RESTAURANTE TREZE EFES
Sacristão Paulo Bandeira
(Com agradecimento a Mônica Salter, que desenhou a placa)
Faustino Ferreira Funchalense, lusitano da Ilha da Madeira, veio de muda para a São Luís, Capital Maranhense, na intenção de ganhar muito dinheiro, de consolidar sua independência financeira. Como bom português, havia duas alternativas: abrir uma padaria ou um restaurante. Optou por essa última.
E, ao inaugurar sua casa de pasto, os ludovicenses – habitantes da Ilha de São Luís – estranharam o nome do estabelecimento: Restaurante Treze Efes. Alguns não se contiveram e manifestaram sua estranheza ao proprietário:
– Seu Faustino, o senhor não se enganou na confecção da placa? Se seu nome é Faustino Ferreira Funchalense, o título apropriado, para combinar, deveria ser Restaurante Três Efes.
Ao que o português explicava:
– Aí é que Vossa Excelência está enganado. São treze efes mesmo. É novidade saloia que trago para esta minha segunda pátria. O freguês que conseguir falar treze efes relacionados à refeição, terá o almoço ou jantar franqueado, não paga um puto sequer, nadica de nada. E adiantava: mas não é falar palavras desgarradas, como feijão, farinha, feijoada, e outras mais. Tem que haver combinação entre os vocábulos, sentido no paroliado.
Com esse estratagema, Seu Faustino ia se dando bem. Muitos tentavam, mas nenhum acertava, e o dinheiro ia pingando na gaveta de montão, pois a novidade dos treze efes era excelente chamariz, que muito instigava os frequentadores, na vã esperança de comerem de graça. Até que um dia!
Até que um dia chegou apareceu por lá, para almoçar, um tal de Tonico Boia, cabra viajado, ladino, cheio de rimas e loas. Dizia-se dele que até já andara de avião!
Pois bem, Tonico Boia entrou no Treze Efes, escolheu mesa bem situada, para que todos observassem seu desempenho, e acenou para o que garçom que dele se aproximasse:
– Faz favor!
O garçom perguntou:
– Pois não, o que o senhor deseja?
Tonico Boia respondeu:
– Frango frito!
– E o que mais?
– Farofa fricassê!
– E para beber?
– Fanta frapê!
Tonico Boia foi regiamente servido, na forma solicitada. A terminar a refeição o garçom voltou a interrogar:
– O que o senhor deseja para sobremesa?
– Tonico Boia informou:
– Frutas fatiadas!
Depois de tudo, o garçom voltou à sua mesa, levando a comanda com o total da despesa, à qual Tonico Boia deu apenas uma rápida olhada e declarou:
– Fatura franqueada! E fez menção de levantar-se para ir embora.
Diante disso, o garçom adiantou-se e cochichou para Seu Faustino, que se encontrava no Caixa, situado na porta do restaurante: – Ele só falou doze efes e quer sair sem pagar!
Quando Tonico Boia se emparelhou com o Caixa, Seu Faustino se levantou e, com toda a gentileza característica a um bom negociador, assim a ele se dirigiu:
– Ô gajo, o garçom me informou que Vossa Excelência só falou doze efes. E, para comer de graça, tem que falar treze efes. Portanto, está faltando um efe!
E Tonico Boia:
– Foda-se!