Raimundo Floriano
Bienvenido Granda
Quando eu falo que Cuba entristeceu a partir dos Anos 1960, estou coberto de razão. Além dos argumentos que expenderei mais adiante, algo pode se constatar observando os semblantes dos médicos cubanos recém-chegados ao Brasil: fisionomias soturnas, denotativas de um povo que perdeu o bom humor, servil, domesticado*.
A lavagem cerebral, que se impõe desde a infância dos cubanos, se observa em todos os setores culturais, sendo emblemáticos seus efeitos sobre esta jovem artista, atualmente de maior visibilidade na Ilha:
Patricia Blanco, a Patry White
Enquanto aqui no Brasil cogita-se a mudança do nome da Ponte Costa e Silva e da Fundação Getúlio Vargas, por homenagearem presidentes que governaram ditatorialmente, essa bonita show-woman – espécie de Gretchen de lá –, cujo primeiro single de sucesso é Chupi Chupi, se autodenomina A Ditadora! Vocês já ouviram falar nela?
Em meu tempo de rapaz, até o final da década de 1950, nomes de artistas cubanos como Perez Prado e Sua Orquestra, Bienvenido Granda, Xavier Cugat e Sua Orquestra, Célia Cruz e Orquestra La Sonora Matancera eram tão comuns em nossas festas dançantes quanto os de Severino Araújo e Sua Orquestra Tabajara, Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Nélson Gonçalves, Ciro Monteiro, Emilinha Borba, e outros.
Não é que a musicalidade cubana tenha se acabado por completo. Ainda existe, mas com a boca completamente arrolhada para o resto do mundo. Observem esta nota publicada na revista Veja, de 08.05.13, na Seção Música - Cinema - Arte:
No corpo da matéria, a revista brinda-nos com a relação de nomes que dominam o atual cenário musical cubano: a já vista acima, Patricia Blanco, vulgo Patry White, cantora, reggaeton, ritmo importado de Porto Rico; Carlos Alfonso, vulgo X Alfonso, baixista e cantor de ritmos afro-cubanos, rock, música clássica e hip-hop; Yoandys González, vulgo Baby Lores, cantor de reggaeton e músicas em louvor a Fidel; Yssy García, baterista; Etian Arnau Lizaire, vulgo Brebaje Man, cantor de rap e hip-hop. Vocês já ouviram falar neles? Pois É!
E vejam que alienação! Com todas as adversidades políticas que nós, os brasileiros, enfrentamos desde o início dos Anos 1960, ainda vemos e curtimos adoidado talentos emergentes patrícios fazendo sucesso com baião, coco, samba, xote, frevo nos três gêneros, marchinha, samba-canção, toada, valsa, arrasta-pé, modinha caipira, rojão, etc.
Dentro de meu propósito de mostrar um pouco do que foi a pujança da música caribenha do passado, em particular a cubana, dou continuidade hoje, apresentando outro grande nome dessa constelação, cujos boleros embalaram os primeiros passos dançantes de minha adolescência: Bienvenido Granda.
Bienvenido Rosendo Granda Aguilera, cantor e compositor cubano de grande popularidade em toda a América Latina, ao longo das Décadas de 1950 e 1960, nasceu em Havana, no dia 30 de agosto de 1915, e faleceu na Cidade do México, no dia 9 de julho de 1983, aos 68 anos de idade.
Órfão de pai aos seis anos de idade, desde criança mostrou afinidade com os ritmos cubanos e os tangos argentinos, que cantava nos ônibus, no intuito de ganhar minguados trocados que lhe garantissem a subsistência.
Aos poucos, foi consolidando sua carreira artística atuando nas emissoras de rádio nos Anos 1940 e 1950. Sua consagração definitiva aconteceu ao juntar-se à Orquestra La Sonora Matancera, em 1940, na qual permaneceu até 1954, quando iniciou sua carreira solo.
Apresentou-se em diversos países da América Latina e, no início da Década de 1960, inconformado ao o regime ditatorial que se apoderou de Cuba, mudou-se para o México, onde fixou residência definitiva. Nessa época, já era conhecido como “O Bigode Que Canta”.
Sua discografia é extensa, e muitos títulos se encontram à disposição em sites virtuais de busca.
Bienvenido Granda imortalizou composições próprias e de outros autores, notadamente boleros, que ficaram para sempre gravadas em nossa memória: La Ultima Noche, Hipocrita, Tu Precio, Pecadora, Señora, Angustia, En la Orilla del Mar, Nuestra Realidad, Gracias, Soñar, Perfume de Gardenia, Oración Caribe, Soñando Contigo, Calla, Las Muchacas del Cha-Cha-Cha, P de Parada e Ba Bae.
Como pequena amostra desse trabalho, escolhi a primeira música com a qual tomei conhecimento da existência de Bienvenido Granda, o bolero No Toques Ese Disco, de sua autoria, acompanhado pela Orquestra La Sonora Matancera:
* Desculpem-me a insistência em mostrar-lhes no que transformaram aquele povo outrora tão risonho e feliz. A revista Veja de 06.11.13, em ampla reportagem especial intitulada Cuba, afirma: “o dinheiro dos brasileiros ajuda a sustentar o regime dos irmãos Castro, em que só existem dois tipos de pessoas: os dirigentes e os indigentes”.