RÉVEILLON AUTOSSEXOMOBILÍSTICO
Sacristão Paulo Bandeira
Aconteceu muito antes dessa terrível pandemia.
Madrugada de 1º de janeiro! O casalzinho, terminada a queima de fogos, e talvez ouriçado pelo espírito de garrafa, mal entrou no carro, começou um agarramento “pras cabeça”, coisa de ninguém botar defeito.
Pega daqui, pega dali, amassa aqui, esfrega ali, sem se importarem com a curiosidade dos transeuntes, a garota já quase sem roupa, eis que se aproxima um Guarda e atrapalha o desvairado intercâmbio amoroso:
– Epa! Que falta de compostura é essa?
A garota, por ser mais despachada, assumiu a defesa do casal:
– Seu Guarda, é Ano Novo!
– É Ano Novo, mas aqui não é motel nem drive-in!
A garota retruca:
– Seu Guarda, vai me dizer que nunca namorou num carro?
– Namoro? A senhora chama isso de namoro? Eu não sei onde é que estou que ainda não levei os dois para a Delegacia!
– Paciência, sem guarda, o senhor está exagerando!
– Exagerando? A senhora, quase despida, dando-se ao desfrute no maior descaramento. É por isso que existe tanta mãe solteira no mundo. Passa de mão em mão, daí, aparece com mais um filho sem pai! E agora lhe pergunto: quem vai querer casar com uma garota assim, toda sambada? Essa história de emancipação, de sexo livre, só pode dar é nisso mesmo! – Diz o guarda, em tom nervoso.
A garota tenta se justificar:
– Calma, Seu Guarda! Nós somos casados!
– Casados? São casados? – Mais exaltado fica o Guarda. Então por que a senhora não vai fazer isso em sua casa, pra não se expor de modo e tão desavergonhado?
Aí, foi a vez do homem falar:
– Tá doido, Seu Guarda? Se eu for fazer isso lá, o marido dela me mata!