NO REINO DOS SONHOS
Sacristão Paulo Bandeira
Guru adivinhador
São Luís, capital maranhense, também denominada Ilha da Assombração, faz jus a esse cognome devido à mistura de civilizações que fizeram sua história. Pequeno território, cercado por mar de todos os lados, no início da colonização – só muito depois vieram as pontes –, formou miscigenação ímpar, mistura de holandeses, indígenas, franceses, africanos e portugueses, cada qual trazendo suas lendas, seus costumes, suas crendices. O ludovicense tem destaque no cenário brasileiro pelo lindo sotaque – diz-se que os ilhéus são o que melhor falam a Língua Portuguesa – e pelas superstições que por ali grassam de montão.
A carruagem de Ana Jansen, na alta madrugada, o Touro Negro Encantado, Dom Sebastião, tudo isso muita gente boa já viu ou acredita no que lhe contam. Isso faz da São Luís terreno fértil para o misticismo e também para os que dele se aproveitam, honestamente, ou nem tanto, para decifrar tipos diversos de sinais recebidos por seus seguidores.
E foi por lá que apareceu um adivinhador de sonhos, transformando qualquer tipo de quimera no nome do bicho a ser jogado, muitas vezes acertando o palpite, pois sempre indicava duas opções para cada consulente e, como estes eram muitos, e os bichos, somente 25, isso lhe dava confortável margem de erro.
Dentre seus mais fiéis discípulos estava Gildo Siboney, viciado em apostas, imaginando em, a qualquer momento, tirar o pé da lama. Os sonhos eram os mais variados. Ora em acertos, ora quase, os palpites iam transcorrendo na forma de costume. De uma feita, Gildo Siboney sonhou com o calçado mais comum entre os ludovicenses, um tamanco, ou chamató, como é conhecido na Ilha.
– Mestre, eu sonhei com um chamató!
– Se for chamató emborcado, é morte na família!
– Não, Mestre, tava no pé duma garota!
– Então, jogue na águia e no touro!
Dias depois: – Mestre, em sonhei com borboleta!
– Jogue no carneiro e no urso!
Certo dia, porém, Gildo Siboney teve pesadelos, sonho muito esquisito, o que o deixou deveras perturbado. Por isso, aflito, procurou o guru e falou:
– Mestre, ontem eu sonhei que estava transando com um jumento. O que é que eu jogo?
E o guru:
– Jogue essa bund@ fora!
Gostaria do toque de corneta comando Militar do Sul.
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Qualquer postagem do Raimundofloriano eu estou atenta ,pq sei que são curiosidades,informações e humor como essa kkkkk
Este teu apreciável senso de humor...inesquecíveis causos
Meu querido amigo Paulo Augusto Soares Bandeira!!! Uma alegria enorme rever essa figura por aqui. Muitas lembranças, muitas saudades. Apareça no Jornal da Besta Fubana e use o espaço à vontade! www.luizberto.com Um grande abraço!!!
Paulo Bandeira, que interessante e envolvente conto. Parabéns. Gostei ! Falar de São Luís como ilha sem as pontes , a miscigenação e o encanto desta bela terra. Foi bom “ sonhar” . Este sonho eu não quero o palpite do guru. Dispenso . Você me transportou para a cidade do amor, das cores , de agradáveis aromas , de praias encantadoras ! Uma gente de sonoridade em seu falar tão correto que , ouvir já é agradável, imagine no contar os casos . Lamento o conselho do guru sem arriscar o palpite , tiro certo! A crença e a ideologia lhe falaram mais alto. Siboney ganharia no bicho , mas, com certeza , precisaria dividir com outros tantos que, se contassem de seus sonhos, também acertariam . Prêmio dividido , caro sacristão ! Quanto rigor, caríssimo guru! Eita que o guru é cabra-macho e se assustou com o Deus me livre ! Mutilar o pobre homem, amigo , se tantos sonhos sonhados caminham por terras do sem fim e para um imaginário tão próximo do que cada um quer ser . Pois eu, na condição do guru, faria é muita pergunta e pediria detalhes , sensações, anseios e como tem sido sua vida sexual. Que matéria nós teríamos. Ou não? Que venham outros contos sem a severidade da ideologia de gênero do atônito guru. Envie sonhos assim que ajudo no palpite e no encontro com ele mesmo e suas preferências. É certo que é muita curiosidade para uma Madre Superiora de Convento, talvez até por isso, conhecer os desejos recolhidos que ao inconsciente não escapa. Um abraço , com admiração . Teresa Cristina .
Mas, se ele gostou?
Meu amigo Bandeirante Deus te abençoe grandemente.
Meu caro Raimundo. Se o Gildo Siboney não jogar fora o fiofó, vai ficar uma campana de trombone.