Corria os anos oitenta quando João, matutinho da Zona da Mata Norte de Pernambuco, passou no vestibular de Engenharia Civil da UFPE e veio morar na Casa do Estudante.
Acostumado com a vida mansa do campo com mais liberdade que o vento, qual um potro no curral, João, assim que chegou à metrópole, se deparou com um ambiente pesado à sua formação campeira, avesso aos seus princípios e valores rurais. Tudo naquele ambiente do campus era diferente da realidade vivida na roça.
Não demorou muito e a solidão se lhe apossou. A saudade de casa doía-lhe na alma e ele procurava terra nos pés e não encontrava.
Com poucos meses de residência, a saudade de casa e a solidão apertaram o seu peito, o vazio tomou conta da alma, a alegria e esperança do jovem interiorano sonhador deram lugar a mal-estares e angústias permanentes.
De início, João começou a faltar aulas, perder cadeiras e depois se juntou a uns “amigos” que viviam o mesmo “banzo” e começaram a sair para beber, “afogar o ganso”. Onde houvesse um puteiro ou boteco aberto em Engenho do Meio ou Cidade Universitária, lá estavam João e os amigos de copo a se divertirem como uns solitários na multidão, até o cu do amanhecer.
Toda noite era uma farra. E a coisa foi ficando pior quando não havia mais dinheiro da mesada para pagar a bebida consumida. Muitas e muitas vezes levaram cacetadas do dono do bar por não terem grana para pagar a bebida consumida. Deixavam como pindura as carteiras de estudantes, carteiras de identidades, isso quando o dono do boteco não lhes tomava a camisa, a calça, os sapatos ou os livros emprestados da biblioteca pública.
De tantas noites de farras com os “amigos de copos e de cruz”, em João começou a surgir um novo indício de sintoma psicológico que os amigos logo apelidaram de “rim de tanger”, que se manifestava depois da ingerência de um litro de Drurys e um tubo de Pitú.
Com o rabo prostrado na cadeira, o dia amanhecendo, e alguns “amigos” de copo se retirando aos trancos e barrancos, e outros caindo na sarjeta, quanto mais se chamava por João para ir, mais ele relutava com os olhos de um lunático, segurando os óculos com medo que caíssem e dizendo para o dono do bar, que já estava puto àquela hora da madrugada:
– Mestre, cadê a cachaça?! Mestre, cadê o drurys?! Só saio dessa porra quando o whisky aparecer! Eu quero beber mais – dizia e baixava a cabeça de tão bêbado.
Do outro lado do balcão, o dono do bar, já puto da vida e com sono, pegava uma tabica, sentava o cassete no lombo dos bêbados, empurrava-os da cadeira na valeta, jogava-lhes um balde de água de esgoto no lombo e dizia:
– Vão atanazar o cão, seus felas da puta! Vão perturbar na casa do caralho, magote de filos de rapariga!
E se mandava para casa, deixando o desmantelo no bar.