Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Correio Braziliense segunda, 08 de abril de 2019

DISTRITO FEDERAL: RIQUEZA DA PERIFERIA

 

Riqueza da periferia
 
Empreendedorismo é a arma dos moradores das regiões administrativas do Distrito Federal para enfrentar os obstáculos que a vida em um país em crise impõe. Consultoria aponta que informalidade e benefícios sociais representam 40% dos ganhos nos domicílios do país

 

SIMONE KAFRUNI

Publicação: 08/04/2019 04:00

O músico Bob Nickson ganha a vida no grito: consegue diárias de R$ 150 para chamar clientes em frente a uma loja na Ceilândia (Minervino Junior/CB/D.A Press)  

O músico Bob Nickson ganha a vida no grito: consegue diárias de R$ 150 para chamar clientes em frente a uma loja na Ceilândia

 



Jogada para longe dos centros urbanos, a população da periferia criou uma economia dinâmica e criativa, um saber coletivo de como sobreviver às condições de exploração da força de trabalho no Brasil. Obrigada a lidar com a ineficiência do Estado, essa parcela de brasileiros, que configura a enorme maioria, fortaleceu redes de solidariedade ao promover soluções locais para as dificuldades da vida. Na vanguarda das relações sociais e econômicas, o arranjo peculiar desse mercado acabou por descortinar a riqueza da periferia.

A cada crise, as taxas de desemprego disparam e atingem em cheio a população periférica, que parte para o empreendedorismo como alternativa de sobrevivência. É nesse contexto que negócios informais, formação de coletivos, foco na vocação regional e uma busca incessante pela independência do centro urbano marcam a economia do entorno de Brasília. A partir de hoje, o Correio publica uma série em quatro capítulos que pretende mostrar um pouco da riqueza da periferia do Distrito Federal, onde apenas 230 mil dos mais de 3 milhões de habitantes moram no Plano Piloto.

A história começa na urbanização do país, explica a professora aposentada de Arquitetura e Urbanismo da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da Universidade de São Paulo, Erminia Maricato. “O Brasil entra no século 20 com 10% da população urbana e termina com 80% das pessoas nas cidades”, diz. A migração é pela busca de emprego. “A mão de obra se oferece muito barata e ganha apenas para comer e gastar com transporte. Sem recursos, se instala como pode nas periferias.”

Quando o desemprego aumenta, entra a criatividade. No Brasil de hoje, são mais de 13,1 milhões de desempregados. Não à toa, a informalidade e os benefícios sociais representam 40% dos ganhos dos domicílios brasileiros para bancar despesas com alimentação, saúde, habitação e transporte, segundo a consultoria britânica Kantar WorldPanel.

Para o professor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV Eaesp) Edgard Barki, o empreendedorismo se fortaleceu nas populações periféricas. “Há um fator circunstancial por conta da crise e do aumento do desemprego. Empreender é uma questão de necessidade para gerar renda”, ressalta.

Com a maior população do DF, com 490 mil habitantes, Ceilândia abriga a segunda maior favela do país, o Sol Nascente, onde moram 95 mil pessoas. Apesar da fama de perigosa, a comunidade luta para vencer o estigma na base da economia informal e solidária. Elisângela Amaral, 40 anos, presidente da Associação dos Microempresários do Sol Nascente e do Pôr do Sol, conta que a batalha é pela formalização dos pequenos negócios. “Nem a associação é formal ainda, mas estamos regularizando para dar mais ao pessoal”, diz.


Sem trabalho e com o filho desempregado, Edilene apostou num food truck no Sol Nascente (Minervino Junior/CB/D.A Press)  

Sem trabalho e com o filho desempregado, Edilene apostou num food truck no Sol Nascente

 




Solidariedade
Sem trabalho e ao ver a dificuldade do filho Clailton Alves de Souza, 30, em se recolocar no mercado, Edilene Alves, 51, apostou em um food truck. Os dois vendem cachorro-quente, sucos, pastéis e caldo de cana. Decidiram manter o negócio no Sol Nascente, para atender a população local com preços acessíveis: por R$ 5 é possível comprar um combo. Os dois conseguem tirar R$ 3 mil de renda por mês.

Para a professora Erminia, a cidade tem uma função social, porque é uma construção coletiva. “A solidariedade é fundamental, já que não se tem um Estado solidário”, explica. Foi para ajudar a família que Sandra Carmem Alves da Silva, 42, descobriu sua vocação. Com a morte da irmã, precisou cuidar dos três sobrinhos. Hoje, é responsável por mais de 20 crianças numa creche no Sol Nascente. “Cobro entre R$ 100 e R$ 150 mensais para dar banho, comida e cuidar”, assinala.

Outra característica comum na periferia é a união de forças. Sem emprego, o marceneiro Cristiano Pereira de Matos, 38, abriu uma empresa e hoje garante trabalho para ex-colegas que ficaram desempregados. Todos moram no Sol Nascente, mas os móveis planejados que produzem ganharam clientela por todo o DF. Os projetos variam de R$ 4 mil a R$ 6 mil. “Quando o volume de trabalho aumenta, contrato mais colegas que precisam de trabalho”, conta. Além da diária de R$ 100 para marceneiro e R$ 50 para ajudante, Cristiano paga o almoço dos colaboradores.

Na periferia, a venda porta a porta é mais eficiente, o boca a boca é mais relevante, sublinha Barki, da FGV Eaesp. O músico Bob Nickson, 54, que o diga: ganha a vida no grito. Enquanto batalha para gravar seus discos e fazer shows, faz bicos como locutor e consegue diárias de até R$ 150 para chamar clientes em frente a um comércio no centro de Ceilândia.
 
Jornal Impresso

Escreva seu comentário

Busca


Leitores on-line

Carregando

Arquivos


Colunistas e assuntos


Parceiros