Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 11 de agosto de 2020

SEU JUVINO E A COSTELA DE ADÃO

 

SEU JUVINO E A COSTELA DE ADÃO

 

Cartomante de Nicolas Régnier, pintor italiano (1591-1667), a semelhança de Tia Jurema

Seu Juvino era um setentão que exteriorizava sua angustia com a vida em bate papo com os amigos, apesar de ter uma companheira pela qual dizia ser apaixonado. Era-lhe visível a solidão de estar acompanhado, mas só. Todo dia lamentava não ter o aconchego da parceira na cama para abraçar-lhe o corpo, apertar, beijar, acariciar, tocar-lhe as partes sensíveis e depois viajar pelo infinito da Costela de Adão com as mãos espalmadas amaciando as curvas lombares, até o prazer explodir.

Angustiado de ver todos os dias a companheira deitada com as ancas roliças para cima, cobertas por uma camisola de seda transparente, dormindo e sem poder fazer nada porque ela o rejeitava se dizendo cansada do trabalho diário, Seu Juvino resolveu procurar uma cartomante para passar a limpo aquela indiferença.

Por meio do seu grande amigo de jogar conversa fora, Tião Pé de Mesa, soube que havia uma cartomante de nome Tia Jurema que era o cão chupando manga em quiromancia. Arranjava solução para todos os problemas conjugais, carnais, chifrais e sexuais. Com as cartas e búzios às mãos, ela prometia trazer o homem ou a mulher amada de volta. Estimular a libido, intumescer o que estava mole, descobrir quem estava traindo ou comendo quem…

Doido para ter a tesão da mulher de volta para as sacanagens carnais, Seu Juvino perdeu o acanhamento e procurou a cartomante Tia Jurema, indicada pelo amigo. Antes de adentrar nos aposentos sombrios do quarto onde se encontrava a mulher misteriosa, ele teve de passar por uma “triagem” numa anti-sala do terraço da casa onde a atendente lhe perguntava o porquê da visita. Embaixo da escrivaninha da secretária havia um microfone que levava todo o “diálogo” das partes à sala ao quarto místico da cartomante, de modo que, quando o “paciente” entrava a quiromante já sabia o que o trouxe a li e como ludibriá-lo e arrancar-lhe a grana que quisesse.

Depois que Seu Juvino confessou todos os seus segredos e insatisfações com a companheira a atendente o ordenou se deitar na espreguiçadeira que estava ao lado, que relaxasse um pouco, pois em breve seria chamado. Tia Jurema estava em “transe” para recebê-lo com todo carinho.

Passados exatos trinta minutos, a atendente veio até Seu Juvino. Pediu-lhe que a acompanhasse e o deixou no quarto com a cartomante. Esta o mandou sentar e sem lhe tirar os olhos, puxou o véu que cobria o rosto e começou a trapacear as cartas que tinha às mãos e as jogou na mesa espalhadas, sobre o olhar curioso do “paciente.”

– Vejo pelas cartas que o senhor tem um grande problema com sua companheira por falta de sexo, não é mesmo?

Seu Juvino balançou com a cabeça que sim, e a cartomante prosseguiu:

– Também vejo pelas cartas que o senhor tem uma tesão enorme por ela e ela se diz cansada e sem apetite sexual, não é mesmo?

Mais uma vez ele balança com a cabeça que sim, e a cartomante percebendo a chance de ganhar muito dinheiro em cima da inocência de Seu Juvino, “prescreve” alguns chás de ervas milagrosas, passa por todo seu corpo uns galhos de arrudas e manjericão, inventa uns salamaleques sem pé nem cabeça, bota as mãos dele em cima dos peitos dela, senta-lhe no colo, faz-lhe uns cafunés e pede que ele retorne à próxima sessão de descarrego para a cura definitiva da indiferença. E acrescenta:

– Fique em abstinência sexual até semana que vem para a gente fazer uns testes ao vivo aqui e eu curá-lo definitivamente esse fogo.

Após sair do quarto sinistro, Seu Juvino não estava atordoado feito Camilo quando encontrou Rita morta e ensanguentada, como no conto de Machado de Assis, mas pensando nos peitos da cartomante Tia Jurema.


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