Cabuetas, imagem de arquivo
Há mais de quinze anos sem se ver, amigo de turma ginasial reconhece colega trabalhando na Uber, faz a maior festa, e o convida para fazer uma corrida: levá-lo até a residência do pai que ficava distante do bairro onde se encontrava trabalhando. Para encurtar caminho e chegar mais depressa em casa, uma vez que conhecia os atalhos, o colega pede para o amigo de ginásio seguir por outro caminho, que não era reconhecido pelo GPS, que chegava a casa com mais de meia hora adiantado.
Sujeito de princípios éticos e ilibados, o colega da Uber não estava disposto a ceder à proposta indecorosa do amigo de classe. Logo disse não, mas o amigo insistiu no sim, demonstrando mais uma vez as vantagens da corrida e o lucro que a Uber e o colega iam ter se seguisse sua orientação.
– Mas a Uber tem o direito de me suspender por estar quebrando uma cláusula de contrato se eu seguir sua orientação, amigo. O sistema acusa que eu estou burlando o trajeto para tirar vantagens. Sinto muito amigo mais eu vou seguir a direção correta, estabelecida pelo GPS, pois tenho família para sustentar e uma suspensão sai caro para mim, argumentou.
– Amigo, – insistiu o colega de turma mais uma vez, – vá por mim. A Uber não fiscaliza isso não e você não está burlando nada, apenas encurtando caminho, que é mais vantajoso para você e para a empresa.
Percebendo que o amigo não ia desistir mesmo, cedeu à tentação mesmo, e seguiu o rumo do caminho traçado pelo colega, mas a contra gosto.
Como a Uber não tinha como checar aquele caminho, pois não constava no sistema do GPS, o colega sacana, no outro dia ligou para a empresa, contou o ocorrido, dedurou o amigo e apelou para a empresa demiti-lo por estar sacaneando com ela.
No outro dia a empresa liga para o “uberista” dizendo que ele estava dispensado, pois ludibriou a empresa utilizando de artifícios ardis não previstos em contrato, ou senão teria de pagar uma multa por descumprimento de cláusulas de contrato.
Foi o que o amigo de ginásio fez, pagou a multa, com dinheiro emprestado pelo pai que lhe deu um puxão de orelha e aprendeu uma grande lição: nunca ceder a tentação fácil, pois ela é inimiga da honestidade.
No dia seguinte ao pagamento da multa e a liberação do carro, o “uberista” volta a circular com o carro. Cinicamente o colega da traição telefona perguntando se o “uberista” estava disponível para levá-lo ao trabalho.
– Eu? Estou sim. E você? Tem alguma corrida para mim?
Do outro lado da linha silêncio total.
Bezerra da Silva – Ele Cabueta com o Dedão do Pé