Este texto foi escrito dois meses atrás por mim e pelo estimado amigo e profundo conhecedor de filmes de faroeste, D.Matt, para ser incluído num projeto que estou elaborando sobre O Cabareth de Maria Bago Mole.
Tivemos a ideia de fazer um texto citando como homenageados alguns colunistas desta Gazeta Escrota, O Cabaré do Berto, alcunha alcunhada por Jesus de Ritinha de Miúdo. Colunistas esses que são alvo da nossa admiração e também como leitores assíduos dos textos que escrevo para este Jornal. Assim sendo, criamos algumas situações, geralmente cômicas e que seriam inseridas no texto final sobre o Cabareth de Maria Bago Mole, ainda em estudo.
Pedimos desculpas, por não termos pedido permissão para citá-los, mas como poderão ver, todos são alvos da nossa admiração e amizade. E que fique registrado aqui que todos que fazem parte da confraria da Besta estão homenageados, desde colunistas a comentaristas. Todos. Os que já fazem assentos e os que estão por vir.
Vamos começar do início do começo como diria a sábia Dilma Pinguelão, a mulher que até na hora de gozar tem dificuldade de distinguir entre o clímax, as preliminares, a histeria e o gozo. Entramos e fomos advertidos, cautela: vão com calma porque todos “eles” estão por aqui, são todos nossos amigos e colegas.
Certo, certo, prometemos não inventar nada, vamos somente narrar o que acontece. Fiquem tranquilos.
Demos uma rasante pelo ambiente e fomos direto ao Bar, onde encontramos o Altamir, mestre não só de cinema, mas também grande conhecedor de bebidas em geral, que nos serviu de imediato uma aguardente que tinha dentro da garrafa um grande escorpião vermelho. Pensamos em recusar, mas o mestre nos disse com firmeza: Bebam e me digam o que sentiram daqui a uma hora do umbigo para baixo!
Ouvimos risadas de algumas meninas rindo e fazendo poses para o poeta Jesus Ritinha de Miúdo, que declamava seus versos e prosa e com aquela aparência de galã de novela, deixando as meninas todas muito ouriçadas.
Adiante encontramos sentado na melhor poltrona da casa o coronel José Ramos, o qual, como amigo do coronel Bitônio Coelho, era merecedor de alguns privilégios. Estava ele cercado das meninas mais sensuais e mais assanhadas, que riam muito, faziam largos gestos esfuziantes e algumas na sua assanhadença, levantavam a saia até o pescoço, deixando à mostra o seu cavanhaque de baixo ventre, bem aparadinho, uma graça.
Dizemos cavanhaque de baixo ventre, porque a Divina Diva Dercy Gonçalves o definiu assim em uma entrevista e como todos sabem o testemunho da sábia Dercy é como lei.
As risadas provinham do bom papo do coronel José Ramos que contava para elas as suas aventuras no sertão do Ceará quando ainda miúdo, e caçava sabiás e rolinhas, as quais eram assadas no espeto e que complementavam o seu dicumê na época, que dia sim e dia não, era sempre feijão com feijão e nos domingos, feriados e dia santo também.
Hoje em dia o Coronel José Ramos é uma grande personalidade no Estado do Maranhão e escreve magníficos artigos de pura poesia em prosa, para um jornal de Recife, contando suas aventuras do passado, antes de vir morar no Estado sarneyzado e estuprado do Maranhão.
Lá no fundo, num cantinho quase escondido vimos uma figura que nos pareceu bastante familiar.
Ficamos em dúvida se era mesmo ele, parecia com ele, mas não podemos confirmar. Essa pessoa estava admirando a imagem de um santo pretinho que identificamos como São Benedito. Ele falava baixinho, mas conseguimos ouvir algumas palavras que dizia…, “Obrigado meu santo.” “Mesmo pretinho, você me deu muita sorte!” “A história que escrevi sobre a sua prisão é um sucesso até hoje!” “Não contei para ninguém o que vossa santidade estava fazendo no Bordel de Palmares, só podia ser coisa santa!” Para quem duvida eu digo como aquele monarca inglês “honi soit qui mal y pense.”
Saímos de mansinho, sem nos fazer notar, pois quem somos nós para enfrentarmos tamanha personalidade. Assuero ficou com a mesma opinião, depois que assumiu a contabilidade do cabaré!
Vislumbrei em uma sala que servia de escritório, a figura do nosso Brito, que prometia para Maria que um dia iria escrever sua biografia. Não dissemos nada, mas pensamos: coitada da Maria, ele também nos prometeu a biografia da Carlota Joaquina e até agora, neris de pitibiriba. Mas eu sei que ele vai escrever, pois o professor é muito ocupado e quando escreve qualquer texto, arrasa como sempre.
No corredor sempre à esquerda demos de cara com o Goiano tomando seu “dalmore”, e tentando convencer a uma das “meninas mais velha” a “Zeferina Topa Tudo” já pra lá de cinquentona, que nunca recusou serviço e topava qualquer bagulho, sem cerimônia.
Mas continuando, o Goiano dizia para ela que esse Cabareth existia graças ao Lula que sempre defendeu o direito de todos de praticar a putaria no Brasil e que era muito instruído nesse assunto, mesmo tendo sido gerado por uma mulher que nasceu analfabeta. Caso raríssimo no nordeste.
Junto ao aparelho de som, advinha quem estava lá? Encontramos o nosso estimado Peninha disfarçado, com uma peruca igual a de Beethoven. Sacudia as madeixas capilares e fingia-se de surdo quando o pessoal reclamava do som muito alto. Isto porque ainda era muito cedo, perto da meia noite, pois quando o relógio passava das três horas de madrugada, para limpar o ambiente e esvaziar o Cabareth, ele começava tocando em alto som, a Tocata e Fuga em Ré Maior do deus das músicas J.S.Bach. O pessoal se assustava e muitos saiam de cuecas, com as calças enroladas no pescoço, pois estava chegando a hora da verdade.
De repente, dava para ouvir muitas risadas vindas dos aposentos de Maria, muito curioso metemos o bedelho e chegamos a tempo de ouvir o Coronel Bitonio Coelho contar a piada do português que foi sem saber, a um bacanal de gays. A certa altura o portuga reclama em altos brados: “Pára tudo! Pára tudo!” Acendam as luzes. Vamos botar ordem nesta bacanal, assim não dá, já me passaram a mão na bunda três vezes e eu ainda não comi ninguém. Estava com toda razão.
Tinha alguns babacas que estavam fazendo zoeira, dizendo em altos brados que tinham bebido cachaça com escorpião e que estavam sentindo fortes desejos sexuais às avessas e que estavam pretendendo dar mil trepadas naquela noite.
Chegamos para o Altamir e perguntamos se aquela bebida sempre provocava tal estardalhaço?
– Besteira e babaquice, ele disse. Com um exemplar do seu livro “NO ESCURINHO DO CINEMA” na mão, folheando e cheirando. Havia saído do forno!
O Altamir olhou sério para nós e perguntou: Vocês estão sentindo algo diferente?
Respondemos que não estávamos sentindo nada diferente.
Ele então nos disse: Tudo é o resultado da mente ilusória, não tem nada disso. Esses caras idiotas se deixam iludir com qualquer coisa. Vou contar para vocês um segredo.
O escorpião é de plástico.
Depois dessa resolvemos nos mandar e ao sair vimos um caminhão meio banguela carregado de cocos verdes e pensamos: será que é o Sancho Pança que veio e vai entrar também?
Vamos esperar, quem sabe?
Para nossa sorte ele desce do caminhão e se mostra todo alegórico com uma peruca pierrot na cabeça, tomando um licor “san basile”.
É hora da festa!