Os idiotas vão dominar o mundo pela quantidade, e não pela qualidade, porque são muito, dizia o gênio de Nelson Rodrigues. Assim são os sertanejos que hoje mandam no mercado de forró.
Segundo o crítico musical José Teles, o forró autêntico está perdendo seus espaços na cultura forrozeira. O interior está destruindo tudo na base do toma lá dá cá da grana dos cofres municipais. Sua áurea de forró pé de serra virou lixo, transformando o forró em trilha sonora de última categoria.
As programações juninas das principais cidades do interior ratificam que o forró como trilha do São João é algo que caminha pra se tornar passado. Basta ver a programação do maior deles em Pernambuco, o de Caruaru. Nada contra a grade junina da cidade em particular. Ali apenas se segue o modelo estabelecido em todo o Nordeste, onde empresários poderosos impuseram seus artistas às autoridades competentes, responsáveis pelas contratações.
Não foi um pedido da população. No Festival de Inverno de Garanhuns oferece-se uma grande variedade de música, e o público prestigia.
No mês de junho na região inteira predominam artistas badalados na TV, e nos sites e blogs de fofoca, impulsionados pelos milhões de plays nas plataformas de música digital. Atraem enormes plateias, mais pela fama do que pela música, escalados para o palco mor da festa. Enquanto isto, poucos dos nomes mais importantes do forró contemporâneo têm o privilégio de cantar neste polo de estrelas sertanejas, piseiros, fuleiragem e afins.
Para citar alguns, Maciel Melo, Flávio José, Alcymar Monteiro, Silvério Pessoa, Santanna, Irah Caldeira, Cezzinha, Nádia Maia, Petrúcio Amorim, Assisão, Nando Cordel, tudo gente que faz forró de verdade, estão na programação do Alto do Moura, ou seja, o gênero virou música alternativa. A massa vai mesmo é ver as estrelas, de cachês polêmicos, no Polo Luiz Gonzaga, o mais concorrido nos festejos juninos da cidade.
Este tratamento diferenciado faz com que, os forrozeiros responsáveis pela linha evolutiva da música de Luiz Gonzaga (tomando emprestada uma expressão de Caetano Veloso, em relação à bossa nova), sejam vistos como “inferiores” em relação às duplas, grupos, intérpretes, campeões dos Spotfy da vida, que aparecem no Fantástico, no Huck, em Serginho Groisman, Fátima Bernardes e quejandos.
Daí o contraste entre Petrúcio Amorim, que tem uma obra sólida, referencial, com mais de três décadas de estrada, cantando no Alto do Moura (que acaba sendo o polo, culturalmente, mais importante do São João caruaruense), e Zé Vaqueiro, 23 anos de idade, pernambucano de Ouricuri, estrela do Polo Luiz Gonzaga. Ele estourou em 2017, com sucessos que ostentam mais de cem milhões de plays nas plataformas de músicas para stream. Seu estilo é classificado como forró piseiro, segundo a Wikipédia. Piseiro é um ritmo de muito sucesso, mas não tem a ver com forró. Mas está derrubando o munguzá dos que realmente fazem forró.
Petrúcio Amorim – Tareco e Mariola