MARIA ISAURA, PROFESSORA MUSICISTA E TEATRÓLOGA
Raimundo Floriano
Lábios insinuantes e naturais
Maria Isaura de Albuquerque e Silva, minha irmã, nasceu em Balsas (MA), no dia 28 de abril de 1921. Filha de Emigdio Rosa e Silva, o Rosa Ribeiro, e Maria de Albuquerque e Silva, a Maria Bezerra, era a primogênita de uma prole de dez, da qual eu sou o sétimo, e minha Madrinha de Batismo.
Esta é a mais antiga foto que temos dela com a família, em 1928:
Rosa, Maria, José, Pedro, Maria Isaura e Maria Alice
Desde menina, demonstrou grande propensão para as artes, aprendendo a tocar bandolim e piano, compor e transpor melodias para a pauta musical, o que lhe foi de grande valia quando ingressou no magistério e também na dramaturgia, como adiante veremos.
Ainda adolescente, diplomou-se Professora pela Escola Normal do Piauí, em Teresina, passando a lecionar no Grupo Escolar Professor Luiz Rêgo, em Balsas. A foto a seguir é de 1939, com Dona Rute Rocha, Diretora, à esquerda:
Já em 1940, tomava parte na organização de peças teatrais e Autos de Natal de Rua, como no famoso Reis de Dona Antônia – nossa tia –, cuja passagem assim ficou registrada:
Com a mudança de Tia Antônia para Teresina, Maria Isaura assumiu, por completo, a condução do Reis e a encenação de espetáculos teatrais, contando esses com números musicais e, ao final, peça teatral de sua autoria ou de escritor famoso, o que ficou para sempre conhecido como Os Dramas de Dona Maria Isaura.
Maria Isaura casou-se com Pedro da Costa e Silva no dia 12 de junho de 1943. O casal teve 4 filhos, João Emigdio, Economista, José Augusto, Aviador, Ana Alice, Turismóloga, e Luís Fernando, Bacharel em Letras.
Maria Isaura e Pedro Silva
Pedro e seus irmãos Luís, Regino, Virgílio e Sinoca pertenciam a uma família de negociantes de gado, comprando rebanhos no sul de Goiás e levando-os até o litoral maranhense ou cearense. Eram boiadas que, às vezes, compostas de mais de 500 cabeças, venciam extensa jornada de cerca de dois mil quilômetros, transpondo rios, contornando serras, varando florestas e percorrendo ermos sem estradas, guiando-se pelo sol e pelas estrelas, num roteiro conhecido como trilha boiadeira. Isso passo a passo, mansamente, em jornada que levava meses. Enfrentando ocasional estouro da manada, Pedro Silva, montado em seu burro de sela, jamais perdeu uma rês sequer.
Em 1944, o Grupo Escolar Professor Luiz Rêgo, que funcionava onde hoje é o Clube Recreativo Balsense, mudou-se para um prédio recém-construído, na Praça da Matriz, sendo Maria Isaura elevada ao cargo de Diretora. Em 1951, nova mudança, desta vez para a Praça Gonçalves Dias:
Nos palcos montados em ambas as sedes, os Dramas de Dona Maria Isaura conheceram seu tão decantado apogeu.
Grande elenco de um Drama encenado na Década de 1940
No segundo semestre de 1953, Maria Isaura, pagando promessa feita pela recuperação da saúde de um filho, cumpriu uma jornada, a pé, de Balsas a Floriano (PI), num total de 450 quilômetros de porta a porta, para louvar a Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Fátima que, vinda de Portugal, passaria, em outubro, por aquela cidade piauiense. Nessa romaria, que durou 23 dias, seguindo pela trilha das boiadas, acompanharam-na Maria Alice, nossa irmã, Cândido, peão-tropeiro de Pedro Silva, com Ciriaca, sua mulher e Eunice, sua filha. Faziam parte da comitiva três burros cargueiros, para transporte de vestuários, redes, víveres e material de cozinha.
Nas fotos a seguir, registros da histórica romaria:
A Imagem Peregrina de N. S. de Fátima – Altar em frente à Matriz de Floriano
Maria Alice e Maria Isaura, em frente ao altar – Lembrança da peregrinação
No início de 1957, Pedro Silva, a convite de sua irmã Sinoca, fazendeira em Cristalândia (GO), hoje Tocantins, mudou-se com a família para aquela cidade, onde continuou a negociar com gado, tendo Maria Isaura assumido o magistério em colégios cristalandenses.
Em outubro de 1958, nova mudança, dessa vez definitiva, para Brasília, onde, desde 1957, já se encontrava nosso irmão Afonso Celso.
Aqui em Brasília, Pedro Silva empregou-se como Fiscal de Obras da Companhia Urbanizadora da Nova Capital – Novacap, enquanto Maria Isaura passou a lecionar, inicialmente, no Ginásio Brasília, na Cidade Livre, hoje Núcleo Bandeirante. Contratada, em 1959, pelo DEC – Departamento de Difusão Cultural da Novacap, como Professora, dirigiu o Grupo Escolar Júlia Kubitscheck. Mais tarde, foi a primeira Diretora da Escola Classe da SQS 106:
Com Ivone Valadares, Vice-Diretora – Com outras Professoras da EC 106
Na Capital Federal, Maria Isaura foi um esteio, tanto para nós, outros quatro irmãos que aqui viemos residir, como para inúmeros familiares e amigos, que se reunia nos fins de semana em sua casa, para matar saudades e também filar os famosos almoços domingueiros. Morando, inicialmente em barracos, nos acampamentos, mudou-se, em 1960, para um apartamento na SQS 414, e, posteriormente, para outro, bem maior, na SQS 306.
Em novembro de 1974, Maria Isaura sofreu a perda de um filho, José Augusto, o Aviador, de 21 anos, em desastre aéreo, na região tocantina onde hoje é Palmas, quando viajava como passageiro. Repetia-se a tragédia do Cosmonauta russo Yuri Gagarin que, sendo o primeiro homem a navegar pelo espaço, em abril de 1961, viria a falecer, em 1968, em acidente numa aeronave de teste, viajando a lado do piloto. José Augusto viria a ser o primeiro membro da Família Albuquerque e Silva a ser sepultado no Campo de Esperança, em Brasília, desde a chegada do primeiro de nós, em 1957.
Pedro Silva faleceu em 23.04.1986, a um mês de completar 74 anos, e Maria Isaura, a 20.12.1992, com 71 anos de idade. Ambos jovens, para os padrões atuais. Deixaram seus nomes inscritos no Livro dos Pioneiros de Brasília e uma família bem formada, que perpetua sua memória nas ações, no trabalho e no bem-proceder.
Nesta quinta-feira, dia 28 de abril, seria comemorado o 95º Aniversário de Maria Isaura. Embora ela não mais se encontre conosco, sua lembrança permanece indelével em nossos corações.
Maria Isaura encantou-se, partiu para a casa do Pai Celestial, mas, afortunadamente, deixou, aqui em Brasília, uma representante à altura: a filha Ana Alice que hoje, em sua confortável residência, no Setor Park Way, procura congregar a família, não medindo esforços para que seu lar seja o mesmo foi, para todos nós, o de sua mãe, num venturoso passado, que jamais esqueceremos.
Uma bela história da Maria Isaura, uma jovem bonita, inteligente e guerreira. Ela foi minha excelente Diretora.. Muitas verdes participei dos dramas que ela realizava com muito amor e sabedoria.
Ontem já lembrava do aniversario da saudosa Tia Maria Isaura, a quem eu tinha enorme admiração. Adorei o texto e as lembranças nele trazidas. Sim, Ana Alice juntamente com minha mãe Izaura sao as grandes agregadoras das familias "Albuquerque e Silva" e ""Sousa e Silva", sempre juntas e misturadas.
Parabéns, Raimundo! Fiquei emocionada com sua homenagem à querida Maria Isaura, que, além de prima, amiga e cunhada, foi diretora do Grupo Escolar Professor Luiz Rego, onde estudei durante todo o curso primário. Maria Isaura era muito bonita, inteligente e batalhadora, qualidades herdadas pela Ana Alice.
Emocionante e merecida homenagem à querida e eterna professora:Dona Maria Isaura!Parabéns Raimundo!Você fala por todos que a conheceram e amaram!👏👏👏👏👏❤️❤️❤️❤️
Querida amiga Ana Maria, sua participação nesta matéria fez-me lembrar duas de suas irmãs reveladas como excelentes cantoras nos dramas da Maria Isaura: Genu, cantando Deus lhe Pague, e Clery, com O Teu Lencinho. Além delas, violeta, com Será (Será que o amor é isso..), Conceição Borges, com Balsas, Cidade Sorriso, Clarice Fonseca com Fantasia de Colombina, e Janete Soares com Minueto. Ô saudade danada!
Que delícia conhecer esses pedaços de nossa história. Tia Maria Isaura, que chamávamos de Tia Marisaura, era extremamente acolhedora e amorosa. Sempre tinha uma sobremesa na geladeira, deliciosa, para nos servir. Sua casa era decorada com mimos de viagens, entre eles uma tesoura dourada e um ursinho panda ( meus preferidos). Tinha duas peles de animais (não sei quais) que adorávamos brincar. Numa delas desenhávamos com o dedo colocando os pêlos na posição contrária. Toda vez que íamos (eu, Lara e Garcia) ficávamos brincando na saleta de televisão e os adultos ( todos os tios e tias que estavam em Brasília), iam para um quarto (era sempre o primeiro do corredor) à portas fechadas, tomar as grandes decisões da família. Nós nunca podíamos saber o que havia sido discutido lá dentro. Tio Pedro, sempre muito carinhoso, era apaixonado pelo Garcia. Assim que chegávamos lhe oferecia de tudo, mas principalmente banana, sua preferida. Se não tivesse a bendita ele saia, rapidinho, de fininho pela porta da cozinha, e voltava todo satisfeito com as bananas para dar ao Garcia. Que, aliás, era o único que Tia Marisaura permitia que brincasse com um ovo de cristal (mais um de seus mimos de viagens) debaixo da mesa da sala , em cima do tapete. Não posso deixar de lembrar, também, que Tia Marisaura estava sempre lindíssima e impecavelmente arrumada. A casa muito bonita e bem decorada, sempre! Foi muito presente em nossas vidas. Era uma alegria quando papai dizia que íamos para sua casa. Memórias muito boas. Obrigada, Tio Raimundo, muito obrigada mesmo por me fazer lembrar dessas delícias e conhecer esse lado dela que eu não conhecia. Obrigada, obrigada, obrigada! Te amo!