HOJE: UM FILME DENÚNCIA, POLÍTICO E MUSICAL
CABARET (UMA RARA JOIA MUSICAL)
Gentileza do colunista D.Matt
É muito difícil catalogar esse filme somente como musical. Ele pode ser classificado como Drama musical, Denuncia politico nazista, Drama contra o preconceito racial, ou um pequeno estudo sobre o comportamento sexual dos personagens em todos os sentidos.
Não é uma estória inédita, pois o autor primário da estória em que foi baseado o roteiro final, da autoria de CRISTOPHER ISHERWOOD,, já havia utilizado essa história e acontecimentos na época retratada, em obra de sua autoria entitulada I AM A CAMERA " procedente de sua obra "( The Berlin Stories ) que foi lançada primordialmente em uma peça teatral e depois levada às telas pelos americanos num filme estrelado por Julie Harris, Lawrence Harvey e Shelley Winters, com algumas diferenças e variações dentro do tema principal, mas sempre conservando a sua origem procedente de ( The Berlin Stories ), inclusive usando o nome da personagem principal (Sally Bowles); numa produção americana de 1955 , num filme preto e branco.
O maior acerto dos produtores do filme, antes da contratação do elenco, foi entregar a direção ao talentoso BOB FOSSE, que procedente da Broadway, já tinha grande experiência com a peça e como coreografo de talento reconhecido, só precisava de grandes astros para levar à tela essa obra importante, à um grande acontecimento musical, cinematográfico. Isso ele o fez com grande talento e muita criatividade.
Os acontecimentos que ocorriam na Alemanha , na época de implantação do regime nazista são mostrados, não como denuncia, mas como fatos normais ocorridos diariamente, para um povo simpatizante do regime nazista que eles acreditavam estar criando um país mais poderoso , um exemplo para o mundo exterior, e no qual o povo acreditava realmente na sua superioridade racial, conforme demonstram no filme, com o canto de um hino Nazi, por um jovem , portando uma suástica Nazi e com grande orgulho patriótico dos demais presentes, quando ele canta o hino " Tomorrow belongs to me " Excelente cena de grande efeito. Para completar o seu patriotismo eles precisam demonstrar o seu preconceito exacerbado contra todos os Judeus, esquecendo- que "Os Judeus" também eram todos alemães e por certo também patriotas.
A montagem do filme foi perfeita, pois depois de cada acontecimento na vida berlinense, ou na vida dos personagens do filme, tal acontecimento é " encenado " no palco do Cabaret, levados aos extremos do ridículo, narrado e debochado pelo excelente apresentador , numa criação magistral do grande ator JOEL GRAY, que repetiu o seu ótimo trabalho, ,pois já havia criado o personagem na Broadway. Grande parte do sucesso do filme e das boas críticas é devido a performance desse grande ator, que quando está em cena, rouba toda a atenção dos espectadores do filme.
As cenas se sucedem e todas são " encenadas " de modo debochado no palco do Cabaret KIT KAT CLUB , algumas com excelentes resultados, como quando a personagem Sally Bowles trava relações com um milionário, e no palco do Cabaret é encenada uma joia musical de grande impacto visual e auditivo, com o show de " Money, Money, Money " de forma magnífica e rítimo alucinante, com expressões faciais dos cantores de forma admirável. Também. quando uma estória paralela de preconceito contra a comunidade judaica é apresentada, no palco é encenada uma apresentação comovente com o mestre de cerimônias descrevendo o seu amor por um " monstro " e confessando que a ama , porque ela é maravilhosa e nem todos a conhecem etc...).
O elenco é primordial para o grande sucesso do filme, pois quem poderia criar uma Sally Bowles, anárquica, com comportamento imprevisível de grandes olhos pintados bem arregalados, unhas pintadas de verde e creiam tudo combina perfeitamente, nada está supérfluo, tudo se encaixa nos mínimos detalhes. Sua vontade de vencer e um dia ser uma grande estrela de cinema nesse submundo alemão, cercado de imundícies e preconceitos comportamental é jogado ao léu e viva-se todo o momento presente que o futuro ainda não chegou para produzir enormes pesadelos previstos.
Michael York, Marisa Berenson são personagens que estão " vivos " dentro da estória, têm credibilidade aprovada, como todos os demais são competentes e dão seu recado corretamente.
Joel Gray está estupendo, merecia dois Oscars, pois o seu trabalho vale por dois.
Berlin está viva no filme, talvez devido a que grande parte do filme foi filmada na Alemanha.
O filme recebeu muitas indicações e saiu vencedor de 8 prêmios Oscar, ou sejam :
Melhor Diretor - Bob Fosse
Melhor Atriz - Liza Minneli
Melhor Ator Coadjuvante - Joel Gray
Melhor Fotografia
Melhor Direção de arte
Melhor Trilha sonora
Melhor montagem
Melhor Mixagem de som
A parte musical defendida com muita fibra pela atriz cantora Liza Minneli é de grande impacto, seu carisma é inconfundível, sua presença , quando no palco, cresce de maneira monumental e assistimos um grande trabalho, não só vocal, como também a sua postura corporal, perfeita nos mínimos detalhes, não deixando dúvidas de que estamos diante de uma grande estrela, ela demonstra grande valor próprio e não precisa ser citada como a filha da grande estrela Judy Garland de bela memória.
A Alemanha mostrada no filme, principalmente o cotidiano de Berlin, não está fantasiado, nem de luxo ou de pobreza, mas sim cenas da vida normal, mostrando inclusive o modos de vida de um milionário, com seus carros de luxo, seus palácios e muito dinheiro para ostentar. Não sendo portanto uma estória com o intuito de mostrar um pais com a mão pesada dos nazis, no nascedouro da ditadura antes da guerra.
Cenas de violência pre nazis acontecem, mas não são mostradas com o intuito de
nos chocar e criar momentos negativos.
O filme não pode ser classificado apenas como um musical. É um drama com cenas musicais, um filme que pode ser também classificado como um clássico. Uma bela estória, ótimos atores, boas músicas e um retrato de uma época que não deixou grandes e boas lembranças. Entretanto o filme que certamente ficará na nossa lembrança como uma válida e importante produção cinematográfica que infelizmente não mais serão produzidos com a mesma mestria dos bons tempos.
Como disse o mestre Joel Gray,
Auf wiedersehen Strangers.