Cartaz de 2018, informando a estréia de Green Book
Esse filme foi inspirado num acontecimento real. Inclusive a história dos fatos ocorridos foi escrita por Victor Hugo Green e o roteiro adaptado foi produzido por Nick Vallelong, o filho de um dos personagens principais, o ítalo americano Tony Lip (Vallelog), ex Leão de Chácara da Boite Copacabana em Nova York.
Após algumas escaramuças na Boite, com a participação de membros da Máfia, participações essas que o personagem Vallelog, como Leão de Chácara, teve envolvimento importante, a Boite Copacabana fechou algum tempo para “reparos” e o herói ficou desempregado.
Aqui entra uma parte interessante, pois quase todo mundo pensa que na América existem centenas de empregos fáceis sempre à disposição de todos, com muita facilidade de contratação.
Ledo engano, apesar de ser uma nação rica, próspera e democrática, nem tudo é tão fácil, e a busca por emprego para poder sustentar a família, algumas vezes é bastante difícil e nem sempre os resultados são encontrados facilmente, principalmente para um personagem que conhece os elementos mafiosos, sempre atuantes em locais que escorregam dinheiro com facilidades, e procura não se envolver muito profundamente naqueles ambientes bizarros, para dizer o mínimo.
O personagem Tony Lip (Vallelong) com antecedentes racistas, não encontrando outra saída, a não ser topar aquilo que melhor lhe parecer, não perde a oportunidade de aceitar um trabalho para ser motorista de um grande artista (pianista de Jazz) negro, rico e sofisticado, famoso e muito elogiado – realmente existiu – para ser o seu motorista em uma viagem às cidades nos estados racistas e preconceituosos do sul do país, nos quais ele se apresentará como artista notável e célebre. Nessas cidades, seus concertos já foram programados antecipadamente e ele se apresenta para a “elite” local que deseja demonstrar a sua cultura musical, patrocinando um artista renomado, mas sem nenhuma possibilidade de aceitá-lo como tal, recusando-se mesmo a permitir que o artista negro pudesse fazer refeições no mesmo restaurante dos hotéis de luxo e lugares reservados à elite branca.
O protagonista passa por diversas situações humilhantes quando está afastado do piano, e passa a ser um negro intocável, sem qualquer distinção ou direito.
Situações incríveis vão se sucedendo à medida que o roteiro segue pelos caminhos racistas do Sul, e o seu motorista tem em algumas oportunidades de tirá-lo de situações causadas pelo pianista em momentos “difíceis e inusitados”, algumas vezes causadas pelo racismo explícito ou pelo comportamento “diferente” do pianista que não se dá conta da sua conduta um tanto diversa e inesperada.
A interpretação do pianista é uma obra de arte interpretativa, um grande ator, Mahershala Ali, que já havia sido premiado anteriormente com um Oscar, como ator coadjuvante no filme “Moonligt” e repetiu a dose, merecidamente, nesse trabalho magistral, atuando em cada cena como uma obra de arte, com detalhes de interpretação mínima e precisa, que conduz o filme a um patamar de grande qualidade.
O personagem Tony Lip, interpretado pelo ator Viggo Mortensen, foi um achado da produção, pois ele está nos mínimos detalhes, quase irreconhecível, pois para poder aceitar esse papel importante, ele teve de engordar mais de vinte quilos, relaxar sua postura corporal, e apresentar-se como “descuidado”, gordo, mal vestido e um tanto grosso. O importante é lembrar que o motorista é o ator principal do filme e carrega praticamente com seu desempenho toda a responsabilidade de atuação em todas as cenas.
Mas acontece que o pianista interpretado pelo ótimo ator Mahershala Ali rouba com grande brilho todas as suas cenas e se torna mais importante do que o ator principal.
As atuações dos atores de modo excelente, é o resultado da ótima direção do diretor Peter Farrelly, que segurou as pontas e não e não deixou que o assunto preconceito racial extrapolasse o enredo e virasse um motivo de denúncia. O preconceito existe e é mostrado, sabiamente, pelos roteiristas e diretor, mas as cenas não foram exageradas, inclusive as com violência física, que foram amenizadas pelo competente diretor.
Muitas vezes uma cena um tanto bucólica e bem dirigida tem um efeito muito maior do que uma cena provocativa. Tem-se como exemplo a cena da estrada, quando o carro é parado para colocar água no radiador. O carro está localizado em frente a uma plantação, com vários trabalhadores negros, sujos, suados e sob o sol. Os trabalhadores do campo param o seu trabalho com enxadas e ficam abismados com a cena diante deles: um negro, bem vestido, sentado no banco traseiro de um carro de luxo, sendo dirigido por um motorista branco que abre a porta do carro para o passageiro negro e depois sai dirigindo pela estrada, como se fora um acontecimento normal naquelas paragens.
Devido ao grande preconceito da época, algumas vezes o carro é parado pelo policial de trânsito para os passageiros se identificarem e os policiais ficam surpresos, primeiro porque um motorista branco está dirigindo o carro para um passageiro negro. Eles custam a acreditar que tal situação exista. E outra vez o carro é parado pelos policiais porque tem um passageiro negro viajando pela cidade depois do horário de recolhimento local, para OS NEGROS! Os dois passageiros são presos porque o motorista, que é branco, agrediu um policial que o chamou de crioulo porque estava trabalhando para um negro.
O pianista telefona para uma autoridade importante (no filme como se fora Robert Kennedy), que aciona o governador do estado e eles são libertados para desgosto do xerife local.
As situações bizarras são tantas que caberiam em vários roteiros de filmes da mesma espécie, algumas bastante hilárias, como quando o motorista ítalo americano compra, numa parada, um balde de frango frito e insiste que o pianista experimente comer o frango frito, que é um prato, segundo dizem, ser o preferido dos negros americanos e o pianista, sofisticado, diz que jamais comeu frango frito, que é uma comida vulgar.
O ator Viggo Mortensen foi indicado para o prêmio Oscar como o melhor ator, mas como sempre a Academia não viu na atuação dele grande qualidade visível, o que foi um grande erro, pois ele está notável na atuação do princípio ao fim.
Entretanto, não dá para entender o porquê desse filme ter sido premiado como o melhor filme do ano. O filme é apenas bom, sem nada de extraordinário, e o prêmio que recebeu causou muitas surpresas nos cinéfilos em geral.
Todo ano, na entrega do Oscar, os jurados da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood cagam o Tapete Vermelho, ignorando os melhores e premiando os piores, com raríssimas exceções.
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GREEN BOOK: O GUIA é bom? – Vale Crítica