Cena icônica de A Cor Púrpura do diretor Spielberg
A Cor Púrpura é um drama bem produzido. Obra de gênio. Penetrante e emocionante. Auxiliado por um elenco versátil, que sabe o que está fazendo na frente da tela grande e o faz com competência, apesar de novato. O icônico diretor Steven Spielberg conseguiu entregar uma obra-prima intimista e empática ao telespectador. Além de carregar aquele charme “old school” característico de sua filmografia. Sua extensa duração se justifica ao desenvolver com calma e humanidade cada personagem. Pouco a pouco, o espectador vai entrando na pele da personagem de Whoopy Goldberg e não sai dela por dias após assisti-la.
A história se passa no início do Século XX, na Georgia de 1906. Uma jovem negra com apenas 14 anos é violentada pelo pai, e se torna mãe de duas crianças. Alem de perder a capacidade de procriar, Celie, a jovem, interpretada magnificamente por Whoopi Goldberg, imediatamente é separada dos filhos e da única pessoa do mundo que a ama, sua irmã Nattie, e é doada a “Mister” (Danny Glover), um tirano negro poderoso que a trata simultaneamente como escrava e objeto de sexo.
O filme é maravilhoso do início ao fim. As cenas são inesquecíveis e irretocáveis: Nattie, a irmã que luta bravamente para escapar do estupro pelo tirano marido de Celie; a separação das irmãs; as duas agarradas uma à outra enquanto o tirano as arrasta sem dor nem piedade; as irmãs de longe acenando uma para a outra com as mãos pálidas, sem poderem mais se alcançar, cantando “nada vai afastar minha irmã de mim, Makidada,”; o momento em que a personagem Celie encontra as cartas enviadas pela irmã, que o “marido” escondeu dela durante anos; o jantar onde Celie “vomita” tudo que engoliu por tantos anos, tudo isso feito com tempero de genialidade, até a cena final tão esperada: O reencontro das irmãs que voltam a brincar tal como quando eram crianças. De fato, uma das maiores injustiças da Academia de Hollywood não ter contemplado com uns quatro Oscars essa obra-prima spielberguiana, apesar de 11 indicações.
Talvez um filme feito esse não seria produzido hoje. “Porque não seria um diretor branco e de visão florida a adaptar o livro da escritora negra Alice Walker?!” – alguns esquerdoides poderiam questionar. Não. Apenas por exatamente ter se presente hoje na indústria, essa constante preocupação de ter representatividade racial e cultural no cinema sendo feito de forma digna, fiel e respeitosa. Optando assim que apenas cineastas negros poderiam dirigir filmes voltados à temática da cultura negra e apenas cineastas mulheres poderiam dirigir filmes voltados à temática de cunho feminino, e por assim em diante. Um intuito de louvável feito, sem dúvidas, e vários talentos por trás das câmaras apareceriam e receberiam devido destaque, mas como isso poderia funcionar na prática?
A busca por um talento de verdade dentro do ramo artístico, e humano, do cinema, se perde aos poucos. Spielberg não precisou ser negro ou mulher para que pudesse contar aqui uma profunda história sobre ambos. Apenas usou do seu prodigioso talento, como grande entendedor de cinema e do espírito humano, para que pudesse contar essa história comovente. Não só sobre a cultura negra e o mundo das mulheres, mas sim a jornada de uma mulher, que lutou as tristezas e sofrimento do seu dia a dia, que aprendeu o que é amor e fé verdadeiros no que é bom e que pode ser encontrado no mundo, e para que pudesse um dia novamente reencontrar sua irmã. Com seu infinito amor que as permitiu vencer os ódios que as separou, e as fez se unir novamente no final. Exatamente como o mesmo amor com o qual o livro foi escrito e esse filme foi feito. O ódio as separou; o amor as uniu novamente.
A Cor Púrpura | 1985 | Trailer Legendado | The Color Purple
Cena marcante do filme A Cor Púrpura (The Color Purple)
Art7 A Cor Púrpura