Xilogravura de Erivaldo Ferreira
1
Na estrada do Pai Mané
Na cidade de Ipueiras
Bem pertinho das Barreiras
De imburana tem um pé
Ele dá um bom rapé
Pra quem sabe preparar
Maria sabe torrar
E tem grande freguesia
O tabaco de Maria.
Todo mundo quer cheirar.
2
E naquela arrumação
Meu pai era viciado
No dedo era colocado
Do rapé uma porção
Com o tabaco na mão
Pra no nariz esfregar
E logo após aspirar
Ele fungava e dizia:
O tabaco de Maria.
Todo mundo quer cheirar.
3
Valdenira me indicou
Disse mulher acredite
Ele é bom pra sinusite
Aqui mamãe sempre usou
Depois que ela receitou
Comecei a melhorar
Nunca parei mais de usar
Acabou minha agonia:
O tabaco de Maria.
Todo mundo quer cheirar.
4
Garapa ficou sabendo
Dessa história do rapé
Foi direto ao Pai Mané
Também estava querendo
Com Maria se entendendo
Resolveu logo pagar
E não saiu sem provar
do cheiroso nesse dia
O tabaco de Maria.
Todo mundo quer cheirar.
5
Edgar acabrunhado
Com o nariz entupido
Sentindo-se já perdido
Com febre e com resfriado
Foi atrás desse torrado
Para tentar melhorar
Porém mesmo sem gostar
Do produto repetia:
O tabaco de Maria.
Todo mundo quer cheirar.
6
Dão de Jaime que gostou
Do tabaco da fulana
Cheirou mais duma semana
E também se viciou
Da mulher ele apanhou
E não cansou de apanhar
Pois disse não vou largar
E gritando se exibia:
O tabaco de Maria.
Todo mundo quer cheirar.
7
Lindicassia nascimento
Fugava como ela só
Cheirou um pouco do pó
Daí veio o seu alento
Falou sem constrangimento
Eu posso até me lascar
Porém nunca vou largar
O que já virou mania
O tabaco de Maria.
Todo mundo quer cheirar.
8
Do torrado de imburana
Quis provar meu companheiro
Foi adquirir ligeiro
Nem teve pena da grana
Com a cara de sacana
E só para chatear
Chegava os olhos virar
Envolvido na folia:
O tabaco de Maria.
Todo mundo quer cheirar.
9
O vigário da cidade
Pediu para o sacristão
Vá comprar uma porção
Uma boa quantidade
Um rapé de qualidade
Que estou querendo espirrar
Mas onde ele ia comprar
O vigário já sabia
O tabaco de Maria.
Todo mundo quer cheirar.
10
Neto Alves da Cultura
Ficou logo interessado
Para comprar o torrado
Mandou uma criatura
E disse: – mas que loucura!
E esse bicho é de lascar
Hoje vou me empanturrar
Pois eu não tenho alergia:
O tabaco de Maria.
Todo mundo quer cheirar.
11
É remédio natural
Eu também sou dessa linha
Disse Anilda pra Dalinha
Querendo provar do tal
Garanto que não faz mal
E tratou de encomendar
Ao começar a chuchar
Comentou com euforia:
O tabaco de Maria.
Todo mundo quer cheirar.
12
Eu só sei que a imburana
Transformada em rapé
Muita gente levou fé
E Maria não engana
Pra Violante e Diana
Ela ficou de enviar
Se Cassiano esperar
Com certeza ela envia:
O tabaco de Maria.
Todo mundo quer cheirar.
13
Tenho tabaco estocado
Pra Dideus e Acopiara.
A freguesia não para,
O de Chica está guardado.
Fátima Correia e Prado,
Só falta mesmo embalar
E quem fica a me cobrar,
É o Tião Simpatia:
O tabaco de Maria.
Todo mundo quer cheirar.
14
Tenho um frasco pra Bastinha
Pra Vânia Freitas também
O Sérgio sei que já tem
De Rosário é na latinha
Eu fiz o que me convinha
Porém tenho que avisar
Já vi velho se peidar
Em frente a tabacaria:
O tabaco de Maria.
Todo mundo quer cheirar.
15
Eu só sei que esse rapé
Extraído da imburana
Fez uma corrida insana
Isso me falava Zé
Veio de Brumado a pé
Somente para comprar
Um tabaco singular
Que não tem lá na Bahia:
O tabaco de Maria.
Todo mundo quer cheirar.
16
Meu cordel chega ao final
Porém o cheiro persiste
Penetrando nesse chiste
Que diverte e não faz mal
Com gosto dou meu aval
Pois consegui entranhar
Amigos para brincar
No mote que repetia:
O tabaco de Maria.
Todo mundo quer cheirar.