Almanaque Raimundo Floriano
Fundado em 24.09.2016
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, dois genros e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Ismael Gaião - Colcha de Retalhos sexta, 07 de agosto de 2020

SER HUMANO (SONETO DO POETA ISMAEL GAIÃO, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

Tenho a felicidade de lhe informar que meu soneto, SER HUMANO, foi um dos trinta selecionados e recebeu Mensão Honrosa, entre 997 poemas inscritos no 1° Concurso de Poesia da Academia Montes-Clarence de Literatura, Montes Claros – MG, Poesia em tempos de Quarentena.

E foi o único selecionado do estado de Pernambuco.

Um forte abraço.

SER HUMANO

Esse clima de horror, tão obscuro,
Colocou-nos num mundo em aperreio.
A mãe terra ficou com ar mais puro,
Vendo a flora e a fauna sem receio.

Ser poeta é viver em devaneio,
Enxergando pro mundo um bom futuro,
Mas por tudo que vejo, eu já não creio,
Que o planeta terá lugar seguro.

Nesses dias do tal distanciamento,
O desejo é sair do sofrimento,
Mas curar todo o mal é ledo engano.

De que forma teremos esperanças?
Que futuro daremos às crianças?
Se o problema da terra é o ser humano?


Ismael Gaião - Colcha de Retalhos quarta, 29 de julho de 2020

O POLO INDUSTRIAL DE GOIANA (CORDEL DE ISMAEL GAIÃO)

 

 

O POLO INDUSTRIAL DE GOIANA

Ismael Gaião

De origem canavieira,
Desde a colonização,
A Zona da Mata Norte
Sai dessa estagnação.
E a cidade de Goiana
É líder pernambucana
Nessa grande evolução.

A industrialização
Chega, enfim, à Mata Norte.
Goiana, como destaque,
É quem dá esse suporte.
Ao invés do canavial,
Tem um Polo Industrial
E empresas de grande porte.

Mudou-se o rumo da sorte
De muitas outras cidades,
Que para gerar empregos
Sentiam dificuldades.
Quatorze pernambucanas
Mais cinco paraibanas
Ganharam oportunidades.

Conde tem atividades
E Caaporã quer mudança,
Com Camutanga, Ferreiros,
Timbaúba e Aliança.
Araçoiaba e Condado,
Com Itaquitinga, ao lado,
Itapissuma se lança.

 

Pedras de Fogo avança,
Com Itambé e Paulista.
Juripiranga e Alhandra
Têm lucro nessa conquista.
De Igarassu pra cá,
Temos Itamaracá
E Abreu e Lima na lista.

Esse perfil progressista
Há muito foi demonstrado,
Com a Ponsa, hoje Klabin,
No papelão ondulado.
Com sua Cal hidratada
A Megaó, afamada,
É líder nesse mercado.

Agora esse “eldorado”
Vem do Polo Automotivo,
Do Polo Farmacoquímico,
Que é bastante expressivo,
E também nesse canteiro
Temos o Polo Vidreiro
Que é forte e competitivo.

De modo associativo,
O setor industrial,
Aliado ao poder público,
Fez o trabalho ideal.
Desde incentivos fiscais,
A formar profissionais
Na mão-de-obra local.

De cunho profissional
Foi instalada em Goiana
A desbravadora Escola
Técnica Pernambucana.
Formando profissionais
Que não seguirão jamais
Dentro das palhas da cana.

Nos grupos que o polo emana
A Fiat, que é maior,
Atraiu outras empresas
Que trabalham ao seu redor.
Com a vinda da montadora,
A Goiana promissora
Se tornou muito melhor.

De porte um pouco menor,
Dezesseis fornecedores,
Conhecidos Sistemistas,
Fazem com operadores,
Pneus, rodas, chaparias,
Peças pra carrocerias
E pra arrefecer motores.

São grupos transformadores
Que nesse solo fecundo
Montaram um Polo de Indústrias
Para um avanço profundo.
Numa visão realística,
Temos a automobilística,
Das mais modernas do mundo.

E no tema que difundo,
Lidera o grupo vidreiro,
A grande fábrica Vivix,
De capital brasileiro.
Empresa de vidros planos,
Que gera todos os anos
Empregos pro polo inteiro.

No Brasil é o primeiro
Em Biotecnologia,
O Polo Farmacoquímico,
Que hoje Goiana sedia.
Tendo à frente a Hemobras,
Já deixou muitos pra trás,
Em tal tecnologia.

Remédios pra hemofilia
Vêm dos hemoderivados.
Pra câncer, cirrose e aids,
Lá também são fabricados.
À base de albumina
E da imunoglobulina,
Não serão mais importados.

Dez mil empregos gerados
Movimentam a economia.
Desde os hemoderivados
Aos que o vidreiro cria.
Só na montagem de Jeeps,
São feitos pelas equipes
Quase mil carros por dia.

Há poucos Goiana é via
Do boom de prosperidade
E para muitos um sonho
Se tornou realidade.
Com pais nos canaviais
Os filhos não seguem mais
Dentro dessa atividade.

Mostraram capacidade
E, de forma afirmativa,
Viraram profissionais
A quem devemos dar viva!
Hoje com suas bagagens
Muitos estão nas montagens
Da indústria automotiva.

Na boa perspectiva
Da Goiana industrial
Muitos jovens investiram
Na vida profissional.
Para que isso se desse
O nobre Sistema S
Foi sempre primordial.

No ramo educacional,
Para capacitação,
Sesi, Sebrae e Senai
Fizeram a preparação
E os jovens capacitados
Hoje se encontram engajados
Nas linhas de produção.

Apesar da automação
Das áreas industriais,
Precisamos dos humanos
Em áreas primordiais.
Pros setecentos robôs
Que a montadora já pôs,
Tem que ter profissionais.

E foram jovens demais
Com horas de treinamentos,
Nessas capacitações
Buscando aprimoramentos.
Estudando muitos temas
Alguns exportam sistemas
E também conhecimentos.

Muitos empreendimentos
Procuraram o dinamismo,
Como o comércio de bens,
Os serviços e o turismo.
Para a modernização
Também buscam a evolução
No empreendedorismo.

Pelo seu pioneirismo
No meio desse processo,
Hoje Goiana é o polo
Para todo esse progresso.
Das vitórias obtidas
A transformação de vidas
É o seu maior sucesso.

Recife, 26 de julho de 2020.


Ismael Gaião - Colcha de Retalhos domingo, 05 de abril de 2020

O NOVO CORONAVÍRUS - SUA HISTÓRIA E PREVENÇÃO (FOLHETO DE ISMAEL GAIÃO, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

O NOVO CORONAVÍRUS - SUA HISTÓRIA E PREVENÇÃO

Ismael Gaião

 

O novo coronavírus
Quando chega no pulmão
Causa a doença Covid
Que para a respiração.
Por isso pra se cuidar
Procure se orientar,
Mas não precisa aflição.

Se você é um cristão
E vê em Deus as saídas,
Fique em casa, reze, ore,
Pelas pessoas queridas.
Lave as mãos e fique atento,
Pois só com afastamento
Poderemos salvar vidas.

As palavras descabidas
De quem só pensa em dinheiro
Ferem as orientações
Seguidas no mundo inteiro.
Quem tem juízo obedece
Ao que diz a OMS
Pra se livrar do coveiro.

Esse vírus traiçoeiro
Já virou uma pandemia,
Mostrando pra todo mundo
Que não é uma fantasia.
Quem com ele está brincando
Tá vendo o mesmo matando
Muita gente todo dia.

Não precisa de histeria
Nem se fazer picuinha,
Mas é preciso cuidar
Do vozinho e da vozinha,
Pois esse vírus promove
A COVID 19
Que não é uma gripezinha.

Devemos ver nessa aulinha
Como é feita a prevenção,
Lave as mãos com mais frequência
Sempre usando água e sabão,
Se’squeça dos “Sujismundos”,
Demore vinte segundos
Para a higienização.

 

Só com essa precaução
Nós tiramos a gordura,
Que dá proteção ao vírus,
Essa triste criatura,
Que morrerá facilmente,
E nós seguimos em frente
Com a nossa vida segura.

Porém, se por desventura,
Não tiver essa opção,
Pode usar o álcool em gel
Para desinfecção.
Ou até desinfetante,
Pois ele também garante
Não ter disseminação.

Outra recomendação,
Que a OMS diz,
É não tocar com mãos sujas
Nos olhos, boca ou nariz.
Veja isso com bom gosto,
Pois nas entradas do rosto
O vírus tem diretriz.

Como a educação condiz,
Sem fazer estardalhaço,
Para espirrar ou tossir
Baixe o rosto no antebraço.
Para não correr perigo
Só cumprimente um amigo
Com aceno, sem abraço.

Procure manter o laço
De carinho e afeição,
Mas evite a qualquer custo
Fazer aglomeração.
Pois só um inconsequente
Que quer a morte da gente
Faz essa provocação.

Enquanto houver dispersão
Do vírus que nos arrasa
Não seja mais um doente,
Com um pulmão que se abrasa.
Mostre ser inteligente,
Não se torne displicente,
Faça o certo, fique em casa!

O nosso amor fica em brasa
Num estado de vigília,
Se a gente ficar em casa
Zelando pela família.
E se o tempo demorar
Podemos aproveitar
Para cuidar da mobília.

Seja aqui ou em Brasília,
Busque também respeitar
Quem arrisca suas vidas
Para as dos outros salvar.
Pois médicos e enfermeiros
Vão tratando os brasileiros
Sem poderem descansar.

Ninguém deve praguejar
Botando a culpa na China,
Pois como o vírus surgiu
A ciência nos ensina.
Falar sem ter fundamento
É seguir o pensamento
De quem não raciocina.

Um vírus se dissemina,
Porém sofre mutações
E o material genético
Sofre modificações.
Segundo pesquisadores,
O vírus que causa horrores,
Teve essas transformações.

São muitas interações
De vírus com animais
E, nesse caso, o morcego
Deu os primeiros sinais,
Por via respiratória,
Mudou o rumo da história,
Passou para os racionais.

Pra proteger os demais
Num contato permanente,
Saiba que um desinfetante
Desinfecta o ambiente.
O mantenha ventilado,
Deixe tudo bem lavado
Sem ter nenhum poluente.

Se conviver com doente,
Não precisa afobação.
Mas fique de quarentena
Para observação.
Nenhum sintoma surgindo,
Continue se prevenindo
Pra não ter infecção.

A máscara de proteção
Deve ser utilizada
Só por quem está doente
Com febre a ser controlada.
Se sentir falta de ar
Deve então se internar
Pra doença ser tratada.

Uma pessoa internada
Irá para o isolamento,
Pois se testou positivo
Terá acompanhamento.
Se tinha saúde boa,
Com certeza, essa pessoa
Ficará bom a contento.

Não há até o momento
A cura da enfermidade,
Por isso é bom prevenir-se
Pra não ter calamidade.
O ato de se afastar,
Além de nos preservar
Salvará a humanidade.

Agir com serenidade
Agora é essencial.
Por isso, o distanciamento
Do convívio social
É a única solução
Pra toda população
Chegar feliz no final.

Não seja um irracional
Pratique o Distanciamento,
Pois esse é o melhor remédio
Que temos pro tratamento.
Faça essa ação tão pequena
Pra não ir pra Quarentena
E acabar em Isolamento.


Ismael Gaião - Colcha de Retalhos quarta, 16 de janeiro de 2019

A MULHER DO TELHADO (FOLHETO DE ISMAEL GAIÃO)

 

A MULHER DO TELHADO

Ismael Gaião

   

Um dia, uma linda jovem,

Na maior ansiedade,

Sonolenta se arrumava,

Para ir pra faculdade.

Vagando no apartamento,

Hesitou por um momento,

Para olhar para cidade.

 

Debruçada em sua grade

Ela gritou, a chorar.   

- O que houve, minha filha?

Vamos, fale devagar.

- Em cima daquele prédio,

Uma moça tá com tédio,

Ela vai se suicidar!                            

 

- Eu não consigo enxergar.

Que prédio? Que moça? Diga!

- Aquele verde, da frente,

Onde mora a minha amiga.

- Ela está apavorada.

Deve ter sido chifrada

E matou a rapariga.                           

 

- Meu Deus! Pega o fone, liga!

Que esse meu tá desligado,

Pois o corpo de bombeiros

Precisa ser avisado.

Quando acabou de ligar,

Rediscou no celular

E contou pro namorado.                   

           

            1

 

Com gente pra todo lado

Começou o corre-corre.

- A moça em cima prédio

Deve ter tomado um porre.

- Meu Deus, ela vai pular!

Alguém tem que segurar

Porque senão ela morre.

 

- Enquanto ninguém socorre

Temos que compartilhar.

- Vou postar no Facebook

Pra notícia se espalhar.

- Já viralizou no Zap,

Mas não creio que ela escape

Se o socorro demorar.                       

 

- Pelo que consigo olhar

O marido está com ela.

Está sempre caminhando,

Pra lá, pra cá, atrás dela.

Isso é briga de casal

E pode terminar mal,

Concluiu um sentinela.

 

Parecendo uma novela,

A notícia circulava.

Pelas redes sociais

Só era o que se falava.

O trânsito deu logo um nó.

E era uma multidão só

Que, aos poucos, se aglomerava.      

 

            2

 

Um motorista gritava,

Reclamando sem parar:

- Como é que eu chego hoje?

Outra vez vou me atrasar.

- O bandido na carreira,

Levou a minha carteira,

Meu relógio e o celular.                    

 

Vendedores a gritar:

- Olhe a água mineral!

Corriam de carro em carro.

- É somente dois real!

- Vai a água aí, madame!

Olhe aqui no vasilhame!

A melhor da capital.                          

 

- Aquela só vive mal.

Ninguém sabe o que ela fez.

Tá tentando suicídio

Já é a terceira vez.

- Tá no mundo dos perdidos,

Tomou trinta comprimidos

Faz pouco mais de um mês.              

 

O trânsito parou de vez

E além do trânsito, o calor.

O barulho das buzinas

Já era ensurdecedor.

Janelas superlotadas,

Curiosos nas calçadas,

E vez por outra um clamor.   

 

            3

 

Ouvia-se de um gozador:

- Ele não vale isso, não.

Venha namorar comigo,

Dê um chute no cornão.

A mulher, no rebuliço,

Esqueceu o seu o serviço

E a comida no fogão.                        

 

- Ai, meu Deus, que confusão!

E essa fila que não anda.

- Venha cá, minha gostosa!

Lá em casa você manda.       

Só se viam os limpadores,

Irritando os condutores.

Com água pra toda banda.

 

Dos cristãos até a umbanda

Oravam por sua vida.

Os bombeiros já chegavam

Pra salvar a suicida.

Repórteres policiais

Divulgavam nos canais

A notícia preferida.                           

 

Do megafone era ouvida

A zoada e o rebuliço,

Mas os dois, na cobertura,

Não ouviam nada disso.

Enquanto eles conversavam,

Bombeiros se aproximavam

Pra começar o serviço.

 

            4

 

O povo olhando pra isso

Andava despreocupado.

Nem enxergava os bandidos

Andando pra todo lado.

Olhando pros prédios altos

Também não via os assaltos.

Eita povo abestalhado!                     

 

No meio daquele estado,

Pequenos comerciantes

Arriaram suas portas,

Com medo dos meliantes.

E grandes supermercados

Foram logo reforçados

Com medo dos assaltantes.               

 

Motoristas irritantes

Começaram a buzinar.

E outros impacientes

Só ficavam a reclamar.

- Esse trânsito já é lento

E com engarrafamento

Não sei onde vai parar.                     

 

- Foi bom eu te encontrar.

Onde está o teu timão?

Agora a “coisa” caiu.

Num ia ser campeão?

- E a Barbie e teu Santinha?

Chegaram no fim da linha.

São terceira divisão.                          

 

            5

 

- O que houve, meu irmão?

Por que toda essa querela?

- Uma moça quer pular

De cima do prédio dela.

- Deve ser falta de “home”.

Escreve aí o meu nome

E passa o número pra ela!                 

 

Um gaiato, da janela,

Gritou para a multidão:

- Bando de desocupados!

Não têm o que fazer não?

- E aí, então, meu bem

Conseguiu falar com alguém

Do prédio da confusão?                    

 

- Ninguém lá me atendeu, não.

E o socorro demorou.

Eu acho que agora é tarde,

Pois a mulher já pulou.

Vejo sangue na calçada!

Deve estar esbagaçada,

Por isso o sangue jorrou.                  

 

- Por que ninguém segurou?

Tão jovem e morrer assim.

- É falta de fé em Deus

E obra do coisa ruim.

Eu mato um homem qualquer,

Mas jamais serei mulher

Para à vida dar um fim.

 

            6

 

- Escutei num boletim

Que o sangue é de um cidadão,

Que se cortou na ferrugem,

Se imprensando no portão.

- Mas também, nesse imprensado,

Tinha que alguém ser cortado

No meio do empurrão.

 

A notícia no plantão

A TV mostrou, urgente!

- Mamãe, olha na TV.

Aquele é o prédio da gente.

- É mesmo. Eu vou escutar

Será que eles vão falar

Que aqui o tempo tá quente?

 

- De maneira inconsequente,

Jovem tenta se jogar

De um prédio da capital,

No décimo terceiro andar.

Porém, antes desse ato,

Bebeu veneno de rato.

Tentando se suicidar.

 

- Ouvi o povo falar

Que já é a quinta vez,

Que aquela moça faz isso

Por causa da gravidez.

- Ainda bem que tá viva.

Espero que sobreviva

Depois de tudo que fez.

 

            7

 

- Eu vou me mudar de vez,

Isso aqui tá muito mal.

Está quase uma favela,

Saindo até em jornal.

Vim morar num bairro nobre,

Agora tô feito pobre 

Na pág ‘na policial.                            

 

- O país tá muito mal.

Tá quase desgovernado.

- Que cheiro é esse, mamãe?

Tá com cheiro de queimado.

- Meu Deus, queimei o almoço.

Por causo desse alvoroço,

Eu perdi o meu guisado.                   

 

Com serviço adiantado,

Um policial bombeiro,

Finalmente, resolveu

Ver o que houve primeiro.

Se afastou pela calçada

Para chegar na entrada

Onde esteve o dia inteiro.                 

 

E perguntou ao porteiro

Do prédio da conjuntura,

Que respondeu abismado:

- O casal na cobertura?

Foram pela plataforma.

Estão olhando a reforma.

São fiscais da prefeitura.

                                   

Recife, 03 de janeiro de 2019.

 

      


Ismael Gaião - Colcha de Retalhos segunda, 12 de novembro de 2018

CARNAVAL DE PERNAMBUCO, CORDEL DO PERNAMBUCANO ISMAEL GAIÃO

 

CARNAVAL DE PERNAMBUCO

O carnaval tem origens 
N’origem da humanidade,
Pois vem das celebrações
Das festas da antiguidade,
Com danças, máscaras, bebidas
E licenciosidade.

Festas gregas e romanas,
Como as festas lupercais,
Lançaram grande influência
Sobre os nossos carnavais,
Assim como as saturnálias
E os famosos bacanais.

A festa pagã Entrudo
Era uma festa anual,
Que existia na Europa
No tempo colonial.
No Brasil, os portugueses
A chamaram carnaval.

Trazida de Portugal
Era uma festa agressiva,
Onde foliões jogavam,
De forma provocativa,
Farinha, tintura, areia
E muita coisa nociva.

Casas ficavam inundadas, 
E os brincantes encharcados.
Era a festa dos escravos,
Com os seus rostos pintados,
Mas era tão animada
Que encantava os abastados.

 Derivada do latim, 
A palavra carnaval
Era uma festa sem carne,
De origem medieval,
Antecedendo a quaresma
No Brasil colonial.

A festa carnavalesca
Vem também da tradição
Que existia em Pernambuco,
Lá na colonização,
Quando a Folia de Momo
Era a denominação.

No carnaval do Brasil,
O Momo foi inspirado
Na mitologia grega,
Onde o Momo apresentado
Era ironia e sarcasmo
D’um rei personificado.

Hoje, o nosso carnaval
É rico de fantasias,
Com os brincantes dançando,
Sempre em boas companhias,
Improvisando seus blocos
E exibindo alegorias.

Pierrôs e colombinas
Brincam no tradicional,
Mas foliões inspirados
Fazem crítica social,
Vestidos com irreverência,
Dando brilho ao carnaval.

Entre as bandas militares,
No meio das avenidas,
Sempre vinham capoeiras,
Pra deixá-las protegidas,
E brincando nessas lutas,
Muitos ficaram sem vidas.

Lá no século dezenove, 
Surgem o frevo e os passos, 
Dando ao nosso carnaval
Beleza, ritmo e compassos,
Co’o povo dançando solto
Ou misturado em abraços.

Os belos passos do frevo
Surgiram do capoeira,
E com o tempo criaram
Passos de toda maneira,
Que até hoje se renovam
No meio da brincadeira.

De uma corruptela
Foi o frevo originado,
Pois, ao invés de ferver,
Frever foi pronunciado,
E o frevo pernambucano
Ficou assim batizado.

O frevo significa
Rebuliço, agitação,
Uma grande efervescência,
Grande aperto e confusão,
Mas para pernambucanos
Se resume em multidão.

O frevo pernambucano,
Pela originalidade,
Já recebeu, da Unesco,
Um título pra eternidade:
Patrimônio Cultural
De toda a humanidade.

Pernambuco, com seus Frevos,
Sempre arrasta multidões,
Por entre ruas e becos,
Parecendo procissões,
Que, caindo na folia,
Esquecem desilusões.

Temos o Frevo de Rua,
Dos metais endiabrados;
O lindo Frevo de Bloco
Com seus corais afinados,
E também Frevo Canção
Dos poemas orquestrados.

Carnaval em Pernambuco
É algo extraordinário,
Pois, apesar dos três dias,
Extrapola o calendário,
Porque para terminar
Não tem dia, nem horário.

É intenso no Recife,
Capital pernambucana,
E pega fogo em Olinda,
Onde a festa é mais bacana,
Mas tem no interior
E área Metropolitana.

Os blocos contagiantes
Vêm de todos os caminhos.
Da Zona da Mata Norte,
Temos Cavalos Marinhos,
E também vêm de Goiana
Os famosos Caboclinhos.

Aqui tem Samba do Veio,
No sertão, em Petrolina…
Bonecos do São Francisco,
– Zé Pereira e Vitalina –
E por todos os recantos
Tem Mateus e Catirina.

Só Pernambuco tem festa 
Que é multicultural
Ao som de Coco e Ciranda,
Que dão graça ao Carnaval,
Além de nossas Escolas
Com um Samba Original.

Bonitos Maracatus,
De Baque Solto e Virado,
Que com força e poesia
Recordam triste passado, 
Com Chocalhos e Tambores
Deixando o povo encantado.

Nós temos Blocos e Troças
Que nenhuma terra tem.
Ursos, Bois e Mascarados
De todos os cantos vêm.
Homens saem nas Donzelas
E nas Catraias também.

Caretas e Papangus
Tornam a festa mais linda.
As “La Ursa” e as Caiporas
São de uma beleza infinda,
Como os Bonecos Gigantes
Pelas ladeiras de Olinda.

Os Afoxés representam
Belas manifestações 
De negros, brancos e índios,
Costumes e tradições, 
Usando o espírito satírico 
Nessas apresentações.

Na segunda-feira, à noite,
Com momentos preciosos,
O carnaval nos fascina
E encanta os curiosos, 
Nos mostrando a Noite dos 
Tambores Silenciosos.

O festival Recbeat
É outra exclusividade.
Só existe em Pernambuco,
Que dá oportunidade
Às músicas alternativas
Com originalidade.

O Manguebeat surgiu
Co’o grupo Nação Zumbi,
Tendo à frente Chico Science,
Grande poeta daqui,
Cantando histórias do mangue
E das riquezas dali.

O Galo da Madrugada,
No Recife, abre a folia.
Pois, sendo o maior do mundo,
Esse bloco contagia.
E até quem não tá brincando
Enche a alma de alegria.

O bom mesmo é fazer parte,
Sendo mais um folião.
Frevar no meio do povo,
Cantando cada canção… 
Mas se não for este ano, 
Que seja no próximo, então.


Ismael Gaião - Colcha de Retalhos quarta, 20 de setembro de 2017

GRANDE PARTE DO POVO É CORRUPTA E ROUBA (PUBLICADO EM 16.05.2014)

 

 

 

Saqueamento-em-Abreu-e-Lima

 

Quem estava saqueando as lojas não eram os “bandidos”, era o povo. Quem usa um carro para roubar uma televisão e uma geladeira não está passando fome. Quem sai de casa para invadir numa loja e carregar celulares, computadores, liquidificadores e outros eletroeletrônicos, não está passando fome.

A polícia deveria servir para reprimir os bandidos, mas ficou provado que se a polícia não estiver nas ruas o povo passa a roubar, logo grande parte do povo também é bandida.

AUTO_samuca 

 

Se a polícia vive cuidando para que o povo não roube, não tem tempo de correr atrás dos bandidos, traficantes de drogas e de pessoas, assassinos, arrombadores de bancos, estupradores, etc. Logo, o povo precisa se educar e criar vergonha na cara.

É por isso que essa grande maioria do povo só elege políticos corruptos, porque gosta da corrupção, da safadeza, da malandragem. E os políticos adoram!

SAQUEADORES3

 

Alguém viu algum político se pronunciar? Onde eles estavam enquanto a polícia fazia greve e o povo saqueava supermercados? Onde estavam os deputados e senadores, do poder e da oposição, enquanto tudo isso acontecia? Onde estava o ex-governador que não teve diálogo com os policiais enquanto estava no poder?

Onde estava a imprensa pernambucana que não entrevistou o ex-governador, seus aliados e os políticos da oposição? A imprensa só cobria os saques e as assembleias dos policiais. Por quê?

Será que os políticos não têm nada a ver com todo esse estado de coisas que está acontecendo em Pernambuco e no Brasil? Por que eles desaparecem ou saem de cena logo nesses momentos?

Com a palavra a imprensa e os políticos de Pernambuco!

SAQUEADORES2

 

Concordo, plenamente, com o poeta e jornalista Iranildo Marques, quando diz:

Como ter esperança de um Brasil melhor?

Se quem elege esses corruptos são os mesmos que saqueiam?

São os mesmos que não têm educação?

São os mesmos que pensam apenas individualmente, esquecendo a coletividade?

Não tenho esperança de ver um BRASIL JUSTO!

"


Ismael Gaião - Colcha de Retalhos quarta, 13 de setembro de 2017

O SÃO JOÃO DO NORDESTE É O MELHOR DO BRASIL

sjn

 

Nos dias de Santo Antônio,
De São Pedro e de São João,
De norte a sul do Brasil
Se vê comemoração.
Mas, ande de canto a canto
E não verá um encanto
Como em nossa região.

No Nordeste é tradição
A grande Festa Junina.
Só quem conhece é quem sabe
Como essa festa é divina,
Mas se torna mais bacana
Porque a parte profana
É muito mais nordestina.

Do terreiro da usina
Até o alto sertão,
Ela é comemorada
Dentro dessa região,
Passando no litoral
E até na capital
Tem a Festa de São João.

Nos ares tem foguetão
E fumaça de fogueira,
Tem rebolado bonito
D’ uma morena faceira,
Que de caipira se veste
Pra mostrar que no Nordeste
Só tem mulher forrozeira.

Animando a brincadeira,
Cidades são enfeitadas
Com bandeirinhas bonitas,
Coloridas, recortadas.,
Nas casas do interior.
Tem delas de toda cor,
Nas janelas penduradas.

Encontramos nas calçadas
Gente soltando rojão,
Peido de veia, foguete,
Traque de massa, vulcão,
Buscapé e estrelinha,
Pistola, salva, chuvinha
E diabinho mijão.

 

Toda rua tem salão
Pra ter um arrasta-pé.
E se come o milho verde
Plantado com muita fé,
Pois o homem nordestino
Já planta, desde menino,
No dia de São José.

Ele sabe quando é
Que o homem deve plantar,
Para ter milho a granel,
Quando o São João chegar…
Pois, sem ter milho na praça,
Todo o São João perde a graça
Pra quem é desse lugar.

Pra casa que a gente olhar
Tem um balão pendurado.
E uma mesa enfeitada
Com milho pra todo lado…
O povo junta a família
E enfeita toda a mobília
Com chita e pano listrado.

O forró é escutado
De Santo Antonio a São João,
Mesmo que não se escute
Em rádio e televisão,
Pois sabemos que hoje em dia,
Só se escuta porcaria
Nos shows da televisão.

Com a modernização
Muita coisa está mudada,
Mas aqui no meu Nordeste
Não se mudou quase nada…
Pois nossa cultura é rica!
E para nós o que fica
É o forró de latada.

Fica nossa carne assada,
A feijoada, o pirão.
Fica nosso Mamulengo
E a Festa de Apartação…
Também a nossa Quadrilha,
Que no São João sempre brilha,
Pra manter a tradição.

Tem muita superstição,
Pra moça que quer casar.
Brincadeiras de compadre,
Simpatias ao luar…
Se faz adivinhação
E também tem palhoção
Pro festejo popular.

Para o povo degustar,
Comidas tem um bocado.
Angu, pamonha, canjica
E o milho cozinhado.
Temos bolo de fubá,
Amendoim, mungunzá
E também o milho assado.

Tem o Forró animado
Com músicas de Gonzagão.
Os casais vão se agarrando
Na quentura do Salão.
O suor fica pingando
E quem não está dançando
Sente a mesma animação.

Dançando Xote, Baião
E o verdadeiro Forró,
Daqueles de pé-de-serra,
Tem casal que dá um nó.
Porque dança a noite inteira
E só sai da brincadeira
Quando o mesmo estiver só.

É de inchar mocotó
Um forró bem peneirado
Ou um fole castigando
Na cadência do Xaxado.
Tendo sanfoneiro bom,
Sem deixar cair o tom,
Não tem quem fique parado.

O Arraial enfeitado,
Da cumeeira ao chão,
Pede pra gente ficar
Na maior animação.
Quem está acabrunhado
Para ficar animado
Basta beber um Quentão.

E, em cada Palhoção,
A festa é mais animada,
Quando chega uma Quadrilha,
Bonita, toda enfeitada.
Pra fazer o casamento
Do noivo, que azarento,
Deixou a noiva embuchada.

Pra ela não ser falada,
O Coroné, o pai dela,
Chama logo o Delegado
E o Vigário da capela.
Deixando o Noivo acuado,
Quando se casa obrigado
Por mexer com a donzela.

E uma Noiva muito bela
Dessa trama compartilha,
Quando consegue casar
O seu olhar chega brilha…
Manda chamar Sanfoneiro,
“Triangueiro”, Zabumbeiro
E começar a Quadrilha.

O salão logo fervilha
E fica todo enfeitado.
Aparece Lampião,
Cigana, Juiz, Soldado,
Princesa, Padre, Escrivão,
Pai do Noivo, Sacristão,
Com Padrinho e Delegado.

Uma fila em cada lado
Com o povo só de espiar,
Cavalheiros cumprimentam
As Damas pra começar.
Fazem logo um Balancê,
Depois fazem Returnê
E também o Desviar.

Damas trocam de lugar,
Cumprimentam Cavalheiros!
Fazem trejeitos charmosos,
Com seus olhares faceiros.
Depois se juntam no meio,
Para o Grande Passeio
De braços com seus parceiros.

Acenam pros companheiros
Nesse forró animado,
Embelezando a Quadrilha,
Tudo bem feito, ensaiado.
Como quem vem da palhoça,
Segue o Caminho da Roça,
Depois a Troca de Lado.

Todo mundo admirado
Ouvindo a “Dança da Moda”,
Vê os casais se juntando,
Pra formar a Grande Roda.
Tem A Cobra e A Mentira,
No Caracol tudo gira,
Mas ninguém se incomoda.

Desmanchando a Grande Roda,
Vem: Olha a chuva! Passou.
Outra vez, Anavantur,
O Marcador já gritou.
No meio tem Balancê
E depois Anarriê,
Não Choveu, mas Trovejou!

O Desfile começou
Com todos nos Seus Lugares,
Aos poucos vão desfilando,
Para agradar Seus Pares.
Uns sorrindo, outros mangando,
De quem está desfilando,
Sob uma troca de olhares.

No Túnel, seguem aos pares,
Dando aquela sacudida.
E nisso, a Quadrilha esquenta
Como no resto da vida.
Já tem casal paquerando
Certo de ficar dançando
Logo após a Despedida.

E assim ninguém duvida
Que aqui para se dançar,
Tem o forró temperado,
Da poeira levantar.
Só não dança quem não quer,
Pois aqui temos mulher
Que gosta de forrozar.

Se quiser aproveitar
As festas desse torrão,
Venha curtir o Nordeste
E conhecer o São João.
Porque quando for embora
Vê que no Brasil a fora
Não existe melhor não.

Venha dançar um baião,
Como você nunca viu,
E curtir a nossa Festa
Que tem o melhor perfil.
Do litoral ao agreste,
Pois o São João no Nordeste
É o melhor do Brasil!


Ismael Gaião - Colcha de Retalhos quarta, 06 de setembro de 2017

CONVERSA DE CACHACEIRO

 

A vizinha lá de casa,
Que há poucos dias é crente,
Vive de me encher o saco
Mais do que qualquer parente.
– Se livre dos belzebus,
Meu filho, aceite Jesus!
Dando uma de mãezona.
Mas eu já embriagado
Respondo logo arretado:
– Ele não me adiciona!

Por que é que você bebe?
Me perguntou outro dia.
– Eu bebo porque é líquido
Se fosse sólido eu comia.
E ela com cara de espanto:
– E precisa beber tanto?
Eu respondi sem ofensa:
– Só bebo socialmente,
Mas eu tenho atualmente,
Vida social intensa.

Mas não bebo tanto assim
Como você quer dizer.
Bebo seis meses por ano
E passo seis sem beber.
– Deixe de ser descarado
Você vive embriagado
Não passa de um beberrão.
Mas não bebo doze meses,
Já lhe disse várias vezes:
Eu bebo um dia’outro não.

Bebado
 
– Você bebe todo dia
Inda me fala besteira.
Eu disse é mentira sua,
Só bebo em dias de feira.
Bebo de segunda a sexta.
No “sábo”, que não sou besta,
Vou pra feira de Condado.
No domingo o dia inteiro
Eu sou mais um cachaceiro
Lá na feira do mercado.

– Você bebe muito álcool,
Vive tombando na praça.
– Eu não bebo álcool, não!
Só quando não tem cachaça.
– Você é “bebo” nojento,
Cheira à cana, fedorento,
Seu “bebo” desmantelado!
E você é muito feia.
Eu vivo de cuca cheia,
Mas amanhã tô curado.

Você vai findar morrendo,
Pois tá bebendo demais.
Eu disse é engano seu
Porque eu não bebo mais.
– Você bebe pra lascar
E ainda quer me enrolar
Com essa barbaridade?
Eu disse: preste a atenção,
Porque não bebo mais não,
Bebo a mesma quantidade.

Por que é que você bebe
Se isso é tão esquisito?
Eu lhe respondi na bucha
– Bebo pra ficar bonito!
Quand’eu chego bom em casa
Minha mulher me arrasa,
Pois não me dá nem um grito.
Mas s’eu chego embriagado
Ela me olha de lado
E logo me diz: bonito!

Certa vez lhe perguntei
Já naquele cai não cai,
Quando a gente toma umas
Pra onde é que a cana vai?
– Pra que a gente se esmoreça
Vai do bucho pra cabeça,
Ela respondeu na hora.
Mas ouvindo o que ouvi,
Eu logo lhe respondi:
Não vai não, minha senhora!

Quando não estou em casa
E um amigo me procura
Minha mulher irritada
Já responde com bravura:
Se’le não está contigo
Deve estar com algum amigo,
Como toda vez que sai.
Tá nessa vida mundana
Só enchendo o cu de cana.
– É pra lá que a cana vai.


Ismael Gaião - Colcha de Retalhos quarta, 30 de agosto de 2017

FALECIMENTO DE SEU LUNGA (22 DE NOVEMBRO DE 2014)

seu_lunga

Seu  Lunga, em foto de julho de 2013

 

Seu Lunga morreu hoje no Hospital São Vicente de Paulo, em Barbalha – Ceará, onde se tratava de um câncer de esôfago.

O sucateiro, Seu Lunga, tinha 87 anos e era personagem cearense da tolerância zero.

Foi homenageado em mais de cem cordéis pelo Brasil a fora.

 

 


Ismael Gaião - Colcha de Retalhos quarta, 23 de agosto de 2017

PODE SER O PAÍS DE ALGUM PETISTA...

Um país que apoia “mensaleiros”
E defende o perdão a traficantes,
Que tem dois dos seus muitos governantes,
Protegendo corruptos “petroleiros”.
Que aumenta o lucro dos banqueiros
Porque só tem governos mercantis
Que recebem “apoio” e pedem bis,
Pra deixar a Nação mais conformista…
Pode ser o país de algum petista
Mas não é, com certeza, o meu país.

Um país onde após a eleição,
A eleita faz tudo diferente
E as promessas que fez pra nossa gente
Já provou, foram só de enganação.
Um país apagado no apagão
E a eleita se esconde e nada diz
Que aumenta impostos pros civis
E até corta um Direito trabalhista…
Pode ser o país de algum petista,
Mas não é, com certeza, o meu país.

Um país onde a turma do PT,
Pra vencer qualquer outro candidato,
Faz de tudo e pratica estelionato,
Com mentiras no rádio e na TV.
Onde o povo que vota em qualquer P
Não vê nada na frente do nariz.
Faz a gente viver mais infeliz,
Num país que a moral perdeu de vista… 
Pode ser o país de algum petista,
Mas não é, com certeza, o meu país.


Ismael Gaião - Colcha de Retalhos quarta, 16 de agosto de 2017

LEMBRANÇAS DE MINHA INFÂNCIA

Eu tenho recordação
Dos meus carros de madeira,
Do meu pião que girava
Enrolado com ponteira
E de caçar passarinhos
Com minha baleadeira.

Brinquei de barra-bandeira,
De peteca e teatrinho;
Joguei pedras no riacho
Ao ver um redemoinho,
E também pra matar pombos
Da criação do vizinho.

No sítio do meu padrinho
Eu ia, de madrugada,
Botar ração para o gado,
Buscar leite pra coalhada
E beber leite fresquinho
Da minha vaca malhada.

Recordo da tabuada
Que eu tive que decorar,
Aprendendo a dividir,
Somar e multiplicar,
Pra fazer contas na venda,
Quando eu ia despachar.

Eu hoje vivo a sonhar
Recordando esse passado,
Quando vivi minha infância
Na cidade de Condado.
Meu pai trabalhava muito,
Mas filho fez um bocado.

Nunca fiquei revoltado
Com as surras que levava,
Quando meu pai me batia,
Por artes que eu praticava.
Quanto mais ele batia
Muito mais dele eu gostava.

Mamãe sempre me salvava,
Agindo como uma santa,
Pois fingia me bater
Pra minha dor não ser tanta,
Só um coração de mãe
A dor do filho aquebranta.

Sempre tinha em minha janta
Inhame com charque assada,
Macaxeira com manteiga
E sopa bem misturada,
Com a sobra do almoço
Que mãe deixava guardada.

Brincava de cavalgada,
De jogador de basquete,
Com carrinhos de madeira
Brincava de levar frete,
E meus piões eu fazia
Com serrote e canivete.

Eu escutava o escrete
Num rádio de minha tia,
Para acompanhar os jogos,
Porque TV não havia,
E acompanhava a novela
Que uma rádio transmitia.

Eu também me divertia
Nos brinquedos de estrelinhas,
De pedra, papel, tesoura,
Pega, pega e argolinhas,
Gastando o resto do tempo
Com álbuns de figurinhas.

Mamãe deitava galinhas,
Quando eu lembro me comovo,
Vendo os pintinhos nascendo
Bicando a casca do ovo…
Ah, se eu pudesse viver
A minha infância de novo!


Ismael Gaião - Colcha de Retalhos quarta, 09 de agosto de 2017

HOMENAGEM AO DIA DOS PAIS

Mote:

É triste o dia dos pais 
Sem ter papai do meu lado.

Aquele beijo na testa, 
Aquele cheiro gostoso. 
Do seu jeito carinhoso, 
Só a saudade me resta. 
Para mim era uma festa 
O seu abraço apertado. 
Hoje eu sofro um bocado, 
Por não poder tê-lo mais… 
É triste o dia dos pais 
Sem ter papai do meu lado.

Toda família hoje vive 
Lembrando o quanto era forte. 
Feliz é quem teve a sorte 
De ter o pai que eu tive. 
Hoje a gente sobrevive, 
Pelo exemplo que foi dado. 
E é esse seu legado 
Que alivia nossos ais… 
É triste o dia dos pais 
Sem ter papai do meu lado.


Ismael Gaião - Colcha de Retalhos quarta, 02 de agosto de 2017

GLOSAS - LAVAGEM CEREBRAL PETISTA

Meu mote:

Nem um século de estudo num petista,
Faz tirar a lavagem cerebral.

Resposta ao poeta PeTralha Crispiniano Neto, que escreveu o mote:

Dê um livro de história a um coxinha, 
Que ele pode deixar de ser fascista

 

lc1

 

I
Nós que temos a mente pra pensar
Sem ter medo, sem ter persuasão,
Conseguimos fazer a distinção
Entre o ético e o corrupto popular.
O partido que vive de enganar
Com cinismo, fazendo sempre o mal,
Fez gerar privação sensorial
No fanático que quer ser esquerdista…
Nem um século de estudo num petista,
Faz tirar a lavagem cerebral.

II
Pra o Petralha o que existe no país
É só fruto da sua malandragem,
Nessa história ele faz uma viagem
Comparando o que houve com o que diz.
Nosso índio que aqui foi infeliz,
Com a chegada das guangues de Cabral, 
Nem sonhava o país descomunal
Com o governo de um grupo vigarista…
Nem um século de estudo num petista,
Faz tirar a lavagem cerebral.

III
Um Petralha acredita que os viventes
Irão sempre escutar suas sandices,
Porque foi através das cretinices
Que o PT elegeu dois presidentes.
Pra poder derrotar seus concorrentes
Fez até terrorismo eleitoral,
Se igualando a quem é neoliberal
E se unindo à corrente malufista… 
Nem um século de estudo num petista,
Faz tirar a lavagem cerebral.

IV
Um político PeTralha é um falsário
Porque faz um discurso contra a elite,
Porém usa o poder, sem ter limite,
Pra roubar e ficar milionário.
O seu líder surgiu como operário,
Mas mudou pra poder ter capital.
Construiu alianças, sem moral
E amansou seu discurso populista…
Nem um século de estudo num petista,
Faz tirar a lavagem cerebral.

 

lc2

 

V
Cegamente, um PeTralha, certa vez,
Comparou o PT com a nossa história.
Esqueceu que na sua trajetória
O PT fez vergonha no que fez.
Prometeu um governo de honradez,
Mas chegando ao poder foi imoral.
Nos roubou muito mais do que Cabral
E qualquer presidente direitista…
Nem um século de estudo num petista,
Faz tirar a lavagem cerebral.

VI
O PT com uma história bem recente
Nada tem com o tal descobrimento
E o Petralha sem ter discernimento
Escreveu seu poema incoerente.
O passado interessa à nossa gente,
Mas também lhe interessa o atual.
E o PT no Brasil colonial 
Ia ser simplesmente um entreguista…
Nem um século de estudo num petista,
Faz tirar a lavagem cerebral.

VII
O Petralha só fala do passado,
Dos guerreiros heróis da abolição,
Esquecendo a atual situação,
Que o PT nos deixou desgovernado.
Cada dia o Brasil é mais roubado
Com o aval do governo federal,
Quem mentiu na campanha eleitoral
Vem agora dizer que é humanista…
Nem um século de estudo num petista,
Faz tirar a lavagem cerebral.

VIII
O Brasil conheceu no “Mensalão”
A conduta dos líderes do PT,
Mesmo assim o PeTralha não quer crê
Que o PT pra roubar é um campeão.
Tendo muitos políticos na prisão,
Por ter feito conchavos sem igual,
O PT hoje afirma que é normal
Governar com um padrão fisiologista…
Nem um século de estudo num petista,
Faz tirar a lavagem cerebral.

IX
O PT se apossou da Petrobras
Pra fazer centro de corrupções,
Quem lutou contra as privatizações,
Quando está no Governo é o que mais faz.
Por fazer falcatruas na Hemobras,
Os petistas que estavam na estatal,
Permitiram à Polícia Federal
Incluir mais alguns na sua lista…
Nem um século de estudo num petista,
Faz tirar a lavagem cerebral.

X
O PeTralha sem ter acuidade
Se esqueceu que o PT com seus caprichos,
Imitando a Revolução dos Bichos,
Transformou ficção em realidade. 
Governou exaltando a igualdade,
Porém sua ganância escomunal
Transformou o Brasil num lamaçal
Do partido e da base governista…
Nem um século de estudo num petista,
Faz tirar a lavagem cerebral.

XI
Qualquer um que atrapalhe algum cartel,
Tem bandidos o que tiram do caminho,
Foi assim que fizeram com Toninho,
E com a morte de Celso Daniel.
E o PeTralha escreveu o seu cordel
Relembrando o Brasil colonial,
Esquecendo que hoje é tudo igual,
E que Lula é mais um capitalista…
Nem um século de estudo num petista,
Faz tirar a lavagem cerebral.

XII
O PeTralha com frases decoradas
Fala mal das elites promissoras,
Se esquecendo das grandes construtoras
Que o PT deixou beneficiadas.
Suas obras são superfaturadas
Pra roubar o tesouro nacional
E o PT comeu muito do total
Pra fazer um governo oportunista…
Nem um século de estudo num petista,
Faz tirar a lavagem cerebral.

XIII
O PT com a sede de poder
Para todos eleitos gritou FORA,
Mas o impeachment que o povo pede agora,
Diz que é GOLPE, porque não quer perder.
E o PeTralha devia compreender.
Que o seu choro é só coisa bestial,
Porque Dilma governa muito mal,
Bem pior do que era terrorista…
Nem um século de estudo num petista,
Faz tirar a lavagem cerebral.

 

lc3


Ismael Gaião - Colcha de Retalhos quarta, 26 de julho de 2017

PELEJA VIRTUA.: ISMAEL GAIÃO X ALAN SALES

Mote de Allan Sales:

“Joaquim honrou a sua toga
Não defende safado nem ladrão”

Allan Sales:

O juiz que mostrou que tem coragem
E peitou seu Gilmar tão prepotente
Afro toga mostrou que é decente
E deixou para nós bela mensagem
Com Joaquim não terá tal vassalagem
Só justiça terá com tal varão
Com Gilmar sem o Dantas na prisão
Dona justa que ali toma no boga
Joaquim honrou a sua toga
Não defende safado nem ladrão

Ismael Gaião:

No Brasil muita gente ainda pensa
Que a justiça é feita para o povo
Mas já vimos que não é fato novo
Corrução e a venda de sentença
Basta dar uma grande recompensa
Que o rico não vai para prisão
A Justiça lhe dar a proteção
E o povo é quem toma no boga
Joaquim honrou a sua toga
Não defende safado nem ladrão

Allan Sales:

Um juiz que possui dignidade
Que falou do decoro do supremo
Pois tem cabra que ali é voz do Demo
Promover entre nós a impunidade
Joaquim com caráter da hombridade
Só povão do Brasil é seu patrão
Com Gilmar que perdeu a discussão
O Brasil por justiça muito roga
Joaquim honrou a sua toga
Não defende safado nem ladrão

 

Ismael Gaião:

Um prefeito eu vi denunciado
Por ter sido eleito ilegalmente
A Justiça lhe deu grande presente
Pois deixou seu processo arquivado
Isso eu vi na cidade de Condado
Ocorrer na penúltima eleição
Comprovando pra minha frustração
Na Justiça o dinheiro é o que voga
Joaquim honrou a sua toga
Não defende safado nem ladrão

Allan Sales:

Joaquim nos honrou com sua fala
E falou o que nós aqui pensamos
E com ele lutar como lutamos
E deixar podridão feder na vala
Joaquim cabra bom Gilmar não cala
Rabo preso não tem retidão
O supremo na voz com decisão
O clamor popular nunca se afoga
Joaquim honrou a sua toga
Não defende safado nem ladrão

Ismael Gaião:

O prefeito cumpriu o seu mandato
Como se, nada ali fosse errado
E ficou para o povo do Condado
Que aquilo era apenas um boato
Mas eu pude verificar o fato
E saber que sem ter filiação
O prefeito entrou na eleição
E ninguém contra ele advoga
Joaquim honrou a sua toga
Não defende safado nem ladrão

Allan Sales:

Defendeu com coragem o pensamento
E falou que Gilmar tem seus capangas
E não foi vacilão em meio às zangas
Fez de si honorável instrumento
Joaquim foi sublime este momento
Foste voz do pensar desta Nação
Estarás entre nós és nosso irmão
O sentir da justiça desafoga
Joaquim honrou a sua toga
Não defende safado nem ladrão

Ismael Gaião:

Eu já vi um Juiz apavorado
Com a mudança que houve em Pernambuco
Porque ele ficou feito um maluco
E depressa saiu lá do Condado
Por um tempo fiquei desconfiado
Mas depois tive a comprovação
Porque esse Juiz tem caminhão
E o contrato o prefeito só prorroga
Joaquim honrou a sua toga
Não defende safado nem ladrão
 
Allan Sales:

Quem falou e peitou tal poderoso
E mostrou como faz homem de bem
Tribunal bem maior que o povo tem
Contra todo chacal mais mafioso
Joaquim teve gesto corajoso
Nos orgulha tens raça ó negão
Foi Zumbi que guiou-te a falação
Com Gilmar aplacando tanta goga
Joaquim honrou a sua toga
Não defende safado nem ladrão

Ismael Gaião:

Ministros do Supremo Tribunal
Fizeram homenagem a Gilmar
Pois um ano acabou de completar
Não importa se o que ele faz é mal
O que importa é que a Corte Federal
Quis mostrar para o resto da Nação
Que Joaquim mesmo tendo retidão
No Supremo a sua voz não voga
Joaquim honrou a sua toga
Não defende safado nem ladrão

Allan Sales:

Tribunal que será daqui pra frente
Com você por demais mais respeitado
Um poder tão fulcral de nosso estado
Que merece gestão da mais decente
O povão massacrado já descrente
Com os tais tão venais por profissão
Vamos nós pra louvar-te com razão
E banir do Brasil toda essa droga
Joaquim honrou a sua toga
Não defende safado nem ladrão


Ismael Gaião - Colcha de Retalhos segunda, 24 de julho de 2017

O RELÓGIO DA MATRIZ DE TABIRA - PARTE III

Mais algumas poesias de poetas tabirenses, para Campanha organizada pelo poeta João Alderney, com a finalidade de serecuperar o relógio da Igreja Matriz de Tabira. A festa de inauguração do novo relógio será no dia 07.08.09, às 21h. Asoutras poesias foram publicadas ontem e anteontem, aqui nesta Colcha de Retalhos.

RELÓGIO DA MATRIZ

Quando a porta da saudade
Bate na minha lembrança,
Vejo os tempos de criança
Brotando felicidade…
Aos domingos, na cidade,
Missa com Padre Luiz…
Ó tempo velho, me diz
Por que chego às madrugadas
Sem despertar com as pancadas
Do Relógio da Matriz?

Entre quatro, cinco e seis,
Quando o seu sino batia,
Despertava a moradia
Do sofrido camponês.
Com légua e meia, talvez,
Se ouvia, pausadamente,
Sua pancada estridente
Dando as ordens matinais…
Momentos sentimentais
Que eu conservo em minha mente.

Zé de Mariano, 15/10/08

* * *

O RELÓGIO DA MATRIZ

Lá do sítio que eu morava
Ouvia o sino bater
O porquê não entendia
Mas minha mãe traduzia
E eu começava entender.

Eu entendia que o sino
Contente sempre batia
Batia chamando o povo
Aí jovem, velho ou novo,
Para a igreja saia.

Relógio em casa ou no braço
Quase ninguém tinha isso
Mas quando o sino tocava
Toda a cidade acordava
Pra cumprir seu compromisso.

 

O tempo foi se passando
A corda logo acabou-se
A ferrugem corroeu
O relógio emudeceu
E o badalo calou-se.

Hoje só restam lembranças,
História e muita saudade…
Da badalada do sino
Que seguia o seu destino
Dando alegria à cidade.

Pra reviver o passado
Desta cidade feliz
Eu convido todo o povo
Pra gente trazer de novo
O Relógio da Matriz.

Relógio que deixou marcas
Na torre que foi erguida.
O som, canto pioneiro
E seu badalo um ponteiro
No mostruário da vida.

Adeval Soares

* * *

O RELÓGIO DA IGREJA DE TABIRA

Assim como o tempo faz a gente,
Ficar velho e perder a mocidade.
Faz também com os anos de idade,
Do que foi e agora não existe.
Ao lembrar faz a gente ficar triste,
Pelas coisas que teve no passado.
O relógio que se via em cada lado,
Bem no alto lá da torre da igreja,
É um sonho de Tabira que almeja,
Ver o tempo de novo ser contado.
Para ouvir do sino o badalado,
Pela hora ou meia hora que passar,
E, assim, todo mundo escutar,
Perto ou longe as horas se passando.
Um relógio de novo trabalhando,
No local onde um outro trabalhava.
Pela fé que o povo acalentava,
Ter de volta o sonho que sonhava.

Antônio Menezes – 15.12.2008

* * *

O RELÓGIO DA MATRIZ

Eu nunca vou esquecer
Quando ouvia feliz
Badaladas ao anoitecer
Do Relógio da Matriz

No domingo de manhã
O Relógio estava a chamar
Toda família cristã
Para a missa ir rezar

Não faz bem para ninguém
Nosso Relógio calar
Cada um dar o que tem
E ele volta a trabalhar
 
Quando eu voltar a Tabira
Quero olhar com emoção
O relógio da Matriz
Que eu guardei no coração

Mariinha Morais, 30.12.08

* * *

NOVE HORAS

Belo relógio da Matriz
Lá onde tenho minha raiz
A minha cidade natal
De gente simples e cordial

Mas é bom falar a verdade
Havia um momento de crueldade
Praticado pelo relógio
Para cada dia um necrológio

Nove da noite morria o dia
Nove e dez ninguém mais havia
Nove implacáveis pancadas

Eram badaladas malvadas
Pra cumprir ordens familiares
Todos corriam para seus lares

Erotides Pires, janeiro de 2009

* * *

QUERO DE VOLTA

Quero de volta o som das horas marcadas
Onde o sono perde a hora às madrugadas 
Batidas de um tempo pleno de ilusão
Acordados, em sonhos, àquele refrão

Eram todo o cenário e todos os seres
Ele, a nos lembrar os nossos afazeres
Incansável, pontual, solto e preso na arena
Eu quero reviver, voltar àquela cena

Dum tempo que já não volta, mas me importa
Não quero vê-lo em constante seis e meia
Eu quero um relógio novinho, sem teia
 
Ter o nosso relógio de volta, conforta
Festejar minha terra, ouvi-lo de novo
Em regozijo, na cidade, com meu povo

Lourdes Alves, 19.04.09.


Ismael Gaião - Colcha de Retalhos domingo, 23 de julho de 2017

O RELÓGIO DA MATRIZ DE TABIRA - PARTE II

Essa foi uma Campanha encabeçada pelo poeta João Alderney, e teve a participação de outros poetas tabirenses, com a finalidade de se comprar um relógio novo para Igreja Matriz de Tabira. A inauguração do novo relógio será no dia 07.08.09, às 21h, quando haverá grande festa. Outras poesias foram publicadas ontem e completaremos as publicações amanhã, aqui nesta Colcha de Retalhos.

NOSSO BIG BEN

Cidade das tradições
Como tanta gente diz,
Está órfã de uma delas:
O relógio da Matriz!

Vamos trazê-lo de volta
Cada um convida alguém
Se todos colaborarmos
Daqui a pouco se tem
Condições para trazer
Nosso amado “BIG BEN”

Inês Gomes – 25.08.08

* * *

O RELÓGIO DA MATRIZ DO MEU TEMPO DE CRIANÇA.

A cidade adormecia
E acordava também,
Ao som do blém, blém, blém…
Que tocava todo dia
De manhã, na alegria…
À tarde, com esperança…
À noite, só confiança,
Em outro dia feliz…
O Relógio da Matriz
Do meu tempo de criança.

Os seus ponteiros marcavam
As horas das nossas vidas
Todas emoções vividas
Seus minutos registravam…
Os que foram ou ficaram
Ele guarda na lembrança…
Pois ajudem sem tardança
Comprar outro, como eu fiz!
O Relógio da Matriz
Do meu tempo de criança.

Bartolomeu Bueno, 18.09.08

 

* * *

TRISTE CAMPANÁRIO

Eu queria ter de volta meu passado,
Um dia só, talvez como brincadeira;
E somente pra andar com mais cuidado,
No caminho descuidado d’Aroeira.

Eu também queria ouvir mais descansado
Passarinhos a cantar lá na ribeira,
Onde era meu destino já marcado
Pelas pedras das estradas de poeira.

Na cidade meu pensar se acordava,
Toda vez que o relógio badalava
Lá na torre da igreja, solitário;

Se fui longe, ao voltar não ouvi mais
As pancadas, que o tempo não desfaz,
No silêncio de um triste campanário.

Heleno Ramalho, 30.09.2008

* * *

O RELÓGIO DA MATRIZ
 
A hora de ir pra casa
do meu escritório eu via
olhava lá pra Matriz
com devoção me benzia
quando o relógio marcava
hora da Ave-Maria

Hoje ele parou no tempo
como um velho adoentado
esperando por ajuda
pra ver de volta o passado
e a Matriz de Tabira
não quer mais vê-lo quebrado
 
Hoje Tabira não quer
ver seu relógio abandonado
o tabirense de fé
não quer mais vê-lo parado
quer a igreja belíssima
e seu patrimônio ativado

Maria Ferreira, 03.10.2008

* * *
 
HOMENAGEM AO RELÓGIO DA IGREJA

Ao voltares com toda majestade
A badalar ao povo de Tabira,
Mostras horas, minutos e segundos
Como se ouvíssemos o som de uma lira

Parabéns, envio comovida
Aos teus filhos pela iniciativa
De restaurar o costume tão antigo
Que sempre traz alegria à nossa vida

Velho novo relógio, sê bem vindo
Tua missão é sempre salutar
Acordas as crianças para a escola
E os trabalhadores para trabalhar!

Continua tua missão que nos alegra
Nos momentos felizes que vivemos
E quando vêm momentos de tristezas
Deus nos conforta na hora que sofremos

Encerrando esta simples homenagem
Envio a Tabira a minha afeição
E ao tabirense, de todo coração
Peço a Deus amparo e proteção

Salve Tabira, a ti dedico a lira
Que o bom Deus agora inspirou
Desejo pra teus filhos nesta hora
Muita saúde, muita paz e muito amor!

Neusa Vidal, Recife 11.10.2008

* * *

AO RELÓGIO DA MATRIZ

Sou filha tua, Tabira,
Sou filha desse Sertão,
Dessa cidade querida
Que vive em meu coração!

No dia 15 de março
O relógio anunciava
Com as suas badaladas
O momento que eu chegava.

Lá no alto da Igreja
Fizeste a tua morada
Que com o passar dos tempos
Precisa ser restaurada.

Minha família querida
Reconhece o teu valor.
Os que aqui ainda estão
E os que estão no Senhor.

É para ti, relógio amado,
Que dedico estes meus versos,
Agradecida e contente
Pelo tempo que marcaste
As horas pra tua gente.

Badala, sino, badala,
Toca aos céus do meu país
Pelo reconhecimento
Do tabirense que diz:
Somos um povo feliz!

Íris Vidal – Recife, 15.10.08


Ismael Gaião - Colcha de Retalhos sábado, 22 de julho de 2017

O RELÓGIO DA MATRIZ DE TABIRA - PARTE I

Este artigo deveria ser publicado por duas pessoas muito especiais, para cidade de Tabira e para o JBF, que são, o colunista George Mascena e Poeta Dedé Monteiro, mas o meu amigo Poeta João Alderney, me enviou, então eu não posso me esquivar de publicá-lo.

Segundo o poeta tabirense João Alderney, o  relógio da Igreja Matriz daquela cidade funcionou por mais de 50 anos, ficou velho e morreu de “falência múltipla dos órgãos”. Mas, ele marcou a vida de todos os moradores de Tabira com suas pancadas precisas. Lá ainda existem os mostradores com os ponteiros sempre em 06:30h, pendurados.

Como esse é o maior cartão postal da cidade, João Alderney resolveu fazer uma campanha para se comprar um relógio novo e solicitou aos poetas tabirenses que fizessem poemas falando de suas lembranças, com o tão querido relógio comunitário.

Com o resultado, o poeta João Alderney declarou: “Graças a Deus, fui atendido e no dia 07.08.09, às 21h, teremos a festa de inauguração do novo relógio. Será uma bênção divina”.

Como foram dezoito poesias enviadas, as publicaremos nesta Colcha de Retalhos por três dias seguidos.

O RELÓGIO E A MATRIZ
 
Tabira, fortes marcos: Relógio, Matriz!
Infância, juventude, os meus sonhos, Tabira
Que o meu coração, com ternura, tanto mira
Lapso de minha vida, oh, que idade feliz!

Relembro da Matriz, do Relógio e seu Sino
A missa aos domingos, gesto de bom tom
Contar as badaladas, cada hora, que bom
Indeléveis lembranças com ares de um hino
 
Há coisas que assinalam a nossa existência
São marcas que levamos para a eternidade
E jamais esquecemos a nossa cidade

Símbolo amado, agora é só reminiscência!
Vamos repô-lo e nós, tabirenses unidos,
Reaveremos tão belos sons de tempos idos

João Alderney – Recife, 01.07.2008

 

* * *

O RELÓGIO DA MATRIZ

A Igreja é de todos nós.
Se o relógio e seus badalos,
Faz tempo que estão sem voz,
Por que não ressuscitá-los?
 
Por que não ouvir de novo
Aquele toque feliz
Que alertava o nosso povo
Lá da torre da Matriz?

Sei que a hora está no pulso,
No celular (de onze a onze),
Mas não tem o doce impulso
Do velho sino de bronze.

Por que não provar, agora,
Sem qualquer contradição,
Que a terra que a gente adora
É terra da tradição?

Se a tradição não morreu
(Deus não nos dê tal castigo),
Precisamos de um Museu
Pra guardar relógio antigo…

Tradição tem que ter hino,
Tem que ter verso e ter fé.
Hino que rima com sino,
Verso que não quebra o pé.

Com pé inteiro ou quebrado,
Com verso ou sem versejar,
Se o relógio está calado,
Vamos fazê-lo falar!

Vamos nesta, assuma a ponta!
Vale de um real a cem.
Procure o número da conta
E participe também!!!

Dedé Monteiro – 18/07/08

* * *

SENTINELA DA MATRIZ

O dia calmo amanhece
O sol emana seu raio
Mas eu de casa não saio
Não sei o que acontece
À tardinha faço prece
Penso na ave Maria
Já é final do meu dia
Mas não me sinto feliz
Por não ouvir da Matriz
Aquele som que eu queria
 
A matriz é sentinela
Que a idade conserva
Do alto tudo observa
Olhos no relógio dela
Porem tá cega a capela
O poeta sente e diz
Lembrando do Padre Assis
Faz um apelo ao seu povo
Coloquem um olho novo
No relógio da matriz

Paulo Matricó – 22.07.08

* * *

O RELÓGIO DA MATRIZ

Fui à rua perguntar
Porém lá ninguém me diz
Por que não volta a tocar
O relógio da Matriz

O relógio não é eterno
Aquele que tinha lá
Deu o que tinha de dá
Agora só um moderno
 
Foi um relógio perfeito
Muito conserto se deu
Agora está como eu
Remendo não dá mais jeito

O relógio é necessário
E a nossa Matriz merece
Pra completar nossa messe
Está faltando operário

É patrimônio do povo
Pra ele, pra tu, pra mim
Cada um dando um tiquim
O relógio toca de novo

Ivo Mascena – 28.07.08

* * *

SAUDOSAS BADALADAS

Relembro as coisas passadas
Analiso o que já fiz
Mil acertos, mil mancadas
Tudo o que me fez feliz
Em tantas horas marcadas
Pelo som das badaladas
Do relógio da Matriz

Se as engrenagens cansadas
Da tua força motriz
Calaram as tuas pancadas
Hoje nós queremos bis
Prá ver as horas contadas
Pelo som das badaladas
Do relógio da Matriz

Clode Cordeiro – 16.08.08

* * *

A REPOR O RELÓGIO DA MATRIZ

De lembranças componho este soneto
A convite do amigo formulei
Recordando o relógio aqui lembrei
Era em frente da praça e do coreto.

E a lembrança da praça que marquei
Da igreja e do relógio em branco e preto
Os minutos, as horas, num quarteto
Doze, três, seis e nove,assim gravei.

Badaladas marcaram os momentos
De menina, fui moça, me encantei
E nasceram os primeiros sentimentos.

Tudo aquilo me faz hoje feliz
Junto a todos nesta rede estarei
A repor o relógio da matriz.

Ceci Alencar – Paulista, 17.08.2008


Ismael Gaião - Colcha de Retalhos sexta, 21 de julho de 2017

O CORONEL ZÉ GAIÃO E SUAS PERIPÉCIAS

Essa caberia nas Histórias de Beiradeiro do nosso amigo Zelito, ou na, Só Sei que Foi Assim, do colega George Mascena.

O Coronel Zé Gaião, meu bisavô, era proprietário do Engenho Acaú de Cima, em Condado, mais conhecido como Engenho Acauzinho ou “Cauzinho”, como o povo preferia chamar.

Para ser mais preciso, o Coronel não era proprietário de engenho, era Senhor de Engenho, pois era assim que se denominavam os fornecedores de cana de antigamente.

Quem gosta de me contar essas estórias é o meu amigo Zé do Bode, que conheceu bem o Coronel Zé Gaião.

Com seu jeito meio alvoroçado, o Coronel sempre cumprimentava as pessoas por onde passava e fazia questão que todos também o cumprimentassem. Ele possuía uma burra que se chamava “automóvel”.

Alguns dizem que ele era meio doido. Eu não conheço alguém meio doido. Pra mim o sujeito ou é doido ou é normal, mas deixa pra lá. O fato é que ele repetia muito as conversas e tudo que dizia saia repetindo por onde passava.

Num certo dia o Coronel Zé Gaião ia passeando em sua burra, que sempre andava de orelhas em pé, e com uma tabica seguia como se fosse guiando à burra, balançando a tabica entre suas orelhas. Sempre falando sozinho:

– Automóve! Vamo automóve! Anda automóve!

No caminho ele encontrou um cidadão e o cumprimentou:

– Bom dia!

E o rapaz respondeu:

– Bom dia Coroné! Como vai Cauzinho?

O velho não gostou e retrucou:

– Cauzinho não, viu! Cauzinho não! Acaú de Cima. É Acaú de Cima.

E fazendo gestos com a mão completou:

– Cauzinho é o cu da mãe que é bem apertadinho.

– É o da sua Coroné.

– Da minha não, viu! É o da sua que eu falei primeiro.

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Ismael Gaião - Colcha de Retalhos quinta, 20 de julho de 2017

PELEJA DE GERALDO LUNA COM ISMAEL GAIÃO - PARTE III

Como não poderia deixar de ser, o meu amigo e colega de trabalho na UFRPE, Geraldo Luna fez uma réplica à minha poesia, “Casa não rima com ava”, publicada na Colcha de Retalhos de ontem, desta vez usando um decassílabo e com mais cuidado nas rimas:
 
EU ACATO SUA OBSERVAÇÃO
MAS VOCÊ NÃO É MEMBRO DO JURADO
 
Você deu uma resposta inteligente
Para um verso errado que eu fiz
O seu gesto me deixou muito feliz
Porque foi um protesto consciente
Ampliou a amizade da gente
E agora vou rimar com mais cuidado
Para o verso não sair de pé-quebrado
Noutra vez eu vou ter mais atenção
Eu acato sua observação
Mas você não é membro do jurado
 
Certo dia nós fizemos um cordel
Para ver se Jarbas era eleito
E só o verso que estava perfeito
Era que a gente passava pro papel
Não se rimou a tinta com pincel
Nem Joaquim pode ser elogiado
Porque ele é descaracterizado
Mesmo assim ele ganhou a eleição
Eu acato sua observação
Mas você não é membro do jurado
 
Se a casa não rima com “ava”
É porque o produto é muito raro
O que tem é menino sem amparo
Se tivesse uma casa ele morava
E você de mim não reclamava
Ia ter um olhar mais apurado
Para ver o que de fato estava errado
E morrer buscando a solução
Eu acato sua observação
Mas você não é membro do jurado
 
A poesia é uma arte muito antiga
E os poetas têm plena liberdade
Para ser um poeta de verdade
Não precisa fazer nenhuma intriga
Só precisa de uma mão amiga
Que perdoe de fato seu pecado
E você foi um cabra educado
Quando fez a sua reclamação
Eu acato sua observação
Mas você não é membro do jurado

 
Já cantei em vários festivais
Nunca fiz nenhuma só besteira
Com o Jó, com o Louro e Zé Limeira
O que diabo é que me falta fazer mais
Fui gravado em diversos canais
Pelo povo eu fui bem aclamado
Só você vem dizer que estou errado
E não critica o chefe da nação
Eu acato sua observação
Mas você não é membro do jurado
 
Eu termino outra vez agradecendo
Mas deixando bem claro o meu protesto
Seguir regra formulada eu detesto
Nem que chova canivete não aprendo
Quando eu uso novo estilo tô fazendo
Um desprezo ao estilo caducado
Pois não gosto de voltar sempre ao passado
Gosto mesmo é de fazer renovação
Eu acato sua observação
Mas você não é membro do jurado
 
Geraldo Gomes de Luna
Tréplica ao amigo Ismael Gaião
Recife, 07 de janeiro de 1992
 
PS: Ismael e Geraldo escreveram o cordel: “É Jarbas nossa vacina contra a Febre Amarela”, em 1990, que não chegou a ser publicado porque a Coordenação da campanha de Jarbas Vasconcelos, na época, não teve interesse, mas perdeu a campanha pra Joaquim.


Ismael Gaião - Colcha de Retalhos quarta, 19 de julho de 2017

PELEJA DE GERALDO LUNA COM ISMAEL GAIÃO - PARTE II

Um fato que chamou a atenção no VI Congresso de Cantadores do Recife, realizado no Teatro do Parque, em 1991, foi a desclassificação do grande poeta-repentista, Oliveira de Panelas, nas eliminatórias. Como todo bom cantador ele tem seus fãs, e esses não gostaram de vê-lo ficar fora da final, até porque não havia motivo para isso, pois foi bom o seu desempenho nas disputas. Houve muita reclamação, mas a decisão do jurado era soberana e a gente só teve que respeitar.

Aproveitando a rima errada que Geraldo Luna , meu colega da UFRPE, usou ao escrever a sua poesia: “Dei um ingresso a Gaião, mas ele deixou em Casa”, publicada ontem nesta Colcha de Retalhos, não perdi tempo e respondi com esse mote de “uma perna só”:

CASA NÃO RIMA COM AVA

Geraldo muito obrigado
Pela sua poesia
Pois me dá muita alegria
Ver o caso retratado
É pena ter se enganado
Porque não observava
Que na hora que rimava
A rima estava mal feita
Pois pra ser rima perfeita
Casa não rima com “ava”

 

Também quero agradecer
Pelo ingresso que me deu
Pois com este gesto seu
O Congresso eu pude ver
Porém tive um desprazer
Porque quando lá estava
Vi que no bolso faltava
O tão falado ingresso
Mas veja noutro Congresso
Casa não rima com “ava”

Só tinha bons repentistas
Por isso foi um sucesso
Quem não foi nesse Congresso
Deixou de ver bons artistas
Também ouvi entrevistas
Onde o povo reclamava
Porque Oliveira estava
Sendo desclassificado
E você fique lembrado
Casa não rima com “ava”

O que eu observei
É que você não falou
Que na rua me deixou
Somente porque parei
Pois um amigo encontrei
E enquanto eu conversava
Você se distanciava
Me deixando no lugar
Mas trate de observar
Casa não rima com “ava”

Recife, dezembro de 1991

Para não perder a peleja, Geraldo me respondeu, com uma décima, usando o mote: “Eu acato sua observação, mas você não é membro do jurado”, que publicarei amanhã, nesta Colcha de Retalhos.


Ismael Gaião - Colcha de Retalhos terça, 18 de julho de 2017

PELEJA DE GERALDO LUNA COM ISMAEL GAIÃO - PARTE 1

Em 1991 eu quase perdia o Congresso de Cantadores do Recife, no Teatro Santa Isabel, pois perdi o ingresso e só percebi na hora de entrar. Quando eu lá estava, o poeta-cantador Ivanildo Vila Nova fez um sorteio e pediu para alguém dizer os nomes de três mulheres repentistas. Eu sabia de cor e respondi: “Santinha Maurício, Minervina e Mocinha de Passira”.

Ganhei um livro de poesias do grande poeta-declamador Chico Pedrosa. Emprestei o dito cujo, a um amigo e como “quem empresta nem pra si presta” perdi o livro e o amigo, pois não lembro a quem o emprestei e o amigo não me devolveu.

Sabendo disso o meu amigo e colega de trabalho, na Universidade Federal Rural de Pernambuco, Geraldo Luna, que iniciava suas atividades como cordelista, fez a seguinte poesia:

DEI UM INGRESSO A GAIÃO
MAS ELE DEIXOU EM CASA

Gaião é lá de Condado
Trabalha lá na Rural
Ele estava numa mal
Sem nenhum tostão furado
Mas por mim foi procurado
Para ver como ele estava
Somente se lamentava
Disse: não tenho um tostão
Dei um ingresso a Gaião
Mas ele deixou em “casa”

O Congresso anterior
Diz ele que viu todinho
Pois tinha um dinheirinho
E que até lhe sobrou
Mas neste nada restou
Gastou todinho em “casa”
E a Walkíria reclamava
Braba que só um leão
Dei um ingresso a Gaião
Mas ele deixou em “casa”

 

Começou na quinta-feira
Mas ele nem tava aí
Foi quando eu apareci
E lhe informei de primeira
Durante a manhã inteira
Dos meninos ele cuidava
Um corria, outro chorava
Numa eterna confusão
Dei um ingresso a Gaião
Mas ele deixou em “casa”

Já no último dia eu
Fui chegando atrasado
O Gaião tava assustado
Com o desacerto seu
O que foi que aconteceu?
Eu ligeiro perguntava
E ele me afirmava
Não trouxe o ingresso não
Dei um ingresso a Gaião
Mas ele deixou em “casa”

No decorrer do Congresso
Teve brinde à vontade
O locutor sem maldade
Fazia convite expresso
Gaião queria sucesso
No sorteio logo entrava
E um brinde ele ganhava
Para ter compensação
Dei um ingresso a Gaião
Mas ele deixou em “casa”

A Walkíria me contou
E eu só fiz achar graça
Que ele não tomou cachaça
Mas de ressaca ficou
É que um táxi tomou
Se não na rua ficava
E em casa inda apanhava
Feito menino chorão
Dei um ingresso a Gaião
Mas ele deixou em “casa”

Geraldo Gomes Luna – Recife, 03 de dezembro de 1991.

Percebendo que Geraldo usou um verso de “pé quebrado”, eu o respondi com outra poesia, em um “mote” de uma perna só, que se chama: “Casa não rima com ava”, a qual publicarei amanhã nesta Colcha de Retalhos.


Ismael Gaião - Colcha de Retalhos domingo, 16 de julho de 2017

HONESTIDADE NÃO É QUALIDADE, É UMA OBRIGAÇÃO



Este é um pensamento, que por diversas vezes, fiz questão de repetir, quando discursava na Tribuna da Câmara e nos panfletos, que eu distribuía com a população, quando era vereador em Condado, pois acho que todo cidadão deve ser e viver honestamente.

O ano de 2008 foi ano de eleições municipais. E, infelizmente, o que mais escutávamos nos repórteres e líamos nos jornais, nos últimos anos, eram notícias de escândalos realizados pelos políticos. Neste período eu estava exercendo meu segundo mandato de vereador na minha terra.
 
Porém, toda vez que eu ouvia, ou lia, sobre as patifarias de alguns políticos, através dos noticiários, eu ficava bastante 
constrangido, pois não é fácil estar dentro de uma categoria que, a cada dia, dá mais motivos para a opinião pública se revoltar com os procedimentos de alguns de nós, políticos. Pensando nisso eu me debrucei sobre minhas indignações e escrevi essas glosas em “sete linhas”.

Para ser um cidadão

Para ser político sério
E popular de verdade
É preciso ter vergonha
E também dignidade
Sem viver criando atalho
Quando faz algum trabalho
Em prol da comunidade

Pra fazer bem à cidade
E sua população
O político só precisa
Cumprir sua obrigação
Sem nunca fazer barganha
Nem inventar artimanha
Pra fazer corrupção

Hoje todo cidadão
Precisa observar
Os que estão no poder
E os que querem entrar
Procurando conhecer
Para saber escolher
Na hora que for votar

É preciso analisar
Para escolher direito
E não cair na besteira
De votar em um sujeito
Que prega ser a mudança
E só fala em esperança
Mas não tem sequer respeito

Só quem age desse jeito
É político ruim
E não merece respeito
Um candidato assim
Por isso para votar
Você tem que observar
Tudo, tintim por tintim

Dignidade pra mim
Faz parte da formação
E é preciso ter isso
Para ser um cidadão
Porque a honestidade
Não é uma qualidade
É só uma obrigação


Ismael Gaião - Colcha de Retalhos sábado, 15 de julho de 2017

NORDESTE - NÃO HÁ TERRA MELHOR, AQUI É O MEU LUGAR

NÃO HÁ TERRA MELHOR QUE O NORDESTE
EU ME ORGULHO AQUI É O MEU LUGAR

Uma poesia de minha autoria, com 16 glosas, foi desclassificada no 1º Concurso de Literatura de Cordel de Caruaru, para não perder o trabalho que realizei, resolvi compor mais oito glosas e publicar este folheto, com oito páginas, que sairá breve.

O Nordeste é multicultural
Cada Estado apresenta uma riqueza
Ceará com a sua Fortaleza
Tem a renda e a rede artesanal
Tem caju que tem fama mundial
E Iracema de Zé de Alencar
Jangadeiros que lutam contra o mar
Pra comprar o que come e o que veste
Não há terra melhor que o Nordeste
Eu me orgulho aqui é o meu lugar

Nessa terra nós temos Vaquejada
A Folia de Reis e o São João
Lundu, Reggae, Aboio, Xote, Baião
Axé Music, Quadrilha e Timbalada
Temos Coco de Roda e Embolada
Mangue Beat e Ciranda à beira-mar
O Toré para o índio festejar
E o Xaxado criado no agreste
Não há terra melhor que o Nordeste
Eu me orgulho aqui é o meu lugar

Tem Reisado e Cavalo Piancó
Capoeira e Corridas de Mourão
Pastoril, Festas de Apartação
Candomblé, Boi-Bumbá e Catimbó
Temos Frevo, Maxixe e o Forró
E Repente pra gente admirar
Tem Cordel com histórias pra contar
De trancoso, herói e cafajeste
Não há terra melhor que o Nordeste
Eu me orgulho aqui é o meu lugar

Uma Feira com fama universal
Encontramos lá em Caruaru
Pernambuco tem o Maracatu
Que surgiu dentro do canavial
Tem Fandango e também Mineiro Pau
Onde o povo se une pra dançar
Somos ricos de festa pra brincar
E no mundo não há quem nos conteste
Não há terra melhor que o Nordeste
Eu me orgulho aqui é o meu lugar
 

Na Bahia, Pernambuco e Maranhão
Temos três Patrimônios Culturais
A Olinda dos famosos carnavais
Dos batuques e Maracatu Nação
São Luiz com seu Cais da Sagração
Pelourinho faz o povo se encantar
A beleza é demais pra gente olhar
E de arte e cultura se reveste
Não há terra melhor que o Nordeste
Eu me orgulho aqui é o meu lugar

A cerâmica do Mestre Vitalino  
Os Bonecos Gigantes de Olinda
O Cavalo Marinho, festa linda
Carvalhada e a Festa do Divino
Cada ponto turístico nordestino
Tem uma grande história pra contar
Vale a pena você ir visitar
O Sertão, Cariri, Mata e Agreste
Não há terra melhor que o Nordeste
Eu me orgulho aqui é o meu lugar

Praia Azul, de Lucena e Tambaú
Jacumã, Coqueirinho e Cabo Branco
Picãozinho e a praia do Giz Branco
Manaíra, do Forte e Pitimbu
Mais a Ponta do Seixas e Acaú
Paraíba tem pra gente apreciar
Em Tambaba dá pra se bronzear
Sem no corpo botar nenhuma veste
Não há terra melhor que o Nordeste
Eu me orgulho aqui é o meu lugar

Pontal, Peito de Moça, Itaqui
Delta do Parnaíba e do Coqueiro
Macapá, Arrombado e Cajueiro
São as praias de lá do Piauí
Na Bahia temos Camaçari
E Mangue Seco, que um dia foi pro ar
Na novela da Globo pra mostrar
O romance Tiêta do Agreste
Não há terra melhor que o Nordeste
Eu me orgulho aqui é o meu lugar

Ceará tem a Canoa Quebrada
Do Futuro, Iracema e do Preá
Em Sergipe, do Refúgio e Jatobá
Que ainda não foi urbanizada
Pernambuco tem Barra de Jangada
Muro Alto, Gaibu, e A Ver o Mar
Tem Fernando de Noronha pra sonhar
E a noite curtir um show celeste
Não há terra melhor que o Nordeste
Eu me orgulho aqui é o meu lugar

Temos Carne de Vaca e Catuama
Enseada dos Corais, Enseadinha
Pina, Janga e de Maria Farinha
Rio Doce, Gavoa e Itapuama
É bonito demais o panorama
Da Coroa do Avião dentro do mar
Se puder venha sempre visitar
Pois aqui vale mais do que se investe
Não há terra melhor que o Nordeste
Eu me orgulho aqui é o meu lugar

Vá a Porto de Galinhas, Conceição
Piedade e também Boa Viagem
Serrambi, Guadalupe e de passagem
Vá a praia do Calhau no Maranhão
Vá também pra Tutóia e Boqueirão
Boas praias pra gente visitar
Tomar umas, comer frutos do mar
Se não sabe, conheça e faça um teste
Não há terra melhor que o Nordeste
Eu me orgulho aqui é o meu lugar

Rio Grande tem belo litoral
Com Baía Formosa e Pirangi
Alagoas tem Xereu, Maragogi
Do Francês e a praia Burgalhau
Pajuçara tem fama nacional
Porque nela podemos nos banhar
Em piscinas que surgem pelo mar
Naturais como os rios do Agreste
Não há terra melhor que o Nordeste
Eu me orgulho aqui é o meu lugar

O Nordeste é demais ninguém duvide
No Cordel eu bem sei não faço esparros
Basta lermos Leandro Gomes de Barros
E também João Martins de Athayde
Se for ler Costa Leite me convide
Pra nós juntos podermos comprovar
Cada um é poeta exemplar
E por isso tem fama inconteste
Não há terra melhor que o Nordeste
Eu me orgulho aqui é o meu lugar

O Nordeste é de Manuel Bandeira
Castro Alves e Carlos Pena Filho
E com Gilberto Freyre teve brilho
Como teve com Ascenso Ferreira
Com Zé Dantas e Humberto Teixeira
Gonzagão fez o povo delirar
Com Sivuca e o Ferreira Gullar
Nossa arte atingiu o Sul e Sudeste
Não há terra melhor que o Nordeste
Eu me orgulho aqui é o meu lugar

O Nordeste ficou mais consagrado
Com Brennand que é mestre em escultura
E cantando toda a nossa cultura
Têm os mestres do Quinteto Violado
Tem o Cordão do Fogo Encantado
Maciel Melo, Xangai, e Elomar
Tem Vital Farias pra encantar
E não há uma música que não preste
Não há terra melhor que o Nordeste
Eu me orgulho aqui é o meu lugar

Alcione, Vandré, Gil e Caetano
Zé Ramalho, Alceu e Belchior
Nem sabemos dizer quem é melhor
Mas são bons como foi Salustiano
Chico Science que foi pernambucano
Fez o Mangue Beat popular
Se Silvério e o Siba vão cantar
Não existe quem não se manifeste
Não há terra melhor que o Nordeste
Eu me orgulho aqui é o meu lugar

Tem Petrúcio Amorim, Flávio José
Chico César e também Zeca Baleiro
Dominguinhos poeta e sanfoneiro
Tem Lenine, Gal Costa e tem Tom Zé
Com poemas Patativa do Assaré
Muitas vezes fez Fagner musicar
Djavan diz que é pra Caetanear
E Geraldo Azevedo é inconteste
Não há terra melhor que o Nordeste
Eu me orgulho aqui é o meu lugar

Com Capiba e Jackson do Pandeiro
João Gilberto e Hermeto Pascoal
Rui Barbosa e o poeta João Cabral
O Nordeste ganhou o mundo inteiro
Jorge Amado e João Ubaldo Ribeiro
Ariano é cultura popular
E Caymmi fez poemas ao luar
Para musa de inspiração celeste
Não há terra melhor que o Nordeste
Eu me orgulho aqui é o meu lugar

Se vier conhecer o que é uma feira
No estilo da de Caruaru
Você vai encontrar mel de uruçu
Espingarda, pião, prego e ponteira
Berimbau, caçuá, sela e esteira
Jereré ou anzol para pescar
Um bom fumo de rolo, pra pitar
E perneira que o vaqueiro veste
Não há terra melhor que o Nordeste
Eu me orgulho aqui é o meu lugar

Tem enxada, cabresto e rabichola
Urupema, pavio, chapéu de palha
Candeeiro, cambito e cangalha
Ciscador, açaprão, rede e gaiola
Tem tarraxa e corda de viola
Pra quem sabe a viola dedilhar
Fazer versos, compor, improvisar
Com o dom que é divino ou é celeste
Não há terra melhor que o Nordeste
Eu me orgulho aqui é o meu lugar

Tem Chocalho, alpercata e tigela
Para-peito, gibão, colher de pau
Corda feita de nylon ou de sisal
Fogareiro, abano e panela
Para o porco comer se tem gamela
E lambedor, o xarope popular
Que expulsa o catarro pulmonar
Se quiser ficar bom faça um teste
Não há terra melhor que o Nordeste
Eu me orgulho aqui é o meu lugar

Se lembrar da comida nordestina
Com certeza vai dá água na boca
A garganta começa ficar rouca
Pois vicia igual à nicotina
Seja carne de bode ou bovina
Todo prato que aqui vai encontrar
Apresenta um sabor peculiar
Do Sertão, Litoral ou do Agreste
Não há terra melhor que o Nordeste
Eu me orgulho aqui é o meu lugar

Mocotó, vatapá, queijo e coalhada
Rapadura, buchada e pirão
Milho assado, bobó de camarão
Tapioca, pamonha e feijoada
Mão de vaca, cuscuz, vaca atolada
Iguarias pra gente degustar
A cabeça de galo pra esquentar
Faz a gente virar “cabra da peste”
Não há terra melhor que o Nordeste
Eu me orgulho aqui é o meu lugar

Cabidela é comida de primeira
Arroz doce e também o de cuxá
Dobradinha, xerém e mungunzá
A canjica, o angu e a macaxeira
Abará, galinha de capoeira
Caruru para se saborear
A farofa é comida popular
Se alguém sabe mais se manifeste
Não há terra melhor que o Nordeste
Eu me orgulho aqui é o meu lugar

"


Ismael Gaião - Colcha de Retalhos sexta, 14 de julho de 2017

POETAS HOMENAGEIAM CICINHO GOMES

Dedé Monteiro:

Grande amigo de Filó,
De Lourival, de Cancão,
De Dimas Bibiu, de João
Paraibano e Dió.
Doido por Crisanto e Jó,
Com quem como irmãos viveu.
Hoje o Pajeú sofreu
E o paraíso sorriu
Quando a notícia surgiu:
Cicinho Gomes morreu!

Jorge Filó:

Torci para ser mentira
A notícia que me deram
Pois assim todos esperam
Se morre à quem se admira
O poeta de Tabira
Que para o verso viveu
Nesta tarde transcendeu
E as musas se abalaram
Quando os sinos avisaram
Cicinho Gomes morreu!

Paulo Moura (Dunga):

Com o pesar de Zelito
Com a tristeza de Dedé
Vou rezar com muita fé
Pra nosso Jesus Bendito
Que dê um lugar bonito
A quem em vida nos deu
Com o ensinamento seu
E os versos que aqui ficaram…
Meus olhos também choraram…
Cicinho Gomes morreu!

Wellington Vicente:

É mais um na legião
Dos vates desencarnados
Que já foram convocados
Pelo Autor da Criação
Pra formar a seleção
Com Casimiro de Abreu
E outros tantos que eu
Nem consigo enumerar
Mas vou aqui avisar:
Cicinho Gomes morreu!

Ismael Gaião:

Também senti um pesar
Mas uma coisa me ocorre
É que poeta não morre
Vai pra se eternizar
Lá ele vai encontrar
Poetas com quem viveu
Ensinou mais que aprendeu
E para nos inspirar
Devemos sempre lembrar
Cicinho Gomes morreu!

Zelito Nunes:

Perdemos muito ou quase tudo com a morte de Cicinho.

Poetinha Dedé, quem como eu, conheceu Cicinho, pode dizer que muito se perdeu…

Deus , se entender alguma coisa de poesia, agora vai se dar muito bem…

Cicinho, vai pro céu….

Dedé Monteiro:

Poetas Filó, Dunga, Wellington e Gaião, obrigado pela atenção e parabéns pela glosas,

grandes como cada um de vocês!

Todas elas foram lidas por mim, minutos antes da saída do caixão, sob muitos aplausos.

Um forte abraço em cada um!


Ismael Gaião - Colcha de Retalhos quinta, 13 de julho de 2017

NO NORDESTE É DIFERENTE: É ASSIM QUE A GENTE FALA

NO NORDESTE É DIFERENTE
É ASSIM QUE A GENTE FALA

No Brasil pra se expressar
Há diferenciação
Porque cada região
Tem seu jeito de falar
O Nordeste é excelente
Tem um jeito diferente
Que a outro não se iguala
Alguém chato é Abusado
Se quebrou, Tá Enguiçado
É assim que a gente fala

Uma ferida é Pereba
Homem alto é Galalau
Ou então é Varapau
E alguém ruim é Peba
Cisco no olho é Argueiro
O sovina é Pirangueiro
Enguiçar é Dar o Prego
Fofoca aqui é Fuxico
Desistir, Pedir Penico
Lugar longe é Caxaprego

Ladainha é Lengalenga
E um estouro é Pipoco
Qualquer botão é Pitoco
E confusão é Arenga
Fantasma é Alma Penada
Uma conversa fiada
Por aqui é Leriado
Palavrão é Nome Feio
Agonia é Aperreio
E metido é Amostrado

1

O nosso palavreado
Não se pode ignorar
Pois ele é peculiar
É bonito, é Arretado
E é nosso dialeto
Sendo assim, está correto
Dizer que esperma é Gala
É feio pra muita gente
Mas não é incoerente
É assim que a gente fala

Você pode estranhar
Mas ele não tem defeito
Aqui bala é Confeito
Rir de alguém é Mangar
Mexer em algo é Bulir
Paquerar é se Inxirir
E correr é Dar Carreira
Qualquer coisa torta é Troncha
Marca de pancada é Roncha
E a caxumba é Papeira

 

Longe é o Fim do mundo
E garganta aqui é Goela
Veja que a língua é bela
E nessa língua eu vou fundo
Tentar muito é Pelejar
Apertar é Acochar
Homem rico é Estribado
Se for muito parecido
Diz-se Cagado e Cuspido
Se for fofoca é Babado

2

Desconfiado é Cabreiro
Travessura é Presepada
Uma cuspida é Goipada
Frente de casa é Terreiro
Dar volta é Arrudiar
Confessar, Desembuchar
Quem trai alguém, Apunhala
Distraído é Aluado
Quem está mal, Tá Lascado
É assim que a gente fala

Aqui valer é Vogar
E quem não paga é Xexeiro
Quem dá furo é Fuleiro
E parir é Descansar
O rastro é Pisunhada
A buchuda é Amojada
O pão-duro é Amarrado
Verme no bucho é Lombriga
Com raiva Tá Com a Bixiga
E com medo é Acuado

Tocar em algo é Triscar
O último é Derradeiro
E para trocar dinheiro
Nós falamos Destrocar
Tudo que é bom é Massa
O Policial é Praça
Pessoa esperta é Danada
Vitamina dá Sustança
A barriga aqui é Pança
E porrada é Cipoada

3

Alguém sortudo é Cagado
Capotagem é Cangapé
O mendigo é Esmolé
Quem tem pressa é Avexado
A sandália é Alpragata
Uma correia, Arriata
Sem ter filho é Gala Rala
O cascudo é Cocorote
E o folgado é Folote
É assim que a gente fala

Perdeu a cor é Bufento
Se alguém dá liberdade
Pra entrar na intimidade
Dizemos Dar Cabimento
Varrer aqui é Barrer
Se a calcinha aparecer
Mostra a Polpa da Bunda
Mulher feia é Canhão
Neco, é pra negação
Nas costas, é na Cacunda

Palhaçada é Marmota
Tá doido é Tá Variando
Mas a gente conversando
Fala assim e nem nota
Cabra chato é Cabuloso
Insistente é Pegajoso
Remédio aqui é Meisinha
Chateado é Emburrado
E quando tá Invocado
Dizemos Tá Com a Murrinha

4

Não concordo, é Pois Sim
Tô às ordens é Pois Não
Beco ao lado é Oitão
A corrente é Trancilim
Ou Volta, sem o pingente
Uma surpresa é, Oxente!
Quem abre o olho Arregala
Vou Chegando, é pra sair
Torcer o pé, Desmintir
É assim que a gente fala

A cachaça é Meropéia
Tá triste é Acabrunhado
O bobo é Apombalhado
Sem qualidade é Borréia
A árvore é Pé de Pau
Caprichar é Dar o Grau
Mercado é Venda ou Bodega
Quem olha tá Espiando
Ou então, Tá Curiando
E quem namora se Esfrega

Coceira na pele é Xanha
E molho de carne é Graxa
Uma Pelada é um Racha
Onde se perde ou se ganha
Defecar se chama Obrar
Ou simplesmente Cagar
Sem juízo é Abilolado
Ou tem o Miolo Mole
Sanfona também é Fole
E com raiva é Infezado

5

Estilingue é Balieira
Uma prostituta é Quenga
Cabra medroso é Molenga
Um baba ovo é Chaleira
Opinar é Dar Pitaco
Axilas é Sovaco
E cabra ruim é Mala
Atrás da nuca é Cangote
Adolescente é Frangote
É assim que a gente fala

Lugar longe aqui é Brenha
Conversa besta, Arisia
Venha, ande, é Avia
Fofoca é também Resenha
O dado aqui é Bozó
Um grande amor é Xodó
Demorar muito é Custar
De pernas tortas é Zambeta
Morre, Bate a Caçuleta
Ficar cheirando é Fungar

A clavícula aqui é Pá
Um mal-estar é Gastura
Um vento bom é Frescura
Ali, se diz, Acolá
Um sujeito inteligente
Muito feio ou valente
É o Cão Chupando Manga
Um companheiro é Pareia
Depende é Aí Vareia
Tic nervoso é Munganga

6

Pra mandar alguém brigar
A gente diz Sai no Braço
E chamamos Ispinhaço
Nossa região lombar
Quem fala alto ou grita
Pra gente aqui é Gasguita
Quem faz pacote, Embala
Enrugado é Engilhado
Com dor no corpo, Ingembrado
É assim que a gente fala

Um afago é Alisado
Um monte de gente é Ruma
Pra perguntar como, é Cuma
E bicho gordo é Cevado
A Calça curta é Coronha
Um cabra leso é Pamonha
E manha aqui é Pantim
Coisa velha é Cacareco
O copo aqui é Caneco
E coisa pouca é Tiquim

Mulher desqualificada
Chamamos de Lambisgóia
Tudo que sobra, é Bóia
E muita gente é Cambada
O que chamam mexerico
Pra gente aqui é Fuxico
Mandar correr é Acunha
Ter um azar é Quizila
A bola de gude é Bila
Sofrer de amor, Roer Unha

7

Aprendi desde Pivete
Que homem é franzino é Xôxo
Quem é medroso é um Frouxo
E comprimido é Cachete
Sujeira em olho é Remela
Quem não tem dente é Banguela
Quem fala muito e não cala
Aqui se chama Matraca
Cheiro de suor, Inhaca
É assim que a gente fala

Pra dizer ponto final
A gente só diz: E priu
Pra chamar é Dando Siu
Sem falar, Fica de Mal
Separar é Apartá
Desviar é Ataiá
E pra desmentir é Nego
Quem está desnorteado
Aqui se diz Ariado
E complicado é Nó Cego

Coisa fácil é Fichinha
Dose de cana é Lapada
Empurrão é Dá Peitada
E o banheiro é Casinha
Tudo pequeno é Cotoco
Vigi! Quer dizer, por pouco
Desde o tempo da senzala
Nessa terra nordestina
Seu menino, essa menina!
É assim que a gente fala

Recife, 11 de março de 2009


Ismael Gaião - Colcha de Retalhos quarta, 12 de julho de 2017

MOTE DE ZELITO NUNES E VERSOS DE ISMAEL GAIÃO

 

Toda vez que Dedé levanta a saia
Vem porrada, castigo e excomunhão

O Dom Hélder deixou muita saudade
Porque foi Arcebispo do Amor
Depois dele chegou um ditador
Se dizendo o dono da verdade
Nunca fez nessa vida caridade
E seu Deus não é Deus de compaixão
Dom Dedé preferia a Inquisição
E por isso onde passa leva vaia
Toda vez que Dedé levanta a saia
Vem porrada, castigo e excomunhão

Ouço o choro da criança estuprada
Por um monstro cruel e desumano
Dom Dedé com seu ar de soberano
Acredita que isso não foi nada
Por três anos ela foi violentada
Tendo ainda seu corpo em formação
Dom Dedé com o cajado na mão
Já soltou seu veneno de lacraia
Toda vez que Dedé levanta a saia
Vem porrada, castigo e excomunhão

Por pensar muito mais nessa criança
Dou aqui parabéns à Equipe Médica
Que agindo com fé e muita ética
Devolveu-lhe da vida a esperança
Ela vai ter pra sempre na lembrança
Que o Bispo e essa religião
Afirmaram que o monstro tem perdão
Nos mostrando que são da mesma laia
Toda vez que Dedé levanta a saia
Vem porrada, castigo e excomunhão

É a bolsa de valores do pecado
Dessa Igreja que nos mata de vergonha
Mesmo assim o seu Bispo ainda sonha
Que seu canto no céu está guardado
Esse povo por ele excomungado
Tem Deus Vivo Sem a Religião
Mas o Bispo no inferno com o Cão
Vai dançar com vestido de cambraia
Toda vez que Dedé levanta a saia
Vem porrada, castigo e excomunhão


Ismael Gaião - Colcha de Retalhos terça, 11 de julho de 2017

TODO DIA É DIA DA MULHER

 

Com amor, com carinho e com afeto,
Todo dia é dia da mulher.

Nesse mundo não existe uma beleza
Comparada a beleza de uma fêmea
É preciso ter uma alma gêmea
Que nos faça carinho e gentileza
A mulher representa a fortaleza
Que Deus fez no seu grande mister
Se o homem não tem um bem–me-quer
Com certeza seu mundo é incompleto
Com amor, com carinho e com afeto,
Todo dia é dia da mulher.

Veja sua mulher como uma amiga
Uma amante, esposa e grande amor
Todo dia ofereça-lhe uma flor
Se souber cante uma linda cantiga
Mostre a ela que você sempre liga
Não importa a distância que estiver
Faça tudo o que ela quiser
Pra viverem em paz no mesmo teto
Com amor, com carinho e com afeto,
Todo dia é dia da mulher.

Ponha sempre um sorriso em seu semblante
E acorde mais cedo do que ela
Deixe o sol entrar pela janela
Faça algo pra que ela se encante
Deixe claro que ela é importante
Que esteja do jeito que estiver
Faça mais, se assim lhe convier
E prepare seu prato predileto
Com amor, com carinho e com afeto,
Todo dia é dia da mulher.

Tenha sempre um amor efervescente
Que a encha de felicidades
Seja sempre um poço de bondades
Para vê-la cada dia mais contente
Se puder seja assim eternamente
Não importa na vida o que vier
Faça tudo do jeito que puder
Para ser seu amor sério e correto
Com amor, com carinho e com afeto,
Todo dia é dia da mulher.

Recife, 07 de março de 2009


Ismael Gaião - Colcha de Retalhos segunda, 10 de julho de 2017

O QUE ESPERAR DESTE BRASIL?

 

O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que presos em condições degradantes têm direito a uma indenização em dinheiro por danos morais. Para o STF, a superlotação e o encarceramento desumano geram responsabilidade do Estado em reparar os danos sofridos pelos detentos pelo descumprimento do princípio constitucional da dignidade da pessoa humana.

E os cidadãos de bem que vivem na miséria absoluta, em hospitais superlotados?

E os que esperam meses para marcar uma consulta para uma doença grave?

E quem vive dentro de condições subumanas numa favela, sem saneamento básico, sem ter três refeições por dia?

E quem vive desempregado, por culpa das administrações do país, sem ter como comprar comida para suas famílias?

Esses cidadãos não cometeram crime algum, mas são esquecidos pelo STF e todos os outros poderes públicos do país.

Quem está certo são os jovens brasileiros que estão indo embora do Brasil para viver em países com melhores condições e mais respeito ao ser humano.


Ismael Gaião - Colcha de Retalhos domingo, 09 de julho de 2017

OS DITADOS POPULARES NA LITERATURA DE CORDEL

 

Os Ditados Populares,
Criados na antiguidade, 
Fazem parte da cultura 
Popular da humanidade,
Fazendo a língua do povo 
Ficar para a eternidade.

Eles são filosofias 
Passadas na forma oral,
Que servem pra melhorar
O convívio social
E podem favorecer
A vida espiritual.

Não faz chegar o verão
Uma andorinha sozinha.
Cada um só puxa a brasa
Para assar sua sardinha,
Mas não conte com o ovo
No fiofó da galinha.

Já diz um velho ditado:
Tudo que não mata engorda.
E em casa de enforcado,
Ninguém nunca fala em corda,
Pois quem dorme com cachorro
Sempre com pulga se acorda.

Dizem que cavalo velho
Não pega mais andadura
E água mole em dura pedra
Tanto bate até que fura,
Mas também come farelo
Quem com porcos se mistura.

Sabemos que quem vê cara
Não enxerga o coração.
Também sabemos que a prática
É quem faz a perfeição
E que a galinha enche o papo
Comendo de grão em grão. 

É bem melhor andar só
Do que mal acompanhado,
Pois tem medo de água fria
Gato que foi escaldado…
E também só come cru
Quem quer comer apressado.

Meia palavra já basta
Para o bom entendedor,
Porque Deus só dá o frio
Conforme o seu cobertor,
E se um dia é da caça,
O outro é do caçador.

Muito maior é o tombo,
Quanto mais alto o coqueiro,
Porque todo caldo entorna
Com mais de um cozinheiro,
Mas o espeto é de pau
Quando a casa é de ferreiro.

Sei que a mãe das invenções
É a tal necessidade.
Também que a melhor política
É a da honestidade.
Porque quem semeia vento,
Sempre colhe tempestade.

Cada um ser é quem sabe
Onde lhe aperta o sapato,
E quem não possui um cão,
Só pode caçar com gato,
Porque quando o gato sai,
Quem faz a festa é o rato.

Papagaio come milho,
Periquito leva a fama.
Depois de ficar famoso
Se pode deitar na cama.
E bonito lhe parece
Para quem o feio ama.

É para o lado mais fraco
Que a corda sempre arrebenta,
Mas sempre vem a bonança
Depois que passa a tormenta.
Pimenta no olho alheio
É refresco e não pimenta.

Nunca coloque os seus bois
Co’o carro andando na frente,
Pois quando os olhos não veem,
Nosso coração não sente.
E aquele que muito jura
Geralmente é quem mais mente.

Só com o olhar do dono
É que todo gado engorda.
E quem dorme com criança
Sabe que molhado acorda,
Pois só com a última gota
É que a xícara transborda.

Sabemos que Deus dá asas
Pra quem não sabe voar.
Sobre o leite derramado 
Não adianta chorar.
E é melhor se prevenir
Do que se remediar.

Sei que quem com ferro fere,
Com ferro será ferido.
Que também vale por dois
Um homem que é prevenido,
Mas não se mete a colher
Entre mulher e marido.

Quem tem telhado de vidro
Não joga pedra em vizinhos,
Porque as águas passadas
Já não movem mais moinhos.
E não pode existir rosas
Sem proteção dos espinhos.

Só se coloca a tramela
Depois da casa arrombada,
Pois nunca engole mosquito
Quem tem a boca fechada
E é sempre pela emoção
Que a razão é enganada.

Só conhece um bom amigo
Quem passa necessidade. 
A mãe de todos os vícios
É a ociosidade,
E sabemos que é em casa
Que começa a caridade.

Sei que não existe regra
Sem haver uma exceção.
Melhor do que dois voando
É um pássaro na mão.
E ladrão que rouba outro
Tem cem anos de perdão.

Deve-se comer pra viver
E não viver para comer.
Põe sua barba de molho
Quem vê a do outro arder.
E o pior cego é aquele
Que olha, mas não quer ver.

Quem olha a vida dos outros
Da sua vida se esquece.
E toda assombração sabe
Para quem ela aparece,
Pois se a cabeça não pensa
É o corpo que padece.

Oficina do diabo
É uma cabeça vazia.
Na boca de quem não presta,
Quem é bom não tem valia.
E pedra que muito rola
Nela o limo não se cria.

Há muito ouvia dizer:
Se cair, do chão não passa,
Porque sempre existe fogo
Onde aparece fumaça, 
E alguns dizem que é bobagem
Se existir pouca desgraça.

Não deve olhar para os dentes,
Quem tem um cavalo dado.
Melhor um pardal na mão 
Do que pombo no telhado,
E o risco que corre o pau, 
Corre também o machado.

Me dizes com quem tu andas, 
Que quem és eu te direi,
Porque em terra de cego 
Quem tem um olho é o rei,
Mas não digas de uma água: 
Desta, nunca beberei.

Vendo que a farinha é pouca,
Faço meu pirão primeiro,
Pois tudo é fácil se arranja 
Quando se possui dinheiro. 
Difícil mesmo é achar
Uma agulha num palheiro.

Não use uma vara curta 
Para a onça cutucar,
Pois quem mais anda depressa 
É quem vai mais devagar, 
E cada um tem seu fardo 
Pra na vida carregar.

Aprenda todas as regras,
Porém, algumas transgrida… 
Pois saiba que a mais gostosa 
É a fruta proibida,
E que a melhor das escolas,
Ninguém tem dúvida, é a vida.

Se correr o bicho pega, 
Se ficar vai lhe comer.
Eu sei que falar é fácil, 
Mas é difícil fazer.
Quando a lei não é cumprida
Ela é só para inglês ver.

Quem não pode com o pote 
Na rodilha não segura.
Outro ditado já diz 
Que o tempo tudo cura.
E pela dor que ele sente,
Boi sabe a cerca que fura.

"


Ismael Gaião - Colcha de Retalhos sábado, 08 de julho de 2017

MASÉ OU MAZÉ?

MASÉ OU MAZÉ

Ismael Gaião

 

Quando eu estava digitando a poesia, “Soneto para a estrela da minha vida”, homenageando a minha mãe, Masé Gaião, surgiu uma dúvida. Masé se escreve com “s” ou com “z”?

Telefonei para o meu amigo e colega de profissão, Ricardo Otaviano, que muito tem me ajudado na correção de tudo que escrevo, e o contei sobre essa dúvida.

Ricardo argumentou que não conhece uma regra gramatical explicando isso. Entretanto, Masé deve ser a junção do Ma, de Maria, com o sé, de José, e como José se escreve com “s”, logo é mais provável, que Masé também deva ser escrito com “s”.

Eu concordei com Ricardo, mas por via das dúvidas, como dizia meu pai, resolvi discutir mais um pouco o assunto.

Telefonei às minhas irmãs Ivone e Iris e elas tiveram uma opinião diferente, segundo elas o correto é se escrever Masé com “z”, porque, geralmente é assim que a maioria das pessoas escreve.

Fiquei numa sinuca, geralmente se escreve não diz coisa alguma. Resolvi procurar na internet. Consultei o Google, não achei nada que esclarecesse, mas encontrei o livro “Pássaro de vidro” do escritor Carlos Machado, onde há uma dedicatória à Masé, que está escrito com “s”.

Telefonei novamente a minha irmã Iris e ela insistiu que Masé deve ser escrito com “z”, porque, provavelmente, deve ser a junção de Maria com o apelido de José, que é Zé.

Ficou pior. A dúvida aumentou. Então telefonei novamente ao meu amigo Ricardo, e ele me disse: “é, o argumento de sua irmã é muito forte”. Mas, como Masé é um apelido, acho que pode ser escrito das duas formas, tal como acontece com os nomes de pessoas.

Depois ele parou um pouco e sutilmente respondeu: “Ismael, afinal de contas a mãe é sua, então você escreve como quiser”.

Adorei!

"


Ismael Gaião - Colcha de Retalhos sexta, 07 de julho de 2017

SEU LUNGA - TOLERÂNCIA ZERO

SEU LUNGA - TOLERÂNCIA ZERO!

Ismael Gaião

 

 Eu vou falar de Seu Lunga

Um cabra muito sincero,

Que não tolera burrice

Nem gosta de lero-lero.

Tem sempre boas maneiras,

Mas se perguntam besteiras,

Sua tolerância é zero!

 

Ao entrar num restaurante

Logo depois de sentar,

Um garçom lhe perguntou:

O Senhor vai almoçar?

Lunga disse: não Senhor!

Chame o padre, por favor,

Vim aqui me confessar.

 

Lunga tava na parada

Com Renata perto dele.

Esse ônibus vai pra praia?

Ela perguntou a ele.

Ele, então, disse à mulher:

- Só se a Senhora tiver

Um biquini que dê nele!

 

Seu Lunga tava pescando

E alguém lhe perguntou:

- Você gosta de pescar?

Ele logo retrucou:

- Como você pode ver,

Eu vim pescar sem querer,

A polícia me obrigou.

 

Pagando contas no Banco

Lunga viveu um dilema

Pois com um talão nas mãos,

Ouviu de Pedro Jurema:

O Senhor vai usar cheque?

- Ele disse: não, moleque,

Vou escrever um poema.

 

Em sua sucataria

Alguém tava escolhendo,

- Por quanto o Senhor me dá,

Essa lata com remendo?

Lunga, sem pestanejar,

Disse: não posso lhe dar,

Porque eu estou vendendo.

 

E ainda irritado

A seu freguês respondeu:

Tudo que eu tenho aqui,

Eu vendo porque é meu.

Se o Senhor quiser ver,

Coisas sem ser pra vender

Vá visitar um museu.

 

Lunga foi comprar sapato

Na loja de Barnabé

E um rapaz bem gentil

Perguntou: é pra seu pé?

Ele disse: não esqueça,

Bote na minha cabeça,

Vou usar como boné.

 

Lunga carregava leite

Numa garrafa tampada

E um velho lhe perguntou:

Bebe leite, camarada?

Ele disse: bebo não!

Depois derramou no chão.

- Eu vou lavar a calçada.

 

Seu Lunga tava deitado

Na cama, sem se mexer.

E um amigo idiota

Perguntou, a lhe bater:

- O senhor está dormindo?

Lunga disse: tô fingindo,

E treinando pra morrer!

 

Seu Lunga foi a um banco

Com um cheque pra trocar

Um caixa muito imbecil

Achou de lhe perguntar:

O Senhor quer em dinheiro?

- Não quero não, companheiro,

Quero em bolas de bilhar.

 

Lunga olhou pro relógio

Na frente de Gabriela

Quando menos esperava,

Ouviu a pergunta dela:

- Lunga viu que horas são?

Ele disse: não, vi não,

Olhei pra ver a novela!

 

Seu Lunga comprava esporas

Para correr argolinha

E o vendedor idiota

Fez essa perguntazinha:

- É pra usar no cavalo?

- É não, eu uso no galo,

Monto e dou uma voltinha.

 

Seu Lunga tava pescando

Quando chegou Viriato

- Perguntando: aqui dá peixe?

Lunga falou: é boato!

No rio só dá tatu,

Paca, cutia e teju,

Peixe dá dentro do mato.

 

Lunga foi se consultar

Com um Doutor que era Crente

Esse logo perguntou:

- O Senhor está doente?

- Lunga disse: não Senhor,

Vim convidar o Doutor,

Para tomar aguardente.         

 

Seu Lunga, com seu cachorro,

Saiu para caminhar

Um besta lhe perguntou:

É seu cão, vai passear?

Lunga sofreu um abalo,

Disse: não, é um cavalo,

Vou levar para montar.

 

Lunga trazia da feira,

Já em ponto de tratar,

Uma cabeça de porco,

Quando ouviu alguém falar:

- Vai levando pra comer?

Ele só fez responder:

- Vou levando pra criar!

 

Lunga foi à eletrônica

Com um som pra consertar

E ouviu um  idiota

Sem demora, perguntar:

- O seu som está quebrado?

- Tá não, está estressado.

Eu trouxe pra passear.           

 

Seu Lunga foi numa loja

Lá perto de Itaqui

- Tem veneno pra rato?

- Temos o melhor daqui.

Vai levá-lo? Está barato.

- Vou não, vou buscar o rato

Para vim comer aqui!

 

Seu Lunga tava bebendo,

Quando ouviu de Tião:

- Já que faltou energia,

Nós vamos fechar irmão!

Lunga falou: que desgraça!

Eu vim pra tomar cachaça,

Não foi tomar choque não!

 

Lunga tava em sua loja

Numa preguiça profunda

Quando escutou a pergunta

Vindo de Dona Raimunda:

- O Senhor tem meia-calça?

- Isso em você não realça,

Ou você, tem meia bunda?   

 

Seu Lunga ia pescar

E um amigo encontrou

Depois de cumprimentá-lo

Seu amigo perguntou:

Lunga vai à pescaria?

Seu Lunga só disse: ia.

Pegou a vara e quebrou.

 

Jacó estava querendo

Apostar numa milhar

Vendo Lunga numa banca

Disse: agora vou jogar!

E foi gritando dali:

- Lunga, passa bicho aqui?

- Passa sim! Pode passar.      

 

Seu Lunga sentia dor

Procurou Doutor Ramon

Que começou a consulta

Já perguntando em bom tom:

Seu Lunga, qual o seu plano?

Lunga disse: sem engano,

O meu plano é ficar bom!

 

Lunga tava em seu comércio

Despachando a Zé Lulu

Que depois de escolher

Fava e feijão guandu.

- Disse: vou levar fubá.

E o arroz como está?

Lunga respondeu: Tá cru!

 

Lunga com uma galinha

E a faca pra cortar,

Seu vizinho perguntou:

Oh! Seu Lunga, vai matar?

Com essa pergunta burra,

Disse: não, vou dar uma surra,

Logo depois vou soltar.         

 

Lunga indo a um enterro

Encontrou Zeca Passivo

- Seu Lunga pra onde vai?

Ao enterro de Biu Ivo.

- E Seu Biu Ivo morreu?

- Não, isso é engano seu,

Vão enterrar ele vivo!

 

Lunga mostrou um relógio

Ao filho de Biu Romão

- Posso botar dentro d’água?

Perguntou o garotão.

Lunga disse sem demora:

- Relógio é pra ver a hora,

Não é sabonete, não!

 

Lunga fez uma viagem

Pra cidade de Belém

E quando voltou pra casa

Ouviu essa de alguém:

- Oh! Seu Lunga, já chegou?

- Eu não, você se enganou,

Chego semana que vem!

 

Lunga levou uma queda

De cima de seu balcão

- Quer tomar um pouco d’água?

Perguntou o seu irmão.

Lunga logo, respondeu:

Foi só uma queda, meu!

Eu não comi doce não!

 

Na porta do elevador

Esperando ele chegar

Seu Lunga escutou um besta

Pro seu lado perguntar:

- Vai subir nesse momento?

- Não, que meu apartamento,

Vai descer pra me pegar.       

 

Se encontrar com Seu Lunga

Converse, mas com cuidado,

Pois ele pode ser grosso

Mesmo sendo educado.

Eu já fiz o meu papel

Escrevendo este cordel

Pra você ficar ligado!

 

******

N. E. - Ismael Gaião da Costa, Engenheiro Agrônomo, nascido em Condado (PE), a 07 de maio de 1961, é escritor, poeta, declamador, cordelista e contador de causos. É filiado à União dos Cordelistas de Pernambuco – UNICORDEL –, na qual integra a equipe de Poetas Declamadores, Cardeal da Igreja Sertaneja, Membro da Academia Internacional de Literatura e Artes e, agora, para muita honra deste Editor, Colunista do Almanaque Raimundo Floriano, sob o título Colcha de Retalhos.


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