Amadeus e Tadeus eram dois primos quase inseparáveis. Cresceram juntos no bairro dos Milagres, onde se concentrava o maior número de cabaré e terreiro de umbanda no distrito de Lagoa do Carro, PE.
Certa vez, um pai de santo, que incorporava a “entidade estudante”, levou para o “terreiro” uma revista Playboy com a capa estampando uma morenaça nua com uma tarja preta cobrindo “o boca de macaco”. Os primos ficaram intumescidos com o “boca” da cabocla, mas não tiveram coragem de perguntar ao catimbozeiro onde ele havia comprado aquela revista!
Astuciosos e só pensando na caverna de “Blaus Nunes” da morena, no dia seguinte eles foram a pé até a única banca de revista que havia no centro distrital e perguntaram ao livreiro onde encontrar tal periódico. À sua maneira, e com os olhos brilhando, eles fizeram a descrição daquele monumento feminino nu estampado na capa da revista que os deixou alucinado, e o livreiro lamentou que tal publicação não tivesse chegado ali ainda. Que os únicos periódicos que recebera da metrópole tinham sido o Diário de Pernambuco e as revistas em quadrinhos.
Pensando em voltar à banca outras vezes para comprar a tão alucinante revista, os primos compraram um Diário de Pernambuco e prometeram ao dono da banca voltar lá todo mês. Promessa feita; promessa cumprida.
Um dia, depois de muitas idas e vindas à banca, e já familiarizado com o dono, receberam a tão sonhada notícia de que a “encomenda” havia chegado, mas que estava proibida a venda a adolescentes. Logo na frente havia o carimbo da censura: “CONTEÚDO LIBERADO SÓ PARA ADULTOS QUE TENHAM MAIS DE VINTE E UM ANOS!”
Malandros e espertos, os primos, fascinados com aquela imagem exuberante da mulher pelada, “cantou” logo o revisteiro, prometendo o triplo do valor da revista e segredo absoluto de não contar a ninguém, até porque iriam comprar outras que chegassem à banca.
Ansiosos para chegar em casa com a revista enrolada na camisa, trancaram-se no quarto sem a mãe notar. Sentaram-se na cama de campanha. Jogaram o Diário no canto do quarto. Folhearam a revista de cabo a rabo e ficaram tão deslumbrados e magnetizados com as fotos de Xuxa nua toda depilada, que não demorou uma hora que cada um já havia tocado três punhetas!
Uma semana depois de terem comprado a revista e ficarem muito tempo trancados no quarto, dona Juvência, a mãe do adolescente Amadeus e tia de Tadeus, percebeu uma indisposição e palidez estranha no filho e no sobrinho e passou a “investigar” o que estava acontecendo.
Certo dia, percebendo que os dois estavam a sós no quarto, com a porta escorada com um tronco de mulungu, pôs o ouvido para escutar o zunzum que vinha lá de dentro dos dois pubescentes:
– Um, dois, três, e tome uma! Um, dois, três, e tome duas! Um, dois, três, e tome três! Um, dois!…
Cabreira e sem entender o “muído” que vinha lá de dentro, danou o pé direito na porta e quando esta caiu, Dona Juvência não acreditou no que estava vendo! O filho e o sobrinho quase desmaiando, com os olhos revirados e, à frente deles, a revista Playboy aberta com as fotos de Xuxa nua como veio ao mundo!
– Meus Deus do Céu! Eu não acredito no que estou vendo! Onde vocês arranjaram essa perdição, meninos?! É por isso que vocês não comem mais, não estudam mais, não saem mais! Só vivem dentro desse quarto! E, no gesto brusco, Dona Juvência pegou a vassoura de marmeleiro, tacou no espinhaço dos dois, tomou a revista e prometeu entregá-la ao esposo, seu Virgulino Ferreira.
Inconformados por não poderem se divertir com as mãos vendo as fotos de Xuxa nua, Amadeus, filho de Dona Juvência, alertou:
– Tenha cuidado em vovô não! Se ele ver essa revista vai trair a senhora com a mão!
E saíram correndo para o meio da rua, trôpegos, como dois bêbados, com medo da vassoura de Dona Juvência!