Almanaque Raimundo Floriano
Fundado em 24.09.2016
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, dois genros e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Correio Braziliense segunda, 30 de setembro de 2019

ZOO DE BRASÍLIA - MORRE O TIGRE-DE-BENGALA DANDY

 

Morre o tigre-de-bengala Dandy

 

Publicação: 30/09/2019 04:00

Os veterinários do Zoo aguardam resultados de exames histopatólogicos para apontar a causa da morte (Divulgação/Zoológico)  

Os veterinários do Zoo aguardam resultados de exames histopatólogicos para apontar a causa da morte

 



Morreu ontem Dandy, o tigre-de-bengala do Zoológico de Brasília. Em nota de pesar publicada nas redes sociais, a instituição lamentou a morte do animal e informou que a equipe passou três dias tentando fazer com o que o animal reagisse.

Na última quinta-feira, Dandy fez uma coleta de sangue para exames laboratoriais e inspeção clínica para que pudesse fazer uma transfusão para a irmã, a fêmea Maya, que passou por intervenção cirúrgica em decorrência de infecção abdominal grave.

Investigação
Os exames mostraram alterações, e o tigre começou a ser tratado. Na manhã de domingo, porém, Dandy acordou apático e sem reagir a estímulos. “Ele foi atendido imediatamente pela equipe de especialistas e, durante toda a manhã, mesmo depois de intensos esforços, não resistiu”, informou o Zoo. A causa da morte de Dandy será divulgada quando sair o resultado dos exames histopatológicos feitos pelos veterinários.

Segundo a nota, Maya apresenta melhoras e está em processo de recuperação, apresentando um quadro mais otimista.
 
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Correio Braziliense domingo, 29 de setembro de 2019

ZECA PAGODINHO PEDE PAZ

 

Zeca Pagodinho pede paz
 
 
Em Mais feliz, o artista faz um passeio pelas diferentes vertentes e mensagens do samba mandando o recado: "quem quiser me ouvir, eu vou cantando"

 

Adriana Izel
Enviada especial

Publicação: 29/09/2019 04:00

 (Guto Costa/Divulgação)  
 
 
Rio de Janeiro — Zeca Pagodinho não gosta de protocolos. O carioca de Irajá prefere a simplicidade. É no bate-papo informal que o sambista se abre mais, faz piadas, conta histórias e distribui o jeito gentil. Até por isso sempre opta em trabalhar criando esse ambiente. Foi assim ao atender à imprensa em almoço promovido no Bar do Zeca, no Vogue Shopping, na Barra da Tijuca, quando ofereceu aos presentes o famoso leitão que sempre serve aos amigos em Xerém, bairro de Duque de Caxias onde mantém uma casa. De um jeito similar, Zeca chegou até o repertório do mais recente álbum, Mais feliz, lançado em 17 de setembro nas plataformas digitais. “Na minha casa também sempre é assim. Uma panela cheia de sopa, de fava com leitão, igual a esse que vocês comeram”, afirma.
 
Para Zeca, não existe outra forma de fazer música que não seja numa grande roda de samba entre amigos. “Na minha casa, no meu quintal. A rapaziada vai toda pra lá. Muita comida, muita bebida e cada um canta duas ou três músicas”, conta ao Correio. Na gravação do disco não foi diferente: “Vai todo mundo (para o estúdio), os compositores, o pessoal de batuqueiros, violeiros. Então, é sempre uma festa com bastante cerveja. Tem os dias da velha guarda (da Portela) botar coro, sempre colocam em duas músicas. Rola uma feijoada e quando acaba, dá saudade desse povo”. Esse foi o processo de criação, concepção e gravação de Mais feliz.
 
Chegar até as 14 músicas que compõem o repertório foi um desafio. Zeca Pagodinho ouviu mais de 200 canções até escolher as favoritas: “Vou passando (na roda de samba), vou ouvindo. Quando vejo que o povo empolgou muito, vejo que ali está um sucesso”. O repertório conta com duas regravações O sol nascerá (a sorrir), de Cartola e Elton Medeiros, gravada com Teresa Cristina, que virou tema da novela Bom Sucesso, e Apelo, de Vinicius de Moraes e Baden Powell, em que o artista é acompanhado dos músicos Hamilton de Holanda (bandolim) e Yamandú Costa (violão de 7 cordas). As demais são canções inéditas em gravação de estúdio, mas velhas conhecidas dos frequentadores dos sambas de Pagodinho.
 
Composição e homenagem
 
Esse é o caso de Mais feliz, canção de Toninho Geraes (autor de Uma prova de amor) que abre e também dá título ao disco: “A música é muito boa. Eu já conhecia há uns dois ou três anos, acho que até mais”. A faixa também é responsável por dar o tom do álbum, um CD, em sua maioria, pra cima e que passeia pelas diferentes vertentes do samba. Resultado do momento em que vive Zeca Pagodinho. “Há quatro anos eu não gravava. Eu fico com vontade de gravar, os compositores, também. E é um repertório muito bom. Voltei a compor, fiz 60 anos. Tenho que estar feliz”, define.
 
Depois de 14 anos, o cantor voltou a incluir em seu repertório composições autorais. Duas das 14 faixas de Mais feliz são de Zeca Pagodinho: Enquanto Deus me proteja, com Moacyr Luz, e Nuvens brancas de paz, com Arlindo Cruz e Marcelinho Moreira. “Eu costumo dizer que (no processo de composição) alguém fala alguma coisa para mim. Vou ouvindo alguma coisa e escrevendo. Às vezes até me surpreendo. Foi assim que nasceu Enquanto Deus me proteja. Ela nasceu no Dia Internacional do Compositor e é a minha primeira parceria com o Moacyr Luz”, conta.
 
Sobre Nuvens brancas de paz, lembra: “Eu cheguei na casa do Arlindo cantando isso aí. Foi a última vez que estive cantando assim com o Arlindo, perto. Marcelinho tava lá e a música surgiu, como ela sempre surge. Surgiu e pronto. Eu nem lembrava mais dela. Depois que o Marcelinho falou. Pedi para o filho do Arlindo (Arlindinho) e ele mandou a música. E ela surgiu, está aí”.
 
Ter uma música composta com Arlindo Cruz no repertório também é uma forma de Zeca se aproximar do amigo, afastado dos palcos desde que sofreu um acidente vascular cerebral em 2017, e homenageá-lo. “O CD é dedicado a ele. É a primeira vez que ele não está comigo. Ele estava sempre comigo, como músico, como autor, como companheiro de estar ali. É bem difícil. Por isso dediquei a ele. Para mim, é ruim. Tem dois anos que eu não o vejo. Sou acostumado a chegar lá, sorrir, tomar cerveja, fazer samba. Eu não quero chegar e o ver assim. Tenho fé que ele vai melhorar. Milagres existem”.
 
Mensagens do disco
 
Zeca Pagodinho diz que Mais feliz é um disco que reúne diferentes mensagens. Para ele, o repertório tem canção para todo tipo de situação: “Tem samba bom, romântico, feliz, pedindo paz. Tem recado para todo mundo. Quem quiser me ouvir, eu vou cantando”. Uma delas manda um recado para o Rio de Janeiro, estado que vem sofrendo com a violência. A música é Na cara da sociedade, de Serginho Meriti. “Essa música eu pedi ao Serginho Meriti para fazer. Estava em Curitiba e liguei para ele. Dentro de mais ou menos uma hora ele estava mandando mais de 10 músicas”, diz.
 
Na faixa, Zeca Pagodinho logo começa dizendo: “Vou aproveitar essa canção para pedir paz no mundo, no Brasil e, principalmente, no Rio de Janeiro. Muita paz”. O sambista diz que incluí-la no repertório foi uma forma de fazer a parte dele. “Porque a gente precisa disso, se todo mundo fizer algo para melhorar, estimular as pessoas, vamos mudar esse quadro. É uma cidade-fantasma. Está cheia de grades, botequim vazio, muita violência, muito assalto. Está difícil”, lamenta.
 
“Lembra dos tempos idos? Cadeiras na varanda/ Cidade maravilhosa, meu futebol, meu samba”, canta o artista na faixa. Situações que ele diz sentir falta no dia a dia. “(Sinto falta de) poder andar pela rua. Não só por causa de violência, por causa do assédio, que é um problema muito sério. Não dá para parar em lugar nenhum que logo aparecem 200 celulares. Aí não dá. Em Xerém tenho (menos assédio e mais segurança), ainda mais dia de semana. Dá para ir ao botequim de bermuda, ver os caras jogando sinuca. É bem diferente para mim”.
 
Como de costume, Mais feliz conta com convidados especiais. Além de Teresa Cristina, Yamandú Costa, Hamilton de Holanda e a Velha Guarda Portela, o álbum tem a presença de Xande de Pilares. O ex-vocalista do Revelação canta com Zeca Pagodinho Dependente do amor (Xande de Pilares, Gilson Bernini e Brasil do Quintal). “Sempre tem alguma participação (nos discos). E o Xande merece. É um cara bom, tem uma pegada boa de cavaquinho. O samba é muito bom. Teresa (Cristina) também. É nossa querida. Está muito bem na música. Eu queria fazer alguma coisa com o Hamilton e Yamandú, de novo, que eu já tinha feito outra. Precisava fazer alguma coisa com ele. Eu tinha outra música, mas o Rildo (Hora, produtor do disco) falou de fazer Apelo. Eles fizeram o arranjo lá mesmo no estúdio”.
 
A turnê de Mais feliz começa em dezembro. O sambista passará por São Paulo, em 7 de dezembro, Credicard Hall. No dia 13, é a vez do Rio de Janeiro receber o show no KM de Vantagens. A outra apresentação marcada é em Salvador na Concha Acústica em 9 de fevereiro. Mas a programação ainda vai crescer. “Não podem me olhar, que já estão me olhando como se eu fosse uma agenda”, diz, entre risos, ao ser questionado se com a idade diminuiu o número de shows. De acordo com Zeca, a única que mudou com a idade foram as questões relacionadas à saúde: “Muito exame. Opera olho, opera nariz, essas coisas que têm que lidar. Você vai enxergando menos. Show, eles não deixam eu parar”.
 
*A repórter viajou a convite da Universal Music
 
 
 (Universal Music/Divulgação)  
 
Mais feliz
De Zeca Pagodinho. Universal Music, 14 músicas. Disponível nas plataformas digitais.
 
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Correio Braziliense sábado, 28 de setembro de 2019

EDUCAÇÃO: PRONTOS PARA O FUTURO

 

EDUCAÇÃO

Prontos para o futuro

 

Publicação: 28/09/2019 04:00

Os amigos Artur, Igor,  Natália e Júlia, do Colégio Ideal, em Taguatinga, sonham em trabalhar com tecnologia de ponta:  

Os amigos Artur, Igor, Natália e Júlia, do Colégio Ideal, em Taguatinga, sonham em trabalhar com tecnologia de ponta: "Acredito que isso que estamos fazendo agora é uma prévia daquilo que podemos produzir daqui a algumas décadas", avalia Artur.

 



Muito além da tradicional sala de aula, escolas estão investindo em formar alunos capazes de dominar as novas ferramentas e exigências do mercado. Isso valerá tanto para as profissões mais simples quanto para as mais complexas.
 
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Correio Braziliense sexta, 27 de setembro de 2019

STF IMPÕE MAIOR REVÉS À LAVA-JATO

 

JUDICIÁRIO
 
STF impõe maior revés à Lava-Jato
 
Supremo forma maioria em tese que tem o poder de levar à anulação condenações no âmbito da força-tarefa. Julgamento será retomado na próxima semana, e presidente da Corte diz que fará proposta para delimitar a abrangência da decisão

 

» JORGE VASCONCELLOS

Publicação: 27/09/2019 04:00

A maioria dos ministros da Corte entende que delatado tem o direito de apresentar as alegações finais em processos após os delatores (Nelson Jr/SCO/STF)  

A maioria dos ministros da Corte entende que delatado tem o direito de apresentar as alegações finais em processos após os delatores

 



Seis dos 11 ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) votaram, ontem, a favor de uma tese que pode levar à anulação de condenações judiciais em todo o país, inclusive no âmbito da Operação Lava-Jato. Segundo o entendimento majoritário, os delatores deverão apresentar as alegações finais, nos processos judiciais, sempre antes dos réus que não fizeram acordo de colaboração premiada. O presidente da Corte, Dias Toffoli, suspendeu a sessão e disse que os trabalhos serão retomados na próxima semana, quando ele apresentará o seu voto. O ministro, entretanto, adiantou que concorda com a tese adotada pela maioria do plenário. O magistrado ainda frisou que apresentará uma proposta para delimitar a abrangência da decisão da Corte. Um balanço da Lava-Jato indica que o entendimento do STF pode anular 32 sentenças, envolvendo 143 condenados na força-tarefa.

O caso concreto examinado pelos ministros é um habeas corpus apresentado pelo ex-gerente de empreendimentos da Petrobras Márcio de Almeida Ferreira, condenado em primeira instância pela Lava-Jato a 10 anos e três meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. No recurso, a defesa reclama que o juízo não permitiu acesso ao conteúdo das alegações finais dos delatores, sendo autorizada apenas a conhecer os novos documentos que foram apresentados por eles.

Na sessão de quarta-feira, ao apresentar o seu voto, o ministro Edson Fachin, relator do habeas corpus, indeferiu o recurso por entender que a definição de uma ordem para a apresentação de alegações finais não está prevista no Código de Processo Penal, na lei que disciplina as delações premiadas nem na jurisprudência do STF. Ele alertou para as repercussões que o deferimento do HC traria para todas as ações penais que tenham a figura da delação premiada.

Na continuidade da sessão, ontem, o primeiro a votar foi o ministro Alexandre de Moraes, que abriu a divergência com entendimento de que o delatado tem o direito de apresentar as alegações finais depois do delator. Ele defendeu que o processo relacionado ao HC retorne à fase de alegações finais na primeira instância, o que significaria a anulação da condenação do ex-gerente de Empreendimentos da Petrobras.

Segundo Moraes, todo delator, embora não seja assistente do Ministério Público, é “partícipe da acusação” e tem como principal interesse a condenação do corréu, sem a qual ele não receberá os benefícios previstos no acordo de colaboração premiada. “A relação entre delator e delatado é antagônica”, afirmou o ministro.

Moraes acrescentou que as alegações finais do delator não se configuram um ato de defesa, uma vez que ele já se defendeu em fase anterior ao celebrar o acordo de colaboração premiada. “O delator quer é se salvar”, disse Moraes, frisando que o corréu que não fechou acordo de delação deseja se defender.

“O devido processo legal, a ampla defesa e o contraditório exigem que o delatado, assim solicitando, tenha acesso a todo o acervo probatório antes de apresentar as alegações finais”, ressaltou o ministro, destacando que, no caso relacionado ao HC em julgamento, a defesa do réu fez esse pedido.

Inexistência

Na sequência, votou o ministro Luís Roberto Barroso, seguindo o entendimento do relator, Edson Fachin, de que inexiste previsão legal a respeito da ordem de apresentação de alegações finais de delatores e delatados. Da mesma forma que o relator, ele alertou que o HC em julgamento não é um caso isolado, mas capaz de repercutir em todos os processos que tiveram o instrumento legal da delação premiada. Segundo frisou, o recurso estava sendo analisado no “contexto do esforço imenso da sociedade no combate à corrupção que devastou o país”.

Ao citar grandes escândalos de corrupção no país, como o do Banestado e o mensalão, Barroso disse que o ex-gerente de Empreendimentos da Petrobras Márcio de Almeida Ferreira, autor do HC, foi condenado a 10 anos e três meses por corrupção e lavagem de dinheiro, após ter desviado R$ 37 milhões da estatal.

Barroso afirmou, também, citando trechos do processo em primeira instância, que a defesa do ex-gerente pediu e foi autorizada pelo juízo a apresentar as alegações finais após os delatores. Segundo o ministro, embora a defesa tenha recebido novo prazo, não fez qualquer manifestação. “Não falou porque não quis, não precisava e não tinha o que falar”, destacou.

Ao fim da apresentação do voto, ele disse que, se o plenário decidir criar uma norma jurídica prevendo que delatores sejam os primeiros a apresentar as alegações finais, ele poderá mudar seu voto, desde que os efeitos sejam aplicados em casos futuros, não causando a anulação de condenações anteriores.

O julgamento foi suspenso quando o placar estava 6 a 3 a favor da tese majoritária. Além de Alexandre Moraes, votaram nesse sentido os ministros Rosa Weber, Ricardo Lewandowski, Gilmar Mendes, Celso de Mello e Cármen Lúcia — esta última, embora tenha votado a favor da tese, se posicionou contra o HC, por entender que o ex-gerente da Petrobras não teve violado o seu direito à ampla defesa.

Já Luiz Fux acompanhou o relator. “Há algum dispositivo no Código de Processo Penal, ou na alteração do Código de Processo Penal, ou na lei de delação premiada (...) que permite ao delatado falar depois do delator? Absolutamente não”, argumentou.

A tese vencedora do julgamento é a mesma que levou a 2ª Turma do STF, no fim de agosto, a anular a condenação, imposta pelo então juiz federal Sérgio Moro, do ex-presidente do Banco do Brasil e da Petrobras Aldemir Bendini. A sentença foi a primeira de Moro na Lava-Jato a ser derrubada pelo STF.

Como votaram

Veja como se posicionaram os ministros sobre anular a sentença
de Márcio de Almeida Ferreira. Faltam os votos de Dias Toffoli
e de Marco Aurélio Mello, que ficaram para a semana que vem

A favor     Contra

Alexandre de Moares     Edson Fachin (relator)
Rosa Weber     Luís Roberto Barroso
Cármen     Lúcia Luiz Fux
Ricardo Lewandowski
Gilmar Mendes
Celso de Mello

Caso Lula

Segundo especialistas, o entendimento a ser firmado pelo plenário do STF agora pode afetar processos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, como o do sítio de Atibaia, mas não a condenação imposta por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do triplex do Guarujá. Isso porque, no caso do apartamento, não havia réus com acordo de colaboração premiada homologado pela Justiça na época da condenação em primeira instância.
 
Jornal Impresso
 
 

Correio Braziliense quinta, 26 de setembro de 2019

BRASÍLIA SAÚDA A CHUVA: APÓS 113 DIAS, VOLTA A CHOVER NO DISTRITO FEDERAL

 

BRASÍLIA SAÚDA A CHUVA
 
Chuva volta a cair no DF
 
 
Após 113 dias de seca, brasilienses comemoraram as primeiras precipitações. Previsão é de pancadas isoladas até o fim de semana

 

Emilly Behnke
Thiago Cotrim*

Publicação: 26/09/2019 04:00

Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) registrou 1,2 milímetros de chuva entre 19h e 20h de ontem (Ed Alves/CB/D.A Press)  

Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) registrou 1,2 milímetros de chuva entre 19h e 20h de ontem

 



  

"É graça de Deus uma chuva dessa", disse a cabeleireira Josefa Leite

 



Mesmo desprevenida, Flaviana de Jesus comemorou o fim da estiagem (Emilly Behnke/Esp. CB/D.A Press)  

Mesmo desprevenida, Flaviana de Jesus comemorou o fim da estiagem

 



Depois de 113 dias, a chuva voltou à capital federal. A Primavera trouxe a chuva consigo e as águas caíram em vários pontos do DF ontem. Os pingos trouxeram alívio para quem esperava sua chegada e surpresa para quem foi pego desprevenido na rua.

Quem ouviu de casa quase não acreditou. O funcionário público Carlos Wilke, 33, mora em Águas Claras e conta que começou a escutar os primeiros estalos enquanto assistia à televisão. “Eu não acreditei. Pensei que pudesse ser algum barulho vindo do vizinho de baixo, até que comecei a sentir aquele cheirinho característico de chuva”, disse.

Para quem gosta de chuva, como Josefa Leite, 57, o sentimento foi de alívio. "Estava indo para a igreja quando vi a chuva. Peguei logo o guarda-chuva", disse a moradora da Asa Norte, que não escondeu a alegria em ver o término da seca: "Pelo menos agora, a umidade vai melhorar".

O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) registrou oficialmente 1,2 milímetros de chuva no Sudoeste entre 19h e 20h. Mas, segundo o meteorologista Heráclio Alves, o instituto chegou a receber da população avisos de precipitações em Planaltina e Samambaia.

No centro de Brasília, quem estava pronto para enfrentar os pingos insistentes só agradeceu pela volta do tempo chuvoso. É caso de Lieza Santos, 56, que estava com o guarda-chuva em mãos. "Vim visitar minha mãe no Hospital de Base, mas já estava com o guarda-chuva quando começou. Sempre levo na bolsa por causa do Sol forte", disse a moradora do Varjão.

A enfermeira Flaviana de Jesus, 31, não teve a mesma sorte e foi pega desprevenida. A moradora da Asa Sul teve que esperar a chuva dar uma trégua para poder ir para casa. "Fiquei um tempão dentro do shopping esperando a chuva passar. Não estava contando com essa chuvinha. Agora o guarda-chuvas estará sempre na bolsa."

Apesar da surpresa, para ela, a chuva é muito bem-vinda. No seu dia a dia cuidando dos outros, Flaviana conta que vê de perto o efeito da secura na saúde das pessoas, principalmente em relação a doenças respiratórias. "As crianças e os idosos sofrem demais. É um período muito complicado", explicou.

Apesar da empolgação, a chuva só deve se manter até sábado, com possibilidade de trovoadas e pancadas isoladas. Depois disso a previsão é de céu limpo. “Depois do final de semana, o tempo abre novamente porque esse período de início é muito inconstante”, informou Amilton Carvalho, meteorologista do Inmet. A previsão é de que as chuvas só se regularizem a partir da segunda quinzena de outubro.

* Estagiário sob supervisão de Fernando Jordão
 
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Correio Braziliense quarta, 25 de setembro de 2019

PRESOS DOIS ACUSADOS DE MATAR O PADRE CASEMIRO

 

VIOLÊNCIA
 
Presos dois acusados de matar padre Casemiro
 
Outros dois suspeitos estão sendo procurados pela polícia. Depois do crime, os bandidos pularam o muro da igreja e, com mochilas cheias de produtos do roubo, fugiram usando transporte público

 

» SARAH PERES
» JÉSSICA EUFRÁSIO

Publicação: 25/09/2019 04:00

Alessandro de Anchieta Silva, 18 anos, não tem passagens registradas na polícia e é desempregado. Mora em Valparaíso de Goiás.


Antônio Willyan Almeida Santos, 32 anos, tem passagens na polícia (homicídio e tráfico de drogas) e é oriundo 
de Januária, Minas Gerais. (Ed Alves/CB/D.A Press)  

Alessandro de Anchieta Silva, 18 anos, não tem passagens registradas na polícia e é desempregado. Mora em Valparaíso de Goiás. Antônio Willyan Almeida Santos, 32 anos, tem passagens na polícia (homicídio e tráfico de drogas) e é oriundo de Januária, Minas Gerais.

 


 (Ed Alves/CB/D.A Press)  


Delegado Rossetto:  
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(na casa), o que iam fazer e as ferramentas do padre%u201D. 
Ao lado, objetos recuperados pela polícia (Ed Alves/CB/D.A Press)  

Delegado Rossetto: – Eles (os bandidos) sabiam o que tinha ali (na casa), o que iam fazer e as ferramentas do padre – . Ao lado, objetos recuperados pela polícia

 



Agentes da 2ª Delegacia de Polícia (Asa Norte) ainda procuram outros dois envolvidos no latrocínio — roubo seguido de morte — que vitimou o padre Kazimierz Wojno, 71 anos, mais conhecido como Casemiro. Ontem, os investigadores prenderam, em Valparaíso de Goiás, dois suspeitos, identificados como Alessandro de Anchieta Silva, 18 anos, e Antônio Willyan Almeida Santos, 32. Eles teriam participado do assassinato por asfixia do padre, no último sábado. Os investigadores desconfiam que o crime tenha acontecido porque o religioso teria reconhecido um dos bandidos.

Alessandro chegou algemado em um carro descaracterizado da Polícia Civil, por volta das 15h. O veículo foi escoltado por uma equipe da Divisão de Operações Especiais (DOE) e da Divisão de Operações Aéreas (DOA). Ele foi ouvido por um delegado plantonista da 2ª DP, durante a tarde de ontem. Antônio foi encontrado horas depois. Com eles, a polícia apreendeu dois notebooks e outros possíveis pertences do padre Casemiro.

A polícia chegou aos suspeitos por meio de provas científicas e técnicas obtidas pelos institutos de Identificação e de Criminalística. O crime, segundo explica o delegado-chefe da 2ª DP, Laércio Rossetto, à frente das investigações, envolveu requintes de crueldade. Ainda não há informações sobre o que havia no cofre, uma vez que o conteúdo não foi recuperado.

Por volta das 18h40, após Casemiro celebrar a missa das 17h de sábado na Paróquia Nossa Senhora da Saúde (702 Norte), o padre seguia para a casa paroquial, onde morava, e foi rendido e subjugado. Pouco tempo depois, José Gonzaga da Costa, 39 anos, um dos caseiros da igreja, foi rendido.
 
Crueldade
 
Os criminosos amarraram as duas vítimas nos pés e nas mãos. Gonzaga levou um soco de Alessandro e chegou a ficar sob a mira de uma arma de fogo. Enquanto isso, os criminosos se dividiram entre os dois andares da casa e aproveitaram para abrir o cofre, que fica no térreo do imóvel. O padre foi assassinado em seguida. “A forma que o arame foi passado no pescoço da vítima indica que eles apertaram muito, e não tinha como não saber que isso causaria a morte”, comentou Rossetto, ao destacar a intenção de matar o religioso.

Por volta das 21h40, câmeras de segurança das vias próximas à igreja mostram quatro homens pulando um dos muros que cercam o terreno da paróquia. Levaram todos os objetos roubados em mochilas e pegaram transporte público. À polícia, o caseiro afirmou que foi vendado e que não chegou a ver o crime, mas ouviu o momento em que o padre comentou: “Não é necessário fazer isso”. À polícia, o caseiro contou a versão de que conseguiu tirar a fita adesiva que cobria a boca e uma venda, sobre os olhos, friccionando o rosto em uma parede. Em seguida, ele se arrastou, mesmo amarrado, até a obra, onde gritou por socorro. “Ele prestou depoimento duas vezes na delegacia.

Contudo, ainda há inconsistências no relato. Para comprovar a versão, pedimos para que ele passasse por exame de corpo de delito no Instituto de Medicina Legal (IML) para constatar algum ferimento pela fricção na parede”, detalhou.
 Rossetto reafirmou a possibilidade de que o crime tenha sido premeditado. “Está claro que eles tinham todo o controle do que seria feito. A casa tem dois andares, então, eles dividiram o trabalho entre si, com dois em cada andar. Eles sabiam o que tinha ali (na casa), o que iam fazer e as ferramentas do padre. Os objetos (roubados) ainda não foram encontrados e esperamos que a Justiça emita mandados de busca e apreensão”, afirmou.

O investigador acrescenta que o padre costumava trabalhar em uma pequena oficina na casa; por isso, o barulho no imóvel não chamou atenção. “Alessandro admite (o crime). Só não está sendo contundente quando diz que não queria a morte do padre, mas ele estava com arma de fogo e ajudando no crime”, comentou o policial. Os agentes buscam a arma usada no crime e um dos envolvidos, considerado foragido, identificado como Daniel Souza da Cruz, 29.

Rossetto esclarece que ainda procuram informações para chegar ao quarto envolvido no esquema. “Em depoimento, o Alessandro disse que não conhecia o ‘de menor’. Ou seja, consideramos, em primeiro momento, que se trate de um adolescente”, finalizou.


Sobre o crime

» Estimativa é de que ocorreu entre as 18h40 e as 20h40, pois, antes disso, o padre celebrou a missa e esteve com fiéis.
 
» Após o fim da missa, o religioso retornou à casa, mas, próximo dali, havia uma obra, onde teria sido rendido e subjugado.
 
» Pouco tempo depois, os criminosos fizeram uma segunda vítima, um caseiro da igreja que mora lá há mais 
de 20 anos. Ambas as vítimas foram amarradas nos pés e nas mãos.
 
» No caso do padre, teve requintes de crueldade, pois passaram arame liso no pescoço (usado em construção)
 
» Um dos bandidos foi muito violento, estava usando um revólver na hora do crime e também luvas.

» Ele deu um soco na boca do 
segundo caseiro, que confirmou ter ficado na mira de uma arma 
de fogo durante todo o crime.
 
» Após 21h40, os autores do crime deixam a casa e o terreno da igreja e pulam o muro que circunda a igreja (apesar das imagens ruins, 
quatro pessoas são vistas).
 
Jornal Impresso
 

Correio Braziliense terça, 24 de setembro de 2019

FIFA THE BEST: POLITICAMENTE CORRETO

FIFA THE BEST

Politicamente correto

Inclusão da pessoa com deficiência, ativismo LGBT, racismo e fair play: como os temas da festa de gala podem ter ajudado a entidade máxima do futebol a minimizar a imagem manchada por denúncias de corrupção

 

MARCOS PAULO LIMA
MAÍRA NUNES

Publicação: 24/09/2019 04:00

 


A cerimônia de gala da Fifa, ontem, no Teatro alla Scala, em Milão, na Itália, pode ser interpretada como o dia em que a entidade máxima do futebol soube aproveitar a diversidade de discursos em causa própria na tentativa de entregar à comunidade da bola e ao mundo a imagem de uma organização politicamente correta.

Manchada por denúncias recentes de corrupção na operação Fifagate, deflagrada em maio de 2015 pelo FBI, a dona da festa celebrou a inclusão social ao premiar a mãe de um torcedor deficiente visual; consagrou uma ativista LGBT melhor jogadora do mundo; e se rendeu ao Fair Play (jogo limpo) de um técnico apelidado de louco.

Houve ainda quebra de paradigmas e restauração da ordem. Alisson se tornou o primeiro goleiro brasileiro eleito número 1 na posição. Lionel Messi faturou o prêmio de craque do ano pela sexta vez com 46 pontos. Desbancou o holandês Virgil van Dijk (38) e o português Cristiano Ronaldo (36).

Mãe do deficiente visual Nickollas , de 11 anos, a brasileira Silvia Grecco recebeu o prêmio entregue ao torcedor do ano. Uma reportagem do jornalista Marco Aurélio Souza do grupo Globo mostrou a dedicação dela para narrar jogos de futebol para o filho. A matéria viralizou e emocionou a plateia em Milão. “Nikollas, aqui na frente estão muitas pessoas, muitos jogadores, muitos ídolos, estamos aqui representando nosso time, Palmeiras, e todos os torcedores do Brasil e do mundo, todos aqueles que torcem pela pessoa com deficiência. O simples gesto de narrar os jogos para o meu filho pode transformar a vida dessas pessoas”, discursou.

Decisiva no título dos Estados Unidos na Copa do Mundo feminina deste ano, na França, a ativista LGBT Megan Rapinoe, 34 anos, conquistou o prêmio de melhor do mundo com a bola nos pés e força do discurso. Fora dos gramados, foi protagonista de discursos pela igualdade entre homens e mulheres, ressaltou a luta contra o racismo e, claro, manteve o empenho pelos direitos LGBT. Não colocou a mão no peito ou cantou o hino norte-americano no Munial e disse que, em caso de título, não iria à Casa Branca encontrar o presidente Donald Trump.

“Uma das histórias que me inspirou muito esse ano foi a de Raheem Sterling (do Manchester City) e de Kalidou Koulibaly (senegalês do Napoli), que fizeram grandes performances em campo, mas pela maneira como discutiram o racismo”, discursou ao receber o troféu. E encerrou com um convite: “Temos a oportunidade de usar esse jogo lindo para realmente mudar o mundo para melhor, temos um poder incrível nesta sala”.

“El Loco”

Escolhidos a dedo pelo presidente da Fifa, Gianni Infantino, o Leeds United e o técnico argentino Marcelo “El Loco” Bielsa faturaram o prêmio Fair Play graças a um gesto surpreendente. O treinador mandou o time deixar que o Aston Villa marcasse o gol de empate em uma partida na qual anteriormente a equipe dele havia aberto o placar enquanto um jogador adversário estava lesionado em campo. Na ocasião, o Leeds precisava ganhar para subir à elite do Campeonato Inglês. Por causa do empate por 1 x 1 no confronto direto, o Villa se credenciou para jogar a Premier League na temporada 2019/20. O Leeds permaneceu na segunda divisão.

Melhor do mundo pela sexta vez, Messi igualou o recorde da rainha Marta e homenageou a família. “Eu sempre digo que o prêmio individual é secundário, o mais importante é o coletivo. Mas hoje é especial para mim, tive a oportunidade de estar ao lado da minha mulher e de dois dos meus três filhos. Vê-los aqui não tem preço.

O brasileiro Alisson falou sobre a conquista inédita na carreira. “Ser o melhor goleiro do mundo é incrível. Acredito que tem muito mais por vir ainda”, disse o titular do Liverpool e da Seleção ao SporTV.


 (Fotos: Marco Bertorello/AFP)  

“Estamos aqui representando todos aqueles que torcem pela pessoa com deficiência. O futebol pode transformar a vida dessas pessoas com o simples gesto de narrar os jogos para o meu filho”
Silvia Grecco, mãe de Nickollas, eleitos torcedores do ano



 

“Esse prêmio representa tudo o que eu trabalhei até chegar aqui. Gostaria de agradecer especialmente à
minha esposa, minha filha, meu filho recém-nascido, meus pais, por estar aqui, recebendo esse prêmio das mãos de uma grande brasileira, a Rainha Marta”

Alisson, melhor goleiro



 

“Se todo mundo se posicionasse contra o racismo, contra a homofobia no futebol...  Temos a oportunidade de usar esse jogo lindo para realmente mudar esse mundo para melhor”
Megan Rapinoe, melhor do mundo



 

“Eu sempre digo que o prêmio individual é secundário, o mais importante é o coletivo. Mas hoje (ontem) é especial para mim, tive a oportunidade de estar ao lado da minha mulher e de dois dos meus três filhos. O Thiago já veio aqui, mas era muito pequeno, hoje, vê-los ali não tem preço. São dois apaixonados por futebol e estão adorando tantos jogadores aqui”

Lionel Messi, seis vezes melhor do mundo



 

“Há 10, 20 anos, eu não poderia imaginar estar aqui. (O Liverpool) é um time incrível, meu objetivo foi conquistado, mas tenho que agradecer ao meu time. Como técnico, você só pode ser tão bom quanto o seu time”

Jürgen Klopp, melhor treinador do mundo



Vencedores

Masculino

» Melhor jogador
Lionel Messi (Barcelona – Argentina)

» Melhor goleiro
Alisson (Liverpool – Brasil)

» Melhor treinador
Jurgen Klopp (Liverpool – Alemanha)

» Puskás
Dániel Zsóri (Debrecen – Hungria)

Feminino

» Melhor jogadora

Megan Rapinoe (Reign – EUA)

» Melhor goleira
Sari van Veenendaal (Arsenal/Atlético de Madrid – Holanda)

» Melhor treinador
Jill Ellis (Estados Unidos)

Torcedores do ano
Silvia Grecco e Nickollas (Brasil)

Fair Play
Marcelo Bielsa (Leeds-Argentina)
 
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Correio Braziliense segunda, 23 de setembro de 2019

PADRE CASEMIRO: MORTE DEVE TER SIDO PREMEDITADA

 

Morte de Casemiro deve ter sido premeditada
 
 
Essa é a hipótese mais cogitada pela polícia. O assassinato do padre da Paróquia Nossa Senhora da Saúde, na 702 Norte, chocou a comunidade. Religioso foi emboscado e estrangulado por bandidos. Velório e sepultamento serão hoje

 

» EMILLY BEHNKE
» WALDER GALVÃO

Publicação: 23/09/2019 04:00

Corpo do sacerdote foi encontrado perto da casa paroquial que está em obras (Ed Alves/CB/D.A Press)  

Corpo do sacerdote foi encontrado perto da casa paroquial, que está em obras

 

A Polícia Civil acredita que a morte do padre Kazimierz Wojno, 71 anos, conhecido como Casemiro, tenha sido premeditada. Ao menos quatro pessoas participaram do latrocínio (roubo seguido de morte) do religioso. Articulados, os criminosos montaram uma emboscada para o sacerdote e o abordaram após a missa de sábado, na Paróquia Nossa Senhora da Saúde,  na 702 Norte. Ontem, investigadores da 2ª Delegacia de Polícia (Asa Norte) interrogaram possíveis suspeitos de terem cometido o crime.
 
Os homens abordaram o padre próximo à casa paroquial, que está em obras, ao lado da residência dele. Em seguida, renderam e amarraram um funcionário da paróquia, José Gonzaga da Costa, 39. Cerca de duas horas depois, ele conseguiu se libertar e acionar outros trabalhadores do templo, fazendo com que os bandidos fugissem com alguns itens de valor, segundo a apuração preliminar dos investigadores.

 

"Foi um crime cruel. Não havia a menor necessidade de ceifar a vida dele. Poderiam tê-lo prendido em um cômodo"

Laércio Rossetto, delegado

 

O padre foi encontrado morto, com arames no pescoço e pés e mãos amarrados. Laudo preliminar do Instituto de Medicina Legal (IML) indica que o religioso morreu por estrangulamento. Os policiais acreditam que os suspeitos sabiam da existência dos itens de valor do templo, inclusive de um cofre que o sacerdote mantinha em casa, que foi arrombado com uma barra de metal. Havia muitas ferramentas no local, por causa da reforma; então, existe a hipótese de os bandidos terem aproveitado equipamentos que estavam lá.
 
“Trabalhamos com a hipótese de que eles (os criminosos) tinham informações privilegiadas. Tudo isso vai ser levado em consideração para configurarmos suspeitos. Acreditamos que eles conheciam a rotina da vítima”, informou o delegado à frente do caso, Laércio Rossetto. Para o policial, os criminosos foram à paróquia com a intenção de cometer o assassinato. “Foi um crime cruel. Não havia a menor necessidade de ceifar a vida dele. Poderiam tê-lo prendido em um cômodo”, por exemplo”, frisou.

Tristeza e pesar eram nítidos nos fiéis que compareceram à igreja ontem (Ed Alves/CB/D.A Press)  

Tristeza e pesar eram nítidos nos fiéis que compareceram à igreja ontem

 

O funcionário da igreja sofreu escoriações nos braços e nas mãos e precisou ser levado ao Hospital Regional da Asa Norte (Hran). Durante a manhã de ontem, ele auxiliou os agentes na perícia, indicando como ocorreu a dinâmica do crime. “Interrogamos testemunhas e possíveis suspeitos. Também tivemos acesso a imagens que mostram os criminosos deixando o local”, ressaltou o delegado.

Padre Casemiro era conhecido pelo gênio forte e pelo sotaque
 (Paróquia Nossa Senhora da Saúde/Reprodução)  

Padre Casemiro era conhecido pelo gênio forte e pelo sotaque

 

Violência
Esta não é a primeira violação à Paróquia Nossa Senhora da Saúde: em abril deste ano, a igreja foi invadida. No domingo de Páscoa, o sacrário da casa, estimado em cerca de R$ 20 mil, foi furtado e encontrado três dias depois sendo negociado em um ferro-velho em Samambaia. Os policiais ainda não conseguiram estabelecer ligação entre os crimes. Entretanto, não descartam nenhuma possibilidade. Segundo a Secretaria de Segurança do Distrito Federal, foram registrados 163 furtos a templos religiosos neste ano, 8,7% a mais do que em 2018.
 
Ao Correio, fiéis contaram que, na missa de sexta-feira (20/9), o padre comentou a violência. “A área está muito perigosa. Temos diversos relatos de furto de veículos durante as missas ou casamentos. Precisou acontecer uma tragédia para todos darem atenção”, reclamou um frequentador do templo religioso, que preferiu não se identificar.
 
Desde a noite do latrocínio, equipes da Polícia Civil estão na rua para tentar prender os responsáveis. “O esforço é grande para elucidar esse crime. Temos a área criminalística, peritos e agentes trabalhando nesse caso e fazendo varreduras”, garantiu Rossetto.
 
 
 
Despedida
 
Sacerdotes da Igreja Católica se mobilizam para realizar o sepultamento do padre Casemiro. A maior dificuldade foi entrar em contato com parentes da vítima, que moram na Polônia. “Este ano, familiares vieram visitá-lo. Por causa dessa proximidade, não podíamos tomar qualquer decisão antes de consultá-los”, explicou o padre João Firmino, colega de Casemiro. O corpo foi liberado pelo IML (Instituto Médico Legal) na noite de ontem. A Embaixada da Polônia auxiliou a localizar a família. Após contato com parentes, o velório e o sepultamento do padre ficaram marcados para hoje. Confira a programação:
 
» Das 8h às 8h30: chegada à paróquia para o velório
» Às 10h: missa do clero
» Às 14h: missa celebrada por Dom Sérgio, arcebispo metropolitano de Brasília
» Às 15h: encomendação do corpo
» Às 16h: saída para o Cemitério Campo da Esperança
» Das 16h30 às 17h: sepultamento.
 
 
 
Perfil


O padre João Firmino (Ed Alves/CB/D.A Press)  

O padre João Firmino

 

A fiel Ceoliles Gaio, aposentada (Ed Alves/CB/D.A Press)  

A fiel Ceoliles Gaio, aposentada

 

Casemiro ajudou a construir a igreja (Ed Alves/CB/D.A Press)  

Casemiro ajudou a construir a igreja

 

Apaixonado por construção
 
Padre Casemiro dedicou 46 anos ao sacerdócio, tendo começado a vida missionária ainda na Polônia. Ontem, pelo menos 17 portais de notícias poloneses repercutiram o assassinato do padre no Brasil. Infelizmente, o fim da vida dele fica marcado pela violência brutal; no entanto, o sacerdote deixa muitas outras lembraças. Quando não estava de batina, era quase irreconhecível. Após os cultos, trocava o traje religioso e passava a usar bermuda, camiseta, sandália e chapelão de palha. Apaixonado por construção civil, a vestimenta simples era usada nas intermináveis obras da paróquia, das quais ele fazia questão de participar.
 
“Não tem uma pedra de mármore da igreja que ele não tenha cortado”, contou a fiel Marlene Barroso, 77 anos. O religioso nasceu na vila Skody Borowe, na cidade polonesa de Lomza, e chegou ao Distrito Federal em 1984 por uma missão religiosa. À época, as missas na 702 Norte eram celebradas no galpão de uma escola particular localizada ao lado da atual Paróquia Nossa Senhora da Saúde. Pedreiro habilidoso, ele decidiu erguer um templo. Com ajuda de alguns fiéis, começou as obras, que logo foram concluídas. “Ele era engenheiro, construtor e eletricista. Se tem uma coisa de que não gostava, era de ficar parado”, lembrou Marlene.
 
Segundo os fiéis, o gosto pela construção fez com que o padre montasse uma oficina perto da igreja. Era comum encontrar o padre de bermuda, sujo e de chapéu “colocando a mão na massa”. A mulher detalhou que o sacerdote chegou ao DF no mesmo ano que ela. “Sou do Rio de Janeiro e vim morar na capital. Lembro que, naquele mesmo ano, o padre foi designado para a paróquia daqui”, disse, emocionada. Para ela, Casemiro deixou uma mensagem de fé é muito amor pela comunidade.
 
Construtor habilidoso
Além da paixão pelas obras da paróquia, o padre era muito conhecido por outra característica: o sotaque. Fiéis relatam que, com o passar dos anos, ele melhorou a pronúncia do português, mas os cultos ministrados com um toque polonês tinham um charme a mais. O pároco tinha ainda outra paixão: a fotografia. “Ele fazia muitos trabalhos para a Cúria (a sede da Arquidiocese de Brasília)”, disse Ceoliles Gaio, 71.
 
A aposentada chamou atenção  para o gênio forte de Casemiro, um traço de sua origem polonesa. “Não era muito fácil socializar com ele”, comentou. “Ele era uma pessoa muito severa em relação à religião e às tradições. Valorizava o que era importante”, afirmou a moradora da Asa Norte. O apreço pelos costumes religiosos também se refletia na dedicação do padre Casemiro com os jovens. Trabalhou por anos no movimento jovem Segue-me (Encontro de Jovens com Cristo).
 
Apesar do “jeitão duro”, Kazimierz era muito querido por toda a comunidade, de acordo com João Firmino, coordenador de Comunicação da Arquidiocese de Brasília. “O padre Casemiro era muito antigo aqui na paróquia e muito querido também. Era um padre bruto, forte e ficamos imaginando o que pode ter acontecido”, afirmou o religioso.
 
Ontem, a Arquidiocese de Brasília manifestou pesar pela perda do sacerdote e afirmou que está acompanhando a apuração do caso. “Rezemos por sua alma, sua família e sua comunidade paroquial”, destacou o texto. A Comissão Justiça e Paz de Brasília, entidade ligada à Igreja Católica, também publicou nota sobre o ocorrido: “Padre Casimiro é semente, ele permanece entre nós, seu ministério, seus valores, seu serviço pastoral. Como semente renasce, frutifica como exemplo, nos ensina a ser cristãos em tempos conturbados”.
 
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Correio Braziliense domingo, 22 de setembro de 2019

ELZA SOARES: COM FOME DE SAÚDE, DE RESPEITO E DE CULTURA

 

Com fome de saúde, de respeito e de culturaElza
 
 
Soares se referencia para explicar o Brasil de hoje. Assim surge Planeta fome, álbum em que a artista canta o momento político-social do país com toque otimista

 

Adriana Izel

Publicação: 22/09/2019 04:00

Elza Soares canta sobre as mazelas e controvérsias do Brasil em Planeta fome (Marcos Hermes/Divulgação)  

Elza Soares canta sobre as mazelas e controvérsias do Brasil em Planeta fome

 

 
 
O ano era 1953. Elza Soares aparecia pela primeira vez para uma apresentação ao vivo no concurso de música do programa de Ary Barroso, da Rádio Tupi. Ela foi abordada pelo apresentador com o questionamento irônico: “De que planeta você veio?”. A resposta logo se tornou emblemática para a trajetória da carioca: “Vim do mesmo planeta que o senhor. Do Planeta fome”.
 
Mais de 60 anos depois, a artista busca referência no fato para explicar o Brasil, que é cantado no mais recente álbum, Planeta fome, lançado no último dia 13. “É porque a gente está com muita fome”, diz Elza ao Correio ao explicar o motivo da escolha do título. “Estou com fome de saúde, de respeito, de cultura. Estamos vivendo um momento de saudade. O Brasil, que é um país tão acolhedor, hoje está encolhido. Eu não entendo isso. Então, estamos vivendo um momento de muita fome”, diz.
 
A partir dessa fome, a cantora buscou o repertório de 12 faixas, que é formado por canções inéditas e algumas regravações. “O repertório é todo meu. Escolhi a dedo. As músicas são todas atualizadas com o hoje. Elas são feitas para o hoje. Até aquelas que foram feitas ontem, elas podem ser cantadas hoje. Minha preocupação era essa. Encontrar músicas que relatassem o hoje, não me importava muito quando elas tinham sido feitas”. Assim chegou até clássicos como Comportamento geral — a primeira do CD a ganhar um clipe lançado na última quinta-feira em que Elza está num cenário apocalíptico ao melhor estilo do filme Mad Max — e Pequena memória pra um tempo sem memória, ambas de Gonzaguinha, e Tradição, de Sergio Britto e Paulo Miklos, dos Titãs, que ganharam nova roupagem e a marcante voz de Elza Soares.
 
Entre as inéditas, todas canções que são a cara da artista, com um discurso forte, social e político e, ao mesmo tempo, otimista. Para mostrar isso, Elza começa o álbum com Libertação, escrita por Russo Passapusso, do BaianaSystem, e com participação de Virginia Rodrigues, em que manda logo o recado: “Eu não vou sucumbir/ Eu não vou sucumbir/ Avisa na hora que tremer o chão/ Amiga é agora segura a minha mão”. Depois logo emenda a curtinha, de apenas 46 segundos, Menino, um recado as crianças: “Sei que é muito triste não ter casa, não ter pão/ Não te leva a nada destruir seu irmão/ Você representa o futuro da nação.”
 
A terceira faixa é Brasis, música que, segundo Elza, define exatamente o Brasil atual e o tom do disco. “O Brasil que eu vejo é esse do Brasis que estou cantando. É o Brasil ao contrário. Parece que são dois Brasis num Brasil só”, analisa. Na canção escrita por Seu Jorge, Gabriel Moura e Jovi Joviniano, a artista mostra o Brasil de contradições, que ao mesmo tempo que é próspero, também não o é. As terras tupiniquins são ainda tema de Blá blá blá (Gabriel Contino, DJ Meme e Andre Gomes), com BNegão e Pedro Loureiro, e que faz referências a discursos atuais como o “terraplanismo”, e País do sonho (Chapinha da Vela e Carlinho Palhano), que mostra a busca da cantora por um país com saúde, educação e sem corrupção.
 
Em ambas, Elza toca na ferida, mas se mostra otimista, algo que ela diz ser essencial no momento vivido, e faz questão de reforçar em Planeta fome. “Lógico, temos que ser otimistas. Falei outro dia que o Brasil está vivendo um momento de gripe. Está gripado, e a medicação é o povo. Temos que dar esse remedinho logo para não deixar virar uma pneumonia. É só uma gripe. Eu preciso cantar num país onde a saúde não esteja doente”, afirma, citando trecho de País de sonho.
 
Cenário apocalíptico faz parte do primeiro clipe do disco lançado na última quinta-feira (Marcos Hermes/Divulgação)  

Cenário apocalíptico faz parte do primeiro clipe do disco lançado na última quinta-feira

 

 
Discurso
 
Em Planeta fome, a artista volta a se referenciar, aqui de forma atualizada. Elza Soares renova o discurso de A carne, no disco Do cóccix até o pescoço de 2002, em Não tá mais de graça, composta por Rafael Mike, que também divide os vocais com a cantora. “Há 17 anos cantei que a carne negra era a mais barata. Hoje não é mais. Hoje o que não valia nada, agora vale uma tonelada”, diz.
 
Em Virei o jogo (Pedro Luis), a artista faz o que fez muito bem em Deus é mulher (2018), canta uma espécie de biografia feminista. “Nunca arreguei/ Quando tropecei sempre me ergui/ Já quebrei a cara/ Enfrentei as feras, nunca me rendi”. Já em Não recomendado, de Caio Prado, Elza fala do preconceito e do aumento do conservadorismo: “A placa de censura no meu rosto diz, não recomendado a sociedade”.
 
No meio de tantos discursos há um momento para leveza, que ocorre no meio do disco em Lírio rosa. Escrita por Pedro Loureiro e Luciano Mello, a faixa é romântica e está em Planeta fome exatamente para um momento de quebra. “Ela te dá uma descansada. É aquela coisa bem branda, uma coisa linda, maravilhosa”, classifica.
 
Diferentemente de A mulher do fim do mundo (2015) e Deus é mulher (2018), que tiveram produção de Guilherme Kastrup, Planeta fome, 34º disco da carreira, contou com produção de Rafael Ramos, que já havia trabalhado com Pitty, Titãs, Ultraje a Rigor e Capital Inicial. Isso faz com que o material tenha algumas diferenças. Além da mensagem, aqui mais política e social, há uma sonoridade mais percussiva, também influência da presença do BaianaSystem, batidas eletrônicas e guitarras sujas. “A gente deu sorte. Dei muita sorte. Calhou e aconteceu que deu tudo certo. Trabalhar com o Rafael Ramos foi muito bom. Ele é maravilhoso”, defende.
 
Outra novidade é a arte da cartunista Laerte na capa de Planeta fome. A ilustração é surrealista e traz a imagem de um planeta populoso, poluído e com referências às origens da cantora, nascida e criada no subúrbio do Rio de Janeiro.
 
Assim como em Deus é mulher, Elza Soares sairá logo em turnê do disco. O primeiro show será no Rock in Rio, onde será homenageada em 29 de setembro no Palco Sunset na apresentação intitulada Elza Soares convida com As Bahias e a Cozinha Mineira, Kell Smith e Jéssica Ellen. Depois, a cantora deve rodar o Brasil.
 
 
 
 
Planeta fome
De Elza Soares. Deck, 12 músicas. Disponível nas plataformas digitais.
 
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Correio Braziliense sábado, 21 de setembro de 2019

PAULINHO DA VIOLA: EM NOME DO PAI E DOS FILHOS

 

Paulinho da Viola: em nome do pai e dos filhos
 
O sambista chega à cidade para celebrar o centenário do pai e violonista, César Faria, com participação de dois dos rebentos no palco

 

Irlam Rocha Lima

Publicação: 21/09/2019 04:00

Reverência e celebração. Em Na Madrugada, o show que faz hoje, às 21h30, no auditório master do Centro de Convenções Ulysses Guimarães, Paulinho da Viola dedica ao pai e violonista César Faria, que completaria 100 anos em 2019; e ao parceiro e amigo Elton Medeiros, morto no dia 4 último. Ele aproveita também para comemorar os 50 anos de lançamento de dois clássicos de sua obra, os sambas Sinal fechado e Foi um rio que passou em minha vida. Com esta apresentação em Brasília, o cantor e compositor carioca, um dos ícones da música popular brasileira, dá sequência à turnê iniciada há um ano na casa de espetáculos Vivo Rio, no Museu de Arte Moderna, no Rio de Janeiro. Ele tem a companhia da banda formada por João Rabello (violão), Dininho Silva (baixo), Adriano Souza (piano), Mário Sève (sopros), Ricardo Costa (bateria), Celsinho Silva, Esguleba e Hércules Nunes (percussão). Ha, ainda, a participação da cantora Beatriz Rabello, filha de Paulinho, nascida em Brasília. No roteiro do show, embora tenham sido incluídas músicas menos conhecidas, entre as quais O tímido e a manequim, Ruas que sonhei e Vela no breu;  predominam sambas consagrados da obra de Paulinho, como Coração leviano, Dança da solidão, Eu canto samba, Onde a dor não tem razão, Recomeçar, Timoneiro, além, é claro, as citadas Sinal fechado e o hino portelense Foi um rio que passou em minha vida.
 
 
 
Na Madrugada
Show de Paulinho da Viola e banda, com a participação de Beatriz Faria, hoje, às 21h30, no auditório master do Centro de Convenções Ulysses Guimarães (Eixo Monumental). Ingressos: R$ R$ 80 (superior), R$ 100 (especial), R$ 140 (vip), R$ 160 (gold) – valores referentes a meia entrada. Assinante do Correio tem 60% de desconto na compra até dois ingressos de inteira. Ponto de venda: Brasília Shopping (segundo subsolo). Não recomendado para menores de 14 anos.
 
 
 
Entrevista
 
De onde surgiu Na madrugada, o nome do show?
Quando estava para estrear novo show, em setembro do ano passado, me lembrei de um LP que havia gravado com o Elton Medeiros, em 1968, cujo título era Samba na madrugada; nome também de um samba que fiz em parceria com o Candeia. Era um disco despretensioso, mas que obteve boa repercussão. Aí, decidi tirar dali o nome do show. O Elton ainda estava vivo, embora doente. Num processo progressivo, ele havia perdido a visão, se locomovia com dificuldade e vivia, triste, acompanhado de uma cuidadora. Fiz vários sambas com ele. O que se tornou mais conhecido foi Quando a dor não tem razão.
 
 
A estreia foi no Rio de Janeiro?
Primeiro, fiz uma apresentação em São Paulo, para testar o repertório, o formato do show. Aí, convidei Isaias Bueno e outro dois chorões paulistanos que haviam sido amigos do meu pai para fazer uma participação. Mas a estreia do show foi no Vivo Rio, tendo meu pai como homenageado.
 
 
Neste ano, caso estivesse vivo, o mestre César Faria completaria 100 anos. Você antecipou a celebração?
Mesmo ausente, ele está sempre presente nos meus shows, pois durante muito tempo fez parte do grupo que me acompanha. Agora, estamos celebrando o centenário dele. Foi um grande violonista e um dos fundadores do regional Época de Ouro, criado pelo Jacob do Bandolim. Meu filho João Rabello o substituiu, tocando o violão de seis cordas.
 
 
Como é a participação da cantora Beatriz Rabello?
A Beatriz, uma das minhas filhas, é cantora e participou de vários musicais. Em 2017, ela lançou o CD Bloco do amor, nome também de um samba, composto por mim, especialmente para esse trabalho. Em agosto do ano passado, fiz um show com ela em Brasília, pelo projeto Noite Cultural T-Bone, que reuniu muita gente.
 
 
Em 2019, faz 50 anos de dois clássicos de sua obra, sambas com diferentes estruturas, Sinal fechado e Foi um rio que passou em minha vida. Você previa que fariam sucesso quando os lançou?
Ambos foram lançados em 1969 e se tornaram conhecidos ao participar de dois festivais. Sinal fechado, do último festival promovido pela TV Record. Foi um rio que passou em minha vida se destacou no festival da TV Tupi, com direção de Fernando Faro. Gravei os dois sambas num compacto, mas Sinal fechado não chegou a fazer sucesso de imediato. No carnaval de 1970, Seu Natal, patrono da Portela, chegou para mim e disse que Foi um rio seria cantada na concentração, antes do desfile da escola, na Avenida Presidente Vargas. Quando vi aquilo, me emocionei muito. No mesmo ano, durante o carnaval, tive outra grande emoção. Estava na Cinelândia aguardando, com meus filhos, a passagem de um bloco de sujo. Quando o bloco, vindo do Theatro Municpal, se aproximou de onde estávamos, em frente ao Cine Odeon, fiquei impressionado, pois todos os integrantes cantavam Foi um rio que passou em minha, que é um samba de letra extensa, por inteiro.
 
 
Como torcedor do Vasco da Gama, ainda mantém o hábito de assistir a jogos do time?
O Vasco faz uma campanha muito irregular no Campeonato Brasileiro, mas vejo pela tevê todos os jogos. Há algum tempo, quando o time estava ameaçado de cair para a segunda divisão, liguei para o Aldir Blanc, outro vascaíno fanático, e fiz esta mesma pergunta para ele. O Aldir disse que havia deixado de assistir aos jogos, pois estava passando mal. Ultimamente não me sinto confortável vendo o Vasco jogar, mas não deixo de assistir.
 
 
 (Maristela Martins/Divulgação)  
 
Filho e neto de peixe
Músico desde a adolescência, João Rabello, filho de Paulinho da Viola e neto de César Faria, teve como principal referência, ao iniciar a carreira artística, Raphael Rabello, depois de ouvir o disco Relendo Dilermando Reis, gravado pelo tio. Agustin Barrios é outro violonista que o influenciou. Quando passou a integrar a banda que acompanha o pai, o avô ainda estava vivo. “Aos 11 anos, quando ia à casa do meu avô, me chamava a atenção o fato de ele deixar o violão sempre sobre o sofá e ao meu alcance”, lembra. João lançou dois discos solo: Roendo as unhas (2008) e Uma pausa de mil compassos (2012), ambos com temas autorais do violonista. Embora invista em trabalhos individuais, é ao se apresentar acompanhando o pai que seu virtuosismo instrumental tem sido apreciado por um maior número de pessoas. “Comecei no violão como solista, mas foi tocando em banda, como acompanhante, me enriqueceu musicalmente”, afirma.
 
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Correio Braziliense sexta, 20 de setembro de 2019

RECORDE DE CALOR NO ANO CHEGA A 35,7 GRAUS C

 

Recorde de calor no ano chega a 35,7ºC
 
 
Há 109 dias sem chuva, o Distrito Federal enfrenta período com série de temperaturas altas e baixa umidade do ar. Na próxima semana, quando começa a primavera, há possibilidade de precipitações na capital, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet)

 

» Mariana Machado
» Geovana Oliveira*
» Thais Umbelino*
» Thiago Cotrim*

Publicação: 20/09/2019 04:00

 

"Eu não estou conseguindo dormir direito e, à tarde, fica difícil estudar" Thássya Silva, com a amiga Jeniffer Moreira

 

 
Sol a pino e nenhuma nuvem no céu. A imagem, combinada com a baixa umidade, tem sido a realidade dos brasilienses. O Distrito Federal completa hoje 109 dias sem chuvas e, na tarde de ontem, o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) registrou o dia mais quente do ano na capital, quando os termômetros chegaram aos 35,7ºC no Gama — no Plano Piloto, a temperatura chegou a 34,1ºC (veja Dia quente). O meteorologista Olívio Bahia explica que, com a aproximação da primavera — a nova estação começa em 23 de setembro —, o Sol passa do Hemisfério Norte ao Sul, ficando diretamente sobre a linha do Equador. “A gente recebe muita radiação solar e, como não há nuvens, ela chega diretamente na superfície terrestre, sem filtros, e reaquece o ar”, explica.

De acordo com o especialista, há chances de chuva para a próxima semana “A umidade até tem subido, mas, mesmo quando alcança os 18%, a gente não sente, porque as temperaturas estão muito altas. Isso pode mudar a partir do dia 24”, avalia. Até lá, a população precisa recorrer a alternativas para para aguentar a estiagem (leia Cuidados com a saúde).

No caso da estudante Jeniffer Moreira, 18 anos, água de coco e açaí são uma boa saída. Ontem, ela e duas amigas reuniram-se em um quiosque do Parque da Cidade para se refrescar. “Está péssimo, mas eu acho que passei mais calor em Brasília em outras vezes”, pondera. O trio estuda em Taguatinga e, depois da aula, pegou um ônibus até o Centro de Convenções Ulysses Guimarães para participar de um evento. “Quando saímos, sentimos aquele mormaço e precisamos vir tomar alguma coisa”, conta Andreza Siqueira, 17 anos.

Elas contam que, na hora de enfrentar as altas temperaturas, vale tomar dois banhos e até deitar no chão para se resfriar. “Eu não estou conseguindo dormir direito e, à tarde, fica difícil estudar. O nariz parece que vai sangrar, e a cabeça dói”, reclama a estudante Thássya Silva, 16. As jovens mal podem esperar pela volta do tempo frio. “A paisagem está amarelada e, a toda hora, tem uma nova queimada”, destaca Thássya.

Mas o clima não desanima quem gosta de fazer exercícios. Sonhando em emagrecer antes do início do verão, a bancária Gisele Lima, 36, mantém a disciplina de um atleta e, pelo menos três vezes por semana, calça o tênis e corre 5km. “Nessa época, tem de ter boa vontade, tomar coragem e ir mesmo”, afirma. “Neste ano, o calor está castigando mais do que o normal”, avalia.

Desde o início da seca, o pôr do sol na capital federal rende belas imagens, como essa na Torre de TV (Ed Alves/CB/D.A Press - 5/9/19)  

Desde o início da seca, o pôr do sol na capital federal rende belas imagens, como essa na Torre de TV

 



Proteção
 
Para fugir do Sol, há quem recorra às sombras das árvores e a chapéus. Aqueles que trabalham na rua tomam ainda mais cuidado. Maria dos Anjos, 60, vendedora ambulante há 19, é uma delas. “A gente tenta se proteger com filtro solar, guarda-sol e boné. Venho sempre com calça e blusa comprida, mas ainda não é suficiente”, lamenta. Dormir também não tem sido fácil. “À noite, só com ventilador ligado. Apenas a janela aberta não resolve”, reclama.

Gil Rodrigues de Araújo, 66, vende estatuetas na Praça dos Três Poderes. Na profissão de ambulante há 20 anos, ele ressalta a importância da hidratação. “Eu bebo 2 litros de água só pela manhã e bebo ainda mais à noite. E sempre reforço com meus colegas a importância da água.” Ele acredita que, a cada ano, a cidade fica mais quente. “Brasília não era assim”, diz.
 
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Correio Braziliense quinta, 19 de setembro de 2019

FERNANDO CÉSAR: EXCELÊNCIA DO CHORINHO

 

Excelência do chorinho
 
Show de Fernando César, um dos instrumentistas mais talentosos do DF, destaca a importância dos grandes mestres do gênero

 

Irlam Rocha Lima

Publicação: 19/09/2019 04:00

Na década de 1980, os irmãos Hamilton de Holanda e Fernando César, ainda crianças, flertaram com o rock. Mas, influenciados pelo pai, o violonista José Américo, tornaram-se chorões e formaram o grupo Dois de Ouro — nome dado pelo saudoso Pernambuco do Pandeiro. Lançaram dois discos.
 
Tempos depois, Hamilton, bandolinista consagrado, incorporou a linguagem do jazz ao seu trabalho. O sete cordas César, porém, manteve irrestrita fidelidade ao choro, tido pelos historiadores como a gênese da música popular brasileira. Em 2016, comemorando 35 anos de música, lançou o ótimo CD Tudo novamente e, para divulgá-lo, fez uma série de apresentações em turnê por Recife, Rio de Janeiro, São Paulo, Santos, Araras (SP) e Goiânia.
 
O título do show dessa turnê, No tempo dos regionais, remete à tradicional formação, que acompanhava os mestres do chorinho. O regional mais conhecido foi o Época de Ouro — que se mantém em atividade —, criado por Jacob do Bandolim. Aliás, desde então, Fernando César passou a ter um regional ao seu lado no palco.
 
Sem ser passadista, o violonista sempre encontra um motivo para reverenciar os músicos e compositores da velha guarda que têm nome inscrito na história do choro. Isso volta a acontecer no show Em festa, que ele faz hoje e amanhã, às 21h, no Espaço Cultural do Choro, quando revisita a obra de Chiquinha Gonzaga, Ernesto Nazareth, Anacleto Medeiros e Avena de Castro.
 
Ele tem a companhia do regional formado por Pedro Vasconcellos (cavaquinho), Luiz Ungarelli (pandeiro), Thanise Silva (flauta) e Bruno Patrício (saxofone). Há, ainda, a participação de dois convidados especiais, o trombonista Daniel Rodrigues e Eduardo Belo, contrabaixista brasiliense radicado em Nova York.
 
Em quase quatro décadas de carreira, Fernando César, ex-estudante da Escola de Música, ex-coordenador da Escola Brasileira de Choro Raphael Rabello (desde 2001 é professor de violão dessa instituição), fez parte de grupos como Choro & Companhia e Aquattro, com o qual gravou o CD dedicado à obra do bandolinista pernambucano Luperce Miranda. O primeiro álbum solo, de 2010, foi o 3 por 4, com repertório de valsas. Frequentemente, o músico ministra oficinas de violão e prática de conjunto.
 
Atualmente, o violonista integra o Choro Livre, grupo liderado por Reco do Bandolim que tem feito constantes turnês pelo exterior. Em projetos do Clube do Choro, tocou com renomados instrumentistas brasileiros, entre os quais Hermeto Pascoal, Sivuca, Dominguinhos, Altamiro Carilho, Zé Menezes, Raul de Barros, Wagner Tiso e Léo Gandelman.
 
 
 
Em festa
Show do violonista e compositor Fernando César e regional e convidados, hoje e amanhã, às 21h, no Espaço Cultural do Choro (Eixo Monumental, ao lado do Centro de Convenções Ulysses Guimarães). Ingressos: R$ 40 e R$ 20 (meia para estudantes). Não recomendado para menores de 14 anos. Informações: 3244-0559.
 
 
Fernando César:  

Fernando César: "Pixinguinha não podia estar fora dessa celebração"

 

 
Entrevista/ Fernando César
 
 
Por que você tem se dedicado tanto à obra de mestres da velha guarda do choro?
Como professor e formador de novos músicos, preciso mostrar a eles a importância de beber na fonte, de tomar conhecimento e ter acesso ao legado dos grandes mestres do choro, que deram importante contribuição para a história do mais tradicional gênero musical brasileiro. Hoje em dia, com tanta informação e a velocidade com que é passada, os instrumentistas mais jovens tendem a pular etapas, deixando de lado a obra desses geniais músicos e compositores.
 
 
O fato de prestar tributo a alguns deles no show Em festa tem a ver com esse propósito?
Certamente. Não por acaso tenho em minha companhia um regional formado por músicos da nova geração de Brasília. Com ele vou homenagear Chiquinha Gonzaga, Ernesto Nazareth e Anacleto de Medeiros, contemporâneos e pioneiros desse gênero musical, choro. Os três são da época em que o choro ainda não tinha este nome. Era chamado de tango brasileiro.
 
 
Foi por razões óbvias que quis estender a homenagem a Pixiguinha?
A música de Pixinguinha não podia estar fora dessa celebração. O autor dos clássicos Carinhoso, Lamentos e Rosa tem que ser sempre reverenciados por chorões. Afinal das contas foi ele, com suas composições, que solidificou o que hoje é chamado de choro. No show, porém, vamos tocar uma música dele menos conhecida, chamada Ainda me recordo.
 
 
Quem mais será lembrado?
Num dos sets do show, vamos homenagear também os centenaristas, dois músicos e compositores ligados ao choro que fariam 100 anos em 2019, o pernambucano Rossini Fereira e o carioca Avena de Castro. Avena foi um dos responsáveis por trazer o choro para Brasília. No Rio de Janeiro, quando morava lá, chegou a tocar com Jacob do Bandolim. Aqui, tocava nas rodas de choro nas casas de Arnoldo Veloso, Raimundo de Brito e Odeteh Ernest Dias, foi um dos fundadores do Clube do Choro, do qual viria a ser o primeiro presidente.
 
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Correio Braziliense quarta, 18 de setembro de 2019

A SECA NOSSA DE CADA DIA

 

A seca nossa de cada dia
 
 
Baixa umidade afeta saúde dos brasilienses. Já são 107 dias sem chuvas e não há previsão de melhora nos próximos dias

 

» CAROLINE CINTRA

Publicação: 18/09/2019 04:00

A paisagista Dalissandra Moreira está há quatro dias acompanhando o filho internado com desidratação (Caroline Cintra/CB/D.A Press)  

A paisagista Dalissandra Moreira está há quatro dias acompanhando o filho internado com desidratação

 

 
Temperaturas altas, baixa umidade, suor e muito calor. Assim tem sido o dia a dia no Distrito Federal, que hoje completa 107 dias sem chuva. De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), não há sinais de mudança no clima nos próximos sete dias. Para esta quarta-feira, a previsão é de céu claro, com poucas nuvens e névoa seca. A máxima pode chegar a 35ºC, entre 14h e 16h. A umidade relativa do ar varia de 50% a 15%. Ontem, a taxa mais baixa foi registrada no Gama: 13%.
 
O meteorologista Olívio Bahia avalia que a chuva só deve chegar, de forma tímida e frequente, em outubro. “Além da falta de chuva, tem uma massa quente e seca que mantém as temperaturas elevadas. Vamos esperar mais uns 10 dias para ver se o clima muda. Enquanto isso, a população deve manter os cuidados com a saúde recomendados pelos médicos”, ressalta. 
 
No período de seca, todos sofrem. No entanto, crianças, idosos e pessoas com problemas respiratórios são os grupos mais vulneráveis e precisam redobrar a atenção. A nutricionista Camila Pedrosa afirma que o brasileiro tem dificuldade em beber água diariamente, mas que esse costume precisa ser mudado. Ela explica que a quantidade do líquido ingerida por dia deve ser calculada conforme o peso da pessoa: de 30 a 35 ml por quilo. Isso, em situação de umidade normal. Na seca, a quantidade deve aumentar em torno de 20%. Se a pessoa deve beber 2 l de água por dia, no período de estiagem deve aumentar o consumo em 400 ml.
 
Para as crianças, a nutricionista orienta que os pais coloquem garrafas na lancheira, com água fresca. Além disso, os pequenos devem estar em locais com fácil acesso a um bebedouro. “Os responsáveis podem usar um alarme de bichinho, por exemplo, para que o filho lembre que aquela é a hora de beber água. E que isso se torne um hábito. A mesma coisa deve ser feita pelos adultos. Tem aplicativo para isso. Hoje, existem recursos que ajudam”, destaca.
 
Camila diz ainda que, nesse período, as pessoas optam por alimentos mais rápidos e práticos e que, muitas vezes, para se refrescar buscam sorvetes e picolés, quando o ideal é comer frutas e beber bastante água. “Vale lembrar que hidratação é água. Tem gente que opta por sucos e chás, mas eles ajudam a refrescar. A água, além de refrescante, tem o papel de eliminar impurezas no organismo. O certo é aumentar o consumo de frutas e vegetais. Alguns deles têm água e ajudam a repor o líquido no organismo ao longo do dia, de forma sutil”, afirma.

A auxiliar de enfermagem Betânia Ribeiro precisou levar o filho Leonardo Júnior três vezes ao médico (Caroline Cintra/CB/D.A Press)  

A auxiliar de enfermagem Betânia Ribeiro precisou levar o filho Leonardo Júnior três vezes ao médico

 



Moradora de Santa Maria, Marta Pereira foi  ao Hmib buscar atendimento para o filho de 1 ano e 4 meses (Caroline Cintra/CB/D.A Press)  

Moradora de Santa Maria, Marta Pereira foi ao Hmib buscar atendimento para o filho de 1 ano e 4 meses

 

 
Hospitais cheios
 
A paisagista Dalissandra Moreira, 48 anos, está há quatro dias acompanhando o filho, Hayati Costa, 5, internado com desidratação no Hospital Materno Infantil de Brasília (Hmib). Desde a última quinta-feira, a criança tem febre, vômito e diarreia. Todos os sintomas decorrentes do período seco que o DF enfrenta. Devido a dificuldade de se alimentar, ele está à base de soro venal. “Essa é a primeira vez que ele fica assim. Me assustei quando o vi desse jeito. Não para nada no estômago dele. Esse período afeta demais as crianças. Só no quarto que meu filho está, são mais cinco com desidratação. Todos os dias ele diz que quer voltar para casa. Não está fácil”, conta. 
 
Moradora de Santa Maria, a técnica em enfermagem Marta Pereira, 38, preferiu ir ao Hmib para levar o filho, Henry Kael da Silva, 1. Mesmo tendo um hospital público na região onde reside, ela optou por pagar R$ 40 para ir até a Asa Sul de Uber. “Lá (em Santa Maria) é difícil ter pediatra, já vim aqui (no Hmib) que é mais certo dele ser atendido”, afirma. Há dois dias, o menino está com fraqueza, febre e nariz ressecado. Assustada com os sinais de doença, resolveu levá-lo à unidade de saúde.
 
“Ele piorou bastante. Não sente fome, está muito cansado e com a respiração fraca. Estou usando soro para o nariz e dei uma reforçada na alimentação para ver se ele fica com um pouco mais de energia. Estou abusando de frutas, como maçã e melancia. Ele está sofrendo muito e eu, como mãe, sofro junto. Quero que ele melhore logo”, diz a técnica em enfermagem. 
 
Durante a seca do ano passado, Leonardo Júnior, 7, teve pneumonia. Desta vez, o período trouxe dores fortes na barriga e inflamação na garganta. Ele e a mãe, a auxiliar de farmácia Betânia Ribeiro, 31, foram ao hospital duas vezes na última semana para tratar os sintomas. “Ele está sentindo uma sede fora do normal. Acorda com os lábios ressecados, muito incomodado. A médica disse que a dor de barriga pode virar diarreia, já que ele está com a barriga muito inchada. Agora, é esperar melhorar”, pontua a mãe. 
 
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Correio Braziliense terça, 17 de setembro de 2019

BOMBEIRA MARIZELLI: REVERÊNCIA NO ADEUS A UMA GUERREIRA

Centenas de pessoas homenagearam ontem a bombeira Marizelli Armelinda Dias, que morreu no combate a incêndio no cerrado. Com salva de tiros e ao som da banda oficial dos Bombeiros, o corpo da soldado foi sepultado em Taguatinga. Familiares e amigos destacaram a garra e a alegria de viver de Marizelli, de 31 anos.  (Ed Alves/CB/D.A Press)

Reverência no adeus a uma guerreira
 
Integrantes do Corpo de Bombeiros pararam para prestar as últimas homenagens a Marizelli Armelinda Dias, morta durante combate a incêndio em área de cerrado no fim de semana. Música, emoção e elogios à colega dedicada marcaram a cerimônia

 

» JÉSSICA EUFRÁSIO
» WALDER GALVÃO
Colaborou Alexandre de Paula

Publicação: 17/09/2019 04:00

O cortejo com o corpo da bombeira Marizelli (no detalhe) passou pela Avenida Samdu Norte, que precisou ser parcialmente interditada até o Cemitério de Taguatinga (Ed Alves/CB/D.A Press)  

O cortejo com o corpo da bombeira Marizelli (no detalhe) passou pela Avenida Samdu Norte, que precisou ser parcialmente interditada até o Cemitério de Taguatinga

 


“Está com duas semanas que ela falou comigo assim: ‘Esse serviço meu é muito bom, mas muito perigoso. Se acontecer alguma coisa comigo, o que a senhora faz?’” O relato é de Conceição Aparecida Dias, mãe da bombeira Marizelli Armelinda Dias, 31 anos, morta em acidente, no domingo, enquanto combatia um incêndio florestal. “Falei: ‘Faço como estamos fazendo. Vou cuidar dos seus filhos. Vou fazer o que faço. Fazer o quê? A vida continua.’ Não vou cair, não. Por causa de Deus e dos meus netos. Eles precisam de mim”, disse, ontem, enquanto velava a filha.
 
Para a mãe, mesmo em tão pouco tempo de vida, Marizelli conseguiu alcançar tudo o que almejava. “Dentro de sete anos, ela realizou todo o percurso (que queria): casou, teve filhos, estudou, se formou (como bombeira), tornou-se servidora pública. Realizou todos os sonhos. É como se tivesse vivido 100 anos. Ela dizia que, aqui na Terra, temos de trabalhar, não podemos perder tempo”, relatou Conceição Aparecida.
 
A banda do Corpo de Bombeiros rompeu o silêncio no velório de Marizelli, que ocorreu no 2º Grupamento de Bombeiro Militar, em Taguatinga Norte. Centenas de pessoas se reuniram para acompanhar a cerimônia de despedida. O corpo de Marizelli chegou em um veículo do Samu. Colegas de serviço carregaram o caixão e passaram por um corredor formado por militares até alcançar o pátio onde a família aguardava. Nesse momento, poucos conseguiram conter as lágrimas.

 
Apaixonada por música, a bombeira queria entrar para a banda da corporação. Grande parte do velório foi conduzida pelo tenente-coronel Fernando Rebouças, também capelão católico. “Ela fez o voto de dedicar a vida a salvar pessoas, mesmo que isso custasse a sua própria”, discursou.
 
Marizelli entrou para a corporação em 2 de julho de 2018. Em 10 meses, participou do curso de formação e ingressou no 2º Grupamento, de Taguatinga, em julho deste ano. “O curso é muito difícil para todo mundo, mas ela nunca demonstrou falta de vontade com a rotina. Sempre estava animada e era nossa ‘puxadora de grito’ oficial”, contou, no velório, o soldado Adriano Lima, colega de Marizelli.
 
Depois do curso, o ânimo da bombeira permaneceu. “Ela era a primeira a descer, a vestir o equipamento e a entrar na viatura. Um exemplo de vontade”, ressaltou. Adriano acrescentou que a amiga deixa uma mensagem de determinação. “Em homenagem a ela, vamos nos dedicar em dobro. Esse sacrifício será combustível”, disse.
 
Após o velório, o cortejo seguiu para o Cemitério de Taguatinga. Dezenas de veículos dos bombeiros, da Polícia Militar e do Departamento de Trânsito (Detran) fizeram o trajeto, e parte da Avenida Samdu Norte foi interditada.
 
O acidente
No domingo, Marizelli foi atingida por um galho de eucalipto e por fios de alta-tensão enquanto combatia um incêndio em uma área de cerrado na QNL 2, em Taguatinga. Ela ficou internada por quase 10 horas no Hospital Regional de Ceilândia. A equipe médica avalia que a soldado morreu em decorrência de fraturas. Há também a possibilidade, que precisa ser confirmada pelas perícias, de que Marizelli tenha sofrido uma descarga elétrica, pois a árvore atingiu cabos de energia. A militar sofreu ferimentos nas costelas, no braço e na perna, além de traumatismo craniano. Teve cinco paradas cardiorrespiratórias.
 
O Centro de Comunicação Social do Corpo de Bombeiros se pronunciará sobre os detalhes do acidente hoje, após ter prestado todas as homenagens.
 
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Correio Braziliense segunda, 16 de setembro de 2019

A VEZ DOS IPÊS BRANCOS

 

A vez dos ipês-brancos
 
Brasilienses têm de correr se quiserem registrar a beleza da nova cor, de florada mais rápida e rara

» EMILLY BEHNKE

Publicação: 16/09/2019 04:00

 (Fotos: Emilly Behnke/Esp. CB/D.A Press)  
 
Alécio, analista de sistemas, e o amigo Eber: selfie com o ipê-branco  

Alécio, analista de sistemas, e o amigo Eber: selfie com o ipê-branco

 

 
Ana Clara Santos (E) acredita que o branco dá mais leveza para a cidade  

Ana Clara Santos (E) acredita que o branco dá mais leveza para a cidade

 

 
 
Criando a ilusão de flocos de neve no auge da seca do Cerrado, os ipês-brancos começaram a florescer em Brasília. Eles chegam para competir com os amarelos, mais robustos. As duas espécies iniciaram as floradas juntas, mas a branca é mais rara e de menos tempo.
 
Segundo Raimundo Silva, chefe do Departamento de Parques e Jardins da Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap), as flores dos ipês-brancos duram de 3 a 5 dias. Eles se diferenciam pela capacidade de florir mais de uma vez, podendo chegar a três vezes. São 15 mil árvores do tipo espalhadas pela cidade, que podem abrir suas flores entre agosto e outubro. 
 
Cor preferida da estudante Ana Clara Santos, 17 anos, o branco dá uma leveza para a cidade, ela acredita. “Eu e minha mãe somos apaixonadas. Toda vez que vejo, tiro foto, até fico alegre”, comenta a moradora de Ceilândia. 
 
Alécio Almeida, 33, gosta dos ipês-brancos por serem mais raros. Morador da Candangolândia, o analista de sistemas defende que os ipês sejam mais distribuídos pelo território. “É uma característica de Brasília que deveria ser mais bem explorada. Eu sinto falta deles nas outras regiões administrativas.”
 
Já para Giovana Victória Nobre, 17, não tem discussão: os amarelos são os preferidos. Mas como moradora do Sudoeste desde que nasceu — uma das áreas com mais ipês no DF —, ela reconhece a beleza dos branquinhos. “Eu acompanho todo ano a floração deles. Dá uma alegria na cidade. Devia ter em todos os lugares.”
 
Brancos ou amarelos, os pontos de cor na cidade devem aumentar, como sugerem Alécio e Giovana. “A Novacap planeja plantar 20 mil ipês em todo o DF, 3 mil deles brancos”, afirma o chefe do Departamento de Parques e Jardins.
 
Paleta de cores 
 
A próxima temporada será dos ipês-rosas, os últimos antes de as chuvas voltarem. A sequência de florada começa pelo roxo, seguido do amarelo, do branco e do rosa. Menos conhecido é o ipê-verde que floresce após o rosa, mas recebe pouca atenção por sua cor não se destacar tanto.
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Correio Braziliense domingo, 15 de setembro de 2019

MOURÃO: NÃO HÁ CAMINHO FORA DA DEMOCRACIA

 

Entrevista Hamilton Mourão
 
Presidente interino defende Guedes e Moro e diz que Bolsonaro reforçará na ONU soberania da Amazônia

 

» Ana Dubeux
» Ana Maria Campos
» Denise Rothenburg
» Rodolfo Costa

Publicação: 15/09/2019 04:00

 

 

"Sou vice-presidente do presidente Bolsonaro. Então, não compete a mim, publicamente, tecer críticas a ele. Estaria sendo desleal e canalha se fizesse isso. Então, todas as vezes que discordo de alguma coisa dele, eu falo em particular"

 



“Nosso governo não é antidemocrático”


Opresidente da República interino, Hamilton Mourão, almoçava, na última quarta-feira, com o ministro da Economia, Paulo Guedes, tentando solucionar a crise com o então secretário da Receita, Marcos Cintra, quando o presidente Jair Bolsonaro telefonou e resolveu a questão. Cintra estava fora do governo. A cena relatada por Mourão mostra algo que, na avaliação do vice-presidente, vale para o todo o governo: “Uma coisa que todo mundo precisa entender é:  Quem é o decisor? O presidente Jair Bolsonaro. A gente pode ter um monte de ideias, mas a palavra final é dele”, diz com a mesma tranquilidade com que se refere ao clima seco em Brasília.

O fato de o presidente ter a palavra final, diz Mourão, não pode ser confundido com um governo autoritário: “Nosso governo não é antidemocrático”. Tampouco passar a ideia de que há espaço para qualquer atitude de confronto em relação aos outros poderes, por mais que os tuítes de Carlos Bolsonaro possam sugerir algo nesse sentido. “Se o Carlos fosse Carlos Silva, vereador em Quixeramobim (CE), e falasse isso, alguém estaria dando bola? Ninguém. Agora, como ele tem o sobrenome Bolsonaro e é vereador do Rio de Janeiro, o pessoal diz: “oh, meu Deus do céu, a família Bolsonaro quer tomar o poder no Brasil”. Não é assim.

Nos 40 minutos em que recebeu a reportagem do Correio, ele foi incisivo ao dizer que as Forças Armadas nunca quiseram ter protagonismo no governo e, àqueles que temem riscos de retrocessos na democracia, avisa: “Não há espaço para isso”. Adepto das franquezas no trato, o general é ainda mais direto quando se refere à questão da Amazônia. “A gente terminou reagindo com o fígado em vez de reagir com a razão”, admite.

No cargo de presidente interino, enquanto Bolsonaro se recupera de uma cirurgia de hérnia, Mourão segue despachando em seu gabinete no anexo II do Palácio do Planalto, onde recebeu o Correio na última sexta-feira. Na entrevista, discorre com naturalidade sobre diversos temas. Sobre eventuais erros de Bolsonaro, no entanto, ele evita comentar: “Não compete a mim, publicamente, tecer críticas a ele. Estaria sendo desleal e canalha se fizesse isso”.

 

"Se o presidente for candidato à reeleição e quiser que eu vá com ele, muito bem. Se ele precisar de outra pessoa para compor uma chapa mais forte, ok"

 


Será um desafio para o governo sair desse constrangimento a que o país foi colocado em relação a Amazônia? Às vezes por causa de declarações mal-entendidas lá fora, ou respostas atravessadas de lá de fora... Como o senhor vê essa questão que vai ser objeto de discussão na ONU?
Vamos buscar fazer uma análise bem fundamentada. O mundo inteiro, já de algum tempo, está com os olhos postos na Amazônia. Ao longo dos últimos 20 anos, houve, realmente, uma visão mais profunda sobre o papel da Floresta Amazônica em relação ao clima mundial com teses, às vezes, corretas e, outras, totalmente estapafúrdias, como aquela que diz que a Amazônia é o pulmão do mundo. Algo que foi comprovado: que uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa. Praticamente 50% do bioma da Amazônia é área preservada. Ou é área de proteção ambiental ou é terra indígena, que, em tese, tem que permanecer intocada. Então, compete ao governo, por meio dos seus órgãos de fiscalização impedir que essas áreas sejam exploradas de forma ilegal. A área de proteção ambiental, em hipótese alguma, e a terra indígena têm que ser de acordo com os desejos dos índios que habitam cada uma dessas regiões.  Bom, então 50% preservados. Nos outros 50%, apenas 20% podem ser explorados, de acordo com nossa legislação ambiental. Aí vamos para a questão das queimadas. Todo ano tem 7 de setembro. E todo ano em agosto, setembro e outubro o pessoal derruba árvore e queima porque é uma forma, digamos assim, tradicional de preparo da terra naquela região, uma forma errada. Então, o governo tem que se preparar, explicar por que essas coisas ocorrem e, dentro da nossa capacidade, buscar impedir que essas queimadas ocorram.  E aí tem que haver o quê? A assistência técnica, rural, de modo que esse produtor que aprendeu com o avô, com o pai, mude a forma. E óbvio, existem, também, na Amazônia, três figuras que são complicadas: o madeireiro, o grileiro e o garimpeiro. Então temos que buscar formas para que a população que já se estabeleceu naquela região tenha o seu sustento sem comprometer a biodiversidade, sem comprometer a integridade da floresta e o país tem que buscar as formas mais corretas. Temos uma legislação e temos que buscar fazer cumprir a legislação. O próprio ministro Ricardo Salles, agora em uma entrevista recente, reconheceu que nos comunicamos mal a respeito desse assunto. A gente terminou reagindo com o fígado em vez de reagir com a razão.

Mas o presidente não entrou com o pé esquerdo, digamos assim, nessa história, quando disse que não havia recursos, que o Brasil não conseguia fiscalizar? As primeiras declarações dele foram na linha de “a gente não tá dando conta do recado”...

O presidente reagiu ao que ele julgou uma ofensa de parte do presidente da França. E, realmente, o presidente da França emitiu um documento, não lembro direito se foi um documento, ou declaração, dizendo que o presidente mentia. Era mentiroso. E aí é aquela história, né? A razão foge muitas vezes nessa hora. Mas o presidente já reconheceu há algum tempo a nossa responsabilidade, ele está se preparando, daí esse repouso até maior dele, para, na abertura da Assembleia-Geral da ONU,  poder, realmente, transmitir essa mensagem e acalmar os ânimos no resto do mundo.

Qual sua expectativa para o discurso do presidente na ONU? Qual o principal recado que deve transmitir?
O recado número 1: a Amazônia é nossa. Isso aí, não podemos admitir em hipótese alguma, essa questão de soberania limitada ou uma ingerência além daquilo que os tratados internacionais, ao qual o Brasil subscreve, preveem. O segundo recado: ela é nossa e compete a nós protegê-la e preservá-la.

O senhor diz que houve uma reação com o fígado. Isso não tem acontecido com frequência maior do que deveria nesses oito meses?
Olha, eu já respondi até alguns colegas de vocês a esse respeito. Sou vice-presidente do presidente Bolsonaro. Então, não compete a mim, publicamente, tecer críticas a ele. Estaria sendo desleal e canalha se fizesse isso. Então, todas as vezes que discordo de alguma coisa dele, eu falo em particular.

O senhor tem falado muito em particular com ele ultimamente?
Não, ultimamente, não, porque ele está lá no hospital.

Mas sempre fala?
Sempre que temos alguma oportunidade conversamos e procuro expor meu ponto de vista sobre determinado tema.

Houve momento em que passou-se a ideia de que os senhores estavam meio afastados. Esse período passou?
Não, nunca houve essa questão do afastamento. É que o presidente tem a forma peculiar dele de se expressar, de agir, né? E aí o processo decisório dele funciona mais ou menos dessa forma.  E eu procuro ter uma atuação mais discreta possível, de modo que ele tenha toda a liberdade de manobra para empreender aquilo que ele julga correto.

No início do governo, o senhor falava mais com a imprensa, depois de um tempo, deu uma pausa, e, agora,está retomando as conversas. Por quê?

Eu era um animal novo na política. Ninguém me conhecia. Até porque não sou político. Havia uma curiosidade a meu respeito. Desde o período da transição e até os dois primeiros meses de governo, eu fui procurado praticamente diariamente pelo pessoal da imprensa. E, óbvio, houve uma exposição maior. Depois que chegaram à conclusão, “ah, bom, o general Mourão pensa dessa forma, então não adianta mais ficar perguntando mais do mesmo para ele”. E aí eu fui deixado de lado, até porque outros atores surgiram nesse embalo, outros fatos aconteceram e fiquei na posição que é a do vice-presidente, uma posição secundária.

 

"Não existe mais espaço para isso (retrocesso político). Vocês têm que entender que, em determinados momentos da história, isso funcionou. Hoje, não funciona mais"

 


O senhor volta a fazer essa comunicação do governo agora que o presidente tem dado sinais de que não deve mais conceder aquelas entrevistas quase que diárias no Palácio da Alvorada?
Se o presidente me der alguma tarefa. “Olha, você procure a imprensa e converse a respeito do assunto X”, eu cumpro a tarefa dele. Agora, não vou ultrapassar aquilo que considero que é a autoridade dele e que é a tarefa dele nessa situação. Então procuro sempre manter uma situação, um apoio mais à retaguarda dele. E óbvio que o presidente leva essa dicotomia. Passou uma semana falando, outra não fala, daqui a pouco ele volta a falar.

No caso da demissão do secretário da Receita, esse limite prevaleu?
A demissão do secretário da Receita, na realidade, já vinha sendo aventada há algum tempo. O próprio ministro Paulo Guedes sentiu que a posição do Marcos Cintra estava balançando. E tanto que fomos almoçar na quarta-feira e ele me perguntou o que nós íamos fazer. E mal a gente sentou, o presidente telefonou e já passou a determinação de que era necessário que o Marcos Cintra saísse, porque não concordava com a questão da CPMF, estava gerando muito ruído.

A CPMF foi a gota d’água. A relação já vinha se deteriorando desde lá de trás, não? Agora, a CPMF era defendida, também, pelo ministro Paulo Guedes. Como fica agora a proposta de reforma tributária?
Uma coisa, todo mundo tem que entender. Quem é o decisor? O presidente Bolsonaro. Podemos pensar as coisas mais mirabolantes do mundo, mas é ele quem vai decidir. Muitas vezes a gente expõe demais aquilo que está sendo planejado, discutindo entre muros. E isso toma uma dimensão grande junto à opinião pública, junto ao Congresso, e o presidente termina por dizer: “não, peraí, eu não quero essa discussão”.

Em um país dividido como a gente tem hoje, muita gente tinha receio de que os militares assumissem o poder no Brasil. Mas o senhor, como vice-presidente, tem sido uma voz democrática, que dá uma tranquilidade ao país. Esse é o seu perfil ou é o perfil realmente dos generais?
Existe uma imagem totalmente errada, um desconhecimento por grande parte da imprensa, do que são os militares brasileiros. Criou-se uma imagem em relação ao período de presidentes militares, também distorcida. Desconhecem como é a nossa formação, como é a nossa maneira de pensar, e fica só aquele estereótipo, muitas vezes confundido com figuras que ficaram no passado. Tudo na vida evolui. E uma realidade é que as Forças Armadas brasileiras sempre foram uma instituição democrática. Em todos os momentos da vida nacional se apresentaram para preservar a lei, a ordem, e garantir que a democracia terminasse por vicejar. Essa é uma realidade, independentemente da maneira que se julgue o período de 20 anos de presidentes militares. No futuro, isso vai ser colocado na pauta e vai ser pesado em relação a isso. Aí entra aquele desconhecimento e essa surpresa, “os generais são moderados”. Não tem nada a ver com moderado. Nós entendemos qual é o papel das Forças Armadas dentro de um regime democrático, as nossas missões estão muito bem definidas na Constituição.

Mas o senhor tem sido uma voz em defesa da democracia. Em vários momentos, o senhor se manifestou, inclusive agora, nesta semana, em relação à declaração do Carlos  Bolsonaro...

O nosso governo não é antidemocrático. Acho que se procura colocar uma coisa nas costas do presidente Bolsonaro que ele não é. Se fosse antidemocrático, não tinha concorrido à eleição.

Mas, às vezes, é preciso reafirmar isso, como essa semana, no
Twitter, em que o senhor deu uma declaração reforçando a importância de estarmos vivendo em período democrático. Isso é necessário? Por quê?

Para acalmar as coisas, né? Porque… o Carlos fez uma declaração que tem que ser perguntada a ele, o que ele quis dizer com aquilo. E aí, obviamente, se o Carlos fosse Carlos Silva, vereador em Quixeramobim (CE), e falasse isso, alguém estaria dando bola? Ninguém. Agora, como ele tem o sobrenome Bolsonaro e é vereador do Rio de Janeiro, o pessoal: “oh, meu Deus do céu, a família Bolsonaro quer tomar o poder no Brasil”. Não é assim. Como a família Bolsonaro vai tomar o poder no Brasil?

Só se tiver apoio dos militares...
Não existe mais espaço para isso. Vocês têm que entender que, em determinados momentos da história, isso funcionou. Hoje, não funciona mais. O Brasil é muito complexo, uma sociedade complexa. Não é assim, “pô, manda ligar o motor, fecha o Congresso, fecha isso, fecha aquilo, e muda tudo”. Não é assim.

As pessoas podem ficar tranquilas? Não há nenhum risco?
As pessoas podem ficar mais do que tranquilas.

Voltando um pouco àquela questão do presidente e o poder de comando dele. O ministro Paulo Guedes falou que quer privatizar tudo. O senhor acha que é por aí?
O presidente tem dado sinalização positiva e até já me surpreendeu, com ele assim, “privatiza os Correios”. E ele vem pressionando. Os Correios são uma estatal emblemática. Não é uma Valec.

Mas uma coisa é a Eletrobras, que carrega junto todas as bacias hidrográficas, porque tem as grandes hidrelétricas, e a privatização pega o controle sobre a água do Brasil. Os chineses têm muito interesse, e querem entrar com tudo nessa área de energia.  Há preocupação com o modelo de privatização?
O controle pelo Estado nunca significou que você detém a riqueza na mão. Nunca significou isso. Então isso é uma visão, vamos colocar assim, meio ultrapassada. Temos que ter uma legislação que nos assegure efetivamente o controle e não a gente deter as rédeas da empresa. E a gente sabe que as empresas estatais nascem sob uma excelente ideia, mas, depois, viram um cabide de emprego e são desvirtuadas.

Agora, o senhor acha que tem que privatizar tudo?
A Petrobras, ainda que parte da exploração de petróleo, tem que permanecer na nossa mão. Banco do Brasil já é uma S/A, a Caixa, desde que bem gerenciada, não é um problema.

 

"O Congresso não está comprado por um mensalão. E também não está cooptado moralmente em um toma lá da cá"

 


O senhor disse que não comenta as declarações do presidente, mas poderia comentar a declaração do ministro Paulo Guedes, voltando pra crise com a França, quando ele fez uma descortesia com a primeira-dama Brigitte Macron?
Ele já pediu desculpas. É aquela história. A gente que faz palestra — eu faço muita palestra — a gente procura de vez em quando dar uma quebrada naquele ambiente de extrema seriedade. É que nem aula. O professor, que é um bom professor, alterna uma conversa descontraída com um assunto sério. Então, alguém falou algo na plateia e ele falou “ah, é feia mesmo”. Ele já pediu desculpas, já identificou que cometeu uma grosseria e o Paulo é uma pessoa, pô, um cara fantástico.

Desde o período eleitoral, osenhor vem mantendo boa relação com os empresários. Em geral, eles têm uma boa circulação dentro do governo. O que eles falam é que o ministro Paulo Guedes, dentro desse escopo da reforma tributária, não vai abrir mão de desonerar a folha de pagamento para favorecer a cadeia produtiva para beneficiar os empregos, geração de empregos e renda. Queria saber como isso está sendo discutido, a desoneração da folha, o senhor participa das conversas, tem opinião sobre o assunto?
Eu concordo com o Paulo na questão da desoneração da folha e ele tinha a visão de substituir o imposto que hoje é pago pelo empresário em cima da folha de salário por esse Imposto sobre Transações Financeiras (ITF). É a troca de um por outro, tanto até que, na apresentação que foi feita era uma gangorra. Criava-se o imposto sobre valor agregado (IVA), vamos lembrar, é um estudo de um discípulo do Keynes, dos anos 50, um húngaro chamado Kaldor, né, era chamado inclusive de imposto Kaldor. Criava esse imposto ao reunir todos os impostos federais e não metia a mão em estados e municípios, que é uma coisa complicada, já é diferente da proposta da Câmara, por exemplo, e com a gangorra com esse imposto de transações financeiras. Está sendo discutido no Congresso. Agora, uma vez que não vai haver o imposto sobre transações financeiras, o Paulo está tendo que buscar alguma solução, por exemplo, reduz aquilo que os empresários pagam para sustentar o sistema S, tem a questão dos fundos exclusivos que vários governos já tentaram tributar e não conseguem tributar mais, e têm outras medidas, mas não sei se esse conjunto de medidas geraria a quantidade de recursos que um imposto de transação financeira, que, de acordo com o Paulo, geraria R$ 150 bilhões de retorno. Então é algo que tem que ser discutido. E a reforma tributária, a melhor coisa, hoje, é que todo mundo já entendeu que tem que ser feita.

O problema é que cada um tem a sua.
É, mas aí não vai fugir de ser discutido dentro do Congresso. Vai ser discutido exaustivamente lá dentro, vai demorar, mas eu espero que, até o fim do primeiro semestre do ano que vem, esse pacote seja fechado.

Como é  a relação do senhor com o Congresso? Acompanha tudo?
O presidente nunca me escalou para essa tarefa. Eu recebo senadores, deputados aqui. Procuro fazer aquela nossa conquista de corações e mentes, conversar com eles, passar nossas ideias, aquela coisa, recebo demandas, aí encaminho para ministro A, ministro B, o que a gente acha necessário. Falo muito com o (Luiz) Ramos (ministro-chefe da Secretaria de Governo). Ele está encarregado dessa atividade. Mas não sou linha de frente neste trabalho.

Os militares estão tendo o protagonismo que esperavam no governo?
Olha, nós nunca quisemos protagonismo no governo. É outra visão um tanto quanto distorcida. Por quê? Número 1. As Forças Armadas têm que estar fora do que é política de governo. As Forças Armadas são instituições nacionais permanentes, independentemente do governo e de tudo. Elas têm que ser preservadas. O presidente, por ter um passado militar, escolheu alguns militares para compor sua equipe. Isso é um fato. Desses militares, apenas dois ainda estão na ativa, que é o almirante Bento e o general Ramos, e me coloco nesse pacote, pois fui eleito junto com o presidente. Estou fora desse pacote. Aí ele colocou o Marcos Pontes (ministro da Ciência e Tecnologia), que já era da reserva. Na época, o Santos Cruz (ex-ministro da Secretaria de Governo) também, que, já era da reserva, o Tarcísio (Gomes de Freitas, ministro da Infraestrutura) saiu do Exército há cinco ou seis anos. O Wagner Rosário (ministro da Controladoria-Geral da União) também saiu do Exército há algum tempo, porque existe uma geração dos anos 1990 que saiu do Exército, fez concurso público e enveredou por outra carreira. Não vejo assim “o papel dos militares”, aquela história da “ala militar”, “núcleo militar”.

Mas parecia no começo que tinha esse peso.
Mas não tem. Nunca houve esse núcleo. Até já respondi a alguns colegas de vocês que passava-se a imagem que, ao fim do dia, eu ligava pro (Augusto) Heleno (ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional), pro Santos Cruz, “olha só pessoal, vamos sentar aqui e vamos nos reunir e ver o que a gente vai fazer amanhã”. Nada, pô. Existe uma coisa que a gente preza muito que se chama disciplina intelectual. A disciplina intelectual coloca que você atue na tua área, e não te meta na área dos outros. Isso é fundamental dentro do quartel. Ali você tem o batalhão, tem a primeira companhia, segunda companhia, terceira, cada um tem seu capitão e comandante. O capitão da primeira companhia não mete a mão na segunda, senão vai dar briga. Cada um no seu quadrado. Isso é extremamente preservado no ambiente militar.

O senhor acredita que reforma da Previdência vai passar com tranquilidade no Senado?
Vai, vai passar tranquilo. Conversei com o Davi Alcolumbre (presidente do Senado) aqui essa semana e ele me deixou claro isso. Acho que, até fim da primeira quinzena de outubro, ela estará votada no Senado.

Em relação a Eduardo Bolsonaro embaixador, como está isso no Senado? Alcolumbre deu algum #ficaadica para o senhor?
Não, não deu nenhuma dica. Agora está sendo trabalhado esse assunto. O próprio Eduardo está conversando com os senadores. Acho que o irmão dele, o Flávio, também deve estar ajudando nisso aí, o próprio presidente. Então, vamos aguardar. Acho que o presidente parece que só vai submeter o nome do Eduardo quando voltar de Nova York (da ONU).

Pois é, essa semana fizeram, inclusive, a sabatina do futuro chefe da missão do Brasil na ONU, o Costa Filho. E o senhor acha que dá tempo? Vai fazer apelo já para votar isso esta semana? Porque no Senado estão falando “ah, a gente tem que ver se vota porque o governo quer que vote logo para ele poder ir, acompanhar o presidente”.
Não, o Costa Filho está votado.

Na comissão, mas tem que passar pelo plenário...
Mas não interessa, porque ele não vai conseguir chegar lá a tempo.

Não consegue apresentar as credenciais, essas coisas todas?
É isso. Existe, como vou dizer, um rito.

Vai ser o Mauro Vieira mesmo?

É, não sei nem se o Mauro Vieira. Acho que o 02 do Mauro Vieira, que é um outro embaixador. O Mauro está aqui no Brasil, porque tem que ser sabatinado. Ele vai ser embaixador na Croácia.

Achei que iam mandá-lo para a Sibéria.
Croácia é mais bonito.

Em relação ao ministro Sergio Moro, o senhor acredita que ele está superando o episódio da Vaza-Jato com altivez e se mantém firme no cargo?
O Moro é uma pessoa acostumada a sofrer pressão. Um homem que, ao longo dos últimos seis anos, sete anos, vem trabalhando em um ritmo, vamos dizer assim, forte, com pressões, com riscos de vida, com pressão sobre a família dele. Ele não se abala com essas cosias. Ele é muito tranquilo. Mas muito tranquilo mesmo.

Ele fica até o fim do governo?
Espero que sim.

Ele vai pro Supremo? O presidente já disse que quer um ministro que seja terrivelmente evangélico. Não é o caso do ministro Moro...
Vamos aguardar a decisão. A primeira vaga é, no fim do ano que vem, do ministro Celso de Mello. Vamos aguardar o que vai acontecer.

E as eleições municipais, como o senhor está acompanhando isso?
O meu partido, PRTB, está em situação complicada, pois não atingiu a cláusula de barreira.

O senhor vai pro PSL?
Não, eu entrei no PRTB e morro nele. A gente tem recebido aqui pessoas que estão querendo se lançar como candidatos.

Dizem que, no Rio Grande do Sul, só dá o senhor em pesquisas informais, em assembleias legislativas, em  prefeituras. Falam até que poderiam ser lançados militares nas eleições municipais e em 2022 também. O senhor pensa nisso?
É, têm aparecido alguns companheiros postulando para ser candidato, mas a gente está analisando. O que acontece é que tem um limite ético nisso aí, na minha posição de vice-presidente, né? Então tem que esperar, começar a campanha, essas coisas, para não atravessar o samba. Mas, por enquanto, a gente está só observando.

O orçamento está superapertado, não tem dinheiro para nada. Vem o teto de gastos que vai enxugar ainda mais a máquina pública. Como o governo vai sair desse imbróglio em relação ao orçamento?
Estamos sendo pressionados pelo piso que vem subindo, as despesas obrigatórias aumentando, aí tem a discussão que você vê, né? Tem a turma que quer a flexibilização do teto de gastos, então, tirar determinadas despesas, sairiam do teto, uma coisa “tirar a saúde e educação do teto”. Aquela multa do FGTS também já foi aventada, de tirar do teto. É uma flexibilização. Outra é mudar e o teto seria inflação mais 1,5%. Mas, por enquanto, nós estamos precisando passar a mensagem de que vamos respeitar isso, porque é uma questão do equilíbrio fiscal, a gente tem que passar isso para os investidores e o resto do mundo, e tentar furar o piso, com uma desvinculação de receitas. Essa é a ideia que o Paulo Guedes tem. Temos que buscar uma solução para isso, senão vamos morrer achatados.

O presidente Jair Bolsonaro escolheu um nome fora da lista tríplice para aProcuradoria-Geral da República e anunciou que espera uma parceria desenvolvimentista ali na PGR. E o Augusto Aras já declarou que o governo não vai mandar na PGR. Na sua visão, como é que deve ser o papel de um procurador-geral da República?
O procurador-geral da República tem que atuar, de acordo com a lei. É simples. Vivemos dentro de um Estado de direito. O Estado de direito significa que a lei vale para todos e tem que ser respeitada. Então, o procurador tem que fazer o quê? Agir de acordo com a lei. Agora, algo que eu vejo muitas vezes no Ministério Público e até no próprio Tribunal de Contas, e até já conversei uma vez com alguns ministros do TCU, é que, no caso específico de obras, depois que a obra partiu, que o troço já está na metade, aí alguém resolve embargar o negócio. Porra, é um prejuízo… então, se vai embargar aquilo, vamos embargar antes de começar. Vamos analisar bem antes de começar e não depois. É o único problema que vejo nessas atuações.

Estes oito meses de governo foram muito turbulentos, em alguns momentos difíceis até demais. Nos próximos três anos, a situação vai se acomodar ou viveremos tempos sempre agitados e tensos? Nos primeiros meses de governo,  houve muito atropelo, não?
É, o que eu vejo. A forma como nós montamos os ministérios... A forma como nos relacionamos com o Congresso... O Congresso, sob nosso governo, tem ampla liberdade para atuar. O Congresso não está comprado por um mensalão, né? E também não está cooptado moralmente em um toma lá da cá. “Eu dou ministério, dou cargo”. Então, o Congresso tem ampla liberdade para fazer o que quer. Muitas vezes, se critica o nosso governo, principalmente a figura do presidente. “Ah, mandou lá pro Congresso e esqueceu”. É uma forma de você dizer, “olha, nossa proposta é essa e agora os senhores discutam aí e cheguem a alguma conclusão”. Então, é uma forma bem, digamos assim, honesta de você ter uma ligação de um poder com o outro. Agora, o que nós vemos de uma forma geral? Os dois primeiros anos são difíceis, são anos de ajustes na economia, de modo que os dois últimos anos a gente entre já em um voo sustentável, não em um voo de galinha.

Voo sustentável para a reeleição?
Não precisa ser a reeleição. O próprio presidente já deixou isso claro. O nosso grande objetivo é deixar o país reorganizado, de modo que a gente tenha uma marcha progressiva e um rumo de aumentar efetivamente a geração de emprego, de renda e de bem-estar para a população como um todo.

O presidente  comenta que espera  entregar um país melhor em 2023 ou em 2027. Partindo desse pressuposto, de que ele não descarta a possibilidade de reeleição, o senhor sairia como candidato a vice ou se candidataria a um cargo eletivo? Já  se aventou até Marco Feliciano como o vice de Bolsonaro.
Bom, eu só entrei na política porque o presidente Bolsonaro me pediu. Eu não tinha nenhuma aspiração política. Quando passei para a reserva, no final de fevereiro do ano passado, a minha visão era “vou para minha casa no Rio de Janeiro”. Passei 46 anos dentro do Exército, está na hora de ter um pouquinho de paz de espírito na minha vida. Eu queria ser presidente do Clube Militar, para ter uma atividade que não fosse altamente estressante e que eu pudesse ter contato e auxiliar a família militar e, ao mesmo tempo, ter uma voz perante a sociedade brasileira. Fui eleito presidente do Clube, só que, um mês e meio depois, tive que sair. Não tenho nenhuma aspiração política. Se o presidente for candidato à reeleição e quiser que eu vá com ele como vice-presidente, muito bem. Se ele não quiser, se precisar de outra pessoa para compor uma chapa mais forte, seja lá o que for, ok, parabéns, e eu volto para a minha casa, tranquilamente, sem estresse.

Nem para ser candidato ao Senado?

Não. Imagina eu no Senado...
 
Jornal Impresso
 

Correio Braziliense sábado, 14 de setembro de 2019

DELTAN DALLAGNOL: OS TUBARÕES ATACAM A LAVA-JATO

 


 ENTREVISTA DELTAN DALLAGNOL
 
Os tubarões atacam a Lava-Jato abertamente
 
Chefe da força-tarefa admite que o vazamento dos diálogos fez a operação contra a corrupção sangrar, levando pessoas inibidas inicialmente pelas investigações a reagirem com apoio de setores, %u201Ccomo órgãos públicos, empresas e até na mídia%u201D

 

» Ana Dubeux
» Ana Maria Campos
» Leonardo Cavalcanti

Publicação: 14/09/2019 04:00

 

 ( Evaristo Sá / AFP)  


Entre os vários efeitos do vazamento das conversas de integrantes da Operação Lava-Jato, está o que levou os procuradores — e por tabela o ex-juiz Sergio Moro — às cordas, como é conhecido aquele instante em que lutadores recuam para voltar a atacar ou perdem o round. O mais exposto deles é o chefe da força-tarefa, Deltan Dallagnol, 39 anos, que viu diálogos privados enfraquecerem a imagem, principalmente por causa das palestras remuneradas. Alvo de investigações sobre a própria conduta nos conselhos interno do Ministério Público, Dallagnol trata o atual momento como uma espécie de batalha. “A recente difusão de acusações falsas fez a operação sangrar. E aí vêm os tubarões. Pessoas antes inibidas pela Lava-Jato hoje a atacam abertamente”, disse ele em entrevista, por e-mail, ao Correio, em que fala sobre a Vaza-Jato, eventual candidatura e o futuro da operação contra a corrupção.


A divulgação de mensagens privadas entre colegas, com opiniões e impressões pessoais, é um constrangimento?
Cada mensagem está num contexto maior que envolve discussões mais amplas sobre o assunto, inclusive em conversas presenciais, conhecimento sobre o conteúdo das investigações, inclusive sigilosas, interpretações de nosso sistema jurídico e pressupostos implícitos de quem se conhece há anos, como o de que todos do grupo só agiriam de modo correto. Mas fomos hackeados e, agora, nossas mensagens são divulgadas de modo isolado ou fatiado, descontextualizadas e até mesmo editadas. Além disso, são sempre interpretadas de acordo com a visão dos advogados dos réus, com a interpretação das leis e das regras do modo mais desfavorável à Lava-Jato.

A procuradora Jerusa Viecili pediu desculpas por ter se manifestado com os colegas em relação à morte de parentes do ex-presidente Lula. Ela agiu orretamente ao se retratar?
Ela se recorda de ter se manifestado naqueles termos; então, é uma escolha pessoal, legítima e nobre. Sobre o ex-presidente Lula e o processo dele, a força-tarefa se manifestou nos autos e o caso passou por todas as instâncias do Judiciário, inclusive pelo STF.

Essas mensagens sugerem uma resistência da força-tarefa em aceitar que Lula fosse ao velório de parentes. Qual era o receio?
Isso também está nos autos do processo. A Polícia Federal manifestou preocupação com a segurança do próprio preso, das pessoas presentes ao velório e dos próprios policiais. O ministro Dias Toffoli encontrou a melhor solução, determinando que o ex-presidente pudesse participar do velório em um quartel.
 
Fazer palestras remuneradas em ambiente empresarial no meio de uma investigação gigante sobre corrupção é ético?
É, sim. A única atividade remunerada que membros do Ministério Público e do Judiciário podem desempenhar, além de suas atribuições, é a docência. O Conselho Nacional do Ministério Público e o Conselho Nacional de Justiça entendem que palestras são atividade docente. Em 2017, julgando o meu caso concreto, o plenário do CNMP entendeu que a atividade é, sim, legítima. Além disso, eu falo sobre cidadania, compliance e combate à corrupção, o que converge com minha atividade no MP e com minha visão de contribuir para um mundo livre desse mal. A maioria das minhas palestras é gratuita e, dos valores que eu recebo, a maior parte é doada, que é outro modo que encontrei de contribuir com a sociedade.

Por que o senhor mantinha um chat consigo mesmo?
Foi uma opção pessoal para guardar algumas reflexões íntimas, como se fosse um bloco de notas.

Pensou mesmo em disputar eleições?
Disputar eleições é um modo construtivo de exercer a cidadania, e muitas pessoas me incentivaram a ser candidato. Decidi que tenho mais a contribuir como procurador. O Intercept enviou para a assessoria de comunicação do MPF o texto que seria minha reflexão completa, mas, na hora de publicar, eles editaram. O texto completo evidencia o caráter republicano da minha avaliação, guiada, inclusive, por princípios cristãos. Terminei falando, por exemplo, que minha escolha decorre não de receios pessoais, mas da minha visão sobre o que é melhor para o interesse público.

Ainda pensa nisso?
O futuro a Deus pertence. Hoje, me mantenho integralmente focado em fazer o melhor que posso na Lava-Jato.

Por qual partido o senhor seria candidato?
Não houve essa avaliação. Jamais me reuni com políticos ou legendas para discutir esse assunto, porque isso seria incompatível com meu trabalho na Lava-Jato. O que o Intercept publicou foram pensamentos que recordo que tive. Não tenho vergonha deles, porque refletem quem eu sou. Contudo, ter pensamentos lícitos e legítimos invadidos e expostos me parece uma violação da intimidade.

Que balanço o senhor faz da Operação Lava-Jato até este momento?
A Lava-Jato é um sucesso. Vivíamos no país da impunidade para o colarinho-branco. A regra era ninguém ser punido e nenhum centavo ser recuperado. Foram para a cadeia algumas das pessoas mais poderosas do país, responsáveis por desvios bilionários. Empresários e políticos de diversos partidos, inclusive antagônicos, foram e continuam sendo investigados. Mais de 150 réus foram condenados a cumprir penas que superam 2 mil anos de prisão. Os acordos vêm recuperando mais de R$ 14 bilhões. A corrupção política foi desnudada. Temos o mais completo diagnóstico desse câncer que adoece nosso país. Precisamos, agora, manter e ampliar o tratamento.

Até que ponto o vazamento dos diálogos o surpreendeu?
A Lava-Jato fez muitos inimigos. Sabíamos que, mais cedo ou mais tarde, a reação viria. Todos tinham o Telegram como um aplicativo seguro, que era amplamente usado no MPF. Além disso, nunca me preocupei em apagar as mensagens, porque sempre agimos de modo correto. Agora, o que mais nos surpreende são as deturpações e descontextualizações.

A imagem da Lava-Jato sai abalada com a divulgação das mensagens?
Há fatos que todos ou quase todos concordam que ocorreram: o grande esquema de corrupção, as condenações de poderosos, o dinheiro recuperado. Agora, existe a tentativa de criar uma narrativa para desconstruir o que foi feito e criar um clima favorável para anulações de condenações e para evitar outras penas que ainda não foram aplicadas. Tenho dito para as pessoas ignorarem os textos interpretativos e irem direto para as mensagens. Muita gente já percebeu a maldade contra a Lava-Jato.

A saída do ex-juiz Sérgio Moro da 13ª Vara prejudicou de certa forma o andamento da Operação Lava-Jato?
A dedicação e a competência de Sérgio Moro foram amplamente reconhecidas na Lava-Jato. Ele saiu do dia a dia do caso para tentar mudar as engrenagens do sistema de Justiça, que estão ajustadas para produzir a impunidade dos protagonistas do nosso capitalismo de compadrio, que manda no país. Isso é uma tarefa difícil, mas importantíssima se queremos realmente virar a página da grande corrupção política brasileira. Nosso sistema erra dos dois lados: pune em demasia o fraco, e nada pune o forte. A Lava-Jato rompeu a impunidade dos fortes e segue firme em Curitiba, com novos juízes.

As investigações devem encontrar um eventual mentor ainda não descoberto que foi responsável pela intrusão no Telegram?
A Polícia Federal já identificou quem invadiu o Telegram. Um dos presos tem longa ficha criminal que aponta a prática de crimes por dinheiro. Um dos envolvidos chegou a dizer que o plano era de vender as mensagens. É razoável supor que ele possa ter recebido para passar minhas mensagens adiante. Até porque ele teve movimentações de ordem milionária, incompatíveis com seu patrimônio e renda, e porque nada foi passado das outras 300 autoridades que teriam sido invadidas com sucesso. Mas é preciso aguardar o desfecho das investigações para saber exatamente o que ocorreu. Confiamos na PF.

A quem interessa a divulgação dos diálogos?
A leitura de conversas entre autoridades chama a atenção do público, independentemente de seu conteúdo. Mas os principais interessados nessa divulgação são os que querem derrubar a Lava-Jato, suas investigações e processos. São também os poderosos que se corromperam e não querem que a operação os alcance e aqueles que têm saudades da impunidade generalizada. Essa divulgação coloca em jogo os direitos constitucionais à privacidade e à informação. Ambos devem ser ponderados. O que temos visto é o enfraquecimento do direito à privacidade e ao sigilo profissional para viabilizar a divulgação de fofocas, opiniões pessoais, cogitações e até mesmo de estratégias, planos e atos de investigação legítimos. Isso tem prejudicado investigações em curso que tramitam sob sigilo. Não há interesse público nisso. Muito pelo contrário, quem perde é a sociedade.

Houve exageros na divulgação das operações ao longo da força-tarefa da Lava-Jato?
Os crimes praticados é que foram exagerados, eles que chocaram o país e ganharam o interesse da mídia. Se o Ministério Público desse uma coletiva para divulgar que um estudante falsificou uma nota de R$ 100 ninguém daria repercussão. Prestamos informações públicas para a imprensa, porque respeitamos sua importância na democracia. Mas, o que gera impacto não é o fato de divulgarmos uma nota ou darmos entrevista, mas sim a gravidade dos crimes e os cargos importantes que os criminosos tinham na República.

Por que o senhor não aceitou convite para esclarecer essas questões no Congresso?
O trabalho da força-tarefa é técnico e jurídico. O Congresso desempenha um papel fundamental em nossa democracia, mas é um palco político. Vimos como foi com o ministro Sergio Moro. Houve uma disputa entre narrativas, uma guerra política. As mesmas declarações foram usadas para conclusões radicalmente opostas. Nós submetemos nosso trabalho e prestamos contas dele ao Poder Judiciário. O Legislativo é outro Poder.

Procuradores da força-tarefa são criticados por parte dos eleitores pela parcialidade, por escolherem alvos, como no caso do ex-presidente Lula. Como responde a isso?
Nós vamos aonde as provas nos levam. No caso do ex-presidente, por exemplo, existem oito ações penais contra ele, em geral por corrupção e lavagem de dinheiro referentes a diferentes contratos públicos, tramitando em três jurisdições: Brasília, São Paulo e Curitiba. Uma nona acusação foi oferecida nesta semana em São Paulo, por corrupção, apontando que uma empreiteira pagou mesadas a seu irmão. Atuam nelas promotores e juízes independentes, concursados e sem vínculos político-partidários. Em Curitiba, por exemplo, o número de procuradores na força-tarefa da Lava-Jato variou entre seis e 15, todos independentes, sem chefes. As decisões relevantes são conjuntas e, no caso das acusações e condenações do ex-presidente, foram unânimes. Nas três ações de Curitiba, foram rastreados documentalmente pagamentos de empreiteiras que beneficiaram direta ou indiretamente o ex-presidente, no montante de R$ 19 milhões. Parte do dinheiro foi para comprar o apartamento contíguo ao seu, que ele passou a ocupar. Duas dessas ações já foram sentenciadas por dois juízes distintos, e o ex-presidente foi condenado. A primeira delas foi confirmada por sete julgadores em duas instâncias superiores. Cinco deles foram nomeados pelo próprio Lula ou por Dilma Rousseff. Em todos esses casos, a última palavra caberá ao Judiciário, mas alegar perseguição política nesse quadro é construir uma teoria da conspiração.

Como é sair de uma situação de glória pelo trabalho na Lava-Jato para questionamentos, como ocorre agora?
Não buscamos glória ou poder. Buscamos servir com excelência e contribuir para um país melhor. Os questionamentos talvez contribuam para fazer as pessoas perceberem que nenhum grupo de pessoas vai mudar o Brasil. A mudança cabe aos brasileiros. Cada um tem que parar de reclamar dos outros e fazer a sua parte. Se “o político é ruim”, mude o político ou cobre preparo e uma atuação adequada. Se “o brasileiro não vota bem”, leve informações para as pessoas. Não dá para escolher o candidato em 15 minutos ou pegando panfleto na rua e esperar que tudo será diferente.

Em algum momento, no seu trabalho, houve afronta à lei?
Nunca ultrapassamos a linha da lei e da ética. Se algum procurador tivesse visto algo errado nas investigações e processos, não pensaria duas vezes em se afastar. Recentemente, na Procuradoria-Geral da República, procuradores renunciaram porque discordaram de algo que aconteceu lá. A equipe aqui em Curitiba sempre seguiu e segue unida. Agora, evidentemente, nós não damos às leis a mesma interpretação dada pelos advogados dos réus da Lava-Jato. Se fosse assim, pediríamos a absolvição dos réus, a anulação dos casos e que o Estado devolvesse aos réus o dinheiro recuperado.

O que mudou no país para surgir uma onda contrária à Lava-Jato? Ou ela sempre existiu por parte de uma parcela da população?
A maioria da população apoia a Lava-Jato. Não existe uma onda contrária à operação, essa não é a realidade do Brasil. Talvez, seja a realidade em alguns gabinetes políticos e núcleos militantes decepcionados com a condenação de seus líderes ou com a revelação de que eles praticaram corrupção. O que existem são críticas, o que é normal e saudável se forem expressadas de modo pacífico e republicano. A Lava-Jato colheu provas de corrupção envolvendo muitos poderosos, inclusive o presidente mais popular da história recente do Brasil. A investigação não julga seus governos ou sua história, mas sim, atos e fatos praticados definidos pela lei como crime. É claro que isso desagrada interesses ligados a essas pessoas, que têm aliados em todos os setores, como órgãos públicos, empresas e até na mídia. A recente difusão de acusações falsas fez a operação sangrar. E aí vêm os tubarões. Pessoas antes inibidas pela Lava-Jato hoje a atacam abertamente.

Houve troca de mensagens com Moro desde que ele assumiu o Ministério da Justiça?
Houve conversas com o ministro antes e depois de ele assumir. A questão não é se houve conversas ou por qual meio, mas qual o seu conteúdo, que sempre foi a busca do interesse público.

Moro seria um bom ministro do STF? Por quê?
A atuação de Sergio Moro como juiz merece todo reconhecimento, assim como sua vida e produção acadêmicas. Mas não cabe a mim especular sobre a carreira dele.

 

E presidente da República?
Moro seria um bom presidente?
Também não cabe a mim fazer essa especulação, que é política e foge da minha especialidade.

Como era a relação da força-tarefa de Curitiba com a equipe da PGR? Havia divergências?
Como em todo trabalho havia, por vezes, discordâncias sobre qual o melhor caminho para atingir o interesse público, mas, em geral, elas foram equacionadas. Dentro da própria equipe, muitas vezes discordamos, o que é saudável. O importante é que todos atuem sempre nos limites da lei, da ética e do interesse público.

Há uma desconfiança por parte de pessoas que acompanham a Lava-Jato de que autoridades norte-americanas interferiram na investigação da Lava-Jato. Ao longo dos últimos cinco anos houve troca de informações com autoridades norte-americanas?
Vejo essa desconfiança na forma de teorias da conspiração, em blogues que ligam a Lava-Jato à CIA ou a interesses estrangeiros. Inventam todo tipo de maluquice. Agora, um dos traços marcantes da Lava-Jato foi a cooperação interna, entre órgãos, e internacional, com mais de 50 países, sempre com respeito à soberania de cada um. A cooperação com a Suíça, por exemplo, permitiu alcançar documentos de contas bancárias usadas para pagar e receber propinas. Trabalhar com as autoridades americanas foi importante para obter documentos bancários e recuperar recursos desviados. A Lava-Jato forneceu também provas de corrupção para vários países da América Latina.

O que espera do seu futuro?
O que me preocupa é o futuro do país, onde meus filhos vão viver. Falam que a prioridade é a questão econômica, mas fecham os olhos para o fato de que só teremos uma economia forte no médio e no longo prazo se enfrentarmos o capitalismo de compadrio e a grande corrupção política brasileira. O compadrio é uma face perversa de um sistema extrativista, em que parte das elites desviam dinheiro e empobrecem a nação, como disseram Daron Acemoglu e James Robinson no livro Por que as nações fracassam. Nosso sistema eleitoral é capturado pelo dinheiro, como mostra o recente livro de Bruno Carazza. A corrupção grassa, reformas anticorrupção estão na gaveta, o combate à corrupção está se esfacelando e está sendo criado um clima favorável à impunidade.

Em que o senhor busca inspiração e força para enfrentar essa fase?
Na minha fé, no meu propósito de servir ao país e de reduzir o sofrimento humano e a miséria que a corrupção causa, e em exemplos de pessoas que, ao longo da história, lutaram por décadas contra injustiças históricas e arraigadas.

Houve pedido para empresas investigadas na Lava-Jato doarem para um instituto que apoia o combate à corrupção?
Isso nunca ocorreu. Ao longo da operação, vários cidadãos que não conheço me perguntaram como poderiam apoiar a causa anticorrupção. Indiquei que essas pessoas procurassem entidades apartidárias em que confio, como a Transparência Internacional, o Instituto Mude e o Observatório Social. Se eles ofereceram ajuda e se ela foi aceita, isso é um assunto deles, dos cidadãos e das entidades.

Ao aceitar o cargo no governo Bolsonaro, o ex-juiz Sergio Moro abalou a imagem da Operação Lava-Jato?
Creio que já respondi a essa questão anteriormente ao falar sobre o ministro.

O ministro Gilmar Mendes chamou a força-tarefa da Lava-Jato de “organização criminosa para investigar pessoas”. O que acha disso? Gilmar Mendes também se referiu à força-tarefa como falsos heróis. O que diz sobre isso?
Nunca pretendemos ser heróis nem buscamos esse título. Além disso, essa história de heróis é péssima, porque os cidadãos se veem como espectadores ou mesmo vítimas e ficam passivamente esperando que os heróis resolvam o problema. Contudo, apenas a sociedade pode mudar o país. Quanto às agressões injustas do ministro Gilmar, não vou ficar trocando ofensas com ele. Acredito que a sociedade saberá discernir o que está acontecendo.

Em mensagem aos colegas, o senhor disse que defendeu o
respeito à lista tríplice, mas a indicação de Augusto Aras deve se consolidar e é hora de trabalhar pelo MP. É um voto de confiança?

Seria mais democrática e transparente a indicação de um dos nomes constantes na lista tríplice. Mas a realidade é que foi indicado um nome de fora da lista. Sem um trabalho coordenado com o PGR, a Lava-Jato não funciona. Quase todos os nossos acordos batem em alguém com foro. Nossos casos acabam lá. E as decisões do STF serão fundamentais para nossas investigações e processos. O novo PGR está se propondo a fazer um bom trabalho na Lava-Jato, designou ótimos colegas que já atuavam lá até recentemente, e têm condições para isso. Vamos cobrar isso dele, mas também precisamos fazer nossa parte, precisamos colaborar. É preciso ter uma atitude construtiva para que o Ministério Público alcance os melhores resultados em prol da sociedade.

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Correio Braziliense sexta, 13 de setembro de 2019

SECA EM BRASÍLIA: BICHOS RECEBEM CUIDADOS ESPECIAIS

 

Bichos recebem cuidados especiais na seca
 
Zoo de Brasília oferece alimentação alternativa para amenizar o calor e a estiagem. Com umidade abaixo dos 12%, DF voltou a entrar em estado de emergência

 

» CAROLINE CINTRA

Publicação: 13/09/2019 04:00

Chocolate ganhou uma ducha de água fria (Ana Rayssa/CB/D.A Press)  

Chocolate ganhou uma ducha de água fria

 




Ducha fria, brincadeiras dentro d’água, alimentação leve e até picolé de frutas. Tudo isso tem feito parte da rotina no Zoológico de Brasília durante a seca. O Distrito Federal está há 101 dias sem chuva e, assim como nós, os animais sofrem com a sequência de meses de baixa umidade e temperaturas altas. A equipe faz atividades semanais para, além de aliviar o calor, deixar as tardes dos bichos mais divertidas.

A chefe do Núcleo de Bem-Estar Animal da fundação, Marisa Vieira de Carvalho, conta que são oferecidas várias opções de refrescamento, mas são os animais que escolhem com o que vão interagir.

Às segundas, quartas e sextas-feiras, um caminhão-pipa é usado para molhar todos os recintos. Além disso, frutas, como maçã, são colocadas dentro de cada ambiente para ajudar nos períodos de mais calor, geralmente às 15h30.

Ontem, o elefante Chocolate foi agraciado com um banho à tarde, acompanhado de uma alimentação bem leve. A cada jato de água, ele reagia levantando a tromba. No espaço das emas, foi instalado um sistema para molhar  plantas, com a função de deixar os recintos mais úmidos. Elas também aproveitam para se refrescar.

O urso-de-óculos Ney foi um show à parte. Ganhou um picolé de frutas enquanto fazia o lanche da tarde. A recompensa gelada foi lançada no lago onde bebe água. A elefanta Belinha também foi premiada com a guloseima. Já a girafa Yaza recusou o agrado. Preferiu as folhas de amora do pé que fica no espaço que divide com a zebra.

Os picolés são preparados com 24 horas de antecedência para serem entregues na consistência correta. Entre os ingredientes estão melancia, banana, maçã, mamão e um suco adoçado com mel.

Durante a semana, os pequenos felinos também ganharam picolé, mas o sabor era diferente, de acordo com o gosto dos animais: sumo ou pedaços de carne congelados. A equipe de zootecnia é responsável pela dieta balanceada e refrescante. “Trabalhamos com um cronograma, mas o clima auxilia nas escolhas que fazemos”, explica Marisa, do Núcleo de Bem-Estar.

Dia mais quente do ano

A Defesa Civil voltou a decretar estado de emergência ontem, após dois dias consecutivos com a umidade relativa do ar abaixo de 12% — chegou a 11%. Além disso, foi o dia mais quente do ano, com 34,7ºC.

Ao que tudo indica, o calor excessivo continua nos próximos dias. A previsão para hoje, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), é de tempo seco e umidade ainda baixa, podendo chegar a 11%, à tarde, entre 14h e 16h. A máxima pode atingir 34ºC.

De acordo com o meteorologista Olívio Bahia, amanhã a temperatura pode cair um pouco e ficar na casa dos 29ºC. A umidade deve subir, dando um pouco de alívio aos brasilienses. “Será um dia menos agressivo, mas ainda seco. Sairemos deste estado de alerta em que o DF está, mas terá uns picos diurnos. De uma forma geral, há uma preocupação na cidade, em especial com as pessoas mais sensíveis, como crianças e idosos, que sentem mais.”

Segundo o especialista do Inmet, ainda não há previsão de chuva. “Não há sinais para os próximos cinco dias. Daí para frente, não podemos confirmar. Mas a perspectiva não é muito boa. Em outubro é quando a gente sabe que a chegada das chuvas é mais certeira”, diz o meteorologista.


Serviço

» O Zoológico de Brasília funciona de terça a domingo e nos feriados, sempre das 8h30 às 17h. Os ingressos custam R$ 10. Pagam meia-entrada crianças de 6 a 12 anos, idosos, estudantes, professores e beneficiários de programas sociais do governo.
 
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Correio Braziliense quinta, 12 de setembro de 2019

LAGO PARANOÁ: 60 ANOS DE HISTÓRIA

 

LAGO PARANOÁ

60 anos de história
 
Um dos principais pontos turísticos de Brasília carrega mais do que beleza. Em 12 de setembro de 1959, o Lago Paranoá começou a se formar, mas esse é só um aspecto da rica história do local

 

» ALAN RIOS

Publicação: 12/09/2019 04:00

Vista encanta brasilienses: sintonia entre natureza e arquitetura (Minervino Junior/CB/D.A Press)  

Vista encanta brasilienses: sintonia entre natureza e arquitetura

 



Hoje coberta por água, a área já foi ocupada por casas da Vila Amaury (Arquivo/Instituto Histórico e Geográfico do DF)  

Hoje coberta por água, a área já foi ocupada por casas da Vila Amaury

 



Foto de 1970 mostra Lago Paranoá com banhistas, mas ainda sem prédios ao fundo (Arquivo CB/CB/D.A Press)  

Foto de 1970 mostra Lago Paranoá com banhistas, mas ainda sem prédios ao fundo

 



Nadadores amenizam a seca do Cerrado com mergulhos no espelho d%u2019água (Minervino Junior/CB/D.A Press)  

Nadadores amenizam a seca do Cerrado com mergulhos no espelho d'água

 

 
“É fácil compreender que, fechando essa brecha com uma obra de arte, forçosamente a água tornará ao seu lugar primitivo e formará um lago navegável em todos os sentidos, num comprimento de 20 a 25 quilômetros”. A afirmação foi escrita em 1895 pelo francês Auguste François Marie Glaziou, engenheiro e botânico que fez pesquisas na área onde seria construído o Lago Paranoá. Já em 1959, Juscelino Kubitschek fechou a barragem do Paranoá e viu, na presença de uma multidão, o lago começar a se formar. Aquele momento histórico para Brasília, idealizado desde o século XIX, completa hoje 60 anos.
 
Seja para dar um mergulho, ter um dia de tranquilidade com os pés na água, respirar um ar mais úmido ou fotografar o cenário, o brasiliense cultiva um carinho pelo Lago Paranoá. O aniversariante de 12 de setembro recebe visitas constantes, como a de Alan Silva de Carvalho, 33 anos. Morador de Valparaíso (GO), ele garante que, se morasse mais perto, tomaria banho diariamente naquela água. “Gosto porque é um lugar muito tranquilo, que transmite uma paz boa. Nunca vi brigas ou confusões entre os frequentadores”, diz.
 
Mas quem vê a imensidão do lago dificilmente imagina que a história dele também é enorme ou que parte daquele lugar já esteve ocupada por uma população de cerca de cem famílias, como explica Denise Coelho, professora da Secretaria de Educação e especialista do Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal. “Muita gente não sabe, mas o Lago Paranoá foi antevisto pelo engenheiro Auguste François durante a segunda Missão Cruls, que, resumidamente, fez uma série de pesquisas no interior do país para descentralizar o desenvolvimento do Brasil dos estados litorâneos”, conta. 

O casal Marcelo dos Santos e Dayane Santos aproveita o lago:  

O casal Marcelo dos Santos e Dayane Santos aproveita o lago: "Meu refúgio!", diz ele

 



Ambiente calmo e contato com o meio ambiente são atrativos do aniversariante do dia (Minervino Junior/CB/D.A Press)  

Ambiente calmo e contato com o meio ambiente são atrativos do aniversariante do dia

 

 
Quando esse ideal precisou sair do papel, o lugar não era o mesmo de séculos atrás. “No fim da década de 1950, muitas pessoas moravam ali, em uma vila que foi chamada de Sacolândia, depois Vila Bananal e, por fim, Vila Amaury.” Os moradores foram transferidos para Sobradinho e Gama, mas, até hoje, mergulhadores encontram pedaços de casas, carros e máquinas no fundo d’água. 
 
Da descrença à realidade
 
Há 60 anos, críticos de Kubitschek chegaram a dizer que construir um lago artificial na nova capital era uma loucura. Adversários políticos e descrentes diziam que a ideia seria um fracasso e que o lago não encheria. “No dia em que o lago atingiu mil metros de altitude, o então presidente mandou um telegrama para os críticos mais ferrenhos com duas palavras: ‘Encheu, viu?’”, lembra Denise. Hoje, as águas que já foram rasas permitem que os frequentadores se molhem dos pés à cabeça, como faz o empresário Marcelo dos Santos, 36. “Esse é o meu refúgio! É bom para a alma e para o corpo”, comemora o morador do Cruzeiro. 
 
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Correio Braziliense quarta, 11 de setembro de 2019

QUE SAUDADE DA CHUVA!

 

Que saudade da chuva!
 
 
Clima seco e altas temperaturas castigam os brasilienses, principalmente aqueles que trabalham nas ruas sob o Sol

 

» ALAN RIOS

Publicação: 11/09/2019 04:00

Guarda-chuva passou a servir como guarda-sol durante a seca (Vinicius Cardoso/Esp. CB/D.A Press)  

Guarda-chuva passou a servir como guarda-sol durante a seca

 



A empresa de Simone mudou a carga horária para evitar que garis trabalhem sob o Sol da tarde (Vinicius Cardoso/Esp. CB/D.A Press)  

A empresa de Simone mudou a carga horária para evitar que garis trabalhem sob o Sol da tarde

 

 
Você se lembra quando foi a última vez que se molhou com a chuva em Brasília ou precisou recorrer àquela sombrinha que fica na bolsa para não encharcar a roupa? É preciso voltar meses no tempo. Hoje, quando a temperatura máxima será de 32ºC e a umidade pode chegar a 20%, o Distrito Federal completa a marca de 100 dias sem chuva. E se não está fácil aguentar o Sol quente, seja em casa, no escritório , seja em escolas e faculdades, pior ainda é a situação de quem trabalha sem um teto para se proteger. Garis, policiais e ambulantes da capital, por exemplo, driblam como podem as dificuldades do serviço na rua nessa época de seca.
 
Entre as recomendações de especialistas para enfrentar os meses de baixa umidade do ar e altas temperaturas, está usar roupas leves. Simone Francisca dos Santos, 52 anos, contudo, não pode seguir esse conselho. Funcionária de uma empresa de limpeza urbana, ela precisa das luvas, do uniforme de mangas cumpridas e calça larga. “O que podemos fazer é tomar muita água, e isso eu faço toda hora. Ando com minha garrafinha e, sempre que posso, abasteço”, conta. A gari lembra ainda que chegou a passar mal debaixo do Sol recentemente, mas que uma alteração no horário de trabalho diminuiu os desgastes. “Semanas atrás eu fiquei tonta, senti a visão escurecer um pouco e tive que dar uma pausa. Mas mudaram nossa jornada para que a gente termine às 12h40 e não pegue aquelas horas mais quentes do dia”, explicou.
 
Policiais da patrulha com bicicletas reforçaram o protetor solar e passaram a trabalhar com medidor de pressão para cuidados com quem passa mal na seca (Vinicius Cardoso/Esp. CB/D.A Press)  

Policiais da patrulha com bicicletas reforçaram o protetor solar e passaram a trabalhar com medidor de pressão para cuidados com quem passa mal na seca

 

 Outra dica para enfrentar a baixa umidade é evitar exercícios físicos na parte da tarde, quando as maiores temperaturas costumam ser registradas. A patrulha de ciclistas da Polícia Militar se adaptou para isso. Policiais que atuam com bicicletas em Ceilândia chegam a percorrer 18 km por dia para garantir a segurança da região, como detalha o subtenente Roberto Costa, 48. “Na base do centro da cidade, temos duas equipes, com quatro pessoas cada, que percorrem um caminho longo. Como o calor está forte, agora nós mudamos nossas operações. Antes, pedalávamos de 8h às 16h. Agora, nós pedalamos até às 11h e depois seguimos a patrulha na base móvel, que é a nossa van”, diz. Além da mudança de horários, a PM também comprou protetores solares para os militares e, em alguns postos, eles passaram a andar com um aparelho medidor de pressão, para primeiros socorros de vítimas das altas temperaturas.
 
“É comum, durante o patrulhamento nessa época, ver pessoas se sentindo mal debaixo do Sol, principalmente ambulantes. Semana passada, uma vendedora desmaiou no Restaurante Comunitário e fomos prestar os atendimentos. Chamamos o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e tivemos os cuidados para que ela não tivesse uma convulsão”, lembrou o subtenente. Para evitar esses casos, se hidratar é essencial. E Cleisson do Santos, 18, incentiva isso com sua barraquinha de água de coco. “As compras sempre aumentam de junho a setembro, com a seca. Agora, tem dia que chego a vender 50 cocos. Para não sofrer com o calor, coloco um guarda-sol grande e faço uma sombra boa. É bom até para os clientes, que chegam aqui, sentam um pouco e se hidratam”, comemora.


Para prevenir
Coordenador do pronto-socorro do Hospital Santa Lúcia, o médico Luciano Lourenço explica que o brasiliense está respirando um ar mais inflamatório, que agride mais o corpo. Por isso, manter padrões de hidratação e alimentação é tão importante. “Principalmente quem trabalha com exposição ao Sol precisa lembrar de beber água constantemente. Também devemos lembrar de manter uma alimentação mais saudável, com frutas, verduras e comidas leves, porque a gordura e o açúcar dificultam a digestão”, ressaltou o especialista. Antes de sair de casa, também é necessário passar o protetor solar — de fator 30 ou maior — e levá-lo na bolsa, uma vez que é recomendado um reforço do produto durante o expediente de quem trabalha sob o Sol. “No mais, óculos escuros e bonés também ajudam”, finaliza Luciano.


Estiagem

A média de tempo em que o DF fica sem chuva na época da seca costuma variar entre 100 e 120 dias, mas a marca foi ultrapassada recentemente. Em 2017, foram 127 dias de estiagem, período muito maior do que no ano passado, quando a capital ficou somente 82 dias na seca. Mas o recorde negativo é bem mais antigo e atingiu os pioneiros da capital. Em 1963, Brasília alcançou os 164 dias sem registro de chuva. Neste ano, a expectativa do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) é de que a seca continue por mais alguns dias. “Sempre olhamos os modelos meteorológicos e eles estão cada vez mais jogando para frente quando virá a chuva. Pode ser que chova até a última semana de setembro, mas, pelo menos até a próxima semana, o DF deve continuar na seca”, adiantou a meteorologista Naiane Araújo.
 
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Correio Braziliense terça, 10 de setembro de 2019

O ABUSADOR MORA DENTRO DE CASA

» CIDA BARBOSAA maioria dos casos de violência sexual contra crianças e adolescentes ocorre em casa, cometidos por alguém que deveria protegê-los. Na segunda reportagem da série Infância, um grito de socorro, o Correio traz o relato de Ana (nome fictício), abusada pelo próprio irmão dos 6 aos 11 anos. As violações impactam vítimas de todas as idades e classes sociais. O enfrentamento da barbárie, porém, ainda apresenta muitos desafios, como uma participação mais efetiva e permanente da sociedade, prevenindo e denunciando o crime, e um Estado atuante, com mais políticas públicas e campanhas de conscientização. PÁGINA 19 (Kleber Sales/CB/D.A Press)

O ABUSADOR MORA DENTRO DE CASA
 
Eu sofri violência do meu irmão
 
A segunda reportagem da série trata dos abusos sexuais contra crianças e adolescentes, como os vividos pela jovem Ana. A maioria desses crimes ocorre dentro de casa e são cometidos por alguém responsável pelo cuidado e pela segurança da vítima

 

» Cida Barbosa

Publicação: 10/09/2019 04:00

Quando entra na sala, Ana (nome fictício) chama a atenção. Bonita, alta, um tanto tímida. Fala, porém, com desenvoltura e transmite uma segurança surpreendente para quem foi impactada pela violência desde muito cedo. “Eu sofri uma violência do meu irmão quando eu tinha uns 6 anos, e isso ficou acontecendo até eu ter uns 11”, conta, ao Correio, a jovem de 18 anos.
 
Ana enfrentou seu tormento em silêncio, por temor de abalar a mãe. “Ela é doente. Eu sempre achei que mais um problema só iria prejudicá-la. Passei uns seis anos escondendo tudo. Isso acabou comigo por dentro.” Só muito tempo depois a mãe soube da violência — a reportagem não fornecerá mais informações para preservar a identidade da jovem.
 
O drama vivido por Ana é uma realidade na rotina de milhares de crianças e adolescentes no país. Os abusos sexuais que impactam vítimas de todas as idades e classes sociais são o tema da segunda reportagem da série Infância: um grito de socorro.
 
No Brasil, há um dia específico de mobilização contra esses crimes. A instituição do 18 de maio foi um passo importante, mas o enfrentamento da violência carece de participação efetiva e permanente da sociedade, prevenindo e denunciando os abusos, e do Estado, com mais políticas públicas e campanhas de conscientização.
 
“Temos avanços importantes. A partir de campanhas, de todo o trabalho de sensibilização, da mídia, das redes sociais, há uma possibilidade maior de denúncia, de as pessoas notificarem, falarem sobre isso”, afirma Karina Figueiredo, membro da coordenação do Comitê Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes. “Mas a gente ainda tem muitos desafios no que se refere ao papel das políticas públicas em darem resposta ao combate a essa violência. Não tem como não dizer que não houve avanço, porém, é aquela velha questão: criança e adolescente não são prioridade absoluta, embora esteja na lei.”
 
No Distrito Federal, de janeiro a abril deste ano, houve 79 casos notificados de violência sexual contra esse público, segundo o Disque 100— canal de denúncias do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Nos 12 meses de 2018, a capital federal teve 291 registros .
 
Os números, porém, não refletem a totalidade dessa barbárie, porque os abusos ocorrem, principalmente, dentro da família, e são cometidos por pai, mãe, madrasta, padrasto, irmão, tio, primo, avós — além de amigos, vizinhos e conhecidos. Os integrantes do núcleo familiar não percebem o crime, se calam para preservar sua “harmonia” ou se veem chantageados pelo molestador, que ameaça agredir ou matar parentes em caso de denúncia.
 
Meninas e meninos também costumam aguentar tudo em silêncio porque, muitas vezes, não compreendem que estão sendo vítimas de abusos. “A literatura (médica) diz que leva de um ano a um ano e meio para a criança denunciar, por causa de todo esse contexto que perpassa a violência sexual. A maioria dos casos ocorre no ambiente intrafamiliar, o agressor é conhecido”, diz Fernanda Falcomer, chefe do Núcleo de Estudos, Prevenção e Atenção à Violência (Nepav), da Secretaria de Saúde. “A criança fica submetida àquela situação até compreender que é uma violência e conseguir contar para alguém.”
 
A vergonha e o sentimento de culpa são comuns entre as vítimas. Ana afirma que, se pudesse falar com todas elas, diria para entenderem que não têm responsabilidade pelo que ocorreu. “Que não foi uma roupa, não foi uma coisa que fizeram ou disseram”, ressalta. “É importante não se calar. Então, se tem um amigo de confiança, a mãe, o pai, fale, converse, procure o Conselho Tutelar”, ensina. Nem sempre, porém, a denúncia é a etapa inicial para o fim da violência. Geralmente, meninos e meninas são desacreditados ao revelarem os abusos. “Quando a criança é muito pequena, dizem: ‘Ela não sabe do que está falando, está fantasiando’. Se é adolescente: ‘Adolescente mente’”, exemplifica Ana Cristina Melo Santiago, delegada-chefe da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA). Na unidade, as vítimas são ouvidas numa escuta especializada, com um método desenvolvido para não revitimizá-las, e fornecem dados para o processo criminal.
 
A violência sexual tem consequências profundas na saúde física e mental e no desenvolvimento psicossocial de crianças e adolescentes. Muitos apresentam alterações cognitivas, atrasos na escola, têm raiva profunda, pesadelos frequentes (veja quadro). Os impactos prosseguem na vida adulta, como diz Karina Figueiredo. “Eu trabalho hoje com mulheres que são dependentes de álcool e outras drogas, e 90% delas sofreram violência sexual na infância”, relata. “Elas falam claramente que o uso da droga é uma forma de anestesiar essa dor.”
 
 
 
O suplício de Araceli
 
O Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual Infantil foi instituído como 18 de maio em homenagem à menina Araceli Cabrera Crespo. Nesse dia, em 1973, a criança, então com 8 anos, foi raptada, drogada, estuprada, morta e carbonizada em Vitória (ES). O crime bárbaro, que chocou o Brasil, ficou impune.
 
 
 
Denuncie
 
Todos os tipos de violência contra crianças e adolescentes podem ser denunciados nos conselhos tutelares, cujos endereços e telefones estão no site: http://conselhotutelar.
sejus.df.gov.br/wp-conteudo//uploads/2019/07/CONSELHOS-TUTELARES.pdf. Também é possível fazer a denúncia em qualquer delegacia ou por meio do Disque 100 (o usuário disca para o número 100, seleciona a opção desejada e é encaminhado para um atendente), do aplicativo Proteja Brasil (o usuário vai à loja de aplicativos do seu celular e faz o download, gratuitamente, disponível para iOs e Android) e da Ouvidoria on-line (preenche um formulário disponível em www.humanizaredes.gov.br/ouvidoria-online/). O anonimato é garantido.
 
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Correio Braziliense domingo, 08 de setembro de 2019

A FESTA DA INDEPENDÊNCIA

 

CIVISMO
 
A festa da independência
 
A estimativa é de que mais de 20 mil pessoas foram ao tradicional desfile cívico-militar em comemoração ao 7 de Setembro e o primeiro do presidente Jair Bolsonaro. Empolgado com a recepção, ele desceu do palanque e foi ao encontro dos eleitores
 
 
Diante de mais de 20 mil pessoas, Bolsonaro desfilou de Rolls Royce, com o filho Carlos e um garoto de 9 anos, que convidou, no banco traseiro do carro. Na hora do desfile cívico-militar, ele quebrou o protocolo: deixou a arquibancada reservada às autoridades e foi ao encontro do público. O verde e o amarelo predominaram na Esplanada. Depois da celebração da Independência, o presidente embarcou para São Paulo, onde passará por cirurgia, amanhã, para corrigir hérnia.  (Ed Alves/CB/D.A Press)
 

 

Darcianne Diogo*
Juliana Andrade
Thais Moura*
Thiago Cotrim*

Publicação: 08/09/2019 04:00

As arquibancadas, instaladas na Esplanada dos Ministérios, ficaram lotadas de brasilienses e pessoas de outros estados que vieram prestigiar  a tradicional parada, protagonizada pelos militares (Ed Alves/CB/D.A Press)  

As arquibancadas, instaladas na Esplanada dos Ministérios, ficaram lotadas de brasilienses e pessoas de outros estados que vieram prestigiar a tradicional parada, protagonizada pelos militares

 

 
O verde e o amarelo dominaram a Esplanada dos Ministérios no primeiro 7 de Setembro do presidente Jair Bolsonaro (PSL).  Embora a Polícia Militar não tenha avaliado o tamanho do público, a estimativa é que mais de 20 mil pessoas atenderam ao apelo do presidente e compareceram ao desfile usando as cores predominantes da bandeira do Brasil: amarelo e verde. Com arquibancadas e gramado lotados, o chefe do Executivo foi recebido aos gritos de “mito”. Diante da manifestação dos presentes, ele quebrou protocolo, desceu da tribuna de honra e caminhou pela avenida, onde ocorre o desfile cívico-militar, para cumprimentar os eleitores.
 
O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, assistiu ao desfile ao lado do presidente Jair Bolsonaro, na tribuna presidencial. O chefe do Buriti estava acompanhado da primeira-dama, Mayara Noronha, e do filho mais novo, Mateus Rocha. Ibaneis destacou que o 7 de Setembro simboliza a luta pela liberdade do povo brasileiro, mas os desafios continuam. “Agora, precisamos avançar para edificação de um Brasil ainda mais digno, justo, e que tenha, na democracia, valores éticos e morais capazes de promover um pacto de responsabilidade social com todos os brasileiros e brasileiras. Democracia é prática, paciência, construção”, declarou.
 
O casal Ana Cláudia e Paulo Souza, com o filho: amor à pátria (Thiago Cotrim/Esp. CB/D.A Press)  

O casal Ana Cláudia e Paulo Souza, com o filho: amor à pátria

 

 
Além das apresentações dos batalhões do Corpo de Bombeiros e da Polícia Militar do Distrito Federal, o desfile contou com a participação de escolas públicas do Distrito Federal, que se tornou uma tradição. Entre elas, escolas de Samambaia, da Estrutural, do Guará, do Recanto das Emas, de Ceilândia, Gama e Santa Maria, além das estudantes das escolas militares do DF.
 
Crianças, jovens, adultos e idosos procuraram o melhor local para apreciar o desfile. Aqueles que não conseguiram um lugar na arquibancada se posicionaram de frente aos três telões instalados no gramado. Os mais inconformados escalaram árvores ou procuraram frestas na estrutura metálica que separava a arquibancada do gramado.
 
A dona de casa Andréa Souza,33 anos, passou a maior parte da atração em uma estrutura de metal que lhe dava uma visão acima da arquibancada — tudo para não perder um minuto da parada.  “É o primeiro 7 de Setembro que eu comemoro. Vim para conhecer e prestigiar o evento. O ruim é que encontrei um espaço para minha filha sentar na arquibancada, mas eu fiquei aqui de fora”, diz Andréa.
 
O empresário Paulo Souza, 26, aproveitou o gramado da Esplanada para assistir ao desfile pelo telão. Ele acompanha o evento desde criança e levou o filho e a mulher, Ana Cláudia, para o evento. “Quero passar essa tradição para o meu filho. Acredito que sair de casa para celebrar um momento como esse é só um resumo do amor que precisamos ter pelo nosso país”, disse.
 
Os organizadores esperavam 20 mil pessoas para o evento. O número não foi confirmado. Diferentemente de anos anteriores, a Secretaria de Segurança Pública do DF (SSP/DF) não divulgou o dado. Além de moradores do Distrito Federal, teve gente que veio de outros estados especialmente para a comemoração ao lado do presidente da República. A empresária Luciana Borges, 55, desembarcou, na sexta-feira à noitem, em Brasília, procedente do Bairro da Lapa, em São Paulo. “Para mim, é uma honra estar aqui. Sigo o presidente Jair Bolsonaro em todas as manifestações. Hoje não poderia ser diferente: vim vê-lo e ouvir o discurso”, afirmou.
 
O militar Kelvin Rocha (E) foi ver a Esquadrilha da Fumaça (Thaís Moura/Esp. CB/D.A Press)  

O militar Kelvin Rocha (E) foi ver a Esquadrilha da Fumaça

 

 
Um dos momentos mais esperados foi a apresentação da esquadrilha da fumaça. O militar Kelvin Rocha, 22, aguardou o evento inteiro, ansioso, pela exibição aérea.  “É a segunda vez que estou vindo, eu venho só pelas marchas, que são muito bonitas, e pela Esquadrilha da Fumaça”, conta. Para ele, os desfiles foram superiores aos do ano passado. “Eu só acho que está um pouco mais rígido para entrar no evento, no passado era mais fácil, sem tanta burocracia”, reclamou. Outro momento que levantou o público foi o desfile da Pirâmide Humana do Batalhão de Polícia do Exército de Brasília, com 47 militares sobre uma única motocicleta.
 
No balanço do Corpo de Bombeiros, apenas 11 ocorrências, a princípio sem gravidade. A Polícia Militar fez quatro apreensões de drogas, canivete e estilete nas proximidades do evento. Os suspeitos foram detidos e levados à 5ª Delegacia de Polícia (Área Central).
 
Joice, Magda e Francisco vestiram preto: protesto contra o governo e em defesa da Amazônia (Darcianne Diogo/Esp. CB/D.A Press)  

Joice, Magda e Francisco vestiram preto: protesto contra o governo e em defesa da Amazônia

 

 
Insatisfação
 
Entre os presentes, houve quem aproveitou o momento para protestar contra o governo. A fotógrafa Joice da Silva, 22 anos, a analista administrativa Magda Queiroz, 51, e o servidor público Francisco de Assis, 54, vieram para o desfile vestidos de preto, conforme recomendação de grupos contrários ao presidente  Bolsonaro. Além disso, eles colaram adesivos nas blusas com as frases: “Fora, Bolsonaro” e “Todos a favor da Amazônia”.
 
“Estamos passando por um momento delicado na política brasileira, em que nossa democracia está ameaçada. Viemos protestar, mas confesso que estou com medo. A maioria das pessoas que estão aqui (Esplanada dos Ministérios) são favoráveis ao presidente e, quando elas nos vêem, nos olham com a cara feia. É uma pena saber que, mesmo em um espaço público, não podemos manifestar nossa opinião”, reclamou Joice.
 
 
 (Thaís Moura/Esp. CB/D.A Press)  
 
Eu fui!
A estudante do colégio militar Tiradentes, Isabelle Tavares, 16, desfilou durante as comemorações e se surpreendeu com a animação do público. “É o segundo ano que eu desfilo. Foi muito cansativo, mas já estou acostumada porque nós marachamos toda sexta-feira. No momento em que começamos a cantar, o público reagiu muito bem. Foi um momento mágico”, conta.
 
 
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Correio Braziliense sexta, 06 de setembro de 2019

ENFIM, NEYMAR VAI JOGAR

 

Enfim, Neymar vai jogar
 
 
Sem entrar em campo desde o duelo com o Catar no DF, e em crise com o Paris Saint-Germain, o camisa 10 encara a Colômbia

 

Publicação: 06/09/2019 04:00

 
Neymar não entra em campo desde a vitória  do Brasil por 2 x 0 sobre o Catar, em junho, em Brasília ( Lucas Figueiredo/CBF
)  

Neymar não entra em campo desde a vitória do Brasil por 2 x 0 sobre o Catar, em junho, em Brasília

 




O retorno de Neymar aos gramados é a grande atração do amistoso que Brasil e Colômbia disputarão hoje, em Miami, no primeiro compromisso da Seleção Brasileira após a conquista da Copa América. O atacante do PSG, frustrado com a não concretização da transferência para o Barcelona, voltará a campo após sua última atuação, no amistoso entre Brasil e Catar, em 5 de junho no Mané Garrincha. Naquele jogo, Neymar sofreu lesão aos 20 minutos no tornozelo e foi cortado da Copa América.

Para este retorno, o estado físico do jogador é uma grande incógnita, pois ele não atua 90 minutos desde 27 de abril, na final da Copa da França com o PSG, e é o único de todos os convocados de clubes da Europa que ainda não jogou nesta temporada 2019/2020. Apesar da falta de ritmo, o técnico da Seleção, Tite, segue confiando na grande estrela, que vai liderar novamente o ataque da equipe.

Tite deve seguir apostando na equipe-base que conquistou a Copa América em julho, mas com três novidades. O goleiro Ederson entra no lugar do lesionado Alisson; Neymar substitui Everton “Cebolinha” (que não foi convocado para poder disputar com Grêmio a semifinal da Copa do Brasil); e Richarlison entrará no lugar de Gabriel Jesus, que cumpre suspensão automática.

A partida pode ser a estreia na Seleção de Vinícius Júnior, o jovem jogador do Real Madrid convocado pela primeira vez por Tite para os amistosos contra os colombianos e, na terça-feira , contra o Peru, em Los Angeles. “Eu fico muito feliz de estar aqui realizando esse sonho. É difícil acreditar que com 19 anos eu já estou aqui, ao lado dos melhores jogadores, ao lado do meu ídolo (Neymar), das pessoas que eu sempre acompanhei bastante”, afirmou o jovem atacante revelado nas divisões de base do Flamengo.

Colômbia
A equipe colombiana volta a atuar após a eliminação nas quartas de final da Copa América contra o Chile. Os colombianos foram o melhor time da fase de grupos do torneio, no qual mostraram bom futebol e venceram os três jogos disputados, mas caíram diante dos chilenos nos pênaltis nas quartas.

Para os amistosos contra o Brasil e Venezuela, a seleção colombiana não contará com as estrelas James Rodríguez e Radamel Falcao, que não foi convocado pelo técnico português Carlos Queiroz por problemas físicos.

A grande dúvida na equipe é saber quem ocupará o lugar de James, o único meia-atacante nato da seleção, como admitiu o próprio Queiroz quando anunciou a lista de convocados. “Temos que dar prosseguimento ao futebol criativo, de muita penetração de passes, de consistência. Não tenho um volante 10, mas quatro 11 que podem criar desequilíbrio em todo o campo”.

Queiroz deve seguir apostando numa equipe titular mantendo a base da Copa América, com a entrada de Jefferson Lerma no meio de campo no lugar de James e de Luis Muriel, lesionado na estreia do torneio continental, substituindo Falcao no ataque.

A preparação das duas equipes em Miami foi afetada pela passagem do furacão Dorian. O Brasil planejava treinar durante a semana na Universidade Barry, que estava fechada por motivos de segurança. Assim, o local escolhido foi um campo coberto e de gramado artificial da equipe de futebol americano Miami Dolphins. Essa solução foi adotada também pela Colômbia, devido ao mau tempo.
 
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Correio Braziliense quinta, 05 de setembro de 2019

ELTON MEDEIROS, O FILÓSOFO DO SAMBA, MORRE AOS 89 ANOS

 


O filósofo do samba
 
 
Morre aos 89 anos Elton Medeiros, parceiro de Cartola, Ismael Silva, Zé Kéti, Hermínio Belo Carvalho e Paulinho da Viola

 

Irlam Rocha Lima

Publicação: 05/09/2019 04:00

 (Silvana Marques/Divulgação)  
 
 
“A sorrir eu pretendo levar a vida/ Pois chorando eu vi a mocidade perdida...” é o verso inicial de O sol nascerá, cantado por Zeca Pagodinho e Teresa Cristina na abertura de Bom Sucesso, elogiada novela apresentada na faixa das 19h pela TV Globo. Possivelmente, espectadores mais jovens não sabem que esse samba clássico é uma parceria de dois mestres do gênero: Cartola e Elton Medeiros.
 
Elton, que morreu na madrugada de ontem, aos 89 anos, vítima de complicações decorrentes de uma pneumonia, em Laranjeiras, bairro da Zona Sul do Rio de Janeiro, compôs também com Ismael Silva, Nelson Cavaquinho, Candeia, Zé Keti e Hermínio Bello de Carvalho. Mas seu principal parceiro foi Paulinho da Viola, com quem gravou, em 1968, o LP Samba na madrugada.
 
Os dois, na década de 1960, estiveram juntos igualmente no grupo A Voz do Morro, ao lado de Nelson Cavaquinho, Zé Keti, Armando Santos, Nuno Veloso, Joacyr Santanna. O conjunto foi formado no mítico  Zicartola, bar, restaurante e ponto de encontro de sambistas, que existiu num sobrado da tradicional Rua da Carioca, Centro do Rio.
 
Rosa de Ouro
 
Ali, Hermínio Bello de Carvalho idealizou a proposta de Rosa de Ouro, show que ficou em cartaz por mais de um ano, no Teatro Jovem, em Botafogo. Espetáculo que se tornaria antológico, e ganhou registro em disco, tinha Elton dividindo o palco com Paulinho da Viola, Nelson Sargento, Jair do Cavaquinho, Anescarzinho do Salgueiro e as divas Clementina de Jesus e Araci Cortes. Ele, Paulinho da Viola e Hermínio Belo de Carvalho assinavam o samba que dava nome ao musical, cantado na abertura.
 
Carioca do bairro da Glória, torcedor do Olaria, Elton compôs os primeiros sambas na adolescência para blocos carnavalescos como o Tupi de Braz de Pina e para a escola de samba Aprendizes de Lucas — a atual Unidos de Lucas. Do legado de clássicos do compositor, além de O sol nascerá fazem parte sambas que resultaram da parceria com Hermínio Bello de Carvalho (Pressentimento), Paulinho da Viola (Onde a dor não tem razão) e Zé Keti (Mascarada).
 
Pressentimento, interpretada por Marília Medalha, classificou-se em terceiro lugar na Bienal do Samba, vencido por Lapinha (Baden Powell e Paulo César Pinheiro), que teve como segundo colocado Bom Tempo (Chico Buarque); e em quinto e sexto lugares, respectivamente, Tive sim (Cartola) e Coisas do mundo, minha nega (Paulinho da Viola). Só para se ter ideia do nível desse festival, que ocorreu em São Paulo, no ano de 1968.
 
Segundo a cantora Teresa Cristina, Elton Medeiros foi um dos maiores melodistas que conheceu e conviveu. “Elton ranzinza me dava broncas, a última foi no Programa do Bial, corrigindo uma nota em O sol nascerá. Elton é dono da versão mais linda e espetacular de Acontece, do seu parceiro Cartola”, afirma a sambista.
 
 
 
Depoimentos
 
 
Conheci Elton por meio de Paulinho da Viola, mas, antes disso, eu admirava suas composições. Gravei, agora, pela segunda vez, O Sol Nascerá, dele e de Cartola. Essa gravação que fiz, com  Teresa Cristina, vai estar no meu novo disco. Que Deus o receba de braços abertos.” 
Zeca Pagodinho, cantor e compositor
 
 
 
“O que Elton Medeiros representa para música brasileira não cabe aqui e nem eu saberia dizer. Só sei que dói a saudade de um tempo bom em que pude ter o privilégio de sua companhia. Meu pai Oxalá, olha esse anjo que está subindo, ilumina o caminho dessa estrela!”
Teresa Cristina, cantora e compositora
 
 
 
“Éramos 5 Crioulos! O meu grande amigo, parceiro, grande mestre Elton Medeiros foi se encontrar com os amigos Jair do Cavaquinho, Mauri Duarte, Anescarzinho do Salgueiro. Com certeza, está sendo recebido com uma grande roda de samba!  Obrigado amigo Elton Medeiros. Aplausos, aplausos. Vá na luz! 
Nelson Sargento cantor e compositor  “Viva Elton Medeiros!” 
 
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Correio Braziliense quarta, 04 de setembro de 2019

MUITA ÁGUA PARA COMPENSAR A SECA

 

Muita água para compensar a seca
 
Com níveis de umidade que chegam a 15% e temperaturas que atingem os 33ºC, é preciso dar atenção especial ao corpo: hidratação, exercícios moderados e cuidados com o sol fazem parte da cartilha brasiliense nesta época do ano

 

» DARCIANNE DIOGO*
» GEOVANA OLIVEIRA*

Publicação: 04/09/2019 04:00

Ronaldo Nunes aproveita o lago com a família (Minervino Junior/CB/D.A Press)  

Ronaldo Nunes aproveita o lago com a família

 

 
O tempo seco e o calor intenso que atingem a capital estão longe de acabar. O Distrito Federal completou 93 dias sem chuva e, ao que tudo indica, as precipitações seguem sem previsão, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Segunda foi o dia mais seco do ano. A umidade relativa do ar registrou 13% na estação do Gama. Ontem, a umidade chegou a 15% (a segunda menor do ano) e, ao longo desta semana, deve variar entre 15% e 25%. “As temperaturas continuarão altas, variando entre 30°C e 32°C, e o céu com poucas nuvens”, explicou Heráclio Alves, meteorologista do Inmet. Mas é no período de estiagem que os brasilienses aproveitam para sair de casa e curtir o clima.
 
As amigas Márcia Vieira, 54 anos, e Glória Marinho, 56, não se desanimaram com o calorão. Para fugir do clima quente, elas resolveram tomar um sorvete e aproveitaram para colocar o papo em dia. As duas servidoras públicas aposentadas mantêm uma rotina de exercícios físicos intensos. Mas, por conta do tempo seco, há um mês Márcia decidiu dar uma pausa nas atividades. “Eu pedalava toda semana no Eixão, principalmente aos domingos, mas comecei a passar muito mal devido ao calor. Estava sentindo minha garganta muito seca e meus lábios estavam rochosos”, conta.
 
Para não ficar parada, ela começou a se exercitar em uma bicicleta ergométrica, que fica no quarto da casa. “Comprei um umidificador e coloquei no cômodo. É confortável, e o ar fica fresco”, diz. A aposentada Glória Marinho mora em Brasília há mais de 20 anos. A paraibana diz que nunca teve problemas com as temperaturas da capital, mas tem se precavido. “Procuro sempre ir à academia bem no início da manhã, por volta das 8h. Além disso, busco usar roupas com tecidos leves e claros, pois me sinto mais refrescada”, afirma. Outra alternativa para as amigas é optar por alimentos saudáveis e menos gordurosos. “Sempre busco tomar muito suco natural de frutas, comer mais verduras e evitar as massas”, ressalta Glória.
 
O militar aposentado Ronaldo Nunes Pereira, 54, escolheu o Lago Paranoá como destino para fugir do calor. Ele é brasiliense, mas admite que ainda não se acostumou com a secura da capital. “Apesar de ter nascido aqui, fui criado no Rio Grande do Norte, e lá a umidade nunca ficou abaixo dos 20%. Venho para ao lago toda semana, e, para mim, é uma boa opção para amenizar e aliviar a quentura”, argumenta.
 
O cozinheiro Emídio Paulo Miranda, 33, também escolheu o Lago Paranoá para se refrescar. Ele trabalha em um restaurante na 104 Sul e, no momento do intervalo, aproveita a orla. “É uma hora que tenho para fugir da rotina estressante e aproveito para tomar um banho, ainda mais nesse clima seco”, diz.

O Lago Paranoá é uma ótima opção para quem quer fugir do calor (Minervino Junior/CB/D.A Press)  

O Lago Paranoá é uma ótima opção para quem quer fugir do calor

 


Seca em Brasília  (Ed Alves/CB/D.A Press)  

Seca em Brasília

 



Cuidados com a saúde
 
Secura nos olhos, sangramento no nariz e ressecamento da pele são alguns dos sintomas causados pela baixa umidade, e os cuidados devem ser redobrados. “Na época da seca, a maioria das doenças respiratórias piora, pois os poluentes do ar atingem as vias”, explica Licia Stanvani, pneumologista do Hospital Brasília.
 
Segundo a especialista, em dias de baixa umidade, é preciso manter o corpo hidratado, especialmente aqueles que têm doença alérgica respiratória, como asma, ou pulmonar. “Pessoas que estão em algum desses quadros estão mais suscetíveis a desenvolverem uma gripe ou resfriado mais rápido. Para evitar a desidratação, o ideal é usar soro fisiológico nas narinas, lavar o rosto e usar manteiga de cacau nos lábios”, orienta.
 
Reforçar a alimentação saudável, rica em frutas e verduras, com ingestão frequente de líquidos, também é necessário para manter o bom rendimento nas atividades do dia a dia no período da seca. “Algumas frutas, como melancia, melão e mamão podem ajudar bastante na hidratação do corpo, pois elas têm um ótimo percentual de água. Além disso, temos as hortaliças, como o pepino e a abóbora”, comenta o Guilherme Theodoro, professor de nutrição do Instituto de Educação Superior de Brasília (Iesb).
 
O nutricionista alerta, ainda, para o alto consumo de sódio que, segundo ele, pode comprometer o organismo e ajudar no processo de desidratação. “Deve-se evitar os alimentos processados, como salgadinhos, biscoitos e congelados, e dar preferência às comidas preparadas em casa”, destaca.
 
Tempo para exercícios
 
Para os que gostam de praticar atividades físicas, é preciso definir o horário certo para se exercitar, como indica o educador físico Welbert Lucas. Segundo ele, caminhadas podem ser uma boa alternativa de exercício, desde que sejam feitas no início da manhã ou no fim do dia. “Nesse período, é preciso diminuir os exercícios ao ar livre ou em ambientes fechados sem uma boa climatização. Não podemos esquecer que a hidratação é fundamental e o cuidado deve ser redobrado, então, ingerir 35ml de água por quilo corporal é o ideal. Também podemos lembrar das bebidas isotônicas, que previnem a desidratação e são constituídas por alguns nutrientes e sais minerais”, afirma.
 
*Estagiárias sob supervisão de Nahima Maciel
 
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Correio Braziliense terça, 03 de setembro de 2019

BRASÍLIA: TEMPORADA DE CORES

 

Temporada das cores
 
A seca traz o desconforto, mas também a beleza. Brasília tem mais de 200 mil pés de ipês que são responsáveis por um espetáculo colorido e delicado nos meses mais difíceis do ano

 

» DARCIANNE DIOGO*
» THIAGO COTRIM*

Publicação: 03/09/2019 04:00

 (Ed Alves/CB/D.A Press)  

 
 
Desde a segunda quinzena de maio, os brasilienses começaram a sentir os efeitos da seca. Brasília está há mais de 90 dias sem chuva e o estado é de alerta, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Para esta semana, a previsão é de que as temperaturas variem entre 16ºC e 33ºC. “A umidade permanece abaixo de 20%, e o clima apresentará poucas nuvens e névoa seca”, explica Mamedes Mello, meteorologista  do Inmet. No auge da estiagem, a capital federal presenteia a população com pequenos oásis nos quais as cores explodem: os ipês estão floridos e, na Catedral, o comércio de flores secas do cerrado colore a paisagem. Os canteiros de flores são pausas para os olhos e a mente em dias quentes e com baixa umidade. É o prenúncio da primavera, que começa em 23 de setembro em todo o país.
 
Os “queridinhos” de Brasília são os ipês. A capital tem mais de 200 mil pés dessa árvore, sendo 60 mil deles amarelos. Alguns chegam a 18 metros de altura. Depois do florido amarelo, chega a vez do rosa (floresce no fim de setembro e vai até o fim de outubro), seguido pelo branco, que dura entre três e cinco dias e, por último, o verde, que aparece no fim deste mês.
 
As nativas do cerrado estão por todo canto, principalmente na região central, perto dos Eixos Sul e Norte, Setor Bancário e na Avenida L4, embelezando o percurso dos motoristas que trafegam diariamente por essas vias. Nas entrequadras da 404 e 216 da Asa Norte, na tesourinha da 114 Sul e na altura do Sesc da 504 Sul, também é possível avistá-los.
 
Os ipês não são as únicas flores que embelezam as ruas da cidade no período da primavera. Há outras espécies coloridas, como as árvores cambuí, paineira, flamboyant, jequitibá, jacarandá, quaresmeira, imbiruçu e sapucaia. O flamboyant, por exemplo, chama a atenção em três tonalidades: amarelo, alaranjado e vermelho. O imbiruçu tem a peculiaridade das flores brancas nas extremidades dos galhos despidos de folhas.

Gabriela e Marcelina não perdem tempo em registrar o florido de Brasília (Ed Alves/CB/D.A Press)  

Gabriela e Marcelina não perdem tempo em registrar o florido de Brasília

 

 
Alegria, paz e harmonia
 
Quem é apaixonada pelos ipês-amarelos é a artesã Marcelina Rodrigues, 22 anos. Por onde passa, não perde a oportunidade de fazer uma foto. “As árvores coloridas dão um charme para Brasília e passam um ar de alegria. Eu sou louca por ipês, principalmente por um que fica em frente à Rodoviária do Plano Piloto. Ele é bem cheinho e contagia quem passa”, comenta.
 
A amiga de Marcelina, Gabriela Azevedo, 20, veio conhecer a capital e se encantou. A costureira é de São Jorge, em Maceió, e chegou em Brasília na última quinta-feira. “Achei a cidade linda e, com certeza, os ipês são a marca registrada daqui, pois nunca o vi em nenhum outro lugar. Já tirei várias fotos para mostrar aos parentes da minha região. O que estou estranhando é o clima, que está bem quente. Minha garganta está seca e meus lábios estão rachando”, conta.
 
O técnico em enfermagem Bruno Corrêa, 32, comenta que passa todos os dias em frente aos ipês do Conic, e não resiste à tentação de tirar fotografias. “Eu moro na Asa Sul e preciso pegar a estrada do Conic para chegar ao trabalho. O contraste das cores no período da manhã me traz uma sensação de relaxamento, de vida. É um sentimento muito gostoso”, diz.
 
Flores na decoração
 
É impossível passar em frente à Catedral Metropolitana e não se impressionar com a beleza das flores secas do cerrado. Aglomeradas em barraquinhas de artesãos, elas chamam a atenção dos brasilienses e turistas. São mais de 50 espécies, com cores que vão do rosa-neon ao vermelho-vibrante.
 
O artesão Valdimiro Ferreira, 58, administra uma das barracas há 28 anos. “Tenho um carinho especial pelo meu trabalho, principalmente no resultado final. É de se admirar”, diz. Todo o processo de elaboração, como colheita, tingimento e decoração é um trabalho minucioso e demorado, mas que resulta em uma linda decoração para a casa. “Nós tiramos a clorofila e usamos um produto para desidratar. Aqui, a mais procurada é a flor-porta-guardanapo. Muitas pessoas compram para colocar na mesa de jantar ou receber convidados”, conta.
 
*Estagiários sob supervisão de Nahima Maciel


Missãoipêcb
Para celebrar o colorido das árvores que se tornaram símbolo de Brasília, o Correio lançou mais uma edição da campanha #missãoipêcb. Ainda dá tempo de participar da campanha e ter a chance de ter sua foto publicada nas redes sociais, no site e no Correio Braziliense. Fez um lindo registro de ipê? Compartilhe com a gente. Para participar, publique uma foto tirada por você no Instagram com a hashtag #missãoipêcb.
 
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Correio Braziliense segunda, 02 de setembro de 2019

MOBILIZAÇÃO EM NOME DA JUSTIÇA E DA PROTEÇÃO

 


ELAS NO ALVO
 
Mobilização em nome da justiça e da proteção
 
Ato organizado em Planaltina por grupo de mulheres chama a atenção para a vulnerabilidade delas após os assassinatos cometidos por Marinésio Olinto. Também houve roda de conversa com delegados, ativistas e familiares das vítimas


ALAN RIOS
ISA STACCIARINI

Publicação: 02/09/2019 04:00

 (Carlos Vieira/CB/D.A Press)  


 (Carlos Vieira/CB/D.A Press)  


Centenas de pessoas  se reuniram para a caminhada, que teve início em frente à Feira Permanente, parou na 16ª Delegacia de Polícia e terminou na administração da cidade (Carlos Vieira/CB/D.A Press)  
Centenas de pessoas se reuniram para a caminhada, que teve início em frente à Feira Permanente, parou na 16ª Delegacia de Polícia e terminou na administração da cidade
 
Centenas de moradores de Planaltina saíram às ruas ontem pelas manhã para pedir justiça. Uma caminhada organizada por diversos grupos de mulheres homenageou a memória de Genir Pereira, 47 anos, e Letícia Curado, 26, mortas por Marinésio dos Santos Olinto, 41, e promoveu a conscientização sobre os motivos que tornam vulneráveis vítimas de feminicídio e de abusos. A caminhada começou em frente à Feira Permanente, fez uma parada na 16ª Delegacia de Polícia (Planaltina) e terminou na administração da cidade.
 
Filha de Genir, Jaiane de Sousa, 22, participou da manifestação e lamentou a insegurança em Planaltina. “Ela era uma pessoa alegre, trabalhadora e muito carinhosa. Mas, infelizmente, tinha de enfrentar o perigo nas paradas de ônibus, dependendo de coletivos que quase não passavam”, reclamou. A diarista foi morta em junho, após entrar no carro de Marinésio, que ofereceu carona em uma Blazer prata. Jaiane também lembrou a morte de Letícia: “Sei o que a família está passando.”
 
Jéssica Grigorio, uma das organizadoras do ato, lembrou que a iniciativa foi pensada após as mortes confessadas pelo maníaco, mas ocorreu em nome de todas as mulheres. “Estamos lembrando da Genir e da Letícia, mas a nossa luta é por todas as outras que morreram e, também, por aquelas que estão vivas, mas sofrem violências e precisam ter voz”, ressaltou. Um pedido recorrente das participantes do protesto foi por transporte público de qualidade. “Se nós tivéssemos mais opções de ônibus, não precisaríamos de carro pirata. Isso é só o começo diante dos problemas de Planaltina, mas evitaria muitos crimes”, avaliou.
 
Rede de apoio
Após o ato, manifestantes se reuniram em outro evento de conscientização em Planaltina. Uma roda de conversa com autoridades, ativistas e especialistas em políticas públicas debateu as diversas violências sofridas pelas mulheres. As atividades contaram com aulas de defesa pessoal, palestras sobre independência financeira e diálogo com delegados. Um dos presentes foi o responsável pela investigação que prendeu Marinésio, o delegado Fabrício Augusto Machado, da 31ª Delegacia de Polícia (Planaltina). “A figura feminina é forte. Trabalha, estuda, cuida da família e tem uma série de responsabilidades. Por isso, o Estado precisa dar a proteção necessária para que elas estejam seguras, cumprindo todos esses papéis”, defendeu.
 
Fabrício reconheceu que há a necessidade de profissionalizar mais os policiais civis para lidar com situações que envolvem a violência contra a mulher. “Temos de entender que elas são vítimas. Não podemos fazer julgamentos pessoais nem deixar de dar total atenção ao relato que elas nos passam”, explicou. Líderes de movimentos em prol da defesa delas pediram às autoridades mais delegacias especializadas para esses atendimentos. Hoje, somente a Asa Sul conta com uma delegacia para a população feminina.
 
Marido de Letícia Curado, Kaio Fonseca, 25, também participou das conversas. “Depois que a minha esposa desapareceu, muita gente nos ajudou e criamos uma rede de apoio muito grande, que aumentou depois da notícia da morte. Isso é importante para que a gente discuta mais sobre o que as mulheres sofrem, porque pode evitar que crimes assim não aconteçam mais”, explicou. Abraçado por representantes de grupos de apoio, ele contou ainda a família vivia a melhor fase da vida. “Estávamos felizes com as nossas conquistas. O assassinato aconteceu no momento em que a gente construía uma caminhada muito bonita. Agora, nem sei como explicar tudo para o nosso filho, de 3 anos. Ele ainda não sabe o que aconteceu, mas eu acho que tem noção de que a mãe não está mais lá”, lamentou.
 
Ameaças
Uma semana após Marinésio confessar o assassinato de Genir Pereira, 47, e Letícia Curado, 26, a família dele contou que vive com medo. Mulher e filha mudaram-se de endereço e se esconderam após receberem ameaças. A garota também deixou de ir à escola. “Nós estamos sem sair, ficamos escondidas. Desde que tudo aconteceu, ameaçaram atear fogo à casa onde morávamos e tentaram arrebentar o portão”, contou a mulher, casada com Marinésio há 19 anos (leia Seis perguntas para).


 (Carlos Vieira/CB/D.A Press)  

"Estávamos felizes com as nossas conquistas. O assassinato aconteceu no momento em que a gente construía uma caminhada muito bonita”
 
Kaio Fonseca, marido de Letícia Curado



 
 
 
Seis perguntas para 
 
mulher de Marinésio Olinto
 
Como está a vida da família desde a divulgação dos casos contra Marinésio dos Santos Olinto?
Está muito difícil. Estamos surpresas até agora. Para mim, ele era a mesma pessoa até hoje, desde que eu o conheci no Paranoá, em 2002. Marinésio nunca me espancou, nunca bateu na filha dele, nunca levantou a mão para a gente. Era um bom pai, um bom marido. Todo mundo que o conhecia diz que a ficha ainda não caiu. Eu não vou falar que ele era ruim para mim só porque fez isso, porque não era.
 
A senhora e a filha encontraram com Marinésio desde a prisão? Como foi esse momento?
Nós o vimos duas vezes, quando ele ainda estava na delegacia de Planaltina (31ª DP). Eu perguntei o que ele tinha feito, e ele disse que não era ele. Pediu desculpas, perdão. A minha filha chorou, perguntou o que ele tinha feito com ela, mas ela sempre fala que não vai abandonar o pai. Eu não sei como vai ficar. Só com os dias passando é que a gente vai ver o que vai acontecer.
 
Como era o comportamento de Marinésio dentro de casa?
Não via nada de diferente dele. Era uma pessoa normal. Gostava de criança, trabalhava, não fumava, não bebia, nunca usou droga. Era ele que colocava tudo para dentro de casa, inclusive. Para mim, ele deu algum surto para fazer o que fez.
 
Desde a prisão dele, como a família está se organizando financeiramente?
Antes de conhecê-lo, eu trabalhava. Mas ele falou que era ele quem tinha de trabalhar para cuidar de tudo em casa e preferia que eu ficasse cuidando do lar. Em agosto do ano passado, eu consegui um emprego em casa de família. No mês passado, faria um ano, se eu ainda estivesse lá. Mas sempre foi o Marinésio que colocou tudo para dentro de casa. Ele sempre trabalhou “fichado”. Quando estava com seguro-desemprego, fazia alguns bicos.
 
Qual é opinião da senhora sobre as novas denúncias contra o Marinésio?
Esses outros casos, a polícia precisa ir atrás de prova, investigar, saber o que de fato aconteceu, porque tudo está caindo para cima dele, e ele não confessou mais coisa. Mas se ele fez o que fez, tem de pagar.
 
Quais são os planos da família a partir de agora?
Nós estamos sem sair, ficamos escondidas. Desde que tudo aconteceu, ameaçaram atear fogo à casa onde morávamos e tentaram arrebentar o portão. Parei de assistir à televisão e entrar nas redes sociais. A minha filha que está acompanhando as coisas. Estou sem saber como será daqui para a frente. A vida continua, mas está muito difícil. Até agora, eu fico me perguntando: ‘Meu Deus, o que ele teve (para fazer tudo isso)?’
 
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Correio Braziliense domingo, 01 de setembro de 2019

ASMA, UMA CRISE BRASILEIRA

 

Entre três e seis pessoas morrem de asma todos os dias no Brasil e poucas aderem à terapia por causa do preço dos remédios e da falta de oferta na rede pública.

Asma, uma crise brasileira
 
Diariamente, de três a seis pessoas morrem no país em decorrência da doença respiratória crônica. A baixa adesão à terapia, o preço pouco acessível de tratamentos e a falta de oferta de remédios na rede pública estão entre as razões do problema

 

Paloma Oliveto

Publicação: 01/09/2019 04:00


A morte prematura da escritora Fernanda Young, há uma semana, surpreendeu muitas pessoas que, nas redes sociais, comentaram com estranheza sobre a causa do falecimento: uma crise de asma. Afinal, essa é uma doença comum, que afeta 235 milhões de indivíduos globalmente, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). O que poucos sabem é que, todos os dias, de três a seis brasileiros morrem em decorrência dessa condição crônica, a quarta causa de internações no país. Boa parte desses óbitos poderia ser evitada caso os pacientes não negligenciassem o tratamento.

Embora o controle da asma seja bastante eficaz, uma pesquisa recente, que contou com participação da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai), indicou que 73% dos pacientes não seguem todas as recomendações médicas, e 47% admitem não utilizar os medicamentos com regularidade. As causas apontadas no estudo foram alto custo dos remédios e dificuldade de encontrá-los na rede pública. Um reflexo da falta de adesão ao tratamento é que 91% dos casos de asma no país não estão controlados.

Além das causas citadas na pesquisa, o pneumologista Paulo Pitrez, presidente do Grupo Brasileiro de Asma Grave (BraSa) e coordenador institucional de pesquisa do Hospital Moinhos do Vento, diz que a desinformação é um dos entraves para a adesão aos medicamentos. “Quem tem pressão alta ou diabetes precisa do tratamento contínuo. Com a asma alérgica ou não alérgica, é o mesmo. Só que, culturalmente, as pessoas acham que não precisam usar os remédios todos os dias”, afirma. Esquecer de usar os medicamentos, aceitar os sintomas e medo dos efeitos colaterais são outros motivos apontados por Pitrez.

O tratamento padrão da doença é o corticoide inalatório associado ao broncodilatador. Ao seguir corretamente as recomendações, os pacientes se veem livres dos sintomas da doença, como tosse, chiado no peito e falta de ar. Mas, segundo o pneumologista Roberto Stirbulov, chefe clínico da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e professor da Faculdade de Ciências Médicas da instituição, muita gente confunde corticoide inalatório e oral. “O inalatório é extremamente seguro, com pouquíssimos efeitos colaterais”, diz. A forma inalatória, que contém microgramas da substância, é a prescrita para 90% dos pacientes que, de acordo com Stirbulov, não precisam se preocupar em utilizar o remédio diariamente.

Essa, porém, não é a realidade de boa parte dos pacientes que tem a forma grave da doença. A Secretaria de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde estima que 5% deles se encaixam nesse perfil. Provavelmente devido a uma alteração genética não hereditária, o tratamento convencional não surte efeito e, mesmo utilizando doses altíssimas de corticoide oral — ele é 100 vezes mais forte que o inalatório — todos os dias, a doença permanece sem controle.

Imunobiológicos
Nos últimos anos, esses pacientes têm sido beneficiados por uma classe de medicamentos que também vêm sendo utilizados no tratamento de outras doenças, os imunobiológicos. “Para o tratamento do processo inflamatório que não responde adequadamente à terapêutica tradicional, uma nova classe de medicamentos foi desenvolvida, os anticorpos monoclonais. Os anticorpos sintetizados em laboratórios bloqueiam proteínas no corpo que estão envolvidas na resposta inflamatória da asma, diminuindo essa inflamação e tendo um grande impacto no tratamento da doença”, diz o médico Pedro Bianchi, membro do Departamento Científico de Asma da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai).

O pneumologista Roberto Stirbulov explica que os anticorpos monoclonais atuam de maneira precisa, tendo como alvo as substâncias que estão no início da cascata inflamatória característica da asma. “Eles bloqueiam todo o processo inflamatório, agindo em fatores específicos. É a medicina de precisão”, afirma. De acordo com a médica Zuleid Mattar, presidente da Associação Brasileira de Asmáticos de São Paulo (Abra-SP), no universo de pacientes de asma grave (5% dos casos da doença no país), 3,6% podem se beneficiar desse tratamento, por terem um perfil clínico e molecular ideal “A asma não é uma única doença, então, fazemos hoje a fenotipagem para saber quem são os candidatos”, conta.

O problema é o preço. No Brasil, há três medicamentos imunobiológicos aprovados para asma e, segundo o presidente do BraSa, Paulo Pitrez, uma dose custa de R$ 2,5 mil a R$ 12 mil. As aplicações, subcutâneas, podem ser quinzenais, mensais ou bimestrais, dependendo do remédio e de cada caso. “Os pacientes só conseguem acesso quando entram na Justiça”, lamenta. Nenhum anticorpo monoclonal para tratamento da asma grave consta da lista de medicamentos de alto custo do Sistema Único de Saúde.

“De três a seis pessoas morrem de asma diariamente no Brasil, mas parece que ninguém enxerga isso, só quando acontece com uma celebridade”, lamenta Zuleid Mattar. “É uma falta de sensibilidade muito grande. A vida das pessoas que conseguem esse tratamento muda substancialmente. Sem falar que uma única internação já paga o que se gastaria com um ano de tratamento”, afirma. De acordo com a médica, o número de internações de pacientes de asma grave é 20 vezes maior, considerando a população em geral.

Os médicos também ressaltam que o uso contínuo do corticoide oral — única opção para quem tem asma grave e não tem acesso aos imunobiológicos — pode provocar o surgimento de outras doenças crônicas, como diabetes, insuficiência renal e osteoporose, entre outras. “Os imunobiológicos não são para todo mundo, são para uma minoria, aqueles que podem morrer de uma doença tratável”, lamenta Paulo Pitrez.


Consulta pública

A Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec) abriu consulta pública para a incorporação, no Sistema Único de Saúde, de uma substância imunobiológica para tratamento da asma grave, o omalizumabe. A recomendação preliminar da comissão foi não favorável à inclusão do anticorpo na lista dos medicamentos de alto custo, mas a sociedade pode opinar, dizendo se concorda ou não com o órgão. “A recomendação da Conitec demonstra uma falta de sensibilidade. Inúmeras pesquisas internacionais mostram os benefícios dos imunobiológicos para a asma grave”, critica a médica Zuleid Mattar, presidente da Associação Brasileira de Asmáticos de São Paulo (Abra-SP). É possível acessar a consulta pública na página www.facebook.com/www. abrasaopaulo.org.



"Quem tem pressão alta ou diabetes precisa do tratamento contínuo. Com a asma alérgica ou não alérgica, é o mesmo. Só que, culturalmente, as pessoas acham que não precisam usar os remédios todos os dias” 

 (Leonardo Lenskij/Divulgação - 17/4/19 )  

Paulo Pitrez, presidente do Grupo Brasileiro de Asma Grave (BraSa) e coordenador institucional de pesquisa do Hospital Moinhos do Vento
 
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Correio Braziliense sábado, 31 de agosto de 2019

VIOLÊNCIA: ALUNO MATA PROFESSOR NA PORTA DA ESCOLA

 

VIOLÊNCIA
 
Aluno mata professor na porta de escola
 
Estudante de 18 anos atacou o coordenador da instituição de ensino pública, em Águas Lindas de Goiás, no término das aulas matutinas, em frente a pais, estudantes e funcionários do colégio. Polícia apura a motivação do crime

 

» ANA VIRIATO
» ISA STACCIARINI
» PEDRO CANGUÇU*
» THAIS UMBELINO*
* Estagiários sob supervisão de Renato Alves

Publicação: 31/08/2019 04:00

À tarde, alunos e educadores saíram pelas ruas da cidade pedindo o um basta na violência (Minervino Junior/CB/D.A Press)  

À tarde, alunos e educadores saíram pelas ruas da cidade pedindo o um basta na violência

 


Anderson da Silva Leite Monteiro, 18 anos, é apontado como o único suspeito de matar a facada Bruno Pires de Oliveira, 41, professor e coordenador do ColégioEstadual Machado de Assis (Cema), em Águas Lindas (GO). O  crime ocorreu por volta das 12h15 de ontem, no momento da saída do turno da manhã. Os investigadores acreditam que o estudante premeditou o crime. ele estava foragido até o fim da noite.
 
Titular do Grupo de Investigação de Homicídios (GIH), o delegado Cleber Martins disse que a faca estava dentro da escola. “Ainda vamos checar se outro estudante a emprestou”, comentou. O investigador acrescentou que não houve luta corporal. “Foi uma coisa traiçoeira”, ressaltou. Bruno trabalhava havia um ano na instituição, por meio de contrato temporário.

No começo da noite, grupo acendeu velas em frente à escola onde ocorreu o assassinato (Minervino Junior/CB/D.A Press)  

No começo da noite, grupo acendeu velas em frente à escola onde ocorreu o assassinato

 

Em depoimento, testemunhas contaram que o aluno do 9º ano se irritou após ouvir boatos de que seria cortado do programa esportivo Mais Educação, voltado a estudantes do 6º e 7º anos. A razão do desligamento varia, conforme relatos: indisciplina, notas baixas e problemas de saúde. O motivo do crime, no entanto, não estava confirmado, até o fechamento desta edição.
 
“Oficialmente, Anderson não tinha sido desligado do programa e o professor Bruno não era o responsável pelo projeto. Não teria a competência por fazer isso. Por isso, ainda não entendemos por que, ele se tornou a vítima”, observou o delegado.
 
Após o golpe, Anderson fugiu a pé. Bruno ainda conseguiu entrar de volta na escola, caminhar até a sala dos professores e contar aos colegas o que havia acontecido, enquanto pedia ajuda. “Ele avisou que foi o Anderson Grandão que deu a facada. O apelido era como o aluno era conhecido”, explicou o delegado Rodrigo Mendes, plantonista da 1ª Delegacia de Polícia. O coordenador recebeu atendimento no colégio e foi encaminhado ao Hospital Municipal de Águas Lindas, mas não resistiu aos ferimentos e morreu por volta das 14h.
 
Professores relataram que o aluno suspeito era tranquilo e nunca mostrou comportamento alterado. “Ele não era um dos melhores estudantes, mas nunca foi agressivo. Os professores acreditam que ele tenha tido um surto psicótico”, destacou Mendes. Anderson deve ser indiciado por homicídio qualificado por motivo fútil e uso de recurso que impossibilitou a defesa da vítima. As penas variam de 12 a 30 anos de prisão.
 
Comoção
Professora de história do colégio, Gracielle Tavares, 38, namorava a vítima havia um ano e meio. Ao Correio, ela disse que Bruno nunca teve problemas com o suspeito do crime. “Eu e outros professores já tivemos problemas com ele. O aluno xingava, mas ficava por isso mesmo”, contou. Na última semana, ela chamou o pai de Anderson à escola devido às constantes faltas. “Ele (o aluno) tem problemas sérios do coração. O pai foi explicar a ausência dele devido a isso”, completou Gracielle.
 
A educadora soube da notícia por meio do celular. “Bruno trabalharia meio período e viria me ver”, lamentou a professora. “Ele nem apresentava atestado (médico). Amava aquele colégio. Só queria entender o que houve. Estou sem chão”, finalizou Gracielle.
 
Uniformizados, cerca de 50 alunos do Colégio Estadual Machado de Assis pediram paz, com cartazes. “Queremos chamar a atenção do governo para a falta de segurança nas escolas de Águas Lindas”, disse o aluno Ezequias Vitor, 16. Segundo ele, o professor morto era brincalhão, e pensava no futuro dos alunos. “Ele estava pensando em sortear uma bolsa de estudos para um aluno que está formando”. Os alunos seguiram da marginal da BR-070 até o colégio.
 
No muro da escola, uma faixa preta foi estendida, além de cartazes com a frase “Não haverá aula. Motivo: Luto estampam o ambiente”. Os pais questionaram a atuação do governo local. Entre eles, Bruna Josefa, 30, mãe de uma aluna do 7º ano, que defende a militarização nas escolas. “Os professores tinham medo dos alunos. Muitos deles já foram ameaçados”, destacou.
 
O Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Goiás (Sintego) publicou uma nota nas redes sociais sobre a morte do servidor. “É lamentável. Mais uma morte trágica no ambiente escolar, que reitera a necessidade da proteção dos profissionais da Educação. É preciso agir para que vidas não mais sejam retiradas. Basta de tanta violência. A Educação pede paz”, disse a presidente da entidade, Bia de Lima.
 
 
 
Memória
 
» 2018
 
28 de agosto
 
Um adolescente de 14 anos esfaqueou outro, de 13, no Centro de Ensino Fundamental 19, na QNN 18/20, em Ceilândia. A dupla se desentendeu, e o mais velho deu facadas na região do peito e do pescoço do mais novo.
 
 
24 de setembro
 
Um jovem de 17 anos foi baleado duas vezes por dois jovens na Escola Classe Vila Nova, em São Sebastião. Segundo testemunhas, a discussão entre ele e os autores começou nas imediações do colégio. A vítima foi atingida no braço, peito e tórax.
 
3 de dezembro
 
Uma desavença entre duas mulheres terminou em tragédia na Escola Municipal do Pedregal, bairro do Novo Gama (GO). Jéssica Oliveira entrou na unidade de ensino e assassinou, a facadas, Fernanda Xavier, 21 anos. Ambas eram mães de alunos da instituição. A briga entre as duas começou pelas redes sociais.
 
 
 
» 2019
 
30 de abril
 
O professor e coordenador Julio Cesar Barroso de Sousa, 41, morreu dentro de uma escola em Valparaíso após ser baleado por um aluno. O caso ocorreu no Colégio Estadual Céu Azul. O garoto atacou a vítima após ela intervir em uma briga entre o estudante e uma professora. Depois da discussão, o jovem teria saído da escola, ameaçado o profissional e voltado armado.
 
 
 
A VÍTIMA

 (Reprodução)  
Bruno Pires de Oliveira, 41 anos
 
» Era formado em geografia, mas também dava aula de história.
» Atuava em contrato temporário na rede pública de ensino de Águas Lindas (GO).
» Trabalhava no Colégio Estadual Machado de Assis, onde também era coordenador.
 
O  suspeito
 
Anderson da Silva Leite Monteiro, 18 anos
 
» Estudava no 9º ano do Colégio Estadual Machado de Assis, em Águas Lindas.
» Era considerado um aluno de bom comportamento, mas estava com notas baixas.
» Os pais participavam da educação do filho, inclusive com ida à escola.
 
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Correio Braziliense sexta, 30 de agosto de 2019

CANOAGEM: REMADA SOBERANA NO PARANOÁ

CANOAGEM

 
Remada soberana no Lago Paranoá
 
O campeão mundial Isaquias Queiroz vence com facilidade na abertura do Campeonato Brasileiro Interclubes e faz discurso de motivação para os atletas mais jovens. Competições continuam até domingo

 

Fernando Brito

Publicação: 30/08/2019 04:00

 
Dono de uma vaga nas Olimpíadas de Tóquio, no ano que vem, Ezequias conquistou ontem o título brasileiro na prova do C1 1.000m (Minervino Junior/CB/D.A Press
)  

Dono de uma vaga nas Olimpíadas de Tóquio, no ano que vem, Ezequias conquistou ontem o título brasileiro na prova do C1 1.000m

 



Um dos objetivos do torneio é chamar a atenção dos mais novos (Roberto Peixoto/Canoagem Brasileira
)  

Um dos objetivos do torneio é chamar a atenção dos mais novos

 




O Lago Paranoá tem um novo dono. Ontem, durante a disputa do Campeonato Brasileiro Interclubes de Canoagem, o baiano Isaquias Queiroz, atleta do Flamengo, confirmou o favoritismo e venceu com folga a final da prova de C1 1000m, com tempo de 4min01s339. A pequena plateia que acompanhava a performance do campeão mundial, na orla do Clube Nipo Brasileiro, vibrou com o resultado, e alguns fãs fizeram fila para tirar fotos com o ídolo. A segunda colocação ficou com Erlon Silva (Paulistano), que registrou 4min05s569, seguido do também flamenguista Jacky Godmann (4min09s372).

“A estrutura do campeonato está ótima. A água estava um pouco agitada, como haviam me informado que seria em Brasília, mas está sendo uma experiência incrível nessa minha primeira passagem pela capital do país. O evento apresenta uma infraestrutura próxima do padrão internacional, com excelente alimentação e apenas um pequeno excesso de movimentação no pier seria um ponto a ser melhorado pela organização, mas é muito bom estar presente ao lado de tantos atletas”, destacou Isaquias.

O competidor do Flamengo acaba de chegar da Hungria, onde no último fim de semana se sagrou campeão mundial do C1 1000m, com tempo de 3min59s23, além da conquista da medalha de bronze ao lado de Erlon Souza no C2 1000m. A participação no Campeonato Brasileiro marca o início do ciclo final de preparação rumo aos Jogos Olímpicos de Tóquio-2020 e Isaquias Queiroz espera manter a alta performance. “O objetivo é ganhar as seis provas que disputarei em Brasília. Há uma boa concorrência interna no país, mas o atleta de ponta tem sempre que exigir mais em relação aos resultados”, comentou.

O público brasiliense não poderá ver de perto a parceria entre Isaquias e Erlon. Na competição nacional, eles representam clubes diferentes e travarão concorrência por um lugar no pódio nas disputas de dupla. Ainda assim, a ocasião é considerada propícia para o aperfeiçoamento do treinamento visando aos Jogos de Tóquio. “Essa é uma rivalidade forte, que vem desde as categorias de base, mas se trata, principalmente, de uma oportunidade para aprimorarmos nosso condicionamento em busca de melhores resultados nas competições internacionais. Erlon está cada vez mais forte na prova individual, e isso ajuda muito quando estamos remando juntos”, avaliou Isaquias.

Também bastante assediado por fãs e competidores mais jovens, Erlon elogiou as condições do Lago Paranoá e disse que está especialmente focado para chegar bem às próximas olimpíadas. “O principal objetivo desta temporada foi atingido. Conseguimos a vaga olímpica e, depois do Campeonato Brasileiro, teremos um período de férias antes de reiniciarmos os treinos para os Jogos de Tóquio. Tenho me especializado na prova de dupla, e a expectativa é conseguirmos um bom resultado em 2020”, projeta o atleta baiano.

Apesar de a competição em Brasília representar o fim de uma exigente temporada, Isaquias Queiroz não demonstra cansaço e discursa em tom de motivação para os atletas mais jovens. “Tem sido um ano pesado, com Copa do Mundo, Jogos Pan-Americanos, Campeonato Mundial e inúmeras viagens. É tudo bastante cansativo, mas nada que a força de vontade de um atleta não possa superar. Essa sempre foi minha motivação, alcançar resultados que eu julgava nem serem possíveis, mas tenho provado que basta querer e treinar. Atingi um nível que nenhum atleta do país havia alcançado e espero que a garotada que compete neste Brasileiro possa desejar ir ainda mais longe, superando o meu legado. Com certeza, haverão de conseguir”, afirma.

O Brasileiro de Canoagem segue até o próximo domingo, com participação total de 464 atletas. São 40 associações e clubes de várias partes do país, contabilizando 300 provas nas categorias infantil, menor, cadete, junior, sênior, master e paracanoagem. Ontem, no primeiro dia de provas, grupos de estudantes de várias escolas públicas do DF visitaram as instalações e conheceram mais de perto um pouco da modalidade, experimentando, por exemplo, o caiaque ergometro — espécie de simulador para desenvolver a técnica da remada.


PROGRAME-SE

Campeonato Brasileiro de Canoagem Velocidade e Paracanoagem
Quando: até domingo
Horário: das 7h às 18h
Local: Clube Nipo Brasileiro (SCES, trecho 1)
Transmissão: youtube.com/canoagembrasileira e facebook.com/canoagembrasileira
*Entrada franca
 
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Correio Braziliense quinta, 29 de agosto de 2019

RELATOS DE OUTRA POSSÍVEL VÍTIMAS DO ASSASSINO EM SÉRIE

 

Ou você faz o que eu quero, ou morre agora
 
Relato de outra possível vítima de Marinésio dos Santos revela forma de agir parecida com a dos assassinatos de Letícia e Genir. Mulher de 42 anos sofreu abuso sexual, mas escapou ao dar uma joelhada no acusado. Polícia vai retomar investigações de casos antigos

 

» ALAN RIOS
» ANA VIRIATO
» SARAH PERES
» WALDER GALVÃO

Publicação: 29/08/2019 04:00

Dezenas de mulheres se reuniram no fim da tarde de ontem na Rodoviária do Plano Piloto para pedir mais segurança: %u201CNenhuma a menos%u201D  (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

Dezenas de mulheres se reuniram no fim da tarde de ontem na Rodoviária do Plano Piloto para pedir mais segurança

 

 
“Eu fiquei dois anos presa, e ele, solto. Quando fui atacada por ele (Marinésio), registrei a ocorrência e não me escutaram. Precisaram morrer duas mulheres para que fossem atrás dele”. O relato feito ao Correio por uma das possíveis vítimas de Marinésio dos Santos Olinto, 41 anos, narra momentos de terror vividos em 25 de setembro de 2017, no Paranoá. A copeira, de 42 anos, que não quis se identificar, integra a lista de mulheres que denunciaram  ter sido atacadas pelo assassino confesso de Letícia Sousa Curado de Melo, 26, e Genir Pereira de Sousa, 47 (veja Sob investigação). Polícia Civil vai retomar investigações desses casos. A barbárie provocou, ontem, o protesto de um grupo de cerca de 50 mulheres na Rodoviária do Plano Piloto (leia ao lado).

Marinésio teve a prisão temporária — com prazo de 30 dias — decretada no último sábado pela suspeita de envolvimento no assassinato de Letícia, advogada e funcionária terceirizada do Ministério da Educação e Cultura (MEC). Na segunda-feira, ele confessou o crime e declarou ter matado, ainda, Genir. Com a repercussão do caso, a copeira o reconheceu, ao vê-lo na televisão.

A mulher conversou com o Correio na casa dela, após prestar depoimento na 6ª Delegacia de Polícia (Paranoá). Ela conta que, no dia do ataque, esperava o ônibus na parada, por volta de 5h40, quando Marinésio a abordou em um carro vermelho. “Ele desceu e, com uma faca, me obrigou a entrar no veículo. Comecei a chorar e implorar para que ele não fizesse nada comigo, por ter meus filhos. Fui levada até os pinheirais (próximo ao Paranoá Parque)”, relembrou.

Ali, o serial killer teria estuprado a vítima. “Como eu me debatia, ele agarrou o meu pescoço e disse: ‘Ou você faz o que eu quero, ou morre agora’. Foi quando cedi às investidas. Mas, depois que ele acabou, me ameaçou: ‘Você viu bem o meu rosto. Quem grava o meu rosto, morre’”, descreveu. Nessa hora, Marinésio se distraiu e deixou a faca cair. “Dei uma joelhada na barriga dele. Consegui abrir a porta do carro e fugir. Ele tentou vir atrás de mim, mas, como era umas 6h30, e havia movimento na rua, desistiu”, relatou a vítima, que procurou a delegacia e fez o exame de corpo de delito.

Segundo a delegada Jane Klébia, chefe da 6ª DP, o caso dessa vítima se assemelha ao de uma adolescente de 17 anos, também investigado na unidade. “Em ambos os crimes, ele usou um carro vermelho. As abordagens também foram diferentes, ele não se apresentou como motorista de transporte pirata. Mas, sim, usou uma faca para obrigar as mulheres a entrarem no veículo”, detalha a investigadora. Na próxima semana, Marinésio será levado até a delegacia para que as duas vítimas façam o reconhecimento pessoal.
 
Investigação
 
Até o momento, os ataques de Marinésio são investigados pela 31ª DP (Planaltina), pela 6ª DP (Paranoá) e pela Divisão de Repressão a Sequestros (DRS). Desde que instauraram os dois primeiros inquéritos, os delegados responsáveis pelas apurações receberam titulares de unidades de outras cidades, que pretendem desarquivar casos não solucionados marcados pelo mesmo modus operandi do serial killer.

Além disso, a DRS deve interrogar o assassino nos próximos dias. A ideia é verificar se Marinésio está envolvido em desaparecimentos de mulheres. Um dos casos sob análise é o de Gisvania Pereira dos Santos, 33, desaparecida em 6 de outubro do ano passado, em Sobradinho. “O que sabemos é que ele é um predador de mulheres, que esteve envolvido em dois sequestros com morte. Mas é essencial levantar mais dados, até para direcionar melhor as nossas perguntas a ele e colher um depoimento mais concreto e detalhado”, informou o diretor adjunto da Divisão, Luiz Henrique Sampaio.

As três perícias do caso Letícia Curado ainda não foram concluídas. A 31ª DP aguarda o laudo cadavérico, a análise sobre o material genético encontrado na Blazer prata e no local do crime e a avaliação na chácara da cunhada de Marinésio, entre Planaltina e Paranoá.
 
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Correio Braziliense quarta, 28 de agosto de 2019

GOVERNADORES APOIAM BOLSONARO CONTRA MACRON

 

Apoio de governadores e críticas a demarcações
 
Bolsonaro consegue respaldo de seis dos nove gestores estaduais da Amazônia Legal na queda de braço com a França. Chefe do Executivo federal reclama de reservas ambientais, indígenas e de quilombolas

 

RODOLFO COSTA

Publicação: 28/08/2019 04:00

 

O presidente com governadores: %u201CA questão ambiental tem de ser conduzida com racionalidade%u201D (Marcos Correa/AFP
)  

O presidente com governadores: "A questão ambiental tem de ser conduzida com racionalidade"

 

 


A reunião do presidente Jair Bolsonaro com oito governadores e um vice-governador da Amazônia Legal foi, politicamente, um sucesso para o governo. Dos nove estados que compõem a região, o Palácio do Planalto calcula que conseguiu apoio de, pelo menos, seis chefes de Executivos locais para endossar a narrativa nacionalista contra uma suposta manifestação do presidente da França, Emmanuel Macron, de colocar em xeque a soberania brasileira sobre a Amazônia, ao sugerir um “status de internacionalização” no território. Leituras feitas por interlocutores avaliam que o governo federal conquistou apoio e argumentos para encaminhar ao Congresso propostas de desburocratização e flexibilização da política ambiental, a fim de promover o desenvolvimento sustentável.

Pela manhã, Bolsonaro retomou o embate com Macron, acenou que aceitaria os 20 milhões de euros oferecidos pelo G-7 se o presidente francês se retratasse sobre tê-lo chamado de “mentiroso” e sugerido a “internacionalização” da Amazônia. Na reunião com os governadores, disse não ter nada contra a cúpula das sete maiores potências econômicas mundiais, e, sim, contra “um presidente” que “está reverberando qual é a sua intenção”. Sinalizou, ainda, que caberá ao ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, definir se o Brasil pode “fazer frente” à França em uma eventual transgressão à soberania nacional.

Na reunião com os chefes de Executivos estaduais, Bolsonaro ganhou respaldo na queda de braço contra Macron. Um dos apoiadores foi o governador do Mato Grosso, Mauro Mendes (DEM), que classificou o presidente francês como um concorrente dos produtos agrícolas brasileiros e disse que ele “surfa nas cinzas da Amazônia”. Outros no entanto, priorizaram um discurso mais diplomático. “Acho que estamos perdendo muito tempo com Macron. (...) Temos de cuidar dos nossos problemas e sinalizar para o mundo a diplomacia ambiental, que é fundamental para o agronegócio”, ponderou o governador do Pará, Helder Barbalho (MDB). O chefe do Executivo maranhense, Flávio Dino (PCdoB), frisou que “um discurso antiambientalista” não constrói saída adequada à preservação dos interesses nacionais, “na medida em que pode expor o Brasil a sanções comerciais”.

Do encontro, os governadores não levaram para casa compromissos concretos do governo federal. Mas o Planalto mudou o tom em relação ao Fundo Amazônia, sinalizando que vai mantê-lo. Anunciou que, até quinta-feira, o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, irá à região amazônica para se reunir com governadores a fim de consolidar “agendas conjuntas”, propostas pelos gestores estaduais e condensadas pelo Consórcio Interestadual da Amazônia Legal, como mudar a gestão do Fundo Amazônia do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para o Banco da Amazônia, que, segundo sustenta o presidente do comitê, o governador do Amapá, Waldez Goés, tem maior presença e estrutura no território.

Indígenas
Entre as falas dos gestores estaduais, Bolsonaro tomou a palavra e disse que, diferentemente de outros governos, na atual gestão estão “congelados” estudos sobre novas reservas — ambientais, quilombolas ou indígenas. Lendo informações em um papel, informou que só na Amazônia Legal estão certificados, em trâmite legal de demarcação, 936 territórios quilombolas. “No tocante a reservas indígenas, em fase final, são 54 novas áreas, e, também, para alguns meses, mais 314 áreas indígenas”, afirmou.

O discurso foi respaldado pela ampla maioria dos chefes de Executivo. O vice-governador do Acre, Wherles Rocha (PSDB), disse que o estado dispõe de 14% de área aberta, possível de ser explorada, e que dos 86% restantes não se pode fazer nada. O governador de Roraima, Antonio Denarium (PSL), sustentou que os 22,5 milhões de hectares do estado são divididos em 46,7% de terra indígena e 20% de unidade de conservação e estação ecológica. “Se retirarmos as áreas do Incra, do Exército e as áreas dos municípios, sobram apenas 20% para o estado. Desses 20%, 80% é reserva legal. (...) Ou seja, o estado fica impedido de produzir, trabalhar e preservar o meio ambiente também”, criticou.

Já o governador de Rondônia, Marcos Rocha (PSL), frisou que, no estado, só 33% das terras são utilizadas. “E temos lá reservas, várias, também”, afirmou. O governador de Tocantins, Mauro Carlesse (DEM), defendeu que os indígenas possam explorar suas terras e ganhar receitas com o pedágio da possível concessão de uma ferrovia que passaria por meio de uma terra indígena.

Congresso
Durante a reunião, Bolsonaro ressaltou que o governo vai “buscar soluções”, no Congresso, para o desenvolvimento sustentável, por meio de propostas legislativas que possam flexibilizar o desenvolvimento sustentável e a legalização e a regulamentação do garimpo. “Temos o Parlamento, que nós vamos provocá-lo, com apoio dos senhores. Já conversei também com o (Ronaldo) Caiado (governador de Goiás), com o Hélder (Barbalho). No Rio, a estação ecológica evita que o estado fature alguns bilhões por ano no turismo, no caso de Angra (dos Reis)”, destacou. A questão ambiental, para ele, deve ser administrada com racionalidade. “E não com essa quase selvageria como foi conduzida ao longo dos últimos anos”, disse.

Flávio Dino, no entanto, criticou a proposta. “Precisamos cumprir a legislação, pois ela permite que se separe quem quer produzir nos termos da lei, de modo sustentável, daqueles que têm visão predatória. Essa ideia de mudar a legislação achando que isso vai nos tirar da crise vai, na verdade, aprofundá-la”, analisou.

Dinheiro do Reino Unido
O Brasil aceitou 10 milhões de libras (R$ 50,7 milhões) doados pelo Reino Unido para o combate aos incêndios na Amazônia. A informação é do jornal O Globo. O acerto teria sido feito entre Dominic Raab, secretário de Assuntos Externos do governo Boris Johnson, e o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. Também ontem, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, publicou uma nova mensagem pelo Twitter em apoio ao governo brasileiro sobre os incêndios na Amazônia. Em resposta, o presidente Jair Bolsonaro agradeceu e disse que “os EUA podem contar sempre com o Brasil”.

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Correio Braziliense terça, 27 de agosto de 2019

UM PSICOPATA NO CAMINHO DE TRÊS MULHERES

 

É um perfil de psicopata
 
Cozinheiro confessa os assassinatos de uma auxiliar de cozinha e de uma advogada.
 
 
Oferecendo transporte pirata, ele as abordou em ponto de ônibus, as estrangulou e deixou os corpos em matagal. Mulher o reconheceu como o homem que tentou estuprá-la

 

» ALAN RIOS
» ISA STACCIARINI
» SARAH PERES
» WALDER GALVÃO

Publicação: 27/08/2019 04:00

Marinésio dos Santos Olinto, 41 anos

Cozinheiro desempregado

Casado, tem uma filha de 16 anos

Morador do Vale do Amanhecer, em Planaltina (Polícia Civil)  

Marinésio dos Santos Olinto, 41 anos Cozinheiro desempregado Casado, tem uma filha de 16 anos Morador do Vale do Amanhecer, em Planaltina

 



A Polícia Civil do Distrito Federal pode ter descoberto um maníaco: um homem que matava mulheres após abordá-las em paradas de ônibus. Ontem, ele confessou a autoria de dois casos. Um, o da advogada Letícia Sousa Curado de Melo, funcionária do Ministério da Educação (MEC), dada como desaparecida desde sexta-feira e encontrada morta ontem, aos 26 anos. O outro, o da auxiliar de cozinha Genir Pereira Sousa, 47 anos, que sumiu em 2 de junho e teve o corpo localizado 10 dias depois.

O cozinheiro desempregado Marinésio dos Santos Olinto, 41, abordou as duas em uma parada de ônibus do Arapoanga, periferia de Planaltina. Ambas entraram na Blazer cinza ano 2000 dele, que oferecia o transporte. Crendo que embarcavam em um veículo de transporte pirata, Letícia e Genir foram assassinadas após reagirem ao assédio sexual dele. Além de matá-las, ele roubou o dinheiro que as vítimas tinham na bolsa. Marinésio jogou os corpos no mesmo lugar, um matagal entre Planaltina e o Paranoá.

Ontem, após a prisão do cozinheiro, uma mulher de 23 anos apareceu na 31ª Delegacia de Polícia (Planaltina) e o reconheceu como o homem que a atacou na noite de 11 de agosto. Ela estava na rodoviária de Planaltina e ia para o Vale do Amanhecer, na região administrativa. Marinésio se passou por motorista de transporte pirata. No caminho, ele desviou o trajeto e passou a mão na perna da vítima. Desesperada, a jovem abriu a porta do carro e saltou. Um casal que estava atrás parou o automóvel para ajudá-la. Marinésio fugiu. A mulher não havia procurado a polícia até ontem.
Agentes da 31ªDP e da 6ª DP (Paranoá) tentam identificar outras vítimas do suspeito.

Genir Pereira de Sousa, 47 anos

Auxiliar de cozinha em uma pizzaria de Planaltina

Separada, mãe de um homem de 29 anos

Nascida em Eliseu Martins (PI)

Morava no Paranoá (Facebook/Reprodução)  

Genir Pereira de Sousa, 47 anos Auxiliar de cozinha em uma pizzaria de Planaltina Separada, mãe de um homem de 29 anos Nascida em Eliseu Martins (PI) Morava no Paranoá

 


Letícia Sousa Curado de Melo, 26 anos

Advogada, funcionária terceirizada do Ministério da Educação (MEC)

Aluna de pós-graduação na Fundação Escola Superior do MPDFT

Casada, tinha um filho de 3 anos

Morava no bairro Arapoanga, em Planaltina (Facebook/Reprodução)  

Letícia Sousa Curado de Melo, 26 anos Advogada, funcionária terceirizada do Ministério da Educação (MEC) Aluna de pós-graduação na Fundação Escola Superior do MPDFT Casada, tinha um filho de 3 anos Morava no bairro Arapoanga, em Planaltina

 



Flagrado por câmeras
 
A polícia começou a desvendar o caso de Letícia Sousa Curado de Melo na manhã de sábado, após prender Marinésio dos Santos Olinto. A câmera de vigilância de uma loja filmou a advogada entrando na Blazer cinza dele. Agentes encontraram o telefone celular, a pochete e o relógio da funcionária do MEC na picape.

Em um primeiro momento, Marinésio negou envolvimento no crime, sem explicar os itens da vítima em seu veículo. Mas, diante das provas, na manhã de ontem, confessou o crime. Na companhia da advogada, levou os investigadores ao local onde deixou o corpo, uma manilha às margens da DF-250, em um matagal próximo a uma fábrica de sementes.

Em depoimento, Marinésio contou ter abordado Letícia na parada de ônibus, perto da casa dela, no Arapoanga, no início da manhã de sexta-feira. Ela, que havia saído de casa às 7h, pretendia pegar um coletivo para a Rodoviária de Planaltina, onde tomaria outro ônibus até a Rodoviária do Plano Piloto. Seguiria a pé até o prédio do MEC, na Esplanada dos Ministérios. A princípio, o suspeito havia acabado de deixar a filha de 16 anos na escola.

Poucos minutos após Letícia entrar na Blazer, começou o assédio. A advogada gritou. Marinésio dirigiu até uma estrada que dá acesso ao Paranoá e a estrangulou. Depois, seguiu até a DF-250, onde deixou o corpo da jovem. Marinésio confessou o crime na 31ª Delegacia de Polícia (Planaltina).

Com ele, os agentes encontraram R$ 750. Havia uma nota de R$ 5. A polícia suspeita que seja a mesma que Letícia pediu ao marido, antes de sair de casa. Por ter uma deficiência ocular, ela não pagava passagem nos ônibus da frota regular. A família suspeita que a advogada usaria o dinheiro para um transporte pirata.

Marinésio ficará preso preventivamente pelo assassinato da advogada. O corpo dela foi encaminhado para o Instituto de Medicina Legal (IML) às 18h de ontem. Não havia previsão de velório e enterro até o fim da noite. “Ele (Marinésio) matou-a quando ela ficou assustada, depois que ele disse que tinha vontade de ter relação sexual com ela. Ele disse que não abusou dela, mas só a perícia poderá comprovar”, afirmou o delegado Fabrício Machado, chefe da 31ªDP.
 
 
Corpo em decomposição
 
Genir Pereira de Sousa foi atacada no início da manhã de 2 de junho. Ela havia saído do trabalho na madrugada do dia 1º com um funcionário da pizzaria, seu namorado. Eles dormiram juntos, em Planaltina. Pela manhã, a auxiliar de cozinha foi para a casa da chefe, no bairro Arapoanga.

As duas eram amigas. Genir foi à casa da chefe para buscar pertences pessoais e R$ 750 que havia recebido por um serviço extra. Dali, seguiu para uma parada de ônibus, por volta das 7h40. Imagens de câmeras de segurança mostraram a vítima indo ao ponto e, depois, um carro passando e, em poucos segundos, retornando.

Como Genir não apareceu para trabalhar na noite de 2 de junho, a patroa registrou uma ocorrência por desaparecimento. Após duas semanas de investigação, agentes da 6ªDP descartaram que o criminoso fosse alguém do convívio dela. Em 12 de junho, o corpo da mulher foi encontrado em um matagal entre Planaltina e o Paranoá, sem nenhum pertence dela.

“Filmagens mostram a Blazer (de Marinésio) passando e, em cinco minutos, retornando. Ele diz que a vítima pediu carona e, durante a viagem, quis manter um relacionamento sexual. O suspeito conta que, depois do ato, decidiu matá-la estrangulada”, comenta a delegada Jane Klebia, chefe da 6ªDP. “Ele mata por nada. É importante submetê-lo a um profissional que faça um perfil psicológico dele. Ele foge ao padrão de qualquer homicida. É um perfil de psicopata. Ele não tem um motivo para matar”, completa.

Pelo estado de decomposição do corpo de Genir, não foi possível confirmar o estupro, apenas a morte por estrangulamento. “Nosso trabalho agora é identificar possíveis vítimas do Marinésio na área do Paranoá e Itapoã, onde é comum as pessoas pegarem transporte pirata. Temos o perfil de um suspeito em potencial que pode estar ligado a outros crimes de sequestro, estupro e estrangulamento de mulheres”, destaca a delegada.
 
Parentes e amigos de Letícia Souza foram ao local onde o corpo dela foi encontrado, na manhã de ontem, à margem da DF-250 (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

Parentes e amigos de Letícia Souza foram ao local onde o corpo dela foi encontrado, na manhã de ontem, à margem da DF-250

 

Jornal Impresso

 

 


Correio Braziliense segunda, 26 de agosto de 2019

FERNANDA YOUNG, ATRIZ, ESCRITORA ROTEIRISTA, MORREU ONTEM, AOS 49 ANOS

 

A arte de rir de si mesma
 
 
Esse é um dos legados que nos deixa Fernanda Young. A atriz, escritora e roteirista morreu ontem, aos 49 anos

 

Vinicius Nader

Publicação: 26/08/2019 04:00

 (Marcio Nunes/TV Globo)  

O Brasil perdeu, na madrugada de ontem, a verve crítica, ácida e extremamente contemporânea de Fernanda Young. A atriz, escritora, apresentadora e roteirista teve uma crise de asma no sítio da família, no interior de Minas Gerais, e foi levada para o hospital em Paraisópolis, onde teve paradas respiratória e cardíaca e não resistiu. Fernanda Young tinha 49 anos de idade e deixa o marido e parceiro em muitas obras, Alexandre Machado, com quem teve quatro filhos. O corpo de Fernanda Young foi enterrado, ontem, em São Paulo.


Nascida em Niterói (RJ), Fernanda Young logo mostrou que tinha talento para as letras. O primeiro livro foi escrito aos 17 anos, mas nunca foi publicado. A escritora se preparava para, finalmente, lançar a obra como parte das comemorações pelos 50 anos, em agosto do ano que vem. Atualmente, Fernanda trabalhava em O livro, obra que deixa inacabada e que deve ser lançada postumamente, e nos ensaios da peça Ainda nada de novo, que estrearia em setembro em São Paulo.


Muito ativa, Fernanda nunca foi de fazer uma coisa só. Palavras como multifacetada e multimídia são comumente ligadas a ela, o que deixa claro o quanto a escritora era contemporânea. Essa característica aparecia e até mesmo definia a obra literária iniciada com Vergonha dos pés (1996) e que, extensa, ultrapassou os 10 títulos, entre os quais Tudo o que você não soube (2007) e A mão esquerda de vênus (2016). Temas como feminismo, globalização, relacionamentos ganhavam, na escrita de Fernanda, acidez e ironia.

Televisão


O humor corrosivo e corajoso de Fernanda logo ganhou as telas. Primeiro, como uma das colaboradoras de A comédia da vida privada (1995). Mas, ali, a série era baseada em outro autor (Luis Fernando Veríssimo) e Fernanda não pôde se mostrar por completo.


O telespectador conheceu e se apaixonou de vez por ela com Os normais, série escrita ao lado do marido, Alexandre Machado. Fernanda Torres e Luiz Fernando Guimarães davam vida a Vani e Rui, casal que nos divertia e nos levava à reflexão por meio de situações cotidianas. Foram três temporadas — de 2001 a 2003 — de muito sucesso. Tanto que deram origem a dois filmes, também roteirizados pela dupla.


Depois vieram outras comédias, a maioria com êxito e todas com a crítica social embutida. Entre elas, Os aspones (2004) fazia piada com o funcionalismo público, Macho Man (2011) brincava com o novo homem e com empoderamento feminino, e Vade retro (2017), que subvertia ao trazer Tony Ramos como o diabo. Em 2013, Fernanda e Alexandre foram indicados ao Emmy internacional pelo roteiro da comédia Como aproveitar o fim do ano. Recentemente, ela escreveu o seriado Shippados, estrelado por Tatá Werneck e Eduardo Sterblitch e disponibilizado no catálogo do Globo Play, serviço sob demanda da Globo.

Cara a tapa

Falar o que pensa nunca foi um problema para Fernanda Young, o que fazia com que o público, muitas vezes, tivesse a impressão de que estava diante de uma mulher amarga. Mas bastava prestar mais atenção ao sofá do Saia justa — a escritora participou da formação inicial do programa, em 2002 e 2003, ao lado de Marisa Orth, Rita Lee e Mônica Waldvogel — que estava ali o lado doce, tão destacado em depoimentos de amigos e colegas, ainda chocados com a repentina morte de Fernanda ontem.


Na mesma emissora, o GNT, Fernanda comandou talk shows provocadores e engraçados, como Irritando Fernanda Young, no qual ela brincava com a fama de mal-humorada — Fernanda não era de se levar a sério — e Confissões do apocalipse. As atrações foram ao ar entre 2006 e 2010 e em 2012, respectivamente.


Sem medo de se expor e com uma necessária análise crítica apresentada de uma forma sem ser chata ou massante, Fernanda vai fazer falta na televisão e na literatura. “Sou uma mulher de 50 anos que sonhou alto e realizou muito. E estou longe de encerrar a minha jornada nessa orbe! Aos que se interessam: bom proveito. Para os outros: estou pouco me lixando!”, escreveu no sábado em uma rede social.

   

Repercussão

Colegas e amigos se despediram de Fernanda Young nas redes sociais

 

"Como eu fui privilegiado em dizer o texto de Fernanda em Vade Retro, seriado que me deu tantas alegrias. Ela era escritora primorosa e pessoa adorável” 

Tony Ramos



“Era uma pessoa maravilhosa. Devo boa parte dos melhores anos da minha vida a ela. É uma perda muito grande para o mundo artístico. Vou sentir muita falta”

Luiz Fernando Guimarães



“Fernanda foi uma mulher importante para as artes e para a sociedade. Conseguia fazer rir e pensar com a mesma intensidade”

Fábio Porchat


“O que vai fazer mais falta é a mente inquieta. Ela olhava para tudo que estava acontecendo ao lado e colocava isso no trabalho dela”

Zeca Camargo


“Sua jornada está longe de terminar e vai continuar. Suas palavras são fortes”

Tatá Werneck


“Triste notícia recebi hoje com a morte precoce da Fernanda Young, essa menina talentosa, de humor ácido e de tantos trabalhos excepcionais como escritora, roteirista, atriz, apresentadora, entre outros. Descanse em paz!”

Walcyr Carrasco


Jornal Impresso

“Chocado com essa notícia. Fernanda Young, escritora talentosa, polêmica, divertida, autora (com seu marido Alexandre Machado) da melhor série brasileira até hoje, Os Normais, entre outros trabalhos. Uma pessoa bacana a menos no Brasil.

Hélio de La Peña

 


Correio Braziliense domingo, 25 de agosto de 2019

BRASÍLIA: O DESPERTAR DO IDOSO DO SÉCULO 21

 

O despertar do idoso do século 21
 
Com expectativa de vida maior do que a média nacional, o idoso brasiliense enfrenta dificuldades e riscos para garantir um envelhecimento saudável. Em uma série de três reportagens, o Correio mostra a realidade dessa população no país e aponta saídas necessárias para o futuro

 

Publicação: 25/08/2019 04:00

Segundo estudo do IBGE, em 2060, o DF terá a menor taxa de fecundidade do país, e a proporção de idosos para jovens será a segunda maior entre as 27 unidades da Federação
 (Ed Alves/CB/D.A Press - 12/2/19)  

Segundo estudo do IBGE, em 2060, o DF terá a menor taxa de fecundidade do país, e a proporção de idosos para jovens será a segunda maior entre as 27 unidades da Federação

 


» MARIANA MACHADO
» JÉSSICA EUFRÁSIO
 
Prolongar a vida foi um dos grandes feitos do ser humano no século 20. Se, antes, a longevidade era privilégio de poucos, agora, ela começa a ser regra e, ao mesmo tempo, um dos maiores desafios dos tempos modernos. A sociedade precisa aprender a viver mais e melhor. Não somente quem passou dos 60, como também os netos e os filhos de quem está na terceira idade.
 
De 2012 a 2017, o número de pessoas com mais de 60 anos no país subiu 18%, alcançando 30,2 milhões, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A previsão é de que, em 2060, um quarto dos brasileiros tenha mais de 65 anos. No mesmo ano, o Distrito Federal terá a menor taxa de fecundidade do país, e a proporção de idosos para jovens será a segunda maior entre as 27 unidades da Federação, com cerca de dois para um.
 
Os desafios de uma nação com pirâmide etária em transformação acelerada, como é o caso do Brasil, incluem definir políticas voltadas para as necessidades dos idosos: de mobilidade urbana a lazer, passando pelos cuidados com a saúde e pela prevenção de doenças, além da definição de múltiplas formas de inclusão. Apesar disso, o país engatinha nesses quesitos. Para o médico Renato Veras, doutor em epidemiologia do envelhecimento pela Universidade de Londres, transformações são necessárias. Ele alerta que o país tem perdido a chance de promover mudanças nessa perspectiva. “A questão do envelhecimento nunca se encaixou muito bem na sociedade brasileira”, diz. (leia Três perguntas para).
 
A expectativa de vida do brasileiro, em 2019, é de 76 anos; no DF, um pouco maior: de 78 anos (leia A velhice em números). Diante do novo perfil populacional, o Brasil deve pensar em quem não tem mais a mesma vitalidade de outrora. A Organização Panamericana de Saúde (Opas) define como “cidade amiga do idoso” a que adapta estruturas e serviços para que sejam acessíveis e promovam a inclusão para pessoas com diferentes necessidades e capacidade.
 
Mais de 600 cidades e comunidades em 37 países fazem parte da rede da Organização Mundial de Saúde (OMS), pensando em iniciativas que permitam o envelhecimento saudável. No Brasil, quatro receberam o certificado internacional de Cidade e Comunidades Amigáveis à Pessoa Idosa: os municípios gaúchos de Esteio, Porto Alegre e Veranópolis, além de Pato Branco (PR).
 
Mobilidade
Na capital federal, muito precisa ser feito. O aposentado Eloy Barbosa, 73 anos, é categórico: “Brasília não tem acessibilidade. Isso vale para Plano Piloto, Samambaia, onde for. As escadas rolantes não funcionam, não tem calçada na maioria dos lugares e, quando tem, as pessoas param os carros em cima”. Mesmo assim, ele encara a velhice com “animo. Todos os dias, o morador da QNA 5 de Taguatinga Norte caminha até a parada de ônibus mais próxima.
 
O transporte público faz parte da rotina do senhor de cabelos brancos. Com agenda lotada, ele reveza os dias entre aulas de teatro, filosofia, canto coral, dança e o que mais aparecer. Para se locomover, vale ônibus, metrô, ou dirigir o próprio carro. “Prefiro o transporte público, porque não vou sozinho. Converso e conheço as pessoas. Quando está cheio, tem gente que finge não me ver, mas sempre tem uma alma boa para me ceder o lugar. Devem ser os meus cabelos brancos”, brinca Eloy. Para ele, ser idoso é um privilégio. “Significa que estou vivendo mais. As rugas são o nosso diploma, e eu tenho doutorado. Procuro ser dono da minha vida. Em Brasília, só fica em casa quem quer”, afirma.
 
Menos otimista, a mulher dele, Marieta Oliveira, 74, se lembra de situações de discriminação. “Tem muita gente educada, mas ouvi uns reclamando que velho não paga passagem. No transporte, nem todo motorista é educado e, nas ruas, as calçadas são ruins, você tropeça se não estiver atento”, reclama (leia Personagens da notícia).
 
 
Personagens da notícia

 (Ed Alves/CB/D.A Press)  
O passado com carinho
 
Quem vê os olhares cúmplices e os sorrisos abertos de Eloy e Marieta não imagina a força da dupla. Há 43 anos, eles se casaram e foram morar em Taguatinga, na mesma casa até hoje. Ao longo de quatro décadas juntos, tiveram três filhos, mas, diferentemente do que se espera, os dois rapazes e a moça se foram antes dos pais. De olhos marejados, eles evitam falar das perdas que os fizeram viver sozinhos. “A nossa força vem da união e de entendermos a vida”, afirma Eloy.
 
Marieta conta que, todos os dias, se lembra dos filhos assim que acorda. “Guardo o passado com carinho, tento focar apenas as coisas boas, mas há dias em que as partes mais difíceis ficam na cabeça. Quando isso acontece, preciso sair de casa”, relata. Conversar com os vizinhos, fazer atividades físicas e passear ajudam-na a colocar leveza no pensamento. “Não é que eu seja forte demais, mas procuro dar um jeito”, avalia.
 
 
 
Memória
 
Maus-tratos e abandono
 
Agosto
» Um homem de 38 anos diagnosticado com esquizofrenia e transtornos de ansiedade desde a adolescência matou a mãe, de 68 anos. O caso aconteceu em Taguatinga Norte. Segundo a polícia, o filho havia sido internado e fugido diversas vezes do Hospital São Vicente de Paulo (HSVP), unidade psiquiátrica do DF. Após uma das fugas, ele voltou a morar com a mãe. No entanto, teve um surto e agrediu a idosa até a morte dentro de casa. O caso é investigado pela 12ª Delegacia de Polícia (Taguatinga Centro).
 
Junho
» Em 9 de junho, uma mulher de 79 anos e o marido dela, de 87, foram encontrados com sinais de abandono, em um apartamento no Cruzeiro Novo. Eles foram levados ao Hospital Regional da Asa Norte (Hran), onde ficaram internados na Ala Vermelha, com sintomas de desidratação. Encaminhada à 5ª Delegacia de Polícia (Área Central), a filha do casal foi autuada por deixar de prestar assistência aos pais, assinou um termo circunstanciado e foi liberada.
 
Janeiro
» A dona de casa Diva Maria Maia da Silva, 69, foi assassinada a tiros pelo companheiro, Ranulfo do Carmo Filho, 72. O autor do crime ainda disparou contra um dos filhos do casal, Régis do Carmo Corrêa Maia, 46. Diva Maria e Ranulfo estavam juntos havia 50 anos e moravam na 316 Norte. Antes do crime, pai e filho discutiram, Ranulfo foi ao quarto e voltou com um revólver. Ele fugiu depois de atirar contra Diva e Régis. Policiais prenderam o assassino, que confessou o crime.
 
 
 
Três perguntas para
 
Renato Veras, médico, doutor em epidemiologia do envelhecimento, professor titular da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e editor da Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia
 
O Brasil está preparado para envelhecer?
O país perdeu muito tempo nesse processo de envelhecimento, que estava sendo projetado por demógrafos. A gente não conseguiu encarar. A população brasileira, em geral, sempre acreditou que era um país da garotada, do futuro. A questão do envelhecimento nunca se encaixou muito bem na sociedade brasileira. Ela não se organizou em todos os aspectos: saúde, urbanismo, organização das cidades para ter mais idosos, na questão de políticas sociais de amparo aos idosos. Agora, estamos em uma certa crise. Sabemos que, na população envelhecida, há mais doenças crônicas, uso de hospitais, tempo de permanência em serviços de saúde, mais custos.
 
Como lidar com o envelhecimento próprio e dos demais?
Antes, as famílias eram grandes — com seis, sete filhos —, não moravam em grandes centros, mas em cidades rurais. Era mais fácil fazer um arranjo de apoio social. Hoje, você não tem mais a parcela da população que cuida dos filhos e dos avós. Os idosos estão cada vez mais sós. E eles começam a ter dificuldades com o passar dos anos, começam a se sentir mais frágeis, têm medo de cair, começam a ficar mais em casa, mais isolados, surge a depressão, a família mora longe… Você acaba construindo uma sociedade em que o idoso é totalmente excluído. Há, ainda, um pensamento comum de que, a partir de determinado momento, você não precisará de apoio médico. O Brasil, como alguns outros países que cresceram de forma rápida, não ficou rico o suficiente para amparar seus idosos. É uma situação muito grave. Ter um modelo como o inglês, com um médico clínico que avalia e direciona para especialistas apenas quando necessário e promove cuidados diuturnos com pessoa, é a melhor forma, além da mais adequada, o que a torna mais barata.
 
Quais são os principais desafios para uma nação que fica mais velha?
Precisamos ter políticas de amparo a essa população. Na questão da previdência (social), é preciso repensar como deixaremos uma massa muito importante de idosos sem proteção. Isso é coisa para os políticos pensarem. Como cuidar de parentes queridos que viverão mais 10 ou 15 anos sem apoio do Estado? O nosso modelo assistencial é ineficiente e muito caro. O privado é assim. E esse modelo hospitalocêntrico gera insatisfação da sociedade por ter um preço muito alto. O privado precisa mudar isso. O público é subfinanciado e não tem dinheiro para abarcar a população idosa. Essas lógicas têm de ser diferentes. Minha proposta é de atuar precocemente. Fora isso, as cidades precisam de espaços harmônicos, os quais idosos possam frequentar.
 
Jornal Impresso

Correio Braziliense sábado, 24 de agosto de 2019


Correio Braziliense sexta, 23 de agosto de 2019

É DIA DE FEIRA: CHEGA MAIS, FREGUÊS!

 

É dia de feira!
 
O Dia do Feirante é celebrado no próximo domingo, conheça histórias desses trabalhadores que se dedicam a levar bons alimentos para a mesa do brasiliense

 

» BRUNA LIMA

Publicação: 23/08/2019 04:00

Além dos produtos fresquinhos, Helen não abre mão do atendimento (Ed Alves/CB/D.A Press)  

Além dos produtos fresquinhos, Helen não abre mão do atendimento

 



A banquinha de Claudimar oferece serviço de delivery (Ed Alves/CB/D.A Press)  

A banquinha de Claudimar oferece serviço de delivery

 

 
Acordar cedo, antes mesmo de qualquer raio de sol. Quando o galo inicia os primeiros cantos do amanhecer, a barraca já está montada, abastecida com frutas, verduras e alimentos dos mais variados tipos. A camisa suada e o corpo quente, enquanto boa parte dos trabalhadores ainda se esforça para levantar das camas. Com tudo pronto, é hora de ver o dia amanhecer e receber os clientes com disposição e sorriso no rosto. Para quem trabalha como feirante, o ritual é mais que uma rotina. É um estilo de vida.
 
Em 25 de agosto é comemorado o Dia Nacional do Feirante. Mas para Daniel Assis, 40 anos, não tem dia do ano que não seja dele. Às 3h30 sai de casa, em Alexânia (GO), com o caminhão carregado de hortaliças, que ele e a família plantam, cultivam, colhem e vendem, como forma de sustento. Antes de chegar ao destino final, na 307/308 Sul, faz uma parada para trocar produtos com outros feirantes.
 
“A gente não consegue produzir tudo, então, a gente oferece os nossos em troca de outros para que o cliente consiga encontrar tudo o que precisa na nossa barraquinha”, explica Daniel. Há sete anos no mesmo ponto, ele diz ter feito mais que clientela. “Esse cantinho é minha segunda casa e essas pessoas já são da família. Por isso, eu cuido dos meus clientes, oferecendo alimentos de qualidade. Eu vendo saúde e isso é muito gratificante”.
 
Moradora da quadra, a dona de casa Helen Vale, 43, é cliente assídua e gosta de aproveitar o tempo das compras para ter uma boa conversa. “É tudo muito gostoso, fresquinho e dá muito mais vontade de cozinhar. Mas o que eu não abro mão é do atendimento. Os meninos cuidam da gente até quando estamos doentes. Dizem qual alimento é bom para o que, ensinam receitinhas. É um contato que, nos tempos de hoje, a gente acaba perdendo. Aqui não”, brinca.
 
Os laços e as raízes que criou no ponto de vendas não é motivo para se manter estagnado. É o que afirma o feirante Claudimar Mendonça, 41 anos, sócio e cunhado de Daniel. “Hoje, a gente percorre Brasília com nosso serviço de delivery. É necessário observar as novas demandas para garantir atendimento. Até porque vivemos e respiramos isso, então não dá para acomodar”.

A feirante Luzinei perdeu tudo durante um incêndio na feira onde tinha um box, mas deu a volta por cima (Ed Alves/CB/D.A Press)  

A feirante Luzinei perdeu tudo durante um incêndio na feira onde tinha um box, mas deu a volta por cima

 



Há sete anos na 307/308 Sul, Daniel fez do ponto sua segunda casa (Ed Alves/CB/D.A Press)  

Há sete anos na 307/308 Sul, Daniel fez do ponto sua segunda casa

 

 
Rede parceira
 
Ficar estagnada também nunca foi opção para a feirante Luzinei Moraes, 45. Há 20 anos ela trabalha no ramo e, mesmo depois de ver a própria banquinha e de outros 23 colegas serem consumidas pelo fogo e perder tudo, não desistiu. “Parecia um pesadelo, mas foi real. Com dois filhos para criar, foi um momento muito difícil. Eu me reergui pela minha família, fazendo o que eu gosto”.
 
Em quatro dias da semana, Luzinei se instala em diferentes pontos da Asa Norte e do Colorado para vender hortifrutigranjeiros orgânicos de diferentes produtores do Distrito Federal e Entorno. Antes das 6h, um caminhão carregado chega até a tenda e, com a ajuda de outros colaboradores, organiza os produtos sobre as prateleiras móveis. “Tenho prazer em atender as pessoas, ao ar livre, sem estar presa em um local fechado. Vendendo alimentos fresquinhos, eu consigo frescor à minha vida”, diz.
 
Assim como Daniel, Claudimar e Luzinei, outras 30 mil pessoas exercem a profissão em uma das mais de 70 feiras livres e permanentes no DF, segundo dados do Sindicato dos Feirantes do DF (Sindifeira). “É um segmento unido, em que vários produtores trabalham de forma cooperativa para conseguir melhorar as vendas”, afirma o presidente do Sindifeira, Francisco Valdenir Elias.
 
São aproximadamente 100 mil pessoas que dependem, direta ou indiretamente, da renda das vendas nas feiras para garantir o próprio sustento e o da família. “Não é só o consumidor que ganha. Ele valoriza essa produção local e faz girar a economia, garantindo a subsistência de tantas pessoas que se dedicam a oferecer alimentos fresquinhos e de qualidade”, argumenta Francisco.

Incêndio
 
Em 2 de outubro de 2012, um incêndio consumiu completamente um galpão de palhoça onde eram vendidos produtos orgânicos, próximo ao Posto Flamingo, na subida do Colorado. O galpão, que abrigava o Empório Rural do Flamingo, tinha aproximadamente 400m² e contava com 24 boxes. A feira estava fechada no momento do incêndio, mas várias geladeiras, fogões e peças de artesanato foram destruídos pelo fogo.

 
30mil
Número de feirantes no DF
 
70
Feiras livres e permanentes atendem ao público
 
Jornal Impresso
 

Correio Braziliense quinta, 22 de agosto de 2019

ALCEU VALENÇA: ALCEU É MUITO

 

ENTREVISTA / ALCEU VALENÇA
 
 
Alceu é muito!
 
O multiartista se apresenta hoje no festival Na Praia. O show será Estação da luz, com sucessos e canções em homenagem à capital

 

Nicole Mattiello*

Publicação: 22/08/2019 04:00

O cantor ganhou uma HQ que conta a história do seu disco Vivo (Celso Hartkopf/Divulgação)  

O cantor ganhou uma HQ que conta a história do seu disco Vivo

 

 
Um eterno menino que não gosta de descansar nem sonha em se aposentar. “Me faz um favor? troca o senhor por ‘você’?”, pediu Alceu Valença, e quebrou o gelo das formalidades logo no início da entrevista ao Correio. O cantor se apresenta hoje no festival Na Praia com o show Estação da luz, em que toca sucessos da carreira e músicas que homenageiam a capital.
 
Alceu trilha os caminhos da arte há mais de 40 anos. Cantor, compositor, escritor, ator, cineasta, fez um pouco de tudo: tem 31 discos, um livro e um filme, “fui até galã de filme, menina!”, conta sobre o longa pernambucano de 1974, A noite do espantalho, de Sérgio Ricardo. Referência na cultura brasileira, recentemente ganhou uma HQ, feita por André Valença e Celso Hartkopf, que conta a história do disco Vivo.
 
Anunciação, Cavalo de pau, La belle de jour, Tropicana… com sucessos que estão na ponta da língua de muitos fãs da sua música, Alceu Valença tem carreira extensa e cheia de “causos”. O artista contou um pouco mais sobre sua história na música.
 
Alceu Valença diz ter amor por cantar e fazer show, e não pensa em se aposentar (Antonio Melcop/Divulgação)  

Alceu Valença diz ter amor por cantar e fazer show, e não pensa em se aposentar

 

 
Sempre sonhou em ser cantor?
Nunca sonhei essas coisas não. Quando era garoto, com uns 5 anos de idade, participei de um festival na minha terra, e o prêmio era uma caixa de sabonete. Depois eu vim aprender a tocar violão com uns 15, 16 anos de idade, e aí pronto. Quando estudei em Harvard, era uma época de muitos hippies, e eu tocava numa pracinha por lá, eles adoravam, e eu também me amarrava. Depois disso minha carreira começou mesmo, com convites para shows, para cantar e mostrar meu som.
 
 
Você inspira muitos artistas, isso não é segredo. Mas quem te inspirou no início da carreira? 
Na minha casa o meu pai não queria que eu fosse artista, porque ele achava muito difícil sobreviver desse negócio de arte, então não existia som na minha casa, só um rádio. As minhas referências primeiro foram os cantos do sabiá, a música que tinha nos pés de capim quando o vento soprava, as vozes dos locutores na rádio, as músicas que tocavam na época, sem que eu escolhesse. Uma mistura doida que funcionou.
 
 
Qual é a sua obra mais importante? 
Todas. Obra é como filho, você já viu pai gostar mais de algum filho do que outro? Claro que tem uma música ou outra que nunca foi ao ar, que fica guardada no baú. Aí vira uma relação distante, como um filho que vai morar fora, que a gente passa muito tempo sem ver e sem conversar. Mas todas são importantes.
 
 
Quais mudanças percebe no ramo da música comparando quando começou com agora?
A internet, com certeza. A internet favoreceu muita gente (artistas) que já estava estabelecida, ao mesmo tempo que ocultou outros. A minha carreira foi muito favorecida, tenho uns 60 milhões de visualizações nas plataformas. Mas sabe, tem o lado ruim. Estamos vivendo em um mundo dominado por uma cultura de algoritmos que nos apresentam um menu daquilo que a gente deve comer. Eu prefiro a comida da Dedé (cozinheira que trabalha em sua casa), não escolho em menu.
 
 
Como fica o descanso? O que o você faz para descansar? 
Eu odeio descansar. Agora, há um cansaço muito grande que é das viagens, mas quando eu chego ao Rio de Janeiro eu fico com vontade de cair na rua. A senhora estrada é minha vida. Não tiro férias, penso em fazer show o tempo todo. Mas, às vezes, passo um tempo em Portugal, caminho pelas ruas de Lisboa, adoro andar nas ladeiras e colinas… Esse é o meu descanso.
 
 
E como é a relação com o público de Brasília?
É maravilhosa. Faço show aqui desde o início da minha carreira, e adoro o clima como um todo. O clima da cidade, do público… Fiz até música em homenagem. Não é brincadeira, não.
 
*Estagiária sob a supervisão de José Carlos Vieira
 
 
 
Show Estação da Luz, de Alceu Valença
Hoje, a partir das 18h no Na Praia (Concha Acústica, Orla do Lago Paranoá). Ingressos: R$ 161 (inteira) e R$ 81 (meia-entrada). Não recomendado para menores de 16 anos.
 
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Correio Braziliense quarta, 21 de agosto de 2019

SEQUESTRO NA PONTE RIO-NITERÓI

 


VIOLÊNCIA
 
 
Sniper do Bope mata sequestrador de ônibus
 
Motivos da ação ainda não foram esclarecidos. Rapaz que manteve 37 passageiros presos no meio da Ponte Rio-Niterói, por quatro horas, estava com uma arma falsa, uma faca e gasolina. Governador de estado comemorou ação da polícia

 

» Cristiane Noberto*

Publicação: 21/08/2019 04:00

William Augusto Silva foi atingido, na perna, quando saiu do veículo. Depois, recebeu mais seis tiros (Ricardo Cassiano/Agência O Dia/AFP)  

William Augusto Silva foi atingido, na perna, quando saiu do veículo. Depois, recebeu mais seis tiros

 



O sequestro de um ônibus com 37 pessoas na Ponte Rio-Niterói terminou, ontem com o sequestrador morto por um sniper do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) do estado. Nenhum passageiro ficou ferido.

A ação começou de madrugada, em um ônibus da Viação Galo Branco, que partiu de São Gonçalo, na região metropolitana do Rio, em direção ao centro da capital fluminense. Por volta das 5h, Willian Augusto da Silva, 20 anos, tomou o ônibus e obrigou o motorista a enviesar o veículo nas pistas da ponte. A operação policial começou por volta das 5h40 e a agonia teve fim às 9h, quando Willian foi atingido com seis tiros pelo atirador de elite do Bope, no momento em que desceu do ônibus e jogou um casaco para os policiais. A direção do Hospital Municipal Souza Aguiar confirmou a morte dele às 9h33, por parada cardiorrespiratória.

Foram quatro horas de terror, segundo os passageiros. Com uma arma, uma faca e gasolina, o sequestrador, apesar de afirmar que não queria ferir ninguém nem o dinheiro deles, distribuiu o combustível em garrafas Pet pelo ônibus. A Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro (PMERJ) conduziu a operação. Segundo informações da corporação, a arma que o rapaz portava era falsa.

Hans Moreno, um dos reféns no ônibus, declarou a jornalistas que estava aliviado por ter saído daquela situação. “O sequestrador parecia bem arquitetado, tinha todos os objetos bem-feitos, chegou com as coisas armadas, mas afirmava que não queria nada das vítimas, queria R$ 30 mil do estado”, disse.

Comemoração

O governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), comemorou a ação policial ao descer de um helicóptero na ponte, após a ação policial, o que causou um certo mal-estar nos presentes. Durante a coletiva de imprensa, explicou que sua comemoração foi pela ação bem-sucedida da polícia em salvar 37 vidas, e não pela morte de alguém.

Witzel não mediu elogios à equipe e destacou que a ação só foi possível porque a polícia não teve nenhuma interferência. “Lamento a morte ocorrida e fico feliz com as 37 vidas salvas. Temos muito trabalho para combater a violência e proteger a população. Estamos no caminho certo”, escreveu no Twitter. O governador afirmou que, se preciso, entrará com ação no Supremo Tribunal Federal (STF) para que tenha entendimento jurisdicional a questão de abater pessoas com fuzil na mão, mesmo que não estejam utilizando.

Na avaliação do ex-secretário Nacional de Segurança, coronel José Vicente da Silva, os policiais agiram corretamente. Segundo ele, o contexto gerenciado pelo comandante do Bope não pode ser feito por um amador, o negociador tem a função de fazer o indivíduo desistir da ação. “Quando o sequestrador pôs o corpo para fora do veículo, ele não poderia voltar mais, pois se a polícia permitisse isso, voltaria todo o drama. A polícia tinha que fazer tudo o que podia ser feito, e, como o policial não podia pular em cima dele, por conta da distância, o tiro era a melhor opção”, disse.

O coronel explicou que a ação do sniper deve anular o potencial agressivo do indivíduo. Isso significa imobilizar de alguma forma para retirar o potencial de perigo. Em última opção, o tiro na cabeça. “Essa decisão não é do sniper, a decisão dele é somente o ponto e quando. Quem dá o aval é o comandante da operação, que no caso era o coronel Nunes”, afirmou.

Em casos de assaltos, onde o assaltante pode pegar um refém para conseguir fugir, a polícia pode tentar negociar e quase sempre a negociação é bem-sucedida. “Casos como esses (do sequestro na ponte) são perigosíssimos para os reféns e para os policiais. É uma pessoa perigosa, que pode matar inocentes. Os policiais devem ter isso em mente”, disse.

* Estagiária sob supervisão de Rozane Oliveira


  • Chacina de Unaí: condenado fica solto

    O ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF) impediu a prisão de Hugo Alves Pimenta, condenado em 2ª instância de Justiça por participação no caso conhecido como a chacina de Unaí. Em 2004, quatro servidores do Ministério do Trabalho foram assassinados, no Entorno do Distrito Federal, durante a fiscalização sobre trabalho escravo. A decisão, tomada na semana passada, foi divulgada ontem. Hugo foi condenado a 31 anos e seis meses de prisão pela acusação de ser um dos intermediários dos assassinatos, encomendados por um fazendeiro. O ministro entendeu que o réu deve responder em liberdade até que a Primeira Turma da Corte analise o mérito do caso.

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Correio Braziliense terça, 20 de agosto de 2019

5ª JORNADA LITERÁRIA DO DISTRITO FEDERAL

 

Em busca do novo leitor
 
Quinta edição da Jornada Literária do Distrito Federal tem início hoje, em Sobradinho

 

Rayssa Brito*

Publicação: 20/08/2019 04:00

Boa leitura: alunos do segundo ano do Centro de Ensino Médio 01 com a professora Leticia Gomes (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

Boa leitura: alunos do segundo ano do Centro de Ensino Médio 01 com a professora Leticia Gomes

 



“Eu fico muito emocionada; sempre fui aluna de escola pública e foi na escola pública que me interessei pela literatura, participando de projetos literários como um ratinho de biblioteca, porque minha família não tinha condições de comprar livros”. O depoimento é da atriz e escritora Cristiane Sobral, 44 anos. Ela está entre os 31 escritores confirmados na Jornada Literária do Distrito Federal que, neste ano, começa por Sobradinho.

A expectativa dos organizadores é de que 30 mil jovens e crianças vivenciem o projeto, que leva a leitura à rede pública. “É uma maneira de retribuir e também plantar em outros estudantes aquilo que também foi plantado em mim tempos atrás, isso me emociona”, destaca Cristiane.

Além de Sobradinho, o projeto passará por Ceilândia, de 9 a 13 de setembro, por São Sebastião, de 25 a 27 de setembro, e se encerra no Gama, de 28 a 31 de outubro. O curador e escritor João Bonfim ressalta que a principal meta da Jornada Literária é fazer os participantes descobrirem o gosto pela leitura literária.

O programa é resultado de duas décadas de experiências de João e da produtora cultural Marilda Bezerra em eventos nacionais e internacionais: bienais, festas literárias, feiras do livro. Dos estudos, participações, ações e apresentações, surgiu a ideia de relacionar leitor, livro e autor.

João entende que, além do encantamento das histórias, poemas e imagens em si, é fundamental o contato do novo leitor com o criador das obras. Isso porque, distintamente dos esportes ou cinema ou das novelas, o escritor é tido como alguém que já não está entre nós, a exemplo do escritor Machado de Assis, tão presente nos livros escolares. “Assim, quando trazemos esse autor ou autora para perto das crianças, há uma admiração: ‘Então você existe!?’ E há um desejo enorme deles em conhecer todo o processo de produção, de criação e edição de um livro”, detalha João.

Para Marilda Bezerra, a ideia da Jornada Literária surgiu quando ela e João perceberam que os estudantes das escolas públicas das regiões administrativas mais afastadas do Plano Piloto tinham pouco acesso à literatura e aos livros. “Vimos as pesquisas e constatamos que os índices de leitores ou livros lidos por ano eram muito baixos... Assim, tivemos a ideia de levar livros para esses alunos. Mas sabemos que, para formar um leitor, não basta só o livro. É preciso que se tenha um mediador de leitura”, avalia. “A Jornada, então, começa com a formação dos mediadores de leitura: disponibilizamos livros para serem lidos e trabalhados pelos alunos e depois levamos esses alunos para se encontrarem com os autores desses livros”, relata a produtora cultural.

Experiências
O Centro de Ensino Médio 01 de Sobradinho (CEM 01) participou da Jornada Literária em 2018 e este ano também vai receber o projeto. “Os alunos gostaram muito, mergulharam em um universo desconhecido, diferente da sala de aula”, relata o diretor da escola, Rafael Urzedo. De acordo com o diretor, a experiência foi tão positiva que neste ano houve acréscimo de 40% no número de professores que aderiram ao projeto.

Os estudantes Amanda Meira e Murilo Campos compartilham da opinião de Rafael. Amanda conta que a experiência foi diferente, pois saíram do quadrado de sala. “A literatura é um novo jeito de ver o mundo”, afirma. Por sua vez, Murilo relata que a escola recebeu grande suporte da Jornada. “Com esse projeto, podemos perceber que pessoas comuns conseguem chegar a um alto patamar da sociedade”, complementa.

“Eu vejo o despertar da leitura”, afirma a professora de português Ana Teresa Fernandes, que participou da Jornada do ano passado. A docente relata que o contato dos leitores com os escritores é um diferencial da Jornada. “Acho riquíssimo o contato com o autor que está vivinho, que mora do seu lado e está em Brasília”. Ana também conta que a escola optou este ano estudar o livro de contos do escritor Ignácio de Loyola Brandão, Cadeiras proibidas, devido à interação que a leitura do gênero proporciona na sala de aula.

* Estagiária sob supervisão de José Carlos Vieira




Serviço

Jornada Literária do DF

» Teatro de Sobradinho, de hoje a 23 de agosto, das 9h às 18h. Entrada franca e classificação livre.




30 mil
Número de alunos que participam do projeto

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Correio Braziliense segunda, 19 de agosto de 2019

PLANALTINA: FESTA PARA A ANCIÃ DO QUADRADINHO

 

Festa para a anciã do quadradinho
 
Com desenvolvimento em torno da tradição religiosa e da atividade agropecuária, Planaltina nasceu e, hoje, comemora 160 anos. No entanto, o surgimento das primeiras comunidades na região data de 1811, com a inauguração de uma igreja em homenagem a São Sebastião

 

JÉSSICA EUFRÁSIO

Publicação: 19/08/2019 04:00

 (Fotos: Vinicius Cardoso Vieira/Esp. CB/D.A Press
)  
Ainda que seja a região administrativa de número seis, Planaltina é a cidade mais antiga do Distrito Federal. Enquanto a área da capital federal sequer havia sido delimitada, a então vila, conhecida como Mestre d’Armas, desenvolveu-se em torno da fé e da agropecuária. Esse centro urbano, dividido entre o DF e Goiás, cresceu e completa 160 anos hoje. A data, no entanto, representa o dia em que o vilarejo foi transformado em distrito de paz. O povoado, que cresceu em torno da Igreja de São Sebastião e guarda reflexos do século 19 a 40 quilômetros da modernidade brasiliense, tem, na verdade, 208 anos.
 
A região nasceu após um período em que tropas de bandeirantes percorriam o interior do país em busca de pedras preciosas. Essas expedições ocorreram, principalmente, durante a primeira metade do século 18. A busca por ouro e esmeraldas guiava esses grupos e marcou o início da história goiana até meados do século 20. A atividade mineradora favoreceu a ocupação de cidades como Formosa e Luziânia, então Santa Luzia. Contudo, a pecuária e a agricultura favoreceram a fixação desses grupos na região.
 
Com a decadência da economia no século 19 e o fim da febre do ouro na Província de Goiás, as transações comerciais se enfraquecem, a circulação monetária diminui, mas a agricultura de subsistência e a pecuária ganham força. Aliada a isso, Planaltina surge em meio a uma “febre de fé”. “Tratava-se de uma comunidade espalhada, que trabalhava na fazenda e tinha autonomia. Não havia grandes comércios. A vila de Mestre d’Armas surge daí. Mas esse grupo de fazendeiros teve um problema com uma doença. Como fazem para superá-la? Prontificam-se a criar uma pequena capela caso se curem”, explica o historiador do Arquivo Público do Distrito Federal (ArPDF) Elias Manoel da Silva.
 
Em 20 de janeiro de 1811 — após o fim da epidemia e durante uma missa de ação de graças —, a comunidade entrega as terras para construção da igreja ao vigário de Santa Luzia, como forma de pagar a promessa. A capela é erguida em homenagem a São Sebastião. A ocasião configura, historicamente, a data oficial do nascimento do Arraial de São Sebastião de Mestre d’Armas, atual Planaltina. Com a criação do patrimônio ao santo — distrito urbano que surge ao redor de um território doado para uma igreja —, cresce o aglomerado de comércios e pequenas cidades em terrenos alugados pela capela.
 
Uma lei de 19 de agosto de 1859 transforma a vila de Mestre d’Armas em distrito de paz. Cem anos depois, pouco menos de um ano para a inauguração de Brasília, há uma festa em comemoração ao centenário da cidade. Para Elias Manoel, confundir as datas trata-se de um equívoco. “É um erro histórico compreensível. Quando se construiu Brasília, a referência era essa (lei). Em 1959, houve uma festa para celebrar os 100 anos do distrito de paz. Mas, para o surgimento do núcleo urbano (da atual Planaltina), consideramos 1811, com a doação de terras por fazendeiros locais para a construção da igreja”, completa o pesquisador.
 
 

"Tenho atuado com o objetivo de dar mais visibilidade para a cultura daqui, porque é muito rica. É a cidade do meu coração, que me acolheu" Rozeli Costa, 55, artesã

 

Futura capital
 
A Constituição Federal de 1891 — primeira da República — previa a reserva de uma área de 14,4 mil quilômetros quadrados no Planalto Central onde, futuramente, ficaria a capital do país. Em 1982, a Comissão Exploradora do Planalto Central, conhecida como Missão Cruls e liderada pelo astrônomo belga Louis Ferdinand Cruls, esteve no Planalto Central para delimitar os vértices que, hoje, marcam o DF.
 
A pedra fundamental que indica essa região foi instalada em 1922, em Planaltina. A cidade, no entanto, existia há mais de seis décadas. A partir da construção de Brasília, em 1956, o estilo de vida da cidade ganhou novos contornos. Mesmo com os traços deixados por Oscar Niemeyer e Lucio Costa perto dali, a arquitetura de Planaltina, marcada por casarões de adobe e o ar de cidade pacata, manteve-se durante muitos anos.
 
Nascido em Goiânia, o arquiteto Salviano Guimarães, 76 anos, cresceu na casa do avô, Salviano Monteiro Guimarães, cuja casa tornou-se o museu da cidade e cujo nome batiza a praça do Centro Histórico. Depois de passar anos estudando no Rio de Janeiro — e em outros países, como a Argélia, onde foi pupilo de Oscar Niemeyer — em 1975, ele voltou para a capital federal. Tornou-se professor da Universidade de Brasília (UnB), mudou-se para Planaltina e, hoje, além de ser proprietário de uma fazenda na cidade, é dono de uma casa vizinha ao museu, onde, por coincidência, cresceu a mulher dele, a professora universitária aposentada Maria Alice Guimarães, 74.
 
O casarão de adobe comprado pelo casal foi restaurado, mas mantém as características originais. Do mesmo modo que a história de Planaltina se entrelaça com a de Brasília, a de Salviano Guimarães se mistura a das duas cidades. “Tenho uma relação de amor com Planaltina. É a terra de meus pais, de meus avós. É onde me sinto bem. E é uma cidade que tem vida cultural”, ressalta.
 
Os empresários Manoel Davi Ramos Filho, 74, e a mulher dele, Maria Oneida Marques, 66, deixaram o município de Monte Carmelo (MG) para adotar a região administrativa como lar. Há cerca de 50 anos, eles se mudaram para a cidade na tentativa de ganhar a vida.  A escolha foi fácil. Manoel tem parentes em Planaltina, onde acabaram ficando. Hoje, donos de uma loja de itens variados aberta há 30 anos, na Avenida Marechal Deodoro, eles falam sobre a abertura de Planaltina para o comércio. “Minas Gerais é boa para morar, mas não para ganhar dinheiro. Foi difícil no início. Como éramos de fora, ninguém confiava. A gente tem de ser artista”, relata Manoel Davi.
 
Com dois filhos e três netos, eles reconhecem a importância da cidade, mas lamentam a falta de atenção por parte do governo para a solução de problemas. “Não penso em me mudar daqui. Mas ainda falta os governantes fazerem mais. Aqui é uma cidade histórica. Tenho esperança de que eles façam melhoras por aqui e e olhem mais para o povo, para que Planaltina possa evoluir”, cobra Maria Oneida.
 
 

"Tenho uma relação de amor com Planaltina. É a terra de meus pais, de meus avós. É onde me sinto bem. E é uma cidade que tem vida cultural" Salviano Guimarães, 76 anos, arquiteto, aluno de Oscar Niemeyer

 

Cultura
 
Até hoje, o setor agropecuário movimenta a economia de Planaltina. A cidade ficou em primeiro lugar entre as regiões administrativas do DF como a que mais produziu feijão, soja, pimentão, laranja, limão, maracujá, banana, leite, carne de frango, ovos e mel, em 2018, segundo dados da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal (Emater-DF). Mesmo assim, é o lado religioso que torna a cidade um atrativo para milhões de fiéis todos os anos, especialmente durante as folias e a famosa encenação da Via-Sacra, no Morro da Capelinha.
 
A particularidade de pulsar cultura não deixou as veias da cidade, onde centenas de atores, artesãos, pintores e outros artistas surgiram. Próximo à praça do Centro Histórico, onde a vida passa sem pressa, mora a artista Rozeli Costa, 55. De família católica e com o dom da arte — como ela mesma diz — a artesã conseguiu transformar o ofício da costura, exercido pela mãe, em um trabalho reconhecido, principalmente, durante a Festa do Divino Espírito Santo, celebrada em junho.
 
Desde 2006, Rozeli se dedica à produção de bandeiras para o evento anual ou para encomendas. Cinco anos depois, a artista expandiu a forma de trabalhar e passou a produzir estandartes. Ela diz que a paixão pela cidade para onde mudou-se aos 15 anos torna-se cada vez mais forte. “Comecei a trabalhar com as bandeiras por influência do passado, da infância. Tenho atuado com o objetivo de dar mais visibilidade para a cultura daqui, porque é muito rica”, ressalta Rozeli. “O que eu puder fazer em nome de Planaltina, eu faço. A cidade tem um espírito de confraternização. É a cidade do meu coração, que me acolheu”, completa.
 
Sócia-fundadora da Associação dos Amigos do Centro Histórico de Planaltina (AACHP), Simone dos Santos Macedo explica que a força da cultura regional tem capacidade de transformar a imagem da cidade. Ela acrescenta que atrativos tradicionais se mantêm em alta, ao mesmo tempo em que novas atividades ganham destaque. “Temos feito um trabalho com o viés de tirar Planaltina da imagem de cidade da periferia norte (do DF) e violenta. Fora a parte mais antiga, temos movimentos mais modernos. Há o Salão Mestre d’Armas, de artes contemporâneas; uma galera do rap e do grafite. Todos esses movimentos têm vindo com bastante força”, destaca.
 
Além disso, Simone menciona a resistência do Centro Histórico da cidade, a preservação ambiental na Estação de Águas Emendadas e o sincretismo religioso do Vale do Amanhecer. Ela cita  a perda de casarões, mas comenta que a “goianidade” não se perdeu. “O primeiro tesouro que a cidade guarda é o Centro Histórico, que insiste em se manter de pé. Ainda é possível chegar à praça dele e sentir que você está em uma cidade do interior, diferentemente de uma de concreto, certinha, como Brasília. As pessoas ainda se encontram na praça. E esse patrimônio cultural também é símbolo da história de Brasília”, finaliza Simone.
 
PROGRAME-SE
 
Hoje
Sessão solene em comemoração ao aniversário de Planaltina
Local: Centro Educacional 
Delta
Horário: 19h
 
23 de agosto
Samuzinho
Local: Praça do Estudante
Horário: das 8h às 13h
 
23 a 25 de agosto
Cruzada Evangelística
Local: Estacionamento Funções
 
24 de agosto
Copa Planaltina de Fisiculturismo
Local: Complexo Cultural
Horário: 16h
 
25 de agosto
1º Encontro de 2 e 4 Rodas
Local: Restaurante Comunitário
Horário: das 9h às 18h
 
27 e 28 de agosto
Festival de Curta-Metragem
Local: Centro Cultural Delta
 
31 de agosto
Encontro de Família
Local: Praça da Estância - 
Escola Classe 16 e CEI
Horário: das 8h às 12h
 
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Correio Braziliense domingo, 18 de agosto de 2019

A CIDADE PERDIDA

 

A cidade perdida
 
Fotógrafos têm explorado uma propriedade particular, em Pirenópolis, que conserva um conjunto de formações rochosas que lembram pirâmides, templos, estátuas, palácios, entre outras construções

 

» Renato Alves

Publicação: 18/08/2019 04:00

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Nada de cachoeiras ou casario em estilo colonial. Turistas de toda parte do Brasil têm adentrado uma propriedade particular em Pirenópolis para explorar e admirar formações rochosas. Batizado como Cidade Perdida dos Pirineus e mais conhecido como Cidade de Pedra, é o maior sítio do gênero no Brasil.
 
O complexo ocupa cerca de 500 hectares, o equivalente a aproximadamente 850 campos de futebol, duas vezes maior do que o Parque Nacional de Sete Cidades, no Piauí. Em arenito, as formações são do mesmo material da reserva piauiense. O terreno goiano tem 880 milhões, de acordo com pesquisadores.
 
O Correio acompanhou um grupo de oito fotógrafos profissionais e  amadores em uma incursão pela isolada Cidade de Pedra num fim de semana de lua nova. Como acampariam na propriedade no intuito de fazer fotos noturnas de um céu estrelado, dispensavam todo tipo de luz.
 
Sem estrutura para receber turistas, a Cidade de Pedra só deve ser visitada na companhia de um guia experiente. As trilhas em meio às rochas altas formam um labirinto. Não há córregos nem qualquer outra fonte de água. Tampouco sombra, pois predomina a vegetação rasteira.
 
Por tudo isso, é necessário levar bastante água para beber, alimentos e estar vestido adequadamente. Itens que elevam o peso a carregar e o cansaço na caminhada. O passeio pode durar de quatro a sete horas, a depender do ponto de partida e daquele que se pretende atingir.
 
Há acessos por Pirenópolis e Cocalzinho. Para quem mora em Brasília, a segunda opção é melhor. O dono do terreno não proíbe a entrada de ninguém, mas o visitante, além de estar com um guia, precisa seguir algumas regras, como não fazer fogo, não deixar lixo nem tirar nada, além de fotos.
 
Além de disposição, um certo preparo físico e cuidados, quem visita a Cidade de Pedra precisa de sensibilidade. As formações rochosas lembram diversas figuras e construções, como templos, ruas, praças, estátuas e palácios. Vale destacar duas pirâmides paralelas, sendo uma com cerca de 150 metros de altura.
 
A goianiense Eliane de Castro, 57 anos, estava no grupo integrado pelo Correio. Fotógrafa documentarista, ela ficou impressionada com a imensidão da reserva. “É um lugar que merece muitas visitas, para você assimilar, entender o tamanho e explorar o que tem de melhor”, destacou ela.
 
Autora de um livro sobre Goiás Velho, a primeira capital do estado, lançado ontem, ele pretende realizar outras visitas à Cidade de Pedra para confeccionar um livro sobre o lugar.
 
» Para saber mais
 
Primeiro registro é de 1871
 
Atrativo novo para muitos, a Cidade de Pedra foi descrita em 1871 pelo padre e médico naturalista François Henry Trigant des Genettes, que morou em Pirenópolis. Ele a chamou de Cidade Perdida dos Pirineus. “Trata-se de uma área cobrindo uma grande extensão de terreno, com muralhas para fortificações, largas ruas e praças, ruínas bastante erodidas de estátuas, templos gigantescos, teatros, palácios, residências e túmulos”, escreveu ele em carta ao imperador Dom Pedro II.
 
Esquecida durante anos, a formação geológica foi redescoberta pelo historiador goiano Paulo Bertran (1948-2005). Ele resgatou os relatos de François Genettes na Biblioteca Nacional no Rio de Janeiro e, após 21 anos, em 2004, com lupas, em fotografias aéreas da região conseguiu, mesmo sem GPS, localizar a região que o naturalista francês descreveu há mais de 130 anos.
 
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Correio Braziliense sábado, 17 de agosto de 2019

PETER FONDA MORRE, AOS 79 ANOS

 

Peter Fonda, 79, ator e cineasta
 
Eternizado como o motoqueiro que expõe uma América tensionada entre a Guerra do Vietnã e o pacifismo hippie, o irmão de Jane Fonda morre em casa, na Califórnia

 

Publicação: 17/08/2019 04:00

O ator reencarna Easy rider, 40 anos depois: ícone da contracultura (Max Nash/AFP - 5/7/09)  

O ator reencarna Easy rider, 40 anos depois: ícone da contracultura

 


O lendário rebelde sem rumo nem causa de Easy rider (filme de 1969, exibido no Brasil com o título Sem destino), montado em sua moto para cruzar os Estados Unidos de costa a costa, ao lado do amigo intepretado por Dennis Hopper, morreu ontem, aos 79 anos. “É com profundo pesar que compartilhamos a notícia. Peter morreu em paz, na manhã desta sexta-feira, em sua casa, em Los Angeles, cercado pela família”, diz o comunicado da família Fonda. “Enquanto lamentamos a perda desse  homem doce e gracioso, desejamos que todos celebrem seu espírito indomável e seu amor pela vida. Em homenagem a Peter, por favor, façam um brinde à liberdade.”

O motoqueiro de Easy rider, o papel que eternizou Peter Fonda, resume o retrato esboçado no comunicado da família, que tem três gerações inscritas na história de Hollywood. O pai, Henry, construiu uma carreira de sucesso entre as décadas de 1940 e 1970. A irmã, Jane, um dos rostos femininos mais festejados do cinema a partir dos anos 1960, acrescentou à carreira dramática incursões de sucesso como escritora e uma destacada atuação política. A filha Briget seguiu os passos e tornou-se também atriz de sucesso.

A família não mencionou a causa da morte. A revista de celebridades People informou que o ator sofria de câncer no pulmão e teria desenvolvido nos últimos anos uma insuficiência aguda.

Nascido em Nova York, em 1940, Peter Fonda destacou-se desde as primeiras atuações teatrais, na Broadway. No cinema, o primeiro papel principal veio em 1963, na comédia romântica Artimanhas do amor. Com seu maior sucesso, não apenas projetou-se como ator como recebeu uma indicação ao Oscar na categoria de roteiro adaptado. Marco da contracultura, o filme teve trilha sonora da banda de rock Steppenwolf e valeu uma indicação ao Oscar também para Jack Nicholson, como ator coadjuvante.

Peter voltaria a concorrer ao prêmio, como ator, em 1997, por O ouro de Ulisses — que lher rendeu um Globo de Ouro. Além de Bridget, ele deixa o filho Justin. Tinha dois filmes finalizados: o drama de guerra The last full measure, com lançamento previsto para outubro, e a ficção futurista Skate God, programado para julho de 2020.


“Desejamos que todos celebrem seu espírito indomável e seu amor pela vida. Em homenagem 
a Peter, façam um brinde à liberdade” 

Comunicado da família Fonda
 
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Correio Braziliense sexta, 16 de agosto de 2019

TAGUATINGA: MERCADO SUL É CULTURA

 

Mercado Sul é da cultura
 
Um dos principais polos artísticos do DF, o local será palco do Arraiá do beco, neste sábado. Conheça um pouco da luta e dos artistas que investem na economia criativa da cidade

 

» BRUNA LIMA

Publicação: 16/08/2019 04:00

Mercado Sul: patrimônio cultural taguatinguense, que luta para ser preservado (Vinicius Cardoso Vieira/Esp. CB/D.A Press)  

Mercado Sul: patrimônio cultural taguatinguense, que luta para ser preservado

 



As coloridas vias do Mercado Sul ganham ainda mais ritmo, cheiros, sabores e vida no próximo sábado. O tradicional Arraiá do Beco chega à 9ª edição trazendo muita música, artesanato, apresentações artísticas e comida boa na QSB 12/13, em Taguatinga Sul. A festa colaborativa, produzida pela comunidade, é expressão cultural, política e de economia solidária do complexo que, ao longo dos anos, trouxe novo significado para as edificações abandonadas do antigo centro comercial de Taguatinga (leia Entenda o caso).
 
O evento conta, desta vez, com um apelo político e de resistência cultural ainda maior. Por meio dele, a comunidade local quer chamar a atenção das autoridades para conseguir a concessão de uso das 14 lojas ocupadas desde 2015. O espaço estava abandonado há quase duas décadas, o que comprometia a segurança e a saúde pública. É o que afirma o mímico e educador Abder Paz, 32 anos, que há 13 anos mora, trabalha e milita no Mercado Sul.
 
“Eram locais lotados de lixo, bichos e com foco de dengue. Abrimos as lojas porque faltava espaço para os artistas se instalarem e produzirem, investindo na economia criativa. Cumpre-se, assim, um propósito social que antes não existia”, justifica.
 
O Coletivo Mercado Sul Vive, articulação que nasceu a partir da ocupação, recentemente moveu uma ação civil pública chamando o Governo do Distrito Federal (GDF) a se responsabilizar pelo projeto. Na segunda-feira (19), uma audiência de conciliação vai discutir a situação. “As autoridades reconhecem a importância do espaço como fomentador da cultura popular brasileira e, por isso, pedimos o apoio formal à causa. Esperamos que o GDF vá para essa audiência com um norte, valorizando esse espaço efervescente, que respira, vive e faz cultura em Taguatinga”, diz Abder.

Abder Paz:  

Abder Paz: "As autoridades reconhecem a importância do espaço como fomentador da cultura"

 


Juraci é vocalista e percussionista da banda Som de Papel, que se apresenta sábado
 (Vinicius Cardoso Vieira/Esp. CB/D.A Press)  

Juraci é vocalista e percussionista da banda Som de Papel, que se apresenta sábado

 


Virgílio com  André Luis: ateliês de artesanato que geram renda e emprego (Vinicius Cardoso Vieira/Esp. CB/D.A Press)  

Virgílio com André Luis: ateliês de artesanato que geram renda e emprego

 

 
Festa
 
O Arraiá do Beco ocorre todo ano em agosto e é uma edição especial da Ecofeira, evento mensal que nasce a partir da ideia de comercializar os produtos dos moradores locais da região. Sem apoio financeiro, a comunidade se sustenta com base na economia solidária, desde a produção de artesanatos à cultura, que resgata as raízes brasileiras, com ênfase nas matrizes africanas e nordestinas.
 
É da música que Juraci Moura, 45, tira o sustento dele e da família. Encontrou no Mercado Sul o polo para estudar, produzir e transmitir conhecimento artístico. “Faço meus instrumentos, vendo, toco, dou aula, oficinas e workshop. É meu estilo de vida, meu sustento, diversão. Minha liberdade veio por meio da música”, revela.
 
Juraci é vocalista e percussionista da banda Som de Papel, que se apresenta gratuitamente no sábado, ao lado de outros nove grupos (veja a programação completa). Todos os instrumentos de percussão são de produção dele, e o forro das peças é uma colaboração do trabalho de Virgílio Mota, 68, artesão que produz móveis e utensílios com papelão e sacos de cimento há 13 anos.
 
“Aqui a gente constrói junto, convive, sobrevive, luta um pelo outro. Isso aqui é uma família”, destaca Virgílio.
 
O artesão garante ter prazer no ofício, que divide com outros funcionários, como André Luis Salomão, 44. Na juventude, ele ficou entre a vida e a morte após ser atropelado por um ônibus e precisou encarar anos de reabilitação. Encontrou no Mercado Sul, ao lado de Virgílio, uma forma de reconstruir as próprias perspectivas. “Eu faço o acabamento dos instrumentos. Gosto muito da minha função, das pessoas e de tudo que o Mercado Sul é e faz.”


9º Arraiá do Beco 
Data: amanhã, 17 de agosto
Local: QSB 12/13 – Taguatinga Sul
Horário: das 15h às 23h
 
Atrações
» 15h Praça dos Mamulengos
» 16h Duo Ana Flor
» 17h Coral e Orquestra Experimental Voz Jovem
» 18h Baque Mulher BsB
» 18h Jongo do Cerrado (Palco Paralelo)
» 19h Raíz de Macaúba
» 20h Galeria Instrumental
» 21h Pé de Cerrado
» 22h Som de Papel
» 23h Forró do B.


Entenda o caso

Preocupação com a identidade


O Mercado Sul foi construído na década de 1950, sendo um dos primeiros centros comerciais do DF, e tinha como foco os candangos. O local funcionava como uma feira livre, com armazéns, armarinhos, açougues, lanchonetes. Com a chegada dos grandes supermercados, a área caiu no abandono e, nos anos 1980, se tornou um reduto da boemia, o que começou a atrair a classe artística.

Uma década depois, o Mercado Sul se firma como grande ponto cultural do DF, atraindo centenas de artistas e artesãos de todos os cantos. Em fevereiro de 2015, ocorreu a ocupação do espaço com a apropriação dos boxes ociosos pelos moradores e trabalhadores locais, que os utilizam para criação de ambientes de trabalho colaborativos e sustentáveis, como ateliês e cozinha comunitária.

A comunidade, em conjunto com o Coletivo Mercado Sul Vive, se empenham na missão de consolidar essa ressignificação do espaço como forma de geração de renda e preservação do patrimônio cultural brasileiro. Atualmente conta com ambientes artísticos, moradias, ateliês, oficinas, teatros e mais uma série de atividades.
 
Jornal Impresso
 

Correio Braziliense quinta, 15 de agosto de 2019

MARCHA DAS MARGARIDAS

 

MOBILIDADE
 
Manifestação trava o trânsito
 
Reivindicando políticas públicas voltadas para o campo, trabalhadoras rurais de todo o Brasil participaram da Marcha das Margaridas, entre o Pavilhão do Parque da Cidade ao Congresso Nacional, deixando o tráfego parado na área central

 

CAROLINE CINTRA
WALDER GALVÃO
CRISTIANE NOBERTO*

Publicação: 15/08/2019 04:00

Fila de veículos parados na via S1, em direção ao Congresso Nacional: transtorno durante toda a manhã (Ed Alves/CB/D.A Press)  

Fila de veículos parados na via S1, em direção ao Congresso Nacional: transtorno durante toda a manhã

 



Congestionamentos e acidentes marcaram a ida para o Plano Piloto na manhã de ontem. A Marcha das Margaridas interditou a via S1 do Eixo Monumental e causou transtornos para quem tentava acessar a área central de Brasília. Apesar de a manifestação ter sido programada com antecedência, as forças de segurança não conseguiram diminuir os impactos no tráfego, que continuou confuso pela tarde, mesmo após o fim do ato.

Com o bloqueio do Eixo Monumental, houve congestionamento até Águas Claras. No balão do Aeroporto Internacional de Brasília, na Estrada Parque Indústrias Gráficas (EPIG) e no Sudoeste, motoristas enfrentaram lentidão.

Às 9h, em frente à Torre de TV, as manifestantes organizaram a caminhada em três faixas da S1, o que permitiu a circulação de automóveis nas outras três pistas da via. Por volta das 9h50, elas alcançaram o gramado em frente ao Senado e à Câmara dos Deputados, onde discursaram e, às 12h10 encerraram o ato.

Por meio de nota oficial, a Secretaria de Segurança Pública informou que divulgou amplamente, nos dois dias anteriores ao evento, orientações para os motoristas evitarem a área central no período da marcha, com indicações de vias alternativas. Porém, uma das dificuldades da edição deste ano, segundo a pasta, foi o alojamento das participantes da marcha ser no Parque da Cidade, o que as levou a passar pela via S1, a caminho da Esplanada dos Ministérios.

No entanto, as medidas foram insuficientes. Morador de Águas Claras, o empresário Fernando dos Reis Martins, 42 anos, demorou uma hora para chegar ao trabalho, na Feira dos Importados. O trajeto costuma ser feito em menos de 30 minutos de carro. Dono de três lojas de aparelhos eletrônicos, ele contou que todos os funcionários chegaram atrasados.

Morador de Taguatinga Sul, o técnico em eletrônicos Lucas Alexandre Silva Rosa precisava chegar ao trabalho, no Setor de Indústria e Abastecimento (SIA), às 9h. Mas, por causa do trânsito, chegou mais de 30 minutos depois. “A chave da loja fica comigo e, por isso, demorou para abrir. Por causa dessa desorganização no trânsito, o estabelecimento perdeu dinheiro”, reclamou.

Acidentes
Por volta das 9h30, próximo ao Hospital Regional da Asa Norte (Hran), no Eixão, quatro veículos se envolveram em colisão. Três pessoas ficaram feridas, incluindo uma criança de 7 anos. Os carros ficaram danificados, mas as vítimas apresentaram ferimentos leves e foram socorridas pelo Corpo de Bombeiros e levadas ao Hospital de Base.

Por causa do tráfego intenso, os bombeiros não conseguiam chegar ao local do acidente e precisaram acionar um helicóptero da corporação. Mas, como as vítimas estavam conscientes e estáveis, a aeronave não precisou pousar. A criança precisou de atendimento médico porque estava na cadeirinha e com o impacto foi impulsionada para frente. Mesmo sem marcas aparentes de machucados, os militares informaram que ela passaria por avaliação. Para socorrer as vítimas do acidente, o Eixão, no sentido Norte, precisou ficar totalmente bloqueado para os veículos. No sentido Sul, apenas uma faixa ficou liberada. Por causa disso, o trânsito, que já estava pesado, ficou ainda pior.

Também por volta das 9h30, a situação se repetiu na Estrada Parque Taguatinga (EPTG), onde um carro e um caminhão colidiram próximo ao viaduto da Estrada Parque Indústria e Abastecimento (Epia), complicando o fluxo de veículos. O trecho ficou parcialmente interditado, mas, como não houve vítimas, foi liberado pouco tempo depois. Ainda pela manhã, outros acidentes sem gravidade aconteceram no Buraco do Tatu, sentido Sul, e na Vila Telebrasília, na L4 Sul, causando mais congestionamentos.

Planejamento
Para o especialista em trânsito David Duarte Lima, falta planejamento no tráfego do DF. Ele diz que, para controlar e minimizar os congestionamentos em dia de manifestação, deve ser feita uma simulação antes do evento. “Os dados mais importantes o governo têm, que são os horários que mais passam carros em determinada região. E, como os protestos são marcados com antecedência, eles conseguem estimar até o público que estará presente. Fazendo isso, não garanto que não haverá mais desconforto para os brasilienses, mas pode minimizar os transtornos”, ressalta.

Duarte destaca que informativos em letreiros luminosos podem ajudar ainda mais os motoristas. “O ideal é colocar na saída das cidades, como Gama, Sobradinho, Estrutural, informações como ‘Se você vai para o Buriti, siga pela Epia”, por exemplo. “É orientar as pessoas. Como estamos no centro da capital, onde estão instalados todos os poderes do país, é normal que ocorram manifestações, mas elas não podem interferir tanto na rotina dos demais brasilienses”, completa.

* Estagiária sob supervisão de Renato Alves





Força Nacional
A pedido do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), o ministro da Justiça, Sérgio Moro, determinou o uso da Força Nacional para proteção da área da Esplanada dos Ministérios, ontem. A solicitação também foi feita para as manifestações pela educação e contra a reforma da Previdência que aconteceram terça-feira, na área central de Brasília. Em nenhuma delas houve confronto ou qualquer ocorrência grave.




"Como estamos no centro da capital, onde estão instalados todos os poderes do país, é normal que ocorram manifestações, mas elas não pode interferir tanto na rotina dos demais brasilienses"

David Duarte Lima, especialista em trânsito



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Correio Braziliense quarta, 14 de agosto de 2019

AÇÃO PRENDE 46 MEMBROS DE FACÇÃO BRASIENSE

 

CRIME
 
Ação prende 46 membros de facção brasiliense
 
A organização Comboio do Cão (CDC), considerada a maior do Distrito Federal, tem envolvimento em 24 homicídios, 420 ocorrências, além de tráfico de drogas, roubo de veículos, comércio ilegal de armas e lavagem de dinheiro. Também há conexões no exterior

 

» ALEXANDRE DE PAULA

Publicação: 14/08/2019 04:00

Segundo a investigação da Polícia Civil, a atuação da organização criminosa é marcada pela violência: assassinato em porta de fórum (Alexandre de Paula/CB/D.A Press)  

Segundo a investigação da Polícia Civil, a atuação da organização criminosa é marcada pela violência: assassinato em porta de fórum

 

 
Quarenta e seis membros da maior facção criminosa do Distrito Federal foram presos ontem em operação da Polícia Civil. O alvo são líderes e integrantes do Comboio do Cão (CDC), organização investigada por, pelo menos, 24 assassinatos, além de tráfico de drogas, lavagem de dinheiro e outros delitos marcados pela violência. O grupo atua também no sistema carcerário do DF e estava envolvido em 420 ocorrências registradas em seis anos.

A operação, batizada de Rosário, em referência ao costume religioso usado para afastar demônios, é um trabalho conjunto da Coordenação de Repressão a Homicídios e de Proteção à Pessoa (CHPP), com as promotorias de Justiça do Riacho Fundo e do Recanto das Emas e o Núcleo de Controle e Fiscalização do Sistema Prisional (Nupri). A investigação começou com base em série de homicídios com os quais a facção tinha envolvimento. Os assassinatos mantinham relação com disputas por território com outros grupos criminosos. A partir disso, a investigação seguiu com uso de medidas cautelares sigilosas de inteligência, autorizadas pela Justiça do DF, que permitiram coletar dados e provas sobre os crimes praticados.

A facção disputa o tráfico em quase todo o DF, pratica roubos de veículos e comércio ilegal de armas. Segundo a apuração da Polícia Civil, as ações eram marcadas por violência e pelo uso de forte armamento, como pistolas que permitem tiros de rajada. Diversos homicídios foram cometidos pelo CDC, em geral em decorrência de desentendimentos com outros criminosos. Além disso, a organização mantém conexões no exterior. O grupo rouba veículos, que são adulterados e levados para o Paraguai. Lá, são trocados por drogas — sobretudo maconha — que abastecem o DF e o Entorno.

Nos últimos anos, o CDC também se envolveu em crimes graves praticados na porta de fórum e cadeias da capital federal. Em 2016, um homem foi executado com 30 tiros em frente ao Fórum de Santa Maria. O tio da vítima foi morto, dias depois, com 50 disparos. Segundo a investigação, o grupo também tem ligação com a prática de rufianismo — quando se aproveita de prostituição alheia para obter lucros. Nesse ramo, a atuação ocorria em Taguatinga Sul. O local passou a ser utilizado no esquema de cobrança de taxas de garotas de programa e travestis. A facção teve envolvimento no assassinato de uma travesti na região em 2017.

Apesar das prisões de ontem, o principal líder do grupo criminoso fora dos presídios, William Peres Rodrigues, continua foragido. Ele é procurado pela Polícia Civil, que espera contar com denúncias para localizar o paradeiro dele. Conhecido como Wilinha, o criminoso tem histórico de uso de documentos falsos e mudanças de aparência.
 
Nos presídios
 
Mesmo preso desde 2017 por tráfico de drogas (leia Memória), um dos principais líderes da facção é Fabiano Sabino Pereira, o FB. Ele seria responsável por comandar as ações de dentro da prisão, com o auxílio de familiares e advogados. “Eles trabalham de maneira similar ao que fazem as maiores facções do país, como o PCC”, explica o delegado da CHPP Thiago Boeing. O CDC é a única organização criminosa nascida na capital federal, mas há registros de atuação do PCC e do Comando Vermelho no DF.

No presídio, o CDC ganhou força e controlava atividades de tráfico e de jogos de azar, de acordo com as investigações da Polícia Civil. O grupo tem um estatuto que regulamenta as práticas dos integrantes e estabelece julgamentos e punições a quem se opuser ao CDC ou aos membros. Existe a suspeita de que estejam envolvidos no esquema servidores públicos, como agentes penitenciários e policiais do DF e de Goiás. As investigações nesse sentido devem continuar.

Para sustentar as atividades, a facção se valia de uma complexa rede de lavagem de dinheiro. O esquema é alvo de um inquérito próprio e peça fundamental para desmantelar a organização criminosa, segundo a Polícia Civil. A Operação Rosário determinou o sequestro das contas bancárias de 60 pessoas, além da apreensão de 17 veículos e 11 imóveis.

As investigações mostraram atividades financeiras e padrões de vida de membros da facção incompatíveis com a renda formal deles. Para lavar o dinheiro, o grupo investia em compras de veículos e imóveis. Eles utilizaram uma rede de familiares e de pessoas próximas, usadas como laranjas para esconder a origem criminosa dos valores.

Os ganhos e a eficácia na lavagem de dinheiro permitiam à facção estrutura complexa e acesso a equipamentos de alta qualidade, como pistolas sofisticadas e drones. Segundo o delegado Thiago Boeing, a apuração focada na lavagem de dinheiro é fundamental para desestabilizar o CDC. “Eles conseguem ter todo esse domínio de dentro da cadeia porque há uma estrutura fora montada, sustentada com esses recursos financeiros”, detalha.

O delegado-chefe da Coordenação de Repressão a Homicídios e de Proteção à Pessoa, Fernando Cesar Costa, explica que a Operação Rosário faz parte de uma mudança de metodologia da CHPP.  “Nós sabemos que grande parte dos homicídios que ocorrem no DF estão vinculados à atuação de grupos criminosos voltados, sobretudo, para o tráfico e para grandes roubos. Dentro dessa lógica, nós passamos a agrupar os inquéritos e analisá-los sob a ótica de atuação de um grupo organizado”, pontua.

As novas provas colhidas permitiram a reabertura de 14 inquéritos de homicídios e tentativas cuja autoria era desconhecida.


Memória

Violência
 
Em 2017, dois líderes da facção foram presos durante a Operação Líder da Matilha. À época, Fabiano Sabino Pereira, o FB, era réu em quatro processos, sendo três por porte ilegal de arma. Ele continua a chefiar a quadrilha. Além dele, foi preso Flávio Pereira da Silva, que respondia a 27 inquéritos policiais por crimes como furtos, roubos e tentativas de homicídio. Com eles, foram encontrados 155kg de maconha, uma pistola Glock 9mm com seletor de rajada, quatro carregadores e mais de R$ 3 mil em dinheiro. À época, a investigação destacava a forma violenta como a organização agia e a maneira fria como eliminava desafetos.


Balanço

46
Mandados de prisão
cumpridos na operação
 
 
420
Ocorrências relacionadas à facção
 
 
209
Inquéritos com envolvimento
de membros do grupo
 
 
60
Contas bancárias sequestradas por ligação com o CDC
 
 
50kg
Quantidade estimada
de maconha apreendida
 
 
3
Armas encontradas
com suspeitos na operação
 
Jornal Impresso
 
 

Correio Braziliense terça, 13 de agosto de 2019

HERMETO PASCOAL: BRUXO ENCANTADOR

 

Bruxo encantador
 
Em entrevista ao Correio, multi-instrumentista fala da carreira, de instrumentistas parceiros e ensina: "A técnica é algo que o músico precisa ter"

 

» Irlam Rocha Lima

Publicação: 13/08/2019 04:00

 (Paulo Rapoport/Divulgação)  
 
Aos 83 anos, Hermeto Pascoal mantém uma memória privilegiada. Da mesma forma que fala com detalhes sobre a conquista do Grammy Latino em 2018, lembra de fatos ocorridos no começo da carreira, na Rádio Jornal do Comércio, em Recife, no final da década de 1960. Com impressionante vitalidade, e sempre jovial, ele cumpre uma recheada agenda de compromissos, no Brasil e no exterior.
 
Genial improvisador, o multi-instrumentista albino, nascido em Lagoa da Canoa (AL), costuma tirar som tanto de instrumentos convencionais — ele toca piano, acordeon, flauta e saxofone — quanto de objetos diversos, que tanto pode ser bacia, chaleira ou a queixada de algum animal. E até mesmo do corpo. Da discografia do artista constam mais de 30 títulos.
 
Os mais recentes são No mundo dos sons — álbum gravado com uma big band — que o levou a ser premiado no Grammy, na categoria latim-jazz, em 2018; e o Hermeto Pascoal e sua visão original do forró, com 17 faixas, gravado em Recife há 20 anos, que tem Alceu Valença como um dos convidados, que saiu no ano passado.
 
No fim de junho, Hermeto foi agraciado pela Universidade Federal da Paraíba com o título de doutor honoris causa. A mesma condecoração lhe foi atribuída em 2017 no New England Conservatory de Boston (Estados Unidos). São honrarias que recebe sem maiores alardes, até porque, modestamente, não se considera merecedor.


>> entrevista Hermeto Pascoal

Mestre, o que faz para manter a vitalidade aos 83 anos?
Tenho que manter a diabetes controlada e só não como doce. Mas não dispenso, por nada, uma boa carne de sol com macaxeira, ou uma picanha no ponto. Mas cuido bem do corpo. Até porque eu uso ele também como um instrumento.
 
O público que assiste a seus shows fica sempre na expectativa 
de, após a apresentação, o senhor descer do palco para 
segui-lo num cortejo. Mas no domingo, aqui 
em Brasília isso não ocorreu. Por quê?
Costumo fazer isso sim, inclusive já fiz em outros show em Brasília. Desta vez não deu porque era um festival e tinha outras coisas acontecendo. A apresentação não poderia ultrapassar 1h30 de duração.
 
Lembra quando tocou na capital pela primeira vez?
Apresentações em Brasília são fatos importantes em minha carreira. Estive na capital, por exemplo, na inauguração, com o regional do Pernambuco do Pandeiro. Naquele dia toquei na Praça dos Três Poderes e no Palácio da Alvorada. Mas já fiz shows em vários lugares, como na Concha Acústica. Mas o lugar onde mais me apesentei foi no Clube do Choro.
Foi Pernambuco do Pandeiro quem o acolheu, quando deixou Recife e foi morar no Rio de Janeiro?
Já conhecia o Pernambuco quando cheguei ao Rio, no final da década de 1950. Ele tinha um regional e era contratado pela Rádio Mauá. Comecei na música em Alagoas, mas a profissionalização veio na Rádio Jornal do Comércio, em Recife. Lá tocava também na boate Delfim Verde, com o meu compadre Heraldo do Monte. Fiquei em Recife uns seis anos, com passagem pela Rádio Tabajara, de João Pessoa.
 
Mas você se tornou conhecido ao integrar o Quarteto Novo, 
em São Paulo. Que lembrança guarda daquele período?
Havia uma efervescência artística em São Paulo, para a qual contribui de forma decisiva, os festivais de música. Existia o trio formado por Heraldo do Monte (contrabaixo), Théo de Barros (violão) e Airto Moreira (bateria). O Théo foi parceiro de Geraldo Vandré em Disparada, música que empatou em Primeiro lugar com A banda, de Chico Buarque, no Festival da Record de 1966. No ano seguinte passei a integrar o grupo, que acompanhou Edu Lobo e Marília Medalha em Ponteio, no festival de 1967. O quarteto Novo gravou apenas um disco.

Seu primeiro disco solo, o A música livre de 
Hermeto Pascoal. Poderia falar sobre ele?
É um disco raro, hoje muito procurado na internet. Nele registrei minhas primeiras composições, músicas como Arrasta pé alagoano, Chorinho pra ele, Forró Brasil, Pimenteira e Pintando o sete.
 
Lembra quantos discos já lançou?
Foram pelo menos 30. Não sei ao certo. Meu filho Flávio, que mora em São Paulo e é meu empresário, tem tudo isso certinho. Costumo gravar de três em três anos.
 
No período em que morou no Paraná, qual foi a produção?
A fase de Curitiba foi maravilhosa. Lá conheci Aline Morena, e mesmo com a diferença de idade, vivemos juntos por mais de 10 anos e tivemos ótima relação. Com ela, lancei o CD Chimarrão com rapadura. Nos separamos, mas mantivemos uma forte amizade. Ela sempre está em contato comigo.
 
No mundo dos sons, de 2017, o levou a 
conquistar 
o Grammy Latino no ano passado. 
Que importância 
atribui a esse prêmio?
Essa é uma premiação internacional muito importante. Gravei o disco com uma big band maravilhosa, sob a regência de André Marques, música do meu grupo e fomos premiados na categoria melhor álbum de jazz latino. Minha carreira no exterior passou a ser ainda mais bem-avaliada.
 
No seu processo criativo o que prevalece, a técnica ou a intuição?
Para criar, me deixo levar pela intuição. Não faço nada premeditado, seja em estúdio, seja no palco. Obviamente, utilizo a técnica, mas o que prevalece é a improvisação. A técnica porem é algo que o musico precisa ter
 
Referência e fonte de inspiração para músicos 
de várias erações, o que busca passar para eles, 
quando 
os têm em sua companhia?
Uma coisa básica que passo para eles é evitar repetir o que faço. Isso foi seguido tanto por Itiberê Zwarg, Carlos Malta e Jovino Neto, que foram da minha banda e hoje são músicos consagrados; como para os irmãos Hamilton de Holanda e Fernando César, que conheci ainda adolescentes; e Gabriel Grossi, todos talentosíssimos. Participei, em Brasília, da gravação do DVD de Gabriel, gaitista de nível internacional.
 
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Correio Braziliense segunda, 12 de agosto de 2019

PAN-AMERICANO: BALANÇO MOSTRA SALDO POSITIVO

 

JOGOS PAN-AMERICANOS
 
Balanço mostra saldo positivo
 
Com ouro de Mayra Aguiar no judô, Brasil encerra participação com recordes e conquistas de vagas olímpicas

 

Publicação: 12/08/2019 04:00

 
A bicampeã mundial Mayra Aguiar venceu a cubana Kaliema Antomarchi no golden score da final (Luis Acosta/AFP
)  

A bicampeã mundial Mayra Aguiar venceu a cubana Kaliema Antomarchi no golden score da final

 





Mayra Aguiar estava entre as favoritas do Brasil para a disputa dos Jogos Pan-Americanos de Lima e cumpriu o previsto. Ontem, no último deia de competições, ganhou o ouro no judô — categoria até 78kg. Foi um título inédito na carreira da atleta, que tinha três medalhas nesta competição: prata, em 2007 e 2015, e bronze, em 2011.

Na final, Mayra superou com muito esforço a cubana Kaliema Antomarchi no golden score. Na campanha vitoriosa em Lima, ela também passou pela venezuelana Karen Leon e pela norte-americana Nefeli Papadakis.

A atual líder do ranking internacional, Mayra Aguiar é bicampeã mundial (2014 e 2017) e acumula medalhas nas últimas duas Olimpíadas (Londres-20012 e Rio-2016). No encerramento do judô no Pan, o Brasil subiu ao pódio mais duas vezes ontem. Beatriz Souza (categoria +78kg) e David Moura ( 100kg) ganharam a medalha de bronze.

No balanço da participação brasileira no evento, o resultado é positivo. O país quebrou o recorde de pódios e medalhas de ouro e encerrou a competição em segundo lugar no quadro geral, atrás apenas dos Estados Unidos, repetindo o feito de 1963, em São Paulo. Além disso, o Brasil garantiu vagas nos Jogos Olímpicos de Tóquio-2020 no handebol (feminino), hipismo, tiro com arco, tênis de mesa, tênis, pentatlo e vela.

A última vaga olímpica foi obtida, ontem, no tiro com arco. O brasileiro Marcus Vinicius D’Almeida conquistou a medalha de prata na prova individual masculina do arco recurvo. O resultado inédito classificou o Brasil para os Jogos de Tóquio 2020. Até a competição na capital do Peru, o país havia faturado cinco medalhas de bronze na modalidade na história do evento esportivo.

A natação foi a modalidade que colecionou os melhores resultados para o Brasil. Foram 30 medalhas em cinco dias de competição: 10 ouros, nove pratas e 11 bronzes. Os números marcaram a campanha mais expressiva do time brasileiro na modalidade na história dos Jogos Pan-Americanos.

O basquete feminino também alcançou uma façanha. Depois de 28 anos, a Seleção Brasileira conquistou o ouro nos Jogos Pan-Americanos, com vitória na final sobre os Estados Unidos, por 79 x 73. O técnico José Neto tem menos de um mês de trabalho no comando da equipe nacional. O Brasil não chegava ao lugar mais alto do pódio desde Havana-91, quando Fidel Castro se encantou com o talento da geração de Paula e Hortência, que três anos depois conquistaria o Campeonato Mundial.



“Sinto que o ouro não veio por muito pouco. Vim para essa competição com dois objetivos: bater o recorde brasileiro e conquistar a vaga olímpica. Consegui ambos. E ainda veio essa medalha de prata inédita. Estou muito feliz em escrever essa história”
Marcus Vinicius D’Almeida, atleta do tiro com arco
 
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Correio Braziliense domingo, 11 de agosto de 2019

FRANCIS HIME: COMEMOREMOS A VIDA

 

Comemoremos a vida!
 
Francis Hime prepara disco de inéditas para celebrar os 80 anos e chama parceiros, como Chico Buarque, para cantar juntos

 

Irlam Rocha Lima 

Publicação: 11/08/2019 04:00

Com o compadre e parceiro Chico Buarque na gravação de Laura

 (Nana Moraes/Divulgação)  

Com o compadre e parceiro Chico Buarque na gravação de Laura

 

 
 
Em 1984, o Brasil vivia os estertores da ditadura militar, quando Chico Buarque e Francis Hime fizeram Vai passar, a última composição desses parceiros, que escreveram juntos algumas das mais belas páginas da música popular brasileira. Trinta e cinco anos depois, no momento em que o país vive tempos de intolerância, os dois voltaram a se encontrar e no estúdio da Biscoito Fino, onde Chico gravou Laura, bela canção de Francis, com letra da mulher Olívia.
 
Laura é uma das faixas do álbum que Francis lança em outubro, como parte da celebração de seus 80 anos (dia 31). O repertório de músicas inéditas traz parcerias do compositor e pianista carioca com Paulo César Pinheiro, Hermínio Bello de Carvalho, Geraldo Carneiro, Bráulio Pedroso, Adriana Calcanhotto e Ana Terra.
 
De acordo com Francis, Laura é um tema antigo, que ele recolheu do baú. Em seguida Olívia colocou a letra. Depois de pronta, ele decidiu convidar Chico para gravá-la. A última vez que eles estiveram lado a lado foi em 1997, também em estúdio, quando Chico registrou a voz em Sem mais adeus (Francis Hime e Vinicius de Moraes) para o CD Álbum musical, que teve a participação de convidados.
 
A parceria de Francis e Chico teve início de 1972. A primeira música em que juntaram os talentos foi Atrás da porta, transformada por Elis Regina num clássico instantâneo. Depois vieram outras que hoje fazem parte da enciclopédia da MPB, como A noiva da cidade, Embarcação, Meu caro amigo, Passaredo, Pivete e Trocando em miúdos.
 
O novo álbum sucede a Navega ilumina, de 2014 (também de músicas inéditas). Três anos depois, ele lançou o livro Trocando em miúdos — As minhas canções, em que detalha o seu processo de criação. Pela publicação, foi indicado para o Prêmio Jabuti de Literatura, na categoria Artes. Essa é mais uma forma de expressão artística que Francis também se destaca.
 
 
 
Entrevista/Francis Hime
 
 

"Meus 80 anos estão sendo devidamente comemorados com muitos eventos já que a música é um combustível inigualável de nos trazer sentimentos" Francis Hime

 

 
Como é chegar aos 80 anos de maneira tão produtiva?
Meus 80 anos estão sendo devidamente comemorados com muitos eventos ,já que a música é um combustível inigualável de nos trazer sentimentos. Eles nos levam a uma frase frequentemente usada pelo meu querido parceiro, o agora imortal, Geraldo Carneiro: “Comemoremos a vida!”
 
 
Geraldo Carneiro se tornou seu parceiro mais frequente?
Geraldinho e Olivia, atualmente, são meus parceiros mais constantes. Eles estão presentes nesse novo disco com a inédita Samba funk, um samba rasgado, que gravei com um supertime de músicos, como Jessé Sadock e Marcelinho Martins. O samba tem uma letra interessantíssima, que foi musicada por mim.
 
 
Quem são seus outros parceiros nesse trabalho?
Conto com parceiros talentosíssimos, como Ana Terra, Thiago Amud e Tiago Torres da Silva, poeta português, amigo querido, com quem compus alguns fados. E, claro, há ainda Adriana Calcanhotto e Paulo César Pinheiro, parceiros de longa data. E Olivia, claro, minha parceira de vida e de música, com quem, por sinal, compus Laura, feita em homenagem a nossa netinha de 2 anos de idade, cantada lindamente por Chico Buarque.
 
 
Como foi o reencontro, em estúdio com o Chico?
Sempre fomos amigos e vai aqui uma peculiaridade: sou também compadre do Chico, uma vez que ele é padrinho de Luiza, minha terceira filha, que, por sua vez, é madrinha de Laura. De modo que tem tudo a ver, ele ter participado do disco, cantando Laura.
 
 
O que mais pode adiantar sobre esse projeto?
Estou muito, muito feliz com o disco, para o qual convidei pessoalmente alguns amigos queridos, tais como Chico, Lenine, Adriana. Vou guardar algumas surpresas (que são muitas!) para quando o disco sair pela Biscoito Fino, no fim de outubro.
 
 
Além do CD de inéditas, o que vai fazer parte da celebração?
Sigo planejando algumas ações ligadas à celebração dos meus 80 anos. Estou preparando um concerto com a Jazz Sinfônica para novembro. Vou ser o homenageado do ano no Festival Villa-Lobos. Nesse evento, vai ocorrer a estreia carioca do meu concerto para harpa e orquestra, que acaba de ser apresentado no Festival de Campos de Jordão, sob regência do maestro João Galindo, em um espetáculo memorável. No festival, também me apresentei com Olívia cantando algumas canções de nossos repertórios.
 
 
Pelo visto, é muita comemoração?
Como você constata, são altas comemorações pelos meus 80 anos, que culminará em 31 de agosto. Sabe onde estarei naquele dia, data do meu aniversário? No palco, com Olivia, fazendo o Trocando em miúdos — As minhas canções, um espetáculo baseado no livro que lancei, no qual detalho o meu processo de composição, e que me deu muitas alegrias, inclusive uma indicação, ano passado ao Jabuti, maior prêmio literário do Brasil. Por sinal, sempre gostei de trabalhar em datas de meus aniversários. É mais divertido!
 
Jornal Impresso
 
 

Correio Braziliense sábado, 10 de agosto de 2019

AABR E ASBAC: DOIS CLUBES, MILHARES DE HISTÓRIAS

 


Um lugar (bem) especial
 
Clubes como AABR e Asbac criam ambiente ideal para momentos de bem-estar e qualidade de vida para os associados

 

» ALAN RIOS
» DARCIANNE DIOGO*

Publicação: 10/08/2019 04:00

Ana Lúcia relembra momentos marcantes que passou na Asbac (Vinicius Cardoso Vieira/Esp. CB/D.A Press)  

Ana Lúcia relembra momentos marcantes que passou na Asbac

 


Piscina olímpica da Asbac (Vinicius Cardoso Vieira/Esp. CB/D.A Press)  

Piscina olímpica da Asbac

 


AABR e o cartão-postal do Lago Paranoá (Ana Rayssa/CB/D.A Press)  

AABR e o cartão-postal do Lago Paranoá

 


Asbac: lazer e esportes na beira do lago (Vinicius Cardoso Vieira/Esp. CB/D.A Press)  
Asbac: lazer e esportes na beira do lago
Churrasqueira na AABR (Ana Rayssa/CB/D.A Press)  

Churrasqueira na AABR

 



Ir ao clube. O ato é simples, mas está carregado de um simbolismo enorme: significa ter um dia de lazer, bem-estar e descanso de uma forma que poucos lugares oferecem. “O próprio fato de arrumar as coisas para ir, traz uma memória afetiva muito bacana. Lembro-me de quando era criança, meus pais perguntavam ‘vamos ao clube?’, e eu ficava toda empolgada. Sou feliz em saber que meus filhos também são assim, porque eles têm um lugar que representa essa diversão saudável, a céu aberto, com brinquedos, piscina, o tobogã e tudo que é ideal para nossa infância. E isso é ótimo para a família”, afirma Fabiana Borges, 42 anos, sócia da Associação Atlética Banco de Brasília (AABR).
 
Outro clube que provoca essa sensação é a Associação dos Servidores do Banco Central (Asbac). Fundado em janeiro de 1966, com o objetivo de dar suporte social e financeiro à comunidade do Banco Central do Brasil, a Asbac está instalada em todo o país, inclusive na capital, e, hoje, recebe sócios variados. São mais de 2 mil associados, que desfrutam de uma área de 160 mil metros quadrados, com  a beleza do Lago Paranoá e o verde das árvores, no Setor de Clubes Sul.
 
A Asbac é próxima da AABR. Aberto para funcionários do Banco de Brasília e público externo, a AABR tem como identidade ser um lugar acolhedor para quem quiser confraternizar. O espaço possui piscinas aquecidas, quadras esportivas, gramado para banho de Sol à beira do Lago Paranoá e 15 churrasqueiras, entre outras instalações. Presidente da associação, Marcus Alencar diz que trabalha em um espaço especial, palco de momentos que ficam na memória familiar.
 
“O hábito de ir ao clube traz muita felicidade e saúde. Quando vejo um pai levando um filho para jogar bola, bato palma. Porque falta isso hoje em dia, essa interação entre a família. Tanto é que temos um campeonato há 21 anos que é com pais e filhos. Porque uma coisa é a pessoa só deixar a criança na quadra e ir embora, e outra é a família estar junta se divertindo. Isso é essencial”, afirma Alencar.
 
Fabiana é prova viva disso. Mineira, ela morava em Uberaba antes de se mudar para Brasília com o marido, e teve como uma das primeiras paixões na capital: a AABR. Logo que chegou ao Distrito Federal, em 2009, se tornou sócia: “Há 10 anos, minha história foi se consolidando, aqui no DF, dentro do clube. Meu marido também passou a amar a associação, tivemos nossos filhos e todos nós temos dias especiais nele. Vamos juntos, ele joga bola, meus filhos curtem a piscina e eu relaxo e me divirto também”, conta a bancária.
 
Ela também acredita que o clube é um ambiente único, porque proporciona momentos de confraternização. “Meus filhos ficam a semana toda perguntando se vamos ao clube no sábado ou domingo. Com certeza, no futuro eles vão lembrar que tiveram uma boa infância ao lado da família por conta desses dias. Eu moro em condomínio que tem opções de lazer, mas não é a mesma coisa que um clube. As crianças precisam de um espaço para socializar com outros pequenos”, destaca ela.
 
Quem frequenta a AABR pode encontrar opções de lazer para deixar o emocional e físico em paz. É isso que acredita Bruno Nunes, 27. Ele se associou em 2014, quando entrou para o Banco de Brasília, e achou que não iria ser um sócio ativo. “Pensei em ir vez ou outra, mas, com o passar do tempo, fui gostando muito de frequentar. Hoje, falo até que é mais fácil eu cancelar meu plano de saúde do que minha associação”, brinca. Morador de Sobradinho, Bruno coloca na balança a distância da casa para o clube de um lado e todos os benefícios de outro nem fica com dúvida: “Os pontos positivos são tantos que nem é uma dificuldade me locomover para lá”.
 
O bancário utiliza o clube todos os domingos e até alguns dias da semana, para descansar do cansaço do cotidiano. Na AABR, ele fez amizades de todas as idades, sem restrições, e encontra um ambiente totalmente agradável. “A minha qualidade de vida melhorou muito depois que me associei. É fundamental ter uma atividade para se movimentar, manter o corpo ativo, como o futebol que eu jogo. Ainda mais quando fazemos isso em contato com a natureza”, explica. E não é só a cabeça que ganha, o corpo também: “Até psicologicamente me sinto melhor, porque, às vezes, a gente está estressado do trabalho, mas vai para a beira do Lago Paranoá, bebe uma cerveja, fica com os amigos e isso muda tudo”, conta.

Bruno Nunes:  

Bruno Nunes: "É mais fácil eu cancelar meu plano de saúde do que minha associação"

 


Cristiane Baldo e a filha Karina sempre fazem churrasco no clube (Ana Rayssa/CB/D.A Press)  

Cristiane Baldo e a filha Karina sempre fazem churrasco no clube

 


Fabiana Borges:  

Fabiana Borges: "Meus filhos ficam a semana toda perguntando se vamos ao clube no sábado ou domingo"

 


Presidente da AABR, Marcus Alencar (Ana Rayssa/CB/D.A Press)  

Presidente da AABR, Marcus Alencar

 

 
Do clube para a vida
 
Ana Lúcia Baruzzi, 57, se mudou para Brasília em 1985, em busca de uma vida melhor. A paraense saiu de sua terra natal e ficou a saudade dos amigos, pais e os 11 irmãos. Formada em educação física, ela entregou diversos currículos nos clubes da capital, até que, em março de 1986, foi chamada para dar aulas de natação na Associação dos Servidores do Banco Central (Asbac). “Nunca me senti tão feliz. Minha turma era cheia e animada. Eu sempre entrava na água com meus alunos”, conta. A trajetória como professora durou 10 anos, mas as lembranças nunca foram apagadas.
 
Foi na Asbac que Ana pôde desfrutar os melhores momentos da juventude. “Lá tinha uma boate, todas às sextas-feiras, que era muito boa. Eu amava dançar. Das aulas ia direto para a balada”, relembra. Em uma dessas festas no clube, a professora conheceu o futuro marido, Cláudio Baruzzi, 58. Foi amor à primeira vista, segundo ela. “Ele estava dançando com uma turma e trocamos muitos olhares. Naquela época, a paquera era assim”. Depois daquela noite, os dois começaram a namorar. A união tem 30 anos e o resultado foi o nascimento dos dois filhos, João Felipe, 24, e Daniela Baruzzi, 28.
 
A piscina, com profundidade de cinco metros, é equipada com uma plataforma de salto de 10 metros, o lugar preferido de Ana. Mas, além da natação, o clube dispõe de outras 21 modalidades esportivas, como remo, vôlei de praia, pebolim, futsal e tênis de mesa. A localização à beira do Lago Paranoá remete ao clima de paz e tranquilidade. Nas noites, shows e eventos agitam o ambiente. “Aqui tem gente de diversas faixas etárias e isso é o mais importante. É gratificante ver que, a cada dia, novas pessoas integram o clube. É um lugar família, que não perdeu a essência depois de tantos anos”, ressalta a presidente da Asbac, Edina Souza.
 
De pai para filho
 
Deixar um bom legado para o filho, certamente, é a melhor escolha que um pai pode fazer. Com apenas um ano, Diego Siqueira, hoje com 37, acompanhava o pai, Geraldo Siqueira, 64, nos campeonatos de futebol da Asbac. As memórias marcaram a vida do empresário e o incentivaram a seguir os mesmos passos do seu herói. “O David começou no time das Fraldinhas. Fui o treinador dele e, muitas vezes, eu era mais rigoroso com ele do que com o resto da equipe. Para mim, é indescritível vê-lo crescendo no futebol e saber que fui inspiração”, diz Geraldo.

A relação dos dois só se estreitou, tanto que hoje, jogam no mesmo time. “Meu pai é um exemplo para mim. Nunca me esqueço dos momentos que eu vinha para o clube e brincava de pique-pega, polícia e ladrão. Isso marcou minha infância aqui na Asbac”, conta David. 
 
*Estagiária sob supervisão de José Carlos Vieira


AABR 
Fundação: 
1966 
Idade: 
53 anos
Associados: 1800 sócios 
Área:
 35 mil metros quadrados 
Como se associar:
 Qualquer pessoa pode conhecer o clube e se tornar sócio. Para funcionários do Banco de Brasília, os preços são a partir de R$ 95, e a mensalidade varia entre preços de R$ 123 para quem não é do BRB.


Asbac
Fundação: 
1977
Idade: 42 anos
Associados: 2.500
Área: 160 mil metros quadrados 
Como se associar: Qualquer brasiliense pode se associar por preços entre R$ 187 (para quem é funcionário do Banco Central) e R$ 210 para quem não é do banco.
 
 
Jornal Impresso
 
 

Correio Braziliense sexta, 09 de agosto de 2019

MATOU A TIA PARA ROUBAR R$200

 


VIOLÊNCIA
Matou a tia para roubar R$200,00
 
Polícia busca suspeito de assassinar a tiaMaria Almeida Vale, 68 anos, foi morta na casa do cunhado, pai de Fábio do Vale, acusado do crime. Moradora de Montividiu, em Goiás, ela voltaria para casa ontem

 

» WALDER GALVÃO

Publicação: 09/08/2019 04:00

Peritos buscam pistas capazes de explicar o crime: suspeita de que o acusado tenha voltado a usar drogas (Minervino Junior/CB/D.A Press)  

Peritos buscam pistas capazes de explicar o crime: suspeita de que o acusado tenha voltado a usar drogas

 

 
Maria Almeida Vale, 68 anos, chegou ao Distrito Federal na segunda-feira. Moradora de Montividiu (GO), município distante cerca de 500km do Plano Piloto, ela veio para a capital a fim de colocar em dia a documentação de um veículo. Hospedada na casa do cunhado, no Paranoá, a mulher foi encontrada morta na manhã de ontem, dia em que voltaria para casa. O principal suspeito, segundo a Polícia Civil, é o sobrinho dela, o ajudante de pedreiro Fábio do Vale, 39, que está foragido.
 
Agentes da 6ª Delegacia de Polícia (Paranoá) tentam identificar a motivação do assassinato. Após o crime, o acusado fugiu com R$ 200 dela e ainda furtou R$ 600 da mãe. Ele saiu de casa em uma motocicleta Honda Titan 2002 azul. O assassinato ocorreu no início da manhã, enquanto a mãe, o pai e a irmã de Fábio estavam em casa, porém, nenhum deles escutou qualquer pedido de socorro, pois a vítima e o acusado dormiam em quartos no fundo do lote, fora da residência principal. Por volta das 9h, eles estranharam que Maria demorava para acordar e encontraram o corpo. Fábio havia deixado a residência e, pouco tempo depois, ligou para a mãe e disse que “tinha feito uma besteira e acabado com a própria vida”.
 
Inicialmente, o crime foi registrado como feminicídio, no entanto, os investigadores adotaram outra linha de investigação. “Não encontramos elementos suficientes para esse qualificador e descartamos essa hipótese. Agora, o caso é tratado como homicídio”, explicou a delegada-chefe da 6ª Delegacia de Polícia (Paranoá), Jane Klébia. A principal suspeita é de que a vítima tenha morrido asfixiada.
 
O corpo de Maria foi encontrado em cima da cama, com um capacete de motocicleta e uma camiseta enrolada na cabeça. Segundo os agentes, esses objetos podem ter sido usados para asfixiá-la. Além disso, as roupas da vítima foram retiradas e substituídas por uma calça e uma jaqueta de Fábio. “Ela estava muito machucada e teve parte do cabelo arrancado e jogado pelo quarto. Havia sangue nas paredes dos quartos e do banheiro. Pela crueldade daquela cena, não dá para dizer o que poderia ter motivado o crime”, afirmou Jane.

Amigos e parentes se reuniram na casa dos pais do acusado, no Paranoá (Minervino Junior/CB/D.A Press)  

Amigos e parentes se reuniram na casa dos pais do acusado, no Paranoá

 

 
Apoio
 
Nascida no Ceará e mãe de dois filhos, Maria morava com o marido, de 73 anos, em uma fazenda no município goiano de Montividiu. O pai de Fábio é irmão do companheiro dela, e as visitas à casa do cunhado ocorriam várias vezes ao ano. “Era uma pessoa tranquila, querida pela família e vizinhança. Gostava de passar o tempo aqui para se distrair. Todos estamos em choque e não conseguimos acreditar no que aconteceu”, contou um parente, que não quis se identificar.
 
Após o crime, os pais de Fábio, que são idosos, permaneceram em frente à própria casa. A todo momento, familiares chegavam para dar apoio, mas eles continuavam inexpressivos e conversavam pouco. “Não tenho o que dizer. A minha esposa está passando mal, e a minha filha, muito abalada. Nessas situações, não se tem o que falar”, disse o pai do suspeito. No início da tarde, ele seguiu a Montividiu para contar ao marido de Maria, seu irmão, sobre a morte dela.
 
Segundo familiares, Maria e o marido compraram um terreno em Goiás para criar gado, há alguns anos. “Um dos filhos dela morava no Paranoá. Por isso, ela vinha direto visitá-lo. Até mesmo o Fábio gostava muito da tia, não sei o que pode ter acontecido na cabeça dele”, lamentou outro familiar. O sepultamento da vítima ainda não foi marcado.
 
Dependência 
 
Os investigadores da Polícia Civil suspeitam que a dependência química de Fábio possa ter sido um dos motivos para o crime. Familiares e amigos dele contaram que o vício começou na adolescência, aos 13 anos. “Primeiro, veio o álcool e, em seguida, as drogas. Ele sempre deu trabalho para a família, porém, era querido por todos. Até agora, muitos se recusam a acreditar que ele cometeu esse crime”, contou um colega do suspeito.
 
Sem emprego fixo, Fábio fazia bicos como ajudante de pedreiro e morava em um quarto dos fundos da casa dos pais. Solteiro e sem filhos, ele é conhecido na região. “A gente tinha conhecimento que ele estava sem usar nada há 3 anos. Porém, pode ter voltado a usar ou sofrido uma crise de abstinência”, contou um parente. O suspeito não tinha passagens pela polícia.


Os envolvidos

A vítima 
 
Maria Almeida Vale
» Tinha 68 anos
» Nasceu em Boa Viagem (CE)
» Morava de Montividiu (GO)
» Deixou dois filhos e o marido

O suspeito

 (PCDF/Divulgação)  
Fábio do Vale
» Tem 39 anos
» Nasceu no Distrito Federal
» Morava no Paranoá, na casa dos pais
» Trabalhava como ajudante de pedreiro
 
Jornal Impresso
 

Correio Braziliense quinta, 08 de agosto de 2019

WILSON SIMONAL: UMA HISTÓRIA PARA SER ENTENDIDA

 

Uma história para ser entendida
 
Cinebiografia de Wilson Simonal chega às telonas para contar a trajetória do polêmico cantor de um suingue sem igual

 

Ricardo Daehn

Publicação: 08/08/2019 04:00

Fabríco Boliveira e Ísis Valverde: nova parceria em Simonal
 (Paprica Fotografia/Divulgação)  

Fabríco Boliveira e Ísis Valverde: nova parceria em Simonal

 

 
O filme de estreia do diretor Leonardo Domingues é sobre a carreira — desde a ascensão até a queda — do cantor Wilson Simonal, mas impressiona o quanto a produção está ligada à capital. Para viver os papéis centrais do cantor e da mulher dele, Tereza, está um repeteco de casal visto no longa Faroeste caboclo (vinculado, claro, a Renato Russo): Fabrício Boliveira e Ísis Valverde. Roteirista do longa Simonal, ao lado de Domingues, Victor Atherino assinou não apenas o roteiro de Faroeste caboclo, como ainda esteve na escrita do filme Somos tão jovens (2013), dedicado à juventude de Russo.
 
Simonal, enriquecido por músicas como Terezinha, Lobo bobo e País tropical, chega às telas exumando o momento mais notório e público do cantor, que entrou para o ostracismo diante das supostas atitudes junto ao Departamento de Ordem Política e Social (Dops), órgão de repressão durante a ditadura setentista.
 
Trazendo o ator Leandro Hassum na pele do produtor e compositor Carlos Imperial, Simonal concentra parte do desenvolvimento da trama para mostrar como o cantor teria enredado seu ex-contador Raphael Viviani (chamado Taviani, no filme, e interpretado por Bruce Gomlevsky), numa situação de sequestro e extorsão.
 
O personagem de Caco Ciocler, Santana, um agente do Dops, teria papel forte na contravenção de Simonal. Para além da polêmica, a magnitude e a excelência de Simonal ocupam tevê, palco e peças de publicidade recriados no filme. Codiretor de A pessoa é para o que nasce e editor de Nise — O coração da loucura, Leonardo Domingues explorou no filme, que tem ótimos figurinos da veterana Kika Lopes e irrepreensível direção de arte de Yurica Yamasaki, cenas com personalidades como Ronaldo Bôscoli (Rafael Sieg), a socialite Laura Figueiredo (Mariana Lima), os cantores Erasmo Carlos (João Sabiá) e Elis Regina (Lilian Menezes).
 
 
 
Três perguntas/ Leonardo Domingues
 
 (Paprica Fotografia/Divulgação)  
 
De onde vem sua ligação com música e por que recontar a trajetória de Simonal?
Minha história com a música popular vem desde a infância. Ouvia muito a coleção de discos em LP dos meus pais. Eles tinham, por exemplo, só numa coleção de músicas, mais de 50 volumes. Pesquisando, cheguei ao disco do Simonal, e meu pai dizia: “Ele era dedo-duro, teve envolvimento com os militares”; como criança, não tinha entendimento disso. Participei, há 10 anos, do documentário Simonal — Ninguém sabe o duro que dei, na pós-produção, e entendi melhor a confusão. Um documentário fazia, à época, no máximo, 300 mil espectadores de público; como gosto de contar histórias, fazer uma construção boa de narrativa, que já usava em videoclipes, optei pela ficção juntando polícia, música, ditadura, medo e racismo.
 
 
Há julgamento distinto para o cidadão e o artista Simonal? 
Ele foi um injustiçado pelo sistema, num país dividido. Aliás, não há a cena do Simonal delator, no filme. Não achei bases, e acho que ele lutou até o fim contra a ideia. Acho, sim, que ele errou. Já, como artista, pelo suing e pela voz, não tinha igual. Artista fantástico memorável. Como cidadão, não sei. Não passei pelo que ele passou. Sou branco, classe média. Fica claro que ele se envolveu, e a sociedade o crucificou de uma forma... A história, aliás, é muito cíclica: há 10 anos, o Brasil era outro, né? Delação era coisa ruim. Agora, é premiada! Ainda pesou a arrogância do Simonal, do negro, pobre de favela que, aos trinta e poucos anos, tinha cobertura, Mercedes.
 
 
Como a família recebeu a ideia do filme?
Tinha contato com a família do Simonal, por causa do documentário. Eles até estavam negociando para fazer um musical, quando fui procurá-los. Ouvi deles: faça a sua versão, a sua história. Tive liberdade total. Liam o roteiro, e diziam ok. A biografia Nem vem que não tem — A vida e o veneno de Wilson Simonal, de Ricardo Alexandre, trouxe muitos dados históricos para o filme. Ficamos confortáveis de trazer Max de Castro e Wilson Simoninha para a trilha sonora, pois eles têm a carreira inteira das músicas do pai e todos os arquivos de músicas.
 
Jornal Impresso
 

Correio Braziliense quarta, 07 de agosto de 2019

JOÃO CARLOS MARTINS: O LEGADO DO MAESTRO

 

O legado do maestro
 
João Carlos Martins regerá as orquestras de Sopros e Percussão Arte Jovem, de Ceilândia, e a da Casa Azul Felipe Augusto, de Samambaia. O projeto foca a inclusão social por meio da música

 

ROBERTA PINHEIRO

Publicação: 07/08/2019 04:00

 (Luis Nova/Esp. CB/D.A Press - 22/2/18)  
 
Histórias para contar não lhe faltam. Sobretudo, se acompanhadas por música e muita emoção. O pianista e “velho maestro”, como se define João Carlos Martins, percorreu o mundo com seu talento. Desde os 8 anos de idade, ele revelou maestria na execução das obras de Johann Sebastian Bach. São mais de seis décadas dedicadas à música clássica. Seu nome também invoca um conhecido relato de superação, que inclui acidentes, complicações osteomusculares nos membros superiores e 24 cirurgias neurológicas. A última, inclusive, amenizou dores no braço esquerdo, mas limitou, de forma definitiva, os movimentos nos dedos da mão.
 
Ao piano, João Carlos Martins agradeceu os anos de companheirismo e guardou os ensinamentos e as conquistas. Aposentou e seguiu para a regência, na qual ele descobriu histórias de um outro Brasil e definiu o legado que pretende deixar. “No piano, só posso agradecer a Deus tudo o que aconteceu. Perdi as mãos para o piano, mas na regência encontrei o meu destino. Resolvi carregar a bandeira do Villa-Lobos, porque ele dizia: ‘Não é um público inculto que vai julgar as artes, as artes que mostram a cultura de um povo’”, relata o maestro.
 
Realidade
 
Em 2018, nascia o projeto Orquestrando o Brasil, uma plataforma digital para disseminação de conteúdo, oferecendo capacitação destinada a regentes e músicos, além de ser uma ferramenta para a troca de conhecimento. Martins começou a visitar diferentes cidades do país e conhecer a realidade de municípios que, por exemplo, não têm acesso aos grandes centros culturais, mas que mantinham uma pequena banda. “Nas visitas, vou juntando cordas com sopros e formando a orquestra. A cada 15 dias, além de estar presente fisicamente, recebo vídeo do ensaio deles, faço comentários e, no site, publicamos tudo. Vamos começar com aulas on-line ligando os alunos das diferentes regiões também”, conta o maestro.
 
Para ele, o Brasil é um país musical. E, assim como Villa-Lobos, seu intuito é fechar o país em forma de coração por meio da música. “Ele conseguiu que todas as escolas tivessem o ensino de música em uma época que não tinha nem tevê nem internet. Quem sou eu perto de Villa-Lobos, mas pela exposição na mídia, eu resolvi carregar essa bandeira”, justifica Martins. Em pouco mais de um ano, o projeto, realizado em parceria com a Fundação Banco do Brasil, Sesi e Fiesp, reúne 430 orquestras, um universo que representa mais de 15 mil músicos, com grupos musicais de 180 municípios espalhados em 14 estados, incluindo o Distrito Federal.
 
 
 
Duas perguntas / João Carlos Martins
 
 
Por que projetos de inclusão social com a música dão certo?
Faço visitas à Fundação Casa, antiga Febem, e uma vez recebi um presente com um bilhete: “Tio maestro, a música venceu o crime, Feliz Natal”. Quando você faz a divisão em quatro grupos: formação de público, música como hobby, talento que pode tocar numa orquestra e diamante, no momento que você faz essa divisão, o projeto de inclusão social passa a ser uma luz no fundo do túnel. Chego para o jovem e falo: “Tenha certeza que se continuar firme na música, do jeito que nós estamos, procurando a revolução musical, você vai poder casar, ter sua família e sustentar a sua família por meio da música”. Tem também a disciplina e o respeito. Eu sempre digo que o resultado de uma carreira é 2% é o dom de Deus e 98% é a disciplina de um atleta, ou seja, 2% é a alma de um poeta, sem a alma do poeta não acontece nada e sem a disciplina, também. Falo também que a função do artista é transmitir emoção. Hoje, a coisa mais importante que nós necessitamos é a palavra emoção.
 
 
Como levar a orquestra para um público jovem?
A diversidade ajuda a formação de público. Vou fazer uma apresentação que vai de Beethoven a Maria Bethânia. Depois, me apresento com Chitãozinho e Xororó. Para aquelas pessoas de nariz empinado entenderem a força da música sertaneja nas raízes do Brasil, e o público da música sertaneja entender que tudo vem da música clássica. Bach foi a síntese de tudo e a profecia de tudo. É importante fazer com que um público respeite o outro. Só existe um tipo de música, a música de bom gosto. Importante também não esperar o público ir ao teatro, mas ir ao encontro do público. Se todos os músicos clássicos de ponta saíssem de suas torres de marfim e tivessem essa mentalidade. Não adianta reclamar que não tem público. Por fim, tem o carisma, a parte carismática do maestro é muito importante para atrair o público.
 
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Correio Braziliense terça, 06 de agosto de 2019

A IMPORTÂNCIA DAS ABELHAS

 

A importância das abelhas
 
Apesar do uso intensivo de agrotóxicos na região, o mercado do mel cresce no DF. Saiba mais sobre essa atividade econômica e ecológica

 

JÉSSICA EUFRÁSIO

Publicação: 06/08/2019 04:00

Carlos Alberto:   

Carlos Alberto: "Se a pessoa tiver enxames fortes, é possível pagar todo o investimento a partir da primeira colheita"

 

Poucos seres são capazes de despertar sentimentos tão opostos quanto as abelhas. Enquanto, para alguns, são motivo de pânico, para outros, são razão de fascínio. Aqueles que descobriram o amor por esses insetos — caracterizados por três pares de patas e dois pares de asas — mantêm o sentimento vivo por meio de passatempos e profissões que envolvem curiosidade por um universo minúsculo.
 
No Distrito Federal, há quem se dedique aos cuidados das espécies típicas do cerrado. Um deles é o militar aposentado Heráclito Sette, 64 anos. Ele começou a se dedicar ao hobby da meliponicultura (criação de abelhas sem ferrão) em 2007. Hoje, ministra cursos no Sítio Geranium, na área rural de Taguatinga.
 
A atividade tornou-se, segundo ele, uma maneira de “pagar a dívida com o planeta olhando para o meio ambiente”, uma vez que as abelhas sempre foram alvos fáceis da ação humana. “À medida que você conhece mais o assunto, vê que (o cenário) está cada vez pior e que é mais grave que pensávamos. A polinização é a principal função delas. E isso permite a manutenção da biodiversidade”, explica Heráclito.
 
No sítio onde as aulas acontecem, há cerca de 45 colmeias, com abelhas de 12 espécies nativas do cerrado. Mandaçaia, jataí, mandaguari, marmelada e uruçu do planalto — sob risco de extinção — são alguns dos espécimes encontrados por lá. Abrigadas em caixas de madeira cobertas com telhas, elas vivem aos cuidados atentos de Heráclito, deixando os ninhos de vez em quando para buscar alimento em flores de plantas próximas, como pés-de-manjericão, mangueiras e bananeiras.
 
Durante as visitas de estudantes da educação básica, universitários ou de participantes do curso de meliponicultura, Heráclito mostra um pouco de um mundo extenso, complexo e organizado. Há, ainda, um momento para degustação de mel, quando é possível diferenciar texturas, cores e nuances no sabor e no aroma, a depender das características e dos hábitos das espécies.
 
Os cursos ocorrem de duas a três vezes por ano, durante uma manhã e uma tarde. O próximo encontro está previsto para novembro. “Abrimos colmeias, retiramos abelhas, multiplicamos, colocamos todas em garrafas pet revestidas em plástico preto. Nós motivamos as pessoas a levarem-nas para as próprias casas, fazendas ou sítios”, conta o professor.
 
Ameaça
 
A relevância desses insetos é digna de destaque há bastante tempo. O papel crucial delas no processo de polinização de plantas gera preocupação por todo o mundo, principalmente pelo fato de serem responsáveis pela polinização de 75% das principais culturas alimentares do planeta, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). De acordo com o segmento da entidade voltado para a Alimentação e a Agricultura (FAO), há de 25 mil a 30 mil espécies delas na Terra. Mesmo assim, elas estão sob ameaça, e a quantidade de abelhas existentes tem caído em decorrência da ação humana.
 
O Censo Agro 2017, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) identificou que 1,6 milhão dos produtores agropecuários usaram agrotóxicos em 2017. A taxa subiu 20,4% em 11 anos e a aplicação dos químicos representa grande perigo para a vida das abelhas. Extensionista rural da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal (Emater-DF), Névio Gonçalves Guimarães trabalha com elas há quase 30 anos. Ele acrescenta que a criação, quando ocorre em áreas seguras, gera resultados positivos para a natureza.
 
“É um absurdo (o uso de agrotóxicos). É preciso haver mais reflorestamento e cuidado com as plantas. Tem havido invasão de abelhas em áreas urbanas, pois os lugares disponíveis para a construção de casas delas está acabando”, comenta. Névio defende, ainda, que exista mais estímulo para a criação desses insetos no meio urbano. “Se houvesse incentivo de criação de abelhas, não necessariamente só das com ferrão, daria tempo de recuperar (as florestas) e de tornar as atividades viáveis em termos de polinização”, completa Névio.

Heráclito Sette:  

Heráclito Sette: "A polinização é a principal função delas (abelhas). E isso permite a manutenção da biodiversidade"

 

 
Produção que dá lucros
 
A produção de mel no Distrito Federal tem impactos tímidos na economia, mas gera lucros para quem investe no negócio. A fase de produção ocorre durante a seca, em um período que dura de quatro a cinco meses. Por ano, são produzidas cerca de 34 toneladas, mas apenas 10% do produto consumido é feito por aqui, segundo o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). Os outros 90% vêm de outras unidades da Federação.
 
Mesmo com a alta demanda, com a quantidade de espaços para criação de abelhas e com o incentivo de entidades representativas do setor, faltam interessados. Apicultor e produtor de mel de eucalipto, o presidente da Associação Apícola do Distrito Federal (Apidf), Carlos Alberto Bastos, conta que o investimento tende a gerar resultados a partir do primeiro ano da produção. “Se a pessoa tiver enxames fortes, é possível pagar todo o investimento a partir da primeira colheita. É muito vantajosa a produção de mel aqui no DF”, garante.
 
O mel também é produto de interesse de Sérgio Luiz Farias, presidente do Sindicato de Apicultores do DF (Sindiapis). Ele acredita que a divulgação de informações sobre o risco à vida das abelhas fez com que a quantidade de interessados pela apicultura e pela meliponicultura crescesse. “Muita gente não criava abelhas, mas começou a ver a questão da mortalidade e passou a se interessar, criar, produzir. Hoje, tenho um bocado de caixas. É uma paixão. Eu me aproximei da área por gostar delas. A produção foi consequência”, relata o produtor. “Quanto mais estudo, busco informações, faço cursos, mais encantado fico”, completa.
 
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Correio Braziliense segunda, 05 de agosto de 2019

PAN-AMERICANO: MAIS OUROS PARA O BRASIL

 

Ouros e mais uma vaga olímpica
 
No domingo, em Lima, equipe brasileira sobe sete vezes no lugar mais alto do pódio. Enquanto isso, equipe de hipismo garante um lugar em Tóquio, e brasiliense é prata na marcha atlética

 

Publicação: 05/08/2019 04:00

 

Na maratona aquática, Ana Marcela Cunha ficou com o ouro, e Viviane Jungblut conquistou o bronze: pensamento, agora, é nos Jogos Olímpicos (Luis Robayo/AFP









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Na maratona aquática, Ana Marcela Cunha ficou com o ouro, e Viviane Jungblut conquistou o bronze: pensamento, agora, é nos Jogos Olímpicos

 

 


Domingo é dia de trabalho. E com bons resultados. Assim foi nos Jogos Pan-Americanos de Lima. Os brasileiros levaram sete medalhas de ouro e subiram, ao todo 16 vezes ao pódio. O Distrito Federal deu sua contribuição com o segundo lugar de Caio Bonfim nos 20km da marcha atlética. E, de quebra, o país ainda viu a classificação da equipe de hipismo para os Jogos Olímpicos de Tóquio, no ano que vem, com a segunda colocação no concurso completo de equitação. A competição em território peruano termina no próximo domingo. No quadro de medalhas, o time verde-amarelo está na segunda colocação, com 22 ouros, 16 pratas e 34 bronzes — 72 medalhas no total. A primeira posição segue com os Estados Unidos.

Um dos destaques do dia foi a baiana Ana Marcela Cunha. A maior vencedora da história das maratonas aquáticas conquistou uma medalha inédita para o Brasil: o ouro da prova de 10km da modalidade, com o tempo de 2h00min51. E teve mais: a brasileira Viviane Jungblut ainda ficou com o bronze. Para Ana Marcela, que já está classificada para os Jogos Olímpicos. “É a primeira prova de 10km depois da classificação olímpica, e a gente começa uma jornada até os Jogos Olímpicos de Tóquio, para a nossa prova que será no dia 5 de agosto de 2020, daqui um ano praticamente”, lembrou a nadadora, que chegou 31s3 à frente da segunda colocada, a argentina Cecilia Biaglioli.

 

Chloé Calmon superou atleta local para subir no lugar mais alto do pódio (Wander Roberto/COB)  

Chloé Calmon superou atleta local para subir no lugar mais alto do pódio

 

 

 

No fim do dia, o tenista mineiro João Menezes também fez bonito e levou o ouro na final contra o chileno Tomás Barrios. O atleta de 22 anos teve um rival forte, mas conseguiu vencer por 2 sets a 1 (7/5, 3/6 e 6/4). O mineiro se tornou o sexto brasileiro a conquistar a primeira colocação em Jogos Pan-Americanos. O último a ficar com a medalha dourada na competição havia sido Flávio Saretta, em 2007, no Rio de Janeiro.

Canoagem
O domingo também foi muito positivo para o Brasil na canoagem slalom do Pan-Americano, com duplo ouro para Ana Sátila e Pedro Gonçalves. Ela venceu nas categorias C1 e K1 cross, enquanto Pedro Gonçalves subiu no lugar mais alto do pódio no K1 e no K1 cross. E Felipe Borges foi bronze no C1.

Ainda na água, o surfe se despediu de Lima com ótimos resultados. Chloé Calmon levou o ouro na categoria longboard, os famosos pranchões, enquanto Nicole Pacelli, no Stand-Up Paddle (SUP) wave, ficou com o bronze. A modalidade, no total, contribuiu com quatro pódios: na sexta-feira, no SUP race, Lena Ribeiro abocanhou o título e Vinnicius Martins conquistou a prata. Para Chloé, uma superação a mais, afinal, enfrentava Maria Fernanda Reyes, atleta peruana. “Eu sabia que ia ser uma bateria bem disputada, toda a torcida estava a favor da Maria Fernanda. Deixei todos os pensamentos de medalha de lado, entrei com a cabeça fria”, contou a brasileira, líder do ranking da World Surf League (WSL).

 

Caio Bonfim, atleta de Sobradinho, dedicou a prata para a mulher (Alexandre Loureiro/COB)  

Caio Bonfim, atleta de Sobradinho, dedicou a prata para a mulher

 

 

 

Em Tóquio
E quem disse que uma prata não pode ser comemorada como um ouro? Foi o caso da equipe de hipismo do Brasil, que ficou com o segundo lugar no concurso completo de equitação — uma espécie de triatlo da categoria, com provas de adestramento, cross country e salto. A colocação foi suficiente para dar uma vaga para o time nos Jogos Olímpicos de Tóquio, no ano que vem. De quebra, Carlos Parro, montando Quaikin Quious, ficou com o bronze no individual.

O grupo, formado por Rafael Mamprin Losano/Fuiloda G, Marcelo Tosi/Starbucks e Parro, perdeu 122,1 pontos e ficou atrás apenas dos EUA (91,2 pontos perdidos). Somente os dois conjuntos carimbaram o passaporte para Tóquio. O técnico Ademir Oliveira lembrou também do cavaleiro Ruy Fonseca, que sofreu um acidente e teve que ser substituído. “Esse resultado é fruto do trabalho desses meninos, que não mediram esforços para estar aqui e fizeram por merecer”, afirmou Oliveira. O cavalo de Fonseca tropeçou e fez o atleta cair. Ele quebrou três costelas e sofreu fratura do úmero proximal do braço esquerdo, deve passar por cirurgia, mas se encontra estável e consciente.


As medalhas do dia

OURO

» Ana Marcela Cunha (maratona aquática, 10km feminino)
» Ana Sátila (canoagem slalom, C1 feminino)
» Pedro Gonçalves (canoagem slalom, K1 masculino)
» Chloé Calmon (surfe, longboard feminino)
» Ana Sátila (canoagem slalom, K1 cross feminino)
» Pedro Gonçalves (canoagem slalom, K1 cross masculino)
» João Menezes (tênis, individual)

PRATA
» Caio Bonfim (atletismo, marcha atlética 20km)
» Equipe (hipismo, CCE)

BRONZE
» Erica Sena (atletismo, marcha atlética 20km feminino)
» Nicole Pacelli (surfe, SUP wave feminino)
» Viviane Jungblut (maratonas aquáticas, 10km feminino)
» Felipe Borges (canoagem slalom, c1 masculino)
» Carlos Parro (hipismo CCE, individual)
» Conjunto (5 bolas, ginástica rítmica)
» Vôlei masculino

 

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Correio Braziliense domingo, 04 de agosto de 2019

PARA RELAXAR NO INVERNO

 

Para relaxar no inverno
 
Apesar das manhãs frias que marcam a estação, o céu aberto no restante do dia é um convite a atividades ao ar livre. Com piquenique ou churrasco, muitos aproveitam a temporada sem chuvas para desfrutar os espaços da cidade

 

PEDRO CANGUÇU*
RENATA NAGASHIMA*

Publicação: 04/08/2019 04:00

A família Rocha promoveu um encontro só de mulheres no Parque da Cidade: caminhada, lanche e muita diversão ao ar livre (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

A família Rocha promoveu um encontro só de mulheres no Parque da Cidade: caminhada, lanche e muita diversão ao ar livre

 



Seja em parques, seja no Zoológico, seja à beira do Lago Paranoá, opções para curtir o fim de semana ao ar livre com piquenique, ou até um churrasco, não faltam na capital. Mesmo no inverno, o sol não deixa de aparecer, e os dias se tornam mais agradáveis para curtir momentos de lazer em espaços abertos com a família e os amigos.

Toalha na mesa, uma cesta de frutas, pães de queijo e vários salgados. Assim a família Rocha se reúne, semanalmente, para atividades de lazer. Mas o encontro do dia é especial: só de mulheres. Moradoras de Taguatinga, as parentes se consideram uma “família cultural”, que não perde uma atividade na cidade.

“Gostamos muito das áreas verdes de Brasília. Aproveitamos o espaço para fazer caminhada, piquenique. Também participamos das exposições que ocorrem na cidade. E não tem tempo ruim. Hoje, por exemplo, vamos ficar aqui até a comida acabar”, brinca a educadora social Maria de Lourdes Rocha, 53 anos.

Preparada para amarrar a rede em uma das árvores do espaço, ela comenta que a decisão sobre o cardápio e o espaço onde passarão o fim de semana ocorre por telefone. “Você leva isso, você, aquilo. E a gente se vira com o que tem”, resume. Além da tradicional caminhada no parque, a tarde está reservada para jogos de cartas, ouvir música e colocar o papo em dia.

Piquenique no Zoo Com área de mais de 100 hectares, o Jardim Zoológico de Brasília é um dos espaços que promovem a reunião de amigos e familiares durante o passeio para ver os animais. Neste ano, o parque adquiriu 100 mesas para piquenique e 43 bancos para jardins.

Nas férias escolares, Eliene Rosa, 40, recorreu a programas que as crianças pudessem aprender de forma diferente. A empresária reuniu os filhos e os sobrinhos para um passeio no Zoo. Para Victor Henrique, 10, foi um momento enriquecedor. “É muito legal ver os bichos, saber o nome deles, o que eles comem. É um bom aprendizado.”

Eliene aproveitou as mesas para fazer um piquenique com a família. “É importante a interação das crianças com o ambiente, com outras crianças.”

Mesmo com as mesas disponíveis, muitas pessoas têm o hábito de forrar toalhas na grama, mas a equipe do Zoológico desaconselha a prática, devido à alta incidência de carrapatos nesta época seca do ano.

Apesar das recomendações, algumas pessoas ainda preferem o jeito tradicional de fazer piquenique. É o caso da vendedora Gislene Noemia Correia de Souza, 25 anos, que saiu com as filhas, a irmã e as sobrinhas de Santo Antônio do Descoberto (GO) para aproveitar os últimos dias de férias escolares das crianças. Ao todo, a turma gastou em torno de duas horas para chegar ao destino, mas garante que o percurso vale a pena.

Segundo Gislene, a forma mais divertida de fazer um piquenique é estender a toalha no chão e deixar a meninada livre. “Eu acho maravilhoso. É mais confortável. Na minha cidade, não há muita atração para as crianças; então, sempre que posso, faço um passeio desse tipo com elas.”

Antes do lanche, no entanto, a garotada visitou a onça, a girafa, a zebra e o elefante. O animal mais esperado era a cobra. “Desde que chegaram, elas estão falando da cobra. Mas, para mim, o mais bonito é o tigre”, acrescenta Gislene.


Acompanhada das filhas, da irmã e das sobrinhas, Gislene Noemia Correia veio do Entorno para um passeio no Zoológico (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

Acompanhada das filhas, da irmã e das sobrinhas, Gislene Noemia Correia veio do Entorno para um passeio no Zoológico

 




Churrasco na Prainha
Outro ponto ideal para aproveitar o dia ao ar livre é a Prainha do Lago Norte. O destino é o favorito da família da gastrônoma carioca Simone Correia, 38, que cresceu frequentando praias. Para amenizar a saudade que sente da terra natal, ela se reúne com os parentes por lá. “Como Brasília não tem mar, gosto do local, porque lembra um pouco do ambiente da praia”, justifica.

Alegria e paz são palavras que resumem o momento de interação com os familiares. “Se depender de mim, nos reuniríamos toda semana. É linda toda essa natureza, e as crianças se divertem bastante”, diz ela. Em vez do tradicional piquenique, a família prefere um churrascão no lago. Com uma churrasqueira portátil, o grupo assa carne e se diverte à beira do Lago Paranoá.

* Estagiários sob supervisão de Mariana Niederauer




Aproveite

Confira algumas dicas para curtir o fim de semana, seja com piquenique, seja em um churrasco, e com muitas opções de lazer!


Água Mineral
Endereço: Via Epia, BR-040 — Setor Militar Urbano
Entrada: R$ 12
Horário de funcionamento: diariamente, das 8h às 16h

Deck Sul
Endereço: 
às margens do Lago Paranoá, na L4 Sul, próximo à Ponte das Garças
Atrações: mesas de xadrez e tênis, quatro quadras de esportes, três parques infantis, um Ponto de Encontro Comunitário (PEC) e um circuito para a malhação

Pontão do Lago Sul
Endereço:
 SHIS Ql 10, lotes 1/30, Lago Sul
Horário de funcionamento: diariamente, os horários variam entre as 7h e as 2h.
Informações: (61) 3364-0580
Atrações: decks, bancos, parquinho e área com grama, além de bares e restaurantes.

Jardim Zoológico de Brasília
Endereço: 
Avenida das Nações, Via L4 Sul.
Horário de funcionamento: de terça a domingo e feriados. 
No período escolar, o Zoológico funciona todos os dias para visitação, das 8h30 às 17h.
Entrada: R$ 5, de terça a quinta; R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia), sexta, sábado, domingo e feriados.
Informações: (61) 3445-7000

Prainha do Lago Norte
Endereço:
 Setor de Mansões do Lago Norte, próximo à MI 5, com acesso pela Estrada Parque Paranoá.

Parque da Cidade Sarah Kubitschek
Endereço:
 Eixo Monumental
Horário de funcionamento: livre acesso, 24 horas por dia.

Parque Ecológico de Águas Claras
Endereço:
 à margem da Avenida Parque Águas Claras, próximo à Estação de Metrô Águas Claras.
Horário de funcionamento: diariamente, das 6h às 22h.

Parque Ecológico e de Uso Múltiplo Olhos D’Água
Endereço: 
413 e 414 Norte
Horário de funcionamento: diariamente, das 6h às 20h.

Taguaparque
Endereço:
 Estrada Parque Contorno, s/n, Taguatinga
Horário de Funcionamento: 24 horas por dia.
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Correio Braziliense sábado, 03 de agosto de 2019

CLUBES DE BRASÍLIA: COMO SE ESTIVESSE EM CASA

 

Como se estivesse em casa
 
Clubes tradicionais como a Associação de Esporte e Lazer dos Subtenentes e Sargentos do Exército e o Clube dos Previdenciários investem na qualidade de vida dos sócios

 

» ALAN RIOS

Publicação: 03/08/2019 04:00

Piscina da Asseb é principal atração entre as crianças (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

Piscina da Asseb é principal atração entre as crianças

 

 
Os brasilienses gostam de lugares em que se sentem em casa nas horas de descanso e lazer. Quando o espaço oferece muitas opções de atividades e ainda mantém um clima familiar, melhor ainda. É esse o cenário que encontram os sócios da Associação de Esporte e Lazer dos Subtenentes e Sargentos do Exército (Asseb) e do Clube dos Previdenciários de Brasília (Previ). Embora cada um possua sua própria identidade, ser um ambiente acolhedor é característica dos dois locais. Tanto que qualquer pessoa pode fazer parte das instituições.
 
“Eu me sinto em casa na Asseb, porque é um clube totalmente organizado, onde todos se tratam como parentes. Nós temos uma filosofia de que cada um tem sua participação na hora de zelar pelo clube e isso cria um ciclo de amizade saudável. Tem funcionário que é como se fosse irmão para mim”, conta Fagundes de Oliveira, 84 anos, um dos sócios mais antigos da associação. Militar da reserva, ele viu o clube crescer e conhece cada detalhe da história do lugar. “Lembro-me que a Asseb começou no Rio de Janeiro e teve esse braço no Distrito Federal. Mas, com o tempo, a gente foi querendo ter uma independência deles, porque lá era um ótimo lugar, mas Brasília é Brasília”, brinca.
 
Conhecido antigamente como Clube do Rocha, o lugar passou a fazer parte da história do Distrito Federal oferecendo grandes eventos e uma recepção que faz qualquer um se sentir num segundo lar. Sérgio Luiz Dias, atual presidente, é parte da associação há quase 20 anos, mas começou trabalhando como terceirizado do bar da Asseb. “Naquele tempo fui estudando o clube e observando o que poderia melhorar. Quando cheguei à direção, comecei a implementar algumas melhorias. Mas o que não mudou nesses anos foi um dos nossos principais diferenciais, que é a união entre todos os funcionários e sócios”, avalia.

Complexo esportivo tem campeonatos entre sócios na Asseb (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

Complexo esportivo tem campeonatos entre sócios na Asseb

 

 


Sergio Luiz Dias (D) e o vice, Jeronimo Barbosa: a Asseb para o sócio (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

Sergio Luiz Dias (D) e o vice, Jeronimo Barbosa: a Asseb para o sócio

 


Crianças moradoras do Itapoã participam de atividades na Asseb (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

Crianças moradoras do Itapoã participam de atividades na Asseb

 



Gerações
 
Apesar da longa história do clube, destacada principalmente pelos mais velhos, o lugar também recebe de braços abertos crianças e adolescentes. “Por conta dos planos família, também temos muitos jovens entre os associados. Eles gostam de jogar bola, praticar esportes em geral, assar uma carne com os amigos e se divertir”, conta. O vice-presidente da instituição, Jerônimo Barbosa, lembra que o público infantil que faz parte de um projeto social do clube também dá vida ao lugar. “Administrar esse clube é mais do que um serviço comum, porque nós não queremos ganhos financeiros, queremos é ver a felicidade das crianças do programa e a comodidade dos sócios, por exemplo”.
 
Há nove anos a Asseb mantém o Projeto Programa Força no Esporte (Profesp), que atende mil crianças de regiões vulneráveis para fornecer aulas de reforço, complementações pedagógicas, alimentação e atividades esportivas. O diferencial é comemorado por pessoas como Francisco Antônio de Andrade, coordenador da ação, que acredita que todo clube poderia ter propostas semelhantes.
 
“Segunda, terça e quarta-feira as dependências ficavam mais ociosas antes do programa, e hoje já não é mais assim. Mas o principal motivador são as crianças. Algumas histórias delas mexem muito com a gente”, lembra.
 
Um dos pequenos que está diariamente na associação no contraturno escolar é Felipe Wanderley, 9 anos. Morador do Itapoã, ele tem nove irmãos e sonhos do tamanho da família. “Quero ser engenheiro quando crescer e o projeto me ajuda muito. Com as aulas de reforço estou aprendendo inglês e espanhol. Também tive aulas de artesanato, que são boas para a escola, porque aprendi a ter criatividade”, explica.

Aulas de natação movimentam o Previ (Vinicius Cardoso Vieira/Esp. CB/D.A Press)  

Aulas de natação movimentam o Previ

 


Clara Camarano e Flavia Teixeira: o clube é uma segunda casa (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

Clara Camarano e Flavia Teixeira: o clube é uma segunda casa

 



Pequena cidade
 
Outro lugar que deixa os associados se sentindo em casa é o Clube dos Previdenciários de Brasília, apelidado carinhosamente de Previ. Fundado em 1962, ele também é conhecido por ser um espaço onde se encontra de tudo: atividades de musculação, taekwondo, música, futebol, judô, karatê, ioga, natação, hidroginástica, balé, crossfit, serviços de atelier de costura, consultório de homeopatia, clínica de estética, lavanderia, lava-jato, restaurantes e até salão de sinuca estão entre as opções do ambiente.
 
“Meu avô era sócio e trazia os netos. Depois essa paixão passou para o meu pai e para mim. Fico encantada porque o clube é uma minicidade, tem muitos serviços e um atendimento bem acolhedor, quase personalizado”, conta Flávia Teixeira da Silva, 46, profissional de relações públicas e associada desde os 5 anos. Brincando que praticamente mora no Previ, ela lembra ainda que o clube sempre se adequou às suas necessidades ao longo do tempo. “Quando criança eu fazia natação, depois passei a fazer balé clássico. Fui crescendo e mudando as atividades, jogando totó na adolescência, participando da feirinha de vendas na fase adulta… Cresci dentro do clube”.
 
Presidente há 14 anos, José Vital Campos diz que se sente como se fosse um associado. “Eu não recebo salário nenhum, mas vou todo dia para o Previ, porque gosto, isso me rejuvenesce, mesmo eu estando com meus 80 anos. Muitas vezes, acabo tirando do meu bolso para sustentar alguma mudança, mas é bom ver o clube crescer”, diz.
 
Um dos maiores orgulhos dos sócios e de José Vital é a tradicional seresta do clube, que acontece semanalmente e enche a casa. “Nossa festa tem uma frequência de 500 pessoas a cada sexta-feira e é muito especial e tradicional, tanto que a gente só não realiza em duas ocasiões, no Dia de Finados e ano-novo. Sempre contratamos os melhores conjuntos pensando nos sócios. Já tivemos nela até o Nelson Gonçalves e Agnaldo Timóteo”, lembra.
 
Memórias afetivas
 
Esses eventos ficam guardados em fotos e recordações de Flávia, que lembra de quando o pai era vivo e não perdia uma seresta. “Eu buscava ele em casa, íamos para o Previ, na sexta-feira à noite, e nos divertíamos muito. Meu pai era o dançarino principal! Foram momentos bem especiais para a gente. Me traz uma memória afetiva muito forte lembrar daquelas músicas de época, como boleros, das danças... é muito gostoso”.
 
Quem também tem momentos para recordar de forma carinhosa no clube é a atriz Clara Camarano, 35. Ela é sócia  desde a infância e só se distanciou quando foi morar no Rio de Janeiro, mas agora está de volta ao lar. “Acho que os pais precisam incentivar mais os filhos a saírem dos celulares, meios eletrônicos e irem aos clubes. Nesse ambiente eles se divertem, conhecem outras pessoas, nadam, jogam... tudo isso resgata um pouco daquela velha infância que eu tive nessas dependências”, conta.


Clube dos Previdenciários de Brasília (Previ)
 
» Área: 12 mil metros quadrados

» Número de sócios: 2500 associados

» Como se associar: o clube permite associados de todo o Distrito Federal e possui convites para uso diário de público externo, que custa R$ 40. Para se associar, basta comparecer à secretaria, localizada na 712/912 Sul. As mensalidades possuem preços a partir de R$ 100.
 
Criação: 1962


Associação de Esporte e Lazer dos Subtenentes e Sargentos do Exército (Asseb) 
 
» Área: 50 mil metros quadrados

» Número de sócios: mais de 2 mil associados

» Como se associar: há uma ficha de associação a ser preenchida no site oficial do clube, mas os interessados podem ir até o local para conhecer as dependências e atividades oferecidas, independente de ter ou não patentes militares. O plano família é o mais acessível, e custa R$ 107.

» Criação: 1950 no Rio de Janeiro. Em 1969 foi inaugurada a filial em Brasília com, nome de Clube do Rocha e, em 2013, foi inaugurada com independência do Rio, com nome de Asseb.
 
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Correio Braziliense sexta, 02 de agosto de 2019

O AZUL DO CÉU ENCONTRA O AMARELO DO IPÊ

 

O azul do céu encontra o amarelo do ipê
 
Depois das espécies com floração roxa, é a vez de a cidade se encantar com as plantas cor de ouro

 

» CAROLINE CINTRA

Publicação: 02/08/2019 04:00

Em Sobradinho (Ana Rayssa/CB/D.A Press)  

Em Sobradinho

 



Na quadra 13 de Sobradinho, um ipê bastante florido virou ponto turístico da cidade (Ana Rayssa/CB/D.A Press)  

Na quadra 13 de Sobradinho, um ipê bastante florido virou ponto turístico da cidade

 

 Chegou a temporada de um dos ipês mais queridos pelos brasilienses, o amarelo. Em diversas regiões do Distrito Federal, já podem ser vistas as árvores características do cerrado florindo e enfeitando a capital com a cor alegre e cheia de vida. Esta é a segunda espécie de ipê a florescer, seguida do rosa, depois o branco e, por último, o verde. O que abre o período é o roxo, que ainda pode ser visto em diversos lugares, em especial, no centro de Brasília, na Esplanada dos Ministérios (veja Para Saber Mais).
 
Os ipês-amarelos são os que têm plantas mais vigorosas e resistentes e atingem entre 15 metros e 18 metros. A duração das flores é de 15 dias, em média, sendo que uma árvore pode florir mais de uma vez durante o mesmo período de seca. A floração de uma mesma cor pode durar até dois meses, dependendo das condições climáticas.
 
Além da beleza, os ipês-amarelos fazem parte dos cartões-postais do DF. O chefe do Departamento de Parques e Jardins (DPJ) da Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap), Raimundo Silva, ressalta que todas as espécies da árvore têm peculiaridades, no entanto, a amarela é a que mais chama a atenção, principalmente de turistas. “É o ipê que tem a cor mais nítida e, hoje, é o símbolo do DF. Muitas pessoas vêm de fora para tirar foto e registrar a beleza dos ipês-amarelos”, conta.
 
Em Águas Claras (Ana Rayssa/CB/D.A Press)  

Em Águas Claras

 

 Em Sobradinho, uma árvore na área verde da Quadra 13 floresceu e está atraindo pessoas de todas as regiões. Alguns fazem apenas o registro fotográfico, outros celebram a floração com muita gratidão, como é o caso da corretora de seguros Cristiane Bonjardim, 41 anos, que mora em frente ao ipê. Ao falar sobre a beleza da árvore, os olhos cheios de lágrimas demonstravam a emoção de poder acordar e olhar as flores de cores vibrantes. “Não dá para descrever. Vê-lo assim, florido, dá uma sensação de vida, de algo feito por Deus mesmo”, declara.
 
Diariamente, a corretora anda pela área verde com os quatro cachorros da família e ressalta que até os animais de estimação se divertem com a árvore. “Eles vão direto para debaixo dela e brincam com as flores no chão, que é outro espetáculo. O solo amarelinho, contrastando com o azul do céu, fica maravilhoso. Tem gente vindo aqui direto para tirar foto, fazer vídeo. Virou um ponto turístico mesmo da cidade”, disse.
 
Em Águas Claras, o início da floração de um ipê-amarelo encanta a auxiliar de serviços gerais Vanderléia Alves, 42. Ela mora em Águas Lindas (GO) e passa pela árvore diariamente para chegar ao serviço. Para ela, a cidade fica mais linda quando as flores começam a aparecer. Além disso, gosta de tirar fotos quando encontra uma. “Ver todos os dias anima mais meu dia e deixa a paisagem ainda mais bonita. Por enquanto, só encontrei essa. Não vejo a hora de ver a cidade toda florida”, afirma.

Cristiane Bonjardim foi agraciada com um ipê-amarelo em frente à sua casa:  

Cristiane Bonjardim foi agraciada com um ipê-amarelo em frente à sua casa: "Dá uma sensação de vida. De algo feito por Deus mesmo"

 



No caminho 
para o trabalho, Vanderléia Alves para e admira 
a floração (Ana Rayssa/CB/D.A Press)  

No caminho para o trabalho, Vanderléia Alves para e admira a floração

 

 
Árvores do cerrado
 
A paixão pela natureza fez o servidor público Matheus Gonçalves, 40, criar um perfil no Instagram para compartilhar imagens de árvores nativas do cerrado. O interesse surgiu ainda na infância, quando observava as árvores tortuosas nas superquadras e parques de Brasília e o colorido dos ipês. Na hora de escolher a cor favorita, não disfarça admiração por todas. “Acho que cada uma delas, em seu tempo, colore de maneira muito especial a cidade. Mas, naturalmente, o amarelo é aquele mais chamativo e imponente”, admite.
 
Quem passa pela 705 Norte se depara com um ipê cujas flores amarelas “nunca murcham”. Na verdade, a árvore, feita de tecido TNT, fazia parte de uma exposição do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) e foi resgatada pelo dono do coworking Espaço 365, Flávio Mikami, com o intuito de levar mais cor para a Asa Norte. “Ela foi um marco no processo de revitalização que a gente quer fazer na W3 Norte, um lugar bastante discriminado. A gente quis construir algo belo e que fizesse diferença na paisagem de Brasília”, disse o empresário.
 
A peça está no local desde o ano passado e chama a atenção de quem passa. Para Flávio, a árvore representa a construção de algo novo, além de representar resistência, que, segundo ele, simboliza a região. “O ipê resiste em lugares menos propícios. Está ali, nasce e se mantém em temperaturas bem adversas. Representa bastante o nosso espaço e a capital”, completa.


#missãoipêcb
A temporada dos ipês-amarelos ainda está no início, mas eles já podem ser vistos em várias regiões do DF. Encontrou algum por aí? Faça um lindo registro e publique a foto no Instagram com a hashtag #missãoipêcb. As imagens mais bonitas serão escolhidas pela equipe do Correio e compartilhadas nas redes sociais, no site e no jornal impresso. Vamos colorir nossas redes sociais com a beleza natural da árvore do cerrado.


Para Saber Mais
Veja as cores das florações dos ipês por época do ano:
 
» Roxo: junho e setembro
» Amarelo: julho e setembro
» Rosa: agosto e setembro
» Branco: agosto e outubro
» Verde: dezembro e março
 
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Correio Braziliense quinta, 01 de agosto de 2019

FERROVIA NORTE–SUL

 

Governo assina concessão de ferrovia

 

Simone Kafruni

Publicação: 01/08/2019 04:00





A Rumo Logística, empresa vencedora do leilão dos trechos central e sul da Ferrovia Norte-Sul (FNS), assinou o contrato de concessão, ontem, no Porto Seco Centro-Oeste, em Anápolis (GO), cidade que completa hoje 112 anos. A companhia venceu o certame ao oferecer R$ 2,719 bilhões de outorga, um ágio de 100% sobre o valor mínimo de R$ 1,35 bilhão. Os investimentos são estimados em R$ 2,72 bilhões.

O presidente Jair Bolsonaro, os ministros da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas; da Casa Civil, Onyx Lorenzoni; e da Agricultura, Tereza Cristina, além do governador de Goiás, Ronaldo Caiado, participaram da cerimônia com executivos da empresa.

Bolsonaro afirmou que há coisas que não se compra, se conquista: a confiança. “Vocês confiaram em mim. Os empresários da Rumo confiaram na gente. Esta obra aqui não é para empreiteiros, é para empreendedores”, destacou. Ele elogiou seus ministros e disse que as entregas do governo são fruto de um trabalho conjunto. “Esta obra liga quatro regiões do país. Une o Brasil e traz progresso. A obra vai baratear fretes, reduzir consumo de combustíveis. O modal ferroviário é muito bem-vindo”, frisou.

O ministro Freitas cumprimentou a Rumo, por acreditar no Brasil. “É uma entrega importante, que foi pensada no Império de Dom Pedro II e começou no governo de José Sarney, há 32 anos”, afirmou. “É o início de uma transformação. Vamos mudar a matriz de transporte brasileiro, dentro de uma estratégia ferroviária muito sólida. Vamos ver o trem passar com contêineres empilhados, em operação pioneira da Rumo. Carga de Manaus vai ser entregue em Porto Alegre”, destacou.

Espinha dorsal

O trecho da Ferrovia Norte-Sul, concedido por prazo de 30 anos, tem extensão de 1.537km, é a espinha dorsal do sistema ferroviário brasileiro e vai ampliar a conexão da região central do Brasil ao Porto de Santos (SP) e Porto de Itaqui (MA). A concessão será para operar a ferrovia, que está praticamente pronta.
 
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Correio Braziliense quarta, 31 de julho de 2019

JACKSON DO PANDEIRO: O REI DA PARAÍBA

 

O rei da Paraíba
 
O artista plástico Jô Oliveira produziu imagens para as celebrações dos 100 anos de Jackson do Pandeiro, um dos ícones da música brasileira

 

Severino Francisco

Publicação: 31/07/2019 04:00

 (Arquivo Pessoal)  
 
Neste 2019, o estado da Paraíba celebra, estuda, pesquisa, analisa, canta, dança, recria e respira Jackson do Pandeiro. O ano foi escolhido para ser tema central de uma série de comemorações conectadas com o sistema de educação. Não se trata de uma sessão naftalina. Jackson não é apresentado na condição apenas de representante da tradição; ele é reapresentado na singularidade de artista moderno, que misturava samba com rock, coco com samba, jazz com coco, chiclete com banana. É Jackson do Pandeiro pop.
 
E Brasília, onde Jackson do Pandeiro morreu em 10 julho de 1982,  entrou na conexão com o artista gráfico pernambucano/brasiliense Jô Oliveira. Ele fez uma série de cartazes e ilustrações sobre o cantor paraibano para uma megaexposição, sob a curadoria de Fernando Moura (biógrafo do cantor), Joseilda Diniz e Chico Pereira, no chamado Museu dos Três Pandeiros, desenhado por Oscar Niemeyer, em Campina Grande (PB).
 
As imagens de Jô são usadas como uma espécie de logomarca do evento: “A minha ligação com a música de Jackson do Pandeiro e de Luiz Gonzaga vem desde os tempos de criança”, explica Jô. “Para mim, foram eles que deram a grande revelação de uma imagem do Nordeste. Só havia a imagem de miséria e seca. Embora fizessem música, as canções deles tinham uma narrativa visual. Foram determinantes para que eu escolhesse um caminho popular”.
 
Jô lembra que ia ao cinema para trocar gibis e ver seriados norte-americanos. Ao mesmo tempo, o Nordeste se materializou também nos bonecos de Vitalino e nas xilogravuras do cordel. O cinema brasileiro ainda não havia abordado o cangaço: “A única informação que tínhamos vinha do rádio. Então, por isso, a música de Jackson foi tão importante para mim”.
 
Nos cartazes e nas ilustrações que criou para representar Jackson do Pandeiro, Jô incorporou as cores, os traços e os signos da cultura nordestina. Estão impregnados de uma psicodelia popular das festas e dos folguedos de rua: “Eu ilustrei muitos livros de clássicos de Shakespeare, dos Irmãos Grimm ou de Lewis Carroll. Levei algum tempo para compreender que tinham uma conexão forte com a cultura nordestina. Nos tempos de criança, eu achava que Branca de Neve era uma história que acontecia do outro lado da serra perto de onde eu morava. O conto popular se veste com roupa local. Então, tento colocar tudo isso nas imagens do Jackson do Pandeiro”.

 (Arquivo Pessoal)  


Estímulo
 
Jô foi convidado a participar do projeto pela professora Joseilda Diniz, uma das curadoras de uma grande exposição em cartaz no Museu dos Três Pandeiros (há também um memorial, em Alagoa Grande, com objetos e imagens do filho mais famoso da região). Ela estimulou Jô a compor a figura de Jackson com traços da cultura pop da década de 1960, aliado aos elementos da cultura popular nordestina.
 
Em uma delas, Jackson toca o globo terrestre como se fosse um pandeiro. O paraibano era um cidadão do mundo pela cultura. O museu fez um mapeamento de toda a produção em cordel e xilogravura sobre Jackson do Pandeiro. Além disso, encomendou aos artistas novas produções sobre o rei do ritmo: “O próprio Jô Oliveira se debruçou sobre esse imaginário”, comenta Joseilda. “Reeditamos folhetos e fizemos editais para a criação de folhetos inéditos sobre Jackson. A Secretaria de Educação do estado estabeleceu como atividade obrigatória o ensino da obra de Jackson do Pandeiro por meio de festivais, palestras e visitas a museus”.
 
 (Arquivo Pessoal)  
 
Entrevista / Fernando Moura
 
Fernando Moura é coautor da melhor biografia sobre Jackson do Pandeiro, O rei do ritmo, escrita em parceria com Antonio Vicente. Nesta entrevista, ele fala da invenção e da atualidade do cantor paraibano.
 
 
Jackson do Pandeiro é relegado à condição de artista da tradição. Por que a abordagem dele como artista pop nas comemorações dos 100 anos do cantor paraibano?
Veja só, quem conhece o repertório dele conhece 30 ou 40 músicas, mas nós levantamos que ele tem 437 gravações oficiais, sem contar as domésticas. Deste repertório, você tem uma diversidade enorme, ele não pode ser tachado só de cantor de coco, de forró, de samba, de xote, de baião, de rojão, de maracatu ou candomblé. Não pode ser rotulado apenas de forrozeiro, ele é o rei do ritmo, no país mais musical do planeta. Então, ele transita por toda essa pluralidade de gêneros. Na época dele, ele era moderno.
 
 
Poderia dar um exemplo?
Ele foi o primeiro cantor da música popular brasileira a falar de mudança de gênero. Ele faz isso na canção A mulher que virou homem. Ele fez um twist, usou o rock, para criticar o twist. Em Chiclete com banana, ele diz: “Olha, não é só vocês que dão as cartas, nós, brasileiros, temos uma música interessante que vocês precisam aprender a tocar”. A temática, a letra, a sonoridade e o tratamento são modernos. Por isso, é pop, traz referências musicais históricas que a gente abandonou por deficiência da memória musical.
 
 
Com Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro, a música popular nordestina dá um salto. Como situa a relevância da invenção em Jackson?
A palavra correta é essa. São reinventores quando trazem as matrizes da tradição e adicionam novos elementos da cultura musical. No caso do Jackson, traz elementos do bebop, do jazz, do suingue, das orquestrações europeias. Ele foi músico de orquestras entre Campina Grande e Recife. Conviveu com maestros da qualidade de Moacir Santos. E não era só executante, ele participava dos arranjos das orquestras trazidas a Campina Grande. Por conta do algodão, muito dinheiro circulava, vinham orquestras para Recife que iam direto para Campina Grande. Ele absorveu tudo isso e colocou no coco e no samba.
 
 
Qual a relevância de Jackson para a consolidação do forró?
É total, mas, antes, é preciso compreender que o forró é um guarda-chuva para todos gêneros do Nordeste. Forró é o que designava o local da festa. Era o samba, o local da festa, era o baile. O forró se consolida com Jackson e Gonzagão. Alceu Valença disse que Gonzaga era o Pelé e o Jackson era o Garrincha. São dois gênios.
 
 
Qual é o mistério do ritmo em Jackson?
Acho que nasceu com algo intrínseco, mas a mãe era a referência como coquista. Ele dizia que tudo é coco, talvez com algum exagero. Mas faz certo sentido dentro da música dele. Se acelerar o samba, encontra coco. Depois, tem a influência dos emboladores de coco, dos repentistas, de Manuelzinho Araújo, de Caco Velho. Ele incorporou os elementos de Caco Velho, tanto que em Recife Jackson é conhecido como sambista. Com isso, ele criou um jeito muito pessoal de dividir o ritmo, de dividir a palavra e de tocar pandeiro.
 
 
Como vê a questão da apropriação do legado de Jackson?
Se for citar os cantores que ele influenciou, será preciso botar mais ficha no orelhão: Alceu Valença, Geraldo de Azevedo, Gal Costa, João Gilberto, Djavan, Lenine, Chico César... Pela diversidade dele, para onde apontar o canhão, acerta na mosca. Mas Jackson não tem herdeiro, quem canta o forró, genericamente, só canta forró. Se o camarada está nesta linha de Jackson, vai pegar o repertório de Jackson associado a alguma de suas vertentes. Mas a maioria das pessoas não conseguem regravar a música dele, pois são muito difíceis de gravar. As pessoas são influenciadas por alguns aspectos.
 
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Correio Braziliense terça, 30 de julho de 2019

MICHEL TELÓ

 

Carreira embalada
 
Após turnê do projeto Bem sertanejo, Michel Teló volta com material inédito e nova iniciativa, o Churrasco do Teló. Ao mesmo tempo, artista reestreia na tevê no The voice Brasil e em quadro no Fantástico

 

Adriana Izel

Publicação: 30/07/2019 04:00

Desde a criação do projeto Bem sertanejo, Michel Teló tem mostrado a habilidade de ser multitarefas. A iniciativa, que celebra a música clássica e de raiz sertaneja, deu origem a um quadro no Fantástico, um livro, um musical que rodou o país, e um disco. Mesmo antes de encerrar a turnê do espetáculo no início deste ano, o sertanejo encontrou outra proposta com ares tão grandes quanto da anterior: o Churrasco do Teló.
 
Iniciado no ano passado, o também projeto bebe de um conceito do dia a dia do cantor: assar uma boa carne num dia de folga ao som das clássicas modas de viola. Teló quis trazer parte de sua rotina para o público. “Tenho um dia de folga, vou lá, acendo a churrasqueira, faço um churrasco, a gente canta umas modas, reúne a turma e resolvi fazer isso. (…) Um dia pensei que podia fazer um churrasco para o meu público, para todos os meus fãs”, conta o artista em entrevista ao Correio.
 
Turnê
 
Assim, lançou, no ano passado, o primeiro show do projeto em Atibaia, no interior de São Paulo. A ideia ainda deu origem a uma turnê, que rodará o Brasil com apresentações em resorts até 2020, e uma série de três EPs, que teve início na última sexta-feira com o lançamento do EP intitulado Churrasco do Teló — Quintal (Ao vivo).
 
Com seis músicas, o material é dedicado apenas a moda de viola, o “modão” como é mais conhecido o estilo pelo público do sertanejo. No entanto, diferentemente do que se poderia imaginar, são apenas faixas inéditas da vertente, em que cada uma delas tem uma característica. “Esse primeiro é um EP que tem a sofrência; a música romântica; a mais dançante; e tem o Casal modão, que é um bachata dançante, com um papo divertido, de festa e aquele refrão que gruda na cabeça. Faz tempo que estou querendo lançar uma música assim”, completa.
 
Ao mesmo tempo em que lança um novo EP e sai em turnê pelo país, Michel Teló precisa conciliar a agenda com as gravações televisivas. É que o sertanejo retorna a dois projetos do passado. Desde o último domingo, ele pode ser visto no Fantástico à frente de mais uma temporada do programa Bem sertanejo. Desta vez, o cantor vai mostrar os bastidores dos grandes eventos de música sertaneja do Brasil. A estreia foi com o aclamado Festival Villa Mix, que tem a principal edição em Goiânia e versões pockets pelo Brasil.
 
A partir de hoje, Michel Teló volta a assumir outro cargo que adora: o de técnico do The voice Brasil. Na oitava temporada do reality show, que será exibida às terças e quintas na Rede Globo, ele busca o pentacampeonato. “Eu sou suspeito dizer, mas, pra mim, é um dos programas mais bacanas da nossa televisão brasileira. A gente ter a alegria de dar a oportunidade para grandes talentos, que muitas vezes estão escondidos e podem se mostrar para milhões de pessoas, ganhar fãs e subir num palco onde tudo é feito com muito carinho... É muito bacana”, analisa.
 
 
 (Deivid Correia/Divulgação)  
 
De onde veio o conceito do Churrasco do Teló?
Surgiu do que a gente faz no dia a dia, e no que eu faço desde sempre naquele dia de folga. Naquele domingão em que meus pais reuniam a família, faziam aquele churrasco e cantavam as modas da música sertaneja. Então, isso desde sempre e até hoje eu faço. Tenho um dia de folga, vou lá, acendo a churrasqueira, faço um churrasco, a gente canta umas modas, reúne a turma e resolvi fazer isso. Acho que a galera, a cada dia mais, tem curtido essa coisa do churrasco. Vejo que a turma gosta disso. É algo que faz parte da minha vida desde sempre até hoje. E aí um dia pensei que podia fazer um churrasco para o meu público, para todos os meus fãs. O primeiro evento foi em outubro do ano passado em Atibaia (interior de São Paulo). Foi uma tarde inteira, do meio-dia até fim do dia. Com os melhores churrasqueiros, com carne de primeira, cada hora sai um corte, uma carne diferente. O cara passa o dia inteiro curtindo, comendo churrasco e eu faço um show intimista e diferenciado. É um projeto muito bacana, vira um churrasco top, como se fosse em casa.
 
 
Como foi escolher o repertório desse EP que é dedicado ao modão?
Até o meu projeto mais recente, que foi o show Bem sertanejo, a gente fez vários clássicos. Essa minha ideia era fazer um álbum inédito. Na verdade, serão três EPs. Esse primeiro, a gente gravou a noite em São Paulo, com churrasco rolando. A gente comeu carne antes, durante e depois da gravação. O próximo EP a gente vai gravar no segundo semestre e vai lançar até o fim do ano. O outro EP vamos lançar no começo do ano que vem. A próxima ideia é que o evento seja de dia e grande, para um público de até três mil pessoas.
 
 
Esse primeiro EP tem as músicas de modão. O que podemos esperar dos dois próximos EPs quando se fala em sonoridade?
Acho que cada um vai ter uma cara. Na verdade, conforme o repertório vai chegando, a gente vai encontrando com os compositores e eles vão enviando as músicas. O álbum vai criando a sua imagem de uma maneira natural. Esse próximo, por ser um ambiente de dia, a ideia é ser um EP mais dançante até. Esse primeiro é um EP que tem a sofrência; a música romântica; a mais dançante; e tem o Casal modão, que é um bachata dançante, com um papo divertido, de festa e aquele refrão que gruda na cabeça. Faz tempo que estou querendo lançar uma música assim. Historicamente eu tenho essa experiência de refrões que grudam na cabeça das pessoas. O Casal modão você escuta uma vez e já sai cantando. (Risos)
 
 
Casal modão é realmente uma música chiclete, como Ai se eu te pego e Fugidinha...
Estamos torcendo para isso. Eu estou confiante nisso. Nos shows em que eu cantei, a turma já estava curtindo junto. Foi recebido muito bem.
 
 
Ao longo da sua carreira, você fez muita questão de contar a história da música sertaneja e de deixar esse legado bem visível. O Bem sertanejo é um grande exemplo disso e suas músicas também. Você tem essa intenção de deixar a porta aberta para a música sertaneja e para a raiz?
Eu sou muito grato a música sertaneja. Tudo que eu tenho. A minha experiência musical. O que eu pude viver, inclusive, de viajar o mundo inteiro. É por causa do meu estilo. Hoje a música sertaneja é muito mais pop, mais moderna. Mas acho que a gente tem que manter a nossa raiz, a nossa tradição viva. E eu criei esse projeto Bem sertanejo com esse papel, de manter isso. Faço isso com muita alegria e carinho. Hoje você vê a juventude cantando clássicos. E é muito bacana a gente poder manter isso. É importante! É a nossa história. A música sertaneja faz parte da nossa cultura, do nosso sangue. E é legal a gente manter isso, mas também trazer o nosso som, o som da galera. Poder viver todos esses dois mundos é muito especial. Fico muito feliz por isso.
 
 
Como é a agenda de shows desse  projeto Churrasco do Teló?
O primeiro evento foi em Atibaia (SP). O segundo eu fiz em Cumbuco, em Fortaleza. E o próximo é mês que vem em Itu (SP), em um novo hotel da cidade. Em setembro, a gente vai para Caldas Novas (GO). Depois a gente segue para Abaetê, Minas Gerais, e vai para Foz do Iguaçu (PR). Daqui até o final de 2020, a gente vai rodar o Brasil fazendo várias edições desse Churrasco do Teló, que é feito em resorts.
 
 
No meio de tudo isso você volta para mais uma temporada do The voice Brasil e imagino que querendo ganhar mais uma. Qual é a sua estratégiapara essa temporada?
A gente vem para batalhar pelo penta. Rumo ao penta. A temporada está muito bacana. É muito legal poder fazer parte do The voice. Eu sou suspeito dizer, mas, pra mim, é um dos programas mais bacanas da nossa televisão brasileira. A gente ter a alegria de dar a oportunidade para grandes talentos, que muitas vezes estão escondidos e podem se mostrar para milhões de pessoas, ganhar fãs e subir num palco onde tudo é feito com muito carinho... É muito bacana. É muito bacana poder de alguma maneira dar conselhos e poder ajudar essas pessoas, é uma oportunidade muito legal. Poder fazer parte disso faz eu me sentir muito privilegiado a cada temporada.
 
 
Você tem transitado por várias áreas, né?
Sim e tem mais uma coisa que estará no ar, que é o Bem sertanejo no Fantástico. A nova temporada começou no dia 28 e a gente vai mostrar um pouco dos grandes eventos da música sertaneja. O primeiro episódio gravei em Goiânia no Villa Mix, com Jorge & Mateus e Matheus & Kauan. Nessa temporada, eu pedi para o Tarso (Marques) do Lata velha do Caldeirão (do Huck) preparar uma caminhonete para um cara que ama um churrasco. Desde o ano passado, o tema é o churrasco, mas, neste ano, vem mais forte.
 
 
Como você consegue conciliar tantos projetos ao mesmo tempo?
Essa época do The voice, esse período agora dá uma complicada. Semana retrasada mesmo, eu gravei de segunda a sábado, de manhã até a noite. A gente gravou as Audições às cegas (primeira fase do programa em que os artistas cantam sem que os técnicos vejam). Na semana anterior à aquela, eu gravei o Bem sertanejo. E tem os shows, as campanhas de várias marcas parceiras, e tem o lançamento do EP. Já estou preparando o novo EP. O ano começou a gente estava com o musical (Bem sertanejo — O musical). Acho que esse é o grande desafio de todo mundo, conciliar agenda para estar presente em casa. Tem fim de semana que dá uma complicada e passar a semana inteira fora, não é fácil. Mas é a nossa luta. Acho que não é uma coisa só minha. É de todo mundo. Todo mundo batalha para buscar esse equilíbrio entre estar em casa e estar envolvido nos projetos. Nessa época, acaba dando uma apertada.
 
 
 (Som Livre/Reprodução)  
 
Churrasco do Teló
De Michel Teló. Som Livre, seis músicas. Disponível nas plataformas digitais.
 
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Correio Braziliense segunda, 29 de julho de 2019

BRASÍLIA TERÁ ÔNIBUS AUTÔNOMO

 


Brasília terá ônibus autônomo
 
O veículo, que não precisará de motorista, vai circular, em fase de teste, na Esplanada dos Ministérios. O projeto piloto é uma parceria entre o GDF e uma empresa do Vale do Silício, nos Estados Unidos

 

» Renato Souza
» Simone Kafruni

Publicação: 29/07/2019 04:00

Há 59 anos, Brasília impressionou o mundo com seu ambiente moderno e a ousadia do projeto. A criação de uma cidade inteira, no meio do Planalto Central, em apenas cinco anos, desafiou os conceitos de arquitetura e urbanismo. Agora, a cidade, mais uma vez, pretende encarar um desafio para manter a fama de ter cenário futurístico. O governo do DF lançou plano para fazer da capital federal a primeira cidade inteligente da América Latina. Nos próximos meses, moradores terão a oportunidade de conhecer e entender os benefícios da inteligência artificial. O passo revolucionário será no transporte urbano terrestre. O GDF pretende colocar um ônibus autônomo, ou seja, que se desloca sem a necessidade de motorista, para levar passageiros que passam todos os dias pela Esplanada dos Ministérios.
 
As negociações em torno do primeiro coletivo autônomo do DF estão em andamento. A empresa responsável por implantar o projeto piloto está localizada no Vale do Silício, nos Estados Unidos. A região é o berço da informática moderna, deu origem à computação como se conhece hoje e continua inovando para transformar a humanidade nas próximas décadas. Após o desenvolvimento dos microcomputadores, da internet, do avanço da fibra ótica e dos softwares para usuários, as grandes empresas de tecnologia se concentram agora na interação da rede de computadores com outros objetos que fazem parte da vida das pessoas.
 
A comunicação entre o computador, a geladeira, a televisão e as luzes de uma casa já é uma realidade. O próximo passo é criar um sistema de transporte inteligente, que evite acidentes, faça o fluxo de veículos fluir sem entraves e dê tempo para que o usuário aproveite a viagem para pensar, ler e se divertir. Quando projetou a capital, na década de 1950, o urbanista Lúcio Costa não imaginou que as ruas largas seriam perfeitas não apenas para os próximos 60 anos, mas também para os próximos séculos. O trecho plano, com poucas curvas e vias espaçosas da Esplanada, é o cenário ideal para o teste do ônibus. A cidade resolveu antecipar previsões de especialistas. Um  estudo da Rethink X mostra que, até 2030, cerca de 95% de cada quilômetro rodado será por um veículo autônomo.
 
O contrato com a empresa que desenvolve o coletivo deve ser fechado nos próximos 60 dias. Em seguida, o ônibus será trazido para Brasília. O secretário de Ciência e Tecnologia de Brasília, Gilvan Máximo, destaca que esse será apenas o começo de uma proposta a ser levada para todo o DF. “Os próximos encontros servirão para conhecer a tecnologia. Será um projeto piloto para avaliar a expansão posteriormente. O ônibus será completamente autônomo, sem a necessidade de motorista ou qualquer outro funcionário. O software já foi desenvolvido, e o trajeto simples da Esplanada é ideal para testá-lo”, conta.
 
Máximo diz que não está autorizado a revelar o nome da empresa escolhida, até que o contrato esteja fechado. Mas o coletivo deve começar a circular ainda neste segundo semestre. “Não estamos medindo esforços para avançar nessa tecnologia. Vamos ser a primeira cidade a testar a internet 5G, que é muito mais rápida do que a comum. Câmeras inteligentes, de reconhecimento facial, serão espalhadas pela cidade. E tudo isso estará interligado para mudar a rotina dos moradores do DF”, frisa.
 
Colocar um carro de passeio autônomo nas ruas já é um grande desafio. Ao avaliar a situação na perspectiva de um ônibus, preparado para transportar até 100 pessoas, é possível perceber que o planejamento tem de ser ainda mais preciso. O analista de sistemas de informação Ruan Carlos, especialista em inteligência artificial, destaca que não pode haver falhas na tecnologia, sob o risco de causar acidentes. “O processamento das informações colhidas no trajeto não ficará no próprio ônibus, mas, sim, na nuvem. O acesso à internet precisa ser muito bom. Nessa comunicação, existe um tempo de latência (tempo de transmissão da informação), que deverá ser muito rápido”, ressalta. “Não pode ocorrer falha. Se uma pessoa se joga na frente do ônibus, a câmera vai identificar que existe o objeto e envia a imagem ao servidor. E o servidor precisa responder identificando que se trata de uma pessoa. Assim, o coletivo agirá para evitar um acidente.”
 
Veículos elétricos
 
As mudanças no trânsito do DF, neste segundo semestre, prometem abrir espaço para um caminho sem volta rumo ao que existe de ponta na tecnologia global. A Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) e o GDF fecharam uma parceria que vai disponibilizar 16 carros do modelo Twizy, da marca Renault, para serem usados por servidores distritais. O número de veículos pode aumentar após a implantação do projeto inicial. Ao mesmo tempo, o DF terá 35 eletropostos, que podem abastecer qualquer veículo elétrico.
 
Para incentivar o uso dessa tecnologia, que deixa para trás o combustível fóssil e o impacto ao meio ambiente, os pontos de recarga poderão ser usados sem custo pelos usuários. A cidade será um laboratório a céu aberto para revelar como a tecnologia pode melhorar a mobilidade urbana. Com a troca de parte da frota, o governo espera economizar até R$ 10 milhões por ano em manutenção e combustível.
 
O presidente da ABDI, Guto Ferreira, afirma que a cidade vai contribuir com a evolução dos meios de transporte, além de abrir caminho para o ingresso da alta tecnologia no dia a dia das pessoas. “É muito importante demonstrar as soluções em ambiente real, numa cidade com características que permitam a avaliação dos resultados para a população e para a indústria associada”, diz. “E, entre as soluções, o compartilhamento de veículos elétricos se encontra em fase mais madura, com testes sólidos no Parque Tecnológico e na Itaipu Binacional. A ABDI tem como objetivo mudar o pensamento da nossa sociedade para que as novas tecnologias tenham mais aderência. O compartilhamento de veículos elétricos é uma delas, é o futuro da nossa mobilidade.”


"Vamos ser a primeira cidade a testar a internet 5G, que é muito mais 
rápida do que a comum. Câmeras inteligentes, de reconhecimento facial, 
serão espalhadas pela cidade. E tudo isso estará interligado, 
para mudar a rotina dos moradores do DF”
 
Gilvan Máximo, 
secretário de Ciência e Tecnologia de Brasília
 
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Correio Braziliense domingo, 28 de julho de 2019

DE OLHO NO PRATO DA GAROTADA

 


FITNESS E NUTRIÃO
 
De olho no prato da garotada]
 
Os pais não podem abrir mão de oferecer uma dieta equilibrada e saudável aos filhos, mesmo que eles relutem. Especialistas dão dicas

 

Por Silvana Sousa*

Publicação: 28/07/2019 04:00

Juliana Almeida precisa negociar muito com a filha Pietra para que ela experimente alguns alimentos (Ana Rayssa/CB/D.A Press)  

Juliana Almeida precisa negociar muito com a filha Pietra para que ela experimente alguns alimentos

 

Trabalhar a educação alimentar dos filhos pode ser um grande desafio para os pais. Isso porque introduzir comidas saudáveis não parece tão agradável aos pequenos quanto comer doce ou se deliciar com um hambúrguer. Mas os perigos de não cuidar da alimentação deles pode custar caro, ainda na infância. A escolha por comidas mais palatáveis, práticas e nem sempre nutricionais pode prejudicar a formação de hábitos alimentares e favorecer o aparecimento de doenças, como a pressão alta e o diabetes.
 
Sem contar com a obesidade infantil, que é um dos principais problemas da alimentação inadequada. Dados do Ministério da Saúde mostram que 12,9% das crianças brasileiras de 5 a 9 anos são obesas. Mas esse é apenas um recorte de um problema global: a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 41 milhões de pessoas com idade menor que 5 anos estejam acima do peso.
 
Alterações no peso podem ser apenas um dos problemas apresentados pelas crianças, que estão propensas, ainda, a desenvolver mudanças significativas no sono e no desenvolvimento cognitivo, motor e de estatura devido à baixa ingestão de nutrientes, vitaminas e minerais. “Uma alimentação inadequada pode trazer até mesmo problemas emocionais”, alerta Nathália Sarkis, pediatra do Hospital Santa Lúcia e membro titular da Sociedade Brasileira de Pediatria.
 
A nutricionista Camila Pedrosa explica que uma das maiores dificuldades encontradas pelos pais é a grande quantidade de produtos industrializados voltados ao público infantil. “Cada vez mais, temos produtos com personagens, com cores chamativas, propagandas específicas. Isso, aliado à falta de tempo dos pais de preparar o alimento dos filhos, aumenta o consumo de produtos processados”, explica.
 
Por ter apresentando refluxo até os 2 anos de idade, Gustavo Marques, filho da professora Emille Andrade Marques, não passou pela etapa de introdução alimentar. “Ele só mamava no peito e comia aquelas papinhas prontas”, relembra Emille. Fato que pode ter contribuído para a dificuldade que tem para comer, principalmente alimentos mais saudáveis.
 
A pediatra Nathália Sarkis aponta que a introdução de alimentos saudáveis e balanceados deve ser feita a partir do momento em que a criança inicia o primeiro contato com comidas sólidas, na idade de 4 a 6 meses de vida. “É uma fase de aceitação muito maior, o que aumenta a gama de alimentos pelos quais a criança se interessa.”
 
Em nome da praticidade, Emille cede a alimentos industrializados na hora de preparar a lancheira da escola. A grande aversão por frutas e verduras também é outro fator que dificulta a montagem. “Se eu mandar fruta para a escola, ela volta inteira, e ele sempre arruma uma desculpa para não comê-la.”
 
Como Gustavo está acima do peso, a mãe tem procurado ser mais rigorosa e regrar a alimentação dele nos momentos em que está em casa, além de ter cortado refrigerantes e frituras das refeições da família. “O prato dele é arroz, feijão e carne, mas é muito difícil adicionar uma salada ou uma verdura. Para ele comer, eu tenho que esconder, cortar pequeninho, essas coisas”, comenta. Além disso, o garoto frequenta aulas de futebol e natação para reverter o sobrepeso.
 
Negociação
 
A resistência a novos sabores também pode ser um obstáculo na hora de introduzir alimentos saudáveis na rotina das crianças. “Às vezes, os pais não acostumaram a criança a provar desde pequena, criando essa rejeição. E a tendência é de que eles também acabem não forçando a criança a experimentar”, pontua a nutricionista Camila Pedrosa.
 
Essa é a maior dificuldade encontrada por Juliana Almeida na dieta da filha Pietra, 9 anos. Apesar de não se alimentar mal, a pequena dá trabalho na hora de comer alimentos que nunca experimentou. “Se tiver uma cor ou um formato que não está acostumada, ela recusa na hora.”
 
A mãe conta que o segredo nessas horas é a paciência e a negociação com Pietra. “Semana passada, fiz sopa e ela não quis de jeito nenhum, e eu pedi para ela apenas provar. Depois de umas duas horas, Pietra, finalmente, comeu. E gostou tanto que repetiu.”
 
Nathália explica que persuadir a criança a provar é uma boa estratégia para driblar a aversão. “Uma criança que se alimenta de forma equivocada, ou que tende a não comer determinados alimentos, precisa de negociação, ou seja, diminuir o consumo de uns e incentivar o consumo de outros.”
 
Outra estratégia que pode ser adotada é a do planejamento alimentar da família. “Sistematizar a dispensa e a geladeira da casa é o primeiro grande passo. Os pais podem decidir, durante o fim de semana, o que vão oferecer nas refeições dos pequenos e deixar esses alimentos pré-prontos.”
 
Além disso, os responsáveis precisam estar atentos às próprias refeições a fim de estimular os filhos a procurarem por pratos mais nutritivos. “A criança tem que ver os pais comendo. Quando ela percebe que a família se alimenta de forma correta, vai ter um interesse maior por esse tipo de comida”, indica a pediatra.
 
*Estagiária sob supervisão de Sibele Negromonte
 
Para a criançada comer melhor
 
Invente novas combinações
  • Apesar da falta de tempo dos pais, é importante que haja uma atenção no prato das crianças, com o objetivo de variar a comida e criar combinações. Para isso, vale adicionar legumes à carne ou ao arroz e investir em sucos naturais para que a criança experimente frutas e verduras de formas diferentes.
 
Alimentos atraentes
  • Fazer desenhos no prato é uma maneira de estimular a alimentação da garotada. As crianças comem com os olhos e, em uma fase em que a imaginação está muito ativa, apostar na criatividade para dar novas formas a frutas e legumes pode ser a saída.
 
Estimule a participação
  • Quanto mais envolvidas no processo, mais as crianças se sentem estimuladas. Para isso, tanto no processo de compra quanto no preparo dos alimentos, conte com a ajuda das crianças e faça com que eles se sintam importantes e úteis.

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Correio Braziliense sábado, 27 de julho de 2019

MANUELA D,ÁVILA, A CONEXÃO DO HACKER

 


INVESTIGAÇÃO
 
Manuela D'Ávila, a conexão do hacker
 
A ex-deputada diz ter repassado para invasor o contato do jornalista Glenn Greenwald, do site The Intercept, que tem divulgado supostos diálogos do ministro Sérgio Moro com procuradores da Lava-Jato. Juiz prorroga prisão de suspeitos

» Renato Souza
» Thaís Moura*
» Hamilton Ferrari

Publicação: 27/07/2019 04:00

A ex-parlamentar foi candidata a vice-presidente da República na chapa do petista Fernando Haddad, nas eleições de outubro:  ela se dispôs a entregar o celular para perícia (Itamar Aguiar/AFP - 28/10/18 )  

A ex-parlamentar foi candidata a vice-presidente da República na chapa do petista Fernando Haddad, nas eleições de outubro: ela se dispôs a entregar o celular para perícia

 



Em depoimento à Polícia Federal, o hacker Walter Delgatti Neto, um dos quatro detidos por invasão de celulares de autoridades da República, afirmou que obteve o contato do jornalista Glenn Greenwald, do The Intercept Brasil, por meio da ex-deputada Manuela D’Ávilla (PCdoB), candidata a vice-presidente da República na chapa do petista Fernando Haddad nas eleições de outubro. O site tem veiculado uma série de reportagens baseadas em supostos diálogos entre o ministro da Justiça, Sérgio Moro, e procuradores da força-tarefa da Operação Lava-Jato. Ontem, o juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara Federal de Brasília, decidiu prorrogar por cinco dias a prisão preventiva de todos os detidos para preservar a investigação e impedir que eles interfiram nas diligências em andamento.

Delgatti afirmou no depoimento, divulgado pela Globo News, que ligou para Manuela D’Ávila pedindo o contato de Greenwald, mas que, diante da descrença dela em relação ao conteúdo vazado, enviou um áudio de uma conversa entre dois procuradores do Paraná para comprovar que falava a verdade. O acusado disse que se comunicou com o jornalista pelo aplicativo Telegram e que não pediu nem recebeu nenhum tipo de pagamento em troca dos dados que forneceu. Ele também contou que não repassou nenhum tipo de informação pessoal dele ao americano.

Procuradores da Lava-Jato e Sérgio Moro lançam dúvidas sobre a integridade das mensagens que são publicadas desde 9 de junho pelo Intercept. No entanto, o hacker negou que tenham sido realizadas edições do material. “(Walter Delgatti) disse que pode afirmar que não realizou qualquer edição dos conteúdos das contas de Telegram das quais teve acesso. Acredita não ser possível fazer a edição das mensagens do Telegram em razão do formato utilizado pelo aplicativo”, menciona um dos trechos do depoimento.

Em nota, Manuella D’Ávila confirmou que passou o contato de Greenwald, mas contradisse algumas declarações do hacker. A ex-deputada afirmou que foi comunicada pelo Telegram, em maio, de que o aparelho dela havia sido invadido no Estado da Virginia, nos Estados Unidos. Ela recebeu uma mensagem, e não uma ligação, como disse Walter, de uma pessoa que se identificou como alguém inserido na lista de contatos dela.

A pessoa teria informado que tinha obtido provas de graves atos ilícitos praticados por autoridades brasileiras. “Sem se identificar, mas dizendo morar no exterior, afirmou que queria divulgar o material por ele coletado para o bem do país, sem falar ou insinuar que pretendia receber pagamento ou vantagem de qualquer natureza”, disse Manuela na nota. “Pela invasão do meu celular e pelas mensagens enviadas, imaginei que se tratasse de alguma armadilha montada por meus adversários políticos. Por isso, apesar de ser jornalista e estar apta a produzir matérias com sigilo de fonte, repassei ao invasor do meu celular o contato do reconhecido e renomado jornalista investigativo Glenn Greenwald”, emendou.

A ex-deputada disse que desconhece, portanto, a identidade de quem invadiu o celular dela. “Desde já, me coloco à inteira disposição para auxiliar no esclarecimento dos fatos em apuração”, destacou. A ex-parlamentar ainda declarou que vai orientar os advogados a procederem a “imediata entrega das cópias das mensagens” à Polícia Federal. “Estou à disposição para prestar quaisquer esclarecimentos sobre o ocorrido e para apresentar meu aparelho celular à exame pericial”, frisou.

* Estagiária sob a supervisão de Cida Barbosa


Dificuldade
Em um relatório enviado à Justiça Federal, a PF afirmou que está prestes a acessar informações importantes para as investigações. Entre elas, estariam dados de celulares dos suspeitos. O aparelho usado pelos acusados, apesar de comum, dificulta o acesso às mensagens, o que demanda mais tempo de atividade para que os peritos consigam extrair o conteúdo.


Caso Snowden
O hacker disse que procurou Glenn Greenwald por causa da atuação dele no caso em que foram divulgados arquivos secretos da NSA, agência do governo dos Estados Unidos. O jornalista obteve de Edward Snowden, ex-analista de sistemas da NSA, dados sigilosos sobre a espionagem dos serviços de inteligência norte-americanas sobre outras nações. O alvo principal entre os países estrangeiros era o Brasil.
Jornal Impresso

 


Correio Braziliense sexta, 26 de julho de 2019

DEMOCRACIA SOB ATAQUE

 


INVESTIGAÇÃO
 
 
Democracia sob ataque
 
Apurações da PF mostram que os quatro presos em São Paulo hackearam integrantes dos Três Poderes, como os presidentes da Câmara e do Senado, ministros do STF e do STJ, procuradora-geral e até o presidente da República, Jair Bolsonaro

 

» Renato Souza
» Rodolfo Costa
» Alessandra Azevedo

Publicação: 26/07/2019 04:00

Bolsonaro em solenidade em Manaus: presidente disse que não trata assuntos de Estado por meio de troca de mensagens e, por isso, nada tem a temer sobre eventuais vazamentos (Alan Santos/PR)  

Bolsonaro em solenidade em Manaus: presidente disse que não trata assuntos de Estado por meio de troca de mensagens e, por isso, nada tem a temer sobre eventuais vazamentos

 



Com a prisão de quatro suspeitos de invadirem celulares de autoridades de todo o país, a Polícia Federal começa a avaliar a dimensão do ataque. A análise do material apreendido deixou claro que integrantes dos Três Poderes foram alvos da investida. Entre as vítimas estão o presidente da República, Jair Bolsonaro; a procuradora-geral da República, Raquel Dodge; os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia, e do Senado, Davi Alcolumbre; além de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). As informações apontam que cerca de mil pessoas tiveram suas contas no Telegram invadidas. Os investigadores ainda analisam o conteúdo encontrado e colhem o depoimento dos acusados para entender as motivações e a amplitude do caso.

De acordo com o Ministério da Justiça, Bolsonaro foi informado do fato “por uma questão de segurança nacional”, o que indica a gravidade com que o Executivo está avaliando a situação. Ao comentar o caso, em uma solenidade de entrega de medalhas da Olimpíada Internacional da Matemática sem Fronteiras, em Manaus, o presidente afirmou que não trata de assuntos sensíveis por meio da troca de mensagens. Ele disse, ainda, não ter receio sobre o conteúdo de mensagens que possam ser vazadas. “Não estou nem um pouco preocupado se, porventura, algo vazar aqui do meu telefone. Não vão encontrar nada que me comprometa”, declarou. O chefe do Planalto citou, por exemplo, que informações relacionadas à Venezuela não são tratadas por telefone. Pelo Twitter, ele pediu punição aos autores da invasão. “Um atentado grave contra o Brasil e suas instituições. Que sejam duramente punidos! O Brasil não é mais terra sem lei”, emendou.

O presidente do Supremo, Dias Toffoli, foi informado por Moro que integrantes da Corte também tiveram os celulares hackeados. De acordo com informações repassadas pelo ministro da Justiça, mensagens de SMS e do Telegram dos magistrados foram obtidas pelos criminosos. Pela assessoria, o STF informou que não vai se manifestar.

O presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), João Otávio de Noronha, também foi um dos alvos. Ele também soube do ataque por meio de Moro. Davi Alcolumbre, por sua vez, repudiou as ações ilegais e destacou não ter preocupações com a eventual exposição do conteúdo. “Recebi a informação de que meu aparelho de celular teria sofrido tentativa de hackeamento. Embora tranquilo, pois não tenho nada a esconder, manifesto minha indignação com a invasão de minha privacidade e não posso deixar de reafirmar minha repulsa às atividades desses criminosos virtuais, pois elas também representam uma afronta aos poderes da República e à população brasileira”, declarou. No governo também se fala em ofensiva para desestabilizar os Três Poderes. Já Rodrigo Maia demonstrou surpresa ao ser informado que teve o celular acessado ilegalmente.

Procuradoria

A PGR divulgou que Raquel Dodge não teve arquivos de seu telefone interceptados pelos criminosos, apesar de ter sido uma das autoridades na mira dos invasores. “Ao analisarem o caso específico da procuradora-geral, técnicos da Stic (Secretaria de Tecnologia da Informação e Comunicação da PGR) perceberam uma característica que chamou a atenção e que posteriormente foi um dos elementos centrais para se desvendar como se deram as invasões. É que, diferentemente de outros aparelhos que tiveram o aplicativo invadido, o de Raquel Dodge estava com a caixa postal desativada”, informou a instituição. Ainda de acordo com a PGR, 25 integrantes do Ministério Público Federal (MPF) tiveram os celulares invadidos.

As informações preliminares indicam que se trata de um grupo especializado em estelionato virtual. Fontes na PF apontam que é necessário periciar o material para saber de quais celulares, de fato, os invasores conseguiram interceptar conteúdos das conversas realizadas por meio de aplicativos.

Os alvos

» Jair Bolsonaro 
presidente da República
» Rodrigo Maia 
presidente da Câmara
» Davi Alcolumbre 
presidente do Senado
» Raquel Dodge 
procuradora-geral da República
» João Otávio de Noronha 
Superior Tribunal de Justiça
» Sérgio Moro 
ministro da Justiça
» Paulo Guedes 
ministro da Economia
» Deltan Dallagnol 
procurador da República no Paraná
» Ministros do STF
24 integrantes do MPF
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Correio Braziliense quinta, 25 de julho de 2019

HACKER CONFESSA TER INVADIDO TELEFONE DE MORO

 


INVESTIGAÇÃO
 
PF tenta descobrir as motivações
 
Corporação quer saber a razão pela qual os quatro presos em São Paulo hackearam telefones de autoridades. Um dos detidos confessou que invadiu celular de Moro. Acusados teriam feito ao menos mil vítimas e movimentaram mais de R$ 600 mil

 

» Renato Souza

Publicação: 25/07/2019 04:00

Dois dos detidos estão na Superintendência da Polícia Federal, e dois, na carceragem da corporação no Aeroporto Juscelino Kubitschek (Ed Alves/CB/D.A Press - 27/10/16)  

Dois dos detidos estão na Superintendência da Polícia Federal, e dois, na carceragem da corporação no Aeroporto Juscelino Kubitschek

 




Com a prisão de quatro suspeitos de terem invadido o celular do ministro da Justiça, Sérgio Moro, a Polícia Federal agora se concentra na busca pelas motivações do crime. Os investigadores também querem saber se outras pessoas estão envolvidas no caso, o que deve gerar novas fases da Operação Spooling, que apura o acesso ilegal a celulares de diversas autoridades.

Em depoimento à PF, Walter Delgatti Neto, um dos detidos, confessou que atuou na invasão do celular de Moro; do coordenador da Lava-Jato em Curitiba, Deltan Dallagnol; de delegados e juízes. Ao menos mil pessoas teriam sido vítimas de ataque, incluindo autoridades dos Três Poderes.

No apartamento de dois suspeitos, os agentes encontraram R$ 100 mil em espécie, numa mala. Além disso, movimentações financeiras no valor de R$ 627 mil entre março e julho deste ano na conta dos acusados chamaram a atenção.

Até o momento, as diligências apontam para um grupo especializado na invasão de aparelhos telefônicos com a finalidade de acessar contas de aplicativos de mensagens e extorquir dinheiro de parentes e amigos das vítimas.

Os suspeitos, Danilo Cristiano Marques, Walter Delgatti Neto, Gustavo Henrique Elias Santos e a mulher dele, Suelen Priscila de Oliveira, foram presos em Araraquara (SP), Ribeirão Preto (SP) e na capital paulista. Eles estão detidos em Brasília: dois na Superintendência da PF e dois na carceragem da corporação, no Aeroporto Juscelino Kubitschek.

O advogado Ariovaldo Moreira, que defende Gustavo, afirmou que o cliente chegou a receber, por computador, parte dos diálogos que estavam em poder de Walter Delgatti Neto. “Segundo relato do Gustavo, o Vermelho (apelido de Walter) mostrou pra ele algumas interceptações de uma autoridade (Sérgio Moro), tempos atrás”, disse.

Moreira contou que o cliente fez prints das mensagens recebidas. “O que ele me disse é que ele chegou a ver isso no computador dele. Inclusive, printou (captura da imagem da tela) isso no computador. E ele me disse que, no aplicativo dele, devolveu a mensagem para o Walter, dizendo que ele teria problemas”, completou o defensor. 

O dinheiro achado no apartamento, de acordo com o acusado, é fruto de compra e venda de uma moeda virtual. “O Gustavo é DJ e disse que estava operando a compra e venda de Bitcoins. Ele disse que tem como provar isso”, ressaltou o advogado.

Invasão generalizada

Uma das linhas de investigação é de que o mesmo grupo seja autor da investida cibernética contra procuradores que integram a Operação Lava-Jato no Paraná. “Há fortes indícios de que os investigados integram organização criminosa para a prática de crimes e se uniram para violar o sigilo telefônico de diversas autoridades públicas brasileiras, via invasão do aplicativo Telegram”, citou o juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara Federal de Brasília, na decisão em que autorizou as prisões.

Durante o cumprimento dos mandados de busca, na terça-feira, os policiais encontraram, no computador de um dos investigados, atalhos que davam acesso a diversas contas do Telegram, entre elas, a de Moro. Pelo menos mil contas diferentes estão registradas nos atalhos, o que indica o número de vítimas. No entanto, os investigadores aguardam o avanço das diligências para confirmar a amplitude do ataque.

O diretor do Instituto Nacional de Criminalística, Luiz Spricigo Júnior, afirmou que o foco agora será saber quem foram os alvos. “No celular do investigado havia uma conta ligada ao ministro Paulo Guedes (da Economia). Precisamos investigar, mas existem fortes indícios de que o ministro também foi vítima”, ressaltou Spricigo.

Modus operandi

Na decisão que autoriza as prisões e o cumprimento de mandados de busca e apreensão, o juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara Federal de Brasília, detalha como teria ocorrido a invasão ao celular de Moro e dos demais alvos. De acordo com o magistrado, as investigações da Polícia Federal apontam que os supostos hackers tiveram acesso a um código enviado pelo Telegram para que a conta de Moro fosse acessada por computador. O código é enviado por meio de uma ligação. “O invasor, então, realiza diversas ligações para o número alvo, a fim de que a linha fique ocupada e a ligação contendo o código de ativação do serviço Telegram Web seja direcionada para a caixa postal da vítima”, descreve o magistrado em sua decisão. A PF vai enviar à Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) informações sobre a dinâmica do ataque cibernético. A intenção é acabar com vulnerabilidades na rede das companhias telefônicas, que deixam os usuários expostos.


Os presos

Gustavo Henrique Elias Santos

Tem 28 anos, é conhecido como DJ Guto Dubra de Araraquara (SP). Trabalha com organização de festas eletrônicas. Foi preso em 2013 por receptação de uma caminhonete. Julgado em 2015, foi condenado a seis meses em regime semiaberto. Movimentou R$ 424 mil entre 18 de abril e 29 de junho de 2018. Tem renda média de 
R$ 2.866.



Suelen Priscila 
de Oliveira

Tem 25 anos, foi presa no mesmo endereço de Gustavo, em São Paulo, com quem já foi casada. Movimentou R$ 203 mil entre 7 de março e 29 de maio. Tem renda mensal registrada de R$ 2.191.



Walter Delgatti Neto

Tem 30 anos, é conhecido como Vermelho e foi preso em Ribeirão Preto (SP). Costumava se apresentar como investidor e estudante de medicina da USP, onde não estudava. Foi alvo de mandado de busca e apreensão em 2015, quando a namorada do irmão dele, de 17 anos, o acusou de dopá-la e estuprá-la. Em sua página no Twitter, fez críticas ao presidente Jair Bolsonaro e a Sérgio Moro. Chegou a responder ao coordenador da Lava-Jato em Curitiba, procurador Deltan Dallagnol, sobre como identificar se o conteúdo vazado do seu celular era verídico. Compartilhava páginas de sites ligados à esquerda, 
mas era filiado ao DEM 
desde 2007.



Danilo Cristiano Marques

Tem 33 anos, também foi preso em Araraquara, enquanto fazia um curso de eletricista. É motorista de Uber. Teve uma microempresa de comércio de equipamentos de telefonia e comunicação com o nome  Pousada e Comércio Chatuba.
 
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Correio Braziliense quarta, 24 de julho de 2019

BOLSONARO: SOMOS TODOS PARAÍBA - PRECONCEITO À DECLARAÇÃO DE AMOR

 


Do preconceito à declaração de amor
 
Em evento na Bahia, Jair Bolsonaro diz amar o Nordeste, região à qual se referiu pejorativamente como "paraíba", na semana passada. Presidente critica "xiitas ambientais"

 

» RODOLFO COSTA
» INGRID SOARES
» BEATRIZ ROSCOE*

Publicação: 24/07/2019 04:00

O presidente usou chapéu de vaqueiro e se disse um %u201Ccabra da peste%u201D  (Alan Santos/PR)  

O presidente usou chapéu de vaqueiro e se disse um – Sou um cabra da peste –

 



O presidente Jair Bolsonaro fez afagos ao Nordeste, ontem, e voltou a criticar os “xiitas ambientais”. As declarações foram dadas na cerimônia de inauguração do Aeroporto Glauber Rocha, em Vitória da Conquista, na Bahia. A radicalização em algumas falas e gestos de agrado em outras têm dado o tom das manifestações do chefe do Planalto em solenidades e em declarações à imprensa.

Depois de chamar os governadores nordestinos de “paraíba”, o que causou polêmica na sexta-feira, Bolsonaro procurou, ontem, “pedir desculpas”. Do jeito dele, se retratou declarando “amor” ao Nordeste e emendou com a frase: “Somos todos ‘paraíbas’”. Antes, porém, criticou o governador da Bahia, Rui Costa (PT), em postagem no Twitter, sustentando que o petista não autorizou a presença da Polícia Militar para fazer a segurança no evento. “Pior ainda, passou a responsabilidade de tal negativa ao seu comandante geral”, declarou.

Em resposta, Rui Costa provocou o presidente, insinuando que “quem é impopular e tem medo de ir às ruas, fica em seu gabinete”. “Se o evento é exclusivamente federal, as forças federais cuidem da segurança do presidente. Eu não posso colocar a PM para entrar em conflito com as pessoas que querem ver o aeroporto. (...) Quem é governante tem de enfrentar aplausos, beijos, selfies, mas, também, tem de ter o ônus de, às vezes, enfrentar protestos”, declarou, em entrevista à Rádio Metrópole. Rui Costa não compareceu à cerimônia no aeroporto.

No evento, Bolsonaro se declarou à região. “Eu amo o Nordeste. Afinal de contas, a minha filha tem em suas veias sangue de ‘cabra da peste’. ‘Cabra da peste’ de Crateús, o nosso estado aqui, mais pra cima, o nosso Ceará”, ressaltou.

O chefe do Planalto pregou união. “Não estou em Vitória da Conquista, não estou na Bahia nem no Nordeste. Estou no Brasil. Não há divisão entre nós: (divisão por) sexo, raça, cor, religião ou região. Somos um só povo com um só objetivo: colocar este grande país em um lugar de destaque que merece”, destacou. Ao fim do discurso, colocou um chapéu de vaqueiro. “Somos todos ‘paraíba’, somos todos baianos”, emendou.

Meio ambiente

No discurso, Bolsonaro também criticou “xiitas ambientais” e disse ter “repulsa por quem não é brasileiro”, ao comentar a intenção de revogar a proteção ambiental da Estação Ecológica de Tamoios, no litoral do Rio de Janeiro. “Eu tenho um sonho. Quero transformar a Baía de Angra (dos Reis) numa Cancún. Cancún fatura US$ 12 bilhões anuais. E a Baía de Angra fatura o quê? Quase zero, por causa dos xiitas ambientais, esses que fazem uma campanha enorme contra o Brasil lá fora”, afirmou.

Para Gustavo Baptista, professor de sensoriamento remoto do Instituto de Geociências da UnB, abrir uma perspectiva como essa é “dar um tiro no pé”. “A exploração do Brasil se iniciou pelo litoral, então já houve muita degradação. É uma área vulnerável, principalmente devido aos riscos que o interesse do setor mobiliário apresenta às questões ambientais”, disse. “Uma estação ecológica é definida porque tem uma preocupação importante na preservação das espécies que ali residem. Toda unidade de uso restrito tem por trás um estudo que chancela essa criação.”

*Estagiária sob supervisão de Cida Barbosa
 
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Correio Braziliense segunda, 22 de julho de 2019

POBREZA - DEPENDENTES DA GENEROSIDADE

 


POBREZA
 
Dependentes da generosidade
 
 
Mais de três mil pessoas vivem nas ruas de Brasília como pedintes. Muitos vindos de outras regiõess. Desemprego e políticas públicas insuficientes impõem igual situação a pelo menos 101 mil brasileiros em todo o país

 

» JULIANA ANDRADE
» JÉSSICA EUFRÁSIO

Publicação: 22/07/2019 04:00

 
O piauiense Manuel Marcos da Luz, 57 anos, há seis, no Distrito Federal,  diz que a rua é mais segura do que os abrigos para viver (Ed Alves/CB/D.A Press)  

O piauiense Manuel Marcos da Luz, 57 anos, há seis, no Distrito Federal, diz que a rua é mais segura do que os abrigos para viver

 

 
 

"Tenho vergonha de ficar pedindo, mas, quando não tenho dinheiro para comprar balinhas, o que me resta é pedir" Rita de Cássia Santana, 61 anos, tem R$ 96 de renda fixa, do Bolsa Família, para sobreviver

 

 
 
Dois netos para criar, mais de R$ 300 em contas atrasadas, e a feira do mês por fazer. O ganho fixo mensal? R$ 96. O único dinheiro garantido no mês vem do Bolsa Família, mas está longe de ser suficiente para sobreviver. Essa é a realidade de Rita de Cássia Santana, 61 anos. Para encontrá-la, basta andar pelas quadras do Setor Comercial Sul, onde a moradora de Brasilinha (GO) — a cerca de 63km do Plano Piloto — pede dinheiro, na esperança de se deparar com quem se solidarize.
Não existem dados exatos sobre a quantidade de pessoas que deixam suas casas diariamente em busca de ajuda. A Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes) calcula que haja pelo menos 3.020 pessoas em situação de rua no Distrito Federal. O estudo mais recente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), elaborado em 2015, aponta que esse número seja de cerca de 101 mil pessoas no país. Mesmo assim, as taxas são só estimativas, pois tratam-se de quantidades difíceis de mensurar, especialmente em relação a pedintes.
 
Entre os relatos deles, há motivos diversos que os levaram à vida nas ruas. Desemprego, contas atrasadas, doenças. Um sentimento, no entanto, é unânime entre os entrevistados: a expectativa de mudar de vida. Rita de Cássia é movida por essa esperança. “Ganhei R$ 12 e comprei uma caixa de doces para vender, porque tenho vergonha de ficar pedindo, mas, quando não tenho dinheiro para comprar balinhas, o que me resta é pedir. Muita gente acha que estamos aqui porque queremos”, desabafa. Assim que começa a narrar a própria história, ela tira algumas contas da pequena bolsa que carrega. “Vou te mostrar para você ver que não estou mentindo.”
 
Com um cartão de passe livre, ela consegue chegar ao centro da capital federal. Para que não fiquem sozinhos, quando os netos, de 7 e 9 anos, não têm aula, ela os leva junto — apesar do medo de que “aprendam” a vender drogas. O trauma vem de um episódio na Rodoviária do Plano Piloto. “Deixaram uma bolsa comigo, a polícia me abordou e havia drogas nela. Juro que não sabia. Até hoje, tenho medo e vergonha de andar ali”, confessa.
 
Experiências
 
A situação se repete em vários outros bairros do centro político do país, como Sudoeste, Asa Sul e Asa Norte. Na Catedral Metropolitana, um dos cartões-postais de Brasília, Manuel Marcos da Luz, 57, aguarda sentado, com uma caixinha de papelão ao lado. O piauiense veio para Brasília há seis anos, depois de se separar da mulher. Diferentemente de Rita, contudo, ele não tem onde se abrigar. À noite, o concreto de um viaduto se torna um teto.
 
Manuel sonha com a casa própria. Ele chegou a ficar em um abrigo, mas a experiência não foi boa, segundo conta. “O governo gasta muito com esses caras (dependentes químicos), e eles continuam traficando e se drogando. Na rua, é menos perigoso que lá. Aqui, sou campeão e tenho liberdade”, responde. “Tenho saúde e quero trabalhar como tecladista, porque sei tocar bem”, garante.
 
Dono de uma loja de doces na 209 Norte, Pedro Henrique de Lima, 27, conta que encontra todos os tipos de pessoas em situação de vulnerabilidade, de crianças a idosos. “Sempre tem gente pedindo. Em época festiva, aumenta mais, mas sempre tem. A maioria chega pedindo dinheiro, mas, às vezes, alguns pedem alimento”, relata. Atendente de lanchonete na mesma quadra, Raquel Silva, 37, afirma que é difícil saber quem realmente precisa. “No fim de semana, fica cheio de gente aqui. Tem uma família que vem com umas sete crianças”, relata.
 
3.020
Pessoas vivem em situação de rua no Distrito Federal
 
101.854
Pessoas vivem em situação de rua no Brasil
 
72.524
Famílias do DF recebem Bolsa Família
 
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Correio Braziliense domingo, 21 de julho de 2019

SANDY E JUNIOR


ESPETÁCULO

Os devotos de Sandy e Junior

Moradores de vários pontos da capital e do restante do país acordaram cedo ontem para não perder nenhum momento da apresentação única em Brasília da turnê Nossa História, que celebra os 30 anos de carreira da dupla

 

» ROBERTA PINHEIRO

Publicação: 21/07/2019 04:00

 
Os irmãos subiram ao palco às 21h40 para cantar os seus maiores hits, em um Mané Garrincha lotado de fãs  (Minervino Junior/CB/D.A Press)  

Os irmãos subiram ao palco às 21h40 para cantar os seus maiores hits, em um Mané Garrincha lotado de fãs

 

 
Fãs enfrentaram filas longas para garantir um bom lugar no estádio (Minervino Junior/CB/D.A Press)  

Fãs enfrentaram filas longas para garantir um bom lugar no estádio

 

 
Para passar o tempo, o público entoou os maiores sucessos dos ídolos  (Minervino Junior/CB/D.A Press)  

Para passar o tempo, o público entoou os maiores sucessos dos ídolos

 

 
 
 
Fãs brasilienses da dupla Sandy e Junior deram novo sentido à palavra saudade. Não teve fila, Sol, espera ou qualquer razão que os afastasse do tão desejado reencontro com os ídolos. Os irmãos desembarcaram ontem na capital para apresentação única da turnê comemorativa Nossa História.
 
A movimentação em torno do Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha começou por volta das 13h, apesar de a produção divulgar que os portões só abririam às 18h. Para passar o tempo, o público aproveitou para esquentar e cantar alguns hits da dupla, como Era uma vez.
 
Flávia Rosa Lásara, 30 anos, foi uma das primeiras a chegar ao estádio. Era 8h. “Vai ser o primeiro show a que vou assistir deles. Acompanho os dois desde 2000, mas nunca tive condições de ir ao show”, comentou.
 
A administradora Camila Martins, 30 anos, também se antecipou para não perder um minuto. Depois de enfrentar uma madrugada para comprar os ingressos, veio de Goiânia. “Não vejo a hora de poder ouvir as músicas ao vivo de novo. Será uma nostalgia”, afirmou.
 
Os amigos Luccas Rodrigues Solito, 22, e Giovanna Bittencourt Pereira, 22, garantiram os ingressos em março. Com medo de perder a celebração dos ídolos, não se importaram em curtir o show fora de casa. Os dois chegaram de São Paulo direto para o estádio. “Lembro das festas de aniversário que só tocavam Sandy e Junior quando tinha uns 8 anos e da participação deles em Malhação”, disse Luccas. “Amava a série deles e minha família já não aguentava mais ouvir as músicas lá em casa. Meu pai chegou a falar que iria comigo aos shows, porque já sabia cantar tudo”, completou Giovanna.
 
Carta guardada
 
A fã Ana Paula de Aranha Oliveira acompanha a carreira de Sandy e Junior desde que se entende por gente. Contudo, nunca tinha visto, ao vivo, uma apresentação da dupla, até compartilhar sua história nas redes sociais e ganhar um ingresso.
 
A autônoma foi conferir a mostra itinerante Sandy e Junior Experience, montada no ParkShopping e que faz um passeio pela trajetória dos irmãos, e ficou extasiada. “Dei de cara com uma carta e, na hora, reconheci a minha letra. Não acreditei. Foi um mix de sensações”, lembrou. No papel estavam as palavras direcionadas à cantora Sandy em 1997. “Não te admiro pelas coisas que faz, mas sim por ser uma pessoa especial, neste mundo tão comum”, escreveu Ana Paula.
 
Aos 36 anos, ela conta que não perdia uma aparição dos irmãos na televisão nem os capítulos da série exibida pela TV Globo. “A gente não tinha certeza que chegaria nem que estaria guardada, mas escrevíamos. Isso foi demais. Mostra o respeito que eles e a Noley (mãe da dupla) têm pelos fãs”, comenta.
Superprodução
 
Luz de LED, brilhos, palco com desenhos geométricos, troca de figurino, muitos bailarinos e uma superprodução. Para celebrar os 30 anos da primeira aparição pública da dupla, no programa Som Brasil, da Globo, a turnê Nossa História tem passado por diferentes cidades brasileiras e promovido o reencontro dos artistas com os fãs.
 
 Sandy e Junior subiram ao palco, montado no meio do gramado — o que diminuiu a capacidade do estádio —, às 21h40, depois da contagem regressiva. Mais de meia hora de atraso. A plateia, que não lotava as cadeiras nem o gramado, não se importou. Até o fechamento desta edição, o espetáculo seguia sem incidentes.
 
A capital federal é a quarta cidade a receber a turnê dos irmãos. Daqui, eles seguem para o Rio de Janeiro.
 
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Correio Braziliense sábado, 20 de julho de 2019

QUANDO O ESPORTE CHEGOU À LUA

 

Quando o esporte chegou à Lua
 
Quinto homem a pisar no único satélite natural da Terra, o norte-americano Alan Shepard desafiou a Nasa em fevereiro de 1971: levou um taco e duas bolinhas na bagagem durante a Missão Apollo 14 e brincou de golfe

 

» Marcos Paulo Lima

Publicação: 20/07/2019 04:00

O astronauta criou o taco com um tubo de ferro usado para coletar amostras de poeira: três tentativas e dois acertos (NASA/Reuters - 5/2/15 )  

O astronauta criou o taco com um tubo de ferro usado para coletar amostras de poeira: três tentativas e dois acertos

 



O esporte tem (ou teve) alguns extraterrestres, como o Rei Pelé, Lionel Messi, Michael Jordan, Michael Phelps, Roger Federer, Michael Schumacher, Muhammad Ali, Tiger Woods, mas nenhum deles conseguiu a proeza de bater embaixadinha, sacar, acelerar, dar jabs, diretos, cruzados ou tacadas a 384.400km do planeta Terra. O primeiro “atleta” a praticar uma das 33 modalidades olímpicas na Lua chama-se Alan Shepard (1923-1998).

Há 50 anos, em 20 de julho de 1969, Neil Armstrong entrou para a história como o primeiro dos 12 humanos a pisar no solo lunar. Da dúzia de privilegiados, somente Shepard, o mais velho da lista, desafiou as leis da gravidade e arriscou praticar esporte no único satélite natural da Terra. O astronauta participava da Missão Apollo 14. Era fã de golfe. “Pelé” da modalidade, Tiger Woods nem existia. Nasceu em 1975. Provavelmente, Shepard era fã dos compatriotas Lee Trevino, Jack Nicklaus, Arnold Palmer e Orville Moody — os caras da época. Em 5 de fevereiro de 1971, ele peitou a Agência Espacial Norte-Americana (Nasa) e levou na bagagem da expedição um taco de golfe e duas bolinhas.

A ideia começou com uma piada do comediante norte-americano Leslie Townes Hope. Bob Hope, como era conhecido, visitou as instalações da Nasa e simulou um swing — o movimento mais importante do golfe — dentro de uma sala sem gravidade. Fanático pela modalidade, Alan Shepard testemunhou a invenção de moda e imaginou como seria uma tacada semelhante bem longe dali. No espaço.

Ao saber que seria mais um homem a pisar na Lua, Shepard quis ser diferente. Deu início a uma negociação com os chefes. Sugeriu a tentativa de praticar golfe e teria ouvido não como resposta. Insatisfeito, insistiu e chegou a um acordo. Ele só jogaria golfe na Lua depois de cumprir com excelência todos os objetivos científicos da Missão da Apollo 14. Diretor dos astronautas à época, Bob Gilruth se rendeu ao fã de esporte e autorizou a experiência.

Sem gasto extra

O taco escolhido era um ferro 6 da marca Wilson Staff, embora, na realidade, fosse apenas a cabeça, que era acoplada a uma ferramenta com a forma de um tubo alongado. O objeto servia para coletar amostras de poeira da superfície da Lua — uma das missões da expedição Apollo 14. Na época, Shepard fez questão de comprar as bolinhas de golfe do próprio bolso e prestou contas à sociedade norte-americana. Ao retornar, deixou claro ao povo: “Não houve nenhum gasto extra para o contribuinte”, brincou o astronauta.

Em 5 de fevereiro de 1971, Shepard concluiu a missão com excelência acompanhado dos colegas Stuart Roosa e Edgar Mitchell. Era hora do show time. O astronauta lembrou ao gestor Bob Gilruth o pacto celebrado na Terra. Virou-se para a câmera e afirmou: “Houston, você pode ver o que tenho na mão? É um autêntico ferro 6 (...) Infelizmente, é tão rígido que não consigo fazer isso com as duas mãos, mas vou tentar”, avisou.

Na primeira das três tacadas, Shepard não acertou a bola. A desengonçada roupa pressurizada de astronauta o forçou a dar a tacada só com uma mão, e ele só golpeou o ar. Persistente, conseguiu nos dois lances seguintes. No primeiro, deslocou a bola por cerca de 40 metros, relatam os historiadores da Nasa. A distância percorrida pela segunda é um mistério até hoje. Segundo o próprio astronauta... “Voou milhas e milhas”, brincou.

Ousadia

O fato é que, 50 anos depois de Neil Armstrong pisar na Lua pela primeira vez — e dizer a célebre frase “Esse é um pequeno passo para homem, mas um grande salto para a humanidade”, Alan Shepard segue sendo o único homem a transformar o solo lunar em um campo de golfe para a prática do tradicional esporte de elite inventado na Escócia por volta do ano 1400.

Quase vetado na Lua, o golfe também chegou a sofrer censura aqui na Terra em 1457. O rei Jaime II da Escócia e o parlamento consideravam esse esporte uma diversão que afetava os interesses do país. Se há vida além da Terra, duas bolinhas estão perdidas por lá desde aquele 6 de fevereiro de 1971. Foram deixadas na Lua pelo ousado Alan Shepard. Quem sabe o golfe é praticado por algum extraterrestre...


"Houston, você pode ver o que tenho na mão? É um autêntico ferro 6 (...) Infelizmente, o naipe é tão rígido que não consigo fazer isso com as duas mãos, mas vou tentar” 
Alan Shepard, astronauta, sobre o taco e as bolinhas usadas na Missão Apollo 14


Os escalados

Os 12 homens que pisaram em solo lunar

Astronauta    Data    Idade
  • Neil Armstron    21/7/1969    38 anos
  • Buzz Aldrin    21/7/1969    39 anos
  • Pete Conrad    19/11/1969    39 anos
  • Alan Bean    18/11/1969    37 anos
  • Alan Shepard    5/2/1971    47 anos
  • Edgar Mitchell    5/2/1971    40 anos
  • David Scoltt    31//8/1971    39 anos
  • James Irwin    31/8/1971    41 anos
  • John Young    21/4/1972    41 anos
  • Charles Duke    21/4/1972    36 anos
  • Eugene Cerman    11/12/1972    38 anos
  • Harrison Schmitt    11/12/1972    37 anos
  • Jornal Impresso

 


Correio Braziliense sexta, 19 de julho de 2019

INCÊNDIO: CRIME ABALA O JAPÃO

 


JAPÃO
 
Polícia investiga incêndio
 
Ao menos 33 morrem depois que um homem invade estúdio de animação em Kyoto e ateia fogo ao edifício. O suspeito foi hospitalizado sob custódia da polícia, que tenta entender os motivos do ataque, um dos mais letais na história recente do país

 

Publicação: 19/07/2019 04:00

Fumaça sai pelas janelas da Kyoto Animation, produtora de desenhos animados e séries: direção do estúdio tinha recebido ameaças por e-mail (Jiji Press/AFP)  

Fumaça sai pelas janelas da Kyoto Animation, produtora de desenhos animados e séries: direção do estúdio tinha recebido ameaças por e-mail

 


Investigadores da polícia japonesa aguardam a oportunidade de interrogar o suspeito de ter provocado ontem um incêndio que matou ao menos 33 pessoas em um estúdio de animação em Kyoto, no oeste do país. Até a noite, vários funcionários continuavam desasparecidos e 35 se recuperavam de ferimentos, 10 deles em estado considerado grave. O suspeito, de 41 anos, também foi hospitalizado, sob vigilância.

De acordo com os relatos, ele teria entrado no estúdio, espalhado “um líquido inflamável” e iniciado o incêndio. A mídia japonesa informou que o homem foi visto momentos antes em um posto de gasolina, enchendo latas com combustível. No momento do suposto ataque, cerca de 70 pessoas se encontravam no edifício. Nenhuma pista inicial indicava qual pode ter sido a motivação do atentado, que, se confirmada a natureza criminosa, faz do episódio o massacre mais letal das últimas décadas no Japão.

O fogo irrompeu às 10h30 (23h30 de quarta-feira, Brasília), em um prédio da empresa Kyoto Animation, que produz séries animadas de grande sucesso na tevê japonesa. Três horas depois, as chamas estavam praticamente controladas, embora uma fumaça branca ainda saísse de algumas janelas, de acordo com imagens transmitidas pela tevê. Os bombeiros continuavam as operações de socorro em busca de funcionários que teriam ficado presos em diferentes andares do edifício.

Uma testemunha ouvida pela emissora de tevê NHK relatou que o incendiário teria anunciado o ataque gritando: “Eles vão morrer”. “Algumas pessoas ouviram detonações no primeiro andar da Kyoto Animation e viram fumaça”, disseram os bombeiros. “Eu ouvi duas fortes explosões”, confirmou à reportagem um sobrevivente. A polícia encontrou facas no local, mas não souber informar se elas pertenciam ao suspeito.

“”Fiquei sem palavras”, escreveu no Twitter o primeiro-ministro Shinzo Abe, que prometeu orar pelas vítimas de incêndio, um dos piores de causas criminosas na história do Japão — caso se confirmem as suspeitas. O CEO da Kyoto Animation, Hideaki Hatta, revelou que a empresa tinha recebido mensagens de e-mail com ameaças. “Não consigo suportar a ideia de que pessoas que representam a indústria de animação do Japão tenham sido feridas ou mortas”, desabafou.

A Kyoto Animation é uma produtora de desenhos animados que vende também produtos derivados das séries. Cerca de 160 pessoas trabalham na empresa, que inclui uma escola de animação. O grupo é proprietário de outro edifícios, além do atingido pelo incêndio.

O incidente provocou reações de tristeza por parte de renomados animadores, entre eles o diretor do longa-metragem de animação Your name. “A todos vocês, na Kyoto Animation, peço que estejam seguros”, escreveu Makoto Shinkai em sua conta no Twitter. “Por que, por que, por quê?”, questionou  Yutaka Yamamoto, que era membro do estúdio e trabalhava na série Lucky Star.

Desquilíbrio
A taxa de criminalidade é relativamente baixa no Japão, em comparação com os índices de outros países. Mas, de tempos em tempos, o país registra episódios nos quais um indivíduo em momento de desequilíbrio mata indiscriminadamente.

Em julho de 2016, um jovem esfaqueou 19 pessoas em um hospital para doentes mentais, a cerca de 50km de Tóquio, o mais grave assassinato em massa desde 1938. Em 2008, um homem de 28 anos, armado com uma faca e atrás do volante de um caminhão, causou pânico no bairro de Akihabara, também na capital, deixando sete mortos e 10 feridos. Ele atropelou vários transeuntes, saiu do veículo e passou a esfaquear as pessoas próximas.

Em junho de 2001, um homem matou oito crianças em uma escola de Osaka.
 
Jornal Impresso
 

Correio Braziliense quinta, 18 de julho de 2019

O LADO CRUEL DO FRIO

 


INVERNO
 
 
Dias secos, noites geladas
 
Após uma semana em que a umidade relativa do ar chegou a 17%, levando o Inmet a emitir alerta de perigo, o DF ficará menos seco, mas com temperaturas mais baixas. Moradores de rua são os que mais sofrem

 

» JÉSSICA EUFRÁSIO

Publicação: 18/07/2019 04:00

Grupo de sem-teto tenta se proteger do frio na plataforma inferior da Rodoviária do Plano Piloto, à margem da via que leva à Esplanada dos Ministérios (Fotos: Ed Alves/CB/D.A Press)  

Grupo de sem-teto tenta se proteger do frio na plataforma inferior da Rodoviária do Plano Piloto, à margem da via que leva à Esplanada dos Ministérios

 


Os brasilienses devem enfrentar um alívio nos próximos dias em relação ao tempo seco. Após uma semana que começou com alerta de perigo emitido pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a tendência a partir de hoje é de que a umidade relativa do ar tenha uma leve alta e as temperaturas caiam, especialmente no início da manhã. A temperatura, hoje, deve variar entre 14°C e 28°C. A previsão é de tempo estável, com céu claro a parcialmente nublado, e umidade relativa do ar entre 30% e 80%. Na segunda-feira, dia mais crítico, ela baixou a 17%. Na terça-feira, a mínima foi de 20%.
 
O índice começou a subir ontem. A menor umidade relativa do ar, 27%, foi registrada perto do Gama e na região norte do Distrito Federal. “A tendência para os próximos dias é de que ela fique em 30%. Nada muito crítico, como do último fim de semana até terça-feira. A máxima deve oscilar perto dos 90%. Até o próximo fim de semana, teremos um ligeiro alívio, pois os valores estão subindo um pouquinho”, explica a meteorologista do Inmet Naiane Araujo.

Pessoas em situação de rua buscam abrigo sob uma das marquises do maior terminal rodoviário do DF  

Pessoas em situação de rua buscam abrigo sob uma das marquises do maior terminal rodoviário do DF

 

A partir de amanhã, a temperatura também começa a mudar, com máxima entre 24°C e 26°C, e mínima entre 8°C e 9°C. “As mais baixas serão por volta do amanhecer, entre 6h e 8h. As máximas estão previstas para a tarde, entre 15h e 16h. Amanhã (hoje), elas ainda estarão relativamente altas: ao amanhecer, devemos ter temperaturas na casa dos 12°C e, à tarde, em torno dos 28°C e 29°C”, completa Naiane.
 
Mesmo com a exceção deste ano, em que houve chuvas em áreas isoladas no início de julho, não há previsão de surpresas para os próximos dias. De acordo com a meteorologista, nada indica que ocorrerá precipitações até o fim do mês. “Embora a média climatológica da chuva em junho e julho seja muito baixa, girando em torno de 4 a 6 milímetros, um episódio ou outro dentro da estação seca não é descartado. Por isso, nossas estimativas não são para muito tempo. Mas, no horizonte dos próximos sete dias, não há previsão”, afirma a especialista.

Cerca de 40 pessoas dormem em frente a uma loja de departamento do Setor Comercial Sul  

Cerca de 40 pessoas dormem em frente a uma loja de departamento do Setor Comercial Sul

 

Dificuldades
A queda das temperaturas aumenta a preocupação de quem não tem opção senão a de passar as noites nas ruas do DF. A Secretaria de Desenvolvimento Social estima que haja cerca de 3 mil pessoas nessa situação, principalmente nas áreas centrais do Plano Piloto. Uma delas é José Mario da Silva, 50 anos. Em 2016, um incêndio destruiu o barraco no qual ele morava, em Porto Velho. O pernambucano perdeu todos os documentos e não conseguiu mais emprego ou lugar para morar.
 
Em março, José Mario ganhou uma passagem de ônibus para Brasília. A expectativa era de que, aqui, conseguiria mais rápido a segunda via dos documentos e um trabalho. No entanto, o fato de a certidão de nascimento dele também ter sido queimada não facilitou as coisas. Desde então, ele passa dias e noites no Setor Comercial Sul (SCS). “Cheguei a ser chamado para uma vaga de auxiliar de cozinha, mas, quando souberam que eu não tinha documentos, não tiveram como me contratar”, lamenta.

Após um incêndio destruir seu barraco e documentos, José Mario foi parar na rua  

Após um incêndio destruir seu barraco e documentos, José Mario foi parar na rua

 

Além do desemprego, o inverno tem castigado ele e as outras cerca de 40 pessoas que dormem em frente a uma loja de departamento do SCS. José Mario conta que, apesar de haver muitas contribuições, elas são insuficientes. “Há muitos dependentes químicos aqui. Quando chegam com as doações, eles correm e nós não competimos com eles. Muitos pegam os itens para vender e comprar drogas. Saem atropelando todo mundo e acabamos ficando sem”, relata José Mario. “Meu objetivo é conseguir um emprego para ter moradia, mas, em meio a tanta gente, acabamos não ficando bem-vistos”, completa o pernambucano.



 
Previsão do tempo
 
 
HOJE
 
Temperatura
Máxima: 28°C
Mínima: 14°C
 
Umidade relativa do ar
Máxima: 80%
Mínima: 30%
 
AMANHÃ
 
Temperatura
Máxima: 25°C
Mínima: 11°C
 
Umidade relativa do ar
Máxima: 85%
Mínima: 30%
 
SÁBADO
 
Temperatura
Máxima: 23°C
Mínima: 9°C
 
Umidade relativa do ar
Máxima: 90%
Mínima: 35%
 
DOMINGO
 
Temperatura
Máxima: 24°C
Mínima: 10°C
 
Umidade relativa do ar
Máxima: 85%
Mínima: 30%




Onde doar
 
Abraçando o Mundo
» Asa Norte, Lago Norte e Grande Colorado (Gabi, 995-713-851)
» Asa Norte, Asa Sul, Sudoeste, Cruzeiro, Octogonal e Vila Planalto  (Dinho, 992-580-220; Ana Luísa, 999-062-703; João Vitor, 981-128-981)
» Cruzeiro Novo e Velho, Sudoeste, Octogonal, Candangolândia, Núcleo Bandeirante, Park Sul, Guará, SMU e Noroeste (Niky, 998-216-436)
» Granja do Torto, Asa Norte e Lago Norte (Renata, 996-664-774)
» Guará e Águas Claras (Pacheco, 982-209-068)
» Lago Sul, Jardim Botânico e Paranoá (Daniel, 981-787-169)
» Sobradinho, Grande Colorado e Asa Norte (Juliana, 981-189-735)
» Sobradinho, Grande Colorado, Taquari, Asa Norte e Sudoeste (Karine, 998-384-279)
 
Amo Ajudar
» Asa Norte, SEPN 707/907 Norte, UniCeub (Clara, 983-023-703)
» Asa Sul, SHIGS 703, Bl. H, Casa 28 (Clara, 983-023-703)
» Cruzeiro, SRES, Qd. 2, Bl. K, Casa 2 (Bruna, 999-834-603)
» Setor de Indústrias Gráficas, Edifício Parque Brasília, Qd. 1 (Bruno, 992-121-464)
» Sudoeste, SQSW 101, Bloco J (Bárbara, 998-110-038)
 
Armário Solidário
(doações em geral)
» Setor Comercial Sul
» Rodoviária do Plano Piloto
» Passarela subterrânea que liga o Guará ao Lucio Costa
 
Polícia Militar
» Qualquer unidade da PMDF
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Correio Braziliense quarta, 17 de julho de 2019

DESEMPREGO EM BRASÍLIA

 


ECONOMIA
 
 
Fila para emprego na Asa Norte
 
Na tentativa de obter trabalho em supermercado, centenas de pessoas aguardam horas para entregar currículo e disputar 47 vagas. Alta procura se repete no Distrito Federal e Entorno desde o início do ano

 

» JULIANA ANDRADE

Publicação: 17/07/2019 04:00

Jilvanete é professora, tem pós-graduação, mas busca vaga no caixa (Juliana Andrade/CB/D.A Press)  

Jilvanete é professora, tem pós-graduação, mas busca vaga no caixa

 


O sol não havia surgido quando Marcos Ferreira, 22 anos, saiu de Luziânia, por volta das 3h30, na esperança de conseguir o primeiro emprego. O jovem, formado em administração, pegou um ônibus e atravessou Brasília para, às 5h30, alcançar a Asa Norte. Ao chegar à comercial da 209, endereço do Oba Hortifruti, deparou-se com uma fila que terminava no bloco seguinte. Além de Marcos, centenas de pessoas disputavam uma das 47 vagas oferecidas pelo estabelecimento. “Procuro emprego desde os 18 anos, e não é por falta de curso que eu não consigo, porque eu fiz vários. Eles (empresas) sempre exigem experiência, mas como vou conseguir experiência se ninguém me dá uma oportunidade?”, questionou.
 
No caso do Oba, as vagas são para todas as lojas do DF, que precisam de açougueiro, auxiliar de açougue, atendente de loja (exclusivo para deficientes), empacotador, operador de caixa e motorista. Leonardo dos Santos, 19, conta que, se conseguisse qualquer um dos cargos, ficaria feliz. Ele saiu de Sobradinho e passou horas à espera de ser recebido por um entrevistador do recursos humanos do supermercado. “Cheguei às 6h, e a fila estava no fim da quadra”, disse. O jovem trabalhava em uma padaria da Asa Sul, mas ficou desempregado há cinco meses, depois de cortes feitos na empresa. “O pessoal até chama para fazer entrevista, mas as vagas são poucas”, lamentou.

Fernando tenta um emprego há seis meses:  

Fernando tenta um emprego há seis meses: "Está complicado"

 

As entrevistas começaram às 8h30. Fernando Antônio Magalhães também chegou à Asa Norte cedo, às 6h. Às 11h, ele ainda aguardava para entregar o currículo. Casado e pai de três filhos, ele está desempregado há seis meses. “Eu recebi a minha última parcela do seguro-desemprego. Enviei currículo para todo lado, fiz algumas entrevistas, mas está complicado”, afirmou. O pai de família tem cerca de 10 anos de experiência no mercado com serviços de limpeza.
 
Segundo a Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) mais recente da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan), há 331 mil pessoas sem trabalho no DF. Os dados são de maio. O cenário envolve gente de diferentes idades, cidades e formação. Jilvanete Fernandes, 54, é professora de português e literatura e pós-graduada em gestão e orientação educacional pedagógica. Sem conseguir um emprego na área de formação, ela estava na fila do supermercado para tentar uma vaga de operadora de caixa. “Estou há três anos desempregada. Está muito difícil. A escassez de emprego está muito grande”, afirmou.
 
Moradora do Valparaíso, Andreia da Cruz, 40, está desempregada há 9 meses. Mesmo estando no fim da fila, ela não pretendia desistir da disputa. “Eu mandei currículo para vários lugares, participei de muitos processos seletivos, mas eles nunca chamam. Fiz até um grupo nas redes sociais para compartilhar vagas de emprego”, frisou. A candidata torcia para ser selecionada para trabalhar como operadora de caixa, área em que ela tem experiência.
 
Repercussão
O economista Newton Marques afirma que o desemprego é um dos piores problemas da economia. Em Brasília, a situação fica mais expressiva por causa do corte de gastos no setor público, que acaba atingindo a população da capital. “Quando há um corte, as pessoas de mão de obra terceirizada ou de cargos de confiança acabam sendo atingidas, além dos servidores que deixam de consumir certos bens”, ressaltou. Segundo ele, quando há uma retração de gastos por parte da população que trabalha no setor público do DF, a falta de trabalho, em Brasília, é inevitável.
 
Para Newton, a situação não vai mudar enquanto a economia não se normalizar. “Se o governo fizer uma política econômica que consiga retomar a atividade econômica do país como um todo, as unidades da Federação, como o DF, terão uma repercussão positiva, e essa situação tenderá a se minimizar”, analisa.
 
 
Memória
 (Ana Rayssa/CB/D.A Press - 17/5/19 )  


  Junho
 
Cerca de 200 pessoas acamparam em frente a um supermercado atacadista, em Samambaia, para participar de um processo seletivo. A empresa oferecia 170 vagas.
 
  Maio
 
Ofertas de vagas reuniram 5 mil pessoas em um supermercado de Valparaíso (GO). O comércio tinha 300 vagas disponíveis.
 
  Março
 
Em Planaltina, 2,5 mil pessoas amanheceram em frente a um restaurante de Planaltina. A fila chegou a cerca de 1km.
 
  Janeiro
 
No Itapoã, centenas de pessoas formaram uma fila de 450m para entregar um currículo em um supermercado.
 
Jornal Impresso

 


Correio Braziliense terça, 16 de julho de 2019

QUANDO GANHAMOS A LUA

 

Quando ganhamos a Lua
 
Há 50 anos, partia da Flórida a missão que mudou a forma como olhamos para o Universo. Desde que o homem pisou em solo lunar, seguimos desbravando o espaço, impulsionados pelos avanços tecnológicos e pela curiosidade de descobrir o que existe além da Terra

 

Paloma Oliveto

Publicação: 16/07/2019 04:00

Tripulação da Apollo 11: Michael Collins, Neil Armstronge e Buzz Aldrin  (NASA/Reuters - 28/8/12 )  

Tripulação da Apollo 11: Michael Collins, Neil Armstronge e Buzz Aldrin

 



A capa do Correio de 17 de julho de 1969: dia histórico (Arquivo /CB/D.A Press)  
A capa do Correio de 17 de julho de 1969: dia histórico

Era 16 de julho de 1969. As rádios norte-americanas tocavam sem parar o hit Sugar, sugar, dos Archies; a expectativa do Festival de Woodstock estava no imaginário dos jovens que participariam do lendário evento dali a um mês. No Brasil, os jornais noticiavam que a ditadura militar estudava extinguir o Senado. Já na Inglaterra, David Bowie lançava o LP Space Oddity para coincidir com um fato que mudaria para sempre a relação do homem com o Universo: às 10h32 (horário de Brasília), três homens partiriam da Flórida para conquistar a Lua.

Ao entrar na Apollo 11 um ano antes da invenção dos microcomputadores, Michael Collins, Buzz Aldrin e Neil Armstrong realizavam um sonho que sempre acompanhou a humanidade. Desbravar o espaço, ultrapassar os limites da Terra e até, quem sabe, dar de cara com alguma forma de vida eram desejos antigos, expressos em diversas culturas do Ocidente e do Oriente. Mais próximo objeto extraterrestre, a Lua exercia um fascínio especial — praticamente todas as sociedades têm mitologias associadas a ela.

Curiosamente, o século 20 não começou tão atento ao satélite. “Naquela época, os astrônomos estavam interessados apenas em objetos fora do nosso Sistema Solar. Eles viam a Lua como uma amolação que iluminava o céu noturno, dificultando o estudo das estrelas e galáxias mais fracas”, contou, por meio da assessoria de imprensa do Instituto de Ciência Planetária, em Tucson, William Hartmann. O astrônomo e divulgador científico foi um dos primeiros alunos de pós-graduação do célebre cientista norte-americano Gerard Kuiper, considerado o pai da ciência planetária moderna.

Ao contrário da maioria dos astrônomos da época, o grupo liderado por Kuiper na Universidade do Arizona não só se interessava pela Lua como produziu, a partir de fotos, os primeiros atlas lunares. Essas publicações ajudaram a Agência Espacial Norte-Americana (Nasa) a compreender a geologia do satélite e a escolher os melhores locais para as sondas e, futuramente, os homens pousarem nas missões Apollo.

Guerra fria
Naquele fim de década, o espaço já não era algo tão novo para o homem. Oito anos antes, o cosmonauta russo Yuri Garagin tomava para si o título de primeiro homem a sair da Terra. Em plena Guerra Fria, os Estados Unidos não podiam, é claro, ficar para trás. A corrida espacial começou, oficialmente, em 4 de outubro de 1957, quando a ex-União Soviética lançou o Sputnik 1, levando a Nasa a, freneticamente, desenhar um programa muito mais ousado.

Os norte-americanos não apenas ultrapassariam a fronteira terrestre, mas deixariam pegadas na Lua. “Enviar uma missão tripulada era muito mais pelo glamour do que pela validade científica”, explica o astrônomo Naelton Mendes de Araújo, do Planetário do Rio de Janeiro. “As sondas automatizadas são muito mais rápidas, seguras e baratas. Por isso, o voo tripulado foi muito mais por política que por ciência.”

Antes de enviar Collins, Aldrin e Armstrong para a Lua, a Nasa preparou três missões não tripuladas: Ranger, Surveyor e Lunar Orbiter. Entre 1961 e 1965, nove sondas Ranger foram lançadas. A primeira bem-sucedida foi a 7, que partiu em 28 de julho de 1964, pousou na planície Mare Congitum, ao sul da cratera Copernicus, e, de lá, mandou mais de 4,3 mil fotos para a Terra.

Em fevereiro do ano seguinte, a Ranger 8 alunissou no mesmo lugar que os astronautas da Apollo 11 deixariam suas pegadas: o Mar da Tranquilidade. A última nave Ranger foi lançada em março de 1965 e enviou 5,8 mil novas imagens desde a cratera Alphonsus. Trabalhadas na Universidade do Arizona, essas fotografias foram a base dos atlas produzidos pela equipe de Gerard Kuiper.

Entre 1966 e 1968, cinco de sete missões Surveyor foram bem-sucedidas e, além de mais de 90 mil fotos, realizaram experimentos, examinaram o solo lunar abaixo da superfície e identificaram a composição mineral de alguns pontos da Lua. Uma das principais descobertas — por sinal, muito mais importante do ponto de vista científico do que qualquer realização da Apollo 11 — foi a existência de basalto, indicando que, no início da história do satélite, a formação das grandes crateras levou ao derretimento de material do interior da Lua, o que deflagrou violentos vulcanismos.

O mapeamento completo do satélite, um passo essencial para enviar uma missão tripulada, ocorreria com a Lunar Orbiter, que, entre 1966 e 1967, investigou detalhadamente a topografia e a geologia de diversos tipos de terrenos lunares com objetivo de encontrar o local mais apto para a alunissagem da Apollo. Com tantas informações nas mãos, a Nasa marcou a data de lançamento da esperada ida do homem à Lua. Assim, há 50 anos, Michael Collins, Buzz Aldrin e Neil Armstrong davam o primeiro “grande salto para a humanidade”.


Duas perguntas para

E agora há mesmo necessidade de uma nova missão?
 (Arquivo Pessoal)  

E agora há mesmo necessidade de uma nova missão?

 


Antonio Pedro Timoszcz, membro sênior do Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos (IEEE) e especialista em 
engenharia de sistemas


A Nasa foi muito ousada ao mandar uma missão tripulada à Lua em 1969?
É importante a gente ter em mente o contexto da época em que isso aconteceu. Já no fim dos anos 1950 e início dos anos 1960, a guerra fria dos Estados Unidos com a antiga União Soviética estava em curso. O que aconteceu foi que, de repente, os russos começaram a progredir muito em relação a essa questão espacial. Eles foram os primeiros a colocar um satélite em órbita, o Sputnik, e, quando os americanos se preparavam para colocar os satélites deles, os russos enviaram o astronauta Yuri Gagarin, provocando uma certa surpresa nos Estados Unidos. Então, os EUA, como uma forma de reagir a essa perda de liderança na questão da tecnologia espacial, colocaram como objetivo do país ir à Lua. Realmente, em termos de tecnologia, estava se aprendendo muito à época, mas, notadamente, esse objetivo fez com que diversas dificuldades tecnológicas fossem superadas, tivéssemos um grande desenvolvimento na área de engenharia, de materiais, tudo que serviu de suporte para que viabilizasse essas missões. Lembrando que a Apollo 11 foi a concretização de um objetivo, mas, até ela, várias outras missões aconteceram. Foi uma sucessão de progressos, e as dificuldades tecnológicas foram sendo superadas. O desafio é o que faz que se supere os obstáculos e que se produza novas tecnologias, o que chamamos de inovação.

E agora há mesmo necessidade de uma nova missão?
É claro que isso permitiu avançar o conhecimento em termos da Lua, do espaço, das condições de vida no espaço, o que permitiu desenvolver os ônibus espaciais, a Estação Espacial Internacional. Mas o que classifico como algo muito interessante é o transbordamento dessa tecnologia toda que foi desenvolvida para o programa espacial para nossa vida do dia a dia. Essa transferência de tecnologia que aconteceu talvez tenha sido o ponto mais marcante em termos de benefícios para a sociedade. Só para citar alguns exemplos, os tênis que usamos hoje em dia vieram das botas que foram feitas para os astronautas. As lentes resistentes dos óculos vieram do fato de se precisar ter visores resistentes à poeira, que não riscassem nem arranhassem. A espuma que é usada nos travesseiros evoluiu a partir da que foi usada nos assentos e em várias partes das naves para diminuir o impacto durante o pouso. A própria computação passou por um avanço muito grande pela necessidade de ter equipamentos que fizessem cálculos mais rápidos e precisos. Então, o ponto mais interessante é que todo esse programa espacial produziu como resultado lateral uma série de benefícios que está no dia a dia de todas as pessoas.
 
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Correio Braziliense segunda, 15 de julho de 2019

PROFESSOR RICARDO FRAGELLI: PROJETO MOTIVA ESTUDANTES

 

EDUCAÇÃO
 
Projeto motiva estudantes

 

JÉSSICA EUFRÁSIO

Publicação: 15/07/2019 04:00

O professor Ricardo Fragelli (em pé, ao centro) aplica a metodologia com alunos dos cursos de engenharias (Ana Rayssa/CB/D.A Press
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O professor Ricardo Fragelli (em pé, ao centro) aplica a metodologia com alunos dos cursos de engenharias

 

Engajar, incentivar e despertar o interesse de estudantes nem sempre é tarefa fácil para educadores. Motivado por esse desafio, o professor Ricardo Fragelli, dos cursos de engenharias do câmpus Gama da Universidade de Brasília (UnB), criou o projeto Eight. A proposta alia aprendizado, crescimento individual e soluções para problemas enfrentados pelas comunidades nas quais os alunos estão inseridos. A ideia do mestre goiano deu tão certo que avançou para instituições de ensino de diferentes partes do país.
 
A metodologia surgiu no primeiro semestre do ano passado e alcança cerca de 130 universitários do primeiro semestre de engenharias a cada seis meses. As atividades ficam a cargo dos próprios estudantes e incluem talk shows, visitas técnicas, intervenções acadêmicas e sociais, além de um evento final intitulado Eight. Nele, os alunos fazem apresentações de até oito minutos, inspiradas no modelo de palestras do TED (sigla para Tecnologia, Entretenimento e Design, em inglês). Tal como a proposta principal da conferência, os estudantes compartilham, em encontros abertos e gratuitos, ideias e histórias de vida que merecem ser disseminadas.
 
Um dos objetivos do projeto, segundo explica Ricardo, é fazer com que os frutos da metodologia alcancem mais pessoas. “Costumo trabalhar com metodologias ativas, e o Eight envolve deixar a matéria mais empolgante e estimulante para o aluno, para que ele tenha mais engajamento em sala.”
 
As ações desenvolvidas também requerem um olhar sobre a comunidade. Um suporte para encaixe de guarda-chuva ou guarda-sol em cadeiras de rodas; instalação de armários no câmpus; criação de uma área de jogos em asilos para idosos; ou colocação de redes em árvores para que os universitários tenham um espaço de lazer. Todas essas medidas foram propostas — e executadas — por meio do Eight. Não é necessário que a solução tenha elevado grau de complexidade, mas é fundamental que a iniciativa continue após o fim do semestre, independentemente da presença dos estudantes no local.
 
Prestes a começar o segundo semestre de engenharias, Adriele Lopes, 24 anos, conheceu o método com o professor Ricardo, na disciplina de Introdução à Engenharia. Interessada em seguir na carreira aeroespacial, ela ampliou o leque de opções ao participar dos talk shows promovidos. “Não imagino uma matéria de engenharia sem isso. No quarto semestre, precisamos ter definida a área que queremos seguir, então é bom participar desse projeto”, comenta.
 
Professora do curso de enfermagem na Faculdade de Saúde do câmpus Darcy Ribeiro, a mulher do professor, Thaís Fragelli, também levou a proposta para a sala de aula, na disciplina de Tecnologia de Educação em Saúde. Ela e a turma foram finalistas em um prêmio de educação empreendedora do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). “Com essa experiência, eles tiveram ganhos de competências, como liderança, planejamento, comunicação”, analisa.
 
A prática desse princípio inspirou o estudante de enfermagem João Guilherme Alves, 23, a desenvolver interesse pelo ensino na área de saúde. Ele conta que o trabalho com o método permitiu que sentisse mais entusiasmo com a parte teórica da faculdade. “Na universidade, faltam professores que motivem. Temos vários que apontam o erro, cobram. Mas tirar o melhor do estudante é o diferencial dessa metodologia”, avalia.
 
Inscrições abertas
No meio do ano passado, Ricardo Fragelli deu início ao curso on-line para professores interessados em aplicar o projeto. Neste semestre, ele abrirá mais 30 vagas para educadores do ensino básico e superior. As inscrições para participar do processo seletivo vão até sexta-feira. O curso é gratuito e as aulas duram um mês. Inscrições pelo site: fantasticalizando.com/cursos. Informações: facebook.com/prof.ricardo.fragelli ou instagram.com/ricardofragelli.
 
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Correio Braziliense domingo, 14 de julho de 2019

ESTRESSE AUMENTA A FOME POR CALORIAS

 

Tensão elevada, reforço nas calorias
 
 
Sob condições de estresse, indivíduos tendem a preferir alimentos mais gordurosos. Para especialistas, o comportamento detectado por cientistas da Austrália e da Bélgica reforça a necessidade de considerar aspectos emocionais no combate à obesidade

 

» Vilhena Soares

Publicação: 14/07/2019 04:00

 


Cientistas já comprovaram que as cores utilizadas nos anúncios das redes de fast food são uma estratégia para capturar a atenção dos consumidores. Agora, acabam de descobrir outro fator que torna ainda mais atrativas essas opções gordurosas. Estudos mostram que é muito mais difícil ignorar as comidas de alto valor calórico quando o estresse e o nervosismo estão presentes. Os pesquisadores explicam que isso ocorre devido a uma espécie de sobrecarga do sistema neural, condição que atrapalha a escolha por alimentos mais saudáveis. Para especialistas, a descoberta do novo mecanismo pode ajudar no combate à ingestão exagerada de calorias e, consequentemente, reduzir os casos de obesidade.

Até agora, não se sabia se a incapacidade das pessoas de ignorarem pistas de recompensa cerebrais — como luzes de neon e anúncios coloridos — era apenas algo sobre o qual os indivíduos não tinham controle ou se eram usados processos de controle executivo para trabalhar constantemente contra essas distrações. “O controle executivo é um termo para todos os processos cognitivos que nos permitem prestar atenção, organizar nossa vida, enfocar e regular nossas emoções”, explica Poppy Watson, pesquisadora da University of New South Wales (UNSW), na Austrália, e uma das autoras do estudo, publicado na revista Psychological Science, no início deste mês.

Para desvendar essa questão, Poppy Watson e sua equipe realizaram um experimento com mais de 100 participantes, que tinham que ficar olhando para uma tela com vários formatos geométricos e um círculo colorido. Os voluntários foram informados de que poderiam ganhar dinheiro se mirassem em forma de diamante. Mas se focassem no círculo colorido, não receberiam recompensas. “Para manipular a capacidade dos participantes de controlar seus recursos de atenção, pedimos a eles que fizessem essa tarefa sob condições de alta carga de memória e de baixa carga de memória”, detalha Watson.

Na versão de alta carga de memória, os voluntários tinham que memorizar uma sequência de números, além de localizar o diamante. Dessa forma, havia menos recursos de atenção disponíveis para se concentrar na tarefa que lhes renderia recompensas. O outro grupo não precisou decorar os números. Uma técnica de rastreamento ocular permitiu que todos os participantes fossem monitorados.

Os resultados obtidos surpreenderam a equipe. “Os participantes acharam realmente difícil não olhar para os sinais que dificultavam obter a recompensa — os círculos coloridos — quando estavam em situação de alta carga de memória”, conta Watson. “Crucialmente, os círculos se tornaram mais difíceis de ignorar quando as pessoas foram solicitadas a memorizar números. Isso ocorreu em cerca de 50% do tempo”, completa.

Segundo a pesquisadora, o desempenho dos participantes demonstra que os humanos precisam de acesso total aos processos de controle cognitivo para tentar suprimir sinais indesejados de recompensa. “Isso é especialmente relevante para as circunstâncias em que as pessoas estão tentando melhorar o comportamento. Por exemplo, ingerindo menos álcool ou fast food”, frisa.

Para a equipe, os resultados ajudam a entender por que pessoas podem achar mais difícil se concentrar em fazer uma dieta ou vencer um vício se estiverem sob muita pressão emocional. “Preocupação constante ou estresse é o equivalente ao cenário de alta carga de memória de nosso experimento, impactando na capacidade de um indivíduo de usar recursos de controle executivo de forma que o ajude a gerenciar sinais indesejados no ambiente”, explica Watson. “Se você está sob muita pressão cognitiva, estresse ou cansaço, por exemplo, deve tentar evitar situações em que será tentado por sinais”, aconselha.

Universitários

Uma pesquisa belga traz dados que reforçam a relação entre estresse e dificuldade no controle da alimentação, como identificaram os australianos. Os especialistas investigaram a relação entre a tensão enfrentada por estudantes antes das provas finais e possíveis alterações na qualidade da dieta durante o período. O questionário on-line foi respondido, de forma anônima, por 232 jovens, com idade entre 19 e 22 anos, recrutados na Universidade de Ghent e outras universidades da Bélgica. Durante as provas finais, em janeiro de 2017, os entrevistados foram solicitados a relatar o nível de estresse e a preencher questionários sobre padrões alimentares e vários fatores psicossociais.

Os resultados mostram que, durante o período do exame, os participantes acharam mais difícil manter uma dieta saudável. Apenas 25% cumpriram a ingestão de 400g de frutas e vegetais por dia, quantidade recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Além disso, os estudantes que relataram níveis mais altos de estresse apresentaram maior propensão a lanchar com mais frequência. “O estresse tem sido implicado em má alimentação. As pessoas tendem a relatar excessos alimentares e consomem alimentos ricos em gordura, açúcar e calorias em momentos de estresse. Nossas análises confirmam essa hipótese”, frisa Nathalie Michels, pesquisadora da Universidade de Ghent, na Bélgica, e principal autora do estudo, apresentado no Congresso Europeu sobre Obesidade, em Glasgow, Reino Unido, em maio.

Ansiedade

Para Daniel Novais, nutricionista esportivo, as duas pesquisas comprovam informações conhecidas na área médica. “A ansiedade está ligada com o cortisol e a serotonina, substâncias relacionadas ao estresse. Alimentos doces e processados geram um processo inflamatório que influencia diretamente no neurotransmissor serotonina. Isso faz com que a pessoa fique ainda mais ansiosa, criando um ciclo sem fim, fazendo com que queira comer mais gordura.” 

Segundo Gabriela Resende, endocrinologista do Hospital Sírio-libanês, em Brasília, há dois tipos de fome: a homeopática,  relacionada a necessidades do organismo, e a hedônica, quando se come por prazer. Assim, como mostram as pesquisas, a forma como nos alimentamos está muito relacionada ao estilo de vida. “O estresse e o sedentarismo refletem nessa má alimentação, algo que também tem repercutido no aumento da obesidade.”

Vermelho e amarelo

Uma pesquisa divulgada, em 2006, 
na revista Manegement Decision, mostrou que as cores mais usadas pelos restaurantes de fast food — o amarelo e o vermelho — provocam sensações nos clientes que podem contribuir para o aumento das vendas. Em uma análise com voluntários, cientistas americanos notaram que o amarelo reforça sentimentos de conforto e confiabilidade, já o vermelho provoca a fome.

Palavra de especialista

Mudança em etapas 

“Com a rotina em que vivemos, estamos mais estressados. Por isso esse quadro de tentação pela comida realmente piora. Já é comprovado que, quando temos uma forma de restrição, a proibição do consumo de algo, nosso inconsciente fica tentado a burlar essa regra. Por isso não podemos abdicar de alimentações gordurosas de uma vez, é preciso se adaptar aos poucos, criar atalhos. Só dessa forma se pode mudar hábitos com sucesso. Até porque, quando paramos de uma vez, é fácil ter uma recaída, e, quando ela ocorre, pode tornar o cenário pior do que antes. Atividades como a meditação e a ioga têm se mostrado importantes nessa busca. Elas conseguem ajudar a lidar com o emocional, contribuindo para um maior equilíbrio e autocontrole.”

Omar de Faria Neto, nutricionista
 
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Correio Braziliense sábado, 13 de julho de 2019

COTA MIL: ACONCHEGO À BEIRA DO LAGO

 


CLUBES DE BRASíLIA
 
Aconchego à beira do lago
 
Com a mesma idade da capital, o Cota Mil reúne associados em ambiente que dá a sensação de estar em casa

 

ALAN RIOS
DARCIANNE DIOGO*

Publicação: 13/07/2019 04:00

Antes e depois: o clube à época da construção, em 1959, e atualmente
 (Arquivo Pessoal
)  

Antes e depois: o clube à época da construção, em 1959, e atualmente

 

 (Fotos: Minervino Junior/CB/D.A Press)  
Charme e encanto em um ambiente aconchegante e familiar. O Cota Mil Iate Clube e os 700 associados se orgulham dessas características que marcam a identidade do espaço inaugurado em 1959. Antes disso, em 1957, quando Brasília não passava de mato, terra e construções em meio ao cerrado, o clube se abrigava em uma sala do Palace Hotel. De lá para cá, cresceu e, hoje, conta com uma área de 150 mil metros quadrados.
 
A localização é privilegiada, com acesso ao Lago Paranoá. Da orla, em poucos metros à direita, fica o Pontão do Lago Sul. Em frente, a Península dos Ministros. O nome do clube também carrega história. À época da fundação, engenheiros, geólogos e topógrafos residiam na cidade e escolheram a denominação pelo fato de o clube estar a 1 mil metros de altitude.
 
O comodoro Jorge Daniel Sette explica que o número de sócios é limitado, para que se mantenha o clima mais íntimo e confortável entre os membros. “Aqui, os próprios funcionários sabem quem são todos os frequentadores. Eles mantêm amizade uns com os outros. O Cota não é um clube imenso, em que você perde a referência, mas, sim, um lugar de encontrar os amigos e estreitar os laços”, argumenta.
 
Patrick Noronha:  

Patrick Noronha: "Nós, associados, nos tratamos como membros da família"

 

 
Modernização
 
Atualizar-se constantemente é um dos legados do Cota Mil. De acordo com o comodoro, Brasília vive em um novo momento e cabe ao clube colaborar com a transformação, sem perder a essência. “Muitos sócios chegam para mim e dizem: ‘Me tira de casa.’ Sinto que as pessoas estão pouco vinculadas à cidade e não têm a preocupação de entender a história do lugar, mas de apenas exigir uma boa estrutura. Recebo várias pessoas, por exemplo, que assumem cargo no governo, se associam, e duas semanas depois vão embora”, pondera Sette.
 
É com o objetivo de aproximar mais os sócios do clube que a direção dá atenção especial às programações de eventos socioculturais. “Temos que ligar as pessoas e fazer com que elas interajam. É preciso fazer isso em cada oportunidade, pois é uma chance de elas fazerem novos amigos”, diz o comodoro.
 
Luaus, shows musicais na orla, Dia das Crianças, entre outros, são algumas das atrações que ocupam os salões sociais. Quando o assunto é modernizar, também vale para a parte esportiva. De 40 anos para cá, outras modalidades foram acrescentadas, como beach tennis, pilates, vôlei, dança de salão e aikido.
 
Crescimento
 
Nesse ambiente, muitos associados criaram vínculos para toda a vida. Patrick Noronha, 35 anos, tinha menos de um mês de vida quando foi levado pela primeira vez ao clube e hoje se sente parte de uma família. “Sou caçula de três irmãos e fui com 15 dias de idade para o Cota. Naquela ocasião, as pessoas falaram para minha mãe que ela era doida de levar um menino desse tamanho para o clube. Ela só apontou para os meus outros dois irmãos brincando e disse: ‘Olha lá, aqueles ali estão vivos até hoje, então eu sei cuidar’”, conta o advogado.
 
Patrick cresceu dentro do clube encontrando atividades que lhe faziam bem. Na infância, aprendeu a boiar nas piscinas, antes mesmo de dar os primeiros passos. Quando passou a andar, o espaço aberto era ótimo para correr e brincar. Na adolescência, o Cota era ponto de encontro com os amigos. As aulas esportivas ajudaram no desenvolvimento e renderam muitas histórias. Hoje, ele utiliza a academia do lugar para malhar com a mulher e acredita que um dia perfeito tem que ser relaxando nas dependências enquanto almoça com pessoas queridas e se desliga do mundo lá fora.
 
“Nós, associados, nos tratamos como membros da família. Tem amigos do meu pai aqui que são muito mais meus tios do que meus tios de verdade, que só vejo em datas comemorativas e olhe lá. Com as pessoas do clube, é diferente. A gente confraterniza junto, nos ligamos direto, temos uma relação bem próxima”, diz ele. A característica mais íntima do Cota também agrada, já que lá Patrick se sente em casa, sem preocupações. “Aqui é uma extensão confortável do meu lar. Como não é um clube muito cheio, fico à vontade, vou para qualquer lugar, não fico preocupado com meus pertences. Não tenho dor de cabeça alguma aqui”, explica.
 
Hely Vicentini:  

Hely Vicentini: "Adoro vir dançar nas festas do Cota Mil"

 

 
Amizades de décadas
 
Hely Vicentini, 80 anos, tem uma história de vida recheada de conquistas, e credita os melhores momentos dessas décadas ao tempo que passou no Cota Mil. “Quando cheguei a Brasília, vindo de São Paulo, me levaram primeiro a um outro clube. Achei legal, mas não me identifiquei. Logo em seguida, meus amigos me apresentaram o Cota, e eu disse: ‘Aqui é o meu lugar’”, lembra a aposentada.
 
Sócia desde a década de 1960, ela diz que ficou encantada com o ambiente assim que chegou, não tanto pela estrutura e beleza, mas mais ainda por conta do clima agradável que sempre sentiu. “O que fez eu me apaixonar foram as pessoas. São frequentadores com um comportamento bem afetivo e familiar. Um conhece o outro, as pessoas vão passando o gosto pelo clube de geração em geração.” Hoje, nem o andador a impede de ir ao Cota, passar o dia conversando com as amigas e aproveitar os eventos. “Eu vou a todas as festas do clube, e a turma morre de rir quando eu começo a dançar”, ri.
 
Os irmãos Rafaela e André aproveitam o espaço desde a infãncia
 

Os irmãos Rafaela e André aproveitam o espaço desde a infância

 

 
Espaço da juventude
 
André, 18, e Rafaela Leitão, 15, são irmãos e frequentam o clube desde a infância. Eles não trocam o lazer e a paz do Cota Mil por nada. “É um lugar que temos para nos despreocupar. Aqui não tenho tempo para pegar em celular”, diz André. “Estava na piscina quando conheci uma das minhas amigas. Temos uma relação forte de amizade, que o clube juntou e vai durar o resto da vida. Ela dorme na minha casa, saímos juntas… É muito bom”, completa Rafaela. O lugar também marca uma das melhores lembranças da adolescência: a festa de 15 anos. “Foi aqui que eu me tornei uma princesa.”
 
* Estagiária sob supervisão de Mariana Niederauer
 
Cota Mil Iate Clube
  • Área: 150 mil metros quadrados
  • Número de sócios: 700
  • Idade: 59 anos
  • Como se associar: adquirindo títulos de sócios. O valor varia entre R$ 7 mil e 10 mil.

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Correio Braziliense sexta, 12 de julho de 2019

TIME DE OURO NA MATEMÁTICA

 


Time de ouro na matemática
 
Alunos do Distrito Federal brilham em olimpíada nacional e sonham alto quando falam sobre o futuro que os espera

 

» BRUNA LIMA

Publicação: 12/07/2019 04:00

Dayan:  

Dayan: "Todos os pais deveriam estimular seus filhos a desenvolverem os próprios potenciais"

 



A desafiadora matemática uniu trajetórias e sonhos de Everton Mendes de Almeida, 15 anos, e de Dayan Dias Oliveira, 12. Eles são medalhistas de ouro na Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP). No total, 26 estudantes da capital receberam a honraria.

Na última semana, Everton fez a segunda viagem de avião. Foi a Salvador buscar o prêmio máximo, entregue a ele e a outros 574 estudantes dos quatro cantos do país, que competiram com mais de 18 mil participantes. A primeira vez que embarcou em uma aeronave foi no ano passado, também por ter se destacado em matemática. Ele havia ganhado um curso na área, em Florianópolis, por ter sido um dos 200 melhores brasileiros no Programa de Iniciação Científica (PIC), estudo que só passou a frequentar por ter conquistado menção honrosa e dois bronzes nas outras três edições da olimpíada de que participou. Na OBMEP de 2019, o agora estudante do 1º ano do ensino médio está selecionado para a segunda etapa.

Dayan também avançou para a próxima etapa da competição, como aluno do 7º ano do ensino fundamental. Das disciplinas escolares, sempre achou matemática a mais atraente e, por isso, aprende fácil. Paralelamente às aulas obrigatórias, no CEF 15 de Taguatinga, frequenta o Centro de Excelência de Altas Habilidades, com o foco em ciências exatas. Transita das aulas de raciocínio lógico a robótica, astronomia e música.

Everton:  

Everton: "É paixão. É o que me fez acreditar mais, fazer mais e saber que eu posso ir além"

 


Habilidades

A cada novo interesse que surge, incentivo dos pais é o que não falta. Filho mais novo da professora de ciências Adriana Oliveira, 50, e do bancário Damárcio de Oliveira, 50, Dayan tem dentro do apartamento, em Águas Claras, um espaço dinâmico especialmente desenvolvido para aguçar a mente. “Todos os pais deveriam estimular seus filhos a desenvolverem os próprios potenciais. Ninguém nasce sabendo, e ajudar a criança a encontrar as habilidades, dar suporte e fortalecer é o nosso papel”, destaca Adriana.

O local para estudos de Everton foi montado no próprio quarto, que a cada dia parece ficar menor com a quantidade de livros que o adolescente traz para casa, na zona rural de Planaltina. O cantinho não parou de ganhar vida desde 2015, quando recebeu o que considera ser o primeiro grande reconhecimento e passou a enxergar nos cálculos uma chance de abrir novos horizontes. “Meu filho dizia que não ia conseguir fazer o que eu faço, então eu falava que, para isso, tinha que fazer diferente e estudar muito”, conta o pai, Zeno Mendes, 45, que trabalha como vigia da fazenda onde vive com os três filhos e a esposa, a diarista Sandra de Almeida, 31.

Apesar de há anos não conseguirem ajudar Everton com as tarefas de casa, Zeno, que não chegou a completar o ensino fundamental, e Sandra, que deixou o ensino médio pela metade, oferecem ensinamentos essenciais além das salas de aula do CEF Rio Preto e do CED Várzeas (antiga e atual escola de Everton, respectivamente). “A gente incentiva com nosso esforço, nos desdobrando para atender as necessidades dos nossos filhos para que, diferente de nós, eles não tenham que interromper os estudos. A nossa vitória é ver os frutos disso e o Everton sendo feliz por conseguir explorar a inteligência dele”, afirma orgulhoso o pai, que, antes mesmo da medalha, já chamava o filho de ‘menino de ouro’.

Everton Mendes (E), Mayara e Dayan Dias (Lavinya Andrade/OBMEP/Divulgação)  

Everton Mendes (E), Mayara e Dayan Dias

 


A mesma definição também foi dada pela família e professores a Dayan. Ele estreou com ouro na competição e promete dar o máximo para manter o pódio nas outras seis edições em que poderá participar. “Quero ser recordista de medalhas e encerrar a Olimpíada sendo heptacampeão”, brinca.

Apesar de o reconhecimento ser um motivacional, o menino afirma que o esforço é feito por propósitos maiores. “Assim como eu sempre tive o apoio da minha família e dos meus professores, quero repassar isso. Incentivar outros colegas e mostrar esse poder que a matemática tem de nos ajudar a organizar o raciocínio e resolver todos os desafios”, conta Dayan, que planeja ser engenheiro mecatrônico.

Paixão

Everton estuda para seguir a mesma profissão. Quer aplicar as habilidades em cálculo, a criatividade e o olhar atento e curioso para desenvolver sistemas de automatização. Para ele, tudo gira em torno da matemática. “Vai muito além da lógica. É paixão. É o que me fez acreditar mais, buscar mais, fazer mais e saber que eu posso ir além”.

A conquista e a força de vontade de Everton inspiraram os irmãos e amigos da zona rural de Planaltina. “Sempre quis dar um bom exemplo para meus irmãos mais novos, mas acabou que foi além disso. A minha premiação serviu de incentivo até na escola. Quero poder levar essa força da matemática para o resto do Brasil, principalmente para as áreas que não são muito favorecidas como a minha”, espera.

Everton e Dayan são meninos de ouro que, desafiando as estatísticas, acabaram unidos pelo talento com os números e pela saga incessante em encontrar respostas a cada novo desafio.
 
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Correio Braziliense quinta, 11 de julho de 2019

PREVIDÊNCIA: APROVAÇÃO SOM FOLGA SUPERA EXPECTATIVAS

 


PREVIDÊNCIA
 
Aprovação com folga supera as expectativasCâmara avaliza texto-base da reforma do sistema de aposentadorias por 379 votos a 131, um resultado que surpreende até o Palácio do Planalto. Proposta precisa passar por uma segunda rodada de votação, prevista para os próximos dias

 

» ALESSANDRA AZEVEDO
» HAMILTON FERRARI

Publicação: 11/07/2019 04:00

O plenário ficou cheio para apreciar a proposta que muda as regras de aposentadoria: presença de 510 dos 513 deputados (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência)  

O plenário ficou cheio para apreciar a proposta que muda as regras de aposentadoria: presença de 510 dos 513 deputados

 



Com resultado que surpreendeu até a ala mais otimista do Palácio do Planalto, o texto-base da reforma da Previdência foi aprovado em primeiro turno pelo plenário da Câmara, no início da noite de ontem, com 71 votos a mais do que precisava. O placar de 379 votos favoráveis e 131 contrários à proposta de emenda à Constituição (PEC) 6/2019 simboliza a maior vitória política de uma pauta governista até agora. A matéria ainda precisa passar por uma segunda rodada de votação, prevista para ocorrer ainda nesta semana.

Embora tenha sido comemorada pelo Executivo, a aprovação é considerada um mérito do Congresso — mais especificamente, do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), a quem foi atribuída boa parte dos votos e a presença de 510 dos 513 deputados na sessão de ontem. Aplaudido, ele exaltou o protagonismo do Parlamento e disse ter “muito orgulho de presidir a Câmara” e de contar com a confiança dos líderes partidários.

Depois de ter se emocionado algumas vezes e até chorado durante a sessão, Maia reforçou que o crédito pela aprovação é dos deputados. “É o Centrão que está fazendo a reforma da Previdência”, declarou. O líder do partido de Jair Bolsonaro na Câmara, Delegado Waldir (PSL-GO), puxou aplausos ao comandante da Casa, a quem chamou de “o grande condutor dessa reforma”, mas não mencionou o chefe do Executivo.

A reforma contou com votos favoráveis até de alas da esquerda. Do PSB, que fechou questão contra a reforma, 11 votaram a favor, o que representa mais de um terço dos 32 deputados da bancada. O PDT, que conta com 27, teve oito deputados dando aval ao texto. Os partidos favoráveis foram mais fiéis. Todos os deputados do PSL, do Novo, do DEM, do Cidadania, do Patriota, do PTB e do MDB votaram pela reforma.

Próximos passos

Concluída a primeira fase, os deputados ainda precisam votar os destaques, que são sugestões de mudanças pontuais feitas depois que o texto-base é aprovado. Ontem, Maia pautou apenas o primeiro, de autoria do PL, que pretendia retirar os professores da reforma. A sugestão foi rejeitada por 265 votos a 184.

Os outros 16 que faltam serão discutidos em uma sessão prevista para começar às 9h de hoje (leia reportagem ao lado). “Os deputados estavam muito confusos”, explicou o presidente da Casa, ao encerrar a sessão, às 21h, horas antes do que era previsto. “O formato de o governo não ter uma articulação maior acaba desorganizando as informações. Havia deputados que estavam falando que votariam de um jeito, mas o impacto seria de outro jeito. Então, votariam contra. O problema é que as pessoas estavam mal-orientadas sobre o mérito da matéria”, completou Maia.

A votação do texto-base começou às 20h, depois de superada a obstrução dos deputados oposicionistas, que apresentaram uma série de requerimentos para atrasar a tramitação da reforma. Durante todo o dia, o plenário estava claramente dividido entre os deputados favoráveis às mudanças nas regras de aposentadoria, com bandeiras do Brasil e adesivos pró-reforma, e a oposição, que levou cartazes e vestiu camisetas de “não à reforma”. Do lado de fora, na entrada da Câmara, manifestantes passaram a tarde protestando contra a matéria, enquanto os deputados discutiam o texto no plenário (leia reportagem na página 3).

Pendências

Após a vitória, o secretário especial de Previdência e Trabalho, Rogério Marinho, disse que não teme uma desidratação muito grande da reforma. “Nossa preocupação, desde o início, é de que não haja impactos relevantes no nosso resultado fiscal. Tanto é assim que nós estamos dentro das próprias emendas, que estão sendo destacadas, buscando alternativas para minimizar eventuais desidratações”, comentou.

A reinclusão de estados e municípios na reforma foi descartada pelos deputados. A possibilidade mais discutida, atualmente, é que o assunto seja retomado no Senado, por meio de uma proposta de emenda à Constituição (PEC) separada. “A gente precisa resolver estados e municípios também, mas incluir agora e ter uma derrota, eu acho que vai azedar a relação do Parlamento com os governadores, o que não será uma solução justa”, disse Maia.

No primeiro dia de discussão da reforma no plenário, na terça-feira, o Novo apresentou um destaque para reincluir os estados e municípios, mas retirou ontem. O líder do partido na Câmara, Marcel Van Hattem (RS), concluiu que não teria os 308 votos favoráveis e disse esperar que o tema volte à pauta quando a matéria chegar ao Senado. (Colaborou Jorge Vasconcellos)
 
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Correio Braziliense quarta, 10 de julho de 2019

REFORMA DA PREVIDÊNCIA: ESFORÇO CONCENTRADO

 


PREVIDÊNCIA
 
Esforço concentrado para aprovar reformaCâmara deve votar hoje, em primeiro turno, a proposta de mudança nas regras do sistema previdenciário. Alterações no projeto foram negociadas ontem até a última hora. Previsão é de que discussão se estenda até o fim de semana

 

» ALESSANDRA AZEVEDO
» HAMILTON FERRARI
» LUIZ CALCAGNO

Publicação: 10/07/2019 04:00

Parlamentares compareceram em massa à sessão de ontem à noite. Oposição tentou tirar o projeto da pauta, mas foi derrotada por 331 votos a 117. Governo espera aprovar o texto por placar semelhante (Luis Macedo/Câmara dos Deputados)  

Parlamentares compareceram em massa à sessão de ontem à noite. Oposição tentou tirar o projeto da pauta, mas foi derrotada por 331 votos a 117. Governo espera aprovar o texto por placar semelhante

 




A reforma da Previdência avançou ontem no plenário da Câmara, mas frustrou os deputados governistas, que previam que a votação em primeiro turno começaria ainda durante a madrugada. A discussão atrasou mais do que o previsto inicialmente pelo governo, devido às negociações de última hora para mudanças no texto e à atuação da oposição, que apresentou requerimentos para atrasar o andamento da matéria.

Com os debates encerrados ontem, a previsão é de que comece hoje a votação em primeiro turno. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse que a sessão começará às 9h, sendo que ele “sentará na cadeira” às 10h30 para abrir o encaminhamento da votação, com o discurso de seis parlamentares, sendo três contrários e três favoráveis à reforma, até as 11h. Ele espera que até sábado seja possível votar o texto-base, em dois turnos, além dos destaques (sugestões pontuais de mudança no texto), para que a matéria esteja pronta para ser encaminhada ao Senado antes do recesso parlamentar, que começa em 18 de julho.

Até ontem, o governo dizia contar com mais de 330 votos favoráveis. Para aprovar a PEC, são necessários 308, o que representa três quintos do total de 513 deputados, em duas rodadas de votação. A rejeição de um requerimento que pedia a retirada do assunto da pauta, por 331 votos a 117, no início da sessão, deixou os deputados governistas otimistas com a possibilidade de um placar final parecido. Hoje, com a abertura de uma nova sessão, um requerimento com o mesmo teor também será avaliado antes da decisão dos parlamentares sobre o texto-base.

A proposta de reforma começou a ser avaliada às 20h48 de ontem, após um dia de intensas negociações, que não se limitaram a divergências quanto ao texto aprovado na semana passada na comissão especial. A liberação de R$ 1,1 bilhão em emendas parlamentares, à véspera da votação, foi um dos assuntos que gerou mais discussão. Partidos de oposição, como PT e PSol, recorreram ao Supremo Tribunal Federal (STF) e à Procuradoria-Geral da República (PGR) para anular a liberação dos valores, que consideram compra de votos.

Durante a tarde, o governo aceitou flexibilizar as regras de aposentadoria para as mulheres. A mudança vai permitir que elas recebam 60% da aposentadoria quando completarem 15 anos de contribuição. Após atingirem esse patamar, poderão ganhar 2% a cada ano a mais na ativa. Pela proposta que foi aprovada na comissão especial, o valor só começaria a aumentar depois que elas completassem 20 anos de contribuição.

Maia passou o dia conversando com líderes partidários para definir os últimos detalhes antes de pautar a PEC no plenário. Durante a manhã e no início da noite, ele se reuniu pelo menos duas vezes com parlamentares na Residência Oficial da Presidência da Câmara. Além de fazerem uma contagem de votos, eles conversaram sobre a possibilidade de reincluir estados e municípios na reforma, após os entes da Federação terem sido excluídos pelo relator, Samuel Moreira (PSDB-SP), na Comissão especial da reforma.

Em jogo

O texto aprovado pela comissão, na semana passada, não será necessariamente o mesmo que passará pelo plenário. Os deputados apresentaram 18 destaques de bancada, sobre pontos diversos da proposta, além de 59 individuais, que costumam ser rejeitados em conjunto. O Novo, um dos partidos que mais defendem a reforma, anunciou a apresentação de um destaque para incluir novamente os estados e municípios.

Maia acredita ser “muito difícil” que a Câmara aprove o destaque, e lembrou que o assunto pode ser retomado pelos senadores e, se for o caso, votado à parte. “O Senado poderia se debruçar e devolver uma PEC paralela sobre estados e municípios, para a gente fazer o debate em um ambiente menos tensionado”, explicou.

Há, ainda, a possibilidade de aprovação de uma emenda aglutinativa incluindo apenas os municípios. Com a resistência de alguns parlamentares à inclusão dos estados, líderes articulam a apresentação de uma proposição para beneficiar apenas os prefeitos. “Resolveríamos a situação deles (municípios) e os estados ficariam mais para a frente”, afirmou o deputado Silvio Costa Filho (PRB-PR).

Entre os nove destaques que pretende apresentar, a oposição inclui um para reonerar as exportações agrícolas. A bancada ruralista conseguiu na comissão especial retomar a isenção de contribuição previdenciária do setor, que havia sido retirada no parecer de Moreira. “É um presente de R$ 83 bilhões para ruralistas, enquanto impõe sacrifício enorme a professores e policiais”, reclamou o líder da oposição na Câmara, Alessandro Molon (PSB-RJ).

A oposição também vai apresentar destaques para mudar as regras para pensão por morte. A principal reclamação é quanto à possibilidade de que o benefício seja menor do que o salário mínimo, caso não seja a única fonte de renda da família. Segundo o deputado José Guimarães (PT-CE), o assunto conta com o apoio da bancada evangélica. “Caso o texto seja aprovado, o medo do governo é nos destaques. São todos supressivos, então, eles que terão que colocar os 308 votos para rejeitar”, explicou.

Os professores, que não conseguiram ser retirados da reforma na comissão especial, voltam a ter esperanças com um destaque que será apresentado pelo PL. Já a situação de policiais e agentes de segurança pública continua indefinida. Partidos do Centrão consideram que flexibilizar as regras para a categoria pode abrir precedentes para que outros grupos também pressionem por mudanças, além de fortalecer o discurso da oposição de que a reforma mantém privilégios.

O presidente Jair Bolsonaro disse, ontem, que o governo negocia retirar os profissionais de segurança pública da PEC, para que o assunto seja tratado por lei complementar, depois que a reforma for aprovada. “Pelo que tudo indica, o que chegou ao meu conhecimento, é que essas classes da segurança pública deverão sair da PEC e deverão compor uma lei complementar tão logo seja promulgada essa PEC”, afirmou.
 
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Correio Braziliense terça, 09 de julho de 2019

REDE SARAH: PREMIAÇÃO INÉDITA

 


Premiação inédita
 
Pesquisadora na área da neurociência, presidente da Rede Sarah de Hospitais de Reabilitação será a primeira latino-americana a receber honraria da Sociedade Internacional de Neuropsicologia pelos trabalhos realizados ao longo da carreira

 

» JÉSSICA EUFRÁSIO

Publicação: 09/07/2019 04:00

Lúcia mostra trabalho datilografado na década de 1980 que deu origem a livro sobre reabilitação de crianças com paralisia cerebral (Ana Rayssa/CB/D.A Press)  

Lúcia mostra trabalho datilografado na década de 1980 que deu origem a livro sobre reabilitação de crianças com paralisia cerebral

 


Talento local reconhecido pelo trabalho desenvolvido na área da neurociência em Brasília e em outras cidades do país e do mundo, a presidente da Rede Sarah de Hospitais de Reabilitação, Lúcia Willadino Braga, receberá honraria inédita na América Latina. A pesquisadora será premiada com o Distinguished Career Award amanhã, durante o 89° Congresso da Sociedade Internacional de Neuropsicologia (INS, na sigla em inglês). O evento ocorre no Centro de Convenções SulAmérica, no Rio de Janeiro, às 18h15.
 
Nascida em Porto Alegre, a gaúcha de 61 anos carrega mais de quatro décadas de dedicação a trabalhos na área da neurociência. Enquanto ainda cursava a graduação na Universidade de Brasília (UnB), na década de 1970, Lúcia desenvolveu pesquisas com crianças do Hospital Sarah Kubitschek, associando experiências musicais a tratamentos de reabilitação. Depois de concluir a faculdade, entrou para o quadro de funcionários da unidade de saúde e nunca mais saiu.

Proposta de neurorreabilitação desenvolvida pela médica é um dos diferenciais da Rede Sarah (Wanderlei Pozzembom/CB/D.A Press - 16/12/03)  

Proposta de neurorreabilitação desenvolvida pela médica é um dos diferenciais da Rede Sarah

 

A forte relação com as artes inspirou a médica a elaborar trabalhos de pesquisa que comprovaram diferentes teorias, como a importância do afeto para o desenvolvimento cognitivo e a reabilitação em casos de paralisia cerebral, principalmente em crianças. Esses estudos a levaram a fazer pós-graduações nas áreas da educação, da psicologia, além de um pós-doutorado em ciências da saúde, na França.
 
Da década de 1980 para cá, a pesquisadora se dedicou à produção acadêmica. Entre as colaborações de Lúcia com o meio acadêmico, há publicações de artigos em revistas científicas internacionais, como a Science, além da autoria e coautoria de livros e capítulos de obras. Em julho de 1999, Lúcia recebeu o título de doutora honoris causa pela Universidade de Reims Champagne-Ardenne, também na França.
 
O prêmio concedido pela INS entra para essa lista de homenagens conquistadas pela especialista. “Um cientista brasileiro ser reconhecido pela contribuição a uma ciência internacional é muito interessante. É algo bom para o Brasil e importante para a Rede Sarah, porque não trabalhamos sozinhos. Esse prêmio não deixa de ser um reconhecimento à minha pessoa e à minha equipe”, comenta Lúcia.

Hoje, o hospital localizado no Lago Norte é referência na recuperação de lesões no cérebro (Lindauro Gomes/CB/D.A Press - 15/1/01)  

Hoje, o hospital localizado no Lago Norte é referência na recuperação de lesões no cérebro

 

Destaque
A pós-doutora orgulha-se de uma das principais propostas de reabilitação que desenvolveu e que inspirou trabalhos do mundo inteiro. Trata-se de um método de neurorreabilitação para pessoas com lesões no cérebro, por meio de estímulos promovidos nos ambientes em que vivem e fora dos consultórios. A pesquisadora conta que a ideia de permitir que as famílias acompanhassem os pacientes durante todas as fases do tratamento médico era uma opção considerada absurda no meio da saúde há alguns anos. Esse modelo é um dos diferenciais da Rede Sarah.
 
Sem insumos, como aparelhos de ressonância magnética ou ultrassonografia e com acesso apenas a ferramentas da área da psicologia, Lúcia se debruçou sobre pesquisas para comprovar, entre outras hipóteses, como a relação de afeto da família com o paciente é capaz de gerar melhores resultados para os tratamentos. “Hoje, podemos ver como o cérebro funciona, como responde a estímulos e como o usamos. Você planta sementes que o restante do mundo vai vendo”, diz a especialista, que recebeu convites para participar de conferências — presencial e virtualmente — em mais de 68 países.
 
A relevância do trabalho da gaúcha radicada em Brasília a levou a integrar o quadro editorial de periódicos científicos renomados. “De certo modo, fiquei mais reconhecida fora do Brasil do que aqui na área de pesquisa da neurociência. É muito importante investirmos mais em pesquisa, porque temos excelentes profissionais e excelentes cabeças no país. Quando têm a menor chance, os brasileiros se destacam cientificamente”, finaliza.
 
 
 
Para saber mais
 
Reconhecimento internacional
 
O Distinguished Career Award é concedido pela International Neuropsychological Society (INS) como forma de reconhecimento às contribuições de profissionais que atuaram na área da neuropsicologia e da neurociência durante diversos anos. Criada em 1967, nos Estados Unidos, a entidade oferece o prêmio desde 2008, em dois congressos anuais. A neuropsicologia, foco da atuação da sociedade internacional, trata-se da ciência que estuda as relações entre a mente e o cérebro, além das interações entre pensamento, comportamento e emoções com as estruturas e redes neurais do órgão.
 
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Correio Braziliense segunda, 08 de julho de 2019

COPA DO MUNDO DE FUTEBOL FEMININO DA FRANÇA: AMERICANAS CAMPEÃS

 


COPA DO MUNDO FEMININA
 
O nome dela é Megan Rapinoe
 
Grande nome de toda a competição na França, a atacante marcou o gol que abriu a vitória norte-americana sobre a Holanda na decisão

Maria Eduarda Cardim
Maíra Nunes
Enviadas especiais

Publicação: 08/07/2019 04:00

 

Pela quarta vez na história, a seleção dos Estados Unidos comemorou o título mundial (Franck Fife/AFP)  

Pela quarta vez na história, a seleção dos Estados Unidos comemorou o título mundial

 

 

Lyon (França) — A Copa do Mundo feminina de futebol teve muitos destaques, dentro e fora de campo. Desde os discursos em nome da igualdade de gênero até a boa qualidade mostrada, principalmente, nas fases finais, há muito o que enaltecer na competição. Mas o que seria de um torneio esportivo se não fosse o brilho individual, o caso de superação, o nome inscrito na história? No caso, a decisão que colocou frente a frente os Estados Unidos — campeãs mundiais — e a Holanda —, campeã europeia — corroborou a construção de uma personagem que já havia demonstrado a boa fase: a norte-americana Megan Rapinoe. Dentro de um jogo de equipe, ela fez a diferença na conquista dos EUA em território francês, em vitória por 2 x 0 sobre as holandesas, no Parc de Olympique Lyonnais, em Lyon.

As favoritas americanas não conseguiram furar o bloqueio montado pela equipe comandada por Sarina Wiegman no primeiro tempo, mas desencantaram com o gol vindo dos pés de Rapinoe. Engajada, sem medo de confrontar nem mesmo o presidente Donald Trump, a capitã abriu o placar de pênalti e viu Rose Lavelle decretar o quarto título dos EUA. “É difícil descrever o meu sentimento, é incrível. Todas as pessoas que trabalharam tanto para chegarmos até aqui. Temos um grupo muito unido, estamos sempre muito motivadas para vencer”, disse Rapinoe, após a partida.

Ela acabou substituída aos 33 minutos da etapa final e saiu de campo muito aplaudida pelo estádio lotado. Depois, ela seria novamente ovacionada, por receber o prêmio de melhor jogadora da Copa, aos 34 anos. A veterana chegou aos seis gols e assumiu a artilharia do torneio, ao lado da companheira de equipe Alex Morgan e da inglesa Ellen White.

Pela primeira vez na Copa da França, as americanas não marcaram nos primeiros 12 minutos de jogo. No entanto, a superioridade do time comandado por Jill Ellis foi provada durante o jogo. No segundo tempo, saíram os dois gols que ampliaram a soberania dos Estados Unidos no futebol feminino. Aos 12 minutos da etapa final, Alex Morgan recebeu a bola na grande área e foi atingida pela defensora Van der Gragt, que levantou demais o pé na tentativa de afastar o lance. A árbitra francesa Stephanie Frappart consultou o VAR para confirmar o pênalti.

Com segurança, a veterana Megan Rapinoe cobrou para o fundo das redes. Uma dos destaques da partida, a goleira Van Veenendaal nem se mexeu. A seleção holandesa sentiu o gol e deixou as americanas se aproximarem com liberdade. Com o jogo controlado, oito minutos depois Rose Lavelle invadiu a área e conduziu a bola sem marcação. A decisão tomada pela americana foi chutar forte no cantinho do gol de Veenendaal, que não conseguiu defender a bola.

Goleira

Uma injustiça culpar a goleira por qualquer falha, uma vez que a holandesa foi a grande responsável por segurar o empate até o segundo tempo. A primeira grande chance das americanas foi aos 27 minutos do primeiro tempo. Após escanteio, Ertz chutou forte no meio do gol e, apesar da confusão na área, Van Veenendaal foi rápida e fez uma bela defesa. Dez minutos depois, as americanas montaram um bombardeio ofensivo. Primeiro, com a cabeçada de Mewis no meio da defesa e, depois, com Alex Morgan, que desviou o cruzamento rasteiro de Rapinoe, obrigando Van Veenendaal a fazer dois milagres. No segundo lance, a bola chegou a parar na trave.

A vitória por 2 x 0 deu aos Estados Unidos o quarto título Mundial. A seleção também fez 26 gols na França, recorde em Copas do Mundo. Com o tetracampeonato conquistado, as americanas bateram outra marca. Jill Ellis, técnica da seleção norte-americana, se tornou a primeira treinadora a conquistar o bicampeonato em um Mundial feminino.

 

 (Franck Fife/AFP)  

 

Destaque do dia

Megan Rapinoe

Ela já apareceu nesse quadradinho, mas é obrigatório colocá-la novamente por aqui. A veterana Megan Rapinoe, com seis gols, recebeu a Chuteira de Ouro, troféu de artilheira da competição. Também se tornou a mais velha a marcar em uma final de Copa do Mundo, com 34 anos e dois meses. A experiência falou mais alto e foi destacada por Rapinoe. “Eu me sinto como uma mãe vendo minhas criancinhas tendo tanto sucesso”, afirmou. “Tivemos alguns jogos incrivelmente difíceis, muita atenção e pressão da mídia, por isso, acho que para nós, jogadoras mais velhas, carregar essa carga e dar o exemplo certo para as mais jovens é uma enorme razão do porquê termos sido capazes de ser tão bem-sucedidas”, explicou.

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Correio Braziliense domingo, 07 de julho de 2019

COPA AMÉRICA: A HORA DE TITE

 


COPA AMÉRICA
 
A hora de Tite
 
Apontamos oito motivos que podem ter levado o treinador a repensar a permanência na Seleção Brasileira até a Copa-2022. Desfecho da decisão contra o Peru coloca em xeque 62 dias que abalaram Adenor
 

 

Marcos Paulo Lima
Enviado especial

Publicação: 07/07/2019 04:00

 (Philippe Desmazes/AFP)  
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Jill Ellis (foto), dos Estados Unidos, e Sarina Wiegman, da Holanda: duas mulheres dirigem os times que fazem a final da Copa do Mundo feminina, hoje
 
 
 
 
Na coletiva, Tite não falou sobre deixar a Seleção: contrato até 2022 (Ed Alves/CB/D.A Press)  

Na coletiva, Tite não falou sobre deixar a Seleção: contrato até 2022

 

 
 
Rio de Janeiro — Adenor Leonardo Bachi atingirá, hoje, o nível mais alto de estresse no comando da Seleção Brasileira. Do anúncio da saída do fiel escudeiro Edu Gaspar para o Arsenal à primeira partida como treinador do Brasil no Maracanã, às 17h, contra o Peru, foram 62 dias de desgastes psicológicos, físicos, nos relacionamentos e até na imagem.
 
Um ano e um dia depois da eliminação nas quartas de final contra a Bélgica, em Kazan, a permanência do gaúcho de Caxias do Sul no cargo para as Eliminatórias rumo ao Catar-2022 e a Copa América de 2020 será colocada em xeque. Na coletiva antes da final, Tite teve que responder sobre o assunto. “2022 é o contrato que o Tite manteve com a CBF, com o Rogério (Caboclo, presidente da Confederação)”, resumiu. E não aceitou mais perguntas sobre o assunto: “Já respondi”.
 
A Confederação Brasileira de Futebol jurou mais de uma vez a manutenção de Tite no cargo independentemente do desfecho da Copa América. No entanto, o Correio lista alguns motivos que podem ter levado o treinador a, no mínimo, repensar a continuidade. Há problemas acumulados dentro e fora das quatro linhas em 62 dias. Confira.
 
 
7/5/2019 
A saída de Edu Gaspar
O coordenador de seleções, uma das exigências de Tite, anunciou a saída do cargo para assumir um convite do Arsenal, da Inglaterra. Diante da proposta do clube inglês, o treinador da Seleção esperava que o atual mandatário, Rogério Caboclo, se esforçasse para apresentar uma contraproposta capaz de convencer o executivo a permanecer na função. Edu se despede hoje.
 
 
17/5/2019 
O adeus de Sylvinho
A comissão sofreu mais uma baixa no dia do anúncio dos convocados para a Copa América. Um dos homens de confiança de Tite, Sylvinho aceitou oferta do ex-jogador Juninho Pernambucano para assumir o Lyon, da França. Ele comandaria a Seleção no Pré-Olímpico da Colômbia e em Tóquio-2020, em caso de classificação. Outra vez, a CBF deixou Tite desapontado.
 
 
1/6/2019
A crise Neymar
Acusado de estupro por Najila Trindade, enquanto treinava na Granja Comary, em Teresópolis, o atacante virou um fardo para Tite. O treinador tentou blindá-lo ao máximo, mas teve de cortá-lo após a lesão no tornozelo. Um dos vice-presidentes da CBF, Francisco Noveletto, afirmou que Neymar pediria o desligamento. A presença do pai do craque no vestiário em Brasília, embora autorizada por Tite, também desgastou.
 
 
5/6/2019
Relações perigosas
Tite sempre tentou manter certo distanciamento da relação com políticos. Disse que não iria ao Palácio do Planalto, antes ou depois da Copa da Rússia. Tentou se manter neutro nas eleições. No entanto, a aproximação da CBF com Jair Bolsonaro ficou clara com as presenças constantes do presidente. A Argentina chegou a citar a presença do chefe do Executivo na carta de reclamação enviada à Conmebol.
 
 
18/6/2019 
Promoção perigosa
Depois do empate por 0 x 0 com a Venezuela, Tite foi questionado se a promoção do filho Matheus Bachi ao cargo de auxiliar na vaga deixada por Sylvinho não seria antiética, um caso de nepotismo na CBF. Surpreso e ao mesmo tempo constrangido, defendeu o herdeiro: “Tenho muito orgulho da capacidade dele”.
 
 
22/6/2019 
Reinvenção
Como se não bastasse disputar a Copa América em casa sem Neymar, Tite ouviu vaias contra a Bolívia e a Venezuela e foi obrigado a reinventar o time. Dos titulares no primeiro jogo, quatro não começarão a final contra o Peru: Richarlison, David Neres e Filipe Luís perderam as vagas, respectivamente, para Gabriel Jesus, Everton Cebolinha e Alex Sandro.
 
 
28/6/2019
Sofrimento
Tite sofreu horrores nas quartas de final contra o Paraguai. Com um jogador a mais durante praticamente o segundo tempo inteiro, só avançou às semifinais na decisão por pênaltis graças ao milagre do goleiro Alisson e ao acerto de Gabriel Jesus. Na semifinal, triunfou por 2 x 0, mas teve menos posse de bola do que a Argentina e tomou sufoco até o gol de Roberto Firmino.
 
 
7/7/2019 
Dia D
Tite chega à final blindado por uma defesa que não sofreu gol nesta Copa América e com rumores de que deve pedir para deixar o cargo independentemente do resultado da final. Em dois meses, a CBF soltou duas notas oficiais reafirmando a confiança no trabalho de Tite. Rogério Caboclo reforçou a intenção de mantê-lo em entrevista ao programa Bem, Amigos, do SporTV. Cenas do próximo capítulo ao término de Brasil x Peru.
 
 
 
BRASIL (4-3-3)
Alisson; Daniel Alves, Marquinhos, Thiago Silva e Alex Sandro; Casemiro, Arthur e Philippe Coutinho; Gabriel Jesus, Roberto Firmino e Everton
Técnico: Tite
 
 
PERU (4-2-3-1)
Gallese; Advincula, Zambrano, Abram e Trauco; Yotún e Tapia; Carrillo, Cueva e Flores; Paolo Guerrero
Técnico: Ricardo Gareca
 
 
Transmissão
Globo e SporTV
 
 
Tempo real
df.superesportes.com.br
 
 
Árbitro
Roberto Tobar (Chile)
 
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Correio Braziliense sábado, 06 de julho de 2019

ANTÁRTICA: ISOLADOS NO CONTINENTE GELADO

 


ANTÁRTICA
 
Isolados no continente gelado
 
Grupo de 16 militares da Marinha permanece em missão na Estação Comandante Ferraz onde o acesso por navio é impossível devido às más condições climáticas na região. Conheça um pouco da história desses brasileiros

 

» José Carlos Vieira

Publicação: 06/07/2019 04:00

Nevascas são constantes no inverno antártico, quando as temperaturas caem para quase -20ºC (Marinha do Brasil/Divulgação)  

Nevascas são constantes no inverno antártico, quando as temperaturas caem para quase -20ºC

 



Dezesseis militares da Marinha do Brasil estão isolados na região mais inóspita do planeta. O grupo passará todo o inverno antártico na nova Estação Comandante Ferraz (EACF). A missão é fazer testes de todos os equipamentos na obra que custou cerca de R$ 500 milhões. É uma joia na Antártica, destinada a pesquisas científicas das mais variadas.

As condições climáticas na região são desumanas, ventos que chegam a 200km/h e temperaturas entre -5ºC a -19ºC. São 19 horas de escuridão até outubro. O silêncio da Baía do Almirantado, onde está localizada a EACF, só é quebrando quando o avião Hércules C-130 da Força Área Brasileira faz sobrevoos rasantes para lançar alimentos perecíveis e equipamentos para a estação. Nesse período do ano, a operação se repete a cada dois meses e meio.

“Nosso grupo chegou à Antártica em novembro de 2018. Desde então, houve uma rotatividade de pesquisadores e recebemos um bom número de pessoas, porém, com a partida dos navios da Marinha do Brasil, no início de março de 2019, restou apenas o Grupo Base na estação”, destaca o primeiro-sargento Flávio Silva de Souza, encarregado de comunicações.

À reportagem do Correio, o militar adianta que o grupo permanecerá isolado até o início de novembro quando os navios Almirante Maximiano e Ary Rongel retornam — quando os icebergs  e banquisas de gelo começam a derreter. “Nosso período de isolamento é de sete a oito meses. No entanto, não nos sentimos tão isolados, porque temos internet, o que nos permite ter contato com nossos familiares e ficarmos informados do que está acontecendo no Brasil e no mundo”, diz.

Por e-mail, o Correio entrou em contato com integrantes do Grupo Base, que falaram sobre a rotina no continente gelado, a saudade da família e a preparação psicológica para enfrentar todo esse tempo na Antártica.

Entrevista

 (Marinha do Brasil/Divulgação)  


Flávio Silva de Souza, primeiro-sargento, 
encarregado de comunicações


Como está a condição meteorológica na Baía do Almirantado, onde fica a nova Estação Antártica Comandante Ferraz?
Nós estamos no inverno antártico, que dura de março a outubro, com dias mais curtos e a noite começando às 16h e indo até 9h30. Está extremamente frio, enfrentamos temperaturas baixas que vão de -5ºC a -19ºC. Os ventos, chamados catabáticos, são intensos e fortes nevadas são comuns. Mas participamos de treinamentos específicos para conseguir suportar as condições extremas na Antártica.

É o primeiro inverno da estação depois de praticamente concluída. Quais testes que estão sendo feitos na EACF?
A nova estação está toda construída e pronta para inaugurar, faltando somente a conclusão de alguns testes de aceitação dos equipamentos instalados. Durante o período de “comissionamento”, todos os sistemas e equipamentos estão sendo testados ao seu limite de operação, de forma a assegurar a confiabilidade e o correto funcionamento. Encerrado o comissionamento, a estação estará pronta para receber os primeiros pesquisadores, iniciando uma nova etapa do Programa Antártico Brasileiro na mais moderna estação em operação na Antártica.

Como é a rotina do Grupo Base?
A estação é como uma organização militar de qualquer lugar do Brasil, tendo horários a serem cumpridos. Cada militar desempenha funções específicas, cumprindo horários no trabalho e tendo, também, um tempo livre. O funcionamento da estação é praticamente mantido por quatro geradores de energia, sendo colocado um por vez. Aqui, nos preocupamos em não desperdiçar energia, desligando as luzes, equipamentos e os aquecedores nos ambientes não vitais, pois temos que economizar combustível para alimentação dos geradores. A nova estação foi estruturada para oferecer mais conforto e segurança a todos.

A maior parte da tecnologia é brasileira?
Um importante aspecto a se destacar é que a experiência brasileira permitiu enfatizar as condições de conforto (térmico, lumínico, acústico e psicológico) sendo, inclusive, realizados estudos empregando softwares e simuladores como ferramenta auxiliar nas decisões dos projetos e na verificação da sua eficiência. Nessa mesma linha, as técnicas adotadas para a gestão de água e esgoto foram estabelecidas a partir de estudos e experimentos anteriores realizados na EACF, sendo proposto um sistema de reaproveitamento de águas servidas (águas cinzas) e o tratamento dos efluentes finais por meio da técnica de radiação UV.

Como é feito o monitoramento da estação pelo comando da Marinha no Brasil? 
Por câmeras on-line e informações trocadas entre a Secretaria do Programa Antártico e o chefe da estação por telefone e e-mail. Em relação à segurança, destaca-se que a EACF é dotada de um sistema de controle de avarias e alarme de incêndio moderno, que possibilita o monitoramento contínuo das condições de segurança de todos os seus compartimentos, além de estar coberta por sistemas fixos de combate a incêndio do tipo sprinkler (chuveiro automático) e por gás Novec (utilizado nos setores vitais da estação). Todos os ambientes são separados por portas corta-fogo e são revestidos por paredes com materiais especiais resistentes a chamas. A estação conta também com sistemas básicos de combate a incêndio empregando mangueiras e/ou extintores portáteis, distribuídos estrategicamente pelos compartimentos.
 
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Correio Braziliense sexta, 05 de julho de 2019

CLIMA: CADA VEZ MAIS FRIO E SECO

 


CLIMA
 
 
Cada vez mais frio e seco
 
Inmet prevê que temperaturas no Distrito Federal vão continuar baixas nas madrugadas e altas à tarde, com umidade relativa do ar em queda. Sem chuva há um mês, capital registrou ontem o dia mais frio do ano, com 7,7° C. População deve se prevenir contra doenças

 

ALAN RIOS
CRISTIANE NOBERTO*

Publicação: 04/07/2019 04:00

 

Pedestre se protege do frio da manhã: Instituto Nacional de Meteorologia prevê dias mais gelados e com menos umidade relativa do ar ( Ed Alves/CB/D.A Press)  

Pedestre se protege do frio da manhã: Instituto Nacional de Meteorologia prevê dias mais gelados e com menos umidade relativa do ar

 

 

De manhã, ao sair de casa, agasalhos e toucas se tornam indispensáveis. Pouco tempo depois, o calor toma conta e as roupas precisam ser mais leves. Na tarde, fica difícil respirar devido à seca. E, em seguida, volta o frio. Essa é a rotina do brasiliense no inverno. Além do incômodo do tira e põe das vestimentas, a variação traz uma série de doenças. Ontem, o Distrito Federal registrou a menor temperatura do ano: 7,7° C. No período mais quente do dia, os termômetros marcaram 28ºC e a umidade relativa do ar caiu para 20%.

A previsão do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) é de que as temperaturas continuem com variação alta e que a umidade relativa do ar caia um pouco mais. Ao longo da história, o Distrito Federal registrou dias bem mais frios do que ontem. Em 30 de junho de 1985, a capital teve a menor temperatura medida: 1ºC. Em 31 de julho do mesmo ano foi registrada a segunda mais baixa na capital — 1,6ºC. Já o período de estiagem mais longo ocorreu em 1963, com 164 dias sem chuva. Hoje, Brasília completa um mês de seca.

A auxiliar de serviços gerais Darcilena Francisca da Silva, 40 anos, sentiu o frio de ontem. “Estava mais frio do que o normal, senti na madrugada e de manhã, tanto que saí de casa com três blusas. Amanheci com a garganta irritada, não sei se foi por conta do frio”, contou. Quem também adoeceu foi Fábio Emanuel Batista, 36. “Saio de casa às 4h para ir ao trabalho. Tenho de ir agasalhado, com touca e roupa de frio bem reforçada, mas, mesmo assim, nesses dias, estou um pouco gripado, com nariz entupido e um pouco de dor de cabeça”, disse o faxineiro.

Baixa resistência
Especialistas dizem ser possível passar por esses períodos do ano sem ficar doente. “A barreira primária de proteção das vias aéreas é o nariz. Quando há queda ou aumento importante da temperatura, a resistência dessa barreira acaba diminuindo e as pessoas ficam resfriadas, por exemplo”, explica Larissa Macedo de Camargo, otorrinolaringologista do Hospital Santa Lúcia.

Outro fator que ajuda a proliferação de vírus é que nos períodos de frio as pessoas costumam se aglomerar mais e procurar lugares fechados. “Isso é nocivo porque facilita que as bactérias fiquem mais tempo no ar”, comenta a especialista. O ideal é se proteger do frio com roupas que protegem áreas sensíveis do corpo, como pescoço, manter uma boa hidratação, higienizar as mãos e nariz constantemente e manter uma avaliação preventiva com profissionais da saúde.

Idosos e crianças precisam tomar cuidados redobrados. Walter Ananias, 72, diz que se preveniu neste inverno. “Nesses dias de mudanças de temperaturas os mais velhos sofrem. Eu não tive nenhum problema porque tomei a vacina contra a gripe e me cuido bem. À tarde, bebo muita água e me alimento sem nada pesado”, ensina o aposentado. Marcelo de Souza, 42, se preocupa com a filha, de 9 anos. “Criança também sempre preocupa nessa época, a Anna Clara já ficou gripada e, às vezes, recorremos ao posto de saúde.”

Recordes
Frio

1ºC    30 de junho de 1985
1,6ºC    31 de julho de 1985

Seca
164 dias    1963
Fonte: Inmet

* Estagiária sob supervisão de Renato Alves

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Correio Braziliense quinta, 04 de julho de 2019

OLIMPÍADA PROFISSIONALIZANTE

 

Olimpíada profissionalizante
 
A cidade de Kazan, na Rússia, recebe, no próximo mês, a maior competição de educação profissional do mundo. Esta semana, competidores se reúnem em Brasília com o objetivo de treinar para o evento

 

» ALAN RIOS

Publicação: 04/07/2019 04:00

Luan Silva viu no curso uma oportunidade de melhorar as condições de vida da família e virou referência entre os estudantes do Senai (Fotos: Ana Rayssa/CB/D.A Press)  

Luan Silva viu no curso uma oportunidade de melhorar as condições de vida da família e virou referência entre os estudantes do Senai

 


O que seria só um curso para facilitar o ingresso no mercado de trabalho virou a paixão de brasilienses que estarão na Rússia em agosto. O WorldSkills 2019, maior competição de educação profissional do mundo, receberá cerca de 1,5 mil estudantes de 70 países para a disputa de medalhas em 53 modalidades. O evento serve para premiar os melhores profissionais de técnicas da indústria — como soldagem e movelaria — e do setor de serviço — como panificadores e cabeleireiros. Mas a disputa é só uma parte da história dos competidores.
 
Um dos 59 brasileiros aptos para ir à Rússia é Luan Silva Braga, 20 anos, morador da Candangolândia. “Fiz o curso técnico de edificações no Senai e fiquei trabalhando por seis meses em um escritório de arquitetura. Já me interessava pela área devido ao meu avô, uma inspiração para mim. Ele era pedreiro e sempre se esforçou muito em tudo o que fez, mas acabou falecendo dois dias depois do meu aniversário de 15 anos. Achei na minha área uma maneira de honrá-lo”, conta. Filho mais velho, ele mora com a mãe e os dois irmãos e viu que, com seus serviços, poderia dar uma condição de vida melhor à família.

Estudante de movelaria, João Victor sonha com um emprego no exterior  

Estudante de movelaria, João Victor sonha com um emprego no exterior

 

Após concluir o primeiro curso, Luan decidiu entrar em uma turma de drywall e passou a tomar gosto pelas aulas de construção em placas de gesso. Apaixonado por criar, passou a colocar em prática o interesse pela arquitetura e a buscar a excelência, tanto que foi chamado pelos professores do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) de Taguatinga para competir regionalmente em eventos profissionais, construindo painéis. “Comecei a treinar das 8h30 às 21h, de segunda a sábado, e fui me qualificando. Depois de estar entre os melhores do país, mirei ir para a Rússia”, diz.
 
Preparação
O evento internacional ocorre uma vez a cada dois anos e vai para a 45ª edição em 2019. Nele, os estudantes passam por provas extensas, individuais ou coletivas, que servem como desafio para avaliar as diferentes capacidades em cada área. As atividades podem durar até cerca de 10 horas. Nas duas últimas competições, o Brasil subiu ao pódio: conquistou o 1º lugar na WorldSkills 2015, ocorrida em solo nacional, e em 2º em 2017, na edição de Abu Dhabi, nos Emirados Árabes. Enquanto o evento aguardado não chega, uma simulação ocorre em Brasília.

Centro de Treinamento Integrado do Senai no SIG recebe simulados da prova mundial  

Centro de Treinamento Integrado do Senai no SIG recebe simulados da prova mundial

 

A capital foi escolhida como palco de atividades semelhantes às que vão ocorrer em agosto, na Rússia. É aqui, nos Centros de Treinamentos Integrados do Setor de Indústrias Gráficas (SIG), do Guará e de Taguatinga, que competidores de todo o mundo estão se preparando para as horas de programações, construções e engenharias. “Brasília é uma ótima opção para essa simulação, porque está no centro do país, tem aeroporto próximo e o trânsito não é tão complicado. A logística ajuda muito”, explicou Jeferson Mateucci, delegado técnico assistente do Senai.
 
Estudo que transforma
Luan está hospedado em um hotel para participar dessas simulações, que começaram em 2 de julho e vão até sexta-feira. “Na minha categoria, são três dias de prova. Cada dia é uma luta, um suor, um cansaço. Mas, no fim, vale a pena. É isso que vai me levar ao meu sonho de cursar uma faculdade de arquitetura. Meu trabalho é uma oportunidade para abrir essas portas. Isso é uma motivação”, explica. O aluno estará acompanhado da professora Flávia Louise Arnold, 39, durante o campeonato.
 
Ela vê o evento como uma das metas de quem quer mudar de vida pelo estudo. “Luan vem de uma criação muito difícil. Ele vê a oportunidade de se desenvolver como profissional e ser humano com o curso”, conta. João Victor dos Anjos, 19, também se encaixa nesse contexto. Morador de Águas Lindas (GO), ele se classificou para o mundial e deixou a casa em festa. “Minha família fica muito orgulhosa com esse meu desempenho. Foi isso que me levou a viajar para fora, coisa que nenhum de nós tinha feito ainda”, lembra. A irmã, inclusive, também entrou em um curso profissionalizante, de panificação, inspirada nele.
 
Mas a rotina para ganhar uma medalha é dura. “Nessa semana de simulação, acordo 5h40, troco de roupa e vou fazer exercício físico. Quando termina, tomo café e já vou para o treinamento. Dou uma pausa para o almoço e depois volto. Só acabo às 19h”, detalha. O rapaz treina produzindo móveis especiais. Futuro competidor de movelaria, busca um emprego fora do Brasil. “Se Deus quiser, vou ganhar a medalha e poder ser visado por pessoas de outros países. Eles valorizam muito os medalhistas.”
 
O treinador dele, Marcelo Erct, 30, apoia e lembra: “Os alunos daqui atingem um nível de profissionalismo tão grande que, às vezes, viram nossos professores no Senai e ensinam com qualidade para mais outros estudantes. Isso gera um ciclo muito importante”.
 
 
 
Simulação
 
O simulado, realizado no Centro de Treinamento Integrado do Senai é uma das atividades mais importantes pré-competição, pois representa a última oportunidade de os candidatos testarem as habilidades de acordo com as exigências da prova. Por isso, 14 integrantes vindos da Suíça, Coreia do Sul, Marrocos, Japão, Rússia, Malásia e Colômbia estão em Brasília, até sexta-feira, participando das atividades de simulação no DF.
 
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Correio Braziliense quarta, 03 de julho de 2019

DRAMATURGIA BEM BRASILEIRA

 

Dramaturgia bem brasileira
 
 
Palco Giratório, evento nacional promovido pelo Sesc, ocupa espaços da cidade com peças das mais variadas vertentes. Melhor: de graça!

 

ROBERTA PINHEIRO

Publicação: 03/07/2019 04:00

A trupe brasiliense Antônia apresenta o espetáculo Voa, com toda a linguagem voltada aos bebês (Coletivo Antonia/Divulgação)  

A trupe brasiliense Antônia apresenta o espetáculo Voa, com toda a linguagem voltada aos bebês

 



No centro do palco, sotaques de norte a sul. Desde 1998, o projeto Palco Giratório, festival itinerante de artes cênicas realizado pelo Sesc, percorre o Brasil difundindo uma variedade de espetáculos e contribuindo para a formação de público e de profissionais. “Fala do Brasil para o Brasil e é feito pelo Brasil”, define Leonardo Braga, um dos curadores do projeto.

Neste mês, o evento chega a Brasília para uma temporada de 26 dias de apresentações gratuitas — serão mais de 40 atrações. São espetáculos de dança, teatro, circo, intervenção urbana, performance, além de oficinas, que ocupam diferentes equipamentos culturais da cidade e áreas públicas até o dia 28.

De acordo com Braga, fruição e ações formativas são duas tônicas deste ano, que também destaca a presença de espetáculos gerados dentro do Sesc e de propostas que não configuram necessariamente um espetáculo, como o Femi-Clown Cabaré-Show, um encontro de mulheres palhaças e suas criações.

Entre as novidades e destaques desta edição, Braga pontua a apresentação do coletivo brasiliense Antônia: Voa. Inspirado na criação de Rubem Alves, A menina e o pássaro, o espetáculo é feito para os bebês. A dramaturgia percorre o caminho das sutilezas e dos sentidos, tratando da cumplicidade e de saudades, mas, sobretudo, da liberdade. “Todo o nosso processo criativo é pensado para o pequeno público. Um público delicado, sensível e o mais sincero do mundo. Fazer arte para eles é ter muita sensibilidade e muito cuidado. Nossa arte é mais expansiva e transversal para ter mais chances de afetá-los”, comenta o músico Euler Oliveira, sonoplasta e coordenador técnico do grupo.

Pela primeira vez, o coletivo participa do projeto. Depois de percorrer Fortaleza, Rio de Janeiro, Macapá e Porto Alegre, eles retornam à cidade de origem com um amplo material de pesquisa. “Querendo ou não, vemos como o teatro funciona em cada cidade, como é a produção artística para bebês. Existem diferenças brutais. Percebo que conforme as condições financeiras e socioculturais de cada local, varia o fazer artístico”, avalia. Além disso, Oliveira destaca o incentivo, sobretudo no caso deles, que trabalham com a formação da primeira plateia. “Acreditamos que o trabalho que fazemos é transformador e produz reflexões”, complementa.

De Belo Horizonte, o grupo Teatro Público desembarca em Ceilândia com personagens mascarados, vindos do bairro de Lagoinha, para causar uma fissura no cotidiano da região. “É uma intervenção cênica. Os personagens vivenciam aquele dia a dia, convivem com as pessoas. Confundimos as noções de espectador e ator, porque os espectadores participam da cena, é um jogo teatral aberto”, explica Larissa Albertti, atriz e uma das fundadoras do coletivo.

Em Naquele bairro encantado — Episódio I: estranhos visitantes, a ideia é levar o teatro para um público que não está acostumado com o palco. É uma peça para ser vivida mais do que assistida. “A proposta surgiu em um bairro marginalizado de Belo Horizonte e sempre escolhemos locais com a mesma característica, que sejam periféricos. Contudo, que tenham história e que sejam importantes para a construção da cidade”, conta Albertti.


O grupo Teatro Público traz uma intervenção cênica, com personagens que vivenciam 
o dia a dia da comunidade que visitam (Naum Audiovisual/Divulgação)  

O grupo Teatro Público traz uma intervenção cênica, com personagens que vivenciam o dia a dia da comunidade que visitam

 




O Femi-Clown Cabaré-Show é um encontro de mulheres palhaças e suas criações (Gabriel Guira/Divulgação)  

O Femi-Clown Cabaré-Show é um encontro de mulheres palhaças e suas criações

 




Múltiplas linguagens
Voltadas à preparação dos profissionais, as oficinas dobraram de número nesta edição e ocorrem no Teatro Garagem, no Sesc Gama e Sesc Taguatinga Norte. O objetivo é desenvolver as capacidades físico-perceptivas, alinhamento, força, concentração, definição e afinação dos sentidos. “Com o patrocínio da Embaixada da Áustria, temos a participação de um profissional da Alemanha que dará uma oficina de dança contemporânea no Gama e, depois, fará uma apresentação”, conta o curador.

Ao todo, o Palco Giratório conta com 642 apresentações e 1.382 horas de oficinas, realizadas por 20 grupos artísticos, alcançando 138 cidades brasileiras. Os artistas e grupos participantes são selecionados por um time de curadores formado por 33 profissionais do Sesc de todo o Brasil. “Uma rede conectada ao que há de mais pujante na cultura nacional”, define Leonardo Braga.

A partir de critérios como diversidade de linguagem, regiões do país, faixa etária e trajetória dos artistas, a curadoria mapeia questões e tendências latentes no contexto atual das artes cênicas brasileiras. No circuito do DF, foram convidados ainda os vencedores do Prêmio Sesc do Teatro Candango em 2018.

“Queremos fortalecer a cultura como um todo, por isso a multiplicidade de linguagem. O teatro, as ações voltadas para a dança contemporânea, o circo, a performance, o teatro para bebês. É cada vez mais necessário dar essas oportunidades aos artistas independentes. Ser artista independente no Brasil é desafiador”, avalia o curador.




Espalhados pela cidade
Companhias de arte de  Pernambuco, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Distrito Federal e Minas Gerais, além de cinco coletivos do Ceará, apresentam-se nos palcos tradicionais do Sesc-DF: Teatro Garagem, na 913 Sul; Teatro Newton Rossi, em Ceilândia; Teatro Paulo Gracindo, no Gama; Teatro Ary Barroso, na 504 Sul e no Teatro Paulo Autran, em Taguatinga Norte. A Feira da Torre, o Mercado Sul de Taguatinga e a Feira de Ceilândia também integram o circuito.



O projeto nacional conta com 642 apresentações e 1.382 horas de oficinas, realizadas por 20 grupos artísticos, alcançando 138 cidades brasileiras
 
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Correio Braziliense terça, 02 de julho de 2019

PLANO REAL: 25 ANOS

 

25 ANOS DO REAL
 
 
Uma sinfonia inacabadaPresidente do Ipea afirma que o Plano Real ficou incompleto, o que resultou em juros altos

 

» Cláudia Dianni

Publicação: 02/07/2019 04:00

Carlos von Doellinger,  presidente do Ipea:  

Carlos von Doellinger, presidente do Ipea: "Pode gerar uma onda de otimismo (aprovação da PEC da Previdência), e o investidor estrangeiro pode se animar, mas o que vai alavancar o crescimento é uma onda pesada de investimentos, basicamente, do setor privado"

 



OPlano Real foi uma grande conquista, mas é uma obra inacabada, que deixou como herança uma alta de taxa de juros. Essa é a avaliação de Carlos von Doellinger, presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Para ele, com o Plano Real, o Brasil conseguiu “relativa estabilização” monetária, um pacote de privatizações e debelou crises externas. Faltou, porém, acredita, completar a missão em dois aspectos: fazer ajuste fiscal e eliminar o deficit nominal (receitas e despesas do governo, inclusive gastos com o pagamento de juros da dívida pública).

“A herança ruim foi ter se sustentado muito tempo na âncora cambial, até 1999, e ter que fazer um choque de juros com grande elevação da taxa real para compensar câmbio, como o que convivemos até hoje”, disse. “Como não conseguimos fazer o ajuste pela despesa, apelou-se pela receita, o que aumentou a carga tributária em cerca de oito pontos percentuais do PIB e ficamos com essa carga tributária de 33%, 34% do PIB, um ônus pesado que carregamos até hoje, que atrasa o desenvolvimento.”

Ele ressaltou que o ajuste iniciado pela equipe econômica do Plano Real precisa ser completado e afirmou que a equipe econômica tem um conjunto de propostas para complementar “a sinfonia inacabada do Plano Real”. Segundo ele, a reforma da Previdência, prioritária, é uma delas, mas não resolve todos os problemas. “Pode gerar uma onda de otimismo, e o investidor estrangeiro pode se animar, mas o que vai alavancar o crescimento é uma onda pesada de investimentos, basicamente, do setor privado.”

Doellinger citou também a reforma tributária, mas disse que ela não vai conseguir reduzir a carga tributária no médio prazo, porém poderá simplificar os impostos e reduzir o custo das transações.  Outra reforma que “está no pipeline”, conforme afirmou, é a do Pacto Federativo, que será encaminhado ao Senado. Segundo ele, as mudanças propostas pelo governo na divisão das receitas entre os entes federativos lembra o Fundo Social de Emergência do Plano Real, uma desvinculação de receitas que permitiu uma alocação mais racional dos fundos públicos.
 
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Correio Braziliense segunda, 01 de julho de 2019

APOIO A MORO E À LAVA-JATO EM TODO O PAÍS

 

Manifestantes pró Moro e Lava-jato em todo país 
 
Ruas também tiveram defesa da reforma da Previdência e do pacote anticrime. No Rio de Janeiro houve hostilidade contra o MBL, que tem criticado o governo

 

BERNARDO BITTAR
RENATO SOUZA
FLÁVIA AYER

Publicação: 01/07/2019 04:00

Concentração em frente ao Congresso com os  tradicionais bonecos petistas e o ministro  super-homem (Ed Alves/CB/D.A Press)  

Concentração em frente ao Congresso com os tradicionais bonecos petistas e o ministro super-homem

 


 
Convocadas por movimentos de direita e endossadas por aliados do presidente Jair Bolsonaro nas redes sociais, manifestações em defesa da agenda do governo, como a Reforma da Previdência, ao ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, e à Operação Lava-Jato aconteceram ontem nas 26 capitais, no Distrito Federal e em outras 70 cidades brasileiras.  As polícias estaduais não divulgaram os números oficiais, mas São Paulo, Rio de Janeiro,  Brasília e Belo Horizonte reuniram o maior número de participantes. Em Brasília, os organizadores estimam que 10 mil pessoas foram para as ruas. 

Os manifestantes defenderam a força-tarefa e o ministro que, há duas semanas, têm sido acusado, por parte de sociedade, de abuso de poder nos trabalhos conduzidos pela Lava-jato, desde que o site The Intercept começou a publicar diálogos entre Moro e o chefe dos investigadores da Lava Jato, Deltan Dallagnol, e outros procuradores, no Telegram. 

A presença de carros de som e de integrantes do Movimento Brasil Livre (MBL) na manifestação da praia de Copacabana, no Rio de Janeiro foi criticada por  parte dos apoiadores do ex-juiz e causou um pequeno tumulto que precisou da intervenção da polícia. Apesar de rapidamente solucionado, o clima contra o MBL é tenso e eleitores do Bolsonaro que não fazem parte do movimento gritavam “traidores” e “vendidos” ao passar pelos carros de som patrocinados pelo MBL. Apoiadores do governos estão decepcionados com o MBL que tem assumido um discurso mais crítico com relação ao governo. 


Copacabana ficou verde e amarela. Polícia teve que intervir em confusão  (Evaristo Sa/AFP)  

Copacabana ficou verde e amarela. Polícia teve que intervir em confusão

 




Fidelidade 
Políticos filiados ao PSL, como o senador major Olímpio (SP), que esteve no ato da Avenida Paulista; e a deputada Joice Hasselmann (SP), que compartilhou imagens das passeatas em Brasília e no Rio, aproveitaram a oportunidade para declarar fidelidade ao governo. Em Brasília, a deputada federal Bia Kicis  (PSL-DF) foi aplaudida quando subiu no carro elétrico. Ela esteve com o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Heleno, durante as manifestações. Além da Reforma da Previdência, em várias cidades, as manifestações destacaram o pacote anticrime de Moro,  parado enquanto o governo tenta conseguir os votos da Previdência.

Críticas a congressistas e a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) também estiveram presentes em várias capitais brasileiras. Manifestantes pediam “corte de privilégios” para os integrantes do Judiciário. “Eu vejo, eu ouço”, postou Moro no Twitter, por volta de 12h, com um vídeo de imagens aéreas da manifestação na orla da praia de Copacabana. Mais tarde, o ministro voltou a se manifestar pela rede. “Sou grato ao presidente e a todos que apoiaram nosso trabalho. Hackers, criminosos ou editores maliciosos não alterarão essas verdades fundamentais”. Ontem, o jornal Folha de S. Paulo e o site The Intercept publicaram novos trechos de diálogos  que revelam  desconfiança de procurados sobre os depoimentos de Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS, cuja delação premiada foi fundamental para a condenação do ex-presidente Lula.   

No Rio, a manifestação se espalhou pelas imediações da avenida Atlântica. Palavras em favor de Moro e da Lava-Jato estiveram na maioria das faixas e cartazes exibidas pelo público. Havia também mensagens elogiosas ao ministro da Economia, Paulo Guedes, e críticas à corrupção. 


A deputada Bia Kicis (PSL-DF) foi aplaudida quando subiu no trio elétrico (Bia Kicis/Instagram)  

A deputada Bia Kicis (PSL-DF) foi aplaudida quando subiu no trio elétrico

 



 
Brasília
Na capital, o protesto teve início em frente ao Congresso Nacional, onde foram inflados quatro bonecos gigantes. Um deles, tradicional, vestia Moro com a roupa do personagem Super-Homem e apresentava o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com roupa de presidiário. Um dos infláveis uniu Lula e o ex-ministro do PT José Dirceu, condenado na Lava-Jato, e o ministro do STF Gilmar Mendes. Um dos bonecos associou o Supremo ao PT, partido adversário dos bolsonaristas.

O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-RJ), filho do presidente Jair Bolsonaro, se juntou aos manifestantes. Ele subiu no trio, criticou o PT e fez ataques ao jornalista Glenn Greenwald, do The Intercept, afirmando que ele “não goza de crédito nenhum e é tão burro que vaza informação errada”. O jornalista reagiu no Twitter  “Queiroz também estava lá?”, O general Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), subiu no trio elétrico e defendeu Moro. “Acho que é uma calhordice quererem colocar o ministro Sérgio Moro na situação de julgado ao invés de juiz. Estão querendo inverter os papéis e transformar um herói nacional num  acusado. ”

Em Belo Horizonte, vestidos com as cores da bandeira do Brasil, manifestantes também defenderam a reforma da Previdência no modelo proposto pelo ministro Paulo Guedes, e o pacote anticrime de Moro, que propõe medidas contra a corrupção e o crime organizado. “Foram prometidos vazamentos comprovando atividade criminosa por parte do Moro, mas até agora não vimos nada que mostre que ele tenha influenciado a operação ou a eleição”, afirma o coordenador do Movimento Brasil Livre em BH, Ivan Gunther.

As manifestações aconteceram na Praça da Liberdade. Com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva preso e a ex-presidente Dilma Rousseff sem ocupar cargo público, os alvos dos manifestantes foram o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP) e os ministros do STF.

Na capital baiana, a manifestação ocorreu na orla da Barra. O ponto de encontro foi o tradicional Farol da Barra, onde compareceram centenas de pessoas com roupas nas cores verde e amarelo. A caminhada se estendeu até o Morro do Cristo.  
 
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Correio Braziliense domingo, 30 de junho de 2019

SÃO BRAZ DO PIAUÍ E SÃO RAIMUNDO NONATO

 


Tem tecnologia, mas falta água
 
Um quarto de século não foi o suficiente para a moeda resolver os problemas de duas cidades piauienses visitadas pelo Correio quando o plano foi lançado. Na sequência da série sobre o real, conheça a realidade de São Braz do Piauí e São Raimundo Nonato, que contam com celular, mas sofrem sem serviços básicos
 

 

Simone Kafruni
Enviada Especial

Publicação: 30/06/2019 04:00

 

Marilene usa a moto para pegar água em um açude duas vezes por dia: o dinheiro é obtido com a Bolsa Família e a pequena roça (Andre Pessoa/Esp. CB/D.A Press)  

Marilene usa a moto para pegar água em um açude duas vezes por dia: o dinheiro é obtido com a Bolsa Família e a pequena roça

 

 

 

 

São Braz do Piauí — Na chegada à cidade que já ostentou o título de mais pobre do Brasil, em 1994, no lançamento do Plano Real, a instalação de uma antena de internet parece prenunciar que, finalmente, o futuro encontrou São Braz do Piauí. O primeiro pequeno provedor do município promete fornecer conexão com velocidade de 1 gigabyte (GB) para a população de toda a região ainda em julho, mês do aniversário de 25 anos da moeda brasileira. Uma volta pelos povoados locais, no entanto, revela que o atraso nunca abandonou a cidade encravada no sertão nordestino e no mapa de extrema pobreza do país: ainda falta água para os moradores.

Marilene Alves da Costa Lima, 46, precisa pegar água no açude duas vezes por dia. Vai de manhã cedo e depois, no fim da tarde, sempre de moto, o transporte mais comum ao sul do Piauí. Em uma propriedade na localidade de Pitombas, na divisa de São Braz com São Raimundo Nonato, a família planta mandioca, feijão, milho. “O problema do nosso dinheiro é que não vale nada quando a gente vai vender a produção da roça, mas quando vai comprar no mercado é tudo muito caro. Estamos num período que não dá feijão. Faz 10 anos que não rende e, quando a gente vai comprar no mercado, o quilo custa R$ 7”, diz.

A família de seis pessoas, entre elas, três netos que Marilene cria, sobrevive com o Bolsa Família de R$ 140 por mês. “É o que entra. Por isso, a gente tem que se virar com o que planta”, conta. A água que Marilene busca todos os dias é para os animais. “Não posso deixar as cabras morrerem de sede porque a gente precisa do leite”, destaca. Para a família beber, quando acaba a água da cisterna, Marilene precisa pagar R$ 50 para o que chama de “pipinha”. A filha foi morar em Brasília e trabalha como doméstica para mandar dinheiro aos dois filhos criados pela avó. “Se continuar sem água, eu vou ter que tirar eles da escola. A gente vai ter que escolher entre ficar aqui sem água ou ir para a Serra-Queixo. Lá tem água, mas não tem colégio”, afirma.

Sem posto dos Correios, fechado há anos, São Braz não tem circulação de dinheiro, reclama Maria das Mercedes Cardoso, 53. Em 2004, nos 10 anos do real, a família tocava um mercadinho na localidade de Tanque Velho. Em 2014, o comércio começava a falir e o marido, Alaor Soares dos Santos, hoje com 55 anos, estava de malas prontas para São Paulo, trabalhar como pedreiro, e Mercedes chorava pela partida do companheiro. Hoje, ela já está acostumada a ser uma “viúva de marido vivo”, como são chamadas as esposas dos homens que deixam São Braz todos os anos para trabalhar na construção civil nas grandes metrópoles do país. “Ele está em São Paulo, é de lá que vem nosso dinheiro”, conta.

Alternativa 
O comércio da família fechou. “As pessoas vão até São Raimundo Nonato para retirar o dinheiro e já compram por lá. Os aposentados também tiram o benefício lá”, conta Mercedes. Quase não existem máquinas de cartão no comércio de São Braz, que tem apenas três lojas com o equipamento. “Eu vendia para 30 dias. Era o cartão de crédito do pessoal, mas ficou cada vez mais difícil manter a loja aberta”, lamenta.

Alaor e Mercedes têm duas filhas: Juliana, 29, e Nicole, 25, filha do real. A caçula é casada com Francisco Cândido de Carvalho Neto, 44, e tem dois filhos, Wendell, 8, e Wyke Ayla, 6. A oficina de moto de Neto dá algum dinheiro para ajudar nas contas da família. “Todos os dias tem algum tipo de conserto para fazer. Tem mês que vendo mais de 50 câmaras, fora os serviços extras. A cidade também tem muita moto de leilão, como sucata, aí tem serviço para colocar ela para andar”, diz.

Além de ser o principal meio de transporte no município, a moto representa também um dos maiores perigos para os moradores. Muitos amigos perderam a vida por causa da máquina. O irmão de Mercedes foi um deles. João Braz Cardoso morreu há 8 anos, atropelado por um ônibus, porque a estrada foi duplicada, mas as pontes ficaram apenas com uma mão. “A morte dele serviu para população pressionar para construírem as pontes com duas mãos”, lembra Mercedes.

Enquanto a matriarca da família ainda precisa correr ao açude para buscar água em um balde, que transporta na cabeça, a filha e a neta vivem com o celular na mão. “Eu tento ensinar para a mãe usar o banco por aqui, mas ela ainda prefere ir até São Raimundo Nonato”, diz Nicole. Como alternativa, ela customiza chinelos para vender, mas ainda não consegue renda com o produto. “O pessoal não dá muito valor para o artesanato. Não é forte ainda”, reclama.

Açude

Não fosse pela falta de água, que obriga Mercedes a recorrer ao açude para pegar água salobra, a família vive bem. “Aqui, a gente vive até sem dinheiro. A casa é da família e o custo que temos é com energia”, afirmam. A conta varia entre R$ 110 e R$ 150 por mês. “Mas não dá para dizer que melhorou alguma coisa. Para mim, está tudo igual. Ainda não temos água”, dispara Mercedes. A família capta chuva na cisterna, que eles chamam de caldeirão, mas quando falta é preciso recorrer ao carro-pipa. “Era para ter uma adutora funcionando. Prometeram para este ano, mas nada ainda.”

Ex-pipeiro, como são chamados os operadores de carros-pipa, Raimundo José da Silva, 70, vendeu o caminhão em 2016. “Servia principalmente o interior, mas alguém disse que São Braz tinha água encanada e o município foi cortado do programa federal”, conta. “Nem na sede da cidade tem água encanada, como é que os povoados vão ter?”, questiona. O caminhão que tinha comprado por R$ 45 mil, Raimundo vendeu por R$ 31 mil. “Ainda bem que o prejuízo não foi tão grande. Tem muito pipeiro que não acha comprador e está com o veículo parado”, diz. Agora, carro-pipa só particular, que sai por R$ 400 a R$ 480, com uma carga de 8 mil litros. Em 2004, custava R$ 100, e, em 2014, R$ 200. “É triste dizer isso, mas 25 anos depois do lançamento do real, a situação da água em São Braz piorou”, lamenta Raimundo.

Segundo ele, existe um poço com vazão de 252 mil litros por hora e 606 metros de profundidade, de água mineral. “Os canos estão aí. Prometem trazer a água, mas não trazem. Serviu só para acabar com o programa de carro-pipa”, assinala. A obra começou em 2014 com promessa para entregar em 2019. “Os carros poderiam produzir, dando lucro para alguém, mas não: estão parados”, afirma. “Se mexerem, vão descobrir verba desviada, má aplicação do dinheiro público”, denuncia. “Em 25 anos, a dificuldade é para desenvolver a cidade. Como é que desenvolve sem água?”, indaga.

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Correio Braziliense sábado, 29 de junho de 2019

PREVISÃO DE GANHO BILIONÁRIO PARA O BRASIL

 

 
Previsão de ganho bilionário para Brasil
 
Acordo comercial entre Mercosul e União Europeia cria a maior área de livre-comércio do mundo e pode aumentar as exportações brasileiras de US$ 100 bilhões a US$ 500 bilhões num período de 15 anos

Publicação: 29/06/2019 04:00


Depois de duas décadas de negociação, foi assinado, ontem, o acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia (UE). A depender do sucesso da medida, o acesso preferencial ao mercado europeu pode aumentar as exportações brasileiras em US$ 100 bilhões num período de 15 anos, segundo estimativas do Ministério da Economia, ou em até R$ 500 bilhões, de acordo com projeções da BMJ Consultores Associados. O aumento de investimentos no país, no mesmo período, será da ordem de US$ 113 bilhões. A estimativa, conforme o governo federal, é de que o PIB nacional tenha um incremento de US$ 125 bilhões até 2035.

O acordo constituirá a maior área de livre-comércio do mundo — formada por 28 países europeus e os quatro do Mercosul, que reúne Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai — e aborda temas tarifários e regulatórios (veja quadro). Juntos, os sul-americanos e a União Europeia representam um PIB de cerca de US$ 20 trilhões, aproximadamente 25% da economia mundial, e um mercado de 780 milhões de pessoas. A corrente de comércio birregional foi de quase US$ 100 bilhões em 2018.

Além disso, o Brasil é o maior destino do Investimento Estrangeiro Direto (IED) dos países da União Europeia na América Latina. No ano passado, o país registrou comércio de US$ 76 bilhões com o bloco econômico e político europeu e superavit de US$ 7 bilhões. O Brasil ainda exportou mais de US$ 42 bilhões para a União Europeia — aproximadamente 18% do total exportado pela nação no último ano. De janeiro a maio de 2019, a corrente bilateral alcançou US$ 28 bilhões, com superavit de US$ 1,8 bilhão para o Brasil.

“O acordo contribuirá para o aprofundamento da confiança mútua em bases democráticas e para a garantia da estabilidade das relações entre os dois blocos, permitindo a superação de desafios e o melhor aproveitamento de oportunidades”, frisou o Itamaraty, em nota. O texto final do acordo será divulgado nos próximos dias.

Em Bruxelas, onde o documento foi assinado, o chanceler Ernesto Araújo afirmou que a disposição da UE de fazer concessões foi fundamental para permitir a conclusão do acordo. “Isso reflete que o Mercosul não é um parceiro qualquer, talvez seja o maior acordo que eles já concluíram”, destacou. A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, também comemorou a assinatura. “Espero que ele (acordo) seja benéfico para o nosso país e, principalmente, para nossa agricultura”, afirmou.

Impactos

Para entrar em vigor provisoriamente, o texto precisa ser aprovado na Câmara dos Deputados e no Senado. Fora do Brasil, tem de receber o aval do Parlamento Europeu e a ratificação dos demais países do Mercosul. Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), o acordo é o mais importante que o Brasil já firmou. Segundo a entidade, vai reduzir de 17% para zero as tarifas de importação de produtos brasileiros, como calçados, e aumentará a competitividade de bens industriais em setores como têxtil, químicos, autopeças, madeireiro e aeronáutico. “Esse acordo pode representar o passaporte para o Brasil entrar na liga das grandes economias do comércio internacional”, disse o presidente da CNI, Robson Braga.

Ligia Dutra, superintendente de Relações Internacionais da Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA), elogiou o acordo, visto que a União Europeia é destino de quase 18% das exportações do agro brasileiro. “O documento trouxe a vantagem de conseguirmos maior inserção no bloco e abre as portas para que outros acordos possam ser concluídos em breve”, analisou.

*Estagiária sob supervisão de Cida Barbosa

Principais pontos

Tarifas zeradas
» Mais de 90% das exportações do Mercosul para a UE terão as tarifas zeradas em até 10 anos. Segundo o governo brasileiro, os outros 10% terão acesso preferencial com cotas e tarifas reduzidas. Antes do acordo, apenas 24% das exportações brasileiras entravam livres de tributo na UE

Mercado
» As empresas brasileiras terão acesso ao mercado de licitações da UE, 
estimado em US$ 1,6 trilhão por ano

Produtos
» As tarifas para produtos industriais brasileiros serão 100% eliminadas, 
assim como de produtos agrícolas como suco de laranja, frutas, café solúvel

Carnes
» O acordo vai prever cotas de 99 mil toneladas para a entrada de carne 
bovina no bloco europeu, segundo uma fonte do governo brasileiro

Clima
» Mercosul e União Europeia reiteraram seus compromissos em relação 
a acordos multilaterais ambientais, incluindo os da Convenção das 
Nações Unidas sobre a mudança do clima e o Acordo de Paris

     Mauricio Macri: “Histórico”

A assinatura do acordo comercial é vista como uma grande vitória tanto de Jair Bolsonaro quanto do presidente argentino, Mauricio Macri, que tenta se reeleger neste ano em meio a uma das maiores crises econômicas do país. No Facebook, o mandatário argentino classificou o documento como “histórico” e que “contribuirá com enormes benefícios aos trabalhadores e empresas argentinas”. Ele destacou também que a integração da Argentina ao mundo era uma de suas metas desde que assumiu, em 2015.
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Correio Braziliense quinta, 27 de junho de 2019

VIDA NOVA NO ZOO

 

Uma nova arca de Noé
 
 
Zoológico de Brasília investe na reprodução de animais num trabalho com parceria de outras entidades similares para evitar a extinção de espécies

 

Mariana Machado

Publicação: 27/06/2019 04:00

Lobo-guará  

Lobo-guará

 



Harpia  

Harpia

 



Cobra jararaca  

Cobra jararaca

 

 
Tamanduá-bandeira, ararajuba, onça-pintada, mico-leão-da-cara-dourada. Com tamanhos, cores e formatos diferentes, esses animais têm um aspecto comum entre si: são ameaçados de extinção. Para preservar essas e outras espécies em risco, a Fundação Jardim Zoológico de Brasília investe na reprodução em cativeiro. O trabalho resultou no nascimento de 17 filhotes desde 2015.
 
Um dos casais mais recentes é de lobos-guará. Jair e Amanda vivem em um espaço onde estão se relacionando. Os biólogos do Zoo suspeitam de que a fêmea esteja prenha e, se isso for confirmado, a ninhada deve nascer no próximo mês. Ainda não é possível verificar a gestação porque animais silvestres conseguem esconder a barriga para se proteger de predadores, como explica o biólogo e diretor de mamíferos da instituição, Filipe Reis.
 
De acordo com ele, os casais são formados a partir das indicações de especialistas, os studbook keepers, responsáveis pelo manejo de certas espécies a nível nacional e internacional. “A ideia é de que o zoológico não seja mais visto como vitrine de animais, e sim como centro de conservação de fauna. Para isso, precisamos contribuir para a preservação das espécies”, declara Filipe.
 
O cruzamento não pode ser feito de qualquer maneira. Os bichos precisam ter uma composição genética específica (não podem ser parentes, por exemplo) para evitar que as próximas gerações tenham doenças. Entra a ação dos especialistas, que avaliam quais animais podem contribuir com a preservação. Graças a isso, a onça-pintada Gabriela foi levada ao Criadouro Conservacionista NEX, em Goiás, para conhecer o macho Ogun. “Amor à primeira vista”, comenta o biólogo.
 
Filipe é o studbook keeper dos tamanduás-bandeira no Brasil. Atualmente, três machos e duas fêmeas estão no Zoológico da cidade, mas outras três fêmeas devem chegar nos próximos dias. Quem também está à espera do par perfeito é o cachorro-vinagre Xingu. Sozinho no novo recinto, ele aguarda a chegada de uma companheira que virá da Rússia: A Sharapova, como foi carinhosamente apelidada pela equipe brasileira.


Tamanduá-bandeira  

Tamanduá-bandeira

 



Bugio  

Bugio

 



Cachorro-vinagre  

Cachorro-vinagre

 

 
Prevenção
Por meio de parcerias com zoológicos e criadouros do mundo todo, a prevenção da ameaça de extinção pela reprodução tem sido feita. No entanto, conseguir a transferência de um animal de outro país não é tão simples. O biólogo e gerente de projetos educacionais do Zoo, Igor Morais, explica que são necessárias licenças dos dois países, além do cuidado no transporte. Até julho, Brasília receberá uma ariranha vinda da Alemanha.
 
Igor lembra que o incentivo internacional contribuiu muito para a preservação no Brasil. “Nos anos 1980, a população de micos-leões-dourados na Mata Atlântica no Rio de Janeiro era de 200 animais. Graças uma ação coordenada pelo zoológico de Washington (EUA), hoje há cerca de 1,2 mil.”
 
Ele explica que uma espécie pode se tornar ameaçada por diversos fatores: caça, tráfico de animais silvestres e destruição do habitat, por exemplo. “Reproduzir esses animais de forma coordenada, seguindo princípios de genética e ecologia de populações garante um futuro melhor”, conclui.
 
Filhotes
Com o trabalho, cada vez mais filhotes nascem nos ambientes da instituição. O Zoológico é o único no mundo a ter reproduzido com sucesso a cotiarinha, a menor espécie de jararaca encontrada no Brasil. Belinha nasceu em outubro de 2014 e acaba de alcançar a idade suficiente para também acasalar. Ela espera pela indicação para um namorado.
 
Entre as aves, as harpias, um dos maiores aves do mundo, podem ter filhotes a qualquer momento. A fêmea botou ovos férteis neste ano, mas até agora, nenhum vingou. A fêmea, chamada Baiana, chegou ao Zoo depois de ter sobrevivido a um tiro e os biólogos suspeitam que o trauma tenha contribuído para que ela não passe muito tempo chocando, o que prejudica os ovos.
 
Apesar dos esforços maiores serem para as 25 espécies em risco iminente de extinção, animais em estado de alerta também são incentivados a acasalar. É o caso do bugio-ruivo. O casal Riquinha e Choquito vive há quatro anos na fundação, mas, apenas em 2019, trouxe ao mundo o primeiro bebê. Ainda não foi possível identificar o sexo do pequeno que não larga da mãe em momento algum, mas se for macho, será Tutu, e se for fêmea, Tuca.
 
 
 
 
Você sabia?
Desde 2015, o Zoológico de Brasília conseguiu reproduzir com sucesso 17 espécies ameaçadas de extinção:

12 mamíferos
1 réptil
4 aves
 
Atualmente, 19 casais estão formados:
 
3 mamíferos
16 aves
 
 
Confira no site do Correio, depoimento do diretor de mamíferos do Zoo sobre o trabalho de preservação das espécies.
 
Jornal Impresso
 
 

Correio Braziliense quarta, 26 de junho de 2019

RAINHAS DO POP

 

Rainhas do pop
 
Consolidação da música pop no país cria o tão esperado cenário de divas brasileiras, formado por nomes como IZA, Gloria Groove, Ludmilla, Pabllo Vittar, Luísa Sonza e Anitta

 

» Adriana Izel

Publicação: 26/06/2019 04:00

Antenadas 
com o pop internacional, IZA e Gloria Groove fazem uma referência a Beyoncé e Lady Gaga em Yo-Yo  

Antenadas com o pop internacional, IZA e Gloria Groove fazem uma referência a Beyoncé e Lady Gaga em Yo-Yo

 

 
Por muitos anos, o termo diva pop ficou restrito a artistas internacionais como Madonna, Lady Gaga, Britney Spears, Rihanna, Jennifer Lopez, Katy Perry, Mariah Carey e Beyoncé. Muita gente! Isso porque a música pop, como era definida mundo afora — com letras de fácil assimilação, ritmo dançante, shows com superestruturas e bastantes coreografias —, demorou para se firmar no Brasil. Houve até quem tentasse esse modelo no início dos anos 2000. A cantora Wanessa Camargo foi um exemplo. Mas o estilo, por algum motivo, não vingava no país.
 
Foi preciso que um ritmo genuinamente brasileiro, o funk, se aproximasse do pop internacional para o Brasil finalmente conseguir dar os primeiros passos na criação de um pop brasileiro. Uma das artistas que proporcionou isso no cenário atual foi a carioca Anitta. Estrategista, estudiosa do showbiz e grande fã de artistas internacionais, a brasileira importou o “modus operandi” das divas internacionais, apostando em bons clipes e músicas com batidas que pudessem casar perfeitamente com coreografias. “Minha carreira tem muito do meu esforço para que acontecesse. Não foi de um dia para o outro. Antes de Show das poderosas estourar, foi um longo caminho que percorri. E continuo correndo atrás dos meus sonhos. Isso me move”, afirmou Anitta em entrevista ao Correio.
 
Com a porta aberta por Anitta, várias artistas brasileiras aproveitaram o espaço e se jogaram de vez na cena pop. As primeiras delas também vieram do funk, como Valesca Popozuda e Ludmilla. Dessas, quem de fato conseguiu se firmar no cenário e segue até hoje é Lud, ao se adaptar deixando os proibidões de lado e, assim como Anitta, misturar funk e pop, mas com uma pegada um pouco diferente, que flerta com o R&B de nomes como Beyoncé e Rihanna. Neste ano, com o lançamento do primeiro DVD da carreira, Hello mundo, Ludmilla confirmou de vez a veia pop ao apostar num material em que abusa de figurinos, coreografias, faixas chicletes como Favela chegou (parceria com Anitta) e A boba fui eu (gravada com Jão) e ainda faz uma reverência a Beyoncé com um cover de Halo.

Ao lado de Anitta, Ludmilla está entre as artistas que misturou o funk com outros ritmos até chegar ao pop  

Ao lado de Anitta, Ludmilla está entre as artistas que misturou o funk com outros ritmos até chegar ao pop

 



Pabllo Vittar e Luísa Sonza unem forças no clipe de Garupa, um dos singles da gaúcha do novo álbum  

Pabllo Vittar e Luísa Sonza unem forças no clipe de Garupa, um dos singles da gaúcha do novo álbum

 

 
Expansão
 
Mas não foi apenas o funk que, de certa forma, migrou para o pop. Como o caminho estava aberto, cantoras começaram a se lançar no cenário tendo o pop como eixo. É o caso de Pabllo Vittar, Gloria Groove, IZA e Luísa Sonza, artistas que estouraram no mundo da música brasileira na “era pós-Anitta”.
 
“Tem sido uma construção muito interessante de se acompanhar. Pra mim é quase como um sonho, consumo cultura pop desde sempre, e nunca podia imaginar que um dia colaboraria para o renascimento desse gênero no meu próprio país. A cada dia chegam novos criadores e artistas, pessoas jovens que se inspiram exatamente neste renascimento para começarem a construir suas carreiras. Tenho muito orgulho de fazer parte disso”, afirma Gloria Groove.
 
Na ativa desde 2016, quando lançou o single Dona, do álbum O proceder, Gloria Groove aproveitou o boom da cultura drag queen no mundo. “Além de ter a consciência de que a cultura drag teve um avanço significativo no mainstream nos últimos cinco anos por conta do trabalho de pessoas como RuPaul, acredito que, ao propor usar a arte drag como ferramenta no mercado fonográfico, tenho feito tudo com muita autenticidade. Além do mais, represento toda uma comunidade, um recorte social extremamente marginalizado, num momento político polarizado, o que faz do meu trabalho também uma plataforma de amor e aceitação”, analisa.
 
Nas últimas semanas, Gloria Groove se destacou exatamente pela veia de diva. Ao lado de outra grande cantora do pop, a carioca IZA, ela divulgou o single e o clipe de Yo-Yo. O material levou os fãs do estilo à loucura, principalmente porque o conteúdo faz uma referência a outros dois nomes do pop: Lady Gaga e Beyoncé, que se juntaram anos atrás em Telephone — videoclipe que prometeu ter uma continuação, o que nunca se concretizou. “Estávamos em busca de dar continuidade à história de Coisa boa (outra música de Gloria), ainda recheando com referências a diversos outros projetos. A referência a Gaga se deve ao fato de que somos muito “little monsters” (nome dado aos fãs de Lady Gaga) e jamais perderíamos a chance de brincar com a famigerada continuação de Telephone, que por sinal nunca veio (risos)”, completa Gloria sobre o vídeo que tem mais de seis milhões de visualizações no YouTube com apenas três semanas de lançamento.
 
IZA também é outro nome que se firmou. A carioca surgiu no cenário musical após abandonar a profissão de publicitária e começar a postar vídeos de covers no YouTube. Logo foi descoberta por uma gravadora e lançou a primeira faixa autoral Quem sabe sou eu. A partir daí, só cresceu lançando músicas como Esse brilho é meu, Vim pra ficar e Pesadão, faixa que integra o primeiro álbum Dona de mim, de 2018.
 
IZA teve tão boa repercussão na música, que hoje também figura na televisão. Está à frente de Música boa ao vivo, foi uma das apresentadoras de Só toca top e está confirmada na próxima temporada de The voice Brasil assumindo o lugar deixado por Carlinhos Brown. “Estou muito feliz com o momento que estou vivendo. Teve muito trabalho, muita dedicação, mas eu não imaginava viver tudo o que já vivi tão rápido”, afirma.
 
Em abril deste ano, a cantora apostou no single Brisa, música pop que flerta com o reggae. O clipe muito bem executado tem mais de 19 milhões de visualizações no YouTube. “Eu não via a hora de poder mostrar para todo mundo (essa música). Brisa tem um pouco a ver com o que eu venho ouvindo ultimamente, música jamaicana, reggae, canções que passem a mensagem de positividade. Mas não sei se fará parte de um novo projeto”, revela.
 
Duetos
 
Uma das características principais do pop internacional sempre foi investir em parcerias. Algo que também tem sido importado no Brasil. Só neste ano, o cenário viu IZA e Gloria Groove, Anitta e Ludmilla e Luísa Sonza e Pabllo Vittar se unirem. Esse último dueto, que leva o nome de Garupa, junta duas outras representantes do gênero, que repercutem no cenário.
 
Pabllo Vittar se consolidou em 2017 com Vai passar mal. Mas o estouro foi em 2015 após lançar o hit Open bar e  ganhar espaço na tevê no programa Amor & sexo, que preparou o público para o primeiro álbum. Desde então, gravou parcerias com Anitta (Sua cara) — com quem se desentendeu depois e criou uma das primeiras brigas do pop brasileiro —, Diplo (Então vai e Seu crime), Ludmilla (Vai embora), Titica (Come e baza), Lali (Caliente) e Sofi Tukker (Energia). No ano passado divulgou Não para não. A boa repercussão no pop brasileiro fez com que, neste ano, fizesse uma turnê internacional representando o ritmo e a cultura LGBT brasileira.
 
Com um início similar ao de IZA, a gaúcha Luísa Sonza passou a ser conhecida ao gravar covers e disponibilizar no YouTube. A ex-rainha dos covers assinou, em 2017, contrato com uma gravadora e divulgou Good vibes, mas foi com a sequência de lançamentos de Rebolar e Devagarinho  que a cantora passou a ser realmente conhecida pelo público. O jeito de se posicionar na internet também deu espaço para Sonza, que lançou neste ano o primeiro álbum da carreira, o elogiado Pandora, que recebe, além de Pabllo Vittar, Gaab em Fazendo assim e Vitão em Bomba relógio.
 

Correio Braziliense terça, 25 de junho de 2019

DE OLHO NOS IPÊS

 

De olho nos ipês
 
Os ipês-roxos estão por todos os lados, proporcionando cenários perfeitos para belas imagens. Compartilhe o seu registro usando a hashtag #missãoipêcb e veja as suas fotos nas redes sociais do Correio Braziliense

 

Juliana Andrade

Publicação: 25/06/2019 04:00

 (Fotos: Ed Alves/CB/D.A Press
)  
Encontrar um ipê-roxo em Brasília está fácil. Difícil mesmo é resistir à tentação e não parar para tirar uma foto. Grandes, pequenos, alguns cheios de flores, outros ainda florindo, eles enfeitam as ruas da cidade e ganham as redes sociais com belos registros feitos pela população. Seja contrastando com o céu azul ou com o marrom dos troncos secos do inverno, seja pintando o asfalto de roxo com as pétalas que caem no chão, a vegetação atrai lentes e olhares.
 
A técnica de enfermagem Maria Zinete Fontenele, 46 anos, o professor Sebastião Fontenele, 67, e o pequeno João Gabriel Fontenele, 9, neto do Sebastião, escolheram os ipês próximos ao Conic como cenário para a fotografia do trio. “Essa é a época em que a cidade fica mais bonita, mais alegre. Não tem como ver um ipê e não parar para tirar foto”, admite Maria. “O ipê é uma marca de Brasília e um diferencial nesse período de seca”, complementa o professor.
 
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Rogério Coelho cultiva ipês na cidade: – Amo a natureza.

 

 
As atendentes Aline Carine Santos, 28, e Dhenny Laylla Santos, 19, também não resistiram à paisagem e deram uma pausa no caminho do trabalho para fazer imagens de um dos ipês perto da estação do metrô, na 108 Sul. “Eu acho maravilhoso. Tirei foto para poder mostrar a beleza dessa árvore, que é radiante”, comenta Aline.
 
Os ipês na área central de Brasília são alguns dos 200 mil pés espalhados pelo Distrito Federal. Segundo a Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap), a maioria deles fica no Plano Piloto, onde é possível encontrar 25 mil árvores da espécie.
 
A professora Fátima Campos, 65, tem o prazer de morar pertinho de muitos deles, na 704 Sul. Ela afirma que a quadra ficou conhecida como a dos ipês. “Eu acho maravilhoso. Vejo, todos os anos, e ainda fico aqui tirando foto para mostrar para os outros. Eles dão uma sensação boa. É um enfeite que a gente ganha de graça”, destaca.
 
Maria, João Gabriel e Sebastião tiraram foto em ipê no Conic
 

Maria, João Gabriel e Sebastião tiraram foto em ipê no Conic

 

 
Encanto
 
Típica do cerrado, o ipê é caracterizado pelos troncos retorcidos e pela floração intensa. As árvores podem alcançar 12m de altura. O servidor público Rogério Ferreira Coelho, 53, não esconde o encanto pelo colorido da árvore. Em frente ao Conic, ele mostra com orgulho o ipê-amarelo cultivado por ele. “Eu plantei um amarelo para ele contrastar com os roxos que tem aqui. Eu amo a natureza e vejo muitas árvores morrendo”, lamenta.
 
Segundo a Novacap, Brasília deve ganhar mais 10 mil pés de ipê neste ano. Os ipês-roxos permanecem até o mês de julho, encontrando-se com os ipês-amarelos no fim do mês. Depois, é a vez do branco, seguido pelo rosa, que floresce no início de agosto.
 
Dhenny Laylla (E) e Aline Santos: encantamento na 108 Sul  

Dhenny Laylla (E) e Aline Santos: encantamento na 108 Sul

 

 
#missãoipêcb
Fez um lindo registro de ipê? Compartilhe com a gente. O Correio lança hoje mais uma edição da campanha #missãoipêcb. Para participar, publique uma foto tirada por você no Instagram com a hashtag #missãoipêcb. A equipe do Correio vai selecionar as melhores imagens e compartilhar nas redes sociais, no site e no jornal Correio Braziliense.
 
Jornal Impresso
 
 

Correio Braziliense segunda, 24 de junho de 2019

A TERAPIA DO FORRÓ

 

A terapia do FORRÓ
 
Funcionários e pacientes de posto de saúde de Planaltina apostam na dança e ritmo da música típica das festas de são-joão como remédio para o bem-estar e a autoestima.

 

» Juliana Andrade

Publicação: 24/06/2019 04:00

O casal de namorados Eliete Maria Moura, 68, e Paulo Divino da Cruz, 70, não perdem um dia de forró  

O casal de namorados Eliete Maria Moura, 68, e Paulo Divino da Cruz, 70, não perdem um dia de forró

 

 
Um teclado ligado a uma caixa de som, um cantor ditando o ritmo aos passos e, à frente, um grupo colocando em prática o famoso dois pra cá, dois pra lá. Parece cenário de festa, mas se trata de uma Unidade Básica de Saúde, em Planaltina. É assim, por meio do que chamam de forroterapia, que pessoas da comunidade, funcionários e pacientes do posto médico espantam a tristeza e garantem o bem-estar de quem frequenta o lugar.
 
A atividade ocorre todas às sextas-feiras, das 16h às 18h, na unidade que funciona no Parque Ecológico Sucupira. A música fica por conta de um tecladista voluntário e, se ele faltar, um pendrive se encarrega da trilha sonora. A atividade reúne cerca de 40 pessoas. Francisco de Assis, 88 anos, é um dos forrozeiros da turma. Ele conta que a idade não permite que ele trabalhe, mas ainda consegue dançar. “Eu venho sempre que posso. Por mim, dançava todo dia. Eu amo forró. É muito bom”, comenta.
 
O grupo é formado, em sua maioria, por pessoas acima de 60 anos. Segundo a enfermeira Maria das Graças Araújo, coordenadora do projeto, os idosos são o motivo da iniciativa. “A gente notou, no nosso trabalho do dia a dia, que há idosos solitários, que ficam em casa e têm dificuldade para fazer atividade física. Uma ação em grupo é ótima para eles”, destaca.
 
De acordo com a psicóloga Lia Clerot, atividades assim são fundamentais na vida das pessoas de terceira idade. Ela explica que o contato de muitos deles se limita aos familiares, enquanto outros vivem praticamente sozinhos. “Eles precisam de alguém que entenda suas dores, angústias e aflições. Eles necessitam de alguém de fora com quem possam desabafar. Os amigos vão se perdendo pela vida e um encontro com pessoas da mesma faixa etária pode trazer justamente essa companhia que faltava”, conta.

A festa conta com tecladista voluntário e muita empolgação dos participantes (Arquivo Pessoal)  

A festa conta com tecladista voluntário e muita empolgação dos participantes

 


 (Mariana Raphael/Saúde-DF)  


Alegria contagiante
 
Foi no forró, ritmo de dança celebrado hoje, Dia de São João, que a vendedora Railde Rosa da Cruz, 56, encontrou uma forma de espantar a tristeza. Desde o início da atividade, em fevereiro, ela não perde um dia de festa. “Toda sexta, quando dá 16h, eu corro para cá. Eu tenho problema de depressão e aqui eu esqueço de tudo, me sinto feliz”, revela. Segundo ela, o ambiente também é ótimo para conhecer gente nova e fazer amizades. “Se o pessoal soubesse como é bom, todo mundo vinha”, ressalta Railde.
 
A dança é uma atividade lúdica que entretém e ajuda na liberação de hormônios que dão a sensação de prazer, como endorfina, dopamina e serotonina. “Temos pessoas juntas, em um momento de alegria, de descontração, tocando umas as outras”, detalha Lia. Além dos hormônios, a dança influencia a autoestima e a autovalorização.
 
Corpo e mente
 
A dança não dá espaço para a tristeza e para o mau humor. Alguns começam tímidos, mas é questão de tempo para se entregarem ao forró. A enfermeira Maria da Graças destaca que a atividade proporciona a socialização, como também tem contribuído para a saúde física dos participantes do projeto. A dança tornou-se parte da rotina de pacientes com pressão alta e diabetes, por exemplo, que encontraram no forró uma forma de manter o corpo em movimento.
 
A enfermeira lamenta críticas de pessoas reclamando da iniciativa devido aos problemas na saúde pública. Porém, ela não se deixa abalar pelos comentários negativos. “As pessoas não entendem que saúde não é só a ausência de doença. É o bem-estar físico e social também. A gente precisa de boas relações”, diz Maria das Graças. Para a psicóloga Lia, a saúde precisa ser pensada em uma perspectiva mais ampla, não apenas focada no combate, tratamento e controle de doenças. Portanto, atividades como a forroterapia contribuem para a qualidade de vida.
 
O casal de namorados Eliete Maria Moura, 68 anos, e Paulo Divino da Cruz, 70, são um exemplo de que a dança ajuda a manter o corpo saudável. Os dois não se desapegam e emendam uma música atrás da outra. “Eu gosto de dançar, faz bem para a idade. Quem está doente levanta e quem não está fica melhor ainda”, comemora Eliete.


"A gente notou, no nosso trabalho do dia a dia, que há idosos solitários, que ficam em casa e têm dificuldade para fazer atividade física. Uma ação em grupo é ótima para eles”
 
Maria das Graças Araújo, 
coordenadora do projeto
 
Jornal Impresso
 

Correio Braziliense domingo, 23 de junho de 2019


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