Pianista, acordeonista, compositor, cantor e arranjador. São múltiplas as facetas de João Donato, um dos nomes icônicos da música popular brasileira.O genial artista acriano chega aos 85 anos em plena atividade, produzindo, fazendo shows, gravando discos e, também, recebendo prêmios e manifestações de admiração no Brasil e no exterior.
Donato celebra 70 anos de carreira em Brasília — onde morou por quatro anos, entre 2000 e 2004 — com um show hoje e amanhã, às 21h, no qual faz uma espécie de retrospectiva de sua extensa obra. Ele tem a companhia de músicos com quem tem tocado há bastante tempo: Robertinho Silva (bateria); Luiz Alves (contrabaixo); e Ricardo Pontes (sax e flauta).
No repertório, João inclui clássicos da importância de Amazonas, A paz, Bananeira, Emoriô, Minha saudade, Nasci para bailar, Simples carinho. A eles se juntam composições criadas mais recentemente pelo compositor com parceiros como Martinho da Vila (Daquele amor nem me fale), Ronaldo Bastos (Gol da Coreia) e Donatinho (Lei do amor).
João Donato
Show do pianista, compositor e cantor hoje e amanhã, às 21h, no Espaço Cultural do Choro (Eixo Monumental, ao lado do Centro de Convenções Ulysses Guimarães). Ingressos: R$ 40 e R$ 20 (meia para estudantes). Não recomendado para menores de 14 anos. Informações: 3224-0599.
Em 2019, você completa 85 anos de vida e 70 de carreira. Está preparando algo para celebrar essas datas?
Estou preparando uma suíte sinfônica baseada nos trabalhos de Debussy e Ravel, compositores eruditos por quem tenho profunda admiração e que me serviram de referência. Ouvi-os a vida inteira. É uma suíte sinfônica popular com piano, bateria, contrabaixo, percussão. Tem um lançamento de um CD duplo que eu fiz para o Japão com standards de jazz, e músicas de minha autoria. Um CD foi lançado no Japão e sai em breve aqui no Brasil.
Quais os momentos de sua trajetória artística você avalia como os mais importantes?
A primeira gravação que fiz com Altamiro Carrilho quando eu tinha 16 anos, tocando acordeon. A música era Brejeiro, de Ernesto Nazareth. A primeira gravação de uma composição de minha autoria chamada Minha saudade, com Luiz Bonfá, em 1954. Eu tinha 20 anos e foi o começo de uma série de outras, que me levaram a ser considerado um compositor de música popular. Tem também uma gravação que fiz com os músicos de Cuba, lá em Havana, para consolidar uma tendência latina, que eu já vinha construindo na minha trajetória; e uma gravação com Claus Ogerman em Nova Iorque em 1965 chamada The new sound of Brazil. Foi importante porque até hoje tem uma qualidade sonora e uma beleza sem cronologia. Teve também o LP A Bad Donato, que eu gravei em 1970, em Los Angeles numa época em que se tocava muita música psicodélica. Esse disco deixou uma marca muito forte no panorama musical americano da época.
O que mais destaca?
Outro momento importante foi quando voltei para o Brasil e gravei um disco chamado Quem é Quem, no qual, por sugestão do Agostinho dos Santos, gravei com letra em vez de só tocar o piano. Eu segui o conselho do Agostinho e não parei mais de compor músicas com letras. A partir daí, abriu um novo panorama com parceiros como Gilberto Gil, Caetano Veloso, Martinho da Vila, Cazuza, e, claro, meu irmão Lysias Ênio, entre tantos outros. E os cantores começaram a cantar minhas músicas. Muitas fazem sucesso como A paz, Simples Carinho, Emoriô, Naquela estação, Lugar comum, Até quem sabe. Foi importante também quando fiz a direção musical do premiado disco Cantar, da Gal Costa, nos anos 1970. Foi um disco interessante, em que eu fiz os arranjos para Flor de Maracujá, Até quem sabe e A rã. Tem uma sonoridade bem moderna e atual mesmo tendo sido gravado naquela década. Há, ainda, o songbook que revelou uma obra minha que estava escondida, disse Almir Chediak, ao fazer o Songbook. São 47 intérpretes, entre eles Lenine, Daniela Mercury, Gal Gosta, Caetano Veloso, Adriana Calcanhoto, Ed Motta. Atualmente, vejo como um marco a suíte sinfônica e uma gravação que fiz com meu filho Donatinho, chamado sintetizamor, que ganhou o prêmio da música brasileira
Das tantas canções de sua autoria, consagradas pelo público, há aquelas que lhe trazem mais satisfação por tê-las compostas?
Posso citar A paz, Amazonas, Minha Saudade, Até quem Sabe, Simples Carinho, Quem diz que sabe, Jodel (Café com pão), Lugar Comum... são tantas.
Conquistas como o do Prêmio da Música Brasileira, que recebeu em 2018, com Donatinho,no Theatro Municipal, pelo álbum Sintetizamor ainda lhe trazem satisfação?
Claro que sim. Um prêmio é sempre uma emoção muito grande, ainda mais com o meu pimpolho. Destaco, também, o Latin Grammy, que ganhei em 2010 pelo conjunto da obra. Eu fui para receber o prêmio do conjunto da obra e acabei levando pelo disco Sambolero como melhor disco de Jazz Latino.
Como tem sido a experiência de atuar como diretor artístico da Sala Baden Powell, aí no Rio de Janeiro?
Tive a oportunidade de colaborar para qualidade da música brasileira, dos artistas que se apresentaram lá durante a minha residência artística. Coloco em evidência a música brasileira de melhor qualidade.
Você morou em Brasília por quatro anos e tem feito muitas apresentações na capital. Como é retornar co Clube do Choro, onde foi homenageado na temporada de 2014, quando comemorou 80 anos?
É sempre um prazer estar no Clube do Choro e reencontrar o Reco do Bandolim e outros tantos amigos brasilienses. O público de Brasília é sempre muito carinhoso. E tem o tacacá da Torre de TV, da Dona Jacirema.