Almanaque Raimundo Floriano
Fundado em 24.09.2016
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, dois genros e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Correio Braziliense terça, 16 de fevereiro de 2021

CORONAVÍRUS - DF RETOMA VACINAÇÃO AMANHÃ

Jornal Impresso

CORONAVÍRUS
 
DF retoma vacinação contra covid-19 amanhã
 
Campanha será retomada após pausa para o feriado prolongado. Expectativa da Secretaria de Saúde é continuar a aplicação sem interrupções até 22 de fevereiro e receber, no dia seguinte, mais 100 mil doses, mas disso depende repasse do ministério

 

Publicação: 16/02/2021 04:00

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» SAMARA SCHWINGEL
 
Pausada durante o feriado prolongado de carnaval, a campanha de vacinação contra a covid-19 no Distrito Federal será retomada amanhã, a partir das 14h, nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs) e nos pontos de drive-thru para idosos com mais de 79 anos. Porém, fontes da Secretaria de Saúde ouvidas pelo Correio relatam preocupação com o andamento da imunização. A expectativa é de que grande parte das doses disponíveis sejam aplicadas no atual grupo prioritário até 22 de fevereiro. O prosseguimento depende do envio de mais 100 mil doses, prometidas pelo Ministério da Saúde para 23 de fevereiro.
 
Caso o recebimento seja confirmado, a pasta deve ampliar a vacinação, inicialmente, para pessoas entre 75 e 78 anos. No entanto, se o ministério adiar o prazo, a vacinação contra covid-19 no DF corre o risco de ser interrompida, como ocorreu em outras unidades da Federação. Para o professor de infectologia da Universidade Católica de Brasília (UCB) Leandro Machado, uma suspensão no processo pode acarretar no aumento de casos da covid-19. “Ainda temos poucas pessoas vacinadas, ou seja, estamos longe da imunidade de rebanho. Por isso, se interrompermos a vacinação, voltamos para o estado em que estávamos antes”, diz.
 
Leandro ainda afirma que a distribuição das atuais doses deve ser algo pensado com cuidado, já que as vacinas precisam de aplicação dupla para gerarem imunidade. “Neste momento, garantir a segunda dose para quem já recebeu a primeira é mais importante que ampliar o público-alvo”, completa o infectologista.
 
Segundo balanço feito pela reportagem, com base nos dados da SES, há cerca de 46 mil doses disponíveis na Rede Central de Frios, porém a maioria reservada para a aplicação da segunda dose nas pessoas que receberam a primeira leva da vacina — profissionais de saúde, idosos com 79 anos ou mais, indígenas aldeados, pessoas com deficiência institucionalizadas e pacientes inscritos no Núcleo de Atenção Domiciliar (Nrad) ou idosos com mais de 60 anos que vivem em instituições de longa permanência. Essas doses serão distribuídas para as regiões de saúde de acordo com a demanda e necessidade de cada uma. Ao todo, a Saúde recebeu 204.060 doses e 154.930 para as regionais. Mais de 111 mil primeiras doses foram aplicadas na capital federal.
 
Futuro
 
Apesar da atual preocupação entre os gestores da pasta, há esperança de um cenário melhor para o segundo semestre de 2021. Com o recebimento do Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA) para a produção de vacinas contra o novo coronavírus, o país terá condições de fabricar cerca de 1 milhão de doses por dia, o que seria suficiente para manter a vacinação sem interrupções.
 
O professor Leandro Machado acredita que atingir este nível de produção é possível, mas alerta para a necessidade de não se apegar ao futuro. “Até que isto seja uma realidade, precisamos investir na prevenção. O uso de máscaras, álcool em gel e distanciamento social são essenciais. Não podemos apenas aceitar as mortes e internações de agora porque acreditamos que, no segundo semestre, estaremos melhor. Temos que nos prevenir”, frisa.
 
Ontem, o DF chegou a 285.576 mil infectados pela covid-19 e 4.697 mortes pela doença, sendo que 738 casos e nove óbitos foram registrados nas últimas 24 horas. A ocupação de leitos de unidades de terapia intensiva (UTIs) exclusivos para a doença está em 84%.
 
Nova cepa
A nova variante do novo coronavírus, encontrada em duas cidades do Entorno do DF, preocupa especialistas. A infectologista Joana D’arc Gonçalves explica que a mutação tem características que a tornam mais transmissível. “A variante notificada no Entorno é a mesma encontrada no Reino Unido e em mais de 62 países da Europa, a B1.1.7. Apesar de ser ruim ela estar no nosso país, ao menos não tem mutações responsáveis pelo escape imunológico e a falha vacinal que ocorreu na África do Sul”, pontua.
 
A infectologista também ressalta que é necessário redobrar a atenção com relação a vigilância e controle. “Afinal, as vacinas que temos disponíveis foram baseadas no vírus selvagem, e essas variantes podem ser prejudiciais ao programa de imunização e tratamento da doença”, diz.
 
» Colaborou Edis Henrique Peres

Correio Braziliense segunda, 15 de fevereiro de 2021

CORONAVÍRUS - DF NO RASTRO DO NOVO CORONAVÍRUS

Jornal Impresso

DF no rastro do novo coronavírus
 
Pesquisadores da UnB trabalham em parceria com o Lacen-DF e rede nacional de estudiosos para fortalecer a vigilância epidemiológica no DF e no país a fim de evitar que novas variantes se disseminem e comprometam até mesmo a eficácia das vacinas

 

MARIANA NIEDERAUER
SAMARA SCHWINGEL

Publicação: 15/02/2021 04:00

O virologista da UnB Bergmann Morais Ribeiro, à frente de pesquisas de sequenciamento de genoma no DF: agilidade é essencial (Ed Alves/CB/D.A Press)  
O virologista da UnB Bergmann Morais Ribeiro, à frente de pesquisas de sequenciamento de genoma no DF: agilidade é essencial


A constatação de que a variante britânica do coronavírus está em circulação a menos de 40km do Distrito Federal, em cidades do Entorno, reforça a importância não só da vigilância epidemiológica, mas também do trabalho científico de sequenciamento do genoma do vírus. Na Universidade de Brasília (UnB), grupo composto por mais de 30 pesquisadores de seis programas de pós-graduação estuda o Sars-Cov-2 desde o início da pandemia e faz parte de força-tarefa nacional para desvendar diferentes faces do patógeno — de tratamentos eficazes à possibilidade do surgimento de novas epidemias.

O sequenciamento é o que indica, por exemplo, se existe nova cepa em circulação no país. A agilidade, portanto, representa elemento chave nesse processo, para que as pessoas infectadas sejam isoladas e acompanhadas por equipes de vigilância epidemiológica e não contagiem mais habitantes. “Em Brasília, poucas cepas foram sequenciadas até agora. Mas, como o transporte não parou, muito provavelmente essas cepas que estão circulando no Amazonas, no Rio de Janeiro e em outros estados circulam aqui também. É questão de ir atrás”, avalia o virologista Bergmann Morais Ribeiro, professor titular do Instituto de Ciências Biológicas da UnB, à frente do Laboratório de Bacilovírus, responsável pelo sequenciamento.

“Por isso é importante esse projeto, para descobrirmos o mais rápido possível o que está acontecendo aqui e sermos autônomos. Estamos tentando transferir essa tecnologia para o sistema público, com o objetivo de termos essa resposta mais rapidamente”, resume o pesquisador. Ele reforça, ainda, que há possibilidade de a covid-19 se tornar uma doença endêmica, ou seja, que provoca novos casos com frequência ao longo do tempo, como ocorreu com o vírus HIV e os causadores da dengue, zika e chikungunya.

Em parceria com o Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen-DF), a partir de financiamento da Fundação de Apoio à Pesquisa (FAP-DF), a equipe do pesquisador pretende sequenciar, pelo menos, 150 genomas do coronavírus (leia Cinco perguntas para). Apesar de o laboratório conseguir identificar as novas cepas, a confirmação só ocorre após processamento pelos institutos de referência, conforme define o Ministério da Saúde. Entre eles, estão o Adolfo Lutz, em São Paulo, e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro. Para esta última, foram enviadas, por exemplo, amostras de três casos suspeitos de reinfecção no DF, em análise.

Vigilância
O sequenciamento de genomas faz parte do trabalho laboratorial da vigilância epidemiológica. Segundo o professor de epidemiologia da UnB Mauro Sanchez, essa vigilância é uma vertente da Secretaria de Saúde do DF responsável pelo monitoramento e fornecimento de dados sobre a pandemia. “É uma área muito importante, pois permite que as autoridades saibam como e onde colocar recursos humanos, financeiros e materiais para combater o avanço do vírus na cidade. Além de calcular o número absoluto de casos, a vigilância epidemiológica demonstra qual a incidência da doença, ou seja, qual o risco de se adoecer, por meio do cálculo de casos a cada 100 mil habitantes”, diz.

Além disso, Sanchez afirma que o trabalho da vigilância epidemiológica, em parceria com outras vertentes da Saúde, também é essencial para o monitoramento de novas cepas da covid-19 que, possivelmente, já estão em circulação no DF. “Por meio do acompanhamento dos casos, as autoridades e os profissionais de saúde podem identificar o surgimento de novas infecções e, por meio do rastreamento de contatos, cortar a cadeia de transmissão da nova cepa”, esclarece.

Para isso, é necessário que, quem teve contato com um infectado ou esteja com suspeita, fique em isolamento por cerca de duas semanas, até que a infecção se confirme ou seja totalmente descartada. Todos que tiveram contato com essa pessoa por alguns dias antes do início dos sintomas também devem ser isolados. “Assim, evitamos que o vírus continue se espalhando”, completa Sanchez.

Testes
Até as 23h do último sábado, o Lacen-DF havia realizado 191.881 testes de RT-PCR — exame para detecção do novo coronavírus — desde o início da pandemia. Durante este período, 124.228 foram negativados; 62.577 apresentaram resultado positivo e 5.076, inconclusivo.

Apenas este mês, foram mais de 6 mil amostras recebidas, sendo 1.970 positivas; 4.212, negativas; e 389, inconclusivas. O prazo médio em que o Lacen-DF tem divulgado os resultados é de um dia. Até a meia-noite de ontem, o laboratório estava aguardando o processamento de 252 exames.



 (Ed Alves/CB/D.A Press)  


Cinco perguntas para

Fernando Lucas de Melo,
 virologista e bolsista sênior da FAP-DF responsável pelo sequenciamento e análise das amostras em parceria com o Lacen

Qual a importância do sequenciamento do genoma do vírus para o acompanhamento da pandemia?
Quando investigamos o genoma, conseguimos descobrir uma série de informações sobre a história de uma linhagem. Consigo dizer quais mutações estão acontecendo e, quando comparo com amostras mais antigas, dizer se é igual ou diferente. Se  vejo  genomas aparecendo e aumentando em frequência eu posso correlacionar: será que esse vírus causa formas mais graves da doença? Será que escapou ao sistema imune e está causando muito mais infecções? Então, eu crio hipóteses para que novos estudos aconteçam.

Por que identificar essas mutações é um dos resultados mais importantes do sequenciamento?
A mutação isolada de um vírus não significa muita coisa. A partir do momento que começo a ver a recorrência dessas mutações e o aumento de frequência, começo a entender o que o  vírus ganhou de vantagem  em  relação à linhagem antiga.

Que tipo de tecnologia é necessária para o sequenciamento? É cara? Que dificuldades os pesquisadores do país encontram?
É preciso estar preparado, porque é o tipo de coisa que leva tempo. São cerca de quatro ou cinco meses para o reagente chegar ao Brasil, por exemplo. Então, uma das dificuldades é  a importação de material. Deveria haver menos restrição de imposto e de importação, além  de mercado nacional para a entrega. Porém, o investimento em ciência reduziu tanto que a empresa não mantém estoque de materiais no Brasil, pois não tem  garantia nenhuma de que vai vender. Isso tudo causa atraso.

Que legado acredita que a pandemia pode deixar para a ciência no Brasil?
Serviu para criar vínculos institucionais, coisa que não tínhamos antes. Às vezes,  não tínhamos ideia da estrutura dos laboratórios. O Lacen-DF, por exemplo, está no mesmo nível de entrega de resultados de laboratórios particulares. Espero que esse vínculo se mantenha para a resolução de outros problemas no futuro.

Por que é importante a população ficar atenta às medidas de isolamento?
Se a epidemia não for controlada, a chance de aparecerem novas cepas só aumenta. Se elas continuam  surgindo, é porque os casos continuam aumentando. Isolamento social e máscara são medidas que  funcionam  para o controle de variante. Quanto menor o número de casos, menor o  de variantes.




Para saber mais

Esforço amplo

Além do projeto de sequenciamento do genoma do novo coronavírus financiado, o grupo de pesquisadores do Instituto de Ciências Biológicas da UnB participa de outros editais voltados para pesquisas sobre a covid-19, como os da Capes, do CNPq e da rede Corona-ômica BR, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Esta última iniciativa reúne cientistas também do Rio Grande do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro, Amazonas, Minas Gerais e Tocantins. O projeto estabelece uma rede de laboratórios descentralizados para captação e sequenciamento genômico de amostras de Sars-CoV-2. Na UnB, pesquisadores do Instituto de Química, do Departamento de Ciências da Computação e da Faculdade de Saúde também desenvolvem outras frentes de estudo sobre o vírus, entre elas a de tratamentos para a covid-19.

Correio Braziliense domingo, 14 de fevereiro de 2021

CORONAVÍRUS - CEPA ENCONTRADA NO ENTORNO DO DF ACENDE ALERTA

Jornal Impresso

CORONAVÍRUS

 

Cepa encontrada no Entorno acende alerta
 
A variante britânica da covid-19 foi encontrada nas cidades goianas de Luziânia e Valparaíso de Goiás. Duas pessoas tiveram contato com um parente que veio da Inglaterra para as festas de ano-novo. No DF, ainda não há confirmação de novas cepas em circulação

 

SAMARA SCHWINGEL

Publicação: 14/02/2021 04:00

 (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  
A confirmação da existência da variante britânica do vírus causador da covid-19 — que levou o Reino Unido a decretar o terceiro lockdown — em Luziânia e em Valparaíso, cidades goianas do Entorno do Distrito Federal, acende o alerta para a evolução da pandemia na capital federal. Devido à circulação de pessoas entre as regiões, a probabilidade de a nova cepa do coronavírus estar circulando também em Brasília é alta, explicam especialistas. Os dois infectados tiveram contato, segundo a Secretaria de Saúde de Goiás, com um familiar que viajou da Inglaterra para o Brasil e participou de comemorações de ano-novo.
Os pacientes que testaram positivo para a variante britânica são uma mulher, moradora de Luziânia, e um homem, de Valparaíso de Goiás. De acordo com a secretaria, ambos realizaram testes para a covid-19 em 31 de dezembro do ano passado e apresentaram resultado positivo. Em 19 de janeiro de 2021, as amostras dos testes foram encaminhadas para o Laboratório Central de Saúde Pública do Distrito Federal (Lacen-DF), que as enviou para o Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo, para sequenciamento genômico que confirmou a infecção pela nova cepa.
Após investigação dos casos, a secretaria detectou que a infecção teve correlação com um surto familiar da doença, que ocorreu durante uma viagem envolvendo mais de 20 pessoas, sendo uma delas o viajante recém-chegado da Inglaterra. Agora, a pasta trabalha junto à Regional de Saúde do Entorno Sul e às Secretarias Municipais de Saúde de Valparaíso de Goiás e de Luziânia no monitoramento e acompanhamento destes pacientes e de novos casos que possam surgir. Entre as ações, estão a realização de investigação retrospectiva; avaliação do histórico de viagem, quadro clínico, gravidade e desfecho; rastreamento e monitoramento dos contatos entre residentes da mesma casa, seus familiares ou demais pessoas próximas; e notificação dos casos suspeitos para coleta de material e envio ao Lacen de Goiás.
Flúvia Amorim, Superintendente de Vigilância em Saúde da secretaria de Goiás, afirmou, em vídeo divulgado pela pasta, que a circulação desta variante era algo esperado pela secretaria. “Era algo que nós já imaginávamos que estivesse acontecendo, só não tínhamos a confirmação. A variante de Manaus também é muito possível que já esteja circulando”, disse. Ela também pediu que a população reforce as medidas de combate à pandemia.
A Secretaria de Saúde do DF informou, por meio de nota, que a Diretoria de Vigilância Epidemiológica e o Lacen-DF monitoram todos os casos de covid-19 registrados no DF e encaminha os sequenciamentos aos laboratórios de referência, entre eles, o Adolfo Lutz. “Até o presente momento, não houve devolutiva com confirmação de sequenciamento com outra variante da covid-19”, completou a pasta.
 
Perigos
 
A variante foi identificada pelas autoridades de saúde do Reino Unido em 14 de dezembro do ano passado e notificada em mais de 62 países. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), ela foi responsável por um aumento significativo da transmissibilidade, incidência, hospitalizações e pressão sobre o sistema de saúde desde a segunda metade do último mês de 2020.
Segundo a infectologista Ana Helena Germoglio, do Hospital de Águas Claras, as mutações são mecanismos de sobrevivência do vírus e, quanto mais ele circula, mais ele pode desenvolver variantes. “Cada vez que uma nova mutação é descoberta, corremos o risco de perder a eficácia das vacinas que estão sendo aplicadas. Por isso, é importante que todos saibamos quais são as cepas que estão em circulação em cada região”, explica.
Para Germoglio, a chance de esta cepa estar presente no DF é grande. “É praticamente inevitável. Como há uma grande circulação de pessoas entre essas cidades e Brasília, é uma questão de tempo até a cepa britânica ser confirmada na capital federal também”, diz. Por isso, a infectologista reforça a necessidade de se seguir os protocolos e regras sanitárias. “É importante evitar que mais variações apareçam. Para isso, precisamos de apoio da população e de avanço na vacinação. Só esses fatores, combinados, podem amenizar essa pandemia”, completa.
 
Carnaval
 
Para garantir que as medidas de combate ao novo coronavírus fossem respeitadas durante o carnaval, o Governo do DF mobilizou uma força-tarefa de fiscalização. Durante o primeiro dia de ação, 92 estabelecimentos em 15 regiões administrativas foram vistoriados, sendo que cinco foram multados e três, interditados por descumprimento às normas sanitárias. Um dos interditados, foi um evento com grande programação de carnaval que acontecia próximo ao ginásio Nilson Nelson. A equipe de fiscalização chegou ao local por volta de meia-noite e encerrou a festa.
Na avaliação do coordenador da força-tarefa no Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT), o procurador de Justiça José Eduardo Sabo Paes, que acompanhou o primeiro dia de fiscalização na capital, a maior parte das infrações é de falta do uso de máscaras e de aglomerações. “Infelizmente, percebemos que as pessoas ainda não entenderam que, este ano, não podemos curtir o carnaval da mesma forma como fazíamos antes. Percebemos que ainda há um descaso por uma parcela grande da população”, diz Sabo. No total, a partir das 20h de ontem, seis equipes se dividiram para percorrer todo o DF.
Sobre a descoberta da nova variante do vírus no Entorno, o procurador afirma que não há informações de circulação na capital, mas o MP deve cobrar das autoridades sanitárias locais, nesta semana, respostas sobre as investigações em andamento atualmente.
A força-tarefa é composta por vários órgãos, como Secretaria de Segurança Pública, Secretaria de Proteção da Ordem Urbanística (DF Legal), Brasília Ambiental, Procon, Divisa, Polícia Militar, Corpo de Bombeiros, Polícia Civil, Departamento de Trânsito (Detran), Departamento de Estradas de Rodagem (DER), Secretaria de Transporte e Mobilidade, Secretaria das Cidades, Secretaria de Agricultura, Receita e MPDFT. A força-tarefa continuará agindo até 17 de fevereiro. As equipes atuam das 18h às 3h.


» Denuncie
 
Quem tiver informação sobre eventos clandestinos deve entrar em contato por meio da Ouvidoria (162) ou pelo 190. Festas, eventos com aglomeração e programações carnavalescas estão proibidas até 21 de fevereiro. Quem descumprir a norma, fomentar ou ajudar a promover este tipo de evento será multado em até R$ 20 mil. Os bares e restaurantes, que estão autorizados a funcionar, devem seguir regras específicas, como proibir que clientes consumam produtos em pé ou dancem nos estabelecimentos e operar com 50% da capacidade total.


 
» Covid-19 no DF 
 
Nas últimas 24 horas, o DF registrou nove mortes e 595 novos infectados pela covid-19. No total, são 284.301 casos da doença e 4.680 vidas perdidas. A taxa de transmissão está em 0,95. Já a média móvel de casos é de 528,8 — 48,7% menor em relação a 14 dias atrás. A média móvel de mortes, por sua vez, permanece em 10,28, número 6,5% menor do que o das duas semanas anteriores.

Correio Braziliense sábado, 13 de fevereiro de 2021

CRIMES PELA WEB DISPARAM NO DF

Jornal Impresso

Crimes pela web disparam no DF
 
Aproveitando-se da pandemia, criminosos que atuam pela internet intensificaram as ações no ano passado. Em 2020, houve registro de 17.843 ocorrências, aumento de 87,1% em comparação com 2019. Em relação a estelionatos, o crescimento foi de 209%

 

» DARCIANNE DIOGO

Publicação: 13/02/2021 04:00

“Inspetores” do novo coronavírus, agendamento da vacina contra a covid-19 pelo “Ministério Público da Saúde”, pesquisas telefônicas fraudulentas. Essas e outras estratégias são utilizadas por criminosos que atuam na internet e usam a pandemia para aplicar golpes. Os crimes virtuais dispararam, no Distrito Federal. Em 2020, observou-se alta de 87,1 %, em comparação a 2019, de delitos praticados pela web, quando foram registradas 17.843 ocorrências — sendo 9.529 estelionatos —, segundo dados obtidos pelo Correio por meio da Polícia Civil (PCDF). No ano anterior, houve 9.539 registros. No primeiro mês de 2021, 836 crimes foram identificados.
 
Em 2019, o número de ocorrências de estelionato foi de 4.564, ou seja, houve crescimento de 108% em 12 meses. Em janeiro deste ano, mais 491 registros. O estudo abrange, ainda, as tentativas de estelionato, que apresentou aumento de 209%, entre 2019 e 2020 (742 contra 2.294, respectivamente).
 
Outra pesquisa produzida pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban) registrou aumento de 80% nas tentativas de phishing (que se inicia por meio de recebimento de e-mails que carregam vírus ou links e que direcionam o usuário a sites falsos, que, normalmente, possuem remetentes desconhecidos) em meio à crise sanitária.
 
Na semana passada, o anúncio de agendamento da vacina contra a covid-19 circulou via WhatsApp e deixou os brasilienses eufóricos. O remetente era o “Ministério Público da Saúde”,órgão inexistente. A notícia, no entanto, foi desmentida pelo Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) que explicou que esse tipo de mensagem caracteriza golpe e pediu para que a população ficasse atenta e só confiasse em ações devidamente divulgadas nos canais oficiais das instituições públicas que atuam no enfrentamento à pandemia.
 
Em entrevista ao Correio, Rodrigo Fogagnolo, promotor e coordenador Núcleo Especial de Combate a Crimes Cibernéticos (Ncyber) do MPDFT, afirma que criminosos têm criado novas formas de agir durante a pandemia para atingir mais vítimas. Uma delas é o golpe pelo WhatsApp. “O criminoso manda mensagem para a pessoa fornecer o PIN, geralmente por interesse de um prêmio futuro. Ao enviar, a pessoa tem o aplicativo clonado, e o estelionatário passa a ter acesso aos contatos e começa a mandar mensagens, pedindo dinheiro emprestado, dizendo que está em crise devido à pandemia”, explica.
 
O promotor destaca que um dos golpes mais recorrentes continua sendo a clonagem de cartão, apesar de ser uma estratégia antiga. Nesse caso, a vítima é atraída por promoções, valores financeiros e prêmios e, durante a ligação, fornece dados pessoais e informações do cartão de crédito. Em outubro do ano passado, a 4ª Delegacia de Polícia (Guará) prendeu um dos maiores estelionatários do DF. Paulo Alexandre Amaral Raimundo, 48 anos, se passava por funcionário de banco para atrair as pessoas e chegava a ir à casa das vítimas para recolher o cartão de crédito ou de débito, afirmando que o item seria submetido à perícia para apurar uma suposta fraude. Ele era integrante de uma quadrilha que agia em diferentes regiões da capital, como Asas Sul e Norte, Lago Sul e Águas Claras e escolhia idosos como os alvos.
 
Na avaliação do delegado Giuliano Zuliani, titular da Delegacia Especial de Repressão aos Crimes Cibernéticos, o fato de a população estar mais em casa, devido à pandemia, facilitou a ação dos estelionatários. “As pessoas estão utilizando mais a internet, seja para comprar, seja usar as redes sociais ou conversar por meio dos aplicativos de mensagens. Consequentemente, elas ficam mais sujeitas a esse tipo de crime. Essa quantidade de exposição diária da internet aumentou o número de golpes cibernéticos”, detalha.
 
O investigador alerta que a maioria dos golpes são praticados por meio de aplicativos, como o WhatsApp. Nessa plataforma, os criminosos podem usar de três formas distintas para garantir êxito na atividade ilícita. A primeira é clonagem da conta do usuário, em que o estelionatário cria um perfil falso, usa a mesma foto que a vítima utiliza e pede dinheiro emprestado aos contatos próximos da pessoa. Em segundo, aparece o golpe do boleto falso, no qual cria-se sites falsos capazes de emitir boletos. A vítima paga a fatura, mas o dinheiro cai na conta do criminoso. Por último e um dos mais recorrentes está o código por SMS. ”Nesse, a pessoa recebe alguns números no celular, como se fosse para atualizar o aplicativo ou algo do tipo. Ao digitar o código, a vítima autoriza a transferência do WhatsApp para o aparelho do criminoso. A partir daí, ele se passa pela pessoa e pede dinheiro aos conhecidos”, disse o delegado.
 
Monique Bianchi, 27, quase perdeu o carro, um Fiat Mobi, após anunciar o veículo em um aplicativo de vendas. A advogada anunciou o automóvel por R$ 32 mil, em outubro do ano passado. Ela conta que um criminoso clonou o anúncio e passou a oferecer o carro por um valor bem abaixo do mercado, R$ 25 mil. “Ele encontrou um comprador e, depois, entrou em contato comigo dizendo que mandaria uma pessoa ver o veículo”, lembra Monique.
 
A jovem acabou descobrindo que o cliente que o criminoso havia atraído era tanto vítima quanto ela. O comprador depositou R$ 25 mil na conta do estelionatário, antes de buscar o carro. “Eu comecei a achar a história muito estranha. Depois que a pessoa pagou, me mandaram um comprovante falso e pediram para eu ir no cartório. Mas desconfiei que se tratava de um golpe”, completa. A advogada registrou boletim de ocorrência na 4ª DP. “Hoje, estou respondendo um processo da pessoa que comprou o carro, mas qual culpa eu tive? Fui vítima do mesmo jeito. Eu ia perder meu carro”, argumenta.
 
Trabalho técnico
 
O estelionato está previsto no Art. n° 171 do Código Penal, sendo definido como “obter, para si ou para o outro, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil ou qualquer outro meio fraudulento”. A pena para quem comete esse tipo de crime vai até cinco anos de prisão.
 
Uma série de mudanças na Lei nº 13.964 causou alterações no Art. n° 171. O estelionato passou de uma ação penal pública incondicionada — promovida por denúncia do Ministério Público — para ser uma ação penal pública condicionada — a qual inicia-se após representação ou requisição perante o MP.
 
A regra, no entanto, não vale para quem comete esse crime contra a administração pública, crianças, adolescentes, pessoas com deficiência mental ou idosos a partir de 70 anos de idade ou incapaz. “O trabalho para identificar um criminoso como esse é mais técnico e complexo. É preciso descobrir o endereço do IP, verificar a operadora, ver se o dono da conta usou o aparelho e, às vezes, atravessar fronteiras. Muito mais difícil do que pegar o retrato da pessoa e tentar encontrar”, ressalta o promotor Rodrigo Fogagnolo.
 
O delegado Giancarlos Zuliani considera o trabalho de investigação complexo. Isso porque, segundo ele, a maioria dos estelionatários vivem em outros estados, como São Paulo, Goiânia, Porto Alegre e Ceará. “É uma apuração mais técnica. Quando vamos atrás desses criminosos nesses outros lugares, muitas vezes encontramos um só e uma fraude. Para evitar situações como essas, é importante que a pessoa, quando for fazer algum empréstimo, ou doação, ligar para quem está pedindo para saber, de fato, quem está do outro lado da tela. Outra maneira é solicitar o PIX pelo CPF, pois, aí, você tem a certeza em qual conta o dinheiro vai cair”, orienta.

Correio Braziliense sexta, 12 de fevereiro de 2021

CORONAVÍRUS - CARNAVAL LONGE DA RUA

Jornal Impresso

CORONAVÍRUS
 
<b>GDF proíbe festa na pandemia para evitar avanço da covid-19</b><br>
 
Carnaval longe da rua
 
Eventos para celebrar a folia estão proibidos. Uma força-tarefa de fiscalização começa a atuar hoje. Levantamento do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios identificou cerca de 50 festas clandestinas programadas para o feriado

 

» SAMARA SCHWINGEL

Publicação: 12/02/2021 04:00

Gyovanna Quadros não pensa em festa neste carnaval. A estudante ficará em casa e vai evitar aglomerações (Minervino Júnior/CB/D.A Press)  
Gyovanna Quadros não pensa em festa neste carnaval. A estudante ficará em casa e vai evitar aglomerações

Começa, hoje, a força-tarefa de fiscalização que vai atuar durante o carnaval para inibir festas clandestinas durante o feriadão. Até o momento, cerca de 50 eventos foram identificados. A medida faz parte de um esforço do Governo do Distrito Federal (GDF) para evitar o avanço dos contágios pelo novo coronavírus. Também, como forma de combate à pandemia, um decreto, assinado pelo governador Ibaneis Rocha (MDB) e publicado no Diário Oficial do DF (DODF), proibiu, até 21 de fevereiro, festas e atividades carnavalescas. Apenas bares e restaurantes têm permissão para funcionar, desde que cumpram regras específicas. Uma semana antes do início da festa pagã, o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) visitou bares e identificou graves irregularidades sanitárias.
 
Segundo o Decreto nº 41.789, quem fomentar, induzir, instigar, ajudar ou promover qualquer evento de carnaval pode ser punido com multa de R$ 20 mil. Além disso, o código penal prevê que as pessoas que descumprirem as determinações ficam sujeitas à pena de prisão, que pode variar de um mês a um ano.
 
Durante este período, a Secretaria de Estado de Proteção da Ordem Urbanística (DF Legal), com apoio de outros órgãos do Executivo local e da segurança pública, vai fiscalizar o cumprimento do decreto em bares, restaurantes e clubes recreativos. Os fiscais vão se dividir em nove equipes e atuar das 8h às 3h. Todos os estabelecimentos deverão seguir as medidas publicadas desde o início da pandemia.
 
Até o momento, o DF Legal identificou 50 festas clandestinas previstas para a semana do carnaval (veja Como denunciar). Os eventos estão sendo monitorados e, caso sejam realizados, os organizadores poderão ser multados. Por questões de logística, a pasta não revela quais são os eventos nem onde devem ocorrer.
 
Bares e restaurantes
Bares e restaurantes continuam autorizados a funcionar, com apresentação de música ao vivo, desde que obedeçam as medidas previstas em decretos anteriores, como limite de 50% de ocupação e a proibição de que clientes consumam fora das mesas ou se levantam para dançar. A reportagem entrou em contato com alguns estabelecimentos que estão divulgando programações especiais de carnaval e foi informada que a única mudança para a data será a inclusão de músicas carnavalescas.
 
Apesar disso, algumas pessoas preferem passar o carnaval em casa. É o caso da estudante Gyovanna Quadros, 21 anos. Ela conta que teve covid-19 e afirma que vai passar o feriado em casa, longe de aglomerações. “Ainda tenho medo de transmitir para as pessoas que moram comigo. É uma doença nova, é um vírus que ainda está sendo estudado. Por isso, acredito que optar pela não-aglomeração é a melhor opção no momento”, pondera a moradora do Guará.
 
Uma semana antes do início do carnaval, entre 5 e 10 de fevereiro, a força-tarefa de combate à pandemia do MPDFT visitou dez bares em Águas Claras, na Asa Norte e no Sudoeste. Segundo o coordenador do grupo, o procurador José Eduardo Sabo, a situação era alarmante. “Realizamos uma inspeção e, infelizmente, verificamos o descumprimento (das normas), o não uso de máscaras e o não afastamento entre as pessoas. Isso nos preocupa”, admite.
 
Pandemia
Segundo o professor de epidemiologia da Universidade de Brasília (UnB) Walter Ramalho, caso festas clandestinas e aglomerações realmente ocorram durante o carnaval, o DF corre o risco de ter aumento de casos e de internações devido à covid-19 após passadas duas semanas do feriado. “Caso as aglomerações e o desrespeito às normas sanitárias continuem acontecendo, até o processo de imunização pode ser em vão, já que o vírus circula cada vez mais e pode sofrer mutações”, explica Walter. Por isso, ele pede que cada brasiliense faça sua parte. “Vacinamos um percentual muito pequeno da população, estamos longe do fim. Precisamos nos resguardar, agora, para podermos festejar no futuro”, ressalta o professor.
 
Ontem, 109.893 pessoas haviam sido vacinadas no DF, sendo que, 7.427 delas receberam a segunda dose dos imunizantes. Até o momento, a capital federal recebeu 162.560 unidades da vacina CoronaVac, produzida pelo Instituto Butantan em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac; e 41,5 mil doses da vacina Covishield, desenvolvida pela universidade inglesa de Oxford, com a farmacêutica sueco-britânica AstraZeneca. Cerca de 5% das doses das duas vacinas fazem parte da reserva técnica para suprir possíveis perdas que possam acontecer ao longo da campanha. Dessa forma, há estoque para uma eventual reposição.
 
Ontem, a Secretaria de Saúde incluiu todos os servidores da Fundação de Ensino e Pesquisa em Ciências da Saúde (Fepecs) e da Fundação Hemocentro de Brasília (FHB) no grupo prioritário de vacinação contra a covid-19. A decisão foi do Comitê de Operacionalização da Vacinação e oficializada por meio de circular. Para receber a dose do imunizante, basta comparecer a um ponto de vacinação e apresentar o crachá funcional da instituição, documento original com foto e CPF.
 
 
 
Média móvel de mortes cresce
 
Nas últimas 24 horas, o Distrito Federal registrou 545 casos e 11 vítimas da covid-19. No total, são 283.194 ocorrências da doença e 4.660 mortes. Os dados são da Secretaria de Saúde. A média móvel de casos registrou queda de 47,7% em relação a 14 dias atrás e chegou a 541,7. Em relação aos óbitos, houve crescimento de 3% em comparação à taxa observada há duas semanas, e a média móvel é de 9,85.
 
 
 
Vigilância
 
Medidas que serão avaliadas durante o carnaval em bares e restaurantes
 
» Aferir a temperatura de todos os clientes quando chegarem ao estabelecimento
» Ofertar álcool em gel 70% para todos os presentes em quantidade suficiente
» Manter o distanciamento entre as mesas
» Permitir a ocupação máxima de 50% do espaço físico do local
» Não permitir o trânsito dos clientes e funcionários sem máscara
» Cobrar de todos, incluindo de funcionários, o uso de máscaras
» Não permitir que clientes permaneçam bebendo ou se alimentando em pé
» Não permitir que os clientes dancem
 
 
Como denunciar
 
» Quem tiver informação sobre eventos clandestinos ou aglomerações pode entrar em contato com as equipes de fiscalização por meio da Ouvidoria (162) ou pelo 190.
 
 
Veja o que abre e o que fecha
 
O carnaval do Distrito Federal será diferente este ano. As opções de lazer disponíveis durante o feriado ficarão voltadas para o comércio e para as atividades ao ar livre, sem aglomerações. Alguns serviços básicos não definiram, ainda, os horários de funcionamento durante o carnaval. É o caso dos hospitais, das emergências e das unidades básicas de saúde (UBS). O cronograma deve ser divulgado em breve, segundo a Secretaria de Saúde.
 
Transporte público
 
» Ônibus
Os ônibus seguirão a tabela horária normal amanhã e no domingo Na segunda-feira, o horário será o mesmo de sábado, com reforço em linhas de maior demanda. Na terça-feira, a tabela será a de domingo. Na quarta-feira, a circulação de ônibus ocorrerá como nos dias úteis, co reforço de viagens entre as 11h e as 14h.
 
» Metrô
O metrô vai funcionar das 5h30 às 23h30, amanhã. No domingo, na segunda (15/2) e na terça-feira, os trens circularão entre as 7h e as 19h. Na quarta-feira, o modal vai operar das 7h às 23h.
 
Comércio
 
» Lojas de rua e shoppings têm autorização para funcionar de amanha a segunda-feira e quarta. Os estabelecimentos fecham na terça-feira de carnaval, quando é celebrado o Dia do Comerciário. Óticas, papelarias, livrarias, açougues e floriculturas não abrirão as portas na segunda e na terça-feira. Na quarta-feira de cinzas, os empresários desses segmentos estão autorizados a abrir normalmente, assim como no sábado e no domingo. Os bares, restaurantes e os mercados funcionarão normalmente durante todos os dias de carnaval.
 
Shoppings
 
Em razão da pandemia da covid-19, os shoppings devem seguir o decreto do governo local que restringe o horário de funcionamento das 10h às 22h. No domingo, a maioria começa as operações a partir das 13h.
 
» Brasília Shopping funciona normalmente sábado, segunda e quarta-feira. No domingo, as lojas do Brasília Shopping abrirão às 13h e fecharão às 19h e, na terça-feira, apenas praça de alimentação e lazer funcionará, das 12h às 22h.
 
» Taguatinga Shopping funciona normalmente sábado, segunda e quarta-feira. No domingo, as lojas abrem às 14h e fecham às 20h; e a praça de alimentação funciona das 12h às 22h. Na terça-feira, as lojas estarão fechadas, e a praça de alimentação abre das 12h às 22h.
 
» No ParkShopping, o horário de domingo a quarta-feira será das 14h às 20h para lojas, e das 12h às 22h para a praça de alimentação. Na segunda, a praça de alimentação funciona das 10h às 22h. Na terça, lojas fecham, e praça de alimentação fica aberta, das 12h às 22h.
 
» O Boulevard Shopping estará aberto amanhã, segunda e quarta-feira, das 10h às 22h. No domingo, das 13h às 19h. As lojas ficarão fechadas na terça-feira.
 
» No Alameda Shopping, o funcionamento será das 9h às 21h. O estabelecimento vai fechar na terça-feira e reabrir na quarta, das 12h às 21h.
 
» O Venâncio Shopping vai funcionar amanhã das 10h às 18h. No domingo e na segunda-feira, o horário será das 11h às 17h. O estabelecimento fecha na terça-feira e volta a funcionar na quarta, das 10h às 20h.
 
Zoo
 
» O Zoológico de Brasília funcionará normalmente durante o carnaval, das 9h às 17h, com entrada permitida somente até as 16h.
 
Parques
 
» O Parque Nacional de Brasília, Água mineral, não abre na terça-feira. Os demais parques funcionam normalmente. 
 
Delegacias
 
» O funcionamento das delegacias de polícia seguirá o regime regular de fins de semana e feriados. Ou seja, as trinta delegacias circunscricionais, as delegacias Especializadas no Atendimento à Mulher (Deam) e as delegacias da Criança e do Adolescente (DCA) permanecerão abertas 24h.
 
Bancos
 
» O calendário de feriados bancários está mantido. Na segunda e na terça-feira, não haverá atendimento ao público nas agências. Na quarta-feira de Cinzas, o início do expediente será às 12h, com encerramento em horário normal de fechamento das agências. Contas como água, energia e telefone, além de carnês com vencimento em 15 ou 16 de fevereiro poderão ser pagos, sem acréscimos ou multas, na quarta-feira.
 
Trânsito
 
» Em relação aos serviços do Departamento de Estradas de Rodagem (DER), não haverá atendimento nos setores de multas e protocolo na segunda e na terça- feira. O atendimento será normalizado às 14h de quarta-feira. Na segunda, terça e quarta-feira, até as 14h, as operações tapa-buraco e a fiscalização de trânsito seguem em escala de plantão. As operações de reversão na Estrada Parque Ceilândia (DF-095), na BR-070 e na DF-003, serão suspensas segunda e terça-feira. Na quarta-feira, as operações ocorrem normalmente. O Eixão do Lazer, como em outros feriados, funcionará entre 6h e 18h na terça-feira. O Detran vai seguir a definição do GDF e não funcionará segunda e terça-feira, retornando as atividades às 14h de quarta. As equipes de fiscalização, educação e engenharia de trânsito, no entanto, atuarão em escala especial de trabalho.
 
Atendimento ao cidadão
 
» Os postos do Na Hora estarão fechados na segunda e na terça-feira, retornando os atendimentos na quarta-feira de Cinzas, em consonância com o decreto distrital publicado em 15 de janeiro, que definiu o calendário de atividades do GDF.
 
Restaurantes comunitários
 
» Os 14 restaurantes comunitários 
do DF funcionarão amanhã e na quarta-feira de Cinzas.

Correio Braziliense quinta, 11 de fevereiro de 2021

TRANSPORTE PÚBLICO - INSEGURANÇA NOS ÒNIBUS DO DF

Jornal Impresso

TRANSPORTE PÚBLICO
 
Insegurança nos ônibus do DF
 
Apenas em 2020, em meio à pandemia, foram registrados 921 assaltos em coletivos, uma média de dois por dia

 

» DARCIANNE DIOGO

Publicação: 11/02/2021 04:00

Câmeras de segurança instaladas nos coletivos do Distrito Federal não inibem a ação dos criminosos (Ana Rayssas/CB/D.A Press)  
Câmeras de segurança instaladas nos coletivos do Distrito Federal não inibem a ação dos criminosos
 
À sombra da violência, passageiros do transporte público do Distrito Federal se arriscam diariamente. Independentemente do horário, quem anda nos coletivos corre o risco de entrar para as estatísticas da Secretaria de Segurança Pública. Apenas em 2020, em meio à pandemia, a pasta registrou 921 casos de assaltos em ônibus, média de dois por dia. Em 2019, foram 1.541 ocorrências. 
 
O risco, entretanto, também estende-se para aqueles que aguardam nos pontos de ônibus. Essa semana, três assaltantes cometeram uma série de assaltos em paradas de Santa Maria (veja Memória) por volta das 5h. Pelo menos três trabalhadores que iam para o serviço foram vítimas e tiveram os pertences levados pelos criminosos. 
 
 A Secretaria de Segurança Pública garante que, com base nos dados de registros e por demandas da comunidade, produz estudos que indicam dias, horários e locais de maior incidência de cada crime em todo o DF. As informações são utilizadas na elaboração de estratégias para o policiamento ostensivo da Polícia Militar e na desarticulação de quadrilhas e investigação da Polícia Civil.
 
A servente Francilene de Oliveira, 43 anos, foi assaltada quatro vezes dentro dos ônibus. Duas delas, ela estava saindo de Brazlândia, cidade onde mora, para trabalhar no Plano Piloto. Ela conta que, na última vez, há um ano, dois criminosos embarcaram na Estrutural e, após duas paradas, anunciaram o assalto. “Levaram minha bolsa, celular e até o crachá do trabalho, mas fui para o serviço mesmo assim. É uma sensação de impotência. Não podemos fazer nada. Na hora, só vem o medo de morrer”, relatou. 
 
Juesley Costa, 27, não consegue se esquecer do medo que sentiu dentro de um coletivo, há dois anos. O segurança saía do trabalho, no período da tarde, em Taguatinga, para ir para casa, em Santo Antônio do Descoberto (GO). O ônibus estava vazio, quando três homens entraram, anunciaram o assalto e roubaram os celulares das vítimas. O jovem questiona as ações de segurança para coibir esse tipo de crime. “A tendência é piorar. Poderiam criar soluções, como um botão, que apertasse e acionasse a polícia. Ou até mesmo melhorar o policiamento nas vias”, destacou.
 
Rodoviários sob risco
 
No DF, há cerca de 12 mil funcionários de empresas de ônibus, entre motoristas e cobradores. Levantamento do Sindicato dos Rodoviários do DF indica as regiões com maior incidência de assaltos. Samambaia aparece em primeiro lugar, seguido por Ceilândia, Recanto das Emas e Estrutural.
 
Aderbal dos Santos, 32, trabalha como cobrador há 11 anos e conta que já foi assaltado por mais de 17 vezes durante todo o tempo de serviço. A última vez ocorreu há um ano, quando ele fazia a linha Plano Piloto/Samambaia. Na ocasião, Aderbal teve a arma apontada na cabeça por mais de cinco minutos e, sob ameaça, entregou todo o dinheiro do caixa. 
 
Em outra situação, no mesmo trajeto, o cobrador também foi assaltado, mas definiu o momento como “filme de terror”. “Minha mulher estava grávida de oito meses. Os bandidos estavam armados, mas eu só lembrava da minha esposa e do bebê que estávamos esperando. Na hora, o medo de morrer falou mais alto”, contou. 
 
Antes de ocupar o cargo de motorista, Aldemir Peixoto, 44, trabalhou como cobrador, entre 2011 e 2013, e se recorda até hoje das situações de medo que passou dentro dos coletivos. “Fui assaltado quatro vezes em menos de três anos. Em uma vez, cheguei a ter o revólver encostado nas minhas costas e na minha orelha. É uma situação que não desejo a ninguém.” Mesmo com o passar dos anos, Aldemir não se sente seguro no trabalho e considera-se no alvo dos criminosos. “Só sabemos a hora que saímos da garagem com o ônibus. Mas é imprevisível. Não sabemos se voltaremos vivos”, completou. 
 
Soluções
 
A frota de ônibus do Distrito Federal é composta por 2,7 mil veículos, segundo a Secretaria de Transporte e Mobilidade (Semob). Os coletivos dispõem de câmeras de segurança e a orientação é que as imagens gravadas do crime sejam entregues a uma delegacia, em um prazo de 24 horas, a contar do momento do fato. A regra foi estabelecida pela secretaria por meio  da Portaria 96/2019, publicada no Diário Oficial do Distrito Federal (DODF), de 6 de dezembro de 2019. A medida tem o objetivo de facilitar o trabalho da Polícia Civil nas investigações criminais e inibir a prática de assaltos, furtos e assédios nos ônibus. 
 
Na avaliação do vice-presidente do Sindicato dos Rodoviários do DF, João Jesus Oliveira, as câmeras internas dos veículos poderiam ser monitoradas em tempo real por uma central de segurança. “O que ocorre é que apenas o equipamento instalado não inibe o assalto na hora exata. Ele serve para fiscalizar os trabalhadores e, em casos de roubos, é vistoriada pela polícia. Mas, com certeza, facilitaria se fosse acompanhada 24 horas”, questionou. 
 
Como estratégia para coibir crimes em transporte público, a SSP-DF informou, por meio de nota oficial, que a Polícia Militar usa um grupo de mensagens, que conta com a participação de rodoviários, comunidade e corporação em troca de informações sobre suspeitos. “O planejamento das operações é realizado com base nas informações repassadas pelas equipes de inteligência, que indicam as áreas e horários de maior incidência criminal a ônibus e nas proximidades das paradas de transporte coletivo, ou seja, locais que necessitam de maior presença policial. A finalidade das ações é aumentar a sensação de segurança da comunidade que utiliza o transporte coletivo diariamente”, garantiu a pasta.


Memória

Assalto em Santa Maria


Na segunda-feira, três homens foram presos pela Polícia Militar apontados como autores de uma série de roubos em paradas de ônibus nas quadras 518, 318 e 204, de Santa Maria. Militares do 26º Batalhão foram acionados e, a partir do rastreamento da localização de um dos celulares roubados das vítimas, a polícia conseguiu encontrar os homens próximo ao local dos crimes, na quadra 203. O trio foi reconhecido pelas vítimas e detido. Na delegacia, constatou-se que o veículo usado pelo grupo era furtado. Com eles, foram apreendidos oito celulares roubados, uma arma falsa e 500 gramas de maconha. 

Correio Braziliense quarta, 10 de fevereiro de 2021

AUXÍLIO EMERGENCIAL: GOVERNO E CONGRESSO FECHADOS PELO BENEFÍCIO

Jornal Impresso

Governo e Congresso fechados pelo auxílio
 
Planalto e parlamentares chegam a consenso de que o benefício tem de ser retomado, mas o valor da ajuda e a fonte de financiamento seguem indefinidos. Corte de gastos e até mesmo a criação de imposto estão entre as possibilidades

 

ROSANA HESSEL
LUIZ CALCAGNO

Publicação: 10/02/2021 04:00

Bolsonaro, Pacheco e Lira já sinalizaram ser favoráveis ao retorno do auxílio emergencial: em 2020, benefício elevou popularidade do chefe do Executivo (Ed Alves/CB/D.A Press

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Bolsonaro, Pacheco e Lira já sinalizaram ser favoráveis ao retorno do auxílio emergencial: em 2020, benefício elevou popularidade do chefe do Executivo
 
Diante do recrudescimento da pandemia da covid-19 e a lentidão do processo de vacinação conduzido pelo governo federal, economistas iniciaram a onda de revisões para baixo do desempenho da atividade econômica neste ano. Não à toa, o presidente Jair Bolsonaro e o Centrão já estão alinhados sobre a volta do auxílio emergencial como forma de ajudar na retomada da economia e na popularidade do governo.
 
Os novos presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), e da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), já sinalizaram. São favoráveis ao retorno do benefício para os mais vulneráveis que não foram contemplados pelo Bolsa Família. No ano passado, o auxílio ajudou a evitar um tombo maior no Produto Interno Bruto (PIB) e, de quebra, elevou a aprovação de Bolsonaro, principalmente, no Nordeste. Contudo, o tamanho do auxílio e a fonte de financiamento continuam indefinidos, apesar da urgência da matéria, que estará na pauta dos parlamentares integrantes da Comissão Mista do Orçamento (CMO), a ser instalada hoje.
 
Apesar do consenso sobre a necessidade do auxílio, não há o mesmo entendimento a respeito do financiamento do benefício. Líder do DEM na Câmara, Efraim Filho (PB) reconheceu que o auxílio deve dominar os debates no Congresso e informou que será preciso buscar espaço para ele no Orçamento, “durante os trâmites na CMO, via corte de despesa”.
 
O deputado Júlio Delgado (PSB-MG) defendeu o corte de gastos para a inclusão do auxílio emergencial no Orçamento e descartou aumento de impostos para bancar o benefício. O líder do Podemos na Câmara, Léo Moraes (RO), também confirmou o consenso sobre a necessidade de aprovação da ajuda no Congresso. Segundo ele, com a vacina, o programa “vai aquecer a economia”.
 
De acordo com o líder do DEM no Senado, Marcos Rogério (RO), existe disposição do governo e de parlamentares para aprovar um novo socorro aos mais vulneráveis, mas não nos mesmos moldes do auxílio do ano passado e sem impor condicionantes para o acesso. “O governo vai ter de achar o caminho para estender o benefício, como fazer isso sem que represente um aumento no rombo das contas públicas. A prioridade é quem está passando necessidade. A questão orçamentária, fiscal, é meta de todos. Mas, primeiro, você alimenta quem tem fome”, ressaltou.
 
No Planalto e no Congresso, apesar do discurso do ministro da Economia, Paulo Guedes, de que é preciso recriar o auxílio “com responsabilidade fiscal”, não está totalmente descartada a criação de um imposto para custear o socorro. Essa medida, no entanto, não ajudaria o governo a cumprir a regra do teto de gastos, que limita o aumento de despesas à inflação do ano anterior. Guedes defende a volta da CPMF. Para economistas, essa medida “de ajuste fiscal preguiçoso” seria um tiro no pé para o Executivo e para a retomada da economia.
 
Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, não descarta a possibilidade de o governo tentar emplacar um novo imposto. A medida deve seduzir boa parte do Centrão. “De novo, fica claro que muitas pautas acontecem sem o dedo do Guedes para reforçar que o problema não era tanto o Rodrigo Maia”, afirmou, numa referência ao ex-presidente da Câmara. “Com o Centrão, é mais provável um ajuste via impostos do que corte de gastos. É o que deveremos ver nos próximos dois anos. O difícil será conceber um presidente que falou tanto para a sua base contra aumento de impostos”, acrescentou Vale, que revisou de 0,1% para 0,8% a previsão de queda do PIB no primeiro trimestre e não descarta recessão nos seis primeiros meses.
 
“Aumentar impostos não resolve o teto, ainda que ajude no primário. Não parece um caminho promissor para os problemas de curtíssimo prazo. Será preciso medida compensatória do lado da despesa, para respeitar o teto (para abrigar o auxílio)”, avaliou Felipe Salto, diretor-executivo da Instituição Fiscal Independente (IFI). “Outra possibilidade para o auxílio é o chamado crédito extraordinário. Nesse caso, é bom lembrar que despesas maiores afetam o deficit e a dívida. O importante é não perder de vista a responsabilidade fiscal.”
 
Descontentamento
Vários indicadores do mercado financeiro refletiram, ontem, descontentamento com a provável volta do auxílio emergencial sem que o governo tenha uma definição clara sobre as fontes de recursos para bancá-lo. O dólar e o risco-país subiram, após Bolsonaro confirmar que pretende prorrogar o auxílio. O Banco Central acabou realizando uma intervenção, com oferta de US$ 1 bilhão em contratos de swap cambial, mas não conseguiu evitar a desvalorização do real.
 
O presidente do BC, Roberto Campos Neto, reforçou não haver espaço no Orçamento para o auxílio sem uma contrapartida, como cortes de despesas, e alertou para a alta dos juros. “A reação dos mercados nos mostra que a fragilidade fiscal pesa mais do que os eventuais benefícios de se colocar mais dinheiro na economia. Pode acabar tendo o efeito contrário, de contração da economia”, disse, em um evento a investidores estrangeiros.
 
O economista Matheus Rosa, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), lembrou que o debate tem convergido para uma aprovação de um novo auxílio emergencial por fora do teto, por meio dos créditos extraordinários, “mas não é consensual de que isso é viável juridicamente”. Segundo ele, os riscos continuam sendo um desvio do caminho para a sustentabilidade fiscal no longo prazo e aumento de juros e desvalorização do real. “Para isso, espera-se o avanço da agenda de reformas que engessou no segundo semestre de 2020”, emendou. (Colaborou Vera Batista)
 

Correio Braziliense terça, 09 de fevereiro de 2021

CORONAVÍRUS - SAÚDE COMEÇA A VACINAR IDOSOS COM 79 ANOS NO DF

Jornal Impresso

CORONAVÍRUS
 
Saúde começa a vacinar idosos com 79 anos
 
Com a chegada de 37,4 mil doses de imunizantes contra a covid-19 ao Distrito Federal, no sábado, secretaria decidiu aumentar a quantidade de pessoas incluídas na campanha. Pelos cálculos da pasta, novo grupo é composto por cerca de 6,1 mil habitantes

 

Publicação: 09/02/2021 04:00

Dircineia Garcia mora em uma casa de acolhimento na Asa Sul e recebeu, ontem, a segunda dose da CoronaVac:  

Dircineia Garcia mora em uma casa de acolhimento na Asa Sul e recebeu, ontem, a segunda dose da CoronaVac: "Tornou-se um dia de festa"

 


» SAMARA SCHWINGEL
» ANA MARIA DA SILVA
 
Hoje, a partir das 8h, a Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF) começa a vacinar idosos com 79 anos — grupo composto por cerca de 6,1 mil pessoas, segundo a pasta. A expectativa é de que a maior parte desse público receba a primeira dose em até duas semanas. A imunização de pacientes acamados e com mais de 80 anos que agendaram atendimento por meio do Telecovid também tem início hoje. Mesmo com o novo passo na campanha, especialistas na área de epidemiologia alertam para a necessidade de monitorar e garantir o cumprimento das medidas de segurança sanitária.
 
A ampliação da vacinação ocorreu depois de o DF receber mais 37,4 mil unidades da CoronaVac, no sábado. A proposta inicial era incluir idosos com 75 anos ou mais no plano. No entanto, a quantidade não foi suficiente para alcançar as 35 mil pessoas dessa faixa etária, pois é necessário reservar o estoque para a segunda dose. Com cerca de 18 mil imunizantes à disposição para garantir duas aplicações — em um intervalo de 14 a 28 dias após a primeira —, a pasta optou por limitar o atendimento a idosos com 79 anos, além de continuar o atendimento a profissionais de saúde e pacientes acamados. 
 
Às 7h30, as novas vacinas serão encaminhadas da Rede de Frio da SES-DF para as centrais de cada região, que vão distribuir para os pontos de vacinação. Idosos com 79 anos completos que quiserem se vacinar deverão apresentar documento de identificação e Cadastro de Pessoa Física (CPF). O horário de atendimento permanece de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h, nos mesmos pontos onde ocorreu a campanha para idosos acima de 80 anos — com exceção do drive-thru do Pontão, temporariamente desativado ontem.
 
Para o diretor científico da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal, José David Urbáez, a ampliação, mesmo que limitada, é válida, e os idosos devem se vacinar. No entanto, ele reforça a necessidade de manter os protocolos de segurança sanitária e higiene. “Na empolgação do momento e na vontade de se vacinar, as pessoas esquecem que o novo coronavírus continua em circulação, e a pandemia, em alta. Não dá para relaxar”, destaca. O especialista acrescenta que a fiscalização tem um papel importante nesse cenário: “É preciso alertar as pessoas e continuar aplicando multas se necessário”, recomenda José David.
 
A Secretaria de Estado de Proteção da Ordem Urbanística (DF Legal), responsável pela fiscalização do cumprimento das normas de combate à covid-19, informou que a inspeção ocorre diariamente. Desde o início da pandemia, ocorreram 548.173 vistorias em estabelecimentos. Desse total, 24.926 comércios acabaram fechados compulsoriamente; 586, multados; e 1.913, interditados. Além disso, desde o início da pandemia, 267 pessoas receberam multa no DF, por não usarem máscaras. O item é obrigatório, como previsto no Decreto nº 40.831/2020. O descumprimento implica o pagamento de R$ 2 mil a R$ 4 mil como pena.
 
 Expectativas
 Ontem, a SES-DF começou a aplicar a segunda dose das vacinas contra a covid-19. Entre os contemplados estão pessoas com mais de 80 anos, acamadas ou não, e profissionais da saúde que atuam em casas de acolhimento para idosos. Foi o caso da professora aposentada Dircineia Garcia da Motta, 75, que mora no Espaço de Convivência, na 503 Sul. Após receber uma nova aplicação da CoronaVac, a idosa comemorou: “Tornou-se um dia de festa por finalmente termos tomado essa vacina. O coração da gente fica apreensivo, sem saber o que poderia ter acontecido comigo, com você ou com qualquer pessoa”, disse. “Quanto tempo tudo isso vai durar ninguém sabe. Mas ver as pessoas alegres por receberem a dose é tão bom”, celebrou Dircineia.
 
Dos 43 idosos que moram no espaço, só dois não foram vacinados — um estava internado, o outro não teve autorização da família. Na Unidade Básica de Saúde nº 2 da 114 Norte, a aposentada Edilice Sousa Melo de Oliveira, 85, recebeu a vacina pela primeira vez. “Nós (Edilice e o marido) estávamos viajando. Chegamos ontem e, logo cedo, eu quis vacinar. Foi bom ter esperado porque, assim, evitamos aglomerações”, comentou. A aposentada também deixou um recado: “Venha se vacinar para que a pandemia acabe o quanto antes”, completou Edilice.
 
A Secretaria de Saúde espera avançar mais na vacinação nos próximos 15 dias. No entanto, isso só será possível se o Ministério da Saúde entregar mais doses. Equipes do Executivo local estão em tratativas com o Governo Federal, para negociar o envio de unidades suficientes para atendimento das outras faixas etárias. Por enquanto, o Governo do Distrito Federal (GDF) descarta a possibilidade de comprar vacinas por conta própria.
 
 
 
Palavra de especialista
 
A importância da vacina
 
Quando falamos de vacinas, precisamos entender que ela não é uma prevenção individual. A ‘não adesão’ pode atrapalhar o combate à doença em questão, e o vírus pode sofrer mutações que sejam resistentes às vacinas que temos. Por isso, é importante a cobertura e a adesão das pessoas ao processo. É uma estratégia de saúde pública. Portanto, há necessidade de o governo — tanto federal quanto local — criar uma estratégia para ter vacinas e para aplicá-las na maior quantidade de pessoas possível. O ideal de cobertura é de, no mínimo, 80% da população. Se conseguirmos alcançar essa meta, cria-se uma barreira comunitária para a circulação do vírus. É importante frisar que, hoje, existem muitas notícias falsas sobre as vacinas e a segurança delas. Não estamos observando nenhum efeito colateral grave para as doses disponíveis contra o novo coronavírus. Dores de cabeça, dor e vermelhidão no local são efeitos esperados em qualquer campanha de imunização. Não há nada nesse sentido que comprometa o andamento da vacinação contra a covid-19. Por favor, vacinem-se.
 
Walter Ramalho, 
professor de epidemiologia da Universidade de Brasília (UnB)

Correio Braziliense segunda, 08 de fevereiro de 2021

CORONAVÍRUS - ATRÁS DO PREJUÍZO NA CORRIDA PARA A IMUNIZAÇÃO

Jornal Impresso

CORONA VíRUS
 
Atrás do prejuízo na corrida para a imunização
 
Na hipótese mais otimista, somando as negociações em curso, o país pode chegar a 456,9 milhões de doses até o fim do ano. Para isso, depende de laboratórios, de lotes de insumos vindos da China e da liberação da Anvisa

 

BRUNA LIMA, MARIA EDUARDA CARDIM, SARAH TEÓFILO

Publicação: 07/02/2021 04:00

Insumo para vacina de Oxford chega ao Aeroporto do Galeão, no Rio (Fiocruz/Divulgação
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Insumo para vacina de Oxford chega ao Aeroporto do Galeão, no Rio
Após se amparar na vacina de Oxford/Astrazeneca e ter relutado para assinar contrato para aquisição da CoronaVac, o governo federal se movimenta, agora, para conseguir mais opções de imunizantes contra a covid-19. A articulação acontece em meio a pressões de vários lados, incluindo o mercado, que vê a importância da vacinação para que seja possível retomar o crescimento do país. São candidatas, então, a vacina russa Sputnik V, assim como as doses prometidas pelo consórcio Covax Facility, além de promessas da vacina indiana Covaxin. Somando as negociações em curso até o momento, o Brasil poderia chegar a 456,9 milhões de doses até o fim do ano, quantidade superior à necessária para garantir a imunização de toda a população brasileira.
 
Essa é uma previsão otimista, considerando que todos os laboratórios cumpririam as promessas feitas. Para isso, o governo federal precisa contar com a chegada de lotes de insumo farmacêutico ativo (IFA) vindos da China para a produção da CoronaVac e da vacina da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), além de conseguir fechar acordos com a União Química, da Sputnik V, e com a Precisa Medicamentos, da Covaxin. O Ministério da Saúde também precisa que os imunizantes passem por aprovação de autorização do uso emergencial na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o que neste caso envolve também as vacinas da Fiocruz. Sobre a vacina russa, a pasta deixou claro, ainda, que a aquisição depende de um preço plausível.
 
Num cenário de cobranças, o governo parece estar empenhado, tendo reuniões com os representantes da Covaxin e da Sputnik V. Apesar da aparente movimentação, o fundador e ex-presidente da Anvisa, Gonzalo Vecina, diz, contudo, não ver ou acreditar que o governo do presidente Jair Bolsonaro — que continua deixando claro que não irá se imunizar —, esteja correndo atrás de vacina no momento. De acordo com Vecina, não há mais imunizantes disponíveis no mercado, e as doses que a AstraZeneca e a Sinovac poderiam vender ao Brasil já foram adquiridas pelo Butantan e pela Fiocruz.
 
Para ele, se outras empresas citadas em negociações com o governo tiverem vacinas disponíveis, serão quantidades muito pequenas. Vecina cita a Pfizer, com a qual o governo diz estar em constantes negociações, apesar de ter apontado, por diversas vezes, que não irá adquirir o imunizante devido a cláusulas contratuais que diz discordar. A Pfizer enviou, ontem, à Anvisa, pedido para registro definitivo da vacina. “O governo está chegando atrasado. Poderia ter ido atrás de vacina desde julho, mas não foi. Agora é tarde. Não vai ter mais vacina”, opina o especialista.
 
Diretor científico da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal, José Davi Urbaez afirma que o cenário só não é mais caótico porque o Brasil conta com instituições como a Fiocruz e o Instituto Butantan. “Graças aos trabalhos dos técnicos e dos pesquisadores dessas instituições, que acabam pressionando e colocando um esforço monumental para honrar o fornecimento de vacinas no Brasil, nós entramos no grupo dos países privilegiados do mundo que estão vacinando a sua população”, ressaltou. Até o momento, a Fiocruz e o Butantan são os únicos a fornecerem vacinas ao país; no caso da fundação são apenas 2 milhões de doses importadas.
 
Fase 3
 
O infectologista acredita que a retirada da obrigatoriedade de estudos do fase 3, no Brasil, como requisito para a solicitação do pedido emergencial de vacinas pode ajudar o país a conseguir mais imunizantes, uma vez que o mundo vive uma pandemia e sofre com o contexto intenso de falta de vacinas. A decisão foi tomada pela Anvisa na última semana, favorecendo a Sputnik V em meio a pressões de governadores e parlamentares. “É um passo muito bom e a própria Anvisa tem os recursos técnicos e procedimentos internos que vão nos dar a segurança da revisão de todos esses estudos feitos em outros países”, destaca.
 
Para Gonzalo Vecina, a necessidade dos estudos de fase 3 foi importante em um primeiro momento. “Graças a isso tivemos quatro estudos de fase 3 no Brasil que ajudaram muito a ciência brasileira”, pontua. Até o momento, a vacina de Oxford/AstraZeneca, a CoronaVac, a vacina da Pfizer e a da Janssen-Cilag realizam testes de fase 3 no Brasil. Os representantes das vacinas Sputnik V e Covaxin também já pediram à Anvisa a autorização para começar os testes em território nacional.
 
Apesar de ressaltar a importância da pesquisa em território nacional, Vecina afirma que a Anvisa fez bem ao dar “um passo atrás” e permitir que os laboratórios solicitem o uso emergencial sem possuir o estudo de fase 3 no país. No entanto, ele reforça a necessidade desses testes em outros países.
 
Desinteresse
 
Desde o segundo semestre do ano passado, especialistas falam sobre a importância de se buscar mais de um imunizante no país. O governo brasileiro, entretanto, preferiu o marasmo. A importância de se adquirir vários imunizantes é, inclusive, pontuada internamente, em uma proposta assinada por seis ministros, incluindo o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, para a Medida Provisória (MP) 1.026, editada no dia 6 de janeiro deste ano. A referida MP permite a compra de vacinas antes do registro da Anvisa, desde que aprovadas em uma das agências internacionais citadas no texto.
 
No documento, do dia 29, no qual também propuseram a inclusão da Rússia (o que não foi feito), os ministros ressaltam que é relevante “a diversificação dos investimentos em diferentes vacinas e fornecedores, visando mitigar o risco de não aprovação de uma vacina eventual” como uma estratégia “para maximizar as taxas de sucesso relativas ao” plano e vacinação. Naquele momento, o governo só tinha contrato com a Fiocruz, assinado em setembro, para aquisição de doses da vacina de Oxford/AstraZeneca, que será produzida pela fundação no Brasil.
 
Por questões ideológicas e políticas, a relutância foi intensa quanto à CoronaVac. Em outubro de 2020, o presidente Jair Bolsonaro desautorizou o general Pazuello, quando o ministro da Saúde anunciou que compraria 46 milhões de doses do imunizante chamado por Bolsonaro de “vacina chinesa de João Doria”. Quando viu que já não era possível protelar mais, com o governador tucano anunciando data de vacinação e com o pedido de uso emergencial nas mãos da Anvisa, Pazuello assinou contrato para compra de exatamente 46 milhões de doses, no dia 7 de janeiro de 2021. 
 
O assunto chegou ao Congresso por pressão de empresários, que se articularam para tentar comprar vacinas, e de governadores, para a liberação da Sputnik V. Na semana passada, uma das mudanças aprovadas em MP pelo Senado chegou a ser prevista em medida editada no dia 6 de janeiro pelo governo federal. Como já divulgado pelo Correio, uma minuta da MP 1.026 tinha o nome da Rússia (o que facilitaria a compra da Sputnik V), mas o governo retirou o país ao publicar a medida.
 
Queda no números da covid-19
 
Ainda que em altos patamares, o Brasil encerrou a quinta semana epidemiológica com diminuição no número de casos e mortes pela covid-19, na comparação com o fechamento anterior. Foram acrescentados 7.076 óbitos e 320.820 infecções no acumulado dos últimos sete dias, o que representa queda de 5,6% e 11%, respectivamente. Com taxas de isolamento na média de 36% (quando o recomendado é de 70%), o momento ainda é preocupante, sobretudo pelas médias móveis, que continuam acima de mil vidas perdidas diariamente e 45,8 mil casos. Ontem, o Ministério da Saúde contabilizou novas 978 fatalidades e 50.630 positivos para a doença, totalizando 231.012 óbitos e 9.497.795 casos desde o início da pandemia. 

Correio Braziliense domingo, 07 de fevereiro de 2021

CONGRESSO NACIONAL: BANCADA DO DF SE FORTALECE COM LIRA

Jornal Impresso

 


CONGRESSO NACIONAL
 
Bancada do DF se fortalece com Lira
 
Cinco dos oito deputados da bancada do Distrito Federal apostaram abertamente no novo presidente da Câmara. Parlamentares são cotados para cargos importantes na Casa e até no Governo Federal

 

»ALEXANDRE DE PAULA

Publicação: 07/02/2021 04:00

Flávia Arruda é favorita para o comando da Comissão Mista do Orçamento (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

Flávia Arruda é favorita para o comando da Comissão Mista do Orçamento

 

 
Luis Miranda almeja ficar com a relatoria do projeto de Reforma Tributária (Ana Rayssa/Esp. CB/D.A Press)  

Luis Miranda almeja ficar com a relatoria do projeto de Reforma Tributária

 

 
Celina Leão é cotada para o Ministério do Esporte caso a pasta seja recriada (Ana Rayssa/CB/D.A Press)  

Celina Leão é cotada para o Ministério do Esporte caso a pasta seja recriada

 

 
Câmara dos Deputados elegeu Arthur Lira presidente na última segunda-feira, em primeiro turno. Parlamentar comandará a Casa até 2023 (Srgio Lima/AFP)  

Câmara dos Deputados elegeu Arthur Lira presidente na última segunda-feira, em primeiro turno. Parlamentar comandará a Casa até 2023

 

 
 
 
No jogo político de articulações e negociações, a vitória de Arthur Lira (Progressistas-AL) para a presidência da Câmara dos Deputados deixou mais forte a bancada do Distrito Federal na Casa. Cinco dos oito parlamentares de Brasília participaram ativamente da campanha de Lira e se manifestaram de maneira pública em favor dele. O apoio garantiu, avaliam políticos e especialistas, um papel de destaque para o DF, e cargos importantes na estrutura do Legislativo podem ficar nas mãos de deputados locais.
 
Por ter uma bancada pequena em comparação com outras unidades da Federação, o DF teve, historicamente, dificuldade de se articular para galgar posições de mais destaque na Casa. A avaliação do momento atual é de que o cenário mudou e de que alguns deputados da capital federal figuram entre os mais influentes com o novo presidente da Câmara. Entretanto, em meio às conturbadas negociações, o enredo político se mostra sempre volátil, e consolidar essa força é o grande desafio da bancada.
 
A deputada federal Bia Kicks (PSL) é um dos símbolos das duas situações, tanto da força de parlamentares da capital do país quanto da instabilidade dos acordos firmados em situações como essa. Kicis foi indicada por Lira para presidir a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) — a mais importante na estrutura do Legislativo, pois todos os projetos precisam ter aval desse colegiado para seguir em frente.
 
A indicação da parlamentar, porém, incomodou parte da classe política e do Judiciário. Aliada de primeira hora do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), ela se notabilizou por polêmicas e criticou diversas vezes o Supremo Tribunal Federal (STF), além de se colocar contra medidas sanitárias de combate à covid-19, como o uso de máscaras.
 
Interlocutores de Lira afirmam que o compromisso dele era com o presidente Jair Bolsonaro. Ele não deve retirar o apoio a Kicis, mas também não fará esforços para barrar candidaturas contrárias. Também ponderam que um gesto de desistência da parlamentar do Distrito Federal seria bem recebido por Lira e a colocaria em uma posição de força, com possibilidade de dialogar e negociar outros espaços relevantes.
 
Orçamento
 
A mais importante comissão do Congresso, a de orçamento, também pode ficar nas mãos de uma deputada do Distrito Federal. Flávia Arruda (PL) é a favorita para o cargo e pode ser responsável por conduzir as discussões sobre o planejamento orçamentário de todo o país. O imbróglio em relação ao tema, no ano passado, teve como pano de fundo a própria eleição da Casa e se estendeu tanto que o grupo acabou não instalado em 2020 — o que deve ocorrer na terça-feira.
 
Deputados avaliam que, no cenário atual, a escolha de Flávia está encaminhada, mas há o interesse também de Elmar Nascimento (DEM-BA), que abandonou os direcionamentos de Rodrigo Maia, correligionário eleito pelo Rio de Janeiro, para apoiar Arthur Lira. Ainda que a parlamentar do DF não seja escolhida para dirigir a comissão mista, a articulação como um nome importante dá forças a ela e a coloca em destaque nacionalmente.
 
Celina Leão (Progressistas) foi uma das que mais se fortaleceram com a chegada de Lira à presidência. Do mesmo partido que ele, ela se colocou como cabo eleitoral na linha de frente da campanha. Foi, inclusive, na casa de empresários próximos a Celina que ocorreram as últimas reuniões de articulação, além da criticada festa de comemoração da vitória, na noite da última segunda-feira.
 
Deputados que estiveram perto de Arthur Lira no processo afirmam que Celina tem a porta completamente aberta com o novo presidente, bem como o apoio dele para qualquer objetivo que ela almeje e que esteja ao alcance do deputado recém-eleito. O nome de Celina também se fortaleceu para o comando do Ministério do Esporte, em uma possível recriação da pasta com a reforma ministerial que o Governo Federal sinalizou intenção de concretizar a partir das negociações com o Centrão em favor de Lira.
 
Dissidente
 
Completa a lista dos mais influentes do DF com o novo comandante da Câmara o deputado federal Luis Miranda (DEM). Ele teve papel importante na campanha porque, além de estar em várias viagens aos estados, liderou a movimentação contra Baleia Rossi (MDB-SP) e foi um dos responsáveis pelo Democratas optar pela liberação dos parlamentares para votar em Lira, apesar do apoio do então presidente da Casa, Rodrigo Maia, ao emedebista.
 
Fortalecido, Luis Miranda pode conquistar a relatoria da Reforma Tributária, uma das pautas prioritárias para o deputado. Além disso, ele tem vaga garantida como integrante da Comissão Mista do Orçamento e tentará ser relator de um dos setores do grupo, o que dará mais importância ao parlamentar. Também conseguiu a relatoria da proposta de emenda à Constituição (PEC) que trata de questões relacionadas à Polícia Civil do DF, o que dará crédito a ele com a categoria.
 
Apesar de não estar tão próximo de Lira, Júlio César (Republicanos) tem uma relação muito boa com o presidente do partido, Marcos Pereira — eleito por São Paulo —, que construiu relação sólida com o novo mandatário da Câmara ao abrir mão da candidatura e apoiá-lo. Ligado à Igreja Universal e com forte apelo entre o público evangélico, o deputado do DF, que é pastor, terá facilidade para aprovar projetos que beneficiem o setor que o elegeu.
 
Demais votos
Apenas Erika Kokay (PT) e Professor Israel (Rede) se colocaram abertamente contra Arthur Lira. Paula Belmonte (Cidadania) não manifestou de forma pública o voto, mas, nos bastidores, aliados do novo presidente dão como certo o voto da parlamentar nele.
 
» Palavra de especialista
 
Aposta ganha
 
Olhando para a perspectiva do Distrito Federal, muitos acordos foram fechados. Recentemente, cresceram os comentários de que a Celina Leão poderia até ser um dos nomes indicados para assumir algum cargo no Governo Federal, por exemplo. Isso tudo, de certa forma, vai facilitar acordos de interesse de grupos diversos dentro da bancada e, assim, também pode facilitar o trâmite para o Governo do Distrito Federal (GDF), pois existe uma tendência muito grande do governador (Ibaneis Rocha) para (apoiar) a forma de trabalho do presidente Jair Bolsonaro. Com certeza, a bancada do DF ganhou força com a vitória de Lira. Em toda disputa eleitoral — e na eleição da Câmara dos Deputados é a mesma coisa — você tem apostas feitas. A bancada do DF fez uma aposta em Arthur Lira, como a maioria fez. Mas isso não foi de forma gratuita. Vimos cargos sendo leiloados, apoios e o Governo Federal sinalizou que haverá uma reforma ministerial. Esses nomes da bancada do DF ventilados para cargos importantes são sinal de força adquirida e de aposta ganha.
 
Fábio Vidal, cientista político pela Universidade de Brasília (UnB)

Correio Braziliense sábado, 06 de fevereiro de 2021

CORONAVÍRUS: REAÇÕES À VACINA SÃO POUCAS E LEVES

Jornal Impresso

CORONAVíRUS
 
Reações à vacina são poucas e leves
 
Desde o início da imunização, 282 pessoas relataram efeitos adversos após a aplicação da primeira dose dos fármacos contra a covid-19 no Distrito Federal. Para especialistas, essas notificações não atrapalham a campanha, que chegou a 97.793 mil moradores da capital

 

ADRIANA BERNARDES, PEDRO MARRA, SAMARA SCHWINGEL

Publicação: 06/02/2021 04:00

Especialistas ressaltam que as reações adversas observadas em algumas pessoas são tratáveis. Eles garantem que efeitos colaterais são comuns em diversas vacinações
 (Ed Alves/CB/D.A Press
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Especialistas ressaltam que as reações adversas observadas em algumas pessoas são tratáveis. Eles garantem que efeitos colaterais são comuns em diversas vacinações
Desde o início da vacinação contra a covid-19 no Distrito Federal, em 19 de janeiro, a Subsecretaria de Vigilância à Saúde (SVS/SES) registrou, pelo menos, 282 casos de reação aos imunizantes. Isso equivale a cerca de 0,28% das 97.793 pessoas vacinadas na capital federal. Os relatos são de sintomas considerados leves, como vermelhidão e/ou dor no local da aplicação da dose, dor de cabeça e febre. Até o momento, nenhum efeito grave foi comunicado. Ao todo, o DF recebeu 125.160 doses da vacina CoronaVac — produzida pelo Instituto Butantan em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac — e 41,5 mil doses da Covishield (Oxford/AstraZeneca). Hoje, o governo distrital espera a chegada de mais 60 mil unidades da CoronaVac. No tentanto, fontes da Secretaria de Saúde temem que a remessa seja menor.
 
Especialistas explicam que as ocorrências reportadas pela população são comuns em qualquer outra vacina. O professor de epidemiologia da Universidade de Brasília (UnB) Mauro Sanchez ressalta que as reações críticas são raras e, as leves, tratáveis e registradas em uma parcela muito pequena da população. “Os sintomas graves podem afetar os sistemas imunológico, cardíaco, vascular e respiratório, entre outros, causando arritmia e encefalite, por exemplo. Porém, reforço que são raros e não invalidam a segurança das vacinas, uma vez que foram aprovadas pela Anvisa (Agência de Vigilância Sanitária)”, completa.
 
Mesmo assim, tanto a Vigilância em Saúde quanto os pesquisadores reforçam a necessidade de a população informar às equipes de vacinação sobre qualquer reação, por mais branda que seja. Isso deve ser feito no local onde a pessoa recebeu a dose, e é importante para o monitoramento da segurança da vacina. “O procedimento faz parte da rotina da farmacovigilância e garante a continuidade da aplicação do imunizante no país”, explica Sanchez.
 
Acamado em home care, o morador do Guará André Silva Júnior, 60 anos, recebeu a primeira dose da vacina contra a covid-19 em 27 de janeiro. Ele relata que sentiu algumas reações após a aplicação. “Tive moleza e sono ao longo daquele dia. Também fiquei com a boca amarga. Mas passou pouco tempo depois”, conta. “Vou esperar a segunda dose para ver se melhora o comportamento do corpo em relação à vacina. Mas me sinto muito melhor hoje”, acrescenta André.
Cuidadora do idoso há dois anos, Verônica de Araújo Ramos, 39, teve sintomas parecidos. “Optaram por me vacinar, porque saio muito de casa e sempre estou exposta ao vírus. Senti um calor estranho no corpo, e senti moleza. Era como se fosse um calafrio. Tanto que o André suava de frio. O estranho é que a gente aferiu a nossa temperatura, que mostrou 35,6ºC, então não tivemos febre. Senti falta de apetite também. Mas, os nossos sintomas duraram dois dias após tomar a vacina”, lembra a moradora do Recanto das Emas.
 
Investigação
 
Todos os casos que chegarem ao conhecimento do governo serão investigados para comprovar se, realmente, têm relação com o evento adverso pós-vacinação (EAPV). Adriana Veras, 49 anos, é profissional de saúde e relata que, cinco dias após receber o imunizante contra a covid-19, começou a apresentar alguns sintomas leves. “Meu corpo ficou mole, senti dor de cabeça, cansaço e coriza. Durou um dia só, depois fiquei bem”, detalha.
 
Moradora de Águas Claras, ela não foi infectada pelo novo coronavírus e garante que vai tomar a segunda dose da vacina, marcada para 24 de fevereiro, apesar da reação adversa que surgiu na primeira aplicação. “São sintomas comuns e que podem aparecer após a vacinação. Continua sendo muito importante se vacinar. É uma forte frente de combate ao vírus”, ressalta Adriana.
 
O infectologista Alexandre Cunha contraiu a covid-19. Os sintomas duraram 10 dias. Depois que tomou a vacina, sentiu uma dor no local (Arquivo pessoal
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O infectologista Alexandre Cunha contraiu a covid-19. Os sintomas duraram 10 dias. Depois que tomou a vacina, sentiu uma dor no local
 
 
Corrida contra o tempo
 
Vice-presidente da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal, Alexandre teve covid-19 em abril do ano passado e está entre os profissionais de saúde imunizados no começo deste ano. A dor no local da vacina durou três dias. Já os sintomas da covid-19, persistiram por cerca de 10 dias. “Tive febre alta, dor no corpo, queda de saturação e tosse. Mas, me recuperei sem sequelas”, conta.
 
Alexandre, alerta que, quanto mais rápido o governo promover a vacinação em massa, mais cedo conseguiremos interromper a cadeia de transmissão do vírus. “O efeito transcende o indivíduo vacinado. Ele protege a si e deixa de ser vetor para outras pessoas. Assim, acaba protegendo quem ainda não recebeu a dose”, explica o infectologista.
 
Como paciente e especialista em doenças infecciosas, ele ressalta a segurança dos imunizantes contra a covid-19 e explica que, nenhum deles é produzido a partir do vírus vivo, como são os casos das vacinas para a febre amarela e sarampo. Por isso a população pode ficar tranquila pois, os efeitos colaterais são poucos e perfeitamente esperados. “São um sinal de que o sistema imunológico do organismo está respondendo à vacina, produzindo anticorpos, que é o que se busca”, pondera Alexandre.
 
Na avaliação dele, o problema é que o governo brasileiro atrasou as tratativas para a compra das vacinas, e faltam doses para imunizar até mesmo os grupos prioritários. Nos países onde a imunização contra o novo coronavírus está avançada, os números de contágio e de mortes caíram rapidamente. “Temos o exemplo de Israel. Lá, eles já tiveram redução de casos num período bem curto, de duas semanas após o início da vacinação”, cita.
 
André Silva Júnior, 60 anos, sentiu alguns sintomas após receber a vacina, mas que passou logo.  
André Silva Júnior, 60 anos, sentiu alguns sintomas após receber a vacina, mas que passou logo. "Tive moleza e sono ao longo daquele dia."
Reforço
 
O início da aplicação da segunda dose da vacina CoronaVac contra a covid-19 terá início na próxima segunda-feira para os profissionais de saúde que atuam na linha de frente e demais pessoas que fazem parte do primeiro grupo prioritário.
 
As doses estão reservadas na rede de frio central do Distrito Federal, por isso, há a garantia de que todos vão receber. O próximo grupo etário a receber as vacinas será o dos idosos entre 75 e 79 anos, no entanto, não há uma data definida para início da aplicação.
 
4,6 mil mortos
Nas últimas 24 horas, o Distrito Federal registrou 624 novos casos e nove óbitos pela covid-19. No total, são 280.026 registros da doença e 4,6 mil mortes. Os dados são da Secretaria de Saúde. A média móvel de casos registrou queda de 20,6% em relação aos últimos 14 dias e chegou a 620.
 
Saiba mais
Efeitos comuns
 
Febre, dor e/ou vermelhidão no local da aplicação e dor de cabeça são efeitos comuns e esperados em qualquer tipo de vacinação. Eles mostram que o corpo recebeu o antígeno ou o vírus inativado e está reagindo a ele, criando os anticorpos. Podem e devem ser tratadas com remédios simples e focados nos sintomas apresentados.

Correio Braziliense sexta, 05 de fevereiro de 2021

45 MIL IDOSO VACINADOS NO DF

Jornal Impresso

45 mil idosos vacinados no DF
 
Em quatro dias da campanha de imunização contra a covid-19 para a população com mais de 80 anos, a Secretaria de Saúde ultrapassou a meta estimada de públic, calculada, inicialmente, em 42 mil pessoas. Atendidos incluem moradores do Distrito Federal e de fora

 

SAMARA SCHWINGEL

Publicação: 05/02/2021 04:00

No Cruzeiro Velho, início da aplicação dos imunizantes começou com 30 minutos de atraso; interessados tiveram de esperar em filas ou voltar para casa (Ed Alves/CB/D.A Press)  
No Cruzeiro Velho, início da aplicação dos imunizantes começou com 30 minutos de atraso; interessados tiveram de esperar em filas ou voltar para casa


Quatro dias depois do início da vacinação contra a covid-19 na população com mais de 80 anos no Distrito Federal, cerca de 45 mil pessoas dessa faixa etária receberam a primeira dose de imunizantes contra o novo coronavírus. A quantidade é superior à estimada pela Secretaria de Saúde (SES-DF) quando começou a imunização. No entanto, esse total inclui pessoas que não moram na capital federal, como a população de cidades do Entorno ou de outras regiões do país (leia Para saber mais).

Nesse período de atendimento, enquanto alguns pontos registraram filas, falta de vacinas e atraso na chegada de doses, outros tiveram imunizantes de sobra e nenhum idoso à espera. Foi o que a equipe do Correio flagrou nas unidades básicas de saúde (UBSs) da 114/115 Norte e da 612 Sul; nos drive-thrus do Pontão do Lago Sul e de Águas Claras; e no ponto de vacinação instalado em um ginásio no Paranoá. Apesar de a discrepância entre os postos preocupar especialistas, a SES-DF reiterou não haver risco de perdas de doses. As que sobram, segundo a pasta, são remanejadas para áreas com maior demanda ou voltam para a Rede de Frio Central.

No Paranoá, cerca de 80% dos idosos da região administrativa receberam a primeira dose, segundo estimativa da coordenação do ponto de atendimento. Na tarde de ontem, o cenário era semelhante no drive-thru do Pontão: depois de a equipe aplicar cerca de 200 doses pela manhã, às 13h, o movimento ficou mais devagar. Por volta desse horário, ainda havia cerca de 180 doses da CoronaVac disponíveis (leia Diferenças).

Maria Célia da Silva, 83 anos, foi uma das poucas pessoas que passou pelo Pontão enquanto a reportagem estava no local, na tarde de ontem. Moradora da Asa Sul, ela preferiu ir a um drive-thru, por medo de filas e aglomerações. “Fui informada de que o local estava mais tranquilo, sem filas e que tinha doses. Além disso, há menos risco de exposição. Por isso, preferi me deslocar do que ir a uma UBS perto de casa”, contou Maria Célia. A aplicação do imunizante durou menos de um minuto.

Ontem, a Secretaria de Saúde inaugurou um novo ponto de vacinação contra a covid-19 por drive-thru. O posto fica na entrada do shopping Iguatemi, no Lago Norte. A medida visa otimizar a imunização. Com a atualização, o total de locais com atendimento nesse modelo no DF subiu para 12.

Demora
No Cruzeiro Velho, a situação foi outra. O início da vacinação passou de meia hora, pois o estoque da unidade de saúde estava zerado, e a chegada de mais imunizantes atrasou. Enquanto isso não acontecia, os idosos tiveram de voltar para casa ou esperar o reabastecimento. Morador do Cruzeiro Novo, Sebastião Cairos de Andrade, 81, reclamou do tempo que ficou na fila. “É uma esperança resolver o problema do novo coronavírus, que é essa pandemia terrível. Mas demoraram muito para entregar as doses aqui”, lamentou.

Para o infectologista do Hospital das Forças Armadas (HFA) Hemerson Luz, o cenário demonstra falta de organização. “Seria preciso ter uma noção de quantas pessoas foram vacinadas em cada região e, assim, distribuir mais corretamente as doses. Desse jeito, as vacinas de Oxford, por exemplo, correm o risco de serem desperdiçadas, uma vez que a aplicação precisa ocorrer em até seis horas”, ressalta. Ele reforça que as pessoas devem se vacinar em locais próximos de onde moram, porque isso facilita o planejamento e a distribuição correta das doses pela SES-DF. “Evita que um local fique sobrecarregado e que outro tenha baixa demanda”, completa Hemerson.

Ontem, a juíza titular da Vara de Execuções Penais (VEP), Leila Cury, solicitou à Secretaria de Saúde a vacinação imediata contra a covid-19 de todos os internos do Sistema Penitenciário do Distrito Federal. Inclusive aqueles com mais de 80 anos.

Remanejamento
A Secretaria de Saúde informou que está ciente da diferença de cenários encontrados nos pontos de vacinação pela cidade. Isso ocorre, segundo a pasta, porque, em algumas regiões, toda a população com mais de 80 anos foi vacinada. Além disso, um comunicado técnico do Ministério da Saúde detalha que, tanto a Covishield — da Oxford/AstraZeneca — quanto a CoronaVac contêm, em um frasco, quantidade suficiente para 10 doses. Após abertas, elas precisam ser aplicadas em até seis ou oito horas, respectivamente. Caso o prazo esteja perto de vencer, a orientação, segundo o documento do órgão federal, é de que se otimizem as doses disponíveis em frascos abertos, direcionando-as para outras pessoas pertencentes aos grupos prioritários do plano de imunização contra a covid-19.

Infectologista do Hospital de Base, Magali Meirelles comenta que, pelo fato de a vacina ser um produto perecível em temperatura ambiente, quanto antes ocorrer a aplicação da dose após abertura do frasco, melhor. “Isso garante a eficácia e a segurança do procedimento. É necessário respeitar o tempo limite de horas das vacinas em questão”, reforça Magali.

Colaboraram Ana Isabel Mansur, Darcianne Diogo e Pedro Marra




Para saber mais

Rede

A vacinação no país ocorre por meio de um programa nacional, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). Sendo assim, no Distrito Federal, não há distinção ou restrições para atendimento de pessoas que não morem no DF.



Boletim
O Distrito Federal acumula 279.402 casos de covid-19 e 4.591 vítimas da doença. Ontem, a Secretaria de Saúde (SES-DF) registrou mais 430 pacientes infectados pelo novo coronavírus e nove mortes. A média móvel de casos ficou em 685, 6,1% a menos do que há duas semanas, em 21 de janeiro, enquanto a de óbitos fechou em 10,29 (28,6% a mais). Até ontem, 93.582 pessoas haviam recebido a primeira dose de imunizantes no DF. A quantidade representa 3,06% da população.

Correio Braziliense quinta, 04 de fevereiro de 2021

SERVIDORES DA SECRETARIA DE SAÚDE DO DF: MOVIDOS PELA MISSÃO DE AJUDAR

 

Jornal Impresso

Movidos pela missão de ajudar
 
Servidores da Secretaria de Saúde do DF começaram, ontem, a atuar como voluntários na campanha de vacinação contra a covid-19. Alguns deixaram as funções em setores de urgência para lidar com a atenção primária. Eles contam ao Correio detalhes sobre a nova experiência

 

» JÉSSICA MOURA
» DARCIANNE DIOGO

Publicação: 04/02/2021 04:00

Arthur (E) e Lizandra foram vacinados antes de começar a imunizar idosos contra a covid-19 (Ed Alves/CB/D.A Press)  
Arthur (E) e Lizandra foram vacinados antes de começar a imunizar idosos contra a covid-19


Arthur Oliveira, 26 anos, preparava-se para curtir as férias em Natal (RN) quando o celular dele vibrou, indicando a chegada de uma mensagem no WhatsApp. Era a coordenadora de residência em enfermagem da Escola Superior de Ciências da Saúde (Escs), Jaqueline Gomes. Em um grupo, ela sugeria aos participantes que se voluntariassem na campanha de vacinação contra a covid-19 do Distrito Federal. Àquela época, as aplicações das doses começariam em duas semanas.
 
Arthur não teve dúvidas: antecipou o fim do descanso e resolveu colocar o nome na lista de interessados. “Eu me senti na obrigação de participar. Fico feliz em poder ajudar e garantir a imunização da população”, conta o enfermeiro. O trabalho dos voluntários do DF começou ontem. A rotina dele é como a dos demais profissionais: chegam às 7h no posto de saúde para receber as primeiras orientações, são distribuídos pelos setores de atendimento e começam a organizar as filas dos que serão vacinados.
 
Arthur trabalhava em salas de cirurgia do Hospital Regional do Paranoá, onde atendia casos graves. Agora, vai se dedicar à atenção primária, na Unidade Básica de Saúde (UBS) nº 3 do Gama. “Aqui, o paciente está lúcido e consciente. No centro cirúrgico, ele chega morrendo de dor e entra para fazer o procedimento. A experiência que tive com atenção básica foi a da graduação em enfermagem”, acrescenta o jovem.
 
O grupo de voluntários não tem previsão de encerrar os trabalhos, pois a campanha de imunização não tem data para acabar. Por ora, o atendimento é só para os idosos com 80 anos ou mais. A abordagem, segundo Arthur, ocorre de maneira diferenciada. “Tenho de falar um pouco mais alto, porque muitos deles (idosos) têm problemas de audição. É preciso olhar no olho, perguntar se entendeu e ter um processo de comunicação mais efetivo”, detalha o enfermeiro.


Na nova função, Marlos Pires trabalha mais perto de casa, na UBS nº 5 do Gama (Ed Alves/CB/D.A Press)  
Na nova função, Marlos Pires trabalha mais perto de casa, na UBS nº 5 do Gama


Distribuição
 
Mesmo com touca, óculos de proteção, máscaras e capote verde-claro, é possível identificar os rostos dos jovens voluntários que trabalham nas UBSs para reforçar a vacinação. Lizandra de Sousa Costa, 26, atua na mesma unidade de saúde que o colega Arthur. Ela também estava habituada a outro ritmo, pois trabalhava no centro cirúrgico do Hospital de Base. Desde ontem, trocou os plantões no Plano Piloto para cumprir uma jornada de 60 horas semanais no Gama. “Fazemos de tudo: recebemos o paciente, preenchemos fichas, fazemos entrevistas por causa do controle de prioridades, preenchemos o cartão de vacinação e aplicamos as doses. Hoje (ontem), foi bem corrido, mas estamos em seis voluntários. Está dando para ajudar”, avalia Lizandra.
 
Antes de serem distribuídos entre os pontos de atendimento, os voluntários passam por capacitação na Rede de Frio da Secretaria de Saúde, onde ficam armazenadas as vacinas. Durante a manhã de ontem, o grupo se reuniu com gestores de saúde, para receber informações sobre a vacinação. “Falaram do processo desde o início: como começou a vacinação (no DF), onde começou, quem é a prioridade, quais as datas, as vacinas usadas, qual é o tempo até a segunda dose, quais as fichas que devem ser preenchidas”, detalha Lizandra.
 
O auge do encontro ficou para o fim. Depois de ouvirem toda a explicação, os voluntários receberam a primeira dose do imunizante contra a covid-19. “Eu queria muito (ser vacinada). Nunca tive medo da vacina. E quem aplicou foi uma amiga minha. Fiquei supertranquila. Ela recebeu o treinamento e me vacinou”, comemorou Lizandra.
 
Marlos Pires, 26, também é enfermeiro, residente, voluntário e, assim como Lizandra, recebeu a vacina. “Não doeu nada. Não tive qualquer reação. Fiquei muito emocionado por chegar minha vez”, disse o jovem. Até segunda-feira, ele trabalhava no Hospital Regional de Santa Maria. Agora, ele atua na UBS nº 5 do Gama. Para completar, desde que se ofereceu para ajudar na vacinação, o local de trabalho ficou mais perto de casa. “Moro na mesma região administrativa e venho a pé, porque é muito próximo”, completa Marlos.
 
Reconhecimento
 
Ana Cristina de Carvalho, 47, é dentista e servidora pública. Ela atua como técnica em saúde e faz parte da equipe designada para ajudar no enfrentamento da pandemia. A função é motivo de orgulho. Ana Cristina fica na UBS nº 1 da Asa Norte, sendo responsável pelo acolhimento inicial de pacientes com suspeita da covid-19. Ela costumava fazer a coleta de material biológico para submissão aos testes.
 
Agora, com a campanha de vacinação, a servidora faz a triagem e preenche a ficha cadastral de idosos. “Somos movidos pela coragem. Temos de ter a consciência de que estamos ali para prestar um serviço à comunidade. Fico feliz quando a ouvidoria recebe um agradecimento pelo nosso trabalho. Isso gera motivação e significa que temos sido úteis neste momento tão difícil. Os pacientes que nos procuram querem ser recebidos com um sorriso, com carinho e educação. Essa é nossa intenção”, destaca Ana Cristina.
 
A cirurgiã-dentista Tatiana Oliveira, 44, também integra o grupo designado para reforçar a equipe de combate à covid-19. Para ela, o trabalho voluntário é uma forma de servir à população. “Estamos atuando desde o começo da pandemia. Somos treinados para tomar os cuidados necessários e fazer os procedimentos com segurança”, conta Tatiana.
 
Como os responsáveis pela aplicação das doses são enfermeiros e técnicos de enfermagem, Tatiana fica responsável pelo preenchimento das fichas de pacientes. No entanto, a depender da demanda, ela também tem autorização para imunizar. “Na primeira semana, vacinamos os servidores da Secretaria de Saúde e, agora, são os idosos acima de 80 anos. Graças a Deus, tem havido muita procura, e estou feliz em participar desse momento histórico. Estamos com expectativa de que, à medida que a vacinação caminhar, a doença diminuirá mais e mais na comunidade”, acrescenta a dentista.


PARA SABER MAIS

Seleção
 
Na semana passada, a Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF) abriu processo para recrutar voluntários e reforçar as equipes de vacinação. 

Na segunda-feira, a pasta deu início à imunização de idosos com 80 anos ou mais em 40 salas de vacina e postos drive-thru. Com a alta demanda, alguns pontos registraram longas filas e demora nas aplicações. Profissionais da área administrativa da pasta começaram a ser deslocados para reforçar os atendimentos.

Até ontem, cerca de 550 servidores se inscreveram para trabalhar como voluntários na campanha. Ao término das atividades, eles receberão um certificado de participação. Cada ponto drive-thru conta, em média, com 15 profissionais da SES-DF, além de três voluntários e três administrativos. As unidades básicas de saúde dispõem das equipes existentes nas respectivas salas de vacina.

Correio Braziliense quarta, 03 de fevereiro de 2021

DF: TEMOS FACINAS PARA TODOS OS GRUPOS PRIORITÁRIOS

Jornal Impresso

TEMOS VACINAS PARA TODOS OS GRUPOS PRIORITÁRIOS
 
Entrevista Osnei Okumoto, secretário de SaúdeEm entrevista ao CB.Poder, chefe da pasta fez um panorama da vacinação contra a covid-19 no DF e afirmou que, tão logo as novas doses de imunizantes contra a doença cheguem à capital, o público prioritário será ampliado para idosos com mais de 75 anos

 

PEDRO MARRA

Publicação: 03/02/2021 04:00

 
"O segundo semestre será de muitas vacinas disponíveis. Então, tenho certeza de que a gente vai poder até antecipar para o fim de outubro a vacinação total aqui no Distrito Federal"

A Secretaria de Saúde deve vacinar a maior parte do público prioritário de mais de 80 anos no Distrito Federal até o fim desta semana. O prazo é bem menor do que o previsto inicialmente, de cerca de duas semanas, uma vez que a população está ansiosa para a imunização e lotou alguns dos pontos de vacinação da capital federal nos primeiros dois dias de aplicação das doses. Em entrevista ao CB.Poder — parceria entre o Correio Braziliense e a TV Brasília —, o secretário de Saúde do DF, Osnei Okumoto, comentou sobre a agilidade com que a campanha tem avançado e garantiu que, tão logo o novo lote de vacinas chegue, o público-alvo será ampliado para maiores de 75 anos.

“Pela previsão que o Ministério (da Saúde) nos passou, da chegada de mais de 60 mil doses, abriremos para o público acima de 75 anos, que vai girar em torno de 30 a 35 mil idosos nesta faixa etária. Aí, então, a gente guarda a segunda dose, para que não haja falta lá na frente de completar a imunização, como dizem as pesquisas clínicas dessas vacinas”, acrescentou o secretário, em entrevista ao jornalista Vicente Nunes, editor-executivo do Correio. A previsão é de que essas vacinas cheguem no sábado. O chefe da pasta destacou, ainda, que não há necessidade de corrida aos postos, nem de aglomerações, pois há doses para todos os grupos prioritários definidos pelo governo do DF até o momento.


Como controlar aglomerações e filas de espera nos postos de vacinação? E como receber pessoas vindo de fora do DF?
Todo mundo vir ao mesmo tempo não aconteceu estritamente no Distrito Federal. Aconteceu no mundo inteiro. Todos os locais que iniciaram as vacinações nos seus grupos etários tiveram filas. Logicamente, os países mais desenvolvidos terão uma melhor condição de fazer o atendimento. Aqui, estamos melhorando a capacidade de fazer esse atendimento, tanto é que começamos o drive-thru hoje (ontem), e estamos fazendo algumas alterações. Por exemplo: a pessoa que está aguardando no carro, já poderá preencher a ficha de identificação, e isso agilizará muito para o vacinador dar fluxo nessa fila.
 
Qual a diferença dessa vacinação da covid-19 em relação às demais?
Nas outras localidades, não existe essa correria intensa para se vacinar. É tudo muito mais tranquilo. Até falei para as nossas autoridades que o Brasil logo passaria todo mundo, quando começasse a chegar as vacinas às salas de vacinação do país inteiro, falei logo que vamos vacinar todo mundo, porque a capacidade que a gente tem de treinamento e de poder fazer isso é muito grande. Só que temos essa particularidade da pandemia do novo coronavírus, em que a ansiedade aumentou muito. Todo mundo quer se vacinar, e vai ter o direito à vacina. Acredito que, até o fim do ano, todos estarão vacinados aqui no Brasil.
 
Vacinado esse público de 42,3 mil idosos do DF acima de 80 anos, qual a perspectiva para os demais a partir 
de 75 anos?
Pela previsão que o Ministério nos passou, da chegada de mais de 60 mil doses, abriremos para o público acima de 75 anos, que vai gerar em torno de 30 a 35 mil idosos nesta faixa etária. Aí, então, a gente guarda a segunda dose, para que não haja falta lá na frente e se possa completar a imunização, como dizem as pesquisas clínicas dessas vacinas.
 
A previsão da chegada de novas doses, segundo o Ministério da Saúde, é para sábado. O senhor está confiante que essas novas doses cheguem logo?
O Ministério da Saúde tem cumprido com o cronograma de entrega e, dessa forma, procuraram, muitas vezes, antecipar as doses. Criam uma certa ansiedade na nossa equipe, porque trabalhamos sempre com organização. Aprendemos que, nesse primeiro instante, a gente pode melhorar o atendimento para diminuir aglomerações utilizando, às vezes, locais maiores, como ginásio de esportes, onde estive ontem (segunda-feira) à tarde. No Paranoá, das 13h às 14h40, praticamente já tinham encerrado a vacinação de todas as pessoas. Temos que analisar os problemas e procurar solucioná-los. Então, vamos buscar ambientes maiores, com mais cadeiras, para que as pessoas possam se sentar. O próximo público que a gente está planejando é menor, mas a gente tem a mesma sensação de que as pessoas vão correr no primeiro dia. No dia em que vamos vacinar de 75 a 79 anos, todo mundo vai correr para se vacinar. Então, vão ocorrer aglomerações, a mesma coisa. E, nos outros dias, com planejamento, não vai ter a mesma aglomeração e ansiedade.
 
A previsão é de que toda a população do DF seja vacinada ainda em 2021?
Na primeira reunião que o ministro Pazuello fez com os governadores, em que pude substituir o governador Ibaneis, ele fez uma previsão de entrega das vacinas no primeiro semestre e no segundo semestre. No segundo semestre, a produção vai ser muito maior mesmo. Com toda a certeza. Receberemos mais Insumos Farmacêuticos Ativos (IFAs) do mercado chinês. Aí, então, a produção será grande, tanto da AstraZeneca, como também da CoronaVac. O segundo semestre será de muitas vacinas disponíveis. Então, tenho certeza de que a gente vai poder até antecipar para o fim de outubro a vacinação total aqui no Distrito Federal.
 
Como o senhor analisa o anúncio, nessa terça-feira, da eficácia de 91% da vacina russa Sputnik, produzida aqui no DF?
O governador Ibaneis fez uma visita à fábrica da União Química. Eu o acompanhei e fiquei muito impressionado com a produção das IFAs aqui no Distrito Federal. Fiquei muito encantado com tudo o que eu vi, e principalmente com a questão do princípio da vacina que estão produzindo. Tenho certeza de que teremos sucesso também. O Programa Nacional de Imunização (PNI) fará a aquisição de todas as vacinas produzidas para o Brasil. Dessa forma, vão comprar e distribuir as vacinas igualmente para todo o país. Creio que receberemos também. É uma grande opção de vacinação que teremos aqui no Distrito Federal.
 
Com mais de 2% da população vacinada, o DF ocupa o primeiro lugar no ranking das unidades federativas que mais vacinaram no país, segundo levantamento do portal covid-19 no Brasil. Como o senhor explica essa liderança?
O Mato Grosso do Sul (com 1,57%) tinha nos passado — no sábado —, mas porque muitas pessoas deixaram de se vacinar na quinta e sexta-feira, esperando trocar a vacina de uma marca para a outra, e isso complicou (o planejamento) porque o grupo prioritário da Saúde se acumulou com os idosos de mais de 80 anos. Hoje (ontem), houve uma aglomeração maior em decorrência disso. Mas voltamos a ser primeiros novamente.
 
Esse desempenho melhor atrai um público de fora para o Distrito Federal?
Não é só no Entorno. Vem gente de outros locais, de outras unidades da Federação, que têm parentes aqui no DF. O SUS é universal, então as pessoas que procurarem as nossas salas de vacinação serão atendidas, como em qualquer local do país. Isso que o governador Ibaneis preza sempre. O público idoso, muitas vezes, é aposentado e fica na própria residência, diferentemente do que ocorre em outras vacinações. No Entorno, você tem 1 milhão de pessoas que trabalham no Distrito Federal. Então, essas pessoas vêm trabalhar e já fazem a vacinação. O idoso, como fica em casa, tem que ser trazido pelos familiares. Isso acontece.
 
Quem não teve tempo de ir se vacinar nos pontos de drive-thru, como faz para receber a dose?
A gente continua com a vacinação, mas o grande número de pessoas a serem vacinadas acima de 80 anos estará praticamente vacinado. Terá um pequeno número de pessoas, os remanescentes, que serão devidamente atendidos. De acordo com o levantamento dos resultados que estivermos fazendo, não será necessário que mantenhamos todos os drive-thru funcionando. É importante que a gente mantenha a nossa estrutura dentro das salas de vacinação. Se houver uma pequena quantidade de pessoas para serem atendidas, poderão ser atendidas nas nossas UBSs (Unidades Básicas de Saúde). Creio que pode ficar um drive-thru funcionando para a nossa população, mas depende do resultado de hoje (ontem).
 
O governo federal falhou na estruturação das vacinas?
Quando você vai fazer a aquisição de uma vacina, você necessita muito da aprovação da vacina ou de outros institutos do mundo que dão essa possibilidade. Depois, precisa-se averiguar todas as documentações que vêm, porque as pesquisas clínicas dessas vacinas são necessárias para elas serem entregues e para haver autorização de emergência para a utilização. São tantas variáveis que acontecem nesse caminho, e a mais importante, além da eficácia e da segurança da vacina, tem a economicidade. Você tem que saber que está comprando uma vacina viável, dentro das regras dos nossos órgãos de controle. Essas variáveis determinam que as vacinas possam chegar em tal data ou um pouco depois. Eu preferia que não houvesse (politização da vacina), que a gente tivesse uma visão técnica e pudesse ter as vacinas disponíveis para atender a população.
 
A iniciativa privada pode dar suporte à Secretaria de Saúde para complementar o processo de imunização?
Na última reunião do Conselho Nacional de Secretários (Conas), a gente recebeu a informação que 33 milhões de doses estariam sendo adquiridas pelo setor privado. Não vejo qualquer tipo de empecilho, desde que o Sistema Único de Saúde (SUS) tenha as vacinas disponíveis também.
 
O agendamento da vacinação não seria a melhor opção para evitar aglomerações e longas filas de espera nos postos?
A gente teve outras experiências, que não foram favoráveis para o agendamento, porque as pessoas realmente procuraram o atendimento de uma maneira geral. Falo que é muito difícil quando uma pessoa está numa fila, não é a vez dela, e diz que não sai daqui enquanto não for vacinada. Isso é muito comum. Então, procuramos abrir a sala e falar às pessoas que temos duas semanas para vacinar. Aconteceu que vamos fazer antes do fim da primeira semana. Nada impede que a gente possa pensar em agendamento futuramente. Como disse, existem duas faixas etárias, a de 30 anos e de 60 a 74 anos, essa que vai demandar uma atenção maior nossa.
 
Há um cronograma para vacinar os próximos grupos?
Existe um para os de 70 a 75 anos, que já são 60 mil pessoas. Vai aumentando à medida que vai diminuindo a idade. Depois, temos os planejamentos anteriores, de pessoas com comorbidades. Quando a gente fala em comorbidades também, observamos que o pessoal acima de 70 anos é o que perfaz a maior quantidade de pessoas com comorbidades no país. Depois, temos as comorbidades do pessoal de 50, 60 anos, pessoas que têm doenças crônicas e são mais jovens. Todos esses serão atendidos nessa fase depois do público de 60 anos. As pessoas que são atendidas pelo SUS, temos dentro do nosso sistema as comorbidades que elas apresentam. As pessoas atendidas em particular ou por convênios, deverão apresentar um relatório médico para que a gente possa avaliar e poder vaciná-las.
 
Como o senhor avalia a situação da pandemia no DF, diante até de lockdown em outros estados, como o Acre?
Estamos em uma situação bem favorável no DF. Ontem, falando com o secretário-adjunto de Assistência à Saúde, Petrus Sanchez, ele me disse que estava desmantelando alguns leitos de UTI para covid-19 para transformá-los em não covid-19, para pacientes que têm outras necessidades, com outras doenças graves que necessitam de internação de UTI. Muitas vezes, querem trazer pacientes do Norte para o Distrito Federal, como foram alguns para o HUB (Hospital Universitário de Brasília), mas temos que atender os nossos pacientes com covid-19. Estamos em uma situação de transmissão. Em decorrência de tudo o que conversamos, peço tranquilidade às pessoas. Temos vacinas para atender os grupos prioritários. Só vamos abrir mais um grupo prioritário quando a gente tiver a vacina no número certo. Confiem, que a vacinação vai ser muito importante, efetiva e segura. Continuem usando máscara, lavando as mãos, utilizando álcool em gel e evitando aglomerações.

Correio Braziliense terça, 02 de fevereiro de 2021

CONGRESSO NACIONAL: ENTRE TRISTEZA E ALEGRIA NA SAÍDA

Jornal Impresso

Entre tristeza e alegria na saída

 

ROSANA HESSEL

Publicação: 02/02/2021 04:00

Rodrigo Maia sai em baixa do cargo; Davi Alcolumbre comemora vitória (Marcelo Camargo/Agência Brasil)  
Rodrigo Maia sai em baixa do cargo; Davi Alcolumbre comemora vitória


Apesar de serem do mesmo partido, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Davi Alcolumbre (DEM-AP), ex-presidentes da Câmara e do Senado, respectivamente, acabaram ficando em lados opostos nas eleições no Congresso e tiveram desempenhos bem diferenciados.

Maia sai como o grande perdedor e menor, politicamente, por não conseguir emplacar um sucessor no comando da Câmara. Como botafoguense, o democrata fluminense está como o seu time de futebol, saindo da Série A do Brasileirão para jogar na segunda divisão e, dependendo do desempenho político ao longo deste ano, pode continuar rebaixado. Alcolumbre, por sua vez, saiu como o grande vencedor dos pleitos no Congresso — ao eleger o sucessor, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), com ampla vitória — e mostrou ser um articulador melhor do que o parlamentar da mesma legenda. Ele surge como o principal candidato para presidir a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa, de acordo com analistas.

“Alcolumbre sai muito bem relacionado com seus pares e como uma voz importante no Senado e, talvez, até pleiteando algum espaço no governo”, avaliou o cientista político Carlos Melo, professor do Insper. Já Maia está em uma situação completamente diferente. Na opinião dele, a divisão interna do DEM para apoiar Arthur Lira (PP-AL), em vez de Baleia Rossi (MDB-SP) à Presidência da Câmara, atingiu em cheio as pretensões futuras do deputado. “Isso abalou muito Maia como uma liderança que circularia da centro-direita para a centro-esquerda, capaz de articular uma frente em 2022, mesmo que ele não seja a cabeça da chapa, mas um patrocinador”, destacou. “Mas, a política é assim. Cada dia tem sua agonia e, aí, o desafio dele para tentar se reconstruir e se reinventar.”

Apesar de ter recebido mais de 60 pedidos de impeachment contra o presidente Jair Bolsonaro, Maia, para muitos, não teve a mesma coragem de seu antecessor, Eduardo Cunha, para abrir um processo e será lembrado como “covarde”, como escreveu, ontem, o expoente da nova esquerda Guilherme Boulos (PSol-SP). Apesar de ameaçar desengavetar uma ou todas as denúncias que recebeu contra o chefe do Planalto, em reunião do DEM na véspera, o parlamentar optou por não deferir os pedidos.

Como mostrou o Blog da Denise, do Correio, o destino de Maia ainda é incerto, mas ele pode até montar um partido. Ele está entre o Cidadania e o PSDB e, se possível, uma nova legenda, que reúna todos aqueles de centro que não querem seguir com Bolsonaro em 2022. A amigos, o deputado disse que a decisão estava tomada e “não é coisa de quem está de cabeça quente”. Ele é amigo de Luciano Huck há mais de 20 anos, informou o Blog. A perspectiva é de que, juntos, comecem a construir algo novo, rumo a 2022, e o problema para uma legenda é o tempo para a coleta de assinaturas.

Correio Braziliense segunda, 01 de fevereiro de 2021

HORA DE VACINAR

Jornal Impresso

Hora de vacinar
 
Hoje, às 13h, começa a imunização contra a covid-19 para idosos com mais de 80 anos. Interlocutores da Secretaria de Saúde anteciparam ao Correio que a pasta instalará dois postos de atendimento drive-thru, a partir de amanhã, no Parque da Cidade e no Pontão do Lago Sul

 

SAMARA SCHWINGEL

Publicação: 01/02/2021 04:00

Aos 90 anos, Tercília Martins está ansiosa para receber o imunizante; com ajuda da neta, ela pretende receber a primeira dose à tarde
 (Ana Rayssa/CB/D.A Press
)  
Aos 90 anos, Tercília Martins está ansiosa para receber o imunizante; com ajuda da neta, ela pretende receber a primeira dose à tarde
 
“É uma esperança de melhora para todos nós”, diz Tercília Martins, 90 anos, moradora do Guará 2. Ela é uma das mais de 42 mil pessoas com mais de 80 anos que moram no Distrito Federal e poderão se vacinar contra a covid-19 a partir das 13h de hoje. A Secretaria de Saúde (SES-DF) criou 36 pontos para aplicação dos imunizantes, sendo 30 unidades básicas de saúde (UBSs) e seis locais como ginásios ou escolas (leia Pontos de vacinação). A partir de amanhã, também haverá atendimento por meio de drive-thrus, inicialmente, no Parque da Cidade e no Pontão do Lago Sul.
 
Os idosos estão ansiosos para receber a vacina, mas mesmo após a imunização, deverão manter os que cuidados sanitários, pois a pandemia não acabou. “Eu estava muito ansiosa para que a vacina chegasse logo”, conta Tercília. Com a ajuda da neta, Bárbara Martins, 22, ela irá a um dos postos de atendimento na tarde de hoje. Para Tercília, que não sai de casa desde o início da crise sanitária, as doses são essenciais para combater o novo coronavírus. “É um passo para que possamos viver mais tranquilos, com um pouco mais segurança ou, pelo menos, com menos perigo”, opina.
 
Ivo de Meira Lima, 93, está animado para receber a vacina. Morador da Asa Norte, ela afirma que mal pode esperar para tomar a primeira dose e que respeitará todas as orientações de segurança ao sair de casa para ir a uma UBS. “A única certeza que tenho, neste momento, é de que quero me imunizar. E quero logo”, ressalta. “Não saio de casa desde março. Para mim, a saúde é coisa muito valiosa e, mesmo depois de vacinado, vou continuar me cuidando. Nunca sabemos como o futuro será”, completa Ivo.
 
Apesar da empolgação, a infectologista Valéria Paes, da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal, reforça que é preciso ter cuidado durante o processo, pois pessoas com mais de 80 anos fazem parte do grupo de risco da covid-19. Profissionais de saúde envolvidos na vacinação, a SES-DF, os acompanhantes e os próprios idosos devem ficar atentos. “É preciso ter uma preparação por parte dos serviços que vão receber esse público, com organização e velocidade no atendimento, além de preparo, para que os casos suspeitos da covid-19 não cruzem com essas pessoas”, ressalta Valéria.
 
Para amigos e familiares que acompanharem os idosos durante o atendimento, a recomendação é que continuem a seguir todas as orientações de combate ao novo coronavírus: “Vá de máscara, mantenha o distanciamento social e higienize as mãos frequentemente”, completa a médica, que considera possível executar o processo de vacinação com segurança e eficácia. “Tendo a colaboração das partes envolvidas, temos tudo para realizar uma campanha segura para esse público”, completa a infectologista.
 
Aglomeração
Santa Terezinha de Nevez, 85, moradora da Octogonal, pretende receber hoje a primeira dose do imunizante contra a covid-19. A idosa não vai a lugares públicos desde que a pandemia começou e diz estar ansiosa para ser vacinada. “Por causa da idade, vou tomar todos os cuidados, mesmo após a vacina”, reforça. Os hábitos de higiene ao chegar em casa permanecerão os mesmos, inclusive com a separação de roupas usadas na rua. “Só sei que estou muito animada com a vacina”, comemora Santa Terezinha.
 
Ontem, o Ministério Público do Distrito (MPDFT) e o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) pediram à Secretaria de Saúde que amplie os pontos de atendimento e que informe as medidas tomadas para evitar aglomeração nesses locais. A pasta informou ao Correio que todas as UBSs da lista contam com fluxo de atendimento ajustado para evitar superlotação. Além disso, comunicou que haverá espaço de 1,5 metro entre os idosos, que serão organizados pelos servidores das unidades.
 
A secretaria acrescentou que não faltarão doses e que todas as pessoas com mais de 80 anos serão vacinadas ao longo dos próximos dias. A pasta aguarda, ainda, o recebimento de mais unidades de imunizantes, entre amanhã e quarta-feira, para ampliar a vacinação.
 
A infectologista Joana D’Arc Gonçalves lembra que o fato de a mortalidade entre pessoas com mais de 80 anos ser mais alta torna a vacina essencial para o combate à pandemia. Dos mais de 4,2 mil idosos contaminados, 1.170 não resistiram à covid-19. “É um grupo extremamente vulnerável e que precisa, sim, ser imunizado o quanto antes. Porém, sempre tomando os cuidados e lembrando que não há necessidade de se aglomerar para receber a dose”, observa Joana.
 
A médica salienta que, mesmo após a vacinação, os idosos e toda a população deverão continuar seguindo as medidas de segurança sanitária. “O vírus ainda circula, e as vacinas disponíveis só têm eficácia após a segunda dose. Este é um momento crítico, durante o qual precisamos continuar nos protegendo. Não podemos relaxar. Ainda estamos longe de atingir a imunidade coletiva”, alerta.
 
Tira-dúvidas
 
Quem pode se vacinar?
• Pessoas com 80 anos completos ou mais. Quem ainda tem 79 anos não poderá receber a dose neste momento e deve aguardar a ampliação da vacinação.
 
Onde posso me vacinar?
• Em qualquer um dos postos listados (leia Pontos de vacinação), a partir das 13h. De amanhã em diante, o horário de atendimento será das 8h às 17h, sem intervalo durante o almoço, e de segunda a sexta-feira.
 
O que preciso levar?
• Documento com foto e, de preferência, com número do Cadastro de Pessoa Física (CPF) no mesmo registro. Se não tiver, leve os dois. Não é necessário preencher nenhum cadastro prévio.
 
Posso agendar a vacinação?
• Não. A Secretaria de Saúde não trabalha com agendamento ou reserva de vacinas. A oferta de qualquer serviço desse tipo pode ser considerada golpe e deve ser denunciada à Polícia Civil, pelos telefones 197, 3207-4892 ou pelo WhatsApp: 61 986-281-197.
 
Haverá pontos drive-thru?
• Sim. Porém, só a partir de amanhã e, inicialmente, em dois pontos: Pontão do Lago Sul e no Parque da Cidade. Ao longo dos dias, mais regiões poderão contar com esse serviço.
 
E se eu não conseguir ir hoje?
• Não tem problema. A vacinação de pessoas com mais de 80 anos não tem data para acabar.
 
Qual vacina vou receber? 
• Atualmente, o DF conta com dois tipos de imunizantes: a CoronaVac, vacina chinesa produzida pela farmacêutica Sinovac em parceria com o Instituto Butantan (SP), e a Covishield, do laboratório sueco-britânico AstraZeneca, desenvolvida pela Universidade de Oxford e pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). As duas são distribuídas nas unidades de saúde, sem distinção.
 
E quem não pode se deslocar até o ponto de atendimento?
• Os casos mais graves estão sendo atendidos em casa. Idosos acamados cadastrados junto ao Núcleo de Atenção Domiciliar (Nrad) da Secretaria de Saúde serão visitados pelas equipes de saúde que os acompanham regularmente. Caso alguém acima de 80 anos esteja impossibilitado de sair de casa por motivos de saúde e não esteja cadastrado nesse sistema, é preciso que um responsável vá até o ponto de vacinação mais próximo e informe aos servidores que tem um idoso em casa que não pode se deslocar até o posto. As equipes anotarão o contato do responsável e, apenas neste caso, agendarão a vacinação em domicílio.
 
Quando tomo a segunda dose? 
• Após a primeira, os idosos receberão um cartão com a marca da vacina que tomaram e a data de aplicação da segunda dose. A pessoa deve retornar ao posto na data marcada.
 
Já teve covid-19. Posso me vacinar?
• Sim. Não há restrições da Secretaria de Saúde do DF para pacientes que tiveram covid-19.
 
Profissionais convocados
A Secretaria de Saúde vai recrutar funcionários da pasta interessados em trabalhar como voluntários no processo de aplicação das vacinas contra a covid-19. Para se inscrever, basta acessar bit.ly/3cAmJPY. Em caso de dúvida sobre o treinamento, os interessados podem enviar e-mail para vacinacaosesdf@gmail.com. A inscrição está aberta para médicos, enfermeiros, especialistas em saúde, cirurgiões dentistas, além de técnicos administrativos, em enfermagem ou de contabilidade e auxiliares de saúde. A participação vale apenas para servidores ativos e, para participar, é necessário informar lotação, cargo, contato e disponibilidade. O prazo para se cadastrar termina na quinta-feira. Os inscritos receberão certificado.
 
 
Balanço de casos
Entre sábado e domingo, o Distrito Federal teve confirmação de mais 538 casos de covid-19 e nove mortes provocadas pela doença. Até as 17h de ontem, o novo coronavírus havia infectado 277.110 pessoas no DF e deixado 4.554 vítimas. Os dados são da Secretaria de Saúde. Ontem, a média móvel de casos ficou em 990 — quantidade 16,7% maior que no domingo anterior, e a de mortes, em 11,14 (18,2% a mais). Até as 20h da última sexta-feira, 44.315 pessoas haviam sido vacinadas na capital federal. Os números serão atualizados hoje.
 
 (Jhonatan Vieira/Esp. CB/D.A Press - 28/1/16)  
 
O samba agradece 
 
A vacinação do sambista Nelson Sargento, no Rio de Janeiro, emocionou o país da música, assim como deve acontecer em Brasília, com a imunização de uma das figuras mais ilustres do samba candango, o cantor e compositor Carlos Elias (foto). Amigo de Cartola e de Nelson Cavaquinho, entre outros, Carlos Elias, 86, estava otimista ao falar por telefone com a reportagem. “Vou me vacinar, sim. É nesta semana”, disse. João Carlos, 45, um dos filhos do artista, deve levá-lo amanhã para receber a primeira dose. “Primeiro, vamos pesquisar qual posto de vacinação está menos aglomerado. É um momento muito simbólico, faço questão de levar meu pai. A imunização é a única solução contra essa doença”, completou João.
 
  Pontos de vacinação
 
Confira os 36 locais onde pessoas com mais de 80 anos poderão se vacinar contra a covid-19 no DF, a partir das 13h:
 
Asa Norte
UBS nº 2 Asa Norte, EQN 114/115, Área Especial
 
Asa Sul
UBS nº 1 Asa Sul, SGAS 612, Lotes 38/39, L2 Sul
 
Brazlândia
UBS nº 1 Brazlândia, EQ 6/8, Lote 3, Setor Norte
 
Candangolândia
UBS nº 1 Candangolândia, EQR 5/7, Área Especial 1
 
Ceilândia
UBS nº 5 Ceilândia, QNM 16, Módulo F, Ceilândia Norte
UBS nº 7 Ceilândia, EQNO 10, AE D/E, Setor O
UBS nº 16 Ceilândia, SHSN, Trecho 1, Etapa 1, Qd. 500, AE 2
UBS nº 17 Ceilândia, QNP 16/20, Setor P Sul
 
Cruzeiro
UBS nº 2, Setor Escolar, Lote 4, Cruzeiro Velho
 
Gama
UBS nº 1 Gama, Entrequadra 6/12, Área Especial, Setor Sul
UBS nº 3 Gama, E/Q 3/5, Área Especial, Setor Leste
UBS nº 5 Gama, Área Especial, Lote 38, Setor Central, Lado Leste
 
Guará
UBS nº 1 Guará, QE 6, Lote C, Área especial S/N, Guará 1
UBS nº 2 Guará, QE 23, Lote C, Área Especial S/N, Guará 2
UBS nº 3 Guará, QE 38, Área Especial S/N, Guará 2
UBS nº 4 Guará, QELC, EQ 2/3, Conjunto Lucio Costa
 
Itapoã
Quadra Poliesportiva do Itapoã (ao lado da UBS 2 Itapoã), Quadra 61, Área Especial Del Lago
 
Núcleo Bandeirante
UBS nº 1 Núcleo Bandeirante, 3ª Avenida, Área Especial nº 3
 
Lago Norte
UBS nº 1 Lago Norte, SHIN, QI 3, Área Especial
 
Lago Sul
Policlínica Lago Sul, Setor de Habitações Individuais Sul, QI 21
 
Paranoá
Quadra coberta ao lado da Administração Regional do Paranoá, Praça Central S/N, Lt. 1
 
Planaltina
Jardim de Infância Casa da Vivência Avenida, NS01, Área Especial 9, SRL Planaltina
UBS nº 5 Planaltina, Quadra 12 D, Conjunto A, Área Especial, Arapoanga
 
Riacho Fundo
UBS nº 1 Riacho Fundo 1, QN 9, Área Especial 11
 
Riacho Fundo 2
QC 1, Conjunto 10, Lote 1, Riacho Fundo 2
UBS nº 1 Riacho Fundo 2, QC 6, Conjunto 16, Área Especial, Lote 1
UBS nº 2 Riacho Fundo 2
 
Samambaia
UBS nº 2 Samambaia, QS 611, AE 2
 
Santa Maria
Colégio Paloma, QR 207/307, Conjunto T, Área Especial
UBS nº 2, Santa Maria, EQ 217/317, Área Especial, Lote E
 
São Sebastião
Caic Unesco, Quadra 5, Conjunto A, Área Especial, Centro
 
SCIA/Estrutural
UBS nº 1 Estrutural, AE 1, Setor Central
 
Sobradinho
UBS nº 1 Sobradinho, Quadra 14, Área Especial 22/23
UBS nº 2 Sobradinho
 
Sobradinho 2
Rodovia DF-420, Complexo de Saúde, Setor de Mansões ao lado da UPA de Sobradinho
 
Taguatinga
UBS nº 1 Taguatinga, QNG, AE 18/19
UBS nº 5 Taguatinga, Setor D Sul, AE 23

Correio Braziliense domingo, 31 de janeiro de 2021

MAIS FAMÍLIAS OPTAM POR AULA PRESENCIAL

Jornal Impresso

Mais famílias optam por aula presencial
 
Procura pela modalidade para este ano foi maior do que em 2020, com demanda entre 50% e 60%. Escolas privadas se preparam para atender a todos os protocolos de segurança contra a covid-19. Metade delas retomam o ano letivo amanhã

 

ANA ISABEL MANSUR

Publicação: 31/01/2021 04:00

Instituições de ensino ainda precisam cumprir protocolos estabelecidos, em julho, pela Secretaria de Saúde do Distrito Federal; algumas delas implementaram cuidados extras (Ed Alves/CB/D.A Press)  
Instituições de ensino ainda precisam cumprir protocolos estabelecidos, em julho, pela Secretaria de Saúde do Distrito Federal; algumas delas implementaram cuidados extras
Metade das escolas particulares do Distrito Federal vai dar início ao ano letivo de 2021 amanhã. A estimativa é do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Distrito Federal (Sinepe) e diz respeito ao total de 200 instituições filiadas. Segundo o sindicato, a procura dos pais pelo ensino no modelo presencial aumento em 2021. Enquanto no ano passado, entre 35% e 40% optaram por este formato, agora, a demanda varia de 50% a 60%.
 
Os desafios para 2021 somam-se às experiências acumuladas ao longo de 2020 no que tange à manutenção da escola como ambiente saudável e seguro de aprendizado. As instituições ainda precisam cumprir os protocolos estabelecidos pela Secretaria de Saúde em julho de 2020, e algumas implementaram cuidados extras (leia Fique de olho).
 
Para garantir também a segurança dos pedestres, o Departamento de Trânsito (Detran-DF), dará início à Campanha de Volta às Aulas, com foco no alerta sobre a importância de respeitar as leis de trânsito e observá-las com mais atenção no perímetro escolar. Os agentes também fiscalizarão veículos que fazem transporte escolar e vão monitorar  faixas de pedestres em locais demonstrativos a partir de amanhã. Painéis eletrônicos com mensagens educativas serão colocados na cidade.
 
No Centro Educacional CCI Sênior, em Samambaia, as mesas e cadeiras foram identificadas com números e fotos, para aquelas usadas por alunos não alfabetizados, a fim de evitar o uso compartilhado das carteiras. “Os pais observaram, durante o ano passado, quais providências foram tomadas. O controle foi feito muito de perto e não tivemos nenhum surto, apenas casos isolados da doença”, comenta a diretora pedagógica Cássia Tinoco.
 
A tranquilidade dos pais refletiu na quantidade de crianças matriculadas na modalidade presencial neste ano. Em 2020, 43% dos estudantes até o 5° ano optaram pelo ensino remoto. Agora, são 16%. Do ensino fundamental 2 ao ensino médio, o ano passado foi concluído com 39% dos alunos na modalidade a distância. Para este ano, são 25%.
 
A creche Baby Care, em Sobradinho, que atende a cerca de 60 crianças, estabeleceu que todas as educadoras, ao chegar, precisam tomar banho, deixar os sapatos do lado de fora e andar pelos ambientes com meias adequadas ou propés. “Antes da pandemia, todos nós já usávamos luvas e toucas para lidar com as crianças. Agora, também usamos máscaras”, afirma Marina Lima, coordenadora pedagógica, acrescentando que os colaboradores são testados semanalmente para detecção do vírus. Desde setembro de 2020, quando a instituição voltou a receber as crianças em suas instalações, as janelas de vidro que delimitavam cada sala de aula foram retiradas, deixando todos os ambientes com circulação de ar constante.

No ano passado, entre 35% e 40% das famílias optaram pelo formato presencial, segundo sindicato patronal (Ed Alves/CB/D.A Press)  
No ano passado, entre 35% e 40% das famílias optaram pelo formato presencial, segundo sindicato patronal
 
Preparação
 
No Centro Integral Oficina do Saber, no Guará, os alunos do ensino fundamental vão retornar, amanhã, às aulas presenciais pela primeira vez desde o início da pandemia. “Antes, nosso atendimento era focado em grupos pequenos, de, no máximo, 15 alunos por sala”, conta a coordenadora pedagógica Kamila Gonçalves. “Todas as crianças, agora, precisam manter o cartão de vacinação atualizado e, a partir dos 4 anos, o uso de máscara é obrigatório”, continua a coordenadora.
 
O colégio do Guará proibiu o uso de adornos, como pulseiras, anéis, colares, brincos e tiaras, tanto pelos colaboradores quanto pelos estudantes, para que sujeiras não sejam acumuladas nos objetos. Os cabelos compridos precisam estar sempre presos e as disciplinas foram separadas por dia da semana, para diminuir a quantidade de materiais levados para a escola.
 
Do total de 180 alunos, duas crianças apenas escolheram permanecer no ensino remoto. Para Marcelo Marinho, administrador de empresas e pai da Geovana, aluna do 6° ano da escola, as decisões foram tomadas de maneira transparente e, por isso, ele aprovou o retorno presencial. “Minha filha sentiu muito no ano passado a limitação de ter que ficar em casa. A escola é muito organizada, a turma dela foi montada com nove alunos. O espaço da sala tem entre 45m² e 50m², então, o distanciamento será mantido”, afirma o morador do Setor Lucio Costa.
 
A professora Catarina de Almeida Santos, da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB), destaca a importância da organização das escolas e dos acordos com os professores em relação às modalidades presenciais e a distância. Segundo a especialista em educação a distância e em gestão escolar, é preciso chamar a atenção para a possível carga de trabalho dupla dos educadores. “A organização da aprendizagem precisa sempre favorecer o processo pedagógico. O ideal é que seja um professor para cada modalidade, na mesma frequência, para não prejudicar os estudantes”, observa a professora.
 
Para ela, planejamento e as decisões tomadas de maneira conjunta garantem condições adequadas de trabalho e remuneração para os professores, sem sobrecargas. “É preciso que escolas, direções, coordenações e pais entendam que, com professores exaustos, o maior prejudicado é o estudante”, explica.
 
Duplo começo
 
O início do ano letivo marca também a inauguração da unidade da escola Eleva em Brasília, na L2 Sul, que por enquanto atenderá até o 6° ano do ensino fundamental. A diretora da escola, Isabella Sá, destaca o trabalho de conscientização feito com os colaboradores do colégio. “Alertamos os profissionais para os cuidados que precisam ter na vida fora da escola para manter a segurança dentro das instalações”, ressalta. De 401 alunos matriculados na escola, 32 estudantes optaram pelo modelo remoto.
 
A abertura será gradual, mas todos vão começar no mesmo dia, em horários diferentes. Foi criada uma célula de monitoramento, da qual fazem parte professores e equipes de enfermagem, para cuidar, de perto, de casos suspeitos e positivos. “As informações vão para um painel virtual ao qual todo colaborador da escola e famílias têm acesso. O controle não fica apenas dentro da escola, envolve todos os implicados”, observa Isabella Sá. “Conhecer cada aluno neste ano será ainda mais importante. Teremos de saber o que cada um realmente aprendeu e conseguiu aproveitar do ano anterior”, avalia.

Correio Braziliense sábado, 30 de janeiro de 2021

CORONAVÍRUS - VACINAÇÃO DE IDOSOS

Jornal Impresso

Vacinação de idosos começa na segunda
 
Novo lote da CoronaVac deve chegar hoje a Brasília e atenderá ao público-alvo mais vulnerável à doença. Média móvel de casos alcança os maiores patamares desde setembro de 2020, e GDF aposta na fiscalização para coibir disseminação do vírus

 

» SAMARA SCHWINGEL

Publicação: 30/01/2021 04:00

 

"Não vai dar para todo mundo, então vamos vacinando de acordo com a chegada"



Ibaneis Rocha, governador do DF


Idosos com mais de 80 anos serão os próximos da fila para imunização contra a covid-19 no Distrito Federal, a partir de segunda-feira. As vacinas serão aplicadas em 36 salas, 30 delas em unidades básicas de saúde e outras seis em locais considerados estratégicos pela Secretaria de Saúde, como escolas e ginásios. O primeiro dia de vacinação desse público prioritário, composto por 42.355 pessoas, começará às 13h, excepcionalmente. A lista completa de endereços está disponível no site do Correio — www.correiobraziliense.com.br.
 
À medida que novas doses chegarem, o grupo vacinado deve ser ampliado. Os próximos contemplados, segundo a Saúde, serão idosos a partir de 75 anos e pacientes acamados, com dificuldade de locomoção, assistidos pelas rede pública e privada e um cuidador por núcleo familiar.
 
A expectativa do governo é de receber mais de 100 mil doses da CoronaVac hoje. As vacinas fazem parte de um lote de 8,7 milhões que o Ministério da Saúde distribuirá entre as unidades da Federação. O governador Ibaneis Rocha (MDB) havia adiantado, em entrevista ontem, que até quarta-feira os imunizantes estariam disponíveis. A capital federal vacinou 44,3 mil pessoas. Apesar do avanço na imunização, especialistas alertam para a alta da média móvel de casos registrados nos últimos dias e para a possibilidade de um aumento de contaminações após o carnaval, mesmo sem festas oficiais.
 
Mesmo sem a certeza do número de doses que devem ser entregues, o governador alertou que elas não serão suficientes para uma cobertura total e imediata. “Não vai dar para todo mundo, então vamos vacinando de acordo com a chegada”, frisou,  após o evento de entrega da revitalização da Estrada Parque Indústrias Gráficas (Epig), ontem.
 
Em relação à proximidade do feriado de carnaval, marcado para 16 de fevereiro, o chefe do Palácio do Buriti informou que não pensa em adotar medidas restritivas específicas para a data, mas que a fiscalização contra festas clandestinas e o descumprimento das regras sanitárias devem continuar. “Como não haverá blocos de rua, estamos esperando que seja mais tranquilo, mas vamos manter as fiscalizações”, completou. Além disso, a restrição de horário para bares e restaurantes continuará em vigor, com limite de funcionamento até as 23h.
 
Cenário
Apesar da tranquilidade do governo e do avanço da vacinação no DF, Breno Adaid, pesquisador da Universidade de Brasília (UnB), do Departamento de Ciência do Comportamento, e coordenador do mestrado em Administração do Centro Universitário Iesb alerta para o número de casos. Na última quinta-feira, a média móvel de novos infectados — cálculo da média de casos nos últimos sete dias — ficou em 1.037, a maior desde setembro de 2020, quando o índice chegou a 1.064. Segundo Breno, esse valor indica que, no período analisado, houve um aumento muito brusco de casos. “Quando a média apresenta um crescimento muito rápido, significa que muitos casos foram registrados nos últimos dias, e isso pode levar a uma busca maior por leitos e por assistência”, observa.
 
Na avaliação de Adaid, o aumento é uma consequência natural da movimentação de festas e viagens de fim de ano e, caso o comportamento das pessoas não mude, pode se repetir no meio de fevereiro. “Com as possíveis novas cepas circulando e o comportamento das pessoas a favor da disseminação do vírus, pode ser que, após o carnaval, se tenha um aumento de 30% no número de novos casos”, afirma. Até o momento, a Secretaria de Saúde do DF não registrou casos de novas cepas do vírus na capital.
 
O DF registrou, em 24 horas, 1.087 novos casos e 14 mortes pela doença, segundo boletim epidemiológico divulgado, ontem, pela Saúde. No total, são 275.688 casos confirmados e 4.533 mortes. Do total de infectados, 264.783 se recuperaram. A taxa de transmissão calculada pela pasta está em 0,83. Índices maiores do que 1 indicam avanço da pandemia.
 
Riscos
Caso as pessoas realizem festas com aglomeração e sem cumprir os protocolos de segurança sanitária, seja no carnaval, seja em qualquer outra época, há risco de um aumento grave do número de casos e isso, de acordo com o epidemiologista e professor do Departamento de Saúde Pública da UnB Mauro Sanchez, pode levar a um colapso do sistema de saúde.
 
O especialista afirma que, em casos de aglomerações, há dois principais riscos. “Primeiro, a própria pessoa pode se infectar e desenvolver a doença, seja de forma grave ou não. Segundo, ela pode transmitir para alguém que seja do grupo de risco e esta pessoa pode ter complicações sérias”, comenta Sanchez.
 
Após uma pessoa ser infectada, ela transmite o vírus por cerca de uma semana antes de apresentar sintomas. “Ou seja, uns 10 ou 15 dias depois da eventual aglomeração, se, de fato, acontecerem, pode ser que haja um aumento brusco de casos e muitas pessoas doentes. Tudo por causa de uma imprudência desnecessária”, completa.
Além disso, Sanchez considera que, se casos de aglomerações, como festas clandestinas, forem registrados durante o carnaval, os esforços de vacinação podem ser em vão. “É preciso que as duas frentes de combate estejam combinadas para que possamos vencer esta pandemia”, diz.
 
Em relação aos possíveis casos de descumprimento de medidas sanitárias e à realização de festas clandestinas, a Secretaria de Saúde informou, em nota, que a Vigilância Sanitária continuará intensificando as ações de fiscalização em bares, restaurantes, shoppings, centros comerciais e outros locais.
 
A Lei nº 6.437/1977 prevê autuação quando um estabelecimento oferece alto risco de contaminação em massa. O flagrante do desrespeito às normas pode gerar a aplicação de multa que varia entre R$ 2 mil a R$ 2 milhões, dependendo das irregularidades encontradas pelo órgão fiscalizador. A nota reforça que a pasta “continua orientando a população para evitar aglomerações, manter o uso de máscara e higienizar as mãos com água e sabão ou álcool em gel”.
 
» Colaborou Ana Maria Campos
 
 
 
A vacinação contra covid-19 no DF
 
Total de vacinados 44.315
Total de doses distribuídas 78.930
 
Doses recebidas: 125.160 doses da vacina CoronaVac,
41,5 mil doses da vacina de Oxford
 
* Cerca de 5% das doses recebidas fazem parte da reserva técnica para suprir possíveis perdas que possam acontecer ao longo da campanha. Dessa forma, há estoque para uma eventual reposição.
 
 
 
 
 
Denuncie irregularidades
 
O cidadão que flagrar desrespeitos por parte do comércio local tem duas opções: o telefone 162 (Ouvidoria) ou o 190. Já quem flagrar irregularidades no processo de vacinação pode denunciar ao Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT), por meio de formulário eletrônico, pelo endereço www.mpdft.mp.br/ouvidoriainternet/#/ouvidoria ou pelo número 0800-644-9500 (ligação gratuita), em dias úteis, de 2ª a 6ª, das 12h às 18h.

Correio Braziliense sexta, 29 de janeiro de 2021

VOLTA ÀS AULAS COM EXPECTATIVA DE VACINA

Jornal Impresso

Volta às aulas com expectativa de vacina
 
Meta do GDF é de imunizar os quase 60 mil profissionais de escolas públicas e particulares até 8 de março, inclusive de setores administrativos e apoio, para que o ano letivo comece com atividades presenciais nas unidades da rede distrital

 

» SAMARA SCHWINGEL
» JÉSSICA MOURA

Publicação: 29/01/2021 04:00

Secretaria de Educação do DF detalhou as propostas para o próximo ano letivo durante o encerramento oficial do de 2020, ontem (Mary Leal, Ascom/SEEDF)  
Secretaria de Educação do DF detalhou as propostas para o próximo ano letivo durante o encerramento oficial do de 2020, ontem

O encerramento oficial do ano letivo da rede pública de educação do Distrito Federal marca o início de um novo desafio para o governo local: vacinar professores das redes pública e privada contra a covid-19. Mais de 50 mil profissionais compõem o grupo, incluído na quarta e última fase de prioridades na campanha da capital federal. O objetivo do governo é imunizar a todos antes de 8 março, data do início das aulas no sistema público. Funcionários de outros setores, como administrativo, limpeza e assistência também serão atendidos, o que eleva o número total para quase 60 mil — próximo do dobro do total de pessoas vacinadas até hoje no DF. O começo do atendimento desse público depende, agora, da compra e da liberação de mais doses da vacina pelo Ministério da Saúde.
 
“Vidas humanas importam, todas elas. Da merendeira, do vigilante, do temporário, do efetivo, do professor. Posso falar bem, porque eu sei o que eu passei com essa doença (covid-19). Então, quando falamos em profissionais de educação, falamos em todos os profissionais”, afirmou o secretário de Educação, Leandro Cruz, durante o evento de encerramento do ano letivo 2020 no Palácio do Buriti na manhã de ontem.
 
Da chegada de mais vacinas também depende a definição sobre o modelo de retorno às aulas adotado na rede pública. A Secretaria de Educação levará em consideração, ainda, a evolução da pandemia na capital. O mais provável é que o modelo híbrido, com aulas remotas e presenciais, seja adotado. “O fundamental, que foi uma grande conquista nossa, é que, em conversa com o governador (Ibaneis Rocha), ele pediu que, em Brasília, os profissionais de educação fossem mantidos como prioridade”, destacou o gestor. Como o plano de vacinação distrital segue o disponibilizado pelo governo federal, os professores, assim como agentes de segurança, chegaram a ser retirados da prioridade para vacinação. Devido à pressão das categorias, ambos voltaram a fazer parte desse grupo, por determinação de Ibaneis Rocha.
 
Para cobrir apenas o corpo docente do DF, é necessário cerca de 50,1 mil doses do imunizante, considerando que a rede pública conta com 35,7 mil professores, entre efetivos e temporários, segundo a Secretaria de Educação, e mais 15 mil da rede particular, segundo levantamento do Sindicato dos Professores em Estabelecimentos Particulares de Ensino do Distrito Federal (Sinproep). Com os cerca de 8,8 mil outros funcionários da educação, essa conta chega a 59,5 mil.
 
Até o momento, o DF recebeu 125.160 doses da vacina CoronaVac, que é produzida pelo Instituto Butantan (SP) em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac, e 41,5 mil doses da vacina Covishield, desenvolvida pela universidade inglesa de Oxford, com a farmacêutica sueco-britânica AstraZeneca. Considerando que cerca de 5% das doses recebidas fazem parte da reserva técnica, e a aplicação em duas doses da CoronaVac, o DF conta com cerca de 100 mil doses, que estão sendo usadas para imunizar profissionais da saúde; pessoas com mais de 18 anos em asilos e instituições de longa permanência; além de indígenas. A Covishield também prevê esquema de duas doses, mas em um prazo de 12 semanas entre uma e outra, o que dá segurança, segundo o Ministério da Saúde, para que outros lotes cheguem.
 
A expectativa é de que, nos próximos dias, a Secretaria de Saúde do DF receba mais doses de vacinas. Porém, tudo depende de um repasse do Ministério da Saúde, que também não informou data ou quantidade certa. A pasta aguarda, portanto, para ajustar como serão os próximos passos da campanha. Esta indefinição, segundo a diretora do Sindicato dos Professores no Distrito Federal (Sinpro-DF), Rosilene Corrêa, traz uma insegurança à categoria. “Sabemos que a pandemia trouxe prejuízos para a educação, mas, para termos uma segurança de retornar às aulas, mesmo que em formato híbrido, precisamos que todos que frequentam as unidades de ensino estejam vacinados. Esperamos que os prazos sejam cumpridos, assim como as previsões”, diz.
 
Já o diretor do Sinproep, Rodrigo Pereira, fia-se na promessa de que os profissionais da rede particular, que voltaram ao trabalho presencial ainda no ano passado, também serão vacinados. “Se, por acaso, houver alguma distinção em relação a isso, não vamos hesitar em recorrer à Justiça”, comenta. Ana Elisa Dumont, presidente do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Distrito Federal (Sinepe), reforça a importância de os funcionários serem vacinados o quanto antes. “Assim, os pais e alunos terão mais segurança de frequentarem as escolas, que são um apoio importante para as famílias”, diz.
 
Volta às aulas
Como o planejamento para vacinar os professores e profissionais da educação ainda está em discussão, o formato de retomada das atividades presenciais também não foi estabelecido na rede pública. No entanto, ainda no evento de ontem, o secretário explicou que a pasta se prepara para uma volta às escolas em um modelo híbrido: as salas de aula vão receber metade dos alunos de cada turma em uma semana presencialmente, enquanto os demais desenvolvem atividades a distância, pela plataforma de ensino remoto. Na semana seguinte, o grupo se inverte. “Independentemente do formato, estamos preparados para receber todos os estudantes que efetuaram a matrícula em 2021”, disse o secretário-executivo, Fábio de Sousa.
 
A procura por vagas na rede pública diminuiu em relação ao ano passado: em 2021, houve a inscrição de 31.048 novos estudantes, uma redução de 19,5% em relação a 2020. As aulas, que começam em 8 de março, vão até 22 de dezembro. Ainda estão previstas aulas remotas em 11 sábados ao longo do ano para assegurar o cumprimento dos 200 dias letivos.
 
Segundo Leandro Cruz, apesar das indefinições, as aulas serão em todas as 686 escolas em 8 de março, mesmo que seja necessário seguir o modelo remoto. A medida vale para todas as etapas de ensino, inclusive as creches. O secretário-executivo Fábio de Sousa assegurou que as escolas serão equipadas com álcool em gel, lavatórios nas entradas e haverá distribuição de máscaras para estudantes e funcionários. As unidades também devem passar novamente por sanitização.
 
Leandro Cruz ainda ressaltou que, mesmo se a vacinação não avançar, as aulas presenciais serão retomadas, mas que, neste caso, o formato pode ser revisto. “Em qualquer um dos cenários nós estaremos prontos”, assegurou o subsecretário de Educação Básica, Tiago Cortinaz.
 
Para o secretário-geral do Sindicato dos Trabalhadores em Escolas Públicas do DF (SAE-DF), Denivaldo Alves, as atividades presenciais devem retornar apenas com todos vacinados. “Do contrário, não me arriscaria. Tem que estabelecer um cronograma, dentro da ordem de prioridade, do mais velho para o mais novo”, sugere.
 
Novidade
O secretário Leandro Cruz anunciou, durante a cerimônia, que, quando as aulas recomeçarem, será implementado o programa Virando o Jogo Na Educação. O objetivo da iniciativa é reunir projetos pedagógicos e de esporte e cultura com o intuito tanto de promover a readaptação quanto o acompanhamento dos estudantes afetados pela pandemia do coronavírus ao longo de 10 anos. “O ano de 2020 deixará graves sequelas na educação de Brasília”, ponderou. “Esse dano vai acompanhar o estudante, a política pública de recuperação de tratamento desse dano também seguirá”,  completou.
 
 
Linha do tempo
 
» 10 de fevereiro de 2020
Início do ano letivo
 
» 7 de março
Confirmação do primeiro caso de covid-19 no DF
 
» 12 de março
Suspensão das aulas em todas as escolas do DF
 
» 13 de julho
Aulas são retomadas a distância na rede pública
 
» 15 de julho
Governo autoriza volta às aulas presenciais a partir de 31 de agosto, mas não marca data de início na rede pública
 
» 21 de setembro
Aulas presenciais são retomadas na rede particular, de forma escalonada, a começar pela educação infantil
 
» 31 de dezembro
Calendário letivo da rede pública de 2021 é homologado
 
» 25 de janeiro
Parte das escolas 
particulares começam o ano 
letivo de 2021
 
» 28 de janeiro de 2021
Fim do ano letivo de 2020 
na rede pública
 
» 8 de março
Previsão de retorno das atividades na rede pública, em modelo híbrido
 
 
Números
 
Rede pública
 
686 escolas
460.475 estudantes
35.796 professores efetivos e temporários
8.813 servidores de assistência
 
 
Rede particular
 
600 escolas
280 mil estudantes aproximadamente
15 mil professores efetivos e temporários
Fontes: Secretaria de Educação do DF e Sinproep

Correio Braziliense quinta, 28 de janeiro de 2021

CORONAVÍRUS - VACINAÇÃO - PRIMEIRA ETAPA PERTO DO FIM

Jornal Impresso

Primeira etapa perto do fim
 
Governo do Distrito Federal espera que mais de 90% dos profissionais da saúde; cuidadores, idosos e deficientes em instituições de acolhimento; e indígenas recebam a primeira dose dos imunizaentes até domingo. Ao todo, 33.317 pessoas foram vacinadas

 

» SAMARA SCHWINGEL

Publicação: 28/01/2021 04:00

Segundo a Secretaria de Saúde, a vacinação dos indígenas deve ser concluída amanhã. Idosos com mais de 80 anos serão os próximos a receberam as doses (Minervino Júnior/CB/D.A Press)  

Segundo a Secretaria de Saúde, a vacinação dos indígenas deve ser concluída amanhã. Idosos com mais de 80 anos serão os próximos a receberam as doses

 


Com o processo de vacinação contra a covid-19 avançando no Distrito Federal, a Secretaria de Saúde (SES/DF) espera que, até o fim de janeiro, mais de 90% dos profissionais de saúde, tanto da rede pública quanto da particular, tenham recebido a primeira dose do imunizante contra a doença. A pasta quer priorizar a categoria para não perder capacidade de resposta e atendimento ao novo coronavírus, que continua circulando na capital federal. Indígenas aldeados, idosos e pessoas com deficiência acolhidos devem ter a primeira etapa da vacinação encerrada amanhã. Enquanto isso, o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) investiga possíveis fraudes no processo de vacinação. Até o momento, o DF recebeu 125,1 mil doses da CoronaVac — imunizante produzido, no Brasil, pelo Instituto Butantan em parceria com a farmaceuta chinesa Sinovac — e 41,5 mil da Oxford/AstraZeneca, importadas da Índia.
 
De acordo com o secretário adjunto de Assistência à Saúde substituto da SES, Alexandre Garcia, só não serão imunizados 100% dos profissionais da categoria pois há uma parcela que não poderá receber a vacina. “É o caso de grávidas e de quem não queira tomar a vacina. Por isso, não estabelecemos a meta de vacinar 100% dos servidores”, diz. Garcia reforça a importância da vacinação. “A Saúde trabalha e funciona em equipe. Por isso, é preciso vacinar médicos, enfermeiros, pessoal da limpeza, do administrativo e por aí em diante. Precisamos de todos para que as unidades de saúde funcionem plenamente”, alerta.
 
Além dos profissionais de saúde, idosos acima dos 60 anos que estão em instituição de acolhimento ou asilos e pessoas com mais de 18 anos com deficiência física que vivem nessa mesma condição, bem como seus cuidadores; e a população indígena são prioridades no Plano Distrital de Vacinação. A expectativa da pasta é de que a aplicação do imunizante nessa parcela da população se encerre nesta sexta-feira. O Governo do Distrito Federal (GDF) espera receber mais doses em até 15 dias para, então, ampliar a vacinação aos demais grupos previstos na campanha. Segundo o plano, os próximos são os idosos acima de 80 anos. “À medida que fomos recebendo as doses, vamos abaixando a idade do grupo prioritário. Depois de 80, vamos imunizar os idosos acima de 75 anos e assim seguimos”, detalha Alexandre Garcia.
 
Também há uma expectativa de que os professores das redes pública e particular comecem a ser vacinados em março, a fim de se ter um nível de segurança maior, visto que o ano letivo de 2021 começa no dia 8 de março. Entretanto, a pasta não divulgou uma data certa para o início da imunização dos docentes nem quantas doses estarão disponíveis.
 
Apesar da divisão em prioridades, o secretário adjunto garante que todos os moradores do DF serão vacinados, cada um no seu tempo. “Acredito que, em algum momento, teremos uma quantidade segura de vacinas no mercado. Por isso, peço para as pessoas ficarem tranquilas, a vacina vai chegar a todos. Só não conseguimos estabelecer datas concretas pois dependemos dos repasses do Ministério da Saúde”, completa Garcia. Até lá, ele reforça: é preciso continuar seguindo os protocolos de segurança sanitária. “O vírus ainda está em circulação, então, até que tenhamos vacinado uma boa parte da população, é necessário que as pessoas colaborem e continuem usando máscaras, álcool em gel e com distanciamento social”, ressalta Alexandre.
 
Fiscalização
A força-tarefa de combate à pandemia do MPDFT deve realizar, na manhã de hoje, mais visitas aos locais de vacinação para acompanhar o processo e verificar se há possíveis irregularidades. Desde o início da imunização no DF, o Ministério Público tem recebido diversas denúncias de que, durante a primeira fase, pessoas que não faziam parte do grupo prioritário teriam recebido a primeira dose. De acordo com ofício encaminhado pela Procuradoria dos Direitos do Cidadão à Promotoria de Justiça de Defesa da Saúde (Prosus) do MPDFT, pelo menos 10 unidades de saúde foram citadas nas denúncias. São elas: os hospitais regionais de Taguatinga, Ceilândia, Sobradinho, Guará e Santa Maria, o Hospital de Base, Hospital Universitário de Brasília (HUB), Hospital Materno-Infantil de Brasília (HMIB), Hospital das Clínicas, Pronto-Socorro de Fraturas de Ceilândia e a Diretoria Regional de Atenção Primária à Saúde (Diraps)/Superintendência da Região de Saúde Oeste.
 
Ainda segundo o ofício a que o Correio teve acesso, a Prosus possui atribuição legal para oferecer eventuais denúncias caso sejam identificadas condutas ilícitas ao longo da execução da vacinação no DF. Segundo o promotor da Prosus, Cleyton Germano, caso as irregularidades sejam confirmadas, os envolvidos podem responder por peculato, no âmbito criminal, e por improbidade administrativa, no âmbito cível. “O que podemos dizer, no momento, é que as investigações estão em curso, e a Prosus acompanha de perto as visitações da força-tarefa”, resume.
 
 
1.052 doentes em 24h
 
Nas últimas 24 horas, o Distrito Federal registrou 1.052 infecções e três óbitos pelo novo coronavírus. No total, a capital acumula 273.427 casos e 4.508 mortes pela covid-19. Ceilândia segue como a região com mais ocorrências, são 30.566. Plano Piloto (25.173) e Taguatinga (22.083) estão em seguida. Os recuperados somam 262.643. A média móvel de casos registrada foi de 989.
 
 
Palavra de especialista
 
 
“Temos que confiar no imunizante”
 
Na área da saúde, é duplamente importante que as pessoas se vacinem, pois, quando algum profissional fica doente, ele deixa de prestar assistência à comunidade. E, se muitos servidores forem atingidos, pode levar a um colapso no atendimento e elevar a mortalidade entre os pacientes, sendo eles de covid-19 ou não. Além disso, os profissionais de saúde atendem pessoas já doentes com outras enfermidades. Se o servidor estiver infectado e assintomático, ele pode transmitir para estes pacientes e agravar o quadro de muitos. Outro ponto importante para se levar em conta é que esta é uma das classes mais expostas aos riscos da covid-19, o que é um bom motivo para que as pessoas queiram se vacinar. Me choca que existam profissionais de saúde que optem por não serem imunizados. Não faz sentido. A vacina já foi aplicada e testada em diversas pessoas, e não há nenhum relato de eventos adversos graves. Temos que confiar no imunizante, só assim acabaremos com esta crise sanitária
 
Alexandre Cunha, Infectologista do Hospital Sírio-Libanês

Correio Braziliense quarta, 27 de janeiro de 2021

CORONAVÍRUS - VACINA DEIXA MERCADO OTIMISTA

 Jornal Impresso

CORONAVÍRUS
 
Vacina deixa mercado otimista
 
A crise financeira enfrentada por diversos segmentos pode estar caminhando para o fim. Especialistas e representantes do setor produtivo preveem cenário promissor a partir de julho, quando grande parte da população tiver recebido o imunizante

 

» ALEXANDRE DE PAULA
» CIBELE MOREIRA

Publicação: 27/01/2021 04:00

 (Ed Alves/CB/D.A Press)  
A crise econômica causada pela pandemia da covid-19 abalou o setor produtivo do Distrito Federal no ano passado. Em 2020, segundo estimativa do Sindicato do Comércio Varejista do Distrito Federal (Sindivarejista-DF), 750 empresas fecharam as portas por causa das dificuldades. O início da vacinação, entretanto, trouxe esperança para os empresários locais, que acreditam que a imunização deve puxar a retomada no segundo semestre. Especialistas e entidades ouvidas pelo Correio avaliam que o cenário deve mudar a partir de julho.
 
Para o presidente do Sindivarejista-DF, Edson de Castro, o início da campanha de imunização representou alívio para os lojistas. “Ter a vacina é um grande passo. Agora, a nossa preocupação é com a conscientização das pessoas para que mantenham os cuidados sanitários até todos estarem vacinados”, pondera. A expectativa é de que o fluxo financeiro comece a melhorar a partir de março e ganhe força em agosto com as datas comemorativas, como Dia dos Pais, Dia das Crianças, Black Friday e Natal. Em relação à Páscoa, celebrada em 4 de abril, Edson espera um período de vendas melhor do que em 2020. “No ano passado, foi terrível. Com um vírus que ninguém sabia como lidar. Este ano, estamos melhor, com uma luz no fim do túnel.”
 
Presidente Sindicato Patronal de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Brasília (Sindhobar), Jael Antônio da Silva concorda que o começo da vacinação, no Distrito Federal, criou esperança. Porém, na prática, o setor de bares e restaurantes só sentirá os impactos da imunização contra a covid-19 quando atingir grande parte da população. “Neste primeiro momento, a prioridade é vacinar os profissionais da saúde e os idosos, que não representam a maioria do nosso público-alvo”, explica.
 
Segundo o presidente da Federação das Indústrias do DF (Fibra-DF), Jamal Bittar, a imunização é a única esperança, no momento, para reaquecer a economia. “As reformas não virão tão rápido. Na política, o tema é a eleição no Congresso. Então, a vacinação é o que pode acelerar essa recuperação, é o que tem alimentado essa esperança para o segundo semestre, apesar de ainda existir incertezas”, argumenta. Ela ressalta que, para que a expectativa se concretize, é necessário que o governo federal atue no sentido de garantir a vacinação ampla.
 
Expectativa realista
Professor do departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB), Carlos Alberto Ramos avalia que a imunização contra a covid-19 terá um impacto grande entre a população de menor renda, “entre as pessoas que precisam sair de casa para trabalhar, onde o serviço de home office não é possível”. De acordo com o docente, haverá alívio aos cofres públicos. “Se há mais pessoas consumindo, mais impostos serão arrecadados. As demandas do auxílio emergencial também diminuem, assim como a menor pressão no gasto da saúde”, exemplifica.
 
Hemerson Luz, especialista em doenças infecciosas e médico dos hospitais de Base e das Forças Armadas (HFA), acredita que a perspectiva do setor produtivo não é utópica. “É uma estimativa boa a de que as pessoas possam se expor no segundo semestre sem risco de disseminar a covid-19 e de estar doentes depois de vacinadas. Assim, poderíamos ter força de trabalho maior e economia mais aquecida. É realista pensar nesse prazo.”
 
O médico alerta que é preciso levar em conta, para essa avaliação, o tempo necessário para que a vacina traga efeitos. “Temos de lembrar que, depois da segunda dose, são, pelo menos, quatro semanas para ter imunidade e que, quanto maior a parcela da população imunizada, menor a chance de o vírus circulando. Então, é um processo que não será imediato, mas o aspecto de pandemia deve ir se desfazendo ao longo do segundo semestre”, prevê.
 
O Correio questionou a Secretaria de Economia sobre os impactos que a imunização traria aos cofres públicos, além de solicitar um balanço dos impactos que a pandemia causou nas contas do Governo do Distrito Federal (GDF). A pasta informou, apenas, os dados relativos ao ano passado. “No acumulado de janeiro a dezembro de 2020, a arrecadação tributária somou R$ 17,3 bilhões em valores correntes, o que representou aumento nominal de 4,5% e real de 0,8% em relação a igual período 2019.” A pandemia, segundo a pasta, teve influência no decréscimo real do Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS), que foi de cerca de R$ 180 milhões. Em 2019, o ISS foi responsável pelo recolhimento de R$ 1,976 bilhão.
 
Compra direta
A possibilidade de compra direta de vacinas pelo setor produtivo é vista com cautela. A Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Distrito Federal (Fecomércio-DF) anunciou, em janeiro, que abriria licitação para 100 mil doses, mas as regras para aquisição particular não estão definidas no país. Ontem, o presidente Jair Bolsonaro demonstrou apoio ao pleito apresentado por empresários para a compra da vacina contra a covid-19, da farmacêutica AstraZeneca e da Universidade de Oxford, pelo setor privado. Apesar do governo federal se mostrar favorável ao pedido, a AstraZeneca comunicou que, no momento, não será possível disponibilizar doses para a iniciativa privada, pois o acordo firmado com o Ministério da Saúde é para a distribuição das vacinas pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
 
Presidente da Fibra, Jamal Bittar diz que há estudos na Confederação Nacional do Comércio para que ocorra compra de vacinas para empregados da indústria. “O DF, com certeza, seria o primeiro a entrar nesse processo, mas existem limitações de quantidade e legais — adequadas, porque é preciso, primeiro, pensar no interesse público e, depois, nos setores. Mas, estamos discutindo para fazer a compra no momento em que for possível”, adianta.
 
O setor da construção civil também estuda a possibilidade de adquirir a vacina, mas, segundo o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Distrito Federal (Sinduscon-DF), Dionyzio Klavdianos, não há nada definido diante das incertezas sobre a venda para o setor privado. “Nacionalmente, já fomos sondados, mas ainda há muitas dúvidas antes que isso possa se concretizar”, explicou.
 
O presidente do Sindivarejista-DF acredita que este não é o momento para se pensar em comprar vacinas pela rede privada. “Não há nenhuma movimentação pelo Sindivarejista em relação a isso. Principalmente, pelo perigo de aquisição de vacina falsa. Não podemos nos comprometer com isso. Por enquanto, vamos aguardar”, afirma Edson de Castro. Já o representante do Sindhobar ressalta que a categoria seguirá o planejamento de vacinação do GDF. “Vamos deixar que vacinem quem está na linha de frente, os profissionais de segurança e os idosos”, destaca Jael Silva.
 
 
 
 
1.056 novos casos
 
O Distrito Federal chegou, ontem, aos 272.375 casos de covid-19. Foram registradas 1.056 infecções a mais do que na segunda-feira. Ao todo, 4.505 pessoas morreram na capital federal em decorrência da doença, dos quais 15 foram notificados ontem. Ceilândia é a região em que maior número de casos, com 30.495. Em sequência, vêm Plano Piloto (25.020) e Taguatinga (22.006).
 
 
Palavra de especialista
 
Aposta no segundo semestre
 
“A grande questão é que o governo federal que estava resistente à vacina, agora, comprou a ideia, porque via que a popularidade está relacionada a isso. O próprio Paulo Guedes (ministro da Economia) tem defendido isso. Então, há um entendimento de que a vacina é a nossa grande solução, e a questão de Manaus, agora, mostrou que era preciso mudar a visão. No DF, a economia depende muito do corpo a corpo. Então, embora muitos setores tenham se adaptado bem ao delivery, ao e-commerce e ao home office, a vacina vai trazer um avanço. A avaliação é de que o primeiro semestre de 2021 não vai ser como esperávamos, vai ser pior ou parecido com o segundo semestre de 2020, mas vejo que o ponto nevrálgico é o segundo semestre de 2021, quando vai começar a haver aquele alívio que esperávamos para março deste ano. Como as pessoas estão muito ansiosas por retomar as atividades, teremos uma recuperação rápida, mas 2021 ainda deve ser um ano difícil, de catar os cacos e, em 2022, teremos a retomada efetiva.”
 
César Bergo, presidente do Conselho Regional de Economia do Distrito Federal (Corecon-DF)
 
 
Imunização em andamento
 
Total de vacinas, até o momento, no DF: 
 
141.660
 
CoronaVac (Sinovac Biotech) : 
 
106.160
 
Covidshield (AstraZeneca/Oxford): 
 
41.500
 
Pessoas que receberam a primeira dose: 
 
23.227

 


Correio Braziliense terça, 26 de janeiro de 2021

CORONAVÍRUS - VACINA PARA IDOSOS, SAÚDE E EDUCAÇÃO

Jornal Impresso

CORONAVÍRUS
 
Vacina para idosos, Saúde e Educação
 
Governo do Distrito Federal ampliou a aplicação do imunizante para trabalhadores que não estão na linha de frente no combate à covid-19. Pessoas acima de 80 anos estão na próxima fase do plano, e professores devem receber as primeiras doses até março

 

» JÉSSICA MOURA
» LUANA PATRIOLINO

Publicação: 26/01/2021 04:00

Apesar de ainda não ter recebido autorização da Anvisa, União Quimica pretende importar 10 milhões de doses da vacina Sputnik V (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

Apesar de ainda não ter recebido autorização da Anvisa, União Quimica pretende importar 10 milhões de doses da vacina Sputnik V

 


A partir de hoje, todos os trabalhadores de saúde da rede pública e dos hospitais particulares do Distrito Federal poderão ser imunizados contra a covid-19. “Estaremos ampliando o público beneficiado para todos os profissionais de saúde da rede pública, sem distinção de categorias, e para os profissionais que atuam nos hospitais da rede privada”, disse o secretário de Saúde, Osnei Okumoto. Segundo a pasta, os servidores públicos receberão as doses nas unidades na Região de Saúde onde atuam, e os trabalhadores da rede privada seguem sendo vacinados nos estabelecimentos onde prestam serviço.
 
Com a entrega da nova remessa da CoronaVac, o Governo do Distrito Federal (GDF) afirmou que pretende vacinar, na próxima etapa, idosos acima de 80 anos. Professores devem receber o imunizante contra a covid-19 até março, quando haverá retorno das aulas presenciais da rede pública da capital. Segundo o governador Ibaneis Rocha (MDB), cerca de 150 mil doses, que estão ainda sendo preparadas para envio, devem ser repassadas ao DF pelo Plano Nacional de Imunização. O anúncio foi feito, ontem, durante visita à fábrica Bthek, da União Química — responsável pela produção do imunizante Sputnik V, no Brasil.
 
“Queremos proteger os nossos professores também para que a gente possa ter um nível de segurança maior”, disse Ibaneis. “Só assim vamos acabar com isso”, completou. De acordo com o governador, o DF deve receber, até o fim da semana, cerca de 150 mil doses da CoronaVac, do Ministério da Saúde.
 
Durante a visita, o governador comentou que manterá restrições a bares e restaurantes, que devem encerrar o funcionamento até as 23h. “A gente entende a reclamação de todos eles, sabemos do impacto que ocorre na parte da economia, mas nós temos que nos preocupar com a nossa rede hospitalar e com a saúde da população, que, nesse momento, para mim, é prioritário”. No fim de semana, os fiscais do DF Legal fecharam quatro festas clandestinas.
 
O Distrito Federal vive o desafio de controlar a disseminação do novo coronavírus. Especialistas reiteraram a importância de vacinar a população para evitar uma segunda onda da doença. “Apesar dessa guerra toda, a arma que nós temos, neste momento, para a covid-19, é vacinar a população o mais rápido possível e aplicar as medidas restritivas”, alerta o infectologista Julival Ribeiro, membro da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal. Sete dias após o início da campanha de vacinação contra a covid-19 no DF, 18,5 mil pessoas receberam as doses da CoronaVac, imunizante produzido, no Brasil, pelo Instituto Butantan em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac.
 
No domingo, 41,5 mil doses da Covidshield, imunizante da Universidade de Oxford/AstraZeneca desembarcaram no DF e refroçaram o estoque para vacinar o grupo prioritário, formado por profissionais da saúde , idosos com mais de 60 anos e pessoas com deficiência que vivem em abrigos, cuidadores e indígenas.
 
Julival Ribeiro ressalta que, para a capital atingir a imunidade coletiva e cessar a pandemia, seria preciso vacinar, pelo menos, 75% da população. O DF tem de mais de 3 milhões de habitantes. “Primeiro, alguns não vão desenvolver anticorpos. Em segundo lugar, temos grupos imunossuprimidos, e ninguém sabe ainda quanto dura a proteção”, frisa. Ele avisa que, mesmo que a campanha esteja em curso, a população deve continuar adotando os cuidados sanitários: “Higienizando as mãos, manter o isolamento, uso de máscara e, sobretudo, evitar as aglomerações”, diz.
 
Visita
Atualmente, a CoronaVac e a Covidshield possuem autorização de uso emergencial da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para serem aplicadas na população. Depois da liberação, em 17 de janeiro, as doses foram distribuídas aos estados por meio do Programa Nacional de Imunização (PNI) em quantidade proporcional à população. Além das 41,5 mil doses da vacina de Oxford, o DF recebeu 105,6 mil unidades da CoronaVac.
 
A União Química firmou acordo com o Instituto Gamaleya para obter a transferência de tecnologia para produção da Sputnik V e deu início à fabricação em um estágio piloto no laboratório em Santa Maria. A empresa teve uma nova rodada de negociações com a Anvisa para conseguir a liberação de uso emergencial do imunizante no Brasil e para a realização de testes clínicos de fase três em voluntários brasileiros. Desse modo, toda a fabricação da vacina seria feita no Brasil, uma vez que a empresa produz o Insumo Farmacêutico Ativo (IFA), princípio ativo do imunizante.
 
A empresa pretende importar 10 milhões de doses prontas da Rússia. Com a autorização para uso emergencial, a empresa alega que poderia produzir 8 milhões de frascos com doses unitárias por mês, a partir de março. Porém, o governador Ibaneis assegurou que vai seguir o PNI para receber os imunizantes encaminhados pelo governo federal e que não vai comprar doses antecipadas da Sputnik V ou reservar lotes.
 
Diretor de Negócios Internacionais da União Química, Rogério Rosso está otimista quanto à liberação da Sputnik V pela Anvisa. “Iniciados os testes clínicos, vamos fazer a importância emergencial de 10 milhões de doses. E, ao longo do ano, a produção da União Química e importação de vacinas da Rússia, teremos 150 milhões de doses até dezembro”, disse.
 
O embaixador russo Sergey Akopov ressaltou que o momento é de união. “Quanto mais vacinas existirem no mundo, é melhor. É lógico que, hoje, nenhum país sozinho pode ganhar esta guerra, então nós unimos todos os esforços de todas as nações do mundo para combater essa realidade”, pondera.
 
Fura-filas
O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) recebeu denúncias de que pessoas fora dos grupos prioritários receberam os inoculantes da farmacêutica chinesa Sinovac. O órgão questionou a Secretaria de Saúde quanto à integridade do processo, informou que vai acompanhar a vacinação e cobrou transparência na aplicação das doses.
 
Diante do posicionamento do MPDFT, a Saúde passou a divulgar um balanço diário do andamento da vacinação no DF em sua página oficial (saude.df.gov.br). A Comissão Especial da Vacina da Câmara Legislativa (CLDF), presidida pelo deputado Fábio Felix (PSol), lançou um canal para registrar as denúncias de irregularidades na aplicação da vacina. O serviço funciona pelo WhatsApp — (61) 9 9904-1681.
 
Ontem, representantes da força-tarefa do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), que acompanha as medidas de enfrentamento à pandemia no DF, realizaram uma vistoria no Hospital Regional do Gama (HRG). De acordo com o órgão, o objetivo é verificar a aplicação de vacinas de prevenção à covid-19. O local foi escolhido a partir de relatos de desrespeito às diretrizes definidas no Plano Distrital de Vacinação. Mais de 900 profissionais da área de saúde foram vacinados na unidade. A previsão é que 1,2 mil servidores sejam imunizados no hospital. Ao Correio, MPDFT informou que está apurando as denúncias a respeito de “fura-filas” e não pode divulgar dados para não atrapalhar as investigações.
 
 
4.490 mortos
 
Segundo a Secretaria de Saúde, 1.148 diagnósticos da covid-19 e 14 mortes devido à doença foram notificados nas últimas 24 horas. Com os registros, a capital totaliza 271.319 casos confirmados e 4.490 mortes —  260.216 (95,9%) pacientes estão recuperados. A média móvel de casos está em 864, e de óbitos, em 9,43.

Correio Braziliense segunda, 25 de janeiro de 2021

CORONAVÍRUS - MAIS VACINA E COMBATE AOS FURA-FILAS NO DF

Jornal Impresso

Mais vacina e combate aos fura-filas no DF
 
Os 41,5 mil imunizantes AstraZeneca/Oxford chegaram ontem a Brasília. Secretaria de Saúde divulga, hoje, plano de vacinação com a nova remessa. Também nesta segunda, MPDFT visita hospitais para acompanhar supostas irregularidades na campanha de imunização

 

» CIBELE MOREIRA

Publicação: 25/01/2021 04:00

Importado do Laboratório Serum, na Índia, o imunizante chegou ao Distrito Federal ontem, por volta das 7h50, em voo comercial da Gol (Ed Alves/CB/D.A Press)  
Importado do Laboratório Serum, na Índia, o imunizante chegou ao Distrito Federal ontem, por volta das 7h50, em voo comercial da Gol
 
Vacinas foram transportadas do Aeroporto até a Rede de Frios do DF   (Ed Alves/CB/D.A Press)  
Vacinas foram transportadas do Aeroporto até a Rede de Frios do DF  
 Após a chegada das 41,5 mil doses da vacina AstraZeneca/Oxford, ontem, ao Distrito Federal, a Secretaria de Saúde define, hoje, o plano de vacinação com o imunizante importado da Índia, em reunião com a Comissão de Vacinação. Detalhes de quem poderá receber a dose e como ocorrerá a aplicação da vacina serão divulgado ao longo do dia. Ao todo, o DF conta com 141.660 doses de imunizantes. Na semana passada, mais de 15 mil pessoas foram vacinadas com a primeira dose da CoronaVac. No entanto, foram denunciadas diversas irregularidades envolvendo a aplicação do imunizante em servidores da saúde que estão fora do grupo prioritário definido pela pasta. As acusações chegaram ao conhecimento do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), que acompanhará de perto como está sendo feito o controle e a vacinação. Hoje, equipes da força-tarefa de combate à pandemia da covid-19 do MP, coordenada pelo procurador José Eduardo Sabo Paes, vão visitar alguns dos hospitais que fazem parte da campanha de vacinação. 
 
A Secretaria de Saúde abriu uma investigação para apurar as acusações de fraude junto às superintendências das regionais. Segundo a pasta, em alguns dos casos apresentados, houve a constatação de que esses servidores atuam em dupla jornada, ou seja, que exercem funções administrativas durante um período, além de trabalhar em local de exposição ao novo coronavírus em outro turno. A secretaria afirmou que, para os casos em que forem comprovadas irregularidades, o gestor responsável pela área e o servidor beneficiado responderão administrativamente pelos atos.
 
Com o objetivo de coibir e identificar as pessoas que estão tomando as doses indevidamente, o Governo do Distrito Federal (GDF) adotou várias medidas para garantir transparência ao processo de vacinação. A Secretaria de Saúde solicitou aos gestores de cada unidade de saúde, pública e privada, uma lista com identificação do servidor, com nome completo, CPF e local de trabalho de quem compõe o grupo prioritário. Por meio da lista, será elaborado um termo de autodeclaração, onde o servidor deverá reconhecer que compõe o grupo prioritário, sob risco de ficar sujeito a sanções.
 
Para a infectologista do Hospital Regional da Asa Norte (Hran) Joana Darc Gonçalves, é importante que as pessoas respeitem a fila de priorização. “Cada um tem de ter a consciência que existe um programa de imunização que leva em consideração o risco de infecção da doença. É necessário ter um pouco mais de paciência. Se a gente não cuidar de quem cuida da gente, quem vai cuidar?”, pondera. Joana ressalta que a chegada das vacinas não representa o fim da pandemia. “O ambiente seguro só será após a imunidade de rebanho. As pessoas devem continuar usando máscara, mantendo o distanciamento e seguindo as medidas de proteção. Nosso comportamento pode salvar vidas”, afirma. 
 
Uma das maiores preocupações são as crescentes festas com aglomeração que tem ocorrido na cidade. “Quem está se expondo mais são os mais jovens, que ainda vão demorar para tomar vacina. É quase um apelo para que tenham paciência e que cumpram as normas sanitárias. O descuido neste momento é preocupante, pois existem variantes do vírus que começaram a circular no Brasil e podem aparecer, mas que não estão cobertas pela vacina”, alerta. 


Remessa da AstraZeneca/Oxford chegou ao DF sob esquema de segurança da Polícia Federal (Ed Alves/CB/D.A Press)  
Remessa da AstraZeneca/Oxford chegou ao DF sob esquema de segurança da Polícia Federal


 
41,5 mil doses 
 
A remessa da vacina AstraZeneca/Oxford chegou ao Distrito Federal sob forte esquema de segurança da Polícia Federal. O voo comercial da Gol aterrissou no Aeroporto de Brasília às 7h50 de ontem. As caixas com os imunizantes foram encaminhadas para a Central de Rede de Frios da Secretaria de Saúde do DF por volta das 8h45, para a realização da triagem, verificação de temperatura e climatização. As doses estão acondicionadas a temperaturas de 2° a 8°C, conforme orientação do fabricante. A expectativa é que o início da aplicação das doses ocorra nesta semana
 
Nos bastidores, o Correio apurou que as vacinas podem contemplar os profissionais da saúde que ficaram de fora da primeira etapa de vacinação, definida para as 106.160 doses da CoronaVac, o plano oficial para a utilização das vacinas que chegaram ontem será divulgado hoje pela Secretaria de Saúde. Diferentemente do que ocorreu com a vacina chinesa, nesta remessa há a possibilidade de imunizar 41,5 mil pessoas sem precisar guardar o imunizante para a segunda dose. Esta mudança é possível devido ao intervalo entre a primeira aplicação e o reforço. “Precisamos traçar os procedimentos de como fazer para que não haja confusão. Esse é o primeiro lote da AstraZeneca, que possui um processo diferenciado da CoronaVac”, explica a chefe da Rede de Frios do DF, Tereza Luiza Pereira, à Agência Brasília.
 
Tereza conta que os frascos que chegaram da AstraZeneca contam com dez doses, cada, e têm um intervalo longo para a segunda dose, de 8 a 12 semanas. “Ou seja, podemos aplicar e esperar a próxima carga”, afirma. No caso da CoronaVac, o período é entre 14 a 28 dias. A utilização de dose única da AstraZeneca é defendida pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), responsável pela produção do imunizante no Brasil. Com duas vacinas distintas, a atenção deve ser redobrada para quem for vacinado. Para ter a eficácia garantida da imunização contra o novo coronavírus, é necessário que as duas doses sejam do mesmo fabricante. Caso contrário, pode perder o efeito ou ter uma cobertura inferior à esperada.


141.660
Doses de vacina chegaram ao Distrito Federal até o momento

Correio Braziliense domingo, 24 de janeiro de 2021

CORONAVÍRUS - VACINAÇÃO - ASTRAZENECA-OXFORD - DF RECEBE 41,5 MIL DOSES

Jornal Impresso

ASTRAZENECA/OXFORD
 
DF recebe 41,5 mil doses da vacina
 
Liberado pelo Ministério da Saúde, imunizante chega hoje na capital federal. A expectativa é que, com a remessa oriunda da Índia, todos os profissionais da saúde do Distrito Federal sejam vacinados. GDF define cronograma nos próximos dias

 

» CIBELE MOREIRA
» ROBERTA PINHEIRO

Publicação: 24/01/2021 04:00

Remessa que chega hoje vem da Índia. Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) é a responsável pela produção da vacina AstraZeneca no Brasil  (Punit Paranjpe/AFP)  

Remessa que chega hoje vem da Índia. Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) é a responsável pela produção da vacina AstraZeneca no Brasil

 

 
Há menos de uma semana do início da campanha de vacinação contra a covid-19, os brasilienses ganham reforço com a liberação de 41.500 doses da vacina AstraZeneca/Oxford. A remessa, oriunda da Índia, chega hoje ao Distrito Federal. A expectativa é atender todos os profissionais da saúde previstos nesta primeira fase de imunização. A Secretaria de Saúde divulgará, nos próximos dias, a proposta de vacinação com essas doses. De acordo com a pasta, entre terça e sábado, foram vacinados 15.134 pessoas com a primeira dose da CoronaVac. Desde o início da pandemia, o DF registrou 269.350 casos confirmados do novo coronavírus e 4.468 mortes por complicações da doença.
 
A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), responsável pela produção da vacina AstraZeneca no Brasil, encaminhou uma recomendação para a aplicação de dose única neste primeiro momento. O infectologista Hemerson Luz conta que a orientação se baseia na eficácia com apenas uma dose. De acordo com ele, a segunda dose serve como reforço. “Estudos apontam que, nesse caso, a eficácia é maior do que aplicando duas doses igualmente”, explica. No caso de uma única aplicação, como recomendado pela Fiocruz, a eficácia é semelhante à de duas doses.
 
Mesmo com o pedido da Fiocruz, o Ministério da Saúde ainda não se pronunciou oficialmente. Amanhã, o órgão deve se manifestar em relação aos protocolos a serem seguidos com a remessa da vacina da AstraZeneca. O Correio apurou que o Distrito Federal poderá imunizar 41.500 pessoas com as novas doses, e após os três meses recomendados para a aplicação da segunda dose, o reforço será feito com outra remessa. 
 
Para Alexandre Cunha, vice-presidente da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal, a vacina que chega, hoje, ao DF teve bom desempenho nos estudos apresentados. Na avaliação de Cunha, ela deve ser aplicada conforme foi estudada. “Para garantir a eficácia do estudo, o protocolo de aplicação tem de seguir as mesmas regras e exigências. Ela vem contribuir com o nosso arsenal de vacinas, porque nenhum fabricante sozinho vai conseguir suprir a nossa demanda”. Alexandre também pondera que não é certo comparar as eficácias das vacinas disponíveis. “Os desenhos dos estudos que são feitos para avaliar as eficácias são diferentes. O que você define por eficácia pode ter critérios diferentes e ser aplicado em uma população diferente. A questão metodológica torna difícil a comparação”, justifica. 


Fiocruz recomenda aplicação de dose única da vacina de Oxford. Secretaria de Saúde definirá nos próximos dias proposta de vacinação no DF (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

Fiocruz recomenda aplicação de dose única da vacina de Oxford. Secretaria de Saúde definirá nos próximos dias proposta de vacinação no DF

 



 
Vacinas
 
Com as vacinas da AstraZeneca, a capital federal conta com 141.660 doses de imunizantes contra a covid-19. Até o momento, estão sendo priorizados os profissionais da saúde que atuam na linha de frente no atendimento a pacientes com suspeita ou nos casos confirmados do novo coronavírus, além de idosos e pessoas com algum tipo de deficiência que vivem em instituição de acolhimento de longa permanência, e a população indígena. Na última segunda-feira, o Distrito Federal recebeu 106.160 doses da CoronaVac, que foram divididas para garantir a aplicação da segunda dose que precisa ser feita no intervalo entre 14 e 28 dias. 
 
A diferença entre a CoronaVac e a AstraZeneca está na tecnologia aplicada. “A CoronaVac é feita a partir do vírus inativado, algo clássico das vacinas. Então, a partir desse vírus inativado, usam-se as proteínas para o organismo fabricar anticorpos. No caso da AstraZeneca, ela usa uma tecnologia mais moderna, que é o vetor viral não replicante. Ou seja, eles pegam um outro vírus, que não causa doença no homem, colocam a proteína do novo coronavírus e fazem a estimulação do sistema imunológico”, explica o infectologista Hemerson Luz. De acordo com ele, as duas vacinas vão estimular a memória e a produção de anticorpos no sistema imunológico. “No final, o resultado será o mesmo. Elas vão inativar e impedir que o vírus cause a covid-19”. E acrescenta: “É importante que o vacinado não pense que está livre dos cuidados de prevenção e distanciamento social. Tem de aguardar o período recomendado. Vacinação não equivale à aglomeração”, pontua. 
 
Em relação à divisão dos grupos prioritários, o vice-presidente da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal, Alexandre Cunha, destaca que o Brasil não tem vacina para todo mundo, e que é preciso criar prioridade dentro das prioridades. “Claro que gostaríamos de vacinar todo mundo de uma vez, mas como isso não é possível, aplica-se naqueles que têm mais fatores de risco, caso dos idosos em instituições, onde a disseminação do vírus costuma ser mais rápida e normalmente são pessoas com mais vulnerabilidades”, afirma. Cunha justifica ainda o porquê das grávidas e dos menores de 18 não estarem entre os vacinados. “São grupos que não foram incluídos nos estudos. Não existe uma razão especial. E, normalmente, menores de 18 anos raramente têm casos graves da doença, e gestantes pertencem a uma população que temos mais cuidado”.
 
“Fura-fila” 
 
Com a vacina, o anseio de ter a imunidade ao novo coronavírus e reduzir as chances de mortalidade pela doença despertou outro problema: a aplicação da vacina em pessoas que não compõem o grupo prioritário nesta primeira fase. O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) questionou a Secretaria de Saúde sobre possíveis irregularidades na campanha de imunização. A pasta esclareceu que irá apurar as denúncias e que, caso sejam comprovadas, o gestor responsável pela área e o servidor beneficiado responderão administrativamente pelos seus atos. 
 
Na última sexta-feira, gestores da secretaria e representantes do MPDFT se reuniram para esclarecer questões relacionadas à vacinação no Distrito Federal. O coordenador da força-tarefa de combate à pandemia da covid-19 do MP, o procurador José Eduardo Sabo Paes, irá fiscalizar de perto a vacinação nos hospitais a partir de amanhã. A pasta encaminhou a lista com os nomes dos servidores contemplados nos grupos prioritários e, a partir dela, o órgão vai apurar as fraudes, checando se as fotos e vídeos que receberam são de funcionários de fora dessa relação.
 
A Secretaria de Saúde reforçou o compromisso com a transparência de todo o processo de vacinação no portal específico da pasta, com o quantitativo de vacinados, hospitais e percentual de vacinas aplicadas e distribuídas.


Campanha de vacinação 

Se todos precisam se vacinar, por que alguns têm prioridade diante de outros?
 
» Pela limitação da quantidade de doses para a imunização, as campanhas de vacinação são por etapas, e é por isso que algumas pessoas se vacinam primeiro que outras. O critério utilizado para escolher quem toma a vacina primeiro é a chance que a pessoa tem de ficar doente, ter complicação e morrer. Desta forma, as pessoas de mais idade, as pessoas que estão mais expostas à doença (trabalhadores de saúde), moradores de unidades de acolhimento e casa de longa permanência são exemplos de pessoas prioritárias para a campanha, além de outros grupos que virão nas fases seguintes, como: maiores de 60 anos e pessoas com doenças crônicas (diabetes, doenças do coração e outras), por exemplo.
 
Ainda será preciso usar máscara depois que eu me vacinar? 
 
» Sim, será preciso, pois você ainda precisa de um tempo para adquirir a imunidade. Nenhuma vacina possui 100% de garantia de que vai te dar imunidade. Então pode ser que, mesmo tomando a vacina, você não terá imunidade. Além disso, a vacinação ainda não contempla a quantidade necessária da população para atingirmos uma imunidade coletiva ao vírus.
 
Devo esperar quanto tempo para tomar outras vacinas?
 
» Para tomar a vacina contra o novo coronavírus você precisa estar sem tomar qualquer vacina nos últimos 30 dias, bem como não poderá tomar qualquer vacina no intervalo das doses ou 30 dias após a segunda dose.
 
Posso tomar a primeira dose de um laboratório e a segunda de um outro laboratório?
 
» Cada vacina foi produzida com uma técnica específica, estimulando diferentes tipos de defesa no corpo humano. Ainda não há qualquer tipo de informação que garanta a segurança ou a eficácia de vacinas de um esquema com doses de laboratórios diferentes. Para isto, o Governo do Distrito Federal desenvolveu um adesivo para facilitar a identificação do laboratório da dose aplicada, bem como todas as informações que vão permitir o rastreio da vacina.

Correio Braziliense sexta, 22 de janeiro de 2021

CORONAVÍRUS - MINISTÉRIO PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS QUESTIONA SAÚDE SOBRE CONTROLE DAS DOSES

Jornal Impresso

CORONAVÍRUS
 
MPDFT questiona Saúde sobre controle das doses
 
Ministério Público do DF pede informações sobre denúncias de que pessoas fora do grupo prioritário de vacinação estão recebendo o imunizante contra a covid-19 antes daquelas previstas no plano. Secretaria afirmou que vai apurar as supostas irregularidades

 

» CIBELE MOREIRA
» SAMARA SCHWINGEL
» DARCIANNE DIOGO

Publicação: 21/01/2021 04:00

De acordo com a Secretaria de Saúde, caso seja comprovada fraude na aplicação da vacina, tanto o gestor da unidade quanto o beneficiário responderão administrativamente  (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  
De acordo com a Secretaria de Saúde, caso seja comprovada fraude na aplicação da vacina, tanto o gestor da unidade quanto o beneficiário responderão administrativamente
Coordenador da força-tarefa contra a pandemia da covid-19 no Distrito Federal, o procurador José Eduardo Sabo Paes requisitou à Secretaria de Saúde (SES) informações sobre denúncias de que pessoas estariam furando a fila de vacinação contra o novo coronavírus na capital. A pasta tem menos de 48 horas para enviar uma resposta ao Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT). No ofício, o procurador afirmou que a situação representa violação ética “inaceitável”. A Secretaria de Saúde afirmou que o caso será apurado pelo setor de controle interno da pasta.
 
“Após intensas tratativas e um esforço muito grande, o DF recebeu pouco mais de 106 mil doses que são destinadas, exclusivamente, num primeiro momento, para aqueles que atendem direto nos hospitais pacientes infectados com o coronavírus. Chegou ao MPDFT uma denúncia de que outras pessoas estariam sendo vacinadas também. Nós requisitamos que a SES nos informe, imediatamente, quais são essas pessoas”, explicou o procurador.
 
Na avaliação de José Eduardo Sabo Paes, “tal situação, uma vez comprovada, além de representar violação ética inaceitável, importa em grave descumprimento da legislação, com inevitáveis consequências nas esferas administrativa e penal para os autores e beneficiários indevidos da medida”.
 
Em nota à imprensa, divulgada na noite de ontem, a Secretaria de Saúde informou que chegaram ao conhecimento da pasta denúncias de supostas irregularidades no processo de vacinação em algumas unidades e que “imediatamente, o secretário de Saúde, Osnei Okumoto, solicitou aos superintendes regionais a lista com os beneficiados pela vacina até o presente momento”.
 
Cada unidade hospitalar tem um gestor responsável pela definição dos profissionais que se enquadram nos critérios estabelecidos pela secretaria. Além disso, a vacina está ligada ao CPF de quem a recebeu e, para a aplicação da segunda dose, o paciente deve retornar ao local de vacinação na data informada no cartão de vacinação. Em relação a possíveis fraudes, a pasta afirma que o gestor responsável pela área e o servidor beneficiado, sem que atenda aos critérios estabelecidos pelo Ministério da Saúde, vão responder administrativamente pelos seus atos.
 
A respeito da prioridade de vacinação, segundo a secretaria, aqueles que atuam na linha de frente no atendimento à covid-19, como médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e administrativos, vigilantes e funcionários da limpeza — desde que exerçam funções em unidades consideradas de alto risco de contágio — serão vacinados. Quem trabalha em hospitais da rede pública receberá a dose no estabelecimento. Aqueles lotados em Unidades Básicas de Saúde (UBS) serão vacinados em seus locais de trabalho (veja O que você precisa saber).
 
Povos tradicionais
A imunização à forma mais grave da covid-19 chegou às aldeias dos povos tradicionais (indígenas) do Distrito Federal, ontem. Em uma comunidade Guajajara, no Noroeste, 17 pessoas receberam a primeira dose da CoronaVac. Cacique da aldeia, Francisco Filho Guajajara, 43 anos, foi o primeiro. Com o cartão de vacina nas mãos, ele comemorou a chegada dos imunizantes. “(A covid-19) está prejudicando a saúde de todo mundo. Estamos aguardando o melhor resultado com a vacinação dos indígenas, não só aqui, no Distrito Federal, mas no Brasil como um todo”, afirma.
 
De acordo com o cacique, na aldeia vivem 23 famílias, cada uma com cinco a 10 pessoas, e não houve casos da doença. “Graças a Deus, ninguém teve covid-19. A vacina chegou com esperança de termos saúde. Melhor evitar o vírus, porque a doença não escolhe ninguém”, ressaltou. Para Fetxawewe Tapuya Guajajara Veríssimo, 21, o imunizante se tornou fundamental para a manutenção da memória dos povos originários do Brasil. “É uma esperança para nós. Perdemos muitos anciões nas outras comunidades, em outros estados”, lamenta.
 
No entanto, houve aqueles que ficaram receosos quanto à segurança da vacina. O gerente da Unidade Básica de Saúde 2 da Asa Norte, Tiago Neiva, que esteve presente na aplicação das vacinas. Ele relata que uma das maiores preocupações da campanha é a desinformação. “Explicamos sobre a eficácia da vacina, que ela evita a forma mais grave (da doença). Mas, respeitamos a decisão deles. Vamos retornar, em outros momentos, para vacinar quem não foi imunizado. Nos informaram que muitos estão viajando”, adianta Neiva.
 
Outras comunidades indígenas também serão contempladas com as doses da vacina contra a covid-19 neste primeiro momento de imunização. A perspectiva da Secretaria de Saúde é de que 300 pessoas de tradicionais sejam vacinados pela campanha. Na comunidade Guajajara, uma equipe da Saúde, acompanhada por escolta policial, levou as doses da vacina chinesa CoronaVac. Esse será o processo de vacinação que seguido em todas as aldeias do DF.
 
Previsão
Apesar das expectativas para o início da segunda fase, de acordo com a Secretaria de Saúde, ainda não há uma data prevista. A pasta informa que isto depende do envio de mais doses de vacina por parte do Ministério da Saúde e descartou a possibilidade de adquiri-la diretamente. Mesmo sem datas, o GDF espera que, até o fim do ano, toda a população da capital federal esteja vacinada.
 
No entanto, isto depende da aprovação de novas doses pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Em 18 de janeiro, o Instituto Butantan — responsável pela produção da CoronaVac no Brasil — registrou, junto à agência, um pedido de uso emergencial de mais 5 milhões de doses do imunizante. O Butantan espera que, na próxima semana, este material esteja disponível para uso. Caso isso ocorra, o instituto enviará as doses para o Ministério da Saúde, que distribuirá para as unidades da Federação. Até o momento, o ministério não tem uma previsão de quantas doses devem ser enviadas ao DF.
 
Mesmo com a vacinação, é importante lembrar que a pandemia não acabou. Segundo o infectologista do Hospital das Forças Armadas (HFA) Hemerson Luz, caso a população brasiliense não se cuide, o sistema de saúde local pode entrar em colapso, e mortes podem ocorrer por falta de estrutura. “A guerra ainda não está ganha. Caso as pessoas continuem a sair, o vírus vai continuar circulando e se transformando, o que pode atrapalhar a vacinação. Por isso, neste início da imunização, é essencial que as pessoas tentem evitar ao máximo a disseminação do vírus”, alerta. “Só poderemos voltar ao normal quando a doença for controlada e, atualmente, cada pessoa precisa contribuir para a diminuição do número de casos”, finaliza Hemerson.
 
» Colaborou Pedro Marra
 
 
O que você precisa saber
 
Há vacina para todas as pessoas que compõem o grupo prioritário da primeira fase?
Não. Neste primeiro momento, o Distrito Federal recebeu 106.160 doses da CoronaVac, o que garante a imunização de 53 mil pessoas. Mas, não atende à totalidade do grupo prioritário da primeira fase da vacinação.
 
Quem poderá se vacinar neste primeiro momento?
Profissionais que atuam na linha de frente contra a covid-19, entre eles médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e fisioterapeutas que atuam nas UTIs-covid-19. Trabalhadores administrativos que fazem as fichas de atendimento dos pacientes, além dos vigilantes e profissionais de limpeza de hospitais e das unidades básicas de saúde. Servidores do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), equipes do Corpo de Bombeiros Militar que fazem o atendimento pré-hospitalar e profissionais da atenção primária que estão no atendimento a pacientes com sintomas respiratórios também serão contemplados. Os idosos e pessoas com alguma deficiência em instituições de longa permanência, bem como seus cuidadores e a população indígena.
 
Tenho mais de 75 anos. Quando serei vacinado?
A Secretaria de Saúde aguarda a chegada de novas doses para definir os próximos passos para a imunização. Neste primeiro momento, com as vacinas que a pasta recebeu, a população acima de 75 anos não foi contemplada. Neste caso, os idosos não devem procurar os postos de saúde nem os hospitais para receber a primeira dose da vacina.
 
 
 
620 casos em 24h
 
O Distrito Federal registrou 620 casos de covid-19 e seis mortes em decorrência da doença, nas últimas 24h. Ao todo, a capital acumula 266.506 infectados pelo novo coronavírus e 4.442 óbitos. Os recuperados somam 255.406 (95,8%). Os dados foram divulgados ontem, pela Secretaria de Saúde. A média móvel de ocorrências está em 720, enquanto a de mortes é de 7,57.

Correio Braziliense quinta, 21 de janeiro de 2021

BRASILEIRÃO - FLAMENGO X GOIÁS: HORA DO ACERTO

Jornal Impresso

BRASILEIRãO - FLAMENGO X GOIÁS
 
Hora do acerto
 
Flamengo e Goiás entram em campo, hoje, com desafios distintos. Enquanto o rubro-negro luta para afastar a má fase, o time goiano, que está na zona de rebaixamento, sonha em se manter na elite da competição

 

Publicação: 18/01/2021 04:00

Cada vez mais pressionado pela torcida, Rogéio Ceni comandará a equipe para uma missão: vencer. Na última semana, a direção do clube bancou a permanência dele no time (Antonio Lacerda/AFP - 2/12/20)  

Cada vez mais pressionado pela torcida, Rogéio Ceni comandará a equipe para uma missão: vencer. Na última semana, a direção do clube bancou a permanência dele no time

 



Há tempos que o Flamengo não chegava sob tanta pressão para uma partida do Brasileirão. São três jogos sem vencer; os atletas vêm sendo cobrados pela apatia em campo e o técnico Rogério Ceni está sendo bastante questionado pelos resultados não satisfatórios dos últimos jogos. Hoje, às 20h, em visita ao Goiás, no estádio da Serrinha, os cariocas necessitam urgentemente reencontrar o caminho do triunfo para voltar a falar em título.

Desde as quedas na Libertadores e Copa do Brasil que o clube se fechou para apagar a má impressão na temporada, em busca do bicampeonato nacional. E tudo vinha bem, com três triunfos seguidos. Parecia que iria ameaçar o líder São Paulo. Até a visita ao Fortaleza.

Em uma partida de pouca inspiração ofensiva, o Flamengo não foi além do 0 x 0. Vieram as derrotas para o Fluminense e o Ceará. A partir dos resultados negativos, a paz no clube acabou de vez. Torcedores xingaram jogadores e picharam os muros da Gávea. A cabeça de Ceni foi pedida, mas a direção bancou a permanência.

Prestigiado, o treinador sabe que precisa de uma resposta imediata. Apesar de estar na zona de rebaixamento, o Goiás vem crescendo de rendimento e, no primeiro turno, deu enorme trabalho aos cariocas, que só venceram com gol nos acréscimos.

Ceni tem dúvidas sobre qual equipe mandará a campo. Gerson está suspenso e Diego pode ser escolhido para a posição, em uma escalação mais ofensiva. O meia ajudaria na armação e faria um revezamento na contenção com Éverton Ribeiro.

A grande questão, porém, está no ataque. No último jogo, Gabriel Barbosa foi reserva e não escondeu o incômodo. Assumiu odiar ficar no banco. Pedro ganhou chance e deixou a desejar. A dúvida sobre quem será o centroavante em Goiânia deve persistir até momentos antes de a bola rolar. Como ambos ainda não iniciaram juntos no Brasileirão, é pouco provável que o técnico invista nessa formação.

Diego Alves segue em recuperação de uma lesão muscular e César deve iniciar mais uma partida. Na defesa, Gustavo Henrique foi outro a decepcionar e pode abrir espaço para o retorno de Natan ao time.

O Flamengo sabe que não existe mais espaço para vacilos e promete uma resposta às críticas. O resultado em campo hoje dirá muito pelo que os cariocas brigarão nesta reta final de Brasileirão.

Lutando para não cair
Por sua vez, o Goiás vai atrás da reabilitação para manter vivo o sonho de se manter na elite.

Na zona de rebaixamento, o clube goiano está na 18.ª colocação, com 26 pontos. A missão não será nada fácil, já que o adversário vive um momento delicado e precisa do resultado positivo para seguir na briga pelo título brasileiro. Mas isso não ilude o time goiano.

“Independentemente da fase que eles estão vivendo, nós temos que estar ligados desde o começo. É entrar em campo focados porque sabemos que o Flamengo tem uma grande equipe e não podemos desmerecer isso, independente da crise que eles estão passando”, declarou o atacante Fernandão.

Apesar de o Goiás ter perdido para o Internacional, por 1 x 0, os técnicos Glauber Ramos e Augusto César não vão fazer mudanças entre os titulares. A avaliação é de que o time teve uma boa atuação e merecia um resultado melhor em Porto Alegre.  

Correio Braziliense quarta, 20 de janeiro de 2021

CORONAVÍRUS - VACINA COLOCA O FIM DA PANDEMIA NO HORIZONTE

Jornal Impresso

Vacina coloca o fim da pandemia no horizonte
 
Profissionais da saúde receberam a primeira dose do imunizante contra a covid-19 em solenidade no Hran. Mais 122 idosos e 91 cuidadores do Lar dos Velhinhos Maria Madalena foram vacinados. Hoje, inicia-se a aplicação em comunidades indígenas

 

» SAMARA SCHWINGEL
» CIBELE MOREIRA

Publicação: 20/01/2021 04:00

Enfermeira Lídia Rodrigues Dantas,
31 anos, foi a primeira moradora do DF a receber o imunizante. Solenidade, no Hran, foi marcada pela emoção (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

Enfermeira Lídia Rodrigues Dantas, 31 anos, foi a primeira moradora do DF a receber o imunizante. Solenidade, no Hran, foi marcada pela emoção

 


Emoção e esperança. Foram essas as palavras que a enfermeira Lídia Rodrigues Dantas, 31 anos, usou para descrever o que sentiu após ser a primeira moradora do Distrito Federal vacinada contra covid-19. “Até agora, estou tentando assimilar que estou vacinada. De qualquer forma, é uma sensação única de esperança”, relatou. Assim como ela, profissionais de saúde das redes pública e particular começaram a receber as doses da vacina chinesa CoronaVac em oito hospitais da capital federal ontem. No Lar dos Velhinhos Maria Madalena, no Núcleo Bandeirante, mais uma etapa da campanha teve início: 122 idosos e 91 cuidadores receberam o imunizante. Hoje, começa a aplicação nas comunidades indígenas do DF.
 
A enfermeira Lídia Rodrigues atua, desde o início da pandemia, no box emergencial do Hospital Regional da Asa Norte (Hran), unidade que se tornou referência para o tratamento da covid-19 no DF desde o início da pandemia. Além dela, cinco profissionais do serviço de saúde do DF (veja Os primeiros) receberam a primeira dose do imunizante, na solenidade que marcou o início da campanha de vacinação em Brasília. Também enfermeira, Najla Simone foi a responsável por aplicar a vacina. A expectativa do Governo do Distrito Federal (GDF) é de que cerca de 53 mil pessoas sejam vacinadas nos próximos cinco dias, cobertura vacinal possível até o momento com o número de unidades enviadas pelo Ministério da Saúde — são 106.160 doses da CoronaVac, e o imunizante prevê esquema de duas doses.
 
Moradora do Sudoeste, Lídia conta que vivia com a mãe, na Colônia Agrícola Águas Claras, mas precisou se mudar para evitar que a idosa se infectasse. “É gratificante saber que estamos caminhando para o fim de todo esse terror.” Lídia emocionou-se. Com os olhos cheios de lágrimas, ela relembra as dificuldades que enfrentou no atendimento aos pacientes da covid-19. “Teve momentos em que achei que não conseguiríamos vencer”, confessa.
 
Lídia é um dos milhares de brasilienses que perderam alguém amado para a doença, um colega de trabalho. Para ela, vacinar-se é uma obrigação social. “Foram 10 meses complicados, mas está acabando, não podemos relaxar agora. Um descuido pode ser o fim da vida de alguém”, ressalta. “Nossa luta não foi em vão e vamos continuar lutando, em equipe, para o bem da população do DF.”
 
Glória Neri, 76 anos, foi a primeira idosa a receber a vacina no DF. “Eu estou feliz da vida porque sou a primeira pessoa (idosa) do DF a ser vacinada, em nome de Jesus”, disse. Ela mora no Lar dos Velhinhos Maria Madalena, onde foi vacinada.
 
Segundo o Plano Distrital, a vacinação ocorrerá em quatro fases. Os primeiros a serem imunizados são profissionais da saúde; idosos acima dos 60 anos que estão em instituição de acolhimento ou asilos e pessoas com mais de 18 anos com deficiência física que vivem nessa mesma condição, bem como seus cuidadores; e a população indígena. As que não forem vacinadas, neste primeiro momento, serão imunizadas assim que mais doses forem encaminhadas ao DF.
 
Os idosos com mais de 75 anos estavam na lista de prioridade entre os primeiros a serem vacinados mas, com a liberação de um número reduzido de doses, esse grupo precisou ficar de fora e será imunizado assim que novas doses forem liberadas. A segunda fase prevê a vacinação de idosos com mais de 60 anos; a terceira inclui pessoas com comorbidades; e a quarta, professores e profissionais da força de segurança e salvamento.
 
Presente no início da vacinação no Hran, o governador Ibaneis Rocha (MDB) afirmou que continuará pressionando o governo federal para que mais doses sejam registradas e entregues. “Fico feliz em saber que o Instituto Butantan (responsável pela produção da vacina chinesa CoronaVac no Brasil) pediu o registro de mais 5 milhões de doses. Vamos continuar cobrando das autoridades federais para termos um número ainda maior de vacinas para toda a população do DF”, adiantou Ibaneis. A expectativa do Executivo local é de que, até o fim do ano, toda a capital federal esteja vacinada.
 
Mudanças
A previsão era de que a vacinação tivesse início, simultaneamente, em 15 hospitais da rede pública de saúde. Porém, devido a atrasos na entrega dos imunizantes, oito unidades conseguiram cumprir o cronograma. Segundo a Secretaria de Saúde, todas as unidades descritas receberão as vacinas, à exceção da base do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) que, ao contrário do que foi divulgado anteriormente, não será um ponto de vacinação.
 
De acordo com o Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (Iges-DF), a secretaria entregará, hoje, vacinas para o Hospital de Base e para as UPAs de Sobradinho e de São Sebastião. Nas unidades do Iges-DF, são vacinados apenas os profissionais que estão na linha de frente no combate à covid-19, conforme definido no Programa Nacional de Imunização do Ministério da Saúde, informou o instituto, em nota oficial.
 
 
Os primeiros
 
Na manhã de ontem, no Hran, a enfermeira Lídia Rodrigues Dantas e mais cinco profissionais que atuam na linha de frente da unidade foram os primeiros vacinados no DF. Confira:
 
» Karina de Jesus Silva, técnica de enfermagem, 38
» Ana Paula Barbosa Pereira, fisioterapeuta, 49
» Juliana Bento da Cunha, médica, 32
» Narcisa Trajano de Araujo, auxiliar de limpeza, 61
» Pedro Teodoro, vigilante, 58

Correio Braziliense terça, 19 de janeiro de 2021

COMEÇA A VACINAÇÃO NO DF

Jornal Impresso

Começa a vacinação  contra a covid no DF
 
 
Hospitais da rede pública receberão as doses da CoronaVac e poderão começar a aplicar às 10h. Neste primeiro momento, 47,5 mil a serem imunizados serão profissionais de saúde que atuam na linha de frente, 3.700 idosos e 300 indígenas

 

» CIBELE MOREIRA
» SAMARA SCHWINGEL
» JÉSSICA MOURA

Publicação: 19/01/2021 04:00

Após a chegada na Base Aérea, as doses da vacina foram encaminhadas para um caminhão frigorífico, 
que saiu em comboio de viaturas da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária Federal rumo à Rede Fria do DF (Ed Alves/CB/D.A Press)  
Após a chegada na Base Aérea, as doses da vacina foram encaminhadas para um caminhão frigorífico, que saiu em comboio de viaturas da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária Federal rumo à Rede Fria do DF

Com a chegada das 106 mil e 160 doses da vacina chinesa CoronaVac ao Distrito Federal, na tarde de ontem, a capital federal inicia hoje, às 10h, a vacinação contra a covid-19. A vacina ficará disponível em 15 hospitais da rede pública. De acordo com a Secretaria de Saúde, cerca de 51,2 mil pessoas serão imunizadas nesta primeira fase. Deste quantitativo, 47,5 mil são trabalhadores que atuam na linha de frente contra o novo coronavírus, entre médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, vigilantes e servidores da limpeza de hospitais, além das equipes do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e do Corpo de Bombeiros Militar que fazem o atendimento pré-hospitalar. Idosos acima de 60 anos e pessoas acima de 18, com algum tipo de deficiência, que moram em instituição de longa permanência, bem como os cuidadores delas, também entram nesta etapa de imunização, assim como a população indígena. 
 
O número de pessoas que serão contempladas com as duas doses da vacina, neste primeiro momento, equivale a 28,65% das 189.514 previstas no primeiro Plano Distrital de Vacinação, onde 101.996 são profissionais de saúde, 80.950 idosos acima de 60 anos e 6.568 idosos que moram em instituições de longa permanência, como asilos. Apesar do início da imunização, especialistas alertam para a importância de continuar seguindo os protocolos de segurança sanitária como o uso de máscaras e distanciamento social. 
 
As doses da CoronaVac chegaram ao DF por volta das 14h46 de ontem. O avião da Força Aérea Brasileira (FAB) que transportava o material pousou na Base Aérea de Brasília e, de lá, os imunizantes seguiram, em escolta realizada pela Polícia Federal e pela Polícia Rodoviária Federal, para a Central de Armazenamento da Rede de Frios. Em coletiva realizada no Palácio do Buriti, também na tarde de ontem, o secretário de Saúde, Osnei Okumoto, afirmou que, por questões logísticas, não foi possível iniciar a vacinação ontem, conforme ocorreu em outras unidades da Federação. “Após a chegada do voo, há uma necessidade de verificação da alfândega para depois ser encaminhado para a Rede de Frio, onde vão ser observadas as condições de temperaturas das vacinas para a validação. A partir disso, é feita a climatização e as doses ficam disponíveis para serem encaminhadas às salas de imunização”, destacou Okumoto. 
 
Às 7h30 da manhã de hoje, a Polícia Militar do DF escoltará as doses para as outras oito redes de frios localizadas no Hospital Regional da Asa Norte (Hran), Hospital Regional do Núcleo Bandeirante, Hospital Regional de Taguatinga (HRT), Hospital Regional de Ceilândia (HRC), Hospital Regional de Paranoá (HRL), Hospital Regional do Gama (HRG), Hospital Regional de Sobradinho (HRS) e Hospital Regional de Planaltina (HRP). As equipes de saúde que trabalham nestas unidades serão as primeiras a receber a dose da vacina. Para a imunização, é necessário preencher uma ficha de cadastro que será vinculada ao CPF e, ao final da aplicação, a pessoa receberá um comprovante com a especificação da marca da vacina e a data. É importante guardar esta comprovação para garantir a imunização completa do mesmo fabricante. Para quem está em instituição de longa permanência e para os indígenas, a Secretaria de Saúde irá disponibilizar equipes volantes para ir até os locais onde este grupo se encontra. Quem trabalha na capital e mora no Entorno também terá direito a tomar a vacina no local de trabalho. A Secretaria de Saúde fará o controle de quantos profissionais que residem no Entorno tomaram a vacina no DF para fazer a reposição do estoque destinado à população da capital.
 
As doses a serem utilizadas ficarão armazenadas nas redes de frios e serão distribuídas diariamente aos hospitais de acordo com a demanda. Em relação aos materiais necessários para a aplicação das doses, como seringas e agulhas, a secretaria informou que não há riscos de falta dos insumos. Em nota, a pasta disse que o DF “tem, em estoque, 2 milhões de seringas com agulhas e está aguardando a entrega de mais 3,5 milhões referentes a um processo de compra já finalizado’’. Ou seja, no total, a pasta terá 5,5 milhões de agulhas e seringas a serem utilizadas nas campanhas de vacinação. 
 
Até o fim do ano
A expectativa do Executivo local é de que a população do DF esteja imunizada até o fim do ano, inclusive quem já teve covid-19. “O coronavírus é um vírus novo e a gente não sabe o comportamento e em quanto tempo de imunidade ele está dando para as pessoas, então, todo mundo será vacinado. E eu não tenho dúvida de que, neste ano, nós alcançaremos os 3 milhões de pessoas vacinas no Distrito Federal e 1,5 mil da Ride”, ressaltou Alexandre Garcia, secretário adjunto de Assistência à Saúde.
 
 É importante ressaltar que, neste primeiro momento, não haverá disponibilização da vacina nos postos para a população geral, e as equipes de saúde irão até as pessoas que pertencem ao grupo prioritário para realizarem o procedimento. Por isso, não há necessidade de agendar ou procurar um posto de vacinação. As próximas fases e grupos a serem vacinados serão informados à medida que novas doses da vacina contra a covid-19 cheguem na capital. Todo o protocolo e logística serão divulgados de acordo com a quantidade de doses disponíveis.
 
Pandemia continua 
O Distrito Federal recebeu 106 mil doses, o que permite a imunização de 53 mil pessoas, considerando que a CoronaVac exige a aplicação de duas doses para alcançar o nível de imunização apresentado nos testes clínicos (leia mais na página 15). Segundo o infectologista Alexandre Cunha, mesmo os vacinados precisam continuar seguindo as regras sanitárias. “Quem receber a primeira dose ainda não estará imune, pois é preciso esperar a vacinação completa”, explica. 
 
Além disso, o infectologista afirma que, mesmo após a segunda dose, não dá para se descuidar. “A vacina não tem eficácia de 100%, ela apenas diminui os riscos e a gravidade da doença. Por isso, é importante que as pessoas continuem utilizando máscaras de proteção facial, álcool em gel e evitando aglomerações até que o número de casos diminua consideravelmente”, completa.  
 
De acordo com boletim divulgado, ontem, pela Secretaria de Saúde, o DF contabilizou, nas últimas 24 horas, mais 1.047 casos de infecção pelo novo coronavírus e o total chegou a 265 mil. No mesmo período, mais seis óbitos foram registrados, totalizando 4,4 mil. Entre as regiões administrativas, Ceilândia segue como a região com mais casos da doença, com 28.914. Em seguida, o Plano Piloto aparece com 23.992 e Taguatinga, com 21,519. A média móvel do DF caiu para 8,4. 
 
 
Fases de imunização
 
Primeira fase
» Trabalhadores da saúde que atuam na linha de frente (médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, vigilantes e servidores da limpeza de hospitais, além da equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência e do Corpo de Bombeiros Militar que fazem o atendimento pré-hospitalar;
» Pessoas com 60 anos ou mais que vivem em instituições de longa permanência (como asilos e instituições psiquiátricas);
» Pessoas acima de 18 anos com deficiência que vivem em instituições de longa permanência;
» Cuidadores que atuam em instituições de longa permanência (como asilos e instituições psiquiátricas);
» Indígenas.
 
Segunda fase
» Pessoas de 60 a 74 anos;
» Idosos a partir dos 75 anos.
 
Terceira fase
» Pessoas com comorbidades que apresentam maior chance para agravamento da doença, como: portadores de diabetes mellitus; hipertensão arterial grave; doença pulmonar obstrutiva crônica; doença renal; doenças cardiovasculares e cerebrovasculares; indivíduos transplantados de órgão sólido; anemia falciforme; câncer; e obesidade grave.
 
Quarta fase
» Agentes de segurança e professores.
 
 
Linha do tempo
 
A trajetória da CoronaVac 
 
JUNHO 2020
 
Governo de São Paulo firma parceria com Sinovac para produção da vacina
 
JULHO 2020
 
Começa o recrutamento de voluntários para os testes clínicos no Brasil
 
AGOSTO 2020
 
CoronaVac começa a ser testada na UnB
 
28 DE OUTUBRO 2020
 
Autorização da importação dos insumos para produção da vacina
 
29 DE OUTUBRO 2020
 
Morre voluntário em estudos da fase 3
 
9 DE NOVEMBRO 2020
 
Anvisa interrompe testes clínicos da CoronaVac após evento adverso
 
11 DE NOVEMBRO 2020
 
Anvisa autoriza retomada de testes, depois da comprovação que morte de voluntário não teve relação com a vacina
 
23 DE NOVEMBRO 2020
 
Butantan anuncia fim dos testes clínicos do imunizante
 
DEZEMBRO 2020
 
Governo de São Paulo divulga resultados da fase 3 de estudos clínicos da CoronaVac
 
12 DE JANEIRO 2021
 
Butantan divulga que eficácia da vacina é de 50,38%
 
17 DE JANEIRO
 
Anvisa aprova uso emergencial da vacina no Brasil. Primeira pessoa imunizada fora dos ensaios clínicos é a enfermeira Mônica Calazans, em São Paulo
 
18 DE JANEIRO
 
O Ministério da Saúde começa a distribuição das primeiras doses. Imunizante desembarca em Brasília
 
19 DE JANEIRO
 
Começa a vacinação contra a covid-19 no Distrito Federal

Correio Braziliense segunda, 18 de janeiro de 2021

VACINAÇÃO COMEÇA, APÓS AVAL DA ANVISA

Jornal Impresso

Vacinação começa após aval da Anvisa
 
São Paulo dá a largada do processo de imunização contra a covid-19 com a aplicação da CoronaVac em profissionais da saúde e indígenas. No Brasil, a campanha terá início na próxima quarta-feira. Doria e Pazuello trocam farpas

 

JORGE VASCONCELLOS
ROSANA HESSEL

Publicação: 18/01/2021 04:00

Um momento histórico. Uma vitória da ciência. Após 312 dias do início da pandemia  da covid-19, a vacinação contra a doença começou no Brasil.  A enfermeira Mônica Calazans, de 54 anos, foi a primeira pessoa no país a ser  imunizada fora dos estudos clínicos, em ação realizada pelo governo de São Paulo. Ela recebeu uma dose da CoronaVac, momentos depois de a vacina, produzida pelo Instituto Butantan com o laboratório chinês Sinovac, ter o uso emergencial aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O órgão regulador concedeu a mesma autorização para a vacina da Oxford/Astrazeneca, a pedido da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). A vacinação da enfermeira foi presenciada pelo governador João Doria (PSDB), que aproveitou para alfinetar o presidente Jair Bolsonaro, afirmando que aquele era o “Dia V” contra o negacionismo e “contra quem gosta do cheiro da morte”.

O governo de São Paulo informou que os vacinados no primeiro dia de aplicação do imunizante no estado são profissionais da saúde e indígenas — a primeira a receber a dose foi Vanuzia Costa Santos, da Aldeia Filhos da Terra. Pouco mais de 100 pessoas já receberam a CoronaVac até agora, no Complexo do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).

O evento conduzido por Doria foi realizado no mesmo local,  ao mesmo tempo em que o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, concedia entrevista coletiva para anunciar que a vacinação nacional contra o novo coronavírus será iniciada na próxima quarta-feira. “Hoje, repito, é o dia V. É o dia da vacina. É o dia da vitória. É o dia da verdade. É o dia da vida”, afirmou o governador paulista, ao lado da enfermeira Mônica Calazans.

Com a voz embargada, o tucano disse que o momento era “uma conquista que fortalece milhões de pessoas que defendem a vida”. Foi uma clara alusão ao discurso de Bolsonaro, que insiste em minimizar a gravidade da pandemia e em recomendar um “tratamento precoce” contra a covid-19, com o uso de cloroquina e de outros medicamentos sem comprovação científica no Brasil e no mundo.

Doria comemorou a decisão da Anvisa como uma vitória da ciência e dedicou o “Dia V” aos 209 mil mortos pela covid-19 e familiares, assim como aos mais de 8 milhões de pessoas que contraíram o vírus e, principalmente, aqueles que estão lutando para vencer a doença. Ele destacou que a CoronVac é a “vacina do Brasil” e só existe porque “o governo de São Paulo agiu”.

O tucano também fez questão de homenagear os profissionais de saúde que trabalham na linha de frente dos hospitais, como médicos e enfermeiras, e também aos pesquisadores que trabalharam no desenvolvimento da CoronaVac. “A vitória de hoje vai salvar milhões”, frisou o tucano, acrescentando que aquele momento era uma homenagem para as pessoas que valorizam a vida. “Ao contrário daqueles que, nos últimos 11 meses, flertaram com a morte”, emendou.

O governador também informou ter determinado que 4,636 milhões de doses da CoronaVac, que foram importadas da China e estão armazenadas no Butantan, fossem entregues ao Ministério da Saúde para distribuição entre os estados e o Distrito Federal. Segundo o governador, São Paulo ficará com as doses determinadas pelo Programa Nacional de Imunização (PNI):  1.357.940 doses da vacina vão permanecer no estado para imunizar os profissionais de saúde.

Doria ainda pediu para que o governo federal pare de recomendar cloroquina para a população. “Eu espero que o comportamento do Ministério da Saúde seja pela vida e peço também que pare de distribuir e recomendar o uso da cloroquina. É criminoso fazer crer a população, sobretudo a mais desvalida, mais simples e mais humilde, que a cloroquina salva. A cloroquina não salva e, em alguns casos, cloroquina mata”, disse.

Ao ser questionado sobre as críticas do ministro Eduardo Pazuello (leia abaixo) de que ele teria dado um golpe de marketing com antecipação da vacinação no estado, o governador rebateu que o governo federal deu “golpe de morte, com seu negacionismo, com suas mentiras”.


 (Nelson Almeida/AFP)  


“Não tenham medo”
Primeira pessoa a ser imunizada contra a covid-19 no país, a enfermeira Mônica Calazans, 54 anos, atua na linha de frente do combate à doença mesmo fazendo parte do grupo de risco do novo coronavírus: ela é obesa, hipertensa e diabética. Apesar de se enquadrar nessas condições, em maio do ano passado, no auge da primeira onda da doença, ela se inscreveu para vagas de contrato por tempo determinado (CTD), escolhendo trabalhar no Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo, no epicentro do combate à pandemia.  Após receber a CoronaVac, ela pediu que os brasileiros acreditem nas vacinas. “Falo com segurança e propriedade, não tenham medo. Quantas pessoas têm receio de chegar próximas às outras? Eu tomo ônibus, metrô, as pessoas têm receio de chegar perto de você. Então, povo brasileiro, é nossa grande chance. Vamos pensar no monte de vidas que nós perdemos, quantas famílias nós perdemos, quantos pais, mães, irmãos. Eu quase perdi um irmão também com covid. E diante disso é que eu tomei coragem e participei da campanha da vacina”, disse. Mônica atuou como auxiliar de enfermagem por 26 anos e só conseguiu o diploma como enfermeira quando tinha 47 anos. “Quem cuida do outro tem que ter determinação e não pode ter medo. É lógico que eu tenho me cuidado muito a pandemia toda. Preciso estar saudável para poder me dedicar. Quem tem um dom de cuidar do outro sabe sentir a dor do outro e jamais o abandona.”

Correio Braziliense domingo, 17 de janeiro de 2021

LEGISLATIVO: PARLAMENTARES APOSTAM NO CENTRO

Jornal Impresso

 

LEGISLATIVO
 
Parlamentares apostam no centro
 
Votações para as presidências das duas Casas do Congresso Nacional ocorrem em 1º de fevereiro. Bastidores indicam que, no Senado, Simone Tebet (MDB) levará maioria dos representantes da capital e, na Câmara, o escolhido será Arthur Lira (PP)

 

» SAMARA SCHWINGEL

Publicação: 17/01/2021 04:00

Os 513 deputados federais e os 81 senadores definirão os presidentes de cada Casa. Para especialistas, as escolhas vão impactar na elaboração de políticas públicas da capital (Ed Alves/CB/D.A Press - 7/1/20)  
Os 513 deputados federais e os 81 senadores definirão os presidentes de cada Casa. Para especialistas, as escolhas vão impactar na elaboração de políticas públicas da capital


Em 1º de fevereiro, os oito deputados federais e os três senadores que representam o Distrito Federal no Congresso Nacional vão se unir aos colegas de outras unidades da Federação para escolher os novos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. Bastidores indicam que a maioria dos senadores da capital deve apoiar Simone Tebet (MDB-MS) e, na Câmara, Arthur Lira (PP-AL) conta com o suporte de, pelo menos, cinco deputados do DF.

A bancada do DF, na Câmara, é composta por oito deputados, cada um de um partido distinto. São eles: Bia Kicis (PSL), Celina Leão (PP), Professor Israel Batista (PV), Paula Belmonte (Cidadania), Luis Miranda (DEM), Flávia Arruda (PL), Erika Kokay (PT) e Júlio César Ribeiro (Republicanos). Em relação a eleição para presidente da Casa, os parlamentares podem optar por seguir a indicação ou a aliança da legenda ou apoiar outro candidato. Até o momento, a disputa está polarizada entre Arthur Lira (PP-AL) e Baleia Rossi (MDB-SP) — presidente do partido do governador Ibaneis Rocha. O emedebista conta com o apoio de 11 legendas: MDB, PSDB, DEM, PT, PSL, Cidadania, PV, PSB, PDT, PCdoB e Rede. Arthur Lira está com o PP, Solidariedade, PL, PSD, Patriota, PSC, Pros e Avante, além de ser o candidato do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

Apesar das alianças e das confirmações de apoio, o voto para escolha do presidente da Câmara é secreto. Por isso, a preferência de um partido a uma candidatura, não significa que todos os filiados escolherão no candidato da legenda. Por exemplo, o deputado Luis Miranda irá contra a orientação do DEM e deve apoiar Arthur Lira — que também deve contar com os votos de Bia Kicis, Júlio César, Flávia Arruda e Celina Leão. Paula Belmonte ainda não definiu o voto. Erika Kokay e o professor Israel Batista declararam apoio ao deputado Baleia Rossi.

Mesmo com toda a movimentação, o resultado da eleição pode ser diferente para a bancada do DF. De acordo com o professor de ciências políticas da Universidade de Brasília (UnB) Lúcio Rennó, o fato de os dois principais candidatos serem de partidos de centro, dificulta a previsão do voto de quem ainda não fez uma opção, ademais, os parlamentares com escolhas definidas podem “mudar de lado”. “A disputa está muito centrada em dois candidatos que, de certa forma, são parecidos. Por isso, é possível que os deputados se movimentem mais. O resultado pode surpreender”, avalia.

Senadores


No Senado, o DF tem três cadeiras — ocupadas por Izalci Lucas (PSDB), Leila Barros (PSB) e José Antônio Reguffe (Podemos). A disputa para a Presidência, está dividida, sobretudo, entre a candidata do MDB, Simone Tebet (MS), que conta, até o momento, com apoio do Podemos; e Rodrigo Pacheco (DEM-MG), com suporte do PSD, PT, Republicanos, Pros, PDT e PSC. Entre os representantes do DF, Tebet deve levar a maioria. Reguffe, que foi candidato na última eleição da Casa, na qual recebeu seis votos, declarou que seguirá o partido e apoiará Tebet, por acreditar que o Senado “precisa de mudanças” (leia mais na página 14). Há expectativas de que Leila Barros também vote na emedebista, apesar dela ainda não ter declarado publicamente apoio. O senador Izalci Lucas afirmou que vai votar em Pacheco por “questões regionais”.

O cientista político Fábio Vidal analisa que, ao assumir o apoio a um candidato, os parlamentares do DF se posicionam e, consequentemente, correm riscos. “Caso o candidato escolhido pela maioria da bancada vença, será mais fácil somar forças e ter apoio para aprovar projetos que beneficiem a capital federal. Porém, o contrário também é verdade e, se o candidato adversário for o vencedor, os senadores podem encontrar resistência na aprovação de textos, por exemplo”, explica.

Efeitos

Apesar de a eleição no Congresso Nacional não ter a participação direta da população, é importante que os eleitores fiquem atentos. Segundo Fábio, entre os deputados, a tendência de apoio a Arthur Lira indica um alinhamento com o governo federal e estadual. “Não é novidade que a atual gestão do DF mantém relações próximas com a União. Sendo assim, quando os parlamentares apoiam o escolhido por Jair Bolsonaro demonstram, também, um alinhamento de ideias ao GDF”, comenta. E esse posicionamento, reforça Fábio, pode facilitar a aprovação de projetos dos parlamentares.

Além disso, alguns podem lançar candidaturas ao governo do DF nas eleições de 2022. Izalci Lucas e Reguffe, por exemplo, são nomes cotados. “Com as alianças e os acordos, ficam mais claras as intenções e os posicionamentos de cada senador e de cada deputado. Apesar dos votos secretos, a movimentação nos diz muito”, finaliza  Fábio Vidal.


  • Saiba mais
    Entenda as eleições nas Casas

    As eleições para a Presidência da Câmara e para a do Senado ocorrem no mesmo dia, 1º de fevereiro, porém o procedimento de cada uma é distinto. Para iniciar o processo na Câmara, é necessário o quórum mínimo de 257 deputados, ou seja, a metade mais um da quantidade total de parlamentares (513). Cada deputado escolhe os candidatos para os cargos em disputa: presidente, 1º vice-presidente, 2º vice-presidente, quatro secretários e quatro suplentes. Para ser eleito em primeiro turno, o postulante precisa ter 257 votos a favor. Caso isso não ocorra, os dois mais votados disputam o segundo turno.

    No Senado, a reunião preparatória para escolha do presidente pode ser aberta com o quórum mínimo de 14 senadores, o equivalente a um sexto da composição do Senado. Para ser eleito, o candidato precisa ter o voto de 41 dos 81 senadores. Caso nenhum dos candidatos alcance a marca, há segundo turno ou mais, se necessário. Se houver apenas um candidato, a votação é feita pelo painel eletrônico (votando “sim”, “não” ou “abstenção”). Assim como na Câmara, o voto é secreto.



  • Intenções de voto dos deputados e dos senadores do DF

    Deputado    Partido    Voto
    Bia Kicis    PSL    Arthur Lira (PP-AL)
    Luis Miranda    DEM    Arthur Lira (PP-AL)
    Celina Leão    PP    Arthur Lira (PP-AL)
    Júlio César    Republicanos    Arthur Lira (PP-AL)
    Paula Belmonte    Cidadania    Ainda não definiu
    Israel Batista    PV    Baleia Rossi (MDB-SP)
    Flávia Arruda    PL    Arthur Lira (PP-AL)
    Erika Kokay    PT    Baleia Rossi (MDB-SP)

    Senador    Partido    Voto
    Leila Barros    PSB    Ainda não definiu
    Reguffe    Podemos    Simone Tebet (MDB-MS)
    Izalci Lucas    PSDB    Rodrigo Pacheco (DEM-MG)
 
 

Correio Braziliense sábado, 16 de janeiro de 2021

CORONAVÍRUS - PLANO DE DISTRIBUIÇÃO PRONTO PARA A VACINA

Jornal Impresso

CORONAVÍRUS
 
Plano de distribuição pronto para a vacina
 
Seguindo calendário divulgado pelo Ministério da Saúde, DF marca início da campanha de imunização contra a covid-19 para a quarta-feira. Quando as doses chegarem, secretaria garante ter condições de levá-las aos pontos de aplicação em 24 horas

 

» ANA ISABEL MANSUR

Publicação: 16/01/2021 04:00

Mariana Rodrigues participa dos testes da CoronaVac no DF:  
Mariana Rodrigues participa dos testes da CoronaVac no DF: "Estamos lidando o tempo todo com a covid-19"

A poucos dias do início da vacinação contra a covid-19 anunciado pelo Ministério da Saúde, o Governo do Distrito Federal planeja cenários diversos e garante que a logística necessária para distribuir e aplicar as doses está montada. “Estamos trabalhando por cenários. Estamos preparados para receber tanto 10 mil unidades quanto 3 milhões”, afirma o secretário adjunto de assistência substituto da Secretaria de Saúde, Alexandre Garcia.
 
Apesar de ainda não saber qual, ou mesmo se as duas opções — a vacina de   Oxford/AstraZeneca e a CoronaVac — serão aprovadas, o Ministério da Saúde prevê o início da campanha de vacinação contra a doença para a próxima quarta-feira. Seguindo a decisão, a Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF) marcou o começo da imunização na capital para o mesmo dia.
 
No entanto, a pasta não sabe quantas doses serão enviadas pelo Ministério da Saúde. “O DF está pronto. Quando o ministério liberar as doses, em 24 horas conseguimos deixar cada unidade em sua respectiva sala de vacinação”, garante Alexandre Garcia. O Plano Estratégico e Operacional da Vacinação contra a Covid-19 no Distrito Federal estabelece que serão mobilizados 1,5 mil profissionais, em 169 salas de vacina, espalhadas nas sete regiões de saúde. Todos os pontos, de acordo com o GDF, foram equipados, neste ano, com 183 câmaras frias científicas para armazenamento de imunobiológicos. O treinamento dos servidores da Saúde que farão a aplicação da vacina começa segunda-feira, às 8h.
 
“A estrutura toda está montada, tudo que é necessário, seja qual tipo de vacina for, está pronto”, ressalta o gestor. A expectativa da secretaria é de que sejam enviadas, em um primeiro momento, 200 mil doses. “É a capacidade de pessoas que conseguimos imunizar por semana”, afirma Garcia.
 
Ontem, o governador Ibaneis Rocha (MDB) pediu ao secretário de Saúde do DF, Osnei Okumoto, que incluísse professores e agentes de segurança e de salvamento de volta aos grupos prioritários. O Plano Distrital de Vacinação tinha sido atualizado, após mudanças do Ministério da Saúde, alterando de quatro para três as fases de prioridade da imunização, e deixando de fora do cronograma inicial servidores da educação e da segurança.
 
O retorno desses profissionais à lista de prioridade, em um quarto grupo, acrescenta cerca de 78,3 mil pessoas ao processo inicial de imunização no DF. De acordo com Alexandre Garcia, a proposta é incluir professores das redes pública e privada, além de policiais e bombeiros. Ele calcula que os agentes de segurança e de salvamento somem cerca de 13 mil pessoas. “Não serão todos os agentes (de segurança), mas aqueles que têm atuado na linha de frente. São cerca de 8 mil policiais e entre 4 e 5 mil bombeiros”, explicou. O mesmo valerá para os profissionais da saúde, incluídos no primeiro grupo prioritário de vacinação.
 
O GDF contabiliza 202,3 mil pessoas, na primeira fase do plano de imunização, que inclui trabalhadores de saúde, pessoas maiores de 75 anos e idosos acima de 60 anos que vivem em instituições de longa permanência, como asilos e hospitais psiquiátricos. O segundo grupo é composto por 265,3 mil pessoas, entre 60 e 74 anos. A terceira fase é composta por 150,2 mil pessoas, que apresentam comorbidades como diabetes mellitus, hipertensão arterial grave, doença pulmonar obstrutiva crônica, doença renal, doenças cardiovasculares e cerebrovasculares, indivíduos transplantados de órgão sólido, anemia falciforme, câncer e obesidade grave. Ao todo, o GDF calcula que os grupos prioritários somem cerca de 700 mil pessoas.
 
Oxigênio disponível
A Secretaria de Saúde afirmou que a população do DF não precisa se preocupar com uma possível falta de cilindros de oxigênio nos hospitais públicos da cidade, como aconteceu no Amazonas. Segundo a pasta, a capital federal está abastecida, e “o quantitativo de oxigênio é suficiente para atender toda rede pública”.
 
Entre quinta-feira e ontem, o DF recebeu pacientes de covid-19 transferidos de Manaus (AM), uma vez que o sistema de saúde da capital amazonense está em colapso e sem o insumo. A secretaria detalhou que o contrato do DF não é por quantitativo de cilindros.  “A SES/DF paga pelo metro cúbico abastecido. Houve aumento de consumo de 2019 para 2020, mas foi aditivado ao contrato para não ocorrer desabastecimento”, completou a pasta.
 
Cuidados continuam
Mesmo que cerca de 23% da população brasiliense seja imunizada, as medidas de segurança não devem ser abandonadas após o início da vacinação. “É muito importante que a população esteja bem ciente do que implica (o início da vacinação) em relação aos cuidados que temos que manter”, afirma Fredi Quijano, professor associado do Departamento de Epidemiologia da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP/USP).
 
“Analisando os resultados, temos observado que os imunizantes têm conseguido reduzir e prevenir a maioria dos casos sintomáticos. São notícias ótimas, porque a implementação dessas vacinas poderá descongestionar o serviço de atenção em saúde e as UTIs e, logicamente, diminuir a mortalidade em decorrência da doença”, avalia o professor.
 
Quijano acrescenta que o efeito dos imunizantes para cortar a transmissão  de infectados assintomáticos ainda é desconhecido. “Os estudos sugerem que ainda haverá o risco de a pessoa, mesmo estando protegida para desenvolver formas graves da doença, transmitir o vírus para outra, que, se não estiver vacinada, poderá ter a covid-19, inclusive com risco de complicações e de morte”, detalha.
 
As medidas preventivas que têm sido tomadas desde o início da pandemia, como evitar aglomerações, manter o distanciamento social, usar máscara de proteção facial e lavar e higienizar, frequentemente, as mãos com álcool em gel, deverão ser mantidas. “Até que não haja uma cobertura próxima de 100% da população factível, o mais recomendado é manter as medidas básicas de segurança”, informa Quijano.
 
Entendendo a importância de receber o imunizante, mesmo tendo sido infectada pelo novo coronavírus, em outubro de 2020, a dona de casa Lais Heler, 32 anos, conta que vai tomar a vacina. “Depois de ter contraído a doença, fiquei ainda mais preocupada. São muitas cepas e não sabemos como serão os sintomas se pegar novamente, mesmo com a vacina”, afirma.
 
Maria do Socorro da Paz, 63 anos, mal vê a hora de ser vacinada. “Vou continuar tomando todos os cuidados (mesmo depois de vacinada). A minha vida toda, eu soube que tomar vacina é a salvação. Estou torcendo muito, soltei fogos, hoje, com a possibilidade de a vacinação começar quarta-feira”, relata a moradora de Sobradinho. “Se me falarem que fui sorteada e que serei a primeira a tomar, seria lindo, iria com toda a certeza. Tem pessoas assustadas com a questão da velocidade (da produção da vacina), mas mudou muito, a ciência e a medicina evoluíram”, argumenta.
 
Estudos
O infectologista Gustavo Romero, diretor da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília (UnB) e coordenador do ensaio clínico da CoronaVac feito no Distrito Federal, endossa as recomendações de manter as medidas de segurança. “Pessoas vacinadas podem, eventualmente, ter infecções mais leves, que podem ser passadas a terceiros, por isso as medidas devem continuar, até que a maior parte da população esteja vacinada e até que tenhamos a imunidade de rebanho”, alerta Gustavo.
 
Em relação ao estudo com a vacina CoronaVac, o coordenador informa que houve a inclusão de pacientes com 60 anos ou mais na pesquisa, nesta semana, e que, a depender da decisão da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) a respeito do uso emergencial do imunizante, haverá a avaliação da inserção de novos participantes. “A pesquisa foi planejada para acompanhar todos os participantes do estudo por 12 meses. Nosso compromisso, independentemente do que a Anvisa vai dizer domingo (amanhã), é continuar esse acompanhamento até que todos tenham o período concluído”, descreve o professor.
 
Mariana Rodrigues, 29 anos, é enfermeira e foi a segunda pessoa a tomar a CoronaVac em teste no DF, em 5 de agosto. Ela relata que sentiu os sintomas leves da doença, como dor no corpo e abdominal, mal-estar geral e fraqueza. A servidora do Hospital Universitário de Brasília (HUB) tomou a segunda dose depois de 15 dias. “Existe uma possibilidade de ter sido placebo, mas não sabemos, por conta do duplo cego. Torço muito para que tenha sido a vacina, até porque estamos lidando o tempo todo com a covid-19”, relata a voluntária. Para ela, a vacinação é essencial para amenizar formas graves da doença. “Na quarta, inclusive, recebemos pacientes graves de Manaus, por falta de oxigênio e de suporte. É muito importante que as pessoas comecem a ser vacinadas”, avalia.
 
Colaborou Samara Schwingel
 
 
 Plano de vacinação do DF
 
1ª fase: trabalhadores de saúde, pessoas maiores de 75 anos e idosos com 60 anos ou mais em instituições de abrigo: 202,3 mil pessoas
 
2ª fase: idosos entre 60 e 74 anos: 265,3 mil pessoas
 
3ª fase: pacientes com comorbidades: 150,2 mil pessoas
 
4ª fase: professores e agentes de segurança: 78,3 mil pessoas
 
Total vacinados: cerca de 700 mil pessoas — 23% da população do DF

Correio Braziliense sexta, 15 de janeiro de 2021

BRASILEIRÃO - CRUZEIRO: PROJEÇÕES APOCALÍPTICAS

Jornal Impresso

Projeções apocalípticas
 
Revivendo erros do primeiro rebaixamento e sem perspectivas de ressurgir, Cruzeiro deve amargar mais uma temporada na segunda divisão. Jogadores e o técnico Felipão exibem descontentamento com o clube

 


Danilo Queiroz

Publicação: 15/01/2021 04:00

Atletas da equipe celeste aguardam a quitação de três meses e meio de salários atrasados. Scolari sinaliza saída do comando ao fim do campeonato (Bruno Haddad/Cruzeiro
)  

Atletas da equipe celeste aguardam a quitação de três meses e meio de salários atrasados. Scolari sinaliza saída do comando ao fim do campeonato

 

 
Na última quarta-feira, no Independência, pela 34ª rodada da Série B do Campeonato Brasileiro, o Cruzeiro foi derrotado por 2 x 0 pelo lanterna Oeste e, praticamente, deu adeus ao sonho de acesso à primeira divisão. Na visão fria da matemática, observando-se apenas os números em disputa, o time celeste cultiva remotas chances de subir. Porém, a realidade mostra um cenário bastante cruel. No horizonte da equipe das cinco estrelas, não há nenhum sinal de esperança que faça os torcedores acreditarem em uma retomada na atual temporada, ameaçando, até mesmo, a próxima, que marca o centenário da Raposa.
 
Na saída de campo, após o mais recente resultado negativo, o atacante Rafael Sóbis, um dos principais líderes do atual elenco celeste, deixou no ar uma projeção apocalíptica sobre a preocupante situação do clube mineiro. “O momento é difícil, os jogadores que estão aqui são heróis, porque tem muita coisa acontecendo. É muito difícil mesmo. As pessoas não sabem 10% do que está acontecendo. Vamos seguir lutando, honrando a nossa camisa e fazer o melhor para o Cruzeiro até o fim. Vou segurar e, na hora certa, vocês vão saber. Perdemos e não é o momento de fazer polêmica”, disse.
 
O saldo dos 10% conhecidos do problema, porém, é negativamente avassalador. A crise escancarada nos meses que antecederam o primeiro rebaixamento celeste tomaram contornos ainda mais drásticos durante a temporada que deveria servir de recomeço. Em 13º lugar, o Cruzeiro paga o preço por erros de planejamento que vão muito além da punição aplicada pela Fifa, em março, que fez o time azul começar a Série B com seis pontos a menos. A causa foi o não cumprimento de uma ordem de pagamento emitida pela entidade referente à dívida do clube com o Al Wahda, pelo empréstimo do volante Denílson.
 
Inerte, a diretoria liderada por Sérgio Santos Rodrigues acumulou erros cruciais na campanha. Atualmente, o Cruzeiro deve dois meses e meio de salários aos jogadores, além do pagamento do 13º. Em rota de choque com os cartolas na briga pelos direitos, os atletas optaram por não se concentrar antes da derrota para o Oeste. Apoiando o elenco, o técnico Luiz Felipe Scolari também não fala a mesma língua da diretoria. Contratado sob promessas de um projeto sólido, o experiente treinador viu uma realidade diferente. “O problema do Cruzeiro é mais sério do que eu imaginava quando cheguei”, constatou.
 
Por parte dos dirigentes celestes, não há nenhum sinal de prazo para resolução das questões. Para piorar, nos bastidores, as sentenças exigindo pagamentos de dívidas se acumulam. Em 2020, duas condenações chegaram a proibir o clube de registrar contratos de novos jogadores. A última delas, nesta semana, chega a R$ 2,4 milhões. Por débitos de FGTS, a União exigiu, ainda, a quitação de R$ 8 milhões até segunda-feira, sob o risco de penhora de bens. Devendo cerca de R$ 1 bilhão, o clube tornou-se o maior devedor do país e corre o risco de ter ainda mais problemas na próxima temporada.
 
“O momento é difícil, os jogadores que estão aqui são heróis. É muito difícil mesmo. As pessoas não sabem 10% do que está acontecendo. Vamos seguir lutando até o fim. Na hora certa, vocês vão saber”
 
Rafael Sóbis, atacante do Cruzeiro

 


Correio Braziliense quinta, 14 de janeiro de 2021

LIBERTADORES: NA VILA BELMIRO, SANTOS ATROPELA BOCA JUNIORS

Jornal Impresso

Está tudo dominado
 
Na Vila Belmiro, Santos atropela Boca Juniors, por 3 x 0, e fará final brasileira com o Palmeiras. Após uma temporada de crises nos bastidores, Peixe vai em busca do quarto título no torneio continental

 

Publicação: 14/01/2021 04:00

O zagueiro Lucas Veríssimo (C), com uma proteção na cabeça após sangrar em campo, foi um símbolo da disposição do time da Vila contra o rival argentino (Sebastiao Moreira/AFP)  
O zagueiro Lucas Veríssimo (C), com uma proteção na cabeça após sangrar em campo, foi um símbolo da disposição do time da Vila contra o rival argentino


O Santos garantiu de forma espetacular a final brasileira da Copa Libertadores. Colocou o Boca Juniors na roda, ganhou por 3 x 0, ontem, na Vila Belmiro, e enfrentará o Palmeiras dia 30, em jogo único, no Maracanã. Um prêmio merecido para uma equipe que conviveu com os problemas políticos do clube, mas, liderada pelo técnico Cuca – com proposta ousada e intensa dentro do campo e um faz-tudo fora dele – superou o descrédito que lhe recaía.
 
É a quinta vez que o Santos decidirá a Libertadores, e buscará o quarto título – foi campeão em 1962, 1963 e 2011. Será a terceira final entre brasileiros. Em 2005, o São Paulo foi campeão em cima do Athletico-PR; em 2006, deu Internacional contra o São Paulo.
 
O Santos foi logo apresentando o cartão de visitas ao Boca Juniors. Aos 28 segundos, Marinho acertou a trave de Andrada em um chute cruzado. Marcando forte no campo adversário, jogando com velocidade, com movimentação constante dos jogadores, o Peixe tomou conta da partida.
 
O time brasileiro foi criando chances. Teve uma com Kaio Jorge, que desviou para fora após escanteio. O volante Pituca chegava bastante na área para concluir. E foi ele quem abriu o placar, aos 15. No lance, Soteldo penetrou na área, chutou e a bola bateu na mão de Lizandro López. Os santistas ameaçaram reclamar de pênalti, mas Pituca pegou o rebote e bateu rasteiro: 1 x 0.
 
O Boca estava assustado. Não conseguia articular jogadas, mas teve de tentar ir ao ataque e permitiu ao Santos contra-atacar. Na parte final da etapa, Marinho obrigou Andrada a fazer difícil defesa em cobrança de falta. Poderia ter ido para o vestiário com vantagem maior.
 
Não fez falta. O Santos decidiu a partida em cinco minutos na etapa final. Aos três, Soteldo penetrou pela esquerda e acertou uma paulada de direita, surpreendendo Andrada. Aos cinco, Marinho fez grande jogada e tocou para Lucas Braga ampliar.
 
Os argentinos se descontrolaram. O lateral Fabra agrediu Marinho com um pisão na barriga, sendo expulso aos 10 minutos. O jogo estava decidido e Cuca tirou Soteldo, pendurado com dois cartões amarelos, para evitar o risco de ficar de fora da decisão. 

Correio Braziliense quarta, 13 de janeiro de 2021

GHOSTBIKES: PARA RESPEITAR A VIDA

Jornal Impresso

Para respeitar a vida
 
Ghostbikes às margens de vias da cidade homenageiam vítimas da violência no trânsito e têm o objetivo conscientizar a população sobre o respeito aos ciclistas

 

» CIBELE MOREIRA
» LUANA PATRIOLINO

Publicação: 13/01/2021 04:00

Eliane Luiz:  

Eliane Luiz: "A colocação da ghostbike é muito importante. Representa o que ele (Saturnino) mais gostava de fazer"

 



Renata Aragão mantém o ativismo do filho Raul por uma cidade mais civilizada nas vias (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

Renata Aragão mantém o ativismo do filho Raul por uma cidade mais civilizada nas vias

 

 
Quem passa pelas vias de Brasília com certeza já viu uma bicicleta branca com flores e enfeites às margens das vias. Mas o que elas querem dizer? Conhecidas como ghostbikes, a iniciativa faz parte de uma ação da ONG Rodas da Paz para homenagear ciclistas mortos pelo trânsito do Distrito Federal, além de conscientizar a população pelo valor à vida de quem utiliza a bicicleta como um meio de transporte ou por lazer. O tributo ainda representa um alento para as famílias que perderam um ente querido de uma forma tão trágica. Para Selma Oliveira de Morais, 61 anos, a ghostbike fixada no último domingo, na L3 Sul, em homenagem ao marido que faleceu, em maio do ano passado, é uma maneira carinhosa de lembrar do empresário Vitor Pullig Salgado, 67.
 
Vitor saiu de casa em 21 de maio de 2020, para pedalar — algo que fazia com muita frequência pelas vias da capital. Era por volta das 17h, em um dia claro. Um passeio que, infelizmente, não terminou bem. Um motorista que trafegava na pista de acesso à Ponte das Garças, acabou colidindo com Vitor, que teve ferimentos graves e não resistiu após quatro dias internado no hospital. O ocorrido abalou a família inteira, tanto pela perda de um pai, um amigo, um marido, como pela situação em si. No entanto, a lembrança da pessoa alegre, sempre sorridente e família é o que marca para aqueles que conheceram Vitor em vida. “Ele adorava uma competição, sempre muito ativo, que gostava de pedalar. Muito família. É assim que gosto de me lembrar dele”, conta Selma.
 
No domingo, a ONG Rodas da Paz também prestou homenagem a Saturnino Aguiar de Paula Júnior, 47, morto em 2015, após se atropelado na quadra 3 do Park Way. A viúva, Eliane Luiz da Costa Aguiar, 52, conta que o período de luto ainda é doloroso para ela e a família. “Abalou a família inteira. Ir ao cemitério ainda é algo difícil para a gente. Mas a colocação da ghostbike é muito importante. Representa o que ele mais gostava de fazer. Tenho certeza, onde ele estiver, ele vai se sentir homenageado”, ressalta Eliane, que está retornando a pedalar aos poucos em trilhas no Jardim Botânico após cinco anos do ocorrido.
 
Para quem conheceu Saturnino, ele era uma pessoa sonhadora que vivia um dia de cada vez. “Adorava fazer corrida e caminhada. Eu que andava de bicicleta, o trouxe para pedalar e ele se apaixonou pelo esporte. Posso dizer que ele era uma pessoa muito feliz”, ressalta Eliane. Os dois foram casados durante 30 anos e tiveram três filhos que têm a idade entre 25 e 30 anos. A colocação da escultura da bicicleta branca serviu de amparo para Eliane que se sentiu acolhida na grande família entre os ciclistas. “É uma união muito forte. Todo mundo sente a perda e nos conforta”, relata.


Saturnino e Eliane: pedaladas pela cidade (Arquivo Pessoal)  

Saturnino e Eliane: pedaladas pela cidade

 



 
Manifestação
 
O coordenador-geral da ONG Rodas da Paz, Raphael Barros, alerta sobre a atenção no trânsito em relação aos ciclistas. “Tem que ser observado tanto pelo governo quanto pelos motoristas que estão trafegando lá, para tomarem cuidado. Essas (ghostbikes) são uma manifestação de que ali se perdeu uma vida e isso podia ter sido evitado”, pontua. Sobre a colocação das bicicletas brancas, ele explica que só são instaladas após a aprovação dos parentes das vítimas. “Pedimos licença para a família, para ter certeza de que terão tranquilidade de passar pelo local, lembrar do ciclista, e não sofrer”, conta.
 
No ano passado, foram colocadas seis esculturas de bicicletas brancas marcando o local onde ocorreu o acidente seguido de óbito e, este ano, já foram fixados mais dois. Segundo dados do Instituto de Medicina Legal (IML), entre janeiro e outubro do ano passado, foram 17 mortes de ciclistas nas vias do Distrito Federal, contra 19 em relação ao mesmo período de 2019.
 
Ativismo
 
Um cicloativista. É assim que a mãe do jovem Raul Aragão, morto aos 23 anos, vítima de um atropelamento na L2 Norte, em 2016, o define. “A opção dele era a bicicleta. Fazia dela sempre o meio de transporte”, diz Renata Aragão, 61, mãe do rapaz. A ligação com o mundo das bikes era tão forte que Raul desenvolveu o tema no Trabalho de Conclusão de Curso de Ciências Sociais, da Universidade de Brasília (UnB). Infelizmente, ele não chegou a apresentar a pesquisa, mas teve fragmentos publicados no anuário de antropologia da UnB. “O TCC falava sobre o impacto dos carros na vida dos moradores de Brasília”, conta a mãe.
 
Sensível, ativista e apaixonado pela cidade, Raul integrava o Rodas da Paz e ajudou a colocar bicicletas brancas para os colegas mortos nas vias do DF. “No velório dele apareceu uma senhora dizendo que ele colocou uma ghostbike do pai dela, em Samambaia. Ela ficou tão encantada por ele, que passou a segui-lo nas redes sociais e, assim, soube do atropelamento e morte dele”, conta Renata.
 
As homenagens ao jovem ciclista ajudam a manter viva a memória de Raul entre os parentes e amigos. “Preenche muito a gente que vive com a ausência. Eu faço de grupos de mães que perderam filhos e uma das coisas que a gente sente muito é que o filho vai ficando esquecido”, ressalta Aragão.
 
Raul Aragão foi morto pelo estudante da Universidade de Brasília (UnB), Johann Homonai, que o atingiu com velocidade de 95 km/h (de acordo com o laudo pericial) na L2 Norte, uma rua de Brasília cuja velocidade máxima permitida é 60 km/h, em outubro de 2017.


Memória 
 
Pedro Davison 
 
Pedro Davison morreu após um atropelamento no Eixo Sul, em Brasília, há 14 anos. Ele tinha 25 anos quando foi atropelado por um carro que estava acima da velocidade permitida ao local em que era proibida a circulação de automóveis. Os pais, Pérsio e Maria Elizabeth, buscaram preservar o legado do filho por meio da conscientização dos motoristas, com o objetivo de evitar novas tragédias no trânsito. A de Pedro incentivou a criação do Dia Nacional do Ciclista (Lei Federal n° 13.508/2017), comemorado em 19 de agosto.
 
 
Givelson Carlos
 
O policial civil aposentado Givelson Carlos Batista da Cunha, 54, morreu em novembro do ano passado depois de um atropelamento que sofreu, enquanto pedalava com o grupo Jaguar do Pedal na DF-205, na região do Córrego do Ouro, próximo à divisa norte do DF com Goiás, em Sobradinho. O motorista que atropelou fugiu do local para não ser autuado em flagrante.
 
 
Francisco Vidal
 
O agente penitenciário Francisco Vidal morreu depois de ser atingido por um veículo, quando seguia no sentido Taguatinga-Plano Piloto, em junho de 2014. O impacto fez com que a vítima fosse jogada no canteiro central da EPTG e a bicicleta ficou totalmente destruída. O homem morreu na hora e o condutor fugiu do local.

Correio Braziliense terça, 12 de janeiro de 2021

BRASÍLIA: MENOR TAXA DE HOMICÍDIOS EM 41 ANOS

Jornal Impresso

Menor taxa de homicídios em 41 anos
 
Ao CB.Poder, Anderson Torres apresentou o balanço dos casos de violência na capital em 2020. Tiveram baixa os números de feminicídios e os de crimes contra o patrimônio. No entanto, golpes pela internet aumentaram durante a pandemia

 

CAROLINE CINTRA

Publicação: 12/01/2021 04:00

Em 2020, o Distrito Federal teve a menor taxa de homicídio em 41 anos, desde o início da série histórica, em 1980. O dado foi apresentado pelo secretário de Segurança Pública do DF, Anderson Torres, ao jornalista Alexandre de Paula em entrevista ao CB.Poder, uma parceria do Correio Braziliense e a TV Brasília, ontem. A capital registrou queda em outros índices. Os crimes contra o patrimônio diminuíram 30%, e o feminicídio caiu quase 50% (Leia mais na página 14). Para o chefe da pasta, diversos fatores contribuíram para as baixas, a principal delas é a integração entre as forças de segurança.
Embora os números sejam positivos para a população, Anderson destacou que há um deficit grande de policiais no DF, principalmente, entre os civis. Para reforçar a equipe, o intuito da Secretaria de Segurança Pública (SSP) é retomar o processo do concurso para escrivães e agentes em maio, mês em que o secretário espera haver vacina e número suficiente de imunes à covid-19. As provas estavam marcadas para o ano passado, no entanto, devido a pandemia, estão suspensas e sem nova data.



 (Ed Alves/CB/D.A.Press)  



Quais são os principais destaques do balanço de 2020?
Os crimes contra o patrimônio diminuíram, aproximadamente, 30%; o furto ou assalto diminuiu 30%; e tivemos uma grande redução em um crime que tem chamado muito a atenção da sociedade, que é o feminicídio, o qual teve queda de 50%, em relação a 2019, que já havia sido um ano de recordes, de diminuição dos números dos crimes. Então, 2020 acabou sendo um ano de muito trabalho e dedicação para nós, da Segurança Pública, e os resultados, graças a Deus vieram.

Quais os principais fatores que contribuíram para essa mudança?
Acho que é o trabalho sério, feito com metas, análise de resultados e reorganização, praticamente, semanal da nossa atuação. Ressalto, como fundamental, a integração das forças de segurança. Isso tem sido um avanço muito grande para nós.

A queda de homicídios é um dado muito expressivo, não é?
Buscamos nos arquivos e começamos a divulgar uns números mais corretos e confiáveis a partir de 1980. De lá para cá, fizemos a menor taxa de homicídio de todos esses anos. Isso são muitas vidas salvas. Esse é o crime mãe, que toma nosso principal bem, que é nossa vida, e conseguimos baixar isso. É um paradoxo que vivemos hoje. A população aumentando, o efetivo da polícia diminuindo, e os crimes também diminuindo. Temos conseguido fazer mais com muito menos.

Caiu quanto de 2019 para 2020?
Em 2019, batemos o recorde dos últimos 35 anos. Agora, foi 41 anos. Estamos com uma média de 11,4 homicídios para cada 100 mil habitantes. Essa média é extremamente baixa e supera, inclusive, nossas metas para 2022. Quando assumimos, tínhamos metas para os quatro anos do primeiro mandato do governador Ibaneis Rocha (MDB), e conseguimos superar com folga.

O início de ano é muito movimentado. Existe alguma explicação para que aconteça esse tipo de coisa? Existe uma preocupação maior nesse período?
Existe. Começa no Natal. Ao fim do ano, os crimes contra o patrimônio aumentam, há muito dinheiro circulando pela cidade  o comércio aberto mais tempo. Apesar dos sete homicídios no final de semana, temos três a menos do que no ano passado, no mesmo período. Continuamos no caminho de baixar a criminalidade. Todos os homicídios e feminicídios são estudados. Analisamos as causas. Garanto que as maiores causas de homicídio no DF são problemas entre as gangues — 78% dos assassinos têm ficha criminal. Óbvio que toda vida é importante. Temos procurado manter isso em níveis extremamente aceitáveis no DF.

Houve um crime de feminicídio na última semana. O que falta para diminuirmos isso mais ainda?
Acho que é uma questão cultural. A Segurança Pública, geralmente, chega, infelizmente, para buscar o corpo. Há um medo de denunciar, chamo até de conivência das pessoas que sabem que está acontecendo uma violência contra a mulher. O feminicídio não é um crime que nasce maduro, ele vem amadurecendo. É um tapa, uma surra, um cárcere privado. Ele vai acontecendo até o desfecho final, que é o feminicídio. Ao longo desses intercrimes, precisamos de informação. A sociedade brasileira precisa entender que isso não é normal. Ou isso muda, ou a gente não consegue diminuir essa barbaridade.

A pandemia influenciou no número de crimes?
Não temos um estudo que diga se diminuiu ou se aumentou. Acho difícil criminosos respeitarem alguma coisa, quem dirá uma pandemia. Acho que houve uma readaptação do crime: outras modalidades, outros meios de criminalidade. Ressalto o trabalho das forças de segurança. É um momento difícil para a humanidade. As polícias Militar, Civil, o Corpo de Bombeiros, o Detran, ninguém parou. Pelo contrário, no auge da pandemia, nosso trabalho estava dobrado. Infelizmente, perdemos algumas pessoas da Segurança Pública em razão da covid-19, mas, em momento algum, as instituições falharam com a população.

O que dá para prever para 2021?
Agora, depois da eleição municipal, saiu um dado dizendo que temos 1,8 milhão de pessoas no Entorno, somados com os 3 milhões do DF, temos quase 5 milhões de pessoas envolvidas nisso. O crime do Entorno funciona muito em razão do DF. Estamos com uma parceria com o Estado de Goiás, firmando um convênio para aumentar uma série de trabalhos conjunto nessa região.

Quais os principais gargalos da Segurança no DF?
São, praticamente, os da segurança nacional. A sociedade como um todo precisa olhar com mais atenção para a Segurança Pública. Se não houver uma mudança nacional, as coisas não mudam. Hoje, é tudo muito rápido, as pessoas se comunicam muito rápido e os criminosos são da mesma forma. Vejo umas questões basilares que precisam ser resolvidas. Primeiro, o sistema carcerário. O que fazer com nossos presos, como ressocializar essas pessoas? Temos meio milhão de pessoas encarceradas no país e não temos uma política de ressocialização. E, aí vêm os outros problemas, como o crime organizado, que, a duras penas, temos mantido fora do DF. O Entorno é outro gargalo. Vejo esses como nossos principais desafios.

Tem alguma coisa prevista sobre os concursos públicos?
O concurso da Polícia Civil foi suspenso em razão da pandemia, e estamos aguardando o melhor momento para que seja realizado. A Polícia Civil tem um deficit muito grande de policiais, isso impacta no nosso trabalho. Temos um concurso do Corpo de Bombeiro e um da Polícia Militar em andamento. Desde o início da nossa gestão, nomeamos mais de 3 mil policiais. Temos feito o possível, dentro de uma realidade de pandemia e crise financeira no Distrito Federal. Há um compromisso do governador em nomear todos eles, mas atendendo aos critérios da pandemia. Já era para estar bem adiantado.

E o concurso da Polícia Civil, que estava prestes a ser feito, dá para se ter uma ideia de quando vai ser seguro?
Acho que estamos próximos de uma vacina. Mas uma segurança, só a partir de maio. Estava lendo especialistas da saúde falando que não é porque está vacinando todo mundo que, imediatamente, vamos ter imunização. No mínimo, no mês de maio. Todos esses fatores serão analisados. O maior interessado sou eu em colocar mais policiais nas ruas.

Como está sendo o olhar para os crimes cibernéticos?
Estamos nos adaptando. Temos uma delegacia de repressão aos crimes cibernéticos aqui, no DF, que tem funcionado muito bem. Percebo que é muito rápida a apuração dos crimes. Um crime que incomoda, que é o furto e o roubo de celular, a Polícia Civil tem conseguido recuperar e entregar para os proprietários esses objetos e é uma vitória. Temos feito um trabalho muito forte. Esse crime, realmente, aumentou. Na pandemia, cresceu muito a oportunidade que eles têm de cometer esse tipo de crime, mas estamos muito atentos.



Evolução de homicídios no DF

Taxa por 100 mil habitantes

Maiores

2012    31,0
2009    29,9
2000    29,5
2011    28,5
2003    28,0

Menores
2020    11,4 (menor em 41 anos)
1983    12,0
1984    12,4
2019    13,1
1985    13,9

Número absoluto de vítimas

Maiores

2012    820
2009    780
2011    745
2013    721
2014    715

Menores
2020    373 (menor em 28 anos)
1994    397
2019    418
1993    427
2018    459

Correio Braziliense segunda, 11 de janeiro de 2021

VACINA RUSSA COMEÇARÁ A SER PRODUZIDA NO DF

Jornal Impresso

Vacina russa começará a ser produzida no DF
 
Fábrica em Santa Maria produzirá as primeiras doses da Sputnik V, do Instituto Gamaleya, a partir de sexta-feira. Enquanto a empresa aguarda a liberação da Anvisa para a distribuição no Brasil, imunizante será exportado

 

» SARAH PERES

Publicação: 11/01/2021 04:00

Farmacêutica União Química é a responsável pelo processo no Brasil (Andres Larrovere/AFP)  
Farmacêutica União Química é a responsável pelo processo no Brasil
 
O Distrito Federal será polo produtivo da vacina russa Sputnik V, do Instituto Gamaleya, a partir desta sexta-feira, conforme informou ao Correio a farmacêutica brasileira União Química. A empresa afirma que o Brasil é prioridade para a distribuição, mas, devido à necessidade de autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a produção inicial do imunizante será exportada para países que o aprovaram.
 
A farmacêutica, por meio da fábrica Bthek, localizada em Santa Maria, é a primeira a produzir a Sputnik V em território nacional. Atualmente, empresas brasileiras importam a vacina ou os ingredientes farmacêuticos. Segundo Rogério Rosso, diretor de negócios internacionais da União Química, a vacina será produzida na capital federal e, depois, fracionada e envasada em Guarulhos (SP).
 
A produção da vacina é possível por conta da parceria da empresa com o Fundo Russo de Investimento Direto (RDIF). “Nosso contrato é para produzir a vacina para o Brasil e em países da América do Sul. Para exportarmos a Sputnik V, não é preciso registro por parte da Anvisa. A agência é responsável apenas por realizar inspeções das instalações e processos”, explica Rosso.
 
O diretor também informou que a farmacêutica submeteu o Dossiê de Desenvolvimento Clínico de Medicamento (DDCM) à Anvisa. À reportagem, a autarquia explicou que recebeu, em 29 de dezembro, o pedido de teste fase 3 da Sputnik V no Brasil. “A agência pediu complementação de informações. Até o momento, não recebemos os dados necessários para continuar a análise”, esclareceu, por meio de nota.
 
Rogério Rosso garantiu que as informações solicitadas pela Anvisa serão entregues ainda nesta semana. “Nossa prioridade é o Brasil. Porém, enquanto aguardamos aprovação dos testes clínicos, vamos produzir doses para mercados e países que aprovaram a vacina, como a Argentina. Estamos indo, hoje (ontem), à Rússia para validação dos processos industriais”, finaliza.
 
Com os novos dados, a Anvisa retoma o processo de análise para a testagem da Sputnik V no Brasil, vacina que tem 91,4% de eficácia segundo testes clínicos feitos na Rússia. A agência destaca que tem buscado sanar essas demandas em até três dias úteis, mas que esse prazo “depende do volume e da complexidade técnica das informações que serão enviadas”. O Distrito Federal está entre as unidades da Federação que farão parte do estudo clínico.
 
» 658 novos casos no DF
O Distrito Federal registrou 658 novos casos da covid-19 e seis mortes nas últimas 24 horas, conforme dados do boletim epidemiológico divulgado pela Secretaria de Saúde ontem. Ao todo, são 258.811 pessoas contaminadas pelo vírus. Destas, 95,9% (248.297) se recuperaram e 4.356 (1,7%) morreram. Atualmente, são 6.158 casos ativos da doença na capital federal.
 
Farmacêutica União Química é a responsável pelo  processo no Brasil
 
» Distribuição
 
Veja quais países iniciaram a 
vacinação com a Sputnik V e quais recebem testes clínicos
 
Em vacinação
 
» Rússia
» Argentina
» Bielorrússia
» Guiné
 
Preveem testes
 
» Brasil
» Emirados Árabes Unidos
» Sérvia
» Índia
» Venezuela
» Egito
» Bolívia

Correio Braziliense domingo, 10 de janeiro de 2021

A FACE DA DESIGUALDADE NO DF

Jornal Impresso

A face da desigualdade no DF
 
Mais de 160 mil famílias vivem na faixa da pobreza na capital do país, e o aumento da quantidade de pessoas em situação de rua revela cenário de deficit habitacional. O Correio visitou alguns dos locais onde diferentes grupos enfrentam essa realidade

 

DARCIANNE DIOGO

Publicação: 10/01/2021 04:00

 

Até 21 de dezembro, 2.019 pessoas se declararam em situação de rua, sendo 154 crianças e 61 adolescentes (Fotos: Minervino Júnior/CB/D.A Press)  

Até 21 de dezembro, 2.019 pessoas se declararam em situação de rua, sendo 154 crianças e 61 adolescentes

 

 

 

 

Edivaldo Dias mora em uma ocupação irregular próxima à UnB: %u201CAqui, é a cidade dos ricos%u201D (Minervino J?nior/CB/D.A Press)  
Edivaldo Dias mora em uma ocupação irregular próxima à UnB: "Aqui, é a cidade dos ricos."


Aglomerados em barracos de madeira, de tijolos e até de papelão, crianças, jovens, adultos e idosos em situação de vulnerabilidade social convivem sob tetos irregulares, à beira das vias do Distrito Federal, principalmente na área central de Brasília. O cenário mostra falhas em áreas como educação, mercado de trabalho e desenvolvimento urbano. As famílias erguem as construções de maneira improvisada. O ambiente interno assemelha-se ao de uma casa comum — com colchão, estante para guardar roupas, fogão a lenha —, e, do lado de fora, banheiro. Mas quem são essas pessoas e de onde elas vêm?
A maioria dessas pessoas trabalha como catador de material reciclável. A renda varia entre R$ 250 e R$ 400. O dinheiro vai para a compra de comida e itens básicos de higiene. Roupas, sandálias e acessórios ficam por conta de doações. Aos 19 anos, Bruna Rafaelle Duarte descreve um pouco da rotina. Casada e mãe de uma menina de 1 ano, a jovem foi despejada de uma casa, em São Sebastião, por atrasar o aluguel, que custava R$ 350. Há três anos, um barraco de lona e madeira, na 707/907 Norte, virou o abrigo da família. Na região residem, ao menos, outros 20 grupos de pessoas.
 
Bruna deveria ter terminado o ensino médio, mas parou os estudos no 6º ano do fundamental. “Meu trabalho é de catadora. Todo dia, saio às 7h e volto às 12h, para almoçar. Depois, vou para as ruas novamente e só chego às 18h. O dinheiro que entra é para o alimento e para as coisas da neném, como fralda e leite”, conta. A meta, segundo ela, é arrumar outra função. “Como consigo alugar uma casa sem ter uma renda fixa? Se eu conseguir um trabalho (estável) em qualquer área, está bom”, completa a jovem.
 
Ainda na região do Plano Piloto, na L3 Norte, atrás do Instituto Federal de Brasília (IFB), uma fileira de barracos chama a atenção de quem passa. Em um dos terrenos, há até uma espécie de “minifazenda”, com cachorros, gatos e galinhas. Próximo à Universidade de Brasília (UnB) há agrupamentos semelhantes, erguidos no canteiro verde. Ali, as famílias construíram até uma árvore de Natal, com bolas coloridas, garrafas pet e materiais recicláveis.
 
Mais de 160 mil famílias vivem na faixa da pobreza no Distrito Federal. Pessoas que vivem em domicílios improvisados, como Bruna; que moram em cômodos; ou mesmo que ganham até três salários-mínimos (R$ 3.300), mas gastam 30% ou mais da renda para pagar o aluguel. Esses retratos compõem o cenário de deficit habitacional urbano do DF. O termo está relacionado à necessidade de construção de novas moradias em função da precariedade e de condições inadequadas das atuais. Estudo da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan) mostra que, até 2025, Brasília pode ter mais de 150 mil domicílios nessa situação.
 
Falhas
 
O fato de Brasília ser considerada a cidade do funcionalismo público evidencia o problema da desigualdade social, como explica Ciro Almeida, economista da GWX Investimentos. “No DF, é muito clara a discriminação com aqueles que têm poder de renda menor. A capital sofre pelo fato de a principal matriz econômica dela ser o serviço público. Com isso, muitas pessoas se sentem marginalizadas pela sociedade. Sem renda, esse público atinge o limite e recorre a alternativas para sobreviver. Vão para invasões, por exemplo”, argumenta.
 
A Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes-DF) é a responsável por prestar atendimento e apoio a essas famílias. A pasta não dispõe de dados sobre a quantidade de invasões existentes na capital do país, mas, até 21 de dezembro, 2.019 pessoas se declararam em situação de rua, sendo 154 crianças e 61 adolescentes. O aumento no número de ocupações irregulares pode ser explicado pela falta de políticas para desenvolvimento regional e urbano, com foco no cidadão, segundo o economista Ciro Almeida.
 
Outro problema é a concentração de renda. A Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios (Pdad), produzida pela Codeplan, divide a capital entre quatro grupos: alta renda, média-alta renda, média-baixa renda e baixa renda. No primeiro conjunto, aparecem Plano Piloto, Jardim Botânico, Lago Norte, Lago Sul, Park Way e Sudoeste/Octogonal, com renda familiar média de R$ 15.635. No último, estão Fercal, Itapoã, Paranoá, Recanto das Emas, SCIA/Estrutural e Varjão (R$ 2.476).
 
Edivaldo Dias Batista, 48, é natural de Juazeiro (BA) e chegou a Brasília em 1987, com outros dois amigos, para trabalhar como auxiliar de pedreiro. A construção de diversos prédios antigos da capital federal passou pelas mãos do baiano. Mas ele foi demitido e voltou para a cidade-natal no Nordeste. De família pobre e morando de favor na casa dos irmãos, Edivaldo decidiu retornar ao DF, em setembro, para tentar um emprego.
 
Após desembarcar em Brasília, o auxiliar de pedreiro ficou alocado em uma serralheria, na Vila Planalto, onde trabalhava em troca de um lugar para dormir e um pequeno salário — menos de R$ 200. “Saí de lá dois meses depois. O dono queria que eu começasse a trabalhar praticamente de graça, então decidi seguir minha vida”, conta. Há menos de dois meses, Edivaldo mora em uma ocupação irregular próxima à UnB. No mesmo local, convivem 16 famílias. “Vou ficar até juntar o dinheiro para voltar à Bahia. Mas, aqui, é a cidade dos ricos, e as oportunidades para a pessoa pobre são poucas”, desabafa.
 
Apoio
 
O Distrito Federal conta com 46 unidades de acolhimento institucional, segundo a Sedes-DF, com mais de 1,7 mil vagas. A pasta informou que 28 equipes do Serviço de Abordagem Social percorrem as ruas, para identificar os pontos de maior concentração de pessoas em situação de vulnerabilidade. A Secretaria de Proteção à Ordem Urbanística (DF Legal) afirmou que, no ano passado, recolheu, aproximadamente, 1,3 mil estruturas de edificações precárias em lona e em madeira. O órgão distrital monitora, atualmente, 29 pontos.
 
Coordenador da Proteção Social Especial da Sedes-DF, Jean Rates detalhou os tipos de ocupações irregulares existentes no DF: “É importante entender que temos dois públicos, que podem ser confundidos. As invasões são pequenas comunidades estabelecidas em determinadas regiões, onde as pessoas começam a montar a moradia. Na outra situação, temos as pessoas que vivem na rua de fato. Elas são as que mais precisam de serviço e oferta. Nos dois casos, a Sedes vai até os locais, reconhece a demanda e oferta os serviços”, explica.
 
Entre algumas das ações voltadas a esses públicos está a concessão de vagas em unidades de acolhimentos. Outra, destina-se às pessoas em situação de rua que pretendem voltar à cidade de origem. Nesse caso, a Sedes-DF arca com os custos das passagens. Em dezembro, houve aporte de R$ 174.336 em recursos, para pagamento de 376 benefícios. A pasta ofereceu, também, 109 auxílios excepcionais, uma ajuda mensal de R$ 600 para famílias arcarem com o aluguel. O modelo vale por até seis meses, para que o acolhido possa se restabelecer, mas pode ser prorrogado.
 
Colaborou Luana Patriolino
 
» Para saber mais
 
Situações excepcionais
 
O Auxílio Calamidade ou Auxílio em Situação de Desastre ou Calamidade Pública é concedido em casos de desastre ou calamidade pública declaradas oficialmente pelo Executivo local, como no caso da pandemia da covid-19. O benefício é pago em três parcelas de R$ 408 a cidadãos que não tenham condições de arcar com o enfrentamento de situações adversas ou que fragilizam a manutenção do núcleo familiar. Desde março, o Governo do Distrito Federal (GDF) ofereceu o auxílio a 11.210 pessoas. Para solicitá-lo, é necessário procurar unidades da assistência social, como os Centros de Referência da Assistência Social (Cras) ou Especializados de Assistência Social (Creas). A oferta também pode ocorrer por meio de identificação de pessoas em situação de vulnerabilidade, durante os atendimentos feitos pelas equipes de abordagem. 
 
"A capital sofre pelo fato de a principal matriz econômica dela ser o serviço público. Com isso, muitas pessoas
se sentem marginalizadas pela sociedade. Sem renda, esse público atinge o limite e recorre a alternativas para sobreviver. Vão para invasões, por exemplo”
Ciro Almeida, economista 
 
» Palavra de especialista
Resposta sustentável
 
É notória a obrigação do governo de cuidar das pessoas vulneráveis. Em período eleitoral, inclusive, as propostas relacionadas aos cuidados com os pobres sempre entram na ordem do dia, por causa da importância delas para toda a sociedade. A questão, com o avanço da miséria, demonstra uma situação que a pandemia escancarou: a fragilidade da economia brasileira. Mesmo com o pagamento do auxílio emergencial, a desaceleração econômica se mostrou fatal para os setores produtivos, reduzindo a oferta de postos de trabalho e, por consequência, diminuiu ainda mais a renda de muitos setores da sociedade. É direito do cidadão vulnerável buscar os programas de auxílio disponibilizados pelo governo, como o Bolsa Família ou equivalente — desde que corresponda aos critérios estabelecidos em regulamento. Mas, mais importante que isso, é o tipo de resposta sustentável que o Estado brasileiro dará para a situação, pois a manutenção da miséria é uma situação extremamente torpe por qualquer ponto de vista, seja social ou econômico.
 
Nauê Bernardo de Azevedo, advogado constitucionalista e cientista político 

Correio Braziliense sábado, 09 de janeiro de 2021

BETHÂNIA FIALIZA DISCO NOVO

Jornal Impresso

 

Bethânia finaliza disco novo
 
Além de canções inéditas, cantora inclui no repertório sucessos como A flor encarnada, de Adriana Calcanhotto; e o clássico Evidências, de José Augusto e Paulo Sérgio Valle

 

» Irlam Rocha Lima

Publicação: 09/01/2021 04:00

Maria Bethânia regrava Bar da noite, de Bidu Reis e Haroldo Barbosa, sucesso de 1953 (Vera Donato/Divulgação)  

Maria Bethânia regrava Bar da noite, de Bidu Reis e Haroldo Barbosa, sucesso de 1953

 

 
Por seis meses, Maria Bethânia ficou isolada em casa, no Rio de Janeiro, se protegendo dos problemas relacionados com a covid-19, até que no mês de setembro decidiu entrar em estúdio para gravar um novo disco, que inclui músicas inéditas. O álbum, gravado durante três semanas, será lançado no próximo mês, pela Biscoito Fino — ainda sem nome e repertório fechado. Mas do show Claros breus, ela escolheu A flor encarnada (Adriana Calcanhotto), Luminosidade (Chico César) e Evidências (José Augusto e Paulo Sérgio Valle), que se tornou um clássico sertanejo, na interpretação de Chitãozinho e Xororó. Outra regravação é a de Bar da noite (Bidu Reis e Haroldo Barbosa), de 1953 — que Bethânia foi buscar no baú da MPB.
 
Entre as inéditas, a única anunciada até agora foi 2 de junho, também de Calcanhotto. Na letra, ela mostra sua revolta contra a tragédia de Miguel Otávio, o menino pernambucano morto aos 5 anos, ao cair do 9º andar de um prédio de luxo em Recife — caso que mobilizou o Brasil e foi usado como exemplo de “racismo sistêmico” em documento da Organização das Nações Unidas (ONU). Tim Bernardes, compositor paulistano, por quem a cantora tem admiração, também terá música gravada. Nos acompanhamentos estão Jorge Helder (baixo), João Camarero (violão) e Zé Manoel (piano). O maestro baiano Letieres Leite participou da concepção do CD.
 
Fevereiros
 
Antes do lançamento do novo álbum de Bethânia, chega ao mercado o DVD com o registro de Fevereiros, documentário dirigido por Márcio Debelilan, mostra vitória da Mangueira, no carnaval de 2016, com o enredo Maria Bethânia — A Menina os Olhos de Oyá, e a participação da cantora na festa de Nossa Senhora da Purificação em Santo Amaro, sua terra natal. O longa-metragem traz também depoimentos de Caetano Veloso, Mabel Veloso — irmãos da homenageada — Chico Buarque, Leonardo Pereira (carnavalesco da escola carioca), da porta-bandeira Squel Jorgea, do babalorixá Pai Gilson e do historiador Luiz Antônio Simas.
 
“Acompanhei a preparação da escola desde a criação das alegorias até o desfile na Marquês de Sapucaí. Em Santo Amaro, onde estive por duas vezes, descobri o universo que inspirou o enredo e percebi a conexão entre as tradições do Recôncavo Baiano e o surgimento do samba carioca. O filme sai em defesa da tolerância, ao mostrar Maria Bethânia, filha de Iansã, criada nas novenas da Igreja de Nossa Senhora da Purificação”, relata Debellian. Ao ser exibido nos cinemas, o documentário foi um dos mais assistidos em 2019.

Correio Braziliense sexta, 08 de janeiro de 2021

ANO COMEÇA COM DESCONTOS NO COMÉRCIO
Ano começa com descontos no comércio
 
De acordo com o Sindivarejista, mais de 700 lojas da capital federal promovem liquidações e preços devem cair de 30% a 60%. As promoções vão até 17 de janeiro. Representantes do setor esperam que a internet seja o principal polo de vendas

 

» SAMARA SCHWINGEL

Publicação: 08/01/2021 04:00

Gerente de loja, Rosangela está otimista com as vendas em janeiro:  

Gerente de loja, Rosangela está otimista com as vendas em janeiro: "Recuperar o faturamento que caiu após o início da crise sanitária"

 

Após as festividades de fim de ano, o comércio do Distrito Federal começa a investir em promoções com objetivo de queimar os estoques e se preparar para receber novos produtos. Este ano, de acordo com a estimativa do Sindicato do Comércio Varejista do DF (Sindivarejista), mais de 700 estabelecimentos da capital federal devem promover, até 17 de janeiro, liquidações que variam de 30% a 60% de descontos em itens variados. Segundo a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Distrito Federal (Fecomércio-DF), a expectativa é de que o faturamento do mês seja de R$ 65,4 milhões. As vendas de 2021 devem corresponder a 40% do registrado em janeiro de 2020, quando o valor chegou a R$ 151 milhões (entre comércio, serviço e turismo). Porém, as cifras podem cair com o fim do auxílio emergencial cedido pelo governo federal. Apesar disso, preços reduzidos atraem consumidores, e representantes do setor prevem que o e-commerce seja o principal meio de vendas.
 
“Essas promoções de início de ano são tradicionais e servem para que as lojas abram espaço nos estoques para receberem produtos mais novos”, explica o presidente do Sindivarejista, Edson de Castro. Ele afirma que os descontos chamam a atenção do comprador, mesmo em período de pandemia. “Geralmente, os itens que entram na liquidação são aqueles de última oportunidade, ou seja, com poucos tamanhos ou variedades disponíveis. Isso instiga o consumidor, e muitas pessoas deixam para comprar depois que acaba o ano, pois os preços, realmente, caem”, considera. Edson destaca que roupas, objetos para o lar e calçados são os setores que mais devem promover descontos.
 
Simone Malty, 51 anos, sempre espera o período após as festas de fim de ano para comprar. “Acredito que é nesta fase que ocorrem as verdadeiras queimas e promoções que, realmente, valem a pena”, diz. A arquiteta e moradora da Asa Sul revela que se considera uma pessoa que compra por impulso, principalmente, durante liquidações. “Tudo que eu economizo durante o ano gasto nestas promoções. Agora, estou aproveitando para comprar presentes, pois prefiro este período às promoções de Natal”, detalha.
 
Simone garante que se organiza para não deixar de pagar impostos e contas fixas. “Sei que temos que arcar com as despesas necessárias. Cheguei a sentir aperto, mas procuro me planejar e até quitar o que for possível antes”, pontua. A arquiteta conta que, este ano, não viu muitas promoções, mas continua procurando. “É algo que observo nas lojas e gosto de ver”, ressalta.
 
Não são só os consumidores que aguardam pelas promoções. De acordo com a Fecomércio, a expectativa era de que, no Natal de 2020, as vendas crescessem 2,2%. Seria um índice positivo, considerando que o setor chegou a ter uma queda de 11,63% nas vendas entre abril e maio (veja Retrospectiva). Os dados dos últimos meses do ano passado ainda não foram divulgados. A gerente de uma loja de vestidos na Asa Sul Rosangela Moura, 44, afirma que o comércio está otimista com as vendas neste início de 2021. “Muitas pessoas aguardam por estas promoções”, considera. Ela espera que o movimento deste período ajude a recuperar o faturamento que caiu após o início da crise sanitária da covid-19. “Sofremos bastante com a pandemia. Conseguimos arranjar outras formas de vender, como, por exemplo, pelo sistema delivery, mas esperamos que a liquidação chame cada vez mais clientes e que eles comprem”, completa.
 
Finanças
Seguindo a estimativa do Sindivarejista, durante este período de descontos, cerca de 95% dos consumidores devem optar por pagar as compras com o cartão de crédito. O professor de finanças do Ibmec Brasília William Baghdassarian explica que essa tendência ocorre devido às facilidades que o cartão de crédito proporciona. No entanto, ele alerta para os perigos de não saber usar corretamente a ferramenta. “O cartão é um instrumento como qualquer outro, e tudo depende de como ele é utilizado. Caso a pessoa não tenha maturidade financeira, com certeza vai acabar endividada”, frisa.
 
Para evitar o endividamento, William ressalta que é preciso criar o hábito de gastar menos do que se recebe. “Independentemente do valor da renda da pessoa ou da família, é possível se endividar se não ficar atento. Por isso, recomendo que sempre se tenha uma reserva emergencial equivalente a três meses de salário, além de investir em educação financeira”, conselha o professor. E alerta para os perigos de parcelar as faturas do cartão. “Algumas pessoas costumam jogar as parcelas para frente e isso só adia o pagamento, além de contar com juros que aumentam ainda mais a dívida”, completa.
 
Sônia Bentim, 57, veio do Rio de Janeiro para visitar a família e aproveitou para passear pelo comércio da Asa Sul. “Entrei em uma loja para trocar um presente, vi as promoções e acabei comprando mais um sapato”, conta a aposentada. Antes de efetivar uma compra, ela avalia vários pontos. “Penso se o produto é útil para mim, se a qualidade é boa e se condiz com o preço. Só depois de pensar nisso tudo, compro. Só não consigo fazer isso quando gosto muito da mercadoria, porque, quando isso acontece, eu compro sem nem pensar”, confessa.


Correio Braziliense quarta, 06 de janeiro de 2021

VOLTA ÀS AULAS: PAIS E ESCOLAS COMEÇAM PREPARATIVOS

Jornal Impresso

VOLTA ÀS AULAS

Pais e escolas começam preparativos
Questões como ensino presencial ou remoto e material escolar preocupam pais e alunos

As escolas do DF preparam o ano letivo de 2021 sob os efeitos da pandemia. Enquanto na rede pública as atividades recomeçam em 8 de março, nas instituições privadas o retorno será este mês. Muitas famílias, no entanto, ainda avaliam a melhor modalidade para os filhos: a maioria dos colégios oferecerá aulas presenciais, remotas e híbridas. %u201CAs escolas passaram 2020 se preparando e fizeram o dever de casa. Hoje, é possível falar que é um dos lugares mais seguros%u201D, observa Alexandre Veloso, presidente da Associação de Pais e Alunos (Aspa-DF). A estimativa é de que 70% dos alunos da rede privada voltem às escolas. É o caso de Heitor, 9 anos, que vai ao presencial. Ele e a mãe, Thais Severo (foto), foram comprar o material, ontem.  Especialistas em direito do consumidor alertam os pais para avaliarem compras, pois há dúvida de como o ano escolar se desenrolará devido a covid-19., Ed Alves/CB/D.A Press
 
 
Nas instituições particulares, data de início do ano letivo varia, mas, nas próximas semanas, algumas já retomam as aulas. Expectativa é de que a adesão ao modelo presencial seja maior e famílias devem ficar atentas aos direitos na hora da compra de material

 

ANA ISABEL MANSUR

Publicação: 06/01/2021 04:00

Thais Severo, mãe de Heitor, confia nas medidas de segurança adotadas pela escola e conta que conseguiu reaproveitar material do ano passado ( Ed Alves/CB/D.A Press)  

Thais Severo, mãe de Heitor, confia nas medidas de segurança adotadas pela escola e conta que conseguiu reaproveitar material do ano passado

 



A volta às aulas de 2021 marcará, para algumas famílias, a volta também às escolas. Em meio às incertezas geradas pela pandemia de covid-19, surgem questionamentos a respeito da modalidade das aulas, dos preços das mensalidades e do uso de materiais, que se somam à preocupação com as questões de segurança e prevenção contra o novo coronavírus. As instituições particulares oferecem aos pais a escolha pelo ensino presencial, remoto ou híbrido, enquanto a rede pública, com retorno do ano letivo marcado para 8 de março, ainda avaliará o cenário na pandemia antes de uma definição.
 
Em 2020, cerca de 30% dos alunos atenderam às atividades presenciais e os demais optaram pelo ensino remoto. A expectativa para este ano, segundo Alexandre Veloso, presidente da Associação de Pais e Alunos das Instituições de Ensino do Distrito Federal (Aspa-DF), é de que esse percentual se inverta. “Os colégios passaram o ano de 2020 se preparando e fizeram o dever de casa. Hoje, é possível falar que a escola é um dos lugares mais seguros”, observa. “Estamos vendo que há planejamento adequado e que os protocolos estão sendo seguidos. Os alunos serão acompanhados de perto para saber se estão com sintomas ou não”, completa.
 
Thais Severo, servidora pública, é mãe de dois meninos. Desde que as escolas reabriram, as crianças têm ido às aulas presenciais. “Eles voltaram no fim do ano passado e deu tudo certo. Os colégios estão tomando todas as medidas”, afirma a moradora do Lago Norte, cujos filhos estudam em instituições particulares da Asa Norte. Ela relata que o filho mais velho, Heitor, 9, soube se adaptar ao ensino remoto quando as escolas foram fechadas, mas que o pequeno, de 4 anos, não se interessava pelas aulas, o que a motivou a optar pela modalidade presencial.
 
“Eu e o pai deles trabalhamos fora, então, em casa, o mais novo ficava muito solto, sem atividades. Já fiz a opção nas escolas, mas até o fim do mês, se houver piora no quadro da pandemia, voltamos para o on-line”, ressalta Thais. Não foram só as crianças que incluíram o meio digital na vida escolar. A servidora comprou os materiais de Heitor pela internet, apenas complementando-os em papelarias. “O colégio aproveitou muita coisa. Materiais de artes e robótica, por exemplo, não precisei comprar”, conta.
 
Outros pais preferem manter as crianças estudando em casa, com aulas remotas. Vanessa Bernardes, 43 anos, tem dois filhos matriculados em uma escola particular de Vicente Pires, região onde mora, e prefere, por ora, essa modalidade. “Enquanto não houver vacina, eles não voltam para a escola”, afirma a professora, que contraiu a covid-19 e ainda precisa fazer fisioterapia para lidar com as sequelas.
 
Mesmo com as perdas de aprendizagem observadas nas crianças, Vanessa crê que o momento ainda não é adequado para o retorno presencial. “A mais nova, de 11 anos, teve uma queda muito grande. Ela era considerada a melhor da turma e quase reprovou. Ficou muito desmotivada. O mais velho, de 15 anos, que foi para o ensino médio, disse que as aulas eram uma bagunça e os alunos acabavam não aprendendo. Alguns livros sequer foram usados. Foi um ano perdido”, avalia.


Gerente de papelaria no Cruzeiro, Erivonaldo Rufino da Silva está otimista com relação às vendas, que devem aumentar na segunda quinzena do mês ( Ed Alves/CB/D.A Press)  

Gerente de papelaria no Cruzeiro, Erivonaldo Rufino da Silva está otimista com relação às vendas, que devem aumentar na segunda quinzena do mês

 



 
Material escolar
Nas papelarias, o clima é de otimismo com esta época do ano. Erivonaldo Rufino da Silva é gerente em um comércio do Cruzeiro e acredita que o movimento vai começar a aumentar na segunda quinzena de janeiro. “Os pais costumam deixar para a última hora. Até achamos que poderiam antecipar, por conta do isolamento social e para evitar aglomerações, mas ainda não tem muita gente vindo. Porém a expectativa é otimista”, destaca.
 
O gerente afirma que tem percebido os impactos da crise econômica gerada pela emergência sanitária do novo coronavírus, não só pela procura por materiais mais baratos. “Atendemos alguns pais que mudaram os filhos para escola pública por conta da crise”, observa o gerente. “Aqui, vamos aderir ao Cartão Material Escolar, então, esperamos que o uso dele seja maior este ano”, afirma, referindo-se ao programa do GDF que está com o período de inscrição das lojas aberto até 27 de janeiro, mas ainda sem datas para as famílias receberem o benefício.
 
“Os pais vão conseguir aproveitar muitos materiais duráveis, como mochilas e uniformes, mas canetinhas e giz de cera, por exemplo, que são consumíveis, foram usados durante o período em casa, até para as crianças terem como passar o tempo”, acrescenta Eriovaldo.
 
José Aparecido, presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Material de Escritório, Papelaria e Livraria do DF (Sindipel), reforça que as papelarias já estão providenciando a habilitação para a venda do Cartão Material Escolar, que deve ser liberado no início de março. A expectativa do setor, segundo ele, é de manutenção ou pequeno crescimento nas vendas. “Durante o ano, se as aulas não voltarem presenciais, de fato, terá mais impacto”, avalia. Segundo ele, as empresas do Plano Piloto foram as que mais sentiram o baque da crise econômica causada pela pandemia.


José Aparecido, presidente do Sindipel: crise impactou lojas do Plano ( Ed Alves/CB/D.A Press)  

José Aparecido, presidente do Sindipel: crise impactou lojas do Plano

 



 
Regras
Marcelo Nascimento, diretor-geral do Instituto de Defesa do Consumidor do Distrito Federal (Procon DF), destaca a importância de os pais prestarem atenção nas listas de materiais escolares. “Eles não precisam comprar, de uma vez, todos os itens da lista, sem saber como será o ano escolar com a pandemia. O material pode ser entregue de forma parcelada, no decorrer do ano, até oito dias antes de cada atividade em sala de aula”, explica Nascimento, citando a Lei Distrital nº 4.311, de 2009.
 
A legislação do DF determina que as escolas entreguem, junto à lista de material, o planejamento pedagógico e o plano de execução do curso, com o cronograma das atividades. O órgão publicou uma cartilha com orientações aos pais no retorno das aulas, disponível no link https://bit.ly/3niedae. É o plano que executa como a entrega parcelada poderá ser feita ao longo do ano.
 
“O Procon recomenda que os pais procurem a escola e questionem pedidos repetidos de materiais que não foram utilizados no ano passado e que podem ser reaproveitados agora. É esperado que a lista venha menor em 2021, mais barata, depois de termos um ano praticamente sem aulas, com escolas fechadas”, acrescenta o diretor. O instituto ressalta que a escola precisa assumir os itens de higiene e não pode cobrá-los à parte, nem por meio de taxas extras, já que as mensalidades subiram por conta, também, do preparo com a desinfecção por conta da covid-19.
 
Rede pública
A Secretaria de Educação aprovou os calendários escolares para o ano letivo de 2021 em 31 de dezembro do ano passado, após consulta pública à comunidade escolar. Com início em 8 de março e término em 22 de dezembro, os alunos terão aulas remotas aos sábados. Ao todo, serão 200 dias letivos. No caso dos CILs, serão 11 sábados letivos remotos, não presenciais, dos quais oito poderão ser flexibilizados. Os demais foram chamados de Sábados Letivos Temáticos Remotos, quando a comunidade escolar deverá se reunir para discutir práticas pedagógicas e avaliativas desenvolvidas nas unidades. Cada escola terá autonomia para escolher como fará as reposições de aulas aos sábados.
 
Alexandre Veloso, da Aspa-DF, espera que o governo consiga fechar em breve uma posição a respeito do retorno nas escolas públicas, mantendo a possibilidade de ensino remoto, mas também com a opção de retorno presencial e com medidas de distanciamento garantidas. “Claro que temos consciência de que, se a pandemia voltar a piorar, as escolas podem ser fechadas novamente. Porém, nossa aposta é que o DF inclua os professores na primeira leva da vacinação”, torce.


Correio Braziliense segunda, 04 de janeiro de 2021

PANDEMIA: COMO O DF A ENFRENTARÁ EM 2021

Jornal Impresso

Como o DF enfrentará a pandemia em 2021
 
Manutenção das medidas de distanciamento social e vigilância epidemiológica são essenciais para conter avanço da covid-19

 

ALAN RIOS

Publicação: 04/01/2021 04:00

 
 
Os primeiros meses de 2020 foram tomados por sensações de incertezas, olhar atento para o que acontecia em outros países e o começo de um trabalho intenso de pesquisadores que até hoje tentam decifrar a covid-19. A doença chegou ao Distrito Federal em 7 de março, quando o Ministério da Saúde confirmou oficialmente o primeiro caso na capital. Daquele dia em diante, surgiram questionamentos sobre como o novo coronavírus agia no corpo, quando seria o início da aplicação de um tratamento eficaz e, finalmente, a perspectiva do fim da pandemia. O ano de 2021 começa com algumas dessas perguntas sem resposta.
 
Estudiosos que analisaram o avanço do vírus no DF em 2020 colocam como o principal desafio deste ano estabelecer uma data de vacinação imediata. Tarcísio Rocha Filho, físico do Núcleo de Altos Estudos Estratégicos para o Desenvolvimento, da Universidade de Brasília (UnB), faz parte de um grupo nacional de pesquisadores que estimou cálculos preocupantes de mortes a cada período sem uma imunização. Ele destaca três ações prioritárias para os próximos meses com o objetivo de evitar mais óbitos: vacinar a população de forma rápida, contar com o maior número de doses possível e, enquanto isso, continuar medidas de controle da pandemia, como o isolamento social.
 
“As imunizações não são feitas da noite para o dia, elas demandam tempo. E, se a gente vacinar com a pandemia fora de controle, ainda há uma grande preocupação. No DF, temos uma das maiores letalidades do vírus, também porque tivemos mais gente atingida e testamos bastante”, pontua. A capital terminou 2020 como a unidade da Federação que mais realizou testes da covid-19, proporcionalmente, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mas também como a segunda região do país com mais mortes a cada 100 mil habitantes em decorrência da doença, registrando 140 óbitos a cada 100 mil moradores, maior do que a média nacional e atrás apenas do Rio de Janeiro, com 144,47.
 
A efeito de comparação, em 1º de julho de 2020, o DF estava em sexto lugar entre as maiores taxas de óbitos acumulados por 100 mil pessoas. Desde então, ultrapassou São Paulo, Ceará, Amazonas e Roraima (veja quadro). “O DF respondeu muito bem ao início da pandemia, com isolamento sério. Não chegou a ser um lockdown, como a Espanha fez, por exemplo. O problema é que o vírus é ativo o ano inteiro, pouco importa o clima. Nosso isolamento foi se afrouxando e voltamos a abrir (serviços não essenciais) muito cedo. Na França, se esperou cinco casos por semana para cada 100 mil habitantes antes de abrir para o verão. Aqui no DF, começou a abrir com 80 novos casos em sete dias para cada 100 mil”, aponta o especialista.
 
Somando esses fatores com o fato de uma porcentagem alta da população ainda suscetível ao vírus, percebe-se que uma segunda onda pode ser mais forte, segundo Tarcísio. “Aqui no DF, onde tivemos muita gente contaminada, cerca de 26%, ainda estamos bem distantes da imunidade de rebanho, que é de, pelo menos, 70% de infectados. Então, a pandemia não vai passar por conta própria.”
 
Tarcísio afirma que é preciso entender que o vírus não vai desaparecer, mesmo com a vacina, o que reforça a necessidade de ferramentas de contenção e menores exposições da população às aglomerações. “Vamos comparar com o sarampo, uma doença para a qual já existe vacina desde os anos 1960. A imunização tem eficácia alta, mas até hoje temos surtos, porque há parcelas da população que não se vacinaram. Se não tiver cobertura alta da vacina contra o coronavírus, de 90% da população, vamos continuar com surtos localizados.”
 
Vacina
O DF aguarda a aquisição de vacinas do governo federal, por meio do Ministério da Saúde. A Secretaria de Saúde do DF afirma que todos os planejamentos prévios estão sendo realizados para agilizar o processo após a chegada dos primeiros produtos. “Hoje, estamos extremamente satisfeitos com nossa rede de frios, temos um Plano Distrital de Vacinação completo e vamos ainda trabalhar medidas de segurança em relação à covid-19, com a vacinação, que durar até o segundo quadrimestre do ano”, avalia o secretário de Saúde, Osnei Okumoto.
 
O Governo do Distrito Federal (GDF) prevê imunizar 678.750 pessoas contra o novo coronavírus em quatro fases prioritárias, em que são incluídos profissionais da saúde, idosos, pessoas com comorbidades, professores e profissionais das forças de segurança e salvamento.
 
O secretário detalhou ao Correio que a pasta chegou a conversar com fabricantes de produtos vacinais ao longo de 2020. “Entramos em contato com as fabricantes da Rússia, da Inglaterra e do Butantan. Em todas as reuniões com elas, verificamos questões como o valor da vacina, temperatura de armazenagem e disponibilidade de fornecimento. Deixamos em alerta nossa situação para auxiliar na vacinação do DF, junto às vacinas que seriam disponibilizadas pelo ministério. Mas, hoje, temos informação de que há segurança sobre a disponibilização do governo federal”, garante Okumoto.
 
“Hoje, temos, nas quatro últimas semanas, um decréscimo na taxa de transmissão do vírus. Estávamos com 1,3 de taxa de transmissão, alteramos o horário de fechamento dos bares e restaurantes e agora estamos abaixo de 1, fazendo sempre um trabalho de conscientização junto à população e às entidades”, observa. A pasta também ressalta que a média móvel de casos da covid-19 — ou seja, a comparação de todos os casos confirmados dos últimos sete dias com a semana anterior — ficou em queda em dezembro.
 
Vulnerabilidade
Outro desafio do governo local para 2021 é conter o avanço da pandemia em regiões administrativas mais vulneráveis ao vírus. O mês de dezembro chegou ao fim com as cidades de Sobradinho 1, Taguatinga, Núcleo Bandeirante, Gama, Ceilândia e Riacho Fundo 1 com as maiores taxa de óbito em decorrência do novo coronavírus, proporcionalmente. Ceilândia é o local com mais casos e mortes totais. Para analisar as faces desses problemas e propor soluções, a Companhia de Planejamento (Codeplan) chegou a apresentar ao GDF, no início da primeira onda, um estudo sobre questões urbanas na transmissão da covid-19, que pode embasar ações futuras. 
 
“Na pesquisa, percebemos um DF muito desigual”, afirma Renata Florentino, diretora de Estudos Urbanos e Ambientais da companhia. “Temos a população de menor poder aquisitivo com a questão da densidade domiciliar, ou seja, ambiente pequeno para a quantidade de pessoas, e ela não consegue se isolar em casa. Também levantamos, e continua sendo monitorado, a questão da informalidade, porque o trabalhador nessa condição não consegue se afastar por motivo de doença, não pode fazer home office”, completa.
 
 
 
 
Evolução
Taxa de óbitos acumulados a cada 100 mil pessoas por unidade da Federação
 
1º de julho de 2020
Amazonas:  68,60
Ceará:  67,67
Rio de Janeiro:  59,07
Roraima:  51,84
São Paulo:  32,73
Brasil:  28,85
Distrito Federal:  20,56
 
1º de janeiro de 2021
Rio de Janeiro:  147,87
Distrito Federal:  141,25
Roraima:  128,93
Mato Grosso:  127,85
Amazonas:  127,52
Espírito Santo:  126,41
Ceará:  109,39
Brasil:  92,77
 
Fonte: Ministério da Saúde
 
 
 
 
União de pesquisadores
O grupo é composto por pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB), Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (IFBA), Universidade Federal de São João del Rei (UFSJ), e Universidade do Estado da Bahia (Uneb).
 
 

 (Minervino Júnior/CB/D.A Press)  
 
Palavra de especialista
 
Desafio conjunto
Com o relaxamento do comportamento nos últimos meses, podemos esperar um incremento substancial no número de infectados no início de 2021. Em verdade, a busca por atendimento já vem aumentando desde o final do ano. Da mesma forma, a incidência de casos é crescente. E, sem dúvida alguma, o principal motivo disso é o comportamento da sociedade. Quando se trata de enfrentar uma doença altamente transmissível, como a covid-19, o comportamento humano pode ser tanto parte do problema quanto da solução. Mesmo em locais onde há alta adesão populacional às medidas comportamentais, com o passar do tempo, as pessoas tendem a se acostumar com a presença da ameaça viral, o que faz com que a adesão às medidas sanitárias diminua. Seria o chamado fenômeno de “descalibração da normalidade”, em que se passa a ser normal conviver com o novo vírus e fica mais difícil perceber que as ações de enfrentamento são eficazes, necessárias e justas.
 
Ana Helena Germoglio, infectologista do Hospital Águas Claras

Correio Braziliense domingo, 03 de janeiro de 2021

BRASÍLIA, CIDADE QUE ENCANTA: PASSEIO POR RETAS E CURVAS

 

Jornal Impresso
 
 
A iluminação da Torre de TV e os enfeites espalhados pelo Eixo Monumental estão atraindo brasilienses e turistas. Com máscaras, famílias e grupos de amigos fizeram dos cartões-postais o programa do feriadão, de dia e de noite.  (Ed Alves/CB/D.A Press)
 

 

Passeio por retas e curvas
 
Visitantes e moradores do DF aproveitaram o fim de semana pós-feriado para curtirem pontos turísticos da cidade. Entre monumentos arquitetônicos e belezas naturais, as atrações são inúmeras, para todos os gostos e idades

 

» Luana Patriolino

Publicação: 03/01/2021 04:00

Show de luzes e a decoração de fim de ano encantam quem passa pelo centro da capital  (Ed Alves/CB/D.A Press)  

Show de luzes e a decoração de fim de ano encantam quem passa pelo centro da capital

 



Nem mesmo a chuva atrapalhou aqueles que aproveitaram a tarde de ontem para passear pelos principais pontos turísticos da capital do país. A enfermeira Juliana Félix, de 38 anos, chamou o marido, o servidor público André Antonio Andrade, 39, para dar um passeio por Brasília. Os gêmeos Caio e Heitor, 8, foram os que mais gostaram da ideia. “Tinha muito tempo que a gente não saía de casa. Resolvi trazer os meninos para dar uma volta, eles estavam muito entediados”, diz Juliana.

Eles pararam na feirinha da Torre de TV para comer churrasquinhos e os tradicionais acarajés do local. O cachorrinho da família, Bento, não ficou de fora da diversão. Todos curtiram um dos pontos mais conhecidos e queridos da capital. “Eu adoro. Fico olhando os artesanatos e tudo por aqui”, detalha Juliana.

Depois de conferir as lojinhas da feira, tirar fotos, lanchar e correr com as crianças e o pet, o casal deu uma volta de carro pela Esplanada dos Ministérios para ver a decoração de fim de ano. “O sentimento é de dever cumprido e dia finalizado com sucesso”, frisa Juliana.

A família Serra teve a mesma ideia. Sem poder viajar por causa da pandemia do novo coronavírus, o comerciante Wanderley Serra, 50 , juntou toda a turma para fazer um tour pela cidade. A rota escolhida foi Torre de TV, Ponte JK e Lago Sul. Esse último destino, aliás, é o lugar favorito da família. “É uma das partes mais bonitas de Brasília. A gente sempre dá uma passada por lá”, afirma Wanderley.

A Torre de TV é um dos locais favoritos da família Serra.  

A Torre de TV é um dos locais favoritos da família Serra. "Amamos a cidade", conta Glaucia

 



Glaucia Serra, comerciante, 44, fala do amor pela capital. “Exceto o Wanderley, todos nós nascemos aqui, em Brasília, e, verdadeiramente, amamos a cidade”, conta, junto com os filhos Wanderley Serra Júnior, 21, Geovanna Serra, 13, e a caçula Maria Eduarda Serra, 9.

Carioca de nascimento e brasiliense de coração, Wanderley, atualmente, mora em Santo Antônio do Descoberto, no Entorno. Ele chegou no Distrito Federal há 40 anos e confessa que gostaria de explorar mais os pontos de Brasília. “É uma cidade bem aconchegante, com pessoas que gostam de se divertir. Também quero mostrar toda essa paisagem para os meus filhos e, apesar de morar perto, raramente a gente vem para esse lado de cá”, conclui.

Juliana e  André levaram os filhos e o cão, Bento, para um dia ao ar livre (Minervino Júnior/CB/D.A Press)  

Juliana e André levaram os filhos e o cão, Bento, para um dia ao ar livre

 



Descobertas


A cada visita, uma nova experiência. A maranhense Rosimeire Lima, 58, se sente assim sempre que vem para a capital federal. Instalada na casa de uma irmã há uma semana, em Taguatinga, a secretária perdeu as contas de quantas vezes esteve no DF. No entanto, sempre encontra algo novo para descobrir. Dessa vez, foi a Ponte JK.

“Tem um turismo muito bonito em Brasília. Inclusive, esse lago aqui que, apesar de ter estado várias vezes na cidade, não tinha visto de perto”, afirma. “Tem muita coisa que eu nem vi ainda”, diz. Reunida com parentes, amigos e vizinhos, toda a turma está curtindo as belezas da cidade. A ideia, agora, é escolher um próximo destino, recheado de boas surpresas.

 





Correio Braziliense quarta, 30 de dezembro de 2020

ANJOS DA GUARDA EXISTEM: MUITO OBRIGADO!

Jornal Impresso

Neste ano de pandemia, muitos deles vieram até nós na pele de médicas, médicos, enfermeiras, enfermeiros e outros profissionais da saúde, colocando em risco a própria vida para nos salvar do temido coronavírus. Para muitos doentes, internados e sem poder receber visitas da família e de amigos, eles foram a única referência de humanidade. A todos esses trabalhadores, da linha de frente no combate à covid-19, o Correio rende homenagem.,

Neste ano de pandemia, muitos deles vieram até nós na pele de médicas, médicos, enfermeiras, enfermeiros e outros profissionais da saúde, colocando em risco a própria vida para nos salvar do temido coronavírus. Para muitos doentes, internados e sem poder receber visitas da família e de amigos, eles foram a única referência de humanidade. A todos esses trabalhadores, da linha de frente no combate à covid-19, o Correio rende homenagem.

 

 

Muito obrigado...
 
Aos profissionais do ano. Trabalhadores da saúde viveram o ano da pandemia com atendimentos em excesso, pouco descanso e muita dedicação. Hoje, o Correio traz histórias de quem ajudou na linha de frente

 

» ALAN RIOS
» CAROLINE CINTRA

Publicação: 30/12/2020 04:00

 

"Este foi um ano de reinvenção. Tivemos de repensar muitas coisas a respeito da profissão e colocar o coração ali, porque éramos a única referência de humanidade para os pacientes isolados"

Renata Sousa de Almeida, médica chefe da UTI adulto do Hran

 

Plantões exaustivos. Dificuldade para respirar provocada pelo uso de incontáveis itens de proteção. Pacientes próximos do fim da vida e longe da família. Choro de tristeza, por mais uma morte causada pelo novo coronavírus. Choro de alegria, por quem recebe alta. Lágrimas de cansaço. Profissionais da saúde do Distrito Federal encararam todos esses momentos, diariamente, neste ano. Médicos, enfermeiros, técnicos, fisioterapeutas e diversas outras categorias enfrentaram a tragédia causada por uma pandemia com a missão de não abaixar a cabeça, pois os esforços deles garantiram mais corações batendo em 2021. Conheça histórias desses trabalhadores, que se mantiveram firmes e foram responsáveis, em algum momento, pelo tratamento dos mais de 16 mil pacientes hospitalizados com covid-19 no DF. Por meio das fotos que ilustram estas páginas, o Correio homenageia todos os profissionais de saúde que estão ou estiveram na linha de frente para salvar vidas.
 
Na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Regional de Ceilândia (HRC), há um mural feito pelas equipes de saúde com fotos de alguns desses pacientes. Junto às imagens, a frase: “Eles venceram graças a vocês”. Renata Sousa de Almeida, 32 anos, chefe do setor de atendimento a adultos, observa os registros quando precisa de forças. “Este foi um ano de reinvenção. Tivemos de repensar muitas coisas a respeito da profissão e colocar o coração ali, porque éramos a única referência de humanidade para os pacientes isolados. A gente sempre foi profissional, mas isso não nos impede de ser humano. Tratei os pacientes como se fossem pessoas da minha família. Isso traz mais empenho, mesmo que (nos) machuque um pouco mais. É um esforço extra, um choro a mais, mas vale a pena, porque as feridas são curadas com o retorno deles às famílias”, desabafa.
 
Ao longo deste ano, Renata teve de se isolar dos pais e da irmã. No trabalho, a médica viu jovens não resistirem à covid-19, ouviu parentes implorarem pela vida de pacientes, atendeu funcionários do próprio hospital e virou heroína de muitos recuperados, que voltaram ao HRC para agradecer pessoalmente a vitória sobre o coronavírus. “As Renatas de 2019 e de 2020 são pessoas diferentes. Eu me vejo mais capaz, humana e corajosa. Daqui a 10 anos, vou lembrar que estava ali e que consegui salvar muitas vidas. Daquelas que não salvei, acolhi as famílias, fui empática com a dor e pude passar conforto”, comenta.
 
Apesar da força adquirida, ela destaca que não é fácil pensar sobre a perspectiva de mais consequências trágicas da pandemia, em 2021. “Fiz muita terapia, promovemos acolhidas entre as equipes nos fins dos plantões, recebi apoio de minha família e do meu marido, mas estamos recebendo cada vez mais pacientes com covid-19, e o medo (nos) assola. Sou apaixonada pela medicina, mas é triste ver comportamentos que poderiam ser evitados para controlar o (contágio pelo) vírus”, lamenta.
 
Dificuldades
Isolar-se da família foi uma das maiores dificuldades que a enfermeira emergencista Jenne de Souza Silva Carvalho, 30, enfrentou durante um ano de pandemia. Saindo de casa apenas para o trabalho, a rotina de abraços e muito afeto ao chegar do expediente não existe mais. Funcionária de um hospital particular de Ceilândia, ela tem duas filhas pequenas, de 3 e 7 anos, e não teve com quem deixá-las nesta fase. Por isso, ao voltar da unidade de saúde, vai direto para o banho, em um banheiro diferente do usado pelos demais familiares. Os pratos, talheres e copos das refeições também ficam separados. E, na hora de dormir, ela vai para um quarto afastado. “Até dentro do hospital, a gente lida (uns com os outros) como na família, sem poder receber carinho dos colegas. Está sendo muito difícil”, desabafa.
 
Jenne conta que, assim que soube da chegada da covid-19 ao DF, imaginou que a situação seria revertida rapidamente. No entanto, foi surpreendida pelo número de infecções, que não parava de subir. “Quando veio o primeiro caso para a gente, foi desesperador, porque não imaginei que algo de tão longe chegaria até onde estávamos. Lidar com os óbitos diários é difícil, porque estudei para dar assistência. Não conseguir reverter o quadro de um paciente é doloroso”, relata.
 
Uma das situações mais marcantes para ela foi a de um homem de 32 anos que morreu por complicações da doença. Ele não tinha comorbidades diagnosticadas, mas era obeso e teria contraído a covid-19 no trabalho, único local para onde ia. “A mulher dele estava grávida de gêmeos. Eles tinham um ano e meio de casados e o sonho de serem pais. Mas ele não resistiu e morreu. Era muito jovem. Até então, eu só tinha pego casos de pacientes idosos. Esse foi um dos mais tristes para mim”, comenta Jenne.
 
Por outro lado, houve histórias com finais felizes. Uma ocorreu na última semana, quando uma paciente idosa, diabética, hipertensa e obesa que passou 32 dias intubada voltou ao hospital para agradecer à equipe que esteve com ela durante todo o processo de recuperação. “Ela trouxe lembrancinhas, (estava) sem sintoma nenhum. Essa é a parte gratificante de todo o nosso esforço”, diz a enfermeira.
 
A cozinheira Maria Alzenira da Silva, 56, também ficou sob cuidados de Jenne. Assim que teve a confirmação de que estava com o novo coronavírus, foi ao hospital onde a enfermeira trabalha, mas, como não tinha plano de saúde, precisou ser levada para uma unidade da rede pública. “A Jenne e a médica cuidaram muito bem de mim. Hoje, é tão difícil ver profissionais atenciosos assim. Fiquei muito surpresa com o tratamento, e elas fizeram de tudo para me encaminhar para o Hospital Regional de Santa Maria (HRSM). Graças a Deus, depois de passar por tudo isso, estou curada e bem. Só tenho a agradecer”, destaca Maria.
 
Barreiras
Manoel Ribeiro Neto, 49, sai de casa todos os dias sabendo que pode se expor ao novo coronavírus, mas, também, ciente de que um trabalho bem-feito pode salvar vidas. Técnico de enfermagem do Hospital de Apoio de Brasília (HAB) e do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), ele atua na linha de frente dos atendimentos. “Quando recebemos um chamado, a abordagem do técnico de enfermagem é fundamental, porque temos de identificar todos os sintomas do paciente, estabelecer o tipo de tratamento primário e qual unidade de saúde vai recebê-lo”, detalha.
 
Manoel auxiliou a população a enfrentar a pandemia por meio dos atendimentos de ocorrências, com transferências de pacientes e auxílios domiciliares, por exemplo. “Todo dia, temos situações de encontrar pessoas entre a linha da vida e da morte. Todas as vezes que atendemos e levamos a um hospital, estamos levando para a vida. Mas é difícil. Neste ano, tudo foi atípico. Somos seres humanos, que temos nossos cansaços e problemas, mas precisamos nos superar (isso) a cada dia”, conta.
 
Manoel lembra as dificuldades do começo da pandemia, em que os protocolos mudavam de forma constante, na medida em que se conhecia mais sobre a transmissão do vírus. “Estabelecemos protocolos de atendimento, mas eles foram se aperfeiçoando. A gente conversa com o paciente para ele manter distância das pessoas da casa, pede uso de máscara, diz que, se ele tiver falta de ar e for tossir, tem de virar para o outro lado. Ou seja, fomos estabelecendo barreiras da covid-19 no DF. Essa missão nos foi dada, então fazemos com dedicação e amor”, afirma o técnico de enfermagem.
 
Outro trabalho fundamental para evitar a disseminação do novo coronavírus é identificar a presença dele. Nessa função, foram essenciais os laboratórios de medicina diagnóstica. Maria Luísa Mangueira, 24, não imaginava, no começo do ano, que terminaria 2020 como estagiária do setor de biologia molecular em um deles. Estudante do 6º semestre do curso de farmácia, ela atua no processamento de amostras de testes da covid-19. “É um orgulho trabalhar para que eu, com o conhecimento que tenho, possa fazer minha parte em meio a uma pandemia. Sempre quis ser da área da saúde para ajudar os outros”, comenta.
 
Em média, são cerca de 3 mil testes verificados diariamente pelos equipamentos. Mas essa quantidade começou a subir nas últimas semanas. “É bem complicado, porque a gente vê, de dentro, o tanto que estamos trabalhando. E ainda há o medo de manipular aquilo todo dia. Mas, sempre que olhar para trás, vou ter o sentimento de pesar, só que o de dever cumprido também”, considera Maria Luísa.
 
Exaustão
Endocrinologista e médica reguladora do Hospital Regional da Asa Norte (Hran), Julianne Maia, 32, afirma que, em nove anos de profissão, este foi o mais exaustivo. Para ela, lidar com uma doença nova e que se manifesta de maneira diferente em cada paciente dificultou a agilidade dos tratamentos.
 
Considerado hospital referência no tratamento da covid-19 no DF, o Hran recebeu milhares de pacientes, dos mais variados perfis. Inclusive, a primeira pessoa diagnosticada com a doença na capital federal, a advogada Cláudia Maria Patrício Costa da Silva. “Quando paro para pensar nas pessoas que passaram por aqui, essa é a que mais fica na mente. Era o primeiro caso, não tínhamos muita informação”, recorda-se Julianne.
 
Maria da Conceição Britto, 63, passou 15 dias internada no Hran. Com 50% do pulmão comprometido, ela se lembra dos momentos ruins que teve durante o tratamento. “Eu creio muito em Deus, mas é impossível não pensar na morte. A falta de ar foi o que mais me assustou. Você puxa e ele não vem. Para mim, quase não tinha esperança. Perdi uma vizinha, que teve a doença enquanto eu estava no hospital, e imaginei que meu fim seria igual”, confessa. Para ela, a equipe de saúde foi fundamental para a recuperação. “Tinha medo de eles terem algum tipo de preconceito com a doença, de serem contaminados. Mas foram tão atenciosos. Foi a coisa mais linda de se ver. Sou grata, porque estive no lugar certo”, completa Maria da Conceição.
 
Conhecimentos
Em contato direto com pacientes diagnosticados com a covid-19 desde o início da pandemia no DF, o intensivista Rodrigo Biondi,43, sofreu com o cansaço — em nível físico e psicológico — provocado pelo período intenso de trabalho. Além do aumento da carga horária, precisou lidar com um cenário de inúmeras mortes. “Nunca vi tanto paciente morrer”, conta.
 
Normalmente, a UTI em que ele atua recebe um paciente com infarto por dia. Após a pandemia, a equipe da unidade recebia oito, aproximadamente. “Tive colegas que pegaram a doença e ficaram em estado grave. Eu peguei, e foi leve, mas fiquei com medo, porque não dá para saber sobre ela. É uma indefinição”, comenta.
 
Esse também foi um dos pensamentos de César Romero, 29, coordenador do pronto-socorro de um hospital particular. “No pico da pandemia, vimos centenas de novos casos e de novas mortes por dia. Esse medo aumentava, não só pelo desconhecido coronavírus, mas, também, por nossa saúde e pela de nossos familiares. Temíamos adquirir a doença no trabalho e levá-la para casa. Nos privamos do convívio com os familiares, por medo da transmissão”, relata.
 
César considera que olhar todos os esforços das equipes carrega, também, um alívio, pela quantidade de vidas salvas. “Hoje, profissionalmente, terminamos o ano realizados, pois temos maior controle, além de mais conhecimento sobre a transmissão, a prevenção e o tratamento da covid-19. Evoluímos demais, porque, no começo da pandemia, não sabíamos se era melhor intubar o paciente, em qual período entrar com corticoide, as tecnologias de ventilação. Agora, são vários conhecimentos que (temos e que) diminuem a mortalidade da covid-19, atualmente, bem menor”, destaca o médico.

Correio Braziliense terça, 29 de dezembro de 2020

UNIÃO PARA ENFRENTAR A CRISE

Jornal Impresso

 

União para enfrentar a crise
 
Em especial de fim de ano, o Correio entrevista representantes de diferentes religiões para saber como encaram o momento de pandemia e a transição para 2021. Na primeira matéria da série, o arcebispo de Brasília, Dom Paulo Cezar Costa, fala sobre o poder da solidariedade

 

» HELLEN LEITE

Publicação: 29/12/2020 04:00

 
"Aos que têm fé e, por isso, vivem de esperança, que tenham essa certeza de que não estamos sozinhos. O princípio da vida é mais forte que o princípio da morte. A vida vencerá"

Os impactos provocados pela pandemia do novo coronavírus não escolhem cor, gênero, classe social ou religião. E é fato que o vírus colocou a inteligência humana diante do desafio de desvendar como enfrentá-lo. Essa descoberta não se restringe ao campo técnico e científico, mas também inclui os desafios socioculturais, o que admite uma reflexão sobre como a fé pode ajudar as pessoas a lidar com as consequências de uma doença que já fez mais de 1,7 milhão de vítimas em todo o mundo.
 
Nesse sentido, a crise na saúde requer bem mais do que o distanciamento social recomendado pelas autoridades sanitárias. O ano atípico de 2020 exige reflexões, disposição para mudanças e — por que não? — fé para começar 2021. Para o arcebispo de Brasília, Dom Paulo Cezar Costa, a pandemia trouxe a necessidade de uma profunda reflexão sobre a vida em comunidade, o que passa por pensar na fé, na relação com as pessoas e nas injustiças sociais.
 
Nesse momento de crise, destaca o religioso, as pessoas são chamadas a reaprender a viver. Essa deve ser a grande lição, segundo ele: olhar os outros e demais seres vivos com respeito, abandonar o individualismo, deixar para trás o “eu” e construir o “nós”, pois o sagrado está na união e na empatia.
 
A covid-19 afeta todas as partes do mundo, criando medo, ansiedade, tristeza e dificuldades. Como o senhor avalia a pandemia que vivemos? Como a Igreja Católica observa esse fenômeno?
A humanidade vive muitas crises e vai viver outras ainda. Faz parte da história, é natural. Essa pandemia trouxe uma grande crise na saúde, (no meio) social e nas instituições. Ela desmascarou nossa fragilidade, destruiu nossas falsas seguranças, nossos projetos, afetou nossos hábitos e nos colocou diante da provisoriedade. Nós todos nos sentimos, de uma forma ou de outra, em um mar agitado. Mas a crise também é sempre um tempo de possibilidades e de empenho nosso na busca por superação. Vejo a crise como um momento difícil para as pessoas e para a sociedade, mas, também, como um tempo de possibilidade.
 
O ano de 2020 foi atípico. Como os católicos foram chamados a viver esse período?
Nós, católicos, vivemos um tempo com esperança, porque temos certeza de que o barco que está no mar agitado não afundará. Não estamos sozinhos nesse barco. O Senhor permanece conosco, como naquela imagem do Evangelho em que o mar está agitado, Jesus está dormindo, os discípulos estão desesperados e gritam “Não se importa, Senhor?”. Mas Jesus se levanta, diz ao vento para que se acalme, e a tempestade cessa. Esta é a certeza que o cristão tem de ter: que Jesus está na barca conosco e, estando na barca, ele (o cristão) não perecerá.
 
O senhor acha que, de alguma forma, esse tempo de pandemia também foi um recado, um alerta, para a humanidade?
Acredito que sim. Esse momento quis dizer tantas coisas, mas, principalmente, que devemos aprender a ter solidariedade e resiliência. De certa forma, as pessoas se sentiram mais humanas. Sentiram que todos estamos participando da mesma condição e que todos fomos afetados pela pandemia e pela crise. Penso que, dessa crise, deve sair uma sociedade mais solidária e fraterna, onde homens e mulheres sejam verdadeiramente irmãos. Um dia desses, participei de um evento, na embaixada do Barein, em que o rei (do país) escreveu uma bonita carta sobre a importância da convivência entre as diferentes religiões. O papa Francisco escreveu, recentemente, a encíclica Fratelli tutti, sobre a fraternidade. E tudo isso aconteceu durante a pandemia, o que mostra que somos todos irmãos. Existem religiões diferentes, formas de pensar diferentes, mas somos todos irmãos. A pandemia mostrou que é preciso pensar a sociedade de uma forma diferente, não com rivais, mas com aliados, especialmente em momento de pandemia.
 
Estamos passando por uma crise de saúde mundial, como a fé pode ajudar a atravessar esse momento?
A fé é fundamental. Ela nos ancora no mistério eterno do amor de Deus e nos dá a certeza de que uma presença maior caminha conosco. Ela nos ensina que a história não é só uma sucessão de fatos, mas que a história e a vida humana têm um significado mais profundo. A fé faz iluminar todas essas realidades e nos assiste, lembrando-nos de que, nas noites escuras, como nesse momento de crise, há uma presença maior que caminha conosco. Ela nos ajuda a olhar os acontecimentos com esperança.
 
Será possível superar os traumas que a pandemia deixou? O que podemos fazer para não nos desesperarmos neste momento, especialmente quem perdeu pessoas queridas?
Precisamos buscar meios para a superação dos problemas, seja pela fé, pela psicologia ou pelas outras ciências, que podem nos ajudar neste momento. Aos que perderam os entes queridos, a maioria não teve nem condição de viver o luto, e o luto é uma condição importante da vida humana. Esse tempo de pandemia nos impediu disso. É preciso, nesse caso, usar a criatividade para vivenciar o luto, mesmo que esses entes queridos tenham sido sepultados.
 
Outra realidade desta pandemia foi o isolamento social. O que podemos aprender com o distanciamento? Como vivenciar a fé em meio a uma crise que distancia as pessoas?
O distanciamento social é uma realidade. O isolamento nos fez conviver com as pessoas que amamos e que estão perto de nós. Mas, ao mesmo tempo, colocou-nos juntos, e as crises também apareceram. Vieram à tona na mesma medida em que os laços familiares se fortificaram. O isolamento social nos relembrou de que a vida não é só fazer, construir e produzir, mas também de que as relações humanas são fundamentais.
 
No início da pandemia, os templos ficaram fechados, mas continuaram com atividades ou celebrações on-line. Como a pandemia ressignificou a relação entre os fiéis e a igreja?
As crises sempre adiantam processos que estão latentes. Isso também aconteceu no relacionamento dos fiéis com a igreja. Felizmente, eles responderam e estão respondendo a essa nova forma de participação. Muitos continuaram a contribuir, trazer donativos para os pobres, participar da vida das paróquias, mas (tudo) de uma forma diferente. Esse tempo de pandemia apenas adiantou um processo de uso das mídias sociais na evangelização, na missão e no levar Deus para a vida das pessoas.
 
A ciência tem sofrido ataques por parte de alguns líderes mundiais. O senhor acha que a  pandemia radicalizou a questão da ciência versus a fé? Como elas podem se equilibrar?
A ciência é fundamental na vida da sociedade. A Igreja Católica tem seguido as recomendações da ciência. Se temos uma vacina às portas, se a humanidade está começando a ver o sol, (isso) é fruto do esforço e do trabalho de tantos cientistas. Em algum tempo da história, houve esse conflito, mas, hoje, essa oposição não existe. Ao contrário: o que há é um profundo respeito e diálogo. É preciso que haja o justo respeito, (pois) a sociedade não pode viver sem a ciência e precisa dos cientistas. Ela (a ciência) é o que nos faz ver o sol novamente.
 
O senhor acredita que vai ser possível colher frutos quando tudo isso passar?
Penso que sim. O tempo de crise é sempre um tempo de possibilidades, em que o novo se manifesta e deve emergir. Muitos frutos virão. Frutos de solidariedade, de uma maior irmandade entre as pessoas e de um humanismo maior, (situação) em que as pessoas estejam mais atentas umas às outras. A sociedade, a partir dessa grande crise, é chamada a caminhos novos, que levem em conta a percepção de que somos todos irmãos, que estamos no mesmo barco e que participamos da mesma raça humana. Penso que surgirá, também, uma sociedade em que as pessoas deem mais atenção à nossa afetividade. Ficamos tanto tempo sem abraçar. Acredito que, disso, surgirá uma convivência mais afetiva entre as pessoas. Um oposto deve conduzir ao outro. O distanciamento deve nos levar a uma capacidade maior de expressar nossos sentimentos e afetos.
 
Quais serão os maiores desafios de 2021 nesse sentido?
Em 2021, a gente tem, ao menos, a perspectiva da vacina. Então, a sociedade vai começar a voltar ao novo normal. Espero que estejamos unidos para enfrentar esse tempo de crise e pós-crise. As condições para vivermos esse tempo, em que tivemos o tecido social desgastado, é estarmos mais unidos, cada um dando a própria contribuição. Que se vençam as polarizações e que olhemos pelo bem dos mais pobres e mais vulneráveis. Aos que têm fé e, por isso, vivem de esperança, que tenham essa certeza de que não estamos sozinhos. O princípio da vida é mais forte do que o princípio da morte. A vida vencerá. Devemos ter uma grande esperança em 2021. E, como seres humanos, empenhar-nos em construir soluções para que a sociedade vença essa crise e caminhe no pós-crise.

Correio Braziliense segunda, 28 de dezembro de 2020

COVID-19 - VACINA - A FÓRMULA VENCEDORA DA AstraZeneca

Jornal Impresso

A fórmula vencedora da AstraZeneca
 
Pascal Soriot, CEO da farmacêutica anglo-sueca, anuncia que a vacina desenvolvida em parceria com a Universidade de Oxford tem eficácia similar às concorrentes e proteção de 100% contra as formas graves da covid. Agência britânica deve se manifestar esta semana

 

Publicação: 28/12/2020 04:00

Voluntária brasileira recebe a vacina, em São Paulo: Planalto abriu, em agosto, crédito para a compra de 100 milhões de doses (Nelson Almeida/AFP - 23/10/20)  
Voluntária brasileira recebe a vacina, em São Paulo: Planalto abriu, em agosto, crédito para a compra de 100 milhões de doses
 
Com o compromisso de divulgação, em breve, de estudos científicos definitivos, o conglomerado farmacêutico anglo-sueco AstraZeneca anunciou ter encontrado a “fórmula vencedora” para a vacina contra o novo coronavírus, desenvolvida em parceria com a Universidade de Oxford. Segundo Pascal Soriot, CEO do laboratório, o imunizante tem desempenho equivalente aos produzidos pelas concorrentes, além de garantir uma “proteção de 100%” contra as formas graves da covid-19.
 
“Acreditamos que encontramos a fórmula vencedora e como obter uma eficácia que, com duas doses, está à altura das demais”, afirmou Soriot, em entrevista concedida ao jornal Sunday Times. A agência reguladora britânica — a MHRA (Medicines and Healthcare products Regulatory Agency) — recebeu os estudos completos sobre a vacina na quarta-feira passada e deve se pronunciar nos próximos dias.
 
Com esse aval, o imunizante estará apto para ser aplicado no Reino Unido, onde a população vem recebendo a primeira dose do imunizante produzido pelo consórcio teuto-americano Pfizer/BioNTech. A previsão é a de que comece a ser aplicada em 4 de janeiro.
 
Brasil
 
A vacina de Oxford, como vem sendo popularmente chamada, é a grande aposta do governo brasileiro. Ainda no início de agosto, em cerimônia no Palácio do Planalto, o presidente Jair Bolsonaro assinou uma medida provisória que abriu crédito extraordinário de R$ 1,9 bilhão para viabilizar a produção e aquisição de 100 milhões de doses do imunizante. Recentemente, o governo anunciou acordo para a compra de 70 milhões de doses da Pfizer.
 
Nos resultados provisórios de testes clínicos em larga escala, no Reino Unido e no Brasil, o laboratório anglo-sueco anunciou, em novembro, que sua vacina tinha eficácia média de 70%, contra mais de 90% dos fármacos da Pfizer/BioNTech e Moderna.
 
Por trás do resultado médio, estavam grandes diferenças entre dois protocolos: a eficácia alcança 90% para os voluntários que receberam primeiro metade da dose e uma dose completa um mês depois, mas de apenas 62% para outro grupo vacinado com duas doses completas.
 
Esses resultados foram alvos de crítica porque aconteceu um erro na injeção de meia dose, embora um grupo relativamente pequeno tenha seguido este protocolo. A empresa anunciou mais tarde que sua vacina exigia estudos adicionais, agora concluídos.
 
Acessível
 
A vacina Oxford/AstraZeneca é aguardada com impaciência, porque é relativamente barata e não precisa ser armazenada a uma temperatura tão fria como a da Pfizer/BioNTech, por exemplo, que deve ser mantida a -70ºC. O fármaco do consórcio anglo-sueco pode ser armazenado em condições de refrigeração (2ºC a 8ºC), o que facilita a vacinação em larga escala e em casas de repouso.
 
O Reino Unido foi o primeiro país ocidental a iniciar a imunização com a vacina da Pfizer/BioNTech, no início de dezembro. Agora conta com a segunda vacina para ganhar impulso e cortar a curva de aumento de casos atribuídos à nova cepa do coronavírus detectada em seu território.
 
Pascal Soriot externou otimismo quanto à possibilidade de o imunizante ser capaz de enfrentar as variantes do Sars-CoV-2. “(Diante da mutação) pensamos, no momento, que a vacina deve continuar sendo eficaz”, disse. “Mas não podemos ter certeza e faremos alguns testes”, admitiu.
 
Na entrevista ao Sunday Times, o CEO do conglomerado garantiu que novas versões do imunizante foram preparadas. Ele disse esperar, porém, que elas não sejam necessárias. “Você tem que estar preparado”, observou. 

Correio Braziliense domingo, 27 de dezembro de 2020

MAKE PARA ARRASAR: DICAS PARA O RÉVEILLON

Jornal Impresso

Make de arrasar
 
 
Especialistas dão dicas de como fazer uma maquiagem linda para o réveillon destacando, sobretudo, os olhos

 

Tayanne Silva*

Publicação: 27/12/2020 04:00

 

"Azul, verde, rosa, amarelo, laranja... não importa a cor. O interessante é se jogar sem medo de ser feliz e usar o que gosta", aconselha Gustavo de Campos Dieamant, de O Boticário

 

 
Vista-se de alegria, elegância e conforto para  dar adeus a 2020, o ano que nos afastou das festas. A Revista mostra que é possível ficar em casa, comemorar a vida e criar um clima de festa para esperar o novo ano. Faça o seu look com as nossas dicas e aposte no estilo high-low.
 
As cores têm sido a tendência da vez em diversos segmentos. Na maquiagem, é uma ótima aposta para quem deseja transparecer uma postura alegre e criativa. Para Gustavo de Campos Dieamant, gerente de marketing de produtos de maquiagem de O Boticário, o delineado gráfico e colorido é uma maneira superdivertida de destacar os olhos e transparecer autenticidade. “Azul, verde, rosa, amarelo, laranja... não importa a cor. O interessante é se jogar sem medo de ser feliz e usar o que gosta. Afinal, a maquiagem tem se tornado, cada vez mais, livre, como uma forma de se autoconhecer e se divertir.”
 
O delineado gráfico tem sido uma grande tendência entre influenciadores e maquiadores, tanto nacionais quanto internacionais. As pinturas coloridas ganham destaque, sobretudo nos olhos. “Mas ela vai muito além do delineado. Passa pelas sombras, pelos batons, brilhos labiais e iluminadores, pois vieram com tudo para esta estação e estão deixando as produções mais alegres,” afirma Gustavo.
 
Como fazer uma make colorida, para arrasar no réveillon, mesmo que a virada seja em casa? Para quem quer realçar os olhos, não há muito segredo, basta caprichar de acordo com a ocasião. “Use desde máscaras de cílios a delineadores coloridos, passando pelos tons de sombra mais pastéis até os mais vibrantes”, explica Gustavo.
 
Para 2021, podemos continuar abusando da pele iluminada e com aspecto saudável. “Nos olhos, as cores se mantêm em alta, com destaque para o amarelo. O olho preto esfumado também está de volta. A melhor forma de usar as cores certas é saber seu tom e subtom de pele”, ensina Priscila Miguel, especialista em beleza — maquiagem e imagem pessoal. “A sombra deve ser algo que deixa o olhar valorizado. Se perceber que ela apaga o restante do rosto, esse não é seu tom. Conheça sua paleta de cores e use a seu favor na maquiagem.”
 
Pele hidratada
 
A preparação da pele para a maquiagem também é superimportante. “Sempre deve deixá-la bem hidratada. Um bom creme pré-maquiagem também vai ajudar na fixação”, diz Priscila, também influenciadora digital, com mais de 188 mil seguidores no Instagram (@bypriscilamiguel).
 
De acordo com ela, a região dos olhos é muito sensível e precisa de cuidados redobrados na hora da make. “Hidratar as pálpebras é um passo importante para facilitar a aplicação.” A outra sugestão para fixar é aplicar a sombra com os dedos, pois o calor deles ajuda a deixar a cor mais real e a dar mais durabilidade.”
 
Além de uma pele limpa e hidratada, deve-se investir em produtos de qualidade para que eles fixem por mais tempo. “Um bom delineador e uma boa máscara de cílios podem durar o dia inteiro”, garante Priscila. “Outra dica é usar um finalizador”, completa Gustavo.
 
*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte
 
 
Faça você mesma
 
Maquiagem feita para campanha de O Boticário
1. Força no delineado gráfico: comece com uma sombra neutra como base e use a laranja para marcar o côncavo e o canto externo no olho. Depois, aplique um delineador mais forte, para fazer o efeito gatinho, e finalize com a máscara de cílios. Os lápis permitem esfumar, sendo usados como sombras e também para o delineado gráfico. Ou seja, com um único produto, é possível trazer os dois efeitos.
 
Priscila Miguel fez uma mistura inusitada: laranja e rosa
2. Mistura de tons: quem quer ousar e fazer uma make mais trabalhada pode usar cores misturadas, como rosa e laranja. O segredo aqui é escolher a cor que você mais gosta e se jogar na produção sem medo. O verão combina com tons quentes, como laranja, vermelho e rosa. Mas nada impede que você use azul ou verde. Vai do gosto de cada um.
 
A a make monocromática de Priscila Miguel deu destaque para o delineado colorido
3. Delineado colorido: Para quem ainda não se sente seguro em brincar com as cores, um delineado colorido já vai destacar o olhar. Você pode adotar um colorido monocromático, aplicado até com o dedo em toda a pálpebra móvel.
 
Segundo Priscila, esta make pode ser feita em 10 minutos
4. Rápida e linda: se você passou o dia todo correndo e não teve tempo para se maquiar, essa make fica pronta em 10 minutos. Prepare a pele e, em seguida, sele toda a pálpebra com uma sombra rosa opaca quente. Faça um traço com uma sombra vinho rente à linha dos olhos em direção à sobrancelha — esse traço vai dar uma levantada no olhar. Aplique com os dedos uma sombra rosa com bastante cintilância em toda a pálpebra móvel. Finalizar com máscara de cílios.
 
Esta make de Priscila é para quem não tem medo de ousar
5. Vermelho e ousado para brilhar: prepare a pele com um super glow, misturando iluminador líquido à base. Em seguida, sele toda a pálpebra móvel com uma sombra bem clara, apenas para ajudar na fixação do delineador. Com um batom, sombra ou delineador vermelho, faça um delineado quase encontrando o final da sobrancelha, levando esse traço para cima. Depois, aplique uma cola especial para glitter em todo o delineado e, com a ajuda de um pincel com ponta pequena e firme, aplique o brilho bem devagar. Uma dica para não ficar com glitter embaixo dos olhos é, antes de começar a aplicação, pôr bastante pó translúcido na região, assim, após terminar, com um pincel tipo vassourinha, varra a região. Para finalizar, aplique bastante máscara de cílios e um batom nude ou vermelho.
 
Fontes: Gustavo de Campos Dieamant, gerente de marketing de produtos de maquiagem, do Boticário, e Priscila Miguel, especialista em beleza.
 
 
Na hora de tirar
 
A sugestão é usar óleos. Eles derretem a maquiagem e saem superfácil com um sabonete líquido. Mas a dica é usar um bom demaquilante e, logo após, com o algodão levemente embebido, realizar movimentos de cima para baixo. Se o rímel for à prova d’água, opte por um produto à base de óleo. Os xampus para bebês também são capazes de limpar os cílios sem irritar a pele e os olhos.
 
Fonte: Priscila Miguel, especialista em beleza.
 
 
Lápis para olhos Make B. Artist — Excentric Pink, de O Boticário (entre R$ 39,90 e R$ 49,90 no período da Beauty Week)
 
Paleta de Sombras Neon — Luisance, da Love Store (R$ 19,99)
 
Maxxi Palette de Sombras 12 Tons Intensa Uma, da Natura Una (R$ 135,90)
 
Medium Shopping Bag Makeup Palette, da Sephora (R$ 249)
 
Vegas Makeup, da MaquiAdoro (R$ 21,90)

Correio Braziliense sábado, 26 de dezembro de 2020

VIOLÊNCIA: MORTE DE JUÍZA REACENDE DEBATE DOBRE FEMINICÍDIO

Jornal Impresso

VIOLÊNCIA
 
Morte de juíza reacende debate sobre feminicídio
 
Magistrada do TJ-RJ é assassinada a facadas por ex-marido na Barra da Tijuca; em Santa Catarina, homem matou a ex a tiros na frente da família dela. STF e CNJ prometem atuar para estudar maneiras de "prevenir e de erradicar" barbaridades contra a mulher

 

JORGE VASCONCELLOS

Publicação: 26/12/2020 04:00

As três crianças do casal presenciaram o crime e pediram, sem sucesso, para o pai parar de esfaquear a mãe, a juíza Viviane Vieira (Reprodução)  

As três crianças do casal presenciaram o crime e pediram, sem sucesso, para o pai parar de esfaquear a mãe, a juíza Viviane Vieira

 

 
O engenheiro Paulo José Arronenzi não tentou fugir e permaneceu próximo ao corpo, até ser preso em flagrante (Reprodução)  

O engenheiro Paulo José Arronenzi não tentou fugir e permaneceu próximo ao corpo, até ser preso em flagrante

 

 
 
Entidades da magistratura brasileira afirmam que o feminicídio cometido contra a juíza Viviane Vieira do Amaral Arronenzi, de 45 anos, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio de Janeiro, não ficará impune. Presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), o ministro Luiz Fux, divulgou uma nota lamentando a morte da juíza. No comunicado, Fux diz que o feminicídio da magistrada mostra o quão urgente é o debate sobre violência doméstica no país e afirma que STF e o CNJ “se comprometem com o desenvolvimento de ações que identifiquem a melhor forma de prevenir e de erradicar” este tipo de crime contra mulheres.
 
Ela foi morta a facadas pelo ex-marido, na noite de quinta-feira, véspera de Natal, na frente das três filhas. O engenheiro Paulo José Arronenzi, 52 anos, que tem histórico de violência de gênero, não tentou fugir depois do crime contra a ex-mulher e permaneceu próximo ao corpo, até ser preso em flagrante pela polícia. O homem recebeu voz de prisão e foi levado à Divisão de Homicídios, também na Barra da Tijuca. Ele não quis prestar depoimento e disse que só falará em juízo, segundo informações da polícia. Ontem, foi transferido para um presídio.
 
Há três meses, a juíza chegou a denunciar o ex-marido por lesão corporal e ameaças. O Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJ-RJ), onde a vítima era lotada, providenciou uma escolta para Viviane, mas ela abriu mão da proteção. Em 2007, uma ex-namorada de Arronenzi já havia denunciado o engenheiro por agressão.
 
O crime contra Viviane foi registrado em um vídeo que circulou nas redes sociais e foi analisado pela polícia. Nas imagens, as três crianças do casal aparecem pedindo, sem sucesso, para o pai parar de esfaquear a mãe. Para os investigadores, Paulo José Arronenzi premeditou o crime. No carro dele, foram apreendidas três facas, contudo, a que foi usada para matar a ex-mulher não foi encontrada.
 
Repercussão
Em sua manifestação, Fux destacou que a violência que assola mulheres de todas as faixas etárias, níveis e classes sociais precisa ser enfrentada de acordo com o estabelecido pela Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência Contra a Mulher, Convenção de Belém do Pará, ratificada pelo Brasil em 1995. O presidente defendeu que o esforço integrado entre os Poderes e a sensibilização da sociedade “são indispensáveis e urgentes para que uma nova era se inicie e a morte dessa grande juíza, mãe, filha, irmã, amiga, não ocorra em vão”.
 
O TJ-RJ divulgou nota em que “lamenta profundamente” a morte da juíza Viviane Arronenzi. Em comunicado conjunto, a Associação dos Magistrados do Estado do Rio de Janeiro (AMAERJ) e a Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) expressaram “extremo pesar” pelo que classificaram como “covarde assassinato da juíza”.
 
“As entidades representativas dos magistrados fluminenses e brasileiros se solidarizam com os parentes e amigos da pranteada magistrada. Este crime bárbaro não ficará impune, asseguramos”, destaca a nota.
 
A presidente da AMB, Renata Gil, a primeira mulher a ocupar essa posição nos 70 anos de história da entidade, afirmou, em entrevista ao Correio, que esse novo caso de feminicídio “mostra bem como nós todos estamos vulneráveis em uma sociedade com um pensamento ainda patriarcal”.
 
“AMB, por mim representada, está absolutamente consternada e indignada com esse assassinato brutal. A AMB tem trabalhado muito fortemente no combate à violência contra a mulher; durante a pandemia nós vimos que os números recrudesceram. Nós lançamos a campanha Sinal Vermelho, que virou projeto de lei federal”, disse a magistrada.
 
Ela se refere à campanha lançada em parceria com o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e que orienta as vítimas de violência doméstica a desenharem um “X” vermelho na palma da mão como forma de denunciar as agressões. Em cerca de 10 mil farmácias em todo o país, os atendentes, ao verem o sinal, acionam imediatamente a polícia.
 
“A gente precisa quebrar esse pensamento patriarcal e avançar com medidas efetivas no combate à violência contra a mulher, especialmente na questão da punição. Acabar com esse sentimento de impunidade, de que pode valer a pena atacar uma mulher. Não vale”, frisou a presidente da AMB.
 
Outro caso
Thalia Ferraz, de 23 anos, foi morta a tiros na frente de familiares na noite da véspera de Natal. O caso ocorreu em Jaraguá do Sul (SC). A suspeita também é de que o ex-companheiro tenha cometido o crime. Momentos antes de ocorrer o assassinato, o homem teria enviado uma mensagem por um aplicativo, indagando à vítima se ela gostava de surpresas, uma vez que teria uma “inesquecível” naquela noite. O crime foi confirmado pela Polícia Civil de Santa Catarina, que ainda investiga os detalhes do caso. O suspeito estava foragido até o fechamento desta edição.
 
Os casos de feminicídio, no Brasil, cresceram 1,9% no primeiro semestre de 2020 em relação ao mesmo período do ano passado. Foram 648 assassinatos motivados pelo fato de as vítimas serem mulheres. Os dados fazem parte do Anuário Brasileiro de Segurança Pública.

Correio Braziliense sexta, 25 de dezembro de 2020

UM NATAL DIFERENTE, PARA NUNCA ESQUECER

Jornal Impresso

Um Natal diferente, para não esquecer
 
A tradição natalina não é mais a mesma depois do novo coronavírus. A pandemia obrigou famílias a reinventar a celebração. Distanciamento social e uso de máscaras são, hoje, formas de carinho e respeito com o próximo. O comércio também seguiu essa tendência, com ações diversificadas, mas mantendo o protocolo de segurança sanitária. Vale desde o Papai Noel numa bolha, a interagir com uma criança, até o velhinho virtual que posa para fotos. De acordo com o Sindivarejista, cerca de 90 mil pessoas visitaram as lojas do Distrito Federal em busca de presentes na véspera do Natal. , Ana Rayssa/CB/D.A Press
 
No feriado marcado pela pandemia da covid-19, famílias brasilienses contam como se adaptaram para fazer a ceia "com cuidados redobrados e a distância" sem deixar de lado a tradição da data

 

» LUANA PATRIOLINO
» ANA ISABEL MANSUR

Publicação: 25/12/2020 04:00

Em boa parte dos lares de Brasília, o Natal ocorreu de forma diferente, em 2020: pela internet e com muitas famílias separadas. Assim como o restante do ano, as celebrações foram atípicas. Como uma maneira de celebrar o feriado com segurança, os brasilienses repensaram, suspenderam ou substituíram as tradições. O formato deu espaço a novos jeitos de estar junto de quem se ama. Ainda que a distância.
 
Algumas famílias optaram por videoconferências, enquanto outras escolheram não reunir pessoas de fora da mesma casa. Houve, ainda, quem fizesse o jantar da noite natalina com menos pessoas, mas todas com máscara e usando, frequentemente, álcool em gel.
 
Com cuidados redobrados, os Mendes promoveram uma ceia, considerando a situação de Oton e Marilanda — patriarca e a matriarca da família —, de 91 e 80 anos, respectivamente. A comemoração reuniu 10 adultos e três crianças em um apartamento da Asa Sul. O grupo ficou dividido entre dois ambientes no momento da refeição: o casal de idosos comeu na cozinha; os outros ficaram reunidos na sala de estar. As janelas permaneceram abertas, para manter o ambiente ventilado. “Usamos máscaras, deixamos os sapatos do lado de fora ao entrar e higienizamos todas as embalagens e utensílios com álcool 70%”, detalha a fotógrafa Déborah Mendes, 26 anos.
 
Os parentes de Curitiba, que se juntam ao restante da família todos os anos para celebrar o Natal, não vieram. A decisão de fazer uma reunião adaptada surgiu na semana passada: “Estamos tristes por não poder encontrá-los. Nós, daqui de Brasília, não queríamos fazer o jantar, até por proteção aos meus avós. Mas é (uma data) muito importante, e eles quiseram. Então, foi com todo o cuidado e atenção”, completa Déborah.
 
Para a família Mendes, o feriado tem valor afetivo dobrado e não pode passar em branco. A pequena Pérola, prima de Déborah, veio ao mundo pouco depois da ceia natalina, há quatro anos. “Estávamos na sala, depois do jantar, e a mulher do meu tio entrou em trabalho de parto”, conta a fotógrafa. “A gente comemora, desde então, o Natal e o aniversário dela (da prima).”
 
Amigo-oculto
E como garantir o amigo-secreto, que acompanha as festas de fim de ano há tantos anos? Na família do professor João Tadeu, 27, a tradição não ficou de lado. Divididos em grupos, eles fizeram a revelação por videoconferência. Mesmo pela internet, o clima animador marcou a celebração. “A gente sempre faz um Natal com essa brincadeira, a ceia — para a qual cada um traz um prato —, e todos nos abraçamos. Só que, por causa da pandemia, não reunimos a família toda de uma vez”, justifica.
 
O Natal consciente da família ocorreu na sala da casa de João, em Sobradinho. O professor colocou como prioridade a saúde dos pais idosos — ambos com quase 68 anos. Os cuidados permaneceram os mesmos: nada de aglomeração, uso do álcool em gel frequente, higienização de itens da casa, além das roupas.“Obviamente, ninguém quer ficar doente. Além disso, moro com meus pais e eles são do grupo de risco. Meu pai é diabético, hipertenso, tem problemas com a tireóide e outras doenças associadas à velhice”, conta João.

Correio Braziliense quinta, 24 de dezembro de 2020

O QUE O NATAL REPRESENTA?

Jornal Impresso

O que o Natal representa?
 
Nas vésperas da festividade, famílias de várias religiões se reúnem para dar início às tradicionais celebrações do feriado

 

» ANA MARIA DA SILVA

Publicação: 24/12/2020 04:00

 
 
Para Pedro Henrique Borges (de vermelho), o Natal é a vinda da esperança para o mundo (Minervino Júnior/CB/D.A Press)  

Para Pedro Henrique Borges (de vermelho), o Natal é a vinda da esperança para o mundo

Na noite de Natal, pessoas de religiões variadas se reúnem para celebrar a esperança. Para o jovem católico Pedro Henrique Borges e família (E), é momento de entender a importância de Jesus Cristo. Adepta do candomblé, Patrícia Luiza Zapponi (C) acredita que se trata do fim de um ciclo. Protestante, Thuany Raquel Amaral (D) reforça a comunhão neste dia sagrado. , Minervino Júnior/CB/D.A Press - Carlos Vieira/CB/D.A Press - Minervino Júnior/CB/D.A Press


Na noite de hoje, famílias de várias culturas e religiões devem se reunir e dar início às tradicionais celebrações de Natal. A união e partilha da festa que foi cultivada ao longo de anos trouxe uma mistura de tradições com diferentes origens. Na própria palavra “Natal”, que significa nascimento, está a essência das festas, que comemoram a chegada de Jesus Cristo ao mundo. Apesar de a data estar diretamente relacionada ao nascimento de Cristo, outras religiões participam das tradições como forma de renovar a fé no que crêem. Seja protestante, católico, espírita ou adepto do candomblé, o fato é que a festa tem significados diversos para as mais variadas famílias brasilienses. 
 
“O Natal é a festa da renovação da fé e da esperança. O silêncio de uma noite comum é rompido por vozes sonoras e bem definidas. São os anjos que anunciam aos pastores a boa notícia. A presença divina enche o coração de esperança daquele que consegue percebê-la. É preciso se sensibilizar com a presença de Deus, que está entre nós, e sempre a nos renovar a esperança e a fé”, explica o padre Reinaldo Martins de Oliveira, da Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. 
 
Este ano, para o padre, celebrar o Natal terá um sentido ainda maior. “Estamos vivendo um momento onde todos temos que renovar a esperança é a fé. A pandemia atingiu a todos, e acredito que tivemos que fazer uma revisão de nossa vida. Fomos todos chamados ao essencial, ao simples, ao convívio com os que estão mais próximos de nós. Aprendemos o quão importante é cuidar do outro. Acredito que esta seja a mensagem: esperança, compaixão e cuidado”, defende o padre. 
 
Para o estudante e católico Pedro Henrique Borges Araújo Peres, 17, a celebração do Natal gira em torno da natalidade de Jesus Cristo. “Principalmente, na vinda da esperança para o mundo. Antes, nós vivíamos nas trevas. Com a chegada d’Ele, tudo mudou, tudo se transformou, tudo se salvou, tudo se concretizou. O Natal é espera e mudança, a espera em Deus para uma vida nova e a mudança de nossos corações para um constante amor”, ressalta.
 
A reunião de família neste ano terá ainda mais importância para eles, segundo Pedro. “Nós nos reunimos todos os anos, no dia 24, em uma família, e no 25, em outra, sempre procurando acabar com as saudades deixadas ao longo do ano e rezar meditando sobre a vinda de Jesus”, reforça. Segundo Pedro, a tradição de assistirem à santa missa juntos não pode faltar. “Não faria sentido celebrar o Natal sem estar com o próprio aniversariante. Vai ser difícil, este ano, não encontrarei minha família inteira como nos anos anteriores, mas passarei com meus avós, aproveitarei o quanto puder, pois não sei se terei outro Natal para fazer isso”, diz. 
 
Protestantismo
Para o pastor Marco Antônio de Carvalho, da Igreja Cristã Evangélica Águas Claras, o Natal é o momento da unidade. “Sem o nascimento de Jesus, viveríamos ainda imersos em um mundo sombrio e frio. Sua vinda representa esperança e paz aos homens a quem Deus quer bem”, reforça. “O Natal diz muito mais sobre entrega e renúncia. É a celebração da luz que alcança a humanidade em momentos de desesperança, como este que estamos vivendo”, completa. 
 
Segundo o pastor, o primeiro Natal foi celebrado em um lugar humilde e discreto, bem diferente das pomposas celebrações contemporâneas. “Ali, estavam Maria, José, o menino Jesus e a visita de alguns pastores e magos. Esta celebração nos diz muita coisa, não apenas reunir a família sobre uma mesa farta de comidas típicas, mas estar ao lado de quem se ama, com preces e orações e gratidão a Deus por todo o bem e, principalmente, pelo maior presente que ele nos deu”, diz. 
 
A bióloga e protestante Thuany Raquel do Amaral, 24, diz que a data costuma ser celebrada com uma bela ceia, em família e amigos reunidos. “Com momentos de comunhão, brincadeiras e muita comida”, brinca. Mesmo com a pandemia, a bióloga diz que a família procurará manter a tradição. “Queremos nos reunir com alguns poucos amigos, nada grande para não haver aglomeração, mas não podemos deixar de celebrar”, afirma. 
 
Candomblé
A advogada e adepta do candomblé Patrícia Luiza Moutinho Zapponi, 48 anos, é frequentadora do terreiro Ile Axé orixá Dewi, em Sobradinho 2. Ela explica que a data tem uma importância diferente para sua família. “Para nós, de religião não cristã, não tem significado esta data. Porém, dado ao sincretismo religioso e a educação que recebi, para mim, o Natal representa ressignificar a esperança. É o fim de um ciclo”, diz.
 
Após o ano atípico, a advogada diz que a data será celebrada com uma ceia familiar, além de um Natal solidário, com entrega de brinquedos e cestas amanhã. Segundo Patrícia, a mensagem da data, neste ano, deixa clara a importância de valorizarmos dia após dia. “Todos os dias são importantes, a convivência com nosso próximo e o bem-querer, também. É preciso valorizar todos os dias como se fossem únicos, e saber que assim como o Sol nasce todos os dias, nós também temos a chance de um dia novo, de fazer diferente, de se aprimorar, de melhorar, de evoluir e de amar de uma maneira plena”, afirma. 
 
A união que surge nas casas da capital federal surge com a certeza de que todos são iguais, conforme defende Patrícia. “Nós temos que ter em mente, neste Natal, que somos todos irmãos, que somos todos iguais, e que devemos respeitar uns aos outros de acordo com a divindade que cada um representa, que cada ser é sagrado, que todos nós somos importantes, que todas as vidas importam”, defende a advogada. 
 
Espiritismo
O presidente e fundador do Centro Espírita André Luiz (Ceal), o médium Antônio Villela, 98, explica que a festa tem uma representatividade significativa para os espíritas. “O Natal é o pensamento de paz, luz e amor. No momento em que estamos vivendo, com essa pandemia, deveríamos ter as nossas famílias mais unidas, seguindo a orientação de Jesus deixada há dois mil anos. Nasceu e sofreu para a humanidade inteira, deixou a grande mensagem: amais uns aos outros como vos ameis”, diz. 
 
Para celebrar a data, o médium diz que procura fazer suas preces. “O que desejamos é que possamos reconhecer a verdade que nos libertará para sempre, Jesus assim falou”, afirma. Antonio diz que pretende viver o Natal a exemplo de Cristo. “É Natal, mas não basta ser apenas um dia. Deveríamos ter um Natal permanente em nossas vidas, que é o nascimento do salvador. Sem inimigos, a família de Cristo pela paz do mundo”, defende. 
 
 
 
Programações e celebrações
 
Catedral de Brasília |  Missa do Galo: 20h | Missas no dia de Natal: 10h30 e 18h. Transmissão pelo Facebook da Arquidiocese de Brasília
 
 
O que abre e fecha 
 
Comércio
Funciona até as 19h de hoje. Amanhã, as lojas seguem fechadas e só retomam as atividades no sábado.
 
Correios
Funcionam das 9h às 14h. As unidades nos shoppings abrem das 11h às 15h. Fecham amanhã e reabrem no sábado, das 11h às 14h. 
 
Transporte
Hoje, o metrô vai abrir às 5h30, como de costume. Contudo, fecha mais cedo, às 20h. Amanhã, o esquema será o de domingos e feriados: das 7h às 19h. Ônibus: a Secretaria de Transporte e Mobilidade (Semob) informou que vai aumentar, hoje, o número de viagens das 12h às 14h, para reforçar o atendimento aos usuários na volta para casa. Amanhã, os coletivos circulam com a tabela de domingo. Os horários das linhas podem ser consultados no site DF no Ponto (dfnoponto.semob.df.gov.br). 
Lazer
A Torre de TV estará fechada hoje. Reabre amanhã, inclusive o mirante. O Eixão do Lazer e W3 Sul terão ampliação no horário de interdição para carros, amanhã. As vias estarão abertas aos pedestres das 9h às 18h. Os parques ecológicos também vão abrir normalmente ao longo do feriado. O Zoológico segue aberto de quinta a domingo, sem interrupções, das 9h às 17h, e as entradas são vendidas até as 16h. Mas, há um limite de público no Zoo, que recebe até 1,5 mil. O Cine-Drive In estará fechado hoje. 
 
Serviços públicos
O DF Legal informou que o atendimento ao público vai ocorrer até as 12h de hoje. O DER seguirá o mesmo esquema. Os postos do Departamento de Trânsito (Detran) funcionam até as 14h de hoje, e fecham amanhã. 
 
Saúde
Os ambulatórios dos hospitais abrem, hoje, das 8h às 14h. O mesmo vale para os postos de saúde. As farmácias de alto custo na Asa Sul, Ceilândia e Gama também ficam abertas até as 14h. Amanhã, apenas as emergências e unidades de pronto atendimento (UPAs) vão funcionar. Já o Hemocentro funciona hoje, das 7h às 12h, mas fecha amanhã. 
 
Segurança
As delegacias vão funcionar em regime de plantão 24h.

Correio Braziliense quarta, 23 de dezembro de 2020

CONSUMIDOR PÕE MÁSCARA E VAI ÀS COMPRAS

Jornal Impresso

Compras de última hora movimentam comércio
 
Sindivarejista estima que cerca de 400 mil brasilienses, 33,3% a menos que em 2019, irão em busca de presentes nos dias que antecedem o Natal. Alternativas nos modelos de compra contribuem para a mudança de comportamento em meio à pandemia

 

Ana Isabel Mansur

Publicação: 23/12/2020 04:00

 
Segundo a Fecomércio, é normal que haja maior movimento nos dias que antecedem o Natal, mas, apesar de dentro da previsão, as vendas estão fracas   (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
)  

Segundo a Fecomércio, é normal que haja maior movimento nos dias que antecedem o Natal, mas, apesar de dentro da previsão, as vendas estão fracas

 

Cerca de 400 mil brasilienses devem ir às compras nos dias que antecedem o Natal, estima o Sindicato do Comércio Varejista (Sindivarejista). Edson de Castro, presidente da entidade, afirma que o número é baseado na quantidade de pessoas que tem ido às lojas desde segunda-feira. “Shoppings e feiras estão cheios, e a tendência é piorar. No dia 24, o comércio fechará às 19h, por conta dos consumidores atrasados”, aponta. O horário de funcionamento dos estabelecimentos foi estendido mesmo com redução de 33,3% dos compradores, em relação ao ano passado, quando 600 mil compraram presentes às vésperas da festividade. 
 
No entanto, para Izabela Freitas, 24 anos, o movimento de dezembro surpreendeu. A atendente de uma loja de maquiagens no Brasília Shopping afirma, porém, que houve queda em relação a 2019. “A Black Friday aqui foi muito fraca, mas na primeira semana de dezembro o fluxo cresceu bastante. Até o dia 24, esperamos que aumente ainda mais”, conta. A loja em que trabalha funcionará das 9h às 23h, até a véspera de Natal. 
 
Rayana Torres, 20, foi às compras procurar uma roupa para a noite de Natal. “Todos os meus presentes já estão comprados”, afirma a jovem, estagiária em um escritório de consultoria financeira. Também para evitar aglomerações, outra opção encontrada por Rayana foi adquirir tudo em uma loja só. 
 
Renata Monnerat, gerente de marketing do Brasília Shopping, observa que as compras ocorrem de forma diluída neste ano. “O shopping não está lotado. O movimento tem sido mais comedido por conta da pandemia, mas acontece de maneira intermitente ao longo do dia”, afirma.
 
Apesar da queda de consumo, as vendas estão dentro da previsão estimada pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Distrito Federal (Fecomércio-DF). De acordo com o presidente da instituição, Francisco Maia, a expectativa era de aumento de 2,2% nas vendas em relação a 2019. “É normal que haja maior movimento nos dias que antecedem a data, mas, apesar de dentro da previsão, as vendas estão fracas. É o Natal das compras pequenas, porque as pessoas não estão com muito dinheiro”, aponta. 
 
“Novo comprar”
 
Karol Ribeiro, 41, é gerente em uma loja de sapatos e bolsas femininas. Ela conta que, desde a semana passada, quando o estabelecimento passou a funcionar em horário estendido, o movimento vem crescendo. “A gente observa que as clientes tomam muito cuidado. Se a loja está muito cheia, esperam esvaziar um pouco antes de entrar. As pessoas idosas têm vindo cedo, pela manhã, ou mais tarde, por volta das 21h”, observa, acrescentando que todas as pessoas que frequentam a loja mantêm o distanciamento de segurança e têm a aferição medida na entrada do shopping, além de usar máscara o tempo todo.  
 
A gerente Karol Ribeiro afirmou que o movimento diminuiu, mas que há novos canais de vendas. “As pessoas têm comprado muito por WhatsApp, onde observamos um aumento expressivo. Muitas compram e vêm apenas buscar, usando o drive-thru do shopping, e outras pedem para receber em casa”, relata.
 
Não são todos os consumidores, no entanto, que gostam de comprar de maneiras diferentes. Jacy Barbosa, militar de 49 anos, que estava acompanhado das filhas Letícia, 13, e Mariana, 18, não costuma comprar pela internet. “Gosto de ver o que estou comprando. Além disso, as entregas não chegariam a tempo”, afirma. “Viemos só para comprar o que está faltando, a ideia é terminar hoje mesmo”, completa o morador do Jardim Botânico. Ele e as filhas observam que há menos movimento nas lojas. “Shoppings, que normalmente são mais vazios, estão recebendo mais pessoas. Mas, percebemos que as lojas estão mais cautelosas e adotando as medidas de segurança”, pontua. 
 
Baseado na quantidade de pessoas que tem ido às lojas desde a segunda-feira, o Sindicato do Comércio Varejista calcula que cerca de 400 mil brasilienses devem comprar pelo menos um presente nestes dias.

Correio Braziliense terça, 22 de dezembro de 2020

53º FESTIVAL DE BRASÍLIA DO CINEMA BRASILEIRO: PREMIAÇÃO

Jornal Impresso

Brasilidade em luz, câmera, ação
 
O 53º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro chegou ao fim, ontem, com a premiação de diversas produções. A crítica política e social deu o tom à celebração do audiovisual nacional

 

» Ricardo Daehn

Publicação: 22/12/2020 04:00

Por onde anda Makunaíma? conquistou o prêmio de melhor longa da mostra oficial do festival (Arquivo Pessoal/Divulgação)  

Por onde anda Makunaíma? conquistou o prêmio de melhor longa da mostra oficial do festival

 



O peso da tradição, o valor da preservação da memória e, claro, o habitual espectro político deram o norte à diferenciada premiação do 53º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. Longe de transcorrer no habitual abrigo do Cine Brasília, devido à pandemia, o evento se fez com acessos virtuais e interações de mais de 10 mil pessoas, ao longo de seis dias de mostra competitiva. Em grande parte dos vencedores, entre filmes de longas e curtas durações, houve pendor para conteúdos e formas que exaltassem a identidade brasileira, reafirmada em fitas que celebram negros, marginalizados e alguns agentes culturais imantados pelo alento da comicidade.

Estabelecida uma premiação enxuta para os longas-metragens da mostra competitiva, títulos atentos aos elementos verde-e-amarelos do Brasil deram as caras. Apoiado na mitológica figura indígena de um ser deificado, Por onde anda Makunaíma? (de Rodrigo Séllos) faturou o prêmio Candango de melhor filme. O júri, capitaneado pela atriz Ana Maria Magalhães, ressaltou a premiação de um filme com registro da identidade fragmentária atribuída ao brasileiro, isso em uma conjuntura em que muitos teimam a “desconstrução de valores culturais e artísticos nacionais”.

Com exaltação do caráter de um cinema popular, a divertida aventura de Mario Abbade em torno da vida e da obra do cineasta Ivan Cardoso rendeu ao longa Ivan, o TerrirVel o prêmio especial do júri formado, ainda, pelo pesquisador de cinema Joel Zito Araújo e pela curadora de mostras e festivais Ilda Santiago. Na valorização da montagem “fluida e orgânica” de um filme, o trio optou por ceder o prêmio especial de montagem ao filme A luz de Mario Carneiro (de Betse de Paula). No longa, um dos profissionais da maior importância para o Cinema Novo tem justa homenagem, diante da capacidade da direção de fotografia para obras de realizadores como Glauber Rocha, Paulo César Saraceni e Joaquim Pedro de Andrade. Este ano, na mostra oficial, não houve premiação para melhor diretor.

Um feito

Organizado em menos de 75 dias, o festival teve a premiação, que começou com mais de 40 minutos de atraso, prestigiada no YouTube por cerca de 180 pessoas. Secretário de Cultura e Economia Criativa, Bartolomeu Rodrigues comentou na celebração do evento, a realização de um “festival possível, com pandemia e tudo”. Considerado a alma do Festival de Brasília 2020, o cineasta, curador e diretor artístico Silvio Tendler conquistou um dos troféus especiais, honraria estendida ao fotógrafo e professor Luis Humberto, que “por quase 60 anos, se dedicou a revelar (em imagens) os mistérios do cerrado”. Ainda no campo da memória, a figura da atriz Nicette Bruno, levada pela pandemia trágica  (morta no último domingo), foi reverenciada.

O secretário de Cultura ressaltou, no evento, a importância e a necessidade de “o cinema sobreviver”. Presente na cerimônia de premiação virtual, a atriz Catarina Accioly mencionou a veia do festival como “caldeirão da maior vitrine política”. Foi, praticamente, o prólogo para a entrada em cena da “indígena, cineasta e mulher”, como foi apresentada Graciela Guarani ao proceder a leitura da Carta de Brasília, recheada pela representatividade de mais de 300 profissionais do setor audiovisual.

Valorização

No momento mais significativo do evento, Graciela lembrou do potencial da cultura, “alvo de descaso” na atualidade. Exemplificado pela situação da Cinemateca Brasileira, “com cadeado na porta da instituição”, uma metáfora para a “memória cinematográfica sequestrada”, Graciela contou da crise de saúde pública e alinhavou o discurso com o “desmatamento cultural” observado pelo consagrado diretor Cacá Diegues. Claro que a carta vem permeada por reivindicações: exalta a necessidade de articulação política da classe; pretende travar o desmantelo, atual, na política de fomento de produções; pleiteia, para até 2030, a obrigatoriedade de exibição de filmes nacionais nos complexos de cinema; e trata de quesitos como o desaparelhamento ideológico da Ancine (a Agência Nacional do Cinema, nitidamente travada pela atual burocracia governamental) e a necessidade de haver paridade de gêneros nos futuros editais públicos a serem formatados.

Viabilizado pela exibição dos concorrentes no Canal Brasil, o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro referendou a marca da emissora a cabo, com o pronunciamento do prêmio Canal Brasil concedido ao curta do catarinense Rodrigo Ribeiro, autor de A morte branca do feiticeiro negro, votado como o melhor. Pelo júri oficial, Rodrigo Ribeiro faturou o título de melhor diretor de curta-metragem. Entre os filmes votados pelo público, na categoria júri popular, recaíram prêmios para as obras Longe do paraíso (longa do diretor baiano Orlando Senna) e para o curta Noite de seresta (de Muniz Filho e Sávio Fernandes).

No âmbito da Mostra Brasília, o longa escolhido foi Candango: Memórias do Festival (consagrado como melhor filme, pelo júri oficial, levando ainda o prêmio destinado à preservação da memória Marco Antônio Guimarães) e Eric, curta-metragem documental de Letícia Castanheira. Seis prêmios foram alinhavados pelo júri da Mostra Brasília, com destaque para o melhor curta, Do outro lado (de David Murad), e para a direção de Letícia Castanheira. Diretor consagrado (ao lado do colega Orlando Senna) pelo Festival de Brasília, pela autoria de Iracema, uma transa amazônica (1980), Jorge Bodanzky conquistou troféu Candango (num prêmio especial), pelo novo documentário Utopia Distopia.

Em edição fortemente marcada pelos documentários, o evento encontrou uma sintonia fina, na análise do jornalista Carlos Marcelo (um dos jurados dos curtas-metragens) que conceituou a premiação, numa arena que mexeu “com cicatrizes de um passado colonial”, não ecoou “panfletarismo” e retratou parte do “pesadelo contemporâneo vivenciado no país”. Exaltado pelo júri da Abraccine (que encerra a crítica de cinema no país), o curta República (de Garce Passô), um tratado sobre a falta de unanimidade do governo em meio à pandemia, num futuro de incertezas, faturou melhor filme, pelo júri oficial. Os indígenas foram lembrados no protagonismo de A tradicional família brasileira Katu (prêmio especial).


Confira os vencedores

Principais prêmios da 53a edição do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro

Mostra Oficial de Longa-Metragem
Melhor filme: Por onde anda Makunaíma? (de Rodrigo Séllos)
Prêmio especial do júri: Ivan, O TerrirVel (de Mario Abbade)
Prêmio especial pela montagem: A luz de Mario Carneiro
(de Betse de Paula)

Mostra Oficial de Curta-Metragem
Melhor filme: República (de Grace Passô)
Melhor direção: Rodrigo Ribeiro (A morte branca do feiticeiro negro)
Melhores atuações: Maya e Rosana Stavis (Pausa para o café)

Júri popular
Melhor longa-metragem: Longe do paraíso (de Orlando Senna)
Melhor curta-metragem: Noite de seresta
(de Muniz Filho e Sávio Fernandes)
Mostra Brasília
Melhor longa-metragem: Candango: Memórias do Festival
(de Lino Meireles)
Melhor curta-metragem: Do outro lado (de David Murad)
Melhor direção: Letícia Castanheira (Eric)

Prêmio Abraccine
(Associação Brasileira de Críticos de Cinema)
Melhor curta-metragem: República (de Grace Passô)
Melhor longa-metragem: Entre nós talvez estejam multidões
(de Aiano Bemfica e Pedro Maia)

Prêmio Canal Brasil de Curtas
A morte branca do feiticeiro negro
(de Rodrigo Ribeiro)

Correio Braziliense segunda, 21 de dezembro de 2020

MA ÁRVORE PARA CADA VÍTIMA: HOMENAGEM ÀS VÍTIMAS DA COVID-19

Jornal Impresso

UMA ÁRVORE PARA CADA VÍTIMA

Homenagem às vítimas da covid
 
Grupo Gênesis Renascer plantou, ontem, no Parque da Cidade, uma árvore para cada vítima da doença no Distrito Federal, que registrou 409 casos e sete mortes nas últimas 24 horas. Capital federal totaliza 4.145 óbitos pelo novo coronavírus

 

ALAN RIOS

Publicação: 21/12/2020 04:00

Plantio de 500 árvores foi feito próximo ao Estacionamento 4. Mais de 4 mil mudas homenageiam vítimas em diferentes regiões do DF (Ed Alves/CB/D.A Press)  

Plantio de 500 árvores foi feito próximo ao Estacionamento 4. Mais de 4 mil mudas homenageiam vítimas em diferentes regiões do DF

 

 
“Estamos falando de vidas e plantamos vida”, define Edmi Moreira, 52 anos. O gestor ambiental é o idealizador da ação Gênesis Renascer, projeto que promoveu o plantio de uma árvore para cada vítima da covid-19 no Distrito Federal. A ação foi dividida em oito etapas e concluída na manhã de ontem, no Parque da Cidade, quando o grupo plantou 500 árvores próximo ao Estacionamento 4, em um espaço de mais de 2 mil m². Ao todo, 4.100 mudas foram plantadas em diferentes regiões do DF. “Fazemos esse trabalho ambiental há 25 anos, geralmente na segunda quinzena de outubro. Neste ano, lançamos o projeto para homenagear cada pessoa que se foi para a covid”, explica Edmi.
 
O grupo é pequeno, reúne 20 pessoas a cada ação, para evitar aglomerações. “Já passamos por locais como o Taguapark, Parque Três Meninas, Vivencial do Setor O, dentre outros. Realizamos os berços onde serão feitos os plantios, geralmente, uma semana antes, e, depois, plantamos. Tudo é feito de forma humanizada, com muito cuidado, evitando o estresse da planta”, comenta o idealizador. As intervenções foram autorizadas pelo Instituto Brasília Ambiental (Ibram), e o Jardim Botânico realizou a doação de 1.500 mudas. “Plantamos, no Parque da Cidade, ipê-branco, quaresmeiras, angico-do-cerrado, árvore-do-sabão, jenipapo, jacarandá-mimoso e duas paineiras-brancas, que são consideradas umas das mais bonitas do mundo. Todas são plantas do cerrado”, detalha Edmi.
 
Apesar do início de domingo chuvoso, o grupo não desanimou. A estudante Gabriela Lopes, 26, saiu de Samambaia para o Parque da Cidade por conta da importância e do simbolismo do ato. “Isso é muito forte para mim, relembrar quem morreu por conta do vírus. Na pandemia, fiquei muito envolvida com os projetos voltados para a natureza. Percebi que a gente tem que colocar a mão na terra quando quer se reconectar consigo mesmo. Precisamos estar na natureza para isso. Por isso, acordei cedo e vim, entusiasmada”, diz.
 
Memória e família
 
Quem perdeu um ente querido para a doença participou da ação com outro olhar. É o caso de Keile Sousa, 35. A servidora pública perdeu a tia, que faleceu por complicações do novo coronavírus. “Ela já estava debilitada e não resistiu. Então, hoje é uma homenagem a ela. E fazemos isso, também, porque é uma forma de compensar a natureza. Retiramos muito do meio ambiente e plantar é uma forma de retribuir”, avalia Keile. O plantio foi organizado garantindo a formação de “ilhas” e “corredores”, permitindo uma ambientação com espaços para que as árvores cresçam de forma saudável e que o público caminhe entre os espaços. 
 
Vanderlin Castro, 45, participou da atividade com a família. “Penso que estamos homenageando os que morreram por uma doença que ataca, principalmente, o pulmão, e plantamos árvores, que são o pulmão do planeta. É como se fosse uma vacina que também precisamos. Passo isso para meus filhos”, conta.
 

Correio Braziliense domingo, 20 de dezembro de 2020

PANDEMIA ESCANCARA DESIGUALDADES SOCIAIS

Jornal Impresso

 

Pandemia escancara desigualdades sociais
 
Em entrevista ao Correio, finalista de prêmio considerado o Nobel da Educação em 2019 fala sobre a necessidade de garantir qualificação a professores e conectividade nas escolas, com foco na formação integral de estudantes

 

MARIANA NIEDERAUER

Publicação: 20/12/2020 04:00

 

"Esse momento é ideal para os governos replanejarem ações, investirem em uma educação conectada e em formação que vai gerar novas maneiras de conceber o ensino e a aprendizagem, trazendo qualidade e equidade".

 

 
Se dos jovens e das crianças dependem as ações para manter o planeta, o investimento em sua educação é essencial. E buscar levá-los para o centro do processo de aprendizagem é mais do que uma estratégia: trata-se de uma missão que os professores mais comprometidos encaram para garantir a formação de cidadãos do futuro, preocupados com o desenvolvimento sustentável e com a igualdade social. Professora da rede pública de São Paulo, Débora Garofalo faz parte deste time. Com o projeto que criou e implantou na Escola Municipal de Ensino Fundamental Almirante Ary Parreiras, o Robótica com Sucata, foi finalista do Global Teacher Prize em 2019, prêmio internacional considerado o Nobel da Educação. Este ano, o projeto virou política pública para 2,5 milhões de alunos no estado e culminará na criação do primeiro centro de inovação da educação paulista.
 
Débora explica que o local está preparado para atender 3 milhões de estudantes e o primeiro de 15 centros está em funcionamento mesmo em meio à pandemia do novo coronavírus, de maneira híbrida. Em entrevista ao Correio, a professora fala sobre o sucesso da iniciativa, o enfrentamento da crise sanitária e as perspectivas da educação para 2021. “Sem dúvida, este momento é ideal para os governos replanejarem ações, investirem em uma educação conectada e em formação que vai gerar novas maneiras de conceber o ensino e a aprendizagem, trazendo qualidade e equidade.”
 
O “Robótica com sucata” virou política pública. O que isso significa?
Significa muito à educação pública brasileira. Primeiro, é a valorização de um trabalho que teve inicio no chão da escola pública e em uma comunidade vulnerável, e que se mostrou replicável, saindo de uma modalidade de um projeto para ser tornar uma metodologia de ensino com dados comprovados. Mostrou novas maneiras de lidar com a aprendizagem e democratizando o ensino de cultura maker, de programação e de robótica, permitindo que o estudante participe de um problema real e mobilizando diversos conhecimentos para solucioná-lo. Outro aspecto é ter a oportunidade de replicar esse trabalho a 2,5 milhões de estudantes, como uma política pública efetiva, permitindo um ensino significativo e conectado aos novos tempos.
 
Como o projeto ajuda no desenvolvimento dos estudantes?
O trabalho de robótica com sucata é pautado em diversas frentes inovadoras, permitindo a articulação de ações, e trabalhando com os estudantes na esfera de valores integrais, como o desenvolvimento de habilidades socioemocionais: autogestão, autocuidado, empatia, colaboração, amabilidade, resoluções de problemas; mas também socioemocionais híbridas, como o pensamento crítico e a criatividade. Além de trazer a inovação para dentro da sala de aula, ao permitir que o eixo do pensamento computacional seja trabalhado na cultura maker, programação e robótica, em que os estudantes atuam como protagonistas da sua aprendizagem. Eles saem da passividade, assumindo o centro do processo cognitivo, tendo a oportunidade de vivenciar uma educação que seja significativa, mas que também conecte as áreas do conhecimento a partir de um trabalho interdisciplinar, sem deixar aspectos transversais de lado. Desta maneira, o trabalho integra uma educação integral conectada ao projeto de vida dos estudantes.
 
No próximo ano, a criatividade e o pensamento crítico serão inseridos como critérios de avaliação no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa, na sigla em inglês). Projetos como o Robótica com Sucata podem contribuir no desenvolvimento dessas competências?
A criatividade e o pensamento crítico são temas essenciais e precisam estar inseridos no cotidiano escolar. O trabalho de robótica com sucata traz, em sua essência, o desenvolvimento da criatividade e do pensamento crítico ao permitir que os estudantes atuem na construção de problemas reais e problemas do território educativo. Eles têm a oportunidade de trabalhar com os colegas, mas usando a cultura maker como porta de entrada à resolução dos problemas, ao permitir idealizar, criar, recriar, consertar, fabricar, errar, pensar e repensar, trabalhando em conjunto as diversas áreas do conhecimento. Assim, o estudante está sempre criando, mas, também, se questionando sobre suas criações.
 
O fato de ter sido finalista do Global Teacher Prize 2019 ajudou?
Sim, o trabalho recebeu 12 premiações e ficou reconhecido internacionalmente, passando por um júri internacional que o atestou como altamente replicável. Toda essa divulgação e o interesse de outros países, como Argentina, Londres, Estados Unidos e França, em replicar o trabalho contribuiu para sua efetivação como uma política pública. Mas, a maior vitória que atribuo é a possibilidade de democratizar o acesso, permitindo que o trabalho seja realizado a partir de uma perspectiva sustentável, aliada ao uso de componentes eletrônicos, trazendo a questão dos ODS (Objetivos do Desenvolvimento Sustentável), mas, também, do reaproveitamento do lixo eletrônico.
 
Este ano, o vencedor dividiu o prêmio com os demais finalistas. O que achou da iniciativa?
Achei incrível a atitude do professor indiano Ranjitsinh Disale, que tem um trabalho belíssimo no campo da educação básica na Índia e que luta para a inserção das meninas na educação, problema em parte do país. Ele mostrou a preocupação em reconhecer os demais finalistas pelos seus trabalhos, dando a eles a oportunidade de continuar e investir em seus projetos e, principalmente, de replicá-los.
 
O Brasil teve outra finalista em 2020. Qual a importância desse reconhecimento, ainda mais neste contexto de pandemia?
O trabalho da professora Doani Emanuela Bertan é essencial, por lidar com a inclusão e por permitir romper barreiras, com o ensino de Libras, e também com os estudantes surdos, realizando vídeos com as diferentes áreas de conhecimento para que pudessem prosseguir com seus estudos e acompanhar atividades. A pandemia traz a oportunidade de repensarmos a educação, e a professora Doani teve o olhar de democratizar o acesso aos estudantes na pandemia.
 
Como a tecnologia vai ajudar os professores daqui em diante e quais condições escolas e governos precisam assegurar para que eles consigam desenvolver um bom trabalho?
A tecnologia veio para ficar, mas é necessário compreender o seu papel na educação. Ela deve ser usada como uma propulsora ao processo de aprendizagem. É essencial entender que existem diversos caminhos para o trabalho e diferentes tipos de tecnologia que podem ser aplicadas na educação, como a social, que envolve o território educativo e seus problemas, além do que ela nunca deve vir isolada. Faz-se necessário o trabalho com as metodologias ativas. Com a pandemia, em um primeiro momento, tomamos um grande susto. Ninguém podia imaginar o ensino mediado por tecnologia. Depois, veio o receio de usar a tecnologia, por acreditar que era necessário um domínio. Após isso tudo, veio a superação e a necessidade de se reinventar para não deixar nenhum estudante para trás, mas isso escancarou as desigualdades sociais e a necessidade de investimento em infraestrutura e conectividade. Além de enfatizar a necessidade de formação docente para o desenvolvimento de competências digitais, e que contemple os diferentes atores e suas reais necessidades. Também é necessário rever a formação inicial do professor e inserir a cultura digital e o pensamento computacional, para que se sintam melhor preparados.
 
Quais barreiras surgiram durante a pandemia nas escolas?
Surgiram muitas barreiras, entre elas a dificuldade de acesso, a conectividade e a infraestrutura. Sem dúvida, esse momento é ideal para os governos replanejarem ações, investirem em uma educação conectada e em formação que vai gerar novas maneiras de conceber o ensino e a aprendizagem, trazendo qualidade e equidade.
 
Que orientações daria para professores que pretendem desenvolver projetos com os alunos? Isso pode ser feito em qualquer etapa do ensino?
O trabalho pode ser desenvolvido em qualquer etapa de ensino, e sempre digo que é preciso que nós, professores, possamos dar o primeiro passo para iniciar um trabalho mão na massa, permitindo-se aprender com os estudantes. Outra forma é conceber um espaço que seja acolhedor à aprendizagem, com reorganização de mobiliário, que contemple as habilidades socioemocionais e socioemocionais híbridas. E que envolva as metodologias ativas e suas modalidades, que vão desde a resolução de problemas, aprendizagem baseada em projeto, sala de aula invertida, ao ensino híbrido. Isso tudo deve envolver o território educativo.
 
Que perspectivas vê para a educação no Brasil em 2021?
Teremos grandes desafios na educação em 2021, como recuperar a aprendizagem, cuidar da evasão escolar, reduzir as desigualdades sociais e tecer novos caminhos à transformação da educação. Um dos caminhos para 2021 será o ensino híbrido, em que será necessário, em dois cenários, em uma possível retomada gradual das aulas, mesclar o ambiente presencial com o remoto. E, em um segundo momento, recuperar a aprendizagem, sendo necessário garantir plataformas e tecnologias adequadas, trilhas formativas, formação docente, integração e articulação de conteúdos, investimento em conectividade e equipamentos, maneiras de engajar os estudantes e maneiras de fugir do modelo de ensino expositivo.
 
 
Proteger o planeta
Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável são um apelo global à ação para acabar com a pobreza, proteger o meio ambiente e o clima, e garantir que as pessoas, em todos os lugares, possam desfrutar de paz e de prosperidade. Eles integram a Agenda 2030 no Brasil, plano de ação elaborado em conjunto por líderes mundiais em 2015, durante reunião na sede da ONU, em Nova York.

Correio Braziliense sábado, 19 de dezembro de 2020

DESIGUALDADE: MAIS DE 2 MIL DESABRIGADOS

Jornal Impresso

DESIGUALDADE
 
Mais de 2 mil desabrigados
 
 
Falta de moradia coloca em risco famílias do DF que sofrem pela falta de acesso a direitos básicos. Na Asa Norte, crescem ocupações em terrenos baldios. No entanto, estudo revela que vulnerabilidades se estendem para além do centro de Brasília

 

» DARCIANNE DIOGO

Publicação: 19/12/2020 04:00

Raylene divide um barraco com o marido e os dois filhos: sonho da catadora de recicláveis é comprar um terreno (Darcianne Diogo/CB/D.A Press)  

Raylene divide um barraco com o marido e os dois filhos: sonho da catadora de recicláveis é comprar um terreno

 

Prédios luxuosos, hotéis, áreas de lazer e jardins bem cuidados compõem o cenário do coração de Brasília e das quadras mais nobres da capital federal. A beleza, no entanto, disputa a atenção de quem passa pelas ruas e percebe, ao longo das calçadas, diversos barracos de madeirite e lona. As ocupações ilegais estão por toda parte. Não se sabe, precisamente, quantas invasões existem no DF, porém, mais de 2 mil pessoas declararam-se em situação de rua, segundo a Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes). Desse total, 152 são crianças e 59, adolescentes.
 
Uma dessas áreas ocupadas é a 707/907 Norte, perto de um centro universitário particular. Ali, mais de 40 pessoas dividem o espaço e se acomodam em barracos, cercados por muriçocas e formigas. O local é monitorado diariamente pela equipe de abordagem social da Sedes. A pasta informa que os moradores daquele ponto não se consideram pessoas em situação de rua, mas catadores de materiais recicláveis.
 
Apenas na região central de Brasília, há cerca de outros 30 locais onde pessoas em situação de vulnerabilidade social se instalaram. A Subsecretaria de Proteção da Ordem Urbanística (DF Legal) monitora essas áreas e fiscaliza ocupações irregulares nas regiões administrativas. No entanto, a pasta não tem números precisos, pois “a maioria dos acampamentos são móveis, o que dificulta a contagem”.
 
Há oito meses, Raylene Nunes Alves, 30 anos, mora com o marido e os dois filhos, de 12 e 4 anos, em um barraco na 707/907 Norte. A mudança não foi uma opção. Ela vivia em outro barraco, em Planaltina de Goiás — a cerca de 55km de Brasília —, mas a coleta de materiais recicláveis ficava difícil no local. No DF, a catadora encontrou uma forma mais fácil de juntar os itens para revender e, assim, garantir a comida do dia. “Aqui, nossa rotina é sair de manhã para buscar latinha, voltar e, depois, sair à noite. Por mês, consigo tirar em torno de R$ 500”, calcula.
 
Ao lado do barraco de Raylene, há outros sete, onde moram mais de 15 pessoas, incluindo crianças e bebês. Outra estrutura serve como um banheiro improvisado, sem vaso sanitário e sem chuveiro. Do outro lado da pista, há mais construções à base de lona onde vivem cerca de 20 pessoas. A catadora nasceu em Brasília, mas os pais dela moram no Piauí. Ela chegou a alugar quitinetes e barracos para morar com o marido e as crianças, mas, pelas condições financeiras, acabava despejada pelos donos dos imóveis. O sonho de Raylene é conseguir juntar R$ 10 mil, para comprar um terreno em Planaltina (GO). “Até agora, consegui R$ 2 mil. Creio que, até o ano que vem, eu consiga esse dinheiro. Com R$ 500 (por mês) é difícil, mas, quando alguém doa alimentos, ajuda a economizar. Quem não quer ter um lugar de conforto para ficar com os filhos?”, questiona.
 
Lar
A história de Brenda Pereira, 25, não é muito diferente. A jovem tem dois filhos — um de 8 anos e uma bebê de 7 meses — e conheceu Raylene em Planaltina (GO). As duas vieram juntas para Brasília, em busca de condições melhores de vida. Não muito longe da ocupação irregular onde as duas vivem, vê-se a outra realidade da capital federal: prédios luxuosos, centros comerciais e hotéis. “Meus filhos não sabem o que é shopping. Na verdade, nem saem de cima desse papelão. O lazer deles é esse, mas nos acostumamos. Aqui, é uma dando força para a outra”, comentou Brenda.
 
Além das dificuldades, a família lida com derrubadas promovidas por órgãos públicos. “É frequente. A última tem três meses. Mas vou fazer o quê? Eles viram as costas e construímos de novo. Aqui, não recebemos visita de ninguém do governo nem opção para sair dessa situação. Não somos criminosos nem usuários de drogas. Somos pessoas honestas que não têm um lar”, completou a jovem. A DF Legal, por outro lado, informou que retira “apenas materiais inservíveis”, que não apreende pertences pessoais e que todas as ações da subsecretaria só ocorrem após trabalho prévio da Sedes.
 
Medidas
Para o professor de ciência política da Universidade de Brasília (UnB) Thiago Trindade, as ocupações irregulares estão associadas à falta de políticas públicas voltadas à moradia. “O acesso à terra é uma questão que nunca foi resolvida no Brasil. Temos um problema estrutural, que afeta a dinâmica da vida no campo e na cidade. Além disso, temos ausência quase total de uma política urbana seriamente implementada pelos governos. Desenvolvemos programas de política habitacional para a população de baixa renda, mas não resolvemos o problema, porque essas habitações, em larga medida, são construídas nas periferias das grandes cidades”, analisou.
 
O especialista acredita que mais pessoas ocupam pontos no Plano Piloto pelo fato de a área ser mais populosa e por oferecer mais “oportunidades”. “Temos uma área nobre. Se a pessoa que mora nessas ocupações tem comércio ambulante, ele vende mais. Se é catadora, consegue arrecadar mais latinhas, porque há mais consumo. A concentração da propriedade fundiária associada à falta de política urbana e habitacional vai acarretar em invasões”, ponderou.
 
Questionada sobre as ações implementadas para coibir as ocupações, a Sedes informou que oferece passagens para as pessoas que desejam retornar às cidades de origem, benefícios eventuais e inclusão no Cadastro Único (CadÚnico). A pasta acrescentou que apresenta serviços socioassistenciais, programas e benefícios para as famílias, incluindo vagas de acolhimento institucional nas 46 unidades sob gestão da secretaria. “A Sedes não pode retirar uma pessoa em situação de rua sem que ela manifeste interesse em ir para as unidades de acolhimentos”, ressaltou o órgão distrital, em nota.
 
Indicadores
A vulnerabilidade social não está presente só entre os que não têm uma casa para morar. Estudo produzido pela Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação (Seduh) e pela Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan) mostra que, das 33 regiões administrativas do DF, Estrutural e Sol Nascente são as mais prejudicadas. Os dados constam no Índice de Vulnerabilidade Social (IVS), indicador que avalia as condições da população: quanto maior o indicador, maior a fragilidade social do local. As duas cidades tiveram resultado de 0,72 e 0,6, respectivamente.
 
O primeiro indicador analisado pelo estudo avalia fatores relacionados aos domicílios e arredores, como acesso a saneamento básico; tempo de deslocamento para o trabalho; condição viária; e ambiência urbana. Nesse quesito, Estrutural e Sol Nascente atingiram 0,69 e 0,64 pontos, respectivamente, seguidos por Fercal (0,5) e Planaltina (0,4). As regiões com melhores resultados foram Cruzeiro (0,03) e Sudoeste/Octogonal (0).
 
O estudo analisa, ainda, a necessidade de provimento de moradias para atender à demanda habitacional da população, bem como a inadequação de domicílios relacionada a especificidades que prejudicam a qualidade de vida. A Estrutural volta a aparecer em primeiro lugar nesse ponto, com indicador de 0,63, seguida pelo Riacho Fundo (0,53). Lago Sul (0,03) e Águas Claras (0,01) foram as mais bem avaliadas nesse aspecto.

Correio Braziliense sexta, 18 de dezembro de 2020

FITA THE BEST - LEWANDOWSKI, O PAPA DA BOLA

Jornal Impresso

FIFA THE BEST
 
O papa da bola: Lewandowski
 
Personagem mais badalado da Polônia desde João Paulo II, Lewandowski supera Cristiano Ronaldo e Messi e quebra jejum: último centroavante raiz eleito número 1 do mundo havia sido Ronaldo Fenômeno, em 2002

 

Marcos Paulo Lima

Publicação: 18/12/2020 04:00

 
 
Tem fumaça branca na chaminé. Os fiéis da religião chamada futebol podem dizer: Habemus Papam. Ele é polonês. Nasceu em Varsóvia, em 21 de agosto de 1988. Personagem mais badalado do país do Leste Europeu desde o papa compatriota dele, João Paulo II (1920-2005), Robert Lewandowski, de 32 anos, do Bayern de Munique, superou o vice português Cristiano Ronaldo (Juventus) e o terceiro colocado, o argentino Lionel Messi (Barcelona), ontem, na cerimônia remota realizada em Zurique, na Suíça, e conquistou o prêmio de melhor jogador do mundo em 2020.
 
A eleição de Robert Lewandowki melhor do mundo em 2020 é simbólica. Considerados fora de moda nos debates sobre a preferência pelo falso 9 na era dourada do Barcelona, de Pep Guardiola; e da Espanha, de Luis Aragonés e Vicente del Bosque; os centroavantes ressuscitaram oficialmente na cerimônia virtual de ontem do Fifa The Best, em Zurique, na Suíça. O polonês recoloca camisas 9 raiz, como ele, no trono que a classe não ocupava havia 18 anos.
 
Talvez você não lembre. O último centroavante eleito número 1 do mundo foi o brasileiro Ronaldo. O Fenômeno arrematou os prêmios da Fifa e da revista France Football em 2002. Naquele ano, havia levado o Brasil ao pentacampeonato na Copa realizada no Japão e na Coreia do Sul. Marcou oito gols. Dois deles na final contra a Alemanha. Chegou ao Mundial como jogador da Internazionale. Conquistou a estatueta vestindo a camisa do Real Madrid.
 
Daquele ano em diante, o prêmio de melhor do mundo deu as costas aos centroavantes, os matadores numa linguagem popular. Zagueiro, meias e atacantes de lado do campo na linguagem pós-moderna da bola, ou seja, mais pontas do que homens de área, revezaram-se no poder.
 
Deu Zidane em 2003. Ronaldinho Gaúcho em 2004 e 2005. Cannavaro surpreendeu em 2006. Kaká assumiu o trono em 2007. Cristiano Ronaldo e Messi reinaram por 10 anos consecutivos de 2008 a 2017 e colocaram em xeque a necessidade de um time ter centroavante. Ambos são jogadores de lado, mas sabem perfeitamente atuar dentro da área no papel de falso 9. O meia Modric quebrou a dinastia em 2018, Messi recuperou o cetro em 2019 e, finalmente, um centroavante ostenta o posto de número 1 do planeta bola. Robert Lewandowski é a nova referência do esporte mais popular do mundo.
 
Lewandowski é moderno. Longe de ser aquele centroavante “paradão” dentro da área. Não é um cone, como a torcida brasileira batizou Fred na Copa de 2014 ao manifestar a revolta com as atuações do centroavante da Seleção no Mundial disputado aqui. O polonês sabe sair da área. É jogador de movimentação. Busca tabelas. Arranca com a bola dominada quando isso é possível. Quando necessário, põe a bola embaixo do braço e decide partidas.
 
Não é por acaso que as inspirações dele são dois reis da área. “Quando eu era um jovem jogador, lembro de ver Ronaldo e Romário jogando e eles foram grandes influências, grandes ídolos para mim. O Brasil sempre teve jogadores incríveis, e eles mostravam um futebol mágico. E eu, algumas vezes, jogava com a camisa 11 por causa do Romário, que eu vi inúmeras vezes em campo”, disse em entrevista ao evento organizado pela Fifa.
 
O craque do ano fez 55 gols em 47 jogos. Deu 10 assistências. Teve participação direta em 65 gols do Bayern de Munique na temporada. Registrou média de 1,38 por partida. Ajudou o clube a arrematar Champions League, Bundesliga, Copa da Alemanha, Supercopa da Alemanha, e Supercopa da Europa. Resumindo: teve ano de Messi e/ou Cristiano Ronaldo numa temporada em que o argentino e o português foram jogadores comuns.
 
Curiosamente, Messi e Cristiano Ronaldo voltam a ser superados por um craque do Leste Europeu. O croata Modric quebrou a dinastia dos dois em 2018. Para mim, o português deveria ter sido eleito naquele ano. Nesta temporada, Lewandowski coloca a Polônia do inesquecível Boniek — maior craque da história do país — em evidência. A nação arrasada na Segunda Guerra Mundial é também a terra do papa João Paulo II. Lewandowski é o personagem mais badalado do país desde que Karol Józef Wojtla morreu, em 2005, e tornou-se santo em 2014.
 
A religião chamada futebol tem um novo “papa” desde ontem, quando a fumaça branca saiu da chaminé da sede da Fifa, em Zurique. A nova referência dos fiéis ao esporte mais popular do mundo segue, agora, a liturgia de Lewandowski. A doutrina dele é marcar gols. A ordem dos centroavantes do futebol mundial agradece pela ressurreição da camisa 9.
 
52
Número de pontos de Lewandowski no colégio eleitoral formado por jornalistas, técnicos, capitães das seleções filiadas à Fifa e internautas, contra 38 de Cristiano Ronaldo e 35 de Messi. Neymar ficou em nono lugar.
 
“Quando eu era um jovem, lembro de ver Ronaldo e Romário jogando. Eles foram influências, ídolos pra mim. E eu, algumas vezes, jogava com a camisa 11 por causa do Romário”
 
Lewandowski, melhor do mundo
 
Os premiados
 
» Melhor jogador
Lewandowski (Polônia/Bayern de Munique)
 
» Melhor jogadora
Lucy Bronze (Inglaterra/Manchester City)
 
» Melhor goleiro
Manuel Neuer (Alemanha/Bayern de Munique)
» Onze ideal masculino
Alisson (Liverpool)
Arnold (Liverpool)
Alphonso Davies (Bayern Munique)
Sergio Ramos (Real Madrid)
van Dijk (Liverpool)
Thiago Alcántara (Bayern Munique)
De Bruyne (Manchester City)
Kimmich (Bayern Munique)
Cristiano Ronaldo (Juventus)
Lewandowski (Bayern Munique)
Messi (Barcelona)
 
» Melhor treinador
Jürgen Klopp (Alemanha/Liverpool)
 
» Melhor jogadora
Lucy Bronze (Inglaterra/Lyon)
 
» Melhor treinadora
Sarah Bouhaddi (França/Lyon)
Onze ideal feminino
Endler (PSG)
Millie Bright (Chelsea)
Lucy Bronze (Lyon)
Wendie Renard (Lyon)
Barbara Bonansea (Juventus)
Verónica Boquete (Utah)
Delphine Cascarino (Lyon)
Pernille Harder (Woflsburg)
Tobin Heath (Portland)
Vivianne Miedema (Arsenal)
Megan Rapinoe (Reign)
 
Melhor treinadora
Sarina Wiegman (Holanda)
 
Prêmio Puskás
Son Heung-Min (Coreia do Sul/Tottenham)
» Fair Play
Mattia Agnese (ITA/Ospedaletti). Aos 17 anos, ajudou a salvar a vida de uma adversária em uma partida.
 
» Melhor torcedor
Marivaldo Francisco da Silva. O pernambucano caminha 12 horas 
para assistir ao jogos do Sport no estádio do clube, a Ilha do Retiro.

Correio Braziliense quinta, 17 de dezembro de 2020

ESPÍRITO NATALINO EM LUZ E CORES

Jornal Impresso

 

Espírito natalino em luz e cores
 
 
A poucos dias das comemorações de Natal, moradores do Distrito Federal se empenham nas decorações para celebrar a data. Cenários com árvores iluminadas, trenós, renas e os tradicionais presépios se espalham pela capital

 

» SAMARA SCHWINGEL

Publicação: 17/12/2020 04:00

Prefeita da Quadra 303 Norte, Nanci Martins investiu na decoração deste ano (Minervino Júnior/CB/D.A Press)  

Prefeita da Quadra 303 Norte, Nanci Martins investiu na decoração deste ano

 


A menos de 10 dias para o Natal, o Distrito Federal está preparado para a celebração. Quem achava que a pandemia de covid-19 inibiria as decorações, se enganou. Presépios, luzes, árvores ornamentadas e guirlandas enfeitam as quadras e encantam quem passa por diferentes pontos de Brasília. Moradores consideram que o investimento para deixar a capital no espírito natalino vale a pena.
 
Na Quadra 204 Sul de Águas Claras, luzes coloridas adornam a entrada e adereços tomam as árvores. Rosane Nóbrega, 54 anos, é apaixonada por esta época. Há 11 anos, a funcionária pública mora no local e afirma que, desta vez, a decoração está mais bonita do que nos anos anteriores. “A quantidade de enfeites está maior. Tivemos a inauguração da decoração, com a iluminação seguida de fogos e a passagem do Papai Noel. Foi bem simbólico”, conta.
 
Rosane diz que tem o costume de sair para olhar os enfeites. Para ela, tudo faz parte do espírito natalino e do que ele significa. “A data representa renovação. Acho importante manter a tradição da decoração, principalmente, nesta fase complicada que estamos vivendo. Ela simboliza um pouco do normal e traz esperança para todos. É uma forma de pensar que tudo vai passar e melhorar”, completa a moradora.
 
Toda a ornamentação e preparação para o Natal encantam e animam. Na Quadra 307 da Asa Sul, por exemplo, as preparações começaram na primeira semana de dezembro e deixaram Nívia Almeida, 58, eufórica. “É uma quadra tradicional de Brasília. Estou ansiosa pelo primeiro Natal aqui”, revela a psicóloga, que se mudou há nove meses para o local. “A maioria dos prédios já está decorada, e as estruturas na entrada estão quase prontas. Além disso, no meu bloco, pelo menos, há itens natalinos na parte interna”, afirma.
 
Nívia conta que aproveita ainda mais o passeio com o cachorro, agora, com a quadra ornamentada. “É uma questão de atmosfera e energia da data. Nos lembra que o Natal vai além do simbolismo material e que é preciso ter esperança de que tudo vai dar certo”, considera a psicóloga. “Infelizmente, a crise sanitária afetou a animação de algumas pessoas, mas acredito que as decorações as ajudarão a entrar no clima”, avalia Nívia.
 
Alegria
Os tradicionais presépios completam a cena natalina. Na Quadra 303 da Asa Norte, a decoração começa na entrada, com anjos e árvores iluminadas nas áreas verdes, e vai até o último bloco, com um letreiro desejando Feliz Natal para a cidade. A prefeita da quadra, Nanci Martins, destaca a instalação que representa o nascimento de Cristo: “Na inauguração, colocamos a imagem do menino Jesus no cenário e, ao fim do dia, o retiramos. Ele só volta na véspera do Natal, para simbolizar o nascimento”.
 
Segundo Nanci, a expectativa é de que a decoração alegre as pessoas que não podem sair de casa para comemorar. “Temos muitos idosos e crianças na região, por isso, decidimos trazer o espírito natalino até a janela deles”, diz. Foram 15 dias para que tudo ficasse pronto. Na estreia, um violinista ficou encarregado da música, e o Papai Noel passou sob as janelas de cada um dos blocos desejando feliz Natal. “A visitação foi realizada desta forma para evitar a disseminação do novo coronavírus. Apesar disso, é ótimo, principalmente para as crianças”, diz a prefeita.
 
A estrutura montada está aberta para visitação. “Mesmo com dificuldades financeiras, optamos por manter a decoração. Queremos que as pessoas se lembrem do espírito do Natal e da esperança que esta época traz para todos. Por isso, as pessoas estão convidadas para visitarem e tirarem fotos no local”, ressalta Nanci.
No Sudoeste, um presépio chama a atenção, feito apenas com luzes e cercado por árvores iluminadas. Pela noite, ele se destaca em frente ao Bloco G, da Quadra 306.
 
Pontos turísticos
Tradicionalmente, o DF conta com decorações natalinas nos pontos turísticos. Este ano, em 11 de dezembro, a Torre de TV se transformou em cenário de Natal com projeção de luzes e de efeitos sonoros. Até 25 de dezembro, esse cartão-postal terá apresentações de artistas circenses, atores, bailarinos, a presença do Papai Noel e a participação virtual do poeta nordestino Bráulio Bessa. Apenas em 24 de dezembro, não haverá programação. O Natal da Torre de TV é promovido pelo Banco de Brasília (BRB).
 
 
Natal da Torre de TV 
 
O espetáculo de cores e luzes, com projeções e shows gratuitos, ocorre todas as noites até 25 de dezembro, exceto em 24 de dezembro. São três apresentações por dia: às 19h15, às 20h15, às 21h15. Os organizadores garantem que o evento respeita os protocolos de prevenção à covid-19, como uso de máscaras e distanciamento social

Correio Braziliense quarta, 16 de dezembro de 2020

DOAÇÕES PARA ILUMINAR O NATAL

 

Jornal Impresso

Doações para iluminar o Natal
 
Às vésperas do feriado cristão, instituições recorrem à população para pedir ajuda. As colaborações caíram desde o início da crise sanitária, e muitas organizações dependem de donativos para manter as atividades sociais

 

» ANA MARIA DA SILVA*
» JÚLIA ELEUTÉRIO*

Publicação: 16/12/2020 04:00

A Vila Pequenino Jesus, no Lago Sul, acolhe 70 pessoas com algum tipo de necessidade especial. A instituição pede contribuições dos brasilienses (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

A Vila Pequenino Jesus, no Lago Sul, acolhe 70 pessoas com algum tipo de necessidade especial. A instituição pede contribuições dos brasilienses

 



A magia do Natal de que muitas pessoas falam costuma surgir do espírito de solidariedade que cresce à medida que a comemoração cristã se aproxima. Esse sentimento faz com que uma legião de voluntários promova ações solidárias, com o objetivo de ajudar o próximo. E, no Distrito Federal, o que não faltam são opções e formas de oferecer um pouco de alegria para quem mais precisa. Inclusive, muitas instituições ficam à espera de doações para conseguir se manter.

A Vila do Pequenino Jesus é uma delas. O lar acolhe pessoas especiais de todas as idades. Bebês, crianças, jovens e adultos recebem acolhimento e tratamento com dedicação e carinho, como deve ser em uma família. “Nosso objetivo é devolver a dignidade da pessoa. Dar tudo de melhor a eles, para que tenham uma vida mais tranquila”, ressalta o coordenador-geral da instituição, Jorge Eduardo Deister, 46 anos. No entanto, o local depende da ajuda da população, pois as doações caíram desde o início da pandemia da covid-19.

Localizada no Lago Sul, a Vila recebe pessoas de até 59 anos, com diferentes necessidades. Atualmente, há 70 acolhidos, que contam com cuidados de higiene, alimentação, assistência à saúde e outras formas de atenção. Todos os moradores são encaminhados pela Vara da Infância e da Juventude (VIJ) ou pela Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes).

Atualmente, a Vila se mantém com ajuda de doações, além de um pequeno repasse financeiro governamental. Os itens mais necessários são alimentos, materiais de limpeza e equipamentos de proteção individual (EPIs) — devido à crise sanitária. “As pessoas podem ajudar de várias formas: conhecendo a casa, vendo nossas necessidades mais de perto. Tudo é de grande importância para nós”, diz Jorge Eduardo. “Temos, também, um bazar que acontece no Itapoã. Recebemos todo tipo de roupa e utensílios domésticos e temos um motorista que pode até ir buscar (as doações)”, complementa o coordenador-geral da Vila.

Natal infantil
    
O Instituto Embalando Sonhos nasceu para desenvolver uma proposta socioeducativa com foco em crianças e adolescentes de Samambaia. A organização oferece atendimento nas áreas de assistência social, educação, cultura, esporte e lazer. Pedagoga e fundadora do espaço, Lady Laura Caetano de Souza Costa, 42, afirma que o objetivo do projeto é resgatar e valorizar o sentimento de viver em família e em comunidade.

Para isso, a proposta foi além e passou a promover a inclusão social por meio de atividades como dança, palestras sobre saúde e atividades em grupo. “Queremos proporcionar condições para o desenvolvimento do indivíduo e para a integração na sociedade, com socialização, elevação da autoestima, da identidade e ampliação de horizontes”, destaca a fundadora.

São 240 inscritos, de 1 a 18 anos. As atividades para as crianças variam e incluem oficinas de música, violão, artes, balé e xadrez. Para as famílias, o instituto abre espaço para diálogos sobre temas atuais que envolvem questões desse público. “Nosso alvo são as crianças. O trabalho é democratizar o acesso à cultura, à educação e ao lazer para a comunidade. Isso muda muito a vida de quem não tem oportunidades e dá novas expectativas”, diz a fundadora. “Temos levado mais do que alimento. Levamos esperança”, acrescenta Lady Laura.

A garantia do sustento do instituto vem das doações — de dinheiro, alimentos, roupas. Toda ajuda é bem-vinda, especialmente durante a pandemia. Neste Natal, a organização também promove uma campanha de arrecadação de panetones e brinquedos. “Sabemos que muitas famílias não têm condições para isso. Todos os anos, fazemos uma grande festa, mas, agora, não podemos estar juntos nem deixar (a data) passar em branco”, detalha a fundadora.

Missão de amor

Outra organização não governamental (ONG) que trabalha com o intuito de ajudar pessoas em situação de insegurança social é a Amor em Ação. Desde 2006, ela atua em todo o Distrito Federal, por meio de ações sociais, com arrecadação de alimentos, roupas e brinquedos, para doação às famílias cadastradas. “Desenvolvemos diversos projetos sociais em lares de idosos, escolas, igrejas, comunidades carentes e vulneráveis”, explica Oneide Ribeiro, 51 anos, professora e secretária do grupo.

A ONG atende cerca de 600 famílias. Mas, para ajudar a todos que dependem dela, a organização conta com o apoio de parceiros. “Promovemos mudanças no sentido de cada um ser mais solidário e grato ao receber e doar. Entendemos que somos uma instituição extremamente importante na sociedade civil, pois não temos qualquer tipo de discriminação, preconceito contra o que ou quem quer que seja”, comenta Oneide. A principal demanda, segundo a secretária, é por cestas básicas e móveis. “Não deixe para amanhã se puder ajudar hoje. O amor em ação é uma missão minha, sua e de todos nós”, reforça.

5 mil brinquedos

Há 21 anos, o brasiliense Genilson Francisco Lopes, 44 anos, conhecido como Palhaço Psiu, arrecada brinquedos novos para distribuir no Natal. A campanha solidária deste ano está com a meta de doar 5 mil presentes para crianças de famílias de baixa renda do Distrito Federal. Ele receberá as doações até 20 de dezembro.

O projeto — que, na primeira vez, juntou só 10 brinquedos — distribuiu 10 mil presentes no Natal de 2019. Mesmo com a redução do montante pela metade, o Palhaço Psiu enfrenta problemas para arrecadar a quantidade estimada para este ano, por causa da pandemia da covid-19. Apesar de tudo, Genilson acredita que conseguirá atingir a meta do 5 mil. “Imagino as crianças que estão na esperança de ganhar um presente. Isso me dá mais força para conseguir esses brinquedos e para que elas possam ter alegria neste momento tão difícil. A magia do Natal não pode morrer”, defende o Palhaço Psiu.

Nascido no DF e com uma árdua trajetória de vida, o Palhaço Psiu precisou superar diversas barreiras após ser deixado em um orfanato, aos 4 anos. Genilson prometeu para si mesmo que, após sair da instituição, ajudaria crianças carentes, por entender a tristeza delas. Ele considera que seguiu o caminho certo, mesmo com pouco contato com os pais biológicos, além da perda do irmão — assassinado em 1994 — e da filha, que não sobreviveu a um acidente de carro, em 2011.

O programa Correio Braziliense Solidário conta com a parceria do Palhaço Psiu há cerca de 7 anos. O animador da festa confessa estar triste por não participar da festa em 2020, para distribuir os presentes. "Espero que tudo volte ao normal e que o Correio possa fazer a campanha. Olhe o tanto de crianças que ficam sem ajuda e sem ganhar presente", completa.

*Estagiárias sob supervisão de Jéssica Eufrásio


Como ajudar?

Vila Pequenino Jesus
» O que oferecer: materiais de higiene pessoal, alimentos ou doações em dinheiro.
» Como: pelo site viladopequeninojesus.com.br/como-ajudar.

Instituto Social Embalando Sonhos
» O que oferecer: alimentos, roupas, brinquedos ou doações em dinheiro.
» Como: na própria instituição, para retirada em casa ou por transferência bancária.

Caixa Econômica Federal
Ag.: 4167
Conta poupança: 78.044-0
Op.: 013
CNPJ: 28.606.007/0001-70

Endereço: QR 629, Conj. 4, Ch. 1, Samambaia Norte
Telefone: 9 8580-6864

ONG Amor em Ação
» O que oferecer: cestas básicas, roupas, brinquedos ou móveis.
» Como: na própria ONG ou por transferência bancária.

Banco Itaú
Ag.: 5643
Conta-corrente: 14955-1
Nome: Associação Amor em Ação

Banco BRB
Ag.: 057
Conta-corrente: 052073-8
Nome: Associação Amor em Ação

Endereço: Qd. 29, Conj. 23, Lt. 16, Avenida Paranoá, Sala 304, Paranoá
CNPJ: 14.426.547/0001-68
Telefone:  9 8409-6486

Palhaço Psiu
» O que oferecer: brinquedos novos.
» Como: em local a combinar.
Telefone: 9 8406-0184
Redes sociais: @palhacopsiu

Natal Educamar II
A associação sem fins lucrativos que assiste crianças, adolescentes e famílias da invasão Santa Luzia promoverá um Natal especial, em 20 de dezembro. A organização recebe doações de cestas básicas, panetones, aves e pernis para a ceia. Interessados também podem ajudar por meio de doações financeiras. O valor do kit natalino é R$80.

Banco BRB
Ag.: 241
Conta-corrente: 241021212-8
CNPJ: 27.281.010/0001-07
Nome: Associação Projeto Educamar

Banco do Brasil
Ag.: 2912-2
Conta-corrente: 56886-4
CNPJ: 27.281.010/0001-07
Nome: Associação Projeto Educamar
 
 

Correio Braziliense terça, 15 de dezembro de 2020

ENCONTRO DE CORPOS CELESTES
Jornal Impresso
Encontro de corpos celestes
 
Mesmo com um eclipse solar tímido no Distrito Federal, os brasilienses não deixaram de acompanhar o fenômeno, na tarde de ontem. Quem não conseguiu assistir ao evento raro pode deixar os equipamentos de observação preparados, porque o céu de dezembro tem outros acontecimentos marcados

 

BÁRBARA FRAGOSO, BRUNA PAUXIS*

Publicação: 15/12/2020 04:00

Do DF, pôde-se ver apenas 8,7% da superfície do Sol coberta pela Lua
 (Natan Fontes/Divulgação)  

Do DF, pôde-se ver apenas 8,7% da superfície do Sol coberta pela Lua

 

Mesmo com as incertezas que marcam este ano, o céu prepara boas surpresas, passíveis de contemplação em todo o Brasil. Só neste mês, três eventos astronômicos entraram na programação. Após o ápice da chuva de meteoros Geminídeas, no domingo, os brasilienses acompanharam, ontem, um eclipse solar parcial. No Distrito Federal, foi possível observar a Lua cobrir 8,5% da superfície Sol. No dia 21, vale separar binóculos e telescópios novamente, para ver o ápice da conjunção dos planetas Júpiter e Saturno.
 
O servidor público Marcelo Domingues, 49 anos, é estudioso amador do assunto e perdeu as contas de quantas vezes viajou para outras cidades do Brasil e para diversos países apenas para contemplar o céu. Além disso, ele visitou a Noruega, em 2015, para presenciar a aurora boreal. “Ontem, era para eu ter visto o eclipse total do Sol, na Argentina. É o fenômeno mais legal. Mas não consegui ir por causa da pandemia”, conta.
 
Para o Chile, Marcelo viajou quase 10 vezes desde 2005. Também passou pelo país em dois momentos, acompanhado de integrantes do Clube de Astronomia de Brasília (CAsB), do qual faz parte desde 2002. “Para mim, o céu de lá (do Chile) é o melhor. Todas as viagens se tornam oportunidade para conhecer pessoas do mundo inteiro que se interessam pelo tema. Conheci lugares incríveis”, comenta o astrônomo amador.
 
O militar Natan Fontes, 59, considera que o eclipse de ontem fechou um ano “desafiador”, após todos os problemas provocados pela pandemia da covid-19. “(O fenômeno) trouxe, realmente, um significado de esperança para 2021. Foi bastante especial vivenciar esse momento, ainda mais com o meu filho. Passamos esses minutos em um condomínio perto da casa dele. E, após montarmos os equipamentos, fotografamos juntos. É sempre um episódio muito bonito, que vale a pena ser apreciado”, ressalta.
 
Entusiastas e astrônomos amadores ou profissionais, como Paulo Eduardo, testemunharam o eclipse de ontem (Arquivo Pessoal)  

Entusiastas e astrônomos amadores ou profissionais, como Paulo Eduardo, testemunharam o eclipse de ontem

 

 
 
Momento raro
 
O eclipse solar pôde ser observado parcialmente em algumas regiões brasileiras, das 12h às 15h. O fenômeno ocorreu de forma total em algumas cidades do Chile e da Argentina. Embora a grande concentração de nuvens desfavorecesse a contemplação, vários brasileiros, principalmente nas regiões Sul e Sudeste, admiraram o evento. O estudante Estevão França, 20, morador de Florianópolis (SC), é apaixonado por fenômenos astronômicos e, neste ano, finalmente conseguiu presenciar o acontecimento. “Comprei um vidro de solda, que é o ideal para a observação a olho nu, e torci para que as nuvens não atrapalhassem. As nuvens atrapalharam um pouco, mas, no fim, deu tudo certo”, comemora.
 
Para os que não conseguiram assistir ao eclipse, a Nasa (agência espacial dos Estados Unidos) disponibilizou uma transmissão em tempo real, para todo o mundo. A escuridão total dura cerca de dois minutos, geralmente. Gustavo Roja, astrofísico da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), explica esses fenômenos ocorrem porque a Lua orbita a Terra e, de vez em quando, fica exatamente na frente do Sol. Ele acrescenta que não há um intervalo de tempo preciso para ocorrência dos eventos. “Eles não são raros de acontecer. Ocorrem duas vezes por ano, mas, pelo fato de serem visíveis apenas por uma faixa do planeta, isso acaba gerando grande interesse”, afirma.
 
Calendário
 
Chuva de meteoros, eclipses solares e lunares, conjunções de planetas e a superlua são alguns dos principais fenômenos acompanhados por entusiastas e estudiosos da área. “Popularmente conhecida como ‘estrela cadente’, a chuva de meteoros chamada Geminídeas ocorre todos os anos. Uma grande quantidade de resto de cometa pode ser vista no céu”, explica o físico e astrônomo Paulo Eduardo de Brito, professor da Universidade de Brasília (UnB). “A chuva de meteoros recebe esse nome porque todos os meteoros parecem sair da Constelação de Gêmeos, e os restos de cometa que entram na atmosfera da Terra são queimados. (Isso) é mais visível em ambientes escuros, como zonas rurais. O pico da última ocorreu na noite de domingo. Talvez, dure mais três dias”, acrescenta.
 
Outro acontecimento celeste, marcado para 21 de dezembro, é o encontro dos dois maiores planetas do Sistema Solar: Júpiter e Saturno. O fenômeno é raro, segundo o especialista. “Ocorre a cada 20 anos. Júpiter leva quase 12 anos para dar uma volta em torno do Sol, e Saturno, 28. Eles vão ficar bem próximos”, comenta. Nesta semana, é possível acompanhá-los, perto do ponto em que o Sol se põe, a Oeste. Júpiter será o ponto mais brilhante.
 
*Estagiária sob supervisão de Jéssica Eufrásio
 
Programe-se
 
Datas dos próximos fenômenos astronômicos no Brasil:
 
Encontro da Lua com Júpiter e Saturno
Quarta e quinta-feira, logo após o pôr do sol
 
Conjunção de Júpiter com Saturno
Na próxima segunda-feira
 
Solstício de dezembro/de verão
Na próxima segunda-feira
 
Eclipse lunar penumbral
26 de maio de 2021
 
Eclipse lunar parcial
19 de novembro de 2021

Correio Braziliense segunda, 14 de dezembro de 2020




Correio Braziliense sexta, 11 de dezembro de 2020

DÓLAR CAI, INDÚSTRIA E VAREJO SEGUEM EM ALTA

Jornal Impresso

Dólar cai, indústria e varejo seguem em alta

 

Uma onda de otimismo está tomando corpo na economia. Pelo sexto mês consecutivo, o varejo registrou aumento nas vendas, com um avanço de 0,9% em outubro na comparação com setembro. %u201CNo mínimo, mostra um fôlego da economia num patamar que já estava alto%u201D, avalia Cristiano Santos, gerente da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), divulgada pelo IBGE. A Confederação Nacional da Indústria, por sua vez, registrou, em dezembro, um aumento de 0,2 ponto no Índice de Confiança do Empresário Industrial (Icei), saltando para 63,1 pontos. Por fim, a conjuntura favorável no cenário externo, com as medidas de estímulo nas principais economias e a perspectiva de uma vacinação em massa, levaram o dólar a R$ 5,03, a menor cotação desde a primeira quinzena de junho.

 

Dólar rumo aos R$ 4,50

 

Vicente Nunes

Publicação: 11/12/2020 04:00

Seguindo uma tendência de depreciação global, o dólar caiu expressivos 2,67% no câmbio brasileiro e encerrou o dia vendido a R$ 5,03 — menor nível desde a primeira quinzena de junho deste ano. Operadores do mercado financeiro já veem o dólar sendo negociado entre R$ 4,50 e R$ 4,75 se o governo não fizer nenhuma estripulia na área fiscal.
 
Segundo o economista-chefe do Banco BV, Roberto Padovani, tecnicamente, a moeda norte-americana está mais para R$ 4,50 do que para R$ 5,50. Padovani reconhece que o câmbio está muito volátil, porque há expressiva cautela com as incertezas provocadas pela pandemia do novo coronavírus. Contudo, há a consciência de que um dólar a R$ 5,80, como se observou semanas atrás, está descolado da realidade.
 
Para o economista, os fundamentos sugerem um dólar a R$ 4,50. E lista os motivos: a moeda norte-americana está caindo em todo o mundo, o euro está se valorizando, os preços das commodities estão em alta, o risco Brasil está em baixa e os juros no país vão subir.
 
Não é só: em novembro, as eleições nos Estados Unidos afastaram o risco de uma crise geopolítica, com a vitória do democrata Joe Biden sobre Donald Trump. Além disso, está sobrando dinheiro no mercado internacional, por causa dos pacotes de incentivos à economia nos Estados Unidos, na Europa e no Japão.
 
Esse fluxo de recursos está migrando para países emergentes, entre eles, o Brasil. Parte do dinheiro é especulativa, de curto prazo, mas há uma parcela que está mais tranquila porque o ministro da Economia, Paulo Guedes, está conseguindo brecar todas as loucuras que surgem no governo na área fiscal.

Correio Braziliense quinta, 10 de dezembro de 2020

NEYMAR - LIGA DOS CAMPÕES: SHOW DO ARTILHEIRO

Jornal Impresso

LIGA DOS CAMPEÕES
 
Show do artilheiro
 
 
Neymar comanda goleada do Paris Saint-Germain com hat-trick sobre o Istanbul e vira um dos goleadores do torneio ao lado de Morata, Haaland e Rashford. Acusado de racismo, árbitro romeno se defende

 

Publicação: 10/12/2020 04:00

Neymar levou a bola do jogo para casa depois de classificar o PSG em primeiro lugar para as oitavas de final (Franck Fife/AFP)  
Neymar levou a bola do jogo para casa depois de classificar o PSG em primeiro lugar para as oitavas de final


Neymar marcou três gols na vitória do Paris Saint-Germain por 5 x 1 sobre o turco Basaksehir, ontem, pela sexta e última rodada do Grupo H da Liga dos Campeões.
 
Num jogo marcado por protestos após o episódio de racismo registrado na véspera, no qual o quarto árbitro, o romeno Sebastian Coltescu, usou o termo “negro” para se referir a um membro da comissão técnica do time da Turquia, que acabou provocando a paralisação do duelo e, posteriormente, seu adiamento, os donos da casa alcançaram uma vitória que lhes garantiu o primeiro lugar da chave.
 
Neymar, que, na véspera, comandou ao lado do companheiro de equipe Mbappé e do atacante Demba Ba, do Basaksehir, a retirada dos jogadores de campo em sinal de desaprovação pela conduta do quarto árbitro, foi o protagonista da partida desta quarta, reiniciada aos 14 minutos, momento em que foi paralisada no dia anterior.
 
O brasileiro abriu o placar na capital francesa marcando um golaço. Aos 21, recebeu um passe de Verratti e, depois de dar um giro, colocou a bola entre as pernas do marcador para finalizar no ângulo superior do gol dos visitantes.
 
Ele voltou a balançar as redes aos 38, após contra-ataque puxado pelo compatriota Rafinha Alcântara, que tocou para Mbappé, que passou logo para Neymar ampliar com um chute rasteiro. Quatro minutos depois foi a vez de Mbappé fazer o dele, em cobrança de pênalti marcado após o lateral-esquerdo Bakker ser derrubado na área. O francês bateu no canto esquerdo e fez o 3 x 0, aos 42 minutos.
 
Na segunda etapa, mal a bola tinha rolado e Neymar fez mais um, após jogada inciada por ele mesmo pelo lado esquerdo, na qual tabelou com o argentino Di María antes de bater colocado da entrada da área. Os vistantes diminuíram pouco depois, por meio do zagueiro Topal, aproveitando um escanteio.
 
Para fechar o placar, Neymar puxou contra-ataque, tocou para Di María, que rolou para Mbappé finalizar com tranquilidade. Com o resultado, o PSG avança às oitavas como líder do Grupo H, com 12 pontos, a mesma pontuação do também classificado RB Leipzig, que ficou em segundo pelo saldo de gols. Em terceiro lugar, o inglês Manchester United ganhou o direito de disputar as oitavas da Liga Europa, enquanto o lanterna Basaksehir se despede da competição continental com apenas três pontos em seis jogos.
 
Racismo
 
Um dia depois do comentário que desencadeou protestos dentro e fora de campo e repercussão mundial, o juiz Sebastian Coltescu disse que não é racista. O jogo da entre PSG e Istanbul Basaksehir, pela Champions League, foi paralisado após o quarto árbitro ser acusado de racismo.
 
“Tento ser bom. Não vou ler nenhuma notícia hoje. Quem me conhece sabe que não sou racista! Pelo menos eu espero que sim”, disse Coltescu em entrevista ao jornal romeno Pro Sport.
 
O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, condenou a injúria racial por meio das redes sociais. “Somos incondicionalmente contra o racismo e a discriminação no esporte e em todas as áreas da vida”, escreveu Erdogan nas redes sociais. 
 
Neymar manifestou-se ontem. “A gente tem que fazer isso. Fizemos muito bem. Foi o que deu na minha cabeça, foi o que eu deveria ter feito na primeira vez”, disse, referindo-se ao episódio em que sofreu injúria racial no Francês.  


“Tento ser bom. Quem me conhece sabe que não sou racista! Pelo menos eu espero que sim”
Sebastian Coltescu, árbitro romeno


“A gente tem que fazer isso (tirar os times do campo). Fizemos muito bem. Foi o que deu na minha cabeça, foi o que eu deveria ter feito na primeira vez”
Neymar, referindo-se, também, ao episódio em que sofreu injúria racial no Campeonato Francês


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Número de classificados para a fase de mata-mata: Bayern de Munique, Atlético de Madrid, Real Madrid, Borussia Monchengladbach, Manchester City, Porto, Liverpool, Atalanta, Chelsea, Sevilla, Borussia Dortmund, Lazio, Juventus, Barcelona, PSG e Red Bull Leipzig

Correio Braziliense quarta, 09 de dezembro de 2020

ABDALLA JARJOUR SE ENCANTOU: PIONEIRO DE BRASÍLIA, MORRE AOS 74 ANOS, VÍTIMA DA COVID-19

Jornal Impresso

 

Abdalla Jarjour, 74 anos, empresário, morre vítima da Covid-19

 

» JÉSSICA CARDOSO*

Publicação: 09/12/2020 04:00

 

 
 
 (Reprodução)  
 
De origem síria, o empresário do ramo de combustíveis Abdalla Jarjour chegou a Brasília com seus pais, Aziz Abdalla Jarjour e Munia Khoury Jarjour, em 1958. Abdalla foi um dos primeiros a abrir um posto de combustível na capital e liderou a luta contra o aumento de preço de combustíveis ao aderir à frase “guerra aos altos preços dos combustíveis em Brasília”, dita pelo então presidente da CPI dos Combustíveis do DF, Chico Vigilante.
 
Aos 74 anos, Jarjour morreu na madrugada de ontem, após complicações ocasionadas pela covid-19. Ele deixa cinco filhos, entre eles o ex-secretário de Governo do Distrito Federal Thiago Jarjour, além de três netos e a companheira, Marinês Santos.
 
O genro de Abdalla, Anderson Olivieri, conta que o empresário era conhecido pelo seu jeito firme, como um líder nato, extremamente dedicado ao trabalho. Jarjour também adorava viajar e fazer diversos amigos. “Ele era uma figura marcante, única, que tinha um coração imenso e generoso”, afirmou Anderson.
 
No entanto, apesar das diversas viagens que fez, Abdalla era apaixonado pela capital. “Ele sempre fazia questão de dizer que conheceu muitas cidades pelo mundo, mas nenhuma o encantava como Brasília. Para ele, a cidade o alegrava e o fazia se sentir em casa”, contou Anderson.
 
O velório do empresário ocorreu na Igreja Ortodoxa Antioquina São Jorge, do Lago Sul, das 12h30 às 16h. O sepultamento, às 17h, no Campo da Esperança.
 
Em suas redes sociais, um dos filhos, Monder Jarjour, agradeceu as condolências e mensagens de carinho recebidas pela família. O Sindicombustíveis do DF também prestou sua solidariedade aos familiares.
 
Após inaugurar o primeiro posto de combustível na CSB 8, em Taguatinga, o empresário criou a American Petro em 1999. Cinco anos depois, o posto foi ampliado com a unidade do Posto Jarjour na 206 Norte e, em 2006, a American Petro ganhou mais uma sede no Eixinho Sul, na altura da quadra 210.
 
Antes de entrar no ramo de combustíveis, Abdalla Jarjour também trabalhou em diversas atividades comerciais, como no Café Arábia, no Mercados Planalto e no Consórcio Nacional Jarjour.
 
* Estagiária sob supervisão de Mariana Niederauer

Correio Braziliense terça, 08 de dezembro de 2020

POLICIA CAPTURA COBRAS DOS ESTADOS UNIDOS

Jornal Impresso

Polícia captura cobras dos EUA
 
Duas serpentes corn snake estavam com uma estudante de direito, de 19 anos, em Sobradinho 2. Agentes buscam informações para localizar o vendedor das espécies. Há cinco meses, estudante de veteriária foi preso por tráfico de animais no DF

 

» DARCIANNE DIOGO

Publicação: 08/12/2020 04:00

As serpentes corn snake apreendidas foram batizadas pela tutora de  

As serpentes corn snake apreendidas foram batizadas pela tutora de "Dandara" (laranja) e "Cinara" (branca) 

 

 
Investigadores da 35ª Delegacia de Polícia (Sobradinho 2) colhem informações para localizar o suposto vendedor de duas serpentes corn snake, de origem norte-americana, capturadas, ontem, com uma estudante do curso de direito, de 19 anos. A jovem foi alvo da operação Fidi — a palavra significa serpente em grego — e acabou presa. Na unidade policial, assinou um termo de compromisso de comparecimento em juízo e foi liberada em seguida. O caso vem há pouco menos de cinco meses da operação Snake, conduzida pela 14ª DP (Gama), que indiciou o estudante de medicina veterinária Pedro Henrique Krambeck, 22, por 23 vezes pelo crime de tráfico de animais silvestres (leia Memória). 
 
Policiais chegaram até o endereço da jovem após um denunciante informar que a suspeita mantinha serpentes e vasos de maconha na residência onde ela mora com a família, no Setor Contagem, em Sobradinho 2. Ao chegarem ao endereço, os investigadores questionaram a estudante sobre o paradeiro das cobras, mas a mesma tentou esconder os animais. “Após interrogá-la novamente, ela nos entregou as serpentes e disse que elas ficavam soltas pelo quintal”, afirmou o delegado-chefe da 35ª DP, João Ataliba Neto. 
 
As serpentes apreendidas foram batizadas pela jovem de “Dandara” (laranja) e “Cinara” (branca). Os répteis são da espécie corn snake, nativos dos Estados Unidos, e não são peçonhentos. A criação de animais silvestres em casas no Brasil é proibida. Contudo, segundo especialistas da área ambiental, esses répteis são comuns serem criados como “pets” e podem ser facilmente adquiridos por meio da internet. 
 
Além das cobras, a polícia encontrou cerca de 10 ratos congelados na casa da estudante, que eram utilizados como alimentos para as serpentes. Os camundongos estavam guardados em um freezer, mas, com a chegada dos policiais, a menina teria os jogado no lixo, segundo as investigações. 
 
Internet
Em depoimento, a suspeita alegou que comprou as cobras pela internet, no valor de R$ 250 (cada uma), porque era xamanista. “A princípio, não temos informações de nenhuma rede vinculada à venda de serpentes no DF. Mas vamos checar essa informação e ver se procede para tentarmos identificar o possível vendedor. Se ele residir no Distrito Federal, seguimos com a apuração. Se for em outro estado, vamos encaminhar o caso à Polícia Federal ou à Polícia Civil competente”, detalhou o delegado. 
 
A suspeita foi liberada após assinar o termo de compromisso e as duas corn snake e os ratos congelados serão encaminhados ao Centro de Triagem e Reabilitação de Animais Silvestres do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Cetas/Ibama). 
 
 
 
Memória
 
Caso da naja
 
Investigadores da 14ª Delegacia de Polícia (Gama), descobriram um esquema de tráfico de animais silvestres depois de após o estudante Pedro Henrique Krambeck ser picado por uma cobra naja kaouthia, em 7 de julho, no apartamento onde morava com a família, no Guará. Posteriormente, a polícia concluiu que o estudante comprava e vendia serpentes havia três anos. A apuração concluiu que o esquema criminoso contava com participação da mãe dele, a advogada Rose Meire dos Santos; do padrasto de Pedro Henrique, o tenente-coronel da Polícia Militar do DF, Clóvis Eduardo Condi; de Gabriel Ribeiro de Moura, amigo do estudante; além de outros colegas da faculdade. Os quatro foram indiciados por tráfico de animais, maus-tratos e associação criminosa. Pedro Henrique responde, ainda, por exercício ilegal da profissão, por realizar cirurgias em animais.

Correio Braziliense segunda, 07 de dezembro de 2020

SIM, APESAR DA PANDEMIA: CASAMENTO COMUNITÁRIO OFICIALIZOU A UNIÃO DE 42 CASAIS DO DISTRITO FEDERAL

Jornal Impresso

 

Sim, apesar da pandemia
 
Casamento comunitário realizado na noite de ontem, no Museu da República, oficializou a união de 41 casais da capital federal. Banda do Corpo de Bombeiros do DF animou o evento.
 
Casamento comunitário oficializou a união de 41 casais do Distrito Federal, na noite de ontem. Cerimônia ocorreu no Museu da República. O evento foi promovido pela Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejus)

 

» BÁRBARA FRAGOSO

Publicação: 07/12/2020 04:00

Casamento comunitário seguiu as regras sanitárias e de distanciamento para evitar a infecção pelo novo coronavírus (Carlos Vieira/CB/D.A Press)  
Casamento comunitário seguiu as regras sanitárias e de distanciamento para evitar a infecção pelo novo coronavírus


Enquanto o Sol dava espaço para o anoitecer, 41 casais do Distrito Federal esperavam para dizer o “sim” do matrimônio civil, ontem, no Museu da República, na Esplanada dos Ministérios. Nos bastidores, os músicos da Banda de Música do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF) faziam os últimos ajustes sonoros para animar o casório. Em filas separadas, os noivos tentavam manter o distanciamento neste tempo de pandemia. Desde 2012, os casamentos comunitários oficializaram a união de 1.124 casais no DF.

Sem conseguir dormir bem na véspera do casamento, a cabeleireira Cleidenalva Domingas, 39 anos, levantou às 5h para iniciar os preparativos. “Casar é o meu sonho de criança. Sempre quis usar um vestido de noiva. Estou muito feliz e realizada. Nos conhecemos há dois anos e somos almas gêmeas”, conta. Após acordar o noivo, o autônomo Huguemberg Soares, 28, e buscar uma amiga na casa dela, os três chegaram ao local da cerimônia por volta das 10h30. “Tivemos um momento muito interessante com psicólogas, que deram dicas de como lidar com a ansiedade”, detalha.

O casal soube da possibilidade de participar da iniciativa por meio de reportagens. “Gostaríamos que mais amigos e familiares estivessem presentes. Vieram duas irmãs minhas e a madrinha do meu esposo. Mesmo assim, enviamos o convite da transmissão on-line do casamento para pessoas queridas acompanharem, já que não podem estar aqui”, destaca Cleidenalva.

Para o marido dela, todo o empenho de preparo para o casamento valeu a pena, incluindo os trâmites de separação dos documentos. “Casar é um sonho antigo. Foi bastante corrido até chegarmos aqui. Com as limitações que enfrentamos durante a pandemia, os nossos parentes de Goiás e do Mato Grosso acompanham a cerimônia pela internet”, conta Huguemberg.

“Fizemos as pazes”


Desde março de 1988, a gari Valeria Soares, 51, e o operador de caixa Rosemberg Rodrigues, 57, estão juntos. “Eu fiz o pedido de casamento para ele há poucos meses. O momento está sendo muito importante. Quando nos conhecemos, eu tinha seis anos, e ele 11. Hoje, temos três filhos”, descreve Valeria. Ela e o esposo tentarem seguir todos os protocolos para oficializarem a união com segurança. “Até discutimos nessa noite (sábado), mas, depois, fizemos as pazes (risos)”, revela a recém-casada.
Após o longo período de planejamento, Rosemberg fez a inscrição do processo. “Corri atrás e ainda coloquei o meu cunhado para casar também. Estou extremamente feliz”, acrescenta o operador de caixa.

À primeira vista

Ao morar com o motoboy Rafael Magalhães, 26, há três anos, a dona de casa Jaqueline Fernandes, 26, conta que eles não conseguiram casar anteriormente por falta de oportunidade. “E, também, porque não tivemos condições financeiras. Não imaginei que daria certo. Sinto vários sentimentos ao mesmo tempo”, confessa. Segundo ela, desde que se conheceram, não ficaram separados. “Foi amor à primeira vista mesmo. Eu tinha muita vontade de casar”.

Segundo Rafael Magalhães, a iniciativa facilitou para que gastassem menos do que se apostassem em uma cerimônia somente dos dois. “Desde setembro, estamos nos preparando para estarmos aqui. A covid-19 não está sendo um problema para casarmos, pois a realização de, finalmente, oficializarmos compensa tudo isso. Depois, vamos comemorar este dia com os nossos três filhos, que ficaram em casa”, relata.

Iniciativa


Promovida pela Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejus), o casamento comunitário isentou os custos de cartório, oficializando casais de baixa renda — que recebem até dois salários mínimos. “Depois de três meses de muito esforço trabalho e dedicação, o grande dia chegou. A cerimônia começou com o sonho de cada um. Tudo isso para celebrar o amor, respeito, cumplicidade e a família. É um caminho muito bonito. Mesmo com o momento difícil, de pandemia, fizemos de tudo para que a cerimônia ocorresse da forma mais segura possível”, declara a secretária de Justiça, Marcela Passamani.

Com o intuito de amparar as famílias e ampliar as garantias dos direitos patrimoniais, sucessórios e previdenciários, a cerimônia contou com o apoio de parceiros e voluntários, incluindo maquiadores, cerimonial e cabeleireiros do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac). Devido à pandemia do novo coronavírus, o casamento seguiu as recomendações de distanciamento e normas sanitárias. O evento teve a presença dos deputados distritais Fernando Fernandes (Pros), Flávia Arruda (PL) e do secretário de Cultura e Economia Criativa, Bartolomeu Rodrigues.

Vinte músicos da Banda de Música do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF) ficaram responsáveis pela abertura da cerimônia. “Preparamos o Hino Nacional e o Hino a Brasília. Esperamos transmitir bons sentimentos para esses casais por meio do nosso som. É muito gratificante estarmos aqui”, destacou o maestro, capitão Áulus Carvalho.

Correio Braziliense domingo, 06 de dezembro de 2020

OS DESAFIOS DO ORÇAMENTO

Jornal Impresso

Os desafios do orçamento
 
Com os efeitos da crise provocada pela pandemia da covid-19, as previsões para ações do governo local no próximo ano passaram por ajustes. Tema está em discussão na Câmara Legislativa

 

» ALAN RIOS
» ALEXANDRE DE PAULA

Publicação: 06/12/2020 04:00

 

Buriti projetou receitas e despesas para 2021 com base em mudanças verificadas durante a pandemia da covid-19; previsões estão levemente otimistas (Vinicius Cardoso/Esp. CB/D.A Press - 12/3/19)  
Buriti projetou receitas e despesas para 2021 com base em mudanças verificadas durante a pandemia da covid-19; previsões estão levemente otimistas
 

 

O impacto da pandemia do novo coronavírus tornou um desafio elaborar a previsão orçamentária anual. A crise exigiu diversos remanejamentos nas estimativas de recursos para 2020 e reajustes das expectativas para o exercício seguinte. A princípio, o Executivo local trabalhou com a possibilidade de uma realidade mais complexa em 2021. No entanto, o início da recuperação após a flexibilização das normas para o comércio fizeram com que as previsões para 2021 sejam mais otimistas, mesmo que timidamente.


Ao todo, são R$ 44,18 bilhões de receita estimada — incluindo os R$ 15,7 bilhões do Fundo Constitucional (FCDF) —, segundo o Projeto de Lei Orçamentária Anual (Ploa) de 2021. Em 2020, a previsão ficou em R$ 43,1 bilhões. A proposta do ano que vem deve passar por avaliação dos deputados distritais antes do recesso legislativo e, depois, será encaminhada para apreciação do governador Ibaneis Rocha (MDB).


Sancionada em setembro, a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) para 2021 considerou um cenário mais complicado. A receita total prevista era de R$ 42,6 bilhões. Por outro lado, houve frustração na expectativa em relação ao FCDF, usado para Segurança, Saúde e Educação. Projetava-se que o DF contaria com R$ 704,2 milhões a mais que os R$ 15,7 bilhões contabilizados no Ploa. Contudo, o valor tem relação direta com a arrecadação da União.


As alterações na comparação com as previsões de setembro se justificam pelas mudanças no cenário econômico local. A retomada de alguns setores do comércio contribuiu com a melhoria das perspectivas. Também teve impacto o bom resultado de áreas como supermercados e farmácias, que não pararam durante a crise.


“Quando preparamos a LDO, fazemos um retrato do momento. É natural ter ajustes na LOA. Percebemos que conseguimos manter a atividade econômica aquecida porque, apesar de alguns setores sofrerem muito — como bares e restaurantes —, outros — como supermercados e farmácias — se desenvolveram bem. Isso, com as mudanças fiscais e econômicas, possibilitou essas projeções”, destacou ao Correio o secretário de Economia, André Clemente, quando encaminhou o texto do Ploa aos distritais. “Tivemos queda de ISS (Imposto Sobre Serviços) e ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), mas tivemos, por outro lado, aumento (na arrecadação) do Imposto de Renda”, complementou.


Prioridades

A elaboração do orçamento permite definir um norte para as prioridades do governo local no próximo ano (leia No detalhe). Entre as despesas previstas com recursos próprios, a educação fica em primeiro lugar, com R$ 4,87 bilhões — além dos R$ 3,3 bilhões do Fundo Constitucional. Com a pandemia, esse setor precisou se readaptar e, em 2021, terá de se preparar para o provável retorno dos estudantes de escolas públicas às salas de aula.


Em segundo lugar nas despesas está a Previdência Social (R$ 4,6 bilhões). Porém, nos últimos dias, a capital federal viu crescer o receio sobre um aumento grande de casos da covid-19. Por isso, a Saúde está entre as prioridades, com orçamento de R$ 3,4 bilhões, provenientes do DF, e mais R$ 4 bilhões, do Fundo Constitucional.

 
 
Sem recursos para acessar a internet, os filhos de Ricardo Sansão tiveram dificuldade na escola. A educação é uma das questões mais sensíveis para a cidade no ano que vem, assim como a saúde e a geração de empregos. O Orçamento do GDF passa por ajustes para se adequar à crise da pandemia.  (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
 

Correio Braziliense sábado, 05 de dezembro de 2020

CEB É VENDIDA POR R$ 2,51 BILHÕES

Jornal Impresso

CEB é vendida por R$ 2,51 bilhões
 
Em leilão, ontem, na Bolsa de Valores de São Paulo, a empresa de distribuição de energia foi arrematada pela Bahia Geração de Energia, do grupo Neoenergia. Valor de venda representa um ágio de 76,63% do preço inicial, R$ 1,42 bilhões

 

ANA MARIA CAMPOS
WASHINGTON LUIZ

Publicação: 05/12/2020 04:00

 

"O Estado tem que focar naquilo que é a necessidade da população: educação, saúde, transporte público de qualidade, cuidar da infraestrutura. Essa atividade de distribuição de energia, certamente, vai estar muito melhor a cargo da iniciativa privada" Ibaneis Rocha, governador do Distrito Federal

 

 
Depois de meses de negociações e polêmicas, a Companhia Energética de Brasília (CEB) foi leiloada ontem, na Bolsa de Valores de São Paulo (B3). A empresa foi vendida por R$ 2,51 bilhões para a Bahia Geração de Energia, do grupo Neoenergia. A cifra representa um ágio de 76,63% em relação ao valor inicial de R$ 1,42 bilhão. Outras duas concorrentes disputaram o controle da estatal.
 
A CPFL Comercialização de Energia Cone Sul chegou a oferecer R$ 2,508 bilhões. A Equatorial Participações e Investimentos apresentou o lance de R$ 1,42 bilhão, valor mínimo fixado pelo Governo do Distrito Federal (GDF). O resultado provocou reações positivas e negativas no meio político de Brasília.
 
Ao fim do leilão, o governador Ibaneis Rocha (MDB), que estava na Bolsa de Valores, afirmou que a distribuição de energia “estará melhor a cargo da iniciativa privada”. Segundo o emedebista, a privatização permitirá que o governo amplie o investimento em áreas como saúde e educação.
 
“O projeto de privatização da CEB Distribuição nasceu exatamente da impossibilidade e da visão que se tinha de que não era mais possível recuperá-la se não fosse com muito investimento. O Estado não deve participar de determinadas atividades. O Estado tem que focar naquilo que é a necessidade da população: educação, saúde, transporte público de qualidade, cuidar da infraestrutura. Essa atividade de distribuição de energia, certamente, vai estar muito melhor a cargo dainiciativa privada”, afirmou.
 
Ibaneis fez questão de ressaltar que o governo vai intensificar os processos de concessão e de parcerias público-privadas em 2021. “Teremos, ainda, outros processos de desestatização, como é o caso do metrô do Distrito Federal. Teremos a abertura de capital da Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal. Temos todo um conjunto de obras de parcerias público-privadas que nós implementamos no âmbito da nossa administração e chegarão ao fim no ano de 2021”, garantiu.
 
O presidente da CEB, Edison Garcia, classificou o resultado como “um sucesso, uma decisão corajosa, que foi muito criticada e com muita oposição. Estamos com a consciência tranquila de que foi um processo técnico e juridicamente perfeito”, disse.
 
Por outro lado, deputados distritais da oposição pediram a anulação da venda. Eles argumentam que o processo foi ilegal, uma vez que decisão liminar do Tribunal de Justiça do DF, expedida na noite de quinta-feira, determinou a necessidade de aprovação da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) para a privatização da CEB Distribuição.
 
Próximos passos 
 
O resultado do leilão será submetido à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que vai avaliar as condições econômico-financeiras da empresa vencedora, a Neoenergia. O dinheiro arrecadado com a venda deve ser transferido para a CEB Holding, da qual o GDF tem 80% das ações e o mercado, 20%. Os recursos da operação serão distribuídos em forma de dividendos. De acordo com o governo, parte do valor será utilizada para pagar dívidas da companhia, que estão em, aproximadamente, R$ 800 milhões.
 
Nos nove primeiros meses deste ano, o lucro líquido da CEB Holding ficou em R$ 35,2 milhões. A maior parte corresponde ao desempenho das empresas de geração de energia, segundo a companhia. Elas apresentaram resultados positivos da ordem de R$ 64,7 milhões — 14% a mais do que o verificado no mesmo período de 2019.
 
Porém, no segmento de distribuição, houve prejuízo total de R$ 21,2 milhões, de janeiro a setembro. No mesmo período de 2019, o lucro tinha sido de R$ 13,5 milhões. A companhia associa o resultado a perdas de energia elétrica, bem como à redução do consumo nas classes comercial e industrial, em decorrência da pandemia.
 
Atualmente, a empresa tem 900 funcionários, com salários e benefícios altos. Um eletricista, por exemplo, chega a ganhar cerca de R$ 22 mil entre renda e vantagens acumuladas. Antes mesmo da privatização, a CEB Distribuição deu início a um processo de demissão voluntária. Aqueles que permanecerem nos quadros da companhia terão mais estabilidade a curto e a médio prazos.
 
Vencedora
 
Controlada pela espanhola Iberdrola, a Neoenergia, vencedora do leilão da Companhia Energética de Brasília, tem 13,7 milhões de clientes e está presente em 18 estados brasileiros, sendo responsável pela distribuição de energia na Bahia, em Pernambuco, no Rio Grande do Norte e no interior de São Paulo, por meio da Elektro.
 
A Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil (PREVI) e o Banco do Brasil Investimentos são acionistas da empresa. Com forte atuação no segmento de fontes renováveis, a Neoenergia é dona de parques eólicos na Bahia, no Rio Grande do Norte, Paraíba e uma usina solar em Fernando de Noronha (PE).
 
De acordo com o CEO da Neoenergia, Mario Ruiz-Tagle, a Bahia Geração de Energia “sabe fazer o que tem que fazer em Brasília” e vai trabalhar para fornecer “energia suficiente e a um custo razoável para o crescimento da capital federal”.
 
Questionado se haveria alguma redução de tarifa para os consumidores do Distrito Federal, Ruiz-Tagle lembrou que os preços são regulados pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). “É um processo muito técnico e muito testado, durante muitos anos. Estamos no quinto ciclo de revisões tarifárias das companhias de distribuição. O nosso trabalho é investir para melhorar a qualidade, investir de forma eficiente para que os investimentos sejam igualmente passados na tarifa”, disse.
 
O CEO afirmou que a população “pode ficar tranquila”, pois a Neonergia conhece “perfeitamente a companhia. Estudamos muito bem ela. Por isso, conseguimos dar um preço dessa característica, e confiamos que teremos alta rentabilidade”.

 
"A gente tem um desafio, que é proporcionar energia suficiente e a um custo razoável para o crescimento de Brasília" Mario Ruiz-Tagle, CEO da Neoenergia "Estamos com a consciência tranquila de que foi um processo técnico e juridicamente perfeito" Edison Garcia, presidente da CEB


Controle privado
 
Já contabilizada a privatização da CEB ocorrida hoje, 78% do setor de distribuição de energia elétrica no Brasil estão sob controle privado, restando, apenas, seis empresas administradas por estados ou municípios.
 
Entre os estados que mantêm concessão pública estão Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e Minas Gerais. das sete primeiras colocadas no ranking da Aneel, todas são privadas. E entre as sete últimas na avaliação, três são públicas.
 
Com esse olhar, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) considerou um “sucesso” o leilão. Para a CNI, a privatização da CEB terá importância estratégica para a melhoria dos serviços de distribuição de energia no Distrito Federal, especialmente por prever robustos investimentos com obras de ampliação e modernização da infraestrutura da companhia. “Em uma realidade de intensa restrição fiscal, é essencial para o país se contrapor à limitação de recursos públicos com uma maior participação da iniciativa privada, tanto nos investimentos quanto na gestão da infraestrutura”, afirma o presidente da CNI, Robson Braga de Andrade.
 
Greve suspensa  
 
Após assembleia realizada ontem, trabalhadores da CEB decidiram suspender a greve até a próxima segunda-feira, quando deve ocorrer uma nova rodada de negociações sobre a manutenção de cláusulas do acordo coletivo de trabalho (ACT) que garantem direitos dos funcionários.
 
A decisão atende a um pedido feito pelo desembargador Brasilino Santos Ramos, do Tribunal Regional do Trabalho da 10ª Região (TRT-10) e pelo Ministério Público do Trabalho (MPT). O magistrado e a instituição pediram que houvesse interrupção da greve até a data da próxima audiência.
 
Em relação à privatização da CEB Distribuição, o Sindicato dos Urbanitários do Distrito Federal (Stiu-DF) considera que a decisão do TJDFT, que determina que a Câmara Legislativa avalie o processo de privatização, anule o resultado do leilão.

 


Correio Braziliense sexta, 04 de dezembro de 2020

DOR NO ADEUS A ROOSEVELT, MOTORISTA DE APLICATIVO BARBARAMENTE ASSASSINADO

Jornal Impresso

VIOLÊNCIA

 

Dor no adeus a Roosevelt
 
Motorista de aplicativo vítima de latrocínio foi enterrado ontem, na Asa Sul. A covardia do crime revoltou familiares e amigos. Os dois assassinos estão detidos.  (Darcianne Diogo/CB/D.A Press)
 
Vítima de latrocínio após atender a uma corrida por aplicativo, o motorista foi enterrado ontem no Cemitério Campo da Esperança da Asa Sul. Sepultamento foi marcado por pedidos de justiça

 

» DARCIANNE DIOGO

Publicação: 04/12/2020 04:00

 
 
Velório durou três horas e reuniu cerca de 60 pessoas. Durante o enterro, o pai do motorista agradeceu aos presentes e pediu orações à família (Darcianne Diogo/CB/D.A Press)  

Velório durou três horas e reuniu cerca de 60 pessoas. Durante o enterro, o pai do motorista agradeceu aos presentes e pediu orações à família

 

 
Parentes e amigos do motorista de transporte por aplicativo Roosevelt Albuquerque da Silva, 31 anos, reuniram-se, na tarde de ontem, na Capela 4 do Cemitério Campo da Esperança da Asa Sul, para prestar as últimas homenagens ao trabalhador, vítima de latrocínio (roubo seguido de morte), após atender a uma corrida por app, na noite de terça-feira, na Área Central de Brasília. O sepultamento foi marcado por dor, revolta e pedidos por justiça. 
 
A cerimônia fúnebre durou três horas e reuniu cerca de 60 pessoas. Inconsolável, a mulher da vítima, Juliana Simplício, 35, precisou ser acalmada pelos familiares. “Por que isso foi acontecer, meu Deus? Me dá uma resposta para aliviar o meu sofrimento. Alguém me diz o que fazer, por favor. Procurei meu filho pela casa e quando o achei, ele estava atrás da porta chorando. Meu outro filho menor pegou uma arma de brinquedo e disse: ‘Mamãe, ninguém vai matar você.’ Estou desesperada”, lamentou a professora. 
 
Em entrevista ao Correio, na quarta-feira, a mulher contou que o marido foi demitido no começo da pandemia do emprego, onde atuava como agente de portaria. Com dívidas, há uma semana, ele tinha começado a trabalhar como motorista por aplicativo. A intenção era quitar alguns boletos e comprar o presente e o bolo de aniversário do filho mais novo, que completará 5 anos em 8 de dezembro. 
 
Durante o enterro, o pai do motorista, Roosevelt Corrente, agradeceu aos presentes e pediu orações à família. “Espero que ninguém nunca sinta essa dor que estou sentindo. Esperamos que um filho enterre o pai, mas que nunca um pai sepulte o filho. Minha esposa está muito abalada e não conseguiu vir. Ela está sob efeitos de remédio e não consegue dormir. A todos, eu agradeço por compartilhar esse momento comigo, porque a dor é tremenda”, disse, emocionado. Roosevelt deixou a mulher e os dois filhos, de 4 e 7 anos.
 
Insegurança 
 
No dia do crime, Roosevelt saiu de casa por volta de 13h para trabalhar. Por volta de 22h, ele atendeu a uma corrida na Asa Norte com destino a Sobradinho. 
 
Durante o trajeto, dois criminosos, Whallyson Maicon 
Lima, 22, e um adolescente, 17, anunciaram o assalto. Segundo o delegado-chefe da 13ª DP, Hudson Maldonado, para não deixar rastros, eles resolveram matar o trabalhador. “O colocaram de joelhos e dispararam duas vezes na região da nuca. Em seguida, fugiram com os pertences e carro da vítima”, detalhou. Na manhã de quarta-feira, o corpo de Roosevelt foi encontrado no Polo de Cinema, em Sobradinho.
 
Dados mais recentes da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP-DF) mostram que, entre janeiro e julho deste ano, sete motoristas de transporte por aplicativo foram assassinados enquanto realizavam corridas. No mesmo período do ano passado, houve três vítimas.
 
Presidente do Sindicato dos Motoristas Autônomos de Transportes Privado Individual por Aplicativos no Distrito Federal (Sindmaap-DF), Marcelo Chaves garante que o órgão orienta, frequentemente, os trabalhadores para evitar assaltos. “É preciso tomar cuidado antes de pegar o passageiro. Parar e olhar. Claro que roupa não vai dizer nada, mas é preciso ficar atento, principalmente se a região for de risco”, argumentou.  
 
Presente no velório, Leandro Lemos, 32 anos, trabalha como motorista de app há três anos e conta que nunca sofreu tentativa de assalto durante o serviço, mas questiona algumas medidas de segurança. “Todos os dias somos obrigados a tirar foto do nosso rosto para saber que é você que está trabalhando. Por que o passageiro não pode tirar também? Temos de ter segurança também e saber quem estamos levando”, criticou. 

Correio Braziliense quinta, 03 de dezembro de 2020

CORONAVÍRUS - MAPEAMENTO ATIVO É REALIZADO NO DF

Jornal Impresso

CORONAVÍRUS
Mapeamento ativo é realizado no DF
 
Secretaria de Saúde começa inquérito epidemiológico em Ceilândia. A região do DF com mais casos e óbitos relacionados à covid-19 recebe agentes, em casa, para aplicação de testes para detecção do novo coronavírus. Escolha da residência se dá por sorteio

 

» ALAN RIOS

Publicação: 03/12/2020 04:00

Danielle Cristina da Silva, 36 anos, foi a primeira moradora do DF a participar do inquérito. O teste dela teve resultado negativo (Fotos: Alan Rios/CB/D.A Press)  

Danielle Cristina da Silva, 36 anos, foi a primeira moradora do DF a participar do inquérito. O teste dela teve resultado negativo

 

 
A Região Administrativa (RA) mais populosa do Distrito Federal é a mais afetada pela covid-19. Ceilândia concentra 27.519 casos do novo coronavírus e 717 mortes em decorrência da doença, com uma taxa de letalidade de 2,6% — são os números os mais altos da capital. Para efeito de comparação, há mais mortes provocadas pela pandemia em Ceilândia do que na soma das seis regiões centrais de Brasília. Os dados preocupam a Secretaria de Saúde, que escolheu a cidade para dar início ao inquérito epidemiológico. Nele, agentes do governo vão sortear 230 residências, de cada uma das 34 regiões administrativas, para realizar um teste sorológico de detecção da covid-19. A ação começou ontem e vai percorrer todo o DF até 20 de dezembro.
 
“Hoje (ontem), estamos com dez carros; amanhã (hoje), teremos 34 carros formando as equipes. Temos 230 residências para serem visitadas e pesquisadas”, afirmou o secretário de Saúde, Osnei Okumoto. Ele explicou que as casas que receberão os exames estão escolhidas, mas, caso a pessoa não queria realizar o teste, ele será oferecido à moradia vizinha. A metodologia prevê foco de testes nos locais com crescimento de taxa de transmissão do vírus. Para atuar no inquérito, foram solicitados 34 profissionais da atenção primária à saúde, 34 bombeiros e viaturas e 34 colaboradores do Serviço Social do Comércio (Sesc).
 
Danielle Cristina da Silva, 36 anos, foi a primeira testada no inquérito. Surpresa com a visita, ela comemorou a oportunidade. “O resultado deu negativo, mas eu já esperava, porque estou me cuidando, tenho pouco contato aqui fora, sempre com receio”, disse a moradora do P Norte. Apesar de não ter tido contato com o vírus, Danielle lembra que a doença atingiu muitos conhecidos da região. “Na casa ao lado, a gente perdeu um vizinho que ficou três dias internado e faleceu. Para nós foi um baque, porque estou aqui há 30 anos e o conhecia há esse tempo todo. Também tenho um tio internado em estado ruim. Espero que Deus faça um milagre e ele possa sair”, desabafou.
 
Intervenção
 
A expectativa dos agentes é finalizar o inquérito de Ceilândia até sexta-feira, como detalhou o subsecretário de Vigilância em Saúde da Secretaria de Saúde, Divino Valério Martins. “Nas demais RAs, a partir de segunda-feira, uma equipe motorizada estará em cada cidade para fazer o trabalho. São várias fases. A primeira, de agora, é de coleta. Depois, entra a parte diagnóstica e, por último, a interpretação de dados, que serão divulgados posteriormente, para que tenhamos parâmetros para pensar que estratégia adotar”, detalhou Divino.
 
Iris Magalhães, 46, moradora de Ceilândia, acredita que esse trabalho pode levar conscientização à população. “Muita gente na cidade age que como se o vírus tivesse acabado, como estivesse tudo bem, e a gente pudesse viver normalmente. Isso, principalmente, depois que muita coisa voltou a funcionar. Os testes são bons para as pessoas despertarem para o que está acontecendo”, argumenta.

Para desenvolver o inquérito, o GDF conta com 34 profissionais da atenção primária à saúde, 34 bombeiros e 34 colaboradores do Sesc  

Para desenvolver o inquérito, o GDF conta com 34 profissionais da atenção primária à saúde, 34 bombeiros e 34 colaboradores do Sesc

 

O anúncio do inquérito epidemiológico surgiu após a Secretaria de Saúde perceber um aumento preocupante da taxa de transmissão R(t) do novo coronavírus. O índice mostra, em média, para quantas pessoas um infectado transmite a doença. Atualmente, o DF tem transmissão de 1,3. Ou seja, cada 100 infectados passam o vírus para 130 pessoas. Osnei Okumoto declarou, durante a ação da secretaria, que o Governo do Distrito Federal (GDF) pode tomar medidas de suspensão de atividades não essenciais caso sejam registrados mais aumentos desta taxa.
 
Diretor científico da Sociedade de Infectologia do DF e infectologista do Laboratório Exame, David Urbaez explica que o inquérito epidemiológico é uma das ações possíveis de combate à covid-19 dentro de várias categorias de planejamento. “Toda e qualquer epidemia precisa ser avaliada com teste sorológicos, levando em conta estratégia estatística, com amostragem do território que vai estudar. Isso é muito importante, mas deveria ter sido feito desde o início e é uma parte do complexo manejo de pandemia”, avalia. Para ele, os resultados da ação da secretaria podem ser essenciais na tomada de decisões futuras do governo. “É algo extremamente importante, porque temos em torno de 75% da população do DF que ainda pode ser contaminada. A pandemia está ativa e nunca deixou de estar”, alerta.
 
Bares e restaurantes
 
O governador Ibaneis Rocha (MDB) afirmou, ontem, que vai reforçar a fiscalização quanto ao horário de funcionamento de bares e restaurantes, limitado até as 23h. “Vamos juntar a Polícia Militar nessa fiscalização e ser um pouco mais duros com eles. O que a gente tem notado, por meio da fiscalização do DF Legal, é que a maior desobediência do distanciamento social, uso de máscara, tem sido nas baladas. As baladas, geralmente, começam a partir das 23h. Foi exatamente por isso que nós escolhemos o horário. As famílias que quiserem procurar os restaurantes, não vão depois das 23h. Eu estou tranquilo, a medida foi tomada de forma consciente”, ressaltou.
 
Por meio de nota oficial, a Secretaria DF Legal informou que “após a edição do decreto, a pasta decidiu, primeiramente, orientar os comerciantes sobre a mudança nas regras. Portanto, neste momento, não há registo de nenhum estabelecimento multado ou notificado. A medida oferece aos comerciantes a oportunidade de adequação às novas determinações do GDF”. A fiscalização é realizada todas as noites, das 8h às 3h. São 12 equipes dividias em quatro turnos, cada uma é composta por até quatro agentes.


3.955 mortes
Segundo o último boletim epidemiológico da Secretaria de Saúde, divulgado ontem, o DF registrou 16 mortes e 793 casos de covid-19. Ao todo, a capital soma 3.955 óbitos em decorrência da doença e 230.905 infectados pelo novo coronavírus. Há 219.811 pacientes recuperados.


Atendimento
Atualmente, a recomendação dos especialistas em saúde é diferente do início da pandemia quanto à procura pelo atendimento médico. “Mudamos o critério. Hoje, se a pessoa tiver dois sintomas pode procurar uma unidade básica de saúde (UBS) para realizar os testes sorológicos ou os de PCR. Para os testes sorológicos, temos, no site da Secretaria de Saúde, 50 unidades com capacidade de realização”, informou o secretário de Saúde, Osnei Okumoto. A pasta recebeu doações do governo federal e da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (Fecomercio-DF). “Foram doados 150 mil testes, da Bio-Manguinhos, e mais 10 mil, da Fecomércio, um teste americano que está sendo utilizado no inquérito”, detalhou Osnei.

Correio Braziliense quarta, 02 de dezembro de 2020

A REPRESENTATIVIDADE NEGRA EM CENA

Jornal Impresso

A representatividade negra em cena
 
NO PALCO DA RESISTÊNCIA
 
Professor de artes cênicas e integrante do coletivo Elementos Pretos, Rafael Nunes (C) faz do teatro um instrumento de luta contra a discriminação.  (Carlos Vieira/CB/D.A Press)
 
Ator do grupo Elementos Pretos, o professor de artes cênicas Rafael Nunes promove discussões sobre o racismo estrutural no Brasil há oito anos, em cima dos palcos. Por meio do teatro, ele leva adiante questões urgentes sobre a temática étnico-racial

 

THAIS UMBELINO

Publicação: 02/12/2020 04:00

 (Carlos Vieira/CB/D.A Press)  
 
 
Protagonismo é a palavra que define Rafael Nunes, 45 anos, nos palcos e no movimento negro. O ator, diretor e professor da Secretaria de Educação do Distrito Federal carrega na história a luta pela igualdade e pelo fim do racismo. Por meio do grupo de teatro Elementos Pretos, ele leva adiante a responsabilidade de questionar e discutir o racismo cotidiano e, acima de tudo, a missão de resistir.
 
O interesse pelo debate racial nos palcos teve início quando Rafael ingressou na faculdade de artes cênicas, em 1999. “Quando comecei o curso na UnB (Universidade de Brasília), passei a refletir sobre as dificuldades de um jovem negro. Naquela época, menos de 2% dos estudantes eram negros. Você também começa a perceber que não é representado nem nos conhecimentos: não há autores e estudos que te descrevam”, analisa o professor.
 
O racismo sofrido na pele fez com que ele buscasse ainda mais a representatividade. Após vivenciar um caso de discriminação racial durante uma festa no Centro Comunitário Athos Bulcão, na UnB, Rafael decidiu unir forças com outras pessoas negras. “Estávamos indo para uma festa. Três homens negros e uma mulher negra, além de duas mulheres brancas. Na entrada (do evento), os seguranças nos cercaram — apenas os negros —, e um deles me acusou de ter roubado cerveja. A partir desse fato, começamos a pensar em uma organização, de forma mais política”, conta o professor.
 
Em 2001, nascia o coletivo EnegreSer. “Com ‘S’ maiúsculo mesmo, para reforçar a identidade e o pertencimento negro”, explica Rafael. “Criamos um fórum para debater questões étnico-raciais na universidade. As dificuldades eram resolvidas em coletividade negra. Essa foi a força do motor”, acrescenta.
 
Cotas raciais
 
Outro alicerce de representatividade importante para o professor é a família. Pai de Bento, 5, e de Maria Rosa, 9, Rafael conta que batalha, no presente, focado em um mundo sem preconceitos e desigualdades para as futuras gerações. “Minha mulher foi integrante do EnegreSer e aluna da primeira turma cotista da UnB”, diz. “A gente sempre teve como pauta cotidiana a questão da cor e a consciência de coletivo. É um processo importante”, ressalta Rafael.
 
Filho de pioneiros oriundos da Bahia, o brasiliense foi o primeiro dos nove irmãos a ingressar em uma universidade, depois de tentar por dois anos. “Apesar das dificuldades, estava obstinado e só parei quando consegui”, recorda-se. A nova fase estudantil mudou os rumos da vida de Rafael. Em 2002, ele foi um dos protagonistas das conversas para implementação do sistema de cotas raciais na UnB. “Quando o assunto passou a ser discutido, nós, enquanto coletivo, entramos no jogo e nos debates. Pressionamos a reitoria com reuniões, criamos um encontro de estudantes negros e fizemos um material com divulgação das cotas”, complementa.
 
O ativista relata que, à época, os ânimos na UnB estavam aflorados. “A maioria era contra as cotas, e os discursos davam ao ambiente um clima muito hostil. Os comentários sobre as cotas beiravam a violência. Alguns diziam que (o sistema) diminuiria a qualidade (do ensino) da universidade; outros falavam que era preciso melhorar, primeiro, as escolas públicas. Usavam esses argumentos para não aceitar que se pudesse ter uma cota exclusiva para os negros”, critica Rafael.
 
Carreira
 
Em 2003, a comunidade acadêmica aprovou a adoção das cotas raciais, implementadas no ano seguinte. Ao concluir o ensino superior, em 2006, Rafael começou a dar aulas de educação artística na Secretaria de Educação, por meio de contrato temporário. Em 2009, ele foi selecionado para fazer mestrado na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e, após concluir o curso, voltou para Brasília. “Em 2012, passei no concurso da secretaria e assumi (a vaga efetiva) no ano seguinte”, detalha o professor.
 
Além dos serviços prestados em sala de aula, Rafael dedica-se ao ensino por meio de peças teatrais, organizadas pelo coletivo de teatro negro Elementos Pretos. “Em nossas apresentações, discutimos questões raciais, a história do negro no teatro e promovemos debates com a plateia, falando sobre os elementos da estética (teatral) e a questão das políticas do racismo”, conta.
 
As atividades do grupo começaram em 2013, com três integrantes. Hoje, 10 pessoas participam do projeto. “Nossas peças sempre têm elementos e construções históricas, além de referências da literatura negra como foco para questionar os racismos praticados no Brasil”, descreve. Antes da pandemia, o coletivo percorria o Distrito Federal, principalmente nas regiões administrativas, para ampliar as discussões. “Há diversos tipos de reações da plateia. As peças, normalmente, têm passagens mais reflexivas e tensas, mas o perfil característico é mais festivo e de entretenimento. Usamos também elementos do rap e hip-hop.”
 
Além do teatro, em apresentações ao vivo, Rafael discute na internet sobre o cotidiano dos negros e processos de resistência. Pelo site teatronegrodf.com, o coletivo Elementos Pretos comanda a rádio virtual EscapeFM, onde os ativistas levantam discussões com abordagens reflexivas e manifestações poéticas performáticas sobre a negritude. A programação inclui desde debates entre integrantes do coletivo e convidados até a reprodução de músicas de artistas negros. O nome da rádio convida o público a escapar dos conflitos internos que o racismo provoca nos indivíduos, segundo Rafael. “Todos os coletivos seguem uma cartilha e devem ter uma mídia própria. No nosso caso, é o rádio”, explica Rafael.

Correio Braziliense terça, 01 de dezembro de 2020

LIBERTADORES: FLAMENGO X RACING

Jornal Impresso

LIBERTADORES

Uma noite crucial
 
Com dúvidas na escalação, Flamengo faz decisão com o Racing por vaga nas quartas de final, hoje, no Maracanã. Equipe rubro-negra tenta embalar sob o comando de Rogério Ceni e evitar nova eliminação

 

Publicação: 01/12/2020 04:00

Bruno Henrique e Pedro devem comandar o ataque rubro-negro, hoje à noite, no Estádio do Maracanã (Alexandre Vidal/Flamengo)  
Bruno Henrique e Pedro devem comandar o ataque rubro-negro, hoje à noite, no Estádio do Maracanã


Com dúvidas importantes na escalação, o Flamengo faz o jogo mais importante do ano até o momento. Depois de empatar na Argentina, o time rubro-negro recebe o Racing, hoje, às 21h30, no Maracanã, precisando de um empate sem gols ou vitória simples para avançar às quartas de final da Copa Libertadores.

O Flamengo aposta todas as fichas na Libertadores e no Campeonato Brasileiro, competições nas quais é o atual campeão. O rubro-negro quer evitar uma nova eliminação depois de cair nas quartas de final da Copa do Brasil para o São Paulo e tenta embalar sob o comando de Rogério Ceni.

Rodrigo Caio, Gabriel e Pedro são dúvidas para a partida. O zagueiro, que não atua há mais de dois meses, participou do último treinamento e aumentou a esperança de estar à disposição. Recuperado de uma lesão muscular na coxa, Pedro também treinou e pode ser outra novidade.

Certo é que Natan e Thuler desfalcam a equipe, porque foram expulsos no duelo na Argentina. Com isso, se Rodrigo Caio não tiver condições de retornar, a zaga será formada por Léo Pereira e Gustavo Henrique, que não passa por boa fase. Outra baixa confirmada é a de Thiago Maia. O volante passará por uma cirurgia no joelho na próxima quinta-feira.

Gabriel não foi a campo para a última atividade. Ele realizou um trabalho interno na primeira parte do treino. A presença é incerta por conta de um desequilíbrio muscular. Desde que o problema foi detectado, o atacante, autor do gol rubro-negro na partida de ida, vem fazendo tratamento para ficar 100%. Ele tem menos chance de estar em campo do que Pedro. Se os dois ficarem fora, Vitinho deve ser escalado.


“Orgulho enorme chegar a esta marca com o Flamengo. Fui muito feliz desde o primeiro dia, criei uma relação muito forte com o clube e com a torcida e pude marcar meu nome na história”
Bruno Henrique, atacante, que faz o 100º jogo pelo time

Correio Braziliense segunda, 30 de novembro de 2020

PRECAUÇÃO CONTRA O VÍRUS NOS ÔNIBUS E NO METRÔ

Jornal Impresso

Precaução contra o vírus nos ônibus e no metrô
 
Principal queixa de brasilienses que usam o transporte público no DF é a aglomeração de passageiros. Em meio à pandemia de covid-19, cenário preocupa ainda mais. Governo garante que fiscalização é diária, para reforçar o cumprimento de medidas de distanciamento

 

» SAMARA SCHWINGEL
» MICHEL PIRES*

Publicação: 30/11/2020 04:00

%u201CNão tem distanciamento nenhum, e isso piora bastante nos horários de pico%u201D, reclama a bióloga Larissa Pricya, moradora de Planaltina (Samara Schwingel/CB/D.A Press - 27/11/20)  

"Não tem distanciamento nenhum, e isso piora bastante nos horários de pico", reclama a bióloga Larissa Pricya, moradora de Planaltina

 

 
Victor Araújo, auxiliar de lojas: %u201CVejo os ônibus lotados e não percebo uma limpeza tão intensa quanto deveria ser%u201D (Samara Schwingel/CB/D.A Press)  
Victor Araújo, auxiliar de lojas: "CVejo os ônibus lotados e não percebo uma limpeza tão intensa quanto deveria ser".
 
 
Enfrentar filas e ambientes lotados são alguns dos desafios de quem depende do transporte público do Distrito Federal para se locomover. De acordo com a pesquisa Como anda meu ônibus, realizada pelo Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT), entre agosto de 2019 e agosto de 2020, o item mais crítico no sistema é a lotação dos veículos — 66,76% dos 2.960 participantes avaliaram esse quesito como “péssimo”. O estudo leva em conta empresas do DF e do Entorno que circulam pela capital federal. O que já era problemático agrava-se durante a pandemia de covid-19, devido à exposição de passageiros e funcionários ao novo coronavírus.
 
Para entender os problemas e possíveis soluções, o Correio ouviu usuários, trabalhadores do sistema, especialista em transporte e mobilidade urbana, representantes do Metrô-DF e das empresas de transporte rodoviário e o Governo do Distrito Federal (GDF). Para os problemas identificados, o Executivo local afirma manter fiscalização regular.
 
Moradora de Planaltina, a bióloga Larissa Pricya, 22 anos, precisa, diariamente, do transporte público para chegar ao trabalho na região central de Brasília. “Não tem distanciamento nenhum, e isso piora bastante nos horários de pico. As pessoas entram mesmo, ficam em pé, nas portas. Por isso, durante a pandemia, pegar ônibus é sempre uma preocupação.” Ela conta que falta apoio e fiscalização. “Durante o tempo em que estou aqui, não vi álcool em gel disponível no terminal e sei que dentro dos veículos não tem. É uma política de cada um por si”, protesta Larissa.
 
Victor Araújo, 22, também morador de Planaltina, depende do transporte público para chegar ao trabalho, em Sobradinho. Por volta das 9h, o auxiliar de lojas chega ao terminal da cidade e aguarda o transporte. “Espero cerca de uma hora para o ônibus chegar e uma hora e meia para estar no serviço. Na volta, a mesma coisa. Essa é a minha rotina, até nos fins de semana”, diz. Ele considera que a lotação e limpeza são os principais problemas do sistema do DF. “Vejo os ônibus lotados e não percebo uma limpeza tão intensa quanto deveria ser, considerando que estamos em meio a uma pandemia.”
 
Apreensão
 
O medo de se infectar com o novo coronavírus faz parte da rotina de quem trabalha no sistema de transporte público do DF. Uma cobradora, de 47 anos, de uma empresa de ônibus do DF, que prefere não se identificar, conta que o principal problema é a falta de conscientização. “Todo dia, aparecem passageiros que não estão de máscara ou que as retiram dentro do veículo. Somos orientados a parar o ônibus e pedir que a pessoa volte a usar a máscara corretamente. Porém, isso atrasa a viagem e a rotina de todos”, ressalta. A funcionária frisa que, por diversas vezes, teve que chamar a polícia. “Existem pessoas que se recusam a seguir os protocolos. O ônibus está lotado, é preciso que nós cuidemos uns dos outros.”
 
Na profissão há 18 anos, a cobradora afirma que a pandemia transformou a realidade dos trabalhadores da categoria. “Antes, o medo era de assaltos ou de algum tipo de violência. Hoje, o maior medo é de ser infectada pelo vírus ou infectar quem está ao meu redor”, diz. “Mexo diretamente com dinheiro, por isso, tenho cuidados redobrados. Além da máscara, uso álcool para limpar meu local de trabalho, a todo momento, e luvas. Ainda assim, tenho medo.”
 
O uso de máscaras é obrigatório para todos os passageiros nos ônibus, de acordo com Decreto n° 40.648, de 23 de abril. A Secretaria de Transporte e Mobilidade (Semob) orientou os motoristas e cobradores das empresas de ônibus a informar aos passageiros sobre a obrigatoriedade e a importância do uso do acessório. A pasta afirma ainda que realizou a distribuição de máscaras nos terminais rodoviários
 
Flexibilização
 
A infectologista Heloísa Ravagnani, que atua na linha de frente do combate à pandemia no Hospital Regional de Taguatinga (HRT), confirma que o risco de contaminação dentro do transporte público é aumentado devido à dificuldade de se manter o distanciamento. “Se alguém tosse e espirra, está bem do lado. A higiene também é bem difícil, isso pode favorecer a infecção”, afirma. 
 
Por isso, a especialista destaca que as empresas de transporte e também os empregadores deveriam adotar medidas para reduzir as aglomerações dentro dos veículos, como mais ônibus em circulação,  horários alternativos de trabalho e mais tempo em home office.
 
Contudo, a médica ressalta que, diante da flexibilização das medidas de isolamento, com a retomada  da maior parte das atividades, o risco está pulverizado. “Acho complicado colocar todo o risco no transporte público, não pode crucificá-lo. É um dos focos, mas, hoje, como está tudo liberado, as pessoas podem pegar (a infecção) em qualquer lugar”, pondera. 
 
* Estagiário sob a supervisão de Guilherme Marinho
 
Lotação dos ônibus
 
Ótimo 0,71%
Bom 4,43%
Regular 9,90%
Ruim 18,21%
Péssimo 66,76%
 
Fonte: pesquisa Como anda meu ônibus
 
» Cinco perguntas para
 
A oferta de transporte público no DF gera grande insatisfação  dos usuários. Onde o governo  tem errado, historicamente?
No Brasil como um todo, o transporte público sempre foi um problema para o usuário, ao invés de ser uma solução. De primeira mão, podemos dizer o seguinte: há uma baixa oferta do volume de ônibus, por exemplo, trafegando em períodos em horários fixos e recorrentes. No DF, o rodoviarismo trouxe como consequência drástica um volume exacerbado de automóveis na modalidade individual e uma baixa oferta de ônibus para as pessoas trafegarem. O erro histórico é focar no transporte individual ao invés de focar no transporte coletivo.
 
A pandemia evidenciou problemas antigos?
Sim, ela colocou em foco os problemas que já existiam. O que vemos é que as regras de distanciamento social são absolutamente desrespeitadas. O ideal seria manter distanciamento social e manter os ônibus coletivos limpos, além de disponibilizar máscaras, por exemplo.
 
Quais são as alternativas de mobilidade urbana mais eficientes no DF?
Brasília é planejada, o que traz uma consequência muito forte em relação ao funcionamento da cidade que concentra a empregabilidade e núcleo econômico dentro do Plano Piloto — o que serve de polo atrativo de viagem, principalmente, para quem mora ao redor e precisa se deslocar para trabalhar. Medidas como integrar ciclovias e aumentar a irrigação de faixas de pedestres nas vias mais movimentadas para facilitar o deslocamento do cidadão a pé podem ser eficientes para melhorar a mobilidade urbana no DF.
 
Mudanças na gestão do modelo podem alterar essa realidade?
Sim, o atual paradigma do transporte exige do cidadão e do gestor novas adaptações, ou seja, o governo precisa viabilizar outras modalidades de transporte. Muitas regiões poderiam, em momentos de pico, priorizar uma parte das vias para o ciclista, uma para o transporte coletivo e outra, para o individual. Isso melhoraria os problemas de acidentalidade, e a fluidez do trânsito aumentaria.
 
É uma questão apenas do governo e das empresas ou os usuários podem contribuir para a melhora do sistema?
O problema é de todos. É do usuário que precisa eleger um gestor e dialogar com maior frequência com as empresas, pois todos são responsáveis pelo que acontece na nossa mobilidade. E como nós poderíamos sinalizar a possibilidade de atuação da população? Temos a participação direta na Ouvidoria de todo sistema público do DF. Outra maneira direta é a participação social por meio de órgãos ou representantes. Temos a Câmara Legislativa que faz esse papel muito bem.

Correio Braziliense domingo, 29 de novembro de 2020

CONHEÇA A HISTÓRIA DE NEGROS QUE CONSEGUIRAM IMPORTANTES CARGOS NA POLÍCIA CIVIL DO DF

Jornal Impresso

Conheça a história de negros que conseguiram importantes cargos na Polícia Civil do DF

Em mais uma reportagem da série Histórias de Consciência, o Correio conta a trajetória de quatro pessoas que precisaram concentrar o dobro de esforços para alcançar uma posição de destaque em uma das instituições mais importantes do DF

SP
Sarah Peres
postado em 29/11/2020 06:00 / atualizado em 29/11/2020 10:07
 (crédito: Ana Rayssa/CB/D.A Press - Ana Rayssa/CB/D.A Press - Ana Rayssa/CB/D.A Press - Minervino Júnior/CB/D.A Pres)
(crédito: Ana Rayssa/CB/D.A Press - Ana Rayssa/CB/D.A Press - Ana Rayssa/CB/D.A Press - Minervino Júnior/CB/D.A Pres)

luta contra a discriminação racial é árdua, dolorosa, e o resultado demora a acontecer. Cada negro carrega, dentro de si, marcas do racismo estrutural e explícito na sociedade. Ricardo nasceu na Asa Sul. Márcia Margarete, em Belém (PA). Emerson viveu em uma das quadras mais perigosas de Ceilândia. João Maciel veio ao mundo no pequeno município paulista de Estrela d’Oeste. Mesmo com origem em locais tão distantes, compartilham histórias em comum: a superação às adversidades impostas pela cor e pela classe social, e o sonho de integrar a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF).

As histórias são de conquistas, mas também de sacrifícios. Embora esses servidores tenham alcançado espaços de destaque dentro da instituição, ainda são minoria: dos pouco mais de 5,1 mil integrantes ativos e inativos da PCDF, 77 consideram-se negros — o equivalente a 1,4% do total.

Emerson Pinto de Souza, 46 anos

 (crédito: Ana Rayssa/CB/D.A Press)
crédito: Ana Rayssa/CB/D.A Press

Natural de Ceilândia
Perito e diretor do Instituto de Criminalística (IC)

“Na universidade, precisei escutar que engenharia não foi feita para ‘pé rapado de Ceilândia mudar de classe social, mas para a elite, e para formar elites’”

Emerson Pinto de Souza, 46 anos, é o filho mais velho de três irmãos. O pai deles, o carpinteiro aposentado Paulino Alves de Souza, 77, veio de uma cidade pobre do oeste de Minas Gerais, no distrito da Caatinga, em Brasilândia. A mãe, já falecida, era a merendeira Luiza Pinto de Souza, nascida em João Pinheiro (MG). Na década de 1960, Paulino veio ao Distrito Federal para ajudar a mãe dele, diagnosticada com um câncer de mama. Luiza veio como babá de uma família de servidores públicos de Patos de Minas transferida para a nova capital do país.

“Em 1970, minha avó morreu. Meu pai se viu diante de uma escolha: retornar para Caatinga e passar fome ou seguir aqui em Brasília. Ele escolheu a segunda opção, e passou a trabalhar como servente de obras, ajudando em construções da capital federal. Minha mãe morava na casa da família de servidores, na 707 Sul. Nesse período, reencontraram-se e decidiram se casar. Meu pai residia na invasão do IAPI, e acabou ganhando um lote em Ceilândia, onde iniciou a trajetória da minha família”, conta.

Paulino construiu, sozinho, um barraco na QNM 20, em Ceilândia Norte. Em 27 de abril de 1974, Luiza deu à luz o primogênito, o perito criminal Emerson. Nos quatro anos seguintes, nasceram os dois irmãos: o agente do Detran-DF Elton Pinto de Souza, 42, e a agente de execução penal Elisângela Pinto de Souza, 44. Durante cerca de 10 anos, a família dormia no único quarto da casa.

“Minha mãe era muito católica. Lembro que, ao chover, ela rezava para o nosso barraco não cair. Mas meus pais sempre foram muito dedicados e, ao longo de seis anos, juntaram dinheiro para comprar materiais e construir uma casa nova. O sonho se tornou realidade em 1984, quando nos mudamos para a residência em frente ao nosso barraquinho”, relata o diretor do IC.

Na infância, Emerson conviveu com amigos da mesma rua, brincando. Mas a violência tornou os dias obscuros. “Na primeira e na segunda morte (presenciadas), nos impactamos. Depois, tornou-se algo comum. Só quando deixei aquela realidade percebi quão violenta era minha quadra. Como perito criminal, fiz três perícias de morte violenta na QNM 20, uma delas após o homicídio de uma criança de apenas 3 anos.”

Emerson viu vários amigos se envolverem com a criminalidade e perderem a vida. Os pais, sobretudo a mãe, foram o alicerce para que o perito não escolhesse o mesmo caminho. Dedicou-se aos estudos, na esperança de uma vida melhor. “Minha mãe sempre dizia que, se a gente trabalhasse, algo bom aconteceria. Então, o otimismo nunca nos deixou cair na criminalidade, mesmo vendo como o dinheiro aparecia de forma fácil”, diz.

Seis meses após terminar o ensino médio no Centro de Ensino Médio nº 2 de Ceilândia Norte, Emerson ingressou no curso de engenharia elétrica pelo vestibular da Universidade de Brasília (UnB). “Eu brinco dizendo que, não sabendo que era impossível, fui lá e passei. Minha aprovação serviu de inspiração a outros alunos do colégio. Mas a trajetória foi árdua. Enquanto colegas chegavam ao câmpus em 15 minutos, eu levava mais de 1h30 e começava o dia exausto. Ali dentro, sofri preconceito e cheguei a ouvir que engenharia não foi feita para ‘pé rapado de Ceilândia mudar de classe social, mas para a elite, e para formar elites’.”

Emerson foi aprovado em seis concursos públicos, alguns depois de ingressar na PCDF como perito criminal, em 2002. “Apaixonei-me pela profissão. Fiquei, ao todo, oito anos na seção de morte violenta e mais seis na de crimes contra o patrimônio. Mesmo na corporação, continuei morando em Ceilândia, mas com o sonho de morar aqui, em frente ao Complexo da Polícia Civil, no Sudoeste”, afirma.

Em 2008, o perito criminal comprou um apartamento no bairro, pouco antes de perder a mãe para a diabetes. “Essa época foi muito difícil para mim, mas, também, o início de mais uma parte da minha trajetória. Quando meu pai trabalhava como carpinteiro, ajudou a construir as formas das lajes de prédios da minha quadra (na Avenida das Jaqueiras). Mesmo anos após eu viver aqui, meu pai se emociona ao ir à minha casa.”

“Em tanto tempo na Polícia Civil, também nutria o sonho de me tornar diretor do Instituto de Criminalística. Nos anos de eleição, quando é escolhido o diretor da corporação, os peritos criminais fazem uma votação para formar lista tríplice para o cargo de diretor do IC. Em 2018, coloquei meu nome e fui o segundo mais votado. Em 2019, tive a honra de ser nomeado”, frisa. Ainda que tenha chegado ao topo no departamento onde atua, Emerson considera que a trajetória profissional está em construção.

Márcia Margarete Pessanha, 52 anos

 (crédito:  Ana Rayssa/CB)
crédito: Ana Rayssa/CB

Natural de Belém do Pará

Delegada e vogal da Comissão Permanente de Disciplina (CPD)

“Tinha passado por diversas discriminações raciais. Perdi muitas oportunidades por simplesmente ser quem sou”

A delegada Márcia Margarete Pessanha, 52 anos, nasceu em Belém do Pará, em 4 de agosto de 1968, filha de mãe solo, a costureira Edda Rodrigues. É a mais velha entre os irmãos e viveu no estado da região Norte até os 6 anos, quando a mãe recebeu uma proposta de trabalho no Rio de Janeiro, em uma fábrica de tecidos. A família, acompanhada da avó materna e também costureira, Maria Rosa Rodrigues, passou a morar na Cidade de Deus.

Edda passava a semana inteira fora de casa. As crianças ficavam sob a supervisão da avó. Cresceram em meio à violência, entre os anos 1970 e 1980 — mesmo período retratado no filme dirigido por Fernando Meirelles e codirigido por Kátia Lund, inspirado no romance homônimo de Paulo Lins.

“Minha família era católica, mas não podíamos ir às missas, por medo da violência. Quando criança, minha grade de ensino não era totalmente cumprida, por falta de professores. Eles tinham medo de entrar na comunidade. O índice de mortes, tanto de envolvidos no crime quanto de moradores, por bala perdida era alto. Em meio a tudo isso, nossa avó se dedicava a nos orientar a buscar o caminho do esporte, dos estudos e a não sucumbir à criminalidade da Cidade de Deus”, conta Márcia Margarete.

Como a mais velha dos filhos, a delegada encarou responsabilidades desde muito nova, dentro de casa, auxiliando na criação dos irmãos. Conciliava os cuidados da família com os estudos. “Minha avó acreditava demais no meu potencial e sempre me incentivava, dizendo que eu poderia ir longe na vida. Até hoje, eu me recordo das palavras dela, quando eu ainda era criança: ‘Você precisa ler muito, pois um dia se tornará doutora’”, narra, emocionada.

Com o objetivo de crescer na vida e não se tornar estatística da violência, Márcia Margarete passou a se dedicar aos esportes. Aos 15 anos, integrou o Programa de Esporte da Fundação Roberto Marinho, no atletismo. “Foi assim que dei o primeiro passo para mudar minha história, pois consegui uma bolsa de estudos no Centro Universitário Augusto Motta e fiz o curso de fisioterapia. Eu me tornei a primeira da família a ingressar em uma faculdade. Infelizmente, minha avó não pôde presenciar essa vitória, porque morreu de câncer aos 66 anos”, lamenta a delegada.

A investigadora trabalhou como fisioterapeuta por 18 anos, mas não deixou para trás um sonho incentivado pela avó Maria Rosa: estudar direito. Ingressou na segunda faculdade, em 1999, na Universidade Estácio de Sá. “Em meio aos estudos, nasceu em mim a vontade de ser delegada. (Estava) quase com 30 anos. Nessa época, tinha passado por diversas discriminações raciais. Perdi muitas oportunidades por simplesmente ser quem sou. Como mulher e negra, eu podia ser sempre a mais gostosa, mas jamais a mais inteligente e competente.”

“Com toda a minha bagagem, tinha plena consciência de que o primeiro braço que oprime mulheres como eu era a polícia. Eu poderia fazer a diferença nesse meio e servir de exemplo. Também vi no concurso público a chance de alcançar a mudança de vida sem que eu precisasse encarar preconceito racial. Eu poderia ingressar na Polícia Civil do Distrito Federal pelo meu estudo, e nada poderia me impedir de conquistar isso.”

Márcia Margarete conciliou o trabalho como terapeuta, os estudos para a faculdade e a preparação para a prova da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) com as lições para o concurso da PCDF. “Durante anos, questionavam o porquê de eu, favelada e negra, querer ser delegada. Ouvia que não seria capaz. Mas tais falas e perguntas não afetaram minha autoestima, tampouco os meus objetivos”, destaca. No fim de 2004, ela passou em 20º lugar para o cargo de delegada de polícia no Distrito Federal. “Ao ser aprovada, tive noção de que a vida das próximas gerações da minha família seria diferente. Digo isso porque nem nos meus melhores sonhos eu poderia imaginar como vivo hoje”, acrescenta.

Por quase dois anos, a delegada chefiou a 23ª Delegacia de Polícia (P Sul, em Ceilândia). Na comunidade da região, Márcia Margarete desenvolve projetos sociais de inclusão de crianças e adolescentes pelo esporte. Ela também participa de palestras em escolas públicas, com o objetivo de inspirar novas gerações. “O racismo estrutural existe, e nós o vemos desde a escola, onde se reproduzem preconceitos. É lamentável, e muitos desistem por não aguentarem as marcas dele. Hoje, tento ser a representatividade que não tive na infância e, mais do que qualquer coisa, mostrar que é possível vencer as adversidades e construir uma vida diferente e melhor”, pontua Márcia Margarete, que participará do programa esportivo World Police & Fire Games, em Rotterdam, na Holanda, em 2022.

Ricardo Nogueira Viana, 50 anos

 (crédito: Ana Rayssa/CB)
crédito: Ana Rayssa/CB

Natural de Brasília
Delegado-chefe da 6ª Delegacia de Polícia (Paranoá)

“Quando o negro consegue, luta e conquista a ascensão social, mas passa a ser ‘tolerado’. Principalmente no campo das ideias, toda vez que se depara com um branco, essa ferida, ou seja, a cor da pele, é tocada”

Ricardo Nogueira Viana, 50 anos, nasceu e cresceu na Asa Sul, na companhia dos pais — o segurança Antônio José Viana, 83, e a dona de casa Raimunda Nogueira Viana, 87 —, além de oito irmãos. A família chegou a Brasília com a mudança da capital do país, em 1960, quando o pai conseguiu um emprego no Senado com a ajuda do político Vitorino Freire.

“Meu pai era de São Luís, e minha mãe, de Rosário, ambas cidades do Maranhão. Eles se conheceram na capital (maranhense) e se casaram, em 1953. Naquela época, meu pai tinha conseguido emprego de motorista para Vitorino, que, posteriormente, tornou-se senador. Com o novo cargo político, minha família foi, primeiro, para o Rio de Janeiro e, então, Brasília. Aqui, ele passou a ser segurança do Senado”, detalha Ricardo.

Posteriormente, a família comprou um imóvel na 709 Sul. “Meu pai conseguiu pagar a casa com parcelamentos que duraram anos, mas sem juros”, conta. Embora Ricardo morasse em região de alto poder aquisitivo, não tinha as mesmas condições financeiras que os amigos de infância. “Éramos uma família muito grande, e o que sobrava em carinho faltava economicamente. Nunca passamos fome, mas encaramos dificuldades. Apesar de o salário do Senado ser razoável, não era o suficiente para o sustento de 10 pessoas. Era aí que minha mãe se virava para complementar a renda. Ela chegava a vender marmitas, para que nada nos faltasse”, recorda-se.

O delegado estudou em escolas públicas e, já no primário, encarou o preconceito racial. Ele chegou a ser o único negro da Escola Classe 308 Sul: “Desde novo, tenho (vivido) situações de racismo latentes; a maioria velada, mas muitas ostensivas. Todas as discriminações me marcaram. Digo que essas minhas histórias são guardadas em uma caixinha preta e, cada vez que sofro racismo, revivo tudo de novo”.

Apesar disso, Ricardo não perdeu a esperança de crescer. Aos 11 anos, pediu aos pais para fazer o primeiro de muitos concursos: a prova para ingressar no Colégio Militar. “Como minha família não tinha condições financeiras para bancar escolas particulares a mim ou aos meus irmãos, vislumbrei que o ensino militar seria a melhor forma de conseguir um estudo de qualidade”, diz.

O delegado estava na sexta série — atual sétimo ano — quando passou na prova do colégio. No entanto, a norma era de que os estudantes entrassem na quinta série e, por isso, Ricardo decidiu repetir o ano anterior. “Na juventude, descobri a paixão pelos esportes e passei a me dedicar ao judô. Eu me tornei faixa preta. Mal sabia que essa vocação seria fundamental para meu crescimento profissional”, observa.

Em 1990, Ricardo formou-se no ensino médio e conseguiu entrar para o curso de educação física da Universidade de Brasília (UnB), mas não desistiu do sonho de estudar direito. Passou a dar aulas de judô para pagar a segunda graduação. “Em 1993, comecei a cursar direito no UniCeub. Era uma rotina extremamente puxada, porque dividia o tempo com as grades da UnB e com as aulas de judô. Ao fim do semestre, eu me desesperava, mas, com muita dedicação, conseguia honrar meus compromissos. Foi com sacrifícios que consegui chegar aonde estou.”

Na primeira graduação, Ricardo recebeu o diploma em 1996. O delegado já havia sido aprovado em três concursos públicos. Chegou a assumir uma cadeira como professor de educação física na Secretaria de Educação, porém, no mesmo ano, foi aprovado em primeiro lugar como agente da Polícia Civil do DF. “Optei pela carreira policial, que era o meu sonho”, conta.

Após entrar na PCDF, o servidor formou-se em direito, em 1999. Sete anos depois, alcançou o sonho de se tornar delegado de polícia e, mesmo com a ascensão, encarou situações de racismo. “Há 10 anos, em uma viagem ao Rio de Janeiro, fui atacado por um homem branco, de dois metros (de altura) e olhos verdes. Havia acabado de chegar ao hotel com minha família, em Ipanema, e ele partiu para cima de mim e dos que amo, dizendo: ‘Seu bando de macaco, o lugar de vocês é no galho, comendo banana. Vão embora para a África’.”

Em 2020, a história se repetiu, com pouca mudança no enredo. Dessa vez, o delegado estava em uma lanchonete do Lago Sul quando foi empurrado e chamado de “macaco”. O Correio denunciou o caso, que teve repercussão nacional. “Nesse episódio, em 8 de agosto, fiquei em evidência. Como afrodescendente, posso afirmar que esse não foi o primeiro e nem (será o) último episódio de racismo”, lamenta Ricardo.

“Quando o negro consegue, luta e conquista a ascensão social, mas passa a ser ‘tolerado’. Principalmente no campo das ideias, toda vez que se depara com um branco, essa ferida, ou seja, a cor da pele, é tocada. Falo por aqueles que, como eu, são discriminados. Vidas negras importam. Nossas semelhanças precisam ser maiores que as diferenças. Nós, negros, exigimos respeito.”

João Maciel Claro, 44 anos

 (crédito: MINERVINO JUNIOR                    )
crédito: MINERVINO JUNIOR

Natural de Estrela d’Oeste (SP)
Delegado-chefe da 3ª Delegacia de Polícia (Cruzeiro)

“Como delegado, posso ser o primeiro a evitar que erros aconteçam. De fato, é melhor um culpado livre do que um inocente encarcerado”


O delegado João Maciel Claro, 44 anos, é o mais novo de nove irmãos. Nasceu no interior de São Paulo, em Estrela d’Oeste, onde acompanhou de perto a profissão dos pais. Francisco de Assis Claro e Neuza Senhora de Jesus Claro morreram aos 64 e aos 70 anos, respectivamente. Trabalhavam como lavradores em fazendas de café. O casal era analfabeto, mas incentivava os estudos dos filhos.

João Maciel trabalhou até os 20 anos como meeiro em plantações de café — profissão rural com foco na colheita dos grãos. No serviço, ficava com 40% do lucro, e os donos da produção, com 60%. Ao longo da vida, o investigador viu os irmãos deixarem as lavouras para estudar e, no início da juventude, seguiu o mesmo destino. Mudou-se para Presidente Prudente (SP), onde moravam os irmãos Lorival Marcolino Claro, 55, e Donizete Maciel Claro, 54. “Ali, tentei diversos empregos, mas não conseguia nada. Hoje, reflito muito sobre essa fase. Não era por falta de dedicação, mas será que era tão incompetente a ponto de não conseguir um trabalho por três anos?”, reflete.

Desempregado, João Maciel dedicou-se aos estudos e, aos 23 anos, conseguiu passar no concurso para segurança do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP), no Fórum de Regente Feijó. “Então, consegui ingressar na Instituição Toledo de Ensino, para cursar direito. Trabalhava à noite, em escala, e estudava pela manhã. Mas, na Corte, contei com a ajuda de colegas, sobretudo da juíza Flávia Alves Medeiros, que me permitia estudar na biblioteca local”, detalha. “Durante o período da faculdade, fui muito marginalizado. Todo mundo dizia que eu não conseguiria me formar, imagina passar em concurso público. Mas não esmoreci. Via meus irmãos conquistando o espaço deles e não deixei que as dificuldades me afastassem dos meus sonhos”, acrescenta.

Aos 29 anos, João Maciel passou no concurso da Polícia Civil do DF — antes mesmo de pegar o diploma de bacharel em direito, ao defender uma monografia sobre a importância das cotas raciais. “À minha época, não havia cotas. Mas trata-se de uma política pública necessária. Na história do nosso país, o negro era escravizado. Mesmo após a abolição da escravatura, foram deixados às margens da sociedade. Deveriam ter pago os serviços dos negros, mas, em vez disso, preferiram contratar a força de trabalho italiana. O Brasil tem, sim, uma dívida histórica com todos os negros. É preciso que sejamos inseridos em espaços onde não conseguimos abertura. Os negros ajudaram a construir nosso país, e isso não é reconhecido até hoje”, enfatiza.

João Maciel mudou-se para Brasília para assumir o cargo de delegado. Durante o curso de formação, viveu mais de uma situação de racismo pelas ruas da capital federal. “Estava lotado em Ceilândia e acompanhado de um amigo, também delegado, que está aposentado. Estávamos comendo em uma lanchonete no centro da cidade, caracterizados (como profissionais). Pouco tempo depois, chegou uma viatura. Cumprimentamos os policiais e eles relataram que estavam ali por nossa causa. (Pessoas da lanchonete) acharam que éramos bandidos”, conta o servidor público.

Outro caso vivido pelo investigador ocorreu em uma lan house, também em Ceilândia e com o mesmo delegado aposentado. “Fomos conferir o resultado das provas de formação da PCDF. Meu amigo acabou perdendo a chave do carro dele, um Corsa, e acionou o seguro. Porém, precisamos esperar e ficamos ao lado do veículo. Acionaram 10 vezes a Polícia Militar, e fomos abordados em todas as ocasiões. Mesmo vendo que os policiais falavam conosco e iam embora, os moradores ligavam novamente para a corporação”, relata João Maciel.

O policial acrescenta que, para muitos, integrantes das forças de segurança podem parecer preconceituosos, pois a discriminação racial é generalizada. “Infelizmente, a maioria dos crimes ocorre em (áreas onde vivem) populações pobres, majoritariamente formadas por negros ou pardos. Isso justifica a maior concentração dessas pessoas entre as que têm problemas com a Justiça. Porém, tais índices aparecem não pelo tom de pele, mas pelas condições de marginalização às quais essas populações estão sujeitas. Como delegado, posso ser o primeiro a evitar que erros aconteçam. De fato, é melhor um culpado livre do que um inocente encarcerado”, finaliza.


Correio Braziliense sábado, 28 de novembro de 2020

BLACK FRIDAY: FIM DE SEMANA QUENTE NO COMÉRCIO

Jornal Impresso

Fim de semana quente no comércioBlack
 
Friday promete promoções até domingo no DF, movimentando R$ 230 milhões e dando sinais de como será o consumo no Natal. Varejo aposta em descontos que passam de 40% e nas vendas on-line. Especialistas alertam: cuidado com golpes

 

» Alan Rios

Publicação: 28/11/2020 04:00

Eletrodomésticos, eletrônicos, celulares e móveis destacam-se entre os produtos mais procurados pelos consumidores nesta edição, segundo lojistas (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  

Eletrodomésticos, eletrônicos, celulares e móveis destacam-se entre os produtos mais procurados pelos consumidores nesta edição, segundo lojistas

 


Cartazes pretos estampam as lojas do Distrito Federal com descontos, queimas de estoque e promoções de uma das datas mais esperadas para o comércio no ano, a Black Friday. As ofertas começaram, oficialmente, ontem, mas os lojistas aproveitaram o bom momento para tentar minimizar as perdas provocadas pela pandemia e estenderam o evento até domingo. Segundo pesquisa do Sindicato do Comércio Varejista do DF (Sindivarejista), as vendas podem subir 3% na data deste ano, contra um aumento de 4% em 2019. O levantamento mostra que tem descontos acima de 45%, movimentando R$ 230 milhões, com gasto médio de compras entre R$ 210 e R$ 250, na capital.
 
“Como dia 30 é feriado, as vendas podem durar até segunda-feira. As pessoas ficaram ansiosas com a Black Friday, o movimento nos shoppings, lojas e sites está muito bom. O lojista sabe que não tem como enganar o consumidor, dizendo que tem um desconto de 40%, mas na verdade é só 5%, porque as pessoas pesquisam muito os preços, a internet contribui com isso”, avalia o presidente do Sindivarejista-DF, Edson de Castro. Para ele, as novas tendências de consumo e hábitos de vida deste ano de pandemia e isolamento social influenciam diretamente nos tipos de produtos mais comprados. “Os eletrodomésticos são mais procurados, até porque, aos finais de ano, lançam modelos novos, e os antigos são colocados em liquidações. Celulares e televisores são os mais vendidos, principalmente, pela internet. Nas lojas físicas, perfumaria e sapato aquecem, como uma antecipação do Natal”, diz Edson.
 
Ricardo Alves, 41 anos, renovou os eletrodomésticos de casa. “Comprei um micro-ondas que achei em uma boa promoção, porque vi diferenças grandes de preço de uma loja para outra. Nos últimos meses, adquiri um grill e uma fritadeira para nossa cozinha”, detalha o segurança, morador de São Sebastião.
 
Internet
O Sindivarejista aponta que as vendas pela internet representaram 41% do faturamento das lojas na Black Friday em 2019, algo que deve crescer em 2020 por conta das recomendações de distanciamento social. Expectativa é de que chegue a 60% até a noite de domingo. Camila Canuto, 43, é gerente de uma loja de roupas e diz que o ambiente virtual chegou para ficar. “As pessoas estão comprando mais on-line, com as opções que demos de trocar o produto em uma loja física, assim, não tem erro. Este ano, o cliente pode esperar promoções de roupas que ficaram no estoque durante o fechamento do comércio, trabalhamos com peças que chegam a 80% de desconto”, calcula.
 
Há, também, quem goste de aliar os dois ambientes, virtual e presencial. Bruna Sabóia, 24, conta que cada um deles tem benefícios. “Esses dias, usei um aplicativo que mostra as promoções do mesmo produto em diferentes sites. Mas, nas lojas físicas, gosto de ver a qualidade do que estou comprando, é mais fácil verificar. Aproveitei a data e esses descontos para levar um filtro, uma blusa e um brinquedo para meu filho”, explica a estudante, mãe de Davi Sabóia, 2 anos. Marta Lima, 41, usa todos os artifícios para encontrar o melhor preço. “Pesquisei na internet e pesquisei nas lojas do shopping antes de comprar uma batedeira e um liquidificador. A gente tem que fazer isso, porque, senão, compra por um valor e, depois, encontra bem mais barato”, aconselha a auxiliar de serviços gerais.
 
Presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Distrito Federal (Fecomércio-DF), Francisco Maia lembra que o pequeno empresário foi o que mais sofreu com a crise econômica dos últimos meses, mas pode aproveitar a data para inovar. “O que falamos, todo dia, é que os empresários precisam se adaptar a esse ambiente da internet. Os pequenos negócios precisam de ferramentas on-line, porque podem perder espaço para grandes empresas. Até do ponto de vista da economia local, isso é ruim, diminui o faturamento da região”, pontua. Com a proximidade da data mais aguardada pelo varejo, Francisco crê em bons números. “Uma pesquisa nossa mostrou que o Distrito Federal deve ter um crescimento de 2,2% nas vendas do Natal deste ano, e a Black Friday é como se fosse uma prévia natalina”.
 
Segurança
A intensificação do e-commerce traz alternativas ao consumidor, mas acende alertas. Especialistas em segurança digital ressaltam que, neste período da Black Friday, aumentam os casos de golpes pela internet. Para evitar cair em armadilhas, algumas dicas são essenciais. “Desconfie de promoções absurdas. Muitos criminosos criam sites falsos ou, até mesmo, enviam e-mails se passando por outras instituições. O nome dessa prática é phishing. O objetivo dos criminosos, nesse caso, é induzir a vítima a inserir dados pessoais e bancários para aplicar algum golpe financeiro como, por exemplo, capturar o número do cartão de crédito”, detalha o consultor de tecnologia Luís Felipe Taveira.
 
Uma ferramenta que pode auxiliar na hora de dar segurança ao cliente é o cadeado exibido na barra do endereço eletrônico do site, que mostra que aquela página tem proteção para informações pessoais. “Também, pesquise o nome da loja em mecanismos de busca, insirindo a palavra ‘golpe’ ou ‘fraude’ em seguida. Se aparecerem resultados de produtos não entregues ou de qualidade aquém do esperado, fuja daquela loja”, avisa Luís. Neste ano, as compras por cartões de crédito devem representar 97% do faturamento das lojas. Para o consumidor do e-commerce, outro caminho para dar segurança é a utilização do cartão virtual — gerado para ser usado apenas uma vez, evitando roubo e uso desses dados.
 
 
 
Palavra de especialista
 
Novas tendências
 
O carro-chefe da Black Friday, geralmente, são eletrodoméstico, eletrônicos, principalmente, televisor e aparelho de telefonia. Percebemos que aumentou a demanda por objetos de casa, cozinha, estofados e cafeteira. Como o consumidor ficou mais tempo em casa, teve aquela vontade de substituir um produto mais antigo, reformar algo. O home office trouxe a necessidade de ter uma mesa de escritório, um aparelho que atenda melhor ao serviço. Vimos que as lojas de telefonia tiveram um bom movimento nos últimos meses, muita gente querendo substituir um plano ou trocar de celular, por exemplo.
 
Ticiana Pessoa, gerente de marketing regional do Conjunto Nacional
 
 
 
Higienização e prevenção
 
O Conselho Federal de Química (CFQ) preparou materiais educativos sobre higienização de produtos e objetos diante a urgência da prevenção contra a covid-19. Um vídeo explica o passo a passo de como evitar a infecção ao chegar com compras em casa. “Higienize as mãos, com água e sabonete ou álcool 70%, e retire todas as compras das sacolas plásticas ou retornáveis que foram utilizadas. Lembre-se de descartar as sacolas ou higienizá-las antes de serem reutilizadas. Embalagens que não entram água devem ser lavadas com água e sabão ou com pano embebido em álcool 70%. Embalagens permeáveis devem ser higienizadas com um pano e álcool em gel 70%”, informa o CFQ.
 
 
Conjuntura
 
Expansão das vendas
3%* em 2020 x 4% em 2019
 
Vendas pela internet
60%* do faturamento das lojas em 
2020 x 41% em 2019
Gasto médio
R$ 240* em 2020 x R$ 280 em 2019
 
Injeção no comércio
R$ 230* milhões em 2020 x R$ 280 milhões em 2019
 
*Expectativa
 
Fonte: Sindivarejista-DF

Correio Braziliense sexta, 27 de novembro de 2020

OLHAR SOBRE A SAÚDE MENTAL DOS NEGROS

Jornal Impresso

 Olhar sobre a saúde mental dos negros

 

ENTREVISTA / ANA LUíSA COELHO MOREIRA, PSICóLOGA E DOUTORANDA EM PSICOLOGIA CLíNICA E CULTURA PELA UNIVERSIDADE DE BRASíLIA (UNB) 

 

» CIBELE MOREIRA

Publicação: 27/11/2020 04:00

 (Ana Rayssa/CB/D.A Press)  
Em entrevista ao programa CB. Saúde, parceria do Correio Braziliense com a TV Brasília, a psicóloga e doutoranda em psicologia clínica e cultura pela Universidade de Brasília (UnB) Ana Luísa Coelho Moreira falou, ontem, sobre a saúde mental da população negra. Pesquisadora na área de psicologia, relações raciais, mulheres negras, direitos humanos e políticas públicas, ela exemplifica como situações de racismo estrutural impactam no sofrimento psíquico da população negra. “A partir do momento que você acorda, a sua negritude é questionada, e conviver com isso gera uma série de sintomas. Como, por exemplo, a de não acreditar em si”, afirma.
 
 
Por que é importante fazer esse recorte étnico-racial e falar sobre a saúde mental da população negra?
Cerca de 54% da população brasileira são compostos de pretos e pardos. Então, quando se fala da saúde mental com esse olhar para a população negra, estamos falando da população brasileira e da maioria dela. Se for pensar historicamente o que nos levou a todo esse acometimento de doenças e transtornos ligados à saúde mental, temos a questão do colonialismo, da escravidão, e a própria forma como nosso povo preto foi marginalizado. Acho que é de fundamental importância que a gente possa focar e trazer essas dimensões raciais para pensar a saúde mental.
 
 
Pesquisas mostram que a população negra é a que mais sofre com o estresse crônico. O que isso representa no dia a dia?
Ser hipervigilante o tempo todo é colocar em dúvida a sua própria existência. A partir do momento que você acorda, a sua negritude é questionada, e conviver com isso gera uma série de sintomas. Como, por exemplo, a de não acreditar em si. E se você não acreditar em si, logo, você não vai buscar determinadas coisas, porque não vai ter forças para isso. O que pode gerar uma tristeza profunda. Muitos delírios psicóticos podem vir, também, desse lugar, por não se reconhecer nesse corpo. O que faz com a pessoa queira desejar um corpo que pode ser aceito.
 
Por que situações de racismo corriqueiro não são levadas ao psicólogo?
Primeiro, que o acesso ao atendimento clínico na psicologia, na psiquiatria, das terapias de uma forma geral, é muito elitizado. A maioria das pessoas que procura a terapia é branca, porque tem condições de pagar. Tem uma questão socioeconômica, mas tem uma questão, também, do entendimento de que eu posso cuidar da minha saúde mental. Para as pessoas negras, não chega essa oportunidade de pensar que é possível, tanto pela questão financeira, mas, também, por acreditar. E, quando essa pessoa negra chega lá, no consultório, é comum que questões de racismo sejam tão naturalizadas que ela não entenda que uma determinada situação faz parte de um racismo estrutural. Por isso, a importância de psicólogos negros, psicólogas negras e do que a gente chama da psicologia preta.
 
Você pode dar exemplos de intervenções, na prática, de como a psicologia preta pode ajudar uma pessoa em sofrimento por questões raciais?
Uma delas é a gente começar a nomear essa dor. Trazer à tona, dentro dessa escuta clínica, o quanto que é essa dor que vai ser relatada e entender que isso faz parte de um racismo estrutural é um dos caminhos.
 
Fale um pouco sobre o trabalho com mulheres em situações de rua.
Tem sido um trabalho muito interessante, primeiro por ser uma população invisível. Se a gente fizer um recorte para as mulheres, elas são ainda mais invisíveis, sendo 20% de toda a população em situação de rua. Imagine eu sentada ali, no chão da rodoviária, fazendo uma psicologia clínica, uma psicologia preta com mulheres em situação de rua, porque foi o momento em  elas quiseram conversar comigo. E, a partir do que a pessoa está te trazendo, valorizá-la como sujeito.

Correio Braziliense quinta, 26 de novembro de 2020

200 MIL VÊM DIARIAMENTE AO DF PARA TRABALHAR

Jornal Impresso

200 mil vêm diariamente ao DF para trabalhar
 
Pesquisa de Emprego e Desemprego da Codeplan contempla 12 cidades do Entorno e constata que 42% da população desses municípios trabalham na capital federal. Estudo observou que esses profissionais têm mais dificuldades relativas à recolocação

 

» ALAN RIOS

Publicação: 26/11/2020 04:00

Segundo Franquelino, a passagem mais cara é obstáculo para o trabalhador do Entorno (Minervino Júnior/CB/D.A Press)  

Segundo Franquelino, a passagem mais cara é obstáculo para o trabalhador do Entorno

 


A região conhecida como Entorno é parte ativa da movimentação do mercado de trabalho do Distrito Federal. A Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), divulgada ontem, pela Companhia de Planejamento (Codeplan), analisou, pela primeira vez, essa ligação entre cidades de Goiás e do DF, e concluiu que 42% da população do Entorno trabalham na capital federal. São cerca de 200 mil pessoas saindo diariamente de municípios que compõem a chamada Periferia Metropolitana de Brasília (leia Para saber mais). Enquanto uma parcela dessa população enfrenta longos trajetos e preços de passagens de ônibus mais caras para se deslocar ao serviço, por exemplo, outra parte convive com a falta de oportunidade no mercado. A taxa de desemprego dessas cidades ficou em 25,6% em outubro, maior do que o índice do DF (18,5%) e do grupo de baixa renda da capital (23,9%).
 
“Realizamos a pesquisa com dados da Área Metropolitana de Brasília para entender esse fluxo de pessoas, onde trabalham, qual o perfil delas, os empregos que ocupam, e, assim, poder auxiliar na formulação de políticas públicas para essas regiões”, explicou o presidente da Codeplan, Jean Lima. Para ele, incluir essas cidades do Entorno no levantamento de emprego e desemprego do DF permite visualizar melhor a realidade da capital. Os resultados mostram que o tipo de trabalho exercido pela população da periferia metropolitana costuma ser menos valorizado. Enquanto o rendimento médio mensal dos assalariados na capital é de R$ 4.285, no Entorno é de R$ 1.775.

Iris Daiana avalia que é mais dificil encontrar emprego no Entorno do que no DF (Minervino Júnior/CB/D.A Press)  

Iris Daiana avalia que é mais dificil encontrar emprego no Entorno do que no DF

 

Ao todo, 78,9% habitantes ocupados da Periferia Metropolitana de Brasília trabalham nos setores de serviços ou comércio e reparação. São majoritariamente homens (57,9%), têm entre 25 a 49 anos (67,5%) e tiveram empregos anteriores (90%). Franquelino Ângelo Souza, 49 anos, encaixa-se nesse perfil e conta que existem muitas dificuldades de qualificação. “Moro em Águas Lindas, porque foi lá que consegui comprar meu lote, e vejo que só consegue trabalhar em Brasília quando a pessoa já é profissional, tem experiência. Quem está começando não consegue emprego”, avalia o técnico de manutenção.
 
Transporte
Franquelino é usuário do transporte público e lembra que essa é uma barreira a mais para a população do Entorno. Nas linhas de ônibus do DF, a passagem mais cara custa R$ 5,50. Nas linhas do Entorno, há locais em que a tarifa passa de R$ 10. “Quando alguém de Águas Lindas, Valparaíso ou alguma outra cidade de Goiás vai para uma entrevista de emprego, é praticamente obrigado a mentir e dar um endereço do DF, porque eles sabem que vão ter que pagar uma passagem mais cara, que a pessoa vai demorar mais a chegar no serviço. Graças a Deus, não foi o meu caso, mas vejo muito disso e um certo preconceito com quem vem do Entorno”, argumenta. Atualmente, a População Economicamente Ativa (PEA) da periferia metropolitana é composta de 615 mil pessoas, sendo que 157 mil estão desempregados. Ao todo, 29,3% desses empregados são trabalhadores autônomos ou domésticos, enquanto 41,2% possuem carteira assinada em empresa privada.
 
A doméstica Iris Daiana, 38, mora em Valparaíso e trabalha na Octogonal. “Quem mora lá e trabalha aqui sabe que tem muita coisa que dá para melhorar. O transporte público, por exemplo, é caro e vive lotado. Quem não tem emprego tem dificuldade de conseguir no DF e ainda mais no Entorno”, observa. Também é essa a visão de Antônio Pereira Santos, 50. “Sempre foi difícil conseguir emprego, mas agora, na pandemia, as oportunidades tanto em Goiás quanto em Brasília quase não aparecem mais”, diz o morador de Céu Azul e terceirizado de uma empresa que presta serviço para o Senado Federal.
 
Recortes
O contingente de desempregados no DF, em outubro, foi estimado em 295 mil pessoas — 7 mil a mais do que o observado em setembro. A taxa de participação, que diz respeito à proporção de pessoas com 14 anos ou mais incorporadas ao mercado de trabalho como ocupadas ou desempregadas, porém, aumentou de 62,7% para 63,6%. Entre setembro e outubro, o índice de desemprego da capital diminuiu nas regiões de baixa renda, de 24,9% para 23,9%; e nas regiões de média-alta renda, de 16,4% para 16,0%; mas aumentou nas regiões de média-baixa renda, de 21,0% para 22,2%. No mesmo período, entre a população negra, o desemprego subiu de 20,3% para 20,6%, enquanto diminuiu de 15,3% para 15,1% para não negros.
 
Qualificação
Um dos caminhos para combater o desemprego é promover a qualificação profissional. Secretário de Trabalho do DF, Thales Mendes Ferreira avalia que a pesquisa permite que as ações feitas pela pasta possam ser aprimoradas. “A gente sabe que, quanto mais qualificação, mais condições a pessoa tem de disputar uma vaga no mercado. Por isso, temos feito várias ações na secretaria, como o programa Renova-DF, que dá aulas e bolsa de estudo no valor de um salário mínimo para 3 mil pessoas. Também iniciamos outro programa recente de qualificação e requalificação de pessoas, com 4 mil vagas, que foram procuradas por 11 mil inscritos. Esse é um dos nossos caminhos para combater o desemprego neste ano e em 2021”, adianta.
 
Thales lembra as dificuldades dos moradores do Entorno analisadas pelo estudo, mas diz que o levantamento facilita as interlocuções entre os governos do DF, de Goiás e o federal. “A pesquisa mostra a necessidade de ter uma política pública mais estruturante, que é uma grande discussão há muito tempo. Na área da saúde, por exemplo, temos a realidade de que muitos moradores de Goiás precisam do sistema do DF. Observamos que a questão do preço da passagem é impeditiva. Então, há um alerta para gestores estaduais e federais, que precisam discutir uma política pública nacional de fomento ao emprego. Isso não pode ser pensado de forma egoísta, voltada só para o nosso estado”, defende. O secretário ressalta o trabalho realizado pela Agência do Trabalhador, calculando uma média de 800 a mil vagas divulgadas diariamente.
 
 
Para saber mais
 
Área Metropolitana
 
A Área Metropolitana de Brasília é composta pelo Distrito Federal e por 12 municípios goianos: Luziânia, Valparaíso de Goiás, Novo Gama, Cidade Ocidental, Santo Antônio do Descoberto, Águas Lindas de Goiás, Planaltina, Formosa, Padre Bernardo, Alexânia, Cristalina e Cocalzinho. Excluindo-se o DF, essas 12 cidades constituem a denominada Periferia Metropolitana de Brasília. A Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e do Entorno (Ride-DF), é mais ampla. Ela contempla 33 municípios, sendo 29 de Goiás e quatro de Minas Gerais, além do Distrito Federal.
 
 
Cenário
 
Distrito Federal
 
2.498 milhões
População em Idade Ativa
 
1.295 milhão
Ocupados
 
295 mil
Desempregados
 
Periferia Metropolitana de Brasília
 
918 mil 
População em Idade Ativa
 
458 mil
Ocupados
 
157 mil
Desempregados

Correio Braziliense quarta, 25 de novembro de 2020

JOFRAN FREJAR: COMOÇÃO NO ADEUS

Jornal Impresso

DESPEDIDA
 
Comoção no adeus a Frejat
 
Cerca de 300 pessoas foram ao cemitério Campo da Esperança, ontem, para prestar homenagens ao político. O ex-secretário de Saúde do DF e ex-deputado federal morreu, na segunda-feira, aos 83 anos

 

» BÁRBARA FRAGOSO

Publicação: 25/11/2020 04:00

Familiares e amigos rememoraram legado do médico cirurgião; corpo seguiu para crematório em Valparaíso (GO) (Minervino Júnior/CB/D.A Press)  

Familiares e amigos rememoraram legado do médico cirurgião; corpo seguiu para crematório em Valparaíso (GO)

 


Criador de imunizante contra a pólio, o médico Albert Sabin (E) em campanha de vacinação a convite de Frejat (D), nos anos 1980 (Arquivo/GDF)  

Criador de imunizante contra a pólio, o médico Albert Sabin (E) em campanha de vacinação a convite de Frejat (D), nos anos 1980

 



Sentimentos de gratidão e de saudade marcaram as inúmeras homenagens de familiares e amigos a Jofran Frejat. O piauiense de 83 anos, ex-deputado federal e ex-secretário de Saúde do Distrito Federal, morreu na noite de segunda-feira, devido a um câncer no pulmão diagnosticado no mês passado. Cerca de 300 pessoas participaram da cerimônia de despedida dele, na tarde de ontem, no Cemitério Campo da Esperança. Após o velório, o corpo seguiu para o crematório Jardim Metropolitano, em Valparaíso (GO).
 
}Frejat estava internado em um hospital particular da Asa Sul havia 15 dias. Pessoas mais próximas não conseguiram conter a emoção durante o velório. Em meio a lágrimas, Graziela Frejat, filha do político, contou que o pai, além de “um homem público especial”, era maravilhoso. “É uma perda muito grande. Ele era muito protetor, amigo, carinhoso e amoroso. A família inteira o acompanhava no hospital, incluindo mulher, filhos, sobrinhos e amigos. Formou-se uma corrente muito grande de ajuda. Esses últimos 20 dias foram muito sofridos”, lamentou.
 
Sobrinha de Jofran, Adélia Frejat lembra-se do período em que acompanhou o tio de perto, a partir de 1986. “Uma parte da gente foi embora. Ele deixa um legado incrível e importantíssimo. Tinha muito compromisso com a saúde e preocupava-se com a pública. Consola a família saber que ele foi uma pessoa competente”, desabafou.
 
Presente à cerimônia, o vice-governador do Distrito Federal, Paco Britto (Avante), comentou que o médico era um exemplo a ser seguido por toda a população do DF. “Estou muito triste. Perdi um amigo que participou da minha vida pública desde o começo, ao lado de Joaquim Roriz. Ele sempre estava pautado com as próprias ideias, independentemente de partido. E colocava a opinião dele. Desejo à família muito conforto, sabendo que ele está ao lado de Deus”, afirmou Paco.
 
Legado 
 
Fundador da Escola Superior de Ciência da Saúde (Escs), mantida pela Fundação de Ensino e Pesquisa em Ciências da Saúde (Fepecs), Frejat também recebeu homenagem do professor Aloísio Bonavides Júnior, da comunidade acadêmica. “No último suspiro, a doença fez a batuta cair das mãos, mas a bela música dele será ouvida por gerações de colegas que surgirão no futuro. O homem foi, a obra é entérica”, declarou Aloísio.
 
A trajetória de Frejat agrega mais de 40 anos de dedicação à saúde e à política. Na carreira, atuou como secretário de Saúde — nos governos de Aimé Lamaison e Joaquim Roriz — e cinco vezes como deputado federal, inclusive durante a Assembleia Constituinte. Como cirurgião e gestor, Jofran tornou-se referência em hospitais da capital do país. A médica sanitarista Mariângela Cavalcante, que trabalhou com ele a partir de 1981, destacou que o colega prezava pelo bem comum. “Recebi a notícia com muita tristeza. Perdemos um grande homem, sério, competente, honesto e com muita ética. Ele era comprometido com o setor público e não desprezava o setor privado”, frisou Mariângela.
 
Ao ingressar na Faculdade Nacional de Medicina do Rio de Janeiro, Frejat mudou-se para a capital carioca em 1957. Passou a morar em Brasília depois de concluir o curso, em 1962. Atuou como diretor do Instituto Médico-Legal (IML) de Brasília entre 1973 e 1979. No ano seguinte, foi nomeado para o cargo de secretário de Saúde do Distrito Federal, no governo de Aimé Lamaison (1979-1982), função que ocupou até 1983. Assumiu a pasta do DF por quatro vezes, entre 1979 e 2002.
 
Colaboraram Ana Maria Campos e Washington Luiz


"Deixo meu pesar pela perda do médico e defensor da saúde pública. Sempre estivemos juntos à frente de muitas lutas, mantendo o respeito e a amizade.”
 
Agnelo Queiroz, 
ex-governador do DF


"Frejat sempre teve retidão, sempre olhou para o próximo. Na rede pública de saúde, tudo o que a gente ainda tem na cidade de forma organizada é graças a ele.”
 
Izalci Lucas, senador (PSDB)


"Moramos juntos na Vila Planalto. Tinha uma cerca que dividia as duas casas. Nossa amizade vem daí. Ele deixou um legado de muito trabalho e de muito respeito.”
 
José Roberto Arruda, 
ex-governador do DF

 


Correio Braziliense terça, 24 de novembro de 2020

JOFRAN FREJAT SE ENCANTOU: VÍTIMA DE CÂNCER NO PULMÃO, FLORIANENSE MORRE, AOS 83 ANOS DE IDADE

Jornal Impresso

JOFRAN FREJAT SE ENCATOU

OBITUÁRIO
 
Despedida de um político pioneiro
 
Respeitado até pelos adversários, o ex-deputado e ex-secretário de Saúde Jofran Frejat morreu vítima de um câncer de pulmão, aos 83 anos. Entre os legados dele está a fundação da Escola Superior de Ciência da Saúde (ESCS)

 

» THAIS UMBELINO
Colaboraram Alan Rios e Ana Maria Campos

Publicação: 24/11/2020 04:00

 (Minervino Junior/CB/D.A Press)  

Um dos políticos mais respeitados do Distrito Federal, o ex-deputado federal e ex-secretário de Saúde Jofran Frejat, 83 anos, morreu na noite de ontem, vítima de câncer no pulmão. O político estava internado havia 17 dias no Hospital Santa Lúcia, na Asa Sul. Frejat descobriu um nódulo no pulmão em outubro deste ano durante tratamento de um cálculo renal.
 
“Ele estava há cinco dias na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), muito abatido e fraco”, contou a filha mais velha do médico, Graziela Frejat, 46 anos. O político completou duas sessões de quimioterapia, mas, segundo a família, ficou muito fragilizado durante o tratamento. “Todos estão muito abalados com a notícia. Ele foi um exemplo de força e de luta. Um gladiador”, descreveu a filha.
 
Frejat também foi reconhecido pelo serviço dedicado aos outros. “Deixa um legado muito bonito. Veio para Brasília tentar a vida e desenvolver um modelo de Sistema Único de Saúde para o Brasil inteiro. Sempre se dedicou às pessoas e à vida pública. Era um ser humano incrível”, descreveu Graziela.  Ele deixa a esposa, quatros filhos e seis netos.
 
O ex-deputado deixou os holofotes da vida política em 2018 quando desistiu de concorrer ao Palácio do Buriti. Ele liderou as pesquisas de intenção de votos durante a pré-campanha, mas decidiu sair do pleito e rejeitar acordos. À época, disse que não aceitaria fazer um pacto com o diabo. Houve muitas interpretações, mas nem mesmo os aliados mais próximos sabiam dizer o real motivo de Frejat abdicar de um mandato quase certo, em torno do qual se uniam políticos como José Roberto Arruda, Alberto Fraga, Eliana Pedrosa, Alirio Neto e Ibaneis Rocha. Ele havia disputado o GDF em 2014 no lugar do ex-governador Arruda, barrado pela Justiça. Perdeu no segundo turno para Rodrigo Rollemberg (PSB).
 
Trajetória
Jofran Frejat nasceu em Floriano (PI) em 19 de maio de 1937. Transferiu-se para o Rio de Janeiro em 1957, quando ingressou na Faculdade Nacional de Medicina do Rio de Janeiro.  Após concluir o curso em 1962,  mudou-se para Brasília.
 
Entre 1973 e 1979 foi diretor do Instituto Médico-Legal de Brasília e no ano seguinte foi nomeado para o cargo de secretário de Saúde do Distrito Federal, no governo de Aimé Lamaison (1979-1982), ocupado até 1983. O médico foi deputado por cinco mandatos, sendo um deles como constituinte. Assumiu a secretaria de Saúde do DF por quatro vezes entre os anos de 1979 e 2002. Também foi o fundador da Escola Superior de Ciência da Saúde (ESCS), mantida pela Fundação de Ensino e Pesquisa em Ciências da Saúde (Fepecs).
 
Luto
O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), decretou ontem luto oficial de três dias pelo falecimento do médico. “Jofran Frejat é um exemplo que eu segui e espero continuar seguindo na vida pública. Para mim, sempre foi um modelo de político”, declarou Ibaneis, em nota oficial.
 
Além dele, o secretário de Saúde do DF, Osnei Okumoto, reconheceu a importância do médico-cirurgião para a saúde da capital federal. “Foi durante sua gestão que foram construídos ou inaugurados os hospitais regionais de Ceilândia, Asa Norte, Paranoá e o Hospital de Apoio (...) A Secretaria de Saúde se solidariza com familiares e amigos de Frejat, que teve importante papel para o desenvolvimento da Rede Pública de Saúde do Distrito Federal”, frisou.
 
Ao Correio, o ex-senador Cristovam Buarque relembrou  momentos com o “notável político” e colega. “Brasília perde um grande pioneiro, um grande político e um grande médico. E nós, que o conhecemos, perdemos um grande amigo”, sintetizou. Entre as lembranças, o político destacou a admiração pela pessoa forte e capaz que Frejat era. “Me impressionava a jovialidade dele. Me recordo de Frejat caminhando nos corredores do Senado. Sempre andava mais depressa que todos. Além disso, foi uma pessoa muito respeitada em toda a sua carreira política, por todos os lados. Aprendi a admirá-lo e a gostar muito dele”, completou Cristovam.
 
 
 
REPERCUSSÃO 
 
“Nos aproximamos na época da última eleição para governador, quando cheguei a abrir mão de minha candidatura para apoiá-lo, até que ele desistiu da disputa. Frejat deixa um legado de retidão e honestidade que deve servir de parâmetro a qualquer pessoa que pense em atuar na política e no serviço público”, 
 
Ibaneis Rocha, governador do DF
 
 
“Embora adversários na eleição de 2014, sempre mantive com ele uma relação de respeito e diálogo. Frejat exerceu a política com dignidade e tinha minha admiração.”
 
Rodrigo Rollemberg, ex-governador do DF
 
 
“Perdemos um amigo, um líder e um homem público exemplar. Tive a honra de ser vice do Frejat em 2014 e aprendi muito com ele.”
 
Flávia Arruda, deputada federal
 
 
“Foi com muita tristeza que recebi a notícia da morte de Frejat, amigo e mestre.  Um exemplo de ser humano. Jofran Frejat médico, Jofran Frejat deputado, Jofran Frejat gestor público era sempre o mesmo Frejat, aquele que fazia o bem sem olhar a quem”.
 
Izalci Lucas, senador
 
 
“Em momentos de tanto ódio e mentira na política, Frejat a exerceu com dignidade e respeito ao outro. Deixa como legado, entre outros, a defesa firme do SUS e a ESCS, Escola que nos enche de orgulho. Brasília está mais triste. Toda solidariedade à família”
 
Erika Kokay, deputada federal
 
 
“Como amigo particular e colega de bancada no Congresso Nacional, fomos deputados constituintes, eu manifesto meu profundo sentimento de perda pelo falecimento de Frejat. Nos conhecemos desde a década de 60, antes da política. Frejat era amigo dos seus amigos”
 
Valmir Campelo, ex-senador e ex-ministro do Tribunal de Contas da União
 
 
“O Distrito Federal perdeu hoje um dos seus pioneiros mais respeitados. Jofran Frejat foi um médico competente e um político sério que ajudou a fazer Brasília”.
 
Cristovam Buarque, ex-governador do DF e ex-senador
 
 
"Perdemos um homem que lutou pelo SUS e foi um dos responsáveis pela criação da Faculdade de Ciências de Saúde do DF."
 
Leila Barros, senadora
 
 
 
 
LINHA DO TEMPO
 
Anos 1970
 
O primeiro cargo público de Frejat foi de diretor do Instituto de Medicina Legal (IML) do DF entre  1973 e 1979. Em 1977, então cirurgião do Hospital das Forças Armadas, ele atendeu Sílvio Delmar Hollenbach, que salvou um garoto de 13 anos de um ataque de ariranhas no Zoológico (foto). Em 1979, elaborou o Plano de Assistência à Saúde no DF.
 
Anos 1980
 
Foram construídas mais de 40 unidades de saúde, como postos e centros, para consolidação do Plano de Assistência à Saúde, elaborado por Frejat. Como parlamentar, o médico foi eleito deputado federal pela primeira vez em 1986, participando da Assembleia Nacional Constituinte e da elaboração da Constituição Federal de 1988.
 
Anos 1990
 
Reeleito em 1990 ao cargo de deputado Federal pelo DF, Frejat aliou os conhecimentos médicos com a trajetória política no cargo de Secretário de Saúde do Distrito Federal em duas ocasiões mais emblemáticas, com destaque para as atuações dentro da gestão do ex-governador do DF Joaquim Roriz.
 
Anos 2000
 
Uma das últimas inaugurações da gestão de Frejat foi em 2002, quando foi entregue à população o Hospital Regional do Paranoá (HRPa), atualmente conhecido como Hospital Região Leste. A cerimônia contou com a presença do ex-ministro da saúde e então senador José Serra e do então governador do DF Joaquim Roriz.
 
Anos 2010
 
Frejat foi também candidato ao governo do Distrito Federal, em 2014, quando chegou a disputar o segundo turno contra Rodrigo Rollemberg (PSB), que acabou vitorioso, e pré-candidato ao Executivo em 2018, quando desistiu de concorrer ao cargo e encerrou a participação na vida política.

 

 


Correio Braziliense segunda, 23 de novembro de 2020

COMBUSTÍVEIS: FRAUDES PROVOCAM PERDA DE 23 BILHÕES

Jornal Impresso

COMBUSTÍVEIS
 
Fraudes provocam perda de R$ 23 bilhões
 
Sonegação fiscal, adulteração de medidores e misturas fora dos padrões legais acarretam prejuízos bilionários a governos e a consumidores. Levantamento conclui que irregularidades vêm crescendo no país, apesar da queda no consumo de álcool, gasolina e diesel devido à pandemia

 

Simone Kafruni
Jailson R. Sena*

Publicação: 23/11/2020 04:00

O mercado de combustíveis do Brasil, que está entre os seis maiores do mundo, perde quase R$ 23 bilhões por ano em fraudes. A cifra de R$ 7,2 bilhões em evasão fiscal é conhecida, mas a ela se somam R$ 15,7 bilhões em burlas quantitativas, com bombas adulteradas, e qualitativas, com misturas fora do padrão, que, além de provocarem danos aos veículos e prejuízos aos consumidores e ao erário, acabam com a concorrência. Este ano, a pandemia derrubou o consumo de gasolina e reduziu a fiscalização em 17%, porém, as irregularidades aumentaram. Segundo o Instituto Combustível Legal (ICL), as fraudes operacionais cresceram 4%, no país, de abril a julho de 2020, ante dezembro de 2019 a março de 2020. 
 
O diretor do ICL, Carlo Faccio, explica que a entidade mapeou as várias irregularidades cometidas no setor, que é o maior em arrecadação do país, responsável por 6% do Produto Interno Bruto (PIB). “A primeira linha de atuação é contra as fraudes tributárias. São R$ 7,2 bilhões de sonegação e inadimplência. No etanol, há possibilidade de recolher metade do tributo na distribuição, o que provoca perda da eficiência na arrecadação”, conta. 
 
O setor chama de barriga de aluguel uma das fraudes mais praticadas. “O termo é usado para empresas de fachada. São constituídas, mas não têm nada de ativos. Em geral, são empresas que comercializam apenas etanol sem passar pela distribuição. É só um ambiente para emitir nota”, explica. As diversas burlas tributárias no setor são responsáveis por uma dívida ativa de mais de R$ 60 bilhões. “Muito por conta dos devedores contumazes, que abrem uma empresa sem intenção de pagar impostos. Isso ocorre porque, até entrar, um processo administrativo demora cerca de três anos e, depois de aberto, mais um ou dois. Ou seja, nesses cinco ou seis anos de atuação, a empresa soma R$ 1 bilhão de dívida. Quando os órgãos vão cobrar, não existe mais”, diz. “Depois que a dívida é tipificada e refinanciada, o índice de recuperação é de menos de 1%.”
 
Se resolvidas, as fraudes tributárias poderiam mitigar o problema de caixa de muitos estados quebrados, uma vez que o setor de combustíveis é o que o mais arrecada, por meio do principal tributo estadual, o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Para isso, no entanto, Faccio ressalta que seriam necessárias a simplificação tributária e as revisões na legislação, para que as penas sejam mais severas e punitivas. “O crime organizado atua em três linhas: armas, drogas e combustíveis, porque o setor garante a lavagem de dinheiro. No Brasil, mais de 200 postos são do crime organizado ou da milícia”, revela.
 
No tanque
Além dos crimes tributários, o setor ainda padece de fraudes operacionais, responsáveis por perdas anuais ainda maiores. Faccio lembra que são duas as principais burlas. “Na quantidade, quando a bomba é adulterada (serve menos do que mostra), e na qualidade, com misturas fora da conformidade, com álcool com mais água, metano e até nafta na gasolina”, assinala.
 
Segundo a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), responsável pela fiscalização dos postos e checagem da qualidade, no ano passado, apenas 3% do combustível comercializado no país apontaram irregularidades, a partir de um coletivo de 86.144 mostras. Em 2019, ainda conforme a ANP, foram consumidos 120 bilhões de litros de combustíveis, o que significa que 1,6 bilhão estava fora dos padrões. “Em setembro deste ano, coletamos 6.728 amostras, com 1,9% de não conformidade”, diz Francisco Nelson, superintendente de Fiscalização do Abastecimento da ANP. 
 
O diretor do ICL esclarece, contudo, que o consumo caiu durante a pandemia, por isso os números da ANP apontam queda. “Também houve redução na fiscalização”, acrescenta Faccio. De fato, Nelson admite uma queda de 17% nas operações. Para comprovar as irregularidades, o ICL criou a figura do cliente misterioso, que percorre os postos do país fazendo levantamentos de qualidade e quantidade. Entre abril e julho deste ano, os levantamentos apontaram alta de 4% nas irregularidades (veja quadro ao lado). “Depois de constatada a fraude, o ICL aciona os órgãos competentes, assim atuamos como força-tarefa.”
 
O diretor aponta outras irregularidades. “Como 45% da gaso-lina são tributos, ao misturar com nafta, cuja tributação é de 18%, o fraudador leva grande vantagem. Há quem misture água no álcool anidro e venda como etanol hidratado. Diesel sem biodiesel e até metanol, que é substância proibida, é misturada”, elenca. “As revendas movimentam alto volume. Em 24 horas, o produto já foi consumido. Isso possibilita que os grandes centros urbanos sejam o ambiente perfeito para as fraudes”, afirma Faccio. 
 
Por isso, as falcatruas são mais frequentes em estados como Rio de Janeiro, São Paulo e Paraná, embora ocorram por todo o país. “A pandemia juntou o ruim com o péssimo. Houve queda de consumo e redução de investimento em fiscalização, por restrição orçamentária e de pessoas nos órgãos fiscalizadores. À alta de 4% de aumento nas fraudes de qualidade e quantidade, vamos ter um salto nas tributárias, assim que o período for contabilizado”, estima o diretor. 
 
Sem mágica
O presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis e de Lubrificantes do Distrito Federal (DF), Paulo Tavares, não tem números de Brasília. “Quando identificamos uma fraude, denunciamos, mas não conseguimos a divulgação da ANP sobre os dados locais. O fato é que não tem mágica no preço de gasolina. Quando é muito baixo pode indicar fraude”, diz. 
 
Tavares considera a mudança promovida pela ANP na qualidade da gasolina um movimento positivo. “Com uma octanagem maior (gasolina mais pura), a tendência é ter menos fraude. Quanto maior a qualidade do produto, mais difícil fraudar”, explica. Brasília tem 320 postos, segundo o presidente do Sindicombustíveis. “Nosso sonho é a ANP vistoriar todos duas vezes por ano. Mas, isso não ocorre. Eles trabalham por amostragem. Porque os fraudadores praticam concorrência desleal e quebram os empresários corretos”, lamenta. 
 
*Estagiário sob a supoervisão de Odail Figueiredo

Correio Braziliense domingo, 22 de novembro de 2020

HISTÓRIAS DE CONSCIÊNCIA - UMA VOZ DE AFIRMAÇÃO

Jornal Impresso

HISTÓRIAS DE CONSCIÊNCIA
 
Uma voz de afirmação
 
 
Jornalista Raíssa Gomes produz um programa semanal em que entrevista especialistas negros sobre diversos temas. Premiado, o projeto busca dar visibilidade a narrativas diferentes da hegemônica. Militante da causa negra, ela avalia que a luta antirracista precisa avançar muito

 

» TAINÁ SEIXAS

Publicação: 22/11/2020 04:00

Raíssa passa os valores que aprendeu na infância para o filho, Malik, de 9 anos. Para ela, é importante que o menino conheça a história de seus ancestrais (Fotos: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
)  

Raíssa passa os valores que aprendeu na infância para o filho, Malik, de 9 anos. Para ela, é importante que o menino conheça a história de seus ancestrais

 



Mulher negra, nordestina, bissexual e do axé. São vários os elementos que tornam a vida de Raíssa Gomes, 30 anos, ou Raio Gomes, como é chamada desde a adolescência, em uma existência de resistência. Mas ela não permite que as dificuldades definam sua trajetória. “É importante mostrar a nossa capacidade de se colocar em lugares para além da dor. O sofrimento está dado, não vou fingir que não ocorre, mas não vou deixar que isso determine o meu lugar no mundo, o que eu sou, o que vou fazer e qual é a minha atuação”, afirma.

A jornalista tem uma importante atuação na produção de conteúdo com referências negras. Desde março, ela desenvolve o projeto Para, Raio, cujo objetivo é apresentar ao público diversos especialistas negros nos mais variados assuntos. “A gente que é jornalista, muitas vezes, busca fontes e se depara sempre com especialistas brancos. Dizem que é difícil achar, e o programa vem para mostrar que temos fontes negras para falar sobre tudo”, explica. O projeto fez, até o momento, 43 entrevistas abordando diferentes temas. Entre as convidadas, Raíssa Gomes recebeu Anielle Franco, irmã de Marielle Franco, em um debate sobre mulheres negras na política; e Jaqueline Góes, que sequenciou o genoma do novo coronavírus no Brasil.

O programa recebeu o I Prêmio Neusa Maria de Jornalismo, iniciativa de repórteres negros com apoio da agência Alma Preta visando o reconhecimento de produções jornalísticas de pessoas negras, trans e indígenas. A premiação homenageia a jornalista Neusa Maria Pereira, uma das fundadoras do Movimento Negro Unificado (MNU). A série de entrevistas está disponível no perfil @raiogomes, no Instagram; e no canal Raio Gomes, no YouTube.

 

História

Raissa chegou a Brasília, do Recife, aos 8 anos, com os pais, e se considera uma brasiliense convicta. Filha de um professor universitário e uma terapeuta, ela convive com a militância desde cedo. Seus pais se conheceram dentro do movimento negro e passaram esses valores dentro de casa. Na infância, aos 10 anos, sofreu racismo na escola privada onde estudava: colegas picharam dizeres racistas no muro da escola. Na ocasião, seus pais foram pedagógicos e fizeram uma formação com os professores na escola para sensibilização dessa temática

“Esses valores que passam dos pais para os filhos e vão se propagando. Da mais tenra idade, pessoas negras têm que aprender a lidar com isso e nem sempre a equipe pedagógica da escola está apta para formar as crianças nesse sentido. Mas, nessas atitudes, como a dos meus pais, algumas coisas foram se transformando”, avalia.

Hoje, Raissa busca passar os mesmos valores para o filho Malik, 9, e vê mudanças no sistema escolar atual, mas garante: ainda há muito para se avançar na educação antirracista. A maternidade foi um divisor de águas na vida de Raio — a experiência potencializou a vontade de transformar a realidade. “Quero que meu filho viva e veja as coisas sobre esse olhar que não é determinado pelo racismo e, sim, pelas coisas maravilhosas que a gente faz e fez enquanto povo para existir e continuar”, relata.

Raissa considera fundamental incluir, na formação de Malik, a história de seus ancestrais, muitas vezes esquecida ou deturpada em livros didáticos. “Não quero que meu filho seja, simplesmente, educado pela história majoritária, a história branca contada nas escolas de que o papel do negro, no Brasil, é ser escravo. Existem outras narrativas além da que é contada na escola”, completa.

Correio Braziliense sábado, 21 de novembro de 2020

REAÇÃO CONTRA PRECONCEITO

Jornal Impresso

Reação contra o preconceito
 
Secretaria de Segurança Pública destaca que, até outubro de 2020, mais de 325 casos de injúria racial foram registrados na capital federal. E, em 2019, este número foi de 453, o maior dos últimos seis anos. Dos cerca de 2,5 milhões de habitantes do DF, 57,6% declaram-se negros

 

SAMARA SCHWINGEL

Publicação: 21/11/2020 04:00

Arthur Antônio:  

Arthur Antônio: "O preconceito existe e é necessário denunciar"

 

Ser ofendido, menosprezado ou xingado por causa da raça, cor ou etnia. Essa foi a situação sofrida por, pelo menos, 325 pessoas no Distrito Federal, que não tiveram medo do agressor e registraram ocorrência de injúria racial e outras 10 que denunciaram casos de racismo até outubro deste ano. Por conta da pandemia e do isolamento social, esses números não se aproximaram aos de 2019. De acordo com os dados da Secretaria de Segurança Pública do DF (SSP-DF), os casos de injúria racial no ano passado chegaram a 453, índice 4,6% maior do que o somado no ano anterior. Além disso, o levantamento da pasta também demonstra que o registro de 2019 foi o mais alto dos últimos seis anos.
 
Dos cerca de 2,57 milhões de habitantes do DF, 57,6% são autodeclarados negros. Elizabete Braga, 41 anos, faz parte desta parcela e, como a maioria, sofreu na vida algum tipo de injúria racial. “Há cerca de dois anos, estava fazendo compras em um supermercado quando uma mulher, mais velha e branca, começou a me ofender e xingar”, relata. A produtora multimídia conta que essa tinha sido a terceira vivenciada por ela depois de adulta. “Ela tentou cuspir em mim, foi horrível. O sentimento da hora foi de vergonha, apesar de não ter sido a primeira vez que passava por algo do tipo”, afirma.
 
Segundo Elizabete, as ofensas continuaram até que ela resolveu chamar a polícia. “Como após 30 minutos nenhum agente chegou, eu mesma me dirigi à delegacia especializada para registrar a ocorrência”, diz. Para a moradora de Ceilândia, a existência de um lugar voltado ao atendimento de vítimas vulneráveis faz diferença e oferece mais segurança. “Das duas primeiras vezes que tentei registrar uma ocorrência por racismo ou injúria racial, não consegui. É um constrangimento enorme ter que falar pelo que passamos e, se os agentes não souberem como conduzir, a pessoa pode ficar desestimulada”, avalia. “Sou completamente a favor da denúncia e gostaria que o preparo da delegacia especial se estendesse para outros centros”, completa.
 
Artur Antônio, 41, também defende que as denúncias devem ser feitas. Membro do movimento Nosso Coletivo Negro do DF e do Observatório Racial, ele acredita que o aumento no registro de casos demonstra que a população está mais consciente da existência do racismo. “Não falo só dos brancos, mas a própria comunidade negra está começando a compreender que o preconceito existe e que é necessário denunciar os casos que ocorrem”, explica. Para o militante, o fato de existir uma lei que puna práticas racistas é um avanço na luta desta população. “Ter uma legislação própria e delegacias especializadas foram reivindicações do movimento negro por muitos anos”, considera.
 
Apesar da avaliação positiva, de certa forma, Artur explica que ainda há muitos aspectos que precisam ser mudados. “A abordagem com a pessoa negra ainda é algo muito precário na sociedade. O país tem uma história de 400 anos de escravidão que precisa ser desconstruída aos poucos”, afirma. Apesar disso, o ativista ressalta que a importância das denúncias para a luta da comunidade. “Com as ocorrências, podemos perceber como este problema é real e como a consciência racial está aumentando entre os negros. Por isso, é importante denunciar e exigir que as leis sejam cumpridas”, completa.
 
Segurança
 
A delegada-chefe da Delegacia Especial de Repressão aos Crimes por Discriminação Racial, Religiosa ou por Orientação Sexual ou contra a Pessoa Idosa ou com Deficiência (Decrin), Angêla Maria dos Santos, recebe constantemente vítimas de racismo e injúria racial. Ela conta que essas pessoas costumam estar desconfiadas e desacreditadas no sistema policial. “Não as culpo, pois são indivíduos que passam por preconceitos das mais diversas formas desde que nascem. E nem sempre são ações explícitas. Vai desde um olhar até um xingamento ou agressão”, afirma.
 
Ângela explica que o papel da delegacia é acolher e entender estas pessoas. “É importante, sim, registrar a ocorrência. Somos preparados para receber as vítimas e, mesmo que o agressor não seja devidamente responsabilizado, o registro de dados pode mostrar aos governantes que há a necessidade de investir em políticas públicas de combate às práticas preconceituosas”, defende.
 
A Decrin funciona no Complexo da PCDF, de segunda a sexta-feira, das 12h às 19h. Os telefones de contato são: 3207-4242 ou 197.
 
Elizabete Braga já vivenciou injúria racial por três vezes (Ed Alves/CB/D.A Press
)  

Elizabete Braga já vivenciou injúria racial por três vezes

 

 
 
Racismo x injúria racial
 
Injúria racial é tipificada no art. 140, §3º, do Código Penal Brasileiro, e consiste em ofender a honra de alguém com a utilização de elementos referentes à raça, cor, etnia, religião ou origem. A pena vai de detenção, de três meses a um ano e multa, até prisão de três anos e multa.
 
Racismo é crime previsto na Lei nº 7.716/89, e implica conduta discriminatória dirigida a determinado grupo. É considerado mais grave pelo legislador, é imprescritível e inafiançável. A pena inicial é de um ano de reclusão e pode chegar a cinco, além da multa.
 
 
Palavra de especialista
 
A importância da Consciência Negra
 
O aumento no registro de casos de injúria racial nos últimos anos nos mostra que a comunidade negra está tomando consciência da própria existência, negros que não necessariamente estão inseridos em grupos de militância. Ou seja, nossa população não vai mais aceitar atos de extrema violência. Temos leis que nos protegem e temos meios de denunciar. Isso é consciência negra. Reconhecemos que ninguém tem o direito de nos ofender por causa da cor, raça, etnia ou credo. O que ainda falta é um tato maior por parte de todas as autoridades e agentes de segurança para lidarem com as vítimas de violência racial da forma correta para não diminuírem o sofrimento de quem sofre há anos com racismo.
 
Nelson Inocêncio, membro do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da Universidade de Brasília (UnB)
 
 
Casos de injúria racial no DF
 
Comparativo dos últimos seis anos
 
2014  
229 casos registrados
 
2015 
379 casos registrados
 
2016 
428 casos registrados
 
2017 
422 casos registrados
 
2018 
433 casos registrados
 
2019 
453 casos registrados
 
*2020 
325 casos registrados
 
*Dados até o mês de outubro
 
Fonte: Secretaria de Segurança Pública do DF (SSP-DF)

Correio Braziliense sexta, 20 de novembro de 2020

DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA - POR ESPAÇOS COM MAIS NEGROS

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DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA
Por espaços com mais negros
 
Representatividade e visibilidade dão o tom do Dia da Consciência Negra deste ano. Para ativistas e especialistas, eleições municipais configuraram marco positivo na luta pela igualdade racial e promoção de direitos, mas caminho ainda é longo

 

CIBELE MOREIRA
WASHINGTON LUIZ

Publicação: 20/11/2020 04:00

O empreendedor João Pedro Mourão considera que saída para mais equidade passa pela educação ( Carlos Vieira/CB/D.A Press)  

O empreendedor João Pedro Mourão considera que saída para mais equidade passa pela educação

 



Neste ano, o Dia da Consciência Negra é marcado por um simbolismo forte. Em meio a protestos do movimento Vidas Negras Importam — que alcançaram o Distrito Federal, em junho — e a debates com mais destaque sobre questões raciais, também houve impacto nas urnas. As eleições municipais de 2020 resultaram em uma quantidade expressiva de candidatos eleitos que se declararam pretos ou pardos. Um levantamento parcial do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) revelou que, dos mais de 68,5 mil prefeitos e vereadores escolhidos, 42% fazem parte dessa parcela da população. Em 2016, eles eram 39%.
 
Para Vera Lúcia, 60 anos, advogada e ativista da Frente de Mulheres Negras do DF e Entorno, o resultado está diretamente ligado à decisão do TSE, que obrigou os partidos a distribuir a verba do fundo eleitoral de acordo com a proporção de negros que concorressem no pleito. “O grande marco de 2020 é essa visibilidade, essa concretude que o movimento negro conseguiu aos olhos da sociedade. É uma das maiores vitórias, que se expressa, inclusive, com algumas conquistas institucionais. No ano em que tivemos eleições municipais, foi uma vitória o TSE e o STF (Supremo Tribunal Federal) terem acolhido a consulta da deputada Benedita da Silva (PT-RJ) para, com isso, implementar uma ação afirmativa que incremente a participação de negros e negras na política”, destaca Vera Lúcia.
 
Coordenador do Nosso Coletivo Negro, Artur Antonio Araújo, 41, acredita que essa mudança se refletirá com mais força em 2022. “O povo negro entendeu a importância de ter representantes no Poder Legislativo. Isso tem se mostrado de forma tímida no processo eleitoral. Mas acredito que, em 2022, a gente estará mais preparado. Precisamos de pessoas que lutem para termos uma condição melhor de vida”, afirma Artur Antonio.
 
Desafios
 
Mesmo com a adoção de políticas públicas afirmativas e com mais representatividade na política, os negros ainda enfrentam desafios para combater o racismo. Nelson Fernando Inocencio da Silva, professor do Departamento de Artes da Universidade de Brasília (UnB) e um dos brasilienses que ajudaram a dar forma ao movimento negro na capital, acredita que o conservadorismo tem dificultado as conquistas da população negra. “De negativo, a gente tem a reação das alas conservadoras, a postura reacionária de uma ampla parcela da sociedade brasileira que se mostra majoritariamente conservadora. Há uma sabotagem, por exemplo, no sistema de cotas, na medida em que se tem só a autodeclaração e não uma banca de heteroidentificação (racial) em alguns concursos. Isso é péssimo”, critica.
 
O professor considera que a educação será o caminho para transformar essa realidade de preconceito que ainda prevalece no Distrito Federal e no Brasil. “Uma educação que nos forme como cidadãos e cidadãs comprometidos com o respeito à diferença. Ninguém precisa adorar negros, mas é preciso prevalecer o respeito. Não posso fazer com que alguém goste de mim, mas preciso fazer com que me respeite”, defende Nelson Fernando. “Desejo que a gente tenha a educação como aliada nesse processo.”
 
Oportunidades de estudo e capacitação fizeram diferença na vida de João Pedro Mourão, 29. Empreendedor e consultor de marketing, ele enfrentou barreiras, como dificuldades raciais e sociais, para alcançar sucesso na carreira. Nascido em Sobradinho, região fora da área central do DF, ele conseguiu se destacar nos cursos do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e ter uma porta de entrada no mercado de trabalho. “Minha trajetória não foi fácil. Vivenciei diversas situações em que empresários não quiseram me receber ou em que fui mal-recebido por causa da minha cor de pele”, comenta. “Nosso país é extremamente racista. O que me faz sentir autossuficiente é minha educação. A educação é libertadora”, completa João Pedro.
 

Correio Braziliense quinta, 19 de novembro de 2020

COPA DO BRASIL: SÃO PAULO A GOSTO DO FREGUÊS - 9 X 2! CPF NA NOTA?

 

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9 x 2! CPF na nota?
 
 
Placar agregado dos últimos três duelos entre São Paulo e Flamengo não deixa dúvida sobre a superioridade tricolor na temporada. Eliminado duas vezes neste ano pelo time do coração, Ceni amarga maldição

 

Publicação: 19/11/2020 04:00

Luciano resolveu a partida de ontem com dois gols no início do segundo tempo e ainda viu o companheiro Pablo consolidar a noite de gala, no Morumbi (Reprodução/São Paulo Twitter)  

Luciano resolveu a partida de ontem com dois gols no início do segundo tempo e ainda viu o companheiro Pablo consolidar a noite de gala, no Morumbi

 



O São Paulo e Fernando Diniz atualizaram as carteirinhas do Flamengo e do ídolo Rogério Ceni, ontem, no Morumbi. O tricolor eliminou o atual campeão da Libertadores e do Brasileirão com autoridade nas semifinais da Copa do Brasil ao vencer, ontem, por 3 x 0, no Morumbi, com dois gols de Luciano e um de Pablo, ambos no segundo tempo. Vitinho desperdiçou pênalti bizarro ao praticamente tirar a bola do estádio. Foi o terceiro desperdiçado contra o São Paulo em 18 dias. Bruno Henrique e Pedro também erraram no duelo de 1º de novembro. Naquele jogo válido pelo Brasileirão, Tiago Volpi defendeu as duas.

O time de Fernando Diniz havia vencido o jogo de ida, no Maracanã, por 2 x 1, e tinha vantagem do empate. Com o resultado, a equipe paulista está de volta às semifinais após cinco anos e decidirá vaga à final contra o Grêmio.  A última presença tricolor entre os quatro foi em 2015 contra o Santos. Rogério Ceni ainda era goleiro do São Paulo.

O Flamengo perdeu pela terceira vez em 18 dias para o São Paulo. A freguesia começou na derrota por 4 x 1, no Maracanã, pela última rodada do primeiro turno  do Brasileirão. Na Copa do Brasil, amargou revés por 2 x 1. Ontem, voltou a ser derrotado pelo velho carrasco em mata-matas. O placar agregado dos últimos três confrontos é 9 x 2.

Ídolo do São Paulo, o técnico Rogério Ceni continua sem vencer o ex-clube no papel de técnico. Ou empata ou perde. Também não consegue derrotar Fernando Diniz. Nesta Copa do Brasil, amarga a segunda eliminação contra o tricolor paulista. Antes, havia caído nos pênaltis nas oitavas contra o Fortaleza.

O São Paulo abriu o placar no início do segundo tempo após cruzamento de Daniel Alves para a área. Em posição legal, Luciano desviou a bola para a rede. O segundo nasceu em outra bola alçada na área. Reinaldo cruzou e Luciano ampliou. O Flamengo teve a chance de diminuir em cobrança de pênalti. Éverton Ribeiro fez maratona de Montevidéu a São Paulo para reforçar o time, mas Vitinho bateu e errou. Pablo ainda ampliou após receber presente de Willian Arão.


Semifinais
São Paulo x Grêmio
América-MG x Palmeiras

Correio Braziliense quarta, 18 de novembro de 2020

TOM ZÉ: A TODO VAPOR

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TOM ZÉ
A todo vapor
 
Cantor e compositor trabalha em peça inspirada na faixa Língua brasileira, lança álbum com canções raras do repertório e aguarda lançamento de biografia

 

» Adriana Izel

Publicação: 18/11/2020 04:00

%u201CTem música ali que eu morro de inveja. Eu trocaria minha obra toda por uma ou outra música ali%u201D, diz Tom Zé sobre a nova geração de artistas do Brasil
 (André Conti/Divulgação)  
%u201CTem música ali que eu morro de inveja. Eu trocaria minha obra toda por uma ou outra música ali%u201D, diz Tom Zé sobre a nova geração de artistas do Brasil
 
“Estou trabalhando como nunca”. É assim que o cantor e compositor Tom Zé, de 84 anos, define como tem sido a pandemia dele. O tropicalista se dedica a um projeto teatral com Felipe Hirsch inspirado na música Língua brasileira, do álbum Imprensa cantada (2003), em que canta em um dos trechos “Babel das línguas em pleno cio/ Seduz a África, cede ao gentio/ Substantivos, verbos, alfaias de ouro/ Os seus olhares conquistam do mouro”. A obra, ainda a ser lançada, é um resultado da admiração pela forma como o baiano de Irará (município da área de expansão metropolitana de Feira de Santana na Bahia) sempre destacou a exuberância do idioma no repertório.
 
A montagem fala sobre a epopeia dos povos que formaram a língua falada no Brasil. O projeto conta com o escritor e tradutor Caetano Galindo. “Felipe Hirsch, que tem o hábito de fazer musicais, ia fazer um com o disco Estudando a Bossa Nova. Por acaso ouviu Imprensa cantada e a música Língua brasileira e resolveu mudar completamente o musical”, lembra. Além de inspirar o espetáculo, Tom Zé tem composto faixas exclusivas para a peça que foi adiada e deve estrear em 2021 no Sesc de São Paulo. “Estou fazendo outras músicas, com palavras dessas línguas que criaram o mundo”, conta.
 
Ele se diz encantando com a pesquisa. “O Caetano Galino sabe de coisa que até o cão duvida. Imagine que, através de uma palavra, ele acaba descobrindo uma língua morta, que nem tem documento. Ele sabe coisas incríveis dessa língua portuguesa e de toda a história fantástica que ela tem”, completa.
 
Brasilidade
 
A paixão de Tom Zé pelo Brasil não para na língua falada. Ele também é um fã de música brasileira e, diferentemente de alguns dos contemporâneos, não têm preconceito com a nova geração e outros gêneros musicais distintos ao dele. Pelo contrário, ele gosta mesmo de escutar as canções que agradam à massa. “Desde que o Tropicalismo acabou que presto atenção aos novos. Primeiro nos meninos do rock. Eu também ouvia essas músicas. Depois acompanhei todas as gerações”, comenta.
 
Atualmente, o preferido dele é o rapper Emicida. “Sou um fã ardente do Emicida. Peço para a Tânia (esposa dele) separar os discos dele. Ele é muito meu amigo também por isso”, revela. Há um tempo atrás, Tom Zé resolveu escutar alguns artistas do forró. “Tem música ali que eu morro de inveja. Eu trocaria minha obra toda por uma ou outra música ali”, diz com convicção. Ele lembra que quando jovem em Irará ouvindo rádio ele conseguia perceber a riqueza do Brasil. “Temos um tesouro em nossas mãos. Quando eu saio do Brasil, eu tomo até um susto. Parece que sou um grande herói, pela festa e pela alegria que o povo faz. Mas temos repertório, gerações e gerações de compositores respeitáveis. Tem muita coisa importante na música brasileira”, acrescenta.
 
Esse reconhecimento internacional é o que fez que Tom Zé ganhasse uma biografia publicada primeiro em italiano L’ultimo tropicalist (O último tropicalista, em português), escrita por Pietro Scaramuzzo. A expectativa é de que a obra chegue ao Brasil traduzida no próximo ano.
 
Resgate musical
 
Enquanto isso, Tom Zé resgata o repertório dos anos 1960 e 1970, com o lançamento do disco Raridades pela gravadora Warner. O álbum traz 14 faixas praticamente inéditas, que haviam sido gravadas apenas em compactos simples ou projetos especiais. A curadoria foi feita pelo jornalista e pesquisador Renato Vieira. “Confesso que nem sei como foi isso. Sei que as gravadoras têm um acervo muito grande e esse rapaz, o Renato Vieira, fez esse compilado”, admite.
O pesquisador buscou fazer um registro cronológico desde a vitória do artista no Festival de Música Popular Brasileira da TV Record, em 1968, até o lançamento de Estudando o samba, em 1976. “O Vieira pegou umas músicas que tinham a ver com uma fase. Dói é uma música que acabou entrando no repertório da Betina, uma cantora que o pessoal da Tropicália conheceu e quis fazer um disco dela. O Senhor cidadão foi uma música que fiz para falar sobre a posição de segregação. Essa música (de 1972) acabou fazendo sucesso há pouco tempo porque entrou numa novela (Velho Chico, de 2016)”, recorda.
 
Ele também lembra com carinho de Augusta, Angélica e Consolação, outra faixa resgatada em Raridades. Tom Zé admite que a escreveu plagiando Adoniran Barbosa. “Essa música deu muito certo. Eu tive oportunidade de mostrar para o Adoniran Barbosa. Quando ele ouviu, ficou com uma cara de triste. Acho que pensou: “esses moleques estão fazendo por mim”. Foi uma música que teve uma grande repercussão”, comenta. A faixa foi lançada originalmente em 1973.
 
Talvez, por coincidência, as faixas de Raridades representam um período em que Tom Zé trabalhou com arranjos do argentino Héctor Lagna Fietta, quem ele define como “um arranjador excepcional”: “Eu o descobri assim por acaso. Estava em Salvador, depois vim pra São Paulo para cantar no Festival da Record e fiquei admirado com um arranjo feito por ele. Ele fez vários arranjos de músicas que estão nesse disco (Raridades). Tem Feitiço, Você gosta?, Jeitinho dela, Bola pra frente, Silêncio de nós dois, Quem não pode se Tchaikowsky, A dama de vermelho, Dói e O anfitrião. Ele fazia arranjos tão bem, que a orquestra soava de uma maneira tão confortável”.
 
O disco ainda traz uma versão raríssima de Jeitinho dela com participação dos Novos Baianos, banda a qual Tom Zé teve papel fundamental no surgimento — foi ele quem apresentou Moraes Moreira a Luiz Galvão — e Irene, música de Caetano Veloso completamente repaginada. “Geralmente quando faço o arranjo tomo certas ousadias. Mexo na música desde que esteja fiel ao que o autor queria dizer. Fiz isso com Irene”, lembra.
 
 
 (Santhiago da Silva/Reprodução)  
Raridades
De Tom Zé. Warner, 14 faixas. Disponível nas plataformas digitais.

Correio Braziliense terça, 17 de novembro de 2020

COPA DO MUNDO - ELIMINATÓRIAS - BRASIL ENFRENTA O URUGUAI

 

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COPA DOMUNDO ELIMINATÓRIAS
BRASIL ENTRENTA O URUGUAI
 
Jesus é o caminho
 
 
Uruguai é a primeira prova de fogo do Brasil. Seleção precisa superar desfalques para manter a liderança e os 100% de aproveitamento na competição. Rival celeste chega embalado por goleada contra Colômbia

 

Publicação: 17/11/2020 04:00

Sem Neymar e Coutinho, Gabriel Jesus passa a ser a referência verde-amarela (Lucas Figueiredo/CBF)  
Sem Neymar e Coutinho, Gabriel Jesus passa a ser a referência verde-amarela


A Seleção Brasileira terá finalmente, hoje, às 20h, em Montevidéu, um teste difícil pelas Eliminatórias para a Copa do Mundo do Catar, em 2022. A equipe do técnico Tite venceu nas três rodadas anteriores os três últimos colocados da classificação e agora terá de jogar contra o Uruguai fora de casa com vários desfalques causados por lesões e duas baixas provocadas pelo coronavírus — Casemiro e Gabriel Menino.

Mesmo líder da competição e único time com 100% de aproveitamento, o Brasil não conseguiu empolgar o torcedor. A dificuldade em vencer a Venezuela, no Morumbi, e a fragilidade do rival da estreia, a Bolívia, ajudam a explicar esse cenário. A equipe também bateu o Peru, em Lima, por 4 x 2, numa partida equilibrada e com decisões da arbitragem bastante criticadas pelos adversários.

“Talvez, algumas dessas equipes que vencemos não briguem para classificar, mas podem atrapalhar outros times. Vamos enfrentar o Uruguai, é uma equipe que vem forte”, disse o técnico Tite. O Uruguai foi o país sul-americano de melhor campanha na última Copa, com a quinta posição, uma acima do Brasil.

Na última rodada os uruguaios fizeram 3 x 0 na Colômbia, em Barranquilla. Enquanto o Brasil não tem as duas principais estrelas, Neymar e Philippe Coutinho, mas contará com os artilheiros Gabriel Jesus, Roberto Firmino e Richarlison na linha de frente, a principal dupla do Uruguai também não estará completa em campo. Suárez testou positivo para
covid-19 e está fora. Cavani jogará.

Entre a convocação de Tite e o jogo contra o Uruguai, o elenco brasileiro teve oito cortes. Foram seis atletas lesionados e mais dois casos de covid-19. Por isso, a equipe terá de se desdobrar para, mesmo sem ter a formação ideal, ser competitivo diante de adversário forte.

A Seleção Brasileira tem só uma dúvida para a partida. O volante Allan sentiu dores musculares e pode ser poupado. Um exame horas antes do jogo vai definir a escalação. Arthur será o substituto, se for necessário. No restante, a formação será a mesma utilizada na vitória por 1 x 0 sobre a Venezuela.

A atuação pouco inspirada não fez Tite pensar em mudanças no time. Ao contrário. “Enfrentar a Venezuela é uma proposta dentro de casa, agora diante do Uruguai será diferente. Vamos ser mais testados defensivamente. Por outro lado, vamos ter mais espaço”, comparou o treinador.

Auxiliar de Tite há quase 20 anos, Cléber Xavier foi quem mais analisou os últimos jogos do Uruguai. A principal preocupação nos treinos da Seleção foi armar a defesa para se precaver contra a intensa movimentação do setor ofensivo uruguaio. As dificuldades de enfrentar um rival tradicional, em Montevidéu, não impediram o Brasil de conseguir duas goleadas nos últimos confrontos fora de casa pelas Eliminatórias. Em 2009, a equipe de Dunga
fez 4 x 0. Em 2017, já com Tite, a Seleção ganhou por 4 x 1, com três gols de Paulinho na ocasião.

Transmissão

A partida terá transmissão apenas no canal de streaming EI Plus, na internet. A Turner fechou na última sexta-feira com a Mediapro, dona dos direitos televisivos, o acordo para exibir a partida.

O mesmo esquema de exibição pela plataforma foi utilizada no o confronto entre Brasil e Peru, em Lima, mas essa partida teve a transmissão realizada em canal aberto pela TV Brasil, acordo anunciado horas antes do jogo.


"Enfrentar a Venezuela é uma proposta dentro de casa, agora diante do Uruguai será diferente. Vamos ser mais testados defensivamente. Por outro lado, vamos ter mais espaço”
Tite, técnico da Seleção


Classificação

    P    J    V    E    D    GP    GC    SG

1. Brasil    9    3    3    0    0    10    2    8
2. Argentina    7    3    2    1    0    4    2    2
3. Equador    6    3    2    0    1    7    5    2
4. Uruguai    6    3    2    0    1    7    5    2
5. Paraguai    5    3    1    2    0    4    3    1
6. Chile    4    3    1    1    1    5    4    1
7. Colômbia    4    3    1    1    1    5    5    0
8. Peru    1    3    0    1    2    4    8    -4
9. Venezuela    0    3    0    0    3    0    5    -5
10. Bolívia    0    3    0    0    3    3    10    -7


Argentina bipolar
Qual será a Argentina que entrará em campo, hoje, contra o Peru? O time “sem cara” que ficou no empate por 1 x 1 com o Paraguai na quinta-feira passada ou o que conquistou uma sólida vitória contra a Bolívia na segundo encontro? O técnico Lionel Scaloni terá um bom teste para definir a personalidade da Argentina, que ainda depende muito do humor de Lionel Messi. Scaloni conta com jogadores jovens que juntos podem acabar com dependência de Messi. Leandro Paredes (PSG), Giovani Lo Celso (Tottenham Hotspur) ou Lucas Ocampos (Sevilla) conseguem atuar ao lado do craque do Barcelona e tirar dele a necessidade de resolver tudo.

Correio Braziliense segunda, 16 de novembro de 2020

FÓRMULA 1 - HAMILTON - SONHEM COM O IMPOSSÍVEL

Jornal Impresso

RÓRMULA 1

 

Sonhem com o impossível
 
Primeiro piloto negro na história da Fórmula 1, Lewis Hamilton vence GP da Turquia, sagra-se heptacampeão e iguala Michael Schumacher. Emocionado, britânico dedica a façanha às crianças

 

Publicação: 16/11/2020 04:00

 

 

 

Lewis Hamilton fez história mais uma vez. O britânico da Mercedes venceu o GP da Turquia, ontem, com uma exibição fantástica e sagrou-se heptacampeão da Fórmula 1. Recordista em número de vitórias, ele se igualou a Michael Schumacher em títulos na categoria. O mexicano Sergio Perez, da Racing Point, terminou em segundo e o alemão Sebastian Vettel, da Ferrari, completou o pódio.


Hamilton estabelece uma carreira dominante: chegou à incrível marca de 94 vitórias em 264 provas e foi campeão antecipadamente, mais uma vez. O agora heptacampeão mundial triunfou em 10 das 14 corridas da temporada 2020 e reforçou, a cada prova, que está entre os maiores da história. Ele soma 307 pontos na classificação e não pode mais ser alcançado pelo companheiro Valtteri Bottas, que decepcionou no GP turco e terminou fora da zona de pontuação, em 14°. O finlandês teve uma péssima atuação e rodou várias vezes. Agora, corre o risco de perder o vice para Max Verstappen.
“É muito importante que as crianças vejam isso. Não acreditem quando disserem que vocês não podem fazer algo. Sonhem com o impossível. Trabalhem por isso, persigam, nunca desistam”, reforçou Hamilton, que superou o preconceito e outras adversidades para se tornar um dos maiores ídolos do esporte mundial. Após a corrida, o britânico vibrou muito e se emocionou.


Ontem, o piloto da Mercedes largou em sexto depois de uma performance ruim no treino classificatório na “pista de gelo” em Istambul, molhada pela chuva e com pouca aderência em razão do recapeamento tardio. Não foi uma exibição brilhante, tanto que Hamilton chegou a errar e cair para sétimo no começo da corrida. No entanto, com pneus intermediários, inteligência, paciência e talento, o piloto da Mercedes conseguiu se adaptar ao circuito e contou com as paradas dos adversários para trocar os pneus.


Arrojado e perspicaz como sempre, foi ganhando posições quando o asfalto começou a secar, até ultrapassar o mexicano Sergio Pérez, da Racing Point, na 37ª volta, para assumir a liderança e de lá não sair mais. Destruidor de recordes, o britânico chegou ao sétimo título com naturalidade. Assim como no ano passado, sobrou em relação aos rivais, mostrou que está em outro patamar há algum tempo e impôs uma verdadeira dinastia na Fórmula 1, com sete conquistas, sendo quatro consecutivas.


Desde 2007, ano da estreia na categoria, e 2008, quando levantou o primeiro troféu, o piloto evoluiu muito e se consolidou, também, como um ídolo fora das pistas, com postura marcante contra o racismo e a favor dos direitos humanos e de causas sociais. Em um ano marcado pelo movimento Black Lives Matter (Vidas Negras Importam) e pela intensa discussão sobre ações afirmativas, Hamilton teve papel bastante relevante ao levar a preocupação com o racismo à principal categoria mundial do automobilismo. Mesmo com a ameaça de represálias, o único piloto negro da história da Fórmula 1 não se intimidou e reafirmou postura antirracista, tornando-se referência do movimento.
O britânico teve atitudes públicas nos últimos meses que causaram reações controversas na Fórmula 1. Em julho, ele tentou organizar um protesto coletivo para que os 20 pilotos se ajoelhassem antes da prova. Seis não aderiram. Depois, Hamilton subiu ao pódio no GP da Itália com uma camiseta em que cobrava a prisão dos policiais responsáveis pela morte da jovem americana negra Breonna Taylor. Logo depois, a Federação Internacional de Automobilismo (FIA) proibiu o uso de outras vestimentas no pódio, além do macacão. O supercampeão, porém, reiterou que continuaria protestando contra a discriminação racial e outros preconceitos. E assim o fez.

 

Ferrari, enfim, faz uma boa prova

Na tumultuada corrida na Turquia, com várias alternâncias de posições, destaque também para a Racing Point, com o segundo lugar de Sergio Perez, que chegou a liderar. Foi a primeira vez dele no pódio. A Ferrari teve uma boa exibição e colocou os pilotos no terceiro e quarto lugares. Charles Leclerc ficou muito perto de se sair ainda melhor, mas errou ao tentar passar o mexicano, perdeu o posto para Sebastian Vettel e finalizou em quarto.


O terceiro lugar foi um prêmio para o alemão tetracampeão, que subiu ao pódio pela primeira vez na temporada. Ele havia largado em 11º.


O espanhol Carlos Sainz Jr, da McLaren, cruzou a linha de chegada em quinto, à frente dos dois carros da Red Bull, com o holandês Max Verstappen em sexto e o tailandês Alexander Albon em sétimo. O jovem britânico Lando Norris terminou na oitava posição.


Restam apenas mais três etapas para o fim da temporada de 2020 da Fórmula 1, que se encerrará em 13 de dezembro. A próxima corrida será o GP do Bahrein, daqui a duas semanas.


Correio Braziliense domingo, 15 de novembro de 2020

PARA PENSAR O RACISMO À BRASILEIRA

Jornal Impresso

Para pensar o racismo à brasileira
 
Com ficção, reflexão e poesia, três lançamentos convidam o leitor a mergulhar em histórias que ajudam a entender o racismo no Brasil
 

» Nahima Maciel

Publicação: 15/11/2020 04:00

 
Racismo, pensamento africano contemporâneo, histórias de heroínas negras pouco contadas nas escolas e no dia a dia: os temas são abordados em uma boa leva de livros que acabam de desembarcar nas editoras. Para entender a importância de celebrar o mês da Consciência Negra, vale mergulhar na leitura de autores brasileiros que refletem sobre racismo, desigualdade, violência e discriminação sexual no cenário contemporâneo. O Diversão & Arte fez uma seleção que tem desde ensaios até ficção, incluindo um elegante livrinho de história escrito em forma de cordel sobre mulheres negras que fizeram a história do Brasil e sumiram dos livros e das narrativas.
 
Jeferson Jeferson Tenório (Carlos Macedo)  
Jeferson Jeferson Tenório
Jarid Arraes (Companhia Das Letras/Reprodução)  
Jarid Arraes
O avesso da pele
De Jeferson Tenório. Companhia das Letras, 190 páginas. R$ 59,90
 
Terceiro romance do autor, um professor de literatura nascido no Rio de Janeiro e radicado em Porto Alegre, traz a história de um também professor de literatura, negro como Tenório, vítima de diversas abordagens racistas por parte da polícia e cuja vida acaba por ser tirada em um desses episódios. “Dos três livros que tenho, O avesso da pele foi o que se aproximou mais da minha vida, mas ele surge, na verdade, a partir de um livro que gosto bastante que é o Hamlet, a história de um filho que tem uma relação com um pai fantasma. Eu sempre quis escrever um livro sobre ausência paterna. E também queria falar sobre um professor de literatura. Depois de sofrer uma abordagem policial em Porto Alegre, em 2016, achei que podia abordar estes três temas: ausência paterna, violência policial e educação”, conta Tenório. Estruturado com várias vozes narrativas, o livro é conduzido pelo filho do professor. Ao mesmo tempo em que revisita a história do pai ausente, o narrador investiga sua própria origem. O racismo é tema constante — Tenório decidiu escrever o livro após a abordagem policial sem justificativa —, mas as relações familiares e a educação em um país marcado pela desigualdade social ocupam lugar importante na narrativa. O autor, que já esteve no programa Conversa com Bial, é também um dos convidados da edição on-line da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), programada para dezembro.
 
Jarid Arraes (Arquivo pessoal)  
Jarid Arraes
 (Reprodução)  
A razão africana – Breve história do pensamento africano contemporâneo
De Muryatan S. Barbosa. Todavia, 214 páginas.
 
Filho de exilados políticos nascido na Suécia, batizado com nome tupi-guarani e professor da Universidade Federal do ABC, Muryatan S. Barbosa ficava incomodado com o grau de eurocentrismo no pensamento acadêmico brasileiro. A inquietação gerou A razão africana — Breve história do pensamento africano contemporâneo, ensaio que toma o leitor pela mão para entender quais são os pensadores mais relevantes na história recente da África. Muryatan tenta suprir uma lacuna que considera fruto de um olhar sempre voltado para o Norte do mundo. “É um tema recente. Temos duas coletâneas recentes sobre o assunto com autores brasileiros e africanos, de estudantes que estão no Brasil, e temos teses e dissertações. De 10 anos para cá, o tema tem adensado, mas não temos livros de análise geral como esse”, garante. A razão africana, no entanto, não é destinado a pesquisadores e consegue oferecer uma introdução aos não especialistas, uma espécie de visão geral sobre as diversas correntes de pensamento sobre os rumos da África hoje. Autodesenvolvimento, identidade africana, pan-africanismo, diversidade, autonomia, desenvolvimento, economia e até feminismo são alguns dos temas tratados.
 
Muryatan (Arquivo pessoal)  
Muryatan
 (Editora Todavia/Reprodução)  
Heroínas negras brasileiras em 15 cordéis
De Jarid Arraes. Seguinte, 176 páginas. R$ 34,90
 
Já ouviu falar em Dandara, Aqualtune, Na Agontimé, Maria Felipa e Zacimba Gaba? Elas fazem parte da história do Brasil, mas foram apagadas dos livros escolares, por isso Jarid Arraes decidiu trazê-las de volta à narrativa, junto com outras 10 figuras pouco conhecidas. O formato cordel transporta as personagens para uma linguagem popular, mas tudo que é contado ali saiu de pesquisa histórica e se inscreve na formação da identidade brasileira. Algumas das personagens são mais conhecidas — caso de Carolina Maria de Jesus e Maria Firmina —, mas a maioria permanece praticamente desconhecida. “Nas escolas não ouvimos/Essa história impressionante/Mas eu uso o meu cordel/Que também é importante/Para que você conheça/E não figure ignorante”, avisa Jarid, que é uma das finalistas do Prêmio Jabuti como livro de contos Redemoinho em dia quente. A autora conta que, antes de chegar à idade adulta, nunca ouvira falar de uma mulher negra protagonista de algum momento histórico. Foi depois de adulta e já dona de uma voz narrativa que mistura a linguagem do cordel e com uma postura pop, que Jarid passou a pesquisar a vida dessas mulheres. A intenção, além de escrever sobre elas, era resgatar as próprias origens. São, como ela diz, histórias que merecem ser contadas e podem ajudar a mudar a vida de muitas mulheres.
 
Quatro perguntas // Muryatan S. Barbosa
 
O que perdemos ao nos concentrar no 
pensamento acadêmico eurocêntrico?
Não saberia te dar uma resposta simples sobre isso. Acho que quanto mais a gente amplia nossos horizontes, maior nossa capacidade de enxergar o mundo e a nós mesmos. Então, na medida em que a gente vê nossos problemas e soluções sempre somente a partir dessas poucas tradições intelectuais (França, Alemanha, Inglaterra e Estados Unidos), necessariamente nos tornamos mais pobres do ponto de vista cultural e intelectual. Há muita semelhança do Brasil com outros países, África do Sul, Índia etc. Olhar para isto, por exemplo, enriqueceria nosso pensamento, não só acadêmico, mas cultural e político de uma forma muito relevante. O Brasil, hoje, é intelectualmente pobre, de um modo geral, e acho que parte desse fato deriva do nosso eurocentrismo, da nossa incapacidade de enxergar para além do que estamos acostumados a ver. É como ter um só óculos, às vezes até nosso grau de miopia aumenta, mas a gente só tem aqueles óculos.
 
Você também diz que isso tem mudado nos 
últimos 10 anos. Por que mudou, na sua opinião?
A primeira razão foi a Lei nº 10.639 (2003), que delibera sobre a necessidade da inclusão da história e cultura africana e afro-americana nos currículos escolares. Isso impulsionou o estudo da história da África no Brasil. Não que não existisse antes. O Brasil tem uma história longa de estudos sobre a África, mas sempre na medida em que isso revelava nossa formação cultural. Nunca estudamos a África a partir da sua história intelectual, do que os intelectuais africanos e africanas pensam sobre a sua própria história. Isso demonstra muito do racismo à brasileira. Então, a lei foi um elemento importante de estruturação do campo da história da África. Outra razão foi a inclusão de estudantes negros e negras na academia: esses estudantes sentiram a necessidade de ver esta temática contemplada. Eles fizeram pressão por isso, o que tem fortalecido o campo e a ciência brasileira, em geral.
 
No livro, você explica que a descolonização é um processo de décadas e não apenas
centrado nas independências das nações africanas. 
Em que parte desse processo
estaríamos agora, com movimentos estourando no mundo inteiro, 
estátuas sendo
derrubadas e reivindicações 
de uma narrativa mais justa vindo à tona?
Creio que estamos mais numa dimensão cultural nesse processo. O Julius Nyerere, um grande pensador, dizia que a libertação tinha um significado cultural, político e econômico. E que ela não se faz só por rupturas, mas por um processo gradual em que esses três elementos estão interrelacionados. É uma percepção muito sagaz do dilema, não só da África, mas dos países periféricos, em geral. Não é um ato simples descolonizar-se, é um ato de múltiplas faces, processual e contraditório. Às vezes, um nível vai à frente e outro fica para trás. Mas é sempre importante para um país que pretende ter soberania, ter consciência desse caminho. Não deixar que os retrocessos sejam rupturas em relação ao caminho maior do que deveria ser o da autonomia, desenvolvimento, melhora da qualidade de vida.
 
Como seria essa dimensão cultural?
À medida em que o processo de descolonização política e econômica teve muitos retrocessos nos últimos 30 anos, sobretudo do ponto de vista econômico, a descolonização cultural tornou-se mais relevante. Percebe-se que, enquanto a gente tentar ser o outro, o outro dominante, no caso o ocidental, a gente nunca vai conseguir ser o que é. Essa obsessão pelo ocidentalismo exacerbado é algo que tem reflexos muito ruins para as sociedades periféricas, o Brasil que o diga. É uma tara, uma obsessão em ser o que não somos, e isso só pode levar ao racismo, à reprodução da discriminação, da falta de solidariedade, a tudo de ruim. E acho que isso é mais evidente hoje e, portanto, é mais evidente também o papel que a cultura pode ter nesse processo de descolonização, que não acabou.
 
 
 
Entre as mais novas profissões do mercado está a de influenciadora digital. Poucas delas, no entanto, são pretas. Mulheres como Ana Caroline Cardoso (foto) exercem papel de ativistas na defesa da representatividade e da valorização da negritude.
 (Carlos Vieira/CB/D.A Press)
 

Correio Braziliense sábado, 14 de novembro de 2020

BAZARES DE NATAL - SEMPRE POR UMA BOA CAUSA

Jornal Impresso

BAZARES DE NATAL

Sempre por uma boa causa
 
Os tradicionais bazares de Natal tiveram que se adaptar com a pandemia da covid-19. Dos eventos presenciais em grandes espaços, a iniciativa migrou para a venda on-line e entrega a delivery. Os produtos vão de artigos natalinos a peças de artesanato

 

CIBELE MOREIRA

Publicação: 14/11/2020 04:00

 

A compra dos artigos natalinos, artesanato e de decoração será feita pela internet este ano (Fotos: Minervino J?nior/CB/D.A Press)  

A compra dos artigos natalinos, artesanato e de decoração será feita pela internet este ano

 

 

As tradicionais feiras solidárias de Natal tiveram que se reinventar neste ano de pandemia. Devido às restrições impostas para a contenção da covid-19, a compra dos artigos natalinos, artesanato e de decoração precisou ser redirecionada para o on-line. A Casa Espírita Recanto Maria (Rema) que promove, há mais de 40 anos, o Bazar do Rema, foi uma das instituições que encararam a mudança para dar continuidade a essa tradição e garantir a verba para a manutenção do espaço e para as ações sociais.

 

Maurício Maia, um dos coordenadores do bazar, conta que a vantagem desse formato é de que as pessoas têm mais tempo para olhar os produtos. “Ver com mais calma, em qualquer horário. A retirada pode ser feita de duas formas, aqui na sede da instituição ou entregue em casa”, destaca. Para dar mais segurança sanitária, foram disponibilizados dois dias na semana (quarta e sábado) para as entregas. O cliente recebe as informações sobre o dia e horário para buscar as peças adquiridas no bazar, e a pessoa não precisa descer do carro, um voluntário irá até o veículo com a encomenda.

 

Além da comodidade do on-line, a feira ganhou mais tempo de evento. Dos quatro dias convencionais, foram para quase três meses. A plataforma está disponível desde o mês de outubro e segue até a semana do Natal. Boa parte das sessões encontradas no evento presencial está no site de vendas, como artigos natalinos, decoração, cantinho do lar e itens voltados para o público infantil. As iguarias da Casa de Doce terão um espaço especial na cesta de Natal, enviadas apenas no mês de dezembro.

 

Boa parte das peças foi confeccionada por voluntários e frequentadores da Casa Espírita Recanto Maria, que, mesmo com a pandemia, não parou a produção dos produtos para a feira natalina. Todo o valor arrecadado com a venda será revertido em ações para a comunidade carente. O bazar é uma das principais fontes de renda da instituição, sem fins lucrativos, situada no Lago Sul.

 

A aposentada Patrícia Valle, 59 anos, aprovou o novo formato. “Toda hora eu entro (no site) e compro alguma coisinha”, brinca. Para ela, não poderia faltar o Bazar do Rema este ano. “Ainda bem que fizeram a versão virtual, é uma forma de ajudar, mesmo a distância. A gente está abrindo mão de tanta coisa nessa pandemia, que bom que nossa tradição permaneceu”, comemora. Moradora da Asa Sul, ela frequenta o Bazar do Rema há mais de 30 anos com a família. “Na abertura, a minha mãe era a primeira da fila para garantir os melhores presentes de Natal”, recorda. Neste ano, a compra das lembranças de final de ano será feita de forma diferente.

 

 

Maurício Maia: a Casa Espírita Recanto Maria promove, há mais de 40 anos, o Bazar do Rema  

Maurício Maia: a Casa Espírita Recanto Maria promove, há mais de 40 anos, o Bazar do Rema

 

 

 

 

“Atualmente, nossa vida está toda no virtual. Até os supermercados estão aderindo a essa opção. Então, quando recebi o link do Bazar do Rema, já saí divulgando para as amigas. Tem uma vizinha que não sabe mexer com essa tecnologia, me dispus a ajudá-la. Tirei foto dos produtos e comprei para ela”, conta Patrícia, que não vê a hora de comprar a Cesta de Natal da Casa Espírita Recanto Maria. “As geleias que são vendidas na Casa de Doce são deliciosas, eu já perguntei se iria ter este ano.”

 

Segundo Maurício Maia, o fluxo de venda no site está bom. “Está aumentando a cada dia, a propaganda de boca em boca tem ajudado bastante. Tem itens que já estão esgotados”, afirma. Sobre a possibilidade de fazer uma versão híbrida no próximo ano, Maurício não descarta. “Podemos pensar em manter os dois modelos, mas nada supera o presencial. São 44 anos de história, a gente ganhou amigos e formou uma família. Encontrar as pessoas no Bazar é um momento que não dá para descrever”, pontua.

 

A instituição Casa Azul Felipe Augusto pretende aderir ao modelo híbrido para a feira natalina deste ano. De acordo com a presidente da entidade, Daise Lourenço Moisés, o evento será virtual, delivery e agendado. “Fechamos uma parceria com a Associação Atlética Banco do Brasil (AABB) para expormos os produtos para a venda”, relata. Serão vários ambientes com mais de mil itens à venda, entre artigos de decoração, artesanato, e peças natalinas.

 

Daise explica que nas próximas semanas serão montados os estandes na AABB. “Quando tudo estiver organizado, vamos tirar fotos e fazer filmagens contando detalhes de cada peça para colocar no site da Casa Azul e nas redes sociais”, conta. Ela também pretende incluir uma plataforma de venda on-line com o intuito de diluir o público da feira. “Vamos aumentar o período de duração, também. Quero abrir o Bazar de Natal na última semana de novembro e seguir com o evento até 20 de dezembro.” De acordo com Daise, a AABB tem um amplo espaço que permite o distanciamento entre as pessoas.

 

O Bazar de Natal da Casa Azul Felipe Augusto ocorre desde 1996 no Distrito Federal, as peças são todas novas e é uma possibilidade de renda no final do ano. “Ganha os dois lados. É uma saída onde as pessoas vão para ajudar a Casa, e também vão para comprar algo para o lar ou para presentear”, ressalta Daise.

 

 

Bazar natalino da Casa Azul: mais de mil itens à venda, entre artigos de decoração, artesanato, e peças natalinas (Daise Lourenço Moisés/Divulgação)  

Bazar natalino da Casa Azul: mais de mil itens à venda, entre artigos de decoração, artesanato, e peças natalinas

 

Bazar para o Natal

 

 

Diferentemente dos anos anteriores, o Bazar Natalino da Rede Feminina de Combate ao Câncer de Brasília terá uma edição especial. “Com a pandemia, não dava para fazer um evento aberto para o público. É inviável. Então, pensamos em outra alternativa, com a arrecadação de roupas, brinquedos, calçados, tudo em bom estado, vamos promover um bazar para os pacientes atendidos na instituição”, explica Vera Lúcia Bezerra da Silva, coordenadora da Rede Feminina. “Será um bazar para o Natal”, destaca. As peças doadas serão expostas de 1º a 18 de dezembro, na sala dentro do Hospital de Base de Brasília.

 

O intuito é proporcionar um Natal diferenciado aos pacientes oncológicos e familiares. “Muitos estão internados, e não têm condições de comprar algum presente para filhos e netos. Até mesmo aqueles que vêm para fazer um tratamento pontual no hospital”, exemplifica Vera. A instituição atende, em média, 400 pessoas de diversas situações econômicas. “A maioria das pacientes que a gente atende tem filhos pequenos ou é idosa. Queremos presentear o Natal delas”.

 

As doações podem ser feitas no ambulatório do Hospital de Base ou, se for em grande quantidade, pode agendar para retirada em algum outro ponto. A coordenadora Vera Lúcia destaca a importância das peças estarem em bom estado. “Tem que ser algo que a pessoa usaria ou compraria, porque alguém vai receber esses itens. Roupas de criança e adulto, cestas de Natal, panetone, bijuteria, tudo será bem-vindo”, destaca. Paralelo a essa ação, a instituição também promove o bazar virtual em parceria com a Casa Rosa, no Núcleo Bandeirante, que recebe pacientes oncológicos de outros estados.


Correio Braziliense sexta, 13 de novembro de 2020

COPA DO MUNDO - ELIMINATÓRIAS - BRASIL ENFRENTA VENEZUELA

 

Jornal Impresso

Asas ao Pombo
 
Brasil aposta em ataque liderado por Richarlison na primeira apresentação da era Tite sem os astros Neymar e Coutinho. Tite convocou as duas referências da Seleção, mas contusões tiraram os dois craques da lista

 

Publicação: 13/11/2020 04:00

 (Lucas Figueiredo/CBF)  
A Seleção Brasileira descobrirá hoje, às 21h30, como atuar sem os dois principais nomes desta geração: Neymar e Philippe Coutinho. Os dois são os grandes desfalques do time que joga no Morumbi pelas Eliminatórias da Copa do Mundo de 2022 contra a Venezuela. As ausências forçam o técnico Tite a buscar uma nova formação, com direito a um trio de ataque diferente: Gabriel Jesus, Roberto Firmino e Richarlison.
 
Em quatro anos no comando da Seleção, será a primeira vez que Tite não terá a dupla Neymar e Coutinho para um jogo disputado em data oficial. Nas 50 partidas realizadas sob o comando do treinador, apenas uma vez o Brasil estava sem os dois. Em 2017, um amistoso beneficente pelas vítimas do acidente aéreo da Chapecoense, no Rio, contra a Colômbia, contou só com atletas que atuam no futebol brasileiro.
 
Neymar foi cortado ontem, após o médico Rodrigo Lasmar constatar que não há tempo para recuperá-lo da lesão na coxa esquerda até o clássico de terça-feira contra o Uruguai, em Montevidéu. Antes, Coutinho  e outros seis convocados também foram cortados. O jogador do Barcelona teve problema na coxa esquerda e terá como substituto Éverton Ribeiro, do Flamengo. Coutinho é o mais utilizado por Tite e esteve em 46 dos 50 jogos.
“Essa convocação teve um número maior (de cortes) do que realmente acontece, ou por lesão ou pelo problema da covid-19. Eu quero olhar esse lado real também. As oportunidades surgem”, disse Tite. A equipe perdeu, ontem, o lateral Gabriel Menino, diagnosticado com covid-19. Os outros atletas testaram negativo e passarão por outra série de exames no fim de semana.
 
Mudanças
Tite escará Ederson no gol, mesmo com o retorno de Alisson. Sem contar com o volante Casemiro, outro diagnosticado com covid-19, Allan assume a posição. O ataque terá o comando de Richarlison posicionado como centroavante, em vez de Firmino, que agora virou ponta. “O Richarlison será o ‘nove’. O Firmino será um jogador mais livre, como um articulador”, explicou o técnico.
 
Pelo menos as mudanças na escalação não mexem com o favoritismo do Brasil. A equipe lidera as Eliminatórias e recebe dentro de casa um dos adversários mais frágeis do continente. A Venezuela perdeu os dois primeiros jogos e foi o único país a não ter marcado gol na competição até agora.
 
O Brasil tem na memória o último encontro com a Venezuela. O resultado foi frustrante. Na Copa América do ano passado, na Arena Fonte Nova, em Salvador, as equipes empataram por 0 x 0. “São confrontos sempre muito complicados, como na Copa América 2019. É uma equipe que se fecha bem”, alerta Thiago Silva. 
 
Colômbia recebe Uruguai 
A seleção colombiana busca, hoje, confirmar o bom momento. O duelo, às 17h30 (de Brasília), no Estádio Metropolitano, em Barranquilla, válido pela terceira rodada das Eliminatórias Sul-Americanas da Copa do Mundo do Catar, será contra um Uruguai. Adversário do Brasil na terça-feira, em Montevidéu, o time celeste está prejudicado por desfalques importantes. Em outro duelo de hoje, o Chile receberá o Peru, às 20h (de Brasília) com o objetivo de triunfar pela primeira vez na competição. Os chilenos somam apenas um ponto, uma vez que empataram, com a Colômbia e, antes, foram derrotados pelo Uruguai. Os peruanos também têm um ponto do empate por 2 x 2 com o Paraguai na rodada de abertura. 

Correio Braziliense quinta, 12 de novembro de 2020

BIG BROTHER BRASÍLIA: SORRIA, VOCÊ ESTÁ SENDO FILMADO

Jornal Impresso

BIG BROTHER BRASÍLIA
 
Sorria! Você está sendo filmado
 
Governador Ibaneis Rocha sanciona lei que regulamenta a implementação da tecnologia de reconhecimento facial no DF. Equipamento vai rastrear a movimentação das pessoas em locais públicos. Medida visa combater a violência, mas gera discussões

 

DARCIANNE DIOGO

Publicação: 12/11/2020 04:00

Tecnologia de reconhecimento facial (TRF) será empregada em áreas públicas, com grande fluxo de pessoas, como a Rodoviária do Plano Piloto. Locais ainda serão definidos (Ana Rayssa/CB/D.A Press)  

Tecnologia de reconhecimento facial (TRF) será empregada em áreas públicas, com grande fluxo de pessoas, como a Rodoviária do Plano Piloto. Locais ainda serão definidos

 


Realidade em estados como Bahia, Paraíba, Rio de Janeiro e Santa Catarina, a tecnologia de reconhecimento facial (TRF) em áreas públicas está regulamentada no Distrito Federal. Ontem, o governador Ibaneis Rocha (MDB) sancionou a Lei n° 6.712, que dispõe sobre o uso do sistema. A decisão foi publicada no Diário Oficial do DF (DODF). A medida consiste no rastreamento de movimentos físicos ou imagens estáticas e visa a redução das taxas de criminalidade. Hoje, a capital conta com 728 câmeras de vigilância, mas sem a TRF. População e especialistas acreditam que a iniciativa será benéfica (Veja Povo fala e Cara a cara), no entanto, há temor quanto ao vazamento de dados pessoais e quanto à possibilidade de que pessoas inocentes sejam confundidas com criminosos.
 
A ideia é de que os equipamentos sejam instalados em locais de grande circulação de pessoas, como a Rodoviária do Plano Piloto, é o que explica o autor da PL, o deputado distrital João Hermeto (MDB). “Uma câmera, às 18h, pegando todos que passam pela Rodoviária, por exemplo, vai ser superpositiva. Esse sistema é totalmente diferente das câmeras que temos hoje. Muitos criminosos roubam estabelecimentos, cometem assaltos e não são identificados com a tecnologia usada atualmente. Então, com certeza, com essa iniciativa, teremos uma redução nas taxas de criminalidade”, ressalta.
 
As câmeras serão postas, exclusivamente, em locais públicos, onde deverão ser afixadas placas visíveis informando do monitoramento feito pelo equipamento de vigilância. Elas funcionarão da seguinte maneira: ao passar e olhar em direção à câmera, a pessoa terá os dados pessoais captados e direcionados a uma central de monitoramento, que será gerenciada por agentes públicos. Dessa forma, será possível saber se o indivíduo é foragido da Justiça, procurado pela polícia ou se tem mandado de prisão em aberto. As imagens ficarão armazenadas por até cinco anos no sistema e, depois, serão descartadas. As fotos poderão, ainda, ser compartilhadas com órgãos de segurança pública de outras unidades da federação.
 
Como prevê o texto, fica vedado o uso de TRF para vigilância contínua de uma pessoa ou grupo de indivíduos, em qualquer hipótese. E, toda sinalização de identificação positiva gerada pelo sistema de reconhecimento facial deverá ser revisada por um agente público.
 
Previsão
 
Ainda não há, no entanto, uma data para a instalação dos equipamentos, onde eles ficarão e quanto custará aos cofres públicos. O Correio apurou que, em breve, o deputado João Hermeto e o secretário de Segurança Pública (SSP-DF), Anderson Torres, se reunirão para discutir esses pontos. Procurada pela reportagem, a Secretaria de Segurança Pública (SSP-DF) esclareceu que a implementação da tecnologia de reconhecimento facial está sendo estudada pela pasta e que o sistema de videomonitoramento atual da secretaria não dispõe desse tipo de equipamento.
 
“Vamos discutir com o governo. O GDF ainda vai ter o prazo para comprar, e tenho certeza de que vai implementar o serviço o mais rápido possível. Foi aprovado hoje (ontem), mas vou sentar com o secretário para decidir algumas coisas. São questões a serem definidas”, destaca João Hermeto.
 
O projeto de lei foi publicado no Diário Oficial da Câmara Legislativa em 20 de outubro. A proposta havia sido apresentada em 7 de outubro. À época, a deputada Arlete Sampaio (PT) questionou o projeto e apontou contradições com o que está disposto na Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), aprovada em agosto de 2018, que estabelece a proibição, entre outras coisas, do tratamento dos dados pessoais para a prática de discriminação ilícita ou abusiva.
 
A LGDP entrou em vigor no Brasil em setembro deste ano. A legislação dispõe sobre o uso de dados pessoais de indivíduos por empresas, órgãos públicos e privados e estabelece uma série de medidas para evitar que cidadãos tenham esses dados vazados. Para fiscalização do cumprimento da lei, criou-se a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD). O órgão será responsável pela aplicação das sanções a quem descumprir as normas da LGPD. A princípio, as normas dispostas no texto da LGPD não invalidam o uso de tecnologia de reconhecimento facial.
 
 
 
CONTRA

Welliton Caixeta Maciel, professor de Antropologia do Direito da Universidade de Brasília (FD/UnB), pesquisador do Núcleo de Estudos sobre Violência e Segurança (NEViS/UnB) e do Grupo Candango de Criminologia (GCCrim/FD/UnB)
 
A tecnologia de reconhecimento facial é uma realidade em diversos outros lugares do Brasil e do mundo e, agora, oficialmente, implementada no Distrito Federal. Mas, devemos observá-la com crítica e reserva. Sua utilização na segurança pública soma-se a esse tipo de iniciativa pirotécnica, revelando uma obsessão securitária pelo uso de dispositivos de controle, fundada em um tríplice regime de legitimação: segurança, visibilidade e eficácia. Não obstante o DNA e a biometria, a tecnologia de reconhecimento facial se vale de sistemas eletrônicos, digitais e informatizados, a partir dos quais os indivíduos passam as ser classificados e categorizados em uma espécie de catálogo que alimenta um “laboratório de vigilância” permanente. A utilização da tecnologia de reconhecimento facial na segurança pública tem como possíveis benefícios ou vantagens, a depender dos operadores que a manuseiam, auxiliar como recurso tecnológico de controle social dos espaços geolocalizados e, consequentemente, das interações sociais que neles se dão, servindo como meio de identificação de possíveis delitos e infrações, capaz de trazer alguma sensação de segurança, ainda que momentânea, aos cidadãos. Todavia, deve-se observar com muita parcimônia seu emprego na segurança pública e como sua utilização pode servir para reforçar estereótipos e estigmas dos próprios operadores do sistema, servindo como dispositivo de filtragem racial na seleção policial de suspeitos, no reforço de preconceitos e discriminações étnico-raciais, de classe, de gênero, violências homo/lesbo-transfóbicas, entre outros tipos. Sistemas como esses podem levar inocentes à cadeia, a depender de como as informações e os dados produzidos, catalogados e manuseados pelos operadores se prestarão a filtros de seletividade penal, filtragem étnico-racial, controle social de grupos e indivíduos.
 
 
A FAVOR

Ivon Iizuka, advogado com especialização em direito público e analista de sistemas
 
Os sistemas de comparação de imagem humana é uma tendência mundial, como é de conhecimento da maioria das pessoas. Em alguns países, essa comparação é feita independentemente de se estar ou não em “bancos criminais”. No caso do Distrito Federal, entendemos que esse sistema deve se concentrar, ao menos inicialmente, em detectar pessoas que tenham passagem na polícia, foragidos, pessoas que têm mandado de prisão, não só no DF, mas, também, em outros estados, e isso pode ser feito por meio de instrumentos jurídicos de cooperação. Penso ser bastante vantajoso, na medida em que se estabelece mais um mecanismo de proteção da sociedade em relação às pessoas que, por algum motivo, estão em débito com a Justiça. A sensação de segurança tende a ser aumentada. Deixa-se de ter críticas em relação às abordagens policiais porque, com isso, obtém-se, por meio de comparação de imagens, um critério objetivo, com resultado positivo ou negativo para a pessoa abordada. A velocidade na resposta do Estado diante de um crime é bem mais rápida. Tecnologia para isso já temos. Esses sistemas são a última geração de tecnologia de identificação. Existem analíticos muito precisos para essa captura e comparação de imagem. Será um salto gigantesco para a segurança pública. Sairemos de uma abordagem policial “às cegas” para um formato mais seguro por saber, ao menos, indícios do histórico da pessoa que está sendo abordada. O fato é que, com esse sistema funcionando, o DF passa a ser referência como unidade da federação atuante, pró-ativa e preventiva, e que desponta nos mecanismos de segurança pública, ofertando à população maior sensação de segurança que efetivamente se concretiza.
 
 
 
Povo fala
 
“Mais cedo ou mais tarde, isso aconteceria, devido ao avanço da tecnologia e à forma como o mundo está caminhando. É uma iniciativa positiva, mas se as leis melhorassem e fossem mais rígidas, seria muito melhor. Porque prendem bandidos, mas soltam no outro dia”
 
Sebastião dos Santos, 38 anos, cozinheiro e morador de Luziânia
 
 
“Se as pessoas não devem nada, para que temer? Acho que isso trará mais segurança para a população, porque será possível identificar criminosos facilmente”
 
Luís Eduardo Oliveira, 25 anos, ajudante de entregador e morador de Brazlândia
 
 
“Acho válido, uma vez que o reconhecimento diminuirá as taxas de criminalidade. Querendo ou não, as pessoas ficarão receosas em cometer determinados crimes, justamente, pelo fato de saberem que estão sendo vigiadas. Mas, também, tem a questão da privacidade, que pode ser invadida.”
 
Ester Galeno, 19 anos, estudante e moradora da Asa Norte
 
 
“Tem os dois lados da moeda. O lado bom é que ajudará a evitar crimes, mas o ruim é que você terá os dados pessoais expostos. Eu não gostaria dessa invasão 
de privacidade.”
 
Ana Paula Junqueira, 50 anos, doméstica e moradora de Ceilândia

Correio Braziliense quarta, 11 de novembro de 2020

A NATUREZA CRIA ASAS NO CENTRO DE BRASÍLIA

Jornal Impresso

A NATUREZA CRIA ASAS NO CENTRO DE BRASIÍLIA

Uma família bem especial
 
Casal de curicaca construiu um lar no topo de um poste de iluminação no Setor de Diversões Sul (SDS), no Conic. A chegada dos pais e o nascimento dos filhotes atraíram os olhares de quem trabalha na região

 

» CAROLINE CINTRA

Publicação: 11/11/2020 04:00

 
Hora da comida (Fotos: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)  
Hora da comida

Quem recebe visita de pássaros diariamente, seja na janela de casa ou do trabalho, sente-se abençoado pela presença tão próxima da natureza. Porém, quem trabalha no Edifício Venâncio 3, do Setor de Diversões Sul (SDS), no Conic, foi presenteado não apenas com uma passagem rápida das aves, mas também com a construção de um ninho bem em frente ao escritório. Acontece que, há três meses, um casal de curicacas (Theristicus caudatus) instalou-se em um poste de iluminação pública em frente ao prédio. Há pouco mais de um mês, a família cresceu. Ali, macho e fêmea tiveram três filhotes. Ao que tudo indica, o grupo deve ficar no local até os menores terem condições de voar sozinhos. Enquanto isso, os condôminos do setor comercial apreciam o desenvolvimento e o crescimento das pequenas aves.

Banho de sol  
Banho de sol
Morador da Cidade Estrutural, o ourives Renato Pereira, 48 anos, contempla a família de curicaca diariamente. Apaixonado por animais, para ele, a presença dos pássaros é um presente, principalmente nos dias mais intensos de trabalho. Ele contou que o casal chegou, mais ou menos, em agosto e instalou-se em um dos postes de iluminação. Passados alguns dias, eles foram para outro, onde tiveram os filhotes. “Como morei na roça, onde é cheio de pássaros, acho lindo tudo da natureza. Eu olho para eles todos os dias e é emocionante, porque a natureza é perfeita. Não tem defeitos”, disse.
 
Renato divide a janela com o colega de trabalho Djalma dos Santos Lacerda, 56. O também ourives lembra que, no ano passado, no mesmo período, uma família dessa espécie hospedou-se no local. “A gente acaba acompanhando tudo. Dessa vez, a ninhada foi de três filhotes. Um deles sumiu. Não sabemos se ele caiu ou foi pego por outro animal. Os pais se revezam para não deixar os pequenos sozinhos. A natureza é muito interessante”, declarou Djalma.

Renato Pereira:  
Renato Pereira: "Eu olho para eles todos os dias e é emocionante, porque a natureza é perfeita"
Para a secretária de um escritório de contabilidade, Jéssica Silva, 34, quando as aves forem embora farão falta. Apesar de os humanos não terem contato direto com elas, o apego, segundo ela, é grande. “Vimos o casal chegando, os filhotes nascendo, estamos acompanhando o crescimento. Sabemos que daqui a pouco eles vão partir. Chega dá um aperto no coração, porque a gente se apega mesmo, não tem para onde correr. São criaturas lindas. Deus é perfeito em tudo o que faz”, afirmou com a voz embargada de emoção.
 
Visitas constantes
A curicaca ou curucaca é um tipo de ave presente em boa parte do território brasileiro — comum de campos abertos, capoeiras, beiras de matas secas, caatingas, cerrados e grandes plantações. Elas costumam instalar-se em locais próximos a lagos, campos com solos pantanosos ou periodicamente alagados. Têm hábito de viver em pequenos bandos, são diurnas e gostam de planar a grandes alturas. É comum encontrá-las nos gramados do centro de Brasília, onde procuram insetos e larvas para alimentar-se. Além deles, elas comem pequenos lagartos, pequenos roedores, sapos e cobras.

Endereço nobre  
Endereço nobre
O biólogo e mestre em ecologia pela Universidade de Brasília (UnB) Eduardo Guimarães Santos diz que as curicacas são comumente vistas no Parque da Cidade, próximo ao Aeroporto de Brasília e em Taguatinga. Ele ressalta que são aves que não têm restrições. Sendo assim, os ninhos costumam ser construídos em postes de iluminação pública, linhas de transmissão e telhados. Elas não apresentam nenhum risco à população.
 
O especialista faz parte do projeto Aves da Janela, uma parceria da UnB e da Universidade Católica de Brasília (UCB), junto ao Instituto Jurumi — organização sem fins lucrativos criada para contribuir com as atividades de conservação da natureza. “No projeto estamos realizando um estudo para tentar mensurar os efeitos da pandemia nos animais. Muitos pesquisadores ao redor do mundo estão tentando ver isso. Um deles mostrou a mudança sísmica, porque as pessoas estão mais em casa. Em relação a fauna ainda não se sabe”, destacou.
 
Com a colaboração da própria população, por meio de vídeos e fotos feitas da janela de casa, o Aves da Janela vai tentar mensurar a alteração do comportamento dos pássaros no período de isolamento social. O estudo é realizado desde o início da pandemia, em meados de abril. “A gente ainda não analisou esses dados e nem sei se deu tempo de pegar essa mudança ou se a gente vai ver algum desses padrões, mas a ideia é buscar isso”, ressaltou Eduardo. Para quem deseja acompanhar o desenvolvimento do projeto pode acompanhar pelas redes sociais.
 
 
 
Você sabia?
 
Curiosidades sobre curicaca
 
As aves medem cerca de 69 centímetros de comprimento, têm cerca de 43cm de altura, um bico longo e curvo, pescoço esbranquiçado ou alaranjado, peito alaranjado, dorso cinza-esverdeado e partes inferiores negras, além das pernas avermelhadas. Também são conhecidas pelos nomes de curicaca-comum, curicaca-de-pescoço-branco, curucaca e despertador.
 
 
Serviço
 
» Para ficar por dentro do projeto Aves da Janela, basta entrar nas redes sociais:
 
» Site: avesdajanela.vidasilvestre.org.br/
 
» Instagram: @avesdajanela 

 


Correio Braziliense terça, 10 de novembro de 2020

IDOSOS COMEMORAM A VIDA: A SAGA DOS VENCEDORES DA COVID-19

Capa do jornal Correio Braziliense 10/11/2020

IDOSOS COMEMORAM A VIDA
 
A saga dos vencedores da covid-19
 
Considerados do grupo de risco, idosos do Distrito Federal falam sobre a experiência com a doença, desde o diagnóstico após os 60 anos até o sentimento de alegria com a volta para casa e a recuperação

 

ANA CLARA ALVES*, CAROLINE CINTRA

Publicação: 10/11/2020 04:00

 

Maria Ivone e o marido, Humberto Brandim, venceram a covid, ambos aos 62 anos. A filha do casal, Amanda, e o neto, Arthur, também recuperaram-se (Fotos: Arquivo Pessoal)  

Maria Ivone e o marido, Humberto Brandim, venceram a covid, ambos aos 62 anos. A filha do casal, Amanda, e o neto, Arthur, também recuperaram-se

 

 

Eles fazem parte do grupo com mais chances de apresentar um quadro grave da covid-19. Agora, os idosos que conseguiram se recuperar da doença tentam levar uma vida melhor e mais saudável. Desde o início da pandemia, muitos redobraram os cuidados, para evitar a infecção pelo novo coronavírus. No entanto, o medo de não melhorar acompanhou-os desde antes do diagnóstico, pois pacientes com mais de 60 anos lideram o ranking de mortes provocadas pelo Sars-Cov-2. Para quem teve a oportunidade de sobreviver a essa fase difícil, a superação veio acompanhada de uma alegria de viver mais intensa. Brasilienses com mais de 60 anos que enfrentaram a covid-19 contam ao Correio como passaram pelo tratamento e compartilham relatos sobre a vida após a contaminação.

 

Moradora de Taguatinga Sul, Maria Ivone Costa Brandim, 62 anos, tomava todos os cuidados em casa, antes de ser diagnosticada com a covid-19. Ela saía apenas para ir ao mercado, mas sempre usando máscara e álcool em gel nas mãos. Mesmo com o medo e com as restrições impostas, a aposentada tentou seguir com a vida. Porém, um dia, sentiu dores nas costas e visitou um posto de saúde. Ela não passou pelo teste para detecção da doença, mas recebeu uma medicação e voltou para casa. De madrugada, começou a sentir febre e acabou na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Recanto das Emas.

 

O diagnóstico saiu no fim de maio. “Precisei ficar 14 dias internada no Hospital de Campanha do Mané Garrincha, porque tive 50% do pulmão comprometido. No início, eu não acreditava que a doença fosse tão terrível. Só quando a gente pega sabe o quanto é sério”, ressalta Maria Ivone. “Faz muito tempo que saí (da unidade de atendimento) e, até hoje sinto dores, no pulmão. Era desesperador. Fiquei apavorada, porque dependia do oxigênio até para ir ao banheiro”, relata.

 

A alta médica veio acompanhada do alívio. Embora estivesse fraca, devido ao tratamento e à gravidade da doença, a aposentada considera que superar a fase de contaminação gerou uma sensação boa. “Traz esperança. Espero não pegar mais uma vez”, completa. O marido dela, Humberto Brandim Lima, 62; a filha dela, Amanda Costa Brandim, 40; e o neto, Arthur Brandim Bianchi, 8, também tiveram a doença e estão recuperados. Mas, entre todos eles, Maria Ivone foi a única que precisou de internação.

 

Com Maria da Conceição Souza, 74, a situação não terminou da melhor forma. Embora tenha vencido a covid-19, ela perdeu o marido, João Teobaldo Silva Pereira, 77. Os dois descobriram a doença na mesma semana e foram internados no Hospital de Base, em 17 de agosto. Ele teve 60% do pulmão comprometido; ela, 55%. “Nós dois estávamos em estado grave. Ele morreu em uma quinta-feira, e deixaram para me contar uma semana depois, porque eu vinha me recuperando bem. Mas Deus estava me preparando para aquela perda. Eram 53 anos de casados, cinco filhos. Não é fácil”, lamenta a aposentada.

 

Maria da Conceição conta com o acompanhamento de um fisioterapeuta, para recuperar-se mais depressa. Apesar da melhora, ficaram sequelas. “Só tenho a agradecer mesmo, porque estou viva. Estou velhinha, mas amo viver”, comemora. “Acho que a maior dádiva é poder ter mais uma chance. Eu tive e não vou desperdiçar. Hoje, quero minha família mais perto. Assim como meu marido gostava de ver a casa sempre cheia, com os netos correndo por toda parte, sei que ele está me olhando e que quer me ver bem”, acrescenta.

 

 

Teresinha ficou internada, mas presença do filho Marcelo ajudou no processo  

Teresinha ficou internada, mas presença do filho Marcelo ajudou no processo

 

Contato

 

 

Teresinha França, 67, sempre preferiu ficar dentro de casa. Com a pandemia, intensificou esse hábito, assim como os cuidados com a higiene. Mesmo assim, acabou infectada pelo novo coronavírus. “Não sei como peguei a doença. Desconfio que tenha sido com meu filho, que trabalha em hospital”, conta. O filho, Marcelo Vianna, 43, trabalha no Hospital de Base, na área de captação de órgãos. Ele também se contaminou, mas teve sintomas leves.

 

A doença apareceu de forma discreta. Teresinha começou a ficar sem apetite, desanimada, aérea e sem forças até para escovar os dentes. A moradora do Riacho Fundo 1 passou 15 dias internada no Hospital das Forças Armadas (HFA), com febre, falta de ar e 75% dos pulmões comprometidos. Felizmente, não precisou ser intubada.

 

A parte mais desesperadora, recorda-se Teresinha, foi não poder receber visitas. Durante a internação, ela só conseguiu ver os filhos e o marido por videochamada. A força para lutar contra a doença ficou maior quando o filho Marcelo apareceu para ver como estava a mãe. “Sou uma pessoa muito família. Pensei que não fosse voltar para casa e só orei e pensei ‘Tenho de viver pelos meus filhos e netos’. Os fisioterapeutas até vieram com o celular, para eu poder falar com meus parentes, mas eu não conseguia, só sabia chorar”, diz.

 

Hoje, recuperada, Teresinha ainda sente muito cansaço e precisa fazer exercícios de respiração, para fortalecer os pulmões. Apesar disso, ela sente-se vitoriosa por ter se recuperado e da covid-19. “Tenho de agradecer a dedicação que os médicos tiveram comigo. Tive muita fé e recebi muito carinho”, completa.

 

 

João de Paula foi recebido com festa surpresa pela mulher, Irene Félix  

João de Paula foi recebido com festa surpresa pela mulher, Irene Félix

 

 Emoção

 

 

A volta para a casa do aposentado João de Paula Félix, 94, deixou todos tomados pela emoção. A recepção ficou a cargo da mulher, Irene Félix, 83, que recebeu o marido de braços abertos. Os vizinhos do mesmo prédio aguardavam o retorno ansiosos, nas janelas, prontos para receber o colega com aplausos. O sorriso no rosto revelava a vontade de viver. “Ele sempre fez atividade física e se alimenta super bem, porque gosta de ser saudável. Ele é meu herói, meu ídolo. Eu esperava que ele fosse sair bem dessa. Ele é forte demais”, relata Beto Félix, 59, filho de João de Paula.

 

O idoso também é avô do deputado distrital Fabio Félix (Psol). Na data em que saiu do hospital, o parlamentar publicou um vídeo nas redes sociais, com registros de toda a trajetória na unidade de saúde em que ficou João de Paula. “Meu avô venceu a covid-19. Eu estou muito feliz e não tenho palavras para explicar. Só tenho a agradecer a todas as pessoas que mandaram mensagens positivas. Vovô Félix, a gente te ama”, publicou o parlamentar.

 

João de Paula saía de casa apenas para ir a consultas médicas, mas sempre com máscara e um frasco de álcool em gel. Ele passou 40 dias no hospital. Hoje, em casa, é acompanhado por uma enfermeira, que auxilia com a fisioterapia e a ginástica. “Ele ficou intubado na UTI (unidade de terapia intensiva) e ficamos com medo de ele não aguentar, porque teve 60% do pulmão comprometido. Chorei por três dias seguidos, quase desidratei. Um amigo meu era atleta e morreu novo por causa dessa doença”, comenta Beto. “Ele (o avô) sempre foi muito perseverante. Quando começou a receber visita, teve mais forças para querer sair dali”, completa o neto.

 

*Estagiária sob supervisão de Jéssica Eufrásio 

 

Palavra de especialista

 

Acolhimento

 

Para se recuperar bem, é preciso trabalhar o pensamento positivo e escolher ficar bem. Fazer o tratamento certo, alimentar-se da forma adequada, hidratar-se, além de manter o pensamento positivo e firme de que vai haver uma melhora. É preciso dedicar-se a isso. A doença fica impregnada na cabeça. Assim, sentimentos como medo e ansiedade podem atrapalhar. O ideal é ter pensamentos tranquilos e positivos. Se o paciente está em casa, é sinal de que o organismo está reagindo bem. Por isso, o apoio familiar e de amigos é fundamental. O idoso tem necessidade de estar com os parentes por perto, de ser acolhido. Quando estamos debilitados, o aconchego é ainda mais bem quisto. Como não se pode manter o contato físico nesse período de recuperação, vale manter a proximidade por meio de videochamadas, ligações. Tudo isso faz com que o paciente se sinta mais querido, e isso acalenta.


Correio Braziliense segunda, 09 de novembro de 2020

URUBU É DEPENADO POR GALO MINEIRO

Jornal Impresso

BRASILEIRÃO

Urubu é depenado por Galo mineiro
 
 
Flamengo volta a jogar mal defensivamente, e o Atlético, de Jorge Sampaoli, aplica goleada de 4 x 0, no Mineirão. Após o resultado, torcida pede demissão, nas redes sociais, de Domènec Torrent

 

Publicação: 09/11/2020 04:00

O clube mineiro não tomou conhecimento do forte elenco do rubro-negro carioca e jogou com extrema facilidade durante toda a partida (Pedro Souza / Agência Galo / Atético)  

O clube mineiro não tomou conhecimento do forte elenco do rubro-negro carioca e jogou com extrema facilidade durante toda a partida

 



Com um início alucinante, ao marcar dois gols em em apenas oito minutos, o Atlético-MG lavou a alma ao golear o Flamengo por 4 x 0, no estádio do Mineirão, em Belo Horizonte, ontem, e assumiu a vice-liderança do Campeonato Brasileiro. A partida foi válida pela 20ª rodada.
 
A vitória encerrou um jejum de quatro jogos e fez o Atlético-MG chegar aos mesmos 35 pontos do Flamengo, mas passou na frente por causa do número de vitórias (11 contra 10). Quem comemorou foi o Internacional, que segue na liderança com 36. O time mineiro, porém, tem um jogo a menos do que seus principais concorrentes. A partida também marcou a terceira vitória por 4x0 do treinador Jorge Sampaoli em cima do rubro-negro. Além do galo, o argentino massacrou o Flamengo à frente de Santos e Universidad de Chile.
 
Além de perder a chance de assumir a ponta, o Flamengo foi goleado pela segunda rodada seguida. No último final de semana, o time levou 4 x 1 do São Paulo, no estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro. Não é à toa que tem a segundo pior defesa do Brasileirão, com 29 gols sofridos em 20 jogos.
 
O início da partida fez jus às expectativas criadas. Réver cortou cruzamento de Filipe Luis e a bola sobrou para Éverton Ribeiro finalizar rente à trave. Aos cinco minutos, Savarino cruzou rasteiro para Eduardo Sasha, que se antecipou a Gustavo Henrique e mandou no canto de Hugo Souza, colocando o Atlético-MG na frente. Aos oito, em um contra-ataque, Savarino achou Keno livre de marcação dentro da área. O atacante dominou e bateu colocado, sem chances para o goleiro rubro-negro.
 
Abatido, o Flamengo só foi conseguir chegar com perigo aos 20 minutos em chute de Thiago Maia para fora, após bonito passe de primeira de Éverton Ribeiro. O Atlético-MG continuava sendo mais perigoso. Aos 30, Alan Franco finalizou e Hugo Souza espalmou. Cinco minutos depois, William Arão ficou com a sobra dentro da área após cobrança de escanteio e bateu nas mãos de Éverson. Na sequência, Natan cabeceou rente à trave do goleiro atleticano, que só observou.
 
Logo no primeiro minuto do segundo tempo, Pedro cabeceou e Éverson fez grande defesa. No rebote, com o gol aberto, Bruno Henrique finalizou no travessão. O Flamengo tentava a reação, mas levou um balde de água fria aos 14 minutos. Guilherme Arana cortou Thiago Maia e cruzou na medida para Eduardo Sasha completar de peixinho.
 
Em mais uma falha da defesa flamenguista, Zaracho recebeu passe preciso de Savarino e bateu na saída de Hugo Souza para fazer o quarto gol atleticano aos 37 minutos. O Atlético-MG volta a campo no próximo, sábado contra o Corinthians, às 19 horas, na Neo Química Arena, em São Paulo, pela 21ª rodada do Brasileirão. No mesmo dia, o Flamengo recebe o Atlético Goianiense no Maracanã.

Correio Braziliense domingo, 08 de novembro de 2020

BRASILEIRÃO: GUARDIÕES DA BELEZA DO JOGO

Jornal Impresso

BRASILEIRÃO
 
Guardiões da beleza do jogo
 
Na contramão de chutões e ligações diretas, Atlético-MG e Flamengo defendem a saída de bola com toques desde a defesa. Relatório da Uefa comprova tendência. Treinadores apontam vantagens e os riscos

 

DANILO QUEIROZ
MAÍRA NUNES

Publicação: 08/11/2020 04:00

 
 
 
 (Bruno Cantini/Atlético MG )  
Com o desembarque dos técnicos estrangeiros no país, cresce o número de times interessados em resgatar o que o futebol brasieliro zelava nos tempos românticos: a saída com toque de bola desde a defesa, em vez de chutões e ligações direta da defesa ao ataque. Estratégia reinventada pelo técnico argentino Ricardo La Volpe à frente da seleção do México na Copa do Mundo de 2006, e popularizada por Pep Guardiola.
 
Auxiliar do técnico catalão no Barcelona, Bayern e Manchester City Domènec Torrent explora o recurso no Flamengo. O gringo Jorge Sampaoli, também, no Atlético-MG. Hoje, o time carioca e o mineiro submetem a nem sempre segura opção tática aos jurados, às 18h15, no Mineirão, no principal duelo da abertura do segundo turno do Brasileirão. 
 
A Liga dos Campeões da Europa aponta que a tendência de saída com bola na base do toque está enraizada no Velho Mundo. Relatório técnico da Uefa aponta que, na edição 2019/2020, 24% das saídas foram com bolas curtas. Finalistas, PSG e Bayern são os que mais utilizaram o recurso: 45% e 42% dos reinícios, respectivamente.
 
“No total, houve seis gols marcados de movimentos que começaram com tiro de meta curto para jogador dentro da área — e 44 chutes dessas sequências de jogadas”, descreve o relatório. A saída da zaga com a bola no chão exalta a qualidade do futebol, mas pode ser fatal na perda de bola. O levantamento da Uefa mostra, ainda, que a marcação alta do adversário costuma complicar as saídas curtas. Ocasionou 1.148 erros. Desses, 217 acabaram em conclusões à meta e 30 em gols marcados.
 
Expoente da nova safra de técnicos do futebol do Distrito Federal, Hugo Almeida é um dos defensores da reposição com o controle da bola. Na visão do treinador, membro do sub-16 do Sporting de Lisboa, essa é a maneira mais eficiente de envolver o adversário, encontrar espaços no campo e progredir até o gol adversário. Porém, ele destaca que, conforme o contexto da partida, também não se opõe a utilizar lançamentos longos para aproveitar as brechas.
 
Para Hugo, a segurança em ter a bola dominada é maior do que em disputa, como ocorre nas chamadas ligações diretas. “Há um maior envolvimento e possibilidade de movimentação, desorganização e desestruturação do sistema defensivo adversário, aclarando muito mais espaços e possibilidades de chegada ao gol adversário”, opina. 
 
Risco
 
 (Alexandre Vidal/Flamengo)  
 Mesmo defensor do modelo, o treinador campeão da segunda divisão do Candangão 2018 com o Capital ressalta alguns pontos negativos de iniciar as jogadas com passes curtos. “O fato de a equipe, geralmente, estar em zonas próximas à própria meta e em situações de desequilíbrio fazem com que o menor erro cometido dê ao adversário oportunidades mais claras para marcar”, salienta. Atlético e Flamengo sofreram gols recentes em falhas na saída de bola.
 
Minimizar os erros, segundo Hugo, está atrelado ao trabalho e à confiança. “A repetição, acompanhada de feedbacks por parte do treinador e da equipe técnica, levam ao aprimoramento e à evolução na execução da tomada de decisão assertiva”, explica. Para Hugo, todo o sistema defensivo é primordial na construção de jogadas com bola no pé. “O papel não é meramente enfeite ou capricho.”
 
Vilson Tadei, técnico do Gama, se diz a favorável a tudo que é futebol bem-apresentado, “desde que o jogador tenha confiança para fazer, principalmente o goleiro, que é o desafogo nesse tipo de jogada”.
 
Comandante do bicampeão candango , ele usa o Flamengo como exemplo. “O elenco é extremamente habilidoso, experiente e com jogadores de nível de Seleção Brasileira, com muita confiança. Mesmo assim, quando pega um adversário muito bom e que marca bem, pode cometer erros.”
 
A confiança é classificada por Tadei como crucial para colocar em prática a saída de bola de pé em pé para não se apavorar com uma marcação mais alta que pressione o erro. “Agora, tudo é assim, os times marcam na linha alta. Quisera eu jogar nessa linha alta, porque eu não tinha medo”, comenta Tadei. Ex-jogador, ele atuou como meia nas décadas de 1970 e 1980, sagrando-se campeão brasileiro como camisa 10 do Grêmio em 1981. Treinador desde 1991, ele ressalta as condições dos gramados na atualidade. “O sair jogando e usar o goleiro como se usa no futebol de salão é muito legal, principalmente hoje, com gramados uniformes, que propiciam esse tipo de jogada”, observa.


18h15

Mineirão Belo Horizonte
Brasileirão  20ª rodada
Transmissão  pay-per-view


Atlético-MG 
Everson; Mariano (Guga), Alonso, Réver e Arana; Jair, Allan, Nathan, Savarino, Keno; Sasha (Marrony)
Técnico: Jorge Sampaoli

Flamengo
Hugo Souza; Isla, Gustavo Henrique, Natan e Filipe Luís; Arão, Thiago Maia, Gerson e Everton Ribeiro; Bruno Henrique e Pedro
Técnico: Domènec Torrent
 
Árbitro: Sávio Pereira Sampaio (DF)
 

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