FLORIANO SAMPAIO - CARTAS PARA DUAS AMIGAS
Para Flávia Boeckel, uma das fundadoras e ex-Presidente da ACAV - Associação Candanga de Artistas Visuais, em 11.4.2013:
"Querida Flavita,
Fui responsável pelo Jardim do Escultor na Casa Cor, vendi quase todas as peças e acabei montando algumas no principal empreendimento residencial de Palmas-Tocantins, às margens do Lago.
Venho aqui afirmar que continuarei na ACAV. As pessoas estão sempre prontas a criticar, num mundo onde a superficialidade e a banalidade reinam, já é muito louvável um grupo que tenta se manter fazendo Arte. Foi enriquecedor participar, observar as diversas facetas. No princípio, fiquei impressionado, pois encontrei em alguns integrantes uma ganância muito grande na necessidade de autoafirmação, próxima da loucura, e achei tudo ainda interessante.
Sou um tanto santo e um tanto insano, corpo onde Dionísio encontra refúgio. Peço desculpas por algumas vezes não controlar meus impulsos dionisíacos. Em 95% do meu tempo, prefiro hábitos apolíneos, voltados quase integralmente para o contato com a Arte e a Natureza.
A Arte é democrática. A Arte é de todos, para todos. Tenho a convicção de que, absolutamente, ninguém é melhor do que ninguém, mesmo. Tudo é apenas um fluxo criativo pulsando em todos os espaços. Um artista naif interpreta e se comunica com o mundo de uma forma, e o artista conceitual, de outra, ambos utilizando técnicas que dominem, onde o irracional torna-se racionalizado, muitas vezes inconscientemente. A Arte, palavra originada do latim Ars, mais que habilidade e técnica, é como o ar que respiramos, invisível, vital, o lastro e o lustro feminino que nos envolve o todo, a imagem do útero materno. Arte não é para ser julgada, valorada, e sim, algo que lapidamos a cada dia, num gesto escultórico, moldada no tempo, em busca da compreensão, do infinito e da atemporalidade.
Loucos e nobres artistas plásticos, a Arte salva, resgata uns, e a Arte mata aquilo que imaginávamos viríamos a ser: influentes e participantes, ou nos tornarmos a escória, ignorados por uma sociedade cega, superficial, vil, com mitos e deuses banais."
Para sua amiga Tércia, em 16.8.2016:
"Desculpas... cheguei agora, e só agora vi que meu celular estava desligado... quando chega o fim da tarde, encontro o meu momento sagrado, que é andar de bicicleta no pôr do sol... quilômetros e quilômetros de ciclovias no Park Way... quase inutilizadas... parecem só minhas, um grande parque... a lagoa daqui da frente também é minha, depois te apresento... tenho um contrato com Deus, só nós dois sabemos... tenho dois caiaques... eu sempre fui o único que utilizou a lagoa... água que vem do country, fonte que deu origem ao nome da famosa música do Tom Jobim: ÁGUA DE BEBER... camará..."
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FLORIANO SAMPAIO NO PAISAGISMO