Em fevereiro de 1945 a Continental, sob o selo nº 15279 B, fez a gravação em 78 rpm, da Marcha nº1. Omitindo o nome dos seus autores, apresentando como “Frevo nº 1 (Marcha Regresso do Clube Vassourinhas). Marcha popular de Pernambuco, adaptação de Almirante”. Como intérpretes Déo e Castro Barbosa, acompanhado por “Napoleão e seus soldados”.
Nesse disco, Almirante (Henrique Foréis Domingues; 1908-1980) não fez tão somente uma simples adaptação da Marcha nº 1, mas, como já acontecera com Lamartine Babo quando da gravação em 21 de dezembro de 1931 de O teu cabelo não nega, dos pernambucanos Raul e João Valença (Victor 33514 A), simplesmente escreveu outra letra e denominou de “Marcha regresso” (!), que veio a ser apresentada como “verdadeira” por Ruy Duarte no seu História social do frevo:
A saudade, ó Vassourinhas
Invadiu meu coração,
ao pensar que talvez nunca,
nunca mais te veja não.
A saudade. ó Vassourinhas,
enche d’ água os olhos meus,
ao pensar, ó Vassourinhas,
neste derradeiro adeus.
O Frevo dos Vassourinhas, como veio a ser conhecido a partir da gravação de “Severino Araújo e sua Orquestra Tabajaras”, em outubro de 1950 (Continental nº 16120 A; matriz 2147), tornou-se a música mais executada do Carnaval Brasileiro em nossos dias, segundo informa o Escritório de Arrecadação dos Direitos Autorais – Ecad que recolhe os seus direitos para o Clube Carnavalesco Misto Vassourinhas do Recife.
No Recife, a partir de 1941, o “Frevo dos Vassourinhas” recebeu, como acréscimo nas suas execuções, as variações especialmente composta pelo saxofonista da Orquestra de Nelson Ferreira, Félix (Felinho) Lins de Albuquerque (1895-1980) e assim abriu espaço para que outros virtuoses do instrumento compusessem suas próprias variações.
Dentre os autores de tais variações figuram o instrumentista José Xavier de Menezes (1923-2013), que nos deixou este depoimento que aqui transcrevo:
“Amigo Léo,
Este é um simples relato dos fatos sobre a 2ª gravação do frevo Vassourinhas. O toque jornalístico fica com você.
Gravado no dia 06/9/1950, no Rio de Janeiro, por “Zacarias e sua Orquestra”. Disco RCA-Victor – 78 rotações – nº 80.0705 -face A, e no verso – face B – foi gravado Freio a Óleo, de minha autoria – como é do seu conhecimento.
Consta do selo como título da música: FREVO DOS VASSOURINHAS (Nº1).
Histórico do surgimento da gravação:
No mês de maio de 1950, Geraldo Vilas (hoje falecido), representante da RCA-Victor, aqui no Recife, procurou o saxofonista Felinho, criador das variações do Vassourinhas, para fazer um arranjo da música, com suas variações, para ser gravada no Rio de Janeiro pela orquestra de Zacarias, que era na época, ela e a TABAJARA de Severino Araújo, as melhores do Brasil.
Felinho recusou o convite, alegando que suas variações só deviam ser gravadas por ele. Geraldo ofereceu passagem aérea e hospedagem no Rio de Janeiro e mais um cachê, para ele ir gravar com a orquestra de Zacarias. Mais uma vez Felinho recusou o convite com a legação de que não se sentia bem viajando de avião.
Em vista disso, Geraldo Vilas me procurou para fazer o arranjo e escrever variações inéditas, de minha autoria, que seriam executadas pelo 1º sax-alto da Orquestra de Zacarias, que se chamava Guerino.
Aceitei o convite, na condição da RCA comprometer-se em gravar, na face B do referido disco (que continha apenas duas músicas), um frevo de minha autoria, que seria FREIO A ÓLEO e assim foi feito.
Um fato interessante:
Quando Felinho soube do ocorrido, me procurou para saber se realmente eu tinha feito o arranjo de Vassourinhas, para outro músico gravar, com as variações dele.
Eu lhe respondi que realmente fiz o arranjo, entretanto, com variações de minha autoria, vez que, as variações e improvisações sobre um determinado tema musical, podem ser feitas de várias formas e por qualquer um.
Não existe autor de improvisações.
Em resposta, suas palavras foram as seguintes: “Quando o disco chegar, se tiver alguma de minhas variações, irei ao jornais protestar e processarei a gravadora”.
Quando disco chegou, mostrei a ele, e até a data de sua morte, muitos anos depois, ele nunca protestou porque as variações eram realmente inéditas. Eu tenho esse disco nos meus arquivos.
Recife, 18 de fevereiro de 2009.
José Menezes”
Sob o selo Mocambo, o “Frevo dos Vassourinhas”, de Matias da Rocha e Joana Batista, veio a ser gravado em junho de 1956 pela orquestra de Nelson Ferreira apresentando, pela primeira vez em disco, as variações em sax-alto, compostas por Felinho (Félix Lins de Albuquerque) em 1941, por ele executadas na segunda parte, em dezesseis compassos sem interrupção, segundo a matriz nº R.696.
Ainda na mesma fábrica veio a ser prensado o disco, Frevo dos Vassourinhas nº 1, com orquestra e coro sob a direção de Clóvis Pereira, produção autônoma com o selo “Repertório” nº 9093, matriz R 285, gravado na sua versão cantada no auditório do Rádio Jornal do Commercio.
* * *
Frevo dos Vassourinhas nº 1, de Matias da Rocha e Joana Batista, com Severino Araújo e sua Orquestra Tabajara
O Passo do Caroá, frevo-canção de Nélson Ferreira, com Joel e Gaúcho
Bodas de Frevo, frevo-canção de Toinho Alves e Aldir Blanc, gravação de Elba Ramalho e Quinteto Violado - 1996:
Zaccarias
Raimundo Floriano
(Publicado a 17.10.16)
Na data de 14 de setembro, comemora-se o Dia do Frevo.
Para marcar a efeméride, apresentarei a vocês, no final desta matéria, um frevo de rua, um frevo-canção e um frevo de bloco, para que apreciem esses três gêneros que caracterizam a alma pernambucana.
O frevo é dança surgida no Recife (PE), a partir dos últimos anos do Século XIX, com a progressiva multiplicação das síncopes e do gingado rítmico das músicas de bandas militares, a fim de propiciar desarticulações de corpo dos capoeiras, que exibiam suas agilidades abrindo os desfiles, com passos improvisados, ao som de marchas e dobrados.
Surgiu, assim, a marcha-polca, que teve sua linha divisória estabelecida pelo Capitão José Lourenço da Costa, o Capitão Zuzinha, ensaiador das bandas da Brigada Militar de Pernambuco.
A nova marcha, frenética e contagiante, logo se revestiu do caráter de dança da multidão. Seu compasso é binário, com andamento semelhante ao da marchinha carioca, mas o ritmo é tudo. Divide-se em duas partes, e seus motivos apresentam-se sempre em diálogos dos metais – trombone e pistons – com as palhetas – saxofones e clarinetas.
A grande ênfase está em sua coreografia individual, improvisada: os dançarinos raramente repetem um gesto ou atitude, mantendo sempre uma feição pessoal e instintiva de criação.
O passo, com a ajuda rítmica de sombrinhas, dá à massa dos foliões que evoluem pelas ruas uma impressão visual de fervura, o que originou a palavra frevo, derivada de frever, corruptela de ferver.
A partir de 1917, o frevo foi introduzido nos salões e nos clubes carnavalescos onde, com frequência, os pares se desfazem em roda e, no centro, os dançarinos se exibem individualmente.
Grandes compositores e intérpretes se consagraram no gênero: Edgar Moraes, Levino Ferreira, Capiba, Antônio Sapateiro, Duda, Raul Moraes, Lourival Oliveira, e José Menezes, Claudionor Germano, Expedito Baracho, Coral Feminino, OARA e Coro, Carlos Galhardo, Ciro Monteiro e Nélson Gonçalves; e famosas orquestras como a Tabajara, a de Duda, a de Nélson Ferreira, a de Zaccarias e a Banda da PM de Pernambuco, somente para citar uns poucos do imenso elenco de maravilhosos criadores, músicos e vocalistas. Sublimes frevedores!
O frevo pernambucano é composto dos três gêneros principais, que ora apresento, 5 faixas de cada, nesta pequena amostra, dentro dos quase 1.500 títulos que integram meu acervo:
1) FREVO DE RUA: apenas instrumental, de rápido andamento, destinado à improvisação dos passos dos dançarinos:
No Fim da Certo - Frevo de rua (Johnes Johnson) Banda da PM de Pernambuco, 1948
2) FREVO-CANÇÃO: também com andamento rápido, tem a introdução do frevo de rua e uma parte cantada:
É Frevo, Meu Bem - Frevo-canção (Capiba) Carmélia Alves, 1951
3) FREVO DE BLOCO: entoado geralmente em tom lamentoso, pela madrugada, na volta dos dançarinos de blocos aos seus bairros, também é conhecido como MARCHA-REGRESSO:
Surpresa - Frevo de bloco (João Santiago) Guerra Peixe, Sua Orquestra e Coro, 1971
Raimundo Floriano
Felinho
O Carnaval Pernambucano de 1944 foi marcado por uma “novidade”, que invadiu os salões e os blocos de sujo, sendo o grande sucesso no tríduo momesco daquele ano: o frevo de rua Vassourinhas, de Matias da Rocha e Joana Batista.
Ora, direis: – Vassourinhas! Esse frevo já não existia desde os fins do Século XIX?
E eu vos direi, no entanto, que a “novidade” se constituiu nas 8 variações para saxofone que o músico e compositor Félix Lins de Albuquerque, o Felinho, criou para dar mais graça, beleza e quentura à linda composição, marca registrado do Carnaval de Olinda e do Recife e que domina em todo o Brasil no cenário frevante.
Felinho criou escola. Hoje, já não se compreende mais o Vassourinhas, sem as famosas variações. E sua invenção deu asas à imaginação dos instrumentistas, cada qual inventando ou improvisando a seu modo, mas sempre se baseando em sua inspiradíssima obra. Assim aconteceu com Sivuca, Dominguinhos, Zé Gonzaga, Camarão, Arlindo dos Oito, e tantos outros.
É também uma prova de fogo e destreza para todos os saxofonistas, os quais procuram exibir sua real intimidade com as urdiduras do mestre Felinho.
Sax-alto frevedor
A gravação de que disponho é de 1946. Está no Álbum 78 RPM nº 15095, da Mocambo, Lado A, cujo selo traz Felinho como intérprete, acompanhado da Orquestra Mocambo, na época dirigida por Nélson Ferreira.
Antes de apresentar seu áudio, aqui vão as das partituras simples – sem as variações –, para trombone e sax alto, e para pistom, sax tenor e clarineta, agradecendo o inestimável apoio técnico do amigo Maestro Antonio Gomes Sales, de Caraúbas (RN):
E, a seguir, as antológicas variações, com Felinho e seu sax, em gravação original:
FREVO, A ALMA PERNAMBUCANA
Raimundo Floriano
(Publicado a 17.10.16)
Na data de 14 de setembro, comemora-se o Dia do Frevo.
Para marcar a efeméride, apresentarei a vocês, no final desta matéria, um frevo de rua, um frevo-canção e um frevo de bloco, para que apreciem esses três gêneros que caracterizam a alma pernambucana.
O frevo é dança surgida no Recife (PE), a partir dos últimos anos do Século XIX, com a progressiva multiplicação das síncopes e do gingado rítmico das músicas de bandas militares, a fim de propiciar desarticulações de corpo dos capoeiras, que exibiam suas agilidades abrindo os desfiles, com passos improvisados, ao som de marchas e dobrados.
Surgiu, assim, a marcha-polca, que teve sua linha divisória estabelecida pelo Capitão José Lourenço da Costa, o Capitão Zuzinha, ensaiador das bandas da Brigada Militar de Pernambuco.
A nova marcha, frenética e contagiante, logo se revestiu do caráter de dança da multidão. Seu compasso é binário, com andamento semelhante ao da marchinha carioca, mas o ritmo é tudo. Divide-se em duas partes, e seus motivos apresentam-se sempre em diálogos dos metais – trombone e pistons – com as palhetas – saxofones e clarinetas.
A grande ênfase está em sua coreografia individual, improvisada: os dançarinos raramente repetem um gesto ou atitude, mantendo sempre uma feição pessoal e instintiva de criação.
O passo, com a ajuda rítmica de sombrinhas, dá à massa dos foliões que evoluem pelas ruas uma impressão visual de fervura, o que originou a palavra frevo, derivada de frever, corruptela de ferver.
A partir de 1917, o frevo foi introduzido nos salões e nos clubes carnavalescos onde, com frequência, os pares se desfazem em roda e, no centro, os dançarinos se exibem individualmente.
Grandes compositores e intérpretes se consagraram no gênero: Edgar Moraes, Levino Ferreira, Capiba, Antônio Sapateiro, Duda, Raul Moraes, Lourival Oliveira, e José Menezes, Claudionor Germano, Expedito Baracho, Coral Feminino, OARA e Coro, Carlos Galhardo, Ciro Monteiro e Nélson Gonçalves; e famosas orquestras como a Tabajara, a de Duda, a de Nélson Ferreira, a de Zaccarias e a Banda da PM de Pernambuco, somente para citar uns poucos do imenso elenco de maravilhosos criadores, músicos e vocalistas. Sublimes frevedores!
O frevo pernambucano é composto dos três gêneros principais, que ora apresento, 5 faixas de cada, nesta pequena amostra, dentro dos quase 1.500 títulos que integram meu acervo:
1) FREVO DE RUA: apenas instrumental, de rápido andamento, destinado à improvisação dos passos dos dançarinos:
No Fim da Certo - Frevo de rua (Johnes Johnson) Banda da PM de Pernambuco, 1948
2) FREVO-CANÇÃO: também com andamento rápido, tem a introdução do frevo de rua e uma parte cantada:
É Frevo, Meu Bem - Frevo-canção (Capiba) Carmélia Alves, 1951
3) FREVO DE BLOCO: entoado geralmente em tom lamentoso, pela madrugada, na volta dos dançarinos de blocos aos seus bairros, também é conhecido como MARCHA-REGRESSO:
Surpresa - Frevo de bloco (João Santiago) Guerra Peixe e Sua Orquestra, 1971
Coral Levino Ferreira
Zaccarias
Felinho
Zaccarias
COM FELINHO NO SAX, E ORQUESTRA
COREOGRAFADO, COM ANTÔNIO NÓBREGA
Campeão dos Campeões, frevo de bloco de José Brito e Gumercindo Gomes, com o Coral Levino Ferreira:
Cala a Boca, Menino, frevo-canção de Capiba, com OARA e Coro - 1966:
Cabelos Brancos, frevo-canção de Nélson Ferreira, com Claudionor Germano - 1963:
Brincando com o Clarinete, frevo de rua de Lourival Ferreira, com Zaccarias e Sua Orquestra - 1963:
14 DE SETEMBRO, DIA DO FREVO!
Em homenagem, aqui vai o frevo-canção Boca de Forno, de Nelson Ferreira, com o Coral da RCA Victor, de 1939:
Bloco da Vitória, frevo de bloco de Nélson Ferreira, com o Mocambinho na Folia - 1959:
Batutas de São José, frevo de bloco de Levino Ferreira, com o Coral Feminino Bandepe:
Badalinho, frevo de bloco de João Santiago, com o Coral Levino Ferreira:
Aquele Pierrô, frevo de bloco de Fernando Borges, com Zaccrarias e Sua Orquestra e Coral Feminino - 1963:
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Apoquentado, frevo de rua de José Ferreira, com Zcccarias e Sua Orquestra - 1963:
Apois Tá Certo, frevo de rua de Antônio G. Albuquerque, gravação com a Banda Municipal do Recife:
Ao Som dos Guizos, frevo de bloco de Edgard Moraes, com a Orquestra de Osvaldo Barros e Coro - 1962:
Alô, Recife, frevo de rua de Formiga, com a Banda de Música Municipal do Recife - 1965:
Alegria de Pompeia, frevo de rua de Levino Ferreira, com Duda e Sua Orquestra - 1955:
Ai, Que Saudade Me Dá, frevo de bloco de Capiba, gravação com a OARA e Coro - 1995:
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Alegre Bando, frevo de bloco de Edgard Moraes, com o Coral Feminino do Recife - 1969:
A Vida É Um Carnaval, frevo de bloco de Edgard Moraes, com o Coral Feminino do Recife - 1963:
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A Verdade É Esta, frevo de bloco de Edgard Moraes, como Bloco Rebeldes Imperiais - 1958:
A Turma da Pedra Lascada, frevo-canção de Capiba, gravação com Ângela Maria - 1963:
A Tabajara no Frevo, frevo de rua de Severino Araújo, com Duda e Sua Orquestra - 1951:
EM HOMENGEM AO AO DIA DO FREVO, AQUI VÃO DOIS YOUTUBES,
COM AGADECIMENTO AO JORNAL DA BESTA FUBANA, PARCEIRO DESTE ALMANAQUE:
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A Pisada É Essa, frevo-canção de Capiba, com Oara e Coro - 1953:
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A Hora É Essa, frevo de Zumba, com Duda e Sua Orquestra - 1943:
A Hora É Essa, frevo de rua de Zumba, com Duda e Sua Orquestra - 1943:
Rinaldo Calheiros
Atendendo a pedido do leitor Claudio Canfild, aí vai Ingratidão, frevo-canção de José S. de Menezes e Neusa Rodrigues, na voz de Rinaldo Calheiros, gravação de 1957:
A Dor de Uma Saudade, frovo de bloco de Edgard Moraes, com o coral Feminino do Recife - 1968:
A Cobra Está Fumando, frevo de rua de Levino Ferreira, com Duda e Sua Orquestra: