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Temer deixou ontem à noite a sala que ocupava na Superintendência da Polícia Federal, no Rio de Janeiro
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Por volta das 19h de ontem, o ex-presidente Michel Temer deixou a Superintendência da Polícia Federal, no Rio de Janeiro, depois de quatro dias encarcerado. O pedido de soltura foi deferido pelo desembargador Antonio Ivan Athié, do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2), por meio de liminar.
Na sexta-feira passada, o TRF-2 havia informado que o pedido de habeas corpus de Michel Temer seria julgado, a pedido de Athié, na sessão da Primeira Turma da Corte, amanhã. Mas a decisão foi adiantada. O desembargador deferiu a soltura do ex-presidente e de seus aliados, contrariando decisão do juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal, que usou como base para decretar as detenções informações colhidas na Operação Descontaminação.
Também ontem, a pedido da Justiça, o Banco Central bloqueou R$ 8,2 milhões de Temer. O juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Criminal Federal do Rio de Janeiro, havia determinado o bloqueio de R$ 62 milhões. No entanto, a solicitação não foi cumprida na íntegra por falta de saldo. O bloqueio dos recursos é parte das ações de investigação das operações Radioatividade e Descontaminação, da Polícia Federal.
Na decisão que revoga as prisões preventivas, Athié disse ser a favor da Lava-Jato e ressaltou que não tomou a decisão, ainda na semana passada, por impossibilidade de analisar todos os pedidos de soltura. “Ressalto que não sou contra a chamada ‘Lava-Jato’, ao contrário, também quero ver nosso país livre da corrupção que o assola. Todavia, sem observância das garantias constitucionais, asseguradas a todos, inclusive aos que a renegam aos outros, com violação de regras, não há legitimidade no combate a essa praga”, argumentou.
Além de Michel Temer, foram soltos Moreira Franco (ex-ministro e ex-governador do Rio de Janeiro); João Baptista Lima Filho, o coronel Lima; Maria Rita Fratezi, esposa de Lima; Carlos Alberto Costa, sócio do coronel na Argeplan; Carlos Alberto Costa Filho, diretor da Argeplan; Vanderlei de Natale, dono da Construbase; e Carlos Gallo, administrador da empresa CG Impex.
PropinaO emedebista está sendo investigado pelo Ministério Público Federal por suspeita de liderar uma organização criminosa que fraudou contratos da obra da Usina de Angra 3 e por desvios de dinheiro da Eletronuclear, num esquema que teria ultrapassado R$ 1,8 bilhão em propina. O inquérito foi baseado em delação de José Antunes Sobrinho, ligado à Engefix.
Eduardo Carnelós, advogado de Temer, afirmou que a decisão proferida por Athié “merece o reconhecimento de todos que respeitam o ordenamento jurídico e as garantias individuais inscritas na Constituição da República”.
Para Carnelós, o decreto de prisão foi abusivo, e ações como essa são isoladas no Poder Judiciário por alguns membros. “A resposta maiúscula dada pelo desembargador Athié é um bálsamo para a cidadania”, completou.
De acordo com Huilder Magno de Souza, advogado especialista em direito administrativo e crime de licitações, a prisão parece arbitrária, e o desembargador agiu corretamente. “Não se configurava os requisitos da prisão preventiva, visto que são fatos antigos. O Ministério Público ressaltou que os crimes ocorreram há mais de 40 anos. O desembargador agiu corretamente, ele restabeleceu a ordem e a justiça”, avaliou.
Temer passou os últimos dias em um quarto com cama de solteiro, ar-condicionado e frigobar na Superintendência da Polícia Federal do Rio de Janeiro. Ele não teve autorização para receber visitas e optou por não participar do banho de sol.
Outros dois detidos na mesma operação foram soltos no fim de semana, por decisão da desembargadora Simone Schreiber: Carlos Jorge Zimmermann e Rodrigo Castro Alves Neves. Os dois haviam sido presos em caráter temporário, diferentemente da decisão preventiva que levou Temer e outros oito suspeitos à cadeia.
*Estagiárias sob supervisão de Cida BarbosaMPF vai recorrerO Ministério Público Federal (MPF) informou que vai recorrer da decisão que soltou o ex-presidente Michel Temer (MDB), o ex-ministro Moreira Franco e João Baptista Lima Filho, o coronel Lima. Segundo a procuradora Mônica de Ré, que integra a força-tarefa da Lava-Jato da Procuradoria Regional da 2ª Região, o grupo vai pedir a manutenção da prisão preventiva dos acusados ou a prisão domiciliar, com a colocação de tornozeleira eletrônica.
No “recesso do lar”Na decisão que mandou soltar Temer e seus aliados, o desembargador Ivan Athié afirmou que “no recesso do lar” examinou “com o cuidado devido” os habeas corpus dos presos. Ele havia determinado, na semana passada, a inclusão do pedido liminar de liberdade dos detidos na pauta de amanhã, para análise da Turma. “Ao examinar o caso, verifiquei que não se justifica aguardar mais dois dias para decisão (...). Assim, os habeas corpus que foram incluídos na pauta da próxima sessão ficam dela retirados”, alegou.