O RAPé DO GENERAL
Sacristão Paulo Bandeira
Numa guarnição do Exército Brasileiro, na fronteira com o Paraguai, o sargento Luís Abucacis vivia azucrinando o cabo Rufino, por este ser altamente viciado no costume de cheirar rapé. Quando o cabo estava por perto, mesmo sem abrir a latinha, o sargento fingia estar espirrando.
E, em certo ano, o sargento cantou de galo, serrou de cima. É que, devido a uma praga de gafanhotos, toda a plantação de tabaco do cabo fora dizimada, não restando sequer um afolha para seu precioso rapé. E o sargento Abucacis não perdia oportunidade de fazer daquilo motivo de gozação.
Chegou o dia da inspeção rotineira do General Comandante da Região aos quartéis de fronteira. No dos nossos personagens, tudo estava preparado, nos trinques, como se dizia.
Tropa na posição de apresentar armas, o General, tendo a seu lado o Comandante daquela Unidade, mal começou a inspeção, tirou colorida latinha de rapé do bolso e deu uma cafungada. Pra quê?! A0 chegar iante do pelotão do cabo Rufino, este se conteve:
– Com licença, meu General!
O General, estranhou aquilo, mas, para satisfazer a surpresa, perguntou:
– Do que se trata?
– Meu General, sou viciado em rapé, mas, como a praga de gafanhotos arrasou com minha plantação de tabaco, estou há quatro meses sem dar uma cheiradinha. Será que Vossa Excelência poderia me propiciar uma pequena cafungada dessa sua mimosa latinha?
O General, grande chefe militar, tirou a latinha do bolso e atendeu ao pedido do cabo Rufino. Após o lance, o General entregou-lhe a latinha e disse:
– Fique com esta e aguarde notícias minha no Boletim Regional.
Todos estavam certos de que o citado Boletim traria uma punição para o cabo, mas qual não a alegria da tropa, ao ver estampado em suas páginas:
Cabo José Rufino, promovido a 3º Sargento!
O sargento Abucacis só faltou foi morrer de despeito e inveja!
Passou-se um ano, e nova inspeção. A cena se repete. Ao iniciar a inspeção, o General tira nova latinha, dá uma cafungada e inicia a solenidade. Ao confrontar o pelotão do sargento Abucacis, este
faz o mesmo pedido do cabo, agora sargento Zé Rufino. O General, igualmente o satisfaz. Estende-lhe a latinha, Abucacis retira uma dedada, leva-a às narinas e, ato contínuo, dana-se a espirrar: – Atchim! Atchim! Atchim!
Diante disso General pergunta-lhe:
– Sargento Abucacis, você é mesmo viciado em rapé?
– Meu General, é vicio que vem desde a infância, herdado de minha avó, índia da etnia Kraô!
Ao contrário do que se esperava. O General não o presenteou com seu raro pozinho, guardou-o no bolso, mas falou para o sargento Abucacis:
– Aguarde notícias minhas no Boletim Regional!
E todos, principalmente o sargento espirrador, ficaram na expectativa de uma nova promoção para um membro daquela longínqua guarnição de fronteira.
Mas, para sua decepção, eis o que veio consignado no Boletim?
Sargento Luís Abucacis: rebaixado a Soldado Raso!
O motivo? O Sargento fora pego na mentira!
O viciadão em rapé cafunga-o, curte-o, delicia-se, mas não espirra!
RESTAURANTE TREZE EFES
Sacristão Paulo Bandeira
(Com agradecimento a Mônica Salter, que desenhou a placa)
Faustino Ferreira Funchalense, lusitano da Ilha da Madeira, veio de muda para a São Luís, Capital Maranhense, na intenção de ganhar muito dinheiro, de consolidar sua independência financeira. Como bom português, havia duas alternativas: abrir uma padaria ou um restaurante. Optou por essa última.
E, ao inaugurar sua casa de pasto, os ludovicenses – habitantes da Ilha de São Luís – estranharam o nome do estabelecimento: Restaurante Treze Efes. Alguns não se contiveram e manifestaram sua estranheza ao proprietário:
– Seu Faustino, o senhor não se enganou na confecção da placa? Se seu nome é Faustino Ferreira Funchalense, o título apropriado, para combinar, deveria ser Restaurante Três Efes.
Ao que o português explicava:
– Aí é que Vossa Excelência está enganado. São treze efes mesmo. É novidade saloia que trago para esta minha segunda pátria. O freguês que conseguir falar treze efes relacionados à refeição, terá o almoço ou jantar franqueado, não paga um puto sequer, nadica de nada. E adiantava: mas não é falar palavras desgarradas, como feijão, farinha, feijoada, e outras mais. Tem que haver combinação entre os vocábulos, sentido no paroliado.
Com esse estratagema, Seu Faustino ia se dando bem. Muitos tentavam, mas nenhum acertava, e o dinheiro ia pingando na gaveta de montão, pois a novidade dos treze efes era excelente chamariz, que muito instigava os frequentadores, na vã esperança de comerem de graça. Até que um dia!
Até que um dia chegou apareceu por lá, para almoçar, um tal de Tonico Boia, cabra viajado, ladino, cheio de rimas e loas. Dizia-se dele que até já andara de avião!
Pois bem, Tonico Boia entrou no Treze Efes, escolheu mesa bem situada, para que todos observassem seu desempenho, e acenou para o que garçom que dele se aproximasse:
– Faz favor!
O garçom perguntou:
– Pois não, o que o senhor deseja?
Tonico Boia respondeu:
– Frango frito!
– E o que mais?
– Farofa fricassê!
– E para beber?
– Fanta frapê!
Tonico Boia foi regiamente servido, na forma solicitada. A terminar a refeição o garçom voltou a interrogar:
– O que o senhor deseja para sobremesa?
– Tonico Boia informou:
– Frutas fatiadas!
Depois de tudo, o garçom voltou à sua mesa, levando a comanda com o total da despesa, à qual Tonico Boia deu apenas uma rápida olhada e declarou:
– Fatura franqueada! E fez menção de levantar-se para ir embora.
Diante disso, o garçom adiantou-se e cochichou para Seu Faustino, que se encontrava no Caixa, situado na porta do restaurante: – Ele só falou doze efes e quer sair sem pagar!
Quando Tonico Boia se emparelhou com o Caixa, Seu Faustino se levantou e, com toda a gentileza característica a um bom negociador, assim a ele se dirigiu:
– Ô gajo, o garçom me informou que Vossa Excelência só falou doze efes. E, para comer de graça, tem que falar treze efes. Portanto, está faltando um efe!
E Tonico Boia:
– Foda-se!
O DIPLOMA AMBULANTE
Sacristão Paulo Bandeira
A hospitalidade do sertanejo nordestino é incomparável! Ao receber um visitante, mesmo desconhecido, trata-o como rei, oferecendo-lhe uma xícara de café, ou, no mínimo, dependendo de suas poses um copo d’água. Alguns até possuem, anexa a sua morada, uma tapera, para que os viajores ali se arranchem, ao cair do sol, armando suas redes para o pernoite!
E foi assim que eu, certa vez, em jornada pelo sertão maranhense, após dirigir por mais se 6 horas, sol a pino, sem encontrar qualquer tipo de local onde pudesse matar a sede, estacionei à porta duma casa de taipa, e bati palmas:
– Oi de casa!
Uma voz respondeu:
– Oi de fora!
Saudei:
– Deus vos salve a Casa Santa!
Lá de dentro, a reposta:
– Onde Deus fez a Morada!
– Onde mora o Cálix Bento!
– E a Hóstia Consagrada!
Pronto! Estavam feitas as apresentações, mostrando que éramos pessoas do bem. Veio à porta um lavrador, meia-idade, a quem pedi um copo d’água. Ele me convidou para entrar, ofereceu-me uma cadeira e gritou no rumo do quintal:
– Diploma!
Uma voz de criança respondeu:
– Sinhô!
– Venha cá!
Aí apareceu na sala um menino orçando pelos 6 anos de idade:
– O quié, vô?
– Vá buscar uma cabaça d’água aqui pro moço!
Estranhei o nome esquisito do moleque, por isso, não me contive e, achando que entendera errado, perguntei:
– Como é mesmo o nome do seu neto?
– É Diploma!
– É apelido?
– Não, senhor, é nome registrado em cartório!
Estranho, inacreditável mesmo! Ainda era costume por aquelas bandas batizarem os recém-nascidos com o nome do Santo do Dia, conforme informava a Folhinha do Sagrado Coração de Jesus. Assim, ainda intrigado com a novidade, voltei a indagar:
– Qual o motivo da escolha de um nome tão incomum?
– É seguinte: mandei minha filha estudar na Capital, e olhe o diploma que ela me trouxe!
RÉVEILLON AUTOSSEXOMOBILÍSTICO
Sacristão Paulo Bandeira
Aconteceu muito antes dessa terrível pandemia.
Madrugada de 1º de janeiro! O casalzinho, terminada a queima de fogos, e talvez ouriçado pelo espírito de garrafa, mal entrou no carro, começou um agarramento “pras cabeça”, coisa de ninguém botar defeito.
Pega daqui, pega dali, amassa aqui, esfrega ali, sem se importarem com a curiosidade dos transeuntes, a garota já quase sem roupa, eis que se aproxima um Guarda e atrapalha o desvairado intercâmbio amoroso:
– Epa! Que falta de compostura é essa?
A garota, por ser mais despachada, assumiu a defesa do casal:
– Seu Guarda, é Ano Novo!
– É Ano Novo, mas aqui não é motel nem drive-in!
A garota retruca:
– Seu Guarda, vai me dizer que nunca namorou num carro?
– Namoro? A senhora chama isso de namoro? Eu não sei onde é que estou que ainda não levei os dois para a Delegacia!
– Paciência, sem guarda, o senhor está exagerando!
– Exagerando? A senhora, quase despida, dando-se ao desfrute no maior descaramento. É por isso que existe tanta mãe solteira no mundo. Passa de mão em mão, daí, aparece com mais um filho sem pai! E agora lhe pergunto: quem vai querer casar com uma garota assim, toda sambada? Essa história de emancipação, de sexo livre, só pode dar é nisso mesmo! – Diz o guarda, em tom nervoso.
A garota tenta se justificar:
– Calma, Seu Guarda! Nós somos casados!
– Casados? São casados? – Mais exaltado fica o Guarda. Então por que a senhora não vai fazer isso em sua casa, pra não se expor de modo e tão desavergonhado?
Aí, foi a vez do homem falar:
– Tá doido, Seu Guarda? Se eu for fazer isso lá, o marido dela me mata!
FEMINICÍDIO SERTANEJO
Sacristão Paulo Bandeira
A Fazenda Jatobá estava no maior alvoroço! A Chica, mulher do Coronel Baldomero, ia dar à luz o 35º filho!
O Coronel, sessenta de idade, era um touro, forte, saudável por demais e fogoso que só vendo. Já a Chica, tadinha, de tanto dar seiva para a filharada, cada qual mais taludo, não tinha mais aquela sustança da mocidade, estava um caquinho de gente.
A Parteira, com mais de quarenta anos de ofício, pelejara a noite inteirinha e nada! Cansada de tanta labuta e temendo um desfecho fatal para a Chica, aconselhou o Coronel e mandar buscar o médico da vila para ajudá-la, como era costumeiro em casos desse feitio.
O Doutor, homem traquejado, que já trouxera mais de mil nascituros ao mundo, mesmo com o auxílio da Parteira, teve ali que utilizar todo o seu conhecimento obstetrício. Só depois de quatro horas, conseguiram trazer à vida um meninão de 4 kg e medindo 52 centímetros!
A se despedir, o Doutor chamou reservadamente o Coronel Baldomero e falou:
– Coronel, esse tem que ser o último! A Chica não pode mais parir! Se ela engravidar, morre!
Diante disso, o Coronel, temendo perder a amada esposa, providenciou para que os dois dormissem e quartos separados, evitando, assim as tentações da carne com a proximidade.
Passou-se o tempo. Mas, com uns seis meses de separação de corpos, eis que, certa madrugada, o Coronel ouviu baterem levemente na porta de seu quarto. Estremunhado e puto da vida por perturbarem seu sono, gritou:
– Quem tá batendo aí?
– Sou eu, Baldomero, a Chica!
– O que houve, Chica?
– Eu quero morrer!
O CHORO DA VIÚVA
Sacristão Paulo Bandeira
Era Dia de finados, e o Cemitério estava repleto de pessoas visitando os túmulos de parentes, amigos, vultos históricos, enfim, querendo prestar justa homenagem anual àqueles que já partiram para o Plano Superior.
No Brasil, o Dia de Finados é reverenciado intensamente, fazendo-se necessária até a presença da Polícia Militar para controlar o transito nos arredores dos cemitérios. É, também, o dia em que o Mercado de Flores, floristas e floreiros individuais veem seu faturamento crescer, compensando qualquer prejuízo porventura sofrido no decorrer do ano.
Retomando a narrativa, naquele dia, uma jovem viúva brasileira encontrava-se debulhando-se em prantos frente a uma sepultura, no Campo da Esperança, quando outra mulher, também jovem, com traje e feições orientais, aproxima-se do túmulo ao lado, acocora-se e começa a urinar em cima de sua lápide.
Ao ver tamanho despautério, a brasileira, ainda em prantos, dirige-se à oriental, quase gritando:
– O que é isso, você está maluca? De quem é essa sepultura?
– É do meu marido! – Responde a oriental!
– Você está doida? – Pergunta a brasileira. Não tem consideração? Eu aqui, me acabando em lágrimas frente ao túmulo de meu saudoso marido, e você aí, mijando na sepultura do seu! Cadê o respeito para com os que já se foram?
Ao que a jovem oriental respondeu:
– Dona, cada qual chora por onde sente saudade!
NO REINO DOS SONHOS
Sacristão Paulo Bandeira
Guru adivinhador
São Luís, capital maranhense, também denominada Ilha da Assombração, faz jus a esse cognome devido à mistura de civilizações que fizeram sua história. Pequeno território, cercado por mar de todos os lados, no início da colonização – só muito depois vieram as pontes –, formou miscigenação ímpar, mistura de holandeses, indígenas, franceses, africanos e portugueses, cada qual trazendo suas lendas, seus costumes, suas crendices. O ludovicense tem destaque no cenário brasileiro pelo lindo sotaque – diz-se que os ilhéus são o que melhor falam a Língua Portuguesa – e pelas superstições que por ali grassam de montão.
A carruagem de Ana Jansen, na alta madrugada, o Touro Negro Encantado, Dom Sebastião, tudo isso muita gente boa já viu ou acredita no que lhe contam. Isso faz da São Luís terreno fértil para o misticismo e também para os que dele se aproveitam, honestamente, ou nem tanto, para decifrar tipos diversos de sinais recebidos por seus seguidores.
E foi por lá que apareceu um adivinhador de sonhos, transformando qualquer tipo de quimera no nome do bicho a ser jogado, muitas vezes acertando o palpite, pois sempre indicava duas opções para cada consulente e, como estes eram muitos, e os bichos, somente 25, isso lhe dava confortável margem de erro.
Dentre seus mais fiéis discípulos estava Gildo Siboney, viciado em apostas, imaginando em, a qualquer momento, tirar o pé da lama. Os sonhos eram os mais variados. Ora em acertos, ora quase, os palpites iam transcorrendo na forma de costume. De uma feita, Gildo Siboney sonhou com o calçado mais comum entre os ludovicenses, um tamanco, ou chamató, como é conhecido na Ilha.
– Mestre, eu sonhei com um chamató!
– Se for chamató emborcado, é morte na família!
– Não, Mestre, tava no pé duma garota!
– Então, jogue na águia e no touro!
Dias depois: – Mestre, em sonhei com borboleta!
– Jogue no carneiro e no urso!
Certo dia, porém, Gildo Siboney teve pesadelos, sonho muito esquisito, o que o deixou deveras perturbado. Por isso, aflito, procurou o guru e falou:
– Mestre, ontem eu sonhei que estava transando com um jumento. O que é que eu jogo?
E o guru:
– Jogue essa bund@ fora!
O ÍNDIO E O COMELÃO
Sacristão Paulo Bandeira
Quem vive em qualquer cidade sertaneja atual, nem sequer chega a imaginar como era a vida por ali há cinquenta anos, vendo as residências cercadas por muros ou grades, com um botão de campainha instalado na entrada para que se chame o morador, aprisionado em seu próprio lar.
Antigamente, as portas eram abertas ao amanhecer e só eram fechadas à noite, na hora de dormir. À tardinha, eram comuns cadeiras e preguiçosas nas calçadas, pessoas em alegre bate-papo, contadores de histórias, vida feliz e despreocupada.
As casas dos indígenas, em sua maioria, nem de porta precisavam, como essa da figura acima, típica das aldeias sertanejas.
Outro aspecto que se perdeu com esse isolamento ditado pelo progresso foi a hospitalidade do brasileiro, em qualquer esfera social. Antigamente, era comum qualquer transeunte desconhecido chegar à porta de uma residência e bater palmas só para pedir um copo d’água. Às vezes, até com um cafezinho era agraciado.
Pois foi no intuito de pedir água pra beber que o caçador Wando Comelão chegou a uma cabana sem porta, no meio da selva maranhense. Bem na entrada, deparou-se com um casal de índios, deitado numa esteira, na milenar ocupação de fazer um indiozinho, ambos completamente pelados.
Ao perceber o que se passava, fez menção de se retirar, mas o índio gritou para ele que ficasse, pois já estava acabando, faltava pouco. Comelão se sentou numa trepeça e esperou, assistindo à função!
Assim que terminou a fabricação do novo herdeiro, o índio, deixou a jovem índia deitada na esteira, peladinha, e, ainda com a espada em riste, pergunto ao Comelão:
– O cumpade também quer furunfar?
Comelão, meio aturdido, sem entender muito bem aquela proposta, respondeu:
– O quê?
O índio repetiu, agora em tom bem mais persuasivo?
– O cumpade também quer furunfar?
Aí, o Comelão, que andava com a escrita meio atrasada, olhou para a linda cunhã deitada na esteira e respondeu:
– Quero sim! Quero!
E o índio:
– Então baixe as calças e fique de quatro, que eu como seu fiofó!
O PROMOTOR GALANTE E VORAZ
Sacristão Paulo Bandeira
Era no tempo do Rei! Do Rei do Maranhão, como a maioria dos brasileiros cognominavam o ex-Presidente José Sarney, vulto mais importante daquele estado, desde a metade do século XX, até os dias atuais.
Corria o ano de 1966, e José Sarney, recém-eleito Governador do Maranhão, saiu em visita às bases eleitorais, para consolidar seu prestígio junto ao povo que o elegera com fantástica vocação, destroçando, para sempre, o domínio vitorinista.
Naquele tempo, a nomeação de juízes e promotores era de livre escolha do Governador, não se exigindo, ainda, concurso público de cada postulante.
Cotam que, para certo município na periferia da Capital, José Sarney nomeara um afilhado político seu, acabado de sair da Faculdade, jovem formoso, solteiro e paquerador, para exercer o cargo de Promotor de Justiça.
Também contam que o jurista, tão logo se instalou na cidade, danou-se a passar tudo quanto é de mulher na cara. Começou pelas raparigas, bandeou-se para as desquitadas, arrastou-se para as solteiras e, finalmente, atingiu seu alvo mais precioso: as casadas!
Virou o terror dos maridos! Falam que isso os atormentou de um tanto que nenhum deles entrava num recinto sem antes se abaixar ao ultrapassa a porta, com medo de enganchar os chifres.
Pois bem, cotam que, nessa Caravana da Vitória, ao chegar no dito município, o Governador, em reunião com os chefes políticos, ouviu as peripécias do Promotor, sendo deles porta-voz o Prefeito, que transmitiu o lamento de todos:
– Governador, que vamos fazer? O mancebo está desonrando nosso lar, nenhuma mulher escapa, dizem que até minha santa esposa já entrou na dança!
Ao ouvir isso, Sarney focou nervoso, deu um forte murro na mesa e berrou:
– PORRA! NESTA CIDADE NUM TEM HOMEM NÃO???
E o Prefeito, com toda a humildade:
– Até que tem, Governador, mas ele só gosta é de mulher mesmo!
O JUMENTO RISONHO
Sacristão Paulo Bandeira
O Coronel Baldomero andava uma pilha de nervos. O jumentinho que ganhara de presente de um compadre andava triste, macambúzio, com as orelhas murchas, desde o dia em que chegara à sua fazenda. Sendo animal premiado em Exposição, podia morrer a qualquer momento de tanto banzo, o que seria também uma espécie de morte para o Coronel, que a ele se afeiçoara desde em que nele batera os olhos.
Os vaqueiros e peões da Fazenda Jatobá desconfiavam que a origem daquela tristeza do jegue era a falta de um jumentinha para fazer-lhe companhia, para namorarem, enfim! Mas cadê coragem para falar isso ao patrão, outrora afável mas que, devido à prostração do jegue, virara um barril de pólvora, explodia a todo momento sem motivo ou razão?
Temendo perder o jegue, o Coronel instituiu um prêmio: daria 10 contos de réis a qualquer um que o fizesse sorrir!
Não faltaram candidatos. Faziam-lhe cócegas, caretas, mungangas, contavam-lhe piadas, rebolavam à sua frente, mas o jumentinho, nem arroz! Era a imagem perfeita e acabada da melancolia.
O Coronel já estava desesperado, quando passou um amigo boiadeiro em sua fazenda e, sabendo de suas agruras, contou-lhe que em Brejo da Porta, sertão sul-maranhense, havia um tal de Zé Baixinho, possuidor de um jegue que, segundo boatos, passava o dia rindo de sua cara.
O Coronel criou alma nova. Imediatamente, mandou um positivo a Brejo da Porta, distante mais de 100 léguas, com a missão de trazer esse cara consinado como feiticeiro ou mágico jumental. E Zé Baixinho, sabendo da recompensa, não se fez esperar. Com uma semana de viagem, chegou, num sábado, à noitinha, à fazendo do Coronel.
No seguinte, após o café, Coronel Baldomero reuniu no pátio da fazenda sua família, os vaqueiros, os peões, os agregados e alguns fazendeiros vizinhos, todos ansiosos para conhecer o fenômeno. Parecia um circo.
Ai, trouxeram o jumento, puxado por um cabresto e o amarraram no tronco do pé de jatobá que ensombrava o pátio. Zé Baixinho, dele se aproximou pôs a boca bem junto a uma de suas orelhas, como se fosse contar-lhe um segredo, e falou qualquer coisa. Foi o suficiente! O junto destampou!
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Não parava mais! Foi preciso que o agarrassem e amarrassem-lhe os queixos, caso contrário ele não parava de rir!
Coronel Baldomero, homem de palavra, chamou o Zé Baixinho, deu-lhe os 10 contos de réis prometidos, mais uma novilha prenha, como gorjeta, e falou:
– Agora, me diga: qual foi o segredo de sua mágica, do seu feitiço?
Zé baixinho respondeu:
– Eu cheguei rente à orelha dele, como o senhor viu, e falei: meu pingolim é maior do que o teu!