Maria Iris Albquerque e Silva, filha de Emigdio Rosa e Silva, o Rosa Ribeiro, e de Maria de Albuquerque e Silva, a Maria Bezerra, nascida a 6 de novembro de 1937, faleceu, de causas naturais, a 5 de maio de 2023, em Framingham (MA), Estados Unidos, onde morava com Crésio Antônio da Silva Júnior, o Juninho, seu ínico filho. Era a oitava na ordem de descententes do casal.
A FAMÍLIA ALBUQUERQUE E SILVA EM 1938
Maria Alice, Maria Isaura, Magólia, sobrinha, e Pedro;
Bergonsil, Afonso Celso, Maria Bezerra,
Maria Iris, Rosa Ribeiro, Raimundo Floriano e José
EM SEU DIÁRIO, ROSA RIBEIRO ESCREVEU:
Maria Iris Albuquerque e Silva nasceu no dia 6 de novembro de 1937, às 20h00, à Rua 11 de Julho, e foi batizada pelo Padre Cincinato Ribeiro Rego, a 29 de setembro de 1938, na Igreja Matriz desta cidade. Na ocasião, foi crismada pelo Reverendíssimo Arcebispo Dom Carlos Carmello de Vasconcellos Mota, sendo seus Padrinhos de batismo Luiz da Costa e Silva e sua mulher, Dona Corina Pereira da Silva; de crisma, Maria Alice Albuquerque e Silva, e, Madrinha de Carregar, Joana Dias dos Santos.
Maria Iris Albuquerque e Silva casou-se religiosamente com efeito civil na Igreja Matriz desta cidade, à Praça Getúlio Vargas, com o Sr. Crésio Antônio da Silva, no dia 23 de dezembro de 1967, às 19h30, sendo oficiante o Padre italiano João Audísio. Seguiram no dia 24 do mesmo mês para a Barragem da Boa Esperança, Piauí, via Floriano.
Filho de Maria Iris e Crésio Antônio:
Crésio Antônio da Silva Júnior - 24.09.68 - Balsas.
Maria Iris seguiu para Anápolis no dia 11 de julho de 1970, em avião, com o filho Juninho.
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NOTA DO EDITOR:
Maria Iris deixa um filho, uma nora e três netos.
CRÔNICA DE MARIA DOS MARES, A CAÇULA DOS ALBUQUERQUE E SILVA:
Maria Iris
O seu nome é Maria Iris. Iris é uma flor muito importante na cultura de alguns países, de há muito tempo. É uma flor que tem também na mitologia seu significado muito importante. Segundo os escritos antigos dos egípcios, os faraós, acreditava-se que as três pétalas da íris, a flor íris, representava a sabedoria, fé e coragem, e que a flor preservava seu poder após fenecer. Se alguém merece estar entre os anjos nos jardins celestiais, com certeza é Maria Iris e, com certeza, também, o Pai Celestial estará a dizer-lhe: “vem, Iris, dar continuidade a tua fé e generosidade, vem cantar teus louvores religiosos, escrever teus cartões de felicitação, presentear com empadinhas e soltar a voz com um copo de leite na mão chamando o filho amado, Juninho!”
Maria Iris recebeu, como complemento à Maria que todas nós recebemos, a Iris, o nome de uma flor que, para mim, é uma metáfora, que eu não vou explicar, mas quem a conheceu sabe muito bem o sentido disso que eu estou falando.
Nossa irmã, até certo tempo, foi tagarela e, como eu já disse, gostava de cantar e tinha uma boa voz, mas, depois de um certo tempo, isolou-se e, na sua solidão, se esqueceu da palavra e passou a viver no mutismo tal que perdeu praticamente a riqueza verbal que tinha, com a voz para cantar, conversar e interagir com as pessoas. Temos saudades, mas, com certeza, a essa hora, você está cercada de anjinhos e com eles vai fazer muitas travessuras aí nos jardins do Pai Celestial. Tchau e, a qualquer hora, nós também iremos, para comer pipoca olhando de cima o pôr do sol na praia do Jacaré.
Temos saudades!
Maria dos Mares
ROSIMAR, O VARÃO CAÇULA DA FAMÍLIA
Raimundo Floriano
(Publicado em 06.11.2020)
Rosimar Albuquerque e Silva, meu irmão, nasceu em Balsas (MA), no dia 6 de novembro de 1940. Filho de Emigdio Rosa e Silva, o Rosa Ribeiro, e Maria de Albuquerque e Silva, a Maria Bezerra, é o último varão e nono de uma prole de dez, da qual eu sou o sétimo.
Rosa Ribeiro e Maria Bezerra
Última foto dos dez irmãos reunidos
Afonso, Raimundo, Bergonsil, Rosimar e Pedro
Maria Isaura, Maria dos Mares, Maria Alice e Maria Iris
Estas são fotos suas do tempo de infância:
Raridades do meu acervo
Miracema, 1949 - Carolina, com a sobrinha Ceres, 1952
Foto de 1948
Maria Alice, Maria Isaura e Pedro Silva
Raimundo, João Emigdio, Maria dos Mares e Rosimar
Rosimar concluiu o Curso Primário no Grupo Escolar Professor Luiz Rêgo, em Balsas; o Primeiro Grau, no Ginásio do Sertão Maranhense, em Carolina; o Científico, no Liceu Paraibano, em João Pessoa; e graduou-se em Medicina pela Universidade Federal de Goiás, em 14 de dezembro de 1966.
Foto do dia da Colação de Grau
Afonso, Maria dos Mares, Maria Alice, Maria Bezerra, Rosimar
Maria Iris, Bergonsil, Maria Isaura, Raimundo e Pedro
Casou-se com Cláudia Teresa Simionatto e Silva, filha de Waldomiro Simionatto e Anita Lollato Simionatto, no dia 28 de julho de 1968. A cerimônia civil realizou-se às 12h30, na Avenida Goiás, nº 101, Ap. 304, e a religiosa, na Capela do Ateneu Dom Bosco, às 19h30 do mesmo dia.
Rosimar e Cláudia
Rosimar e Cláudia têm 4 filhos: Renato, casado com Ana Paula; Luciana, casada com Flávio; Adriane, casada com Frederico; e Marianne, casada com Sérgio. Até agora, são cinco os netos: Clarice, Laura, Eduardo, Alice e Annita, todos residentes em Brasília.
Rosimar e Cláudia com os filhos
Renato, Luciana, Marianne e Adriane
Rosimar e Cláudia, com os cinco netos
Única foto de Rosa Ribeiro com os 10 filhos - Goiânia, 1967
Afonso, Raimundo, João Emigdio, neto, Oswaldina, prima, Maria Iris, Pedro C. Silva, genro,
José, Bergonsil, Rosimar, Raimundo Silva, genro, Pedro, Isaurinha, neta, Maria Isaura,
Rosa Ribeiro, Maria Alice, Pedro Ivo, neto, e Maria dos Mares
Rosimar fez Estágio Médico por 2 anos, no Hospital do Servidor Público, em São Paulo, após o que deu início a sua carreira profissional, primeiramente em Carolina, por um ano, mudando-se depois para Goiás, começando por Aurilândia, onde ficou até 1969. A seguir, transferiu-se para Ceres, onde clinicou pelo período de 3 anos. Então, fixou-se definitivamente em São Luís de Montes Belos, atendendo no Hospital Dom Bosco, ao mesmo tempo em que construiu Hospital Montes Belos, do qual é sócio-proprietário. Em São Luís, prestou seus bons serviços na Medicina durante 48 anos.
Neste ano de 2020, combatido o bom combate, resolveu aposentar-se e mudar-se para Brasília, onde reside toda a sua prole.
Foi com imensa alegria eu recebi a notícia de sua vinda para cá, o que minorará, um pouco, a solidão fraternal que ora vivencio. Até meados dos anos 1970, éramos 5 irmãos em Brasília: Maria Isaura, José, Afonso, Raimundo e Maria dos Mares, que se mudou, indo para Londres e, depois, radicando-se em João Pessoa. Com o encantamento dos outros três, apenas eu fiquei por aqui para contar essa história.
O momento não nos agraciou. Presença física, nem pensar, aprisionados que estamos por essa terrível pandemia, cujo fim não temos a menor ideia de quando acontecerá. Por ora, só o telefone para nossa interação.
A Família Albuquerque e Silva é festeira por natureza, tem a alegria na massa do sangue e não perde a oportunidade de se reunir em retumbantes comemorações, notadamente nas datas redondas, como esses oitenta do Rosimar.
Coincidentemente, hoje, 6 de novembro, também é o aniversário da Maria Iris, a Zero Oito, residente os Estados Unidos, há sete anos, com seu filho único, Crésio, o fabuloso Juninho, e netos. Sendo dupla a comemoração, os dois irmãos não são gêmeos. A última data redonda da Maria Iris, 80, aconteceu há três anos. A próxima, portanto, será daqui a sete.
O sexagésimo aniversário Rosimar, no ano 2000, foi comemorado em grande estilo. Aluguei, com a coordenação da Veroni, minha mulher, um grande ônibus interestadual, que nos levou para São Luís de Montes Belos, completamente lotado, umas 50 pessoas – irmãos, primos e sobrinhos –, onde a inesquecível festa se prolongou por dois dias.
Em 2010, nos setenta, a reunião foi aqui em Brasília, no Lago Norte, residência de Sérgio e Marianne, contando com o comparecimento em peso da família e amigos, em confraternização que ficará para sempre em nossas memórias.
Este ano, pela passagem de seus oitentões, e com a mudança do Rosimar para Brasília, a festa seria de arromba, como é do nosso feitio. Preparávamo-nos para esse marcante evento, mas a quarentena ditada pela pandemia veio tolher toda a nossa alegria presencial. Não preciso dizer mais nada.
Ela ocorrerá, porém, com o mesmo entusiasmo, com toda a pompa e circunstância, em nossos corações!
(25.06.1926- 03.03.2002)
Raimundo Floriano
Maria Alice, caricaturada por Juarez
Maria Alice foi um símbolo de alegria, da caridade e do amor ao próximo. Um paradigma de filha, irmã, esposa, mãe, e avó, além de amiga sincera e incondicional de todos que a conheceram.
As lembranças mais nítidas que tenho dessa minha irmã são as marcadas pelas festas, principalmente o Carnaval, quando ela ensaiava com as amigas as canções lançadas no ano e, nos bailes, divertia-se a valer, naquela inocência das festividades carnavalescas do sertão de outrora. Na foto abaixo, ela, com primas e amigas, preparando-se para o ensaio do Carnaval de 1950. Queriam sorriso mais brejeiro, mais espontâneo, mais faceto, mais puro?
Violeta, Maria Alice, Criseida, Flory, Iracy e Yolanda
Para abrir esta crônica, pedi ao Juarez Leite, meu ilustrador, que fizesse uma caricatura da Maria Alice, partindo de foto mais recente, batida há uns quinze anos, muito esmaecida. E ele, mesmo sem tê-la conhecido, captou, de forma brilhante, a jovial personalidade dessa irmã querida.
Maria Alice Albuquerque e Silva nasceu no dia 25 de junho de 1926, em Balsas (MA). Era filha de Rosa Ribeiro e Maria Bezerra, meus pais. Dez anos mais velha do que eu, era a terceira, numa prole de dez irmãos, da qual eu sou o sétimo.
Esta é sua foto mais antiga, batida quando estava com dois anos de idade:
Rosa Ribeiro, Maria Bezerra,
José, Pedro, Maria Isaura e Maria Alice
Estudou em Balsas até concluir o Primário, quando, em busca da realização do sonho de toda moça da época – ser professora –, foi estudar em Teresina (PI), onde cursou a Escola Normal Estadual.
Faço questão de relatar um episódio daquela época, que ela me contou em 1991, quando festejávamos o Centenário de Rosa Ribeiro, nosso pai, in memoriam.
Ainda adolescente, ela se encontrava de férias escolares em Balsas, devendo retornar para Teresina numa balsa, a chamada “balsa dos estudantes”, que sairia num domingo, em viagem que, ao sabor das águas, teria 15 dias de duração. Vejam bem como era sacrificada a vida dos estudantes naquele tempo, devendo interromper as férias duas semanas antes, para chegarem a ponto de pegar o início das aulas.
Sucedeu que, no mesmo dia em que se daria a partida da balsa, seria realizado em Balsas um grande piquenique, com muita música e animação, na Fazenda Maravilha, que a Maria Alice não queria perder de jeito e maneira. Por isso, na véspera da viagem, ela andava na maior tristeza, com a cara inchada de tanto chorar escondido pelos cantos lá de casa. Papai, notando isso e, cientificando-se do motivo, tomou uma providência inesperada. Sabendo que a balsa, que só viajava de sol a sol, pernoitaria na Fazenda Capim Branco, umas seis léguas rio abaixo, decidiu que Maria Alice iria ao piquenique e que, terminada a festa, ele a levaria até a dita fazenda. Assim se fez. Já no crepúsculo, montados em dois cavalos bons de sela, guiados pela lua e pelas estrelas, venceram o percurso, alcançando a balsa ao romper da aurora, antes de ela ser desamarrada para prosseguir viagem. Tal ação do velho Rosa Ribeiro me serviu de verdadeira lição para o modo de como me portar na condução da vida de minhas filhas.
Em Teresina, Maria Alice chamava a atenção pela beleza sertaneja. Essa rara formosura fez com que, em meados dos Anos 1940, fosse eleita Rainha dos Estudantes da Capital Piauiense.
Rainha dos Estudantes
Conquistado o diploma de professora, retornou para Balsas, onde lecionou no Grupo Escolar Professor Luiz Rêgo até 1956.
Sempre que me recordo daquela época, vêm-me à lembrança as festas das quais ela participava e as músicas que ela cantava, principalmente no período carnavalesco. Sendo a mulata da família, minha imaginação infantil levava-me a crer que a marchinha A Mulata é a Tal – “Branca é branca, preta é preta, mas a mulata é a tal, é a tal...” – de Ruy Rey, lançada em 1948, fora composta especialmente pensando nela.
A mulata brejeira
Também ficou gravada em minhas recordações a imagem dela, de nossas primas Violeta e Iracy, as amigas Criseida e Yolanda e outras, fantasiadas de odaliscas, cada qual com um pandeiro árabe na mão direita, no Carnaval de 1947, em cordão que tinha como tema a marchinha Odalisca – “Vem, odalisca, pro meu harém...” –, gravação de Nélson Gonçalves. Como o Oriente Médio sempre foi rica fonte de inspiração para os compositores do passado, recordo-me, dela, novamente, fantasiada com seu grupinho, de odalisca, no Carnaval de 1951, dentro do tema da marchinha Levanta o Véu – “Levanta o véu, iaiá, levanta o véu, iaiá, eu sei que o teu Alá há de te perdoar...” – gravação do desconhecido Ivan de Alencar. A seguir, duas odaliscas:
Maria Alice e Yolanda
No dia 25 de fevereiro de 1956, Maria Alice casou-se com Raimundo de Sousa e Silva, nosso primo, filho de Cazuza Ribeiro e Ritinha Pereira, indo residir na vila de engenheiro Dolabela (MG), onde se localizava a Usina Malvina, uma das fábricas de açúcar e álcool do Grupo Matarazzo, da qual Raimundo era o Químico Industrial, situada em terras do Município de Bocaiúva. Seguiu com o casal a jovem Maria Júlia, que já vivia em nossa casa desde menina, sobrinha do Comandante Puçá e de Maria Rodrigues, de quem falarei em outra oportunidade.
Maria Alice e Raimundo
Em Minas, o casal teve dois filhos: Pedro Ivo, nascido em Bocaiúva, no ano de 1957, e Maria Isaura, nascida em Belo Horizonte, em 1958.
No início dos Anos 1960, o casal mudou-se para Brotas (SP), onde Raimundo recebera melhor proposta de trabalho em outra grande usina açucareira, pertencente àquele grupo empresarial. Ali permaneceu até 1963, quando veio a fixar residência em Anápolis (GO), onde Raimundo e outros empresários fundaram uma indústria no ramo de saboaria. Nessa cidade, em 1966, Maria Alice deu à luz Raimundinho, o filho caçula.
No ano de 1967, nova mudança, dessa vez em caráter definitivo. Com aposentadoria de Rosa Ribeiro, Maria Alice foi nomeada Tabeliã do Cartório do 2º Ofício de Balsas, sucedendo a papai, enquanto Raimundo assumia o cargo de Fiscal de Rendas do Estado. Eram as aves voltando ao ninho antigo. E a cidade muito ganhou com isso.
Inicialmente, porque, com eles, voltava a se instalar naquele meio um pouco da alegria do passado, um tanto perdida com o progresso vivido nos novos tempos. No sítio Bebedouro, distante cerca de légua e meia do centro da cidade, passaram a se realizar as mais animadas comemorações e os mais festivos encontros, com a participação de todos os familiares e demais amigos.
O sítio Bebedouro, oásis balsense de alegria e felicidade:
Sítio Bebedouro
A seguir, o casal em meio à juventude foliona, no Clube Recreativo Balsense:
Maria Alice e Raimundo - Carnaval de 1975
Paralelamente ao trabalho e ao lazer, Maria Alice, com o total apoio e cooperação do Raimundo, deu continuidade ao trabalho de Maria Bezerra, nossa mãe, esmerando-se na assistência às pessoas carentes, na organização de festejos religiosos, na consolação dos aflitos, no aconselhamento aos transtornados, na visitação aos enfermos, na assistência aos agonizantes e na ajuda aos carentes, material ou espiritualmente. Com sua morte, passou-se a ouvir, novamente, 33 anos depois, no Município e em seus arredores, a mesma frase comum quando Maria Bezerra nos deixou: – Morreu a Mãe dos Pobres de Balsas!
Sua última viagem a Brasília foi realizada com um pretexto: comparecer à festa de aniversário dos filhos do Luís Fernando, nosso sobrinho, e à formatura, em Anápolis, de Reinaldo, filho da Maria Júlia, a garota que a acompanhou para Minas quando casou. O negão – clone do goleiro Dida –, meu afilhado, aos 21 anos de idade, graduava-se em Ciência da Computação pela Universidade Estadual de Goiás. Festa? Era com ela mesmo!
A solenidade se daria no dia 7 de março de 2002. No início do mês, já aqui em Brasília, Maria Alice, com problemas respiratórios – sofria de asma –, foi internada no HGO para os devidos cuidados médicos. A última vez em que a vi, foi na tarde do dia 2, quando ela, recuperada e rodeada de parentes, relembrava, cantando, sucessos carnavalescos do passado.
No dia seguinte, 3 de março, domingo, ela teve alta e foi para a casa do Afonso, nosso irmão, onde se hospedava. À tardinha, estando à mesa fazendo um lanche com ele, passou mal, perdeu os sentidos e nunca mais voltou. Partiu imediatamente, sem muito sofrer.
Hoje, sabemos que a vinda para festas era mais um pretexto por nós ignorado. Ela viera mesmo para despedir-se dos irmãos e do resto da família. E despedida mais alegre não poderia haver. No aniversário das crianças, estavam presentes cinco de seus irmãos e todos os descendentes e agregados das famílias de Rosa Ribeiro e Cazuza Ribeiro residentes em Brasília.
Maria Alice era Ministra da Eucaristia. Seu trabalho, juntamente com o Apostolado da Oração, mais conhecido como Grupo das Romeiras, em muito contribuiu para arraigar no coração de seus conterrâneos o sentimento da caridade e da fé católica.
Antes de exalar o último suspiro, nos braços de nosso irmão Afonso, ainda teve um átimo de lucidez e, ao ouvir a Lígia, nossa cunhada, telefonar pedindo uma ambulância, exclamou: – Não é preciso, gente, estou bem!
E estava mesmo! Naquele santo momento, ela já segurava na mão de Deus!
(24.06.1942)
Raimundo Floriano
Maria dos Mares, com o ícone do Elefante Branco
Maria dos Mares é minha irmã caçula. Nascida em Balsas (MA), no dia 24 de junho de 1942, é filha de Emigdio Rosa e Silva, o Rosa Ribeiro, e Maria de Albuquerque e Silva, a Maria Bezerra, meus pais. É a última de uma prole de dez, da qual sou o sétimo.
Rosa Ribeiro e Maria Bezerra
Na realidade, foi batizada com o nome de Maria das Dores Albuquerque e Silva, mas, após fixar residência nas praias paraibanas, achou que os ares marinhos lhe traziam muitos eflúvios positivos e benfazejos, como de fato, e decidiu mudá-lo para Maria dos Mares, o que foi sacramentado pelo jamegão dum Juiz de Direito.
E não ficou só nisso não. Vivendo sempre inconformada com o status quo, ao casar-se, como o sobrenome do marido era Silva, acrescentou-o ao seu, ficando Maria das Dores Albuquerque Silva e Silva, mais tarde Maria dos Mares, como já dito. Parece até sobrenome de gringo latino-americano.
Esta é sua mais antiga foto, pelo que me consta. Nela, aparecem Maria Alice e Maria Isaura, irmãs, Pedro Silva, marido da última, Raimundo Floriano, irmão, João Emigdio, sobrinho, Maria dos Mares e Rosimar, irmão:
Foto batida em 1948
E este flagrante e da última reunião dos irmãos, ocorrida no ano de 1990:
Afonso, Raimundo, Bergonsil, José, Rosimar e Pedro;
Maria Isaura, Maria dos Mares, Maria Alice e Maria Iris
Maria dos Mares estudou no Grupo Escolar Professor Luiz Rêgo, no Primário, e no Ginásio Balsense, no Secundário. Concluído esses dois cursos, qualquer aluno estava apto a enfrentar o mercado de trabalho no sul-maravilha e conquistar seu lugar ao sol. Na imagem a seguir, ela e duas colegas do Ginásio, as irmãs sambaibenses Maria da Cruz e Maria de Fátima Rêgo:
Da Cruz, Fátima e Maria dos Mares
No início de 1961, veio para Brasília, onde já morávamos 4 de seus irmãos: Maria Isaura, José, Afonso e eu. Hoje, aqui, só eu resto, talvez para contar a saga de nós todos. Mercê de Deus, o que muito agradeço.
Dando continuidade a seus estudos, cursou o Centro Educacional Elefante Branco, concluindo o Curso de Normalista em 1964. Mais adiante, me alongarei sobre o isso. Com o diploma de Professora, passou a fazer parte dos quadros da Fundação Educacional do Distrito Federal.
De extrema sensibilidade e vivendo no meio intelectual brasiliense, conheceu Natanael Rhor da Silva, Professor de Física de UnB, com quem se casou, no dia 15 de agosto de 1970. Pouco tempo depois, mudou-se para Londres, acompanhando o marido, que ali faria o Doutorado. Adiante, foto do casal:
Permaneceu na Inglaterra por quatro anos, após o que o casal retornou para o Brasil, fixando residência em João Pessoa (PB), onde Natanael iria chefiar o Departamento de Física da Universidade Federal da Paraíba. Nessa mesma instituição de ensino universitário, Maria dos Mares conquistou o Grau Superior de Assistente Social.
Poeta, pintora, desenhista e escultora, Maria dos Mares desenvolveu na Capital Paraibana intensa atividade cultura, e assistencial o que se prolonga até os dias de hoje.
Fissurada pelo Mar, sempre morou à beira dele, primeiramente, na Praia do Bessa – por algum tempo era conhecida como Maria da Praia do Bessa –, depois, na Avenida Oceano Atlântico, Cabedelo, em confortável e amplo apartamento, de cuja varanda, e com um bom binóculo, pode-se observar os navios passando ao largo e até flagrar, em suas cabines, algum casal em atitude de sexo explícito.
Especializada em cerâmica, Maria dos Mares é uma referência municipal e estadual, quer em seu meio social e profissional, quer no âmbito governamental.
Dando asas a sua inspiração e seu poder criativo, montou, em João Pessoa, a Cerâmica Maria dos Mares, cujos artesanatos eram amiúde procurados pelos turistas que visitam a cidade. A seguir, dois de seus postais alusivos ao Natal:
No ano de 2012, a ECT lançou este selo, comemorativo de deus 70 anos:
Voltemos agora ao Elefante Branco, um dos temas desta matéria.
Tradicionalmente, elefante branco é expressão idiomática que designas posse valiosa da qual o proprietário não pode se livrar e cujo custo, especialmente o de manutenção, é desproporcional a sua utilidade ou valor.
O termo tem origem nos elefantes albinos mantidos pelos monarcas do Sudeste Asiático em Myanmar, Tailândia Laos e Cambodja, onde são considerados sagrados.
No Brasil, a construção da Nova Capital, bem como tudo que nela se continha eram considerados, pela Oposição a Juscelino Kubitschek, um elefante branco. Era o Velho do Rastelo pra todo lado, a dar de pau nas costelas do Presidente.
Mas isso não foi o caso de nosso Elefante Branco, colégio onde Maria dos Mares estudou. A denominação surgiu porque o prédio, visto de certo ângulo, assemelha-se a um elefante branco, conforme vocês veem acima em sua logomarca.
Agora, neste ano de 2014, foi comemorado, com toda a pompa e circunstância o Cinquentenário da Primeira Turma de Normalistas do Elefante Branco. Acorreram ex-formandas de todos os cantos do Brasil, a exemplo de minha irmã Maria dos Mares, que veio com Natanael, de João Pessoa, para a grande festa, organizada pelas colegas Marilena, Janaína, Leda, Heloísa, Maria Luíza, Maria Abadia e Rosecler, que aparecem na nesta pose publicada pelo Correio Braziliense:
Histórica é este documento fotográfico, apresentando-nos a Turma de 1964, onde Maria dos Mares aparece em evidência:
Primeira Turma de Normalistas do Elefante Branco
Quer dizer, Maria dos Mares fez parte da História de Brasília, ao formar-se em seu principal Estabelecimento de Ensino Médio da época, e. hoje, participa da História João-pessoense, paraibana e nordestina, com sua atividade profissional, conforme acima foi dito.
Mas Maria dos Mares não para. Sempre em ebulição, acaba de inaugurar novo espaço cultural, que já é o point dos intelectuais da Capital Paraibana:
Para saber um pouco mais sobre Maria dos Mares, assistam a este vídeo:
(08.06.1933 – 04.04.2004)
Raimundo Floriano
(Publicado a 08.06.17)
Afonso Celso aos 18 anos
Aconteceu bem no comecinho de Brasília. Ao amanhecer de belo dia ensolarado, um jipe da NOVACAP - Companhia Urbanizadora da Nova Capital, que fazia o percurso Taguatinga/Plano Piloto, capotou já na saída do Setor de Indústria. Imediatamente, juntou um monte de curiosos, que socorreu o motorista, levou-o para o Hospital Distrital – atual Hospital de Base –, onde ele foi devidamente atendido. Umas três horas depois, quando tomou consciência de si, ele perguntou:
– Cadê Seu Afonso?
Foi uma correria que nem te conto! Médicos enfermeiros, pressurosos, dirigiram-se ao local do acidente, encontrando-o desacordado, no meio de umas moitas de capim. Devido ao grande tempo em que esteve exposto aos raios solares, sua cabeça ficou toda inchada, a cara completamente deformada, parecendo um ET, mas com a agravante de que não se lhe viam os olhos. Mais ou menos assim:
Na época, Afonso era Chefe de Pessoal na NOVACAP, quer dizer, o Homem da Caneta, que assinava a Carteira de Trabalho de tudo quanto era candango. Por isso, o Hospital ficou superlotado de pessoas querendo visitá-lo, do peão ao engenheiro, sendo necessário fazer uma escala para não tumultuar os serviços. Houve um peão, Seu Raimundo Paz, antigo magarefe em Balsas, para quem o Afonso arrumara um gancho, que se emocionou dum tanto ao ver o lastimável estado em que se encontrava o conterrâneo que, ao sair, deixou, na mesinha da sala de espera, uma nota de um cruzeiro! Nunca me esqueço desse lance!
Afonso era duro na queda. Aliás, queda era com ele mesmo!
Doutra feita, bem antes, ainda éramos meninos, eu ia saindo da escola, quando me disseram que ele caíra do pé de imbu de nosso quintal e quebrara o braço. Eu, no caminho de casa, ia imaginando onde colocariam os pedaços do braço, achando que a quebra era igual à de um prato de loiça ou dum copo de vidro. Ao chegar, já o encontrei com o braço direito entalado – não existia gesso por aquelas bandas – e, com a mão esquerda, tocando seu vialejo, como chamávamos a gaita de boca naquele tempo em nosso sertão.
Outras quedas houve, a maior delas com ele perto dos 70, por demais traumática, mas da qual saiu numa boa.
Outra coisa em que ele era craque era em exibir-se! Era a única pessoa, além do Mudo do Salomão, que atravessava o Rio Balsas – largura de 60 metros – mergulhando, chegava à outra margem, dava um sinal com uma das mãos e voltava, isso de um fôlego só! Foi também a única pessoa que vi caminhar descalça sobre brasas avivadas nas fogueiras de São João!
Em Balsas, havia dois pés de eucalipto, um em nossa casa e o outro no Egito, sítio distante cerca de meia légua, cujas folhas eram muito procuradas para chás com fins medicinais. Como ambos tinham caules finos, sem galhos, e copas muito altas, feito tetos de arranha-céus, era necessário alguém que subisse para colhê-las. Em Balsas, só o Afonso era capaz dessa proeza!
Afonso Celso de Albuquerque e Silva, meu irmão, nasceu em Balsas (MA), no dia 8 de junho de 1933. Filho de Emigdio Rosa e Silva, o Rosa Ribeiro, e Maria de Albuquerque e Silva, a Maria Bezerra, era o sexto de uma prole de dez, da qual eu sou o sétimo. Ontem, se vivo fosse, faria 81 anos. Coincidentemente, seu aniversário caía no de outro irmão, o Carioquinha, nascido em 1928. Esta é a foto mais antiga que temos dele:
Afonso é esse à esquerda, encostado no sofá - Eu sou o de macaquinho e cabelo cacheado
Este outro flagrante foi colhido também em nossa infância:
Afonso Celso e Raimundo Floriano
Em 1947, concluído o Curso Primário, Afonso embarcou na carroceria dum caminhão com destino a Goiânia, onde morava nossa avó materna, para prosseguir nos estudos.
Ele sempre gostou de ter seu dinheirinho. Em Balsas, exercia a profissão de sineiro, cobrando 2 cruzeiros de cada comerciante para bater as horas de abrir e fechar as lojas, atividade que me repassou ao sair de lá. E de vestir-se com roupinhas mais ajeitadas, coisas que a minguada mesada paterna era incapaz de suprir, razão pela qual, desde que chegou à capital goiana, paralelamente aos estudos, trabalhou duro para concretizar seus desejos e vaidades.
Como emprego fixo, exerceu a função de repórter fotográfico na Foto HB, do armênio Haroutiun Berberiam. Naquele tempo, as fotos eram coloridas manualmente, no que o Afonso era perito. Como bico, foi hipnotizador, professor de jiu-jítsu, contrarregra radiofônico, ator teatral e gaitista, na Rádio Brasil Central e posteriormente, na Rádio Clube de Goiânia, compondo o elenco efetivo do Carrossel da Semana, badalado programa de auditório.
Em dezembro de 1957, o Carrossel da Semana veio apresentar-se aqui em Brasília, num espetáculo para Juscelino e a candangada, ocasião em que o Presidente o convidou a integrar a equipe da construção da Nova Capital. Convite aceito, Afonso, já com o Segundo Grau completo, foi admitido como Assistente Administrativo da Divisão de Pessoal da NOVACAP.
Dentro de pouco tempo, galgou ao cargo de Chefe de Pessoal e, com o decorrer do tempo, até aposentar-se, foi Diretor de Pessoal da DTUI - Departamento de Telefones Urbanos e Interurbanos e da COTELB - Companhia de Telefones de Brasília, depois TELEBRASÍLIA - Telecomunicações de Brasília.
Seresteiro, paquerador, romântico e apaixonado, casou-se, a 6 de novembro de 1963, com Lígia Magnólia Reis e Silva, que lhe deu três filhos: Luciene, Patrícia e Afonso Celso.
Afonso e Lígia, no dia do enlace matrimonial
Em 1973, Afonso bacharelou-se em Ciências Jurídicas e, ao aposentar-se, montou seu Escritório de Advocacia, onde obteve magnífico êxito, não só na esfera trabalhista, sua maior especialidade, como em outras áreas. Teve como cliente, por exemplo, num processo de emigração, o designer austríaco Hans Donner que, juntamente com a Globeleza - essa vestida como nasceu –, posou com ele para uma foto, troféu exibido e guardado com muito carinho, mas que se perdeu, como muitos outros flagrantes de momentos análogos em que foi partícipe, depois que ele nos deixou.
Afonso curtia a vida. Foi um globetrotter: conhecia todo o Brasil, as 3 Américas – do Norte, do Sul e Central –, o Caribe, o Oriente Médio, e toda a Europa. Tendo uma filha residente em Munique, Alemanha, fez daquela cidade sua base para percorrer os países do Velho Continente.
Tudo o que usava era da melhor qualidade – óculos, relógio, tênis, carro, computador e periféricos –, e suas gaitas, as germânicas Hohner, 64 vozes, em várias afinações, eram compradas diretamente na fábrica. Ei-lo aqui com uma delas:
Afonso e sua Hohner
Além da gaita, Afonso também tocava sanfona e escaleta. Na era do teclado, ele rapidamente se adaptou, incluindo esse instrumento em seu show musical, às vezes até com um solo na gaita, acompanhando-se no teclado, ou vice-versa. Eis o último que possuiu, com sua coleção de gaitas.
Afonso Show, seu teclado e suas gaitas
Afonso era dotado de habilidades incontáveis, dentre elas a prestidigitação, a arte origami, a computação gráfica e o artesanato em madeira, papelão, metal, plástico, isopor e buriti.
Tudo na vida tem início, meio e fim. Embora Afonso Celso fosse duro na queda, havia algo que lhe vinha bagunçando o coreto há certo tempo: o coração! Vez em quando, pregava-nos sustos! E que sustos!
No dia 04.04.04 – repararam na data, não é performática? –, um domingo, Afonso chegou de Palmas, onde mora uma de suas filhas, e, ao meio-dia, telefonou-me convidando para uma grande pescaria, no mês de julho, no Araguaia. Confirmada minha presença, saí para uma festinha de aniversário à qual estavam presentes muitos balsenses. Mais ou menos às 5 da tarde, recebi ligação comunicando-me que ela havia morrido. Foi difícil acreditar, pois eu, ao meio-dia, falara com ele!
Infelizmente, era verdade! Depois do almoço, deitou-se para um cochilo e nunca mais acordou. Caprichos do coração. Consola-nos saber que se foi mansamente, sem muito sofrer.
Esta foi a última foto que tiramos, com os dez irmãos juntos.
Afonso, Raimundo, Bergonsil, José, Rosimar, Pedro
Maria Isaura, Maria dos Mares, Maria Alice e Maria Iris
A 8 de junho de 2003, curtindo as coisas boas da vida, como era de seu feitio, Afonso comemorara a chegada aos 70 em grande estilo, em ágape musical e dançante, com a presença da família, dos confrades do Rotary e de seus amigos leais.
Perpetuando sua memória musical, Afonso deixou-nos este CD, no qual apresenta solos na gaita e no teclado:
Nestes dois flagrantes, vemo-lo em atuação:
Foi o Afonso que me apresentou a gaita com chave e me ensinou a fazer os baixos com a língua, dando a impressão de que se ouvem dois instrumentos. Outra técnica especial dele, com o mesmo objetivo, nunca fui capaz de assimilar: tocar oitavando, o que produz efeito de rara beleza sonora e também nos faz pensar em dois instrumentos a tocar.
Afonso era performático, como se vê no título desta matéria. Músico e Advogado militante residente em Brasília, ajuizava muitas causas nos Tribunais Superiores, como foi o caso do designer alemão Hans Donner, que a ele recorreu em seu processo de naturalização. Aqui vemos um flagrante da visita de Hans a seu escritório, acompanhado de mulher, Valéria Velenssa, a Globeleza, que não perdeu a chance de deixar, na bochecha esquerda do advogado, sua marca registrada.
Ontem, 8 de junho, foi seu aniversário. Como pequena amostra do talento desse querido e saudoso irmão, escolhi, de Ernesto Lecuona, a fantasia Malagueña, em solo de gaita:
(08.06.1928 – 15.07.2014)
Raimundo Floriano
(Publicado em 08.06.17)
José Albuquerque e Silva, o Carioquinha das Meninas, meu irmão, nasceu em Balsas (MA), no dia 8 de junho de 1928. Filho de Emigdio Rosa e Silva, o Rosa Ribeiro, e Maria de Albuquerque e Silva, a Maria Bezerra, era o quarto de uma prole de dez, da qual sou o sétimo. Coincidentemente, seu aniversário caía no dia de outro irmão, o Afonso, nascido em 1933. Esta é a foto mais antiga que temos dele, em 1928, no colo do velho Rosa:
Rosa Ribeiro, Maria Bezerra,
José, Pedro, Maria Isaura e Maria Alice
Sempre que lhe perguntavam por que a alcunha de Zé Carioca, se nascido no sertão maranhense, ele dizia que fizera um curso de carioca por correspondência. Mas a explicação é bem outra. No ano de 1942, o americano Walt Disney, dentro da Política de Boa Vizinhança, criou o personagem Zé Carioca, no filme Alô, Amigos, que se encaixou como uma luva no José, dono de olhos meio esverdeados e, naquele tempo, já fazendo suas papagaiadas, como enfiar a cabeça numa lata de querosene vazia, para ampliar a voz ao cantar. Assim, Zé Carioca passou ele a se chamar.
Neste flagrante, vemos nossa família em 1938, com José aos 10 anos, e eu de cabelos cacheados:
Maria Alice, Maria Isaura, Magnólia, prima, e Pedro; Bergonsil, Afonso,
Maria Bezerra, Maria Iris, Rosa Ribeiro, Raimundo Floriano e José
José fez o Curso Primário em Balsas, após o que, como todos os que queriam conquistar o futuro, embarcou numa balsa rumo ao saber, primeiramente em Floriano, depois em Teresina. Era de Balsas para Mundo.
Concluído o Ginásio, conseguiu emprego na Companhia de Fiação e Tecidos União Caxiense S/A. Trabalhava durante o dia e, à noite, preparava-se para o dificílimo concurso para o Banco do Brasil, o melhor emprego do país na época. Aprovado, foi admitido nos quadros do Banco no início de 1948, tomando posse em Teresina.
Sendo o que maior remuneração recebia em toda a família, transformou-se, desde então, em fonte segura na ajuda aos que a ele recorriam, parentes ou amigos.
Na data de hoje, 5 de setembro, quando elaboro este perfil, comemora-se o Dia do Irmão. Nada mais apropriado, pois, para que eu lhe renda um preito de gratidão pelo que representou em minha vida, não só nestes últimos 54 anos aqui em Brasília, em que nos apoiamos e socorremos mutuamente, mas também por dois benefícios marcantes com que me agraciou, decisivos para meu sucesso profissional, pelos quais constantemente lhe agradecia e deixo aqui patenteados: o primeiro, ao custear meus estudos, no Ginásio e no Científico, inclusive em colégio interno; o segundo, ao cortar por completo qualquer ajuda financeira, quando percebeu que eu não queria nada com a dureza.
José trabalhou em Teresina até 1951 quando, desejando residir à beira-mar e também procurando integrar-se ao meio artístico nordestino predominante no eixo Paraíba-Pernambuco, pediu transferência para João Pessoa.
Na Capital Paraibana e no Recife, cidades-gêmeas, conviveu com grandes estrelas nordestinas como Nélson Ferreira, Capiba, Claudionor Germano, Jackson do Pandeiro, Luiz Gonzaga, Patativa do Assaré, Severino Araújo, Marinês e outros, bem como com os que vinham de fora, em temporadas artísticas. Nos flagrantes abaixo, vemo-lo, todo enfatiotado, em companhia de Carmélia Alves, Abel Ferreira, Ary Barroso e pessoal da Orquestra Tabajara:
Dono de potente e educada voz, José tocava gaita de boca e violão, o que o deixava à vontade na convivência com o pessoal envolvido no meio artístico:
Também era muito enfronhado no esporte, especialmente no futebol, atuando como goleiro em times da AABB:
Com todos os pré-requisitos – jovem, solteiro, desportista, músico, alto salário –, José era excelente partido para as moças casadoiras de então, aprovado por 10 entre 10 pais de família da região. Por isso, teve muitas namoradas, namoro inocente, como do costume, de apenas pegar na mão, dançar colado, e pronto. Beijo? Só depois de casar. Algumas de suas namoradas, que mudaram sua alcunha apenas para Carioquinha, deixaram-lhe estas lembranças:
Embora grande romântico, namorador, seresteiro e paquerador, Carioquinha vangloriava-se como vacinado contra o casamento, chegando a compor marcinhas carnavalescas nas quais proclamava que jamais cairia no laço.
Em 1960, com dois de nossos irmãos já morando em Brasília – Afonso, desde 1957, e Maria Isaura, desde 1958 –, Carioquinha transferiu-se para cá, logo após a inauguração, tendo eu chegado em dezembro daquele ano. Em 1961, veio a Maria dos Mares que, nos Anos 1970, se mudou para o Estado da Paraíba, onde mora até hoje.
Foi um período em que a vida noturna de Brasília, para os rapazes solteiros, era intensa nos arredores, com muitas boates lotadas de meninas cortesãs, que preenchiam a vidas dos mancebos solitários da Capital Federal. Por ser frequentador assíduo daquela dolce-vita, José passou a ser conhecido como o Carioquinha das Meninas, pseudônimo que adotou para sempre. Por ficarem os principais cabarés na região denominada por Sete Quedas, nos arredores de Luziânia, ficou também conhecido como Embaixador Sete Quedas.
José foi o primeiro em nossa família a possuir automóvel zerado, um DKW-Vemag Belcar, sedã, verde-escuro, capota creme, que passou a servir de transporte de luxo para todos nós.
Seu currículo escolar estendeu-se até a conclusão do Ginásio. Desde então, passou a instruir-se como autodidata, adquirindo saber enciclopédico, notadamente no campo da Biologia, Filosofia, Esoterismo, Fisioterapia, Literatura, Ciências Sociais, Astrologia, Astronomia e Espiritualismo. Versado em Inglês, Espanhol, Latim e Francês, era bamba na Língua Portuguesa e atualizadíssimo com o Novo Acordo Ortográfico, sendo um dos revisores de dois de meus livros, o primeiro, Do Jumento ao Parlamento, e o último, Memorial Balsense, já na gráfica.
Ele foi nosso guru, nosso doutor, nosso consultor, e nos orientava em qualquer tipo de problema, mormente os de saúde, às vezes até prescrevendo o medicamento correto.
Além de mestre no cordel sarcástico, era humorista e dotado de incrível capacidade de construir frases de efeito. É dele esta, quando avaliava o comportamento de certa dama: “É direita, só entorta quando se deita”. Sabia desmontar, no ato, argumentos que lhe pareciam descabidos. Como no lance que passo a lhes contar.
No comecinho de Brasília, quando acontecia uma batida de carro – não falo em acidente, mas simples encostada –, acorriam ao local a televisão, os jornais, a perícia, o escambau. Uma dessas aconteceu com um sobrinho nosso adolescente, amassada besta, hoje resolvida pelos “martelinhos” de qualquer oficina, tendo ocasionado a presença de grande parte de nossa família e de toda a mídia brasiliense. Um coroa baixinho, ao ver nosso sobrinho com cara de criança, foi logo condenando: – É nisso que dá um menino desses dirigindo na rua!
Ao ouvi-lo, o José rebateu: – Você está enganado! Menino, não! Ele é maior de idade e tem Carteira de Motorista!
Não contente, o coroa retrucou: – Ainda bem que isso aconteceu, porque eu estava mesmo sem assunto para publicar amanhã em meu jornal.
Aí, funcionou a ferina verve do Carioquinha das Meninas. Encarando o jornalista coroa, falou-lhe: – Pois quando você estiver sem assunto, reúna um bando de garotos, leve-os para o cerrado, dê para todos eles e, no dia seguinte, publique esta manchete: VELHO SAFADO DANDO O C* NO MEIO DO MATO!
Durante muito tempo, manteve-se por aqui o reinado do Carioquinha das Meninas, solteirão cobiçado, autovacinado contra a instituição matrimonial.
Mas um dia ele mesmo decretou o fim dessa vida de folgazão, ao apaixonar-se por uma colega de trabalho do Banco, a bela carioca Lúcia Maria Garcia Frias, com quem se casou no dia 26 de setembro de 1970, na Igrejinha de Nossa Senhora de Fátima. O casal teve três filhos: Lara Maria, Ima Aurora e Alden Garcia.
José e Lúcia
Esse casamento durou até o início da Década de 1980, quando lhe adveio o divórcio, voltando o José a ser novamente o Carioquinha das Meninas e solteiro juramentado.
Sua atenção voltou-se totalmente para a Música, a Poesia, as Artes Manuais, o Espiritualismo e a Beneficência. Sem grandes ambições, gostava de proclamar que, enquanto pudesse andar com um carro velho pelas ruas e comer carne todos os dias, o Mundo estaria bom para ele.
Montou em sua garagem uma oficina profissional de serralheria – em que se especializou – e de conserto de bicicleta, atendendo a quem o procurasse, com um detalhe: nada cobrava! Não há morador nas redondezas de sua quadra, a 714 Sul, hoje na idade dos 30, que não teve uma bicicleta arrumada por ele.
Apaixonava-se facilmente, o que lhe inspirava montões de poemas, porém a “vacina” não deixava os romances prosperarem.
Formou, com amigos violonistas, trupes que se apresentavam nas noites candangas, notadamente em festas beneficentes, Embaixadas e domingueiras na AABB, dentre eles o Alencar Sete Cordas, o Alberto Vasconcelos e o Expedito Dantas, seu parceiro mais constante.
Carioquinha, Expedito e Alencar – Expedito, Carioquinha, Alberto e Raimundo Moura
Em meados da Década de 1990, o Carioquinha das Meninas, solteirão inveterado, quase depôs as armas ao inebriar-se por mimosa goiana, com quem vivenciou paixão adulta e avassaladora, que, embora efêmera, lhe rendeu alentada produção de românticas poesias. Ei-lo com sua Musa Inspiradora, Sonhado Sonho, no Réveillon 1994/1995:
Ao completar 80 anos, gravou, em dupla com o Expedito, este CD:
Capa do CD – Expedito e Carioquinha no Estúdio
Desde 1960, quando nos reunimos em Brasília, José sempre foi para mim mais que um irmão, ajudando-me nas dificuldades, orientando-me nas atribulações, participando de todos os momentos, tristes ou, a mais das vezes, alegres de minha vida: meu primeiro filho tem seu nome, sou padrinho de sua primeira filha, e minha caçula é sua afilhada.
José, talvez incorporando o Zé Carioca americano, sempre gostou de exibir-se e de fazer suas mungangas, como adiante se vê:
De uns poucos anos para cá, ele andava um tanto depressivo, cabisbaixo, silente, preocupando a todos nós, parentes e amigos, que não lhe compreendíamos esse comportamento. Na certa, ele, lá nos esconsos de seu coração, percebia, sem contar para ninguém, que the end was near, como fala a canção My Way, uma de suas preferidas.
No dia 15 de julho, ele partiu. Na véspera, deitou-se para dormir, na hora costumeira, e amanheceu sem vida. Saiu do palco do jeito que sempre pediu em seus trabalhos espiritualistas e, além disso, fazendo piada: a todos os amigos que comunico seu falecimento, tenho que escutar esta, em tom amenizador de nossa tristeza: – Quando acordou, tava morto!
Dos cinco irmãos que éramos aqui em Brasília, agora só resta apenas eu para contar a história de todos nós. É a vida nos levando, como diz o samba do Zeca Pagodinho. Em sua Missa do Sétimo Dia, a Missa da Redenção, escolhi esta foto, bem representativa do que ele foi, para distribuir com os que à solenidade compareceram:
Como lembrança auditiva de seu trabalho, escolhi estas três faixas, extraídas do CD que nos deixou, ao tornar-se octogenário:
Piscina, guarânia de Chrystian e Ralf:
A Media Luz, tango de Carlos Cesar Lenzi e Edgardo Donato:
Índia, guarânia de M. Ortiz Guerrero, J. Assunción Flores e José Fortuna:
Raimundo Floriano
Mônica em foto promocional
Mônica é bisneta de Seu Emigdio Rosa e Silva, o Rosa Ribeiro, e de Dona Maria de Albuquerque e Silva, a Maria Bezerra, balsenses, meus queridos e saudosos pais. Nasceu em Brasília, a 30.11.1967, onde morou até conquistar o Mundo, conforme adiante lhes contarei.
Seu esporte preferido sempre foi a patinação no gelo. Desde a tenra adolescência, começou a praticá-la aqui em Brasília, na Divertilândia, um rinque instalado no ParkShopping. Aos 19 anos, teve de afastar-se temporariamente desse lazer, devido a sua participação em intercâmbio cultural na cidade de North Platte, Nebrasca, EUA, onde não existia pista de gelo. Aliás, patinou apenas uma vez naquele país, quando foi a passeio a Colorado Springs, onde comprou o primeiro par de patins profissional. Um ano depois, retornou a Brasília.
Em 1987, o show Holiday on Ice, em parceria com a Joal Espetáculos Internacionais, abriu audições – testes – para uma turnê à parte denominada Carnaval no Gelo. Mônica, então com 20 anos, candidatou-se, sendo imediatamente classificada e contratada, excursionando, primeiramente, por três meses pelo interior de São Paulo. Ao término da temporada brasileira, foi convidada a participar do Holiday on Ice no ano seguinte. Iniciava-se, aí, sua carreira como Patinadora Internacional, com estreia em Milão, Itália.
Mônica no Corpo de Baile do Holiday on Ice e com a alemã Alexandra Ziegler (E)
Logo no início dessa excursão, protagonizou verdadeiro conto de fadas: o húngaro Lászlo Vadja, astro principal do Holiday on Ince, por ela se apaixonou, a atração foi mútua, e os dois se casaram na Europa.
Mônica em duas cenas - Com o marido Lászlo Vadja - Notícias do casamento
Sua permanência no Holiday on Ice durou até 1995, num total de 7 anos, viajando por toda a Europa, América do Sul e México. Retornando ao Brasil, terminado o contrato, conflitos profissionais determinaram também o fim desse glamouroso casamento.
Grandes momentos de Mônica no Holiday on Ice
Em junho de 1996, quando pensava que sua carreira de patinadora se havia encerrado, foi contratada pela Disney on Ice para compor o elenco do show Aladin na Turnê da América do Sul. No ano de 1997, seguiu com o espetáculo para a Ásia – Japão, Indonésia e Taiwan. Em terras japonesas, conheceu o empresário canadense Wesley Salter – estranho ao metiê artístico –, com quem contraiu novas núpcias.
Outros belos momentos internacionais de Mônica
No final de 1997, Mônica retornou à América do Sul, com o show Beauty and the Beast – A Bela e a Fera –, da Disney, quando teve a satisfação de, finalmente, apresentar-se em Brasília, sua terra natal, em novembro, no Ginásio Nílson Nélson.
Em 1998, após turnê pela Rússia, Mônica encerrou, após 10 anos de atuação, sua carreira de Patinadora Internacional, indo residir com o marido no Canadá.
Ao longo de 10 anos, apresentou-se nos 26 seguintes países: Brasil, Itália, França, Alemanha, Áustria, Suíça, Luxemburgo, Bélgica, Holanda, Inglaterra, Espanha, Dinamarca, Suécia, Rússia, Japão, Indonésia, Taiwan, México, Uruguai, Argentina, Chile, Peru, Colômbia, Venezuela, Polônia, e a antiga Checoslováquia.
Hoje, Mônica trocou o cosmopolitismo pelo prazer de estar de volta ao Brasil, desfrutando da companhia de sua grande família e da alegria de pintar.
Com extrema facilidade para assimilar línguas estrangeiras, o Ensino de Idiomas – Inglês, Francês e Húngaro –, tornou-se, após a Patinação Internacional, sua profissão definitiva.
É isso aí! Sangue balsense ornamentando o showbizz! De Balsas para o Mundo!
Para vocês, Mônica no primeiro teste classificatório de sua carreira:
Raimundo Floriano
Lábios insinuantes e naturais
Maria Isaura de Albuquerque e Silva, minha irmã, nasceu em Balsas (MA), no dia 28 de abril de 1921. Filha de Emigdio Rosa e Silva, o Rosa Ribeiro, e Maria de Albuquerque e Silva, a Maria Bezerra, era a primogênita de uma prole de dez, da qual eu sou o sétimo, e minha Madrinha de Batismo.
Esta é a mais antiga foto que temos dela com a família, em 1928:
Rosa, Maria, José, Pedro, Maria Isaura e Maria Alice
Desde menina, demonstrou grande propensão para as artes, aprendendo a tocar bandolim e piano, compor e transpor melodias para a pauta musical, o que lhe foi de grande valia quando ingressou no magistério e também na dramaturgia, como adiante veremos.
Ainda adolescente, diplomou-se Professora pela Escola Normal do Piauí, em Teresina, passando a lecionar no Grupo Escolar Professor Luiz Rêgo, em Balsas. A foto a seguir é de 1939, com Dona Rute Rocha, Diretora, à esquerda:
Já em 1940, tomava parte na organização de peças teatrais e Autos de Natal de Rua, como no famoso Reis de Dona Antônia – nossa tia –, cuja passagem assim ficou registrada:
Com a mudança de Tia Antônia para Teresina, Maria Isaura assumiu, por completo, a condução do Reis e a encenação de espetáculos teatrais, contando esses com números musicais e, ao final, peça teatral de sua autoria ou de escritor famoso, o que ficou para sempre conhecido como Os Dramas de Dona Maria Isaura.
Maria Isaura casou-se com Pedro da Costa e Silva no dia 12 de junho de 1943. O casal teve 4 filhos, João Emigdio, Economista, José Augusto, Aviador, Ana Alice, Turismóloga, e Luís Fernando, Bacharel em Letras.
Maria Isaura e Pedro Silva
Pedro e seus irmãos Luís, Regino, Virgílio e Sinoca pertenciam a uma família de negociantes de gado, comprando rebanhos no sul de Goiás e levando-os até o litoral maranhense ou cearense. Eram boiadas que, às vezes, compostas de mais de 500 cabeças, venciam extensa jornada de cerca de dois mil quilômetros, transpondo rios, contornando serras, varando florestas e percorrendo ermos sem estradas, guiando-se pelo sol e pelas estrelas, num roteiro conhecido como trilha boiadeira. Isso passo a passo, mansamente, em jornada que levava meses. Enfrentando ocasional estouro da manada, Pedro Silva, montado em seu burro de sela, jamais perdeu uma rês sequer.
Em 1944, o Grupo Escolar Professor Luiz Rêgo, que funcionava onde hoje é o Clube Recreativo Balsense, mudou-se para um prédio recém-construído, na Praça da Matriz, sendo Maria Isaura elevada ao cargo de Diretora. Em 1951, nova mudança, desta vez para a Praça Gonçalves Dias:
Nos palcos montados em ambas as sedes, os Dramas de Dona Maria Isaura conheceram seu tão decantado apogeu.
Grande elenco de um Drama encenado na Década de 1940
No segundo semestre de 1953, Maria Isaura, pagando promessa feita pela recuperação da saúde de um filho, cumpriu uma jornada, a pé, de Balsas a Floriano (PI), num total de 450 quilômetros de porta a porta, para louvar a Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Fátima que, vinda de Portugal, passaria, em outubro, por aquela cidade piauiense. Nessa romaria, que durou 23 dias, seguindo pela trilha das boiadas, acompanharam-na Maria Alice, nossa irmã, Cândido, peão-tropeiro de Pedro Silva, com Ciriaca, sua mulher e Eunice, sua filha. Faziam parte da comitiva três burros cargueiros, para transporte de vestuários, redes, víveres e material de cozinha.
Nas fotos a seguir, registros da histórica romaria:
A Imagem Peregrina de N. S. de Fátima – Altar em frente à Matriz de Floriano
Maria Alice e Maria Isaura, em frente ao altar – Lembrança da peregrinação
No início de 1957, Pedro Silva, a convite de sua irmã Sinoca, fazendeira em Cristalândia (GO), hoje Tocantins, mudou-se com a família para aquela cidade, onde continuou a negociar com gado, tendo Maria Isaura assumido o magistério em colégios cristalandenses.
Em outubro de 1958, nova mudança, dessa vez definitiva, para Brasília, onde, desde 1957, já se encontrava nosso irmão Afonso Celso.
Aqui em Brasília, Pedro Silva empregou-se como Fiscal de Obras da Companhia Urbanizadora da Nova Capital – Novacap, enquanto Maria Isaura passou a lecionar, inicialmente, no Ginásio Brasília, na Cidade Livre, hoje Núcleo Bandeirante. Contratada, em 1959, pelo DEC – Departamento de Difusão Cultural da Novacap, como Professora, dirigiu o Grupo Escolar Júlia Kubitscheck. Mais tarde, foi a primeira Diretora da Escola Classe da SQS 106:
Com Ivone Valadares, Vice-Diretora – Com outras Professoras da EC 106
Na Capital Federal, Maria Isaura foi um esteio, tanto para nós, outros quatro irmãos que aqui viemos residir, como para inúmeros familiares e amigos, que se reunia nos fins de semana em sua casa, para matar saudades e também filar os famosos almoços domingueiros. Morando, inicialmente em barracos, nos acampamentos, mudou-se, em 1960, para um apartamento na SQS 414, e, posteriormente, para outro, bem maior, na SQS 306.
Em novembro de 1974, Maria Isaura sofreu a perda de um filho, José Augusto, o Aviador, de 21 anos, em desastre aéreo, na região tocantina onde hoje é Palmas, quando viajava como passageiro. Repetia-se a tragédia do Cosmonauta russo Yuri Gagarin que, sendo o primeiro homem a navegar pelo espaço, em abril de 1961, viria a falecer, em 1968, em acidente numa aeronave de teste, viajando a lado do piloto. José Augusto viria a ser o primeiro membro da Família Albuquerque e Silva a ser sepultado no Campo de Esperança, em Brasília, desde a chegada do primeiro de nós, em 1957.
Pedro Silva faleceu em 23.04.1986, a um mês de completar 74 anos, e Maria Isaura, a 20.12.1992, com 71 anos de idade. Ambos jovens, para os padrões atuais. Deixaram seus nomes inscritos no Livro dos Pioneiros de Brasília e uma família bem formada, que perpetua sua memória nas ações, no trabalho e no bem-proceder.
Nesta quinta-feira, dia 28 de abril, seria comemorado o 95º Aniversário de Maria Isaura. Embora ela não mais se encontre conosco, sua lembrança permanece indelével em nossos corações.
Maria Isaura encantou-se, partiu para a casa do Pai Celestial, mas, afortunadamente, deixou, aqui em Brasília, uma representante à altura: a filha Ana Alice que hoje, em sua confortável residência, no Setor Park Way, procura congregar a família, não medindo esforços para que seu lar seja o mesmo foi, para todos nós, o de sua mãe, num venturoso passado, que jamais esqueceremos.
ROSA RIBEIRO (EMIGDIO ROSA E SILVA), PIONEIRO NA COLONIZAZÇÃO DE BALSAS
Raimundo Floriano
Rosa Ribeiro
Três irmãos florianenses, de uma prole de dezessete, distinguiram-se em nossa história regional: Emigdio Rosa e Silva, o Rosa Ribeiro, e José de Sousa e Silva, o Cazuza Ribeiro, pelo pioneirismo na colonização de Balsas, sertão sul-maranhense, deixando sua terra natal, ali chegando antes da elevação da Vila a Município, e construindo uma descendência que hoje ultrapassa a casa dos duzentos representantes – diretos, agregados ou afins – do valoroso sangue piauiense; e o Comandante João Clímaco da Silva, cuja vida útil foi inteiramente dedicada à navegação fluvial na Bacia do Parnaíba, transportando passageiros e mercadorias e levando o progresso desde o Oceano Atlântico até as últimas povoações acessíveis à beira de seus rios, que conhecia como a palma da própria mão. Esta coletânea focalizará seus perfis, iniciando com o de Rosa Ribeiro, o mais velho da tríade.
Pedro José da Silva e Isaura Maria de Sousa e Silva
Emigdio Rosa e Silva, o Rosa Ribeiro, nasceu na Fazenda Brejo, Município de Floriano, no dia 17 de fevereiro de 1891. Filho do Capitão Pedro José da Silva e de Dona Isaura Maria de Sousa e Silva, compunha prole de dezessete irmãos. Os dois mais velhos, Raimundo Ribeiro da Silva e João Ribeiro da Silva, nascidos em Jerumenha (PI), provinham de casamento paterno anterior, com Dona Otília Raimundina Ribeiro da Silva, deles derivando-se o sobrenome com que alguns dos demais ficaram para sempre conhecidos.
Eram seus avós paternos Fructuoso José Messias da Silva e Dona Evarista Messias da Silva; e maternos, Honorato José de Sousa e Dona Lucialina Maria de Freitas e Sousa.
Sousa e Silva seria o sobrenome do menino que estava nascendo na Fazenda Brejo. Mas ele veio tão rosado, que Dona Isaura Maria, ao recebê-lo da parteira, pensou logo na mais linda flor de seu jardim. E foi como nome Rosa que o batizou: Emigdio Rosa e Silva.
Fazenda Brejo: Quadro de Magnólia Baptista
Ainda em sua infância em Floriano, morando à Rua Fernando Marques, 698, para onde a família transferira a residência, frequentou o Curso Primário.
Organizado, meticuloso, e metódico, iniciou, em 1909, a anotação numa caderneta dos fatos significativos que viveu ou presenciou, o que fez até 1971, fonte agora que se revela utilíssima e imprescindível para a redação deste perfil. Era o prenúncio do futuro Tabelião, com um detalhe: embora não fosse ambidestro, escrevia com perfeição tanto com a mão direita, quanto com a esquerda, sem mudar a caligrafia.
Floriano: Casa da família - Quadro de Magnólia Baptista
A seguir, um pouco dessas anotações:
“Empreguei-me na Casa Irmãos Diocleciano Ribeiro, a 15 de fevereiro de 1909, e desempreguei-me a 19 de fevereiro de 1910. Estive empregado na Firma de Raimundo Ribeiro da Silva, meu irmão, de 20 de fevereiro de 1910 a 13 de junho de 1911, ganhando mensal 50$000. Empreguei-me na Farmácia Ildefonso Ramos, no dia 14 de junho de 1911, ganhando mensal, até 31 de dezembro do mesmo ano, 20$000 e, em janeiro de 1912, passei a ganhar anual 500$000.
Segui de Jerumenha com destino a Teresina, no dia 16 de junho de 1916, com 29 companheiros, até o Porto dos Veados, aonde cheguei no dia 17, ao meio-dia, e onde eu e meus companheiros nos incorporamos com 350 patriotas que estavam à nossa espera, perfazendo, portanto, o número de 380 guerreiros dispostos a lutar contra o miguelismo. Dali, seguimos para Floriano, no mesmo dia, às 11 horas da noite.
De Floriano, seguimos, no dia 20, às 6 horas da tarde, tendo, com os patriotas de diversos Municípios, feito o número de 1015, sob o comando do Major Carlindo Nunes, com o fim de defender a Causa Eurípedes.
Em Barra do Rio Canindé, passamos dois dias. Em Amarante (PI), passamos meio dia. A cidade estava deserta. Os miguelistas estavam uns acampados em São Francisco (MA) e outros naqueles socavões de serra, onde só se ouve grilo cantar, temendo a nossa passagem.
Em Amarante, esperavam-nos o Coronel Constâncio Carvalho e o Coronel Lourencinho de São Pedro, com trezentos guerreiros, todos cingindo cartucheira e divisa encarnada no braço. Formamos, então, com mais alguns patriotas de Amarante, o número de 1.500, calculadamente.
No Angelim, fazenda do Doutor Helvídio Aguiar, fizemos acampamento por cinco dias, seguindo depois para Teresina, no dia 1º de julho, pela manhã, para assistirmos à Posse do novo Governador, Eurípedes Aguiar.
Em Teresina, passamos meio dia, regressando a Floriano no dia seguinte, às 4 horas da tarde, a bordo dos Paquetes Igaraçu e 15 de Novembro, da Lancha Brasileira e de cinco barcas. Chegamos a Floriano no dia 9 do mesmo mês, às 8 horas da manhã.
Saí de Floriano para o Balsas no dia 1º de agosto de 1916. Cheguei no Balsas no dia 14 do mesmo mês, às 6 horas da tarde.”
Em Balsas, foi trabalhar no comércio com seu irmão João Ribeiro da Silva, já estabelecido ali com a Casa João Ribeiro.
Referindo-se àquele período, assim se expressa Eloy Coelho Netto, no livro História do Sul do Maranhão: “Numerosos chefes de família desta época entraram definitivamente para a História de Balsas e foram elementos em prol na sua vida política, social e econômica... como os irmãos João Ribeiro da Silva, José de Sousa e Silva e Emigdio Rosa e Silva, que desenvolveram, com trabalho e inteligência, o comércio e legaram às suas famílias e ao lugar exemplos de tenacidade dos que chegam para a conquista da vida e constroem o amanhã, transmitindo a seus descendentes precioso legado moral”.
Circunspecto, tímido e extremamente reservado, dono de afiado espírito crítico e verve aguçada, divertia-se intimamente diante do açodamento daqueles que não se acanhavam na prática do disse-me-disse, na revelação de segredos e na exposição a público de assuntos pessoais. Via, ouvia e calava. Esta prudência fez escola. O nome Rosa Ribeiro virou sinônimo de discrição.
Depois da elevação, em 1918, da Vila de Santo Antônio de Balsas à categoria de Município, Rosa Ribeiro retirou-se da atividade comercial e ingressou no Serviço Público, tendo exercido os cargos de Escrivão Policial, Delegado de Polícia, Escrivão Eleitoral e Tabelião do 2º Ofício, no qual permaneceu até aposentar-se, alcançado pela Compulsória.
Rosa Rbeiro e Maria Bezerra
Casou-se, a 20 de dezembro de 1919, com Maria de Albuquerque e Silva, a Maria Bezerra, então com dezessete anos, nascida no Loreto (MA), no dia 05 de janeiro de 1902, filha de José Bezerra de Farias e Ana de Albuquerque Bezerra.
Maria Bezerra, durante toda sua vida, esmerou-se na assistência às pessoas carentes, na organização e operosidade de festejos religiosos e na transmissão de conhecimentos práticos. Perita em corte e costura, bordado, tecelagem, artesanato em tecido, massa, papel, metal e algodão, confeitaria e culinária, ministrava essas prendas domésticas a mocinhas de famílias menos abastadas. Era a Madrinha Maria de todas.
Seu salão de trabalho constituía-se numa verdadeira Escola de Arte. Consolava os aflitos, aconselhava os transtornados, visitava os enfermos, assistia aos agonizantes, e a todos ajudava espiritualmente. Ao falecer, com 67 anos, no dia 17 de fevereiro, aniversário de Rosa Ribeiro, em 1969, ano em que seriam comemoradas suas Bodas de Ouro, era comum ouvir-se na cidade e em seus arredores: “Morreu a Mãe dos Pobres de Balsas!”.
Rosa Ribeiro e Maria Bezerra tiveram 10 filhos: Maria Isaura, professora e bandolinista; Pedro, funcionário público, agropecuarista, escritor, orador e violonista; Maria Alice, tabeliã, professora e florista; José, bancário, poeta e cantor; Bergonsil, químico industrial e artífice; Afonso Celso, funcionário público, advogado, gaitista, sanfoneiro e tecladista; Raimundo Floriano, funcionário público, contador, cordelista, escritor e trombomista; Maria Iris, professora e calígrafa; Rosimar, médico e cirurgião; e Maria dos Mares, assistente social, pintora, xilógrafa e escultora. Vinte nove netos e 37 bisnetos completam sua descendência.
A família de Rosa Ribeiro em 1928:
Rosa Ribeiro, Maria Bezerra,
José, Pedro, Maira Isaura e Maria Alice
A família em 1938:
Maria Alice, Maria Isaura, Magnólia, sobrinha, e Pedro;
Bergonsil, Afonso Celso, Maria Bezerra, Maria Iris, Rosa Ribeiro,
Raimundo Floriano e José
A 28 de maio de 1973, Rosa Ribeiro deixou a vida terrena, com a idade de 82 anos.
Em 1982, durante a Administração do Prefeito Jorge Moreira Kury, a Câmara Municipal de Balsas homenageou Rosa Ribeiro e Maria Bezerra, dando seus nomes a duas ruas da cidade.
O dia 17 de fevereiro de 1991 assinalou o Centenário de Rosa Ribeiro, e 5 de janeiro de 2002, o de Maria Bezerra.
Única foto de Rosa Ribeiro com todos os filhos - Goiânia, 1967:
Afonso Celso, Raimundo Floriano e João Emigdio, neto;
Oswaldina, prima, Maria Iris, Pedro Silva, genro, José, Bergonsil,
Rosimar, Raimundo, genro e Pedro;
Isaurinha, neta, Maria Isaura, Rosa Ribeiro, Maria Alice,
Pedro Ivo, neto, e Maria dos Mares
Última foto dos dez irmãos reunidos - Brasília, 1990:
Afonso, Raimundo, Bergonsil, José, Rosimar e Pedro;
Maria Isaura, Maria dos Marres, Maria Alice e Maria Iris
Prole de Rosa Ribeiro e Maria Bezerra, até o Segundo Grau:
Maria Isaura de Albuquerque e Silva e Pedro da Costa e Silva
Maria Isaura de Albuquerque e Silva casou-se com Pedro da Costa e Silva, tendo os seguintes filhos: João Emigdio da Costa e Silva, José Augusto da Costa e Silva, Ana Alice da Costa e Silva e Luís Fernando da Costa e Silva.
Pedro Albuquerque e Silva e Naide Noleto
Pedro Albuquerque e Silva casou-se com Naide Noleto, tendo os seguintes filhos: Ceres Noleto e Silva, Pedro Albuquerque e Silva Júnior, José Emídio Albuquerque e Silva, Luís Ernesto Albuquerque e Silva e Jânio Albuquerque e Silva.
Maria Alice Albuquerque e Silva e Raimundo de Sousa e Silva
Maria Alice Albuquerque e Silva casou-se com Raimundo de Sousa e Silva, seu primo, filho de Cazuza Ribeiro, tendo os seguintes filhos: Pedro Ivo de Sousa e Silva Sobrinho, Maria Isaura de Sousa e Silva e Raimundo de Sousa e Silva Filho.
José Albuquerque e Silva
José Albuquerque e Silva casou-se com Lúcia Maria Garcia Frias, de quem mais tarde se divorciou, tendo com ela os seguintes filhos: Lara Maria Albuquerque e Silva, Ima Aurora Albuquerque e Silva e Alden Garcia Albuquerque e Silva.
Bergonsil de Albuquerque e Silva e Izaura Maria de Sousa e Silva
Bergonsil de Albuquerque Silva casou-se com Izaura Maria de Sousa e Silva, sua prima, filha de Cazuza Ribeiro, tendo com ela os seguintes filhos: Valéria de Albuquerque e Silva e Maurício de Albuquerque e Silva.
Afonso Celso de Albuquerque e Silve a Lígia Magnólia Reis e Silva
Afonso Celso de Albuquerque e Silva casou-se com Lígia Magnólia Reis e Silva, tendo com ela os seguintes filhos: Luciene Reis e Silva, Patrícia Reis e Silva e Afonso Celso Reis e Silva.
Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva e Maria Veroni Souza de A. e Silva
Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva casou-se com Evanilde de Castro Sampaio, de quem se divorciou, tendo com ela os seguintes filhos: José Albuquerque Silva e Floriano Sampaio e Silva. Casou-se, em segundas, núpcias, com Maria Veroni Souza de Albuquerque e Silva, tendo com ela as seguintes filhas: Elba Souza de Albuquerque e Silva e Mara Souza de Albuquerque e Silva.
Maria Iris Albuquerque e Silva
Maria Iris Albuquerque e Silva casou-se com Crésio Antônio da Silva, de quem se divorciou, tendo com ele o filho Crésio Antônio da Silva Júnior.
Rosimar Albuquerque e Silva e Cláudia Teresa Simionatto e Silva
Rosimar Albuquerque e Silva casou-se com Cláudio Teresa Simionatto e Silva, tendo os seguintes filhos: Renato Simionatto e Silva, Luciana Simionatto e Silva, Adriane Albuquerque Simionatto e Silva e Marianne Albuquerque Simionatto e Silva.
Maria dos Mares Albuquerque e Silva e Natanael Rhor da Silva
Maria dos Mares Albuquerque e Silva casou-se com Natanael Rhor da Silva, com quem não teve filho.
Raimundo Floriano
Pedro Silva e seu amigo violão
Pedro Albuquerque e Silva, o Pedro Silva, meu irmão, nasceu em Balsas (MA), no dia 13 de novembro de 1922. Filho de Emigdio Rosa e Silva, o Rosa Ribeiro, e Maria de Albuquerque e Silva, a Maria Bezerra, é o primeiro varão e segundo de uma prole de dez, da qual eu sou o sétimo.
Completando 92 anos em novembro próximo, pode-se afirmar que este sertanejo é, depois de tudo, um forte, eis que continua em plena atividade, fazendo tudo de que gosta, como se tantos anos não lhe pesassem nas costas. É nosso herói!
A seguir, a fotografia mais antiga da família, batida em 1929:
Rosa Ribeiro, Maria Bezerra,
José, Pedro Maria Isaura e Maria Alice
Passou toda sua infância em Balsas, levando vida sadia e cheia de peripécias e traquinagens, como de todo menino do sertão. Já nesse tempo, começou a aprender a “bater” o violão, ou seja, acompanhar-se cantando, Arte que o acompanha desde antes, agora e sempre.
Aprendeu as primeiras letras e concluiu o Curso Primário nas escolas da Dra. Maria Justina, Melquíades Moreira Ferraz, Dr. Domingos Tertuliano e Educandário Coelho Neto, do Professor Joca Rêgo. Em Teresina, foi aprovado no Exame de Admissão para o Liceu Piauiense, onde cursou o Ginasial, após o qual, naquele primeiro quarto do Século XX, se considerou preparado para o exercício de sua verdadeira vocação: a atividade comercial.
Voltando para Balsas, começou a trabalhar como caixeiro na loja de José de Sousa e Silva, nosso Tio Cazuza Ribeiro, atendendo os fregueses no balcão. Tio Cazuza, vendo sua habilidade e tino para o comércio, designou-o para viajar pela Região Tocantina, para comprar gêneros de exportação - couros, peles silvestres, produção agrícola – e vender sal a comerciantes e fazendeiros. Era responsabilidade imensa para um adolescente naquelas plagas.
Lembro-me bem da chegada dele de uma dessas viagens. Trouxe uma lata, tipo de leite em pó, cheia de moedas de valores diversos, chamou os irmãos mais novos, derramou o dinheiro na mesa de jantar e mandou que fôssemos pegando, um de cada vez, em rodízio. Eu, por exemplo, só escolhia os patacões. Já o Bergonsil traquejado, primeiro olhava o valor, para pegar as dele. Essas atitudes de bom irmão faziam com que nós, os menores, o chamássemos de padrinho – Padim Pêdo –, numa espécie de sadio puxa-saquismo familiar.
Depois de um certo tempo, trabalhou, por conta própria, nos garimpos cristal de rocha em Xambioá, Piaus e Dois Irmãos, região ainda goiana, onde contraiu impaludismo, difícil de ser curado. Com a ajuda de Deus venceu essa moléstia assaz ceifadora.
Em 1945, aos 23 anos de idade, abriu uma casa comercial em Miracema, em sociedade com o Tio Cazuza, vendendo produtos industrializados e comprando as matérias-primas produzidas na cidade e em suas imediações. Nas horas vagas, o violão e a seresta eram seu lazer.
Pedro tinha um dom inato, que nele aflorou desde o tempo de rapazinho. Para discorrer sobre isso, mostro-lhes duas fotografias dele na juventude:
Pedro Silva no tempo de rapaz solteiro
Como viram, era um sertanejo comum, sem nada de especial a não ser o dom acima citado: um visgo para atrair o sexo feminino. Quem o conhecia ficava perplexo, abismado, já não digo invejoso. Onde quer que chegasse, as pequenas choviam-lhe em profusão. Nem precisava que ele se esforçasse. Galante e dançarino de primeira, era o preferido nos salões. Houve até um amigo seu que um dia lhe falou: – Pedro Silva, não sei o que há com minha namorada. Quando dança comigo, é toda durona, sem jeito, parece que engoliu uma alavanca. Mas quando tu tiras ela pra dançar, aí a coisa muda de figura! Fica toda mole, se requebrando, se rindo, parece até que tá no céu! Por que será?
Se eu estivesse por perto, na ocasião, teria explicado: – É o visgo, rapaz, é o visgo! –, porque Pedro Silva era o verdadeiro Porta-Estandarte do Amor.
Em termos de namoro, não precisava se mexer. Era como o Mar Oceano, para onde correm todos os rios. Era como o Sol, a atrair os astros em seu derredor. Com esse imenso poderio, colheu, um dia, a mais bela flor morena da sociedade miracemense: Naide Noleto, com quem se casou, no dia 7 de outubro de 1949, e com quem teve cinco filhos: Ceres, Pedro Silva Júnior – o Silva –, José Emídio, Luís Ernesto e Jânio.
Pedro Silva e Naide: simpatia e elegância do jovem casal
Mudou-se para Carolina (MA), a 9 de fevereiro de 1951, iniciando suas atividades comerciais à Praça Goiás, nº 55, onde construiu esta confortável casa com linda vista para o majestoso Rio Tocantins, na qual até hoje reside:
Em Carolina, sempre em sociedade com o Tio Cazuza, praticava o comércio de estivas em geral e gêneros exportáveis da região: couros bovinos, peles silvestres, crinas, penas de ema, arroz, babaçu, algodão e outros. Fez parte de diversas sociedades e empreendimentos vários até que passou a operar por conta própria, dedicando-se com mais afinco à pecuária. Paralelamente, foi nomeado Servidor da Prefeitura Municipal de Carolina, atuando no Setor de Finanças e no Departamento de Administração.
A Música, como sempre, era seu principal derivativo. Fundou a Escola de Samba Unidos de Carolina, que desfilou pela primeira vez no Carnaval de 1963.
Belinha, Porta-estandarte em 1977
Em outubro de 1975, inspirado no grupo musical que acompanhou Carmen Miranda para os Estados Unidos, Pedro criou o conjunto Bando da Lua, com o objetivo principal de divulgar e promover a MPB em nossa região. Sem aparelhagem eletrônica, contava com uma sanfona, pau, corda, percussão e as vozes de seus integrantes, no gogó. A seresta, então, viu-se revigorada naquele sertão. Mais tarde, incluíram-se teclado, guitarra, contrabaixo, metais, palhetas, bateria e aparelhagem, para que alguns integrantes provessem o ganha-pão. Adiante, o Bando da Lua em sua feição seresteira:
Inácio, pandeiro; Djael, voz; Adelino, cavaquinho;
Luzimar, sanfona; Pedro Silva, violão; e Sitônio, surdão
Pedro Silva tem também sua veia literária. Orador oficial da família, é cronista, articulista, compositor, escritor e cordelista. Adiante, a capa de seu livro Som e Ritmo da Terra, onde narra toda sua trajetória musical, com dados biográficos, e do cordel Navaiadas, elogiando políticos amigos e descendo o cacete nos adversários.
Ao aposentar-se do Serviço Público, Pedro Silva continuou em plena atividade econômica, como dono de caminhões e jipes, de embarcações fluviais, do Sítio Tangará, fornecendo leite para o consumo da cidade, das Fazendas Santa Maria e Jacaracy, especializadas na criação de gado Nelore e mestiço. Nessa última, construiu, no alto dum morro, o Santuário de Nossa Senhora da Conceição, de quem é devoto.
Detalhes do Sítio Tangará e da Fazenda Santa Maria
Santuário de Nossa Senhora da Conceição e Motor São Pedro de Alcântara
Nestes 75 anos de árdua labuta, Pedro Silva exerceu, além das já citadas, as seguintes atividades: Fundador da Companhia Industrial do Tocantins - CITOCAN, para extração de óleo de babaçu, 1ª Sociedade Anônima da região, sendo seu Diretor-Presidente por 9 anos; Fundador da Liga Esportiva Carolinense, sendo um dos construtores do Estádio Alto da Colina; Fundador da Associação Recreativa de Carolina - ARCA; Fundador e Primeiro Presidente da Associação Comercial e Industrial de Carolina; Fundador da Loja Maçônica Caridade e Justiça, ocupando cargo de direção; Fundador da primeira Loteria Esportiva em Carolina; Fundador e Primeiro Presidente Municipal da ARENA, partido político; Fundador da Empresa Telefônica de Carolina, que presidiu; Diretor-Presidente da Comissão de Implantação do Sistema de Televisão em Carolina; e Suplente de Juiz de Direito, nomeado em outubro de 1973.
Recentemente, analisando essa rica trajetória, ele comentou comigo: – Raimundo, durante todo esse tempo, eu nunca tirei um dia sequer de férias do trabalho! Ao que eu acrescento: Nem da Boemia Seresteira! Nem de Porta-Estandarte do Amor, pois em suas serestas muitos casamentos foram engatilhados! Isso explica a razão de sua longevidade, atestada nestas duas imagens, uma colhida em julho de 2006, na comemoração de meus 70 anos, e a outra, em novembro de 2012, na festinha de seus 90:
Pedro Silva, aos 84, comigo, em meu Forrozão/70, e com sua Turma, ao festejar seus 90
Carolina, hoje, mantém dois movimentos culturais preservadores de suas legítimas tradições. Uma delas é o Clube das Onze.
Clube das Onze: aguardando a chegada de seus membros
Situado na Praça Alípio Carvalho, em frente ao quiosque Lanche Bar, em área adredemente cimentada para tal fim, é o ponto de reunião da Velha Guarda Carolinense. De segunda-feira a sábado, às 10h30, Lindomar, dono do quiosque, onde se bebe a cerveja mais gelada, e a cachaça mais pé-de-serra, com tira-gosto do pastel mais saboroso e crocante da paróquia, dispõe mesas e cadeiras, conforme se vê na foto acima, à espera dos membros que, aos poucos, vão chegando. Quando a frequência é maior, cadeiras e mesas adicionais são disponibilizadas. Às onze horas em ponto, começam os trabalhos que, ao meio-dia, impreterivelmente, são encerrados, seguindo cada membro para sua residência. Fundadores como Luiz Braga, Achiles, Hermógenes, Paulo Noleto, Alfredo Maranhão, Genésio, Maninho, Agnelo Jácome, Raimundinho Caetano, Zé Biô, Ulisses Braga e Darwin Noleto já não comparecerão, sendo representados pela nova geração que os sucede. Por ser o decano, Pedro Silva é, tacitamente, considerado o Presidente do Clube.
O outra é o Conjunto Ouro & Couro. Como o próprio nome insinua, é formado por instrumentos de cordas – o ouro – e percussão – o couro. Fundado por Pedro Silva, que atua no violão e no vocal, conta ainda com os artistas Inácio, no pandeiro; Maria do Amparo, no violão e no vocal; Adelino, no cavaquinho; e Mangueirinha, na percussão. Essa turma, que mantém a tradição seresteira carolinense, está também pronta, a qualquer hora do dia ou da noite, para levar animação a todo tipo de função musical, seja um simples aniversário infantil ou uma festa de arromba.
Pelo conjunto da obra, Pedro Silva foi agraciado, a 13.11.2002, pela Câmara Municipal de Carolina, como o título de Cidadão Carolinense.
O CD Cheiro de Mato, artesanal, sem grandes recursos técnicos, mostra um pouco do trabalho desses sonhadores. Escolhi para ilustrar esta matéria o samba-canção que lhe empresta o título, Cheiro de Mato, composição recente de Pedro Silva, que o interpreta como vocalista principal:
ROSIMAR, O VARÃO CAÇULA DA FAMÍLIA
Raimundo Floriano
Rosimar Albuquerque e Silva, meu irmão, nasceu em Balsas (MA), no dia 6 de novembro de 1940. Filho de Emigdio Rosa e Silva, o Rosa Ribeiro, e Maria de Albuquerque e Silva, a Maria Bezerra, é o último varão e nono de uma prole de dez, da qual eu sou o sétimo.
Rosa Ribeiro e Maria Bezerra
Última foto dos dez irmãos reunidos
Afonso, Raimundo, Bergonsil, Rosimar e Pedro
Maria Isaura, Maria dos Mares, Maria Alice e Maria Iris
Estas são fotos suas do tempo de infância:
Raridades do meu acervo
Miracema, 1949 - Carolina, com a sobrinha Ceres, 1952
Foto de 1948
Maria Alice, Maria Isaura e Pedro Silva
Raimundo, João Emigdio, Maria dos Mares e Rosimar
Rosimar concluiu o Curso Primário no Grupo Escolar Professor Luiz Rêgo, em Balsas; o Primeiro Grau, no Ginásio do Sertão Maranhense, em Carolina; o Científico, no Liceu Paraibano, em João Pessoa; e graduou-se em Medicina pela Universidade Federal de Goiás, em 14 de dezembro de 1966.
Foto do dia da Colação de Grau
Afonso, Maria dos Mares, Maria Alice, Maria Bezerra, Rosimar
Maria Iris, Bergonsil, Maria Isaura, Raimundo e Pedro
Casou-se com Cláudia Teresa Simionatto e Silva, filha de Waldomiro Simionatto e Anita Lollato Simionatto, no dia 28 de julho de 1968. A cerimônia civil realizou-se às 12h30, na Avenida Goiás, nº 101, Ap. 304, e a religiosa, na Capela do Ateneu Dom Bosco, às 19h30 do mesmo dia.
Rosimar e Cláudia
Rosimar e Cláudia têm 4 filhos: Renato, casado com Ana Paula; Luciana, casada com Flávio; Adriane, casada com Frederico; e Marianne, casada com Sérgio. Até agora, são cinco os netos: Clarice, Laura, Eduardo, Alice e Annita, todos residentes em Brasília.
Rosimar e Cláudia com os filhos
Renato, Luciana, Marianne e Adriane
Rosimar e Cláudia, com os cinco netos
Única foto de Rosa Ribeiro com os 10 filhos - Goiânia, 1967
Afonso, Raimundo, João Emigdio, neto, Oswaldina, prima, Maria Iris, Pedro C. Silva, genro,
José, Bergonsil, Rosimar, Raimundo Silva, genro, Pedro, Isaurinha, neta, Maria Isaura,
Rosa Ribeiro, Maria Alice, Pedro Ivo, neto, e Maria dos Mares
Rosimar fez Estágio Médico por 2 anos, no Hospital do Servidor Público, em São Paulo, após o que deu início a sua carreira profissional, primeiramente em Carolina, por um ano, mudando-se depois para Goiás, começando por Aurilândia, onde ficou até 1969. A seguir, transferiu-se para Ceres, onde clinicou pelo período de 3 anos. Então, fixou-se definitivamente em São Luís de Montes Belos, atendendo no Hospital Dom Bosco, ao mesmo tempo em que construiu Hospital Montes Belos, do qual é sócio-proprietário. Em São Luís, prestou seus bons serviços na Medicina durante 48 anos.
Neste ano de 2020, combatido o bom combate, resolveu aposentar-se e mudar-se para Brasília, onde reside toda a sua prole.
Foi com imensa alegria eu recebi a notícia de sua vinda para cá, o que minorará, um pouco, a solidão fraternal que ora vivencio. Até meados dos anos 1970, éramos 5 irmãos em Brasília: Maria Isaura, José, Afonso, Raimundo e Maria dos Mares, que se mudou, indo para Londres e, depois, radicando-se em João Pessoa. Com o encantamento dos outros três, apenas eu fiquei por aqui para contar essa história.
O momento não nos agraciou. Presença física, nem pensar, aprisionados que estamos por essa terrível pandemia, cujo fim não temos a menor ideia de quando acontecerá. Por ora, só o telefone para nossa interação.
A Família Albuquerque e Silva é festeira por natureza, tem a alegria na massa do sangue e não perde a oportunidade de se reunir em retumbantes comemorações, notadamente nas datas redondas, como esses oitenta do Rosimar.
Coincidentemente, hoje, 6 de novembro, também é o aniversário da Maria Iris, a Zero Oito, residente os Estados Unidos, há sete anos, com seu filho único, Crésio, o fabuloso Juninho, e netos. Sendo dupla a comemoração, os dois irmãos não são gêmeos. A última data redonda da Maria Iris, 80, aconteceu há três anos. A próxima, portanto, será daqui a sete.
O sexagésimo aniversário Rosimar, no ano 2000, foi comemorado em grande estilo. Aluguei, com a coordenação da Veroni, minha mulher, um grande ônibus interestadual, que nos levou para São Luís de Montes Belos, completamente lotado, umas 50 pessoas – irmãos, primos e sobrinhos –, onde a inesquecível festa se prolongou por dois dias.
Em 2010, nos setenta, a reunião foi aqui em Brasília, no Lago Norte, residência de Sérgio e Marianne, contando com o comparecimento em peso da família e amigos, em confraternização que ficará para sempre em nossas memórias.
Este ano, pela passagem de seus oitentões, e com a mudança do Rosimar para Brasília, a festa seria de arromba, como é do nosso feitio. Preparávamo-nos para esse marcante evento, mas a quarentena ditada pela pandemia veio tolher toda a nossa alegria presencial. Não preciso dizer mais nada.
Ela ocorrerá, porém, com o mesmo entusiasmo, com toda a pompa e circunstância, em nossos corações!
FESTA NA FAMÍLIA ALBUQUERQUE E SILVA
NOSSA PRIMOGÊNITA CONQUISTOU A VITALICIEDADE
Ramundo Floriano
Raimundo Floriano, Elba e Veroni
Nossa primogênita, decorrido pouco mais de dois anos após sua investidura no cargo de Promotora de Justiça do Estado de Rondônia, foi aprovada no Estágio Probatório e conquistou a Vitaliciedade no Ministério Público daquela Unidade Federativa do Brasil.
Glória a Deus!
ROSIMAR, O VARÃO CAÇULA DA FAMÍLIA
Raimundo Floriano
Rosimar Albuquerque e Silva, meu irmão, nasceu em Balsas (MA), no dia 6 de novembro de 1940. Filho de Emigdio Rosa e Silva, o Rosa Ribeiro, e Maria de Albuquerque e Silva, a Maria Bezerra, é o último varão e nono de uma prole de dez, da qual eu sou o sétimo.
Rosa Ribeiro e Maria Bezerra
Última foto dos dez irmãos reunidos
Afonso, Raimundo, Bergonsil, Rosimar e Pedro
Maria Isaura, Maria dos Mares, Maria Alice e Maria Iris
Estas são fotos suas do tempo de infância:
Raridades do meu acervo
Miracema, 1949 - Carolina, com a sobrinha Ceres, 1952
Foto de 1948
Maria Alice, Maria Isaura e Pedro Silva
Raimundo, João Emigdio, Maria dos Mares e Rosimar
Rosimar concluiu o Curso Primário no Grupo Escolar Professor Luiz Rêgo, em Balsas; o Primeiro Grau, no Ginásio do Sertão Maranhense, em Carolina; o Científico, no Liceu Paraibano, em João Pessoa; e graduou-se em Medicina pela Universidade Federal de Goiás, em 14 de dezembro de 1966.
Foto do dia da Colação de Grau
Afonso, Maria dos Mares, Maria Alice, Maria Bezerra, Rosimar
Maria Iris, Bergonsil, Maria Isaura, Raimundo e Pedro
Casou-se com Cláudia Teresa Simionatto e Silva, filha de Waldomiro Simionatto e Anita Lollato Simionatto, no dia 28 de julho de 1968. A cerimônia civil realizou-se às 12h30, na Avenida Goiás, nº 101, Ap. 304, e a religiosa, na Capela do Ateneu Dom Bosco, às 19h30 do mesmo dia.
Rosimar e Cláudia
Rosimar e Cláudia têm 4 filhos: Renato, casado com Ana Paula; Luciana, casada com Flávio; Adriane, casada com Frederico; e Marianne, casada com Sérgio. Até agora, são cinco os netos: Clarice, Laura, Eduardo, Alice e Annita, todos residentes em Brasília.
Rosimar e Cláudia com os filhos
Renato, Luciana, Marianne e Adriane
Rosimar e Cláudia, com os cinco netos
Única foto de Rosa Ribeiro com os 10 filhos - Goiânia, 1967
Afonso, Raimundo, João Emigdio, neto, Oswaldina, prima, Maria Iris, Pedro C. Silva, genro,
José, Bergonsil, Rosimar, Raimundo Silva, genro, Pedro, Isaurinha, neta, Maria Isaura,
Rosa Ribeiro, Maria Alice, Pedro Ivo, neto, e Maria dos Mares
Rosimar fez Estágio Médico por 2 anos, no Hospital do Servidor Público, em São Paulo, após o que deu início a sua carreira profissional, primeiramente em Carolina, por um ano, mudando-se depois para Goiás, começando por Aurilândia, onde ficou até 1969. A seguir, transferiu-se para Ceres, onde clinicou pelo período de 3 anos. Então, fixou-se definitivamente em São Luís de Montes Belos, atendendo no Hospital Dom Bosco, ao mesmo tempo em que construiu Hospital Montes Belos, do qual é sócio-proprietário. Em São Luís, prestou seus bons serviços na Medicina durante 48 anos.
Neste ano de 2020, combatido o bom combate, resolveu aposentar-se e mudar-se para Brasília, onde reside toda a sua prole.
Foi com imensa alegria eu recebi a notícia de sua vinda para cá, o que minorará, um pouco, a solidão fraternal que ora vivencio. Até meados dos anos 1970, éramos 5 irmãos em Brasília: Maria Isaura, José, Afonso, Raimundo e Maria dos Mares, que se mudou, indo para Londres e, depois, radicando-se em João Pessoa. Com o encantamento dos outros três, apenas eu fiquei por aqui para contar essa história.
O momento não nos agraciou. Presença física, nem pensar, aprisionados que estamos por essa terrível pandemia, cujo fim não temos a menor ideia de quando acontecerá. Por ora, só o telefone para nossa interação.
A Família Albuquerque e Silva é festeira por natureza, tem a alegria na massa do sangue e não perde a oportunidade de se reunir em retumbantes comemorações, notadamente nas datas redondas, como esses oitenta do Rosimar.
Coincidentemente, hoje, 6 de novembro, também é o aniversário da Maria Iris, a Zero Oito, residente os Estados Unidos, há sete anos, com seu filho único, Crésio, o fabuloso Juninho, e netos. Sendo dupla a comemoração, os dois irmãos não são gêmeos. A última data redonda da Maria Iris, 80, aconteceu há três anos. A próxima, portanto, será daqui a sete.
O sexagésimo aniversário Rosimar, no ano 2000, foi comemorado em grande estilo. Aluguei, com a coordenação da Veroni, minha mulher, um grande ônibus interestadual, que nos levou para São Luís de Montes Belos, completamente lotado, umas 50 pessoas – irmãos, primos e sobrinhos –, onde a inesquecível festa se prolongou por dois dias.
Em 2010, nos setenta, a reunião foi aqui em Brasília, no Lago Norte, residência de Sérgio e Marianne, contando com o comparecimento em peso da família e amigos, em confraternização que ficará para sempre em nossas memórias.
Este ano, pela passagem de seus oitentões, e com a mudança do Rosimar para Brasília, a festa seria de arromba, como é do nosso feitio. Preparávamo-nos para esse marcante evento, mas a quarentena ditada pela pandemia veio tolher toda a nossa alegria presencial. Não preciso dizer mais nada.
Ela ocorrerá, porém, com o mesmo entusiasmo, com toda a pompa e circunstância, em nossos corações!
LUÍS FERNANDO - FESTA DOS 50 ANOS
Raimundo Floriano
Luís Fernando da Costa e Silva, meu sobrinho e compadre, padrinho de minha filha Elba, filho de minha irmã Maria Isaura de Albuquerque e Silva e Pedro da Costa e Silva, nasceu em Brasília no dia 9 de janeiro de 1962.
Estudou nos melhores colégios da Capital Federal e graduou-se em Letras Pela Universidade de Brasília, com especialização em Literatura Inglesa.
Profissionalmente, trabalhou no Itamarty, na Nestlé, na empresa A&C Eventos, na qual foi sócio-proprietário, e no Governo no Governo do Disitrito Federal, onde veio a se aposentar.
Em 1990, casou-se com a jovem brasiliense Fernanda Vieira, com quem teve dois filhos: Bernardo e Eduarda.
Luís Fernando com a família
Diplomata, gentleman e cavalheiro, sabia fazer amigos e conquistar pessoas. Numa existência repleta de compromissos sociais, houve alguém que se destacou entre os demais, por ser, para sempre, nos bons e maus momentos, o amigo de primeira hora, aquele que nunca falha, independentemente da circunstância, o que me leva a destacá-lo neste pequeno fragmento biográfico, Rogério Rosso, de quem foi Chefe de Gabinete quando este era Governador do Distrito Federal.
Rogério Rosso
Luís Fernando nunca foi completamente saudável. Vez em quando, padecia de alguma enfermidade, ora leve, ora grave, e, há cerca de 15 anos, a coisa se complicou: foi diagnosticado com leucemia.
E, aí, um Anjo se revelou, verdadeiramente enviado pelos céus: Ana Alice, sua irmã, que, a partir de então, assumiu o papel de mãe, enfermeira, cuidadora, protetora, tudo que se possa imaginar, no intuito de lhe devolver a saúde e o bem-estar. Aqui, ela com Luís Fernando e sua bateria, uma de suas curtições musicais.
Luís Fernando e Ana Alice
Bancou um tratamento caríssimo e demorado, que incluiu transplante de medula, quase todo realizado em São Paulo, para onde teve que se deslocar, hospedar-se em hotéis, o que a fez deixar de lado os interesses de sua empresa de eventos. Foi um exemplo de desvelo digno dos mais enaltecedores elogios, raríssimo de se testemunhar nos dias atuais.
Como falei, Luís Fernando soube fazer amigos e conquistar pessoa. Muitos familiares, de todas as esferas, e amigos participaram de um mutirão, deslocando-se para São Paulo no afã de ajudar Ana Alice a, dentro dos recursos proporcionados pela Ciência e a Medicina, prolongar a vida do irmão.
No dia 27 de janeiro deste ano, exauridos todos os esforços, utilizados todos os meios para dar continuidade a seu convívio entre nós, Luís Fernando se encantou, partiu para o Plano Superior, indo residir junto ao Pai Celestial.
AGORA, FALEMOS DE FESTA, DIVERSÃO CARACTERÍSTICA DE NOSSA FAMÍLIA
Em janeiro de 2012, Ana Alice realizou uma grande festa no amplo quintal de sua casa, na Park Way, para comemorar os 50 anos do Luís Fernando, celebrar uma visível pausa em suas enfermidades e agradecer à família e aos demais amigos o apoio incondicional até então recebido, à qual acorreram, em peso, convidados de todo o Brasil. A seguir, alguns flagrantes desse inesquecível encontro.
Detalhes do Quintal e do Palco
Detalhes do Bufê
Detalhes do Conjunto: Rogério Rosso no Baixo e cantora Indiana Moma
Os irmãos: João Emigdio, Ana Alice e Luís Fernando
AS COMEMORAÇÕES NÃO ACABAM AÍ
Luís Fernando era botafoguense fervoroso, amor que lhe foi transmitido pelo pai. Igualmente botafoguense de alma e coração é seu primo Maurício de Albuquerque e Silva, residente em Niterói, filho de meu saudoso irmão Bergonsil de Albuquerque e Silva e de minha prima e cunhada Izaura Maria de Sousa e Silva.
Pois o Maurício lhe preparou uma surpresa inesquecível, arrebatadora, deslumbrante, estrondosa, arrasa-coração de qualquer torcedor apaixonado por seu time. Foi até General Severiano, sede do Esquadrão da Estrela Solitária, no Rio de Janeiro, e gravou depoimentos seus principais jogadores, o que vocês verão a seguir, no vídeo enriquecido com lances memoráveis, motivos de orgulho para todos os botafoguenses.
IZAURA E BERGONSIL – VÍDEOS COMEMORATIVOS
Raimundo Floriano
Izaura Maria de Sousa e Silva e Bergonsil de Albuquerque e Silva
Izaura Maria de Sousa e Silva, minha prima e cunhada, nasceu no dia 5 de gosto de 1942, em Balsas, sertão sul-maranhense, filha de meu tio José de Souza e Silva, o Cazuza Ribeiro, e de Rita Pereira da Silva, a Madrinha Ritinha.
Casou-se, a 31 de dezembro de 1960, com Bergonsil de Albuquerque e Silva, seu primo legítimo, também balsense, nascido 14 de agosto de 1930, filho de Emigdio Rosa e Silva, o Rosa Ribeiro, e de Maria de Albuquerque e Silva, a Maira Bezerra, meus pais.
Incialmente, o casal foi residir em São Paulo. Mais tarde, mudou-se para Niterói, em virtude da contratação de Bergonsil para exercer o cargo de Químico Industrial na Tintas Internacional, empresa inglesa gigante no setor, sediada em São Gonçalo. Em Niterói, Izaura se graduou em Comunicação, e, aprovada em concurso público, tomou posse no BNDES, onde veio a se aposentar no cargo de uma das Gerências daquela Estatal.
Isaura e Bergonsil tiveram dois filhos, Valéria de Albuquerque e Silva e Maurício de Albuquerque e Silva.
Maurício, Valéria e Izaura
Bergonsil se encantou no 21 de dezembro de 2015, quando um mal súbito do coração o levou para a Morada Celestial.
Nossa família sempre esteve unida, nos maus e nos bons momentos, estes sempre comemorados em grande estilo, com a pompa a circunstância de uma família feliz e festeira. E isso se comprova nos vídeos abaixo, com filmagens do filho Maurício, o bamba em tecnologia.
60 ANOS DA IZAURA
70 ANOS DA IZAURA
80 ANOS DO BERGONSIL
BODAS DE OURO DO CASAL
FESTA COMEMORATIVA DO CENTENÁRIO DE MEU PAI, ROSA RIBEIRO (EMIGDIO ROSA E SILVA), CUJO PERFIL É ACESSÁVEL CLICANDO-SE NESTE LINK:
FILMAGEM DO SOBRINHO MAURÍCIO DE ALBUQUERQUE E SILVA, FILHO DE MEU IRMÃO BERGONSIL DE ALBUQUERQUE E SILVA E IZAURA MARIA DE SOUSA E SILVA
ROSA RIBEIRO (EMIGDIO ROSA E SILVA), PIONEIRO NA COLONIZAZÇÃO DE BALSAS
Raimundo Floriano
Rosa Ribeiro
Três irmãos florianenses, de uma prole de dezessete, distinguiram-se em nossa história regional: Emigdio Rosa e Silva, o Rosa Ribeiro, e José de Sousa e Silva, o Cazuza Ribeiro, pelo pioneirismo na colonização de Balsas, sertão sul-maranhense, deixando sua terra natal, ali chegando antes da elevação da Vila a Município, e construindo uma descendência que hoje ultrapassa a casa dos duzentos representantes – diretos, agregados ou afins – do valoroso sangue piauiense; e o Comandante João Clímaco da Silva, cuja vida útil foi inteiramente dedicada à navegação fluvial na Bacia do Parnaíba, transportando passageiros e mercadorias e levando o progresso desde o Oceano Atlântico até as últimas povoações acessíveis à beira de seus rios, que conhecia como a palma da própria mão. Esta coletânea focalizará seus perfis, iniciando com o de Rosa Ribeiro, o mais velho da tríade.
Pedro José da Silva e Isaura Maria de Sousa e Silva
Emigdio Rosa e Silva, o Rosa Ribeiro, nasceu na Fazenda Brejo, Município de Floriano, no dia 17 de fevereiro de 1891. Filho do Capitão Pedro José da Silva e de Dona Isaura Maria de Sousa e Silva, compunha prole de dezessete irmãos. Os dois mais velhos, Raimundo Ribeiro da Silva e João Ribeiro da Silva, nascidos em Jerumenha (PI), provinham de casamento paterno anterior, com Dona Otília Raimundina Ribeiro da Silva, deles derivando-se o sobrenome com que alguns dos demais ficaram para sempre conhecidos.
Eram seus avós paternos Fructuoso José Messias da Silva e Dona Evarista Messias da Silva; e maternos, Honorato José de Sousa e Dona Lucialina Maria de Freitas e Sousa.
Sousa e Silva seria o sobrenome do menino que estava nascendo na Fazenda Brejo. Mas ele veio tão rosado, que Dona Isaura Maria, ao recebê-lo da parteira, pensou logo na mais linda flor de seu jardim. E foi como nome Rosa que o batizou: Emigdio Rosa e Silva.
Fazenda Brejo: Quadro de Magnólia Baptista
Ainda em sua infância em Floriano, morando à Rua Fernando Marques, 698, para onde a família transferira a residência, frequentou o Curso Primário.
Organizado, meticuloso, e metódico, iniciou, em 1909, a anotação numa caderneta dos fatos significativos que viveu ou presenciou, o que fez até 1971, fonte agora que se revela utilíssima e imprescindível para a redação deste perfil. Era o prenúncio do futuro Tabelião, com um detalhe: embora não fosse ambidestro, escrevia com perfeição tanto com a mão direita, quanto com a esquerda, sem mudar a caligrafia.
Floriano: Casa da família - Quadro de Magnólia Baptista
A seguir, um pouco dessas anotações:
“Empreguei-me na Casa Irmãos Diocleciano Ribeiro, a 15 de fevereiro de 1909, e desempreguei-me a 19 de fevereiro de 1910. Estive empregado na Firma de Raimundo Ribeiro da Silva, meu irmão, de 20 de fevereiro de 1910 a 13 de junho de 1911, ganhando mensal 50$000. Empreguei-me na Farmácia Ildefonso Ramos, no dia 14 de junho de 1911, ganhando mensal, até 31 de dezembro do mesmo ano, 20$000 e, em janeiro de 1912, passei a ganhar anual 500$000.
Segui de Jerumenha com destino a Teresina, no dia 16 de junho de 1916, com 29 companheiros, até o Porto dos Veados, aonde cheguei no dia 17, ao meio-dia, e onde eu e meus companheiros nos incorporamos com 350 patriotas que estavam à nossa espera, perfazendo, portanto, o número de 380 guerreiros dispostos a lutar contra o miguelismo. Dali, seguimos para Floriano, no mesmo dia, às 11 horas da noite.
De Floriano, seguimos, no dia 20, às 6 horas da tarde, tendo, com os patriotas de diversos Municípios, feito o número de 1015, sob o comando do Major Carlindo Nunes, com o fim de defender a Causa Eurípedes.
Em Barra do Rio Canindé, passamos dois dias. Em Amarante (PI), passamos meio dia. A cidade estava deserta. Os miguelistas estavam uns acampados em São Francisco (MA) e outros naqueles socavões de serra, onde só se ouve grilo cantar, temendo a nossa passagem.
Em Amarante, esperavam-nos o Coronel Constâncio Carvalho e o Coronel Lourencinho de São Pedro, com trezentos guerreiros, todos cingindo cartucheira e divisa encarnada no braço. Formamos, então, com mais alguns patriotas de Amarante, o número de 1.500, calculadamente.
No Angelim, fazenda do Doutor Helvídio Aguiar, fizemos acampamento por cinco dias, seguindo depois para Teresina, no dia 1º de julho, pela manhã, para assistirmos à Posse do novo Governador, Eurípedes Aguiar.
Em Teresina, passamos meio dia, regressando a Floriano no dia seguinte, às 4 horas da tarde, a bordo dos Paquetes Igaraçu e 15 de Novembro, da Lancha Brasileira e de cinco barcas. Chegamos a Floriano no dia 9 do mesmo mês, às 8 horas da manhã.
Saí de Floriano para o Balsas no dia 1º de agosto de 1916. Cheguei no Balsas no dia 14 do mesmo mês, às 6 horas da tarde.”
Em Balsas, foi trabalhar no comércio com seu irmão João Ribeiro da Silva, já estabelecido ali com a Casa João Ribeiro.
Referindo-se àquele período, assim se expressa Eloy Coelho Netto, no livro História do Sul do Maranhão: “Numerosos chefes de família desta época entraram definitivamente para a História de Balsas e foram elementos em prol na sua vida política, social e econômica... como os irmãos João Ribeiro da Silva, José de Sousa e Silva e Emigdio Rosa e Silva, que desenvolveram, com trabalho e inteligência, o comércio e legaram às suas famílias e ao lugar exemplos de tenacidade dos que chegam para a conquista da vida e constroem o amanhã, transmitindo a seus descendentes precioso legado moral”.
Circunspecto, tímido e extremamente reservado, dono de afiado espírito crítico e verve aguçada, divertia-se intimamente diante do açodamento daqueles que não se acanhavam na prática do disse-me-disse, na revelação de segredos e na exposição a público de assuntos pessoais. Via, ouvia e calava. Esta prudência fez escola. O nome Rosa Ribeiro virou sinônimo de discrição.
Depois da elevação, em 1918, da Vila de Santo Antônio de Balsas à categoria de Município, Rosa Ribeiro retirou-se da atividade comercial e ingressou no Serviço Público, tendo exercido os cargos de Escrivão Policial, Delegado de Polícia, Escrivão Eleitoral e Tabelião do 2º Ofício, no qual permaneceu até aposentar-se, alcançado pela Compulsória.
Rosa Rbeiro e Maria Bezerra
Casou-se, a 20 de dezembro de 1919, com Maria de Albuquerque e Silva, a Maria Bezerra, então com dezessete anos, nascida no Loreto (MA), no dia 05 de janeiro de 1902, filha de José Bezerra de Farias e Ana de Albuquerque Bezerra.
Maria Bezerra, durante toda sua vida, esmerou-se na assistência às pessoas carentes, na organização e operosidade de festejos religiosos e na transmissão de conhecimentos práticos. Perita em corte e costura, bordado, tecelagem, artesanato em tecido, massa, papel, metal e algodão, confeitaria e culinária, ministrava essas prendas domésticas a mocinhas de famílias menos abastadas. Era a Madrinha Maria de todas.
Seu salão de trabalho constituía-se numa verdadeira Escola de Arte. Consolava os aflitos, aconselhava os transtornados, visitava os enfermos, assistia aos agonizantes, e a todos ajudava espiritualmente. Ao falecer, com 67 anos, no dia 17 de fevereiro, aniversário de Rosa Ribeiro, em 1969, ano em que seriam comemoradas suas Bodas de Ouro, era comum ouvir-se na cidade e em seus arredores: “Morreu a Mãe dos Pobres de Balsas!”.
Rosa Ribeiro e Maria Bezerra tiveram 10 filhos: Maria Isaura, professora e bandolinista; Pedro, funcionário público, agropecuarista, escritor, orador e violonista; Maria Alice, tabeliã, professora e florista; José, bancário, poeta e cantor; Bergonsil, químico industrial e artífice; Afonso Celso, funcionário público, advogado, gaitista, sanfoneiro e tecladista; Raimundo Floriano, funcionário público, contador, cordelista, escritor e trombomista; Maria Iris, professora e calígrafa; Rosimar, médico e cirurgião; e Maria dos Mares, assistente social, pintora, xilógrafa e escultora. Vinte nove netos e 37 bisnetos completam sua descendência.
A família de Rosa Ribeiro em 1928:
Rosa Ribeiro, Maria Bezerra,
José, Pedro, Maira Isaura e Maria Alice
A família em 1938:
Maria Alice, Maria Isaura, Magnólia, sobrinha, e Pedro;
Bergonsil, Afonso Celso, Maria Bezerra, Maria Iris, Rosa Ribeiro,
Raimundo Floriano e José
A 28 de maio de 1973, Rosa Ribeiro deixou a vida terrena, com a idade de 82 anos.
Em 1982, durante a Administração do Prefeito Jorge Moreira Kury, a Câmara Municipal de Balsas homenageou Rosa Ribeiro e Maria Bezerra, dando seus nomes a duas ruas da cidade.
O dia 17 de fevereiro de 1991 assinalou o Centenário de Rosa Ribeiro, e 5 de janeiro de 2002, o de Maria Bezerra.
Única foto de Rosa Ribeiro com todos os filhos - Goiânia, 1967:
Afonso Celso, Raimundo Floriano e João Emigdio, neto;
Oswaldina, prima, Maria Iris, Pedro Silva, genro, José, Bergonsil,
Rosimar, Raimundo, genro e Pedro;
Isaurinha, neta, Maria Isaura, Rosa Ribeiro, Maria Alice,
Pedro Ivo, neto, e Maria dos Mares
Última foto dos dez irmãos reunidos - Brasília, 1990:
Afonso, Raimundo, Bergonsil, José, Rosimar e Pedro;
Maria Isaura, Maria dos Marres, Maria Alice e Maria Iris
Prole de Rosa Ribeiro e Maria Bezerra, até o Segundo Grau:
Maria Isaura de Albuquerque e Silva e Pedro da Costa e Silva
Maria Isaura de Albuquerque e Silva casou-se com Pedro da Costa e Silva, tendo os seguintes filhos: João Emigdio da Costa e Silva, José Augusto da Costa e Silva, Ana Alice da Costa e Silva e Luís Fernando da Costa e Silva.
Pedro Albuquerque e Silva e Naide Noleto
Pedro Albuquerque e Silva casou-se com Naide Noleto, tendo os seguintes filhos: Ceres Noleto e Silva, Pedro Albuquerque e Silva Júnior, José Emídio Albuquerque e Silva, Luís Ernesto Albuquerque e Silva e Jânio Albuquerque e Silva.
Maria Alice Albuquerque e Silva e Raimundo de Sousa e Silva
Maria Alice Albuquerque e Silva casou-se com Raimundo de Sousa e Silva, seu primo, filho de Cazuza Ribeiro, tendo os seguintes filhos: Pedro Ivo de Sousa e Silva Sobrinho, Maria Isaura de Sousa e Silva e Raimundo de Sousa e Silva Filho.
José Albuquerque e Silva
José Albuquerque e Silva casou-se com Lúcia Maria Garcia Frias, de quem mais tarde se divorciou, tendo com ela os seguintes filhos: Lara Maria Albuquerque e Silva, Ima Aurora Albuquerque e Silva e Alden Garcia Albuquerque e Silva.
Bergonsil de Albuquerque e Silva e Izaura Maria de Sousa e Silva
Bergonsil de Albuquerque Silva casou-se com Izaura Maria de Sousa e Silva, sua prima, filha de Cazuza Ribeiro, tendo com ela os seguintes filhos: Valéria de Albuquerque e Silva e Maurício de Albuquerque e Silva.
Afonso Celso de Albuquerque e Silve a Lígia Magnólia Reis e Silva
Afonso Celso de Albuquerque e Silva casou-se com Lígia Magnólia Reis e Silva, tendo com ela os seguintes filhos: Luciene Reis e Silva, Patrícia Reis e Silva e Afonso Celso Reis e Silva.
Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva e Maria Veroni Souza de A. e Silva
Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva casou-se com Evanilde de Castro Sampaio, de quem se divorciou, tendo com ela os seguintes filhos: José Albuquerque Silva e Floriano Sampaio e Silva. Casou-se, em segundas, núpcias, com Maria Veroni Souza de Albuquerque e Silva, tendo com ela as seguintes filhas: Elba Souza de Albuquerque e Silva e Mara Souza de Albuquerque e Silva.
Maria Iris Albuquerque e Silva
Maria Iris Albuquerque e Silva casou-se com Crésio Antônio da Silva, de quem se divorciou, tendo com ele o filho Crésio Antônio da Silva Júnior.
Rosimar Albuquerque e Silva e Cláudia Teresa Simionatto e Silva
Rosimar Albuquerque e Silva casou-se com Cláudio Teresa Simionatto e Silva, tendo os seguintes filhos: Renato Simionatto e Silva, Luciana Simionatto e Silva, Adriane Albuquerque Simionatto e Silva e Marianne Albuquerque Simionatto e Silva.
Maria dos Mares Albuquerque e Silva e Natanael Rhor da Silva
Maria dos Mares Albuquerque e Silva casou-se com Natanael Rhor da Silva, com quem não teve filho.
MENSAGEM DA PRIMOGÊNITA, NO FACEBOOK
Pai, parabéns pelo seu dia! Para mim é motivo de alegria exaltar o quanto é importante a sua presença e apoio em nossas vidas! Tenho orgulho em dizer que tenho um pai com múltiplos talentos: músico, contador, cordelista, escritor, revisor de textos, filatelista, entre outros tantos! Agradeço a Deus e Nossa Senhora por preservarem a sua saúde! Feliz dia dos pais! 🎉🎂💙🥰😊
MEU ALMOÇO, SEM AGLOMERAÇÃO, COMO O REI MANDOU,
E SOB A PROTEÇÃO DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO
SELFIE, DE ACORDO COM OS NOVOS TEMPOS
ELBA ALBUQUERQUE ESCREVEU:
Hoje, celebro 2 anos de posse como Promotora de Justiça, no Ministério Público do Estado de Rondônia! Sinto-me honrada por integrar uma instituição que tão bem me acolheu! Eu e meus colegas de turma vivenciamos as dores e as alegrias de uma carreira que tem a defesa da sociedade como o seu lema. A caminhada é repleta de desafios, mas posso garantir que é gratificante! Promover a justiça é uma das tarefas mais nobres que existem, e agradeço a Deus por me dotar de saúde, amor, determinação, coragem e força para exercê-la!
ALGUNS FLAGRANTES DA POSSE:
TEXTO DE MARIANNE ALBUQUERQUE:
Serão tempos difíceis.
Hoje o Luís Fernando Silva se foi.
Tive a oportunidade de, ao longo deste úlltimo mês, acompanhá-lo de perto. Longas horas no hospital e, mesmo com toda a dificuldade, ele se mantinha sereno.
Luís, o que posso dizer a você e sobre você?
Somente obrigada
Gratidão pelo tempo que estivemos juntos, pela confiança mútua na esperança de dias melhores. Por me ensinar a dar valor ao dia de hoje sem criar grandes expectativas para o futuro. Viver um dia de cada vez.
Você nunca fraquejou e alçou voo de uma maneira linda, segurando as nossas mãos, calmo, amparado pelos anjos, pela família, com a dignidade que sempre demonstrou apesar das dores pelas quais passava.
Tenho certeza que o sofrimento e a dor não te alcançam mais, que o medo se foi, porque Deus sempre esteve contigo. E nem precisa se preocupar em dizer para onde você foi.
É iluminado o caminho do filho que retorna à casa do Pai.
Em um dos nossos encontros espirituais, eu disse que ia cantar essa música para você. Então aí vai :
Ei dor...eu não te escuto mais,
Você, não me leva a nada.
Ei medo...eu não te escuto mais,
Você, não me leva a nada.
E se quiser saber pra onde eu vou,
Pra onde tenha sol, é pra lá que eu vou
E se quiser saber pra onde eu vou,
Pra onde tenha sol, é pra lá que eu vou
Ei dor...eu não te escuto mais
Você não me leva a nada
Ei medo...eu não te escuto mais
Você não me leva a nada
E se quiser saber pra onde eu vou
Pra onde tenha sol, é pra lá que eu vou
É pra lá que eu vou
E se quiser saber pra onde eu vou
Pra onde tenha sol, é pra lá que eu vou
É pra lá que eu vou
( O Sol, Jota Quest)
ELBA ALBUQERQUE ESCREVEU:
Ontem uma pessoa muito querida partiu: o meu primo e padrinho (de batismo e de casamento!) Luís Fernando. 😢 Depois de lutar bravamente por 15 anos contra o câncer, despediu-se de nós deixando imensas saudades. Guardarei como exemplo a sua honestidade, retidão, amizade, amor pela música e pela vida!
Que Deus console os corações da Nanda, do Bernardo e da Duda. 💙Segura na mão de Deus e vai, meu querido! Um dia nos reencontraremos!
BERGONSIL: AMOROSIDADE E GENTILEZA EM PESSOA
(14.08.1930 – 15.12.2015)
Raimundo Floriano
Bergonsil de Albuquerque e Silva, filho de Emigdio Rosa e Silva, o Rosa Ribeiro, e Maria de Albuquerque e Silva, a Maria Bezerra, nasceu em Balsas (MA), no dia 14 de agosto de 1930, e faleceu em Niterói (RJ), no dia 15 de dezembro de 2015, aos 85 anos de idade. Era o quinto de uma prole de 10, da qual eu sou o sétimo.
Esta é sua foto mais antiga, colhida em 1938, quando nossos irmãos Rosimar e Maria das Dores, depois Maria dos Mares, ainda não eram nascidos:
Maria Alice, Maria Isaura, Magnólia, prima, e Pedro;
Bergonsil, Afonso, Maria Bezerra, Maria Iris, Rosa Ribeiro, Raimundo Floriano e José
Bergonsil estudou o Curso Primário em Balsas. Em 1945, partiu para Floriano (PI), onde faria o curso secundário, matriculando-se no Ginásio Santa Teresinha.
De todos os irmãos, ele era o mais amigo, o mais carinhoso, o mais gentil, de forma que sua ausência representou um baque na vida dos mais novos.
Bom filho, bom amigo, bom irmão, Bergonsil era nosso exemplo, nosso espelho. Bonito, alto, jogador de futebol, namorador, forte, jamais apanhou ou deixou que apanhássemos na rua. Fazia-nos brinquedos de buriti – caminhão, jipe, lancha, vapor, barca, avião – e dava-nos presente quando vinha de férias. Por isso, todos nós – seus irmãos menores e a molecada de nossa rua – queríamos ser um Bergonsil quando crescêssemos.
Eu mesmo, até quando me foi possível, segui seus passos por muito tempo. Ele estudou em Floriano, eu também; saiu do Piauí para cursar a EsSA - Escola de Sargentos das Armas, eu também; foi promovido a 3º Sargento, do Exército, eu também; aproveitou as escassíssimas horas de folga da caserna para estudar, eu também; deixou a vida militar para assumir cargo mais alto na vida civil, eu também; teve umas 30 namoradas quando solteiro, eu também; ao dar baixa do Exército, foi promovido a 2º Tenente da Reserva, eu também; sempre se vangloriou pelos longos anos de bons serviços prestados à Pátria, eu também.
Mas as coincidências param aí. Pelo modo de proceder, não só no âmbito familiar, como no profissional e no círculo de suas amizades, Bergonsil podia ser definido como a gentileza em pessoa.
Em Floriano, paralelamente aos estudos, empregou-se como Carteiro no DCT - Departamento de Correios e Telégrafos, hoje ECT. A seguir, duas fotos daquela época, como Carteiro e com a farda de gala do Ginásio:
Concluiu o Curso Ginasial em 1948, classificando-se em Primeiro Lugar, o que lhe valeu a aparição destacada no Quadro de Formatura daquele ano:
Durante o tempo em que permaneceu em Floriano, Bergonsil se esmerou em sua qualidade de irmão e filho amoroso. Ganhando seu dinheiro como Carteiro, cumulava-nos de presentes, quando voltava nas férias. Sob esse aspecto, devo contar-lhes pequeno episódio de minha infância.
Em novembro de 1944, aguardávamos grande novidade, uma realização para nós, os irmãos mais novos: íamos ser tios, pois nossa irmã Maria Isaura esperava seu primeiro rebento, o João Emigdio, nascido no dia 18 daquele mês. Acontece que, por sermos ainda crianças – Afonso, eu, Maria Iris, Rosimar e Maria das Dores –, o tal sobrinho jamais nos chamou de tio, frustrando-nos em nossa fantasia.
No final de 1947, Bergonsil chegou de férias, carregado de presentes, sendo que, para o Rosimar, então com 7 anos, levou um Zé Mentira – assim o chamávamos – de sua própria fabricação, o que se transformou em tremendo sucesso, pois nenhuma criança o possuía outro exemplar naquele sertão. Vejam uma cópia do brinquedo:
Pois um dia, constatando o valor de seu presente, Bergonsil surpreendeu esta conversa do Rosimar com o João Emigdio, então com 3 anos: – Se tu me chamar de tio, eu te dou o Zé Mentira.
Jamais esquecerei a primeira gaita de boca de chave que possuí na vida, a Membi, da Hering, presente do Bergonsil, no Natal de 1951, tal como o modelo abaixo:
Voltemos à história de sua vida!
No início de 1949, após classificar-se em disputadíssimo concurso de âmbito nacional, seguiu para Realengo (RJ), matriculando-se na EsSA - Escola de Sargentos das Armas, sendo promovido a 3º Sargento do Exército Brasileiro, no final daquele ano. Adiante, fotos suas, como Aluno da EsSA e como Sargento:
Após a promoção, foi designado para servir na Escola Preparatória de São Paulo. Naquela capital, enfrentou barra pesada para dar conta de suas obrigações militares e, à noite, frequentar cursos regulares, culminando com sua graduação como Químico Industrial, sendo orador da turma. Vejam detalhes de sua formatura:
Especializado em fabricação de tintas, Bergonsil deixou o Exército Brasileiro, em 1954, para empregar-se como Químico Industrial da empresa americana Sherwin Williams, em São Paulo.
O ator americano Tom Hanks tem o mesmo porte físico e a mesma aparência do Bergonsil quando era jovem. Sempre que assisto ao filme O Resgate do Soldado Ryan, às vezes, vejo o Bergonsil atuando no lugar do Tom.
Nossa prima Magnólia Baptista, em seu livro Lembranças, Dons e Artes, assim define o Bergonsil na segunda metade dos Anos 1940, quando estudante em Floriano: “que era metido a conquistador.”
Ele tinha mesmo muita sorte – e lábia – pra namoro! E foi numa dessas conquistas que ele acertou o pé na vida! Surgiu em seu caminho nossa prima Izaura Maria de Sousa e Silva, filha do Tio Cazuza e da Madrinha Ritinha, com quem se casou, a 31 de dezembro de 1960, indo residir em São Paulo. Era o segundo casamento unindo nossas famílias, eis que minha irmã Maria Alice, quatro anos antes, se casara, com o Raimundo, irmão da Izaura.
Bergonsil e Izaura, no dia do casamento
Pouco tempo depois, o casal mudou-se para Niterói (RJ), com o Bergonsil contratado para o cargo de Químico Industrial da Tintas International, companhia inglesa, gigante no setor, com sede em São Gonçalo, ali pertinho.
Bergonsil e Izaura tiveram dois filhos, Valéria e Maurício, que lhe deram dois netos, Lucas e João Rodrigo.
Maurício, Valéria e Izaura
João Rodrigo e Lucas
Em junho de 1996, Bergonsil, sozinho, eis que com Izaura e os filhos trabalhando, passou aqui por Brasília, dirigindo seu próprio carro, rumo a Balsas, onde assistiria à festa dos 70 anos de nossa irmã Maria Alice, no dia 26 daquele mês. Tal viagem, com percurso de quase 3.000 quilômetros, só de ida, era mais um gesto de sua amorosidade e gentileza. Na volta, ficou uns dias aqui comigo, para o forró de meus 60, o que ocorreria no dia 3 de julho. Foi só alegria, animação e cantoria.
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Mas, no dia 21 de outubro do mesmo ano, a tragédia: Bergonsil, quando atravessava a rua, pertinho de casa, em Niterói, foi atropelado por um motoqueiro, batendo com a cabeça no meio-fio e perdendo massa encefálica. Daquele momento em diante, desligou-se do mundo, não reconhecendo mais as pessoas que lhe eram queridas – mulher, filhos, irmãos, parentes, amigos – e, vez em quando, falando palavras desconexas.
Izaura que, na época, ocupava uma das Gerências no BNDES, teve de desdobrar-se para dar conta de suas atribuições funcionais e no desvelo e cuidados para com o Bergonsil. No decurso de sua enfermidade, recorreu a todos tratamentos existentes na Medicina Brasileira, para devolver-lhe o bem-estar.
Em casa, usou de todos os recursos disponíveis e dedicou ao Bergonsil todo o carinho e todo o zelo, fazendo com que ele nunca perdesse a dignidade, no que foi seguida pelos filhos e netos.
E isso durou até o dia 21 de dezembro de 2015, quando um mal súbito do coração o levou para a Morada Celestial.
Esta é a última foto que tiramos, os 10 irmãos juntos, isso aqui em Brasília, na ASBAC - Associação dos Servidores do Banco Central, em 1990, nas comemorações do Casamento de nosso sobrinho Luís Fernando:
Afonso, Raimundo Floriano, Bergonsil, José, Rosimar e Pedro
Maria Isaura, Maria dos Mares, Maria Alice e Maria Iris
"
"
RAIMUNDO FLORIANO
TENENTE DO EXÉRCITO, MÚSICO, ESCRITOR,
CORDELISTA, PALHAÇO E VELHO DO PASTORIL
(03.07.1936)
Raimundo Floriano
EsSA - 1957
Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, nasceu em Balsas (MA) no dia 3 de julho de 1936. Filho de Emigdio Rosa e Silva, o Rosa Ribeiro, e Maria de Albuquerque e Silva, a Maria Bezerra, é o sétimo de uma prole de dez. Esta é sua foto mais antiga, batida em 1938, quando Rosimar e Maria dos Mares, a caçula, ainda não eram nascidos:
Maria Alice, Maria Isaura, Magnólia (prima) e Pedro
Bergonsil, Afonso, Maria, Maria Iris, Rosa, Raimundo e José
Última foto dos 10 irmãos reunidos, batida em 1990, na ASBAC:
Afonso, Raimundo, Bergonsil, José, Rosimar e Pedro
Maria Isaura, Maria dos Mares, Maria Alice e Maria Iris
Consta do livro Pétalas do Rosa, baseado em anotações deixadas pelo Patriarca Rosa Ribeiro, este depoimento:
“Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva nasceu no dia 3 de julho de 1936, sexta-feira, às 14h30, em casa de residência de seus pais, à Rua Achiles Lisboa, antiga Rio Branco, e foi batizado pelo Padre Clóvis Vidigal, no dia 28 de fevereiro de 1937, domingo, às 17h, na Igreja Matriz desta cidade, sendo seus Padrinhos o Padre Cincinato Ribeiro Rego, representado pelo Farmacêutico Didácio Santos, e Maria Isaura de Albuquerque e Silva, representada por Maria Alice Albuquerque e Silva. Foi crismado pelo Reverendíssimo Arcebispo Dom Carlos Carmello de Vasconcellos Mota, no dia 29 de setembro de 1938, às 17h, na Igreja Matriz desta cidade, sendo Padrinho o Padre Pedro Santos, Vigário da Secretaria do Sr. Arcebispo, sendo Pedro Albuquerque e Silva, Padrinho Espiritual.”
Tenente do Exército, Músico e Escritor
Cordelista, Palhaço e Velho do Pastoril
Consta ainda do livro Pétalas do Rosa:
“Sargento Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva e Evanilde de Castro Sampaio casaram-se civil e religiosamente nesta cidade de Balsas, no dia 30 de janeiro de 1964. O ato religioso foi celebrado pelo Padre João Serenin, às 17h00, na Igreja Matriz, e o Civil, na casa de Silvério Sampaio, à Rua Benedito Leite, às 18h30, sendo Juiz o Segundo Suplente Olímpio Francisco de Aragão.
Filhos de Raimundo Floriano e Evanilde:
José Albuquerque Silva, nascido em Brasília, a 21.02.1965; e
Floriano Sampaio e Silva, nascido em Balsas, a 14.07.1966, (e falecido em Brasília, a 02.05.2017). ”
“A 17 de julho de 1982, Raimundo Floriano, divorciado, casou-se com Maria Veroni Souza de Albuquerque e Silva, nascida em Brejolândia (BA), a 14.03.1958, com quem teve as filhas Elba Souza de Souza de Albuquerque e Silva Chiappetta, nascida em Brasília, a 16.09.83, casada com Fábio Leandro Diniz Chiappetta; e Mara Souza de Albuquerque e Silva, nascida em Brasília, a 31.12.1985.”
Veroni e Raimundo
Raimundo Floriano, com os filhos:
José, Elba, Floriano e Mara
José Albuquerque e Silva, o Zezinho, casou-se com Paula Araújo Basílio Albuquerque, com quem teve os filhos Anna Paula Basílio Albuquerque e José Victor Basílio Albuquerque, todos residentes em Brasília.
Parte da Família de Raimundo Floriano, em 2012:
Mara, Elba, Veroni, José Victor, Anna Paula, Paula e Zezinho
Raimundo Floriano é titular do Almanaque Raimundo Floriano (www.raiundofloriano.com.br), em cujo cabeçalho consta este fragmento biográfico:
“Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.”
Raimundo Floriano chegou a Brasília em 27 de dezembro de 1960, onde fixou residência em definitivo, como 3º Sargento do Exército Brasileiro, para formar o efetivo de Sargentos da Polícia do Exército, recém-criada. Ao dar baixa, a 28 de março de 1967, em virtude de aprovação em concurso público para a Câmara dos Deputados, foi promovido ao posto de 2º Tenente QOA/R2.
Em Brasília, diplomou-se em Inglês, pela Casa Thomas Jefferson, e graduou-se em Ciências Contábeis, pala UDF.
Profundamente dedicado à Cultura, fundou, em 1972, a Banda da Capital Federal, voltada para ao carnaval de rua, da qual é Mestre e trombonista, e, paralelamente, a Igreja Sertaneja, seita sem conotação religiosa, da qual é Cardeal.
A Banda da Capital Federal, em 2002, na conquista do Penta:
Cardeal Raimundo Floriano
Em julho de 1998, em cruzeiro pelos Mares do Caribe, a bordo do navio norueguês Leeward, Raimundo Floriano foi entronizado, por seu comandante, Capitão Jan Ottesen, no posto náutico de Xerife.
Xerife Raimundo Floriano
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Ao completar 81 anos de idade, tenho procurado não passar em branco o tempo de vida que Deus está me concedendo.
Raimundo Floriano
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MARIA ALICE, A MULATA DA FAMÍLIA
(25.06.1926- 03.03.2002)
Raimundo Floriano
Maria Alice, caricaturada por Juarez
Maria Alice foi um símbolo de alegria, da caridade e do amor ao próximo. Um paradigma de filha, irmã, esposa, mãe, e avó, além de amiga sincera e incondicional de todos que a conheceram.
As lembranças mais nítidas que tenho dessa minha irmã são as marcadas pelas festas, principalmente o Carnaval, quando ela ensaiava com as amigas as canções lançadas no ano e, nos bailes, divertia-se a valer, naquela inocência das festividades carnavalescas do sertão de outrora. Na foto abaixo, ela, com primas e amigas, preparando-se para o ensaio do Carnaval de 1950. Queriam sorriso mais brejeiro, mais espontâneo, mais faceto, mais puro?
Violeta, Maria Alice, Criseida, Flory, Iracy e Yolanda
Para abrir esta crônica, pedi ao Juarez Leite, meu ilustrador, que fizesse uma caricatura da Maria Alice, partindo de foto mais recente, batida há uns quinze anos, muito esmaecida. E ele, mesmo sem tê-la conhecido, captou, de forma brilhante, a jovial personalidade dessa irmã querida.
Maria Alice Albuquerque e Silva nasceu no dia 25 de junho de 1926, em Balsas (MA). Era filha de Rosa Ribeiro e Maria Bezerra, meus pais. Dez anos mais velha do que eu, era a terceira, numa prole de dez irmãos, da qual eu sou o sétimo.
Esta é sua foto mais antiga, batida quando estava com dois anos de idade:
Rosa Ribeiro, Maria Bezerra,
José, Pedro, Maria Isaura e Maria Alice
Estudou em Balsas até concluir o Primário, quando, em busca da realização do sonho de toda moça da época – ser professora –, foi estudar em Teresina (PI), onde cursou a Escola Normal Estadual.
Faço questão de relatar um episódio daquela época, que ela me contou em 1991, quando festejávamos o Centenário de Rosa Ribeiro, nosso pai, in memoriam.
Ainda adolescente, ela se encontrava de férias escolares em Balsas, devendo retornar para Teresina numa balsa, a chamada “balsa dos estudantes”, que sairia num domingo, em viagem que, ao sabor das águas, teria 15 dias de duração. Vejam bem como era sacrificada a vida dos estudantes naquele tempo, devendo interromper as férias duas semanas antes, para chegarem a ponto de pegar o início das aulas.
Sucedeu que, no mesmo dia em que se daria a partida da balsa, seria realizado em Balsas um grande piquenique, com muita música e animação, na Fazenda Maravilha, que a Maria Alice não queria perder de jeito e maneira. Por isso, na véspera da viagem, ela andava na maior tristeza, com a cara inchada de tanto chorar escondido pelos cantos lá de casa. Papai, notando isso e, cientificando-se do motivo, tomou uma providência inesperada. Sabendo que a balsa, que só viajava de sol a sol, pernoitaria na Fazenda Capim Branco, umas seis léguas rio abaixo, decidiu que Maria Alice iria ao piquenique e que, terminada a festa, ele a levaria até a dita fazenda. Assim se fez. Já no crepúsculo, montados em dois cavalos bons de sela, guiados pela lua e pelas estrelas, venceram o percurso, alcançando a balsa ao romper da aurora, antes de ela ser desamarrada para prosseguir viagem. Tal ação do velho Rosa Ribeiro me serviu de verdadeira lição para o modo de como me portar na condução da vida de minhas filhas.
Em Teresina, Maria Alice chamava a atenção pela beleza sertaneja. Essa rara formosura fez com que, em meados dos Anos 1940, fosse eleita Rainha dos Estudantes da Capital Piauiense.
Rainha dos Estudantes
Conquistado o diploma de professora, retornou para Balsas, onde lecionou no Grupo Escolar Professor Luiz Rêgo até 1956.
Sempre que me recordo daquela época, vêm-me à lembrança as festas das quais ela participava e as músicas que ela cantava, principalmente no período carnavalesco. Sendo a mulata da família, minha imaginação infantil levava-me a crer que a marchinha A Mulata é a Tal – “Branca é branca, preta é preta, mas a mulata é a tal, é a tal...” – de Ruy Rey, lançada em 1948, fora composta especialmente pensando nela.
A mulata brejeira
Também ficou gravada em minhas recordações a imagem dela, de nossas primas Violeta e Iracy, as amigas Criseida e Yolanda e outras, fantasiadas de odaliscas, cada qual com um pandeiro árabe na mão direita, no Carnaval de 1947, em cordão que tinha como tema a marchinha Odalisca – “Vem, odalisca, pro meu harém...” –, gravação de Nélson Gonçalves. Como o Oriente Médio sempre foi rica fonte de inspiração para os compositores do passado, recordo-me, dela, novamente, fantasiada com seu grupinho, de odalisca, no Carnaval de 1951, dentro do tema da marchinha Levanta o Véu – “Levanta o véu, iaiá, levanta o véu, iaiá, eu sei que o teu Alá há de te perdoar...” – gravação do desconhecido Ivan de Alencar. A seguir, duas odaliscas:
Maria Alice e Yolanda
No dia 25 de fevereiro de 1956, Maria Alice casou-se com Raimundo de Sousa e Silva, nosso primo, filho de Cazuza Ribeiro e Ritinha Pereira, indo residir na vila de engenheiro Dolabela (MG), onde se localizava a Usina Malvina, uma das fábricas de açúcar e álcool do Grupo Matarazzo, da qual Raimundo era o Químico Industrial, situada em terras do Município de Bocaiúva. Seguiu com o casal a jovem Maria Júlia, que já vivia em nossa casa desde menina, sobrinha do Comandante Puçá e de Maria Rodrigues, de quem falarei em outra oportunidade.
Maria Alice e Raimundo
Em Minas, o casal teve dois filhos: Pedro Ivo, nascido em Bocaiúva, no ano de 1957, e Maria Isaura, nascida em Belo Horizonte, em 1958.
No início dos Anos 1960, o casal mudou-se para Brotas (SP), onde Raimundo recebera melhor proposta de trabalho em outra grande usina açucareira, pertencente àquele grupo empresarial. Ali permaneceu até 1963, quando veio a fixar residência em Anápolis (GO), onde Raimundo e outros empresários fundaram uma indústria no ramo de saboaria. Nessa cidade, em 1966, Maria Alice deu à luz Raimundinho, o filho caçula.
No ano de 1967, nova mudança, dessa vez em caráter definitivo. Com aposentadoria de Rosa Ribeiro, Maria Alice foi nomeada Tabeliã do Cartório do 2º Ofício de Balsas, sucedendo a papai, enquanto Raimundo assumia o cargo de Fiscal de Rendas do Estado. Eram as aves voltando ao ninho antigo. E a cidade muito ganhou com isso.
Inicialmente, porque, com eles, voltava a se instalar naquele meio um pouco da alegria do passado, um tanto perdida com o progresso vivido nos novos tempos. No sítio Bebedouro, distante cerca de légua e meia do centro da cidade, passaram a se realizar as mais animadas comemorações e os mais festivos encontros, com a participação de todos os familiares e demais amigos.
O sítio Bebedouro, oásis balsense de alegria e felicidade:
Sítio Bebedouro
A seguir, o casal em meio à juventude foliona, no Clube Recreativo Balsense:
Maria Alice e Raimundo - Carnaval de 1975
Paralelamente ao trabalho e ao lazer, Maria Alice, com o total apoio e cooperação do Raimundo, deu continuidade ao trabalho de Maria Bezerra, nossa mãe, esmerando-se na assistência às pessoas carentes, na organização de festejos religiosos, na consolação dos aflitos, no aconselhamento aos transtornados, na visitação aos enfermos, na assistência aos agonizantes e na ajuda aos carentes, material ou espiritualmente. Com sua morte, passou-se a ouvir, novamente, 33 anos depois, no Município e em seus arredores, a mesma frase comum quando Maria Bezerra nos deixou: – Morreu a Mãe dos Pobres de Balsas!
Sua última viagem a Brasília foi realizada com um pretexto: comparecer à festa de aniversário dos filhos do Luís Fernando, nosso sobrinho, e à formatura, em Anápolis, de Reinaldo, filho da Maria Júlia, a garota que a acompanhou para Minas quando casou. O negão – clone do goleiro Dida –, meu afilhado, aos 21 anos de idade, graduava-se em Ciência da Computação pela Universidade Estadual de Goiás. Festa? Era com ela mesmo!
A solenidade se daria no dia 7 de março de 2002. No início do mês, já aqui em Brasília, Maria Alice, com problemas respiratórios – sofria de asma –, foi internada no HGO para os devidos cuidados médicos. A última vez em que a vi, foi na tarde do dia 2, quando ela, recuperada e rodeada de parentes, relembrava, cantando, sucessos carnavalescos do passado.
No dia seguinte, 3 de março, domingo, ela teve alta e foi para a casa do Afonso, nosso irmão, onde se hospedava. À tardinha, estando à mesa fazendo um lanche com ele, passou mal, perdeu os sentidos e nunca mais voltou. Partiu imediatamente, sem muito sofrer.
Hoje, sabemos que a vinda para festas era mais um pretexto por nós ignorado. Ela viera mesmo para despedir-se dos irmãos e do resto da família. E despedida mais alegre não poderia haver. No aniversário das crianças, estavam presentes cinco de seus irmãos e todos os descendentes e agregados das famílias de Rosa Ribeiro e Cazuza Ribeiro residentes em Brasília.
Maria Alice era Ministra da Eucaristia. Seu trabalho, juntamente com o Apostolado da Oração, mais conhecido como Grupo das Romeiras, em muito contribuiu para arraigar no coração de seus conterrâneos o sentimento da caridade e da fé católica.
Antes de exalar o último suspiro, nos braços de nosso irmão Afonso, ainda teve um átimo de lucidez e, ao ouvir a Lígia, nossa cunhada, telefonar pedindo uma ambulância, exclamou: – Não é preciso, gente, estou bem!
E estava mesmo! Naquele santo momento, ela já segurava na mão de Deus!
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MARIA DOS MARES, A CAÇULA E INTELECTUAL DA FAMÍLIA
(24.06.1942)
Raimundo Floriano
Maria dos Mares, com o ícone do Elefante Branco
Maria dos Mares é minha irmã caçula. Nascida em Balsas (MA), no dia 24 de junho de 1942, é filha de Emigdio Rosa e Silva, o Rosa Ribeiro, e Maria de Albuquerque e Silva, a Maria Bezerra, meus pais. É a última de uma prole de dez, da qual sou o sétimo.
Rosa Ribeiro e Maria Bezerra
Na realidade, foi batizada com o nome de Maria das Dores Albuquerque e Silva, mas, após fixar residência nas praias paraibanas, achou que os ares marinhos lhe traziam muitos eflúvios positivos e benfazejos, como de fato, e decidiu mudá-lo para Maria dos Mares, o que foi sacramentado pelo jamegão dum Juiz de Direito.
E não ficou só nisso não. Vivendo sempre inconformada com o status quo, ao casar-se, como o sobrenome do marido era Silva, acrescentou-o ao seu, ficando Maria das Dores Albuquerque Silva e Silva, mais tarde Maria dos Mares, como já dito. Parece até sobrenome de gringo latino-americano.
Esta é sua mais antiga foto, pelo que me consta. Nela, aparecem Maria Alice e Maria Isaura, irmãs, Pedro Silva, marido da última, Raimundo Floriano, irmão, João Emigdio, sobrinho, Maria dos Mares e Rosimar, irmão:
Foto batida em 1948
E este flagrante e da última reunião dos irmãos, ocorrida no ano de 1990:
Afonso, Raimundo, Bergonsil, José, Rosimar e Pedro;
Maria Isaura, Maria dos Mares, Maria Alice e Maria Iris
Maria dos Mares estudou no Grupo Escolar Professor Luiz Rêgo, no Primário, e no Ginásio Balsense, no Secundário. Concluído esses dois cursos, qualquer aluno estava apto a enfrentar o mercado de trabalho no sul-maravilha e conquistar seu lugar ao sol. Na imagem a seguir, ela e duas colegas do Ginásio, as irmãs sambaibenses Maria da Cruz e Maria de Fátima Rêgo:
Da Cruz, Fátima e Maria dos Mares
No início de 1961, veio para Brasília, onde já morávamos 4 de seus irmãos: Maria Isaura, José, Afonso e eu. Hoje, aqui, só eu resto, talvez para contar a saga de nós todos. Mercê de Deus, o que muito agradeço.
Dando continuidade a seus estudos, cursou o Centro Educacional Elefante Branco, concluindo o Curso de Normalista em 1964. Mais adiante, me alongarei sobre o isso. Com o diploma de Professora, passou a fazer parte dos quadros da Fundação Educacional do Distrito Federal.
De extrema sensibilidade e vivendo no meio intelectual brasiliense, conheceu Natanael Rhor da Silva, Professor de Física de UnB, com quem se casou, no dia 15 de agosto de 1970. Pouco tempo depois, mudou-se para Londres, acompanhando o marido, que ali faria o Doutorado. Adiante, foto do casal:
Permaneceu na Inglaterra por quatro anos, após o que o casal retornou para o Brasil, fixando residência em João Pessoa (PB), onde Natanael iria chefiar o Departamento de Física da Universidade Federal da Paraíba. Nessa mesma instituição de ensino universitário, Maria dos Mares conquistou o Grau Superior de Assistente Social.
Poeta, pintora, desenhista e escultora, Maria dos Mares desenvolveu na Capital Paraibana intensa atividade cultura, e assistencial o que se prolonga até os dias de hoje.
Fissurada pelo Mar, sempre morou à beira dele, primeiramente, na Praia do Bessa – por algum tempo era conhecida como Maria da Praia do Bessa –, depois, na Avenida Oceano Atlântico, Cabedelo, em confortável e amplo apartamento, de cuja varanda, e com um bom binóculo, pode-se observar os navios passando ao largo e até flagrar, em suas cabines, algum casal em atitude de sexo explícito.
Especializada em cerâmica, Maria dos Mares é uma referência municipal e estadual, quer em seu meio social e profissional, quer no âmbito governamental.
Dando asas a sua inspiração e seu poder criativo, montou, em João Pessoa, a Cerâmica Maria dos Mares, cujos artesanatos eram amiúde procurados pelos turistas que visitam a cidade. A seguir, dois de seus postais alusivos ao Natal:
No ano de 2012, a ECT lançou este selo, comemorativo de deus 70 anos:
Voltemos agora ao Elefante Branco, um dos temas desta matéria.
Tradicionalmente, elefante branco é expressão idiomática que designas posse valiosa da qual o proprietário não pode se livrar e cujo custo, especialmente o de manutenção, é desproporcional a sua utilidade ou valor.
O termo tem origem nos elefantes albinos mantidos pelos monarcas do Sudeste Asiático em Myanmar, Tailândia Laos e Cambodja, onde são considerados sagrados.
No Brasil, a construção da Nova Capital, bem como tudo que nela se continha eram considerados, pela Oposição a Juscelino Kubitschek, um elefante branco. Era o Velho do Rastelo pra todo lado, a dar de pau nas costelas do Presidente.
Mas isso não foi o caso de nosso Elefante Branco, colégio onde Maria dos Mares estudou. A denominação surgiu porque o prédio, visto de certo ângulo, assemelha-se a um elefante branco, conforme vocês veem acima em sua logomarca.
Agora, neste ano de 2014, foi comemorado, com toda a pompa e circunstância o Cinquentenário da Primeira Turma de Normalistas do Elefante Branco. Acorreram ex-formandas de todos os cantos do Brasil, a exemplo de minha irmã Maria dos Mares, que veio com Natanael, de João Pessoa, para a grande festa, organizada pelas colegas Marilena, Janaína, Leda, Heloísa, Maria Luíza, Maria Abadia e Rosecler, que aparecem na nesta pose publicada pelo Correio Braziliense:
Histórica é este documento fotográfico, apresentando-nos a Turma de 1964, onde Maria dos Mares aparece em evidência:
Primeira Turma de Normalistas do Elefante Branco
Quer dizer, Maria dos Mares fez parte da História de Brasília, ao formar-se em seu principal Estabelecimento de Ensino Médio da época, e. hoje, participa da História João-pessoense, paraibana e nordestina, com sua atividade profissional, conforme acima foi dito.
Mas Maria dos Mares não para. Sempre em ebulição, acaba de inaugurar novo espaço cultural, que já é o point dos intelectuais da Capital Paraibana:
Para saber um pouco mais sobre Maria dos Mares, assistam a este vídeo:
AFONSO CELSO, O PERFORMÁTICO
(08.06.1933 – 04.04.2004)
Raimundo Floriano
Afonso Celso aos 18 anos
Aconteceu bem no comecinho de Brasília. Ao amanhecer de belo dia ensolarado, um jipe da NOVACAP - Companhia Urbanizadora da Nova Capital, que fazia o percurso Taguatinga/Plano Piloto, capotou já na saída do Setor de Indústria. Imediatamente, juntou um monte de curiosos, que socorreu o motorista, levou-o para o Hospital Distrital – atual Hospital de Base –, onde ele foi devidamente atendido. Umas três horas depois, quando tomou consciência de si, ele perguntou:
– Cadê Seu Afonso?
Foi uma correria que nem te conto! Médicos enfermeiros, pressurosos, dirigiram-se ao local do acidente, encontrando-o desacordado, no meio de umas moitas de capim. Devido ao grande tempo em que esteve exposto aos raios solares, sua cabeça ficou toda inchada, a cara completamente deformada, parecendo um ET, mas com a agravante de que não se lhe viam os olhos. Mais ou menos assim:
Na época, Afonso era Chefe de Pessoal na NOVACAP, quer dizer, o Homem da Caneta, que assinava a Carteira de Trabalho de tudo quanto era candango. Por isso, o Hospital ficou superlotado de pessoas querendo visitá-lo, do peão ao engenheiro, sendo necessário fazer uma escala para não tumultuar os serviços. Houve um peão, Seu Raimundo Paz, antigo magarefe em Balsas, para quem o Afonso arrumara um gancho, que se emocionou dum tanto ao ver o lastimável estado em que se encontrava o conterrâneo que, ao sair, deixou, na mesinha da sala de espera, uma nota de um cruzeiro! Nunca me esqueço desse lance!
Afonso era duro na queda. Aliás, queda era com ele mesmo!
Doutra feita, bem antes, ainda éramos meninos, eu ia saindo da escola, quando me disseram que ele caíra do pé de imbu de nosso quintal e quebrara o braço. Eu, no caminho de casa, ia imaginando onde colocariam os pedaços do braço, achando que a quebra era igual à de um prato de loiça ou dum copo de vidro. Ao chegar, já o encontrei com o braço direito entalado – não existia gesso por aquelas bandas – e, com a mão esquerda, tocando seu vialejo, como chamávamos a gaita de boca naquele tempo em nosso sertão.
Outras quedas houve, a maior delas com ele perto dos 70, por demais traumática, mas da qual saiu numa boa.
Outra coisa em que ele era craque era em exibir-se! Era a única pessoa, além do Mudo do Salomão, que atravessava o Rio Balsas – largura de 60 metros – mergulhando, chegava à outra margem, dava um sinal com uma das mãos e voltava, isso de um fôlego só! Foi também a única pessoa que vi caminhar descalça sobre brasas avivadas nas fogueiras de São João!
Em Balsas, havia dois pés de eucalipto, um em nossa casa e o outro no Egito, sítio distante cerca de meia légua, cujas folhas eram muito procuradas para chás com fins medicinais. Como ambos tinham caules finos, sem galhos, e copas muito altas, feito tetos de arranha-céus, era necessário alguém que subisse para colhê-las. Em Balsas, só o Afonso era capaz dessa proeza!
Afonso Celso de Albuquerque e Silva, meu irmão, nasceu em Balsas (MA), no dia 8 de junho de 1933. Filho de Emigdio Rosa e Silva, o Rosa Ribeiro, e Maria de Albuquerque e Silva, a Maria Bezerra, era o sexto de uma prole de dez, da qual eu sou o sétimo. Ontem, se vivo fosse, faria 81 anos. Coincidentemente, seu aniversário caía no de outro irmão, o Carioquinha, nascido em 1928. Esta é a foto mais antiga que temos dele:
Afonso é esse à esquerda, encostado no sofá - Eu sou o de macaquinho e cabelo cacheado
Este outro flagrante foi colhido também em nossa infância:
Afonso Celso e Raimundo Floriano
Em 1947, concluído o Curso Primário, Afonso embarcou na carroceria dum caminhão com destino a Goiânia, onde morava nossa avó materna, para prosseguir nos estudos.
Ele sempre gostou de ter seu dinheirinho. Em Balsas, exercia a profissão de sineiro, cobrando 2 cruzeiros de cada comerciante para bater as horas de abrir e fechar as lojas, atividade que me repassou ao sair de lá. E de vestir-se com roupinhas mais ajeitadas, coisas que a minguada mesada paterna era incapaz de suprir, razão pela qual, desde que chegou à capital goiana, paralelamente aos estudos, trabalhou duro para concretizar seus desejos e vaidades.
Como emprego fixo, exerceu a função de repórter fotográfico na Foto HB, do armênio Haroutiun Berberiam. Naquele tempo, as fotos eram coloridas manualmente, no que o Afonso era perito. Como bico, foi hipnotizador, professor de jiu-jítsu, contrarregra radiofônico, ator teatral e gaitista, na Rádio Brasil Central e posteriormente, na Rádio Clube de Goiânia, compondo o elenco efetivo do Carrossel da Semana, badalado programa de auditório.
Em dezembro de 1957, o Carrossel da Semana veio apresentar-se aqui em Brasília, num espetáculo para Juscelino e a candangada, ocasião em que o Presidente o convidou a integrar a equipe da construção da Nova Capital. Convite aceito, Afonso, já com o Segundo Grau completo, foi admitido como Assistente Administrativo da Divisão de Pessoal da NOVACAP.
Dentro de pouco tempo, galgou ao cargo de Chefe de Pessoal e, com o decorrer do tempo, até aposentar-se, foi Diretor de Pessoal da DTUI - Departamento de Telefones Urbanos e Interurbanos e da COTELB - Companhia de Telefones de Brasília, depois TELEBRASÍLIA - Telecomunicações de Brasília.
Seresteiro, paquerador, romântico e apaixonado, casou-se, a 6 de novembro de 1963, com Lígia Magnólia Reis e Silva, que lhe deu três filhos: Luciene, Patrícia e Afonso Celso.
Afonso e Lígia, no dia do enlace matrimonial
Em 1973, Afonso bacharelou-se em Ciências Jurídicas e, ao aposentar-se, montou seu Escritório de Advocacia, onde obteve magnífico êxito, não só na esfera trabalhista, sua maior especialidade, como em outras áreas. Teve como cliente, por exemplo, num processo de emigração, o designer austríaco Hans Donner que, juntamente com a Globeleza - essa vestida como nasceu –, posou com ele para uma foto, troféu exibido e guardado com muito carinho, mas que se perdeu, como muitos outros flagrantes de momentos análogos em que foi partícipe, depois que ele nos deixou.
Afonso curtia a vida. Foi um globetrotter: conhecia todo o Brasil, as 3 Américas – do Norte, do Sul e Central –, o Caribe, o Oriente Médio, e toda a Europa. Tendo uma filha residente em Munique, Alemanha, fez daquela cidade sua base para percorrer os países do Velho Continente.
Tudo o que usava era da melhor qualidade – óculos, relógio, tênis, carro, computador e periféricos –, e suas gaitas, as germânicas Hohner, 64 vozes, em várias afinações, eram compradas diretamente na fábrica. Ei-lo aqui com uma delas:
Afonso e sua Hohner
Além da gaita, Afonso também tocava sanfona e escaleta. Na era do teclado, ele rapidamente se adaptou, incluindo esse instrumento em seu show musical, às vezes até com um solo na gaita, acompanhando-se no teclado, ou vice-versa. Eis o último que possuiu, com sua coleção de gaitas.
Afonso Show, seu teclado e suas gaitas
Afonso era dotado de habilidades incontáveis, dentre elas a prestidigitação, a arte origami, a computação gráfica e o artesanato em madeira, papelão, metal, plástico, isopor e buriti.
Tudo na vida tem início, meio e fim. Embora Afonso Celso fosse duro na queda, havia algo que lhe vinha bagunçando o coreto há certo tempo: o coração! Vez em quando, pregava-nos sustos! E que sustos!
No dia 04.04.04 – repararam na data, não é performática? –, um domingo, Afonso chegou de Palmas, onde mora uma de suas filhas, e, ao meio-dia, telefonou-me convidando para uma grande pescaria, no mês de julho, no Araguaia. Confirmada minha presença, saí para uma festinha de aniversário à qual estavam presentes muitos balsenses. Mais ou menos às 5 da tarde, recebi ligação comunicando-me que ela havia morrido. Foi difícil acreditar, pois eu, ao meio-dia, falara com ele!
Infelizmente, era verdade! Depois do almoço, deitou-se para um cochilo e nunca mais acordou. Caprichos do coração. Consola-nos saber que se foi mansamente, sem muito sofrer.
Esta foi a última foto que tiramos, com os dez irmãos juntos.
Afonso, Raimundo, Bergonsil, José, Rosimar, Pedro
Maria Isaura, Maria dos Mares, Maria Alice e Maria Iris
A 8 de junho de 2003, curtindo as coisas boas da vida, como era de seu feitio, Afonso comemorara a chegada aos 70 em grande estilo, em ágape musical e dançante, com a presença da família, dos confrades do Rotary e de seus amigos leais.
Perpetuando sua memória musical, Afonso deixou-nos este CD, no qual apresenta solos na gaita e no teclado:
Nestes dois flagrantes, vemo-lo em atuação:
Foi o Afonso que me apresentou a gaita com chave e me ensinou a fazer os baixos com a língua, dando a impressão de que se ouvem dois instrumentos. Outra técnica especial dele, com o mesmo objetivo, nunca fui capaz de assimilar: tocar oitavando, o que produz efeito de rara beleza sonora e também nos faz pensar em dois instrumentos a tocar.
Afonso era performático, como se vê no título desta matéria. Músico e Advogado militante residente em Brasília, ajuizava muitas causas nos Tribunais Superiores, como foi o caso do designer alemão Hans Donner, que a ele recorreu em seu processo de naturalização. Aqui vemos um flagrante da visita de Hans a seu escritório, acompanhado de mulher, Valéria Velenssa, a Globeleza, que não perdeu a chance de deixar, na bochecha esquerda do advogado, sua marca registrada.
Ontem, 8 de junho, foi seu aniversário. Como pequena amostra do talento desse querido e saudoso irmão, escolhi, de Ernesto Lecuona, a fantasia Malagueña, em solo de gaita:
JOSÉ ALBUQUERQUE, O CARIOQUINHA DAS MENINAS
(08.06.1928 – 15.07.2014)
Raimundo Floriano
José Albuquerque e Silva, o Carioquinha das Meninas, meu irmão, nasceu em Balsas (MA), no dia 8 de junho de 1928. Filho de Emigdio Rosa e Silva, o Rosa Ribeiro, e Maria de Albuquerque e Silva, a Maria Bezerra, era o quarto de uma prole de dez, da qual sou o sétimo. Coincidentemente, seu aniversário caía no dia de outro irmão, o Afonso, nascido em 1933. Esta é a foto mais antiga que temos dele, em 1928, no colo do velho Rosa:
Rosa Ribeiro, Maria Bezerra,
José, Pedro, Maria Isaura e Maria Alice
Sempre que lhe perguntavam por que a alcunha de Zé Carioca, se nascido no sertão maranhense, ele dizia que fizera um curso de carioca por correspondência. Mas a explicação é bem outra. No ano de 1942, o americano Walt Disney, dentro da Política de Boa Vizinhança, criou o personagem Zé Carioca, no filme Alô, Amigos, que se encaixou como uma luva no José, dono de olhos meio esverdeados e, naquele tempo, já fazendo suas papagaiadas, como enfiar a cabeça numa lata de querosene vazia, para ampliar a voz ao cantar. Assim, Zé Carioca passou ele a se chamar.
Neste flagrante, vemos nossa família em 1938, com José aos 10 anos, e eu de cabelos cacheados:
Maria Alice, Maria Isaura, Magnólia, prima, e Pedro; Bergonsil, Afonso,
Maria Bezerra, Maria Iris, Rosa Ribeiro, Raimundo Floriano e José
José fez o Curso Primário em Balsas, após o que, como todos os que queriam conquistar o futuro, embarcou numa balsa rumo ao saber, primeiramente em Floriano, depois em Teresina. Era de Balsas para Mundo.
Concluído o Ginásio, conseguiu emprego na Companhia de Fiação e Tecidos União Caxiense S/A. Trabalhava durante o dia e, à noite, preparava-se para o dificílimo concurso para o Banco do Brasil, o melhor emprego do país na época. Aprovado, foi admitido nos quadros do Banco no início de 1948, tomando posse em Teresina.
Sendo o que maior remuneração recebia em toda a família, transformou-se, desde então, em fonte segura na ajuda aos que a ele recorriam, parentes ou amigos.
Na data de hoje, 5 de setembro, quando elaboro este perfil, comemora-se o Dia do Irmão. Nada mais apropriado, pois, para que eu lhe renda um preito de gratidão pelo que representou em minha vida, não só nestes últimos 54 anos aqui em Brasília, em que nos apoiamos e socorremos mutuamente, mas também por dois benefícios marcantes com que me agraciou, decisivos para meu sucesso profissional, pelos quais constantemente lhe agradecia e deixo aqui patenteados: o primeiro, ao custear meus estudos, no Ginásio e no Científico, inclusive em colégio interno; o segundo, ao cortar por completo qualquer ajuda financeira, quando percebeu que eu não queria nada com a dureza.
José trabalhou em Teresina até 1951 quando, desejando residir à beira-mar e também procurando integrar-se ao meio artístico nordestino predominante no eixo Paraíba-Pernambuco, pediu transferência para João Pessoa.
Na Capital Paraibana e no Recife, cidades-gêmeas, conviveu com grandes estrelas nordestinas como Nélson Ferreira, Capiba, Claudionor Germano, Jackson do Pandeiro, Luiz Gonzaga, Patativa do Assaré, Severino Araújo, Marinês e outros, bem como com os que vinham de fora, em temporadas artísticas. Nos flagrantes abaixo, vemo-lo, todo enfatiotado, em companhia de Carmélia Alves, Abel Ferreira, Ary Barroso e pessoal da Orquestra Tabajara:
Dono de potente e educada voz, José tocava gaita de boca e violão, o que o deixava à vontade na convivência com o pessoal envolvido no meio artístico:
Também era muito enfronhado no esporte, especialmente no futebol, atuando como goleiro em times da AABB:
Com todos os pré-requisitos – jovem, solteiro, desportista, músico, alto salário –, José era excelente partido para as moças casadoiras de então, aprovado por 10 entre 10 pais de família da região. Por isso, teve muitas namoradas, namoro inocente, como do costume, de apenas pegar na mão, dançar colado, e pronto. Beijo? Só depois de casar. Algumas de suas namoradas, que mudaram sua alcunha apenas para Carioquinha, deixaram-lhe estas lembranças:
Embora grande romântico, namorador, seresteiro e paquerador, Carioquinha vangloriava-se como vacinado contra o casamento, chegando a compor marcinhas carnavalescas nas quais proclamava que jamais cairia no laço.
Em 1960, com dois de nossos irmãos já morando em Brasília – Afonso, desde 1957, e Maria Isaura, desde 1958 –, Carioquinha transferiu-se para cá, logo após a inauguração, tendo eu chegado em dezembro daquele ano. Em 1961, veio a Maria dos Mares que, nos Anos 1970, se mudou para o Estado da Paraíba, onde mora até hoje.
Foi um período em que a vida noturna de Brasília, para os rapazes solteiros, era intensa nos arredores, com muitas boates lotadas de meninas cortesãs, que preenchiam a vidas dos mancebos solitários da Capital Federal. Por ser frequentador assíduo daquela dolce-vita, José passou a ser conhecido como o Carioquinha das Meninas, pseudônimo que adotou para sempre. Por ficarem os principais cabarés na região denominada por Sete Quedas, nos arredores de Luziânia, ficou também conhecido como Embaixador Sete Quedas.
José foi o primeiro em nossa família a possuir automóvel zerado, um DKW-Vemag Belcar, sedã, verde-escuro, capota creme, que passou a servir de transporte de luxo para todos nós.
Seu currículo escolar estendeu-se até a conclusão do Ginásio. Desde então, passou a instruir-se como autodidata, adquirindo saber enciclopédico, notadamente no campo da Biologia, Filosofia, Esoterismo, Fisioterapia, Literatura, Ciências Sociais, Astrologia, Astronomia e Espiritualismo. Versado em Inglês, Espanhol, Latim e Francês, era bamba na Língua Portuguesa e atualizadíssimo com o Novo Acordo Ortográfico, sendo um dos revisores de dois de meus livros, o primeiro, Do Jumento ao Parlamento, e o último, Memorial Balsense, já na gráfica.
Ele foi nosso guru, nosso doutor, nosso consultor, e nos orientava em qualquer tipo de problema, mormente os de saúde, às vezes até prescrevendo o medicamento correto.
Além de mestre no cordel sarcástico, era humorista e dotado de incrível capacidade de construir frases de efeito. É dele esta, quando avaliava o comportamento de certa dama: “É direita, só entorta quando se deita”. Sabia desmontar, no ato, argumentos que lhe pareciam descabidos. Como no lance que passo a lhes contar.
No comecinho de Brasília, quando acontecia uma batida de carro – não falo em acidente, mas simples encostada –, acorriam ao local a televisão, os jornais, a perícia, o escambau. Uma dessas aconteceu com um sobrinho nosso adolescente, amassada besta, hoje resolvida pelos “martelinhos” de qualquer oficina, tendo ocasionado a presença de grande parte de nossa família e de toda a mídia brasiliense. Um coroa baixinho, ao ver nosso sobrinho com cara de criança, foi logo condenando: – É nisso que dá um menino desses dirigindo na rua!
Ao ouvi-lo, o José rebateu: – Você está enganado! Menino, não! Ele é maior de idade e tem Carteira de Motorista!
Não contente, o coroa retrucou: – Ainda bem que isso aconteceu, porque eu estava mesmo sem assunto para publicar amanhã em meu jornal.
Aí, funcionou a ferina verve do Carioquinha das Meninas. Encarando o jornalista coroa, falou-lhe: – Pois quando você estiver sem assunto, reúna um bando de garotos, leve-os para o cerrado, dê para todos eles e, no dia seguinte, publique esta manchete: VELHO SAFADO DANDO O C* NO MEIO DO MATO!
Durante muito tempo, manteve-se por aqui o reinado do Carioquinha das Meninas, solteirão cobiçado, autovacinado contra a instituição matrimonial.
Mas um dia ele mesmo decretou o fim dessa vida de folgazão, ao apaixonar-se por uma colega de trabalho do Banco, a bela carioca Lúcia Maria Garcia Frias, com quem se casou no dia 26 de setembro de 1970, na Igrejinha de Nossa Senhora de Fátima. O casal teve três filhos: Lara Maria, Ima Aurora e Alden Garcia.
José e Lúcia
Esse casamento durou até o início da Década de 1980, quando lhe adveio o divórcio, voltando o José a ser novamente o Carioquinha das Meninas e solteiro juramentado.
Sua atenção voltou-se totalmente para a Música, a Poesia, as Artes Manuais, o Espiritualismo e a Beneficência. Sem grandes ambições, gostava de proclamar que, enquanto pudesse andar com um carro velho pelas ruas e comer carne todos os dias, o Mundo estaria bom para ele.
Montou em sua garagem uma oficina profissional de serralheria – em que se especializou – e de conserto de bicicleta, atendendo a quem o procurasse, com um detalhe: nada cobrava! Não há morador nas redondezas de sua quadra, a 714 Sul, hoje na idade dos 30, que não teve uma bicicleta arrumada por ele.
Apaixonava-se facilmente, o que lhe inspirava montões de poemas, porém a “vacina” não deixava os romances prosperarem.
Formou, com amigos violonistas, trupes que se apresentavam nas noites candangas, notadamente em festas beneficentes, Embaixadas e domingueiras na AABB, dentre eles o Alencar Sete Cordas, o Alberto Vasconcelos e o Expedito Dantas, seu parceiro mais constante.
Carioquinha, Expedito e Alencar – Expedito, Carioquinha, Alberto e Raimundo Moura
Em meados da Década de 1990, o Carioquinha das Meninas, solteirão inveterado, quase depôs as armas ao inebriar-se por mimosa goiana, com quem vivenciou paixão adulta e avassaladora, que, embora efêmera, lhe rendeu alentada produção de românticas poesias. Ei-lo com sua Musa Inspiradora, Sonhado Sonho, no Réveillon 1994/1995:
Ao completar 80 anos, gravou, em dupla com o Expedito, este CD:
Capa do CD – Expedito e Carioquinha no Estúdio
Desde 1960, quando nos reunimos em Brasília, José sempre foi para mim mais que um irmão, ajudando-me nas dificuldades, orientando-me nas atribulações, participando de todos os momentos, tristes ou, a mais das vezes, alegres de minha vida: meu primeiro filho tem seu nome, sou padrinho de sua primeira filha, e minha caçula é sua afilhada.
José, talvez incorporando o Zé Carioca americano, sempre gostou de exibir-se e de fazer suas mungangas, como adiante se vê:
De uns poucos anos para cá, ele andava um tanto depressivo, cabisbaixo, silente, preocupando a todos nós, parentes e amigos, que não lhe compreendíamos esse comportamento. Na certa, ele, lá nos esconsos de seu coração, percebia, sem contar para ninguém, que the end was near, como fala a canção My Way, uma de suas preferidas.
No dia 15 de julho, ele partiu. Na véspera, deitou-se para dormir, na hora costumeira, e amanheceu sem vida. Saiu do palco do jeito que sempre pediu em seus trabalhos espiritualistas e, além disso, fazendo piada: a todos os amigos que comunico seu falecimento, tenho que escutar esta, em tom amenizador de nossa tristeza: – Quando acordou, tava morto!
Dos cinco irmãos que éramos aqui em Brasília, agora só resta apenas eu para contar a história de todos nós. É a vida nos levando, como diz o samba do Zeca Pagodinho. Em sua Missa do Sétimo Dia, a Missa da Redenção, escolhi esta foto, bem representativa do que ele foi, para distribuir com os que à solenidade compareceram:
Como lembrança auditiva de seu trabalho, escolhi estas três faixas, extraídas do CD que nos deixou, ao tornar-se octogenário:
Piscina, guarânia de Chrystian e Ralf:
A Media Luz, tango de Carlos Cesar Lenzi e Edgardo Donato:
Índia, guarânia de M. Ortiz Guerrero, J. Assunción Flores e José Fortuna:
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MANIFESTO À NATUREZA
Floriano Sampaio
Com o objetivo de ampliar o conceito do “Balão da 17”, foi-me sugerido a utilização de resíduos de árvores abatidas do Park Way, utilizando as “bolachas de madeira” como textura para o paisagismo e também confecção de bancos. Um local com finalidades diversas, como antes já foi utilizado para encontro dos moradores. A ideia era boa, com conceitos de sustentabilidade e plasticidade em harmonia.
Um dos pilares do “Manifesto à Natureza”, em sintonia com a proposta do viveiro do Park Way, é a intervenção com plantas do Cerrado floríferas, 40 Calliandras. Há anos, desde sempre, o Cerrado esteve esquecido pelas instituições públicas, o viveiro da UnB foi extinto. O Cerrado é o segundo maior bioma da América do Sul, reconhecido como a maior savana do mundo e com extrema abundância de plantas endêmicas.
De forma acertada, no Balão, a NOVACAP realizou o plantio de árvores nativas da nossa mata ciliar em frente, com maciços da espécie Pau-Pombo, Tapirira Guianensis.
A ideia originou um processo de criação, onde o objetivo seria a menor intervenção com menor manutenção possível, mas com a força estética de belezas escultóricas desprezada do Cerrado, dentro do Park Way.
Com influência do paisagismo do célebre Isamu Noguchi, lembrou-se das pedras do Park Way, resíduos da terraplanagem na construção das rodovias e ciclovias. Seriam duas composições utilizando dois conjuntos de pedra Tapiocanga e outro conjunto com blocos de pedra Caverna.
Troncos calcinados monumentais e o aproveitamento do Bambu no mobiliário completam o conjunto escultórico. A simples manutenção do controle da altura do mato seria o suficiente para a preservação do espaço.
A escultura que lá foi instalada, Monumento às Diferenças, é contrapartida obrigatória de projeto cultural selecionado na Secretaria de Cultura, com autorização e doação oficial.
Deixo palavras da crítica de arte Renata Azambuja, “Não acho que a arte precisa ser funcional, nem tornar nada funcional, mas a forma como ela é feita, a energia e o intelecto que o artista coloca na obra podem mobilizar os sujeitos. Na arte urbana, isso pode ser observado mais fortemente. Qualquer coisa que você coloca num meio que não é privado, como uma galeria ou um museu, acaba se imiscuindo com a vida de maneira mais orgânica. Pode ser um grafite, uma escultura, uma instalação que, de alguma forma, nos retiram de certa estabilidade”.
Monumento às Diferenças
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N. E. - Floriano Sampaio era cabeludo, cabeludão mesmo. Porém, há pouco tempo, não mais que de repente, apareceu careca! E todos se perguntavam: foi alguma enfermidade? Comida que fez mal? Praga de sogra? Mordida de cascavel? Pisada em Sapo Cururu? Mas não foi nada disso! Ele, talvez – quem sabe? –, acreditando que “é dos carecas que elas gostam mais –, um dia, simplesmente, pegou duma gilete de raspou a cabeça, mas em compensação, deixou crescer a barba, para não ficar completamente descabelado.
FLORIANO SAMPAIO - INAUGURAÇÃO DO ESPAÇO FLORIANO SAMPAIO
POEMA CÂNTICO DAS CRIATURAS,
DE SÃO FRANCISCO DE ASSIS,
DECLAMADO PELO PADRE AMÉRICO
Altíssimo, Omnipotente, Bom Senhor,
Teus são o Louvor, a Glória,
A Honra e toda a Bênção.
Louvado sejas, meu Senhor,
Com todas as Tuas criaturas,
Especialmente o senhor irmão Sol,
Que clareia o dia e que,
Com a sua luz, nos ilumina.
Ele é belo e radiante,
Com grande esplendor;
De Ti, Altíssimo, é a imagem.
Louvado sejas, meu Senhor,
Pela irmã Lua e pelas estrelas,
Que no céu formaste, claras.
Preciosas e belas.
Louvado sejas, meu Senhor.
Pelo irmão vento,
Pelo ar e pelas nuvens,
Pelo sereno
E por todo o tempo
Em que dás sustento
Às Tuas criaturas.
Louvado sejas, meu Senhor,
Pela irmã água, útil e humilde,
Preciosa e casta.
Louvado sejas, meu Senhor,
Pelo irmão fogo,
Com o qual iluminas a noite.
Ele é belo e alegre,
Vigoroso e forte.
Louvado sejas, meu Senhor,
Pela nossa irmã, a mãe terra,
Que nos sustenta e governa,
Produz frutos diversos,
Flores e ervas.
Louvado sejas, meu Senhor,
Pelos que perdoam pelo Teu amor
E suportam as enfermidades
E tribulações.
Louvado sejas, meu Senhor,
Pela nossa irmã, a morte corporal,
Da qual homem algum pode escapar.
Louvai todos e bendizei o meu Senhor!
Dai-Lhe graças e servi-O
Com grande humildade!
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Imagens colhidas durante a inauguração do Espaço Floriano Sampaio, à Quadra 17 do SMPW, na rotatória – balão – entre os Conjuntos 14 e 15:
Sua irmã Elba Albuquerque, com a placa indicativa - Detalhe do Espaço
Um de suas esculturas, ornamentando o Espaço
Evanilde e Raimundo, pais de Floriano, com Zezinho, seu irmão
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Depoimento de José Albuquerque, o Zezinho, na inauguração do Espaço Floriano Sampaio
Zezinho, lendo seu depoimento
Hoje é um dia muito especial para todos nós, pois o que está acontecendo aqui é uma manifestação espontânea das pessoas amigas do nosso Floriano Sampaio, que eu carinhosamente chamava de Seu Fló.
É muito gratificante ver como meu irmão era querido, ou melhor, é querido, como eu prefiro ver o momento.
Todos os que conviveram com meu irmão foram motivados simplesmente pelo interesse no ser humano e no seu emocional, não havia nenhum interesse material, visto que não era uma referência do meu irmão.
Espero que o “Espaço Floriano Sampaio” seja usufruído por todos para os momentos de contemplação da natureza e de reflexão das coisas simples da vida; sua relação com a natureza, com os amigos e família.
Não é um lugar para momentos tristes, pelo contrário, quando lembrarem do Fló, tentem se ater aos momentos alegres, pois enquanto esteve aqui foi muito feliz, sempre da sua maneira, muitas vezes bem reservado.
Quanto ao amor, esse amou muito!!! Teve muitas namoradas, era nosso “galã de plantão”. Suas namoradas viraram suas amigas.
Quanto a nós, Família, foi um privilégio conviver com uma pessoa tão passional. Como nós nos amávamos!!
Por fim, obrigado a todos e aproveitem o “Espaço Floriano Sampaio”.
NOVE DIMENSÕES
Robson José Calixto
O carro, o homem, o voo
Nove dimensões
Qual recepciona o destino das almas?
O espaço-tempo, os giros, o relógio
As singularidades, nossas imensidões
Pulsos e curvas espalham nossas chamas.
Há muitas dores
Nem todas por amores
Pontos oblíquos, curvaturas
Olhos que buscam, olhos que se escondem
O teu espaço, as fissuras
A curiosidade, esqueça amarguras.
O horizonte, as orações, mãos que se juntam
As ruas, os caminhos, o céu
A saudade, lágrimas que não se acomodam
Eu vou, você fica, e o réu?
A separação, a bicicleta no chão
Perdido um vagar, um vácuo
Fragilidades, um coração oco e tonto
Homenagens, prefere-se a presença
Não a ausência
Impõe-se a esperança de um reencontro
Em algum ponto.
(Esse texto é em Homenagem ao Artista Plástico Floriano Sampaio, filho do meu amigo Raimundo Floriano. Floriano Sampaio faleceu no dia 02 de maio de 2017, na Park Way, Brasília, atropelado por um carro, enquanto andava de bicicleta. O motorista do carro não tinha habilitação.) Robson José Calixto – BSB, 13/05/2017.
HOMENAGEM DO XXXIII CONGRESSO BRASILEIRO DE REUMATOLOGIA
AO ARTISTA FLORIANO SAMPAIO
A equipe organizadora do XXXIII Congresso Brasileiro de Reumatologia, realizado em Brasília, em agosto de 2016, presta sua homenagem póstuma ao artista plástico Floriano Sampaio, que abrilhantou nosso evento com a exposição de suas belíssimas obras.
Tivemos a honra de receber, por ocasião de nosso Congresso, que teve como enfoque a Reumatologia e a Arte, em suas múltiplas expressões, aquela que viria ser a última exposição do brilhante artista plástico Floriano Sampaio, que há uma semana foi retirado de forma súbita e inesperada de nosso convívio.
Apresentamos nossas sinceras condolências aos familiares e amigos de Floriano, e unimo-nos a eles em orações. Gostaríamos de deixar registrado que as obras magistrais de Floriano emolduraram nossas discussões científicas e adornaram os momentos de congraçamento que vivemos no Centro de Convenções Ulysses Guimarães.
Sua arte viverá para sempre na memória de todos os 2500 reumatologistas que tiveram a oportunidade de visitar a grande galeria montada durante o congresso.
Nossos sinceros agradecimentos,
LICIA MARIA HENRIQUE DA MOTA
Presidente do XXXIII Congresso Brasileiro de Reumatologia
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Obras de Floriano Sampaio expostas em nosso Congresso:
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FLORIANO SAMPAIO - CARTAS PARA DUAS AMIGAS
Para Flávia Boeckel, uma das fundadoras e ex-Presidente da ACAV - Associação Candanga de Artistas Visuais, em 11.4.2013:
"Querida Flavita,
Fui responsável pelo Jardim do Escultor na Casa Cor, vendi quase todas as peças e acabei montando algumas no principal empreendimento residencial de Palmas-Tocantins, às margens do Lago.
Venho aqui afirmar que continuarei na ACAV. As pessoas estão sempre prontas a criticar, num mundo onde a superficialidade e a banalidade reinam, já é muito louvável um grupo que tenta se manter fazendo Arte. Foi enriquecedor participar, observar as diversas facetas. No princípio, fiquei impressionado, pois encontrei em alguns integrantes uma ganância muito grande na necessidade de autoafirmação, próxima da loucura, e achei tudo ainda interessante.
Sou um tanto santo e um tanto insano, corpo onde Dionísio encontra refúgio. Peço desculpas por algumas vezes não controlar meus impulsos dionisíacos. Em 95% do meu tempo, prefiro hábitos apolíneos, voltados quase integralmente para o contato com a Arte e a Natureza.
A Arte é democrática. A Arte é de todos, para todos. Tenho a convicção de que, absolutamente, ninguém é melhor do que ninguém, mesmo. Tudo é apenas um fluxo criativo pulsando em todos os espaços. Um artista naif interpreta e se comunica com o mundo de uma forma, e o artista conceitual, de outra, ambos utilizando técnicas que dominem, onde o irracional torna-se racionalizado, muitas vezes inconscientemente. A Arte, palavra originada do latim Ars, mais que habilidade e técnica, é como o ar que respiramos, invisível, vital, o lastro e o lustro feminino que nos envolve o todo, a imagem do útero materno. Arte não é para ser julgada, valorada, e sim, algo que lapidamos a cada dia, num gesto escultórico, moldada no tempo, em busca da compreensão, do infinito e da atemporalidade.
Loucos e nobres artistas plásticos, a Arte salva, resgata uns, e a Arte mata aquilo que imaginávamos viríamos a ser: influentes e participantes, ou nos tornarmos a escória, ignorados por uma sociedade cega, superficial, vil, com mitos e deuses banais."
Para sua amiga Tércia, em 16.8.2016:
"Desculpas... cheguei agora, e só agora vi que meu celular estava desligado... quando chega o fim da tarde, encontro o meu momento sagrado, que é andar de bicicleta no pôr do sol... quilômetros e quilômetros de ciclovias no Park Way... quase inutilizadas... parecem só minhas, um grande parque... a lagoa daqui da frente também é minha, depois te apresento... tenho um contrato com Deus, só nós dois sabemos... tenho dois caiaques... eu sempre fui o único que utilizou a lagoa... água que vem do country, fonte que deu origem ao nome da famosa música do Tom Jobim: ÁGUA DE BEBER... camará..."
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FLORIANO SAMPAIO NO PAISAGISMO
ACALANTO PARA FLORIANO
Maria dos Mares
Deus dá a estrada. Nós fazemos a caminhada.
Floriano trilhou caminhos, embrenhando-se em matas, lugares ermos, na busca de si mesmo. Ali, onde apenas cantam os pássaros e ouve-se o rugir de um ou outro animal em tocaia contra a presença estranha, ele esteve. E, carinhosamente, pediu licença à natureza para retirar daquele lugar sagrado o que necessitava para criar.
E o que precisava? Tão pouco! Pois maior era a sua sede de voar, de expandir o seu gesto, transformar o tronco gasto pelo fogo, ação insana do homem, naquilo que tão bem entendia como ARTE.
Floriano, na sua ânsia visionária, marca de todo artista, viu naquilo que nós, na nossa indiferença, não reconhecemos como precioso, transformador. Transfigurou o tronco enegrecido da madeira mais nobre, certamente pensando no estertor de uma árvore secular dizimada, às vezes, por pura ganância de alguns. E, tranquilamente, abraçou como sua causa a perpetuação daquela árvore, agora sob a forma de cultura. E foi reflorestando Brasília e nossos olhares de beleza, formas e cores. Plantou esculturas.
Refugiou-se no seu espaço de criação cercado de verde. Refugiou-se no silêncio que marca a vida de muitos para melhor lidar com a sua sensibilidade. Mas não se ausentou nem se omitiu de estar presente na natureza. Fincou raízes em ponto estratégico, no bairro onde mora. Continua entre nós. Pela pessoa que foi e pelas marcas indestrutíveis da sua ARTE.
Deveríamos estar tristes? Sim! E estamos. Mas, ao mesmo tempo, guardamos no coração uma certa tranquilidade de que ele nos deixou apenas por algum momento. Foi ali, buscar um tronco, uma cor, para continuar sua criação.
Floriano dorme. Como as chananas que se abrem ao amanhecer e, ao meio-dia, fenecem. Ele dorme. Mas logo e sempre estará tão presente entre nós, renascendo em uma plantinha, um pássaro, um riacho de águas cristalinas para amenizar a nossa saudade.
E, para ninar o teu sono Floriano, fazemos coro ao poema da cantora Socorro Lira, O Sono de Kalu (Delicadeza nº 12):
"Dorme, meu bem,
Enquanto o mundo é colorido em teus sonhos
Enquanto os anjos, cá da terra,
Catam estrelas, lá no céu, para brincar!
Dorme, neném
Enquanto o sol não queima a terra de manhã
Enquanto as flores se preparam
Para encher de perfume esta cidade!
Dorme, meu bem,
Na inocência preservada e no silêncio dessa
Alma que ainda brinca!
Dorme, enquanto cresce devagar e não
Começam as danações
Que atormentam a gente grande!
Dorme, amor!
E a cantora, por sua vez, canta canções
Aos que ainda estão por vir
Que sua voz te faça bem,
Seja acalanto pra teu sono, em paz seguir
No acolhedor colo de amor
Que nessa noite se esqueceu de mim
De ‘meninar’.”
Um beijo carinhoso da Tia Dadoi que mesmo de longe tem um olhar de ternura e zelo por todos.
N. R - Maria dos Mares, conhecida pelos sobrinhos como Tia Dadoi, residente em João Pessoa (PB), é minha irmã caçula. Artista plástica, especializada em pintura e escultura em cerâmica, escreveu, ontem, esta bela homenagem a meu filho Floriano, agrônomo e também artista plástico, com sua arte voltada para o paisagismo e esculturas em madeira, acrílico e metal.
A seguir, o áudio de O Sono de Kalu (Delicadeza nº 12), na interpretação de Socorro Lira e João Pinheiro:
E um pouco da arte do Floriano:
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Em virtude da tragédia que se abateu sobre nossa família, ontem, 2.5.2017, aqui em Brasília, a morte de meu filho Floriano Sampaio e Silva, 51 anos, vítima de atropelamento, este Almanaque ficará, temporariamente, sem receber atualizações.
Rogamos aos amigos suas preces pelo descanso eterno do Floriano junto ao Pai Celestial.
Raimundo Floriano
Leiam aqui matéria publicada no Correio Braziliense, copiando e colando este link em seu navegador:
http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/cidades/2017/05/02/interna_cidadesdf,592771/ciclista-morre-apos-ser-atropelado-no-park-way.shtml
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MARIA ISAURA, PROFESSORA MUSICISTA E TEATRÓLOGA
Raimundo Floriano
Lábios insinuantes e naturais
Maria Isaura de Albuquerque e Silva, minha irmã, nasceu em Balsas (MA), no dia 28 de abril de 1921. Filha de Emigdio Rosa e Silva, o Rosa Ribeiro, e Maria de Albuquerque e Silva, a Maria Bezerra, era a primogênita de uma prole de dez, da qual eu sou o sétimo, e minha Madrinha de Batismo.
Esta é a mais antiga foto que temos dela com a família, em 1928:
Rosa, Maria, José, Pedro, Maria Isaura e Maria Alice
Desde menina, demonstrou grande propensão para as artes, aprendendo a tocar bandolim e piano, compor e transpor melodias para a pauta musical, o que lhe foi de grande valia quando ingressou no magistério e também na dramaturgia, como adiante veremos.
Ainda adolescente, diplomou-se Professora pela Escola Normal do Piauí, em Teresina, passando a lecionar no Grupo Escolar Professor Luiz Rêgo, em Balsas. A foto a seguir é de 1939, com Dona Rute Rocha, Diretora, à esquerda:
Já em 1940, tomava parte na organização de peças teatrais e Autos de Natal de Rua, como no famoso Reis de Dona Antônia – nossa tia –, cuja passagem assim ficou registrada:
Com a mudança de Tia Antônia para Teresina, Maria Isaura assumiu, por completo, a condução do Reis e a encenação de espetáculos teatrais, contando esses com números musicais e, ao final, peça teatral de sua autoria ou de escritor famoso, o que ficou para sempre conhecido como Os Dramas de Dona Maria Isaura.
Maria Isaura casou-se com Pedro da Costa e Silva no dia 12 de junho de 1943. O casal teve 4 filhos, João Emigdio, Economista, José Augusto, Aviador, Ana Alice, Turismóloga, e Luís Fernando, Bacharel em Letras.
Maria Isaura e Pedro Silva
Pedro e seus irmãos Luís, Regino, Virgílio e Sinoca pertenciam a uma família de negociantes de gado, comprando rebanhos no sul de Goiás e levando-os até o litoral maranhense ou cearense. Eram boiadas que, às vezes, compostas de mais de 500 cabeças, venciam extensa jornada de cerca de dois mil quilômetros, transpondo rios, contornando serras, varando florestas e percorrendo ermos sem estradas, guiando-se pelo sol e pelas estrelas, num roteiro conhecido como trilha boiadeira. Isso passo a passo, mansamente, em jornada que levava meses. Enfrentando ocasional estouro da manada, Pedro Silva, montado em seu burro de sela, jamais perdeu uma rês sequer.
Em 1944, o Grupo Escolar Professor Luiz Rêgo, que funcionava onde hoje é o Clube Recreativo Balsense, mudou-se para um prédio recém-construído, na Praça da Matriz, sendo Maria Isaura elevada ao cargo de Diretora. Em 1951, nova mudança, desta vez para a Praça Gonçalves Dias:
Nos palcos montados em ambas as sedes, os Dramas de Dona Maria Isaura conheceram seu tão decantado apogeu.
Grande elenco de um Drama encenado na Década de 1940
No segundo semestre de 1953, Maria Isaura, pagando promessa feita pela recuperação da saúde de um filho, cumpriu uma jornada, a pé, de Balsas a Floriano (PI), num total de 450 quilômetros de porta a porta, para louvar a Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Fátima que, vinda de Portugal, passaria, em outubro, por aquela cidade piauiense. Nessa romaria, que durou 23 dias, seguindo pela trilha das boiadas, acompanharam-na Maria Alice, nossa irmã, Cândido, peão-tropeiro de Pedro Silva, com Ciriaca, sua mulher e Eunice, sua filha. Faziam parte da comitiva três burros cargueiros, para transporte de vestuários, redes, víveres e material de cozinha.
Nas fotos a seguir, registros da histórica romaria:
A Imagem Peregrina de N. S. de Fátima – Altar em frente à Matriz de Floriano
Maria Alice e Maria Isaura, em frente ao altar – Lembrança da peregrinação
No início de 1957, Pedro Silva, a convite de sua irmã Sinoca, fazendeira em Cristalândia (GO), hoje Tocantins, mudou-se com a família para aquela cidade, onde continuou a negociar com gado, tendo Maria Isaura assumido o magistério em colégios cristalandenses.
Em outubro de 1958, nova mudança, dessa vez definitiva, para Brasília, onde, desde 1957, já se encontrava nosso irmão Afonso Celso.
Aqui em Brasília, Pedro Silva empregou-se como Fiscal de Obras da Companhia Urbanizadora da Nova Capital – Novacap, enquanto Maria Isaura passou a lecionar, inicialmente, no Ginásio Brasília, na Cidade Livre, hoje Núcleo Bandeirante. Contratada, em 1959, pelo DEC – Departamento de Difusão Cultural da Novacap, como Professora, dirigiu o Grupo Escolar Júlia Kubitscheck. Mais tarde, foi a primeira Diretora da Escola Classe da SQS 106:
Com Ivone Valadares, Vice-Diretora – Com outras Professoras da EC 106
Na Capital Federal, Maria Isaura foi um esteio, tanto para nós, outros quatro irmãos que aqui viemos residir, como para inúmeros familiares e amigos, que se reunia nos fins de semana em sua casa, para matar saudades e também filar os famosos almoços domingueiros. Morando, inicialmente em barracos, nos acampamentos, mudou-se, em 1960, para um apartamento na SQS 414, e, posteriormente, para outro, bem maior, na SQS 306.
Em novembro de 1974, Maria Isaura sofreu a perda de um filho, José Augusto, o Aviador, de 21 anos, em desastre aéreo, na região tocantina onde hoje é Palmas, quando viajava como passageiro. Repetia-se a tragédia do Cosmonauta russo Yuri Gagarin que, sendo o primeiro homem a navegar pelo espaço, em abril de 1961, viria a falecer, em 1968, em acidente numa aeronave de teste, viajando a lado do piloto. José Augusto viria a ser o primeiro membro da Família Albuquerque e Silva a ser sepultado no Campo de Esperança, em Brasília, desde a chegada do primeiro de nós, em 1957.
Pedro Silva faleceu em 23.04.1986, a um mês de completar 74 anos, e Maria Isaura, a 20.12.1992, com 71 anos de idade. Ambos jovens, para os padrões atuais. Deixaram seus nomes inscritos no Livro dos Pioneiros de Brasília e uma família bem formada, que perpetua sua memória nas ações, no trabalho e no bem-proceder.
Nesta quinta-feira, dia 28 de abril, seria comemorado o 95º Aniversário de Maria Isaura. Embora ela não mais se encontre conosco, sua lembrança permanece indelével em nossos corações.
Maria Isaura encantou-se, partiu para a casa do Pai Celestial, mas, afortunadamente, deixou, aqui em Brasília, uma representante à altura: a filha Ana Alice que hoje, em sua confortável residência, no Setor Park Way, procura congregar a família, não medindo esforços para que seu lar seja o mesmo foi, para todos nós, o de sua mãe, num venturoso passado, que jamais esqueceremos.
PEDRO SILVA, O MENESTREL
DO SERTÃO SUL-MARANHENSE
Raimundo Floriano
Pedro Silva e seu amigo violão
Pedro Albuquerque e Silva, o Pedro Silva, meu irmão, nasceu em Balsas (MA), no dia 13 de novembro de 1922. Filho de Emigdio Rosa e Silva, o Rosa Ribeiro, e Maria de Albuquerque e Silva, a Maria Bezerra, é o primeiro varão e segundo de uma prole de dez, da qual eu sou o sétimo.
Completando 92 anos em novembro próximo, pode-se afirmar que este sertanejo é, depois de tudo, um forte, eis que continua em plena atividade, fazendo tudo de que gosta, como se tantos anos não lhe pesassem nas costas. É nosso herói!
A seguir, a fotografia mais antiga da família, batida em 1929:
Rosa Ribeiro, Maria Bezerra,
José, Pedro Maria Isaura e Maria Alice
Passou toda sua infância em Balsas, levando vida sadia e cheia de peripécias e traquinagens, como de todo menino do sertão. Já nesse tempo, começou a aprender a “bater” o violão, ou seja, acompanhar-se cantando, Arte que o acompanha desde antes, agora e sempre.
Aprendeu as primeiras letras e concluiu o Curso Primário nas escolas da Dra. Maria Justina, Melquíades Moreira Ferraz, Dr. Domingos Tertuliano e Educandário Coelho Neto, do Professor Joca Rêgo. Em Teresina, foi aprovado no Exame de Admissão para o Liceu Piauiense, onde cursou o Ginasial, após o qual, naquele primeiro quarto do Século XX, se considerou preparado para o exercício de sua verdadeira vocação: a atividade comercial.
Voltando para Balsas, começou a trabalhar como caixeiro na loja de José de Sousa e Silva, nosso Tio Cazuza Ribeiro, atendendo os fregueses no balcão. Tio Cazuza, vendo sua habilidade e tino para o comércio, designou-o para viajar pela Região Tocantina, para comprar gêneros de exportação - couros, peles silvestres, produção agrícola – e vender sal a comerciantes e fazendeiros. Era responsabilidade imensa para um adolescente naquelas plagas.
Lembro-me bem da chegada dele de uma dessas viagens. Trouxe uma lata, tipo de leite em pó, cheia de moedas de valores diversos, chamou os irmãos mais novos, derramou o dinheiro na mesa de jantar e mandou que fôssemos pegando, um de cada vez, em rodízio. Eu, por exemplo, só escolhia os patacões. Já o Bergonsil traquejado, primeiro olhava o valor, para pegar as dele. Essas atitudes de bom irmão faziam com que nós, os menores, o chamássemos de padrinho – Padim Pêdo –, numa espécie de sadio puxa-saquismo familiar.
Depois de um certo tempo, trabalhou, por conta própria, nos garimpos cristal de rocha em Xambioá, Piaus e Dois Irmãos, região ainda goiana, onde contraiu impaludismo, difícil de ser curado. Com a ajuda de Deus venceu essa moléstia assaz ceifadora.
Em 1945, aos 23 anos de idade, abriu uma casa comercial em Miracema, em sociedade com o Tio Cazuza, vendendo produtos industrializados e comprando as matérias-primas produzidas na cidade e em suas imediações. Nas horas vagas, o violão e a seresta eram seu lazer.
Pedro tinha um dom inato, que nele aflorou desde o tempo de rapazinho. Para discorrer sobre isso, mostro-lhes duas fotografias dele na juventude:
Pedro Silva no tempo de rapaz solteiro
Como viram, era um sertanejo comum, sem nada de especial a não ser o dom acima citado: um visgo para atrair o sexo feminino. Quem o conhecia ficava perplexo, abismado, já não digo invejoso. Onde quer que chegasse, as pequenas choviam-lhe em profusão. Nem precisava que ele se esforçasse. Galante e dançarino de primeira, era o preferido nos salões. Houve até um amigo seu que um dia lhe falou: – Pedro Silva, não sei o que há com minha namorada. Quando dança comigo, é toda durona, sem jeito, parece que engoliu uma alavanca. Mas quando tu tiras ela pra dançar, aí a coisa muda de figura! Fica toda mole, se requebrando, se rindo, parece até que tá no céu! Por que será?
Se eu estivesse por perto, na ocasião, teria explicado: – É o visgo, rapaz, é o visgo! –, porque Pedro Silva era o verdadeiro Porta-Estandarte do Amor.
Em termos de namoro, não precisava se mexer. Era como o Mar Oceano, para onde correm todos os rios. Era como o Sol, a atrair os astros em seu derredor. Com esse imenso poderio, colheu, um dia, a mais bela flor morena da sociedade miracemense: Naide Noleto, com quem se casou, no dia 7 de outubro de 1949, e com quem teve cinco filhos: Ceres, Pedro Silva Júnior – o Silva –, José Emídio, Luís Ernesto e Jânio.
Pedro Silva e Naide: simpatia e elegância do jovem casal
Mudou-se para Carolina (MA), a 9 de fevereiro de 1951, iniciando suas atividades comerciais à Praça Goiás, nº 55, onde construiu esta confortável casa com linda vista para o majestoso Rio Tocantins, na qual até hoje reside:
Em Carolina, sempre em sociedade com o Tio Cazuza, praticava o comércio de estivas em geral e gêneros exportáveis da região: couros bovinos, peles silvestres, crinas, penas de ema, arroz, babaçu, algodão e outros. Fez parte de diversas sociedades e empreendimentos vários até que passou a operar por conta própria, dedicando-se com mais afinco à pecuária. Paralelamente, foi nomeado Servidor da Prefeitura Municipal de Carolina, atuando no Setor de Finanças e no Departamento de Administração.
A Música, como sempre, era seu principal derivativo. Fundou a Escola de Samba Unidos de Carolina, que desfilou pela primeira vez no Carnaval de 1963.
Belinha, Porta-estandarte em 1977
Em outubro de 1975, inspirado no grupo musical que acompanhou Carmen Miranda para os Estados Unidos, Pedro criou o conjunto Bando da Lua, com o objetivo principal de divulgar e promover a MPB em nossa região. Sem aparelhagem eletrônica, contava com uma sanfona, pau, corda, percussão e as vozes de seus integrantes, no gogó. A seresta, então, viu-se revigorada naquele sertão. Mais tarde, incluíram-se teclado, guitarra, contrabaixo, metais, palhetas, bateria e aparelhagem, para que alguns integrantes provessem o ganha-pão. Adiante, o Bando da Lua em sua feição seresteira:
Inácio, pandeiro; Djael, voz; Adelino, cavaquinho;
Luzimar, sanfona; Pedro Silva, violão; e Sitônio, surdão
Pedro Silva tem também sua veia literária. Orador oficial da família, é cronista, articulista, compositor, escritor e cordelista. Adiante, a capa de seu livro Som e Ritmo da Terra, onde narra toda sua trajetória musical, com dados biográficos, e do cordel Navaiadas, elogiando políticos amigos e descendo o cacete nos adversários.
Ao aposentar-se do Serviço Público, Pedro Silva continuou em plena atividade econômica, como dono de caminhões e jipes, de embarcações fluviais, do Sítio Tangará, fornecendo leite para o consumo da cidade, das Fazendas Santa Maria e Jacaracy, especializadas na criação de gado Nelore e mestiço. Nessa última, construiu, no alto dum morro, o Santuário de Nossa Senhora da Conceição, de quem é devoto.
Detalhes do Sítio Tangará e da Fazenda Santa Maria
Santuário de Nossa Senhora da Conceição e Motor São Pedro de Alcântara
Nestes 75 anos de árdua labuta, Pedro Silva exerceu, além das já citadas, as seguintes atividades: Fundador da Companhia Industrial do Tocantins - CITOCAN, para extração de óleo de babaçu, 1ª Sociedade Anônima da região, sendo seu Diretor-Presidente por 9 anos; Fundador da Liga Esportiva Carolinense, sendo um dos construtores do Estádio Alto da Colina; Fundador da Associação Recreativa de Carolina - ARCA; Fundador e Primeiro Presidente da Associação Comercial e Industrial de Carolina; Fundador da Loja Maçônica Caridade e Justiça, ocupando cargo de direção; Fundador da primeira Loteria Esportiva em Carolina; Fundador e Primeiro Presidente Municipal da ARENA, partido político; Fundador da Empresa Telefônica de Carolina, que presidiu; Diretor-Presidente da Comissão de Implantação do Sistema de Televisão em Carolina; e Suplente de Juiz de Direito, nomeado em outubro de 1973.
Recentemente, analisando essa rica trajetória, ele comentou comigo: – Raimundo, durante todo esse tempo, eu nunca tirei um dia sequer de férias do trabalho! Ao que eu acrescento: Nem da Boemia Seresteira! Nem de Porta-Estandarte do Amor, pois em suas serestas muitos casamentos foram engatilhados! Isso explica a razão de sua longevidade, atestada nestas duas imagens, uma colhida em julho de 2006, na comemoração de meus 70 anos, e a outra, em novembro de 2012, na festinha de seus 90:
Pedro Silva, aos 84, comigo, em meu Forrozão/70, e com sua Turma, ao festejar seus 90
Carolina, hoje, mantém dois movimentos culturais preservadores de suas legítimas tradições. Uma delas é o Clube das Onze.
Clube das Onze: aguardando a chegada de seus membros
Situado na Praça Alípio Carvalho, em frente ao quiosque Lanche Bar, em área adredemente cimentada para tal fim, é o ponto de reunião da Velha Guarda Carolinense. De segunda-feira a sábado, às 10h30, Lindomar, dono do quiosque, onde se bebe a cerveja mais gelada, e a cachaça mais pé-de-serra, com tira-gosto do pastel mais saboroso e crocante da paróquia, dispõe mesas e cadeiras, conforme se vê na foto acima, à espera dos membros que, aos poucos, vão chegando. Quando a frequência é maior, cadeiras e mesas adicionais são disponibilizadas. Às onze horas em ponto, começam os trabalhos que, ao meio-dia, impreterivelmente, são encerrados, seguindo cada membro para sua residência. Fundadores como Luiz Braga, Achiles, Hermógenes, Paulo Noleto, Alfredo Maranhão, Genésio, Maninho, Agnelo Jácome, Raimundinho Caetano, Zé Biô, Ulisses Braga e Darwin Noleto já não comparecerão, sendo representados pela nova geração que os sucede. Por ser o decano, Pedro Silva é, tacitamente, considerado o Presidente do Clube.
O outra é o Conjunto Ouro & Couro. Como o próprio nome insinua, é formado por instrumentos de cordas – o ouro – e percussão – o couro. Fundado por Pedro Silva, que atua no violão e no vocal, conta ainda com os artistas Inácio, no pandeiro; Maria do Amparo, no violão e no vocal; Adelino, no cavaquinho; e Mangueirinha, na percussão. Essa turma, que mantém a tradição seresteira carolinense, está também pronta, a qualquer hora do dia ou da noite, para levar animação a todo tipo de função musical, seja um simples aniversário infantil ou uma festa de arromba.
Pelo conjunto da obra, Pedro Silva foi agraciado, a 13.11.2002, pela Câmara Municipal de Carolina, como o título de Cidadão Carolinense.
O CD Cheiro de Mato, artesanal, sem grandes recursos técnicos, mostra um pouco do trabalho desses sonhadores. Escolhi para ilustrar esta matéria o samba-canção que lhe empresta o título, Cheiro de Mato, composição recente de Pedro Silva, que o interpreta como vocalista principal: