Empregada doméstica: Retrato de Georgina Albuquerque
O nome dela é Maria de França, mas a família a chama nordestinamente por “ia”, diminutivo carinhoso de Maria Francisca.
Assim que chegou aqui nos anos oitenta, vinda do interior de Vitória de Santo Antão, com apenas treze anos de idade, empregou-se como doméstica. Dentro da mochila feita de estopa trouxe um bilhete “escrito” pela mãe com recomendações à patroa: “Tenha cuidado com minha fia! Não deixe ela sair só. Ela ainda é virge”! “Se não, ela pode se ‘perder’ com um qualquer e embuchar.”
Antes de vir para a cidade grande, “ia” provou, na palha da cana dos engenhos vitorienses – criança chupando dedo para espantar a fome -, de todas as agruras que a vida contempla àqueles que não nascem em “berço esplêndido.”
Durante esse tempo que vive por aqui, já trabalhou em cinco empregos como doméstica, tendo aprendido a maior lição de sua vida nos relacionamentos empregatícios com os patrões: Ver, ouvir, ficar calada e nunca comentar com ninguém a vida alheia. Essa lição ela trouxe de berço, inspirada na mãe.
Mas existe uma coisa que tira “ia” do sério: Quando ouve um tabacudo puxar o saco de Lula: “Que foi o pai dos pobres, tirou o povo da miséria e o país viveu em abundância durante seu reinado, com empregos e riquezas para todos!”
Certa vez, impaciente com um ajudante de pedreiro que estava na fila de uma casa lotérica se vangloriando porque Lula lhe tinha dado a oportunidade de comprar uma televisão de quarenta polegadas em cores, retrucou:
– “Meu sinhor, Lula é tão safado que está preso e diz que é inocente!” Diz que criou empregos e deu riqueza a todo trabalhador!” “Só se for pras quengas dele!” Aquele cabra safado enganou todo mundo com aquela cara de cu de quati!” E o pior é que gente como o sinhor acredita nele! A única coisa que aquele ladrão safado fez para os pobres foi criar essas merdas de “Minha Casa, Minha Dívida”, “Bolsa Miséria”, para as mulheres pobres meterem e parirem filhos a doidado! E o sinhor vem dizer umas bostas dessas! “Só tem duas “crasses” que gostam de Lula: Os que roubam a gente e os parasitas, que não fazem nada e a gente trabalha para sustentar eles!” “E os loucos de jogar pedra.”
“Acorde, meu sinhor!”
Percebendo que o homem ficou mudo, pôs o capacete na mão e não disse mais nada, ela resmungou para si mesma:
“O Brasil só está assim porque o povo se iludiu com esse cabra safado por mais de quatorze anos e ainda tem gente reclamando por que o outro que entrou não fez nada nesses três meses para consertar as merdas que ele deixou!”
“É PHODA!”