“Lia Ingênua, a quase sósia filha do posseiro ‘expulsa’ de casa!”
Depois de duas semanas sufocado de trabalho nas fazendas, sem ter tempo de ir ao cabaré de Maria Bago Mole, Seu Bitônio Coelho, morrendo de saudade e louco de ciúme da amada, decide visitá-la antes que a ausência o mate.
Com a cabeça cheia de caraminholas, imaginando estar levando chifres da cafetina, se arma com a carabina de dois tiros e uma carreira, um punhal, e parte para o cabaré num dia de sábado chuvoso disposto a “matar qualquer cabra safado” que se atrevesse a estar comendo sua cara metade.
Todo molhado e desconfiado até da sombra, ele apeia o cavalo em frente ao cabaré. De dentro do salão onde está atendendo os “clientes” e “dando ordem às meninas”: “Quem iria se deitar com quem e cobrando o valor da noitada”, Maria Bago Mole o avista, e, disfarçando a ânsia da saudade, lábios pálidos e pernas trêmulas, corre para abraçar e beijar o amado que não via havia dois sábados, depois da última noite homérica de prazer e loucura.
– Meu filho, onde você estava por todo esse tempo? Eu aqui morrendo de saudade e louca de desejos e você só ligando para vacas, cavalos, bodes, capangas, peões! Onde isso tem mais importância do que o nosso amor?
Depois de ouvir essas palavras carinhosas, meigas e sinceras e um longo beijo na boca, Seu Bitônio Coelho estremece de emoção por dentro e percebe o quanto aquela mulher tornou-se importante na sua vida e ele sem enxergar.
Abraçado à amada e tropeçando nas poças de lama ele e MBM se dirigem ao cantinho que ela construiu para os dois nos fundos do cabaré. Mas antes de entrar, ele, ciumento e desconfiado, percebeu a presença de um desafeto sentado numa mesa no canto do cabaré de olho na sua amada e, mais acuado do que cachorro abandonado, pergunta o que aquele sujeito está fazendo ali e se ele tem alguma coisa a ver com ela porque se ele se atrever em desafiá-lo ali mesmo morre com dois tiros de bala de carabina na testa.
Maria Bago Mole, já sabendo do temperamento do “seu homem”, deu-lhe outro beijo na boca, abraçou-se com ele, acochou-o ao peito, pôs as mãos dele em cima para excitá-los, puxou-o para o aposento e lhe confidenciou:
– Calma, meu amor! Ele está de olho na filha de um posseiro que chegou hoje ao cabaré, porque o pai a pôs de casa para fora por ela ter se “perdido” com um peão da fazenda e ele não tê-la “assumido”. O mesmo que aconteceu comigo, lembra-te? E o curioso em toda essa história é que tanto ela quanto eu éramos virgens e nossos pais eram quadrados porque não acreditavam na gente. Ainda bem que encontrei você para provar o contrário quando sangrou. Agora só falta ela. Tem um corpo lindo e uns peitos sadios! Chama-se Lia Ingênua – segredou.
Antes de MBM terminar de lhe contar o segredo, pela vez primeira Seu Bitônio Coelho tomou a iniciativa de beijá-la a boca, apalpar os peitos duros, tirar-lhe a roupa para fazer amor sem sacar das preliminares, que os dois fizeram quando se amaram pela primeira vez.
– Vá devagar, meu amor! Tenha calma! Não se avexe! Você pode ter um troço! O tempo é nosso, e, olhando a priquita raspada, prossegue: Tudo isso é seu a hora que você quiser e sentir vontade.
Mal a cafetina terminou de pronunciar a última palavra, o homem mais temido dos engenhos da Zona da Mata, responsável por tirar couro de ladrões, arrancar olhos de inimigos a facão e mergulhar os desafetos em tonéis de água fervendo para ver o couro despregar da carne, começou a perceber que o ciúme que sentia por aquela baixinha inteligente e sapeca era real e tinha de fazer alguma coisa para tirá-la daquele bordel antes que um dos desafetos o fizesse e ele ficasse desmoralizado.
Pensou em contar a amada o que estava sentindo, seus planos de tirá-la dali e levá-la para morar na fazenda com as “criadas”, mas sabia que amada tinha orgulho de ser independente, administrar o cabaré. Que aprendeu a se virar sozinha e ser dona do seu próprio destino…
Pressentindo a intenção do “seu homem”, Maria Bago Mole deu-lhe um beijo demorado na boca, pegou-lhe o trololó para deixá-lo duro novamente, escanchou suas coxas nas coxas dele e lhe confidenciou ao ouvido:
– Meu amor, deixemos para conversar sobre isso depois. Por enquanto vamos ficar pensando só em nós dois sem pensar no amanhã. Disse isso e adormeceu amaciando os pelos do peito do “seu homem”…