O JUMENTO RISONHO
Sacristão Paulo Bandeira
O Coronel Baldomero andava uma pilha de nervos. O jumentinho que ganhara de presente de um compadre andava triste, macambúzio, com as orelhas murchas, desde o dia em que chegara à sua fazenda. Sendo animal premiado em Exposição, podia morrer a qualquer momento de tanto banzo, o que seria também uma espécie de morte para o Coronel, que a ele se afeiçoara desde em que nele batera os olhos.
Os vaqueiros e peões da Fazenda Jatobá desconfiavam que a origem daquela tristeza do jegue era a falta de um jumentinha para fazer-lhe companhia, para namorarem, enfim! Mas cadê coragem para falar isso ao patrão, outrora afável mas que, devido à prostração do jegue, virara um barril de pólvora, explodia a todo momento sem motivo ou razão?
Temendo perder o jegue, o Coronel instituiu um prêmio: daria 10 contos de réis a qualquer um que o fizesse sorrir!
Não faltaram candidatos. Faziam-lhe cócegas, caretas, mungangas, contavam-lhe piadas, rebolavam à sua frente, mas o jumentinho, nem arroz! Era a imagem perfeita e acabada da melancolia.
O Coronel já estava desesperado, quando passou um amigo boiadeiro em sua fazenda e, sabendo de suas agruras, contou-lhe que em Brejo da Porta, sertão sul-maranhense, havia um tal de Zé Baixinho, possuidor de um jegue que, segundo boatos, passava o dia rindo de sua cara.
O Coronel criou alma nova. Imediatamente, mandou um positivo a Brejo da Porta, distante mais de 100 léguas, com a missão de trazer esse cara consinado como feiticeiro ou mágico jumental. E Zé Baixinho, sabendo da recompensa, não se fez esperar. Com uma semana de viagem, chegou, num sábado, à noitinha, à fazendo do Coronel.
No seguinte, após o café, Coronel Baldomero reuniu no pátio da fazenda sua família, os vaqueiros, os peões, os agregados e alguns fazendeiros vizinhos, todos ansiosos para conhecer o fenômeno. Parecia um circo.
Ai, trouxeram o jumento, puxado por um cabresto e o amarraram no tronco do pé de jatobá que ensombrava o pátio. Zé Baixinho, dele se aproximou pôs a boca bem junto a uma de suas orelhas, como se fosse contar-lhe um segredo, e falou qualquer coisa. Foi o suficiente! O junto destampou!
KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK
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Não parava mais! Foi preciso que o agarrassem e amarrassem-lhe os queixos, caso contrário ele não parava de rir!
Coronel Baldomero, homem de palavra, chamou o Zé Baixinho, deu-lhe os 10 contos de réis prometidos, mais uma novilha prenha, como gorjeta, e falou:
– Agora, me diga: qual foi o segredo de sua mágica, do seu feitiço?
Zé baixinho respondeu:
– Eu cheguei rente à orelha dele, como o senhor viu, e falei: meu pingolim é maior do que o teu!
Texto maravilhoso e hilário, próprio das pessoas muito inteligentes! Parabéns pela excelente postagem, prezado Editor Raimundo Floriano! Grande abraço!
Muito Bom, do tipo dos causos que eu gosto.
Rachei de ri fantástico kķkkkkkkkk o jumento deve ter pensado ou caba mentiroso da peste kkķkkkkkkk
Muito bom. Hilário.
Meu querido amigo Paulo Augusto Soares Bandeira. Colega de farda no tempo de Exército. Uma figura humana fantástica!!!
Amigo Berto, obrigado por descer de seu Palácio Pontifício para enriquecer as páginas deste Almanaque. Você definiu bem o Bandeira: fantástico! Aquele instrumento nas mãos dele, tambor onça ou roncador, espécie de cuíca do bumba meu boi, é de sua fabricação. Lá na casa ele, canta-se boi a noite inteira, se for preciso.