, eles foram uma sugestão de Emilio Fernandez, que contou ao cineasta Sam Peckinpah como se divertia no deserto mexicano, quando era menino. Peckinpah percebeu a fascinante simetria e filmou o ataque das formigas aos escorpiões abusando de planos-detalhes. Ao fazê-lo, acabou concebendo uma das aberturas mais estranhas, criativas e interessantes do cinema contemporâneo.

Enquanto filmava nos sets poeirentos do México, é possível que o diretor não soubesse que estava colocando uma pá de cal no já combalido gênero western. Adepto dos chamados westerns crepusculares, que lamentavam a proximidade do fim do gênero por causa do crescente desinteresse das novas gerações de espectadores, “Meu Ódio Será Sua Herança” transportava para a história este lamento. Foi uma despedida honrosa e adequada, já que o filme não é ambientado nos anos de ouro do Velho Oeste, mas em 1913.

Às vésperas da Revolução Mexicana, o antigo código de honra dos homens violentos e beberrões já não valia mais nada. O mundo agora era urbano. Botas viravam sapatos engraxados, revólveres transformavam-se em metralhadoras. A violência migrava dos descampados empoeirados para as cidades grandes. O Velho Oeste dava os últimos suspiros. Esse é o grande tema da obra de Sam Peckinpah, e também o pano de fundo do mais controverso e impactante dos filmes que dirigiu.

Em 1969, “Meu Ódio Será Sua Herança” foi recebido da mesma forma que “Clube da Luta” foi em 1999: sob acusações pesadas de ser hiperviolento e gratuito, até mesmo fascista. Para alguns, Peckinpah glorificava a violência. Reza a lenda que o astro William Holden teve uma violenta briga com o cineasta, após ver o filme pronto e odiar o resultado final. A verdade é que o filme é tremendamente violento mesmo: somente no verdadeiro balé de sangue que é o duelo final, Peckinpah gastou doze dias e mais de 10 mil cartuchos de bala de festim.

Sim, é verdade que o filme apresentou uma nova maneira de representar a violência no cinema, utilizando pela primeira vez a câmera lenta para mostrar mortes. Caprichando no sangue e no estilo, Peckinpah enfatizava o sangue e fazia as mortes ganharem um significado simbólico e poético que ultrapassa a morte em si. No cinema dele, morrer dói pra caramba. Mas muita gente não entendeu.

A péssima recepção do filme pelas plateias no mundo foi ajudada pela estrutura narrativa incomum. Um filme tradicional enfatiza o enredo ou os personagens; “Meu Ódio Será Sua Herança” não faz nenhum dos dois. Pike (William Holden) lidera o bando de assaltantes que se encaminha para uma última missão, que é roubar um trem carregado de armas para um rebelde mexicano. Eles são perseguidos por um grupo, liderado por Deke Thornton (Robert Ryan), cujo objetivo é capturar ou matar Pike.

Os dois já foram parceiros, anos antes, mas algo separou seus caminhos. Nenhum deles é retratado com profundidade; Peckinpah só oferece fragmentos do passado. Pike e Deke são homens duros, que mostram nos rostos cansados e nos ombros caídos o peso dos anos. Ambos são melancólicos. Sabem que estão ultrapassados pelo tempo. Sabem que o fim está próximo.

O grupo de Pike bebe o tempo todo e frequentemente cai na gargalhada com piadas bobas, como se estivesse à beira da histeria. O personagem de William Holden, ruminando as palavras e com o olhar perdido no horizonte, resume perfeitamente o clima do filme: eles pertencem ao passado. Não há futuro possível para gente assim.

“Meu Ódio Será Sua Herança” documenta a melancolia do fim de uma era, a troca de guarda entre duas gerações muito diferentes. À medida que encerrou o tempo dos faroestes e inaugurou a fase da hiper-violência, representou a mesma coisa para Hollywood. Pouquíssimos filmes têm essa honra de serem marcos divisórios. Por isso, este aqui é um clássico inesquecível.

Para tentar compreender por que o western não foi mais o mesmo depois do filme do Poeta da Violência e outros clássicos que vieram depois de cineastas comprometidos com a Arte Cinematográfica, é obrigatório assisti-lo por várias vezes para absorver a ironia refinada do diretor Sam Peckinpah nas cenas de violências, pré-anunciando a morte do gênero, sem contar que a tecnologia está aí para idiotizar as histórias fascinantes dos antigos THE END westernianos. “A Mulher Rei” (2022) é um exemplo cagado e cuspido dessa idiotice tecnológica feminal. Transformou-se uma história rica de fatos bélicos, sangrentos, numa luta de porrinha de boteco na Champs-Élysées de Paris do século XIX, com Goiano Braga Horta servindo CACHAÇA TURMALINA DA SERRA, FABRICADA NA PARAÍNA DE ZÉ LIMEIRA, VESTIDO DE AGROBOY.

 

a) Trailer MEU ÓDIO SERÁ SUA HERANÇA (The Wild Bunch), de Sam Peckinpah, WARNER, 1969

 

b) MEU ÓDIO SERÁ SUA HERANÇA (1969) – Um dos últimos épicos do Faroeste – Minha Crítica 

 

 

 

 


Domingo – Dia de Matinê no Cinema Local domingo, 18 de dezembro de 2022

PHILADELPHIA (1993), UM FILME QUE NÃO MAQUIA O PRECONCEITO

 

HOJE: DRAMA - PRECONCEITO

PHILADELPHIA (1993), UM FILME QUE NÃO MAQUIA O PRECONCEITO

Gentileza do Colunista Cícero Tavares

 

O filme Philadelphia em DVD

Tema polêmico e dramático, tratado com seriedade pelo diretor Jonathan Demme (O Silêncio dos Inocentes) e pelos atores Tom Hanks e Denzel Washington. “Filadélfia” começa perfeitamente bem. A lente de Tak Fugimoto mostra uma cidade lentamente alegre, movimentada, acompanhada pela bela canção de Bruce Springsteen, “Streets of Philadelphia” que, meritocramente, leva o Oscar de melhor canção original.

Tom Hanks, acertadamente, também leva a sua estatueta para casa por ter sido escolhido como melhor ator, merecidamente. Um trabalho brilhante, que trouxe o ator para os dramas da vida, tirando-o de comédias quase que esquecíveis.

No início dos anos 90, a AIDS ainda era uma incógnita para o grande público, mas já colecionava vítimas pelo planeta. Famosos como Freddy Mercury (morto em 91) e Cazuza (morto em 90) foram cedo demais, junto com diversos outros artistas e desconhecidos, seja pela falta de informação, pela falta de sorte em transfusões ou pela irresponsabilidade sexual ou com as drogas. Mais do que isso, a aids era conhecida como a condenação gay, a peste a que todos os homossexuais estavam fadados por sua ‘depravação’. Algo absurdo, óbvio.

Foi mais ou menos nessa época ainda obscura da doença que o então em evidência Jonathan Demme resolveu filmar Filadélfia (Philadelphia, 1993), a história de um prodígio advogado que é demitido de um poderoso escritório em que trabalhava depois que um dos sócios descobre que ele tem aids. Andrew Beckett (Tom Hanks) decide então processar seu antigo emprego, buscando diversos advogados para representar seu caso sob a alegação de armação (ele teoricamente havia perdido documentos importantes de um caso mais importante ainda), mas todos o recusam. Joe Miller (Washington), advogado trabalhista negro extremamente homofóbico, decide comprar sua briga e, juntos, enfrentam não apenas um império da lei, mas também os preconceitos pessoais de cada um. Tudo baseado em um ‘caso real’.

A verdade é que “Filadélfia,” mesmo com suas escolhas óbvias (advogado negro, raça historicamente sofrida, tem preconceito contra o gay portador de HIV, outra minoria social), tem seus méritos, principalmente por ter sido o primeiro grande veículo a dialogar com o público em massa sobre o assunto em uma época de tabus. Antes dele houve outros trabalhos, mas o filme de Demme conseguiu chamar atenção por ter nomes fortes envolvidos (Tom Hanks, Denzel Washington e o próprio Demme, que vinha de cinco Oscars principais por O Silêncio dos Inocentes (The Silence of The Lambs, 1991) e ser relativamente simples, sem grandes discussões filosóficas ou dubiedade de personalidade, abraçando assim um público ainda maior por sua simplicidade e mensagem direta.

É um filme claro onde o sujeito A é prejudicado, corre atrás de seus direitos, constrói uma relação com a desavença B e tudo se fecha certinho dentro da boa moral, conscientizando a todos. Mas, ao mesmo tempo, é um trabalho tão sincero, tão bem interpretado, com um Hanks tão cativante (premiado pelo Oscar) e um Denzel Washington tão enérgico que fica impossível não simpatizar por sua causa. Há ainda um Antonio Banderas bem jovem interpretando o companheiro de Hanks e a participação como ator de Roger Corman, a lenda por trás de diversos clássicos de horror dos anos 60.

Bruce Springsteen – Streets of Philadelphia (Official Video)

 

 

Filadélfia (1993) – Trailer legendado

 

 

Análise Jurídica do Filme Filadélfia

 

 

 

 


Domingo – Dia de Matinê no Cinema Local domingo, 11 de dezembro de 2022

FENCES (2016) – UM LIMITE ENTRE NÓS

 

HOJE: DRAMA - PRECONCEITO RACIAL

FENCES (2016) – UM LIMITE ENTRE NÓS

Gentileza do Colunista Cícero Tavares

 

Troy Maxson guarda um grande rancor que alimenta durante anos por não ter tido a chance de ser um jogador profissional de baseball por falta de oportunidades devido a sua cor, mesmo com sua habilidade excepcional. Devido ao grande preconceito vivido ele se nega a aceitar que seu filho Cory (Jovan Adepo) passe pelas mesmas dificuldades que ele enfrentou durante sua vida e considera a tentativa do filho de querer ser o que ele tentou ser e foi impedido, uma perda de tempo.

Embora não o demonstre no dia a dia, Troy é um homem muito amargo. E a vida lhe contribuiu muito para isso. Ele leva a vida trabalhando em um caminhão de lixo junto com seu amigo de muitos anos Jim Bono (Stephen Henderson) e tem a ambição de se tornar motorista do caminhão, cargo esse que ele considera pertencer a homens brancos. Troy é casado há 18 anos com Rose Maxson (Viola Davis), numa interpretação memorável da atriz, na pele de uma mulher muito forte e destemida.

Fences é um filme muito forte e muito bem elaborado, mostra a história vivida na pele por Troy, a dor e coragem de Rose, a objeção e a luta de Cory. Russell Hornsby vive Lyons, o filho mais velho de Troy com outra mulher. Destaque para a atuação de Mykelti Williamson que mostra o lado problemático e perturbado de Gabe, o irmão de Troy.

Há quem diga que Denzel Washington funcione mais como ator do que como diretor e em Fences com certeza sua atuação é muito mais vista e destacada do que sua direção. Acho até por isso que sua indicação ao Oscar foi somente a de melhor ator. Foco na expressão e nos olhos de Denzel durante o filme, ele nos passa um pai de família com seus costumes e atitudes a moda antiga e consegue mostrar o quanto é grandioso o seu trabalho e elogiar as atuações de Denzel é simplesmente chover no molhado.

Sua indicação ao Oscar de melhor ator foi merecidíssima, mesmo não ganhando, e não haveria espanto nem um pouco se ele tivesse arrebatado a estatueta. Agora Viola Davis, com aquela apresentação grandiosa, maravilhosa, de encher os nossos olhos de alegria e lágrimas. Ela incorpora a Rose de uma maneira perfeita e magistral. Belíssimo trabalho entregue por essa maravilhosa e talentosíssima atriz.

“Um Limite Entre Nós” é um filme que se desenvolve de uma maneira bem interessante. O longa começa com Troy tentando parecer engraçado, quando não tem nada disso dentro dele. A história vai se encontrando na medida em ela se desenrola para os espectadores e seu cerne central encontra-se na figura de Troy, um homem que é a representação exata de uma criação dura, o produto fiel de uma realidade inóspita e que aprendeu, da maneira mais difícil, quais eram as suas responsabilidades como homem e pai de família. Na sua cegueira diante do papel que exerce, ele se impede de enxergar as mudanças ao seu redor e de ter compaixão por aqueles que mais o amam. Essa é uma lição que a teimosia de Troy não vai deixá-lo aprender, mas que vai ser de muita valia para aqueles que estão ao seu redor.

 

Um Limite entre Nós (Legendado)

 

 

FENCES (Um Limite Entre Nós) | Crítica

 

 

 

 


Domingo – Dia de Matinê no Cinema Local domingo, 04 de dezembro de 2022

ONDE OS FRACOS NÃO TÊM VEZ (2007) – UMA OBRA-PRIMA DOS IRMÃOS COEN

 

HOJE: VIOLÊNCIA

ONDE OS FRACOS NÃO TÊM VEZ (2007) – UMA OBRA-PRIMA DOS IRMÃOS COEN

Gentileza do Colunista Cícero Tavares

 

Qualquer análise sobre Onde Os Fracos Não Tem Vez gravitará necessariamente em torno de seu anti-herói – um dos grandes vilões da história do cinema. Javier Bardem interpreta Chiguhr de modo assombrosamente inspirado e o compõe de uma série de maneirismos que revelam sua frieza, sua soberba e sua completa loucura. Seu corte de cabelo excêntrico parece ser usado por ele como uma ironia ou um deboche. Impressiona seu ritualismo a cada cena. Ele caminha calmamente até suas vítimas e dialoga com elas sem jamais se exaltar. O personagem decide com lances de uma moeda se seu interlocutor morrerá ou viverá.

Anton Chiguhr nega o livre arbítrio. Seus atos são reflexos de uma força que não demora a se revelar – o psicopata dos irmãos Coen encarna a própria força da morte. Irreprimível e atemporal. Nenhum dos personagens do longa-metragem apresenta registros de historicidade. Nada sabemos sobre eles. Nem suas motivações nem seus objetivos. Presente, passado e futuro tornam-se um só.

Texas, década de 80. Um traficante de drogas é encontrado no deserto por um caçador pouco esperto, Llewelyn Moss (Josh Brolin), que pega uma valise cheia de dinheiro mesmo sabendo que em breve alguém irá procurá-lo devido a isso. Logo Anton Chigurh (Javier Bardem), um assassino psicótico sem senso de humor e piedade, é enviado em seu encalço. Porém para alcançar Moss ele precisará passar pelo xerife local, Ed Tom Bell (Tommy Lee Jones). Excelente filme que demorei muito para assisti. Um filme bem tenso e para deixar mais tenso ainda o telespectador o filme não tem trilha sonora e com uma brilhante atuação de Javier Bardem, com uma boa fotografia soberba. Oscar merecido.

“Onde os Fracos não têm Vez” é, sem dúvida o auge dos irmãos Coen, que aqui fazem um trabalho de mestre em um filme que faz uma reflexão sobre os tempos de violência.

O filme acompanha um ex militar Llewelyn Moss que encontra em um cenário de crime uma maleta contendo 2 milhões de dólares. Ele decide levar para casa mesmo sabendo que vai dar errado. Um psicopata sem senso de humor e que mata com frieza é contratado para achar o dinheiro e inicia sua caçada deixando rastos de morte por onde passa, paralelamente o Xerife Bell está na caçada não só pelo assassino quanto por Llewelyn.

O filme é uma adaptação do livro escrito em 2005 por Cormac McCarthy chamado de No Country For Old Men, É escrito e dirigido pelos saudosos irmãos Coen que aqui achamacha seu melhor trabalho. É um filme profundo e cheio de camadas, definitivamente não é para todos já que os diretores adotam um ritmo lento e os diálogos são feitos para serem interpretados. Aliás eles estão muito inspirados aqui, cada personagem é brilhantemente bem escrito.

O filme tem como protagonismo o personagem Bell, veterano da polícia, o filme abre com um “voice over” com ele relembrando o pai e avô dele na época que eles trabalhavam na polícia, desse diálogo podemos tirar a sacada do filme, de que os tempos mudaram (ou não já que temos outro diálogo lá para o fim), agora o mundo é cheio de violência, o ser humano não possui mais bondade, são todos cheio de maldade e frieza, não se importando com o bem estar da sociedade, lá para o fim existe uma conversa entre Bell e seu tio onde podemos refletir se os tempos realmente mudaram ou se sempre nos humanos fomos violentos. São diálogos simples com grandes significados e as atuações são perfeitas.

Tommy Lee Jones está extraordinário. É uma atuação simples, mas que passa muita sinceridade. Josh Brolin é outro com grande atuação, é um homem comum que não se distanciou da guerra e que vê no dinheiro uma forma de mudar seu destino. É outro com muitas camadas. Temos boas participações de Woody Harrelson e Kelly Macdonald. Mas a alma do filme é Javier Bardem, aqui ele incorpora um dos maiores psicopatas da história do cinema e uma das melhores atuações masculinas da história. É um personagem muito frio, intenso e que tem uma “conduta de moral” distorcida para praticar suas atrocidades.

Os Irmãos Coen criaram um visual e fizeram uma escolha de ator para o papel na medida. O ator possui uma caracterização marcante com um cabelo e exótico e uma arma de crime absolutamente fora dos padrões. É a atuação do Bardem é assustadora. O olhar dele é assustador e passa muito de suas emoções, sua maneira de cometer os crimes é banal e fria, um fascinante estudo de personagem. Para auxiliar no suspense da obra, os Coen preferiram não adicionar trilha sonora, e com isso temos um filme tenso e bem trabalhado nesse western moderno.

O roteiro para variar é brilhante, sabendo dar profundidade nos personagens e na história em si em cima dos diálogos e das metáforas presentes no filme. A fotografia é excele, o design de produção é muito bom e o trabalho com o som é outro destaque da parte técnica além dos enquadramentos de câmera.

O longa concorreu em 8 categorias, saindo vencedor em melhor filme, direção, roteiro adaptado e ator coadjuvante para Javier Bardem. “No Country For Por Men” é um filme brilhante, cheio de profundidade dos personagens e com uma grande mensagem de um mundo onde é dominado pelos fortes e os fracos realmente não tem vez, um mundo caótico onde a injustiça infelizmente reina.

Onde os Fracos Não Têm Vez – Trailer Legendado

 

 

A História Por trás de Onde os Fracos Não Têm Vez!

 


Domingo – Dia de Matinê no Cinema Local domingo, 27 de novembro de 2022

MAR ADENTRO (2004) – REFLEXÃO SOBRE A MORTE ASSISTIDA

 

HOJE: DRAMA PSICOLÓGICO

MAR ADENTRO (2004) – REFLEXÃO SOBRE A MORTE ASSISTIDA

Gentileza do Colunista Cícero Tavares

 

Cartaz de Mar Adentro, quando lançado em DVD

“Mas cá entre nós, eu acho que depois de morrermos não há nada. Tal como antes de nascermos. Nada.” Ramón Sampedro – personagem do ator Javier Bardem, no filme.

MAR ADENTRO (2004), narra a história do marinheiro, escritor e ativista espanhol, Ramón Sampedro, interpretado magistralmente no cinema pelo ator hispânico Javier Bardem, tendo Ramón ficado tetraplégico após um mergulho numa área rasa do amar e ter batido com a cabeça numa pedra. O filme mostra a luta incessante de Sampedro perante os Tribunais locais pelo direito de cometer suicídio assistido, contando com a ajuda dos amigos e da família, além de um advogado, que abraçou a causa gratuitamente.

Por causa da sua incapacidade física de não poder suicidar-se e morrer conforme seus desígnios, Ramón lutou na justiça durante vinte e cinco anos pelo direito de morrer com dignidade sem incriminar os amigos ou a família que viesse a auxiliá-lo no ato de tirar a própria vida, tomando cianeto de potássio.

Ramón Sampedro tornou público seu desejo de morrer no início de 1990, mas só oito anos depois foi que conseguiu um suicídio assistido, através da ajuda de uma amiga, que antes gravou um vídeo de sua morte que foi divulgado nas redes de tevês do país e do mundo e voltou a despertar na sociedade a importância do debate sobre a despenalização da morte assistida.

A associação espanhola “Direito a Morrer Dignamente” considera que, graças à sua luta e às suas reivindicações, Ramón Sampedro contribuiu para que, em 1995, fosse aprovada uma reforma no Código Penal que reduziu as condenações em caso de eutanásia ou de assistência ao suicídio.

Entre os temas mais difíceis que o cinema ou qualquer outra arte pode tentar retratar, a morte, mais especificamente a eutanásia ou a morte assistida, deve figurar entre os principais. A complexidade da questão, aliada à falta de representatividade entre grandes diretores e roteiristas faz com que sejam raras as películas que se dedicam a debater o assunto. Em 2016, a comédia romântica britânica Como Eu Era Antes de Você recebeu uma série de críticas e protestos por ter, na ótica de muitos, glamurizado a eutanásia e reduzido o debate sério a uma comédia leve e adolescente, que se resolvem em meio a piadas, sarcasmos e uma alta dose de humor. A diretora inglesa Thea Sharrock não teve competência para dirigir um tema sensível com catilogência.

Mar Adentro, anterior à comédia britânica, parece entender exatamente as críticas e se antecipar a todas elas. A história retrata a vida de Ramón Sampedro, o espanhol de meia idade que se tornou tetraplégico, deseja, conscientemente, a morte. Ramón, depois de mergulhar e bater a cabeça numa pedra no fundo do mar, vive numa cama na humilde residência em que mora com o pai, seu irmão José, a cunhada Manuela e o sobrinho Javier. A eutanásia na Espanha era proibida e Ramón precisa contar com a ajuda da advogada Júlia, que simpatiza com sua história, para tentar convencer a Corte espanhola a alterar a lei e atender ao seu pedido.

Todo o drama é escrito de maneira muito sóbria e humana. Não existe qualquer tentativa de se romantizar a questão ou criar heróis e vilões dentro da trama. Um ponto bem claro para evidenciar a preocupação do roteiro é o pouco tempo dedicado ao debate legal sobre a morte assistida em si. As cenas de tribunal são mínimas e os termos jurídicos, inexistentes.

O centro da trama é realmente o sentimento de Ramón e sua relação com a vida e as pessoas à sua volta. Nesse sentido, conforme as relações evoluem, entendemos melhor os dramas de Júlia e Rosa e porque elas se conectam tanto com o protagonista. Júlia sofre de uma doença degenerativa que coloca ela numa cadeira de rodas e a aterroriza quanto ao seu futuro. Ela se apega à Ramón e eles criam uma conexão forte e sensível. Já Rosa, tão machucada em relacionamentos amorosos, projeta em nele um homem ideal e que a dá forças para viver. Quando ela entende que para ele a maior demonstração de amor é ajudá-lo a morrer, ela se entrega e deixa de lutar contra a vontade dele, trazendo à história um final sensível e melancólico, mas nada romântico ou glamourizado.

Toda essa sensibilidade é positivamente ressaltada pelas ótimas atuações e pelo design de produção da obra. A preocupação de Amenábar em balancear a quantidade de tomadas internas e externas dá um alívio ao espectador e evita uma sensação claustrofóbica de acompanhar toda a história dentro do quarto onde Ramón vive. A composição de personagem por parte do ator Javier Bardem também merece destaque, desde as expressões faciais, a postura enrijecida, a respiração e a fala acelerada trazem verdade ao personagem, que através da maquiagem indicada ao Oscar daquele ano o transforma completamente.

Mar Adentro consegue emocionar e ao mesmo tempo trazer reflexões pertinentes sobre a morte assistida em caso extremo da vida, duas características que infelizmente nem sempre andam juntas. O filme é mais um ótimo trabalho do direto Alejandro Amenábar e do cinema espanhol que, merecido, levou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de volta à Espanha, que havia vencido pela última vez com Tudo Sobre Minha Mãe (1999), do espalhafatoso, mas competente, Pedro Almodóvar.

 

Mar Adentro – Trailer

 

 

Cinema penal: “Mar Adentro” (Espanha, 2004)

 

 

 

 


Domingo – Dia de Matinê no Cinema Local domingo, 13 de novembro de 2022

O SILÊNCIO DOS INOCENTES (1991)

 

 

HOJE: DRAMA, SUSPENSE E TERROR

O SILÊNCIO DOS INOCENTES (1991)

Gentileza do Colunista Cícero Tavares

 

 

UMA OBRA-PRIMA DE DRAMA, SUSPENSE E TERROR PSICOLÓGICO

Cena icônica de “O Silêncio dos Inocentes”: o olhar sombrio de Hannibal

 

THE SILENCE OF THE LAMBS (ou: “O Silêncio dos Inocentes”) é uma das maiores obras cinematográficas fictícias de todos os tempos. A história gira em torno da jovem estagiária do FBI, Clarice Starling, que é recrutada com a missão de entrevistar o brilhante psiquiatra e assassino canibal em série, Hannibal Lecter, que está preso em um manicômio há oito anos com o objetivo de formular o perfil de um assassino em série que esfola a pele das suas vítimas, também conhecido pelo nome de Bufallo Bill.

Ao longo da trama, percebemos que Clarice se torna cada vez mais carismática até nos apegarmos totalmente à personagem dela, com sua história trágica e com o objetivo de salvar a vida das pessoas, Clarice torna-se uma das personagens mais icônicas no filme, inclusive com a perfeita atuação de Jodie Foster no papel principal.

Como esperado, Anthony Hopkins também surpreendeu ao longo da trama no papel do inescrupuloso Hannibal Lecter que, assim como Clarice, se torna cada vez mais carismático até nos apegarmos a ele. Além disso, percebemos as atuações de coadjuvantes fantásticas de Scott Gleen como o diretor do FBI, Ted Levine como o Bufallo Bill e Kasi Lemmons que por mais que tenha trabalhado mais como diretora de cinema do que como atriz, nos surpreendeu ao viver o papel da personagem Ardelia Mapp, amiga e colega de quarto de Clarice Starling.

O Silêncio dos Inocentes” é um filme que de início tem uma proposta simples, uma estudante da academia de Polícia tem a missão de buscar informações do perfil de um serial killer, o problema é que para poder achar esse perfil ela tem que entrevistar um assassino canibal: Hannibal Lecter. É um filme forte e que explora os lados da crueldade humana e acima de tudo as “motivações” de um assassino. É brilhante a maneira como o filme se desenrola e em especial as conversas entre o Hannibal Lecter e Clarice Staling. São diálogos afiados, inteligentes. De um lado uma esperta policial e do outro, um extremo manipulador. Lecter é um psicopata que entra nas mentes das pessoas, explora seus traumas, é extremamente perigoso e assustador e é incrível como ele consegue deixar a forte e valente Clarice vulnerável a seus questionamentos. O roteiro do filme também de forma sutil mostra como era difícil ser mulher policial, por vezes constrangedor, receber olhares de outros policiais que se admiram ao ver uma mulher em um cargo de investigadora, algo que infelizmente ainda acontece hoje em dia.

O longa foi indicado a sete estatuetas do Oscar e se saiu vencedor em cinco categorias principais, dentre eles o de melhor filme, melhor diretor, melhor atriz, melhor ator e melhor roteiro adaptado. E, merecidamente, pois o filme possui, primeiramente, uma direção perfeita, o desenrolar do filme é muito bem orquestrado pelo diretor Jonathan Demme que sabe conduzir as cenas, sejam elas de simples diálogos ou até de momentos mais tensos no terceiro ato e sem contar o ótimo trabalho conduzido com o elenco.

Com um roteiro bem montado, o elenco aproveita e se entrega a brilhantes atuações. Anthony Hopkins faz aqui seu melhor personagem, de longe um dos meus favoritos. É um psicopata extremamente manipulador e tem um olhar assustador chegando a ser hipnotizante para quem assiste. Ele usa pequenos detalhes da vida de uma pessoa e joga com elas um doentio jogo psicológico. E a Jodie Foster é outra com uma das melhores atuações na carreira, uma mulher forte, sagaz e que tem uma sede por justiça, é uma atuação realmente magnífica, memorável.

O Silêncio dos Inocentes” é um brilhante retrato da psicopatia humana, as decepções de um ser humano que expõe o seu instinto assassino, de um ser mentalmente perturbado, e como agem os mais manipuladores. Tem personagens fascinantes e uma dupla principal incrivelmente bem interpretada por Jodie Foster e Anthony Hopkins. Um thriller policial de primeira linha.

 

O Silêncio dos Inocentes | Trailer Oficial:

 

 

O Silêncio dos Inocentes (1991) – Crítica Rápida:

 

 

 

 


Domingo – Dia de Matinê no Cinema Local domingo, 30 de outubro de 2022

LINCOLN (2012)

FILME: CINEBIOGRAFIA

LINCOLN (2012)

Gentileza do Colunista Cícero Tavares

 

Imagem do filme LINCOLN (2012), dirigido magistralmente por Steven Spielberg

A abertura do clássico filme Lincoln do diretor Steven Spielberg traz uma poderosa e rápida cena de batalha na etapa final da histórica “Guerra Civil Americana”, muito semelhante às magistrais sequências de confronto nos filmes “O Resgate do Soldado Ryan.” (1998) e “Cavalo de Guerra.” (2011).

Na cena de abertura, soldados lutam em um grande campo de terra enlameado pela forte chuva, espadas e rifles, ceifando centenas de vida a cada segundo. De fato, Spielberg já demonstrou que sabe fazer filmes com temática de guerra como poucos diretores, porém, em Lincoln, após os primeiros minutos, o cineasta se supera a nos contar com maestria a história dos últimos meses de vida do mais popular presidente americano de todos os tempos, Abraham Lincoln, deixando, assim, os momentos de batalha de lado e apostando, seguramente, em desenvolver uma minuciosa cinebiografia do presidente acerca de uma forte temática política com base em fatos que mudaram o curso da história da humanidade.

Como já dito anteriormente, a superprodução desenvolve uma cinebiografia do 16.º presidente norte-americano que liderou o Norte dos Estados Unidos na vitória durante a Guerra Civil Americana (também conhecida como “Guerra da Secessão”). O longa enfatiza os tumultuados meses finais do presidente Lincoln no cargo do primeiro mandato. Em um país dividido pela guerra e varrido por fortes ventos de mudança, Lincoln (Daniel Day Lewis) segue estratégia para encerrar a guerra, unir o país e abolir a escravidão. Com coragem moral e determinação férrea de vencer, suas escolhas nesse momento crítico mudaram o destino das gerações futuras.

Logo que Lincoln aparece em cena (em um belíssimo momento, por sinal) já vislumbra a nítida impressão da tendência narrativa que o diretor Spielberg desenvolverá: endeusar a figura do herói americano (repare, por exemplo, no momento em que o quadro se abre aos poucos até que apareça o presidente – quase sempre em primeiríssimo plano ou em perfil, aliás). Além disso, o roteiro ainda faz questão de enfatizar os dramas familiares de Lincoln a fim de humanizá-lo e gerar maior familiaridade com o espectador, para que este, posteriormente, venha a se comover com a lamentável e histórica morte do presidente – e isso não é spoiler, obviamente. Porém, apesar de não ser um problema comprometedor, tal opção soa desnecessária no filme que traz, por si só, um herói que não precisa de nenhum excesso narrativo para carregar o filme do início ao fim – ainda mais quando interpretado por um dos melhores atores da atualidade, Daniel Day Lewis, ganhador do Oscar de melhor ator.

Roteirizado por Tony Kushner, John Logan e Paul Webb – baseado na obra de Doris Kearns Goodwin, “Lincoln” é um dos melhores filmes sobre a política americana já feitos. As cenas de debate entre políticos com opiniões gritantemente divergentes a respeito da 13.ª Emenda da Constituição dos Estados Unidos da América (que, evidentemente, pôs fim a escravidão e justificou os direitos entre negros e brancos) são excepcionais.

E, mesmo que certos termos políticos possam causar estranheza, o trabalho de pesquisa da equipe de Spielberg é admirável desde simples nomes a grandes acontecimentos – muito deles envolvendo a corrupção de compra de votos de vários políticos. E é justamente nesses momentos – que são, sem dúvidas, os melhores e mais vibrantes do longa – que Tommy Lee Jones brilha em uma atuação excelente como ator coadjuvante (não precisa nem dizer que seria merecido caso ele viesse a receber o Oscar – apesar de que todos indicados sejam fortíssimos e igualmente merecedores).

O ator, facilmente, garante o êxito de todas as cenas onde Lincoln não aparece; porém quando Daniel Day Lewis está em cena não tem para ninguém. Chega a impressionar a facilidade com a qual o brilhante ator interpreta o presidente como já tivesse atuado no papel toda sua vida; Daniel, de fato, domina as características de Abraham Lincoln magistralmente, começando pelas pequenas expressões faciais, passando pelo jeito de andar e impressionando a todos com seu perfeito trabalho vocal (e, mesmo sendo admirador das atuações dos demais concorrentes ao prêmio de melhor ator ganhador do Oscar seria um pecado não contemplar o divino trabalho do sempre perfeccionista Daniel Day Lewis).

Contando com um desing de produção definitivamente impecável, “Lincoln” se torna um filme genuinamente exuberante. A direção de arte (de Curt Beech, David Crank e Leslie McDonald) é extraordinária, os figurinos são riquíssimos em detalhes, a maquiagem é formidável e a trilha musical – além de tocante – é quase sempre adicionada precisamente pela edição (mesmo que a composição de John Williams possa, em alguns momentos, soar insistente). Isso sem mencionar a primorosa fotografia de Janusz Kaminski, quase sempre azulada e nebulosa, transmitindo toda a tensão e tristeza daquela época (mas, mesmo em meio a tamanho temor, Spielberg faz questão de contrastar os escuros figurinos e os tristes cenários com a luz solar que constantemente resplandece através das janelas da Casa Branca remetendo diretamente à esperança que, em tempos sombrios, ainda persiste – sempre, claro, focalizando a figura do presidente de modo questionável).

Mas se, por um lado, Steven Spielberg, em trabalhos anteriores, esbanjava – em algumas vezes até mesmo exagerava – na dose de ação em marcantes cenas de batalhas; em “Lincoln”, por outro, o cineasta desenvolve uma narrativa lenta, com longos diálogos e monólogos e intermináveis cenas – o que, certamente, prejudica diretamente o ritmo do filme e exige maior paciência do espectador. E não é exagero algum dizer que em alguns momentos a narrativa se torne demasiada e excessiva, fazendo com que tenhamos certeza de que Spielberg cometeu alguns erros ao concluir tal versão final do longa que, certamente, poderia ser editada (deméritos para a montagem que, embora seja inegavelmente cuidadosa, possui explícitos problemas de envolvência e fluidez).

Então, mesmo que vagarosamente, o filme chega a seu ótimo clímax que – aí sim – Spielberg conduz muito bem (repare, por exemplo, no ágil corte no momento chave do terceiro ato quando o diretor opta, ao invés de manter o foco na câmera dos deputados, em focalizar em outro lugar a face aflita de Lincoln, que, assim como a maioria, recebe a tão esperada notícia de que a 13ª Emenda havia sido aprovada por meio de fervorosas badalas no sino da Casa Branca, que anunciam a “paz” que estava por vim).

Enfim, não há dúvidas de que “Lincoln” é um filme grandioso, uma obra-prima – justificando suas 12 indicações ao Oscar. Magistralmente produzido, com um roteiro ousado e seguramente colocado em prática por Steven Spielberg – no caso, adotando uma linguagem diferente de seu estilo habitual, que, sem dúvidas, dividiu e ainda dividirá opiniões. No mais, um longa que, apesar de seus problemas, nos conta convincentemente sua história baseada em fatos históricos que jamais serão esquecidos, e, sobretudo, presta uma homenagem mais do que merecida a um verdadeiro herói da humanidade – e não somente americano. Portanto, resta dizer que, sim, o filme cumpre seu papel como cinebiografia política magna, que será sempre lembrado mais pela poderosíssima atuação de Daniel Day-Lewis, personificando o presidente Abraham Lincoln, do que por ser uma obra-prima.

a) Lincoln – Trailer Oficial Legendado

 

 

b) Daniel Day-Lewis winning Best Actor for “Lincoln” (2013).

Clique aqui para ver.


Domingo – Dia de Matinê no Cinema Local domingo, 02 de outubro de 2022

A COR PÚRPURA (1985) – UM DOS FILMES MAIS INJUSTIÇADOS DA HISTÓRIA DO OSCAR

 

HOJE: DRAMA - RACISMO E PRECONCEITO NORTE-AMERICANO

A COR PÚRPURA (1985) – UM DOS FILMES MAIS INJUSTIÇADOS DA HISTÓRIA DO OSCAR

Gentileza do Colunista Cícero Tavares

 

Cena icônica de A Cor Púrpura do diretor Spielberg

A Cor Púrpura é um drama bem produzido. Obra de gênio. Penetrante e emocionante. Auxiliado por um elenco versátil, que sabe o que está fazendo na frente da tela grande e o faz com competência, apesar de novato. O icônico diretor Steven Spielberg conseguiu entregar uma obra-prima intimista e empática ao telespectador. Além de carregar aquele charme “old school” característico de sua filmografia. Sua extensa duração se justifica ao desenvolver com calma e humanidade cada personagem. Pouco a pouco, o espectador vai entrando na pele da personagem de Whoopy Goldberg e não sai dela por dias após assisti-la.

A história se passa no início do Século XX, na Georgia de 1906. Uma jovem negra com apenas 14 anos é violentada pelo pai, e se torna mãe de duas crianças. Alem de perder a capacidade de procriar, Celie, a jovem, interpretada magnificamente por Whoopi Goldberg, imediatamente é separada dos filhos e da única pessoa do mundo que a ama, sua irmã Nattie, e é doada a “Mister” (Danny Glover), um tirano negro poderoso que a trata simultaneamente como escrava e objeto de sexo.

O filme é maravilhoso do início ao fim. As cenas são inesquecíveis e irretocáveis: Nattie, a irmã que luta bravamente para escapar do estupro pelo tirano marido de Celie; a separação das irmãs; as duas agarradas uma à outra enquanto o tirano as arrasta sem dor nem piedade; as irmãs de longe acenando uma para a outra com as mãos pálidas, sem poderem mais se alcançar, cantando “nada vai afastar minha irmã de mim, Makidada,”; o momento em que a personagem Celie encontra as cartas enviadas pela irmã, que o “marido” escondeu dela durante anos; o jantar onde Celie “vomita” tudo que engoliu por tantos anos, tudo isso feito com tempero de genialidade, até a cena final tão esperada: O reencontro das irmãs que voltam a brincar tal como quando eram crianças. De fato, uma das maiores injustiças da Academia de Hollywood não ter contemplado com uns quatro Oscars essa obra-prima spielberguiana, apesar de 11 indicações.

Talvez um filme feito esse não seria produzido hoje. “Porque não seria um diretor branco e de visão florida a adaptar o livro da escritora negra Alice Walker?!” – alguns esquerdoides poderiam questionar. Não. Apenas por exatamente ter se presente hoje na indústria, essa constante preocupação de ter representatividade racial e cultural no cinema sendo feito de forma digna, fiel e respeitosa. Optando assim que apenas cineastas negros poderiam dirigir filmes voltados à temática da cultura negra e apenas cineastas mulheres poderiam dirigir filmes voltados à temática de cunho feminino, e por assim em diante. Um intuito de louvável feito, sem dúvidas, e vários talentos por trás das câmaras apareceriam e receberiam devido destaque, mas como isso poderia funcionar na prática?

A busca por um talento de verdade dentro do ramo artístico, e humano, do cinema, se perde aos poucos. Spielberg não precisou ser negro ou mulher para que pudesse contar aqui uma profunda história sobre ambos. Apenas usou do seu prodigioso talento, como grande entendedor de cinema e do espírito humano, para que pudesse contar essa história comovente. Não só sobre a cultura negra e o mundo das mulheres, mas sim a jornada de uma mulher, que lutou as tristezas e sofrimento do seu dia a dia, que aprendeu o que é amor e fé verdadeiros no que é bom e que pode ser encontrado no mundo, e para que pudesse um dia novamente reencontrar sua irmã. Com seu infinito amor que as permitiu vencer os ódios que as separou, e as fez se unir novamente no final. Exatamente como o mesmo amor com o qual o livro foi escrito e esse filme foi feito. O ódio as separou; o amor as uniu novamente.

A Cor Púrpura | 1985 | Trailer Legendado | The Color Purple

 

 

Cena marcante do filme A Cor Púrpura (The Color Purple)

 

 

Art7 A Cor Púrpura

 


Domingo – Dia de Matinê no Cinema Local domingo, 25 de setembro de 2022

O RESGATE DO SOLDADO RYAN (1998) – UMA OBRA-PRIMA SOBRE A ESTUPIDEZ DA GUERRA

HOJE: FILME DE GUERRA

O RESGATE DO SOLDADO RYAN (1998) – UMA OBRA-PRIMA SOBRE A ESTUPIDEZ DA GUERRA

Gentileza do Colunista Cícero Tavares

 

Caos da guerra com realismo e intensidade

Filmes de guerra são normais no cinema, mas nenhum conseguiu ter o mesmo impacto de “O Resgate do Soldado Ryan,” um dos melhores filmes de guerra já realizado na história do cinema no Século XX. Sua abertura é épica, sua qualidade técnica é deslumbrante. O diretor Steven Spielberg, um dos maiores cineasta da atualidade, usa muitos efeitos práticos. A movimentação de câmara é frenética e coloca o telespectador dentro do campo de batalha, onde tem uma ambientação realista demais e agonizante, com soltados sendo baleados, feridos, mutilados e mortos. Nessa abertura épica, que dura mais de trinta minutos o tiroteio, a água do oceano vira um mar de sangue humano.

Essa sequência inicial do desembarque na praia de Omaha, na França, é perfeita. Somos dignificados a assistir quase meia hora de situações brutais e ásperas, promotoras de um senso de perda muito forte, que casa com o fato deste ser um retrato fidedigno do que realmente acontecera no fatídico Dia D. Ainda não fomos apresentados aos personagens, não nos importamos com eles sob um viés formal, mas, mesmo assim, Steven Spielberg faz com que cada baixa seja impactante. A câmera é deslocada para o meio do confronto e o público sente o pesar da situação, como provavelmente nunca sentira anteriormente.

O trabalho sonoro do longa metragem impressiona, tanto a edição quanto a mixagem de som são sensacionais. O trabalho de edição e montagem é espetacular e sempre mantém um bom ritmo narrativo, além da excelente fotografia campal e a maquiagem. O roteiro nunca deixa a imersão de lado, mesmo quando o ritmo é mais calmo, com excelentes diálogos.

No elenco temos grandes atuações e uma história curiosa: Steven Spielberg queria que um ator desconhecido fosse contratado e escolheu Matt Damon que, ironicamente, ganhou o Oscar de melhor roteiro e melhor ator em “Gênio Indomável” em 1997, antes do lançamento de “O Resgate do Soldado Ryan” pelo trabalho de “Gênio Indomável,” o que trouxe mais holofotes ao filme.

Matt Dalmon está extraordinário no papel do soldado Ryan, apesar de aparecer no final do segundo ato. Ryan Hurst, Tom Sizemore, Edward Burns, Barry Pepper e Adam Goldberg estão todos bem comprometidos no papel, mas quem tem maior destaque é Tom Hanks. Ele possui uma carga dramática excepcional e passa um conhecimento de general que impressiona. Ele passa o lado humano e a angústia pela morte de cada um soldado do seu grupo, ele sente a culpa pela morte.

Não é à toa que Tom Hanks foi indicado ao Oscar de melhor ator e ganhou. E o filme foi indicado a 11 Oscars, rendendo para Steven Spielberg a estatueta de melhor diretor. Um filme perfeito em som, fotografia, elenco, direção. Um filme bem escrito, emocionante, um dos melhores da carreira do diretor Spiolberg. O melhor filme de guerra já produzido.

O “Resgate do Soldado Ryan” é um filme genial sobre guerra, essa estupidez humana. Jamais aparecerá outro igual na história do cinema.

 

O Resgate do Soldado Ryan – Trailer Oficial

 

 

O Resgate do Soldado Ryan (1998) | Crítica | Review

 

 

 

 


Domingo – Dia de Matinê no Cinema Local domingo, 18 de setembro de 2022

A DAMA DE FERRO (2011) – O MELHOR DO FILME É MERYL STREEP

 

HOJE: CINEBIOGRAFIA

A DAMA DE FERRO (2011) – O MELHOR DO FILME É MERYL STREEP

Gentileza do Colunista Cícero Tavares

 

 

Imagem do filme quando saiu em DVD

 

A cinebiografia de Margaret Thatcher da diretora britânica Phyllida Lloyd, com Meryl Streep numa interpretação memorável, impagável, inesquecível de A Dama de Ferro, se utiliza da velha forma de apresentar a protagonista já idosa e, a partir de suas lembranças, exibir seus feitos do passado, com flashbacks não sequenciais da personagem. Uma tática explorada à exaustão no cinema.

Antes de se posicionar e adquirir o status de verdadeira Dama de Ferro na mais alta esfera do poder britânico, Margaret Thatcher (Meryl Streep) teve que enfrentar vários preconceitos na função de primeira-dama do Reino Unido em um mundo até então dominado por homens. Durante a recessão econômica causada pela crise do petróleo no fim da década de setenta, a líder política tomou medidas impopulares, visando à recuperação do país. Seu grande teste, entretanto, foi quando o Reino Unido entrou em conflito com a Argentina na conhecida e polêmica Guerra das Malvinas. Eventos como os confrontos com os trades unions (os sindicatos britânicos), também foram relevantes para sua biografia, mas foram esquecidos no filme..
Lançado em 2012, A Dama de Ferro é a biografia cinematográfica desta figura magna, controversa, que foi chefe de estado de 1979 a 1990, e era conhecida por seus posicionamentos firmes e inflexíveis, não por ser uma megera horrível, mas porque precisava se impor dentro do universo masculino. O grande triunfo da produção foi ter escolhido Meryl Streep para interpretar a personagem principal, uma atuação que lhe valeu, por mérito, o Oscar, o Globo de Ouro e o Bafta de Melhor atriz em 2012.

No roteiro de Abi Morgan, a trama segue a estrutura tradicional de transitar entre o presente e o passado da vida da Baronesa Thatcher. Neste caso, há um interessante dado biográfico que justifica algumas transições de cena e tempo: Lady Thatcher estava senil, apresentando sinais de demência nos últimos anos. A primeira cena do longa-metragem apresenta uma idosa de lenço na cabeça comprando uma garrafa de leite, caminhando por uma Inglaterra que ela desconhece, em um misto de confusão mental e de uma país que não mais lhe pertence. A imagem pontua bem o distanciamento da primeira ministra nos últimos anos de vida.

É nas idas e vindas entre passado e presente que Meryl Streep e Jim Broadbent brilham. Mesmo em poucas cenas, o velhinho Denis conquista pelo carisma, demonstrando o companheirismo da relação com Thatcher e, em nenhum momento é eclipsado pelo talento de Steep, sem dúvida a grande estrela que brilha neste filme.

Parte do sucesso desta interpretação se deve à maquiagem esmerada da também vencedora do Bafta e Oscar, Marese Langan, que não só a transformou em uma Thatcher mais jovem como desenvolveu uma maquiagem realista para a velhice, dando total credibilidade física à personagem. Enquanto Streep compõe a personagem desde sua postura, na velhice curvada e com dificuldades de andar, para a forte senhora de passos firmes do parlamento.

Definitivamente não é uma obra prima. No entanto, para quem acompanhou um pouco da história no período em que Margaret Thatcher foi primeira ministra, o filme tem a virtude de manter a atenção do público. A excelente interpretação de Meryl Streep com certeza é o ponto alto.

Quanto a forma de apresentar a primeira ministra, não estou certo de que seja a melhor. Partindo de sua senilidade e intercalando trechos da história da premier, de alguma maneira, o filme deixa nublada a extensão de sua influência, ao deixar de fora a possibilidade de discutir os pontos de vista que a fizeram tão controversa.

a) “A DAMA DE FERRO” – Trailer Legendado Full HD

 

 

b) Crítica: A Dama de Ferro

 

 

 

 


Domingo – Dia de Matinê no Cinema Local domingo, 04 de setembro de 2022

LINCOLN (2012) – UMA OBRA-PRIMA CINEBIOGRÁFICA CARENTE DE ANÁLISES INTELIGENTES

 

HOJE: CINEBIOGRAFIA

LINCOLN (2012) – UMA OBRA-PRIMA CINEBIOGRÁFICA CARENTE DE ANÁLISES INTELIGENTES

Gentileza do Colunista Cícero Tavares

 

 

 

Daniel Day-Lewis recebeu o Oscar de melhor ator interpretando Lincoln

 

A cinebiografia de Abraham Lincoln, obra-prima dirigida por Steven Spielberg sobre os últimos anos da vida de um dos presidentes mais fascinantes da história dos Estados Unidos da América, se passam durante o final da Guerra da Secessão em linhas gerais, conflito esse iniciado quando os estados do Sul do país criaram um movimento separatista e declararam sua independência do país, o que foi motivado pela divergência existente a respeito da abolição da escravidão. Essa guerra foi a pior da história americana, com saldo de cerca de 600 mil mortos.

A bem da verdade, por mais que possa parecer, Lincoln não é uma cinebiografia sobre o 16.º presidente dos Estados Unidos, e essa falta de sinceridade com seu espectador acaba, justamente, contando contra o interesse pelo filme. “Lincoln” é um filme sobre a 13.ª Emenda da Constituição Americana que, com poucas palavras, aboliu a escravidão naquele país, em votação apertada, com corrupção e tudo, apoio e aval do homem mais puro da América, no dizer do congressista democrática, Thaddeus Stevens.

Baseado no livro “Team of Rival: The Political Genius of Abraham Lincoln,” da historiadora e biógrafa americana Doris Helen Kearns Goodwin, que analisa o gabinete do governo do presidente Lincoln da época, que se aliou aos seus ex-rivais de campanha em linhas gerais para aprovar a Emenda 13.ª a qualquer custo, o filme Lincoln, indicado a 12 Oscars pela The Academy, tem a sua maior força nas atuações. Daniel Day-Lewis tem mais uma atuação assombrosamente memorável na carreira, nos lembrando por que já possui três estatuetas do Oscar (Meu Pé Esquerdo (1989), Sangue Negro (2007) e Lincoln (2012). O ator incorpora o ex-presidente de forma impressionante, com um trabalho de voz que faz do personagem um sujeito delicado, mas sempre marcante e firme, falando baixo, mas sendo sempre ouvido e respeitado.

Sally Field e Tommy Lee Jones são outros destaques do elenco, que conta ainda com as ótimas presenças de David Strathairn, Hal Holbrook e Bruce McGill. Field interpreta Mary Todd Lincoln e chama a atenção em todas as sequências que aparece. Já Lee Jones surge como Thaddeus Stevens, congressista democrata liberal que causa polêmica entre os representantes do povo. O ator, que muitas vezes gasta seu talento em produções que só exigem dele a cara de durão mal humorado, brilha no filme, protagonizando, pelo menos, uma cena memorável, como no discurso na Câmara dos Representantes. Mas nem só de veteranos vive o elenco de Lincoln. Joseph Gordon-Levitt, Lee Pace e Joseph Cross também aparecem com destaque.

O longa conta com uma belíssima trilha sonora de John Williams, que tem como principal mérito o fato de não ser repetitiva ou insistente. A trilha surge de forma forte, mas não se preocupa em marcar presença durante todo o tempo. A fotografia de Janusz Kaminski também merece aplausos ao adotar uma tonalidade azulada, numa referência clara às cores da União na Guerra da Secessão. É curiosa ainda a opção por tomadas em primeiríssimo plano, com muito destaque aos rostos dos atores, o que reforça a percepção das grandes atuações.

Outro ponto positivo do filme é a direção de arte, que aqui é comandada por seis mãos (Curt Beech, David Crank e Leslie MacDonald). O trio colaborou para dar autenticidade ao drama. Tudo é suntuoso e de muito bom gosto. O mesmo pode ser dito do figurino criado por Joanna Johnston.

“O verdadeiro sentido da emenda, é que não vejo igualdade em tudo. Só igualdade perante a lei, e nada mais!” – disse o fervoroso deputado democrática Thaddeus Stevens, interpretado brilhantemente por Tommy Lee Jones, em síntese antológica em plenário da Câmara dos Representantes, em momento ímpar do filme LINCOLN.

 

a) Lincoln Official Trailer #1 (2012) Steven Spielberg Movie HD

 

 

b) Lincoln 20 Min. Featurette (2012) – Steven Spielberg Movie HD

 


Domingo – Dia de Matinê no Cinema Local domingo, 14 de agosto de 2022

CARMEN JONES (1954) – UM MUSICAL OPERÍSTICO

HOJE: MUSICAL

CARMEN JONES (1954) – UM MUSICAL OPERÍSTICO

Gentileza do Colunista Cícero Tavares

 

 

Cartaz em DVD, lançado em 2000

 

“Diz a sinopse do filme CARMEN JONES (1954), o extraordinário musical operístico: Impulsionado pela poderosa obra musical de George Bizet e as magníficas letras de Oscar Hammerstein II, esta versão americanizada da clássica ópera Carmen de Bizet é ‘um show dinâmico e soberbo’ com uma incandescente Carmen no auge de sua exuberância musical.”

Dorothy Dandridge, indicada ao Oscar de melhor atriz, estrela do papel principal, uma ardente e sexy criatura que cativa Joe, (Harry Belafonte), um soldado atraente, que está longe de sua amada (Olga Jemes).

Após uma briga fatal com seu sargento, Joe deserta (abandona) seu regimento com sua excitante “femme fatale.”

Porém, logo Carmen se cansa dele e se une a um lutador peso pesado (Joe Adams), disparando a trágica vingança de Joe. Ajudando a colocar fogo na tela estão Pearl Bailey e Diahann Carroll, parte do “sensacional” elenco que torna esse maravilhoso musical “difícil de ser batido” (como bem resumiu o Los Angeles Times) na época do lançamento do filme.

Carmen Jones é uma ópera francesa, adaptada e traduzida musicalmente para as terras americanas, com talento e muita criatividade por gente talentosa que conhece o que faz e o faz com muita competência, catilogência, muito talento e muito amor à arte cinematográfica.

O que veio depois desse clássico musical (se é que veio alguma coisa do gênero), foram chanchadas salobras sem qualquer originalidade e não nos vem à memória nada que possa ser citado como produção de qualidade, mesmo a propalada ressurreição do gênero pelo pretensioso musical “LA LA LAND”, que a nosso ver foi um grande fiasco, como já era esperado pelos amantes dos musicais de qualidade e pela crítica de filmes desse naipe.

Esse breve intróito serve apenas para lembrar aos possíveis leitores que no passado do cinema, no ano de 1954, foi levado à telona uma obra-prima do gênero musical, uma grande ópera, traduzida e regiamente adaptada pelos expertis hollywoodianos, no que resultou em uma das maiores obras do gênero musical de todos os tempos.

Referimo-nos à famosa e popular ópera CARMEN DE BIZET. Hoje em dia chamar uma ópera de popular é quase uma falácia, mas creiamos mesmo que a ópera Carmen sempre foi a mais encenada, principalmente nos países latinos ou europeus de língua de origem latina.

Os produtores entregaram ao muito competente diretor Otto Preminger, outrora à frente da direção de Laura (1944), Anatomia de Um Crime (1959), Exodus (1960), O Homem do Braço de Outro (1955), a direção do filme e o resultado ficou acima de todas as expectativas. O diretor, com muita criatividade, exigiu um elenco totalmente de atores negros, pois nem mesmo nas cenas externas de rua das cidades em que foram filmadas, encontra-se uma única pessoa de cor branca. É um mundo black em todos os sentidos, e esse mundo é explorado com precisão em todas as cenas, com o comportamento dos personagens, suas reações, suas falas características, com sotaques “nigger”.

As árias, belamente adaptadas, são cantadas também com sotaques dos “niggers”, como por exemplo, quando Carmen na primeira ária, a famosa “Habanera”, ela canta num inglês crioulo, com gesticulação, sotaque e palavras adaptadas para o regionalismo criado. A ária “Habenera” da ópera é então cantada como “DAT’S LOVE’, exibindo um regionalismo local muito enraizado. Isso acontece em todo o filme, porém com grande qualidade, cujo resultado é acima do esperado.

A atriz principal, Dorothy Dandrige, é um achado, ninguém melhor do que ela seria capaz de interpretar esse papel com tanta criatividade, beleza, sensualidade e um carisma impressionante. Ficou famosa mundialmente e depois desse estrondoso sucesso viajou pelo mundo, se exibindo como cantora, inclusive algumas vezes no Brasil para a exibição de sua arte. Ela foi a primeira atriz negra a ser candidata ao prêmio Oscar como atriz principal.

Acontece que no filme quem dubla a cantora Marilyn Hornen, que a dubla em todas as canções, isto porque a atriz Dorothy Dandrige tem uma voz muito pequena e não poderia dar conta do recado completamente.

O elenco é de astros de grande qualidade, principiando com o trabalho notável do cantor Harry Belafonte que se sai muitíssimo bem em todas as cenas dramáticas exigidas pelo papel.

Uma das principais personagens é interpretada pela ótima cantora Pearl Bailey que usa sua própria voz em algumas oportunidades com excelente resultado.

O ator que faz o papel do boxeador famoso (na ópera, um toureiro), Leverne Hutcherson, tem a sua grande oportunidade ao interpretar a ária (toureador) que no filme foi adaptada com grande criatividade e bela interpretação dublada por um Baixo, e nos dá uma magnífica personificação de um pugilista famoso e interpreta magnificamente a famosa ária que foi intitulada “Stand up and fight”, é um dos pontos altos do filme.

O quinteto operístico também está presente, numa bela composição intitulada “Chicago Train”, muito bem cantada a cinco vozes com precisão notável.

Enfim, todas as fases da ópera foram adaptadas belamente com resultados acima do esperado e quando termina o filme, ficamos deslumbrados com tamanha criatividade artística.

Há que se citar também a presença e voz da cantora Diahann Carrol num papel secundário, mas com uma presença de tela bastante agradável.
CARMEN JONES é um filme musical operístico único. Uma bela obra de arte cinematográfica. Assisti-lo cinqüenta vezes, se necessário for, é um presente para o lado bom gosto do cérebro, que não se cansa de sentir o que é belo.

Carmen Jones (trailer)

 

 

Carmen Jones (1955): “Beat Out dat Rhythm on a Drum” – Pearl Bailey – Full Song/ Dance – Musicals

 

 

 

 


Domingo – Dia de Matinê no Cinema Local domingo, 10 de julho de 2022

CIDADE DE DEUS (2002) – UMA OBRA-PRIMA DO CINEMA BRASILEIRO

HOJE: DRAMA

CIDADE DE DEUS (2002) – UMA OBRA-PRIMA DO CINEMA BRASILEIRO

Gentileza do Colunista Cícero Tavares

 

Cartaz de Cidade de Deus em Blu Ray

Marco da retomada do cinema brasileiro, o filme CIDADE DE DEUS, é um dos maiores sucessos comerciais e de crítica da história do cinema nacional. Trata-se de uma obra superlativa, que muito herda de filmes como ‘Os Bons Companheiros’ (1990), dirigido por Martin Scorsese, ‘Scarface’ (1984), dirigido por Brian De Palma e ‘Pulp Filtion’ (1995), dirigido por Quentin Tarantino, com alguns tons e estruturas narrativas similares, mas que, ao mesmo tempo, assume um caráter único por meio da representação nua e crua de um dos lados do quadro social do Brasil.

Indicado a quatro estatuetas do Oscar (direção, roteiro adaptado, montagem e fotografia), temos aqui o que certamente se classifica como um dos melhores filmes brasileiros, mas precisamos entender o que faz dele uma obra-prima.

A trama gira em torno de Buscapé (Alexandre Rodrigues), um morador da Cidade de Deus, no Rio de Janeiro, que desde pequeno fora um espectador de camarote da violência que assola a favela em questão. Através de uma câmara que gira em torno do personagem, o relógio volta no tempo e somos levados aos anos 1960, quando tudo ainda era diferente e a violência dentro da comunidade não alcançava os níveis que vemos no desfecho da obra. A partir daí, em uma narrativa não linear, acompanhamos a história dos criminosos da Cidade de Deus, do Trio Ternura a Zé Pequeno (Leandro Firmino).

Um dos ingredientes para a fórmula do sucesso de Cidade de Deus foi a decisão do diretor Fernando Meirelles com trabalhar com atores ainda inexperientes, convocados de favelas do Rio de Janeiro, o que garante uma autenticidade ao que vemos em tela. Há uma sinceridade na atuação de cada um deles, desde Dadinho até o protagonista. Meirelles, naturalmente, não simplesmente os jogou em cena; uma extensa preparação misturada a teste de elenco foi realidade com profissionalismo e competência, na qual uma escola de atores foi formada e que, posteriormente, ao Nós do Morro e o Cinema Nosso, que, desde então, já formou competentes profissionais na área do cinema.

Nem todos os atores foram marinheiros de primeira viagem. Matheus Nachtergaele, no papel de Cenoura, é um dos exemplos. Meirelles, que não queria trabalhar com atores renomados, encontrou no ator uma complicação: o recente sucesso de O Auto da Compadecida, onde Nachtergaele interpretava o personagem João Grilo. A promessa do ator de “sumir” do filme a não ser por sua atuação, porém, foi cumprida. Não há Matheus Nachtergaele em Cidade de Deus, apenas Cenoura – um trabalho autêntico por excelência que não só quebrou o imagético do filme, como contribuiu para ele, ao passo que o personagem não destoa dos outros em nenhum aspecto.

Resumir o sucesso de Cidade de Deus simplesmente à direção de atores, contudo, seria uma grande injustiça. O roteiro de Bráulio Mantovani faz um verdadeiro milagre da adaptação ao colocar no cinema um livro com mais de duzentos personagens sem fazê-lo soar apressado ou arrastado. A fim de transmitir uma maior fluidez, o longa assume uma estrutura capilar – pulando de bandido em bandido enquanto a história da comunidade é formada. Unindo esses episódios temos Buscapé e sua narração em off (além da presença na tela), que impedem uma quebra de ritmo e constrói a ideia de que está tudo conectado: os eventos mostrados no início do filme diretamente impactam o que vemos em seu desfecho. A coesão é garantida por esses recursos simples, mas magistralmente utilizados.

A montagem de Daniel Rezende caminha lado a lado com o roteiro, fazendo o necessário para que o dinamismo constante de Cidade de Deus seja mantido. Tem-se um filme de 130 minutos que não para em momento algum. Cada transição entre os capítulos é realizada de forma orgânica, fluida. Para isso é mantida uma linearidade nessa narrativa não-linear – enquanto a história progride naturalmente na passagem dos anos, ela vai e volta a fim de nos trazer um olhar dedicado sobre determinados personagens. Flashbacks e elipses temporais são constantes e mais de uma vez um dos indivíduos retratados é deixado de lado, somente para ser abordado posteriormente. A narração em off de Buscapé aqui se faz essencial, nos dá vislumbres do que veremos depois, mantendo-nos curiosos acerca do papel de cada peça nesse complexo tabuleiro.

A direção de Fernando Meirelles é o pilar que mantém tudo isso unido, com uma decupagem que nos transporta para dentro desse cenário, ora com um olhar externo dos acontecimentos, quase documental, ora com closes em seus personagens, garantindo a humanidade em cada um deles. Sentimo-nos como se estivéssemos ali no meio daquele problemático ambiente e a sensação de perigo nos assola, transmitindo um pungente naturalismo à narrativa, que chega a nos deixar com um nó no estômago ao término da projeção. Buscapé, na verdade, somos nós, perdidos dentro daquele violento contexto, buscando entender o que se passa e colocar justamente um fotógrafo como protagonista é a marca maior disso: o olhar externo dentro do mundo da criminalidade.

Ao lado da direção temos a emblemática fotografia de César Charlone, que já nos planos iniciais tira o nosso fôlego – não é à toa que o plano circular do início do filme se tornou tão famoso. Charlone apresenta um verdadeiro domínio de sua arte, sabendo trabalhar de forma impecável mesmo nas diversas cenas noturnas. Sua retratação da Cidade de Deus apenas solidifica o naturalismo mencionado anteriormente com uma paleta de cores que apenas realça a frieza dos criminosos dali – os tons quentes dos anos 60 vão abrindo espaço para cores mais frias, assumindo o auge após a morte de Bené (Phellipe Haagensen), que é para Zé Pequeno o que Manny era para Tony Montana. Em momento algum sentimos uma segurança ao assistir a obra; temos a perfeita noção de que, a qualquer momento, algo pode dar errado.

À vista disso, desde seu lançamento, Cidade de Deus influenciou centenas de outras obras, não somente no campo audiovisual – um bom exemplo disso é a graphic-novel Coringa (histórias em quadrinhos amalucadas), de Brian Azzarello, que conta com um quadro inspirado em Dedinho e suas tendências homicidas. Fernando Meirelles nos traz um longa-metragem que consegue nos cativar completamente, ao mesmo tempo em que coloca em nós uma inegável angústia por meio da pesada atmosfera que constrói, encerrando seu filme com um tom sombrio mascarado de otimismo, que apenas reflete a realidade do quadro social do Rio de Janeiro, que, por si só, já nos deixa em constante apreensão.

Cidade de Deus foi amplamente considerado um dos melhores filmes de 2002 pela imprensa especializada brasileira e norte-americana; recebendo aclamação universal pela crítica especializada e elogios favoráveis. No site Rotten Tomatoes, o filme tem uma aprovação de 90%, chegando ao consenso de “um olhar chocante e perturbador, mas sempre atraente para a vida nas favelas do Rio de Janeiro.” No site Metacritic, recebeu 79% de aprovação, baseado em 33 opiniões, e classificado como “geralmente favorável” pela nota de análise do público. O crítico de cinema José Couto relatou que, ‘Cidade de Deus’ “é um filme de vigor espantoso e de extrema competência narrativa. Seus grandes trunfos são o roteiro engenhosamente construído e a consistência da mise-en-scène.”

O crítico do THE NEW YORK TIMES, Stephen Holden, elogia particularmente a sequência da festa de despedida de Bené (Phellipe Haagensen), no final da história, “como uma das partes mais espetaculares do filme.” No LOS ANGELES TIMES, o crítico Kenneth Turan em sua resenha desenha o filme como “uma potente e inesperada mistura de autenticidade e luxo visual” e “uma peça vigorosa de realismo social que está inegavelmente amparada em algo verdadeiro.” Turan enaltece particularmente a montagem de Daniel Rezende como “eletrizante.” Cidade de Deus não chegou a ter cópias dubladas nos cinemas, sendo exibido apenas legendado. Sobre as legendas, o crítico Mike Clark do USA TODAY diz que “mesmo fãs de filme de ação avessos a ler legendas deveriam dar uma chance a esse filme.”

Cidade de Deus (City of God) – Trailer Português

 

 

Cidade de Deus e a subversão das regras 🐔 Analisando o Cinema

 

 

 

 


Domingo – Dia de Matinê no Cinema Local domingo, 03 de julho de 2022

MASK (1985) – (MARCAS DO DESTINO) – UM FILME COMOVENTE

HOJE: DRAMA

MASK (1985) – (MARCAS DO DESTINO) – UM FILME COMOVENTE

Gentileza do Colunista Cícero Tavares

 

Rocky Dennis (Eric Stolz) e Diana Adams (Laura Dern), a garota cega

MARCAS DO DESTINO, narra a cinebiografia do jovem Roy L. ‘Rocky’ Dennis (1961-1978), (vivida na telona pelo excelente ator americano Eric Stoltz). Rocky sofre de uma rara deformidade facial, (síndrome de Crouzon), já retratada em outro filme, O Homem Elefante (1980), por David Lynch. Mas, a doença não o impede de ser bem humorado e extrovertido. Rusty, a mãe viciada em heroína, luta com unhas e dentes para que a sociedade o aceite exatamente como ele é. Portanto, Marcas do Destino é um drama emocionante, tocante, que foge às emoções vulgares, exploradas em filmes similares.

Dirigido por Peter Bogdanovich, diretor americano participante da geração de diretores/realizadores da chamada “Nova Hollywood”, ou ainda, movie brats, (na qual estão incluídos William Friedkin, (O Exorcista), Brian DePalma, (Os Intocáveis), George Lucas (Star Wars), Martin Scorsese (Taxi Driver), Steven Spielberg (Tubarão, A Lista de Schindler), Michael Cimino (O Franco Atirador) e Francis Ford Coppola (The Godfather I, Apocalypse Now). O filme mais conhecido do diretor Bogdanovich, depois de Marcas do Destino, é A Última Sessão de Cinema, cuja história é conhecida por envolver dois adolescentes que crescem juntos, iniciam a vida sexual junto e numa única sessão de cinema de uma cidade do Texas, Estados Unidos, nos anos 1950, época da Guerra da Coreia. A amizade dos dois sofre um grande abalo quando ambos se apaixonam pela mesma garota.

MARCAS DO DESTINO é um filme sobre a diferença. Mas, afinal, o que é ser diferente? A discussão é tão constante na contemporaneidade, parte da agenda de setores diversos da vida cotidiana. Falamos disso no âmbito da literatura, do cinema, da psicologia, da educação, da política e de tantos outros “ambientes” que a lista completa apresentaria numerosos caracteres. A diferença, entretanto, delineada ao longo dos 120 minutos do filme em questão trata da narração de uma trajetória bastante peculiar: a saga de uma mãe que precisa lidar com o preconceito e a ignorância diante das pessoas que não entendem a “diferença” do seu filho, um jovem que possui uma doença rara e por isso, é motivo de chacota, descrença e outros problemas que compõem o painel de celeumas da vida em sociedade.

O ponto de partida é numa fase já avançada da vida do garoto. Ele é muito inteligente e perspicaz, mas o diretor da escola em que estuda se nega a matriculá-lo normalmente, alegando que ele deveria ser ajustado numa turma de educação especial. Florence Dennis (Cher) é o seu equilíbrio. Dedicada, ela consegue a matrícula na escola pública, mas sofre os preconceitos já esperados por uma mãe que tem um filho com “deficiência” ou qualquer apresentação que esteja fora dos padrões fixados pela sociedade. Essa é apenas uma das brigas de sua mãe, uma mulher obstinada a enfrentar qualquer peça do sistema para conseguir dar dignidade a cada minuto de vida do filho. As previsões do diretor não condizem com o trajeto, pois o jovem consegue terminar o colegial e arruma o seu primeiro emprego, um cargo de monitor de um acampamento, local responsável por promover a única paixão de sua vida, a bela Diana (Laura Dern), uma garota cega que também se apaixona pela singularidade de Roy, um jovem extremamente delicado e inteligente.

Ao longo do filme, podemos ver como Rocky tenta quebrar os preconceitos entre os colegas de escola, sua luta para fazer a mãe se livrar do vício e viver uma vida normal, assim como ele tenta viver e também podemos notar que, assim como uma pessoa normal, ele busca incansavelmente realizar seus sonhos, mesmo que estes pareçam ser impossíveis devido às suas limitações.

Lançado em 1985, Marcas do Destino é um drama edificante, que foge às emoções vulgares, comuns aos filmes desse estilo. A história não entra em outros detalhes, mas a história de Roy é muito conhecida fora da ambientação fílmica, pois o seu caso raro mexeu com a comunidade médica e levantou debates que extrapolam a ficção. Desenganado ainda quando tinha dois anos, sob a promessa que não passaria dos quatro anos de idade, o jovem Roy lutou o quanto pôde e viveu até os dezesseis anos.

A sua mãe, um exemplar perfeito de um ser humano comum, sem heroísmos fajutos, e por isso, repleta de erros e acertos em suas escolhas, sem a composição essencialista maternal típica hollywoodiana, é um modelo adequado para a composição de um equilibrado desenvolvimento de perfil e necessidade dramática de um personagem. Cher, em uma das suas atuações mais brilhantes, consegue alavancar tais qualidades, ao entregar um excepcional desempenho dramático.

O filme termina com Rusty visitando seu túmulo de Roy, deixando flores e alguns cartões de beisebol ao lado de sua lápide e uma narração do próprio Rocky, que recita o poema que havia escrito para a aula de inglês e que o garoto havia mostrado para sua mãe previamente num momento do filme.

a) Marcas do Destino – cena do acampamento

 

 

b) Marcas do Destino – cena dois do acampamento

 

 

 

 


Domingo – Dia de Matinê no Cinema Local domingo, 05 de junho de 2022

OS IMPERDOÁVEIS (1992) – “O ÚLTIMO GRANDE FAROESTE?”

 

HOJE: FILME DE BANG BANG

OS IMPERDOÁVEIS (1992) – “O ÚLTIMO GRANDE FAROESTE?”

Gentileza do Colunista Cícero Tavares

 

Cartaz de Unforgiven – Os Imperdoáveis – (1992)

 

OS IMPERDOÁVEIS (1992)) foi, talvez, o último filme de faroeste digno desse gênero clássico genuinamente americano, onde eram apresentados, na tela grande, os mocinhos e os bandidos do velho oeste sem glamour.

Nesse faroeste Clint Eastwood vive um ex-pistoleiro, viúvo e pobre. Cria dois filhos pequenos num rancho até se ver forçado a voltar à ativa por convite de um principiante querendo se firmar na “profissão” e ganhar dinheiro.

O filme reverencia o gênero ao mesmo tempo em que desmistifica o Velho Oeste, retratado como lugar sujo e brutal. Realizado em fabulosas locações em Alberta, Canadá. No final, o filme é dedicado aos mentores de Clint Eastwood como os diretores Sérgio Leone e Don Siegel, que com certeza ficariam muito orgulhosos de seu discípulo e assinariam embaixo seus feitos.

Três homens em busca de uma recompensa. Não se engane. Este não é um filme previsível. Pelo contrário, nos surpreende a cada instante. Clint Eastwood mais uma vez consegue nos envolver. Os mil dólares oferecidos, na verdade, representam a busca de três homens pelo real sentido da vida.

OS IMPERDOÁVEIS é uma desconstrução do gênero western. Os matadores de sangue frio do Velho Oeste selvagem, sempre mostrados nas telas do cinema como atiradores perfeitos, que nunca erram o tiro, como na Trilogia dos Dólares de Sergio Leone. Nesse western, vemos algo diferente. Um homem alterado pelo tempo e pela sua consciência, que não consegue montar no próprio cavalo, nem atirar direito. Seu amigo, Ned Logan, (Morgan Freeman), por exemplo, não tem mais o sangue frio do matador cruel, Frank (Henry Fonda), de ERA UMA VEZ NO OESTE, obra-prima de Leone, nem mais dar um tiro letal, mesmo contra o suposto homem que teria retalhado, ou ajudado a retalhar o rosto de uma prostituta. O terceiro sofre com sua primeira morte como qualquer mortal sofre, além de ter uma visão deficiente, fazendo desses um trio de mercenários um tanto quanto humano e bem dos problemáticos.

No núcleo do filme, ver-se um xerife que humilha um homem que era conhecido como uma lenda, suas histórias estavam sendo passadas para o papel por seu escritor particular, segundo suas versões. Desmascarado, ver-se que a famosa frase: “The Man Who Shot Liberty Valance” (O Homem que atirou em Liberty Vavence) se aplica aqui. “Quando a lenda se torna fato, publique-se a lenda.” Mas a lenda é desmistificada e o ídolo do escritor se mostra uma fraude.

Outro elemento interessante e importante do filme é como as histórias podem ser exageradas ao se passarem de boca em boca. Uma prostituta teve o rosto cortado, e, em seguida espalha-se que todo corpo dela foi cortado, menos a vagina. Impressionante como os boatos acumulam falácias em suas versões mais recentes, conforme vão passando de boca em boca no tempo. Esse pode ser um dos elementos de criação de lendas de personalidades que realizaram feitos exorbitantes no oeste, ou em outras épocas. Às vezes, nem mesmo a própria pessoa que faz tais feitos, deve saber o que fez, por estar bêbada no momento ou por fazer muito tempo e ela acaba se tornando a lenda.

Disse o personagem Lette Bill, num dos diálogos do filme, depois de perguntado por seu alvo:

“Você é William Munny, assassino que matou mulheres e crianças!”

Resposta: “Isso mesmo, já matei mulheres e crianças e quase tudo o que se rasteja, e estou aqui para matar você.”

Voltando ao filme, o final traz uma ressurreição do velho Willian Munny ao saber que seu amigo foi morto pelo xerife. Gratificação, é o que se sente ao ver Munny dar de garra da garrafa de whisky, tento-a negado o filme todo. Sua raiva e seu desejo de sangue e vingança agora são maiores do que qualquer controle. O whisky traz de volta sua mira, sua habilidade de montaria, tudo, o whisky traz de volta sua alma de matador. Ele traz de volta o oeste sanguinário que vivia adormecido em Munny, sem o oeste, sem sua alma verdadeira, ele seria incapaz de fazer tais feitos. Ele estava tão fundo em seu novo “eu”, o Willian Munny moldado por sua esposa, Anna Levine, no papel de Delilah Fitzgerald, que ele era um assassino ineficiente. Agora, o whisky foi apenas a chave para aflorar tudo aquilo que estava adormecido nele.

Clint Eastwood retornou ao gênero depois de tanto tempo sem atuar. Ele queria marcar com sua volta com algo palpável. E marcou com a maior obra-prima do western revisionista por ser exatamente um filme de não cowboys de mira perfeita e sangue frio, mas tornando as lendas do oeste, entre elas a maior delas, Clint Eastwood, mais humanos, menos super heroico, e mais realista. Deve-se aceitar, pois afinal de contas, nossos heróis envelhecem, mas as lendas não morrem.

Trailer de Cinema de “Os Imperdoáveis”

 

 

“Os Imperdoáveis” Foi O ÚItimo Grande Faroeste?

 

 

 

 


Domingo – Dia de Matinê no Cinema Local domingo, 29 de maio de 2022

MAR ADENTRO (2004) – REFLEXÃO SOBRE A MORTE ASSISTIDA

HOJE: DRAMA

MAR ADENTRO (2004) – REFLEXÃO SOBRE A MORTE ASSISTIDA

Gentileza do Colunista Cícero Tavares

 

MAR ADENTRO (2004), narra a história do marinheiro, escritor e ativista espanhol, Ramón Sampedro, interpretado magistralmente no cinema pelo ator hispânico Javier Bardem, tendo Ramón ficado tetraplégico após um mergulho numa área rasa do amar e ter batido com a cabeça numa pedra. O filme mostra a luta incessante de Sampedro perante os Tribunais locais pelo direito de cometer suicídio assistido, contando com a ajuda dos amigos e da família, além de um advogado, que abraçou a causa gratuitamente.

Por causa da sua incapacidade física de não poder suicidar-se e morrer conforme seus desígnios, Ramón lutou na justiça durante vinte e cinco anos pelo direito de morrer com dignidade sem incriminar os amigos ou a família que viesse a auxiliá-lo no ato de tirar a própria vida, tomando cianeto de potássio.

Ramón Sampedro tornou público seu desejo de morrer no início de 1990, mas só oito anos depois foi que conseguiu um suicídio assistido, através da ajuda de uma amiga, que antes gravou um vídeo de sua morte que foi divulgado nas redes de tevês do país e do mundo e voltou a despertar na sociedade a importância do debate sobre a despenalização da morte assistida.

A associação espanhola “Direito a Morrer Dignamente” considera que, graças à sua luta e às suas reivindicações, Ramón Sampedro contribuiu para que, em 1995, fosse aprovada uma reforma no Código Penal que reduziu as condenações em caso de eutanásia ou de assistência ao suicídio.

Entre os temas mais difíceis que o cinema ou qualquer outra arte pode tentar retratar, a morte, mais especificamente a eutanásia ou a morte assistida, deve figurar entre os principais. A complexidade da questão, aliada à falta de representatividade entre grandes diretores e roteiristas faz com que sejam raras as películas que se dedicam a debater o assunto. Em 2016, a comédia romântica britânica Como Eu Era Antes de Você recebeu uma série de críticas e protestos por ter, na ótica de muitos, glamurizado a eutanásia e reduzido o debate sério a uma comédia leve e adolescente, que se resolvem em meio a piadas, sarcasmos e uma alta dose de humor. A diretora inglesa Thea Sharrock não teve competência para dirigir um tema sensível com catilogência.

Mar Adentro, anterior à comédia britânica, parece entender exatamente as críticas e se antecipar a todas elas. A história retrata a vida de Ramón Sampedro, o espanhol de meia idade que se tornou tetraplégico, deseja, conscientemente, a morte. Ramón, depois de mergulhar e bater a cabeça numa pedra no fundo do mar, vive numa cama na humilde residência em que mora com o pai, seu irmão José, a cunhada Manuela e o sobrinho Javier. A eutanásia na Espanha era proibida e Ramón precisa contar com a ajuda da advogada Júlia, que simpatiza com sua história, para tentar convencer a Corte espanhola a alterar a lei e atender ao seu pedido.

Todo o drama é escrito de maneira muito sóbria e humana. Não existe qualquer tentativa de se romantizar a questão ou criar heróis e vilões dentro da trama. Um ponto bem claro para evidenciar a preocupação do roteiro é o pouco tempo dedicado ao debate legal sobre a morte assistida em si. As cenas de tribunal são mínimas e os termos jurídicos, inexistentes.

O centro da trama é realmente o sentimento de Ramón e sua relação com a vida e as pessoas à sua volta. Nesse sentido, conforme as relações evoluem, entendemos melhor os dramas de Júlia e Rosa e porque elas se conectam tanto com o protagonista. Júlia sofre de uma doença degenerativa que coloca ela numa cadeira de rodas e a aterroriza quanto ao seu futuro. Ela se apega à Ramón e eles criam uma conexão forte e sensível. Já Rosa, tão machucada em relacionamentos amorosos, projeta em nele um homem ideal e que a dá forças para viver. Quando ela entende que para ele a maior demonstração de amor é ajudá-lo a morrer, ela se entrega e deixa de lutar contra a vontade dele, trazendo à história um final sensível e melancólico, mas nada romântico ou glamourizado.

Toda essa sensibilidade é positivamente ressaltada pelas ótimas atuações e pelo design de produção da obra. A preocupação de Amenábar em balancear a quantidade de tomadas internas e externas dá um alívio ao espectador e evita uma sensação claustrofóbica de acompanhar toda a história dentro do quarto onde Ramón vive. A composição de personagem por parte do ator Javier Bardem também merece destaque, desde as expressões faciais, a postura enrijecida, a respiração e a fala acelerada trazem verdade ao personagem, que através da maquiagem indicada ao Oscar daquele ano o transforma completamente.

Mar Adentro consegue emocionar e ao mesmo tempo trazer reflexões pertinentes, duas características que infelizmente nem sempre andam juntas. O filme é mais um ótimo trabalho do direto Alejandro Amenábar e do cinema espanhol que, merecido, levou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de volta à Espanha, que havia vencido pela última vez com Tudo Sobre Minha Mãe (1999), do espalhafatoso, mas competente, Pedro Almodóvar.

 

a) Filme | Mar Adentro

 

 

b) Cinema penal: “Mar Adentro” (Espanha, 2004)

 

 

 

 


Domingo – Dia de Matinê no Cinema Local domingo, 15 de maio de 2022

TRINITY – E OS FAROESTES ESPAGUETES DOS ANOS 60-70

HOJE: FILME DE BANG BANG

TRINITY – E OS FAROESTES ESPAGUETES DOS ANOS 60-70

Gentileza do Colunista Cícero Tavares

 

 

Cartaz do primeiro filme da série Trinity (1970)

 

Subgêneros dos filmes Westerns Spaghetti, os filmes da franquia Trinity transformaram o Velho Oeste em comedia pastelão no início dos anos 70 na Itália, com conteúdo de humor e pancadaria, à semelhança dos Trapalhões no Brasil. Por trás da maioria desses filmes houve diretores promissores, que depois vieram a fazer filmes de faroeste clássico, como Sergio Corbucci, Enzo Barboni e Lucio Filci. Este vindo a se tornar um mestre em filme de terror. E Corbucci responsável pela obra-prima fantasmagórica do gênero, DJANGO (1966), com o novato ator Franco Nero numa memorável atuação.

Em pleno auge da contracultura, Trinity se apresentava como um típico hippie vagabundo, vestindo roupas velhas e rasgadas, coberto de poeira do deserto dos pés à cabeça. Para as longas travessias do Velho Oeste, ele usa uma “cama índia” (espécie de padiola), puxada pelo seu obediente cavalo.

O primeiro filme da série a estrear Lo Chiamavano Trinita (1970), traduzido no Brasil para Meu Nome é Trinity, tendo como novidade o pistoleiro mais rápido do gatilho no Velho Oeste, Terence Hill, e seu parceiro brutamonte, Bud Spencer, que formaram uma dupla extremamente marcante do subgênero Western Spaghetti macarrônico.

Terence Hill, antes de fazer esses filmes de paródia western spaghetti, teve um inicio bastante promissor e atuou com destaque no clássico do grande diretor Luciano Visconti, no elogiadíssimo filme “IL GATTOPARDO” que tem como astros principais, nada menos que Burt Lancaster, Alain Delon, Claudia Cardinale. Nesse filme Terrence Hill faz um personagem militar amigo do personagem interpretado pelo ator Alain Delon.

Caio Pedersoli e Mario Girotti, ou Terence Hill e But Spencer, respectivamente, para atuarem nos Trinity, adotaram nomes artísticos em inglês e alcançaram um sucesso bastante significativo, principalmente a partir da produção Trinity é Meu Nome (1970). A dupla seguiu atuando junto em diversos longas do faroeste macarrônico italiano, com uma sintonia que ultrapassava as telas e materializava a participação dos dois como parceiros insubstituíveis.

As paródias e versões cômicas no subgênero trouxeram um ar novo ao cinema italiano, mas de nada serviram para a continuidade do subgênero inspirado nos longas americanos. Mesmo sendo responsáveis por tornar a parceria dos atores internacionalmente conhecida, os filmes contavam cada vez mais com uma produção de baixa qualidade. Os longas metragens perdiam suas características à medida que eram encharcados dehumor lugar-comum.

Os filmes foram se afastando do que inicialmente havia sido o spaghetti western que chegou a preocupar críticos por ameaçar o western tradicional. Os cômicos ainda atraíam multidões em busca dos títulos de faroeste italiano, mas, com o passar dos anos, nenhum desse longa se tornou um verdadeiro clássico, como os de Sergio Leone ou Sergio Corbucci. Se nos anos de glória do subgênero – entre 1966 e 1971 – se produziram mais de 70 longas, no ano de 1973 apenas dois filmes foram lançados.

O certo é que os faroestes macarrônicos, ou western spaghettis, tiveram seu apogeu a partir de 1970 quando foi lançado Trinity é Meu Nome, que alcançou grande sucesso de público e bilheteria.

Depois do grande sucesso de Chamam-me Trinity os italianos lançaram outros longas metragens com a mesma dupla Terence Hill e Bud Spencer vivendo os mesmos personagens da fita anterior em outra sátira cômica, com o diretor ENZO BARBONI, que fazia uma paródia atacando e destruindo os velhos mitos do Velho Oeste, de pistoleiros a jogadores. Bem mais engraçada que a anterior, este Trinity não deixa nada sem deboche e extasia de tanto rir a dupla Terencer Hill e Bud Spencer, que esbanja simpatia.

Trinity, Terence Hill, é um andarilho e pistoleiro que acaba chegando à cidade na qual Bambino (Bud Spencer), seu irmão é ladrão, e está disfarçado, atuando como Xerife local. Eles tentam passar despercebidos, mas tudo dá errado quando se envolvem em um conflito de terras entre um grupo de mórmons e um grande barão local, que deseja se apropriar dos territórios dos colonos.

Além dos icônicos Terence Hill e Bud Spencer, participaram de “Trinity é o Meu Nome” os experientes Steffen Zacharias (figura constante nos filmes da dupla de protagonistas), Dan Sturkie e Farley Granger e os então novatos Ezio Marano, Gisela Hahn e Elena Pedemonte. A trilha sonora do filme, um dos componentes centrais de qualquer bom faroeste, ficou a cargo de Franco Micalizzi (este foi justamente seu primeiro grande sucesso). Para quem se pergunta quem foi Franco Micalizzi, basta dizer que ele foi autor das músicas de “Italia a Mano Armata” (1976), reverenciada em “Django Livre” (Django Unchained: 2012), de Quentin Tarantino.

O êxito de “Trinity é o Meu Nome” incentivou Enzo Barboni a lançar, já no ano seguinte, a continuação de sua trama. “Trinity Ainda é o Meu Nome” (Continuavano a Chiamarlo Trinità: 1971) contou com a mesma dupla de protagonistas. O êxito da nova empreitada foi ainda maior. Na Itália, a segunda parte da série cinematográfica alcançou 14,5 milhões de espectadores. Nos Estados Unidos, Canadá e Europa, a nova comédia também arrecadou mais do que a versão original.

Estima-se que nos anos 1970 foram produzidos dezenas de filmes com a marca Trinity, mas apenas dois ultrapassaram as fronteiras da Itália com crítica e público favoráveis: Trinity é Meu Nome (1970) e “Trinity Ainda é Meu Nome” (1971), ambos dirigidos por Enzo Barboni, pseudônimo de E.B. Clucher, tendo como atores principais a dupla de grande popularidade Terence Hill e Bud Spencer. Mas depois foram perdendo público e crítica pela baixa qualidade das produções, baixo orçamento e falta de criatividade dos realizadores. Sua arte inovadora deu lugar a histórias fáceis e sem graça.

a) TRINITY É O MEU NOME – TRAILER

 

 

* * *

b) Trinity é meu nome. Clique aqui para ver o filme completo


Domingo – Dia de Matinê no Cinema Local domingo, 24 de abril de 2022

O REI LEÃO (1994) – UMA OBRA-PRIMA DE ANIMAÇÃO
HOJE: FILME DE ANIMAÇÃO

O REI LEÃO (1994) – UMA OBRA-PRIMA DE ANIMAÇÃO

Gentileza do colunista Cícero Tavares

 

Cartaz de O Rei Leão em DVD

THE LION KING, um dos mais espetaculares filmes de animação da história produzido por WALT DISNEY, narra as aventuras de Mufasa, o Rei Leão, e a Rainha Sarabi, apresentando o reino ao herdeiro do trono, Simba. O recém-nascido recebe a bênção do sábio babuíno Rafiki, mas ao crescer é envolvido nas tramoias maquiavélicas aprontadas pelo tio Scar, que ambiciona o trono que lhe teria sido negado pelo pai que o via como um estorvo e mau caráter, que planejou matar o irmão, se livrar do sobrinho e ocupar o trono com as hienas por puro prazer mórbido.

Lembro que a primeira vez que vi a animação O Rei Leão me ocorreu que a história tinha elementos que lembravam uma trama shakespeariana. Ao invés de palácios, tínhamos a savana africana. E ao invés de príncipes e reis; leões, hienas e suricates. Mas o vilão invejoso que mata seu próprio irmão para lhe tomar o lugar na Pedra do Reino, o exílio do herdeiro legítimo e sua volta triunfal para tomar posse naquilo que lhe pertencia por direito, tinham sido inspirados na trágica história de Hamlet, conforme o próprio estúdio Disney divulgou posteriormente ao lançamento do filme.

O Rei Leão é sem dúvida alguma o grande épico de todas as animações. Tem a mais perfeita abertura de um filme de animação. É capaz de cativar crianças e adultos por gerações, e continuará perpetuando por muitas e muitas décadas. O filme é um marco na história do cinema de animação, e representa a aurora de Walt Disney, a Era de Ouro dos estúdios, onde foram produzidos os melhores filmes de sua história. Nessa época a Disney produziu seguidamente as obras-primas: “A Pequena Sereia,” (1989), “A Bela e a Fera” (1991), “Aladdin” (1992), “Pocahontas” (1995), “O Corcunda de Notre Dame” (1996), “Hércules” (1997), “Mulan” (1998), e “Tarzan” (1999).

Adaptado da história de Hamlet, de Willian Shakespeare, O Rei Leão conta com um visual magistral das savanas africanas, músicas cativantes, uma abertura magistral, uma das melhores da história do cinema de animação, embalado por “The Circle of Life”, de Elton John, conhecemos o cenário principal do filme: A Pedra do Rei. Conhecemos sua majestade Mufasa e seus leais súditos, para conhecer o novo herdeiro do trono, o recém-nascido Simba.

Temos já na abertura uma cena icônica da história do cinema, que é a do babuíno feiticeiro Rafiki erguendo o jovem Simba e o apresentando aos seus súditos, que o reverenciam numa das mais empolgantes cenas já vista na história da Sétima Arte.

Após a brilhante abertura, somos apresentados ao grande algoz da trama, o maquiavélico irmão de Mufasa, Scar. Um leão traiçoeiro que planeja se livrar do irmão e do sobrinho de qualquer jeito para ocupar o trono, tornar-se rei.

O filme acompanha o crescimento de Simba, seus aprendizados e perigos, aos quais se envolve, e sua infância destruída por uma das mais chocantes tragédias da história do cinema, arquitetada, planejada e executada por Scar.

O filme também nos apresenta de início personagens muito importantes, como o pássaro e fiel mordomo do Rei, Zazu, que em determinados momentos chega a ser um personagem irritante com suas infinitas regras, nada atrativas para Simba, e sua amiga Nala, que também será uma figura importantíssima no desenvolvimento da história, tal como Sarabi, a mãe de Simba.

Outros vilões também são abordados na trama, mas com um tom menos sombrio do que Scar, e com uma pegada muito mais cômica, mas sem perder sua essência maligna, que são as hienas: Shenzi, Banzai e Ed.

Como o filme tem uma tomada bem mais séria que o normal, o alívio cômico veio na forma de um suricato e um javali super carismáticos e hilários, e que acabaram roubando a cena, que são Timão e Pumba. Que após resgatarem o jovem Simba da morte, passam a criá-lo e lhe ensinam o lema de vida Hakuna Matata, que consiste em deixar o passado para trás, algo que Simba acabara fazendo, e lhe trará um sério confronto pessoal adiante.

A história se desenvolve em um ritmo extraordinário, e as músicas dão um tom mágico ao filme, mesmo a sombria “Be Prepared”, interpretada por Scar e as Hienas à véspera do golpe fatal para tomar o reino de Mufasa, ou as divertidas “hakuna Matata” e “I Just cant wai’t to be king.”

O final é simplesmente extraordinário, o que nos deixa com aquela magnífica certeza de que é uma obra-prima que valeu a pena ter assistido.

Em resumo, sua majestade, o Rei Leão, é um clássico que merece ser visto pelos amantes da Sétima Arte, por muitas e muitas gerações.

a) O Rei Leão: Trailer

 

 

b) O Rei Leão Te Apresentou Shakespeare (Sem Você Saber)

 


Domingo – Dia de Matinê no Cinema Local domingo, 17 de abril de 2022

AMOR, SUBLIME AMOR (2021)

HOJE: MUSICAL

FILME: AMOR, SUBLIME AMOR (2021)

Gentileza do colunista Cícero Tavares

 

Em destaque a atriz Ariana DeBose, ganhadora do Oscar de melhor atriz coadjuvante 2022

Comenta-se a exaustão a nova versão moderna de AMOR SUBLIME AMOR (2021), novo filme do magno diretor americano Steven Spielberg, refilmagem do clássico musical de (1961), WEST SIDE STORY, dirigido por Robert Wise e Jerome Robbins, filme musical mais premiado da história do cinema, tendo ganhado 10 Oscars, 3 Globos de Ouro e 2 Grammys em 1962, e outros.

Inspirado em Romeu e Julieta, obra mais popular de William Shakespeare e, provavelmente, a história clássica do amor proibido mais conhecida do mundo. Tanto é verdade que essa tragédia romântica é uma das campeãs de adaptação para as telas. O que pouca se sabe é que essa peça de Shakespeare, no que lhe diz respeito, é adaptada de um conto italiano, traduzido em versos para o idioma inglês, que posteriormente recebeu um tratamento em prosa. Ambas as versões serviram de base para a peça shakespeariana…

Existe uma lenda urbana segundo a qual Romeu e Julieta realmente existiram, viveram e morreram em Verona, oriundos de famílias inimigas, e que tinham idade bastante precoce para os padrões atuais – algo em torno de apenas 13 anos, o que justificaria suas ações precipitadas e a paixão avassaladora, que não mede conseqüências.

No filme de Robert Wise e Jerome Robbins, à semelhança do que acontece na peça, o longa-metragem apresenta Tony, antigo líder da gangue de brancos anglo-saxônicos chamados de Jets, apaixonado por Maria, irmã do líder da gangue rival, os Sharks, formada por imigrantes porto-riquenhos. O amor do casal protagonista floresce entre o ódio e a briga das duas gangues e seus códigos de honras, tal qual a desavença histórica entre os Capuletto e os Montechio mostrada em Romeu e Julieta.

Já em Amor, Sublime Amor (2021) do diretor Spielberg, narra a rivalidade juvenil que se passa na Nova Iorque dos anos de 1957. As gangues Jets, estadunidenses brancos, e os Sharks, descendentes de porto-riquenhos, são rivais que tentam controlar o bairro de Upper West Side. Maria (Rachel Zegler) acaba de chegar à cidade para seu casamento arranjado com Chino (Josh Andrés Rivera), para o qual ela não está muito animada. Quando numa festa a jovem se apaixona por Tony (Ansel Elgort), ela precisará enfrentar um grande problema, pois ambos fazem parte de gangues rivais: Maria, dos Sharks; Tony, dos Jets. Nessa história, inspirada em Romeu e Julieta, os dois apaixonados precisarão enfrentar a tudo e a todos se quiserem celebrar esse romance proibido.

Tratando-se de Spielberg, era esperado que seu Amor, Sublime Amor, fosse tão grandioso quanto emocionante, mas o que ele entrega ao público é realmente um dos seus melhores filmes dos últimos anos – e a prova de que, ainda que estejamos em uma fase de refilmagens vazias, pirotécnicas e sem propósitos, ainda existem motivos para revisitar grandes clássicos.

Amor, Sublime Amor conta com uma direção impecável de Steven Spielberg, o que não é de se estranhar, e se torna ainda mais atrativa pelos trabalhos visuais. Enquanto os latinos exploram as cores mais quentes e cheias de vida, os norte-americanos aparecem em tons mais sóbrios, frios, como se fosse uma representação dos sentimentos negativos não só em relação aos seus rivais, como também a indivíduos de diferentes etnias.

Com propostas de mudança, o filme preenche a adaptação original e dá potência à emblemática história também sobre ódio. Assistir a Amor, Sublime Amor, dirigido magistralmente por Spielberg, é não ficar com saudade do primeiro devido à sua atemporalidade. A atuação magistral da atriz Ariana DeBose, ganhadora do Oscar de melhor atriz coadjuvante, depois de ter recusado fazer o papel de Anita por quatro vezes, paga um saco de pipoca.

 

a) Trailer Oficial Legendado

 

 

b) Crítica: uma estatueta maior

 

 

C) Spielberg conta por que escolheu adaptar ‘Amor, Sublime Amor’ como seu primeiro musical

 

 

 

 


Domingo – Dia de Matinê no Cinema Local domingo, 20 de março de 2022

THE HURRICANE

 

HOJE: FILME DE PUGILISMO

THE HURRICANE – (1999) – O FURACÃO INOCENTE NO INFERNO VIVO

Gentileza do Colunista Cicero Tavares

 

Cartaz de The Hurricane lançado em Blu-Ray em 2000

A cinebiografia HURRICONE – O FURACÃO (1999), conta a história de Rubin “Hurricone” Carter (Denzel Washington, numa atuação magistral), famoso pugilista estadunidense, cuja prisão por assassinato foi cercada de suspeita por perseguição racial. Em 1966, Rubin Carter foi detido junto com um amigo e acusado do assassinato de três pessoas em Nova Jersey. Após rápido julgamento, ele foi condenado à prisão perpétua por um júri composto exclusivamente por brancos por triplo assassinato. Tanto Rubin Carter como seu amigo, John Artis negaram envolvimento nos assassinatos, passaram sem problemas por um detector de mentiras e as testemunhas não os reconheceram como os executores dos disparas no bar, mas mesmo assim foram condenados. O filme mostra as pessoas que ajudaram a conseguir um novo julgamento que o inocentou. Rubin Carter ficou encarcerado por quase 20 anos e a sua esperança restringia-se aos fãs que acreditavam em sua inocência.

“Esta é a história de Hurricane, o homem que as autoridades vieram a culpar por algo que ele nunca fez. Posto na prisão, aquele que poderia ter sido campeão do mundo,” assim escreveu Bob Dylan na letra da música Hurricone, protestando pela injustiça da condenação preconceituosa do boxeador.

Em junho de 1966, Rubin “Hurricane” Carter (Denzel Washington) era um forte candidato ao título mundial de boxe. Entretanto, os sonhos de Carter vão por água abaixo quando três pessoas são assassinadas num bar em Nova Jersey. Indo para casa em seu carro e passando perto do local do crime, Carter é erroneamente preso como um dos assassinos e condenado à prisão perpétua. Anos mais tarde, Carter publica um memorial, chamado “The 16th round”, em que conta todo o caso. O livro inspira um adolescente do Brooklyn e três ativistas canadenses a juntarem forças com Carter para lutar por sua inocência.

O filme “The Hurricane – O Furacão” é baseado na história real de Rubin Carter, um famoso pugilista que após ganhar 18 lutas seguidas passou a ser conhecido como “Furacão” por seus golpes demolidores. No entanto, a carreira vitoriosa de Carter foi interrompida por uma acusação infundada de três homicídios.

A trajetória do garoto negro que aprendeu cedo a sobreviver, como o próprio se define, começa a ficar turbulenta aos 11 anos, quando tem seus direitos de cidadão violados e é condenado a cumprir sentença até completar 21 anos por atacar um pedófilo branco da alta corte americana. O detetive encarregado da investigação foi Della Pesca, um branco racista da sociedade, o mesmo que se encarregaria de reunir provas falsas para incriminar Rubin novamente em 1965.

A história de Rubin Carter comoveu artistas e fãs e ganhou propagação mundial, mas nem mesmo as inúmeras manifestações e os protestos foram suficientes para tirá-lo da prisão. Carter foi preso e condenado a prisão perpétua, junto com seu amigo John Artis, porque duas testemunhas do local do crime confirmaram os dois como autores do triplo assassinato. As testemunhas foram subornadas pelo detetive particular racista Della Pesca, que encontrou uma maneira simples e rápida de resolver o caso.

Após passar, quase 20 anos preso, e ser julgado e condenado duas vezes por um júri branco, Rubin Carter estava desacreditado de sua liberdade. No entanto, o livro escrito por ele, nos primeiros anos de cadeia, intitulado The 16th Round – De número 1 ao número 45472, caiu nas mãos de Lesra, um garoto negro que se identificou com a história do pugilista e motivou a família canadense a lutar pela liberdade de Carter. Essa amizade foi responsável por em 1985 garantir a liberdade de Hurricane. Tendo a sentença de condenação anulada por um juiz do tribunal federal que, na sentença, encontrou prova de racismo e alteração da realidade dos fatos por um detetive particular branco, racista, que o havia condenado na adolescência.

É interessante pensar em Hurricane como um campeão de boxe, afinal a sua grande vitória vem ao escrever sua biografia que encanta o jovem Vince e seus amigos canadenses, e é com a ajuda dele que Rubin (Hurricane) consegue sair da prisão após quase 20 anos preso injustamente.

O filme, além de contar com uma atuação magistral de Denzel Washington (lembrando seus momentos de glória em Duelo De Titãs e O Voo, onde esteve brilhante) também é muito bem escrito, conseguindo prender o telespectador durante as mais de duas horas e meia de exibição e consegue fazer o espectador escolher um lado, se o da polícia, ou (e obviamente) o do boxeador.

Para aqueles que pensam que Hurricane – O Furacão, é apenas mais uma biografia de um homem que conseguiu dar a volta por cima; enganam-se. O filme é sim uma verdadeira superação, é uma aula onde a pauta principal é a vida; Porque viver? Porque o racismo? Porque eu? Essas são apenas algumas das inúmeras perguntas respondidas e que estão muito bem delineadas nas entrelinhas do roteiro. É possível até mesmo uma comparação a filmes como “We Are Marshall” (2006), “The Pursuit of Happyness” (2006), “A Procura da Felicidade”, que além de superação, nos mostram a importância de aceitar as coisas e pensar, no lugar de se irritar com o destino o certo é lutar.

As considerações fáticas do Juiz Federal, Sarokin, para anular os dois processos de primeiro grau do Tribunal Estadual de Nova Jersey são um primor de contextualização jurídica. E a frase que Rubin Carter pronunciou ao jovem Lesra Martin de dentro do parlatório, o adolescente negro que abraçou a causa por puro amor à Justiça, pagam o filme: “O ódio me pôs na prisão. E o amor vai me tirar.” – concluiu Carter.

The Hurricane – (Trailer Oficial)

 

 

Caso CARTER: Inspiração de BOB DYLAN “HURRICANE”

 

 


Domingo – Dia de Matinê no Cinema Local domingo, 20 de fevereiro de 2022

APOCALYPSE NOW – O SET DA INSANIDADE
 

FILME DE GUERRA

APOCALYPSE NOW – O SET DA INSANIDADE

Gentileza do Colunista Cícero Tavares

 

 

Francis Ford Coppola, com 50 quilos a menos, no cenário da loucura

 

Assim se pronunciou Francis Ford Coppola quando estava filmando APOCALYPSE NOW no inferno selvagem das Filipinas: Tudo que podia dar errado na filmagem saiu pior. Mergulhamos na brumosa, esquizofrênica e arriscada história de uma gestação cinematográfica nunca igualada.

No caso de Apocalypse Now, a façanha é que quase todos os membros da equipe envolvidos nas filmagens tenham conseguido terminar os trabalhos não enlouquecidos e vivos.

O diretor, Francis Ford Coppola, acompanhou seu protagonista, o capitão Willard, no mergulho à loucura: se a missão do soldado era caçar o coronel Kurtz, a de Coppola era a de concluir um filme que havia começado sem roteiro e sem final. O diretor reconheceria ter contemplado o suicídio por três ocasiões ao longo dos quatro anos de produção, quando tudo o que podia dar errado deu errado. E quando tudo o que ninguém pensado em ocorrer, saiu pior. Acredita ele que, se não tivesse levado a família ao set nas Filipinas para lhe compartilhar as loucuras das filmagens, teria se suicidado.

Apocalypse Now, que estreou no verão de 1979, portanto há 43 anos, era segundo o diretor de fotografia Vittorio Storaro, “um quadro da imposição de uma cultura sobre a outra e da vontade que os americanos têm de transformar tudo em espetáculo”: se os soldados reais colocavam rock and roll para bombardear povoados vietnamitas, os do filme escutavam Cavalgada das Valquírias, de Wagner. Se o exército arrasou com o Vietnã com explosões de napalm, Coppola rodaria a maior explosão já produzida fora de uma guerra. Com 11 milhões de dólares de orçamento (mesma quantia de Star Wars, de George Lucas), Apocalypse Now seria o primeiro blockbuster de arte e ensaio.

Tudo era loucura nas filmagens de Apocalypse Now: Steve McQueen, Al Pacino, Robert Redford e Jeck Nicholson recusaram o papel do protagonista principal Willard. Coppola contratou o ator Harvey Keitel, mas depois de três semanas de filmagens o dispensou, após perceber que o estilo do ator não se encaixava ao do personagem. Pegou o avião e viajou aos Estados Unidos e lá encontrando no Aeroporto Martin Sheen e o levou para o inferno das Filipinas para travar sua batalha com os demônios do coronel Kurtz.

A possibilidade de perder tudo provocava uma euforia poderosa em Copolla, que parecia ser mais criativo e produtivo sobre pressão – segundo afirmava Eleonor Coppola, a esposa. A última etapa da rodagem ficou a cargo de Francis Ford Coppola, 50 quilos mais magro, que insistia em prosseguir na iniciativa, apesar dos sinais de advertência. Os trabalhadores tinham disenteria quase diariamente, o ator que interpretava o surfista Lance (Sam Bottoms) aparecia sempre chapado com speed, maconha ou LSD, porque toda a equipe caia na farra de madrugada, os animais selvagens espreitavam as tendas de campanha durante a noite, as associações de defesa dos animais haviam denunciado o sacrifício de um búfalo para a filmagem da cena final e a United Artists pretendia reduzir o valor do seguro de vida de Coppola. Sua vida já não valia tanto quanto no início da empreitada de Apocalypse Now, mas era preciso terminar “Coração das Trevas”, ainda que fosse (literalmente) a única coisa que fizesse na vida. Só assim o investimento seria justificado ante os credores. A essa altura, Coppola já estava convencido de que o filme seria espantoso.

Depois de 238 na selva das Filipinas, com muita loucura na mata e muita gente pirada, cinquenta por cento mais magros, Martin Sheen infartado sem os executivos da United Artists saberem, Francis Ford Coppola termina as filmagens de Apocalypse Now se livrando dum problema sério chamado Marlon Brando. Num dos diálogos mais interessante dos bastidores das filmagens, Francis diz a Eleanor Coppola, sua esposa: “Eu tenho três semanas de filmagem com Brando e Hopper e cheguei à conclusão de que não vale a pena tentar seguir nenhum roteiro. Vou simplesmente pedir que eles improvisem e vamos filmar tudo. Com muita sorte, vamos conseguir algo que se assemelhe a um final. Porque eu não tenho um final para esse filme! É um desastre completo!”…

No dia do lançamento do filme, Coppola aproveitou a oportunidade para fazer uma advertência sobre Hollywood que foi recebida com escárnio: a imprensa o ridicularizou, concluindo que tinha ficado definitivamente pirado por culpa da filmagem de Apocalypse Now. Qual foi a aberração que Coppola se atreveu a profetizar? “Preparem-se, porque a tecnologia digital está a ponto de mudar o cinema para sempre.”

Felizmente, o tempo não deu razão a Francis Ford Coppola: Apocalypse Now é uma obra-prima, filosófica, eterna. Mas a tecnologia digital imbecilizou os filmes de arte, que antes eram feitos na raça, na tora, na coragem, beirando a loucura. Hoje o mouse substituiu o set de filmagem.

“Computa, computador, computa.”

 

O Filme que quase MATOU seu Diretor!

 

 

 


Domingo – Dia de Matinê no Cinema Local domingo, 30 de janeiro de 2022

UM SONHO DE LIBERDADE (1994): – UM FILME ETERNO (I)

HOJE: DRAMA

UM SONHO DE LIBERDADE (1994): – UM FILME ETERNO (I)

Gentileza do Colunista Cícero Tavares

 

A esperança é a renovação da mente, do corpo e do espírito

 

UM SONHO DE LIBERDADE, talvez o melhor filme de drama já produzido e dirigido da história do cinema, joga um olhar sensível sobre a redenção, quase absoluto sobre o maior bem da vida: A Liberdade. Uns dos melhore exemplos dessa metáfora humana nos são fornecidos na decisão do xerife Will Kane (Gary Cooper) do western Hign Noon (1952), (Matar ou Morrer), quando preferiu defender sua honra e enfrentar quatro pistoleiros cruéis só, com a recusa da população da cidade de Novo México, onde era xerife, se negado a lhe cooperar; Winston Churchill, ex-primeiro-ministro do Reino Unido e maior estadista do Século XX, caminhando sobre bombas e tiroteios sem proteção na Segunda Guerra Mundial para negociar a salvação da humanidade das alucinações malignas de um lunático.

Nesse primeiro texto, serão reproduzidos comentários de fãs e admiradores dessa obra-prima cinematográfica, por meios das palavras dos próprios cinéfilos e admiradores, em depoimentos mais do que sinceros abaixo do YouTube. Dentre os milhares de escritos selecionei os a seguir:

“Eu tenho que me lembrar que alguns pássaros não são para ficar presos em uma gaiola. Sua liberdade é voar.” Frase de ‘Red’ Reeding (Morgan Freeman), um condenado à prisão perpétua que conhece bem as regras de Shawshank, prisão estadual do Maine, cenário de locação de The Shawshank Redemption.

“Acho que tudo se resume a uma escolha bem simples: ocupar-se de viver ou ocupar-se de morrer.” Essa frase tem um sentido profundo, que faz refletir sobre o significado da vida e pensar o que estamos fazendo da nossa. Um dos melhores filmes a que assisti até hoje.” Comentário de Silvano Bianchi há um ano.

“Assisti a esse filme no cinema quando ele foi lançado em BH, e depois disto já o assisti umas 10 vezes desde 1994. Apesar de se passar num presídio, não tem tanta violência quanto a outros filmes do mesmo gênero, e tanto a história em si, quanto o desfecho, são excelentes. Mesmo depois de assisti-lo tantas vezes, sempre me emociono no final.”

“Andy Dufresne! Nadou 500 metros num rio de fezes e saiu limpo do outro lado.” Essa frase é a que melhor define o sentido do filme, lembrando que a história é narrada pelo personagem do Morgam Freeman (Red), e é ele mesmo quem a pronuncia. Comentário feito há 2 anos por Thiago Canazano.

“Acho esse filme perfeito. Não à toa que é o mais bem avaliado pelo IMDB. Interessante a perspectiva de que o filme é na verdade sobre a revitalização do RED e não os dramas vividos pelo Andy.” Comentário feito por Emerson Maia há 2 anos.

“Existem pessoas que nunca serão livres, pois não sabem o que isso significa. A liberdade não é um bem que possuimos, um presente que nos é dado ou um direito a ser conquistado, a liberdade existe em nossa consciência. ” Pacal, o grande Rei dos Maias. Comentário feito por Luis Carlos Zebra há 2 anos.

“Na minha opinião, esse é o melhor filme já feito na história, que mostra um cenário ruim (a prisão) mas que é um filme lindo ao mesmo tempo, toda vez que eu lembro de quando eu assisti eu tenho um sentimento bom, sinto como se eu fosse mais livre ao ver essa história, nunca me senti tão bem com um filme como me senti com esse. Excelente análise.” Comentário feito por Hunter a 6 meses atrás.

“Um Sonho de Liberdade é uma amostra de como viver é arriscado. “A prisão não são as grades, e a liberdade não é a rua; existem homens presos na rua e livres na prisão. É uma questão de consciência.” Mahatma Gandhi.” Comentário feito por Edson de Souza há 1 ano.

“Te falar, assisti esse filme ontem 01/01/22, que filme foda! Um dos melhores filmes que já vi. Andy é um personagem incrível. Mesmo sofrendo e sofrendo na cadeia, não deixou de ser ele mesmo, um cara tranquilo, inteligente e foda. Esse filme me mostrou como a paciência é uma virtude que todo ser humano deveria ter.” Comentário feito por LordSmileGamer MRM há 2 semanas.

“O que falar sobre esse filme. É simplesmente fantástico, uma obra-prima e um dos melhores, se não o melhor filme de drama de todos. Não é por menos que está há tanto tempo no primeiro lugar do imdb na lista dos melhores filmes. Parabéns pela análise.!!!” Comentário feito pelo Felipe MRM há 2 anos.

A parte do filme onde “Red” lê a carta deixada por Andy é de arrepiar os cabelos do boga. Andy fala sobre esperança e os dois tiveram um pequeno desentendimento sobre esperança dentro da cadeia, e termina dizendo “e nada que é bom pode morrer.” Simplesmente um filme fantástico. Comentário de Seu Madruda feito há 1 mês publicado.

“Lá fora eu era um banqueiro, honesto e incorruptível. Aqui dentro – da cadeia – eu virei um vigarista.” Que mente brilhante. O melhor do filme.” Comentário de Anny Aline publicado há 2 meses.

“Esse filme é um exemplo perfeito sobre como obter um OBJETIVO DEFINIDO através de um plano bem definido. Com pequenos êxitos o levaram a algo maior.”Toda a adversidade traz consigo a semente de um benefício equivalente.” Comentário de Dalton F. Ferreira publicado há 4 meses.

“Ainda bem que o ator Tom Hanks estava fazendo “Forrest Gump,” outro filme sensacional. Se não, não teríamos visto essa atuação brilhante do Tim Robbins.” Comentário de Danilo Oliveira publicado há 2 anos.

“Poucos filmes capturam o triunfo do espírito humano tão memoravelmente como ‘Um Sonho de Liberdade.’ Morgan Freeman e Tim Robbins, estrelas neste poderoso filme, indicado para sete Oscar (incluindo o de melhor filme), baseado numa história de Stephen King.”

“Morgan Freeman vive o personagem ‘Red’ Reeding, um condenado à prisão perpétua que conhece bem as regras de Shawshank, uma prisão estadual no Maine.”

“Tim Robbins é o recém-chegado Andy Dufresne, um banqueiro inquieto condenado por assassinato. O espírito indomável de Andy ganha a amizade de Red; sua habilidade em solucionar problemas no dia a dia da prisão traz novas esperanças e mudanças à vida dos prisioneiros. Andy é cheio de surpresas – e ele reserva a melhor delas para o final.”

 

a) Um sonho de liberdade – trailer legendado

 

 

b) Um sonho de liberdade- Curiosidades – Marcos Junior

 

 


Domingo – Dia de Matinê no Cinema Local domingo, 09 de janeiro de 2022

APOCALYPSE NOW - AS LOUCURAS DE UM CINEASTA GENIAL

 

HOJE: FILME DE GUERRA 

APOCALYPSE NOW – AS LOUCURAS DE UM CINEASTA GENIAL

Gentileza do Colunista Cícero Tavares

 

 

O louco Coronel Kurtz, interpretado por Marlon Brando

APOCALYPSE NOW é uma obra-prima, um clássico da cinematografia beligerante. É um filme épico de guerra que questiona até onde vão a loucura, a paranóia, a estupidez, o egoísmo humanos. Suas conseqüências psicológicas. Os motivos sórdidos e desumanos que levam os homens a provocarem os conflitos, ceifarem vidas, destruírem a natureza e se tornarem algozes de si mesmos.

Em 1939, Orson Welles planejava filmar “O Coração das Trevas”, de Joseph Conrad, roteirizado por John Milius, livro do qual Francis Ford Coppola extraiu o roteiro de Apocalypse Now. Mas o projeto de Orson Welles foi abortado em pré-produção porque os produtores de Hollywood consideraram o custo da produção muito alto.

Em 1969, Francis Ford Coppola fundou a produtora American Zoetrope para filmar fora do sistema de Hollywood, e seu primeiro filme pela produtora foi exatamente Apocalypse Naw, com a direção ficando a cargo do talentoso cineasta George Lucas, que acabou desistindo da empreitada depois de mostrar o roteiro a vários estúdios e estes se recusarem. Mas Francis Ford Coppola nunca desistiu do projeto de filmagem, assumindo-o como produtor e diretor dez anos depois de ter rodado “O Poderoso Chefão” 1 e 2, ter ganhado oito Oscar e ficado milionário.

A esposa do cineasta Francis Ford Coppolla, Eleonor Coppola, conta toda essa loucura do esposo no set de gravação no documentário Hearts of Darkness: A Filmmaker’s Apocalypse, lançado em 1991, mostrando as tumutuadas filmagens do que foram os duzentos e trinta e oito dias de loucura nas selvas das Filipinas e Camboja, movidos por muita droga, medo, suicídios dos nativos, desejo de suicídio do próprio cineasta, que se via na iminência de ver seu grandioso projeto ruir, não seguir adiante por falta de verbas e a quase desistência do insano Coronel Walter E. Kurtz, interpretado pelo irascível Marlon Brando, que já havia recebido um milhão de dólares adiantado dos três milhões acertados com o diretor por três semanas de filmagens.

O resultado desta loucura insana está no documentário Hearts of Darkness: A Filmmaker’s Apocalypse, (Corações das Trevas: Apocalypse de um cineasta), onde os bastidores das filmagens assustam mais do que a Guerra do Vietnã.

Com as filmagens iniciadas em 1976, mas só terminadas em 1979, APOCALYPSE NOW honrou o produtor e diretor Francis Ford Coppola, porque além de ter recebido os Oscar mais importantes do cinema à época, até hoje é considerado um épico imbatível sobre a barbárie e loucura da guerra. Ademais: Ter empurrado uma pajacara de grosso calibre no rabo de todos os “críticos” de nota de rodapé de jornais da época, que projetaram o fracasso do filme antes mesmo do lançamento.

É “O horror!” É “O horror!”.

TRAILER OFICIAL DE APOCALYPSE NOW

 

 

CENAS DE LOUCURA DA GUERRA

 

 

 


Domingo – Dia de Matinê no Cinema Local domingo, 02 de janeiro de 2022

TRINITY - E OS FAROESTES ESPAGUETES DOS ANOS 60-70
 HOJE: FILME DE BANG BANG

TRINITY – E OS FAROESTES ESPAGUETES DOS ANOS 60-70

Cícero Tavares

Texto escrito em parceria com o especialista em filmes de faroeste D.Matt

Dedicamo-lo ao mestre da coluna SEGUNDA SEM LEI, Altamir Pinheiro

 

Imagem de cartaz do primeiro filme da franquia Trinity (1970)

Subgêneros dos filmes Westerns Spaghetti, os filmes da franquia Trinity transformaram o Velho Oeste em comedia pastelão no início dos anos setenta na Itália, com conteúdo humor e pancadaria, à semelhança dos Trapalhões no Brasil. Por trás da maioria desses filmes houve diretores promissores, que depois vieram a fazer filmes de faroeste clássico, como Sergio Corbucci, Enzo Barboni e Lucio Filci. Este último vindo a se tornar mestre em filme de terror. E Sergio Corbucci responsável pela obra-prima fantasmagórica do western spaghetti, DJANGO (1966), com o ator Franco Nero numa atuação memorável.

Surgido em pleno auge da contra-cultura, Trinity se apresentava como um típico hippie vagabundo, vestindo roupas velhas e rasgadas, coberto de poeira do deserto dos pés à cabeça. Para as longas travessias do Velho Oeste, ele usa uma “cama índia” (espécie de padiola), puxada pelo seu obediente cavalo.

O primeiro filme da série a estrear chamava-se Lo Chiamavano Trinita (1970), traduzido no Brasil para Meu Nome é Trinity, tendo como novidade o pistoleiro mais rápido do gatilho no Velho Oeste, Terence Hill, e seu parceiro brutamonte, Bud Spencer, que formaram uma dupla extremamente marcante do subgênero western spaghetti macarrônico.

Terence Hill, antes de fazer esses filmes de paródia western, teve um inicio bastante promissor e atuou com destaque no clássico do grande diretor Luciano Visconti, no elogiadíssimo filme “IL GATTOPARDO” que tem como astros principais, nada menos que Burt Lancaster, Alain Delon, Claudia Cardinale. Nesse filme Terrence Hill faz um personagem militar amigo do personagem interpretado pelo ator Alain Delon.

Caio Pedersoli e Mario Girotti, ou Terence Hill e But Spencer, respectivamente, para atuarem nos Trinity, adotaram nomes artísticos em inglês e atingiram um sucesso bastante significativo principalmente a partir da produção Trinity é Meu Nome (1970). A dupla seguiu atuando junto em diversos longas do faroeste macarrônico italiano, com uma sintonia que ultrapassava as telas e materializava a participação dos dois como parceiros insubstituíveis.

As paródias e versões cômicas no subgênero trouxeram um ar novo ao cinema italiano, mas de nada serviram para a continuidade do subgênero inspirado nos longas americanos. Mesmo sendo responsáveis por tornar a parceria dos atores internacionalmente conhecida, os filmes contavam cada vez mais com uma produção de baixa qualidade. Os longas perdiam suas características à medida que eram encharcados dehumor lugar-comum.

Os filmes foram se afastando do que inicialmente havia sido o spaghetti western que chegou a preocupar críticos por ameaçar o western tradicional. Os cômicos ainda atraíam multidões em busca dos títulos de faroeste italiano, mas, com o passar dos anos, nenhum desses longas se tornou um verdadeiro clássico, como os de Sergio Leone ou Sergio Corbucci. Se nos anos de glória do subgênero – entre 1966 e 1971 – se produziram mais de 70 longas, no ano de 1973 apenas dois filmes foram lançados.

O certo é que os faroestes macarrônicos, ou western movies, tiveram seu apogeu a partir de 1970 quando foi lançado Trinity é Meu Nome, que alcançou grande sucesso de público e bilheteria.

Depois do grande sucesso de Chamam-me Trinity os italianos lançaram outro longa metragem com a mesma dupla Terence Hill e Bud Spencer vivendo os mesmos personagens da fita anterior em outra sátira de morrer de rir, com o diretor ENZO BARBONI, que fazia uma paródia atacando e destruindo os velhos mitos do Velho Oeste, de pistoleiros a jogadores. Bem mais engraçada que a anterior, este Trinity não deixa nada sem deboche e extasia de tanto rir a dupla Terencer Hill e Bud Spencer, que esbanja simpatia.

Trinity, Terence Hill, é um andarilho e pistoleiro que acaba chegando à cidade na qual Bambino (Bud Spencer), seu irmão e ladrão, está disfarçado, atuando como Xerife local. Eles tentam passar despercebidos mas tudo dá errado quando se envolvem em um conflito de terras entre um grupo de mórmons e um grande barão local, que deseja se apropriar dos territórios dos colonos.

Estima-se que nos anos 1970 foram produzidos dezenas de filmes com a marca Trinity, mas apenas dois ultrapassaram as fronteiras da Itália com crítica e público favoráveis: “Trinity é Meu Nome” (1970) e “Trinity Ainda é Meu Nome” (1971), ambos dirigidos por Enzo Barboni, pseudônimo de E.B. Clucher, tendo como atores principais a dupla de grande popularidade Terence Hill e Bud Spencer. Mas depois foram perdendo público e crítica pela baixa qualidade das produções, baixo orçamento e falta de criatividade dos realizadores. Sua arte inovadora deu lugar a histórias fáceis e sem graça.

A seguir,  Trinity é meu Nome. Primeiro filme completo da série

 

 

 


Domingo – Dia de Matinê no Cinema Local domingo, 26 de dezembro de 2021

ESTREIA DE ERA UMA VEZ NO OESTE

HOJE: HISTÓRIA DO CINEMA

ESTREIA DE ERA UMA VEZ NO OESTE

Gentileza do Colunsita Cícero Tavares

 

 

Cena icônica do massacre de Flagstone: cinco pistoleiros e uma criança apavorada

 

No dia 21 de dezembro de 1968, portanto, há exatos 53 anos, estreava nos cinemas italianos aquele que viria a ser consagrado pela crítica especializada e pelos aficionados do gênero western spaghettii do mundo como o maior clássico da história do faroeste de todos os tempos, o atemporal ERA UMA VEZ NO OESTE, do genial diretor SERGIO LEONE, acompanhado da trilha sonora operística do gênio de ENNIO MORRICONE, que abalou as estruturas do faroeste tradicional americano, que há muito vinha em decadência, encharcado, estrangulado.

Dirigido pelo virtuose filho de Vincenzo Leone, a história de ERA UMA VEZ NO OESTE é centrada na vida westerniana de quatro protagonistas principais: a ex prostituta de Nova Orleans, Jill MacBain, interpretada pela exuberante Claudia Cardinale, o bandido cômico Cheuenne (Jason Robards), o sanguinário pistoleiro de aluguel Frank (Henry Fonda, numa interpretação magistral) e o misterioso homem da gaita, personificado de harmônica, (Charles Bronson).

É o primeiro filme da magna trilogia de “Era uma Vez”… de Sergio Leone; o segundo foi “Giu’ La Testa” “Quando Explode a Vingança -1971”; e o terceiro, “Once Upon a Time in America”, “Era Uma Vez Na América” –1984. As filmagens externas foram realizadas no Monument Valley, Arizona, nos Estados Unidos, locação costumeira do lendário diretor John Ford, em Utah, na Andaluzia e no deserto de Almeria, na Espanha.

ERA UMA VEZ NO OESTE é um western spaghettii revolucionário, à frente do seu tempo, com uma linguagem e uma temática memoráveis do faroeste moderno, rompendo com toda tradição hollywoodiana, onde mocinhos e bandidos glamourizaram o velho oeste com indumentárias engomadas, chapéus de cowboy country e botas extravagantes.

Sergio Leone representou para o western spagettiii o que Pelé representou para o futebol mundial: jogadas e dribles memoráveis, antológicos, inesquecíveis, inimitáveis; o que Charlie Chaplin representou para o cinema mudo americano: obras-primas como: The Kid (1921); Tempos Modernos (1936); O Grande Ditador (1940), dentre outros clássicos. O que Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, representou para o forró: criando-o, recriando-o, universalizando-o a partir de Exu, uma cidadezinha perdida no polígono da seca.

ERA UMA VEZ NO OESTE é tão magno que exímios diretores da Sétima Arte até hoje lhe fazem referências, prestam-lhe tributos, ora encaixando uma ou mais cenas em determinados filmes autorais para prestigiar aquelas determinadas passagens, ora se inspirando no western spaghettiii para criarem suas próprias obras, como é o caso dos cineastas Sam Raimi, “Rápida e Mortal”-(1995); Sam Peckinpah, “Meu Ódio Será Sua Herança” (1969) e outros do diretor; Gore Verbinski “Piratas do Caribe: No Fim do Mundo” (2007), o terceiro filme da franquia; “Rango” (2011), faroeste de desenho animado do mesmo diretor; Quentin Tarantino, “Os Oitos Odiados”-(2015) e “Django Livre”-(2012).

O que mais valida o patamar que Sergio Leone alcançou até hoje na história do western spaghettii é o fato de se saber que ele serviu de inspiração para os já mencionados diretores, Peckinpah e Tarantino, influenciou Stanley Kubrick a fazer Laranja Mecânica e ensinou, indiretamente, Martin Scorsese e John Miller, e sendo referência para centenas de diretores neófitos do mundo inteiro até hoje.

 


Domingo – Dia de Matinê no Cinema Local domingo, 19 de dezembro de 2021

POR UM PUNHADO DE DÓLARES (1) – A MAGNA TRILOGIA DO DIRETOR SERGIO LEONE
 HOJE: FILME DE BANG BANG
 

POR UM PUNHADO DE DÓLARES (1) – A MAGNA TRILOGIA DO DIRETOR SERGIO LEONE

Gentileza dos Colunistas Cícero Tavares e D.Matt

Clint Eastwood em cena magna de “Um Punhado de Dólares”

 

Nasce uma lenda: “Por um Punhado de Dólares”. (Per um Pugno di Dollari) – Itália – Espanha – Alemanha Ocidental – (1964). Um sangrento e cruel conto de fadas adulto.

Primeiro filme da Magna Trilogia dos Dólares ou Trilogia do Homem Sem Nome, estrelada por Clint Eastwood (o pistoleiro solitário), no papel principal, filmado na Itália, na Espanha e na Alemanha Ocidental. Dirigido pelo genial diretor italiano Sergio Leone.

Nesse primeiro filme da série, todos os atores, técnicos e diretores estão com os nomes americanizados. O diretor Sergio Leone consta como sendo Bob Robertson. A trilha sonora ficou a cargo do genial maestro Ennio Morricone, que usa a sensibilidade musical para marcar presença. Nos créditos do filme seu nome aparece como Leo Nichols. Cacoetes da época.

“Por um Punhado de Dólares” provoca uma forte impressão no telespectador. Dirigido com precisão, porém sem o rigoroso estalão empregado em Três Homens em Conflito (1966) ou Por Uns Dólares a Mais (1965), Por Um Punhado de Dólares é uma espécie de crônica impiedosa que nos deixa em estado de atenção durante toda sua projeção e termina por nos fazer sorrir com amargura para a tela. A história é simples, transportada quase que de maneira integral do filme “Yojimbo – O Guarda-Costas”, de Akira Kurosawa. No caso específico desse início da Trilogia dos Dólares, temos um pistoleiro solitário e sem nome (Clint Eastwood), que chega a uma pequena vila na fronteira dos Estados Unidos com o México, um lugar dominado por duas famílias de bandidos e contrabandistas, os Baxters e os Rojos.

Apesar de não constar na apresentação, o filme cujo roteiro dispensa comentário, foi escrito por várias mãos, como sendo Sergio Leone, Andrés Catena, Jamie Comas Gil, Fernando Di Leo, Duccio Tessari, Tonino Valerii, com versão inglesa de Mark Lowell e Clint Eastwood.

Isso não desmerece em nada o filme, pois o roteiro original e a cópia italiana são perfeitos, com muita ação e belamente interpretados. A versão italiana é colorida. Quanto à versão japonesa é em preto e branco. A versão japonesa é considerada um clássico. Mas o filme “Por um Punhado de Dólares” tem uma interpretação muito convincente do ator Clint Eastwood, que foi dirigido magistralmente pelo diretor Sergio Leone, que desde este seu primeiro filme como spagheti western, demonstra a que veio e nos dá uma aula de como dirigir um filme com segurança e genialidade, isso com pouco recurso.

A História tem muito suspense, a direção é soberba e os atores são todos de primeiríssima qualidade, muitos são celebridades do cinema italiano, que confiaram no talento do diretor Sergio Leone, aceitaram o papel secundário e realizaram um belíssimo trabalho interpretativo.

Necessário faz-se chamar a atenção dos leitores para uma característica muito usada pelo diretor Sergio Leone em todos os seus filmes, sendo que neste ele usa e abusa inteligentemente dos closes. São praticamente centenas de closes em todas as cenas. O diretor procura mostrar aos espectadores a reação dos personagens com closes longos e repetidos a exaustão e os personagens reagem belamente com essa técnica com belíssimos e expressivos closes em quase todas as cenas.

As cenas finais são antológicas, principalmente o duelo final, no qual o personagem (sem nome) interpretado pelo ator Clint Eastwood, usa um escudo de ferro embaixo do seu ponche. Cena esta já histórica e sabiamente aproveitada pelo diretor Robert Zemeckis no filme “De Volta Para o Futuro nº. 3” com um resultado de muita criatividade.

A Trilha sonora é tão importante neste filme, como se fora um personagem vivo e testemunha presente dos fatos. A música pontua, chama atenção para pequenas cenas, pequenos gestos e segue os atores nas cenas em que há alguma expectativa, de modo insistente como a advertir os personagens do que está por vir. A música é um personagem do filme, coisas do maestro Ennio Morricone que já declarou que antes de fazer a música ele precisa conhecer toda história do filme e mais importante: acompanhar as principais cenas da filmagem, como ele fez no clássico “Era Uma Vez no Oeste” o que resultou naquela magnífica obra-prima do western spaghetti.

“Por um Punhado de Dólares”, apesar do pouco recurso para realizá-lo, já nasceu clássico.

 

Trilha sonora de “Um Punhado de Dólares do genial Ennio Morricone

 


Domingo – Dia de Matinê no Cinema Local domingo, 12 de dezembro de 2021

RÁPIDA E MORTAL (1995), UM SPAGHETTI WESTERN TRASH

HOJE: FILME DE BANG BANG

RÁPIDA E MORTAL (1995), UM SPAGHETTI WESTERN TRASH

Gentileza do Colunista Cícero Tavare

 

Cartaz quando lançado em DVD

 

“RÁPIDA E MORTAL,” título recebido no Brasil para o oeste THE QUICK AND THE DEAD, do diretor americano Sam Raimi, famoso por dirigir a série de filmes do Homem-Aranha e do Grito, conta a história de uma mulher misteriosa, Ellen, que cavalga até a cidade fictícia de Redemption em busca de vingança. Ela vem para matar o poderoso xerife da cidade, o homem que tornou o lugarejo desolado por suas ações cruéis qual o deserto que agora ela atravessa para chegar lá. Mas os demônios que a levaram para este mortal conflito são os mesmos que a colocaram numa situação limite; e o estranho é que pode ser a única a cair morta ao final do acerto de contas. Estrelado por Sharon Stone no papel da atriz principal, ela é a mulher sedutora de homens em Instinto Selvagem e Gene Hackman, cinco vezes indicado ao Oscar, vencedor por duas vezes, numa atuação magistral como o xerife vingativo.

“Rápida e Mortal” é um daqueles faroestes descartáveis, que diverte, mas você só assiste uma vez. Está a milhões de anos de ser uma obra-prima. Mas o pior é que o filme diverte mesmo. Prepare-se para tiroteios rápidos, vilões cruéis e caricatos, e mortes mais que dramáticas. O filme em si é exagerado, mas esta é a fórmula certa, o exagero para divertir. O diretor Sam Raimi conduziu a brincadeira certinha. Mas miss Stone estava bem à vontade, até porque o filme teve poder de barganha da loura. Ela mandava em Hollywood nesta época. Coadjuvante de luxo do porte de Leonardo DiCaprio e Russel Crowe, mas mesmo assim o filme não decolou e caiu no esquecimento. O que fica de reflexão é porque Hollywood é tão injusta com seus mitos? DiCaprio e Crowe nesta época eram quase desconhecidos e Sharon era a rainha da cocada preta; hoje Crowe e DiCaprio figuram como os maiores astros de Hollywood enquanto a estrela de Sharon se apagou e a cocada preta alguém comeu.

A coragem de Sam Raimi se afirma na confiança do protagonismo a uma mulher. Em território historicamente dominado por homens, no qual a mulher ou era submissa esposa ou prostituta, surge cavalgando no horizonte a bela Ellen (Sharon Stone). Vestida de cowboy, arma no coldre, chapéu e aquele olhar ferino tipo “Estranho Sem Nome”, ela chega até a cidade de Redemption em busca da boa e velha vingança, tema abundante num período em que 09 entre 10 pessoas carregavam armas nas ruas e, não raro, davam vazão à raiva metendo bala na cabeça de alguém. No caso de Ellen, a desforra tem razões mais sombrias e remonta ao assassinato do pai, então Xerife, pelo bando de John Herod (Gene Hackman) que, claro, ela encontrará na cidadela com nome de premonição.

John Herod promove na ocasião um torneio de tiro, onde viver é sinal de vitória. Ele traz forçosamente o velho parceiro Cort (Russell Crowe) para a peleja, tirando-o da vida dedicada às pregações religiosas para lembrá-lo de seu passado assassino. Cort, rápido e letal, será espécie de suporte psicológico a Ellen. Além da vingança, outro tema trabalhado em Rápida e Mortal é a relação pai/filho, uma vez que Herod terá como oponente seu próprio filho Fee “The Kid” (Leonardo DiCaprio), jovem ávido para provar ao pai seu valor, nem que para isso precise matá-lo em duelo.

Sam Raimi cozinha esse assado numa panela repleta de referências, sendo a principal delas o italiano Sérgio Leone, ícone do chamado spaghetti western, e o maior diretor de faroeste do Século XX. Entre filiar-se à tradição estadunidense e seguir a maior dramaticidade do bangue-bangue europeu, o diretor envereda visualmente pela segunda, muito mais próxima de seu itinerário estilístico repleto de ângulos insólitos e tipos marcados.

Mas Raimi não se propõe ao pastiche, dotando Rápida e Mortal de identidade própria e carimbo com sua assinatura contumaz. Quiçá o problema (se isso for problema) maior do filme reside no eclipse da protagonista por dois personagens tão ou mais fortes que ela própria: Herod e Cort. Algo a ver com as interpretações contundentes de Gene Hackman e Russell Crowe, frente à burocrática Sharon Stone? Pode ser. Independente dessas questões, Rápida e Mortal é um filme que tem seus brios, empolgantes e cheios de energia. Se não trouxe nada de novo para o gênero, o resgatou dignamente do limbo.

O filme possui várias qualidades, e uma delas é seu elenco impressivo. Dentre os atores presentes no filme, tem-se a presença de Sharon Stone, Gene Hackman, Leonardo DiCaprio e Russell Crowe, então o filme apresenta um conjunto de atores talentosos. Apesar de que na época o impacto de alguns desses nomes não ser o mesmo de hoje, já que o filme foi feito com o DiCaprio antes de fazer Titanic e Crowe antes de ganhar seu Oscar. Isso não tira o peso de suas performances, que são boas. Mas é Hackman que dá um show aqui, com uma atuação que eleva o personagem que ele interpreta. Que tem presença de tela e que sabe entregar ótimos diálogos.

Um dos pontos altos do filme são as cenas dos duelos, que são bem trabalhadas, e todas elas são distintas umas das outras, principalmente por causa do ritmo e da edição, que sempre varia e impede que as cenas pareçam repetitivas. O filme também é ótimo tecnicamente falando, já que possui ótimos cenários, com um design de produção coerente, assim como os figurinos, que combinam com a personalidade de seus personagens. A trilha de Alan Silvestri casa com o filme de forma perfeita, e a música tema do filme é bastante melódica e memorável.

O western spaghetti de Sam Raimi é autêntico e divertido. Apesar de ser um caso de um filme com mais estilo do que substância. Relevam-se todos os problemas com o roteiro e alguns personagens. São uma hora e trinta minutos que passam rápido e que cumprem seu papel de entretenimento, para os que gostam do gênero spaghett western.

 

Trailer: The Quick and The Dead (1995) [CZ]

RÁPIDA E MORTAL (The Quick and the Dead, 1995) – Crítica

 

 

 

 

 


Domingo – Dia de Matinê no Cinema Local domingo, 05 de dezembro de 2021

POR UNS DÓLARES A MAIS
HOJE: FILME DE BANG BANG 

POR UNS DÓLARES A MAIS (2) – A MAGNA TRILOGIA DO DIRETOR SERGIO LEONE

 

Cena clássica de “Por uns Dólares a Mais (1965),” do diretor italiano Sergio Leone

Em seu segundo filme da Trilogia do Homem sem Nome, o diretor Sergio Leone pensou um filme simples, mas engenhoso, com uma temática diferente do primeiro. Enquanto “Por um Punhado de Dólares” ele narra a história de um pistoleiro solitário, “Por uns Dólares a Mais”, vê-se um cenário diferente: desta vez, o homem sem nome, personagem de Clint Eastwood, trabalha como caçador de recompensas, e acaba tendo a concorrência de um desconhecido recém chegado à cidade, o coronel Douglas Mortimer, interpretado magnificamente por Lee Van Cleef. Os dois buscam informações um do outro enquanto um perigoso vilão aparece na história, o pistoleiro conhecido como El índio, interpretado por Gian Maria Volonte, o mesmo que dá vida ao vilão de “Por um Punhado de Dólares”, só que agora vivendo outro personagem cruel.

O vilão desta trama, tal como no filme anterior, tem grande destaque, e novamente Gian Maria Volonte tem uma atuação impecável, na pele do sádico pistoleiro El Indio, que lidera uma quadrilha de assaltantes de banco que não perdoa ninguém que atravessa seu caminho. Clint Eastwood repete seu personagem, o Homem sem Nome, e novamente tem uma atuação brilhante. Tal como o recém chegado Lee Van Cleef, que interpreta um personagem dúbio, e que não nos dá muitas pistas sobre seu caráter, algo que Lee Van Cleef trabalha muito bem em seu personagem, e como era de se esperar, ele tem uma brilhante atuação, guiado pelo talentoso diretor da obra-prima “Era uma Vez no Oeste.”

Nesse filme temos sequências de ação espetaculares, além de uma história globalmente simples, mas coesa, com um roteiro sem furos. A trilha sonora, novamente assinada pelo maestro Ennio Morricone, é simplesmente brilhante, e dá exatamente o clima que a trama requer. Um trabalho magistral.

Sergio Leone conduz seu elenco com mão de mestre, tirando o melhor de cada ator. As cenas dos confrontos, com closes constantes, também são esplêndidas. O cenário reconstrói com louvor o Velho Oeste. Em resumo, “Por uns Dólares a Mais” é mais uma obra-prima da Magna Trilogia dos Dólares do diretor Sergio Leone que merece ser assistida a exaustão porque há sempre uma coisa nova a se descobrir.

A contratação do competente ator Lee Van Cleef por Sergio Leone, que já tinha demonstrado seu talento como ator coadjuvante em inúmeros filmes, inclusive teve uma importante participação no clássico western “Matar ou Morrer” com Gary Cooper, e fez pequenas pontas em vários filmes no início de sua carreira, assim como outros grandes atores hoje reconhecidos por suas atuações memoráveis em vários filmes da época, como Lee Marvin, Jack Elann, e porque não incluir o extraordinário negão, Woody Strode, um dos atores favoritos do diretor “racista” JOHN FORD, prova a competência do diretor e comprova porque a Magna Trilogia dos Dólares é insuperável na história do western spaghetti.

Portanto, não é redundância afirmar: a contratação do ator Lee Van Cleef para fazer um personagem dúbio foi um golpe de mestre do diretor Sergio Leone e o resultado final do produto foi memorável, segundo o crítico de cinema e roteirista norte-americano Roger Ebert. A música pontua do início ao fim, naquela harmonia e qualidade insuperável do genial maestro Ennio Morricone. Ao final, temos a certeza de ter desfrutado de mais de duas horas de pura arte cinematográfica westerniana.

Cena clássica do duelo final do filme “Por uns Dólares a Mais

 

 

Assista ao filme completo “Por uns Dólares a Mais”, segundo da Magna Trilogia dos Dólares

 

 


Domingo – Dia de Matinê no Cinema Local domingo, 28 de novembro de 2021

MEU NOME É TRINITY
 

HOJE: FAROESTE ESPAGUETE

MEU NOME É TRINITY

Gentileza dos colunistas Cícero Tavares e D.Matt

 

 

Imagem de cartaz do primeiro filme da franquia Trinity (1970)

 

Subgêneros dos filmes Westerns Spaghetti, os filmes da franquia Trinity transformaram o Velho Oeste em comedia pastelão no início dos anos setenta na Itália, com conteúdo humor e pancadaria, à semelhança dos Trapalhões no Brasil. Por trás da maioria desses filmes houve diretores promissores, que depois vieram a fazer filmes de faroeste clássico, como Sergio Corbucci, Enzo Barboni e Lucio Filci. Este último vindo a se tornar mestre em filme de terror. E Sergio Corbucci responsável pela obra-prima fantasmagórica do western spaghetti, DJANGO (1966), com o ator Franco Nero numa atuação memorável.

Surgido em pleno auge da contra-cultura, Trinity se apresentava como um típico hippie vagabundo, vestindo roupas velhas e rasgadas, coberto de poeira do deserto dos pés à cabeça. Para as longas travessias do Velho Oeste, ele usa uma “cama índia” (espécie de padiola), puxada pelo seu obediente cavalo.

O primeiro filme da série a estrear chamava-se Lo Chiamavano Trinita (1970), traduzido no Brasil para Meu Nome é Trinity, tendo como novidade o pistoleiro mais rápido do gatilho no Velho Oeste, Terence Hill, e seu parceiro brutamonte, Bud Spencer, que formaram uma dupla extremamente marcante do subgênero western spaghetti macarrônico.

Terence Hill, antes de fazer esses filmes de paródia western, teve um inicio bastante promissor e atuou com destaque no clássico do grande diretor Luciano Visconti, no elogiadíssimo filme “IL GATTOPARDO” que tem como astros principais, nada menos que Burt Lancaster, Alain Delon, Claudia Cardinale. Nesse filme Terrence Hill faz um personagem militar amigo do personagem interpretado pelo ator Alain Delon.

Caio Pedersoli e Mario Girotti, ou Terence Hill e But Spencer, respectivamente, para atuarem nos Trinity, adotaram nomes artísticos em inglês e atingiram um sucesso bastante significativo principalmente a partir da produção Trinity é Meu Nome (1970). A dupla seguiu atuando junto em diversos longas do faroeste macarrônico italiano, com uma sintonia que ultrapassava as telas e materializava a participação dos dois como parceiros insubstituíveis.

As paródias e versões cômicas no subgênero trouxeram um ar novo ao cinema italiano, mas de nada serviram para a continuidade do subgênero inspirado nos longas americanos. Mesmo sendo responsáveis por tornar a parceria dos atores internacionalmente conhecida, os filmes contavam cada vez mais com uma produção de baixa qualidade. Os longas perdiam suas características à medida que eram encharcados dehumor lugar-comum.

Os filmes foram se afastando do que inicialmente havia sido o spaghetti western que chegou a preocupar críticos por ameaçar o western tradicional. Os cômicos ainda atraíam multidões em busca dos títulos de faroeste italiano, mas, com o passar dos anos, nenhum desses longas se tornou um verdadeiro clássico, como os de Sergio Leone ou Sergio Corbucci. Se nos anos de glória do subgênero – entre 1966 e 1971 – se produziram mais de 70 longas, no ano de 1973 apenas dois filmes foram lançados.

O certo é que os faroestes macarrônicos, ou western movies, tiveram seu apogeu a partir de 1970 quando foi lançado Trinity é Meu Nome, que alcançou grande sucesso de público e bilheteria.

Depois do grande sucesso de Chamam-me Trinity os italianos lançaram outro longa metragem com a mesma dupla Terence Hill e Bud Spencer vivendo os mesmos personagens da fita anterior em outra sátira de morrer de rir, com o diretor ENZO BARBONI, que fazia uma paródia atacando e destruindo os velhos mitos do Velho Oeste, de pistoleiros a jogadores. Bem mais engraçada que a anterior, este Trinity não deixa nada sem deboche e extasia de tanto rir a dupla Terencer Hill e Bud Spencer, que esbanja simpatia.

Trinity, Terence Hill, é um andarilho e pistoleiro que acaba chegando à cidade na qual Bambino (Bud Spencer), seu irmão e ladrão, está disfarçado, atuando como Xerife local. Eles tentam passar despercebidos mas tudo dá errado quando se envolvem em um conflito de terras entre um grupo de mórmons e um grande barão local, que deseja se apropriar dos territórios dos colonos.

Estima-se que nos anos 1970 foram produzidos dezenas de filmes com a marca Trinity, mas apenas dois ultrapassaram as fronteiras da Itália com crítica e público favoráveis: “Trinity é Meu Nome” (1970) e “Trinity Ainda é Meu Nome” (1971), ambos dirigidos por Enzo Barboni, pseudônimo de E.B. Clucher, tendo como atores principais a dupla de grande popularidade Terence Hill e Bud Spencer. Mas depois foram perdendo público e crítica pela baixa qualidade das produções, baixo orçamento e falta de criatividade dos realizadores. Sua arte inovadora deu lugar a histórias fáceis e sem graça.

 


Domingo – Dia de Matinê no Cinema Local domingo, 21 de novembro de 2021

GREEN BOOK – O GUIA (2018)

 HOJE: UM FILME FANTÁSTICO INSPIRADO EM FATOS REAIS

GREEN BOOK – O GUIA (2018)

 

Cartaz de 2018, informando a estréia de Green Book

 

Esse filme foi inspirado num acontecimento real. Inclusive a história dos fatos ocorridos foi escrita por Victor Hugo Green e o roteiro adaptado foi produzido por Nick Vallelong, o filho de um dos personagens principais, o ítalo americano Tony Lip (Vallelog), ex Leão de Chácara da Boite Copacabana em Nova York.

Após algumas escaramuças na Boite, com a participação de membros da Máfia, participações essas que o personagem Vallelog, como Leão de Chácara, teve envolvimento importante, a Boite Copacabana fechou algum tempo para “reparos” e o herói ficou desempregado.

Aqui entra uma parte interessante, pois quase todo mundo pensa que na América existem centenas de empregos fáceis sempre à disposição de todos, com muita facilidade de contratação.

Ledo engano, apesar de ser uma nação rica, próspera e democrática, nem tudo é tão fácil, e a busca por emprego para poder sustentar a família, algumas vezes é bastante difícil e nem sempre os resultados são encontrados facilmente, principalmente para um personagem que conhece os elementos mafiosos, sempre atuantes em locais que escorregam dinheiro com facilidades, e procura não se envolver muito profundamente naqueles ambientes bizarros, para dizer o mínimo.

O personagem Tony Lip (Vallelong) com antecedentes racistas, não encontrando outra saída, a não ser topar aquilo que melhor lhe parecer, não perde a oportunidade de aceitar um trabalho para ser motorista de um grande artista (pianista de Jazz) negro, rico e sofisticado, famoso e muito elogiado – realmente existiu – para ser o seu motorista em uma viagem às cidades nos estados racistas e preconceituosos do sul do país, nos quais ele se apresentará como artista notável e célebre. Nessas cidades, seus concertos já foram programados antecipadamente e ele se apresenta para a “elite” local que deseja demonstrar a sua cultura musical, patrocinando um artista renomado, mas sem nenhuma possibilidade de aceitá-lo como tal, recusando-se mesmo a permitir que o artista negro pudesse fazer refeições no mesmo restaurante dos hotéis de luxo e lugares reservados à elite branca.

O protagonista passa por diversas situações humilhantes quando está afastado do piano, e passa a ser um negro intocável, sem qualquer distinção ou direito.
Situações incríveis vão se sucedendo à medida que o roteiro segue pelos caminhos racistas do Sul, e o seu motorista tem em algumas oportunidades de tirá-lo de situações causadas pelo pianista em momentos “difíceis e inusitados”, algumas vezes causadas pelo racismo explícito ou pelo comportamento “diferente” do pianista que não se dá conta da sua conduta um tanto diversa e inesperada.

A interpretação do pianista é uma obra de arte interpretativa, um grande ator, Mahershala Ali, que já havia sido premiado anteriormente com um Oscar, como ator coadjuvante no filme “Moonligt” e repetiu a dose, merecidamente, nesse trabalho magistral, atuando em cada cena como uma obra de arte, com detalhes de interpretação mínima e precisa, que conduz o filme a um patamar de grande qualidade.

O personagem Tony Lip, interpretado pelo ator Viggo Mortensen, foi um achado da produção, pois ele está nos mínimos detalhes, quase irreconhecível, pois para poder aceitar esse papel importante, ele teve de engordar mais de vinte quilos, relaxar sua postura corporal, e apresentar-se como “descuidado”, gordo, mal vestido e um tanto grosso. O importante é lembrar que o motorista é o ator principal do filme e carrega praticamente com seu desempenho toda a responsabilidade de atuação em todas as cenas.

Mas acontece que o pianista interpretado pelo ótimo ator Mahershala Ali rouba com grande brilho todas as suas cenas e se torna mais importante do que o ator principal.

As atuações dos atores de modo excelente, é o resultado da ótima direção do diretor Peter Farrelly, que segurou as pontas e não e não deixou que o assunto preconceito racial extrapolasse o enredo e virasse um motivo de denúncia. O preconceito existe e é mostrado, sabiamente, pelos roteiristas e diretor, mas as cenas não foram exageradas, inclusive as com violência física, que foram amenizadas pelo competente diretor.

Muitas vezes uma cena um tanto bucólica e bem dirigida tem um efeito muito maior do que uma cena provocativa. Tem-se como exemplo a cena da estrada, quando o carro é parado para colocar água no radiador. O carro está localizado em frente a uma plantação, com vários trabalhadores negros, sujos, suados e sob o sol. Os trabalhadores do campo param o seu trabalho com enxadas e ficam abismados com a cena diante deles: um negro, bem vestido, sentado no banco traseiro de um carro de luxo, sendo dirigido por um motorista branco que abre a porta do carro para o passageiro negro e depois sai dirigindo pela estrada, como se fora um acontecimento normal naquelas paragens.

Devido ao grande preconceito da época, algumas vezes o carro é parado pelo policial de trânsito para os passageiros se identificarem e os policiais ficam surpresos, primeiro porque um motorista branco está dirigindo o carro para um passageiro negro. Eles custam a acreditar que tal situação exista. E outra vez o carro é parado pelos policiais porque tem um passageiro negro viajando pela cidade depois do horário de recolhimento local, para OS NEGROS! Os dois passageiros são presos porque o motorista, que é branco, agrediu um policial que o chamou de crioulo porque estava trabalhando para um negro.

O pianista telefona para uma autoridade importante (no filme como se fora Robert Kennedy), que aciona o governador do estado e eles são libertados para desgosto do xerife local.

As situações bizarras são tantas que caberiam em vários roteiros de filmes da mesma espécie, algumas bastante hilárias, como quando o motorista ítalo americano compra, numa parada, um balde de frango frito e insiste que o pianista experimente comer o frango frito, que é um prato, segundo dizem, ser o preferido dos negros americanos e o pianista, sofisticado, diz que jamais comeu frango frito, que é uma comida vulgar.

O ator Viggo Mortensen foi indicado para o prêmio Oscar como o melhor ator, mas como sempre a Academia não viu na atuação dele grande qualidade visível, o que foi um grande erro, pois ele está notável na atuação do princípio ao fim.

Entretanto, não dá para entender o porquê desse filme ter sido premiado como o melhor filme do ano. O filme é apenas bom, sem nada de extraordinário, e o prêmio que recebeu causou muitas surpresas nos cinéfilos em geral.

Todo ano, na entrega do Oscar, os jurados da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood cagam o Tapete Vermelho, ignorando os melhores e premiando os piores, com raríssimas exceções.

Green Book – O Guia | Trailer Oficial Legendado

GREEN BOOK: O GUIA é bom? – Vale Crítica

 

 


Domingo – Dia de Matinê no Cinema Local domingo, 14 de novembro de 2021

CARMEN JONES (1954) (UM MUSICAL OPERÍSTICO)

 

HOJE: MUSICAL OPERISTICO

CARMEN JONES (1954)

Gentileza dos Colunistas Cícero Tavares e D.Matt

 

Cartaz em DVD, lançado em 2000

 

Essa crônica foi elaborada em parceria com o grande cinéfilo d.Matt., que me guiou e me orientou sobre a origem do enredo e sobretudo pela origem da música, e sua adaptação para o filme, que originalmente foi tirada de uma famosa ópera francesa, (Carmen de Bizet) e belamente adaptada para a cena americana, totalmente dentro dos usos, costumes e comportamentos da comunidade negra daquele país.

Dedicamo-la aos nobres colaboradores e comentaristas do Jornal da Besta Fubana, amigos, cumpades, cumades e irmãos do coração: Sancho Panza, Xico Bizerra, Maurício Assuero, José Paulo Cavalcanti, Adônis Oliveira, Magnovaldo Santos, Violante Pimentel (a dama das crônicas do JBF), Peninha e todos os demais que não foram mencionados aqui, mas que estão presentes de corpo e alma nessa confraria da alegria, sem esquecer o idealizador, o monumental Luiz Berto, o criador dessa obra-prima que é o JBF.

* * *

“Diz a sinopse do filme CARMEN JONES (1954), o extraordinário musical operístico: Impulsionado pela poderosa obra musical de George Bizet e as magníficas letras de Oscar Hammerstein II, esta versão americanizada da clássica ópera Carmen de Bizet é ‘um show dinâmico e soberbo’ com uma incandescente Carmen no auge de sua exuberância musical.”

Dorothy Dandridge, indicada ao Oscar de melhor atriz, estrela do papel principal, uma ardente e sexy criatura que cativa Joe, (Harry Belafonte), um soldado atraente, que está longe de sua amada (Olga Jemes).

Após uma briga fatal com seu sargento, Joe deserta (abandona) seu regimento com sua excitante “femme fatale.”

Porém, logo Carmen se cansa dele e se une a um lutador peso pesado (Joe Adams), disparando a trágica vingança de Joe. Ajudando a colocar fogo na tela estão Pearl Bailey e Diahann Carroll, parte do “sensacional” elenco que torna esse maravilhoso musical “difícil de ser batido” (como bem resumiu o Los Angeles Times) na época do lançamento do filme.

Carmen Jones é uma ópera francesa, adaptada e traduzida musicalmente para as terras americanas, com talento e muita criatividade por gente talentosa que conhece o que faz e o faz com muita competência, catilogência, muito talento e muito amor à arte cinematográfica.

O que veio depois desse clássico musical (se é que veio alguma coisa do gênero), foram chanchadas salobras sem qualquer originalidade e não nos vem à memória nada que possa ser citado como produção de qualidade, mesmo a propalada ressurreição do gênero pelo pretensioso musical “LA LA LAND”, que a nosso ver foi um grande fiasco, como já era esperado pelos amantes dos musicais de qualidade e pela crítica de filmes desse naipe.

Esse breve introito serve apenas para lembrar aos possíveis leitores que no passado do cinema, no ano de 1954, foi levado à telona uma obra-prima do gênero musical, uma grande ópera, traduzida e regiamente adaptada pelos experts hollywoodianos, no que resultou em uma das maiores obras do gênero musical de todos os tempos.

Referimo-nos à famosa e muito popular ópera CARMEN DE BIZET. Hoje em dia chamar uma ópera de popular é quase uma falácia, mas creiamos mesmo que a ópera Carmen sempre foi a mais encenada, principalmente nos países latinos ou europeus de língua de origem latina.

Os produtores entregaram ao muito competente diretor Otto Preminger, outrora à frente da direção de Laura (1944), Anatomia de Um Crime (1959), Exodus (1960), O Homem do Braço de Outro (1955), a direção do filme e o resultado ficou acima de todas as expectativas. O diretor, com muita criatividade, exigiu um elenco totalmente de atores negros, pois nem mesmo nas cenas externas de rua das cidades em que foram filmadas, encontra-se uma única pessoa de cor branca. É um mundo black em todos os sentidos, e esse mundo é explorado com precisão em todas as cenas, com o comportamento dos personagens, suas reações, suas falas características, com sotaques “nigger”.

As árias, belamente adaptadas, são cantadas também com sotaques dos “niggers”, como por exemplo, quando Carmen na primeira ária, a famosa “Habanera”, ela canta num inglês crioulo, com gesticulação, sotaque e palavras adaptadas para o regionalismo criado. A ária “Habenera” da ópera é então cantada como “DAT’S LOVE’, exibindo um regionalismo local muito enraizado. Isso acontece em todo o filme, porém com grande qualidade, cujo resultado é acima do esperado.

A atriz principal, Dorothy Dandrige, é um achado, ninguém melhor do que ela seria capaz de interpretar esse papel com tanta criatividade, beleza, sensualidade e um carisma impressionante. Ficou famosa mundialmente e depois desse estrondoso sucesso viajou pelo mundo, se exibindo como cantora, inclusive algumas vezes no Brasil para a exibição de sua arte. Ela foi a primeira atriz negra a ser candidata ao prêmio Oscar como atriz principal.

Acontece que no filme quem dubla a cantora Marilyn Hornen, que a dubla em todas as canções, isto porque a atriz Dorothy Dandrige tem uma voz muito pequena e não poderia dar conta do recado completamente.

O elenco é de astros de grande qualidade, principiando com o trabalho notável do cantor Harry Belafonte que se sai muitíssimo bem em todas as cenas dramáticas exigidas pelo papel.

Uma das principais personagens é interpretada pela ótima cantora Pearl Bailey que usa sua própria voz em algumas oportunidades com excelente resultado.

O ator que faz o papel do boxeador famoso (na ópera, um toureiro), Leverne Hutcherson, tem a sua grande oportunidade ao interpretar a ária (toureador) que no filme foi adaptada com grande criatividade e bela interpretação dublada por um Baixo, e nos dá uma magnífica personificação de um pugilista famoso e interpreta magnificamente a famosa ária que foi intitulada “Stand up and fight”, é um dos pontos altos do filme.

O quinteto operístico também está presente, numa bela composição intitulada “Chicago Train”, muito bem cantada a cinco vozes com precisão notável.

Enfim, todas as fases da ópera foram adaptadas belamente com resultados acima do esperado e quando termina o filme, ficamos deslumbrados com tamanha criatividade artística.

Há que se citar também a presença e voz da cantora Diahann Carrol num papel secundário, mas com uma presença de tela bastante agradável.

CARMEN JONES é um filme musical operístico único. Uma bela obra de arte cinematográfica. Assisti-lo cinqüenta vezes, se necessário for, é um presente para o lado bom gosto do cérebro, que não se cansa de sentir o que é belo.

Carmen Jones (trailer)

 

 

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Carmen Jones (1955): “Beat Out dat Rhythm on a Drum” – Pearl Bailey – Full Song/ Dance – Musicals

 

 

 


Domingo – Dia de Matinê no Cinema Local domingo, 07 de novembro de 2021

TRÊS HOMENS EM CONFLITO (3) – A MAGNA TRILOGIA DO DIRETOR SERGIO LEONE

 HOJE: FILME DE BANG BANG 

TRÊS HOMENS EM CONFLITO (3) – A MAGNA TRILOGIA DO DIRETOR SERGIO LEONE

Cena cinematográfica antológica do duelo final dos três personagens no cemitério

 

(Il BUONO, Il BRUTTO, Il CATTIVO)

Terceiro filme da Magna Trilogia dos Dólares: o Bom, o Mau e o Feio, ou Três Homens em Conflito, é uma inquestionável obra de arte do cinema western spaghetti! É um filme que mostrou ao mundo o quão talentoso era Sergio Leone. Apesar de suas quase três horas de duração o filme é inteligentemente ágil e impressionantemente hábil. Um clássico do estilo western spaghetti.

O longa-metragem completa a Trilogia dos Dólares agora com três protagonistas. O Bom, o Homem sem Nome; o Mau, Olhos de Anjo e o Feio, Tuco. Cada um apresentado no primeiro ato: O Bom, ainda trabalha como caçador de recompensas, o Feio é um bandido cruel e o Mau, um homem em busca de um tesouro perdido de 200.000 mil dólares no cemitério…

Clint Eastwood continua no seu personagem o Homem sem Nome, (com o codinome de Lourinho), personagem que ele incorpora com habilidade e mestria. O Lee Van Cleef soube criar um personagem carismático, numa interpretação magnífica. Um ótimo ator que qualquer diretor gostaria de tê-lo interpretando qualquer personagem coadjuvante ou principal.

Mas, o mais extraordinário é a atuação do ator Eli Wallach. Seu desempenho é magistral. Ele aparece em quase todas as cenas, com grande atuação interpretativa. Na verdade ele é o ator principal, pois tem o triplo das ‘falas” dos demais personagens e sua versatilidade supera o limite da interpretação.

Durante todo o filme o telespectador fica torcendo pela sua aparição, pois ele ” rouba” todas as cenas em que aparece, inclusive a sua atuação tem mais intensidade que a de todos os demais atores.

As cenas principais se intensificam do meio para o fim do filme, quando os personagens se envolvem com a guerra civil americana, com cenas de guerra violentas, campo de prisioneiros, sadismo de oficiais… Tudo apresentado e encaixado com genialidade pelo diretor Sergio Leone.

Mais uma vez o diretor faz uso constante da técnica de “closes” dos personagens, pois com esses “closes” é possível mostrar a reação dos personagens diante do perigo ou do inesperado.

Para saber usar esses “closes” com eficiência, o diretor precisa ser um mestre e também os atores, pois se o ator não souber reagir adequadamente a um “close” de alguns segundos e não souber demonstrar o que está sentindo, fica com cara de idiota. Mas nas mãos do diretor Sergio Leone tudo fica “clear”.

O filme é repleto de muita ação inesquecível e certamente agradou e agrada a todos aficionados do tema em qualquer época, que apreciam uma boa história westerniana. Não se deseja aqui contar a história do filme, apenas informar que o fato principal é que os três personagens principais acabam se envolvendo no resgate de um grande tesouro de ouro, roubado do exército e escondido numa cova em um cemitério…

O duelo final entre os três personagens no cemitério é uma cena antológica, memorável, que dura aproximadamente uns 10 minutos, sem qualquer diálogo. É filmado em uma pretensa arena circular no meio do cemitério, apenas pontuando a magnífica música do genial maestro Ennio Morricone.

Sobre esse filme, um crítico experiente declarou em um artigo: “Sem sombra de dúvida, o western mais ambicioso e influente já produzido. É uma aventura audaciosa que mudou para sempre o futuro do gênero.”

E saber que essa extraordinária, monumental, memorável obra de grande perfeição fílmica foi feita muito antes do genial diretor Sergio Leone criar mais outra obra-prima no gênero: “Era uma Vez no Oeste,” não há que se discutir até onde vai a capacidade criativa de um gênio.

Porém há muito mais substância e camadas em o Bom, o Mau e o Feio ou Três Homens em Conflito do que se possa pensar à primeira vista. Não se trata de um filme difícil em termos de conteúdo, mas talvez na interpretação de suas riquezas simbólicas, que podem ser escancaradas ou estarem nas estrelinhas.

Além disso, o espectador precisa ver o filme sem pressa de que ele alimente respostas ou verdadeiro sentido antes do final, pois aí é que está a sacada do diretor Sergio Leone. Ele nos guia por um caminho de busca e luta entre dois lados, cada um atormentado por um demônio e com um objetivo egoísta para cumprir. Ao chegar ao definitivo clímax, ele reverte o jogo e nos escancara o dilema da solidão, do sentido para a vida do homem em busca de dinheiro ou justiça. Nesse ponto final, há uma seta que nos faz retornar para o início da obra, onde a frase de abertura, enfim, alcança o seu real sentido: “Onde a vida já não tinha mais valor, a morte às vezes tinha o seu preço. Eis que surgiram os caçadores de recompensas“.

Sergio Leone foi o único cineasta da História do Western Spaghetti que teve uma terceira chance de causar uma primeira impressão.

14 curiosidades inéditas sobre o filme o Bom o Mau e o Feio, ou Três Homens em Conflito

 

 

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Assista ao filme completo:


Domingo – Dia de Matinê no Cinema Local domingo, 31 de outubro de 2021

OS IMPERDOÁVEIS (1992) – "O ÚLTIMO GRANDE FAROESTE?"
 HOJE: FILE DE BANG BANG

OS IMPERDOÁVEIS (1992) – "O ÚLTIMO GRANDE FAROESTE?" 

Gentileza do Colunista Cícero Tavares

(Republicado a pedido)

 

Unforgiven [DVD] [1992] - Best Buy      

 Cartaz de Unforgiven – Os Imperdoáveis – (1992) 

 

OS IMPERDOÁVEIS (1992)) foi, talvez, o último filme de faroeste digno desse gênero clássico genuinamente americano, onde eram apresentados, na tela grande, os mocinhos e os bandidos do velho oeste sem glamour.  

Nesse faroeste Clint Eastwood vive um ex-pistoleiro, viúvo e pobre. Cria dois filhos pequenos num rancho até se ver forçado a voltar à ativa por convite de um principiante querendo se firmar na "profissão" e ganhar dinheiro.  

O filme reverencia o gênero ao mesmo tempo em que desmistifica o Velho Oeste, retratado como lugar sujo e brutal. Realizado em fabulosas locações em Alberta, Canadá. No final, o filme é dedicado aos mentores de Clint Eastwood como os diretores Sérgio Leone e Don Siegel, que com certeza ficariam muito orgulhosos de seu discípulo e assinariam embaixo seus feitos. 

Três homens em busca de uma recompensa. Não se engane. Este não é um filme previsível. Pelo contrário, nos surpreende a cada instante. Clint Eastwood mais uma vez consegue nos envolver. Os mil dólares oferecidos, na verdade, representam a busca de três homens pelo real sentido da vida. 

OS IMPERDOÁVEIS é uma desconstrução do gênero western. Os matadores de sangue frio do Velho Oeste selvagem, sempre mostrados nas telas do cinema como atiradores perfeitos, que nunca erram o tiro, como na Trilogia dos Dólares de Sergio Leone. Nesse western, vemos algo diferente. Um homem alterado pelo tempo e pela sua consciência, que não consegue montar no próprio cavalo, nem atirar direito. Seu amigo, Ned Logan, (Morgan Freeman), por exemplo, não tem mais o sangue frio do matador cruel, Frank (Henry Fonda), de ERA UMA VEZ NO OESTE, obra-prima de Leone, nem mais dar um tiro letal, mesmo contra o suposto homem que teria retalhado, ou ajudado a retalhar o rosto de uma prostituta. O terceiro sofre com sua primeira morte como qualquer mortal sofre, além de ter uma visão deficiente, fazendo desses um trio de mercenários um tanto quanto humano e bem dos problemáticos. 

No núcleo do filme, ver-se um xerife que humilha um homem que era conhecido como uma lenda, suas histórias estavam sendo passadas para o papel por seu escritor particular, segundo suas versões. Desmascarado, ver-se que a famosa frase "The Man Who Shot Liberty Valance" (O Homem que atirou em Liberty Vavence) se aplica aqui. "Quando a lenda se torna fato, publique-se a lenda." Mas a lenda é desmistificada e o ídolo do escritor se mostra uma fraude. 

Outro elemento interessante e importante do filme é como as histórias podem ser exageradas ao se passarem de boca em boca. Uma prostituta teve o rosto cortado, e, em seguida espalha-se que todo corpo dela foi cortado, menos a vagina. Impressionante como os boatos acumulam falácias em suas versões mais recentes, conforme vão passando de boca em boca no tempo. Esse pode ser um dos elementos de criação de lendas de personalidades que realizaram feitos exorbitantes no oeste, ou em outras épocas. Às vezes, nem mesmo a própria pessoa que faz tais feitos, deve saber o que fez, por estar bêbada no momento ou por fazer muito tempo e ela acaba se tornando a lenda. 

Disse o personagem Lette Bill, num dos diálogos do filme, depois de perguntado por seu alvo:  

"Você é William Munny, assassino que matou mulheres e crianças!" 

Resposta: "Isso mesmo, já matei mulheres e crianças e quase tudo o que se rasteja, e estou aqui para matar você." 

Voltando ao filme, o final trás uma ressurreição do velho Willian Munny ao saber que seu amigo foi morto pelo xerife. Gratificação, é o que se sente ao ver Munny dar de garra da garrafa de whisky, tento-a negado o filme todo. Sua raiva e seu desejo de sangue e vingança agora são maiores do que qualquer controle. O whisky traz de volta sua mira, sua habilidade de montaria, tudo, o whisky traz de volta sua alma de matador. Ele traz de volta o oeste sanguinário que vivia adormecido em Munny, sem o oeste, sem sua alma verdadeira, ele seria incapaz de fazer tais feitos. Ele estava tão fundo em seu novo "eu", o Willian Munny moldado por sua esposa, Anna Levine, no papel de Delilah Fitzgerald, que ele era um assassino ineficiente. Agora, o whisky foi apenas a chave para aflorar tudo aquilo que estava adormecido nele. 

Clint Eastwood retornou ao gênero depois de tanto tempo sem atuar. Ele queria marcar com sua volta com algo palpável. E marcou com a maior obra-prima do western revisionista por ser exatamente um filme de não cowboys de mira perfeita e sangue frio, mas tornando as lendas do oeste, entre elas a maior delas, Clint Eastwood, mais humanos, menos super heroico, e mais realista. Deve-se aceitar, pois afinal de contas, nossos heróis envelhecem, mas as lendas não morrem. 

 

      a) Trailer Oficial de Os Imperdoáveis

 

        b)  Um Olhar Sobre Os Imperdoáveis
 

 


Domingo – Dia de Matinê no Cinema Local domingo, 24 de outubro de 2021

ERA UMA VEZ NO OESTE (1968)

HOJE: FILME DE FAROESTE

ERA UMA VEZ NO OESTE (1968)

Gentileza dos Colunistas Cícero Tavares e D.Matt

 

 

 

  (Republicado a pedido de fãs e apreciadores do gênero que consagrou o genial diretor Sergio Leone)

 

"O ritmo do filme pretendeu criar a sensação dos últimos suspiros que uma pessoa exala antes de morrer. "Era Uma Vez No Oeste" é, do começo ao fim, uma dança da morte. Todos os personagens do filme, exceto Claudia (Cardinale), têm consciência de que não chegarão vivos ao final." Sergio Leone.  

ERA UMA VEZ NO OESTE foi mais uma obra-prima do proeminente diretor Sergio Leone. Só não superou a si mesmo devido ao (quase) insuperável O Bom, O Mau e o Feio (Três Homens em Conflito-(1966), último filme da Magna Trilogia dos Dólares. Mas sem dúvida esse é um clássico do faroeste memorável, superlativo, e por que não do cinema como um todo. Superou filmes que à época eram endeusados por muitos "críticos" como melhores do gênero western, como Rio Bravo (1959) - Onde Começa o Inferno e Matar ou Morrer (1952)... Era Uma Vez No Oeste é uma ópera incomparável!  

Era Uma Vez No Oeste mostra a realidade nua e crua do oeste, com homens cruéis lutando para sobreviver a ermo, utilizando-se de métodos torpes. Para quem gosta de cinema essa obra-prima é insuperável. Fica a dica, para quem não assistiu O Bom, O Mau e o Feio, também assisti-lo, pois se trata de uma magna obra superior, de importância cinematográfica superlativa, épica. 

Era uma Vez no Oeste é muito mais do que um dos maiores faroestes já feitos. Essa obra-prima de Sergio Leone transcende qualquer categorização por gêneros ou subgêneros e alcança facilmente o panteão dos melhores filmes que já sagraram as telonas. É, talvez, o ponto alto da carreira do diretor, que demonstra uma impressionante maturidade de temas, fotografia, cenografia, montagem, trilha sonora e um controle absoluto de seu elenco, para alcançar um resultado de se aplaudir de pé.  

 

E olha que Sergio Leone nem mesmo precisou se distanciar muito da estrutura que lhe deu todo o renome que tinha quando ele, tentando fugir das ofertas da United Artists e outros estúdios para dirigir mais westerns, não conseguiu recusar o orçamento generoso da Paramount, que vinha encabeçado pela oferta dele trabalhar com Henry Fonda, seu ator preferido e que era sua escolha original para o papel que consagrou Clint Eastwood na Trilogia dos Dólares. Novamente preso ao gênero do qual queria fugir, Leone não se fez de rogado e arregimentou a ajuda de Dario Argento e Bernardo Bertolucci (ambos, à época, críticos de cinema e roteiristas ainda em começo de carreira, com Bertolucci já tendo dirigido, mas nada relevante) para criar a linha narrativa de Era uma Vez no Oeste.  

 

Essa trinca colaborativa foi extremamente importante para o sucesso que o filme alcançaria e, também, para a atemporalidade dessa fantástica obra (sim, essa fita é merecedora de hipérboles!), pois Leone, Argento e Bertolucci extraíram a essência dos faroestes americanos de grande sucesso à época e trabalharam na inserção desses elementos representativos ao longo de toda a narrativa, mas sem se esquecer dos elementos característicos do faroeste característico do próprio Leone, como o misterioso personagem sem nome, (no caso "Harmônica"), vivido por Charles Bronson) e o passo desacelerado, que ganhou contornos próprios em Era uma Vez no Oeste que, logo em sua longa abertura, nos apresenta as aventuras de uma mosca sobrevoando pistoleiros sujos e suados.  

 

Com a narrativa pronta e uma versão do roteiro já escrita, Leone chamou Sergio Donati, que trabalhara com ele, sem receber créditos, em Por um Punhado de Dólares e outros, para fazer a sintonia que durara um ano. Donati, então, focou em destilar Era uma Vez no Oeste para sua essência, com o objetivo de tornar o filme o mais hollywoodiano possível, mas ao mesmo sem perder a alma do western spaghetti. São de Donati os diálogos marcantes da projeção, além de ter sido ele o responsável por impedir que o filme, depois, fosse muito mutilado para lançamentos em mercados diferentes, ainda que as versões feitas tivessem oscilado entre 145 e 175 minutos, mas nenhuma delas realmente se sobrepondo de maneira relevante sobre a outra.  

 

Uma grande vitória, sem dúvida. Trabalhando duas narrativas a princípio separadas sobre o conflito gerado com a chegada dos trens e outra uma típica história de vingança, que se misturam com as mais clássicas histórias de bandidos e histórias envolvendo ameaças às terras de alguém.  

 

Sergio Leone constrói, sempre com seu passo preciso, detalhista e lento de um western spaghetti, uma rede de tramas envolvendo Harmonica, o herói silencioso que caça o pistoleiro Frank (Henry Fonda) que, por sua vez, assassina a família McBain para abrir espaço para a chegada da ferrovia e coloca a culpa em Cheyenne (Jason Robards), que se une à Harmonica para salvar Jill McBain (a estonteante Claudia Cardinale), ex-prostituta e herdeira da fazenda dos McBain da sanha assassina do matador cruel Frank. Reparem na circularidade do roteiro, que não deixa pontas soltas e encaixa uma narrativa aparentemente solta à outra, demonstrando o excelente trabalho na confecção da história e o cuidado na redação do roteiro.  

 

E Leone não tem pressa em fazer revelações. Não sabemos bem quem é o misterioso homem que toca gaita, que é perseguido por três assassinos no começo, não entendemos exatamente as intenções de Frank ainda que sintamos um certo temor ao ver aquela figura de olhos azuis penetrantes e demoramos a perceber o exato papel de Cheyenne e de Jill na trama. Tudo é mostrado e pouco é dito, mas o desenrolar e a convergência das linhas narrativas são cadenciados à perfeição de forma que diálogos se tornam supérfluos. Os olhares, com os famosos planos detalhes de Leone, contrastados com tomadas em plano geral, dizem tudo.  

 

Somos tragados para a história naturalmente e a longa duração do filme parece passar em alguns instantes, tamanha é nossa fixação na tela. E, permeando o embate, há, mais uma vez, a trilha sonora de Ennio Morricone, um de seus mais impressionantes trabalhos. Desde a gaita narrativa coroando o leitmotif de Harmonica, passando pela música mais forte que caracteriza Frank, até o belo vocal de Edda Dell'Orso, que empresta nobreza e força à Jill McBain.  

 

Talvez não tão memorável quanto à trilha de Três Homens em Conflito, a composição de Morricone para Era uma Vez no Oeste parece, por outro lado, ainda mais integrada à narrativa que no filme com Clint Eastwood e isso talvez se deva ao fato que Leone, em um movimento raro, pediu para Morricone compor a trilha antes das filmagens começarem, de maneira que o diretor pudesse tocá-la durante a fotografia principal, em atitude, hoje em dia, mimetizada por Quentin Tarantino, com suas músicas pop que escolhe pessoalmente e toca nas filmagens.  

 

Com isso, talvez, a música de Era uma Vez no Oeste tenha influenciado as atuações e não o contrário como é o usual, resultando em uma mescla que pouco se vê por aí. Ainda falando em som, o trabalho do espectro sonoro em Era uma Vez no Oeste é perfeito, desde a edição de som até sua mixagem, com o uso de sons inspirados pelos westerns usados como referência aliado a um orçamento mais alto, que permitiu um trabalho melhor na finalização, especialmente se comparado com a Trilogia dos Dólares. A união da trilha sonora com os sons do filme e, em vários momentos, com a substituição da trilha pelos sons, aumenta a sensação de imersão que a fita proporciona, envolvendo-nos ainda mais profundamente na história da trinca principal de personagens. Era uma Vez no Oeste é um grande triunfo cinematográfico, merecendo figurar em todas as listas dos melhores filmes já feitos. Sergio Leone merece todos os nossos agradecimentos profundos e uma eterna salva de palmas. 

 

ERA UMA VEZ NO OESTE é o melhor filme de faroeste de todos os tempos!  

 

A propósito desta crônica tecendo alguns comentários sobre esse insuperável western Era Uma Vez No Oeste, recebi o seguinte e-mail do expertise em filmes de faroeste, D.Matt., que reproduzo abaixo: 

 

Cícero Tavares é um apaixonado pelo filme ERA UMA VEZ NO OESTE, e não é para menos, pois esse filme é um marco na história do gênero western americano ou spaghetti western italiano, que começou como comédia debochada e sem preocupação com a similaridade americana, mas aos poucos sentiu que havia algo valioso em mãos e então começou a aprimorar os enredos, procurando sempre que possível criar uma similitude com os originais. 

 

Para tanto chegaram a importar conhecidos nomes hollywoodianos, que mais tarde, por ironia do destino e a genialidade dos produtores/diretores italianos conseguiram otimizar a qualidade dos filmes em todos os sentidos, e os poucos famosos atores americanos que vieram apenas para dar um ar de autenticidade westerniana nos filmes spaghettis, se transformaram em grandes intérpretes e levaram os produtores e diretores do gênero a contratar uma nova leva de bons atores, agora não somente novatos, mas também nomes um tanto famosos, que sem dúvida elevaram o nível qualitativo dos filmes westerns italianos à posição de obras clássicas, dirigidas com bastante maestria e aceita pela crítica, como americanos fossem. 

 

Dessa leva, surgiram filmes bem acabados, com orçamentos a altura, enredos mais bem elaborados e grandes obras com a qualidade acima da média, com alguns deles, como o famoso Era Uma Vez No Oeste, alcançaram merecidamente grande renome, pois um filme de tal qualidade já não se faz mais nas terras americanas. 

 

Se Sergio Leone fosse um novato no ramo cinematográfico seria um grande achado, mas acontece que o hoje famoso diretor já tinha feito Era Uma Vez Na América, um dos maiores filmes de gangueste de todos os tempos. 

 

Aclamado pela crítica e pelo público, ávidos como sempre por trabalhos de qualidade, esse filme famoso teve o título de ERA UMA VEZ NA AMÉRICA, considerado por muitos expertises como uma grande obra cinematográfica e um dos melhores filmes do gênero de todos os tempos. É um filme longo, de quatro horas duração, baseado no tema policial/dramático envolvendo gangsterismos, com final surpreendente e uma trilha sonora do grande mestre Ennio Morricone, cuja qualidade se compara com a melhor trilha sonora de todos os tempos que o compositor Morricone criou para essa obra-prima westerniana, Era Uma Vez No Oeste. 

 

Devido à tanta qualidade que merece ser relembrada, acho ótima a ideia do cronista Cícero Tavares de apresentar novamente a sua crônica sobre esse filme clássico, com alguns aditamentos e informes importantes para que os admiradores do gênero western possam apreciar melhor e se inteirar de fatos e passagens desse filme importantíssimo do mestre Sergio Leone, que se ainda estivesse entre nós, certamente teria nos presenteado com muitas belas obras do gênero, dos quais estamos muito necessitados pela escassez de cabeças pensantes. 

 

Obrigado, caríssimo Cícero Tavares, por se lembrar de nos relembrar de toda essa preciosidade, essa obra-prima lançada há mais de cinqüenta anos, nos tempos de ouro da indústria cinematográfica e que continua irretocável até hoje. 

 

D.Matt.    

 

a) ERA UMA VEZ NO OESTE - TRAILER OFICIAL 

  

b) Por Que Você Precisa OUVIR "Era Uma Vez no Oeste"

 


Domingo – Dia de Matinê no Cinema Local domingo, 17 de outubro de 2021

BARRY LYNDON (1975) – UM ÉPICO POUCO LEMBRADO DO MESTRE KUBRICK

HOJE: FILME ÉPICO 

BARRY LYNDON (1975) – UM ÉPICO POUCO LEMBRADO DO MESTRE KUBRICK  

Gemtilexa dos Colunistas Cícero Tavares e D.Matt

 

      Stanley Kubricki no set de batalha de Barry Lyndon na Irlanda. 

Tudo o que se procura no filme clássico, é encontrado nessa obra-prima do diretor Stanley Kubrick, desde a fonte principal do enredo, adaptação para a tela, a escolha dos atores, cenários e músicas que pontuam cada cena com requinte de bom gosto, digno de uma obra que mais parece um belo quadro emoldurado, pois cada cena apresentada poderia ser emoldurada e exibida como uma obra de arte admirável. 

O bom gosto do diretor Kubrick exibe qualidade e arte exposta em todas as cenas, desde o prólogo com importantes fatos biografados do personagem principal, mostrando da sua insegura e dúbia personalidade, até o alcance de suas pretensões sociais, que se realizam com habilíssimos golpes de sedução e esperteza. Conta ainda, com a participação habilidosa de um certo CHEVALIER (notável criação do ator Patrick Magee) com estupenda atuação, como cuidadoso criador de golpes jogados contra a sociedade nobre, fútil e maleável. 

Barry Lyndon é interpretado pelo razoável ator Ryan O'Neal, que nesse filme chega ao ápice de sua carreira não tão nobre. Se ele sobressai de maneira notável é devido à excelente direção do mestre Kubricki. O mesmo não se pode dizer da belíssima Marisa Berenson, que dispensa adjetivos e incorpora à sua personagem um gracioso modo de ser, com poucos diálogos, muita serenidade e simpatia. Ela rouba do ator O'Neal todas as aparições, devido à sua mágica figura, quando exposta na tela grande. 

Outros ótimos atores completam o elenco, como Marie Rean, como a mãe do personagem. E outra figura muito precisa que aparece sempre com destaque, o ator Murray Melvin como o reverendo professor. 

A trilha sonora é preciosa. É uma resenha de belas peças clássicas dos maiores compositores, todos em elevada sintonia com a história apresentada, Ouve-se Mozart, J,S, Bach, Beethoven e outros em belos e sutis arranjos, ressaltando, algumas vezes, a sonora Sarabanda do mestre Handel. 

A ascensão e queda de Barry Lyndon são mostradas como uma figura aventureira. Termina sua aventurosa carreira nas mãos de um infante fingativo que consegue derrotá-lo após longos anos de ódio reprimido e que não perde a sua última oportunidade de selar o seu destino final de modo trágico e irreversível.  

Na cena final, toda sua glória e importância, a um nome num pedaço de papel, com a esmola de algumas libras. Sem maiores lembranças ou saudades. 

Por tudo isso e muito mais é que Barry Lyndon é um clássico irretocável do mestre Stanley Kubrick. 

 

a) Stanley Kubrick's Barry Lyndon - (1975) (New Trailer)

 

 

b) BARRY LYNDON (1975) - Crítica

 


Domingo – Dia de Matinê no Cinema Local domingo, 10 de outubro de 2021

PULP FICTION – TEMPO DE VIOLÊNCIA (1994)

HOJE: POLICIAL GANGSTERÍSTICO

PULP FICTION – TEMPO DE VIOLÊNCIA (1994)  

Gentileza dos Colunistas Cícero Tavares e D.Matt 

 

  

Cartaz de Pulp Fiction lançado em Blu-ray 

 

QUENTIN TARANTINO sem dúvida alguma é um mestre. Conhece cinema a fundo. Dá um passeio em todos os gêneros cinematográficos com virtuosidade e brio próprio. Está faltando apenas produzir um musical para completar o seu excelente currículo. 

Segundo ele declarou em algumas entrevistas, antes de ser cineasta, passou alguns anos dentro de locadoras de filmes e como não poderia ser diferente, assistia a filmes durante todo expediente. Daí o seu grande conhecimento sobre filmes de todos os gêneros. 

Depois de alguns ótimos filmes de orçamento baixo, Tarantino resolveu mostrar aos cinéfilos o seu grande conhecimento em todos os gêneros cinematográficos, viajando do tipo western até o de aventura policial, gangsterístico PULP FICTION, sendo esse último filme o melhor de toda sua obra até então produzida. 

Ele contou com excelentes atores, destacando nesse caso o trabalho do ator John Travolta, que estava já quase esquecido devido aos fracos filmes que havia atuado até então. Travolta nos dá um belo trabalho de interpretação, sendo esse talvez o seu melhor desempenho. Foi indicado ao prêmio Oscar como melhor ator, pelo seu ótimo desempenho nesse filme. 

O filme termina no começo. A cena final é a solução da cena inicial. Aliás, todo o filme começa com cenas violentas que são interrompidas durante todo o andamento do filme, cenas que serão concluídas posteriormente, com soluções bizarras e inesperadas.  

A grande solução para esse tipo de enredo é a excelente montagem do filme, inovadora e muito inteligente, que mata um personagem no meio do filme e esse personagem continua atuando nos acontecimentos posteriores. A inteligente e inovadora montagem é credora do andamento do filme, passando do passado, para as cenas futuras ou futuras para o passado, sem nenhuma falha do enredo, como no caso da morte de importante personagem, morto pelo boxeur, vivido pelo ator Bruce Willis. 

Quentin Tarantino, como sempre, inclui nos seus filmes o seu ator preferido: Samuel L. Jackson, que sempre tem um papel importante à altura dos seus desempenhos. E neste caso não foge à regra, pois a importância do personagem vivido pelo ator Jackson é em muitas cenas mais importante que o do personagem principal, vivido pelo ator John Travolta. 

Atores como Bruce Willis (está ótimo como o boxeur esperto que desafia o gangster principal (Ving Rhames), e depois, numa cena insólita, vem a salvar o grande e poderoso gangster de ser estuprado por uma dupla de tarados bestiais.   

A atriz Uma Thurma, como sempre, é uma presença muito agradável e brilha quando atua ao lado de John Travolta e acabam dançando um twist à moda Travolta e logo após quase destrói o personagem com as suas loucuras com drogas, em cenas de grande suspense. 

PULP FICTION ganhou a Palma de Ouro no festival de cinema de Cannes em 1994. O elenco é todo de celebridades, tais como John Travolta, Samuel L. Jackson, Bruce Willis, Tim Hoth, Harvey Keytel, Wing Rhames, Eric Stoltz, Uma Thurma, Maria de Medeiros e o próprio Quentin Tarantino. 

O roteiro foi escrito pelo próprio Quentin Tarantino e a produção do filme foi orçada em US$.8.500,00. 

A trilha sonora foge à regra habitual. Mão tem música instrumental acompanhando as cenas. São músicas populares, algumas muito conhecidas, todas nos estilos modernos de Rock, Soul, Surf, Twist e até pop moderno. 

O filme teve sete indicações ao prêmio Oscar. Venceu como melhor roteiro original.  

A única cena realmente romântica do filme ficou a cargo de Bruce Willis e Maria de Medeiros, uma deliciosa portuguesinha que faz a felicidade do boxeur Bruce Willis.  

É de destacar a ponta do tarimbado e excelente ator Harvey Keitel que com a sua presença sempre marcante, e correta, valoriza as cenas em que aparece. 

A fotografia é correta e impecável. 

Em todos os sentidos podemos afirmar que se trata de um ótimo filme, para todos que gostam de cinema em geral e não só para aqueles que gostam do gênero Tarantino, que geralmente usa de muita violência e cenas sangrentas em seus filmes. 

 

a)Pulp Fiction - Tempo de Violência | 1994 | Trailer Legendado | Pulp Fiction

 

 

​​b) PULP FICTION - TEMPO DE VIOLÊNCIA (1994) - CURIOSIDADES. 

 


Domingo – Dia de Matinê no Cinema Local domingo, 03 de outubro de 2021

O PADIM CORLEONE DA MÁFIA AMERICANA

 

 

HOJE: FILME SOBRE A MÁFIA AMERICANA 

O PADIM CORLEONE DA MÁFIA AMERICANA

 

Marlon Brando o eterno Don Vito Corleone

 

 

Dedicamo-lo ao mestre do SEGUNDA SEM LEI, Altamir Pinheiro

 

O primeiro filme da trilogia de O Poderoso Chefão gira em torno da família mafiosa de Don Vito Corleone, de 1945 a 1955, sendo considerado e aclamado como um dos melhores filmes de gângster de toda a história do cinema nas ações mafiosas e suas conseqüências. Mas o diretor teve que impor sua personalidade contra os executivos da Paramount para realizá-lo.

Ante o esmero da produção, o deslumbre técnico – a montagem que, no batismo do afilhado, intercala a oração de Michael Corleone com os assassinatos de que ele é mandante; a fotografia excepcional, que explora à sombra os negócios da máfia e a transparência na relação de Michael com Apolônia, pura e virginal -, o vigor do elenco, o roteiro que entrelaça as intrigas familiares com a disputa pelo poder, e a perfeição com que Francis Ford Coppola encena sua história. Marlon Brando e Al Pacino estão memoráveis. O primeiro como o patriarca que tudo faz pela família, o segundo como o estranho no ninho que nega o pai e aos poucos se deixa envolver pela máfia, ainda que para perceber que, na maioria das vezes, o poderoso está só.

Já na segunda parte temos ações e negócios. Compra de governo cubano, traições mafiosas, muita vingança. Excelente continuação para o grande sucesso da parte um. Neste filme acompanhamos Don Vito Corleone desde os tempos de criança quando fugiu da Itália após ter sua família toda morta por um mafioso local. Chegando à América adotou o sobrenome Corleone referente à cidade natal e cresceu sempre lutando para sobreviver junto com sua esposa e filhos que iam nascendo no decorrer dos anos.

Depois de matar o mafioso que exigia porcentagem dos ganhos aos comerciantes locais que todo mundo o temia, o seu poder, influência e riqueza começa acrescer cada vez mais, conquistando assim o respeito de todos. Paralelamente, o caçula Michael Corleone tenta expandir os negócios da família buscando novos investimentos em Havana e Las Vegas e se depara cada vez mais com traições, interesses e se vê em uma situação delicada no casamento e com membros da família, além de ter que se confrontar com uma investigação geral contra a máfia e, em conseqüência, contra sua família e negócios.

Destaca-se o ótimo elenco novamente, infelizmente sem Marlon Brando, mas trazendo Al Pacino com uma atuação soberba, além do sempre perfeito Robert De Niro. Ninguém melhor do que ele para interpretar Don Vito Corleone mais jovem. A entonação de voz e os movimentos corporais estão iguais ao de Marlon Brando.

O filme mantém a mesma qualidade do anterior em todos os aspectos e aprofunda ainda mais as relações entre os familiares e aliados. O filme conta com outro grande roteiro, uma competente edição, além do figurino, direção de arte, a excepcional fotografia e é claro, a mais uma vez genial e firme direção de Coppola. O filme é uma aula de como fazer cinema e de como uma sequência pode manter o nível do original. A única coisa que peca é que o filme tem quase 3 horas e meia, e em alguns pontos ele se torna arrastado, mas o grande mérito da edição em deixar o filme mais ágil e intercalando bem o passado de Don Vito Corleone e o presente da família, é ainda mais evidente neste filme. Mas vale a pena no quesito fidelidade ao livro de Mario Puzzo.

Na terceira parte é muitíssimo diferente. A família quer se posicionar no mundo financeiro e político, se separa das ações mafiosas e procura limpar o nome CORLEONE a qualquer preço. Para isso “compra da Igreja e do Papa” uma comenda papal ao preço de cem milhões de dólares e se posiciona como o maior investidor nos negócios do Banco do Vaticano, cooptando a tudo e a todos. O resultado não é bem o esperado, pois os demais mafiosos deixados para trás, também querem participar da grande negociata.

Negócio feito, mas não chancelado pelo Papa, que está quase à morte. Os mafiosos se digladiam entre si querendo a sua parte e não deixam barato. Envenena o Papa recém eleito “João Paulo I”, o Papa Sorriso, por ser um homem honesto e não concordar com as roubalheiras no Banco do Vaticano.

Nesse filme as ações são todas políticas, mas as diferenças são presentes e a toda hora alguém tem de pagar as suas dívidas com a própria vida.

O filho bastardo do irmão morto metralhado no primeiro filme aparece e aos pouco vai se posicionando e ganhando força no esquema, tomando a liderança de todas as ações e ocupando o lugar do personagem advogado e conselheiro dos filmes anteriores que, “simplesmente sumiu da história” sem explicação. O seu lugar foi ocupado pelo ator cubano Andy Garcia que aproveitou a oportunidade e, com grande talento, conseguiu fazer um belo trabalho no filme, sendo indicado ao prêmio Oscar de melhor ator coadjuvante.

Uma grata observação: os produtores contrataram diversos atores de prestígio, que fizeram grandes filmes e valorizam muitos personagens importantes. Nesse filme todos estão ótimos e foi muito gratificante vê-los atuando em papéis secundários, sem glamour aparente com ótimos resultados. Um desses atores é o veterano e carismático ator Eli Wallach, contumaz ladrão de cenas que como sempre sobressai em qualquer filme. Outro ator que surpreende pela qualidade do seu trabalho é o cubano Andy Garcia, com uma atuação sóbria e firme, convence como ítalo americano e termina o filme como o Poderoso Chefão, tendo suas mãos beijadas pelos mafiosos de plantão.

Não se pode deixar de mencionar a aula de montagem do filme, ao final, durante a bela ópera encenada e os acontecimentos paralelos, sendo executados com todos os devedores, ao estilo Corleone. Tudo acompanhado pela belíssima música operística.

Muitos críticos, à época do lançamento do filme e até hoje, não deram muita importância a essa terceira sequência da trilogia, talvez porque tenha havido um hiato de dez anos para ser filmado e também pelo enfoque político nele inserido. Em lugar dos temas mafiosos presentes nos filmes anteriores. Essa sequência tem validade qualitativa tão quanto às duas partes anteriores. É por isso que na História do Cinema não vai existir outra trilogia igual.

a) A História por Trás de O Poderoso Chefão (1)

 

 

b) A História por Trás de O Poderoso Chefão (2)

 

 

c) A História por Trás de O Poderoso Chefão (3)

 

 

1) Os Finais Perfeitos da Trilogia O Poderoso Chefão

 


Domingo – Dia de Matinê no Cinema Local domingo, 26 de setembro de 2021

MATAR OU MORRER AO MEIO-DIA - 1952 (CRÔNICA DE CÍCERO TAVARES, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
 
 HOJE: FILME DE BANG BANG

MATAR OU MORRER “AO MEIO-DIA” (1952

GENTILEZA DO COLUNISTA CÍCERO TAFARES

 

Cartaz de Matar ou Morrer/High Noon (1952)

 

Na pacata cidade de Hadleyville, no Novo México, quando o xerife Will Kane, interpretado magistralmente pelo ator Gary Cooper, está prestes a se casar com a protestante, a belíssima Grace Kelly, recebe a notícia de que Frank Miller, interpretado pelo ator Ian MacDonald) – o psicopata que Kane havia prendido anos atrás – foi solto da prisão e estava preste a chegar no trem do meio-dia à cidade para a desforra.

Enquanto os três mais odiosos cúmplices de Miller esperam na estação, o xerife tenta conseguir ajuda. Os habitantes da cidade se recusam a arriscar suas vidas por medo de vingança. Vários relógios revelam que o meio-dia está se aproximando. “Matar ou Morrer” se passa em tempo real, com a hora fatal se aproximando enquanto a música-tema, a balada “Do Not Forsake Me, Oh My Darling”, insiste em frisar os acontecimentos. Will Kane é deixado praticamente sozinho contra quatro vilões.

O assassino solto deve chegar a bordo do trem do meio-dia. Frente aos sentimentos conflitantes da população, ao desamparo por parte de seus antigos colaboradores e, especialmente, às súplicas de sua esposa, o xerife enfrenta um dilema praticamente sem solução.

Esse é o pano de fundo que Fred Zinnemann utiliza para desenhar um painel do fim anunciado da época das conquistas. Os personagens são protagonistas inconscientes de seu próprio papel. Will Kane representa o desbravador, o precursor, o próprio espírito da colonização. Não por acaso ele está velho e prestes a se aposentar. Seu adversário, Frank Miller, não é um dos tradicionais vilões do velho oeste, cujo único fim era a morte, em combate ou na forca. Ele foi preso, julgado, sentenciado a passar a vida na cadeia, mas foi libertado.

Não se sabe por que ele foi solto, nem o filme se presta a dar um motivo concreto. Só se sabe que, em algum lugar longe dali, uma espécie diferente de justiça se fez, e essa justiça colocou em liberdade um homem cuja primeira atitude é juntar-se aos seus capangas e buscar vingança. É nos personagens secundários, habitantes da cidade, entretanto, que se encontra a parte mais interessante da metáfora elaborada aqui.

Observando com atenção, percebe-se que neles a coragem foi substituída por precaução e o espírito aventureiro deu lugar ao desejo de estabilidade. Por mais que se envergonhem disso, os homens do povoado não reúnem em si a força para ajudar o xerife, entregando-o ao que todos consideram sua morte certa – ou seu suicídio, como descrevem alguns, o que seria uma forma de eximir-se da culpa por manter os braços cruzados. Um dos moradores chega a dizer: “Nós pagamos um bom salário ao xerife e seu ajudante. Eles que resolvam”. A função do novo cidadão urbano seria, portanto, a de pagar seus impostos e esperar que os problemas desapareçam. Nada mais de iniciativa, nada de participação direta. Eles que resolvam.

A ganância também aparece aqui modificada pela nova ordem. Não são mais terras ou gado que interessam, os desejos da população da cidade são mais, digamos, atuais. O hoteleiro diz não gostar do xerife, pois antes da chegada da lei e da ordem havia mais movimento em seu hotel. Eis uma boa crítica ao capitalismo selvagem, ao qual não importa que todos se matem, contanto que isso traga lucros. Já o assistente do xerife recusa-se a ajudá-lo por não ter sido indicado para substituí-lo, um novo xerife chegaria à cidade no dia seguinte.

Nesse caso a cobiça é pelo cargo, e aqui, melhor do que em qualquer outro ponto, percebe-se que os tempos não são mais de força e coragem, mas de política e barganha. Eis que, como resultado de tudo isso, Will Kane é abandonado. Para que não se diga que os aspectos artísticos da obra não foram citados, vale lembrar que tanto a trilha sonora quanto a música tema cabem perfeitamente no filme, colaborando bastante para criar a atmosfera de conflito interno do protagonista.

Gary Cooper oferece uma atuação na medida certa, sem exageros, mas que passa ao espectador a angústia de encontrar-se na situação em que se encontra. Há ainda algo de revigorante no papel da mulher em Matar ou Morrer. Também aqui se poderia dizer que o filme é precursor, mas seria difícil fazê-lo sem explicitar demasiadamente a conclusão da história. O mais importante é que a cena final representa o ocaso de uma era.

É verdade que a colonização não termina com o desfecho do personagem de Gary Cooper. Seu fim, porém, havia sido anunciado. O tempo de coragem, da marcha ao desconhecido, da vida e da morte pela força e pelas armas estava agonizando. A aventura do velho oeste chegava ao fim.

Não é a toa que Matar ou Morrer é considerado o segundo melhor western de todos os tempos pelo American Film Institute. Um filme inteligente, angustiante e que merece ser assistido por várias vezes. É simplesmente fantástico!

Esse foi um filme muito polêmico quando lançado nos States, principalmente por motivos políticos. O roteirista foi acusado pelos artistas e esquerdistas de ter incluído no roteiro passagens anti-democráticos, anti-americanos. Inclusive esse filme foi muito criticado por ninguém nada menos que o famoso cowboy John Wayne, que afirmava que o filme era anti-americano e não era um filme “western” e sim um ataque à democracia estadunidense.

Causou tanta polêmica que foi até citado pelo presidente Ronald Reagan durante um dos seus pronunciamentos transmitidos pela TV. Mas apesar de toda controvérsia o filme foi um grande sucesso de crítica e de público, ganhador de quatro oscars.

O filme é considerado um clássico do cinema, pois inova na abordagem do conflito em um plano mais psicológico e pela carga de suspense nele contido.

A fotografia é primorosa, de uma qualidade surpreendente, em glorioso preto e branco, ganhadora do prêmio Oscar de melhor fotografia do ano.

O elenco é surpreendente. O papel principal foi antes oferecido aos atores Marlon Brando e Montgomery Clift que recusaram participar do filme por vários motivos, sendo o principal dele o recebimento de uma quantia muito irrisória para atuarem em papéis muito importantes, pois a quantia posta à disposição da produção foram meros setecentos mil dólares, uma quantia irrisória para um filme com grande elenco, mesmo para os tempos antigos, (1952).

Há de se notar que durante todo o filme, aparecem diversos relógios, todos marcando os minutos antecedentes ao meio dia. O filme é todo feito no horário real e essas cenas com os relógios têm grande impacto visual e bastante suspense, pois cada minuto antes do meio dia é de muita angústia para o personagem principal, o xerife Cooper, pois todos os habitantes da cidade negam-se covardemente a ajudá-lo a combater com os bandidos vingadores, que vão chegar no trem das doze horas em ponto, com a intenção de matá-lo. Cada relógio em si se torna um dos personagens como testemunhas coadjuvantes do filme em questão.

Após o duelo final, o xerife é elogiado pelos moradores da cidade que pedem para ele permanecer na cidade como defensor da lei. Nessa hora, o xerife faz uma cara de nojo e joga ao chão a estrela de xerife, num gesto de desprezo pela covardia dos habitantes que se recusaram a ajudá-lo a enfrentar os bandidos.

Esta cena, na época do lançamento do filme, foi muito criticada pelo ator John Wayne, que achou uma ofensa aos defensores da lei, que um xerife jogasse ao chão uma estrela que representava uma autoridade e ele achava também que com a cena ele estava jogando ao chão a estrela americana da democracia. Tudo picuinha política, isso porque o roteirista (Carl Foreman) tinha sido em prisca época membro do partido comunista americano. O macarthismo estava presente em toda esquina estadunidense. Era a época da caça às bruxas.

Nesse caso, ninguém contestou o gesto do Xerife, o que comprova que a política deturpa tudo e John Wayne sempre foi um “cowboy” político.

O resultado final do filme é primoroso, um grande diretor Fred Zinemann, um grande ator Gary Cooper, que já tinha sido previamente ganhador de um Oscar, a atriz novata Grace Kelly e um elenco de apoio com celebridades, todas muito atuantes e muito experientes na atuação de filmes de faroeste, tais como: Thomas Mitchell, lloyd Bridges, Katy Jurado e Lee Van Cleef, é sem dúvida um dos melhores filme western de todos os tempos.

Um grande clássico, tão grande como “SHANE” ou “Rastros de Ódio,” que são as melhores referências no padrão de qualidade do western americano.


Domingo – Dia de Matinê no Cinema Local domingo, 19 de setembro de 2021

MEU ÓDIO SERÁ SUA HERANÇA (1969)
 
 
 HOJE: FILME DE BANG BANG

MEU ÓDIO SERÁ SUA HERANÇA (1969)

Gentileza do colunista Cícero Tavares

 

Cartaz em Blu-Ray de “Meu Ódio Será Sua Herança”

 

Enquanto filmava as cenas externas de sua obra-prima, ERA UMA VEZ NO OESTE, no Monument Vallery, Arizona, nos Estados Unidos, locação costumeira de John Ford; em Utah, na Andaluzia e no deserto de Almeria, na Espanha, o genial diretor italiano Sergio Leone não tomou conhecimento de que um diretor maluco, ousado, genial, para aquele momento histórico do Oeste, também estava revolucionando o tema com uma pegada revolucionária. Seu nome: Sam Peckinpah, conhecido como o “Poeta da Violência”, com “Meu Ódio Será Sua Herança”, um western divisor de água entre o tradicional e o moderno.

A abertura do faroeste “Meu Ódio Será Sua Herança” (The Wild Bunch, EUA, 1969) possui uma intrigante simetria com a longa e antológica seqüência final do longa-metragem. O filme começa com um grupo de policiais uniformizados, montados a cavalo, entrando numa pequena cidade norte-americana. O bando cruza com crianças que brincam no meio da rua, perto dos trilhos de um trem. Algumas tomadas esparsas mostram que a brincadeira infantil é um bocado cruel: os meninos jogaram escorpiões no meio de um formigueiro, e os bichos venenosos estão sendo devorados pelas formigas.

“Meu Ódio Será Sua Herança” encerra enfocando os remanescentes do mesmo grupo de homens que aparece no princípio. Eles não são policiais, e sim uma quadrilha de assaltantes de banco; aquele era apenas um disfarce, como o espectador logo vai descobrir na movimentada e sangrenta sequência que abre o filme com gosto de pólvora. Não há heróis aqui, nem vilões. Todo o longo espectro de personagens é moralmente questionável.

Na ocasião do fim do longa os bandoleiros estão no México, e se dirigem para resgatar um dos membros do grupo, preso por um rebelde paramilitar chamado General Mapache (Emilio Fernandez). O violentíssimo tiroteio que se segue não apenas encerra o filme de maneira brilhante, mas fecha um círculo e explica a cena dos escorpiões da abertura; os escorpiões são uma metáfora para os bandidos.

Os escorpiões são intrigantes porque jamais estiveram no roteiro do longa-metragem. Na verdade, eles foram uma sugestão de Emilio Fernandez, que contou ao cineasta Sam Peckinpah como se divertia no deserto mexicano, quando era menino. Peckinpah percebeu a fascinante simetria e filmou o ataque das formigas aos escorpiões abusando de planos-detalhes. Ao fazê-lo, acabou concebendo uma das aberturas mais estranhas, criativas e interessantes do cinema contemporâneo.

Enquanto filmava nos sets poeirentos do México, é possível que o diretor não soubesse que estava colocando uma pá de cal no já combalido gênero western. Adepto dos chamados westerns crepusculares, que lamentavam a proximidade do fim do gênero por causa do crescente desinteresse das novas gerações de espectadores, “Meu Ódio Será Sua Herança” transportava para a história este lamento. Foi uma despedida honrosa e adequada, já que o filme não é ambientado nos anos de ouro do Velho Oeste, mas em 1913.

Às vésperas da Revolução Mexicana, o antigo código de honra dos homens violentos e beberrões já não valia mais nada. O mundo agora era urbano. Botas viravam sapatos engraxados, revólveres transformavam-se em metralhadoras. A violência migrava dos descampados empoeirados para as cidades grandes. O Velho Oeste dava os últimos suspiros. Esse é o grande tema da obra de Sam Peckinpah, e também o pano de fundo do mais controverso e impactante dos filmes que dirigiu.

O crítico Roger Ebert lembra que, em 1969, “Meu Ódio Será Sua Herança” foi recebido da mesma forma que “Clube da Luta” o foi em 1999: sob acusações pesadas de ser hiperviolento e gratuito, até mesmo fascista. Para alguns, Peckinpah glorificava a violência. Reza a lenda que o astro William Holden teve uma violenta briga com o cineasta, após ver o filme pronto e odiar o resultado final. A verdade é o filme é tremendamente violento mesmo: somente no verdadeiro balé de sangue que é o duelo final, Peckinpah gastou doze dias e mais de 10 mil cartuchos de bala de festim.

Sim, é verdade que o filme apresentou uma nova maneira de representar a violência no cinema, utilizando pela primeira vez a câmera lenta para mostrar mortes. Caprichando no sangue e no estilo, Peckinpah enfatizava o sangue e fazia as mortes ganharem um significado simbólico e poético que ultrapassa a morte em si. No cinema dele, morrer dói para caramba. Mas muita gente não entendeu.

A péssima recepção do filme pelas plateias foi ajudada pela estrutura narrativa incomum. Um filme tradicional enfatiza o enredo ou os personagens; “Meu Ódio Será Sua Herança” não faz nenhum dos dois. Pike (William Holden) lidera o bando de assaltantes que se encaminha para uma última missão, que é roubar um trem carregado de armas para um rebelde mexicano. Eles são perseguidos por um grupo, liderado por Deke Thornton (Robert Ryan), cujo objetivo é capturar ou matar Pike.

Os dois já foram parceiros, anos antes, mas algo separou seus caminhos. Nenhum deles é retratado com profundidade; Peckinpah só oferece fragmentos do passado. Pike e Deke são homens duros, que mostram nos rostos cansados e nos ombros caídos o peso dos anos. Ambos são melancólicos. Sabem que estão ultrapassados pelo tempo. Sabem que o fim está próximo.

O grupo de Pike bebe o tempo todo e frequentemente cai na gargalhada com piadas bobas, como se estivesse à beira da histeria. O personagem de William Holden, ruminando as palavras e com o olhar perdido no horizonte, resume perfeitamente o clima do filme: eles pertencem ao passado. Não há futuro possível para gente assim.

“Meu Ódio Será Sua Herança” documenta a melancolia do fim de uma era, a troca de guarda entre duas gerações muito diferentes. E, à medida que encerrou o tempo dos faroestes e inaugurou a fase da hiperviolência, representou a mesma coisa para Hollywood. Pouquíssimos filmes têm essa honra de serem marcos divisórios. Por isso, “Meu Ódio Será Sua Herança” é um clássico inesquecível.

“Meu Ódio Será Sua Herança” – Clássico Revisitado


Domingo – Dia de Matinê no Cinema Local domingo, 12 de setembro de 2021

O HOMEM QUE NÃO VENDEU SUA ALMA

HOJE: FILME HISTÓRICO

O HOMEM QUE NÃO VENDEU SUA ALMA

A MAN FOR ALL SEASONS, REINO UNIDO – 1966

Capa Blu-ray de O Homem Que Não Vendeu Sua Alma

Na Inglaterra do século XVI, Henrique VIII (Robert Shaw) planejava se separar de sua primeira esposa para se casar com a fogosa (e bota fogosa nisso!!) Rainha Ana Bolena (Vanessa Redgrave), mas não recebe a aprovação de Thomas Morus (Paul Scofield), numa atuação soberba, impagável, um fervoroso católico que se tornou “Lord Chanceler”, um altíssimo posto que ele preferiu renunciar do que trair suas convicções. Entretanto, a importância de Sir. Thomas Morus era tão grande à época que mesmo após sua renúncia o rei continuara lhe perseguindo. Até que surgem “provas” que o incriminam como alta traição, um “crime” punido com a morte, sendo decapitado na Torre de Londres no dia 6 de julho de 1535, “antes das nove horas.”

(A MAN FOR ALL SEASONS (1966), ou O Homem Que Não Vendeu Sua Alma, é o primeiro de dois filmes em que o diretor Fred Zinnemann e a atriz Vanessa Redgrave trabalharam juntos. O posterior foi Julia de (1977). O ator Paul Scofield recebeu o Oscar de melhor ator pela atuação primorosa, mas não compareceu à cerimônia de entrega por ser avesso a comemorações. Com isso, sua estatueta de melhor ator foi recebida por Wendy Hiller, sua companheira de elenco. O orçamento do filme foi de US$ 3,9 milhões. Teve a sua refilmagem em (1988) com o mesmo título pelo ator e diretor Charlton Heston, que já havia trabalhado como ator principal em grandes clássicos do gênero, como Os Dez Mandamentos (1956), Bem-Hur (1959), O Planeta dos Macacos (1968), dentre outros. O homem que não vendeu sua alma ganhou nova versão e não decepcionou.

Como era de se esperar, um filme com esse objetivo e, ainda por cima, baseado diretamente em uma peça de teatro que seu próprio autor, Robert Bolt, transformou em roteiro cinematográfico, simplesmente não poderia primar pela ação no sentido mais esperado da palavra. Ela inexiste aqui e tudo, absolutamente tudo, recai no colo do incomparável trabalho dramático de Paul Scofield, no papel principal.

O ator, que começou sua vida artística no teatro, onde permaneceu focado praticamente a vida inteira, apesar de ter também aparecido em alguns filmes, viveu Thomas Morus na peça de Bolt tanto no West End de Londres, área da Região centro de Londres, Inglaterra, onde contém muitas atrações turísticas, quanto na Broadway, em Nova York. E foi a escolha do diretor Fred Zinnemann para viver o papel também nas telonas. No entanto, a produtora considerou que Paul Scofield não tinha nome para atrair audiência para o filme, com Richard Burton e Laurence Olivier sendo considerados para o papel. No entanto, o cineasta insistiu em sua escolha, brigou, ajudado por Bolt, especialmente depois que ele havia levado para casa o Tony de melhor ator justamente por seu trabalho na Broadway como Morus, em 1962.

Essa escolha foi extremamente acertada pelo diretor Fred Zinnemann. Paul Scofield interpretou Thomas Morus com um vigor impressionante, demonstrando com olhares, gestos e pequenos trejeitos corporais uma latitude dramática que vai da alegria em ver sua esposa no final de um dia estafante, passando pela surpresa e leve – mas elegante – desgosto em ver sua filha com um pretendente luterano e pelo encontro com seu amigo e rei nos jardins de sua moradia, até a veemente negativa em endossar o posicionamento do rei sobre o divórcio e novo casamento sem a benção do Papa.

O diretor Fred Zinnemann, por seu turno, não perde a oportunidade de manter sua câmera sempre parada e mirada no rosto de Paul Scofield em toda sua intensidade e profunda inteligência, construindo um personagem espetacular logo nos primeiros minutos da projeção, quando demonstra muito claramente sua integridade primeiro como advogado e, depois, como chanceler real.

O trabalho do ator Paul Scofield em O Homem Que Não Vendeu Sua Alma é um dos mais impressionantes trabalhos dramáticos da Sétima Arte, transformando um filme que é quase que completamente um teatro filmado e que, portanto, pode facilmente descambar para a monotonia, em uma obra realmente inesquecível, daqueles em que cada cena com a presença de Paul Scofield é um momento de se aplaudir. Sua presença é tão magnética e profunda, aliás, que todo o restante do elenco desaparece, até mesmo a espalhafatosa ponta de Robert Shaw como Henrique VIII e a assustadora aparição do imponente Orson Welles como o Cardeal Wolsey. Mesmo os atores que tem mais presença de tela, como John Hurt como Richard Rich e Leo McKern como Thomas Cromwell, por melhor que sejam os atores – e são mesmo excelentes – mínguam diante de Paul Scofield e a retitude moral e ética de Morus.

A equipe técnica que cuidou de O Homem que Não Vendeu sua Alma também não decepcionou. Figurinos corretamente suntuosos vestem o elenco que passeia por cenários em locação e alguns poucos construídos especialmente para o filme que se funde em um conjunto harmônico preciso que muito corretamente não tem nenhuma intenção de chamar atenção para si mesmo, deixando todo o espaço para que Paul Scofield e o restante do elenco brilharem como devem brilhar. A fotografia de Ted Moore, conhecido por seu trabalho na franquia 007, faz as cores ressaltarem da mesma maneira que ele as suga na medida em que o drama de Morus torna-se cada vez mais sem saída, algo que a equipe de maquiagem e cabelo esmera-se também em apontar.

Retratando um dos mais significativos momentos da história britânica sob o ponto de vista de um grande homem, o filme O Homem Que Não Vendeu Sua Alma é ao mesmo tempo uma aula de dramaturgia e cinema e de estadismo em sua forma mais pura. Todo político ou pretendente a político deveria no mínimo ser obrigado a absorver as lições que o Morus de Scofield passa aqui (já que pedir que estudem Thomas Morus talvez seja demais). O mundo político com certeza seria melhor mesmo se apenas um décimo da moralidade e honestidade do personagem fossem internalizadas.

O Homem Que Não Vendeu Sua Alma é uma grande lição de moral e ética que o diretor diretor Fred Zinnemann nos deixou como legado.

A MAN FOR ALL SEASONS (1966) Trailer Oficial

 


Domingo – Dia de Matinê no Cinema Local domingo, 05 de setembro de 2021

CABARET - UM FILME DENÚNCIA, POLÍTICO E MUSICAL

 HOJE: UM FILME DENÚNCIA, POLÍTICO E MUSICAL

CABARET (UMA RARA JOIA MUSICAL)

Gentileza do colunista D.Matt

 


É  muito difícil catalogar esse filme somente como musical. Ele pode ser classificado como Drama musical, Denuncia politico nazista,  Drama  contra o preconceito racial,  ou um pequeno estudo sobre o comportamento sexual dos personagens em todos os sentidos.


Não é uma estória inédita, pois o autor primário  da estória em que foi  baseado o  roteiro final, da autoria de CRISTOPHER ISHERWOOD,, já havia utilizado essa história e acontecimentos na época retratada,  em obra de sua autoria entitulada  I AM A CAMERA "   procedente de sua obra "( The Berlin Stories ) que foi lançada primordialmente em uma peça teatral e depois levada às telas pelos americanos  num filme estrelado por Julie Harris, Lawrence Harvey e Shelley Winters, com algumas diferenças e variações  dentro do tema principal, mas sempre conservando a sua origem procedente de  ( The Berlin Stories ), inclusive usando o nome da personagem principal (Sally Bowles); numa produção americana de 1955 , num filme preto e branco. 

O maior acerto dos produtores do filme, antes da contratação do elenco, foi entregar a direção ao talentoso BOB FOSSE, que  procedente da Broadway, já tinha  grande experiência com a peça e  como coreografo de talento reconhecido, só precisava de grandes astros  para levar à tela essa obra  importante,  à um grande acontecimento musical, cinematográfico.  Isso ele o fez com grande talento e muita criatividade.


Os acontecimentos que ocorriam  na Alemanha , na época de implantação do regime nazista são mostrados, não como denuncia, mas como fatos normais ocorridos diariamente, para um povo simpatizante do regime nazista que eles acreditavam estar  criando um país mais poderoso , um exemplo para o mundo exterior,  e no  qual o povo acreditava realmente na sua superioridade  racial, conforme demonstram no filme, com  o canto  de um hino Nazi, por um jovem , portando uma suástica Nazi e com  grande   orgulho patriótico dos demais presentes, quando ele  canta o hino " Tomorrow belongs to me "   Excelente cena de grande efeito.  Para completar o  seu  patriotismo eles precisam demonstrar  o seu preconceito exacerbado contra todos os Judeus, esquecendo- que "Os Judeus" também eram  todos alemães e por certo também patriotas.


A montagem do filme foi perfeita, pois depois de cada acontecimento na vida berlinense, ou  na vida dos personagens do filme,  tal   acontecimento é " encenado " no palco do  Cabaret, levados aos extremos do ridículo, narrado e debochado pelo excelente apresentador , numa criação magistral do grande ator JOEL GRAY, que  repetiu o seu ótimo trabalho, ,pois já havia criado o personagem na Broadway.  Grande parte do sucesso do  filme e das boas críticas é devido a  performance desse grande ator, que quando está em cena, rouba toda a  atenção dos espectadores do filme.

As cenas se sucedem e todas são  " encenadas " de modo debochado no palco do Cabaret  KIT KAT CLUB ,  algumas  com excelentes resultados, como quando a  personagem Sally Bowles  trava relações com  um milionário, e no palco do Cabaret é encenada uma joia musical de grande impacto visual e auditivo,  com o show de " Money, Money, Money " de forma magnífica e rítimo alucinante, com expressões faciais dos cantores de forma  admirável.  Também. quando uma estória paralela de preconceito  contra a comunidade judaica é apresentada, no palco é encenada uma apresentação comovente com o mestre de cerimônias descrevendo o seu amor por um " monstro " e confessando que a ama  , porque ela é maravilhosa e nem todos a conhecem etc...).


O elenco é  primordial para o grande sucesso do filme, pois quem poderia  criar uma Sally Bowles, anárquica, com comportamento imprevisível de grandes olhos pintados bem arregalados, unhas pintadas de verde  e  creiam tudo combina perfeitamente,  nada  está  supérfluo, tudo se encaixa nos mínimos detalhes.  Sua  vontade de vencer e um dia ser uma grande estrela de cinema   nesse submundo  alemão, cercado de imundícies  e preconceitos comportamental é jogado ao léu e viva-se   todo o momento presente que o futuro ainda não chegou para  produzir enormes pesadelos previstos.

 
Michael York, Marisa Berenson   são personagens que estão " vivos " dentro da estória, têm credibilidade aprovada,  como todos os demais são competentes e dão seu recado corretamente.
Joel Gray está estupendo, merecia dois Oscars, pois o seu trabalho vale por dois. 


Berlin está viva no filme, talvez devido a que grande parte do filme foi filmada na Alemanha.

O filme recebeu muitas indicações e saiu vencedor de 8 prêmios Oscar, ou sejam :
Melhor  Diretor - Bob Fosse 
Melhor Atriz - Liza Minneli
Melhor Ator Coadjuvante -  Joel Gray
Melhor Fotografia
Melhor Direção de  arte 
Melhor Trilha sonora
Melhor montagem
Melhor Mixagem de som 


A parte musical defendida com muita fibra pela atriz cantora Liza Minneli   é de grande impacto, seu carisma é inconfundível, sua presença , quando no palco, cresce de maneira monumental e  assistimos um grande trabalho, não só vocal, como também a sua postura corporal, perfeita nos mínimos detalhes, não deixando dúvidas de que estamos diante de uma grande estrela,  ela demonstra grande valor próprio e não precisa ser citada como a filha da grande estrela Judy Garland de  bela memória. 

A Alemanha mostrada no filme, principalmente o cotidiano de Berlin, não está fantasiado, nem de luxo ou de pobreza, mas sim cenas da vida normal, mostrando inclusive o modos de vida de um milionário, com seus carros de luxo, seus palácios e muito dinheiro para ostentar. Não sendo portanto uma estória  com o intuito de mostrar um pais com a mão pesada dos nazis, no nascedouro  da ditadura  antes da guerra.


Cenas de violência pre nazis acontecem, mas  não são mostradas com o  intuito de 
nos  chocar e criar  momentos negativos.


 O filme não pode ser classificado apenas como um musical. É um drama com cenas musicais, um filme que pode ser também classificado como um clássico.  Uma bela estória, ótimos atores, boas músicas e  um retrato de uma época que não  deixou grandes e boas lembranças. Entretanto o filme  que certamente ficará na nossa lembrança como uma  válida  e importante produção cinematográfica que infelizmente não mais  serão produzidos com a mesma mestria dos bons tempos.

Como disse o mestre Joel Gray, 
Auf wiedersehen Strangers.

 


Domingo – Dia de Matinê no Cinema Local domingo, 29 de agosto de 2021

DJANGO 2

DJANGO - 2

D.Matt

 

HOJE: WESTERN (RECRIAÇÃO DO MESTRE TARANTINO)

DJANGO 2

Gentileza dos colunistas Cicero Tavares e D.Matt

(Tarantino foi buscar no spageth western inspiração para criar no ambiente western americano uma nova saga westeriana, usando apenas o titulo Django, como homenagem à sua inspiração) 

 

   Poster do primeiro filme Django (1966), do diretor Sergio Corbucci
      

                        

As primeiras imagens do fantástico filme DJANGO (1966), produzido e dirigido pelo talentoso diretor Sergio Corbucci, captadas pela lente do diretor de fotografia Enzo Corboni, nas primeiras cenas do filme, mostram um cenário místico, sombrio, com a quadrilha do general Hugo Rodriguez e a do Major Jackson se digladiando, com este tentando, a todo custo, enforcar ou queimar viva uma prostituta indefesa no deserto, lembram o cenário do sertão à época de Lampião, o anti-herói místico da caatinga, quando cangaceiros e volantes perseguiam suas vítimas indefesas para cometer atrocidades, furiosos por arrancar-lhes a ferro em brasa confissões inexistentes sobre paradeiro de b andos e soldados inimigos. Embora ficção, esse filme retrata com inteligência a realidade vivida no sertão nordestino no início do século XX, quando os cangaceiros, sobre o comando de Lampião, aterrorizavam na caatinga, saqueando, roubando, seqüestrando, matando e incendiando fazendas e propriedades, já castigadas pelo sol inclemente. 

O confronto entre Django e os capangas do Major Jackson travada no meio do oeste, onde mais de quarenta capatazes morrem sobre a mira da metralhadora do homem solitário prova o talento do diretor que, em momento algum perde a mão na condução da batalha. Somando-se a esse filling cinematográfico inusitado, assiste-se a recriação de uma cena antológica: o ataque ao Forte Cheuriba do Major Jackson por Django e o general Hugo Rodriguez, com ambos utilizando para esse feito o estratagema do Cavalo de Tróia, como uma cartada bem planejada para matar todos os soldados do sanguinário major e depois saquear todo ouro que estava armazenado no porão do forte.

O misticismo do filme, sendo essa visão um dos fatores do seu grande sucesso para a época, em todo desenrolar da história; a cena do embate final entre Django, com as duas mãos esmagadas pelos capangas do general Hugo, diante das cruzes no cemitério e o fuzilamento dos soltados do Major Jackson e dele por um homem quase impotente, torna o filme um clássico cinematográfico cultuado até hoje por diretores, atores e aficionados do spaghetti western, passados mais de cinquenta anos do seu lançamen to.

Nesse filme, vê-se que os cenários   não procuram retratar uma cidade do Oeste. Na verdade não tem nada que identifique como uma cidade verdadeira. É apenas um amontoado de fachadas em escombros, coisas velhas sem nenhum cartaz ou dizeres indicando  a sua utilidade, o que é muito importante. 

Todo o cenário da cidade está fotografado com tons sombrios, tudo em quase preto e branco, sem nenhuma cena colorida.   Parece uma cidade do umbral, sem nenhuma vida ou cor, sem nenhuma árvore, tudo escuro, como se estivesse situada às portas do inferno.  Talvez tenha sido essa a intenção do diretor para preparar psicologicamente o telespectador para todo o drama que vem a seguir. 

As mulheres do bar não são personagens reais, são figuras quase abstratas posicionadas naquele cenário com a função de  mostrar a irrealidade daquela cidade. A maquilagem delas   mostrada no rosto é propositalmente exagerada, debochada, horripilante, quase uma máscara de horror, prenunciando  os escândalos e violências futuras. Aliás, todo o filme  exibe uma maquilagem de máscara, com exceção do ator principal. 

O enredo começa de maneira empolgante. Ninguém fica imune da  surpresa muito original na descoberta do conteúdo do caixão.  O diretor segurou o filme com mão firme e muita inteligência,  instigando a curiosidade do espectador que não desvia sua atenção da tela nem por um segundo.

Os atores,  experientes, todos se saem muito bem, muitas vezes – nota-se - que a super representação é  exigida pelo diretor, que deseja mostrar que aquilo é uma fábula encenada e não a reprodução da realidade, uma sacada de mestre do diretor Sergio Corbucci. 

Não se vê no cenário de filmes de faroeste outro ator que pudesse interpretar melhor o personagem Django como Franco Nero.  Ele está perfeito e ao final, quando  termina a cena do cemitério, já começamos a sentir saudade do filme e de seu personagem principal, que ficará sem dúvida para sempre no cenário western em geral. Não só do spaghetti western, mas em todos os gêneros. 

A direção do mestre Sergio Corbucci  é impecável.  Em algumas cenas sentem-se que estão exageradas ou super representadas, mas na verdade este foi um  meio inteligente que o diretor encontrou para dizer explicitamente aos telespectadores que aquilo não era realidade e sim cinema.                           

                   

                       Poster do filme Django Livre (2012), do diretor Quentin Tarantino

 

Para produzir e dirigir seu neoclássico spaghetti western, Django Livre (2012), uma homenagem ao diretor Sergio Corbucci, o  diretor Quentin Tarantino  contou  com um elenco soberbo. Em destaque, além do ator principal  Jamie Foxx,  recém vencedor de um prêmio, o Oscar de melhor ator, em excelente performance, apresentou-nos  uma atuação fora de série do ator Leonardo DiCaprio, que pela primeira vez demonstrou ser um ótimo ator, com um grande futuro no cinema, o que já se confirmou em filmes recentes.

 

Entretanto há que ressaltar que mais um grande ator  tem atuação brilhante, Samuel L. Jackson, que rouba todas as cenas em que aparece, com uma atuação brilhante, tão importante que o diretor Quentin Tarantino o escalou no seu filme seguinte “Os Oito Odiados” (2016), como ator principal, tendo uma atuação memorável.

 

A história escrita por Tarantino é explorada com virtuose,  alguns suspenses detalhistas  e cuidados máximos, como devem  ser os grandes filmes de faroeste. Esse feito sublime ele aprendeu com o mestre maior: JOHN FORD.

 

A narrativa flui com algumas surpresas e cenas que demonstram que o diretor Quentin Tarantino criou ali um mundo irreal, todo seu, impossível de ser verdadeiro, como nas cenas em que o negro Django, senta à  mesa de refeições com o racista escravocrata  criador de negros lutadores, como se fosse  criação de cães de luta. Um absurdo  inimaginável naquela época.  Outro deboche do diretor está na cena em que o negro Django entra na fazenda montado num cavalo com toda imponência e orgulho, como se fosse um grande fidalgo, vestido com uma roupa ridícula, azul claro, len& ccedil;o  de luxo branco e é convidado a  se hospedar na mansão com quarto privativo.  Esta cena cria uma grande confusão  na cabeça do chefe dos escravos, o também escravo  Samuel L. Jackson, que não acredita no que está vendo e se rebela contra as ordens do seu senhor e proprietário.

 

Essas inovações do diretor Quentin Tarantino demonstram que os diretores têm e devem sempre ter inteira criatividade ao  imaginar os seus filmes, pois a criação dos fatos e movimentos do enredo não podem e não devem ter regras fixas, se  a finalidade é criar uma obra pessoal, baseada num universo já conhecido e que nada tem a ver com a realidade.

 

O diretor italiano Sergio Corbucci criou seu spaghetti western, o místico Django (1966), um clássico; Quentin Tarantino, seu discípulo, reinventou o clássico com seu Django Livre (2012), eternizando o gênero. 

 

a) Trailler Oficial DJANGO (1966):

 

b) Trailler Oficial de DJANGO LIVRE (2012):


Domingo – Dia de Matinê no Cinema Local domingo, 22 de agosto de 2021

DJANGO - UM CLÁSSICO IMPERDÍVEL
HOJE: WESTERN  ITALIANO (SPAGETH WESTERN), QUE CONTRIBUIU PARA A CONTINUIDADE DO GÊNERO NA ITÁLIA E TAMBÉM SUAS SEQUÊNCIAS NOS STATES
 
DJANGO - UM CLÁSSICO IMPERDÍVEL
 
Gentileza dos Colunistas Cícero Tavares e D.Matt
 



                  (Na próxima semana, domingo dia 22  apresentaremos 
                  o filme DJANGO II  , uma homenagem do diretor Tarantino  que
                  soube reconhecer a importância desse western italiano.)



TEMA DO FILME:  UM FILME WESTERN DIFERENTE, COM UM AMBIENTE SURREALISTA, FILMADO A CORES, POREM, DEVIDO AO SURREALISMO, NOTA-SE QUE A CIDADE NÃO TEM COR DEFINIDA,  MOSTRANDO UM ASPECTO SOMBRIO, QUASE EM PRETO E BRANCO, COMO UMA BRUMA ESPESSA COBRINDO TODOS OS CENÁRIOS, O QUE NOS PREPARA PARA A HORA DA VERDADE. OU SEJA A ABERTURA DO  GRANDE FÉRETRO CONTENDO  EM SUAS ENTRANHAS A MORTE CERTA E VINGADORA.


UMA OBRA DE ARTE DO DIRETOR  SERGIO CORBUCCI.
 

Texto escrito em parceria com o  colunista d.Matt e Cícero Tavares

Dedicamos ao cinéfilo Altamir Pinheiro de quem estamos muito saudosos  e seu neto Antonio Miguel, o cowboy. Estamos aguardando com grande expectativa, mais um de seus extraordinários artigos, sempre dentro do tema  SEGUNDA SEM LEI '  QUE ESTÁ FAZENDO MUITA FALTA

 

             

O caixão fantamasgórico de Django

A cena de abertura do primeiro filme de faroeste da franquia “Django” é épica, memorável,monumental, icônica e irretocável. A câmara focando um homem solitário, arrastando um caixão fantasmagórico no lamaçal caótico, tendo como painel de fundo um cenário natural, maçante, acompanhado da antológica trilha sonora “Django”, composta pelo maestro argentino-italiano Luis Enríquez Bacalov, é apropriada para o clima sinistro do western.

“Django” conta a história de um andarilho misterioso, acompanhado de sua poderosa metralhadora, disposto a vingar a morte de sua esposa, assassinada por uma gangue rival que agia na região fronteiriça do México. Para conseguir seu intento ele fez um “acordo” com um dos chefes de uma gangue comandada pelo general Hugo Rodriguez, bandido frio, calculista, ambicioso, contra seu oponente, o Major Jackson e seu bando de facínoras, sanguinários.

É um dos melhores exemplos de filmes do gênero western spaghetti, com uma trilha sonora agitada, duelos de armas e um anti-herói de poucas palavras, que arrasta um caixão mortífero. O visual magnífico do filme é devido ao trabalho do diretor de arte Carlo Simi, que já havia criado personagens e cenários para filmes anteriores do diretor Sergio Corbucci, como o “Minnesota Clay.”

Antes e depois da primeira cena antológica do confronto entre “Django” com a metralhadora e os mais de quarenta bandidos do Major Jackson em frente ao Saloon do Nathaniel, ficava a impressão de que estávamos diante de mais um western lugar-comum, piegas, mas ante a competência do diretor Sergio Corbucci o que vemos é um filme com cenário de batalha expertise, cruenta, épica, que até hoje fascina crítico e cinéfilo que o elogiam como uma obra-prima do western spaghetti.

Como diz o  colunista  de  western D.Matt., autor do Prefácio do livro “NO ESCURINHO DO CINEMA”, do cinéfilo-historiador Altamir Pinheiro que atualmente tem um excelente Blog    que a
pode ser acessado ( CHUMBO GROSSO ))  “DJANGO l, ou simplesmente DJANGO”, é o primeiro, o único e o verdadeiro.  Esse filme tornou o  ótimo ator Franco Nero famoso e ao  citarmos  DJANGO, o filme, todos  logo identificamos o primeiro e o melhor da franquia.  Sim o nome “Django” tornou-se uma franquia, pois existem  muitas dezenas de filmes relacionados ao personagem famoso, talvez  cheguem perto de meia centena de filmes, todos com adjetivos diversos,  títulos chamativos, mas nenhum chegou perto do original que permanece eterno, com a matriz intocada, sem nada que possa abalar a sua merecida fama.

 

No ponto de vista cinematográfico, o único filme que chegou   quase a merecer comparação com a qualidade do original, foi o filme “Django Livre” do diretor Quentin Tarantino. A comparação que se faz é apenas pela qualidade  do filme, seus valores cinematográficos, seu ótimo elenco, que contou acertadamente com a participação do “Django” original,  Franco Nero, numa pequena atuação, mas uma grande  e merecida  homenagem prestada pelo cineasta Tarantino ao grande ator, criador do personagem  cujo  nome,  até hoje nos emociona. O filme  cria um clima místico e quase sobrenatural, quando o personagem aparece do nada arrastando um caixão, como uma aparição fantasmagórica deixando todos apavorados e surpresos, sem saber o que esperar. O diretor Sergio Corbucci soube segurar com muita competência e profissionalismo essa atmosfera sombria.

 

Nada de parecido tinha sido visto antes nos filmes do gênero western, e a expectativa vai num crescendo para todos  os personagens do vilarejo e muito importante,   também para nós os expectadores do filme, pois o que vai ou poderá acontecer é uma incógnita.

 

Mas o diretor  Sergio Corbucci mostrou que é um mestre, pois os fatos vão se sucedendo até que  afinal o inesperado é  revelado e com  a sucessão dos acontecimentos, os  vilões  são enfrentados e como  em todo bom filme de faroeste: o mocinho vence no final para satisfação de todos.

 

Ressalte-se  o  grande número de filmes que levam o nome “Django”, com dezenas de atores que fizeram  o personagem-título, mas como se pode ver   pelos enredos, nenhum deles é a continuação do filme original. Não que não sejam bons atores, mas sim porque  o personagem do primeiro é muito místico, sombrio, e o ator deu ao personagem-título um desempenho extraordinário que nenhuma imitação conseguiu alcançá-lo.”

 

Em cena antológica dentro do oeste, Django arrasa com os quarenta capatazes do Major Jackson, que foge desmoralizado, com a cara cheia de lama dum tiro de COLT 45.

Django – La sorpresa dentro la bara 

 

 


Domingo – Dia de Matinê no Cinema Local domingo, 15 de agosto de 2021

RIO BRAVO - ONDE COMEÇA O INFERNO

  

HOJE: WESTERN - UM DOS MAIS IMPORTANTES FILMES DO GÊNERO
 
RIO BRAVO - ONDE COMEÇA O INFERNO
 
Gentileza dos Colunistas Cícero Tavares e D.Matt
 
 
 

(ESSE É UM DOS MAIS IMPORTANTES FILMES DO GÊNERO WESTERN. Para começar, é um filme que reúne um elenco excepcional. É uma grande produção   westerniana. Atores premiadíssimos como o famoso Walter Brennan, ganhador de 3 Oscars, e conta também com  o simpático cantor/ator  RICK NELSON em um um importante papel, no qual ele demonstra a sua grande capacidade, não só como cantor, mais também como excelente ator, Para salientar,  a  importante cena passada na prisão, quando ele mais Dean Martin junto com as gaitinha do Walter Brenann  nos proporcionam um belíssimo tempo musical com resultados  muito acima  do esperado. É um dos meus filmes gênero western  favoritos e  o  recomendo com grande entusiasmo.D.Matt)                              
 
 

RIO BRAVO (1959)   -  ONDE COMEÇA O INFERNO 

      

Esse clássico filme western que fez a diferença na reformulação dos faroestes que marcaram a década de 1950, expondo o ciclo vicioso das relações sociais e políticas, a vitória constante dos que podem subornar pessoas ou pagar justiceiros para se ver em livres de problemas ou a morosidade e ineficiência da lei para ajudar a quem de fato precisa. É evidente que a obra adota uma atmosfera e um caminho ideológico distintos do clássico Matar ou Morrer, mas no fim, acaba não sendo assim tão diferente dele em termos de crítica social e comportamento humano. 

A história tem Dude ‘Borachón’ (Dean Martin, provando que podia fazer um bom papel dramático) às voltas com o vício em bebida e as memórias amarguradas de uma decepção amorosa; tem o Xerife John T. Chance (John Wayne, como sempre incrível, mas aqui apagado algumas vezes pelo brilho de Martin), um homem desesperançado e pouco afeito a afetos – o típico durão dos westerns; e, também, a dupla Colorado Ryan (Ricky Nelson, o roqueiro de 17 anos com quase nenhuma experiência no cinema) e Stumpy (Walter Brennan, ator vencedor de 3 Oscars em excelente atuação cômica), todos eles digladiando-se em sua mesquinhez, dúvidas, medos e, ao mesmo tempo, tentando fazer o bem para a própria cidade sem ter o apoio dela – e o mais interessante: sem querer demonstrar que as coisas não iam nada bem.  

O problema das boas aparências a serem mantidas fica ainda mais evidente quando o papel da atriz Angie Dickinson é destacado no roteiro e o medo do Xerife John Wayne em relação ao seu ambiente e a insegurança inconfessa em si mesmo vêm à tona. É fato que esse é um ponto comum de alguns dos filmes de cowboys clássicos ou do período de transição para a decadência do western nos anos 60, mas a questão aqui é trabalhada c om um tom de culpa e desesperança tão fortes que a faz especial em comparação às outras abordagens. 

A inesquecível trilha sonora de Dimitri Tiomkin (cujo Degüello dá a macabra marcação que em Matar ou Morrer é feita pelo relógio), o notável personagem de Dean Martin e a direção meritória de Howard Hawks dão a Onde Começa o Inferno todos os ingredientes de um filme inesquecível. O que atrapalha nessa afirmação é o modo como o roteiro orquestra o romance – o ponto fraco do filme, unicamente pelo modo como é finalizado. Porém, a estrutura da obra não é fundamentalmente abalada e o espe ctador termina a sessão com aquela alegria que normalmente tem ao assistir a um grande épico.  

Dificilmente o expectador ao assistir um filme western ou de qualquer outro gênero, sentirá, desde a primeira cena, uma perfeição em todos os sentidos na feitura de um filme, como neste caso em que o filme com o título original de Rio Bravo  nos conduz através de todas as cenas até  o final esperado. 


Esse filme é mais conhecido pelo título original Rio  Bravo,  porque o subtítulo brasileiro não faz jus  ao seu enredo e não  nos prepara para a obra-prima cinematográfica que vamos assistir. 


A começar, depois dos letreiros, temos aproximadamente uns  cinco a dez minutos de magníficas cenas de ação silenciosa, sem estardalhaço, nos preparando para a história que estar por vir.  Todas  essas cenas iniciais são mudas, sem qualquer diálogo ou sonoplastia externa.  Quando começa realmente a ação, então começam também os diálogos precisos, econômicos, bem  colocados, sem excessos, com muita economia de palavras e um máximo de ação com resultados de grande impacto. 

  
O elenco é magistral, não se consegue outra palavra para definir a excelente escolha do elenco, não só dos artistas principais, como também dos coadjuvantes, todos mestres na arte de interpretação que deixa o telespectador sem fôlego. 

Dizer que John Wayne e Dean Martin estão ótimos, não é necessário, mas temos Rick Nelson em grande atuação, e a participação extraordinária do grande ator  Walter Bernnan,  já ganhador de três prêmios Oscar e que neste filme rouba  todas as cenas em que aparece nos oferecendo uma atuação de grande histrionismo  que sem dúvida mereceria mais um Oscar. O cantor Ricky  Nelson, nesse filme, está fora de série com uma atuação só bria, precisa e com excelente aparência de um mocinho  boa praça que se oferece para ajudar o xerife na luta local. O papel  entregue ao Ricky Nelson, na época, tinha sido oferecido a Elvis Presley, mas o mesmo recusou aceitar por conselho do seu agente mentor, pois o papel não era o principal.  

Sorte do diretor, pois o Elvis, que é excelente cantor, como ator é uma nulidade total. Alguém já assistiu  a  um filme  no qual J.Wayne apaixonado e dando beijos longos e  sensuais com a sua parceira de cena?  Pois nesse filme acontece  em várias cenas.  A sua parceira apaixonada não é  nada menos que a sensual, belíssima,  e muito  apreciada como artista e de grande presença, Angie Dickinson que  apesar de baixinha de 1.65m contracena em cenas tórridas com o grandalhão J. Wayne  de 1,90m ou mais.  A presença de A. Dickinson é muito aguardada durante o fi lme, pois a sua figura  é um colírio para os espectadores, sua beleza não tem preço, ela atua com todo charme que ela sabe explorar como artista e mulher desejada. 

Dean Martin faz o  personagem costumeiro de Dean Martin, mas nesse filme ele  se supera com uma atuação realmente fora de série.  Faz um ajudante de xerife   viciado  em bebida borrachon, que o diretor conseguiu tirar uma atuação  de grande efeito.   Suas cenas como "bêbado ou pós bebedeiras"  são perfeitas, nos mínimos gestos, olhares turvos, caminhar inseguro, boca seca, mãos trêmulas,  sem exageros ou super atuação. Dá o recado  com grande atuação. A música do filme  foi composta pelo grande e premiado maestro  Dimi tri Tiomkin  que  dispensa comentários. 


Sobre música, tem uma passagem musical dentro da delegacia, em que Dean Martin e Ricky Nelson dão um show de talentos e  comprovam que são grandes artistas, eles cantam a musica "MY PONEY AND ME" em dueto de forma  magnífica,  acompanhados por uma gaitinha soprada pelo Walter Brennan.  Essa cena já vale por todo o filme. É antológica. 

Grande direção de um dos maiores diretores de western, HOWARD HAWKS. É como se fora um talentoso maestro dirigindo  uma sinfonia numa orquestra de  grandes músicos talentosos com os quais se pode  capacitar e compor excelente música, desde que a condução seja precisa e bem ensaiada. Esse filme não poderia ser melhor, nem mesmo se fosse dirigido por outros mestres famosos  no gênero western, como John Ford, George Stevens ou mesmo Sergio Leone.  

Rio Bravo é um grande clássico difícil de ser superado.  

a)  Rio Bravo (1959) Official Trailer em HD

 

 

 

b)    RIO BRAVO(1959) - John Wayne, Dean Martin, Ricky Nelson e Walter Brennan em cena clássica

 

 

 


Domingo – Dia de Matinê no Cinema Local domingo, 08 de agosto de 2021

ERA UMA VEZ NA AMÉRICA (CRÔNICA DE CÍCERO TAVARES E D.MATT, COLUNISTAS DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

        HOJE: FILME SOBRE O SOBREVIVER DE UMA COMUNIDADE JUDAICA EM NOVA YORK - UMA AVENTURA SEMIPOLICIAL DO MESMO AUTOR DE ERA UMA VEZ NO OESTE 

 

ERA UMA VEZ NA AMÉRICA

Gentileza dos colunistas Cícero Tavares e D.Matt

 

 

 

Cenário de Era Uma Vez na América na Ponte do Brooklyn, em Nova York

  

Era Uma Vez Na América é o deleite audiovisual definitivo de todo cinéfilo que se preza. Uma grande História de temas universais, que fala um pouco para todo mundo sem muito esforço. Longo - exatamente como tinha de ser -, este não é apenas um filme de gângster do qual nós já estamos habituados. É uma verdadeira aula de narrativa, com um desenvolvimento meticuloso magistral com começo, meio e fim. Ao fim da verdadeira jornada que é assisti-lo, Era Uma Vez na America, já faz parte da vida do espectador, e assim permanece por dias e dias; anos e anos.  

 

Assim como Magnólia, O Senhor dos Anéis, Bem Hur e outros longas de mais de 3 horas de duração, há vários momentos que à primeira vista poderiam ter sido cortados, mas que ao repassá-los na memória nos damos conta do quanto belos e essenciais são e chegamos à conclusão de que nenhum deles deveria ser cortado. Não se mutila uma obra de arte.  

 

Do elenco, nem precisa delongar muito, absolutamente perfeito, dispensa maiores comentários. Robert De Niro é o protagonista principal de todo filme que se possa imaginar, mas quem consegue roubar a cena mesmo é James Woods. Enfim, poder-se-ia escrever um livro inteiro apenas exaltando o quanto primoroso é este filme, os poucos problemas que podemos encontrar aqui e ali são completamente perdoáveis dado ao saldo positivo colossal do conjunto da obra. E a culminação dos arcos de Noodles e Max naqueles 25 minutos finais é de um brilhantismo narrativo rico de significados e entrega emocional de um nível que não se vê mais no cinema. Uma fábula perfeita das várias imperfeições humanas. Uma obra-prima atemporal. 

  

De  início chama atenção o local escolhido pelo diretor para o cenário do filme. Um bairro  Judeu de Nova York e todos os personagens, cenários,  movimentos de ruas, negócios, tudo gira em torno dos judeus. Em todo desenrolar do filme  não se escuta um sotaque italiano. Os atores principais Robert de Niro, James Wood, Elizabeth  MC Govern, e até Joe Pesci num pequeno papel se vestem  em personagens judaicos, com  leveza, sem qualquer vestígio de caricatura ou preconceito. 

  

O filme depende quase que cem por cento da montagem, porque não tem uma continuidade definida e  passa por diversas épocas entrelaçadas, montadas com grande genialidade por NINO BARAGLI, que com certeza teve  a orientação do mestre Sergio Leone, pois só uma mente cinematográfica genial poderia  dar um sentido naquele enorme caldeirão de acontecimentos, todos entrelaçados com tempos definidos claramente. 

  

Todos os atores souberam captar as instruções do mestre Sergio Leone e  se entregaram de corpo e alma, criando personalidades distintas, bastante  reais, com um resultado  de alta qualidade.   As atrizes principais, Elizabeth MC Govern e  Tuesday Weld têm um desempenho  fora de série, principalmente a excelente atriz Mc Govern  que  pouco aparecia em filmes  e durante vários anos participou da premiadíssima Série  de TV inglesa  Dawton Abbey, com um trabalho realmente extraordinário. E no filme em curso não fez diferente.  

  

Os personagens de grande parte do início do filme foram interpretados por atores jovens muito talentosos e  com atuações estupendas, dignas dos seus  companheiros atores adultos.  Uma cena extraordinária, inesquecível, é quando um dos garotos compra um doce para oferecer à namorada, com sentido  de seduzi-la sexualmente.  Enquanto espera a chegada da garota, ele começa a provar  o doce e cada vez mais  gulosamente vai comendo-o, numa ânsia de  prazer, até devorá-lo completamente. Isto com gestos chaplinianos. Grande atuação do jovem ator, numa cena que mesmo dirigida pelo  mestre Sergio Leone deve ter sido resultado de uma dezena de takes até chegar  ao resultado extraordinário desejado pelo diretor. 

  

É necessário ressaltar o trabalho primoroso da menina atriz que faz o papel da Elizabeth Mc Govern  quando jovem.  Que presença de  cena, que mestria na exibição da sua expressão corporal!   É uma grande atriz, num corpo infantil. 

   

A  trilha sonora, soberba, está com certeza entre as duas melhores entre as centenas de  trilhas compostas pelo mestre Ennio Morricone.  Que são, respectivamente, “Era Uma Vez No Oeste"  e "Era Uma Vez Na América." 

  

É uma trilha no sentido clássico Ennio Morriconne, suave, melodiosa; sem  altos e grandes movimentos auditivos. É uma música para ser ouvida e mais ainda para ser sentida, muito nostálgica, sempre ao fundo das cenas, numa melancolia   triste que nos enleva. O tema principal é apresentado por intermédio de uma flauta de Pann. Pontua todo o filme e quase não chama atenção, porém o  efeito é inesquecível. 

  

Este filme, devido a sua montagem inédita e também por sua duração de várias 

horas, não foi devidamente apreciado na época de lançamento. Porém, hoje é considerado um clássico e um dos mais geniais filmes do diretor Sergio Leone. 

  

A conclusão a que se chega é que palavras não são suficientes para descrever a grandiosidade desta obra-prima, dirigida pelo inovador e sensacional Sergio Leone. Primeiro filme lançado em DVD no mundo, tamanha é a sua importância. Era uma Vez na América é um dos filmes mais injustiçados de todos os tempos, devido à falta de liberdade do diretor, no que tange à edição. O filme foi lançado com um corte de mais de uma hora e meia, pois, foi considerado longo demais pelos produtores. Um verdadeiro pecado que, dizem, causou o declínio na saúde do diretor. Quem assistiu ao filme na íntegra não consegue imaginar o corte de qualquer cena, muito menos de quase a metade da película. O tema é épico. A trilha sonora de Ennio Morricone é impecável e o elenco, fantástico. A referida obra, fosse ela lançada em condições ideais, conquistaria, de certo, inúmeros Oscars.  Melhor Filme, melhor diretor, melhor ator coadjuvante (James Woods), melhor roteiro original, melhor fotografia, melhor figurino, melhor trilha sonora, dentre outras categorias do tão relevante prêmio da academia. Assistir a este filme é fazer uma imersão em uma história que envolve a amizade, o romance, a lealdade, a violência do mundo dos gângsters, além de abordar questões sociais atemporais, tudo isso ao som da belíssima trilha sonora de Ennio Morricone. Era Uma Vez na América é imperdível para qualquer amante do cinema. 

 

TRAILER OFICIAL LEGENDADO DE ERA UM AVEZ NA AMÉRICA:

 


Domingo – Dia de Matinê no Cinema Local quinta, 29 de julho de 2021

ERA UM A VEZ NO OESTE

HOJE: O MELHOR FILME DE FAROESTE DE TODOS OS TEMPOS

ERA UMA VEZ NO OESTE (1968)

GENTILEZA DO COLUNISTA CÍCERO TAVARES

       

ERA UMA VEZ NO OESTE foi mais uma obra-prima do proeminente diretor Sergio Leone. Só não superou a si mesmo devido ao insuperável O Bom, O Mau e o Feio (Três Homens em Conflito-1966), último filme da Magna Trilogia dos Dólares. Mas sem dúvida esse é um clássico do faroeste superlativo, e por que não do cinema como um todo. Superou filmes que à época eram endeusados por muitos “críticos” como melhores do gênero western, como Rio Bravo (1959) - Onde Começa o Inf erno e Matar ou Morrer (1952)...  

Era Uma Vez No Oeste mostra a realidade nua e crua do oeste, com homens cruéis lutando para sobreviver a ermo, utilizando-se de métodos torpes. Para quem gosta de cinema essa obra-prima é insuperável. Fica a dica, para quem não assistiu O Bom, O Mau e o Feio, também assisti-lo, pois se trata de uma magna obra superior, de importância cinematográfica superlativa, épica. 

Era uma Vez no Oeste é muito mais do que um dos maiores faroestes já feitos. Essa obra-prima de Sergio Leone transcende qualquer categorização por gêneros ou subgêneros e alcança facilmente o panteão dos melhores filmes que já sagraram as telonas. É, talvez, o ponto alto da carreira do diretor, que demonstra uma impressionante maturidade de temas, fotografia, cenografia, montagem, trilha sonora e um controle absoluto de seu elenco, para alcançar um resultado de se aplaudir de pé.  

 E olha que Sergio Leone nem mesmo precisou se distanciar muito da estrutura que lhe deu todo o renome que tinha quando ele, tentando fugir das ofertas da United Artists e outros estúdios para dirigir mais westerns, não conseguiu recusar o orçamento generoso da Paramount, que vinha encabeçado pela oferta dele trabalhar com Henry Fonda, seu ator preferido e que era sua escolha original para o papel que consagrou Clint Eastwood na Trilogia dos Dólares. Novamente preso ao gênero do qual queria fugir, Leone não se fez de rogado e arregimentou a ajuda de Dario Argento e Bernardo Bertolucci (ambos, à época, críticos de cinema e roteir istas ainda em começo de carreira, com Bertolucci já tendo dirigido, mas nada relevante) para criar a linha narrativa de Era uma Vez no Oeste.  

Essa trinca colaborativa foi extremamente importante para o sucesso que o filme alcançaria e, também, para a atemporalidade dessa fantástica obra (sim, essa fita é merecedora de hipérboles!), pois Leone, Argento e Bertolucci extraíram a essência dos faroestes americanos de grande sucesso à época e trabalharam na inserção desses elementos representativos ao longo de toda a narrativa, mas sem se esquecer dos elementos característicos do faroeste característico do próprio Leone, como o misterioso personagem sem nome, (no caso “Harmônica”), vivido por Charles Bronson) e o passo desacele rado, que ganhou contornos próprios em Era uma Vez no Oeste que, logo em sua longa abertura, nos apresenta as aventuras de uma mosca sobrevoando pistoleiros sujos e suados.  

Com a narrativa pronta e uma versão do roteiro já escrita, Leone chamou Sergio Donati, que trabalhara com ele, sem receber créditos, em Por um Punhado de Dólares e outros, para fazer a sintonia que durara um ano. Donati, então, focou em destilar Era uma Vez no Oeste para sua essência, com o objetivo de tornar o filme o mais hollywoodiano possível, mas ao mesmo sem perder a alma do western spaghetti. São de Donati os diálogos marcantes da projeção, além de ter sido ele o responsável por impedir que o filme, depois, fosse muito mutilado para lançamentos em mercados diferentes, ainda que as versõ es feitas tivessem oscilado entre 145 e 175 minutos, mas nenhuma delas realmente se sobrepondo de maneira relevante sobre a outra.  

 Uma grande vitória, sem dúvida. Trabalhando duas narrativas a princípio separadas sobre o conflito gerado com a chegada dos trens e outra uma típica história de vingança, que se misturam com as mais clássicas histórias de bandidos e histórias envolvendo ameaças às terras de alguém.  

 Sergio Leone constrói, sempre com seu passo preciso, detalhista e lento de um western spaghetti, uma rede de tramas envolvendo Harmonica, o herói silencioso que caça o pistoleiro Frank (Henry Fonda) que, por sua vez, assassina a família McBain para abrir espaço para a chegada da ferrovia e coloca a culpa em Cheyenne (Jason Robards), que se une à Harmonica para salvar Jill McBain (a estonteante Claudia Cardinale), ex-prostituta e herdeira da fazenda dos McBain da sana assassina de Frank. Reparem na circularidade do roteiro, que não deixa pontas soltas e encaixa uma narrativa aparentemente solta à outra, demonstrando o excelente trabalho na c onfecção da história e o cuidado na redação do roteiro.  

E Leone não tem pressa em fazer revelações. Não sabemos bem quem é o misterioso homem que toca gaita, que é perseguido por três assassinos no começo, não entendemos exatamente as intenções de Frank ainda que sintamos um certo temor ao ver aquela figura de olhos azuis penetrantes e demoramos a perceber o exato papel de Cheyenne e de Jill na trama. Tudo é mostrado e pouco é dito, mas o desenrolar e a convergência das linhas narrativas são cadenciados à perfeição de forma que diálogos se tornam supérfluos. Os olhares, com os famosos planos detalhes de Leone, cont rastados com tomadas em plano geral, dizem tudo.  

 Somos tragados para a história naturalmente e a longa duração do filme parece passar em alguns instantes, tamanha é nossa fixação na tela. E, permeando o embate, há, mais uma vez, a trilha sonora de Ennio Morricone, um de seus mais impressionantes trabalhos. Desde a gaita narrativa coroando o leitmotif de Harmonica, passando pela música mais forte que caracteriza Frank, até o belo vocal de Edda Dell’Orso, que empresta nobreza e força à Jill McBain.  

 

Talvez não tão memorável quanto à trilha de Três Homens em Conflito, a composição de Morricone para Era uma Vez no Oeste parece, por outro lado, ainda mais integrada à narrativa que no filme com Clint Eastwood e isso talvez se deva ao fato que Leone, em um movimento raro, pediu para Morricone compor a trilha antes das filmagens começarem, de maneira que o diretor pudesse tocá-la durante a fotografia principal, em atitude, hoje em dia, mimetizada por Quentin Tarantino, com suas músicas pop que escolhe pessoalmente e toca nas filmagens.  

 Com isso, talvez, a música de Era uma Vez no Oeste tenha influenciado as atuações e não o contrário como é o usual, resultando em uma mescla que pouco se vê por aí. Ainda falando em som, o trabalho do espectro sonoro em Era uma Vez no Oeste é perfeito, desde a edição de som até sua mixagem, com o uso de sons inspirados pelos westerns usados como referência aliado a um orçamento mais alto, que permitiu um trabalho melhor na finalização, especialmente se comparado com a Trilogia dos Dólares. A união da trilha sonora com os sons do filme e, em vários momentos, com a sub stituição da trilha pelos sons, aumenta a sensação de imersão que a fita proporciona, envolvendo-nos ainda mais profundamente na história da trinca principal de personagens. Era uma Vez no Oeste é um grande triunfo cinematográfico, merecendo figurar em todas as listas dos melhores filmes já feitos. Sergio Leone merece todos os nossos agradecimentos profundos e uma eterna salva de palmas. 

 

ERA UMA VEZ NO OESTE é o melhor filme de faroeste de todos os tempos!  

 

a) TRAILLER OFICIAL DE ERA UMA VEZ NO OESTE
 
 
 
 
b) POR QUE VOCÊ PRECISA ASSISTIR A ERA UMA VEZ NO OESTE
 
 

 

c) CURIOSIDADES SOBRE O FILME ERA UMA VEZ NO OESTE E O QUE ACONTECEU COM O ELENCO PRINCIPAL
 
 

 

 


Domingo – Dia de Matinê no Cinema Local domingo, 25 de julho de 2021

O LEOPARDO

HOJE: FILME SOBRE A  DECADÊNCIA DA VELHA NOBREZA ITALIANA

O LEOPARDO


GENTILEZA DOS COUNISTAS CÍCERO TAVARES DE MELLO E  DIRCEU MATTOS (d.Matt)

 

      

     Burt Lancaster, Alain Delon e Claudia Cardinale

 

O Leopardo (1963), a obra-prima de Luchino Visconti é uma mistura de sensações, que faz conviver elementos tensionados sem resolvê-los completamente, sempre respeitando a complexidade do que não se unifica. 

O filme reconstrói, com uma fotografia magistral, o período da atmosfera vivida nos palácios da aristocracia durante o conturbado reinado de Francisco II das Duas Sicílias e o “Risorgimento,”  longo processo de unificação dos estados autônomos que originaram o Reino da Itália, em 1870.   

O cenário político italiano é reconstituído com o intuito de interferir em dilemas dos personagens ficcionais, o confuso processo de unificação italiana, do príncipe Don Fabrizio Salina (Burt Lancaster) testemunha da decadência da nobreza e da ascensão da burguesia. Num cenário caótico de fortes contradições políticas ele luta para manter seus valores.  

Em meio à opulência e ruína, jogo de forças entre a nostalgia do passado e a mola propulsora que dirige o presente ao futuro. Bailes aristocráticos, quadros valorosos, tapeçarias cuidadosas, bustos estatuários, cômodos intermináveis, a grandeza, o encanto visual; em paralelo, o pó, a melancolia, o vagar paralítico, a indefinição, o tédio, a morbidez, a iminência do fim.   

A experiência de apreciar o filme é única, visto que a grandiosidade de Visconti é potencializada, o primor de sua direção é destacado e o talento da composição musical de Nino Rota se realça pelo poder sonoro. Quando o desfecho é anunciado pela legenda do “fim” (“fine, em italiano), a gente aplaude, entusiasmado. Que beleza, que ternura, que tessitura encantadora do estilo Visconti! Filmes como esse renovam o contrato de amor do cinéfilo com sua arte. Mais ainda: justificam a razão de ser da nossa espécie.  

O cineasta Luchino Visconti  (um nobre italiano "Conde de Lonate  Pozzolo",) um artista de grande sensibilidade, criador de obras  de arte, no cinema e no teatro italiano,  entregou-se de corpo e alma na criação deste filme que é a versão cinematográfica do livro clássico italiano   Il Gattopardo.   O filme, apesar de  toda produção e direção de arte ser genuinamente italiana, por questões comerciais imposta pelos  produtores, tem versão falada em italiano e versão em Inglês, assim como, devido a imposição dos financiadores americanos,  Visconti   foi obrigado a aceitar como astro principal o ator norte americano  Burt Lancaster, que não era a sua escolha prevista. 

 

Sorte do Visconti, pois neste filme o ator americano Burt Lancaster premia o telespectador com  um desempenho memorável, talvez o maior da sua gloriosa carreira, quando personaliza o Príncipe, vivendo em  um esplendor já agonizante da  nobreza Italiana, que continua  escondendo a crua realidade da  decadência, com um Fausto desgastado e ilusório.  


A  produção  de arte é de extremo bom gosto, a montagem é de  excelente qualidade, pois  durante todo o filme intercala cenas do  fausto atual, com cenas  dos aposentos vazios, empoeirados e  mobiliário desgastado mostrando que na atualidade é  o que restou da esplendorosa  e  luxuosa  "corte" dos nobres retratados. 


O elenco  escolhido a dedo pelo  requintado diretor, é composto por ótimos atores, todos  muito convincentes nos seus personagens, atores consagrados como Alain Delon e a magnífica Claudia Cardinale. 


A presença de Claudia Cardinale é um prêmio, não só para o filme, como também para os expectadores, sua simpatia, beleza e  grande presença em cena. Dá ao filme e em particular em todas as cenas em que participa uma demonstração de que estamos diante de uma estrela maior.  As suas cenas com o príncipe são magníficas. Ela demonstra sua versatilidade com grande lance e olhares sedutores, o modo como ela  seduz  o príncipe, para obter o seu apoio e ser aceita na nobre família como uma igual, é simplesmente impagável.  


A saga relatada e exposta  no  filme é bem explícita, quando demonstra, sem discursos, poucos fatos e ações e apenas comportamentos, de todos os personagens e principalmente do príncipe de que a nobreza está decrépita e que é preciso  uma revolução, mudar tudo, para que possa continuar  existindo teimosamente como sempre existiu. “  Nossos aplausos a Burt Lancaster, ao filme e ao diretor Luchino Visconti.

TRAILLER DO FILME:

 


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