Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Correio Braziliense segunda, 15 de abril de 2019

MÚSICA, ARTE, MODA E SERVIÇOS: VOZ COLETIVA

 

Voz coletiva
 
A segunda reportagem da série mostra como a união de profissionais transforma a música, a arte, a moda e os serviços em trabalho e renda. Fortalecidos, os grupos dão visibilidade às manifestações culturais de quem está à margem da economia formal

 

Simone Kafruni

Publicação: 15/04/2019 04:00

 

Criadora do projeto Gueto é Luxo, Tânia Sarah é especializada em cabelos afros, mas objetivo é empoderar as mulheres negras de Ceilândia (Bárbara Cabral/Esp. CB/D.A Press





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Criadora do projeto Gueto é Luxo, Tânia Sarah é especializada em cabelos afros, mas objetivo é empoderar as mulheres negras de Ceilândia

 



O samba nasceu de batuques africanos, na Bahia do século 19, mas foi na periferia do Rio de Janeiro que criou raízes, ganhou novos sotaques e desceu dos morros para se tornar a maior referência musical do Brasil. Assim como o ritmo, outras expressões artísticas também romperam essa fronteira simbólica. Para seguir a mesma trilha, a voz da periferia do Distrito Federal busca espaço e visibilidade com a formação de coletivos. Unidos, os profissionais transformam a música, a arte, a moda e os serviços daqueles que estão à margem da economia formal em trabalho e renda para, fortalecidos, conquistarem relevância no cenário cultural.

Sem uma cadeia estruturada em torno do artista, as parcerias são fundamentais para a manifestação ocorrer, explica o gestor e pesquisador em Cultura e Desenvolvimento Gustavo Vidigal, ex-assessor de Economia Criativa da Secretaria da Cultura do Distrito Federal. “São várias competências necessárias. A expressão artística é um dos elementos. O coletivo é uma resposta que artistas, gestores e produtores encontraram para dar vazão ao seu trabalho”, diz.

O especialista destaca que cultura já representa mais de 40 mil postos formais no DF. O número, contudo, ainda é insuficiente para abarcar a grandiosidade da produção local. “Por ser uma cidade muito baseada em serviços públicos, em Brasília, a desigualdade é muito grande, de renda, de gênero e, inclusive, territorial. A reunião dos atores é uma tentativa de vencer as barreiras”, argumenta.

Com poucos equipamentos públicos, os coletivos ocupam o espaço urbano. A Praça do Cidadão, em Ceilândia, é um exemplo disso. É lá que a cabeleireira Tânia Sarah Moreira Soares, 23 anos, que criou o projeto Gueto é Luxo, desenvolve seu trabalho. Especializada em cabelos crespos e cacheados da moda e cultura afros, Tânia decidiu trabalhar na periferia para atender às mulheres da comunidade. “Estão elitizando tudo. Já trabalhei em um salão em que o corte custava R$ 150. Eu cobro R$ 60 para tornar acessível. E, muitas vezes, corto de graça aqui na praça e em projetos no Sol Nascente”, diz.

 

OTM Culture ajuda na inserção de jovens no mercado de trabalho e divulga a música local (Gabriel Pinheiro/Divulgação)  

OTM Culture ajuda na inserção de jovens no mercado de trabalho e divulga a música local

 

 


Adeus ao liso
Ela conta que a mãe tinha um salão de pintura e alisamento. “Sempre alisei meu cabelo, nem sabia como era de verdade. Decidi deixar natural e comecei a estudar para saber como tratá-lo. E decidi levar a cultura e o empoderamento à mulher negra da periferia”, ressalta. Com o trabalho de cabeleireira, desfiles e ensaios fotográficos, consegue uma renda mensal de R$ 2 mil. “Recentemente, eu e 15 meninas, de Ceilândia e Samambaia, desfilamos na Embaixada do Gabão”, revela.

Para os jovens da periferia, é mais difícil desenvolver sua arte, porque têm de trabalhar para ajudar em casa e muitas vezes não podem estudar, conta Rayane Soares, 26, coordenadora do Jovem de Expressão, projeto que organiza oficinas socioculturais e de empreendedorismo na comunidade de Ceilândia há 10 anos. “A região é tida como perigosa, mas é muito rica em cultura. A arte é transformadora. Nosso objetivo é que quem nos procurar consiga gerar renda para sobreviver”, diz.

Berço e referência
Brasília sempre foi berço de importantes coletivos culturais, garante Jaqueline Fernandes, gestora cultural e especialista em políticas públicas em gênero e raça. “Cada vez mais presentes e diversos, são referências e modelos de organização. Articulam novas tecnologias, sistemas, modelos éticos, de gestão e de inovação, gerando novos ciclos de criação, produção, distribuição e consumo”, explica.

No entanto, alerta Jaqueline, existe um tipo de invisibilidade e dificuldades específicas que recaem sobre a periferia. “Os coletivos contribuem para a fonte de renda de artistas e agentes culturais que, cada vez menos, dependem de terceiros ou de grandes produtores para empreender. Assim, artistas que nunca tiveram sua música na rádio acabaram por lotar shows e virar fenômeno nas redes sociais”, observa.

Para amplificar a música da periferia em tempos de redes sociais, Ivo Moraes, 29, e Danilo Vieira, 25, ambos moradores de Sobradinho, criaram o coletivo Haze Studio. Tecnólogo em gestão de eventos, Ivo destaca que a paralisação do país com a crise econômica motivou a dupla a buscar alternativas em 2015. “Montamos o coletivo para dar visibilidade à música da periferia”, conta ele, que ganhou experiência como vendedor de discos na Livraria Cultura, de 2011 a 2014.

Com empreendedorismo na veia, Danilo constatou que havia um mercado consumidor de videoclipes gigantesco. Identificados com a cultura hip hop, os dois gravam batalhas de rima e focam a produção audiovisual no rap da periferia, tudo divulgado em canais como o YouTube. “A monetização no ambiente digital ainda é um processo complicado, mas o mercado é crescente e já temos recursos entrando com alguns artistas”, conta Danilo.

Porta de entrada
Os jovens da periferia têm mais dificuldade de entrar no mercado de trabalho e os coletivos funcionam como uma porta de entrada. Segundo a Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios (PDAD 2018), no grupo de regiões administrativas da periferia do DF, está o maior contingente de pessoas entre 18 e 29 anos sem emprego: quase 35%. Para driblar a crise, 15 alunos formandos e recém-formados em publicidade e jornalismo, moradores de Ceilândia e Planaltina, criaram o projeto OTM Culture, um coletivo de divulgação em mídias digitais.

A integrante Jéssica Martins explica que ainda é difícil viver da profissão. “Me formei no ponto alto da recessão, em 2015, e o coletivo foi o jeito que encontrei de trabalhar, mesmo sem receber”, justifica. O OTM Culture começa a se custear. “Por enquanto, está tudo na base da permuta, mas, com nosso trabalho, a cultura da periferia caminha para o centro”, acrescenta.

“Por ser uma cidade muito baseada em serviços públicos, em Brasília, a desigualdade é muito grande, de renda, de gênero, e, inclusive, territorial. A reunião dos atores é uma tentativa de vencer as barreiras” 
Gustavo Vidigal, pesquisador

“Os coletivos contribuem para a fonte de renda de artistas e agentes culturais que, cada vez menos, dependem de terceiros ou de grandes produtores para empreender”
Jaqueline Fernandes, gestora cultural


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