Para Altamir Pinheiro
Espaço da Aeronáutica no Recife
Início dos anos setenta e, junto com ele, a espetacular disseminação midiática de que havia sido lançado nos Estados Unidos, três anos antes, um filme de ficção científica, produzido e dirigido pelo genial cineasta Stanley Kubrick, que estava deixando todos os aficionados da Sétima Arte em polvorosa com sua temática cinematográfica!
Segundo os críticos da época, nacionais e internacionais, todos eram unânimes em afirmar que o filme “2001 – Uma Odisseia no Espaço,” convergia com todos os elementos temáticos da evolução humana, existencialismo, tecnologia, inteligência artificial e vida extraterrestre de forma jamais explorada pelo homem na telona.
Coisa de louco mesmo!
Era notável por seu realismo científico, efeitos especiais pioneiros, imagens ambíguas que eram abertas a ponto de se aproximarem do surrealismo, som no lugar de técnicas narrativas tradicionais e o uso mínimo de diálogo.
Nessa época, um bando de recrutas da Aeronáutica no Recife tomou conhecimento da existência do tão propalado filme e se puseram a assistir a ele de qualquer forma e, no dia da estreia, lotaram o cinema ao ponto de, não existindo mais espaços, puseram cadeiras extras pelos corredores de forma que, quem entrasse não saia e quem saia não entrava mais de tão lotado que o cinema ficou.
Começa a projeção e todos de olhos atentos para saber que gota serena de filme era aquele que estava chamando a atenção do mundo todo por sua revolucionária técnica cinematográfica.
Antes de quinze minutos de projeção já se via no olhar da plateia uma decepção sem tamanho e, passados mais dez minutos e nada de excepcional acontecendo, os jovens recrutas foram deixando a sala de projeção ao ponto de, chegando na metade do filme, só havia sete recrutas, entre eles o jovem e curioso Macena que, batendo o pé, bradou para si mesmo: “Eu vou até o fim dessa porra para saber o porquê de tanta badalação favorável a um filme praticamente mudo.”
Terminado o filme todos os sete recrutas saíram calados, zonzos, sem dar uma palavra, em verdadeiro transe, tamanha fora a viagem. Foi quando um recruta que havia saído no início no filme se aproximou do jovem Macena e, ansioso, perguntou:
– E aí negão, aquela bosta presta ou não presta. Porque eu não entendi foi porra nenhuma por isso sair logo. Eu nunca vi um tão perfeito “nem fode nem sai de cima”. Que filme merda da porra!
E o jovem Macena, já arretado com o colega e com a cabeça ao ponto de explodir, que parecia até ter comido um caminhão de cogumelo de bosta de cavalo e fumado dois baseados estragados, respondeu:
– Meu irmão, o filme é cabeça. Foi bom tu teres saído porque como é que tu, um cabeça de pica, irias entender um filme que a resposta só te chegará daqui a trinta anos? E foi embora para o quarto sem dar mais nenhuma palavra com o colega. Mas, antes de ir, voltou atrás e disse:
– Olha aqui, Negão, o filme é para quem tem cérebro e não miolo de pote na cuca.