O ÍNDIO E O COMELÃO
Sacristão Paulo Bandeira
Quem vive em qualquer cidade sertaneja atual, nem sequer chega a imaginar como era a vida por ali há cinquenta anos, vendo as residências cercadas por muros ou grades, com um botão de campainha instalado na entrada para que se chame o morador, aprisionado em seu próprio lar.
Antigamente, as portas eram abertas ao amanhecer e só eram fechadas à noite, na hora de dormir. À tardinha, eram comuns cadeiras e preguiçosas nas calçadas, pessoas em alegre bate-papo, contadores de histórias, vida feliz e despreocupada.
As casas dos indígenas, em sua maioria, nem de porta precisavam, como essa da figura acima, típica das aldeias sertanejas.
Outro aspecto que se perdeu com esse isolamento ditado pelo progresso foi a hospitalidade do brasileiro, em qualquer esfera social. Antigamente, era comum qualquer transeunte desconhecido chegar à porta de uma residência e bater palmas só para pedir um copo d’água. Às vezes, até com um cafezinho era agraciado.
Pois foi no intuito de pedir água pra beber que o caçador Wando Comelão chegou a uma cabana sem porta, no meio da selva maranhense. Bem na entrada, deparou-se com um casal de índios, deitado numa esteira, na milenar ocupação de fazer um indiozinho, ambos completamente pelados.
Ao perceber o que se passava, fez menção de se retirar, mas o índio gritou para ele que ficasse, pois já estava acabando, faltava pouco. Comelão se sentou numa trepeça e esperou, assistindo à função!
Assim que terminou a fabricação do novo herdeiro, o índio, deixou a jovem índia deitada na esteira, peladinha, e, ainda com a espada em riste, pergunto ao Comelão:
– O cumpade também quer furunfar?
Comelão, meio aturdido, sem entender muito bem aquela proposta, respondeu:
– O quê?
O índio repetiu, agora em tom bem mais persuasivo?
– O cumpade também quer furunfar?
Aí, o Comelão, que andava com a escrita meio atrasada, olhou para a linda cunhã deitada na esteira e respondeu:
– Quero sim! Quero!
E o índio:
– Então baixe as calças e fique de quatro, que eu como seu fiofó!
Kkkkkkkkkkkkkkk Wando nunca mais parou, na porta das casas, para pedir nada kkkkk.