Havia num determinado quartel muitos recrutas aspirantes a tão sonhada carreira de soldado, subtenente, cabo, sargento, tenente, suboficial, dentre outras patentes mais elevadas.
Todas as vezes que os recrutas se encontravam no pátio para fazer as devidas continências, ouvir o discurso do superior, cantar o Hino da Bandeira e o Hino Nacional, um por um, os recrutas iam perguntando entre eles:
– Comesse filé já hoje? Já comesse filé já hoje? E os outros respondiam: Sim! Sim! Sim! Sim!
Essa cantilena se repetia todos os dias, o que deixava o capitão ouriçado, sem entender patavina nenhuma daquele linguajar de gueto.
Um dia o capitão amanheceu emburrado, virado num tamanduá-açu cheio de manguaça, enquanto reunia os recrutas no pátio para cantar o Hino da Bandeira e o Hino Nacional, ouvia-os repetirem as mesmas ladainhas:
– Comesse filé já hoje? Já comesse filé já hoje?
Quando terminou a greia do “já comesse filé já hoje”, o capitão, com voz de trovão e cheio de moral, curioso para saber o significado daquele linguajar de malocas, perguntou ao último recruta que ficou no pátio:
– E você aí, rapaz, já comeu filé já hoje?
Surpreso com a pergunta embaraçosa do capitão e com medo de omitir a verdade e depois ser repreendido por ele, o recruta respondeu:
– Capitão, o filé sou eu!
Discreto, o capitão fingiu que nada entendeu. Mandou o recruta acompanhar os outros noviços na limpeza do capinzal, e advertiu-o:
– No mato, só tenha cuidado com a urtiga brava ou a cobra jiboia. A primeira coça muito e a segunda, pica e mata! Não é feito filé que só deixa o cabra mole!