O aquecimento para a festa do rei Momo continua a todo vapor na capital federal — e há espaço para todos os tipos de foliões. Folia por pura diversão entral de Brasília, segundo a Polícia Militar, e a tendência é que a multidão só cresça.
Bloco dos Raros
A folia de pacientes de doenças raras e suas famílias movimentou o Eixão Norte. Pela manhã, o grupo se reuniu para curtir o pré-carnaval e conscientizar o público com relação a essas enfermidades pouco usuais. O Bloco dos Raros estreou com participação da banda infantil de ro com viés social marcou o domingo em Brasília. No último fim de semana antes do carnaval oficial, crianças e adultos ocuparam as ruas das cidades em bloquinhos com história ou estreantes. Nesta época do ano, os brasilienses aproveitam para se apropriar, se expressar, dançar e brincar nos espaços públicos. No sábado, pelo menos 5 mil pessoas foram festejar na área ceck Os Minhocas e da escola de samba da Aruc (Associação Recreativa Cultural Unidos do Cruzeiro). Lauda Santos, uma das organizadoras do evento e diretora executiva da Associação Maria Vitória (Amavi), de doenças raras e crônicas, quer trabalhar para que o movimento passe a integrar o calendário do carnaval brasiliense.
Usando cores neon dos pés à cabeça, Lauda leva a sério tanto a folia quanto os desafios dos pacientes. “É um meio de mostrarmos que são pessoas normais, que vivem vidas normais e não transmitem doenças”, afirma. Ela estima que pelo menos 10 patologias raras foram representadas ali, das mais de 8 mil existentes. O evento também marcou a fundação da Federação Brasileira de Doenças Raras. Quem ouve falar em pessoas com problemas de saúde incomuns pode pensar que se trata de uma pequena parcela da população. No entanto, o grupo é representativo: o Ministério da Saúde estima que existam 13 milhões de pacientes nessas condições no Brasil. Isso porque, embora cada doença tenha poucos casos, somados, eles formam uma grande comunidade.
O militar Rômulo Marques, 59 anos, pai de um adulto hemofílico (pessoas com baixíssima coagulação sanguínea), explica que, para cada enfermidade rara, há dificuldades específicas, seja no diagnóstico, seja no tratamento, mas há também desafios em comum. “Com a Federação Brasileira de Doenças Raras, teremos mais força para fazer valer nossos interesses compartilhados”, comemora. A advogada Roseane Pimentel, 63, tem quatro filhos; três deles, com doenças raras. A filha dela é adulta e a pessoa mais velha com a síndrome de Ondine, condição que impede a pessoa de respirar enquanto dorme.
O problema é responsável por mais de 90% das mortes súbitas no berço. Roseane reconhece a sorte e o privilégio que a família teve de manter a filha sempre com respiração mecânica. Também estiveram no Bloco dos Raros representantes da Associação Brasileira de Síndrome de Rett (Abre-te), desordem do desenvolvimento neurológico que atinge uma em cada 10 mil a 20 mil meninas. Lidiane Bezerra, representante da associação, explica que muitos casos são confundidos com autismo.
O presidente da Aruc, Moacyr Oliveira, também tem uma experiência relacionada ao bloco. Ele tem uma filha de 22 anos que nasceu com duas fraturas na perna e foi diagnosticada com osteogênese imperfeita (também denominada ossos de vidro), caracterizada por esqueleto frágil. A jovem precisou fazer um tratamento no Canadá, que hoje está disponível no Brasil. Moacyr é um dos fundadores da Associação Brasileira de Osteogênese Imperfeita (Aboi). Atualmente, a filha está formada e trabalha, apesar de não andar. “É uma honra participar desse bloco”, anima-se.
Para todos
O céu nublado e a promessa de chuva não impediram a animação da festa no domingo. No Setor Bancário Norte, uma multidão curtiu o tradicional bloco Cafuçu do Cerrado, ao som de Felipe Cordeiro e banda, da orquestra do bloco e de Djs. Evelynne Gubert, 30 anos, se juntou à muvuca com cinco amigos. Para o grupo, a presença é obrigatória: eles se conhecem desde o 1º ano do ensino médio e mantêm a tradição de comparecer todo ano ao bloco fantasiados com roupas de academia, homenageando a década de 1980.
“A gente teve essa ideia e fez o maior sucesso. Então, decidimos continuar. É sempre divertido”, conta Evelynne. Hoje, novos amigos e namorados se juntaram à formação original. Eles também costumam ir juntos para outros blocos e, às vezes, combinam fantasias. Porém, os trajes dos anos 1980 sempre ficam guardados para o próximo ano. Ana Luíza Gabatteli, 28, é uma carnavalesca dedicada e criativa que está sempre em busca de novas ideias. “Não gosto de repetir”, garante.
No Cafuçu do Cerrado, ela se vestiu para homenagear o personagem Russel, do desenho Up — Altas Aventuras. A jovem confeccionou todos os detalhes do traje. “Eu procuro ideias fáceis de fazer na internet. Não gosto de comprar fantasias prontas”, explica. No sábado, no bloco Essa Boquinha Eu Já Beijei + Tuthankasmona, ela estava vestida do jogo Twister. Cada traje é pensado com três semanas de antecedência.
A família Borges adora o carnaval de rua brasiliense e não perde a chance de curtir o clima de descontração. Vitor, 38, Tânia, 34, Lívia, 36, e Miguel, 7, aproveitaram o Cafuçu do Cerrado juntos. “Ainda é tranquilo vir para os blocos com crianças, basta ter algo para entretê-las e entrar no clima”, garante Lívia.