Ingrid Soares
Especial para o Correio
Publicação: 08/02/2019 04:00
A queda de uma barreira na Avenida Niemeyer, na Zona Sul, atingiu um ônibus e provocou a morte de duas pessoas
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As fortes chuvas que assolaram o Rio de Janeiro na noite de quarta-feira para ontem deixaram ao menos seis mortos. Entre eles, uma mulher e um homem que estavam num ônibus atingido pela queda de uma barreira na Avenida Niemeyer, na Zona Sul. Houve óbitos também na Rocinha, em Pedra de Guaratiba e no Vidigal — onde seis pessoas ficaram feridas na parte alta da comunidade.
Além das mortes e dos estragos, foram registrados apagões e a queda de parte da ciclovia Tim Maia, que liga os bairros do Leblon e de São Conrado. O trecho que desabou fica na Avenida Niemeyer, bem perto de onde outra parte caiu em 2016, causando duas mortes.
De acordo com o prefeito Marcelo Crivella, os estudos feitos pela prefeitura levavam em conta esforços de “cima para baixo” e “de baixo para cima” e não contavam com o deslocamento lateral de terra, que empurrou uma tubulação da Cedae (Companhia Estadual de Águas e Esgotos) e acabou derrubando o pedaço da ciclovia.
“Em duas horas, choveu o que deveria chover o mês inteiro. Os ventos, de 116 km/h, são os mais baixos de um tufão. Na época da chuva, cai muita terra. Há, talvez, subdimensionamento das redes pluviais”, afirmou Crivella, que decretou luto oficial de três dias pelas mortes.
O Centro de Operações da Prefeitura do Rio informou, ontem, que a Avenida Niemeyer permanecerá totalmente interditada nos dois sentidos até a conclusão dos trabalhos das equipes da prefeitura e do Corpo de Bombeiros.
A pasta informou que o Rio entrou em estágio de crise às 22h15 de quarta-feira, diante das fortes chuvas, com intensas rajadas de vento. O fenômeno causou alagamentos em ruas e estabelecimentos comerciais, interditou vias e deixou bairros às escuras.
A Defesa Civil municipal registrou 206 ocorrências para vistoria em razão das chuvas. Entre as principais, estão desabamentos de estruturas, ameaças de desabamento, rachaduras, infiltrações em imóveis e deslizamentos de encostas. O Rio teve 35 pontos de alagamentos, 186 quedas de árvores, quatro deslizamentos e oito quedas de postes.
O engenheiro civil Rafael Martins, especializado em engenharia diagnóstica, apontou erros em políticas sociais pela construção de casas em encostas e áreas de risco, na concepção da ciclovia e em materiais usados na obra. “Tudo aponta para erro de concepção do projeto e/ou erros na construção, como a utilização de materiais ruins. Sobre os desmoronamentos, é ainda mais provável apontar entre os fatores a falta de política pública de médio e longo prazos”, disse. “São obras nem sempre rápidas, que têm custo político pela desapropriação, pelo remanejamento de áreas que entram em conflito com especulação imobiliária e outros fatores. Daí a solução, da forma como deve ser feita, vai sendo postergada. Essa protelação faz com que isso se repita.”
O governador do Rio, Wilson Witzel (PSC), afirmou que há cerca de 80 mil famílias em situação de risco. “O que pude constatar de Guaratiba até o início da Niemeyer é que toda a encosta tem uma ocupação desordenada. Isso é fruto de abandono da organização urbanística da cidade”, avaliou. “O resultado, infelizmente, são essas tragédias a que estamos assistindo.”
116 km/h
Velocidade dos ventos durante as chuvas no Rio