Estação ferroviária de Carpina, construída à época do cabaré de MBM
Era dia de sábado chuvoso com muito vento por toda região da Zona da Mata de Pernambuco. No céu os trovões clareavam o cabaré com seus raios assustadores, iluminando os quartos onde os homens saciavam seus instintos sexuais em cima das ‘meninas’ quais uns porcos chafurdando no lixo.
Nesse dia não estava prevista a vinda do coronel Seu Bitônio Coelho para rever sua amada, MBM, que não a via havia duas semanas, embora tivesse morrendo de saudade e planejasse convencê-la a largar o cabaré para ir morar com ele na fazenda grande, cheia de conforto e sendo bajulada pelas governantas e protegida pelos capatazes.
Desde cedo chegou ao cabaré um dos fazendeiros habituês da redondeza que, como sempre fazia quando chegava, sentava numa mesa reservada, esperando uma das ‘meninas’ que por ela estava apaixonado descer dos aposentos para com ela ficar e fazer-lhe um convite para ir morar com ele após o calamengal.
Maria Bago Mole já havia sacado as pretensões do homem e não tinha ficado nada satisfeita com a ideia do pretendente, pois a ‘menina’ estava ali para seu “comércio cabarelístico”. E Seu Bitônio Coelho, há duas semanas, quando estava com MBM no cabaré, fazendeiro experiente nas quebradas da vida, também já havia percebido as intenções do homem pela ‘menina’, desconfiando que era com a sua amada. Porém esta o demoveu da ideia maluca dizendo que o único homem da vida dela era ele. E, como sempre o fazia, beijava-o demonstrando seu carinho e amor incondicionais.
Cansado de esperar a descida da ‘menina’ e sem saber que ela estava fufurufando com outro, aproveitou o descuido da cafetina e subiu a escada para convidá-la a beber com ele e depois ir para a cama “furar o côro” até o cu do amanhecer. Quando chegou ao quarto não esperou que ela abrisse a porta e foi logo metendo o pé. Quando esta abriu, o homem, possesso e doido de ciúme, percebendo que outro estava comendo sua pretendida, cego de ódio e sentindo-se “traído”, puxou a carabina da cintura e deu dois tiros no frinfa do comedor, atingindo o boga em cheio, ferindo também a ‘menina’ que precisou do socorro de Maria Bago Mole para não morrer.
Possessa de raiva por nunca ter enfrentado situação semelhante no ambiente, e ameaçando chamar Seu Bitônio Coelho para prender o assassino, MBM resolveu enfrentar o homem, sozinha, como fazia em outras ocasiões confusas do cabaré. Chamou o comissário de araque da cidade, Dr. Adamastor, contou-lhe o acontecido e, este chegando ao local do crime, tomando conhecimento quem era o matador, murmurou no ouvido da cafetina:
– Não fale para ninguém o que aconteceu aqui. Cuide do ferimento da “donzela” e pronto. Quem morreu é um Zé Ninguém que não possui nem um caixão para ser enterrado, e quem matou só não tem dinheiro para comprar a morte porque ela não cede, porque o resto!… Deixe-me que cuido do defunto!…
Pela segunda vez Maria Bago Mole, acostumada enfrentar e apaziguar todos os conflitos provocados pelos homens dentro do cabaré por “disputas das ‘meninas”, sentiu medo na vida e pela terceira vez sentiu como a ausência de Seu Bitônio Coelho lhe fazia falta.
E, olhando para o céu na frente do Cabaré, murmurou para si mesma:
– Meu Deus, cadê aquele homem que não aparece numa hora dessas?…