Almanaque Raimundo Floriano
Fundado em 24.09.2016
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, dois genros e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Cícero Tavares - Crônicas e Comentários quarta, 03 de março de 2021

ZEN, O VIRA-LATA SAPECA (CONDO DE CÍCERO TAVARES, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

ZEN, O VIRA-LATA SAPECA

Cícero Tavares

 

Zen, com três meses de vida

Zen era um vira lata inteligente, ligado, atento, brincalhão. Apesar de poucos meses de idade já dava cangapés, pulos “discostas” e para frente, para pegar baratas, ratos, escorpiões, víboras, lagartixas e outros insetos que o instinto animal repulsa.

Nascido de uma ninhada de seis cãezinhos, sendo dois machos e quatro fêmeas, Zen já trouxe consigo o faro e o fado de Tibicuera, o índio retratado magistralmente pelo romancista Érico Veríssimo no livro “As Aventuras de Tibicuera”, rejeitado pelo pajé que viu nele um sujeito fraco, desmilinguido, uma assombração, sem nenhuma sustança para o enfrentamento da vida diária na floresta íngreme do Brasil cabralino, que exigia astúcia, disposição, firmeza, força, coragem e espírito aventureiro.

Qual “Mila” de Carlos Heitor Cony, Zen conquistou alguns “fumus fidalgos”, como o “Dom Casmurro” de Machado de Assis. Enquanto viveu, era um Lorde, um Rei Salomão numa liteira inundada de sol e transportado por súditos imaginários.

Para sua felicidade ou infelicidade, Zen não teve o mesmo destino dos irmãos que foram doados a famílias desleixadas. Ficou em casa sendo tratado como um aristocrata.

Para sua desdita – era mês de março -, início de chuvas tropicais propícias para o plantio e cultivo do milharal, legumes, outras frutas e verduras. Numa manhã chuvosa e fria, mais fria que o normal, Zen amanheceu meio macambúzio, olho esquerdo mais claro que o direito, menos disposto a brincar.

Levado a uma Clínica Veterinária com urgência, não deu outro o diagnóstico: Cinomose, doença altamente contagiosa provocada pelo vírus CDV (Canine Distemper Vírus).

Dali em diante começava-lhe o martírio: tiques nervosos, convulsões, paralisias, mioclonias, sintomas jamais vistos num animal pela dona: Diarreia constante, febre alta, falta de apetite, tremor nas pernas, gritos progressivos e, pior, gemidos provocados como se estivesse sentindo uma dor cerebral sem fim, dia e noite.

Depois de suportar esse sofrimento por mais de dois meses, apesar da recomendação da veterinária para o sacrifício, pois estatisticamente a chance de sobrevida é de apenas 15% e com sequelas irrecuperáveis, Zen se encantou sendo segurado por quatro mãos. Apesar de seu corpo parecer uma borracha, o semblante sorria de felicidades por não ter sido abandonado em vida em momento desesperador, pela sua dona!

Zen se foi cedo, mas nos deixou uma grande lição de vida: Amar enquanto há vida para ser vivida, porque depois de morto só há a escuridão infinita! Não chore por mim depois de morto – parecia dizer! Os olhos fechados, o mundo escurece para sempre!


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários quarta, 24 de fevereiro de 2021

EDVALDO BRONZEADO – O POETA NATIVO

 

 

EDVALDO BRONZEADO – O POETA NATIVO

Cícero Tavares

Na charge de Wilson Santos, o poeta Edvaldo e esse colunista. Estande da Editora Bagaço/2005

 

Em 1939 nascia na cidade de Paulista – (PE) um dos poetas mais autênticos que aquela cidade teve o privilégio de acolher e eu tive o privilégio de conhecer, embora seus ascendentes tenham sido paraibanos e só tenha deixado um livro publicado: MEMBI – FLAUTA DE OSSO. Edição Bagaço: 2005. Não sei se houve outras publicações e com quem está o seu acervo poético não publicado.

Arteiro, artista, pintor, artesão, sempre esteve ligado às cores, formas, sons e nas horas mais inspirativas o poeta entrava em ação para versificar poemas líricos, lúdicos, românticos, irônicos, com a naturalidade peculiar que só os grandes poetas e repentistas possuem. Tudo desenhado à caneta!

Durante muitos anos o poeta e artesão Edvaldo Bronzeado manteve seu Atelier no bairro de Engenho do Meio, perto do gigantesco e inútil prédio da SUDENE, onde atuava como design gráfico, fazendo embalagens, logomarcas, artes visuais e afins.

Entre um e outro desenho para caixa de perfume, saco de pipoca, capa de LP, ele fazia soneto, balada, samba, cordel, letras de músicas e jingles para propagandas de qualquer produto e promoções de candidatos à politicagem. Tudo no melhor sem-estilo, esmero, escola que dominava com maestria.

Por volta dos anos noventa, o poeta Edvaldo Bronzeado acordou-se virado no penteio de barrão e indignado com a ação dos poderosos do Poder Público que lhe queriam infernizar a vida no atelier, gravou nas pilastras do viaduto que separa o bairro de Engenho do Meio ao campus da Universidade Federal de Pernambuco o poema de protesto: NATIVO.

Nesse mesmo dia passava por ali um estudante de Direito da UFPE chamado Joca de Oliveira, poeta de Ribeirão, e, antes que a chuva batesse e apagasse aquela pérola, transpôs para uma caderneta a lápis e a guardou a sete chaves durante anos.

Durante mais de quinze anos o poeta Edvaldo Bronzeado era um enigma para nós e, como o mestre Orlando Tejo em busca de Canindé para conseguir o dinheiro para cobrir-lhe o cheque, nunca perdemos a oportunidade de encontrar aquele poeta que escreveu no muro do viaduto aquela poesia de resistência.

Uns treze anos depois, no início dos anos dois mil, ouvindo o Programa Supermanhã, apresentado por Geraldo Freire e o médico-radialista Fernando Freitas, tive o privilégio de ouvir Fernando Freitas chamar o poeta Edvaldo Bronzeado para declamar suas poesias no programa ao vivo e, feliz com aquela “descoberta”, me pus a procurar o grande poeta que para mim até aquele instante, era uma lenda viva! Liguei para a Rádio Jornal e a produção me passou o telefone da casa do bardo bronzeado!

E mais uma vez invocando Orlando Tejo, saí à cata do poeta até então desconhecido, e o encontrei no Centro da cidade na companhia do Sociólogo das Putas e dos Cabarés, o mestre Liêdo Maranhão, figura inesquecível, indescritível, de uma simplicidade ímpar. Sempre de bem consigo mesmo.

Ali estava eu junto daquele poeta-monstro do sentimento, da alma, do teatro, dono de um estilo de poesia altamente lírica, mesmo quando protestando contra as inconveniências da vida e do relacionamento do Homem com a Natureza, e, ainda da exploração do homem pelo próprio homem.

Polivalente, conhecedor das manhas e dos artifícios da retórica, ali estava eu diante de dois monstros sagrados da Literatura: um, o poeta nativo, lírico, romântico; o outro, o Sociólogo das Putas.

Na primeira conversa que tive com o poeta Edvaldo Bronzeado ele se espantou quando lhe falei sobre o poema NATIVO que havíamos copiado das pilastras do viaduto que separa a SUDENE da UFPE. E ele ficou extasiado em saber sobre a nossa admiração pela sua poesia.

A partir daquele momento e ao longo de mais de quinze anos de amizades, com meu estímulo, entusiasmo e impulsão, o Poeta Edvaldo Bronzeado criou coragem e começou uma peregrinação incansável à valorização e ao reconhecimento e publicação de suas poesias. Sua primeira incursão foi no jornal Poesia Descalça do grupo da Várzea, editado pelo poeta Joca de Oliveira, que lhe copiou o poema Nativo do viaduto que separa a UFPE e a SUDENE e o também poeta, romancista e professor de química da UFPE, Wilson Vieira, autor dos romances “Ditirambo” e “Pinguelo.”

Em 2005 o encontro feliz da vida de traje sociabilíssimo e com um gorro branco cobrindo a careca, na estante da Editora Bagaço no Centro de Convenções, com o seu livro de estreia: MEMBI – Flauta de Osso, editado pela Bagaço, de bem consigo mesmo e com a vida!

Devido à correria da vida, passei a me encontrar pouco com o Poeta. Mas quando isso acontecia era uma festa para nós. Uma das últimas vezes que eu o vi estava abatido com problemas familiares. Dizia não se acostumar com os modismos desrespeitosos do lar. Tentei demovê-lo dizendo que pensasse sempre como Dom Helder Câmara quando se referia aos jovens: Deixem-nos viverem à sua maneira! As trombetas da vida os ensinarão a encontrar o certo ou o errado!

Não sei se publicou mais livros pela Editora Bagaço. O que sei dizer é que duas semanas antes de se encantar, em 2013, por um enfarte fulminante, me encontrei com ele na Livraria Cultura acompanhado do seu violão Giannini, onde damos altas gargalhas de amor à VIDA!

É essa a boa recordação que carrego dentro de mim do poeta de NATIVO, o homem que viveu para a simplicidade da vida. Um gigante de poeta, mas sem estrelismo!

NATIVO – Edvaldo Bronzeado

Eu sou tão daqui
Quanto a paquevira,
O piriri,
E a macambira.

E daqui se eu saio
A carroça vira.
Porco vira paio.
Essa joça gira.

Vivo aqui assim
Mais o mangangá,
Uruçu-mirim,
O aripuá.
O papa-capim,
Capim-jaraguá.

Sou desse lugar
Mais o capilé,
Mais o midubim,
Mais o catolé.

Esse dedo aqui
Piranha comeu
Brinco pastori,
Carnavá, Mateu.

O zabumba afrouxa
Se eu deixo a dansa
Se apaga a tocha
Isso aqui balança
Lama vira rocha
Corda desentrança.

Durmo no chuá
Que faz o riacho
Eu noutro ligar
Sei que seco e racho.

Lavo coisa ruim
No ariaxé
Curo farnesim
Com cachaça e mé.

Tenho uma mulé
Que gosta de mim.
Como jacaré
Cará, surubim.
Tenho um pangaré
Quatro curumim.

A respeito do poema NATIVO, este colunista informa que a segunda estrofe tem uma curiosidade a ser esclarecida ao leitor. Onde se lê:

E daqui se eu saio
A carroça vira.
PORCO VIRA PAIO.
Essa joça gira.

O poeta Edvaldo Bronzeado havia grafado por mais de quinze anos no poema NATIVO a seguinte estrofe:

E daqui se eu saio
A carroça vira.
ISSO VIRA PAIO.
Essa joça gira.

Antes de publicar o livro, ele fez a mudança na estrofe. Segundo ele me disse, deu mais afinidade ao verso.

Edvaldo Bronzeado, o mestre que será sempre eterno nas minhas lembranças.


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 09 de fevereiro de 2021

MÉDICOS DA PESTE NEGRA (ARTIGO DE CÍCERO TAVARES, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

MÉDICOS DA PESTE NEGRA

Cícero Tavares

 

Texto escrito em parceria com Luiz Antonio Tavares Portella, meu filho, estudante de Biologia na Unicap.

Conhecida como a Pandemia mais devastadora já registrada na história da humanidade, tendo resultado na morte de mais de cem milhões de pessoas na Eurásia, atingindo o pico na Europa entre os anos de 1347 e 1351, a Peste Negra, também conhecida como a Grande Peste ou Morte Negra, pode ter tido sua origem da Ásia Central ou na Ásia Oriental, de onde viajou ao longo da Rota da Seda, séries de rotas interconectadas por navios através do Sul da Ásia, atingindo a Crimeia em 1343.

Acredita-se que a bactéria Yersinia pestis, que resulta em várias formas da peste: septicêmica, pneumônica e, a mais comum, bubônica, tenha sido a causadora. A Peste Negra foi o primeiro grande surto europeu de peste e a segunda pandemia da doença. A praga criou uma série de convulsões religiosas, sociais e econômicas, com efeitos profundos no curso da história da Europa. Nessa época se acentuou o ostracismo na população.

É importante salientar que os médicos da época usavam um traje especial e usavam máscaras que pareciam bicos de aves cheias de itens aromáticos. As máscaras foram concebidas para protegê-los do ar fétido, que, de acordo com a teoria miasmática da doença, foi considerado como a causa da infecção. Hoje se sabe que esta teoria é falsa.

DOIS MÉDICOS MERECEM DESTAQUE NESSA ÉPOCA

Guy de Chauliac de origem francesa

Quando a Peste Negra chegou a Avignon, em 1348, os médicos fugiram da cidade. Guy Chauliac permaneceu, tratando os doentes da peste e documentando os sintomas meticulosamente. Ele alegou ter sido infectado e ter sobrevivido à doença usando os seus conhecimentos. Através das suas observações, Chauliac fez distinção entre as duas formas da doença, a peste bubônica e a peste pneumônica.

Como medida de precaução, ele aconselhou o Papa Clemente VI a manter um fogo ardendo constantemente nos seus aposentos, para afastar o ar fétido, de acordo com a teoria miasmática aceita na época. A peste foi reconhecida como sendo altamente contagiosa, embora o agente etiológico fosse desconhecido. Como medidas, Chauliac recomendou que o ar fosse purificado, sangria (modalidade de tratamento médico que estabelece a retirada de sangue do paciente como tratamento de doenças) e dieta saudável.

Michel de Nostredame, de origem francesa, popularmente conhecido como Nostradamus pelas suas profecias

Seus conselhos profissionais foram importantes para a tomada de medidas preventivas contra a praga. Recomendou a remoção de cadáveres infectados. Respirar ar fresco, tomar água potável e limpa, e um suco de preparação de rosa mosqueta. Em sua publicação Traité des fardemens, recomendou não sangrar o paciente.

Com todos os conhecimentos adquiridos através de seus estudos, Nostradamus viajou ao sul da França para cuidar das vítimas da peste. A pandemia da peste negra provavelmente começou na Ásia no século XIV e se espalhou por toda a Europa, onde os surtos recorrentes dizimaram as populações de vários países ao longo do século XIV. A peste ficou presente na vida dos europeus até o século XVIII. A doença, transmitida através de pulgas transportadas por roedores, como ratos e marmotas, foi altamente contagiosa, rápida e dolorosa, muitas vezes causando febre alta com delírios e deixando grandes pústulas negras em todo o corpo das vítimas. Nostradamus tornou-se conhecido pelo tratamento que concebeu para combater a peste. Além das suas recomendações, sua cura consistia na limpeza do corpo e administração de vitamina C aos seus pacientes.

IRONIA DO DESTINO

Em 1534, Nostradamus casou-se com Henriette d’Encausse, de Montpellier, cidade do sul da França, e teve dois filhos com ela. A praga atingiu posteriormente Agen, local onde vivia com sua família. Ocupado demais com a cura da população, Nostradamus não conseguiu salvar a mulher e os dois filhos. Este acontecimento o fez questionar as suas capacidades enquanto médico e, desapontado, viajou pela Europa sem destino, provavelmente através da Itália e outras partes da França, durante seis anos. Foi nessa altura que Nostradamus se deu conta de seus poderes proféticos, pelos quais é mundialmente conhecido.

Assista ao extraordinário documentário abaixo e percebe que os sentimentos humanos, por mais civilizados que sejam, serão sempre primitivos, egoístas, individuais e cúpidos.

Não haverá salvação para a humanidade.

Clique aqui para assistir ao documentário A Peste Negra, com duração de 55 minutos.


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 19 de janeiro de 2021

SONINHA IMPREVISÍVEL (CONTO DE CÍCERO TAVARES, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

SONINHA IMPREVISÍVEL

Soninha era uma mulher imprevisível quando o assunto era guardar segredo de amigos. Sempre que saia às festas com a turma ficava na moita, só de mutuca, atenta a um escorregão de um colega: falar mal de outro ausente para depois revelar a este colega que aquele havia falado mal dele, quando se reunia nos bate-papos. Ela mentalizava tudo com riqueza de detalhes para depois detonar em ocasiões inapropriadas. Tinha o prazer mórbido de ver o circo pegar fogo só para se lambuzar de rir da situação constrangedora!

Soninha adorava apimentar as fofocas dos outros, mas quando o assunto era consigo, ela se esquivava, fechava-se em si de tal forma que ninguém ouvia uma palavra a seu respeito do passado, do presente ou do futuro. Esse comportamento dela era característico de sua personalidade.

Muitas vezes em mesa de bar ou em festa cerimonial: batizado, casamento, aniversários, ela se sentava à mesa com os colegas de profissão e começava a instigar um e outro para falar mal de terceiros só pelo prazer de ouvir um detonando o segredo do outro pelas costas, para depois confrontá-los na cara quando junto estivessem para provocar atritos e bate-bocas.

Depois de tomar umas e outras os colegas iam abrindo o bico e começavam a baixar o cacete nos outros ausentes à festa: “Fulano é chato, não vale o que o gato enterra”. “Sicrano não gosta de fulano porque ele é intragável, insuportável, alma sebosa.” “Maria de Jesus é casada com José, mas dá o priquito ao patrão que lhe dar de tudo do bom e do melhor.” “O pai e a mãe de Antônio e Zefa só querem ser as pregas de Odete, mas ele é veado e ela é sapatona e ninguém da família sabe por que eles abafam “o segredo.”

Depois de tomar dois copos de cerveja e uma caipirosca, Soninha escancarava os segredos e confissões cabeludas ditas a ela pelos colegas de forma confidencial. Ela tinha o prazer mórbido de revelá-los na cara dos colegas, dando altas gargalhadas sem se importar com o constrangimento dos envolvidos, e depois saía de fininho, assistindo a confusão à distância se rindo de se mijar.

Certa ocasião Soninha estava numa festa de casamento com vários colegas e, lá para tantas, ela sentou-se na ponta da mesa com vários colegas que conheciam o noivo, e, às costas dele, tinham-no detonado em outras ocasiões sem a noiva saber. Lá para as tantas, depois de ter tomado dois copos de cerveja e duas caipiroscas de caju e limão, sua bebida preferida, juntou-se a todos que estavam em redor da mesa e mandou chamar a noiva, que era sua amiga. Quando a noiva chegou, Soninha a mandou sentar-se para dar os parabéns pelo casamento e depois abriu o bico e começou a contar os podres do agora marido, revelados pelos colegas ali presentes.

A confissão foi tamanha que a recém-casada começou a chorar, mandou chamar o marido, perguntou se tudo aquilo era verdade sobre a história da viadagem dele. Foi quando o agora marido procurou saber quem revelou seus segredos de baitolagem para a noiva e quis tirar satisfação com quem os revelou. Como não apareceu quem espalhou os boatos que a mulher havia sabido, o marido entrou em fúria, começou a quebrar as mesas, cadeiras e o que lhe tivesse pela frente. Dez minutos depois de iniciado o quebra-quebra, não havia ninguém na festa, e até a recém-casada havia saído correndo segurando o vestido para não tropeçar nele e cair.

Enquanto o buruçu comia no centro dentro e fora da casa, com o recém-casado quebrando tudo, procurando tirar satisfação e saber quem espalhou o boato da sua vida pregressa, Soninha saiu à francesa dando altas gargalhadas sem ninguém saber que tudo havia começado com ela que espalhou os podres do agora marido da amiga para todo mundo saber.

Soninha não tinha jeito. Sempre aprontava as suas e jogava os colegas na fogueira da intriga.


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 12 de janeiro de 2021

PREVISÃO DA METEOROLOGIA: TEMPO SECO, MAS CHOVE CHATO (CRÔNICA DE CÍCERO TAVARES, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

 

PREVISÃO DA METEOROLOGIA: TEMPO SECO, MAS CHOVE CHATO

Recebi no meu e-mail esse texto para lá de engraçado, cujo título é o mesmo título desta minha coluna de hoje.

É da autoria do psiquiatra doido de jogar pedra, Emanoel Bione, petista rivotril, fundador do hebdomadário O Papa-Figo, office boy a seu serviço, cachacista, co-fundador do bloco carnavalesco “Nóis Sofre, Mas Nóis Goza”, biógrafo do Amigo da Onça, adorador e devoto desvairado do homem mais honesto deste país, para o qual está escrevendo a biografia que prova de A mais Z sê-lo a mais viva alma honesta deste País, ao qual dedicou a vida…

* * *

“O genial Tom Jobim tinha uma teoria sobre o chato bem própria. Ele dizia que o chato adora contato de pupila. Por isso ele, que tinha uma mesa cativa nos fundos do restaurante Plataforma, no Rio, sempre usava óculos escuros, fosse de dia ou de noite. Contava que certa feita, no avião, ele ostentava seus óculos escuros e um jornal, que lia do princípio até o fim da viagem. Mas sentiu vontade de ir no banheiro. Soltou o jornal e, ao voltar, o cara sentado a seu lado perguntou: “Estou lhe reconhecendo: você não é aquele cantor Antônio Carlos & Jocafi? Ele, em cima da bucha: “Não, meu senhor. Eu sou o Tom & Dito.”

Agora vamos aos chatos mais comuns:

Chato 1

1) Chato come-come – O cara que garante que não há mulher que, depois de 10 minutos de papo, ele não consiga comer. Até chegar em casa e encontrar a esposa com um urso escondido no guarda-roupa. Conta-se que num dos festivais de humor do Piauí, um conhecido cartunista pernambucano veio com esse papo de pegar a mulher na primeira cantada.

O chargista Adão Iturrusgarai, muito gozador, o desafiou, depois de arriar as calças e mostrar a bunda: “Me come, fulano!” Para riso geral.

Chato 2

2) Chato sabe-tudo – É a pessoa que vai de piadista a médico, depois a físico atômico, especialista em assuntos criminais ou em literatura. Quando alguém da mesa explica algum assunto, ele sempre expressa um ponto de vista exatamente contrário a fim de desqualificar o falante. E diz que apenas está fazendo uma “crítica construtiva”.

Chato 3

3) Chato centopeia – Parece contar com mais de 100 pares de pernas para correr atrás de alguém por ruas, shoppings, aeroportos, e até no exterior, a fim de aborrecê-lo até o limite da insanidade com suas asneiras.

Chato 4

4) Chato amigável – Gente que, no segundo minuto, está te chamando pelo apelido. No segundo encontro usa diminutivos para se referir a você, e no terceiro se acha seu irmão. Lembra aquele cara que fala de teus defeitos como se fosse um elogio, te deixando com um sorriso amarelo, por não conseguir se defender. Eu conheci um assim. Certa vez na minha repartição chegou um senhor com uma deformação na coluna, que o pessoal chama de corcunda.

Esse chato já o conhecia en passant. Então ele desferiu seu golpe mortal: botou a mão no ombro do rapaz e mostrou para os presentes: “Estão vendo esse amigo aqui? Ele tem essa radiola nas costas, mas é um cara feliz. É ou não é, amigo?”

O rapaz balançou a cabeça em sinal de positivo e saiu em direção ao elevador, com um sorriso amarelo nos lábios.


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 05 de janeiro de 2021

MATAR OU MORRER AO MEIO-DIA - 1952 (CRÔNICA DE CÍCERO TAVARES, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

MATAR OU MORRER “AO MEIO-DIA” (1952)

Cartaz de Matar ou Morrer/High Noon (1952)

Na pacata cidade de Hadleyville, no Novo México, quando o xerife Will Kane, interpretado magistralmente pelo ator Gary Cooper, está prestes a se casar com a protestante, a belíssima Grace Kelly, recebe a notícia de que Frank Miller, interpretado pelo ator Ian MacDonald) – o psicopata que Kane havia prendido anos atrás – foi solto da prisão e estava preste a chegar no trem do meio-dia à cidade para a desforra.

Enquanto os três mais odiosos cúmplices de Miller esperam na estação, o xerife tenta conseguir ajuda. Os habitantes da cidade se recusam a arriscar suas vidas por medo de vingança. Vários relógios revelam que o meio-dia está se aproximando. “Matar ou Morrer” se passa em tempo real, com a hora fatal se aproximando enquanto a música-tema, a balada “Do Not Forsake Me, Oh My Darling”, insiste em frisar os acontecimentos. Will Kane é deixado praticamente sozinho contra quatro vilões.

O assassino solto deve chegar a bordo do trem do meio-dia. Frente aos sentimentos conflitantes da população, ao desamparo por parte de seus antigos colaboradores e, especialmente, às súplicas de sua esposa, o xerife enfrenta um dilema praticamente sem solução.

Esse é o pano de fundo que Fred Zinnemann utiliza para desenhar um painel do fim anunciado da época das conquistas. Os personagens são protagonistas inconscientes de seu próprio papel. Will Kane representa o desbravador, o precursor, o próprio espírito da colonização. Não por acaso ele está velho e prestes a se aposentar. Seu adversário, Frank Miller, não é um dos tradicionais vilões do velho oeste, cujo único fim era a morte, em combate ou na forca. Ele foi preso, julgado, sentenciado a passar a vida na cadeia, mas foi libertado.

Não se sabe por que ele foi solto, nem o filme se presta a dar um motivo concreto. Só se sabe que, em algum lugar longe dali, uma espécie diferente de justiça se fez, e essa justiça colocou em liberdade um homem cuja primeira atitude é juntar-se aos seus capangas e buscar vingança. É nos personagens secundários, habitantes da cidade, entretanto, que se encontra a parte mais interessante da metáfora elaborada aqui.

Observando com atenção, percebe-se que neles a coragem foi substituída por precaução e o espírito aventureiro deu lugar ao desejo de estabilidade. Por mais que se envergonhem disso, os homens do povoado não reúnem em si a força para ajudar o xerife, entregando-o ao que todos consideram sua morte certa – ou seu suicídio, como descrevem alguns, o que seria uma forma de eximir-se da culpa por manter os braços cruzados. Um dos moradores chega a dizer: “Nós pagamos um bom salário ao xerife e seu ajudante. Eles que resolvam”. A função do novo cidadão urbano seria, portanto, a de pagar seus impostos e esperar que os problemas desapareçam. Nada mais de iniciativa, nada de participação direta. Eles que resolvam.

A ganância também aparece aqui modificada pela nova ordem. Não são mais terras ou gado que interessam, os desejos da população da cidade são mais, digamos, atuais. O hoteleiro diz não gostar do xerife, pois antes da chegada da lei e da ordem havia mais movimento em seu hotel. Eis uma boa crítica ao capitalismo selvagem, ao qual não importa que todos se matem, contanto que isso traga lucros. Já o assistente do xerife recusa-se a ajudá-lo por não ter sido indicado para substituí-lo, um novo xerife chegaria à cidade no dia seguinte.

Nesse caso a cobiça é pelo cargo, e aqui, melhor do que em qualquer outro ponto, percebe-se que os tempos não são mais de força e coragem, mas de política e barganha. Eis que, como resultado de tudo isso, Will Kane é abandonado. Para que não se diga que os aspectos artísticos da obra não foram citados, vale lembrar que tanto a trilha sonora quanto a música tema cabem perfeitamente no filme, colaborando bastante para criar a atmosfera de conflito interno do protagonista.

Gary Cooper oferece uma atuação na medida certa, sem exageros, mas que passa ao espectador a angústia de encontrar-se na situação em que se encontra. Há ainda algo de revigorante no papel da mulher em Matar ou Morrer. Também aqui se poderia dizer que o filme é precursor, mas seria difícil fazê-lo sem explicitar demasiadamente a conclusão da história. O mais importante é que a cena final representa o ocaso de uma era.

É verdade que a colonização não termina com o desfecho do personagem de Gary Cooper. Seu fim, porém, havia sido anunciado. O tempo de coragem, da marcha ao desconhecido, da vida e da morte pela força e pelas armas estava agonizando. A aventura do velho oeste chegava ao fim.

Não é a toa que Matar ou Morrer é considerado o segundo melhor western de todos os tempos pelo American Film Institute. Um filme inteligente, angustiante e que merece ser assistido por várias vezes. É simplesmente fantástico!

Esse foi um filme muito polêmico quando lançado nos States, principalmente por motivos políticos. O roteirista foi acusado pelos artistas e esquerdistas de ter incluído no roteiro passagens anti-democráticos, anti-americanos. Inclusive esse filme foi muito criticado por ninguém nada menos que o famoso cowboy John Wayne, que afirmava que o filme era anti-americano e não era um filme “western” e sim um ataque à democracia estadunidense.

Causou tanta polêmica que foi até citado pelo presidente Ronald Reagan durante um dos seus pronunciamentos transmitidos pela TV. Mas apesar de toda controvérsia o filme foi um grande sucesso de crítica e de público, ganhador de quatro oscars.

O filme é considerado um clássico do cinema, pois inova na abordagem do conflito em um plano mais psicológico e pela carga de suspense nele contido.

A fotografia é primorosa, de uma qualidade surpreendente, em glorioso preto e branco, ganhadora do prêmio Oscar de melhor fotografia do ano.

O elenco é surpreendente. O papel principal foi antes oferecido aos atores Marlon Brando e Montgomery Clift que recusaram participar do filme por vários motivos, sendo o principal dele o recebimento de uma quantia muito irrisória para atuarem em papéis muito importantes, pois a quantia posta à disposição da produção foram meros setecentos mil dólares, uma quantia irrisória para um filme com grande elenco, mesmo para os tempos antigos, (1952).

Há de se notar que durante todo o filme, aparecem diversos relógios, todos marcando os minutos antecedentes ao meio dia. O filme é todo feito no horário real e essas cenas com os relógios têm grande impacto visual e bastante suspense, pois cada minuto antes do meio dia é de muita angústia para o personagem principal, o xerife Cooper, pois todos os habitantes da cidade negam-se covardemente a ajudá-lo a combater com os bandidos vingadores, que vão chegar no trem das doze horas em ponto, com a intenção de matá-lo. Cada relógio em si se torna um dos personagens como testemunhas coadjuvantes do filme em questão.

Após o duelo final, o xerife é elogiado pelos moradores da cidade que pedem para ele permanecer na cidade como defensor da lei. Nessa hora, o xerife faz uma cara de nojo e joga ao chão a estrela de xerife, num gesto de desprezo pela covardia dos habitantes que se recusaram a ajudá-lo a enfrentar os bandidos.

Esta cena, na época do lançamento do filme, foi muito criticada pelo ator John Wayne, que achou uma ofensa aos defensores da lei, que um xerife jogasse ao chão uma estrela que representava uma autoridade e ele achava também que com a cena ele estava jogando ao chão a estrela americana da democracia. Tudo picuinha política, isso porque o roteirista (Carl Foreman) tinha sido em prisca época membro do partido comunista americano. O macarthismo estava presente em toda esquina estadunidense. Era a época da caça às bruxas.

Nesse caso, ninguém contestou o gesto do Xerife, o que comprova que a política deturpa tudo e John Wayne sempre foi um “cowboy” político.

O resultado final do filme é primoroso, um grande diretor Fred Zinemann, um grande ator Gary Cooper, que já tinha sido previamente ganhador de um Oscar, a atriz novata Grace Kelly e um elenco de apoio com celebridades, todas muito atuantes e muito experientes na atuação de filmes de faroeste, tais como: Thomas Mitchell, lloyd Bridges, Katy Jurado e Lee Van Cleef, é sem dúvida um dos melhores filme western de todos os tempos.

Um grande clássico, tão grande como “SHANE” ou “Rastros de Ódio,” que são as melhores referências no padrão de qualidade do western americano.


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 22 de dezembro de 2020

BALAKA BAR (CONTO DE CÍCERO TAVARES, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

BALAKA BAR

Beco da Fome, bairro da Boa Vista, Recife

Nos idos de dois mil, um maluco beleza de nome Eduardo, conhecido popularmente no meio da baixa roda por Dudu, teve a “brilhante” ideia de abrir um bar no Beco da Fome, Centro do Recife, para agregar a escória da sociedade que buscava as noites para extravasar seus demônios boiolais.

O Balaka Bar ficava no único pedaço mau iluminado do beco. No entorno viam-se entulhos e sacos de lixos suspeitos jogados nos corredores pelos moradores dos apartamentos. Os frequentadores do bar pouco se lixavam por aquela desordem social. O que queriam mesmo era se divertirem, fumarem seus baseados sossegados, contemplarem a noite e viajarem nos seus imaginários esputiniques em busca dos raios cósmicos de Carl Sagan.

Quando a noite chegava com seus mistérios Dudu já se encontrava no bar esperando os frequentadores neuróticos habitués. Aos poucos iam chegando a nata da escumalha: as putas do pedaço com suas maquiagens exageradas de pó de arroz, os veados, as sapatonas, os enrustidos, os dissimulados e todos os baitolas que frequentavam as escolas e universidades pajubás.

Por ter um porte atlético “marombado”, com dorso e bíceps bem trabalhados, Dudu era cobiçado pelas viúvas e madames solitárias do pedaço, cujos maridos saiam à noite à cata de parceiros ou parceiras para satisfazerem seus instintos sexuais selvagens, que tinham acanho em confessar às esposas ou amantes.

Nos seis anos de vivência com o bar, Dudu enfrentou um assédio moral infernal, ao ponto de ver muitos veados e barangas se digladiarem dentro do bar disputando seus dotes “marombásticos.” A cada final de semana os buruçus tomavam proporções gigantescas ao ponto de Dudu ficar temeroso com a fúria sexual das tribufus e dos baitolas, que queriam porque queriam que ele se lhes tornasse amante.

Temeroso e já pensando em fechar o Balaka Bar, determinado sábado Dudu amanheceu com o orifício virado para lua, e, assim que abriu o bar encontrou, à direita do balcão interno, cem paus, um dinheirão para época, e, à noite, em meio a uma tempestade de assédio de veados e barangas, quando fechou o bar à uma hora da madrugada, encontrou ao lado do vazo sanitário um pacote de dinheiro “sacado” do Banco do Brasil, o equivalente hoje a mais de sessenta mil paus enrolados em várias ligas, dentro de uma sacola colorida da MESBLA S/A, toda melada de bosta.

Certamente o bêbado foi cagar e deixou cair das calças quando a baixou para arriar o “barro.” Passado mais de uma semana com o dinheiro debaixo do balcão esperando que alguém reivindicasse e nada, Dudu pegou a bufunfa, reformou um apartamento pequeno que havia comprado na Boa Vista, montou uma lan house no lugar do bar e nunca mais quis saber do balaka.

– Meu irmão, administrar bar onde só tem maluco é negócio de doido – repete Dudu, com a experiência de um caixeiro-viajante de Taperoá.


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 15 de dezembro de 2020

TODOS ESTÃO CONVIDADOS PARA A INAUGURAÇÃO DO CABARETH (CRÔNICA DE CÍCERO TAVARES, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

 

TODOS ESTÃO CONVIDADOS PARA A INAUGURAÇÃO DO CABARETH

Este texto foi escrito dois meses atrás por mim e pelo estimado amigo e profundo conhecedor de filmes de faroeste, D.Matt, para ser incluído num projeto que estou elaborando sobre O Cabareth de Maria Bago Mole.

Tivemos a ideia de fazer um texto citando como homenageados alguns colunistas desta Gazeta Escrota, O Cabaré do Berto, alcunha alcunhada por Jesus de Ritinha de Miúdo. Colunistas esses que são alvo da nossa admiração e também como leitores assíduos dos textos que escrevo para este Jornal. Assim sendo, criamos algumas situações, geralmente cômicas e que seriam inseridas no texto final sobre o Cabareth de Maria Bago Mole, ainda em estudo.

Pedimos desculpas, por não termos pedido permissão para citá-los, mas como poderão ver, todos são alvos da nossa admiração e amizade. E que fique registrado aqui que todos que fazem parte da confraria da Besta estão homenageados, desde colunistas a comentaristas. Todos. Os que já fazem assentos e os que estão por vir.

Vamos começar do início do começo como diria a sábia Dilma Pinguelão, a mulher que até na hora de gozar tem dificuldade de distinguir entre o clímax, as preliminares, a histeria e o gozo. Entramos e fomos advertidos, cautela: vão com calma porque todos “eles” estão por aqui, são todos nossos amigos e colegas.

Certo, certo, prometemos não inventar nada, vamos somente narrar o que acontece. Fiquem tranquilos.

Demos uma rasante pelo ambiente e fomos direto ao Bar, onde encontramos o Altamir, mestre não só de cinema, mas também grande conhecedor de bebidas em geral, que nos serviu de imediato uma aguardente que tinha dentro da garrafa um grande escorpião vermelho. Pensamos em recusar, mas o mestre nos disse com firmeza: Bebam e me digam o que sentiram daqui a uma hora do umbigo para baixo!

Ouvimos risadas de algumas meninas rindo e fazendo poses para o poeta Jesus Ritinha de Miúdo, que declamava seus versos e prosa e com aquela aparência de galã de novela, deixando as meninas todas muito ouriçadas.

Adiante encontramos sentado na melhor poltrona da casa o coronel José Ramos, o qual, como amigo do coronel Bitônio Coelho, era merecedor de alguns privilégios. Estava ele cercado das meninas mais sensuais e mais assanhadas, que riam muito, faziam largos gestos esfuziantes e algumas na sua assanhadença, levantavam a saia até o pescoço, deixando à mostra o seu cavanhaque de baixo ventre, bem aparadinho, uma graça.

Dizemos cavanhaque de baixo ventre, porque a Divina Diva Dercy Gonçalves o definiu assim em uma entrevista e como todos sabem o testemunho da sábia Dercy é como lei.

As risadas provinham do bom papo do coronel José Ramos que contava para elas as suas aventuras no sertão do Ceará quando ainda miúdo, e caçava sabiás e rolinhas, as quais eram assadas no espeto e que complementavam o seu dicumê na época, que dia sim e dia não, era sempre feijão com feijão e nos domingos, feriados e dia santo também.

Hoje em dia o Coronel José Ramos é uma grande personalidade no Estado do Maranhão e escreve magníficos artigos de pura poesia em prosa, para um jornal de Recife, contando suas aventuras do passado, antes de vir morar no Estado sarneyzado e estuprado do Maranhão.

Lá no fundo, num cantinho quase escondido vimos uma figura que nos pareceu bastante familiar.

Ficamos em dúvida se era mesmo ele, parecia com ele, mas não podemos confirmar. Essa pessoa estava admirando a imagem de um santo pretinho que identificamos como São Benedito. Ele falava baixinho, mas conseguimos ouvir algumas palavras que dizia…, “Obrigado meu santo.” “Mesmo pretinho, você me deu muita sorte!” “A história que escrevi sobre a sua prisão é um sucesso até hoje!” “Não contei para ninguém o que vossa santidade estava fazendo no Bordel de Palmares, só podia ser coisa santa!” Para quem duvida eu digo como aquele monarca inglês “honi soit qui mal y pense.”

Saímos de mansinho, sem nos fazer notar, pois quem somos nós para enfrentarmos tamanha personalidade. Assuero ficou com a mesma opinião, depois que assumiu a contabilidade do cabaré!

Vislumbrei em uma sala que servia de escritório, a figura do nosso Brito, que prometia para Maria que um dia iria escrever sua biografia. Não dissemos nada, mas pensamos: coitada da Maria, ele também nos prometeu a biografia da Carlota Joaquina e até agora, neris de pitibiriba. Mas eu sei que ele vai escrever, pois o professor é muito ocupado e quando escreve qualquer texto, arrasa como sempre.

No corredor sempre à esquerda demos de cara com o Goiano tomando seu “dalmore”, e tentando convencer a uma das “meninas mais velha” a “Zeferina Topa Tudo” já pra lá de cinquentona, que nunca recusou serviço e topava qualquer bagulho, sem cerimônia.

Mas continuando, o Goiano dizia para ela que esse Cabareth existia graças ao Lula que sempre defendeu o direito de todos de praticar a putaria no Brasil e que era muito instruído nesse assunto, mesmo tendo sido gerado por uma mulher que nasceu analfabeta. Caso raríssimo no nordeste.

Junto ao aparelho de som, advinha quem estava lá? Encontramos o nosso estimado Peninha disfarçado, com uma peruca igual a de Beethoven. Sacudia as madeixas capilares e fingia-se de surdo quando o pessoal reclamava do som muito alto. Isto porque ainda era muito cedo, perto da meia noite, pois quando o relógio passava das três horas de madrugada, para limpar o ambiente e esvaziar o Cabareth, ele começava tocando em alto som, a Tocata e Fuga em Ré Maior do deus das músicas J.S.Bach. O pessoal se assustava e muitos saiam de cuecas, com as calças enroladas no pescoço, pois estava chegando a hora da verdade.

De repente, dava para ouvir muitas risadas vindas dos aposentos de Maria, muito curioso metemos o bedelho e chegamos a tempo de ouvir o Coronel Bitonio Coelho contar a piada do português que foi sem saber, a um bacanal de gays. A certa altura o portuga reclama em altos brados: “Pára tudo! Pára tudo!” Acendam as luzes. Vamos botar ordem nesta bacanal, assim não dá, já me passaram a mão na bunda três vezes e eu ainda não comi ninguém. Estava com toda razão.

Tinha alguns babacas que estavam fazendo zoeira, dizendo em altos brados que tinham bebido cachaça com escorpião e que estavam sentindo fortes desejos sexuais às avessas e que estavam pretendendo dar mil trepadas naquela noite.

Chegamos para o Altamir e perguntamos se aquela bebida sempre provocava tal estardalhaço?

– Besteira e babaquice, ele disse. Com um exemplar do seu livro “NO ESCURINHO DO CINEMA” na mão, folheando e cheirando. Havia saído do forno!

O Altamir olhou sério para nós e perguntou: Vocês estão sentindo algo diferente?

Respondemos que não estávamos sentindo nada diferente.

Ele então nos disse: Tudo é o resultado da mente ilusória, não tem nada disso. Esses caras idiotas se deixam iludir com qualquer coisa. Vou contar para vocês um segredo.

O escorpião é de plástico.

Depois dessa resolvemos nos mandar e ao sair vimos um caminhão meio banguela carregado de cocos verdes e pensamos: será que é o Sancho Pança que veio e vai entrar também?

Vamos esperar, quem sabe?

Para nossa sorte ele desce do caminhão e se mostra todo alegórico com uma peruca pierrot na cabeça, tomando um licor “san basile”.

É hora da festa!


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 08 de dezembro de 2020

CUTRUVIA NO CABARÉ DE MARIA BAGO MOLE (CONTO DE CÍCERO TAVARES, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

CUTRUVIA NO CABARÉ DE MARIA BAGO MOLE

Após a fama do cabaré se espalhar por toda Região da Zona da Mata Sul e Norte de Carpina (PE) e circunvizinhança, quase toda semana chegava uma “cutruvia” no cabaré, média de dezesseis a vinte anos, vinda das redondezas. E Maria Bago Mole acolhia a todas, nem que fosse por uma semana ou duas até encontrar um lavrador que se engraçasse dela e juntos fossem viver. Não era de sua índole abandonar quem estava necessitada.

Certo dia chegou ao Cabaré Carminha de Zefa, uma morena trigueira, pernas grossas, nariz afilado, cabelos pretos e longos, filha de índia com preto. A famosa cafetina logo viu “futuro” na donzela e a escondeu antes que um Zé Qualquer passasse os olhos naquele monumento e ousasse comê-la, sem a madame mostrá-la a um coronel endinheirado que não dava mais no couro, nem que fizesse uso dos chás de ervas milagrosas da época oferecidas nas casas pelos ambulantes, como um tadalafila dos tempos modernos.

(Há que se registrar aqui uma curiosidade: todas as meninas do cabaré antipatizaram com a chegada da intrusa por ser muito bonita e nova e logo a apelidaram de “cutruvia”, mesmo sem saber o significado da palavra. Teve de haver a intervenção da cafetina para que a harmonia reinasse na casa e ninguém se visse como rival: o sucesso não tolera querelas internas. A união é que faz a força, produz riqueza e todas ganham – dizia ela às meninas.)

O pai de Carminha de Zefa, Seu Zequinha, era um homem tosco, rude, e, por não aceitar que a filha fosse “deflorada” por um Zé Qualquer a expulsou de casa contra a vontade da mãe, Dona Zefinha, que, além de confiar na filha em não ter cedido às tentações do pretendente, jurava no altar que a filha era cabaço ainda.

À noite chegou ao cabaré o coronel Amâncio, um dos coronéis mais ricos e influentes da Zona da Mata Sul de Carpina, depois de Seu Bitônio Coelho, bem-querer de Maria Bago Mole. Entrou pela porta dos fundos por sugestão da cafetina e ficou escondido no quarto especial que as meninas do cabaré haviam preparado a mando da “patroa”.

Antes que o coronel Bitônio Coelho chegasse ao cabaré como havia prometido, Maria Bago Mole preparou a morena para ficar a noite inteira com o coronel Amâncio, mas antes lhe passou algumas instruções de como lidar com um homem já oitentão: tire-lhe as roupas devagar, peça por peça, deite-o na cama, passe-lhe óleo de peroba nos trololós, amolegue-lhe bem os cachos, cheire-os, beije-os, rodopie-os e, caso não obtenha êxito, tire sua roupa toda na frente dele, dance, se esfregue nele para ele se sentir no paraíso e, depois, se nada acontecer, diga-lhe que quer morar com ele na fazenda para transformar as noitadas dele numa festa de harmonia e prazer.

Golpe de misericórdia!

O coronel Amâncio ficou tão lisonjeado com o pedido de casamento da morena que, mal o dia raiou, foi logo se trocando, mandou a cafetina preparar a carruagem que ele havia deixado com o cavalo, pagou-lhe todas as despesas do cabaré e ainda compensou a cafetina por ter-lhe arranjado aquele “presente” dos deuses.

Depois que o coronal Amâncio deixou o cabaré, Seu Bitônio Coelho se despediu de Maria Mago Mole e se mandou também, ela reuniu as “meninas” no salão, verificou que não havia mais ninguém nos quartos, e discursou, olhando nos olhos de cada uma:

– Vocês têm de aprender a engolir cobras e sapos. Vocês têm de ver o que é melhor para vocês. Onde existe possibilidade de lucrar não pode haver rivalidade, mas troca de experiência, aprendizado, porque é dessa forma que ganhamos todas. E deu a cada menina uns réis que o coronel Amâncio havia lhe entregue pelo presente lhe ofertado.

Naquele dia a festa no cabaré foi entre as meninas e a cafetina.


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 01 de dezembro de 2020

O ENCONTRO DE MARIA BAGO MOLE COM UM CASAL DE EX-CANGACEIROS DO BANDO DE LAMPIÃO (CONTO DE CÍCERO TAVARES, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

O ENCONTRO DE MARIA BAGO MOLE COM UM CASAL DE EX-CANGACEIROS DO BANDO DE LAMPIÃO

Quando a volante do tenente João Bezerra da Silva, por ordem do então presidente Getúlio Dornelles Vargas, pôs fim ao cangaceiro Lampião, Maria Bonita e outros malfeitores na Grota de Angicos, (SE), no dia 28 de julho de 1938, muitos cangaceiros que faziam parte dos subgrupos se dispersaram, fugiram caatinga adentro e nunca mais se ouviu falar deles.

Nessa época o Cabaré de Maria Bago Mole estava de vento em popa, conhecido por toda Zona da Mata Sul e Norte de Pernambuco, graças à propaganda boca a boca feita por todos que frequentavam o distintivo. Comentava-se que a cafetina possuía uma presença de espírito incrível que magnetizava todos que chegavam àquele açougue de carne mijada.

Todo dia era dia de frege no Cabaré, ideia de Maria Bago Mole, quando percebeu que havia muitos homens a procura de fêmeas, vindo de todos os rincões do Nordeste para trabalharem na empresa alemã Great Western do Brasil, responsável pela expansão da Rede Ferroviária do Nordeste, sobretudo a estação do Brum, que ligava o Recife à cidade de Limoeiro e adjacências.

Era um dia qualquer, e o sol já vinha desvirginando a madrugada, quando apareceu um casal de desconhecido vindo de lugar incerto e não sabido querendo falar com a dona do estabelecimento que, àquela hora estava ocupada com as meninas organizando a desordem deixada pela festividade do dia anterior.

Nesse momento o casal de desconhecido, fedendo que só gambá, se dirige à Maria Bago Mole e pergunta-lhe se já tinha ouvido falar nos cangaceiros de Lampião que tocavam o terror por quase todo Nordeste: Bahia, Sergipe, Alagoa, Pernambuco e que tiveram de abandonar o bando porque o chefe havia tombado morto numa emboscada e não havia mais sentido seguir naquela vida de perseguição, fome e morte.

A cafetina os ouviu atentamente. Atendeu-os dando alimentos e dormida por um dia e lhes pediu que no outro dia arrancassem do lugar a procura de outro espaço para se estabelecer e morar antes de serem descobertos pelos homens da volante que àquela altura poderiam estar os caçando como gado para os abaterem, e não gostaria que a carnificina ocorresse no seu cabaré.

Firme em suas convicções, prudência e experiência de cabaré, disse ao casal:

– Olhem, meus queridos, não lhes conheço. Também não desejo saber de onde vieram nem para onde vão, mas de uma coisa tenham certeza: não é bom ficarem aqui. Minha casa não é de hospedagem; é de diversão. A única ajuda que posso lhe oferecer é uma noite de descanso e alimentos para seguir viagem. Há espaço para todo mundo nesse mundão de Deus.

No outro dia de madrugada, como havia prometido, o casal, que se dizia ex cangaceiros do bando de Lampião, fora embora como havia prometido à cafetina, agradecendo-lhe a hospedagem e os mantimentos doados.

Dias depois a cafetina tomou conhecimento, por meio de um comissário de polícia da região que frequentava o cabaré, que uma volante, vinda de Sergipe, houvera encurralado um casal de ex cangaceiros e morto dentro de uma igreja na circunvizinhança. Por sorte, nenhum fiel ficou ferido.

Maria Bago Mole havia previsto esse desfecho e repassado para as meninas.


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 24 de novembro de 2020

CADA AMOR É ÚNICO (CRÔNICA DE CÍCERO TAVARES, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

CADA AMOR É ÚNICO

Para Dr.º José Paulo Cavalcanti Filho, que escreveu “Casamento é para Sempre,” crônica antológica publicada no livro SOMENTE A VERDADE, Editora Record/2016.

Ambos haviam saído da adolescência quando se conheceram e começaram a namorar. Num piscar de olhos o amor disse sim e tudo começou como num conto de fadas à Marie-Catherine d’Aulnoy, no final do século XVII.

Não havia tempo ruim para os dois enamorados. Qualquer incidente bizarro do cotidiano, por desimportante que fosse, era motivo para rirem e mostrarem ao mundo que estavam felizes. Coisas da juventude.

Depois de três meses de namoro um e outro resolveram noivar. À moda antiga, românticos, os dois passaram em frente a uma loja de venda de alianças e ele perguntou-lhe qual a que ela mais se identificava. E ela, feliz da vida, indicou uma da vitrine, simples. Ele a comprou e ambos ficaram noivos ali mesmo dentro da Loja Alianças sob o olhar emocionado da atendente.

Depois do noivado, começaram a organizar a vida. Compraram enxoval e demais utensílios domésticos de uso diário para uma casa de um casal que se pretende organizada.

Menos de um ano de noivado, estavam os dois pombinhos de frente para o Juiz dizendo sim à liberdade de escolha; e um mês depois, para a felicidade da família materna, estavam no altar da igreja, de frente para o pároco, prometendo estar com a amada na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, amando-a, respeitando-a e sendo-lhe fiel em todos os dias da vida, até que a morte os separasse…

Dois anos depois de casados, sem filhos, sem motivos, sem desentendimentos, ambos resolveram separar. Ela foi para um lado em busca não se sabe o quê e ele também. Depois, ela arrumou um novo companheiro e resolveu com ele ficar, sem se casar. Ele fez o mesmo; porém casou-se.

Vinte e cinco anos depois de se separarem, ambos se reencontraram. O amor e a admiração que um nutria pelo outro não mudou em anda. Ela com dois filhos, viúva; e ele com dois filhos, casado. O mesmo sorriso, a mesma admiração, o mesmo prazer da juventude de estarem juntos, coladinhos, emergiram nos corações de ambos, como a lua após o sol se pôr. Abraçaram-se, beijaram-se, choraram. Curiosamente ele com ela abraçado, como no passado, as lágrimas correndo dos olhos, perguntou-lhe:

– Amor (ainda posso lhe chamar assim?), se a gente se amava tanto. Gostava tanto a ponto de até hoje o amor continuar vivo, latente, latejante, por que a gente se separou?

E ela, fingindo não lhe ter ouvido nada porque estava feliz o abraçando, aplicou-lhe um beijo demorado e sussurrou-lhe no ouvido:

– Era porque nós dois éramos dois adolescentes irresponsáveis; mas hoje somos maduros e eu estou viúva e você casado!

Ela o beijou mais uma vez e se foi sem olhar para trás, como a dizer: não dou esperança a você para não destruir seu lar, e tocou em frente sem olhar para trás com o coração partido de emoção e as lágrimas caindo-lhe dos olhos.

Ele percebeu que ela estava chorando, embora não demonstrasse. E ele chorou também como a dizer: “Por que é que a vida tem de ser assim?”

Até hoje cada um segue seu Destino, mas o coração sofre o amor desfeito.


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 17 de novembro de 2020

ADELINO MOREIRA, O POETA DOS AMORES SUBURBANOS (CRÔNICA DE CÍCERO TAVARES, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

ADELINO MOREIRA, O POETA DOS AMORES SUBURBANOS

Quem vive de ilusão é urubu de curtume – Jessier Quirino.

Capa do LP Encontro com Adelino Moreira (1967)

Nascido em Gondomar, Portugal, em 28 de março de 1918, Adelino Moreira de Castro, nome artístico Adelino Moreira, veio morar no Brasil, Campo Grande, subúrbio do Rio de Janeiro, com apenas um ano de idade. Foi o maior compositor luso-brasileiro interpretado por Nelson Gonçalves. Entre suas obras-primas destacam-se Última Seresta (a primeira a ser gravada), A Volta do Boêmio, A Deusa do Asfalto (reinterpretada magistralmente por Xangai), Boêmia, Negue, Escultura, Flor do Meu Bairro, Fica Comigo Esta Noite, Devolvi (esta gravada por Núbia Lafayette), Ciclone (interpretada por Carlos Nobre), Cinderela, Beijo Roubado, Êxtase, Última Serenata, e tantas outras excelentes composições de amores suburbanos dramáticos gravadas principalmente por Nélson Gonçalves, seu intérprete maior.

Iniciou sua carreira musical a convite do compositor Carlos Alberto Ferreira Braga, o Braguinha, então diretor artístico da Continental, onde gravou, em 1944, os fados Saudades e Olhos d’alma, de Campos e Morais. Em 1945, começou a tocar violão. Nesse mesmo ano, gravou seu segundo disco com as primeiras composições: o samba Mulato Artilheiro e a marcha Nem Cachopa, Nem Comida!. Esta, uma parceria com Carlos Campos. Em 1946, gravou as canções A Minha Oração e Perdoa, de Moreno e Ferreira e as marchas Num Coração, duas Pátrias, de Renato Batista e O Expresso Continua, de sua autoria com Américo Morais. Em 1948, voltou a Portugal, gravando canções brasileiras. Lá, participou como cantor da revista Os Vareiros. Retornando ao Brasil, no início dos anos 1950, abandonou a carreira de cantor, intensificando sua atividade de compositor.

Em 1952, conheceu o cantor Nelson Gonçalves e iniciaram uma intensa parceria. Em geral Adelino compunha e Nelson gravava, mas em algumas músicas como o bolero Fica Comigo Esta Noite, os dois assinaram em dupla. A primeira canção gravada por Nelson foi Última Seresta (1952), seguida de inúmeras outras que passaram a dominar os discos do cantor – normalmente sambas-canções dramáticos – dos quais se destacam o clássico A Volta do Boêmio (que vendeu a astronômica cifra de um milhão de cópias), Meu Dilema, Meu Vício É Você, Doidivana, Flor do Meu Bairro, entre outras.

Durante uma década (1955-1965) Adelino Moreira foi uma máquina de sucessos, provando que era mais forte do que seus intérpretes. Quando se afastou de Nelson Gonçalves, em 1964, num período conturbado da biografia do cantor, Adelino começou a distribuir composições para outros intérpretes. Um dos maiores sucessos de 1959 foi o samba-canção Ciclone que fez para Carlos Nobre, um dos muitos imitadores de Nelson Gonçalves, com quem reataria a amizade dois anos depois. Adelino alegou, na época, que só deu a música para Carlos Nobre para que Nelson Gonçalves entendesse que não era insubstituível.

Foi uma amizade de ótimos resultados financeiros para Adelino Moreira. O sucesso de Argumento, Meu Desejo, Êxtase, Meu Vício é Você e, sobretudo, A Volta do Boêmio, renderam a Adelino Moreira, em 1960, o suficiente para comprar, à vista, um palacete por seis milhões de cruzeiros na Zona Norte carioca, andar de carro importado e deixar de lado os “bicos” (como aprendiz de teatrólogo, sem muito êxito, e radialista).

Sabia como ninguém a fórmula do sucesso e seus limites. Não aderia a modismos. Suas composições eram basicamente do samba-canção (e marchinhas carnavalescas). Em suas letras pintavam cenários suburbanos, habitados por manicures, mariposas (mulheres atraídas pelas luzes das casas noturnas), cinderela e uma fartura de desencontros amorosos.

Em 1962, num programa de TV, sendo entrevistado pelo cultuado e admirado compositor de Aquarela do Brasil, Ary Barroso, este se queixou a Adelino Moreira de não fazer mais sucesso e perguntou se ele poderia lhe explicar o motivo. Mesmo estando de ante de um mito da música popular brasileira, que morreria dali a dois anos, Adelino Moreira não se deixou por rogado, e fulminou naturalmente: “O senhor começou a compor músicas para meia dúzia de criaturas que o endeusam e colocam o senhor no lugar em que o senhor não se encontra. O senhor se esqueceu completamente daquela massa que o elegeu como o maior compositor brasileiro até dez anos atrás. Se o senhor volta a compor para essa massa popular, voltará a fazer o mesmo sucesso.”

O compositor Fernando César, de grandes sucessos no início dos anos 1960, especialistas em versões (fez, por exemplo, a de Marcianita para Sérgio Murilo), definiu com precisão a música de Adelino Moreira: “O Adelino escreve pra gente que toma traçado (coquetel de cachaça com vermute), frequenta botequins, vai ao enterro de todos os amigos, dá cabeçadas nas vitrinas, usa sapato preto com meia branca, diz ‘com o perdão da palavra’ quando fala em suínos, e ‘Deus te ajude’ quando alguém espirra, ou seja, escreve para a grande maioria.”

Adelino Moreira morreu em 2002, com 84 anos, de um infarto, um óbito que ganhou grande cobertura da imprensa. Àquela altura, sua obra tinha sido reavaliada e ele desfrutava o status de mestre da MPB. Artistas de nichos diferentes o regravaram. Maria Bethânia deu uma interpretação definitiva a Negue, trazendo-a de volta às paradas e ao estrelato merecido em 1983 (no álbum Álibi). Em 2001, Negue foi incluída no CD São Vicente di Longe, de Cesária Évora. A banda mineira Pato Fu gravou A Volta do Boêmio, em 1995, no CD Gol de Quem? Sem contar as interpretações feitas pelo grupo Camisa de Vênus, em 1991, Ney Matogrosso e o genial violonista Rafael Rabelo. Em 1980, Ângela Ro Ro fez uma releitura de Fica Comigo Esta Noite – música que foi faixa-título do CD da cantora Simone em 2000 – e, em 1998 as irmãs Alzira e Tete Espíndola reviveram Garota Solitária.

Adelino Moreira não era bem visto pela crítica high society da burguesia metida a bunda da bossa nova, tanto é que o produtor Valter Silva, conhecido como Pica Pau, recusava-se a apresentar as músicas dele no programa que tinha na Rádio Bandeirantes. Mas o grande compositor de ‘Deusa no Asfalto’ e ‘A Volta do Boêmio’ não perdeu a pouse e a classe e o fulminou nos versos do samba-canção ‘Seresta Moderna’ cantada por Nelson Gonçalves: ‘Um gaiato cantando sem voz/um samba sem graça/desafinado que só vendo/e as meninas de copo na mão/fingindo entender/mas na verdade, nada entendendo.’

Deusa do Asfalto, em excelente interpretação de Xangai

 

 

 


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 10 de novembro de 2020

PRETINHO – O GUERREIRO CACHORRO (CONTO DE CÍCERO TAVARES, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

PRETINHO – O GUERREIRO CACHORRO

Dr.ª Rosana Jambo e os guardiões do Bem Estar Animal

No dia 6 de outubro de 2020, no bairro de Bebedouro, em Maceió, um homem de maus instintos, identificado nas reportagens como sendo Maurício Luna da Silva, foi flagrado pelo Batalhão Ambiental e a Comissão de Bem Estar Animal da Ordem dos Advogados do Brasil, seccional Alagoas (OAB-AL, tentando matar a pauladas seu cachorro de estimação, após tê-lo covardemente atropelado na garagem de sua residência. Puro instinto psicopata.

As cenas da agressão são medievais. Nelas vê-se o animal indefeso sendo atacado a pauladas, inerte aos ataques desferidos, tampouco entendendo por que está sendo agredido. Apenas grita em tom de lamento cada paulada lhe desferida na cabeça pelo seu algoz, que fingia ser seu fiel amigo. A traição vem de onde menos se espera. O ser humano é uma desgraça!

Após as agressões e ter jogado o cachorro semimorto numa caçamba de construção civil cheia de metralhas, a Polícia Militar e o Batalhão Ambiental de Maceió são chamados ao local e prendem o desalmado em flagrante, levando-o à Delegacia e o delegado de plantão o mantém preso até que o Juiz da Vara Criminal, Dr.º Josemir Pereira de Souza lhe decreta a prisão preventiva por se tratar de um elemento que oferece risco à sociedade e aos animais.

Graças à Lei Federal n.º 14.064, denominada Lei Sansão, sancionada sem veto pelo Presidente da República em 29 de setembro de 2020, ‘que visa aumentar as penas de 2 (dois) e 5 (cinco) anos de prisão cominadas ao crime de maus tratos aos animais quando se trata de cão ou gato, com multas e proibição a guarda’, esse pária só não continua a responder pelos maus tratos ao Guerreiro Pretinho, trancafiado, porque um desembargador chinfrim do TJ-AL, tipinho oriundo do quinto constitucional, cagou em cima da decisão acertada do juiz do 1.º grau, que mantinha o desalmado preso e, liminarmente, concedeu-lhe habeas corpus para responder pelo crime de maus tratos em liberdade, contrariando o que diz a lei! Isso é o retrato do Brasil, país da impunidade.

Apesar das pauladas covardes desferidas pelo marginal com um pedaço de madeira, do estouro dos dois olhos, do afundamento craniano, o Guerreiro Pretinho sobreviveu aos maus tratos sob os cuidados da veterinária da clínica Dog Mania, e hoje brinca no quintal da casa de um Anjo da Guarda que o acolheu, dando tchau com o rabo à Dr.ª Rosana Jambo e equipe da Comissão de Bem Estar Animal da Ordem dos Advogados do Brasil, seccional Alagoas (OAB-AL, que o socorreram na hora certa.

Hoje, o Guerreiro Pretinho, com a gravata que recebeu dos Guardiões do Bem Estar Animal, vive latindo e balançando o rabo, como a dizer: estou vivo, graças a todos vocês que cuidaram de mim, estou enxergando a vida com os olhos do coração.


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 03 de novembro de 2020

O CORONEL BITONHO COELHO ANTES DE CONHECER MARIA BAGO MOLE (CRÔNICA DE CÍCERO TAVARES, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

O CORONEL BITÔNIO COELHO ANTES DE CONHECER MARIA BAGO MOLE

O coronel Bitônio Coelho, proprietário de várias fazendas na Zona da Mata Sul (PE), mas conhecido pelos capangas pela alcunha de Seu Bitonho, era um fazendeiro bruto, mais grosso do que cano de passar tolete. Era desses coronéis que arrancava a unha dos desafetos com alicate e a transformava em paleta de corda de violão.

Qualquer assassino de homem, mulher, matador de aluguel que chegassem à sua fazenda pedindo guarida, ele nunca dizia não, mas, feito o coronel Chico Heráclito, de saudosas memórias, mandava o caboclo montar logo no cavalo alazão bruto, ou em um boi brabo sem proteção e pegar cobra no mato com a mão e ter de trazer para ele ver! E viva! Era adepto de São Tomé.

Odiava ladrão! Quando pegava um traquinando nas fazendas, capturava, pendurava de cabeça para baixo no tronco de madeira à maneira Velho Oeste, arrancava-lhe as tripas e pulava corda com elas e o resto do corpo fazia igual ao que Bruno, Macarrão e Bola fizeram com o de Eliza Samudio: prensava no moinho de triturar capim! Essa era a lei do Seu Bitônio Coelho.

Certa vez chegou um mulatão em sua fazenda, trazido pelos capatazes. Assassino confesso da mulher que dizia ter matado por estar lhe botando chifres com um padeiro vizinho, que também dançou na ponta do seu facão.

Seu Bitonho mandou o pretão aguardar no saguão do casarão enquanto calçava as botas para espiar a fazenda e vistoriar o gado no pasto junto com os outros capatazes.

Quando se aproximou do caboclo este estava de cabeça baixa, macambúzio, chapéu de palha na mão e pálido de fome.

Vendo que o negão estava com a barriga cubana, o fazendeiro não perdeu tempo. Chamou uma das governantas da casa, mandou preparar um cuscuz com três pacotes de fubá, meio quilo de carne de charque para o visitante e mandou servi-lo com uma caçamba de leite de vaca tirado na hora. Não deu cinco minutos, o negão valentão engoliu tudo quase de um trago, tamanha era a fome!

Satisfeita a barriga, o fazendeiro chamou o caboclo na varanda da casa grande e, com um facão na mão e uma carabina nos quartos, perguntou-lhe o que fazia ali e o que queria dele.

O homem não teve demora nas suas pretensões, e falou:

– Se vosmicê permitir, eu queria ficá aqui por uns dias. É que matei minha mulé e o urso e estou fugindo do comissaro da puliça!

Seu Bitonho não negou a guarida ao caboclo, mas mandou que ele fosse à mata, pegasse um boi brabo pelos chifres, agarrasse uma cobra surucucu e ficasse em riba de um formigueiro por uma hora, e ainda lhe trouxesse um enxame de marimbondo numa cabaça!

O caboclo tentou argumentar que era uma injustiça, uma desumanidade as condições lhe impostas pelo fazendeiro, e este argumentou:

– Interessante né seu cabra! Você é ou não é homem valente?! Não matou sua mulher e o urso e quer se esconder da puliça? Entonce, aqui é o lugar certo, mas com essas condições que eu meto a todo valentão que chega aqui! Você não vai me decepcionar, vai?

Percebendo não ter outra saída, o caboclo aceitou o desafio imposto. Garrou dum cavalo, danou-se pro mato, laçou o boi, pegou a cobra e veio todo encalombado de mordidas de formiga e marimbondo, apresentar o resultado da empreitada ao patrão.

Necessidade faz sapo voar – disse o caboclo aos colegas da fazenda!

Depois de passar pelo teste macabro o caboclo ganhou a simpatia do fazendeiro e tornou-se seu capataz preferido ao ponto de tudo que o homem iria fazer o chamava para acompanhá-lo. Até motorista do fazendeiro o caboclo passou a ser.

Certo dia, Seu Bitonho precisou ir a uma vendedora de carro no centro da cidade de Carpina (PE) comprar uma carreta Mercedes Bez para carregar cana, capim, adubo, para a fazenda e chamou o caboclo para acompanhá-lo porque àquela altura ele já lhe tinha adquirido sua confiança.

Ao entrar na vendedora de caminhão, Seu Bitonho, com as duas botas meladas de barros, bostas de vaca, de cavalo e fedendo mais do que gambá, se dirigiu ao gerente da loja, que já o conhecia e o recebeu mais uma vez na maior bajulação.

Antes de se sentar com as calças toda suja de bosta, aparecendo os dois ovos murchos por causa da braguilha aberta, se dirigiu ao gerente com o capataz junto com ele todo ancho:

– Ôh! Paulo, me diga uma coisa meu fio: quanto é que custa aquela mecêda amarela que está logo ali na frente?

Antes de o vendedor responder, o capataz, metido a intelectual e pensando que ia abafar, interveio e o tentou corrigir:

– Mas seu Bitonho, não é mecêda não, é carreta Mecedes Bez!

Ao que o velho, irônico, deu o troco:

– Taí, tu sabe dizê o nome correto, mas não tem dinhêro pra comprá! Eu não sei dizer, mas posso comprá tudo que está aqui na loja! E aí quem manda mais: sou eu ou é tu? De que vale tu sabê falá feito um dôtô e não ter dinhêro pra comprá uma picape velha?

O caboclo pôs o rabo entre as pernas e aprendeu mais uma grande lição na vida: Manda quem pode. Obedece quem é fudido! E, feito um burro, murchou as orelhas, pôs o rabo entre as pernas, e nunca mais questionou o patrão!


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 27 de outubro de 2020

UMA ENTREVISTA IMAGINÁRIA COM A CAFETINA MARIA DO BAGO MOLE (CRÔNICA DE CÍCERO TAVARES, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

UMA ENTREVISTA IMAGINÁRIA COM A CAFETINA MARIA BAGO MOLE

Texto escrito em parceria com o especialista em filmes de faroeste D.Matt

 

Um cabaré na Zona da Mata Norte semelhante ao de Maria Bago Mole

 

Confessamos ter chegado a hora mais difícil da nossa experiência como repórteres fofoqueiros. Não é nada fácil entrevistar uma mulher enigmática, carismática, de personalidade incontroversa. Uma mulher vencedora, que não abaixa a cabeça para ninguém. Tem reputação ilibada, notável sapiência de vida e é justa com todos que a procuram por justiça. Quando erra, reconhece o erro e o corrige a favor de quem o merece.

Vamos tentar descobrir alguns dos seus segredos íntimos, mas já pedimos desculpas aos leitores se não conseguirmos o esperado, o tentado. Não é fácil lidar com uma lenda! Há imprevisibilidades a cada instante.

Chegamos ao Cabaré num dia bastante calmo, tinha somente umas vinte pessoas e todos estavam sendo atendido pelas “meninas” de costume. Pedimos que nos anunciasse à Maria. Demos nossos nomes e ficamos esperando, enquanto bebericávamos uma excelente cachaça vinda de Garanhuns, sobre a qual já tínhamos sido advertido para não perder a oportunidade de experimentar.

Maria apareceu vestida exuberantemente num vestido verde esmeralda, cores da região lampiônica, todo bordado, rico ostentação, para provar sua ótima situação financeira e o poder de sua pessoa sobre os demais, no local, é claro.

Ela nos olhou de cima a baixo com um olhar irônico, que deu para perceber, como a dizer consigo mesma: “São esses aí que vieram bisbilhotar minha vida? Estes eu almoço e janto com a maior facilidade.” Ficamos extasiados com a presença lendária da cafetina. Dela exalava um ar misterioso.

Dissemos-lhe que estávamos escrevendo algumas crônicas sobre o Nordeste e principalmente sobre as mulheres e que nossos eventuais leitores certamente gostariam de saber a sua história, usos e costumes do seu Cabaré que já tinha uma fama impressionante entre os curiosos devido a algumas crônicas publicadas no Jornal da Besta Fubana, o Cabaré do Tio Berto.

Dissemos-lhe também que tínhamos entrevistado outras pessoas ligadas diretamente ao sucesso da história do Cabaré, que inclusive tínhamos entrevistado um coronel muito simpático chamado Bitônio Coelho, uma espécie de Hobin Hood da Região.

Ao falarmos o nome do coronel o seu rosto iluminou-se, seus olhos brilharam, de imediato e deu para ver e sentir a sua alegria. Daí em diante tudo ficou mais fácil. Começamos então a lhe perguntar logo de cara que após o seu encontro primeiro com o Coronel no Açude de Marimbondos de Fogo, como foi o seu reencontro com o amor de sua vida.

Maria contou-nos que após o seu conhecimento com coronel, a quem ela ofereceu o talismã da sua virgindade, passaram-se muitos anos, talvez oito ou dez anos, nos quais ela penou muito, com muitas dificuldades e também infelicidade, pois teve de separar-se da família que não aceitava a perda da sua virgindade. Teve de enfrentar o mundo cara a cara, vendendo o seu corpo para poder sobreviver. Por sorte, ela nunca teve filhos, o que lhe teria sido uma tragédia.

Um dia, numa festa muito íntima na casa de uma colega de profissão, eis que entra porta adentro, para surpresa dela o homem mais poderoso e desejado da região. Reconheceram-se imediatamente e sem mais palavras, nunca mais se afastaram um do outro. O coronel havia desposado a filha do coronel Antonio Bento e já tinha três filhos pequenos. Mas fizeram um pacto que continuariam a se encontrar sempre que possível. Para tanto, o coronel deu a Maria uma certa quantia para ela abrir o Cabaré, mas com a condição de que ela nunca mais atenderia a nenhum frequentador e seria somente dele. Promessa que Maria cumpriu até virar poeira das estrelas.

Aí está, senhores curiosos perguntadores, parte da minha história. Que mais vocês querem saber? – perguntou ela já que tínhamos dito ter entrevistado o amor da vida dela, o coronel Bitônio Coelho.

Foi então que perguntamos:

– Você e o coronel já passaram algumas férias juntos, já viajaram para o Rio, São Paulo e outros lugares do Brasil?

– Já viajamos sim. Uma vez o coronel teve de ir a Brasília para tratar de alguns assuntos políticos do estado e me convidou para acompanhá-lo, o que eu fiz com muito prazer.

– E você gostou de Brasília? – perguntamos.

– Tá louco homem! Aquilo é um puteiro maior do que o meu pela imoralidade em cada recanto do Planalto. Imagina que o coronel me levou para conhecer o Bordel de Madame Roussef, que me disse ser a presidenta da Associação das Putas não Políticas de Brasília, uma mulher horrorosa, feia, que o ralo traseiro e a burrice mereciam o Prêmio Nobel da Ignorância. Imagina que quando nós perguntamos-lhe se podíamos encontrar na internet alguma coisa sobre a sua vida e atividades políticas ela nos disse que devido a sua modéstia não encontraria nada na Internet, mas que ela pagou a um escritor para escrever a sua autobiografia. Foi então que lhe perguntamos o nome do escritor muito famoso. 

– Esse escritor é brasileiro?

– Imagina se eu ia pedir a um brasileiro para escrever sobre a minha vida, eles me detestam. Já me expulsaram de Brasília uma vez.

– Mas quem é esse escritor?

– É um escritor argentino vermelho como o papa e usa um nome americano para se esconder dos brasileiros. Ele prefere ser chamado de Paul Rabitt. Ele detesta o Brasil e já pediu aos seus leitores para boicotarem todos os produtos brasileiros. Eu concordo com ele, pois depois que o produto sai do Brasil, deixa de ser brasileiro e passa a ser um produto internacional, não é verdade?

Achamos que ela estava fazendo piada e fomos nos despedindo rapidinho. Tenho somente o curso primário mas junto a Madame Roussef eu me sinto uma intelectual, – disse ela sem cerimônia.

– Maria, você tem mais alguma coisa a nos dizer, tem algum recado para os brasileiros e nordestinos em particular?

– Ora seus perguntadores fuxiqueiros, Dimatti e Tavares, eu tenho muita coisa sim, sei que está tudo errado. Os homens do governo estão brincando com o destino do povo e o futuro desta nação. Não sabem decidir, legislar, julgar e atender aos apelos e necessidades da população. Só os seus interesses pessoais e familiares. O Brasil tornou-se uma Capitania Hereditária, já perceberam isso como repórteres que são? Política tornou-se uma tradição de pai para filho, sogros, sogras, parentes, agregados, como se ver nas igrejas… Não é porque não sabem governar, mas é simplesmente porque primeiro pensam nos seus interesses pessoais e esquecem tudo o que prometeram aos eleitores que confiaram nesse bando de ladrões celerados, causadores de desgraças e que para eles o povo é apenas merda que eles limpam com papel higiênico, quando deviam limpar com folhas de urtiga para sentirem a ardência que causam no cu alheio. Não sou política. Mas também não sou burra e quem pensa que eu vou ficar quieta está muito enganado, um dia vou cobrar de volta cada centavo, cada voto que foi roubado com falsas promessas.

Depois desse desabafo, nós só temos a dizer que precisamos de mais Marias Bago Mole em Brasília, pois puta por puta, ao menos elas são profissionais e não enganam ninguém.


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 20 de outubro de 2020

COMESSE FILÉ JÁ HOJE? (CONTO DE CÍCERO TAVARES, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

“COMESSE FILÉ JÁ HOJE?”

Havia num determinado quartel muitos recrutas aspirantes a tão sonhada carreira de soldado, subtenente, cabo, sargento, tenente, suboficial, dentre outras patentes mais elevadas.

Todas as vezes que os recrutas se encontravam no pátio para fazer as devidas continências, ouvir o discurso do superior, cantar o Hino da Bandeira e o Hino Nacional, um por um, os recrutas iam perguntando entre eles:

– Comesse filé já hoje? Já comesse filé já hoje? E os outros respondiam: Sim! Sim! Sim! Sim!

Essa cantilena se repetia todos os dias, o que deixava o capitão ouriçado, sem entender patavina nenhuma daquele linguajar de gueto.

Um dia o capitão amanheceu emburrado, virado num tamanduá-açu cheio de manguaça, enquanto reunia os recrutas no pátio para cantar o Hino da Bandeira e o Hino Nacional, ouvia-os repetirem as mesmas ladainhas:

– Comesse filé já hoje? Já comesse filé já hoje?

Quando terminou a greia do “já comesse filé já hoje”, o capitão, com voz de trovão e cheio de moral, curioso para saber o significado daquele linguajar de malocas, perguntou ao último recruta que ficou no pátio:

– E você aí, rapaz, já comeu filé já hoje?

Surpreso com a pergunta embaraçosa do capitão e com medo de omitir a verdade e depois ser repreendido por ele, o recruta respondeu:

– Capitão, o filé sou eu!

Discreto, o capitão fingiu que nada entendeu. Mandou o recruta acompanhar os outros noviços na limpeza do capinzal, e advertiu-o:

– No mato, só tenha cuidado com a urtiga brava ou a cobra jiboia. A primeira coça muito e a segunda, pica e mata! Não é feito filé que só deixa o cabra mole!


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 13 de outubro de 2020

HISTÓRIAS DE BÊBADOS (1) - RIM DE TANGER (CRÔNICA DE CÍCERO TAVARES, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

HISTÓRIAS DE BÊBADOS (1) – “RIM DE TANGER”

Corria os anos oitenta quando João, matutinho da Zona da Mata Norte de Pernambuco, passou no vestibular de Engenharia Civil da UFPE e veio morar na Casa do Estudante.

Acostumado com a vida mansa do campo com mais liberdade que o vento, qual um potro no curral, João, assim que chegou à metrópole, se deparou com um ambiente pesado à sua formação campeira, avesso aos seus princípios e valores rurais. Tudo naquele ambiente do campus era diferente da realidade vivida na roça.

Não demorou muito e a solidão se lhe apossou. A saudade de casa doía-lhe na alma e ele procurava terra nos pés e não encontrava.

Com poucos meses de residência, a saudade de casa e a solidão apertaram o seu peito, o vazio tomou conta da alma, a alegria e esperança do jovem interiorano sonhador deram lugar a mal-estares e angústias permanentes.

De início, João começou a faltar aulas, perder cadeiras e depois se juntou a uns “amigos” que viviam o mesmo “banzo” e começaram a sair para beber, “afogar o ganso”. Onde houvesse um puteiro ou boteco aberto em Engenho do Meio ou Cidade Universitária, lá estavam João e os amigos de copo a se divertirem como uns solitários na multidão, até o cu do amanhecer.

Toda noite era uma farra. E a coisa foi ficando pior quando não havia mais dinheiro da mesada para pagar a bebida consumida. Muitas e muitas vezes levaram cacetadas do dono do bar por não terem grana para pagar a bebida consumida. Deixavam como pindura as carteiras de estudantes, carteiras de identidades, isso quando o dono do boteco não lhes tomava a camisa, a calça, os sapatos ou os livros emprestados da biblioteca pública.

De tantas noites de farras com os “amigos de copos e de cruz”, em João começou a surgir um novo indício de sintoma psicológico que os amigos logo apelidaram de “rim de tanger”, que se manifestava depois da ingerência de um litro de Drurys e um tubo de Pitú.

Com o rabo prostrado na cadeira, o dia amanhecendo, e alguns “amigos” de copo se retirando aos trancos e barrancos, e outros caindo na sarjeta, quanto mais se chamava por João para ir, mais ele relutava com os olhos de um lunático, segurando os óculos com medo que caíssem e dizendo para o dono do bar, que já estava puto àquela hora da madrugada:

– Mestre, cadê a cachaça?! Mestre, cadê o drurys?! Só saio dessa porra quando o whisky aparecer! Eu quero beber mais – dizia e baixava a cabeça de tão bêbado.

Do outro lado do balcão, o dono do bar, já puto da vida e com sono, pegava uma tabica, sentava o cassete no lombo dos bêbados, empurrava-os da cadeira na valeta, jogava-lhes um balde de água de esgoto no lombo e dizia:

– Vão atanazar o cão, seus felas da puta! Vão perturbar na casa do caralho, magote de filos de rapariga!

E se mandava para casa, deixando o desmantelo no bar.

 


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 06 de outubro de 2020

ERA UMA VEZ NA AMÉRICA (CRÔNICA DE CÍCERO TAVARES, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

ERA UMA VEZ NA AMÉRICA

Texto escrito em parceria com o especialista em filme de faroeste mestre D.Matt

Cenário de Era Uma Vez na América na Ponte do Brooklyn, em Nova York

 

Era Uma Vez Na América é o deleite audiovisual definitivo de todo cinéfilo que se preza. Uma grande História de temas universais, que fala um pouco para todo mundo sem muito esforço. Longo – exatamente como tinha de ser -, este não é apenas um filme de gângster do qual nós já estamos habituados. É uma verdadeira aula de narrativa, com um desenvolvimento meticuloso magistral com começo, meio e fim. Ao fim da verdadeira jornada que é assisti-lo, Era Uma Vez na América, já faz parte da vida do espectador, e assim permanece por dias e dias; anos e anos.

Assim como MagnóliaO Senhor dos AnéisBem Hur e outros longas de mais de 3 horas de duração, há vários momentos que à primeira vista poderiam ter sido cortados, mas que ao repassá-los na memória nos damos conta do quanto belos e essenciais são e chegamos à conclusão de que nenhum deles deveria ser cortado. Não se mutila uma obra de arte.

Do elenco, nem precisa delongar muito, absolutamente perfeito, dispensa maiores comentários. Robert De Niro é o protagonista perfeito de todo filme que se possa imaginar, mas quem consegue roubar a cena mesmo é James Woods. Enfim, poder-se-ia escrever um livro inteiro apenas exaltando o quanto primoroso é este filme, os poucos problemas que podemos encontrar aqui e ali são completamente perdoáveis dado ao saldo positivo colossal do conjunto da obra. E a culminação dos arcos de Noodles e Max naqueles 25 minutos finais é de um brilhantismo narrativo rico de significados e entrega emocional de um nível que não se vê mais no cinema. Uma fábula perfeita das várias imperfeições humanas. Uma obra-prima atemporal.

De início chama atenção o local escolhido pelo diretor para o cenário do filme. Um bairro Judeu de Nova York e todos os personagens, cenários, movimentos de ruas, negócios, tudo gira em torno dos judeus. Em todo desenrolar do filme não se escuta um sotaque italiano. Os atores principais Robert de Niro, James Wood, Elizabeth MC Govern, e até Joe Pesci num pequeno papel se vestem em personagens judaicos, com leveza, sem qualquer vestígio de caricatura ou preconceito.

O filme depende quase que cem por cento da montagem, porque não tem uma continuidade definida e passa por diversas épocas entrelaçadas, montadas com grande genialidade por Nino Baragli, que com certeza teve a orientação do mestre Sergio Leone, pois só uma mente cinematográfica genial poderia dar um sentido naquele enorme caldeirão de acontecimentos, todos entrelaçados com tempos definidos claramente.

Todos os atores souberam captar as instruções do mestre Sergio Leone e se entregaram de corpo e alma, criando personalidades distintas, bastante reais, com um resultado de alta qualidade. As atrizes principais, Elizabeth MC Govern e Tuesday Weld têm um desempenho fora de série, principalmente a excelente atriz Mc Govern que pouco aparecia em filmes e durante vários anos participou da premiadíssima Série de TV inglesa Dawton Abbey, com um trabalho realmente extraordinário. E no filme em curso não fez diferente.

Os personagens de grande parte do início do filme foram interpretados por atores jovens muito talentosos e com atuações estupendas, dignas dos seus companheiros atores adultos. Uma cena extraordinária, inesquecível, é quando um dos garotos compra um doce para oferecer à namorada, com sentido de seduzi-la sexualmente. Enquanto espera a chegada da garota, ele começa a provar o doce e cada vez mais gulosamente vai comendo-o, numa ânsia de prazer, até devorá-lo completamente. Isto com gestos chaplinianos. Grande atuação do jovem ator, numa cena que mesmo dirigida pelo mestre Sergio Leone deve ter sido resultado de uma dezena de takes até chegar ao resultado extraordinário desejado pelo diretor.

É necessário ressaltar o trabalho primoroso da menina atriz que faz o papel da Elizabeth Mc Govern quando jovem. Que presença de cena, que mestria na exibição da sua expressão corporal! É uma grande atriz, num corpo infantil.

A trilha sonora, soberba, está com certeza entre as duas melhores entre as centenas de trilhas compostas pelo mestre Ennio Morricone. Que são, respectivamente, “Era Uma Vez No Oeste” e “Era Uma Vez Na América.”

É uma trilha no sentido clássico Ennio Morriconne, suave, melodiosa; sem altos e grandes movimentos auditivos. É uma música para ser ouvida e mais ainda para ser sentida, muito nostálgica, sempre ao fundo das cenas, numa melancolia triste que nos enleva. O tema principal é apresentado por intermédio de uma flauta de Pann. Pontua todo o filme e quase não chama atenção, porém o efeito é inesquecível.

Este filme, devido a sua montagem inédita e também por sua duração de várias
horas, não foi devidamente apreciado na época de lançamento. Porém, hoje é considerado um clássico e um dos mais geniais filmes do diretor Sergio Leone.

A conclusão a que se chega é que palavras não são suficientes para descrever a grandiosidade desta obra-prima, dirigida pelo inovador e sensacional Sergio Leone. Primeiro filme lançado em DVD no mundo, tamanha é a sua importância. Era uma Vez na América é um dos filmes mais injustiçados de todos os tempos, devido à falta de liberdade do diretor, no que tange à edição. O filme foi lançado com um corte de mais de uma hora e meia, pois, foi considerado longo demais pelos produtores. Um verdadeiro pecado que, dizem, causou o declínio na saúde do diretor. Quem assistiu ao filme na íntegra não consegue imaginar o corte de qualquer cena, muito menos de quase a metade da película.

O tema é épico. A trilha sonora de Ennio Morricone é impecável e o elenco, fantástico. A referida obra, fosse ela lançada em condições ideais, conquistaria, de certo, inúmeros Oscar. Melhor Filme, melhor diretor, melhor ator coadjuvante (James Woods), melhor roteiro original, melhor fotografia, melhor figurino, melhor trilha sonora, dentre outras categorias do tão relevante prêmio da academia. Assistir a este filme é fazer uma imersão em uma história que envolve a amizade, o romance, a lealdade, a violência do mundo dos gângsters, além de abordar questões sociais atemporais, tudo isso ao som da belíssima trilha sonora de Ennio Morricone. Era Uma Vez na América é imperdível para qualquer amante do cinema.

Trailer oficial legendado de Era Uma Vez na América

 


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 29 de setembro de 2020

PAULINHO, O FILHO BATARDO (CONTO DE CÍCERO TAVARES, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

PAULINHO – O FILHO BASTARDO

Primeiro hospital onde Paulinho fez residência médica

Paulinho nasceu de um relacionamento extramatrimonial de sua mãe, Carminha, com um cardiologista famoso do estado.

Baixinha, de corpo escultural, inteligente, discreta, elegante, atenciosa, altiva, caridosa, Carminha logo despertou interesse no cardiologista que, sempre que o consultório ficava vazio, parava tudo e ia conversar com aquela enfermeira paradigmática, de peitos duros e coxas grossas, com uma sensualidade à Marilyn Monroe, que o cardiologista jamais havia reparado em outras enfermeiras que conhecera e que já houvera passado pelo consultório.

Conversa vai, conversa vem, com seis meses de trabalho Carminha e o cardiologista se tornaram amantes, paixão avassaladora que mesmo em dias de não expedientes no consultório os dois se encontravam para homéricas horas de prazer e curtição.

Dois meses depois da primeira relação amorosa, Carminha percebeu que estava grávida do médico, mas não lhe contou logo, esperando a confirmação do teste de gravidez.

Confirmada a gestação, Carminha procurou o cardiologista e contou-lhe a novidade. Como médico famoso na praça e temendo a repercussão do caso no meio onde era conhecido e admirado ele reagiu insidioso, soltando os cachorros na cara dela, exigindo que ela abortasse aquele feto indesejado, sob pena de demissão por justa causa e fim do relacionamento.

De personalidade forte e determinada, já amando definitivamente aquela coisa linda crescendo no seu ventre, Carminha não atendeu ao apelo do médico, preferindo ser demitida. E foi o que aconteceu!

Rebaixada em outro emprego em foi admitida, Carminha foi até o fim com a gravidez, que transcorreu, felizmente, numa boa, vindo a ter Paulinho saudável, lindo, tornando-se o xodó da família.

Guerreira, Carminha trabalhava em duas clínicas para sustentar o filho, que teve o registro de nascimento feito sem o assentamento do nome do pai que se recusou a registrar, e a ajudar a família que tomava conta de Paulinho na sua ausência.

A criança cresceu e sempre soube pela boca da mãe quem era o seu pai que não o quis reconhecer para evitar escândalos na família, já que era um médico rico e influente no convívio com a sociedade.

Com a ajuda da mãe e muito determinado, estudando em colégio do estado e fazendo cursos particulares pagos por fora pela mãe, Paulinho conseguiu passar no vestibular de medicina da federal na primeira tacada, em ótima colocação. Feliz consigo mesmo por ter tido o apoio irrestrito da mãe, da família materna e de ter sido classificado entre os dez primeiros colocados no vestibular, Paulinho resolveu procurar o pai biológico sem a mãe saber, mostrar-se a ele e dizer-lhe que havia passado no vestibular de medicina da UFPE.

Para não suscitar dúvidas, marcou uma consulta no consultório para ver o pai de perto, olhar-lhe nos olhos e dizer-lhe que era seu filho e que havia passado no vestibular de medicina da federal.

Dia e hora marcados chega Paulinho ao consultório do pai, cardiologista famoso, conversa com a recepcionista que faz algumas anotações no prontuário e depois o manda sentar-se no sofá confortável da sala e ficar aguardando a chamada.

Meia hora após ter chegado, com a saída do paciente que o pai estava atendendo, a secretária chama Paulinho e manda-o entrar.

Educadamente ele se levanta da poltrona e dirige-se à sala luxuosa onde o pai estava atendendo. Senta-se na frente dele e este lhe pergunta com sorriso largo:

– O que o traz aqui, meu jovem bonitão?

Paulinho, sem pestanejar, olhos firmes, com a mesma tranquilidade de sempre e firmeza de caráter, responde:

– Não vim aqui para consulta, não, doutor! Vim aqui para conhecer meu pai de quem tanto mamãe fala, mas nunca me apresentou a ele porque ele não queria conhecer. Sou Paulinho, o filho que o senhor mandou minha mãe abortar! Lembra? Passei em medicina e vou me especializar na área cardiológica! Faço questão de seguir os seus passos com minhas próprias qualidades e defeitos!

– Não vim aqui pedi nenhum favor ao senhor – continuou – apenas dizer que sou seu filho e vou estudar medicina na mesma universidade que o senhor passou, estudou, se formou e ensina!

Percebendo que o pai ficou trespassado com a presença do filho renegado por ele no passado, e percebendo que sua presença lhe teria provocado uma surpresa inesperada, aproveitou que o pai estava com o rosto pálido, tapando-o com as mãos trêmulas e mudo, levantou-se do sofá, abriu a porta, saiu e pediu à secretária que mandasse entrar outro paciente que o “doutor estava livre”!

O mundo dá muitas voltas! E cada volta é uma surpresa, para o bem ou para o mal, dependendo do que você plantou.

Hoje Paulinho trabalha no mesmo hospital e consultório onde o pai clinica. É um exímio anestesista. Tornaram-se dois parceiros profissionais inseparáveis, mas com uma condição: Paulinho não concordou em pôr o nome do pai no seu registro de nascimento, mesmo ele insistindo! “Tá bom assim, meu pai. O que vale é o que sentimos um pelo outro: respeito e admiração.” – concluiu.


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 22 de setembro de 2020

LÁ TEM CULPA TODO MUNDO; LÁ SÓ NÃO TEM CULPA ELE

 

LÁ TEM CULPA TODO MUNDO; LÁ SÓ NÃO TEM CULPA ELE

Microempresário muquirana, sovina, pé de bode, desses que dá um peido e represa o vento para ninguém cheirar a catinga, ex-servidor da justiça aposentado com salário gordo, dono de uma imobiliária bem sucedida, cismou do rabo que queria porque queria arrancar do governo federal os 70% do Crédito Emergencial do programa nacional de apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe) para o desenvolvimento e fortalecimentos dos pequenos negócios durante a pandemia para abater no pagamento do salário mínimo do único trabalhador da imobiliária.

Para fazê-lo, o microempresário procurou o contador que lhe presta serviços para executar a transação. Disse que não queria perder um centavo para o governo. O que o contador pudesse fazer que fizesse. O que ele queria mesmo era aproveitar o máximo das garantias dos créditos emergenciais que a lei federal 13.999/2020 estava oferecendo para abater no salário do trabalhador sem demiti-lo. E assim o contador o fez.

Não esperando a conclusão do negócio, o empregador depositou só o que lhe cabia para o salário do trabalhador. Ordenou que o contador fizesse e dissesse ao trabalhador que se virasse com o programa do governo para receber a parte que lhe coubesse.

Passados mais de dois meses sem o dinheiro do governo federal ser liberado, o trabalhador, que já estava insatisfeito, passando privações, procurou o empregador para se queixar do problema e esse mandou procurar o contador:

– Olhe, você vai entrar no site do governo federal e acessar o portal serviços e lá vai encontrar a Caixa de Pandora para saber o dia de receber os 70% pagos pelo governo – disse o contador ao trabalhador.

E não deu mais explicações, deixando-o a ver navio.

Pesquisa aqui, pesquisa dacolá e não encontrando a resposta, o trabalhador procurou um analista de sistema, amigo, que se dispusesse a lhe ajudar a acessar o sistema Portal Gov.br, pois não estava sabendo. O analista acessou e descobriu que o erro estava no preenchimento do cadastro do trabalhador na origem, feito pelo contador, daí porque o dinheiro não ter sido liberado.

Quando o trabalhador procurou o contador para lhe explicar a falha este foi taxativo:

– Meu filho eu não erro! Você é que é burro, não sabe acessar o sistema! Está mais enrolado do que carretel. Acesse o Portal Gov.br que está tudo lá.

Insatisfeito com a indiferença do contador, o trabalhador procurou o analista de sistema, contou o que o contador dissera e abriu o sistema novamente. Gerou uma senha e, pesquisando, encontrou a seguinte mensagem no site do governo: “Procure seu empregador para corrigir a falha no preenchimento cadastral.”

E lá vai o trabalhador procurar o contador novamente. Contou-lhe a situação. Mas antes procurou a filha do empregador para contar-lhe o ocorrido, informando que estava passando necessidades financeiras por não ter recebido ainda os 70% do seu salário porque o pai havia cortado. Segundo ele, o governo é que iria pagar.

Com o coração mais compreensivo e tolerante, a filha do empregador disse ao trabalhador, de posse de todas as informações passadas pelo analista de sistema, mostrando que o erro estava no preenchimento cadastral. Os dados não estavam batendo para ter acesso ao Benefício Emergencial. Que os trabalhador procurasse o empregador.

Com todas as informações na mãe e ciente que o erro foi do contador a filha do empregador foi curta e grossa com ele:

– Procure resolver isso aí, Sr. Geraldo. Se existe alguém que não tem culpa nessa história é o trabalhador que está passando necessidade.

E ligou para o pai obrigando-o a depositar o salário do trabalhar enquanto não fosse sanado o erro, pois o trabalhador não podia pagar por não ter culpa, já que o erro fora cometido pelo empregador, segundo informação do cadastro do governo. E o trabalhador só recebeu o que lhe era de direito graças à interferência da filha do empregador que compreendeu a situação.

A sensatez de uma mente iluminada salva o mundo da estupidez da maioria das mentes insensatas.

Lá Tem Culpa Todo Mundo; Lá Não Tem Culpa Ele, o Trabalhador

 


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários sexta, 18 de setembro de 2020

A GENTE VAI EMBORA (CRÔNICA DE CÍCERO TAVARES, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

A GENTE VAI EMBORA

Por considerar interessante para esses dias turvos que estamos atravessando no Brasil, hoje, onde, do Oiapoque ao Chuí, só se veem candidatos espertalhões e políticos ladrões se arvorando às eleições.

Uns no poder e outros dispostos a rifar até o rabo para chegar lá e roubarem também, nada melhor do que ouvir o som dessa belíssima poesia filosófica do poeta Sergio Cursino.

* * *

Imagem postada pelo autor

A GENTE VAI EMBORA

E fica tudo aí: os planos, a longo prazo, e as tarefas de casa, as dívidas com o banco, as parcelas do carro novo que a gente comprou para ter status.

A GENTE VAI EMBORA.

Sem sequer guardar as comidas na geladeira, tudo apodrece, a roupa fica no varal.

A GENTE VAI EMBORA.

Se dissolve e some toda a importância que pensávamos que tínhamos. A vida continua, as pessoas superam a perda e seguem suas rotinas normalmente.

A GENTE VAI EMBORA.

As brigas, as grosserias, a impaciência, a infidelidade, serviram para nos afastar de quem nos trazia felicidade e amor.

A GENTE VAI EMBORA.

E o mundo continua caótico, como se a nossa presença ou ausência não fizesse a menor diferença.

Na verdade, não faz.

Somos pequenos, porém, prepotentes. Vivemos nos esquecendo de que a morte anda sempre à espreita.

A GENTE VAI EMBORA, pois é.

É bem assim: Piscou, a vida se vai.

O cachorro é doado e se apega aos novos donos.

Os viúvos se casam novamente, fazem sexo, andam de mãos dadas e vão ao cinema.

Quando menos se espera,

A GENTE VAI EMBORA.

Aliás, quem espera morrer?

Se a gente esperasse pela morte, talvez a gente vivesse melhor.

Talvez a gente colocasse nossa melhor roupa hoje, talvez a gente comesse a sobremesa antes do almoço.

Talvez a gente esperasse menos dos outros.

O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO COM O POUCO TEMPO QUE LHE RESTA?!

Que possamos ser cada dia melhor e que saibamos reconhecer o que realmente importa nessa passagem pela Terra!!!

Até porque,

A GENTE VAI EMBORA.

 


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 15 de setembro de 2020

O TEMPO DAQUELE LADRÃO JÁ PASSOU!

 

“O TEMPO DAQUELE LADRÃO JÁ PASSOU!”

Esse foi o “estadista” que saqueou o Brasil por 14 anos!

Duas balzaquianas rabudas caminhavam pela avenida principal do bairro de Cajueiro, Recife (PE), à noite, quando a primeira começou a puxar conversa sobre política:

– Mulher, como seria bom se Lula voltasse novamente a presidir esse país desgovernado por um presidente doido que só pensa em armar o povo a todo custo para sair matando gente inocente a troco de caixa por aí, não achas?

A segunda não perdeu a deixa e foi logo questionando a primeira:

– Não acredito que estás desejando essa blasfêmia contra o povo brasileiro! Mulher, o tempo daquele ladrão já passou! Não é possível que tu ainda apoies um bandido que destruiu o Brasil com aquela quadrilha sórdida presa pela Lava Jato, que assumiu o poder durante quatorze anos para saquear o país? Aquele bandido que, junto com seus comparsas saquearam o Brasil, iludiram o povo, roubaram o povo, deseducaram o povo, alienaram o povo, imbecilizaram o povo, promiscuíram o povo. Deram esmolas para o povo como “bolsa família”, “tarifas sociais” e outros psicotrópicos, sem as contrapartidas. E por trás dessa “bondade”, saquearam o país em benefício próprio, da família e dos comparsas. Lula é mais bandido do que Fernandinho Beira-Mar, Marcola e outros sanguinários psicopatas porque destruiu um país inteiro! Tu tens certeza que estás sabendo o que estás dizendo? Não fumasse nenhum baseado estragado antes de caminhar não? O que a Lava Jato descobriu da roubalheira que fizeram no Brasil com a ascensão de Lula ao poder não significa nada para ti? Meu Deus do Céu! Não estou te reconhecendo? Quem foi o imbecil que andou fazendo tua cabeça? Que te comas, tudo bem, desde que teu marido não saiba! Mas fazer tua cabeça para acreditar em bandidolatria? Aí é foda!

Aí foi quando a primeira insistiu no seu argumento cagatório:

– Mas mulher, foi Lula que tirou o povo da miséria. Deu escola, educação, saúde, renda mínima, pão na mesa, farinha no feijão. Antes pobre não andava de avião. Só andava a pé, de jegue, ou de ônibus da Itapemirim para São Paulo, Rio de Janeiro e outros estados. Tu não enxergas esse progresso não?

– Só estou enxergando uma coisa – rebateu a segunda – tu estás ficando é doida, abilolada, viajando na maionese! Onde Lula tirou o povo da miséria? Deu escola, educação, renda mínima, saúde, transporte coletivo, faculdade profissionalizante, se o país está numa fossa pública dessa e o povo na miséria, sem rumo? Se não fosse o novo presidente, minha filha, o país e nós estávamos fudidos. A Venezuela estava toda aqui dentro!

Quando estava chegando em casa, a primeira, antes de fechar o portão, confessou à segunda:

– Tu achas mesmo que eu estou defendendo meu ponto de vista é pensando no outro? Que vão à puta que pariu! Eu estou defendendo é a mamata que o PT me deu durante o tempo em que governou o país. E estou cagando para qualquer um que acha que Lula não foi o pai dos pobres!


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 08 de setembro de 2020

MARIA BAGO MOLE FESTEJA A VOLTA DE BITÔNIO COELHO AO CABARÉ

 

MARIA BAGO MOLE FESTEJA A VOLTA DE BITÔNIO COELHO AO CABARÉ

Para Sancho Pança, que conhece todos os cabarés do Brasil

Um cabaré à semelhança do de Maria Bago Mole

Maria Bago Mole amanheceu cantando para si mesma naquele dia. Seu coração estava em festa. Depois de vários dias de espera pelo seu amado, a cafetina mais famosa da Zona da Mata Norte de Carpina (PE), resolveu promover uma festa de arromba no cabaré, à espera do fazendeiro Bitônio Coelho, que mandou avisar por um capanga da fazenda que estaria na comemoração do aniversário dela.

Somente as “meninas” antigas na “casa” e de confiança de Maria Bago Mole é que sabiam que era o dia do seu aniversário. Para as “novatas” e os frequentadores assíduos do cabaré era um dia de comemoração qualquer promovido pela cafetina, que gostava de cativar seus clientes com “novidades.”

Duas semanas antes da festa, ela avisara pessoalmente a cada cliente das noites que ia haver uma comemoração especial no cabaré, uma festa de arromba, com “carne nova na praça.”

Cedo começaram a chegar os peões, caminhoneiros, posseiros e fazendeiros das redondezas, sedentos por sexo. Na frente do cabaré havia uns troncos de madeira à moda do Velho Oeste, instalados para os clientes apearem seus cavalos, jumentos, éguas…

Já passavam das dez da noite quando Bitônio Coelho chegou no seu sobretudo de linho diagonal branco, bota preta, chapelão de couro e, à cintura, sua pistola Parabellum (1906). Apeou o cavalo alazão branco no toco feito exclusivamente para ele. Maria Bago Mole, como sempre, correu em sua direção, deu-lhe um abraço, um beijo, pôs as duas mãos na cintura dele e o conduziu à porta dos fundos, também feita exclusivamente para ele entrar sem ser visto pelos frequentadores do cabaré que, antes das onze da noite, já estava fervilhando de homens prontos para disputar as carnes mijadas novas que a cafetina havia prometido e que foi buscar nos sítios circunvizinhos.

Maria Bago Mole, como de costume, deixou seu amado no aposento dos dois, dirigiu-se ao salão do cabaré, passou um “rabo de olho” pelos quatro cantos, certificou-se se estava tudo em ordem, deu instruções às “meninas” para que cuidassem dos seus “homens.” Verificou se a cozinha estava tudo nos conformes, organizada, e se mandou para ficar com seu amado.

Quando se dirigiu para o aposento, um coronel afoito das redondezas, que há muito vivia doido para comê-la e logo cedo já estava no cabaré bebendo, passou-lhe as mãos na bunda, se atracou com a cafetina murmurando no ouvido dela que daquela noite não passava suas intenções:

– Vamos, mulher! Por que tu não queres me dar, hem? Só queres saber daquele sacripanta que te deixa aqui sozinha? Hoje tu és minha!

Maria Bago Mole, mulher que não engolia desaforo, deu umas joelhadas nos cunhões do coronel afoito e, antes de ele cair com a dor, gemendo, ela chamou duas “meninas”, ordenou que o arrastassem para a rua e lhe dessem o destino desejado, mas sem antes de dizer-lhe umas poucas e boas no ouvido:

– Homem nenhum desrespeita minha “casa”, está me ouvindo?! Enquanto eu mandar aqui homem nenhum desmoraliza meu “lar” – disse ela com o olhar firme no salão abarrotado de homens bebendo, comendo e agarrando suas “meninas”  e se dirigiu ao aposento para comemorar o aniversário com seu amado.

Maria Bago Mole nasceu para ser cafetina.


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 01 de setembro de 2020

O MICROEMPRESÁRIO, O TATUADOR E A SUCURUCETA

 

O MICROEMPRESÁRIO, O TATUADOR E A “SUCURUCETA”

Microempresário, numa crise econômica de arrombar a tampa do caneco, sendo pressionado pela esposa, que exigia o dinheiro para a despesa familiar; pela amante, que exigia dinheiro para manter a ostentação; e pelo empregado, que exigia o dinheiro dos três meses de salários atrasados, procurou um tatuador para tatuar uma cédula de cem dólares na pica. E o tatuador disse que não podia fazer. Que ia doer muito. Que o microempresário não ia suportar a dor e patati patata!

Mas o microempresário insistiu. Dizendo ao tatuador que precisava se livrar da mulher, que só pensava em dinheiro. Da amante, que só pensava em sugá-lo. E do trabalhador, que só pensava em acioná-lo na Justiça do Trabalho por causa dos salários atrasados.

Pressionado, o tatuador alertou:

– Olhe, vai doer muito. O senhor não vai suportar a dor. Mas, mesmo assim, ainda que mal lhe pergunte, por que o senhor quer que se tatue uma cédula de cem dólares justo no… no… no… na… na… na bimba?

Aí o microempresário, já não suportando as pressões que vinham de todos os lados: da esposa, da amante e do empregado, desabafou:

– É que eu quero fuder com minha mulher, que só pensa em gastar. Fuder com minha amante que só pensa em ostentar e fuder com meu empregado, que só pensa em me fuder na justiça para receber os salários atrasados. Sacou por que eu prefiro a dor da tatuagem uma só vez na pica do que a pressão no meu testículo todos os dias?

– Bem, se forem esses os seus motivos – disse o tatuador – o senhor está mais do que certo… Comigo aconteceu o mesmo, só que eu me abestalhei e engoliram tudo: carro, casa, apartamento, aplicação em fundos, e hoje estou na merda, tudo por causa de uma “sucuruceta”!

A “sucuruceta” que engoliu tudo do tatuador


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 25 de agosto de 2020

O PADIM CORLEONE DA MÁFIA AMERICANA

 

O PADIM CORLEONE DA MÁFIA AMERICANA

Texto escrito em colaboração com o especialista em filmes de faroeste D.Matt

Marlon Brando o eterno Don Vito Corleone

Dedicamo-lo ao mestre do SEGUNDA SEM LEI, Altamir Pinheiro

O primeiro filme da trilogia de O Poderoso Chefão gira em torno da família mafiosa de Don Vito Corleone, de 1945 a 1955, sendo considerado e aclamado como um dos melhores filmes de gângster de toda a história do cinema nas ações mafiosas e suas conseqüências. Mas o diretor teve que impor sua personalidade contra os executivos da Paramount para realizá-lo.

Ante o esmero da produção, o deslumbre técnico – a montagem que, no batismo do afilhado, intercala a oração de Michael Corleone com os assassinatos de que ele é mandante; a fotografia excepcional, que explora à sombra os negócios da máfia e a transparência na relação de Michael com Apolônia, pura e virginal -, o vigor do elenco, o roteiro que entrelaça as intrigas familiares com a disputa pelo poder, e a perfeição com que Francis Ford Coppola encena sua história. Marlon Brando e Al Pacino estão memoráveis. O primeiro como o patriarca que tudo faz pela família, o segundo como o estranho no ninho que nega o pai e aos poucos se deixa envolver pela máfia, ainda que para perceber que, na maioria das vezes, o poderoso está só.

Já na segunda parte temos ações e negócios. Compra de governo cubano, traições mafiosas, muita vingança. Excelente continuação para o grande sucesso da parte um. Neste filme acompanhamos Don Vito Corleone desde os tempos de criança quando fugiu da Itália após ter sua família toda morta por um mafioso local. Chegando à América adotou o sobrenome Corleone referente à cidade natal e cresceu sempre lutando para sobreviver junto com sua esposa e filhos que iam nascendo no decorrer dos anos.

Depois de matar o mafioso que exigia porcentagem dos ganhos aos comerciantes locais que todo mundo o temia, o seu poder, influência e riqueza começa acrescer cada vez mais, conquistando assim o respeito de todos. Paralelamente, o caçula Michael Corleone tenta expandir os negócios da família buscando novos investimentos em Havana e Las Vegas e se depara cada vez mais com traições, interesses e se vê em uma situação delicada no casamento e com membros da família, além de ter que se confrontar com uma investigação geral contra a máfia e, em conseqüência, contra sua família e negócios.

Destaca-se o ótimo elenco novamente, infelizmente sem Marlon Brando, mas trazendo Al Pacino com uma atuação soberba, além do sempre perfeito Robert De Niro. Ninguém melhor do que ele para interpretar Don Vito Corleone mais jovem. A entonação de voz e os movimentos corporais estão iguais ao de Marlon Brando.

O filme mantém a mesma qualidade do anterior em todos os aspectos e aprofunda ainda mais as relações entre os familiares e aliados. O filme conta com outro grande roteiro, uma competente edição, além do figurino, direção de arte, a excepcional fotografia e é claro, a mais uma vez genial e firme direção de Coppola. O filme é uma aula de como fazer cinema e de como uma sequência pode manter o nível do original. A única coisa que peca é que o filme tem quase 3 horas e meia, e em alguns pontos ele se torna arrastado, mas o grande mérito da edição em deixar o filme mais ágil e intercalando bem o passado de Don Vito Corleone e o presente da família, é ainda mais evidente neste filme. Mas vale a pena no quesito fidelidade ao livro de Mario Puzzo.

Na terceira parte é muitíssimo diferente. A família quer se posicionar no mundo financeiro e político, se separa das ações mafiosas e procura limpar o nome CORLEONE a qualquer preço. Para isso “compra da Igreja e do Papa” uma comenda papal ao preço de cem milhões de dólares e se posiciona como o maior investidor nos negócios do Banco do Vaticano, cooptando a tudo e a todos. O resultado não é bem o esperado, pois os demais mafiosos deixados para trás, também querem participar da grande negociata.

Negócio feito, mas não chancelado pelo Papa, que está quase à morte. Os mafiosos se digladiam entre si querendo a sua parte e não deixam barato. Envenena o Papa recém eleito “João Paulo I”, o Papa Sorriso, por ser um homem honesto e não concordar com as roubalheiras no Banco do Vaticano.

Nesse filme as ações são todas políticas, mas as diferenças são presentes e a toda hora alguém tem de pagar as suas dívidas com a própria vida.

O filho bastardo do irmão morto metralhado no primeiro filme aparece e aos pouco vai se posicionando e ganhando força no esquema, tomando a liderança de todas as ações e ocupando o lugar do personagem advogado e conselheiro dos filmes anteriores que, “simplesmente sumiu da história” sem explicação. O seu lugar foi ocupado pelo ator cubano Andy Garcia que aproveitou a oportunidade e, com grande talento, conseguiu fazer um belo trabalho no filme, sendo indicado ao prêmio Oscar de melhor ator coadjuvante.

Uma grata observação: os produtores contrataram diversos atores de prestígio, que fizeram grandes filmes e valorizam muitos personagens importantes. Nesse filme todos estão ótimos e foi muito gratificante vê-los atuando em papéis secundários, sem glamour aparente com ótimos resultados. Um desses atores é o veterano e carismático ator Eli Wallach, contumaz ladrão de cenas que como sempre sobressai em qualquer filme. Outro ator que surpreende pela qualidade do seu trabalho é o cubano Andy Garcia, com uma atuação sóbria e firme, convence como ítalo americano e termina o filme como o Poderoso Chefão, tendo suas mãos beijadas pelos mafiosos de plantão.

Não se pode deixar de mencionar a aula de montagem do filme, ao final, durante a bela ópera encenada e os acontecimentos paralelos, sendo executados com todos os devedores, ao estilo Corleone. Tudo acompanhado pela belíssima música operística.

Muitos críticos, à época do lançamento do filme e até hoje, não deram muita importância a essa terceira sequência da trilogia, talvez porque tenha havido um hiato de dez anos para ser filmado e também pelo enfoque político nele inserido. Em lugar dos temas mafiosos presentes nos filmes anteriores. Essa sequência tem validade qualitativa tão quanto às duas partes anteriores. É por isso que na História do Cinema não vai existir outra trilogia igual.

a) A História por Trás de O Poderoso Chefão (1)

 

 

b) A História por Trás de O Poderoso Chefão (2)

 

 

c) A História por Trás de O Poderoso Chefão (3)

 

 

1) Os Finais Perfeitos da Trilogia O Poderoso Chefão

 


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 18 de agosto de 2020

UMA CRÔNICA TRISTE

 

UMA CRÔNICA TRISTE

Frase de Don Vito Corleone no filme o Poderoso Chefão

Ademilton nasceu numa cidadezinha pobre do interior nordestino, onde só havia três ruas, a principal e duas secundárias, sem asfalto. Nasceu uma criança magra, raquítica, anêmica, qual um “Tibicuera”, mas na adolescência recuperou essa deficiência orgânica com umas “paneladas” que a mãe, Dona Abigaí Franzina, preparava em segredo e lhe dava à noite, antes de dormir.

Cedo descobriu que tinha vocação para cozinhar bem, hábito herdado da mãe que, onde punha as mãos habilidosas no tempero, transformava qualquer prato caseiro em iguaria deliciosa, sem nunca ter recebido orientação gastronômica. Tudo lhe era intuitivo.

Depois que ficou adulto Ademilton confessou a mãe que queria viajar para a cidade grande, trabalhar em cozinha ou montar seu próprio negócio focado em comida, mas algo o bloqueava de fazer o que mais gostava: sua condição homossexual, que a mãe já tinha notado desde criança e nunca o recriminou, por isso mesmo lhe era uma das maiores incentivadoras.

Já com seus dezoito anos completo e focado nas suas pretensões gastronômicas, Ademilton reuniu a mãe, o pai e os irmãos, confessou-lhes “que lugar pequeno não lhe dava futuro, espaço para ele se desenvolver”, por isso mesmo estava viajando para a cidade grande com o propósito de investir na profissão de cozinheiro, sua verdadeira vocação. Quando tivesse estabelecido viria buscar a família para formar a sociedade.

Os pais e os irmãos o apoiaram, desejando-lhe grande sucesso na empreitada, o que fez com que Ademilton se sentisse mais seguro da sua decisão.

Ao aportar na cidade grande, vindo por um ônibus da Itapemirim, Ademilton alugou um quartinho no centro da cidade, num local movimentado, com o dinheiro que os pais lhe deram para se virar por uns dias enquanto não arranjasse emprego ou abrisse o seu negócio dos sonhos.

Intuitivo, ele logo percebeu que havia ancorado no lugar certo e, com seu faro gastronômico, percebeu que no lugar onde ficou não havia um ponto comercial decente, acolhedor, que absorvesse toda aquela gente que saia do trabalho a procura de comida para almoçar, bebida, lazer, diversão, arte, mulher…

Um dia, vagando pela cidade e estudando todas as possibilidades comerciais possíveis, Ademilton entrou no cinema onde estava passando “O Poderoso Chefão”, primeiro filme da trilogia dos Vito Corleone, dirigido pelo magno Francis Ford Coppola. Quando terminou a exibição do filme ele ficou atordoado com os diálogos, sobretudo com as célebres frases sobre empreendedorismo ditas por Don Vito Corleone, como: “Nunca desvie o foco do seu negócio, mesmo que apareçam propostas tentadoras. Isso acaba lhe prejudicando e você pode não saber onde vai chegar.” Dentre outras.

Depois que saiu do cinema, Ademilton já tinha pronto o protótipo do seu projeto comercial na cabeça e no outro dia começou a pôr em prática sua ambição. Montar o restaurante com todos os pratos que a mãe lhe ensinara, e mostrar aos fregueses que a comodidade em gastronomia havia chegado.

Com menos de um ano de inaugurado o restaurante de Ademilton era sucesso absoluto nas redondezas no ramo da culinária típica da região, mas com pratos de nomes criativos bolados por ele, além de outras diversões.

Mas como na vida nunca se sabe o que o futuro lhe reserva, Ademilton não seguiu as lições de Don Vito Corleone e se juntou a comerciantes inescrupulosos da área que com inveja da ascensão do jovem promissor mandaram-no matar para “eliminando a pedra do meio do caminho.”

A Polícia não apurou quem cometeu o crime. Em consequência ninguém foi preso e nunca se soube dos autores da execução e mandantes. O restaurante do jovem promissor foi fechado, todos os funcionários foram dispensados e a família, cujo sonho era trabalhar junto para crescer junto, ficou apenas na esperança.

Infelizmente Ademilton não seguiu os conselhos de Don Vito Corleone, que vale para qualquer época.

Seis lições do filme O Poderoso Chefão para empreendedores e líderes:

 


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 11 de agosto de 2020

SEU JUVINO E A COSTELA DE ADÃO

 

SEU JUVINO E A COSTELA DE ADÃO

 

Cartomante de Nicolas Régnier, pintor italiano (1591-1667), a semelhança de Tia Jurema

Seu Juvino era um setentão que exteriorizava sua angustia com a vida em bate papo com os amigos, apesar de ter uma companheira pela qual dizia ser apaixonado. Era-lhe visível a solidão de estar acompanhado, mas só. Todo dia lamentava não ter o aconchego da parceira na cama para abraçar-lhe o corpo, apertar, beijar, acariciar, tocar-lhe as partes sensíveis e depois viajar pelo infinito da Costela de Adão com as mãos espalmadas amaciando as curvas lombares, até o prazer explodir.

Angustiado de ver todos os dias a companheira deitada com as ancas roliças para cima, cobertas por uma camisola de seda transparente, dormindo e sem poder fazer nada porque ela o rejeitava se dizendo cansada do trabalho diário, Seu Juvino resolveu procurar uma cartomante para passar a limpo aquela indiferença.

Por meio do seu grande amigo de jogar conversa fora, Tião Pé de Mesa, soube que havia uma cartomante de nome Tia Jurema que era o cão chupando manga em quiromancia. Arranjava solução para todos os problemas conjugais, carnais, chifrais e sexuais. Com as cartas e búzios às mãos, ela prometia trazer o homem ou a mulher amada de volta. Estimular a libido, intumescer o que estava mole, descobrir quem estava traindo ou comendo quem…

Doido para ter a tesão da mulher de volta para as sacanagens carnais, Seu Juvino perdeu o acanhamento e procurou a cartomante Tia Jurema, indicada pelo amigo. Antes de adentrar nos aposentos sombrios do quarto onde se encontrava a mulher misteriosa, ele teve de passar por uma “triagem” numa anti-sala do terraço da casa onde a atendente lhe perguntava o porquê da visita. Embaixo da escrivaninha da secretária havia um microfone que levava todo o “diálogo” das partes à sala ao quarto místico da cartomante, de modo que, quando o “paciente” entrava a quiromante já sabia o que o trouxe a li e como ludibriá-lo e arrancar-lhe a grana que quisesse.

Depois que Seu Juvino confessou todos os seus segredos e insatisfações com a companheira a atendente o ordenou se deitar na espreguiçadeira que estava ao lado, que relaxasse um pouco, pois em breve seria chamado. Tia Jurema estava em “transe” para recebê-lo com todo carinho.

Passados exatos trinta minutos, a atendente veio até Seu Juvino. Pediu-lhe que a acompanhasse e o deixou no quarto com a cartomante. Esta o mandou sentar e sem lhe tirar os olhos, puxou o véu que cobria o rosto e começou a trapacear as cartas que tinha às mãos e as jogou na mesa espalhadas, sobre o olhar curioso do “paciente.”

– Vejo pelas cartas que o senhor tem um grande problema com sua companheira por falta de sexo, não é mesmo?

Seu Juvino balançou com a cabeça que sim, e a cartomante prosseguiu:

– Também vejo pelas cartas que o senhor tem uma tesão enorme por ela e ela se diz cansada e sem apetite sexual, não é mesmo?

Mais uma vez ele balança com a cabeça que sim, e a cartomante percebendo a chance de ganhar muito dinheiro em cima da inocência de Seu Juvino, “prescreve” alguns chás de ervas milagrosas, passa por todo seu corpo uns galhos de arrudas e manjericão, inventa uns salamaleques sem pé nem cabeça, bota as mãos dele em cima dos peitos dela, senta-lhe no colo, faz-lhe uns cafunés e pede que ele retorne à próxima sessão de descarrego para a cura definitiva da indiferença. E acrescenta:

– Fique em abstinência sexual até semana que vem para a gente fazer uns testes ao vivo aqui e eu curá-lo definitivamente esse fogo.

Após sair do quarto sinistro, Seu Juvino não estava atordoado feito Camilo quando encontrou Rita morta e ensanguentada, como no conto de Machado de Assis, mas pensando nos peitos da cartomante Tia Jurema.


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 04 de agosto de 2020

TRÊS HOMENS EM CONFLITO (3) - A MAGNA TRILOGIA DO DIRETOR SERGIO LEONE

 

TRÊS HOMENS EM CONFLITO (3) – A MAGNA TRILOGIA DO DIRETOR SERGIO LEONE

Texto escrito em parceria com o especialista em filmes de faroeste D.Matt

Cena cinematográfica antológica do duelo final dos três personagens no cemitério

(Il BUONO, Il BRUTTO, Il CATTIVO)

Terceiro filme da Magna Trilogia dos Dólares: o Bom, o Mau e o Feio, ou Três Homens em Conflito, é uma inquestionável obra de arte do cinema western spaghetti! É um filme que mostrou ao mundo o quão talentoso era Sergio Leone. Apesar de suas quase três horas de duração o filme é inteligentemente ágil e impressionantemente hábil. Um clássico do estilo western spaghetti.

O longa-metragem completa a Trilogia dos Dólares agora com três protagonistas. O Bom, o Homem sem Nome; o Mau, Olhos de Anjo e o Feio, Tuco. Cada um apresentado no primeiro ato: O Bom, ainda trabalha como caçador de recompensas, o Feio é um bandido cruel e o Mau, um homem em busca de um tesouro perdido de 200.000 mil dólares no cemitério…

Clint Eastwood continua no seu personagem o Homem sem Nome, (com o codinome de Lourinho), personagem que ele incorpora com habilidade e mestria. O Lee Van Cleef soube criar um personagem carismático, numa interpretação magnífica. Um ótimo ator que qualquer diretor gostaria de tê-lo interpretando qualquer personagem coadjuvante ou principal.

Mas, o mais extraordinário é a atuação do ator Eli Wallach. Seu desempenho é magistral. Ele aparece em quase todas as cenas, com grande atuação interpretativa. Na verdade ele é o ator principal, pois tem o triplo das ‘falas” dos demais personagens e sua versatilidade supera o limite da interpretação.

Durante todo o filme o telespectador fica torcendo pela sua aparição, pois ele ” rouba” todas as cenas em que aparece, inclusive a sua atuação tem mais intensidade que a de todos os demais atores.

As cenas principais se intensificam do meio para o fim do filme, quando os personagens se envolvem com a guerra civil americana, com cenas de guerra violentas, campo de prisioneiros, sadismo de oficiais… Tudo apresentado e encaixado com genialidade pelo diretor Sergio Leone.

Mais uma vez o diretor faz uso constante da técnica de “closes” dos personagens, pois com esses “closes” é possível mostrar a reação dos personagens diante do perigo ou do inesperado.

Para saber usar esses “closes” com eficiência, o diretor precisa ser um mestre e também os atores, pois se o ator não souber reagir adequadamente a um “close” de alguns segundos e não souber demonstrar o que está sentindo, fica com cara de idiota. Mas nas mãos do diretor Sergio Leone tudo fica “clear”.

O filme é repleto de muita ação inesquecível e certamente agradou e agrada a todos aficionados do tema em qualquer época, que apreciam uma boa história westerniana. Não se deseja aqui contar a história do filme, apenas informar que o fato principal é que os três personagens principais acabam se envolvendo no resgate de um grande tesouro de ouro, roubado do exército e escondido numa cova em um cemitério…

O duelo final entre os três personagens no cemitério é uma cena antológica, memorável, que dura aproximadamente uns 10 minutos, sem qualquer diálogo. É filmado em uma pretensa arena circular no meio do cemitério, apenas pontuando a magnífica música do genial maestro Ennio Morricone.

Sobre esse filme, um crítico experiente declarou em um artigo: “Sem sombra de dúvida, o western mais ambicioso e influente já produzido. É uma aventura audaciosa que mudou para sempre o futuro do gênero.”

E saber que essa extraordinária, monumental, memorável obra de grande perfeição fílmica foi feita muito antes do genial diretor Sergio Leone criar mais outra obra-prima no gênero: “Era uma Vez no Oeste,” não há que se discutir até onde vai a capacidade criativa de um gênio.

Porém há muito mais substância e camadas em o Bom, o Mau e o Feio ou Três Homens em Conflito do que se possa pensar à primeira vista. Não se trata de um filme difícil em termos de conteúdo, mas talvez na interpretação de suas riquezas simbólicas, que podem ser escancaradas ou estarem nas estrelinhas.

Além disso, o espectador precisa ver o filme sem pressa de que ele alimente respostas ou verdadeiro sentido antes do final, pois aí é que está a sacada do diretor Sergio Leone. Ele nos guia por um caminho de busca e luta entre dois lados, cada um atormentado por um demônio e com um objetivo egoísta para cumprir. Ao chegar ao definitivo clímax, ele reverte o jogo e nos escancara o dilema da solidão, do sentido para a vida do homem em busca de dinheiro ou justiça. Nesse ponto final, há uma seta que nos faz retornar para o início da obra, onde a frase de abertura, enfim, alcança o seu real sentido: “Onde a vida já não tinha mais valor, a morte às vezes tinha o seu preço. Eis que surgiram os caçadores de recompensas“.

Sergio Leone foi o único cineasta da História do Western Spaghetti que teve uma terceira chance de causar uma primeira impressão.

14 curiosidades inéditas sobre o filme o Bom o Mau e o Feio, ou Três Homens em Conflito

 

 

* * *

Clique aqui para assistir ao filme completo “Três Homens em Conflito”, que mesmo depois de meio século, segue sendo reverenciado por todos que apreciam filmes western de qualidade.

 


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 28 de julho de 2020

POR UNS DÓLARES A MAIS

 

 

POR UNS DÓLARES A MAIS (2) – A MAGNA TRILOGIA DO DIRETOR SERGIO LEONE

Texto escrito em parceria com o especialista em filmes de faroeste D. Matt

Cena clássica de “Por uns Dólares a Mais (1965),” do diretor italiano Sergio Leone

Em seu segundo filme da Trilogia do Homem sem Nome, o diretor Sergio Leone pensou um filme simples, mas engenhoso, com uma temática diferente do primeiro. Enquanto “Por um Punhado de Dólares” ele narra a história de um pistoleiro solitário, “Por uns Dólares a Mais”, vê-se um cenário diferente: desta vez, o homem sem nome, personagem de Clint Eastwood, trabalha como caçador de recompensas, e acaba tendo a concorrência de um desconhecido recém chegado à cidade, o coronel Douglas Mortimer, interpretado magnificamente por Lee Van Cleef. Os dois buscam informações um do outro enquanto um perigoso vilão aparece na história, o pistoleiro conhecido como El índio, interpretado por Gian Maria Volonte, o mesmo que dá vida ao vilão de “Por um Punhado de Dólares”, só que agora vivendo outro personagem cruel.

O vilão desta trama, tal como no filme anterior, tem grande destaque, e novamente Gian Maria Volonte tem uma atuação impecável, na pele do sádico pistoleiro El Indio, que lidera uma quadrilha de assaltantes de banco que não perdoa ninguém que atravessa seu caminho. Clint Eastwood repete seu personagem, o Homem sem Nome, e novamente tem uma atuação brilhante. Tal como o recém chegado Lee Van Cleef, que interpreta um personagem dúbio, e que não nos dá muitas pistas sobre seu caráter, algo que Lee Van Cleef trabalha muito bem em seu personagem, e como era de se esperar, ele tem uma brilhante atuação, guiado pelo talentoso diretor da obra-prima “Era uma Vez no Oeste.”

Nesse filme temos sequências de ação espetaculares, além de uma história globalmente simples, mas coesa, com um roteiro sem furos. A trilha sonora, novamente assinada pelo maestro Ennio Morricone, é simplesmente brilhante, e dá exatamente o clima que a trama requer. Um trabalho magistral.

Sergio Leone conduz seu elenco com mão de mestre, tirando o melhor de cada ator. As cenas dos confrontos, com closes constantes, também são esplêndidas. O cenário reconstrói com louvor o Velho Oeste. Em resumo, “Por uns Dólares a Mais” é mais uma obra-prima da Magna Trilogia dos Dólares do diretor Sergio Leone que merece ser assistida a exaustão porque há sempre uma coisa nova a se descobrir.

A contratação do competente ator Lee Van Cleef por Sergio Leone, que já tinha demonstrado seu talento como ator coadjuvante em inúmeros filmes, inclusive teve uma importante participação no clássico western “Matar ou Morrer” com Gary Cooper, e fez pequenas pontas em vários filmes no início de sua carreira, assim como outros grandes atores hoje reconhecidos por suas atuações memoráveis em vários filmes da época, como Lee Marvin, Jack Elann, e porque não incluir o extraordinário negão, Woody Strode, um dos atores favoritos do diretor “racista” JOHN FORD, prova a competência do diretor e comprova porque a Magna Trilogia dos Dólares é insuperável na história do western spaghetti.

Portanto, não é redundância afirmar: a contratação do ator Lee Van Cleef para fazer um personagem dúbio foi um golpe de mestre do diretor Sergio Leone e o resultado final do produto foi memorável, segundo o crítico de cinema e roteirista norte-americano Roger Ebert. A música pontua do início ao fim, naquela harmonia e qualidade insuperável do genial maestro Ennio Morricone. Ao final, temos a certeza de ter desfrutado de mais de duas horas de pura arte cinematográfica westerniana.

Cena clássica do duelo final do filme “Por uns Dólares a Mais

 

 

Clique aqui para assistir ao filme completo “Por uns Dólares a Mais”, segundo da Magna Trilogia dos Dólares


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários sexta, 24 de julho de 2020

QUE FALTA ELA NOS FAZ!

 

 

QUE FALTA ELA NOS FAZ!

Dona Maria do Carmo e Armando Monteiro (no amor eterno)

Um dos mais lindos, sublimes e comoventes textos que li nos últimos anos foi publicado na Folha de Pernambuco, no dia 18/Jul/2020, por Dona Maria Lectícia Monteiro Cavalcanti, esposa do jurista e colunista fubânico, Dr.º José Paulo Cavalcanti Filho, homenageando sua mãe, Dona Maria do Carmo Monteiro, uma mulher tão linda e elegante que, aos 94 anos a natureza a mantinha com o rosto de pêssego e sorriso de maçã, e o tempo manteve essa beleza intacta sem precisar de photoshop:

“Ensina o livro do Eclesiastes que há um tempo para todo propósito debaixo do céu: “Tempo de plantar e tempo de arrancar a planta; tempo de chorar e tempo de rir; tempo de abraçar e tempo de se separar; tempo de nascer e tempo de morrer” (Ecl 3, 1-5). Até o final dos tempos, assim será. “Uma geração vai, uma geração vem. O sol se levanta, o sol se deita, apressando-se a voltar ao seu lugar e é lá que ele se levanta outra vez. O que foi será, o que se fez, se tornará a fazer: nada há de novo debaixo do sol” (Ecl 1, 4-9).

Compreendemos tudo isso. Aceitamos a vontade de Deus. E agradecemos o privilégio da convivência com minha mãe. Só que agora, teremos que aprender a viver sem ela. Ficou um enorme vazio. Uma tristeza sem fim. A saudade de sua presença linda, elegante, impecável (no físico e nos gestos). De seu jeito doce e firme, carinhoso e forte, simples e altivo. Sempre intransigente na defesa de seus princípios, solidária e generosa com os que precisavam, presente na alegria e, sobretudo, na tristeza.

Saudade dos seus conselhos, de sua experiência, de sua sabedoria. Sempre equilibrada e tranquila, na adversidade. Porque cedo compreendeu que os problemas estão postos para serem resolvidos. E decide melhor quem não se abate, quem os enfrenta sem dramas, sem dores, sem queixas.

Esteve sempre aberta à vida. Às modernidades da juventude. Dominava com maestria todos os equipamentos eletrônicos. Escolheu como sua principal e mais importante missão cuidar de Papai. De tanto cuidar dele e dos outros, virou quase médica; e assim, como se fosse mesmo examinava, diagnosticava, passava remédio. E acertava, sempre.

Criou seus filhos respeitando a individualidade de cada um. Compreendendo que filhos não são nunca cópias perfeitas de seus pais, no sentido de que devem ser livres para cumprir seus destinos. Com a distância das jornadas se medindo, algumas vezes, pelas circunstâncias; outras, pela determinação da vontade.

Criou seus filhos respeitando a individualidade de cada um. Compreendendo que filhos não são nunca cópias perfeitas de seus pais, no sentido de que devem ser livres para cumprir seus destinos. Com a distância das jornadas se medindo, algumas vezes, pelas circunstâncias; outras, pela determinação da vontade.

Criou seus filhos respeitando a individualidade de cada um. Compreendendo que filhos não são nunca cópias perfeitas de seus pais, no sentido de que devem ser livres para cumprir seus destinos. Com a distância das jornadas se medindo, algumas vezes, pelas circunstâncias; outras, pela determinação da vontade.

Precisamos, e precisaremos sempre, de seu exemplo, de suas lições, de sua proteção. Até porque, como no poema (Para sempre) de Carlos Drummond de Andrade, “Mãe não tem limite/ É tempo sem hora,/ É luz que não apaga quando sopra o vento/ É eternidade”. É “a coisa no mundo mais parecida com os olhos de Deus”, segundo dom Tolentino Mendonça.

Ensina o poeta espanhol Antonio Machado que, “Para o caminhante, não há caminhos.

Caminhos se fazem ao andar”. Na direção indicada pelas estrelas no céu. Se assim é recebam, Mamãe e Papai, de seus filhos, netos e bisnetos, a certeza de que vocês são, e serão sempre, duas estrelas brilhantes. Indicando caminhos, no mar sem fim de nossas vidas.”

Quem já teve o privilégio de ler História dos SABORES PERNAMBUCANOS (2014), uma pesquisa de fôlego das delícias do paladar pernambucano e Esses Pratos Maravilhosos e Seus Nomes Esquisitos (2013), com prefácio primoroso do antropólogo Roberto Augusto DaMatta, ler sua coluna aos sábados sobre culinária freyreana na Folha de Pernambuco e saboreia os pratos pernambucanos, se apaixona tão apaixonadamente pela culinária pernambucana ao ponto de sentir seu sabor para o resto da vida.


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 21 de julho de 2020

FAMOSOS E FRASES DIVERTIDAS

 

FAMOSOS E FRASES DIVERTIDAS

RÉPLICA DO CABARÉ DE MARIA BOGO MOLE:

Compilação de frases inteligentes e divertidas feitas pelo editor e repórter Ivan-Pé-de-Mesa, alter ego de Manoel Bione, criador do hebdomadário o Papa-Figo e esse escriba sem futuro. Maria Bago Mole é o destaque.

Inauguração da Ponte Rio-Niterói. “Por um lado, é muito bom; por outro lado, é Niterói”. (Max Nunes).

Viver no Rio é uma merda; mas é bom. Viver em New York é bom, mas é uma merda. (Tom Jobim).

Quando estamos fora, o Brasil dói na alma; quando estamos dentro, dói na pele. (Stanislaw Ponte Preta).

A Academia Brasileira de Letras se compõe de 39 membros e um morto rotativo. (Millôr Fernandes).

Brasil? Fraude explica. (Carlito Maia).

Pior do que o fim do mundo, para mim é o fim do mês. (Zeca Baleiro).

Quem se mata de trabalhar merece mesmo morrer. (Millôr Fernandes).

Democracia é quando eu mando em você. Ditadura é quando você manda em mim. (Millôr Fernandes).

A arte de ser louco é jamais cometer a loucura de ser um sujeito normal. (Raul Seixas).

Não é triste mudar de ideias; triste é não ter ideias para mudar. (Barão de Itararé).

Comecei uma dieta: cortei a bebida e as comidas pesadas e em quatorze dias perdi duas semanas. (Tim Maia).

O sol nasce para todos; a sombra, para quem é mais esperto. (Stanislaw Ponte Preta).

Nada nos humilha mais do que a coragem alheia. (Nelson Rodrigues).

Celulites não são apenas celulites, elas querem dizer…”Eu sou gostosa”. Só que em Braille!!! (Rita Cadilac)

Fumo maconha, mas não trago, quem traz é um amigo meu. (Marcelo Anthony, ator da Grobo Lixo).

O que te engorda não é o que você come entre o Natal e o Ano Novo, mas o que você come entre o Ano Novo e o Natal! (Hebe Camargo).

Se o horário oficial é o de Brasília, por que a gente tem que trabalhar na segunda e na sexta-feira? (Marta Suplicy).

Eu só deixei ele porque ele deixou de gemer do jeito que eu gemo. Não tem graça nenhuma gemer sem uma gemada! (Maria Bago Mole).

Não se conquista um homem abrindo as pernas para ele só fazer o monder. É preciso saber fazer o remelexo no momento hagá e deixá-lo molim, molim! (Maria Bago Mole).

Tudo que eu consegui na vida foi por causa da minha taiada, o anel de couro e o trabalho duro. Não houve milagre. Houve um homem certo no momento certo com a braguilha aberta e o patuá duro, fora, mirando o buraco de minha bacurinha raspada. (Maria Bago Mole).

O priquito é o pedaço de carne mais delicioso do mundo. Não fosse ele todos os homens seriam baitolas ou morriam na mão. (Maria Bago Mole).

No dia que você der uma cagada no mato, limpar o cu com uma folha de urtiga e as beradas não ficarem vermelhas, coçando, você nasceu com o rabo virado para lua de sorte. A urtiga tinha as folhas abicharadas. (Maria Bago Mole).

Para seu marido não acordar com a macaca… depile-se! (Vera Fischer).

O homem é um ser tão dependente, que até para ser corno, precisa da ajuda da mulher. Para ser viúvo, também… (Dercy Gonçalves).

Por maior que seja o buraco em que você se encontra, pense que, por enquanto, ainda não há terra em cima. (Yasser Arafat).

Preguiçoso é o dono da sauna, que vive do suor dos outros. (Príncipe Charles).

O homem mais sortudo do mundo sou eu que me apaixonei e casei com a maior tribufu do mundo, e ela já era arrombada. (Príncipe Charles).

Não me considere o chefe; considere-me apenas um colega de trabalho que tem sempre razão. (George Bush).

Malandro é o pato, que já nasce com os dedos colados para não usar aliança. (Zeca Pagodinho).

Todo mundo tem cliente. Só traficante e analista de sistemas é que tem usuário. (Bill Gates).

Seja legal com seus filhos. São eles que vão escolher o seu asilo. (Desconhecido).


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 14 de julho de 2020

POR UM PUNHADO DE DÓLARES (1) – A MAGNA TRILOGIA DO DIRETOR SERGIO LEONE

 

 

POR UM PUNHADO DE DÓLARES (1) – A MAGNA TRILOGIA DO DIRETOR SERGIO LEONE

Texto escrito com a colaboração do estudioso de filmes de faroeste D.Matt.

Clint Eastwood em cena magna de “Um Punhado de Dólares”

Nasce uma lenda: “Por um Punhado de Dólares”. (Per um Pugno di Dollari) – Itália – Espanha – Alemanha Ocidental – (1964). Um sangrento e cruel conto de fadas adulto.

Primeiro filme da Magna Trilogia dos Dólares ou Trilogia do Homem Sem Nome, estrelada por Clint Eastwood (o pistoleiro solitário), no papel principal, filmado na Itália, na Espanha e na Alemanha Ocidental. Dirigido pelo genial diretor italiano Sergio Leone.

Nesse primeiro filme da série, todos os atores, técnicos e diretores estão com os nomes americanizados. O diretor Sergio Leone consta como sendo Bob Robertson. A trilha sonora ficou a cargo do genial maestro Ennio Morricone, que usa a sensibilidade musical para marcar presença. Nos créditos do filme seu nome aparece como Leo Nichols. Cacoetes da época.

“Por um Punhado de Dólares” provoca uma forte impressão no telespectador. Dirigido com precisão, porém sem o rigoroso estalão empregado em Três Homens em Conflito (1966) ou Por Uns Dólares a Mais (1965), Por Um Punhado de Dólares é uma espécie de crônica impiedosa que nos deixa em estado de atenção durante toda sua projeção e termina por nos fazer sorrir com amargura para a tela. A história é simples, transportada quase que de maneira integral do filme “Yojimbo – O Guarda-Costas”, de Akira Kurosawa. No caso específico desse início da Trilogia dos Dólares, temos um pistoleiro solitário e sem nome (Clint Eastwood), que chega a uma pequena vila na fronteira dos Estados Unidos com o México, um lugar dominado por duas famílias de bandidos e contrabandistas, os Baxters e os Rojos.

Apesar de não constar na apresentação, o filme cujo roteiro dispensa comentário, foi escrito por várias mãos, como sendo Sergio Leone, Andrés Catena, Jamie Comas Gil, Fernando Di Leo, Duccio Tessari, Tonino Valerii, com versão inglesa de Mark Lowell e Clint Eastwood.

Isso não desmerece em nada o filme, pois o roteiro original e a cópia italiana são perfeitos, com muita ação e belamente interpretados. A versão italiana é colorida. Quanto à versão japonesa é em preto e branco. A versão japonesa é considerada um clássico. Mas o filme “Por um Punhado de Dólares” tem uma interpretação muito convincente do ator Clint Eastwood, que foi dirigido magistralmente pelo diretor Sergio Leone, que desde este seu primeiro filme como spagheti western, demonstra a que veio e nos dá uma aula de como dirigir um filme com segurança e genialidade, isso com pouco recurso.

A História tem muito suspense, a direção é soberba e os atores são todos de primeiríssima qualidade, muitos são celebridades do cinema italiano, que confiaram no talento do diretor Sergio Leone, aceitaram o papel secundário e realizaram um belíssimo trabalho interpretativo.

Necessário faz-se chamar a atenção dos leitores para uma característica muito usada pelo diretor Sergio Leone em todos os seus filmes, sendo que neste ele usa e abusa inteligentemente dos closes. São praticamente centenas de closes em todas as cenas. O diretor procura mostrar aos espectadores a reação dos personagens com closes longos e repetidos a exaustão e os personagens reagem belamente com essa técnica com belíssimos e expressivos closes em quase todas as cenas.

As cenas finais são antológicas, principalmente o duelo final, no qual o personagem (sem nome) interpretado pelo ator Clint Eastwood, usa um escudo de ferro embaixo do seu ponche. Cena esta já histórica e sabiamente aproveitada pelo diretor Robert Zemeckis no filme “De Volta Para o Futuro nº. 3” com um resultado de muita criatividade.

A Trilha sonora é tão importante neste filme, como se fora um personagem vivo e testemunha presente dos fatos. A música pontua, chama atenção para pequenas cenas, pequenos gestos e segue os atores nas cenas em que há alguma expectativa, de modo insistente como a advertir os personagens do que está por vir. A música é um personagem do filme, coisas do maestro Ennio Morricone que já declarou que antes de fazer a música ele precisa conhecer toda história do filme e mais importante: acompanhar as principais cenas da filmagem, como ele fez no clássico “Era Uma Vez no Oeste” o que resultou naquela magnífica obra-prima do western spaghetti.

“Por um Punhado de Dólares”, apesar do pouco recurso para realizá-lo, já nasceu clássico.

Trilha sonora de “Um Punhado de Dólares do genial Ennio Morricone

 


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 07 de julho de 2020

OS CANEIROS ZÉ MARIA E CHICO TIRA-GOSTO

 

OS CANEIROS ZÉ DE MARIA E CHICO TIRA GOSTO

Zé de Maria era um exímio caçador de pebas noturnos. Seus animais prediletos eram javalis, gambás e preás de cana de açúcar. Dizia ele terem esses animais as carnes mais saborosas do mundo para tomar com cachaça.

Um dia ouviu falar que lá nas matas do sítio de Chico Tanoeiro havia muitos gambás gordos, pois à noite eles invadiam o galinheiro do velho e comiam as galinhas de capoeira que dormiam num poleiro de madeira do quintal da casa grande. Coisas do interior.

Zé de Maria, como era chamado pelos seus colegas de copo, apesar de saber da existência dos gambás do sítio de Chico Tanoeiro, não tinha coragem de ir até lá sozinho porque tinha medo de passar por um matagal cerrado, escuro como breu que – diziam – havia muitas almas sebosas “penadas” por lá, “observando o ambiente”. Visagens que urravam durante a noite clamando pela salvação da “alma” que ainda se encontravam no purgatório, “aguardando autorização divina para entrarem no Reino do Céu” e por isso rogavam por uma ajudazinha dos “sem-pecados” da terra.

Como tinha medo de almas “penadas”, Zé de Maria resolveu chamar o colega de copo Chico Tira Gosto para ir ao sítio à noite com ele. E saíram a caçar gambás nas matas de Chico Tanoeiro, ambos armados com espingarda soca-soca: Um tiro, uma carreira!

Um dia saíram os dois armados com suas espingardas. Como Zé de Maria estava bêbado qualquer vulto que passasse em sua frente para ele era um gambá… Depois de muito observar e não ver nada, cansado, ele se deita em cima de uma touceira de capim e põe-se a roncar. Nesse momento chega Chico Tira Gosto e, sem dar conta que era o amigo, mas sim um “vulto” feito um gambá, mira a espingarda nos ovos do colega de copo, puxa o gatilho e, puffffffffffff!!, o chumbo espalhou na “trôxa” de Zé de Maria, espatifando os dois ovos murchos.

Nesse momento, Zé de Maria, sentindo o impacto do chumbo nos “grogomilos”, mesmo cambaleante de bêbado, levanta-se e percebe os “bichos” pendurados e, com o “cacho” na mão todo ensanguentado, pergunta para o colega:

-Que diacho foi isso, Chico? Arrancasse de mim o mais sagrado órgão do corpo que Deus me deu foi?! Como vou explicar a Ritinha que não posso mais comer ela guisada? Ritinha era uma galinha de capoeira gorda.

– Zé – disse Chico Tira Gosto – desculpa aí macho! Eu pensei que tua “trôxa” fosse um gambá. Esqueci-me completamente que tu tens os ovos grandes!

E, sem perder tempo, Chico Tira Gosto leva o parceiro de copo para a Maternidade municipal na carroça de burro. Chegando lá na sala de emergência preocupado com a situação do amigo, vai logo perguntando ao enfermeiro se era grave o problema e se ele corria risco de morte. Ao que o enfermeiro, sarcástico, afirma:

– Grave não é não, mas tem um porém: Se ele escapar, nunca mais vai poder comer uma bacurinha guisada porque pode inflamar! E deu um riso sarcástico: Quá! Quá! Quá! Quá! Quá! Quá! Quá! Quá!

Vídeos de bêbados engraçados

 


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários quinta, 02 de julho de 2020

QUARENTENA - VAI DAR CERTO - COM FALCÃO

 

CÍCERO TAVARES – RECIFE-PE

 

Segue um vídeo do genial Falcão cantando uma pérola musical de sua autoria dançante e contagiante, ao lado de crianças alegres, para espantar o horror da pandemia do coronavírus, que está afetando mente sã e corpo são do povo, e tocando o terror.

Como o Jornal da Besta Fubana comporta tudo que é escrotidão política (olha a redundância!), serviços e desserviços de utilidade pública, comerciais de óleo de peroba sem fins lucrativos, “debatebocas” entre os pares dos tribunais judiciais e não judiciais, como nas sessões espirituais de descarregos do Supremo Tribunal Federal, o mais aético e acanalhado puteiro do Brasil, nada mais saudável do ouvir mais essa pérola do genial filho de Pereiro (Ceará), uma ode ao otimismo que há de vir, após passar essa pandemia que está trancando o povo em casa e assustado como se fosse gado no curral, a espera do abate.

Segue o clipe de “Vai dar Certo” para alegrar nosso espírito.

 


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 30 de junho de 2020

A DEUSA DO LARGO DA ENCRUZILHADA

 

A DEUSA DO LARGO DA ENCRUZILHADA

Para Arlete Silva, cuja beleza vai além dessas notas taquigráficas

Todas as vezes que ela passa no Largo da Encruzilhada balançando as ancas protuberantes, sensuais, cobertas por um short de helanca listado, transparente, colado à bunda hígida, um admirador lhe observa com olhar de pidão e sentimento de posse, imaginando-a toda nua nos seus braços fazendo amor com ela sob a luz da lamparina.

Ela é uma deusa de folhas de ouro ou de outro metal precioso que, na Roma antiga, era oferecida às grandes atrizes de beleza ímpar, in natura, como reconhecimento e celebração de seus atributos corporais.

– “Meu Deus! Quanta beleza, formosura, rebolado, gingado nos quadris daquela morena de bunda e pele banhada de morenidade – sem protetor solar!” – observa, sempre, o sessentão do outro lado da praça, sentado no tamborete do bar “O Apreciador”, degustando-a de desejos com a libido a flor da pele e o órgão genital intumescido dentro da cueca!

Certo dia, ela de passagem pela Praça da Encruzilhada, de repente um vento macho levanta-lhe a saia que ela tenta segurar com as mãos delicadas aquilo que o observador, à distância, já havia notado em suas andanças no lago, o que havia intimamente escondido dentro do vestido de helanca: Uma calcinha cor de rosa protegendo a sensualidade que enlouqueceu o apreciador.

Daquele dia em diante nunca mais ele conseguiu desvencilhar-se dela. A Deusa da Encruzilhada, fez morada na sua lascívia e o transformou num vassalo, escravo daquela beleza que só a Natureza é capaz de produzir nas fêmeas para os machos. Ela não precisou fazer mais nada para conquistar o coração do observador, apenas utilizar seus artifícios sensuais enigmáticos tal qual Capitu de Machado de Assis para Bentinho, com o olhar.

Ela sabe da existência dele. Sabe o quanto ele a tem como paradigma de beleza e sensualidade. Sua cor, sua pele, seu corpo trigueiro, seus olhos negros penetrantes e sexuados fazem com ele a considere a mina dos seus olhos e dos seus desejos, mas falta ela saber a falta que ela faz a ele.

Será que um dia ela vai perceber a emoção que ele sente por ela quando a ver, o coração batendo acelerado? Ou será que ela já sabe e disfarça que não para manter o segredo como idolatria?

Enquanto ela não descobre essa obsessão dele por ela ele vai vivendo de sonho porque sonhar é realizar os desejos da vontade e senti-los verdadeiros.

 


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 23 de junho de 2020

FRED, UM HOMEM SEM SORTE NO AMOR

 

FRED, UM HOMEM SEM SORTE NO AMOR

Prédio da Secretária de Saúde onde Fred conheceu a viúva

Fred era um funcionário público exemplar, exceção à regra. Cumpria seu ofício de servidor pau para toda obra. Era um exímio consertador de computadores “pinduras”, “no tranco.” Nunca saiu do setor de trabalho deixando um PC quebrado, sem funcionar. Era uma espécie de MacGyver. Quando não havia peças para consertar, ele improvisava.

Ao nascer, a família lhe pôs a alcunha de Popeye, uma homenagem ao famoso personagem clássico dos quadrinhos em miniatura criado em 1929 pelo desenhista americano Elzie Crisler Segar, por ter a cara meio deformada, sempre com um olho fechado e um protuberante queixo partido ao meio, no formato do rosto do famoso marinheiro, protetor de Oliva Palito.

Mal completou vinte e dois anos, Fred se amancebou com uma colega de trabalho de bunda protuberante e logo depois foram morar juntos, sem ele procurar se inteirar do temperamento dela, que já havia batido na cara de vários namorados e rompido o namoro, quando estes mijavam fora da bacia.

Depois de três anos juntos, Fred já era pai de dois filhos e a mulher fazendo de tudo para lhe pôr rédea. Estabeleceu hora para ele sair e chegar em casa. E quando a condução atrasava e ele chagava atrasado, o inferno estava com as velas vermelhas acesas. Era confusão até altas horas da madrugada. A mulher era uma capota choca, praguejava e acusava-o de tudo, menos de santo. E assim o tempo foi passando e o saco dele se enchendo de impaciência.

Fred passou vinte e quatro anos nesse inferno dantesco, tendo de conviver com uma mulher temperamental, dominadora. Para ela não havia argumento que lhe provasse o contrário de que ele estava com conversa mole com os amigos, raparigando e bebendo cachaça, mesmo ele chegando em casa sem bafo de ingerência de bebida alcoólica.

Passados vinte e quatro anos de brigas, bate bocas, atritos, caras feias, intrigas, indiferenças, malquerenças, Fred resolveu deixar a casa que havia construído com a companheira. Como os filhos já estavam maiores, com cursos superiores concluídos, e ela trabalhava, não havia por que se preocupar com pensão alimentícia.

Ao sair de casa Fred foi morar no kitinete perto do trabalho, alugado de um colega da repartição. Era simples, mas para ele estava bom, pois tranqüilidade não tinha preço.

Três meses depois de deixar a companheira, Fred conheceu uma viúva toda nos trinques, com idade de setenta e dois anos. Ele tinha quarenta e seis. E imaginou: dessa vez eu me arrumo e vou ter a paz de espírito que sempre desejei.

Era amorzinho praqui, amorzinho pralá, e tudo caminhando na mais perfeita sintonia, quando certo dia Fred teve uma decepção que o deixou propenso ao suicídio. Depois de a viúva ter dormido com ele no kitinete, ela foi para casa, mas lhe pediu que à noite fosse ficar com ela, dormirem juntos novamente, mas desta vez na casa dela.

Fred entusiasmado, mas feliz do que pinto no ovo, tomou um banho demorado, se perfumou todo, escovou a prótese dentária, vestiu-se com seu melhor sobretudo branco, jantou e se mandou para a casa da viúva.

Lá chegando, já à distância, percebeu que havia um monte de gente na casa dela. Eram os filhos vindo trazer presentes e comemorar seus setenta e três anos. Como Fred já sabia que os filhos, tradicionais e contrários a mudanças, não aceitavam que outro homem entrasse na vida da mãe, deu meia volta e, decepcionado, macambúzio, voltou para o kitinete e no outro dia foi encontrado enforcado no pé de maxixe, com uma garrafa de Pitu vazia ao lado do corpo.

Suicídio ou catalepsia devido à ingestão da bebida?


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários quinta, 18 de junho de 2020

DUAS IMAGENS SINTETIZADORAS DO MOMENTO BRASILEIRO

 

DUAS IMAGENS SINTETIZADORAS DO MOMENTO BRASILEIRO

Cícero Tavares

 

Recebi no meu e-mail essas duas imagens, infelizmente reais, que sintetizam muito bem o contraste que há no Brasil que tanto o colunista Adônis Oliveira esculacha ferinamente nas suas colunas com críticas ácidas e certeiras sobre o mecanismo corrupto brasileiro nos três “podreires” e que somente o Jornal da Besta Fubana tem a coragem para publicar.

A primeira imagem diferencia com realismo sem maquiagem a realidade dos fudidos e mal-pagos e os nababescos, estes com destaque principalmente para vereadores, prefeitos, deputados estaduais, federais, senadores, governadores, sem falar nos TCU, TCEs, Autarquias, que não fazem porra nenhuma pelo país e ainda o roubam direta e indiretamente.

A segunda imagem retrata, também sem maquiagem, a diferença com que a Justiça trata um pobre e preto lascados, que não tem porra nenhuma para se defenderem, de um rico, que com a grana roubada dos cofres públicos, compra até amor sincero, parodiando o genial Millôr Fernandes.

Doméstica que teve o filho “escapulido” do nono andar por alguém que deveria cuidar


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 16 de junho de 2020

TRINITY - E OS FAROESTES ESPAGUETES DOS ANOS 60-70

 

TRINITY – E OS FAROESTES ESPAGUETES DOS ANOS 60-70

Texto escrito em parceria com o especialista em filmes de faroeste D.Matt

Dedicamo-lo ao mestre da coluna SEGUNDA SEM LEI, Altamir Pinheiro

Imagem de cartaz do primeiro filme da franquia Trinity (1970)

Subgêneros dos filmes Westerns Spaghetti, os filmes da franquia Trinity transformaram o Velho Oeste em comedia pastelão no início dos anos setenta na Itália, com conteúdo humor e pancadaria, à semelhança dos Trapalhões no Brasil. Por trás da maioria desses filmes houve diretores promissores, que depois vieram a fazer filmes de faroeste clássico, como Sergio Corbucci, Enzo Barboni e Lucio Filci. Este último vindo a se tornar mestre em filme de terror. E Sergio Corbucci responsável pela obra-prima fantasmagórica do western spaghetti, DJANGO (1966), com o ator Franco Nero numa atuação memorável.

Surgido em pleno auge da contra-cultura, Trinity se apresentava como um típico hippie vagabundo, vestindo roupas velhas e rasgadas, coberto de poeira do deserto dos pés à cabeça. Para as longas travessias do Velho Oeste, ele usa uma “cama índia” (espécie de padiola), puxada pelo seu obediente cavalo.

O primeiro filme da série a estrear chamava-se Lo Chiamavano Trinita (1970), traduzido no Brasil para Meu Nome é Trinity, tendo como novidade o pistoleiro mais rápido do gatilho no Velho Oeste, Terence Hill, e seu parceiro brutamonte, Bud Spencer, que formaram uma dupla extremamente marcante do subgênero western spaghetti macarrônico.

Terence Hill, antes de fazer esses filmes de paródia western, teve um inicio bastante promissor e atuou com destaque no clássico do grande diretor Luciano Visconti, no elogiadíssimo filme “IL GATTOPARDO” que tem como astros principais, nada menos que Burt Lancaster, Alain Delon, Claudia Cardinale. Nesse filme Terrence Hill faz um personagem militar amigo do personagem interpretado pelo ator Alain Delon.

Caio Pedersoli e Mario Girotti, ou Terence Hill e But Spencer, respectivamente, para atuarem nos Trinity, adotaram nomes artísticos em inglês e atingiram um sucesso bastante significativo principalmente a partir da produção Trinity é Meu Nome (1970). A dupla seguiu atuando junto em diversos longas do faroeste macarrônico italiano, com uma sintonia que ultrapassava as telas e materializava a participação dos dois como parceiros insubstituíveis.

As paródias e versões cômicas no subgênero trouxeram um ar novo ao cinema italiano, mas de nada serviram para a continuidade do subgênero inspirado nos longas americanos. Mesmo sendo responsáveis por tornar a parceria dos atores internacionalmente conhecida, os filmes contavam cada vez mais com uma produção de baixa qualidade. Os longas perdiam suas características à medida que eram encharcados dehumor lugar-comum.

Os filmes foram se afastando do que inicialmente havia sido o spaghetti western que chegou a preocupar críticos por ameaçar o western tradicional. Os cômicos ainda atraíam multidões em busca dos títulos de faroeste italiano, mas, com o passar dos anos, nenhum desses longas se tornou um verdadeiro clássico, como os de Sergio Leone ou Sergio Corbucci. Se nos anos de glória do subgênero – entre 1966 e 1971 – se produziram mais de 70 longas, no ano de 1973 apenas dois filmes foram lançados.

O certo é que os faroestes macarrônicos, ou western movies, tiveram seu apogeu a partir de 1970 quando foi lançado Trinity é Meu Nome, que alcançou grande sucesso de público e bilheteria.

Depois do grande sucesso de Chamam-me Trinity os italianos lançaram outro longa metragem com a mesma dupla Terence Hill e Bud Spencer vivendo os mesmos personagens da fita anterior em outra sátira de morrer de rir, com o diretor ENZO BARBONI, que fazia uma paródia atacando e destruindo os velhos mitos do Velho Oeste, de pistoleiros a jogadores. Bem mais engraçada que a anterior, este Trinity não deixa nada sem deboche e extasia de tanto rir a dupla Terencer Hill e Bud Spencer, que esbanja simpatia.

Trinity, Terence Hill, é um andarilho e pistoleiro que acaba chegando à cidade na qual Bambino (Bud Spencer), seu irmão e ladrão, está disfarçado, atuando como Xerife local. Eles tentam passar despercebidos mas tudo dá errado quando se envolvem em um conflito de terras entre um grupo de mórmons e um grande barão local, que deseja se apropriar dos territórios dos colonos.

Estima-se que nos anos 1970 foram produzidos dezenas de filmes com a marca Trinity, mas apenas dois ultrapassaram as fronteiras da Itália com crítica e público favoráveis: “Trinity é Meu Nome” (1970) e “Trinity Ainda é Meu Nome” (1971), ambos dirigidos por Enzo Barboni, pseudônimo de E.B. Clucher, tendo como atores principais a dupla de grande popularidade Terence Hill e Bud Spencer. Mas depois foram perdendo público e crítica pela baixa qualidade das produções, baixo orçamento e falta de criatividade dos realizadores. Sua arte inovadora deu lugar a histórias fáceis e sem graça.

Clique aqui para assistir Trinity é meu Nome. Primeiro filme completo da série.


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 09 de junho de 2020

O VIADO, A SELA E O DOUTOR

 

O VIADO, A SELA E O DOUTOR

O neto do jumento Pierre Collier

Paulinho de Zefinha era um matuto apombalhado que saiu do distrito de Lagoa do Carro, Pernambuco, nos anos oitenta para cursar Ciências Políticas na UFPE. Seu sonho: Ser professor estadual!

Como se destacava dos demais calouros por ser grandalhão, fez amizade na classe com o colega Jeferson Fron, um rapagão falsa bandeira da capital, frequentador assíduo das baladas afrangalhadas das noites recifenses.

Entrosado em todos os trabalhos de classe, Paulinho não desconfiava das tendências viadais de Jeferson e convidou-o para ir ao sítio dos pais em Lagoa do Carro para passar um final de semana em contato com a natureza e os animais de estimação.

Jeferson adorou a ideia e num final de semana viajou com Paulinho para o sítio. Chegando lá ficou encantado com o negão Adamastor Pezão, pau para toda obra no sítio, um metro e oitenta e oito de altura, braços e dedos grossos, beiço de gamela, butina quarenta e quatro nos pés… Era um Hulk Preto!

Além de Adamastor Pezão, Jeferson ficou com água na boca quando viu o jumento Pierre Collier, com a jatumama dura, maior do que a de Polodoro, pra lá e pra cá, correndo atrás das jumentas no cio. Era pai de todos os jegues e éguas que nasciam no sítio! Um gigante!

À noite, quando todo mundo estava dormindo, Jerferson, não resistindo ao tamanho da picana de Pierre Collier, levantou-se da cama de campanha na ponta dos dedos dos pés, e, no silêncio da noite, foi direto à estrebaria onde o jumento dormia em pé para provar da mortadela jeguista.

Lá, no escuro da noite sem luar, Jerferson o alisou, passou a mão por todas as partes íntimas do jumento, pegou-lhe na jatumama já pra lá de dura e, não resistindo, arriou a bermuda e deixou entrar só o “chapéu”… Depois do coito zoofílico, correu para cama, todo ensanguentado e dolorido, andando com as pernas abertas, em forma de cangalha.

Manhanzinha Paulinho percebendo a ausência de Jerferson na hora do café, foi até a varanda da casa onde ele se encontrava deitado. Encontrando-o gemendo e com o oi da goiaba sangrando.

Assustado com a cena furical, Paulinho perguntou o que aconteceu:

– Paulinho – disfarçou Jerferson – me desculpa cara. Mas é que eu não resisti à noite, tomei a liberdade de andar de cavalo, pus a sela em Pierre Collier e, quando escanchei as pernas e fui apoiar as nádegas, sentei-me mesmo no pito da sela que entrou todinha no meu rabo e desde ontem está sangrando e doendo muito!

Assustado com o desmantelo, Paulinho não perdeu tempo diante da situação. Pegou o opala do pai e levou Jerferson às pressas à maternidade local onde havia um clínico geral, com especialidade em proctologia.

Assim que chegou à maternidade, Paulinho não perdeu tempo, tibungou com Jerferson no corredor e foi direto para sala de emergência.

O médico que estava de plantão era o clínico geral e proctologista Hildebrando Sarapião que, percebendo a gravidade do problema e desconfiando da sinceridade de Jerferson, perguntou-lhe:

– Como foi esse acidente, meu filho? Foi no pito da sela mesmo ou você andou fazendo traquinagem que não devia. Olhe, eu vou fazer um tratamento aqui com penicilina e óleo de peroba. Mas se não estancar a sangria eu vou ter de utilizar um antibiótico novo que chegou de Cuba aqui na Maternidade. Agora só tem um detalhe: Se você estiver mentindo o remédio vai ter um efeito colateral do caralho! Além de sofrer com insuportáveis dores, vai ter uma hemorragia letal que pode levá-lo a óbito! Portanto, é melhor contar a verdade!

Ao que Jerferson, temeroso, e desconfiado que o médico, experiente, já estava por dentro do “acidente”, confessou:

– Doutor, o senhor está certo! Eu senti uma atração irresistível pela mimosana do jumento do sítio e não perdi tempo! Foi muito bom o desejo, doutor, mas quando entrou o “chapéu”… eu desmaiei e só vim me acordar no outro dia todo ensanguentado com o Paulinho me chamando e perguntando o que era isso no meu ânus. Agora não conta nada pra ele não, visse doutor! É que eu sou viado, mas gostaria que ele não soubesse!

O médico deu um sorriso irônico no canto da boca e ficou a refletir olhando a imagem de Santo Agostinho instalada na parede da sala de plantão, e pensou: Os tempos estão mudando!


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 02 de junho de 2020

RECORDAR É VIVER

 

 

RECORDAR É VIVER

In memoriam

Com o título de “REMINISCÊNCIA DE UMA DAMA”, foi publicada na minha coluna do Jornal da Besta Fubana, no dia 20 de agosto de 2018, essa carinhosa síntese sobre o livro de memória da mãe de Dr. José Paulo Cavalcanti Filho, que ganhei dela semanas depois de ser lançado.

Segundo o filho querido em resposta a mim, sua mãe ficou tão radiante de felicidade com o modesto comentário, que saiu mostrando-o a todas as amigas com um sorriso tão largo no rosto que lhe era perceptível o tamanho da felícia.

Senti-me honrado pelo reconhecimento da modesta resenha que escrevi às reminiscências de Dona Maria Lia e, principalmente, por ela ter achado um barato e se divertido!

* * *

REMINISCÊNCIA DE UMA DAMA

Dona Maria Lia Faria Cavalcanti – Rio de Janeiro – 28-Fev-1944

Viktor Emil Frankl-(1905-1997), famoso neuropsiquiatra austríaco, que assistiu as mais terríveis barbáries humanas em campo de concentração, em meio ao caos perguntava: O que diante do desespero humano total, onde quase não existe mais esperança, após ter perdido tudo, inclusive todos os parentes queridos mais próximos, o impedia de suicidar-se? O prazer de viver, amar, sentir a vida na sua plenitude, amenizar o sofrimento alheio por meio de ações solidárias e depois transmitir às futuras gerações para que reflitam sobre o que é a barbárie!

Lembro essa indagação de um gênio da neuropsiquiatria que quase tirou a vida em duro golpe do destino para dar razão à vida e abrir espaço para louvar um dos livros de reminiscências mais femininos que li nesses tempos de empoderamento feminino. Não é um livro sobre a revolução feminista, evolução da cirurgia plástica para retardar e tentar enganar a maturidade, deixando a mulher andrógena, mas um livro que relembra fatos pitorescos da vida de uma Dama que vive para viver, amar, ser amada pelos filhos que para ela, acredito, são uns verdadeiros Colossos de Rodes, pela honestidade e decência com que levam e vivem os sagrados preceitos do caráter humano!

Mãe de seis gênios da modéstia, da bondade, da retidão e de tudo que é mais hierático que se encontram no caráter humano, Dona Maria Lia Faria Cavalcanti, essa matriarca quiteriana que ainda se encontra tão bonita quanto a jovem da capa do livro das memórias, apesar dos noventa e dois anos de vida bem vividos, dizer que “a velhice é uma merda”, ter orgulho dos filhos, Maria Lia le Flaguais, que mora e trabalha em Paris, mas vivi viajando; Hebe Cavalcanti, doutora em matemática; Patrícia Arruda que, mesmo elegante, vive querendo emagrecer; Isis Costa Pinto, que trocou Boa Viagem por um sítio, buscando melhor qualidade de vida; José Roberto Cavalcanti, o irreverente Zeca, bom advogado, bom pai, e um dos últimos homens felizes do planeta; e o maior jurista do Brasil, principalmente como ser humano: Dr.º José Paulo Cavalcanti Filho, o filho da cara redonda mais parecido com a mãe.

Lendo Recordar é Viver, o leitor vai se deparar com a história fascinante de Dona Zulmira, filha do seu Guimarães e de Dona Cândida, mãe de Dona Maria Lia Faria Cavalcanti. Suas reminiscências e recordações da Bahia, menina-flor-de-lis, admirando o mar e a arquitetura dos prédios soteropolitanos. A deliciosa história das Casas da Banha. As ideias geniais de Dona Zulmira na sua mania obsessiva por asseio para deixar todos os móveis do lar limpos, nos trinques. Essas e outras deliciosas recordações estão no livro de memória de Dona Maria Lia, que o leitor vai se deliciar lendo-as, histórias por histórias, todas datilografadas numa OLIVETTI!!


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 26 de maio de 2020

DR. MARCOS PAIVA E A POEIRA DAS ESTRELAS

 

DR. MARCOS PAIVA E A POEIRA DAS ESTRELAS

Dr.º Marcos Paiva e esse colunista em dezembro de 2019

No dia 19 de maio de 2020, depois de lutar por mais de 15 dias contra o devastador vírus chinês que o infectou quando clinicava num consultório médico popular, atendendo a pacientes carentes, mesmo consciente de que era do grupo de risco – diabético – tinha mais de 74 anos e deveria estar em quarentena, isolado do contato social, encantou-se Dr.º Marcos Paiva, clínico geral, amigo fiel, confidente, conselheiro, mantra. Seu corpo virou poeira das estrelas, cujas cinzas estão adubando o universo de simplicidade, solidariedade, honestidade, bondade e altruísmo, qualidades que ele sabia cultivar com a racionabilidade e a serenidade de um Buda Nagô.

Com certeza ele está por aí papeando com o cientista Carl Sagan sobre os mistérios do universo, de quem era admirador incondicional e do qual possuía todos os livros: O Mundo Assombrado pelos Demônios, A Ciência Vista como uma Vela no Escuro, Os Dragões do Éden, Cosmos… E a série popularíssima dos anos oitenta: Cosmos: Uma Odisséia do Espaço-Tempo, criada pelo cientista, físico, biólogo, astrônomo, astrofísico, escritor, divulgador científico e ativista americano.

Seguidor das teorias do físico e kardecista convicto, costumava fundamentar seu ceticismo a respeito da bondade divina na seguinte máxima ‘saganiana’: “Algumas pessoas acreditam que Deus é um enorme homem de pele clara com uma longa barba branca, sentado em um trono em algum lugar lá em cima no céu, ocupado na contagem da queda de cada pardal. Outros – como Baruch Spinoza e Albert Einstein – consideraram Deus como essencialmente a soma do total das leis da física que descrevem o Universo. Eu não conheço nenhuma evidência convincente para a existência de um patriarca antropomórfico controlando o destino da humanidade a partir de algum ponto celestial escondido, porém seria uma insanidade negar a existência das leis da física.”

Encantou-se fazendo aquilo de que mais gostava: atender a população carente com quem se identificava e ficava horas conversando sobre cada detalhe dos sintomas da doença que estava afetando o paciente.

Você deixou saudades, Amigo! Exemplos de caridades impagáveis, insubstituíveis. Sua obra será tocada aqui na Terra por outras almas caridosas à lá Chico Xavier, Madre Tereza de Calcutá, Irmã Dulce e todos os voluntários universais que arriscam a vida para salvarem vidas. A realidade é cruel, mas há seres bondosos amenizando o sofrimento alheio da tirania humana.

Ah! Ia me esquecendo: Lula da Silva, o criminoso de Caetês, cometeu mais uma insanidade aqui na terra, das centenas que já cometeu contra o povo que você tanto amava, ao dizer que “ainda bem que a natureza, contra a vontade da humanidade, criou esse monstro chamado coronavírus”, uma resposta esquerdopata de quanto pior melhor para o povo! Se você não tivesse se encantado, certamente teria morrido de infarto fulminante ao ouvir tamanha insensatez sem lhe poder prescrever a cicuta de Sócrates.

Um abraço do coração, Amigo! Que as cinzas da sua bondade iluminem os homens de boa vontade aqui na terra, devastada pelo Vírus Chinês.

Até breve!

“Ainda bem que a natureza criou esse monstro do coronavírus… para dizer que apenas o estado é capaz de dar solução a determinada crise.” Lula da Silva

 

 

 


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 19 de maio de 2020

MARIA DO BAGO MOLE ALTRUÍSTA

 

 

MARIA BAGO MOLE ALTRUÍSTA

“Retirantes” – 1944, quadro do pintor Cândido Portinari

Certo dia – era mês de agosto – chegara ao cabaré de Maria Bago Mole Dona Severina de Jesus com seus seis filhos. O primeiro ainda era de menor. O caçula, com dois anos, ainda procurava leite nos peitos murchos da mãe. O marido tinha desaparecido numa caçada misteriosa na mata à procura de comida. A cena da mãe com os filhos caminhando rumo ao cabaré à procura de abrigo parecia uma metáfora do quadro “Retirantes” de 1944, do genial pintor modernista Cândido Portinari, obra-prima emblemática da arte brasileira de cunho social, com influência expressionista.

Dona Severina de Jesus era uma mulher mediana, raçuda, de personalidade forte, olhos pretos tristes, cabelos longos, coxas torneadas. Bonita e bem afeiçoada para o nível e situação de vida vivida. Era-lhe perceptível no semblante que estava passando necessidades, principalmente os filhos: todos estavam passando fome há muito, só comento raízes, quando encontravam nos sítios das estradas por onde passavam e uma irmã de caridade dava!

Do caminho da roça ao cabaré se deparou com muitas famílias bastardas querendo “adotar” seus filhos, principalmente os três mais novos. Mas ela dizia não. Como mãe, para onde fosse os filhos iam juntos, seguindo sua sombra, na alegria, na dor, na tristeza, no sofrimento. Onde comesse e dormisse um, comiam e dormiam todos sob sua proteção.

Sabendo da existência do famoso cabaré de Maria Bago Mole na Vila dos Vinténs, para lá Dona Severina de Jesus e os filhos foram à procura da famosa cafetina para pedirem guarida, uma vez que diziam ser ela altruísta, apesar de ser o lugar um entreposto de carne mijada de jovens adolescentes que “se perdiam” com os namorados e eram expulsas dos sítios pelos pais, que não admitiam filhas “defloradas” e “mal faladas” morando no lar.

Um dia de sol a pino, Dona Severina de Jesus saiu de casa logo cedo rumo ao cabaré. A cada filho, antes de sair, deu um pote de água e dois pedaços de raiz cozida no fogão de lenha da casa, que ainda lhe restava no armário de barro. Juntou as tralhas necessárias que lhes podiam ser de serventia, enrolou os panos velhos, fez uma trouxa, pôs na cabeça, fechou a tramela da porta da frente da casa e partiu com os filhos lacrimejando sem dar adeus àquela que a acolheu do sol e da chuva e os filhos durante anos.

Antes de chegar ao cabaré de Maria Bago Mole, Dona Severina de Jesus sentiu um friozinho no pé do umbigo, pois jamais esperava encontrar um ambiente tão movimentado, diferente do seu universo particular: caminhões, cortadores de cana, atravessadores, a maioria vindo das fazendas de cana de açúcar e da trilha da ferrovia, que uma empresa americana estava instalando para o escorrimento da cana até o porto da Capital.

Como necessidade faz sapo voar, Dona Severina de Jesus desacanhou-se e se dirigiu até o balcão onde estava a cafetina organizando o cabaré e dando ordens às “meninas” para a noite que estava caindo e prometia-se muito frege!

– Madame – dirigiu-se acanhada  Dona Severina de Jesus a Maria Bago Mole – é a senhora a dona dessa casa “cristã?”

A cafetina, com o altruísmo que lhe era peculiar, afirmou que sim. E perguntou à retirante o que fazia ali com aqueles meninos e se estava precisando de alguma ajuda. Mas antes de esperar a resposta, mandou Dona Severina de Jesus entrar, preparou uma mesa com sete assentos, ofereceu-lhe comida e aos filhos, e cochichou no ouvido da retirante, sorrindo:

– Coma primeiro com seus filhos! Depois a gente conversa sobre o seu destino e dos meninos aqui na casa! – Disse com os olhos brilhosos que encantaram Seu Bitônio Coelho desde o primeiro dia que a viu!

 


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 12 de maio de 2020

O CANDIDATO, A MANTEÚDA E A ELEIÇÃO

 

O CANDIDATO, A MANTEÚDA E A ELEIÇÃO

Comunidade do Tururu, Paulista-PE

Corria o ano de dois mil e dois. Ano que a galera medonha já se preparava em todo Brasil para tentar se eleger vereador ou prefeito, dando os primeiros passos na arte de articular o mecanismo para assaltar o erário público legitimado com a outorga do eleitor.

Como já tinha tido outras experiências malfadadas em eleições anteriores e já se considerava preparado para enfrentar novo desafio eleitoral, Dr.º Marcos não perdeu tempo. Filiou-se a um partido nanico, planejou a campanha e caiu em campo com garra e coragem, sem ajuda financeira do partido ao qual era filiado.

Como possuía um vasto prontuário de clientes que poderia utilizar como cadastro de contato, informou a todos que estava atendendo na comunidade do Tururu, do Rato e Chega Mais, fazendo consultas de graça em dias alternados, entregando remédios, fazendo exames. Por dia atendia de trina a cinquenta pacientes. E o povo era Dr. Marcos para cá, Dr.º Marcos para lá. Todo dia era uma verdadeira romaria de doentes a procurar Dr.º Marcos, e a cada pessoa atendida ele entregava seu número de candidato.

Também visitou todos os cabarés, freges, quermesses, para informar às pessoas que estava candidato a vereador. Nada escapava às suas investidas políticas, de doze a dezesseis horas por dia de domingo a domingo, seis meses antes do pleito.

Um mês antes das eleições era impressionante a quantidade de pessoas que o procuravam para se consultar e dispostas a trabalhar para ele como voluntária na campanha, sonhando em ver um médico de confiança na vereança do município para atender a população carente, como ele já fazia há muito sem pretensões vereanças.

No último dia antes da votação a campanha foi intensificada, e sem ajuda do partido, Dr. Marcos, crente da vitória, com recursos próprios, empenhou até o Fiesta-2002 para pagar as despesas com propagandas, camisas com estampa do número dele, confecções de santinhos, pagamentos de fiscais de boca de urna, panfletagens, lanches, almoços…

Terminada a eleição, vem a apuração dos votos. Para a decepção do Dr.º Marcos e seus eleitores leais, seu desempenho nas urnas foi tão pífio que o papudinho Tião Cu de Cana, da Comunidade dos Milagres, teve mais voto do que ele!

Decepção geral dele e de todos que faziam parte da sua equipe. Muita gente que trabalhou com honestidade para ele chorou ao ver o resultado das urnas. Tentou-se buscar explicações para o fracasso nas urnas, mas ele nunca quis saber embora tivesse uma ideia do por quê.

Passadas as eleições a vida voltou ao normal para Dr. Marcos. Todo dia chegava gente no Hospital das Clínicas onde ele atendia com o mesmo profissionalismo, nos Postos de Saúde das comunidades carentes, nos Consultórios particulares…

Mas qual a causa do fracasso, do fiasco de Dr.º Marcos nas urnas, um homem tão querido de todos? – Indagavam os mais chegados a ele.

Uma semana depois do fisco nas urnas, uma romaria de pessoas leais a Dr.º Marcos e decepcionada com o resultado das urnas, veio ter uma conversa com ele e lhe explicar o motivo do fracasso colhido boca a boca das pessoas nas comunidades:

– Dr.º Marcos, todos que estamos aqui presentes viemos nos solidarizar com o senhor pelo resultado negativo das urnas que não lhe elegeu, embora tivéssemos certeza da vitória. Infelizmente o povo não votou no senhor em massa porque o povo não suportava aquela mulher do senhor. Olhe, o senhor nos desculpe, mas aquela mulher do senhor é a pessoa mais intragável de mundo! O senhor só perdeu a eleição por causa dela – disse o emissário da comitiva, presidente da comunidade do Tururu. Eu só votei no senhor porque sou um homem de palavra, mas não podia obrigar as pessoas!

– Todo mundo que a gente consultou ficou pensando assim: Se aquela mulher de Dr.º Marcos já tem o rei na barriga, se acha as pregas de Odete sem Dr. Marcos ser vereador, imagine ele vereador? Como a gente vai ter acesso a ele com uma criatura intragável daquela ao lado dele feito piolho de cobra e chata que só o caralho?

Dr.º Marcos não disse nada. Ouviu a todos calado. Agradeceu a gentileza da visita e a honestidade de todos por dizer a verdade, mas tinha a certeza de que o fracasso das urnas era por causa da manteúda mesmo! E ficava pensando na máxima do pai: Cuidado com a paixão de mulher fogosa e possessiva! Ela pode deixar você abilolado, só pensando naquilo e estragar qualquer projeto seu!

Foi o que aconteceu e a paixão dura até hoje!


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 05 de maio de 2020

FRANCISCO FÉLIX DE SOUZA, O MAIOR TRAFICANTE DE CARNE HUMANA VIVA

 

FRANCISCO FÉLIX DE SOUZA, O MAIOR TRAFICANTE DE CARNE HUMANA VIVA

Don Francisco Félix de Souza – O Chachá de Ouidah 

No genial romance QUINCAS BORBA, Machado de Assis conta a história de Prudêncio, o escravo vítima de maus-tratos, alijamentos e que, tão logo se vê liberto, compra seu próprio escravo para, ato contínuo, surrá-lo e alijá-lo. Em tempos politicamente corretos, de idealização das vítimas, esse parece mais um exemplo do eterno niilismo do Bruxo do Cosme Velho.

Infelizmente, a história nos mostra que a vida é mais cruel que a ficção, como nos revela o diplomata, historiador e maior africanólogo do Brasil, Alberto da Costa e Silva, 90 anos, que escreveu a excelente biografia do ex-escravo baiano, Francisco Félix de Souza, Mercador de Escravos, publicada pela editora Nova Fronteira, em 2004, com 208 páginas. Biografia essa onde o diplomata e historiador traça um painel cruel, estarrecedor de como o maior traficante de escravo do mundo, filho de pai branco com mãe índio-mestiça, de faro empreendedorista, visão, competência e eficiência, se tornou o maior mercador de escravos do mundo, que transportava da Grande Fortaleza de Judá, o mais terrível entreposto de escravos da história escravista do mundo, construído pelos portugueses no século XVI para armazenar carne humana viva!

Francisco Félix de Souza, apelidado de Chachá nasceu em Salvador, provavelmente no dia quatro de outubro de 1754 e morreu em Benin, África Ocidental, no dia oito de maio de 1849, aos 94 anos. Filho de um português traficante de escravos e de mãe índia mestiça, foi alforriado aos dezessete anos, decidindo viajar para a África quando tinha por volta de vinte e três anos. Não se sabe se por desterro o motivo da viagem, acredita-se que tenha sido a negócios em nome da família, retornando depois de três anos ao Brasil. Em 1800 decide se estabelecer definitivamente em OUIDAH (Ajudá), no Golfo de Benin, ao que parece como comerciante privado. Posteriormente, com a falência de seus negócios em solo africano, passa a prestar serviços à guarnição do forte de São João Batista de Ajudá, pertencente aos portugueses, no reino do Daomé, atualmente território da República do Benin. Com a falta de nomeação de administradores para o forte, Francisco Felix de Souza passa a governador interino do entreposto, posição que abandona logo depois para se dedicar ao comércio de escravos cativos de guerra, exportados para o Brasil e Cuba, atividade já tornada ilegal até mesmo em Portugal e norte do Equador.

A vida de Francisco Félix de Souza foi transformada em filme, COBRA VERDE (1987), filmado no Brasil e na África, com o ator Klaus Kinski interpretando o rocambolesco, controvertido traficante de escravos. Foi produzido e dirigido pelo competente diretor Werner Herzog, roteiro extraído do romance O VICE-REI DE UIDÁ, do aventureiro inglês BRUCE CHATWIN. Mas foi graças a Alberto da Costa e Silva que, pela primeira vez, o tema foi tratado com apuro historiográfico. Sem deixar de lado o fascínio rocambolesco de sua vida pessoal, o aventureiro de Salvador que, na África, conseguiu poder, nobreza e uma fortuna calculada em US$ 120 milhões, que fez dele um dos três homens mais ricos do mundo no século XVI, traficando carne humana viva e de preferência se mexendo. Ao morrer, já decadente e sem prestígio, com 94 anos, deixou mais 53 mulheres, mais de 80 filhos e 12 mil escravos à deriva.

Trailer Oficial do filme Cobra Verde (1987)

 

 

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clique aqui para assistir ao filme COBRA VERDE completo, com excelente fotografia


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 28 de abril de 2020

A MORTE CHEGA DE PARABELLUM-1906 NO CABARÉ DE MARIA BAGO MOLE

 

A MORTE CHEGA DE PARABELLUM-1906 NO CABARÉ DE MBM

Crônica dedica ao pesquisador e especialista em filmes de faroeste D.Matt

Casa de fazenda semelhante à do fazendeiro Bitônio Coelho em Carpina-PE

Cansado do trabalho diário na fazenda-sede e demais, e precisando relaxar, o fazendeiro Bitônio Coelho resolve ir até o cabaré para rever sua amada.

Dia e hora não marcados, chega ele acompanhado de dois capangas de sua confiança à “casa” – como ele chamava o cabaré. Armado de uma Pistola Parabellum-1906, “ordena” que os capangas “espiem” o ambiente para saber se não está “carregado”, vez que vai haver comemorações regadas a comes e bebes e muitas muchachas da vida dura, ainda cheirando a leite.

Pressentindo que o amado estava por vir ao cabaré naquele dia, Maria Bago Mole perfumou o ambiente todo com loção Violetas de Parma, mandou limpar todos os moveis do aposento dela, do salão e ordenou que as meninas se vestissem a caráter para aquela noite especial, pois nesse mesmo dia iam chegar ao cabaré muitos jogadores de pôquer, dados, baralhos, trapaceiros, trambiqueiros, aventureiros, vaqueiros, cortadores e carregadores de cana dos engenhos, prostitutas de outros puteiros pés de escada da redondeza, pois seu cabaré já era muito comentado nas imediações por causa da fama e sucesso da administradora, a arquitetura surreal do cabaré, sem contar que estava a todo vapor a construção de uma ferrovia estrangeira nas proximidades, sinal de que o progresso e a prosperidade iam abundar. E a desordem também!

Saloon de bangue-bangue, semelhante ao arquitetado por Maria Bago Mole para o Cabaré

Faz-se necessário lembrar que o cabaré fora projetado e construído no lugar da antiga Vila dos Vinténs pela visionária cafetina Maria Bago Mole, com arquitetura semelhante às dos saloons dos filmes do Velho Oeste americano, que ela mesma desenhou, mesmo sem conhecer nada de construção. Isso nos anos quarenta! Embaixo, ficavam na mesa as meninas e os cavaleiros para comer, beber e acertar o preço da noitada. E em cima, os quartos reservados aos “programas”. Do seu posto, à moda balcão de saloon de filme de faroeste, a cafetina MBM, estrategicamente, visualizava e marcava tudo mentalmente com a festa correndo solta. Aqui e acolá, havia uns empurrões entre os valentões bêbados, mas a cafetina, com a autoridade de sempre, estalava o relho e punha ordem no recinto. Nenhum homem a desobedecia!

No dia que o fazendeiro Bitônio Coelho chegou ao cabaré encontrou-o entupido de forasteiros, dentre eles dois desafetos conhecidos nas trilhas dos engenhos, que espalharam nas imediações que tinham a pretensão de “tomar” Maria Bago Mole a todo custo do homem dela, nem que para isso tivessem que duelar com o gostosão, o senhor de engenho mais afamado da Zona da Mata. Boato esse que chegou como uma bala aos ouvidos do fazendeiro.

Ignorando a todos que estavam dentro do cabaré, Bitônio Coelho, depois de descer do cavalo alazão branco e apiá-lo na frente do cabaré, se dirige até o aposento da amada, passando por dentro do salão entre mesas cheias de homens e mulheres se beijando, encontra-a sentada na cama organizando a contabilidade do cabaré. Beija-a com voracidade a boca, confessa-lhe o quanto a ama, o quanto ela lhe faz bem, o quanto a deseja, e naquele exato momento os dois fazem amor sem fechar a porta.

Horas depois de fazerem amor e relaxarem, ambos saem do quarto, Maria Bago Mole para se certificar se tudo estava correndo bem, uma vez que as meninas não bateram na porta dela para reclamarem de nada, e Bitônio Coelho senta-se na mesa vazia confeccionada para ele perto do aposento. Enquanto estava sentado esperando que a amada preparasse algo para comer e beber, dele se aproximam os dois desafetos que tinham espalhado nas redondezas que lhe iam tomar a cafetina e estavam ali para cumprir o prometido. Bêbados e afoitos, aproximaram-se do fazendeiro e, trincando os dentes, e com as foices nas mãos, desafiaram o homem à luta:

– Olhe aqui seu sacripanta, temos desafio pela frente. De hoje em diante se afaste daquela mulher porque senão o sangue vai dar na canela e alguém vai ter de lutar para saber quem é mais macho nessa parada para ficar com ela!

Foi nesse exato momento que Bitônio Coelho, percebendo que estava em desvantagem e que, se não reagisse logo iria morrer de foiçada ou ponta de punhal, arrastou da cintura a Pistola Parabellum-1906, deu um tiro certeiro na testa do primeiro desafeto e outro no peito do segundo, matando-os no meio do salão como um pistoleiro bangue-bangue elimina seu êmulo no Velho Oeste, sem ferir os fregueses que estavam se divertindo com suas muchachas antes de subirem aos quartos para completarem a farra dos comes e bebes.


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 21 de abril de 2020

AUGUSTO LUCENA MOSTRA O PAU À PROFESSORINHA

 

AUGUSTO LUCENA MOSTRA O PAU À PROFESSORINHA

Prefeito Augusto Lucena “passa” as chaves da prefeitura do Recife para Antonio Farias

De 1964 a 1969, anos de chumbo grosso, quando o prefeito Augusto Lucena fora nomeado pelo governador Eraldo Gueiros de Pernambuco para administrar a Prefeitura do Recífelis, contam-se trapalhadas homéricas de arrepiar os pentelhos do forévis dos bastidores do Cabaré de José Mariano, a Câmara de Vereadores, durante os ânus que o homem de chapéu Ramenzoni ficou à frente do executivo municipal.

Modernizador do bairro de São José, Augusto Lucena era alvo de elogios, mas  também de pesadas críticas dos seus desafetos quando o assunto era sua administração, chegando ao ponto de seus inimigos políticos o chamarem de “Revitalizador da Venérea Brasileira”, por ser o Recífilis o bairro dos cortiços, onde predominavam os maiores índices de gonorreia, sífilis, chato, crista de galo, blenorragia, herpes genital, xanha…

Durante suas gestões foram criados o edifício-sede da Prefeitura da Cidade do Recífilis, o Colégio Municipal para ensino do 1º e 2º graus, construídas mais de 4.000 casas populares, além da abertura de muitas avenidas, entre elas a Caxangá, a Antônio de Góis, o Cais José Estelita, a Nossa Senhora do Carmo, a Agamenon Magalhães, a Domingos Ferreira, a Abdias de Carvalho e o Cais do Apolo. Outras obras: construção das Pontes Limoeiro, Jiquiá, Capunga e Caxangá, o alargamento da Av. Dantas Barreto, onde houve a necessidade da demolição da Igreja dos Martírios, considerada pela municipalidade como imprescindível para a construção e alargamento da avenida.

A Igreja dos Martírios, derrubada para ampliar a Av. Dantas Barreto

Foi nesse tempo que os religiosos que defendiam a permanência da Igreja dos Martírios se insurgiram contra o prefeito Augusto Lucena e se puseram em frente à igreja, deitados de bunda para cima, como resistência à sua demolição. E o Velho mandou passar o trator por cima dos que resistiram à derrubada. Esse episódio ficou conhecido nos anais do Recífilis como “A revolta dos cus aperobados”.

Mas foi no período em que administrou a cidade do Recífilis que o prefeito Augusto Lucena enfrentou sua mais dura batalha caseira: os desaforos da professora Mariquinha Bundão, uma baixinha enfezada moradora do bairro de Água Fria.

Certa vez um grupo de professoras, à frente a educadora Mariquinha Bundão, insatisfeita com o salário de miséria que recebia da Prefeitura, fez uma marcha de protesto até o Cabaré de José Mariano, a Câmara de Vereadores, para reivindicar melhores salários e condições de trabalho.

Quando adentrou no recinto, encontrou o prefeito Augusto Lucena debatendo boca com outros funcionários que protestavam também por aumento salarial, e as professoras, à frente a líder, Mariquinha Bundão, foram logo se dirigindo ao chefe do executivo e dizendo, dedo em riste:

– Ei, cunhão murcho, vai pagar a gente ou não vai o aumento salarial? Essa merda que a gente está recebendo não dá nem pra comprar um sabugo de milho para limpar o furico! Como queres que a gente dê aulas com os dentes arreganhados?

Tenso e atrapalhado com tanta pressão, o chefe do executivo municipal não teve outra alternativa: pôs a mão no fecho ecler, pegou o pau com os ovos e, chacoalhando-os, disse:

– Olha aqui que eu tenho para vocês de aumento salarial! Se não estão satisfeitas com o que ganham, vão dar o rabo nos botecos do bairro de São José! Lá vocês ganham mais!

Revoltada com a resposta desaforada do prefeito, e percebendo que o homem era duro na queda para dar aumento, e ali na frente de todos que estavam no salão do Cabaré de José Mariano, Dona Mariquinha Bundão, sem papas na língua, perguntou, gesticulando:

– Tudo bem, mas onde fica esse puteiro que o senhor frequenta pra eu ir até lá pra gente dar umas a seu gosto e preferência? Prometo-lhe fazer de tudo! Qual! Quá! Quá! Quá! Quá!

E saiu para o olho da rua de fininho antes que o homem soltasse os cachorros!


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 14 de abril de 2020

LEONARDO BASTIÃO, O POETA GENIAL DA NAÇÃO NORDESTINA

 

LEONARDO BASTIÃO, O POETA GENIAL DA NAÇÃO NORDESTINA

Para o mestre estudioso de filme de faroeste, D.Matt., um apaixonado da Cultura Nordestina

O poeta Leonardo Bastião num recital de poesia em Itapetim-PE, em 2019

No dia 7 de abril de 2020, sob o título de MINHA HERANÇA DE MATUTO, o leitor fubânico JACOB FORTES, residente em Brasília, publicou na seção de Correspondência Recebida do Jornal da Besta Fubana um brilhante texto chamando a atenção do mundo para a genialidade da poesia oral desse gigante versejador, LEONARDO BASTIÃO, cujo nome verdadeiro é LEONARDO PEREIRA ALVES, nascido em ITAPETIM-PE. Analfabeto, residindo até hoje na mesma paragem sertaneja, vale do PAJEÚ – PE, mensageiro de uma poesia tão pura e rica quanto à caatinga em que se esconde há mais de setenta anos de vida.

Ao se deparar com o talento versejador do poeta Leonardo Bastião, em criar versos orais como o cantar do sabiá, o chilrear do galo de campina, o arrulhar do colibri, o cantar da asa branca, o pipiar dos pássaros no sertão ao chover, o alegrar das árvores frondejantes, o chacoalhar das águas dos açudes sangrando para os moleques tibungarem na corrente…, o caboclo sente que o maior segredo do universo está na sua simplicidade, proporcionando a todos a beleza em tudo que se ver e no que não se ver.

O documentário Leonardo Bastião, O Poeta Analfabeto, escrito, produzido e dirigido por Jefferson de Sousa, conterrâneo do vate, traduz em imagens reais a genialidade de um poeta nascido com um dom divino capaz de traduzir oralmente o que fazia por escrito o maior poeta da Língua Portuguesa do final do Século XIX e início do Século XX, Fernando Pessoa, quando cantava sua Aldeia para o mundo em poemas geniais eternos como nenhum outro poeta havia feito antes.

Quem assiste aos vídeos de Leonardo Bastião, nas imagens captadas por anônimos, escritores, fãs, poetas, embevecidos com sua versatilidade em fazer poesias orais instantâneas, em quaisquer lugares da caatinga na sua matutice, não imagina que por trás daquele homem simples, tímido, há um poeta genial que, ao abrir a boca e olhar para qualquer espaço da natureza, embeleza o mundo descrevendo-o com a sua poesia oral, tirando de onde não se tem e botando onde não se cabe.

Por sua virtuose em fazer versos de improvisos geniais, por sua simplicidade sertaneja em não querer reconhecer o talento que tem, pelo ostracismo estigmatizado por morar em casebre de taipa no meio da caatinga, esquecido de todos que poderiam ajudá-lo, principalmente do poder público, por tudo que representa para sua terra natal, o poeta Leonardo Bastião, certamente receberá uma digna homenagem, com inauguração de estátua, nome de praça, de escolas públicas, ruas e avenidas; recitais de poesia em sua homenagem, depois de porem-no no paletó de madeira e jogarem-lhe sete palmos de terra na cara, como nos indigentes da magistral crônica “O Caixão da Caridade.”

a) O Relógio da Vida/A Morte/ Filho Bandido

 

 

b) A Infância/A Velhice/O Macaco/E a Cachorra

 

 

c) Leonardo Bastião Entre Amigos

 

 

d) Leonardo Bastião Recitando Verso Fescenino com o Poeta Zé de Cazuza

 

 

e) Leonardo Bastão/ A infância Perdida/ E a Seca

 

 

f) Leonardo Bastião: As Flores/O Passarinho/O Defensor da Natureza/Falando nos Animais

 

 

g) Leonardo Bastião: O Poeta Analfabeto/Documentário Completo/De Jefferson Sousa

 


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 07 de abril de 2020

DJANGO(II) - O SPAGHETTI WESTERN QUE INSPIROU QUENTIN TARANTINO

 

DJANGO (ll) – O SPAGHETTI WESTERN QUE INSPIROU QUENTIN TARANTINO

Segundo texto escrito em colaboração com o estudioso e profundo conhecedor de filmes de faroeste: D.Matt.

Dedicamo-lo ao editor do JORNAL DA BESTA FUBANA, LUIZ BERTO, autor da excelente apresentação do livro de estreia do colunista western, ALTAMIR PINHEIRO, “NO ESCURINHO DO CINEMA”, a ser lançado brevemente.

No seu texto de apresentação, o editor da BESTA FUBANA demonstra ser um grande apreciador do cinema e de filmes westerns em particular, levando-nos às suas matinês nos cinemas da sua já culturalmente famosa cidade de Palmares, quando menino, relembrando suas travessuras cinematográficas e outras já amplamente descritas e apreciadas pelos leitores no seu famoso livro de crônicas “A PRISÃO DE SÃO BENEDITO e outras histórias.”

Poster do primeiro filme Django (1966), do diretor Sergio Corbucci

As primeiras imagens do fantástico filme DJANGO (1966), produzido e dirigido pelo talentoso diretor Sergio Corbucci, captadas pela lente do diretor de fotografia Enzo Corboni, nas primeiras cenas do filme, mostram um cenário místico, sombrio, com a quadrilha do general Hugo Rodriguez e a do Major Jackson se digladiando, com este tentando, a todo custo, enforcar ou queimar viva uma prostituta indefesa no deserto, lembram o cenário do sertão à época de Lampião, o anti-herói místico da caatinga, quando cangaceiros e volantes perseguiam suas vítimas indefesas para cometer atrocidades, furiosos por arrancar-lhes a ferro em brasa confissões inexistentes sobre paradeiro de bandos e soldados inimigos. Embora ficção, esse filme retrata com inteligência a realidade vivida no sertão nordestino no início do século XX, quando os cangaceiros, sobre o comando de Lampião, aterrorizavam na caatinga, saqueando, roubando, seqüestrando, matando e incendiando fazendas e propriedades, já castigadas pelo sol inclemente.

O confronto entre Django e os capangas do Major Jackson travada no meio do oeste, onde mais de quarenta capatazes morrem sobre a mira da metralhadora do homem solitário prova o talento do diretor que, em momento algum perde a mão na condução da batalha. Somando-se a esse filling cinematográfico inusitado, assiste-se a recriação de uma cena antológica: o ataque ao Forte Cheuriba do Major Jackson por Django e o general Hugo Rodriguez, com ambos utilizando para esse feito o estratagema do Cavalo de Tróia, como uma cartada bem planejada para matar todos os soldados do sanguinário major e depois saquear todo ouro que estava armazenado no porão do forte.

O misticismo do filme, sendo essa visão um dos fatores do seu grande sucesso para a época, em todo desenrolar da história; a cena do embate final entre Django, com as duas mãos esmagadas pelos capangas do general Hugo, diante das cruzes no cemitério e o fuzilamento dos soltados do Major Jackson e dele por um homem quase impotente, torna o filme um clássico cinematográfico cultuado até hoje por diretores, atores e aficionados do spaghetti western, passados mais de cinquenta anos do seu lançamento.

Nesse filme, vê-se que os cenários não procuram retratar uma cidade do Oeste. Na verdade não tem nada que identifique como uma cidade verdadeira. É apenas um amontoado de fachadas em escombros, coisas velhas sem nenhum cartaz ou dizeres indicando a sua utilidade, o que é muito importante.

Todo o cenário da cidade está fotografado com tons sombrios, tudo em quase preto e branco, sem nenhuma cena colorida. Parece uma cidade do umbral, sem nenhuma vida ou cor, sem nenhuma árvore, tudo escuro, como se estivesse situada às portas do inferno. Talvez tenha sido essa a intenção do diretor para preparar psicologicamente o telespectador para todo o drama que vinha a seguir.

As mulheres do bar não são personagens reais, são figuras quase abstratas posicionadas naquele cenário com a função de mostrar a irrealidade daquela cidade. A maquilagem delas mostrada no rosto é propositalmente exagerada, debochada, horripilante, quase uma máscara de horror, prenunciando os escândalos e violências futuras. Aliás, todo o filme exibe uma maquilagem de máscara, com exceção do ator principal.

O enredo começa de maneira empolgante. Ninguém fica imune da surpresa muito original na descoberta do conteúdo do caixão. O diretor segurou o filme com mão firme e muita inteligência, instigando a curiosidade do espectador que não desvia sua atenção da tela nem por um segundo.

Os atores, experientes, todos se saem muito bem, muitas vezes – nota-se – que a super representação é exigida pelo diretor, que deseja mostrar que aquilo é uma fábula encenada e não a reprodução da realidade, uma sacada de mestre do diretor Sergio Corbucci.

Não se vê no cenário de filmes de faroeste outro ator que pudesse interpretar melhor o personagem Django como Franco Nero. Ele está perfeito e ao final, quando termina a cena do cemitério, já começamos a sentir saudade do filme e de seu personagem principal, que ficará sem dúvida para sempre no cenário western em geral. Não só do spaghetti western, mas em todos os gêneros.

A direção do mestre Sergio Corbucci é impecável. Em algumas cenas sentem-se que estão exageradas ou super representadas, mas na verdade este foi um meio inteligente que o diretor encontrou para dizer explicitamente aos telespectadores que aquilo não era realidade e sim cinema.

Poster do filme Django Livre (2012), do diretor Quentin Tarantino

Para produzir e dirigir seu neoclássico spaghetti western, Django Livre (2012), uma homenagem ao diretor Sergio Corbucci, o diretor Quentin Tarantino contou com um elenco soberbo. Em destaque, além do ator principal Jamie Foxx, recém vencedor de um prêmio, o oscar de melhor ator, em excelente performance, apresentou-nos uma atuação fora de série do ator Leonardo DiCaprio, que pela primeira vez demonstrou ser um ótimo ator, com um grande futuro no cinema, o que já se confirmou em filmes recentes.

Entretanto há que ressaltar que mais um grande ator tem atuação brilhante, Samuel L. Jackson, que rouba todas as cenas em que aparece, com uma atuação brilhante, tão importante que o diretor Quentin Tarantino o escalou no seu filme seguinte “Os Oito Odiados” (2016), como ator principal, tendo uma atuação memorável.

A história escrita por Tarantino é explorada com virtuose, alguns suspenses detalhistas e cuidados máximos, como devem ser os grandes filmes de faroeste. Esse feito sublime ele aprendeu com o mestre maior: JOHN FORD.

A narrativa flui com algumas surpresas e cenas que demonstram que o diretor Quentin Tarantino criou ali um mundo irreal, todo seu, impossível de ser verdadeiro, como nas cenas em que o negro Django, senta à mesa de refeições com o racista escravocrata criador de negros lutadores, como se fosse criação de cães de luta. Um absurdo inimaginável naquela época. Outro deboche do diretor está na cena em que o negro Django entra na fazenda montado num cavalo com toda imponência e orgulho, como se fosse um grande fidalgo, vestido com uma roupa ridícula, azul claro, lenço de luxo branco e é convidado a se hospedar na mansão com quarto privativo. Esta cena cria uma grande confusão na cabeça do chefe dos escravos, o também escravo Samuel L. Jackson, que não acredita no que está vendo e se rebela contra as ordens do seu senhor e proprietário.

Essas inovações do diretor Quentin Tarantino demonstram que os diretores têm e devem sempre ter inteira criatividade ao imaginar os seus filmes, pois a criação dos fatos e movimentos do enredo não podem e não devem ter regras fixas, se a finalidade é criar uma obra pessoal, baseada num universo já conhecido e que nada tem a ver com a realidade.

O diretor italiano Sergio Corbucci criou seu spaghetti western, o místico Django (1966), um clássico; Quentin Tarantino, seu discípulo, reinventou o clássico com seu Django Livre (2012), eternizando o gênero.

Trailler Oficial DJANGO (1966)

 

 

Trailler Oficial de DJANGO LIVRE (2012)

 


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 31 de março de 2020

POCIDÔNIO SAMBURÁ, O DISCÍPULO DE EDIR MACEDO

 

POCIDÔNIO SAMBURÁ, O DISCÍPULO DE EDIR MACEDO

Maquete da nova Igreja “As Ovelhas de Deus”, a ser construída num bairro miserável

Vindo lá de Cafundó do Judas, cidade onde o cão perdeu as botas e satanás limpou o rabo com folhas de urtiga, o hoje pastor Pocidônio Saburá, depois de uma longa viagem em cima do lombo dum jegue, instalou-se em Conceição do Fiofó, comunidade Bolsa Família de Paulista-PE, onde encontrou terreno fértil para implantar seu plano maquiavélico, seguindo a teoria do seu guru Edir Macedo: “Abram igrejas que atrás vêm crentes e dízimos, e você não precisa justificar os milagres: Todos estão na Bíblia, legitimados por Deus.”

Instalado na casa da irmã Juventina enquanto arrumava trabalho, assistindo ao educativo Xou da Xuxa, Pocidônio viu um episódio da Família Dinossauro que o deixou com água na boca: Dino da Silva Sauro enterrar a sogra Zilda Phillips, que teve ataque de catalepsia e dois dias depois de enterrada a velha “ressuscita” e volta para casa, e conta à filha Fran as maravilhas de ter estado no céu, mas que infelizmente teve de retornar a terra sem ver o marido já morto porque não havia chegado seu dia. Seu nome não constava no “Livro dos Mortos.” O episódio chama-se “Vida após morte.”

Fascinado com a ideia da ressurreição no episódio, Pocidônio começou a bolar um estratagema: frequentar a Igreja Universal do Queijo do Reino do bairro, observar e anotar os modus operandi com que os obreiros daquela igreja faziam para usurparem a grana dos fiéis. E criou sua própria igreja com um sugestivo título de “As Ovelhas de Deus.”

Para isso, no primeiro terreno que encontrou desocupado cravou uma cruz e disse aos presentes que ali seria edificada a primeira igreja de Deus. E num sermão emocionado conclamou a todos se unirem para erguer a verdadeira igreja de Deus e livrar os fiéis do julgo dos “poderosos dos templos.” Uma referência ao mestre dissidente Edir Macedo.

– Irmãos, aqui vamos edificar a verdadeira igreja do senhor nosso Deus. Com a colaboração de todos vocês haveremos de construir a casa da purificação da alma, para depois da morte a gente saber o rumo de nossa eternidade. Todos que ali estavam aplaudiram o “pastor de pé!”

Para por em ação seu plano astucioso de arrecadar dinheiro dos frequentadores, Pocidônio reuniu mais de vinte obreiros para pressionarem os fieis a pagarem o dízimo antecipado para construir a igreja.

Com a igreja já pronta em menos de seis meses de arrecadação de dízimo, recebendo de cheques pré-datados, a notas promissórias e faturas de cartão de crédito dos fiéis, carros, apartamentos, casas, Pocidônio não só ergueu a igreja como mandou os filhos estudar no estrangeiro, comprou carros de marca para a família e todo dinheiro arrecadado dos fiéis foram empregados em imóveis particulares, o que só aumentava seu poderio financeiro, sua bajulação pastoral nas redondezas e sua influência política na prefeitura do município.

Não satisfeito com a quantia de dinheiro arrecado de dízimo dos fiéis todos os dias nas igrejas mais lucrativas, o pastor Pocidônio criou um “Regimento Interno” orientando todos os obreiros da igreja para que, “partir do recebimento daquele regimento interno, todos os arrecadadores de dinheiro teriam uma meta de dízimo a cumprir nem que para isso tivesse de tomar a força dos fiéis.”

Quando alguns obreiros perceberam a desumanidade do “regimento interno” foram questionar o pastor, informando-lhe que havia fiéis que chegavam a igreja com apenas a passagem e que seria desumano pedir-lhe o dinheiro, pois como é que iriam voltar para casa? E o pastor, escroque, determinou:

– Ou vocês fazem o que está determinado no “regimento”, ou eu demito todos e ainda mando dar-lhes uma surra de urtiga no rabo. Vocês têm de entender uma coisa: todos que chegam a minha igreja só vêem porque acreditam em mim e nos milagres de Deus, portanto, estão dispostos a dar tudo que tem, e o papel de vocês aqui é arrecadar ou tomar, e dizer-lhes que Deus vai dar em dobro no Céu. Dentro da minha igreja eu só quero obreiro com astúcia e ambiciosos, dispostos a tomar tudo dos fiéis porque do contrário podem pegar o Bonde do Tigrão e zarpar!

E, antes que qualquer obreiro lhe contrariasse com perguntas impertinentes, típicas da arrogância humana, deu meia volta, olhou a todos nos olhos e fulminou:

– A bondade não está no ego de quem detém o poder!!!

a) Vídeo onde o sábio dos sábios Edir Macedo, o deus de Pocidônio Samburá, diz que o coronavírus é coisa de Satanás e afirma que a cura está na sua igreja, desde que os “fiéis” paguem o dízimo.

 

 

b) Vídeo onde o mestre dos mestres Edir Macedo ensina como tomar dinheiro dos “fiéis” miseráveis que frequentam suas igrejas, no qual Pocidônio Samburá se inspirou para roubar seus “fiéis”, assim como fazem todas as igrejas do mundo.

 


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 24 de março de 2020

DJANGO (I) – O CLÁSSICO DO WESTERN SPAGHETTI

 

DJANGO (I) – O CLÁSSICO DO WESTERN SPAGHETTI

Texto escrito em parceria com o mestre em filmes de faroeste D.Matt

Dedicamos ao cinéfilo Altamir Pinheiro e seu neto Antonio Miguel, o cowboy

O caixão fantasmasgórico de Django

A cena de abertura do primeiro filme de faroeste da franquia “Django” é épica, memorável, monumental, icônica e irretocável. A câmara focando um homem solitário, arrastando um caixão fantasmagórico no lamaçal caótico, tendo como painel de fundo um cenário natural, maçante, acompanhado da antológica trilha sonora “Django”, composta pelo maestro argentino-italiano Luis Enríquez Bacalov, é apropriada para o clima sinistro do western.

“Django” conta a história de um andarilho misterioso, acompanhado de sua poderosa metralhadora, disposto a vingar a morte de sua esposa, assassinada por uma gangue rival que agia na região fronteiriça do México. Para conseguir seu intento ele fez um “acordo” com um dos chefes de uma gangue comandada pelo general Hugo Rodriguez, bandido frio, calculista, ambicioso, contra seu oponente, o Major Jackson e seu bando de facínoras, sanguinários.

É um dos melhores exemplos de filmes do gênero western spaghetti, com uma trilha sonora agitada, duelos de armas e um anti-herói de poucas palavras, que arrasta um caixão mortífero. O visual magnífico do filme é devido ao trabalho do diretor de arte Carlo Simi, que já havia criado personagens e cenários para filmes anteriores do diretor Sergio Corbucci, como o “Minnesota Clay.”

Antes e depois da primeira cena antológica do confronto entre “Django” com a metralhadora e os mais de quarenta bandidos do Major Jackson em frente ao Saloon do Nathaniel, ficava a impressão de que estávamos diante de mais um western lugar-comum, piegas, mas ante a competência do diretor Sergio Corbucci o que vemos é um filme com cenário de batalha expertise, cruenta, épica, que até hoje fascina crítico e cinéfilo que o elogiam como uma obra-prima do western spaghetti.

Como diz o mestre de filme de far western D.Matt., autor do Prefácio do livro “NO ESCURINHO DO CINEMA”, do cinéfilo-historiador Altamir Pinheiro, a ser lançado em breve: “DJANGO l, ou simplesmente DJANGO”, é o primeiro, o único e o verdadeiro. Esse filme tornou o ótimo ator Franco Nero famoso e ao citarmos DJANGO, o filme, todos logo identificamos o primeiro e o melhor da franquia. Sim o nome “Django” tornou-se uma franquia, pois existem muitas dezenas de filmes relacionados ao personagem famoso, talvez cheguem perto de meia centena de filmes, todos com adjetivos diversos, títulos chamativos, mas nenhum chegou perto do original que permanece eterno, com a matriz intocada, sem nada que possa abalar a sua merecida fama.

No ponto de vista cinematográfico, o único filme que chegou quase a merecer comparação com a qualidade do original, foi o filme “Django Livre” do diretor Quentin Tarantino. A comparação que se faz é apenas pela qualidade do filme, seus valores cinematográficos, seu ótimo elenco, que contou acertadamente com a participação do “Django” original, Franco Nero, numa pequena atuação, mas uma grande e merecida homenagem prestada pelo cineasta Tarantino ao grande ator, criador do personagem cujo nome, até hoje nos emociona. O filme cria um clima místico e quase sobrenatural, quando o personagem aparece do nada arrastando um caixão, como uma aparição fantasmagórica deixando todos apavorados e surpresos, sem saber o que esperar. O diretor Sergio Corbucci soube segurar com muita competência e profissionalismo essa atmosfera sombria.

Nada de parecido tinha sido visto antes nos filmes do gênero western, e a expectativa vai num crescendo para todos os personagens do vilarejo e muito importante, também para nós os expectadores do filme, pois o que vai ou poderá acontecer é uma incógnita.

Mas o diretor Sergio Corbucci mostrou que é um mestre, pois os fatos vão se sucedendo até que afinal o inesperado é revelado e com a sucessão dos acontecimentos, os vilões são enfrentados e como em todo bom filme de faroeste: o mocinho vence no final para satisfação de todos.

Ressalte-se o grande número de filmes que levam o nome “Django”, com dezenas de atores que fizeram o personagem-título, mas como se pode ver pelos enredos, nenhum deles é a continuação do filme original. Não que não sejam bons atores, mas sim porque o personagem do primeiro é muito místico, sombrio, e o ator deu ao personagem-título um desempenho extraordinário que nenhuma imitação conseguiu alcançá-lo.”

Em cena antológica dentro do oeste, Django arrasa com os quarenta capatazes do Major Jackson, que foge desmoralizado, com a cara cheia de lama dum tiro de COLT 45.

 


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 10 de março de 2020

JUIZ CONDENADO POR VENDA DE SENTENÇA

 

JUIZ CONDENADO POR VENDA DE SENTENÇAS NÃO CAIU A FICHA…

Centro de Observação e Triagem Everardo Luna (COTEL), em Abreu e Lima-PE

Conhecida líder comunitária de Chão de Estrelas e frequentadora do Lar Espírita Mensageiros da Boa Nova, visita o COTEL em Abreu e Lima-PE todas as segundas-feiras para levar palavras de conforto aos detentos provisórios ou já condenados pela justiça.

Todos os presos a chamam por Tia, mesmo os mais novatos, pois ela ganha a simpatia e a confiança de todos apenas com acenos de mão.

Quanto aos presos das alas mais afortunadas, médicos, advogados, diplomados, empresários, dentre outros, vêem-na com indiferença. Escondem-lhe o rosto, dão-lhe as costas para não serem reconhecidos em reportagens, nem terem suas faces gravadas por ela.

Segundo ela, o ambiente é deprimente, degradante, angustiante, depressivo. Não entende o que leva um homem instruído a praticar roubo, estupro, assassinato, latrocínio, corrupção, para depois parar naquele ambiente hostil, dantesco, sem nenhuma perspectiva de humanização.

Dentre suas andanças no COTEL, nenhuma lhe marcou mais do que a presença de um ex juiz novo, inteligente, sempre vestido a caráter, condenado por venda de sentenças.

E o mais interessante para ela: mesmo depois da confirmação de sua condenação por unanimidade pelo pleno do tribunal, e seu consequente afastamento das funções jurisdicionais, ele ainda voltou a delinquir.

Obrigado a produzir para ter suas penas impostas pela condenação abatidas, segundo estabelece a Lei de Execuções penais (Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984), dito juiz foi obrigado a fazer um trabalho de revisão e correção de sentenças penais condenatórias de presos que, assim como ele, estavam “ressocializando”. Com menos de três meses posto à frente dos trabalhos, voltou a delinquir e foi destituído do “cargo” pelo administrador do COTEL.

Certa segunda-feira Tia chegou ao estabelecimento prisional para fazer seu trabalho voluntário costumeiro e deu pela falta do juiz na sala dos “ressocializandos” Curiosa pela ausência, foi direto perguntar ao administrador por que o juiz não estava mais no “cargo” de “juiz revisor dos processos”. O administrador franziu a testa, olhou nos olhos dela e foi categórico:

– Minha senhora, aquele sujeito é o tipo de gente que não tem recuperação nem no inferno! Acredite: com apenas três meses que ele estava à frente dos trabalhos, foi descoberto que ele estava rasgando documentos dos processos e jogando na privada e proferindo sentenças distorcidas dos fatos! Enquanto eu estiver à frente do Estabelecimento ele não será mais “juiz revisor!” Por mim ele só sairia daqui morto, mas como nossas leis penais são umas merdas!…

No vídeo a seguir, reportagem da TV Minas feita na cidade de Paracatu

 

 

A sociedade não dava valor a nós porque nós não “dava” valor a sociedade – Wualasi


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários sexta, 06 de março de 2020

LAMENTO DE UM RIO (EU SÓ QUERIA PASSAR)

 

LAMENTO DE UM RIO (EU SÓ QUERIA PASSAR)

Nestes tempos de enchentes assustadoras que destroem as grandes metrópoles brasileiras devido à interferência do homem à Natureza, nada mais importante e reflexivo do que assisti a esse comovente vídeo, ouvindo a narrativa desse lindo texto escrito pela professora Scheilla Lobato, com a locução de Alan Fernandes.

* * *

Professora Scheilla Lobato

Me perdoe por toda essa bagunça
Eu só queria passar
Eu não fui feito para destruir…
Eu só queria passar
Já fui Esperança para os Navegantes…
Rede cheia para pescadores…
Refresco para banhistas nos dias de intenso calor
Hoje eu sou sinônimo de Medo e Dor…
Mas, eu só queria passar…
Me perdoe por suas casas
Por seus móveis e imóveis
Por seus animais
Por suas plantações…
Eu só queria passar
Não sou seu inimigo
Não sou um vilão
Não nasci pra destruição…
Eu só queria passar
Era meu curso natural
Só estava seguindo o meu destino
Mas, me violentaram,
Sufocaram minhas nascentes
Desmataram meu leito…
Quando eu só queria passar
Encontrei tanta coisa estranha pelo caminho…
Que me fizeram transbordar…
Muros
Casas
Entulhos
Garrafas
Lixo
Pondes
Pedras
Paus
Tentei desviar…
Porque eu só queria passar
Me perdoem por inundar a sua História,
Me perdoem por manchar esta história…
Eu só estava passando…
Seguindo o meu trajeto
Seguindo o meu destino:
Passar.

 

 

 


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 25 de fevereiro de 2020

APOCALYPSE NOW - AS LOUCURAS DE UM CINEASTA GENIAL

 

APOCALYPSE NOW – AS LOUCURAS DE UM CINEASTA GENIAL

 

O louco Coronel Kurtz, interpretado por Marlon Brando

APOCALYPSE NOW é uma obra-prima, um clássico da cinematografia beligerante. É um filme épico de guerra que questiona até onde vão a loucura, a paranóia, a estupidez, o egoísmo humanos. Suas conseqüências psicológicas. Os motivos sórdidos e desumanos que levam os homens a provocarem os conflitos, ceifarem vidas, destruírem a natureza e se tornarem algozes de si mesmos.

Em 1939, Orson Welles planejava filmar “O Coração das Trevas”, de Joseph Conrad, roteirizado por John Milius, livro do qual Francis Ford Coppola extraiu o roteiro de Apocalypse Now. Mas o projeto de Orson Welles foi abortado em pré-produção porque os produtores de Hollywood consideraram o custo da produção muito alto.

Em 1969, Francis Ford Coppola fundou a produtora American Zoetrope para filmar fora do sistema de Hollywood, e seu primeiro filme pela produtora foi exatamente Apocalypse Naw, com a direção ficando a cargo do talentoso cineasta George Lucas, que acabou desistindo da empreitada depois de mostrar o roteiro a vários estúdios e estes se recusarem. Mas Francis Ford Coppola nunca desistiu do projeto de filmagem, assumindo-o como produtor e diretor dez anos depois de ter rodado “O Poderoso Chefão” 1 e 2, ter ganhado oito Oscar e ficado milionário.

A esposa do cineasta Francis Ford Coppolla, Eleonor Coppola, conta toda essa loucura do esposo no set de gravação no documentário Hearts of Darkness: A Filmmaker’s Apocalypse, lançado em 1991, mostrando as tumutuadas filmagens do que foram os duzentos e trinta e oito dias de loucura nas selvas das Filipinas e Camboja, movidos por muita droga, medo, suicídios dos nativos, desejo de suicídio do próprio cineasta, que se via na iminência de ver seu grandioso projeto ruir, não seguir adiante por falta de verbas e a quase desistência do insano Coronel Walter E. Kurtz, interpretado pelo irascível Marlon Brando, que já havia recebido um milhão de dólares adiantado dos três milhões acertados com o diretor por três semanas de filmagens.

O resultado desta loucura insana está no documentário Hearts of Darkness: A Filmmaker’s Apocalypse, (Corações das Trevas: Apocalypse de um cineasta), onde os bastidores das filmagens assustam mais do que a Guerra do Vietnã.

Com as filmagens iniciadas em 1976, mas só terminadas em 1979, APOCALYPSE NOW honrou o produtor e diretor Francis Ford Coppola, porque além de ter recebido os Oscar mais importantes do cinema à época, até hoje é considerado um épico imbatível sobre a barbárie e loucura da guerra. Ademais: Ter empurrado uma pajacara de grosso calibre no rabo de todos os “críticos” de nota de rodapé de jornais da época, que projetaram o fracasso do filme antes mesmo do lançamento.

É “O horror!” É “O horror!”.

TRAILER OFICIAL DE APOCALYPSE NOW

 

 

CENAS DE LOUCURA DA GUERRA

 

 

 


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 18 de fevereiro de 2020

EXPECTATIVA DE VIDA

 

EXPECTATIVA DE VIDA

Para meus estimados amigos D.matt, Atamir Pinheiro e Brito

Seu José Amâncio da Silva era um velho do interior da Paraíba que tinha mais de cem anos. Morava vizinho de uma família que já havia morrido quase todo mundo: Tataravô, trisavô, bisavô, pai, tio, neto!…

O velho tinha o coro do bucho tão esticado que alumiava o sol. Daquele velho preto de sol a pino do sertão, do roçado, da paia da cana.

Certo dia o coletor do IBGE chega na casa dele e bate na porta: pá, pá, pá, pá, pá, pá, pá, pá, pá! De lá de dentro o velho Amâncio fala: “Já vai!”

Quando abre a porta, o velho dá de cara com o coletor e pergunta: Diga?

Eu sou coletor do IBGE e gostaria de fazer umas perguntas pro senhor.

E o velho Amâncio: Arroche!

Nome do senhor: José Amâncio da Silva.

Idade? Eu não vou mentir pro senhor, não! Quando eu completei noventa e oito, eu parei de contar.

Faz muito tempo que o senhor parou? Perguntou o coletor. Resposta: Na faixa de uns quinze anos!!!!

Pelo amor de Deus – disse o coletor do IBGE – esse velho tem mais de cento e cinco anos com uma lucidez da porra dessas?! Não é possível!!!

E para testar o velho se não estava com malandragem, pergunta: Essa casa é do senhor? E o velho: Não! É de mamãe! E o coletor espanta-se: “tá cá bixiga nada! O velho ainda tem mãe!!”

E o coletor pergunta: Ela está? E o velho: Não! Ela saiu com papai!!

E o coletor, não acreditando, pergunta: Eles voltam logo? E o velho: Não! Eles foram visitar vovó que está com Chikungunya!!!

Curioso com a longevidade do velho, o coletor pergunta:

Qual segrego para estar vivo? E o velho responde na bucha: Não ter morrido ainda, oia! Quá! Quá! Quá! Quá! Quá! Quá! Quá! Quá! Quá! Quá! Quá! Quá!


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 11 de fevereiro de 2020

NASCE UM MONSTRO PETISTA

 

 

NASCE UM MONSTRO PETISTA

Para o humorista Goiano

No dia 22 de dezembro de 2009 foi publicado no DOU o Decreto n.º 7.037 do Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, o chamado Programa Nacional de Direitos Humanos – PNDH-3. Trata-se de uma ameaça institucional às liberdades e direitos democráticos garantidos na Constituição Federal do Brasil de 1988. Senão vejamos o que pregou o monstro lulista para consolidar a ditadura petista por toda a América Latina por meio da corrupção, da mordaça a quem pensasse diferente, e a libertinagem:

1)Meios de comunicação censurados; 2) Aborto legalizado; 3) Casamento homossexual aprovado; 4) Proibição de exibir símbolos religiosos; 5) Prostituição regulamentada; 6) Maconha liberada; 7) Aprovada invasão de terras e propriedades urbanas e rurais, sem direito a indenização; 8) Liberdade e dinheiro a todos os sindicatos e movimentos dos trabalhadores rurais sem terra e grupos terroristas para ocuparem seus espaços dentro da sociedade e impor o terror a todos que forem contrário à implementação das medidas!…

Portanto, o PNDH-3 trata-se do programa nacional dos direitos humanos que se tentou instituir de forma sutil inúmeras medidas para desconstruir os padrões e valores sociais, políticos, éticos e morais. E também o Estado de Direito e as liberdades individuais e coletivas do povo brasileiro, todas já garantidas na Constituição Federal de 1988.

Na época, colunista da “Veja”, Reinaldo Azevedo Baitolão, rodou as tamancas contra “o suposto Decreto dos direitos humanos que prega um golpe na justiça e extingue a propriedade privada no campo e nas cidades. Está no texto. Para ler basta clicar aqui.

Leiam o decreto, assistam ao vídeo com as críticas pontuais e sintam na carne uma das maiores sandices instituídas pelo governo petista, digna das piores ditaduras mundiais, com a conivência do maior bandido que esse país já pariu, Luiz Inácio Lula da Silva, que foi eleito por duas vezes pela maioria dos eleitores brasileiros para ser presidente dessa Grande Nação, e os vinte e oito ministros comparsas que corroboraram com a tramoia do CHEFE, elaboraram e assinaram o DECRETO MONSTRENGO!

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA

Manifestação da sociedade pensante contra o decreto autoritário:

 


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 04 de fevereiro de 2020

A VIÚVA QUE SÓ PENSAVA EM SEXO

 

A VIÚVA QUE SÓ PENSAVA EM SEXO

 

Aos mestres do faroeste D.MATT. e ALTAMIR PINHEIRO

À semelhança da viúva alegre, que tentou “tesourar” Seu Luiz

Seu Luiz era um setentão bem casado, pai de quatro filhos e avô de seis netos. Frequentador assíduo da Igreja Universal do Queijo do Reino, (mas não pagava dízimo nem com a bixiga lixa!) Deus não precisa de dinheiro! – justificava. No bairro onde morava era conhecido pela paciência, sinceridade, serenidade, solidariedade e respeito aos vizinhos, que sempre os cumprimentava sorrindo.

Marceneiro de mão cheia, seu Luiz não parava em casa. Era constantemente solicitado para ir à casa de um freguês instalar um móvel, fazer um armário, armar uma cama, consertar uma mesa, uma cadeira, coisas da profissão.

Certo dia recebeu um telefonema em casa de uma desconhecida chamando-o para ir à casa dela instalar um armário de cozinha na parede. Ele anotou o telefone, o endereço e prometeu que no outro dia chegava lá no horário combinado.

Ao chegar à casa da viúva, seu Luiz foi recebido com agrado, galanteio, afago, cortesia, com a coroa toda “empiriquitada”, indicando o local onde queria instalar o armário, como desejava que fosse instalado e o deixou bem a vontade dizendo que não tinha pressa. De logo, acertou o preço da instalação e o material que ia comprar.

Com o material à mão comprado, seu Luiz volta no outro dia à casa da viúva alegre. Bate palmas. Ela vem atendê-lo. Ele pede licença, entra, conversa com ela mais uma vez detalhes de como deseja a posição da colocação do armário e depois começa a trabalhar.

Assanhada, a viúva alegre se aproxima do marceneiro e pergunta se ele não deseja fazer um lanche, tomar um café, beber uma água, tomar um suco. Enquanto vai lhe oferecendo essas cortesias a viúva alegre vai observando seu Luiz da cabeça aos pés: mulato, gordinho, braços e pernas grossos, sério, educado, tudo que a viúva alegre deseja num homem. Nesse ínterim, vai lhe subindo um calor com um desejo louco de ter aquele coroa nos seus braços. Imagina-o pelado na frente dela e se excita toda!

Naquele instante a viúva assanhada cria uma fantasia erótica tão da moléstia do cachorro pensando em seu Luiz que não se apercebe que havia passados mais de seis horas trabalhando na instalação do armário e que ele já havia terminado o serviço!

Quando deu por si o marceneiro a chama na cozinha, pergunta se está tudo bom, se ela gostou e, a viúva, já pensando como ter uma conversa com o coroa, diz que adorou a instalação e pede a ele que retorne no outro dia para receber o valor do serviço acertado. Despede-se dele no portão, olha-o mais uma vez dos pés a cabeça e devora-o no pensamento com um sorriso vermelho de batom.

No outro dia, na hora marcada, lá está seu Luiz no terraço da viúva alegre. Bate palmas. Ela vem atendê-lo. Abre a porta, Manda-o entrar. Tranca a porta e tira a chave sem ele perceber. Pede para ele sentar no sofá e aguardar um momento enquanto ela vai tomar um banho. Nesse momento seu Luiz fica apavorado com a atitude da viúva. Mas, mesmo contrariado com o pedido dela, fica esperando que ela saia do banho o mais rápido possível e venha lhe pagar o valor do serviço acertado para ele ir-se embora.

Depois de mais uma hora de espera, seu Luiz já nervoso de tanto esperar e estranhando o silêncio da viúva, fica em pé e a chama para lhe atender, dizendo-lhe que tem outro serviço para acertar.

Nesse momento, a viúva lhe aparece de camisola transparente, sem calcinha, sem sutiã, e na frente dele, abre a camisola e o provoca:

– E aí meu gatão, meu gostosão, está pronto para fazermos uns tilicuticos regados aos prazeres da carne mijada? Tomei um banho, me perfumei toda, raspei a danadinha só pensando na gente! Vem, corre, que estou louca de desejos! Sou uma ninfomaníaca insaciável! Desde ontem que não paro de pensar em nós dois em baixo do edredom! Tudo está pronto. Só está faltando você! Vem!!

Nesse momento, vendo aquele desmantelo à sua frente e pensando na esposa que deixou em casa e que nunca a tinha traído, seu Luiz arregalou os olhos fundo de garrafa, ficou mais preto do que já era e, ameaçando a viúva, inquiri:

– Olhe, madame, eu não vim aqui para isso não, viu! Eu vim para receber meu dinheiro! Se a senhora insistir mais uma vez eu quebro aquela porta, faço o maior escândalo aqui e vou me embora. Tá ouvindo?!

Foi nesse momento que a viúva assanhada, com medo da ameaça do velho, foi lá dentro, pegou o dinheiro, vestiu uma blusa, e chegou até a porta para pagar a seu Luiz. Mas antes de pagar, olhou o coroa mais uma vez da cabeça aos pés e lhe provocou:

– Olhe, tudo isso aqui é seu (e abriu a camisola transparente mais uma vez). Basta você me telefonar, marcar o momento para a gente fazer aquele ziriguidum (e começou a requebrar toda e revirar os olhos) que garanto que você não vai se arrepender! Estou à sua inteira disposição! A hora que quiser, pode vir seu garanhão! E começou a por a língua nos lábios em forma de gestos obscenos provocando o coroa, que já estava apavorado com tais atitudes estranhas da velha assanhada!

Enquanto a viúva fechava a porta seu Luiz saiu para rua, desabalado, apavorado, desnorteado, pensando naquele desmantelo jamais lhe ocorrido na vida.

Chegando em casa, seu Luiz chamou o filho mais novo, solteiro, ao canto da casa e lhe contou o vexame por que havia passado, e o filho sirrindo-se de se mijar, olhou para o velho, e o provoca:

– Mas meu pai, e o senhor não comeu essa coroa, não, foi?!! Puta merda! Meu Deus do Céu! Ó Senhor, deste a coroa à pessoa errada, Senhor! Por que não deste a mim, Senhor?!

E seu Luiz, sobressaltado com a reação galhofa do filho, imaginou: Meu Deus, como as coisas estão mudadas!… E ficou mudo porque percebeu que vinha vindo sua esposa, Dona Santinha, da igreja, com cara de quem comeu e não gostou!


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 28 de janeiro de 2020

TODO AMOR É ÚNICO

 

 

TODO AMOR É ÚNICO

Ambos haviam saído da adolescência quando começaram a namorar. Num piscar de olhos o amor disse sim e tudo começou como num conto de fadas à moda Marie-Catherine d’Aulnoy, no final do século XVII.

Não havia tempo ruim para os dois. Qualquer incidente bizarro do cotidiano, por desimportante que fosse, era motivo para rirem e mostrar ao mundo que estavam felizes. Coisas da juventude.

Depois de três meses de namoro ambos resolveram noivar. À moda antiga, românticos, os dois passaram de frente a uma loja de vender alianças e ele perguntou-lhe qual a que ela mais se identificava. E ela, feliz da vida, indicou uma da vitrine, simples. Ele comprou e ambos ficaram noivos ali mesmo dentro da Loja Alianças, sob o olhar emocionado da atendente.

Depois do noivado, começaram a organizar a vida. Compraram enxoval e demais utensílios domésticos de uso diário para uma casa de um casal que se preze organizada.

Menos de um ano de noivado, estavam os dois pombinhos à frente do Juiz da Vara de Família e Casamentos dizendo sim à liberdade de escolha; e um mês depois, para a felicidade da família materna, estavam no altar da igreja de frente para o pároco, prometendo estar com a amada na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, amando-a, respeitando-a e sendo-lhe fiel em todos os dias da vida, até que a morte os separe.

Dois anos depois de casados, sem filhos, sem motivos, sem desentendimentos, ambos resolveram separar. Ela foi para um lado em busca não se sabe do quê, e ele também. Depois, ela arrumou um novo companheiro e resolveu com ele ficar, sem se casar. Ele fez o mesmo; porém casou-se.

Vinte e cinco anos depois de separarem, ambos se encontram. O amor e a admiração que um nutria pelo outro não mudou anda. Ela com dois filhos, viúva; e ele com dois filhos, casado. O mesmo sorriso, a mesma admiração, o mesmo prazer da juventude emergiram nos corações de ambos, como a lua após o sol se por. Abraçaram-se, beijaram-se, choraram. Curiosamente, ele a abraça como no passado, as lágrimas correndo dos olhos, pergunta-lhe:

– Amor, se a gente se amava tanto. Gostava tanto a ponto de até hoje o amor continuar vivo, latente, latejante, por que a gente se separou?

E ela, fingindo não lhe dar ouvido, mas aplicando-lhe um beijo demorado, responde:

– Era porque nós dois éramos dos adolescentes irresponsáveis; mas hoje somos maduros e eu estou viúva!

Beijou-lhe mais uma vez e se foi sem olhar para trás.

* * *

Comentários sobre o filme “Cenas de Um Casamento” do genial diretor Sueco Ingmar Bergman

 


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 21 de janeiro de 2020

TRÊS IRMÃOS EM CONFLITO

 

 

TRÊS IRMÃOS EM CONFLITO

Tipo de armazém de secos e molhados da época, a semelhança do Seu Cirilo

Seu Cirilo era um comerciante mulherengo. Em cada bairro onde tinha um armazém de secos e molhados, possuía um rabo de saia para “furar o couro” a cada dia da semana.

De todas as mulheres com quem teve “um caso”, só Dona Dóris teve três filhos dele, um macho e duas fêmeas. Até hoje não se sabe por que as outras não embucharam dele…

Seu Cirilo não era agiota, mas desenvolveu um método infalível de se apossar das casas dos devedores do seu armazém: quando percebia que o devedor estava com a caderneta de débito a perigo, intimava-o a trazer “a escritura da casa” como garantia do débito e, quando este chegava a determinado patamar, pagava a diferença do valor do imóvel previamente combinado e expulsava o devedor. Por causa desse modo de pressão infalível, Seu Cirilo conseguiu angariar um patrimônio que dava inveja a qualquer comerciante da redondeza.

Antes de falecer, Seu Cirilo havia deixado dois imóveis “apalavrados” para cada filho. Três para a esposa, fora os três armazéns de secos e molhados que, um ano depois de sua morte, fecharam as portas porque os filhos não se entendiam na condução gerencial.

Após a falência dos três armazéns por falta de direção, cada filho, de posse de suas casas e apartamentos dados verbalmente pelo pai em vida, tomou seu rumo na estrada, e passaram a se desentender cada vez que um falava para o outro que queria vender um imóvel “doado” pelo pai para tocar a vida. Nenhum assinava em favor do outro qualquer termo de renúncia, mesmo sabendo que isso era condição necessária para dirimir qualquer dúvida e dar segurança jurídica para quem estava comprando.

Interessante é que os filhos de Seu Cirilo viviam socados na igreja todos os sábados e domingos justamente orando às pessoas que estivessem passando por esse tipo de situação. ”Oh! Pai! Antecedei junto a teus filhos para que não haja desavença entre eles!” “Que eles vivam em harmonia! Amém!” – suplicavam ajoelhados!

Enquanto oravam para Deus para mostrar um caminho, Maria procurava João para que assinasse um termo de anuência e esse se negava terminantemente! João procurava Josefa para que assinasse um termo de concordância para ele vender a casa e esta dizia não! Josefa procurava João e Maria para que assinassem um termo de anuência e estes diziam também não! E assim foram levando a vida nessa discussão interminável, com um colocando a culpa no outro por não fechar o negócio. Enquanto isso os três armazéns pertencentes, em vida, a Seu Cirilo, o tempo ruiu. Até que um dia também Dona Dóris encantou-se e tiveram de procurar a Justiça para dividirem os bens. Contrataram um advogado “especialista” e este, autorizado pelos três irmãos, entrou na Justiça para partilhar os bens.

O tempo passou e a Justiça sem dar um ponto final ao processo. A espera foi tanta que morreram João e Maria. Josefa caminhava para o paletó de madeira por causa do sério diabetes. “Vai chegar o dia em que, quando a Justiça disser ‘de quem é de quem na partilha’ até os netos terão viajado para a cidade de pés juntos!” – Sentenciou um vizinho gaiato que trabalhava no Tribunal.

Bem feito para os três conflitantes que não chegaram a um consenso arbitral antes de procurar a Justiça, que no Brasil só não é lenta para quem é ladrão, assassino, criminoso, latrocida, estuprador, pedófilo e corrupto, porque tem proteção constitucional.


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 14 de janeiro de 2020

NUKUCHU, O MOMEM TRABALHO

 

 

NUKUCHU, O HOMEM TRABALHO

Modelo de caminhão da época do capotamento

Nukuchu era um imigrante japonês baixinho, perna fina, cabelo preto, mão de vaca, desse que dá um peido e cheira a catinga toda. Veio morar no distrito de Lagoa do Carro (PE) no início do Século XX, fugindo do horror nazista.

Sem eira nem beira, procurou guarida no sítio de Zuzuku, parente distante também fugido do nazismo, que logo lhe providenciou “umas terras” para cultivar e o enganchou com a sobrinha de sua esposa, Maria Peitão, apelidada pelos peões de Zacumida, por ser completamente despudorada.

Nos primeiros dias de contato com a terra, Nukuchu já provara a que veio. Procurou saber das necessidades do povo de Lagoa do Carro, comprou todo tipo de bugigangas e começou a vender de sítio em sítio.

Apôs vender suas mercadorias a prestação na vizinhança, Nukuchu voltava para cultivar o sítio dele, plantando tomate, melancia, pepino, coentro, alfaces, cenoura, cebola, para vender a grosso e vareja nas feiras de Carpina e Lagoa do Carro, no sábado.

Logo Nukuchu foi ficando endinheirado. Comprou à vista as terras cedidas por Zuzuku e cresceu os olhos em outras de proprietários que não queriam plantar, preferindo migrarem para o Sul em busca de trabalho na construção.

Nukuchu comprou mais terras e os compromissos foram aumentando ao ponto de não ter tempo para ele nem para Zacumida. Aliás, diziam os peões de Zuzuku que ele não tinha tempo para “visitar” a patroa, pois esta vivia se queixando, dizendo que ele “só pensava em dinheiro, deixando-a seca.”

Quando comprou o terceiro sítio para cultivar produtos variados, Nukuchu pediu a mulher, Zacumida, que contratasse dois peões para trabalhar a lavoura, deixando bem claro que só pagaria a metade do salário mínimo e que tudo que o empregado consumisse do sítio seria descontado.

Zacumida contratou um primo distante, malandro, que há muito tinha os olhos nele, para trabalhar com ela. Comprou um caminhão Mercedes Benz L 312 – 1957 para carregar os mangalhos para a feira dia de sábado. Nukuchu se encarregava ele mesmo de por os produtos no caminhão. Anotava tudo numa caderneta e despachava a mulher e Adamastor, o malandro, levar para as feiras os produtos e entregá-los aos feirantes já contratados.

Trabalhando muito e se alimentado pouco, Nukuchu teve um piripaque no meio do canavial e, dias depois, bateu as botas, deixando os três sítios prontos para Zacumida e o malandro Adamastor usufruírem das benesses.

Como não teve filhos, toda a fortuna deixada por Nukuchu ficou para Zacumida, cuja alegria era-lhe visível no brilho dos olhos. Enfim só, para alguém acender a boca do fogão que o de cujus nunca riscou o fósforo.

Mas, a alegria de Adamastor e Zacumida durou pouco. Um dia, após o fim de uma feira de sábado, depois de entregar todas as mercadorias e vender o resto no banco de feira, encheu o caminhão de mantimentos para os animais dos sítios, chamou os feirantes de Lagoa do Carro que negociavam na feira de Carpina para ir no caminhão, e partiram em desabalada carreira. 80 km por horas. Quando chegou na ladeira do Juá, marco divisório entre Carpina e Lagoa do Carro, o caminhão faltou freio e, na curva da morte, capotou por três vezes, vindo a falecerem todos, acabando o sonho de Adamastor e Zacumida de desfrutarem da riqueza deixada pelo de cujus.

Triste fim que pôs fim a um sonho que se acabou antes de começar. A vida tem dessas coisas que não se explica.


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 07 de janeiro de 2020

SEU MANOEL, O TEIMOSO

 

 

SEU MANOEL, O TEIMOSO

Para o Mestre Goiano, com o carinho do Seu Manoel Teimoso

Começou a chover forte no território do teimoso.

Seu Manoel morava com a esposa e dois vira-latas numa casa construída à beira do rio, onde todas as vezes que chovia a residência era inundada a ponto de a água subir a três palmos do piso.

Um dia começou a chover forte. Chuva que não acabava mais. E a previsão meteorológica era de que iria chover mais forte do que os anos anteriores. Seu Manoel foi alertado pelas autoridades a abandonar a casa com a família assim que a água começasse a subir.

Como Seu Manoel era um homem extremamente religioso, devoto cego, acreditava que Deus o protegia de qualquer risco, por isso teimava em ficar na casa, mesmo com os alertas das autoridades de que, em permanecendo, poderia ser arrastado pela enchente.

Nesse dia choveu muito. Os moradores que moravam junto a Seu Manoel começaram a abandonar suas casas quando a água começou a subir. Cada família que passava em seus botes chamava Seu Manoel para que lhe acompanhasse, pois o alerta era de que haveria muita chuva. Tudo no entorno do rio seria inundado e destruído.

Seu Manoel, teimoso, preferiu ficar na casa sozinho. Mandou levar a esposa e os cachorros. Quanto a ele, acreditava piamente que Deus o protegia. Que nada lhe ia acontecer de grave.

“Deus está no comando!” “Ele me salva!” – murmurou ao umbigo!

Aumentou o volume das chuvas e, em conseqüência, a casa inundou acima da metade da parede por causa do volume de água, e Seu Manoel teve de ir para o primeiro andar.

Percebendo que Seu Manoel corria risco de ser tragado pela enchente, os vizinhos chamaram o Corpo de Bombeiros para salvá-lo. A guarnição chegou, implorou para Seu Manoel deixar a casa, mostrando o perigo iminente, com o alerta de que ia chover mais ainda. Seu Manoel não cedeu aos apelos desesperados da equipe do Corpo de Bombeiro, e esta se foi antes de ser tragada pela enchente.

Súbito aumentou a correnteza, com a água chegando à cumeeira da casa de Seu Manoel. Os vizinhos telefonaram para a emergência, e esta veio por meio de um helicóptero que ficou em cima da casa de Seu Manoel, com o piloto implorando ao gramofone para que ele deixasse a casa com urgência pôs logo-logo ela iria ser tragada pela enchente. Mais uma vez Seu Manoel relutou e não cedeu aos apelos do piloto do helicóptero, preferindo seguir suas convicções religiosas.

“Deus é fiel! Não vai me deixar só!” – disse para si mesmo, convicto.

Mal o helicóptero bateu em retirada a casa de Seu Manoel desabou e ele foi engolido pelas águas e seu corpo nunca foi encontrado.

Ao chegar ao céu, Seu Manoel foi inquirido por Deus que lhe perguntou por que não atendeu aos apelos dos homens para que fugisse da cheia. Ao que Seu Manoel, teimoso, retrucou:

– Mas, Senhor, eu lhe esperei a ajuda. O Senhor não é onipotente, onipresente e onisciente? Pai e protetor dos pobres?

– Sim, meu filho, Eu sou! Mas eu lhe mandei ajudas. Você é que as ignorou, preferindo acreditar em milagres. Mandei o barco, o corpo de bombeiro e, em seguida, o helicóptero, e você disse não a todos! Como castigo por sua teimosia, vou mandá-lo para a profundeza do quinto dos infernos onde está preste a chegar um sujeito que se diz ser a alma mais honesta do mundo! E tem gente que acredita nele! Você e ele vão fazer uma pareia da porra! Um teimoso como uma mula e o outro que se diz “uma viva alma mais honesta do que Eu!”

 

 

 


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários segunda, 06 de janeiro de 2020

PRERROGATIVAS DA ADVOCACIA

 

 

CÍCERO TAVARES – RECIFE-PE

Caro editor:

Todo canalha tem medo da Justiça quando passa a valer a máxima para qualquer bandido de que “todos são iguais perante a lei”, segundo está instituído na nossa constituição cidadã, mas que na prática a teoria é diferente.

Veja o que disse o presidente da OAB Felipe Santa Cruz, essa figura abjeta, execrável, desqualificada, inimigo figadal do Ministro da Justiça e Segurança Sergio Moro, sobre a Lei de Abuso de Autoridade, elaborada pelo quadrilheiro travestido de senador Renan Calheiros e relatada pelo também senador bandidão Roberto Requião.

E em seguida assista o comentário do apresentador SikêraJr do programa ALERTA AMAZONAS sobre essa excrescência aprovada pelo Congresso Nacional em 2019, esconderijo onde se aloja a maior quantidade de bandidos por metro quadrado para assaltar a Nação.

 

 

 


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários quarta, 01 de janeiro de 2020

KAKAY – O INIMIGO DE SERGIO MORO

 

 

KAKAY – O INIMIGO DE SERGIO MORO

O repugnante Kakay de bermuda nos corredores do STF, o puteiro de Brasília

Em artigo abjeto publicado na imprensa no dia 26.12.2019, o estapafúrdio, espalhafatoso, cínico e repulsivo defensor de criminosos e políticos ladrões ricos que assaltaram o Brasil, Antônio Carlos de Almeida Castro – conhecido nas noites cariocas e brasilienses como Kakay -, diz que a derrota de Sergio Moro, com seu pacote anticrime querendo moralizar o Brasil, foi acachapante na câmara, onde Rodrigo Botafogo Maia relincha e todos murcham a orelha. Segundo Kakay, o projeto de lei anticrime do Ministro da Justiça e Segurança foi apresentado sem nenhuma discussão séria com a “sociedade” por isso todos os seus pontos inibidores da criminalidade foram acachapados na Câmara pela comissão instalada para estudá-lo, seguindo as ordens do ministro do STF, o Kinder Ovo, Alexandre Cabeça de Pica Moraes.

Segundo o salafrário defensor de bandidos ricos, o projeto de lei aprovado pela câmara foi fruto do enorme esforço do Grupo de Trabalho (GT) criado pelo presidente Rodrigo Maia, que teve a “hombridade de ouvir a sociedade e especialistas honestos, técnicos e capacitados para elaborarem uma lei sintonizada com os anseios da sociedade, contra o crime organizado.”

Chamando Sergio Moro de estrategista político, marqueteiro de si mesmo, disse que o ex chefe da Força Tarefa da operação Lava Jato, continua a investir em marketing. Segundo Kakay, “o ministro Sergio Moro tem o apoio de sempre dos setores conhecidos e continua posando como se seu projeto tivesse sido vitorioso. Porém, para quem entende do assunto sabe que, felizmente, a realidade é outra. Ganhou a sociedade, o cidadão e o estado democrático de direito,” concluiu.
Essa dor de cotovelo do espalhafatoso Kakay sobre o herói nacional, Sergio Moro, me lembra a observação irônica feita pelo cel. Tibério Vacariano, personagem do romance Incidentes em Antares de Érico Veríssimo, quando um jovem estudante classe média local, depois de estudar na Europa, retorna à cidade cheio de prosódia, tachando de caretas os costumes locais:

– Esse rapaz parece que é fresco!


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 24 de dezembro de 2019

JÁ VELHO – UMA COMOVENTE HISTÓRIA DO CANGAÇO

 

 

“JÁ VELHO” – UMA COMOVENTE HISTÓRIA DO CANGAÇO

O tenente João Gomes de Lira (1913-2011), policial militar, nascido na fazenda Jenipapo, Nazaré do Pico, Floresta, Pernambuco, ex volante da tropa do comandante cel. Manoel Neto que combatia Lampião pela Caatinga do Nordeste, em depoimento emocionante ao pesquisador do Cangaço, o cearense Aderbal Nogueira, conta uma história comovente vivida por ele e os ex volantes quando perseguiam os cangaceiros na aridez do Sertão em Fogo.

Homem tosco, rude, acostumado, pelas circunstâncias dos fatos, a cometer todo tipo de atrocidades contra os fazendeiros, “os coiteiros”, para “arrancar-lhes” a ferro informações sobre o paradeiro dos cangaceiros, em depoimento gravado em 1996, relembra uma história de companheirismo fraternal e amor incondicional entre o cachorro “Já Velho” e a volante do cel. Manoel Neto.

Na época do cangaço, eram muitas as fazendas abandonadas pelos fazendeiros por causa dos cangaceiros que metiam o terror na região. Nas muitas propriedades que chegavam, os volantes encontravam gados, bodes, galinhas, cavalos, cachorros, abandonados. Morrendo de fome e sede porque seus donos os haviam abandonado temendo as represálias cruéis dos cangaceiros e volantes. Era uma verdadeira guerra de guerrilha, onde os inocentes eram torturados para confessar o que não sabiam e ninguém ouvia seus lamentos! Até Deus tapava o ouvido para não lhes ouvir os gritos de socorro!

Um dia a volante do cel. Manoel Neto chegou à fazenda Arueira, abandonada, e encontrou um cachorro grande, magro, cambaleante, só na pele e no osso. Não tiveram coragem de matá-lo. Comeram carne seca e farinha na fazenda e depois seguiram viagem a pé. Quando iam bem distante perceberam que o cachorro os seguia por dentro do mato! Ficaram impressionados com a atitude do cachorro em segui-los e resolveram incorporá-lo à volante. Tornaram-se amigos inseparáveis! Homens rudes, acostumados a matar e morrer no sertão em brasa, se curvaram à ternura de um cão fiel! E puseram-lhe o nome de “Já Velho.”

Um dia, retornando à fazenda Arueira, onde tinham combatido com Lampião e seus cangaceiros, havia um porco enorme que partiu para cima do cachorro e este, para defender seus amigos fiéis, partiu para cima do porco e este lhe deu uma rasgada no bucho que o abriu, ficando o cachorro no chão, vísceras para fora, olhos arregalados sentido a presença da morte e olhando para os volantes, um a um, numa despedida emocionante. Nenhum volante quis dar o tiro de misericórdia. Ao contrário, quando “Já Velho” fechou os olhos, encantando-se, todos os volantes ficaram a chorar de tristeza pela perda do fiel amigo!

Homens toscos, rudes, brutos, acostumados com a barbárie, chorando a morte de um cachorro companheiro!

Isso é um pedacinho da História do Cangaço com todos os seus mistérios, que precisa ser explorado pelo TURISMO.

A linda História do cachorro “Já Velho”, relembrada pelo tenente João Gomes de Lira, 80 depois!

 


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 17 de dezembro de 2019

SEVERINO BILL E A CABRITA MIMOSA

 

 

SEVERINO BIL E A CABRITA MIMOSA

Severino Bil era um adolescente bem-afeiçoado, corpanzil escultural, apesar de filho de neta de escrava. Sua atividade era pastorar as cabritas do avô materno nos canaviais de Lagoa do Carro, distrito de Carpina, Pernambuco. No colégio estadual do distrito onde estudava era cobiçado pelas meninas que viam nele um galã de cinema, um Jemes Dean, um Marlon Brando, mas ele nunca dava atenção a elas, pôs não tinha a malícia de sacar as pretensões astuciosas das adolescentes assanhadas, que ficavam toda molhada só em imaginá-lo pelado na frente delas.

Olhos azuis, cabelos pretos e lisos, rosto afilado, Severino Bil puxou à genética do pai de origem alemã, que deixou a mãe assim que soube que ela estava prenha dele, depois de uma convivência amancebada de mais de dois anos, morando num barraco de dois vãos que ficava nos fundos do sítio Padre Cícero Romão Batista do avô materno, seu Zé de Maria.

Quando completou dezessete anos aí é que o adolescente despertava suspiros alucinados nas alunas do Colégio Joaquim Nabuco mesmo!, principalmente na professora balzaquiana Chiquinha, cabaço absoluto, que, segundo ela às colegas de profissão, todo dia sonhava com o rapagão com ela na posição meia nove!…

– Minhas meninas, dizia Chiquinha às colegas professoras na hora dos intervalos das aulas, é impressionante o poder de sedução que aquele adolescente exerce em mim! Que Olhos! Que boca! Vocês acreditam que todo dia eu sonho com aquele safadinho me comendo? Ao passo que as colegas, ouvindo tais confissões indecentes de Chiquinha, arregalavam os olhos e a censuravam, mas desejando o mesmo para elas:

– Mas, Chiquinha, isso é pecado capital! Quem já se viu uma educadora feito tu teres tesão por um adolescente que é teu aluno, mulher? Deus te castiga, visse?…

Como resposta às surpresas das colegas, Chiquinha respondia com todas as forças da paixão e desejos avassaladores:

– Minhas meninas, se vocês imaginassem os sonhos eróticos que tenho com aquele adolescente, as posições com que ele me pega, as sacanagens que ele me faz nos sonhos, vocês não diziam isso!… Desconfio que Deus não se preocupe com isso não!…

Depois dessa conversa com as colegas em classe, Chiquinha nunca mais quis tocar no assunto referente ao adolescente nem as colegas perguntavam.

É que, segundo as más línguas, Chiquinha resolveu visitá-lo no sítio do avô materno no período de férias escolares com pretexto de conhecer a família e matar a saudade da paixão avassaladora que a devorava nos sonhos eróticos com ele.

Quando chegou ao sítio Padre Cícero Romão Batista encontrou Dona Maria das Dores, mãe de Severino Bill e perguntou onde estava o rapaz e esta respondeu, apontando para o canavial: “Está lá em guentão dentro do canavial pastorando as cabritas do avô.”

Ansiosa, Chiquinha, pede licença a Dona Maria Das Dores e adentra ao mato, indo ao encontro de Severino Bill, enquanto as professoras que vieram com ela ficaram com a mãe do adolescente no alpendre da casa grande, conversando.

Para sua surpresa e decepção, Chiquinha, quando adentra no mato para descobrir o local onde está Severino Bil pastorando as cabritas ouve um sussurro, um fungado, um “ai mimosa, ui mimosa”. Para sua decepção e nojo, era Severino Bill pastorando a cabrinha Mimosa por trás e a chamando de “minha doce cabritinha!”

A decepção da professora Chiquinha foi tão grande, tão avassaladora com a cena a que assistiu que ela saiu correndo em desabalada carreira por dentro do canavial que até hoje se a procura nas imediações e não se a encontra, passados mais de quarenta anos do flagra do “hidden love” entre Severino Bill e a cabrita Mimosa.


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 10 de dezembro de 2019

BARRACO NO ÔNIBUS DO ALTO DA FOICE

 

 

BARRACO NO ÔNIBUS DO ALTO DA FOICE

Era uma quarta-feira enluarada, o vento tarado soprando os cabelos dos transeuntes que voltavam do trabalho e invadindo as saias das jovens para mostrar-lhes a bunda. Depois de mais de oito horas de labuta era natural que as pessoas estivessem cansadas, exaustas, com o nervo à flor da pele, se alterando com qualquer incidente cotidiano, levando-os ao extremo do debateboca por simples aborrecimento efêmero.

Era dia de clássico das multidões. Primeiro jogo das quartas de final do campeonato pernambucano envolvendo Santa Cruz e Sport. Para azar de todos os trabalhadores que retornavam do trabalho àquela noite o inferno já começava na Encruzilhada. Ônibus parados, carros particulares, táxi. Tudo. Pessoas descendo e caminhando a pé porque não havia a mínima possibilidade do transporte prosseguir. Um inferno – diziam todos os passageiros dos coletivos. Torcidas corais e rubro-negras se engalfinhando no meio da rua feito gladiadores nos anfiteatros romanos.

O ônibus que seguia a linha Alto da Foice/Subúrbio travou na Encruzilhada, cheio de gente entupido. Dele ninguém descia. Ninguém subia. Um calor infernal. Gente descendo de outros ônibus e caminhando a pé ao Mundão do Arruda pela Avenida Beberibe, porque o trânsito travou e carro nenhum se locomovia.

Neste exato momento sobe no ônibus do Alto da Foice uma senhora morena, baixinha, peitos enormes, cabelos com um pitó atrás, parecendo uma casa de marimbondo. E se esfregando por entre os passageiros, chega a se encostar no senhor sessentão que está sentado na quarta cadeira do lado esquerdo do ônibus. E passa gente daqui e passa gente de lá, se esfregando na bunda da baixinha que já está virada no penteio de barrão com tanta esfregação no seu traseiro avantajado.

Nesse exato momento toca o celular do senhor sessentão que ela dele ficou perto: Trililililililili! Aí o homem se estica todo para tirar o celular do bolso direito da calça. Era a mulher dele ao telefone.

– Oi, minha fia! Eu ainda não cheguei porque tá um engarrafamento danado aqui na Encruzilhada. Ninguém sai! Ninguém chega! É o jogo do Santa Cruz e Sport! Tá um inferno! Desliga e guarda o telefone no bolso. Enquanto isso, a mulher dos peitões fica junto dele, e a cada pessoa que passa esfregando sua bunda ela eleva os peitões na cara do velho, quase o sufocando.

Dois minutos após ter justificado à mulher por que não havia chegado ainda em casa, o celular toca novamente: Trilililililili! E o velho mais do que depressa, faz um esforço da porra, estica as pernas e tira o celular do bolso:

– Alô! Oi minha fia! O ônibus ainda tá parado! Ninguém sai. E eu não cheguei ainda por causa desse transtorno. E volta a guardar o celular no bolso, impaciente porque o ônibus não dava sinal de que ia seguir em frente. E a cada minuto mais gente chegava e a bagunça dava lugar à desordem.

Quando menos se espera, o telefone do sessentão volta a tocar novamente: Trilililili!! Era a mulher do outro lado da linha reclamando novamente por que o velho estava demorando tanto para chegar, e com a dificuldade de sempre, começa a tirar o celular do bolso para justificar o óbvio ululante:

– Oi, minha fia! O ônibus ainda tá parado! Ninguém sai! Tá tudo travado devido à grande quantidade de torcedores se dirigindo ao campo! Me espere que já já eu tou chegando! E torna a guardar o celular no bolso novamente.

Não deu dois minutos, e o telefone do velho toca novamente. Aí a senhora espivitada que estava ao lado dele, puta da vida com os esfregões da pessoas no bundão dela, olha para o velho, com a boca esfumaçando, os olhos vermelhos, e fulmina:

– Ô meu senhor! O senhor não tem moral para essa pessoa não! O senhor não respeita esse pá de ovo que tem entre as pernas não?! Porque se fosse comigo eu já teria mandado essa porra se lascar, ir pra puta que o pariu! Essa pessoa não tá “veno” que o senhor está no ônibus preso! Por que fica enchendo seus cuiões? Olhe, se fosse comigo eu já teria mandado quebrar a cara dessa rapariga! Ora porra! A gente já tá puta da vida com um engarrafamento do caralho desses, doida pra chegar em casa e tem de aguentar uma aporrinhação dessas!

Mal a mulher termina de falar, o telefone do velho toca novamente: Trililililili! E aí a mulher puta da vida, de saco cheio, com os pentelhos arrebitados, perde as estribeiras e parte pra cima do velho, toma-lhe o celular, põe no ouvido, e grita:

– Minha senhora! A senhora não tá vendo que esse velho tabacudo está no engarrafamento da porra por que não para de encher o saco dele e da gente também?!

Foi quando do outro lado da linha a mulher, barraqueira, perguntou quem era aquela rapariga que estava ao telefone do velho dela. Sem papas na língua, a baixinha, fumaçando de raiva, agarrada com o celular, berra:

– Eu sou a puta dele que tá lhe butando gaia! E não fale nada mais não porque, puta da vida como eu tou, eu vou aí lhe quebrar os dentes e dar-lhe uma surra de cipó de goiabeira nesse seu tabaco veio, e nele também para ele aprender a respeitar esse par de ovos murchos que tem entre as pernas que não servem mais pra porra nenhuma!

Nesse momento se ouve uma gargalhada geral no ônibus, com assobios, aplausos e gritos gaiatos de “é isso aí dona Maria! Pau nela! Valeu!” Nesse momento os passageiros esqueceram que estavam sofrendo num engarrafamento de mais de duas horas e riram-se a bandeiras despregadas!

A zoeira feita pela baixinha instigando o coroa tirou a tensão do povo que sirria de se mijar com a presepada! A confusão hilária provocada por ela tirando a tensão dos passageiros angustiados, provou que o bom humor é universalmente generoso: Faz bem a todo mundo! Dá mais do que recebe!


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 03 de dezembro de 2019

NELSON PORTELLA, UM HOMEM HONRADO

 

 

NELSON PORTELLA, UM HOMEM HONRADO

Nelson Portella/1997

“A dignidade pessoal e a honra, não podem ser protegidas por outros, devem ser zeladas pelo indivíduo em particular.” Mahatma Gandhi

No princípio do século XX, o empresário Herman Theodor Lundgren (1835-1907), sueco naturalizado brasileiro, comprou da firma Rodrigues Lima & Cia uma fábrica de tecidos situada em Paulista, (PE), até então um distrito de Olinda. A Companhia de Tecidos Paulista, a qual originou a rede de estabelecimento de vendas a retalho, a maior e mais promissora que se tinha conhecimento no Brasil à época, as famosas Casas Pernambucanas, denominadas também de Lojas Paulista, mas após a derrota de São Paulo na Revolução de 1932, passou a prevalecer, por decisão dos herdeiros dos lundgrens, a denominação Casas Pernambucanas para todos os estabelecimentos que a compunham por todo o país.

Em 1915 a rede das Casas Pernambucanas já tinha estabelecimentos em Porto Alegre, Florianópolis e Teresina… Expandiu-se rapidamente por vender abaixo dos preços artigos têxteis populares, recorrendo com freqüência à publicidade para se tornar mais conhecida. Tornaram-se famosas no interior de vários estados do Brasil as pichações que se faziam em pedras, barrancos e porteiras em beiras de estrada, muros, viadutos, com seus anúncios.

Conta-se que de certa feita, num domingo, uma das Casas Pernambucanas pintou seu anúncio na porteira principal de um sítio em Itu (SP), local de muito movimento. O Brás hoje. No dia seguinte, quando a loja foi aberta, diante dela estava o dono do sítio, com tinta, pincel e escada na mão, perguntando onde poderia pintar o nome da sua propriedade.

Na década de 1970 as Casas Pernambucanas atingiram seu auge, com mais de 800 lojas e mais de 40.000 funcionários. Hoje tem mais de 295 lojas, em sete estados brasileiros.

Pois bem, nessa época começa a trabalhar como caixa da empresa, primeiro na Companhia de Tecidos Paulista e depois transformada em Lojas Pernambucanas, o jovem Nelson Portella que, se fosse hoje, seria proibido pelo escroto Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

Logo começa a ganhar a confiança e simpatia do chefe por sua eficiência, dedicação, pontualidade, honestidade e destreza.

Durante doze anos que ficou como caixa, nunca uma auditoria feita pela empresa a qual ele era vinculado, encontrou irregularidades na prestação de contas. Tudo batia rigorosamente, de moeda a moeda…

Determinado dia, o chefe de outro setor das Casas Pernambucanas, estava a procura de um funcionário eficiente, pontual e, principalmente, honesto para operar num determinado setor sensível da empresa que requeria essa qualidade. E indicaram o jovem caixa Nelson Portella para gerenciar o setor.

O chefe, ao qual ele era subordinado, relutou em cedê-lo, só o fazendo se lhe fosse apresentado de dentro da empresa um funcionário de confiança, pois ia mexer com dinheiro!…

Certo dia ele estava no caixa pela manhã e chegou à sua frente um sujeito alto, magro, bigode de falsete à lá Clark Gable, com uma carta-recomendação do chefe, que dizia o seguinte:

Sr. Nelson Portella:

Esse é o caixa que vai substituí-lo a partir de hoje. Faça-me a gentileza de repassar-lhe as responsabilidades.

Respeitosamente.

Nelson Portella, que fora promovido e iria galgar outro posto na empresa, começou a passar os serviços do caixa ao seu substituto, tintim por tintim, por ordem do chefe.

Determinado momento, explicando ao seu substituto como funcionava o ativo e passivo da empresa e como o caixa deveria proceder nas anotações das entradas e saída de dinheiro e como deveria anotar no caderno de ativo e passivo, o caixa transmitido olhou para o caixa transmitente e, com olhar brilhando de espanto como se tivesse encontrado uma mina de ouro, disse: mais desse jeito eu posso ROUBAR!

O jovem Nelson Portella não deu ouvido à curiosidade do substituto e continuou lhe explicando os mecanismos contabilísticos do caixa.

Terminada a tarefa da transmissão, se despediu do substituto, lhe desejando boa sorte e foi se apresentar ao chefe do outro setor onde havia sido promovido.

Duas semanas depois de assumir o caixa da empresa o substituto de Nelson Portella fora demitido por justa causa. Uma auditoria feita pela empresa constatou que no primeiro dia que começou a trabalhar o Clark Gable já pôs em ação o plano guabiru. Ele já possuía no DNA a áurea de ladrão, pôs em prática no momento que a ocasião lhe foi favorável. O ladrão já nasce feito; a ocasião o faz, dizia o Bruxo do Cosme Velho, Machado de Assis, com a genialidade que lhe era peculiar.

LULA É O EXEMPLO CAGADO E CUSPIDO DESSA MÁXIMA!


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários quarta, 27 de novembro de 2019

LIDIANE LEITE, A EX-PREFEITA OSTENTAÇÃO

 

 

LIDIANE LEITE, A EX-PREFEITA OSTENTAÇÃO

Lidiane Leite em três momentos de ostentação com o dinheiro roubado da Prefeitura

A justiça do Maranhão condenou pela segunda vez em primeira instância a ex-prefeita ostentação do município de Bom Jardim (MA), Lidiane Leite, a seis anos e quatro meses de reclusão no regime semiaberto “por superfaturamento em licitação de obras de infraestrutura em estradas vicinais e esquemas criminosos de desvio de dinheiro de merenda escolar.”

Lidiane já havia sido condenada antes a catorze anos de reclusão em outro processo por fraude em licitação, falsidade ideológica, associação criminosa e crime de responsabilidade. Segundo denúncia do (MP-MA) “a ex prefeita desviou dos cofres públicos mais de R$ 3,5 milhões de reais.”

Nessa segunda condenação, além de Lidiane, também foram condenados Humberto Dantas dos Santos, o “Beto Rocha” (o ex comedor dela), Antônio Oliveira da Silva, José Ribamar Oliveira Rego Júnior, Rodolfo Rodrigo Costa Neto, Márcio Magno Ferreira Pontes e Macson Mota Sá.

As penas ficaram assim distribuídas pela Justiça de Primeiro Grau:

Humberto Dantas dos Santos, o “Beto Rocha” – oito anos e sete meses de reclusão no regime fechado, mas está solto.

Era o responsável por montar o esquema criminoso para fraudar licitações no município e desviar o dinheiro dos cofres públicos. Uma empresa disposta a participar do esquema era escolhida, vencia a licitação e em seguida os documentos eram falsificados. Apesar de não ser o prefeito, tinha influência sobre Lidiane Leite, sua companheira e então prefeita municipal.

Rodolfo Rodrigo (condenado a quatro anos e 10 meses de reclusão no regime semiaberto) e José Ribamar Oliveira Rego (condenado a quatro anos e dez meses de reclusão no regime semiaberto). Eram os “proprietários” da empresa ganhadora das licitações e sabiam que tudo era realizado de forma ilegal. Eram cúmplices dos demais réus para se beneficiarem das verbas que seriam destinadas ao Município pelos contratos entre sua empresa e a Prefeitura.

Márcio Magno Ferreira Pontes, (condenado a cinco anos de reclusão no regime semiaberto). Era o presidente da CPL à época dos fatos e confessou que não tinha nenhuma experiência na área. Afirmando ainda que não cumpriu as determinações legais, como publicação de editais, observância de requisitos essenciais da empresa contratada, dentre outros, e que mesmo assim assinava a documentação toda como se estivessem totalmente de acordo com a legislação. Cada ação era ordenada pelo acusado Antônio Oliveira, de alcunha “Zabar”, e que, apesar de não ser funcionário do Município, era amigo de Beto Rocha e Lidiane Leite e comandava o setor de licitação.

Antonio Oliveira da Silva, o ‘Zabar’, e Macson Mota, (ambos condenados a quatro anos e dez meses de reclusão no regime semiaberto). Eram os homens de confiança de Beto Rocha e foram agraciados com vitórias de empresas suas e de aliados em licitações. Para o MP, eles ‘davam as cartas’ no setor de licitação do Município e a RJ Construções LTDA era de propriedade de dois conhecidos seus, os acusados Rodolfo Rodrigo e José Ribamar Oliveira.

Todos estão livres, leves e soltos para roubarem, assaltarem o erário municipal, delinquirem, matarem (se for o caso), ocultarem patrimônios, coagirem testemunhas, concorrerem a quaisquer cargos eletivos, participarem de novas licitações fraudulentas, assumirem cargos de confiança e comissionados, graças à decisão de seis ministros canalhas, bandidos, marginais, do Supremo Tribunal de Favores (STF), que decidiram que “ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória ad infinitum.”


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários segunda, 25 de novembro de 2019

UM BREVE RECADO DO COMPOSITOR VITAL FARIAS

 

 

CÍCERO TAVARES – RECIFE-PE

Estimado editor:

Segue um breve recado musical do genial compositor, Vital Farias, nascido no sítio Pedra d’Água, município de Taperoá, estado da Paraíba, ao chefão da ORGRIM, Luiz Inácio Lula da Silva, solto por seis bandidos que mandam no Supremo Tribunal de Favores.

Autor da visionária “Saga da Amazônia”, Vital Farias foi um dos primeiros compositores da Nação Nordestina a tirar o cu fora quando percebeu que Lula era (e é) um bandido, marginal, delinquente, criminoso, corrupto, lavador de dinheiro, ocultador de ativos financeiros e bens patrimoniais…

TERRORISTA!

 

 

 


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 19 de novembro de 2019

SÉRGIO, O MALANDRO QUE SE DEU BEM NA POLÍTICA

 

 

SÉRGIO, O MALANDRO QUE SE DEU BEM NA POLÍTICA

Praça dos Leões de Carpina, onde fica localizado o Clube Lenhadores

Sérgio era um rapazola que odiava trabalhar. Sempre que o pai mandava fazer algum serviço, tergiversava com desculpas esfarrapadas, dizendo estar doente para não cumprir as obrigações lhe impostas pelo Velho.

Foi crescendo nessa mamata. No colégio onde estudava, sempre bolava algum artifício para dizer a professora por que não havia feito o trabalho de classe. Simulava uma doença – seu álibi preferido – e os colegas caiam na lábia dele e colocavam o seu nome no trabalho.

Bom vivant, Sérgio sempre frequentava o “Clube Lenhadores” de Carpina, PE, onde havia reunião todas as sextas-feiras com a nata da malandragem da política local. E se identificava com os discursos inflamados dos opositores à “Ditadura Militar”, enxergando ali uma chance de um dia se candidatar a alguma coisa e fazer carreira política, Seu lema: Não fazer nada. Não ser responsável por nada. E sempre jogar a culpa dos males do povo nos que estavam “Lá em Cima.”

De tanto frequentar o “Clube Lenhadores” e enxergar naquele ambiente sua verdadeira vocação, Sérgio iniciou sua peregrinação às casas das pessoas carentes, dissimulando sua revoltada, indignação, inconformismo, por aquele estado de miséria em que se encontravam, jogando sua revolta nos homens do poder, prometendo que se um dia entrasse na política e fosse eleito tudo aquilo iria mudar para melhor. Seu povo ia ter dignidade e respeito.

Quando completou dezoito anos, se filiou a um partido de oposição ao governo. Procurou sempre estar do lado daqueles candidatos majoritários que lhe pudessem ser úteis, dando-lhe voto, dinheiro e munição para enganar o povo.

Já com dezoito anos completo, Sérgio se candidatou à primeira eleição para vereador e ganhou, prometendo o paraíso à população. Quando alguém mais esclarecido o procurava para saber que havia gastado muito dinheiro na campanha, dizia:

– Não gastei porra nenhum! O dinheiro que recebi, embolsei. Os eleitores idiotas foi que me puseram aqui por causa das minhas lábias, mentiras, embromações, promessas vãs, discursos vazios e estar sempre ao lado daqueles que estão no poder.

Mal Sérgio assumiu a cadeira de vereador e já começou a pensar num cargo mais substantivo. Expandir suas lábias, enganando o povo porque ele estava sofrendo e que tudo ia melhorar. Distribuía sopa à população carente à noite; visitava casas de xangô; se benzia à frente da cabocla Jurema; frequentava os cabarés; defendia traficantes e maconheiros ralés acompanhado-os à delegacia. Em síntese: fazia de tudo para estar de bem com o povo pobre e miserável e bajulando os endinheirados: os senhores de engenho influentes na política.

Sentindo que o cargo de vereador já não era mais sua praia. Candidatou-se para deputado federal no próximo escrutínio. Para isso, investiu pesado numa campanha infalível: a lábia, o poder de persuasão, jogando a responsabilidade que também era sua para os outros pares e puta que o pariu.

Nos comícios utilizava-se de argumentos ardis, afirmando que o ladrão, o inimigo do povo era sempre o outro lado. Com isso era aplaudido de pé e idolatrado por todos os adoradores que se aglomeravam na Praça no entorno do palanque.

Vieram as eleições, e Sérgio se candidatou a deputado federal. Ganhou com uma votação expressiva. Quando perguntado se havia gasto dinheiro na campanha, era curto e grosso, sem constrangimento:

– Não gastei porra nenhuma! O dinheiro da campanha, embolsei. E quem me elegeu foi esse povo tabacudo, vendo em mim um milagreiro, que vou resolver as coisas deles. Dá um basta às suas mazelas. Picas!

No “Clube Lenhadores, quando estava se vangloriando da vitória para deputado federal, e rindo à toa do povo que o elegeu, não percebeu que atrás dele havia um jovem que o observava atentamente as embromações, os deboches, os sarcasmos, a ironia. A partir daquele escárnio externado por Sérgio, o jovem começou a perceber que não havia comunismo, socialismo, marxismo, leninismo, nazismo, fascismo. O que havia mesmo nos políticos, com raríssima exceção, eram interesses pessoais, ascensão de poder para se locupletar a qualquer custo, dar uma banana para o povo e mandá-lo à puta que o pariu.

Luís Inácio Lula da Silva é o maior exemplo do mundo desse engodo político!


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 12 de novembro de 2019

XUXA, A PLAYBOY E OS DOIS ADOLESCENTES

 

 

XUXA, A PLAYBOY E OS DOIS PUBESCENTES

Amadeus e Tadeus eram dois primos quase inseparáveis. Cresceram juntos no bairro dos Milagres, onde se concentrava o maior número de cabaré e terreiro de umbanda no distrito de Lagoa do Carro, PE.

Certa vez, um pai de santo, que incorporava a “entidade estudante”, levou para o “terreiro” uma revista Playboy com a capa estampando uma morenaça nua com uma tarja preta cobrindo “o boca de macaco”. Os primos ficaram intumescidos com o “boca” da cabocla, mas não tiveram coragem de perguntar ao catimbozeiro onde ele havia comprado aquela revista!

Astuciosos e só pensando na caverna de “Blaus Nunes” da morena, no dia seguinte eles foram a pé até a única banca de revista que havia no centro distrital e perguntaram ao livreiro onde encontrar tal periódico. À sua maneira, e com os olhos brilhando, eles fizeram a descrição daquele monumento feminino nu estampado na capa da revista que os deixou alucinado, e o livreiro lamentou que tal publicação não tivesse chegado ali ainda. Que os únicos periódicos que recebera da metrópole tinham sido o Diário de Pernambuco e as revistas em quadrinhos.

Pensando em voltar à banca outras vezes para comprar a tão alucinante revista, os primos compraram um Diário de Pernambuco e prometeram ao dono da banca voltar lá todo mês. Promessa feita; promessa cumprida.

Um dia, depois de muitas idas e vindas à banca, e já familiarizado com o dono, receberam a tão sonhada notícia de que a “encomenda” havia chegado, mas que estava proibida a venda a adolescentes. Logo na frente havia o carimbo da censura: “CONTEÚDO LIBERADO SÓ PARA ADULTOS QUE TENHAM MAIS DE VINTE E UM ANOS!”

Malandros e espertos, os primos, fascinados com aquela imagem exuberante da mulher pelada, “cantou” logo o revisteiro, prometendo o triplo do valor da revista e segredo absoluto de não contar a ninguém, até porque iriam comprar outras que chegassem à banca.

Ansiosos para chegar em casa com a revista enrolada na camisa, trancaram-se no quarto sem a mãe notar. Sentaram-se na cama de campanha. Jogaram o Diário no canto do quarto. Folhearam a revista de cabo a rabo e ficaram tão deslumbrados e magnetizados com as fotos de Xuxa nua toda depilada, que não demorou uma hora que cada um já havia tocado três punhetas!

Uma semana depois de terem comprado a revista e ficarem muito tempo trancados no quarto, dona Juvência, a mãe do adolescente Amadeus e tia de Tadeus, percebeu uma indisposição e palidez estranha no filho e no sobrinho e passou a “investigar” o que estava acontecendo.

Certo dia, percebendo que os dois estavam a sós no quarto, com a porta escorada com um tronco de mulungu, pôs o ouvido para escutar o zunzum que vinha lá de dentro dos dois pubescentes:

– Um, dois, três, e tome uma! Um, dois, três, e tome duas! Um, dois, três, e tome três! Um, dois!…

Cabreira e sem entender o “muído” que vinha lá de dentro, danou o pé direito na porta e quando esta caiu, Dona Juvência não acreditou no que estava vendo! O filho e o sobrinho quase desmaiando, com os olhos revirados e, à frente deles, a revista Playboy aberta com as fotos de Xuxa nua como veio ao mundo!

– Meus Deus do Céu! Eu não acredito no que estou vendo! Onde vocês arranjaram essa perdição, meninos?! É por isso que vocês não comem mais, não estudam mais, não saem mais! Só vivem dentro desse quarto! E, no gesto brusco, Dona Juvência pegou a vassoura de marmeleiro, tacou no espinhaço dos dois, tomou a revista e prometeu entregá-la ao esposo, seu Virgulino Ferreira.

Inconformados por não poderem se divertir com as mãos vendo as fotos de Xuxa nua, Amadeus, filho de Dona Juvência, alertou:

– Tenha cuidado em vovô não! Se ele ver essa revista vai trair a senhora com a mão!

E saíram correndo para o meio da rua, trôpegos, como dois bêbados, com medo da vassoura de Dona Juvência!

 


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 05 de novembro de 2019

ARROGÂNCIA ILIMITADA

 

ARROGÂNCIA ILIMITADA

 

O enfermeiro Adamastor da Silva foi contratado por uma empresa terceirizada na área de saúde para trabalhar como maqueiro no setor de emergência de um grande hospital do Recife.

Apesar de sua larga experiência no setor de atendimento aos enfermos em hospitais particulares, o maqueiro Adamastor da Silva se assustou no primeiro dia de trabalho no dito hospital público ao ver tanta miséria espalhada nos corredores emergenciais: gente acidentada, estropiada, mutilada, um verdadeiro campo de guerra onde os doentes morrem e ninguém toma conhecimento.

Um caos!

Quando estava cursando enfermagem, o maqueiro aprendeu que, segundo a constituição cidadã, “são direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma da constituição.” Mas o que ele viu na prática do dia a dia naquele hospital foi o avesso do avesso do que determina a constituição, onde os direitos nela assegurados não passam de devaneio, quimera, utopia!

Já quase adaptado ao clima de guerra hospitalar, onde um amontoado de pobre e desassistido pelos governos apodrecem esquecido nos corredores do inferno, tamanha era a carnificina nos corredores sem leitos, sem macas, sem decência, o maqueiro assistiu a um caso inusitado de arrogância e prepotência humanas sem limites, mesmo dentro de um hospital onde impera a miséria, o descaso, a negligência, a falta de infra-estrutura que deem decência e dignidade ao ser humano!

Certo dia, cinco da manhã de uma segunda-feira chuvosa, dá entrada no hospital um casal de jovens já mortos, vítima de um terrível acidente ocorrido numa famosa e movimentada avenida do bairro do Recife. Pelos indícios colhidos nas primeiras investigações policiais, tinha havido consumo de bebida e uso de drogas, pois o interior do veículo estava abarrotado de provas.

Assim que tomou conhecimento do trágico acidente que, infelizmente, ceifou a vida do belo casal, a família, prepotente e arrogante, correu ao hospital e, todos, com trajes formais e de óculos escuros, adentraram ao setor de emergência e procuraram o médico de plantão exigindo dele a transferência do casal para um hospital particular onde, acreditavam, seriam melhores atendidos. E partiram para cima do médico plantonista com toda a força da ignorância e prepotência que regem o ser humano que, por se acharem mais capazes por terem posses, podem mandar no mundo e darem as ordens do que deve ser feito ou não.

– Doutor, aquele casal que deu entrada hoje de manhã aqui no hospital são nossos filhos e queremos que com urgência o senhor autorize a transferência deles para um hospital mais decente!

E antes que o médico falasse que seria um procedimento difícil e que…

– Doutor, nós estamos ordenando a transferência do casal e o senhor não tem que pensar, não! O senhor é servidor da gente! Queremos que o casal seja transferido e agora! E o senhor vai assinar a transferência sobre pena de responsabilidade civil e desacato à autoridade!… Ou o senhor não sabe com quem está falando!?…

E, entes que o médico tentasse explicar novamente o trágico falecimento do casal, uma das madames se achando dona da banana preta, ordenou ao médico:

– Doutor, se o senhor não assinar o termo de transferência do casal com urgência para um hospital mais decente, nós vamos processá-lo por quaisquer danos estéticos e materiais irreparáveis provocados nos jovens, ouviu isso?!…

Foi quando o médico, polido e educado, com larga experiência na área plantonista, acostumado a lidar com tais situações, contraiu a testa, levantou-se da cadeira, abotoou o jaleco e, como um Buda Nagô, foi até o corredor com a comitiva e disse:

– Desculpe-me se estou sendo indelicado com vocês!… Entendo a situação!… Tenho mais de quarenta anos de experiência como plantonista e já passei pelo inimaginável na área hospitalar!… Mas lamento informá-los: O casal que vocês procuram deu entrada na emergência do hospital já sem vida!… Está lá no necrotério!…Se quiserem ver os corpos me acompanhem!…

Foi nesse momento que duas das madames que acompanhavam o grupo caíram, desmaiadas, e precisaram ser socorridas ali mesmo pelo médico que antes elas afrontavam, davam ordens e o ameaçavam por irresponsabilidade civil e desacato a autoridade…

Só o motorista que servia a comitiva teve a coragem de ir até o necrotério “espiar” os corpos dos jovens que pareciam dois anjos dormindo.


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 29 de outubro de 2019

INSTINTO PERVERSO X PODER JUDICIÁRIO

 

 

INSTINTO PERVERSO X PODER JUDICIÁRIO

José e Pedro moravam desde criança na favela “Roletrando”, “formada” à margem do Rio Capibaribe. José cresceu trabalhando com o pai na mercearia “Secos e Molhados”, que dá para frente da “praça” principal dos barracos. O espaço no entorno da praça foi crescendo com a chegada do progresso. Como José trabalhava muito com o pai, pois não podia deixá-lo só no comércio, ofereceu o espaço que ganhara na praça para Pedro. Espaço esse cedido a José pela prefeitura do município para vigiá-lo e instalar um quiosque para vender lanches às pessoas que paqueravam no local, à noite. Pedro rejeitou a proposta, afirmando que sua ambição era mais alta, que não tinha nascido para ganhar dinheiro a retalhos. Isso era coisa de gente sem visão!

Depois da rejeição de Pedro, José vendo no negócio uma grande oportunidade de crescimento, começou a vender alimentos que os paqueradores procuravam quando faziam cooper. Vendia de um tudo que fosse comestível! E o comércio foi crescendo, progredindo. Enquanto José trabalhava com o pai no “secos e molhados” e no negócio dele, Pedro foi crescendo e se envolvendo com más companhias e entrando no mundo do crime: Furtos, roubos, homicídios, latrocínios e tráficos de entorpecentes…

Um dia Pedro passou em frente do comércio de José e percebeu que ele estava organizado, com dinheiro! Estava faturando! Ele se juntou com os comparsas da gangue da favela e planejou assaltar o comércio.

Dia e hora marcados chegaram lá quando José estava organizando as mercadorias nas prateleiras. Anunciou o assalto, roubou todo o dinheiro do apurado do dia anterior e, como José o reconheceu e perguntou-lhe “por que estava fazendo aquilo e justo com ele”, Pedro não teve demora: deu um tiro na testa de José, pegou duas garrafas de bebidas e se mandou com os comparsas para comemorar na favela. Mas antes de se mandar, atirou também no pai de José, que vinha chegando para a labuta, acertando-lhe dois tiros no peito, fugindo em seguida com os comparsas.

Pegos no mesmo dia pelo delegado de polícia com o dinheiro do roubo e o revólver que atirou em José e no pai, foram presos na cadeia local. De logo, apareceram dois advogados criminalistas de olho na grana que Pedro e seus comparsas haviam roubado do armazém. Foram para a Audiência de Custodia. Depois de interrogados pelo juiz de plantão, este resolveu relaxar a prisão preventiva da gangue por entender que eles não ofereciam perigo à comunidade, apesar de terem confessado o crime e serem contumazes em roubos na localidade, além de traficarem drogas!

É doloroso afirmar, mas José e o pai estão mortos. O comércio foi à bancarrota. A família foi à ruína! Os advogados que participaram da Audiência de Custódia surrupiaram o dinheiro que Pedro e a gangue roubaram no assalto. O Estado, por meio do Judiciário, tirou o cu fora da responsabilidade punitiva. É gente perversa, criminosa, que não faz nada, matando gente honesta, honrada, que produz e gera riqueza à nação, e ficando impune para matar e roubar outros inocentes com a anuência do estado juiz, via Poder Judiciário e as leis penais natimortas!

O Brasil não terá salvação enquanto existir um poder judiciário inerte, leniente, corrupto, escroto, escroque, vagabundo. Defensor de bandidos, latrocidas, pedófilos, terroristas, corruptos do colarinho branco. E um congresso nacional cheio de ladrões assaltando a nação e criando leis que só beneficiam a eles próprios, fomentando a impunidade!

Desabafo de um magistrado digno, honrado que, infelizmente, teve de se ater à lei e não pôde aplicar prisão perpétua a dois assassinos cruéis!

 


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 22 de outubro de 2019

O CORNO ELETROCUTADO

 

 

ZENILTOM, O CORNO ELETROCUTADO

Zeniltom era um menino tímido.

Foi criado à barra do vestido da mãe, que tinha medo de soltá-lo na rua para não “se juntar com más companhias.”

Aos doze anos sua genitora o matriculou no colégio do Estado, onde encontrou uma turminha da pesada, principalmente na ala das fêmeas que já sabiam onde satanás despejou a água do joelho pela primeira vez no Templo de Salomão e Maria Madalena mijou de cócoras no corredor por não encontrar o mictório da templo aberto.

Passados os anos e o jovem Zeniltom percebendo que não tinha cabeça para aprender matemática, sempre ficando em recuperação e no final só passando porque o professor, sentindo-o esforçado, dava um empurrãozinho para não repetir o ano, resolveu que só iria terminar o ginásio depois que arranjasse um emprego de balconista em qualquer loja e iria largar os estudos, decisão com a qual a mãe não compartilhava. A contra gosto, ele seguiu o conselho da mãe.

Concluído o ginásio e percebendo que não possuía nenhuma aptidão mesmo pelas ciências exatas, cumpriu o que havia prometido a mãe: largou a escola e foi trabalhar numa loja de vendas de produtos eletrônicos. Mas antes de iniciar no trabalho prometeu a mãe que iria estudar à noite para se formar, atendendo os desejos dela.

Conforme havia prometido à genitora, dona Zoromilda, Zeniltom se matriculou num colégio do Estado que ficava perto do trabalho e foi tentar aprender as primeiras noções de Filosofia.

Assim que largava do emprego, ia até a barraquinha de seu Quequé, na frente do colégio, que vendia um cachorro quente no capricho, comia dois, tomava dois copos de kissuco de caju e, satisfeito, se dirigia à sala de aula para esperar o Mestre Malucão.

Depois que Zeniltom chegava, antes do professor e dos outros alunos aparecerem, a segunda pessoa que chegava à classe era a jovem Carmosinha, morena fogosa, de peitos fartos e coxas grossas, que ficava conversando com Zeniltom, sempre cruzando as pernas de um lado para outro, trocando ideias sobre o curso, fatos pessoais, religião, trabalho, coisas do cotidiano.

À medida que o tempo ia passando, Zeniltom e a jovem iam se entrosando, se encaixando, se conhecendo, e, no abrir e piscar de olhos, os dois estavam enrabichados.

Não demorou um ano de namoro. O jovem Zenilto, perdido de paixão e doido para comer o boca de macaco da jovem Carmosinha, seis meses depois do noivado, resolveu se casar e foi morar no quitimete de três vãos nos fundos da casa da mãe, dona Zoromilda.

Depois de casado foi que Zeniltom se apercebeu que sua esposa, Carmosinha, era uma ferrenha frequentadora da Igreja Internacional do Dizimo das Graças de Deus (IIDGD), do pastor Possidônio Samburá, o sujeito mais escroto, escroque, picareta de Conceição do Fiofó.

Com um império de mais de quarenta igrejas no bairro e com uma legião de roubreiro de dá inveja a qualquer Edir Macedo da vida, Possidônio Samburá mandou construir nos fundos de cada igreja erguida uma cadeira da jia para ele fofar todas as mulheres recém-casadas que frequentavam suas igrejas. Cada noite e em cada igreja diferente uma era “cantada” para as satisfações libidinais e labiais do pastor escroto.

Zeniltom, com a libido nos poros, mal terminava as aulas vinha correndo para casa para, antes jantar, fazer um calamengal com a jovem esposa. Mas todas as vezes que chegava em casa Carmosinha estava na igreja participando das chamadas “sessões espirituais de descarregos” e outras mandingas criadas pela mente psicopata do pastor para roubar os fiéis e comer as frequentadoras mais laites.

Cansado de chegar em casa e sentir a ausência da esposa, que sempre o alegava que estava nos cultos patrocinados pelo pastor, Zeniltom cisma do cu e vai até a igreja matriz que ficava a quinhentos metros de sua casa. Ao se aproximar, percebe-a vazia, as lâmpadas da frente acesas e a porta de entrada apenas encostada.

Desconfiado, ele entra na ponta dos pés, e quando se aproxima do púlpito percebe a voz de Carmosinha aos berros:

– Aí, pastor, aí, pastor! Aí pastor! Me segure, pastor! Eu estou entrando no céu! Aí meu Deus! Aí meu Deus, pastor! Aí pastor! Me segure, pastor! Me socorra, pastor, eu estou chegando lá! Gema, pastor! Eu vou… Eu vou… Eu vou… entrar no céu, pastor!… aí… aí… uí… uí…aí!… aí… aí… aí… pastoooooooooor!…

Cabreiro e com a pulga atrás das orelhas com os gritos, o coração acelerado, as mãos geladas e coçando a testa no local donde nasce o chifre, Zeniltom abre a cortina para ver que desmantelo era aquele. Quando deu fé, percebeu que era a sua mulher, Carmosinha, com as pernas abertas na cadeira da jia, nua como veio ao mundo e o pastor Possidônio Samburá fazendo barba, cabelo, bigode e gluglu.

Desgostoso, e sem reação nenhuma, Zeniltom saiu da igreja mais desnorteado do que cego em tiroteio. Mais perdido que cachorro quando cai de caminhão de mudança, mais desorientado do que recruta em campo de batalha. Mas cambaleante do que bêbado quando sai do buteco, depois de tomar uns quatro litros de água que passarinho não bebe.

Completamente desnorteado, arrasado, deprimido e desiludido da vida, Zeniltom chegou em casa, pega uns fios de cem que havia comprado do armazém onde trabalhava, descasca uns dez metros, põe numa tomada, enrola o fio em todo o corpo, acocha com um alicate, tira a roupa de trabalho, e nu do jeito que estava, entra debaixo do chuveiro, toma um banho, e depois pega o gancho e enfia na tomada de embutir recebendo uma descarga elétrica de mais de 1000W, vindo a bater as botas na hora, ficando pretim, pretim!

Sem remoço e fria, Carmosinha, quando chega em casa e ver aquele “presunto”, liga para o pastor e este a orienta não fazer alarde, apenas comunicar o ocorrido à autoridade, à família, enterrar o defunto, regularizar a pensão, ficando estabelecido que todo mês a viúva alegre iria pagar 20% do dízimo em nome da igreja, e morreu o boi!

Além da carne mijada de Carmisinha o pastor Possidônio Samburá herdou também uma pensão vitalícia em forma de dízimo. É como diz Zezim Fonfon, o zelador do templo da (IIDGD): Tem gente que nasce com o cu para a lua: A sorte lhe vem de vento em polpa! Deus não dá o frio conforme o cobertor!


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários quinta, 17 de outubro de 2019

SÃO BENEDITO PRESO NA CADEIA DE PALMARES

 

 

SÃO BENEDITO PRESO NA CADEIA DE PALMARES

O genial poeta paraibano Orlando Tejo, num lampejo de lucidez quase absoluta, definiu em artigo publicado na Revista A REGIÃO/Recife, 1983 que, “Nós, Os Meninos de Palmares”, crônica que abre um dos mais inspirativos livros de memória do gênero já publicado no Brasil, “que nunca leu em nenhum escritor pátrio, nada mais  tocante nem de tanta grandeza, nenhuma página mais lírica e eterna do que a referida crônica.”

No último parágrafo do texto, prossegue o poeta, autor do impagável “Zé Limeira – O Poeta do Absurdo”, na sua apreciação: “Nesse delírio, o autor, na companhia de Romildo Pilica, Adeildo Baé, Antonio Maromba e Fernando Gata, os meninos mais felizes de todo os brasis, voam nas asas da liberdade rumo a Pirangi. Eles vão flutuando na grande tarde ribeirinha e, aconteça o que acontecer, não importa, eles vão a Pirangi. E eles são os únicos meninos do mundo que podem ir a Pirangi amorcegando estrelas vespertinas da ilusão. Lembrem-se: somente eles, os grandes vagabundos pequeninos, vão a Pirangi, unicamente eles, os “guardiões do vento, vigias do barulho das águas, apontadores de estrelas, gáveas ao vento, imagens do cão, arteiros.”

Pegando carona nas palavras do genial menestrel sonhador Tejo, menciono como impagáveis obras-primas, também as crônicas: “O circo de Pimpão”, do palhaço cotó, que transformou o sofrer em alegria; “As ruas e os seus nomes”, proezas de alcunha que não se encontra em lugar nenhum do mundo; “O Caixão da caridade”, paletó de madeira que os meninos se divertiam levando os ‘sem pátria’ para sacudir dentro do buraco do ‘nunca mais’; “Os nomes das pessoas”, proeza só existente em Palmares, do adolescente Luiz Berto; “Vaca braba”, mãe da Vaquinha mijona, que sumiu no mundo nas asas dum copo de vidro cheio de cachaça após a mãe encantar-se e nunca mais voltou a Palmares; “Telles”, O enigmático decifrador, cuja filosofia de vida era comer, cagar e dormir; “A Prisão de São Benedito”, alegoria beneditina que dá título ao livro; “A mulher de Alfredinho”, o corno inconformado que jurou dar um tiro de traque no autor; “A viagem a pé para Brasília”, a ousadia de seis aventureiros que tornaram Palmares mais famosa para os nativos do que o pousar do homem à Lua; “Dr. Sebastião Espírita”, o curandeiro picareta de letras indecifráveis; “A Manobra da carreta”, a aventura de um carreteiro sulista que fez Palmares parar; “Biu do Tacho”, o cachaceiro que chamava o governador, o prefeito e o delegado de ladrão às escondidas; “Luiz Guarda”, o misterioso homem de óculos de lente que matava todos os ladrões sem dó nem remorso; “Veludo do Pife”, o homem que morreu esquecido pelas novas gerações; “Amaro”, o homem da Coreia que vendeu de tudo e findou vendendo pitomba; “Dona Heloísa”, a professora frágil, dócil e delicada, que abriu as fronteiras do conhecimento para o adolescente Berto; “Mané Peito-de-Aço”, o homem que se inspirou em Tarzan, herói americano, e foi parar na Ilha de Itamaracá; “O Doido e o bêbado”, o doido que aproveitou a distração dos policiais, desapegou-se das amarras para não ficar na Tamarineira; “Uma história de corno”, o traído que pagou a viagem da ex esposa com o pé de lã; “Manoel Dionísio”, o homem que dizia que ‘mulher com ele não arenga; se arengar, não ganha; se ganhar, não leva; se levar, é dentro!’ E por último, aquela história tocante, comovente, eterna que, entre todas desse fantástico livro de reminiscência, merece uma ode a parte: “O velho rabeca”, o carnavalesco puro sangue que enxergava na arte do pastoril o sonho de registrar para a posteridade sua verve debochada, escrachada, escatológica, seu modo prazeroso de enxergar a vida e vivê-la eternamente. Encantou-se sem deixar sucessor!

Eis por que “A Prisão de São Benedito e outras histórias” caiu no gosto popular, encanta o mundo e é sucesso absoluto de venda e crítica até hoje.


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 01 de outubro de 2019

RODRIGO VIEIRA EMERENCIANO - MUÇÃO

 

 

RODRIGO VIEIRA EMERECIANO

Mução, gravando em 2000 para um programa do SBT

Há quase trinta anos no ar com o personagem fuleiragem Mução, criado a partir da observação dos trejeitos de um matuto de mais de sessenta anos de Cachoeira do Sapo, interior do Rio Grande do Norte, o humorista Rodrigo Vieira Emereciano se consolidou nos anos noventa graça à sua genialidade em saber atrair, conduzir, prensar, instigar e tirar do serio as pessoas com suas pedadinhas por telefone, levando-as ao extremo da raiva, “da pegada de ar”, da explosão de ódio por revelar apelidos de supostas vítimas, apelidos esses revelados por amigos, familiares…

Nascido em Natal em 08 de outubro de 1977, Mução ficou famoso em todo o país, e em especial por suas pegadinhas por telefone. Ele é sucesso de audiência com seu programa A Hora do Mução, que é transmitido ao vivo via satélite para diversas rádios, como Mix FM (São Paulo), BH FM (Belo Horizonte), Clube FM (Brasília), Pitombeiras FM (Senador Sá) e Mais FM (São José de Ribamar), além de várias rádios pelo país. Na TV, sua personagem já participou do programa Apito Final, da Rede Bandeirantes.

Mução começou sua carreira no final dos anos 1990 na Rede SomZoom Sat em Fortaleza do empresário musical Emanoel Gurgel, uma emissora regional com sede na capital do Ceará, e que distribui seu conteúdo via satélite para pequenas e grandes emissoras de todo território nacional. Em 2002 ele veio para o Recife, de onde apresentou seu programa até março de 2012, na Estação Sat, quando se mudou novamente para Fortaleza.

No início de 2013, Rodrigo Vieira, transferiu-se com sua trupe para o Rio de Janeiro. Da capital fluminense, passou a transmitir seu programa para todo o país sem nenhuma alteração no horário, formato, ou emissoras afiliadas, fazendo assim com que seus ouvintes não notassem a mudança. Esta mudança foi estratégica para Mução, pois teve a missão de consolidar o sucesso de seu personagem nas regiões sul e sudeste do país e aproveitar os eventos de 2014 (Copa do Mundo) e 2016 (Olimpíadas), eventos em que o Humorista participou das transmissões.

Rodrigo Vieira não revela sua verdadeira imagem. Exibe-se apenas caracterizado como sua personagem “Mução”, um senhor de meia-idade narigudo, e vestido com indumentárias características do sertão nordestino. Porém, é representado em seu site, redes sociais e peças publicitárias através de um desenho, que por muito tempo também foi caracterizado com a indumentária do matuto nordestino, mas hoje é mostrado vestido por trajes urbanos. Entretanto, em meados da década de 2000, deixou escapar uma imagem sua em início de carreira em uma reportagem sobre o fenômeno que seu programa estava se tornando no nordeste brasileiro. Hoje o vídeo pode ser encontrado em sites de compartilhamento de vídeos, como o YouTube, mas para manter o mistério de sua identidade, Rodrigo Vieira nega ser ele o locutor entrevistado na matéria. Mas o certo é que ele quer ver sua imagem como enigma por causa das pegadinhas que conduz com a habilidade de um gênio.

 

 

 


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 24 de setembro de 2019

MARIA DA SILVA X JUSTIÇA DE 1º GRAU

 

 

MARIA DA SILVA X JUSTIÇA DE 1.º GRAU

Maria da Silva comprou dois lotes de terrenos na Região Metropolitana do Recife, ambos adquiridos de uma imobiliária de renome, fruto do trabalho árduo e do dinheiro ganho de forma honesta da labuta do domingo a domingo sem descanso.

Após a aquisição dos dois terrenos, Maria da Silva, que fazia questão de ter tudo certinho, registrou a promessa de compra e venda no Cartório de Registro Geral de Imóveis da Jurisdição, para que, se um dia chegasse a sofrer algum esbulho, acreditava ter legitimidade ampla para expulsar o esbulhador, como prever a legislação que rege o Instituto.

Cinco anos após ter comprado os dois lotes de terreno, mantidos limpos e cercados de arame farpado, recebeu a visita inesperada em sua casa de uma vizinha informando-a que uns sem-chão tinham invadido um dos lotes de terreno, com a ajuda de um confinante mau caráter, e que já estava edificando uma casa de alvenaria e cercado a metade do terreno com arame farpado, e derrubado a cerca dela.

Assim que tomou conhecimento da invasão em um dos terrenos Maria da Silva não perdeu tempo: se dirigiu até o local, procurou o esbulhador e este não lhe deu o ouvido. Ela tirou fotografias de vários ângulos do terreno invadido, do casebre e muro edificados irregularmente, fez um boletim de ocorrência na Delegacia da jurisdição, e procurou um Defensor Público para ingressar com uma ação competente em desfavor do invasor a fim de tirá-lo o mais rápido possível do terreno invadido antes que ele, o invasor, adentrasse mais ainda.

Passados mais de seis meses sem a disponibilização de um Defensor Público na vara competente, Maria da Silva procurou um advogado pro bono e ingressou com a ação competente na vara da comarca do domicílio do terreno a fim de tirar o invasor, que àquela altura já havia espalhado a todo mundo ser o dono do terreno e que iria resistir a qualquer tentativa de tirá-lo!

O advogado, solícito e comovido com a situação de Maria da Silva, não perdeu tempo. Preparou a ação competente com todas as provas pertinentes: Documentação do terreno, como a Certidão de Inteiro Teor e Ônus Reais, comprovando a titularidade dos dois terrenos, fotografias que comprovavam o terreno invadido, certidão de IPTU dos dois terrenos pagos, Boletim de Ocorrência da queixa na Delegacia local, narrando a data do esbulho, com tudo que comprovava a verossimilhança dos fatos, o que legitimava Maria da Silva a requerer em juízo o pedido liminar para a retirada imediata do invasor do seu terreno sem a justiça ouvi-lo, uma vez que presentes se encontravam a fumaça do bom direito e o perigo da demora, requisitos essenciais para concessão da tutela de urgência.

Mesmo com todas as provas demonstrando o esbulho, o juiz negou a liminar, alegando não estar convencido da verossimilhança das documentações oficiais, mandando citar o réu para se defender e intimar a prefeitura da jurisdição dos terrenos para apresentar laudo técnico da localização exata dos mesmos.

O réu apresentou sua resposta, mais truncada do que os cofres das prefeituras municipais. O técnico da prefeitura, intimado por três vezes, não apresentou o laudo técnico. E o processo ficou feito bosta na água, boiando a espera de uma solução jurisdicional.

Marcada a Audiência de Tentativa de Conciliação, essa resultou sem êxito, com o juiz concedendo prazo às partes se manifestarem em quinze dias úteis. Na defesa, o réu não apresentou nada de concreto que justificasse a sua invasão e o laudo técnico apresentado foi de um croqui rabiscado por um estudante de arquitetura e uma avaliação do terreno invadido feita por um corretor de imóvel sem CRECI. E o Juiz do processo aceitou as provas do invasor numa boa!

Quanto à resposta do técnico da Prefeitura, este descumpriu mais uma vez a ordem judicial, mesmo com o estabelecimento de multa pelo descumprimento e a ameaça de prisão coercitiva por descumprimento. E o laudo técnico apresentado foi de um particular autorizado pelo juiz.

Após o saneamento do processo o juiz marcou nova Audiência de Tentativa de Conciliação, Instrução e Julgamento porque caso as partes não chegassem a um acordo em audiência, ele, o juiz, iria analisar os documentos acostados aos autos e, verificada a verossimilhança das provas apresentadas pela autora, confrontando-as com as apresentadas pelo réu, ouvida as testemunhas, concederia a liminar para a retirada do invasor, uma vez tratar a ação reivindicatória de uma posse legítima e a proprietária tinha a posse do bem esbulhado, mas o perdeu e queria recuperá-lo de quem o detinha injustamente. Está fundada no famoso “direito de sequela”, ou seja, direito que tem o proprietário de perseguir a coisa, buscando-a das mãos de quem quer que injustamente a detenha.

A nova tentativa de conciliação resultou frustrada e o juiz negou novamente a liminar pleiteada pela autora bem como julgou improcedentes todos os pedidos requeridos, mesmo com todas as provas comprovando a titularidade dos terrenos e o esbulho!

Inconformada, frustrada com a decisão de 1.º grau, Maria da Silva se socorreu de recurso competente ao Tribunal de Justiça para atacar a sentença de primeira instância. À unanimidade, o colegiado, seguindo o voto do relator, anulou a decisão do juiz e proferiu nova sentença, desta vez dando causa ganha a autora que teve seu direito finalmente reconhecido em segunda instância.

Descobriu-se depois que o juiz que conduziu a ação e proferiu a sentença em primeira instância possui um histórico de negligência, imperícia e imprudência na sua missão jurisdicional, ocupando o cargo que passou por meio de concurso público apenas para manter o status quo social por capricho da família, e os jurisdicionados que se explodam na casa da puta que os pariu com seus direitos violados!

A morosidade da prestação jurisdicional tem frustrado direitos no País, desacreditando o Poder Público, especialmente o Poder Judiciário e afrontando os indivíduos. A justiça que tarda, falha. E falha exatamente porque tarda. Não fosse a intervenção dos desembargadores do Tribunal de Justiça que, à unanimidade reconheceram o direito de Maria da Silva lhe devolvendo o terreno da posse de quem o havia esbulhado, esta carregaria na memória a frase de Rui Barbosa: “Justiça tardia nada mais é do que injustiça institucionalizada.”


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 17 de setembro de 2019

PARA QUE SERVE O VEREADOR?

 

 

PARA QUE SERVE O VEREADOR?

Câmara de vereadores do Recife, o puteiro de José Mariano

“O vereador é um agente político, eleito para sua função pelo voto direto e secreto da população municipal de quatro em quatro anos.” Portanto, ele é eleito por vós, eleitores idiotas, para roubar vosso dinheiro na esfera municipal, dinheiro esse roubado dos impostos dos contribuintes que seria destinado à saúde, à educação, à segurança, ao transporte coletivo, ao desenvolvimento econômico…

O vereador tem o dever de fiscalizar a administração municipal, examinar atentamente a aplicação dos recursos e observar o destino do orçamento. Tem a obrigação de acompanhar as ações do Poder Executivo, principalmente em relação ao cumprimento das leis e da boa aplicação e a gestão do dinheiro público.

Assim está escrito na Constituição Frankenstein de 1988 e nas leis Orgânicas Municipais, por opção do legislador originário, que imaginou o Brasil um paraíso de boas intenções, onde existe harmonia, transparência e honestidade entre os representantes dos três poderes, principalmente o Legislativo: O Refúgio dos Ladrões!

Como integrante do poder legislativo municipal, o vereador tem como função primordial: representar os interesses da população perante o Poder Público. Esse é, ou pelo menos em tese o objetivo final de uma pessoa escolhida como representante do povo, mas na prática a teoria é diferente. O vereador é mais um ladrão do dinheiro do povo, juntando-se a mesma corja de deputado estadual, federal e senador.

O Brasil tem como tradição fazer a regulação de assuntos importantes para a vida em sociedade por meio de leis escritas, seguindo princípios que remontam ao Direito Romano. Por isso é que temos uma constituição utópica, com característica formal, escrita, rígida, analítica e dogmática, com centenas de artigos, parágrafos, incisos e alíneas inúteis e senis.

A Constituição Frankenstein de 1988 outorga competência às câmaras municipais para fixarem o subsídio de seus vereadores. O mandato não pode ser gratuito e a fixação de remuneração deve obedecer aos limites da Constituição e da LRF. O subsídio não pode ser vinculado à receita de impostos e a despesa com vereadores não pode ultrapassar 5% da receita do município.

Mais uma vez é preciso repetir: na prática a teoria é diferente. Os prefeitos e os vereadores são eleitos por nós, eleitores idiotas, para roubarem e enriquecerem a custas da nossa boa intenção! Será que um dia nós vamos mudar essa realidade nefasta ou só em outra reencarnação?

DOIS MIL E VINTE ESTÁ CHEGANDO! OLHOS BEM ABERTOS É PRECISO!


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 10 de setembro de 2019

ALUCINAÇÕES DO CORONEL BITONHO

 

 

ALUCINAÇÕES DO CORONEL BITÔNIO COELHO

Morena dos sonhos do coronel Bitônio Coelho, semelhante à MBM

Depois da última noitada homérica de amor que teve com Maria Bago Mole na alcova dela do cabaré de mesmo nome e ter voltado à fazenda no dia seguinte às dez da manhã, arrebentado, o coronel Bitônio Coelho ficou alguns dias sem ver a Amada, apesar de ela ter-lhe dito que queria falar um segredo importante.

Super atarefado na administração das seis fazendas, o coronel, apesar de estar morrendo de saudade de MBM, tendo-lhe sonhos eróticos todas as noites, vendo-a aparecer nua correndo para os seus braços, sacolejando as ancas bronzeadas, pernas torneadas, peitos grandes e duros, lábios vermelhos e cabelos esvoaçantes, blusa e short listrados de tirarem o fôlego de qualquer macho, resolveu ir ao Cabaré novamente, pois a saudade da Amada estava-lhe deixando doido, alucinado.

Num sábado, mandou que seu capataz de confiança preparasse o cavalo alazão branco, pusesse a sela australiana com os arreios listrados, trouxesse-lhe a carabina dois tiros e uma carreira, “para se proteger de gente safada no caminho”, o punhal à lá Lampião, o chapéu parmesão importado, avisando que tinha um “compromisso na Vila Vintém” e que talvez não voltasse naquele dia. Que o capataz assumisse a responsabilidade das fazendas na sua ausência.

“Arriado até os pneus” por MBM, mas sem “querer dar o braço a torcer”, pois quem administra cabaré “é cobra criada”, o coronel Bitônio Coelho mal sobe à sela e se apoia, começa a sentir uma sensação estranha por todo o corpo: as mãos gelam, o coração dispara, a cabeça fica zonza e ele começa a pensar: “Puta que pariu!” “O que está acontecendo comigo?” “Mal eu começo a pensar “naquela” mulher e não me reconheço!” “Que feitiço é esse?”

Quando se aproxima do cabaré já de noite, depois de trotear por mais de uma légua pelos canaviais, como das outras vezes, Maria Bago Mole, quando o avista, deixa tudo que está fazendo e sai correndo para abraçá-lo, beijá-lo, acariciá-lo e dizer-lhe da saudade imensa e lhe sussurra ao ouvido o quanto o ama:

– Meu filho, onde você estava? Esqueceu de mim, foi? Esqueceu de nós? Nosso cantinho está lá dentro intacto, com o mesmo cobertor do nosso último encontro, só esperando nossos corpos nus!

Foi dizendo isso e beijando seu amado mais uma vez. Passou-lhe as mãos no peito, desceu mais um pouco e percebeu que seu amado estava mais seco que o mês de janeiro no sertão do Seridó.

Ela riu da situação. Ficou feliz. Beijo-o mais uma vez demoradamente e, pegando-lhe a mão, disse:

– Nosso ninho nos espera! Vamos aproveitar enquanto houver desejos e vontades! A vida é curta para quem ama!

Antes de adentrar no aposento, abraçado à Amada, o coronel Bitônio Coelho passa “um rabo de olho pelo salão”, percebe a presença de muitos “fregueses estranhos” no cabaré. Nesse momento um sentimento estranho se lhe apodera e ele sente que é chegada a hora de tirar seu amor daquele ambiente para ele hostil e levá-la para a fazenda. Mas a si mesmo pergunta:

– “Independente como ela é, será que vai aceitar o meu convite?” E não pensou mais com a cabeça de cima.

Nesse momento, fez-se silêncio no quarto e o que se ouvia era o estalar de beijos, sussurros e gemidos!


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 03 de setembro de 2019

ARRUMA UM PAU QUE TEM SOMBRA

 

 

“ARRUMA UM PAU QUE TEM SOMBRA”

Posto de Saúde Missionária Terezinha Batista

Eram cinco horas da manhã de uma segunda-feira chuvosa.

Nesse dia o setor de emergência do Posto de Saúde Freira Terezinha Batista estava abarrotado de indigentes esperando atendimento, principalmente de jovens grávidas, geração Bolsa Família, programa esmola criado e ampliado no governo LULA, que tinha como lenitivo o suposto combate à pobreza, à desigualdade social e à assistência à população miserável, segundo exposição de motivos da lei 10.836, de 9 de janeiro de 2004, mas que, criminosamente, foi desviado do seu objetivo principal para dar lugar a um assistencialismo ladravaz jamais visto na história do Brasil.

Às seis horas da manhã chega ao setor de emergência uma paciente já em trabalho de parto. Os enfermeiros de plantão correm para atendê-la, mas quando se aproximam o bebê já está aos berros nas mãos da avó materna que veio acompanhada da neta na ambulância.

Mal a genitora e a avó descem do socorro, aparecem mais quatro crianças, filhos da neta, que tinham entre dois e três anos. Afora três de idade entre quatro, cinco e seis anos que haviam ficado no barraco assistidos pela irmã adolescente da genitora que, além de prenha do terceiro filho, também possuía mais dois de pais diferentes.

Arrancando os cabelos diante de tal situação e não controlando o desespero por ver tanto neto ao seu redor, a avó da genitora, uma senhora de quarenta anos, mas aparentando ter mais de sessenta, não contém a lágrima e, se dirigindo à neta, desabafa:

– Carminha, minha fia! Onde tu vai parar com tanto fio? Tu e tua irmã já tem pra mais de doze! Não é possível, fia! Tu tá pensando que o governo vai te sustentar e teus fios com essa esmola do bolsa família pra o resto da tua vida, é? Acorda pra Jesus, menina!

E continuou:

– Acaba com essa ilusão e vai arrumar um pau que tem sombra para tu descansar debaixo! Quem vive de promessa são palavras, menina! Tu precisa de um homem que cuide de tu e desses meninos, porque depois que Deus me levar, quem vai cuidar de tu e teus fios?

Desabafou a avó, soluçando, atenta a uma nova ambulância que chegava ao pátio do Posto de Saúde com mais uma filha do bolsa família com a barriga carregando trigêmeos, preste a dar a luz!


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 27 de agosto de 2019

SUCESSORES OU HERDEIROS?

 

SUCESSORES OU HERDEIROS?

Numa determinada Vara de Sucessão da Capital hibernava um inventário de um falecido microempresário descendente de italiano, que passou a vida juntando dinheiro, bens móveis e imóveis para os cinco filhos que teve com a sua esposa, Dona Rachel. A cada um, o casal, em vida, fez questão de lhes oferecer os melhores cursos e a melhor formação profissional.

 

Durante sua existência, tudo que conseguia trabalhando no comércio, fazia questão de dizer que era para o futuro dos filhos. Dizia querer deixar para eles o que os seus pais não puderam lhe dar em vida. Para isso, sacrificavam-se diariamente ele e a esposa, Dona Rachel.

Não lhes havia lazer: passeios, festas, diversão, almoço fora. Jantar com a esposa extra, nem pensar! Tudo economizava para os filhos. Até as compras básicas em feiras livres de final de semana necessárias à mantença do casal durante a semana eram feitas no fim de feira, para comprar tudo mais barato para economizar.

Os filhos cresceram e se formaram e se acomodaram em bons empregos; e se casaram e foram deixando os velhos para trás.

Um dia, quando menos esperavam, seu Cláudio Colelo e Dona Rachel, deram conta que se encontravam sozinhos dentro do casarão que construíram, porque os filhos já tinham pegado a estrada da independência, casando-se e construindo família própria.

Mesmo assim o velho, seu Cláudio Colelo, continuava trabalhando com sua esposa, Dona Rachel dia e noite, aumentando o patrimônio para deixar para os filhos. Essa era a sua grande obsessão! Até da saúde abdicou! Relaxamento total! Economizar era preciso!

Uma noite sombrosa, chuva que não acabava mais, relampiando pra cacete, o velho sentiu-se mau no meio da noite. Dona Rachel tentou levá-lo ao hospital no Gordine velho pertencente à família. Tentou ligar o motor e este não respondeu para socorrer o velho moribundo a um hospital do SUS porque ele não pagava plano de saúde particular para juntar dinheiro para os filhos. Dizia ser uma obrigação do governo tratar toda a população na doença: para isso pagava uma carga de imposto exorbitante!

Dona Rachel tentou chamar um vizinho para socorrer o marido já de madrugada. O vizinho atendeu-lhe o pedido. Tentou mais uma vez ligar o carro do casal que não pegou, e não conseguindo levou o senhor Cláudio Colelo no Candango dele mesmo ao hospital do Estado, já desacordado!

Chegando à emergência do hospital, os médicos que atenderam o senhor Cláudio Colelo, disseram que infelizmente não podiam fazer mais nada, pois o homem havia morrido minutos antes por falta de socorro rápido. Demorou muito para chegar à emergência – disse!

Desesperada, dona Rachel ligou para todos os filhos que estavam já casados morando em estados e países diferentes e já com famílias constituídas.

Um por um a quem ela ligou comunicando o fatídico acontecimento recebeu um sonoro não para vir ao enterro do velho, ou porque não podiam ou porque moravam distante e não tinham como viajar às pressas. Foi a primeira vez que Dona Rachel sentiu o gosto amargo da mudança no comportamento dos filhos para com os velhos pais!

Dona Raquel teve de se virar sozinha, contando tão somente com a misericórdia da família que o senhor Cláudio Colelo, em vida, desprezava, torcia o nariz!

Depois do enterro do velho e com a ausência dos filhos, teve de abrir o inventario do de cujus para partilhar os bens deixados pelo falecido: entre ela e os filhos ingratos que sequer vieram para o enterro do pai. Sequer ligaram mais para a mãe, agora viúva e só!

Quando tentou telefonar para os filhos que ia abrir o inventário do falecido para fazer a partilha dos bens e que precisava da autorização deles e de suas esposas ou esposos, recebeu um uníssono não e que se virasse sozinha. Recado curto e grosso passado. Angústia geral!

Começou aí seu segundo desgosto manifestado no comportamento dos filhos!
Dona Raquel reuniu todos os documentos dos bens moveis e imóveis que o falecido deixou como herança, contratou um defensor da família que o falecido desprezava, e deu entrada no inventário.

Distribuído o processo para uma das Varas de Sucessão o juiz despachou para emendar a petição inicial dentro do prazo legal, requerendo a juntada da documentação de todos os herdeiros e respectivas esposas ou esposos e com as procurações, sob pena de indeferimento sem resolução de mérito por faltar os documentos dos herdeiros para dar prosseguimento ao processo.

Começava daí a via crucis de Dona Raquel em busca dos filhos, genros e noras!

Nos primeiros contatos que teve com os filhos distantes sobre a grande necessidade do recolhimento dos documentos pessoais e das procurações para dar prosseguimento ao inventário teve a maior decepção de sua vida: nenhum filho estava interessado no inventário e que a “velha” se virasse sozinha.

E o pior: quanto mais o tempo ia passando mais os bens iam-se deteriorando e a senhora Rachel, já cansada e morrendo aos pouco de desgosto, ia assistindo a tudo que o marido e ela construíram com sangue, suor, lágrima e privações, serem corroídos pelo tempo!

O desespero e o desgosto chegaram ao ponto tal que ela ficou tão atarantada que chegou a procurar a vara de sucessão onde fora distribuído o processo e tirou cópia do inventário vinte e duas vezes!

Na vigésima terceira vez que esteve na vara de sucessão para tirar outra cópia do processo porque as outras xerox havia perdido de tão perturbada, o atendente, que já a conhecia ficou tão assustado que mandou chamar a chefe de secretaria para atendê-la porque nunca tinha visto nada igual naquela e em outras serventias judiciais!

Quando a chefe de secretaria chegou junto para conversar com Dona Rachel, lhe perguntou, com os olhos abuticados:

– Dona Rachel, pelo amo de Deus o que está acontecendo? A senhora já esteve aqui vinte e duas vezes para tirar cópia desse processo… Onde a senhora está deixando?

Foi nesse momento que Dona Rachel desabafou, com todo o corpo tremendo:

– Minha filha, você não leve a mau não! E desabando em planto, continuou:

– Desde que meu marido morreu que vivo dentro do inferno! Meus filhos não falam mais comigo! Por causa dessa maldita herança que meu marido deixou eles estão comento um ao outro, dizendo que não lhes interessa porra de herança do pai porque estão muito bem e eu que me virasse para resolver!

E continuou com o desabafo:

– Se eu soubesse que essa maldita herança fosse me dar tanto aperreio, dor de cabeça e meus filhos fossem ficar inimigos um dos outros eu teria “estoporado” tudinho junto com meu velho antes! Hoje me vejo só, meus filhos me abandonaram! E a herança que o pai deixou construída com tanto sacrifício o tempo está destruindo tudo, inclusive a mim! E desabou em planto novamente!

Foi quando a chefe de secretaria, atenciosa e paciente, deu-lhe alguns conselhos que a acalmaram e Dona Rachel se foi pela última vez do Cartório sem tirar outra cópia do processo.

De desgosto e solidão, morreu três meses depois da ida à Vara de Sucessão onde tramitava o processo, de enfarte fulminante e sozinha, no silêncio da noite, apenas acompanhada da família que o marido em vida detestava, e tudo ficou para trás como se dada tivesse existido! Virou cinzas para as estrelas!

Da herança que os dois em vida construíram com tanto sacrifício não levaram nada dentro do esquife!

Dessa vivência na prática do oficio, a chefe de secretaria aprendeu uma grande lição para a vida: Entre a herança e a sucessão, deixe a sucessão para seus filhos. Se houver herança, deixe tudo partilhado em vida, pois nunca se sabe quando se bate as botas! Ou pensando melhor: Estoure tudo em beneficio próprio auferindo do bom e do melhor e ajudando a quem precisa sem esperar recompensa do além!

Ironicamente, tudo o que o senhor Cláudio Colelo não desejava aconteceu após sua morte e da esposa: um membro da família, que ele tanto detestava em vida, foi quem deu dignidade ao patrimônio, sendo nomeado pelo juiz como curador para administrar o espólio dos de cujus enquanto não houvesse uma decisão judicial.

A vida é estranha!


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 20 de agosto de 2019

A MÍDIA E MICHELLE: BANDIDAGEM SEM LIMITE

 

 

BANDIDAGEM SEM LIMITE

Primeira dama Michele Bolsonaro arrasada com a reportagem criminosa da Veja

Com o propósito de atingir a imagem e a honra da primeira dama, Michele Bolsonaro, e com isso alcançar seu objetivo criminoso, já que não obteve êxito em destruir a Lava Jato, com as mensagens roubadas dos celulares dos procuradores pelo site The Intercept, do mafioso Glenn Greenwald, tentando denegrir a honra do ministro da Justiça e Segurança, Sérgio Moro, a revista Veja desta semana trás uma matéria de capa infame, sórdida, ressuscitando notícias policiais de 1997, já arquivadas, envolvendo a avó, a mãe e o tio da esposa do presidente.

Há um episódio interessante no seriado Família Dinossauro, onde o jovem Boby da Silva Sauro desenvolve uma fonte de energia limpa, segura, extraída de um vulcão, com o objetivo de beneficiar à população. A empresa WESAYSO Corporation, do Sr. Ashland, que monopoliza a energia tirada de pneus velhos, carvão, madeira, poluindo o meio ambiente, sente-se ameaçado pelo projeto do jovem cientista. Para desmoralizá-lo, dissemina uma campanha criminosa pela televisão, revista, jornal, tentando desacreditar o jovem perante a opinião pública, dizendo ser o garoto um lunático, pervertido, sujo, fedorento, defensor de presos criminosos, disposto a destruir a empresa que há mais de cem anos serve à população, mesmo com matérias-primas que poluem o meio ambiente.

Depois de tentar por todos os meios demover o jovem da ideia, inclusive tentando comprá-la para o projeto não ir adiante, a empresa WESAYSO Corporation bola uma cilada contra o jovem cientista.

Convida-o e a família para um jantar e, depois de uma discussão, entre o pai do jovem Boby Sauro, Dino da Silva Sauro o Sr. Bradley P. Richfield, personagem ficcional da empresa, aquele deixa escapar a ideia de que a empresa só conseguiria frear o êxito do projeto do garoto comprando a montanha com o vulcão! E a empresa, vendo uma oportunidade de ouro nessa sugestão escapada, compra a montanha e acaba com o sonho do jovem cientista em transformar o vulcão em fonte de energia limpa para beneficiar à população carente sem poluir o meio ambiente, matando o sonho do garoto.

Qualquer semelhança desse imbróglio com toda bandidagem que aconteceu na Operação Mãos Limpas, na Itália, de 1992 a 1996, envolvendo a corrupção no Banco Ambrosiano, que culminou no assassinato dos juízes Paolo Borsellino e Giovanni Falcone pela Cosa Nostra, a mando do mafioso Salvatore Rina, que cumpre prisão perpétua, é mera coincidência.

O perigo é a integridade física dos daqui! A bandidagem é capaz de tudo para não perder seu status quo!

Onde estão juntos imprensa bandida, Supremo Tribunal de Favores, Congresso Nacional, tudo é possível!


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 13 de agosto de 2019

O NEGUINHO TARADO

 

O NEGUINHO TARADO

Momento da fatalidade de João/Ano não registrado pelo necrotério local

João Beiço de Macaco, ou Neguinho Tarado, apelido dado pelos colegas da Aldeia a João da Silva, era mais feio que as necessidades. A natureza não lhe teve dó nem piedade. Castigou-o na feiura. Mas dotou-o de uma fuleiragem incomum aos outros moleques do Beco do Imprensado, divisa da rua do puteiro “Ou Come ou Deixa Pra quem Quer Comer” com a rua do cabaré “Bom Mesmo é Dentro”, no centro da cidade de Lagoa do Carro, Pernambuco.

Mal completou doze anos, escondido dos pais, João Beiço de Macaco, já andava com uma espingarda soca soca por dentro das matas para caçar preá, rolinha e outros animais para comer assado com farinha.

Mas o que as Maria da Silva não sabiam era que João Beiço de Macaco tinha uma tara: Brechar as mulheres que iam lavar roupas nas águas do Rio Capibaribe todos os dias, após a caçada. Sentado nas pedras, imaginava as mulheres nuas, peladas e ficava delirando, intumescido. Tornou-se hábito ele ir para cima dos rochedos, à margem do rio, escondido, para comer as lavadeiras com os olhos e, de dentro do mato, solitário, masturbar-se, os olhos esbugalhados.

Não satisfeito com essa diabrura, João Beiço de Macaco, deu-se de espiar as mulheres que via em posição à vontade nas ruas de barro por onde passava. Certa vez, subiu numa árvore para ver um rabo feminino saliente. Pendurou-se no galho de algaroba e, quando deu fé, se desequilibrou e caiu no chão feito uma jaca, quebrando duas costelas. Outra vez, foi passando por uma casa sem cerca e, quando avistou uma mulher lavando roupa, parou, olhou de lado e, como não viu ninguém por perto, tentou se aproximar mais ainda para ver o traseiro feminino melhor. Foi quando saíram dois vira latas de dentro de casa, fincaram-lhe os dentes na bunda e ele desapareceu mato dentro, com a calça toda rasgada.

Mas o azar deu-se mesmo quando João Beiço de Macaco passou em frente de uma casa onde avistou uma morenaça dando comida a um urubu, com a bunda à mostra. Intumescido de emoção, ele não perdeu tempo, correu para o terraço, ficou por trás do muro, escanchou-se na parede e baixou a cabeça. Quando avistou o horizonte rabal feminino empinado, ficou tão emocionado que pensou que estava sentado no lajedo do Rio Capibaribe. Pôs a mão direita na braguilha, puxou “mimosa” de dentro e, quando estava começando o bem bom solitário, despencou-se da mão esquerda, danou a cabeça no chão e ali mesmo ficou pronto com o pescoço quebrado, direto para a cidade de pés juntos, dentro do paletó de madeira da Santa Casa de Caridade.

Mas segundo o bebim Zé de Maria, seu colega de caça, João Beiço de Macaco morreu feliz! Morreu fazendo aquilo de que mais gostava de fazer: Ver fundo de calça feminina em bunda grande, morena, à distância, já que não podia ver de perto, por ser muito feio, pobretão e rejeitado pela timidez.


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 06 de agosto de 2019

HONESTIDADE

 

HONESTIDADE

Banca de revista Visconde de Albuquerque

No início dos anos dois mil Joca Oliveira era um entusiasta das ideias petistas. Acompanhava de perto todas as manifestações no campus da UFPE, onde estudava Economia e Direito. Também frequentava a Livro 7, onde lia livros comunas. Donde houvesse freges, saraus, recital de poesia, lá estava ele presente gritando fervorosamente que Lula era o único homem capaz de libertar o Brasil e o povo oprimido das garras do FMI, o monstro financeiro criado em 27 de dezembro de 1945 por 29 países-membros com objetivo inicial de ajudar na reconstrução do sistema monetário internacional no período pós-Segunda Guerra Mundial, mas que no fundo, segundo esses sectários, tinha o objetivo claro de escravizar os países emergentes da América Latina e fazer do seu povo vassalo.

Por essa época, quando ainda nem se sonhava com internet, Joca Oliveira não tinha dinheiro para comprar livros, revistas, jornais, principalmente do sul. Começou a frequentar uma banca de revista na Madalena. Fez amizade com os proprietários. Quando tinha dinheiro comprava um jornal e uma revista para se atualizar nos assuntos políticos. Quando não tinha, lia o que podia antes que alguém comprasse e ia para casa sonhar com o socialismo…

O jovem sonhador que veio do interior dos palmares estudar na federal tornou-se amigo dos donos da banca de revista, pegou confiança, e quando não tinha dinheiro para comprar o jornal e a revista os donos lhe autorizavam a levar para casa e pagar no final do mês, quando ele recebia o dinheiro de uma bolsa paga pela UFPE para os estudantes carentes que moravam na Casa dos Estudantes.

Joca Oliveira, como todo jovem sonhador da época, começou a comprar revistas e livros aos montes e quando a bolsa que recebia não dava para pagar tudo, comprava mais e o restante deixava lá no “pindura” para pagar depois.

O débito, tanto na banca de revista quanto na Livro Sete, foi se acumulando ao ponto de Joca Oliveira não ter mais dinheiro para pagar e deixou de frequentar a banca de revista com vergonha de não ter dinheiro para pagar aos proprietários.

Por essa época o PT já havia conquistado a presidência com a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva. A “esperança” havia chagado ao planalto e o Brasil vivia a expectativa e a euforia de uma nova realidade, com liberdade, bonança, empregos para todos, distribuição de renda e o pagamento da dívida externa para se livrar das garras do FMI.

Depois de formado em Economia e Direito Joca Oliveira vivia a angústia de estar desempregado e não lhe saia da cabeça os débitos que havia contraído na banca de revista e na Livro Sete e não poder pagá-los.

Dois anos depois de formado, Joca Oliveira fez um concurso para Oficial de Justiça na Federal, passando em nono colocado com os conhecimentos que havia adquirido lendo os jornais da banca de revista e os livros da Livro Sete.

Chamado para exercer o cargo de Oficial de Justiça na Federal, depois de três anos afastados do estágio da UFPE e vivendo só de bicos, pois não tinha vocação para advocacia nem economia, Joca Oliveira, quando recebeu seu primeiro salário resolveu ir até à banca de revista pagar os débitos atrasados há mais de cinco anos.

Quando chegou na banca de revista os proprietários tomaram um susto, porque aquela altura dos acontecimentos imaginavam que Joca oliveira tivesse morrido ou fosse um caloteiro contumaz, desses que aparecem todos os dias em qualquer esquinas travestidos de santidade. Por isso já tinham perdido a esperança de receber o “pindura.”

– Olá Paulo, olá João! Tão me conhecendo? Eu sou o Joca, aquele que deixou um “pindura” aqui de jornais e revistas! Quero pagar, mas não sei quanto é o valor corrigido.

Surpresos com a visita e a honestidade do palmeirense, os donos da banca de revista se entreolharam e apenas disseram:

– Meu amigo, pague o que você achar que deve! A gente já dava esse dinheiro por perdido há muito tempo…

Joca Oliveira não titubeou. Puxou a carteira do bolso e deixou uma quantia para os proprietários da banca, se desculpando pelo atraso.

Com o dinheiro na mão e não sabendo como reagir diante de tamanha honestidade, os donos da banca de revista apenas disseram: obrigado, e, mais uma vez se entreolhando, afirmaram:

– Você salvou todos os caloteiros que nos devem!


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários segunda, 05 de agosto de 2019

JOSÉ ROBERTO BARROSO

 

Caro Editor,

Segue um vídeo extraído do site Migalhas onde o competente, imparcial e inimigo figadal de Gilmar Boca-de-Buceta Mendes, Luiz Roberto Barroso, do STF, dá sua opinião para o estapafúrdio estardalhaço que tomou conta daquele Cabaré Sem Escrúpulo.

Durante a palestra na cidade de São José dos Campos/SP, dia 2, o ministro Luís Roberto Barroso comentou as mensagens vazadas da Lava Jato. Para Barroso, “é difícil entender a euforia que tomou muitos setores da sociedade diante dessa fofocada produzida por criminosos”.

Citando a Petrobras, Luís Roberto Barroso disse que nada encobre o fato de que a estatal foi “devastada pela corrupção”. “Não importa o que tenha, não importa o que saia nas gravações (…). Nada encobre a corrupção sistêmica, estrutural e institucionalizada que houve no Brasil.”

Quem é que teme a Lava Jato? Quais são os criminosos implicados?

A sociedade quer saber quem lhe roubou o futuro!

Lapa de Prisioneiro? Que morra na cadeia!

 

 

 


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 30 de julho de 2019

A ORIGEM DO CABARÉ DE MARIA BAGO MOLE

 

 

A ORIGEM DO CABARÉ DE MARIA BAGO MOLE

“A gente só anda para frente. A gente cumpre o destino que tem de cumprir. A Natureza me pôs no mundo para isso. E eu tenho de seguir em frente.” – Maria Bago Mole

Nos anos quarenta aportou no vilarejo Casas de Taipa, depois Vila Dois Vinténs, Centro da Cidade de Florestas dos Leões, uma mulherinha de olhos negros, cabelos pretos, compridos e salientes, peitos pequenos e duros, parecendo duas maçãs; ancas enormes. À boca miúda, espalhou-se no povoado ser a estranha filha da Tribo dos Índios Chuparam a Mãe.

Ninguém no local sabia de onde teria vindo aquela mulherzinha misteriosa, pragmática, altruísta. Tampouco procurou saber seu passado. Ninguém na vila queria saber disso. O certo é que aos poucos ela começou a conquistar a admiração e a confiança do povoado da localidade, e lá se instalou como sua residência oficial.

Muito inteligente, prestativa, fala sensual, dois anos depois de se instalar oficialmente no lugar, aquela mulherinha carismática começou a desenvolver a plântula daquele que no futuro receberia o seu nome como homenagem: O Cabaré de Maria Bago Mole.

Na casa de taipa com quatro cômodos onde ela se instalou, doada por um dos vizinhos que ela socorreu em momentos difíceis e depois ficou dando assistência material, aos poucos começou a vender refeições aos caminhoneiros e cortadores de cana que por ali passavam rumo aos engenhos de cana-de-açúcar. O negócio começou crescer, prosperar, e Maria Bago Mole antevendo que poderia oferecer outras “comidas” àqueles homens sedentos por sexos que sempre a procuravam e a cantavam para uma trepadinha, prometendo torná-la a Cleópatra de todas as Cleópatras.

Pressentindo o sucesso com o negócio crescendo e a pressão dos fregueses por diversões sexuais, ela resolveu viajar à sua cidade natal e de lá trouxe algumas “meninas defloradas”, que os pais expulsavam de casa por terem perdido o “cabaço” com os namorados antes do casório. Nem sempre isso acontecia, mas…

Poucos anos depois a casa de taipa de quatro cômodos recebeu uma reforma caprichada para a época e se transformou numa pousada de dois pavimentos. Em baixo ficava o bar com o aposento da mulherinha e, em cima, foram construídos os quartos onde os homens levavam as “meninas” para se lambuzarem de cachimbadas movidas a óleo de peroba.

No dia da inauguração apareceram homens de toda região sedentos por sexo, principalmente senhores de engenhos, que tinham vontade de conhecer e comer a tão falada e idolatrada administradora do cabaré, que dizia às suas meninas não querer compromisso com nenhum homem para não destoar do seu comércio, deixando essa função para as suas cortesãs. Mas essa afirmativa da cafetina era um blefe, mistério, pois havia um zunzunzum na Vila de ela ter sido estuprada pelo pai biológico e expulsa de casa para não dedurá-lo já que era de família casca grossa da Zona da Mata, por isso havia lhe desenvolvido inconscientemente “a síndrome da repulsa ao sexo”.

No dia inauguração apareceu por lá o senhor de engenho mais conhecido e poderoso da redondeza, Bitônio Coelho, um galegão de um metro e noventa, olhos claros, que tinha uma tara da gota serena por Maria Bago Mole, só em ouvir falar no nome dela e por causa dos seus dotes administrativos inteligentes e de xibiu “preservado”, e por ser uma quarentona enxuta, conservada, com tudo nos trinques.

Depois da festa de inauguração, que transcorreu no maior buruçu: brigas, freges, arranca-rabos por disputas internas entre caminhoneiros, cortadores de cana e outros fregueses: quem ia dormir e comer quem das meninas do cabaré, a cafetina pôs para funcionar seu instinto de gerenciadora para aquelas ocasiões: Pegou uma chibata que havia comprado na feira livre para aqueles fins e nas “relhadas” saiu expulsando todos os penetras e lisos do recinto, organizando a desordem e ordenando que as meninas se recolhessem aos quartos com seus clientes escolhidos, que já “haviam pago adiantado pelos serviços com as meninas”.

– Deem o melhor de vocês aos seus homens. Satisfaçam-lhes todos os desejos e fantasias sexuais. Não deixem nada pela metade. Lembrem que lá fora ninguém percebe o que está acontecendo aqui dentro. Portanto, deem o melhor de vocês! Vocês estão recebendo para isso. Não se esqueçam de que o sucesso de vocês depende de vocês. – Dizia a cafetina com voz mansa e imperativa às suas meninas.

Feito isso e percebendo que tudo estava aparentemente normal, foi para o seu aposento com o homem que lhe tirou o cabaço pela segunda vez. A farra foi tão picante, excitante, regrada a todos os prazeres do sexo, que Maria Bago Mole e seu Bitônio Coelho perderam a hora e quando acordaram já passavam das dez horas da manhã, o que para ambos era uma desmoralização, acostumados a estarem de pé antes das cinco da manhã.

Percebendo o horário e totalmente contrariado, o poderoso senhor de engenho quis se apressar para sair. Nesse momento foi contido pela cafetina que o pegou pelas mãos e o conduziu até o banheiro para tomar um banho de cuia, tomar café e depois se ir-se.

– Não tenha pressa, homem! A gente só anda para frente. A gente cumpre o destino que tem de cumprir. Você está procedendo do mesmo jeito que os outros homens! Acalme-se! Depois de uma noite daquela você não deve se preocupar com o que aconteceu ou deixou de acontecer lá fora! Ou você já se esqueceu do que aconteceu entre nós dois? Por falar em nós dois, quando você vier por aqui novamente visitar a “casa” eu desejo ter uma conversa séria com você! Nada de mais! Coisas de mulher! – Disse ela lhe dando um beijo na boca com gosto de café. E ele apressado, passou a mão no cavalo, pôs a sela, subiu e se mandou contrariado com a hora: meio dia! Puta merda! E ela, sorrindo com a contrariedade dele, ficou-o olhando a trotear em cima do cavalo e com a certeza de que aquele homem rude havia lhe conquistado o coração…


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 23 de julho de 2019

O CABUETA

 

 

O CABUETA

Guarita

Anos setenta.

Havia uma guarita estratégica no quartel da Aeronáutica do Recife que, por sua visibilidade lunar, era cobiçada por quase todos os recrutas que por lá passavam.

No setor administrativo da Aeronáutica trabalhava um sinecura frustrado que já fora sentinela por várias vezes e nunca se desapegou do posto, mesmo sabendo que existia um Regimento Interno que proibia qualquer um ocupar o lugar por inúmeras vezes.

Esse burocrata, inconformado com sua “aposentadoria compulsória” do posto, assinada pelo capitão, passou a perseguir todos os recrutas que eram designados para a guarita. Ficava acordado até altas horas da noite e, quando o quartel dormia, saltava do beliche e, na ponta dos pés, seguia pelo pátio rastejando até a cabine onde estava o novato ocupando o espaço onde ele ficou por diversas noites.

Antes de se aproximar da guarita, o sentinela frustrado se certificava se o recruta estava dormindo e, quando o pegava cochilando, corria para o capitão e o denunciava como uma vingança por não puder mais ocupar aquele posto.

Com essa atitude tacanha, o burocrata denunciou e prejudicou vários calouros inexperientes que, sem saberem, foram castigados pelo capitão, que também não sabia da psicopatia do sinecura.

Certa vez chegou um matuto no quartel com cara de tabaco leso, mas mais vivo do que um cão de caça e mais desconfiado do que matuto traído e, como fora designado pelo capitão para ficar na guarita, foi alertado pelos veteranos que ficasse de olho no burocrata que costumava cabuetar ao capitão todos os recrutas que ficavam naquela guarita e o capitão a todos castigava numa solitária do quartel por uma semana pela desatenção.

Tomando pé da situação, o matuto disse apenas aos veteranos:

– Deixa comigo! Vou desmoralizá-lo no pátio! Vocês vão ver – disse com um riso gaiato nos lábios!

De noite, hora marcada, o matuto pega sua carabina 38 e segue para a guarita e lá fica de olhos bem abertos.

Mais ou menos meia noite, um silêncio que só se ouvia o grilar dos grilos e o corujar das corujas, o matuto ouviu um barulho estranho vindo de dentro do mato. Desconfiado, acendeu a lanterna e deu de cara com o cabueta à sua frente. Não se abateu, e reagiu:

– Esteja preso, seu moleque safado! Levanta as mãos, e não baixe porque senão lhe meto chumbo no rabo!

O cabueta pediu por clemência:

– Não! Não faça isso não! Eu só vim até aqui saber como você está! Por favor, deixe-me ir!

E o recruta, já por dentro da safadeza do burocrata, retrucou:

– Porra nenhuma! Mantenha as mãos para cima! Largue o rifle e siga em frente até o pátio do quartel, senão lhe estouro os miolos!

Antes de chegar ao pátio, o recruta gritou para acender todas as lâmpadas. Acordou todo mundo com o apito. Mandou acordar o capitão também e, no meio de todos os presentes, discursou:

– Gente, peguei esse safado tentando me fisgar lá na guarita! Não lhe meti uma bala na cabeça em respeito ao capitão, que eu gostaria que tomasse conhecimento para ver quem é o pilantra do quartel que cabueta todos os sentinelas novatos!

Disse isso e deu meia volta. Fez continência! Cumprimentou a todos os presentes com um balançar de cabeça e voltou para o posto com a sensação do dever cumprido.


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 16 de julho de 2019

2001 – UMA ODISSEIA NO ESPAÇO

 

 

2001 – UMA ODISSEIA NO ESPAÇO

Para Altamir Pinheiro

Espaço da Aeronáutica no Recife

Início dos anos setenta e, junto com ele, a espetacular disseminação midiática de que havia sido lançado nos Estados Unidos, três anos antes, um filme de ficção científica, produzido e dirigido pelo genial cineasta Stanley Kubrick, que estava deixando todos os aficionados da Sétima Arte em polvorosa com sua temática cinematográfica!

Segundo os críticos da época, nacionais e internacionais, todos eram unânimes em afirmar que o filme “2001 – Uma Odisseia no Espaço,” convergia com todos os elementos temáticos da evolução humana, existencialismo, tecnologia, inteligência artificial e vida extraterrestre de forma jamais explorada pelo homem na telona.

Coisa de louco mesmo!

Era notável por seu realismo científico, efeitos especiais pioneiros, imagens ambíguas que eram abertas a ponto de se aproximarem do surrealismo, som no lugar de técnicas narrativas tradicionais e o uso mínimo de diálogo.

Nessa época, um bando de recrutas da Aeronáutica no Recife tomou conhecimento da existência do tão propalado filme e se puseram a assistir a ele de qualquer forma e, no dia da estreia, lotaram o cinema ao ponto de, não existindo mais espaços, puseram cadeiras extras pelos corredores de forma que, quem entrasse não saia e quem saia não entrava mais de tão lotado que o cinema ficou.

Começa a projeção e todos de olhos atentos para saber que gota serena de filme era aquele que estava chamando a atenção do mundo todo por sua revolucionária técnica cinematográfica.

Antes de quinze minutos de projeção já se via no olhar da plateia uma decepção sem tamanho e, passados mais dez minutos e nada de excepcional acontecendo, os jovens recrutas foram deixando a sala de projeção ao ponto de, chegando na metade do filme, só havia sete recrutas, entre eles o jovem e curioso Macena que, batendo o pé, bradou para si mesmo: “Eu vou até o fim dessa porra para saber o porquê de tanta badalação favorável a um filme praticamente mudo.”

Terminado o filme todos os sete recrutas saíram calados, zonzos, sem dar uma palavra, em verdadeiro transe, tamanha fora a viagem. Foi quando um recruta que havia saído no início no filme se aproximou do jovem Macena e, ansioso, perguntou:

– E aí negão, aquela bosta presta ou não presta. Porque eu não entendi foi porra nenhuma por isso sair logo. Eu nunca vi um tão perfeito “nem fode nem sai de cima”. Que filme merda da porra!

E o jovem Macena, já arretado com o colega e com a cabeça ao ponto de explodir, que parecia até ter comido um caminhão de cogumelo de bosta de cavalo e fumado dois baseados estragados, respondeu:

– Meu irmão, o filme é cabeça. Foi bom tu teres saído porque como é que tu, um cabeça de pica, irias entender um filme que a resposta só te chegará daqui a trinta anos? E foi embora para o quarto sem dar mais nenhuma palavra com o colega. Mas, antes de ir, voltou atrás e disse:

– Olha aqui, Negão, o filme é para quem tem cérebro e não miolo de pote na cuca.

 


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 09 de julho de 2019

MEU PAI, ANTONIO TAVARES DE MELO

 

MEU PAI, ANTONIO TAVARES DE MELO

Açude represado no sítio de Lagoa do Carro – PE

Meu pai não foi nenhum leitor de clássicos. Mal sabia as quatro operações matemáticas que memorizou ouvindo os feirantes carpinenses soprarem-lhe ao ouvido. Era um autodidata curioso das ciências exatas.

Meu pai nunca ouviu falar de Fernando Pessoa, Gabriel Garcia Marques, Machado de Assis, Jorge Amado, Castro Alves, Carlos Drummond de Andrade, Gilberto Freire, Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz, Pinto do Monteiro, etc. e tal, mas conhecia Luiz Gonzaga, e onde quer que estivesse, sozinho, ou limpando o mato, ou plantando milho, macaxeira, ou cuidando das vacas leiteiras, cantarolava “A Triste Partida” do genial poeta Patativa do Assaré, musicado por Lua.

Meu pai nunca ouviu falar do humanista Akira Kurosawa, um do mais importante, brilhante e influente cineasta da história do cinema japonês, sendo premiado tardiamente em 1989 com o Oscar pelo conjunto de sua obra cinematográfica, mas possuía um senso de altruísmo qual o cineasta que muitas vezes impressionava minha mãe, quando na nossa casa aparecia um estranho, um andarilho, um circense com fome, e ele nunca lhes negava nada, além de oferecer-lhes um prato de comida e dar-lhe uma feira com todos os produtos cultivados da terra do sítio.

No “Sítio São Francisco”, depois de sofrer por mais de dez anos de seca braba, papai “inventou de construir” uma barragem com tijolos adobes, pois “não queria mais ficar esperando pelos ‘milagres’ do céu com a volta da chuva para regar as lavouras e dar água aos animais.” “Sofrer não dar e tendo os recursos, pior!” – dizia com naturalidade.

Mandou cavar quinze metros de profundidade, trinta de comprimento por trinta de largura, junto a um ribeirinho que passava nos fundos do sítio. Todos os moradores donos de terra da redondeza, dependentes da Embrapa, diziam que papai estava ficando louco com a construção da represa d’água. “Iria alagar tudo e prejudicar os sítios dos vizinhos” – diziam. Papai nunca deu ouvido às críticas e tocou o barco.

Aos troncos e barrancos papai concluiu a “obra”. Veio a chuva e encheu a barragem que sangrou. Não prejudicou os vizinhos como esperavam alguns malfazejos. Papai ficou satisfeito. Os vizinhos também. Mas quando veio novamente a seca os vizinhos ficaram apavorados com as lavouras e plantas secando e os bichos morrendo de sede. Papai, que possuía um coração maior do que a bondade, no dizer de mamãe, ofereceu-lhes a água da barragem e os vizinhos faziam filas como retirantes em busca da água do açude. Mas nunca aprenderam a lição de construir uma também nos seus sítios, tomando o exemplo de papai para deixar de sofrer por falta d’água e incomodar os vizinhos!

Ao ponto de o Velho sempre comentar com mamãe:

– “Quando esse povo vai aprender que só se represa a água caída do céu quando se constrói barragem?”

Papai era um homem de prioridades!


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 02 de julho de 2019

O PRIMEIRO ASSASSINATO NO CABARÉ DE MARIA BAGO MOLE

 

 

O PRIMEIRO ASSASSINATO NO CABARÉ DE MBM

Estação ferroviária de Carpina, construída à época do cabaré de MBM

Era dia de sábado chuvoso com muito vento por toda região da Zona da Mata de Pernambuco. No céu os trovões clareavam o cabaré com seus raios assustadores, iluminando os quartos onde os homens saciavam seus instintos sexuais em cima das ‘meninas’ quais uns porcos chafurdando no lixo.

Nesse dia não estava prevista a vinda do coronel Seu Bitônio Coelho para rever sua amada, MBM, que não a via havia duas semanas, embora tivesse morrendo de saudade e planejasse convencê-la a largar o cabaré para ir morar com ele na fazenda grande, cheia de conforto e sendo bajulada pelas governantas e protegida pelos capatazes.

Desde cedo chegou ao cabaré um dos fazendeiros habituês da redondeza que, como sempre fazia quando chegava, sentava numa mesa reservada, esperando uma das ‘meninas’ que por ela estava apaixonado descer dos aposentos para com ela ficar e fazer-lhe um convite para ir morar com ele após o calamengal.

Maria Bago Mole já havia sacado as pretensões do homem e não tinha ficado nada satisfeita com a ideia do pretendente, pois a ‘menina’ estava ali para seu “comércio cabarelístico”. E Seu Bitônio Coelho, há duas semanas, quando estava com MBM no cabaré, fazendeiro experiente nas quebradas da vida, também já havia percebido as intenções do homem pela ‘menina’, desconfiando que era com a sua amada. Porém esta o demoveu da ideia maluca dizendo que o único homem da vida dela era ele. E, como sempre o fazia, beijava-o demonstrando seu carinho e amor incondicionais.

Cansado de esperar a descida da ‘menina’ e sem saber que ela estava fufurufando com outro, aproveitou o descuido da cafetina e subiu a escada para convidá-la a beber com ele e depois ir para a cama “furar o côro” até o cu do amanhecer. Quando chegou ao quarto não esperou que ela abrisse a porta e foi logo metendo o pé. Quando esta abriu, o homem, possesso e doido de ciúme, percebendo que outro estava comendo sua pretendida, cego de ódio e sentindo-se “traído”, puxou a carabina da cintura e deu dois tiros no frinfa do comedor, atingindo o boga em cheio, ferindo também a ‘menina’ que precisou do socorro de Maria Bago Mole para não morrer.

Possessa de raiva por nunca ter enfrentado situação semelhante no ambiente, e ameaçando chamar Seu Bitônio Coelho para prender o assassino, MBM resolveu enfrentar o homem, sozinha, como fazia em outras ocasiões confusas do cabaré. Chamou o comissário de araque da cidade, Dr. Adamastor, contou-lhe o acontecido e, este chegando ao local do crime, tomando conhecimento quem era o matador, murmurou no ouvido da cafetina:

– Não fale para ninguém o que aconteceu aqui. Cuide do ferimento da “donzela” e pronto. Quem morreu é um Zé Ninguém que não possui nem um caixão para ser enterrado, e quem matou só não tem dinheiro para comprar a morte porque ela não cede, porque o resto!… Deixe-me que cuido do defunto!…

Pela segunda vez Maria Bago Mole, acostumada enfrentar e apaziguar todos os conflitos provocados pelos homens dentro do cabaré por “disputas das ‘meninas”, sentiu medo na vida e pela terceira vez sentiu como a ausência de Seu Bitônio Coelho lhe fazia falta.

E, olhando para o céu na frente do Cabaré, murmurou para si mesma:

– Meu Deus, cadê aquele homem que não aparece numa hora dessas?…


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 25 de junho de 2019

AS MENINAS DO CABARÉ DE MARIA BAGO MOLE

 

 

AS ‘MENINAS’ DO CABARÉ DE MBM

 

Duas ‘meninas’ do cabaré de MBM à espera de fregueses

Maria Bago Mole talvez tenha sido a primeira mulher da vida difícil que se tornou cafetina da Zona da Mata de Pernambuco no Século XIX de visão cabarelística e, segundo comentavam os habituês do cabaré construído à época que recebeu seu nome, ela nunca cedeu o priquito aos garanhões donos de engenho que frequentavam o bordel e lhe davam cantadas a fim de papá-lo, a não ser Seu Bitônio Coelho, o homem que lhe conquistou o coração e rangou o “boca de macaco”.

Assim que chegou à Vila do Vintém, onde se aglomeravam logo cedo os cortadores de cana dos engenhos, carroceiros, guiadores de jumentos carregadores de cana, MBM percebeu que ali estava plantada sua futura profissão: Administradora de Carne Mijada.

Mulher de visão, logo começou a prestar todo tipo de assistência que tivesse ao seu alcance a todas as gentes da Vila do Vintém, principalmente às pessoas idosas que não dispunham de condições financeiras para se tratarem, locomoverem, alimentarem-se…

Simpática e prestativa, de carisma incomum, logo conquistou a confiança dos moradores que viam nela uma espécie de Anjo da Guarda. Ganhou um terreno enorme de esquina com a rua principal de um morador do vilarejo, ponto ideal para ela improvisar um local onde pudesse vender comida aos trabalhadores da cana e, à medida que o comércio ia crescendo, evoluindo, percebeu que poderia explorar um dos ramos mais promissores e lucrativos daquela época que fascina os homens desde que estes chegaram à Terra: administrar priquito alheio. Bastando para isso acolher todas as ‘meninas’ que lhe procuravam em busca de abrigo porque não podiam mais voltar para casa: os pais haviam-nas expulsado e oferecê-las aos cortadores de cana que viviam mais seco do que o mês de janeiro, saciando seus instintos libidinosos nas jumentas pastoradas.

Com uma visão aristocrata para comércio, MBM começou a pensar e organizar o cabaré. Todas as ‘meninas’ que chegavam para pedir-lhe abrigo ela as acolhia, dava-lhes um “banho de lojas”, as produzia da cabeça aos pés e, à noite, colocava-as na “vitrine” às espera de um cliente que pagasse um “programa”.

Dessa forma, com muita de luta, determinação, disciplina e gerenciamento, MBM viu o cabaré crescer, expandir-se e transformar-se num dos maiores puteiros da Zona da Mata, onde os homens se encontravam, saciavam seus instintos sexuais com a ‘meninas’, pagavam bem e com isso o cabaré ia ficando famoso, chegando ao conhecimento dos insaciáveis por sexo das redondezas, boca a boca, e ela com o plano de construir um cabaré descente que levasse seu nome com o dinheiro “arrecadado”, comercializando os priquitos das ‘meninas.’

Para que nada falhasse e tudo transcorresse numa boa durante as noitadas homéricas com os “homens brutos da palha da cana”, MBM sempre fazia uma reunião semanal com as ‘meninas’, explicando para elas como deveriam proceder, comportarem-se diante dos “seus homens”:

– Deem o melhor para os seus parceiros. Cedam ao que eles exigirem, mesmo que vocês achem absurdo. Não se esqueçam de que o que acontecer ali dentro do quarto ninguém ficará sabendo aqui fora e vocês serão as mais beneficiadas porque eles ficarão vindo sempre e quem ganha com isso somos todas nós!

Assim se cumpriu a profecia e o cabaré de MBM entrou para a história dos puteiros da Zona da Mata de Pernambuco no Século XIX.


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 18 de junho de 2019

MARIANA STOCK E A TEORIA DO ORGASMO FEMININO

 

 

MARIANA STOCK E A TEORIA DO ORGASMO FEMININO

 

A teórica do orgasmos Mariana Stock

“Idealizada” pela psiquiátrica e psicanalista curitibana Mariana Stock, a teoria do orgasmo feminino consiste na mulher conhecer o próprio corpo a fundos perdidos, saber tocá-lo amiúde, em todas as partes sensíveis, trazendo o prazer à flor dos poros, excitando todas as zonas exógenas para gozar solitariamente sem a intromissão duma bimba, bastando apenas introduzir um vibrador “kidbengaliano” lubrificado com óleo de peroba na área do clitóris onde está localizado o ponto “G”.

Por meio de cursos online ou presenciais, a psicanalista está “revolucionando” a chamada “terapia orgástica”, que consiste na experiência individual de ampliação de consciência, onde a mulher aprende a desconstruir a ideia de que é preciso ser boa de cama: fungar, gemer, espernear, gritar, para o parceiro ouvir e a percepção de que o ato depende menos de fantasias do que de sensações físicas para ser bom e prazeroso.

Como na teoria Pajubá, “idealizada” e desenvolvida no reinado petista, que consiste na disseminação da suruba a todo custo para alienar corpo e mente de viado, baitola, fresco, franco, sapatona, travecus, tendo como expoentes principais as “teóricas” e “orientadoras” Jandira Pinguelão, Dilma Rousseff Clitorão, Márcia Tibúri Cuzão, Maria Doidivana Rosarão, dentre outras figuras proeminentes do universo petralha, a teoria do orgasmo feminino e a teoria Pajubá, dentre outras alucinógenas, são a demonstração cabal da transformação descompassada por que passou o Brasil e a América Latina depois que o “messiânico” canalha Luiz Inácio Lula da Silva, hoje Presidiário, assumiu o comando do continente há mais de dois séculos e idiotizou mais de oitenta por cento do seu rebanho com essas insanidades patológicas.

Como por trás de tudo que os petralhas abarcam como sendo revolucionário e bom para todos e sem fins lucrativos, mas visando a mamata da Lei Rouanet, a “teórica” Mariana Stock, criou o espaço PRAZERELA que, segundo ela, consiste “num espaço, num encontro, num refúgio dedicado às mulheres e aos seus prazeres”, com muita conversa mole, bate papo furado, lero lero e trela para boi dormir.

“Mulheres juntas, trocando carícias, crescendo e se fortalecendo mutuamente, num reencontro com o deleite adormecido, numa libertação dos tabus que as enrijecem. A possibilidade do emponderamento feminino pelo caminho do prazer” – explica Mariana Stock sua tese revolucionária que vai transformar o mulherio varonil no imenso FEBEAPÁ!

É ou não é pra arrombar a tabaca de Xolinha?!

 


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 11 de junho de 2019

OAB: CABIDE DE EMPREGO E OSTENTAÇÃO!

 

 

OAB: CABIDE DE EMPREGOS E OSTENTAÇÃO!

 

Não sou do ramo da advocacia, mas, a pedido de seis bacharéis em Direito que não conseguiram obter êxitos em três Exames da Ordem, pagando uma taxa absurda pela inscrição, resolvi elaborar esse (PL), que encaminho aos auspiciosos deputados e senadores federais através do Jornal da Besta Fubana para tentar amenizar a dor do gosto amargo da reprovação de muitos examinandos que chegam à segunda fase do Exame da OAB e são reprovados por míseros 0,15, ou 0,10 na prova subjetiva!

FLEXIBILIZAR A 2.ª DO EXAME DA OAB É PRECISO!

Projeto de Lei N.º___de 2019

(Do Sr.º Deputado Federal Irineu Boa Ventura)

Esta lei altera o inciso IV do art. 8 da Lei 8.906, de 04 de julho de 1994, para acrescentar as alíneas “a”, “b” e “c”.

O Congresso Nacional decreta

Art. 1.º Esta lei institui a obrigatoriedade de a OAB determinar que o examinando que passar na primeira fase do Exame de Ordem possa fazer a prova da segunda fase por dois triênios sem submeter ao crivo da primeira, acrescentando ao inciso IV do art. 8 da Lei n.º 8.906, de 04 de julho de 1994 as alíneas “a”, “b” e “c”.

Art. 2.º O inciso IV do art. 8 da Lei 8.906, de 04 de julho de 1994, passa a ser acrescido das seguintes alíneas.

a) O examinando que passar na primeira fase do Exame da OAB, ficará habilitado a realizar a segunda fase por dois triênios, 06 (seis) tentativas, sem se submeter ao crivo da primeira fase da prova objetiva, ficando somente obrigado a pagar a taxa correspondente a metade do valor da inscrição, conforme disciplinará o Regulamento Geral.

b) Se o examinado se inscrever em uma das 06 (seis) provas subjetivas e não comparecer para realizá-la, qualquer que seja o motivo sem justificativa fundamentada, perderá a oportunidade de fazer as provas subsequentes, sendo obrigado a retornar à fase inicial do exame.

c) O examinando que for isento da taxa de inscrição da primeira fase do Exame da OAB ficará livre do pagamento da mesma da segunda fase até passar, dentro do prazo estabelecido nesta lei.

Art. 3 Esta Lei entra em vigor na data da sua publicação

JUSTIFICATIVA

É do conhecimento de todos os estudantes e bacharéis em Direito que se submetem à prova do Exame da OAB que a primeira fase possui um índice de reprovação absurdo e, pior, não testa os conhecimentos técnicos do examinando, daí porque exigir-se dos senhores legisladores um exame de consciência no sentido de aprovar esta lei, tornando-se mais consentânea à facilitação do examinando para a obtenção da carteira da OAB a fim de que possa exercer a profissão de advogado e ganhar seu sustento com dignidade.

Não resta dúvida de que o Exame da OAB é essencial para testar a capacidade técnica do examinando uma vez que vai lidar com causas que requerem alta responsabilidade. Também se faz necessário o Exame de Ordem tendo em vista a grande quantidade de faculdade de direito espalhadas por todo o Brasil, autorizadas a funcionar pelo MEC na era petista, sem nenhum critério qualificativo. Daí porque ser necessário a OAB fazer um filtro para jogar no mercado os profissionais mais capacitados.

Segundo o Blog. Exame da Ordem, na primeira fase do XXIII exame da OAB houve 15.352 aprovados, sem anulações. No XXIV foram 47.693 aprovados, número bem discrepante da prova do XXIII. Já no exame XXV 29.892 examinando foram aprovados, sendo que o número dos inscritos ficou na ordem dos 126 mil com cada um pagando uma taxa de inscrição de R$.260,00! É dinheiro pra caralho arrecadado!

Ou seja, as provas da 1ª fase do XXV e do XXIV Exames foram muito parecidas quanto ao grau de dificuldades se balizados apenas pelo viés estatístico.

Há que se concluir na análise feita pelo Blog Exame da Ordem que a primeira fase do Exame da OAB funciona como “um filtro quase inflexível para testar o examinando que estão aptos, assimilaram o conteúdo das matérias jurídicas ensinadas durante o período do curso, mas o testador de conhecimento técnico mesmo é a 2.ª fase, que merece uma especial atenção por parte da OAB.”

Ante os fatos apresentados, espera-se dos senhores deputados e senadores o acolhimento, apreciação e votação da matéria para que seja aprovada na íntegra, tornando mais justo o Exame da OAB.

Câmara dos Deputados,________ de junho de 2019.

Presidente.

P:S: A OAB, sem nenhuma definição jurídica estabelecida em lei: se “autarquia”, se “entidade sui generis”, é uma das maiores arrecadadoras de grana dos pobres e fudidos do Brasil que ousam se habilitar para passar no Exame da OAB e entrar nesse mercado nefasto que a cada dia se torna mais desumano devido à quantidade de advogados com o certificado de conclusão de bacharel em direito numa mão e a Carteira da OAB na outra, mas morrendo de fome por não terem espaço no mercado para exercerem a profissão. O sonho da carteira para advogar se tornar um pesadelo de ante dum mercado sem cliente. E os que existem, muitas vezes pessoas de ótimos poder aquisitivos, recorrem à Defensoria Pública “como pobre na forma da lei!” O Brasil é o paraíso da filantropia com o dinheiro dos impostos do contribuinte!

O PT saturou o mercado com a abertura indiscriminada de cursos jurídicos e fechou a porta para o curso de Medicina, tão essencial para a população! O famigerado Mais Médicos é fruto dessa ignomínia perpetrada pelo MEC na era petista.

Decididamente, o PT foi o maior câncer que infestou esse País, matando sua população de inanição!


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 04 de junho de 2019

BITONHO COELHO VOLTA AO CABARÉ DE MARIA BAGO MOLE

 

 

BITÔNIO COELHO VOLTA AO CABARÉ DE MBM

 

“Lia Ingênua, a quase sósia filha do posseiro ‘expulsa’ de casa!”

Depois de duas semanas sufocado de trabalho nas fazendas, sem ter tempo de ir ao cabaré de Maria Bago Mole, Seu Bitônio Coelho, morrendo de saudade e louco de ciúme da amada, decide visitá-la antes que a ausência o mate.

Com a cabeça cheia de caraminholas, imaginando estar levando chifres da cafetina, se arma com a carabina de dois tiros e uma carreira, um punhal, e parte para o cabaré num dia de sábado chuvoso disposto a “matar qualquer cabra safado” que se atrevesse a estar comendo sua cara metade.

Todo molhado e desconfiado até da sombra, ele apeia o cavalo em frente ao cabaré. De dentro do salão onde está atendendo os “clientes” e “dando ordem às meninas”: “Quem iria se deitar com quem e cobrando o valor da noitada”, Maria Bago Mole o avista, e, disfarçando a ânsia da saudade, lábios pálidos e pernas trêmulas, corre para abraçar e beijar o amado que não via havia dois sábados, depois da última noite homérica de prazer e loucura.

– Meu filho, onde você estava por todo esse tempo? Eu aqui morrendo de saudade e louca de desejos e você só ligando para vacas, cavalos, bodes, capangas, peões! Onde isso tem mais importância do que o nosso amor?

Depois de ouvir essas palavras carinhosas, meigas e sinceras e um longo beijo na boca, Seu Bitônio Coelho estremece de emoção por dentro e percebe o quanto aquela mulher tornou-se importante na sua vida e ele sem enxergar.

Abraçado à amada e tropeçando nas poças de lama ele e MBM se dirigem ao cantinho que ela construiu para os dois nos fundos do cabaré. Mas antes de entrar, ele, ciumento e desconfiado, percebeu a presença de um desafeto sentado numa mesa no canto do cabaré de olho na sua amada e, mais acuado do que cachorro abandonado, pergunta o que aquele sujeito está fazendo ali e se ele tem alguma coisa a ver com ela porque se ele se atrever em desafiá-lo ali mesmo morre com dois tiros de bala de carabina na testa.

Maria Bago Mole, já sabendo do temperamento do “seu homem”, deu-lhe outro beijo na boca, abraçou-se com ele, acochou-o ao peito, pôs as mãos dele em cima para excitá-los, puxou-o para o aposento e lhe confidenciou:

– Calma, meu amor! Ele está de olho na filha de um posseiro que chegou hoje ao cabaré, porque o pai a pôs de casa para fora por ela ter se “perdido” com um peão da fazenda e ele não tê-la “assumido”. O mesmo que aconteceu comigo, lembra-te? E o curioso em toda essa história é que tanto ela quanto eu éramos virgens e nossos pais eram quadrados porque não acreditavam na gente. Ainda bem que encontrei você para provar o contrário quando sangrou. Agora só falta ela. Tem um corpo lindo e uns peitos sadios! Chama-se Lia Ingênua – segredou.

Antes de MBM terminar de lhe contar o segredo, pela vez primeira Seu Bitônio Coelho tomou a iniciativa de beijá-la a boca, apalpar os peitos duros, tirar-lhe a roupa para fazer amor sem sacar das preliminares, que os dois fizeram quando se amaram pela primeira vez.

– Vá devagar, meu amor! Tenha calma! Não se avexe! Você pode ter um troço! O tempo é nosso, e, olhando a priquita raspada, prossegue: Tudo isso é seu a hora que você quiser e sentir vontade.

Mal a cafetina terminou de pronunciar a última palavra, o homem mais temido dos engenhos da Zona da Mata, responsável por tirar couro de ladrões, arrancar olhos de inimigos a facão e mergulhar os desafetos em tonéis de água fervendo para ver o couro despregar da carne, começou a perceber que o ciúme que sentia por aquela baixinha inteligente e sapeca era real e tinha de fazer alguma coisa para tirá-la daquele bordel antes que um dos desafetos o fizesse e ele ficasse desmoralizado.

Pensou em contar a amada o que estava sentindo, seus planos de tirá-la dali e levá-la para morar na fazenda com as “criadas”, mas sabia que amada tinha orgulho de ser independente, administrar o cabaré. Que aprendeu a se virar sozinha e ser dona do seu próprio destino…

Pressentindo a intenção do “seu homem”, Maria Bago Mole deu-lhe um beijo demorado na boca, pegou-lhe o trololó para deixá-lo duro novamente, escanchou suas coxas nas coxas dele e lhe confidenciou ao ouvido:

– Meu amor, deixemos para conversar sobre isso depois. Por enquanto vamos ficar pensando só em nós dois sem pensar no amanhã. Disse isso e adormeceu amaciando os pelos do peito do “seu homem”…


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 28 de maio de 2019

VAI FICANDO POR AÍ, VELHO. DE REPENTE, O NEGÓCIO SOBE

 

“VAI FICANDO POR AÍ, VELHO. DE REPENTE O NEGÓCIO SOBE”

 

Praça das Palmeiras em Carpina, perto do antigo cabaré de Maria Bago Mole

Maria das Dores era uma das mulheres da vida difíceis mais próximas de Maria Bago Mole, a famosa cafetina do Cabaré de mesmo nome no Século XIX, que ficava na Zona Norte do baixo meretrício de Carpina, localizado na bifurcação de Cruz das Almas Penadas, local onde se matou muita gente e onde se encontravam todos os dias os caminhoneiros e cortadores de cana dos engenhos das redondezas.

Famosa por saber estimular os fregueses nos momentos de languidez “piquiana”, que as “meninas” chamavam de “pau sem esperança”, com pouco tempo Maria Bago Mole elevou Maria das Dores a condição de administradora de viúvo solitário e endinheirado, que havia se esquecido completamente da feitura de um “cara preta”, “boca de macaco”, “boca de Gilmar”, como era chamada a “carne mijada” na época pelos freqüentadores do cabaré.

Sua tática consistia em relaxar o velho, fazer com que ele se esquecesse da viúva, dos problemas do engenho, para isso entrava com ele no quarto, tirava-lhe a roupa na penumbra do candeeiro, começava-lhe a alisar o peito, pegar nos cachos murchos e estimular a mimosa que estava mais adormecida do que bêbado no final de noitada cachacista.

Certo dia Maria Bago Mole deu a missão à Maria das Dores para encorajar um velho viúvo que, depois de perder a esposa no coice de jumento na boca do estômago, perdeu completamente a vontade de viver. Como não lhe conseguiu estimular a mimosa pelo método convencional, partiu para o radical, que consistia nas suas táticas de vinte anos de profissão.

Mandou o velho ficar de papo para baixo, nu, com o frinfa para cima e começou a passar óleo de peroba pelas beiradas, rezando agarrada com a “bicha” do moribundo: “Deus, fazei com que esse santo crie azas e voe para entrar no buraco.” Deus, fazei com que esse santo crie azas e voe para entrar no buraco.” Depois de repetidas vezes sem sucesso, Maria das Dores, com os braços dormentes, com cãimbra, de tanto movimento sem resultado, exclamou:

– “Valha-me Deus! Vai ficando por aí, meu velho, que de repente o negócio sobe e a gente soca dentro, porque de minha parte já perdi a esperança.”

E saiu de mancinho do quarto deixando o velho roncando, nu, com a bunda para cima banhada de óleo de peroba, certamente pensando na mulher que havia perdido com o coice do jumento.

“A velhice tem dessas coisas: A melhor coisa da vida o tempo mata” – pensou Maria das Dores e se foi-se a contar a “tragédia” a Maria Bago Mole, que ficou sirrindo-se de se mijar pensando no seu gambrião, Bitônio Coelho, que há dois sábados não aparece para lhe apagar o fogo na bacurinha nos aposentos do cabaré.


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários sábado, 25 de maio de 2019

CHICO BUARQUE E O PRÊMIO CAMÕES DE LITERATURA

 

 

CÍCERO TAVARES – RECIFE-PE

 

Nada mais justo do que esse colunista do JBF prestar essa singela homenagem ao maior gênio da MPB, Chico Buarque, pela catilogência de saber fundir romance, músicas e letras dentro de um universo harmônico que só os grandes gênios universais possuem o dom de fazê-lo.

Por ter sido contemplado com o Prêmio Camões de Literatura pelo conjunto de sua obra, sendo escolhido por unanimidade pela 31.º edições do Júri, o que inclui, além dos romances “Leite Derramado”, “Benjamin”, “Budapeste”, suas letras de música e peças.

Prêmio esse só concebido, em 2016, a outro romancista genial, Raduan Nassun, autor de novelas, contos e o clássico “Lavoura Arcaica”, seu primeiro e único romance, que narra história do jovem André no meio rural arcaico que resolve abandonar a namorada para ir morar numa cidade pequena, fugindo da vida asfixiante da lavoura.

Por tudo que representa para o Brasil, como maior letrista da MPB, poeta, dramaturgo e excelente romancista, merece os encômios desse colunista.

Parabéns, Chico Buarque, por nos honrar mais uma vez com essas construções antológicas.

 


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 21 de maio de 2019

A EMPREGADA DOMÉSTICA

 

 

A EMPREGADA DOMÉSTICA

 

Empregada doméstica: Retrato de Georgina Albuquerque

O nome dela é Maria de França, mas a família a chama nordestinamente por “ia”, diminutivo carinhoso de Maria Francisca.

Assim que chegou aqui nos anos oitenta, vinda do interior de Vitória de Santo Antão, com apenas treze anos de idade, empregou-se como doméstica. Dentro da mochila feita de estopa trouxe um bilhete “escrito” pela mãe com recomendações à patroa: “Tenha cuidado com minha fia! Não deixe ela sair só. Ela ainda é virge”! “Se não, ela pode se ‘perder’ com um qualquer e embuchar.”

Antes de vir para a cidade grande, “ia” provou, na palha da cana dos engenhos vitorienses – criança chupando dedo para espantar a fome -, de todas as agruras que a vida contempla àqueles que não nascem em “berço esplêndido.”

Durante esse tempo que vive por aqui, já trabalhou em cinco empregos como doméstica, tendo aprendido a maior lição de sua vida nos relacionamentos empregatícios com os patrões: Ver, ouvir, ficar calada e nunca comentar com ninguém a vida alheia. Essa lição ela trouxe de berço, inspirada na mãe.

Mas existe uma coisa que tira “ia” do sério: Quando ouve um tabacudo puxar o saco de Lula: “Que foi o pai dos pobres, tirou o povo da miséria e o país viveu em abundância durante seu reinado, com empregos e riquezas para todos!”

Certa vez, impaciente com um ajudante de pedreiro que estava na fila de uma casa lotérica se vangloriando porque Lula lhe tinha dado a oportunidade de comprar uma televisão de quarenta polegadas em cores, retrucou:

– “Meu sinhor, Lula é tão safado que está preso e diz que é inocente!” Diz que criou empregos e deu riqueza a todo trabalhador!” “Só se for pras quengas dele!” Aquele cabra safado enganou todo mundo com aquela cara de cu de quati!” E o pior é que gente como o sinhor acredita nele! A única coisa que aquele ladrão safado fez para os pobres foi criar essas merdas de “Minha Casa, Minha Dívida”, “Bolsa Miséria”, para as mulheres pobres meterem e parirem filhos a doidado! E o sinhor vem dizer umas bostas dessas! “Só tem duas “crasses” que gostam de Lula: Os que roubam a gente e os parasitas, que não fazem nada e a gente trabalha para sustentar eles!” “E os loucos de jogar pedra.”

“Acorde, meu sinhor!”

Percebendo que o homem ficou mudo, pôs o capacete na mão e não disse mais nada, ela resmungou para si mesma:

“O Brasil só está assim porque o povo se iludiu com esse cabra safado por mais de quatorze anos e ainda tem gente reclamando por que o outro que entrou não fez nada nesses três meses para consertar as merdas que ele deixou!”

“É PHODA!”

 

Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 30 de abril de 2019

OBRA-PRIMA DA NATUREZA

 

OBRA-PRIMA DA NATUREZA

 

Essa jovem com esse capô de “wolkswagen” foi flagrada saindo do mictório do sítio “São Francisco”, que fica ao lado do galinheiro de galinha caipira, após uma festa regada à buchada de porco, mão de vaca, feijoada, sarapatel e cinqüenta e um, a cachaça do presidiário.

É uma verdadeira obra-prima da Natureza, de dar inveja a qualquer quadro saído da imaginação do quase maior pintor do mundo: Pablo Picasso. Abelardo da Hora iria suspirar emocionado, vivo fosse com tamanha ousadia in natura.

A dona dessa obra-prima preferiu esconder o rosto para o ambiente ficar mais psicodélico e os mais afoitos não cometerem crime de importunação libidinosa previsto no Código Penal Brasileiro caso a encontrassem na estrada do sítio.

Não é o capô da Mona Lisa de Da Vinci, tão pouco o da Morena da Montanha Russa de pelos pubianos, do pintor desconhecido carpinense que flagrou Maria Bago Mole obrando de cócoras por trás da touceira de capim santo, perto do cabaré de mesmo nome no século XIX, mas desperta o sentimento machista: ambição e desejos capazes de destruírem qualquer cabaré, aos que gostam da fruta, é claro.

Na hora da foto, o frege quase que ia à loucura com todo mundo bêbado forrozando ao som da música “Se Tu Quiser”, composição de Xico Bizerra interpretada magistralmente por Elba Ramalho e Almir Rouche, do DVD “Evoé Nabuco”, gravado no Pátio de São Pedro, Centro do Recife, em 2011.

Se gostar, deixe seu like.

Almir Rouche & Elba Ramalho cantando Se Tu Quiser, composição de Xico Bizerra, colunista do JBF, na gravação do DVD “Evoé, Nabuco”

 


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 23 de abril de 2019

PAULO TORRES: O MAESTRO DA ESPERANÇA

 

 

PAULO TORRES: O MAESTRO DA ESPERANÇA

 

Para o exímio sanfoneiro Carlos Nonato, de Lagoa do Carro-PE

Maestro Paulo Torres

Em reportagem feita pela TV de Curitiba pelo jornalista Márcio Tonetti e pela TV Identidade Geral, pelo apresentador Wagner Cantori, eles traçaram a trajetória exitosa e feliz de mais de cinqüenta anos de Paulo Torres, maestro da Câmara Sinfônica da PUC e membro da Academia Paranaense de Música, e já participou de mais de cinco mil consertos em redor do mundo.

É doutor em Artes Musicais pela Universidade Estadual de Michigan, e entre muitas atribuições foi o primeiro violinista e maestro da Orquestra Sinfônica do Paraná. No entanto, ele encontrou um novo sentido para sua vida tocando voluntariamente em hospitais, clínicas e até presídios.

Membro da Igreja Adventista do Sétimo Dia, reconhecido internacionalmente, ele visita hospitais uma vez por semana para levar esperança e aliviar o sofrimento dos pacientes que se encontram esperando a Indesejada das Gentes, mas escapam dela por um “milagre” que a ciência não tem resposta ainda suficiente, por meio do som da música que sai do seu violino.

Segundo o maestro e violonista Paulo Torres, tudo começou quando ele visitou uma tia que estava doente na UTI de um hospital, mas o que ele não esperava era que outros pacientes do corredor também saíssem dos seus leitos e pedissem para que ele tocasse em seus quartos.

A experiência foi tão marcante que o maestro abraçou a iniciativa. E isso já faz mais de vinte e cinco anos que ele leva emoção, alívio e esperança aos pacientes por meio da música.

Ao longo dessas mais de duas décadas que o maestro decidiu doar-se levando músicas aos enfermos, muitas histórias arrepiantes ele tem assistido que lhe dão sentido à vida. Pessoas que voltaram a sorrir. Outras que se curaram e voltaram a viver. Milagres? Ou a força que vem da música?

Certa vez – segundo ele – entrando no quarto de uma jovem, que estava em coma há mais de quatro anos, a mãe estava lendo a Bíblia, o maestro perguntou se poderia tocar e ela disse que sim. Quando ele começou a tocar o grande Maestro Astor, foi percebendo que a jovem começou a abrir os olhos e tentou falar, foi quando a mãe da jovem o abraçou em prantos; os médicos de plantão, surpresos, começaram a chegar e ficaram impressionados com o ocorrido e a mãe em planto, disse-lhe:

– Minha filha não estava dormindo não, doutor! Minha filha estava em coma! Dali então foi que o maestro Paulo Torres decidiu que Deus lhe tinha posto uma missão no caminho: levar alegria, emoção e alívio aos enfermos por meio da música. E nunca mais parou.

A gratidão é um sentimento que jamais será esquecido!

Entrevista comovente ao repórter Márcio Tonetti – Tetro Guaíra – Curitiba – PR.

 

 

Entrevista emocionante ao apresentado do programa Identidade Geral, Wagner Cantori.

 


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários domingo, 21 de abril de 2019

MOMENTO DE DESCONTRAÇÃO COM MUÇÃO

 

MOMENTO DE DESCONTRAÇÃO COM MUÇÃO

Impressionante a habilidade com que o humorista Mução conduz a pegadinha enrolando Dona Zilma no quadro final, apelidada de Xanha. Sem contar com a declamação antológica do poema “zélimeriano” no início do vídeo.

Simplesmente fantástica!

Imperdíveis todos os quadros nesse momento de ditadura e desmoralização da Toga Suprema, um golpe escatológico que saiu pela culatra, provocado por dois ministros Capas Pretas incompetentes e irresponsáveis, contra a Liberdade de Expressão.

Lá vem o Brasil Descendo a Ladeira
Hoje é quarta-feira
O resto é besteira
Perna fina corredeira
Vou comendo pelas beiras
Tomo uma lá na feira
Um tira -gosto primeira
Relógio troca pulseira
Passo lá na costureira
Vou matando a suvaqueira
Pede a trouxa lavadeira
É folha de laranjeira
Toda guenga é rampeira
Dianteira e traseira
Toda vida é passageira
Vou lutando capoeira
E disse Moraes Moreira:
Lá vem o Brasil descendo a ladeira.

 


Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 16 de abril de 2019

A SUCATA E ADVOGADO ESCROQUE

 

 

A SUCATEIRA E O ADVOGADO ESCROQUE

 

Dona Maria da Sucata é uma favelada íntegra. Tem orgulho de ser conhecida por todos por esse epíteto. Para sobreviver sai todos os dias com sua carroça humilde à procura de latinhas de cervejas vazias, refrigerantes, garrafas plásticas, copos descartáveis, papelões, peças de computadores, ferros velhos e outros objetos recicláveis. É uma recicladora do planeta.

Dona Maria da Sucata tem um neto incapaz que é viciado em craque. Por ser inábil em conter sua vontade, não pode ver nada fácil que furta para sustentar o vício da droga. O medo dela: que ele seja executado por débito com os traficantes que não perdoam.

Recentemente foi preso numa boca de fumo, e desceu diretamente para o “Muro das Lamentações” do município de Abreu e Lima. Não houve audiência de custodia porque Dona Maria da Sucata não pôde pagar um advogado, e na hora não havia defensor público para acompanhá-lo.

O Defensor Público plantonista estava ocupado com afazeres pessoais!

Busca aqui, busca dacolá, ela encontrou um advogado para acompanhar o neto, mas de cara ele cobrou mil paus. Ela pagou. Ele não deu recibo do dinheiro recebido e prometeu soltar o neto de Dona Maria da Sucata em menos de vinte quatro horas se ela conseguisse mais mil.

Depois do acerto com o advogado, Dona Maria da Sucata trabalhou dia e noite, quase desmaiando de fome para conseguir o dinheiro. Conseguiu juntar sucatas que valiam mais de dois mil paus, mas o dono do depósito a ludibriou, burlou-a na pesagem e só pagou a metade do valor. Mas, mesmo assim ela aceitou e agradeceu, pois estava precisando do dinheiro para entregar ao advogado que prometera soltar o neto.

Dinheiro na mão, neto liberto! – disse sarcástico o advogado escroque!

Do depósito de sucata com o dinheiro dentro do“porta seio”, ela foi direto para o advogado e entregou a outra metade combinada, sem receber comprovante. De posse do dinheiro o advogado disse a ela que esperasse em casa, preparasse uma feijoada para comemorar a liberdade do neto no outro dia. Não pediu procuração do custodiado, nem cópia do CPF, RG, CTPS, nem endereço residencial, nem rol de testemunhas para preparar a defesa do indiciado. Nada!…Nada! Só quis saber do dinheiro!

Passadas duas semanas do prometido, e depois de várias idas ao “Muro das Lamentações” para visitar o neto, Dona Maria da Sucata descobriu que o advogado a tinha enganado. Sequer visitou o neto. Quem compareceu ao ato processual designado foi um defensor público nomeado pelo juiz que, a contragosto, não abriu o bico na audiência.

Temendo pela vida do neto nas duas visitas feitas ao Inferno de Dante, ela procurou outro advogado que prometeu soltar o neto em vinte quatro horas. De cara para trabalhar no caso e entrar com o pedido de relaxamento de prisão lhe cobrou três mil paus de entrada e os outros três mil divididos em duas parcelas de mil e quinhentos.

Desconfiada com a proposta do “advogado” ela procurou uma vizinha que tinha sido vitima das mesmas artimanhas do jurisconsulto escroque, inclusive, forçada por ele, teve de vender uma casa que alugava para complementar a renda familiar, e o jurisperito não soltou o filho conforme havia prometido. O causídico lhe furtou tudo. Não passou recibo e o viciado continua preso à espera de um habeas corpus de Gilmar Mendes.

Desesperada e vendo a hora o neto morrer envolvido com gangues lá dentro do Inferno de Dantes ela recorreu a uma pessoa de bom coração, lide comunitária, que conhecia um advogado muito solícito que trabalhava para uma ONG da qual ela fazia parte como voluntária!

Sem cobrar nada de Dona Maria da Sucata, o advogado, já aposentado, comovido com o sofrimento dela e percebendo a angústia, o desespero de o neto ser morto lá dentro, juntou provas da incapacidade transitória dele, participou da primeira audiência, juntou as provas da incapacidade do neto da sucateira e requereu ao juiz exame de insanidade mental do preso que foi provado por uma junta médica nomeada pelo magistrado como incapaz, e o juiz o soltou por insuficiência de provas da materialidade do delito e por incapacidade mental do prisioneiro.

Após o neto solto e já em casa, Dona Maria da Sucata recebeu a visita de uma vizinha com o mesmo problema com o filho, informando que tinha sido procurada pelo advogado que a enganou, cobrando-lhe o mesmo valor para soltar o filho em vinte quatro horas como o havia feito com o da “velha da carroça”. E a vizinha queria saber da lisura do tal advogado à colega para confiar a tentativa de soltura do filho a ele.

Ao que Dona Maria da Sucata, curta e grossa, a alertou e aconselhou-a:

– Minha filha, aquilo é um ladrão descarado! Me roubou dois mil reais e não fez nada pelo meu neto. Eu não sei como a OAB mantém nos seus quadros um cabra safado desses enganando o povo desesperado! Se fosse por ele eu teria enterrado meu neto há muito tempo. Foi graça a solidariedade de um advogado de uma ONG que meu neto está comigo. Tome o telefone onde ele presta serviços voluntários e ligue, ou senão procure Fulana, líder comunitária, que ela lhe leva até ele.

Antes de se despedir de Dona Maria da Sucata e agradecer-lhe a orientação, o celular da vizinha toca. Ela atende. Era o advogado querendo saber se ela já estava com o dinheiro na mão para ele ir pegar e preparar a defesa do filho…


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