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As obras da exposição abrangem 50 anos do movimento realista: desconforto ao indagar o que é a realidade
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Depois de receber mais de 170 mil pessoas em São Paulo, a mostra 50 anos de realismo – Do fotorrealismo à realidade virtual finalmente chega a Brasília. Inaugurada hoje no Centro Cultural Banco do Brasil de Brasília (CCBB), a exposição traz cerca de 90 obras que retratam a evolução do movimento nas últimas cinco décadas, com pinturas, esculturas, vídeos e instalações interativas de 30 artistas internacionais e brasileiros. Com uma programação completamente gratuita, a exposição fica na capital até 28 de abril.
A mostra resgata a pioneira geração de pintores da foto e do hiper-realismo, passando pela contemporaneidade dos retratos e esculturas, até chegar à realidade virtual. A exposição aproxima o público das obras, trazendo um desconforto ao confrontar o ser e o aparentar e o real. Além disso, a mostra expõe esculturas hiper-realistas, um dos maiores destaques da exposição, ao retratar a delicadeza e a proximidade com o corpo humano.
A historiadora e curadora responsável pela exposição,Tereza de Arruda, destaca que a mostra aborda a relação de identidade entre imagem e realidade, juntamente com a verdade e a realidade. “Por essa aproximação, surge um certo estranhamento e desconforto no momento em que nos perguntamos o que é a realidade e qual sua importância na representação artística”, completa.
Destinada ao público em geral até aos mais especializados, a exposição tem vários níveis de leitura e nichos de interesse, em uma linguagem completamente moderna. “É uma oportunidade incrível para quem quer conhecer mais sobre o segmento, porque até então não houve um recorte da representação do realismo como estamos trazendo, partindo do realismo até a realidade virtual”, convida Tereza de Arruda.
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Artista plástico Andreas Nicholas-Fischer: ele participará de debate sobre o realismo
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Colaboração de Londres
A mostra contou com a consultoria da especialista em arte hiper-realista Maggie Bollaert. Ela colaborou com a exposição com mais de 70 obras do acervo que tem em Londres, onde possui uma galeria com pinturas realistas. Maggie elegeu obras especificamente para o público brasileiro. “Eu pensei que as pessoas do Brasil estão muito conectadas com a água pelo clima tropical. Tento buscar um ângulo em que a população do local onde há uma mostra possa se sentir mais identificada. Se eu trouxer tudo, e o visitante não tem nenhum tipo vivência ou conexão, não faz sentido”, completa Maggie.
Para a especialista, o título da mostra é perfeito, pois a exposição traz realmente um recorte da evolução do realismo durante esses 50 anos. “Desde como o fotorrealismo representava a cultura americana dos anos 1960 até a chegada da obra digital. Eu acho que essa pequena exposição é uma oportunidade rara. Você não vai encontrar uma exposição tão balanceada quanto essa”, afirma.
Maggie enfatiza, ainda, que em exposições como essa não há espaço cometer erros. Ela explica que foi necessário fazer uma seleção especial de obras para essa mostra, já que o espaço que o CCBB oferece não é tão grande. “Se fosse em local maior, caberia colocar uma seleção mais ampla de obras que representam o realismo, mas nem todas são boas, ou menos significativas. Mas essa não dá. Tem que ser o suprassumo, e é isso que o público vai encontrar”, comenta a especialista.
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Maggie Bollaert: especialista em hiper-realismo, integra o debate
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Evolução em etapas
A mostra será dividida em categorias de acordo com a temporalidade das obras. A primeira sala traz os pintores precursores do fotorrealismo e do hiper-realismo. O público vai encontrar obras de artistas como o inglês John Salt, que retrata as paisagens suburbanas ou parcialmente rurais da Inglaterra. Outro nome é o do norte-americano Ralph Goings, cujas obras a óleo e aquarelas frequentemente representam o estilo de vida da classe operária americana dos anos 1960.
Na segunda etapa da exposição, estão os artistas que se dedicam às linhas contemporâneas do hiper-realismo, com retratos do zimbabuano Craig Wylie, conhecido pela surpreendente profundidade psicológica de suas pinturas, e do inglês Simon Hennessey, que apresenta em suas obras detalhes do rosto humano.
Nesta etapa também será possível conferir trabalhos de natureza morta e paisagens urbanas, como as pinturas de grandes dimensões dos artistas ingleses Ben Johnson e Raphaella Spence. Há também a participação do pernambucano Hildebrando de Castro, que se dedica a representações geométricas inspiradas em fachadas de prédios modernistas. Na categoria natureza-morta é possível conhecer o trabalho do espanhol Javier Banegas e as obras do baiano Fábio Magalhães, que mescla retrato, natureza-morta e paisagem, nas quais a representação do corpo humano transmite desconforto, percorrendo o limite entre fotografia e pintura.
Um espaço da exposição também será destinado a obras tridimensionais de escultores de diferentes gerações do hiper-realismo: o paulista Giovani Caramello, único escultor hiper-realista brasileiro; o norte-americano John DeAndrea, pioneiro na criação de figuras humanas hiper-realistas; e o dinamarquês Peter Land, que usa o humor para explorar padrões humanos de comportamento.
Na última etapa, chega-se às novas tecnologias. A sala Multiuso do CCBB está inteiramente dedicada a obras de realidade virtual, expostas em monitores, projeções espaciais ou com o auxílio de óculos de realidade virtual. Entre os artistas estão o japonês Akihiko Taniguchi, a alemã Bianca Kennedy, a francesa Fiona Valentine Thomann, e a brasileira Regina Silveira, que traz um vídeo de animação digital, na qual utiliza mídias distintas em uma mesma obra, sendo pioneira na mescla de vídeo, fotografia, colagem, xerox e postais. Para todas as obras que necessitam de tecnologia, o CCBB estará disponibilizando os equipamentos, com monitores disponíveis para ajudar a manipular o dispositivo.
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Tereza de Arruda, curadora da exposição
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Conversas sobre realismo
Além da abertura da exposição, hoje a mostra contará ainda com um debate sobre realismo na contemporaneidade, às 19h30. O bate-papo, também com entrada gratuita, terá mediação da curadora da exposição, Tereza de Arruda, e contará com a participação de Maggie Bollaert, especialista em arte hiper-realista e consultora do evento, e dos artistas Hildebrando de Castro e Andreas Nicholas-Fischer. “É um leque bem abrangente de participantes, e todos envolvidos nesse contexto da realidade. São pessoas que nunca expuseram juntos falando o que é a realidade, do uso da tecnologia, qual o papel dessa tecnologia para a criação dos trabalhos”, revela Tereza.
50 anos de realismo — Do fotorrealismo à realidade virtual
Centro Cultural Banco do Brasil Brasília (CCBB). De hoje a 28 de abril de 2019. De terça a domingo, das 9h às 21h. Entrada gratuita. Classificação indicativa livre