Dalinha Catunda
Quem diabo que é essa doida
Que vem lá do Cariri
Comendo cuscuz com ovo
E um balaio de pequi
Com fumaça no cachimbo
Pra assanhar meu inxuí
Lindicássia Nascimento
Quem diabo é esse Zumbi
Que parece assombração
Com molambo na cabeça
E uma boneca na mão
Achando que é gostosona
A crueira do sertão.
Dalinha Catunda
A minha apresentação
Faço agora com audácia
Sou abelha do sertão
Meu ferrão tem eficácia
Para Dalinha Catunda
Se apresente sem falácia.
Lindicássia Nascimento
O meu nome é Lindicássia
Sobre nome Nascimento
Sou mulher de atitude
Cheia de atrevimento
Quando me dano a brigar
Brigo até no pensamento.
Dalinha Catunda
Não venha afoitamento
Pois eu posso ser cruel
Minha língua é venenosa
Já derrubei menestrel
Mas se quer mexer com cobra
Lhe apresento a cascavel.
Lindicássia Nascimento
Amargo igualmente a fel
Sem medo vou pra disputa
Seu veneno não me atinge
Bicha besta e biruta
Eu também sou cobra ruim
Na Selva sou mais astuta.
Dalinha Catunda
Eu vejo que nessa luta
Só tem cobra peçonhenta
Vou pegar teu desaforo
E esfregar na tua venta
A bicha besta e biruta
É você coisa nojenta.
Lindicássia Nascimento
Já vejo que não aguenta
Essa nega cangaceira
Se eu puxar o meu facão
Boto seu fato na feira
Pergunto quem quer comprar
O resto da mulambeira.
Dalinha Catunda
Se eu puxar minha peixeira
Eu entorto o teu facão
Corto um palmo da tua língua
Mudo a tua profissão
Nunca mais voltas a ser
Lambe saco de patrão.
Lindicássia Nascimento
Comigo tem isso não
Mulher fraca igual a tu
Faz zoada mais não morde
Só incha igual cururu
E quando me vê se esconde
No buraco do tatu.
Dalinha Catunda
Nem que tu faças vodu
Xexelenta macumbeira
Eu não fujo dessa briga
Meta seu pé na carreira
Peça logo seu penico
Que o medo dá caganeira.
Lindicássia Nascimento
Deixe de falar besteira
Franga “véia” de macumba
Eu quebro teu espinhaço
Antes de mandar pra tumba
Te faço lamber o chão
Bem antes que tu sucumba.
Dalinha Catunda
Tu tá querendo quizumba
Do choco vou te tirar
As penas desse teu rabo
Uma a uma vou puxar
Depois que eu quebrar teu bico
Quero ver cacarejar.
Lindicássia Nascimento
Basta tu se imaginar
Na mesma cena isolada
Mas as penas que eu puxar
Nessa peleja arretada
Vou queimar com gasolina
No meio da encruzilhada.
Dalinha Catunda
Eu não vou sair queimada
Deixe já de picuinha
E nem vou lhe depenar
Já desmontei minha rinha
Isso tudo é presepada
Tanto tua como minha
Lindicássia Nascimento
teu pensamento se alinha
e me causa emoção
somos luzes da lapinha
do céu a constelação
na terra somos semente
lançada em riba do chão.
Dalinha Catunda e Lindicássia Nascimento
Cumprimos nossa missão
Com rimas e brincadeiras
Lindicássia de Barbalha
Dalinha das Ipueiras
Pois além de cordelistas
Também somos cantadeiras.