Para Dr.º José Paulo Cavalcanti Filho, que escreveu “Casamento é para Sempre,” crônica antológica publicada no livro SOMENTE A VERDADE, Editora Record/2016.
Ambos haviam saído da adolescência quando se conheceram e começaram a namorar. Num piscar de olhos o amor disse sim e tudo começou como num conto de fadas à Marie-Catherine d’Aulnoy, no final do século XVII.
Não havia tempo ruim para os dois enamorados. Qualquer incidente bizarro do cotidiano, por desimportante que fosse, era motivo para rirem e mostrarem ao mundo que estavam felizes. Coisas da juventude.
Depois de três meses de namoro um e outro resolveram noivar. À moda antiga, românticos, os dois passaram em frente a uma loja de venda de alianças e ele perguntou-lhe qual a que ela mais se identificava. E ela, feliz da vida, indicou uma da vitrine, simples. Ele a comprou e ambos ficaram noivos ali mesmo dentro da Loja Alianças sob o olhar emocionado da atendente.
Depois do noivado, começaram a organizar a vida. Compraram enxoval e demais utensílios domésticos de uso diário para uma casa de um casal que se pretende organizada.
Menos de um ano de noivado, estavam os dois pombinhos de frente para o Juiz dizendo sim à liberdade de escolha; e um mês depois, para a felicidade da família materna, estavam no altar da igreja, de frente para o pároco, prometendo estar com a amada na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, amando-a, respeitando-a e sendo-lhe fiel em todos os dias da vida, até que a morte os separasse…
Dois anos depois de casados, sem filhos, sem motivos, sem desentendimentos, ambos resolveram separar. Ela foi para um lado em busca não se sabe o quê e ele também. Depois, ela arrumou um novo companheiro e resolveu com ele ficar, sem se casar. Ele fez o mesmo; porém casou-se.
Vinte e cinco anos depois de se separarem, ambos se reencontraram. O amor e a admiração que um nutria pelo outro não mudou em anda. Ela com dois filhos, viúva; e ele com dois filhos, casado. O mesmo sorriso, a mesma admiração, o mesmo prazer da juventude de estarem juntos, coladinhos, emergiram nos corações de ambos, como a lua após o sol se pôr. Abraçaram-se, beijaram-se, choraram. Curiosamente ele com ela abraçado, como no passado, as lágrimas correndo dos olhos, perguntou-lhe:
– Amor (ainda posso lhe chamar assim?), se a gente se amava tanto. Gostava tanto a ponto de até hoje o amor continuar vivo, latente, latejante, por que a gente se separou?
E ela, fingindo não lhe ter ouvido nada porque estava feliz o abraçando, aplicou-lhe um beijo demorado e sussurrou-lhe no ouvido:
– Era porque nós dois éramos dois adolescentes irresponsáveis; mas hoje somos maduros e eu estou viúva e você casado!
Ela o beijou mais uma vez e se foi sem olhar para trás, como a dizer: não dou esperança a você para não destruir seu lar, e tocou em frente sem olhar para trás com o coração partido de emoção e as lágrimas caindo-lhe dos olhos.
Ele percebeu que ela estava chorando, embora não demonstrasse. E ele chorou também como a dizer: “Por que é que a vida tem de ser assim?”
Até hoje cada um segue seu Destino, mas o coração sofre o amor desfeito.