Quando a volante do tenente João Bezerra da Silva, por ordem do então presidente Getúlio Dornelles Vargas, pôs fim ao cangaceiro Lampião, Maria Bonita e outros malfeitores na Grota de Angicos, (SE), no dia 28 de julho de 1938, muitos cangaceiros que faziam parte dos subgrupos se dispersaram, fugiram caatinga adentro e nunca mais se ouviu falar deles.
Nessa época o Cabaré de Maria Bago Mole estava de vento em popa, conhecido por toda Zona da Mata Sul e Norte de Pernambuco, graças à propaganda boca a boca feita por todos que frequentavam o distintivo. Comentava-se que a cafetina possuía uma presença de espírito incrível que magnetizava todos que chegavam àquele açougue de carne mijada.
Todo dia era dia de frege no Cabaré, ideia de Maria Bago Mole, quando percebeu que havia muitos homens a procura de fêmeas, vindo de todos os rincões do Nordeste para trabalharem na empresa alemã Great Western do Brasil, responsável pela expansão da Rede Ferroviária do Nordeste, sobretudo a estação do Brum, que ligava o Recife à cidade de Limoeiro e adjacências.
Era um dia qualquer, e o sol já vinha desvirginando a madrugada, quando apareceu um casal de desconhecido vindo de lugar incerto e não sabido querendo falar com a dona do estabelecimento que, àquela hora estava ocupada com as meninas organizando a desordem deixada pela festividade do dia anterior.
Nesse momento o casal de desconhecido, fedendo que só gambá, se dirige à Maria Bago Mole e pergunta-lhe se já tinha ouvido falar nos cangaceiros de Lampião que tocavam o terror por quase todo Nordeste: Bahia, Sergipe, Alagoa, Pernambuco e que tiveram de abandonar o bando porque o chefe havia tombado morto numa emboscada e não havia mais sentido seguir naquela vida de perseguição, fome e morte.
A cafetina os ouviu atentamente. Atendeu-os dando alimentos e dormida por um dia e lhes pediu que no outro dia arrancassem do lugar a procura de outro espaço para se estabelecer e morar antes de serem descobertos pelos homens da volante que àquela altura poderiam estar os caçando como gado para os abaterem, e não gostaria que a carnificina ocorresse no seu cabaré.
Firme em suas convicções, prudência e experiência de cabaré, disse ao casal:
– Olhem, meus queridos, não lhes conheço. Também não desejo saber de onde vieram nem para onde vão, mas de uma coisa tenham certeza: não é bom ficarem aqui. Minha casa não é de hospedagem; é de diversão. A única ajuda que posso lhe oferecer é uma noite de descanso e alimentos para seguir viagem. Há espaço para todo mundo nesse mundão de Deus.
No outro dia de madrugada, como havia prometido, o casal, que se dizia ex cangaceiros do bando de Lampião, fora embora como havia prometido à cafetina, agradecendo-lhe a hospedagem e os mantimentos doados.
Dias depois a cafetina tomou conhecimento, por meio de um comissário de polícia da região que frequentava o cabaré, que uma volante, vinda de Sergipe, houvera encurralado um casal de ex cangaceiros e morto dentro de uma igreja na circunvizinhança. Por sorte, nenhum fiel ficou ferido.
Maria Bago Mole havia previsto esse desfecho e repassado para as meninas.