FEMINICÍDIO SERTANEJO
Sacristão Paulo Bandeira
A Fazenda Jatobá estava no maior alvoroço! A Chica, mulher do Coronel Baldomero, ia dar à luz o 35º filho!
O Coronel, sessenta de idade, era um touro, forte, saudável por demais e fogoso que só vendo. Já a Chica, tadinha, de tanto dar seiva para a filharada, cada qual mais taludo, não tinha mais aquela sustança da mocidade, estava um caquinho de gente.
A Parteira, com mais de quarenta anos de ofício, pelejara a noite inteirinha e nada! Cansada de tanta labuta e temendo um desfecho fatal para a Chica, aconselhou o Coronel e mandar buscar o médico da vila para ajudá-la, como era costumeiro em casos desse feitio.
O Doutor, homem traquejado, que já trouxera mais de mil nascituros ao mundo, mesmo com o auxílio da Parteira, teve ali que utilizar todo o seu conhecimento obstetrício. Só depois de quatro horas, conseguiram trazer à vida um meninão de 4 kg e medindo 52 centímetros!
A se despedir, o Doutor chamou reservadamente o Coronel Baldomero e falou:
– Coronel, esse tem que ser o último! A Chica não pode mais parir! Se ela engravidar, morre!
Diante disso, o Coronel, temendo perder a amada esposa, providenciou para que os dois dormissem e quartos separados, evitando, assim as tentações da carne com a proximidade.
Passou-se o tempo. Mas, com uns seis meses de separação de corpos, eis que, certa madrugada, o Coronel ouviu baterem levemente na porta de seu quarto. Estremunhado e puto da vida por perturbarem seu sono, gritou:
– Quem tá batendo aí?
– Sou eu, Baldomero, a Chica!
– O que houve, Chica?
– Eu quero morrer!