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Sede da associação, no Cruzeiro Velho: necessidade de ajuda para manter atendimento terapêutico
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Neusa da Silva esperou quatro anos para ouvir seu filho dizer pela primeira vez a palavra “mamãe”. Antes disso, ela e o marido não sabiam o que era o autismo ou o motivo de Ângelo Antônio não desenvolver a fala. Eles só haviam visto algo sobre o transtorno em um filme antigo. Quando a pediatra confirmou o diagnóstico, em 2015, o casal se sentiu abandonado em um universo completamente desconhecido. “A médica foi me perguntando se ele (Ângelo) tinha alguns comportamentos típicos e a gente foi falando que sim. Tudo que ela falava que era característica de autistas, meu filho fazia. Então ela disse que ele tinha o transtorno e me recomendou procurar a Abraci”, conta Neusa, hoje com 40 anos.
A Associação Brasileira de Autismo, Comportamento e Intervenção (Abraci) nasceu em 2010, a partir da experiência de Lucinete Andrade, 45. Mãe de uma criança autista, a conselheira tutelar viu a dificuldade que as famílias tinham em encontrar tratamentos acessíveis no Distrito Federal para o desenvolvimento de quem tem o espectro. Além de psicólogo e psiquiatra, na maioria dos casos era necessário um acompanhamento com fonoaudiólogo, neurologista, psicopedagogo e diversas outras especialidades que trabalhavam em conjunto.
“Eu queria garantir os direitos de famílias carentes a ter esses serviços. Então, criei essa instituição filantrópica, sem fins lucrativos, para dar atendimento de qualidade a quem foi diagnosticado com Transtorno do Espectro Autista”, explica Lucinete. A Abraci fornece sessões com psicólogos de segunda a sexta-feira, em um imóvel no Cruzeiro Velho. Cada família tem um atendimento semanal, com orientações que auxiliam na continuação do processo em casa. A ideia inicial era fornecer recursos multidisciplinares, com atendimentos duas vezes por semana, mas a falta de dinheiro impede o plano.
Mesmo assim, o que é oferecido no pequeno espaço do projeto muda vidas. Hoje, 48 famílias participam da associação. Uma delas é a de Neusa, que conseguiu ouvir Ângelo dizer as primeiras palavras, deixar de lado a agressividade e interagir com os colegas da escola. “Até os 4 anos, ele não falava nada, tinha um comportamento muito diferente das outras crianças. Mas, depois do acompanhamento na Abraci, ele se transformou. Hoje, brinco dizendo que ele é um papagaio”, observa a mãe.
Mas a terapia não foi só para a criança, hoje com 9 anos. Seu pai sempre faz questão de conversar com a psicóloga do projeto, depois das sessões do filho. “É um trabalho conjunto, que começa aqui e tem que continuar em casa. Aprendi muito e comecei a ensinar muita coisa para ele. Eu até já trouxe professores dele para aprenderem um pouco sobre o autismo”, conta o autônomo Juscenilton Reis, 40.
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Adriana Jesus leva a filha toda semana para os atendimentos na instituição: moradora do Riacho Fundo, ela tem um filho com o mesmo transtorno
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Contribuições
Para manter os psicólogos, a associação pede R$ 180 mensais para cada família. Mas Lucinete não desistiu da proposta inicial de ajudar quem não tinha condições financeiras e criou o programa de apadrinhamento. “Nós não temos convênios públicos ou privados, apesar de todas as crianças atendidas serem da rede pública de ensino. Isso torna extremamente difícil manter as atividades atuais. Então, nós buscamos pessoas que chamamos de padrinhos, que pagam a mensalidade para as nossas crianças”, explica Lucinete.
Esse sistema é o que possibilita à dona de casa Adriana de Jesus, 31, manter os dois filhos na Abraci. Elias de Jesus, 9 anos, e Camila de Jesus, 7, nasceram com autismo. A família do Riacho Fundo II passa por lutas diárias para conseguir os atendimentos básicos, mas uma pessoa que eles não conhecem paga a taxa mensal que garante a permanência na associação. “O padrinho deles é como se fosse um anjo para nós. Com dois filhos com o transtorno, a dificuldade dobra. Já fiquei muito para baixo olhando ele chorando, de um lado, e ela chorando, de outro, sem saber o que fazer. Mas, aqui, os dois evoluíram muito”, ressalta Adriana.
Quem também abre mão da renda para ajudar as crianças são os psicólogos da Abraci. Geiciane Alves, 31, só recebe ajuda de custo de transporte e alimentação para ir até o Cruzeiro diariamente. “É muito desafiador trabalhar com o autismo, principalmente aqui, com pessoas sem condições de dar tratamentos multidisciplinares. Mas eu acredito na capacidade de transformação do meu trabalho e isso me faz seguir em frente”, afirma a psicóloga voluntária.
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Angelo Antonio Matos é uma das crianças atendidas pelos piscólogos da Abraci: pais destacam que ele se tornou mais calmo e interage com os colegas da escola
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Como ajudar
A Abraci procura voluntários para apadrinhamento, apoio financeiro, atendimento terapêutico e serviços de comunicação.
Endereço: SRES Área Especial L, Lote 9, Cruzeiro Velho
Telefones: (61) 98193-8317, (61) 99695-0079, (61) 98279-4968
E-mail: a.abraci.df@gmail.com
Outras organizações
» O Movimento Orgulho Autista do Brasil (Moab) desenvolve uma série de ações, projetos e programas gratuitos. A programação está no site www.moab.org.br.
» Uma Sinfonia Diferente promove atividades de musicoterapia para autistas. É possível saber sobre as datas de inscrição
pelo e-mail umasinfoniadiferente@gmail.com
» O Projeto de Apoio e Melhoria do Desenvolvimento e Aprendizagem (Pamda) oferece atendimento nas áreas de psicologia, psicopedagogia, educação motora e psicomotricidade, terapia ocupacional e fonoaudiologia. Os serviços são
para famílias com renda de até três salários mínimos,
que podem encontrar mais informações no site institutoninar.com.br/contato-pamda/